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Faculdade de Direito
Em Cooperação com:
Art.0 – Artigo.
Cfr. – Conferir.
N.0 – Número.
Pág. – Página.
Vol. – Volume.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 5
CAPÍTULO I...................................................................................................................................... 7
CARACTERIZAÇÃO DO SISTEMA DE SAÚDE .......................................................................... 7
1- SISTEMAS DE SAÚDE................................................................................................................ 7
1.1- ELEMENTOS CONSTITUINTES DOS SISTEMAS DE SAÚDE ...................................... 7
1.2- SISTEMAS DE SAÚDE E SISTEMAS DE SERVIÇOS DE SAÚDE ................................. 8
1.3- DESENVOLVIMENTO LEGISLATIVO DO SISTEMA DE SAÚDE ANGOLANO ...... 10
CAPÍTULO II .................................................................................................................................. 12
A OBRIGAÇÃO HOSPITALAR .................................................................................................... 12
1- BREVE INTRODUÇÃO À OBRIGAÇÃO ................................................................................ 12
1.1- CONCEITO DE OBRIGAÇÃO HOSPITLAR ........................................................................ 13
1.2- ELEMENTOS DA OBRIGAÇÃO HOSPITALAR ................................................................. 15
1.3- NATUREZA JURÍDICA DA OBRIGAÇÃO HOSPITALAR................................................. 16
2.4- O ERRO HOSPITALAR .......................................................................................................... 19
2.1- A RESPONSABILIDADE OBJECTIVA E SUBJECTIVA DOS HOSPITAIS PÚBLICOS
E PRIVADOS .................................................................................................................................. 22
CAPÍTULO III ................................................................................................................................. 25
A RESPONSABILIDADE CONTRATUAL E EXTRACONTRATUAL HOSPITALAR ............ 25
1- RESPONSABILIDADE DOS HOSPITAIS PÚBLICOS ........................................................ 25
1.1- RESPONSABILIDADE EXTRACONTRATUAL ............................................................. 25
1.2- RESPONSABILIDADE CONTRATUAL........................................................................... 26
2- RESPONSABILIDADE DOS HOSPITAIS PRIVADOS ........................................................... 27
2.1- CONCEITO DE PREPOSTO ................................................................................................... 27
2.2- RESPONSABILIDADE EXTRACONTRATUAL .................................................................. 29
2.3- RESPONSABILIDADE CONTRATUAL ............................................................................... 30
3- ACÇÃO DE INDEMNIZAÇÃO ................................................................................................. 31
CONCLUSÕES................................................................................................................................ 33
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................................. 34
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INTRODUÇÃO
O exercício das actividades hospitar, na medida em que contende com a vida e com
a integridade física das pessoas, revela-se susceptível de, pela sua própria natureza e pelos
meios que emprega, causar danos. É neste momento que asssume particular importância o
instituto da responsabilidade civil, especialmente vocacionado, sobretudo quando encarado
na perspectiva dos administrados face à actividades lesivas praticadas no âmbito da
Administração Pública, para a defesa dos direitos fundamentais dos cidadãos (vide art.0
22.0 da C.R.A.).
Cumpre ainda explicitar a forma de como está caracterizado o sistema de saúde dos
hospitais públicos e privados em Angola; dotada de complexidade equivalente se apresenta
a questão de saber se, em matéria de responsabilidade médica, a mesma há-de ser
compreendida como subjectiva/objectiva ou contratual/extracontratual. No mesmo sentido,
aponta-se, se a responsabilidade decorrente do erro do médico é imputável ao médico ou
ao estabelecimento hospitalar.
Joelma, de 7 (sete) anos de idade, residentes em Luanda com os pais depois de uma
transfusão de sangue numa unidade pediátrica de Luanda, os pais foram surpreendidos com
a triste notícia de que a filha estava infectada com o virus de HIV, provocado por um erro
médico. Desta feita, o casal pretende interpor uma acção judicial, invocando que se não
fosse a transfusão de sangue hospitalar a filha não teria sido infectada. Quid iuris?
