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Instituto de Treinamento e Pesquisa em Gestalt-terapia de Goiânia - ITGT

Curso de Pós-Graduação Lato Sensu com vistas a Especialização na Abordagem


Gestáltica
Chancela da Pontifícia Universidade Católica de Goiás - PUC-GO

A CRIANÇA COM TDAH PELO OLHAR DA MÃE.


UM ESTUDO EM GESTALT- TERAPIA

Iamanda Luiza Marciano e Silva


Jordana Calil Lopes de Menezes de Oliveira

Goiânia - GO

Maio/2019
Resumo
O TDAH é um transtorno do neurodesenvolvimento definido por níveis
prejudiciais de desatenção, desorganização e/ou hiperatividade-impulsividade.

Palavras-chave: TDAH, Psicoterapia infantil, Relação mãe-filho, Abordagem


Gestáltica.
A criança com TDAH na perspectiva da mãe.
Um estudo em Gestalt- Terapia
Introdução
Desde o século XX, O Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH)
é diagnosticado na infância e ainda hoje os critérios diagnósticos, bem como os recursos
para o tratamento do transtorno, são foco de estudos a fim de que se tenha o mais
perfeito prognóstico da doença e consequentemente melhor qualidade de vida para
criança e família (Grunspun, 2003; Antony e Ribeiro, 2004; Gattás, 2014).
Estima-se que de 3% a 7% da população infantil no Brasil e no mundo
apresenta TDAH e de 50% a 70% das pessoas que exibiram os sintomas na infância
continuam expressando na vida adulta significativos prejuízos em várias esferas do
cotidiano, por exemplo fracasso escolar, laboral e nos relacionamentos íntimos.
(Grunspun, 2003; Gattás, 2014; Benczik & Casella, 2015).
O TDAH é um transtorno do neurodesenvolvimento caracterizado por déficits
no desenvolvimento que acarretam prejuízos no funcionamento pessoal, social,
acadêmico ou profissional. Os déficits variam desde limitações muito específicas na
aprendizagem ou no controle de funções executivas até prejuízos globais em habilidades
sociais ou inteligência (DSM V). Além disso é comum a ocorrência de um transtorno
específico da aprendizagem e de algumas como tais como, depressão, ansiedade e
transtorno de conduta, predisposição ao abuso de substâncias, recorrência em acidentes
de trânsito ou domésticos e falta de cuidado com a saúde (Antony, 2018, Cartilha).
O TDAH é um transtorno do neurodesenvolvimento definido por níveis
prejudiciais de desatenção, desorganização e/ou hiperatividade-impulsividade.
Desatenção e desorganização envolvem incapacidade de permanecer em uma tarefa,
aparência de não ouvir e perda de materiais em níveis inconsistentes com a idade ou o
nível de desenvolvimento. Hiperatividade-impulsividade implicam atividade excessiva,
inquietação, incapacidade de permanecer sentado, intromissão em atividades de outros e
incapacidade de aguardar – sintomas que são excessivos para a idade ou o nível de
desenvolvimento (DSM V).
As causas do TDAH não são conhecidas em suas integridades, contudo leva-se
em consideração a influência genética e os fatores ambientais do qual o indivíduo faz
parte. Com relação aos fatores ambientais, pessoas expostas intrauterinamente à nicotina
ou ao álcool, baixo peso, ou prematuros que foram expostos a toxinas (chumbo e
corante) durante a infância são mais propensas a apresentarem desatenção e
hiperatividade. Ambientes familiares ou sociais estressantes, também, podem
desencadear o TDAH. Nenhum dos fatores, genéticos ou ambientais, são determinantes
para o surgimento da doença, porém o controle das condições a que a criança é exposta
pode minimizar os sintomas (Grunspun, 2003; Gattás, 2014).
O TDAH é reconhecido com um dos maiores desafios para pais, professores e
especialistas, em função da variedade de comprometimentos que o quadro promove
(Benczik & Casella, 2015). Os pais relatam excesso de instabilidade e atividade motora
desde antes das crianças ter total domínio sobre o corpo. A identificação precoce de
pacientes com TDAH e seu tratamento adequado diminuem os sintomas e os prejuízos
educacionais, ocupacionais e relacionais que podem persistem até a idade adulta.
(Antony e Ribeiro, 2004, Grunspun, 2003; Gattás, 2014).

