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CENTRO UNIVERSITÁRIO DO PLANALTO DE ARAXÁ

Rosana de Sousa Maia Cunha

TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA, CAUSAS, TRATAMENTOS


E ACOMPANHAMENTOS

Professora Fernanda Morais Leal

Araxá- 2021
APRESENTAÇÃO

O trabalho a seguir foi proposto pela professora Fernanda Morais Leal como
trabalho da disciplina Jogos e Oficina Psicopedagógica- Prática.

I - A ORIGEM DO TERMO

O termo Autismo foi usado pela primeira vez pelo psiquiatra Eugen Bleuler em
1908. Autismo vem da palavra grega “autós”, que quer dizer auto. Bleuler usou o
termo para designar um paciente esquizofrênico , retirado em seu próprio mundo,
numa auto admiração mórbida.

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Os pioneiros na pesquisa no autismo eram Leon Kanner e Hans Asperger. Na
década de 40 , os dois pesquisaram separadamente sobre esta condição. .
Asperger descreveu crianças muito capazes quando Kanner descreveu as crianças
que eram severamente afetadas. Suas opiniões permaneceram úteis para médicos
para as próximas três décadas.

Desde que o autismo foi identificado pelo psiquiatra austríaco Leo Kanner, em 1943,
pesquisadores tentam entender os fatores que levam a essas desordens complexas
do desenvolvimento cerebral , que gera isolamento social, dificuldade de
comunicação social e comportamento repetitivo em diversos graus de intensidade.

Kanner culpou as mães e cunhou a expressão "mães-geladeiras" àquelas mulheres


que, supostamente, se mantinham distantes de seus bebês recém-nascidos. A falta
desse vínculo afetivo, segundo ele, levaria ao autismo.

A tese foi completamente descartada no meio acadêmico ao longo dos anos e o


próprio médico mais tarde tentou se retratar no livro Em Defesa das Mães.

O Autismo Infantil foi definido por Kanner, em 1943, sendo inicialmente denominado
Distúrbio Autístico do Contato Afetivo, como uma condição com características
comportamentais bastante específicas. Sendo doença psiquiátrica, grave da
infância, o autista apresenta perturbações das relações afetivas com o meio, solidão
autística extrema, inabilidade no uso da linguagem para comunicação, boas
potencialidades cognitivas, aspecto físico, aparentemente, normal, rituais do tipo
obsessivo com tendências a mesmice e movimentos estereotipados. Tem início
precoce e a maior incidência é em indivíduos do sexo masculino.

Em 1944, Asperger propôs em seu estudo a definição de um distúrbio que ele


denominou Psicopatia Autística, manifestada por transtorno severo na interação
social, inteligência considerável, desajeitamento motor e incidência apenas no sexo
masculino.

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Embora haja incertezas e dúvidas em relação à origem do autismo,é consensual
que resulta de uma perturbação no desenvolvimento do sistema nervoso, de início
anterior ao nascimento, que afeta o funcionamento cerebral em diferentes áreas,
principalmente a capacidade de interação social e de comunicação.

O TEA é um transtorno complexo e ainda distante de uma definição. Mesmo com o


crescimento das pesquisas sobre o tema, ainda não existe uma “cura’’, portanto,
essa é uma condição que irá acompanhar a pessoa com TEA durante todo o seu
ciclo de vida.

O tratamento precoce logo após o diagnóstico de TEA, é muito importante já que


quanto mais cedo se iniciam as estimulações, melhores serão as chances de se
obter resultados positivos no desenvolvimento de pessoas com TEA.

Já o atraso em se fechar um diagnóstico pode causar danos importantes para o


desenvolvimento de pessoas com TEA.

II- CAUSAS

Nas décadas de 40 e 50, acreditava-se que a causa do autismo tinha origem nos
problemas de interação da criança com os pais e com a família, culpabilizando em
especial as mães.

A partir da década de 60, com o avanço da investigação científica, descobriu-se um


fator genético multifatorial e de diversas causas orgânicas.

Apesar das pesquisas ainda não terem apontado uma causa definitiva do TEA,
entende-se que há uma forte relação com a genética. As pesquisas apontam que
81% dos autistas herdam geneticamente as características autísticas do pai ou da
mãe, ou dos dois juntos. Apontaram também que 18% dos autistas apresentam
componente genético não herdado, aumentando significativamente a incidência em
pais de idade avançada .O restante, em torno de 1 a 3%, ficou atribuído à causa
ambiental, mas não do ambiente familiar, relação mãe-filho, mas o ambiente
intrauterino. Fatores pré-natais, provavelmente nos três primeiros meses de

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gestação, relacionado ao consumo de medicamentos como o ácido valpróico ou
remédios específicos para infecções.

