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Curso de Capacitação: AUTISMO

“Um compromisso da Família, da Escola e da Sociedade”.

Professor e Secretário Acadêmico: Igor Sousa do Ó


Formação: Psicólogo; Neuropsicólogo; Neurocientista
Psicopedagogo; Psicomotricista; Especialista em ABA;
Especialista em Educação Especial e Inclusiva.

1. História do Autismo

Autismo, do grego autós, significa “de si mesmo”. Esse termo foi empregado


pela primeira vez pelo psiquiatra suíço Eugene Bleuler em 1911. Bleuler tentou
descrevê-lo como a “fuga da realidade e o retraimento interior dos pacientes acometidos
de esquizofrenia”.

Léo Kanner, psiquiatra austríaco naturalizado norte-americano, foi também


pioneiro ao observar crianças internadas com comportamentos diferentes de tantos
outros relatados na literatura psiquiátrica existente à época e o primeiro a publicar
trabalho sobre o assunto. Relatou a “incapacidade de se relacionarem de maneira normal
com pessoas e situações, desde o princípio de suas vidas”. “Tais crianças estavam
sempre distanciadas das outras e pareciam manter uma relação não funcional com os
objetos, inclusive brinquedos”. Dentre os comportamentos observados, Kanner criou
três grandes categorias: inabilidade no relacionamento interpessoal; atraso na aquisição
da fala; e dificuldades motoras.

Foi somente 35 anos depois, em 1943, que o autismo foi desassociado da


esquizofrenia e passou a ser tratado como uma síndrome comportamental. Isso
aconteceu após a publicação da famosa obra “Distúrbios Autísticos do Contato Afetivo”
de Kanner. A partir desse momento, vários estudos começaram a ser feitos para se
conhecer melhor o que estavam chamando de autismo, como a primeira edição do
Manual Diagnóstico e Estatístico de Doenças Mentais DSM-1 em 1952, documento
referência para estabelecer padrões. 

Ao mesmo tempo que os estudos aumentam, diversos mitos são criados nesse
período, como o da mãe geladeira — que afirma que a falta de amor e carinho maternal
é a causa do transtorno — e que algum tipo de vacina causa autismo em crianças,
mesmo não existindo nenhum tipo de comprovação científica sobre isso.

Apesar de hoje em dia o conhecermos como Transtorno do Espectro do


Autismo (TEA), essa nomenclatura é razoavelmente recente, já que foi apenas em 2013
que o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM), da Associação
Americana de Psiquiatria, publicou sua 5ª e mais recente edição, definindo tal conceito. 
A partir daí, o autismo ganha uma classificação própria dentro dos Transtornos do
Espectro Autista e não integra mais os Transtornos Globais do Desenvolvimento
(TGD). Isso significa que distúrbios que antes eram classificados como Autismo Infantil
Precoce, Autismo de Alto Funcionamento, Autismo Atípico e Síndrome de Asperger,
estão agora dentro do TEA e são diagnosticados de acordo com diferentes níveis de
necessidade de suporte de cada indivíduo.

2. O que é Transtorno do Espectro Autista?

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um transtorno do


neurodesenvolvimento. Suas principais características são: dificuldades de comunicação
e interação social, comportamentos e/ou interesses repetitivos, ou restritos.

O próprio nome “espectro” diz do quanto a gravidade dos sintomas é variável.


Ou seja, há casos de autismo graves — crianças que nem chegam a falar — e casos de
pessoas geniais, que aprofundam conhecimento em um assunto específico, mas numa
profundidade absurda.
Nesse sentido, podemos dizer que o autismo é um distúrbio muito interessante,
por ser tão diverso. No senso comum, vemos que muitas pessoas pensam que a criança
com autismo é aquela que fica na dela, que não se comunica com os outros. No entanto,
essa é uma visão que demonstra pouco conhecimento científico e não considera as
variedades de sintomas presentes nesse espectro.

3. Qual a variação da gravidade do Transtorno do Espectro Autista?

Como dissemos acima, o termo “espectro” foi usado para englobar uma série de
transtornos do neurodesenvolvimento. A Síndrome de Asperger, por exemplo, era vista
como um transtorno diferente do autismo, mas hoje entra na denominação do transtorno
do Espectro Autista.