TDAH e Gestalt-terapia
Do ponto de vista da Gestalt-terapia a doença está dentro da concepção de
fronteira de contato, espaço existencial onde o eu e o não-eu se experienciam, e os
eventos psicológicos acontecem. Desse modo, para esta abordagem as patologias
surgem na relação do indivíduo com o ambiente, fonte de conflito e tensão entre
necessidades originais do indivíduo versus as pressões e demandas sociais. Busca-se,
então, compreender o funcionamento psicológico da pessoa a partir das trocas
emocionais que ocorrem na fronteira do contato (Frazão, 1995; Antony, 2018).
A etiologia e a sintomatologia da hiperatividade são estudadas com objetivo
específico de estabelecer os critérios diagnósticos da doença, e muitas vezes, segundo
Antony & Ponciano (2005) os pesquisadores se referem à criança como o transtorno,
explique melhor. Na visão deles, falta uma compreensão daquilo que está além da
aparência da doença e visam com seus estudos dar ênfase ao sentido e significado da
hiperatividade através do conhecimento dos processos psicológicos e relacionais das
experiências subjetivas vividas por essa criança como forma de auxiliá-las a lidar com
os sintomas e melhor relacionarem consigo mesmo e com o meio que o cerca (Antony
& Ponciano, 2004, 2005).
A formação das patologias, portanto, é o caminho dos encontros e desencontros
relacionais. Antony (2005) realizou uma pesquisa utilizando o Ciclo dos fatores de Cura
e Bloqueios de Contato de Ribeiro, J (1997) a fim de compreender a dimensão
intrapsíquica e de que modo ela favorece e/ou dificulta os encontros relacionais da
criança com o seu meio.
O ciclo do contato expressa o funcionamento saudável do organismo, a
autorregulação espontânea da pessoa em interação com o meio visando a satisfação das
necessidades emergentes. Ele é capaz de expressar a psicodinâmica interna e relacional
de uma pessoa saudável ou patológica com seus vários mecanismos de defesa,
entendidos em Gestalt como bloqueios do contato (Antony, 2018).acho que não precisa
revisar todo o ciclo em detalhe, pode resumir e ir direto ao ponto.
A teoria de campo oferece o principal subsídios para compreender a teoria do
Ciclo do contato. O campo é composto de microáreas físicas e psicológicas e nele
existem fronteiras e contornos. O contato se dá no campo e o campo primeiro e mais
importante é nosso corpo, físico e psíquico, que constitui o espaço vital, síntese e
reflexo da totalidade de cada um. O corpo é desse modo, sujeito e objeto do contato,
tudo começando no campo (Ribeiro, 2007).
O contato acontece em vários níveis: consigo mesmo, com o outro e com o
mundo. Esses níveis de contato são fruto da percepção subjetiva que a pessoa tem da
relação dela com o outro e, da maneira que a realidade objetiva é captada pela
subjetividade. O contato pode ocorrer, fisicamente, da pessoa com a pessoa e da pessoa
com o outro, seja ele humano ou coisa, sendo sua origem e desenvolvimento
completamente diferentes em ambas as situações. Todo contato implica uma relação eu-
mundo. Primeiro a pessoa existe, depois ela sente, pensa, faz e fala. Percebe-se a
realidade fora de si, depois percebe que percebeu e por último reconhece o que percebeu
(Ribeiro, 2007).
As formas de contato são expressas, na Teoria do Ciclo do Contato, por meio de
círculos que representam o campo dentro do qual toda forma de contato é possível,
independentemente do tamanho do círculo. Contato é energia, e no círculo ele pode se
movimentar sem empecilhos. Dessa forma, Ribeiro (2007), apresenta nove unidades de
de sentido e ação que expressam algumas das possibilidades de como o contato
acontece (Ribeiro, 2007).
Para cada fase de contato há um mecanismo de bloqueio, que se interagem de
formas polares e complementares, mostrando a dinâmica entre saúde e doença,
conforme mostra figura (Antony e Ponciano 2005; Ribeiro, 1997).
Os bloqueios do contato são mecanismos psicológicos que exercem funções
defensivas e constituem padrões de comportamento e percepção pelos quais o indivíduo
mantém impedindo-o de realizar um contato saudável tornando o cristalizado. Segundo
Ribeiro (1997), o indivíduo pode interromper o ciclo em qualquer ponto, no entanto, há
um lugar em que o bloqueio é mais constante e define a sua dinâmica intra e
interpessoal. É válido ressaltar que esses processos do contato possuem uma função
saudável quando empregados flexivelmente, atendendo às condições da situação e às
necessidades originais do indivíduo.
O ciclo apresenta os fatores de cura no processo de contato:
FLUIDEZ: consiste na capacidade do indivíduo movimentar na formação e
resolução de figuras no campo. Para isso ele precisa ser capaz de se localizar no tempo e
no espaço, sair de uma posição para outra de forma livre e espontânea. Observa-se na
criança hiperativa fluidez na busca por coisas estimulantes, agindo de forma espontânea
e impulsiva (Ribeiro, 2007; Antony, 2018).
SENSAÇÃO: processo captação sensorial no corpo de estímulos internos e/ou
externos, de surgimento da excitação e com isso mais consciência das sensações
