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JUDICIARIO
PUBLICAÇÃO QUINZENAL
VOLUME LXV
(Janeiro, Fevereiro e Março)
1943
Jornal do Commercio
RODRIGUES & ClA.
Avenida Rio Branco n. 117
RIO DE JANEIRO
--1943--
(85)
AOS NOSSOS LEITORES
O encarecimento geral de todas as utilidades, por mo-
tivos que são notórios, atingiu de modo especial à indústria
de publicidade. Isso nos obriga, a contragosto, a modificar,
com uma pequena majoração, a tabela de preços da assi-
natura e da venda avulsa do ARCHIVO JUDICIARIO, os
quais são ainda hoje os mesmos de há quinze anos atrás
quando foi fundada esta revista.
Embora no decorrer desse período de tempo todo o
material gráfico e de impressão- particularmente o papel
- tenha sofrido constante elevação de preços, preferimos
sempre reduzir a nossa margem de lucros, a sacrificar os
nossos leitores. De tal fôrma, porém, essa majoração se
acentuou ne,stes últimos tempos, que nos vemos agora for-
çados a alterar tambem a nossa tabela de assinaturas e
venda de fascículos e volumes do ARCHIVO JUDICIARIO.
Não visa esta medida o alcance de maiores lucros
senão a necessidade de um reajustamento de valores que
nos ponha a coberto de prejuizos. Cedemos assim, tão so-
mente, a um imperativo de ordem econômica que, estamos
certos, os nossos leitores bem compreenderão, aceitando
esta satisfação que nos julgamos no dever de oferecer-lhes.
Os ndvos preços A VIGORAR DE 1. 0 DE JANEIRO DE
1943 são os seguintes:
ASSINATURAS
VENDA AVULSA
VOLUMES ENCADERNADOS
A administração.
{1)
ARCHIVO
JUDICIARIO
PUBLIGAÇAO QUINZENAL
DO
JORNAL DO COUMERCIO
VOLUME LXV
(Janeiro, Fevereiro e Março)
1943
Jornal do Commercio
RODRIGUES & CIA.
Avenida Rio Branco n. 117
RIO DE JANEIRO
- 1943--
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ARCHIVO JUDICIARIO
(PUBLICAÇÃO QUINZENAL DO "JORNAL DO COMMERCIO")
Vara dos Feitos da Fa:renda Pública pclr, Caixa Contraminutado o recurso pela Caixa e pela
Econômica Federal d 0 Rio de Janziro contra a União, com o assist?nte desta, e após a sustenta-
Companhia Sertaneja S. A., o Dr. Gera.Jdo Ro- ção do juiz, foi aquela recebido nesta Corte onde
ch!l. oferer.~'l embargos .de terceiro autuados em teve da parte do Dr. Procurador Geral a seguin-
sEparado, por s~ referirem apenas a UJlla máqui- te apreciação;
na de imprimir rotativa instalada ,com aclerên- "As partes componentes da demanda puze-
cia ao solo, no prédio, penhorado da rua Evaris- rHm-lhe remate. O terceiro não tem demanda
te da Veiga n. 16. a que se opôr. Se algum dinito lhe alimenta a
Reijeitados in limine por tardia oposição, pretensão, terá que fazê-lo valer, se possivel,
foram, porem, ditos embargos mandados pro- em ação próprif1, pois não há demanda em que
cessar p'2lo V. acordão de fls. 81, sob o funda- deva intervir.
mento de que a penhora não abrangera o bem "A sentença agravada merece confirmação
reclamado, só mais tarde havendo o Juiz acen- por seus judídicos fundamentos.
tuado sua implícita inclusão cont!·a o qual tem- , 31-12-1941. - Gabriel de R. Passos".
pe.stivamente se insurgiu o ora ·~gravante.
VOTO
Cont-estados os embargos a 25 de Outubro de
1940 foi: marcada a audiência para 7 de Julho de
Improcede a preliminar de não cabimento
1941 tendo se insurgido contra stu. realização a de agravo, eis que a sentença recorrida não exa-
Caixa Econômica, sob fundamento de se acha- minou o mérito da causa, mas a ela pôs termo.
rem prejudicados os embargos de •erceiros, dian- A despeito da inteligente argumentação do
te da extinção d 0 rprocesso principal, que. era o p·atrono do agravante, não me parece que este
deva, porem, alcançar o provimento de seu re-
de executivo hipotecário, aonde fôr homologada
curso.
a desistência, fundada em pagamento integral
Em verdade, alega ele que tendo corrido a
da crooora no ato da venda do ilnovcl ao Ins-
juizo para acautelar seu domínio e posse sobre
tituto de Aposentadoria e P2nsões J.os Comerciá-
certo bem, não podia, sem julgamento de ·SUa
rios.
pretensão, ser condenado nas custas, só porque
na escritura outorgada pela Companhia Ser- a exequente, plenamente satisfeita do crédito,
taneja, sob representação do ora agravante, seu se desinteressava de juizo - si a Caixa lhe con-
presidente, alem de outro diretor, constava obri- testou o domínio alegado não se poderia furtar
g~tção assumida por essa soci,~dade de pagar as ao debate e à responsabilidade pelas custas.
custas do executivo inclusive os em.olumentos do Aduz, ainda, a impossibilidade de confu-
depositário (flS. 128), o que realmente cumpriu, são entre a pessoa física elo ar;ravante e a jurí-
como se verifica dos autos em ape!'Jso. dica de sociedade, ainda que desta fosse ele
O embargante opoz-se, porem, aos argumen- diretor, cada uma delas interessada em relação
tos da caixa ,a.Jegando que embora tivesse :re,. jurídica aut~noma, menos ainda devendo impor-
cebido a máquina necessária se tornava a con- tar a circunstância de ser o mesmo o advogado ,
denação nas custas "finalidade do prosegnimen- dos diversos sujeitos que pleiteam em juizo,
to que deu ao feito (fls. 112) . " com independência de posições.
O Dr. Juiz "a quo" considerando haver Tão pouco, poderia ser interpretado exten-
sido levantada 'a penhora a pedido do s.dvogado sivamente a escritura pública, em que a Com-
do 30 embargante que era tambem. o da Com- panhia &rtaneja se obrigou ao pagamento de
panhia entendeu impossivel conhecer de embar- custas do executivo, nunca se podendo esten-
gos sem mais objeto e acentuou por demais que der, por inferência, às dos embargos ele terceiro.
o desistente da ação principal a.>sumiu implici- Hâ uma lacuna nos autos, relativa ao desti-
tamente a responsabilidade pelas custas dos in- no da máquina, mas ela pode ser suprida pela
cidentes da causa. afirmação da parte, de que a recebera da exe-
Contra essa sentença que julgou improce- cutada, após o levantamento da penhora.
dentes os embargos por falta de objeto e con- Os embargos de terceiro constituem processo
denou o embargante nas ~ustas agravou-se este acessório, incluido no livro V do r·espectivo Có-
com fundamento nos artigos 824 número IV c digo; assiln, o simples jogo da lógicrt autorisrrria
846, subindo o recurso nos próprios autos, dada o reconh8cilnento elas conscquências cxtraiclas
a prevalência elo segundo motivo. ela natureza subsidiaria pelo art. 687, ainda que
(8)
5-1-43 AH.CHIVO JUDICIARIO 7
não ti v esse este aplicação expressa por ser res- posse, evidentemente por força ele cláusula
trita ao art. 685 a remissão do art. 710, todos do constituti (4 e 7 ele Fevereiro de 1939 - fls.
Código de Processo, eis que vale em qualquer 24-25).
sistema a velha regra do art. G02 do regulamento Pouco importa o fato já decidido definiti-
737 de 1850. vamente ele que o agravant·3 só tivera ciência
Em verdade - findando o processo por qual- ele que a penhora abrange a máquina em 16
quer motivo, a medida acessória perde a efica- de Fevereiro - desde antes da penhora, a má-
cia a partir do momento da cessação - não é quina se achava sob a detenção elo a-;ruvante
possível discutir efeitos de penhora, já inexis-
tente.
I
e nenhuma deslocação sofreu, antes ou depois
da penhora, nenhuma modificação concreta ou
Mas surge o problema das custas que te- aparente nos fatos se processou.
riam normalmente de ser pagas pela parte que Por outro lado e apezar da independência
houvesse desistido ou confessado, ou por metade, teórica elas personalidades física e jurídica, hoje
em caso de transação, salvo acordo em contrário, muito atenuada diante dos processos capitalis-
(Cód ele Processo art. 55) - Na espécie, houve ticos especialmente na constituição de socie-
desistência apenas formal, mas em verdade tri- dades holcLings, ou nas chamadas de famílias
unfo da exequente (Pedro S. Martins - CócL. conforme já repercutiu em nossa legislação re-
Proc. vol. 1 pgs. 187), que recebeu integral- lativa ao trabalho e até à renovação de contra-
mente seu crédito, sendo, assim, natural, que tos de locação nada impede sejam apreciadas
tivesse imposto, a executada o onus das despesas. circunstância inteiramente alheias a esse velho
Mas, em relação ao processo acessório, ter- postulado.
minado sem solução do mérito e por força ele Em verdade poderia prevalecer a absoluta
incidência do principal, há omissão de regras, independência das personalidades e mesmo o
não só no Código, como nos regimentos de alheiamento de um administrador aos diretos
custas de 1934 e 1940; nem por isso o juiz se interesses da sociedade, quando dela não fosse
eximir:!, de decidir a controvérsia. que por isso se tivesse de afastar a circunstân-
cia ocorrida nestes de autos de alguem firmar,
Em rigor, o terceiro ,Incomodado por ação
representando outrem, declaração da vontade
alheia não deveria carregar com as despesas
que lhe trouxesse repercussão individual.
para reclmnar sua entrega, si a reclamação tem
O próptio agravante reconhece que foi como
de ser levanta da pela transação das partes.
presidente da executada que soube d•a. penhora
Mas, de quem. receberá ,esta indenização,
(v. g. fls. 37) e: isso a decisão antcnor uceitou,
do autor ou do réu?
versando a antiga controversia apemi.S so!Jre a
Em princípio do réu, salvo prova de malícia
data desse conhecim.znto.
do autor, porque a coisa penhorada foi descober-
Foi, assim tambem que, assinando a escritu-
ta pelos agentes de justiça em poder daquele
ra de venda teve o agravante ciência d-~ que o
e lhe será restituída, após o levantamento da
executivo seria trancado, levantando-se a pe-
penhorá, nunca ao exequente ou ao terceiro em-
nhora. sem, restrições, inclusive, portanto, da má-
bargante.
E' em regra por culpa do executado, que
quina e não fez qualquer resalva sobre a obri-
detem a qualquer titulo o bem arrecadado pela gação de pagamento de custas que assunüa a
justiça, que o embargante sofre a molestia de Companhia.
uma vinda forçada ao pretório. Confiou nela, para que, levantc.da a penhora
Como na apropriação indébita, há uma re- toda, lhe restítuisse 0 que considerava seu é
sultante da confiança do dono em deixar a coi- que a independência jurídica mutto cUstava da
sa em poder de terceiro, ensejando, ainda mes- economia.
mo que sem culpa, a ação da justiça. E' certo que as renúncias ;.e interpretam res-
Na espécie, esses princípios tem mais ade- tritamente, mas na especie ela teria tecla o ca-
quada aplicação por várias circunstâncias. bimento em face da participação do agravante
<A primeira é a ele que a máquina estava em na escritura cte fls. 128, sem qualqw:or res?rva.
poder da executada, adquirente sob reserva de •Em um dos feitos ma!s brilhante:nente de-
domínio e só depois da penhora, aos 26 de Ja- batidos nesta Colenda Corte prev«leceu apenas
neiro ele 1939 teria o agravante, por sinal que por n1aiorirt ele un1 Yoto. no clcrrnclciriJ jul;;~1-
fia::lor elo contrato, adquirido seu domínio e mento, a tese de c,ue, servindo de tesh,mHnh:ê rw.
(9)
8 AflCHlVO ,Jl'DIC:TATHO 5-1-43
-venda livre e desembaraçada elo imovel que lhe Agosto de 1936 até 27 de Março de 1940, quando
estava hipotecado, o credor não renunciára a seu se pediu prolatasse o juizo despacho saneador,
priVilégio - mas predominaram para esse es- a causa ficou adormida. Dai a defesa de prescri-
casso resultado circunstâncias que agora justa- ção intercorrente suscitada pela R. e que o juiz
nlente concorrem pMa inverter a conclusão, es- acolheu na sentença de fls. (lê 79 a 91) .
pecialmente a de que o agravante nâo foi mera O A. agravou em tempo habil, argumentan-
testemunha, mas prestou declarações principais, do, em slntese:
motivo que l-evara, por exemplo, o Ministro "que o dec. 20.910 de 6 de Janeiro de 1932
Laudo de Camargo, naquela oportunidade e na manteve o prazo de 5 anos para a prescrição dos
pesquiza de jacta concludentia, a rejeitar os direitos pessoais contra a União Federal, nada
-embargos (rec. extr. n. 3. 550 in Rev. de Di1·., inovando a esse respeito;
vol. 135, págs. 248. Rev. dos 'Tribunais, de São que, assim, como no direito antigo, a pres-
Paulo, vol. 132, págs. 749, etc.). criçio intercorrente é tambem de 5 anos: - 11.
Assim nego provimento ao agravo. parada elo feito, como está no art. 5 se há da
verificar durante o prc!zo necessário à extinçilo
DECISÃO
do direito, vale dizer cinco anos, contribuindo,
Como consta da ata, a decisão foi a seguin- ainda, os termos elo art. 6 para móstrar o acer-
te: Negaram provimento unanimemente. tado dessa exegese; que o contrário, dado o
efeito interruptivo da citação inicial, valerh por
Acordão admitir que o processo elas ações de que se tra-
Vistos, relatados e discutidos os autos de ta, ainda que o A. não se mostrasse inerte, sO-
agravo n. 10.029 em quo; é agravante Geraldo mente se poderia desenvolver em tempo menor
RochP, e agravada a caixa Evonôm;ca elo Eio àe de dois anos e meio, sob JWna de prescrição, re-
Janeiro, acorda a P turma do Supremo Tribunal mate que, de absurdo, desvela a improcedência
Federal negar provim'ento ao ae,ravo pelas razões completa de seu antes suposto, isto é, a prescri-
constantes do voto taquigrafQdo rlo i'0lator. ção intercorrente de dois anos e meio; que a li-
Custas pela agravante. mitação destes para 2 anos e meio -- tudo o
Rio, 10-9-42 (data do julgamento) - Laudo n1ostra só se ver~~ica nos "atos pre-acionários''.
àe Camargo, Presidente. - Philadelpho de Aze- no ajuizamento da demanda, não visando à açio
vedo, . r ela to r . ajuizada, que prescreve em cinco anos; que "o
último ato ou termo do processo" a que se re-
fere a lei, não é o ela· ação; é o do processo que
ten1 por objeti1·o exclusivo interromper a pres-
Agravo de petição n. 9.114
crição; que ajuizada a ação, pode a prescrição
(DISTRITO FEDERAL) ser sempre interrompida, pois c:ccl[l [lto ou tei-
mo tem essa virtude, como a tem a citação !nl-
A defesa fundada em prescri,ão não deve ser
considerada com antecipada hostilidcu/.-~, cial, apesar de já se achar interrompida. a pres-
senão apreciada com os critérios de jul- cri<:/\o pelo protesto; que o caso é, mais propria-
gamento. -Os casos do dec. n. 20.910
de 6 de Juneiro de 1932 não são de de- mente, ele clecadéncia, e não se admite preclusão
cadência, mas de prescTição q1w se con- mtercorrentç, tese que explana largamente, in-
suma, quando intercorrente, na metade
do prc•zo, isto é, 'dois anos e meio. ··- sistindo aincla o agravante em que, clacla a indole
.A citação inicial seguida de demanda ela defesa, eleve o juiz, no caso de düvicla, inter-
interrompe a prescricclo, mas não assina-
la o inicio·do novo prazo, que se conta, pretar a lei em favor elo direito que se intenta
então, do último ato ou termo do pr.J- aniquilar pela prescrição".
cesso. Interrupção contimwtit·u. o de c.
·20. 910 nclo se refere apenas aos atos ins- A Unifw contra.-minutou argumentando que,
tc•:ttaneos ou autônomos de interrv.-
pção. no caso, o protesto ocorreu já na vigência elo de c.
20. 910; que a. prescrição intercorrente foi sem-
RELATÓRIO
pre reconhecida pela jurisprudência deste Su-
O Sr. Ministro Orozimbo Nonato: - Em premo Tribunal; que o art. 9 do dec. 20.910
1934, propôs o Marechal Feliciano Mendes de não rende ensejo a elüviclas quando dispõe que
l\1!oraes contra a União Fecler:'tl açfio para que lhe "rt prescriçfto interrompida recomeça a correr
fosse reconhecido direito a receber, a partir da pela mctaclc elo prazo, ela clat[l elo ato que a in-
lei 5 .167-A. de 12 ele Janeiro de 1927, vencimen- tenompeu ou elo último ato ou termo elo res-
tos do posto de Marechal do Exército. De 19 ele pcctivo processo; que nfw vinga o apelo ao art.
110)
5-1-43 ARCHIVO JUDICIARIO
5: 0 que este estabelece é não se suspender a não ocorrendo ainda, outro elemento a que seM-
prescrição quando a parte não dá andamento ao fere Carlos Maximiliano (in Dir. vo~. I, p. 44) ·....:-
jprocesso judicial, o que demonstra a possibllida- o de serem as partes, e não um.a delas só, como
de da prescrição intercorrente, valendo observar no caso, titular de direito ..
que os prazos para a extinção do direito a que Não será dificll concluir que tambem os
ele se refere são os que o próprio decreto esta- outros argumentos não merecem prosperar. O
belece, entre os quais o de dois anos e meio, no dec. 20.910, ao invés do que assevera o agr&~
caso de interrupg%o; que o caso não é de cadu- vante,' criou direito novo, pois, se manteve o
I
cidade, mas de prescrição como, aliás, está na prazo de 5 anos da prescrição, reduziu para dois
lei. A sentença, largamente fundamentada con- anos e meio o novo prazo suscitada pela inter-
cluiu pela .prescrição e o Exmo. Sr. Procurador rupção e só admite a interrupçãQ por uma vez,
Geral pede seja ela confirmada, à conta de seus quando, antigamente, apesar da prestigiosa opo-
jurídicos fundamentos. sição do eminente jurista Sr. Bento de Faria,
E' o relatório. eram as interrupções admitidas indefinidamen-
te. O art. 9 do cit. decreto impede, a todas as
VOTOS
luzes, o .provimento do agravo. A prescrição in-
o Sr. Ministro Orozimbo Nonuto: - O ar- terrompida, reza o cit. art. 9, começa a corrnr
gumento do agravante de que, dada a indole da pela metade do prazo, da data do ato que a in-
prescrição, deve o juiz, na dúvida, decidir no terrompeu ou do termo do respectivo processo.
senltido de es~ar a ação viva, deixa de apresentar Si a aç.9.o ficou sem andamento por mais de dois.
qualquer momento. A interpretaçl!.o da lei obe- anos e meio, ocorreu, com certeza a ~rescrição
dece, no caso, aos cri1Jêrios comuns e gerais, par- inteiramente: -conta-se esse prazo do termo do
tindo a afirmação contrária do conceito anacro- respectivo processo, daquele que assinalou a
nico de constituir a prescriç9.o um "presídio in- 1nercüt do A. O prazo a que se refere o art. b
justo" digno de formar, na referência de tim - e aí vai a confutação de outro argumento do
doutor antigo, "na bíblia de Satanás'•. Pôde agravante - é o de 5 anos para a propositura da
essa defesa repugnar, em certos casos, e real- ação e o de dois anos e meio no caso da ação
mente repugna, aos homens de escrupulo e de ajuizada, e o contrário seria inculcar uma an-
probidade. O juiz, por isso, não decreta de seu tinomia, que inexiste, entre o art. 5 e o art.
ofício, a prescrição, tudo dependendo de alega- 9, cuja linguagem desenganada e clara não ren-
ção da parte. Entretanto, numa visão geral, est~t- de ensejo, a quaisquer entre-dúvidas. O art. ti
a prescrição ligada às próprias condições exiH- por outro lado, esforça interpretação contrária
tenciais do consorcio civil, como escreveu Lau- à defendida pelo recorrente, pois prevê a hipóte-
I
rent, P?is impede patrona do gênero humano se de ocorrer a prescrição p.or não promover a
como dizia Cicero - a intranqullidade social parte o andamento da aç9.o judiciária.
pela eternização dos li tigios.
E, em se tratando de entidade de direito 0 argumento em cont~ário, a que o ilustre
público, a não alegaÇJlo dessa defesa pode to- Juiz a quo apelida "ad terrorem" de que a In"
terpretação da agradava levaria a concluir pelo
mar as proporções de descumprimento de um
absurdo de não se admitir o andamento da ação
dever indeclinavel.
por m1iis de dois anos e meio, dado o efeito in-
- Outro fundamento do agravo em que se
descobre, ao facil, improcedência cabal é o que terr.UJptivo da citação intcial e não ser possí-
.vê nos casos do dec. 20.910 hipóteses de deca- vel interromper a prescrição por mais de uma
<lência, e não de prescrição. Improcedência cabal vez, é especioso.
porque, na decadência o de que se trata é ·de Porque, quando a ação, qualquer que seja
vermo peremptoriamente fixo (Modica, in Giorgi, o tempo de sua duraç%o, tem andamento regu-
Obblig., vol. 8, p. 367, nota 1), que escapa, a lar, a citação inicial, si interrompe a ·prescrição;
qualquer perspectiva ou p'o.s.lilJilidade "d'allon- não assinala o início do novo prazo. Este de-
gement par voce de suspen~ion ou d'intenup- flui não da citação inicial, mas do último termo
tion" (Jcsserand, Cours, n: 1.636, !p. 19:). E o\ do processo (Cód. Civ., art. 173; Cód. do ?on:·
dec. cit. prevê, ainda que por uma v~z somente, \ art. 453; dec. 20.910, art. 9)_. O art. 9 preve dots
e pela metade do prazo, a interrupçao da pres- casos: - o do ato que v1sa exclusivamente a
cricão, Esta só circunstância é poderosa para eu-\ interromper R prescrição, ato autônomo e ins-
mi;lar a p'Ossibilidade de se tratar de decadência, i tantaneo e que assinala o inicio do novo prazo
(11)
ARCHIVO JUDICIARIO 5-1-43
10
ção inicial da demanda, correndo, ent<\o, o novo Como consta da ata, a decisão foi a seguinte:
prazo, do termo do respectivo processo. Negaram ,provimento, contra o voto do Sr. iM.i-
Nem al podia ser. Si a prescrição encontra nlstro Presidente.
fundamento na inercia do credor e si esta, pela Acordão
prossecução regular do feito, não se verifica,
ilógico seria falar em curso da prescrição. Nessas Vistos, relatados e discutidos estes autos
leis consagram o sistema da interrupção conti-
n. 9.114 do Distrito Federal, agravante Marechal
Feliciano Mendes de Moraes, agravada a União
nuativa ou suspensiva que impede a prescição no
Federal.
curso regular e continuo da lide. A prescrição se
Acorda a segunda Turma do Supremo Tri-
dará do termo que manifesta a atividade der-
bunal Federal, integrado neste o relatório de fls.
radeira do A. (V. Almeida Oliveira, Presc., e na conformidade das notas taquigráficas pre-
n. 103, nota 2; Carvalho Santos. Cód. Civ. Int. cedentes ne~ar provimento ao ~~gravo.
111, 436; Azevedo Franco, Presc. Est., .págs. Custas pelo agravante.
107 -108; Numa do Vale, Prescrição, pág. 106 e Rio, 15 de Setembro de 1942. - José Linha-
o opinado Carpenter no vol. IV do Man. Lacen· res, Presidente. - Orozimbo Nonato, relator.
da). A prescrição recomeça a correr, como diz
Planiol "du. jour ou la procedure est abandonée"
(Droit Civ. n. n. 664). v. ainda Ba.udry- Tis- Agravo de instrumento n. 10.407
sier, Della Prescr., ecl. Vallardi, n. 54; Laurent, (MATO GROSSO)
Princ., 32, n. 162; Giorgi, Obbl. n. 291; Gil-
Deve ser apreciado preliminarmente o interesse
louard, Traité de la Presc., n. 281, pág. 265-266; do que apela como terceiro prejudiCado,
Troplong, De la Presc., n. 683; p. 372). - A maximé si se trata da União, pois que se
verificaria ,,!teração grave de competen-
consideração do efeito interruptivo.continuo ela cia. - Versando a questão sobre mattl-
citação inicial atr::-v<és dos atos subsequentes do ria de direito pode ser logo apreciada. -
O decreto-lei n. -1907 de 1939 não alte-
processo, aniquila, tambem, o argumento de que rou o m·t. 692, ns. I1 e I li do Códtgo
o dec. 20.910 só se refere aos atos instantaneos, Civil, de modo que o direito à consolida-
ção do domínio ein, favor do senhorto
autônomos de interrupção, o que vale por inserir direto, em caso de falecimento ·do enfi-
teuta sem herdeiros legítimos de san-
na lei, contra sua letra, seu sistema e suas fina- gue ou mcrtrimônio, sobreleva ao da va-
lidades, uma distinção, que ela não contém. cancia, em favor da Untão.
Inutil ainda argumentar que a citação inicial
RELATÓRIO
deixaria de ter efeito interruptivo - o que e
absurdo - quando a antecedesse protesto, por O Sr. Ministro Philadelpho de Azevedo: -
não se poder repetir a interrupção. Si a ação O procurador Regional em Mato Grossc:. agravo~
é proposta - como o foi no caso - antes do do despacho do Juiz de Direito de Aquidauantl,
prazo de dois anos e meio do protesto e se ela se que negara a apelação interposta, em nome da
desenvolve normalmente, a questão perde todo União, da sentença que, em ação de comis~o.
o interesse e sentido. Si, proposta, tem o curso declara extinto, por falta de pagmnento ele
estagnado, por inercia do A., e além do prazo de. d'óros, a enfiteuse, concedida pela Prefeitura da-
dois anos e meio, o argumento, ainda que fosse quela cidade a Balthazar Rodrigues de Oliveira.
verdadeiro, não seria poderoso para impedir a Alegando haver o enfiteuta falecido há mais
prescrição intercOJ:,rente que a lei no caso, esta- de 30 anos sem herdeiros conhecidos e a aludida
belece às declaradas. falta de pagamento de fóros, a Prefeitura de
1
Aquidauana, que ainda acentuava o interesse
De-resto, o recente decreto sobre prescrição
urbanistico em consolidar o domínio daquele
das ações contra o Estado n9,o permitiria, em
pequeno terreno, chamou os interessados por
qualquer hipótese, o provimento do agravo.
(dec.·lc-i n. 4.597, de 19-8-42). meio de edital, como não houvesse eles apa·
recido, correu a cau~a com um curador a lide,
M3.ntenho a sentença recorrida. que, aliás, nenhuma defesa ofereceu.
O Sr. Ministro José Linhares (Presidente): .Para insistir no recebimento da apelação, o
De acordo com ponto de vista j~ exposto, dOU i Dr. Procurador procura rebater, n:: minuta, as
provimento ao agravo. I três razões aduzidas na sentença ]nra desprezar
(12)
.5-1-43 ARCHIVO JUDICIARIO 11
improcedente a ação pelas razões dOB votos a provada devidamente qualquer sociedade por-
fls. 464, e 467, as quais lerei por ocasião do ventura. existente.
julgamento dos embargos oferec!dos a fls. 475 Nem se alegue tratar-11e de estipulação em
e impugnados a tfls. 481. favor ·de terceiro, pois este falecera, sem fazer
Pretende o embargante que a declaraçij.o a qualquer pronunciamento a respeito.
fls. 17 v. (lê) expressa uma obrigação de :ta- o Sr. Ministro Goulart de OUveira: - Sr.
zilr e o seu inadimplemento ~te resolve em inde- Presidente, a ques!Ao se me afigura muito inte-
nisação por perdas e danos. re.ssante. Mas tem sido apreciada apenas sob
Conseguintemente o acordão embargado te- o ponto de vista de decorrer da declaração feitll
ria aplicado mal o direito a espécie dos. autos no termo de casamento uma declaração de so-
(fls. 478). ciedade, quando para. isso seriam exigíveis con-
Ouvido o Exmo. Sr. Procurador Geral da dições outras, em torno das quais se entreteceu
República opinou nos termos do parecer a flll. a discussão.
4:16, fazendo remissão 110 de fls. 456. Vejo, entretanto, nessa declaração a opor-
Jl!' o relatório. tunidade que tiveram os nubentes de fazer a
(14)
5-1-43 AHCHIVO JUDICIARIO 13
vedor e torna verosimil o negócio cuja existên- cnunciativas feitas nu1n contrato aquelas qu·2
-cia se aleg-a, poderimn ser suprimidas sen1 que o mesmo con-
trato fica$Se prejudicado na sua substância; e
Esse começo de prova por escrito não se re-
declarações dispositivc•s ou o dispositivo - são
feria à constituição de uma sociedade.
aquelas que fazem parte da substância dÕ con-
E' certo. que o declarante se serviu dessa trato, - de sorte que a sua supressão produzi-
expres<;fto; mas tambem é certo que a vontade ria uma alteração radical. A doutrina francêsa
real prima sobre a declarada, e que a errada ou estabeleceu, tambem, uma distinção entre os
imprópria qualificação das partes. não altera a enunciativos diretos e os indiretos, sendo os pri-
essência do ato. meiros os que te em estreita e necessária conexão
X.j§,o se trata de sociedade, senão, e apenas, com as declarações dispositivas, e segundo as
de uma promessa de constituição de condomí- segundas estranhas a estas, meramente inciden-
nio. tais, por exemplo, se um indivíduo, ao fazer um
ernprestimo, declara que a soma mutuada lhe
Essa prome$Sa, pela jurisprudência antiga,
foi confiada em depósito por um amigo, esta
devia revestir a mesma forma do ato a que ela
declaração será enunciativa indireta. (Pothier,
se referia. Já agora, porém, e com os melhores
Obligations, n. 736; Demolombe, 29 pág. 292:
fundamentos, a promessa de venda não exige
Bonnier, II, n. 509; Larombiére, IV, ao art.
escritura com os mesmos característicos da pró-
1. 320; Laurent, XIV, ns. 172-177; Pacifici Maoz-
pria venda.
zoni, II, n. 238, nota I) .
No caso dos autos, trata-se de promessa de
tMerece plena fé tudo quanto conste do ins-
~onstituiçãode condomínio. Ocorre começo ele
trumento público, e tudo quanto o oficial afir-
prova completado pelo adminiculo constante dos
me que foi dito ou feito em sua presença.
autos.
As enunci:ltivas indiretas, opinam os civilis-
A declaração tem eficácia e não é vasia de
tas francêses, embora forneçam um principio ele
significação. Nela não consta a parte do imo-
prova em relação as partes, não fazem prova al-
vel a ser alienada; mas ainda aqui vejo toda
guma contra os terceiros. (E. Esp. 1\f. do Cód.
a procedência no voto do eminente Sr. Ministro
Civ., Lacerda; vol. 3, 3a parte, pág. 118).
