Você está na página 1de 17

COMUNICAÇÃO SOCIAL E CIENTÍFICA PARA DEMOCRATIZAÇÃO DA CIÊNCIA | UFSCAR LOGIN REGISTRAR

    

PESSOA COM DEFICIÊNCIA

Transtorno do Espectro Autista (TEA): o que


precisamos aprender?

PUBLICADO EM 9 DE ABRIL DE 2021 POR VERA REGINA LORENZ

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é considerado um “Problema de Saúde Pública


Mundial” pela OMS. No dia 2 de abril comemoramos o Dia Mundial da Conscientização do
Autismo, data criada pela Organização das Nações Unidas (ONU), em dezembro de 2007,
para alertar a sociedade, diminuir o preconceito e esclarecer dúvidas sobre o autismo.

O TEA se caracteriza por alteração no neurodesenvolvimento que dificulta a organização de


pensamentos/sentimentos/emoções, com reflexos no comportamento frente a diversas
situações da vida diária, gerando prejuízo nas interações sociais e na comunicação
(American Psychiatric Association, 2013).
Design por Ana Paula de Lima

A expressão “espectro” foi incorporada ao nome do transtorno autista, em função da


variedade de sintomas diferentes que os indivíduos podem apresentar. Nem todas as
pessoas que têm TEA terão exatamente as mesmas manifestações do transtorno.

Segundo as diretrizes do DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais da


Associação Americana de Psiquiatria), os critérios para o diagnóstico clínico do TEA foram
divididos em dois grandes grupos:

(1) déficits persistentes na comunicação e na interação social verbal e não verbal em


múltiplos contextos e

(2) padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades.

Entre os déficits se incluem abordagem social anormal, dificuldade para estabelecer uma
conversa coerente, compartilhamento reduzido de interesses, emoções ou afeto, bem como
dificuldade para iniciar ou responder a interações sociais.

Embora não saibamos exatamente como o comportamento humano se instala, sabemos


que ele é naturalmente aprendido. Pessoas aprendem e incorporam novos
comportamentos segundo uma capacidade teoricamente inata de imitação, seguida por
reforçamento.

Verifica-se que pessoas com autismo podem apresentar dificuldade no aprendizado natural
de determinadas habilidades e desenvolvem padrões atípicos de comportamento,
comprometendo sua capacidade de manter relacionamentos interpessoais consistentes.

Pessoas com TEA podem apresentar déficit na compreensão e aprendizado de gestos e


expressões faciais (face de alegria, tristeza, raiva ou medo), necessitando de ensinamento
formal para essas percepções e habilidades.

Pode ocorrer fragmentação do contato visual, ou seja, incapacidade de mantê-lo por um


período prologado de tempo e, quando solicitados a fazê-lo, relatam certo desconforto. O
“olhar nos olhos” é uma ação mediadora das relações sociais interpessoais que pode ser
percebido nos seres humanos desde muito jovens, como nos bebes típicos, durante o
aleitamento materno.

Pessoas com TEA podem apresentar déficits para desenvolver, manter e compreender
relacionamentos, o que inclui dificuldade em ajustar o comportamento para se adequar a
contextos sociais diversos, compartilhar brincadeiras imaginativas, fazer amigos e interesse
por pares. Isto pode estar relacionado a capacidade prejudicada de selecionar estímulos
relevantes para compreensão do todo.
Design por Ana Paula de Lima

Movimentos repetitivos, fala estereotipada, estereotipias motoras simples (alinhar


brinquedos ou girar objetos, ecolalia, frases idiossincráticas) podem estar presentes nas
pessoas com TEA. As estereotipias são definidas como movimentos repetitivos e rítmicos,
geralmente emitidos para gerar alguma sensação de bem-estar ou equilíbrio (organização)
em seu comportamento.