produzidas e sentidas pelo corpo. A criança hiperativa é sensoriomotora, procura
estímulos ambientais que a excitem e mobilize suas sensações corporais (Ribeiro, 2007;
Antony, 2018).
CONSCIÊNCIA: Processo pelo qual o indivíduo atento às suas necessidades
internas e ao que ocorre no ambiente ficando mais aberto as coisas que acontecem em
sua volta e mais receptivo as novidades. A criança hiperativa demonstra pouca
consciência de suas necessidades internas básicas e das demandas e limites do ambiente
por pensar pouco sobre a situação e agir por impulso (Ribeiro, 2007; Antony, 2018).
MOBILIZAÇÃO: processo no qual a pessoa sente vontade e necessidade de
expressar seus sentimentos, vontades e desejos gerando energia para uma ação.
Segundo, Antony (2018), a criança hiperativa se move por seus desejos e vontades de
forma impulsiva. Sente e age! (Ribeiro, 2007; Antony, 2018).
AÇÃO: processo escolha e realização de uma ação apropriada após consciência
de suas necessidades. Em crianças hiperativas nota-se uma baixa habilidade em parar e
pensar, suas ações tornam-se inapropriadas às demandas do ambiente. (Ribeiro, 2007;
Antony, 2018).
INTERAÇÃO: na relação com o outro há envolvimento e troca, com clara
discriminação das próprias necessidades e das alheias, gerando uma ação que não espera
retribuição e não há manipulação. A criança hiperativa impõe suas vontades, invade os
limites de fronteira de contato, e as vezes faz uso de condutas manipuladores para
satisfazer seus desejos e necessidades o que gera conflito nas suas relações (Ribeiro,
2007; Antony, 2018).
CONTATO FINAL: processo de engajamento total e pleno com o objeto
escolhido para interação. Nota que na criança hiperativa baixa capacidade de
envolvimento com os objetos, com as situações e com o outro, falhando no contato
pleno. (Ribeiro, 2007; Antony, 2018).
SATISFAÇÃO: processo de profunda satisfação da necessidade original, em que
ocorre o fechamento de uma Gestalt, a partir da troca plena com o ambiente. Raramente
se sente satisfeita consigo e com o outro, há sensação de querer mais de si e do outro
(Ribeiro, 2007; Antony, 2018).
RETIRADA: processo no qual a pessoa entra em retraimento para que uma nova
necessidade surja, dando espaço para surgimento de novas experiencias. A criança
hiperativa tem dificuldade em perceber a satisfação de uma necessidade, de esperar o
surgimento de uma nova, deixando muitas gestalten abertas e situações inacabadas
(Ribeiro, 2007; Antony, 2018).
Desse modo Antony (2018) conclui que a inquietação e a desatenção da criança
hiperativa, do ponto de vista dos fatores de cura no ciclo do contato, representam um
permanente processo de fluidez e busca de novos estímulos. O excesso de fluidez, a
coloca diante de várias figuras que demandam atenção e a levam a constante estado de
conflito. O alto nível de excitação gera excesso de mobilização de energia para a
execução de uma ação, a qual é efetuada pronta e impulsivamente. O contato é
superficial com as coisas, trocando incessante o foco da atenção de um objeto a outro
prematuramente, sem manter a continuidade até o fechamento da Gestalt. Não há
satisfação total de nenhuma necessidade, o que leva há uma busca incessante de
autorregulação e impossibilita uma ação com significação (Antony, 2018).
Para aliviar a tensão e angústia diante de situações vividas no campo
organismo/ambiente o indivíduo lança mão de mecanismos de defesa ou bloqueios de
contato. Esses mecanismos quando fixados e repetitivos se tornam um jeito que padrão
pessoal de funcionar (Ribeiro, 2007; Antony, 2018).
Os bloqueios de contato são:
FIXAÇÃO (Parei de existir): processo de apego excessivo as pessoas, ideias ou
coisas ao ponto de sentir-se incapaz de explorar situações novas, permanecendo
compulsivamente fixado às coisas. Permanece fixado em uma necessidade de forma
obsessiva evitando o surgimento de algo novo. A curiosidade e a motivação para
explorar novas situações estão bloqueadas. A criança hiperativa não apresenta esse
processo, mas funciona na polaridade oposta a fixação que é a fluidez (Ribeiro, 2007;
Antony, 2018).
DESSENSIBILIZAÇÃO (Não sei se existo): processo através do qual indivíduo
perde ou diminui a sensibilidade do corpo, perde o contato consigo mesmo e o interesse
por sensações novas e intensas. Em alguns casos a pessoa perde o tato, paladar, olfato.
A criança hiperativa tem uma hipersensibilidade e uma hiperatividade, só apresentará
esse bloqueio caso sofra alguma experiência traumática em seu corpo (Ribeiro, 2007;
Antony, 2018).
DEFLEXÃO (ele não existe, nem eu): processo de evitação do contato consigo,
com o outro, e com ambiente de forma frequente e abrupta de uma figura para outra sem
continuidade ou o foco. Constitui fuga prematura do contato em situações de tensão ou
ansiedade. Há consciência reduzida da necessidade prioritária impede a criança de
engajar-se com os objetos/pessoas no ambiente, e assim não alcança a satisfação plena
para entrar em retraimento. Na criança hiperativa percebe dificuldade de entrar em
contato íntimo devido constante mudança de atividades, adiamento da execução das
