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NÚCLEO DE PÓS GRADUAÇÃO

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO
Coordenação Pedagógica – IBRA

DISCIPLINA

TRANSTORNO GLOBAL
DO DESENVOLVIMENTO -
TGD
AUTISMO

http://www.elcorreodelsol.com/sites/default/files/styles/foto_articulo/public/blogs/Miguel%20Jara

/autismo1.jpg?itok=_HjU2Cb9

A palavra autismo se origina do grego "auto” que significa "próprio". A

criança autista parece em si mesma, pouco reagindo ou respondendo ao

mundo que a rodeia. O autismo significa que o mundo não faz sentido. O

mundo não forma os padrões necessários de símbolos interligados que torna a

vida compreendida para essas crianças. As experiências sensoriais chegam à

sua mente a toda hora como uma língua estranha que ela nunca ouviu.

A etiologia é desconhecida, mas acredita-se em alteração orgânica

metabólica.
De 10.000 crianças há de 4 à 5 casos com menos de 12 ou 15 anos.

Com retardo mental severo, a taxa pode subir para 20 casos em 10.000

crianças. E é 4 vezes mais comum em meninos do que em meninas; porém as

meninas são mais seriamente acometidas.

QUADRO CLÍNICO

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O autismo é uma síndrome de etiologia puramente orgânica, para qual

existem, presentemente, três definições que podemos considerar como

adequadas:

 A da ASA - American Society for Autism (Associação Americana de

Autismo)
 A da Organização Mundial de Saúde, contida na CIS-10 (10a.

Classificação Internacional de Doenças) de 19991;

 A do DSM-IV - diagnostic and Statistical Manual of Mental disorders

(Manual Diagnóstico e estatístico dos distúrbios Mentais), da Associação

Americana de Psiquiatria.

A definição da ASA desenvolvida e aprovada em 1997, por uma equipe

de profissionais conhecidos pela comunidade científica mundial, por seus

trabalhos, estudos, pesquisas na área do autismo é resumidamente, a

seguinte:

1 - “O autismo é uma inadequacidade no desenvolvimento que se manifesta de

maneira grave por toda a vida. Acomete cerca de vinte entre cada dez mil

nascidos e é quatro vezes mais comum entre meninos do que em meninas.

Não se conseguiu até agora provar nenhuma causa psicológica, no meio

ambiente destas crianças, que possa causar a doença”.

Os sintomas, causados por disfunções físicas do cérebro, são

verificados pela anamnese ou presentes no exame ou entrevista com o

indivíduo. Incluem:

1o - Distúrbios no ritmo de aparecimentos de habilidades físicas, sociais

e linguísticas.
2o - Reações anormais às sensações. As funções ou áreas mais

afetadas são: visão, audição, tato, dor, equilíbrio, olfato, gustação e maneira de

manter o corpo.

3o - Fala ou linguagem ausentes ou atrasados. Certas áreas específicas

do pensar, presentes ou não. Ritmo imaturo da fala, restrita compreensão de

ideias. Uso de palavras sem associação com o significado.

4o - Relacionamento anormal com os objetos, eventos e pessoas.

Respostas não apropriadas a adultos ou crianças. Uso inadequado de objeto e

brinquedos. "

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2 - Segundo a CID-10, é classificado como F84-0, como "Um transtorno

invasivo de desenvolvimento, definido pela presença de desenvolvimento

anormal e/ou comprometimento que se manifesta antes da idade de 3 anos e

pelo tipo característico de funcionamento anormal em todas as três áreas: de

interação social, comunicação e comportamento restrito e receptivo. O

transtorno ocorre três a quatro vezes mais frequentemente em garotos do que

em meninas. "
3 - O DSM-IV apresenta o seguinte critério de diagnóstico:

A. Se enquadrar em um total de seis (ou mais) dos seguintes itens:

(1) Comprometimento qualitativo em interação social, com pelo

menos duas das seguintes características:

a) Acentuado comprometimento no uso de múltiplos

comportamentos não verbais que regulam a interação

social, tais como contato olho a olho, expressões faciais,

posturas corporais e gestos;

b) Falha no desenvolvimento de relações interpessoais

apropriadas à idade;

c) Ausência da busca espontânea em compartilhar de

divertimentos, interesses e empreendimentos com outras

pessoas

(2). Comprometimento qualitativo na comunicação, em pelo menos

um dos seguintes itens:

a) Atraso ou ausência total no desenvolvimento da fala

(sem a tentativa de compensá-la por meio de

comunicação por gestos ou mímicas);

b) Acentuado comprometimento na habilidade de iniciar e

manter uma conversação, naqueles que conseguem

falar;

c) Linguagem estereotipada, repetitiva ou idiossincrática;


d) Ausência de capacidade, adequada à idade, de realizar

jogos de faz-de-conta ou imitativos.

(3). Padrões de comportamento, interesse ou atividades repetitivas

ou estereotipados, em pelo menos um dos seguintes aspectos:

a) Preocupação circunscrita a um ou mais padrões de

interesse estereotipados e restritos, anormalmente, tanto

em intensidade quanto no foco;

b) Fixação aparentemente inflexível em rotinas ou rituais

não funcionais;

c) Movimentos repetitivos e estereotipados

d) Preocupação persistente com partes de objetos.

B. Atraso ou funcionamento anormal, antes dos três anos, em pelo menos

uma das seguintes áreas: interação social, linguagem de comunicação

social e jogos simbólicos ou imaginativos.

C. O distúrbio não se enquadra na síndrome de Rett ou no Distúrbio

Desintegrativo da Criança.
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lesi%C3%B3n-ps%C3%ADquica.jpg

O Autismo pode ocorrer isoladamente ou em associação com outros

distúrbios que afetam o funcionamento do cérebro, tais como Síndrome de

Down e epilepsia. Os sintomas mudam e alguns podem até desaparecer com a

idade.

O Q.I de crianças autistas, em aproximadamente 60% dos casos,

mostram resultados abaixo dos 50,20% entre 50 e 70 e apenas 20% tem

inteligência maior do que 70 pontos.

O Portador de Autismo tem uma expectativa de vida normal.

Formas mais grave podem apresentar comportamento destrutivo,

autoagressão e comportamento agressivo, que podem ser muito resistentes às

mudanças.

O Autismo jamais ocorre por bloqueios ou razões emocionais, como

insistiam os psicanalistas. As causas são múltiplas. Algumas já têm sido


relacionadas, como: fenilcetonúria não tratada, viroses durante a gestação,

principalmente durante os três primeiros meses (inclusive citomegalovirus),

toxoplasmose, rubéola, anoxia e traumatismos no parto, patrimônio genético,

etc. Ultimamente, pesquisas mostram evidências de aparecimento do autismo

após aplicações da vacina tríplice.

FISIOTERAPIA E TERAPIAS
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A atuação fisioterápica só é dada as crianças autistas com atraso motor,

onde são trabalhadas todas as fazes motoras até a marcha livre, estimulando

as etapas do desenvolvimento normal, prevenindo deformidades e dando

orientação familiar. Caso contrário existe algumas terapias na qual a criança

deve se identificar.

TERAPIAS
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MÉTODO DE DOMAN

A forma de trabalhar uma criança pode seguir muitos métodos distintos. O

método adequado depende muito do terapeuta e também das condições e

capacitações da criança.

Uma observação inicial que pode ser feita é que assim como a flor nasce,

o peixe nada e os pássaros cantam, a criança deve engatinhar andar e falar,

nesta sequência. São seus impulsos naturais. Quando ela falha no seu

desenvolvimento esta também deve ser a sequência a ser seguida no seu

trabalho terapêutico, segundo apreciação do Dr. Doman, notável especialista

americano, que depois de trabalhar, durante anos, com crianças deficientes,

segundo os métodos então tradicionais, chegou a uma conclusão

absolutamente espantosa: "As crianças que tinham permanecido sem


tratamento estavam incomparavelmente melhores do que as tratadas por nós".

Buscando razões deste fracasso, através da observação, que as mães que não

lhe deram ensejo de imobilizar os filhos pelo tratamento, levaram-nos para

casa, puseram-nos no chão e permitirá que eles fizessem o que lhes

aprouvesse. Estas crianças, por instinto, passaram a rastejar, engatinhar,

obtendo melhoras consideráveis.

O seu método nasceu daí e visa estimular a evolução natural da criança.

Este método tem muito seguidores no Brasil, prevê um programa de exercícios

que chega a ser extenuante, mas que tem se revelado eficaz.

HOLDING TERAPY

A terapia do abraço vem sendo empregada e defendida com crescente

entusiasmo por um grupo bastante numeroso. A revista Communication da

National Autistic Society de junho de 89 apresentou um artigo de Michele

Zappella (Psiquiatra) e John Richer (Pediatra) que resumimos a seguir.

O holding é uma forma de intervenção intrusiva cujo objetivo é reduzir o

isolamento social, aumentar a comunicabilidade e desenvolver laços de união.

O holding deve ser sempre parte de um pacote maior de terapias, mas parece

ser uma eficiente terapia para desenvolver as condições da maioria das

crianças autistas e de remover comportamentos indesejáveis. Welch

desenvolveu esta forma de terapia como parte de uma ampla abordagem.


Ainda não está claro como o Holding atua, porque a eficácia depende de

quem a aplica e qual a inter-relação com as demais terapias aplicadas

simultaneamente. O fato é que se obtêm resultados, independente de

gravidade do autismo. Vamos dar um exemplo:

"Uma criança com 1 ano e meio foi diagnosticada como autista e colocado

em um programa de um hospital escola, onde ficava a maior parte do dia com

outras crianças autistas. Depois de dois anos ela se apresentava seriamente

retardada e com comportamento fortemente autístico, com péssimo

prognóstico. Foi submetida então a tratamento envolvendo interações físicas

acentuadas, com Michele Zappella. Depois de 6 meses o comportamento

social da criança estava dentro da faixa normal da idade. Este exemplo é uma

ilustração e não pode, evidentemente, ser apresentado como evidência."

Deve ser lembrado. Inicialmente, que existem muitas variações de terapia

do abraço. De um modo geral, porém são elementos comuns:

 O adulto mantém a criança abraçada mesmo que ela se oponha e

lute para se livrar, até que ela se acalme e relaxe.

 O adulto deve manter o controle da criança

Uma seção atípica apresenta os seguintes passos:

 Inicialmente a criança pode ficar quieta, mas a seguir começa a

se debater. Os pais continuam a abraçá-la.

 A criança se debate mais e mais e ocasionalmente começa a

gritar. Os pais mantém o abraço.


 Os ciclos de luta, gritos e aquietamentos podem de estender até

por mais de uma hora.

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Durante, em especial, as seções iniciais, a criança se enraivece mais,

então soluça, depois relaxa e se amolda ao corpo dos pais. A partir de então a

criança se torna mais comunicativa, aconchegante e aberta.

A insistência em confrontar a criança é uma importante característica do

HOLDING. A intervenção é realizada mantendo a criança em contato estreito,

fixando-lhe o olhar, beijando-a e falando com ela (Alguns usam um fundo

musical).

Zappella aplicou a terapia a 50 crianças autistas, com idade de 3 a 15

anos, envolvendo a família e tendo como base a terapia do abraço. Ela registra
que 12% se normalizaram após dois anos, 18% perderam o comportamento

autístico e 44% apresentaram progressos moderados e 26% não

demonstraram resultados. J. Prekop, na Alemanha reportou resultados

similares. Ela também comparou o desenvolvimento destas crianças com

outras que não tinham sido submetidas ao HOLDING, concluindo que,

relativamente, fizeram maior progresso.

HIPOTERAPIA

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Essa atividade ajuda a fornecer balanço e força e requer o uso de suas

mãos, portanto minimiza os movimentos estereotipados das mãos e aumenta o

uso das mesmas.

O autista ganha controle, trazendo confiança e satisfação.


MUSICOTERAPIA

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A musicoterapia é um método muito eficaz. A música promove o

relacionamento entre o paciente e o terapeuta, que aproveita, na terapia tudo

que possa provocar algum ruído, som, ou mesmo movimento.

A musicoterapia também utiliza o próprio corpo do paciente. No início, o

terapeuta espera que o autista se expresse de algum modo, um piscar de

olhos, um som, um gesto qualquer. O terapeuta, então, repete o gesto ou emite

o mesmo som, tentando estabelecer uma comunicação com o paciente. Ao

mesmo tempo, procura mostrar ao autista que ele será aceito, não importa a

maneira como aja.

Se o autista retribui a mensagem, a primeira comunicação está feita. Ele

começa a se comunicar com os outros. Ele, agora, vê o mundo e o

compreende.
 Crescimento da independência escolhendo músicas e atividades

 Comunicação (atividades musicais através de símbolos).

 Desenvolvimento da autoimagem e da autoestima.

 Estimulação pelo contato expressivo dos olhos.

 Desenvolvimento da vocalização através da música.

 Aumento do uso proposital das mãos enquanto toca os

instrumentos

 Aumento da socialização através da participação.


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A musicalidade induz ao relaxamento que facilita na liberdade de

movimentos e expressão.

