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Ministério Público do Estado da Paraíba


8ªProcuradoria de Justiça
AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 0816745-62.2022.8.15.0000
Órgão Julgador : 1ª Câmara Cível
Relator : Des. José Ricardo Porto
Agravante : Unimed Campina Grande Cooperativa de Trabalho
Médico LTDA.
Agravada : Júlia Susanne Kaiser, representada por sua avó
materna.
Procuradora de Justiça : Dra. Janete Maria Ismael da Costa Macedo1

PARECER

Examina-se agravo de instrumento interposto pela UNIMED


CAMPINA GRANDE COOPERATIVA DE TRABALHO MÉDICO contra decisão, prolatada
pelo Juízo da 4ª Vara Cível da Comarca de Campina Gramde, que deferiu a tutela de
urgência pleiteada nos autos da ação de obrigação de fazer (cobertura de procedimento
médico) ajuizada em desfavor por JULIA SUSANNE KAISER, representada por sua avó
materna, Walberlena Goldfarb.

O Juízo de primeiro grau concedeu a tutela de urgência:

“(...) para determinar a parte requerida que forneça ao autor o tratamento


solicitado pela Médica Neurologista, com profissionais que possuam as
especializações indicadas por esta, qual seja, EQUIPE
MULTIDISCIPLINAR, formada por NEUROLOGISTA INFANTIL,
TERAPEUTA ABA, FONOAUDIÓLOGO, TERAPEUTA OCUPACIONAL
e PSICOPEDAGOGA (estes com especialização no método ABA, PECS, e
INTEGRAÇÃO SOCIAL), seja através de médicos credenciados, ou na
impossibilidade, para que arque com os custos do tratamento em rede outra
indicada pela parte requerente, enquanto perdurar a orientação médica neste
sentido.
Defiro a demandada o prazo de três dias úteis (03) para o cumprimento dessa
medida, a contar do recebimento desta ordem, sob pena de multa diária de
R$ 5.000,00 (cinco mil reais), limitadas em trinta dias para o caso de
descumprimento.”

Em suas razões recursais, a agravante requer a reforma da decisão

1
AMHL
2
sob o fundamento de que não há obrigatoriedade da cobertura do tratamento solicitado em
razão da ausência de previsão no Rol da ANS, bem como que “devem ser cobertos
fonoaudiólogo, psicólogo (terapia ocupacional), fisioterapeuta e psicopedagogo; todos
disponíveis da rede da demandada; profissionais estes que já foram garantidos pela
demandada”, pugnando, ao final, pela concessão de efeito suspensivo à decisão. No mérito,
requer o provimento do recurso, com a reforma do decisório ou, alternativamente, que o
atendimento seja realizado por profissionais a ela credenciados.

Contrarrazões ofertadas (ID 17529361).

Com a remessa do processo ao Colendo Tribunal de Justiça do


Estado da Paraíba, aportaram os autos neste Órgão Ministerial para emissão de parecer.

É o relatório.

DOS PRESSUPOSTOS RECURSAIS

Importa primeiramente frisar que o recurso supera o juízo de


admissibilidade, visto que preenche os respectivos pressupostos exigidos em Lei.

DO MÉRITO

Destaca-se, inicialmente, que o objeto de análise do presente


recurso deve-se ater à ocorrência dos requisitos necessários para a concessão da
tutela provisória.
Nos termos do que dispõe o Art. 3002 do Código de Processo Civil,
dois são os requisitos para a concessão da tutela de urgência: presença de elementos
que evidenciem a probabilidade do direito reclamado e perigo de dano ou risco ao
resultado útil do processo.

No que pertine à probabilidade do direito, Luiz Guilherme Marinoni3


assevera que a probabilidade que autoriza o emprego da técnica antecipatória para a tutela
dos direitos é a probabilidade lógica – que é aquela que surge da confrontação das
alegações e das provas com os elementos disponíveis nos autos, sendo provável a hipótese
que encontra maior grau de confirmação e menor grau de refutação nesses elementos. O

2
Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do
direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo.
3
MARINONI, Luiz Guilherme et al. Novo Código de Processo Civil Comentado. 1ª edição. Editora Revista dos
Tribunais. p. 312.
3
juiz tem que se convencer de que o direito é provável para conceder tutela provisória.

