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TRANSTORNO DO
ESPECTRO AUTISTA
2022
DIRETRIZES DOS CENTROS DE
ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO
DO ESTADO DE SANTA CATARINA
TRANSTORNO DO
ESPECTRO AUTISTA
FABIANA M. G. GARCEZ
MARIELE FINATTO
ORGANIZADORAS
São José
2022
G OV E R N A D O R D O E STA D O
Carlos Moisés da Silva
V I C E - G OV E R N A D O R A D O E STA D O
Daniela Cristina Reinehr
S E C R E TÁ R I O D E E STA D O DA E D U C AÇ ÃO
Luiz Fernando Cardoso
P R E S I D E N T E D A F U N D A Ç Ã O C AT A R I N E N S E
DE EDUCAÇÃO ESPECIAL (FCEE)
Janice Aparecida Steidel Krasniak
DIRETORIA DE ENSINO, PESQUISA E
EXTENSÃO (DEPE/FCEE)
Jeane Rauh Probst Leite
DIRETOR DE ADMINISTRAÇÃO (DIAD/FCEE)
Edilson dos Santos Godinho
G E R Ê N C I A D E C A PA C I TA Ç Ã O , P E S Q U I S A
E EXTENSÃO (GECAE/FCEE)
Wesley Knochenhauer Carvalho
GERÊNCIA DE PESQUISA E CONHECIMENTOS
APLICADOS (GEPCA/FCEE)
Juliana Paula Buratto
SUPERVISORA DE EDUCAÇÃO
ESPECIAL (DEPE/FCEE)
Kelly Christina Gelsleuchter
S U P E R V I S O R A D E AT I V I D A D E S E D U C A C I O N A I S
EXTENSIVAS (GECAE/FCEE)
Fabiana de Melo Giacomini Garcez
S U P E R V I S O R A D E AT I V I D A D E S E D U C A C I O N A I S
NUCLEAR (GEPCA/FCEE)
Kátia Regina Ladewig
COORDENADORA CENTRO ESPECIALIZADO
E M T R A N STO R N O D O E S P E CT R O AU T I STA ( C E T E A / FC E E )
Mariele Finatto
P R E S I D E N T E A S S O C I A Ç Ã O C AT A R I N E N S E
DE AUTISMO (ASCA)
Catia Cristiane Purnhagen Franzoi
COORDENAÇÃO GERAL
Fabiana de Melo Giacomini Garcez
Mariele Finatto
ORGANIZAÇÃO
Fabiana de Melo Giacomini Garcez
Mariele Finatto
CONCEPÇÃO GRÁFICA
Eduardo Faria/Officio.com.br
REVISÃO DE TEXTO
Paulo Jorge P. C. D. Marques
REVISÃO ABNT
Tatyane Barbosa Philippi
BMI Intervenção Momentum Comportamental PBII Instrução e Intervenção Mediadas por Pares
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Níveis de autismo, conforme o DSM-5............................................................... 22
Quadro 2 - Perfis sensoriais.................................................................................................. 25
Quadro 3 - Distribuição de instrumentos utilizados em larga escala para
rastreio de atrasos no desenvolvimento ou suspeita de TEA........................... 31
Quadro 4 - Níveis de Trabalho.............................................................................................. 39
Quadro 5 - Práticas Baseadas em Evidências...................................................................... 44
Quadro 6 - Testes e medidas - fisioterapia........................................................................... 80
SUMÁRIO
ORGANIZADORAS.............................................................................................................7
AUTORES..........................................................................................................................8
APRESENTAÇÃO.............................................................................................................10
1 INTRODUÇÃO...........................................................................................................12
2 COOPERAÇÃO TÉCNICO-PEDAGÓGICA COM A FCEE.............................................13
3 PRINCÍPIOS DA ANÁLISE DO COMPORTAMENTO..................................................16
4 TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA.................................................................22
4.1 Perfil Cognitivo.......................................................................................................... 23
5 PROCESSOS AVALIATIVOS......................................................................................28
5.1 Avaliação Diagnóstica............................................................................................... 29
5.1.1 Etapas da avaliação diagnóstica..................................................................... 29
5.1.2 Instrumentos que possibilitam rastreio de sinais indicativos de TEA........... 30
5.2 Avaliação do Desenvolvimento................................................................................ 34
5.2.1 Avaliação Formal............................................................................................... 34
5.2.2 Avaliação Informal............................................................................................. 36
5.2.3 Níveis de Trabalho............................................................................................. 38
6 ESTRATÉGIAS DE ENSINO.......................................................................................42
6.1 Aprendizagem sem erro............................................................................................ 42
6.2 Práticas Baseadas em Evidência.............................................................................. 43
6.3 Programa TEACCH®................................................................................................... 47
7 PROGRAMAS EDUCACIONAIS.................................................................................63
7.1 Intervenção Precoce................................................................................................. 63
7.1.1 Objetivo............................................................................................................ 65
7.1.2 Ações................................................................................................................ 66
7.1.3 Funcionamento................................................................................................ 66
8 EQUIPE MULTIDISCIPLINAR....................................................................................69
8.1 Pedagogia.................................................................................................................. 69
8.2 Professor.................................................................................................................... 70
8.3 Educador Físico e Psicomotricidade........................................................................ 70
8.4 Psicologia................................................................................................................... 71
8.5 Fonoaudiologia.......................................................................................................... 72
8.6 Assistência Social...................................................................................................... 72
8.7 Terapia Ocupacional................................................................................................. 75
8.8 Fisioterapia................................................................................................................ 76
8.8.1 Modelo para organizar a prática fisioterapêutica.......................................... 77
8.8.2 Testes e medidas objetivas................................................................................. 79
9 SERVIÇOS COMPLEMENTARES...............................................................................82
9.1 Professor de Música/Musicoterapia......................................................................... 82
9.2 Equoterapia............................................................................................................... 84
9.2.1 Benefícios da Equoterapia para praticantes com
Transtorno do Espectro Autista (TEA)............................................................. 86
9.2.2 Atuação da equipe multiprofissional na Equoterapia................................... 88
9.3 Integração Sensorial................................................................................................. 90
9.3.1 Diretrizes em atendimento em Integração Sensorial de Ayres®
para pessoas com TEA..................................................................................... 95
IAGO GONÇALVES - Licenciado em Música pela Univali com pós-graduação em Educação Espe-
cial e Inclusiva pela Faculdade São Braz.
KÁTIA REGINA LADEWIG - Pedagoga com habilitação em Educação Especial e Séries Iniciais do
Ensino Fundamental. Atua na função de Supervisora de Atividades Educacionais Nuclear da
Fundação Catarinense de Educação Especial (FCEE).
REGINA DAL BEM - Assistente social, pós-graduada em Serviço Social: fundamentos e compe-
tências profissionais pela Faculdade Uninter, em Gestão de Projetos Sociais pela Faculdade Ver-
bo Educacional e em Autismo com base no modelo estruturado aplicado às políticas de Assis-
tência e Integração social pela Faculdade Polis Civitas.
VERA OTTONELLI DURLI - Pedagoga especialista em Autismo pela UNC, em Educação Especial
- Mercado de Trabalho pela UNOESC e em Equoterapia pela UNB. Fundadora e diretora da AMA
de Campos Novos (SC).
DIRETRIZES DOS CENTROS DE ATENDIMENTO EDUCACIONAL
ESPECIALIZADO DO ESTADO DE SANTA CATARINA
TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA APRESENTAÇÃO
APRESENTAÇÃO
É com grande alegria que apresentamos mais uma publicação inédita em Santa
Catarina, escrita com o nobre objetivo de nortear o trabalho dos profissionais que atuam
no atendimento especializado às pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA).
O TEA é um transtorno do neurodesenvolvimento caracterizado por déficits
persistentes na comunicação social funcional e padrões restritos e repetitivos de
comportamento, interesse ou atividades. Agências internacionais apontam que a
prevalência atual é de 1 caso de autismo para cada 44 nascimentos. No Brasil, esti-
ma-se que haja dois milhões de pessoas diagnosticadas com TEA no país.
Em Santa Catarina, o aumento exponencial da demanda por avaliação diagnós-
tica e por acesso aos serviços especializados de intervenção para o autismo, tornou
urgente a capacitação e a instrumentalização dos profissionais envolvidos no atendi-
mento à pessoa com TEA a partir de evidências científicas de eficácia comprovada.
Diante deste contexto, a Fundação Catarinense de Educação Especial (FCEE),
órgão estadual responsável pela definição e coordenação da Política de Educação
Especial de Santa Catarina, com a colaboração da Associação Catarinense de Autis-
mo (ASCA) e da Federação das Associações de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE)
do Estado de Santa Catarina (FEAPAES-SC), traz ao público as “Diretrizes dos Cen-
tros de Atendimento Educacional Especializado do Estado de Santa Catarina –
Transtorno do Espectro Autista”.
Neste documento, nossos técnicos apresentam ferramentas baseadas em in-
tervenções com eficácia científica comprovada para embasar o trabalho dos profis-
sionais que atuam com as pessoas com TEA, visando efetivamente a melhora da qua-
lidade de vida deste público.
Com o crescente número de instituições especializadas atuando especifica-
mente com pessoas com TEA, este material vem suprir a necessidade de direcionar e
auxiliar no atendimento em todo o estado, possibilitando a instrumentalização dos
profissionais que atuam na área, dando assim mais suporte, apoio e segurança.
Boa leitura!
10 VOLTA AO SUMÁRIO
Nossa experiência como família na época em que Bernardo, meu filho, ingressou na Es-
timulação Precoce da APAE Florianópolis foi sensacional.