Nem todo autista tem um atraso motor, mas o que tiver deve-se trabalha

esse atraso até a marcha livre.

TRANSTORNOS GLOBAIS DO

DESENVOLVIMENTO

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content/uploads/2012/11/projectosfad.jpg.pagespeed.ce.4SoI03v4Ly.jpg
Os transtornos globais do desenvolvimento incluem um grupo de

condições nas quais há atraso ou desvio no desenvolvimento de habilidades

sociais, linguagem, comunicação e repertório comportamental.

Crianças afetadas exibem interesse intenso idiossincrático em uma

estreita gama de atividades, resistem à mudança e não respondem de maneira

adequada ao ambiente social. Esses fatores se manifestam cedo na vida e

causam disfunção pertinente.

TRANSTORNO AUTISTA

O transtorno Autista (historicamente chamado de autismo infantil

precoce/ autismo da infância ou autismo de Kanner) é caracterizado por

interação social recíproca anormal, habilidades de comunicação atrasadas e

disfuncionais e um repertório limitado de atividades e interesses.

PREVALÊNCIA
A taxa é de cinco casos por 10 mil crianças. O início do transtorno ocorre

antes dos 3 anos de idade, ainda que possa não ser reconhecido até a criança

ser muito mais velha.

DISTRIBUIÇÃO POR SEXO

É 4 a 5 vezes mais frequente em meninos do que em meninas. Meninas

com transtorno autista têm maior probabilidade de apresentar um retardo

mental grave.

ETIOLOGIA E PATOGÊNESE

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Segundo Kanner poderia ser consequência de mães muito “geladeiras”,

porém não há validade de tal hipótese.

FATORES PSICOSSOCIAIS E FAMILIARES

Essas crianças podem responder com sintomas exacerbados a

estressores psicossociais, incluindo discórdia familiar, nascimento de um novo

irmão ou mudança familiar.

FATORES BIOLÓGICOS

Cerca de 75% das crianças afetadas apresentam um retardo mental. Um

terço tem retardo mental leve a moderado e perto da metade tem retardo

mental grave ou profundo (essas crianças apresentam déficits mais

importantes no raciocínio abstrato no entendimento social e em tarefas verbais

do que em tarefas de desempenho).

Podem apresentar também:

 Convulsões;

 Aumento ventricular;
 Anormalidades eletroencefalográficas.

FATORES GENÉTICOS

Entre 2 e 4% dos irmãos de crianças autistas também tinham transtorno

autista, uma taxa 50 vezes maior do que na população geral.

FATORES IMUNOLÓGICOS

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Incompatibilidades imunológicas (anticorpos maternos transferidos ao

feto) podem contribuir para o transtorno autista. Os linfócitos de algumas

crianças autistas reagem com anticorpos maternos, o que levanta a


possibilidade de que tecidos neurais embrionários ou extraembrionários

possam ser danificados durante a gestação.

FATORES PERINATAIS

Uma incidência de complicações perinatais mais alta que o esperado

parece ocorrer em bebês mais tarde diagnosticados como autistas.

Sangramento materno após o primeiro trimestre. No período neonatal, estas

têm uma alta incidência de síndrome de sofrimento respiratório e anemia

neonatal.

FATORES NEUROANATÔMICOS

Estudos de RM comparando indivíduos autistas e controles normais

demonstraram que o volume cerebral total era maior entre os primeiros,

embora crianças com um retardo mental grave em geral tenham cabeças

menores. O volume pode sugerir: neurogenese aumentada, morte neuronal

diminuída e produção aumentada de tecido cerebral não neuronal, como

células gliais ou vasos sanguíneos. Acredita ser que o lobo temporal seja uma

área crítica de anormalidade cerebral no transtorno autista.


FATORES BIOQUÍMICOS

Em algumas crianças autistas, altas concentrações de ácido

homovanílico (principal metabólito da dopamina) no liquido cerebrospinal (LCS)

estão associados a aumento do retraimento e estereotipias.

CARACTERISTICAS FISICAS

Crianças com transtorno autista costumam ser descritas como atraente e

a primeira vista, não apresentam nenhum sinal indicando o problema. Podem

apresentar malformações das orelhas, uma vez que a formação das orelhas se

dá quase ao mesmo tempo em que a formação de porções do cérebro.

Também apresentam uma incidência mais alta de demartoglifia anormal

(impressões digitais) do que a população em geral.

CARACTERISTICAS COMPORTAMENTAIS

 Apresentam prejuízos qualitativos na interação social: não

apresentam sinais sutis com os pais e outras pessoas.

 Não apresentam contato visual ou o mesmo é muito pobre.

 Não reconhecem ou não diferenciam as pessoas mais

importantes em sua vida.


 Podem apresentar ansiedade extrema quando ocorre

alguma mudança em sua rotina.

 Há um déficit notável no brincar, seu comportamento social

pode ser desajeitado ou inadequado.

 Incapazes de interpretar a intenção do outro (não

desenvolvem a empatia).

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TRANSTORNOS DA COMUNICAÇÃO E NA LINGUAGEM

Os autistas têm dificuldade marcante em formar frases significativas

mesmo quando dispõem de vocabulários amplos.

COMPORTAMENTOS ESTERIOTIPADO
 Em seus primeiros anos de vida não explora o ambiente

(ou pouco).

 Os brinquedos são manuseados de formas ritualísticas,

com poucos aspectos simbólicos.

 Suas atividades tendem a ser rígidas, repetitivas e

monótonas, muitas com retardo mental grave, exibem anormalidades no

movimento.

 Costumam ser resistentes a transição e mudança.

SINTOMAS COMPORTAMENTAIS ASSOCIADOS

 Hipercinesia é um problema de comportamento comum

entre crianças autistas.

 Agressão e acessos de raiva são observados, em geral

induzidos por mudanças e exigências.

 Comportamento automutilador (inclui bater a cabeça,

morder, arranhar e puxar o cabelo).

 Período de atenção curto.

 Baixa capacidade de focalizar-se em uma tarefa.

 Insônia.

 Enurese.

 Problemas de alimentação.
DOENÇA FISICA ASSOCIADA

 Tem uma incidência mais alta do que o esperado de

infecções do trato respiratório superior e de outras infecções menores.

 Constipação e aumento do transito intestinal.

 Convulsões febris.

FUNCIONAMENTO INTELECTUAL

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Capacidades cognitivas ou Visio motoras incomuns ou precoces

ocorrem em algumas crianças autistas. São chamadas de funções

fragmentadas ou ilhas de precocidade.

Memórias de hábitos ou capacidades de cálculos muitas vezes

superiores aos seus pares normais.


Hiperlexia e boa leitura (embora não possam entender o que leem.

Memorização e recitação, bem como capacidades musicais (cantar ou tocar

melodias e reconhecer notas musicais)).

DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL

Os principais diagnósticos diferenciais são esquizofrenia com início na

infância, retardo mental com sintomas comportamentais, transtorno misto de

linguagem receptivo-expressiva, surdez congênita ou transtorno auditivo grave,

privação psicossocial e psicose desintegrativa (regressivas).

RETARDO MENTAL COM SINTOMAS COMPORTAMENTAIS

Crianças com retardo mental tendem a relacionar-se com adultos e

outras crianças de acordo com sua idade mental, usam a linguagem que tem

para comunicar se e exibem um perfil de prejuízos relativamente uniforme, sem

funções fragmentadas.

AFASIA ADQUIRIDA COM CONVULSÃO

Afasia adquirida com convulsão é uma condição rara, às vezes difícil de

diferenciar de um transtorno autista e transtorno desintegrativo na infância.


SURDEZ CONGÊNITA OU PREJUIZO AUDITIVO GRAVE

Visto que crianças autistas com frequência são mudas ou apresentam

um desinteresse seletivo na linguagem falada, costumam ser julgada surda.

Os fatores de diferenciação incluem o seguinte: bebês autistas podem

balbuciar com pouca frequência, enquanto bebês surdos têm história de

balbucio relativamente normal, que vai diminuindo e pode parar entre 6 meses

e 1 ano de idade. Crianças surdas respondem a apenas sons altos, enquanto

autistas podem ignorar sons altos ou normais e responder a sons suaves ou

baixos.

As crianças mesmo surdas gostam de se relacionar com seus pais,

buscam sua afeição e gostam de ser seguradas enquanto bebês,

diferentemente do autista.

CURSO E PROGNÓSTICO

O transtorno autista costuma se uma condição para toda a vida com um

prognóstico cauteloso. Crianças autistas com um QI acima de 70 e aquelas que

usam linguagem comunicativa nas idades de 5 a 7 anos tendem a ter melhores

prognósticos.

As áreas de sintoma que não parecem melhorar com o tempo foram

àquelas relacionadas a comportamentos ritualísticos e repetitivos.


Em geral, estudos do resultado em adultos indicam que cerca de dois

trecos dos adultos permanecem gravemente incapacitados e vivem em

dependência completa ou semidependência com seus parentes ou em

instituições de longo prazo.

O prognóstico melhora quando o ambiente ou lar é sustentador e capaz

de satisfazer as necessidades extensivas dessas crianças. Embora os

sintomas diminuam em muitos casos, automutilação grave ou agressividade e

regressão podem desenvolver em outros.

TRATAMENTO

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Os objetivos do tratamento de criança com transtorno autista são

aumentar o comportamento socialmente aceitável e pró-social, diminuir

sintomas comportamentais bizarros e melhorar a comunicação verbal e não

verbal.

Além disso, os pais muitas vezes confusos necessitam de apoio e

aconselhamento. No momento intervenções educacionais e comportamentais


são mais indicadas. Treinamento em sala de aula estruturada em combinação

com métodos comportamentais é o mais efetivo para muitas crianças autistas.

Não há medicamentos específicos para tratar os sintomas centrais do

autista, entretanto, a psicofarmacoterapia é um tratamento adjunto valioso para

melhorar sintomas comportamentais associados.

Foi relatado que ela atenua sintomas como agressividade, acesso de

raiva grave, comportamentos automutiladores, hiperatividade, comportamento

obsessivo compulsivo e esteriotipias. A administração de medicamentos

antipsicoticos pode reduzir o comportamento agressivo e automutilador.

HISTÓRICO DA EXCLUSÃO

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Nos anos 60 e 70, a marginalidade era vista como pobreza, uma

consequência das migrações internas que esvaziavam o campo da região

nordeste, do norte e “incharam” as cidades como Rio de Janeiro e São Paulo.


Entendia-se na época, que os problemas urbanos de moradia (favelas),

mendicância, delinquência etc., poderiam ter suas raízes nesses processos

migratórios.

Inicia-se aí a exclusão, onde competidores teriam a mesma chance na

luta pelo espaço, sendo que os mais aptos ganhariam melhores posições

nesse ambiente construído e disso resultariam zonas segregadas, onde os

mais pobres excluíam-se dos anéis urbanos e imediatamente passariam para o

próximo e gradativamente, os melhores lugares estariam ocupados pelos

“vencedores”.

Nos anos 70, existia o dualismo: atrasado x moderno, não integrado x

integrado, rural x urbanos e os estudiosos passaram a ver as relações

econômicas e sociológicas inerentes ao capitalismo como constitutivas do

sistema produtivo. As populações marginais aparecem, nesse contexto, como

consequência da acumulação capitalista, um exercício industrial de reserva

singular.

Nos anos 80, na chamada “década perdida”, ao contrário dos anos 60 e

70, quando se chamava a atenção para os favelados e para a migração como

figura emblemática dos excluídos na cidade, pelo aumento da pobreza e da

recessão econômica, ao mesmo tempo em que se vivia a chamada “transição

democrática”, chama-se a atenção para a questão da democracia, da

segregação urbana (efeitos perversos da legislação urbanística), a importância

do território para a cidadania, a falência das ditas políticas sociais, os

movimentos sociais, as lutas sociais.


O componente territorial implica não só que seus habitantes devem ter

acesso aos bens e serviços indispensáveis, mas que haja uma adequada

gestão deles, assegurando indispensáveis, mas que haja uma adequada

gestão deles, assegurando tais benefícios à coletividade. Aponta que o terceiro

mundo tem “não cidadãos” (contraste entre massa de pobres e a concentração

de riqueza), porque se funda na sociedade do consumo, da mercantilização e

na monetarização. Em lugar do cidadão, surge o consumidor insatisfeito, em

alienação, em cidadania mutilada.

A cidadania é também o direito de permanecer no lugar, no seu território,

o direito a espaço de memória. O capitalismo predatório e as políticas urbanas

que privilegiam interesses privados e o sistema de circulação acabaram por

descaracterizar bairros, expulsar moradores como favelados (remoção por obra

pública, reintegração de posse), encortiçados (despejos, remoção,

demolições), moradores de loteamento irregulares, sem teto, num nomadismo

sem direito às raízes.

Pedro Jacobi desenvolve seus trabalhos sobre a questão dos

movimentos sociais urbanos e as carências de habitação, equipamentos de

saúde, escolas, lazer, enfim, dos serviços urbanos. Assim a exclusão aparece

como não acesso aos benefícios da urbanização.

