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Quem são as Crianças de Leo Kanner?
Dr. Gustavo Teixeira

Os transtornos do espectro autista podem ser definidos como condições


comportamentais caracterizadas por prejuízos no desenvolvimento de
habilidades sociais, na comunicação, na cognição da criança e com o
aparecimento dos sintomas nos primeiros anos de vida.
Essas condições podem se apresentar de diversas formas,
compreendendo um universo de possibilidades sintomatológicas, cada caso
apresentando particularidades individuais que merecem cuidados e
intervenções individualizadas.
Você já ouviu provavelmente aquela frase: “No autismo, cada caso é um
caso diferente”; portanto, devido à complexidade e de todo universo de
problemas comportamentais e de desenvolvimento que podem estar presentes,
múltiplas possibilidades de intervenção são possíveis e necessárias para
ajudar na melhoria dos sintomas nessas crianças e adolescentes.
O autismo foi inicialmente descrito de forma brilhante pelo médico,
pesquisador e professor da Johns Hopkins University, o médico psiquiatra
infantil austríaco Leo Kanner, em 1943. Ele publicou um artigo científico com o
relato de onze crianças que apresentavam três características comuns entre
elas e que as tornavam muito diferentes do comportamento usual de jovens da
mesma idade: um desinteresse e inabilidade de se relacionar com outras
pessoas; um desenvolvimento peculiar da linguagem verbal, marcada por
ecolalia (repetição de palavras ouvidas pela criança); presença de estereotipias
(repetição de movimentos corporais sem propósito aparente); e inversão
pronominal (crianças que se chamavam na terceira pessoa), por exemplo,
dizendo: “Pedro quer água” ao invés de dizer: “eu quero água”, ou ainda,
chamando a si próprio de “ele” ou “ela”.

Dr. Leo Kanner


Leo Kanner nasceu em Klekotow, território do Império Austro-Húngaro
em 1896 e se tornou médico pela Universidade de Berlim aos 25 anos de

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idade, no ano de 1921, quando decidiu emigrar para os Estados Unidos e
trabalhar como médico assistente em um hospital no Estado de South Dakota.
Em 1930, Leo Kanner fundou o primeiro departamento de psiquiatria
infantil no Hospital Universitário da John Hopkins University, em Baltimore,
Estado de Maryland, e publicou o primeiro tratado de psiquiatria infantil em
língua inglesa em 1935.
O artigo “Distúrbios autísticos do contato afetivo”, tradução livre de
Autistic Disturbances of Affective Contact, juntamente com os trabalhos de
Hans Asperger e Lorna Wing, formam as bases do estudo moderno dos
transtornos do espectro autista.
Leo Kanner faleceu em 1981 aos 86 anos de idade e seu trabalho
fantástico merece todo destaque no nosso guia, pois ainda hoje influência e
inspira profissionais de todo o mundo para o desenvolvimento de uma das
especialidades médicas mais necessárias atualmente, a psiquiatria da infância
e adolescência.

Dra. Lorna Wing


Historicamente, vale ressaltar a importância de uma médica inglesa,
psiquiatra da infância e da adolescência, a Dra. Lorna Wing. Seus estudos
estabeleceram a análise do autismo sob a óptica de três pilares de prejuízos
principais (conhecidos por “Tríade de Wing”) presentes nos portadores de
transtornos do espectro autista. Esses três pilares estariam relacionados com
prejuízos da socialização, prejuízos na linguagem verbal e não-verbal; e
comportamentos repetitivos ou estereotipados e interesses restritos.
As dificuldades na área de socialização estão relacionadas com a Teoria
da Mente, que é a capacidade que todos nós temos de nos colocarmos na
posição do outro, isto é, de entendermos que outra pessoa é capaz de pensar
diferente de você, de ter crenças, desejos e pensamentos distintos.
Resumindo, somos capazes de entender as emoções e o comportamento de
outras pessoas.
Essa dificuldade de relacionamento e interação social, nos dá a
impressão de que a criança está fechada dentro de seu mundo particular e não
consegue interagir com outras pessoas.

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Outro pilar importante está relacionado com a linguagem. A grande
maioria dos pacientes com autismo não estão falando quando são
diagnosticados, sendo que aproximadamente 30% deles permanecerão mudos
pelo resto de suas vidas.
Apesar de todas as dificuldades linguísticas apresentadas por essas
crianças, muitas delas podem aprender a falar pequenas frases e serem
capazes de seguir instruções simples, enquanto outras podem apresentar falas
complexas e rebuscadas.
Portanto tudo dependerá da gravidade do autismo e os prejuízos
apresentados podem ser variáveis, indo de quadros muito graves a condições
suaves e quase imperceptíveis ao olhar de um médico não especialista.
Outra característica importante são as estereotipias. São respostas
repetitivas em que a criança se estimula objetivando uma regulação sensorial
ou mesmo uma busca por sensações físicas de prazer.
Os exemplos mais comuns de estereotipias observadas nessas crianças
são: flapping (movimento de balançar as mãos); rocking (mover tronco para
frente e para trás), andar na ponta dos pés, movimentar mãos na frente do
rosto; girar sobre o próprio eixo; olhar objetos que giram ou correr sem um
objetivo claro.