Recebi o diagnóstico de TEA muito cedo. Quando ele tinha 1 ano e 9 meses, saí de uma sala
de consultório médico com um laudo de algo que eu nem sabia ao certo o que era. Desta
forma, Bernardo começou a frequentar a APAE muito pequeno e eu muito leiga e assustada,
porém foi ali que recebemos os primeiros olhares acolhedores.
Fomos recebidos por uma equipe que nos deu todo suporte necessário, inclusive de enten-
dimento para enfrentar a estrada que iríamos trilhar nossa vida inteira...
Bernardo não conseguia ficar sentado, tinha pouca compreensão, não fazia contado visual,
não tinha tempo de espera, usava fraldas e não tinha nenhuma independência. Mas, ali, as
peças começaram a se encaixar.
Fomos abençoados com uma professora ímpar, que não somente trabalha as crianças,
mas também nos orientava a todo tempo. E assim, Bernardo começou seu processo de
evolução, com professora, fisiotera-
pia e fonodiologia.
Quando términamos a fase da EP,
Bernardo alcançou todos os objeti-
vos propostos a ele.
Algo que trabalhamos na primeira in-
fância e usaremos para a vida intei-
ra. Desta forma seguimos trabalhan-
do, porém, sempre olhando o passado
com sentimento de imensa gratidão”.
1 INTRODUÇÃO
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TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA 2 COOPERAÇÃO TÉCNICO-PEDAGÓGICA COM A FCEE
Fabiana M. G. Garcez
Kelly Christina Gelsleuchter
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TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA 2 COOPERAÇÃO TÉCNICO-PEDAGÓGICA COM A FCEE
14 VOLTA AO SUMÁRIO
O trabalho de todos era incrível, nos ensinaram a lidar, o que fazer, e só depois que
aprendemos e fomos colocando em prática é que as coisas foram tomando um rumo. Foram
três meses para começar a ver as primeiras mudanças, mas cada vez o progresso era maior
e significativo. Podíamos sair com ela de casa, fazer coisas diferentes com a tranquilidade
que tudo daria certo, porque estávamos aplicando em casa, todos os dias, tudo o que nos
ensinavam. E tudo mudou para muito melhor, as crises diminuíram bastante, ela passou a
nos entender, a nos obedecer e eu só tenho palavras de amor e gratidão a cada profissional,
cada mãe, cada criança que conhecemos durante todos esses anos. Eu penso na APAE de
Florianópolis e meu coração fica aquecido, meus olhos se enchem de lágrimas, meu sorriso fica
de orelha a orelha, eu sinto amor,
muito amor por todos. E chega a
doer meu coração a possibilida-
de de pensar de a Vick ter alta e
não ir mais, porque amamos e pre-
cisamos muito ainda de vocês.”
Victoria Gomes
EDUCANDA
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SITUAÇÃO SITUAÇÃO
ANTECEDENTE ATIVIDADE SUBSEQUENTE
O que ocorre antes ou Aquilo que indivíduo faz O que ocorre após a
junto à ação do indivíduo ação do indivíduo
18 VOLTA AO SUMÁRIO
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TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA 2 COOPERAÇÃO TÉCNICO-PEDAGÓGICA COM A FCEE
radical). O fato de ser uma subárea, traz como implicação a necessidade de profissio-
nais com formação em análise do comportamento para intervir diretamente com
TEA e para supervisionar sistematicamente as intervenções, de maneira a não limitar
a atuação a conjuntos de técnicas prontas e promover de forma ética comportamen-
tos socialmente relevantes.
A partir dessas considerações, é possível compreender o porquê diversos auto-
res definem a Análise do Comportamento Aplicada (ABA) como uma ciência cujo ob-
jetivo consiste em prestar serviços e produzir conhecimento que previna e solucione
questões/problemas contemporâneos específicos relacionados a necessidades so-
ciais em diversas áreas (saúde, educação, trabalho etc.) (GUILHARDI; ROMANO; BA-
GAIOLO, 2011, 2015; LEONARDI, 2016; TOURINHO; SÉRIO, 2010). Considerando o au-
mento exponencial da parcela da população mundial com TEA, emergiu a
necessidade social de produção de conhecimento científico para compreender mais
acerca do TEA e instrumentalizar a intervenção dos profissionais que lidam direta-
mente. Dessa forma, a ABA tornou-se popularmente reconhecida como ciência de
referência para produção de conhecimento orientativo à intervenção com TEA.
É interessante destacar que a publicação do livro “Ciência e Comportamento Hu-
mano” (SKINNER, 2003) e a criação do Journal of Applied Behavior Analysis – JABA
(1968) compuseram momentos significativos para a divulgação de pesquisas relevan-
tes na área da educação especial que explicitaram e, ainda hoje, explicitam a aplicabi-
lidade dos princípios relacionados à ABA como forma de desenvolvimento de repertó-
rios comportamentais socialmente relevantes a partir de repertórios prejudiciais
(BRAGA-KENYON; KENYON; MIGUEL, 2012; COOPER; HERON; HEWARD, 1989). No pri-
meiro volume do JABA houve a publicação de um artigo de autoria de Baer, Wolf e
Risley (1968) em que foram estabelecidos critérios necessários para pesquisa aplicada:
1. aplicada - relevância social dos comportamentos e análise das decorrências a curto,
médio e longo prazo; 2. comportamental - importância de observar o comportamento
do indivíduo ao invés de focar em seu relato verbal acerca do próprio comportamento;
3. analítica - identificar os aspectos que compõem o comportamento do sujeito, carac-
terísticas dos eventos ambientais que estabelecem relações com as atividades/respos-
tas, eventos antecedentes e subsequentes à resposta; 4. tecnológica - importância do
controle dos procedimentos que compõem o método, possibilitando a compreensão
da comunidade científica e replicabilidade dos procedimentos estabelecidos; 5. con-
ceitual - exigência de que os procedimentos sejam embasados nos pressupostos filo-
sóficos do behaviorismo radical e princípios metodológicos da análise experimental do
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TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA 2 COOPERAÇÃO TÉCNICO-PEDAGÓGICA COM A FCEE
20 VOLTA AO SUMÁRIO
Minha história fora do comum começou há quase cinco décadas quando meu bebê,
Renato recebeu um diagnóstico provisório e um veredicto como autismo severo. Falei ao
médico que estava errado, que eu me recusava a crer que ele seria um zero à esquerda, que
não haveria melhoras, só pioraria, que seria um passo à frente e um para trás. Que meu filho
ideal tinha morrido e deveria aceitar o filho real.
Aceitei o diagnóstico, mas o veredicto NÃO! Prometi ao médico que faria tudo para ele me-
lhorar e ser feliz. A resposta do médico foi direta e sarcástica:
- “Se quiseres tirar leite de pedra, boa sorte!”
Se houve luto pela perda do ideal, durou apenas a viagem do hospital até minha casa. Meu
marido e eu nos abastecemos de todas as forças possíveis: esperança, vontade, amor, per-
severança e fomos à luta (quanta luta!).
Foram muitas tentativas, buscas e poucas respostas. Me senti uma verdadeira locomotiva
puxando os vagões. O lado bom dessas batalhas, é que o resultado foi bom para muitas ou-
tras famílias com o mesmo problema. Juntamos nossas forças com as famílias e fundamos
em 1994 a AMA Florianópolis com o objetivo de defesa e direitos dos autistas.
Ainda não parei. Mesmo que nos dias de hoje, não esteja na linha de frente.
Vencemos! Meu filho atingiu todos os resultados que esperávamos e mais do que sonhamos,
graças a Deus, à minha família, aos amigos, à FCEE e a todos os profissionais que passaram
pelas nossas vidas!
Gratidão.”
Vera Lopes
MÃE
Renato Lopes
EDUCANDO
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TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA 4 TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA
Mariele Finatto
O DSM-5 define o nível de autismo tendo como base os apoios que o sujeito
necessita nas áreas de comunicação social e comportamento.
QUADRO 1 - Níveis de autismo, conforme o DSM-5.
NÍVEL 2 NÍVEL 3
NÍVEL 1 (exige apoio (exige apoio muito
(exige apoio) substancial) substancial)
» Há inflexibilidade
» Há inflexibilidade » Apresenta inflexibi-
de comportamento,
de comportamento, lidade de comporta-
Comportamento
extrema dificuldade
dificuldade em mento, dificuldade
em lidar com mu-
trocar de atividade, em lidar com mu-
danças, comporta-
obstáculos para danças, comporta-
mentos restritos/
independência mentos restritos/
repetitivos que
(dificuldade de repetitivos que
interferem acentua-
organização e interferem no
damente no funcio-
planejamento) funcionamento.
namento.
22 VOLTA AO SUMÁRIO
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TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA 4 TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA
De acordo com o Centers for Disease Control and Prevention (CDC), estima-se
que há um caso de autismo para cada 44 nascimentos nos Estados Unidos (MAEN-
NER et al., 2021). No Brasil não há informações precisas quanto ao quantitativo de
casos de autismo, mas, de acordo com Paiva Junior (2014) estima-se que há aproxi-
madamente dois milhões de brasileiros diagnosticados com TEA.
Para além do entendimento do TEA como um transtorno que apresenta com-
prometimentos na comunicação social funcional e no comportamento, é necessário
compreender o conceito de espectro e o funcionamento cognitivo desses indivíduos.
Quando se compreende o transtorno como um espectro e quando há a compreensão
das teorias cognitivas que explicam o seu funcionamento, torna-se mais claro pensar
em intervenções que vão ao encontro do perfil destes educandos.
A terminologia espectro, adotada a partir do DSM-5, traz em sua bagagem a
compreensão heterogênea do transtorno (APA, 2014). É necessário que se com-
preenda a heterogeneidade sintomatológica do TEA: há uma variabilidade na combi-
nação dos sintomas fazendo com que a intensidade e a forma de manifestação se
apresentem de modo singular nos sujeitos ao longo do seu desenvolvimento.
