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A PANDEMIA DO COVID-19 E OS SEUS IMPACTOS NO DIREITO

PREVIDENCIÁRIO NO BRASIL1

Jislaine De Souza Furtado – jislaine.s.furtado@gmail.com 2


Resumo – O presente resumo, objetivou-se em realizar uma abordagem sobre as
possíveis alterações dentro do direito previdenciário, sendo que o coronavírus se
impôs na realidade social como um fenômeno que modificou as relações entre
particulares, e destes com as instituições, impactou na pobreza e na saúde dos
indivíduos. Diante desse cenário, investiga-se sobre quais bases a responsabilidade
estatal no campo da previdência é apresentada e como se promovem as políticas
públicas considerando a atuação institucional do INSS e as possibilidade de auxílio
doença por incapacidade para trabalhadores com covid-19,
Palavras-chave: Previdência Social. Estado Democrático De Direito. Direitos
Fundamentais e Pandemia.

INTRODUÇÃO
O fundamento da Seguridade Social se encontra no tripé instituído pelo
legislador ao formular a Constituição Federal, associando-se a previdência em si, a
assistência social e a saúde. A Previdência, nesse sentido, nasce como uma
obrigação, uma imposição de poupança, por parte dos cidadãos, para que, no
momento de fragilidade, possam contar com os frutos de suas contribuições (SILVA
JUNIOR, 2012).
A disseminação do vírus SARS-Cov-2 obrigou os estados e municípios
brasileiros a seguirem diversas medidas de controle e prevenção da doença. Essas
medidas se diferenciaram de uma região para outra do país, entretanto a medida
mais difundida pelas autoridades foi a prática do distanciamento social, entendida de
forma geral pela população e pela mídia, como isolamento social (MARQUES et al,
2020).
Neste contexto, o presente trabalho tem como objetivo analisar e apresentar a
força normativa da Constituição e os princípios de proteção da pessoa humana
aportados na esfera da Seguridade Social tendo como objetivos específicos: a)
abordar como a força normativa da Constituição e seus princípios são aportados na
esfera da Seguridade Social; b) verificar o próprio panorama da pandemia da
COVID-19; c) dispor como a Previdência Social está associada com características
de envelhecimento e manutenção da saúde da população.

METODOLOGIA
A presente pesquisa é caracterizada como um estudo de revisão bibliográfica
narrativa, utilizando para tanto em sua maioria artigos científicos e livros publicados
por meio eletrônico, além de, revistas, jornais, legislações e demais publicações
sobre a temática. Utiliza-se no presente estudo o método dedutivo, realizado, no
sentido de que o presente foi realizado, com a análise de informações já trazidas
anteriormente, como trabalhos científicos, livros, textos oficiais, revistas e
publicações constantes da internet, utilizando para os meios de pesquisa as
palavras chaves: Previdência social, Estado democrático de direito, direitos
fundamentais, Direito à saúde e Pandemia.

1
Trabalho resultante da disciplina de Monografia II, da 10ª fase do curso de Direito.
2
Acadêmica do curso de Direito da Universidade Alto Vale do Rio do Peixe.
Foi abordado na presente pesquisa o direito social ao trabalho e a previdência
social, expondo como a força normativa da Constituição e os princípios de proteção
da pessoa humana são aportados na esfera da Seguridade Social, verificando o
próprio panorama da pandemia da COVID-19, expondo as implicações econômicas,
sociais e políticas do coronavírus em 2020-2021, e feito uma breve apresentação
dos impactos do COVID-19 no direito previdenciário, de como a Previdência Social
está associada com características de envelhecimento e manutenção da saúde da
população e a carência exigida para a concessão dos benefícios previdenciários
frente à emergência da pandemia da Covid-19.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

