Você está na página 1de 48

05 julho/agosto/setembro - 2008

A revista do
Microbiologista.
informativo sbm • ano 2 • www.sbmicrobiologia.org.br
ISSN 1982-1301

100 anos de
Paracoccidioidomicose
Editorial Índice

Ciência in Foco
Prezado NISINA: UM LANTIBIÓTICO
Microbiologista, OBTIDO POR PROCESSO
MICROBIANO . . . . . . . . . . . . . 04
Prezado leitor

Com este exemplar de número 5, iniciamos o segundo ano da “Microbiolo- FLOCULAÇÃO DE


gia in foco”. Agradecemos a nossos colegas colaboradores que, sugerindo
SACCHAROMYCES
temas e elaborando artigos, possibilitaram que a revista completasse o pri-
meiro ano. A foto ilustrativa da capa desta edição traz o agente etiológico Pa- CEREVISIAE
racoccidioides brasiliensis que, somada ao artigo Paracoccidioidomicose- NA PRODUÇÃO DE
Enigma da Micologia escrito pelo Professor Zoilo Pires de Camargo, da
UNIFESP, pretendem assinalar os 100 anos das primeiras observações de BIOETANOL. . . . . . . . . . . . . . . 08
Adolpho Lutz e ainda homenagear todos os eminentes pesquisadores brasi-
leiros que contribuíram e contribuem para o conhecimento dessa micose.
Incluímos, ainda, importantes artigos da área de Microbiologia: Nisina, um
MONITORAÇÃO
lantobiótico obtido por processo microbiano; floculação de Saccharomyces MICROBIOLÓGICA DA ÁGUA
cerevisae na produção de bioetanol; monitoração microbiológica de água
PARA HEMODIÁLISE
para hemodiálise por sistema Petrofilm; na área de virologia, gastroenterites ®
virais e vacinas e erradicação da linfadenite caseosa, desenvolvidos por emi- POR SISTEMA PETRIFILM . . 13
nentes pesquisadores da Microbiologia. Como em todos os outros editoria-
is, enfatizamos a necessidade de sua colaboração, mandando noticiais so-
bre sua área, sugerindo temas, pesquisadores, enfim, qualquer assunto que GASTROENTERITES VIRAIS. 16
envolva a microbiologia e que achar interessante para publicação e divulga-
ção. Somente com sua participação atuante, a Revista “Microbiologia in fo-
co” terá a possibilidade de ser aprimorada e continuar no seu objetivo de atin- VACINAS E A ERRADICAÇÃO
gir os mais variados setores e divulgar a Microbiologia. DA LINFADENITE CASEOSA . 26
Escrevam para taborda@usp.br ou vgambale@usp.br.
PARACOCCIDIOIDOMICOSE:
ENIGMA DA MICOLOGIA . . . . 32
Marina B. Martinez
Presidente
Resenha in Foco . . . . . . . . . . . 40
Walderez Gambale
Carlos Taborda
Editores Agenda in Foco. . . . . . . . . . . . 41

Expediente
Editores: Tiragem:
Carlos Taborda e Walderez Gambale 2000 exemplares - Circulação Nacional
SBM in Foco Distribuição gratuita para sócios SBM
Revista da Sociedade Brasileira de Marketing e Publicidade:
Microbiologia Prix Eventos: Silvia Neglia - Diretora Responsabilidade editorial:
Fone/fax: 51.32496164 Todos os artigos assinados
microbiologia@prixeventos.com.br são de responsabilidade dos
Ano 2, nº 5 (Julho, Agosto, Setembro) respectivos autores.
São Paulo: SBM, 2008 Editoração e Impressão:
Dolika Afa Artes Gráfica: (51) 3343.5533 Foto da capa:
Periodicidade Trimestral Diagramação: André Saboia Carlos Taborda

03
Ciência in Foco

NISINA: UM LANTIBIÓTICO
OBTIDO POR PROCESSO
MICROBIANO

1 2 3 4 5

1. Angela Faustino Jozala


Universidade de São Paulo, Faculdade de Ciências Farmacêuticas, Departamento de Tecnologia Bioquímico-Farmacêutica
Av. Professor Lineu Prestes, 580, Bloco 16. 05508-900, São Paulo, São Paulo, Brasil.

2. Priscila Gava Mazzola


Universidade de São Paulo, Faculdade de Ciências Farmacêuticas, Departamento de Tecnologia Bioquímico-Farmacêutica
Av. Professor Lineu Prestes, 580, Bloco 16. 05508-900, São Paulo, São Paulo, Brasil.

3. Pérola de Oliveira Magalhães


2Universidade de Brasília, Faculdade de Ciências da Saúde, Campus Universitário Darcy Ribeiro, 70910-900, Brasília, DF, Brasil.

4. Adalberto Pessoa Jr.


Universidade de São Paulo, Faculdade de Ciências Farmacêuticas, Departamento de Tecnologia Bioquímico-Farmacêutica
Av. Professor Lineu Prestes, 580, Bloco 16. 05508-900, São Paulo, São Paulo, Brasil.

5. Thereza Christina Vessoni Penna


Universidade de São Paulo, Faculdade de Ciências Farmacêuticas, Departamento de Tecnologia Bioquímico-Farmacêutica
Av. Professor Lineu Prestes, 580, Bloco 16. 05508-900, São Paulo, São Paulo, Brasil.

INTRODUÇÃO NISINA que 6 kDa e aquelas produzidas por bacté-


A utilização de microrganismos na gera- A nisina é uma bacteriocina com carac- rias ácido-láticas são divididas em 3 clas-
ção de produtos de interesse industrial re- terística bio-preservante, reconhecida em ses (Nes et al, 1996): (i) Lantibióticos; (ii)
flete o conceito geral de microbiologia in- diversos países. As bacteriocinas são pro- Lantibióticos pequenos não estáveis; e (iii)
dustrial. Dentre as razões para tal está a re- teínas ou complexos protéicos excretados Grandes proteínas termolábeis.
lativa simplicidade em realizar experimen- por bactérias e que se apresentam ativas Os lantibióticos são peptídeos antimi-
tos com microrganismos, com adequada contra espécies de microrganismos Gram- crobianos, bacteriocinas, produzidos por
velocidade de crescimento e grande diver- positivos, incluindo as bactérias acido lác- uma extensa gama de bactérias Gram-
sidade de atividades bioquímicas, tornan- ticas e os esporos do gênero Bacillus. Re- positivas, e são caracterizadas pela pre-
do-os um modelo experimental ideal para presentam um grupo de substâncias anti- sença única de aminoácidos modificados,
o estudo da genética e produção de bio- microbianas bastante heterogêneas, que particularmente os desidroaminoácidos e
moléculas aplicadas a diversas áreas da in- variam consideravelmente quanto ao mi- os tioéter aminoácidos lantionina (Lan) e
dústria. crorganismo produtor, ao espectro bacteri- 3-metilantionina (MeLan), produzidos por
Dando ênfase à obtenção de biomolé- ano, ao modo de ação, à massa molar e às complexos multienzimáticos. Nisina per-
culas com vasto espectro de ação e aplica- propriedades bioquímicas (Cleveland et tence ao subgrupo dos lantibióticos linea-
ção e caráter inovador, a nisina surge co- al., 2001; Thomas et al, 2000). res, sendo termoestável e está inclusa na
mo um bioproduto de relevante interesse Bactérias Gram-positivas, em sua mai- classe dos lantibióticos (Thomas, Clark-
industrial. oria, produzem bacteriocinas menores do son e Delves-Broughton, 2000).

04
A classificação da nisina deve-se ao ter-
mo do “Group N Inhibitory Substance” pro-
duzida por estreptococos de Lancefield
Grupo sorológico N ou gênero estrepto-
cocci. A estrutura do peptídeo nisina foi pri- Figura 1: Estrutura primária do lantobiótico nisina (Jack& Jung, 2000)
meiramente descrita por Gross e Morell
(1971), mas geneticamente isolada por
Buchman, Banerjee & Hansen, 1988. - Clostridium spp (Cl. Bifermen- do Codex Alimentarius, para uso como
Existem duas variantes naturais de ni- tans, Cl. Botulinum, Cl.butyricum, Cl. his- agente antimicrobiano na inibição do de-
sina existentes, a nisina A e a nisina Z, as tolyticum, Cl. pasteurianum, Cl. perfrin- senvolvimento pós-germinativo de espo-
quais diferem em apenas um simples gens, Cl. putrifucum, Cl. sordelli, Cl. sporo- ros e formação de toxina por C. botulinum
aminoácido na posição 27. A asparagina genes, Cl. tertium, Cl. thermosaccharolyti- em queijos fundidos e pasteurizados
na nisina Z é substituída por histidina na cum, Cl. tyrobutyricum). (Chandrapati & O'Sullivan, 1998).
nisina A. A substituição do aminoácido é - Desulfotomaculum spp (Desulfo-
devida à troca de um simples par de ba- tomaculum nigrificans). FORMAÇÃO E MECANISMO DE AÇÃO
ses para o códon correspondente. As di- - Entreococcus spp (Enterococcus DA NISINA
ferenças entre as variantes de nisina são faecalis, Enterococcus faecium. Estudos prévios mostraram que a nisi-
pequenas. A nisina Z parece ser ligeira- - Lactobacillus spp (Lactobacillus na é formada continuamente desde os es-
mente mais difusível em ágar e mais solú- spp, L. bulgaricus, L. brevis, L. buchneri, L. tágios iniciais de crescimento do L. lactis (fi-
vel em pH neutro (Kraaij et al. 2000). casei, L. helveticus, L. fermentum, L. lac- gura 2) até a fase estacionária, além disso,
O peptídeo bioativo nisina, figura 1, é tis, L. plantarum); um atraso da fase de crescimento rende
sintetizado por certas cepas de Lacto- - Leuconostoc spp (L.oenos, L. me- expressivo aumento em sua produção
coccus lactis subsp. Lactis durante sua senteroides). (Chandrapati & O´Sullivan, 1998; Cheig et
fase de crescimento exponencial. (Ves- - Listeria spp (Listeria monocytoge- al., 2002)
soni Penna & Moraes, 2002). Sua massa nes). O lançamento de nisina da célula no
molar é de 3,4 kDa e é composta por 34 - Micrococcus spp (M. luteus, M. va- meio de propagação é dependente do pH.
resíduos de aminoácidos, incluindo al- rians). Em valores de pH menores que 6,0, mais
guns insaturados. Os aminoácidos inco- - Pediococcus spp (Pedicoccus de 80% da nisina produzida é liberada ao
muns podem ser responsáveis por pro- spp, P. damnosus, P. pentosaceus). meio de crescimento, enquanto a pHs mai-
priedades importantes da molécula da ni- - Staphyloccus spp (S. aureus). ores de 6,0 a maior parte da nisina está as-
sina, como por exemplo, sua termoesta- - Sporolactobacillus spp (Sporo- sociada à membrana celular e no interior
bilidade e sua ação bactericida. (Kraaij lactobacillus inulinus) da célula (Thomas, Clarkson e Delves-
et al. 2000; Jack& Jung, 2000). Broughton, 2000). A solubilidade e a esta-
Nisina e outros lantibióticos do subti- REGULAMENTAÇÃO TOXICOLÓGICA bilidade da nisina aumentam substancial-
po A são caracterizados pela extensa ati- Extensivos estudos toxicológicos reali- mente com aumento da acidez do meio. A
vidade bactericida inibindo a germina- zados com a nisina demonstraram que a nisina é estável em pH 2,0 e pode ser auto-
ção de esporos e o crescimento de varia- sua ingestão não causa efeitos tóxicos ao clavada a 121ºC.
das cepas de bactérias Gram-positivas organismo humano, sendo reportada uma O mecanismo de ação vem sendo con-
(Vessoni Penna, Moraes e Fajardo, DL50 de 6950 mg/kg, similar ao sal, quan- tinuamente estudado e alguns pesquisa-
2001). A nisina é usada como um conser- do administrada oralmente. Com base no dores indicam que a nisina seria fortemen-
vante natural nas indústrias de alimen- nível “no effect”, observado nas avalia- te atraída pelos fosfolipídios na membra-
tos e laticínios e aprovada pelo FDA (Fo- ções toxicológicas realizadas em animais na, formando poros ou canais de 0,2-1,0
od and Drug Administration) e GRAS (Ge- e permitido para humanos, a Organização nm de diâmetro. A simultânea despolariza-
nerally Regarded as Safe) (Cleveland et Mundial da Saúde recomenda a Ingestão ção da membrana causaria um rápido eflu-
al., 2001). Apesar da característica prin- Diária Aceitável-IDA (Acceptable Daily xo de moléculas essenciais (íons K+, ami-
cipal de toda bacteriocina ser a utiliza- Intak” ADI que representa a quantidade noácidos e ATP), levando a uma série de al-
ção em alimentos, por atuar como con- máxima do aditivo que poderia ser ingeri- terações que terminariam com a lise celu-
servante natural, pesquisas recentes ve- da diariamente, sem causar quaisquer da- lar (Bruno & Monteville, 1993; Abee et al.,
rificaram a grande possibilidade do uso nos à saúde do consumidor) de 33000 Uni- 1994, Sahl et al., 1998).
de nisina para finalidades terapêuticas dades Internacionais, UI ou 0,825 mg, por Esta bacteriocina possui amplo espec-
particularmente interessantes em trata- quilo de peso corpóreo (Hoover & Steen- tro de atividade antimicrobiológica contra
mentos de úlceras estomacais e infec- son, 1993). bactérias Gram-positivas e seus esporos,
ções de cólon intestinal para pacientes A nisina é rapidamente inativada pela mas mostram pouca ou nenhuma ativida-
com imunodeficiência (Sakamoto, Iga- quimiotripsina, enzima produzida no pân- de contra bactérias Gram-negativas, leve-
rashi e Kimura, 2001). creas e liberada no intestino delgado, e é duras ou fungos. Porém, bactérias Gram-
Os principais microrganismos Gram- sensível à ptialina, não sendo detectada negativas podem ser sensíveis à nisina pe-
positivos sensíveis à ação da nisina são: na saliva de humanos após 10 minutos do la exposição a um agente quelante
- Bacillus spp (B. brevis, B cereus, consumo de líquidos contendo essa bac- (EDTA), calor subletal ou congelamento
B. coagulans, B. licheniformis, B.mace- teriocina. É também a única bacteriocina (Vessoni Penna et al., 2006; Delves-
rans, B. megaterium, B. pumilus, B. sub- que foi confirmada como GRAS e de uso li- Broughton et al., 1996). Estudos mostra-
tilis, B. stearothermophilus). berado como aditivo alimentar pelo comitê ram que a utilização da nisina em combi-

05
M17 e observaram o favorecimento do cres-
cimento e simultânea produção de nisina
por L. lactis. Portanto, afirma-se que a pro-
dução de nisina está relacionada à concen-
tração nutricional dos meios de cultivo utili-
zados para o crescimento do microrganis-
mo.
Os resultados favoráveis à utilização de
leite desnatado continuaram a ser explora-
dos por Jozala e colaboradores (2007).
Estes autores estudaram diferentes con-
Figura 2: Coloração de Gram: Células de Lactococcus lactis ATCC 11454, centrações do leite desnatado e observa-
cultivo em leite (em microscópio modelo: BX60F5, Olympus optical co., ram que ao ser diluído em 40% (contendo
ltd.made in japan, com aumento de 1000 vezes).
2,27gtsólidos totais) houve melhor expressão de
nisina. A figura 4 representa os ensaios de
verificação da atividade nisina, através da
nação com agentes quelantes (EDTA, mo- tricionais tais como a sacarose, a lactose e metodologia de difusão em ágar, aplicados
nohidrato cítrico e ortofosfato trisódico) tor- a glicose podem estar ligadas à nisina ex- nos trabalhos realizados por este grupo de
na bactérias Gram-negativas sensíveis à cretada nos meios de cultivos pelo L. lactis pesquisa.
nisina (Ganzle et al, 1999;Ukuku e Fett, (Kim, Hall e Dunn, 1997). Altas concentra- Neste trabalho, Jozala e colaboradores
2004). Um sistema combinando diferentes ções de sacarose podem estar relaciona- (2007), sugeriu-se a utilização do soro de le-
soluções de antimicrobianos, como nisi- das ao aumento da produção de nisina no ite como meio de cultivo, pois aumentaria a
na/EDTA ou nisina/sorbato de potássio a fim da fase estacionária de crescimento mi- produção de nisina e reduziria o custo de
10 ºC, mostrou significante decréscimo da crobiano (Vessoni Penna & Moraes, 2002). produção desta biomolécula.
população de E. coli O157: H7 comparado Vessoni Penna e Morais, 2002, verifica- O soro de leite é um subproduto da in-
às amostras tratadas somente com a nisi- ram a influência positiva da utilização de su- dústria de laticínios e contém nutrientes co-
na (Fang e Hung-Chi, 2004). Portanto, a plementos como sacarose e asparagina mo lactose, proteínas e sais minerais (Liu et
atividade inibitória da nisina em microrga- em caldo MRS e M17, mostrando que a pro- al., 2006). No Brasil, a produção de queijo
nismos Gram-negativos pode ser melho- dução de nisina e massa celular de L. lactis cresceu nas últimas décadas e a maioria do
rada com a combinação da nisina com dependiam do balanço desses nutrientes. soro gerado é indevidamente descartado.
EDTA no meio de cultivo (Figura 3) (Vesso- Em outro estudo Vessoni Penna e colabo- Estima-se que no Brasil 50% do soro de lei-
ni Penna et al, 2006). radores (2005) utilizaram o leite desnatado te são descartados sem tratamento em rios
como suplementação dos meios de cultivo e carrega uma alta quantidade de matéria
PRODUÇÃO DE NISINA: ESTUDOS DE e verificaram melhores condições no cres- orgânica, sendo considerado um importan-
MEIOS DE CULTIVO ALTERNATIVOS. cimento do L. lactis e sua concomitante pro- te poluente. Neste caso a produção de um
A importância do meio de cultivo é fun- dução de nisina. Jozala e colaboradores antimicrobiano poderia ser associada com
damental em trabalhos em que estão en- (2006) estudaram a incorporação do leite a reciclagem ou a reutilização de material
volvidos microrganismos e produtos gera- desnatado (9,09% sólidos totais), na pro- de descarte industrial, contribuindo com me-
dos por eles. No caso da produção de nisi- porção 1:1, aos meios de cultivo MRS e lhorias do meio ambiente, diminuindo ris-
na o balanço nutricional do meio de cultivo
é indispensável para as células produtoras.
As bactérias lácticas são fastidiosas e
requerem meios de cultivo de alto valor nu-
tricional, dos quais melhoram o crescimen-
to e a produção de bacteriocinas. Muitos ar-
tigos descrevem os caldos MRS e M17 co-
mo ótimos meios de cultivo utilizados para
o crescimento celular e produção de bacte-
riocina pelo Lactococcus lactis (Cheig et al.,
2002). Apesar de estes meios promoverem
crescimento exuberante e relativamente al-
tos níveis de concentração de bacterioci-
nas, seus custos elevados os tornam ina-
dequados para produção em larga escala
(Guerra & Pastrana, 2003). Por outro lado,
algumas matérias primas baratas como so-
ro de leite ou melaço de cana, que são resí-
duos industriais, têm sido utilizadas como
meio de cultura para produção de bacterio-
cinas (Guerra & Pastrana, 2003). As dife- Figura 3: Halos de inibição da ação de nisina combinada com
rentes concentrações dos suplementos nu- EDTA em E. coli produtora de proteína verde fluorescente (GFPuv).

06
cos de impacto ambiental. Flores & Alegre
(2001) utilizaram soro de leite como suple-
mento durante fermentação por batelada e
obtiveram atividade de nisina máxima de
5280 IU.ml-1 após 9h de processo (pH 4,9).
Mondragón-Prada et al. (2006) verificaram
que a suplementação de soro de leite filtra-
do aumentou a produção de biomassa de
bactérias lácteas. Pesquisadores testando
uma cultura mista de L. lactis e Saccha-
romyces cerevisiae observaram que o meio
à base de soro de leite estimula a produção
de nisina (Liu, C et al., 2006). Estudos reali-
zados por nosso grupo de pesquisa de-
monstram a utilização do soro de leite não
suplementado para promover o crescimen-
to e produção de nisina pelo L. lactis. (Joza-
la et al., 2007; Arauz et al., 2008).
Este meio de baixo custo, usado em cul-
turas microbianas, promove vantagens eco-
nômicas, reduzindo a poluição do meio am-
Figura 4: Halos de Inibição promovidos pela ação da nisina em
biente e estimulando os pesquisadores pa- Lactobacillus sakei ATCC 15521
ra a utilização deste subproduto.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
JOZALA, A.F., NOVAES, L.C.L, CHOLEWA, O. e SAHL, H.G e BIERBAUM, G. Lantibiotics: biosynthe-
BRUNO, M.E.C. e MONTVILLE, T.J. Common me- VESSONI PENNA, T.C. Increased Of Nisin Produ- sis and biological activities of uniquely modified pep-
chanistic action of bacteriocins from lactic acid ced By Lactococcus Lactis In Different Media. tides from Gram-positive bacteria. Annual Reviews
bacteria. Applied and Environmental Microbio- African Journal of Biotechnology, v. 4(3), p. 262- Microbiology, vol. 52, p. 41-79, 1998.
logy., Washington, v. 59 (9), p. 3003-3010, 1993. 265, 2005. SAKAMOTO, I.; IGARASHI, M.; KIMURA, K. Sup-
CHANDRAPATTI, S., O'SULLIVAN, D. J. Procedure JOZALA, A. F., ANDRADE, M. S., ARAUZ L. J., pressive effect of Lactobacillus gasseri OLL 2716
for quantifiable assessment of nutritional parameters PESSOA JR, A. e VESSONI PENNA, T. C. Nisin (LG21) on Helicobacter pylori infection in humans.
influencing Nisin production by Lactococcus lactis production utilizing skimmed milk aiming to redu- Journal of Antimicrobiology Chemotherapy, vol.
subsp. Lactis. Journal of Biotechnology, v. 63, p. ce process cost. Apllied Biochemistry and Bio- 47, p. 709-710, 2001.
229-233, 1998. technology, v. 136, p. 515-528, 2007. THOMAS, L.V., CLARKSON, M.R.; DELVES-
CHEIG, C. -I., CHOI, H. -J., PARK, H., KIM, S.-B., BROUGHTON, J. Nisin. In: Naidu, A.S., Editor, Natu-
KALETTA e ENTIAN. Nisin, a peptide antibiotic: clo-
KOOK, M.-C, KIM, T.-S, HWANG, J.-K. e PYUN, Y.- ral Food Antimicrobial Systems, CRC Press, Bo-
ning and sequencing of the nisA gene and posttrans-
R. Influence of growth conditions on the production of ca Raton, FL, p. 463524, 2000.
lational processing of its peptide product. Journal of
a nisin-like bacteriocin by Lactococcus lactis subsp. Bacteriology, v. 171(3), p. 15971601, 1989. TURNER, S.R., LOVE, R.M.; LYONS, K.M. An in-
lactis A164 isolated from kimchi. Journal of Bio- vitro investigation of the antibacterial effect of nisin in
technology, v. 95, p. 225-235, 2002. KIM, W.S., HALL, R.J. e DUNN, N.W. The effect of ni- root canals and canal wall radicular dentine. Interna-
sin concentration and nutrient depletion on nisin pro- tional Endodontic Journal, v. 37, p. 664671, 2004.
CLEVELAND, J; MONTVILLE, T.J.; NES, I.F. e duction of Lactococcus lactis. Applied Microbio-
CHIKINDAS, M.L. Bacteriocins: safe, natural, and an- UKUKU D.O. e FETT W. Behaviour Of Listeria Mo-
logy and. Biotechnology, v. 48, p. 449-453, 1997. nocytogenes Inoculated On Cantaloupe Surfaces
timicrobials for food preservations. Internacional
Journal of Food Microbiology, v.71, p.1-20, 2001. LIU, C., LIU, Y., LIAO, W., WEN, Z. e CHEN, S. Si- And Efficacy Of Washing Treatments To Reduce
multaneous production of nisin and lactic acid from Transfer From Rind To Fresh-Cut Pieces. Journal of
DELVES-BROUGHTON, J., BLACKBURN, P., cheese whey: optimization of fermentation conditi- Food Protection, p. 2143-2150, 2004.
EVANS, R. J. e HUGENHOLTZ, J. Applications of ons through statistically based experimental designs. VESSONI PENNA, T.C; MORAES, D.A. Optimizati-
the bacteriocin,nisin. Antonie Leeuwenhoek, v. Applied Biochemistry and Biotechnology, v. 113- on Of Nisin Production By Lactococcus lactis, Appli-
69(2), 193-202, 1996. 116, p. 627-638, 2004 ed Biochemistry and Biotechnology, v. 98-100, p.
FANG, T.J. e HUNG-CHI TSAI. Grouth patterns of E. LIU, C., HU, B., LIU, Y. e CHEN, S. Stimulation of ni- 775-789, 2002.
coli O157:H7 in ground beef treated with nisin, chela- sin production from whey by a mixed culture of Lac- VESSONI PENNA, T.C, MORAES, D.A., and
tor, organic acids and their combinations immobilized tococcus lactis and Saccharomyces cerevisiae. FAJARDO, D.N. Outgrowth kinetic parameters of ac-
in calcium alginate gels. Food Microbiology, v. Applied Biochemistry and Biotechnology, v. 129- tivated Bacillus cereus spores in cooked rice and in
20(2), p. 243253, 2004. 132, p. 751-761, 2006. milk with nisin added. Journal Food Protection, v.
FLORES, S.H. e ALEGRE, R. M. Nisin production MONDRAGóN-PARADA, M. E., NáJERA- 65, p. 419-422, 2002.
from Lactococcus lactis A.T.C.C. 7962 using supple- MARTíNEZ, M., JUáREZ-RAMíREZ, C., VESSONI PENNA, T. C., JOZALA, A.F., NOVAES,
mented whey permeate. Biotechnology and Appli- GALíNDEZ-MAYER, J., RUIZ-ORDAZ, N. e L.C.L, PESSOA-JR., A. E CHOLEWA, O. Producti-
ed. Biochemestry. v. 34(2), 103-107, 2001. CRISTIANI-URBINA, E. Lactic acid bacteria produc- on Of Nisin By Lactococcus Lactis In Media With
GUERRA, N. P. e PASTRANA, L. Influence of pH tion from whey. Applied Biochemistry and Bio- Skimmed Milk. Applied Biochemistry and Bio-
drop on both nisin and pediocin production by Lacto- technology, v. 134(3), p. 223-232, 2006. technology, v. 121-124, p. 1-20, 2005.
coccus lactis and Pediococcus acidilactici. Letters in NES, I.F. DIEP, D.B.; HAVARSTEIN, L.S.; VESSONI PENNA, T.C., JOZALA, A.F., GENTILLE,
Applied Microbiology, v. 37(1), p. 51-55, 2003. BRURBERG, M.B, EIJSK, V. E HOLO, H. Biosynthe- T.R., PESSOA JúNIOR, A. e CHOLEWA, O. Detec-
HOOVER, G. D., L. R. STEENSON. Bacteriocins of sis of bacteriocins in lactis acid bactéria.[Review]. tion Of Nisin Expression By Lactococcus Lactis
lactic acid bacteria. Academic Press, Inc., San Die- Antonie Leeuwenhoek, v. 70, p. 113-128, 1996. Using Two Susceptible Bacteria To Associate
go, Calif. 1993. The Effects Of Nisin With Edta. Applied Bioche-
REDDY, K V R, ARANHA, C, GUPTA, S M, e mistry and Biotechnology, v. 121-124, p. 334-346,
JACK, R.W; JUNG, G. Lantibiotics and microcins: YEDERY, R D Evaluation of antimicrobial peptide ni- 2006.
polypeptides with unusual chemical diversity. Cur- sin as a safe vaginal contraceptive agent in rabbits: in
http://www.anvisa.gov.br/legis/resol/12_01rdc.htm
rent Opinion in Chemical Biology, v.4, p. 310-317, vitro and in vivo studies. Reproduction, v. 128, p.
ANVS RDC nº 12 de 02/01/2001
2000. 117-126, 2004.

07
Ciência in Foco

FLOCULAÇÃO DE
SACCHAROMYCES
CEREVISIAE NA PRODUÇÃO
DE BIOETANOL

Prof. Dr. Pedro de Oliva Neto


UNESP - Campus de Assis - SP - poliva@assis.unesp.br

INTRODUÇÃO - Operar um processo não asséptico FLOCULAÇÃO CELULAR


A fermentação alcoólica industrial para sem que os contaminantes o difi- Ocorre quando numa suspensão, célu-
produção de álcool carburante pela leve- cultassem ou inviabilizassem (es- las individuais são agregadas formando flo-
dura Saccharomyces cerevisiae (Figura 1) tabilidade microbiológica e bio- cos ou agregados que logo em seguida so-
se baseia em duas bases tecnológicas química) frem sedimentação ou flotação (fig. 2).
que permitiram o grande avanço na efi- - Aumento da eficiência alcoólica Autofloculação - quando envolve as cé-
ciência alcoólica: desde que o açúcar não era mais lulas de uma única linhagem que se agre-
a) a elevada concentração de células tanto desviado para a produção da gam.
b) o reciclo de células de levedura. biomassa celular, mas apenas a re- Co-floculação - determinada por agre-
Isto por que com esses dois fatores foi posição da mesma ao longo da sa- gações ocorrendo entre diferentes linha-
possível : fra. gens de diferentes espécies (STEWART
- diminuir muito o tempo de fermen- Com o reciclo de células são também et al, 1975; ESSER & KUES, 1983).
tação alcoólica, mesmo trabalhan- reciclados vários agentes bióticos e abióti- Denominações - Este processo pode
do com altas concentrações de açú- cos que podem produzir um fenômeno mui- estar associado também com as palavras
car. (aumento de produtividade) to prejudicial à fermentação alcoólica para aderência, aglomeração, aglutinação, co-
produção de etanol carburante - a Flocu- agulação, flotação, etc., sendo que quando
lação celular (Figura 2) . em uma suspensão as células individuais
são unidas, agregadas formam estruturas
que recebem diversos nomes como: aglo-
merados, agregados, aglutinados, ca-
chos, coágulos, flocos ou pellet, que sedi-
mentam no meio no qual são cultivados, ou
flotam para a superfície do meio
(CALLEJA,1987).