tarefas escolares e evitando o esforço mental para estudar (Ribeiro, 2007; Antony,
2018).
INTROJEÇÃO (“ele existe, eu não”): a pessoa não reflete sobre as informações
que recebe do meio e aceita tudo como se fosse verdade. Colocando em segundo plano
seus objetivos, vontades e desejos. Os códigos morais, as proibições dadas de forma
impositiva com ameaças de privação de amor, de rejeição, punição abandono que ao
serem introjetadas afetam a autoestima e geram angústia. As introjeções fazem a criança
inibir/bloquear sensações e necessidade corporais, a consciência de certos sentimentos
desejos ou ações. O pequeno hiperativo introjeta muitas mensagens negativas sobre o
seu jeito de ser e a respeito de sua agitação psicomotora. “Fica quieto, seu
destrambelhado”, “Você faz bagunça, Sempre faz as coisas mal feitas”, com isso a
criança constrói a ideia de que não é boa, não é capaz, e que faz tudo errado. (Ribeiro,
2007; Antony, 2018).
PROJEÇÃO (Eu existo, o outro eu crio): Dificuldade de identificar o que é seu.
Atribui aos outros os sentimentos, pensamentos, e comportamentos intoleráveis,
atribuindo aos outros a responsabilidade por seus erros, fracassos e defeitos.
Geralmente sente-se ameaçado pelo mundo, pensa excessivamente antes de agir, e
identifica nas outras pessoas dificuldades e defeitos semelhantes aos seus. Nega partes
de sua personalidade ou desejo que são alvo de crítica, depreciação, reprovação,
rejeição. Culpa o outro por suas falhas, insuficiências desapropriando-se de seus
próprios atos e pensamentos. A criança hiperativa faz uso da projeção para se defender
das críticas e reprovações a seu respeito. Por ser constantemente alvo de censuras e
punições não assume responsabilidades e acusa os outros ou partes dos seu corpo por
seu insucesso ou falha (Ribeiro, 2007; Antony, 2018).
PROFLEXÃO (Eu existo nele): movimento no qual a pessoa faz aos outros
aquilo que gostaria que fizesse com e para ela, deseja que eles sejam como ela própria é,
manipulando-os a fim de receber aquilo de que precisa. Costuma fazer o que o outro
deseja ou submete-se passivamente a vontades alheias, com objetivo de receber do outro
o que precisa e sentir-se amado. Tem dificuldade de se reconhecer como própria fonte
de nutrição, lamenta a ausência do contato externo, e a dificuldade do outro em
satisfazer as suas necessidades. É comum o sentimento de abandono. Nas crianças
hiperativas a Proflexão aparece na troca de favores, ações para agradar os colegas,
familiares e professores como tentativa de ser aceita e querida (Ribeiro, 2007; Antony,
2018).
RETROFLEXÃO (Ele existe em mim): processo pelo qual a pessoa faz a si o
que gostaria de fazer ao outro ou que alguém fizesse com ela ocasionando retenção e
bloqueio de uma ação ou impulso. Aprende que não pode expressar espontaneamente,
tendo que conter certos impulsos e emoções ocasionando tensões musculares e sintomas
somáticos, gerando conflitos no sistema motor e os impulsos inaceitáveis que lutam por
expressão e gratificação. É um mecanismo pouco utilizado pela criança hiperativa, uma
vez que a impulsividade a torna menos reflexiva, com poucas habilidades para conter as
ações muitas vezes irrefletidas e precipitadas (Ribeiro, 2007; Antony, 2018).
EGOTISMO (Eu existo, eles não): processo por meio do qual o sujeito se coloca
como centro das coisas, tendo por preocupação principal as próprias necessidades e a
própria identidade. O egotista investe grande energia em si mesmo para atender seus
desejos e necessidades, retirando-a do meio externo. Exerce controle rígido e excessivo
no mundo fora de si. Sempre atento para evitar fracassos e frustrações e surpresas.
Presta tanta atenção ao mundo externo que não consegue usufruir dos ganhos da
manipulação. (Ribeiro, 2007; Antony, 2018).
Antony (2018) relata que determinação e a teimosia das crianças em fazer
apenas o que quer e na hora que quer gera desconforto nos cuidadores. Sempre deseja
algo em troca para fazer o que lhe é solicitado, sendo necessário oferecer ou prometer
alguma coisa para que ela cumpra os combinados. O hiperativo passa a impressão que
sofre de uma angústia, inquietação, parece sempre ter algo por fazer, nunca está
satisfeito com o que tem e com o que lhe dão. Sempre quer mais, interrompendo o
funcionamento equilibrado do processo de dar e receber. Vive contínuos problemas na
relação com o outro, o qual ele tem a sensação de nunca ter suas necessidades atendidas
como deseja (Antony, 2018).
CONFLUÊNCIA (Nós existimos, eu não): processos através do qual o indivíduo
se liga fortemente aos outros. Não diferencia o que é seu com o que é do outro,
ocasionando falta de identidade e confusão de fronteiras. Há fraco senso de si, forte
desejo em agradar, teme o isolamento, agarrando-se aos outros, ao antigo e aceitando
que decidam por ele mesmo que isso o desagrade. (Ribeiro, 2007; Antony, 2018)
Essa dinâmica de contato é pouco comum em crianças hiperativas, a qual deseja
independência e autonomia. Não aceita ser mandada pelos outros, quer impor suas