1. O DIREITO SOCIAL AO TRABALHO E A PREVIDÊNCIA SOCIAL E O


PARONAMA DA PANDEMIA DA COVID-19
O Princípio de Proteção da Dignidade da Pessoa Humana encontra-se no art.
1º, inc. III da Constituição Federal de 1988, estipula-se enquanto um dos pilares de
sustentação do Estado Democrático de Direito a proteção a pessoa humana, em sua
totalidade (MAZZAROBA, 2012).A efetividade dos direitos fundamentais advém da
Constituição que, no cenário jurídico-institucional, funda-se como o texto normativo
de maior importância ante as outras normas do ordenamento jurídico, não à toa é
denominada, muitas vezes, como Carta Magna (WLOCH, 2016).
A caracterização da relação de trabalho pelo viés jurídico se dá, antes de
mais nada, com a elucidação do contrato de trabalho, no qual se tem a constituição
de um negócio jurídico, realizado de modo tácito ou expresso, e que represente o
interesse de ambas as partes em contraírem direitos e obrigações laborais. O
contrato de trabalho se realiza mediante a obrigação da pessoa natural para com
outra pessoa natural ou jurídica ou para um ente sem personalidade jurídica, ao qual
se tem a troca da mão de obra por um salário (NOLASCO, 2014).
O acesso a Previdência está alocado na Constituição Federal de 1988 como
um direito fundamental da pessoa, integra a seara de elementos sociais que dão
forma a vida em grupo com dignidade, constituindo um caractere que denota
segurança e estabilidade econômica e social, de acordo com o que prescreve o
artigo 6º. Já o artigo 21 da Carta Magna estabelece a competência da União em
fiscalizar os empreendimentos de previdência privada com intuito de assegurar que
essa prática não destoe de sua finalidade social. A Previdência, nesse sentido,
nasce como uma obrigação, uma imposição de poupança, por parte dos cidadãos,
para que, no momento de fragilidade, possam contar com os frutos de suas
contribuições (SILVA JÚNIOR, 2012).
A disseminação do vírus SARS-Cov-2 obrigou os estados e municípios
brasileiros a seguirem as medidas de distanciamento social, empregadas em outras
partes do mundo com sucesso, visando diminuir o contato entre as pessoas e
controlar a transmissão do vírus (SCHUCHMANN, 2020). Não obstante, o
isolamento social acarreta inúmeros efeitos negativos nos fatores de sociabilidade e
afetividade das pessoas. Surgem problemas mentais durante a pandemia de
COVID-19, no qual já se tem a vulnerabilidade de pessoas com doenças e
transtornos mentais prévios (BARROS et al, 2020).