Este entendimento proporciona a compreensão de que cada pessoa com autis-
mo é única, devendo ser vista como tal. Ou seja: estamos falando de educandos com
características únicas dentro de um transtorno sintomatológico com características
próprias, porém variável, onde as intervenções precisam ser pensadas individual-
mente, estando o sujeito no centro do plano de intervenção.
23 VOLTA AO SUMÁRIO
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TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA 4 TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA
possuem a habilidade inata em unificar partes de uma informação a fim de formar uma
informação provida de significado. A dificuldade em coerência central explica a dificul-
dade destes educandos em prover conceitos e significados, o que dificulta a compreen-
são de contextos maiores, mas também justifica a habilidade que algumas pessoas com
autismo possuem em perceber detalhes que para outros passam despercebidos.
A Teoria da Mente (ToM) é explicada por Baron-Cohen et al. (1993) como uma ha-
bilidade inata do ser humano em inferir sobre o estado mental das outras pessoas, as-
sim explicando e prevendo o seu comportamento. Esta teoria indica que pessoas com
autismo não desenvolvem esta habilidade inata de maneira automática, apresentan-
do, portanto, dificuldade em atribuir estados mentais aos outros e a si mesmo.
A dificuldade em ToM é explicada a partir de falhas em conexões neuronais exis-
tentes nos neurônios espelhos. Estas falhas dificultam a mudança de perspectiva ne-
cessária para o entendimento do outro, para compreendermos o mundo a partir da
ótica de outra pessoa. De acordo com esta teoria, educandos com autismo possuem
dificuldade em interpretar os sinais utilizados na comunicação social (linguagem
verbal e não verbal, como gestos, expressões faciais, posturas corporais).
De acordo com Mariele Finatto, a ToM explica a dificuldade dos educandos com
TEA em aprendizagens implícitas e compreensão de conceitos abstratos, sendo ne-
cessário que as informações dadas a estes educandos sejam claras, pontuais e lite-
rais (TEORIA..., 2020). Expressões como “vai chover canivetes” pode ser compreendi-
da erroneamente por educandos com autismo como uma chuva de canivetes, e não
como uma chuva torrencial.
Déficits em Funções Executivas (FE) também explicam o funcionamento cogni-
tivo de pessoas com TEA. Segundo Czermainski, Bosa e Salles (2014), educandos com
falha em FE podem apresentar inabilidades em memória de trabalho, flexibilidade
cognitiva, controle emocional, iniciação, planejamento, organização, condução e au-
tomonitoramento.
Um exemplo do uso de FE citado por Mariele Finatto é a falha em flexibilidade cog-
nitiva, a qual explica a dificuldade em resolução de problemas (FUNÇÕES..., 2020). Quan-
do estamos nos dirigindo a determinado lugar e a rua está fechada por algum motivo,
utilizamos da FE flexibilidade cognitiva (associada a outras FE) para resolver o problema
e chegar ao destino por outro caminho. Por haver falha em FE, educandos com TEA po-
dem ter dificuldade em resolver problemas e, neste exemplo, estagnar na rua fechada
sem conseguir buscar por alternativas que o permitam chegar ao destino pretendido.
24 VOLTA AO SUMÁRIO
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Exemplos:
Exemplos:
» Cobrir os ouvidos;
» Levar objetos à boca;
» Seletividade alimentar;
» Pouca resposta à dor;
» Preferência por determinados tipos de
» Girar;
tecidos;
» Balançar-se;
» Aversão ao toque;
» Correr de um lado para o outro;
» Sensibilidade à luz;
Dentre outros.
Dentre outros.
25 VOLTA AO SUMÁRIO
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26 VOLTA AO SUMÁRIO
Minha vida se tornou ainda mais, muito mais intensa, quando no dia 27 de março de 1990
nasceu meu primogênito. Meu filho Junior. Filho este que sempre sonhei. Mesmo muito jo-
vem na época, sempre tive a vontade de ser pai.
Depois de alguns meses notamos uma certa inquietude acentuada no Junior, inquietude
esta que veio a se tornar ainda mais evidente com o passar dos anos.
Pais de primeira viagem, é claro que estávamos sempre à espera dos primeiros passos...
que vieram tardios e depois das primeiras palavras...que não vieram.
E Mas vieram, sim, as preocupações e os questionamentos de nós mesmos, amigos e familiares.
— O Junior ainda não fala?
— Por que só quer brincar sozinho?
— Não dá atenção aos brinquedos que ganha, por quê?
Pois então, esses “por quês” é que vieram a atormentar nossos dias, meses e anos, pois há
quase 32 anos atrás, quem sabia sobre o autismo?
Foi aí, então, o começo. Depois dos dois a três anos, a busca incessante para saber
o que havia com nosso Junior não cessava. O caminho percorrido foi longo. Muitas consultas
médicas sem respostas, muitas frustrações. Até chegarmos ao diagnóstico, aos 6 para 7 anos.
Esse dia, foi uma mistura de...”o que fazer?” e... “o que é isso!”
Mas, ao mesmo tempo, um alívio, pelo fato de que teríamos de correr atrás de algo, mesmo
sem ter conhecimento. Com o passar do tempo, e numa busca frenética e incessante, tenho
orgulho de dizer que o Junior foi o estopim para podermos, no decorrer dos anos, darmos a
oportunidade a muitas famílias de não terem que percorrer esse longuíssimo caminho em
busca de um diagnóstico e, assim, poderem começar a mudar a trajetória de vida de seus
filhos autistas através da AMA Litoral-SC desde muito cedo, sem perderem tempo.
Porque, em muitos dias de nossas vidas, o tempo foi a única esperança de quem já estava
quase perdendo os sonhos.
5 PROCESSOS AVALIATIVOS
Fabiana M. G. Garcez
Francielli Sarmento
Janaina Henrique
Mariele Finatto
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TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA 5 PROCESSOS AVALIATIVOS
29 VOLTA AO SUMÁRIO
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TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA 5 PROCESSOS AVALIATIVOS
utilizados por cada profissional que realizou a avaliação, ou seja, os dados coletados,
os instrumentos envolvidos na avaliação e o referencial teórico que embasa a análise
dos dados coletados.
A devolutiva possui função de explicitar as características observadas com seus res-
pectivos critérios diagnósticos conclusivos: características do educando (cognitivas, com
portamentais, de linguagem, entre outras), a conclusão da avaliação e os devidos enca-
minhamentos ao educando e sua família, com o cuidado de fornecer tais informações
com linguagem acessível, bem como amparo emocional à família no dia da devolutiva.
Pesquisas atuais indicam que grande parte dos pais busca por assistência a par-
tir de sinais de atraso do desenvolvimento do filho com idade entre 12 e 24 meses,
sendo o atraso de linguagem a principal queixa mobilizadora da família. Além do
atraso de linguagem, estudos indicam que o comprometimento na atenção compar-
tilhada (AC) pode ser um indicativo do transtorno, bem como a capacidade de imitar
e brincar simbolicamente. Nesse sentido, “a AC envolve o contato visual coordenado
com gestos e verbalizações para dividir a experiência em relação às propriedades dos
objetos/eventos ao redor” (MARQUES; BOSA, 2015, p. 43, grifo nosso). Na área da fle-
xibilidade comportamental, a presença de comportamentos repetitivos, como inte-
resses restritos, ecolalia e rituais também podem ser indicativos de TEA e são cons-
tantemente sinais observados pelos pais.
Segundo Zanon et al. (2018), o diagnóstico do TEA é clínico e possui como refe-
rência os manuais de classificação internacionais para a uniformização das defini-
ções, no caso o DSM-5 (APA, 2014) e o CID-11 (OMS, 2021). Nesse contexto, é funda-
mental a utilização de protocolos padronizados com validação para o Brasil que
complementam o processo de avaliação diagnóstica, a fim de ofertar os apoios ne-
cessários na idade ideal. Dessa forma, é relevante buscar instrumentos que facilitem
e que agreguem elementos para uma possível avaliação de crianças com suspeita de
autismo, sendo importante destacar que a avaliação não deve ficar restrita à obser-
vação clínica da criança e à entrevista.
O rastreio dos sintomas condizentes ao TEA por meio de instrumentos de con-
fiabilidade favorece o processo posterior, que é avaliação diagnóstica, preferencial-
mente multidisciplinar. Entende-se que este processo de avaliação preconiza a inter-
venção precoce da criança em questão, quais sejam seus encaminhamentos:
educacionais, especializados, dentre outros.
30 VOLTA AO SUMÁRIO
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TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA 5 PROCESSOS AVALIATIVOS
31 VOLTA AO SUMÁRIO
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TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA 5 PROCESSOS AVALIATIVOS
- PROTEA-R:
Validado no Brasil e com objetivo observar diretamente o comportamento da
criança, foi desenvolvido o Protocolo de Avaliação para Crianças com Suspeita de
Transtorno do Espectro Autista (PRO-TEA). Segundo Marques e Bosa (2015), a obser-
vação direta das crianças com suspeita de autismo permite ir além da ocorrência ou
não de determinado comportamento condizente à sintomatologia - possibilita per-
ceber a qualidade, intensidade e sutileza de tais comportamentos, não somente os
sociocomunicacionais e o do brincar, mas também aos comportamentos atípicos
presentes no autismo. Em síntese, o instrumento referenciado “surgiu em decorrên-
cia da necessidade em sistematizar a observação clínica em avaliações e reavaliações
de crianças com suspeita de autismo, na ausência de instrumentos internacionais va-
lidados” (MARQUES; BOSA, 2015).
O PROTEA-R subdivide-se em três eixos: 1) entrevista de anamnese com os pais ou
responsáveis; 2) Protocolo de Avaliação Comportamental para crianças com suspeita do
transtorno do espectro autista; e 3) entrevista de devolutiva com os pais ou responsáveis.