Goulart de Oliveira: - trata-se da metade, Já
que outra parte nft.o :foi mencionada. Acrescenta Espinola - Quando, porém, se-
jam 'enunciações indiretas, se as relações tecipro-
Tinham os A. A., com fundamento nas pro-
cas, nã.o podem se propõr a prová-los pelo meio
vas produzidas, ação para exigir a outorga da
exclusivo do documento em que se encontram,
escritura, a execução da promessa, ou para p-e-
cláro está que muito menos poderão opor-las a
dir perdas e danos que representam, em geral,
terceiros. (Espinola, doe. cit) .
o sucedâneo do cumprimento especifico da obli-
jatio jaciencU. Foi para este fim a ação propos- Ensina logo adiante Espinola: - Do texto
ta, estando a recusa da outra parte demonstra- da nossa lei decorre que as declarações enuncia-
da e re-demonstrada pela própria contestação tivas, que n§,o se relacionam ou só indireta-
nesta demanda. mente se relacionam com o objeto propriamen-
te visado no documento, público ou particular,
Nestes termos, acompanho o voto do Exmo. produzem um principio ele prova que se deve
Sr. Ministro Goulart de Oliveira. completar por meio de outra prova conveniente.
O Sr. Ministro Castro Nunes: - Sr. Pre- Diante do exposto, desprezo os embargos.
sidente, recebo os embargos, de acordo com os
Srs. Ministros Goulart de Oliveira e Orozimbo DECISÃO
Nonato.
Como consta da ata, a decisão foi a seguin-
O Sr. Ministro Annibal Freire: - Sr. Presi- te: Rejeitaram os embargos, contra os votos dos
dente, rejeito os embargos, de acordo com· o Srs. Ministros Goulart ele Oliveira, Orozimbo
voto que proferi por ocasião do julgamento do Nonato e Castro Nunes.
recurso.
O S1·. Ministro Barros Barreto: Sr. Pre- Acordão
sidente, desprezo os embargos. Vistos, relatados e discutidos estes autos de
O Sr. Ministro José Linhares: - Em teó- recurso extraordinário, sobre embargos, em que
ria, diz E. Espinola, chamam-se declarações sào: embargantes - Mario de Moraes e Silva e
(16)
5-1-43 ARCHIVO JUDICL\IUO 15
outro, e embargadas - Maria Celina de Menezes esse encargo, atendendo a divergência entre ele
e outra: e o outro sócio, únicos componentes ela socie-
Acorda o Supremo Tribunal Federal, por dade.
maioria, rejeitar os embargos pelas razões cons- Estou, portanto, ele acordo com o Sr. Mi-
tantes das notas taquigráficas. nistro Castro ~unes na preliminar de não se
Custas pelos embargantes. con'hecer do recurso (fls. 70).
Supremo Tribunal Federal, 24 de Junho de II -- Vencido que seja, rejeito os embargos.
1942. -Eduardo Espinola, Presidente. -Bento A divergência de sócios para escolha de liqui-
de Faria, relator. dante somente pode se verificar quando essa
escolha já não tenha sido feita, antecipada-
mente, no contrato social.
Recurso extraordinário n. 5.304 Assim indicado, justamente, para funcionar
(DISTRITO FEDERAL)
em tal momento, não poderia o seu exercício
ficar dependente da vontade de qualquer sócio
Liquidação de sociedade - Liquidante - Quem e menos a!nda da do Juiz.
deve ser
Há de ser, pois. liquidante o escolhido no
RELATÓRIO
contrato.
O Sr. Ministro Bento de Faria - Com o Se, no desempenho dessa função proceder
relatório de fls. 63 (lê), o presente recurso
mal, então sim. poderá ser clestintuido. Anifi's
extraordinário em que são recorrente ~ Raul disso, porem, nã'o deverá ser impedido de as-
Veiga de Barros e recorrido - !Eduardo Lagõa
sumir o cargo.
Ribeiro, foi julgado pela 1a Turma, que conhe-
O Sr. Ministro Laudo de Camargo - O
cendo dele, contra o voto do Ministro relator,
caso era de recurso extraordinário e de ser pro-
lhe deu provimento unanimemente (fls. 75) vido, como o foi.
de acordo com as notas taquigráflcas de fls. 66 Era caso de recurso, com fundamento na
~lê).
letra d, porquanto se demonstrou a dive~gência
Não se conformando, Eduardo Lagõa Ri- de julgados no interpretar o mesmo texto de lei
beiro ofereceu os embal.'gos de fls. 78, que foram federal: o art. 344 do Código comercial.
1mEugnados a fls. 92. Divergentes são o acordão de que se recor-
Sustenta o embargante:
reu e outro do Tribunal de Minas.
a) que o caso n'ão é de recurso extraordiná-
rio uma vez que o acordão recorrido se limitou E era de ser provido dito recurso, porque,
a interp·retar os textos legais pertinentes à hi- na hipótese, a nomeação tinha de recair no
pótese - os arts. 344 e 657 do Código do Pro- sócio gerente, designado para exercer o cargo
cesso Civil; pelo contrato social.
b) que, ainda quando fosse cabível, deveria Se o contrato, regulador das relações entre
ser negado provimento ao recurso, consoante a os interessados dispõe expressamente a respeito,
:própria orien taçã.o da lei. à justiça não seria licito esquecê-lo.
No caso os dois únicos sócios estão em di- Nem se aluda ao clec. -lei n. 12.035, de 1940,
'1-ergêneia e assim devia o Juiz nomear liqui- tão pouco ao art. 657 do Código do Processo
~ante pessoa extranha a sociedade, conforme Civil.
dispõe o art. 344 elo Código Comercial e o artigo O primeiro não !foge à regra enunciada,
>657 elo Código elo Processo. quando manda fazer a nomeação de pessoa es-
Estes são os pontos a resolver. tranha, uma vez que acrescentou: nos termos
E' o r ela tório . da legislação em vigor.
E de acordo com essa legislação, o estranho
VOTOS só ocupará o cargo, quando silencioso o con-
O Sr. Ministro Bento de Faria - I - Con- trato, 0 que, na espéc1e, não acontece.
forme resulta dos termos da decisão a fls . 29 O segundo, o citado art. 657 do Código, é
(lê), o Tribunal recorrido sem negar os pre- expresso, quando manda observar o contrato,
ceitos legais invocados, apenas os interpretou somente dispondo pelo § 1° que a escolha se
-por entender que no caso nfto deveria ser liqui- dará entre os interessados na faita ele designn-
dante o socio gerente, a quem cabe em regra ção contratual.
(17)
16 ARCHIVO JUDlClARIO 5-1-43
Sendo assim, o acordão embargado está em mente, como admitir interpretação isolada no
termos de ser confirmado, pelo que rejeito os texto de u1n artigo com os seus pavágrafos?
em!bargos. Foi em obediência a essa regra clássica de
O Sr. Ministro Annibal Freire - Sr. Pre- interp1·etação jurídica, que não pode ser condi-
sidente, fui relator do acordão embargado. O cionada por outros interesses, senão os interesses
cabimento do recurso extraordinário está posto áo direito, que eu julguei, em conciência, e
em relevo pelo voto do eminente Sr. Ministro hoje em perfeita conciência, dados os votos que
revisor. Mesmo que não fosse com fundamnto me sufragam o ponto de vista, que o art. 657
na alínea a, e a meu ver irretorquivel seria do Código de Processo Civil - consolide ele
com esse fundamento, sê-lo-ia com fundamento ou não dispositivos anteriores - , acentúa a.
na alínea d, porquanto é manifesta a divergên- supremacia do contrato. E' o respeito à auto-
cia entre o acordão do Tri·bunal de Apelação do nomia do contrato, que este artigo e os seus
Distrito Federal, recorrido, e o aresto apontado parágrafos, consagram. O assunto nas várias
pelo recorrente. circunstâncias em que se pode operar a nomea-
ção do liquidante, tem de ser subordinado ao
Quanto a alínea a, eu não me rendo nem
conceito principal da autonomia do contrato.
me submeto à interpretação de que o recurso
Alegou, ainda, o ilustre advogado, em con-
extraordinário não cabe desde que 0 Tribunal traposição ao meu voto, que os comentadores
local simplesmente aplicou a lei. Mas se aplicou
que eu citei discordam da minha opinião. Mas,
mal, se aplicou erroneamente, se aplicou de
E"U citei textos expressos, .consonantes com o
modo a transgredir o conceito da lei, os seus
ponto de vista do respeito ao contrato: De Pla-
dispositivos e finalidades, eu nã 0 hesito em
cido e •Sil v a, determinando : ''A regra para a
tomar conhecimento do recurso extraordinário.
nomeação do liquidante que irá dominar, sem
E assim tenho entendido em várias circuns-
dúvida alguma, é a que o contrato prescreve,
tâncias.
que ele é a grande lei entre os sócios. " De
Quanto ao mérito, a avgumentação do emi- Odilon ele Andrade: "A nomeação do liquidante
nente advogado que ocupou a tribuna se desen- deve recair na pessoa a quem pelo contrato ou
volveu de tal forma que parece que o humilde :r:elos estatutos, competir tal função."
relator, com a interpretação dada ao texto do Foi a obediência a essas regras, ao que se
Código de Processo Civil, subverteu a ordem continha no contrato -+- extremamente cau-
jurídica existente no Brasil, na matéria. teloso e que previu todas as hipóteses, inclusive
Como argumento de fato, eu poderia res-~ as hipóteses de divergência - que eu subor-
ponder ao eminente advogado, em contraste dinei o meu .voto, que tenho o dever de manter.
com a minha humildade, que o meu ponto de Nestas condições, rejeito os embargos.
vista foi sufragado unanimemente na Turma, · O Sr. Ministro Bento ele Faria (Relator)
quanto ao mérito. E, ainda quanto ao mérito, Explicação
- ,Sr. Presidente, peço a palavra.
neste plenário, foi sufragado pelo eminente co- para explicar por que não conheci d.o recurso.
mercialista, Sr. •Ministro Bento de Faria, e peloNão conheci, com fundamento na letra a, por-
provecto Sr. Ministro revisor. Consola-me, por- que o acordão nâo enfrentou disposição
tanto, com a excelsa companhia e sinto-me renhuma d.e lei federal; ao contrário, reconhe-
com a conciência ·perfeitamente tranquila de ceu a existência da lei, tão somente afirmou
não ter atentado contra a ordem jurídica. que, havendo divergência sobre questão de fato,
A argumentação do nobre advogado desen- não deveria permanencer, como liquidante, este
volveu-se como se o artigo a que eu me reportei sócio ..
na fundamentação do meu voto fosse um dispo- E não dei pelo fundamento da letr,a a, aco-
Sltivo isolado; ele esquece a regra clássica de lhido pelo Sr. Ministro relator, por isso não·
Hermenêutica, de que o texto de um artigo tem aceito a simples indicação de revistas para in-
que ser compreendido com os seus parágrafos, culcar os ju1'gados divergentes. E o único do-
porque os parágrafos acompanl1a.m' o artigo na cumento jUnto pelo recorrente trata, a meu ver,
sua ~;equência lógica, na sua. fundamentação de hipótese diversa. lLê-se nesse acordão da.
jurídica, no alcance em que todos se devem Terceira Câmara do Distrito Federal: - "Não
traduzir. Se na própria lei artigos esparsos têm se tendo provado, apesar ele alegação nesse sen-·
que ser entendidod conjuntamente e integral- tido, que a liquidante haja ;praticado atos que
(18)
5-1-43 AHCHIVO .TUDICIARIO 17
prejucliqucm o agravante c rc\·clado falta ele f Nos seu·3 parágrafos, esse dispositivo pre-
idoneidade vara o encargo, o contrato social, que vê, então, várias hipóteses que praticamente
é a lei, entre os sócios, tinha que ser, como podem apresentar-se, mas, subentendendo-se
realmente foi, observado." 'Mas, no caso, alega- que o principio dominante é justame·nte o do
sr: 1ustamente que esse sócio praticou atos que respeito ao contrato social, a norma traçada pe"
colidem com a função. los próprios sócios, para regular os seus direi-
o Sr. Ministro Lando de Camargo (Revisor) tos e obrigações, no domínio dos interesses con-
V. Ex. não encontrou divergência entre o substanciados na sociedade.
acordão recorrido e um do Tribunal de Minas? Ora, o artigo 657, depois de no parágrafo
10 determinar a maneira de proceder, quando
Eu verifiquei esse acordão de Minas Geraes e
a lei, o contrato e os estatutos nada dispuzerem
encontrei divergência.
a respeito da nomeação do liquidante, deter-
o Sr. Ministro Annibal Freire - Temos mina, em seu parágrafo 2°: - "Se forem sa-
jurisprudência de que basta a citação de re- mente dois os sócios e divergirem, a escolha do
vistas idôneas; isso, embora 111os deinande tra.- liquidante será feita pelo juiz entre pessoas e~
ball1ü e esforço, porque nos força a. um grande tranhafl à sociedade".
trabalho, mas eu me tenho submetido a ele. E, logo, em seguida, no paragrafo so diz:
o Sr. Ministro Barros Barreto - \Deviamoa - "Em qualquer caso, porem, poderão os in-
exigir as certidões, mas a nossa j1J.risprudência teressados, se concordes, indicar, em petição, o
tem sido neste sentido. liquidante".
O Sr. Ministro Laudo de Camargo (Revisor) Vê-se, pela leitura dos dispositivos, que o
Desde que o Juiz verifica que existe essa espírito da lei, nessa matéria, é de dar sem-
divergência, como vai decidir de modo contrá- pre a prevalência à vontade dos interessados,
rio? Agora, vejo que V. Ex. não atendeu a esse manifestada essa vontade ou pelo contrato, como
acordão, porque não estava junto por certidão estatue a parte principal do dispositivo, ou ain-
e apenas citado em revista. da em qualquer caso, pela escolha desses in-
o Sr. Ministro Bento de Fc.ria (Relator) - teres3Rdos, quando indicarem, em petição,
Não está provado. Relativamente às revistas, o liquidante. Destarte, pela combinação desses
sômente posso aceitar as oficiais: ou então, a textos, pela exegese desses principias, que as-
Indicação de algum acordão deste Supremo Tri- sim dispõem, que assim discriminam, que as-
bunal. sim detalham, as várias hipóteses configura-
O Sr. Ministro Barros Barreto - Mas temos
das no texto do artigo657, e seus !Parág1·afos, vê-
se que a interpretação dada pela de<:isão em-
admitido publicações idôneas, c(){!Il() o ARCHIVO
bargada foi a interpretação fiel ao espírito da
JUDICIARIO e outras.
lei, fiel ao texto do dispositivo, porquanto o
O Sr. Ministro Bento de Faria (Relator) -
paragrafo não pode ser entendido isoladamente
O Código de Processo só admite essas simples
dos outros parágrafos que disciplinam, que de-
remissões em se tratando do processo de - re-
talham, que minuciam a prática adotada em
vista.
relação à hipóteses de não estar configurada
O Sr. Ministro Goulart de Oliveira - Sr.
a escolha do liquidante no próprio contrato so-
Presidente, sou impedido na causa; fui eu que
cial.
adm! ti o recurso extraordinário.
Destarte, eu não tenho senão que acompa-
O Sr. Ministro Waldemar Fa.lcão - Sr. Pre- nhar o voto do Sr. Ministro Revisor, termos em
sidente, a pertinência do recurso extarordinário, que rejeito os embargos.
no caso em exame, já foi demonstrada, muito O Sr. Ministro Castro N1mes - Sr. Presi-
bem, pelo douto Sr. Ministro Revisor, a cujos dente, de inteiro acordo com o voto do Sr.
fundamentos adiro, nesse tocante. Ministro Bento de Faria, que <:~.liás coincide como
Quanto ao mérito dos embargos, quer-me ponto de vista esposado por mim, na· Turma,
parecer que a interpretação dada pela decisão receberia os embargos para considerar não ser
embargada foi a verdadeira. O dispositivo do caso de reçurso extraordinário; vencido, porem,
art. 657 do Código de Processo traz, na sua par- rejeito esses embargos.
te principal, uma regra basica a ser obser- O Sr. Ministro Barros Barreto - Sr. Presi-
vada no tocante à dissolução e consequente li- dente, despreso os embargos.
quidação da sociedade. o Sr. Ministro José Linhares - Sr. Pre-
(19)
18 ARCHIVO JUDICIARIO 5-1-43
sidente, sou o último a votar, mas, data venia,, E esta interpretação 11ão é !njül'fd!m, por-
divirjo, dos colegas que me precederam· que 0 próprio Código Comercial estabelece, em
Recebo os embargos, in totum: não é caso dois artigos, a pô.ssibllidade: de ser destituido o
de recurso extraordinário, como em casos idênti- l!quidante da sociedade e um dos casos é quan-
cos tenho votado, porque se trata de um despa- do há poss!bllldade de divergência. entre os -SÓ·
cho meramente interlocutório simples, de no- elos.
meação do liquidante; bastava se ver, desde logo, Ora, o Tribunal nlío negou o a.rt. 344 em
que não daria este despacho motivo ao recurso sua expressão llteral; ápenas disse que não era
extraordinário, nos termos da Constituição. possível dar ao liquidante nomeado no contra-
Não houve uma deci:são definitiva, porque no to a função, porque. desde logo. havta contra
curso do processo poderia ser destituído o liqui- ele a asserção de que ele n!l:o tinha bem cum·
dante. prido os seus deveres como um áos sócios, e que
O Sr. Ministro Annibal Freire - E' recurso ele tinha abusado da firma social.
de um acordão do Tribunal de Apelação, portan-
A p·oss!b!l!dade de rixa era iminente e dentro
to, decisão definitiva da segunda instância.
desse ponto de vista acho que não houve nem a
O Sr. Ministro José Linhares - A matéria transgres.<mo do art. !f44 do Código Comercial,
julgada é a designação do liquidante; tenho que just!fic·l1'la o recurso extraordinário, com
sempre me posto neste ponto de vista de que fundamento na letra. a, nr,m. tambem, na lC·
se trata de interlocutório, porque no curso do tra d, porque a divergêncio:l ele interpretação se·
processo pode ser destituído o liquidante. r!a de Cõdigos de Processos diferentess.
O Sr. Ministro Laudo de Camargo (Revisor)
Ne3tas condições, recebo tn totum os em·
- Pode ser destituído, mas até esse momento bargos.
é o liquidante.
O Sr. Ministro José Linhares - Que finali- DECISÃO
dade teria este recurso 'quando se sabe que ao Corno consta da ata. a decisão !oi n seguin·
tempo de ser decidido não mais poderia ser no- te: Rejeitada a preliminar de se receberem os
meado outro? O liquidante impugnado já teria embargos, por não ser caso d<: recurso extraor-
praticado todos os seus atos. Basta isto, para dinário, contra os votos dos Srs. Ministros Ben-
não tomar conhecimento do recurso extraordi- to de Faria, Ct.stro Nunes e José Llnhares, rejei-
nário. taram, quanto ao mérito, 03 meomos embargos,
Quanto ao cabimento na letra a, tenho os contra o voto elo Sr. Ministro José r,tnhares. Não
fundamentos expostos. tomou. parte no julgamento o Ex mo. Sr. Minis-
E quanto à letra d do inciso ITI do arti- tro. Orozimbo Nonato por se ter ausentado co:n
go 101 da const!tulção, não se justifica. Não causa justificada. Impedido o Exmo. sr. Minis·
se justifica porque nessa letra que foi o fun- tro Goulart de OI!veira.
damento principal dos votos dos colegas que
receberam o recurso. por Isso que se trata de Acordão
matéria decidida diferentemente, em face de Vistos, relatados e discutidos este3 autos
Código de Processos diferentes; uma decisão, de recurso extra-ordinário em que são: embar-
proferida anteriormente ao Código éle Processo gante, Eduardo Lagõa Ribeiro, e embargado,
Nacional e outro, de acõrdo com o processo m1- Raul Veiga de Barros:
neiro. Basta isto, para mostr(').r que não hã di- Acorda 0 Supremo Tribunal Federal, por
vergencia de Interpretação do modo de processar maioria, rejeitada a prel!mnar de serem rece-
a liquid::_~Çil.o. bidos os embargos por não ser caso de recurso
Quanto à letra a ainda menos, porque o extraordinário, rejeitá-los pelas razões dos vo-
Tribunal não negou apl!caçil.o .ao art. 344 do tos vencedores constantes das respectivas notftS
Código Comercial; apenas entendeu - e multo taquigrnflcas.
bem, a meu ver.- porque eu sempre entendi o custas pelo embargante.
art. 344 nos termo3 por que o entendeu a. de-
cisão recorrida - isto porque se deve dar pre- Supremo Tribunal Federal, 12 de Agosto de
ferência, sempre, ao liquidante Indicado no con- 1942. - Ect.uarr:Lo Esptnbla, Preslden te. - Ber•·
trato, dlósde que nào haj0. incompatibilidade en- to de Faria, relator.
tre os sócios em llquidação.
(20)
.5-1--13 ARCHIYO JUOICIARIO Hl
apresentada no dia 16 de Março e os autos so- Veiu então o postulante com a petição de
mente a 22 de Abril foram remetidos a este agravo que passo a ler (fls. 672 a 673v.) o (lé)
Egrégio Tribunal. Não tive motivos para reformar o despacho
As razõ10s que o peticionário apresenta como questionado, dada. a convicção que me ficou da
não sendo interruptivas do prazo de 15 dias mar- impertinência do pedido, em vista da informação
cano para a remessa do recurso, quer sejam as da Secretaria do Tribunal a quo, que se vê a fls.
referentes a falta de extração do -traslado, quer 658, relativa ao motivo da demora na remessa
as que dizem respeito a falta de preparo já foram dos autos, e que é a seguinte (fls. 658) : (lê) .
objeto de informação da Secretaria do Tribunal A certidão da mesma secretaria, referente ao
de Apelação constante de fls. 658. encermmento do traslado é do seguinte teor
Coube-me verificar a exatidão das datas e (fls. 662) : (lê) .
páginas citadas pelo peticionário. E os autos foram remetidos a este Supremo
Determinará V. Ex. o que bem haja de ser Tribunal a 22 de Abril do corrente ano, consoan-
cumprido. te n certidão que passo a ler (fls. 662 v.) :(lê).
Secretaria do Supremo Tribunal Federal, 27 -E;tá feito o relatório.
de JuUw de 1942. - O oficial, Augusto Cordeiro Não tenho voto na espécie.
de Melo".
VOTOS
Em face disso prolatei o despacho a seguir
(fls. 670-671) : O Sr. Ministro Orozimbo Nonato- Sr. Pre-
"Indefiro o pedido de declaração da deserção sidente, ao que dcpreencli ela exposição feita pelo
do recurso em questão. Sr. Ministro relator, a questão sobre si devia, ou
No caso, a remessa dos autos do mesmo re- não extrair o traslado, só foi resolvida com o
curso teria de ser feita "independentemente de último despacho do Sr. Desembargador Duque
traslado", segundo o claro texto do art. 867 do E8trada. Até então, apesar da ordem, a parte re-
Cód. do Proc. Civil em vigor. calcitrou, citando o Código ·de Processo Civil e
ainda houve um incidente; cuja solução se im-
Entretanto, tendo o próprio signatário do
punha para o cumprimente do acordão.
pedido em apreço exigido a extração prévia de
Depois de decidir o Sr. Desembargador Pre·
traslado à custa do recorrente, foi isso atendido,
sid-Ente t-erminantemente, quanto à necessidade
ainda no Tribunal a quo, mercê do despacho de
do traslado, a parte depositou em tempo ainda
fls. 619.
útil a quantia correspondente à.s despesas.
Houve demora na extração do traslado, justi-
E nestas condições, mantenho o despacho do
ficada pela circunstância de serem volumosos os
Sr. Ministro relator.
autos do processo, consoante esclarece a Secre-
O Sr. Ministro Bento de Faria - 8~. Pre-
taria do aludido Tribunal, na informação de fo-
sidente, tam·bem mantenho o despacho ag1:avado.
lhas 658.
Ultimado o dito trabalho, foram os autos O Sr. Ministro José Linhares (Presidente):
originais remetidos a este Supremo Tribunal - Dou provimento ao agravo, porque o depósito
quando Já haviam fluido, os 15 dias do prazo es- só foi feito posteriormente ao prazo de 15 dias,
prazo que eleve ser contado a partir do dia em
tatuído pelo art. 866 do cit. Cód. de Proc. Civ.
que o _recorrido apresentou as suas razões.
(ut fls. 662 e informação da Secretaria deste Su-
premo Tribunal a fls. 669 v.-670). DECISÃO
Isso ocorreu, porém, como se vê dos fatos Como consta da ata, a decisão foi a seguintE;;
atraz expostos, por obstáculo judicial criado pela Negat:am provimento, contra o voto do Sr. Mi-
própria parte recorrida, ou seja pelo signatário nistro Presidente. - Impedido o Sr. Ministro
do pedido ora em exame. Goulart de Oliveira.
Tendo em vista o princípio de que nemo po-
tcst proprium jactwrr.• contravenire, ha que se Acordão
a.pllcar, assim, a regra do art. 26 do mesmo Vistos, relatados e discutidos estes autos de
Cód. de Processo, segundo a qual se- suspende a agravo do art. 47 do Regimento, interposto no
fluência do prazo judicial si surgir obstáculo ju- recurso extraordinário. n. 5. 987, do Distrito Fe·
d1G!al criado pela parte, que absorva, p~lo menos, clcral, nc·s quais figura como agravant·e o Dr.
metade da duração desse prazo. A1"thur da Rocha Ribeiro, sendo agravada a So·
- Prossiga-se. Rio, 5-8-42. W. Falcao". cieclac!G Anônima Martinelli; ncorcln, por maioria
(22)
5-1-43 ARCHIVO JUDICIABIO 21
ele votos. a Segunda Tunna elo 'Supremo T:ribu- nominada "Empresa POTtoalegrense de GasoEna
Jlal Fcclernl, pelos motivo" constantes do rela- Limitada"; 2°) se, em caso afirmativ'J, teem os
tório c notas tnqui3TáficJ.s prcc~d·entes, negar apelados, na qualidade, em que propuzeram a
provim2nto ao agravo, esta.ndo impedido o Exmo. ação, de viuva e herdeiros e de um elos sócios
Sr. Ministro Goulart de Oliveira. que compunham essa sociedade, direito à totali-
Custas ex-lege. dade da indenizaç/io que pleiteam para si e que,
Rio de Janeiro, de 8 de Setembro de 1942. - efetivamente, a sentença, <>ra apelaoa, inteira-
José Linhares, Presidente. - Waldemar Falcão, mente ilhes deferiu, condicionando-a, apenas, a
relator sem voto. ser liquidada na execução.
A questão da caracterização do ato ilícito
daquele preposto da apelante se fez já. assunto
Recurso extraordinário n. 6.197 de tal ordeml debatido no processo de falência e
alí tão incisiva, fundamentada e definitivamen-
(RIO GRANDE DO SUL)
te afirmado em sentenças, que reslllta, afinal,
Responsabilidade civil 'do patrão, na reparação m€SIIlo nas outras causas, matér:ia ja, não mais
do ato danoso pmvocado pelo preposto
- Art. 75, 2.a parte do Código comer- suscetível de discussão, dadas as suas pro,porções
cial, e art. 1.521 c/c arts. 159 e 1.523 do • até mesmo de coisa já judicialmente• decidida,
Código CiviL - DiVersiaade de julgados
-- Prova plena e objetivo da culpa con- tanto que nem a !l!pelante mesma a põe mais em.
corrente da preponente, "in eligendo" dúvida, em face desses julgados e da exuberante
- Conhece-se de recurso, mas nega-se-
lhe provimento. prova produzida no sentido de que o pedido de
decretação da falência decorrera realmente, do
RELATÓRIO
conluio havido entre aquele agente local da ape-
O Sr. Ministro Barros Barreto - Na açiio lante, munido de mandato e de um titulo cre-
ordinária proposta por M:inervlna da Costa e ou- ditório desta, e Antonio Augusto Pinto de Al-
tros, viuva e filhos de João Evangelista da Silva meida, com o fim primordial embora media to, de
Couto, sucessor individual da Empl'esa Portoale- proveito para este sócio, e então geren~e da refe-
grense de Gasolina Limitada, contra a Standard rida Emp•esa P. Alegrense de Gasolina Limita-
Oi! Company of Braz1!, afim de ser esta conde- ela e de utilidade imediata para a própria ape-
nada nas perdas e danos resultantes da falênci'\ lante, como credora, em prejuízo tuclo, embor!l.,
daquela empresa, dolosamente requerida pelo ge- dos outros -sócios da mesma Empreza e dos de-
rente da ré, na capital do Rio Grande do Sul, - mais credores desta. Obstariam, por si sós, ~;
o ,Juiz de 1.a Instância houve por procedente o qualquer afirmação em contrário a isso, e a
pedido, condenando a ré a pagar aos autores a qualquer nova discussão sobre o assunto, o.s fun-
indenização que se apurasse na execuc;ão ele sen- damentos da sentença de 5 de Dezembr<:J ele 1.927,
tença. em que, pela razão, em suma, d·e haver sido
O Tribunal de Apelação deu provimento em fraudulentamente que a falência fóra requerida,
;parte à apelação, para modificar a sentença, em veiu a ser decretado o seu encerramento, com.
sua conclusão, reduzindo a condenaçLio a uma Integral adoção das ~·azões da antei·ior decisão
que, a seu turno, a 9 de Novembro do n1esmo ano
terça parte da indenização que se liquidar na
execução. de 1927, flmdada, sobretudo, na circunsti'mciacla
O acordão, que se acha a fls. 296, é o se- confissão do próprio autor do requerimento da
guinte: rn,esma falência, banira, do rol dos títulos cre-
"Vistos, relatados e discutidos .~;stes autos ditórios declaTados no processo !alimenta;·,
de apelação civel, em que são: apelante, a St.an- aquele que, não obstante pago na n•..esma data
dard Oil CÇJmpany of Brazil; e ape-lados, Dona de tal Tequer1mento, fôra exibido juntamente
Mlnervina da Costa C ou to e outros. com este, como justificativo do pedido, Bob a ale-
iResume-se, a espécie, nas questões a saber: gação ele exprimir obrigação mercantil líquida ~
1°) se a apelante é, ou não, responsavel pela re- certa não paga no vencimento, e ainda conti-
.paração civil do dano resultante do fato de ha- nuou, durante mais de. ano, a figurar como tal,
ver, em: 19 de Maio de 1926, 0 seu então agente propositadam0nte, obstinadamente, entre aqueles
nesta cidade, ~L J. Lewls, requerido em nome outros créditos ali inscritos.
dela, fraudulentamente, a decretação da. falên- E' de se considerar, pois, sem. a 1nenor tlú-
cia da, hoje extinta, sociedade por quot:cs, cle- vida, que está certa Q. sentença. apelaclfl, no pon-
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22 ARCHIVO JUDICIARIO 5-1-43
to em que foi por ela dado como evidenciado o aliás, plenamente comprovada, no caso, a culpa
mencionado ato ilícito do pr"c·posto ela ré. da preponente. O documento de fls. 93, com
Exposto iSSO, evidencia-se igualmente o efeito, reforçado por outros elem~mtos de prova,
acerto dessa mesma sentença no ,ponto, ainda, mostra inequivocamente que, ao ser fraudulen.
em que. com jurídicos fundamentos afirma e tamente requerida a falência da Empreza, Rio.
essencialmente decide que a Standard OU Com- grandense de Gasolina Limitada pelo prepostc
pany of Brazil, ré, na ação e ora apelante, é res- da Standard Oil Company of Brasil, h havia
ponsavel, como preponente, pela reparação civil tempo que esta se advertira de que f0rfl. má a
desse diino causado pelo ato !licito de seu pre- escolha ,por ela feita na pessoa de seu dito pre·
posto à Em.preza P. Alegrense de Gasollna Limi- posto, dadas as frec,uentes irregularidades que
tada. já vinha notando no desempenho da, função por
Não importa que a apelante hou·Jesse ::,ido pall'te dele. Perseverou, entretanto, em que ele
alheia ao procedimento que caracterizava a ili- permanecesse no cargo, com os mesmoo poderes.
citude daquele ato do seu agente. Não importa E apezar de tudo descurou, aliém disso, da vi·
que não houvesse ela previamente autorizado gllância necessária sobre a atividade dele, quan·
este, ainda qu-e- de mOdo 1mplicito, a assim pro- to ao exercício do manda to.
ceder e que não tivesse tido ela conhecimento
do conluio fraudulento concertad<:> entre 0 seu Seja qual fôr o aspecto por que se aprecie
e o rq}resentante da sociedade devedora, a tem- a. situação da apelante relativamente ao mencio-
po de prevenir desde logo ou remediar em se- nado ato !licito de seu preposto, sempre ressal·
guida o mal dele decorrente. Para ter-se como ta a sua responsab111dade pela reparação civil
indubitavel a sutt responsabil1dade, à "l'ista das do dano originado desse ato, confonne bem o de·
circunstâncias sumariadas, basta!"ia considerar- cidiu o Dr. Juiz a quo.