Quanto ao perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo,


leciona Araken de Assis4 que o perigo hábil à concessão da liminar reside na circunstância
que a manutenção do status quo poderá tornar inútil a garantia (segurança para a execução)
ou a posterior realização do direito (execução para segurança).

Com efeito, verifica-se dos autos que a agravada foi diagnosticada


com TEA – Transtorno do Espectro Autista (CID 10 F.84.0) e que vem sendo acompanhada
por Médico Neurologista Pediátrico, responsável por prescrever terapias baseadas nas
metodologias ABA, PECS, TEACCH e TCC. In casu, foi indicado EQUIPE
MULTIDISCIPLINAR, formada por NEUROLOGISTA INFANTIL, TERAPEUTA ABA,
FONOAUDIÓLOGO, TERAPEUTA OCUPACIONAL e PSICOPEDAGOGA (estes com
especialização no método ABA, PECS, e INTEGRAÇÃO SOCIAL).

Alegando que a Operadora negou cobertura ao tratamento


recomendado, sob a justificativa do tratamento requerido não constar nas especificações do
Rol da ANS, a Recorrida ajuizou Ação Ordinária, objetivando em sede de tutela provisória de
urgência e em provimento definitivo dos pedidos, o custeio do tratamento prescrito.

O Juízo Singular deferiu a tutela antecipada para que o Plano de


Saúde fornecesse o tratamento com os profissionais indicados conforme prescrição médica.

Contra essa decisão, se insurgiu a operadora, interpondo agravo de


instrumento.

Inicialmente, tomando por base o assunto em debate, tem-se que a


Lei Nº 9.656/98, que dispõe sobre Planos e Seguros Privados de Saúde, em seu Art. 10,
Caput , determina a obrigatoriedade de cobertura do plano-referência de saúde para as
doenças contidas na Classificação Estatística Internacional de Doenças e de Problemas
Relacionados à Saúde (CID).

Ademais, verifica-se que, no Capítulo V, a CID 10 cataloga o autismo


infantil como um transtorno global do desenvolvimento . Atualmente, o Manual Diagnóstico e
Estatístico de Doenças Mentais (DSM-5), propõe a nomenclatura Transtorno do Espectro
Autista em substituição a de Transtornos Globais do Desenvolvimento.

4
ASSIS, Araken de. Processo civil brasileiro, volume II: parte geral: institutos fundamentais: tomo 2. 1ª edição.
Editora Revista dos Tribunais. p. 417.
4
Assim, considerando que o TEA – Transtorno do Espectro Autista
está previsto nesta lista, evidente a obrigação contratual do Plano de Saúde de custear o
tratamento em tela.

Por seu turno, as diretrizes da ANS incorporaram, em junho de


2022, a cobertura para qualquer método ou técnica indicado pelo médico assistente
para o tratamento de pessoas com um dos transtornos enquadrados na CID F84.
Assim, caem por terra quaisquer alegações de ausência de cobertura das técnicas
específicas para o tratamento de pessoas autistas. Veja-se:

Art. 6º (...) 4º Para a cobertura dos procedimentos que envolvam o


tratamento/manejo dos beneficiários portadores de transtornos globais do
desenvolvimento, incluindo o transtorno do espectro autista, a operadora
deverá oferecer atendimento por prestador apto a executar o método ou
técnica indicados pelo médico assistente para tratar a doença ou agravo
do paciente. (Alterado pela RN nº 539, de 2022). Destaque nosso.

Portanto, a nova normativa da ANS estabelece que, relativamente


aos pacientes portadores de transtornos globais do desenvolvimento, como o TEA, o plano
de saúde deve, ou seja, não é uma faculdade, mas uma obrigação em fornecer o
tratamento com os profissionais indicados pelo médico assistente não especificando
se são ou não profissionais de saúde.

Se a doença que acomete o paciente (TEA – Transtorno do Espectro


Autista) não foi expressamente excluída, os métodos de tratamento prescritos, sendo a
forma mais eficiente para se analisar o seu quadro clínico, definir a terapêutica e tratá-la
adequadamente seja em que ambiente for, jamais poderiam ser objeto de escusa por
parte da agravada.

