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v. 1, n.

1, 2019
EM PAUTA
ISSN 2596-2558

IMUNOBIOLÓGICOS
PARA TRATAMENTO
DE CEFALEIA
DRA. YÁRA DADALTI FRAGOSO – CRM-SP 41.313

MANEJO DA ENXAQUECA NA CEFALEIA NA VISÃO


ATENÇÃO PRIMÁRIA DO CLÍNICO
DRA. PATRÍCIA MACHADO PEIXOTO – DR. RICARDO FERNANDES DE
CRM-DF 7.305 ASSUMPÇÃO – CRM-SP 41.354

(erenumabe)
SUMÁRIO
EM PAUTA
03 IMUNOBIOLÓGICOS PARA
TRATAMENTO DE CEFALEIA
CONSELHO CIENTÍFICO
Dra. Yára Dadalti Fragoso
CRM-SP 41.313

05 MANEJO DA ENXAQUECA
NA ATENÇÃO PRIMÁRIA
Dra. Patrícia Machado Peixoto
CRM-DF 7.305
Dr. Ricardo Fernandes de Assumpção
CRM-SP 41.354

JORNALISTA RESPONSÁVEL

09
José Antonio Mariano (MTb: 22.273-SP)
CEFALEIA NA VISÃO
A Revista Enxaqueca em pauta é uma publicação periódi-
DO CLÍNICO ca trimestral da Phoenix Comunicação Integrada patroci-
nada por Novartis, ISSN 2596-2558

Seu conteúdo está aberto para publicação, em caráter


de exclusividade, de trabalhos científicos originais em
português. Em atendimento aos preceitos editoriais, os

EDITORIAL
trabalhos serão ou poderão ser submetidos à análise de
editores e revisores científicos observando-se total sigilo
no processo revisional.

Nessa primeira edição da Enxaqueca Em Pauta, a Dra. Yára Dadalti Fragoso, MATERIAL DE DISTRIBUIÇÃO EXCLUSIVA À
neurologista, mestre e doutora em medicina, fala sobre o uso de imunobio- CLASSE MÉDICA.
lógicos no tratamento da cefaleia. Ela apresenta um pouco da história do de-
senvolvimento dos anticorpos monoclonais (mAbs), a tecnologia por trás da
O(s) anúncio(s) veiculado(s) nesta edição é(são) de exclusiva
sua produção, e apresenta as terapias em que eles são utilizados, ressaltando responsabilidade do anunciante. O conteúdo desta publi-
sua segurança e eficácia para uso em casos de enxaqueca. cação é de responsabilidade do(s) autor(es) e reflete ex-
clusivamente sua(s) opinião(ões) e não necessariamente a
opinião da Phoenix Comunicação Integrada ou da Novartis.
Em seguida, a Dra. Patrícia Machado Peixoto, neurologista e membro da
ABN e da IHS, fala sobre o manejo da enxaqueca na atenção primária. Ela dis-
corre sobre dados de incidência da enxaqueca e a necessidade de preparo dos Tiragem: 1.500 exemplares.
profissionais da saúde para um melhor diagnóstico e tratamento. A autora tam-
bém apresenta os tipos de migrânea e suas fases, as formas de tratamento e as Nenhuma parte desta edição pode ser reproduzida, grava-
próximas armas para o tratamento da enxaqueca no futuro. da em sistema de armazenamento ou transmitida de forma
alguma por qualquer meio. O conteúdo deste material é de
responsabilidade do(s) autor(es) e não expressa, necessaria-
Finalmente, o Dr. Ricardo Fernandes de Assumpção, clínico especializado mente, a opinião do laboratório.
em Saúde Pública, apresenta a cefaleia a partir da perspectiva do clínico. Ele
expõe, a partir do relato de um caso clínico, os cuidados e atenções que de-
PHOENIX COMUNICAÇÃO
vem ser dados aos pacientes com queixa de cefaleia e o momento em que INTEGRADA
cabe ao clínico encaminhar o paciente para um atendimento especializado. Rua Dom João V, 344 – Lapa
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Enxaqueca em pauta
IMUNOBIOLÓGICOS
PARA TRATAMENTO
DE CEFALEIA
Dra. Yára Dadalti Fragoso – CRM-SP 41.313
Neurologista. Mestre e Doutora em Medicina.

Os anticorpos monoclonais (mAbs) pertencem a uma classe farmacêu- TECNOLOGIA PARA PRODUÇÃO DE mAbs
tica muito especial, desenvolvida com base na capacidade de reagirmos
a antígenos com anticorpos produzidos pelos linfócitos B. mAbs são imu- A seleção do alvo antigênico para o desenvolvimento do mAb é, pos-
noglobulinas G, particularmente IgG1 e IgG2, com seu típico formato em sivelmente, a fase mais crítica de todo o projeto. Quanto mais especifica-
“Y” e quatro cadeias de polipeptídeos, sendo duas cadeias pesadas e duas mente ligado ao mecanismo da doença, melhor o alvo.1 Quando a meta for
cadeias leves ligadas por pontes dissulfídicas.1 Na década de 1970, foram apoptose celular, o MAb pode se ligar a críticos receptores de membrana,
desenvolvidos mAbs a partir de hibridomas,2 que logo foram incorpora- podendo, inclusive, introduzir compostos radioativos ou drogas dentro da
dos a testes histoquímicos.3 Esses mAbs continham contaminantes que célula, induzindo, assim, sua morte. Quando a meta for regulação hormonal
impediam o uso por seres humanos como forma de tratamento.4 Com a ou modulação de citocinas e outros fatores de inflamação, o MAb poupa as
continuidade da pesquisas e desenvolvimento, os mAbs passaram a ser células por meio da modulação dos receptores e desses fatores.¹
bastante específicos para o antígeno em questão e fazem parte do arsenal
terapêutico de diversas especialidades médicas.5 Uma vez selecionado o alvo antigênico, segue-se a produção de anticorpos
contra ele. Essa fase foi originalmente feita em camundongos e, atualmente,
pode ser feita com outros animais e melhorada por engenharia genética para
DESENVOLVIMENTO DOS mAbs diminuição de antigenicidade. Esses anticorpos são originados por linfócitos B
imortalizados pela fusão com células imortais em meio apropriado para maxi-
Em 1975, Köhler e Milstein mostraram que clones de linfócitos nor- mizar a produção desse composto imunobiológico em alta escala. 1,7
mais, produtores de um determinado anticorpo, poderiam ser imorta-
lizados pela fusão com células de mieloma 2. Tratava-se de um método
complexo, que exigia aparelhagem e ambiente apropriados para manu- TERAPIA COM mAbs
tenção dos clones celulares ativos.6 Os anticorpos produzidos por esse
método ligavam-se a antígenos específicos e passaram a ser utilizados É preciso ter claro que a terapia com mAbs busca o alvo daquela
para: diagnóstico de doenças com marcadores específicos; imuno-histo- doença em particular. mAbs são regularmente utilizados em diversas
química para pesquisa e anatomia patológica; purificação de moléculas especialidades médicas com diferentes finalidades.
contaminadas; detecção de patógenos; e terapêutica. Menor antigeni-
cidade dos mAbs foi obtida com técnicas de produção de anticorpos mAbs NA ONCOLOGIA – ALGUNS EXEMPLOS
parciais ou quase totalmente humanizados.6 Partes do mAb, como o DAS DOENÇAS E ALVOS DE mAbs:
fragmento cristalizado (Fc) e o fragmento ligante do antígeno, foram
melhoradas continuamente, determinando maior especificidade com • Câncer de mama: receptor tipo 2 do fator de crescimento epidér-
menos antigenicidade.7 Técnicas de glicosilação e mudanças estratégi- mico humano (HER2).
cas de aminoácidos foram também incorporadas quando adequado.7 • Câncer colorretal: receptor do fator de crescimento epidérmico (EGFR).
Em pouco mais de 40 anos, os mAbs evoluíram drasticamente, e, hoje, • Leucemia mieloide crônica: gene Filadélfia.
são utilizados no tratamento de diversas doenças.7 • Melanoma: mutações do gene BRAF (produção de proteína B-Raf ).

