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IESB - CENTRO UNIVERSITÁRIO

CAMPUS OESTE - CEILÂNDIA - DF


DISCIPLINA: INTERVENÇÃO EM CRISE
GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
PROFESSORA: HANNYA

A Intervenção em Crise em Contextos Profissionais

BRASÍLIA - DF
2022
CHRISTIAN V. SANTOS MATRÍCULA: 19111120111
MICHELE S. QUEIROZ MATRÍCULA: 18111120118
ROSEANE SILVA C. MELO MATRÍCULA: 18211120013

A Intervenção em Crise em Contextos Profissionais

Trabalho avaliativo da disciplina Intervenção em


Crise do curso de Psicologia, do Centro
Universitário IESB, apresentado à professora
Hannya Eliana Herrera Cardona.

BRASÍLIA - DF
2022
ASPECTOS TEÓRICOS
A crise se manifesta pela invasão de uma experiência de paralisação da continuidade do

processo de vida. De repente, nos sentimos confusos e sós, o futuro se nos apresenta vazio e o

presente congelado. Se a intensidade da perturbação da crise de crescimento denominada de

evolutiva ou a consequência de uma mudança imprevista ou traumática, aumentar, nós podemos

começar a nos perceber como “outro”, isto é, temos uma experiência de despersonalização. Isto

provoca uma descontinuidade na percepção de nossa vida com uma história coerente, organizada

como uma sucessão na qual cada uma das etapas é consequência da anterior. Aliás, todos têm

experiências da crise psicológica, pois fazem parte do caminho nas diversas etapas do chamado

viver; ou mais exatamente existir.

A crise é, sem dúvida, uma condição de reação frente a uma situação de perigo, capaz de

ameaçar a integridade da pessoa. O indivíduo pode apresentar sinais e sintomas clínicos em resposta

ao estado provocado pela crise, necessitando, por consequência, de alguma intervenção para a sua

resolução. O foco da intervenção em crise é a reorganização imediata do sujeito, não a resolução de

conflitos antigos e questões que exigem grande investimento pessoal. A intervenção psicossocial

em situações de crise, emergência ou catástrofe é atualmente considerada como fundamental na

normalização de reações de estresse agudo que podem surgir em resposta a determinados incidentes

críticos e para a prevenção dos relacionados com o trauma. O indivíduo pode apresentar sinais e

sintomas clínicos em resposta ao estado provocado pela crise, necessitando, por consequência, de

alguma intervenção para a sua resolução. Quando a resolução da crise se dá de forma adaptativa,

surgem três oportunidades: a de dominar a situação atual, a de elaborar conflitos passados e a de

aprender estratégias para o futuro (Parada, 2004).

O psicólogo ampliou seu trabalho e conquistou diversos espaços de atuação, como a escola,

a comunidade e o hospital, e suas intervenções podem ser terapêuticas sem necessariamente ser

psicoterápicas. Então, como trabalha um psicólogo diante do caos físico e psíquico em uma situação

de emergência? A emergência já parte do pressuposto de que algo saiu do previsto, da organização

conhecida, que algo está fora do normal e esperado. Ao invés de um local fixo, fechado, privativo,
com hora marcada, o trabalho muitas vezes é feito em local público, com pessoas passando e

falando (chorando ou gritando), barulhos, cheiros e dificuldades inerentes à situação presente.

Enquanto no consultório o psicólogo está em um lugar conhecido por ele, planejado e familiarizado,

em meio à emergência é inevitável a contaminação pelo que está ocorrendo ao redor, por toda a

tragédia e o caos decorrentes dela, o que o coloca em um campo de desconforto maior;

independentemente de quantos anos de experiência tenha em emergências, tudo parece sempre novo

e desafiador, inclusive o fato de não saber nem quem vai atender nem por quanto tempo. Todo o

contexto muda e a atuação deve se moldar ao que é possível naquele momento, com os (geralmente

poucos) recursos disponíveis.