Do contrário, a se conceber tal ideia, estar-se-á permitindo a escolha


do tratamento de acordo com a previsão contratual, e não conforme as técnicas terapêuticas
determinadas pelo profissional de saúde, o verdadeiro condutor das opções médico
tecnológicas que se adequarão à almejada cura.

Neste sentido, aliás, assenta-se o posicionamento jurisprudencial.


Confira-se:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER. MENOR


COM ESPECTRO DE AUTISMO. NECESSIDADE DE TRATAMENTO
MULTIDISCIPLINAR. COBERTURA OBRIGATÓRIA PELO PLANO DE
SAÚDE. RESOLUÇÃO ANS Nº 469/2021. LIMITES DE SESSÕES E DE
REEMBOLSO. ABUSIVIDADE. SENTENÇA MANTIDA. APELO
5
DESPROVIDO. 1) A matéria versa sobre o direito fundamental à saúde e à
vida. 2) A nova Resolução ANS nº 469/2021, ademais, estabelece cobertura
obrigatória de sessões com psicólogos, terapeutas ocupacionais e
fonoaudiólogos para o tratamento do Transtorno do Espectro Autista (TEA),
devendo, pois, os planos de saúde cumprirem a normativa. 3) As cláusulas
contratuais que impõem limites de sessões e de reembolso são abusivas e,
portanto, nulas, à luz do CDC (art. 51). 4) Apelação conhecida e, no mérito,
desprovida. (TJAP; ACCv 0016925-78.2021.8.03.0001; Câmara Única; Rel.
Des. Adão Carvalho; DJAP 22/07/2022; pág. 20)

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER.


TUTELA DE URGÊNCIA. CRIANÇA COM AUTISMO. INDICAÇÃO DE
TRATAMENTO COM MÉTODOS ESPECÍFICOS. MÉTODO ABA.
RECENTE AMPLIAÇÃO DO ROL DA ANS PARA O TRATAMENTO DE
AUTISMO. ABUSIVIDADE DA LIMITAÇÃO DO TRATAMENTO.
PRESENÇA DOS REQUISITOS DO ART. 300 DO CPC. RECURSO
CONHECIDO E PROVIDO, COM O PARECER. É sabido que por meio do
instituto da antecipação da tutela jurisdicional obtém a parte a antecipação
dos efeitos de um eventual julgamento favorável de mérito, tendo esse
instituto fundamento no princípio da efetividade do processo e com seus
requisitos delineados no atual artigo300do Código de Processo Civil. O
dispositivo exige a presença cumulativa dos dois requisitos que devem estar
presentes em todos os casos de antecipação dos efeitos da tutela, sendo a
probabilidade do direito do autor e o perigo de dano ou risco ao resultado
útil do processo. Nos contratos de plano de saúde, diante da expressa
indicação médica, deve ser realizado o tratamento especializado indicado
ainda que fora da rede credenciada e do limite estabelecido no contrato.
Além disso, como a partir de 1º de julho de 2022, por meio da Resolução
Normativa n. 532/2022 da ANS, passou a ser obrigatória a cobertura para
qualquer método ou técnica indicado pelo médico assistente para o
tratamento do paciente que tenha um dos transtornos enquadrados na CID
F84, conforme a Classificação Internacional de Doenças, não há como o
plano de saúde se recusar ao fornecimento do tratamento. Agravo conhecido
e provido, com o parecer. (TJMS; AI 1407236-42.2022.8.12.0000; Terceira
Câmara Cível; Rel. Des. Dorival Renato Pavan; DJMS 22/07/2022; Pág. 55)

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER.