3
Enxaqueca em pauta
• Linfoma de Hodgkin: proteína programada 1 da morte celular (PD1). Os mAbs anti-CGRP podem ser utilizados em condições em que o
• Redução da proliferação vascular: fator de crescimento endote- CGRP esteja envolvido na fisiopatologia da doença. Até o momento, a
lial vascular (VEGF). indicação precisa desses mAbs anti-CGRP é a enxaqueca.13

mAbs EM DOENÇAS AUTOIMUNES mAbs ANTI-CGRP


E INFLAMATÓRIAS
O desenvolvimento de mAbs que atuem especificamente inibindo o
• Artrite reumatoide: fator de necrose tumoral alfa (TNF-α), interleuci- CGRP ou seu receptor trouxe um avanço no tratamento da enxaqueca e,
na-6 (IL-6). possivelmente, de outras doenças com envolvimento desse peptídeo. A
• Esclerose múltipla: alfa 4 integrina, CD52, CD20. eficácia e a segurança desses mAbs na enxaqueca foram recentemente
• Lúpus eritematoso sistêmico: proteína estimuladora dos linfóci- confirmadas em revisões sistemáticas criteriosas.14,15 Suas ações (e, por-
tos B (BLyS). tanto, seus eventos adversos) não são comparáveis àquelas de mAbs uti-
lizados em doenças oncológicas ou autoimunes.13
mAbs EM CEFALEIAS
Erenumabe é o primeiro mAb antirreceptor de CGRP aprovado pela
• Enxaqueca: peptídeo relacionado com o gene da calcitonina (CGRP). Food and Drug Adminstration (FDA).16 Erenumabe mostrou-se eficaz em
pacientes virgens de tratamento e com enxaqueca que já haviam sido tra-
SEMELHANÇAS E DIFERENÇAS ENTRE OS mAbs tados previamente com dois a quatro profiláticos.17 Por ser um mAb total-
UTILIZADOS EM MEDICINA mente humano, erenumabe tem baixo potencial de antigenicidade com
uso regular. Erenumabe mostrou-se eficaz na redução de dias de crises
Embora todos sejam mAbs, existem diferentes formulações, posologia, de enxaqueca, na diminuição do consumo de analgésicos, com menor
método de administração, mecanismo de ação, eventos adversos, bene- impacto da enxaqueca sobre as atividades de vida diária do paciente.18
fícios e riscos. Um fator comum entre os mAbs é a complexidade de sua
produção, que exige, entre outros fatores, um grande espaço físico sob as Outros mAbs desenvolvidos com a mesma finalidade terapêutica
melhores condições de temperatura, pressão e umidade, tecnologia de atuam diretamente no CGRP (e não no receptor). São imunobiológicos
ponta em biorreatores, métodos de filtração, purificação e sofisticado ar- humanizados, com três representantes nessa categoria: eptinezumabe,
mazenamento. Todos os mAbs têm alto peso molecular, impossibilitando fremanezumabe e galcanezumabe.19
administração oral da droga biológica.1,8

É essencial compreender que mAbs utilizados para tratar câncer não são CONCLUSÃO
os mesmos utilizados para tratar doenças autoimunes ou cefaleia. Cada mAb
terá sua especificidade, embora, em muitos casos, possa ser utilizado em doen- Imunobiológicos são agentes terapêuticos complexos. Sua eficácia é
ças diferentes com uma base fisiopatológica semelhante. Por exemplo, mAbs devida ao alto grau de especificidade do mAb, e seus eventos adversos
anti-CD20 ligam-se ao receptor CD20 dos linfócitos B e são importantes para dependem do mecanismo de ação dessa droga. mAbs utilizados para
tratamento de qualquer doença que tenha envolvimento dessas células.9,10 tratamento da enxaqueca são anti-CGRP ou antirreceptor de CGRP e
atuam exclusivamente nesse peptídeo. Eficácia e segurança dos mAbs
Outro exemplo seriam mAbs inibidores da proliferação vascular que po- utilizados para enxaqueca foram avaliadas, e esses imunobiológicos são,
dem ser utilizados tanto em câncer quanto em doenças vasculares da retina.11,12 agora, parte do arsenal terapêutico especializado.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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4
Enxaqueca em pauta
MANEJO DA
ENXAQUECA NA
ATENÇÃO PRIMÁRIA
Dra. Patrícia Machado Peixoto – CRM-DF 7.305
Neurologista. Membro titular da Academia Brasileira de Neurologia (ABN). Membro da
Sociedade Brasileira de Cefaleia e da International Headache Society (IHS).

