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ITAJAÍ
2022
INTRODUÇÃO
Quando os problemas psicossociais afetam a saúde em geral, reproduzindo sintomas
físicos nos indivíduos, no campo da psiquiatria é considerado um transtorno, tendo como
material de apoio as produções bibliográficas da CID (Classificação Estatística Internacional
de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde) e o DSM (Diagnóstico e Estatística de
Transtornos Mentais) (CAVALER; CASTRO, 2018).
De forma saudável ou patológica, a ansiedade é vivenciada por meio do desconforto,
pois sinaliza mudanças necessárias para tirá-lo da zona de conforto, com a intenção de que o
sujeito seja chamado ao cuidado, sendo considerado como fruto da criatividade e da liberdade
(PINTO, 2021).
É importante ressaltar a qualidade do contato consigo mesmo, com o ambiente e com
o fenômeno gerador de ansiedade. Os conceitos de contato, consciência, self, ciclo de contato
e aqui e agora, são de suma importância para a compreensão das diversas faces da ansiedade
pela gestalt terapia e suas possibilidades de diálogo (PINTO, 2021).
DESENVOLVIMENTO
Quando falamos sobre a abordagem da Gestalt-terapia, alguns conceitos nos vêm à
mente que sustentam essa abordagem. O primeiro conceito que temos é o self, este conceito é
definido como a forma totalitária que o indivíduo se percebe no meio em que está inserido. É
através do self que o indivíduo consegue ter contato com o presente e passar processos que
fazem com que o indivíduo possa evoluir. É a partir do eu que podemos encontrar nossa
essência e avaliar as possibilidades de evolução. Além do eu fazer com que o indivíduo se
perceba dentro do meio em que vive, o eu também é responsável por fazer com que o sujeito
tenha uma rede de contatos e assim se ajuste à sociedade em que está vivendo e que possa
evoluir a cada vez mais (FRAZÃO, 1995).
Outro conceito muito utilizado na abordagem da gestalt-terapia é a conscientização,
este termo é basicamente a forma como você pode perceber sua consciência e a forma como
você pode olhar para si mesmo. Na gestalt temos duas formas distintas de consciência, temos
counsciousness e awareness. A primeira consciência é a consciência do nosso cotidiano, onde
temos uma compreensão mais racional do mundo, algo mais focado no que está acontecendo
em nosso presente. Quanto à segunda consciência, temos uma consciência mais ampliada, não
apenas focada no nosso presente, mas no todo. Na consciência gestáltica a consciência é
quando o indivíduo é capaz de se perceber de uma forma mais totalitária (ANDRADE, 2007).
A Gestalt terapia trabalha muito com o presente, com o aqui e agora. Aqui seria o
espaço onde o indivíduo está inserido e o agora seria o tempo, esses dois conceitos estão
inteiramente relacionados um com o outro, um conceito completa o outro. Nesta abordagem,
trabalhamos muito com o presente e através do presente que o indivíduo possa resgatar
memórias de seu passado e planejar seu futuro, somente o presente que existe e que importa
neste momento, pois agora no presente é o momento em que podemos resolver nossos
problemas. pendências do passado e ainda podemos planejar nosso futuro (FRAZÃO, 1995).
Segundo Oliveira et al., (2017), o ciclo do contato é uma forma didática de explicar
como as pessoas fazem contato, ocorrendo sempre com o Self no centro, tanto conectado ao
mundo quanto ao meio ambiente. Existem 9 mecanismos de evitação de contato (fixação;
dessensibilização; deflexão; introjeção; projeção; proflexão; retroflexão; egotismo;
confluência) e nove fatores de cura (fluidez; sensação; consciência; mobilização; ação;
interação; contato final; satisfação; retirada) (OLIVEIRA; OLIVEIRA E LOBATO, 2017).
Cada ciclo de contato encerra uma Gestalt, uma interação entre pessoa-mundo e fator
de cura-bloqueio, com o comportamento revelado pelo Self, e se uma pessoa conseguir
interromper o ciclo, terá um ponto interrompido que será o lugar onde vai bloquear a energia e
a neurose vai apontar, essa interrupção pode ser causada por perturbações internas e externas
para o sujeito que não permite o desenvolvimento do self (OLIVEIRA; OLIVEIRA E
LOBATO, 2017).
Em relação à ansiedade segundo Pinto (2021), é ela que move o ser humano a
possibilitar atitudes cuidadosas e corajosas em relação a si mesmo e ao universo ao seu redor,
sendo um mecanismo de defesa presente em toda existência humana, tendo a função de
auxiliar no enfrentamento da realidade, com os sofrimentos e desafios do cotidiano (PINTO,
2021; D'ACRI, LIMA, ORDEM, 2012).
