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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI

AMANDA CRISTINA DOS SANTOS


BEATRIZ MEDEIROS DE LUCA
JÚLIA CUSTÓDIO
KELLY CRISTINA PEREIRA
MARIA ALICE DEMOS
NAIRA MANOELA MENDES CIOCHETTA

ANSIEDADE NA GESTALT TERAPIA

ITAJAÍ
2022
INTRODUÇÃO
Quando os problemas psicossociais afetam a saúde em geral, reproduzindo sintomas
físicos nos indivíduos, no campo da psiquiatria é considerado um transtorno, tendo como
material de apoio as produções bibliográficas da CID (Classificação Estatística Internacional
de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde) e o DSM (Diagnóstico e Estatística de
Transtornos Mentais) (CAVALER; CASTRO, 2018).
De forma saudável ou patológica, a ansiedade é vivenciada por meio do desconforto,
pois sinaliza mudanças necessárias para tirá-lo da zona de conforto, com a intenção de que o
sujeito seja chamado ao cuidado, sendo considerado como fruto da criatividade e da liberdade
(PINTO, 2021).
É importante ressaltar a qualidade do contato consigo mesmo, com o ambiente e com
o fenômeno gerador de ansiedade. Os conceitos de contato, consciência, self, ciclo de contato
e aqui e agora, são de suma importância para a compreensão das diversas faces da ansiedade
pela gestalt terapia e suas possibilidades de diálogo (PINTO, 2021).

