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Nº 1.0000.20.

512128-8/001
AGRAVO DE INSTRUMENTO-CV 20ª CÂMARA CÍVEL
Nº 1.0000.20.512128-8/001 JUIZ DE FORA
AGRAVANTE(S) UNIMED BELO HORIZONTE
COOPERATIVA DE TRABALHO
MEDICO
AGRAVADO(A)(S) ISABELA MEDEIROS CAMPOS

DECISÃO

Vistos.

UNIMED BELO HORIZONTE COOPERATIVA DE TRABALHO


MÉDICO LTDA. agrava da decisão proferida nos autos da ação de
obrigação de fazer ajuizada por ISABELA MEDEIROS CAMPOS, que
deferiu a tutela provisória para determinar “que, em um prazo de 48 h
(quarenta e oito horas) contados a partir de sua intimação, providencie
a cobertura assistencial à autora para utilização do(s) medicamento(s)
“Galcanezumabe 120 mg/ml (Emgality)”, nos termos da exordial e da
prescrição médica, sob pena de multa diária ora arbitrada em
R$1.000,00 (Hum mil reais), ficando limitada a 100 dias-multa, até
ulterior deliberação deste juízo” (ordem n.3).

Sustenta, em síntese, que a Agravada é beneficiária, na


qualidade de agregada, de contrato coletivo firmando entre a caixa de
assistência dos advogados de MG e a UNIMED BH e que o contrato é
regido pela Lei n. 9.656, de 1998, regulamentada pela ANS, consoante
a Lei n. 9.691, de 2000. Aduz que o contrato limita a cobertura para
eventos previstos no rol da ANS e que não existe cobertura para os
procedimentos e tratamentos não elencados nesse rol, que prevê que
determinados procedimentos devem observar algumas diretrizes de
utilização (DUT) para autorização pelo plano de saúde. Alega que
somente as patologias especificadas na diretriz teriam cobertura para o
fornecimento de medicamentos se preenchidos os critérios
estabelecidos e, tendo em vista que a enxaqueca não está inserida
como uma das patologias com cobertura assegurada para o tratamento

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com imunobiológicos, não há obrigatoriedade quanto ao fornecimento
do medicamento pleiteado. Argumenta ainda que na Resolução
Normativa nº 428, de 2017, há disposição expressa no art. 20, inciso
VI, no sentido de que as operadoras de saúde suplementar estão
isentas de arcar com o custeio ou fornecimento de medicamentos de
uso domiciliar. Pugna pela atribuição de efeito suspensivo ao recurso e
pede provimento.

Preparo regular (ordem n.2).

É o relatório.

O CPC/15, em seu art. 1.019, estabelece que, “recebido o


agravo de instrumento no tribunal, e distribuído incontinenti, o relator,
se não for o caso de aplicação do art. 932, incisos III e IV, poderá
atribuir efeito suspensivo ao recurso, ou deferir, em antecipação de
tutela, total ou parcialmente, a pretensão recursal” (inc. I).

E acerca da possibilidade de concessão de efeito suspensivo ao


recurso, o parágrafo único do art. 995 do CPC/15 dispõe que a eficácia
da decisão recorrida poderá ser suspensa se da imediata produção de
seus efeitos houver risco de dano grave, de difícil ou impossível
reparação, e ficar demonstrada a probabilidade de provimento do
recurso.

O objetivo deste agravo é obter provimento para que seja


revogada a decisão que determinou o custeio do medicamento
Galcanezumabe 120 mg/ml (Emgality), para uso da parte
Autora/Agravada.