Nos anos 90 reeditam o conceito de exclusão como não cidadania,

principalmente a ideia de processo abrangente dinâmico e multidimensional.

O rótulo que parece empurrar as pessoas, os pobres, os fracos, para

fora da sociedade, para fora de suas melhores e mais justas corretas relações
sociais, privando-os dos direitos que dão sentido a essas relações. Quando, de

fato, esse movimento as está empurrando para dentro, para condição

subalterna de reprodutores mecânicos do sistema econômico, reprodutores

que não reivindicam nem protestam em face das privações, injustiças e

carências.

Neste caso o termo exclusão é concebido como expressão das

contradições do sistema capitalista e não como estado de fatalidade. Através

do consumismo dirigido, gera-se uma sociedade dupla, de duas partes que se

excluem reciprocamente, mas parecidas por conterem as mesmas mercadorias

e as mesmas ideias individualistas e competitivas, só que as oportunidades

não são iguais, o valor dos bens é diferente, a ascensão social é bloqueada.

Apesar disso, um bloco de ideias falso, enganador e mercantilizado acena para

o homem “moderno colonizado”, que passa a imitar, mimetizar os ricos e a

pensar que nisso reside à igualdade.

“É a sociedade da imitação, da reprodutividade e da

vulgarização, no lugar da criação e do sonho”.

SAWAIA (2009)

Atribui-se a René Lenoir, em 1974, a concepção da exclusão como um

fenômeno de ordem individual, mas social, cuja origem deveria ser buscada

nos princípios mesmos do funcionamento das sociedades modernas. Dentre

suas caudas destacava o rápido e desordenado processo de urbanização, a


inadaptação e uniformização do sistema escolar, o desenraizamento causado

pela mobilidade profissional, as desigualdades de renda e de acesso aos

serviços. Não se trata apenas de um fenômeno marginal, mas de um processo

em curso que atinge cada vez mais todas as camadas sociais.

“E os pobres passam a desconfiar de si próprios,

numa culpabilidade popular: caminhando sobre o

chão pavimentado pelo preconceito dos pobres

contra os pobres, as classes dominantes no Brasil

começam a extravasar uma subjetividade antipública

que segrega, elabora pela comunicação imediática

uma ideologiantiestatal, fundada no grande

desenvolvimento capitalista, na desindustrialização,

na terceirização superior, da dilapidação financeira

do estado e da imagem de um Estado devedor”.

SAWAIA (2009)

CONCEITO DE EXCLUSÃO
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O tema exclusão está presente na mídia, no discurso político e nos

planos e programas governamentais, a noção de exclusão social tornou-se

familiar no cotidiano das mais diferentes sociedades. Não é apenas um

fenômeno que atinge os países pobres.

A concepção de exclusão continua ainda fluida como categoria analítica,

difusa, apesar dos estudos existentes, e provocadora de intensos debates.

Muitas situações são descritas como exclusão, que representam as mais

variadas formas e sentidos advindos da relação inclusão/ exclusão. Sob esse

rótulo estão contidos inúmeros processos e categorias, uma série de

manifestações que aparecem como fraturas e rupturas do vínculo social

(pessoas idosas, deficientes, desadaptados sociais, minorias étnicas ou de cor,

desempregados de longa duração, jovens impossibilitados de aceder ao

mercado de trabalho, etc.). Assim os estudiosos da questão concluem que do


ponto de vista epistemológico, o fenômeno da exclusão é tão vasto que é

quase impossível delimitá-lo.

... “Excluídos são todos aqueles que são rejeitados

de nossos mercados materiais ou simbólicos, de

nossos valores” SAWAIA (2009).

A ruptura de carência, de precariedade, pode-se afirmar que toda

situação de pobreza leva a formas de ruptura do vínculo social e representa, na

maioria das vezes, um acúmulo de déficit e precariedade. A pobreza não

significa necessariamente exclusão, ainda que possa ela conduzir.

A pobreza e a exclusão no Brasil são faces de uma mesma moeda. As

altas taxas de concentração de renda e desigualdade persistentes em nosso

país convivem como os efeitos perversos do fenômeno do desemprego

estrutural. Se, de um lado cresce cada vez mais a distância entre os excluídos

e os incluídos, de outro, essa distância nunca foi tão pequena, uma vez que os

incluídos estão ameaçados de perder direitos adquiridos.

A consolidação do processo de democratização, em nosso país, terá

que passar necessariamente pela desnaturalização das formas com que são

encaradas as práticas discriminatórias, portanto, geradoras de processo de

exclusão.
De acordo com SAWAIA (2009), no livro as Artimanhas da Exclusão, a

inclusão é contraditória, onde a qualidade de conter em si a sua negação e não

existir sem ela, isto é, ser idêntico à inclusão (inserção social perversa). A

sociedade exclui para incluir e esta transmutação é condição da ordem social

desigual, o que implica o caráter ilusório da inclusão. Todos estamos inseridos

de algum modo, nem sempre decente e digno, no circuito reprodutivo das

atividades econômicas, sendo a grande maioria da humanidade inserida

através da insuficiência e das privações, que se desdobram para fora do

econômico. Portanto, em lugar da exclusão, o que se tem é a “dialética

exclusão/ inclusão”.

A dialética inclusão/exclusão gesta subjetividade especificas que vão

desde o sentir-se incluído até o sentir-se discriminado ou revoltado. Essas

subjetividades não podem ser explicadas unicamente pela discriminação

econômica, elas determinam e são determinadas por formas diferenciadas de

legitimação social e individual, e manifestam-se no cotidiano como identidade,

sociabilidade, afetividade, consciência e inconsciência.

“Em síntese, a exclusão é processo e multifacetado,

uma configuração de dimensões materiais, políticas,

relacionais e subjetivas. É processo sutil e dialético,

pois só existe em relação à inclusão como parte

constitutiva dela. Não é uma coisa ou um estado, é


processo que envolve o homem por inteiro e suas

relações com os outros. Não tem uma única forma e

não é uma falha do sistema, devendo ser combatida

como algo que perturba a ordem social, ao contrário,

ele é produto do funcionamento do sistema” (SAWAIA,

2009)

http://fundacionunam.org.mx/wp-content/uploads/2013/01/nino-autista.jpg

SAWAIA (2009) aponta vários estudos acerca da exclusão e todos eles

reforçam a tese de que o excluído não está à margem da sociedade, mas

repõe e sustenta a ordem social, sofrendo muito neste processo de inclusão

social, pois a sociedade opera sobre o homem (social e o psicológico), de

forma que o papel de excluído engole o homem.

INCLUSÃO DA CRIANÇA AUTISTA


http://fundacionunam.org.mx/wp-content/uploads/2013/01/nino-autista.jpg

Muito se tem falado sobre o processo de inclusão, e quase sempre com

a conotação de que inclusão e integração escolar seriam sinônimas. Na

verdade, a integração insere o sujeito na escola esperando uma adaptação

deste ao ambiente escolar já estruturado, enquanto que a inclusão escolar

implica em redimensionamento de estruturas físicas da escola, de atitudes e

percepções dos educadores, adaptações curriculares, dentre outros. A inclusão

num sentido mais amplo significa o direito ao exercício da cidadania, sendo a

inclusão escolar apenas uma pequena parcela do processo que precisamos

percorrer.

Um processo de inclusão escolar consciente e responsável não

acontece somente no âmbito escolar e deve seguir alguns critérios. A família

do indivíduo portador de autismo possui um papel decisivo no sucesso da

inclusão. Sabemos que se trata de famílias que experimentam dores psíquicas


em diversas fases da vida, desde o momento da notícia da deficiência e

durante as fases do desenvolvimento, quando a comparação com demais

crianças é frequente.

O ambiente para o desenvolvimento da criança, tanto "normal" quanto

"deficiente", no que tange à organização de suas atividades de vida diária e ao

processo de estimulação, torna-se fundamental compreender como o ambiente

influencia o desenvolvimento das crianças, principalmente daquelas que

apresentam algum tipo de deficiência. Vygotsky (1994) afirma “que a influência

do ambiente sobre o desenvolvimento infantil, ao lado de outros tipos de

influências, também deve ser avaliada levando em consideração o grau de

entendimento, a consciência e o insight do que está acontecendo no ambiente

em questão”.

O microsistema da família não é o único que precisa ser estudado. Há

também o ambiente da escola, que constitui mais um espaço de socialização

para a criança com autismo. Em relação a isso, muito se tem discutido a

respeito da inclusão da criança autista em ambiente coletivo, mostrando a sua

importância e necessidade.
http://fundacionunam.org.mx/wp-content/uploads/2013/01/nino-autista.jpg

É importante ressaltar a necessidade de mais orientação para as

famílias de crianças autistas, as quais devem ser mais bem informadas sobre

este tipo transtorno e suas consequências para o desenvolvimento da criança,

bem como dos recursos necessários para favorecê-lo. Nesse contexto, as

políticas públicas têm um papel muito importante, especialmente para as

famílias de baixa renda, uma vez que o gasto com profissionais e com

atendimento especializado torna-se necessário.

O nascimento de um filho com algum tipo de deficiência ou doença, ou o

aparecimento de alguma condição excepcional, significa uma destruição de

todos os sonhos e expectativas que haviam sido gerados em função dele.

Durante a gravidez, e mesmo antes, os pais sonham com aquele “filho ideal”

que será bonito, saudável, inteligente, forte e superará todos os limites; aquele

filho que realizará tudo que eles não conseguiram alcançar em suas próprias

vidas. Além da decepção, o nascimento de um filho portador de deficiência

implica em reajustamento de expectativas, planos para o futuro e a vivência de

situações críticas e sentimentos difíceis de enfrentar.


Passado o período de luto simbólico, a forma como a família se

posiciona frente à deficiência pode ser determinante para o desenvolvimento

do filho. Muitos pais, porque não acreditam que seus filhos possuam

potencialidades, deixam de ensinar coisas elementares para o autocuidado e

para o desenvolvimento da independência. Alguns optam pelo isolamento e

outros por infantilizarem seus filhos por toda a vida, esquecendo que eles não

são eternos e que o portador de necessidades especiais deve se tornar o mais

autônomo possível.

Quando se propõe a inclusão de crianças autistas devem-se respeitar as

características de sua natureza, visando à aquisição de comportamentos

sociais aceitáveis, porém, respeitando as necessidades especiais de cada

educando, e, sobretudo, trazendo os pais para um comportamento mais

realístico possível, evitando a fantasia da cura, tão presente em pais de

crianças especiais

A escola também pode colaborar dando sugestões aos familiares de

como estes podem agir em casa, de maneira que se tornem coautores do

processo de inclusão de seus filhos. Sendo assim, quando uma criança

portadora de autismo é incluída na escola regular, sua família também o é.

Com efeito, é provável que antes da inclusão escolar a convivência com os

pais de outras crianças, o planejamento de visitas de coleguinhas na casa da

criança e a frequência a festinhas de aniversário dos colegas de sala eram

possibilidades muito distantes para essas famílias. O objetivo da educação

especial é o de reduzir os obstáculos que impedem o indivíduo de

desempenhar completas atividades e participação plena na sociedade.


Promover a inclusão significa, sobretudo, uma mudança de postura e de

olhar acerca do transtorno. Implica em quebra de paradigmas, em reformulação

do nosso sistema de ensino para a conquista de uma educação de qualidade,

na qual, o acesso, o atendimento adequado e a permanência sejam garantidos

a todos os alunos, independentemente de suas diferenças e necessidades. A

concepção da Educação Especial como serviço segrega e cria dois sistemas

separados de educação: o regular e o especial, eliminando todas as vantagens

que a convivência com a diversidade pode nos oferecer.

É preciso ter claro que para a conquista do processo de inclusão de

qualidade, algumas reformulações no sistema educacional se fazem

necessário. Seriam elas: adaptações curriculares, metodológicas e dos

recursos tecnológicos, a racionalização da terminalidade do ensino para

aqueles que não puderem atingir o nível exigido para a conclusão do Ensino

Fundamental, em virtude das necessidades especiais, a especialização dos

professores e a preparação para o trabalho, visando à efetivação da cidadania

do portador de necessidades especiais.

A escola, por sua vez, para promover a inclusão deve eliminar barreiras

que vão além das arquitetônicas, mas principalmente as atitudinais. São

necessárias algumas adaptações de grandes e pequenos portes, tais como a

adaptação curricular, a adaptação do sistema de avaliação da aprendizagem,

de materiais e equipamentos, a preparação dos recursos humanos e a

preparação dos alunos e pais de alunos que receberão o portador de

necessidades especiais. Sem as devidas adaptações, um processo de inclusão

pode ser mais segregador que a exclusão declarada, pois entendemos que a
inclusão não pode se restringir à convivência social, mas deve zelar pela

aprendizagem da criança com necessidades especiais. O atendimento

educacional a crianças e jovens portadoras de autismo tem sido realizado, em

nosso país, em escolas especiais ou ainda em clínicas-escolas, provavelmente

porque educar uma criança autista ainda se constitui em um grande desafio em

função das características desta população. Uma desordem aguda do

desenvolvimento requer tratamento especializado para o autista por toda a sua

vida.