FATORES QUE PROVOCAM


A FLOCULAÇÃO
Figura 1: Fotografia eletrônica de Este padrão de floculação depende
Figura 2: Fotografia eletrônica da
S. cerevisiae em fase de brotamento
floculação entre leveduras S.cerevisiae. das propriedades da parede celular, ten-
Fonte: Fermentec - agradecimento ao
prof. Luis Basso

08
do em vista que estas últimas isoladas
apresentam o mesmo comportamento de
agregação em relação às células intactas,
determinada por um gene específico - o ge-
ne FLO. (MIKI et al, 1982a). Mananoproteína
Este fenômeno é de caráter específi-
co dependendo da linhagem de leve- Glucana
dura utilizada e o seu comportamento
Glucana + quitina
frente a tratamentos com maltose ou
manose, presença ou ausência de Mananoproteína
Ca2+. Além disso, a floculação pode Membrana citoplasmática
ocorrer entre células preparadas em so-
lução tampão, através de interações en-
volvendo a parede celular de células Figura 3: Parede celular de uma levedura. Fonte: Ki Canadá.
adjacentes (EDDY & PHIL, 1955a e
STEWART et al, 1975).
Existem fatores intimamente relacio- MECANISMO DE essenciais para a floculação, já que o tra-
nados ao fenômeno da agregação celu- FORMAÇÃO DOS FLOCOS tamento com enzimas como, por exem-
lar, que podem ser classificados de acor- A ORIGEM DA FLOCULAÇÃO pode plo, tripsina e papaína e outras enzimas
do com ESSER & KUES (1983) em: ser devida a diferentes fatores, ta- proteolíticas e carboidrases reduzem a
Fatores genéticos, onde a agregação is como: agregação (Ludwig, 1998).
das células de levedura é efetuada por 1. aglutinação imunoquímica (li- Processo esse, também observado
múltiplos genes alélicos (FLO1, FLO2 e gação antígeno anticorpo), com leveduras do tipo Candida albicans,
FLO4) conhecidos pelo Locus FLO, que 2. por aditivos químicos (ex. cál- que se aderem aos tecidos humanos, e
na presença de no mínimo um gene ativo cio, ferro, gomas), que tem uma parede celular muito seme-
é suficiente para o fenótipo ser expresso 3. morfologia da parede celular e lhante à de Saccharomyces cerevisiae.
e ter início a floculação (LEWIS et al, estruturas específicas (fímbri- Enzimas como glucanases e quitina sin-
1976; RUSSELL et al, 1980; MIKI et al, as, lectinas, polissacarídeos da tases, manosil transferases e proteases
1982a). parede celular) de células indu- podem atuar no desligamento da levedu-
Fatores fisiológicos, onde a flocula- toras da floculação. ra ao epitélio (KRUPPA et al, 2003). Tam-
ção depende da idade fisiológica das 4. Fatores genéticos podem estar bém a adição de manose numa suspen-
células. envolvidos. Ex. gene Flo na flo- são de leveduras promove a completa
Fatores ambientais tais como tem- culação de leveduras de cerveja- desfloculação das células (Oliva-Neto,
peratura e pH, são importantes na flocu- ria 1990).
lação por leveduras, já que o tratamento 5. aglutinação sexual (conjuga-
térmico entre 50 e 60oC provoca a sepa- ção entre bactérias) Na fermen- FATORES ENVOLVIDOS NA
ração das células e o resfriamento au- tação alcoólica para produção FLOCULAÇÃO ENTRE LEVEDURAS
menta a floculação enquanto que em pH de etanol combustível os agentes - Fatores genéticos, onde a agre-
por volta de 2,0 a floculação é mínima e mais comuns são: gação das células de levedura é
em pH entre 4,5 - 5,5 é máxima. A con- 1o. Bactérias indutoras da flocula- efetuada por múltiplos genes alé-
centração de cálcio que se caracteriza ção com participação de íons licos (FLO1, FLO2 e FLO4) co-
como elemento determinante na flocula- Cálcio. nhecidos pelo Locus FLO, que na
ção também deve ser destacado como 2o. Leveduras floculantes presença de no mínimo um gene
um fator ambiental importante. (AMRI et 3o. Polissacarídeos (dextrana) ativo é suficiente para o fenótipo
al, 1982; CALLEJA, 1974; GILLILAND, ser expresso e ter início a flocula-
1957; MILL, 1964b). AUTO-FLOCULAÇÃO ção (LEWIS et al, 1976; RUSSELL
Fatores biológicos tais como a con- EM LEVEDURAS et al, 1980; MIKI et al, 1982a)
centração de células em suspensão é A parede celular das leveduras está - Fatores fisiológicos, onde a flo-
fundamental em linhagens floculantes intimamente ligada às propriedades de culação depende da idade fisio-
de Saccharomyces cerevisiae com uma floculação e é composta de duas cama- lógica das células.
ótima taxa de agregação em concentra- das: uma interior de glucanas e uma ma- - Fatores ambientais tais como
ções superiores a 3-5x108 células/ml is externa de mananas que estão associ- temperatura e pH, são importan-
(PARKER et al, 1971 apud ESSER & adas às proteínas (Figura 3). tes na floculação por leveduras, já
KUES, 1983; YOKOYA & OLIVA-NETO, Acredita-se que o complexo exteri- que o tratamento térmico entre 50
1991). or de fosfomananas e proteínas sejam e 60oC provoca a separação das

09
células e o resfriamento aumenta
a floculação enquanto que em pH
por volta de 2,0 a floculação é mí-
nima e em pH entre 4,5 - 5,5 é má-
Grupo Carboxila de xima. A rigor acima de pH 2,8 já
Glicoproteínas (lectina) Cálcio ocorre o reagrupamento das célu-
(uma célula) las (Ludwig et al 2001).
- A concentração de cálcio que se
caracteriza como elemento deter-
Fosfomanana minante na floculação também de-
(da parede celular ve ser destacado como um fator
de outra célula) ambiental importante. (AMRI et
al, 1982; CALLEJA, 1974;
GILLILAND, 1957; MILL, 1964b).
- Fatores biológicos tais como a
Figura 4: Representação esquemática da ligação entre as células concentração de células em sus-
para formação do floco
pensão é fundamental em linha-
gens floculantes de Saccharomy-
ces cerevisiae com uma ótima ta-
xa de agregação em concentra-
ções superiores a 3-5x108 célu-
las/ml (ESSER & KUES, 1983);
há necessidade de pelo menos
30% de leveduras floculantes pa-
ra que essas induzam as não flo-
culantes.

ENVOLVIMENTO DE
GLICOPROTEÍNAS NA FLOCULAÇÃO
A parede celular de uma linhagem flo-
culante e outra não floculante de Kluyve-
romyces marxianus, mostram diferen-
ças no conteúdo proteico, com uma
Figura 5: Representação esquemática da parede celular de bactérias Gram positivas. concentração mais elevada de proteí-
Fonte: Daniel Val. nas nas células floculantes. Eletrofo-
rese das proteínas mostraram um peptí-
deo extra (peso molecular - 37 KDa) que
é ausente em células não floculantes
(TEIXEIRA et al, 1989).
Resultados semelhantes foram obti-
dos por PEREIRA JR & BU`LOCK (1993)
que estudaram as proteínas da parede
celular de duas linhagens (floculantes e
não floculantes) de Pichia stipitis.. As li-
nhagens floculantes apresentaram um
conteúdo mais elevado de proteínas
na parede celular do que as correspon-
dentes não floculantes, um polipeptí-
deo de peso molecular 65 KDa foi de-
tectado nas proteínas das linhagens
floculantes e estava ausente nos ex-
tratos das não floculantes.
STEWART et al (1995) isolaram e ca-
Figura 6: Efeito do aumento da concentração de Lactobacillus fermentum CCT 1396 racterizaram as proteínas da parede ce-
indutor da floculação de S. cerevisiae. A partir da concentração de 1,38 g/L de bactérias lular de leveduras floculantes em fase
já ocorre separação de fases entre na suspensão celular. (Fonte: Ludwig et al, 1996)

10
estacionária de crescimento, e observa-
ram proteínas de PM de 20 a 85 KDa e
glicoproteínas de 40 a 80 KDa, sendo
as proteínas dependentes de cálcio para
flocular. Observaram também que pro-
vavelmente as proteínas do gene FLO1
(93 a 150 KDa) tem papel regulatório na
floculação, agindo diretamente na inte-
ração lectina-carboidrato.

MECANISMO QUÍMICO
DA FLOCULAÇÃO
Acredita-se que os grupos carboxi-
la da porção proteica das glicoproteí-
nas (lectinas) tenham papel importan-
te neste processo, ligando-se as ma- Figura 7: Efeito do pH sobre a capacidade de Lactobacillus fermentum flocular as
células de Saccharomyces cerevisiae no tempo inicial e com 175 min.
nanas ou fosfato que formam o com-
plexo de fosfomanas das células adja-
centes . Grupos aniônicos com-
ponentes da parede celular de células
adjacentes tornem-se ligados pelo cál-
cio, através de pontes de hidrogênio
entre os grupos carboxílicos das pro-
teínas da parede celular e os grupos
fosfato do esqueleto de fosfomana-
nas (LYONS & HOUGH, 1971).
Esta ligação entre leveduras via pon-
tes de hidrogênio (formadas entre os gru-
pos carboxila das células adjacentes,
por meio de cálcio) induzem a uma “li-
gação” conformacional determinan-
do assim a adesão celular. (MILL,
1964b; STEWART et al, 1975).
A ligação entre glicoproteínas (lec-
Figura 8: Quantificação (absorbância =600 nm), da floculação de leveduras
tinas) da superfície celular, unindo-se as (Saccharomyces cerevisiae) por Lactobacillus fermentum CCT 1396, após o tratamento
mananas dos carboidratos comple- com a enzima proteolítica Novozyme 642, nas concentrações de 0 a1500 l/l.
mentares de células adjacentes, é ati-
vada pelos íons cálcio atuam como co-
fatores, (Figura 4) ativando a capacida-
de de ligação de certos componentes de
lectinas com os carboidratos, mantendo
a configuração correta destas lectinas
essa é a teoria “lectin-like” . Sendo isto
sustentado pelo fato da parede celular
de leveduras floculantes conter uma
quantidade mais alta de prolina, lisina e
aspartato do que as leveduras não flocu-
lantes (AMRI et al, 1982; MIKI et al,
1982a; TAYLOR & ORTON, 1978).

FLOCULAÇÃO PELO CONTATO


ENTRE BACTÉRIAS INDUTORAS DA
FLOCULAÇÃO E OUTRAS CÉLULAS
A parede celular bacteriana (Figura Figura 9: Ação da enzima Carboidrase (Novo Nordisk SP 299)
na floculação de Saccharomyces cerevisiae por Lactobacillus fermentum CCT 1396
5) pode também estar associada à flo- em diferentes intervalos de tempo.

11
culação celular e é formada de peptido- manana que tem sido demonstrado por coólica. Ciência e Tecnologia de Alimentos, v.
glicano (mureína), que é um heteropolí- experimentos de inibição por açúca- 21, p. 63-68. 2001.
mero formado por dois aminoaçúcares res (SANTOS & YOKOYA, 1993).
LUDWIG, K.M. Floculação de S. cerevisiae ca-
(N-acetil-glicosamina e ácido N-acetil- racterização e ação de enzimas desfloculantes.
murâmico). A este último encontra-se li- MÉTODOS DE Rio Claro Dissertação (Mestrado). Instituto de Bi-
gadas, covalentemente, cadeias laterais DESFLOCULAÇÃO CELULAR ociências de Rio Claro UNESP. 1998 . 134 p.
de tetrapeptídeos, normalmente com- As destilarias de produção de bioeta-
posto de L-alanina, D-glutamato, meso- nol utlizam como método de controle da LUDWIG, K.M. Produção e aplicação de enzimas
diaminopimélico (ou outro aminoácido di- floculação indesejável, o tratamento áci- visando a desfloculação de células de S. cerevi-
siae floculada por L. fermentum. Rio Claro/SP. Te-
amínico) e D-alanina. Nas bactérias do do fermento. Tal procedimento con-
se de Doutorado. UNESP. 2005 .
gram (+), responsáveis pela floculação, siste na acidificação com ácido sulfúrico,
aproximadamente 90% da parede são depositado diretamente sobre a suspen- YOKOYA, F.; OLIVA-NETO, P. Características da
compostos de peptidoglicano, além de são de levedura, e o conseqüente abai- floculação de leveduras por Lactobacillus fer-
ácido teicóico e ácido lipoteicóico xamento do pH para a faixa de 2,0 a 2,5. mentum. Rev. Microb., v.22, n.1, p.12-16, 1991.
(PELCZAR et al, 1996; TRABULSI & Isso produz uma rápida desfloculação ce-
ALTERTHUM, 2004). lular devido a competição dos íons Hi- OLIVA-NETO, P. Influência da contaminação por
bactérias láticas na fermentação alcoólica pelo
drogênio pelos sítios ligação onde os
processo de batelada alimentada. Campi-
MECANISMO DA FLOCULAÇÃO íons cálcio estavam ligados. Como o hi-
nas/SP: UNICAMP.. Dissertação (Mestrado) - Fa-
ENTRE BACTÉRIAS E LEVEDURAS drogênio não possui a capacidade de in- culdade de Engenharia de Alimentos, Universi-
O mecanismo de floculação que ocor- duzir a formação de flocos, as células se dade de Campinas, 1990. 207p
re entre as células de bactérias conta- separam, e este procedimento auxilia di-
minantes da fermentação alcoólica e minuindo a formação de flocos durante à ST STRATFORD, M. Yeast flocculation: Calcium
as leveduras, está associado ao conta- fermentação. Porém tal reversão é tem- specificity. Yeast, v.5, p.487-496, 1989.
to físico entre a parede celular dos do- porária, pois com a introdução da sus- _______________. Evidence for two mecha-
nisms of flocculation in Saccharomyces cerevisi-
is microrganismos, existindo uma rela- pensão de leveduras acidificadas no
ae. Yeast, v.5, p.441-445, 1989.
ção ótima entre a quantidade de célu- mosto, ocorre aumento do pH (pH entre
las de bactéria e levedura para causar 3,8 e 4,5) o que novamente induz a for- _______________. Yeast flocculation: n of
a floculação, que segundo YOKOYA & mação de flocos. physiological and genetic viewpoints. Yeast, v.8,
OLIVA-NETO (1991) por contagem mi- Na Figura 7 é demonstrado o efeito p.25-38, 1992a.
croscópica está em 4,8 (bacté- do pH na desfloculação celular, esta
ocorrendo com a diminuição do pH, nota- _______________. Yeast flocculation: Recep-
ria/levedura), o que explica a aparição
tor definition by mm mutants and concanavalin A .
repentina de floculação em indústrias de se que acima de pH 3,0 já não há mais
Yeast, v.8, p.635-645, 1992a. ST STRATFORD,
produção de etanol, quando ocorre um desfloculação, pois diminui a turbidez da
M.; KEENAN, M.H.J. Yeast flocculation: kinetics
aumento da contaminação bacteriana suspensão celular provocada pelo rea- and collision theory. Yeast, v.3, p.201-206, 1987.
principalmente por Lactobacillus fer- parecimento da floculação. _________________________________.
mentum. A Figura 6 mostra que a partir As figuras 8 e 9 mostram que há alter-
de 1,38 g/L de biomassa seca de L. fer- nativas à desfloculação celular via ácido. Yeast flocculation: quantification. Yeast, v.4,
mentum CCT 1398 sobre uma suspen- Tanto enzimas carboidrases como prote- p.107-115, 1988. STRATFORD, M.; BRUNDISH,
ases podem desflocular o fermento de H.M. Yeast flocculation: cationic inhibition. Ye-
são de S.cerevisiae, ocorre separação
ast, v.6, p.77-86, 1990.
de fases devido a intensa floculação celu- forma irreversível, ou seja, mesmo alte-
lar. (LUDWIG et al. 1996) Segundo rando-se o pH do mosto durante a fer- SANTOS, M.T. Caracterização da floculação de
BROMBERG & YOKOYA (1995) resídu- mentação alcoólica, não há reversão da leveduras causada por Lactobacillus fermentum.
os de aminoácidos da superfície de Lac- desfloculação quando se utiliza um méto- Campinas/SP: UNICAMP, 1991, 93p. Disserta-
tobacillus fermentum e resíduos de car- do enzimático. Porém neste caso, a limi- ção (Mestrado) - Faculdade de Engenharia de Ali-
boidratos das leveduras são responsá- tação é econômica, uma vez que o trata- mentos, Universidade de Campinas, 1991.
veis pelo desenvolvimento do fenômeno mento enzimático é incompatível com o
SANTOS, M.T.; YOKOYA, F. Characteristics of
da floculação. As reações com vários rea- custo do tratamento ácido, razão pela
yeast cell flocculation by Lactobacillus fermen-
gentes de modificação proteica indica- qual ainda continua sendo usado ácido
tum. J. Ferment. Bioeng., v.75, n.2, p.151-154,
ram que o grupo indol do triptofano e o na fermentação alcoólica. 1993.
grupo hidroxil fenólico da tirosina de-
vem estar presentes na superfície ce- REFERÊNCIAS PRINCIPAIS SERRA, G.E; CEREDA, M.P.; FERES, R.J.F.;
lular bacteriana para a floculação BERTOZO, M.T.; VICENTE, A.L. Contaminação
LUDWIG, K.M., OLIVA-NETO, P. De ANGELIS, da fermentação alcoólica: floculação do fermen-
ocorrer. O resíduo do carboidrato na su-
D.F. Quantificação da floculação de S. cerevisiae to. Brasil Açucareiro, v.XCIII, n.6, p.336-341,
perfície celular de leveduras, que é res-
por bactérias contaminantes da fermentação al- 1979.
ponsável pela ligação, é provavelmente

12
Ciência in Foco

MONITORAÇÃO
MICROBIOLÓGICA DA
ÁGUA PARA HEMODIÁLISE
®
POR SISTEMA PETRIFILM

1 2 3 4

1. Fábio Nunes Dias


Analista de Pesquisa e Desenvolvimento da Nipro Medical Ltda. Doutorando do Departamento de Tecnologia
Bioquímico-Farmacêutica da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo.
fabio_dias@nipro.com.br

2. José Luiz Bevilacqua


Médico nefrologista. Diretor administrativo do Instituto de Hemodiálise Sorocaba

3. Carlos Eduardo Guimarães


Tecnólogo em saúde especializado em Engenharia Clínica. Responsável pela manutenção e
controle de qualidade do Instituto de Hemodiálise Sorocaba

4. Thereza Christina Vessoni Penna


Profa. Dra. Titular do Departamento de Tecnologia Bioquímico-Farmacêutica da
Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo

INTRODUÇÃO água parada é o berço de vetores como o


A água é um dos recursos naturais fun- Aedes aegypti, transmissor da dengue.
damentais para a vida e para as diferentes Quando falamos em água para utiliza-
atividades humanas, proporcionando saú- ção na área da saúde (hospitais, clínicas, in-
de e conforto por meio de seus incontáveis dústrias médicas e farmacêuticas), nos refe-
usos. rimos a um tipo de água com elevado grau
A qualidade da água, por si só (em parti- de pureza necessário para não contaminar
cular a qualidade microbiológica da água), os processos e produtos, evitando assim,
tem uma grande influência sobre a nossa riscos aos pacientes.
saúde. Se não for adequada, pode ocasio- Portanto, na área da saúde, a água potá-
nar surtos de doenças e causar sérias epi- vel é especialmente tratada, por modernos
demias. sistemas de purificação de água, como a os-
Os riscos à saúde, associados à água, mose reversa, capazes de remover partícu-
resultam da poluição da água causada por las, bactérias e endotoxinas (substâncias
elementos microbiológicos (bactérias e ví- presentes na célula de bactérias e que
Figura 1: Sistema Petrifilm®
rus) ou químicos (metais e pesticidas). E quando entram em contato com a corrente (3M, St. Paul, MN, USA)
ainda vai mais além, se observarmos que a sangüínea, causam terríveis febres).

13
TABELA 1. PARÂMETROS PARA QUALIDADE DA ÁGUA PARA HEMODIÁLISE
PARÂMETRO VALOR MÁXIMO PERMITIDO
Coliforme total Ausência em 100 mL
Contagem de bactérias heterotróficas 200 UFC/mL
Endotoxinas 2 UE/mL

Este tratamento especial confere à água Os principais gêneros patogênicos


níveis de segurança, exigidos para aqueles são: Salmonella, Shigella, Vibrio, Yersí-
tipos de água utilizados, por exemplo, na nia, Escherichia, Klebsiella e Enterobac-
preparação de medicamentos administra- ter [1].
dos por via venosa e em seções de hemo- Doentes renais crônicos (com perda
diálise. irreversível da função dos rins) necessi-
Por meio de pesquisa de bactérias hete- tam geralmente de 3 seções semanais
rotróficas (que decompõem matéria orgâni- de hemodiálise, onde a filtração ou “lim-
ca) uma indústria que fabrica e comercializa peza” do sangue é realizada por um rim
produtos para a saúde (agulhas, cateteres, artificial, o dialisador (Figura 2), ajudado
oxigenadores de sangue e dialisadores), re- por uma máquina de hemodiálise (Figura
alizou um estudo abordando as etapas de 3), que através uma solução aquosa con-
tratamento para purificação da água utiliza- tendo ingredientes eletrolíticos específi-
da na fabricação de seus produtos, de- cos.
monstrando a importância da qualidade da Em cada uma das seções de hemo-
água nas indústrias e estabelecimentos de diálise são utilizados em média 120 litros
saúde. de água especialmente tratada para esta
Neste estudo, a espécie Flavimonas ory- finalidade e muitas das inflamações e re-
zihabitans (também conhecida como Pseu- ações adversas sentidas pelo doente re-
domonas oryzihabitans) foi a bactéria identi- nal são causadas por contaminação bac-
ficada com maior freqüência, em diferentes teriana das soluções de diálise [2, 3, 4].
Figura 2: Diamax (Máquina etapas do sistema de purificação de água. A água para hemodiálise é aquela
para hemodiálise - Nipro) Este estudo foi apresentado à uma con- que atende aos requisitos da água potá-
ceituada clínica de hemodiálise, igualmente vel e que foi submetida a um tratamento
consciente da importância da qualidade da adicional, por processo apropriado, para
água nos seus processos, despertando inte- reduzir componentes químicos e micro-
resse em realizar esta pesquisa na água pa- biológicos [5]. Segundo a Resolução da
ra hemodiálise, assunto este que quando Diretoria Colegiada da Agencia Nacional
concluído, será publicado. de Vigilância Sanitária (Anvisa), a RDC
Esta clínica, além de cumprir com todas nº 154, os parâmetros de qualidade da
as exigências legais de controle de qualida- água para hemodiálise (Tabela 1) devem
de da água para hemodiálise (monitoração ser rigorosamente obedecidos e monito-
mensal realizada por laboratórios credenci- rados mensalmente por um laboratório
ados junto à Rede Brasileira de Laboratóri- credenciado, utilizando métodos oficiais
os Analíticos em Saúde - REBLAS), segue de análises da qualidade da água [6].
uma sistemática alternativa realizada pela Mas, devido à periodicidade mensal
própria clínica, utilizando o sistema Petri- destas análises, o intervalo de um resul-
film® (Figura 1), que fornece dados impor- tado ao outro chega a levar 45 dias e este
tantes para assegurar a qualidade da água é um período muito longo para assegurar
utilizada na clínica. a segurança dos pacientes em hemodiá-
Diversos métodos microbiológicos, co- lise.
mo a filtração da água em filtro especial Então, para garantir a qualidade da
(membrana filtrante) e semeadura em pro- água, durante este intervalo, o Instituto
fundidade (mistura de uma amostra de de Hemodiálise Sorocaba (IHS) tem rea-
água com um ágar), têm sido largamente lizado desde janeiro de 2007, o controle
empregados no monitoramento da qualida- interno de qualidade da água, utilizando
de da água para verificação da presença de o sistema Petrifilm® para análise microbi-
microrganismos. ológica, além de realizar também análi-
A patogenicidade (capacidade de cau- ses físico-químicas e de endotoxinas.
sar doença) destes microrganismos não de-
pende apenas de suas habilidades de pro- O SISTEMA DE TRATAMENTO DE
duzir toxinas, mas também depende da re- ÁGUA E O PETRIFILM®
sistência do hospedeiro. Qualquer micror- O sistema de tratamento de água do
Figura 3: PES-150DL ganismo é patogênico em potencial, caso IHS (Figura 4) é composto por três etapas
(Dialisador Nipro) encontre um hospedeiro debilitado. distintas:

14
- Pré-tratamento da água (oriunda de 1,1 log10 UFC/mL no pré-tratamento; crobiológica apresenta fácil manuseio e pro-
poço artesiano e abastecimento pú- 1,5 log10 UFC/mL no “loop” 1; duz rápidos resultados em relação ao moni-
blico) através de filtração em leito de 1,6 log10 UFC/mL no “loop” 2; toramento exigido pela legislação vigente.
areia, abrandamento e filtração em 1,4 log10 UFC/mL no “loop” 3. Como vimos aqui, a terapia de hemo-
carvão ativado. diálise constitui um importante suporte para
- Osmose reversa (dois módulos em Já as monitorações realizadas pelo con- a vida de pacientes renais crônicos. E a
paralelo). trole de qualidade da clínica, apresentaram água é o principal ingrediente desta prática.
- Reservatório de água tratada com- os seguintes valores máximos (expressos Portanto, o monitoramento freqüente
posto de três “loops” de distribuição em log10 UFC/mL) de carga microbiana: desta água, com rápidos resultados, torna-
que abastecem às máquinas de he- 0,5 log10 UFC/mL no pré-tratamento; se imprescindível para as decisões que vi-
modiálise e às salas de reprocessa- sam a saúde do paciente.
1,7 log10 UFC/mL no filtro de carvão ati-
mento de materiais.
Enquanto foram realizadas análises mi- vado; BIBLIOGRAFIA
crobiológicas pelo laboratório credenciado 1,4 log10 UFC/mL no “loop” 1;
[1] MACÊDO, J. A. B. Águas & Águas. Conselho Regio-
junto à REBLAS, nos 4 pontos específicos 1,0 log10 UFC/mL no “loop” 2; nal de Química, MG, 2004.
do sistema de tratamento de água da clíni- 1,3 log10 UFC/mL no “loop” 3. [2] PÉREZ-GARCÍA, R.; RODRIGUEZ-BENÍTEZ, P. C.
ca (Pré-tratamento, “loop” 1, “loop” 2 e “lo- Why and how to monitor bacterial contamination of di-
As análises de presença de endotoxi- alysate? Nephrology Dialysis Transplantation, 15, 760-
op” 3), totalizando 40 análises por métodos
nas realizadas pelo laboratório credenciado 764, 2000.
convencionais, o controle de qualidade in-
apresentaram resultados inferiores à 2 [3] HOENICH, N.A.; RONCO, C.; LEVIN, R. The impor-
terno da clínica realizou 200 análises no tance of water quality and haemodialysis fluid compositi-
mesmo período. Isto incluiu, além dos pon- UE/mL em todas as amostras de água ana- on. Blood Purification, 24:1118, 2006.
tos citados, também a análise de amostras lisadas durante o período avaliado. [4] VORBECK-MEISTER, I.; SOMMER, R.; VORBECK,
de água do filtro de carvão, apontado como Enquanto os resultados encontrados pelo F.; HÖRL, W. H. Quality of water used for haemodialysis:
um dos grandes vilões dos sistemas de puri- controle de qualidade da clínica foram infe- bacteriological and chemical parameters. Nephrology Di-
ficação de água [7]. riores à 0,25 UE/mL em todas as amostras alysis Transplantation, 14: 666-675, 1999.
O sistema Petrfilm® consiste de uma pla- analisadas durante o mesmo período. [5] THE UNITED STATES PHARMACOPEIAL
CONVENTION (USP 30), NF25 The National Formu-
ca de papel quadriculado recoberto com nu-
CONSIDERAÇÕES FINAIS lary. Rockville, MD, USA, 2007.
trientes desidratados e um gel hidrossolú-
O uso do sistema alternativo Petrfilm®, [6] AGêNCIA NACIONAL DE VIGILâNCIA SANITáRIA
vel a frio com corante indicador, protegido (ANVISA) RDC nº 154 de 31 de Maio de 2006.
por um filme plástico superior transparente mesmo que ainda não tenha sido reconhe-
[7] DIAS, F. N. Avaliação de eficácia da sanitização de
[8]. cido pelos órgãos oficiais como método um sistema de purificação de água. Esterilização de arti-
Para seu funcionamento, basta adicio- aprovado para monitoração microbiológica, gos médicos, dissipação residual do óxido de etileno e
nar assepticamente, 1 mL de amostra de é uma importante ferramenta auxiliar no uso da proteína verde fluorescente (GFP) como indica-
água sobre o Petrifilm®. Seus nutrientes se controle da qualidade da água para hemo- dor de controle do processo. [Dissertação de Mestrado
diálise. Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade
hidratam, o gel solidifica a mistura e então
Os resultados obtidos com este sistema de São Paulo, 2007].
ele é deixado em uma incubadora a 37ºC
foram muito semelhantes aos resultados ob- [8] SANT'ANA, A. S.; CONCEIÇÃO, C.; AZEREDO, D.
por 48 horas. R. P. Comparação entre os métodos rápidos Simplate®
O corante presente no gel produz colo- tidos através dos métodos convencionais,
TPC- CI e Petrifilm® AC e os métodos convencionais de
ração avermelhada nos microrganismos, fornecidos pelos laboratórios credenciados contagem em placas para a enumeração de aeróbios
tornando mais fácil sua visualização e con- junto aos órgãos oficiais. mesófilos em sorvetes. Ciênc. Tecnol. Aliment. vol. 22 nº
tagem das unidades formadoras de colônia O método alternativo de monitoração mi- 1 Campinas Jan./Apr. 2002.
(UFC) desenvolvidas sobre a superfície do
Petrifilm®.
O número limite de microrganismos que
se desenvolvem e formam as colônias visí-
veis de bactérias sobre a superfície do Pe-
trifilm® é de 50 UFC/mL. Valores acima des-
te limite funcionam como alertas às clíni-
cas, indicando que ações quanto à qualida-
de da água devem ser tomadas, para pre-
servar o paciente renal.
Análises para detectar a presença de
endotoxinas também foram realizadas tan-
to pelo laboratório credenciado quanto pelo
controle de qualidade da clínica.

RESULTADOS
As monitorações mensais realizadas
pelo laboratório credenciado apresentaram
os seguintes valores máximos (expressos
em log10 UFC/mL) de carga microbiana:
Figura 4: Esquema do sistema de tratamento de água do IHS.