Este conjunto de fatores podem influenciar nas perturbações do espectro autista.

Como o TEA é um transtorno que não possui cura, a busca por um tratamento
específico traz consigo a importância de diminuir os déficits apresentados, pois, os
diferentes tratamentos podem gerar mais resultados para uns e menos para outros,
em função de cada autista apresentar um nível de desenvolvimento diferente do
outro. Contudo, no que tange ao tratamento, a psicoterapia comportamental
continua sendo a mais preconizada junto com o processo de condicionamento que
facilita os cuidados com o autista, tornando a pessoa com TEA mais bem
estruturada e emocionalmente organizada (SANTOS, 2008).

III - PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é a nomenclatura dada pelo Manual


Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-V (APA, 2014) para o
distúrbio do neurodesenvolvimento, presente desde a infância, caracterizado
principalmente por agravos na linguagem, no comportamento e nas relações
sociais.

Apesar de existirem características em comum, o Espectro não pode ser entendido


como uma manifestação sintomática homogênea, ou seja, é complexo e precisa ser
compreendido dentro de uma visão mais ampla sobre seus graus de ocorrência,
suas causas e, sobretudo, pela singularidade do indivíduo.

Os principais déficits do Transtorno estão relacionados às áreas de comunicação,


interação social e comportamental.

Existem diferentes níveis ou graus para o autismo, classificados em: leve,


moderado e severo e na denominação mais recente, níveis 1, 2 e 3.

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O nível 1, denominado autismo leve,é possível perceber aspectos comuns do
autismo, como dificuldade de se relacionar socialmente. Embora não haja um
comprometimento cognitivo severo, é necessário acompanhamento de equipe
multidisciplinar

O nível 2, considerado um transtorno moderado, é quando há maior


comprometimento no indivíduo e a presença de atrasos mais expressivos que o
grau leve, sendo necessário um maior acompanhamento e apoio substancial.

Por fim, o nível 3, o grau mais severo do autismo, é onde há índices graves de
déficits cognitivos, de inteligência e/ou de motricidades, entre outros
comprometimentos, sendo importante um apoio muito substancial.

O TEA abrange uma grande variedade de sintomas,divididos em três domínios


desses sintomas e que estariam presentes indissociavelmente no Espectro, são
eles:

● Déficit na Comunicação/Linguagem – atraso ou ausência na fala;


comprometimentos na linguagem verbal e/ou não verbal; dificuldades em
compreender comandos; anormalidades no timbre, entonação, intensidade
ou ritmo da fala.
● Déficit nas Interações Sociais – talvez o mais significativo do transtorno,
abrange as dificuldades e desinteresse pela socialização; falta de
reciprocidade social; pouco interesse ou ausência da busca de
relacionamento com seus pares e uso de comportamento não verbais, como
pouco contato visual direto, expressões faciais, gestos corporais e posturas.
● Déficit Comportamental – refere-se aos padrões de comportamento restritos,
estereotipados e/ou repetitivos de interesses. Se encontram nesse domínio
os movimentos conhecidos como estereotipias, envolvendo partes
específicas do corpo (as mãos, a postura, outros) ou o corpo inteiro. Também
está presente a necessidade de se manter uma rotina, a grande resistência
frente às mudanças e o hiperfoco.

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Além desses três grupos principais de sintomas, outros ainda podem fazer parte do
TEA, como deficiência mental de diferentes níveis, déficit sensorial
(hipersensibilidade ou hipossensibilidade) e comprometimento da motricidade.

A Síndrome de Asperger e a Síndrome de Savant , que também fazem parte do


TEA , possuem características peculiares como a presença de uma inteligência
acima da média, geralmente concentrada em alguma área do conhecimento.

IV-TRATAMENTO

Não existe cura para o Autismo, contudo, através do tratamento multiprofissional


pode-se promover um alívio dos sintomas, uma maior autonomia do sujeito e,
dependendo do caso, a promoção de uma vida normal.

Para Lucelmo Lacerda, só é tratamento de fato, aquilo que possui uma evidência
científica, que é comprovado o seu funcionamento através de pesquisas.

Há três tipos de pesquisa: ensaio clínico randomizado, revisão sistemática e


metanálise.

Segundo as pesquisas científicas, só há três tipos de práticas interventivas para o


tratamento de autismo:

● Intervenção baseada em ABA- aplicada aos indivíduos com sintomas do


desenvolvimento do próprio autismo;
● Terapia cognitiva comportamental, aplicada a crianças com autismo leve
entre 6 a 14 anos, com depressão e ansiedade;
● Integração Sensorial , aplicada a indivíduos com transtorno de integração
sensorial.