A prática do avaliador na observação da criança está inclusa no segundo eixo que é orga-
nizado em três áreas: comportamento sociocomunicativo, qualidade da brincadeira e
movimentos repetitivos e estereotipados do corpo. Essas áreas são contempladas por
meio de 17 itens planejados com apoio de materiais/brinquedos que visam investigar os
comportamentos condizentes aos critérios de diagnóstico do autismo conforme o DSM-5.
A entrevista de anamnese também é constituída por itens pautados nos crité-
rios diagnósticos do referido manual. O fechamento do protocolo de avaliação ocor-
re por meio da entrevista de devolutiva. Essa etapa é tão importante quanto as anterio-
res, pois na presença dos sinais e sintomas condizentes ao Transtorno do Espectro
32 VOLTA AO SUMÁRIO
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Autista há a implicação dos fatores emocionais dos pais e os ajustes que a família
precisa efetivar para o posterior processo de intervenção da criança.
- M-CHAT:
O M-CHAT, também referenciado pelo Ministério da Saúde, está entre os instru-
mentos de rastreio/triagem de indicadores do autismo, adaptados e validados no
Brasil, sendo de uso livre dos profissionais (BRASIL, 2014). Composto de 23 pergun-
tas para pais de crianças de 18 a 24 meses, com respostas “sim” ou “não”, relaciona-
das aos critérios diagnósticos do Transtorno do Espectro Autista. Esse instrumento
tem como fonte apenas o relato dos pais e/ou cuidadores.
No Brasil, o Ministério da Saúde publicou as Diretrizes de Atenção à Reabilitação da
Pessoa com Transtornos do Espectro do Autismo - TEA em 2014, onde insere o
M-CHAT como instrumento de rastreamento adaptado e validado para uso livre no
país. As referências para tal afirmação no documento fazem menção aos trabalhos
de Losapio e Pondé (2008) e de Castro-Souza (2011). O estudo de Losapio e Pondé
(2008) refere-se à tradução apenas dos itens do questionário M-CHAT e a disserta-
ção de mestrado de Castro-Souza (2011) busca evidências de validade para amostra
brasileira (consistência interna, sensibilidade, especificidade, valores preditivo po-
sitivo e negativo). Os resultados obtidos por Castro-Souza (2011) foram adequados,
mas o autor sugere a replicação do estudo. (SEIZE; BORSA, 2017).
- CARS:
A Escala de Pontuação Para Autismo Na Infância (CARS) é considerado instrumento
“padrão ouro”, sendo que pode ser utilizado com crianças com idade a partir de dois anos
e é capaz de fornecer indicativos que distinguem o autismo da deficiência intelectual, as-
sim como já mensura o grau de “severidade” do autismo. Foi apenas em 2008 que o instru-
mento foi traduzido e validado da língua inglesa para a língua portuguesa do Brasil, e as-
sim denominado CARS-BR (GONÇALVES; PEDRUZZI, 2013).
Essa escala pontua 15 campos, sendo: Relações pessoais; Imitação; Resposta Emo-
cional; Uso Corporal; Uso de Objetos; Resposta a Mudanças; Resposta Visual; Res-
posta Auditiva; Resposta e uso do Paladar, Olfato e Tato; Medo ou Nervosismo; Co-
municação Verbal; Comunicação Não-Verbal; Nível de Atividade; Nível e
Consistência da Resposta Intelectual; e Impressões Gerais. Cada sub item pode
pontuar a criança de um a quatro, configurando uma pontuação mínima de 15 e
máxima de 60. Quanto maior a pontuação, maior a aproximação e a gravidade do
autismo. Caso a criança atinja de 15 a 30 pontos pode ser considerada como não-
-autista, entre 30 e 36 pontos considera-se como autismo leve-moderado e entre
36 e 60 pontos como autista grave. (GONÇALVES; PEDRUZZI, 2013).
33 VOLTA AO SUMÁRIO
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Atualmente, os EUA já utilizam a CARS-2, a qual ainda não está validada e dis-
ponibilizada para uso na população brasileira.
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36 VOLTA AO SUMÁRIO
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Identificar o que o educando sabe fazer e o que gosta de fazer; destacar os pontos
fortes do educando; identificar a área de interesse; olhar as dificuldades: não
faz por que não quer, por que não entende, ou por que não sabe? Olhar os compor-
tamentos que precisam de melhoria; definir objetivos realistas e alcançáveis; elen-
car o tipo de apoio que o educando vai precisar nas intervenções; deve apontar
como ensinar; na reavaliação pode-se medir o que a criança emergiu. (FERREIRA;
FINATTO, 2021a).
Além disso, Ferreira e Finatto (2021a) destacam que a avaliação informal preci-
sa identificar e avaliar o nível de desenvolvimento do educando, o tipo de programa-
dor visual que será utilizado, os possíveis reforçadores do educando, seu nível de
atenção, sua forma de comunicação, questões sensoriais e aspectos comportamen-
tais, habilidades preditoras para a aprendizagem acadêmica, dentre outras.
Partindo da avaliação do desenvolvimento, os profissionais precisam elaborar
o PDI do educando, o qual contém habilidades a serem contempladas, objetivos a
serem alcançados e estratégias a serem utilizadas.
É imprescindível que haja trabalho transdisciplinar entre todos os profissionais
envolvidos. Ao finalizar a avaliação de desenvolvimento, os profissionais deverão
realizar um estudo de caso a fim de elaborar, em conjunto, o PDI do educando.
O Plano de Desenvolvimento Individual (PDI) é um instrumento cujo objetivo
consiste em planificar as ações dos profissionais que atendem o educando, organi-
zando as intervenções de acordo com a necessidade de cada um, contemplando as
habilidades que precisam ser trabalhadas, os objetivos e as estratégias que serão
utilizadas. Além do PDI, os profissionais podem contar com o documento de registro
de evolução diária, onde farão os registros de cada atividade realizada, bem como os
apoios que o educando precisa para concluir a proposta com sucesso.
No Anexo A: PDI e Registros encontram-se dois documentos a serem utilizados
nas instituições: (1) PDI e; (2) Planejamento, Registro e Evolução, os quais são sugeri-
dos como documentos a serem utilizados nos CAESP. Além destes documentos, dispo-
nibilizamos nos anexos demais documentos que podem ser utilizados nos CAESP,
como:
a) Anexo B: Modelo de relatório
b) Anexo C: Modelo de anamnese
c) Anexo D: Roteiro de avaliação inicial
37 VOLTA AO SUMÁRIO
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38 VOLTA AO SUMÁRIO
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Níveis Características
» Desenvolvimento de habilidades básicas;
» Preparação dos educandos para os próximos níveis;
» Atividades sensório-motoras;
» Fase das sensações;
» Imaturidade do pensamento, estados primitivos e concretos;
» Pouco foco de atenção;
Nível I
39 VOLTA AO SUMÁRIO
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TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA 5 PROCESSOS AVALIATIVOS
40 VOLTA AO SUMÁRIO
Nossa trajetória pelo autismo começa com o nascimento do nosso filho do meio, Tiago.Às
vezes penso que Deus vai nos preparando aos poucos e colocando a nossa vida à frente de
uma realidade que vamos viver.
Desde bebê sentia que o Tiago era diferente, mas não imaginava que iria mudar o sentido da
nossa vida.
O diagnóstico foi um período muito difícil emocionalmente. Quantas incertezas temos e que
complicada é a dificuldade de aceitar um futuro de probabilidades: será que ele vai falar?
Será que ele vai formar frases e se comunicar? Será que ele vai se alfabetizar? Crescer e
amadurecer? Ser independente? Essas perguntas muitas vezes nos tiram o sono.
Iniciamos o atendimento do Tiago na AMA Litoral, primeiro lugar que nos conscientizou so-
bre o que era o Autismo e sobre a importância das terapias para o desenvolvimento da
pessoa com TEA. Na época, eu me dedicava às crianças, passando por um período difícil de
saúde e nenhuma perspectiva de futuro. Não imaginava que alguém tão especial poderia
mudar a minha vida, apertando dentro de mim um Start para novos planejamentos, abrindo
uma janela para a vida, dando oportunidade para um novo recomeço.
Com apoio e orientação da Catia Cristine Purnhagen, iniciamos a história da AMA Navegan-
tes. Juntamente com muitas outras famílias, buscamos atendimento especializado da equi-
pe multidisciplinar na nossa cidade, visando o acompanhamento e trabalhando as potencia-
lidades que o Tiago e outros Autistas tem a alcançar.
Hoje o Tiago tem 14 anos e é um adolescente lindo que nos orgulha a cada dia, com seus
desafios e conquistas.
Eu, meu esposo Milton e nossos outros dois meninos, Diogo e Gustavo, acreditamos em uma
sociedade consciente e na inclusão das pessoas com TEA.
Agradeço a Deus por ser feliz, com to-
das as oportunidades de vivenciar este
mundo azul, repleto de peças desafia-
doras, conhecendo pessoas maravilho-
sas que cruzam nossos caminhos. E um
carinho todo especial a nossa família,
amigos e principalmente a nossa equipe
de trabalho da AMA Navegantes.”
6 ESTRATÉGIAS DE ENSINO
Fabiana M. G. Garcez
Maria Elisa Granchi Fonseca
Mariele Finatto
42 VOLTA AO SUMÁRIO
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TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA 6 ESTRATÉGIAS DE ENSINO
43 VOLTA AO SUMÁRIO
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TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA 6 ESTRATÉGIAS DE ENSINO
Prática Definição
Intervenção Baseada no “Organização de eventos ou circunstâncias que precedem atividade
Antecedente (ABI) ou demanda, a fim de aumentar a ocorrência de comportamentos ou
leva a redução de dos comportamentos desafiadores/ inadequados.”