2. IMPACTOS DO COVID-19 NO DIREITO PREVIDENCIÁRIO


No direito previdenciário, o contexto pandêmico impõe a discussão acerca do
auxílio por incapacidade temporária previdenciário, o auxílio doença no qual se
assegura o risco da incapacidade devido a incorrência de enfermidades, acidente de
trabalho ou qualquer prática que incapacite o empregado para o exercício de
atividades laborais por mais de 15 dias. O empregado contaminado pelo coronavírus
deve ser afastado em prol da adoção de medidas de isolamento com o objetivo de
evitar a propagação do vírus. A discussão acerca do recebimento do benefício por
incapacidade temporária diante do INSS se encontra no quadro de aplicação do
princípio da Prevenção com a finalidade de evitar o efeito letal da patologia e sua
propagação para terceiros (VASCONCELOS, 2020).
Dentro das práticas estatais de entrega do serviço público pode-se destacar
as práticas relacionadas ao INSS no contexto pandêmico e a instrumentalização dos
procedimentos desse órgão para proteger a saúde da população. Com a Portaria
373, de 16 de março de 2020 se apontam as orientações para as medidas protetivas
no quadro no INSS, principalmente com a intenção de impedir o deslocamento dos
indivíduos às agências do INSS (VASCONCELOS, 2020).
É possível afirmar que os estilos que cada governante adota no curso de seu
mandato influencia diretamente na eficácia da aplicação da política pública
(D’ASCENZI, 2013). Entre 2020 e 2021, a taxa de desemprego no Brasil aumentou
em 2,9%, com cerca de 16,9 milhões de pessoas atualmente desempregadas (G1,
2021). Com um número tão elevado de mortes, e com o aumento do desemprego, a
população pediu proteção à previdência social para ter acesso ao apoio financeiro
de que necessita neste momento de adversidade social.
Neste sentido, a regra básica é uma ausência de 14 dias, que pode ser
prolongada, ou seja, cria-se a possibilidade de requerer o benefício de doença uma
vez que a regra tenha sido devidamente cumprida, uma vez que a ausência
obrigatória impede o segurado de exercer sua atividade normal, de acordo com o
artigo 59 da Lei 8.213/91. É importante esclarecer que a principal condição para o
benefício previdenciário por incapacidade de trabalho é a recusa real do segurado
em trabalhar e não o estado de doença, embora no caso específico de uma
pandemia tenhamos muitas pessoas que estão passando por exame clínico e seu
isolamento é obrigatório e elas podem ou não estar infectadas (SOUZA, 2019).
Mesmo com a Lei 13.982/20, existem dificuldades que tornam a Lei de
Previdência Social menos eficaz do que a legislação prevê. Mesmo quando há a
possibilidade de solicitar benefícios por invalidez, ainda há dúvidas sobre o período
de carência que o INSS requer em tempos normais (VAZ, 2021).
O acima exposto é confirmado pelo artigo 201, I, da Constituição da
República, que, pela Emenda Constitucional nº 103/2019, prevê que a seguridade
social providenciará, na forma prescrita por lei, cobertura em caso de incapacidade
temporária para o trabalho.
O projeto de lei 1113/20 inclui a nova doença do coronavírus na lista de
doenças graves que garantem a concessão do benefício de doença e da pensão por
invalidez sem um período de espera. Atualmente, a Lei de Benefícios da Previdência
Social lista doenças como a lepra e a esclerose múltipla, para as quais são
concedidos benefícios sem um período de espera. A regra geral em vigor é que o
benefício de doença e a pensão por invalidez só podem ser concedidos após
12(doze) meses de contribuições ou após 06(seis) meses para aqueles que não
estão mais segurados (SOUZA, 2019).
A Comissão de Constituição e Justiça e Cidadania da Câmara (CCJC)
aprovou uma proposta que retira o período de espera para benefícios de pensão por
doença e invalidez sob a Covid-19. O texto acrescenta "Covid-19 e opções de
tratamento de invalidez" à lista de doenças que não requerem um período de espera
depois que o trabalhador ingressa no Regime Geral de Seguro Social (RGPS). A
proposta está sendo tratada com urgência e, portanto, pode ser votada em plenário
a qualquer momento. O texto foi aprovado pelo Deputado Alê Silva (PSL-MG) em
substituição ao projeto de lei (PL 1113/20) pelo Deputado Rodrigo Coelho (PSB-SC)
e outros. Esta proposta altera a Lei de Benefícios da Previdência Social.
A lei estabelece um período de espera de 12 meses para as contribuições
antes que os trabalhadores que ingressam no RGPS possam solicitar a pensão por
doença ou invalidez. A principal mudança na proposta original de substituição foi que
o paciente deve ter sido submetido a um tratamento incapacitante para poder
reivindicar o benefício (FDR, 2021).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Essa pesquisa buscou investigar o direito previdenciário a partir dos aportes
do direito constitucional e do entendimento de que o direito não é estático, mas se
modifica conforme as demandas da sociedade. Verificou-se que a Previdência
Social está pautada em um Estado Democrático de Direito que tem como principal
parâmetro a força normativa da Constituição e os princípios da dignidade humana e
da saúde do trabalhador.
Verificou-se como no contexto pandêmico a responsabilidade do Estado
previdenciário se estende, tanto na esfera institucional, quanto aos procedimentos
dos órgãos de acesso as garantias instituídas pelo Estado, como no caso da
flexibilização do atendimento do INSS para que não ocorra atendimento pessoal e,
consequentemente, o número de infectados com o coronavírus aumente.
Apontou-se, ainda, a responsabilidade do Estado Previdenciário no panorama
da pandemia do coronavírus, considerando as políticas públicas e o dever de
assistência pública na ordem econômica justa e solidária, mediante a possibilidade
de integração do auxílio por incapacidade temporária previdenciário aos
contribuintes infectados. Verificou-se, assim, que o Estado previdenciário está
imbuído de uma responsabilidade constitucional para com a sociedade,
principalmente no contexto de um regime jurídico emergencial como o que se impõe
com a pandemia.

REFERÊNCIAS
BARROS et al, Marilisa Berti de Azevedo. Relato de tristeza/depressão,
nervosismo/ansiedade e problemas de sono na população adulta brasileira
durante a pandemia de COVID-19. Epidemiol. Serv. Saude, Brasília,
29(4):e2020427, 2020. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/ress/a/nFWPcDjfNcLD84Qx7Hf5ynq/?lang=pt&format=pdf.
Acesso em: 22 mai. 2021.

D’ASCENZI, Luciano. Implementação de políticas públicas: perspectiva analíticas.


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Implementação de políticas públicas: perspectivas analíticas Implementação de
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FDR. Covid-19 é incluída na lista de doenças que permitem aposentadoria do


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