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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO EGRÉGIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Autos nº _________________________________

CARLOS_____________________, brasileiro, solteiro, portador do RG sob o º


________________, inscrito no CPF sob o nº ______________________, residente e
domiciliado na ______________________________, neste ato, por intermédio de sua
procuradora, adiante dos autos nº _____________________________, da Ação
Declaratória de Nulidade, em trâmite na 4ª Vara Cível da Comarca do Rio de Janeiro,
que move em face de MEDCARE SAÚDE INTEGRAL LTDA, inscrita no CNPJ nº
_____________________________, localizada na
______________________________, vem respeitosamente perante Vossa Excelência,
não se conformando com a r. Decisão de fl. _____ e com fundamento no artigo 1.015,
inciso I, do Código de Processo Civil de 2015, interpor o

AGRAVO DE INSTRUMENTO

Pelas razões de fato e de direito a seguir expostas.

Requer que seja recebido o presente recurso no seu regular efeito devolutivo com a
concessão do efeito ativo, para o fim de antecipar os efeitos da tutela recursal, por se
tratar de dano de difícil ou incerta reparação.

O agravante informa os nomes e endereços dos advogados habilitados, aptos a serem


intimados dos atos processuais:
ADVOGADO DO AGRAVANTE: Gabriela Cavalcanti Peres, inscrita na OAB/RJ sob o
nº_____, com escritório profissional estabelecido à_______________________,
endereço eletrônico _________________________.

ADVOGADO DO AGRAVADO: _______________________, inscrito(a) na OAB/____


sob o nº ______, com escritório profissional localizado na ____________________,
endereço eletrônico ________________________________.

DO PREPARO

O agravante acosta o comprovante de recolhimento do preparo, cuja guia


correspondente ao valor de R$ _________ (valor por extenso), atende à tabela de
custas deste Tribunal.

Termos em que pede e espera o deferimento.

Rio de Janeiro-RJ, 01 de outubro de 2021

Gabriela Cavalcanti Peres


OAB/RJ nº _______
RAZÕES DO AGRAVO DE INSTRUMENTO

AGRAVANTE: CARLOS, brasileiro, solteiro, portador do RG sob o º ________________,


inscrito no CPF sob o nº ______________________, residente e domiciliado na
______________________________

AGRAVADO: MEDCARE SAÚDE INTEGRAL LTDA, inscrita no CNPJ nº


_____________________________, localizada na ______________________________

EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

COLENDA DA CÂMARA,

A respeitável decisão interlocutória agravada merece ser reformada, visto que


proferida em franco confronto com os interesses do Agravante, já que o mantém em
situação de risco pela inflexibilidade da Agravada.

I - DA TEMPESTIVIDADE E DO CABIMENTO

Quanto ao cabimento, o presente recurso faz-se o meio mais adequado para


impugnar a r. decisão, visto que este versa sobre matéria de tutela provisória. Tendo
em vista que a tutela provisória fora deferida através de decisão interlocutória,
configura-se cabível o Agravo de Instrumento, conforme previsto no art. 1.015, inciso I,
do Código de Processo Civil.
A tutela provisória solicitada visava a imposição da manutenção das custas do
agravante pelo plano de saúde em seu hospital conveniado, sem que houvesse a
limitação quanto ao número de dias de internação. No entanto, não fora deferida sob
o argumento da não urgência da medida, e da existência da cláusula de limitação
temporal firmada pelas partes no contrato de adesão.
Diante disso, o Agravante, inconformado, entende que o Douto Juízo a quo, ao
proferir a decisão acima mencionada, agiu, data máxima vênia, sem a devida
razoabilidade, diante da dificuldade financeira enfrentada pelo Agravante, que não
pode arcar com as custas da internação.
Dessarte, o Agravante fora intimado em 05 de março de 0000, por meio do
Diário da Justiça nº. 0000 e protocolou o presente Agravo em 15 de março de 0000.
Visto que o lapso de tempo do recurso em espécie é quinzenal (CPC/2015, art. 1.003, §
5º), atesta-se que o prazo processual fora devidamente obedecido.

