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TGD, Síndrome de

Asperger, Rett e
Autismo
1. Autismo 4
Quadro clínico 4

2. Fisioterapia e Terapias 9
Método de Doman 9
Holding Terapy 10
Hipoterapia 11
Musicoterapia 12

3. Transtornos Globais do Desenvolvimento 14


Transtorno autista 14
Síndrome de Asperger 18
Síndrome de Rett 23
Transtorno de Prejuízo Multidimensional (Tpm) 28
Transtornos de Vinculação 30

4. Histórico da Exclusão 32
Conceito de Exclusão 34
Inclusão da Criança Autista 36

5. Referências Bibliográficas 42

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TGD, SÍNDROME DE ASPERGER, RETT E AUTISMO

1. Autismo

A palavra autismo se origina do


grego "auto” que significa "pró-
prio". A criança autista parece em si
crianças. E é 4 vezes mais comum
em meninos do que em meninas;
porém as meninas são mais seria-
mesma, pouco reagindo ou respon- mente acometidas.
dendo ao mundo que a rodeia. O
autismo significa que o mundo não Quadro clínico
faz sentido. O mundo não forma os
padrões necessários de símbolos O autismo é uma síndrome de
interligados que torna a vida etiologia puramente orgânica, para
compreendida para essas crianças. qual existem, presentemente, três
As experiências sensoriais chegam à definições que podemos considerar
sua mente a toda hora como uma como adequadas:
língua estranha que ela nunca ouviu.  A da ASA - American Society
A etiologia é desconhecida, for Autism (Associação Ameri-
mas acredita-se em alteração orgâ- cana de Autismo)
nica metabólica.  A da Organização Mundial de
De 10.000 crianças há de 4 à 5 Saúde, contida na CIS-10 (10ª
Classificação Internacional de
casos com menos de 12 ou 15 anos.
Doenças) de 1991;
Com retardo mental severo, a taxa
pode subir para 20 casos em 10.000

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 A do DSM-IV - diagnostic and no exame ou entrevista com o in-


Statistical Manual of Mental divíduo. Incluem:
disorders (Manual Diagnósti-  Distúrbios no ritmo de apare-
co e estatístico dos distúrbios cimentos de habilidades físi-
Mentais), da Associação Ame- cas, sociais e linguísticas.
ricana de Psiquiatria.  Reações anormais às sense-
ções. As funções ou áreas mais
afetadas são: visão, audição,
tato, dor, equilíbrio, olfato,
gustação e maneira de manter
o corpo.
 Fala ou linguagem ausentes ou
atrasados. Certas áreas especí-
ficas do pensar, presentes ou
não. Ritmo imaturo da fala,
restrita compreensão de ide-
A definição da ASA desen- ias. Uso de palavras sem asso-
ciação com o significado.
volvida e aprovada em 1997, por
 Relacionamento anormal com
uma equipe de profissionais conhe- os objetos, eventos e pessoas.
cidos pela comunidade científica Respostas não apropriadas a
mundial, por seus trabalhos, estu- adultos ou crianças. Uso ina-
dos, pesquisas na área do autismo é dequado de objeto e brin-
resumidamente, a seguinte: quedos.
“O autismo é uma inadequaci-
dade no desenvolvimento que se Segundo a CID-10, é classifi-
manifesta de maneira grave por toda cado como F84-0, como "Um trans-
a vida. Acomete cerca de vinte entre torno invasivo de desenvolvimento,
cada dez mil nascidos e é quatro definido pela presença de desenvol-
vezes mais comum entre meninos do vimento anormal e/ou comprometi-
que em meninas. Não se conseguiu mento que se manifesta antes da
até agora provar nenhuma causa idade de 3 anos e pelo tipo carac-
psicológica, no meio ambiente des- terístico de funcionamento anormal
tas crianças, que possa causar a em todas as três áreas: de interação
doença”. social, comunicação e comporta-
Os sintomas, causados por dis- mento restrito e receptivo. O trans-
funções físicas do cérebro, são veri- torno ocorre três a quatro vezes mais
ficados pela anamnese ou presentes frequentemente em garotos do que
em meninas.”

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manter uma conversação, na-


queles que conseguem falar;
c. Linguagem estereotipada, re-
petitiva ou idiossincrática;
d. Ausência de capacidade, ade-
quada à idade, de realizar jo-
gos de faz-de-conta ou imitati-
vos.
O DSM-IV apresenta o segui-
nte critério de diagnóstico: 3. Padrões de comportamento,
1. Se enquadrar em um total de interesse ou atividades repeti-
seis (ou mais) dos seguintes itens: tivas ou estereotipados, em
a. Acentuado comprometimento pelo menos um dos seguintes
no uso de múltiplos compor- aspectos:
tamentos não verbais que a. Preocupação circunscrita a um
regulam a interação social, tais ou mais padrões de interesse
como contato olho a olho, estereotipados e restritos,
expressões faciais, posturas anormalmente, tanto em in-
corporais e gestos; tensidade quanto no foco;
b. Falha no desenvolvimento de b. Fixação aparentemente infle-
relações interpessoais apro- xível em rotinas ou rituais não
priadas à idade; funcionais;
c. Ausência da busca espontânea c. Movimentos repetitivos e este-
em compartilhar de diverti- reotipados
mentos, interesses e empreen- d. Preocupação persistente com
dimentos com outras pessoas. partes de objetos.

2. Comprometimento qualitativo 4. Atraso ou funcionamento a-


na comunicação, em pelo me- normal, antes dos três anos,
nos um dos seguintes itens: em pelo menos uma das se-
a. Atraso ou ausência total no guintes áreas: interação social,
desenvolvimento da fala (sem linguagem de comunicação so-
a tentativa de compensá-la por cial e jogos simbólicos ou ima-
meio de comunicação por ges- ginativos.
tos ou mímicas);
b. Acentuado comprometimento O distúrbio não se enquadra
na habilidade de iniciar e na síndrome de Rett ou no Distúrbio
Desintegrativo da Criança.

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O Autismo pode ocorrer isola- rante os três primeiros meses (inclu-


damente ou em associação com ou- sive citomegalovirus), toxo-plasmo-
tros distúrbios que afetam o funcio- se, rubéola, anoxia e traumatismos
namento do cérebro, tais como Sín- no parto, patrimônio genético, etc.
drome de Down e epilepsia. Os sin- Ultimamente, pesquisas mostram
tomas mudam e alguns podem até evidências de aparecimento do au-
desaparecer com a idade. tismo após aplicações da vacina
tríplice.

O Q.I de crianças autistas, em


aproximadamente 60% dos casos,
mostram resultados abaixo dos
50,20% entre 50 e 70 e apenas 20%
tem inteligência maior do que 70
pontos.
O Portador de Autismo tem
uma expectativa de vida normal.
Formas mais grave podem
apresentar comportamento destru-
tivo, autoagressão e comportamento
agressivo, que podem ser muito
resistentes às mudanças.
O Autismo jamais ocorre por
bloqueios ou razões emocionais, co-
mo insistiam os psicanalistas. As
causas são múltiplas. Algumas já
têm sido relacionadas, como: fenil-
cetonúria não tratada, viroses du-
rante a gestação, principalmente du-

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2. Fisioterapia e Terapias

A atuação fisioterápica só é dada


as crianças autistas com atraso
motor, onde são trabalhadas todas
Uma observação inicial que
pode ser feita é que assim como a
flor nasce, o peixe nada e os pássaros
as fazes motoras até a marcha livre, cantam, a criança deve engatinhar
estimulando as etapas do desen- andar e falar, nesta sequência. São
volvimento normal, prevenindo de- seus impulsos naturais.
formidades e dando orientação fa- Quando ela falha no seu de-
miliar. Caso contrário existe algu- senvolvimento está também deve
mas terapias na qual a criança deve ser a sequência a ser seguida no seu
se identificar. trabalho terapêutico, segundo apre-
ciação do Dr. Doman, notável espe-
Método de Doman cialista americano, que depois de
trabalhar, durante anos, com crian-
A forma de trabalhar uma ças deficientes, segundo os métodos
criança pode seguir muitos métodos então tradicionais, chegou a uma
distintos. O método adequado de- conclusão absolutamente espanto-
pende muito do terapeuta e também sa: "As crianças que tinham perma-
das condições e capacitações da necido sem tratamento estavam
criança. incomparavelmente melhores

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do que as tratadas por nós". Bus- pias, mas parece ser uma eficiente
cando razões deste fracasso, através terapia para desenvolver as condi-
da observação, que as mães que não ções da maioria das crianças autistas
lhe deram ensejo de imobilizar os e de remover comportamentos inde-
filhos pelo tratamento, levaram-nos sejáveis. Welch desenvolveu esta
para casa, puseram-nos no chão e forma de terapia como parte de uma
permitirá que eles fizessem o que ampla abordagem.
lhes aprouvesse. Estas crianças, por
instinto, passaram a rastejar, enga-
tinhar, obtendo melhoras conside-
ráveis.
O seu método nasceu daí e visa
estimular a evolução natural da
criança. Este método tem muito
seguidores no Brasil, prevê um pro-
grama de exercícios que chega a ser
extenuante, mas que tem se revelado
eficaz.