É fato que a inclusão deve ser avaliada em seu custo-benefício para o

aluno em questão. Não podemos perder de vista que “a inclusão é um

processo permanente e contínuo, pois a inclusão sempre deve visar a

aprendizagem dos alunos com necessidades especiais e não simplesmente o

convívio social, habilidade que a criança pode adquirir em muitos espaços e

não necessariamente na escola.

O desenvolvimento fantástico das novas tecnologias, a maneira de se

produzir as coisas e a maneira de se executar os serviços sofreram uma

transformação profunda. Surge o fenômeno da automação, isto é, as novas

tecnologias criam instrumentos que substituem a mão-de-obra humana. Com

isso multidões de pessoas foram dispensadas de seus empregos, e as novas

gerações nem chegam a conseguir um local de trabalho. As relações centrais

que definem nossa sociedade não são mais apenas a dominação e a

exploração, como no modo de produção capitalista, pois são bem menos agora

os que podem ser dominados ou explorados.


A consequência do capitalismo é a competitividade, a qual exige a

exclusão. É o confronto, o choque entre interesses diferentes ou contrários,

que vai fazer com que as pessoas lutem, trabalhem, se esforcem para

conseguir melhorar seu bem-estar, sua qualidade de vida, sua ascensão.

Podemos tomar como exemplo o filme exibido em sala de aula - “Como as

estrelas na terra, toda criança é especial”, onde Ishaan era rotulado de burro,

preguiçoso e desinteressado, pois não conseguia acompanhar as exigências

do pai, que era muito rígido. Ishaan não conseguia acompanhar os demais

porque era disléxico e por isso era excluído pela sociedade e pela própria

família. Assim também acontece com a criança autista.

http://t1.uccdn.com/pt/images/9/9/3/img_como_identificar_o_autismo_infantil_10399_orig.jpg

Mas essa competitividade vai além da disputa de mercado, trata-se de

uma competitividade que se estabelece entre os seres humanos. O ser


humano, como ser isolado e egoísta, tem de competir para sobreviver, de um

lado e de outro lado, para trazer progresso.

“Mas essa competitividade entre os desiguais acaba

por excluir os mais fracos e manter a dominação dos

mais fortes” (SAWAIA, 2009).

A educação de uma criança portadora de autismo representa, sem

dúvida, um desafio para todos os profissionais da Educação. A singularidade e

a insuficiência de conhecimento sobre a síndrome nos fazem percorrer

caminhos ainda desconhecidos e incertos sobre a melhor forma de ajudar

essas crianças e sobre o que podemos esperar de nossas intervenções. É

necessário ter humildade e cautela diante do tema, pois para compreender o

autismo, é preciso uma constante aprendizagem, uma contínua revisão sobre

nossas crenças, valores e conhecimento sobre o mundo, e, sobretudo, sobre

nós mesmos.
http://www.pim.saude.rs.gov.br/a_PIM/noticias/1258/simbolo-autismo.jpg

SÍNDROME DE ASPERGER

http://t1.uccdn.com/pt/images/4/5/8/img_como_diferenciar_o_sindrome_de_asperger_

do_autismo_3854_orig.jpg
A síndrome de Asperger é um tipo de autismo, mas sem nenhum atraso

ou retardo no desenvolvimento e da linguagem. Quando adultos, os portadores

podem viver de forma comum, como qualquer outra pessoa que não possui a

síndrome. Há indivíduos com Asperger que se tornam professores

universitários. Alguns sintomas desta síndrome são:

 Interesses específicos ou preocupações com um tema, em

detrimento de outras atividades;

 Peculiaridades na fala e na linguagem;

 Padrões de pensamento lógico/técnico extensivo (às vezes

comparado com os traços de personalidade do personagem

Spock de Jornada nas Estrelas);

 Comportamento socialmente e emocionalmente impróprio e

problemas de interação interpessoal;

 Problemas com comunicação;

 Transtornos motores, movimentos desajeitados e

descoordenados.

As características mais comuns e importantes podem ser divididas em

várias categorias amplas: as dificuldades sociais, os interesses específicos e

intensos, e peculiaridades na fala e na linguagem. A principal característica é a

dificuldade com o convívio social. Os não autistas são capazes de captar

informação sobre os estados emocionais de outras pessoas pela expressão

facial, linguagem corporal, humor e ironia. Já os portadores de Asperger não

têm essa capacidade, o que é às vezes chamado de "cegueira emocional".


As pessoas com Asperger não têm a habilidade natural de enxergar a

comunicação implícita da interação social, e podem não ter capacidade de

expressar seu próprio estado emocional, resultando em observações e

comentários que podem soar ofensivos apesar de bem-intencionados, ou na

impossibilidade de identificar o que é socialmente "aceitável". As regras

informais do convívio social que angustiam os portadores de Asperger são

descritas como "o currículo oculto". Os Aspergers precisam aprender estas

aptidões sociais intelectualmente de maneira clara, seca, lógica como

matemática, em vez de intuitivamente por meio da interação emocional normal.

Este fenômeno também é considerado uma carência de teoria da mente.

Sem isso, os indivíduos com Asperger não conseguem reconhecer nem

entender os pensamentos e sentimentos dos demais. Desprovidos dessa

informação intuitiva, não podem interpretar nem compreender os desejos ou

intenções dos outros e, portanto, são incapazes de prever o que se pode

esperar dos demais ou o que estes podem esperar deles. Isso geralmente leva

a comportamentos impróprios e antissociais:


http://estudossobresaude.com.br/wp-content/uploads/2015/03/Sind-asperger.jpg

 Dificuldade em compreender as mensagens transmitidas por meio

da linguagem corporal: Aspergers geralmente não olham nos

olhos, e quando olham, não conseguem "ler" os olhos das outras

pessoas.

 Interpretar as palavras sempre em sentido literal: Aspergers têm

dificuldade em identificar o uso de coloquialismos, ironia, gírias,

sarcasmo e metáforas.

 Ser considerado grosso, rude e ofensivo: propensos a

comportamento egocêntrico, Aspergers não captam indiretas e

sinais de alerta de que seu comportamento é inadequado à

situação social.

 Honestidade e ludibrio: Aspergers são geralmente considerados

“honestos demais”, “inocentes” ou “sem malícia” e têm dificuldade

em enganar ou mentir, mesmo à custa de magoar alguém.

 Aperceber-se de erros sociais: à medida que os Aspergers

amadurecem e se tornam cientes de sua "cegueira emocional",

começam a temer cometer novos erros no comportamento social,

e a autocrítica em relação a isso pode crescer a ponto de se

tornar fobia.

 Paranoia: por causa da "cegueira emocional", pessoas com

Asperger têm problemas para distinguir a diferença entre atitudes

deliberadas ou casuais dos outros, o que por sua vez pode gerar

uma paranoia.
 Lidar com conflitos: ser incapaz de entender outros pontos de

vista pode levar a inflexibilidade e a uma incapacidade de

negociar soluções de conflitos. Uma vez que o conflito se resolva,

o remorso pode não ser evidente.

 Consciência de magoar os outros: uma falta de empatia em geral

leva a comportamentos ofensivos ou insensíveis não intencionais.

 Consolar os outros: como carecem de intuição sobre os

sentimentos alheios, pessoas com Aspergers têm pouca

compreensão sobre como consolar alguém ou fazê-los se

sentirem melhor.

 Reconhecer sinais de enfado: a incapacidade de entender os

interesses alheios pode levar Aspergers a serem

incompreensivos ou desatentos. Na mão inversa, pessoas com

Asperger geralmente não percebem quando o interlocutor está

entediado ou desinteressado.

 Introspecção e autoconsciência: indivíduo com Asperger têm

dificuldade de entender seus próprios sentimentos ou o seu

impacto nos sentimentos alheios.

 Vestimenta e higiene pessoal: pessoas com Asperger tendem a

ser menos afetadas pela pressão dos semelhantes do que outras.

Como resultado, geralmente fazem tudo da maneira que acham

mais confortáveis, sem se importar com a opinião alheia. Isto é

válido principalmente em relação à forma de se vestir e aos

cuidados com a própria aparência.


 Amor e rancor recíprocos: como Aspergers reagem mais

pragmaticamente do que emocionalmente, suas expressões de

afeto e rancor são em geral curtas e fracas.

 Compreensão de embaraço e passo em falso: apesar do fato de

pessoas com Asperger terem compreensão intelectual de

constrangimento e gafes, são incapazes de aplicar estes

conceitos no nível emocional.

 Necessidade crítica: Aspergers sentem-se forçosamente

compelidas a corrigir erros, mesmo quando são cometidos por

pessoas em posição de autoridade, como um professor ou um

chefe. Por isto, podem parecer imprudentemente ofensivos.

 Velocidade e qualidade do processamento das relações sociais:

como respondem às interações sociais com a razão e não

intuição, Aspergers tendem a processar informações de

relacionamentos muito mais lentamente do que o normal, levando

a pausas ou demoras desproporcionais e incômodas.

 Exaustão: quando um indivíduo com Asperger começa a entender

o processo de abstração, precisa treinar um esforço deliberado e

repetitivo para processar informações de outra maneira. Isto

muito frequentemente leva a exaustão mental.


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zQfIRlI/AAAAAAAAAQU/WYBf2ZpLn8A/s1600/sindrome-asperger2.jpg

Portadores da Síndrome de Asperger pode ter problemas em

compreender as emoções alheias: as mensagens passadas pela expressão

facial, olhares e gestual não surtem efeito. Eles também podem ter dificuldades

em demonstrar empatia. Assim, Aspergers podem parecer egoístas,

egocêntricos ou insensíveis. Na maioria dos casos, estas percepções são

injustas porque os portadores da síndrome são neurologicamente incapazes de

entender os estados emocionais das pessoas à sua volta. É evidente que

pessoas com Asperger têm emoções! Mas a natureza concreta dos laços

emocionais que venham a ter pode parecer curiosa ou até ser uma causa de

preocupação para quem não compartilha da mesma perspectiva. O problema

pode ser exacerbado pelas respostas daqueles neurotípicos (não autistas) que

interagem com portadores de Asperger. O aparente desapego emocional de

um paciente Asperger pode confundir e aborrecer uma pessoa neurotípica, que

por sua vez pode reagir ilógica e emocionalmente - reações que vários
Aspergers especialmente não toleram. Isto pode gerar um círculo vicioso e às

vezes desequilibram particularmente famílias de pessoas Aspergers.

Pessoas com Asperger tipicamente tem um modo de falar altamente

"pedante", usando um registro formal muitas vezes impróprio para o contexto.

Uma criança de cinco anos de idade com essa condição pode falar

regularmente como se desse uma palestra universitária, especialmente quando

discorrer sobre seus assuntos de interesse.

Crianças com Asperger podem demonstrar aptidão avançadas demais

para sua idade em relação à fala, leitura, matemática, noções de espaço ou

música, às vezes no nível de "superdotados", mas estes talentos são

contrabalançados por retardamentos consideráveis no desenvolvimento de

outras funções cognitivas.

A Síndrome de Asperger na criança pode se desenvolver como um nível

de foco intenso e obsessivo em assuntos de interesse. Algumas vezes, os

interesses são vitalícios; em outros casos, vão mudando a intervalos

imprevisíveis. Em qualquer caso, são normalmente um ou dois interesses de

cada vez.

Ao perseguir estes interesses, portadores de Aspergers frequentemente

manifestam argumentação extremamente sofisticada, um foco quase obsessivo

e uma memória impressionantemente boa para dados. Na escola, podem ser

considerados inaptos ou superdotados altamente inteligentes, claramente

capazes de superar seus colegas em seu campo do interesse, e ainda assim


constantemente desmotivados para fazer deveres de casa comuns (às vezes

até mesmo em suas próprias áreas de interesse).

Pessoalmente creio que a chave para superar o autismo é compreendê-

lo. O autismo é causado por diversos processos bioquímicos que afetam a

forma com que o cérebro se desenvolve.

Durante algum tempo acreditei que o cérebro das pessoas autistas

estava estruturado de forma ligeiramente diferente de forma que havia uma

tendência maior dos impulsos neurais para viajar para cima e para baixo

(pensamento literal) e uma menor tendência a moverem-se lateralmente

(pensamento lateral). Este fenômeno estaria estendido por todo o cérebro ao

invés de estar localizado em certas regiões. Os experimentos com redes

neurais em computadores têm demonstrado que as redes que enfatizam o

movimento vertical da informação (como um cérebro autista) mostram uma

grande habilidade com detalhes porém muita dificuldade para distinguir as

coisas.