II- DAS RAZÕES RECURSAIS

Carlos_______________________ contratou o plano de saúde da MedCare


Saúde Integral Ltda. Na apólice assinada, constou a Cláusula 56.4, a qual limitou a dez
dias o período máximo possível para eventual internação do segurado em unidade de
tratamento intensivo.
Recentemente, o Agravante adquiriu uma enfermidade grave que o levou a ser
internado em um dos hospitais da rede conveniada, necessitando de cuidados médicos
constantes.
Ocorre que, depois de nove dias internado, Carlos foi procurado pela direção
do hospital e foi informado que o plano não cobriria mais os gastos, pois o período de
cobertura da internação estava para vencer.
Considerando que não teria condições de arcar com os elevados custos da
internação e do tratamento, Carlos entrou em contato com a seguradora MedCare, da
qual ouviu que, de fato, dada a previsão contratual, a cobertura da internação seria
suspensa.
O Agravante, então, ajuizou ação declaratória de nulidade da cláusula
contratual em questão, com pedido de tutela antecipada para impor ao plano de
saúde o dever de arcar com a sua internação, no hospital conveniado, sem qualquer
limitação quanto ao número de dias de internação.
Diante disso, argumentou que, se a enfermidade está coberta pelo seguro, não
é possível, sob pena de grave abuso, impor ao segurado que se retire da unidade de
tratamento intensivo, com o risco severo de morte, porque está fora do limite
temporal estabelecido em uma determinada cláusula.
Distribuída a ação perante a 4ª Vara Cível da Comarca do Rio de Janeiro/RJ, o
magistrado negou o pedido de tutela antecipada sob o argumento de que não haveria
urgência na medida e que a cláusula de limitação temporal foi livremente firmada
pelas partes.
Dessa forma, verifica-se que a enfermidade do Agravante é grave e que este
necessita de tratamentos constantes, não sendo viável que seja retirado da UTI, uma
vez que ficaria sem os devidos e necessários cuidados.
Para tanto, deve ser analisado que a relação estabelecida entre os planos de
saúde e o paciente é uma relação jurídica de consumo, a qual pode ser conceituada
como uma relação existente entre fornecedor e consumidor, que tem por objeto a
aquisição de um produto ou a utilização de um serviço.
Assim, classificar a relação entre a seguradora e o segurado como
consumerista implica na aplicação de princípios e regras protetivas, tais como:
vedação às obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor
em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé, interpretação das
cláusulas contratuais de maneira mais favorável ao consumidor, dentre outras.
O fato do contrato estipular tempo para a permanência dos pacientes na sala
de UTI de 10 dias, é considerado como abusivo ao consumidor, já que não se pode
controlar qual tipo de patologia o consumidor do plano de saúde irá contrair, para
algumas doenças o tempo pode ser menor que 10 dias, no entanto, não é a regra,
podendo se estender dias mais longos.
Diante de cláusulas contratuais com limitação de internação na UTI e a
estipulação de um limite ao valor do custeio do tratamento médico-hospitalar,
dentre outras, a Corte Cidadã posiciona-se no sentido de que são cláusulas abusivas
que atentam contra direitos absolutos à saúde e à vida.

Neste sentido, o Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira (Relator do Recurso


Especial nº. 251.024 - SP) expôs:

“tenho por abusiva a cláusula que impõe a limitação temporal


no tratamento da doença sofrida pelo segurado, levando em
consideração a norma do art. 51-IV do Código de Defesa do
Consumidor, a impossibilidade da previsão do tempo de cura, a
irrazoabilidade da suspensão do tratamento indispensável, a vedação
de restringir-se em contrato direitos fundamentais e a regra de sobre
direito contida no art. 5º da Lei de Introdução ao Código Civil, segundo
a qual, na aplicação da lei, o juiz deve atender aos fins sociais a que ela
se dirige a às exigências do bem comum”.

A respeito do tema, o Ministro Menezes Direito, proclamou:

O consumidor não é senhor do prazo de sua recuperação, que, como é


curial, depende de muitos fatores, que nem mesmo os médicos são
capazes de controlar. Se a enfermidade está coberta pelo seguro, não
é possível, sob pena de grave abuso, impor ao segurado que se retire
da unidade de tratamento intensivo, com o risco severo de morte,
porque está fora do limite temporal estabelecido em uma determinada
cláusula. Não pode a estipulação contratual ofender o princípio da
razoabilidade, e se o faz, comete abusividade vedada pelo art. 51, IV,
do Código de Defesa do Consumidor. Anote-se que a regra protetiva,
expressamente, refere-se a uma desvantagem exagerada do
consumidor e, ainda, a obrigações incompatíveis com a boa-fé e a
equidade (REsp nº. 158.728/RJ).