Trata-se de ação de obrigação de fazer ajuizada pela Agravada


sob a alegação de que foi diagnosticada com Enxaqueca Crônica –
CID:G.43, o que lhe causa severas crises, quase diárias, conforme
consta do relatório emitido pelo médico cooperado que a acompanha.
Aduz que apresentou os primeiros sintomas aos 8 anos de idade e
desde então busca uma melhor qualidade de vida por meio de

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tratamentos alopáticos, acupuntura, antroposofia, homeopatia,
ozonioterapia, microfisioterapia, RPG, apiterapia, massoterapia e uso
de medicamentos convencionais (Venlafaxina, Pamelor e
Amato/Flunarizina/Duloxetina), porém, sem melhora significativa. Em
razão disso foi indicado por seu medico o tratamento com
Galcanezumabe 120 mg/ml (Emgality), nova medicação
recentemente registrado pela ANVISA (ANEXO V), que atua
diretamente na prevenção da enxaqueca. Contudo, o fornecimento do
fármaco foi negado pelo plano de saúde em razão da ausência de
cobertura.

Pois bem. Numa primeira análise, o conjunto probatório,


inclusive relatórios médicos, evidenciam a probabilidade do direito e o
perigo de dano irreparável, pois é fato que a parte Agravada padece de
enxaqueca há mais de 20 anos, “com mais de 15 episódios por mês” e
tal situação por si só estampa gravidade, dada sua diminuição na
qualidade de vida. Logo, decorre da própria narrativa da inicial o
indubitável “perigo de dano irreparável” que, com certeza, pode ser
minimizado dependendo do tratamento (ordens n. 23).

Veja-se trecho do relatório medico:

A situação vivenciada pela Agravada, por si, denota se tratar de


situação que explicita urgência e necessidade, pois mesmo tendo sido
submetida a outros procedimentos e tratamentos, não houve regressão
da doença.

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Nesse sentido já deliberou o TJSP e sumulou a questão:

TUTELA PROVISÓRIA – Plano de saúde -


Fornecimento de medicamento prescrito à autora,
portadora de cefaleia em salvas - EMGALITY® -
Fármaco que possui registro na Anvisa – Perigo
de dano que decorre da própria moléstia,
debilitante - Decisão mantida – Recurso não provido.
(TJSP. AI n. 2241134-28.2019.8.26.0000; Relator
(a): Rui Cascaldi; Órgão Julgador: 1ª Câmara de
Direito Privado; Foro de Campinas - 1ª. Vara Cível;
Data do Julgamento: 16/12/2019; Data de Registro:
16/12/2019)
"Súmula 102: Havendo expressa indicação médica, é
abusiva a negativa de cobertura de custeio de
tratamento sob o argumento da sua natureza
experimental ou por não estar previsto no rol de
procedimentos da ANS".
O STJ, no AI no Ag em REsp 1236085/PE, explicitou:

"O Superior Tribunal de Justiça possui entendimento


de que, havendo cobertura para a doença,
consequentemente deverá haver cobertura para
procedimento ou medicamento necessário para
assegurar o tratamento de doenças previstas no
referido plano".
A despeito das alegações da Agravante quanto à ausência de
cobertura, necessário ponderar os interesses postos em juízo – saúde
versus previsão do tratamento/fornecimento de medicamentos no rol da
ANS – devendo-se assegurar o direito da Agravada de obter o
medicamento necessário para o efetivo tratamento da doença que a
acomete. Assim, em cognição sumária, a Agravante deve arcar com a
integralidade dos custos até que a quaestio seja dirimida de forma
definitiva.

Por outro lado, caso ao final seja considerado indevido o


pagamento do tratamento, a Agravante poderá buscar ressarcimento
pelas vias processuais próprias, vez que seu prejuízo será apenas
material, enquanto que os prejuízos da Agravada serão
incomensuráveis (saúde debilitada).

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Diante do exposto, INDEFERE-SE o pleito de efeito suspensivo
aviado neste recurso para recebê-lo apenas no efeito devolutivo.

Intime-se o Agravado para responder aos termos do recurso, no


prazo legal.

Ficam dispensadas as informações do Juízo a quo, exceto em


caso de retratação da decisão.

Publique-se e intime-se.

Belo Horizonte, 02 de setembro de 2020.

DES. MANOEL DOS REIS MORAIS


Relator

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