15
Ciência in Foco

GASTROENTERITES VIRAIS

1 2 3 4 5

1. Veridiana Munford
Departamento de Microbiologia, ICB/USP

2. Hugo Reis Resque


Food Animal Health Research Program/OARDC, The Ohio State University, Wooster, OH, USA

3. Juliana Galera Castilho


Instituto Pasteur, São Paulo

4. Thabata Alessandra Ramos Caruzo


Diagnostic Systems, BD Diagnostics)

5. Maria Lucia Rácz


Departamento de Microbiologia, ICB/USP

A gastroenterite aguda é uma das do- rus e astrovírus (10,18). A participação de es, Rotavirus A, B, C, D e E, bem como du-
enças mais freqüentes em humanos (30). cada um destes agentes em casos de gas- as espécies tentativas, Rotavirus E e F
Em países industrializados, a diarréia in- troenterites pode ser observada na Figura (12).
fecciosa aguda é uma das maiores cau- 1 (23). A partícula viral tem morfologia esféri-
sas de morbidade em crianças e jovens, o ca, simetria icosaédrica, com 100 nm de
que representa uma grande perda econô- ROTAVÍRUS diâmetro e não apresenta envelope lipo-
mica, em custos indiretos e médicos (10). Os rotavírus são considerados como o protéico. O cápside viral é constituído por
Estima-se que a incidência de diarréia em principal agente etiológico causador de di- três camadas protéicas concêntricas (Fi-
crianças menores de 11 meses seja de arréias. A cada ano os rotavírus infectam gura 2) (48). A camada interna do cápside,
3,8 episódios por ano por criança e de 2,1 111 milhões de crianças com menos de cin- ou core viral, é constituída por quatro pro-
episódios por ano para cada criança de co anos, que apresentam quadros clínicos teínas: a proteína VP1 (125 Kd), que é a
um a quatro anos de idade (35). Embora de diarréia e são tratadas em casa; 25 mi- polimerase viral; a proteína VP3 (88 Kd),
há muito tempo se suspeitasse de que mu- lhões de crianças a cada ano procuram tra- que tem atividade de guanilil transferase;
itas gastroenterites infantis agudas pode- tamento médico e 2 milhões de crianças e mais externamente, a proteína VP2 (94
riam ter etiologia viral, as tentativas para nesta faixa etária são hospitalizados; são Kd), responsável pela ligação do RNA ao
se caracterizar o vírus, ou grupo de vírus observadas 440 mil mortes entre os casos interior do core e necessária para a ativi-
responsável por estes quadros foram sem- mais graves, ou seja, 1.205 mortes por dia dade de replicase da VP1. Circundando o
pre mal sucedidas. Tal situação só pôde em todo o mundo. Em países extrema- core, tem-se o cápside interno, constituí-
ser modificada após 1970 quando foram mente pobres, os rotavírus são responsá- do pela proteína VP6 (46 Kd), que possui
empregadas técnicas de microscopia ele- veis por 82% das mortes em crianças com propriedades imunogênicas. Na terceira
trônica para exame direto das fezes, o menos de cinco anos (35). camada, o cápside externo contém duas
que tornou possível a visualização de par- No Brasil, a freqüência de diarréias as- proteínas estruturais: a proteína VP4 (88
tículas virais em fragmentos de mucosa sociadas a rotavírus varia de 12% a 42% e Kd), que representa as espículas da partí-
duodenal ou em amostras fecais (10). o Ministério da Saúde estima que hoje cer- cula viral, e a glicoproteína VP7 (38 Kd)
Dentre a multiplicidade de partículas vira- ca de 2.500 crianças de menos de cinco (10).
is, visualizadas por microscopia eletrôni- anos morrem desse mal por ano (26). O genoma dos rotavírus é constituído
ca, as que podem ser relacionadas etiolo- Os rotavírus são membros da família por 11 segmentos de RNA de fita dupla
gicamente com quadros agudos de diar- Reoviridae, gênero Rotavirus. Atualmen- (dsRNA), com pesos moleculares que vari-
réia são os rotavírus, adenovírus, caliciví- te, encontram-se descritas cinco espéci- am de 0,6 a 3,3 Kbp, o que permite sua se-

16
paração por técnica de eletroforese em
gel de poliacrilamida. Cada segmento co-
difica para pelo menos uma proteína, e a
correspondência entre os segmentos do Países desenvolvidos Países em desenvolvimento
dsRNA e as proteínas do rotavírus é bem
Desconhecido
conhecida conforme mostra a Figura 2
(10,13,48). Parasitas
As espécies de rotavírus correspon-
dem à classificação antigênica de grupos Rotavírus
Outras Rotavírus
sorológicos (A, B, C, D, E, F e G). Os rota- Desconhecido bactérias
vírus mais freqüentemente encontrados
em todas as espécies animais pertencem
E. coli
ao grupo A (12).
Os demais grupos, anteriormente cha-
mados de rotavírus atípicos ou para-
rotavírus, são mais raramente encontra- Adenovírus
Bactérias Adenovírus
dos. As demais classificações sorológi- Calicivírus Calicivírus
cas, subgrupo e sorotipo, estão estabele- Astrovírus Astrovírus
cidos apenas para os rotavírus do grupo
A. O antígeno de subgrupo está situado
no polipeptídio VP6 do cápside interno.
Figura 1: Participação dos principais agentes etiológicos de gastroenterites nos casos
Atualmente, são reconhecidos quatro sub- de diarréia em crianças, em países desenvolvidos e em desenvolvimento (24).
grupos distintos, I, II, I e II e não Inão II, sen-
do detectados por ensaio imunoenzimáti-
co ou por hemaglutinação por imunoade-
rência (10, 30).
Segmentos Proteína Esquema do virion
Os antígenos que determinam o soro-
tipo estão localizados nas duas proteínas genômicos codificadas (localização das proteínas)
do cápside externo dos rotavírus: a glico-
proteína VP7, codificada, dependendo da
cepa, pelos segmentos genômicos 7, 8 ou
9; e a proteína VP4, codificada pelo quarto
segmento genômico. Inicialmente, acredi-
tava-se que a glicoproteína VP7 constitu-
ísse o determinante primário da especifici-
dade de sorotipo, enquanto que a proteína Reconstrução
VP4 teria um papel secundário. Entretan-
to, sabe-se atualmente que as duas prote-
ínas possuem papéis igualmente impor-
tantes na imunogenicidade dos rotavírus.
De acordo com a proposta de nomenclatu-
ra binária para os sorotipos de rotavírus, a
especificidade antigênica da glicoproteína (não visível
VP7 dos sorotipos estabelecidos de rota- no final do gel)

vírus é designada utilizando-se a letra G,


de glicoproteína. A nomenclatura propos- Figura 2: Genoma e proteínas correspondentes a cada segmento de dsRNA,
localização das proteínas no capsídeo viral e na estrutura tridimensional da partícula
ta para a especificidade antigênica da pro- de rotavírus. VP: proteína viral; NSP: proteína não estrutural (48).
teína VP4 é a utilização da letra P, pelo fa- http://www.reoviridae.org/dsrna_virus_proteins/rotavirus%20figure.htm.
to de esta proteína ser sensível a protea-
ses (10, 30).
São atualmente bem estabelecidos 15 sorotipos G5 e G11 em suínos e G6, G8, ácido nucléico, sendo estabelecidos 27 ge-
sorotipos/genótipos G de rotavírus do gru- G10 e G15 em bovinos. Os genótipos G13 nótipos P, designados P[1] a P[27] (10,
po A, designados G1 a G15. Em amostras e G14 foram identificados exclusivamente 27). Em amostras de rotavírus de huma-
de rotavírus de humanos, são mais fre- em amostras de rotavírus de eqüinos e o nos, são mais freqüentemente encontra-
qüentemente encontrados os sorotipos G7, somente em amostras de rotavírus de dos os genótipos P[4], P[6] e P[8]; este ulti-
G1 a G4, G8, G9 e G12. Entretanto, os so- aves (10, 30). mo corresponde a aproximadamente 74%
rotipos G5, G6, G10 e G11, freqüentemen- Com relação à proteína VP4, existem dos casos relatados em humanos em todo
te isolados em animais, também foram descritos 15 sorotipos P de rotavírus. Esta o mundo (43). Além disso, os genótipos
descritos em amostras de rotavírus de hu- proteína dos rotavírus tem sido também P[3], P[9], P[10] e P[14] foram descritos
manos. Em amostras de rotavírus de ani- caracterizada pela seqüência de nucleotí- em amostras de rotavírus de humanos
mais são identificados principalmente os deos ou por hibridização com sondas de (10, 30).

17
Estudos de epidemiologia molecular tro ou com o leite, situação esta idêntica à Embora se saiba que no colostro e no leite
têm evidenciado que os tipos G1P1A[8], que ocorre nas infecções humanas. Além materno podem encontrar-se anticorpos
G2P1B[4], G3P1A[8] e G4P1A[8] são os da amamentação natural, que explicaria específicos da classe IgA, cujo título, no en-
mais comumente encontrados em diver- a baixa incidência dos quadros de gastro- tanto, cai rapidamente, não está ainda es-
sos países (43). No Brasil, além desses ti- enterite por rotavírus e sua benignidade clarecido em que medida o leite exerce
pos, tem sido relatado o sorotipo G5, ca- em recém-nascidos, outros elementos pa- seu papel protetor nos países em desen-
racterístico de suínos, infectando crianças recem interferir, como a ocorrência no lei- volvimento, onde a amamentação natural
(7). O sorotipo G9 é considerado emer- te de fatores inespecíficos de ação antivi- muitas vezes se prolonga bem depois dos
gente, tendo sido descrito em muitos paí- ral (10, 30). seis meses, período em que a doença por
ses, inclusive no Brasil. Além disso, ainda A grande maioria das crianças é infec- rotavírus também é mais freqüente (30).
no Brasil, existem vários relatos de dife- tada durante o período compreendido en- Em crianças imunodeficientes, há cer-
rentes associações entre os genótipos P e tre os seis meses e os seis anos de idade. ta tendência para a evolução crônica dos
G, como por exemplo, G1P1B[4], Em crianças menores de um ano com qua- quadros de gastroenterite (10).
G2P1A[8] ou G2P2A[6], em amostras de dros de gastroenterite, aproximadamente Não existem evidências que permitam
rotavírus de humanos (1, 3, 31). 25% dos casos são positivos para rotaví- concluir sobre a existência de portadores
Os rotavírus replicam-se nas células rus. Esta percentagem atinge valores de adultos de rotavírus, muito embora no ho-
do topo das vilosidades intestinais, não até 90% entre um e três anos, para decres- mem, como em outras espécies animais,
sendo atingidas as células que formam as cer a cerca de 30% em crianças de quatro possa ocorrer o estado de infecção sem
criptas de Lieberkuhn. O exame de cortes a seis anos (10). quaisquer sintomas aparentes. Para isto,
finos, à microscopia eletrônica, mostra en- O período de incubação do vírus é de deve contribuir, além de certo grau de imu-
terócitos vacuolizados contendo rotaví- 24 a 48 horas, seguido de vômitos por três nidade por infecções anteriores, a ocor-
rus. O processo infeccioso instala-se rapi- dias e diarréia por cinco a oito dias (33). As rência de cepas avirulentas de rotavírus,
damente, em aproximadamente 48 ho- manifestações clínicas mais comumente cuja existência, no entanto, não foi com-
ras, entrando em regressão ao fim de três observadas são diarréia, vômito, febre, de- provada (10).
a cinco dias, apesar de os vírus poderem sidratação e dor abdominal. A maioria dos A distribuição estacional das infecções
ser eliminados, ainda, por oito dias e, em relatos clínicos sobre quadros com impli- por rotavírus evidencia uma marcada pre-
alguns casos, até cerca de 40 dias. A re- cação etiológica por rotavírus faz referên- ferência pelos meses de temperaturas mé-
constituição dos enterócitos faz-se lenta- cia a casos autolimitados com graus leves dias e com baixa umidade relativa do ar
mente, o que pode ser considerado uma de desidratação (10). (30).
das causas da longa duração dos qua- A excreção máxima de vírus ocorre en- Inicialmente, foi encontrada grande difi-
dros diarréicos por rotavírus; a outra cau- tre o terceiro e o quarto dia da doença, sen- culdade no cultivo dos rotavírus em cultu-
sa seria que, eventualmente, ocorre um do possível encontrar cerca de 1011 partí- ras celulares, o que levou ao desenvolvi-
acentuado aumento do peristaltismo no culas por grama de fezes. Com a idade de mento de técnicas de diagnóstico através
íleo inflamado. No caso das gastroenteri- quatro anos, a maioria das pessoas já foi in- da identificação direta dos vírus nas fezes,
tes ocasionadas por rotavírus, o fluxo da fectada e é imune à síndrome grave, mas onde estão presentes em número eleva-
água e eletrólitos no intestino torna-se al- inóculos altos ou imunidade diminuída po- do, ao redor de 1011 partículas virais/grama
terado não só por lesão do enterócito, dem produzir doença leve em crianças mai- de fezes (10, 25).
mas também por perturbações do proces- ores e em adultos. Têm sido descritos ca- Para o exame direto do material fecal,
so de reabsorção de fluidos intestinais. sos de reinfecção, provavelmente ocasio- é possível recorrer a uma série de técnicas
Recentemente, foi relatado que a proteí- nados por sorotipos diferentes dos res- não imunológicas, das quais as mais utili-
na não estrutural NSP4, produzida duran- ponsáveis pela infecção inicial. Em adul- zadas são a microscopia eletrônica e a ele-
te a infecção viral, tem atividade de ente- tos, as infecções estão normalmente asso- troforese do genoma dsRNA em gel de poli-
rotoxina, sendo a primeira enterotoxina vi- ciadas a indivíduos que possuem um es- acrilamida. As técnicas imunológicas mais
ral descrita (30, 38). treito relacionamento com crianças infec- utilizadas são o ensaio imunoenzimático e
A infecção por rotavírus é seguida do tadas, além terem sido relatados surtos a aglutinação de partículas de látex e iden-
aparecimento de anticorpos das classes em adultos causados por rotavírus das es- tificam apenas os Rotavirus A. Podem ain-
IgM e IgG. Ao nascer, 73 a 80% das crian- pécies B e C, mais raros (10). da ser utilizadas as técnicas de imunoele-
ças possuem anticorpos do tipo IgG con- Os rotavírus são de fácil transmissão tromicroscopia, imunoeletrosmoforese,
tra rotavírus, de origem materna, haven- nos ambientes familiar e hospitalar. Parti- imunofluorescência, radioimunoensaio e
do depois um declínio acentuado dos mes- cularmente em berçários, onde podem fixação do complemento (10, 30).
mos, seguido de elevação a partir do sex- ocorrer condições para uma longa perma- A eletroforese em gel de poliacrilami-
to mês; aos 18 meses, 50% a 90% das cri- nência de rotavírus viáveis, diante da fre- da, que separa o RNA segmentado dos ro-
anças possuem anticorpos contra rotaví- qüência com que os recém-nascidos, pou- tavírus em 11 bandas, cuja localização no
rus (10). co depois da admissão, apresentam sinto- gel depende de seu peso molecular, per-
Os estudos sobre a infecção de bezer- mas de infecção. Esta pode surgir sob a for- mite o estudo dos rotavírus de acordo com
ros e suínos por rotavírus evidenciam que ma de diarréia muito discreta, ou mesmo os tipos eletroforéticos. Algumas caracte-
a imunidade local, no intestino, está rela- sem sintomas manifestos. Não está defini- rísticas eletroforéticas podem permitir a
cionada com a presença de anticorpos se- do se esta diferença resulta de uma defesa distinção dos rotavírus dos grupos A e de
cretores de tipo IgA no lúmen intestinal, mais eficiente pela ação de anticorpos ma- grupos não-A. Lançando mão desta técni-
não importando se estes foram elabora- ternos, ou se advém da presença de fato- ca, pode-se realizar o diagnóstico labora-
dos localmente, ou ingeridos com o colos- res fisiológicos ainda não identificados. torial das infecções intestinais por rotaví-

18
rus, uma vez que em material fecal só es- no) em crianças, em até duas semanas Outra vacina comercializada atual-
tes vírus possuem um genoma com seme- após a vacinação com a Rotashield™. Em mente, denominada Rotarix®, do labora-
lhantes características (Figura 2) (20, 37, julho deste mesmo ano, o Centro de Con- tório GlaxoSmithKline, é monovalente e
48). trole e Prevenção de Doenças (CDC Cen- preparada com uma amostra rotavírus hu-
Para a sorotipagem de rotavírus, im- ter for Diseases Control and Prevention) mano atenuado P1A[8]G1. Os resultados
portantes em estudos epidemiológicos, nos Estados Unidos, suspendeu temporari- do estudo pré-clínicos com mais de 60.000
têm sido utilizadas as reações imunoenzi- amente o uso desta vacina em território crianças demonstraram uma eficácia de
máticas com anticorpos monoclonais espe- americano. Em outubro de 1999, 98 casos cerca de 70% em prevenir qualquer forma
cíficos para grupo, subgrupo e sorotipo de intussuscepção foram reportados, sen- de gastrenterite por rotavírus e de 85% em
(30). do que 60 ocorreram sete dias após a apli- prevenir formas grave. Esta vacina tam-
Com o avanço da biologia molecular, cação da primeira, segunda ou terceira do- bém não foi associada a um aumento no
surgiram as técnicas que atualmente for- se da vacina. O Comitê Assessor para a risco de intussuscepção e foi demonstrado
necem dados mais específicos e comple- Prática de Imunizações (ACIP Advisory que ocorre proteção eficiente contra soro-
tos sobre os rotavírus circulantes em uma Committee on Inmunization Practices) can- tipos diferentes do sorotipo vacinal. A Rota-
população: a reação de transcrição rever- celou a recomendação de uso da RRV-TV rix® encontra-se licenciada em aproxima-
sa (RT) seguida pela reação em cadeia pe- (15, 21). damente 65 países da América Latina, Áfri-
la polimerase (PCR polymerase chain re- Atualmente algumas vacinas estão li- ca, Ásia e em países da União Européia e
action) e o sequenciamento genômico. cenciadas ou em testes finais. A vacina já foi introduzida nos programas nacionais
Estas duas técnicas, disponíveis para os pentavalente bovino-humana, RotaTeq®, de vacinação no Brasil, Panamá e Vene-
genótipos G e P, permitem a caracteriza- produzida pelo laboratório Merck Sharp & zuela (15, 21).
ção de amostras que não podem ser clas- Dohme, EUA contém cinco vírus obtidos No Brasil, primeiro país a incluir a vaci-
sificadas pelos métodos sorológicos, além por recombinação genética. Quatro vírus na contra o rotavírus em seu sistema públi-
de detectar possíveis misturas de genóti- recombinantes expressam uma das prote- co de saúde, a Rotarix® foi incorporada ao
pos em uma mesma amostra (10, 30). ínas do capsídeo externo da amostra hu- Programa Nacional de Imunizações e a
Estima-se que a vacinação de crianças mana de rotavírus (G1, G2, G3 e G4) e as sua aplicação rotineira iniciou-se em mar-
contra os rotavírus seria capaz de prevenir demais proteínas do rotavírus de bovino ço de 2006 (6). A partir desta data, o Minis-
a morte de 352.000 a 592.000 de crianças original WC3, (P7[5]G6). O quinto recom- tério da Saúde oferece, através do Siste-
a cada ano. Há mais de duas décadas a binante, expressa a proteína VP4 do rota- ma Único de Saúde (SUS), a vacina contra
Organização Mundial da Saúde OMS vírus humano (P1A[8]) e as demais proteí- rotavírus ministrada em duas doses gratui-
(World Health Organization WHO) e Alian- nas do vírus bovino original. O resultado fi- tas: uma aos dois meses de idade e outra
ça Global para Vacinação e Imunização nal é uma vacina pentavalente que ofere- aos quatro meses (30).
(Global Aliance for Vacination and Imuni- ce proteção contra os genótipos G1, G2, Na China, uma vacina monovalente en-
zation GAVI) identificaram a vacina de ro- G3, G4 e P1A[8], que representam 75% contra-se licenciada desde o ano 2000, e é
tavírus como uma das prioridades a serem dos casos de rotavírus identificados em to- composta pela amostra de rotavírus de cor-
desenvolvidas, especialmente visando a do o mundo. No total, os estudos da Rota- deiro Lanzhou (LLR), genótipo P[12]G10.
vacinação em regiões da África, Ásia, Teq® envolveram mais de 72 000 crian- Durante os testes clinico, crianças de seis
Índia e China, onde ocorrem 90% das mor- ças, para verificar a ocorrência de intus- a 24 meses, após receberem uma única
tes (10). suscepção. Os resultados demonstraram dose da vacina, apresentaram uma boa
A primeira vacina que completou os tes- eficácia de 74% para proteção contra qual- resposta imune e sem evento adverso as-
tes clínicos e foi liberada para uso foi a vaci- quer gastroenterite por rotavírus e 98% sociado. Esta vacina está disponível em al-
na tetravalente Rotashield-RRT™, Wyeth contra formas graves de infecção. Além gumas partes do país, mas não está incluí-
Lederle Vaccines, Philadelphia. A vacina disso, durante a fase de testes a vacina de- da em programas nacionais de imuniza-
era composta por quatro vírus vivos, sendo monstrou não aumentar o risco de intus- ção (15).
um atenuado (MMU18006 de macaco Rhe- suscepção nos lactentes que foram vaci- Como tratamento, a amamentação ao
sus, com especificidade para o sorotipo G3 nados. A vacina é administrada por via oral peito ainda é uma das ações protetoras de
humano), e três vírus recombinantes, con- em 3 doses: aos dois, quatro e seis meses melhor eficácia, pela imunidade que con-
tendo este mesmo vírus com um único ge- de idade. A primeira dose deve ser admi- fere e pelo poder protetor de fatores ines-
ne (VP7) substituído, correspondendo aos nistrada somente a crianças entre 6 e 12 pecíficos do leite. O tratamento indicado é
sorotipos G1, G2 e G4 humanos. Esta vaci- semanas de idade, e a série deve estar o restabelecimento do equilíbrio através
na demonstrou, durante os testes clínicos, completa antes de 32 semanas de idade. de terapia de reidratação oral ou, em ca-
alta eficiência (90%) contra casos graves Esta vacina encontra-se licenciada nos sos graves, parenteral (30).
de diarréia por rotavírus e 60% contra todos EUA desde fevereiro de 2006 e também no
os casos de infecções por rotavírus. Foi li- México e aguarda o licenciamento na Euro- NOROVÍRUS E SAPOVÍRUS
cenciada em outubro de 1998, nos Estados pa. No Brasil, a vacina foi licenciada em Em 1972 a primeira amostra viral iden-
Unidos, e recomendada para uso oral, em abril de 2008. Até 15 de fevereiro de 2007, tificada como causa de gastroenterite agu-
três doses, aos 2, 4 e 6 meses de idade. No- foram distribuídas 3,6 milhões de doses de da foi a cepa Norwalk, classificada atual-
ve meses após sua liberação, aproximada- vacinas nos Estados Unidos e os dados da mente como norovírus (22). Esta identifi-
mente 600 mil crianças haviam sido vacina- vigilância do CDC, do FDA e do fabricante cação consagrou os vírus como agentes
das com três doses de vacina. Em junho de da vacina não sugerem nenhuma associa- etiológicos de gastroenterites. Os noroví-
1999 foram diagnosticados 15 casos de in- ção da administração desta vacina com in- rus humanos são os únicos agentes virais
tussuscepção (obstrução aguda do intesti- tussuscepção (15, 21). causadores de gastroenterites que não po-

19
dem ser cultivado em células, até o mo- lado de um surto de gastroenterite em alu- enquanto os sapovírus normalmente cau-
mento, e isto têm dificultado seu estudo nos e professores de uma escola primária sam diarréia (17, 24).
(10, 36). Atualmente, os norovírus são re- de Norwalk, Ohio, surto este em que 50% A transmissão dos norovírus ocorre
conhecidos como uma importante causa dos professores e alunos e 35% dos con- através da via fecal-oral, e o vírus conse-
da gastroenterite aguda em adultos e cri- tatos familiares adoeceram. A identifica- gue atravessar o estômago por ser resis-
anças (18, 34), sendo considerados como ção do agente etiológico foi feita por mi- tente à acidez. A infecção primária ocorre
a segunda maior causa de gastroenterite croscopia eletrônica, e foi observado tra- na porção proximal do intestino delgado
viral no mundo inteiro (Figura 1) (23). tar-se de um vírus esférico com diâmetro com expansão das criptas, encurtamento
Estes agentes são associados a gas- entre 23 e 30 nm. O vírus Norwalk é o agen- das microvilosidades, infiltração de célu-
troenterites esporádicas na comunidade e te representativo de um grupo heterogê- las mononucleares e vacuolização cito-
grandes surtos epidêmicos em hospitais e neo de vírus, anteriormente chamados ví- plasmática. Ocorrem lesões na mucosa in-
outros locais institucionais (19). Recente- rus pequenos esféricos estruturados testinal, o lúmen torna-se inflamado e célu-
mente, o CDC estimou que 96% dos rela- (SRSV small round structured viruses) ou las epiteliais de absorção desenvolvem
tos de surtos epidêmicos de gastroenteri- vírus semelhantes ao Norwalk (Norwalk- uma aparência anormal. Entretanto, em
tes não bacteriana nos Estados Unidos like). A relação antigênica entre os muitos duas semanas, o intestino delgado retorna
são causados por calicivírus (44). A pre- membros desta espécie de vírus são com- a aparência histológica normal (17).
sença deste vírus em surtos epidêmicos plexas e os agentes são normalmente iden- O vírus infeccioso pode ser transmitido
de gastroenterites agudas têm sido bem tificados pelo local onde os surtos ocorre- não somente durante o período da doen-
documentadas, mas sua participação em ram. Os NLV, espécie Norwalk virus, são ça, mas também durante o período de incu-
casos esporádicos de gastroenterites ain- classificados em cinco genogrupos. Os ge- bação e após recuperação do indivíduo,
da não está bem determinada (14, 17). nogrupos GI e GII contêm a maioria dos no- com 30% dos casos excretando vírus por
Os calicivírus pertencem à família Cali- rovírus humanos. O genogrupo GI inclui oi- até três semanas após infecção. Assim,
civiridae, que compreende quatro gêneros: to genótipos; o GII engloba 19 genótipos, pessoas infectadas continuam sendo fon-
Lagovirus e Vesivirus, contendo vírus de humanos e de suínos. No GIII estão dois tes de infecção, mesmo após recuperação
animais, e Norovirus e Sapovirus que con- genótipos de norovírus bovinos, o GIV in- da doença (5, 17).
têm os calicivírus humanos (11). O nome ca- clui o vírus Alphatron e o GV contém um ge- Relativamente à imunidade, estudos
licivírus é derivado do latim calix, que signi- nótipo de norovírus de camundongo em voluntários estabeleceram que exis-
fica cálice e refere-se a depressões em for- (5,12). tem duas formas de resistência aos noro-
ma de cálice, visíveis na superfície do vírus, Os vírus do gênero Sapovirus (SV) vírus, uma de curta duração (seis a 14 se-
ao microscópio eletrônico (12, 17). têm, à microscopia eletrônica, a morfolo- manas) e outra de longa duração (nove a
A partícula viral é composta por um cap- gia mais característica do calicivírus, com 15 meses). A imunidade de curta duração
sídeo protéico, não envelopado, com sime- estrutura mais definida que os norovírus. é sorotipo específica e pode ser correlaci-
tria icosaédrica, e diâmetro de 27 a 40 nm. Os SV, espécie Sapporo virus, são tam- onada com o desenvolvimento de respos-
(5). O cápside viral é formado por 90 díme- bém classificados em cinco genogrupos. ta imune sérica e mucosa. A de longa dura-
ros da proteína estrutural. O genoma viral Os genogrupos GI e GII apresentam, cada ção aparentemente não segue o padrão
consiste de uma molécula linear de RNA um, três genótipos de vírus de humanos. O dos demais vírus, pois a presença de anti-
de fita simples de polaridade positiva genogrupo GIII inclui dois genótipos de sa- corpos séricos contra os norovírus não
(+ssRNA) de 7,4 a 8,3 kb, contendo três ja- povírus de suínos. O GIV e o GV contêm, apresenta correlação com a resistência à
nelas abertas de leitura (ORF Open Rea- cada um, um genótipo de sapovírus de hu- doença. Os níveis de anticorpos locais no
ding frame). Para o vírus Norwalk (NV), a manos (12, 17). jejuno também não podem ser correlacio-
primeira ORF da extremidade 5' codifica Ao contrário da gastroenterite ocasio- nados com a resistência à doença. Os sa-
uma poliproteína com seqüências seme- nada por rotavírus, o quadro diarréico cau- povírus não foram estudados em voluntá-
lhantes às proteínas não-estruturais dos pi- sado pelos norovírus tem uma curta dura- rios e a imunidade a esse grupo de vírus é
cornavírus, incluindo a RNA polimerase de- ção, de 24 a 48 horas, com duração média menos conhecida, mas acredita-se que ha-
pendente de RNA. A ORF2 codifica a pro- de 24 horas; ocorre com freqüência em am- ja uma correlação da presença de anticor-
teína VP1, presente em maior quantidade biente familiar e escolas, atingindo, indis- pos com a resistência à infecção em crian-
no capsídeo. A ORF3, na extremidade 3' tintamente, crianças e adultos. A diarréia é ças (5, 17).
do genoma, codifica uma proteína peque- mais freqüente em adultos, enquanto uma Os norovírus são a causa mais freqüen-
na VP2, associada ao virion. Uma proteína alta proporção de crianças apresenta vômi- te de surtos de gastroenterite não bacteria-
encontra-se ligada covalentemente à ex- tos. O período médio de incubação é de na que ocorrem em comunidades, escolas,
tremidade 5' do RNA genômico e a extre- dez a 51 horas, com média de 24 horas, e hospitais, instituições, acampamentos, navi-
midade 3' é poliadenilada. Acredita-se que os sintomas são idênticos aos da gastro- os de cruzeiro, casas de repouso, universi-
essa proteína seja necessária para infecti- enterite por rotavírus (náuseas e vômitos, dades e famílias. Vários alimentos têm sido
vidade do RNA viral e também para inicia- dores abdominais, diarréia e febre). Embo- implicados em surtos de norovírus, como
ção da síntese do RNA viral (8,16). ra os sintomas normalmente desapare- saladas, melão, salada de fruta, sanduí-
No gênero Norovirus (NLV), existe uma çam dentro de 12 a 72 horas, a excreção vi- ches, gelo e água. Também são a causa ma-
espécie definida, Norwalk virus, e cinco es- ral pode exceder 22 dias. Comparações is freqüente de surtos de gastroenterite agu-
pécies tentativas, uma de humanos, o ví- de características clínicas da gastroenteri- da após ingestão de ostras e mariscos crus.
rus Alphatron, duas de bovinos, uma de su- te causada pelos norovírus ou sapovírus Em casos esporádicos de gastroenterite,
ínos e uma de murinos. O vírus tipo Nor- em crianças concluíram que os norovírus são responsáveis por 10-20% de todos os
walk deve seu nome ao fato de ter sido iso- induzem vômitos como principal sintoma casos de gastroenterite endêmica em al-