Holding Terapy
Ainda não está claro como o
A terapia do abraço vem sendo Holding atua, porque a eficácia
empregada e defendida com cres- depende de quem a aplica e qual a
cente entusiasmo por um grupo bas- inter-relação com as demais terapias
tante numeroso. A revista Commu- aplicadas simultaneamente. O fato é
nication da National Autis-tic So- que se obtêm resultados, indepen-
ciety de junho de 89 apresentou um dente de gravidade do autismo.
artigo de Michele Zappella (Psiquia- Vamos dar um exemplo:
tra) e John Richer (Pediatra) que "Uma criança com 1 ano e
resumimos a seguir. meio foi diagnosticada como autista
O holding é uma forma de e colocado em um programa de um
intervenção intrusiva cujo objetivo é hospital escola, onde ficava a maior
reduzir o isolamento social, aumen- parte do dia com outras crianças
tar a comunicabilidade e desenvol- autistas. Depois de dois anos ela se
ver laços de união. apresentava seriamente retardada e
O holding deve ser sempre com comportamento fortemente
parte de um pacote maior de tera- autístico, com péssimo prognóstico.

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Foi submetida então a tratamento se amolda ao corpo dos pais. A partir


envolvendo interações físicas acen- de então a criança se torna mais co-
tuadas, com Michele Zappella. De- municativa, aconchegante e aberta.
pois de 6 meses o comportamento A insistência em confrontar a
social da criança estava dentro da criança é uma importante caracte-
faixa normal da idade. Este exemplo rística do HOLDING. A intervenção
é uma ilustração e não pode, evi- é realizada mantendo a criança em
dentemente, ser apresentado como contato estreito, fixando-lhe o olhar,
evidência." beijando-a e falando com ela (Al-
Deve ser lembrado. Inicial- guns usam um fundo musical).
mente, que existem muitas varia- Zappella aplicou a terapia a 50
ções de terapia do abraço. De um crianças autistas, com idade de 3 a
modo geral, porém são elementos 15 anos, envolvendo a família e ten-
comuns: do como base a terapia do abraço.
 O adulto mantém a criança Ela registra que 12% se normaliza-
abraçada mesmo que ela se ram após dois anos, 18% perderam o
oponha e lute para se livrar, comportamento autístico e 44%
até que ela se acalme e relaxe. apresentaram progressos modera-
 O adulto deve manter o
dos e 26% não demonstraram resul-
controle da criança.
tados. J. Prekop, na Alemanha re-
Uma seção atípica apresenta portou resultados similares. Ela
os seguintes passos: também comparou o desenvolvi-
mento destas crianças com outras
 Inicialmente a criança pode
ficar quieta, mas a seguir que não tinham sido submetidas ao
começa a se debater. Os pais HOLDING, concluindo que, relati-
continuam a abraçá-la. vamente, fizeram maior progresso.
 A criança se debate mais e
mais e ocasionalmente começa Hipoterapia
a gritar. Os pais mantém o
abraço.
Essa atividade ajuda a for-
 Os ciclos de luta, gritos e
aquietamentos podem de necer balanço e força e requer o uso
estender até por mais de uma de suas mãos, portanto minimiza os
hora. movimentos estéreo-tipados das
mãos e aumenta o uso das mesmas.
Durante, em especial, as se- O autista ganha controle, tra-
ções iniciais, a criança se em-raivece zendo confiança e satisfação.
mais, então soluça, depois relaxa e

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Musicoterapia das mãos enquanto toca os


instrumentos
A musicoterapia é um método  Aumento da socialização atra-
vés da participação.
muito eficaz. A música promove o
relacionamento entre o paciente e o
A musicalidade induz ao rela-
terapeuta, que aproveita, na terapia
xamento que facilita na liberdade de
tudo que possa provocar algum
movimentos e expressão.
ruído, som, ou mesmo movimento.
Nem todo autista tem um atra-
A musicoterapia também utili-
so motor, mas o que tiver deve-se
za o próprio corpo do paciente. No
trabalha esse atraso até a marcha
início, o terapeuta espera que o au-
livre.
tista se expresse de algum modo, um
piscar de olhos, um som, um gesto
qualquer. O terapeuta, então, repete
o gesto ou emite o mesmo som, ten-
tando estabelecer uma comunicação
com o paciente.
Ao mesmo tempo, procura
mostrar ao autista que ele será
aceito, não importa a maneira como
aja.
Se o autista retribui a men-
sagem, a primeira comunicação está
feita. Ele começa a se comunicar
com os outros. Ele, agora, vê o mun-
do e o compreende.
 Crescimento da independên-
cia escolhendo músicas e
atividades
 Comunicação (atividades mu-
sicais através de símbolos).
 Desenvolvimento da autoima-
gem e da autoestima.
 Estimulação pelo contato ex-
pressivo dos olhos.
 Desenvolvimento da vocaliza-
ção através da música.
 Aumento do uso proposital

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3. Transtornos Globais do Desenvolvimento

O s transtornos globais do desen-


volvimento incluem um grupo
de condições nas quais há atraso ou
til precoce/ autismo da infância ou
autismo de Kanner) é caracterizado
por interação social recíproca anor-
desvio no desenvolvimento de habi- mal, habilidades de comunicação
lidades sociais, linguagem, comuni- atrasadas e disfuncionais e um re-
cação e repertório comportamental. pertório limitado de atividades e
Crianças afetadas exibem inte- interesses.
resse intenso idiossincrático em A taxa é de cinco casos por 10
uma estreita gama de atividades, mil crianças. O início do transtorno
resistem à mudança e não respon- ocorre antes dos 3 anos de idade,
dem de maneira adequada ao am- ainda que possa não ser reconhecido
biente social. Esses fatores se até a criança ser muito mais velha.
manifestam cedo na vida e causam É 4 a 5 vezes mais frequente
disfunção pertinente. em meninos do que em meninas.
Meninas com transtorno autista têm
Transtorno autista maior probabilidade de apresentar
um retardo mental grave.
O transtorno Autista (histori- Segundo Kanner poderia ser
camente chamado de autismo infan- consequência de mães muito “gela-

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deiras”, porém não há validade de brionários possam ser danificados


tal hipótese. durante a gestação.
Essas crianças podem respon- Uma incidência de complica-
der com sintomas exacerbados a es- ções perinatais mais alta que o es-
tressores psicossociais, incluindo perado parece ocorrer em bebês
discórdia familiar, nascimento de mais tarde diagnosticados como au-
um novo irmão ou mudança fa- tistas. Sangramento materno após o
miliar. primeiro trimestre. No período neo-
Cerca de 75% das crianças afe- natal, estas têm uma alta incidência
tadas apresentam um retardo men- de síndrome de sofrimento respira-
tal. Um terço tem retardo mental tório e anemia neonatal.
leve a moderado e perto da metade Estudos de RM comparando
tem retardo mental grave ou pro- indivíduos autistas e controles nor-
fundo (essas crianças apresen-tam mais demonstraram que o volume
déficits mais importantes no racio- cerebral total era maior entre os pri-
cínio abstrato no entendimento so- meiros, embora crianças com um re-
cial e em tarefas verbais do que em tardo mental grave em geral tenham
tarefas de desempenho). cabeças menores.
Podem apresentar também: O volume pode sugerir: neuro-
 Convulsões; genese aumentada, morte neuronal
 Aumento ventricular; diminuída e produção aumentada
 Anormalidades eletroencefa- de tecido cerebral não neuronal, co-
lográficas. mo células gliais ou vasos sanguí-
neos. Acredita ser que o lobo tempo-
Entre 2 e 4% dos irmãos de ral seja uma área crítica de anor-
crianças autistas também tinham malidade cerebral no transtorno
transtorno autista, uma taxa 50 autista.
vezes maior do que na população Em algumas crianças autistas,
geral. altas concentrações de ácido homo-
Incompatibilidades imunoló- vanílico (principal metabólito da
gicas (anticorpos maternos transfe- dopamina) no liquido cerebrospinal
ridos ao feto) podem contribuir para (LCS) estão associados a aumento
o transtorno autista. Os linfócitos de do retraimento e estereotipias.
algumas crianças autistas reagem Crianças com transtorno au-
com anticorpos maternos, o que le- tista costumam ser descritas como
vanta a possibilidade de que tecidos atraente e à primeira vista, não apre-
neurais embrionários ou extraem- sentam nenhum sinal indicando o

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problema. Podem apresentar mal-  Os brinquedos são manusea-


formações das orelhas, uma vez que dos de formas ritualísticas,
a formação das orelhas se dá quase com poucos aspectos sim-
ao mesmo tempo em que a formação bólicos.
 Suas atividades tendem a ser
de porções do cérebro. Também
rígidas, repetitivas e monóto-
apresentam uma incidência mais al- nas, muitas com retardo men-
ta de demartoglifia anormal (impre- tal grave, exibem anormalida-
ssões digitais) do que a população des no movimento.
em geral.  Costumam ser resistentes a
São características comporta- transição e mudança.
mentais:
 Apresentam prejuízos qualita- São sintomas comportamen-
tivos na interação social: não tais associados:
apresentam sinais sutis com os  Hipercinesia é um problema
pais e outras pessoas. de comportamento comum
 Não apresentam contato visu- entre crianças autistas.
al ou o mesmo é muito pobre.  Agressão e acessos de raiva são
 Não reconhecem ou não observados, em geral indu-
diferenciam as pessoas mais zidos por mudanças e
importantes em sua vida. exigências.
 Podem apresentar ansiedade  Comportamento automutila-
extrema quando ocorre algu- dor (inclui bater a cabeça,
ma mudança em sua rotina. morder, arranhar e puxar o
 Há um déficit notável no brin- cabelo).
car, seu comportamento social  Período de atenção curto.
pode ser desajeitado ou ina-  Baixa capacidade de focalizar-
dequado. se em uma tarefa.
 Incapazes de interpreter a in-  Insônia.
tenção do outro (não desen-  Enurese.
volvem a empatia).  Problemas de alimentação.