PEDIDO DE TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA DEFERIDO
PARCIALMENTE PELO JUIZ A QUO. PLANO DE SAÚDE. CRIANÇA
DE QUATRO ANOS DE IDADE, PORTADORA DE TRANSTORNO DO
ESPECTRO AUTISTA. NECESSIDADE DE SUPRIMIR, DA DECISÃO
PRIMEVA, A DETERMINAÇÃO DE COPARTICIPAÇÃO DA
AGRAVANTE NAS SESSÕES DE PSICOLOGIA E DE TERAPIA
OCUPACIONAL QUE EXCEDEREM O LIMITE. AUSÊNCIA DE
PREVISÃO CONTRATUAL NESSE SENTIDO. PACÍFICO
ENTENDIMENTO DO STJ. APLICAÇÃO DA RESOLUÇÃO
NORMATIVA Nº 469 DA ANS. AGRAVO CONHECIDO E
PARCIALMENTE PROVIDO. I. A Agravante, menor de 04 (quatro) anos de
idade, por ser portadora de Transtorno do Espectro Autista (TEA), teve
indicação médica de realizar tratamento multidisciplinar com profissionais
que atuem de forma integrada e especializada. O magistrado primevo, ao
deferir parcialmente o pedido liminar formulado, estabeleceu o regime de
coparticipação nas sessões de psicologia e de terapia ocupacional que
excederem o número previsto pelo contrato ou pela ANS (Agência Nacional
de Saúde). O contrato de saúde firmado entre as partes, todavia, não
contempla tal condição, pois, de forma expressa, informa que não haverá
coparticipação do segurado (ID 14228223). II. Sobre a limitação ao número
de sessões de psicologia e de terapia ocupacional, o STJ já fixou o
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entendimento de que a circunstância de o rol de procedimentos e eventos em
saúde estabelecer um número mínimo de sessões de psicoterapia de
cobertura obrigatória, ao arrepio da Lei, não é apta a autorizar a operadora a
recusar o custeio das sessões que ultrapassam o limite previsto. (AgInt no
RESP 1885017/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, DJe 25/03/2021) III.
Ademais, para pôr fim à controvérsia, em 12.07.21 foi publicada a
Resolução Normativa nº 469 da ANS (Agência Nacional de Saúde
Suplementar) determinando a cobertura obrigatória, em número ilimitado de
sessões, de tratamento com psicólogo, terapeuta ocupacional e
fonoaudiólogo para pacientes diagnosticados com autismo. lV. Recurso
parcialmente provido para suprimir da decisão primeva a exigência de
coparticipação da Agravante e para determinar que o Agravado comprove a
existência, em sua rede credenciada, de profissionais aptos ao atendimento
multidisciplinar prescrito no relatório médico constante nos autos originários
(ID 94846371). AGRAVO DE INSTRUMENTO CONHECIDO E
PARCIALMENTE PROVIDO. (TJBA; AI 8008086-71.2021.8.05.0000;
Quinta Câmara Cível; Relª Desª Carmem Lucia Santos Pinheiro; DJBA
13/08/2021)

Ademais, no que pertine especificamente às sessões de TERAPIA


OCUPACIONAL, PSICÓLOGO E FONOAUDIÓLOGO, não se pode limitar as sessões,
tendo em vista o teor da Resolução Normativa da ANS nº 469, de 9 de Julho de 2021 – a
qual determina ser obrigatória, por parte das Operadoras de Plano de Saúde, a cobertura
de sessões ilimitadas dessas especialidades no caso de pacientes diagnosticados com
Transtorno do Espectro Autista . No mesmo sentido:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER.