20
guns países. Os sapovírus são mais fre- amostras positivas para genogrupo GII do ticorpos e têm sido utilizados em inquéri-
qüentemente associados a gastroenterites vírus Norwal-like (47). tos soro epidemiológicos (17).
pediátricas e não são associados a surtos Mais recentemente, Castilho et al., No início da década de 90, o genoma
em adultos e crianças maiores (5, 17). 2007, analisaram 234 amostras de fezes do vírus Norwalk foi clonado e seqüencia-
A infecção por norovírus tem sido ob- crianças, com ou sem gastroenterite, e, do (5), possibilitando a utilização de técni-
servada durante todos os meses do ano, através de RT-PCR e análise de seqüên- cas moleculares para detecção e caracte-
porém com maior circulação dos vírus no cia do cDNA, identificaram em São Paulo, rização destes vírus. Técnicas como a RT-
inverno. Em virtude da rapidez com que um total de 78 (33,3%) das amostras posi- PCR possibilitam a identificação dos vírus,
são disseminados na população e da pre- tivas para norovírus: quatro (6,1%) foram mesmo que as amostras apresentem um
dominância de sua transmissão nos me- GI, 52 (78,7%) classificadas como GII, e número pequeno de partículas virais Com
ses frios, acredita-se que esses vírus pos- cinco amostras (7,6%) continham uma mis- este método, o RNA viral pode ser detecta-
sam também ser transmitidos pelo ar, ca- tura dos genótipos GI e GII (4). do em amostras clínicas, como fezes ou vô-
racterizando esta como uma suposta rota O significado biológico e epidemiológi- mito, e em água e alimentos contamina-
secundária de transmissão (5,17). co da diversidade genética de norovírus e dos. A RT-PCR quantitativa em tempo real
Os estudos da epidemiologia molecu- sapovírus ainda não é bem definido. Os re- (real-time RT-PCR) também tem sido utili-
lar mostram uma grande diversidade gené- lacionamentos antigênicos não podem ser zada, pois possibilita a detecção rápida e a
tica dos norovírus. Os vírus do genogrupo definidos pela reação de neutralização, po- comparação da quantidade de RNA viral
GII têm sido encontrados com maior fre- is estes vírus ainda não foram cultivados, e nas amostras. A região mais utilizada nes-
qüência do que os vírus do genogrupo GI, assim, ainda é desconhecido o impacto da ta amplificação corresponde ao gene da
na maioria dos países onde norovírus fo- diversidade genética em estudos de pre- RNA polimerase, altamente conservado.
ram estudados. A genotipagem de amos- venção da doença através da vacinação Essa técnica é considerada mais sensível
tras circulantes é uma ferramenta impor- (5,17). do que a microscopia eletrônica para a de-
tante para elucidar a origem e dissemina- Uma análise de surtos indica que pode tecção dos norovírus, pois possibilita a
ção dos vírus em surtos. Sistemas para ti- ser feito um diagnóstico provisório de noro- identificação do vírus, mesmo que as
pagem de norovírus foram propostos, ba- vírus se os seguintes critérios forem cum- amostras apresentem um número peque-
seados ou na seqüência de nucleotídeos pridos: (a) patógenos bacterianos ou para- no de partículas virais, e é capaz de detec-
completa da VP1, que supostamente é cor- sitas não forem detectados; (b) vômitos tar o vírus duas semanas após o desapa-
relacionada à especificidade antigênica, ocorrendo em mais de 50% dos casos; (c) recimento dos sintomas (5,17).
ou na seqüência parcial de nucleotídeos a duração média ou mediana da doença Até o momento não há tratamento es-
desta mesma proteína. Esses sistemas de 12 a 60 horas e (d) período de incuba- pecífico, nem se dispõe de qualquer tipo
mostram a divisão dos gêneros Norovirus ção de 24 a 48 horas (17). de vacina. Em surtos, em geral as medidas
e Sapovirus em genogrupos e genótipos. A identificação do norovírus por micros- e contenção e prevenção da dissemina-
No Brasil, estudos realizados sobre a de- copia eletrônica é dificultada em razão da ção dos vírus incluem lavagem freqüente
tecção de calicivírus em amostras proveni- curta duração da excreção do vírus e por- das mãos e a descontaminação ambien-
entes de humanos confirmam que o genó- que este vírus não possui uma morfologia tal. Os norovírus são resistentes a produ-
tipo GII é o mais freqüente também em nos- bem definida e está presente, na maioria tos de limpeza contendo detergentes e eta-
so meio (4, 5). das vezes, em baixas concentrações nas fe- nol e a desinfecção de superfícies requer a
Podem ocorrer mudanças no genótipo zes. Pode ser utilizada a imunomicroscopia utilização de produtos contendo hipoclori-
circulante, em diferentes épocas, em uma eletrônica, mas soros específicos, de con- to de sódio, peróxido de hidrogênio ou com-
mesma localidade, mas os fatores do hos- valescentes humanos ou anticorpos espe- postos fenólicos (5,17).
pedeiro ou viral responsável pela emer- cíficos produzidos por proteínas recombi- As infecções são autolimitantes e mui-
gência de um norovírus epidêmico não nantes, são de difícil obtenção (5,17). tos pacientes recuperam-se sem seqüe-
são conhecidos. Evidências de infecções O desenvolvimento de partículas seme- las. A hidratação é normalmente mantida
mistas, com diferentes genótipos de noro- lhantes a vírus (VLP virus-like particles) usando fluido oral com líquidos isotônicos.
vírus foram descritas, inclusive no Brasil. através de técnicas de expressão de pro- Se os sintomas como diarréia e vômitos fo-
Estas infecções podem permitir a recombi- teínas virais, principalmente em sistemas ram severos, pode ser necessária a admi-
nação entre os genomas RNA, uma possi- que usam baculovírus, possibilitou o de- nistração de fluidos de forma parenteral.
bilidade sugerida recentemente pela análi- senvolvimento de testes de diagnóstico ba- As pessoas incapazes de manter a hidra-
se de seqüências de nucleotídeos de di- seados em anticorpos. O ensaio imunoen- tação, especialmente indivíduos debilita-
versas amostras de norovírus (5,17). zimático (EIA), utilizando soros hiperimu- dos, como idosos e crianças imunocom-
Ueda et al.(1996) analisaram 75 amos- nes preparados contra as VLPs tem sido prometidas, podem necessitar hospitaliza-
tras de fezes de humanos com diarréia, descrito para detecção de vários norovírus ção. A morte, embora muito rara, pode
provenientes de um surto de gastrenterite e sapovírus. Estes testes apresentam boa ocorrer como resultado de um distúrbio ele-
não bacteriana ocorrido na Baixada San- sensibilidade mas são altamente específi- trolítico (17).
tista (SP), no inicio de 1995. Através da téc- cos para a VLP utilizada na produção do Um dos maiores obstáculos para a for-
nica de microscopia eletrônica direta anticorpo. Foram também desenvolvidos mulação de uma estratégia de imunização
(DEM) identificaram 25 (33,3%) amostras alguns testes baseados em anticorpos mo- contra os norovírus e sapovírus é a falta de
positivas para SRSV. Destas, 20 amostras noclonais, já disponíveis de forma comer- compreensão sobre a imunidade para es-
foram analisadas por RT-PCR, usando pri- cial Os ensaios imunoenzimáticos utilizan- tes vírus. Como ainda não existe possibili-
mers para os genogrupos GI e GII do vírus do VLPs como antígeno são específicos, dade de cultivo, estão sendo estudadas as
Norwalk-like e foram obtidas 11 (55,0%) sensíveis e eficientes para detecção de an- VLPs como potenciais vacinas de subuni-

21
dades. Estas VLPs são imunogênicas, se- estrutural, de aproximadamente 87 kDa, teriormente, CaCo-2, T-84 e PLC/PRF/5
guras, estáveis em pH ácido, e, portanto, que é precursora das proteínas que for- são as mais eficientes para o cultivo de as-
podem ser administrada por via oral mam o capsídeo dos virions maduros (39). trovírus diretamente de amostras de fe-
(5,17). Os astrovírus são, aparentemente, es- zes, o que possibilitou o desenvolvimento
pécie-específicos e já foram identificados de outras técnicas de detecção deste vírus
ASTROVÍRUS em amostras de fezes de bovinos (BAstV- (39).
Os primeiros relatos da associação de 1 e 2), felinos (FAstV-1), humanos (HAstV- Foram desenvolvidos ensaios imuno-
astrovírus com casos de gastroenterite 1 a 8), ovinos (OAstV-1), suínos (PAstV-1), enzimáticos (EIE) com anticorpos mono-
aguda ocorreram em 1975 quando Apple- e martas (MAstV), além de veados, cães e clonais grupo específicos, utilizados como
ton e Higgins, bem como Madeley e Cos- camundongos. As aves em que astrovírus anticorpo de captura, e soro detector poli-
grove, visualizaram partículas virais que foram identificados incluem patos (DAstV- clonal ou monoclonal biotinilado. Estes tes-
apresentavam projeções em suas superfí- 1), perus (TAstV-1) e galinhas (CAstV, ví- tes apresentam boa sensibilidade e espe-
cies semelhantes a uma estrela de cinco a rus da nefrite das aves - Avian nephritis vi- cificidade. O EIE é um dos principais méto-
seis pontas através de microscopia eletrô- rus ANV-1 e 2) (12). dos atuais de detecção de astrovírus por
nica (ME). Atualmente, os astrovírus são As partículas de astrovírus mostram- ser rápido e adequado para estudos com
considerados uma causa importante de se estáveis em pH 3, além de serem resis- um grande número de amostras. Além dis-
gastroenterite viral aguda em crianças, tentes ao clorofórmio, a uma variedade de so, o EIE também pode ser utilizado como
sendo associados a 2-8% das infecções detergentes e a solventes lipídicos. O método de sorotipagem de amostras clíni-
não-bacterianas, embora alguns estudos HAstV perde a atividade em temperatura cas, onde se utilizam anticorpos específi-
cheguem a relatar prevalência superior a de 60oC por 10 minutos, mas a temperatu- cos para cada sorotipo de astrovírus, na
20% (Figura 1) (18, 23). ras extremamente baixas (-70C a -85C) as captura do antígeno viral (28, 39).
Os astrovírus pertencem à família partículas ficam estáveis por vários anos. Atualmente, tem sido utilizada a rea-
Astroviridae, gêneros Mamastrovirus que No entanto, se houver uma seqüência con- ção RT-PCR para detecção do ácido nu-
contém os astrovírus que infectam mamí- tínua de congelamentos e descongela- cléico viral. As regiões mais utilizadas para
feros e Avastrovirus, que infectam aves. O mentos, a partícula viral tende a se romper esta amplificação correspondem às ORFs
gênero Mamastrovirus apresenta seis es- (28, 39). 1a e 2, que codificam a protease viral e a
pécies, entre as quais, a espécie Human Os astrovírus são detectados em amos- proteína precursora das proteínas do cap-
astrovirus (HAstV) (12). A partícula viral tras fecais por microscopia eletrônica dire- sídeo, respectivamente. Recentemente,
possui simetria icosaédrica, sem envelo- ta (ME), pois são eliminados nas fezes em novas técnicas baseadas na RT-PCR fo-
pe. A morfologia, característica à micros- grandes quantidades (1010 - 1011 partícu- ram desenvolvidas para se detectar astro-
copia eletrônica, é esférica, com diâmetro las/g). Em pacientes excretando menor vírus: o RT-PCR multiplex em fase única
de 28-30 nm. Um capsídeo em forma de es- quantidade de partículas virais ou em situ- (41) e o RT-PCR em tempo real (one step
trela de cinco a seis pontas (astron = estre- ações em que se deseja medir a resposta real time RT-PCR). Além disso, assim co-
la, em grego), ornamentado com peque- imune aos astrovírus, as técnicas de imu- mo acontece com o EIE, a técnica de RT-
nas espículas, pode ser visualizado em nomicroscopia eletrônica podem ser úteis. PCR também pode ser utilizada como mé-
apenas 10% dos virions, o que dificulta No entanto, apenas 10% das partículas vi- todo de genotipagem, utilizando primers
sua identificação morfológica em amos- rais apresentarem a morfologia caracterís- específicos para cada um dos oito tipos de
tras de fezes (39). tica em forma de estrela, contribuindo para astrovírus de humanos (28).
O genoma dos astrovírus é constituído um falso resultado de detecção desse ví- O sequenciamento de nucleotídeos
por um RNA poliadenilado de fita simples, rus. Além desse problema, o congelamen- não é a primeira escolha para a detecção
de polaridade positiva (+ssRNA), com 6,4 to e descongelamento das amostras feca- de astrovírus, mas pode ser utilizada em
a 7,4 kilobases. Durante a infecção de célu- is, degradação de partículas virais por enzi- conjunto com outras, visando a confirma-
las susceptíveis, duas espécies de RNA mas, presença de anticorpos nas fezes e ção de resultados e/ou genotipagem de
podem ser observadas: um RNA genômi- escolha incorreta de coloração podem mo- amostras previamente testadas, reforçan-
co (gRNA) e um RNA subgenômico dificar a morfologia das partículas e levar a do e ampliando dados epidemiológicos so-
(sgRNA, de aproximadamente 2,8 kb). O uma classificação errônea de astrovírus. bre os astrovírus (28, 39).
genoma viral possui três janelas abertas O grande número de amostras a serem tes- A patogênese do astrovírus ainda não
de leitura (ORF - open reading frame): tadas também é um problema já que o uso está muito bem esclarecida. No entanto,
ORF1a, ORF1b e ORF2. As ORFs 1a e 1b deste equipamento requer tempo e treina- estudos sugerem que a replicação viral
estão localizadas na extremidade 5' do ge- mento para a analise das amostras (28, ocorra nos tecidos intestinais. Partículas
noma e codificam proteínas não- 39). desse vírus têm sido detectadas em bióp-
estruturais, presumidamente envolvidas Em geral, os astrovírus de humanos sias duodenais e em células epiteliais lo-
na transcrição e replicação do RNA. A são capazes de se replicar em três tipos de calizadas na porção inferior das vilosida-
ORF1a codifica para quatro proteínas linhagens celulares: linhagens de adeno- des, em humanos. Já em caprinos infec-
transmembrânicas hidrofóbicas, para uma carcinoma (CaCo-2, HT-29, T-84 e SK- tados experimentalmente, as partículas
protease e para uma proteína que contém CO1), linhagens de hepatoma de fígado de astrovírus foram encontradas na re-
um sinal de localização nuclear. A ORF1b humano (PLC/PRF/5) e linhagens deriva- gião apical das vilosidades do intestino
codifica para a RNA polimerase-RNA de- das de rim de macaco (MA-104, Cos-1 e delgado. No entanto, em um estudo que
pendente. A ORF2 está localizada na ex- Vero), sendo essas duas últimas susceptí- utilizava aves como modelo animal, partí-
tremidade 3', é comum aos RNAs genômi- veis a apenas algumas cepas de HAstV. culas virais foram detectadas em outros
co e subgenômico e codifica uma proteína De todas as linhagens celulares citadas an- tecidos (além dos tecidos intestinais) e na

22
corrente sangüínea, sugerindo um está- crianças de 6 a 12 meses, para 70% em cri- (ME). Com a implantação de novas técni-
gio de viremia durante a infecção. Apesar anças em idade escolar e adultos. Um ou- cas, como o ensaio imunoenzimático
da diarréia severa, também foram obser- tro trabalho demonstrou que entre 5 me- (ELISA) e a RT-PCR, estas pesquisas
vadas alterações histopatológicas consi- ses e 1 ano de vida, 50% das crianças de- vem sendo realizadas. Um dos primeiros
deradas moderadas e não foi verificado senvolvem anticorpos anti-astrovírus, e estudos realizado por Tanaka et al., em
quadro de inflamação. Essa ausência de que aos 5 anos de idade esse número pas- 1994 ainda utilizando a tecnica de ME,
inflamação, e a capacidade de o HAstV in- sa dos 90%. Além disso, o papel dos anti- mostrou a ocorrência de um surto de gas-
duzir a apoptose em células cultivadas, corpos anti-astrovírus na proteção do orga- trenterite intra-familiar causado por as-
sugerem que esta forma de morte celular, nismo foi observado em estudos com vo- trovírus a partir de sua identificação em
onde a inflamação não é freqüentemente luntários, onde indivíduos normais apre- amostras fecais de cinco crianças de
observada, pode contribuir para o desen- sentaram sintomas leves da doença, en- uma mesma família (46). Em 1998, um
volvimento da doença em algumas espé- quanto voluntários sem anticorpos anti- estudo realizado no Rio de Janeiro, utili-
cies. Além disso, surtos de diarréia cau- astrovírus pré-existentes desenvolveram zando RT-PCR, no período de um ano e
sada por astrovírus em idosos e indivídu- um quadro mais severo de sintomas da do- meio, em três hospitais e uma creche, es-
os submetidos a transplante de órgãos e ença e liberaram maior quantidade de par- tabeleceu uma positividade de 15% para
quimioterapia, sugere fortemente que o tículas virais. Esse trabalho sugere que an- astrovírus (42). Este mesmo grupo, em
sistema imune desenvolve um papel im- ticorpos anti-astrovírus foram capazes de 2001, constatou a ocorrência de surto de
portante na patogênese desse vírus (28, proteger adultos de infecções recorrentes gastrenterite aguda relacionado com as-
39). (28, 39). trovírus em uma creche no Rio de Janei-
O período de incubação do vírus varia Os astrovírus apresentam até o mo- ro, onde 33% das amostras foram positi-
de 24 a 36 horas, sendo sua transmissão mento, oito sorotipos/genótipos de vírus vas (45). Em Goiânia, Cardoso e colabo-
por via fecal-oral, de modo direto ou pelo de humanos (HAstV-1 a HAstV-8). O soro- radores observaram a presença de as-
contato com objetos e/ou pessoas conta- tipo/genótipo 1 tem sido considerado o ma- trovírus em 2,8% das amostras analisa-
minadas. Alguns estudos também suge- is freqüente. Os HAstV-2, 3, 5 e 8 são me- das (2). Em um estudo mais recente Res-
rem que o astrovírus seja transmitido pela nos comuns e os HAstVs-6 e 7 são rara- que et al., 2007, em um estudo com dois
água. O período de excreção do vírus é de mente detectados inclusive no Brasil (2, grupos distintos de amostras relatou um
três a cinco dias, mas existem relatos de 40). Quanto aos genogrupos, os astroví- índice de positividade para astrovírus de
excreção prolongada. Os astrovírus tam- rus são classificados em: genogrupo A 20,7% a 31,1% em crianças com diarréia
bém podem ser excretados por indivíduos (HAstV-1 a 5 e o HAstV-8) e genogrupo B aguda e/ou persistente, e um índice de
assintomáticos, favorecendo a transmis- (HAstV-6 e 7). Estes genogrupos foram es- 7,6% a 16,3% entre os indivíduos contro-
são do patógeno (28). tabelecidos através da análise filogenética le (40).
A diarréia causada por astrovírus é ge- de uma seqüência de nucleotídeos de c- Embora a infecção por astrovírus em
ralmente moderada, dura em média de 2 a DNA de 289 pb, proveniente de uma re- crianças ocorra ao longo do ano, um pa-
3 dias e vem associada a quadros de vômi- gião altamente conservada na ORF1a (12, drão sazonal tem sido relatado em al-
to, dores abdominais e febre, que duram al- 28). guns trabalhos. A sazonalidade das in-
guns dias. Quadros de desidratação são Alguns trabalhos já descreveram diar- fecções atribuídas a astrovírus parece
menos comuns, mas já foram relatados réias causadas por misturas entre astroví- variar de acordo com a região geográfi-
(28, 39). rus e outros vírus causadores de gastroen- ca. Em regiões de clima temperado, o pi-
O astrovírus é um agente infeccioso terite (rotavírus, norovírus ou adenovírus) co de infecção ocorre nos meses mais fri-
cosmopolita que acomete principalmente e até mesmo misturas envolvendo vírus e os (fim do outono e durante o inverno), pa-
crianças jovens. No entanto, casos de diar- bactérias causadoras de gastroenterite. drão esse que se assemelha às infec-
réia envolvendo idosos, adultos saudáveis Essas co-infecções podem levar a um qua- ções por rotavírus, enquanto que em lu-
e pessoas imunocomprometidas já foram dro mais prolongado da doença, com febre gares de clima tropical, esse pico acon-
descritos. Alguns estudos sugerem que a mais intensa e episódios de vômito mais tece nos meses de chuva. Estudos reali-
infecção em crianças ocorra nos dois pri- freqüentes, se comparadas às infecções zados na Europa, Austrália e Argentina
meiros anos de vida, principalmente nos 6 causadas apenas por astrovírus (28, 40). mostraram que há um aumento na inci-
primeiros meses. A infecção pode ser iden- A associação de casos de gastrenterite dência da infecção viral durante os me-
tificada em casos de gastroenterites espo- aguda com astrovírus vem sendo eviden- ses mais frios do ano (28), enquanto em
rádicas, bem como durante surtos nosoco- ciada, em crianças, em todo mundo, inclu- alguns países como Egito e México, a ma-
miais, em escolas, lares para idosos e cre- indo países asiático, na Europa, África e ioria das infecções pelo agente viral ocor-
ches (28, 39). nos Estados Unidos com índices de detec- re durante a época mais quente do ano
Estudos de soroprevalência indicam ção que variam de 4% a 11% (28, 39). (28). No Brasil, mais especificamente na
que a maioria das crianças adquire anti- Na América Latina, estudos realizados cidade de Goiânia, as infecções relacio-
corpos contra astrovírus nos primeiros em crianças que receberam atendimento nadas com este agente ocorrem, predo-
anos de vida e que esses anticorpos prote- em hospitais, ambulatórios e creches estu- minantemente, durante os meses de se-
gem a pessoa durante a maior parte da vi- dos relatam a ocorrência de astrovírus em tembro a março, período no qual se ob-
da adulta. Entretanto, essa imunidade con- 4% a 17% dos casos (9, 28). servam os maiores índices pluviométri-
tra astrovírus tende a diminuir quando o in- A pesquisa de astrovírus no Brasil foi cos nesta localidade (2) Por outro lado,
divíduo passa a ser idoso. Ainda de acordo inicialmente restrita, considerando que o os astrovirus foram detectados durante
com esses estudos, a prevalência de anti- único método disponível para sua identi- quase todos os meses do ano em São Pa-
corpos aumenta rapidamente de 7% em ficação era a microscopia eletrônica ulo (40).

23
A gastroenterite causada por astrovírus 5.Castilho,J. G.; Munford, V.; Rácz,M. L. Gas- 15.Glass, R. I.; Bresee,J. S.; Turcios, R.; Fis-
é considerada moderada e não há necessi- troenterites Virais: Norovírus e Sapovírus. cher, T. K.; Parashar, U. D.; Steele, A. D. Rota-
dade de um tratamento terapêutico mais es- In: Microbiologia, edited by L. R. Trabulsi, F. virus vaccines: targeting the developing
Alterthum, M. B. Martinez, L. C. Campos, V. world. J.Infect.Dis. 192 Suppl 1:S160-S166,
pecífico. Nas crianças, ou mais raramente
Gambale, and M. L. Rácz, São Paulo:Editora 2005.
nos adultos que ficam desidratados, a repo-
sição oral ou intravenosa de água ou outro Atheneu, 2008, p. 625-628.
16.Glass,P. J.; White, L. J.; Ball, J. M.; Leparc-
fluido nutriente pode resolver o problema. Goffart, I.; Hardy, M. E.; Estes,M. K. Norwalk
6.Cheek,J. E.; Young, P.; Branch, L.; Dup-
No caso de pessoas imunocomprometidas nick,K. M.; Kelly, S. T.; Sharp, J. M. Norwalk- virus open reading frame 3 encodes a minor
que não respondem à reposição de líqui- like virus-associated gastroenteritis in a lar- structural protein. J.Virol. 74:6581-6591,
dos, a injeção de imunoglobulinas pode ser ge, high-density encampment - Virginia, July 2000.
um importante aliado no combate à doen- 2001. MMWR 51:661-663, 2002.
ça. Estudos relatam que após a administra- 17.Green, K. Caliciviridae, The Noroviruses.
ção de imunoglobulinas em pacientes imu- 7.Chen,D.; RamigR. Determinants of rotavi- In: Fields Virology, edited by D. M. Knipe, P. M.
nocomprometidos com quadro de infecção Howley, D. E. Griffin, R. A. Lamb, M. A. Martin,
rus stability and density during CsCl purifica-
B. Roizman, and S. E. Straus, Philadelphia:-
persistente causada por astrovírus, foram tion. Virology 186:228-237, 1992.
Lippincott Williams & Wilins, 2007, p. 949-979.
observadas a extinção de partículas virais e
a eliminação do quadro de diarréia (28, 32). 8.Daughenbaugh,K. F.; Fraser,C. S.; Hers-
18.Greenberg, H. B.; Matsui, S. M. Astroviru-
A interrupção da transmissão é o fator hey, J. W. B.; Hardy, M. E. The genome-
ses and caliciviruses: emerging enteric patho-
chave para que a infecção pelo vírus não linked protein VPg of the Norwalk virus binds
gens. Infectious Agents and Diseases 1:71-91,
ocorra, especialmente em hospitais e ou- eIF3, suggesting its role in translation initiati-
1992.
on complex recruitment. The EMBO Journal
tras instituições, como postos de saúde e
22 (11):2852-2859, 2003. 19.Hale,A.; Mattick, K.; Estes,M.; Jiang, X.;
creches, onde a transmissão de pessoa pa-
ra pessoa é comum. Essa interrupção pode Green, J.; Eglin,R.; Brown, D. Distinct epidemi-
9.Espul, A.; Martinez,N.; Noel, J. S.; Cuello, ological patterns of Norwalk-like virus infection.
ser feita através de hábitos higiênicos co- H.; Abrile, C.; Grucci, S.; Glass, R.; Berke, T.; J.Med.Virol. 62:99-103, 2000.
muns, como lavar as mãos e manter o ambi- Matson, D. O. Prevalence and characteriza-
ente o mais limpo possível, além da adoção tion of astroviruses in Argentinean children 20.Houly, C. A. P.; Uchoa,M. M. M.; Zaidan,A.
de medidas de saneamento básico (28, with acute gastroenteritis. J.Med.Virol. M. E.; Gomes-Neto, A.; De-Oliveira, F. M.;
39). 72:75-82, 2004. Athayde, M. A. G.; Almeida, M. F. L. M.; Pereira,
Outro modo de prevenção da infecção H. G. Electrophoretic study of the genome of hu-
por astrovírus seria a administração de va- 10.Estes, M. K.;Kapikian, A. Z. Rotaviruses. man rotavirus from Maceio, Brazil. Brazili-
cinas. No entanto, é necessário um melhor In: Fields Virology, edited by D. M. Knipe, P. an.J.Med.Biol.Res. 19:33-37, 1986.
entendimento sobre a biologia desse vírus M. Howley, D. E. Griffin, R. A. Lamb, M. A. Mar-
e suas características, para que alguma va- tin, B. Roizman, and S. E. Straus, Philadelp- 21.Kang,G. Rotavírus vaccines, Indian.
cina seja desenvolvida com sucesso (28, hia:Lippincott Williams and Wilkins, 2007, p. J.Med.Microbiol. 24:252-257, 2006.
39). 1917-1974.
22.Kapikian, A. Z.; Wyatt, R. G.; Dolin, R.; Thor-
11.Farkas,T.; Jiang, X.; Guerrero, M. L.; nhill,T. S.; Kalica, A. R.; Chanock, R. M. Visuali-
Zhong,W.; Wilton, N.; Berk, T.; Matson, D. O.; zation by immune electron microscopy of a 27
REFERENCIAS nm particle associated with acute infections
Pickering, L. K.; Ruiz-Palacios, G. Prevalen-
ce and genetic diversity of human caliciviru- nonbacterial gastroenteritis. J.Virol. 10:1075-
1.Cardoso,D. D. P.; Soares,C. M. A.; Azeve- 1081, 1972.
do, M. S. P.; Leite, J. P. G.; Munford,V.; Rácz, ses (HuCVs ) in Mexican children. J.Med.Vi-
M. L. Serotypes and subgroups of rotavirus in rol. 62:217-223, 2000.
23.Kapikian,A. Z.; Hoshino, Y.; Chanock,R. M.
central Brazil. J.Health Popul.Nutr. 18:39- Rotaviruses. In: Fields Virology, edited by D. M.
12.Fauquet,C. M.; Mayo, M. A.; Maniloff, J.;
43, 2000. Knipe and P. M. Howley, Philadelphia:Lippin-
Desselberger, U.; Ball, L. A. Virus Taxonomy,
San Diego,CA: Academic Press, 2005. 1162 cott Williams & Wilkins, 2001, p. 1787-1833.
2.Cardoso,D. D. P.; Fiaccadori,F. S.; Souza,
M. B. L. D.; Martins, R. M. B.; Leite, J. P. G. De- pages.
24.Kaplan,J. E.; Gary,G. W.; Baron, R. C.;
tection and genotyping of astroviruses from Singh, N.; Schonberger, L. B.; Feldman, R.;
children with acute gastroenteritis from Goiâ- 13.Gentsch, J. R.; Laird,A. R.; Bielfelt, B.;
Greenberg, H. B. Epidemiology of norwalk gas-
nia, Goiás, Brazil. Med.Sci.Monit. 8 Griffin, D. D.; Banyai, K.; Ramachandran, M.;
troenteritis and the role of norwalk virus in out-
(9):CR624-CR628, 2002. Vinje, J.; Cunliffe, N. A.; Nakagomi, O.; Kirk-
breaks of acute nonbacterial gastroenteritis.
wood, C. D.; Fischer, T. K.; Parashar, U. D.;
Ann.Intern.Med. 96:756-761, 1982.
3.Carmona, R. C. C.; Timenetsky,M. C. S. T.; Bresee, J. S.; Jiang, B.; Glass, R. I. Serotype
Morillo, S. G.; Richtzenhain, L. J. Human rotavi- diversity and reassortment between human 25.Landaeta, M. E.; Dove,W.; Vinh,H.; Cunlif-
rus serotype G9, São Paulo, Brazil, 1996-2003. and animal rotavirus strains: implication for fe,N. A.; Campbell, J.; Parry,C. M.; Farraa, J. J.;
Emerging Infect.Dis. 12 (6):963-968, 2006. rotavirus vaccine programs. J.Infect.Dis. Hart, C. A. Characterization of rotavirus cau-
192 (suppl 1):s146-s159, 2005. sing diarrhoea in vietnamese children.
4.Castilho, J. G.; Munford, V.; Resque, H.R.; Ann.Trop.Parasitol 97 (1):53-59, 2003.
Fagundes-Neto, U.; Vinjé,J.; Rácz,M.L. Ge- 14.Gilpatrick,S. G.; Schwab,K. J.; Estes, M.
netic diversity of norovirus among children K.; Atmar, R. L. Development of an immuno- 26.Linhares,A. C. Epidemiologia das infecções
with gastroenteritis in São Paulo State, Bra- magnetic capture reverse transcripton-PCR por rotavírus no Brasil e os desafios para o seu
zil. J Clin Microbiol. 44 (11):3947-3953, assay for the detection of norwalk virus. J.Vi- controle. Cad.Saúde Pública 16 (3):629-646,
2006. rol.Meth. 90:69-78, 2000. 2000.