vontades, tem uma força de si que a move a diferenciar-se do outro (Antony, 2018).
Antony (2005,108) correlacionou os mecanismos psicológicos da Gestalt-
Terapia, com análise interpretativa do Teste de Apercepção Temática – figura de
animais ( CAT-A) as principais categorias obtidas da análise do discurso das
professoras e dos pais e concluiu que, os bloqueios de contato presentes no
funcionamento psicológico da criança hiperativa são deflexão, projeção e o egotismo.
A deflexão aparece como o processo psicológico que define o transtorno e as
manifestações comportamentais da criança. A inquietação e hiperatenção (desatenção)
revelam a mudança constante de atividade ou de objeto que caracteriza um modo vago e
superficial de fazer contato com as coisas e com outros em razão da dificuldade em
enfrentar situações de tensão e ansiedade. O oposto complementar da deflexão no ciclo
é a consciência, significando que a criança carece da consciência de si mesma, de
reconhecer a necessidade emergente, da capacidade de escolher o objeto que irá
propiciar sua satisfação (Antony e Ribeiro, 2005).
A Projeção, bloqueio na ação, foi uma outra dinâmica encontrada. A criança não
realiza uma ação apropriada no meio por possuir introjeções negativas a respeito de si
que a impedem de agir conforme as suas necessidades genuínas e características
próprias de personalidade. A criança vê o mundo como agressivo, intolerante,
incompreensivo que não aceita seu modo de ser agitado satisfação (Antony e Ribeiro,
2005).
O egotismo aparece como processo psicológico que forma a base da
personalidade da criança, oriundo das categorias afetividade e determinação. Refere-se a
categoria de onipotência e auto referência da criança, ao seu modo imperativo e
voluntarioso de agir (dificuldade em aceitar opiniões e seguir regras), necessidade de ser
o centro das atenções, alta demanda de afeto que a que torna uma criança com uma
intensa reatividade e vulnerabilidade emocional. Destacando um outro paradoxo do seu
funcionamento déficit de afetividade x hiperemotividade. O polo complementar no ciclo
é a satisfação, indicando que a criança se encontra em estado permanente de insatisfação
em suas trocas com o meio. Por outro lado, apontam uma atitude não egoísta, um modo
prestativo de ser, dando o que é seu quando o outro precisa, fazendo uso da proflexão
(eu faço aos outros aquilo que gostaria que fizessem comigo) como mecanismo de
compensação satisfação (Antony e Ribeiro, 2005).
Considerando a descrição do funcionamento psicológico da criança hiperativa de
Antony (2005, 20018) este projeto visa compreender por meio da vivencia da mãe que
forma o modo de ser e existir da criança com TDAH reflete na relação mãe e filho.
Justificativa
Os profissionais da Gestalt-terapia por muito tempo excluíram todo e qualquer
tipo de diagnóstico por entenderem como uma maneira limitada de compreender o
indivíduo e, portanto, incompatível com a concepção de homem e mundo da Gestalt-
terapia que entende o homem como um constante vir a ser que se revela por si mesmo.
Com o tempo, perceberam a importância de dialogar com os diagnósticos
tradicionais, além de definir os princípios da abordagem. Desse modo, a construção
diagnóstica desta abordagem visa compreender a experiência do cliente, ao se relacionar
consigo mesmo e com mundo. O que implica numa atitude que possibilite o
aparecimento do fenômeno em sua originalidade. A compreensão enfatiza a observação,
a descrição da experiência singular do cliente, e a identificação de como ele interrompe
o fluxo do contato e o tipo de apelo que endereça ao mundo pelo modo como se
relaciona com os diversos elementos do campo do qual ele faz parte (Aguiar, 2014;
Pinto, 2016). Isso não justifica seu projeto, a questão não é o diagnóstico, mas a relação
mãe e filho.
Com base nisso esse projeto este projeto visa compreender por meio da vivencia
da mãe que forma o modo de ser e existir da criança com TDAH afeta o campo e reflete
na relação mãe e filho.Aqui você mudou o objetivo acrescentado a teoria de campo, se
você for aprofundar nela deve dedicar um espaço maior a ela na introdução. Acredita-se
que ao compreender experiência do cuidador com a criança e o modo como ela faz
contato com o mundo auxiliará as ações de orientação e possibilitará uma relação mais
fluída e harmoniosa para todos.
Falta a justificativa pessoal.
Fundamentação Teórica
Ribeiro (2012) afirma que toda e qualquer abordagem psicoterápica busca
delinear uma teoria do homem, traçando um sistema de comportamento com base no
pensar, e no agir do ser humano que possa ser aplicado a outros homens. Desse modo o
indivíduo traz em si características únicas e universais.
Pautada nisso, A Gestalt-terapia define a sua teoria do homem tendo como base
pressupostos filosóficos do Humanismo, Existencialismo e Fenomenologia e teóricos da
Psicologia da Gestalt, Teoria de Campo e Teoria Organísmica. As bases humanistas
entendem homem como centro, capaz de autogerir-se e autorregular-se, ou seja, o
homem é um ser de possibilidades e potencialidades (Ribeiro, 2012; Antony 2018)