Dra. Temple Grandin


Encorajo os alunos que pesquisem sobre a fascinante história de
Temple Grandin, doutora em Ciência Animal e professora da Colorado State
University. Ela tem o diagnóstico de autismo e é uma escritora de sucesso nos
Estados Unidos. Dra. Grandin é uma grande defensora das causas dos
portadores de transtornos do espectro autista e fonte de inspiração para
famílias no mundo todo.

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Existem Muitos Casos de Autismo?
Dr. Gustavo Teixeira

Os transtornos do espectro autista apresentam uma incidência estimada


de 1% de crianças e adolescentes em todo o mundo, segundo diversas
pesquisas internacionais realizadas nos Estados Unidos, Europa e Asia. Isso
representa mais de seis milhões de crianças e adolescentes brasileiros
portadores de algum transtorno do espectro autista.
Outro dado epidemiológico importante é que a ocorrência de autismo é
maior no sexo masculino, afetando cerca de cinco meninos para cada menina
acometida. Sendo assim, estima-se que ocorra um caso de autismo para cada
42 nascimentos de meninos, enquanto para o sexo feminino a relação seria de
um caso para cada grupo de 189 meninas.
Vale destacar um grande estudo publicado em 2014 pelo CDC - Center
for Disease Control and Prevention (Centro de Controle de Doenças e
Prevenção), órgão governamental americano com sede em Atlanta, Geórgia,
que divulgou dados impressionantes acerca da incidência de autismo nos
Estados Unidos. Segundo o levantamento americano, cerca de 1 para cada 68
crianças são portadoras de um transtorno do espectro autista.
Esses dados são resultado do estudo de monitoramento chamado:
Autism and Developmental Disabilities Monitoring Network, (Rede de
Monitoramento de autismo e Transtornos do Desenvolvimento) realizado a
cada dois anos em que são estudadas as prevalências dos transtornos do
espectro autista em diversas comunidades de todo o país.
Desta forma, os transtornos do espectro autista ilustram um grande
problema de saúde pública e que deve ser enfrentado com a participação e
apoio de toda a sociedade civil, além de representantes do poder público.
Precisamos desenvolver estratégias e projetos na área da saúde e educação
que incluam essas crianças e suas famílias.

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Quais são as Causas e os Possíveis Fatores de Risco para o
Autismo?
Dr. Gustavo Teixeira

Em uma primeira análise, quando falo em causas dos transtornos do


espectro autista, gostaria de enfatizar que o autismo ocorre em todos os grupos
socioeconômicos, étnicos ou raciais e possui uma distribuição global muito
semelhante, afetando nações ricas e desenvolvidas, assim como em países
pobres e subdesenvolvidos como o nosso.
Não sabemos exatamente as causas do autismo, entretanto podemos
enumerar diversos fatores de risco que parecem favorecer o desenvolvimento
dessas condições comportamentais, incluindo fatores genéticos e ambientais.

Genética
Os estudos científicos mostram que a genética está intimamente ligada
ao autismo. Por exemplo, pais que possuam um filho portador de autismo,
apresentam cerca de 10% de chances de ter um segundo filho com a mesma
condição comportamental.
Outros estudos genéticos com gêmeos idênticos concluem que se um
dos irmãos tem autismo, a chance do outro ter também varia entre 36-95%. No
caso de gêmeos não-idênticos, a chance reduz para até 30%.
Ainda na esfera genética das hipóteses para o autismo, outros estudos
mostram que crianças com algumas doenças de origem genética como a
síndrome de down ou síndrome do X frágil apresentam maior chance de
também desenvolver o autismo.

Fatores Ambientais
Esses fatores ambientais seriam insultos ao cérebro em
desenvolvimento durante o período gestacional. Nesse caso, doenças
congênitas, como rubéola, encefalites, meningites, uso de drogas, má nutrição
materna, dentre outros fatores poderiam hipoteticamente produzir alterações de
estruturas cerebrais, ou alterar fatores imunológicos e bioquímicos,
predispondo e até mesmo desencadeando o comportamento autista.

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Desta forma, infelizmente, podemos concluir que as causas do autismo
infantil permanecem desconhecidas. Destaco o maior estudo epidemiológico
sendo conduzido atualmente no mundo e que se chama SEED – Study to
explore Early Development (Estudo para se Explorer o Desenvolvimento
Precoce). O SEED objetiva identificar os principais fatores de risco
relacionados com o desenvolvimento do autismo, o que nos ajudaria a
entender as causas e ajudaria na busca pela prevenção e tratamento mais
adequado para os transtornos do espectro autista.