~erece, contudo, reformada a sentença ape·
se que a sua situaç'i.o, em relação a<i aludido
proceder de seu peposto, é idêntica à que vem lada, no ponto de seu dispositivo em que julgou
prevista ·no art. 75, segunda parte, do Cód. Co- os autore~ da ação, ora apelados, titulares exclu·
mercial, para responsabilizar o preponente pelos slvos do direito à indenização em apreço, e, em
atos c,ue, relativos ao giro de seus negócios co- consequência, condenou a ré, ora apelante, a
merciais, os seus prepostos pratiquem. O pre- pagar a eles a totalidade de tal lndeDização.
posto, com efeito, no caso, alem de qualidade O direito de ação para reclamar essa me~ma
que a seu cargo já lhe conferia, de agente local indenização nunca pert<>nceu exclusLvamente ao
da a.pelante ou de chefe da sucursa;l desta aqui sócio João Evangellsta da Silva Couto, finado
existente, tinha ainda, da mesma apelante, marido e pai dos apelados.
mandato geral, expresso em instrumento público A Empresa P. Alegrense de Gazolina Limi·
(fls. 1103), com amplos e ilimitados poderes para tada era uma sociedade por quotas, de respon·
representá-la não só extrajudicialmente mas sabllidade Hmitada, que o dito João Evange·
tambem "em qualquer juizo, instância ou tri- lista constítuira com Antonio Augusto Pinto de
bunal, como autora ou ré, em. quaisquer causas Almeida e Juventino R. Magalhães, com quotas
civeis ou criminais". De tal OI1dem ~ extensão iguais os três .
eram eses ~poderes, qUe neles necessariamente se Dissolveram eles mais tarde a sociedade, e,
compreendiam os de requerer falências. Isso, por escritura de .17 de Junho de 1929, efetua·
aliás, jamais foi contestado no feito pela ré, ram a partilha, entre eles, do acervo social. E
ora apelante. nesta, entretanto, não lf1zeram a mínima alusão
Mas a responsabilidade desta pela reparação ao direito de ação que à sociedade assistia para
civll em apreço, não recorre somente da citada reclamar de quem de direito a reparação civil
regra da 1ei comercial, "reguladora das relações de; qualquer dano porventura sofrido anterior·
especiais oriundas da função econômica dO mente.
-pomércio. Resulta ela, por igual, do que, tle um .Assim sendo e não se podendo mais falar
modo geral e em relação a qualquer espécie de do direito à indenização ora pleiteada como um
ato llicito danoso, preceitua o próprio direito bem pertencente à sociedade, por ter esta dei·
privado comum. Impõe-se ela, tambem, real- xado de existir como pessoa jurídica, resta con·
mente, pelo que dispõe o Código Civil em' seu siderar-se que, se alguma coisa s'e pode depre·
art. 1.521, n. III, combinado com os arts. 159 e ender do instrumento daquela partilha, por
1.523. Mais que meramente presun1ida, ficou, co!ll[lrensão Implícita ou como 1lação elos termos
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5-1-43 ARCHIVO JUDICIAIUO 23
em que foi ele redigido, é que esse direito se não pertencia inteiramente, senão na proporção
transmitiu, em partes iguais, como coisa incor· de uma terça parte.
pórea ainda nã.o partllhada, ao patrimônio das Não obstante, não poderá isso significar o
pessoas físicas que compunham a sociedade atestado, 'já agora, de igual direito dos outros
extinta. Fosse por haver sido essa mesma a dois membros da sociedade extinta, sobretudo
situaçã.o então pretendida pelos sócios parti- daquele cujo dolo concorrera para o ato danoso.
lhantes, em vista, acaso, de ainda inestimado Nenhum deles foi parte nesta causa. Nenhum
ou então incalculavel o bem patrimonial em re- deles nada pediu. Nada se lhes poderia deferir
ferência; ou fosse por não haverem eles, então, aqui, sem ouvir a defesa que contra eles pes-
dado tento de que no acervo social havia ainda Eoalmente a ré tivesse por.ventura a articular.
isso, a ser levado em linQ:la de conta para a par- O que é lícito agora decidir, é apenas sobre o
tilha; ou fosse, ainda, por ter sido 0 dolo de direito exclusivamente dos autores da presente
um deles, em conluio com o representante da ação, individualmente considerados.
ora a,pelante, a verdadeira causa do estado de E a indenização que pretendem, lhes cabe
falência em que fôra posta a sua· socieda.de; na proporção tão somente de uma terça parte
qualquer que houvesse sido a circunstãncia ou do valor do dano causado à sociedade que seu
motivo determinante da omissão, o que, de marido e pai mantinha com a,queles outros.
qualquer modo, é certo, é que esse direito à. dois.
Indenização de que se trata, não foi computado ·Pelo exposto:
na partlliha.
Acordam, em Primeira Câmara Civil, dar
Talvez por Isso mesmo, nem o sócio João
provimento em parte à apelação, para, modifi-
Evangelista da Silva Couto jamais se atribuira a
cando a sentença apela.da em sua conclusão, re-
si; ele próprio, a qualidade de titular exclusivo
duzir a condenação, nela imposta à apelante,
daquele direito. E tanto é assim, que ele
a uma terça parte da indenização que se liqui-
mesmo, quando, em 9 de Fevereiro de 1929,
dar na execução.
transferiu à. "The Atlantic Refinlng olf Brasil",
Custas em proporção.
a titulo de dação em pagamento, os direitos à.
Porto Alegre, 28 de Abril de 1942. - Os-
concessão de serviço de venda de gazolina noro
u:aldo Caminha, Presidente e relator.- Damar
p~stos públicos locais - concessões essas que
Barreto. - Fui presente - Alvaro de Moura e
haviam pertencido à. sociedade extinta e, pela
Silva."
partllha, passaram a ele - fê-lo com a ressalva
iDesse julga.do a ré inter~pôs o presente re-
de que a "Empreza P. IAlegrense de Gazolina
curso extraordinário, tempestivo, ampara.do no
Limitada", isto é, essa mesma sociedade, con- art. -101, III, alineas a e d, do Estatuto de 1937,
tinuava senhora exclusiva dos direitos de ação sob alegação de que 0 Tribunal do Rio Grande
que porventura competissem contra terceiros do Sul, alem de decidir contra a letra da lei
por danos a ela feitos anteriormente à sua li- federal, sobre cuja apllcação a recorrente ques-
quidação. Essa ressalva, aliás, só pode ser en- tionou, dera ao art. 1.523 do Código Civil in-
tendida como !feita em benefício ou no interesse terpretação diversa da constante de arestos de
individual legítimo dos sócios, como pessoas cutros tri•bunais do país, inclusive da Suprema
distintas da sociedade, por já então haver de Côrte.
fato sido dissolvida esta, consoante, já antes o apelo foi arrazoado a fls. 307 a 322.
disso se declarara na escritura de partilha. E' o relatório.
Seja como fôr, a verdade é que não foi
VOTOS
absolutamente para ele! mas para a socieda.de
dele com os outros dois, ou melhor, para os o Sr. Ministro Barros Barreto - Se, evi-
três em comtim, que ele próprio ali expressa- dentemente, não ocorreu ofensa a qualquer
mente reser·vou o direito de a,ção de Indeniza- t-exto ele lei federal, que justificasse o remédio
ção contra terceiros, por quaisquer danos acaso extraordinário, com apoio na letra a do preceito
sofridos pela socleda.de deles, anteriormente à constitucional invocado, pode-se reconhecer o
llquida,ção desta. cabimento dele, com fundamento na divergên-
Em condições tais, não :podem agora os au- cia entre o acordão recorrido e a inteligência
tores, ora apelados, em nome e como viuva e dada pelos arestos indicados, no tocante às dis-
herdeiros dele, usar de um direito que a ele 1 posiçôes atinentes à responsabilidade civil do
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24 ARCHIVO JUDICIARIO 5-1-43
patrão na reparação do ato danoso provocado 1 ta ela. No tocante à responsabilidade ela recor-
pelo preposto. rente pelo ato danoso de seu preposto, acen-
A Justiça local parecem indubitavel que a I tuou o aresto ter ficado plenamente compro-
<:ompanhia apelante estava obrigada à repara- vada a culp'a da empresa em manter na fun-
ção civil do dano causado pm~ seu agente, de ção um gerente, que ela mesma declara inidô-
vez que este requereu, em nome daquela, frau- neo. Essa compreensão não se afasta das nor-
dulentamente, a decretação da falência da em- mas jurídicas atinentes à espécie.
presa d·evedora. Considerou, assim, frente ao Não hà igualmente divergência ele juris-
prescrito no art. 75, 2" parte, do Código Comer- prudência na interpretação a dar à mesma lei
cial, a responsabilidade do preponente pelos federal.
-atos praticados por seus prepostos, que forem
Os arestos apontados como dissonantes do
relativos ao giro dos negócios comerciais, mesmo
acórdão r·ecorrido, embora sejam concernentes
porque H. J. Lewis, chefe da sucursal em Porto
à hipóteses diversas, partiram da exigibilida-
Alegre, tinha mandato geral, expresso, com am-
d·e' de prova de culpa para firmar a responsabi-
plos e ilimitados poderes, comprendidos os de lidade.
requerer falência. E, ademais, a responsabili- Sr. Presidente, vencido na preliminar,
dade pelo ressarcimento pleiteado deconia,
nego provimento ao recuso.
ainda, do art. 1.~21, n. III, c/c arts. 159 e
1. 523 do Código Civil, por isso que os autos DECISÃO
demonstram, inequivocamente, haver a Compa-
Como consta da ata, a decisão foi a se-
:nhia Standard Oil consentido na permanência
guinte: Conheceram do recurso. contra o voto
do dito agente local, munido de extensos po-
do Sr. Ministro revisor, c lhe negaram provi-
deres apesar das frequentes irregularidades co-
mento, unanimemente.
metidas no desempenho da função.
Infere-se, do exposto, e a recorrente não
conseguiu infirmar, o acerto do aresto a fls. Acordão
296, aplicando à espécie a regra da lei comer- Vistos, relatados e discutidos estes autos
cial e decidindo, tambem, de acordo com o que de recurso extraordinário n. 6 .197, do Rio
dispõe o Código Civil, diante da prova plena e Grande do Sul, em que é recorrente Standard
objetiva da culpa concorrente da preponente, Oil Co. of Brasil, sendo recorridos Minervina
in eligendo, isto é, pela má escolha, por ela da Costa e Couto e outros:
feita, do seu preposto.
Acórdam os l.VI;inistros do Sup'remo Tribu-
Nessas condições, prelinúnarmente, conheço
nal Federal em primeira turma conhecer do re-
do recurso, pela letra d, mas, de meritis, nego-
curso, por maioria de votos, mas negar-lhe pro~
lhe !Provimento.
vimento, unanimemente.
O Sr. Ministro Annibal Freire - Não co-
nheço do recurso, com: fundamento em qual- o relatório do feito e as razõe§ de decidir
quer dos incisos do texto constitucional invo- constam das notas datilográficas que precedem.
cados. Custas na fôrma da lei.
O acórdão não contraria a nenhum preceito Rio. Setembro 28 de 1942. - Laudo de Ca-
de lei federal. Deu ao caso a solução mais acer- margo Presidente. - Barros Barreto, relator.
(26)
5-1-43 ARCHIVO JUDICIARIO 25
indenizar a Massa. Decretada a. falência c1n \ declara: de ner:hum efeito a prefi){ação _do tem-
3 de Setembro de 1937 e sentenciado agor3. em I
po .~a_ 1nternaçao do apelado no Man1eomw Ju-
Julho de 1942, sua ação p·enal prescrita se acha, 1 d1c1ano ·
desde 3 de Setembro de 1941, por força dos rlis- o Juiz não pode predeterminar o tempo de
positvos, acima citados - (art. 85 § zo da Con- internação. Este, como medida de segurança, é,
solidação que consolidou o art~go 177 do decre- de sua natureza, indeterminado. Salvo o míni-
to 5. 746 e do art. 137 desta lei) . Inúmeras, as mo legal da sua duração, soménte cessará de-
decisões dos tribunais nas revistas espeda!isa;-
das, CQJI110 ARCHIVO JUDICIARIO, VOl. 13, pág. 382;
i
1
deve ser prdferida, com integral obsenância c a v eis à e3pécie. O mesmo, .porem, não sucede
dos preceitos legais, determinando antes o Dr. quanto à rem.uneração do médico. Dois recibos
.Juiz, :--- o que se lhe recomenda que pela estão juntos aos autos, firmados p·elo Professor
:autoridade policial competente, seja tambem, Rocha Vaz, um de 1 :500SOOO e outro de réis
por sua vez, cumprido o disposto no artigo 6o 25 :OO·OSOOO, ambos referentes aos serviços mé·
n. IX, do Código do Processo. - investigação dicas. O modo por que estão referidos provoca
·sobre a vida pregressa do réu, - visto tratar- evidente confusão. ·E não havendo elementos
se de inquerito instaurado posteriormente à para repelir a prestação de tais serviços, a so·
~mtrada em vigôr desse Código, como é o que lução é mandar arbitrá-los.
instrue a denúncia de fls. 2. Atende ainda o Tribunal a que, embora I!·
Rio de Janeiro, Distrito Federal, em 30 de cito a cada um cuidar de suas enfermidades,
Novem'bro de 1942. - Edgard Costa, Presiden- conforme as pooses, a indenização deve ter sem·
te e relator. - Decio Cesario Alvim. - Olivei- pre por base o que razoavel e comum·ente se
:ra Sobrinho.' paga para obter - satisfatório resultado.
-&ndo a indenização uma justa reparnçlto
do dano patrimonial imposto à vitima, não se
Apelação civel n. 54 7 concebe que esta, por ser pessoa aba·stada ou.
porque as despesas não lhe corram à conta da
Culpa aquiliana. - Exe·cução de sentença bolsa, vá .exagerar-se em retribuições, .praticando
Serviços médicos: deve o executado pa-
gá-los pelo preço razoavel e com1L1T.•~nte generosidade à custa alheia. Quem deseja tra·
cobrado, não se justificando que por ser tamento de um profissional afamado, responde
o exequente abastado ou por não lhe pelo exce.iso sobre o preço vulgarmente cobrado
correrem as despesas à conta, imponha
ao executado pagamento feito por mera para o serviço. Custas em proporção.
generosidade, ou exigência de profissio-
nais afamados. Rio, 22 de Outubro d·e 1942. - Vicente Pf·
- Art. 833, do Cód. Proc. Civil ragtbe, Presidente com voto. - Afranio Antonto
- Apesar de embargavel o acordão pro-
ferido em apelação cível, a discussão é da Costa, designado para o acordão, ven· ,
restrita à matéria não vendicLa por una- cido na preliminar, por entender que o co·
nim,idade.
VOTOS VENCIDOS: conhecimento inte- nhecimento dos embargos envolve todo o me·
gral do mérito pelo Tribunal "ad-quem". recimento da causa. O art. 833 do Código dO
Vistoo, etc. : Processo Civil admlt·e embargos ao acordão que
Acordam os Juizes das Câmaras Cíveis do em a,pelação reformar, sem unanimidade, sen·
Tribunal de Apelação - Câmaras Reunidas Cí- tença de P instância. Nada mais se contem no
veis - preliminarm·ente conhecer dos embargos texto. O Tribunal, exponte sua, acrescenta ao
-contra os votos dos Desembargadores Afranio artigo um parágrafo: "quando no acordão exls·
Costa e Flaminio de Rezende, .para julgá-los, no tirem questões decididas por unanimidad-~ e ou·
tnérito, procedentes contra os votos dos Desem- tras por maioria, apenas estas poderão ser deba·
bargadores Edm.undo Figueiredo e Candido Lobo. tidas nos embargos, porque aquelas passaram em
-para o efeito ct:: mandar arbitrar na execução julgado".
os serviços médicos incluídos no a-cordão em- Semelhante diStinção o art. 833 não faz.
bargado por vinte e cinco contos de réis. Ele é amplo, genérico, desde que o acordão N·
Entende, assim, o Tri1bunal que a discusst~,o formou a sentença numa parte qualquer, alte·
dos embargos se restringe aos pontoo em que rando-a, contra voto vencido, é embargavel e,
<J acordão embargado, por desempate, reformou sendo embargavel, toda a mat~ria é devolvida
a. sentença, por ser essa a interpretação permi- ao conhecimento do Tribunal "ad-quem". Não
tida pelo art. 833, do Código do Processo, e re- há argum-2ntar com "sistema"; o recurso tem
·sultante da sistemática do mesmo Código. Em seus pressupostos e condições, ou é admitido,
corusequênda foram a.penas agitadas as seguln- como a lei autoriza, se!ll ampliações nem restrl·
tes questões: a) remunerações pagas ao Pro- ções, ou é rejeitado. Nem há "sistema" algum
fessor Rocha Vaz; b) juros sobre prestações ven- que sufrague "emenda" ao texto. No regime an·
ctdas a partir d·e quando se tornaram exigíveis. tzrior (lei n. 319, de 25 de Novembro de 1936),
Quanto nos jm·os, nada a acrescentar à so-~ eram embargaveis os acorclãos proferidos em Po~pe·
lução dada no acordão embargado, inteiramente !ações civels ou agravos: a) em causas de va·
.conforme a prova e os princípios ele Direito apll- lor superior a 20 contos de réis, qualquer que
(32)
5-1-43 AHCHIVO JUDICIA.RIO 31
haver o citando exarado o "ciente" e n1otivo 1 Ferreira recebera o précl\o da. rua Gonçal\·es
porque não o fez, etc.) . I Dias, 89, em locação de Joaquim Batista de Le-
O Código de Processo dispõe claramente mos. por escrituras Dúblicas de M<tio de 1930,
que quando a lei prescreve determinada forma Abril de 1932 e Outubro ele 1936 (fls. 27), e por
sem a cominação ele nulidade, o Juiz dever·á instrumento particular de 18 de Maio de 1933
considerar valido o ato, se, praticado por outra deu em sublocaçio uma loja a José Passos Pu-
forma, tiver atingido o seu fim. (art. 273 - entes e Alfredo Magioli dos Reis Maia, pelo praso
I) . E' precisamente o que no caso se verifi- de três anos e oito meses, a começar ele 10 de
ca. A lei não comina de nulidade a citação pela Maio daquele ano e a terminar em 31 de D&-
inobservância das formalidades indicadas pelos zembro de 1936. Finda a primeira sub-locação
apelantes, e a citação que se argue de nula os sub-locatários já constituidos 1n firma "Pu-
produziu plenamente o seu fim tanto que os entes Maia & Companhia", obtiveram a prorro-
gação do contrato, em 12 de Janeiro de 1937,
com o praso de cinco anos, sendo que no correr
desse prazo passou a girar sob a razão social de
trição. "A Magioli & Companhia".
Improcede, por via de consequência, a pres- Emquanto isso ocorria com a apelante, Do-
crição invocada e fundada na pretendida nu- mingos Alves (Ferreira constituía Matos Rocha &
lidade da citação. As demais alegações do mé- Companhia -- a J:é - s1.ta procuradora para o
rito são tambem de manifesta improcedência, fim especial de transferir "para o seu próprio
como bem o demonstra a sentença apelada. nome, ou para o de quem entender o contrato
Custas pelos apelantes. de arrendamento do prédio à rua Gonçalves
Rio, 14 de Julho de 1942. - Henrique Fia- Dias, 89", com poderes ainda, para receber alu-
lho, Presidente a relator. - Nelson Hungria. gueres, dar recibos, despejar os locatários, exe-
cutá-los, etc.
ES.se procurador, de inicio, praticou só atos
de administraçâo, até que se tornou cessionário
Apelação civel n. 879 de Domingos Alves Ferrein. e aptos -como lo-
O contrato com prazo inferio1> a cinco anos não catário direto do prédio - moveu à apelante
terr.• amparo no decreto 24. 150, de 1934. uma ação de despejo por falta. o~ pagamento de
- E' permitido aos · interessados con-
vencionar contrato em prazo inferior a alugueres; ação que terminou pelo documento
cinco anos, ao que isso importe, de qual- de folhas 90, no qual a autora - apelante, reco-
quer modo em desobediência à "lei de
luvas. Podem c.'s partes rescindir um nheceu a falta de cumprimento do contrato, pelo
contrato do prédio essencial, e em se- atrazo no aluguel, e a procedência da mesma
guida celebrarerr,• um novo com prazo 1
ação, desistindo do termino do prazo contratual.
inferior ao antigo, pois 'teem plena h·.l
berdade de ação. I Rescindido desse modo o contrato ent-'i.o em vi-
gor, a apelante e a apelada, de comum acordo,
Vistos, examinados e discutidos estes autos ,
celebraram, por instrumento particular, novo
de a-pelação civel n. 879, em que é apelante a
contrato, cujo praso foi fixado em nove meses
firma A. Magioli & Companhia, e apelada a
(fls. 91).
firma Matos Rocha & Companhia:
Como preliminar há o agravo no auto do A apelante, entretanto, deseja a renovação
processo, a folhas 134, com o qual deseja a ape- do contrato anterior, de cinco anos, por entender
lada seja declarada a ilegitimidade da apelante nula a desistência que fizera, não só porque
para estar em juizo. Improcede tal pretensão. fora feito em favor de Domingos Alves Ferreira,
A firma A. Magioli & Companhia é a sucessora que na ocasião já havia cedido todos os seus di·
dos primeiros sub-locatários da loja em questão, reitos, como porque não está o documento de fo!.
e está, assim, legitimamente pleiteando neste lhas 90 legalmente !feito, e 'ioi o res111tado de
processo. uma lo-cação. Em torno dessa questão e de ou·
Trata-se de uma renovacão de contrato de tras de somenos importância, giram os argu·
locação, em que a autora - apelante - preten- mentos de ambas as partes, resalvando a com·
de continuar como sub-inauilina da ré -- anela- petência de seus advogados.
da - pelo praso de cinco anos, aluguel mensal A autora podia rescindir o contrato. A lei
de um conto e duzentos mil réis. e observadas as não veda que as pessoas, jurídicas ajam livre·
demais condições do contrato. Domingos Alves mente, segunclo sua vontade; a lei impede é que
(34)
5-1-43 AHCI-IIVO JUDICIAil.IO 33
as partes acordem em contrário aos .oeus cl\sposi- tido com apoio nas JHO\'as dos autos c na lei.
tivos, n<to impede a recisão dos contratos. A au- Custas p8la apelante.
tora nenhuma coação sofreu - é fora de dúvi- Rio de Janeiro, 27 de Outubro ele 1942. -
da, pois não ficou provado qualquer fato que de- Flaminio de Rezende, Presiaente. - Antonw
monstrasse a existência de coação: ela agiu com Cvrlos Lafayette de Andrada, relator. - Afranio
Antonio da Costa.
toda a liberdade. A ação de despejo não pode
ser tida como coaçào, é o exercício de um direito,
é o recurso para afastar do prédio o devedor que
não satisfaz seus compromissos. Apelação civel n. 1.037
Ora, rescindir um contrato de Pl'2dio come~- / Fiduciários e depositários da fidúcia, arts. 1.605,
1. 718, 1. 729, e seguintes do Código Ci-
cial - que é a mesma coisa, no ca<o dos autos, vil. - Distincão entre os dois insti-
que renunciar expresamente ao direito da reno- tutos. - C01Ísequências jurídicas.
uação, - não está proibido na lei de luvas. Tal São os filhos adctivos legítimos herdei-
ros do adotante, com capacidade para
renunda é colida, o apelante estava na plena sucessão, salvo as restrições legais
disposição dos seus direitos, no direito atual qu" Vistos, t;tc .
podia ou não ser exercido, e como lhe conviesse.
Acordam os Juizes da aa Cãmara do Tri-
Se podia deixar de o exercer tacitamente, nã.o
bunal de Apelação negar provimento ao recur-
usando da ação própria para renovar o contrato.
so para donfirmar a decisão recorrida. Dúvida
podia fazê-lo, como o fez .. expressc_•mente, desis-
não há de que se trata de um fideícorníssb,
tindo do termino desse contrato, rescindindo-o.
cuja extinção é requerida.
A nova locação não desobedeceu a lei. Con- Diz a verba testamentária: - "A quota
I
vencionaram as partes em que o praso seria de que tocar a Julianetti de Paula Fonseca será
nove meses, e assim nlio subordinado ao decreto convertida em apólices da Dívida Pública, as
24.150, decreto que niio impede, de maneira ai- quais serão inalienaveis durante a sua vida,
.mma, contratos em p.raso inferior a c!nr.o anos. afim de passarem, depois de sua morte, a seus
Pouco importa que anteriormente a locação herdeiros legítimos". O testador faleceu em 9
tivesse maior tempo, mas o certo é que os interes- de Novembro de 1897. O fiduciário em 6 de
sados resolveram o contrário; resolveram am,iga- Junho de 1926 adotou os apelados Antonio e
t'elmente fixar menor duração para o novo con- João de Pau.:a Fonseca Soares, falecendo no
trato, proceder que não pode ser considerado estado de solteiro, sem outros filhos, eJ1l 23 de
como in fraudem legis. "A Justiça não pode im- Junho de 1941. Requereram então os adotados
por às partes restrições ao principio geral de 11- ao Juiz a extinção do fideicomisso, inculcan-
berdade de convencionar aquilo que lhes con- do-se fideicomissários, como filhos adotivos,
vier, senão dentro dos limites estritos fiXados legítimos herdeiros do fiduciário. Insurgiram-
pela lei. E, a lei nessa matéria náo restringe de se os apelantes alegando que não existindo !e-
qualquer modo, a liberdade das partes, procla- gitimos herdeiros de Julianetti, recolhem os
mando em seu artigo prim'eiro ( dec. 24.150}, bens os sobrinhos que são os herdieros do tes-
aue somente quando não haja acordo entre os tador e isso porque: - a} - a adopção ape-
interessactos, é que a renovaçio dos contratos dP nas estabelece parentesco entre o adotante e o
arrendamento de prédio será feito na conformi- adotado, não sendo possível arranjar um laço
dade do que em seguida dispõe" (Ac. da 4a Câ- de família entre o adotado e o testador; b) -
mara, na apel. civel 8. 7.61, de 1940). ~:e trata de uma propriedade 1·esoluve1 de que
Bem andou o Dr. Juiz a quo julgando im- não era dono o finado Julianetti, sinão depo-
procedente o pedido. O contrato que o apelan- sitário para transmiti-la aos herdeiros legíti-
te pretende renovar não tem o requesito do ar- mos e não os tendo são para os sobrinhos do
testador; c) - por herdeiros legítimos de Ju-
tigo 2°, letra b do decreto 24.150, de 20 de Abril
lianetti somente devem ser tidos os .filhos car-
de 1934 -- é um contrato de nove meses.
nais ou a prole carnal, nos termos do artigo
Acordam, pelo exposto, os Juizes da Terceii:. 1. 718 do Código Civil; a propósito citam o co-
Câmara do Tribunal,, de Apelaçio negar provi- mentário ele Clovis ao dispositivo legal. Inde-
mento ao agravo no auto do processo, bem como feriu o Je.iz a reclamação, tendo por fideico-
ao recurso interposto da sentença de primeira. missários os adotados como legítimos herdeiros
instância, a qual confirmam por ter sido profe• do fiduciário.
\35)
34 ARCHIVO JUDICIARIO 5-1-43
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Os apelados são "legítimos herdeiros'' de Como nota Pontes de Miranda, h~ pontos
Julianetti pois "aos filhos legítimos se equi- de oposlção radical entre os dois institutos, im-
param os legi~imados, os natuxais reconhed- pedindo-lhes a aproximação. No caso do· ar-
dos e os adotivos (art. 1.605 do Código Civil), tigo 1.718 trata-se de um simples depositário
com a única restrição do concurso com os fi- de bens que deve entregá-los, acrescidos de
lhos legítimos havidos posteriormente à adoção renda, ao nasciturno (caso da prole eventual),
(cit. art. 1. 605, § 2°) . Ora, solteiro que era, ao passo qu.e no fideicomisso o fiduciário re-
colhe os bens como de uma propriédade, com
sem filhos naturais ou legitimados, nada im-
a obrigacão dtl devolvê-los simplesmente ao fi-
pedia a Julianetti de adotar. A verba testa- I deicomi_,;ário.
mentária não aponta para fideioomissários
"filhos legítimos" de Julianetti, mas, seus
I E', porem, Pacifi - Mazzoni quem melhor
"herdeiros legítimos" e os apelados o são como elucida o assunto: "enquanto permanece a
filhos adotivos. possibilidade ou a esperança de prole, a heran-
ça ê conservada sob administração; o adminis-
Repousa a controvérsia no comentário de trador exercerá todos os direitos e ações que
Clovis que aplica ao fideicomisso a regra do am:pal1arem a he'l',.n.ça, )I'Sp\reEentamdo-a ram-
art. 1. 718 d~ Cód. Civil. Em que pese, po- bem passivamente. A prole, ao nascer, adquire
rem, o grande respeito votado ao eminente ju- a herança com efeito retroativo ao tempo em
rista, semelhante ajustamento é razoavelmen- que se abriu a sudessão, obtendo, em seguida,
te repelido por uma exegese perfeita do Códi- não só todos os bens deixados pelo defunto,
go. Como f1:.ndam<~~nto Cli.stórico é unanimej- todos os frutos civis e naturaes por eles pro-
mente apontado o art. 764 do Código Civil ita- duzidos, como quaisquer acessões". (Comm. el
liano. E com isso é logo para atender-se à prol- Cod. Civ. It., vol. 6°, págs. 182, n. 70).
. bição da substituição fideicomisSária nesse Có- Disposição similar à do nosso art. 1. 718
digo e a quo:> o aparecimento dessa figma ju- encontra-se no Cód. Civ. Português, de reda-
rídica no seu contexto destinou-se a contornar ção mais clara, todavia, pois evita ambiguida-
as dificuldades criadas pela proibição ofereceu- des, frisando "à validade de disposições em fa·
do-se ao testador uma fornna supletiva, sem vor de nasci turnos, descendentes em 1o grau
quebrar a unidade e o sistema do Código. E' de certas e determinadas pessoas vivas ao tem-
o que explicam, com clareza, autorizados in· po da morte do testador, posto que o futuro
tél1pretes. herdeiro ou legatário venha à luz fora do pra-
zo dos trezentos dias".
Quais os motivos cia disposição especial con-
tida no princípio do art. 764? Custas pelos apelantes.
Responde o relatório Pisanelli: "Esta exce-
Rio, 25 de Agosto de 1942 .. - Henrique
ção :foi feita porque pelo Código é vedada a subs-
Fialho, p. e relato r. - Afranio Antonio da
tituição fideicomissária mesmo n0 1~ grau.
Costa.