O existencialismo entende o homem como ser particularizado, singularizado no
seu modo de ser e de agir, concebendo-se como único no universo e individualizando-se
a partir do encontro verdadeiro entre sua subjetividade e singularidade (Ribeiro, 2012).
Nas palavras de Antony (2018), para o existencialismo o homem é um sujeito ativo na
constituição do mundo e de si mesmo. Vive sua existência para-o-outro e com-o-outro,
centrado nessa relação de influência mútua, estando num processo constante de
complementar-se e vir-a-ser como indivíduo e se constitui a partir das contínuas
experiencias vividas desenvolvendo, assim, a sua essência.
Embasada na Psicologia da Gestalt, Teoria de Campo e Teoria Organísmica a
Gestalt terapia compreende a criança com uma Gestalt neuropsicomotora em constante
desenvolvimento que necessita ser vista como um todo unificado, sendo assim
entendida como singular no processo de tornar-se sujeito e formar sua identidade
(Antony, 2018). Desse modo toda e qualquer manifestação da criança, verbal ou não
verbal, corporal, emocional ou orgânica, representa a sua relação com o seu campo,
traduzindo à sua maneira possível de ser e estar no mundo em um dado momento
(Anthony, 2010; Aguiar, 2014).
No que tange a percepção, utilizando-se das leis da percepção, apresentadas pela
Psicologia da Gestalt, “nem tudo o que se olha é o que se vê”. Focalizar a atenção
requer uma intencionalidade da consciência, onde a atenção voluntária impõe um
esforço mental para orientar a atividade psíquica em direção a um estímulo e mantê-lo
dentro do campo perceptivo consciente. Todo ato de percepção revela, portanto, um
processo de “atenção seletiva” e/ou “desatenção seletiva”. (Antony e Ribeiro, 2005)
A hiperatividade como característica marcante e atrelada à impulsividade
distingue a criança por estar em constante movimentação corporal durante a execução
de uma atividade e por agir impulsivamente (“sinto, logo ajo”). A criança responde aos
múltiplos estímulos ambientais com uma prontidão imediata, parecendo não selecionar
conscientemente a tarefa ou o objeto prioritário de sua ação. A inquietação revela uma
falta de controle do próprio corpo, indicando uma desarmonia entre o sentir, o pensar e
o agir. (Antony e Ribeiro, 2004)
A psicomotricidade ocupa-se do movimento humano como primeiro instrumento
na construção do psiquismo e aponta com grande ênfase a ação recíproca entre
movimento, emoção, indivíduo e meio ambiente. Sustenta Quem sustenta? que a
atividade motora constrói a imagem corporal como resultado da ação dinâmica entre as
experiências intracorporais e extracorporais, e que a imagem corporal dá a base para a
criança agir no mundo de forma organizada e adaptada ao espaço envolvente. (Antony e
Ribeiro, 2004)
Portanto, o que fala é o sujeito através do seu corpo, das variações tônico-
motoras, do movimento, dos gestos e do esquema corporal que são representantes de
uma organização psíquica. Este é o desafio que nos lança a criança hiperativa com o seu
corpo em contínuo movimento. (Antony e Ribeiro, 2004)
Ribeiro (1997) sustentado na Teoria do Campo e na Teoria Organísmica-
Holística cria o modelo Campo Holístico Relacional (Figura 1), o qual anuncia que a
pessoa é um campo e é de um campo (grifo nosso). Esse modelo possibilita uma visão
macro e microsistêmica dos diversos campos que compõem a realidade existencial do
indivíduo (campo geo-biológico, campo sócio-ambiental, campo psico-emocional e
campo sacro-transcendental) e concebe a inter e intra-relação entre os campos, no qual
nada que ocorra em um campo é neutro para um outro e para o todo holístico relacional
Antony e Ribeiro, 2004)
O indivíduo é formado pelos sistemas sensorial-motor-cognitivo, os quais ora se
relacionam mais com um determinado campo, ora mais com outro, podendo criar
múltiplas possibilidades de formas de contato e de comportamento. O autor exemplifica
hipoteticamente a dinâmica do funcionamento psicológico de uma criança,
demonstrando como cada sistema se conecta com um dado campo, criando um padrão
de contato com o mundo: Assim, cada indivíduo pode apresentar comportamentos
diferentes em ambientes diferentes. O campo cria necessidades e comportamentos
diferentes, assim como a necessidade organiza o comportamento e o campo.
Compreende-se, portanto, a razão da criança hiperativa variar o seu comportamento
irrequieto em distintos contextos de vida (Antony e Ribeiro, 2004)
No processo terapêutico exploramos o funcionamento dos sistemas (cognitivo-
motor-emocional) e suas ricas interligações, entendendo que aspectos emocionais
podem influenciar a capacidade cognitiva da criança (e vice-versa), assim como podem
afetar a coordenação motora e outras questões relacionadas à corporeidade. (Antony,
2018). Encerrar com o objetivo.
Clarifique a relação da sua fundamentação teórica com o seu objetivo.
Objetivo Geral
Compreender por meio do olhar da mãe para o filho diagnosticado com TDAH
de que forma o modo de ser e existir da criança reflete na relação deles. Sempre escreva
o objetivo da mesma forma.