O tratamento terapêutico, independente da intervenção prática necessária e do


profissional ou dos profissionais envolvidos requer um planejamento cuidadoso,
envolvendo toda equipe multidisciplinar, se for o caso, a família e a escola. Juntos
traçam metas a curto, médio e longo prazo, assim como objetivos específicos para a

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criança autista. Há que se fazer uma revisão constante do processo terapêutico a
fim de verificar os avanços, os retrocessos e as intervenções que foram efetivas e
as que precisam ser modificadas ou potencializadas.

Como dito anteriormente, o tratamento precoce é , com certeza, o caminho para se


obter melhores resultados.

Há tratamento clínico com o uso de medicamentos , não para o autismo, mas para
sintomas secundários do autismo como agressividade e irritabilidade. São apenas
dois os remédios comprovadamente eficazes: aripiprazol e risperidona.

A partir de um diagnóstico completo e amplo, pode ter indicativo, conforme as


comorbidades psiquiátricas e clínicas, a opção para o tratamento com psicóticos
(haloperidol, levomepromazina), antiepilépticos, psico estimulantes, antidepressivos
e outros. Existe apenas um suplemento, chamado melatonina, que é um hormônio
natural para auxiliar no sono do autista.

A junção do tratamento clínico e o terapêutico, abordagens educacionais e


pedagógicas, de forma compartilhada e dialógica, muito contribuirão para amenizar
os sintomas e aumentar a chance de resultados positivos.

V- ACOMPANHAMENTOS

Os acompanhamentos a uma criança ou indivíduo com autismo devem ser feitos por
uma equipe multidisciplinar, a fim de abordar as condições que o transtorno causa.
A equipe multidisciplinar poderá ajudar a criança a melhorar a interação social, a
comunicação funcional, amenizar sintomas, orientar as famílias e trabalhar a
modulação do comportamento.

A necessidade de acompanhamento, por um só profissional ou uma equipe


multidisciplinar, vai depender do nível de autismo. Conforme a complexidade do
caso, mais terapeutas, de diferentes áreas, irão compor a equipe multidisciplinar
daquela determinada criança. Quanto mais engajados, mais eficiência alcançará os
resultados. Podem até estar em lugares físicos separados, mas o diálogo, a troca de

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informações importantes e de experiências se tornam imprescindíveis para, juntos,
analisarem o progresso da criança e dos trabalhos realizados.

Podemos destacar alguns profissionais considerados importantes no


acompanhamento dos autistas, porém pode haver a necessidade de inserir o
trabalho de outros, como educador físico, fisioterapeuta, neurologista, fisioterapeuta,
entre outros.

1. Psicólogo

A psicoterapia comportamental continua sendo a que mais evidências apresenta


junto com o processo de condicionamento que facilita os cuidados com o autista,
tornando-a bem estruturada e emocionalmente organizada.

Através da psicoterapia, é possível trabalhar no auxílio à interpretação e linguagem


corporal, comunicação não verbal, emoções e habilidades sociais, psicodinâmica,
treino de habilidades parentais, acolhimento, orientações à família

Dessa forma, a Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) contribui para o


ensinamento das pessoas com TEA em relação a diferentes as quatro formas
básicas para o tratamento: estimulação do desenvolvimento comunicativo e social,
aprimoramento na capacidade de solucionar problemas e do aprendizado,
diminuição dos comportamentos que afetam o alcance às novas experiências de
suas rotinas e auxílio à família.

2. Terapeuta Ocupacional

A terapia ocupacional também se torna importante para pessoas com TEA. Ela
desempenha um papel fundamental como tratamento complementar e de forma
integrada ao trabalho de psiquiatras e psicólogos.

O terapeuta ocupacional trabalha com atividades referentes a texturas, cheiros,


gostos e busca integrar esses sentidos , ajudando-os a compreenderem que esses
sinais são naturais, trabalham também a autonomia do indivíduo, a sua capacidade
de organização e adaptação, a sua socialização.

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Através das práticas do ABA ou TEACCH é possível trabalhar com atividades que
vão contribuir para uma melhor qualidade na vida diária.

O terapeuta ocupacional realiza um trabalho de orientação para as famílias,


cuidadores e escola, estabelecendo uma parceria produtiva que irá contribuir
substancialmente para a evolução do paciente.

3. Fonoaudiólogo

Uma das principais características das crianças com TEA é estabelecer


comunicação. Por isso, a fonoaudiologia e os fonoaudiólogos se tornam grandes
aliados, podendo auxiliar na superação das dificuldades de expressão e padrões de
repetição da fala. Mesmo antes do desenvolvimento da fala, é possível notar que as
crianças com TEA podem não responder à comunicação não-verbal.