Os autistas têm dificuldade Doenças físicas que podem


marcante em formar frases signifi- estar associadas são:
cativas mesmo quando dispõem de  Tem uma incidência mais alta
vocabulários amplos. do que o esperado de infecções
São comportamentos estere- do trato respiratório superior e
otipados: de outras infecções menores.
 Em seus primeiros anos de  Constipação e aumento do
vida não explora o ambiente transito intestinal.
(ou pouco).  Convulsões febris.

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Capacidades cognitivas ou Vi- Visto que crianças autistas


sio motoras incomuns ou precoces com frequência são mudas ou apre-
ocorrem em algumas crianças autis- sentam um desinteresse seletivo na
tas. São chamadas de funções frag- linguagem falada, costumam ser
mentadas ou ilhas de precocidade. julgada surda.
Memórias de hábitos ou capa- Os fatores de diferenciação in-
cidades de cálculos muitas vezes su- cluem o seguinte: bebês autistas po-
periores aos seus pares normais. dem balbuciar com pouca frequên-
Hiperlexia e boa leitura (em- cia, enquanto bebês surdos têm his-
bora não possam entender o que tória de balbucio relativamente nor-
leem. Memorização e recitação, bem mal, que vai diminuindo e pode
como capacidades musicais (cantar parar entre 6 meses e 1 ano de idade.
ou tocar melodias e reconhecer no- Crianças surdas respondem a ape-
tas musicais). nas sons altos, enquanto autistas po-
Os principais diagnósticos di- dem ignorar sons altos ou normais e
ferenciais são esquizofrenia com responder a sons suaves ou baixos.
início na infância, retardo mental As crianças mesmo surdas
com sintomas comportamentais, gostam de se relacionar com seus
transtorno misto de linguagem re- pais, buscam sua afeição e gostam de
ceptivo-expressiva, surdez congêni- ser seguradas enquanto bebês, dife-
ta ou transtorno auditivo grave, pri- rentemente do autista.
vação psicossocial e psicose desinte- O transtorno autista costuma
grativa (regressivas). se uma condição para toda a vida
Crianças com retardo mental com um prognóstico cauteloso.
tendem a relacionar-se com adultos Crianças autistas com um QI acima
e outras crianças de acordo com sua de 70 e aquelas que usam linguagem
idade mental, usam a linguagem que comunicativa nas idades de 5 a 7
tem para comunicar se e exibem um anos tendem a ter melhores prog-
perfil de prejuízos relativamente nósticos.
uniforme, sem funções fragmen- As áreas de sintoma que não
tadas. parecem melhorar com o tempo
Afasia adquirida com convul- foram àquelas relacionadas a com-
são é uma condição rara, às vezes di- portamentos ritualísticos e repe-
fícil de diferenciar de um transtorno titivos.
autista e transtorno desintegrativo Em geral, estudos do resultado
na infância. em adultos indicam que cerca de
dois trecos dos adultos permanecem

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gravemente incapacitados e vivem automutiladores, hiperatividade,


em dependência completa ou semi- comportamento obsessivo compul-
dependência com seus parentes ou sivo e esteriotipias. A administração
em instituições de longo prazo. de medicamentos antipsicoticos po-
O prognóstico melhora quan- de reduzir o comportamento agres-
do o ambiente ou lar é sustentador e sivo e automutilador.
capaz de satisfazer as necessidades
extensivas dessas crianças. Embora Síndrome de Asperger
os sintomas diminuam em muitos
casos, automutilação grave ou agres- A síndrome de Asperger é um
sividade e regressão podem desen- tipo de autismo, mas sem nenhum
volver em outros. atraso ou retardo no desenvol-
Os objetivos do tratamento de vimento e da linguagem. Quando
criança com transtorno autista são adultos, os portadores podem viver
aumentar o comportamento social- de forma comum, como qualquer
mente aceitável e pró-social, dimi- outra pessoa que não possui a
nuir sintomas comportamentais bi- síndrome. Há indivíduos com As-
zarros e melhorar a comunicação perger que se tornam professores
verbal e não verbal. universitários. Alguns sintomas des-
Além disso, os pais muitas ve- ta síndrome são:
zes confusos necessitam de apoio e  Interesses específicos ou pre-
ocupações com um tema, em
aconselhamento. No momento in-
detrimento de outras ativida-
tervenções educacionais e compor- des;
tamentais são mais indicadas. Trei-  Peculiaridades na fala e na
namento em sala de aula estrutura- linguagem;
da em combinação com métodos  Padrões de pensamento lógi-
comportamentais é o mais efetivo co/técnico extensivo (às vezes
para muitas crianças autistas. comparado com os traços de
Não há medicamentos especí- personalidade do personagem
Spock de Jornada nas
ficos para tratar os sintomas cen-
Estrelas);
trais do autista, entretanto, a psico-  Comportamento socialmente
farmacoterapia é um tratamento e emocionalmente impróprio e
adjunto valioso para melhorar sinto- problemas de interação inter-
mas comportamentais associados. pessoal;
Foi relatado que ela atenua  Problemas com comunicação;
sintomas como agressividade, aces-  Transtornos motores, movi-
so de raiva grave, comportamentos mentos desajeitados e desco-
ordenados.

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As características mais co- da mente. Sem isso, os indivíduos


muns e importantes podem ser divi- com Asperger não conseguem reco-
didas em várias categorias amplas: nhecer nem entender os pensamen-
as dificuldades sociais, os interesses tos e sentimentos dos demais. Des-
específicos e intensos, e peculiari- providos dessa informação intuitiva,
dades na fala e na linguagem. A não podem interpretar nem compre-
principal característica é a dificul- ender os desejos ou intenções dos
dade com o convívio social. Os não outros e, portanto, são incapazes de
autistas são capazes de captar infor- prever o que se pode esperar dos
mação sobre os estados emocionais demais ou o que estes podem es-
de outras pessoas pela expressão perar deles. Isso geralmente leva a
facial, linguagem corporal, humor e comportamentos impróprios e
ironia. Já os portadores de Asperger antissociais:
não têm essa capacidade, o que é às  Dificuldade em compreender
vezes chamado de "cegueira emo- as mensagens transmitidas
cional". por meio da linguagem cor-
As pessoas com Asperger não poral: Aspergers geralmente
não olham nos olhos, e quando
têm a habilidade natural de enxergar
olham, não conseguem "ler" os
a comunicação implícita da intera- olhos das outras pessoas.
ção social, e podem não ter capaci-  Interpretar as palavras sempre
dade de expressar seu próprio esta- em sentido literal: Aspergers
do emocional, resultando em obser- têm dificuldade em identificar
vações e comentários que podem o uso de coloquialismos, iro-
soar ofensivos apesar de bem-inten- nia, gírias, sarcasmo e metá-
foras.
cionados, ou na impôssibilidade de
 Ser considerado grosso, rude e
identificar o que é socialmente "acei- ofensivo: propensos a compor-
tável". As regras informais do conví- tamento egocêntrico, Asper-
vio social que angustiam os portado- gers não captam indiretas e
res de Asperger são descritas como sinais de alerta de que seu
"o currículo oculto". Os Aspergers comportamento é inadequa-
precisam aprender estas aptidões do à situação social.
sociais intelectualmente de maneira  Honestidade e ludibrio: As-
pergers são geralmente consi-
clara, seca, lógica como matemática,
derados “honestos demais”,
em vez de intuitivamente por meio “inocentes” ou “sem malícia” e
da interação emocional normal. têm dificuldade em enganar
Este fenômeno também é ou mentir, mesmo à custa de
considerado uma carência de teoria magoar alguém.

