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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ

CAMPUS DE MARECHAL CÂNDIDO RONDON


CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS
CURSO DE DIREITO
DISCIPLINA DE METODOLOGIA DA PESQUISA - MATUTINO - 1º ANO

Aluno (a): Eduarda Arruda Schons RA: 121567


Professor (a): Elaine Cristina Francisco Volpato
Data: 29/03/2022

MEMORANDO PARECER

De: Dra. Eduarda Arruda Schons OAB nº XX.XXX


Para: Luciane Alves Bolino Data: 29/03/2022

Prezada Senhora,
O presente memorando de nº 01/2022, tem por finalidade notificá-la sobre a decisão
do Agravo de instrumento nº 0035890-47.2021.8.16.0000, da 2ª Vara Cível da Comarca da
Região Metropolitana de Curitiba - Foro Regional de São José dos Pinhais, cujo objetivo foi o
ajustamento da decisão de saneamento, afastamento da incidência da legislação consumerista
e o requerimento da inversão do ônus da prova.
1. Com a entrada da ação indenizatória em decorrência do erro médico, foi apresentado
que esta ação se encaixaria na definição de consumidora e agravados, prestadores de
serviço de saúde, na definição de fornecedor trazida pelo CDC, além da afirmação da
jurisprudência nestes entendimentos, inclusive reconhecendo a incidência do CDC, e
logo, da inversão do ônus da prova.
2. O agravado Hospital São Vicente sustentou que não houve incidência das regras da
legislação consumerista, já que o atendimento foi realizado pelo Sistema Único de
Saúde, ou seja, não havendo remuneração direta. Além disso, afirma que não havendo
requisitos para justificar a inversão do ônus da prova, a prova dos fatos cabe
exclusivamente a quem alega.
3. O agravado Julio Cesar Fontura não apresentou as contrarrazões ao recurso.
4. Na inicial da ação indenizatória, foi narrado os fatos e alega que diante da negligência,
imprudência e imperícia do médico, permaneceu com dores insuportáveis mesmo após
um ano de cirurgia. O juiz singular indeferiu a aplicação das normas do Código de
Defesa do Consumidor e da inversão do ônus da prova sob o fundamento que a
atuação médica foi de meio e não de resultado. Logo, a agravante alegou ser
hipossuficiente em relação ao agravado, a quem incumbiria o ônus de demonstrar que
não agiu com negligência.
5. In casu, tendo sido os réus fornecedores de serviço e não tendo havido o adequado
atendimento, a relação de direito material estabelecida é de consumo. Além do mais, o
fato da paciente ter sido atendida por meio do SUS não faz com que se afaste a
incidência do CDC, já que o hospital e o médico foram remunerados por seus serviços.
6. Dessa forma, conforme a doutrina de Luiz Antônio Rizatto Nunes:
“Logo, quando a lei fala em “remuneração” não está necessariamente se referindo
a preço ou a preço cobrado. Deve-se entender o aspecto “remuneração” no sentido
estrito de absolutamente qualquer tipo de cobrança ou repasse, direto ou indireto.
Para estar diante de um serviço prestado sem remuneração, será necessário que, de
fato, o prestador do serviço não tenha, de maneira alguma, se ressarcido de seus
custos, ou que, em função da natureza da prestação do serviço, não tenha cobrado o
preço. Por exemplo, o médico que atende uma pessoa que está passando mal na rua e
nada cobre por isso enquadra-se na hipótese legal de não recebimento de
remuneração. Nenhum serviço público pode ser considerado efetivamente gratuito,
já que todos são criados, mantidos e oferecidos a partir da receita advinda da
arrecadação de tributos. (Curso de Direito do Consumidor. E-book. 12. ed. São
Paulo: Saraiva, 2018).
7. É entendimento da Corte:
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. ERRO MÉDICO.
ATENDIMENTO PRESTADO PELO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS).
INCIDÊNCIA DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR.
REMUNERAÇÃO INDIRETA PELO ESTADO QUE NÃO DESCARACTERIZA
A RELAÇÃO DE CONSUMO. PACIENTE E HOSPITAL QUE SE
ENQUADRAM NA CONDIÇÃO DE CONSUMIDOR E FORNECEDOR,
RESPECTIVAMENTE. ALEGAÇÃO DE FALHA NA PRESTAÇÃO DE
SERVIÇOS MÉDICO-HOSPITALARES. INDENIZAÇÃO PELO FATO DO
PRODUTO OU SERVIÇO. INCIDÊNCIA DO PRAZO PRESCRICIONAL
QUINQUENAL (ART. 27, DO CDC). INOCORRÊNCIA DA PRESCRIÇÃO.
RETORNO DOS AUTOS AO JUÍZO DE ORIGEM, PARA PROSSEGUIMENTO
DO FEITO. RECURSO DE APELAÇÃO PROVIDO. (TJPR - 8ª C.Cível –
0002597-91.2018.8.16.0194 - Curitiba - Rel.: Desembargador Mário Helton Jorge -
J. 26.02.2020).
8. Dessa forma, aplicável as disposições do artigo 6º, inciso VIII, do CDC na qual
estabelece que um dos direitos básicos do consumidor é a facilitação da defesa de seus
direitos, incluindo a inversão do ônus da prova a seu favor. Além disso, é
inquestionável ao que concerne a hipossuficiência técnica da agravante em relação aos
agravados, já que estes são os detentores de todo o conhecimento técnico dos métodos
e procedimentos empreendidos, sendo que à requerente resta apenas a impressão de
erro.
9. Fica acordado por unanimidade, o provimento ao Agravo de Instrumento
reconhecendo a incidência do Código de Defesa do Consumidor com a inversão do
ônus probatório, com fulcro no artigo 6º, inciso VII, do Código de Defesa do
Consumidor.
Por ora, visando facilitar o cumprimento da ação indenizatória, peço-lhe que até o fim
mantenha em posse todos os exames e/ou documentos comprobatórios na qual atestam os
procedimentos cirúrgicos realizados pelo médico agravado, além de todos os demais
fornecidos e atestados por outros médicos, mesmo que diante ao agravo tenha sido acordado a
inversão do ônus da prova.
Atenciosamente,

Eduarda Arruda Schons


OAB: XX.XXX

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