O contexto de emergência inclusive torna quem será assistido pela psicologia outro

fator-surpresa, pois há vítimas diretas e indiretas que são impactadas em uma situação de diferentes

formas. O psicólogo que responde com eficiência aos desastres apoia-se no tripé de treinamento, no

apoio psicológico e nos cuidados pós-desastre. Com isso, ele chama a atenção para a necessidade do

autocuidado no desempenho dessas funções, novas no cenário da psicologia, como dizemos aqui, e,

portanto, em construção de identidade.

O psicólogo é ator de forte presença no cenário dos desastres, pois também é afetado por

eles e apresenta necessidades que devem ser consideradas no desenho de uma intervenção, pré e

pós-desastre. Affini (2004) ressalta a importância dessa atuação que ocorre em ambiente tão

diferente do corriqueiro e o cuidado com o tipo de vínculo que será estabelecido, a fim de preservar

os objetivos e limites do trabalho. Ehrenreich (2006) e De Soir (2006) também chamaram a atenção

para esse aspecto, ressaltando que o preparo para atuar em emergências é necessário, mas pode não

ser suficiente se aquele que atua nesse campo não tiver condições psicológicas e organizacionais

para entender as demandas.

O psicólogo capacitado em emergência desenvolverá um longo trabalho que visa à

adaptação à nova realidade, aceitação e elaboração do que se passou, ou seja, um enquadramento do

que é possível naquele momento. Pequenas coisas que provavelmente não fariam sentido no
consultório psicológico fazem grande sentido aqui; por exemplo, o psicólogo sugerir à pessoa

afetada pela emergência que está com as roupas sujas ou molhadas que se troque, começando assim

a se destacar de ser mais um figurante da cena caótica em questão, por exemplo. Esse pode ser o

início da organização dessa pessoa, uma primeira referência a quem teve seu mundo interno e

externo devastados ao mesmo tempo. São apresentadas abaixo algumas definições de novas

técnicas abordadas no decorrer deste trabalho.

● Psicoterapia breve: é uma terapia de resolução de problemas em um número reduzido de

sessões. Tem tempo e objetivos limitados.

● Psicoterapia focal: procura localizar determinada situação conflitiva que seria determinante da

queixa do cliente. Busca resolver a queixa do paciente ou um conflito predominante.

ENTREVISTA

1- Nome: Andréa Chaves

2- Profissão: Psicóloga

3- Instituição: Secretaria de Saúde do Governo do Distrito Federal

4- Função: Psicóloga

Mestrado em Psicologia pela Universidade Católica de Brasília (2010), graduação em

Psicologia pela Universidade Católica de Brasília (2008). Servidora da Secretaria de Estado de

Saúde. Tem experiência na área de Psicologia, com ênfase em Gestão de Pessoas, atuando

principalmente nos seguintes temas: inclusão, leis, pessoa com deficiência, saúde mental,

acessibilidade e projetos sociais. Atua com docência e instrutória de cursos. Experiência de 14 anos

com programas de inserção de pessoas com deficiência em diversos segmentos, é uma das

representantes do GDF no plano Viver sem Limites do Governo Federal. Analista de Projetos,

prestação de contas e executora de contratos públicos. Palestrante e conferencista em congressos no

Brasil.

5- Quanto tempo você atua e o que te levou a escolher trabalhar nesta área?
Atua como psicóloga há 15 anos, o que a levou a escolher ser psicóloga foi uma experiência

que teve com terapia aos 12 anos. Atualmente trabalha na Urgência e Emergência e escolheu essa

área há 5 anos atrás quando SAMU criou um projeto pioneiro no Brasil de Urgência e Emergência

Psiquiátrica.

6- Como foi sua primeira experiência com um paciente em crise?

Ela não consegue lembrar da sua primeira experiência com paciente em crise, mas já teve

muitos pacientes que a levaram a refletir sobre a debilidade da mente humana e sobre como nós

somos frágeis e podemos viver uma situação intensa. Então, a experiência que é a de lidar com o

paciente em crise, é sobre a fragilidade da vida humana.

7- Como identificar uma crise? Você utiliza algum instrumento para avaliação de crise?