Em uma maior e mais complexa escala do cérebro, isto significa que as

pessoas neurotípicas são mais conscientes do argumento todo e as pessoas

autistas são mais conscientes dos detalhes. Os autistas são melhores nos

problemas lógicos, porém menos intuitivos. Isto não significa necessariamente

que os autistas possuem memórias brilhantes, muito pelo contrário, a princípio

podem ser bem distraídos para algumas coisas. A elevada sensibilidade

sensorial e a constante atenção com os detalhes extras, a maioria dos quais

não são importantes, podem ser uma fonte inesgotável de distração para a

concentração e as habilidades de aprendizagem. Pode ser especialmente difícil


captar a informação relevante referente à cultura em que vive, especialmente

nas atuais sociedades evoluídas, nas quais creio que está havendo uma

sobrecarga cultural (ver conhecimento geral).

http://br.guiainfantil.com/uploads/Saude/aspergerG.jpg

O que eu acredito agora é similar ao descrito acima, mas ligeiramente

modificado. Agora creio que talvez a causa primordial do autismo é uma

predisposição à reavaliação de pensamentos prévios (e por isso a repetição e

os rituais). Consequentemente, a capacidade para a intuição e a consciência

contextual se reduz.

Para avaliar uma situação social é preciso encontrar muitas pistas e uni-

las o mais rapidamente possível em um conjunto. A dedução final é muitas

vezes maior do que a soma de suas partes.


Além disso, outra coisa difícil para a pessoa autista é encontrar um

“ponto de equilíbrio” e isto pode ser visto em todos os níveis de conduta e

relacionamento. A habilidade para adaptar-se ao “continuum situacional” e

moldar-se ao mundo que o cerca é, sem dúvida, uma estratégia de

sobrevivência extremamente antiga, que é mais relevante nos aspectos sociais

da vida.

Muitos dos problemas experimentados por alguém com Síndrome de

Asperger podem ser atribuídos a uma inexplicável sucessão de má sorte. A

única forma de poder tornar este sentimento muito menos frustrante é encarar

os seus problemas como desafios a serem superados ao invés de problemas.

Não quis que as pessoas pensassem que existe apenas uma definição

do que é o autismo ou a Síndrome de Asperger, porém se tivesse que explicar

com uma única frase seria:

Os autistas têm que compreender de forma científica o que já as pessoas

não autistas compreendem instintivamente.

SÍNDROME DE RETT
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Andreas Rett identificou, em 1966, uma condição caracterizada por

deterioração neuromotora em crianças do sexo feminino, quadro clínico

bastante singular, acompanhado por hiperamonemia, tendo-o descrito como

uma “Atrofia Cerebral Associada à Hiperamonemia”.

A condição por ele descrita somente passou a ser melhor conhecida

após a publicação do trabalho de Hagberg et al, no qual foram descritas 35

meninas, e a partir do qual foi sugerido o epônimo de síndrome de Rett (SR). A

presença da hiperamonemia não foi confirmada como um sinal habitual da

síndrome.

Admite-se, na atualidade, uma prevalência da doença estimada entre

1:10.000 e 1:15.000 meninas, sendo uma das causas mais frequentes de

deficiência mental severa que afeta o sexo feminino.


No Brasil, a SR foi inicialmente identificada por Rosemberg et al (1986,

1987). Desde então, vários trabalhos foram publicados no Brasil, divulgando o

quadro clínico e tornando possível a identificação de algumas centenas de

meninas afetadas.

A partir do que já se conhece sobre a síndrome de Rett, focaliza as

informações mais recentes da literatura internacional sobre os aspectos

genéticos e etiológicos desta condição, bem como sobre a sua identificação

clínica e laboratorial, neuropatologia, eletrofisiologia, e evolução clínica

(epilepsia, distúrbios respiratórios, distúrbios autonômicos e aspectos

nutricionais), enfatizando, ainda, que, embora até recentemente tida como

condição que afetava apenas o sexo feminino, também pode estar presente no

sexo masculino, ainda que com fenótipo diverso.

O diagnóstico da SR, até pouco tempo, era exclusivamente clínico,

existindo ainda critérios para o diagnóstico de quadros atípicos da SR, que

somente devem ser firmados após os 10 anos de idade. Na atualidade, a

descrição de uma alteração genética identificável em aproximadamente 80%

dos casos sugere que esse recurso deva ser utilizado na elaboração final do

diagnóstico.
Quadro clínico

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A doença evolui de forma previsível, em estágios, que foram nomeados

por Hagberg & Witt-Engerström (1986) da seguinte forma: o primeiro deles,

denominado estagnação precoce, inicia-se entre seis e 18 meses e caracteriza-

se por uma parada no desenvolvimento, desaceleração do crescimento do

perímetro craniano, diminuição da interação social com consequente

isolamento. Esse estágio tem a duração de alguns meses.

O segundo, rapidamente destrutivo, inicia-se entre um e três anos de

idade e tem a duração de semanas ou meses. Uma rápida regressão

psicomotora domina o quadro, com a presença de choro imotivado e períodos


de extrema irritabilidade, comportamento tipo autista, perda da fala e

aparecimento dos movimentos estereotipados das mãos, com subsequente

perda da sua função práxica; disfunções respiratórias (apnéias em vigília,

episódios de hiperventilação e outras) e crises convulsivas começam a se

manifestar. Em algumas crianças há perda da fala que já estava eventualmente

presente. Distúrbios do sono são comuns.

Entre os dois e dez anos de idade instala-se o terceiro estágio: o

pseudo-estacionário, no qual ocorre certa melhora de alguns dos sinais e

sintomas, inclusive do contato social. Os distúrbios motores são evidentes, com

presença de ataxia e apraxia, espasticidade, escoliose e bruxismo. Os

trabalhos estrangeiros referem que nessa fase é muito comum ocorrer perda

de peso, apesar de ingesta normal. Todavia, em pesquisa conduzida no Brasil,

Schwartzman não encontrou desnutrição entre as crianças examinadas. Ao

contrário do que se poderia esperar, várias das pacientes apresentavam

sobrepeso. Crises de perda de fôlego, aerofagia e expulsão forçada de ar e

saliva ocorrem com frequência.

O quarto estágio, que se inicia por volta dos dez anos de idade, é o da

deterioração motora tardia, ocorrendo lenta progressão dos déficits motores,

com presença de escoliose e severa deficiência mental. Epilepsia pode se

tornar menos importante, e as poucas pacientes que ainda retêm a

deambulação gradualmente terão prejuízos crescentes, acabando por ter que

utilizar cadeiras de rodas. Observa-se, nesse período, a superposição de sinais

e sintomas decorrentes de lesão do neurônio motor periférico aos prejuízos já

presentes. Presença de coreo-atetose é comum nessa fase. Apesar de ser


habitual afirmar-se que as meninas com SR são normais ao nascimento e

demonstram um desenvolvimento normal até os seis ou dezoito meses de

idade, sabe-se hoje que em grande parte dos casos, senão em todos, há na

verdade um atraso no desenvolvimento motor com hipotonia muscular e

prejuízo no engatinhar, que são os sinais iniciais.

A fala está sempre muito comprometida e, muitas vezes, totalmente

ausente. Algumas crianças chegam a falar, deixando de fazê-lo à medida que a

deterioração avança. Algumas poucas adquirem alguns vocábulos isolados.

Apenas um trabalho refere a presença de “frases apropriadas” em casos de

SR. Estudo que se baseou no exame de uma amostra composta por 265

pacientes com quadros clássicos e atípicos de SR e pôde comprovar que, 30%

delas nunca desenvolveram palavras inteligíveis, 55% deixaram de falar após

ter adquirido fala, 15% retinham algumas palavras e 6% do total continuavam a

fazer uso apropriado de frases.

Crises epilépticas são de ocorrência comum. Podem assumir várias

formas e, eventualmente, demonstrar grande resistência à medicação

antiepiléptica habitual. Afirmar a real prevalência de epilepsia nessas pacientes

é difícil, porque elas podem apresentar outras manifestações paroxísticas que

são, muito frequentemente, confundidas com epilepsia. Hagberg et al, por

exemplo, afirmam que nas séries por eles acompanhadas, a ocorrência de

epilepsia pôde ser comprovada em 94% dos casos. A média de idade da

população era de 20 anos, variando entre quatro e 58 anos. Frequentemente

crises de perda de fôlego, crises hipoxêmicas seguindo episódios de apneia


são diagnosticadas erroneamente como epilepsia, o que pode contribuir para

prevalências superestimadas de epilepsia nessas crianças.

http://cdn.mundodastribos.com/606084-A-crian%C3%A7a-apresenta-dificuldades-de-movimentos-e-

aprendizado.-Foto-divulga%C3%A7%C3%A3o.jpg

O eletroencefalograma é, em geral, grosseiramente anormal, exceção

feita, eventualmente, às primeiras fases da doença. À medida que a condição

evolui do estágio I para o III, observaremos lentificação progressiva do ritmo de

base com surgimento de ondas pontiagudas projetando-se, em geral, nas

regiões centro-parietais. No estágio III podem surgir descargas com o padrão

espícula-onda lenta, mais facilmente observada durante o sono. No estágio IV

pode haver uma certa melhora no traçado com diminuição dos elementos

epileptiformes. As espículas centrais tendem a diminuir após os dez anos de

idade e podem ser bloqueadas pela movimentação passiva dos dedos da mão

contralateral.
A sobrevida na SR pode ser limitada, sobrevindo a morte, em geral, em

decorrência de um quadro infeccioso ou durante o sono (morte súbita). Outro

fator que pode limitar tanto a qualidade de vida como o tempo de sobrevida,

consiste nos problemas respiratórios crônicos decorrentes de problemas

secundários à escoliose, que pode chegar a comprometer seriamente a

expansão pulmonar.

No quadro clínico da SR podemos observar algumas alterações que

permitem supor algum tipo de disfunção autonômica. Julu et al estudaram, sob

este ponto de vista, 17 meninas com a SR. Demonstraram que o tono vagal

cardíaco era 65% inferior ao de meninas controles. Esses valores são similares

aos observados em recém-nascidos normais. Cada uma das meninas Rett

apresentou, pelo menos, seis alterações no ritmo respiratório. O tono vagal

cardíaco era suprimido no ápice da atividade simpática, tanto durante os

períodos de hiperventilação, quanto nos de perda de fôlego, levando a um

desequilíbrio com risco de arritmias cardíacas e possivelmente morte súbita.

Genética

A grande maioria dos casos de SR é composta de casos isolados dentro

de uma família, exceção feita à ocorrência em irmãs gêmeas; porém, casos

familiares têm sido observados. Costumava-se considerar a SR como uma

desordem dominante ligada ao cromossomo X, em que cada caso

representaria uma mutação fresca, com letalidade no sexo masculino.


Foram observados casos nos quais meninos, irmãos de meninas com a

SR, nasciam com uma doença encefalopática com óbito precoce. Nessa

perspectiva, alguns poucos casos foram descritos nos quais um fenótipo similar

ao da SR foi observado em meninos. Em geral, constituíam apenas um

sugestivo do diagnóstico, com sinais e sintomas presentes de forma bastante

atípica e parcial.

http://image.slidesharecdn.com/dm-141022021111-conversion-gate02/95/deficincia-

intelectualmental-7-638.jpg?cb=1413943942

Em 1998, foi descrito um caso de um menino que, na ocasião, tinha dois

anos e nove meses de idade, apresentando fenótipo integral da SR na sua

forma clássica. Esse menino, apresenta cariótipo XXY, caracterizando,

portanto, uma associação das síndromes de Klinefelter com a SR, ocorrência

com uma probabilidade da ordem de uma para dez a 15 milhões de

nascimentos.
Apenas um ano após, em 1999, foram descritas pela primeira vez

mutações no gene MeCP2 em pacientes com a SR. Interessante que após a

descrição dessas mutações do MECP2, foi realizada a pesquisa para esse

marcador no menino anteriormente referido, no qual havia sido descrita a

associação do fenótipo Rett e XXY. Foi encontrada uma mutação nesse gene,

confirmando tratar-se, realmente, da SR. Estudos mais recentes indicam que

cerca de 75% a 80% de pacientes com a forma clássica da SR têm mutações

no gene MECP2. Considera-se que a proteína MeCP2, produzida pelo gene,

funciona como repressor global de transcrição. Como essa proteína possui

alguns diferentes sítios de ação, acreditasse que as diferentes mutações

encontradas no gene seriam responsáveis pelos diferentes fenótipos

observados nos portadores de SR. Sabemos, hoje, que alguns meninos

portadores das mesmas mutações podem sobreviver, apresentando um quadro

encefalopático totalmente distinto do quadro clínico clássico da SR no sexo

feminino. Também se aceita que a pesquisa de mutações no gene MECP2

esteja justificada em meninos com formas severas de encefalopatia que não

tenham alguma etiologia claramente definida.

