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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO EGRÉGIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE PERNAMBUCO

NPU de Origem: 0074629-10.2020.8.17.2001


Recorrente: HAPVIDA ASSISTÊNCIA MÉDICA LTDA
Recorrida: MARIA ZÉLIA SOBREIRA MACHADO

MARIA ZELIA SOBREIRA MACHADO, já qualificada nos


autos em epígrafe, vem à presença de V. Ex a., com fulcro no § 2º e 3º do Art. 544 do CPC,
respeitosa e tempestivamente, apresentar CONTRARRAZÕES ao AGRAVO em RECURSO
ESPECIAL interposto pela parte adversa, já devidamente qualificada, o que faz consoante
as razões de fato e de direito que a seguir passa a expor.

Termos em que
Pede deferimento.
Recife/PE, 25 de julho de 2022.

Luciana Pereira Gomes Browne


OAB/PE 786-B
CONTRARRAZÕES AO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL

AGRAVANTE: HAPVIDA ASSISTÊNCIA MÉDICA LTDA


AGRAVADO:MARIA ZÉLIA SOBREIRA MACHADO
PROCESSO:0074629-10.2020.8.17.2001
JUÍZO DE ORIGEM: SEÇÃO B DA 3ª VARA CÍVEL DA COMARCA DO RECIFE

Egrégia Câmara,
Digno Julgador.

I. DA TEMPESTIVIDADE

Em considerando que o primeiro dia da publicação foi em


12/07/2022 e que o prazo para apresentar contrarrazões é de quinze dias úteis, segundo
eloquência do Código de Processo Civil de 2015, uma vez protocolado nesta data, resta
demonstrado o preenchimento do requisito da tempestividade das presentes contrarrazões.

II. SÍNTESE DA CONTROVÉRSIA – BREVE RESUMO DOS FATOS

Trata-se de Ação ajuizada em face da Hapvida Assistência


Médica Ltda na qual requereu a parte ora recorrida a cobertura por parte do plano para
fornecimento de estrutura completa para tratamento da Recorrida em home care, ante a
indicação médica existente.
Acertadamente o magistrado de primeiro grau proferiu decisão
antecipatória de tutela os pedidos autorais, a qual inclusive nunca foi cumprida pela
Recorrente, in verbis:

Por tudo exposto, em sede de juízo provisório com fundamento no


art. 300 do CPC/2015, concedo a liminar perseguida, antecipando
os efeitos da tutela, e determino à ré que autorize, no prazo de dois
dias, e arque com o tratamento da autora na modalidade Home
Care, no endereço constante na sua qualificação na inicial, conforme
solicitação do médico responsável no documento de ID n°.
71372180, garantindo todos os itens ali previstos, quais sejam:
assistência de enfermagem 24h/dia; visita médica semanal;
fisioterapia respiratória e motora de segunda a sexta-feira;
fonoterapia em 03 sessões semanais; oxigenioterapia domiciliar -
Concentrador de oxigênio; colchão pneumático e maca hospitalar;
assistência para medicações de uso ambulatorial anticoagulação
(Clexane em dose plena ou Eliquis) / Lasix 40 mg/dia / Micardis 80
mg/dia / Pantoprazol 40 mg/dia / Apresolina 50 mg 12/12h /
Escitalopram 20 mg/dia / Rosucor 20 mg/dia / Razapina 30 mg/dia /
Clonazepam 0,5 mg/dia / Daflon 100 mg/dia / Ômega 3 / Vitamina D;
acompanhamento psicoterápico uma vez na semana; cuidados
gerais: cadeira de rodas / cadeira para banho / assistência para
banho; suplementação nutricional hiperprotéica / hipercalórica / sem
lactose e sem sacarose: Nutren Senior / Glucerna 1.5; assistência
fisioterápica com BiPAP; fralda geriátrica tamanho G, marca
BIGFRAL; algodão ou lenço para banho em leito; óleo de Girassol
(Dersani).