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TGD, SÍNDROME DE ASPERGER, RETT E AUTISMO

 Aperceber-se de erros sociais: inversa, pessoas com Asperger


à medida que os Aspergers geralmente não percebem
amadurecem e se tornam cien- quando o interlocutor está
tes de sua "cegueira emocio- entediado ou desinteressado.
nal", começam a temer come-  Introspecção e autoconsciên-
ter novos erros no comporta- cia: indivíduo com Asperger
mento social, e a autocrítica têm dificuldade de entender
em relação a isso pode crescer seus próprios sentimentos ou
a ponto de se tornar fobia. o seu impacto nos sentimentos
 Paranoia: por causa da "ce- alheios.
gueira emocional", pessoas  Vestimenta e higiene pessoal:
com Asperger têm problemas pessoas com Asperger tendem
para distinguir a diferença a ser menos afetadas pela pre-
entre atitudes deliberadas ou ssão dos semelhantes do que
casuais dos outros, o que por outras. Como resultado, geral-
sua vez pode gerar uma pa- mente fazem tudo da maneira
ranoia. que acham mais confortáveis,
 Lidar com conflitos: ser inca- sem se importar com a opinião
paz de entender outros pontos alheia. Isto é válido principal-
de vista pode levar a inflexi- mente em relação à forma de
bilidade e a uma incapacidade se vestir e aos cuidados com a
de negociar soluções de con- própria aparência.
flitos. Uma vez que o conflito  Amor e rancor recíprocos:
se resolva, o remorso pode não como Aspergers reagem mais
ser evidente. pragmaticamente do que emo-
 Consciência de magoar os ou- cionalmente, suas expressões
tros: uma falta de empatia em de afeto e rancor são em geral
geral leva a comportamentos curtas e fracas.
ofensivos ou insensíveis não  Compreensão de embaraço e
intencionais. passo em falso: apesar do fato
 Consolar os outros: como de pessoas com Asperger te-
carecem de intuição sobre os rem compreensão intelectual
sentimentos alheios, pessoas de constrangimento e gafes,
com Aspergers têm pouca são incapazes de aplicar estes
compreensão sobre como conceitos no nível emocional.
consolar alguém ou fazê-los se  Necessidade crítica: Aspergers
sentirem melhor. sentem-se forçosamente com-
 Reconhecer sinais de enfado: a pelidas a corrigir erros, mês-
incapacidade de entender os mo quando são cometidos por
interesses alheios pode levar pessoas em posição de autori-
Aspergers a serem incompre- dade, como um professor ou
ensivos ou desatentos. Na mão um chefe. Por isto, podem

20
TGD, SÍNDROME DE ASPERGER, RETT E AUTISMO

parecer imprudentemente nais que venham a ter pode parecer


ofensivos. curiosa ou até ser uma causa de
 Velocidade e qualidade do preocupação para quem não com-
processamento das relações partilha da mesma perspectiva. O
sociais: como respondem às
problema pode ser exacerbado pelas
interações sociais com a razão
e não intuição, Aspergers ten- respostas daqueles neurotípicos
dem a processar informações (não autistas) que interagem com
de relacionamentos muito portadores de Asperger. O aparente
mais lentamente do que o nor- desapego emocional de um paciente
mal, levando a pausas ou de- Asperger pode confundir e aborre-
moras desproporcionais e cer uma pessoa neurotípica, que por
incômodas.
sua vez pode reagir ilógica e emocio-
 Exaustão: quando um indi-
víduo com Asperger começa a nalmente - reações que vários As-
entender o processo de abs- pergers especialmente não toleram.
tração, precisa treinar um Isto pode gerar um círculo vicioso e
esforço deliberado e repetitivo às vezes desequilibram particular-
para processar informações de mente famílias de pessoas As-
outra maneira. Isto muito fre- pergers.
quentemente leva a exaustão
Pessoas com Asperger típica-
mental.
mente tem um modo de falar alta-
Portadores da Síndrome de mente "pedante", usando um regis-
Asperger pode ter problemas em tro formal muitas vezes impróprio
compreender as emoções alheias: as para o contexto. Uma criança de
mensagens passadas pela expressão cinco anos de idade com essa con-
facial, olhares e gestual não surtem dição pode falar regularmente como
efeito. Eles também podem ter difi- se desse uma palestra universitária,
culdades em demonstrar empatia. especialmente quando discorrer so-
Assim, Aspergers podem parecer bre seus assuntos de interesse.
egoístas, egocêntricos ou insensí- Crianças com Asperger podem
veis. Na maioria dos casos, estas demonstrar aptidão avançadas de-
percepções são injustas porque os mais para sua idade em relação à
portadores da síndrome são neuro- fala, leitura, matemática, noções de
logicamente incapazes de entender espaço ou música, às vezes no nível
os estados emocionais das pessoas à de "superdotados", mas estes talen-
sua volta. É evidente que pessoas tos são contrabalançados por retar-
com Asperger têm emoções! Mas a damentos consideráveis no desen-
natureza concreta dos laços emocio-

21
TGD, SÍNDROME DE ASPERGER, RETT E AUTISMO

volvimento de outras funções cog- impulsos neurais para viajar para ci-
nitivas. ma e para baixo (pensamento literal)
A Síndrome de Asperger na e uma menor tendência a moverem-
criança pode se desenvolver como se lateralmente (pensamento late-
um nível de foco intenso e obsessivo ral). Este fenômeno estaria estendi-
em assuntos de interesse. Algumas do por todo o cérebro ao invés de
vezes, os interesses são vitalícios; estar localizado em certas regiões.
em outros casos, vão mudando a in- Os experimentos com redes neurais
tervalos imprevisíveis. Em qualquer em computadores têm demonstrado
caso, são normalmente um ou dois que as redes que enfatizam o movi-
interesses de cada vez. mento vertical da informação (como
Ao perseguir estes interesses, um cérebro autista) mostram uma
portadores de Aspergers frequente- grande habilidade com detalhes po-
mente manifestam argumentação rém muita dificuldade para distin-
extremamente sofisticada, um foco guir as coisas.
quase obsessivo e uma memória im- Em uma maior e mais comple-
pressionantemente boa para dados. xa escala do cérebro, isto significa
Na escola, podem ser considerados que as pessoas neurotípicas são mais
inaptos ou superdotados altamente conscientes do argumento todo e as
inteligentes, claramente capazes de pessoas autistas são mais conscien-
superar seus colegas em seu campo tes dos detalhes. Os autistas são me-
do interesse, e ainda assim cons- lhores nos problemas lógicos, porém
tantemente desmotivados para fazer menos intuitivos. Isto não significa
deveres de casa comuns (às vezes até necessariamente que os autistas
mesmo em suas próprias áreas de possuem memórias brilhantes, mui-
interesse). to pelo contrário, a princípio podem
Pessoalmente creio que a ser bem distraídos para algumas
chave para superar o autismo é com- coisas. A elevada sensibilidade sen-
preendê-lo. O autismo é causado por sorial e a constante atenção com os
diversos processos bioquímicos que detalhes extras, a maioria dos quais
afetam a forma com que o cérebro se não são importantes, podem ser
desenvolve. uma fonte inesgotável de distração
Durante algum tempo acredi- para a concentração e as habilidades
tei que o cérebro das pessoas autis- de aprendizagem. Pode ser especial-
tas estava estruturado de forma li- mente difícil captar a informação
geiramente diferente de forma que relevante referente à cultura em que
havia uma tendência maior dos vive, especialmente nas atuais socie-

22
TGD, SÍNDROME DE ASPERGER, RETT E AUTISMO

dades evoluídas, nas quais creio que muito menos frustrante é encarar os
está havendo uma sobrecarga cul- seus problemas como desafios a se-
tural (ver conhecimento geral). rem superados ao invés de pro-
O que eu acredito agora é blemas.
similar ao descrito acima, mas ligei- Não quis que as pessoas pen-
ramente modificado. Agora creio sassem que existe apenas uma defi-
que talvez a causa primordial do nição do que é o autismo ou a Sín-
autismo é uma predisposição à rea- drome de Asperger, porém se tivesse
valiação de pensamentos prévios (e que explicar com uma única frase
por isso a repetição e os rituais). seria:
Consequentemente, a capacidade Os autistas têm que compre-
para a intuição e a consciência con- ender de forma científica o que já as
textual se reduz. pessoas não autistas compreendem
Para avaliar uma situação so- instintivamente.
cial é preciso encontrar muitas pis-
tas e uni-las o mais rapidamente Síndrome de Rett
possível em um conjunto. A dedução
final é muitas vezes maior do que a Andreas Rett identificou, em
soma de suas partes. 1966, uma condição caracterizada
Além disso, outra coisa difícil por deterioração neuromotora em
para a pessoa autista é encontrar um crianças do sexo feminino, quadro
“ponto de equilíbrio” e isto pode ser clínico bastante singular, acompa-
visto em todos os níveis de conduta nhado por hiperamonemia, tendo-o
e relacionamento. A habilidade para descrito como uma “Atrofia Cerebral
adaptar-se ao “continuum situacio- Associada à Hiperamonemia”.
nal” e moldar-se ao mundo que o
cerca é, sem dúvida, uma estratégia
de sobrevivência extremamente na-
tiga, que é mais relevante nos aspec-
tos sociais da vida.
Muitos dos problemas experi-
mentados por alguém com Síndro-
me de Asperger podem ser atribuí-
dos a uma inexplicável sucessão de
A condição por ele descrita so-
má sorte. A única forma de poder
mente passou a ser melhor conhe-
tornar este sentimento
cida após a publicação do trabalho