(STEINBRENNER et al., 2020, p. 28).
Instrução Direta (DI) “Uma abordagem sistemática do ensino usando um pacote de instru-
ções sequenciadas, com script ou lições. Enfatiza o diálogo do profes-
sor e aluno através de respostas em coro e independentes que possi-
bilitam a correção sistemática e explicita de erros para promover
aprendizagem e generalização.” (STEINBRENNER et al., 2020, p. 28).
Exercício e Movimento “Intervenções que usam esforço físico, habilidades motoras específi-
(EXM) cas/ técnicas de movimento consciente para direcionar uma variedade
de habilidades comportamentais.” (STEINBRENNER et al., 2020, p. 28).
44 VOLTA AO SUMÁRIO
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TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA 6 ESTRATÉGIAS DE ENSINO
CONTINUAÇÃO DO QUADRO 5
Prática Definição
Avaliação Funcional de “Uma maneira sistemática de determinar a função ou a finalidade de
Comportamento (FBA) um comportamento para que o plano de intervenção possa ser de-
senvolvido de forma efetiva.” (STEINBRENNER et al., 2020, p. 28).
Intervenção Mediada “Intervenções que incorporam canções, entonação melódica e/ou rit-
por Música mo para apoiar a aprendizagem ou o desempenho de habilidades/
comportamentos. Isso incluía a musicoterapia e outras intervenções
que incorporam música para trabalhar comportamento alvo.” (STEIN-
BRENNER et al., 2020, 28).
Intervenção “Pais implementam intervenção com seus filhos e promovem sua co-
Implementada pelos municação social entre outras habilidades, e diminuem comporta-
Pais (PII) mentos desafiadores.” (STEINBRENNER et al., 2020, p. 29).
Promptings (PP) “Ajuda verbal, gestual ou física possibilita ao aluno o suporte necessá-
rio para ele adquirir ou se engajar no comportamento alvo.” (STEIN-
BRENNER et al., 2020, p. 29).
45 VOLTA AO SUMÁRIO
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TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA 6 ESTRATÉGIAS DE ENSINO
CONTINUAÇÃO DO QUADRO 5
Prática Definição
Autogerenciamento (SM) “Instrução focada nos alunos que discriminam entre comportamen-
tos inapropriados, monitorando e registrando com precisão seus pró-
prios comportamentos e se recompensando por se comportar ade-
quadamente.” (STEINBRENNER et al., 2020, p. 29).
Integração Sensorial® (SI) “Intervenções que têm como objetivo aumentar a capacidade da pessoa
integrar informações sensoriais (visual, auditiva, tátil, proprioceptiva e
vestibular) corpo e ambiente, a fim de responder usando organizações
e comportamento adaptativo.” (STEINBRENNER et al., 2020, p. 29).
Narrativas Sociais (SN) “Intervenções que descrevem situações sociais para destacar carac-
terísticas relevantes de um comportamento alvo e oferece exemplos
de resposta adequada.” (STEINBRENNER et al., 2020, p. 29).
Treino de Habilidades “Instrução individual ou em grupo projetada para ensinar aos alunos
Sociais (SST) maneiras de participar adequadamente e com êxito de suas intera-
ções sociais.” (STEINBRENNER et al., 2020, p. 29).
Atraso de Tempo (TD) “Uma prática usada para diminuir sistematicamente o uso de avisos
durante atividade, usando um breve atraso entre a instrução e qual-
quer instrução ou aviso adicional.” (STEINBRENNER et al., 2020, p. 29).
Suportes Visuais (VS) “Um aparato visual que dá suporte ao aluno para que ele possa se
engajar em um comportamento desejado ou sem ajudas adicionais.”
(STEINBRENNER et al., 2020, p. 29).
As PBE precisam ser compreendidas como uma moldura, onde no centro desta
moldura está o educando com TEA e o profissional que o está atendendo. Cabe ao
profissional escolher qual PBE utilizará como estratégia, bem como o momento em
que será utilizada. Destaca-se que as PBE não trabalham sozinhas, sendo comum a
utilização de duas ou mais concomitantemente.
46 VOLTA AO SUMÁRIO
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É importante também que compreendamos que o fato de uma prática ser con-
siderada uma PBE não garante que sua eficácia seja considerada para todos os edu-
candos (ODOM; HALL; STEINBRENNER, 2020), uma vez que estamos falando de um
transtorno que se apresenta de forma heterogênea e volúvel em seus indivíduos.
Para que haja maior probabilidade de sucesso em sua aplicabilidade, os profissio-
nais precisam compreender cada PBE como um conjunto de práticas e elementos
que possuem protocolos e meios de implementação específicos, os quais, alinhados
à expertise do profissional e às características do educando, tendem a garantir maior
eficácia das intervenções.
47 VOLTA AO SUMÁRIO
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48 VOLTA AO SUMÁRIO
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Materiais estruturados
Sistemas de trabalho
Agendas
49 VOLTA AO SUMÁRIO
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cada grupo. No caso de ser utilizado o mesmo espaço físico para várias funções, as
dicas visuais e as informações do contexto deverão orientar quanto ao que fazer na-
quele ambiente naquele momento (TEACCH, 2019).
Considera-se como área de atividade 1:1 o espaço físico onde o profissional
está junto com o educando a fim de lhe ensinar alguma habilidade nova. Na área de
atividade individual o educando irá trabalhar de forma independente, realizando ati-
vidades que exigem habilidades as quais ele já domina.
A seguir, algumas imagens que exemplificam a organização do espaço físico:
50 VOLTA AO SUMÁRIO
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- Agendas:
As agendas são um tipo de programador visual que
indica ao educando para onde ele deve ir. Ela funciona AGENDA:
como um “GPS” que orienta o seu corpo para o local para onde eu vou?
onde ele deve estar (TEACCH, 2019). A utilização deste
recurso promove a independência do educando, além de reduzir a sua ansiedade,
uma vez que promove a antecipação dos acontecimentos.
A implementação de um sistema de agenda deve estar de acordo com o perfil
cognitivo do educando, sendo avaliada a partir de elementos como: forma, duração,
dica para iniciar, local, manejo etc.
Quanto à forma, a agenda pode ser escrita, de figura ou foto, ou de objeto, a de-
pender do formato da informação que é fornecida ao educando. Importante destacar
que a agenda precisa estar de acordo com o estilo de aprendizagem do educando.
Quanto à duração, pode contemplar o dia todo, parte do dia, ou o que vem de-
pois. Quanto ao local (área de transição), a agenda pode ser móvel, pode estar em
um espaço personalizado, em uma área de transição neutra, ou até mesmo entregue
ao educando pelo profissional. Quanto à dica para iniciar, esta precisa indicar ao
educando que ele precisa ir até a agenda para verificar o que deve ser feito posterior-
mente, podendo ser uma dica verbal ou visual. Quanto ao manejo, diz respeito a
como o educando irá interagir com a agenda, podendo ser retirando o cartão e colo-
cando em um local, marcando o que já fez com uma caneta, emparelhando com o
local, dentre outros (TEACCH, 2019).
51 VOLTA AO SUMÁRIO
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A partir do nível III de trabalho pode-se inserir o uso de agendas de fotos ou fi-
guras, de escrita ou de leitura, a depender da compreensão do educando.
FIGURA 8 - Objeto de transição. No exemplo da figura 8 o objeto de transição
é uma bola com luz, a qual é entregue para o edu-
cando e simboliza que este deverá acompanhar o
profissional para algum ambiente.
É importante que o objeto de transição seja
sempre o mesmo para cada educando, uma vez
que este deverá ser a referência de “vou para al-
gum lugar”.
52 VOLTA AO SUMÁRIO
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TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA 6 ESTRATÉGIAS DE ENSINO
- Sistemas de trabalho:
O Sistema de Trabalho (ST) é um tipo
de programação visual que permite ao edu- SISTEMA DE TRABALHO:
cando compreender qual é o trabalho que o que eu faço quando eu chego lá?
ele vai desenvolver no espaço que ele ocu-
pa. Enquanto a agenda indica ao educando onde ele deverá ir, o ST indica ao educan-
do o que ele deve fazer quando chegar lá.
Há quatro questões embutidas no ST que precisam ser respondidas pelo educan-
do para que este programador faça sentido: (1) O que trabalhar? (2) Quanto trabalhar?
(3) Conceito de acabado, progredindo? (4) O que acontece depois? (TEACCH, 2019).
Para Mesibov e Shea (2010, p. 43, tradução nossa) “os sistemas de trabalho são
essenciais para permitir que as pessoas com autismo entendam a tarefa ou ativida-
de, mantenham o foco e concluam a tarefa de forma independente.”
Quanto à forma, o ST visa responder ao educando “o que fazer?”. Neste caso,
ele pode ser apresentado de forma escrita, através de imagens e até mesmo pela
própria atividade, a depender do que faz sentido e é mais bem compreendido pelo
educando. Quanto à organização, indicará ao educando quanto tempo ele permane-
cerá fazendo a atividade, podendo ser apresentado por meio de listas, da direita para
a esquerda, de cima para baixo, ou na sequência.
Para os alunos que não sabem ler ou entender as figuras e realizar pareamentos,
não se usa a organização desta forma. Nesse caso, as atividades podem ser expos-
tas numa sequência a ser ensinada, de cima para baixo ou da esquerda para a di-
reita ou, ainda, entregues uma a uma. (FONSECA; CIOLA, 2016, p. 45).