Em caso de descumprimento da presente liminar, fixo a multa diária


no valor de R$ 2.000,00 (dois mil reais), nos termos do art. 297 do
CPC/2015, limitada a multa ao montante de R$ 150.000,00 (cento e
cinquenta mil reais).
.
Irresignada, a parte recorrente interpôs Agravo de Instrumento
em face da decisão e, novamente de forma acertada, A 3ª Câmara Cível deste Tribunal
negou provimento ao referido recurso nos seguintes termos:

EMENTA. AGRAVO DE INSTRUMENTO. PLANO DE SAÚDE. HOME


CARE. PESSOA IDOSA. COMORBIDADES. PRESCRIÇÃO MÉDICA.
ROL NÃO TAXATIVO DA ANS. ENTENDIMENTO DO STJ. ALEGAÇÃO
DE JULGAMENTO ULTRA PETITA. ASTREINTES. VALOR MANTIDO.
RECURSO DESPROVIDO. AGRAVO INTERNO PREJUDICADO.
1 – Há nos autos pessoa idosa cujo médico pneumologista, atestando
diversos problemas de saúde aos quais se somam múltiplas
comorbidades, e deixando registrado que a internação hospitalar
implicaria riscos de piora e infecção, prescreveu internação home care,
listando os recursos a ela vinculados. A seguradora não emitiu resposta,
o que levou ao ajuizamento da ação.
2 – A não inclusão de tratamento no rol da ANS não retira da seguradora
o dever de fornecer a cobertura. A lista é não exaustiva, consistindo em
referência básica para cobertura assistencial mínima obrigatória, sendo
este o entendimento do STJ (apesar de eventual divergência, que não
reflete o posicionamento majoritário da Corte), reforçado pela Terceira
Turma, a exemplo de: AgInt no AgInt no AREsp 1729345/SP. Rel. Min.
Marco Aurélio Bellizze, 3ª Turma, Julg: 29/03/2021, Public: DJe
06/04/2021.
3 – O contrato em questão não exclui o tratamento para a doença, de
modo que não pode o plano de saúde restringir o tipo de medida a ser
aplicada, devendo ser obedecida a prescrição do médico responsável, a
quem cabe exclusivamente avaliar a situação concreta e fazer suas
indicações de acordo com aquilo que o caso demanda, garantindo ao
paciente o tratamento mais adequado para as suas circunstâncias.
4 – A internação domiciliar equivale à intenação hospitalar, na qual se
inclui o conjunto de equipamentos e materiais atrelados à medida, além
dos profissionais que promovem as terapias necessárias ao tratamento.
Insustentável, pois, a alegação de julgamento ultra petita, já que a
decisão agravada obedeceu aos limites do pedido (cobertura para
tratamento “home care com os recursos solicitados pelo médico”).
5 – A recusa de cobertura para o tratamento em questão frustra a legítima
expectativa do consumidor de receber a devida assistência médica em
momento de necessidade, desconsiderando os riscos de infecção
apontados no laudo e de contaminação por Covid, afetando o equilíbrio
da relação contratual, a dignidade da pessoa humana (e, portanto, a
própria Constituição Federal), e o escopo do próprio contrato, que é a
proteção da saúde e da vida. Precedentes.
6 – Inexistentes os requisitos ensejadores da liminar perseguida.
Configurado o periculum in mora reverso, ante o potencial risco imposto à
paciente/consumidora, submetida a injusta espera para realização do
tratamento indicado, o que poderia agravar seu problema de saúde ou
inviabilizar sua melhora.
7 – Mantido o valor da multa diária por estar dentro dos limites de
razoabilidade e proporcionalidade, servindo-se ao propósito de compelir a
ré a cumprir a obrigação, ainda mais quando há notícias de
descumprimento.
8 – Agravo de instrumento DESPROVIDO. Agravo interno (id. 16343794)
NÃO CONHECIDO por restar prejudicado.

Por fim, em decisão terminativa foi negado seguimento ao


Recurso Especial, em razão das Súmulas 735 do STF, 7 do STJ e no art. 1.030, V do CPC.

O TJPE decidiu de forma criteriosa e atentamente


fundamentada, e assim, o acórdão não merece reparos. Não houve qualquer erro de
interpretação ou violação de dispositivos de lei federal, uma vez que todo o conjunto
probatório carreado pelo recorrente, não demonstra, nos exatos termos definidos pela
doutrina e jurisprudência, os requisitos imprescindíveis para a responsabilidade civil pela
teoria objetiva.