As estereotipias mais frequentemente observadas são balanços das mãos ao lado do corpo
ou da cabeça, bater palmas e movimentos cíclicos do tronco para frente e para trás. Podem
ocorrer estereotipias dinâmicas, envolvendo movimentos mais amplos – como andar ou
correr de forma repetitiva. Também podem ocorrer ecolalias, que correspondem a um uso
não funcional da fala, na qual o indivíduo repete a fala de terceiros.

Pessoas com autismo podem apresentar insistência nas mesmas coisas, adesão inflexível a
rotinas ou padrões ritualizados de comportamento verbal ou não verbal que, ao serem
modificados, podem gerar sofrimento extremo em relação a pequenas mudanças.
Dificuldades com transições, padrões rígidos de pensamento, rituais de saudação,
necessidade de fazer o mesmo caminho ou ingerir os mesmos alimentos diariamente
também podem estar presentes entre pessoas com TEA.

A inflexibilidade comportamental e o apego rígido às rotinas podem trazer prejuízos


significativos e socialmente relevantes a estas pessoas, reduzindo suas oportunidades de
convívio social, estudo e trabalho.

Pessoas no TEA podem apresentar seletividade alimentar, que também pode ser explicado
por uma rigidez no comportamento natural de experimentar novos alimentos. Pessoas com
seletividade alimentar geralmente apresentam tanto a inflexibilidade quanto as alterações
de percepção sensorial.

Pessoas com autismo podem manifestar interesses fixos e altamente restritos que são
diferentes em intensidade ou foco (por exemplo, forte apego a objetos incomuns ou
preocupação com eles, bem como interesses excessivamente circunscritos ou
perseverantes). Trata-se do hiperfoco, que é uma característica muito frequente em pessoas
com autismo. Muitas vezes ele traz prejuízos significativos ao aprendizado global, já que o
indivíduo passa a negligenciar outros conteúdos em detrimento do aprendizado de um
único tema.

Uma grande parcela das pessoas com autismo apresenta alterações nas percepções
sensoriais visuais, auditivas, táteis, gustativas, olfativas, cinestésicas e vestibulares. Estas
alterações podem explicar parte dos comportamentos de seletividade alimentar extrema,
bem como as alterações comportamentais frente a estímulos auditivos e visuais que,
habitualmente, não trariam desconforto a pessoas de desenvolvimento típico.

Pode ocorrer hiper ou hiporreatividade a estímulos sensoriais ou interesse incomum por


aspectos sensoriais do ambiente (como indiferença aparente à dor/temperatura, reação
contrária a sons ou texturas específicas, cheirar ou tocar objetos de forma excessiva,
fascinação visual por luzes ou movimentos).

Design por Ana Paula de Lima


Para classificar a gravidade do TEA, a Associação Americana de Psiquiatria (DSM-5) utiliza
como critério o nível de dependência de apoio indivíduos com TEA.

Nível 1 (leve) – Pessoas no TEA com necessidade de pouco apoio, cujos déficits na
comunicação social provocam pouca repercussão em suas relações interpessoais. Estes
indivíduos, habitualmente, têm dificuldade para iniciar interações sociais ou mantê-las com
boa qualidade. As dificuldades provocadas pela inflexibilidade cognitiva podem ser
evidentes nestas pessoas, além de problemas relacionados à organização e ao
planejamento.

Nível 2 (moderado) – Pessoas no TEA com necessidade de apoio substancial, por


apresentarem déficit severos nas suas habilidades de comunicação social (verbal e não
verbal).

Nível 3 (severo) – Pessoas no TEA com necessidade de apoio muito substancial.


Design por Ana Paula de Lima

Embora não exista cura para autismo, existe tratamento não farmacológico e farmacológico.
O tratamento não farmacológico é feito por meio de intervenções terapêuticas
comportamentais, realizada por psicólogos, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos,
médicos, enfermeiros, professores, profissionais de educação física, familiares entre outros.
Em algumas situações, medicações específicas serão prescritas pelo médico.

