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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 6ª VARA CÍVEL DA

COMARCA DE REDENÇÃO - PA

ANIRA, já devidamente qualificada nos autos da AÇÃO DE REPARAÇÃO POR


DANOS MORAIS E MATERIAIS pelo procedimento comum, por intermédio de seu
advogado legalmente constituído através de instrumento procuratório em anexo, que
move em face da EMERGÊNCIAS SERVIÇOS HOSPITALARES E MÉDICOS LTDA,
vem respeitosamente à presença de Vossa Excelência, tendo em vista a respeitável
sentença de ID..., nos termos do artigo 1.009 do Código de Processo Civil de 2015,
interpor o presente RECURSO DE APELAÇÃO, conforme razões anexas:
Sendo assim, requer seja o presente recurso recebido no efeito devolutivo e no
efeito suspensivo, intimando-se a parte contrária para, querendo, apresentar suas
contrarrazões no prazo de 15 (quinze) dias.
Outrossim, requer a remessa dos autos para o Egrégio Tribunal de Justiça, para
o seu processamento e julgamento.
Por fim, requer a juntada das custas de preparo, devidamente quitadas conforme
o anexo na forma da lei.

Nestes termos,
Pede deferimento
Redenção - PA, 14 de novembro de 2022.
Advogado
OAB
EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARA

APELAÇÃO CIVIL
Apelante: ANIRA
Apelado: EMERGÊNCIAS SERVIÇOS HOSPITALARES E MÉDICOS LTDA

Colenda Câmara,
Nobres Julgadores

1 – DOS PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE


A apelante é parte legítima, com o interesse sucumbencial, devidamente representada
conforme se verifica, portando, preenchido os pressupostos objetivos e subjetivos de
admissibilidade.

2 – DA TEMPESTIVIDADE
Verifica-se que houve a publicação no dia 31/10/2022. Sendo a juntada neste dia 14/11/2022,
verifica-se a sua tempestividade para a apresentação da contestação em tela, nos moldes a
seguir declinados.

