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AO JUÍZO DA ____ VARA CIVIL DA COMARCA DE PONTALINA, GOIÁS.

JOAQUIM FERREIRA DA SILVA, brasileiro, casado, inscrito no CPF sob nº


123.456.789-10, e-mail: joaquimfsilva@gmail.com, residente e domiciliado na Rua 01
Qd 02 Lt 03, Centro, Pontalina, Goiás, CEP 75.620-000, representado por seu advogado
que esta subscreve, vêm respeitosamente à Presença de Vossa Excelência, propor:

AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS – ERRO


MÉDICO

Em face de MAURICIO PEREIRA DOS SANTOS, brasileiro, casado, medico,


portador do CRM/GO 1.123, inscrito no CPF sob n° 111.222.333-04, e-mail:
drmauriciopereirasantos@gmail.com residente e domiciliado na Rua 06 n° 111, Centro,
Pontalina, Goiás, CEP 75.620-000, e pelas razões de fato e de direito que passa a aduzir
e no final requer :

1. DA GRATUIDADE DA JUSTIÇA

Requer preliminarmente, a concessão do benefício da Justiça Gratuita,


assegurados pela Constituição Federal, Artigo 5º, LXXIV e pela Lei 13.105/2015, e
artigos 98 e seguintes do CPC, declarando sob as penas da lei, que o Requerente não
dispõe de recursos financeiros para arcar com as eventuais custas e despesas
processuais.
2. DOS FATOS

Por volta de 02 (dois) anos atrás, o requerente sofreu uma queda de cima de uma
escada, e com isso fraturou o úmero esquerdo, necessitando ficar de tipoia para fixação
do ombro fraturado. Em tratamento para recuperação da lesão sofrida, o requerente
percebeu que o seu quadro de saúde não estava bem, pois, a partir de então, além de
passar a sentir fortes dores na região do fígado, qualquer alimento que comia lhe fazia
mal, levado a exaustão de tanto se contrair com as fortíssimas dores que sentia, e, ainda
não conseguindo se alimentar adequadamente, o requerente procurou atendimento
médico no Hospital Municipal de Pontalina-GO, oportunidade em que, ao relatar o que
lhe estava ocorrendo, apenas lhe foram prescritas injeções de Voltarem, as quais passou
a torná-las diariamente, por um período de 30 (trinta) dias, inclusive ocorrendo
situações de ter que torná-las 02 (duas) vezes ao dia. Não surtindo qualquer efeito o
inadequado tratamento a base de Voltarem, procurou atendimento médico junto ao
HOSPITAL SANTA GENOVEVA, oportunidade em que, o requerido médico que já o
atendera anteriormente, solicitou exames de endoscopia e ultrassonografia, e ao analisar
referidos exames, diagnosticou-se colelitiase (pedras na vesícula). Diante da constatação
de "pedras na vesícula", ou seja, a causa de todo o agravamento do estado de saúde do
requerente, após a lesão do úmero, solicitou ao hospital, exames de risco cirúrgico
(ergometria, coagulograma, eletrocardiograma, etc...) os quais, ressalta-se foram todos
normais, razão pela qual, foi agendada a cirurgia de Colecistectomia, ou seja, retirada
cirúrgica da vesícula biliar. Assim, em 06 de novembro de 2019, o Autor fora
submetido a procedimento cirúrgico a fim de eliminar "pedras na vesícula" realizado
pelo querido, nas dependências do HOSPITAL SANTA GENOVEVA. De acordo com
a literatura médica, colecistectomia é um procedimento cirúrgico, cujo tempo máximo
operatório varia entre 100 (cem) a 150 (cento e cinquenta) minutos, ou seja, pouco mais
de 02 (duas) horas de duração. Ocorre que, no caso em comento, referido procedimento
demorou cerca de 05 (cinco) horas, e, uma vez indagado o médico sobre o motivo que
tinha levado a cirurgia demorar todo aquele tempo, ele lhe respondeu que havia sido
porque a vesícula biliar estava infeccionada e cheia de secreção, e, por isso, teve que
drená-la com uma seringa, para só depois retirá-la. Todavia, o requerente acredita que o
referido álibi foi arquitetado pelo requerido, para tentar justificar a falta de perícia na
realização do procedimento cirúrgico em questão, pois, conforme atesta Parecer
Médico-Legal-Científico, elaborado pelo renomado expert no assunto, Dr.
LEONARDO MENDES CARDOSO, CRM-GO 5.065/ABML 1.046. O requerido fora
vítima de " erro técnico durante os atos procedimentais cirúrgicos pertinentes a uma
necessária colecistectomia, cuja configuração do referido erro, se deu pela "LESÃO DE
DUCTO HEPÁTICO DIREITO, COM CONSEQÜENTE DRENAGEM DE BILE POR
MEIO DE DRENO INSTALADO E QUE EVOLUIU COM FISTULA ENTRE O
DUCTO LESADO E O DUODENO". Agrava-se a situação, uma vez que, mesmo com
todas essas sucessões de erros ocorridas durante o procedimento de intervenção
cirúrgica, na época em que fora realizada a cirurgia, o HOSPITAL SANTA
GENOVEVA, não dispunha de Unidade de Tratamento Intensivo — UTI, nem de Sala
de Recuperações Pós-Anestésica - SRPA, (Resolução CFM nº.1.802/2006, art.4°16),
razão pela qual, realizada a operação, ao sair do Centro Cirúrgico já com um dreno
abdominal, o requerente foi encaminhado diretamente para um quarto. O dreno
abdominal eliminava cerca de 03 (três) litros de secreção a cada 24 horas. Como já era
de se esperar, dado o erro médico ocorrido durante os atos procedimentais da cirurgia,
permaneceu o dreno eliminando intenso volume de secreções, por mais de 06 (seis)
meses de sofrimento (dores e constante apresentação de febre). Restando agravado o
quadro clínico de saúde do requerente , não só pelas consequências do erro médico o
qual fora vítima, mas também pela negligência e falta de assistência médica pós-
operatório, este, após 06 (seis) longos meses de sofrimento pós cirúrgico, procurou
recurso em Goiânia. novamente se submeteu a exames de ultrassonografia e tomografia
computadorizada. Feitos os exames na forma solicitada, este após análise dos mesmos,
constatou-se que a lesão que o requente apresentava era gravíssima e que deveria
urgentemente se submeter a uma reoperação, a fim de que fosse feito uma reconstituição
dos danos sofridos.