DESENVOLVIMENTO
Quando falamos sobre a abordagem da Gestalt-terapia, alguns conceitos nos vêm à
mente que sustentam essa abordagem. O primeiro conceito que temos é o self, este conceito é
definido como a forma totalitária que o indivíduo se percebe no meio em que está inserido. É
através do self que o indivíduo consegue ter contato com o presente e passar processos que
fazem com que o indivíduo possa evoluir. É a partir do eu que podemos encontrar nossa
essência e avaliar as possibilidades de evolução. Além do eu fazer com que o indivíduo se
perceba dentro do meio em que vive, o eu também é responsável por fazer com que o sujeito
tenha uma rede de contatos e assim se ajuste à sociedade em que está vivendo e que possa
evoluir a cada vez mais (FRAZÃO, 1995).
Outro conceito muito utilizado na abordagem da gestalt-terapia é a conscientização,
este termo é basicamente a forma como você pode perceber sua consciência e a forma como
você pode olhar para si mesmo. Na gestalt temos duas formas distintas de consciência, temos
counsciousness e awareness. A primeira consciência é a consciência do nosso cotidiano, onde
temos uma compreensão mais racional do mundo, algo mais focado no que está acontecendo
em nosso presente. Quanto à segunda consciência, temos uma consciência mais ampliada, não
apenas focada no nosso presente, mas no todo. Na consciência gestáltica a consciência é
quando o indivíduo é capaz de se perceber de uma forma mais totalitária (ANDRADE, 2007).
A Gestalt terapia trabalha muito com o presente, com o aqui e agora. Aqui seria o
espaço onde o indivíduo está inserido e o agora seria o tempo, esses dois conceitos estão
inteiramente relacionados um com o outro, um conceito completa o outro. Nesta abordagem,
trabalhamos muito com o presente e através do presente que o indivíduo possa resgatar
memórias de seu passado e planejar seu futuro, somente o presente que existe e que importa
neste momento, pois agora no presente é o momento em que podemos resolver nossos
problemas. pendências do passado e ainda podemos planejar nosso futuro (FRAZÃO, 1995).
Segundo Oliveira et al., (2017), o ciclo do contato é uma forma didática de explicar
como as pessoas fazem contato, ocorrendo sempre com o Self no centro, tanto conectado ao
mundo quanto ao meio ambiente. Existem 9 mecanismos de evitação de contato (fixação;
dessensibilização; deflexão; introjeção; projeção; proflexão; retroflexão; egotismo;
confluência) e nove fatores de cura (fluidez; sensação; consciência; mobilização; ação;
interação; contato final; satisfação; retirada) (OLIVEIRA; OLIVEIRA E LOBATO, 2017).
Cada ciclo de contato encerra uma Gestalt, uma interação entre pessoa-mundo e fator
de cura-bloqueio, com o comportamento revelado pelo Self, e se uma pessoa conseguir
interromper o ciclo, terá um ponto interrompido que será o lugar onde vai bloquear a energia e
a neurose vai apontar, essa interrupção pode ser causada por perturbações internas e externas
para o sujeito que não permite o desenvolvimento do self (OLIVEIRA; OLIVEIRA E
LOBATO, 2017).
Em relação à ansiedade segundo Pinto (2021), é ela que move o ser humano a
possibilitar atitudes cuidadosas e corajosas em relação a si mesmo e ao universo ao seu redor,
sendo um mecanismo de defesa presente em toda existência humana, tendo a função de
auxiliar no enfrentamento da realidade, com os sofrimentos e desafios do cotidiano (PINTO,
2021; D'ACRI, LIMA, ORDEM, 2012).
Atualmente, a ansiedade deixou de ser vista como defesa e passou a ser vista, de forma
generalizada, como um problema a ser enfrentado (PINTO, 2021). Para que a ansiedade seja
vivenciada de forma saudável, é importante ressaltar a qualidade do contato consigo mesmo,
com o ambiente e com o fenômeno gerador de ansiedade. O autor ainda afirma que a
ansiedade também pode ser caracterizada como resultado do contato com uma fantasia,
vivenciada como realidade, relacionada ao futuro. Nesse sentido, a ansiedade está alojada na
fantasia, onde há a possibilidade do não contato (PINTO, 2021).
Existem três tipos de contato importantes a serem considerados quando se fala de
ansiedade: contato com o ambiente, com o corpo e com a fantasia. O contato com o meio
ambiente diz respeito às relações que se estabelecem com o exterior, as pessoas e as coisas. O
contato com o corpo é a relação consigo mesmo através dos órgãos dos sentidos. E o contato
com a fantasia está relacionado ao campo do imaginário, onde engloba todos os conteúdos
que não estão no presente, ou seja, no “aqui e agora”, no corpo ou no ambiente (PINTO,
2021).
A educação para a autonomia é extremamente importante para criar um diálogo
saudável com a ansiedade. No entanto, atualmente, o comum é que, quando qualquer sinal de
curiosidade é emitido, o sujeito recebe a resposta imediatamente, além de estar ciente de
inúmeras regras e exigências que dificultam a autorrealização (PINTO, 2021). As fantasias,
por sua vez, podem permitir que o sujeito se arrisque de forma consciente e corajosa, podendo
ser uma ferramenta primordial para o diálogo com a ansiedade. Assim, não é o conteúdo das
ameaças que é o problema, mas como o sujeito lida com suas preocupações (PINTO, 2021).
Encontramos os Transtornos de Ansiedade Generalizada (TAG), partindo de
concepções médicas que são a soma de dificuldades no campo individual e coletivo,
expressando-se assim por sintomas físicos, conforme estudos vistos até então com base nos
materiais de apoio citados acima. (CAVALER; CASTRO, 2018). O TAG, diferente da
ansiedade como emoção e mecanismo de defesa do indivíduo, é constituído por sua
durabilidade e intensidade, além dos prejuízos que causa à vida social do sujeito. O que
muitas vezes passa despercebido pelo próprio sujeito. Os sintomas estão sempre presentes na