55 VOLTA AO SUMÁRIO
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- Materiais estruturados:
O Ensino Estruturado prevê a
MATERIAL ESTRUTURADO:
estrutura dos materiais que serão
deve “conversar” com o educando para
apresentados aos educandos a par- que compreenda como realizar a atividade.
tir de três componentes básicos: (1)
instrução visual; (2) organização visual; e (3) clareza visual. O material precisa ser autoe-
xplicativo, fazendo com o que o educando compreenda o que se espera que ele faça.
A instrução visual dos materiais vai indicar ao educando como a atividade deve
ser realizada. A instrução visual é um componente básico dos materiais que podem
ser apresentados de várias formas, como por meio de escrita, figuras e objetos.
Quanto à organização visual, esta precisa ajudar o educando a lidar com os ma-
teriais de forma eficiente e limitar o foco de sua atenção, promovendo a aprendiza-
gem, pois educandos com TEA podem ser facilmente distraídos ou dominados pela
estimulação sensorial de materiais desorganizados. A organização visual dos mate-
riais envolve distribuir e estabilizá-los de tal forma que facilite a execução da tarefa
(MESIBOV; SHEA, 2010; TEACCH, 2019).
A clareza visual é um dos componentes mais importantes dentro da estrutura-
ção dos materiais. Conforme Fonseca e Ciola (2016), a clareza visual dos materiais
indica que os materiais precisam estar claros o suficiente para que o educando com-
preenda a sua função.
A clareza visual da tarefa ajuda os alunos a identificar seus componentes e recursos
mais importantes. Tarefas que envolvem muitos materiais podem ser confusas ou
pesadas, enquanto tarefas com um número limitado de materiais visualmente dis-
tintos são mais fáceis de entender. (MESIBOV; SHEA, 2010, p. 47, tradução nossa).
2 Mais informações em: FONSECA, M. E. G.; CIOLA, J. de C. B. Vejo e aprendo: fundamentos do programa TEACCH®: o
ensino estruturado para pessoas com autismo. 2. ed. Ribeirão Preto: BookToy, 2016.
57 VOLTA AO SUMÁRIO
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58 VOLTA AO SUMÁRIO
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TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA 6 ESTRATÉGIAS DE ENSINO
Neste exemplo o material foi fixado em uma base de papelão, promovendo es-
tabilidade ao material A figura 22 exemplifica um material estruturado, nível I de tra-
balho. A área de armazenamento é a forma de gelo, a área de execução é a lata com
o furinho na tampa. Os pompons coloridos são os elementos.
Neste caso, o educando pega um pompom por vez, devendo depositá-los na
área de execução.
Neste exemplo o material foi fixado em uma base de papelão e colocado dentro
da base de madeira, promovendo estabilidade ao material.
Podemos transformar este material em uma atividade de nível II de trabalho
caso mudemos a área de execução para que indiquem a classificação dos pompons
por cores.
A figura 23 demonstra um exemplo de atividade de nível I de trabalho, onde se
utilizou o estímulo sensorial que o educando precisou para engajar-se na proposta.
Neste caso, o estímulo visual, pois os botões entram de forma lenta dentro da garrafa
com água.
Neste exemplo, o material foi fixado em uma base de papelão, promovendo
estabilidade ao material. O fundo da garrafa está dentro da caixa, sendo assim o bo-
tão “desaparece” dentro da garrafa, dando a noção de fim.
59 VOLTA AO SUMÁRIO
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61 VOLTA AO SUMÁRIO
Quando recebemos o diagnóstico de autismo da Belle, há cerca de 23 anos, foi na APAE
que tivemos todo o suporte e acolhimento que são tão necessários para a família e para a
pessoa com deficiência!
Através da APAE de Florianópolis, fomos aprendendo como conviver com nossa filha, como
lutar pelos direitos dela, como organizar o dia a dia dela. Passamos a ter a sensação de
pertencimento, algo que muitas vezes acabamos perdendo. Foi através dos atendimentos
com os profissionais, das rodas de conversas com outras famílias, bem como por meio dos
seminários e congressos que a APAE oportunizou para nós, que nos trouxe a leveza de estar
com nossa filha. Na APAE, Belle pode ter a oportunidade de viver diversas experiências so-
ciais, como passeios, festas e até colônia de férias!
Hoje eu posso dizer que a APAE é nossa companheira de estrada. Nestes 23 anos, vejo a APAE
em evolução constante, assim como a Belle, sempre procurando uma maior qualidade de
vida para os autistas e para seus cuidadores. Tenho muito orgulho de fazer parte da história
da APAE Florianópolis!”
7 PROGRAMAS EDUCACIONAIS
Fabiana M. G. Garcez
Lívia Ferreira
Mariele Finatto
63 VOLTA AO SUMÁRIO
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ESPECIALIZADO DO ESTADO DE SANTA CATARINA
TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA 7 PROGRAMAS EDUCACIONAIS
64 VOLTA AO SUMÁRIO
DIRETRIZES DOS CENTROS DE ATENDIMENTO EDUCACIONAL
ESPECIALIZADO DO ESTADO DE SANTA CATARINA
TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA 7 PROGRAMAS EDUCACIONAIS
7.1.1 Objetivo
65 VOLTA AO SUMÁRIO
DIRETRIZES DOS CENTROS DE ATENDIMENTO EDUCACIONAL
ESPECIALIZADO DO ESTADO DE SANTA CATARINA
TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA 7 PROGRAMAS EDUCACIONAIS
7.1.2 Ações
7.1.3 Funcionamento
66 VOLTA AO SUMÁRIO
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ESPECIALIZADO DO ESTADO DE SANTA CATARINA
TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA 7 PROGRAMAS EDUCACIONAIS
67 VOLTA AO SUMÁRIO
Desde nosso primeiro contato com o CAESP Girassol – APAE de São Bento do Sul – para
matricular nossa filha Kêmilly, notamos o total empenho e dedicação de toda a equipe.
Em nossa primeira visita, ficamos impressionados com o amor com o qual os profissionais
desenvolvem seu trabalho. Sabíamos que seria o lugar ideal para nossa filha ter o melhor
desenvolvimento possível.
Uma das coisas que mais chama nossa atenção é o quanto se valoriza o potencial de cada
educando, buscando extrair o máximo de acordo com as suas possibilidades, respeitando
sempre as individualidades.
Nossa filha, que é autista, evoluiu muito desde que passou a frequentar o CAESP Girassol e,
além da evolução, notamos o amor que ela tem pela escola. Agora, em virtude da pandemia,
não está frequentando as aulas presencialmente, porém sorri todas as vezes que passa em
frente à escola, demonstrando o carinho que sente por ela, assim como quando assiste os
vídeos e vê suas professoras.
Somos gratos por todo o carinho e dedicação
com as aulas e por todos os momentos emocio-
nantes que já nos proporcionaram através de
apresentações natalinas, shows de talento e
tantas outras situações que mostram o quanto
é possível colher frutos, quando se desenvolve
um trabalho com amor.”
Alessandro Ropelato
PAI
8 EQUIPE MULTIDISCIPLINAR
Amanda Teixeira
Deise Padoan
Karina de Souza
Lívia Ferreira
Mariele Finatto
Rafaela Neves
Regina Dal Bem
Sinelândia Schutz
Tanise Gomes
Maurício dos Santos
Monique Hess
Os CAESP para pessoas com TEA devem prever em suas equipes os seguintes
profissionais: pedagogo, professor, educador físico, assistente social, psicólogo, fo-
noaudiólogo, terapeuta ocupacional, fisioterapeuta, dentre outros. Cada profissio-
nal possui objetivos inerentes à sua formação, em consonância com a realidade de
sua instituição e as diretrizes deste documento.
8.1 Pedagogia
O pedagogo tem como objetivo o trabalho articulado com os professores da
instituição, através de estudos em conjunto contribuindo para elaboração de PDI,
avaliações e planejamento, bem como orientações para as famílias dos educandos.
Cabe ao pedagogo o suporte e o trabalho em parceria junto ao professor, promoven-
do estudos de caso, articulação com a rede regular de ensino e rede de apoio do
educando. Dessa forma, a articulação pedagogo/professor deve ocorrer de forma a
subsidiar as ações dos professores.
As ações compõem um trabalho de articulação com rede de apoio de cada edu-
cando, como forma de unificar e comunicar a família e profissionais sobre as aborda-
gens e procedimentos relevantes identificados pela equipe para qualificar o desenvol-
vimento do educando. Deve-se propor ações facilitadoras para que haja generalização
do aprendizado nos principais espaços sociais que o educando frequenta.
Uma das ações deve ser a oferta de assessorias escolares na rede regular de ensi-
no, para os educandos que frequentam o serviço de IP/TEA e AEE. Tais assessorias de-
vem ser periódicas e regulares. Tal profissional tem como atribuição orientar a prática
pedagógica da rede regular de acordo com as especificidades de cada educando.
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8.2 Professor
O professor tem como objetivo de trabalho o atendimento aos educandos ca-
dastrados na instituição de acordo com os critérios de cada programa educacional.
As ações podem variar de acordo com o programa educacional, no entanto é
inerente à sua função a participação e/ou conhecimento sobre cada etapa da avalia-
ção de desenvolvimento dos alunos que atende. O professor deve elaborar, junta-
mente com os demais profissionais, o PDI e registrar a evolução, bem como a identi-
ficação de elementos relevantes para o planejamento constante e atualizado.
A participação nas assessorias escolares para alunos matriculados na rede re-
gular deve ser periódica e regular.
Nos programas educacionais ofertados nas instituições especializadas, o pro-
fessor é o profissional referência na turma em que atua, e os demais atendimentos
ocorrem na presença e contando com o professor como suporte. Além disso, compe-
te ao professor identificar, elaborar e produzir os recursos pedagógicos que visem
minimizar as barreiras de aprendizagem dos alunos com TEA.
Cabe ressaltar que o professor tem como prioridade o atendimento aos educan-
dos, contando com o acompanhamento do pedagogo e da equipe técnica da instituição.