Mães Geladeira, Vacinação e os Mitos Ligados ao Autismo


Antigamente, acreditava-se que as chamadas “mães geladeira” seriam
as causadoras do autismo infantil. O termo se refere a crianças expostas a
mães que demonstravam pouco ou nenhum afeto em relação aos filhos, eram
negligentes e violentas. Os estudos neurocientíficos demonstraram que
métodos de criação parental e ausência de afeto não causam autismo,
entretanto, por outro lado, podemos afirmar que alguns fatores ambientais
podem ser potencialmente influentes e ter alguma participação mesmo que
indireta no desencadeamento da doença.
Outro mito com relação a origem do autismo é a vacinação. Em 1997
uma hipótese para a causa do autismo foi levantada pelo médico inglês Andrew
Wakefield que relacionou o aumento da incidência de autismo na Inglaterra
com a vacina tríplice viral. Estudos posteriores comprovaram uma série de
erros no artigo escrito pelo médico britânico, incluindo falhas metodológicas,
conflitos de interesse e violações éticas. Seu artigo foi desqualificado pela
comunidade científica internacional e sua licença médica cassada.
Por mais absurda que tenha sido essa hipótese, diversos estudos foram
conduzidos posteriormente e todos comprovaram que a vacinação não causa
autismo.

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Fonoaudiologia e Autismo
Dra. Aline Kabarite

A Fonoaudiologia é uma ciência que forma profissionais responsáveis


pela promoção da saúde, prevenção, avaliação e diagnóstico, orientação e
terapia (habilitação e reabilitação) de vários aspectos fonoaudiológicos. Entre
eles estão a linguagem oral e escrita, a voz, a fluência, a articulação da fala e
os sistemas miofuncionais e orofaciais, que podem estar alterados em sujeitos
dentro do espectro do Autismo. Existem outros aspectos fonoaudiológicos que
aparecem alterados em outras patologias ou transtornos, mas esses, nós não
iremos nos deter.
O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) vem recebendo atenção por
parte de muitos pesquisadores, estudiosos e profissionais devido a sua
crescente incidência na população mundial. Um estudo feito pelo CDC – Centro
de Controle e Prevenção de Doenças, dos EUA, constatou que uma a cada
quarenta e cinco crianças estão dentro do espectro do autismo, o que
representa cerca de 2,25% da população. Em 2013 essa taxa era de apenas 1
a cada 80 crianças.
O diagnóstico é clínico, ou seja, é realizado através da observação de
um conjunto de sintomas que deve estar presente antes dos três anos de
idade. Atualmente o DSM-5 (Manual Diagnóstico Estatístico de Transtornos
Mentais) descreve dois grupos de sintomas: Déficit Persistente na
Comunicação e Interação Social (observados em múltiplos contextos) e
Padrões Restritos e Repetitivos de Comportamentos, Interesses e, ou
Atividades.
O diagnóstico precoce tem sido a garantia de melhor prognóstico em
todos os aspectos, porém, sabe-se que, o desenvolvimento da linguagem e os
comportamentos sociais que vão se construindo ainda nos primeiros anos de
vida, são fundamentais para o desenvolvimento da cognição que irá
impulsionar melhor desenvolvimento dos indivíduos em vários aspectos de
suas vidas.
Assim, conhecer as bases do desenvolvimento da linguagem, desde os
aspectos pré-linguísticos até as características e funções da comunicação é

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fundamental para quem vai trabalhar com sujeitos dentro do espectro do
autismo. Entendido essas bases teóricas poderemos, então, pensar no sujeito
que se constitui pela linguagem com suas individualidades, as relações que ele
estabelece a partir dela e o lugar que ocupa em cada situação dialógica que
vivencia.
A disciplina FONOAUDIOLOGIA E AUTISMO irá contribuir para a
construção de um conhecimento sobre o desenvolvimento da linguagem verbal
e não-verbal, sobre as possibilidades da comunicação, sua importância no
desenvolvimento cognitivo e social do indivíduo, além de trazer aspectos
práticos sobre como podemos, em qualquer situação (cotidiana ou terapêutica),
estimular o potencial linguístico de um sujeito com autismo.

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A Intervenção da Terapia Ocupacional Utilizando o Método de
Integração Sensorial em Crianças com Transtorno do Espectro
Autista
Dra. Fernanda Carneiro

O método de Integração Sensorial foi desenvolvido pela terapeuta


ocupacional Anne Jean Ayres, começando seus estudos no final dos anos 50,
foi pioneira em elucidar pressupostos sobre a relação entre processamento
sensorial, comportamento, aprendizagem e desenvolvimento.
As dificuldades e interrupções que o TPS impõe sobre as experiências
sensoriais são de interesse de estudo do terapeuta ocupacional que trabalha
com TEA. O profissional que usa o método de integração sensorial tem acesso
a um ambiente adaptado e um conjunto de ferramentas e equipamentos
necessários para a intervenção terapêutica e para garantir os princípios da
medida de fidelidade da abordagem. (Mailloux & Burke, 2000)
O objetivo do tratamento para a criança autista é melhorar o
processamento sensorial para que mais sensações sejam efetivamente
registradas e moduladas, e para incentivar a criança a formar respostas
adaptativas simples como um meio de ajudá-la a aprender e organizar o seu
comportamento.
É comum que crianças com TEA apresentem problemas sensoriais
significativos que acarretam prejuízos no desempenho das atividades diárias,
no autocuidado e na interação social. Pesquisas feitas com 200 crianças com
TEA identificaram que 94% delas apresentavam alterações sensoriais (Biel &
Peske, 2014)
A integração das informações sensoriais presentes no meio é vital para
o desempenho ocupacional e para a aprendizagem. O método de I.S. contém
princípios que estabelecem uma estimulação sensorial organizada, gerenciada
por meio de brincadeiras, jogos e atividades lúdicas. É fundamental a efetiva
compreensão de como as informações sensoriais estão sendo moduladas,
organizadas e integradas.