As intervenções são realizadas para o indivíduo com TEA, junto à família, no ambiente
escolar e de trabalho. Estas intervenções visam identificar e desfazer barreiras, treinar
habilidades do indivíduo com TEA, treinar as outras pessoas que convivem com o indivíduo
com TEA, de modo a tornar possível e harmônica a convivência, troca e aprendizados entre
todos.

Atualmente, o diagnóstico precoce de TEA em crianças e as intervenções precoces, reduzem


em muito o sofrimento destas e de suas famílias. Em relação aos adolescentes, adultos e
idosos, mais recentemente vem crescendo o número de pessoas que buscam avaliação e
são diagnosticadas com TEA.

Observa-se que as características de TEA se modificam com o passar da idade. Adultos com
TEA, ao enfrentar diversos desafios, com bastante sofrimento, tem suas características
camufladas, reduzidas ou modificadas, por desenvolverem estratégias de sobrevivência e
enfrentamento de demandas, ainda que de modo lento e com muito esforço pessoal.

É possível que adolescentes, adultos e idosos com TEA sejam algumas daquelas pessoas
consideradas esquisitas, diferentes, como o problema da família, fora do eixo, fora da curva,
alcóolatras, dependentes químicos, que não param no emprego e que não souberam como
cultivar amigos e família.

A avaliação de pessoas com características de TEA geralmente é realizada por profissionais


especializados e sensibilizados para o espectro – médico psiquiatra ou neurologista,
psicólogo de base comportamental e terapeuta ocupacional, entre outros especialistas. O
TEA pode ter múltiplas causas, desde causas ambientais até genéticas. Sempre que possível,
as causas associadas ao TEA devem ser identificadas para a orientação familiar.

No que se refere a intervenção, esta deve ser realizada por uma equipe interprofissional, a
fim de identificar habilidades sociais que não foram naturalmente adquiridas para que a
pessoa com autismo possa ser “aceita”, desempenhar seu papel na sociedade e seguir
aprendendo e ensinando.

A intervenção deve ser realizada por vários profissionais das áreas da saúde e da educação
para que objetivos específicos e personalizados, relacionados ao seu desenvolvimento
sejam alcançados.

No que se refere à criança com TEA, esta se desenvolve, aprende e se socializa. No ambiente
escolar, o aluno com autismo, recebe o Atendimento Educacional Especializado (AEE),
através da Sala de Recursos Multifuncionais (SRM) da escola e apoio do professor
especializado que trabalha juntamente com o professor da sala regular, no caráter do
Ensino Colaborativo. É importante respeitar a singularidade e a individualidade de cada um.

Pessoas com TEA precisam de acolhimento, avaliação, intervenção, treinamento em


habilidades específicas, desenvolvimento de autonomia e habilidades sociais, aceitação,
paciência e amor.
Design por Ana Paula de Lima

Para saber mais, acesse:

– Como funciona o cérebro da pessoa com autismo?


https://www.youtube.com/watch?v=t7i5LzSuCCY, acesso em 01/04/2021

– Como é feito o diagnóstico do autismo em adultos? | Live NeuroSaber

https://www.youtube.com/watch?v=ZuE2peVMa-Q, acesso em 01/04/2021

– O problema dos GRAUS do Autismo

https://www.youtube.com/watch?v=FNS71Dk63qI, acesso em 01/04 2021

– Violência não educa. Precisamos proteger nossas crianças.

https://www.youtube.com/watch?v=STIIdeujZV8, acesso em 01/04/2021

– Revista Autismo

https://www.revistaautismo.com.br/. acesso 01/04/2021

– A liberdade é azul, Renata Tibyriçá

https://aliberdadeehazul.com/, acesso em 01/04/2021

Referências consultadas

Manual diagnóstico e estatístico de transtorno 5 DSM-5 / [American Psychiatnc Association,


traduç .Maria Inês Corrêa Nascimento … et al.]; revisão técnica: Aristides Volpato Cordioli…
[et al.]. – . e .Porto Alegre: Artmed, 2014. xliv, 948 p. http://www.niip.com.br/wp-
content/uploads/2018/06/Manual-Diagnosico-e-Estatistico-de-Transtornos-Mentais-DSM-5-
1-pdf.pdf, acesso 01/04/2021.