O trabalho terapêutico envolve, primeiramente, reconhecimento das inabilidades


apresentadas pela criança começando dos aspectos não verbais, precursores da
comunicação verbal – contato ocular e atenção compartilhada. Envolve também,
analisar o convívio da criança e orientar os pais a lidarem com a criança,
melhorando a interação de todos da família com a criança com TEA. O uso de
suportes visuais pode ser uma importante intervenção nas questões ligadas à
comunicação.

O tratamento deve ser feito de forma gradual e natural, para que seja efetivo e
contribua para o aprendizado, principalmente da comunicação funcional.

Além das dificuldades em convívio pessoal, as questões que crianças com TEA
apresentam com linguagem podem afetar o desempenho escolar. Como o fator
auditivo é parte chave do processo de aprendizado em sala de aula, as dificuldades
de manter a atenção prejudicam a captação de informações. Além disso, para
socialização, é importante que a criança consiga lidar melhor com a interlocução.

Neste aspecto, o diálogo com a escola é de extrema necessidade para evolução do


tratamento.

4. Psicopedagogo

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O acompanhamento terapêutico por um psicopedagogo é de fundamental
importância, uma vez que as habilidades acadêmicas ficam em defasagem,
atrapalhando o desenvolvimento da criança na escola. O psicopedagogo irá intervir
a partir de uma avaliação a fim de investigar e detectar dificuldades e habilidades
da criança com TEA.

Com esta avaliação é possível realizar a intervenção mais eficiente,que realmente


ajude a criança a superar dificuldades e aumentar o repertório do individuo.

A existência de barreiras comportamentais, como a dificuldade de comunicação,


ecolalia, estereotipia e comportamentos de fuga/esquiva, levam o psicopedagogo a
buscar especialização ou obter maior conhecimento em Análise Comportamento
Aplicada . Conforme a demanda, é aconselhável que se faça supervisões com um
especialista na área.

VI- CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através deste trabalho sobre Transtorno do Espectro Autista, causas, tratamentoS


e acompanhamentos, podemos perceber a suma relevância que tem o
conhecimento sobre o TEA. Foram abordadas variações sintomáticas, seus graus
de ocorrências , a singularidade da pessoa com autismo, as possíveis causas ,
tratamentos indicados baseado em evidências científicas e os acompanhamentos
necessários.

Podemos concluir através da pesquisa quão importante é o diagnóstico precoce. O


autista necessita de acolhimento desde sua primeira infância, principalmente de sua
família, no qual recebe seus primeiros estímulos. Precisa de uma família que o
aceite e esteja disposta a buscar ajuda.

A busca de um tratamento não é fácil, requer empenho e insistência,


principalmente para aqueles que não têm condições financeiras de pagar os
profissionais que estarão envolvidos no tratamento indicado à criança em questão.

O engajamento entre família e equipe multidisciplinar irá ajudar a criança com


autismo a ter um desenvolvimento cognitivo e social , melhorando a qualidade de

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vida . Evidenciamos também a importância da família, profissionais da saúde e
educadores caminharem juntos para a melhora significativa do autista.

O que todos precisamos saber é que sobre o autismo é que o TEA não é uma
doença, e sim uma condição. Seu tratamento e acompanhamento requer
profissionais capacitados, pois o progresso e a evolução dependem de intervenções
assertivas e raciocínios clínicos competentes.Todos envolvidos no tratamento de
autistas devem estar em constante estudo para se atualizarem das pesquisas e
científicas baseadas em evidências que apontam as últimas pesquisas sobre o
assunto..

VII- BIBLIOGRAFIA

O que é espectro do autismo – Mayra responde. Vídeo por: Mayara Gaiato.


YouTube. 10 mai. 2016. (9min32seg). Disponível em: . Acesso em: 13 de dezembro
de 2021.

SANTOS, Regina Kelly dos; VIEIRA, Antônia Maria Emelly Cabral da Silva.
Transtorno do espectro do autismo (TEA): do reconhecimento à inclusão no âmbito
educacional. Revista Includere, [s.l.], v. 3, n. 1, p. 219-232.

https://jadeautism.com/fonoaudiologia-e-autismo/ acesso em 14 de dezembro de


2021

https://www.grupoconduzir.com.br/intervencao-psicopedagogica-tea/ acesso em 12
de dezembro d /2021

https://www.youtube.com/watch?v=x2MgZDTjQEY acesso em 14 de dezembro em 2021.

AUTISMO: Transtorno do Espectro Autista – NeuroSaber. Vídeo por: NeuroSaber.


YouTube. 04 fev. 2015. (1h37min51seg). Disponível em: . Acesso em:13 dezembro
de 2021.

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