A enxaqueca, ou migrânea, é um tipo de cefaleia primária, geneti- atenção primária, capacitando os profissionais que aí atuam a dar um
camente determinada e de caráter familiar, altamente prevalente na diagnóstico correto e iniciar um tratamento eficaz.3,4
população e que ocasiona severa disabilidade ao paciente. De acordo
com o Global Burden Disease (GBD) 2016, a enxaqueca ocupa o segun-
do lugar como doença incapacitante (em relação a anos vividos com DISCUSSÃO
incapacidade), em qualquer idade, perdendo somente para lombalgia,
sendo que, na faixa etária de 15 a 49 anos, ocupa o primeiro lugar.1,2 O processo de capacitação deveria incluir aulas teórico-práticas que
possibilitem o diagnóstico correto da enxaqueca, o qual é essencialmente
A prevalência de cefaleia no Brasil, em pesquisa realizada em 2015, clínico (exigindo uma boa relação médico-paciente) e baseia-se em uma
foi de 70,6% da população brasileira; a de enxaqueca foi de 15,8% anamnese detalhada da dor (quadro 1) e na determinação de fatores de-
(ocorrendo principalmente em mulheres); a de cefaleia do tipo tensio- sencadeantes das crises, que são, em geral, múltiplos e individualizados, a
nal, 29,5%; e a de cefaleia crônica diária, 6,1% da população.3 saber: alimentares (chocolate, bebidas alcoólicas, vinho tinto, frutas cítricas,
queijos amarelos, gorduras, embutidos em geral, glutamato monossódico,
Apesar do alto impacto na vida das pessoas, com repercussão nas outros); jejum prolongado; estresse emocional; cansaço físico e mental; al-
esferas pessoal, social, familiar e profissional, ainda é uma patologia terações do ritmo de sono; exposição ao calor e a odores fortes; mudanças
subdiagnosticada e subtratada. O acesso a especialistas em dor de de altitude; falta ou excesso de atividade física; alterações hormonais nas
cabeça ou a médicos interessados ​​em cefaleia é limitado, pois há ape- mulheres (menstruação, menopausa, gravidez).5,6 Exame físico geral e exa-
nas alguns centros terciários de dor de cabeça disponíveis no país. De me neurológico com fundo de olho devem ser realizados visando a afastar
todos os pacientes com enxaqueca que procuram atendimento mé- sinais de lesão orgânica secundária, e deve-se identificar também as comor-
dico nos Estados Unidos, apenas 4% consultam especialistas em dor bidades que esse paciente apresenta para dinamizar o tratamento [p. ex.,
de cabeça e especialistas em dor. Neurologistas são vistos por 10% a Hipertensão Arterial (HA), distúrbios depressivos e ansiosos, fibromialgia,
15% dos pacientes com enxaqueca. A maioria dos cuidados de saúde labirintite, bruxismo e alterações na articulação temporomandibular].5
para pacientes com enxaqueca é fornecida no ambiente da atenção
básica por médicos de família, pediatras e ginecologistas, tanto nos O diagnóstico deve obedecer aos critérios diagnósticos da Classificação
Estados Unidos quanto aqui no Brasil.  Internacional de Cefaleias – 3a edição (International Classification of Headache
Disorders – ICHD-3), que foi publicada pela primeira vez em 1988, reeditada
Para melhorar o diagnóstico e o tratamento da enxaqueca, o local em 2004 (segunda edição) e está na terceira edição, publicada em 2018
para começar um processo de educação médica sobre o tema é na (ainda desconhecida por muitos médicos de atenção básica).

5
Enxaqueca em pauta
Quadro 1 – Anamnese7

Definição da dor Início, frequência, localização, intensidade e tipo de dor.


Fotofobia, fonofobia, náusea, vômito, alteração de apetite, alteração visual, aura, parestesia, comportamento na
Fatores associados
crise, sinal autonômico, humor, sonolência, sono.
Fatores de piora Esforço físico, mudança de decúbito, movimentos da cabeça, luz, barulho.
Fatores de alívio da dor Repouso, sono, escuro, silêncio, medicações, uso de gelo, compressão das têmporas.
Medicamentos, doses; se já fez profilaxia; o que usa na crise e a quantidade de medicamentos para dor que utiliza
Medicações usadas
por semana / mês.
Presença de patologias concomitantes: asma, hipertensão arterial, glaucoma, alterações hepáticas e renais, cálculo
Antecedentes pessoais renal, hepatite, alergias medicamentosas, uso de óculos, tabagismo, etilismo, uso de contraceptivo oral, gravidez,
amamentação, câncer, imunossupressão.
Antecedentes familiares Doenças na família; alguém tem enxaqueca ou dor de cabeça.

Adaptado de: 7. Duncan BB, et al. Artmed; 2004. p. 1164-73.7

Os critérios são: A enxaqueca ou migrânea são crises recorrentes que podem se apresentar
em quatro fases (premonitória, da aura, da dor e do pósdromo), estando presen-
1. Migrânea sem aura – pelo menos cinco crises com duração de 4 tes ou não em todas as crises, mas são importantes que sejam do conhecimento
a 72 horas; nas crianças, de 1 a 72 horas (se não tratada), com pelo do médico para melhor diagnóstico (gráfico 1).10
menos duas das seguintes características: dor unilateral, pulsátil, in-
tensidade moderada a severa e piora com atividades físicas rotinei- Os sinais de alerta para cefaleias secundárias, bem definidos no Proto-
ras; e, durante a dor, ao menos um desses itens: náusea e/ou vômito, colo nacional para manejo das cefaleias nas unidades de urgência do Brasil,
fonofobia e fotofobia.8,9 publicado em 2018, devem ser discutidos e aplicados para se evitarem
2. Migrânea com aura – pelo menos duas crises com uma ou mais au- erros diagnósticos (quadro 2).11
ras totalmente reversíveis (visual, sensitiva, motora, de tronco), aura
com início gradual ou em sucessão, duração da aura de 5 a 60 minu- Na consulta, deve-se sempre orientar os pacientes sobre: causa e natu-
tos, aura unilateral e deve ser acompanhada ou seguida por cefaleia reza neurobiológica da enxaqueca; critérios diagnósticos que se aplicam;
(com ou sem características de migrânea). Podemos ter pacientes fatores desencadeantes das crises; evitar o jejum prolongado (alimenta-
com aura típica sem cefaleia após 60 minutos do início da aura.8,9 ção a cada quatro horas); prática de atividade física moderada regular (no
3. Migrânea crônica – cefaleia por mais de 15 dias por mês, por mais mínimo, quatro vezes por semana); ritmo de sono regular; estimulação de
de três meses, em pacientes que preenchem os critérios para migrâ- uso do diário das crises; risco de automedicação e do uso excessivo de
nea com ou sem aura.8,9 analgésicos (importante fator de cronificação da dor).6,12