CAPÍTULO I
1- SISTEMAS DE SAÚDE
Os sistemas e serviços de saúde são influenciados por um conjunto de factores,
destacando-se o envelhecimento da população, o aumento da carga de doença devido
principalmente às enfermidades crônicas e à oferta de tecnologias, as quais têm exigido
cada vez mais recursos financeiros para adquiri-las, comprometendo a sustentabilidade do
orçamento de saúde. Neste cenário, intervenções para prevenção, diagnóstico, tratamento,
reabilitação e controle de doenças e agravos competem entre si por recursos escassos(1).
1
( ) Everton Nunes da SILVA, Marcus Tolentino da SILVA, Maurício Gomes PEREIRA, Estudos de
Avaliação Económica em Saúde: Definição e Aplicabilidade aos Sistemas e Serviços de Saúde, 2016.
2
( ) Mário M. CHAVES, Saúde e Sistemas, RJ, 1980.
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De uma maneira geral, pode-se dizer que não há concordância entre os autores
sobre uma definição de sistemas de saúde, mas isso não impede que tenham sido propostas
categorizações e classificações que, ou trazem embutida uma perspectiva evolucionista e
unidirecional, além de não permitirem uma análise mais dinâmica dos sistemas de saúde,
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ou são parciais e baseadas em sistemas de saúde particulares e, portanto, não podem ser
generalizadas.
Por outro lado, as definições, conceitos e categorias analíticas usadas para definir
ou analisar os sistemas de saúde variam segundo valores, princípios e concepções sobre o
que é saúde e qual o papel do Estado (responsabilidade) em relação à saúde das populações
que vivem em seu território. Nessa perspectiva, podem mudar no tempo e no espaço,
reflectindo mudanças nas concepções dominantes. A maneira como os problemas de saúde
das populações são estruturados determinará os tipos de evidência que serão consideradas
relevantes e o que será descartado. As implicações políticas surgem dessas evidências e
não do quadro de referência de per se. E os modelos implícitos ou explícitos de análise
definem e incluem (ou excluem) categorias que são relevantes para determinado
referencial e não para outros.
Como observa Mario TESTA(3) os serviços de saúde são uma das formas de
resposta da sociedade aos problemas apresentados pelo Estado de saúde e
situação epidemiológica, isto é, às causas e suas manifestações ou efeitos. Observe-se:
numa concepção mais ampla de saúde podemos incluir entre os factores determinantes e
3
( ) Mário TESTA, Pensamento Estratégico e Lógica de Programação-O Caso da Saúde, UCITEC, RJ,
ABRASCO, 1975.
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4
( ) FIELD Apud Francisco VIACAVA, Uma Metodologia de Avaliação do Desempenho do Sistema de
Saúde Angolano, 2004.
5
( ) EV MENDES, Os Sistemas de Serviços de Saúde: O que os Gestores Deveriam Saber sobre essas
Organizações Complexas, Fortaleza, Escola Pública de Saúde Pública do Ceará, 2002, pág. 60.
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serviços nacional de saúde totalmente socializado, o novo sistema implantado com a Lei
n.0 21-B/92 define uma política nacional de saúde onde se tem em consideração um novo
sistema de financiamento, em que a Lei define uma política nacional de saúde devidamente
fiscalizada pelo Estado.
Deve-se desde já, respeitar a vida humana que tem Protecção Constitucional no
artigo 30º, e como configuração na Lei dos Serviços Privados de saúde, clarifica que os
Médicos estão perante uma prestação de serviços nos termos do art.0 1154º do C.C. que
remete para a L.D.C., culminando com a Lei nº 4/02 de 18 de Fevereiro-Lei Sobre as
Cláusulas Contratuais Gerais.
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CAPÍTULO II
A OBRIGAÇÃO HOSPITALAR
6
( ) Vide Luís Manuel Teles de Menezes LEITÃO, Direito das Obrigações-Introdução da Constituição
a
das Obrigaçõe, Vol. I, 7. Edição, Edições Almedina, 2008, pág. 13.
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o ónus uma vez que consiste num dever jurídico, imposto em benefício de outra pessoa
(cfr. art.0 398.0 n.0 2). Pelo contrário, aquele que está onerado pelo ónus não tem qualquer
dever, pelo que o seu não acatamento não se pode considerar ilícito, traduzindo-se apenas
na perda ou na não obtenção de uma vantagem.
7
( ) Luís Manuel Teles de Menezes LEITÃO, Op Cit., pág. 15.