Patologia

Do ponto de vista neuropatológico, é fato a desaceleração do

crescimento craniano que ocorre a partir do terceiro mês. O lobo frontal, o

núcleo caudado e o mesencéfalo são as regiões encefálicas nas quais foram


observadas as maiores reduções. Começam a surgir evidências de que a SR

poderia estar relacionada a uma deficiência pós-natal no desenvolvimento das

sinapses; mas restaria, ainda, conhecer o defeito básico presente.

http://image.slidesharecdn.com/sindromesgnicas-130519123549-phpapp01/95/sndromes-gnicas-

18-638.jpg?cb=1368968216

Com o conhecimento da mutação encontrada no gene MECP2, um

grupo de pesquisadores do Texas produziu um camundongo transgênico com

uma mutação truncada no gene MECP2. Os animais não aparentam

anormalidades até aproximadamente a sexta semana, quando surge um tremor

ao erguer-se o animal pela cauda. Após oito meses, alterações na pelagem,

presença de convulsões e mioclonias podem ser observadas. Interessante que,

após essa idade, o animal produz uma série de movimentos estereotipados das

patas dianteiras quando suspenso pela cauda. O mecanismo pelo qual a

alteração desse gene parece determinar o fenótipo do quadro ainda não está
completamente compreendido. Porém, observou-se que, nesses animais, um

aumento da acetilação de um grupo de histonas, comprometendo a arquitetura

da cromatina em determinadas regiões cerebrais, principalmente do córtex e do

cerebelo. Consequência desse processo poderia ser uma maior acessibilidade

do DNA por diferentes fatores transcricionais, o que implicaria na interferência

da expressão de diversos genes. Os estudos agora procuram compreender

quais seriam os diferentes genes que estariam desregulados pela ação dessa

alteração da proteína MeCP2.

Diagnóstico diferencial

Dependendo da fase em que se encontra a SR, várias condições

deverão ser levadas em consideração entre os diagnósticos diferenciais:

patologias fixas, como a paralisia cerebral e outras encefalopatias fixas;

síndrome de Angelman; autismo infantil; e várias doenças metabólicas (por ex.

lipofuccionoses).
TRANSTORNO DESINTEGRATIVO DA

INFÂNCIA

O transtorno desintegrativo da infância (TDI) possui um histórico mais

longo do que o autismo. Foi inicialmente descrito por Heller, em 1908. Heller

relatou seis casos de crianças jovens que, após um desenvolvimento

aparentemente normal nos primeiros três a quatro anos de vida, apresentaram

uma perda muito grave das habilidades sociais e comunicativas. Heller

denominou a condição “dementia infantilis”.

https://coletivoculturaverde.files.wordpress.com/2012/09/autism.jpg

Essa definição é insatisfatória: primeiro, porque a condição não é

comparável à demência, no sentido de que as características de perda de

memória e de habilidades executivas não são proeminentes; e, em segundo

lugar, porque nenhuma causa orgânica da trajetória do prejuízo pode ser

encontrada.
No DSM-III, a síndrome de Heller foi, pela primeira vez, introduzida em

um sistema de classificação psiquiátrica. Foi incluída sob a categoria

abrangente de TID, pois a perda das habilidades sociais e comunicativas era

muito proeminente. No entanto, o TDI não é caracterizado em seu curso pela

deterioração continuada nem por nenhum progresso.

Em outras palavras, após a regressão dramática no início, chega-se a

um status quo, mas um tremendo impacto no desenvolvimento pode ser

observado durante toda a vida. O TDI é uma condição extremamente rara.

Fombonne revisou 32 pesquisas epidemiológicas sobre autismo e TDI. O TDI

foi mencionado somente em quatro estudos.

A prevalência da estimativa total nesses estudos foi de 1,7 por

100.000(Intervalo de Confiança 95%: 0,6-3,8 por 100.000). Os diagnósticos

diferenciais incluem os transtornos metabólicos (e.g. mucopolisacaroidose San

Filippo) e condições neurológicas (e.g. encefalite por vírus lento ou epilepsia),

ainda que, no último caso, a linguagem seja muito mais afetada do que nos

relatos de casos de TDI.

Deve também ser diferenciado do autismo em que se observa um

desenvolvimento próximo do normal nos primeiros um ou dois anos em até

30% de todos os casos.

A etiologia ainda é desconhecida. Portanto, é possível que o TDI esteja

fadado a desaparecer como categoria quando os instrumentos diagnósticos

tornarem possível determinar as causas genéticas, metabólicas ou infecciosas

envolvidas nesses casos ainda inexplicados.


Um relato de caso aponta para um possível vínculo genético com o

autismo em um caso em que o autismo e o TDI ocorreram em dois meio-irmão.

Não existe tratamento para TDI.

Como as complicações neurológicas, especialmente a epilepsia, são

comuns e essas crianças funcionam no nível de grave a profundo retardo

mental, é necessário uma abordagem multidisciplinar. Os pais necessitarão de

psicoeducação focada nessa condição.

Na maioria das vezes, quando os pais de crianças com TDI aderem a

associações de pais de crianças com autismo ficam extremamente

desapontados, pois o progresso visto em outras crianças com transtornos do

espectro do autismo não ocorre com seu filho. Sabe-se pouco sobre o

desfecho.

O maior estudo de acompanhamento foi realizado por Mouridsen, em

39 casos pareados com controles autistas em um período de mais de 22 anos.

Verificou-se que os indivíduos com TDI possuíam um funcionamento global

pior, estavam mais ausentes e tiveram uma grande incidência de epilepsia

como comorbidade. Isso confirma a noção de que o desfecho no TDI é pior do

que nos transtornos do espectro autista em geral.


TRANSTORNOS INVASIVOS DO

DESENVOLVIMENTO SEM OUTRA ESPECIFICAÇÃO

(TID-SOE)

1) Definição de TID-SOE

O TID-SOE é uma categoria diagnóstica de exclusão e não possui

regras especificadas para sua aplicação. Alguém pode ser classificado como

portador de TID-SOE se preencher critérios no domínio social e mais um dos

dois outros domínios (comunicação ou comportamento).

http://videoaula.cefac.br/ew.curso.id/27/prnt.jpg

Além disso, é possível considerar a condição mesmo se a pessoa

possuir menos do que seis sintomas no total (o mínimo requerido para o

diagnóstico do autismo), ou idade de início maior do que 36 meses. Se o

acordo entre os clínicos é alto para os diagnósticos de autismo, o mesmo não é

verdadeiro no caso do TID-SOE.

Ainda que os estudos epidemiológicos tenham sugerido que o TID-

SOE seja duas vezes mais comum do que o TA, essa categoria continua a

estar subinvestigada. Hoje em dia, diferentes categorizações têm sido


propostas, algumas baseadas no enfoque fenomenológico descritivo, outras

baseadas em outras perspectivas teóricas, tais como a neuropsicologia.

2) Subcategorias propostas

Propostas de categorias baseadas em descrição clínica

Transtorno de desenvolvimento múltiplo e complexo

Em paralelo ao autismo clássico, quadros clínicos relacionados de

transtornos de desenvolvimento têm sido descritos sob vários nomes,

começando nos anos 40 do século passado.

Mesmo antes do estudo introdutório de Camberwell, estava claro que

nem todas as crianças e adolescentes eram arredias em seus contatos sociais.

Foram descritos clinicamente indivíduos especialmente passivos e arredios em

seu engajamento social.

Esses indivíduos foram descritos com rótulos nosológicos como

síndrome de Asperger ou distúrbios esquizoides da infância, dirigidos aos

insistentemente solitários. Por outro lado, foram descritos casos de crianças

que apresentam dificuldades sociais resultantes de um super-envolvimento

unilateral.

http://www.educamoc.com.br/trilha/images/tgda.jpg
Essas alterações de desenvolvimento receberam nomes como casos

borderline da infância, psicose simbiótica e crianças esquizotípicas. Essas

condições (caracterizadas por sensibilidade social prejudicada reminiscente

dos transtornos do espectro do autismo em combinação com graves problemas

na regulação dos afetos, especialmente ansiedade e raiva e os déficits

cognitivos na regulação da imagens e dos pensamentos) emergiram como um

grupo independente na análise de agrupamento, em uma grande série de

casos bem documentados, examinados na unidade de desenvolvimento da

Yale Chile Stud Center por Gesell e Provence durante mais de 20 anos.

O fato de ter sido encontrado esse grupo diferenciado levou Cohen et

al. a proporem os transtornos de desenvolvimento multiplex como uma

categoria distinta dentro do DSM-IV, junto com o transtorno autístico e a

síndrome de Asperger.

O propósito não teve êxito no sentido de que o multiplex (mais tarde

transtorno de desenvolvimento múltiplo e complexo - TDMC) não atingiu o

limiar para a inclusão no DSM-IV.

Entretanto, nos últimos 20 anos, muitos estudos deram suporte para a

validade de face e externa dessa categoria que é amplamente reconheci da na

prática clínica.

As distorções cognitivas nomeadas na definição podem, examinando-

se mais de perto, refletir déficits comunicativos mais do que características

psicóticas em crianças jovens.

As características clínicas do TDMC incluem:

Sensibilidade social prejudicada

• Elas são unilaterais e pegajosas nos contatos com adultos e crianças;


• São exclusivistas em seus relacionamentos e somente o aceitam à

sua maneira;

• Esses indivíduos possuem dificuldades em sintonizar de forma

empática com as necessidades dos demais.

- Regulação prejudicada dos afetos

• A raiva transforma-se rapidamente em fúria;

• A ansiedade se transforma facilmente em pânico.

- Distorções cognitivas: transtorno do raciocínio

• Esses indivíduos ficam facilmente confusos;

• Deixam-se levar pelas suas vívidas fantasias de grandiosidade;

• Podem confundir fantasia e realidade;

• Tendem a ter uma lógica idiossincrática.

Muitas dessas crianças são diagnosticadas equivocadamente como

crianças com problemas de conduta ou Transtorno de Déficit de Atenção com

Hiperatividade (TDAH) combinado com ansiedade.

De fato, quase a metade das crianças com TDMC apresentam

comportamento hiperativo e, às vezes, graves características externalizadas e

internalizadas.

Somando-se ao TDAH grave, transtornos disruptivos e transtornos de

ansiedade combinados como descrito acima, os diagnósticos diferenciais

incluem a condição muito rara da esquizofrenia infantil.

Ao procurar crianças com esquizofrenian infantil, a equipe do National

Institute for Mental Health (NIMH) encontrou que a maioria das crianças que

foram encaminhadas não era psicótica, mas apresentava problemas de


desenvolvimento e foi descrita como tendo Prejuízo Multidimensional (PM). PM

e TDMC são praticamente idênticos quando se examina mais de perto os

critérios.

http://1.bp.blogspot.com/_hep E6BhKE/Sg3b-L4ZpFI/AAAAAAAAAP4/IViZOS9hBtQ/s400/autismo_01.jpg

Outra área de confusão é a categoria de transtorno bipolar na infância

que se tornou bem aceita recentemente. A confusão aqui é que os episódios

maníacos nessas crianças são descritos como curtos e caracterizados em

termos de irritabilidade e deixar-se levar por fantasias, ao passo que não fica

claro se essas crianças desenvolverão transtorno bipolar na adolescência e na

idade adulta.

Questões sobre o tratamento

Fazer com que uma condição clínica confusa se encaixe em uma

condição de desenvolvimento é útil em muitos casos em que a escola e os pais

estão se culpando mutuamente pelo mau comportamento dessas crianças.

A abordagem de tratamento deve ser multidisciplinar.

É de grande importância que a criança, os pais e todos os envolvidos

recebam psicoeducação.
Os indivíduos com TDMC respondem favoravelmente aos programas

educativos estruturados utilizados nos indivíduos com TEA.

Um ambiente escolar e cuidados de apoio bem estruturados são

importantes.

Se essas abordagens educacionais não conseguem reduzir

suficientemente a ansiedade e os acessos de agressividade, pode-se

considerar o uso de alguma medicação em conjunto com terapia cognitivo-

comportamental.

Não há ensaios clínicos, mas na prática, como com TEA, podem ser

benéficas baixas doses de eurocépticos atípicos, ocasionalmente em

combinação com um ISRS (inibidores seletivos de recaptação de serotonina).

Prognóstico

O TDMC é altamente persistente. Mais de 60% dos pacientes

apresentam um quadro clínico estável na adolescência, ainda que as

alterações bruscas de humor sejam menos proeminentes e os déficits sociais

fiquem mais em primeiro plano.


https://encrypted-tbn2.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcRDHDJ85NpZpn0Syqq_WNZV_hFQlPoSr-

CuwIoG18wEFqMmNHtH

Na idade adulta, pode ocorrer uma alteração em direção a transtornos

do espectro da psicose e da esquizofrenia em até 17% dos casos, o que faz

com que a detecção precoce e o tratamento adequado sejam importantes para

prevenir esses episódios por meio do monitoramento cuidadoso do processo.

Transtorno de evitação patológica às demandas Newson, depois de

trabalhar por 25 anos no Early Years Diagnostic Centre da Universidade de

Nottingham, propôs uma nova categoria nosográfica denominada evitação

patológica à demanda (EPD). O grupo compreende crianças que foram

encaminhadas como TA atípico.

Essas crianças tinham capacidades imaginativas e, às vezes, eram

extraordinariamente sociáveis; no entanto, outras apresentaram prejuízo, ainda

que suas habilidades comunicativas estivessem menos prejudicadas que na

síndrome de Asperger.