23
TGD, SÍNDROME DE ASPERGER, RETT E AUTISMO

de Hagberg et al, no qual foram des- O diagnóstico da SR, até pouco


critas 35 meninas, e a partir do qual tempo, era exclusivamente clínico,
foi sugerido o epônimo de síndrome existindo ainda critérios para o diag-
de Rett (SR). A presença da hipe- nóstico de quadros atípicos da SR,
ramonemia não foi confirmada co- que somente devem ser firmados
mo um sinal habitual da síndrome. após os 10 anos de idade. Na atuali-
Admite-se, na atualidade, uma dade, a descrição de uma alteração
prevalência da doença estimada en- genética identificável em aproxima-
tre 1:10.000 e 1:15.000 meninas, damente 80% dos casos sugere que
sendo uma das causas mais fre- esse recurso deva ser utilizado na
quentes de deficiência mental severa elaboração final do diagnóstico.
que afeta o sexo feminino. A doença evolui de forma
No Brasil, a SR foi inicial- previsível, em estágios, que foram
mente identificada por Rosemberg nomeados por Hagberg & Witt-En-
et al (1986, 1987). Desde então, vá- gerström (1986) da seguinte forma:
rios trabalhos foram publicados no o primeiro deles, denominado estag-
Brasil, divulgando o quadro clínico e nação precoce, inicia-se entre seis e
tornando possível a identificação de 18 meses e caracteriza- se por uma
algumas centenas de meninas afe- parada no desenvolvimento, desace-
tadas. leração do crescimento do perímetro
A partir do que já se conhece craniano, diminuição da interação
sobre a síndrome de Rett, focaliza as social com consequente isolamento.
informações mais recentes da litera- Esse estágio tem a duração de alguns
tura internacional sobre os aspectos meses.
genéticos e etiológicos desta condi- O segundo, rapidamente des-
ção, bem como sobre a sua identi- trutivo, inicia-se entre um e três
ficação clínica e laboratorial, neuro- anos de idade e tem a duração de se-
patologia, eletro-fisiologia, e evolu- manas ou meses. Uma rápida regre-
ção clínica (epilepsia, distúrbios res- ssão psicomotora domina o quadro,
piratórios, distúrbios autonômicos e com a presença de choro imotivado
aspectos nutricionais), enfatizando, e períodos de extrema irritabilidade,
ainda, que, embora até recentemen- comportamento tipo autista, perda
te tida como condição que afetava da fala e aparecimento dos movi-
apenas o sexo feminino, também po- mentos estereotipados das mãos,
de estar presente no sexo masculino, com subsequente perda da sua fun-
ainda que com fenótipo diverso. ção práxica; disfunções respiratórias

24
TGD, SÍNDROME DE ASPERGER, RETT E AUTISMO

(apnéias em vigília, episódios de hi- por ter que utilizar cadeiras de


perventilação e outras) e crises con- rodas. Observa-se, nesse período, a
vulsivas começam a se manifestar. super-posição de sinais e sintomas
Em algumas crianças há perda da decorrentes de lesão do neurônio
fala que já estava eventualmente motor periférico aos prejuízos já
presente. Distúrbios do sono são presentes. Presença de coreo-ateto-
comuns. se é comum nessa fase. Apesar de ser
Entre os dois e dez anos de habitual afirmar-se que as meninas
idade instala-se o terceiro estágio: o com SR são normais ao nascimento
pseudo-estacionário, no qual ocorre e demonstram um desenvolvimento
certa melhora de alguns dos sinais e normal até os seis ou dezoito meses
sintomas, inclusive do contato so- de idade, sabe-se hoje que em gran-
cial. Os distúrbios motores são evi- de parte dos casos, senão em todos,
dentes, com presença de ataxia e há na verdade um atraso no desen-
apraxia, espasticidade, escoliose e volvimento motor com hipotonia
bruxismo. Os trabalhos estrangeiros muscular e prejuízo no engatinhar,
referem que nessa fase é muito co- que são os sinais iniciais.
mum ocorrer perda de peso, apesar A fala está sempre muito com-
de ingesta normal. Todavia, em pes- prometida e, muitas vezes, total-
quisa conduzida no Brasil, Schwar- mente ausente. Algumas crianças
tzman não encontrou desnutrição chegam a falar, deixando de fazê-lo
entre as crianças examinadas. Ao à medida que a deterioração avança.
contrário do que se poderia esperar, Algumas poucas adquirem alguns
várias das pacientes apresentavam vocábulos isolados. Apenas um tra-
sobrepeso. Crises de perda de fôlego, balho refere a presença de “frases
aerofagia e expulsão forçada de ar e apropriadas” em casos de SR. Estu-
saliva ocorrem com frequência. do que se baseou no exame de uma
O quarto estágio, que se inicia amostra composta por 265 pacientes
por volta dos dez anos de idade, é o com quadros clássicos e atípicos de
da deterioração motora tardia, ocor- SR e pôde comprovar que, 30%
rendo lenta progressão dos déficits delas nunca desenvolveram palavras
motores, com presença de escoliose inteligíveis, 55% deixaram de falar
e severa deficiência mental. Epilep- após ter adquirido fala, 15% reti-
sia pode se tornar menos importan- nham algumas palavras e 6% do to-
te, e as poucas pacientes que ainda tal continuavam a fazer uso apro-
retêm a deambulação gradualmente priado de frases.
terão prejuízos crescentes, acabando

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TGD, SÍNDROME DE ASPERGER, RETT E AUTISMO

Crises epilépticas são de ocor- espícula-onda lenta, mais fácilmen-


rência comum. Podem assumir vá- te observada durante o sono. No
rias formas e, eventualmente, de- estágio IV pode haver uma certa
monstrar grande resistência à medi- melhora no traçado com diminuição
cação antiepiléptica habitual. Afir- dos elementos epileptiformes. As es-
mar a real prevalência de epilepsia pículas centrais tendem a diminuir
nessas pacientes é difícil, porque após os dez anos de idade e podem
elas podem apresentar outras mani- ser bloqueadas pela movimentação
festações paroxísticas que são, mui- passiva dos dedos da mão con-
to frequentemente, confundidas tralateral.
com epilepsia. Hagberg et al, por A sobrevida na SR pode ser
exemplo, afirmam que nas séries por limitada, sobrevindo a morte, em
eles acompanhadas, a ocorrência de geral, em decorrência de um quadro
epilepsia pôde ser comprovada em infeccioso ou durante o sono (morte
94% dos casos. súbita). Outro fator que pode limitar
A média de idade da popula- tanto a qualidade de vida como o
ção era de 20 anos, variando entre tempo de sobrevida, consiste nos
quatro e 58 anos. Frequentemente problemas respiratórios crônicos
crises de perda de fôlego, crises hi- decorrentes de problemas secundá-
poxêmicas seguindo episódios de rios à escoliose, que pode chegar a
apneia são diagnosticadas errônea- comprometer seriamente a expan-
mente como epilepsia, o que pode são pulmonar.
contribuir para prevalências supe- No quadro clínico da SR po-
restimadas de epilepsia nessas demos observar algumas alterações
crianças. que permitem supor algum tipo de
O eletroencefalograma é, em disfunção autonômica. Julu et al
geral, grosseiramente anormal, ex- estudaram, sob este ponto de vista,
ceção feita, eventualmente, às pri- 17 meninas com a SR. Demons-
meiras fases da doença. À medida traram que o tono vagal cardíaco era
que a condição evolui do estágio I 65% inferior ao de meninas con-
para o III, observaremos lentificação troles. Esses valores são similares
progressiva do ritmo de base com aos observados em recém-nascidos
surgimento de ondas pontiagudas normais. Cada uma das meninas
projetando-se, em geral, nas regiões Rett apresentou, pelo menos, seis
centro-parietais. No estágio III po- alterações no ritmo respiratório. O
dem surgir descargas com o padrão tono vagal cardíaco era suprimido

26
TGD, SÍNDROME DE ASPERGER, RETT E AUTISMO

no ápice da atividade simpática, tan- ciação das síndromes de Klinefelter


to durante os períodos de hiperven- com a SR, ocorrência com uma pro-
tilação, quanto nos de perda de babilidade da ordem de uma para
fôlego, levando a um desequilíbrio dez a 15 milhões de nascimentos.
com risco de arritmias cardíacas e Apenas um ano após, em 1999,
possivelmente morte súbita. foram descritas pela primeira vez
A grande maioria dos casos de mutações no gene MeCP2 em pa-
SR é composta de casos isolados cientes com a SR. Interessante que
dentro de uma família, exceção feita após a descrição dessas mutações do
à ocorrência em irmãs gêmeas; po- MECP2, foi realizada a pesquisa
rém, casos familiares têm sido para esse marcador no menino ante-
observados. Costumava-se consi- riormente referido, no qual havia
derar a SR como uma desordem sido descrita a associação do fenó-
dominante ligada ao cromossomo X, tipo Rett e XXY. Foi encontrada uma
em que cada caso representaria uma mutação nesse gene, confirmando
mutação fresca, com letalidade no tratar-se, realmente, da SR. Estudos
sexo masculino. mais recentes indicam que cerca de
Foram observados casos nos 75% a 80% de pacientes com a forma
quais meninos, irmãos de meninas clássica da SR têm mutações no gene
com a SR, nasciam com uma doença MECP2. Considera-se que a proteí-
encefalopática com óbito precoce. na MeCP2, produzida pelo gene,
Nessa perspectiva, alguns poucos funciona como repressor global de
casos foram descritos nos quais um transcrição. Como essa proteína
fenótipo similar ao da SR foi obser- possui alguns diferentes sítios de
vado em meninos. Em geral, consti- ação, acreditasse que as diferentes
tuíam apenas um sugestivo do diag- mutações encontradas no gene se-
nóstico, com sinais e sintomas pre- riam responsáveis pelos diferentes
sentes de forma bastante atípica e fenótipos observados nos portado-
parcial. res de SR. Sabemos, hoje, que alguns
Em 1998, foi descrito um caso meninos portadores das mesmas
de um menino que, na ocasião, tinha mutações podem sobreviver, apre-
dois anos e nove meses de idade, sentando um quadro encefalopático
apresentando fenótipo integral da totalmente distinto do quadro clíni-
SR na sua forma clássica. Esse me- co clássico da SR no sexo feminino.
nino, apresenta cariótipo XXY, Também se aceita que a pesquisa de
caracterizando, portanto, uma asso- mutações no gene MECP2 esteja