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Os Transtornos do Processamento Sensorial- TPS estão divididos em
três tipos- Transtorno da Modulação Sensorial, Transtorno da Discriminação
Sensorial e Transtorno Motores de Base Sensorial.
A modulação sensorial refere- se ao processo pelo qual o sistema
nervoso ajusta as informações sensoriais, dependendo da intensidade,
frequência, duração, complexidade e novidade dos estímulos (Biel & Peske,
2014). Esse complexo processo permite que a criança apresente respostas
adaptativas, contribuindo nas habilidades para autorregulação e para
comportamentos e emoções adequados (Reinoso, 2013).
A inabilidade em modular os impulsos sensoriais, que se manifesta pela
ausência ou pela diminuição de respostas ou pela emissão de respostas
exacerbadas frente ao estímulo sensorial, define o Transtorno da Modulação
Sensorial que está dividido em subtipos: hiperresponsividade,
hiporesponsividade e busca sensorial (Momo, 2011).
Hiper-responsividade é muitas vezes referida como defensividade
sensorial. A criança hipersensível pode exercer comportamentos de fuga, luta
afim de evitar ou responder a sensações intoleráveis, limitando a participação
em atividades sociais, esportivas e acadêmicas (Biel & Peske, 2014).
O input sensorial tem maior impacto na resposta construída pela criança
do que uma maneira típica, fazendo com que apresente respostas aversivas ou
intolerância diante dos mínimos estímulos.
Em diversas situações cotidianas, a criança hiper-responsiva a
sensações táteis, por exemplo, parece não conseguir controlar a entrada
sensorial. Geralmente, observam-se dificuldades na alimentação, quando a
criança recusa diversos alimentos com consistência e texturas diferenciadas;
nas atividades de autocuidado, quando a criança chora, foge e se irrita na hora
do banho, de cortar as unhas ou vestir-se; e no brincar.
A criança com hiporesponsividade sensorial apresenta registro ou
discriminação diminuída. É comum apresentar comportamentos de
passividade, alienação, isolamento e parece não orientar sua atitude a
mudanças ambientais ou na presença de novas informações sensoriais. Isso
pode levar ao isolamento social, inabilidade para engajar-se em atividades em
grupo, lentificação para acompanhar o ritmo das atividades, retração afetiva ou

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dependência para realização de atividades cotidianas. O input sensorial tem
menor impacto na resposta construída pela criança do que uma maneira típica.
A segurança e a integridade física podem estar em risco.
A busca sensorial compreende a necessidade da criança de obter
estímulos mais intensos para poder responder a eles. A criança deseja e
procura mais informações na tentativa de organizar seu comportamento que se
torna mais desorganizado à medida que a criança obtém mais estímulos, com
maior duração, frequência e intensidade (Momo,2011).
O segundo tipo de TPS são os Transtornos de Discriminação Sensorial
que ocorrem em diversos sistemas sensoriais e compreendem dificuldades em
identificar ou discriminar a intensidade e características dos estímulos
sensoriais (Magalhães et al.,2009). Quando se manifesta em relação ao
sistema sensorial tátil, a criança pode ter dificuldade em explorar e manusear
objetos, identificar texturas, escolher as próprias roupas e utensílios de higiene
pessoal, fazer escolhas alimentares e perceber suas preferências por
paladares (Momo, 2011).
O terceiro tipo é o Transtorno Motor de Base Sensorial e é subdividido em dois
grupos: os transtornos posturais, que podem ser vistos em crianças que têm
dificuldade para manter o controle do próprio corpo para realizar tarefas
motoras; e a dispraxia.
A dispraxia é o transtorno relacionado com a aprendizagem de
atividades motoras novas, planejamentos e execuções de movimentos em
repostas às demandas das tarefas ou do ambiente. Embora existam diferentes
tipos de dispraxia, os sentidos mais envolvidos no quadro clínico descrito no
contexto de integração sensorial são o vestibular e a propriocepção. O que
caracteriza a dispraxia é o comprometimento da habilidade de idealizar,
planejar e executar ações não familiares. A criança tende a não persistir em
atividades ou brincadeiras mais desafiadoras, passando de um brinquedo a
outro, sem concluir, por não entender as demandas implícitas do manejo e uso
de objetos ou por não saber como sequenciar as etapas para fazer a atividade
(Magalhães et al., 2009).
Partindo da premissa de que o conhecimento dos TPS é importante para
a investigação das alterações sensoriais e os impactos que exercem no