Ademais, a Súmula 302 do STJ preceitua:

Súmula 302: É abusiva a cláusula contratual de plano de saúde


que limita do tempo a internação hospitalar do segurado.

É o entendimento jurisprudencial do mencionado tribunal:

Plano de saúde. Limite temporal da internação. Cláusula


abusiva. 1. É abusiva a cláusula que limita no tempo a
internação do segurado, o qual prorroga a sua presença em
unidade de tratamento intensivo ou é novamente internado
em decorrência do mesmo fato médico, fruto de complicações
da doença, coberto pelo plano de saúde. 2. O consumidor não
é senhor do prazo de sua recuperação, que, como é curial,
depende de muitos fatores, que nem mesmo os médicos são
capazes de controlar. Se a enfermidade está coberta pelo
seguro, não é possível, sob pena de grave abuso, impor ao
segurado que se retire da unidade de tratamento intensivo,
com o risco severo de morte, porque está fora do limite
temporal estabelecido em uma determinada cláusula. Não
pode a estipulação contratual ofender o princípio da
razoabilidade, e se o faz, comete abusividade vedada pelo art.
51, IV, do Código de Defesa do Consumidor. Anote-se que a
regra protetiva, expressamente, refere-se a uma desvantagem
exagerada do consumidor e, ainda, a obrigações incompatíveis
com a boa-fé e a eqüidade. 3. Recurso especial conhecido e
provido. (STJ - REsp: 158728 RJ 1997/0090585-3, Relator:
Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO, Data de
Julgamento: 16/03/1999, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de
Publicação: DJ 17.05.1999 p. 197JBCC vol. 200 p. 111JSTJ vol. 6
p. 247LEXSTJ vol. 122 p. 188RSTJ vol. 121 p. 289)

Por tais motivos, foi interposto o presente recurso, com o objetivo de evitar a
aplicação da cláusula abusiva colocada pela Agravada, diante da condição de saúde
gravíssima do Agravante.

III- DOS EFEITOS

No caso em tela, o Agravante encontra-se internado em Unidade de


Tratamento Intensivo em hospital conveniado da Agravada.
O estado de saúde do Agravante é extremamente delicado e necessita de
acompanhamento médico contínuo, conforme demonstrado nos laudos médicos.
Sendo assim, não há que se falar em interrupção da internação do paciente, uma vez
que, caso isso ocorra, o Agravante poderá ter seu quadro agravado, podendo,
inclusive, vir a óbito.
Desta forma, fica demonstrado o perigo de dano à saúde do paciente.
Portanto, é imprescindível o efeito ativo da presente decisão para que este possa
permanecer internado na UTI, sem nenhuma limitação de tempo.
De mais a mais, conforme o artigo 300 do Código de Processo Civil, a tutela de
urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a probabilidade
do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo, o que restou
comprovado.
Por fim, vale ressaltar que não há que se falar em irreversibilidade do efeito
ativo, uma vez que caso o efeito seja concedido, se posteriormente demonstrado
que a Agravante não tinha direito, ele poderá indenizar a Agravada.

IV – DOS PEDIDOS

Isto posto, pede-se:


a) A admissibilidade do presente recurso;
b) O reconhecimento do efeito devolutivo e ativo, para que seja concedida a
tutela antecipada, com a finalidade de manter a internação até o julgamento
do recurso ou até a alta médica do paciente;
c) A intimação do Agravado para cumprir a decisão no prazo de ___ horas e,
querendo, no prazo de ___ dias apresentar resposta;
d) Informar a este Tribunal que no prazo de ___ dias, comunicará ao Juízo acerca
da interposição do recurso;
e) Informar a este Tribunal as peças que instruem o presente recurso:

 Procuração outorgada ao advogado do agravante;


 Petição inicial da ação declaratória de nulidade;
 Apólice e contrato do plano de saúde MedCare Saúde Integral Ltda;
 Contestação;
 Decisão interlocutória recorrida;
 Prontuário médico do Agravante;

Termos em que,
Pede e espera provimento.
Rio de Janeiro-RJ, 05 de outubro de 2021

Gabriela Cavalcanti Peres


OAB/RJ nº _______

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