Podemos ver essa variação observando que algumas crianças com autismo nunca
aprendem a falar — nos casos mais extremos. Em contrapartida, na outra ponta do
espectro, encontramos pessoas que chamamos gênios, que se dedicam a aprofundar seu
conhecimento em um assunto específico.

Essas pessoas com TEA podem ser capazes de fazer uma conta de cabeça mais
depressa do que um computador, ou saberem tudo a respeito de um assunto particular.
Em geral, são muito ligados na matemática, porque gostam de situações em que a
resposta é única e, na matemática, só existe uma resposta para um problema.

Isso explica um pouco porque as pessoas com TEA têm uma grande dificuldade
no relacionamento social. A interação social é algo extremamente complexo que exige
habilidades sofisticadas para estabelecer as relações. A dificuldade do relacionamento
social é também marca registrada do autismo.

A fala também é um ato social, ninguém aprende a falar sozinho. Por isso,
encontramos algumas crianças com autismo que nem aprendem a falar. Mesmo aqueles
que desenvolvem a fala, demonstram dificuldade em situações sociais, na interação com
as pessoas.
O TEA, portanto, é um espectro que engloba desde aquela criança que não sabe
falar e que nunca vai aprender a ler até aquelas que são altamente capacitadas para
executar essas habilidades.

4. Como é feito o diagnóstico do Autismo?

Como os sintomas do autismo se manifestam nos primeiros anos de vida, o


diagnóstico pode ser feito precocemente. Não existe cura para o transtorno, mas
intervenções feitas por profissionais qualificados produz ganhos significativos no
funcionamento cognitivo e adaptativo da criança.

Dessa forma, ao perceber sintomas logo nos primeiros anos de vida —


anormalidades no controle motor, atraso no desenvolvimento motor, pouca resposta e
estímulos sociais, falta de contato visual — procure um médico especialista.

O diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista segue critérios definidos


internacionalmente, uma avaliação complexa e o uso de escalas. Uma equipe
multidisciplinar é fundamental para garantir o atendimento adequado às crianças com
autismo, para que possam se desenvolver respeitando o seu ritmo e suas necessidades.

5. Autismo Sintomas e Critérios Diagnósticos do DSM-5 para o Transtorno do


Espectro Autista (TEA).

A – Inabilidade persistente na comunicação social e na interação social nos mais


variados contextos, não-justificados por atraso geral no desenvolvimento, e que se
manifesta por 3 características a seguir:

1. Déficits na reciprocidade sócio-emocional;


2. Déficits nos comportamentos não-verbais de comunicação usuais para a interação
social;
3. Déficits nos processos de desenvolver e manter relacionamentos.

B – Padrões restritos, repetitivos de comportamento, de interesses ou atividades


manifestado por, pelo menos, 2 dos seguintes itens:
1. Fala, movimentos motores ou uso de objetos de forma repetitiva ou estereotipada;
2. Adesão excessiva a rotinas, rituais verbais ou não-verbais, ou excessiva resistência
`a mudanças;
3. Interesses fixos e altamente restritos que são anormais em intensidade e foco;
4. Hiper- ou hipo-reatividade para percepção sensorial de estímulos do ambiente ou
interesse anormal e excessivo para estímulos senso-perceptivos. 

C – Tais sintomas devem estar presentes em fase precoce da infância (mas podem
aparecer aos poucos, em ordem ou sequência incompleta, progressivamente levando a
problemas nas demandas sociais ).

D – Sintomas, em conjunto, limitam ou impossibilitam o funcionamento no cotidiano. 

Deve-se ressaltar que no autismo sintomas são apresentados de de forma


heterogênea, ou seja, muito particular em cada criança e que varia intensamente quanto
ao grau de comprometimento, associação ou não com deficiência intelectual e com
presença ou não de fala. Estas variações e o momento do diagnósticos definem a
resposta aos tratamentos e se a evolução será favorável ou não.

O diagnóstico do Autismo (TEA) depende de fatores:

1) conhecer profundamente os Autistas sabendo seus sinais e sintomas;

2) observar o comportamento da criança em casa, com os pais, na escola, no parque,


enfim, em todos os ambientes que tenham crianças e adultos participando de
preferência;

3) verificar fotos, vídeos, gravações realizadas na escola e em aniversários;

4) solicitar relatórios das escolas, creches e estes responderem com detalhes e com
informações significativas (podendo até se utilizar de escalas de avaliação já citadas
para facilitar e padronizar esta tarefas pois `as vezes a escola nem sabe o que descrever
e ressaltar);
5) conversar muito com os pais a fim de explicar bem o diagnóstico e a importância de
tratá-lo.