24
27.Martella, V.; Ciarlet, M.; Banyai,K.; Lorusso, 34.Pang, X.; Honma, S.; Nakata, S.; Vesikari,T. J.; Rethwilm, A. A simple and rapid single-step
E.; Arista,S.; Lavazza, A.; Pezzotti, G.; Decaro, Human caliciviruses in acute gastroenteritis of multiplex RT-PCR to norovirus, astrovirus and
N.; Cavalli, A.; Lucente, M. S.; Corrente, M.; young children in the community. J.Infect.Dis. adenovirus in clinical stool samples. J.Med.Vi-
Elia, G.; Camero, M.; Tempesta, M.; Buonavo- 181 (S2):S288-S294, 2000. rol. 118:49-59, 2004.
glia, C. Identification of group A porcine rotavi-
rus strains bearing a novel VP4 (P) genotype in 35.Parashar, U. D.; Hummelman, E. G.; Bre- 42.Rosa e Silva M.L.;Pires de Carvalho, I.; Gou-
Italian sweinne herds. J.Clin.Microbiol. 45 see, J. S.; Miller,M. A.; Glass, R. I. Global ill- vea, V. 1998-1999 rotavirus seasons in Juiz de
(2):577-580, 2007. ness and deaths caused by rotavírus disease Fora, Minas Gerais, Brazil: detection of an unu-
in children. Emerg Infect Dis 9:565-572, 2003. sual G3P[4] epidemic strain. J.Clin.Microbiol.
28.Méndez, E.; Arias, C. F. Astroviruses. In: Fi- 40 (8):2837-2842, 2002.
elds Virology, edited by D. M. Knipe and P. M. 36.Parks,C. G. Moe, C. L.;Rhodes,D.; Lima, A.;
Howley, Philadelphia:Lippincott Williams & Wil- Barrett,L.; T.seng,F.; Baric, R.; Talal, A.; Guer- 43.Santos,N.; Hoshino,Y. Global distribuition of
kins, 2007, p. 981-1000. rant, R. Genomic diversity of "Norwalk Like Viru- rotavirus serotypes/genotypes and its implica-
ses" (NLVs): pediatric infections in Brazilian tion for the development and implementation of
29.Mertens, P. P. C. ;Attoui,H.; Bamford, D.H
eds. The RNAs and Proteins of dsRNA Viru- shantytown. J.Med.Virol. 58:426-434, 1999. an effective rotavius vaccine. Rev.Med.Virol.
ses. Disponível em www.reoviridae- 15:29-56, 2005.
37.Pereira, H. G.; Azeredo, R. S.;Leite, J. P. G.;
.org/dsrna_virus_proteins/rotavirus%20figure.
Candeias,J. A. N.; Rácz,M. L.; Linhares, A. C.; 44.Schwab, K. J.; Neill, F. H.; Fankhauser, R.;
htm. Acesso em 17 julho de 2008.
Gabbay, Y. B.; Trabulsi, L. R. Electrophoretic Daniels,N. A.; Monroe, S. S.; Bergmire-Sweat,
30.Munford,V.; Caruzo, T. A. R.; Rácz, M. L. study of the genome of human rotaviruses from D. A.; Estes, M. K.; Atmar, R. L. Development of
Gastroenterites Virais: Rotavírus. In: Microbio- Rio de Janeiro, São Paulo and Pará , Brazil. methods to detect "norwalk-like viruses"
logia, edited by L. R. Trabulsi, F. Alterthum, R. J.Hyg., Camb. 90:117-125, 1983. (NLVs) and hepatitis A virus in delicatessen fo-
M. Martins, L. C. Campos, V. Gambale, and M. ods: application to a food-borne NLV outbreak.
L. Rácz, São Paulo:Editora Atheneus, 2008, p. 38.Ramig, R. F. Pathogenesis of intestinal and Applied and Environmental Microbiology
619-623. systemic rotavirus infection. J.Virol. 78 66(1):213-218, 2000.
(19):10213-10220, 2004.
31.Munford,V.; Souza,E. C.; Caruzo, T. A. R.; 45.Silva, A. M.; Leite,E. G.; Assis, R. M.; Maje-
Martinez, M. B.; Rácz, M. L. Serological and 39.Resque, H. R.; Munford, V.; Rácz,M. L. Gas- rowicz, S.; Leite J. P. An outbreak of gastroen-
molecular diversity of human rotavirus in São troenterites Virais: Astrovírus. In: Microbiolo- teritis associated with astrovirus serotype 1 a
Paulo, Brazil. Brazilian Journal of Microbiology gia, edited by L. R. Trabulsi, F. Alterthum, R. M. day care center, in Rio de Janeiro, Brazil.
38:459-466, 2007. Martins, L. C. Campos, V. Gambale, and M. L. Mem.Inst.Oswaldo Cruz 96 (8):1069-1073,
Rácz, São Paulo:Editora Atheneus, 2008, p. 2001.
32.Nadan,S.; Walter, J. E.; Grabow, W. O. K.;
629-631.
Mitchell,D. B.; Taylor; M. B. Molecular charac-
46.Tanaka, H.; Kisielius,J. J.; Ueda, M.;
terization of astroviruses by reverse trancripta- 40.Resque,H. R.; Munford, V.; Castilho, J. G.; Glass,R. I.; Joazeiro P. P. Intrafamilial outbre-
se PCR and sequence analysis: Comparison
Schimch, H.; Caruzo, T. A. R.; Rácz, M.L. Mole- ack of astrovirus gastroenteritis in São Paulo,
of clinical and evironmental isolates from South
cular characterization of astrovirus in stool sam- Brazil. J.Diar.Dis.Res. 12 (3):219-221, 1994.
Africa. Appl.Environ.Microbiol. 69 (2):747-753,
ples from children in São Paulo, Brazil.
2003.
Mem.Inst.Oswaldo.Cruz. 102 (8):969-974, 47.Ueda, M.; Kisielius,J. J.;Rocha, M.; Time-
33.Offit,P. A. Host factors associated with pro- 2007. netsky, M. C.; Tanaka H. Small round structu-
tection against rotavirus disease: the skies are red virus-SRSV, genogroup G2 in Baixada San-
clearing. J.Infect.Dis. 174 (suppl 1):S59-S64, 41.Rohayem, J.; Berger,S.; Juretzek,T.; Her- tista (SP)-virus identification by IEM. VII
1996. chenröder, O.; Mogel, M.; Poppe,M.; Henker, Encontro Nacional de Virologia147-147, 1996.

25
Ciência in Foco

VACINAS E A
ERRADICAÇÃO DA
LINFADENITE CASEOSA

1 2 3 4

1. Fernanda Alves Dorella


Depto de Biologia Geral, ICB/UFMG - Av. Antônio Carlos,6627 - Pampulha - Belo Horizonte - Minas Gerais - Brazil
CP 486 - CEP 31270-901 - Tel/Fax: 00 55 31 3409 2610 - dorella@icb.ufmg.br

2. Roberto Meyer
Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal da Bahia (1977), especialização em Imunologia no
Centro de Pesquisa e Treinamento em Imunologia da OMS, São Paulo (1978) e no Departamento de Imunobiologia da Universidade
de Colônia, Alemanha (1986), mestrado em Imunologia pela Escola Paulista de Medicina (1983) e doutorado em Imunologia pela
Universidade Federal da Bahia (2003). Atualmente é Professor Associado da Universidade Federal da Bahia. Tem experiência na
área de Imunologia, com ênfase em Imunoquímica e Imunologia Aplicada, atuando principalmente nos seguintes temas:
Imunidade na Linfadenite Caseosa, Imunidade nas Doenças Periodontais e Imunidade em Câncer.

3. Anderson Miyoshi
Depto de Biologia Geral, ICB/UFMG - Av. Antônio Carlos,6627 - Pampulha - Belo Horizonte - Minas Gerais - Brazil.
CP 486 - CEP 31270-901 - Tel/Fax: 00 55 31 3409 2610 - miyoshi@icb.ufmg.br

4. Vasco Azevedo
Depto de Biologia Geral, ICB/UFMG - Av. Antônio Carlos,6627 - Pampulha - Belo Horizonte - Minas Gerais - Brazil
CP 486 - CEP 31270-901 - Tel/Fax: 00 55 31 3409 2610 - vasco@icb.ufmg.br

“Segundo a Organização Mundial da forços que vêm sendo empregados no tas ao vírus da varíola, desenvolviam
Saúde “as vacinas são, depois da água desenvolvimento de uma vacina efetiva uma versão mais branda da doença.
potável, a principal ferramenta no com- contra a linfadenite caseosa, doença Para testar sua teoria, Jenner reco-
bate à mortalidade no mundo.” que acomete caprinos e ovinos no mun- lheu o exsudato que saía de tais feridas e
do todo, acarretando enormes perdas passou em arranhões que ele provocou
A vacinação é o processo mais efeti- econômicas, visto que as vacinas dispo- em um menino saudável. O garoto teve fe-
vo e menos dispendioso na profilaxia níveis até o momento não são efetivas bre e algumas lesões, mas se recuperou
das doenças infecciosas. O objetivo de na erradicação desta enfermidade. rapidamente. Semanas depois, o cientis-
uma vacina é imunizar previamente o in- ta expôs novamente o menino ao material
divíduo de modo que ele responda de A HISTÓRIA DAS VACINAS da ferida de outro paciente e desta vez o
maneira rápida e eficiente quando em Há mais de duzentos anos deu-se iní- menino passou incólume à doença (Figu-
contato com o agente infeccioso, evitan- cio à era das vacinas com a descoberta, ra 1). Estava descoberta a primeira vaci-
do assim, o desenvolvimento da doen- por Edward Jenner (1749-1823), em na de que se tem notícia (Morgan e Par-
ça. No presente artigo faremos uma 1796, da propriedade de vacinação. Ele ker, 2007).
abordagem a respeito das vacinas, sua observou que existiam, nas tetas das va- Cem anos depois, Louis Pasteur
história e os tipos existentes, com suas cas, as mesmas lesões causadas pela va- (1822-1895), entre pesquisas sobre fer-
vantagens e desvantagens. Como mode- ríola em humanos. Após este fato, Jenner mentação alcoólica, anaerobiose e doen-
lo de discussão sobre a busca por uma percebeu que as mulheres responsáveis ças infecciosas, descobriu que existiam
vacina ideal, discutiremos todos os es- pela ordenha das vacas, quando expos- formas “fracas” e virulentas de micróbios

26
amarela, poliomielite, sarampo e rubéo- na produção deste tipo de vacina como a
la são todas vacinas de primeira gera- purificação dos antígenos e a expressão
ção. Embora este tipo de vacina seja pre- de proteínas eucarióticas em procario-
dominante no mercado, atualmente sua tos. Além disso, a escolha de antígenos
eficácia e segurança são bastante con- deve ser cuidadosa visto que é necessá-
testadas bem como a questão ética na uti- rio que o epítopo eleito induza imunidade
lização de organismos vivos, mesmo humoral e/ou celular no hospedeiro de
que atenuados, em seres humanos acordo com o tipo de organismo a ser
(Schatzmayr, 2003; Movahedi e Hamp- combatido (Movahedi e Hampson,
son, 2008). Essas questões de biosse- 2008).
gurança constituem uma importante pla- No início da década de 1990 obser-
taforma de trabalho para o desenvolvi- vou-se que DNA plasmidiano poderia ser
mento de vacinas mais seguras (Dou- transfectado em células animais in vivo.
gan, 1994; Foss e Murtaugh, 2000). Para Em 1993, uma molécula de DNA nu codi-
contornar estes problemas, hoje em dia ficando genes virais conferiu imunidade
Figura 1: A primeira vacinação são empregadas técnicas moleculares protetora e trouxe surpresa aos vacino-
feita por Jenner. que permitem torná-las seguras, diminu- logistas (Donnelly et al., 1997; Manickan
(Imagem: © Bettmann/Corbis) indo a virulência do patógeno e evitando et al., 1997). A partir desta observação
que haja reversão. Entre essas técnicas, surgiu o questionamento: Genes poderi-
a deleção de múltiplos genes, relaciona- am virar vacinas? Desde então surgiram
e que as primeiras poderiam ser usadas dos à virulência, ou mesmo inserções de as vacinas de terceira geração, com-
como agentes imunizantes contra a infec- fragmentos que interrompam tais genes postas de genes ou fragmentos gênicos
ção pelas últimas (Figura 2). Iniciou-se as- no patógeno, quase que eliminam por que codificam antígenos potencialmente
sim a utilização da vacinação como forma completo o risco de que o patógeno re- imunogênicos carreados por DNA plas-
de prevenção de doenças. Entre os diver- verta à sua forma virulenta (Jiskoot et al., midiano visando induzir resposta imune
sos campos da ciência em que atuava, 2002; Schatzmayr, 2003). protetora através da injeção direta do
coube a Pasteur a descoberta do agente Algum tempo depois surgiram vaci- DNA no tecido animal (Figura 3; Don-
transmissor da raiva bem como da vacina nas mais seguras e com espectro de atu- nelly, 2003).
anti-rábica. Esta e outras descobertas ci- ação maior. As vacinas de segunda ge- As vantagens oferecidas pelas vaci-
entíficas levaram à fundação do renoma- ração substituíram o microrganismo co- nas de terceira geração são bastante
do Instituto Pasteur (Arroio, 2006). mo um todo por subunidades protéicas atrativas: não apresentam risco de cau-
As descobertas de Jenner e Pasteur fi- do mesmo, ou seja, antígenos purifica- sar infecção, uma vez que os genes utili-
zeram parte do início de uma era muito im- dos ou recombinantes, isolados de cultu- zados são específicos para uma dada
portante para a medicina: a era da vacina- ra do próprio patógeno, responsáveis proteína antigênica; pode-se empregar
ção. Até então, ao longo da história, gran- por estimular mais fortemente o sistema um mesmo plasmídeo carreando vários
des epidemias de doenças infecto- imune do hospedeiro. A tecnologia deste genes, o que é vantajoso quando o orga-
contagiosas atingiram inúmeros países, tipo de vacina baseia-se no isolamento,
cada uma com suas particularidades. E clonagem e expressão de genes que co-
hoje em dia, doenças consideradas con- dificam proteínas que possuem epítopos
troladas, ou até mesmo extintas, estão re- reconhecidos pelo sistema imune do hos-
emergindo no cenário mundial. E no com- pedeiro. As vantagens deste tipo de vaci-
bate a essas doenças, a vacinação ainda na são a de que uma única proteína pode
é a melhor alternativa (Mahmouda e Le- ter vários epítopos imunodominantes ca-
vin, 2007). pazes de induzir uma imunidade proteto-
ra sem riscos e as adversidades de se ad-
OS TIPOS DE VACINAS ministrar um patógeno vivo; vacinas de
Basicamente existem três tipos de va- subunidades não se replicam no hospe-
cinas, levando-se em consideração o mo- deiro, portanto não há risco de patogeni-
do como são formuladas. cidade, além da possibilidade de produ-
As vacinas de primeira geração con- ção em larga escala (Silva et al., 2004;
sistem na utilização de patógenos vivos Movahedi e Hampson, 2008). A vacina
atenuados ou mortos, capazes de indu- contra a pneumonia pneumocócica, que
zir uma resposta imune protetora contra contém 23 polissacarídeos diferentes da
estes mesmos agentes em sua forma sel- cápsula de linhagens de Streptococcus
vagem. A vacina BCG (Bacilo de Calmet- pneumoniae; e a vacina contra a hepatite
te-Guérin) amplamente utilizada no com- B, que contém fragmentos antigênicos
bate à tuberculose faz parte da categoria da superfície do vírus da hepatite, isola-
de vacinas de primeira geração viva e dos do sangue de portadores de hepati-
Figura 2: Pasteur em seu laboratório.
atenuada (Silva et al., 2004). Além dela, te, são exemplos bem sucedidos de vaci- (Imagem: http://www.pasteur.fr/ip/
vacinas contra varíola, raiva, peste bubô- nas de segunda geração (Paton e Briles, easysite/go/03b-00000j-0fn/
nica, difteria, coqueluche, tétano, febre 2003). No entanto, existem dificuldades institut-pasteur/musees)

27
perdas econômicas significativas relaci-
onadas à redução da produtividade e efi-
ciência reprodutiva dos animais infecta-
dos, principalmente devido à redução da
produção de lã, carne e leite, redução na
eficiência de reprodução dos animais in-
fectados e condenação de carcaças e
couro em abatedouros (Dorella et al.,
2006a). A manifestação da LC em pe-
quenos ruminantes é caracterizada prin-
cipalmente por necrose das glândulas lin-
fáticas. A forma mais freqüente da doen-
ça, a LC externa, é caracterizada pela for-
mação de abscessos em nódulos linfáti-
cos superficiais e em tecidos subcutâne-
os (Figura 5). Esses abscessos podem
também se desenvolver em órgãos inter-
nos, tais como pulmões, rins, fígado e ba-
ço, caracterizando a LC visceral (Piont-
kowski e Shivvers, 1998). Em alguns ca-
sos, a infecção produz poucos sinais clí-
nicos no animal, o que leva à impossibili-
dade de identificá-los até sua morte, tor-
Figura 3: Vias comuns de administração das vacinas de DNA. nando difícil a obtenção de dados sobre
(Adaptado de Weiner e Kennedy, 1999). a prevalência dessa doença (Arsenault
et al., 2003).
Essa enfermidade é prevalente em
nismo é altamente variável como um ví- capazes de controlar essas doenças in- países como Austrália, Nova Zelândia,
rus; a imunidade adquirida persiste por fecciosas de modo profilático. África do Sul, Estados Unidos e Brasil,
longo tempo devido à constante produ- Em 2000 surgiu uma nova tecnologia onde apresenta intensa atividade de ovi-
ção do antígeno dentro da célula hospe- de desenvolvimento de vacinas: a vaci- no e caprinocultura (Arsenault et al.,
deira. Além de boa estabilidade em bai- nologia reversa ou vacinologia genô- 2003). No Brasil, estimativas demons-
xas ou altas temperaturas, o que facilita mica (Rappuoli, 2000). Esta nova abor- tram que a maior parte dos animais este-
enormemente a estocagem e distribui- dagem se baseia na utilização de se- ja infectada e a prevalência clínica seja
ção (Oliveira, 2004). E finalmente, as va- qüências genômicas e de análises in sili- de 30% (Ribeiro et al., 2001). Os estados
cinas são de fácil preparação e baixo cus- co para predizer antígenos potenciais da Região Nordeste são considerados
to de produção, o que traz grandes espe- que serão então isolados, clonados ex-
ranças no campo da vacinologia (Bìláko- pressos, purificados e, finalmente, utili-
vá et al., 2007). Uma das principais des- zados na imunização para serem avalia-
vantagens deste tipo de vacina é o fato dos quanto ao seu potencial vacinal (Fi-
de não apresentar resultados tão pro- gura 4).
missores no hospedeiro final quanto em Estes antígenos podem ser tanto pro-
modelos laboratoriais. Por exemplo, em teínas completas quanto seus epítopos
estudos realizados com vacinas de DNA imunodominantes (Schatzmayr, 2003;
no combate à malária, os excelentes re- Movahedi e Hampson, 2008). Mas nem
sultados obtidos em modelo murino não tudo são vantagens, boas correlações
se reproduziram em humanos (Dunachie de proteção são raras, sendo assim, con-
e Hill, 2003). seguir imunidade protetora é o ponto limi-
Os benefícios resultantes do desen- tante da vacinologia reversa. Outro fator
volvimento de vacinas gênicas são inú- limitante é a necessidade da seqüência
meros, como mencionado anteriormen- genômica do organismo de interesse ter
te. E o impacto gerado sobre o controle sido completamente elucidada.
das doenças infecciosas que podem ser
prevenidas por imunização gênica será, LINFADENITE CASEOSA COMO
provavelmente, uma das aquisições ma- MODELO NA BUSCA POR UMA
is importantes advindas da utilização VACINA EFICIENTE
desta tecnologia. Linfadenite caseosa (LC)
A imunização baseada em DNA deu A LC é uma doença crônica causada
início a uma nova era no ramo da vacino- Figura 4: Esquema da abordagem
pela bactéria da espécie Corynebacteri- utilizada na vacinologia reversa na
logia. E com isso a busca pelo desenvol- um pseudotuberculosis, que acomete pe- busca por novos candidatos vacinais.
vimento de novas alternativas vacinais quenos ruminantes e é responsável por

28
os mais afetados, porém, o estado de Mi-
nas Gerais (Região Sudeste), mesmo
possuindo um rebanho ainda reduzido,
84,3% dos produtores relatou ter proble-
mas como conseqüência da patologia
(Faria et al., 2004). Estudos recentes rea-
lizados em aproximadamente 200 pro-
priedades do estado de Minas Gerais de-
monstraram uma soroprevalência da LC
de 70% em ovinos e 80% em caprinos.
A transmissão da LC entre caprinos e
ovinos ocorre principalmente através de
ferimentos superficiais na pele, os quais
podem ser causados tanto por procedi-
mentos de manejo como tosquia, castra-
ção, tratamento do cordão umbilical e
agulhas contaminadas quanto por fato-
res naturais como arbustos pontiagudos
(Alves e Pinheiro, 1997). O tratamento
da enfermidade não é eficiente através
do uso de antibióticos, pois estes não pe-
netram na cápsula dos abscessos. Por- Figura 5: Lesões características de animais com LC. A) abscesso
em linfonodo parotídeo, B) abscesso em linfonodo pré-escapular esquerdo,
tanto, o controle da LC deve ser realiza- C) abscesso em linfonodo poplíteo esquerdo, e D) lesão característica de LC,
do primariamente por medidas profiláti- abscesso com aspecto caseoso, exibindo camadas de material necrosado.
cas. Considerando que as vacinas exis-
tentes não são eficientes, a identificação
dos animais infectados e a privação des- testadas, como o uso de bactérias atenu- lar. Além disso, é o tipo de vacina que con-
tes animais do convívio com os saudáve- adas, mortas, frações contendo antíge- fere melhor e mais prolongada resposta
is permanecem como as principais medi- nos da parede bacteriana, do sobrena- imunológica devido a sua similaridade à
das de manejo para o controle desta en- dante de cultura bacteriana e uma mistu- infecção natural. Uma vez que as proteí-
fermidade (Williamson, 2001; Dorella et ra de componentes celulares e sobrena- nas exportadas por bactérias constituem
al., 2006a). dante (Holstad, 1989, LeaMaster et al., sua principal categoria de fatores de viru-
1987, Brogden et al., 1990, Ellis et al., lência, e, conseqüentemente, alvos para
PROCURA-SE UMA VACINA 1991, Eggleton et al., 1991). Todas as a atenuação; nosso grupo de pesquisa,
A melhor medida de custo-benefício preparações ofereceram certo grau de entre os anos de 2003 e 2005, produziu
contra a introdução ou a erradicação da proteção contra infecções experimenta- 21 diferentes mutantes de C. pseudotu-
LC no plantel se baseia na imunização. is e até mesmo naturais; contudo, os ní- berculosis através de mutagênese alea-
Além do tratamento por antibióticos não veis de proteção e a severidade das le- tória utilizando um sistema de transposi-
ser eficaz e ser de alto custo, a necessi- sões são variáveis. Em nosso laborató- ção repórter baseado na fosfatase alcali-
dade de se obter uma vacina eficiente e rio também estamos testando várias es- na de Enterococcus faecalis (Dorella et
protetora contra a LC pode ser evidenci- tratégias, com o intuito de obter uma vaci- al., 2006b). Este sistema de descoberta
ada pelos relatos de anos de pesquisa na protetora e mais segura contra a in- de produtos exportados em bactérias
com esse objetivo. Entretanto, as vaci- fecção por C. pseudotuberculosis, como Gram-positivas foi utilizado produzindo
nas disponíveis apresentam aspectos re- o desenvolvimento de vacinas vivas ate- fusões aleatórias entre genes de C. pseu-
levantes a serem considerados quanto à nuadas (vacinas de primeira geração), dotuberculosis e o gene repórter empre-
possibilidade de sua utilização. Nem to- proteínas recombinantes (vacinas de se- gado no sistema. Como a fosfatase alca-
das as vacinas licenciadas para ovinos gunda geração), vacinas de DNA (vaci- lina está ativa somente quando exporta-
têm, por exemplo, a mesma eficiência pa- nas de terceira geração) e a busca por an- da, pudemos selecionar os mutantes
ra caprinos. Por não se adequarem a to- tígenos imunodominantes (vacinologia que exibiam atividade de fosfatase alca-
dos os casos, normalmente é necessário reversa). lina pela visualização do produto da de-
ajustar o programa de vacinação a cada gradação de um substrato revelador. As
caso (Williamson, 2001). A ineficácia do 1. Vacinas de primeira geração seqüências de DNA que flanqueiam os sí-
processo de imunização pode ainda ser contra a LC tios de inserção do transposon em cada
associada ao uso incorreto das vacinas As vacinas com microorganismo vivo mutante foram identificadas através de
pelos criadores. Além disso, o estudo da são produzidas a partir da atenuação da seqüenciamento. Foi possível identificar
disseminação da bactéria pelo plantel de- virulência, isto é, do potencial causador loci que codificam subunidades fimbria-
monstrou que animais aparentemente de doença do microorganismo. Neste ti- is, proteínas de transporte e também pro-
sem abscedação são transmissores (Pa- po de estratégia vacinal o microorganis- teínas de função hipotética e/ou desco-
ton et al., 2003). mo mantém sua capacidade de replica- nhecida, as quais podem, ou não, estar
Vários relatos na literatura mostram ção, mimetizando a infecção natural e relacionadas à virulência e à patogenici-
diferentes estratégias que vêm sendo produzindo uma resposta humoral e celu- dade deste microrganismo (Dorella et

29
al., 2006b). teína recombinante Hsp60 e com a vaci-
Atualmente, estas linhagens mutan- na de DNA baseada no mesmo gene fo- CONCLUSÕES
tes vêm sendo testadas em ensaios de ram utilizados para caracterizar a produ- A vacinação tornou-se a medida mais
imunização em camundongos com o obje- ção do isótipo IgG por meio de ensaios eficiente e menos dispendiosa de evitar
tivo de caracterizar in vivo e investigar se de ELISA indireto. Uma marcante res- doenças infecciosas. Contudo, recente-
houve atenuação e, conseqüentemente, posta humoral foi obtida após a imuniza- mente, a Organização Mundial da Saúde
seu potencial vacinal durante a infecção. ção com rHsp60, no entanto essa res- (OMS), começou a alertar os governos
Os resultados obtidos até o momento posta não foi capaz de gerar uma respos- para a reincidência de doenças antes
nos permitiram selecionar uma linha- ta protetora contra o desafio com a linha- consideradas controladas e para os pro-
gem mutante que confere proteção aci- gem selvagem virulenta de C. pseudotu- blemas de saúde provenientes deste re-
ma de 80% em modelo murino e que berculosis. Em relação à vacina de DNA, torno indesejável, principalmente para
vem apresentando-se como o candida- a produção de IgG e seus subtipos foi es- os países mais pobres. Sendo assim, a
to mais promissor no desenvolvimen- tatisticamente significativa em relação busca pela vacina ideal continua. Ela de-
to de uma vacina no combate à LC. ao grupo controle. A partir deste resulta- ve ser biologicamente estável, não apre-
Ensaios imunológicos utilizando os hos- do, pode-se afirmar que a imunização sentar risco de reversão da virulência in
pedeiros naturais, caprinos, estão sendo com a proteína recombinante induziu a vivo e in vitro, deve induzir imunidade hu-
realizados com o intuito de reproduzir os produção de anticorpos específicos anti- moral e celular e ser facilmente produzi-
bons resultados obtidos em camundon- Hsp60 de C. pseudotuberculosis. Contu- da em grande escala (Babiuk, 1999;
gos. Todos estes testes servirão como ba- do, novamente não se verificou prote- Ellis, 2001). Diversas estratégias vêm
se para o desenvolvimento de uma possí- ção, mesmo com a resposta humoral (Co- sendo empregadas, das mais simples co-
vel nova vacina viva atenuada contra a lin- elho et al., manuscrito em preparação). mo as vacinas de primeira geração, onde
fadenite caseosa. o microorganismo é utilizado vivo e ate-
3. Vacinologia reversa aplicada nuado ou morto e inativado, às mais com-
2. Vacinas de segunda e terceira ao combate da LC plexas e elaboradas como as provenien-
gerações contra a LC A busca por antígenos imunodomi- tes das técnicas de DNA recombinante e
Na produção de vacinas de segunda nantes de C. pseudotuberculosis vem atualmente através da vacinologia re-
geração, o antígeno crítico responsável sendo amplamente realizada. Com este versa.
pelo desencadeamento da resposta imu- propósito, o uso de soro de animais in- No caso do combate à LC, o modelo
nológica de interesse, humoral ou celu- fectados e análises in silico de seqüênci- apresentado no presente artigo, o fato
lar, é obtido através da purificação de pro- as genômicas são estratégias promisso- de o tratamento dos animais ser de alto
teínas específicas do microorganismo ras na busca por tais antígenos. custo e ineficaz, faz com que a medida
que estimulem o sistema imune do hos- Com o genoma de C. pseudotubercu- de melhor custo-benefício contra a intro-
pedeiro ou da produção destes antíge- losis quase que completamente elucida- dução da doença no plantel seja a imuni-
nos de forma heteróloga. Heat-shock pro- do torna-se viável a predição gênica e, zação. Entretanto, não existe uma vaci-
teins (HSPs) são proteínas presentes por conseguinte, a seleção de peptídeos na eficiente e protetora contra a C. pseu-
em organismos eucariotos e procario- indutores de respostas imunes. Nosso dotuberculosis. Os resultados até então
tos, codificadas por genes induzidos sob grupo iniciou neste ano uma abordagem obtidos com as vacinas disponíveis de-
condições de estresse. Sua função é ba- combinada de vacinologia reversa e ma- monstram a necessidade de se desen-
sicamente o enovelamento correto de peamento de epítopos para identifica- volver uma vacina que ofereça proteção
proteínas ou seu transporte através de ção de candidatos a vacinas, o que per- eficiente, com a diminuição acentuada
membranas intracelulares. Diversos es- mitirá a identificação de proteínas que dos efeitos colaterais.
tudos vêm demonstrando que, devido á possam estar expostas ao sistema imu- A guerra contra as doenças infeccio-
sua abundância, as HSPs são os princi- ne sob infecção. A disponibilidade do ge- sas começou há muitos séculos atrás,
pais antígenos de muitos patógenos. As noma de C. pseudotuberculosis recém mais muitas batalhas terão que ser ain-
duas principais famílias de HSPs são seqüenciado, a existência de outros ge- da vencidas.
HSP70 e HS60, que também represen- nomas de diferentes espécies de Cory-
tam os maiores alvos para anticorpos em nebacterium e de outras actinobactéri- REFERÊNCIAS
muitos processos infecciosos (Silva, as, aliadas a diversas ferramentas com- Alves, FSF e Pinheiro, R. Linfadenite caseosa
1999; van Eden et al., 2005). Devido a es- putacionais disponíveis para a análise Recomendações e Medidas Profiláticas. Socie-
tas características, HSPs de diferentes de dados biológicos possibilitarão a iden- dade Nacional de Agricultura, ano 100, 1997.
microrganismos vêm sido testadas co- tificação de proteínas e peptídeos poten-
Arroio, A. Louis Pasteur: um cientista humanis-
mo antígenos vacinais. cialmente imunoprotetores para o de- ta. Revista Eletrônica de Ciências, 2006.
Estudos de isolamento, clonagem e senvolvimento de uma vacina efetiva (http://www.cdcc.sc.usp.br/ciencia/artigos/art_
caracterização molecular do gene contra a LC, utilizando técnicas compu- 31/EraUmaVez.html)
hsp60 de C. pseudotuberculosis fo- tacionais conhecidas no processamento
Arsenault, J, Girard, C, Dubreuil, P, Daignault,
ram realizados por nosso grupo com o de dados oriundos do genoma, trans- D, Galarneau, JR, Boisclair, J, Simard, C, Bélan-
objetivo de avaliar o potencial desta criptoma e proteoma da C. pseudotuber- ger, D. Prevalence of and carcass condemnati-
proteína como antígeno vacinal ao ser culosis, bem como organismos ortólo- on from maedi-visna paratuberculosis and case-
utilizado no desenvolvimento de vaci- gos (Sali et al. 2006; Bateman e Birney, ous lymphadenitis in culled sheep from Quebec
nas de subunidade protéica e de DNA. 2000, Falquet et al. 2002, Servant et al. Canada. Preventive Veterinary Medicine, 2003,
Soros de caprinos imunizados com a pro- 2002; Neuweger et al. 2007). 59:67-81.

