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Acórdão Nº 1380965
EMENTA
1. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do
direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo. 1.1. Segundo o Código de Processo
Civil de 2015, em seu art. 300, caput, tanto para a tutela cautelar como para a tutela antecipada
exige-se o convencimento do juiz da existência de elementos que evidenciem a probabilidade do
direito.
3. Por outro lado, as alegações da parte ré/agravante não se prestam a infirmar o entendimento
materializado pelo Juizo a quo, uma vez que os documentos constantes dos autos são insuficientes para
invalidar a orientação do médico que acompanha o dependente da agravada, cabendo o afirmado ser
submetido à dilação probatória na origem.
ACÓRDÃO
RELATÓRIO
Trata-se de Agravo de Instrumento, com pedido liminar, interposto por GEAP AUTOGESTÃO EM
SAÚDE contra decisão interlocutória proferida pelo Juízo de Direito da 3ª Vara Cível da Circunscrição
Judiciária de Brasília que, nos autos da Ação de Conhecimento, com pedido de tutela de urgência
(processo nº 0728091-55.2021.8.07.0001), deferiu o pedido de antecipação dos efeitos de tutelapara
determinar à ré que, no prazo de 5 dias, implemente o home care, com profissional técnico em
enfermagem pelo período de 24h, sete dias na semana, sob pena de multa diária no valor de 2.000,00,
até o limite de R$ 20.000,00.
Em suas razões recursais (id. 28560124), a parte agravante argumenta, em síntese, ausência de perigo
de dano irreparável para a autora, que fundamentasse o deferimento da medida antecipatória. Assevera,
nesse sentido, que a avaliação médica do dependente da Agravada Sr. JOSÉ ASTIR, segundo critérios
da Associação Brasileira das Empresas de Medicina Domiciliar/ABEMID, não se coaduna àquela
constante no relatório médico colacionado aos autos pela Agravada.
Assevera que o Sr. JOSÉ ASTIR já estava sendo acompanhado em Home Care, porém, em média
complexidade, o que corresponde ao acompanhamento com técnico de enfermagem pelo período de 12
horas diárias. No entanto, pontua que após avaliação médica, constatou-se que o Sr. JOSÉ ASTIR não
mais preenchia os critérios para média complexidade, sendo os familiares informados que seriam
iniciados os procedimentos de desmame, para a baixa complexidade, circunstancia que ensejou o
ingresso da demanda originária, para que o dependente da autora fosse acompanhado com técnico de
enfermagem pelo período de 24 horas por dia.
Defende ausência de verossimilhança na alegações, face a ausência de pontuação pela tabela ABEMID,
assim como ausência de previsão no rol da ANS, tecendo arrazoado sobre o tema, asseverando, quanto
ao caso, que a pontuação do Sr. JOSÉ ASTIR alcançou a baixa complexidade, razão pela qual não há
justificativa plausível para a procedência do pleito autoral, uma vez que o relatório médico acostado
aos autos não demonstra especificamente a verdadeira necessidade para que ele seja acompanhado pelo
técnico em enfermagem pelo período de 24 horas por dia.
Assevera que em 11/06/2021 a GEAP realizou visita ao paciente e identificou que ele estava sem
suporte de O2 suplementar, sem a Úlcera de Pressão, nenhum tipo de acesso venoso, sonda ou
traqueostomia, destacando que a avaliação realizada pela GEAP é diversa daquela constante no
relatório médico juntado pela autora.
Tece argumentos acerca da tutela antecipada e, ao final, diz que não procede a antecipação da tutela
deferida na origem, pedindo a suspensão dos efeitos do decidido, bem como a reforma da decisão
recorrida.
É o relatório.
VOTOS
Como relatado, trata-se de Agravo de Instrumento, com pedido liminar, interposto por GEAP
AUTOGESTÃO EM SAÚDE contra decisão interlocutória proferida pelo Juízo de Direito da 3ª Vara
Cível da Circunscrição Judiciária de Brasília que, nos autos da Ação de Conhecimento, com pedido de
tutela de urgência (processo nº 0728091-55.2021.8.07.0001), deferiu o pedido de antecipação dos
efeitos de tutelapara determinar à ré que, no prazo de 5 dias, implemente o home care, com
profissional técnico em enfermagem pelo período de 24h, sete dias na semana, sob pena de multa
diária no valor de 2.000,00, até o limite de R$ 20.000,00.