3. DO DIREITO

Comprovado em juízo o dano, de forma satisfatória, como ocorre no caso em


tela (nexo causal entre a ação médica e o resultado no paciente), posto que o erro
causado pelo médico só fez piorar a situação de seu paciente, levando o mesmo a uma
piora gravíssima em seu quadro de saúde, a indenização civil se instala, conforme na
previsão do art. 186 e arts. 927 e seguintes, do Código Civil, bem como no art. 14 do
Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/90).
Art 186 CC: Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou
imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente
moral, comete ato ilícito.

O contrato de prestação de serviços médicos em geral é contrato de meios


devendo neste caso ser apurada a responsabilidade de maneira subjetiva, comprovando a
culpa deste, como atesta a vasta documentação acostada aos autos. Desta forma, agiu
com culpa quando, de forma equivocada, negligente e imprudente, que errou em
procedimento cirúrgico, e como se não bastasse, ainda negligenciou os cuidados ao seu
paciente, mesmo após chegar a observar as condições em que seu mau procedimento
cirúrgico deixou o seu paciente.
Desta forma, perfeitamente cabível a pretensão da autora em pleitear
indenização, eis que “Qualquer resultado lesivo ao paciente, decorrente de negligência,
imprudência ou imperícia do médico, importará direito/dever de indenizar. Direito de
receber indenização por parte da vítima e dever de reposição por parte do médico, pela
ação cometida ou omissão ocorrida”.

4. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DO MÉDICO CIRURGIÃO

Os arts. 31 e 32 do Código de Ética Médica trazem o seguinte teor:

(…) É vedado ao médico:

Art. 31 – Deixar de assumir responsabilidade sobre serviço médico que indicou


ou do qual participou, mesmo quando vários médicos tenham assistido o
paciente.

Art. 32 – Isentar-se de responsabilidade de qualquer ato profissional que tenha


praticado ou indicado ainda que este tenha sido solicitado ou consentido pelo
paciente ou seu responsável legal.

Verifica-se que o próprio Código de Ética responsabiliza o profissional que


presidiu a intervenção cirúrgica. Desta forma, sua responsabilidade resta inquestionável,
senão vejamos o texto abaixo, o qual fora extraído de jurisprudência dominante em um
de nossos mais renomados Tribunais:

CIVIL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. ERRO MÉDICO. RESPONSABILIDADE


SOLIDÁRIA DO CIRURGIÃO. CULPA “IN ELIGENDO” E DO
ANESTESISTA RECONHECIDA PELO ACÓRDÃO RECORRIDO DE
PROVA SÚMULA Nº 07 DO STJ.

O médico chefe é quem se presume responsável, em princípio, pelos danos


ocorridos em cirurgia, pois, no comando dos trabalhos, sob suas ordens é que executam-
se os atos necessários ao bom desempenho da intervenção.

Da avaliação fática resultou comprovada a responsabilidade solidária do


cirurgião (quanto ao aspecto “in eligendo”) pelo dano causado. Insuscetível de revisão
esta matéria a teor do enunciado na Súmula 07 do STJ.

Recurso não conhecido. (Recurso Especial nº 53104-7/RJ, STJ, Rel. Min.


Waldemar Zveiter, Recorrente Osvaldo Luiz Dias Berg. Recorrido: Norma Pacheco
Senna. J. 04.03.97, un DJU 16.06.97, p. 27.359).

5. APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

Ao passo que na obrigação de meios do médico o objeto do contrato não é a


cura, mas a prestação de serviços alicerçados em cuidados conscienciosos, de acordo
com os avanços científicos e tecnológicos de sua profissão, onde o profissional não se
obriga a restituir a saúde a um paciente, mas tão-somente a agir com toda a diligência
para atingir, dentro das possibilidades existentes tal objetivo, o que não fora feito, pois
negligenciou o paciente no momento em deveria tentar corrigir seu erro cirúrgico.