30
Babiuk, LA. Broadening the approaches to deve- Ellis, RW. Technologies for the design, disco- Oliveira, SC. Vacinas de DNA. In: Livro Genô-
loping more effective vaccines. Vaccine, 1999, very, formulation and administration of vacci- mica, Luis Mir (Ed.), Editora Atheneu, São Pa-
17:1587-1595. nes. Vaccine, 2001, 19:2681-2687. ulo, 2004, cap. 24, PP. 495 511.
Bateman, A e Birney, E. Searching databases to Falquet, L, Pagni, M, Bucher, P, Hulo, N, Si- Paton, JC e Briles, DE. Streptococcus pneu-
find protein domain organization. Advances in grist, CJ, Hofmann, K, Bairoch, A. The moniae. In: New bacterial vaccines, Ellis, RW
Protein Chemistry, 2000, 54:137-157. PROSITE database, its status in 2002. Nucleic e Brodeur, BR (Eds.), Texas, Kluwer Acade-
Bìláková, J, Horynová, M, Køupka, M, Weigl, Acids Research, 2002, 30:235-238. mic/Plenum Publishers, 2003, cap. 19, pp.
Faria, GA, Morais, OR, Guimarães, PHS. 294-310.
E e Raška, M. DNA vaccines: are they still just a
powerful tool for the future? Archivum Immunol- Análise da ovinocaprinocultura no Norte e Nor- Paton, MW, Walker, SB, Rose, IR, Watt, GF.
giae et Therapiae Experimentalis, 2007, 55, deste de Minas Gerais. Sebrae. Relatório téc- Prevalence of caseous lymphadenitis and usa-
387398. nico [on-line]. 2004. Disponível em: ge of caseous lymphadenitis vaccines in she-
HTTP://www.sebraemg.com.br/arquivos/Coo ep flocks. Australian Veterinary Journal,
Brogden KA, Chedid L, Cutlip RC, Lehm-
pere_para_crescer/geor/diagnostico/ ovi- 2003; 81: 91-95
kuhl HD, Sacks J. Effect of muramyl dipepti-
nocaprinocultura.pdf. Piontkowski, MD e Shivvers, DW. Evaluati-
de on immunogenicity of Corynebacterium
pseudotuberculosis whole-cell vaccines in mi- Foss, DL e Murtaugh, MP. Mechanisms of on of a commercially available vaccine aga-
ce and lambs. American Journal of Veterinary vaccine adjuvanticity at mucosal surfaces. Ani- inst Corynebacterium pseudotuberculosis for
Research, 1990, 51:200-202. mal Health Research Reviews, 2000, 1:3-24. use in sheep. Journal of American Veterinary
Medical Association, 1998, 212:1765-1768.
Dorella, FA, Pacheco, LG, Oliveira, SC, Mi- Holstad, G. Corynebacterium pseudotuber-
yoshi, A, Azevedo, V. a. Corynebacterium culosis infection in goats. IX. The effect of vac- Rappuoli, R. Reverse vaccinology. Current
pseudotuberculosis: microbiology, biochemi- cination against natural infection. Acta Veteri- Opinion in Microbiology, 2000, 3:445450.
cal properties, pathogenesis and molecular nary Scandinavica, 1989, 30:285-293. Ribeiro, MG, Junior, JGD, Paes, AC, Barbo-
studies of virulence. Veterinary Research, Jiskoot, W, Kersten, GFA, Beuvery EC. Vacci- sa, PG, Júnior, GN, Listoni, FJP. Punção as-
2006, 37:201-18. ne. In: Pharmaceutical Biotechnology An in- pirativa com agulha fina no diagnóstico de
Dorella, FA, Estevam, EM, Pacheco, LGC, Gu- troduction for pharmacists and pharmaceuti- Corynebacterium pseudotuberculosis na lin-
imarães, T, Lana, UG, Gomes, EA, Barsante, cal scientists, Crommelin, DJA e Sindelar, RD fadenite caseosa caprina. Arquivos do Institu-
MM, Oliveira, SC, Meyer, R, Miyoshi, A, Aze- (Eds.), Londres, Taylor & Francis Group, 2002, to Biológico (São Paulo), 2001, 68:23-28.
vedo, V. b. In vivo insertional mutagenesis in 2a. Edição, Cap 12. pp. 259-282. Sali, A, Potterton, L, Yuan, F, van Vlijmen, H,
Corynebacterium pseudotuberculosis: an effi- LeaMaster, BR, Shen, DT, Gorham, JR, Leat- Karplus, M. Evaluation of comparative protein
cient means to identify DNA sequences enco- hers, CW, Wells, HD. Efficacy of Corynebac- modeling by MODELLER. Proteins,1995,
ding exported proteins. Applied and Environ- terium pseudotuberculosis bacterin for the im- 23:318-326.
mental Microbiology, 2006, 72: 7368-7372. munologic protection of sheep against deve- Schatzmayr, HG. Novas perspectivas em vaci-
Donnelly, JJ, Ulmer, JB, Shiver, JW, Liu, MA. lopment of caseous lymphadenitis. American nas virais. História, Ciências, Saúde. Mangui-
DNA vaccines. Annual Reviews in Immuno- Journal of Veterinary Research, 1987, 48:869- nhos, 2003, vol. 10 (suplemento 2): 655-669.
logy, 1997, 15:617648. 872.
Servant, F, Bru, C, Carrère, S, Courcelle, E,
Donnelly, JJ. DNA vaccines. In: New bacterial Mahmouda, A e Levin, M. Vaccines at the Gouzy, J, Peyruc, D, Kahn, D. ProDom: auto-
vaccines, Ellis, RW e Brodeur, BR (Eds.), Te- turn of the 21st century: a new era for immu- mated clustering of homologous domains. Bri-
xas, Kluwer Academic/Plenum Publishers, nization in public health. International Jour- efings in Bioinformatics, 2002, 3:246-251.
2003, cap. 3, pp. 30-44. nal of Infectious Diseases, 2007, 11 (Supple-
ment 2), S1- S2. Silva, CL. The potential use of heat-shock pro-
Dougan, G. The molecular basis for the viru- teins to vaccinate against mycobacterial in-
lence of bacterial pathogens: implications for Manickan E, Karem KL, Rouse BT. DNA vac- fections. Microbes & Infections, 1999, 1:429-
oral vaccine development. 1993 Colworth Pri- cines - a modern gimmick or a boon to vaccino- 35.
ze Lecture. Microbiology, 1994, 140:215-24. logy? Critical Reviews in Immunology, 1997,
17:139-154. Silva, CL, Bonato, VLD, Castelo, AAMC, Li-
Dunachie, SJ e Hill, AVS. Prime-boost stra- ma, KM, Rodrigues Júnior, JM. Vacinas Gêni-
tegies for malaria vaccine development. Morgan, AJ e Parker, S. Translational Mini- cas. In: Livro Genômica, Luis Mir (Ed.), Edito-
The Journal of Experimental Biology, 2003, Review Series on Vaccines: The Edward ra Atheneu, São Paulo, 2004, Cap 23, páginas
206:3771-3779. Jenner Museum and the history of vaccina- 463- 493.
Eggleton, D. G., C. V. Doidge, H. D. Middleton, tion. Clinical and Experimental Immunology,
2007, 147: 389394. van Eden, W, Hauet-Broere, F, Berlo, S, Paul,
D. W. Minty. Immunisation against ovine case- L, van der Zee, R, de Kleer, I, Prakken, B, Ta-
ous lymphadenitis: efficacy of the monocom- Movahedi, AR e Hampson, DJ. New ways to ams, L. Stress proteins as inducers and tar-
ponent Corynebacterium pseudotuberculosis identify novel bacterial antigens for vaccine de- gets of regulatory T cells in arthritis. Internati-
toxoid vaccine and combined clostridial- velopment. Veterinary Microbiology, 2008. onal Reviews in Immunology, 2005, 24:181-
corynebacterial vaccines. Australian Veteri- doi:10.1016/j.vetmic.2008.02.011 97.
nary Journal, 1991, 68: 320-321.
Neuweger H, Baumbach J, Albaum S, Bekel T, Weiner, DB, Kennedy, RC. Genetic vaccines.
Ellis, JA, Hawk, DA, Mills, KW, Pratt, DL. Dondrup M, Hüser AT, Kalinowski J, Oehm S, Scientific American, 1999, 281:50-57.
Antigen specificity and activity of ovine antibo- Pühler A, Rahmann S, Weile J, Goesmann A.
dies induced by immunization with Coryne- CoryneCenter - an online resource for the inte- Williamson, LH. Caseous lymphadenitis in
bacterium pseudotuberculosis culture filtrate. grated analysis of corynebacterial genome small ruminants. Veterinary Clinics of North
Veterinary Immunology and Immunopatho- and transcriptome data. BMC Systems Bio- America: Food Animal Practice, 2001; 17:
logy, 1991, 28:303-316. logy, 2007, 1:55. 359-371.

31
Ciência in Foco

PARACOCCIDIOIDOMICOSE:
ENIGMA DA MICOLOGIA

Zoilo Pires de Camargo


Prof. Livre Docente
Disciplina de Biologia Celular, Universidade Federal de São Paulo, UNIFESP, São Paulo, SP, Brasil.
04023-062Rua Botucatu 862, São Paulo, SP, Brasil.

INTRODUÇÃO paracoccidioidomicose pode ser causada um processo fundamental para o fungo es-
Paracoccidioides brasiliensis, fungo por diferentes cepas do fungo. Muito pou- tabelecer infecção. A presença de receptor
termo dimórfico, causa a paracoccidioido- co é conhecido sobre os fatores de virulên- de laminina na superfície das leveduras de
micose (PCM), doença sistêmica que é li- cia em P. brasiliensis. Cepa virulenta influ- P. brasiliensis já foi demonstrada. A ade-
mitada à America Latina, com áreas de en- encia na relação parasita-hospedeiro co- rência do fungo à monocamada de células
demicidade extendida da Argentina até a mo demonstrado pelas diferenças no mo- epiteliais foi significantemente reduzida na
América Central e constitui uma das mais delo de formação de granulomas e órgãos presença de anticorpo monoclonal anti-
prevalentes micoses profundas nesta re- envolvidos na infecção experimental indu- laminina. A relevância destes dados foi de-
gião (1). Acredita-se que a doença é adqui- zida por cada cepa (6,7). A prevalência das monstrada in vivo em modelo hamster.
rida quando propágulos da fase micelial do formas clínicas e a freqüência dos órgãos Animais infectados com células leveduri-
fungo (2) são inalados pela via respiratória envolvidos pela doença variam em dife- formes de P. brasiliensis que tinham sido
(3) e a infecção atinge primeiramente o pul- rentes áreas endêmicas (4,8). É de se pen- previamente incubadas com laminina de-
mão, podendo, então, se disseminar para sar que estes achados podem estar relaci- senvolveram infecção testicular significan-
qualquer parte do corpo (4). Muitos dos in- onados com a presença de diferentes vari- temente mais extensa do que animais in-
divíduos infectados desenvolvem infecção edades de cepas de P. brasiliensis. fectados apenas com leveduras [10].
pulmonar assintomática; entretanto, al- Quando propágulos infecciosos atin- Como observado em estudos ultraes-
guns pacientes apresentam manifesta- gem o hospedeiro, as primeiras defesas truturais de lesões de mucosas de pacien-
ções originando as formas clínicas aguda, do hospedeiro visam o impedimento da tes, P. brasiliensis penetra ativamente na
subaguda (tipo juvenil) e crônica (tipo adul- transformação do propágulo em levedura superfície da mucosa e parasita as células
to)(5). e sua multiplicação. As primeiras intera- epiteliais, conseguindo evadir-se das defe-
Após penetração no hospedeiro o fun- ções ocorrem nos alvéolos pulmonares, sas do hospedeiro e alcançar tecidos mais
go se transforma em levedura e este pro- onde a capacidade invasiva do fungo de- profundos [11]. Estes dados foram confir-
cesso é visto como um passo fundamental pende de seu mecanismo adaptativo e re- mados in vitro por meio de estudos usando
para o estabelecimento da infecção e fase sistência à temperatura do corpo humano culturas de células em monocamadas
inicial da relação parasita-hospedeiro (4). e ataque de fagócitos. [12]. A ligação de P. brasiliensis às células
Embora as interações precisas entre o ho- Há outros mecanismos em que compo- epiteliais ou alveolares pode ter um papel
pedeiro e P. brasiliensis não sejam conhe- nentes do fungo podem influenciar a viru- crucial no processo.
cidas, o assunto tem atraído muito a aten- lência do P. brasiliensis. Proteinases pro-
ção dos pesquisadores. duzidas por certos fungos patogênicos O hopedeiro
são reconhecidos como importantes fato- Trabalhadores rurais da América Lati-
O fungo res de virulência. P. brasiliensis sintetiza na geralmente têm baixo nível sócio eco-
Cepas de P. brasiliensis variam em su- várias proteinases capazes de hidrolisar a nômico e apresentam alto grau de má nu-
as curvas de crescimento, características caseína, colágeno e pode ter um papel faci- trição e alcoolismo, sendo o tabagismo mu-
ultraestruturais, composição antigênica e litador na invasão do fungo nos tecidos (9). ito comum entre esta população. Estas
molecular. Estes achados indicam que a A aderência às células do hospedeiro é condições pré-existentes de risco repre-

32
sentam importantes fatores que modifi- células do lavado brônquio alveolar de pa- Isto exclui vários fatores que podem inte-
cam o progresso da doença uma vez que cientes têm níveis normais de atividade fa- ragir de maneira multifatorial, como fato-
eles interferem com a formação de granu- gocítica, embora eles diminuam sua capa- res plasmáticos, antígenos circulantes,
lomas e mecanismos de defesa do hospe- cidade de digerir leveduras e conídios de imunecomplexos, anticorpos específicos,
deiro [13]. P. brasiliensis [19,20,21,22]. células T supressoras específicas e gran-
Recentemente, o papel de alguns des- Estudos in vitro mostram que células de envolvimento de linfonodos.
ses fatores de risco na progressão da do- murinas NK limitam o crescimento de P.
ença foi avaliado em modelo experimental brasiliensis, sugerindo que eles têm um pa- O granuloma paracoccidióidico
de inoculação intraperitoneal em ratos al- pel defensivo durante a fase inicial de in- Paracoccidioidomicose é uma doença
coolizados [14]. O álcool por si só não fecção. Por outro lado, linfócitos do paci- granulomatosa que é caracterizada pela
agrava a infecção ou afeta as respostas hu- ente mostram uma capacidade diminuída formação de tubérculos epiteliais com áre-
moral e tardia, mas desenvolvem subnutri- de inibir o crescimento de P. brasiliensis in as centrais de necrose, agregados de leu-
ção que foi associado com infecção grave. vitro quando comparada com linfócitos de cócitos polimorfonucleares, um halo linfo-
controles saudáveis [23]. mononuclear e fibrose. A resposta tissular
Mecanismos iniciais da defesa Mecanismos naturais de defesa são di- do hospedeiro à presença das células fún-
do hospedeiro retamente ligados ao conceito de resistên- gicas parasíticas é a típica inflamação gra-
A PCM é muito mais freqüente em ho- cia ou suscetibilidade ao parasita. Alguns nulomatosa epitelióide com número variá-
mens, afetando mulheres principalmente fatores genéticos que influenciam o de- vel de células parasíticas e áreas de supu-
antes da menarca ou depois da menopau- senvolvimento da infecção têm sido eluci- ração. A resposta inflamatória granuloma-
sa. P. brasiliensis tem receptores para 17-- dados como a associação entre antígenos tosa com a formação de tubérculos epite-
stradiol no citoplasma e este hormônio ini- HLA (A9, B13) e doença, a caracterização lióides é tida como a mais evoluída forma
be a transformação de micélio para leve- de resistência e suscetibilidade de raças de reatividade tecidual e a mais efetiva de-
dura [15]. de camundongos com um modelo de here- fesa biológica contra microrganismos inva-
Os mecanismos de defesa primários in- ditariedade [24]. P. brasiliensis é capaz de sores [26].
teragem com o fungo na porta de entrada. ativar o sistema complemento [25] resul- Evidências diretas e indiretas parecem
Se o fungo persiste, respostas imunológi- tando em efeito opsonização que facilita a indicar que o granuloma de P. brasiliensis
cas específicas são requisitadas a destruir fagocitose por macrófagos. pode representar uma resposta tecidual
o fungo. Se os mecanismos são ineficien- imune específica do hospedeiro para o fun-
tes os fagócitos e resposta imune não atu- Mecanismos imunológicos go numa tentativa de destruir, bloquear e
am eficientemente permitindo a adapta- Quando o fungo invade os tecidos a in- circunscrever o parasita e prevenir sua
ção do fungo e sua transformação. teração de seus antígenos com o sistema multiplicação. Evidência direta de que o
O papel exercido pela fagocitose in vi- imune do hospedeiro causa uma resposta granuloma paracoccidióidico esteja relaci-
vo foi demonstrado pela inoculação intra- imunológica que exerce uma influência fun- onado com a resposta imune mediada por
testicular de P. brasiliensis em cobaios sub- damental no desenvolvimento da infec- células do hospedeiro é dada por dados de
metidos a bloqueio ou estimulação do sis- ção. Embora mesmo os dois braços do sis- infecção natural em humanos e experi-
tema retículo endotelial e pelo modelo in- tema imune humoral e celular tenham fun- mental em animais. Fava Neto [27] foi o pri-
traperitoneal de PCM murina com bloque- ções específicas e independentes, é a sua meiro a apontar esse fato pela classifica-
io prévio da ativação de macrófagos peri- interação que garante a sobrevivência do ção das formas clínicas da micose em dois
toneais [16]. Lesões extensivas necróticas hospedeiro. tipos (1) benigna, infecção localizada com
e exudativas com grande número de fun- Pacientes com PCM não apresentam resposta imune celular persistente e (2) in-
gos e um tipo mais disseminado da doen- deficiência na produção de anticorpos, fecção disseminada com inflamação supu-
ça foram observados nesse modelo [17]. mas sim uma hiperatividade da resposta rativa e afrouxamento da inflamação gra-
Em pacientes, estudos in vitro sobre imune humoral, que resulta em altos títu- nulomatosa, mostrando extensas áreas
quimiotaxia de leucócitos circulantes têm los de anticorpos e hipergamaglobuline- de necrose e grande número de células
demonstrado que respostas adequadas mia. Os anticorpos anti-P. brasiliensis po- fúngicas. Recentemente, essas duas for-
sugerem que os fagócitos são capazes de dem ter papel nas defesas do hospedeiro mas foram redefinidas como pólos hipe-
alcançar o foco da infecção. A natureza contra o fungo pelo aumento da opsoniza- rérgico e anérgico da doença, respectiva-
das substâncias quimiotáticas é desco- ção das células fúngicas parasíticas e da mente [28].
nhecida. Entretanto, um exudato neutrofí- atividade dos fagócitos. Ainda, anticorpos O mesmo padrão de correlação foi do-
lico intenso é obtido quando sobrenadante interagem com antígenos circulantes e in- cumentado em infecção experimental em
de uma mistura de cultura de macrófagos tersticiais, resultando em imunecomple- camundongos normais e atímicos nu/nu.
peritoneais e P. brasiliensis é injetada no xos que podem desregular a resposta imu- Em contraste com animais com sistema ce-
peritônio de animais. Este fator quimiotáti- ne celular específica. lular T intacto, os animais nu/nu mostra-
co solúvel aos neutrófilos foi caracterizado Assim como em outras micoses pro- ram alta mortalidade com lesões contendo
como uma proteína de baixo peso molecu- fundas, a imunidade celular constitui um poucos granulomas com numerosas célu-
lar [18]. crucial mecanismo de defesa na PCM. Há las fúngicas. Novos experimentos de-
Quando P. brasiliensis alcança os al- várias evidências que P. brasiliensis foge monstram que mesmo quando animais atí-
véolos pulmonares o fungo interage com das defesas do hospedeiro por inibição da micos conseguem organizar uma inflama-
os macrófagos induzindo a liberação de resposta imune celular. Os mecanismos ção granulomatosa, a ausência de respos-
peptídeos que atraem neotrófilos, amplifi- pelos quais o fungo induz depressão imu- tas imune celular impede a morte dos fun-
cando a resposta. Neutrófilos circulantes e ne não são completamente elucidados. gos [29]. Esses dados foram interpretados

33
com evidência de ausência da estimula- rinos de PCM tem revelado associação en- tecido invadido. Entretanto, essas situa-
ção de linfocinas pela atividade fungicida tre a presença de IFN- ? e resistência e IL- ções ideais nem sempre são possíveis e,
dos macrófagos. Tais observações são se- 4 e suscetibilidade à infecção então, diagnósticos baseados em testes
melhantes às aquelas vistas em pacientes [34,35,36,37]. Entretanto, alguns estudos sorológicos são indicados. No caso da
de PCM com AIDS ou naqueles que rece- adicionais não têm mostrado uma polari- PCM, testes sorológicos, como imunodifu-
bem terapia imunosupressiva [30]. zação nas formas progressiva e regressi- são, são tão importantes que um teste posi-
Estudos microanatômicos do granulo- va em PCM humana e experimental. tivo, mesmo em título baixo, é indicativo de
ma de P. brasiliensis por histoquímica e O significado destas regulações e inte- infecção.
imunohistoquímica têm demonstrado que rações celulares e o papel exercido pela Nas últimas décadas temos visto uma
as células T formam um manto periférico imunidade celular nas defesas do hospe- expansão crescente no campo da imuno-
ao redor de um agregado central de ma- deiro contra P. brasiliensis ao nível tecidual logia permitindo o desenvolvimento de no-
crófagos. A maioria dos linfócitos é do ti- são observados em estudos in vitro reali- vas técnicas que foram gradualmente sen-
po T helper com poucas células supresso- zados em pacientes com PCM, tais como do adotadas por pesquisadores interessa-
ras, indicando que aquelas células estão a reduzida expressão de receptores de IL- dos no diagnóstico de doenças fúngicas.
ativamente envolvidas na patogênese das 2 nas células T no sangue periférico [38] e Vários métodos vêm sendo usados como
lesões e no controle da doença [31,32]. A aumento da atividade fungicida de macró- possíveis ajudas em algumas infecções
população histiocítica tem sido usada co- fagos pulmonares induzida por linfocinas micóticas, principalmente na PCM. Mui-
mo marcador da enzima lisosima (lys) e da [39], aumento da capacidade fungicida tos desses testes utilizam anticorpos poli
proteína S-100 antígeno-específica do teci- dos neutrófilos periféricos em camundon- ou monoclonais ou antígenos que podem
do nervoso. A interação entre as células gos [40]. Em concordância com esses da- ser facilmente quantificados com alta sen-
apresentadoras de antígenos e linfócitos dos estudos sobre imunização protetora sibilidade e tem resultado em métodos
resultaria na liberação de fatores estimu- na PCM têm indicado correlação positiva com melhor sensibilidade e especificida-
lantes de células T, como a interleucina 2 entre elevada resposta imune celular e res- de.
(IL-2). Linfocinas liberadas por linfócitos trição da infecção e no número de células O emprego com sucesso dos testes so-
ativados poderiam então atrair, fixar e ati- fúngicas nos granulomas [41,42]. rológicos para diagnóstico das infecções
var macrófagos no foco inflamatório. Os Imunoestimulantes de linfócitos T (le- micóticas é muito importante devido à inci-
macrófagos ativados apresentariam au- vamisole, IFN-?) têm sido utilizados em dência e mortalidade das micoses, parti-
mentada a sua capacidade de matar o fun- modelo murino experimental de PCM dis- cularmente aquelas causadas por fungos
go, secretar citocinas e então se diferenci- seminada. Os resultados indicam restau- oportunistas que têm mostrado um incrível
aria em células epitelióides de células gi- ração e manutenção parcial da resposta aumento nos últimos anos, principalmente
gantes. Ainda, o granuloma mostra um nú- celular imune com um curso mais benigno em doenças como a AIDS, câncer e hema-
mero variável de células NK e eosinófilos, [43]. O mesmo efeito tem sido obtido com tológicas. Isto enfatiza a utilidade de téc-
cujas principais proteínas envolvem as cé- fator de transferência de animais especifi- nicas padronizadas e antígenos como ins-
lulas fúngicas e podem participar na morte camente sensibilizados ou de animais nor- trumentos diagnósticos na avaliação clíni-
dos parasitas [33]. mais [44]. ca e laboratorial de pacientes com suspei-
Finalmente, ao redor dos tubérculos há No homem, glucanas de Saccharomy- tas de infecções fúngicas. Antígenos fún-
numerosos linfócitos B e células plasmáti- ces cerevisiae têm sido testadas em con- gicos são de grande interesse não apenas
cas que são principalmente produtoras de junto com drogas antifúngicas no trata- para o estudo de suas propriedades fun-
IgG. Os anticorpos específicos anti- mento das formas graves de PCM. O uso damentais, mas também devido ao seu
P.brasiliensis produzidos localmente di- deste imuno estimulante não específico re- uso como reagentes para diagnóstico.
fundem para o granuloma e imunoprecipi- sulta em forte resposta ao tratamento com Nos últimos anos, a literatura científica
ta o antígeno, facilitando a sua eliminação rápida cura e diminuição no número de re- sobre imunologia das micoses mostra um
e prevenindo a difusão dos componentes caídas [45]. aumento dos trabalhos sobre testes soro-
fúngicos. Estes estudos pioneiros em imunoesti- lógicos e diferentes preparações antigêni-
As principais células efetoras no gra- mulação têm aberto novas vias para o tra- cas. No início dos anos 80, Restrepo [46]
nuloma paracoccidióidico são os linfócitos tamento baseado no uso da própria defesa revisou a extensa literatura sobre o sorodi-
T, dos subsets helper e citotóxico, macró- do hospedeiro. Estudos dos mecanismos agnóstico da PCM e no princípio dos anos
fagos ativados, incluindo células gigantes imunoregulatórios e as interações entre lin- 90, Mendes-Giannini et a.l. [47] escreve-
e epitelióides, leucócitos polimorfonuclea- fócitos e macrófagos na PCM são recen- ram um excelente capítulo sobre o assun-
res ativados, ambos neutrófilos e eosinófi- tes. Estas são áreas que estão sendo de- to. Entretanto, no início dos anos 70, Fava
los, células NK, linfócitos B e células plas- senvolvidas e que darão importantes con- Neto [48] e Negroni [49] também docu-
máticas. Mais recentemente, vários dados tribuições a compreensão da patogênese mentaram os problemas sobre os antíge-
in vitro e in vivo têm evidenciado o papel desta micose. nos para diagnóstico de PCM.
exercido pelas citocinas tipo Th1 e Th2 na
defesa do hospedeiro na PCM: i) Citocinas IMUNODIAGNÓSTICO Antigenos
Th1 ( ?-interferon, IL-2, IL-12) são associa- No controle de uma infecção suspeita Por muitos anos, diferentes prepara-
das com resistência do hospedeiro contra de PCM nenhum teste diagnóstico é supe- ções antigênicas têm sido utilizadas para o
a infecção; ii) Citocinas Th2 (IL-4, IL-5, IL- rior ao isolamento do agente etiológico a sorodiagnóstico da PCM. Entretanto, es-
10, TGF-ß) são associadas com a susceti- partir de espécimes clínicos ou sua inequí- tes antígenos diferem em suas padroniza-
bilidade do hospedeiro à infecção; iii) a de- voca identificação física nos espécimes clí- ções de laboratório para laboratório e in-
tecção in situ de citocinas em modelos mu- nicos e/ou em cortes histopatológicos do cluem extratos sonicados de células leve-

34
duriformes, filtrados concentrados ou liofi- do decréscimo do número de células viá- ça grave principalmente com grande com-
lizados, para citar apenas alguns. Ainda veis, quando começa a autólise com libe- prometimento pulmonar. Por outro lado, o
mais, cada antígeno é preparado com célu- ração de proteases, o que promove de- diagnóstico é facilmente fornecido pelo en-
las cultivadas em diferentes meios de culti- gradação das proteínas. Neste protocolo, contro de leveduras multibrotantes no es-
vo e sob diferentes condições, tais como o o principal componente do exoantígeno é carro onde o P. brasiliensis é abundante e
tempo de incubação, temperatura, tama- a gp43, o antígeno imunodominante . facilmente encontrado pelo exame direto
nho do inóculo inicial, cultura estacionária Com o passar dos anos a metodologia ini- com KOH a 30%. É nossa opinião que
ou sob agitação. É possível que diferentes cial foi modificada de modo a simplificar o nessas situações e no momento do diag-
preparações de antígenos possam variar processo de produção do Ag7 para ser nóstico o sistema imune do paciente está
consideravelmente em atividade e quali- acessível a todos os laboratórios, mesmo deprimido e não há suficiente quantidade
dade como resultado da falta adequada de aqueles com poucos recursos. Atualmen- de anticorpos específicos para precipitar.
padronização de lote para lote. Por outro te, preparamos o Ag7, semeando o total do O teste intradérmico com paracoccidioidi-
lado, diferentes cepas de P. brasiliensis po- crescimento de 5 a 10 tubos de cultura do na também é negativo. Então, o paciente
dem produzir diferentes quantidades e fungo em sua fase leveduriforme em 500 recebe o tratamento inicial e depois de um
qualidade de antígenos, uma resposta que ml de meio e cultivando-o durante 7 dias, período de 1 a 2 meses a imunidade é res-
também é influenciada pelo meio de cres- sob agitação constante, a 35ºC. O fungo é taurada e o teste de ID torna-se positivo.
cimento. Com esta variedade de proble- morto com mertiolate, a cultura é filtrada Outros testes para a sorologia da PCM
mas, não é surpresa que haja considerá- em papel de filtro e o filtrado obtido é con- são empregados dependendo da disponi-
vel discordância quanto à sensibilidade centrado 20 a 30 vezes, dializado e a con- bilidade e exeqüibilidade de cada labora-
dos testes para imunodiagnóstico da PCM centração protéica estimada. Neste mo- tório. Entre eles podemos citar a contrai-
[50, 51,52,53,54,55,56]. mento o Ag7 é testado contra uma bateria munoeletroforese (47, 66), testes imuno-
A mais importante contribuição na soro- de soros previamente confirmados de enzimáticos tipo ELISA e variações e im-
logia da PCM foi a identificação da glico- PCM. Se todos os soros selecionados munoblotting (67, 68, 69, 70, 71, 72, 73,
proteína de 43 kDa (gp43), inicialmente de- mostram reação positiva, este antígeno é 74, 75) .
signada como um antígeno diagnóstico es- alicotado e conservado a 20ºC até uso.
pecífico [57]. Esta glicoproteína é idênti- Entretanto, se algum soro controle não rea- Seguimento sorológico do paciente
ca ao antígeno E2 descrito primeiramente ge, o antígeno é novamente concentrado e Não há consenso ente os médicos so-
por Yarzábal et al. [58] e é na verdade a mo- testado novamente. Em geral, o teor pro- bre o seguimento sorológico dos pacien-
lécula responsável pela imunoprecipita- téico é de 300 a 500 µg/ml (pelo método tes de PCM em tratamento com antimicóti-
ção específica no teste de ID (banda 1) de Bradford) [62]. Em nossa experiência, cos. Cada grupo adota seu próprio proce-
descrito por Restrepo e Moncada [59] e o gp43 é abundantemente secretada após dimento de acordo com sua experiência,
arco E obtido em testes de imunoeletrofo- sete dias de cultivo em diferentes meios. de modo que diferentes protocolos são
rese, descrito por Restrepo e Drouhet em Em quase todas as preparações, quando adotados. Mendes-Giannini et al. [47] mos-
1970 [54]. A gp43 é o principal exoantíge- o exoantígeno é analisado por meio de traram por Western blotting uma queda sig-
no do P. brasiliensis e sua síntese ao nível SDS-PAGE a gp43 representa de 80-90% nificante de anticorpos (IgG) anti-gp43 du-
de ribossomos é feito por transporte ativo da preparação. rante o tratamento bem sucedido, enquan-
à membrana celular, onde é excretado por to que um aumento ocorria nos momentos
simples exocitose ou por lomasomos [60]. Immunodifusão de recaídas. Camargo et al. [72] também
A especificidade dos testes sorológi- Durante os últimos anos o teste de imu- utilizando Western blotting demonstrou
cos depende, sobretudo do antígeno usa- nodifusão (ID) tem sido o teste de escolha que anticorpos anti-gp43 e gp70 diminu-
do. Antígenos brutos de P. brasiliensis têm para o diagnóstico inicial de pacientes sus- íam significativamente em pacientes em
componentes que são comuns com outros peitos de PCM. O teste apresenta alta es- tratamento e ambas moléculas podem ser
fungos e desta maneira, soros de pacien- pecificidade e sensibilidade podendo vari- consideradas marcadoras para a PCM hu-
tes com outras infecções micóticas podem ar de 65 a 100% dependendo do tipo de an- mana.
reagir cruzadamente com ele. Por esta ra- tígeno utilizado [47, 63]. Recentemente, o Mendes-Giannini et al [69] demonstra-
zão, nos últimos anos esforços vem sendo antígeno Ag7 foi testado por um grupo in- ram que a queda de anticorpos IgG, IgA e
feitos para a obtenção de boas prepara- ternacional de pesquisadores com o obje- IgM anti-gp43, por ELISA, correlaciona-se
ções antigênicas que possam ser utiliza- tivo de fornecer a laboratórios regionais, positivamente com a melhora clínica. Nu-
das com especificidade e alta sensibilida- nas áreas endêmicas, um teste simples, ma série de estudos, Campos et al. [76,
de. Camargo et al [61] padronizaram o pro- sensível e específico para diagnóstico rápi- 77, 78] demonstraram que é difícil correla-
cesso para produzir preparação antigêni- do e barato da PCM [64]. Os resultados cionar os testes de fixação do complemen-
ca útil para o sorodiagnóstico da PCM. O mostraram que o teste de ID apresentou to (FC) e imunofluorescência indireta (IFI)
exoantígeno obtido depois de 7 dias de 84,3% de sensibilidade e 98,9% de espe- com a remissão clínica em avaliação a lon-
crescimento celular mostrou ser ideal para cificidade, concluindo que naquelas condi- go tempo de pacientes com PCM. Campos
teste de imunodifusão e foi denominado ções o Ag7 pode ser visto como um impor- et al. [79] analisaram e comparam os tes-
de Ag7. Esta preparação antigênica foi tante instrumento diagnóstico na PCM. tes de FC, contraimunoeletroforese (CIE) ,
obtida com a amostra B-339, conhecida Entretanto, em nosso laboratório, resulta- ID e Magnetic ELISA (MELISA) no segui-
desde os anos 60 por produzir antígenos dos falso negativo ocorrem em 2 a 3 %, mento sorológico de pacientes com PCM.
estáveis. A escolha de culturas de 7 dias sendo que estas observações também fo- Correlação positiva foi observada entre
foi devido ao fato de que o crescimento es- ram relatadas por outros pesquisadores CF e CIE com manutenção ou recaída da
tá na metade da fase exponencial, antes [65]. Nestes casos, os pacientes têm doen- PCM. MELISA e ID foram capazes de di-