vida do indivíduo, portanto, o TAG está fortemente ligado à diminuição da capacidade do
indivíduo em desempenhar seus papéis sociais e na capacidade de exercê-los. (CAVALER;
CASTRO, 2018).
Em uma visão gestáltica nos transtornos de ansiedade, o indivíduo não percebe o “aqui
e agora”, comprometendo seu ciclo de contato com o meio ambiente (CAVALER; CASTRO,
2018). A percepção das necessidades de urgência em indivíduos com TAG é limitada, por
isso, nem os próprios sujeitos, como visto na visão biomédica, enxergam os sintomas e quais
são as necessidades urgentes. Isso fica evidente quando procuram especialistas da área da
medicina, relatando problemas gastrointestinais, náuseas, palpitações cardíacas e afins, que
são acúmulos de sofrimento psíquico (CAVALER; CASTRO, 2018).
Nessa perspectiva, as pessoas com TAG trazem Gestalt's inacabadas, situações
abertas, pois não podem permanecer no aqui e agora, apenas no aqui e então, então se o
sujeito consegue deixar fluir a excitação, não pode ficar ansioso, pois vivendo no aqui e
agora, permite segurança, impossibilitando a ansiedade, numa visão patológica (CAVALER;
CASTRO, 2018).
Assim, quando o sujeito está ansioso, há uma interrupção da excitação (energia),
impedindo-o de realizar ações necessárias em seu ambiente, impossibilitando-o de estar no
“aqui e agora” (SANTOS E FARIA, 2006).
Diante de uma situação como essa, o terapeuta intervirá não para justificar os
comportamentos ansiosos, mas sua experiência com o mundo, principalmente durante a
terapia, onde o terapeuta direciona seu interesse em compreender “como” a realidade é
vivenciada em seu ambiente, portanto, pretende-se alcançar a conscientização dentro do Ciclo
do Contato, diminuindo a ansiedade que utiliza meios como a fuga do contato (SANTOS E
FARIA, 2006)
O terapeuta deve ter uma relação em que haja confiança e aceitação com o paciente,
abrindo um caminho de respeito mútuo pela sua singularidade. Você também pode usar
algumas perguntas durante o atendimento, como "O que você sente?", desta forma teremos as
respostas para tais interrupções de excitação (energia) por não realizar a ação, na qual
podemos proporcionar uma nova formação do processo. conscientização (SANTOS E
FARIA, 2006). Dessa forma, o terapeuta busca resgatar as interrupções que lhe causam tanto
desconforto, por meio do aqui e agora no setting terapêutico, sempre dando maior importância
às técnicas (ou experimentos) que visam estimular o paciente a contar sobre sua experiência
em relação ao seu ambiente (SANTOS E FARIA, 2006).
Em relação às técnicas de manejo clínico, existem alguns elementos para tratar a
ansiedade na gestalt terapia, sendo eles: administração dos sintomas, administração da
evitação, identificação de crenças ansiosas, atenção ao processo corporal e trabalho com a
dinâmica corporal (JOYCE E SILLS, 2016).
Quando ocorre um episódio de ansiedade, o indivíduo não consegue se sustentar, então
a administração de sintomas se enquadra nessa questão, para que ele possa lidar com o
episódio. A técnica de respiração é extremamente útil para controlar a ansiedade, pois pode
prevenir um ataque de pânico, por exemplo: o cliente está segurando a respiração por
retroflexão ou medo, o terapeuta pode incentivá-lo a expirar, liberando a tensão e criando
espaço para revitalização. Em relação à administração de evitação, serve para ajudar o cliente
a entender que evitar algo que desencadeou a crise de ansiedade também está contribuindo
para o problema. Para isso, são utilizadas técnicas de relaxamento que podem incluir a
dessensibilização para estimular o indivíduo a se familiarizar com seus sentimentos, por
exemplo: convidar o cliente a se tornar o objeto temido e explorar suas qualidades (JOYCE E
SILLS, 2016).
Na identificação de crenças ansiosas, exploramos se as crenças subjacentes estão
associadas às situações que o cliente traz para a terapia. É preciso perguntar como ele passou
a ter essas crenças e se está relacionado a algo do passado, mas também é possível identificar
a mensagem que a ansiedade carrega, quais pensamentos e fantasias ele tem, qual é a pior
coisa que pode acontecer. Depois disso, é realizado um exercício de enraizamento para trazê-
lo ao aqui e agora, no qual ele precisa considerar o quão realistas são seus pensamentos e
crenças. Em momentos de ansiedade, é importante que o cliente apresente afirmações
positivas e autossustentáveis para dizer a si mesmo. Além disso, também é importante manter
um diário de sua ansiedade, registrando o que aconteceu, a situação, o momento e o grau de
zero a dez. Esse processo aumenta sua awareness desse processo e pode ser transformador
(JOYCE E SILLS, 2016).
A atenção ao processo corporal também utiliza exercícios respiratórios, mas neste caso
é necessário estimular movimentos corporais que parecem interrompidos e que o cliente esteja
atento aos movimentos ou posição que está surgindo em seu corpo quando está ansioso. Em
relação ao trabalho com a dinâmica relacional, os sentimentos e estados corporais difíceis ou
excessivamente ansiosos são trabalhados investigando seus sentimentos e reações para
esclarecer o papel desempenhado na relação ansiosa (JOYCE E SILLS, 2016).
Além desses elementos, também é importante enfrentar questões existenciais ou
eventos vitais por meio de uma linha de vida recente com um esboço de mudanças, transições,
perdas e estresses, para que o cliente possa falar sobre o significado de cada um em sua vida.
É importante identificar o sistema de crenças espirituais ou religiosas do cliente, como a crise
de ansiedade é considerada, que apoio espiritual ou religioso ele buscou, o que ele poderia
fazer dentro desse sistema (JOYCE E SILLS, 2016).