PEDIDO DE TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA DEFERIDO
PARCIALMENTE PELO JUIZ A QUO. PLANO DE SAÚDE. CRIANÇA
DE QUATRO ANOS DE IDADE, PORTADORA DE TRANSTORNO DO
ESPECTRO AUTISTA. NECESSIDADE DE SUPRIMIR, DA DECISÃO
PRIMEVA, A DETERMINAÇÃO DE COPARTICIPAÇÃO DA
AGRAVANTE NAS SESSÕES DE PSICOLOGIA E DE TERAPIA
OCUPACIONAL QUE EXCEDEREM O LIMITE. AUSÊNCIA DE
PREVISÃO CONTRATUAL NESSE SENTIDO. PACÍFICO
ENTENDIMENTO DO STJ. APLICAÇÃO DA RESOLUÇÃO
NORMATIVA Nº 469 DA ANS. AGRAVO CONHECIDO E
PARCIALMENTE PROVIDO. I. A Agravante, menor de 04 (quatro) anos de
idade, por ser portadora de Transtorno do Espectro Autista (TEA), teve
indicação médica de realizar tratamento multidisciplinar com profissionais
que atuem de forma integrada e especializada. O magistrado primevo, ao
deferir parcialmente o pedido liminar formulado, estabeleceu o regime de
coparticipação nas sessões de psicologia e de terapia ocupacional que
excederem o número previsto pelo contrato ou pela ANS (Agência Nacional
de Saúde). O contrato de saúde firmado entre as partes, todavia, não
contempla tal condição, pois, de forma expressa, informa que não haverá
coparticipação do segurado (ID 14228223). II. Sobre a limitação ao número
de sessões de psicologia e de terapia ocupacional, o STJ já fixou o
entendimento de que a circunstância de o rol de procedimentos e eventos em
saúde estabelecer um número mínimo de sessões de psicoterapia de
cobertura obrigatória, ao arrepio da Lei, não é apta a autorizar a operadora a
recusar o custeio das sessões que ultrapassam o limite previsto. (AgInt no
RESP 1885017/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, DJe 25/03/2021) III.
Ademais, para pôr fim à controvérsia, em 12.07.21 foi publicada a
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Resolução Normativa nº 469 da ANS (Agência Nacional de Saúde
Suplementar) determinando a cobertura obrigatória, em número ilimitado de
sessões, de tratamento com psicólogo, terapeuta ocupacional e
fonoaudiólogo para pacientes diagnosticados com autismo. lV. Recurso
parcialmente provido para suprimir da decisão primeva a exigência de
coparticipação da Agravante e para determinar que o Agravado comprove a
existência, em sua rede credenciada, de profissionais aptos ao atendimento
multidisciplinar prescrito no relatório médico constante nos autos originários
(ID 94846371). AGRAVO DE INSTRUMENTO CONHECIDO E
PARCIALMENTE PROVIDO. (TJBA; AI 8008086-71.2021.8.05.0000;
Quinta Câmara Cível; Relª Desª Carmem Lucia Santos Pinheiro; DJBA
13/08/2021)

Relativamente aos Técnicos indicados pelo Médico Assistente da


Agravada, em especial o Auxiliar Terapêutico, por entender ser um profissional de caráter
pedagógico e, portanto, não integrante do contrato de Plano de Saúde, imperioso tecer
alguns apontamentos.

O Auxiliar Terapêutico (AT), que pode prestar o atendimento em


casa, na escola ou no consultório, não se confunde com o Acompanhante Especializado,
cuja responsabilidade é das escolas e sua previsão está inserida no Parágrafo Único, Art.
3º, da Lei Nº 12.764/2012, que trata da Política Nacional de Proteção dos Direitos da
Pessoa com Transtorno do Espectro Autista.

Enquanto o Acompanhante Escolar, previsto na norma suso


mencionada, atua como um cuidador da criança com autismo, auxiliando em suas
necessidades gerais, como higiene pessoal e alimentação, o Auxiliar Terapêutico é o
profissional especializado para fazer a ponte, o elo entre o paciente e a escola, os
professores, os alunos, os pais. Ele executará junto a esse paciente as atividades
terapêuticas implementadas pelos demais componentes da equipe multidisciplinar – tanto
que é supervisionado pelo analista de comportamento –, sendo necessário para o
desenvolvimento da criança, principalmente no que tange à sua interação social.

Desse modo, percebe-se que o trabalho desenvolvido pelo Auxiliar


Terapêutico é abrangente, envolvendo todos os espaços de desenvolvimento da
criança portadora de autismo, sendo eles a casa, o consultório e, principalmente, o
ambiente escolar, local de maior interação social. Ou seja, sua atividade está para além
da clínica, sendo essencial no ambiente residencial, não podendo sofrer, por isso, limitação
na sua atuação junto ao paciente, sob pena de vir a prejudicar o tratamento do mesmo.

Sendo assim, não se confundindo as figuras do Auxiliar Terapêutico


com o Acompanhante Escolar e, ainda, ciente da necessidade da atuação do primeiro, sob
pena de ocasionar riscos ao tratamento, não se afigura como pertinente a exclusão de sua
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oferta pelo plano de saúde no ambiente escolar.