Objetivos Específicos
Conhecer a percepção da mãe a respeito do filho (como a mãe percebe o filho)
Apreender como é a relação mãe e filho
Como a mãe reconfigura o campo após o diagnóstico
Metodologia
A pesquisa é caracterizada como qualitativa fenomenológica por utilizar o
método de Giorgi (2008) que tem como propósito a compreensão da vivência das mães
na relação com o filhos diagnosticadas com TDAH.
Local
As entrevistas serão realizadas em um espaço que respeite o critério de
confidencialidade e que os fatores tempo e deslocamento não sejam impedimento para a
realização das mesmas
Participantes
Serão entrevistadas 3 mulheres que tenha filho diagnosticado com TDAH.
Critérios de inclusão
Adicionar
Critérios de Exclusão
Adicionar
Materiais
Os materiais a serem utilizados nesta pesquisa serão: um gravador digital
para registro da entrevista e para a posterior transcrição dos dados, papel e
caneta para anotações que forem pertinentes.

Procedimentos
Coleta de dados
As participantes que se encaixarem nos critérios de inclusão serão convidadas a
participar da pesquisa e caso aceite, será realizada a entrevista presencial no horário e
local combinados com o intuito de passar as informações acerca do TCLE, além de
descrever as informações sobre os objetivos da pesquisa e seus procedimentos
envolvidos os quais vão de encontro com a Resolução n. 510, de 07 de abril de 2016,
emanada do Conselho Nacional de Saúde, sendo as participantes esclarecidas sobre
riscos e benefícios, acompanhamento e assistência, sigilo e confidencialidade, uso e
destinação dos dados, indenização e liberdade de desistência sem prejuízos. Após os
esclarecimentos e leitura do TCLE, serão colhidas informações das participantes a
respeito das suas experiências vividas com o tema a ser investigado, tendo como
perguntas disparadoras: “Como é ser mãe de uma criança com TDAH?”