CONCLUSÃO
Ao longo do estudo, é possível observar que quando se fala em ansiedade,
imediatamente se pensa nos conceitos trazidos pelos manuais diagnósticos (DSM-5 e CID-10)
e nas diferentes formas que existem para enfrentá-la. Esses conceitos são importantes para a
prática clínica e para a discussão da ansiedade como patologia, mas essa não é a única
maneira pela qual a ansiedade se manifesta no cotidiano à luz da gestalt-terapia. Uma vez, a
ansiedade configura-se em um sentimento como mecanismo de defesa diante das situações,
desde que não traga prejuízo ao convívio social e se agrave, levando ao sofrimento do
indivíduo.
Portanto, em estudos baseados na Gestalt Terapia, podemos observar a ansiedade
relacionada aos conceitos do aqui e depois, ao ciclo de contato do cliente e às situações
cotidianas, finalizando com o entendimento de que enquanto o indivíduo estiver vivo e
enfrentando as experiências ele irá estar acompanhado. de ansiedade, desde que não seja uma
patologia.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

ANDRADE, C. C. A Vivência do Cliente No Processo Psicoterapêutico: Um Estudo


Fenomenológico Na Gestalt-Terapia. 2007. 196 f. (Mestrado em Psicologia), Universidade
Católica de Goiás, Goiânia, 2007.

CAVALER, C. M.; CASTRO, A. Transtorno de Ansiedade Generalizada sob a perspectiva da


Gestalt Terapia. Revista Psicologia, Diversidade e Saúde, [S. l.], v. 7, n. 2, p. 313–321,
2018. DOI: 10.17267/2317-3394 rpds. v7i2.1855. Disponível em:
https://www5.bahiana.edu.br/index.php/psicologia/article/view/1855. Acesso em: 20 jun.
2022.

D'ACRI, Gladys; LIMA, Patrícia; ORGLER, Sheila. Dicionário de gestalt-terapia:


"Gestaltês". Front Cover. Summus Editorial, Nov 12, 2012 - Psychology.

FRAZAO, Lilian Meyer. Psicol. USP, São Paulo, v. 6, n. 2, p. 144-149, 1995. Disponível em
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1678-
51771995000200011&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 21 jun. 2022.

JOYCE, Phill; SILLS, Charlotte. Técnicas em Gestalt terapia: aconselhamento e


psicoterapia. Petrópolis: Vozes, 2016. p 412.

OLIVEIRA, Leane Valente de; OLIVEIRA, Marília Zara Gentil de; LOBATO, Edilza de
Aguiar. O Processo Ciclo do Contato em uma Situação de Luto. IGT rede, Rio de Janeiro, v.
14, n. 27, p. 260-272, 2017. Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?
script=sci_arttext&pid=S1807-25262017000200008&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 21 jun.
2022.

PINTO, Ênio Brito Pinto. Dialogar com a ansiedade: uma vereda para o cuidado. Editora:
Summus Editorial, fevereiro de 2021. Recurso digital.

SANTOS, Letícia Pimentel & FARIA, Luiz Alberto de Freitas. (2007). Ansiedade e Gestalt
Terapia. Revista de Abordagem Gestáltica, (1), p.267-277.

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