Atualmente, a ansiedade deixou de ser vista como defesa e passou a ser vista, de forma
generalizada, como um problema a ser enfrentado (PINTO, 2021). Para que a ansiedade seja
vivenciada de forma saudável, é importante ressaltar a qualidade do contato consigo mesmo,
com o ambiente e com o fenômeno gerador de ansiedade. O autor ainda afirma que a
ansiedade também pode ser caracterizada como resultado do contato com uma fantasia,
vivenciada como realidade, relacionada ao futuro. Nesse sentido, a ansiedade está alojada na
fantasia, onde há a possibilidade do não contato (PINTO, 2021).
Existem três tipos de contato importantes a serem considerados quando se fala de
ansiedade: contato com o ambiente, com o corpo e com a fantasia. O contato com o meio
ambiente diz respeito às relações que se estabelecem com o exterior, as pessoas e as coisas. O
contato com o corpo é a relação consigo mesmo através dos órgãos dos sentidos. E o contato
com a fantasia está relacionado ao campo do imaginário, onde engloba todos os conteúdos
que não estão no presente, ou seja, no “aqui e agora”, no corpo ou no ambiente (PINTO,
2021).
A educação para a autonomia é extremamente importante para criar um diálogo
saudável com a ansiedade. No entanto, atualmente, o comum é que, quando qualquer sinal de
curiosidade é emitido, o sujeito recebe a resposta imediatamente, além de estar ciente de
inúmeras regras e exigências que dificultam a autorrealização (PINTO, 2021). As fantasias,
por sua vez, podem permitir que o sujeito se arrisque de forma consciente e corajosa, podendo
ser uma ferramenta primordial para o diálogo com a ansiedade. Assim, não é o conteúdo das
ameaças que é o problema, mas como o sujeito lida com suas preocupações (PINTO, 2021).
Encontramos os Transtornos de Ansiedade Generalizada (TAG), partindo de
concepções médicas que são a soma de dificuldades no campo individual e coletivo,
expressando-se assim por sintomas físicos, conforme estudos vistos até então com base nos
materiais de apoio citados acima. (CAVALER; CASTRO, 2018). O TAG, diferente da
ansiedade como emoção e mecanismo de defesa do indivíduo, é constituído por sua
durabilidade e intensidade, além dos prejuízos que causa à vida social do sujeito. O que
muitas vezes passa despercebido pelo próprio sujeito. Os sintomas estão sempre presentes na
vida do indivíduo, portanto, o TAG está fortemente ligado à diminuição da capacidade do
indivíduo em desempenhar seus papéis sociais e na capacidade de exercê-los. (CAVALER;
CASTRO, 2018).
Em uma visão gestáltica nos transtornos de ansiedade, o indivíduo não percebe o “aqui
e agora”, comprometendo seu ciclo de contato com o meio ambiente (CAVALER; CASTRO,
2018). A percepção das necessidades de urgência em indivíduos com TAG é limitada, por
isso, nem os próprios sujeitos, como visto na visão biomédica, enxergam os sintomas e quais
são as necessidades urgentes. Isso fica evidente quando procuram especialistas da área da
medicina, relatando problemas gastrointestinais, náuseas, palpitações cardíacas e afins, que
são acúmulos de sofrimento psíquico (CAVALER; CASTRO, 2018).
Nessa perspectiva, as pessoas com TAG trazem Gestalt's inacabadas, situações
abertas, pois não podem permanecer no aqui e agora, apenas no aqui e então, então se o
sujeito consegue deixar fluir a excitação, não pode ficar ansioso, pois vivendo no aqui e
agora, permite segurança, impossibilitando a ansiedade, numa visão patológica (CAVALER;
CASTRO, 2018).
Assim, quando o sujeito está ansioso, há uma interrupção da excitação (energia),
impedindo-o de realizar ações necessárias em seu ambiente, impossibilitando-o de estar no
“aqui e agora” (SANTOS E FARIA, 2006).
Diante de uma situação como essa, o terapeuta intervirá não para justificar os
comportamentos ansiosos, mas sua experiência com o mundo, principalmente durante a
terapia, onde o terapeuta direciona seu interesse em compreender “como” a realidade é
vivenciada em seu ambiente, portanto, pretende-se alcançar a conscientização dentro do Ciclo
do Contato, diminuindo a ansiedade que utiliza meios como a fuga do contato (SANTOS E
FARIA, 2006)
O terapeuta deve ter uma relação em que haja confiança e aceitação com o paciente,
abrindo um caminho de respeito mútuo pela sua singularidade. Você também pode usar
algumas perguntas durante o atendimento, como "O que você sente?", desta forma teremos as
respostas para tais interrupções de excitação (energia) por não realizar a ação, na qual
podemos proporcionar uma nova formação do processo. conscientização (SANTOS E
FARIA, 2006). Dessa forma, o terapeuta busca resgatar as interrupções que lhe causam tanto
desconforto, por meio do aqui e agora no setting terapêutico, sempre dando maior importância
às técnicas (ou experimentos) que visam estimular o paciente a contar sobre sua experiência
em relação ao seu ambiente (SANTOS E FARIA, 2006).
Em relação às técnicas de manejo clínico, existem alguns elementos para tratar a
ansiedade na gestalt terapia, sendo eles: administração dos sintomas, administração da
evitação, identificação de crenças ansiosas, atenção ao processo corporal e trabalho com a
dinâmica corporal (JOYCE E SILLS, 2016).