O cerne da presente controvérsia recursal reside em saber se estão ou não presentes os requisitos
autorizadores da concessão da tutela de urgência vindicada pela parte autora/agravada, referente à
implementação do tratamento médico indicado ao seu dependente, qual seja, o home care,com
atendimento de profissional técnico em enfermagem, pelo período de 24 (vinte e quatro) horas.
Como visto, a seguradora/agravante objetiva suspender a ordem emanada do juízo a quo acerca do
deferimento de home care ao agravado, entendendo que, além da não constatação dos requisitos da
tutela antecipada, a pontuação do Sr. JOSÉ ASTIR alcança a baixa complexidade, razão pela qual não
há justificativa para que ele seja acompanhado pelo técnico em enfermagem pelo período de 24 horas
por dia.
Deve-se compreender que, para o deferimento da tutela provisória de urgência, o artigo 300 do CPC
estabelece que a tutela de urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem,
cumulativamente, a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do
processo. Além disso, o diploma processual civil acrescenta no §3º do art. 300 do CPC/15, que “a
tutela de urgência de natureza antecipada não será concedida quando houver perigo de
irreversibilidade dos efeitos da decisão”.
A Carta Magna Brasileira, já no artigo 1º, III, elevou como fundamento do Estado Brasileiro a
dignidade da pessoa humana. Ademais, gravou com especial proteção de direito fundamental, no
artigo 5º, a inviolabilidade do direito à vida e, sob a rubrica de direito social, a saúde, cerne da
presente demanda judicial.
Na situação em tela, a parte autora/recorrida buscou, em tutela de urgência, uma ordem judicial para
que a operadora de plano de saúde implementasse, de imediato, o tratamento médico indicado, home
care, com atendimento de profissional técnico em enfermagem, pelo período de 24 (vinte e quatro)
horas.
Conforme pontuei quando da análise do pedido liminar, em que pese os fundamentos externados pela
parte agravante, existe verossimilhança nas alegações exordiais, notadamente no que se refere ao
quadro clínico apresentado pelo dependente da agravada, um idoso, com 85 anos de idade, detentor de
comorbidades (AVC, HAS, depressão, glaucoma, Alzheimer, paralisia de Bell, LPP Sacral - id.
100002003 – processo de origem) e a indicação do home care, com atendimento de profissional
técnico em enfermagem pelo período de 24 (vinte e quatro) horas (id. 100002002, processo de
origem) para o seu tratamento, restando assim demonstrada a probabilidade do direito do agravado.
Igualmente, o perigo do dano está devidamente comprovado, pois o dependente da parte agravada
recebeu alta hospitalar, havendo recomendação médica para no fornecimento do serviço de home care
, visando redução de riscos inerentes a internação prolongada.
Por outro lado, as alegações da agravante de que a pontuação do Sr. JOSÉ ASTIR alcança a baixa
complexidade, não se prestam a infirmar, ao menos nessa fase processual, o entendimento
materializado pelo Juízo a quo, uma vez que os documentos constantes dos autos são insuficientes
para invalidar a orientação do médico que acompanha o dependente da agravada, cabendo o afirmado
ser submetido à dilação probatória na origem.
Do mesmo modo, quanto às alegações da agravante de que a GEAP realizou visita ao paciente e
identificou que ele estava sem suporte de O2 suplementar, sem a Úlcera de Pressão, nenhum tipo de
acesso venoso, sonda ou traqueostomia, destacando que a avaliação realizada pela GEAP é diversa
daquela constante no relatório médico juntado pela parte autora, reforço que, diante do conjunto
probatório de que se tem notícia até o atual momento, como dito, evidencia-se, ao contrário, a
necessidade de manutenção do atendimento domiciliar. Tal conclusão, no entanto, poderá ser
modificada pelo d. juízo de origem, conforme o prosseguimento da instrução probatória pertinente.
É como voto.
DECISÃO