Pode acontecer, porem, qv..~ a pessoa a quem
devesse ser feita a sucessão tivesse tido con-
duta reprovavel para com o testador, ou1 de
outra forma lhe houvesse desmerecido na con-
fiança, sem alterar, porem, o afeto de família. Apelação civel n. 1. 701
Se essa pessoa já tivesse filhos, nenhuma di-
ficuldade; mas, não os tendo, parece que se Para que o "suicidio" i1r.'Peça a validade do pre-
não pode impedir ao testador de prever o caso mio de um seguro de vida, é nece~
sário que a seguradora jaça prova de
da superveniêncií!- deles, de preferência a ver que o jato ocorreu por vontade conci-
seus bens .irem parar às mãos de estranhos. ente do suicida. Via de regra o sui-
Mas, ainda que a tal pessoa já tivesse filhos, cidio é uma fatalidade consequência de
gesto impensado. Interpretação do ar-
nada impede ao testador de prever a superve- tigo 1. 440 do Código Civil.
niência de outros". (Vittorio Pelacco - Della
Su•ccessioni, vol. 10, págs. 213; Bartolomeo Vistos examinados e discutidos estes autos
Domi, vol. 10 págs. 67; vol. 20 págs. 254, de apelação cível n. 1. 701 em que é apelante
nota 5). "Metropole", Companhia Nacional de Seguros
(36)
5-1-43 AnCHIYO JlJDICIAHIO 35
Gerais, e rtpelrtda Heycl L2fki Ponte, viuva de rngráfo único do artigo 1. 440 citado, a cir-
Vicente Ferreira ela Ponte. cunstância de ser o suiciclio premeditado, por
pessoa em seu juízo, sendo como é uma exce-
O paragráfo único do artigo 1. 440 do Có-
ção de defilza, oposta pelo segurador para se
digo Civil considera morte voluntária o suicidio
eximir da obrigação contratual de pagar o prê-
premeditado por pessôa em seu juízo sendo esse
mio do se;uro, incumbe-lhe a prova, não apenas
caso incluído dos riscos possíveis de serem ob-
de que a morte do segurado se tenha verificado
Jéto de seguro. Daí para que a morte seja con- por suicídio, mas ainda que o suicídio tenha
siderada voluntária é necessário que fique pro- sido premeditado e que ao suicidar-se estava o
vado ter sido premeditado o suicidio e que o segurado na plenitude de suas faculdades men-
suicida estivesse em seu juizo. tais; em seu juízo. Sem dúvida a prova da vo-
Clovis Bevilaqua diz que o "suicídio para luntariedade pode ser estabelecida pelas circuns-
anular o seguro deve ser concientemente deli- tâncias que o antecederam levando-se em conta
berado porque será igualmente um modo de o estado de saude mental do segurado, ausência
procurar o risco, desnaturando o contrato. Se de predisposição hereditaria, fatos de sua vida
porem, o suicídio resultar de grave, ainda que intima, estado de seu.s ne;::;ócios, etc.
subitanêa perturbação da inteligência, não No caso destes autos todas as circunstân-
anulará o seguro, A morte, não se poderá nes- cias apuradas levam a considerar que o suici-
te caso, considerar voluntária, será wna fatali- dio de Vicente Ferreira de Ponte, longe de ha-
dade; o individuo não a quiz, obedeceu a for- ver sido premeditado, de haver sido mesmo con-
ças irreslstive!s" (C. Civll - vol. 5). cientemente querido, foi antes obra da fatali-
São .unanim.es os psiquiatras, em a,flrma; dade resultado de wn estado mental afetado
que via de regra, o suicidio é um áto de alle- e de um á to impensado.
nação mental, donde a presunção geralmente Mostra a prova, não só pelo depoimento das
admitida, que a morte por esse meio é involun- testemunhas como, sobretudo, pelo atestado
tária. Por isso Carvalho Santos sustenta que do professor Henrique Roxo. de que o segura-
"o suicidio preswne-se sempre como áto de in- do era portador de uma afeção mental. Afirma
consciência, cabendo a quem tiver interesse, o Professor que, sob seus cuidados esteve o
provar o contrário, de modo a destruir tal pre- morto, várias vezes, o qual l'ofria de psicose de
sunção. Vale dizer: ao segurador comp·ete fazer involução, forma melancólica, que foi a caUM
a prova de que o segurado suicidou-se preme- determinante do suicidio (fls. 45).
ditadamente, com a conciência do seu áto" (C.
Civil, Introdução - vol. 19) . Outras provas mostram ter sido o morto,
homem independente, de fortuna, sem dividas
No mesmo sentido su.stentam nwnerosos vivendo na melhor harmonia com sua esposa e
autores estrangeiros, e entre eles Ernile Agnet: filhos, estando estes bem encam1nhados na
"Cabe à companhia provar que o suicidio foi vida.
conciênte e voluntário. A este titulo hà uma
Todos esses fatos deixam claro que o sulci-
Jurisprudência constante, apoiada em grande
dio não podia ter sido premeditado, foi um ges-
número de decisões" (M•anuaL des Assurances) .
to impensado, resultante do seu estado doen-
Leforts "TI appartient à l'assureur de prouver
tio.
que l'assuré s'est donné la mort dans l'integr1-
té de ses fonctions mentales" ( Tmnté du Oon- Acordam, assim, os juizes da Terceira Câ-
mara do Tribunal de Apelação, por unanimida-
trat d' Assurances sur la vte, vol. 3°) e mais
de de votos, negar provimento ao recurso, para
adeante repete que o !ato material do suicídio
manter a decisão recorrida.
não basta para extinguir a obrigação da segura-
dora; a extinção das obrigações só ~e verifica Custas pelo apelante.
em consequência do suicidio voluntário e refle- Rio de Janeiro, 16 de Outubro de 1942.
tido, e portanto compete a seguradora provar FLaminio de Rezende, Presidente. - Antonio
que o suicldio ocorreu na plenitude das facul- Oarios Lajayette de lndrada, relator. - Afra-
dades mentais do segurado. nio l.tntonio da Costa.
E' que, com efeito, a volwttariedade do sui-
C!dlo, ou como com maior rigôr estabelece o pa-
(37)
ARCHTVO JUDICTARIO 5-1-43
110 ca~o cn1 que funclnnlCllÜll11 pe:::liclo ele anula- te. propondo es~a açüo e ai imputando ao !na-
ção de casamento, ou de desquite. M1s ai é que rido aqueles atos, não estava a embargada exer-
a questão se torna delicada e tem especial- cendo normalmente um direito legitimo.
mente aplicação ao caso pres·ente. E' necessá- As imputações difamatórias ao embargante
rio distinguir quando se trata do exercício nor- pela embargada naquela ação, absolutamente
11Wl de 1<111. direito legitimo, e quando se trata inutei.S e inôquas para- alcançar o objetivo co-
de um venladeiro abuso de diTeito. limado, terão necessariamente de ser classifica-
Assim' o legitimo direito de pl'opor ação das como constituindo injúria grave, porque
de nulidade de cas::nnento é exercido normal- , não se há de admitir que um cônjuge possa
mente, quando a causa é fundada em fatos ' imputar ao outro, publicamente, atos que afe-
que alem de reais, verdadeiros, sejam capazes 1 Ltrn a sua honra, a sua boa fama, a sua digni-
1
d-e determinar aquele resultado, ou que pelo dade, o seu conceito na sociedade, tudo com o
menos possmn gerar no autor a convicção ra- mero pretexto de estar exercendo o direito de
zoavel e sincera da procedência de sua preten- pleitear a anulação do casamento, embora. certo
cão. Se, porem, porque não sejam reais não I de que tais aros, ainda que realmente· tivessem
sejam verdadeiros os fatos alegados para fun- sido praticadas não havia causa à nulidade
damento do pedido, ou porque ainda que reais pleiteada. E não caberia, portanto, neste passo,
e verdadeiros sejam evidente, manifestamente pesquizar, como erroneamente se procedeu no
imprópTios para atingir o fim que se diz consti- acordão embargado, se as imputações difamató-
tuir obejto do pedido, claro é que, nesse caso, o rias tinham ou não viso de verdade. Não· se co-
autor age anormalmente. abusivamente, ilegiti- gita, nem se pode cogitar, in subjeta 17Ulterla,
mamente, seja por malícia ou por erro grossei- de exceptio veritate, porque como já foi dlto,
ro equivalente ao dolo. não se equipara a injúria entre cônjuges como
Nc caso destes autos, a embargada propoz causa de desquite, com a· injúria punida pela
lei penal. Entre cônjuges, mesmo que sejam
contra --seu marido uma ação de nulida-de de
verdadeiras as imputações difamatórias consti-
casamento, al-egando ter sioo co~pletamente
tuem injúria, porque esta ai se carateriza, es-
iludida sobre a honra e bôa fama do ora em-
sencialmente, ·na violação <lo dever conjugal da
bargante. E para justificar essa asserção, atri-
afeição, da consideração, do respeito, da assis-
bue-lhe a prática de atos que constituem indu-
tência moral devida ao consorte," na violação,
·bitavelmente, imputações difamatórias, alguns
em fi.nl, daquilo que no casamento há de mais
dos quais alem, de não conseguir provar, q·zwn-
nobre, de mais elevado, de mais sublime, que
do mesmo fossen.• verdadeiros não permitiriam,
constitue a sua própria essência espiritual. Che-
em absoluto pretender que déssem causa à anu-
gando-se, portanto, a essa conclusão, e verifi-
!ação do casamento tanto n:ois sendo, segundo
cando-se que a ação de desquite promovida pela
foi alegado, posteriores ao mc'irimõnio. De sorte
ora embargante contra a ora embargada com
que a embargada propoz contra seu marido uma
ação de anulação de casamento, acusando-o de fundamento no art. :3<17, III, do Có<iigo Civil,
haver praticado, entre outros, certos atos que decorrente das injúrias gratuitas contra ele
ela própria alí classificou de infames, desde
assacadas pela ré ora embargada na ação de
que o pedido de anulação teve por fundamen- anulação ele casamento por ela promovida, e
consistente nas imputações difamatórias com
to a afirmação de ter o marido cometido en-
que pretendeu fundamentar essa ação (entre
tre outros tais atos q1te afeta'!X!ffi' sua honra e
outras alegações), embora deles jamais pudesse
·boa fama e que o conhecimento ulterior por
esperar o julgamento de sua procedência pela
ela de ter o embargante praticado tais atos, to-
manifesta inoperância para tal, forçoso será.
maram-lhe como conju,:;e engana-do insupor-
tambem concluir que toda ,procedência tem a
tável a vida em comum. Como, porem, e55es atos
acão do enllbargante, em que ficou cabalmente
infamantes de que ela acusou o marido teriam
demonstrado haver sido ele grave1nente inju-
sido posteriores ao convivia ma-trimonial, resul-
ta' que, independente mesmo da improcedência ria do pela embargada.
dos motivos invocaclos, nem siqucr em tese era- Quanto, finalmente, à guarda do fllho C:o
l.he licito pretencler que por causa deles pucles- casal, en1bora consiclcranclo culpada tambem a
se ser anulado o casan:oonto. Consequcntemen- embargada, justo é, por outro lado, rcconlleccr,
(39)
AHCI-IIVO JUDICIARIO 5-1-43
que náo Ee apresenta nestes autos qualquer aclmitinc1 0 embargos ele nulidade e infringentes
fato que afete a idoneidade de qualquer dos do julgado quando o acordão, não sendo unâ-
cônjuges, notadamente para o fim de orientar, nime, haja reformado a sentença.
dirigir e acompanhar a educaç/io do filho menor Na espécie, a sentença não fora reformada,
do casal e tê-lo em sua companhia. A lei esta- ! mas, ao contrário, confirmada, em gráu de ape-
belece, no artigo 326 do Côdigo Civil, regras a ic.ção. Entendi mais que, tendo tanto a sen-
serem geralmente observadas. Mas o artigo 327 tença de primeira instância como o acordão
do mesmo Código, faculta ao juiz o arbítrio de que a confirmou, julgado a mulher cônjuge
regular diferentemente, quando se apresentam · inocente, a questão de visitas do fill1o aos pais,
motivos graves, a bem dos filhos ..Esses motivos estava necessária e consequentemente decidida,
graves apresentam-se, a juizo do Tribunal, no face do disposto no art. 326, primeira parte,
caso destes autos, caraterizando-se, principal- do Código Civil, que declarou: sendo o desquite
mente, na grande, na extraordinária afeição judicial, ficarão os filhos menores com o côn-
reciproca da embargada e seu iilho Sylvio, con- juge inocente. Assim, no regular o modo de se
siderando-se a natureza excepcionalmente ·afe- l'eal!zarem as visitas nada mais fizera 0 acordão
tiva dessa criança, e o mal irreparavel que advt- que decidir incidente de execução do julgado
ria de uma separação de sua mãe em tão tenra ·de natureza secundária, tanto que, na instância
idade, afetando, sem dúvida, a formação de sua inferior, pode 0 juiz alterar, conforme as cir-
mentalldade e do seu carater, se~ embargo do r cunstâncias, o que fora resolvido anteriormente,
clesvelo com que seria tratado por seu pai e sua no tocante às visitas e até havendo motivos
família. Na idade em que ·está o filho do casal graves, regular por maneira diferente a situa-
desquitado, é sabido que as fortes comoções ção dos filhos para com os pais (art. 327 do
psiquicas marcam o individuo para toda a vida, Cód. c!t.). Pareceu-me, pois, não apenas uma
determinando sempre complexos que asseguram superfectação, admitir embargos, sob tal .funda-
um futuro infeliz, consequência que seria no mento, mas atentatório à letra expressa da lei
caso presente inevitavel dada a assinalada na·
qualquer modificação a respeito da posse e
tureza do menor. E' o bem dele que a lei, guarda do menor, filho da embargada que, côn-
acima de tudo procura .garantir, que a Justiça juge inocente, como fora julgada, não poderia
esforça-se por conseguir com· a solução adotada. ter esse direito sujeito à periclitação de um
e que, mais do que todos, os pr:óprlos pais cer· novo julgamento.
tamente compreenderão.
Em suma: questão incidente, que é, a ·Visita
Custas ex-lege. do filho ao pal, no caso em apreço, a mesma
Rio, 30 de Julho de 1942.- Edmundo de fica ao critério do j,uiz da execução que a regu.
Oliveira Figueiredo, Presidente interino.- Hen· lará conforme as circunstâncias peculiares e
nque Fialho, relator. haJbilltem a decidir. Assim concluindo, entendl
-A. M. Ribeiro da Costa, vencido tanto na não ser caso de embargos, caso incidente. Náo
preliminar como no mérito. O acordão embar-· admiti os embargos para exame da materia ar-
gado fls. 461-469, confirmou a sentença de ticulada na ação por se achar julgada a mesma
primeira instância, por maioria de votos, na e confirmada pelo acordão em'bargado, não
parte .que julgou procedente a reconvenção e sendo a.pllcavel à espécie o art. 833, pois qutr
improcedente a ação, considerando a mulher st) admite embargos, alem dos casos relativos
cônjuge inocente, mas reformou ~ sentença tão aos arts. 783, parágrafo 2°, e 839, quando não
somente (sic) na parte relativa de visita.s do for, unânime o acordão que, em grau de. ape-·
filho ao pai, alterando apenas o horário res- lação, houver reformado a ·sentença. Ora, a sen·
pectivo. Nada mais. Manifestou-se, pois, di'ver- tença d~ ,primeira instância não fora reformada.
gêncla apenas em relação à questão de visitas porem confirmada pelo acordão ora embargado,
do ·filho do casal. Entendi, em tais condições, uã.o cabendo assim o recurso interposto. Ainda
preliminarmente, não embargave1 o acord!i.o, nos quando, sob o argumento expressivo de que o
termos do artigo 833 do Código de Processo acordão houvera reformado a sentença na iPar'te
Civil, eis .que a questão de jmuio, a ·questão relativa às visitas do filho a 0 pai, se devera
principal, fora decidida pela conformidade admitir embargos, toda discussão posta a res·
dupla na primeira e segunda instância, só se peito, teria de ficar circunscrita, exclusivamente,
(40)
5-1-43 AHCHIVO JUDICIARIO 39
a essa p~rte elo julgnclo. n'<o conrirm:>dn, cm~bora 'I marido, ora emh:ugante, dado o modo de vida
constituísse mero incidente de execução susce- irregular que mantinl1a.
t!vel de apreciação, a todo o tempo, pelo Juiz , --Frederico Sussekind, vencido na prelimi-
da causa. Isso é de uma clareza que está a entrar ' nar c no mérito. O a cordão embargado conjirmour~
pelos olhos. A lei está ao nosso alcance, a in- a sentença de primeira instância, julgando pro-
clicar a extensão dos recursos . o art. 824 do cedente a reconvençio improcedente a ação, e
Cód. de Proc. Civ. dispõe, que somente a ape- considerando a embargada como cônjuge ino-
!ação devolverá à superior instância o conheci- cente (fls. 469). Reformou apenas uma parte da
mento integral das· questões suscitadas e dls- sentença quanto ao direito de visita do filho ao
cu tidas na ação, salvo a hipótese do art · 811 · I pai, mas de modo ifavoravel a este. Não era, pois,
Entretanto, no título UI, que regula o recurso embargavel, ao contrário do que decidiu a maio-
dos embargos, não há dispositivo similar e não ria, contrariando a expressa disposição do art. 85
há por uma razão lógica, que a técnica do Cód. do Código do Processo Civil. Os embargos são ad-
de Proc. Civ. compreende ao estabelecer a in- missiveis - quando não for unâni,ne o acordão
columidade da sentença confirmada .pela dupla j que, em grau de apelação, houv.,;r rejonnaclo a-
conformidade de .votos. Todo critério que se \
sewtença (art. 833). Se, portanto, o aco:rdão-
aparte desse sentido estarA em contraposição a
confirmou a sentença, resolvendo a questão-
rorma geral disciplinada pelo Código. Assim,
principal. (a ação e a reconvenção) não podia ser
não admiti os embargos, mesmo para ser apre-
embargada. Não se argumente com a alt~ração
ciada a questão de visitas; excluída, pois, a que
sobre o direito de visita do filho ao pai não só
se refere ao mérito da ação no tocante à embar-
gada, c6njuge inocente. Vencido, passei a expor porque a decisão a este foi favoravel c -l recurso
os motivos pelos quais a embargada devera ser sõ é conferido ao vencido ou prejudh;ado e isso
considerada como tal. Fi-lo com argumentos, é obvio em face do art. 76 do Código Civil como
apreendidos com estudo da exaustiva prova dos. porque se trat:t de acessõrio da parte mi:tima da
autos, toda ela examinada criteriosa e logica- decisão suscetível de ser a cada modento alte-
mente pela sentença de primeira instância. rada pelo Juiz da execução do desquite regulando
Acentuei que o embargante procedera de tal a situação dos filhos de maneira diversa "ha-
modo irregular, antes e durante o periodo de vend0 motivos graves" (art. 327 do Código Civil)
convivência no domicilio conjugal que levara Reconhecida a esposa ora embargada como !no-
a embar~ada a sofrer vexames constantes, ve- cente pela sentença e pelo uco::-dão que a confir-
xames seguidos de 'injúrias tão notórias, como mau com o direito de conservar o filh 0 m.enOT"
dentre outras, o haver agredido a embargada em sua companhia e guarda (art. 326 do dito
em plena via pÚiblica, forçando-a a pedir -ga- Código) não podia outra decisão alterar a sua
rantias a polícia, alem da afirmação que ilzera situação para declará-la como culpada e deter:
sobre as relações entretidas entre outros pró- minar a internação do filho quando atingir a
ximo ao enlace matrimonial. idade de 11 anos como o fez a maioria deste
De parte este aspecto, não me pareceu que Tribunal atendendo data vênia contt"a expressa
pudesse constituir injúria, atribuível à mulher, disposição de lei. E' que a favor da c.sposa. em-
o fato de propor a mesma ao marido a ação de bargada reconhecida como inooçnte pela sen-
anulação de seu casamento, sob !fundamentos tença confirmada pela superior instância for-
expostos pelo advogado na defesa de se'U direito, mou-se o caso julgado.
argulndo fatos, todos os quais devidamente com-
Pela dupla conformidade de julgados, ficou
provados, no sentido de mostrar o engano da
proclmnado que erao ela inocent€ e o embargante
mulher quanto à pessoa do marido. Quer dizer:
se o marido, procedendo de tal sorte, levara a o cônjuge culpado. A situação não mais podia ser
mulher pedir o desfazimento do vínculo matri- alterada, para se proclamar a culpa ele ambos.
monial, e os fatos não foram destruidos, ele, Quando se pudesse admitir os embargos, por ter
positivamente, com tal proceder, já expuzera de havido reforma, na sentença de primeira ins-
modo suficiente a mulher infeliz, aos vexames tância, sobre o direito de visita do filho ao pai,
que tal situação cria na sociedade parCL as pes- 1 somente sobre essa parte, parctaiment~. podia
soas sujeitas as s11as críticas c censuras. Fora, i a nwioria se pronunciar. Jamais sobr3 a rtção e
pois, a mulher, ora embargadrt. injuriada pelo I e reconyençüo, soberanamente julgadas pela s3n-
(41)
40 AHCHIVO .Jl'DICL\HlO 5-1-43
tença. e pelo acordão, que a manteve. Como es- lnstáncia, que bem apreciaram as provas e apli-
creveu em seu brilhante voto vencido, o De5em- cm·am a lei com a sabedoria.
bargador Ribeiro da Costa: "a lei está no no:oso O autor embargante, pedindo a dc~retação
alcance, a indicar a extensão dos recursos. O do desquite por culpa da esposa alegou na ini-
art. 824 do Código do Processo Civil dispõe que cial ter sido por ela 'Ínjuriad 0 quanc''.::> na ação
somente a rupelação devolverá à supe"·ior instãn- anterior de nulidade de casmnento jul~ada im-
aia o conhecimento integral das quostões susci- procedente lhe atribuiu 0 exercício ilegal da
tadas e discutidas na ação, sa1vo a llipót•Jse do tnecliclna, a emissão de cheques sem fundos, a
art. 811. Entretanto, no Tit. III, qne regula o' falsa qualidade de inaustrlal etc. (.fls. 2).
recurso dos embargos, não há disposlçào similar Precedeu à ação de anulaç'i.o de casamento o al-
e não há por uma razão lógica, que a técnica do vará judicial de separação de co1·po:; de modo
Código do Processo Civil compreende ao est&• que na propositura da ação tinha a esposa de
belecer a incolumidade da sentença confirm&· fundam.entar o seu pedido indicaneto 9..; fatos em
da, pela dupla conformidade de votos. Todq que se :~poiava. Desde logo, portanto, há de se
'1ritério que se ·aparte desse sentido, estarã. eci acentuar que assim agindo quando f.eparados
"'Ontraposicão à norma geral disciplinada pelQ judicialmente tem o cônjuge necessiaae!0 de ar-
<16digo''. O que visou o legislador, n'i.o há dú• ticular todos os fatos que reputa seguros de r.u-
'lida, foi o de só conceder embargos em favor tortzar o seu pedido, fatos que articula sem ma-
do embargante ocorra, concomitantemente, il lícia, mas certa de proceder na defesa e exerci•
,sentença de primeira instância e ~ voto ven- cio de um direito que pleiteia seja reconhecido.
cido. Reformada a decisão por unanimidade Não se pode assim ver intenção de injuriar o
dos julgadores, ou confirmada, mesmo com voto outro cônjuge quando os fatos são nr.rra;:los
vencido, não há possibilidade de interposição comn justificativos do pedido. O que a doutrina
de embal'gos e, portanto, de nova apreciação. e a jurisprudência teem entendido é c,_ue só se
Nesse sentido a jurisprudência vem se fir- poae cons!Clerar como Injúria o procedimento cl~
mando neste TrJbunal, como se verifica. dos acor- cônjuge articulando fatos de má fé c0m maliela,
~ãoo da 5.a Câmara, proferidos nos embargos não lhe send 0 essencial ao direito pedido, ou.
ns. 9.717, em 29 eLe Julh 0 de 1941, e ;).859, em como escreve Carvalho Santos (Cóà. Civil, vol,
~ de Novembro de 1941, relatados, re~ipectlva V, pág. 230), quando flagrantemente inverídicos,
mente, pelos Desembargadores Canaldo LOb 0 e e isto porque o exercício regular de um direito
Rocha Lagoa: - "ncolhe-se a prçlim.inar ele só não pode ser tid 0 como injúria.
ser eml;>'lrgavel a parte do acordão c,_ue alte1·ou Em acordão de 24 de Abril de 1925, o Tri-
a sentença sem ser por unanimidade •Je votos. bunal, em sessão plena, sendo relator o eminen-
Da parte, porem, que foi ma.ntida, não há em-~ te Desembargador André de Faria Pereira., teve
'Oargos". Há apenas dois dias segundo noticias . oca.~ião de não considerar injuriosas as expressões
publicada no "Estado de São Paulo", decidiu o usadas por um marido, e a alegação qu$: fez cto
culto Tri-bunal de Apelação de S. Paulo, nos .adulterio da mulher, ref-letindo a sua convicção
emba;rgos de nulidade opostos ao agra•1o núme- a respeito da infidelidade com que proeedera,
ro 15.871, em 28 de Julho corrente: - "no sis- de modo a justificar o procedimçnto dela em
tema do Código do !Processo Civil, parn. que se outra ação contra
0 marido, com base em injú-
admitam embargos é necessário tenha o embar· ria grave, porque haviam sido os fatos e as ex-
gante, em seu favor, um voto vencido e. a sen- pressões feitas com o intuito de levar ao conhe-
tença. de 1" instância. Se em parte das questões cimento do Juizo os motivos que, no entender
lltscutldas, nno existe esse acordo, somente so- do marido, autorizavam a p·edida dissolução da
õre essa parte são os embargos admitidos". O sociedade conjugal .
.acordão deste Tribunal, em maioria, contrariou a Em decisão recente, de 25 de Novembro de
jurisprudência anterior e, ainda, a do Tri.lmnal 1941, na apelação civel n. 504, a 3a Cãrnll.ra eles-
de S. Paulo.
te Tribunal firmou nã0 constituir injurh a ale-
Vencido na prellminar, obrigado a exailLinar gação d~ adultério, feita na inicial üa acfw cte
-o mérito dos embargos, mediante vista do pro- desquite, porque se tratava de exposiçã•.> elo f[1tO
cesso, ainda o fiquei no mere<:imento da causa, que autorizaria. a sua procedência. "Alegando o
porque mantinha o acordão e a sentença de lrt 1 fato na inicial, o autor não injuriou a. mulher,
5-1-43 AHCHIVO JUDICIAH!O 41
porque acreditou nr1, ycracic!Uclc cld~. N:lo articu- Quanto ao Yicio elo jogo, não só lhe fctzem
lou, com intenção injuriosa, mas apenas expon- referências as testemunhas de fls. 10; 12v.,
do 0 caso, como fundamento legal da açãD. 63, 66, 73v. e 75, como__.reconheceram pro1;alla
a arguição a sentença na ação de anulação de
Ora, no caso em apreço, os fatos, que a casamento e o parecer do Dr. ,procurador Geral
embargada articulou na inicial da ação de nu- (fls. 61 e 448). Todos os fatos, portanto, ar-
lidade do seu casamento, foram enunciados ticulaclos pela embargada, na açã.o de anulação
como fundamento do pedido, sem intenção in- ele casamento, ficaram provados, embora não
juriosa, sem malíciet · E, com uma circunstãn- autorizando a sua decretaç'io, no entender do
cia re~evante, todos es.ses fatos, articulados pela ' acordão da 4.a Câmara. Daí ter esse acordâo
então autora da ação, ficaram provados, em-j declarado que " - só por esse motivo, in dú.bio
bora não permitindo a decretação _da nulid~de 1' pro-matrimônio, se n'io dâ provimento au pe-
do casamento, no dizer do acordao profendo dido sobre a anulação, por erro sobre a honra
nos autos respectivos. Ao contrário do que se em geral (fls. 61), com a ressalva de insistir a
escreveu nos autos, a embargada n'io usou do embargada no pedido, desde que o marido fos-
termo "charlatão", mas alegou, e provou, que se condenado .pelo crime inafiançavel de se
o seu marido não exercia " - legalmente a me- dizer brasileiro sem o ser (fls. 59, in fine, e
dicina'•. A sua afirmação foi a de que não es- 62).
tava ele legalmente habilitado ao exercício da Demonstrando serem verdadeiros todos os
medicina e, não obstante, a praticava. A cert. fatos articulados contra seu marido, não agiu a
de fls. 136 prova que, em 15 de dezembro de embargada com malícia, com má Jé, com inten-
1938, não tinha o embargante título de mé- ção injuriosa, senão no exercício regular de um
dico registrado e nem licença para o exercício direito, apontando aos julgadores os motivos
da profissão. Exerceu-a, porem, ilegalmente, que, no seu entender, autorizavam a decretaç.ii,o
como se vê do doe. de fls. ,135 E o acordáo da da nulidade do seu casamento. Por outro lado,
4.a Câmara, proferido na ação de anulação de as expressões escritas nas razões finais da ação,
casamento, considerou provada, a alegação da não podem constituir injúria por parte da em-
embargada (fls. 60v.). Tambem ficou conside- bargada. Foram fatos que surgiram durante o
rada provada a alegação de não ser o embar- processo, circunstâncias novas que ampliavam o
gante industrial, dono da estamparia. E' o que .pedido de anulação de casamento, senªo, por
diz o mesmo acordão, à ns. 60v. : - "os do- isso, aproveitados pelo advogado da embargada,
cumentos de fls. 35 a 46 mostram que a es- citando-os, nas razões finais, ~para melhor de-
tamparia de verdade não lhe pertencia". monstr:J.r o erro essencial sobre a pessoa do
Igualmente, a embargada provou que o seu ma- outro cônjuge. Pelas expressões, empregadas
rido era italiano e n'io brasileiro, como lhe nas razões pelo advogado, não pode a embar-
havia· afirmado antes do c:J.samento. E' fato
que a alegação não serviu de fundamento para I gada ser responsabilizada. E' o que, ainda re-
centemente, decidiu a 4.a Câmara deste Tri-
o casamento ser anulado, "desde que, quem bun:J.l, em 24 de Setembro de 1941, na apelação
casa com italia.no, crendo-o brasileiro, não erra I civel n. 9.520 (Revista Forense, volume de
quanto à pessoa, porque, a qualquer tem,po, o Maio de 1942, pág. 428): " - não podem as
italiano poelerá !fazer-se brasileiro e, se brasi- partes ser responsabilizadas pelas expressões
leiro fosse, poderia fazer-se italiano, sein qual- mais ou menos vivas empregadas por seus ad-
quer repercussão no vinculo conjugal" (fo- vogados em relação· à parte adversa". Mas,
lhas 59v.), mas certo tambem lé que o mesmo tamberp. é de ser salientado, as afirmações do
acordão deixou expresso ter havido " - misti- advogado tambem ficaram plenamente prova-
ficação da nacionalidade brasileira, apontadt, elas. Procurando demonstrar que o marido se
para obter casamento segundo a lei brasileira., dava ao vicio elo jogo, articulado o fato na
de modo que houve o ato delit1wso, e a sua inicial da aç:io, vieram aos autos os cheques de
posterior inclusão em preparativos matriml'- fls. 148-150, a eles se referindo as testemunhas
niais, iludinclo o outro nubente, as testemunhas de fls. 12v., 63v., 72 e 75. A ~missão de che-
e o Estrtclo, pm· um Oficial e por um Jui?. ce- ques não foi contestada; provado ficou que, na
lebrante, frtto que está c.ru1Jcmntcmcntc proc'aelo clo.ta de sua en1issüo, o enlbargante nfto possuia
nos autos. o n'u (o lll~nido) , não é brasileiro, I "Íunclos necessários ao pagamento ele quaiSé[Uer
é italirtno". (Ac. ela 4." Cãm~na, a fl. G4) . cheques" (doc. ele fls. 202). A ::üirm:cc;Cto elo
1431
42 ARCHIVO .TUDICIARIO 5-1-43
advogado, nas razões finais, quanto à emissão de Acordam os Juizes da 3."' Câmara do Tri-
cheques sem fundos, não pode constituir in-. bunal de Apelação, dar provimento ao recurso
júria grave, se devidamente provada. A aç~o para reformar, cmno efetivamente reformam, a
da embargada, reclamando providências às au- decisão recorrida e excluir o crédito do agra-
toridades policiais contra o seu marido, amea- vado do passivo da falência, ressalvado o di-
çada de agressão física, não pode ser admitida reito do recorrido de pleitear, pelos meios or-
como de injúria grave. Igualmente, não foi a dinários, o pagamento do que pretende lhe ser
embargada quem denunciou o seu marido, pelo devido.
crime de falsidade, dizendo-se brasileiro, quan- Assim decidem ,porque a conta de honoráJ:ios
do não o era. por serviços médicos não é título habil para ser
A denúncia lfol apresentado ao Dr. Juiz de admitido o recorrido. como credor na falência,
Direito da 3.a Vara Criminal, pelo Ministério nem no processo de habilitação de crédito ·Se pode
Público. Quem solicitou a remessa das peças, fazer, com subversão das normas processuais, e
da ação de anulação de casamento, ao doutor prova de terem sido prestados os serviços alega-
Procurador Geral, foi o Promotor Público, dou- dos e arbitramento do seu valor.
tor Pires e Albuquerque Filho (fls. 212v. -213). O art. 82 § 2° da lei de falências exige,
Aliás, quando a iniciativa tivesse sido da es- como requisito essencial, que o pedido de habi-
posa, estaria dentro da exceção prevista no litaçfuo de ·crédito seja logo instruido com o res:-
art. 7. 0 do Código do 'Processo •Penal, entiio vi- pectivo título, e a simples alegação de serviços
gente. E o crime de falsidade ficou provado, prestados acompanhada de uma nota de honorá-
julgada procedente a denúncia, havendo o em- rios, não satisfez a exigência legal.
bargante se eximido pela prescrição (doc. de Custas pelo recorrido.
fls. 125v. e 132) . Finalmente, a alegação de Rio, 28 de Agosto de 1942. - Henrique Fia-
abandono do lar pela embargada não é de ser lho, Presidente e relator. - Afranio Antonio da
aceita, desde que esse abandono não foi volun- Costa.
tário, mas forçado, em virtude do procedimento
do embargante e mediante autorização judicial.