Análise dos dados


A entrevista deverá ser gravada e transcrita pela pesquisadora para que seja
realizada uma análise da descrição da experiencia do participante de acordo com o
método fenomenológico de Giorgi tendo que tem por objetivo chegar a síntese dos
significados psicológicos essenciais da experiencia dos participantes da investigação
(Giorgi e Sousa, 2010).
Neste método destacam-se quatro passos a serem seguidos: a apreensão
geral do que foi descrito; delimitação das partes essenciais a serem investigadas;
reavaliação pormenorizada das unidades de sentido; e a apuração resoluta do
sentido da experiência (Giorgi e Sousa, 2010).
Em primeiro lugar, o método fenomenológico por meio da experiência
vivida pelo sujeito utilizando-se da descrição apreende o que chega a sua
consciência. Em segundo, é feita a redução fenomenológica dos dados colhidos
pelo investigador para conhecer o sentido do que se apresenta à consciência do
participante. Posteriormente, o pesquisador deve buscar chegar à essência do
fenômeno para encontrar o significado psicológico da experiência revelada pelo
sujeito da pesquisa. Por fim, chega-se às unidades de significado psicológico que
descrevem de forma geral a experiência vivida pelo indivíduo (Giorgi & Sousa,
2010).

Cronograma
Abri Ju
Etapas Maio julho Agosto
l n
Revisão Bibliográfica x x
Coleta dos Dados x
Análise dos dados x x
Redação do Relatório de
x
Pesquisa
Apresentação x
Referências

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