Liberalesso, P.; Lacerda, L. Autismo: compreensão e práticas baseadas em evidências. 1. ed.


Curitiba, 2020. https://mid.curitiba.pr.gov.br/2021/00312283.pdf, acesso 01/04/2021.

Chang, J., Gilman, S., Chiang, A. et al. Genotype to phenotype relationships in autism
spectrum disorders. Nat Neurosci 18, 191–198 (2015).
https://doi.org/10.1038/nn.3907. https://www.nature.com/articles/nn.3907, acesso em 01/04
2021

Matheus Eugênio de Sousa Lima, Levi Coelho Maia Barros, Gislei Frota Aragão. Could autism
spectrum disorders be a risk factor for COVID-19? Hipóteses médicas 144 (10223),
Maio/2020. DOI: 10.1016 /
j.mehy.2020.109899. https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S030698772031071
dgcid=api_sd_search-api-endpoint#!, acesso 01/04/2021.

Autores – Vanessa da Costa Rezende e Vera Regina Lorenz

Revisão – Grupo de trabalho Cuidado sem limites

Crispim Antonio Campos

Débora Gusmão Melo

Jacqueline Denubila Costa

Júlia Andreza Gorla

Larissa Campagna Martini

Mariana de Almeida Prado Fagá

Vanessa da Costa Rezende

Vera Regina Lorenz

Crédito da imagem: Caleb Woods em Unsplash

Veja também:

Categoria: Pessoa com deficiência

Envie suas dúvidas sobre COVID-19 para nós!

Autor

Vera Regina Lorenz


Enfermeira e advogada, Mestre em Enfermagem e Doutora em Ciências da Saúde
pela Unicamp, Pós-doutorado pela USP. Temas de interesse: saúde coletiva, saúde do
trabalhador, ambiente e inclusão CV: http://lattes.cnpq.br/9930086444530551

View all posts 

    

Esse registro foi postado em Pessoa com Deficiência e marcado #covid-19,autismo,pandemia.

 Curso aberto e gratuito sobre Saúde


Nota Pública de Apoio ao Vereador Djalma
Coletiva e Periferias reúne movimentos
sociais, educadores populares e mais de 20 Nery

universidades

ONE THOUGHT ON “TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA


(TEA): O QUE PRECISAMOS APRENDER?”

Liliane da Silva Alves says:


Excelente material !

20 DE SETEMBRO DE 2021 EM 18:22 ACESSE PARA RESPONDER

Deixe um comentário
Você precisa fazer o login para publicar um comentário.

PESQUISE

pesquise aqui

CATEGORIAS

Selecionar categoria
MAIS RECENTES

13 PODINDÍ: Mais experiências do IX ENEI – episódio 2


abr Comentários desativados

13 PODINDÍ: Reflexões e experiências do IX Encontro Nacional dos Estudantes


abr Indígenas – episódio 1
Comentários desativados

04 Prostituição na pandemia
nov Comentários desativados

09 Quebrando estereótipos e rompendo barreiras


set Comentários desativados

ARQUIVO

abril 2023

novembro 2022

setembro 2022

agosto 2022

julho 2022

junho 2022

maio 2022

abril 2022

março 2022

janeiro 2022

dezembro 2021

novembro 2021

outubro 2021

setembro 2021

agosto 2021

julho 2021
junho 2021

maio 2021

abril 2021

março 2021

fevereiro 2021

janeiro 2021

dezembro 2020

novembro 2020

outubro 2020

setembro 2020

agosto 2020

julho 2020

junho 2020

maio 2020

abril 2020

março 2020
Copyright 2023 © InformaSUS-UFSCar | TERMOS DE USO | POLÍTICA EDITORIAL | ALERTA | CONTATO

Este obra está licenciado com uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-
CompartilhaIgual 4.0 Internacional

Você também pode gostar