35
ferenciar remissão de manutenção ou re- principalmente com histoplasmose e doen- concentração da gp43 no soro.
caída nestes pacientes. Este fato não foi ça de Jorge Lobo. Testes baseados em ID A detecção de gp43 em baixas concen-
observado com FC e CIE. Soros anticom- são geralmente considerados altamente trações em alguns soros humanos norma-
plementares em testes de FC foram identi- específicos para diagnóstico, mas são pou- is pode representar infecção subclínica na
ficados por ID e MELISA. Então, neste es- cos sensíveis, entre 65 e 100 % depen- população de áreas endêmicas. Infecção
tudo, ID e MELISA representam vantagem dendo do tipo de antígeno empregado nos subclínica é definida como uma infecção
alternativa ao teste de FC no diagnóstico e testes [90]. Por outro lado, testes com sen- assintomática causada pelo P. brasiliensis
durante o seguimento dos pacientes com sibilidade maior, como os imunoenzimáti- em indivíduos normais que vivem em áre-
PCM. Mendes [80] reestudaram os testes cos, apresentam problemas associados as endêmicas e têm prova positiva em tes-
sorológicos de ID, CIE, FC e IFI antes e du- com especificidade devido à reatividade te intradérmico com paracoccidioidina
rante o seguimento de pacientes. A com- cruzada com soros de pacientes com ou- [91]. Teste positivo de intradermorreação
paração os testes sorológicos de acordo tras micoses. com paracoccidioidina na população sau-
com a seqüência de diluições e conside- Uma metodologia mais racional para o dável varia de 3,70 a 62,60%, dependendo
rando as diferenças significantes de mais diagnóstico de PCM pode ser a detecção da preparação antigênica utilizada [92].
de uma diluição, revelaram que a concor- de antígenos em soros e outros fluídos de Em estudos prévios, usando gp43 purifica-
dância entre os testes variava de 54 a pacientes suspeitos. A gp43 é o principal da como antígeno para intradermorreação
80,3%. O tempo necessário para atingir re- antígeno diagnóstico de PCM e foi pesqui- ou o antígeno polissacarídico de Fava Net-
sultados negativos foi de 15 a 19 meses, sada no passado por meio de diferentes to verificamos positividade de 5% com am-
por dados de IFI. Os autores enfatizam testes, que variavam em sensibilidade e bas preparações [93].
que o tratamento precisa ser mantido por especificidade. A maioria dessas tentati- Outro antígeno especial pesquisado
um ano após a negativação da sorologia. vas utilizou pequeno número de pacientes em fluídos biológicos de pacientes com
Alves [81] analisaram e compararam 3 mé- e, portanto, nenhuma ficou consolidada. PCM é a molécula de 70kDa. Neste senti-
todos diferentes para o seguimento dos pa- Mendes-Giannini et al. [88] detectou o do, em estudos recentes verificamos que a
cientes de PCM, ID, ELISA, e ELISA de antígeno gp43 em “pools' de soros de paci- detecção da gp70 em 81 amostras de so-
captura (IgG). Os soros foram coletados entes com PCM por meio da técnica de ros de pacientes com PCM apresentou
antes do tratamento, aos 6, 12 e 18 meses Western blot, mas nenhuma quantificação sensibilidade de 98,8%, com concentra-
de terapia. O estudo concluiu que os títu- foi determinada. Freitas da Silva e Roque- ção média de 8,19 µg/ml, alcançando
los obtidos por ID e ELISA de captura apre- Barreira [82] utilizando o teste de ELISA de 100% nos pacientes com a forma aguda
sentaram uma queda significante depois competição detectou antígenos circulan- (concentração média = 11,86 µg/ml ).
de 6 meses nos pacientes com boa evolu- tes em 33,7% de 88 soros de pacientes de Entre os pacientes com a forma crônica
ção clínica, enquanto que no ELISA os títu- PCM, cujos níveis variaram de 0,03 a 3,4 multifocal a sensibilidade foi de 98,43%
los caiam apenas após 12 meses de trata- µg/ml. Entretanto, reações cruzadas fo- (média = 7,87 µg/ml) e nos pacientes com
mento. Entretanto, nenhum teste foi ca- ram obtidas com soros de pacientes com a forma unifocal foi de 100%, com média
paz de detectar recaída nesses pacientes. aspergilose, cripotococose e histoplasmo- de 4,83 µg/ml. Nenhuma reação cruzada
O autor concluiu que o teste de ID era a me- se. O estudo mais refinado sobre antige- foi observada com soros de pacientes com
lhor opção entre os 3 testes estudados pa- nemia na PCM foi desenvolvido por Go- outras micoses.
ra o seguimento sorológico de pacientes méz et al. [89] usando anticorpos mono-
com PCM. clonais anti-molécula de 87 kDa, por meio Detecção de antígeno no líquor
do teste de inibição de ELISA com resulta- O envolvimento do sistema nervoso
Detecção de antígenos dos promissores. central na PCM (neuroPCM) é secundário
No passado alguns investigadores ten- Recentemente, nosso laboratório pa- à disseminação hematogênica do fungo.
taram detectar antígenos circulantes em dronizou o teste de inibição de ELISA para NeuroPCM normalmente ocorre como ma-
pacientes com PCM usando diferentes mo- detecção de gp43 no soro de pacientes nifestação de doença amplamente disse-
dalidades de ensaios sorológicos. Entre com PCM conseguindo sua detecção em minada, mas ocasionalmente o sistema
eles, o ELISA de competição (82), testes concentrações que variaram de 0.0053 a nervo central pode ser o único local da in-
radioimunológicos (83), CIE (84), imunoe- 30 µg/ml. A sensibilidade do teste foi de fecção. Nem sempre o sistema nervoso
letroforese-imunodifusão (85), inibição de 95,1% e como maior sensibilidade em paci- central é envolvido, entretanto, métodos
hemaglutinação (86), imunoeletroforese li- entes da forma aguda da PCM (100%) neuro-radiológicos como tomografia com-
near invertida (87) e immunoblotting (88). com concentração média de gp43 em putadorizada e imagens por ressonância
Goméz et al. (89) foram os primeiros a 18,23 µg/ml. Entre os pacientes com a for- magnética são necessários para identifi-
usar anticorpos monoclonais para detec- ma crônica, gp43 foi detectada em car lesões que se expandiram para o cére-
tar antígeno circulante de 87 kDa em soros 95,71%, com concentração média de 8,55 bro. Neuro-PCM é normalmente repre-
de pacientes de PCM por meio do teste de µg/ml. sentado por lesões múltiplas ou únicas
inibição de ELISA (inb-ELISA). Nossos resultados mostraram que o que leva à deficiências motoras ou senso-
teste para detecção de gp43 pode ser utili- riais, paralisia, mudanças mentais e hiper-
Detecção de antígenos em soro zado em ambas formas clínicas da doen- tensão intracranial [48,49]. Entretanto,
(gp43 e gp70). ça. O teste fornece uma maneira rápida, o diagnóstico definitivo de neuroPCM só
Um dos principais problemas no soro- sensível e específica de diagnóstico de pode ser definido depois da visualização
diagnóstico da PCM baseado na detecção PCM e ainda pode ser usado no segui- do fungo em material de biópsia, isola-
de anticorpos é a reatividade cruzada com mento sorológico dos pacientes sob medi- mento do fungo ou por métodos sorológi-
soros de pacientes com outras micoses, cação antifúngica pelo monitoramento da cos. Considerando a morbidade associa-

36
da com os procedimentos neurológicos, teste apresentou baixa sensibilidade. Mar- volve o sistema retículo endotelial (SRE)
os médicos não estão propensos a indicar ques da Silva [53] empregando teste de ini- assim como os pulmões. A definição de cu-
aspiração ou biópsias de lesões cerebrais. bição de ELISA relata a detecção de gp43 ra ou boa resposta clínica é algumas ve-
Entretanto, testes sorológicos sensíveis e (média = 8.65 µg/ml) and gp70 (média = zes difícil estabelecer considerando a bai-
específicos que determinam a presença 8.96 µg/ml) em urina de pacientes com xa sensibilidade de culturas, seqüelas e li-
de P. brasiliensis no líquor são indispensá- PCM com 87.5% sensibilidade e 100% es- mitações relacionadas à avaliação do sta-
veis. Marques-da-Silva et al. [94] detecta- pecificidade a ambas as moléculas. Ne- tus do SRE. Como conseqüência há con-
ram gp43 e gp70 circulantes em líquor de nhuma reação cruzada foi observada senso de que métodos outros que não en-
pacientes com neuroPCM, com concen- quando urina de pacientes com outras mi- volvem cultura são excelentes instrumen-
tração média de 19,3 g/ml e 6,8g/ml, res- coses foram testadas (histoplasmose, can- tos para melhor avaliar a resposta à tera-
pectivamente. Estes resultados sugerem didíase e criptococose). Apesar da alta pia. Neste estudo, avaliamos os níveis de
que o monitoramento de antígenos espe- sensibilidade esses antígenos não pude- antígenos em 23 pacientes que foram tra-
cíficos de P. brasiliensis pode ser útil para ram ser detectados em 12,5% das amos- tados com sucesso com ITZ. A definição
definir o diagnóstico de neuroPCM. Por ou- tras de urinas testadas. de uma boa resposta ao tratamento foi ba-
tro lado, a detecção de anticorpos no lí- seada na resolução de todos os sintomas
quor mostrou-se negativo por meio do tes- Antigenemia durante terapia e sinais relacionados à infecção, assim co-
te de imunodifusão, mas foi positivo, embo- antifúngica mo na melhora dos achados radiológicos.
ra em títulos baixos, quando testado por Não há consenso sobre o tempo ideal É importante salientar que durante o perío-
ELISA. Estes dados, mesmo sendo origi- para o tratamento antifúngico para pacien- do de 12 meses de tratamento e segui-
nado de um número pequeno de pacientes tes com PCM, mas várias publicações con- mento sorológico, nenhum paciente teve
(n=14) leva-nos a admitir que a detecção cordam que a detecção de anticorpos cir- evidências de recaída ou de sinais radioló-
de antígenos por inibição de ELISA ou a de- culantes é um importante parâmetro para gicos Embora não fossemos capazes de
tecção de anticorpos por ELISA convenci- definir o tempo de parar com o tratamento avaliar o comportamento dos títulos de an-
onal pode ser igualmente sensível para di- antifúngico. Entretanto, pacientes com tígenos durante período de recaída da in-
agnóstico de neuroPCM. Desde que os va- PCM têm uma forte resposta contra gp43 fecção, melhora clínica de todos pacientes
lores para a gp43 foram sempre superio- que pode persistir por muito tempo. Em foi seguida pela queda de níveis de antíge-
res do que os encontrados para a gp70, contraste, alguns pacientes, dependendo nos a <5 µg/ml. Estes achados fortemen-
teste detectando apenas gp43 é suficiente do seu status imunológico são sorologica- te sugerem que antigenemia por gp43 po-
para propósito diagnóstico. mente negativos no momento do diagnós- de ser um útil instrumento para monitorar a
tico e outros mostram baixos níveis de anti- resposta terapêutica ao tratamento anti-
Detecção de antígeno em corpos específicos por longo período de fúngico. Resultados muito semelhantes fo-
lavado bronco-alveolar tempo. Conseqüentemente, algumas vê- ram obtidos quando a gp70 foi pesquisa
Também, o teste de inibição de ELISA zes é difícil determinar se estes pacientes nesses mesmos pacientes [99].
foi aplicado para detectar gp43 e gp70 em estão realmente curados [97].
lavado bronco alveolar (LBA) [95]. Neste Um dos principais alvos em PCM é es- Conclusões
sentido, pacientes com PCM forneceram tabelecer quando o médico deve para a te- A PCM pesquisada por muitos cientis-
amostras de LBA e gp43 e gp70 foram de- rapêutica antimicótica porque não há con- tas e com alguns aspectos elucidados, ain-
tectadas em todas as amostras com con- senso acerca de opções de tratamento ou da continua sendo um enigma em seus
centração média de 9,38 µg/ml and 4,37 mesmo quando o paciente está realmente mecanismos de patogenicidade o que nos
µg/ml, respectivamente. Amostras de LBA curado. Embora a cura de lesões aparen- leva a continuar estudando seu agente eti-
de pacientes com outras micoses não tes possa ocorrer dentro de um período ológico, que mesmo fazendo 100 anos
PCM forneceram resultados negativos. curto de tempo depois de iniciado o trata- em 2008, o “velho P. brasiliensis” continua
Estes resultados sugerem que o monitora- mento, terapias longas são desejadas a charmoso e atraindo muitos jovens para
mento de antígenos específicos de P. bra- fim de se evitar recidivas. Nestes casos, a as bancadas.
siliensis em amostras de LBA pode ser útil resposta do hospedeiro precisa ser moni- A padronização de modelos experi-
no diagnóstico de PCM pulmonar especi- torada por métodos indiretos e, neste cená- mentais, utilizando camundongos resis-
almente quando a infecção está em seu es- rio, sorologia provê informações sobre tentes ou suscetíveis geneticamente con-
tágio inicial. Anticorpos não foram detec- prognóstico. trolados tem clarificado muitos aspectos
tados em amostras de LBA quando testa- Devido a limitações dos testes de de- da relação hospedeiro-parasita nas mico-
das por imunodifusão. tecção de anticorpos, alguns pesquisado- ses. A identificação do gene da gp43 e a
res têm avaliado a performance dos testes subseqüente síntese da molécula tem en-
Detecção de antígenos na urina de detecção de antígenos circulantes de P. corajado experimentos sobre vacinas em
Até o momento, poucos relatos sobre a brasiliensis no diagnóstico de PCM. modelos experimentais e os resultados ini-
detecção de P. brasiliensis em urina foram Alguns destes testes foram usados para ciais são promissores. A melhor compre-
descritos. Gp43 foi detectada em urina de detectar gp43 tiveram sucesso parcial. ensão da biologia molecular de parasitas
pacientes com PCM e esta molécula foi de- Recentemente estudamos o compor- tem aberto novos horizontes para o uso de
tectada precocemente na urina de um paci- tamento da antigenemia por gp43 durante ferramentas modernas na identificação de
ente com a forma aguda da doença [96]. o tratamento de pacientes de PCM com fungos em amostras fúngicas, como a hi-
Goméz et al. [89] empregando o teste de Itraconazol (ITZ) até a cura aparente ao bridização “in situ” em biópsias, assim co-
inibição de ELISA relataram a presença de fim da terapia, depois de 8 a 12 meses mo análise molecular de isolados fúngicos
um antígeno de 87 kDa em urina, mas o [98]. PCM é uma infecção crônica que en- do homem ou de solo. Finalmente, a imu-

37
nopatogênese da inflamação granuloma- 7. Franco M, Peraçoli MT, Soares A, Montenegro MR, 25. Munk ME, Kajdacsy-Balla A, Del Negro G, Cuce LC,
Mendes RP, Meira, DA. Host-parasite relationship in para- Silva WD. Activation of human complement system in pa-
tosa fúngica tem sido profundamente in- coccidioidomycosis. Curr Top Med Mycol 1993; 5:115 racoccidioidomycosis. J Med Vet Mycol 1992;30:317
vestigada usando anticorpos monoclonais 149. 321.
para a identificação dos componentes celu- 8. Londero A T. Epidemiologia. In Paracoccidioidomyco- 26. Brito T, Franco MF. Viewpoint. Granulomatous inflam-
lares envolvidos na inflamação e as citoci- sis, Del Negro G, Lacaz CS, Fiorillo AM, eds. Sarvier- mation. Rev Inst Med trop São Paulo 1994; 36: 185-192.
EDUSP, São Paulo, 1982, cap. 7
nas localmente secretadas, assim como o 27. Fava Netto C. Contribuição ao estudo imunológico da
9. Mendes-Giannini MJS, Moraes RA, Ricci TA. Proteoly- blastomicose de Lutz. Rev Inst Adolpho Lutz 1961; 21:99
uso de animais experimentalmente deple- tic activity of 43,000 molecular weight antigen secreted by - 114.
tados de células e receptores para os medi- Paracoccidioides brasiliensis. Rev Inst Med Trop São Pa- 28. Lacaz CS. Aspectos clínicos gerais. Formas polares
adores. O diagnóstico baseado na detec- ulo 1990; 32: 384- 385. de paracoccidiodiomicose. In Paracoccidioidomicose.
ção de anticorpos é útil para diagnóstico 10. Vicentini AP, Gesztesi J-L, Franco MF, Souza W, Mora- Del Negro G, Lacaz CS, Fialho AM Eds. Sarvier-EDUSP,
de micoses sistêmicas, principalmente es JZ, Travassos LR, Lopes JD. Biding of Paracoccidioi- São Paulo, 1982, chap.13.
des brasiliensis to laminin through surface glycoprotein 29. Miyaji M, Nishimura K. Granuloma formation and kil-
PCM e sua sensibilidade e especificidade gp43 leads to enhancement of fungal pathogenesis. ling functions of granuloma in congenitally athymic nyude
dependem do antígeno e do teste utiliza- Infect Immunol 1994; 1465-1469. mice infected with Blastomyces dermatitidis and Paracoc-
do. Infelizmente, há testes de detecção de 11. Brito T, Carvalho RPS, Castro RM, Furtado JS. Patho- cidioides brasiliensis. Mycopathologia 1983; 82: 129 141.
anticorpos que utilizam antígenos brutos genesis of experimental paracoccidioidomycosis. PAHO 30. Londero AT, Santos W, Silva LA, Romero CD. Para-
Scient Publ 1972; 254:257 260. coccidioidomicose associada a droga imunosupressora
que apresentam baixa especificidade e
12. Mendes-Giannini MJS, Ricci LC, Vemura A, Toscano em paciente com lupus eritematoso sistêmico. J Pneumol
sensibilidade. Conseqüentemente ocorre E, Arns CW. Infection and apparent invasion of Vero cells 1987;13: 224 227.
reatividade cruzada na sorologia das doen- by Paracoccidioides brasiliensis. J Med Vet Mycol 31. Franco MF, Moscardi-Bacchi M, Bacchi CE, Defaveri
ças micóticas. Isto limita o valor dos testes 1994;189-197. J, Peraçoli MS, Biagioni L. Pathogenesis of Paracoccidio-
de detecção de anticorpos baseados em 13. Martinez R, Moya MJ. Associação entre paracoccidio- ides brasiliensis granuloma, in Proc Cong Int Soc Med Vet
idomicose e alcoolismo. Rev Saúde Publ São Paulo Mycol, Barcelona, 1988, 138.
misturas de antígenos brutos. Atualmen- 1992; 26:12 16. 32. Moscardi-Bacchi M, Soares A, Mendes R, Marques S,
te, as principais moléculas de P. brasilien- 14. Goldani LZ, Vanucchi H, Zucoloto S, Martinez R. Expe- Franco M. In situ localization of T lymphocytes subsets in
sis podem ser purificadas e testadas para rimental paracoccidioidomycosis in alcoholic rats. Braz J human paracoccidioidomycosis. J Med Vet Mycol
o imunodiagnóstico, por exemplo, os antí- Med Biol 1991;24:902 907. 1989;27: 149 158.
genos de 43 kDa e 70 kDa de P. brasilien- 15. Restrepo A, Salazar ME, Cano LE, Stover P, Feldman 33. Wagner JM, Franco M, Kephart GM, Gleich GJ. Loca-
D, Stevens DA. Estrogens inhibit mycelium to yeast trans- lization of eosinophil granule major basic protein in para-
sis, que estão sendo usados e testados formation in the fungus Paracoccidioides brasiliensis. coccidioidomycosis lesions. Am J Trop Med Hyg 1998;
em suas formas nativas ou quimicamente Infect Immunol 1984; 46:346 - 353. 59: 66-72.
tratados, com resultados muito promisso- 16. Kashino SS. Efeito do Bloqueio do Sistema Mononu- 34. Calich VLG, Kashino SS. Cytokines produced by sus-
res. Por outro lado, moléculas recombi- clear Fagocítico na Paracoccidioidomicose Experimental ceptible and resistant mice in the course of Paracoccidioi-
em Camundongos Resistentes e Susceptíveis ao Fungo, des brasiliensis infection. Braz J Med Biol Res 1998;31:
nantes também estão sendo ensaiadas Thesis, University of São Paulo,Institute of Biociences, 615-623.
em vários testes sorológicos. O diagnós- São Paulo, 1989 35. Cano LE, Kashino SS, Arruda C, André D, Xidieh CG,
tico de PCM por meio da detecção de antí- 17. Periassu D. O sistema retículo-endotelial na blastomi- Singer-Vermes LM, Burger E, Calich VLG. Protective role
genos circulantes é método relativamente cose sul americana experimental da cobaia. Sua impor- of gamma interferon in ecperimental pulmonary paracoc-
tância no tratamento sulfanilamídico. J Bras Med 1962; cidioidomycosis. Infect Immunol 1998; 66: 800-806.
recente e os ensaios por meio de inibição 6:503 505. 36. Silva CL, Silva MF, Faccioli LH, Pietro CL, Cortez AE,
de ELISA tem-se mostrado excelente para 18. Calich VLG, Vaz CAC, Burger E. PMN chemotatic fac- Foss NT. Differential correlation between interleukin pat-
esse propósito. Assim moléculas de 43 e tor produced by glass-adherent cells in acute inflammati- terns in disseminated and chronic hyuman paracoccidioi-
70 kDa podem ser detectadas em soro, lí- on caused by Paracoccidioides brasiliensis. Brit J Exp domycosis. Clin Exp Immunol 1995; 101; 314-320.
quor, lavado brônquio alveolar e em urina Path 1985;66:57 - 65. 37. Defaveri J, Zapparoli D, Campos BGA, Stefanini MC,
de pacientes com PCM e prover diagnósti- 19. Cano LE, Arango R, Salazar ME, Brummer E, Ste- Pinto FG. Cinética inflamatória na hipersensibilidade pul-
vens DA, Restrepo A. killing of Paracoccidioides brasilien- monar induzida em camundongos pelo Paracoccidioides
co específico. sis by pulmonary macrophages and the effect of cytoki- brasiliensis. VI Encuentro Internacional sobre Paracocci-
nes. J Med Vet Mycol 1992;30: 161 - 168. dioidomicosis. II Simposio Iberoamericano sobre relacion
REFERENCES 20. Goihman-Yahr, Rothenberg A , Avila-Millán e, Ros- Hongo-hopedeiro. Montevideo, Uruguai. 1996.
1. Restrepo A. The ecology of Paracoccidioides brasili- quete R, Albornoz MC, Kanski A, Pereira K, Gómez MA, 38. Rezkallah-Iwasso MT, Peraçoli MTS, Mendes RP, Gu-
ensis: a puzzle still unsolved. J Med Vet Mycol 1985 Román A, San Martin B. Las celulas fagocitárias. Su fun- artale AA, Marques SA, Soares AMVC. Pesquisa da ex-
;23:323-334. cionamiento en las enfermedades granulomatosas por pressão de receptores para interleucina-2 em linfócitos
agentes vivos. El modelo de la paracoccidioidomicosis. de pacientes com paracoccidioidomicose. In Proc Bras
2. McEwen JG, Bedoya V, Patiño MM, Salazar ME, Res- Ciencia Tec Venez 1985;2: 193- 198. Cong Imunol. Caxambu, Brazil, 1988, 559.
trepo A. Experimental murine paracoccidioidomycosis
induced by inhalation of conidia. J Med Vet Mycol 21. Cano LE, Arango R, Salazar ME, Brummer E, Ste- 39. Brummer E, Hanson LH, Restrepo A, Stevens DA. In
1987;25:165-175. vens DA, Restrepo A. Killing of Paracoccidioides brasili- vivo and in vitro activation of pulmonary macrophages by
ensis conidia by pulmonary macrophages and the effect IFN-gamma for enhanced killing of Paracoccidioides bra-
3. Bustamante B, McEwen JG, Tabares AM, Arango M, of cytokines. J Med Vet Mycol 1992; 30: 161- 168. siliensis or Blastomyces dermatitidis. J Immunol
Restrepo A. Characteristics of the conidia produced by 1988;140:2786 2789.
the mycelial form of Paracoccidioides brasiliensis. Sa- 22. Brummer E, hanson LH, Stevens DA. Gamma-
bouraudia 1985;23:407-414. interferon activation of macrophages for killing of Para- 40. McEwen JG, Brummer E, Stevens DA, Restrepo A.
coccidioides brasiliensis: evidence for nonoxidative me- Effect of murine polymorphonuclear leucocytes on the ye-
4. Franco M. Host-parasite relationship in paracoccidi- chanisms. Intern J immunopharmacol 1988;10: 945 - ast form of Paracoccidioides brasiliensiis. Am J Trop Med
oidomycosis. J Clin Microbiol. 1987;25:5-18. 952. hyg 1987; 36: 603 608.
5. Montenegro MRG. Formas clínicas da paracoccidio- 23. Peraçoli MTS, Soares AMVC, Mendes RP, Marques 41. Moscardi-Bacchi M, Franco M. Experimental para-
idomicose. Rev Inst Med Trop São Paulo. SA, Pereira PCM, Rezkallah-Iwasso MT. Stuidies of natu- coccidioidomycosis in the mouse. III. Histopathological
1986;28:203-204. ra killer cells in patients wit paracoccidioidomycosis. J and immunological findings after intravenous infection in
6. Zaccharias D, Ueda A, Moscardi-Bacchi, M, Franco Med Vet Mycol 1991;29:373 - 380. the presence or absence of previous immunization. Rev
M, San-Blas G. A comparative histopathological, immu- 24. Calich VLG, Singer-Vermes LM, Russo M, Vaz CAC, Soc Bras Med Trop 1985;18:101 108.
nological and biochemical study of experimental intra- Burger E. Immunogenetic in Paracoccidioidomycosis. In 42. Kamegasawa A, Viero RM, Rezkallah-Iwasso MT,
venous paracoccidioidomycosis induced in mice by Paracoccidioidomycosis, Franco M, Lacaz CS, Restrepo- Franco MF. Protective effect of prior immunization on ocu-
three Paracoccidioides brasiliensis isolates. J Med Vet Moreno A, Del Negro G eds. 1994 CRC Press, Boca Ra- lar paraccoccidioidomycosis in guinea pigs. Mycopatholo-
Mycol; 1986; 24:445 - 454. ton Fla USA. gia 1988;103: 35 42.