Gráfico 1 – Fases da crise de enxaqueca (migrânea)10

Intensidade Premonitórios
· Alteração de humor · Mialgia
· Fadiga · Avidez por doces
Cefaleia Cefaleia · Distúrbios cognitivos
precoce avançada
Aura
· Alterações neurológicas reversíveis: visuais / somatossensitivas
Aura Cefaleia precoce
· Incômoda · Mialgia
· Congestão nasal
Premonitórios Pósdromo
Cefaleia avançada
· Unilateral · Fotofobia
· Pulsátil · Fonofobia
· Náusea · Osmofobia
Pósdromo
Tempo · Fadiga · Mialgia
Pré-cefaleia Leve Moderada Forte Pós-cefaleia · Alterações cognitivas

Adaptado de: Cady R, et al. Headache. 2002 Mar;42(3):204-16.10

6
Enxaqueca em pauta
Quadro 2 – Sinais de alerta para cefaleia secundária (mne- (se náusea ou vômito), e deve-se evitar opioide (causa cronificação da dor).
mônico SNOOP)11
De acordo com a intensidade da dor e com a resposta do paciente a
Sinais sistêmicos, como toxemia, febre, rash cutâ- tratamentos anteriores, podemos iniciar o tratamento com medidas não
S (systemic) neo, rigidez de nuca, portadores de neoplasia ou
farmacológicas, e, se necessário, associar um analgésico simples ou AINE.
HIV, ou pacientes com imunossupressão.
Se não houver resposta satisfatória em uma hora, associar os medicamen-
Presença de défices neurológicos focais, edema
N (neurologic) tos específicos. Se a crise for moderada a forte desde o início, podemos
de papila, convulsão.
O (older) Cefaleia com início após os 50 anos. iniciar o tratamento com os medicamentos específicos visando a uma
O (onset) Cefaleia de início súbito ou primeira cefaleia. remissão mais rápida e eficaz da dor, à diminuição da automedicação, e,
Mudança de padrão de cefaleia prévia, ou cefaleia consequentemente, do possível uso abusivo de analgésicos.6,14
P (pattern)
progressiva, ou cefaleia refratária ao tratamento.
Os derivados ergóticos em uso no Brasil (di-hidroergotamina) são
Adaptado de: Speciali JG, et al. 2018. p. 1-11. Disponivel em: https://sbcefaleia. combinados a cafeína, dipirona / paracetamol ou metoclopramida; e o
com.br/images/file%205.pdf.11 isometepteno, à cafeína e dipirona. Apresentam absorção errática, podem
piorar náuseas e vômitos, provocam efeitos colaterais mais frequentes, e
seu uso excessivo leva à cefaleia de rebote, mas são muito utilizados pelo
TRATAMENTO DA CRISE (CONSENSO baixo custo e fácil acesso nas farmácias.6
BRASILEIRO 2014)
As triptanas são drogas de escolha contra enxaqueca, agem melhor antes
1. Tratamento não farmacológico: repouso em ambiente calmo e do pico de dor ser atingido e, para isso, devem ser tomados precocemente
com pouca luz, sono (principalmente nas crianças), e compressas na crise. Temos quatro triptanas em uso no Brasil (tabela 1).13 A associação de
frias em fronte e nas têmporas.6 gastrocinético (domperidona), AINE e triptana é uma boa opção, pois produz
alívio rápido e sustentado da dor, com melhora da taxa de recorrência (retorno
2. Tratamento farmacológico: uso de drogas inespecíficas e/ou drogas es- da dor até 24 horas após melhora clínica). Evitar triptanas em hipertensão gra-
pecíficas. As drogas inespecíficas são os analgésicos simples e os anti-infla- ve, cardiopatia isquêmica, angina e quadros vasculares isquêmicos. Geralmen-
matórios não esteroidais (AINEs); as drogas específicas, as triptanas e os deri- te, as triptanas são bem tolerados, podendo causar sonolência, opressão torá-
vados ergóticos. Podem ser associados com antieméticos e gastrocinéticos cica, nucal ou craniana, que desaparecem em 40 minutos e são inócuas. 6,9,14

Tabela 1 – Tratamento das crises de dor13

Medicamentos Doses disponíveis Doses recomendadas por 24 horas / formulações


Medicamentos não específicos 
Analgésicos simples    
Paracetamol 500 / 750 mg VO 2 – 6 comprimidos
AINEs    
Derivados salicilatos 500 mg VO 2 – 6 comprimidos
Naproxeno sódico 550 / 1.100 mg VO 1 – 2 comprimidos / supositórios
Clonixinato de lisina 250 – 375 mg VO 2 – 3 comprimidos
Diclofenaco 50 – 100 mg VO 1 – 2 comprimidos / supositórios
Ibuprofeno 200 – 600 mg VO 1 – 3 comprimidos até 2x/dia
Meloxicam 15 – 30 mg VO 1 – 2 comprimidos
Medicamentos específicos
Triptana    
Sumatriptana • Injetável: 6 mg SC • Spray nasal: 10 mg • VO: 25, 50 e 100 mg • SC: 6 – 12 mg/dia • Nasal: 40 mg/dia • VO: 200 mg/dia
Naratriptana 2,5 mg VO 5 mg/dia
Zolmitriptana 2,5 mg VO ou SL 5 – 10 mg/dia
Rizatriptana 10 mg VO 20 – 30 mg/dia

Adaptado de: Adaptado de: Sociedade Brasileira de Cefaleia. Arq Neuropsiquiatr. 2000;58(2-A):371-89.13