Por todos esses motivos, expostos no momento Agravo de petição n. 6.079
do julgamento, mantinha o acordão embargado
e, com ele, a sentença de primeira instância, O depósito a que se retere o parágraj-:> 1.0 do
proferidos com apoio completo na prova que os artigo 10 da lei de falências ilide a fa-
lência. Feito o dep6sito o juiz não 110de
autos fornecem, demonstrando a inocência da decretar a falência do devedo1·. Tal de-
embargada, culpado único pela dissolução do pósito é uma perfeita consignaçiio em
pagamento. A promissoria ê mn titulo
lar conjugal o martdo embargante, e niio pra- atLtonomo, e não e.stando ligado a qual-
quer obrigação do CTP.dor, legttima a di-
ticando "o mal lrreparavel que adviria de uma vida e prova a importância c!o mc:;mo.
separação "da mãi e do filho, para que este Autorz<Ju-se nesse caso a que o depósito
jeito ~essas condições seja levantado pelo
permanecesse sempre em companhia daquela. credor.
- Rocha Lagóa, vencido, pelos fundamentos
dos brilhantes votos supra dos senhores Desem- Visto?, examinados e discutidos estes autos
bargadores Ribeiro da Costa e Frederico Sus- de agravo de petição n.o 6. 079, em que é agra-
sekind. vante o Banco do Distrito Feder<tl, S. A. e
agravada a Rádio Vera Cruz, S. A. :
Ao requerer a falência da Rádio Vera Cruz,
o Banco do Distrito Federal, fundou o seu pe-
Agravo de petição n. 5.925 dido na imp.oéll.tualidade do pagamento da quan-
Falência- h01wrários médicos- somente quan- tia devida (art. 1.0 ), quantia· esta de cincoenta
do apurados em sessão competente po- contos de reis, representada por uma nota pro-
dem dar ingTesso no quadro de credores,
entrando a sentença como titulo de missória, vencida e protestada: "obrigação mer-
Grédito. cantil liquida e certa" (fls. 2). Intimada a de-
vedora, no prazo legal ofereceu em depósito, de
Vistos, relatados e discutidos estes autos de acordo cem o artigo 10 !parágrafo 1 .o da lei de
agravo de petiç'io n. 5.925, em que é agravante falências, a referida im~ortância.
o Banco da Província do Rio Grande do Sul, sín- Dispõe o citado parágrafo: "Log::> que a pe-
dico de falência de E. Salomon, e agravado Dr. tição fõr apresentada, o juiz manclar;'l citar o
Oscar Vasconcellos Ribeiro. devedor para, dentro do prazo de 24 horas, vlegar
(44)
5-1-43 AHCHIVO JUDICIAf\10 43
€fi1 cartório o que entender. a ber:1 de Eeu di- contas, "das quais deverá resultar saldo a fa\-oê
reito. Citado, poderá o deved:n·, dentro do refe- da suplicante (Rádio), que, assim, será recorll12-
rido prazo de 24 horas, deposit'lr o crédito re- cida como não devedora do titulo que serve de
<:lamado para discussão da sua legitimidade ou fundamento ao pedido" (fls. 17) .
importância, elidindo a falência" Os termos da Se é certo que o depósito foi feito para eli-
lei são claros e de uma precisão h\.lrpreendente: dir a falência, e ser discutida a legitimidade e
0 depósito da quantia pedida, de. quantia de- importância ela divida, é, tambem, certo que
vido. elide a falência. Elidir é l!xcluir, impedir. não ficou provada a ilegitimidade ou inexatidão
Feito o depósito a falência não pode ser da mesma, que esta representada por um título
decretada, foi excluída. O depósito por eGSa autonomo". I
forma demonstra que o devedor, embora com Resumindo em si mesma todos os elementos
sua falência requerida, não está insolvavel, "pos- indispensaveis à sua existência jurídica, a letra
sue fundos para satisfazer seus compromissos é forçosamente um título completo, o que se
e que aguardava a interpelação do credor pare. deve entender não só no sentido de que é um
oferecer defesa". Não pode o juiz. sob qual- título por si só suficiente para fundamentar uma
quer pretexto, decretar a falência do devedor ação judici~l. como tambem no que a obriga-
que acorre a fazer o depósito, que está apto ção que dela resulta não pode ser modificada
e pagar - o d~pósito e a prestação, a segu- por nenhuma outra relação jurídica, nem mes-
rança do credor . mo por aquela que porventura tenha determi-
Improcede a argumentação do agravante nado a respesctiva creação" (Wh:taker, Letra de
quando pretende que a devedora deveria ter Câmbio).
depositado, tambem, os juros vencidos, pois não Pelo exposto,
o tendo feito, deixou de atender ao pedido do, Acordam os Juizes da Terceira Câmara do
total. O pedido foi de quantia determinada - Tribunal de Apelação dar provimento em parte
dncoenta contos de réis. Os juros não podia ao recurso para determinar a entrega do depósi-
ser incluidos; não constituem divida liquida e to ao agravante,_ pagas as custas em proporção.
certa, em face do que provam os autos. E' ma- Rio de Janeiro, 18 de .Setembro de 1942. -
téria a ser discutida, oportunamente, pelos meios Flaminio de Rezende, presidente com voto.-
próprios. Antonio Carlos Lajayette de Andrade, relator.
d~:: coibir o excesso de ruidos urbanos, dispõe de Janeiro, Ltda., e agravados José Joaquim. e
apenas pelo art. 1. 0 a proibição genérica de o Dr. 20 Curador de Acidentes do Traball1o.
perturbar o sossego público com ruídos exces-
O artigo primeiro do decréto n. 24.637, de
sivos e evitaveis. Do artigo 2. 0 ao artigo 7. 0,
1934, dispõe: "Considera-se acidente do traba-
aquele decreto destaca os ruídos produzidos por
ll1o, para os fins da ,presente lei, toda lesão cor-
aparelhos motores, businas, auto-falantes, mor-
poral, ou doença, produzida pelo exercício do tra-
teiros, bombas, apitos etc., não incluindo, po-
rem, o ruído produzido pela ação .&lo trabalho ball1o ou em consequência dele, que determine
humano na oficina de reparos, sejl!- de autos, a morte, ou a suspensão ou limitação, permanen-
de máquinas ou de outra qualquer utilidade. te ou temporária, total ou parcial, da capacidade
O decreto. enumera os Bons proibidos em ex- do tra ball1o" .
cesso, e fixa a multa n.plicavel para as infra- Há, portanto, doenças que podem ser pro-
ções respectivas, entre 100$000 e 2:000$000, do- duzidas pelo exercício do trabalho ou em
bradas em caso de reincidência. conseqttência dele, que não são tecnicamente mo-
Tratando-se de multa por infração de re- léstias profissionais. Profissionais são as doen-
gulamento, não há possibilidade de ser na es- ças inherentes ou peculiares a determinados ra-
pécie compreendido no alcance do referido de- mos de atividade, resultantes exclusivamente do
creto, embora, de ·um modo geral, todo ruldo exercício do trabalho ou das condições especiais
ou sons excessivos e evitaveis abranja a exten- ou excepcionais em que o mesmo for realizado
são da lei. Entretanto, para cada caso, é mister ( § 1 o, art. 1o, do decreto citado) . A..-<:Sim, se um
a sua definição quanto aos atos que o consti- operário, trabalhando em qualquer indústria ou
tuem e a estipulação da penalidade correspon- em profissão am,parada pela lei, e embora predis-
dente. Omissa, em relaç;io à espécie, é a lei, posto para determinada moléstia, não a sofre
cujo alcance é fato indiscutível, convindo adap- ainda, e no traball1o diário vem ela a se reve-
tá-la às necessidades do nosso meio, dilatan- lar, é claro que o trabalho responde por essas
do o seu ambito para compreender todos os ca- consequências, apesar de não ser molésti~, pro-
sos em que o excesso de ruído importe em per- priamente profi~sional, mas sim consequência do
turbar o sossego público. mesmo trabalho.
Nestas condições:
E' justamente o caso dos autos.
Acordam os Juizes da 4a Cãínara do Tri-
bunal de Apelação do Distrito Federal, pelos O agravado foi admitido como conservador
votos do relator e do imediato, em negar pro- na Companhia agravante, depois de se sujeitar a
vimento aos recursos para confirmar, por seus um exame levado a efeito por dois médicos da
fundamentos, a sentença agravada. mesma Companhia, os quaes o deram como bom,.
Custas ex-lege. Passou a servir na limpeza e desmonte dos tr):l-
Rio, 11 de Setembro de 1942. - Edmundo ques dos carros que eram recolhidos às oficl-
de Oliveira Figueiredo, Presidente com voto. - nas, de volta do trânsito diário; serviço que como.
A. M. Ribeiro da Costa, relator. acentua o perito médico-legal, o expunha à ina-
lação ·da poeira e ferrugem, e daí a conclusão se-
gura do laudo: "Pelo presente exame é possível
admitir-se que as condições do trabalho da ví-
Agravo de petição n. 6.145
tima devem ter contribuído para a aparição ou
Profissionais sqo as doenças inherentes ou pe- agravação da afecção pulmonar de que é porta-
culiares a determinados ramos de ati-
vidade, resultantes exclusivamente do dora a vítima" (fls. 27-v ., do a,penso). Se os
exercicio do trabalho ou das condições
especiais ou excepcionais em que o m~s médicos da agravante aceitaram o operário como
mo foi realizado. Há, portanto, doenças bom, e mais tarde se verificou a moléstia, não
que podem ser produzidas pelo exercício
do trabalho ou em consequência dele, há a se discutir: o trabalho revelou ou agravou
que não selo tecnicamente m.oléstias pro- o mJal latente.
fissionais. A afecção pttlmonaT revela-
da ou agravada pelo exercício do traba- Pelo exposto,
lho constitue um acidente do mesmo e
deve ser amparada pe!a lei. Acordam os Juizes da Terceira Câmara do
Vistos, examinados e discutidos estes autos Tribunal de Apelação négar provimento ao re-
de agravo de petição n. 6.145, em que é agravan- curso para confirmar, como confirmam, a decisão
te a Companhia de Carrís, Luz e Força do Rlo recorrida., que decidiu com acerto.
(46)
5-1-43 ARCHIVO .JUDICIAHIO 45
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custns pela agravante. ele todo clispensaveis, já pelo pequeno valor das
Rio de Janeiro, 18 de Setembro de 1942.
F<aminio de Rezende, Presid\lntc com Yoto.
-I prestações mensais (508000), já por trazer o con-
trato a garantia ele fiança, não há exigir do
Antonio Carlos Lafayette cte Andrada, relator. vencleclor acionante a prova do título e respecti-
vo instrumento de protesto, nos termos do art.
344 citado.
Atenta a natureza do contrato, face ao dls-
Agravo de petição n. 6.284 I posto no art. 506 do Cod. Clv., a condição re-
Contrato de venda com reserva do domínio I solutivalhe é inherente, e, em consequência,
Exigência do art. 344 do _Cod. Proc. Ciy. a liminar reintegração.
Móra do devedor. Exec1~çao. Dl.Sp_ensa ae
interpelação juóicial para constituição Assim, verificada a incidência do comprador
em móra. Aplicação dos artigos 506 e em mora pelo vencimento do prazo estipulado
960 do Cod Civil.
no contrato de venda com reserva de domínio,
Vistos e r ela ta dos estes autos de agravo de tem aplicação o art. 960 do Código Civil, senda
petição n. 6. 284, em que é agravante B. Mo- o art. 344 do Código do Processo Civil, por
reira & Cia. Ltda. e agravado o Juizo da 8" omtsso, sem atinência à espécie, eis q'ue, em
Vara Cível: verdade, o legislador não cogitou senão da hi-
Acordam os Juizes da o1a Câm.ara do Tri- jJÓtese de extstir titulo sujeito a protesto, con-
bunal de Apelação do Distrito Federal, pelos dicionando a propositura da ação à prova da
votos do relator e do imediato, conhecer, pre- mora imputavel ao devedor pela exibição do
liminarmente, do recurso e dar-lhe provimento instrumento do protesto. (Vide Carv. Santos -
para, reformando a decisão agravada, mandar Cód. Proc. Civ. Int., vol. IV, pág. 440).
que se prossiga no andamento do processo in- Sobre tal exigência nada esclarecam os co-
dependentemente_ da exigência imposta pelo Dr. mcentários ao mes~:> Código <lja a~toria de
Juiz a quo. Custas ex-lege. Borges da Rosa e Dr. Placido e Silva.
P.reliminarmente, cabe o agravo de petição Não colhe a razão de ser ~eita a interpela-
com fundamento no artigo 846 do Cód. do ção para constituição do devedor em mora.
Proc. Civ. si o despacho l"eGnrrido, não apre- pois, como já se assinalou, ela resulta do ven-
ciando o mérito, tranca o andamento do pro- cimento do prazo, estipulado no contrato, in-
cesso, impondo à parte a satisfaçãD de exigên- dependentemente de protesto judicial, que, se
cia que, scendo insuprivel, leva à paralização do eJÇigi vel, viria tornar as transações de que se
feito. trata ainda m'ais dispendiosas.
No mérito: a agravante, tE:ndo vendido me- Rio, 27 de Outubro dce lll42. - Edmundo
diante contrato, com reserva de domínio, uma de Oliveira Figueiredo, Presidente corn voto-
máquina de costura "Singer", propoz a p"re- A. M. Ribeiro da Costa, relator.
sente aÇão com fundamento no art. 506 do
Cód. Civil, por falta de pazamento das pr-es-
tações vcencidas, por parte da compradora, ins-
truindo a inicial com o r•3$pectivo contrato, Agravo de instrumento n. 6.273
fls. 3. Ordenou, porem, o Dr. Juiz a quo, pelo
Falencia. - Liquidatário. -· Desde que os pa-
despacho de fls. 6, mantido a fls. 8 e susten.- rentes consanguineos do falido, atê o 4°
tado a fls. 12V>o.. juntasse a agravante aos au- gráo civil, são incompativeis para es.wr.
função, obviamente não podein votar um.
tos prova do protesto a que alude o art. 341 terceiro para exercê-la, nem ceder cré-
do Cod. Proc. Civ. Na impossibilidade de dito pr.i';·a tal jim, porqul!. seria burlar
po1· via oblíqua, e protb1Çao legal. - A.
atender a essa exigência, interpoz a 'parte o eleição do ltqutdatário é ato que se pro-
presente recurso,· justificando-o pelas proceden- cessa na assembléia de credores, nela.
devendo ser proclamado o resultado da.
tes razões de fls. 9-10. votação.
Com efeito, dispõe o cit. art. 344:
Vistos, etc.
"Em caso de móra de pagamento imputavel Vindo a falir Alberto da Silva Gordo, para
ao comprador e desde logo provada com o um passivo de 900 contos de réis foi arrecadado
título e respectivo instrumento de protesto ... " llm fogão avaliado em 800$000. O falido está fo-
Tratando-se na espécie, entretanto, de um ragido." Na assembléia de credores dois nome&
contrato ele vencla de coisa move! com reserva foram sufragados para liquidatários Raul Veiga
de clomínio, em que não há títulos accessórios, de Barros e Cícero Bittencü"Llrt, ap·oianclo >àquele
(47)
4G ARCHIVO JUDICIAHIO 5-1-43
créditos no valor de 300 contos de réis e a este rior conduta, como com.ercianté, da sua severi-
no de 500 contos. dade ou complacência dependem, na mór partç
U\:l;as, como entre os que elegeram este ú1- das vezes, a oportunidade, a eficiência e o êxito
timo figurasse o do cessionário das Sras. Ade- das medidas acauteladoras dos interesses dos
llna Vieira de Carvalho e Alzira Vieira de credores e da Ordem Pública.
·Carvalho, tias do falido, habilitadas credoras por Os motivos que levaram o legislador a ve-
496 contos, foi ao Juiz requerido não se compu- dar investidura nessas funções a parentes con-
tassem tais créditos na eleição. Mandou o Juiz sanguí·neos do falido (art. 64 letras a e b e 66)
que os autos seguissem com vista ao Curador das impedem' que votem em terceil'o para tais car-
Massas ~ encerrou a assembléia; tendo mais tar- gos. Diretamente ou por interposta pessoa para
de, por despacho nos autos, deferido a exclusão, cuja eleição concorrem com seus votos, a si-
proclamando eleito Raul Ve\ga de Barros. tuação é a mesma.
Bem andou o Juiz em excluir da eleição o O casuísmo reclamado pelo agravante é in-
\'O to do cessionário dos créditos das tias do fa- teiramente de.;necessârio e até inútil, porque im-
lido. cautelas comesinhas para defesa da massa possível de medir a extensão de artifício humano
e da Ordem Pública impõem a protbição de se no burlar intuitos moralisadores da lei.
imiscuírem na escolha do liquidatário parentes .Nela estão consignadas proibições e incom-
-consanguineos do falido ou eessionário de úl- patibilidades. Pretender derrotar esses salutare~
tima hora. princípios de moral porque não foi previsto um
Nem se compreende que pondo a lei tanto caminho obllquo que por outro modo pode feri-
"Zelo em impedir que a sindicância possa ser la, é ter em conta pouco a eficiência dos inter-
exercida por tais pessoas, não lhes puzesse o pretes. Mas, se o Tribunal resolve agora a ma-
mesmo óbice para a liquidação da massa. Como téria relativa à exclusão de voto é por atender à
.afirmou a antiga 5"' Câmara deste Tribunal em economia do processo, para evitar delon(5as e
31 de Mjarço de 1938 (ARCHIVO JUDICIARIO -
prejuízos que sem maiores Inconvenientes po-
volume 46, páginas 344) "o impedimento di- dem e devem ser logo afastados. Sendo, porem',
mana do próprio espírito da lei, da impe- a eleição do liquidatário ato que se processa
riosa necessidade de salvaguardar o patri- em assembléia, nos termos dos arts. 66 e 102
momo da massa falida, o interesse dos cre- § 2° da lei de falências, não pode o Juiz en-
·dores e a regular administração da Justiça que cerrar a reunião para depois proclam~r o resul-
não podem estar à merce de qualquer influência
tado da eleição, porque somtmte nela deve ser
que direta ou indiretamente conturbe siquer a proclamado o eleito liquidatário.
ação serena e im'p'arcial do liquidatário".
Perfuntôrio exame do diploma legal revela Por estes fundamentos acordam os Juizes da
·desde logo que muito mais dilatada é a função 8" Câmara do Tribunal de Apelação dar em parte
do liquidatário que o do síndico, merecendo provimento ao recurso para anular a eieição do
especial destaque as iniciativas de ordem penal 11quidatário e mandar que em assembléia de cre-
contra o U:alido (art. 174, 172 parágrafo único, dores a outra se proceda, com exclusão de voto
168 e 168 cjc parágrafo único do art. 39 do de- do cessionário agravante, sendo nessa ll!ssembléia
creto 5. 746 de 1929) . Na esfera patrimonial a proclamado o resultado de dita eleição.
extenso dos poderes conferidos ao liquidatário Custas da lei .
não é menos relevante. Nem se acene com ~< Rio, 3 de Novembro de 194!:!. - Afranio An-
fiscalização do Curador das Massas: é o 1!- tonio da Costa, relator. Presidiu o julgamento o
quidatário quem rebusca o arquivo do fa- des. Flaminio de Rezende cujo voto foi vence-
lido, quem lhe pesquisa e esmeriLha a ante- dor. - 'Afranio Antonio da Costa.
(48)
5-1-43 AHC-I-II\'0 JüDICIAPtlO
- DO ESTADO
TRIBUNAL DE ~APELACAO ..3
DE SÃO PAULO
JURISPRUDtNCIA
Moclernamente, porem, alargou-se o concci- i curmn repartir com estrccnhos o afeto destina-
to de concubinato. Não se requer, mais, a _co- do aos filhos, que não tiveram.
habitação, pois que os amantes, as mais das São, ademais, de ponderar, estas pa!Clvras
vezes, vivem em tetos separados - v. François de Violette, "apud" Astolfo Rezende: "E' mis-
Brun, Recherche de la paternité, página 39; ter preYer os casos nos qurlis uma mnante en-
Wahl .- Lu recherché de la paternité, página genhosa ,e sem escrúpulo, abusou da boa fé ou
41. Exige-se, contudo, que as relações entre os da fraqueza do amante. O amante pode ter
concubinários sejam mais ou menos prolonga-
ignorado a má conduta ele sua companheira,
das, regulares, frequentes - v. _!Jlovis, nota ao ou n1.esmo tê-la perdoado, pode intcressar-:;e
artigo 363; Josserand - Co1us, volume r.o, pá- pela criança e servir-lhe de pai, sem compre-
gina 639 - e, sobretudo, haja fidelidade por ender entretanto toda a importância dos atos
'Parte da mulher - Jean Beucher, Lu notion que praticou ou das promessa.s que lhe foram
actuelle du concubinage, página 24; Rezende, extorquidas.
Investigação da paternidade, página 59.
O réu pode, pois, provar o erro que come-
Aincla, pois, que o nosso Código não tenha
teu, porque se se prova, ou um fato preciso, por
feito referê1~cia expressa !à excepção plurimn
exemplo, a existência de um outro amante que
concubentium, ela é de acolher-se, quando in-
não ele, ou o conjunto de •fatos que caracter!-
vocada, porque afeta ao próprio conceito do
concubinato. E' excludente dele. I
zam uma viela licenciosa, estas particularida-
eles bastarão para demonstrar, que, se ele acre-
No caso dos autos, admite-se, com base nas ditou num momento qualquer ser o pai da
testemunhas da autora, tenha havido relações criança, nã.o poderia disso estar seguro. Juridi-
entre o Dr. Emilio ·Ferreira e Emilia Pereira de camente esta paternidade torna-se "incerta";
Barros. Não se provou, entretanto, fossem con- V. A Investigu..;ão da Paternidade, página 59.
tínuas e prolongadas. E, por outro lado, o mau V. tambem Du Page, Traitté, volume 1.0 núme-
procedimento de Emilia; a esse tempo, não está ro 1.163.
duvidoso. Veja-se o que dizem as testemuntías O procedimento do Dr. Emilio nem sequer
de fls. 58v; 60v.; 67; 67v., 68 e 69. Morava .pode ser havido como característico ela posse,
Emília em casa suspeita - fls. 59; era tida do estado de filha, de que· gozasse a autora.
como mulher decaída - fls. 66. Freq:uentavam
sua casa, como de mulher pública, vários in- Posse é a exterioridade de um direito. Diz-
divíduos, que as testemunhas apontam, entre se na posse do estado de filho aquele que, por
o~ quais, um, de nome Otavio Sene, a quem se
manifestações externas, aparece, perante a so-
atribue, tambem, a paternidade da autora ciedade, a gozar seus direitos de filho.
fls. 60, 61v., 63, 68 e 69. Exigem os doutrinadores, para a posse do
Em face dessa prova exuberante, é de mí- estado, os seguintes requisitos: nomen tracta-
nimo valor a circunstância a que aludem as hLs, fama - v. Mareei Rousse, Conditions ju-
testemunhas da autora, de haver o Dr. Emílio, ridique des enjants naturels en Es]Jagne - pá-
durante muitos anos, dispensado à autora gina 61.
amistoso tratamento, auxiliando-a mesmo nos O direito francês, no artigo 321, !'ixa pre-
estudos. ceitos que valem como doutrin~: "La posses-
Pois então, só a titulo de paternidade é sion d'état s'établit par une réunion suffisant
que um homem rico, de idade avançada, sol- de faits que indiquent le rapport de filiation
teiro, fazer donativos a uma criança desampa- et de parenté entre un individu et la famille à
rada? Não seria a autora menor, pela simples l'aquelle \1 prétencl appartenir. Les principaux
razüo de nüo ter m§.i viva, nem pai con11ecido, de ces faits sont: - Que le pé r e l'a trait9
merecedora ela assistência de todos os corações traité eomm-e le pére auqueil i~ prétend appart2-
bem formaüos? nir. - Que le 1pére l'a traité comm2 son en-
Anatole France, nu1na elas mais finas obras fant, et a pourvu, en cette qualité, á son éclU-
da literatura francesa - Le crime de Sylvestre · cation, á son entretien et á son établissement;
Bonm·d, descreve magistralmente um caso se- -- Qu'il a éúé reconnu constamment pour te!
melllccntc ''o pn''ente: a amizade paterna de clans la société; - Qu'il a été reconnu pour tel
un1 solteirão por umn. jovem que lhe era es- pnr la famille."
tra1Íl1~. E os livros cl'" psicologia apontam. ca- Usava a autora o nome ele seu inculc1cl0
sos numerosos de pe~soas que. na, velhice, pro- pai? Apareceu o Dr. Emílio, alguma vez, nas
f 50)
5-1-43 .\HCHIVO .JUDICIAHIO -HJ
escolas. co1no rc:::pollS:tYcl pcln sua ec1uc[lção':1 :ccus frutos e rendimentos, se tmnbem sujeitos
Apresentou-a a algum amigo na qualidade de à 1nes1na cláusula.".
filha? Visitwam-na os seus parentes? Tambem o Código do Processo Civil e Co-
Absolutamente. O Dr. Emilio viveu 80 anos mercial Paulista isto dispunha no art. 1.004:
na cic!acle de Taubaté e nunca jámais os que - "Serão penhorados somente quando o
com ele privarmn ouvir:-~m falar clessa filiação. ex.c)cutado os nomear ou quando niio houver
Aliás, convem notar que a posse do estado outros bens:
não figura entre os Ineios de prova que o ar-
tigo 363 estabelece. Tolerava-a o proveta Clo- IV -Os frutos e rendimentos elos bens
vis, mas ·foi suprimida por emcncla de Andrade inalien~veis,quando o contrário não estiver dis-
Figueira, em razüo elos perigos ela prov:-~ teste- pcsto na lei ou no ato do transmitente".
munhal. Pela regTa, argumentava aquele emi- E' que a crític2. severa e acert'lda teita
nente e ponderado jurista, "não há ninguem contra o citado acordão e outras decisões que
que não prove, con1 testemunhas, que estava nele se basearam, -por eminentes juristas den-
na posse do estado ele filho''. tre os quais é justo destacarem-se o professor
Julga-se, em consequência, improcedente a Azevedo M;arques; em comentários a decisões,
aç.<io proposta. publicados na Revista dos Tribuais, 32-152,
Sàó ,Paulo, 27 de ·outubro de 1942. - Mario 52-479 e trabalho jurídico nos "Cinco Estudos'',
Guimarães, Presidente e relator. - Frederico e o senador Adolfo Gordo no discurso que pro-
Roberto. nunciou justificando um projeto de lei inter-
pretativa do artigo 1. 723 do Código Civil, pu-
blicado na Revista de Jurisprudência, de As-
Apelação civel n. 16.915 tolfo Resende 4-549, calou fundo no espírito do
legislador brasileiro que, com o citado disposi-
(SÃO PAULO)
tivo da lei de falênci% condenou de vez a in-
O doador ou testador pode clausular os frutos terpretação errónea constante das referidas de-
e rendimentos dos bens doados ou tes- cisões.
tados, inclusive da legitima.
O Código de Processo Civil Nacional pre-
Vistos, relatados e discutidos estes autos do ceitua no artigo 943 n. I, que podem ser pe-
processo n. 16.915 - apelação civel de São nhorados à falta de outros bens, os frutos e
Paulo - em que é apelante Ary de Oliveira rendimentos dos bens inalienaveis, salvo se
.Martins e são apelados Jacob Guyer e sua mu- destinados a alimentos de incapazes 0 u de mu-
lher e do processo n. 16.872 "agravo de ins- lheres vi uvas ou solteiras.
trumento de São Paulo - em que é agravante
Este preceito, porem, não abrangeu os fru-
o mesmo apehnte e .oiío agravados os mesmos
tos e rendimentos quando eles são impenho-
apelados, julgados conjuntamente.
raveis.
A sentença recorrida julgou insubsistente a
Amilc~r ele Castro, depois disto afirmar,
penhora feita sobre rendas de prédios, decla-
diz:
radas lmpenhoraveis em escritura de doação.
Merece confirmada. - "A inalienabilidade dos bens não im-
E' hoje canon pacífico no nosso direito que pmta a dos frutos e rendimentos; se não pu-
o doador ou o testador pocle clausular de im- desse o herdeiro, ou locatário dispor elos frutos
penhorabilidade as rendas dos bens transmiti- e rendimentos da legítima, ou da doaç''co, clau-
dos. Qualquer dúvida que pudesse haver antes, sulada de inalienabilidade, ser-lhe-iam os mes-
mos ele todo inuteis, c inuteis o legado, heranç'l,
e havia, baseada no acorclão do Supremo Tri-
ou doaçüo sujeitos a essa cláusula. E~tretan~.:;,
bunal Federal, de 3 de setembro de 1919, pu-
pode o testador, ou doador, em cláusula expres-
blicado em quase todas as revistas juric!icQs
sa, consignar, alem dct inalienabilic!acle elos
nacionais, entre as quais. a "Revista dos Tri-
bunais'• - 32-69, se dissipou ante a consagra- bens, nüo a inalienabilidade, mas a impenl'l.o-
ção legislativa const~nte do art.. 45 ela lei rabilidade dos respectivos frutos e rendimen-
n. 5.476, ele 9 ele dezembro ele 1929: tos". (Comentários ao Cóaigo do Processo Civil
"Não se comprecnc!erüo na falência: eclic:tc' ela Rcôstu Forense, 10-209).
§ 1. 0 -- Os bens in~tlirnaycis e os que núo Alega o ~pel:::nte que os bens forrun doa-
foram obrigados por cliviclas. assim como os elos por p~ü cc fillla, o lJUC. segunclo o artig·.!