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desempenho ocupacional e na aprendizagem da criança com TEA, Ayres
definiu alguns princípios que organizam a prática da terapia ocupacional com o
método de integração sensorial, os quais ela denominou medida de fidelidade.
Estruturou o método de I.S. em torno dos princípios de aprendizagem motora, a
resposta adaptativa e atividade proposital. O plano de intervenção é centrado
na família e com base em avaliações de integração sensorial que identificam as
alterações sensoriais, motoras e da práxis.
A terapia ocorre em um ambiente seguro que inclui equipamentos que
irão fornecer diversos estímulos, principalmente os estímulos vestibulares,
proprioceptivos e táteis e oportunidades para a práxis. As atividades são ricas
em sensações e oferecem oportunidades, experiências para integrarem essas
informações com outras sensações, como visual e auditiva.
As atividades promovem o estado de alerta e a regulação das emoções
e fornecem a base para atender às oportunidades de aprendizagem. O
terapeuta ocupacional apoia a modulação sensorial para alcançar e manter um
estado regulado.
A criança é incentivada a se mover e mudar o ambiente para criar
maiores exigências e mais desafiadoras para a integração perceptivo-motor. A
proposta da intervenção é realizada no contexto de jogo e brincadeiras. O
terapeuta negocia opções de atividades com a criança, permitindo que a
criança escolha o equipamento, materiais ou aspectos específicos de uma
atividade (Roley et al., 2007).
Quando necessário o terapeuta sugere ou apoia um aumento ou
diminuição na complexidade do desafio para apoiar a habilidade da criança de
responder com sucesso. Portanto, o terapeuta estabelece um vínculo
terapêutico, isto é, estabelece uma conexão com a criança que transmite uma
sensação de trabalho em conjunto para uma ou mais metas.
O terapeuta ocupacional pode prescrever, como complemento da
terapia, orientações e estratégias sensoriais para melhorar a organização e
diminuir reatividade emocional durante as rotinas diárias e no aprendizado
escolar. Estas estratégias facilitam a manutenção do estado de alerta e a
percepção de novas informações sensoriais que podem ser introduzidas a
partir do enriquecimento de recursos visuais, auditivos, táteis, olfativos,

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gustativos, vestibulares e proprioceptivos (Momo, 2011). A organização das
informações sensoriais poderá ser efetivada em casa, na escola, na realização
das atividades escolares, na recreação, no lanche e na higiene.
Compreendendo o processamento sensorial atípico de crianças com
TEA, o terapeuta promove experiências sensoriais necessárias, integrando os
sistemas e organizando adequadamente respostas adaptativas para
desenvolver um bom desempenho ocupacional.
O objetivo da medida de fidelidade é garantir que o terapeuta
ocupacional usando integração sensorial se oriente pelos princípios
originalmente desenvolvidos por Ayres para promover o desenvolvimento da
criança num ambiente seguro e através de atividades lúdicas que conduz sua
exploração do mundo e aprendizagem; e para fins de pesquisa, tornar- se um
guia para medir a eficácia das intervenções.

Referências Bibliográficas

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ROLEY, S.S et al., Understanding Ayres sensory integration. AOTA. (2007).

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O Transtorno do Espectro Autista no Paradigma da Inclusão
Escolar
Mariana Fenta Elias

Introdução
O olhar para a pessoa com deficiência sofreu grandes mudanças ao
longo do nosso processo histórico cultural, saindo de uma visão de exclusão
para o atual paradigma da inclusão. E, ao longo dessa jornada encontram-se
muitos avanços, mas também, diversas problemáticas que ecoam nas salas de
aula espalhadas pelo Brasil.
A Declaração de Salamanca, fruto da Conferência da Conferência
Mundial sobre as Necessidades Educativas Especiais em 1994, em
Salamanca, foi um marco histórico, um divisor de águas no campo educacional,
na medida em que a partir desta data, os países envolvidos criaram e
remodelaram leis e programas com o objetivo de fazer valer uma nova forma
de atuação para com a pessoa com deficiência, um novo paradigma, o da
Inclusão Escolar.
Assim, no Brasil, que já na constituição de 1988, no parágrafo 208 sobre o
Direito à Educação que diz: III - atendimento educacional especializado aos
portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino;
também luta para alargar o alcance de crianças com deficiência matriculadas
no ensino regular.
Apesar disso, o tempo para a capacitação dos professores do ensino
regular foi insipiente, assim como o tempo para transformações no ambiente
escolar, o que dificultou e ainda atrasa a garantia da aprendizagem dos alunos
incluídos.
E, para as crianças diagnosticadas com o Transtorno do Espectro do
Autismo1 essa inclusão foi e ainda é uma questão muito complicada, a começar
pela demora no enquadramento do transtorno como pertencente ao público-
alvo da inclusão e, depois pelas peculiaridades e características inerentes ao
transtorno. É nesse contexto de evoluções e alguns retrocessos, que nasce

1 Transtorno do Espectro do Autismo

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este trabalho com o objetivo de discutir a inclusão de crianças com o TEA na
rede regular de ensino.