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O erro presumido é uma das cauções mais frequentes. Ora, os doentes culpam a
falta de consentimento de uma intervenção, ora o hospital é citado ante um tribunal por
práticas ilegais, mesmo quando seu acto se apresenta dentro das exigências de sua ciência e
da própria lei.
Parte da população já chega a admitir, por outro lado, que a maior desgraça de um
paciente é cair nas mãos de um profissional hospitalar inapto, compenetrando-se de que
nada lhe serviriam a compaixão, o afecto e a ética sem um lastro científico. O primeiro
dever do profissional para com essas pessoas seria o conhecimento completo e profundo,
que podesse manté-lo constantemente actualizado em face dos estraordinários prodigiosos
avanços no campo da ciência médica.
O resultado das intervenções actuais são mais especulares que os das gerações
passadas. A publicidade é muito mais ampla devido aos modernos meios de divulgação. Os
transplantes cardíacos tanto fascinaram a imaginação do mundo inteiro que hoje se passou
a esperar muito mais da medicina.
O certo é que noutro qualquer serviço médico em que entram dezenas de doentes
por dia, haverá sempre um risco, apesar de todos os cuidados empregados em qualquer
intervenção médica, por mais simples e trivial que ela seja. Seria injusto, pois, culpar o
hospital ou o médico num acidente inevitável.
O Hospital, muito embora seja prestador de serviços, não responde por todo e
qualquer evento ocorrido em suas dependências. Se assim o fosse, jamais receberia um
paciente para o tratamento, na medida em que todo tratamento implica, necessariamente,
lesões corporais, de sorte que o Hospital teria de responder por danos estéticos causados
aos pacientes, o que seria uma interpretação teratológica da Lei.
Como a L.D.C. dispõe no art. 0 12.0 n.0 1 ‘‘o prestador de serviços responde pelos
vícios de quaidade que os tornem impróprios ao consumo ou lhes diminuam o valor (...)’’
e ainda no art.0 11.0 n.0 1 ‘‘os fornecedores de bens de consumo duradouros e não
duradouros respondem solidariamente pelos vícios de qualidade que os tornem
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impróprios ou inadequados ao consumo a que se destina ou lhes diminua o valor (...)’’( 9).
Evidentemente que a imputação de responsabilidade feita a Hospitais por atos ilícitos que
teriam sido praticados pelos médicos também segue a mesma regra.
A interpretação correcta da legislação é no sentido de que o Hospital responderá
objectivamente, sem que haja necessidade de o paciente demonstrar a culpa do hospital,
quando for comprovada a culpa do hospital.
9 0 0
( ) Segundo a L.D.C. no seu art. 3. , Consumidor é toda pessoa física ou jurídica a quem sejam
fornecidos bens e serviços ou transmitidos quaisquer direitos e que os utiliza como destinatário final, por
quem exerce uma actividade económica que vise a obtenção de lucros. Fornecedor é toda a pessoa física
ou jurídica pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados que
desenvolvem actividades de produção, montagem, criação, construção, transportação, importação,
exportação, distribuição ou comercialização de bens ou prestação de serviços. Bem é qualquer objecto de
consumo ou um meio de produção, móvel ou imóvel, material ou imaterial. Serviço é qualquer actividade
fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive às de natureza bancária, financeira,
crédito e securitária, excepto as decorrentes das relações de carácter laboral. Uso normal ou
razoavelmente previsível é toda a utilização que se mostra adequada à natureza ou características do bem
ou que respeita às indicações ou modos de uso aconselhados, de forma clara e evidente pelo produtor.
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estar com plena saúde e ser internado para uma cirurgia estética. Como todo ser humano
carrega em seu corpo germes, bactérias e vírus, é bastante possível que esse paciente
sofra uma infecção depois da cirurgia, que sempre debilita o corpo. Entretanto, não se
pode imputar a responsabilidade por esse facto ao hospital se esse forneceu todos os
equipamentos devidamente esterilizados, mantendo perfeita assepsia em seu
estabelecimento.