(51)
50 ARCHIVO JUDICIAHIO 5-1-43
1.171 do Código Civil, importa em adiantamen- t que são apelantes Silvano Rigoni e sua. mulher,
to de legítima, e que sobre os· rendimentos e são apelados Eiias Aires de Oliveira e su:t
desta não podem ser impostas cláusulas. mulher, para o efeito de julgar procedente a
Esta última questão é controvertida, ha- ação proposta, condenando os apelados nas
vendo opiniões, e decisões num e noutro sen- custas.
tido. Não hâ razão jurídica· para impedir que Contrariamente ao que julgou o juiz, vê-se
os rendimentos dos bens da legitima sejam que a posse dos autores está provada. Adqui-
clausulados. As cláusulas s'io impostas pelos riram-na eles, por escritura pública, de Teofila
doadores e testadores com o fim de assegurar de Camargo - fls. 4. Esse é um modo normal
aos donatários e herdeiros meios de subsistên- de aquisição. Diz o art. 493, n. III do Código
cia; se eles entendem que este fim só é alcan- Civil: "Adquire-se a posse: III - Por qualquer
çado com a compreensão, nas cláusulas dos dos modos de aquisição em geral".
lfrutos e rendimentos, porque se há de distin-
Teófilo de Camargo, antecessor dos autores,
guir entre bens da legitima e os outros? era possuidor há longos anos. Veja-se o laudo
Permitindo o clausulamento há entre ou-
de fls. 333. Nele se descrevem, verificados no
tros os seguintes acordãos: de 15-12-37 do Su- terreno, sinais inequívocos da posse de Camar-
premo Tribunal Federal, Rev. de Jur. Bms., go, tg,is como casas e moirões antigos. Na es-
40-129 e AROHIVO JUDICIÁRIO, 4-403; deste Tri-1
critura de fls. 4, em que é outorgante o réu,
bunal, de 1-2-41, Rev. Tribs., 84-34; 18-5-39, indica-se Teófilo como um dos confrontantes
Rev. Tribs., l-!o2-66 e 21-1-41, Rev. Tribs, das terras dos réus.
131-632, e do Tribunal de Apelação do Dbtrit::>
F•Ederal, de 23 de Janeiro de 939, ARCHIVO Ju- A testemunha de fls. 50 declara que Teó-
DICIÁRIO, 50-388. filo residiu cerca de 30 anos na casa que cons-
Isto posto, acordam em Primeira Câmara truiu nesse terreno e a terceira - fls. 51 tam-
Civel do Tribunal de Apelação, negar provi- bem confirma esse ponto. Igualmente· as tes-
mento à apelação e como este julgamento im- temunhas do r.éu - fls. 54.
porta na insubsistênch da •penhora, julgam m:• verdade que não consta ter o autor, após
prejudicado o agravo de instrumento interposto a aquisição, praticado atos possessórios. Isso,
da sentença proferfda em embargos de tercei- porem, riío lhe altera a situação. Ele adquiriu
ros sobre os mesmos rendimentos penhorados. a posse, como lhe permitia a lei, por uma es-
Custas pelo apelante e agravante. critura pública. Não precisava, para conservá-
S. Paulo, 12 de outubro de 1942. - Th. de la, manter o conta c to físico com a causa. A
Toledo Piza. - Paulo Colombo, rel'l.tor designa- intenção era bastante. Ihering deixou essa
do. - J. M. Gonzaga. - Gomes de Olivein•, questão definitivamente esclarecid3.. A posse
vencido. A regra geral é o da penhorabilidade normalmente adquirida conserva-se pela sim-
dos frutos e 1:endimentos. O Código de Pro- ples vontade e só se perde por ato de outrem.
cesso, de modo expresso, .permite a penhora dos- Eu compro um terreno. Não me convem,
frutos e rendimentos dos bens inalienaveis, por enquanto, cultivá-lo. Não é oportuno cons-
salvo se destinados a alimento de incapJ.zes, ou truir. Nem sequer, ·por o não exigirem as pos-
de mulheres viuvas pu solteiras (art. 943, n. 1). turas municipais, em certos casos, o delimito
No caso dos autos não se cogita da exceção pre- com uma cerca. Conservo, todavia, a sug, posse,
vista pela lei; pelo que a penhora deve de salvo, e só desde esse instante, se alguem co-
manter-se. meça a prHticar nele atos possessórios.
E' o caso dos autos. O autor, recebendo a
Apelação civel n. 17.432 posse de Teófilo de Camargo, conservou-a, inde-
pendente de qualquer ato material, e só a per-
(ITÚ)
deu quando o réu vedou a prática de atos de
Adqtiire-se a posse por qualquer dos modo3 de proprietário. contra o réu, tem, portanto, ele a
aquisição em geraL
Adquirida qtw seja, conserva-se pela só in- ação possessória, sem que se entre n<t indaga-
tenção do possuidor, independente du ção de saber a quem pertence o domínio.
prática de atos materiais, · enqtwnto
outro não se apossar elo objeto. São Paulo, 20 de outubro de 1942.
Acordam em sessão da 2.a Câmara, dar pro-l Mario Guimarães Prcsiclcnto e relator.
vimento ao presente recurso de apelaçAo, em denco Roberto.
(52)
5-1-43 AI1C:Ili\'O .l CI>ICIAI1IO 51
violência física ou moral é elen1ento colnLtnl Os n1~norcs Yinj~tranl par:-1 Friburgo. leyan-
aos dois crimes. A apreciação ela ameaça, ela in-/ elo CrS 16.000,00 desviados de uma firma co-
timidação. do temor inspirado ú, vitima, da coct-J n;erclal estabelecida no Rio de Janeiro. Os dois
ção moral. em suma, eleve ser feita objetiva e policiais, aproveitando-se da função que exer-
subjetivamente. cimn afora o crime funcional, praticar~n1 a ex-
Cumpre examinar-se a intimidação coerct- torsi\o. OlJtiveram dinheiro e vários objetos com
tiva não somente etn si. 1nas em relaqão ao o en1.prcgo ela an1.2aça. Basta a circunstância
ele pertencerem à policia para que os tncno-
coator e ao coagido. Todas as particularidades.
res, destituielos de energia, aflitos, receiosos d2
que cercnm o fato. reclamam. estimação. 0
prisão pelo ato üesllouesto d:1 apropriação indé-
exame do ato abrang~ o estudo ela ameaça no
bita da importância ele terceiros. se deixassem
seu conjunto. o constrangimento psíquico anu-
extorquir. Fncil foi aos investigadores. por
la a energia do paciente, destroe-lhe a Tesis- ·1112io de coação moral, conseguirem proveito ilí-
tência moral, P.ltera-lhe substcmcialmente a es- cito.
pontan-eidade de querer, l·~vando-o a praticar o
O crime praticado é dos mais graves. A
ato exigido pelo coator. O processo empregado
justiça tem o imperioso dever de apurá-lo e pu-
ocasiona aflição, medo ao paciente, que, para ni-lo com severidade, para exemplo. E' ele do-
se libertar do sofrimento presente e evitar dano mínio público que as extorsões se reproduzem
futm·o, obedece às injunções do agente, prati- de correntes c moentes. Autoridaeles policiais
cando o ato por ele proposto. Não se pode dei- inescrupulosas aproyeitam situa::;õcs para vergo-
xar de ter em conta a circunstância da idade, nhosos roubos. Algumas dão, às encâncuras, o
do sexo, da saude, do temperamento, e qu:ll- braço a esses crimes. Via de regra, porem, tudo
quer outra que torne o paciente mais atribula- se faz às caladas. As vítimas, receiosas de no-
do, tnais oprimido aos ef,eltos da coação. A vas coações, temerosas de castigos, não denun-
pessoa do coator deve ser olhada detidamente. ciam os criminosos armados de autoridade. A
A ameaça, partida daquele que é capaz do mal, honra, a dignidade, o sossego, a tranquilid~de e
d9.quele que está em condições de praticá-lo, a garantia patrimonial exigem uma puniçio ri-
agrava a situação. e a coa~ão avulta no espí- ' gorosa elos que são apanhados nesses atos cri-
rito do paciente. minosos. O interes&e social e coletivo, em casos
Sem sombra de dúvida, há nos autos pro- t1is, impõe a segregação desses elementos perni·
va da existência do crime de extorsão e indt- ciosos, mesmo no período do inquérito policia~.
cios suficientes da autoria. E' . certo que Elias O caso é típico de extorsão, segundo os elemen-
Ruca.s e Ernesto Pepe negaram a prática do tos at8 agora apurados.
ato criminoso. A prova fornecida pelo inquéri- Por esses motivos,
to é, porem, robustíssima. Convence que o pa- Acordam os Juizes da Terceira Cftmara elo
ciente e seu companheiro, então investigado- Tribunal de Apelação, por unanimidade ele votos,
res ela Delegacia da Ordem Política e Social lnd·eferir a ordem de "habeas-corpus" impetra-
do Estado do Rio, constrangeram dois colegiais, da, para manter a decisão que decretou a pri-
de menor idade, por meio de ameaça; usaram sâo preventiva do paciente e de seu compa-
cte má fé, deles conseguindo proveito ilícito. nheiro.
Inspirando-lhes temor, incutindo-lhes no ânimo Custas na forma ela lei.
sério receio, ameaçando-os, arrancaram-lhes a Nit~rot, 12 ele Novembro de 1942. - Ivair
soma de Cr$ 11. 000,00, alem de vários objetos , Nogueira Itctgiba, Presidente e relator. - Si-
que haviam comprado. 1 clenham Ribei1'w. - Ferreira Pinto.
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5-1-43 .\HCHIVO J UDJ CL\IUO 53
Dec:isões idênticas do Supremo Tribunrll, i jui3 cl~ execuç:\o ela pen~ fixrrr as condiçõ2s
não admitindo a retroatividade- tia lei nova, a que ficará subordinado o livrRmento. :Sem
quando desfavoravel ao réu, em casos de livra- custas.
mento condicional, encontram-se na Revista Fo- F-lorianópolis, 14 de Outubro de 1942 - Me-
Tcnse - vol. 84, pág. 179 e vol. 91, pág. 495 deiros Filho, presidente. - SilL'eira de Souza,
(aco!dãos de 11-12-1939, 30-1-1940 e 22-10-940) . relator. - Lu na Freire. - Gil Costa. - Urbano
No primeiro desses acórdãos, o Ministm Salles, vencido.
Carvalho Mourão assim votou: "Em matéda 1) O livramento condicional é um favor
penal, o princbpio reguladm do conflito de leis
para uns (Garraud, Paul Cuche, Julio Merreira,
no tempo é o da lei mais ·favoravel (C. L. Pe- José Penca. Jimenez Asúa, Filipi Teormann,
nais, art. ao, Const. Fed., 1934, art. 113 ns. ~6
Gonzalez, Iramain, Lima Drumond e desembar-
e 27, Const. vigente, art. 122 n: 13), não o do
gador Sá Pereira, citados por Armando Costa -'-
respeito aos direitos adquiridos, que em maté-
Livramento Condicional, pág. Z46) e mn direito
ria penal não os .l:J.á. O livramento condicional,
para outros, Georges Vidal, Americo Rib~lro,
rs:iuzindo ao m!mino da privacão da liberdade
e Vieira de Araujo e Candido Mendes, men-
imposta ao condenado como etapa final elas
ciona o mesmo autor) . Para Armando Costa,
penas de prisão, imprime à pena em que ele é
pelo sistema da Consolidação das Leis P~na<s,
facultado, sob certos requisitos, natureza pe-
"não é jaror nem é direito; antes da conc·essão
culiar, modificando-lhe esencialmente a quali-
é para o liberando uma situação abstrata que
dade ou intensidade. ·Assim, fazendo o livr~t
só vem a se tornar concreta depois de apuraela
mento condicional .parte integrante da pena co-
a regeneração, a capacidade de readaptaç~o do
minada na lei, como um dos elementos da pri-
vação ou restrição ,peculiar de direitos que a liberando". ( Ob. cit. pág. 265). A questão,
constitue, é manifesto que a lei que veda, para entretanto, a não ser pelo seu aspecto doutrl-
certos crimes, 0 dito beneficio, agrava-lhes a nário, perdeu a sua finalidade em face da lei
penalidade e, em: rigor, substitue por outra mais pois a jurisprudência, na ,·.lgência da C:m-
grave a pena antes cominada na lei. Do exposto solidação, considerou o livramento conclicio-
resulta .que, nos expressos termos do preceito nal um direlto · E só assim poderia ser
constitucional citado, a lei nova que, para os idóneo o habeas-corpus, que 52 destina a sal-
condenados por certos crimes, aboliu o bene- vaguarda de urr.• direito e não de um favor.
fício do livramento condicional, antes f:wulta- O novo Código afastou a divergência: "O livra-
do, não se aplica aos jatos anteriores". menta condicional é restituído à sua verdadeira
Nesse sentido firmou-se a jurisprudênci'l função. Faz ele parte de um sistema peniten-
do Supremo Tribunal, como se pode verificar ciário (sistema progressivo) que é incompati-
pelos comentários sobre a matéria, insertos no vel com penas de curta duração. Não se traia
Código de Processo Penal anotado por Eduard0 de um benefício que se concede por simples es-
Espino.Ja Filho - vol. I, págs. 57 a 66, onde se pirita de generosidade, mas de uma meelida fi-
menciona o voto do Ministro Orozimbo Nonato nalística, entrosada num plano de política cri-
que, pronunciando-se pela primeira vez sobre o minal". Exp. de motivos do Ministro Francisco
assunto, declarou: "Os motivos que levaram a Campos).
carta de 1937 a impedir a agravação da pena
II) O requerente ao ent':ar em vigor o novo
ao criminoso, a impedir a agravação da sua
Código Penal ainda não atingira a metMle da
situação pena:J., são de direito universal. Nin-
guem negará que é uma mitigação da pen'l, pena, fal~avam-lhe ainda trés dias. Não tinha,
uma pena cumprida 'brandamente: 0 livramento pois, direito preestabelecido, o. admitir-se uma,
ultra-atividade da lei. Não tendo ele completado
condicional constitue um beneficio aos réus e
o tempo na lei anterior, está sujeito às conéi-
como este beneficio não estava excluldo da lei,
no regime da qual praticaram eles o· delito, ções da lei nova, porque não .se trata de mudar
foram processados e julgados, não se deve arZ- a natureza da pena, s!não do modo de ·eXecução
mitir a aplicação da lei posterior". da pena, caso em que se aplica a !e! nova. (Trai-
Pelo exposto, demonstrado, pela documenta- té d1t droit pénal trançais, Gafraud,_ curso de
ção junta ao pedido, que o impetrante preen- Direito Criminal. Muniz Sotlre J . Nüo se trata,
cheu as condições prevista no art. 50 da C. L. no caw, de retroatividade. porqce nenhum d!-
Penais, para a concessão do livram-:mto condicio- l'eito tinha o requerente quando surgiu o Có-
nal, concedem-lhe esse beneficia, d~v-endo o digo novo, mas de uma aplicação imediata, de
6
5-1-43 ABCHIVO JUDICIAniO
\'?Z Clu~ niio ;-~Usf::-z a condição de tempo. Em 1 se; José Teodoro não o atendeu. porem; pelo
acórdão de 6 de Agosto do coaente ano, decidiu ccntrário, empunh.c;u imediatamente a arma, e
o Tribunal de Apelação do D!stl"!to Federal: "!)(! depois de ligeira discussão, desfechou um tiro
retrcotividade ou irretroatividade da lei pensl contra Machado, ferindo-o mortalmente.
nova, só há que cogitar quando da aplicação A denúncia considerou o· homicídio quali-
da pena ou da incriminação do fato. No livra- ficgdo, por ter como ocorrente a circunstância
m~nto condicional não se trata nem de urr;a
elo motivo fútil (Código Penal, art. 121, ~ 2o,
cousa nen1 out!.(l, mas ele ex·ecução da pena
n. II).
já impo~tn, pois o livramen·o nada mais é do
II. A sentença de que foi interposto o pre-·
qu2 uma fase ou etapa - a última - dessa
mesma execução. Este tem sido o entendimento sente rec1.11'so assim configura o fato motivador
uniforme e reiterado desta Cãn'.hra". Em acór::lão do processo:
recente (ARcHrvo JuorciARIO, \'Ol. 63, pág. 91), "José Teodoro, depois de beber viuho, cer-
assentou tambem o .Supremo Tribuna! Federal veJa e aguardente, em sua casa, não se sen-
que o livramento condicional não envolve o pro- tindo bem, disse a sua esposa enferma e ele
blema da aplicação ela pe11a, mas o da sua exe- ~ama, que ia sair, para dar umas instruções.
cução; negá-lo, n:w importa, pois, na sua majo- a seus subordinados referentes a trabalho, pre-
raçâo, pl'Oibida pBlo art. 122, n. 13, da Cons- tendendo aproveitar o passeio, segundo era seu
t1tuiçãc". (ARCHivo JurrcrARIO, vol. XLIV. propósito, para curar-se do estado em que se
pág. 46) . Por estes fundamentos, neguei a or-
encontrava; mas, no caminho, entrou na casa.
dem impetrada. - Alfredo i'rompowsky, ven~i-
con'"rcial de propriedade de Albino Pagani, onde
do. - Hemique Fontes. - Guilherme h)ry,
convidou seus conhecidos de nome João Queluz
vencido de acordo com o voto do Sr. Descm- e Antonio Comin para beberem. Ficaram li-
bargador Urbano Sales. - Fui presente, Manoel
bando entre 16 e 17 horas, quando deixaram o
Pedro Silveira.
quarto em que se encontravam, primeiramente
Antonio Comin e minutos depois João Queluz e·
o acusado. Consumiram os trÊs umas cinco
garrafas de cerveja quente e algumas de gasosa,
informando, em juizo o proprietário elo ne.gó-
Recurso criminal n. 5.086 c:o que José Teodoro ingerira mais de três gar-
rafas da bebida alcoolica. Declara Albino Pa-
(COMARCA DE URUSSANGA)
g3ni que o denunciado, ao entrar no salão, se
encontrou com Antonio Koel!er Machado, que,
Homicidio. Em·briaguês. A à:inmen.te do § 1.0 -vendo o r2vólver que Teodoro trazia consigo·
do art. 24 do Código Penal. En·, que
condiçces é admitida. à r.!:>stra quiz tirar-lhe o mesmo. Não consen-
tiu, porem, o réu na atitude de Antonio Macha-
Vistos, re:atados e discutidos estes autos de do, que foi repetida, por isso sacou do revólver,.
recurso criminal da comarca de Urussansa. em apontando-o em direção à região do umbigo e
que são recorrentes o Juiz de Paz no exercí- disEe-lhe que se não aproximasse, recuando
cio do cargo de Juiz de Direito ·e a Justi:;a por sempre. Antonio, entretanto, continuou a se
seu Promotor, e é recorrido Jvsé Teocloro: encaminhar em direção a José Teodoro. Foi
nessa ocasião -que o denunciado disparou a arma,
I. Conforme narra a denúncia, no dia 3
cujo projetil atingiu a Koeller, resultando-lhe
de Maio elo corrente ano de 1942, por volta elas
a morte".
17 horas, em Nova Beluno, ~;omarca ele Urus-
sanga, em um quarto da casa comercial ele Al- Essa testemunha, - frisa a sentença, -
bino Pagani, palestravam e tomavam cerveja "declara que o denunciado, quando entrou em
José Teodoro, João Martins Queluz e Antonio sua casa se achava um pouco fora elo normal
Comin. Depois de beberem umas cinco gar- e, ao sair da sala onde bebeu com os seus com-
rafas de cerveja, dirigiram-se os três para o panheiros estava bastante alcoolizado".
bar ch casa ccmcrcüll, onde estavam vári;s pcs- Esbbelccidos assim os fatos, passa a sen-
soas e entn~ C'las Antonio J-osé Koeller Mncl1n- tença a Y·erificar se José Teodoro se acl1nni com-
I
do. Este, vendo que José~ Teodoro trn:-oia vi- plct:amente embriagado, quanclo clelinquiu; e se
sive! o seu revólver, pediu-lhe que o guardas- 'a en:briaguês fora proetuacla para a perpetra-
(57!
AnCHl\'0 .n:DICL\HIO 5-1-43
ção do delito, e chega às seguintes conclusõ2s: rcsa, bebeu, C'lllbriagou-se C COlTiétCU O cr~111e
a) "o réu, sem alim211tar-~.e durante o dia, previsto no artigo 121 elo Código Penal".
ing2riu tal quantidade ele bebida que não po- Por essas considerações e pela de que "é
dia eleixar ele embri~gar-se completamente, a isento de pena o agente que por embriaguês
nüo ser que se tratasse de un1 or.c;anis1no privi- completa, proveniente de caso fortuito ou
le;iaüo"; b) "foi por um motivo inelependente força n1aior, eru, ao tetnpo da ação ou olnis-
de sua vontc.cle que ele con1eçou a be·ber na .<:áo, inteiramente incapaz ele entender o ca-
n1anhà elo dia 3 ele Maio, só terminando minu- rater criminoso do fato ou de determinar-se ele
tos ante~ eia prática elo homicielio". accrclo com esse entendimento" (Código Penal,
E continua a ~entença: "O as~ssnno de I r:aragrnfo 1°, do artigo 24), - foi absolvido
Antonio Koeller Machado se nos aflgura Jo·:é Theodoro.
.obra exclusiva ele uni caso fortuito, como tam- III. O Juiz recorreu, ele oficio,
ela senten-
bem fortuita foi a embriaguês do réu. Quando ç.a, recorrendo tambem o Dr. Promotor Públi-
um individuo se embriaga, sobrevem-lhe ilu- co, que alega nenhurn apoio ter ela nos autos.
sões e alucinações que despertam temores de
"A clareza, -:- diz o represent'
toda a ordem. As representações das cénas ex-
nistério ·Público, - com que o acusado prestou
teriores sofrem alteraçõ~ na recepção do al-
·'·1.WS eleclaraçães (fls. 10 e 11) na delegacia
coolizado. Poderia, pois, Theodoro temer a vi-
de policia desta cidade, coordenando os mini-
tima, tomando-se em consideração a sua estatu-
mos detalhes do desenrolar ela cêna, é a prova
ra, o seu tísico atlético e mesmo o seu arrôjo
evidente ele que o estado elo réu apesar de ter
conhecido. Do ·exame cada F!Ó: ico consta tou-s;"
ele tomado algumas bebidas alcoolicas, era
.que o orifício da bala no vestuário de Antonio
lúcido e perfeito, tendo noção completa e con-
apresentava os bordos chamuscados. (As ves-
trók de todos os seus atos. As testemunhas
tes e, em regiões guarnecidas de peles, tamcem
.são unânimes em declarar que José Theodoro
Estes são comumente queimados ou antes cha-
hav.ia bebido um pouco mais que o natural,
muscados, nos tiros denominados, à queima
porem nenhum afirmou estar ele em estado ele
TOUpa, isto é, a uma distância que cm-responde
inconciênciu ou embriaguês completa, que é o
no máximo ao comprimento do cano de um
estado que tem a proteção da lei penal (artigo
revólver ou pistóla, em geral até vinte centí-
24, paragrafo 10, do Código Penal). Não há
1netros - Trataao eLe MecLici'ta LegaL de Souza
necessidade de um estudo minucios.o de cada
Lima). Que fez Antonio Machado, quando o
um dos depoimentos das testemunhas para se
réu, lhe disse que se retirasse na ocasião em
concluir que José Theodoro tinha plena conci-
<J.Ue tenta va arrancar-lhe o revólves elo colclre?
ência ele todos os fatos a ele atribuídos, tantc
E' a testemunha de vista Albino Pagani quem
que precedeu ao crime uma ligeira discussão en-
informa: "que após a vitima haver desistido de
tre o acusado e a vitima, conforme se verifi-
tirar a arma do denunciado, apesar de este ter
ca do depoimento ela única tesetemunha ele
sacado o revólver e intimado a Koeller que se
Vista - Albino Pagani".
não aproximasse, este menosprezando o denun-
.ciado e o instrumento que tinha diante ele si, IV. Sobre a matéria assim pensa o. Sr. Dr .
.continuou investindo contra o mesmo, calculan- Procurador Geral do Estado:
do o depoe11.te que essa atitude resultasse ou "O recurso deve ter provimento.
do valor que Antonio julgava pos3uir, ou do
Não sô não ficou provado que o rén tivesse
temor que dele os outros tivessem, ou então
praticado o crime em estaelo ele e1nbriaguez com-
do propósito ele desarmar de qualquer maneira
pleta. oomo evidenciado. que ficasse esta cir-
o réu''.
cunstância, ainda assim a absolvição com tal
Depois ele se reportar às ationes liberae in fundamento, seria ilegal, desde que se não pro-
causa, afinna a sentença: "o réu não se enl- vou o carater fortv.ito ou de força .rnaior da in-
lJriagou paru clelinquir, Nem mesmo pensou toxioação alcoólica, nos termos do art. 24, § 1°.
que a embriaguês o poderio. levar ao crime. Sob elo Cócligo Per;al.
a forte emoção, como ele próprio relata, quando A respeito eles se dispositivo escreve o mais
a hemoptise lhe evidenciou a gravidade da mo- autorizado 8xegeta elo novo estatuto penal o
léstia que vinha minando o corpo de sua es- Dr. Francisco Campos: "O projeto aceitou e1u
(58)
c\HC.JTIVO .Tl'Tllf.L\TIIO 37
todfl a sua plenii uclc a teoria ch a c tio libera in ?agalli. que aceitou e ingeriu d8. n1.e.sm~ subs-
causa seu ad Lil;crlatcm. rclaLa, que, nloderna- tância; que.' após haYcrcnl ton1ado algunuts
mente, não se limita ao estudo ele inconciên- garrafa8 da referida bebida, o declarante st:n-
cia, prcordenaclo, mas a todos os casos em que tiu-se indisposto e quis alcançar sua residên-
o agente se clcixon arrastar ao estado ele incon-
c1a, porem ao penetrar no salão dos fr·eguezes,
ciênci~a" (Exposiçüo de n1otivos l _
contíguo ao citado dormitório, sentiu ele de-
E', elemals disso. interessante notar a ina-
nidade dos argumentos ela defesa: o réu saiu de poente que alguem lhe tocava violentamente
-:-.asa para curar-se de ctnbriaguez... e foi ao pelas costas, no local onde conduzia um revol-
botequim fazer no\·as libações: bebeu sob a ver recentemente adquirido, com quem o de-
impressüo sentimental do estado ele saude de poente não tinha intimidade e pediu-lhe que
sua esposa, mas nEio vacilou em aumentar-lhe e:xpli:acs€ tal atitude e conto o ofendido An-
os sofrimentos com o tremendo abalo do crime. toni José Koeller Machaclo se encaminhasse e
Não vale a pena prosseguir no cxrtme elos pediu, segundo se recordrr, ao ofendido que
autos. A ilegaliclade ela absolviçüo liminur é cte não tentasse agarrá-lo e que fosse Cln-
manifesta". bora; qr.e ambos eram. funcionários cln Com-
V, A disposiç,'io de lei em que, conforme panhia Siclerúrgica Nacional e que ele d·e-
pleiteara a defesa (f!s. 56 a 60), s.e apoiou a cbrante não queria complicações; que An-
senten9a recorrlc1a fol, <:omo jti. se expôs, o § 1° tonio não olndeceu e avançou sobre o decla-
do art. 24 elo Código Penal, que assim reza: rante que E·e encontrava enrostaco na parede
"E' i'ento de pena o agente que, por em- interna da casa de negócio; que o C.e~larante,
b.l'iaguez completa. proveniente ele ouso :for-
em vista da grande estatura, e força fisica do
tuito ou fon:a maior, era, ao tempo da ação
ofendido e ciente como todos da localidade, ele
ou da omissil.o, lnteirarne:nte incapaz ele enten-
que Antonio Machado não d,~ixava de conduzir
ner o em·ater criminoso do fato, ou de deter-
um revólver ·e uma faca e qne alé1n da força
mina~-se ele acordo com esse ent€ndimento",
Para beneficiar un1 agente com a isenção mu;:.cular C:e que era dotado, detonava seu re-
de pena ai estabelecida, não siio, portanto, ape- \'Ólvcr ou atirava seu punhal por qualquer mo-
nas suficientes o estado de inel::meiência e a em- tivo, dizendo ainda que não se chegass.e a el2
briaguez completa; é ainda necessário que a em.- clepoente, e não sendo atendido, sacando do
bria:;uez haja resultado d·e c.:ircunstãncia alhei1 revólver com o intuito de amedrontá-lo e no
à vontade do agente, isto é, que tenha advindo estado alcoólico enl que . se ·encontrava, sentiu
de caso fortt~ito ou de força maior. Terminan- a detonação de surr arma, c sem ver o resul-
te é o Código Penal a esse re:3peite>, pois no ar- tado, tentou afastar-se do local; que o ele-
tigo a que se prende o parágrafo em estudo, poente se achava armaclo :i<> revólver calibre
declara que ntio exclue a responsabilidacl·e pe- trinta c dois e cuja arma já se encontrava em:
llal "a embriaguez, voluntária .. ou culposa, pelo andamento para ser registrada de acôrclo com
alcool ou substân~ia de efeitoq análogos" (ar-
a lei, não o tendo feito ainda. \isto tê-la adqui-
tigo 24, n. II), e, ao dispor sobre as circuns-
rido recentemente; que suas funções eran1
tâncias que sempre agrava·m a pena, mencio-
~ercid~ €'11'1 regioões quasi s·2rr.t.pre des::thita-
'la a embriaguez, preordenada (art. 44, n. II, c.)
clus e e1n mat.:ts; que nacla !nais pode clizer em
Dentro de<Ose critério é que cumpre exmn1-
relação ao ocorrido, porque r:e nacl.:t mai.s se
nar o caso ·sztb-judicc.
lembra" (fls. lüv c 11).