6. Transtorno do Espectro Autista: Sinais de alerta em bebês.

Muitas crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) apresentam sinais de


alerta desde que são bebês, principalmente nas habilidades sociais e de linguagem. As
crianças com TEA podem aprender a sentar, engatinhar e andar de acordo com os
marcos de desenvolvimento, mas apresentarem dificuldade na comunicação não verbal,
como o contato visual, na linguagem e na interação social.

Embora seja possível reconhecer os sinais de alerta de autismo, é importante


lembrar que cada criança é única e não terá exatamente os mesmos sintomas que outra
criança com TEA. A forma como se manifestam e o nível de gravidade varia muito no
espectro. 

Vamos listar os principais sinais de alerta para detectar o autismo, para que os pais
possam entender quando é preciso buscar ajuda médica para um possível diagnóstico.
São eles:

 dificuldade em manter contato visual;


 não responder ao sorriso ou outras expressões faciais dos pais;
 não olhar para objetos para os quais os pais estão olhando ou apontando;
 não apontar para objetos ou situações para fazer os pais olharem para eles;
 menos probabilidade de trazer objetos de interesse pessoal para mostrar aos pais;
 dificuldade em perceber o que os outros estão pensando ou sentindo através das
expressões faciais;
 menos probabilidade de mostrar preocupação (empatia) pelos outros;
 dificuldade em fazer e manter amigos.

Em relação à comunicação:

 menos probabilidade de apontar coisas para indicar necessidades ou para


compartilhar com outras pessoas;
 não diz nenhuma palavra aos 15 meses ou frases aos 24 meses;
 repete exatamente o que os outros dizem sem entender o significado;
 pode não responder quando chamado pelo nome, mas responde a outros sons
(como a buzina de um carro ou o miado de um gato);
 pode referir-se a si mesmo como “você” e aos outros como “eu” e misturar
pronomes;
 pode mostrar pouco interesse em se comunicar;
 menos probabilidade de iniciar ou continuar uma conversa;
 menos propenso a usar brinquedos ou outros objetos para representar pessoas ou
a vida real em brincadeiras de faz de conta;
 pode ter uma boa memória mecânica, especialmente para números, letras,
músicas, jingles de TV ou um tópico específico;
 pode perder a linguagem ou outros marcos sociais, entre as idades de 15 e 24
meses.

Em relação ao comportamento:

 balança, gira, anda na ponta dos pés por um longo tempo ou agita as mãos
(chamado de “comportamento estereotipado” ou estereotipia);
 gosta de rotinas, ordem e rituais; tem dificuldade com a mudança ou transição de
uma atividade para outra;
 pode ser obcecado por algumas atividades incomuns, fazendo-as repetidamente
durante o dia;
 brinca com partes de brinquedos em vez do brinquedo inteiro (por exemplo,
girando as rodas de um caminhão de brinquedo);
 pode não chorar se estiver com dor ou parecer ter algum medo;
 pode ser muito sensível ou nada sensível a cheiros, sons, luzes, texturas e toque;
 pode ter uso incomum de visão ou olhar – olha objetos de ângulos incomuns

Sinais de alerta de autismo por idade

12 meses — pode não se virar para olhar, mesmo depois que seu nome é repetido várias
vezes, mas responderá a outros sons.
18 meses — pode não fazer nenhuma tentativa para compensar o atraso na fala ou
limitar a fala para repetir o que ouviu na TV ou o que acabou de ouvir.

24 meses — pode levar uma garrafa para sua mãe abrir, mas não olhar para o rosto dela
quando o fazem ou compartilham o prazer de brincar juntos.

Embora não haja cura para o TEA, a detecção e o tratamento precoce podem
melhorar a vida das crianças e de suas famílias. Não há nenhum exame médico para
diagnosticar o autismo. Por isso, os especialistas avaliam o desenvolvimento dos
comportamentos e das habilidades sociais da criança.

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