38
43. Rezkalah-Iwasso MT, Mota NGS, Gomes ME, Monte- 63. Cano LE, Restrepo A. Predictive value of serologic cose. Tese de mestrado. Universidade Federal de São Pa-
negro MR. The effect of levamisole on experimental para- tests in the diagnosis and follow up of patients with para- ulo (UNIFESP); 1996.
coccidioidomycosiis in the hamster; immunological and coccidioidomycosis. Rev Inst Med Trop São Paulo 82. Freitas-da-Silva G, Roque-Barreira MC. Antigenemia
histopathological correlation. Mycopathologia 1987;29:276-283. in paracoccidioidomycosis. J Clin Microbiol 1992;
1984;84:171- 180. 64. Restrepo A. Report of activities of the committee on pa- 30:381385.
44. Peraçoli MTS, Montenegro MR, Soares AMVC, Mota racoccidioidomycosis serodiagnosis, ISHAM Myc News- 83. Ferreira-da-Cruz MF, Galvão-Castro B, Daniel-Ribeiro
NGS. Transfer of cell-mediated immunity to Paracoccidio- letter 1992;59:4. CT. Sensitive immunoradiometric assay for the detection
ides brasiliensis in hamsters with dialysable leukocyte ex- 65. Del Negro GMB, Benard G, Assis GM,Vidal MSM, of Paracoccidioides brasiliensis antigens in human sera. J
tracts. J Med Vet Mycol 1990;28: 35 46. Garcia NM, Otani C; Shikanai-Yasuda MA, Lacaz CS. Clin Microbiol 1991; 29:12021205.
45. Meira DA, Pereira PCM, Machado JM, Mendes RP, Lack of reactivity of paracoccidioidomycosis sera in the 84. Rodrigues M C, Cassaguerra CM, Lacaz CS. Antige-
Barravieira B, Pellegrino J.Jr., Rezkallah-Iwasso MT, Pera- double immunodiffusion test with the gp43 antigen: report nemia in paracoccidioidomycosis. Probable demonstrati-
çoli MTS, Castilho LM, Thomazini I, Silva CL, Foss, NT, of two cases. J Med Vet Mycol 1995; 33: 113-116. on of circulating antigen by counterimmunoelectrophore-
Curi, PR. The use of glucan as immunostimulant in the tre- 66. Del Negro GMB, Garcia NM, Rodrigues EG, Cano sis test. Rev Inst Med Trop São Paulo 1984; 26:285-287.
atment of paracoccidioidomycosis. Am J Trop Med Hyg MIN, Aguiar MSMV, Lirio V, Lacaz CS. The sensitivity, spe-
1996; 55: 496-503. 85. Garcia N M, Del Negro GB, Martins HP, Lacaz CS.
cificity and efficiency values of some serological tests Detection of Paracoccidioides brasiliensis circulating anti-
46. Restrepo A. Procedimientos serologicos en la para- used in the diagnosis of paracoccidioidomycosis. Rev Inst gens by immunoelectrophoresis- immunodiffusion techni-
coccidioidomycosis. Adel Microbiol Enf Infecc Med Trop São Paulo 1991;33:277-280. que. Preliminary report. Rev. Med. Trop. São Paulo 1987;
1984;3:182-211. 67. Mendes-Giannini MJS, Camargo ME, Lacaz CS, Fer- 29:327328.
47. Mendes-Giannini MJS, Del Negro GM, Siqueira AM. reira AW. Immunoenzymatic absorption test for serodiag- 86. Magaldi S W, Mackenzie DWR, Albornoz MB. Detec-
Serodiagnosis. In Franco MF, Lacaz CS, Restrepo A, Del nosis of paracoccidioidomycosis. J Clin Microbiol tion of Paracoccidioides brasiliensis circulating antigen by
Negro G (eds), Paracoccidioiodomycosis. CRC Press- 1984;20:103 - 108. the passive hemagglutination inhibition in patients sera, p.
.Boca Raton, Fla. 1994;345-363. 68. Camargo ZP, Guesdon J-L, Drouhet E, Improvisi L. 18. In Proceedings Encuentro International sobre Para-
48. Fava Netto C. The serology of paracoccidioidomyco- Enzyme-linked immunosorbent assay (ELISA) in the para- coccidioidiomicosis. Instituto Venezolano de Investigacio-
sis: present and future trends. In Paracoccidioidomycosis. coccidioidomycosis. Comparison with counterimmunoe- nes Cientificas, 1989. Caracas, Venezuela.
Proc First Pan Am Symp Medellin, Colombia. Sci Publ. lectrophoresis and erythro-immunoassay. Mycopatholo- 87. Magaldi S W, Mackenzie DWR. Detección de antige-
No.254. Washington DC: Pan American Health Organi- gia 1984, 81:31- 37. nemia y anticuerpos de Paracoccidioides mediante pro-
zation, 1972; 209-213. 69. Mendes-Giannini MJS, Bueno JP, Shikanai-Yassuda cedimentos electroforéticos invertidos, p. 80.1986. In Pro-
49. Negroni R. Serologic reactions in paracoccidiodomy- MA, Stolf AMS, Masuda A, Amato-Neto V, Ferreira AW. ceedings Coloquio Internacional sobre la Paracoccidioidi-
cosis. Proc First Pan Am Symp Medellin, Colombia. Sci Antibody response to 43 kDa glycoprotein of Paracoccidi- omicosis. Corporación para Investigaciones Biológicas,
Publ. No.254. Washington DC: Pan American Health oides brasiliensis as a marker for the evaluation of pati- Medellín, Colombia.
Organization, 1972; 203-208. ents under treatment. Am J Trop Med Hyg 1990; 43: 200 88. Mendes-Giannini M J S, Bueno JP, Shikanai-Yasuda
50. Brumer SO, Jalbert M, Kaufman L. Rapid and relia- 206. MA, Ferreira AW, Masuda A. 1989. Detection of the anti-
ble method for production of a specific Paracoccidioides 70. Puccia R, Travassos LR. 43-kilodalton glycoprotein gen 43,000-molecular weight glycoprotein in sera of pati-
brasiliensis immunodiffusion test antigen. J Clin Microbiol from Paracoccidioides brasiliensis: immunochemical reac- ents with paracoccidioidomycosis. J Clin Microbiol 1989;
1984;19:404-407. tions with sera from patients with paracoccidioidomyco- 27:28422845.
51. McGowan KL, Bucley HR. Preparation and use of sis, histoplasmosis, and Jorge Lobo's disease. J Clin Mi- 89. Gómez B L, Figueroa JL, Hamilton AJ, Ortiz B, Ro-
cytoplasmatic antigens for the serodiagnois of paracocci- crobiol 1991;29:1610-1615. bledo MA, Hay EJ, Restrepo A. Use of monoclonal anti-
dioidomycosis. J Clin Microbiol 1985;22:39-43. 71. Camargo ZP, Gesztesi J-L, Saraiva ECO, Taborda bodies in diagnosis of paracoccidioidomycosis: new stra-
52. Negroni R. Nuevos studios sobre antígenos para las CP, Vicentini AP, Lopes JD. Monoclonal antibody capture tegies for detection of circulating antigens. J Clin Microbiol
pruebas serologicas en la blastomicosis sudamericana. enzyme immunoassay for detection of Paracoccidioides 1997; 35:32783283.
Derm Ibero Latinoamericana 1968;4:409-416. brasiliensis antibodies in paracoccidioidomycosis. J Clin 90. Cano L E, Restrepo A. Predictive value of serologic
Microbiol 1994; 32: 2377-2381. tests in the diagnosis and follow up of patients with para-
53. Restrepo A, Cano LE, Ochoa MT. A yeast-derived an-
tigen from Paracoccidioides brasiliensis useful for serolo- 72. Camargo ZP, Unterkircher CS, Travassos ZP. Identifi- coccidioidomycosis. Rev Inst Med Trop São Paulo 1987;
gic testing. J Med Vet Mycol 1984:22:23-29. cation of antigenic polypeptides of Paracoccidioides bra- 29:276-283.
siliensis by immunoblotting. J Med Vet Mycol 1989;27: 91. Franco M., R.P. Mendes, M. Moscardi-Bacchi, M.T.
54. Restrepo A, Drouhet, E. Étude des anticorps précipi- 407 412.
tants dans la blastomycose sud-américaine par l'analyse Rezkallah-Iwasso. M.R. Montenegro. Paracoccidioi-
immunoélectrophoretique des antigènes de Paracoccidi- 73. Ortega G, Villanueva E, Preira J, Salma N, Albornoz domycosis. Ballieres Clin Trop Commun Dis 1989; 4: 185.
oides brasiliensis. Ann Inst Pasteur (Paris) 1970; 119:338- MB. Characterization of de Paracoccidioides brasiliensis 92. Fava S.C. , C. Fava Netto . 1998. Epidemiologic sur-
346. antigens. Serological immunodiagnosis using Wes- veys of histoplasmin and paracoccidioidin sensitivity in
tern blotting. Acta Cient Venez 1992; 43: 355-359.. Brazil. Rev Inst Med Trop São Paulo, 40: 155-164.
55. Restrepo A, Moncada LH. Indirect fluorescent anti-
body and quantitative agar-gel immunodiffusion tests for 74. Mendes-Giannini MJS, Shikanai-Yasuda MA, Ferreira 93. Saraiva, E.C.O., Altemani, A. Franco, M.F., Unterkir-
the serological diagnosis of paracoccidioidomycosis. Appl AW, Stolf AMS.Immunochemical study of Paracoccidioi- cher C.S. & Camargo, Z.P.1996. Paracoccidioides brasili-
Microbiol 1972; 24:132-137. des brasiliensis by Western blotting. Proc Enc Int Para- ensis-gp43 used as paracoccidioidin. J MedVet Mycol,
coccidioidomycosis. Medellín, Colombia. 1986; 83. 34: 155-161.
56. Yarzábal LA, Bout D, Naquira F, Fruit J, Andrieu S.
Identification and purification of the specific antigen of Pa- 75. Blotta MHSL, Camargo ZP. Immunological response 94. Marque-da-Silva SH, Colombo AL, Blotta MHSL, Qu-
racoccidioides brasiliensis responsible for immunoe- to cell-free antigens of Paracoccidioides brasiliensis anti- eiroz-Telles F, Lopes JD, Camargo ZP. Diagnosis of neu-
lectrophoretic band E. Sabouraudia 1977; 15:79-85. bodies in paracoccidioidomycosis. J Clin Microbiol 1993; roparacoccidioidomycosis by detection of circulating anti-
31:671-676. gen and antibody in cerebrospinal fluid. J Clin Microbiol
57. Puccia R, Schenkman S, Gorin PAJ, Travassos
LR.Exocellular components of Paracoccidioides brasili- 76. Campos EP, Sartor JM, Hecht M & Franco MF. Aspec- 2005; 43:46804683.
ensis: identification of a specific antigen. Infect Immun tos clínicos e evolutivos de 47 doentes tratados pela Anfo- 95. Marques-da-Silva, S H, Colombo AL, Blotta MHSL,
1986;53:199-206. tericina B. J Clin Microbiol 1984;26: 212-216. Queiroz-Telles F, Balthazar A B, Lopes JD, Camargo ZP.
58. Yarzábal L. Bout D, Naquira F, Fruit J, Naquira S. Iden- 77. Campos EP, Torchio LN, Lima PRL, Gomes FCB,Fe- 2006.Diagnosis of paracoccidioidomycosis by detection
tification and purification of the specific antigen of Para- racin ACM,Schellini RC & Bacchi CS. Paracoccidioidomi- of antigen and antibody in bronchoalveolar lavage fluid.
coccidioides brasiliensis responsible for immunoelectrop- cose genital feminino. Descrição de um caso clínico. Rev Clin Vac immunol 13:1363-1366.
horetic band E. Sabouraudia 1977;15:79-85. Inst Med Trop S Paulo 1986;28:56-60. 96. Mendes-Giannini MJS, Del Negro GM, Siqueira AM.
59. Restrepo A, Moncada LH. Characterization of precipi- 78. Campos EP & Cataneo AJM. Função pulmonar na Serodiagnosis. Franco MF, Lacaz CS, Restrepo A, Del
tin bands detected in the immunodiffusion test for para- evolução clínica de 35 doentes com paracoccidioidomi- Negro G (eds), Paracoccidioiodomycosis. CRC Press. Bo-
coccidioidomycosis. Appl Microbiol 1974;28:138 144. cose. Rev inst Med Trop S Paulo; 1986:28:330-336. ca Raton, Fla. 1994; 345-363.
60. Campo Aasen I, Cabral NA, Yarzábal L. Subcellular lo- 79. Campos EP, Dib Neto, J, Unterkircher C & Camargo 97. Franco M. Host-parasite relationship in paracoccidioi-
calization of antigen E2 of Paracoccidioides brasiliensis. ZP. Serological evaluation in follow up of the paracoccidio- domyosis. J. Med. Vet Mycol. 1986;25: 5-18.
An immunoenzymatic electron microscopy study. Sabou- idomycosis patients. Rev Microbiol S Paulo; 1990;21:11- 98. Marques da Silva SH, Queiroz-Telles F .,Colombo AL,
raudia 1980;18:167 - 171. 17. Blotta MHSL, Lopes JD, Camargo ZP. Monitoring gp43
61. Camargo ZP, Unterkircher CS, Campoy SP, Travas- 80. Mendes RP; Defaveri J, Sene MG, Rodrigues DR, antigenemia in paracoccidioidomycosis patients during
sos LR. Production of Paracoccidioides brasiliensis exo- Souza LR, Marcondes-Machado J & Meira DA. Serologi- therapy. J Clin Microbiol 2003; 42:2419-2424.
antigens for immunodiffusion tests. J Clin Microbiol 1988; cal follow up of paracoccidioidomycosis (PBM) patients 99. Marques da Silva SH, Mattos Grosso, D., Lopes JD,
26:2147-2151. under treatment. Rev Soc Bras Med Trop 2000; 33 (su- Colombo AL, Blotta MHSL,Queiroz-Telles F, Camargo ZP.
plemento 1) p.459. (resumo 215 TL). Detection of Paracoccidioides brasiliensis gp70 circula-
62. Bradford MM. A rapid and sensitive method for quanti-
tation of microgram quantities of protein utilizing the princi- 81. Alves JR. Comparação entre três métodos sorológi- ting antigen and follow up of patients undergoing antimy-
ple of protein-dye binding. Anal Biochem 1976;72:248-254. cos no seguimento de pacientes com paracoccidioidomi- cotic therapy. J Clin Microbiol 2004; 42:4480-4486.

39
Resenha in Foco

Bacteriologia
Geral
Foi lançado recentemente pela Editora Guanabara-Koogan o livro Bacteriologia Geral, das profes-
soras da Universidade Federal do Rio de Janeiro Alane Beatriz Vermelho, Maria do Carmo de Freire
Bastos e Marta Helena Branquinha de Sá.
O livro apresenta 582 páginas e o conteúdo é dividido em 10 Capítulos que enfocam os aspectos
principais do estudo de processos básicos da célula bacteriana. Após uma introdução aos principais
grupos taxonômicos bacterianos, os capítulos abordam a Citologia, Nutrição e Crescimento, Controle
do Crescimento por Processos Químicos e Físicos, Mecanismos de Obtenção de Energia, Genoma,
Variabilidade Genética, Mecanismos de Transferência de DNA, Mecanismos de Ação dos Quimioterá-
picos e Resistência a Drogas.
Um dos pontos a destacar são as ilustrações de qualidade, tanto esquemas como fotos, que auxili-
am muito a compreensão do texto e destacam os pontos principais. Também é muito interessante a
quantidade de informações bioquímicas apresentadas nos esquemas, que dão embasamento para a
discussão dos processos estudados.
O livro Bacteriologia Básica, ao abordar os processos básicos de morfologia e fisiologia da célula
bacteriana, fornece subsídios para a compreensão dos processos realizados por bactérias de modo
mais amplo, não apenas na área médica como também ambiental, industrial, entre outras. Cada as-
sunto é aprofundado o suficiente para permitir plena compreensão dos processos, e são apresentados
exemplos de cada sistema, bem como as variações encontradas entre as bactérias e eventualmente
entre bactérias e outros organismos.
A abrangência dos assuntos abordados faz com que o livro seja de interesse para alunos de todas
as áreas microbiológicas, tanto de graduação como especialização e pós-graduação.

Profa. Marilis V. Marques


Departamento de Microbiologia
ICB- USP

40
Agenda in Foco

Cursos de Especialização
em Microbiologia - 2009
Microbiologia de Alimentos Microbiologia Ambiental
Microbiologia Industrial
Microbiologia Clínica

Coordenador: Dra. Marina B. Martinez.


Profa. Titular da FCF-USP

Público Alvo:
Graduados da área de saúde, biologia, veterinária, engenheiros de alimentos e interessados em trabalhar na área de microbiolo-
gia de alimentos, ambiental, industrial e clínica.

Data de início :
Março de 2009

Seleção para o curso:


Envio de curriculum
Ficha de Inscrição

Duração :
18 meses, sendo que as aulas são quinzenais, nas sextas das 19:00h as 23:00 e nos sábados das 9:00 as 18:00h

Carga Horária:
540 horas totais sendo, 360 horas de aulas e 180 horas de monografia

Avaliação :
Provas no final de cada disciplina e elaboração de monografia correspondente ao módulo cursado. O aluno será aprovado aten-
dendo os seguintes critérios:
- média mínima 7,0 (sete) durante o curso;
- nota mínima 7,0 (sete) de monografia;
- freqüência mínima de 85%.

Aguardem mais informações no próximo número e no nosso site


www.sbmicrobiologia.org.br

41
COMO ASSOCIAR-SE
Procedimento:
O interessado deverá preencher a ficha de adesão, especificando a categoria (Estudante de graduação, Estudande de Pós-
Graduação ou Profissional).

Valores:
Estudantes: R$ 90,00 (Anual)
Profissionais: R$ 175,00 (Anual)

Formas de pagamento:
1. Depósito bancário identificado em nome da SOCIEDADE BRASILEIRA DE MICROBIOLOGIA (CNPJ 43.323.484/0001-
12) e envio de uma cópia do comprovante via FAX (11) 3813-9647:
Banco do Brasil: 001 - Agência: 3559-9 - c/c: 16509-3

2. Enviar a ficha de adesão por E-mail (cadastro@sbmicrobiologia.org.br), solicitando o boleto bancário.

FICHA DE ADESÃO
DATA:___________________________________________________________ ANO DE REFERÊNCIA:___________________________
Categoria: ( ) Estudante de Graduação ( ) Estudante de Pós-Graduação ( ) Profissional
Nome completo:__________________________________________________________________________________________________
RG:______________________________________________________ CPF:________________________________________________
Endereço Res:____________________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________ Bairro:___________________________________
Cidade:__________________________________________________________ UF:___________ CEP:__________________________
TEL.:____________________________________________________ FAX:________________________________________________
E-MAIL:_________________________________________________________________________________________________________
Instituição:_______________________________________________________________________________________________________
Departamento:___________________________________________________________________________________________________
Cargo que exerce:_________________________________________________________________________________________________
Titulação:________________________________________________________________________________________________________
Endereço:_______________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________ Bairro:______________________________________
Cidade:__________________________________________________________ UF:___________ CEP:__________________________
TEL.:____________________________________________________ FAX:________________________________________________
E-MAIL:_________________________________________________________________________________________________________
Microbiologia Especializada em:
1.Alimentos (MAL); 2.Ambiental (MAM); 3.Básica (BAS); 4. Biotecnologia (BIO); 5.Clínica (MC); 6.Industrial (MIN); 7.Micologia (MI);
8.Micotoxinas (MX); 9.Oral (MO); 10.Solo (MS); 11.Veterinária (MV); 12.Virologia (VI); 13.Outros (especificar):
Endereço para correspondência: Residencial ( ) Comercial ( )
Diretoria
Biênio 2008-2009

Presidente
Marina Baquerizo Martinez (USP-SP)

Vice-presidente
Maria José M. Giannini (UNESP-SP)

1º Secretário
Carlos Taborda (USP-SP)

2º Secretário
Loreny Giugliane (UNB-DF)

1º Tesoureira
Adalberto Pessoa Jr. (USP-SP)

2º Tesoureira
Alexandre S. Rosado (UFRJ-RJ)

Conselho Fiscal:
Bernadete G. Franco (USP-SP)
Sergio E. L. Fracalanzza (UFRJ-RJ)
Antonio Fernando Pestana de Castro (USP-SP)

Representantes de Área
SBM 2008-2009

Coleções de Cultura Micro Clinica Parasito-Hospedeiro


- Lara D Sette, UNICAMP-SP - Lauro Santos Filho, UFPB-PB - Sandro R. de Almeida, USP-SP
- Elisa Cupollilo, FIOCRUZ-RJ - Pedro D´Azevedo, FFFCMPA-RS - Marcelo Bozza, UFRJ-RJ

Ensino Micro Industrial Solo


- Alexandre Lourenço, UNIP/UNISA/FMU -SP - José Gregório, USP-SP - Vivian H. Pelizzari, USP-SP
- Maria Ligia C. Carvalhal, USP-SP - Eleni Gomes, UNESP-Rio Preto - Mariangela Hungria, EMBRAPA-PR

Infecção Hospitalar Micro Médica Veterinária


- Ana Lúcia Darini, USP-RP - Elizabeth Marques, UERJ-RJ - Walter Lilenbaum, UFF-RJ
- Jorge Sampaio Fleury, SP - Waldir P Elias Jr, I. Butantan, SP - Vasco Azevedo, UFMG-RJ

Micro de Alimentos Micologia Virologia


- Bernadete G. Franco, USP - Rosana Puccia, UNIFESP-SP - Maurício L. Nogueira, FAMERP-SP
- Ricardo Dias, FUNED -MG - Marilene Vainstein, UFRGS-RS
Presidente do CBM 2007
Micro Ambiental Micotoxinas Prof. Dr. Marina B. Martinez
- Irma Grivera, USP-SP - Marta Taniwaki ITAL-SP
- Leda M. Hagler, UFRJ-RJ - Myrna Sabino Instituto Adolfo Lutz-SP
Cursos Pré-simpósio
16 de Outubro 4. Métodos em parasitologia clínica: foco na detecção de coccídios
Os cursos pré-simpósio acontecerão dia 16/10 Ministrante: Tiana Tasca UFRGS/RS
das 9h às 13h e das 14h às 18h Ementa:
MANHÃ 9h às 13h Nesse curso serão abordados aspectos biológicos e clínicos de parasi-
1. Identificação de bactérias Gram-positivas problemáticas no labo- tos emergentes e oportunistas, os coccídios Cryptosporidium spp.,
ratório de rotina Cyclospora cayetanensis e Isospora belli. O enfoque será no diagnósti-
Ministrantes: Jorge Sampaio Lab. Fleury/SP e Pedro d´Azevedo co laboratorial dessas espécies, através de métodos de coloração espe-
UFCSPA/RS cíficos e morfometria
Ementa:
1) Identificação de CGP catalase-positivos - a.Qual a rotina recomenda- TARDE 14h às 18h
da (fluxogramas);b.Em que situações identificar os SCN 5. Identificação de Bacilos Gram Negativos Não Fermentadores no
2) Identificação de CGP catalase-negativos - a.Alterações taxonômi- laboratório clínico: É possível? Como e o que fazer?
cas;b.Qual a rotina recomendada (fluxogramas);c.Limitações dos tes- Ministrantes: Elizabeth Marques UERJ/RJ e Tyrone Pitt UK Monitor:
tes fenotípicos Robson de Souza Leão - UERJ-RJ
3)Identificação de corineformes - a.Alterações taxonômicas;b.Qual a ro- Ementa:
tina recomendada;c.Em que situações identificar gênero e espécie 1) Atualização na taxonomia dos BGN NFe sua implicação para a identi-
4)Identificação de Actinomicetos - a.Qual a rotina recomendada;b.Em ficação .
que situações identificar gênero e espécie 2) Testes fenotipicos mais comumente usados e algumas "dicas" para a
5)Casos clínicos caracterização dos BGN-NF em laboratorio clinico
3) Tecnicas moleculares: PCR - espécie especificas; DNA-Microarray
2. Gestão de Processos em Laboratório de Microbiologia: qualidade para identificação de espécies ; tecnica de sequenciamento para anali-
e custos se filogenetica: genes 16 S rRNA, recA e rpoB
Ministrantes: Cássia Zócolli - Lab. Santa Luzia /SC - e Carmen Oplustil -
NBK/SP 6. Micologia no dia-a-dia do laboratório clínico
Ementa: Ministrantes: Valério Aquino UFRGS/RS e Luiz Carlos Severo -
Mapeamento de processos de rotinas (Hemocultura, urocultura, trato UFRGS/RS Monitor: Flávio Matos de Oliveira
genital), passo a passo do processo. Ementa:
Como manter a qualidade reduzindo custos 1) Introdução à micologia médica
Redução de desperdícios 2) Micoses superficiais e cutâneas
Mapa de Valor 3) Micoses sistêmicas e oportunístico
4) Diagnóstico laboratorial das micoses
3. Microbiologia Clínica básica: Processando materiais clínicos
sem erros 7. Usando a Biologia Molecular na Microbiologia Clínica
Ministrante: Marina Martinez - FCF-USP/SP -HU/USP e Antônia Ma- Ministrante: Vlademir Cantarelli - Lab. Weinmann/RS e Diogo A. Pilger
chado - UNIFESP/SP Lab. Weinmann/RS
Ementa: Ementa:
Será feita uma revisão sobre diversas doenças infecciosas tendo como Descrição dos principios básicos da reação em cadeia da polimerase
foco a coleta e tratamento das amostras clínicas assim como o isola- convencional, PCR em tempo real com uso de SYBR Green e sondas, re-
mento e identificação dos principais agentes envolvidos. ação de sequenciamento de DNA e microarrays. Abordar questões téc-
Trato gastrintestinal nicas, como sensibilidade, amostras clínicas e aplicações das técnicas
Trato urinário acima nas diversas áreas da microbiologia clínica.
Vias aéreas superiores e inferiores
Trato genital 8. Novos padrões de resistência : Como incorporar a detecção no
Transudatos e exudatos laboratório
Septicemias Ministrantes: Ana Gales - UNIFESP/SP e Libera Dala Costa - UFPR/PR
Meningites
Programa Oficial
16 de outubro Coordenador: Pedro d´Azevedo UFCSPA/RS Sala 3
07:30 - Abertura da secretaria e entrega de Conferencista: Lúcia Teixeira UFRJ/RJ Micoses Sistêmicas
material Coordenadora: Marilene Vainstein - UFRGS/RS
09:00 - 18:00 - Cursos Pré-evento Sala 2 Paracoccidioidomicose: abordagem
Resistência bacteriana em Bacilos Gram clássica e molecular no diagnóstico e
MANHÃ 9h às 13h negativos- quando desconfiar e como detectar seguimento
1. Identificação de bactérias Gram-positivas fenotipicamente os mecanismos mais terapêutico de pacientes
problemáticas no laboratório de rotina freqüentes. Palestrante: Maria José Giannini - UNESP/SP
2. Gestão de Processos em Laboratório de Coordenadora: Ana Gales UNIFESP/SP Aspergilose: novos testes diagnósticos
Microbiologia: qualidade e custos Conferencista: Marcelo Galas Argentina Palestrante: Alessandro Pasqualatto - Santa
3. Microbiologia Clínica básica: Processando Casa de Porto Alegre/RS
materiais clínicos sem erros Sala 3 Criptococose e seus agentes no Brasil
4. Métodos em parasitologia clínica: foco na Histoplasmose Palestrante: Márcia dos santos Lazéra -
detecção de coccídios Coordenadora: Marilene Vainstein UFRGS/RS FIOCRUZ/RJ
Conferencista: Luiz Carlos Severo - UFRGS/RS
TARDE 14h às 18h 12:30 13:30 - Almoço Livre
5. Identificação de Bacilos Gram Negativos Não 10:00 - 10:30 - Coffee Break 13:30 14:30 - Avaliação de Pôsteres
Fermentadores no laboratório clínico: 10:30 - 12:30 - Mesas Redondas 14:30 16:30 - Mesas Redondas
É possível? Como e o que fazer? Sala 1 Sala 1
6. Micologia no dia-a-dia do laboratório clínico Micobactérias de importância Clínica Infecções virais emergentes
7. Usando a Biologia Molecular na Microbiologia Coordenador: Jorge Sampaio Lab. Fleury/SP Coordenador: Vlademir Cantarelli Laboratório
Clínica M.tuberculosis: epidemiologia e resistência Weinmann/RS
8. Novos padrões de resistência : Como Palestrante: Maria Lúcia Rossetti FEPS/RS Dengue
incorporar a detecção no laboratório Diagnóstico Clínico-laboratorial da Palestrante: Claudia Santos- TECPAR/PR
Tuberculose Respiratórias
19:00 - 20:30 - Abertura oficial e atividade Palestrante: Rodrigo Pires dos Santos HCPA/RS Palestrante: Nancy Bellei-UNIFESP/SP
cultural Micobactérias Não- Tuberculosis Enteroviroses
Conferência de Abertura Palestrante: Jorge Sampaio- Lab. Fleury/SP Palestrante: Divina das Dores de Paula
Conferencista: Ellen Jo Baron - USA Cardoso UFGoias/GO
Impact of new technology on infectious disease Sala 2
and infection control practices Métodos moleculares no laboratório de Sala 2
20:30 - Coquetel Microbiologia Clínica: realidade ou ficção? Detecção da Resistência bacteriana no dia-
Coordenadora: Ana Lucia Darini FCFRP-USP/SP a-dia
Identificação bacteriana e viral Coordenadora: Ana Lúcia Peixoto de Freitas
17 de outubro Palestrante: Vlademir Cantarelli Laboratório UCPel-UFRGS/RS
07:30 - Abertura da secretaria e entrega de Weinmann/RS Antibiograma por disco-difusão:
material Detecção de elementos genéticos: realidade atualizações
09:00 - 10:00 - Conferências em Laboratórios de bacteriologia? Palestrante: Flávia Rossi HClinicas USP/SP
Sala 1 Palestrante: Ana Lucia Darini - FCFRP-USP/SP Testes não-padronizados em cocos Gram
A evolução da taxonomia , identificação e Casos Clínicos Positivos
epidemiologia molecular de Enterococcus Palestrante: Clóvis Arns Cunha- UFPR/PR Palestrante: Cícero Dias UFCSPA/RS
Testes não-padronizados em Bacilos Gram Sala 2 Palestrante: Beatriz Meurer Moreira- UFRJ/RJ
Negativos Tipagem molecular: como e quando realizar Acinetobacter
Palestrante: Elizabeth Marques UERJ/RJ Coordenador: Afonso L. Barth HCPA-UFRGS/RS Palestrante: Libera Dalla Costa - UFPR/PR
Conferencista: Tyrone Pitt - Inglaterra
Sala 3 10:00 - 10:30 - Coffee Break Sala 2
Antifungicos 10:30 - 12:30 - Mesas Redondas Métodos automatizados e semi
Coordenador: Sydney Hartz Alves - UFSM/RS automatizados em laboratório de
Testes de suscetibilidade a antifúngicos. Sala 1 microbiologia
Onde estamos? Pneumonias o difícil papel do laboratório Coordenador: Pedro d’Azevedo - UFCSPA/RS
Palestrante: Sydney Hartz Alves - UFSM/RS clínico Identificação/Resistencia em cocos Gram
Validação de métodos para determinação Coordenador: Jorge Sampaio Laboratório positivos
de resistência a antifúngicos Fleury/SP Palestrante: Pedro d'Azevedo - UFCSPA/RS
Palestrante: Márcia de Souza Carvalho Métodos quantitativos - qual o valor de sua Identificação/resistência em bacilos Gram
Melhem - Instituto Adolfo Lutz/SP utilização? Negativo
Perfil de susceptibilidade aos antifúngicos Palestrante: Antonia Machado-UNIFESP/SP Palestrante: Silvana Superti - HSLPUC/RS
de agentes das leveduroses Detecção de patógenos oportunistas Avaliando Custo Benefício
Palestrante: Maria Aparecida de Resende - Palestrante: Jorge Sampaio Laboratório Fleury/SP Palestrante: Cassia Zocolli Laboratório Santa
UFMG/MG Casos Clínicos Luzia/SC
Palestrante: Alexandre Zavascki HCPA/RS
16:30 17:00 - Coffee Break 16:30 17:00 - Coffee Break
17:00- 18:00 - Conferência Sala 2 17:00- 18:00 - Painel Nacional
Sala 1 Hemocultura no dia-a-dia Sala 1
The role of beta-lactamases in confering Coordenadora: Ana Lúcia Peixoto de Freitas Resistência bacteriana: Perfil no Brasil
resistance to the beta-lactams among Gram- UCPel-UFRGS/RS Painelista: Ana Gales - UNIFESP/SP
negative rods Manejo das fases pré e pós-analiticas Painelista: ANVISA
Coordenadora: Ana Lucia Darini - FCFRP-USP/SP Palestrante: Cássia Zocolli Laboratório Santa
Conferencista: Laurent Poirel- França Luzia/SC 18:00 19:30
Tecnicas automatizadas e convencionais Painel Máster Internacional
18:00 19:30 - Microbiologia Nova Geração Palestrante: Carmen Oplustil- NKB/SP Coordenador: Afonso Barth
Como interpretar? Painelistas: Antoine Andremont - França ;Ellen
Palestrante: Antonio Pignatari-UNIFESP/SP Jo Baron USA; Laurent Poirel- França;
18 de outubro Marcelo Galas Argentina ;Tyrone Pitt - Inglaterra
7:30 - Abertura da secretaria e entrega de 12:30 13:30 - Almoço Livre
material 13:30 14:30 - Avaliação de Pôsteres
09:00 - 10:00 - Conferências 14:30 16:30 - Mesas Redondas 19 de outubro
Sala 1 Sala 1 7:30 - Abertura da secretaria
Microbiota normal: Qual a importância Resistência Bacteriana : Novos tempos 09:00 - 10:00 - Consenso em Microbiologia
clínica? Coordenadora: Libera Dalla Costa UFPR/PR Clínica
Coordenador: Vlademir Cantarelli Laboratório CA MRSA 10:00 - 10:30 - Coffee Break
Weinmann/RS Palestrante:Agnes Figueiredo UFRJ-RJ 10:30 - 12:00 - Consenso em Microbiologia
Conferencista: Antoine Andremont - França Enterobactérias Clínica

Você também pode gostar