3 – DA SÍNTESE DOS FATOS


Trata-se de ação de procedimento comum, na qual a apelante pleiteia ação indenizatória
por danos morais e materiais em decorrência da infecção hospitalar contraída, vindo a deixar
internada pelo período de 4 (quatro) meses na qual resultou em prejuízo no seu exercício
profissional de digital influencer tendo em vista que a mesma necessita de engajamento e
publicidade por meio de suas redes sociais deixando-a de lucrar.
Em sede de contestação, a apelada alegou unicamente a falta de nexo causal. Contudo, a
apelante contraiu infecção hospitalar no período em que estava se recuperando de uma
cirurgia hospitalar.
A sentença proferida pelo juiz “a quo” julgou improcedente o pedido da apelante,
acolhendo a fundamentação de falta de nexo de causalidade.
Ante o exposto, resta equivocada a respeitável decisão proferida pelo M.M. Juiz a quo,
devendo ser reformada por este Egrégio Tribunal, uma vez que a Apelada deve responder aos
termos da demanda, independentemente de culpa.
4 – DAS RAZÕES
A sentença recorrida negou o pedido da apelante fundamentada na exigência de
comprovação da culpa da apelada, adotando a teoria da responsabilidade civil subjetiva,
amparada na dicção do § 4° do art. 14 do Código de Defesa do Consumidor (CDC), consoante
o excerto retro transcrito:
“Em se tratando de danos advindos da relação médico-paciente é
imprescindível a comprovação de culpa na conduta do agente ofensor, para
que exista o nexo de causalidade. No caso em tela, o autor não demonstrou de
maneira inequívoca a conduta culposa dos profissionais médicos que o
atenderam, não sendo possível, desta forma, auferir responsabilidade civil
sobre os danos, conforme aduz o art. art. 14, § 4º do CDC. Desta forma, a
legislação consumerista deve ser interpretada, in casu, no sentido de exigir que
o consumidor (autor) comprove a culpabilidade dos profissionais médicos que
prestaram os atendimentos necessários.”
No entanto, laborou com equívoco o ilustre Magistrado singular, porquanto referido
dispositivo aplica-se exclusivamente às relações entre os profissionais liberais, ou seja, os
médicos responsáveis por ministrar o tratamento, e o paciente.
No caso em tela, entretanto, a apelante postula a condenação da sociedade responsável
pela manutenção do hospital no qual a apelante foi internada, vindo a contrair,
posteriormente, grave infecção, submetendo-se, portanto, à responsabilidade objetiva
prevista no art. 14, caput, do CDC:
“Art.14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência
de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos
relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou
inadequadas sobre sua fruição e riscos.”
A sociedade hospitalar, ao disponibilizar ao mercado consumidor serviços concernentes à
prestação de serviços de saúde por meio da EMERGÊNCIAS SERVIÇOS HOSPITALARES E
MÉDICOS LTDA, enquadra-se na definição de fornecedor insculpida no art. 3° do CDC,
assumindo, por conseguinte, o risco da atividade.
A doutrina compartilha deste entendimento:
"A relação entre paciente e hospital é contratual. Escrita ou verbal, expressa
ou tácita, onerosa ou gratuita, é indiferente. De forma geral, os danos sofridos
por pacientes internados sempre foram apurados com base na verificação da
culpa, porque decorrentes da má atuação médica isolada ou conjunta.
Entretanto, após o advento do CDC, instalaram-se critérios distintos para
aferimento da conduta médica e do procedimento hospitalar. Em relação ao
médico, isoladamente, permanece o critério de apuração da culpa. Em relação
ao hospital passou-se a adotar, cada vez mais, o critério de desprezo ou
irrelevância da culpa. Assim, os conflitos paciente/hospital estão sendo
examinados e interpretados pelos Tribunais, em boa parte, com base no
princípio da responsabilidade objetiva, ora de natureza absoluta (afastamento
da culpa), como se fosse autêntico contrato de risco (seguro), ora mitigada ou
relativa, procurando detectar o nexo de causalidade, a conduta censurável
(culpa presumida). Modestamente, aderimos a esta segunda posição. Por isso,
em caso de dano ao paciente por decorrência do internamento, pela incorreta
ação ou omissão da direção do hospital (a exemplo de infecção hospitalar, de
falta de oxigênio, de medicamentos vencidos, de alimentos perecidos ou
contaminados, de transfusão de sangue coletado de pessoa portadora de
doença contagiosa, de exame laboratorial incorreto, etc), o estabelecimento
de saúde pode ser responsabilizado isolado ou conjuntamente com o médico
ou médicos (se em equipe), se não provar a sua culpa. O critério de apuração
da responsabilidade, ao nosso ver, se estabelece pelo critério de presunção
da culpa, como subespécie da culpa objetiva - já que, salvo rara exceção, é
impossível falar em relação paciente/hospital sem participação médica. Para
se esquivar da responsabilidade, cumpre ao estabelecimento de saúde
comprovar culpa própria do paciente, fato de terceiro, caso fortuito externo
ou força maior invencível e/ou, também, cumprimento de ordem legal. É que,
em regra, o paciente em nada pode fazer, exceto cumprir as ordens do
médico e o regulamento do estabelecimento de saúde" (Jurandir Sebastião, A
Responsabilidade Civil, A Singularidade da Medicina e Aplicação do Direito, in
Erro Médico: Responsabilidade Civil Médico-Hospitalar, vol. III, Rio de Janeiro:
ADV/COAD, 2004 -Suplemento Seleções Jurídicas, p. 59).
O entendimento jurisprudencial não destoa. No julgamento de caso análogo, esta egrégia
Corte reconheceu a aplicabilidade das regras de responsabilidade civil objetiva a hospitais:
“Os hospitais, em face do disposto no Código de Defesa do Consumidor, estão
sujeitos à responsabilidade objetiva que prescinde de demonstração da culpa
por ser o paciente a parte hipossuficiente da relação” (TJSC – Ap. cív. nº
2004.015582-4, de Araquari. Relator: Juiz Sérgio Izidoro Heil. Julgado em
08/03/2005).
Desnecessária, destarte, a comprovação da culpa da apelada para a configuração da
responsabilidade objetiva, resta aferir a ocorrência de dano e de nexo causal entre esta e a
conduta da apelada, os quais, a despeito das conclusões da sentença de 1° grau, restaram
amplamente comprovados.
Nesse sentido, acompanhemos o seguinte julgado do Tribunal de Justiça do RS:
“Resta caracterizada a falha da ré, na prestação de serviço, sendo caso de
aplicação do art. 14 do Código de Defesa do Consumidor, segundo o qual os
fornecedores respondem, independentemente de culpa, pela reparação dos
danos causados a consumidores por defeitos relativos aos serviços prestados,
bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e
risco.”
Sendo assim, no que diz respeito a responsabilidade objetiva devida da apelada, vale
ressaltar que a apelante tem direito a ser indenizada conforme o parágrafo único do art. 927
do Código Civil, que diz:
“Art. 927. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa,
nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente
desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os
direitos de outrem.”
Por fim, o doutrinador Nelson Nery ensina:
“A norma estabelece a responsabilidade objetiva como sendo o sistema geral
da responsabilidade do CDC. Assim, toda indenização derivada de relação de
consumo, sujeita-se ao regime da responsabilidade objetiva, salvo quando o
Código expressamente disponha em contrário. Há responsabilidade objetiva
do fornecedor pelos danos causados ao consumidor, independentemente da
investigação de culpa.”
Portanto, deve ser reformada a sentença de 1º grau para responsabilizar a apelada pelo
pagamento de indenização pelos danos decorrentes da infecção que acometeu a apelante.