Transtorno do Espectro do Autismo


“Tenha orgulho de seu filho, aceite-o como ele é e não dê ouvidos às
palavras e aos olhares daqueles que nada sabem. O seu filho tem um
significado para você e para todas as crianças. Você encontrará uma alegria da
qual não suspeita agora enquanto preenche a vida dele ao seu lado. Levante a
cabeça e siga o caminho indicado.”
(PEARL S. BUCK The Child Who Never Grew)
O Transtorno do Espectro Autista é classificado no Diagnóstico de
Doenças Mentais (DSM-5) como Transtorno do Neurodesenvolvimento,
apresentando deficit nas dimensões sócios comunicativos e comportamentais,
classificados de leve a severo. Podendo apresentar comportamento
estereotipado, repetitivo e fixado, comunicação verbal, ecolálico, ou não verbal
e ausência de relacionamento social. Estudos apontam que quanto mais
precoce for o diagnóstico e a intervenção maiores são as chances de
desenvolvimento promissor e esvaecimento de alguns comportamentos típicos
do transtorno.
Como características principais, podemos citar prejuízos na
comunicação social e comportamentos repetitivos e restritos. Na última
atualização realizada no DSM (DSM, 2013), o transtorno foi definido com um
espectro, apresentando a ideia de um “continuum” que varia do grau mais
severo, até o mais leve, o que diversifica imenso as características do próprio
transtorno, seguindo as ponderações da Associação Americana de Psiquiatria
(APA) apresentadas nesse manual diagnóstico.
Acerca do diagnóstico do TEA, tem-se como referência as observações
da criança em diferentes contextos (escola, casa, locais públicos) realizada
pelos médicos do desenvolvimento e a utilização de questionários validades,
como o CARS e o M-CHAT. Vale ressaltar, também, que os comportamentos
aparecem antes dos dois de idade.
Em relação as intervenções, elas são bastante diversificadas e variam
de acordo com as necessidades de cada indivíduo. Dentre os mais comuns,

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temos: a Terapia Cognitivo Comportamental, a Análise Aplicado do
Comportamento (ABA), a Terapia da Fala e a Terapia Ocupacional. Já as mais
alternativas, temos: a Musicoterapia, a Ecoterapia, dentre outros. Ressalte-se,
também, que o uso de fármacos ocorre para ajudar em comportamentos de
foro mais agressivo ou para comorbidades.

O Paradigma da Educação Inclusiva


Ao olhar para o passado vê-se que a história das pessoas com
deficiência passou por diversos momentos, diferentes visões e tratamentos,
perpassando por uma total exclusão até a chegada de um reconhecimento. E,
ao falar da educação para esta camada da população, era inexistente ou
assumia um caráter médico.
Uma breve viagem na história da exclusão-inclusão permite identificar quatro
grandes momentos:

Exclusão (Grécia, Institucionalização Serviços ou Suportes ou


Roma, até Idade final séc. XVII ate integração (séc. inclusão (final do
Média) XVI) XX) séc. XX)

Na Antiguidade e na Idade Média, pessoas disformes ou com


deficiências eram totalmente excluídas do convívio social. Aos poucos, pelo
viés do moralismo cristão, a deficiência ou a deformidade passou a ser
associada ao pecado, sendo a segregação o seu destino mais provável. Essa
visão perdurou até mais ou menos o século XVII.
A partir das novas descobertas da Biologia, da Medicina e da Saúde
fomentaram, a partir do século XVII, a deficiência passou a ser vista como
doença de natureza orgânica. Surgiram as primeiras práticas sociais formais de
atenção à pessoa com deficiência, porém na forma de segregação em
instituições tanto para cuidado e proteção, como para tratamento médico.
Surge, então no século XX a lógica da institucionalização, que deu início
à reformulação de ideias e à busca de novas práticas no trato com a pessoa
com deficiência. Vê-se surgir uma lógica que é caracterizada pela oferta de

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serviços. Esta lógica tem a vantagem de tentar proporcionar a adaptação ou
readaptação à sociedade, porém está pautada na ideia de normalização: cabe
à pessoa com deficiência chegar o mais perto possível do funcionamento
normal.
No Brasil, o pensamento em relação a pessoa com deficiência sofre a
mesma evolução. A Educação Especial se estruturou segundo modelos
assistencialistas e segregativos de atendimento e pela segmentação das
deficiências, fatos esses que contribuíram para que a formação escolar e a vida
social das crianças e jovens com deficiência aconteçam, ainda, na maioria dos
casos, em um mundo à parte.
O histórico das legislações e os avanços por elas proporcionados foram
de suma importância para a passagem do paradigma da Integração ao
Paradigma da Inclusão, a saber:
Legislação Avanços
Conferência Mundial de Educação • Universalizar o acesso à educação;
para Todos, em Jomtien (1990) • Garantir a equidade;
• Concentrar a atenção na
aprendizagem;
• Propiciar um ambiente adequado à
aprendizagem;
• Ampliar os meios e o raio de ação
da educação básica;
• Fortalecer alianças.
Conferência Mundial de • Independente das diferenças
Necessidades Educativas individuais, a educação é direito de
Especiais: Acesso e Qualidade, todos;
que resultou na assinatura da • Toda criança que possui dificuldade
Declaração de Salamanca (1994) de aprendizagem pode ser
considerada com necessidades
educativas especiais;
• A escola deve adaptar–se às
especificidades dos alunos, e não
os alunos as especificidades da
escola;
• O ensino deve ser diversificado e
realizado num espaço comum a
todas as crianças.