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8.4 Psicologia
O serviço de psicologia tem como objetivo o suporte aos educandos e famílias aten-
didas nos serviços prestados, com vistas ao desenvolvimento emocional e manejo com-
portamental dos educandos, o que reflete diretamente na saúde mental de seus familiares.
O acompanhamento psicológico voltado a pessoas com o TEA visa trabalhar
com o desenvolvimento das áreas importantes da vida cotidiana, preparando e em-
poderando a pessoa para os aspectos sociais comuns. Todo esse processo terapêuti-
co resulta na ampliação do repertório comportamental e na melhor adaptação da
pessoa com TEA na sociedade.
É de extrema importância o acompanhamento próximo com a família e a escola,
pois o trabalho deve ser realizado em conjunto por todos esses contextos, pensando no
alcance do melhor desenvolvimento da sua autonomia e independência no dia a dia.
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8.5 Fonoaudiologia
O objetivo da fonoaudiologia no desenvolvimento do indivíduo com TEA é desenvol-
ver a linguagem e comunicação verbal e não verbal. A intervenção do fonoaudiólogo é de
extrema importância para que o paciente desenvolva a comunicação geral, em especial
para o desenvolvimento de sua linguagem receptiva e expressiva, gestual, oral e escrita,
capacitando-o para compreender, realizar atividades e agir sobre o ambiente que o cerca.
Em relação à avaliação fonoaudiológica são observados todos os aspectos linguísti-
cos: lexical, morfossintaxe, semântica, pragmática e fonológica. Destaca-se que também
são avaliadas as competências metalinguísticas: consciência fonológica, leitura e escrita.
Além disso, o fonoaudiólogo também pode avaliar outras demandas relaciona-
das ao desenvolvimento do educando, como por exemplo alterações de mastigação,
deglutição, seletividade alimentar, respiração, bem como da musculatura orofacial
que favorece a articulação da fala.
As estratégias usadas para auxiliar as dificuldades de comunicação desses edu-
candos costumam ser mediadas por brincadeiras e jogos, nos quais tenta-se criar
sentido e necessidade de se comunicar com outro. A criança é incentivada a perceber
a função da linguagem e como usá-la de forma funcional.
Dessa forma, receberá alta fonoaudiológica o indivíduo que apresentou evolu-
ção clínica e conseguiu suprir todos os objetivos terapêuticos visando sempre sua
maior independência e competência dentro de suas limitações e capacidades.
O melhor momento para iniciar a fonoterapia no autismo é assim que o diag-
nóstico for realizado. É muito importante iniciar a fonoterapia o mais cedo possível,
para potencializar seus resultados. O tratamento intensivo e individualizado ajuda a
diminuir o isolamento social que pode ser fruto das dificuldades de comunicação.
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totalidade, assim como trabalho junto às famílias, para o alcance de seu empodera-
mento, fortalecimento e autonomia, o que se torna base do atendimento das crianças/
adolescentes/jovens com TEA. Nesse ensejo, ao desenvolver o protagonismo, a família
tende a assumir um papel transformador, seja o processo de aceitação, desenvolvi-
mento de autonomia de seu/a filho/a, e em todo o processo de inclusão do/a mesmo/a.
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8.8 Fisioterapia
De acordo com a Associação Americana de Fisioterapia, a Fisioterapia é defini-
da como “uma profissão dinâmica com uma base teórica e científica estabelecida e
com aplicações clínicas bem difundidas no que remete à restauração, manutenção e
promoção de uma funcionalidade física eficiente.” (APTA, 2014). A prática fisiotera-
pêutica inclui o diagnóstico e intervenção de déficits motores, bem como a promo-
ção e manutenção da saúde e do bem-estar físico.
Os fisioterapeutas têm a tarefa de melhorar e manter a mobilidade funcional ao
longo da vida e desempenham um papel importante no desenvolvimento das habili-
dades motoras dos educandos. Com foco na progressão do desenvolvimento, os fi-
sioterapeutas avaliam minuciosamente as habilidades de uma pessoa usando o co-
nhecimento do desenvolvimento típico em vários estágios da infância como base. A
partir disso, podem então determinar quais intervenções terapêuticas seriam mais
adequadas para ajudar a criança a melhorar a mobilidade funcional e subir ao longo
do continuum de desenvolvimento.
Neste sentido, o TEA apresenta impacto nas habilidades de comunicação e in-
teração social. Essa perspectiva limitou o uso do Fisioterapia, uma vez que a terapia
não visa diretamente nenhuma das áreas deficitárias identificadas. Com o tempo,
tornou-se cada vez mais evidente que o TEA também afeta as habilidades motoras e
o desenvolvimento de habilidades lúdicas adequadas à idade. Bhat, Landa e Galloway
(2011) indicaram que há uma série de deficiências motoras observadas em crianças
e adultos com TEA. Essas deficiências incluíam coordenação deficiente dos mem-
bros superiores e inferiores para uma variedade de tarefas, desde destreza manual
até equilíbrio e marcha. Ament et al. (2015) identificaram que os déficits motores no
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EXAME/AVALIAÇÃO
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DIAGNÓSTICO FUNCIONAL
PROGNÓSTICO
INTERVENÇÃO
RESULTADOS
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Teste Descrição
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CONTINUAÇÃO DO QUADRO 6
Teste Descrição
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Depoimento da Senhora Roseley, mãe do Gabriel, diagnosticado com autismo nível III, em janeiro de 2021. Após o diagnóstico,
a mãe saiu do trabalho para dar assistência ao filho e fez contato com o CAESP Girassol APAE de São Bento do Sul, para fazer ma-
trícula e para posterior atendimento. A mãe destaca que um fator muito importante para os pais é a aceitação do diagnóstico de
autismo do filho, sendo esse processo muito difícil no início, gerando um estado de luto e de afastamento das pessoas.
Parecia que havia perdido meu filho perfeito, porque ele foi perdendo as habilidades, o
contanto visual e regrediu na fala. Como mãe, precisei de ajuda de profissionais para acei-
tar. A nossa aceitação frente ao diagnóstico de autismo, fez muita diferença para o desen-
volvimento dele, porque assim a gente aprendeu a lutar por eles. Ele faz todos os tratamen-
tos indicados e toma medicação corretamente. A aceitação promoveu mudanças na nossa
casa, na nossa rotina, nos passeios, porque assim agora a gente respeita a condição dele,
principalmente quando não tolera barulho e o contato com muitas pessoas. Está completan-
do um ano de atendimento no CAESP Girassol APAE de São Bento do Sul. Quando chegou na
instituição, o Gabriel não falava, não tirava a roupa sozinho, não atendia a comandos ver-
bais, tinha crises de choro de até 01h30 de duração. Hoje está medicado e não apresenta
mais crises de choro intenso, mas a melhor forma de ajudar nossos filhos é levar para tera-
pias o mais cedo possível, com ajuda de profissionais, como fonoaudiólogo, terapeuta ocu-
pacional, psicomotricista, psicólogo, pedagogo. Ele é atendido no CAESP Girassol / Apae de
São Bento do Sul por todos esses profissionais. E com isso ele está tendo um bom desenvol-
vimento: já chama mamãe e papai, ele está se fala e responde aos comandos na alimenta-
ção, usando os dedos de ambas as mãos, Ele atende ao ser chamado, olha nos olhos. Perce-
bemos que, depois das terapias, ele vem brincando com as crianças e socializando com
algumas pessoas, mas no seu ritmo. A nossa família se adaptou ao Gabriel e está muito sa-
tisfeita com atendimento no CAESP Girassol / Apae, que é uma equipe unida em prol do
atendimento do nosso filho. Eu diria a todos os pais que recebem para seus filhos o diagnós-
tico de autismo, que eu apoio a inserção o mais
cedo possível nas terapias e atendimentos espe-
cializados. No nosso caso houve aceitação e a
busca de ajuda para o desenvolvimento do Ga-
briel. Estamos aprendendo muito com ele, é um
aprendizado diário”.
Roseley da Silva
MÃE
Nelson Moura
PAI
Gabriel Moura
EDUCANDO
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9 SERVIÇOS COMPLEMENTARES
Iago Gonçalves
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9.2 Equoterapia
Fernando Calil
Katia Regina Ladewig
Vera Ottonelli Durli
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auxiliar lateral. A escolha das áreas profissionais que assumirão o papel de mediador
e de auxiliar lateral será realizada de acordo com as necessidades de cada praticante,
conforme o estabelecido por um plano de trabalho individualizado (LADEWIG, 2021).
Para a oferta do atendimento em Equoterapia, a Lei 13.830 de 13 de maio de
2019, que dispõe sobre esta prática, estabelece em seu artigo 3º, inciso I:
I - Equipe multiprofissional, constituída por uma equipe de apoio composta por
médico e médico veterinário e uma equipe mínima de atendimento composta por
psicólogo, fisioterapeuta e um profissional de equitação, podendo, de acordo com
o objetivo do programa, ser integrada por outros profissionais, como pedagogo,
fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional e professores de educação física, que de-
vem possuir curso específico de equoterapia. (BRASIL, 2019).
Cabe aqui salientar que a oferta do atendimento em Equoterapia, além das exi-
gências referentes à equipe mínima e capacitação específica dos profissionais, inde-
pendentemente de suas áreas de atuação, se faz necessário a filiação à ANDE-BRASIL.
Duarte et al. (2019) fazem referência quanto à melhora do praticante com TEA no
que diz respeito à socialização, pois a atividade envolve o contato com profissionais, com
demais praticantes e com próprio animal, bem como também contribui para a “[…] su-
peração de fobias, ganho de autonomia, independência, utilização da linguagem, habili-
dades motoras, regulação sensorial e autoestima.” (DUARTE et al., 2019, p. 2468).