III. DAS RAZÕES DE MANUTENÇÃO DA DECISÃO TERMINATIVA

Inicialmente Douto julgadores como é sabido, e bem elencado


em sede da contrarrazões ao recurso especial, consoante a inteligência da súmula 7 STJ,
não devem ser devolvidas questões de fatos perante este tribunal, de modo que esta
súmula, coloca restrição no efeito devolutivo do recurso, no que concerne a
inadmissibilidade de reexame de provas processuais, uma vez que o referido ato acarretaria
inevitavelmente uma revisão das matérias de fato:

Súmula 7. A pretensão de simples reexame de prova não enseja


recurso especial.
Neste ínterim, temos que o cerne da lide processual, decorre
no tocante à análise da regularidade do procedimento administrativo da Celpe para
apuração do débito, referente ao consumo não auferido diante da irregularidade desvio
antes do medidor.
Logo, verifica-se que o recorrente, através do recurso de
agravo em recurso especial, vislumbra sua angústia, no intuito de promover, perante o
órgão colegiado do STJ, uma nova análise acerca do arcabouço fático e probatório,
utilizando-se como subterfúgio, uma suposta ofensa a dispositivo de lei federal, quando na
realidade não existe.
Além disso, vale destacar que o Agravante, mais uma vez não
parece se atentar aos pressupostos de admissibilidade do recurso especial, quando suscita
divergência jurisprudencial, com o que preza o artigo 105, inc III, da CF/88, tendo em vista
que antes de ingressar com o presente recurso, deveria ter comparado o acórdão recorrido
com outros paradigmas, não bastando assim, a mera menção ou suas transcrições.
Inclusive, este é o entendimento do Supremo Tribunal Federal,
ao cuidar da admissibilidade do recurso extraordinário com base em dissídio jurisprudencial,
cristalizou o seguinte entendimento na Súmula n.º 291, que transcrevemos com grifos:

No recurso extraordinário pela letra "d" do art. 101, número III, da


Constituição, a prova do dissídio jurisprudencial far-se-á por certidão,
ou mediante indicação do "Diário da Justiça" ou de repertório de
jurisprudência autorizado, com a transcrição do trecho que configure
a divergência, mencionadas as circunstâncias que identifiquem ou
assemelhem os casos confrontados.

A propósito do tema, confira-se o aresto abaixo, por ser


extremamente pedagógico, com destaques nossos:

PROCESSUAL CIVIL - AGRAVO DE INSTRUMENTO - NEGATIVA


DE PROVIMENTO - AGRAVO REGIMENTAL - EMBARGOS DE
TERCEIROS - AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO - DIVERGÊNCIA
JURISPRUDENCIAL - NÃO COMPROVAÇÃO - ALEGAÇÃO DE
CONTRARIEDADE AO ART. 1.046 DO CPC - REEXAME DE
MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA - SÚMULA 7/STJ -
DESPROVIMENTO. 1 - A jurisprudência desta Corte admite a
dispensa da transcrição de trechos do acórdão paradigma e o cotejo
entre ele e o aresto impugnado se notório o dissídio que se pretende
configurar, notadamente quando o confronto se dá com precedentes
deste Tribunal, entretanto essa não é a hipótese dos autos, pois a
divergência não se caracteriza como notória. Ademais, inexiste
similitude fática entre os julgados paradigmas colacionados e o v.
acórdão recorrido. 2 - Encerra em reexame do conjunto fático-
probatório a tese suscitada em recurso especial, uma vez que a
análise da caracterização ou não da boa-fé da adquirente do
automóvel exigiria a reapreciação das provas existentes nos autos, o
que é vedado a esta Corte, a teor da Súmula 7/STJ. 3 - Agravo
regimental desprovido (STJ - AgRg no Ag: 681596 DF
2005/0084127-3, Relator: Ministro JORGE SCARTEZZINI, Data de
Julgamento: 02/08/2005, T4 - QUARTA TURMA, Data de
Publicação: --> DJ 22/08/2005 p. 299)

Por extrema cautela, prezando-se pelo princípio da


eventualidade, na remota hipótese de Vossa Excelência conhecer o agravo em recurso
especial, sob o preceito de preencher os requisitos de cabimento, diante de todas
considerações já destacadas, vale trazer à tona informações que auxiliem a aclarar a
necessidade de manutenção do decisum atacado pelo agravo.