7
Enxaqueca em pauta
3. Tratamento profilático: atua no distúrbio químico cerebral, diminuindo a Os tricíclicos podem levar a ganho de peso, sonolência e efeitos co-
hipersensibilidade neuronal, levando à diminuição da frequência, duração e linérgicos indesejáveis. Os betabloqueadores são contraindicados em
intensidade das crises;9 melhora a resposta aos medicamentos abortivos da pacientes asmáticos, bradicárdicos e hipotensos. A flunarizina causa au-
crise; diminui a incapacidade dos pacientes e evita a cronificação da dor. As mento de peso, sonolência, tremores em extremidades e piora quadros
indicações de profilaxia são: mais de três crises de dor por mês, falha ou uso depressivos. Dentre os neuromoduladores, o topiramato é contraindica-
excessivo dos analgésicos, incapacidade de conviver com a dor, pacientes do em portadores de cálculos renais, pode causar lentidão psicomotora,
portadores de migrânea crônica. São usados vários medicamentos, como: perda de peso e parestesias de extremidades. O divalproato de sódio é
inibidores dos canais de cálcio (flunarizina), antidepressivos tricíclicos (ami- contraindicado em mulheres em idade fértil, por causar teratogenicidade,
triptilina e nortriptilina), neuromoduladores (topiramato, divalproato de só- causa ganho de peso e pode levar a alterações hepáticas.16-18
dio e lamotrigina) e betabloqueadores (propranolol e atenolol). Devem ser
iniciados com doses baixas, com aumento gradual até à dose terapêutica, Dessa forma, o tratamento deve ser individualizado para cada paciente,
por período de seis meses a um ou dois anos, o uso é contínuo e diário, sen- e, muitas vezes, necessitamos do uso de mais de um medicamento para
do a retirada gradual ao fim do tratamento. Devem ser usados inicialmente tratar a enxaqueca e um distúrbio comórbido (por exemplo, no paciente
em monoterapia, mas, de acordo com a resposta do paciente e com as co- obeso, hipertenso e com enxaqueca, pode ser útil a associação de topira-
morbidades apresentadas, a politerapia pode ser utilizada (tabela 2).8,13,14 mato com um betabloqueador).9,15,17

Tabela 2 – Tratamento profilático da enxaqueca15 FUTURO


Nível de evidência Dose terapêutica Os anticorpos monoclonais anti-CGRP (mAbs) são as novas armas para
Medicamento
(EUA) (mg/dia)
o tratamento da enxaqueca. Essas terapias biológicas são bastante recen-
Topiramato A 100 – 200
Divalproato de sódio A 500 – 1.500 tes, e desempenham um papel importante no tratamento e na prevenção
Propanolol A 40 – 240 das crises, sendo os primeiros medicamentos específicos para o tratamento
Metoprolol A 100 – 200 da migrânea. São quatro os mAbs em pesquisa, sendo que três já foram
Timolol A 20 – 60 aprovados para uso clínico nos Estados Unidos: erenumabe, fremanezu-
Amitriptilina B 12,5 – 150 mabe e galcanezumabe. Erenumabe (Pasurta®) já está aprovado no Brasil,
Nortriptilina B 10 – 150
mas ainda não há previsão de chegada para os demais mAbs.19-21
Venlafaxina B 18,75 – 37,5
Atenolol B 25 – 150
Candesartana C 16 – 32
Lisinopril C 10 – 40 CONCLUSÃO
Flunarizina Consenso europeu 2 – 10
Adaptado de: Consenso da Sociedade Brasileira de Cefaleia. Arq Neuropsi- Em um país grande como o Brasil, com uma população total em tor-
quiatr. 2002;60(1):159-69.15 no de 200 milhões de pessoas, com alta prevalência de cefaleia primária
(principalmente a enxaqueca), a melhor maneira de lidar adequadamen-
Esses medicamentos são utilizados para o tratamento de outras pato- te com esse problema é por meio do sistema público de saúde, desen-
logias, de modo que seu uso não é específico para o tratamento da en- volvendo estratégias de educação médica continuada aos médicos, en-
xaqueca. Antes de iniciar o tratamento, devemos sempre avaliar as con- fermeiros e agentes de saúde para reduzir a lacuna entre o tratamento
traindicações e os efeitos colaterais de cada uma dessas drogas, visando à disponível e o administrado na atenção primária – em que há procura
melhor resposta terapêutica e à melhor aderência ao tratamento.16 por atendimento pela maioria dos pacientes.4,22,23

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Enxaqueca em pauta
CEFALEIA
NA VISÃO
DO CLÍNICO
Dr. Ricardo Fernandes de Assumpção – CRM-SP 41.354
Clínico com Especialização em Saúde Pública.

A frequência dos casos de dor de cabeça, mesmo que na maioria olho não apresentava alterações. Devido à intensidade dos sintomas e
dos casos elas tenham pouco significado, pode ser o sintoma inicial de às suas condições financeiras da paciente, resolvemos encaminhá-la a
uma doença grave, e obriga qualquer médico clínico, em seu papel de um serviço de maior complexidade em São Paulo.
generalista, a atentar-se para essa queixa. Nós, médicos diaristas, de-
paramo-nos com essa queixa nos consultórios, na família e no lazer, e DISCUSSÃO E DIAGNÓSTICO
valorizar esse corriqueiro sintoma pode fazer a diferença na reputação
profissional, na vida do doente e no risco de um passivo judicial. A cefaleia, assim como a febre a esclarecer e as linfadenomegalias,
devem ser pesquisadas com parcimônia disciplina. A anamnese cui-
A cefaleia nos obriga a verificar sintomas e sinais objetivamente, dadosa é imperativa com o exame físico e com os passos a serem se-
sendo prudente o profissional esquivar-se de atendimento à distância, guidos. As questões de origem psicossomáticas são frequentes, mas
ou, em sua inseparável condição de atividade liberal, permitir o atendi- devem estar no diagnóstico de exclusão.1,2
mento por terceiros na percepção de sinais e manobras propedêuticas.
Há, em medicina, duas dores piores que a cefaleia: a dor de bolso e – Toda doença tem seus sintomas iniciais de dentro para fora, assim, de-
mais prolongada – a dor de consciência. ve-se arguir sobre inapetência, desânimo, anorexia, febre, vômito e hábitos
intestinais. Tais sintomas levam-nos a pensar em doenças sistêmicas. O traba-
Dessa forma, cremos ser crucial, além da anamnese pormenorizada e do lho, as atividades domésticas e o entorno da residência são importantes para
exame físico, o exercício de raciocínio do diagnóstico diferencial das cefaleias. a pesquisa diagnóstica, portanto, sugiro que sejam ouvidos com atenção.1