Existem diferentes tipos de crise? Quais você costuma receber com mais frequência?

Para identificar uma crise, a gente precisa entender os critérios do DSM, que é o

diagnóstico de transtornos psiquiátricos, então a gente precisa identificar os critérios para entender

se isso é uma crise ou apenas ou só uma disfunção comportamental. É importante ter teoria de base

que vão nos levar a ter os critérios claros dos transtornos mentais. Os casos mais comuns no

serviço de Atendimento Emergencial são crises depressivas, tentativas de suicídio, ideação suicida,

autolesão e surtos psicóticos.

8- Como você maneja uma crise? Descreva o passo a passo no seu atendimento emergencial.

O manejo de uma crise tem algumas técnicas que são importantes, uma delas é avaliar a

segurança da cena. Então, para atender uma crise é necessário garantir que a cena está segura para

os profissionais envolvidos e para o próprio paciente em crise. Quando você chega no lugar de

crise, precisa identificar quais são os riscos que a equipe corre, em relação aos instrumentos que

podem ter na cena que podem levar a riscos físicos. É necessário estabilizar o paciente, formar

uma relação de confiança com o paciente para que ele possa verbalizar. Precisa identificar as

maiores demandas daquele paciente, focando no aqui e agora, e assim o profissional irá identificar

os fatores desencadeadores da crise. Após esse processo, é importante realizar uma verificação do
que a pessoa tem tentado fazer até o presente momento para enfrentar o problema, e auxiliá-lo a

encontrar novas alternativas viáveis. É necessário também descobrir se esse paciente possui uma

rede de apoio, ou alguém que possa auxiliá-lo e manter contato com os profissionais sobre o

andamento, que pode ser tanto presencial quanto por telefone.

9- Quais as técnicas ou recursos que são utilizados no atendimento emergencial? Quais

considera as mais eficazes?

Para manejo dos sintomas ansiosos, e dependendo de sintomas ansiosos, a técnica de

respiração diafragmática é uma técnica bastante utilizada, mas ele não só é feito com técnicas de

respiração. Nos atendimentos também podemos fazer clarificação de pensamentos e

psicoeducação, além de auxiliar a manter o foco no passado, presente e no futuro imediato, pois

existem ocasiões em que o paciente tem tendências a pensar nas situações futuras que ele ainda

não pode resolver.

10- Como funcionam os encaminhamentos e vinculação de profissionais de outras áreas

quando necessário?

No serviço de urgência e emergência, todo paciente mesmo que psiquiátrico é vinculado no

serviço básico de saúde, porque primeiro é feito uma avaliação da saúde clínica dele para depois

fazer os encaminhamentos para o Hospital Psiquiátrico ou para o CAPS. Quando o paciente é

mantido em casa, é feito o encaminhamento para rede de apoio do local que é a RAPS aqui em

Brasília.

11- Como identificar a necessidade de encaminhamento?

O paciente psiquiátrico é sempre um paciente que é encaminhado, tendo em vista que os

tratamentos de saúde mental são multifatoriais, ou seja, envolvem questões biológicas, psicológicas

e socioculturais do indivíduo. E também são tratamentos longitudinais, demandando um

determinado tempo de tratamento.

12- Na sua opinião, o que você acha mais complexo no atendimento emergencial?
É a diversidade da cena que a gente vai encontrar, e a falta de controle do ambiente que é

feito o atendimento.

13- Quais as maiores demandas de intervenção?

Dentro do SAMU as maiores demandas de intervenção são surtos, comportamentos ansiosos

e depressivos e acredito que esses são dados quase que universais dentro do Brasil.

14- Quais técnicas para estabelecer rapport?

O rapport é uma técnica de empatia, de estabelecer vínculo com o paciente. Então não tem

uma técnica certa para realizar o rapport com o paciente, exceto entender que ele é um ser único, ter

um olhar customizado e diretivo, ser empático na cena, e aí você consegue estabelecer bons

vínculos.

15- Já teve de manejar crise de modo remoto (ligação ou chamada de vídeo)?