Após ter estudado 150 casos, a autora encontrou que a característica

mais proeminente era uma evitação obsessiva das demandas diárias. Como

essas crianças tinham algum grau de sociabilidade, uma gran de habilidade em

manipulação social, o cuidado dos pais tornava-se extremamente difícil.


https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcT3L2yoE9AgVCSjh3KCIhABhTVTcq0Wouq-

JK0T-9Fl97BqTlcd

Essas crianças são usualmente passivas durante o primeiro ano de

vida. Ao redor do quarto ano, quase todas elas apresentam evitação de

exigência, assim como habilidades manipulativas. Essas características

usualmente persistem até a idade adulta, ainda que os comportamentos

socialmente manipulativos tendam a se tornar mais leves do que antes.

A maioria não possui o sentido de orgulho, vergonha, responsabilidade

ou identidade e, freqüentemente, agridem os demais. Quase todas possuem

atraso na fala e continuam a apresentar anormalidades durante a vida, sendo o

conteúdo da fala superficial ou bizarro.

A labilidade do humor é frequente, assim como o comportamento

impulsivo. O comportamento obsessivo está relacionado à evitação, da mesma


forma como à representação de papéis, o que dá a impressão de uma certa

sociabilidade. Essas crianças possuem a representação simbólica geral e a

maioria é muito ligada à representação de papéis, freqüentemente perdendo o

sentido de realidade.

É interessante que essas características continuam na idade adulta.

Não existem, hoje, hipóteses vindas da neuroimagem, genética ou

neurobiologia para EPD. As crianças com esse transtorno não respondem bem

às intervenções propostas para TA. As diretrizes educacionais e sobre como

lidar com o transtorno podem ser acessadas em

http://www.pdacontact.org.uk/frames/index.html.

TRANSTORNO DE PREJUÍZO MULTIDIMENSIONAL

(TPM)

Este subgrupo, ao contrário do outro, é considerado como mais

próximo dos transtornos psicóticos. Essas crianças apresentam dificuldades

em diferenciar a fantasia da realidade, incluindo distúrbios de percepção,

labilidade emocional, inabilidade em relacionamentos sociais, déficits no

processamento de informações, sem distúrbios de pensamento formal.

Ainda que as descrições dessas crianças tenham incluído algumas

características clínicas observadas no TEA, seus prejuízos sociais são mais

leves do que no TA e o comportamento não é tão rígido e estereotipado como

o apresentado por crianças com TEA. Como um todo, tem sido considerado

que o TPM poderia ser uma variante de esquizofrenia com início muito precoce

e não de TID.
Transtorno esquizoide infantil Antes da introdução da síndrome de

Asperger na literatura clínica em inglês por Lorna Wing, vários estudos que

descreviam essas características foram conduzidos sob o nome de estudos

sobre crianças esquizoides.

Elas eram descritas como solitárias, fantasiosas, apresentando

interesses especiais e atrasos de desenvolvimento específicos, especialmente

das habilidades relacionadas à linguagem.

Não foi observado prejuízo cognitivo e as comorbidades costumavam

ser freqüentes. Esses casos foram progressivamente considerados como tendo

a síndrome de Asperger, talvez um subgrupo com alguns desfechos comuns,

como uma maior incidência de conduta antissocial e menores desvantagens

sociais. Por outro lado, dados recentes com adultos sugerem que é possível

diferenciar o transtorno de personalidade esquizoide da síndrome de Asperger.

Hoje em dia, a marca distintiva do transtorno de personalidade

esquizoide é o desinteresse pela interação social e os critérios

operacionalizados exigem a presença de quatro entre sete sintomas listados.

Ainda que os estudos com adultos com transtorno de personalidade

esquizoide tenham sugerido um início do quadro já na infância, há falta de

elementos dirigidos a esse quesito, provavelmente devido aos manuais de

classificação de doenças que “desencorajam” o diagnóstico de personalidade

em crianças.
TRANSTORNOS DE VINCULAÇÃO

Essa categoria está no ponto de confluência entre duas abordagens

distintas, uma clínico-descritivo e outra teórica. A partir dos trabalhos com

orientação psicodinâmica de Spitz e Bowlby, um grupo de crianças foi

identificado por responder inapropriadamente aos cuidadores.

Uma variedade de fenótipos pode ser observado e, por definição,

esses comportamentos estão relacionados a um histórico de grande abandono,

falta de respostas contingentes e pouca ou nenhuma atenção, interação e

afeto. Atualmente, os critérios operacionalizados mostram que dois subtipos

são propostos, inibido e desinibido.

A criança inibida não inicia ou responde a interações sociais, ao passo

que a desinibida o faz de uma forma difusa e indiscriminada, mostrando uma

excessiva familiaridade com estranhos. Essa categoria está fora do capítulo

sobre TID da CID-10, com base na falta de disfunção global e de uma estreita

relação com privações ambientais.

https://encrypted-

tbn2.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcQ77mtvLS3yySoOpIdhTowvrnG9ncTtLR1pUSDSZU9T3Hjoffp6
No entanto, as fronteiras dessas condições não estão claramente

definidas e pode-se assumir que o comprometimento por longo período na vida

afetiva poderia ser o resultado da privação materna e poderia ter um efeito

prejudicial global de longa duração para as habilidades sociais e

comunicativas, e no funcionamento adequado do sistema límbico.

Classificações baseadas em outras abordagens

Transtornos de aprendizado não-verbal

Essa terminologia foi proposta para descrever um grupo de pacientes

com disfunções nas capacidades não-verbais em combinação com contato

visual pobre, comunicação gestual, expressão facial e prosódia prejudicadas.

De fato, essa é uma proposta baseada principalmente nos perfis

neuropsicológicos, em que deve se observar uma discrepância entre QI verbal

e QI de desempenho.

Os déficits na interação social não parecem depender dos problemas

associados à linguagem, que usualmente parece funcionar de forma normal.

Comportamentos ritualísticos são comuns, bem como dificuldades em

matemática, comprometimentos viso-motores, QI não-verbal reduzido, sinais

motores neurológicos no hemi-corpo esquerdo e hemi-negligência do espaço à

esquerda.

Os primeiros relatos consideravam-no como um transtorno de

desenvolvimento da linguagem. No entanto, a partir da descrição dos prejuízos

envolvidos, tornou-se evidente que o quadro é, em muitos aspectos, muito

similar ao do TID, especialmente à síndrome de Asperger.


A diferença poderia ser meramente na ênfase posta nos problemas

comunicativos gerais ou nos distúrbios de interação social. Segundo Rourke, o

transtorno que ele estudou poderia ser caracterizado, por um lado, pelas

habilidades presentes nele e, por outro, pelos prejuízos observados.

Com relação às habilidades preservadas, Rourke enfatiza as

seguintes do ponto de vista neuropsicológico:

- Habilidades primarias: atividade motor (as habilidades motoras

repetitivas simples parecem estar intactas); percepção auditiva (parece haver

um déficit nessa habilidade no começo, mas com a evolução ela se desenvolve

muito bem); material memorizado (as tarefas repetitivas, principalmente as que

dependem da avaliação auditiva, estão muito bem desenvolvidas.

As atividades motoras repetitivas, incluindo certos aspectos da

linguagem, e outras atividades, tais como a escrita, podem estar presentes em

um grau acima da média);

- Habilidades secundárias: atenção (o uso da atenção nas atividades

que envolvem material verbal simples e repetitivo - especialmente quando

fornecidos pela modalidade auditiva - parecem bem desenvolvidas);

- Habilidades terciárias: memória (o material verbal é facilmente

memorizado, de forma que essa habilidade se desenvolve bem);


- Habilidades verbais: fala e linguagem (as habilidades linguísticas

parecem estar atrasadas em etapas precoces, mas desenvolvem-se rápido, a

ponto de que a memória mnemônica, a segmentação de palavras, a repetição

e as habilidades de memória levam a um vocabulário bem vasto e à

possibilidade de fazer associações verbais com bastante sentido.

Todas essas características tendem a se tornar mais evidentes com o

passar do tempo); habilidades acadêmicas (podem estar presentes dificuldades

nas etapas precoces do aprendizado devido aos déficits viso motores, mas a

prática leva a um desempenho de leitura e de escrita adequados).

Os prejuízos neuropsicológicos apresentados por esses pacientes

são:

- Déficits primários: percepção tátil (déficits na percepção bilateral,

com alguma prevalência no lado esquerdo, são usualmente evidentes, mas

tendem a diminuir com o tempo); percepção visual (prejuízos na discriminação

e reconhecimento dos detalhes e na orientação espacial estão geralmente

presentes; tendem a se tornar mais evidentes com o passar dos anos);

atividade motora complexa (observa-se, em geral, deficiência na coordenação

motora, geralmente prevalecendo no lado esquerdo. Com exceção da escrita,

este comprometimento tende a piorar com a idade); material novo (dificuldades

com as modificações na configuração dos estímulos são a regra).

- Déficits secundários: atenção (a atenção aos estímulos táteis e

visuais é deficiente; a atenção persistente é mais eficiente quando se trata de


estímulos simples e repetitivos e menos eficiente em termos de estímulos não-

verbais, novos e complexos); comportamento exploratório (há uma inclinação a

não explorar fisicamente o ambiente; o comportamento sedentário e as

restrições ao funcionamento físico agravam-se com o decorrer dos anos).

- Déficits terciários: memória (pobre para eventos táteis e visuais; a

memória de material não-verbal não é boa); construção de conceitos, solução

de problemas, desenvolvimento de estratégias, teste de hipóteses (importantes

déficits estão geralmente presentes nesses domínios); déficits verbais (déficits

discretos podem ser observados na praxia oro-motora, na prosódia e em outros

aspectos da linguagem).

Devido aos prejuízos listados acima, é comum encontrar fracassos nas

habilidades de aprendizado acadêmico e nas funções sociais e adaptativas.

Especulou-se que o quadro de comprometimento não-verbal poderia derivar do

comprometimento do hemisfério cerebral direito, como consequência de uma

possível destruição/disfunção da substância branca envolvida nos processos

de integração de modalidades diversas de estímulos.

É importante dizer que essa hipótese baseia-se em formulações

teóricas que ainda não foram comprovadas. O diagnóstico baseia-se na

identificação de sinais e sintomas definidos como característicos. Em uma

tentativa de facilitar o diagnóstico, Goldstein criou um questionário específico, o

Children’s Nonverbal Learning Disabilities Scale.

Por outro lado, como uma síndrome semântico-pragmática, pode-se

discutir se os prejuízos de aprendizado não-verbal devem ser vistos como uma


condição independente, ou se eles representam meramente um meio de

destacar uma das características presentes nos quadros de TID.

SÍNDROME SEMÂNTICO-PRAGMÁTICA

O termo síndrome semântico-pragmática (SSP) foi inicialmente

introduzido por Rapin e Allen para se referir a uma das seis condições que os

autores categorizaram e denominaram uma classificação médica de

transtornos de desenvolvimento de linguagem: agnosia auditiva verbal,

transtorno do déficit semântico-pragmático, dispraxia verbal, transtorno

fonológico-sintático e déficit lexical-sintático.

Essas categorias foram constituídas pela identificação das alterações

mais evidentes na linguagem expressiva, na interação social e na

compreensão verbal.

Crianças com esse transtorno apresentam prejuízos de linguagem em

grande escala e, geralmente, também um atraso inicial no aprendizado da

linguagem e déficits nas características da linguagem receptiva, seguidos por

adequado aprendizado da fala.

Esse aprendizado inclui o uso de sentenças mais complexas, com

dificuldades semânticas e pragmáticas que se tornam mais freqüentes à

medida que aumenta sua eficiência verbal. Esse diagnóstico deve ser aplicado

quando a criança não preenche os critérios para o diagnóstico de autismo.


https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcQcWP8og8JKcgTELGklzOaBl_-

FnCJW77D4KeWCAPeiCmjCadum

Bishop e Rosenbloom alteraram o termo para síndrome semântico-

pragmático (SSP) e sugeriram que esse quadro clínico era meramente uma

associação acidental de comportamentos que se escondiam sob o TEA por um

lado e por outro, sob a normalidade.

Mesmo que eles admitissem que a maioria das crianças com esse

diagnóstico não seria identificada como autista, compreenderam que algumas

delas apresentavam anormalidades significativas com relação à interação

social. Já naquele período, eles notaram que pacientes com a síndrome de

Asperger apresentam um padrão de linguagem muito similar ao descrito em

indivíduos com SSP e, dessa forma, concluíram que ainda que os prejuízos na

linguagem e sociais pudessem coexistir em certos casos, poderiam estar

dissociados.
Em um artigo de 1989, Bishop discutiu os limites entre autismo,

síndrome de Asperger e SSP. Nesse artigo, sugere que o autismo e os

transtornos de desenvolvimento de linguagem não eram necessariamente

mutuamente excludentes.

Sugeriu ainda um contínuo bidimensional: uma dimensão que

representa as habilidades comunicativas e outra, as relações e interesses

sociais. Segundo ele, crianças com habilidades comunicativas relativamente

normais, mas com relacionamentos sociais anormais, poderiam ter a síndrome

de Asperger, ao passo que crianças com habilidades sociais normais, porém

com anormalidades comunicativas, teriam SSP.