Foram as scguin tes as declarações que o
acu.sado prestou pemnte a autoridade policial Dessas cleclarac:ões fica patente d:esde logo
no mesnw dia do crime: "que hoje, dia 3 c1ue o acusado não pode ser t.ido ao temp'o da
de Maio do corrente ano, na parte da tarde foi aç·ão como inteiran1ent.e in<'rrpaz de entender
~!e depoente à casa comercial do Sr, Albino o carater crüninoso do seu ato ou de determi-
Pagani e em compunhia elo Sr. João Martins nar-E:> ele acordo com esse entenclim:ento". Ele
Queluz dirigiram-se ao quarto de dormir do narra haver dito ao seu adversário que "nCio
proprietflr!o a~ima cibelo. rom o ·:onsentimcnto queria complicncões"; e afirma que sacou do
deste, visto n::io existir rcser\'aclo; que, en1 pa- rcvólYcr "c~nn o intuito de ~lll1CclL)llL1-J•,)''; e
le3tra de an1igos conlC'Ç~tranl a ton1ar cer\'(-:jit. : quer •2xilnir-:se cl::.' crinlinali~l:tcle, cli7,.:·n~lo qu:•,
para o que foi conviclnclo Llml)em o Sr . .'\IJ)illo [ ''no .estaclo alcoólico cn1 qul: sr -cncont!·a\·a. :::.c.:n-
(59)
58 AHCIIIYO .TUDJCIAniO 5-1-43
voluntiu·lo (decreto n. 4.857, ~rt. 117), poclcnüo Em face ela legislação estadual reguladora
a superior instância refonnar a decisão do Juiz. das funções do Corregedor e em face do sentide>
O que se conclue dos termos em que a lei que essa importante figura judiciária tem, nãe>
cogita do Corregedor, é que a inspeção perma- lhe compete fazer determinações aos Juizes.
nente elos serviços judiciários ela 1a instância quanto a marcha do processo, e muito menos
foi instituicla visando o decoro da própria Jus- ainda impedir a execução ou eficácia dos julga-
tiça, "fazendo com que os Juizes e funcionários mentos ou decisões dos me~mos Juizes. Seus.
se desempenhem be1n e a tempo, com zelo e poderes em relação aos feitos são para exames
nonesticlade, competência e operosidade". E de autos, advertência de erros, abusos ou omis-
competindo ao Corregedor velar pelo funciona- scBs encontradas, comunicações e instruções que
mento regular da Justiça, compreende-50 nessa julgar convenientes à boa orientação e ao fun-
:sua finaliclade, como bem ponderou o Desem- cionamento do serviço judiciário.
barg:tdor 'EDGJ\RD C0STA, qu:tndo Corrcgedo~· no Dentro destas normas poderia ter agido o
Distrito Ji'ederal, "servir de orgão coordenador suscitado. Dentro delas sua ação junto aos
áa unifonne atu~ção dos Juizes, no sentido de Juizes, pode ser do mais relevante proveito,
facilitar e assegurar o b0m funcionamento dos como tambem pode agir junto ao Ministério-
Eerviços judiciários". Público, etc. Mas dentro destas mesmas normas,.
r>.ão é possivel reconhecer a competência do sus-
Quanclo a lei, incumbiu ao Corregedor a
citado na hipótese que deu lugar ao conflito;.
mspeção e correição perm:mente dos serviços
pelo que
judiciários, deu-lhe atribuição para exame de
Acordam em Tribunal de Apelação julga!"
autos, advertência de erros, abusos ou omissões
procedente o conflito e reconhecer a competên-
encontradas, e para comunicar ao Juiz compe-
cia do Juiz suscitante para processar e julgar
tente o que julgm· de direito, na<la determinan-
os pedidOS de suprimento, retificações e restau-
do quanto à marcha do processo (decreto nú-
rações de registros de nascimento, conforme de-
mero 2.696, de 22 de Setembro de 1941, art. 11,
cidir em cada caso, e fazer cumprir suas deci-
combinado com o decreto n. 2. 581, de 19 de
sões, salvo quando reformadas em recurso re-
:Março de 1940, art. 57) - o fez indubitavel-
gularmente interposto para este Tri-bunal.
mente dentro do espírito de harmonia, ordem,
disciplina e cooordenação, acima referido, sem Ma ceio, 10 de Julho de 1942. - H. B. de·
atritos entre a função administrativa do Juiz Araujo Soares, Presidente.- Carlos de Gusmão,
Corregedor e a do Juiz que processa e julga os relato!'.- Barreto Cardoso. Vencido no mérito.
feitos. Não me pareceu ter havido choque de compe-
tência, desde que o próprio Juiz suscitado reco-
Tão amplas são as atribuições do Correge-
n'i1eceu a competência do Juiz ele Direito da 3a
dor, dentro àe seus limites, que, para preencher
Vara para processar e julgar os .pedidos de supri-
1>. finalidade da importante missflo dessa figura
mentos, retificações e restaurações de registros
judiciária, não precisa cha'!l1ar a si as atribui-
de nascimento. Assim. julguei improcedente o
ções processuais dos Juizes sob sua correição ou
conflito.- Merov.e1t Mendonça, vencido.
a elas se opor, revogando-as. Iso poderia deter-
minar inclusive atritos e desarmonias praju- O caso é o seguinte : o Corregedor Geral da
diciais aos prestígio da própria Justiça. Justiça notou que o Juiz suscitante estava
"No exercicio de atribuições tão amplas, a autorizando irregularmente suprimentos de re-
primeira preocupação elo Corregedor deve ser da gistros de nascin1ento, pois encontrou despa-
máxima prudência. Compreende-se a necessi- .chos deferinelo peelidos ele suprimento sem a
dade de assim proceder: a Justiça tem de ser prévia audiéncia do Ministério Público, sem a
fiscalizada com muito recato, há de ser tratada prova recomendada pela l·ei e até sem estar assi-
com respeito. r; 0 contrário a ação do COlTege- naclo o pedido do requerente (fls. 9, 19, 26
dor resultaria improfícua, contraproducente e e 27) . Por isso baixou o provimento constante
desmora.Jizadora. Daí porqne a orientação da a fls. 5, recomendando a observflncia do pro-
corregedoria há de ser, necessariamente, agir cesso estabelecido nos arts. 595 e 596 do Código
~om inflexibiliclaclc, mas com moclcraci\o, sem ele Processo CiYil e nos arts. 55 e 117 a 120 elo
ódios 11<:.!ln an1i?.aclcs, sen1 excessos ne1n on1is- c1ccreto-Iei 4.857, ele 9 ele No>·cmbro ele Hl39.
~ões." ("Revista ele Criiiect Jnridicc(', volume O Juiz corregiclo, entretanto. declarou nfto aca-
XXXIII, pâg. 247). L1r o provimento porque, no seu entender, o
(63)
ARCHIVO JUDICIARIO 5-1-43
Corregedor Geral não tem cpiD[letência para ' vergência entre Juizes de hierarquia diversa.
lhe dizer como deve processar os pedidos de i~to é, quando um está na dependência ou
suprimento do registro e a ele compete orientar subordinação do outro. ·Em tal caso eumpre ao
o processo por forma a assegurar o seu rápido Juiz de eategoria inferior acatar e cumprir as
andamento. O Corregedor Geral insistiu pelo decisões do Juiz hierarquicamente mais gradua-
cumprimento do seu provimento· e recomendou do.' • (Comentários, art. 802 do Código de Pro-
tambem ao oficial competente que não mais cesso Civil, segunda edição, pags. 757 e 758) .
fizesse registros em desacordo com o mesmo, No mesmo sentido: Innocencio Rosa, Co-
Eob pena de suspensão. Em face disto o Juiz mentários ao Código de Processo Civil, vol. 4,
suscitou o presente "conflito de jurisdiçâo". \ pág. 419; Castro Caiado, Código do Processo
I - Para ter .::abimento o remédio proces- Civil, art. 802.
sual chamado "conflito positivo de jurisdição"
No número 8.375 do Brasil Acordãos, lê-se:
é preciso: 1o) que um dos Juizes em advertên-
"Não se pode dar conflito de jurisdição
-cia não se_\a hierarquicamente subordinado ao
entre Juizes de hierarquia diversa, um subordi-
outro; 2D) que um Juiz pretenda excluir o outro
nado ao outro, caso em que eumpre ao inferior
tio conhecimento de determinado feito; 3°) que
acatar e cumprir as decisões do superior (acor-
..se trate de feito pendente, atnda não julgado.
dãos do Supremo Tribunal de Minas, 29-3-911.
Nada disto, entretanto, ocorreu no caso.
Rev. Forense, vol. il.5, pag. 451; de 16-3-912 e
li - E' pacifico na doutrina e na jurispru-
19-5-923, vol. 18, pág. 144 e 41, pág. 129; de
dência que não se admite a medida processual
Pernambuco, 30-9-910."
do "conflito de jurisdição" quando a divergên-
-cia é entre Juizes ligados por subordinação Innoeêncio Rosa, referindo-se a um conflito
J:J.ierárquica: que se tentou suscitar entre um Juiz inferior e
o superior, escreveu:
CARVALHO SANTOS:
"Tal conflito não tem lugar porque ad-
"Não é possível conflito entre Juizes de miti-lo, importaria em atentar contra a disci-
nierarquia diversa, ambos da mesma Cil>Cuns- plina judiciária, em anular a hierarquia judi-
<:rição, um subordinado ao outro (Rev. F'orense, cial, permitindo que o Juiz inferior desobedeça,
vol. 15, pag. 43. Acordão da Rel. de Minas de se rebele contra os atos e ordens do Juiz ou
2 de Abril de 1921, Rev. Forense, vol. 35, pá- Tribunal Superior não lhe dando execução e
gina 564). discutindo-os, introduzindo assim a morosidade
. Em consequência dessa regra tambem não e a anarquia na distribuição da Justiça."
pode haver conflito de jurisdição entre o Su- "A regra dominante na matéria é que o
premo Tribunal Federal e qualquer autoridade conflito de jurisdição só se pode estabelecer
judiciária porque a inobservância de uma deci- entre Juizes ou Tribunais da mesma categoria
stio <lo mencionado Tribunal constituirá desobe- e nttnca entre um Juiz ou Tribunal inferior e
diência, mas não dará lugar a conflito de juris- um Julz ou Tribunal superior, \sto para evitar
diçáJ ( a·c:Jr~láo do Supremo Tribunal Federal, a anarquia e a morosidade da distribuição da
17 de Setembro de J 918, AROHIVO JUDICIÀRIO, Justiça. •• (Questões Práticas de Direito Penal,
vol. 8, pág. 54). págs. 507 e 509).
E' possível, entretanto, o conflito de juris-
Contra o exposto alegou-se que, na espécie,
dição entre um Ju!z de Direio e um Juiz Mu-
trata-se de competência privativa do Juiz cor-
nicipal do termo de outra Comarca, por não
regido, de atribuição não sujeita à hierarquia
haver ai subordinação (Revista cit.) (Código
do Corregedor.
de Processo Civil Interpretado, v. 9, pag. •182) .
PLACIDO E SILVA: Ora, Isto é negar a preliminar com funda-
"Guando o conflito se diz de jurisdição mento no aue se dedarou constituir o próprio
sempre se tem em verdade uma divergência re-- mérito do ~onflito. Se o mérito do "conflito"
ferente ao poder de julgar, disputado pelas é saber se a jurisdição correcional do Correge-
duas autoridades de igual categoria e com. a dor Geral se estende ao caso, dizendo-se i11
mesmR. competência para conh€cer da causa." l!mine, que o CmTegedor se colocou fora dB
"E' fttntlamenta~ que se tratem de Juizes mesma competência correcional, que se trata de
de categoria semelhante, donde se deduz a competência privativa do suscitante, está se re·
inadmissibilidade do conflito quando ocorre a di- solvendo o que se considerou o mérito.
(64)
5-1-43 AHCI-IIVO JUDICIARIO ()3
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,\clmitinclo-se preliminarmente conflito entre rerificar "se consta a prática ele erros ou abusos
corregedor Geral e o Ju!z infer!m• sob funda· que devam ser evitados e punidos" (art. 28,
mBnto ele que aquele saiu elas suas atribuições ietra i) .
correcionais par::t invadir as atribuições privati- .Jamais se contestou aos correg•2dores com-
vas do .último, ter-se-á sem.pre d2 tomar conheci- petência para fiscalizar o registro civil. inclusive
mento prel.iminarmente de tais conflitos, pois os processados que precedem aos suprilnentos,
todo aquele que o levanta naturalmente alega no s·entido de notar enos, e dar ir:struções para
que a sua competência foi invadicla ilegalmente. que estes não se repitam sob as IA~nas da lei.
Como todo o Juiz, inclusive o Tribunal, tem Basta se correr as revistas de jurispruclêncm
iun~ões privativas, qualquer Juiz inferior, como para so encontrar inúmeros provimento-s ele cor-
mlientou Innocencio Rosa, por tal doutrina, regedores gerais sobre a· ordem do s2rviçe> elo
poderia cleixar ele cumprir as decisões do Tri- registro civil.
bunal sob o fundamento ele que este está in-
O r:rt. 57 elo decreto 2. 581 citado 11fio plOi-
vadindo as que lhe são privativas. Ter-se-ia
be o conegeclor geral examinar 0 s f.: itos relativos
então que se admitir sempre tais conflitos para
ao suprimento do registro civ''U, :-tem exigir elos
se examinar se efetivamente o superior invadiu
Juizes a obsçrvància das formal.:lacles. proces-
as funções do inferior.
suais reccmendaclas pela lei. Aliás, es~e clisposi-
III - O Corregedor Geral, como acentuou tivo não se refere propriamente ao Corregedor
a fls. 23, nfto pretende excluir a competência Geral, mas aos JuiZ~es ele Direito que ;,em pre-
do Juiz suscitante para despachar •pedidos de juizo das funções daquele, continuam c0m atri-
suprimento ele registro· civil, mas apenas exer- buiçôes o::>rregedoras sobre os demais funcioná-
cer a sua função de fiscalizar este e outros ser- rios ela justiça da primeira instância qüe lhe são
viços. subordinados ( Mcreto n. 2. 696 art. 13 l . Estes
IV - Os conflitos ele jurisdição versam não têm autoridade para corrigir atos elos seus
sobre casos ajcrados e _pendentes !CARVALHO j colegas em igualdade ele hierarquia.
l'iANTOS, ob. cit., v. 9. pag. 182) . Nao pode a Antigamente o serviço elos Juizes ele Dir~ito
sua decis5.o versar sobre os casos consumados escapava às correições porque eram eles próprios
e muito menos sobre ca~os futuros não ainda quem as fazia.. Foi exatamente para sanar Esta
aforados: cleficiência que os Estados, inclusive Alagoas,
"Os conflitos de jurisdição devem versar instituíram a Conegecloria Geral com pmlercg
svbre atos determinados e ainda não consuma- para corregir tamhcm os erros dos Juiz.~s cte Dl-
dos porque nüo seio eles meios de declamr em
reito.
tese, competência de autoridade, atribuição que
não tem o Poder Judiciário" (acorclão unânime De certo que o Corregedor Gentl não pode
do Trib. ele Justiça ele São Pa11lo de 13 ele se substituir aos Juizes na 2.preeiação int.rinse ..
Outubro de 1913 em Rcv. dos Tribunais, vol. 8, c a das provas. E' elo seu dever, porem', principal-
p!Lg. 37). mente nos serviços que interessan1 ele pe1to a
Na. espécie se resolveu sobre a competência sociedade como do registro público, clar instru-
de um caso :,á consumado e sobre casos que ções e faz1l-las cumprir no sent1c!0 elos seus su-
poderüo vir. bordinados ob::ervaren1 de un1 n;oclo geral ns
V - O Corregedor Geral atualmente não for1naliclades proee.ssua:s exprc.::;~n~~neutc l::xig1-
processa e julga causas e nem isso pretendeu clas pel ~·el.
na hipótese. As suas funções, e não tem pre- O s2rviço elo registro c i \'i! é 1·cn1 elos que 1nais
<entemente outras, consistem na "lnspeçfw e rcclmnam o Z·clo elos Juizes e clr\ Con·eg<:eloria
correição permanentes dos serviços judiciários em Ge_ral, dada a. sua r-elevância e :-ts ccstum~tcla,.:l
todas as Comarc~ts e Termos elo Estado a cargo fraudes nele ')Jraticaclas.
dos Juizes de Direito, Juizes Municipais, mem· Não coll1·2 o argumento de que contr:t cs re-
bras do Ministério Público e funcionários auxi .. gistros ilegais pode a parte ou o ::\Iinistério Pú-
liares da Justiça ele 1 a instância" (decreto-lei blico querendo, recorrer para o Tr!lJunal. Poe
n. 2.696 ele 22 de Setembro ele 1041). est2 argun1ento seri~ n1clhor 11~10 se ha.xer ins-
No exercício desta elevada função poc1c npli- tituido a, ColTt'gecloria Geral po:s c st~ ::-~' ct~·.~:ti
t<r penas aLé contra os Juizes ele Direito (ar- na exatan1·C'nte a c:c ... of.ticiú coibi~· c-r!·os. ~11Ju:::os
tigos 14 e 16). Compete-lhe ele um modo geral c frrtt1Cl€S elas partes, co1no erros. _10gi.lgCtlC~:as c
i65)
G4 :'I.HCI-II\'0 .TUDICL\lUO
abusos dos funcionários da Justiça, tnt:lusive eles da son1ente p:ua fiscalizar a penuane.nci" dos
Juizes e membros do Ministério Público da pri- Juizes nas s-edes das suas Comarcas e pant clar
rr.eira instância, notando-se que pode aconte- instruções par:1 não S·erem' ct.unpridas, mas para
cer cmno ocorreu em l'.m. dos casL's om citados superintender toclo serviço judiciã!·lo L'·'' primei-
pelo Conegeclor, de não ter siquM sido ou v ido 1'2~ instância e para tornar ef·etivas 8.5 llroviclên-
rais clc.st:; Estado, ela residente nest:>. Ciclade. mente para cl·eterminar a forma proceosnal ela
sendo avós paternos: Manoel Lima e L'. Maria questão como para apreciar as provas e até para.
Lima •2 maternos: Pedr 0 Ferreira e P. ::..copolcli- ordenar que a sentença não joi'!se cumprida
nPo da Conceição Ferreira, falecidos, e qth' a pe- pelo escrivão.
ticionária não foi gêmea nem houve outra irmã No entanto, é o Juiz ela 3a Vara o úni-
à e igual nome. Neste termos. ped·J d·NeTim.ento. co cmnpetent-e para processar, julgar e execntar
Maceió, 5 de Junho de 1942. - Bened\ta Ferrei- suas sentenças nos casos em lide.
ra Lima. Confirmamos que as d~claraçfics da
p2ticionária sáo verdadeiras. Macoió, 5 de Ju- . Estribando-se em uma superioridaci.c lüerar-
nho de 1942. - Jose f a de Medeiros Aires, <io- quica inexistente quanto às funções .1lHlicantes,
~éstica, residente a rua rres Alagocnsc, n. 2b8. o suscitado entendeu que não era possível o con-
Arestor Marques, comerciário, resident2 u Aveni- flito e que poderia, de plano, anular a,. senten-
da Moreira Lima número 235. Maceió. Certifico ças do suscitante.
mais que as firmas da peticionária Benedita O choque está evidente e o femédio neces-
Ferreira Lima e das testemunhas foram reconhe- sário e urgente.
cidas pelo T:-tbelião Heitor de Oliveira Martins. O 'Juiz tem que exanünar o v~rda.t\eiro sen-
Certifico ainda que na referida petição, foi exa- tido e autoridade da lei de interpretá-Ia e de
rado o .segulnte despacho: - "A. diga o Dr. aplicá-la à questão ante ele agitada, com recur-
Promotor Público. Maceió, 5 ele Junho de 1942. sos para o:r tribunais competenti'S, já afirmava
- A. Balta1· Filho. Certifico mais que dada em brilhante sentença proferida há quasi 70
vista aos auto"' ao· Dr. Promotor ,JJ:lr este últuno anos, Manoel Pedro Villaboim (O Direito, v. 6).
foi dado o seguinte parecer: Nada que opor.
As· leis brasileiras não mudaram -com o tem-
Maceió 8-6.,1942. - Manoel Rodrigues Melo.
po. Ainda hoje assim é. A norma que criou a
Certifico ainda que indo os autos <.oncmsos ao
Corregedoria não fez dela 1Lma nova instâr.cia e
M. Juiz, este deu 0 . seguinte des.Jacho: Regis-
nem poderia jazê-lo por flagrante mconst"itucio-
tre-se. Maceió, 8-6-942. - A. E altar Filho".
naltdade.
Certifico finwlmente que à folhas 3 verso, cc.nsta
Somente o Tribunal de Apelac,ão, em grau
a seguinte informação do oficial do Registro de
de recurso, poderia reformar a sentença do in-
Nascimento e óbitos do 1o Distrito: "Exmo. Sr.
tegro suscitante, caso se convencesse de que havia
Dr. Juiz de Direito da 4 3 Vara.. Informo a
erro ou injustiça na referida sentença.
V. Ex. que deixo de cumprir o despacho retro
por ter o Exmo. Dr. Juiz Correg-edor Geral de- O Juiz não p'ode nem se deve intimidar com
terminado verbalmente não efetua:,se "" lavratu- as ameaças de penalidade, quando tiver que agir
na defesa das funções, competência e atribui-
ra: de registros· de nascimentos p..:r esta forma,
ções que lhe foram outorgadas pela Constituição.
Eob pena doa suspensão. Maceió, 8 de Junho de
1942. - Zafira Ata ide de Cerque ira, oficial do A corregedoria não pode invadir as fun-
Registro Civil. . O referido é venlade. do c..ue ções judicantes dos magistrados ,tnulando-lhes
dou fé, nesta cidade de Maceió, Capital do Es- seus despachos e sentenças e, 0 qne é d.e suma
tado de Alagoas, República dos K;tados Unidos gravidade, determinar que os escrivães não cum-
do Brasil, aos dez (10) dias d 0 mês de Junho pram os despachos dos Juizes soo ;Jena de sus-
de 1942. Eu, Zafira A ta ide de Cerqueira, Oficial pensão! Ou - o que é ainda. mais grave -- de-
do 'Registro Civil de Nascimentos do 1° Distrito terminar que os escrtvjies fiscalizem e :-evejam
desta Comarca da Capital, a fiz datilogmfar e as referidas sentenças afim de verificarem' :;e aiJ
assino". leis foram cumpridas!
camente ,ameaçado de maiores penalidades, suas I Dou, como disse, o n1eu mais clecisi:lo apélio
sentenças nulas ex-ofjicio e niio cumpridas p<;lo à essa advertência e acrescento as palavras pau-
escrivães que deveriam - em última instància clerradas do eminente Dezembargador EDGARD
------
(68)
5-1-43 AHCHIVO .JUDICIAHIO 67
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JULGADOS E PARECERES
pativel com o valor locativo real e atual do seus herdeiros ou sucessores, com promeiem-sc,
imovel seria de 51:200$000 anuais (4:200$000 dentro d.o prazo do contrato, a não exigir dos
mensais), alem de outros encargos já constan- outorgados o prédio arrendado (fls. 7-v) ". A
tes do contrato ainda vigente. cláusula iol registrada na Regiáo Geral de !mo-
A autora falou sobre does. juntos pelos réus, veis (fls. 9 a 10). E' essa a razão que leva a
fazendo n1esmo outros comentários de maior, autora a dizer que o prédio está onerado nos
como se se tratasse do art . 294, II, do Cód. de termos do art. 1.197 citado, a saber: "se, du-
Pro c. Civil (fls. 52 a 55 v.) . rante a locaçüo, for a/Jcnada a coisa, nüo ficará
O ·Sr. Juiz Substituto então en1 exercício o adq1Lirente obrigado u respeitar o contrato, se
admitiu esse. modo de ver da parte, fez as con- nele nlío for consignada u cláusula de sua vi-
siderações de fls. 58 R v. e d•eterminou exam·e géncia no caso de ctlienaçüo, e. constar do regis-
pericial realizado (laudo, fls. 76 a 80). Houve tro público". Em contn\no ao pretendido pela
ainda vários outros incidentes i!Jro~essuais, e, autora sustentam os réus que aquela clá'.lSula
por fim, tudo resolvido. a audiência de instrução não tem as caract·~rfsticas exigidas pelo arti-
e julgame:lto foi marcada e orientada pelo des- go 1 .197. Que o compromls~o contratual se ll-
pacho de fls. 95 a v.crso. Nenhum recurso de mita à vigência· do contrato entre partes e seus
interesse processual, há a contemplar, sinal de sucessores a título universal, tendo o registro
que não se agita qualquer debate a mais a não '.;ido urn ato de má fé da autora e ao mesmo
ser o QUe toque a mérito da ação, a ser deci- tempo uma inadvertência do oficial que o es-
dida. Ouvi os depoimentos das parte;; e o da criturou.
prometida compradora do prédio (fls. 105, 106
s~m dúvicl.a, quanto ãs partes e seus her-
e 107), bem como exposição do doutor perito
deiros, a clâusula é uma redundáncia. Sem de-
tfls. 1G2 a v.) . Tlldo mais se passou como se
pendência de convenção, já a lei determina as
lê das atas de fls. 102 e outras.
assegurações pretendidas. Combinando-se, ade-
Isso relatado:
quadamente os arts. 486, 1 .189, II, 1. 192, IV,
I - A qualidade de locatária da autora em
e 1.198, do Código Civll, chega-s~ à desneces-
prédio de zona ,comercial e sua atividade na ·eX-
sidade da cláusula expressa para obrigar às par-
ploração do comércio e indústria na localidade, o
tes e seus herdeiros.
tntelro cumprimento do contrato vigente, a re-
gularidade da proposta de renovação do con- :Mas, não é só disso que se trata. Cogita-se
trato, inclusive .fiador apontado, enfim os requi- é de saber se "sucessores", na cláusula, se ref•ere
Eitos visíveis que integram 0 dil"eito de ação simplesmente a herdeiros (titulo universal). ou
se a "adquirentes" do impvel, "sucessores a ti-
como a presente, não sofreram dúvida e, assim,
tulo singular".
condizem com as exigências 'legais adequadas.
Não se questiona sobre semelhante matéria. Clâusulas como a fo~alizada são habituais
As questõ-es a apreciar são de direito e, se nos contratos de locação. Isso, .por~m. não bas-
vencidas pela autora, outras tantas tocantes à ta para solucionar a dúvida levantada, porque:
regularização do renovamento. As ;propriamente 1o) um háblto ou mesmo um uso inócuo ·não
jurídicas, ou envolventes de teses a elucidar, pode ser levado a constituir costume operante,
são condensaveis da seguint.~ maneira: por não poder, em emergência como a dos autos,
Sabido que os réus prometerem vender o pré- ser encarado como "uma preparação necessária
dio objeto da locação (contrato, fls. 47 a 49), en- para o direito escrito" que já extste e não ,pre-
tendendo que o futuro adquirente não está obri- clsa de revisão para preparo de uma redundân-
gado a respeitar o contrato de locação, e no- ela; 2°) pode ser inócuo introduzir a cláusula,
tando-se que a autora sustenta, por um lado, mas assim não se supõe a priori quando ela é
militar em seu favor a regra do art. 1.197 do registrada no registro de imovels, porque dai
Cód. Civil, e por outro. quando assim não fosse, logo ressai, pela técnica .das presunções, qu.3 ela
a prática integral do decreto n. 24.150, de 20 Ee destinou a algum efeito mais do que o or-
de Abril de 1934, prevalente sobre quaisquer he- dtnarlo jâ legislado. Derrontam-se, pois, de um
sltações interpretativas do referido artigo, - o lado, a defesa fundada na pretensa imposição
estado em torno da hipótese orientadora da de- de uma praxe, que em verdade não recomenda
cisão é o seguinte: o respeito à boa técnica do direito, nem com·
a) A cláusula 5" do contrato de arrenda- prime o bom entendimento, sempre exigível, em
mento estabelece que "os outorgantes, por si, I quem celebra um negócio d·e efeitos jurídicos,
(70)
5-1-43 AHC:HIVO .JUDICIAHIO (i!)
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e, c:c' OUcTo i:lclo. " intenc;-to m;tnifesta ele •f;tzer Os acordàos tocam exatament2 o fundo ela cC'ln-
acatar a u1n comandamento legal. trovérsla.
Aprecia:J.do o assunto, vê-se que, alem do No acordão de 30 d:o Maio, relatado pelo es-
fix~do para' as partes diretas no contrato e da clarecido Juiz Antonio Carlos Lafayette de All-
estipubção acerc~ ele herdeiros. os contratantes c.lracla. apoiado pelo eminente José Antonio No-
hlarum tamb21n em. "sucessores" gueira, foi revista uma decisao elo !lustre Juiz
··Herclciros ou sucessores". -está escrito. Abs- Serpa Lopes. Estabeleceu-2e qu, "cláusulas alu-
trn.iEdo ela intcr:Jl·etação cstrit:l.ID·2nte granla- dindo a - "herdeiros e sucessores" - abrange
tica! (c o1t ou). num caso em :JUe nao se C')- os sucessores "inter vivos", ou sejam, os poss1-
gita de apuro ele linguag·c'm, mas siln ele pes- veis adquirentes dos imoveís (t·=xtuab) ". E
qui·.s~r intcn:;õ2s C~..O c:er Inanifcst:tcla a vontacle mandou-se fazer o registro, que esse era o ob-
(rev.ra elo art. 85 el:J Cód. c i t.). tcm-'e que o jeto da dúviela precisamente atinente ao arti-
ac:rés~in1o .<.,·uccssorcs não pode deixar ele signi- ·;o 1.197, Go Cõdlg-u Clvil. Presiúlu ã sessao de
fica,· suce,sons a titulo singular, já que os a juigam•?nto o Sr. Desembargador Edmun:lo cl2
ti\ ulo u:ü yersal (herdeiros) •esta nun contem- C li veira ·Figueiredo.
plaelos par lei e pc·ln convenção. Fora 111\Ütc Nt> acordão de 19 de Dezembro. relatado pelo
pouco p:nsar :tue a intençao dos compactu:m- provecto Desembargador Henrique Fialho, a•poia-
te3 era cxc1u.sivnn1cntc prevenir qu2 outro;; :.:u- c!o pelo ilustre Desembargador Raul Camargo, foi
cessorcs a titulo tmnbcm universal (legatários. cleciellclo que a "cláusula "nio t·~m o ·efeito de
etc.\ eram os leml)mvccb- obrigar o futuro adquireute elo imovel a res-
Assim sendo, não sei como excluir da classe peitar o contrato de locaçào (textuais)", exigin-
sucessores a titulo sin:.;ular o adquirente por elo-se que a estipulação ela vigência ~eja ex-
compra c renda. exatamente o mais encontracllça pressa. A sessão do julgam:nto foi tmnbem pr·2-
em negóci03 jurÍdicos como o tratado. E' cm·ial Sid1da po:lo Sr. Desembargador Oliveira F'lguei-
que antes de lembrar outros sucessores inter redo.
vivos, locador e locatário cogitem ele adquirente Tomaudo pos1çil,o na controvêrsi:t, pm·ece-me
por compra ek coisa, !1ipótese ocorrentissima lD que a couclust\0 elo prune1ro cl:tqueles julgadas
comércio jurídico. e a mais eunsentanea ·com a realidad·e jurí-
Antbas as ·partes invocaran1 jurisprudêncl:l dica. O venerando a cordão ao qual não posso
em favor ele seu m_oclo d2 ver. Nattu·almenle, aderir atribue um sentido seguro ao termo "su-
há julgados em sufrágio dos dol-3 lados. Is'o ceosor·2S ", destacando-o do de 11erdeiros, e en u-
só conduz a reconhecer-se que o direito apli- mera alguns dos casos de suc.es,ões a titulo
cado flutua, ainda não se tendo cristalizado universal.
uma verdadeira juri~prudência. Ntuna situação Mas, a seguir passa a dizer que são os enu-
assim domina a análise elos fu:1damcntos ou mu- merados os que se compreendem na cláusula
tii'OS elas decisões. rt:n·cciando-sc sua forca in- '·herdeiros, e sucessores'• e que os adquirentes,
trins·:ca em face daqueles fundamentos, pois o ''ucessores a titulo singular, não estão contem-
valor da autorid:1cle c:·entlfica dos julgados re- plados. Não concebo, data venia, que em direito
sulta da irrefragabilidade dos raciocínios neles se deva fazer aquela distinção fechada quando
emrpregadm: "une valcur cl'autorité scientijique 11 lei mesma já previra serem os herdeiros obri-
qui lui vient ãe la force des raisonnements em- gados ope lege (artigo 1.198) ao acatamento da
ploy~zs (Gaston May). Ora, ouvi dos ilustres locação e quando, como já marquei, outros su-
advogados elas p:ntes a invocaçào de julgados, ces·:oores a título universal são casos esporádicos
{]03 quais destaco dois ela Egrégia 4a Cãmar:t comparados ao frequentissimo de adquirente.
do Tribunal ele Apc·lação deste Distrito Federal: Quem admite que "herdeiros e ·sucessores"
·acordãos ele 30 de Maio de 1941, na ap. civ. não são sinônimos em clausula como a usual,
n. 9. 243, de 19 ele Dezembro do mesmo ano, na c essa n sugestiva lição do acordão, forçosamentz
ap. c1v. n. 274 (lidos na "Rev. ele Jurisp. diz que falar e1n herdeiros ê um acrescimo inu-
Bras.", p. 190, vol. 52, fase. 155, e no ARcHrvo til (relembro o art. 1.198) e, clessarte, cleixa
JUDrcrARro, ps. 437 a 438, vol. 62, fase. 6). em campo somente o termo sucessores, con1 efei-
D"staco porque n s cone! uoõcs elos elms acorcEto~ to real ou eficiência terminológica. Ora. a2sim
diferem e nlncllt porque lclentifico os clois jul- cenclo, é obvio que sucessores cle\'e ser tomado
gados ·como se ocupando, por m.otivos elifercn- tio sentido amplo, abrangenelo não só os ele-
tes, d8 negócios entre os n1csmo.s interessados_, mais alem ele herdeiros (os demais a titulo uni-
(71)
íO :\HCHIVO .JUDICIAHlO 5-1-43
-------------------------------
versa!) como tambem os a título singular, en-~ decorrer de preceituação expressa que ncccssa-
tre os quais o adquirente a que se reporta o l'iamente a contiver implícita, ftmção do inter.