A uremia, a constipação, os distúrbios hidroeletrolíticos com acido-


APRESENTAÇÃO CLÍNICA se ou alcalose e os vômitos provocam dor de cabeça. Lembre-se de
que um desânimo, com ou sem poliúria, pode estar indicando a des-
Na manhã de verão em 1988, na cidade de Guarujá, adentra a clínica compensação diabética; atente para uremia quando, em idosos, pode
uma mulher de 28 anos de idade, estrangeira, dos países nórdicos, em fé- ser observada após um simples exame de imagem com contraste.1-3
rias por quase um ano em um veleiro, mergulhando em diversos países.
Apresentava dor pulsante em região frontotemporal esquerda, de início As febres, de qualquer etiologia, causam cefaleias. Nesses casos, atenção
há dois dias, com piora progressiva. Negava alterações visuais, auditivas aos sinais meníngeos; não aguarde a retração da nuca. Sempre pesquise sinais
e parestesia. No exame físico, a inspeção nada denotava. Normotensa; meníngeos, em especial com a febre. Pesquise o sinal de Brudzinsk, que pode
percussão de seios da face indolor; sem exacerbação da pulsação de ar- ser apenas a resistência à flexão anterior do pescoço, e, em casos mais agudos,
térias cranianas superficiais, temporal ou supraorbital. Sinais meníngeos provocar a flexão dos quadris e joelhos. Há também a resistência à extensão
negativos e fundoscopia sem alterações papilares ou ao seu redor. Foi do joelho com a coxa fletida, sinal de Kernig (esse movimento traciona as raí-
medicada com analgésicos e orientada a retornar, caso fosse necessário. zes da cauda equina, transmitindo a tensão a membranas cerebrais).1-3

Retornou horas após, com dor intensa, com fácies característica de A possibilidade de um resultado positivo em um desses testes, lem-
dor, com piora dos sintomas em decúbito dorsal. O exame de fundo de brando a possibilidade de uma meningite, quer viral, quer bacteria-

9
Enxaqueca em pauta
na, por espiroqueta, por hemorragia ou por hipertensão intracraniana, No exame físico, é de importância verificar a congestão jugular, com
obriga-nos a tomar providências emergentes.1-3 Nesses casos, também o doente em decúbito dorsal, e a hipertensão arterial sistêmica.2
é importante pensar nas intoxicações por tétano e estricnina, raiva.
Considere ser melhor internar e descobrir posteriormente ser um torci- Terminado o exame, deve-se conversar sobre os hábitos do doente ,
colo espasmódico ou um espasmo muscular por trauma ou torção cer- incluido: esforço mental, trabalho, hobbies, utilização de chapéu, hábito de
vical. Causas de asfixia, como broncopneumonia, agudização da DPOC, carregar peso na cabeça, e esforço visual, por trabalho, leitura lúdica, uso
aspiração, abscesso retrofaríngeo, podem causar esses testes positivos, de celulares, computadores ou jogos de computadores. O sono insuficien-
por isso a importância do exame físico.1,3 te ou entrecortado e os estados de exaustão também causam cefaleias.1,2,4

Afastada a urgência, podemos continuar a pesquisa diagnóstica. Ar- Traumas – na cabeça, na região cervical e no tórax são importantes.
gua sobre ambientes mal ventilados de oficinas mecânicas e fábricas ou Também não se deve esquecer da cefaleia relacionada à tosse.2,3 As es-
oficinas caseiras, como fábricas de cerveja e pinga, com excesso de CO2, cleroses do sistema nervoso com os sintomas periféricos podem surgir
e CO. O éter e o clorofórmio causam sintomas de dor de cabeça; aborde com cefaleia e nistagmo, de início paroxístico, com vômitos e ausência
o uso de lança-perfume. Não esqueça outras substâncias psicoativas le- de lesões papilares. Lesões vasculares, acidentes vasculares, tromboses,
gais e ilegais. A intoxicação púmblea afeta trabalhadores que lidam com embolias cerebrais e aneurismas podem surgir com cefaleias intensas e
baterias e com combustíveis.4 todos os comemorativos agudos motores e sensoriais, além das lesões
pupilares e papilares. Os aneurismas cursam, em geral, com palpitações
Vamos ao exame físico à procura de sinais extracranianos causadores rítmicas na cabeça.2,3 A epilepsia, os sintomas da aura epiléptica, ou a ce-
de cefaleia. Doenças da coluna cervical, artrite reumatoide e espondilite faleia pós-convulsional ou a cefaleia como sintoma da própria epilepsia
anquilosante podem ser verificadas no exame físico da coluna verte- sensorial, devem ser lembrados.2,3
bral. São constantes, pioram com a movimentação passiva e ativa do
segmento cerebral e são diagnosticadas por exames de imagem, assim A tão conhecida cefaleia do período pré-menstrual, apanágio do misoge-
como a osteoartrite de coluna cervical.1,2 nismo masculino, é real e deve ser considerada para o tratamento adequado,
assim como a insolação, pelo que recordamos ser desnecessária a exposição
Os sintomas reumáticos com polimialgias, seguidos de cefaleia, com direta da cabeça ao sol. Lembre-se, crianças sob guarda-sóis em horários ina-
claudicação da mandíbula, sensibilidade do couro cabeludo e perda da dequados têm sintomas de insolação, com irritabilidade e cefaleia.1,2
acuidade visual, podem nos apontar as vasculites, em que a mais co-
mum é a arterite de células gigantes, com a elevação dos marcadores Traumas e passado de traumas cranianos, bem como acidentes, práti-
inflamatórios, cujo diagnóstico é realizado por meio de biópsia da ar- cas esportivas, uso de motocicletas, agressões, causam sintomas agudos,
téria temporal. O diagnóstico diferencial é feito com sífilis terciária, uma com possibilidade de se perpetuarem, e devem ser perguntados.2
doença hoje esquecida e presente em qualquer idade. Peça uma reação
sorológica para lues.1,2 A hipertensão, causa mais comum de cefaleia, é, em geral, pulsante,
com a sensação de plenitude na cabeça, e surge ou piora quando o in-
O herpes-zóster deve ser sempre pensado, nas dores intensas, de iní- divíduo para de deambular. Questões emocionais devem ser aventadas,
cio agudo, sem alterações com a movimentação do segmento cefálico.1 porém, após o descarte de todas as doenças orgânicas.5
Também a nevralgia do trigêmeo atingindo a região parietal, o maxilar su-
perior e inferior; a nevralgia do glossofaríngeo, com dor na base da língua, Pensando nessas possibilidades, devemos atentar para o Caráter, a Gravi-
nas amígdalas, na mastoide e no ouvido, enquanto nevralgias occipitais, dade, a Localização da dor, os sinais Associados, o MOmento da ocorrência, a
intensas, unilaterais e irradiando-se para os ouvidos.1-3 Recorrência e suas associações (Cara GLAMOR). Nesse momento, você pode
começar a pensar em fazer um diagnóstico de migrânea ou enxaqueca.
Atente para as enfermidades dos órgãos dos sentidos. Verifique os
olhos, o estrabismo, a catarata incipiente, os erros de refração, a conjun- O caráter é importante, latejante, em aperto e em pontada. Piora
tivite crônica; nos ouvidos, as otites médias, crônicas, com suas perfura- com a movimentação, com a posição e com o decúbito; piora ou me-
ções timpânicas e o colesteatoma. As otites agudas são causas de dores, lhora com o movimento. A gravidade pode se mostrar intensa, latejante,
assim como as sinusopatias e as mastoidites. O desvio de septo nasal, constante e progressiva.
causando inflamação nasal crônica, promove os sintomas em região
frontal, por vezes com secreção visualizada na orofaringe; a exposição a A localização é de fundamental importância na anamnese. Tumores
ruídos, ocupacionais ou não, a fones de ouvido e a plugues de celulares, e cistos apresentam dores unilaterais ou frontais; as lesões cerebelares
além de músicas altas em automóvel.2,4 são frequentemente occipitais. As doenças do ouvido e mastoides são