Como se sabe, em julgamento recente realizado em 08-06-


2022, a Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça (STJ) entendeu ser taxativo, em
regra, o rol de procedimentos de cobertura obrigatório estabelecido pela Agência Nacional
de Saúde (ANS), não estando as operadoras de saúde obrigadas a cobrir tratamentos não
previstos na lista.

Contudo, o colegiado fixou parâmetros para que, em


situações excepcionais, os planos custeiem procedimentos não previstos na lista, como
por exemplo a terapia com recomendação médica, sem substituto terapêutico no rol, e que
tenham comprovação de órgãos técnicos e aprovação de instituições que regulam o setor.

Dessa maneira, pode-se se dizer que a taxatividade, não é


um critério absoluto, haja vista que comporta exceções legais. Por maioria de votos, a
seção definiu as seguintes teses:

1. O rol de procedimentos e eventos em saúde


suplementar é, em regra, taxativo;

Contudo:

2. A operadora de plano ou seguro de saúde não é


obrigada a arcar com tratamento não constante do rol da
ANS se existe, para a cura do paciente, outro
procedimento eficaz, efetivo e seguro já incorporado ao
rol;
3. É possível a contratação de cobertura ampliada ou a
negociação de aditivo contratual para a cobertura de
procedimento extra rol;
4. Não havendo substituto terapêutico ou esgotados os
procedimentos do rol da ANS, pode haver, a título
excepcional, a cobertura do tratamento indicado pelo
médico ou odontólogo assistente, desde que (i) não tenha
sido indeferido expressamente, pela ANS, a incorporação
do procedimento ao rol da saúde suplementar; (ii) haja
comprovação da eficácia do tratamento à luz da medicina
baseada em evidências; (iii) haja recomendações de
órgãos técnicos de renome nacionais (como Conitec e
Natjus) e estrangeiros; e (iv) seja realizado, quando
possível, o diálogo interinstitucional do magistrado com
entes ou pessoas com expertise técnica na área da saúde,
incluída a Comissão de Atualização do Rol de
Procedimentos e Eventos em Saúde Suplementar, sem
deslocamento da competência do julgamento do feito para
a Justiça Federal, ante a ilegitimidade passiva ad causam
da ANS.

Como se pode constatar o fato do procedimento solicitado pelo


profissional médico, não constar do rol de cobertura da ANS não é suficiente, para retirar a
obrigação da seguradora de custear o referido tratamento indicado pelo médico que assiste
o paciente, se há cobertura contratual para a referida enfermidade, e todos os métodos
disponíveis no rol de procedimentos da ANS, se mostraram ineficazes anteriormente e, não
havendo substituto terapêutico que possa ser utilizado, com a mesma garantia de eficácia,
deve a segurada custear o referido tratamento médico.

A situação retratada nos autos importa em análise


individualizada, não sendo razoável que a operadora recuse a cobertura dos referido
tratamento prescrito pelo profissional médico que assiste ao paciente, sob a justificativa de
ausência de previsão legal do rol da ANS. O que se pode observar no presente caso, é
que a atitude demonstrada pela seguradora, constitui ILEGAL REITERAÇÃO de
negativa de fornecimento do equipamento que é imprescindivel ao tratamento médico
do paciente.
Por fim, e nos termos da decisão terminativa agravada, tem-se
que se a função precípua do STJ, em vez de literalmente fazer justiça às partes, é a de
uniformizar o Direito Federal, não é razoável permitir o acesso à Corte para revisão de uma
decisão que sequer é definitiva, visto que se trata de agravo contra decisão proferida em
sede de tutela antecipada, devendo ser mantida a aplicação da Súmula 735 do STF..

Ante o exposto, levando-se em consideração, se tratar de


temática já consolidada perante este col. STJ, devem ser repelidas as colocações da parte
Agravante, sem maiores considerações sobre o referido tema, prezando pela manutenção
do acórdão.

III – DOS REQUERIMENTOS FINAIS

Assim, à luz de todo o acima exposto, vem, essa Recorrida


requer a Vossa Excelência e a este Tribunal que não conheça, do presente recurso de
Agravo Interno em recurso especial, inadmitido-o, e, na remota eventualidade de assim não
entender, que lhe negue provimento in totum, mantendo incólume o acórdão,

Nestes termos,
Pede deferimento.
Recife/PE, data e assinaturas digitais.

Luciana Pereira Gomes Browne


OAB-PE 786-B

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