5 – DOS DANOS
Conforme anteriormente explanado, a relação jurídica existente entre a apelante e a
apelada caracteriza-se como prestação de serviços hospitalares, regulada, portanto, pelas
normas do Código de Defesa do Consumidor. Ou seja, no presente caso deve ser aplicado o
art. 14 do supracitado codex, o qual dispõe que a responsabilidade civil do fornecedor de
serviços é objetiva, independe da existência de culpa.
Assim, em se tratando da responsabilidade civil na sua modalidade objetiva, caberá a
lesada comprovar a existência do dano e do nexo de causalidade entre esta e a conduta da
ré. Ao fornecedor de serviços, por sua vez, incumbe provar a ocorrência de alguma das
excludentes de responsabilidade, tais como o caso fortuito e a força maior.
Ora Excelência, em face do dano a apelante. In casu, a recorrente foi ao Hospital, a fim de
submeter-se a uma cirurgia. Ocorre que nos dias subsequentes, nos quais a apelante
recuperava-se da intervenção cirúrgica, contraiu uma infecção hospitalar, motivo pelo qual
ficou internada durante o período de 4 (quatro) meses.
Em primeiro lugar, não há dúvidas Excelência, diante de tais fatos, de que a apelante
sofreu dano moral. Aliás, para o Professor Yussef Said Cahali, dano moral:
"é a privação ou diminuição daqueles bens que têm um valor precípuo na vida
do homem e que são a paz, a tranqüilidade de espírito, a liberdade individual,
a integridade individual, a integridade física, a honra e os demais sagrados
afetos, classificando-se desse modo, em dano que afeta a parte social do
patrimônio moral(honra, reputação, etc.) e dano que molesta a parte afetiva
do patrimônio moral (dor, tristeza, saudade, etc.), dano moral que provoca
direta ou indiretamente dano patrimonial (cicatriz deformante, etc.) e dano
moral puro (dor, tristeza, etc.)" (CAHALI, Yussef Said. Dano Moral, Editora
Revista dos Tribunais, SP, 1998, 2ª edição, p. 20).
Do conceito trazido, tem-se que a apelante sofreu lesão da sua paz, tranqüilidade,
integridade física e individual, uma vez que teve que ficar internada por um longo período
dado à negligência da entidade apelada. A jurisprudência é assente no sentido de que
infecção hospitalar causada por negligência dos hospitais gera o dever destes de indenizar a
lesada pelos danos morais e materiais sofridos. É o que se extrai do seguinte acórdão:
"O hospital responde pelos danos materiais e morais decorrentes de infecção
hospitalar, se não prova, de maneira clara e convincente, a ocorrência de
caso fortuito" (TJSP, AC nº 65.635-4, Rel. Des. Cezar Peluso, j. 23/02/1999).
Assim sendo, não há dúvidas de que a apelante teve de suportar intenso abalo psíquico
devido à conduta da apelada, configurando, portanto, o dever deste de indenizar a apelante
por danos morais.

6 – REQUERIMENTO
Diante do Exposto, requer seja recebido e processado o presente Recurso de Apelação
para que, no mérito, lhe seja dado provimento, com o fito de que seja reformada a respeitável
sentença proferida pelo juiz “a quo”.
Por fim, requer seja procedente o pedido inicial, com inversão do ônus da sucumbencial.

Neste termos,
Pede Deferimento
Redenção - PA, 14 de novembro de 2022.
Advogado
OAB

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