Convenção Interamericana para a • Eliminação de todas as formas de


Eliminação de Todas as Formas de discriminação contra pessoas
Discriminação contra as Pessoas portadoras de deficiência e o
Portadoras de Deficiência que favorecimento pleno de sua

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promulgou a Declaração de integração à sociedade.
Guatemala (1999) Define a discriminação como toda
diferenciação, exclusão ou restrição
baseada em deficiência, ou em
seus antecedentes, consequências
ou percepções, que impeçam ou
anulem o reconhecimento ou
exercício, por parte das pessoas
com deficiência, de seus direitos
humanos e suas liberdades
fundamentais.
Convenção Internacional sobre os • Direito das pessoas com deficiência
Direitos das Pessoas com à educação em um sistema
Deficiência, da Organização das educacional inclusivo em todos os
Nações Unidas, em Nova York níveis de ensino e em igualdade de
condições com as demais pessoas
na comunidade em que vivem.
LDB LDBEN (Lei Nº 9.394 de • Direito de todos os educandos ao
20/12/96) acesso e à permanência;
• É dever do Estado promover o
acesso e garantir-lhes condições
adequadas para permanecerem e
se desenvolverem,
preferencialmente nas escolas
públicas regulares.
• A Educação Especial constitui uma
modalidade de educação escolar;
Decreto Legislativo n° 186/2008 e • referenciais nacionais para a
pelo Decreto Executivo n° construção de sistemas
6.949/2009 educacionais e a organização de
escolas inclusivas, define o público-
alvo da Educação Especial – alunos
com deficiência, transtornos globais
do desenvolvimento e altas
habilidades/superdotação – e
delimita o lugar do Atendimento
Educacional Especializado nas
práticas culturais de escolarização
em contextos de inclusão escolar
linhas natureza do Atendimento
Educacional Especializado (AEE)
no processo de inclusão escolar
Lei Brasileira de Inclusão (LBI) de • A educação constitui direito da
2016 pessoa com deficiência,
assegurados sistema educacional
inclusivo em todos os níveis e
aprendizado ao longo de toda a
vida, de forma a alcançar o máximo
desenvolvimento possível de seus

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talentos e habilidades físicas,
sensoriais, intelectuais e
sociais, segundo suas
características, interesses e
necessidades de aprendizagem.

Estas diretrizes coadunam-se com os seguintes objetivos da Política


Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva:
• Transversalidade da educação especial desde a Educação Infantil até a
educação superior;

• Atendimento Educacional Especializado;

• Continuidade da escolarização nos níveis mais elevados de ensino;

• Formação de professores para o atendimento educacional especializado


e demais profissionais da educação para a inclusão escolar;

• Participação da família e da comunidade;

• Acessibilidade urbanística, arquitetônica, nos mobiliários, equipamentos,


nos transportes, na comunicação e informação;

• Articulação intersetorial na implementação das políticas públicas

São criadas, nas escolas públicas o Atendimento Educacional


Especializado (AEE), que tem por função: identificar, elaborar e organizar
recursos pedagógicos e de acessibilidade que eliminem as barreiras para a
plena participação dos alunos, considerando suas necessidades específicas.
A mudança de paradigma, apesar de paulatina, traz luz à da
compreensão de que a sociedade deve se desenvolver e se modificar para
acolher a pessoa com deficiência e qualquer pessoa que se encontre excluída
por algum motivo, seja ele de ordem étnica, religiosa, econômica, cultural.
A importância da convivência não segregada deve ser oportunizada
através do cuidado com a acessibilidade e a oferta de recursos que
possibilitem o desenvolvimento de competências e habilidades de todos, sem
exceção.
Nesse sentido, a educação inclusiva não se constitui na aceitação dos
alunos com deficiência ou qualquer outra questão, mas na valorização da

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diversidade como uma condição humana. Trazendo para a educação o desafio
de avançar no processo de educação de qualidade para todos, na cooperação
e equidade.

O TEA e a Inclusão
Falar sobre autismo é entrar por uma estrada sem placas, é uma busca
pelo não dito, pelo que ainda não foi compreendido, para então pensar em
novas formas de enxergar e possibilitar ações. Assim, apenas com um trabalho
de cooperação entre pais, professores e terapeutas num esforço contínuo para
desenvolver estratégias de ação, metodologias e planejamento mais eficazes e
pensados de forma singular.
Assim como a inclusão de pessoas com deficiência passou por um longo
percurso de evoluções e mudanças de paradigma, a inclusão de crianças com
TEA também. No início, essa inclusão ficava ao cargo de instituições
especializadas, que tinham um olhar mais médico/clínico, preocupados com a
correção ou amenização dos comportamentos que fugiam do padrão.
Dentre a legislação supracitada, a que merece destaque em relação ao
autismo é a Lei 12.764, de 27 de dezembro de 2012 foi criada com o intuito de
instituir a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno
do Espectro Autista. Para melhor explicitar os avanços, segue a descrição no
quadro:

As famílias
Lei 12.764/2012

podem ser
melhor
amparadas Orientações
nota técnica número 24

por um para o
atendimento atendimento
das crianças Diretrizes
artigo 2º

de qualidade
e específico com o 33 para o
no Transtorno efetivo
tratamento do Espectro atendimento
de suas Autista nas
crianças escolas
regulares