Uma crítica isolada dessa posição foi feita por Happé, que afirmou que

seria enganador pressupor a inexistência de uma relação entre as

competências sociais e comunicativas, pois há razões para supor que as duas

habilidades podem envolver os mesmos mecanismos cognitivos.

Alguns autores não admitem separar as dificuldades semânticas e

pragmáticas do quadro clínico do autismo e sugerem que um termo melhor

para referir-se a essas alterações seria “dificuldades semânticas e

pragmáticas”, em vez de SSP.

No entanto, isso seria utilizado meramente de uma forma descritiva e

não como um rótulo diagnóstico, já que o diagnóstico correto para as crianças

acometidas deveria ser autismo com alto grau de funcionamento.

Estudos utilizando testes neuropsicológicos que incluíram testes sobre

a cognição social em crianças autistas com alto grau de funcionamento e

crianças com SSP mostraram claras semelhanças entre os dois grupos.


Em ambos, os autores puderam verificar um padrão de resultado

indicativo de disfunção do hemisfério cerebral direito e disfunção nas

habilidades sociais.

Esses estudos também ratificaram a visão de que a SSP poderia ser

um transtorno do espectro autista e poderia indicar que os problemas

relacionados à habilidade comunicativa poderiam resultar ou ser associados a

uma falha cognitiva que não seria principalmente de ordem linguística.

As similaridades que foram descritas entre as falhas de comunicação

no SSP e nos pacientes que adquiriram lesões no hemisfério direito são as

seguintes:

1) Em ambos os grupos, os pacientes possuem dificuldades em

integrar as informações, o que pode comprometer sua expressividade verbal;

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2) Ambos os grupos possuem formas intactas de linguagem, utilizando

formas complexas e gramaticalmente corretas, mas a comunicação é

prejudicada pelo conteúdo e pelo uso;


3) Ambos os grupos possuem falhas de compreensão, prosódia e

utilização de comunicação não-verbal;

4) Ambos os grupos cometem menos erros ao realizarem tarefas

concretas e literais;

5) Ambos os grupos possuem dificuldades em assimilar e utilizar pistas

contextuais;

6) Ambos os grupos tendem a produzir uma interpretação literal e têm

dificuldade de compreender uma linguagem metafórica e figurativa, bem como

humorística. Esses estudos indicam também que ambos os grupos não

admitem facilmente seus problemas de comunicação.

Ainda que a maioria dos trabalhos publicados tendam a favorecer a

visão de que o SSP deve ser considerado como sendo parte do espectro do

autismo, Rapin e Allen consideram que, mesmo que o SSP afete

fundamentalmente indivíduos autistas, menos frequentemente ele também

afeta pessoas com hidrocefalia, com a síndrome de Williams e outras formas

de encefalopatia.

Esses autores enfatizam a inadequação de utilizar o diagnóstico de

SSP em alguns casos com o propósito único de evitar o de autismo, que é

menos facilmente aceito.

A opinião mais consolidada entre os profissionais que trabalham na

área de transtornos do desenvolvimento é a de considerar que o SSP integra o

grupo do transtorno autístico, em vez de ser um transtorno do desenvolvimento

da linguagem.

O uso do termo “dificuldades semânticas e pragmáticas” de uma forma

descritiva pode ser um meio interessante de indicar o tipo de dificuldades


comunicativas encontrado. No entanto, não deve ser utilizado como um rótulo

diagnóstico, porque pode ser enganador: pode suscitar dúvidas na família e

levar a uma conduta equivocada do ponto de vista terapêutico.

DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL

O diagnóstico diferencial no grupo TID possui algumas

particularidades. O TID compreende vários grupos conceituais, como a

síndrome de Asperger, definida de acordo com critérios que podem alterar-se

com o passar do tempo, ou mesmo dependendo dos autores que a

conceituam.

Nesse sentido, fazer um diagnóstico diferencial entre as categorias de

TID não é uma tarefa fácil. Juntamente com os sintomas de prejuízo social,

crianças com autismo e TID relacionado apresentam altos níveis de ansiedade,

hiperatividade e oscilações de humor.

Em alguns casos, esses sintomas podem preencher os critérios para

um TDAH comórbido, transtorno de ansiedade ou transtorno bipolar. Na prática

clínica, é importante focar-se na análise funcional dos comportamentos

comórbidos antes de começar a tratar condições comórbidas como tais. Por

outro lado, existe uma sobreposição: crianças com TDAH podem ter um

desempenho pior nos testes da Teoria da Mente.e pode ser difícil discernir a

ansiedade social de uma falta de reciprocidade, como se vê no TID.

Às vezes, o diagnóstico definitivo tem que ser atrasado até uma idade

mais avançada, o que não deve significar que o clínico também atrase o início

das intervenções. Em vez de um diagnóstico definido, os pais e professores


terão que se adaptar com um diagnóstico que se postule como uma hipótese

de trabalho.

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O diagnóstico diferencial entre crianças esquizoides e com TID parece

não estar baseado em evidências, já que as crianças que eram classificadas

como esquizoides são atualmente classificadas como tendo síndrome de

Asperger.

O diagnóstico diferencial entre TID e Esquizofrenia pode ser feito de

acordo com a idade de início, precoce no TID, a proporção entre os sexos

(mais homens em TID), histórico familiar, presença de delírios e alucinações na

esquizofrenia.

É possível identificar duas categorias entre as crianças descritas como

tendo transtorno de personalidade borderline (TPB)/espectro borderline

propriamente e o transtorno de personalidade esquizotípico (TPE)/espectro

esquizotípico.

Ambas apresentam episódios psicóticos transitórios, pensamento

mágico, intensidade de fantasias e perda do sentido de realidade. O TPB


parece não ter histórico familiar, distúrbio do afeto e fala, evitação social como

o TPE geralmente possui. Por outro lado, eles mostram um afeto intenso e

dramático e a falta de necessidade de interação social.

AS DIFERENTES COMPREENSÕES DO AUTISMO

- DA IDENTIFICAÇÃO DO QUADRO AOS DIAS DE HOJE

Os Transtornos Globais do Desenvolvimento - TGD - representam uma

categoria na qual estão agrupados transtornos que têm em comum as funções

do desenvolvimento afetadas. Entretanto, este conceito é recente e só pode ser

proposto devido aos avanços metodológicos dos estudos e à superação dos

primeiros modelos explicativos sobre o autismo.

Para que se possa melhor compreender os TGD e a importância desse

conceito, iniciaremos abordando a compreensão do autismo ao longo da

história, embora ele seja, atualmente, um dos Transtornos Globais do

Desenvolvimento.

As primeiras descrições do autismo foram feitas nos anos 40. Os

aspectos então priorizados para estudo e os pontos de vista a partir dos quais

o quadro foi descrito e compreendido influenciaram as abordagens práticas de

ajuda e tratamento. Esta influência não se deu por se tratar do autismo, mas

pelo fato de que todo estudo, abordagem e conhecimento têm como

consequência inerente a adoção ou exclusão de intervenções práticas.

No âmbito educacional, a influência dos modelos explicativos sobre o

autismo, ao longo da história, determinou as primeiras iniciativas de

intervenção no ensino que, entretanto, foram muito específicas e distanciadas


daquelas desenvolvidas no meio social inerente à escola como a conhecemos

hoje.

Esse fato histórico encontra-se implicado na surpresa e no desafio

vivenciados hoje pelos professores nas diversas redes de ensino ao se verem,

pela primeira vez, diante da oportunidade de receber uma criança com autismo

em suas turmas.

Apesar de toda a surpresa, as práticas desenvolvidas por estes

professores se tornam uma novidade e uma importante contribuição na

construção do conhecimento a respeito do autismo e das potencialidades da

educação escolar na vida dessas crianças.

Para que possamos dimensionar tal novidade, é importante seguirmos

a trajetória histórica da abordagem do autismo, desde a primeira descrição até

os dias de hoje.

O Autismo nos fascina!

"Desde 1938, chamaram-nos a atenção várias crianças cujo quadro

difere tanto e tão peculiarmente de qualquer outro tipo conhecido até o

momento que cada caso merece - e espero que venha a receber com o tempo

– uma consideração detalhada de suas peculiaridades fascinantes"

Leo Banner, 1943.

Nas primeiras descrições do autismo, o fascínio se fez evidente. A

atitude indiferente das crianças observadas, em situações próprias para a troca

social, parece ter sido o motivo desse fascínio.

De fato, se pensarmos na importância que as trocas sociais têm na

nossa vida, desde a infância, é possível entender como as atitudes


sistemáticas de indiferença ou alheamento em relação ao compartilhamento

social podem nos ser intrigantes.

OS PRIMEIROS ESTUDOS: LEO KANNER

O termo autismo foi utilizado pela primeira vez em 1911, por Bleuler,

para designar a perda de contato com a realidade e consequente dificuldade ou

impossibilidade de comunicação.

Em 1943, o médico austríaco radicado nos Estados Unidos da América

- Leo Kanner - observou onze crianças que passaram por sua consulta e

escreveu o artigo: "Os transtornos autistas do contato afetivo" (1943).

Com base nos aspectos que chamaram sua atenção, podemos dizer

que ele identifica como traço fundamental do autismo a "incapacidade para

relacionar- se normalmente com as pessoas e as situações" (1943, p. 20).

As relações sociais e afetivas:

Desde o início há uma extrema solidão autista, algo que, na medida do

possível, desconsidera, ignora ou impede a entrada de tudo o que chega à

criança de fora. O contato físico direto e os movimentos ou ruídos que

ameaçam romper a solidão são tratados como se não estivessem ali, ou, não

bastasse isso, são sentidos dolorosamente como uma interferência penosa"

(KANNER, 1943).

A comunicação e a linguagem:

L. Kanner descreveu a ausência de linguagem (mutismo) em algumas

crianças, seu uso estranho nas que a possuem, a presença de ecolalia, a


aparência de surdez em algum momento do desenvolvimento e a falta de

emissões relevantes.

A relação com as mudanças no ambiente e a rotina:

A conduta da criança "é governada por um desejo ansiosamente

obsessivo por manter a igualdade, que ninguém, a não ser a própria criança,

pode romper em raras ocasiões" (1943, p. 22).

Memória:

Capacidade surpreendente de alguns em memorizar grande

quantidade de material sem sentido ou efeito prático.

Hipersensibilidade a estímulos:

Muitas crianças reagiam intensamente a certos ruídos e a alguns

objetos. Também manifestavam problemas com a alimentação.

OS PRIMEIROS ESTUDOS: HANS ASPERGER

Poucos meses depois de Kanner, o médico vienense Hans Asperger

descreveu os casos de várias crianças vistas e atendidas na Clínica Pediátrica

Universitária de Viena.

Asperger não conhecia o trabalho de Kanner e "descobriu" o autismo

de modo independente. Publicou suas observações em 1944: "A Psicopatia

autista na infância".

As descrições do autismo feitas por Asperger foram publicadas em

alemão, no pós-guerra, e não foram traduzidas para outra língua, o que


provavelmente contribuiu para prolongar o período de desconhecimento a

respeito de seus estudos, até a década de 80.

A seguir, apresentamos um pouco da descrição de Hans Asperger

sobre o autismo:

As relações sociais e afetivas:

Asperger identificava como traço fundamental a limitação de suas

relações sociais, considerando que toda a personalidade da criança está

determinada por esta limitação.

A comunicação e a linguagem:

Estranhas pautas expressivas e comunicativas, anomalias prosódicas e

pragmáticas. As anomalias prosódicas são alterações das propriedades

acústicas da fala - ritmo e entonação, constituindo uma fala estranha nesses

aspectos. As anomalias pragmáticas dizem respeito a uma comunicação

restrita a significados implícitos ou a serem inferidos. Do ponto de vista da

comunicação receptiva, esta anomalia representa a dificuldade de

compreender um chiste ou o sentido ambíguo de palavras ou expressões.

Pensamento:

Convulsividade e caráter obsessivo de seus pensamentos.

Comportamento e atitudes:

Tendência a guiar-se de forma alheia às condições do meio.


LEO KANNER E HANS ASPERGER

As observações dos casos de Kanner e Asperger apresentam

semelhanças e diferenças que nos interessam.

No que tange às diferenças, cabe ressaltar que Asperger preocupava-

se com o aspecto educacional dessas crianças, preocupação que não era

pauta nos estudos de Kanner.

Também são evidentes as diferenças entre as crianças observadas por

um e por outro médico, principalmente no desenvolvimento da comunicação e

da linguagem. Posteriormente, essas diferenças caracterizaram quadros

distintos: o autismo e o transtorno de Asperger.

Como semelhanças, podemos identificar o aspecto considerado como

fundamental no autismo e os demais aspectos descritos, à exceção da

comunicação e linguagem. Não poderíamos deixar de mencionar que, também

para Asperger, o autismo parecia fascinante.

INFLUÊNCIAS DOS ESTUDOS DE LEO KANNER:

Nos estudos de Leo Kanner, estão descritas as principais

características do autismo. Entretanto, seus estudos também geraram certa

confusão, além de consequências teóricas e práticas determinantes, nas

abordagens de atendimento e compreensão das necessidades das pessoas

com autismo.

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