Nesse sentido:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER. MENOR


COM ESPECTRO DE AUTISMO. NECESSIDADE DE TRATAMENTO
MULTIDISCIPLINAR. COBERTURA OBRIGATÓRIA PELO PLANO DE
SAÚDE. RESOLUÇÃO ANS Nº 469/2021. LIMITES DE SESSÕES E DE
REEMBOLSO. ABUSIVIDADE. SENTENÇA MANTIDA. APELO
DESPROVIDO. 1) A matéria versa sobre o direito fundamental à saúde e à
vida. 2) A nova Resolução ANS nº 469/2021, ademais, estabelece
cobertura obrigatória de sessões com psicólogos, terapeutas
ocupacionais e fonoaudiólogos para o tratamento do Transtorno do
Espectro Autista (TEA), devendo, pois, os planos de saúde cumprirem a
normativa. 3) As cláusulas contratuais que impõem limites de sessões e de
reembolso são abusivas e, portanto, nulas, à luz do CDC (art. 51). 4)
Apelação conhecida e, no mérito, desprovida. (TJAP; ACCv 0016925-
78.2021.8.03.0001; Câmara Única; Rel. Des. Adão Carvalho; DJAP
22/07/2022; pág. 20)

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER.


TUTELA DE URGÊNCIA. CRIANÇA COM AUTISMO. INDICAÇÃO DE
TRATAMENTO COM MÉTODOS ESPECÍFICOS. MÉTODO ABA.
RECENTE AMPLIAÇÃO DO ROL DA ANS PARA O TRATAMENTO DE
AUTISMO. ABUSIVIDADE DA LIMITAÇÃO DO TRATAMENTO.
PRESENÇA DOS REQUISITOS DO ART. 300 DO CPC. RECURSO
CONHECIDO E PROVIDO, COM O PARECER. É sabido que por meio do
instituto da antecipação da tutela jurisdicional obtém a parte a antecipação
dos efeitos de um eventual julgamento favorável de mérito, tendo esse
instituto fundamento no princípio da efetividade do processo e com seus
requisitos delineados no atual artigo300do Código de Processo Civil. O
dispositivo exige a presença cumulativa dos dois requisitos que devem estar
presentes em todos os casos de antecipação dos efeitos da tutela, sendo a
probabilidade do direito do autor e o perigo de dano ou risco ao resultado
útil do processo. Nos contratos de plano de saúde, diante da expressa
indicação médica, deve ser realizado o tratamento especializado indicado
ainda que fora da rede credenciada e do limite estabelecido no contrato.
Além disso, como a partir de 1º de julho de 2022, por meio da Resolução
Normativa n. 532/2022 da ANS, passou a ser obrigatória a cobertura
para qualquer método ou técnica indicado pelo médico assistente para o
tratamento do paciente que tenha um dos transtornos enquadrados na
CID F84, conforme a Classificação Internacional de Doenças, não há
como o plano de saúde se recusar ao fornecimento do tratamento.
Agravo conhecido e provido, com o parecer. (TJMS; AI 1407236-
42.2022.8.12.0000; Terceira Câmara Cível; Rel. Des. Dorival Renato Pavan;
DJMS 22/07/2022; Pág. 55). Destaque nosso.

Vale salientar, por fim, que foi sancionado, em 21/09/20225, o


projeto de lei que derruba o chamado “rol taxativo” para a cobertura de planos de

5
https://www.estadao.com.br/saude/planos-de-saude-sancionada-lei-que-derruba-rol-taxativo-e-obriga-
cobertura-fora-da-lista-da-ans/. Acesso em 22/09/2022.
9
saúde (PL 2.033/2022). Pelo texto, os planos de saúde poderão ser obrigados a financiar
tratamentos de saúde que não estiverem na lista mantida pela Agência Nacional de Saúde
Suplementar (ANS), desde que cumpra uma das seguintes condições: a) tenha eficácia
comprovada cientificamente; b) seja recomendado pela Comissão Nacional de Incorporação
de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec); ou c) seja recomendado por pelo
menos um órgão de avaliação de tecnologias em saúde com renome internacional.

Assim sendo, o Ministério Público Estadual, por sua 8ª Procuradora


de Justiça opina pelo desprovimento do agravo.

João Pessoa, 20 de outubro de 2022.

Janete Maria Ismael da Costa Macedo


Procuradora de Justiça

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