E nos casos em que o hospital lhe falte meios adequados para socorrer o doente em
estado grave, sobretudo em eminência de morte, se vê confrontado com o dever
deontológico-legal de assistência e com a omissão por incapacidade objectiva? Há
situações em que o acto hospitalar poderá configurar-se em estado de necessidade ou
conflito de interesses como causa de justificação civil ou penal. É o que se passa nos casos
de serviço de socorro em situação de urgência; na assistência hospitalar em conflito
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É o que estabelece o parágrafo único do artigo 158.º do C.P.P. nos termos do qual
«Na instrução deverão, tanto quanto possível, investigar-se as causas e circunstâncias da
infracção, os antecedentes e o estado psíquico dos seus agentes, no que interessa à causa, e
ainda o dano causado ao ofendido, a situação económica e a condição social deste e do
infractor para se poder determinar a indemnização por perdas e danos».
10
( ) Ana Raquel Gonçalves MONIZ, Responsabilidade Civil Extracontratual por Danos Resultantes da
Prestação de Cuidados de Saúde em Estabelecimentos Públicos: O Acesso à Justiça Administrativa, Coimbra
Editora, 2003, pág. 96.
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realização de prova pericial. Não raro ocorrem situações em que os danos são bem
graves, v.g., a infecção de viros do VIH, provocada por erro hospitalar resultante de uma
transfusão de sangue, mas que o tribunal entende não ser devida a reparação civil.
11 a
( ) Vide Carlos Roberto GONÇALVES, Direito Civil Brasileiro-Responsabilidade Civil, 5. Edição, Vol.
4, São Paulo: Saraiva, 2010, Apud Ricardo Lucas ADVOCACIA, A Responsabilidade Civil dos Hospitais Privados
por Erro Médico, 2016.
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12
( ) Prepostos são as pessoas que agem em nome de uma empresa ou organização. V.g.:
vendedores, gerentes, contabilistas, o representante comercial. Chama-se preponente aquele que constitui
o preposto, para ocupar-se dos negócios. Regra geral o preposto não pode, sem autorização escrita, fazer-
se substituir no desempenho da preposição, sob pena de responder pessoalmente pelos actos do substituto
e pelas obrigações por ele contraídas.
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CAPÍTULO III
Não havendo ainda um tribunal administrativo, pensamos que esta questão não se
há de colocar entre nós, pois, em princípio, quer se trate de um acto de gestão pública ou
privada, a sua impugnação contenciosa será feita na Sala do Civel e Administrativo do
respectivo Tribunal Provincial.
De qualquer modo, onde esta distinção releva, entendemos que a acção deve ser
proposta nos tribunais administrativos, intentando-se contra a administração pública. A
responsabilidade do médico havendo-á, será atribuída por via do exercício de um direito de
regresso da instituição hospitalar e esta pressupõe que o médico tenha actuado com a
diligência e zelo manifestamente inferiores aos que eram devidos em razão do cargo.
13
( ) Jorge Sinde MONTEIRO, Responsabilidade por Conselhos Recomendações ou Informações (tese
de doutoramento em Ciências Jurídicas pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra), Coimbra,
1997, p. 32.
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excedido os limites das suas funções’’. Nesses casos a acção deve ser intentada perante os
tribunais comuns(14).
Aqui, o médico actua nas vestes de funcionário público e pratica actos de gestão
pública. Deste modo, se as acções ou omissões do médico violarem disposições ou
princípios constitucionais legais ou regulamentares infrigirem deveres objectivos de
cuidado, afectarem as legis artis, ou ofenderem direitos ou interesses legalmente
protegidos colocando em perigo a vida ou a saúde do doente, ambos (médico e hospital)
responderão extracontratualmente, caso se verifique a ilicitude do acto e a culpa do
profissional de saúde.
14
( ) Responsabilidade Médica em Portugal, separata de: Ministério da Justiça, Lisboa, 1984, p. 33.
15
( ) Idem, ibidem,.
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Com base na diferença doutrinária e legal os hospitais podem ser pessoas colectivas
de direito público ou de direito privado.
Como sustenta alguma doutrina, se a existência das pessoas jurídicas resulta de uma
ficção legal a sua actuação no mundo das relações jurídicas tem de ser feita através dos
seus órgãos e prepostos.
Para melhor entendimento do que abaixo vem exposto, importa analisar primeiro o
conceito de preposto. Este será entendido como um longa manus da instituição hospitalar
ou do patrão, cujo plano central se funda no vínculo jurídico de subordinação que deve
haver entre os prepostos e a pessoa jurídica.
16
( ) Ramos Ávilla de ITALAMAR, A responsabilidade Civil dos Estabelecimentos de Saúde, Lamprina
Editora, Rio de Janeiro, 2008, pág. 35.