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De acordo com o que estabelece essa lei, seguem as seguintes
orientações:
1. A intersetorialidade na implementação de ações e políticas para atender
às pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA);

2. A participação da comunidade na formulação de políticas públicas


direcionadas às pessoas com TEA e o controle de sua implantação,
acompanhamento e avaliação;

3. A completa atenção às necessidades de saúde com TEA, com vistas a


um diagnóstico precoce, atendimento por equipe multiprofissional e acesso aos
medicamentos e nutrientes que se fizerem necessários;

4. O estímulo à inclusão do indivíduo com TEA no mercado de trabalho,


observadas as especificidades da deficiência; a responsabilidade do poder
público em informar sobre o transtorno e suas implicações;

5. O incentivo à formação de profissionais especializados para atender o


indivíduo com TEA, bem como a seus familiares; o incentivo à pesquisa
científica, especialmente estudos epidemiológicos que demonstram a
magnitude e implicações do TEA no País.

Nesse contexto, a inclusão escolar da criança com autismo no ensino


regular, além de garantir o cumprimento da lei, possibilita o encontro com
outras crianças, cada uma em sua singularidade, o que muitas vezes não
acontece em outros espaços pelos quais circula, que frequentemente priorizam
um atendimento individual.
Mesmo com a possibilidade de oferecer um ensino de qualidade aos
alunos com deficiência, em especial aqueles com TEA e garantir os direitos
fundamentais à inclusão destes, avalia-se que a situação é bastante incipiente.
Acredita-se, desse modo, que tal realidade ocorra, principalmente, por dois
fatores: os cursos de formação das professoras, que ainda pouco ou não
consideram as questões relativas à formação das professoras para ensinar
pessoas com deficiência e as escolas que ainda pouco se estruturaram para
atender a esta nova clientela, devido à recente inserção desses alunos no
contexto regular de ensino no Brasil.

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Assim, temos o papel de um agente mediador, na relação do aluno com
autismo com seus pares, e o valor terapêutico da escola. No contexto da
escola inclusiva, a autora ressalta a necessidade de o docente manejar a
função educativa e constitutiva do aluno com autismo.
Apesar de ser garantido por lei que a escola forneça todos os tipos de apoio
necessários para a inclusão e garantia de aprendizagem, o que se encontra na
realidade são duas realidades diferentes nas escolas particulares e nas
públicas, onde nas primeiras, temos um mediador contrato do pela escola, que
nem sempre tem a formação necessária e fica muitas vezes responsável por
mais de um aluno.
Na perspectiva da educação inclusiva, o mediador tem o papel de
auxiliar o aluno em todas as suas necessidades, proporcionando atividades
que favoreçam a intercessão professor-aluno e aluno- pares. Além disso, ele
também deve orientar o professor com estratégias que melhor auxiliem no
desenvolvimento do aluno
Em síntese, mediante análise do conteúdo teórico, pode-se dizer que
para que o processo de inclusão escolar de alunos com autismo seja bem-
sucedido é preciso atender a três condições básicas. São elas:

3) Desenvolver
estratégias adequadas
2) Definir a forma de de atuação pedagógica
atendimento em sala de aula,
1) Conhecer e estudar
educacional a ser respondendo às
as características
ofertado, necessidades
comuns às pessoas
concomitantemente educacionais especiais
com autismo;
com a turma comum23 de alunos com
e autismo, as quais
devem ser avaliadas
sistematicamente.

Desta forma, vê-se que apesar de toda a evolução em relação a


legislação, ainda há muito passos a caminhar por essa estrada. Mas, é

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importante que a combinação entre reflexão, flexibilidade e criatividade sejam
as premissas para uma inclusão de sucesso, na qual todos são envolvidos em
todas as etapas do processo.

Considerações Finais
Pensar na inclusão escolar é fazer uma viagem ao passado e revisitar
importantes marcos históricos e uma evolução de paradigmas. As pessoas com
deficiência passaram por mementos que teve início na exclusão e hoje tem na
inclusão uma nova forma de serem vistos, reconhecidos e respeitados.
Ao se falar na inclusão das pessoas com TEA essas mudanças ainda
levaram um tempo maior ainda, mas hoje, já são enquadradas na legislação e
podem contar com o apoio de que precisam. Apesar disso, o caminho a se
percorrer ainda e longo, na medida em que não basta só a garantia de entrada,
muito ainda falta para a garantia a aprendizagem.
Muitos desses aspectos passam por uma reorganização da escola, um
pensamento mais global, cooperativo onde todos as formas de aprendizagem
sejam incorporadas nos planejamentos. Ou seja, uma escola onde o ensino
seja mais participativo, onde os alunos sejam mais ouvidos e façam parte do
processo de construção, execução e avaliação dos conteúdos.
A educação, para ser inclusiva, deve se basear no reconhecimento das
diferenças, na busca de valores e práticas comuns, na convivência com a
diversidade. Isso sim seria uma escola inclusiva, uma escola que cria
ferramentas que ajudem a todos e não excluam o aluno dentro da própria sala
de aula.

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