27
TGD, SÍNDROME DE ASPERGER, RETT E AUTISMO

justificada em meninos com formas minar o fenótipo do quadro ainda


severas de encefalopatia que não não está completamente compreen-
tenham alguma etiologia claramente dido. Porém, observou-se que, nes-
definida. ses animais, um aumento da aceti-
Do ponto de vista neuropato- lação de um grupo de histonas,
lógico, é fato a desaceleração do comprometendo a arquitetura da
crescimento craniano que ocorre a cromatina em determinadas regiões
partir do terceiro mês. O lobo fron- cerebrais, principalmente do córtex
tal, o núcleo caudado e o mesencéfa- e do cerebelo. Consequência desse
lo são as regiões encefálicas nas processo poderia ser uma maior
quais foram observadas as maiores acessibilidade do DNA por diferen-
reduções. Começam a surgir evidên- tes fatores transcricionais, o que im-
cias de que a SR poderia estar rela- plicaria na interferência da expres-
cionada a uma deficiência pós-natal são de diversos genes. Os estudos
no desenvolvimento das sinapses; agora procuram compreender quais
mas restaria, ainda, conhecer o seriam os diferentes genes que esta-
defeito básico presente. riam desregulados pela ação dessa
Com o conhecimento da muta- alteração da proteína MeCP2.
ção encontrada no gene MECP2, um Dependendo da fase em que se
grupo de pesquisadores do Texas encontra a SR, várias condições
produziu um camundongo transgê- deverão ser levadas em considera-
nico com uma mutação truncada no ção entre os diagnósticos diferen-
gene MECP2. Os animais não apa- ciais: patologias fixas, como a para-
rentam anormalidades até aproxi- lisia cerebral e outras encefalopatias
madamente a sexta semana, quando fixas; síndrome de Angelman; autis-
surge um tremor ao erguer-se o mo infantil; e várias doenças meta-
animal pela cauda. Após oito meses, bólicas (por ex. lipofuccionoses).
alterações na pelagem, presença de
convulsões e mioclonias podem ser Transtorno de Prejuízo
observadas. Multidimensional (Tpm)
Interessante que, após essa
idade, o animal produz uma série de Este subgrupo, ao contrário do
movimentos estereotipados das pa- outro, é considerado como mais
tas dianteiras quando suspenso pela próximo dos transtornos psicóticos.
cauda. O mecanismo pelo qual a Essas crianças apresentam dificul-
alteração desse gene parece deter- dades em diferenciar a fantasia da

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TGD, SÍNDROME DE ASPERGER, RETT E AUTISMO

realidade, incluindo distúrbios de Elas eram descritas como soli-


percepção, labilidade emocional, tárias, fantasiosas, apresentando in-
inabilidade em relacionamentos so- teresses especiais e atrasos de de-
ciais, déficits no processamento de senvolvimento específicos, especial-
informações, sem distúrbios de mente das habilidades relacionadas
pensamento formal. à linguagem.
Não foi observado prejuízo
cognitivo e as comorbidades costu-
mavam ser frequentes. Esses casos
foram progressivamente considera-
dos como tendo a síndrome de As-
perger, talvez um subgrupo com
alguns desfechos comuns, como
uma maior incidência de conduta
antissocial e menores desvantagens
sociais. Por outro lado, dados recen-
tes com adultos sugerem que é pos-
Ainda que as descrições dessas sível diferenciar o transtorno de per-
crianças tenham incluído algumas sonalidade esquizoide da síndrome
características clínicas observadas de Asperger.
no TEA, seus prejuízos sociais são Hoje em dia, a marca distin-
mais leves do que no TA e o com- tiva do transtorno de personalidade
portamento não é tão rígido e esquizoide é o desinteresse pela
estereotipado como o apresentado interação social e os critérios opera-
por crianças com TEA. Como um cionalizados exigem a presença de
todo, tem sido considerado que o quatro entre sete sintomas listados.
TPM poderia ser uma variante de Ainda que os estudos com
esquizofrenia com início muito adultos com transtorno de perso-
precoce e não de TID. nalidade esquizoide tenham sugeri-
Transtorno esquizoide infantil do um início do quadro já na infân-
Antes da introdução da síndrome de cia, há falta de elementos dirigidos a
Asperger na literatura clínica em esse quesito, provavelmente devido
inglês por Lorna Wing, vários estu- aos manuais de classificação de
dos que descreviam essas caracterís- doenças que “desencorajam” o diag-
ticas foram conduzidos sob o nome nóstico de personalidade em
de estudos sobre crianças esqui- crianças.
zoides.

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TGD, SÍNDROME DE ASPERGER, RETT E AUTISMO

Transtornos de Vinculação ria ter um efeito prejudicial global de


longa duração para as habilidades
Essa categoria está no ponto sociais e comunicativas, e no funcio-
de confluência entre duas aborda- namento adequado do sistema
gens distintas, uma clínico-descri- límbico.
tivo e outra teórica. A partir dos tra-
balhos com orientação psicodinâ-
mica de Spitz e Bowlby, um grupo de
crianças foi identificado por res-
ponder inapropriadamente aos cui-
dadores.
Uma variedade de fenótipos
pode ser observado e, por definição,
esses comportamentos estão rela-
cionados a um histórico de grande
abandono, falta de respostas con-
tingentes e pouca ou nenhuma aten-
ção, interação e afeto. Atualmente,
os critérios operacionallizados mos-
tram que dois subtipos são pro-
postos, inibido e desinibido.
A criança inibida não inicia ou
responde a interações sociais, ao
passo que a desinibida o faz de uma
forma difusa e indiscriminada, mos-
trando uma excessiva famíliaridade
com estranhos. Essa categoria está
fora do capítulo sobre TID da CID-
10, com base na falta de disfunção
global e de uma estreita relação com
privações ambientais.
No entanto, as fronteiras des-
sas condições não estão claramente
definidas e pode-se assumir que o
comprometimento por longo perío-
do na vida afetiva poderia ser o re-
sultado da privação materna e pode-

30
31
TGD, SÍNDROME DE ASPERGER, RETT E AUTISMO

4. Histórico da Exclusão

N os anos 60 e 70, a margina-


lidade era vista como pobreza,
uma consequência das migrações
se dos anéis urbanos e imedia-
tamente passariam para o próximo e
gradativamente, os melhores luga-
internas que esvaziavam o campo da res estariam ocupados pelos “ven-
região nordeste, do norte e “incha- cedores”.
ram” as cidades como Rio de Janeiro Nos anos 70, existia o dualis-
e São Paulo. mo: atrasado x moderno, não inte-
Entendia-se na época, que os grado x integrado, rural x urbanos e
problemas urbanos de moradia (fa- os estudiosos passaram a ver as
velas), mendicância, delinquência relações econômicas e sociológicas
etc., poderiam ter suas raízes nesses inerentes ao capitalismo como cons-
processos migratórios. titutivas do sistema produtivo. As
Inicia-se aí a exclusão, onde populações marginais aparecem,
competidores teriam a mesma chan- nesse contexto, como consequência
ce na luta pelo espaço, sendo que os da acumulação capitalista, um exer-
mais aptos ganhariam melhores cício industrial de reserva singular.
posições nesse ambiente construído Nos anos 80, na chamada
e disso resultariam zonas segrega- “década perdida”, ao contrário dos
das, onde os mais pobres excluíam- anos 60 e 70, quando se chamava a