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Enxaqueca em pauta
unilaterais, temporais e com hipersensibilidade à palpação. A cefaleia ENXAQUECA OU MIGRÂNEA
occipital pode ser um sinal de meningite, com vômitos sem alimenta-
ção, anisocoria, estrabismo, sonolência e convulsões.1 Verificadas todas essas oportunidades e subtraídos os diagnósticos dife-
renciais, diagnosticamos enxaqueca. Vistos as possibilidades diagnósticas da
Devem ser importantemente considerados: o momento da ocorrência; enxaqueca e os novos desempenhos da medicação, é de importância ímpar
a relação com outros fatores externos e mudanças posturais; locais; ruídos; classificar a doença como enxaqueca a fim de podermos fornecer o diagnós-
sensações auditivas, visuais e táteis dolorosas; exposição a luzes intermitentes tico ao doente, a terapêutica, o prognóstico e reconhecer o momento de en-
ou a outros estímulos; momentos de prática esportiva ou de relação sexual. caminhá-lo a um especialista para tratamento pormenorizado.6-8
Cefaleia com agravamento à noite aponta-nos doenças de causa orgânica.1
Enxaqueca é a dor de cabeça que surge em crises paroxísticas, na
Os sinais relacionados, como sintomas orgânicos, visuais, auditivos e maioria das vezes, hemicranias e frontais, porém pode apresentar-se
temporais com o meio ambiente, devem ser agora analisados com o in- bilateralmente e em região occipital. A face torna-se pálida, com perda
tuito de imaginarmos um distúrbio cerebral, ou orgânico, ou funcional, do turgor facial; os sintomas pioram com o flexionar do segmento ce-
ou dos órgãos dos sentidos.1 fálico, acompanhados de náuseas, com ou sem vômitos.6-8 Por vezes, há
vasodilatação na região da dor, com pulsação arterial e turgescência ve-
Causas psicossomáticas podem, depois de descartadas todas as nosa; por vezes, distúrbios visuais acompanham os sintomas dolorosos.5
possibilidades, ser aventadas. Trabalhos indicam a associação de cefa-
leia e sintomas conversivos relacionados à depressão com a depressão Crises fracas podem ser tratadas com analgésicos comuns e anti-in-
mascarando aqueles sintomas e sinais, associados, geralmente, a algum flamatórios não hormonais, associados ou não a domperidona ou me-
conflito. Assim, é importante não rotular o doente como portador de toclopramida. Esses medicamentos devem ser utilizados minutos antes
transtorno de depressão, e, sim, imaginar um défice ou conflito promo- do uso das medicações sintomáticas.6-8
vedor dos sintomas de conversão.2,6
As crises podem ser explicadas com alterações do tônus vasomotor
Outra característica dos doentes de dor de cabeça é a dificuldade ou em shunts arteriovenosos, causando anoxia local, edema e dor. As-
de lidar com “fantasmas agressivos” promovendo castração mental sim, o uso de ergotamina e cafeína (Cafergot®), via oral ou intramuscular
e dificuldade em lidar com conflitos precisos; a cefaleia, assim, pode (Ginergeno), pode resolver os sintomas da doença.6-8
apontar a desorganização progressiva do humor e do comportamento.
Trabalhos indicam que homens apresentam angústia mais manifesta, Orientações quanto ao sono, sem aumento ou diminuição do tempo
enquanto mulheres, mais sinais de conversão.2,6 de dormir, e abstinência alcoólica são fatores de caráter higiênico im-
portantes para o controle relativo das crises.6-8
DIAGNÓSTICO
Medicamentos de controle da crise são bem tolerados, mas somos da opi-
No caso descrito, tivemos o diagnóstico, meses após, junto ao CRM. nião de, mesmo a partir da prescrição de sumatriptano, haver o acompanha-
Com seis anos de formado, o conselheiro me arguiu: “Por que você não mento de especialistas. É o neurologista capaz de ofertar as melhores escolhas
pediu uma tomografia?”. Respondi de pronto: “Porque nunca vi uma individualizadas ao doente e atentar para as complicações neurológicas pos-
tomografia. Ainda não tem na Baixada Santista”. Mostrou-me o exame síveis de surgir no longo prazo. O seguimento em longo prazo por especia-
e disse tratar-se de um aneurisma não roto de artéria cerebral. Salvou- lista, inclusive o uso de, permite também classificar a doença como de difícil
-me da continuidade da realização de fundoscopia, possibilitando-me o controle com a utilização de medicamentos de vanguarda com a necessária
aprendizado posterior da importância desse sintoma. perspicácia terapêutica.