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subordinação, serão facilmente imputados à pessoa jurídica pela actuação dos seus
prepostos.
Na linha do que foi exposto, ‘‘o hospital responderia pelos actos médicos dos
profissionais que o administram (directores, supervisores, etc.) e dos médicos que sejam
empregados. Entretanto, se os médicos não forem prepostos mais profissionais
independentes sem vínculo de subordinação usando as dependências do nosocómio por
conveniência do próprio paciente, em razão da qualidade das acomodações, ter-se-á de
apurar a culpa de cada um.
Entre as várias teses avançadas a volta do tema importa-nos apresentar mais uma a
que nos parece satisfazer com maior rigor os interesses do lesado. Esta tese perfilha a
concepção mais ampla do conceito de preposto, para a qual a entidade hospitalar, inclusive
no caso de não manter com o médico um vínculo de emprego deve responder pelos danos
provocados ao paciente ocorrido no estabelecimento de saúde.
17
( ) Idem, ibidem.
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atribuídas que irá controlar, orientar e supervisionar a actuação daquele técnico de saúde.
Enfim, ao ser aceite o técnico de saúde é analisado, sendo avaliado nas suas qualidades
profissionais e, enquanto trabalha, está em constante vigilância devendo observar as
normas ditadas pelo regulamento interno.
18 0 0 0
( ) Este regime foi assumido na C.R.A., ao estabelecer no n. 3 do art. 75. que ‘‘a iniciativa
particular e cooperativa nos domínios da saúde, previdência e segurança social é fiscalizada pelo Estado e
exerce-se nas condições previstas por lei’’.
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terceiros pelo facto de o médico causar lesões a outrem por falta de cuidado
suficiente do profissional,
D) Nos casos de contrato total ou entre a clínica e o doente, em que o médico, não
sendo parte no contrato, responderá a título de responsabilidade extracontratual
(com os fundamentos ali expendidos).
19
( ) Carla GONÇALVES, A Responsabilidade Civil Médica: Um problema para além da culpa, Coimbra
Editora, 2008, pág. 130.
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No mesmo sentido VARELA(20), salienta que seria nulo um acordo com que o
hospital psiquiátrico pretendesse excluir a sua responsabilidade pelos actos médicos ou dos
enfermeiros que violam os deveres de diligência exigíveis em face do caso concreto.
3- ACÇÃO DE INDEMNIZAÇÃO
Em termos práticos, para que haja a condenação do hospital por erro médico (ou
mesmo de outro profissional liberal que nele actue), é necessária a demonstração do agir
culposo do profissional que dele é empregado, prova que em prática 90% dos casos é
realizada através de perícia. Vale ressaltar que médico e hospital respondem
solidariamente. Como se trata de relação consumerista, a demanda pode ser ajuizada
directamente contra o hospital, ao qual restará acção de regresso caso haja a
comprovação do erro hospitalar.
Por fim, quanto aos actos extra hospitalares, que são os decorrentes do serviço de
hospedagem do paciente, manutenção de aparelhos, alimentação dos pacientes,
deslocamento dos mesmos, entre outros, a responsabilidade do hospital é objectiva, nos
termos da L.D.C., não havendo, neste caso, necessidade de discussão se houve ou não
culpa do funcionário do nosocómio, na medida em que decorrem directamente da
actuação empresarial do hospital como prestador de serviços. Comprovando-se a falha na
prestação destes serviços, bem como o nexo de causalidade e o dano, configura-se o
dever de indemnizar do hospital.
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CONCLUSÕES
Diante dos limites impostos pelo instituto defendemos, que a longo prazo depois
de um estudo aprofundado possam ser adaptadas para a realidade jurídica angolana os
novos sistemas que em outras realidades jurídicas vão surgindo.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SILVA, Everton Nunes da, SILVA, Marcus Tolentino da, PEREIRA, Maurício
Gomes, Estudos de Avaliação Económica em Saúde, 2016.
VARELA, Antunes, Das Obrigações em Geral, Vol. I, 10.a Edição, Edições
Almedina, 2000.
VIACATA, Francisco, Uma Metodologia de Avaliação do Desempenho do
Sistema de Saúde Angolano, 2004.
LEGISLAÇÃO CONSULTADA