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TGD, SÍNDROME DE ASPERGER, RETT E AUTISMO

atenção para os favelados e para a circulação acabaram por descaracte-


migração como figura emblemática rizar bairros, expulsar moradores
dos excluídos na cidade, pelo au- como favelados (remoção por obra
mento da pobreza e da recessão pública, reintegração de posse), en-
econômica, ao mesmo tempo em cortiçados (despejos, remoção, de-
que se vivia a chamada “transição molições), moradores de loteamento
democrática”, chama-se a atenção irregulares, sem teto, num nomadis-
para a questão da democracia, da mo sem direito às raízes.
segregação urbana (efeitos perver- Pedro Jacobi desenvolve seus
sos da legislação urbanística), a trabalhos sobre a questão dos movi-
importância do território para a mentos sociais urbanos e as carên-
cidadania, a falência das ditas políti- cias de habitação, equipamentos de
cas sociais, os movimentos sociais, saúde, escolas, lazer, enfim, dos ser-
as lutas sociais. viços urbanos. Assim a exclusão apa-
O componente territorial im- rece como não acesso aos benefícios
plica não só que seus habitantes da urbanização.
devem ter acesso aos bens e serviços Nos anos 90 reeditam o con-
indispensáveis, mas que haja uma ceito de exclusão como não cidadã-
adequada gestão deles, assegurando nia, principalmente a ideia de pro-
indispensáveis, mas que haja uma cesso abrangente dinâmico e mul-
adequada gestão deles, assegurando tidimensional.
tais benefícios à coletividade. O rótulo que parece empurrar
Aponta que o terceiro mundo as pessoas, os pobres, os fracos, para
tem “não cidadãos” (contraste entre fora da sociedade, para fora de suas
massa de pobres e a concentração de melhores e mais justas corretas
riqueza), porque se funda na so- relações sociais, privando-os dos
ciedade do consumo, da mercanti- direitos que dão sentido a essas
lização e na monetarização. Em lu- relações.
gar do cidadão, surge o consumidor Quando, de fato, esse movi-
insatisfeito, em alienação, em cida- mento as está empurrando para
dania mutilada. dentro, para condição subalterna de
A cidadania é também o direi- reprodutores mecânicos do sistema
to de permanecer no lugar, no seu econômico, reprodutores que não
território, o direito a espaço de me- reivindicam nem protestam em face
mória. O capitalismo predatório e as das privações, injustiças e carências.
políticas urbanas que privilegiam Neste caso o termo exclusão é
interesses privados e o sistema de concebido como expressão das

33
TGD, SÍNDROME DE ASPERGER, RETT E AUTISMO

contradições do sistema capitalista e Não se trata apenas de um fe-


não como estado de fatalidade. Atra- nômeno marginal, mas de um pro-
vés do consumismo dirigido, gera-se cesso em curso que atinge cada vez
uma sociedade dupla, de duas partes mais todas as camadas sociais.
que se excluem reciprocamente, mas
parecidas por conterem as mesmas “Atribui-se a René Lenoir, em
1974, a concepção da exclusão
mercadorias e as mesmas ideias
como um fenômeno de ordem
individualistas e competitivas, só individual, mas social, cuja
que as oportunidades não são iguais, origem deveria ser buscada nos
princípios mesmos do funcio-
o valor dos bens é diferente, a ascen- namento das sociedades mo-
são social é bloqueada. Apesar disso, dernas. Dentre suas caudas
um bloco de ideias falso, enganador destacava o rápido e desorde-
nado processo de urbanização,
e mercantilizado acena para o ho- a inadaptação e uniformização
mem “moderno colonizado”, que do sistema escolar, o desenrai-
passa a imitar, mimetizar os ricos e zamento causado pela mobili-
dade profissional, as desigual-
a pensar que nisso reside à igual- dades de renda e de acesso aos
dade. serviços.
Não se trata apenas de um fenô-
meno marginal, mas de um pro-
“É a sociedade da imitação, da
cesso em curso que atinge cada
reprodutividade e da vulgari-
vez mais todas as camadas
zação, no lugar da criação e do
sociais.”
sonho”. SAWAIA (2009)

Atribui-se a René Lenoir, em Conceito de Exclusão


1974, a concepção da exclusão como
um fenômeno de ordem individual, O tema exclusão está presente
mas social, cuja origem deveria ser na mídia, no discurso político e nos
buscada nos princípios mesmos do planos e programas governamen-
funcionamento das sociedades mo- tais, a noção de exclusão social tor-
dernas. Dentre suas caudas desta- nou-se familiar no cotidiano das
cava o rápido e desordenado pro- mais diferentes sociedades. Não é
cesso de urbanização, a inadaptação apenas um fenômeno que atinge os
e uniformização do sistema escolar, países pobres.
o desenraizamento causado pela A concepção de exclusão con-
mobilidade profissional, as desi- tinua ainda fluida como categoria
gualdades de renda e de acesso aos analítica, difusa, apesar dos estudos
serviços. existentes, e provocadora de inten-
sos debates. Muitas situações são

34
TGD, SÍNDROME DE ASPERGER, RETT E AUTISMO

descritas como exclusão, que repre- em nosso país convivem como os


sentam as mais variadas formas e efeitos perversos do fenômeno do
sentidos advindos da relação in- desemprego estrutural. Se, de um
clusão/exclusão. Sob esse rótulo es- lado cresce cada vez mais a distância
tão contidos inúmeros processos e entre os excluídos e os incluídos, de
categorias, uma série de manifes- outro, essa distância nunca foi tão
tações que aparecem como fraturas pequena, uma vez que os incluídos
e rupturas do vínculo social (pessoas estão ameaçados de perder direitos
idosas, deficientes, desadaptados adquiridos.
sociais, minorias étnicas ou de cor, A consolidação do processo de
desempregados de longa duração, democratização, em nosso país, terá
jovens impossibilitados de aceder ao que passar necessariamente pela
mercado de trabalho, etc.). desnaturalização das formas com
Assim os estudiosos da ques- que são encaradas as práticas discri-
tão concluem que do ponto de vista minatórias, portanto, geradoras de
epistemológico, o fenômeno da ex- processo de exclusão.
clusão é tão vasto que é quase im- De acordo com SAWAIA
possível delimitá-lo. (2009), no livro as Artimanhas da
Exclusão, a inclusão é contraditória,
“Excluídos são todos aqueles onde a qualidade de conter em si a
que são rejeitados de nossos
sua negação e não existir sem ela,
mercados materiais ou simbóli-
cos, de nossos valores” SAWA- isto é, ser idêntico à inclusão (inser-
IA (2009). ção social perversa). A sociedade ex-
clui para incluir e está transmutação
A ruptura de carência, de pre- é condição da ordem social desigual,
cariedade, pode-se afirmar que toda o que implica o caráter ilusório da
situação de pobreza leva a formas de inclusão. Todos estamos inseridos
ruptura do vínculo social e re- de algum modo, nem sempre decen-
presenta, na maioria das vezes, um te e digno, no circuito reprodutivo
acúmulo de déficit e precariedade. A das atividades econômicas, sendo a
pobreza não significa necessária- grande maioria da humanidade in-
mente exclusão, ainda que possa ela serida através da insuficiência e das
conduzir. privações, que se desdobram para
A pobreza e a exclusão no Bra- fora do econômico. Portanto, em lu-
sil são faces de uma mesma moeda. gar da exclusão, o que se tem é a
As altas taxas de concentração de “dialética exclusão/ inclusão”.
renda e desigualdade persistentes

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TGD, SÍNDROME DE ASPERGER, RETT E AUTISMO

A dialética inclusão/exclusão o psicológico), de forma que o papel


gesta subjetividade especificas que de excluído engole o homem.
vão desde o sentir-se incluído até o
sentir-se discriminado ou revoltado. Inclusão da Criança Autista
Essas subjetividades não podem ser
explicadas unicamente pela discri- Muito se tem falado sobre o
minação econômica, elas determi- processo de inclusão, e quase sem-
nam e são determinadas por formas pre com a conotação de que inclusão
diferenciadas de legitimação social e e integração escolar seriam sinôni-
individual, e manifestam-se no coti- mas. Na verdade, a integração insere
diano como identidade, sociabili- o sujeito na escola esperando uma
dade, afetividade, consciência e adaptação deste ao ambiente escolar
inconsciência. já estruturado, enquanto que a in-
clusão escolar implica em redimen-
“Em síntese, a exclusão é pro- sionamento de estruturas físicas da
cesso e multifacetado, uma con-
figuração de dimensões mate- escola, de atitudes e percepções dos
riais, políticas, relacionais e educadores, adaptações curricula-
subjetivas. É processo sutil e res, dentre outros. A inclusão num
dialético, pois só existe em
relação à inclusão como parte sentido mais amplo significa o direi-
constitutiva dela. Não é uma to ao exercício da cidadania, sendo a
coisa ou um estado, é processo inclusão escolar apenas uma peque-
que envolve o homem por intei-
ro e suas relações com os ou- na parcela do processo que precisa-
tros. Não tem uma única forma mos percorrer.
e não é uma falha do sistema, Um processo de inclusão esco-
devendo ser combatida como
algo que perturba a ordem so- lar consciente e responsável não
cial, ao contrário, ele é produto acontece somente no âmbito escolar
do funcionamento do sistema” e deve seguir alguns critérios. A
(SAWAIA, 2009)
família do indivíduo portador de
SAWAIA (2009) aponta vários autismo possui um papel decisivo no
estudos acerca da exclusão e todos sucesso da inclusão.
eles reforçam a tese de que o ex- Sabemos que se trata de fa-
cluído não está à margem da socie- mílias que experimentam dores psí-
dade, mas repõe e sustenta a ordem quicas em diversas fases da vida,
social, sofrendo muito neste pro- desde o momento da notícia da defi-
cesso de inclusão social, pois a socie- ciência e durante as fases do desen-
dade opera sobre o homem (social e volvimento, quando a comparação
com demais crianças é frequente.