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CONTRAINDICAÇÕES: ESSE MEDICAMENTO É CONTRAINDICADO PARA PACIENTE COM HIPERSENSIBILIDADE À SUBSTÂNCIA


ATIVA OU QUALQUER COMPONENTE DA FÓRMULA. INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS: ERENUMABE NÃO É METABOLIZADO
PELAS ENZIMAS DO CITOCROMO P450 E, PORTANTO, INTERAÇÕES COM MEDICAÇÕES QUE SÃO SUBSTRATOS, INDUTORES
OU INIBIDORES DESTAS ENZIMAS SÃO IMPROVÁVEIS. EM ESTUDO CLÍNICO, ERENUMABE NÃO APRESENTOU EFEITO SOBRE
A FARMACOCINÉTICA DO SUMATRIPTANO E O USO CONCOMITANTE DESTAS MEDICAÇÕES NÃO RESULTOU EM ALTERAÇÕES
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beneficiar de uma dose de 140 mg administrada uma vez por mês. Se a dose de Pasurta® for esquecida, administre o medicamento o mais rápido possível. Posteriormente,
Pasurta® pode ser agendado mensalmente a partir da data da última dose. Contraindicações: Esse medicamento é contraindicado para paciente com hipersensibilidade à
substância ativa ou qualquer componente da fórmula, ver “Composição”. Advertências e precauções: Populações especiais: Pacientes pediátricos: A segurança e a eficácia
de Pasurta® não foram estudadas em pacientes pediátricos. Pacientes geriátricos: Os estudos clínicos do Pasurta® não incluíram um número suficiente de pacientes com 65
anos ou mais para determinar se respondem de maneira diferente dos pacientes mais jovens. Não é necessário ajuste posológico dado que a farmacocinética do erenumabe
não é afetada pela idade. Comprometimento renal: Não é necessário ajuste da dose em pacientes com comprometimento renal leve a moderado. A análise farmacocinética da
população de dados integrados dos estudos clínicos de Pasurta® não revelou diferença na farmacocinética do erenumabe em pacientes com insuficiência renal leve ou moderada
em relação àqueles com função renal normal. Pacientes com insuficiência renal severa (TFGe <30 mLs/min/1,73 m2) não foram estudados. Comprometimento hepático: Não
foram realizados estudos clínicos em pacientes com insuficiência hepática. O erenumabe, como anticorpo monoclonal humano, não é metabolizado pelas enzimas do citocromo
P450 e a depuração hepática não é a principal via de depuração do erenumabe. Gravidez: Não há estudos adequados e bem controlados sobre o uso de Pasurta® em mulheres
grávidas e não se sabe se Pasurta® pode causar dano fetal quando administrado a uma mulher grávida. Pasurta® deve ser usado durante a gravidez apenas se o benefício
potencial justificar o risco potencial para o feto. Pasurta® enquadra-se na categoria B de risco na gravidez, portanto, este medicamento não deve ser utilizado por mulheres
grávidas sem orientação médica ou do cirurgião-dentista. Lactação: Não se sabe se Pasurta® está presente no leite humano. Não há dados sobre os efeitos de Pasurta® na criança
amamentada ou os efeitos de Pasurta® na produção de leite. Como os medicamentos são excretados no leite humano e devido ao potencial de efeitos adversos em lactentes de
Pasurta®, uma decisão deve ser tomada quanto a interrupção da amamentação ou descontinuação de Pasurta®, levando em consideração o potencial benefício de Pasurta® para
a mãe e o benefício potencial da amamentação para a criança. Fertilidade: Não há dados disponíveis sobre o efeito de Pasurta® na fertilidade humana. Efeitos sobre a habilidade
de dirigir veículos e/ou operar máquinas: Não é esperado que Pasurta® influencie na capacidade de conduzir e usar máquinas. Reações adversas: Comuns (1 a 10%): Reações
no local da injeção, obstipação, espasmos musculares, prurido. Descrição de reações adversas selecionadas: As reações no local das injeções incluem dor no local da injeção,
eritema no local da injeção e prurido no local da injeção. A maioria das reações no local da injeção foi leve e transitória. Imunogenicidade: Em estudos principais, a incidência de
anticorpos anti-erenumabe foi de 6,3% para a dose de 70 mg (atividade neutralizadora in vitro em 3 pacientes) e 2,6% para a dose de 140 mg (nenhum paciente com atividade
neutralizante in vitro). Não houve impacto do desenvolvimento do anticorpo anti-erenumabe na eficácia ou segurança do erenumabe. Interações medicamentosas: Em um
estudo aberto, farmacocinético, de interação medicamentosa de Pasurta® e um contraceptivo oral combinado em pacientes do sexo feminino saudáveis, o erenumabe (140 mg
subcutâneo [SC], dose única) não afetou a farmacocinética de um contraceptivo oral combinado contendo etinilestradiol e norgestimato. Em um estudo randomizado, duplo-cego,
placebo-controlado em voluntários saudáveis, a administração concomitante de erenumabe (140 mg por via intravenosa [IV], dose única) com sumatriptano não teve efeito sobre
a pressão arterial em repouso em comparação com o sumatriptano isolado. Pasurta® não teve efeito sobre a farmacocinética do sumatriptano. O erenumabe não é metabolizado
por enzimas do citocromo P450 e é improvável que cause alterações acentuadas nas citocinas pró-inflamatórias que possam afetar a expressão ou atividade da enzima do
citocromo P450. Como resultado, são improváveis as interações com medicações concomitantes que são substratos, indutores ou inibidores das enzimas do citocromo P450.
USO ADULTO VENDA SOB PRESCRIÇÃO MÉDICA. MS – 1.0068.1160. Informações completas para prescrição disponíveis à classe médica mediante solicitação. BSS 22.
Jun.18. Esta minibula foi atualizada em 25/03/2019.

Material destinado a profissionais de saúde habilitados a prescrever e/ou dispensar medicamentos.


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PASURTA 1,0 0219
1,0 0319 BR BR-04988
BR-04783

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