Quando ocorre um episódio de ansiedade, o indivíduo não consegue se sustentar, então
a administração de sintomas se enquadra nessa questão, para que ele possa lidar com o
episódio. A técnica de respiração é extremamente útil para controlar a ansiedade, pois pode
prevenir um ataque de pânico, por exemplo: o cliente está segurando a respiração por
retroflexão ou medo, o terapeuta pode incentivá-lo a expirar, liberando a tensão e criando
espaço para revitalização. Em relação à administração de evitação, serve para ajudar o cliente
a entender que evitar algo que desencadeou a crise de ansiedade também está contribuindo
para o problema. Para isso, são utilizadas técnicas de relaxamento que podem incluir a
dessensibilização para estimular o indivíduo a se familiarizar com seus sentimentos, por
exemplo: convidar o cliente a se tornar o objeto temido e explorar suas qualidades (JOYCE E
SILLS, 2016).
Na identificação de crenças ansiosas, exploramos se as crenças subjacentes estão
associadas às situações que o cliente traz para a terapia. É preciso perguntar como ele passou
a ter essas crenças e se está relacionado a algo do passado, mas também é possível identificar
a mensagem que a ansiedade carrega, quais pensamentos e fantasias ele tem, qual é a pior
coisa que pode acontecer. Depois disso, é realizado um exercício de enraizamento para trazê-
lo ao aqui e agora, no qual ele precisa considerar o quão realistas são seus pensamentos e
crenças. Em momentos de ansiedade, é importante que o cliente apresente afirmações
positivas e autossustentáveis para dizer a si mesmo. Além disso, também é importante manter
um diário de sua ansiedade, registrando o que aconteceu, a situação, o momento e o grau de
zero a dez. Esse processo aumenta sua awareness desse processo e pode ser transformador
(JOYCE E SILLS, 2016).
A atenção ao processo corporal também utiliza exercícios respiratórios, mas neste caso
é necessário estimular movimentos corporais que parecem interrompidos e que o cliente esteja
atento aos movimentos ou posição que está surgindo em seu corpo quando está ansioso. Em
relação ao trabalho com a dinâmica relacional, os sentimentos e estados corporais difíceis ou
excessivamente ansiosos são trabalhados investigando seus sentimentos e reações para
esclarecer o papel desempenhado na relação ansiosa (JOYCE E SILLS, 2016).
Além desses elementos, também é importante enfrentar questões existenciais ou
eventos vitais por meio de uma linha de vida recente com um esboço de mudanças, transições,
perdas e estresses, para que o cliente possa falar sobre o significado de cada um em sua vida.
É importante identificar o sistema de crenças espirituais ou religiosas do cliente, como a crise
de ansiedade é considerada, que apoio espiritual ou religioso ele buscou, o que ele poderia
fazer dentro desse sistema (JOYCE E SILLS, 2016).
CONCLUSÃO
Ao longo do estudo, é possível observar que quando se fala em ansiedade,
imediatamente se pensa nos conceitos trazidos pelos manuais diagnósticos (DSM-5 e CID-10)
e nas diferentes formas que existem para enfrentá-la. Esses conceitos são importantes para a
prática clínica e para a discussão da ansiedade como patologia, mas essa não é a única
maneira pela qual a ansiedade se manifesta no cotidiano à luz da gestalt-terapia. Uma vez, a
ansiedade configura-se em um sentimento como mecanismo de defesa diante das situações,
desde que não traga prejuízo ao convívio social e se agrave, levando ao sofrimento do
indivíduo.
Portanto, em estudos baseados na Gestalt Terapia, podemos observar a ansiedade
relacionada aos conceitos do aqui e depois, ao ciclo de contato do cliente e às situações
cotidianas, finalizando com o entendimento de que enquanto o indivíduo estiver vivo e
enfrentando as experiências ele irá estar acompanhado. de ansiedade, desde que não seja uma
patologia.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
FRAZAO, Lilian Meyer. Psicol. USP, São Paulo, v. 6, n. 2, p. 144-149, 1995. Disponível em
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1678-
51771995000200011&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 21 jun. 2022.
OLIVEIRA, Leane Valente de; OLIVEIRA, Marília Zara Gentil de; LOBATO, Edilza de
Aguiar. O Processo Ciclo do Contato em uma Situação de Luto. IGT rede, Rio de Janeiro, v.
14, n. 27, p. 260-272, 2017. Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?
script=sci_arttext&pid=S1807-25262017000200008&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 21 jun.
2022.
PINTO, Ênio Brito Pinto. Dialogar com a ansiedade: uma vereda para o cuidado. Editora:
Summus Editorial, fevereiro de 2021. Recurso digital.
SANTOS, Letícia Pimentel & FARIA, Luiz Alberto de Freitas. (2007). Ansiedade e Gestalt
Terapia. Revista de Abordagem Gestáltica, (1), p.267-277.