Cabível, desta forma, a inversão do ônus da prova, tendo em vista o


conhecimento técnico científico do profissional bem como a garantia assegurada pela
doutrina, a qual atribui ao médico, o ônus de produzir todas as provas necessárias
processualmente, diante de sua responsabilidade objetiva, nos casos em que o contrato é
de resultados, e não de meios, eis que tal disposição encontra-se regulamentada pelo
Código do Consumidor, conforme abaixo:

“Art. 6º – São direitos básicos do consumidor:

VIII – a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus


da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for
verossímil a alegação, ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras
ordinárias da experiência.

Diante de tais fatos, principalmente da hipossuficiência da autora, requer desde


já seja declarada a inversão do ônus da prova, cabendo aos réus o ônus de produzir
todas as provas atinentes ao presente processo, pena de virem a ser condenados,
solidariamente, com a procedência total da ação, na indenização pleiteada.

6. DO DANO MORAL

É consabido que a moral é um dos atributos da personalidade, tanto assim que


Cristiano Chaves de Farias e Nélson Rosenvald professam que:

Os direitos da personalidade são tendentes a assegurar a integral proteção da


pessoa humana, considerada em seus múltiplos aspectos (corpo, alma e
intelecto). Logo, a classificação dos direitos da personalidade tem de
corresponder à projeção da tutela jurídica em todas as searas em que atua o
homem, considerados os seus múltiplos aspectos biopsicológicos.

Já se observou que os direitos da personalidade tendem à afirmação da plena


integridade do seu titular ou de herdeiros. Enfim, da sua dignidade.

Em sendo assim, a classificação deve ter em conta os aspectos fundamentais da


personalidade que são: a integridade física (direito à vida, direito ao corpo,
direito à saúde ou inteireza corporal) a integridade intelectual (direito à autoria
científica ou literária, à liberdade religiosa e de expressão, dentre outras
manifestações do intelecto) e a integridade moral ou psíquica (direito à
privacidade, ao nome, à imagem, etc). (FARIAS, Cristiano Chaves de;
ROSENVALD, Nélson. Curso de Direito Civil. 10ª Ed. Salvador: JusPodvim,
2012, pp. 200-201)

Segundo Yussef Said Cahali caracteriza o dano moral:

Parece mais razoável, assim, caracterizar o dano moral pelos seus próprios
elementos; portanto, ‘como a privação ou diminuição daqueles bens que têm um
valor precípuo na vida do homem e que são a paz, a tranquilidade de espírito, a
liberdade individual, a integridade individual, a integridade física, a honra e
demais sagrados afetos’; classificando-se, desse modo, em dano que afeta a
‘parte social do patrimônio moral’ (honra, reputação etc) e dano que molesta a
‘parte afetiva do patrimônio moral’ (dor, tristeza, saudade etc); dano moral que
provoca direta ou indiretamente dano patrimonial (cicatriz deformante etc) e
dano moral puro (dor, tristeza etc.). “ (CAHALI, Yussef Said. Dano moral. 4ª
Ed. São Paulo: RT, 2011, pp. 20-21)

Dessa forma cabe o dano moral do requerente, em seu próprio nome, um dano a
sua saúde que veio a prejudicar em diversas esferas de sua vida.

No que tange ao arbitramento da condenação, mister registrar que essa deve ter
um conteúdo didático, visando tanto compensar a vítima pelo dano – sem, contudo,
enriquecê-la – quanto punir o infrator, sem arruiná-lo.

Anote-se, por oportuno, que não se pode olvidar que a presente ação, nos dias
atuais, não se restringe a ser apenas compensatória; vai mais além, é verdadeiramente
sancionatória, na medida em que o valor fixado a título de indenização reveste-se de
pena civil.

Destarte, diante dos argumentos antes verificados, pede-se indenização


pecuniária no valor correspondente a R$100.000,00 ( Cem mil reais), à guisa de
reparação dos danos morais.

7. DOS PEDIDOS
Diante de todo o exposto, requer a Vossa Excelência:

a. Determinar a citação do Requerido, no endereço mencionado, para


responder á presente, querendo, sob pena de sofrer os efeitos da revelia;

b. Requer que seja declarada procedente os pedidos de justiça gratuita posto


a hipossuficiência da parte autora;

c. Requer-se seja dada TOTAL PROCEDÊNCIA à ação, para fins de


condenação dos réus à indenização por danos morais no valor de R$ 100.000,00 (Cem
mil reais).

d. Ao final requer seja o Requerido condenado a pagar custas e despesas


processuais, dentre elas honorários advocatícios de sucumbência.

Protesta provar o alegado por todos os meios de provas em direito admitidos.

8. DO VALOR DA CAUSA

Dá-se à causa o valor de R$ 100.000,00 (Cem mil reais).

Termos em que,
Pede deferimento.

Pontalina, 07 de março de 2024

Advogada/ Estagiaria: Déborah Narciso de Oliveira


OAB/GO n° 00.000

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