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TGD, SÍNDROME DE ASPERGER, RETT E AUTISMO

O ambiente para o desenvol- lo. Nesse contexto, as políticas pú-


vimento da criança, tanto "normal" blicas têm um papel muito impor-
quanto "deficiente", no que tange à tante, especialmente para as famí-
organização de suas atividades de lias de baixa renda, uma vez que o
vida diária e ao processo de esti- gasto com profissionais e com aten-
mulação, torna-se fundamental dimento especializado torna-se
compreender como o ambiente in- necessário.
fluencia o desenvolvimento das O nascimento de um filho com
crianças, principalmente daquelas algum tipo de deficiência ou doença,
que apresentam algum tipo de defi- ou o aparecimento de alguma condi-
ciência. Vygotsky (1994) afirma “que ção excepcional, significa uma des-
a influência do ambiente sobre o truição de todos os sonhos e expec-
desenvolvimento infantil, ao lado de tativas que haviam sido gerados em
outros tipos de influências, também função dele. Durante a gravidez, e
deve ser avaliada levando em consi- mesmo antes, os pais sonham com
deração o grau de entendimento, a aquele “filho ideal” que será bonito,
consciência e o insight do que está saudável, inteligente, forte e supe-
acontecendo no ambiente em rará todos os limites; aquele filho
questão”. que realizará tudo que eles não
O microsistema da família não conseguiram alcançar em suas
é o único que precisa ser estudado. próprias vidas. Além da decepção, o
Há também o ambiente da escola, nascimento de um filho portador de
que constitui mais um espaço de so- deficiência implica em reajusta-
cialização para a criança com autis- mento de expectativas, planos para o
mo. Em relação a isso, muito se tem futuro e a vivência de situações crí-
discutido a respeito da inclusão da ticas e sentimentos difíceis de en-
criança autista em ambiente coleti- frentar.
vo, mostrando a sua importância e Passado o período de luto sim-
necessidade. bólico, a forma como a família se
É importante ressaltar a posiciona frente à deficiência pode
necessidade de mais orientação para ser determinante para o desen-
as famílias de crianças autistas, as volvimento do filho. Muitos pais,
quais devem ser mais bem infor- porque não acreditam que seus fi-
madas sobre este tipo transtorno e lhos possuam potencialidades, dei-
suas consequências para o desenvol- xam de ensinar coisas elementares
vimento da criança, bem como dos para o autocuidado e para o desen-
recursos necessários para favorecê- volvimento da independência. Al-

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guns optam pelo isolamento e ou- sempenhar completas atividades e


tros por infantilizarem seus filhos participação plena na sociedade.
por toda a vida, esquecendo que eles Promover a inclusão significa,
não são eternos e que o portador de sobretudo, uma mudança de postura
necessidades especiais deve se tor- e de olhar acerca do transtorno. Im-
nar o mais autônomo possível. plica em quebra de paradigmas, em
Quando se propõe a inclusão reformulação do nosso sistema de
de crianças autistas devem-se res- ensino para a conquista de uma edu-
peitar as características de sua natu- cação de qualidade, na qual, o aces-
reza, visando à aquisição de compor- so, o atendimento adequado e a per-
tamentos sociais aceitáveis, porém, manência sejam garantidos a todos
respeitando as necessidades espe- os alunos, independentemente de
ciais de cada educando, e, sobretu- suas diferenças e necessidades.
do, trazendo os pais para um com- A concepção da Educação Es-
portamento mais realístico possível, pecial como serviço segrega e cria
evitando a fantasia da cura, tão pre- dois sistemas separados de edu-
sente em pais de crianças especiais cação: o regular e o especial, elimi-
A escola também pode cola- nando todas as vantagens que a con-
borar dando sugestões aos família- vivência com a diversidade pode nos
res de como estes podem agir em oferecer.
casa, de maneira que se tornem É preciso ter claro que para a
coautores do processo de inclusão conquista do processo de inclusão
de seus filhos. Sendo assim, quando de qualidade, algumas reformula-
uma criança portadora de autismo é ções no sistema educacional se fa-
incluída na escola regular, sua fa- zem necessário. Seriam elas: adap-
mília também o é. Com efeito, é pro- tações curriculares, metodológicas e
vável que antes da inclusão escolar a dos recursos tecnológicos, a raciona-
convivência com os pais de outras lização da terminalidade do ensino
crianças, o planejamento de visitas para aqueles que não puderem atin-
de coleguinhas na casa da criança e gir o nível exigido para a conclusão
a frequência a festinhas de aniver- do Ensino Fundamental, em virtude
sário dos colegas de sala eram possi- das necessidades especiais, a espe-
bilidades muito distantes para essas cialização dos professores e a prepa-
famílias. O objetivo da educação es- ração para o trabalho, visando à
pecial é o de reduzir os obstáculos efetivação da cidadania do portador
que impedem o indivíduo de de- de necessidades especiais.

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TGD, SÍNDROME DE ASPERGER, RETT E AUTISMO

A escola, por sua vez, para processo permanente e contínuo,


promover a inclusão deve eliminar pois a inclusão sempre deve visar a
barreiras que vão além das arquite- aprendizagem dos alunos com ne-
tônicas, mas principalmente as ati- cessidades especiais e não simples-
tudinais. São necessárias algumas mente o convívio social, habilidade
adaptações de grandes e pequenos que a criança pode adquirir em mui-
portes, tais como a adaptação curri- tos espaços e não necessariamente
cular, a adaptação do sistema de na escola.
avaliação da aprendizagem, de ma- O desenvolvimento fantástico
teriais e equipamentos, a prepara- das novas tecnologias, a maneira de
ção dos recursos humanos e a pre- se produzir as coisas e a maneira de
paração dos alunos e pais de alunos se executar os serviços sofreram
que receberão o portador de neces- uma transformação profunda. Surge
sidades especiais. Sem as devidas o fenômeno da automação, isto é, as
adaptações, um processo de inclu- novas tecnologias criam instru-
são pode ser mais segregador que a mentos que substituem a mão-de-
exclusão declarada, pois entende- obra humana. Com isso multidões
mos que a inclusão não pode se de pessoas foram dispensadas de
restringir à convivência social, mas seus empregos, e as novas gerações
deve zelar pela aprendizagem da nem chegam a conseguir um local de
criança com necessidades especiais. trabalho. As relações centrais que
O atendimento educacional a crian- definem nossa sociedade não são
ças e jovens portadoras de autismo mais apenas a dominação e a ex-
tem sido realizado, em nosso país, ploração, como no modo de pro-
em escolas especiais ou ainda em dução capitalista, pois são bem me-
clínicas-escolas, provavelmente por- nos agora os que podem ser domi-
que educar uma criança autista ain- nados ou explorados.
da se constitui em um grande desa- A consequência do capitalismo
fio em função das características é a competitividade, a qual exige a
desta população. Uma desordem exclusão. É o confronto, o choque
aguda do desenvolvimento requer entre interesses diferentes ou con-
tratamento especializado para o trários, que vai fazer com que as
autista por toda a sua vida. pessoas lutem, trabalhem, se esfor-
É fato que a inclusão deve ser cem para conseguir melhorar seu
avaliada em seu custo-benefício pa- bem-estar, sua qualidade de vida,
ra o aluno em questão. Não podemos sua ascensão. Podemos tomar como
perder de vista que “a inclusão é um exemplo o filme exibido em sala de

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aula - “Como as estrelas na terra, tema, pois para compreender o au-


toda criança é especial”, onde Ishaan tismo, é preciso uma constante
era rotulado de burro, preguiçoso e aprendizagem, uma contínua revi-
desinteressado, pois não conseguia são sobre nossas crenças, valores e
acompanhar as exigências do pai, conhecimento sobre o mundo, e,
que era muito rígido. Ishaan não sobretudo, sobre nós mesmos.
conseguia acompanhar os demais
porque era disléxico e por isso era
excluído pela sociedade e pela pró-
pria família. Assim também acon-
tece com a criança autista.
Mas essa competitividade vai
além da disputa de mercado, trata-
se de uma competitividade que se
estabelece entre os seres humanos.
O ser humano, como ser isolado e
egoísta, tem de competir para sobre-
viver, de um lado e de outro lado,
para trazer progresso.

“Mas essa competitividade en-


tre os desiguais acaba por ex-
cluir os mais fracos e manter a
dominação dos mais fortes”
(SAWAIA, 2009).

A educação de uma criança


portadora de autismo representa,
sem dúvida, um desafio para todos
os profissionais da Educação. A sin-
gularidade e a insuficiência de co-
nhecimento sobre a síndrome nos
fazem percorrer caminhos ainda
desconhecidos e incertos sobre a
melhor forma de ajudar essas crian-
ças e sobre o que podemos esperar
de nossas intervenções. É necessário
ter humildade e cautela diante do

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