Já manejei por vídeo um paciente meu que estava fora do Brasil, e por ligação é uma das

atribuições do samu. Lá nós temos um atendimento fixo que é a baía de regulação de saúde mental,

onde a gente media crise ou faz os primeiros atendimentos por telefone.

16- Quais são os locais e/ou instituições os quais nós podemos encontrar o serviço de

intervenção em crise?

Aqui em Brasília hoje você encontra intervenção em crise no SAMU e o Bombeiro

também faz essa intervenção, mas não é uma intervenção técnica.

17- Existe algum requisito para atuar nessa área dentro do SAMU, ou é um treinamento que

todos possam ter acesso?

Para você atuar no SAMU você precisa ser servidor público da Secretaria de Saúde de

Brasília e você é treinado no SAMU né, no curso de Intervenção em Saúde Mental para Urgência e

Emergência.

18- Qual sua perspectiva sobre essa área na atualidade? Tem tido um aumento de demanda?

É uma área de franco desenvolvimento no Brasil e no mundo, tendo em vista os constantes

episódios que estão associando conflitos emocionais, transtornos psiquiátricos e outros conflitos
sociais. Então eu acredito que é uma área que está em franco crescimento na nossa atualidade. É

uma área nova, então as coisas novas estão acontecendo de forma fragmentada, um estado faz e o

outro não faz, mas eu acredito que sim, pelos dados estatísticos, a gente tem tido um aumento nos

atendimentos e uma necessidade cada vez mais latente, cada vez mais eminente, de transformar

profissionais clínicos em profissionais de urgência e emergência. Lembrando que qualquer

profissional na área de saúde ele pode em algum momento da vida ter que lidar com uma crise de

saúde mental e é importante que a gente entenda o conceito de crise, o conceito de estabilização de

paciente e para além de tudo isso que a gente entenda o conceito de humanidade, para que nós

entendamos a ideia que humanos cuidam de humanos.

ANÁLISE FINAL

Com os aspectos destacados na entrevista relacionado com os conceitos teóricos e de

intervenção tratados na disciplina, podemos salientar os modelos de intervenção em fases e

objetivos na qual a entrevistada menciona em suas respostas, como: estabelecer o contato

psicológico com a avaliação do paciente; análise do problema conhecendo o que necessita de

manejo imediato e auxiliar manter o foco no passado, presente e futuro imediato; analisar

possíveis soluções de manejo na qual o paciente tem tentado fazer até o presente momento para

enfrentar o problema, caso não tenha execução de ações concretas ajudar com uma ação para

gerenciar a crise. E seguimento com contato de serviços de colaboração para manter um contato

contínuo nas relações de auxílio que podem ser tanto presencial quanto por telefone.

A entrevistada traz relato de técnicas de respiração, técnicas de clarificação de pensamentos

e psicoeducação que é utilizada na abordagem Terapia Cognitivo Comportamental - TCC.


REFERÊNCIAS

CARVALHO, M. A. D., DE MATOS, M. M. G. (2016). Intervenções Psicossociais em Crise,

Emergência e Catástrofe. Revista Brasileira de Terapias Cognitivas, 12(02), 116-125.

Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rbtc/v12n2/v12n2a08.pdf

DE HUMEREZ, D. C. (2016). Intervenção em Crise. Disponível em:

http://www.cofen.gov.br/wp-content/uploads/2016/06/Interven%C3%A7%C3%A3o-em-cris

el.pdf

FRANCO, M. H. P. (2015). A Intervenção Psicológica em Emergências. Summus Editorial.

Disponível em:

http://dac.unb.br/images/DASU/PANDEMIA/Leituras/A_intervencao_psicologica_em_eme

rgncias.pdf

Lattes iD http://lattes.cnpq.br/6504615907103469

SÁ, S. D., WERLANG, B. S. G., PARANHOS, M. E. (2008). Intervenção em Crise. Revista

Brasileira de Terapias Cognitivas, 04(01). Disponível em:

http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rbtc/v4n1/v4n1a08.pdf

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