Tendo em vista que o cavalo desempenha o papel de instrumento cinesio tera-
pêutico e ludo terapêutico, oportuniza a realização de atividades e brincadeiras de
cunho pedagógico levando ao desenvolvimento de habilidades cognitivas (atenção,
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Por sua vez, as informações captadas são enviadas ao Sistema Nervoso Central
que exerce a função de perceber e processar essas informações por meio de registro,
modulação e integração dos estímulos sensoriais, e, por fim, respondemos a elas
mediante nosso comportamento, traduzido em respostas motoras, sejam elas rela-
cionadas à comunicação verbal (fala, escrita), comunicação não-verbal (gestos, ex-
pressões faciais, posturas corporais), ações motoras ou mesmo respostas autonômi-
cas, envolvendo a participação do Sistema Nervoso Autônomo.
A este fenômeno relacionado à “organização das sensações para uso” denomi-
namos Integração Sensorial (AYRES, 1979). Desenvolvida ao longo de muitos anos de
estudos pela terapeuta ocupacional Jean Ayres, a Integração Sensorial tem suas ba-
ses na Neurociência e consiste em um modelo de referência alicerçado em extensa
pesquisa do desenvolvimento infantil típico e atípico, com relevante impacto no de-
senvolvimento humano (MOLLERI et al., 2010).
Segundo Ayres (1972), constitui-se no processo neurológico que organiza as
sensações advindas tanto do corpo quanto do meio e torna possível o uso do corpo,
de forma eficaz, no ambiente.
Neste contexto, verifica-se que a Integração Sensorial tanto influencia a realização
das atividades quanto a participação social, ao impactar a saúde e o bem-estar, a forma-
ção da identidade, as escolhas ocupacionais (exploração e engajamento nas mais varia-
das atividades cotidianas), trazendo consequências para as tarefas de autocuidado, de
casa, escolares e laborais, para o brincar e o lazer e para o sono e o descanso.
Compõem a Integração Sensorial:
a) Registro Sensorial: capacidade de receber os estímulos sensoriais;
b) Processamento Sensorial: capacidade de captar e processar os estímulos
sensoriais;
c) Percepção/Discriminação Sensorial: habilidade de distinguir e interpretar
os estímulos sensoriais;
d) Reatividade/Modulação Sensorial: capacidade de regular o nível de alerta e
fornecer respostas comportamentais a estímulos sensoriais.
Além de um modelo teórico, os estudos e pesquisas de Jean Ayres culminaram
em instrumentos de avaliação da Integração Sensorial, bem como na Intervenção
em Integração Sensorial de Ayres® (ISA®).
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96 VOLTA AO SUMÁRIO
Desde o diagnóstico aos 3 anos de idade da Lívia, sempre tivemos muito apoio e suporte da
FCEE. Inicialmente com o diagnóstico em si e depois com o encaminhamento para a estimulação
precoce, onde começamos a entender esse mundo novo e pudemos, em conjunto, evoluirmos
muito com as terapias. Pensamos que é algo que deveria acompanhar até a vida adulta; pois são
tantas nuances e desafios, e com suporte tudo se torna mais leve.
Com a chegada da escola, fomos encaminhados para o Atendimento de Educação Especial e as
questões pedagógicas foram trabalhadas em conjunto com os professores regentes, segundo
professores e Escola. No AEE (CENAP) encontramos pessoas que não só nos mostraram como
desenvolver a nossa filha, mas que também lutaram ao nosso lado para que a Livia tivesse seus
direitos respeitados e uma educação pedagógica a altura do seu potencial. Pessoas incríveis que
nos acompanham até hoje, são nossa referência, o qual admiramos pelo esforço de sempre tra-
zer o melhor para os educandos.
Muito ainda precisamos avançar enquanto sociedade, mas enquanto tiver pessoas comprometi-
das como a equipe do FCEE, vemos um futuro muito mais promissor, onde a neurodiversidade não
será um impeditivo para as pessoas se desenvolverem e serem sua “melhor versão”.
No mais, só temos a agradecer por termos sido acolhidos num momento tão delicado, e nos fazer
perceber que é só uma forma diferente de experienciar o mundo, mas que tem sua grandeza de
vivências e reflexões e que podemos ir muito além do que imaginávamos”.
Andréa Pedemonte
MÃE
Há que se considerar que a pessoa com TEA possui seus direitos garantidos des-
de a Constituição Federal de 1988, Estatuto da Criança e do Adolescente, entre outras
legislações vigentes à pessoa com deficiência, que inclui também o autismo, para
todos os efeitos legais. Mas a luta pela garantia dos direitos à pessoa com deficiência,
na qual está inclusa a questão do autismo, foi evoluindo para que os direitos sejam
garantidos, sendo uma construção de anos, para que sejam respeitados, sem discri-
minação, com igualdade de acesso/oportunidade, integralidade física e moral, uni-
versalidade com respeito e dignidade, autonomia, acesso à educação e à proteção
social, entre outros.
Desse modo, devido à necessidade de haver uma legislação própria voltada às
pessoas com TEA, criou-se a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa
com Transtorno do Espectro Autista, Lei Berenice Piana nº 12.764 de dezembro de
2012, que garante, entre outros, o atendimento multidisciplinar, acesso à saúde,
educação e proteção social, ao direito ao tratamento/terapias de acordo com a ne-
cessidade, bem como o diagnóstico precoce.
A proteção social das crianças e adolescentes com TEA e suas famílias, envolve,
portanto, a constituição e efetivação dos direitos, e a consolidação de Políticas Públi-
cas de atendimento aos usuários e suas famílias. A Política de Assistência Social, por
exemplo, junto à questão do autismo, vem para contribuir em todo o processo de
garantia de direitos, bem como a proteção social, ocupando-se em proteger à vida,
reduzir danos, prevenir incidência de riscos sociais, conforme garante o Sistema Úni-
co da Assistência Social (SUAS). Abaixo serão descritos alguns benefícios.
98 VOLTA AO SUMÁRIO
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TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA 11 O PAPEL DA FAMÍLIA
11 O PAPEL DA FAMÍLIA
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TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA 11 O PAPEL DA FAMÍLIA
TEA consiste na troca de informações sobre o tratamento entre dois ou mais membros da
rede de envolvidos com a criança, sejam eles profissionais da saúde ou de educação, en-
tre si e com os familiares. Sendo assim, trata-se de um processo bidirecional, no qual alter-
na o sujeito “falante” e o “ouvinte”. (CAMARGOS JUNIOR, 2017, p.146).
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A N E XO S
Aluno(a): Escola:
D.N.: _____/_____/_____ Idade: Ano:
Professor(a):
Período de intervenção:
Data prevista para próxima avaliação:
Plano Educacional
Imitação »
Percepção »
Motora Fina »
Motora Grossa »
Visuomotora »
Desempenho
»
Cognitivo
Cognitivo Verbal »
Observações feitas:
Imitação:
Motricidade Fina:
Motricidade Grossa:
Percepção:
Desenvolvimento cognitivo:
Cognitivo verbal:
Visuomotora:
Comportamento:
Outros:
Definição do serviço:
_______________________
Professor
Irmãos:
(Nome e Idade)
2) QUEIXA PRINCIPAL
3) GESTAÇÃO E CONCEPÇÃO
2 Adaptado por Lívia Ferreira e Mariele Finatto (2018) a partir da anamnese disponibilizada pelo Dr. Djalma Francisco
Costa Lisboa de Freitas (Psicólogo: 06/103087).
4) AMAMENTAÇÃO E ALIMENTAÇÃO
São necessários recursos para manter seu filho sentado a mesa? ( ) Sim ( ) Não - Quais?
5) DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR
6) CONTROLE DE ESFÍNCTERES
SE NÃO:
Usa fraldas? ( ) Sim ( ) Não Já tentou tirar? ( ) Sim ( ) Não
Quais dificuldades foram encontradas?
7) COMUNICAÇÃO VERBAL
8) COMUNICAÇÃO NÃO-VERBAL
Indica apontando com os dedos as suas vontades? Ex: Pegar objetos ( ) Sim ( ) Não
Expressa suas necessidades ou desejos de forma não verbal? ( ) Sim ( ) Não
Compreende quando você se comunica através de gestos com ele(a)? ( ) Sim ( ) Não
Alguma vez ele já te usou como “ferramenta” para indicar o que queria? ( ) Sim ( ) Não
9) SONO
Mãe e filho:
Pai e Filho:
Educandos e irmãos:
O educando é tratado diferente dos outros?
Qual dos pais interfere na educação?
Posição dos pais diante da dificuldade da criança?
13) SEXUALIDADE
14) SAÚDE
Saúde atualmente?
Doenças infantis e idades:
16) ESCOLARIDADE
O presente roteiro tem como objetivo nortear os elementos que precisam con-
templar a avaliação do educando no serviço do Atendimento Educacional Especiali-
zado para educandos com Transtorno do Espectro Autista. Estes elementos devem
ser contemplados no Plano de Desenvolvimento Individual do educando.
A avaliação precisa:
» Identificar o que o educando já sabe fazer;
» Identificar o que o educando gosta de fazer;
» Destacar os pontos fortes do educando;
» Identificar sua área de interesse;
» Olhar as dificuldades do educando com o intuito de definir o porquê de tais dificuldades:
não faz porque não quer, porque não entende, ou porque não sabe fazer?
» Olhar os comportamentos que precisam de melhoria;
» Definir objetivos realistas e alcançáveis: o que, quanto e em quanto tempo;
» Elencar o tipo de apoio que o educando vai precisar nas intervenções;
» Deve apontar como ensinar: quais estratégias e práticas serão utilizadas.
Nome do aluno:
Data de nascimento: / /
Nome da mãe:
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