artigo 1.197. Si sucessores é o gênero, as espécies prete advertido. Quando se diz em cláusula coma
nele se incluem. E' mais consentãneo com o a focaliza nestes autos que "dentro do pra-
fim a alcançar a regra fcnus munqtwm perrit do zo do contrato" sucessores s:l.o obrigados "a
que a generi per speciem den·ogatur, atendendo não exigir o prédio arrendado", est-á inequivo~o
a que: 1o) em concreto, as partes visam sem- t:ue, alienada a coisa, aqueles sucessores, como
pre a contemplação de todas as faces de previsões adquirentes, teem que respeitar a locação, inte-
que sustentam seus interesses legítimos; 2a) as grando seu presumiclo conhe~imento do fato
leis são ordens abrangedoras como regra, oél pelo registro da mesma cláusula. Não se per-
teiões compreensíveis, convindo não confundir o ca tle vista que em locação de prédio se cogita
dispositivo excecional com as palavras técnicae de posse direta de locatário oponível â indiret[l
nela usadas, as quais nada teem com a exceção de locador e, pela cláusula reg!btrada, a quem
do dispositivo ou predicamento. São col!sa~ o sucede, visto como se lhe confere o direito
diversas a norma e a sua linguagem. Dir-se-1a de sequela para a defesa daquela posse, erga.
então que a lei, isto sim, deverá falar em su· omnes. Erga omenes, note-se iJPm. de referência a
cessares e não simplemente em adquirente, ape- quaisquer terceiros possiveis adquirentes (efei-
t{) do registro, em nome de necessidades práticas
nas se entenclendo que ficaria sem expressio
derrogatórias de regra comum acerca das noçõEs
quanto a herdeiros, por já terem estes stclo
de direito real e direito pessoal). O artigo l.Hl7
contemplados no artigo 1. 198; o exato é que
quem diz sucessores diz tambem adquirentes do Código Civil foi mais preciso para evitar dú-
vidas arbitrárias. mas nem assim, como se yê
mesmo porque tanto se adquire a titulo univer-
tem afastado exigências de tal modo estritas que,
sal quanto a titulo singular. sucessão em ge.
praticamente, anulam a regra salutar do artigo
ral, sabe-se bem. e assim se lê em Teixeira de
!lfl do mesmo Cód!go, mandando que nas clecla-
Freitas, por exemplo, "é a aquisição por trans•
rações de vontade se atenda mais a sua inten-
missão (Tr. dos Testamentos e Sucessões, §
ção do que ao sentido literal ela linguagem. O
174) ", da mesma forma que, sabe-se tambem.
direito é ciência de raciocínio (Carlos Maximilia-
e assim se lê em Lafayete, por exemplo: "modo
no) e não se deve fazer prevalecer a fonn,~
de adquirir por titulo singular e por titulo uni-
~:.u tundo da preceituação, nem negar situações
versal (Dir. das Causas, § 32) ". Adquirir e ad· jurídicas evidentes: "uma ciência jurídica que.
quirente, o me~mo que suceder e sucessor, opu- tendeose para soluções injustas ou perigosas seria
sição terminológica a transmitir e a transmitido, falsa indo de encontro a sua finalid:tde (Pla-
emerge1n como ccnstantes e são verbos e subs- niol) ".
tântivos juridicos de tal modo genéricos qut>
c) Finalmente. insere-s' no debate um pos-
dominam em todos os fatos e atos jurídicos
sível caso de distinção que deve ficar elucidado.
entre vivos e de transmissão por morte. S\
Diz-se que o adquirente sucede na coisa e não
o artigo 1.197 tivesse usado da palavra sucesso- na obrigação. Certamente. o dire:to é tambem
res ao invez de adquirentes não teria cómpreen uma "ciência de distinções", mas estas devem
são diversa da que tem, com a vantagem, po- ser feitas em termos e somente nos casos em
rem. ele evitar muitos debates brilhantes mas que se imponham praticamente. Em probJ,zm:o
artificiosos; como o concretizado, o adquirente é sucessor ll"-
b) Por outro lado, parece-me ponto de so coisa (prédio) e tambem na obrigação cuj:1 font'
Tc,~Clc" exigir paLm;Tas sacra•mentais expressas t. náo propriamente o contrato ele locação (di
acerca ele alienação. E·ssa é a atitude provecta de rei to pei"soal), m:as a cláusula oneradora c\:1 mes-
Serpa Lopes, um tratadista de prol, mas. ainda ma coisa, de seu conhecimento pelo registo. o
assim, sujeito a enganos de que todos somos adquirente não é um representante do anteces-
sor no sentido normal. mas inquestionavelmen ..
passíveis. Aquele doutro magistrado mesmo.
como granrle responsavel p·ela elucidação do tema te, por força de sua vontade autônoma ao aceit~;
perante no~so foro. pois i"empre aparece citado, ,a coisa gravada, é um titular, diga .. se, de pr"-
ele próprio, ensina o afastamento das "deduções pri.:dade temporariamente limi tacla. E' llm!tacià
extraídas de elementos obscuros", a mhn me pa' quanto a um dos poderes inerentes ao tlom!nlo
recendo, porem. que, na emergênc1a, n!\o é a·bs· (posse do locatário), por outro lado recebenc1o-ot
curo extrair a inteligência de textos ou fazê-la 9 adquirente de quem, por força de contrato com
(72)
5-1-43 :\RCHIVO JUDICIARIO 71
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chusula resistacla. transmitia. com a coisa. sew. Si assin1 não se concebesse: o prohlen1a juri-
direitos e obrigações. Aquisição como quo den- dlco em face ela onen taçiio daq uel0 decreto, bas-
vada, na qual a regra nemo plus juris ê sempr~ tarla que o proprietário declarasse querer o pré-·
um corolário. Nem de outra maneira se explica- dto para seu uso, goza e dispos'ção sem .mais:
ria a ficção necessária e construtiva, dando "" justificativa que não o art. 524 do Código Civil.
preem'nêncla do direito pessoal do locatário em Isso importaria no sufrágio de direitos absolu-
face elo direito real elo adquirente, o que é un1 tos, ao passo que o de propriedade não ê abso-
desvio elos princípios (Clovis)". Desvio julgado I luto, maximé tendo em conta, hoje, o art. 113.
necessário pelo legislador e explicitado no dlreitCJ n. 17, da Carta Constitucional do 1937: "é ga-
formulado. O transpasso da obrigação não é a' rantido o d:relto de propriedade que não poderá.
regra, sabe-se ben1, n1as é a exceção configurada ser exercido contra o Interesse social ou coletivo,.
por meio de ato especial que a transfere (vejR .. na fonr.n que a lei determina".· Ora, o art. 16
se, mutatis mutandis, Lacerda, Obrgs., ~ 67 e ela lei chamada de luvas .sstabelece que "o julz
nota 12; M. I. Carv. de Mend., Obrgs., n. 220) . apreciará, para proferir a sentença, alem' das re ·
Em casos que oferecem analogia, v. g., um ter- gras de direito, os prmcipios dn equlda :!e, tenda
ceiro que sucede a promitente de fato seu, a ele sobret;udo em vista, as circunst~nclas especiais
se transmite a obrigação do mesmo promltent=. de cada caso en1 concr-=to".
Assim, sem contundir a sucessãc:> na coisa com Consequentemente, é necessário não só in-
a sucessão na obrigação de que o contrato e vocar o direito em abstrato, mas, para pratica
instrumento, conciliam-se as nocões e normas, da lei e promoção da justiça distribuitiva e mes-
dando, praticamente, a regra de direito contem- mo da comutativa, fundamentar para que flm
planl, à v:sta do preceito excepcional. A ciência licito e justo qu=r o proprietário afastar a reno--
do direito não é uma geometria de prlnciplos vação do contrato. O magistrado aprecia se a
abstratos que não possam ser temperados pelo pretenção do proprietário se coaduna com o "in.
legislador, tambem creador do direito, segundo teresse social ou coletivo (Const.) ·· e se, dadas
os ditames da vida e sua3 necessidades pra.ticas. as circunstâncias especiais do "caso", as "regras
Em tudo isso r·esulta, sub censura de quem de· direito e os principias 'da equidade (art. 16
de C:ireito, meu convencimento de que a cláu- clt.) ", encampam aquela pretenção.
sula 5.• do contrato de fls. concretiza a hipó- Um exemplo marcante desse modo de ver f>
tese prevista no art. 1. 197 do Código Clvll. o sqjUinte, colhido no próprio decreto n. 24.150:
II. Esta última conclusão eluclda urna parte o locador pode retomar a colsa para seu uso
da causa. Mas, o contrato renovando só se exgo- próprto, ou de seu conjuge, ascendentos ou des-
tará em 15 de F2vereiro de 1943, e nestes autos cendentes (art. 8. 0 cit., a) o que é uma aplica-
não se cogita de rescindi-lo antecipada ou ex- ção do art. 524 do Cod. Civil quanto a um dos
traordinarlamente. Os argumentos contestató- conteudos positivos do direito de proprietário e
tambem, até certo ponto, do art. 746 do mesmo
rios a esse respeito são meramente ilustrativo::;
Código sobre habitação.
e não foram formulados em reconvenção. Entre
partes o contrato está vigorando. O que reaJ .. Não pode, porem, destinar o prédio "ao uso
mente se indaga é si a defesa Iundada no poder do mesmo ramo de comércio ou indústria do
de retomar o prédio para vender é justificada. inquilino" retirado (art. 8°, cit., § 5 da alí-
nea) . Eis aí uma limitação flagrante ao só
O !:rt. s.o do decreto m.. 24. 1'50, de 1934,
direito decorrente do art. 524: o proprietário
alude a "d-efesa de direito" de modo amplo. O
dá conta de seu ato ao outro interessado e
de retomada da coisa pelo proprietário é um
sujeita sua atitude ao control judicial. Ubi ratio
deles. Pode-se entretanto asseverar que em qual-
bi lex, porque usar da propriedade é tão direi-
quer hipótese a alegação d2 proprietário n.ão dev~
to em tese quanto o de dispor, ambos contendas
ser apenas enunciada em abstrato, ou fundada
positivos do direito de proprietário. E' nesse
na mera tese de lei asseguradora do direito de
sentido que, mais do que outrora, hoje, se de-
propriedade, sentto em dados concretos justifi-
clara, como já acentuava um individualista do
cativos elo pedido. E' preciso dizer para que a
retomada e si ela é para vendeT o r.rédio deve u século XVIII, Mirabeau, que "les proprietaires
sont Zes agcnts. lcs economes dn corps sQciales.
alegante demonstrar que seu cllr,"ito de dispor da
coisa supera em espécie ao cllrelto ele renovação O interesse individual legítimo tanto pode
tambern assegurado ao locntárlo. ser do proprietário quanto do locatário, ven-
(73)
.\HCHIVO .JUDICIAHIO 5-1-43
cendo o que demonstrar a conciliação de seu disposição da mesma coisa (vendê-la), nCío de-
direito com o da função social da propriedade. monstraram que aquele seu direito, limitada
Tenho mostrado, reiteradamente porque assim, por lei tutelar de outro direito oponivel, trans-
seg~indo velha lição renovada. e isso é o que cende em interesse legítimo e justo ao ela in-
está em mmha sentença de 18 de Julho do quillna. Sua atitude é a de quem quer apenas
ano passado (ARCHIVO JUDICIARIO, vol. 59, f. 5), a fazer um negócio que não direi ganancioso
-qual relembro porque ambas as partes a rnen- mas excessivmnente rendoso ou mais proveitoso
cionaram nos debaws, lendo-a em trechos que do que o de fruição de rendas diretas da coisa
-o Ministro Goulart de Oliveira me deu a hon- (entre outros dados, ver dep'oimento de fls. 106),
ra de destacar em sua obra Renovação de Con- negócio justificavel em geral, m(\s. injustificado,
trato, sob a epígrafe Uma síntese feliz (n. 762 atentas as circunstãncias particulares do casa
do 2° vol.). debatido. Em contraposição, a atitude da loca-
Não é pois, simplesmente com dizer que t:l.ria é a de quem, sem expoliar os réus, de-
quer a coisa para vender, por poder dela dis- fende um espaço destinado a exercer sua ati-
por, nos wrmos do art. 524 do Cód. Civil, que vidade lícita, ou resiste para não se fazer um
os réus. resolvem seu problema. E' preciso de- nomade do comércio e indústria, ao mesmo tem-
monstrar porque seu direito em abstrato, con-
po em que defende seu fundo comercial, de-
cretizado sobre a coisa, corresponde a uma ne-
monstrando por presunção legal derivada do
cessidade de justo atendimento e supera o di-
tempo, sem prova em contrário. A propósito
.reito de permanência da autora a continuar
dessa natureza de prova por presunção, a egré-
na localidade. Ninguem se esqueça de que, em gia instância ad quem, na apelação clvel nü·
casos assim, não há um só titular de direito, mero 1. 350, acaba de confirmar-me uma sen-
e sim titulares de direitos, em oposição, sen<lo tença na qual procurei fixar o assunto (sessão
forçoso dewrminar não a hierarquia conceitual de 17 do mês findo, Terceira Câmara, caso aqui
de um deles, mas sim a significação de cada um decidido em 18 de Fevereiro deste ano) .
como realidade util ao seu titular frenw à pes-
soa e à coletividade, concomitantemente. Um O direito da autora, após o estudo acima,
proprietário que sustentasse querer vender u resulta seguro, no sentido de. possibilitar a re-
prédio, para, com o produto, adquirir dbje- novação compulsória· do contrato.
tos de luxo ou supérfluos, suntuários, não esta- III. Quanto ao preço do aluguer mensal,
na agindo sem direito: esse direito, porem, s~ porem, não deve prevalecer o proposto pela au-
defrontaria com o de locatário industrial ou tora ,assim como não convence o sugerido peJos
comercial que provasse a existência de um fun- réus; nem 1:900$000 nem 4:200$000.
do de comércio criado e que, alem disso, dall AEsim' decido após verificar: 1°, que consta
tirasse a subsistência pTópria e a da sua ra- dos autos ter o bem sido avaliado judicial-
mília, em situação que de outro modo não ti- mente, num inventário Tccente em 250:000$000,
l'aria, afora outros inwresses de terceiros, am- o que· não se negou; 2°, que, poucos anos an-
paraveis pela persistência da locação. tes, o aluguer sofreu um aumento de 300$000
Tais problemas são hoje mais do direito mensais (depoimento do réu); 3o, que o perito
público do que do privado, e recaem naquele orçou aquele mesmo valor em 380:000$000, ou
esquema que Folelt, no The New State, traçou seja, mais 130:000$000 do que o referido valor
com a magnifica ressonância produzida: regula- judicial. Em presença desses dados, não se pode
çáo de interesses entre o individuo e o grupo, consirlerar arbitrário os 380:000$000 do cálculo
dos grupos entre si e da coletividade com o de perícia. Sufraga-se um aumento gradativo
Estado. Não se cogita de caso entre indivíduo da coisa e tambem gradativo de aluguer.
e individuas isolados. Exemplos como o que Considerando que a renda de oito a nove
assinalei mostram como a função social de pro- por cento é admitida pelas partes como razoa·
priedade se exerce e deve ser entendida, em res- vel, a taxa de oito ·e meio por cento (8,5 %)
pelto a princlpios assegurados pelo direito for- dá a renda anual de 32:300$000, ou 2:691$000
mulado, e ao intérprete cabe conciliar interesses por mês. O perito sugere o aluguer de 2:300$000,
como medida de inteligência e movimento de deixando o excesso paTa os demais encargos
ontem. assumivei pelo locatário. E' justo, até porque
Ora, no caso dos autos, os réus são proprie- 2:3008000 sobre 1: 900SOOO ainda representam
tários da coisa locada. Mas, pretendendo afastar um aumento de mais de 20 %, desde que se
um direito da autora, afim de exercerem o de 1 isole o problema a alugueres. E ainda: em
(74)
5-1-43 ABCJ-IIVO JUDICIAniO 73
lJOUcos anos, após o aumento de 1:600$000 para Está muito bem que a locatária pague ....
1:900$000 e agora para 2:300$000, o acréscimo 2:300sOOO mensais, alem do mais a que se obriga.
de 7008000 mensais já acompanha um paclrão de IV. Atendendo a todo o exposto e ponde-
lucro bem sensível para o locador, que não se rado e ao mais dos autos constante:
onera com outros encargos recaídos e recaiveis Julgo a ação procedente para o fim de de-
sobre a coisa, que tambem não tem valorizado cretar, como decreto, o renovamento do con-
por iniciativa, trabalho e capitais seus. trato de locação do prédio da rua Mayrink Vei-
Não deve prevalecer o valor da promessa de ga, n. 22, mas pelo aluguer de 2:300$000 aten-
venda, 640:0008000. Tal preço mais se afigura didas tambem pela autora as demais estipula-
um negócio excecional, como resulta do depoi- ções constantes do contrato renovando e espe-
mento do réu (fls. 106) e das informações da cificações da inicial, inclusive fiador.
prometida (fls. 107) do que uma realidade que Custas "ex-lege".
deva ser imposta a terceiros. Os interesses par- Rio de Janeiro, 5 de Agosto de 1942. -
tlcularistas entre promitentes e prometida não Dr. Arthur de Sousa Mafinho.
contam e os cálculos a respeito, se bem que ha- (Essa sentença foi confirmada pela 5a Cã-
bilmente conduzidos, se apresentam como arti- mara do 'I'rib. de Apelação, em 8 de Dezembro
ficioso sem face dos dados ao alto estudados. de 1942).
(75j
ARCHIVO JUDICIARIO
(PUBLICAÇÃO QUINZENAL 00 "JORNAL DO GOMMERGIO")
2:9878000, sendo a importância clita ele reis na base apenas e teto sómente de 100:9508000,
1. 263:519$100, que deu causa ao langamento su- correspondente a 2.019 apólices, de datas de
plementar "ex-officio'•, proveniente elos recebí- emissões posteriores a 1925, em cada um dos
mentos ele juros de apólices federais, como tudo exercícios financeiros de que ·tratam os ditos
se vê dos documentos juntos sob ns. 2 e 3". processos, sendo a ré, União Federal, condenada
Acrescenta que, não obstante longa defesa que nas c;_tstas".
apresentou em tempo nos processos administra- A inicial vem instruída com os does ele ns.
tivos, foram mantidas as decisões, que se tor- 21 a 121. Citada a R. na pessoa do Dr. Pro-
naram irrecorríveis naquela órbita, sendo então curador da República, ofereceu a contestação
usado, dentro do prazo legal, o r·eméclio criado de fls. 132 a 133, na qual aduz matéria extin-
pelo já mencionado artigo 25 ela última lei do tiva do pedido. Diz "que, por uma decisão de
imposto sobre a renda. - Enuncia o funda- 3 de Abril último, o Delegado do Imposto de
mento ela sua pretensão no item 6 dos artigos Renda neste Estado, fundado em argumentos de
da inicial, onde se lê: "Na vigência da lei nú- todo procedentes, reformou os despachos que
mero 4. 894, de 31 Çte Dezembro ele 1925, do Re- C:eram travos à colera do autor e que s'\o apon-
gulamento 17.390, de 26 de Julho de 1926, ex- tados como motivo do procedimento judicial em
pedido com o decr. da mesma data, aprovado análise, r·epondo os respectivos proc-essos, na
com modificações pelo decreto 5. 138, de 5 de fase c'.e esclarecimentos a que se refere o art.
Janeiro de 1927, com as modificações ainda no 114 elo Regimento concernente ao tributo de que
decr. 21.554, de SO de Janeiro de 1932, todas con- se tra t:~". E pede que se proceda Ra forma dos
solidadas pelo Regulamento vigente elo Imposto arts. 209, § 2 e 294, n. II do Cód. ele Processo
sobre a Renda, expedido pelo Ministério da Fa.: Civil, para afinal ser julgada procedente a con-
zen da, quando Ministro o Dr. Oswaldo Aranha, testação. Como prova do alegado juntou o doc.
consoante a jurisprudência copiosa, uniforme e de fls. 134 a 135, sobre o qual se pronunciou
pacífica da antiga Côrte Suprema, hoje Supremo o A. a fls. 137 usque fls. 142, juntando por
Tribunal Federal, o espólio, em apreço, não se sua vez mais .dois does. (fls. 143 a 147). O A.
achava, como não se acha, sujeito ao imposto se opôs à extinção pretendida, dizendo que os
sobre a renda proveniente de juros de apólices despachos reconsicleratórios haviam sido exarados
federais, maximé, e, principalmente, das de emis- pela autoridade administrativa depois de ajuiza-
sões anteriores a 31 de Dezembro de 1925. Passa da a presente ação, quando já não era lícita a
a indicar, fartamente, a jurisprudência em que reconsideração. Falando sobre os does. juntos
se apoia e a seguir mostra que nos anos de 1933 pelo A., o ilustre Dr. Procurador da ~epública
e 1934, base para a cobrança de que se trata e sustenta que a reconsideração é amplamente
relativa aos exercicios de 1934 e 1935, só exis- permitida na esfera administrativa e, na espé·
tiam, pertencentes ao espólio. A., 2. 019 apóli- cie, prevista expressamente no art. 155 do vi·
ces federais de emissões posteriores a 31 de De- gente decr. 24.036, de 26 de 1\fa.rço de 1934.
zembro de 1925. E conclue - "que deve ser Estriba-se em outras razões relevantes, em de-
julgada procedente a ação intentada, para o fim cisões do Conselho de Contribuintes e. do Minis-
de serem declaradas nulas e ilegais, e, assim, tro da Fazenda e em lição de Raneletti - Le
insubsistentes, as decisões, já referidas, proferi- gu(]ffantigie della giustizia nella publica ammi-
das pelo Chefe da Secção do Imposto sobre a nistrazione.
Renda, no Estado do Rio de Janeiro, nos proces- Tendo surgido dúvida sobre a data em que
sos administrativos, acima referidos, para o efei- foi lavrado o menci:onado despacho de reconsi·
to de ser julgado indevido, em absoluto, o im- deraçii.o, este Juizo atendeu a requerimento do
posto em questão: em que foi lançado ex-ojjicio A. e requisitou à Delegacia do Imposto sobre a
suplementarmente o espólio em apreço, e deste Renda uma certidão contendo o inteiro teôr do
cobrado; ou, então, quando assim não seja, para despacho em apreço, sendo remetida a que se
o fim de serem declaradas nulas e ilegais, e as- encontra a fls. 160 e 162 destes autos.
sim insubsistentes, aquelas mesmas decisões, Na audiência de instrução e julgamento da
para o efeito de. nos jà mencionados proçessos causa (termo de fls. 166/169), presentes o advo·
administrativos, serem revistos os lançamentos gado do A. e o Dr. Procurador da República,
ex-ojjicio suplementares, de que tr:1tam os mes- mantiveram com brilho as teses anteriormente
mos processos, paru se~· cálcula.do o_ imposto da I articuladas, não sendo produzidas já entranha·
renda provemente ele Juros ele apol!ces federms, 1 dos no processo. Para melhor exame, antes da
(4)
20-1-43 ARCHIVO JUDICIARIO 77
idêntic~s. embora as pessoas físicas sejan1 clife- f O Sr. Ministro Burros Barreto: - Sr. Pre-
rentcs. Nüo, porém, no caso elos autos. Neste, .oic:ente, dou, igualmente, provimento à apela-
há, apenas, uma situação jurídica semelhante. ção da União Federal, de acordo com os meus
Não pôde haver coisa julgada. São méros prece- votos anteriores, dispensando-me, assim, de adu-
dentes judiciários. A identidade é apenas da re- zir outras considerP.ções.
!ação jur{dica. DECISÃO
Tambe1n devo referir-me aos argum·entos,
sem dúvida muito importantes, expendiclos da Como consta ela ata, a decisão foi a seguinte:
tribuna, quanto à irretroatividacle do dec. !E i Deram provimento, contra os votos elos Srs. Mi-
n. 1.168. Ainda ai, porém, não posso dar ga- nistros r ela to r e revisor.
nho de causa à apelada, pelas razões que acabo Acordão
de expõr. isto é, porque o meu modo ele vêr
Vistos, etc. :
sempre foi no sentido ela tributaliclade elos ju-
Acorda o Supremo Tribunal, pelos Ministros
ros elas apólices. Reconheço, entr"'tanto, que o
com·ponentes da Primeira Tunna, e ele acordo
decreto-lei n. 1.168, não tem clausula retroa-
com os votos proferidos em maioria e constan-
tiva. Com efeito, diz ele, simplesmente, que sera
tes da.t; notas taquigráficas, em dar provimento
cobrado imposto de renda sobre juros de apó-
ao recurso ex-ojjicio e à apelação. custas como
lices, qualquer que seja a data ela sua emissão.
de lei.
Evidentemente, o decreto, ao declarar "qualquer
Supremo Tribunal Federal, 28 de Setembro
que seja a data ela sua emissão", quer referir-se
de 1942. - Laudo de Camargo, Presidente. -
à tributabilidade elos juros ele apólices nas de-
Castro Nunes, relator designado.
clarações de renda posteriores à sua vigência; o
que quer dizer que, a partir da data desse decre-
to, será exigido o imposto em todas as declara-
ções de renda onde haja menção de juros de Agravo de instrumento n. 10.523
apólices; não, porém, em relação às declarações (PERNAMBUCO)
de renda referentes aos exercícios anteriores.
Expropriação pmmovida por um Estado - Ter-
Por col1S€guinte, se eu não tivesse opinião renos de marinha - Interesse da União
anteriormente emitida -- e convictamente emi- afirmado perante o Supremo Tribunal
pelo Procurador Geral da República -
tida - no sentido da tributabilidade dos juros Competência constitucional ào Supremo
das apólices, não daria pela retroação do de- para o recurso - Não conhecimento
do agravo por motivo de natureza pro-
creto, porquanto nele não existe cláusula ex- cesS1UI-l.
pressa nesse sentido. Conforme foí muito lem-
brado da tribuna e consta de acordão unânime RELATÓRIO
de que Jui relator, -é principio pacífico em dou- O Sr. Ministro Castro Nunes (Relator) -
trina - que a. clausula retroativa esteja expres- O Estado de Pernambuco ajuizou em uma das
sa, porque não existe retroatividade tácita. varas clveis da comarca de Recife uma desapro-
Por conseguinte, o decreto-lei n. 1.168 não priação de terNnos possuídos em condomínio,
resolve a questão. O mais que se poderia dizer abrangendo a área expropriancla terrenos de
- e ainda assim de .um ponto de vista relativo marinha.
- é que ele é de carater interpretativo. Será Não tendo feito citar a União, arguirom os
Interpretativo, porém, para aqueles que admitiam co-proprietários a nulidade decorrente dessa
a tributaçã.o; interpretativo não será para omissão e bem assim a incompetência daquele
aqueles que a não admitia1n. juizo, por entenderem que, sendo interessada
Por todas essas razões, mantenho a opinião no feito a União, competente seria o Juizo
expendida em votos anteriores, e, nessas condi- privativo dos Feitos da Fazenda NacionaL
ções, dou provimento à apelação, para reformar Requerida a citação da União, declarou esta,
a sentença apelada. pelo iProcurador Regional, não ter interesse na
O S1'. Ministro ll.nnibal Freire: - Sr. Pre- demanda, declinando de qualquer intervenção
sidente, já tenho opinião conhecida. De acordo nela.
pois, com meus votos anteriores, que me dis- O Juizo, proferindo o des]Xlcho saneador,
pensam de, agora, expencler maiores considera- deu-se por competente e mandou prosseguir.
Ções, dou provimento à apelaçüo ela União Fe- Agravaram os conclominos para este Su-
deral. premo Tribunal, que entendem ser o competente
(7)
80 ARCHIVO JUDICIARIO 20-1-43
para conhecer do agravo, agravo que fundam no Mas, nesta segunda instância, o Exmo. Sr.
art. 842, n. n, do Código do Proc. Civil. Dr. Procurador Geral não 110mologou a a bs-
Nesta Superior Instância o Exmo. Sr. Dr. tenção do Procurador Regional. Afirma o in-
Procurador Gerai emitiu o parecer de fls. 36, teresse da União em termos que equivalem a
que é o seguinte: considerá-la litisconsorte ou assistente a este
equiparado.
"O interesse da União_ no processo poderá
não ser preponderante, mas é real, ao que nos Mudaram assim os termos em que estava a
parece, desde que póde ela exercitar o direito questão da competência deste Supremo Tribu-
de preferência que a lei lhe assegura e como, nal, que, já agora, em face desse parecer. é o
consu1tada a Administração, declinou desse di-! compatente para apreciar o recurso.
reito, assiste-lhe ainda o de perceber o lau- Mas o agravo não me parece cabível. O
demio, como se observa na informação que ora fundamento invocado supõe exceção de incom-
juntamos. pet.ência que haja sido julgada procedente ou
E como tem a União juizo próprio, onde não.
se afóram as causas em que ~la é interessada, A incompetência do juizo se al:gui ou por
parece-nos que, sem embargo do autori~ado pa- exceção ou mediante conflito de jurisdição.
recer de folhas, deve ser dado provimento ao São os meios específicos.
agravo para qUe se processe a desapropriação
Alegada como matéria de defesa na con-
no juizo da União, qi.le prefere ao da Fazenda testação é apreciada em definitivo no julga-
Estadoal, quando figuram na lide as duas en-
mento final da causa em ambo:ls as instâncias,
tidades publicas.
do que decorre que, afirmado o interesse da
Rio de Janeiro, 21 de Julho de 1942. - União como está agora e tomando esta pos;ção
Gabriel àe Rezende Pl18sos, !Procurador Geral no feito, a arguição poderá vir a este Supremo
República.'' Tribunal por via de apelação.
E' o :relatório. Admitir o agravo seria admití-lo fora do
enunciado legal que o permite, o que seria in-
VOTOS compatível com 'a sua natureza de recur~o
stricti juris.
Há duas preliminares a examinar antes de
Meu voto é, pois, para, julgando com-
julgar o agravo.
petente o Supremo Tribunal, não conhecer do
Em primeiro lugar a da competência do agravo.
Supremo Tribunal 'para intervir num.a causa,
como esta, em que a União, citada, declinou de
DECISÃO
qualquer intervenção, alegando não ter inte-
resse. Como consta da ata, a decisão foi a se-
Em segundo lugar a da cabida do agravo. guinte: Não conheceram do agravo, unanime-
A competência constitucional do Supremo mente.
Tribunal, com base no art. 101, li, a só se
autoriza estando no feito, a União como au- Acordão
tora, ré, assistente O).l opoente. Se ela, não
Vistos, etc. :
sendo A. nem ré, declina de intervir quando
chamada a juizo, evidentemente não está em Acorda o Supremo Tribunal, pelos Minis-
causa, não bastando apontar ou demonstr~ o tros componentes ela Primeira Turma, e nos
seu interesse, como Se fazia outrora sob a Cons- termos elos votos proferidos e constantes da&
tituição de 91, onde não se inseria clausula notas taquigráficas, em não conhecer do agravo,
idêntica, sendo indispensavel hoje que ela tome unanimemente.
posição processual na demanda.
Custas J;J.a forma da lei.
De modo que o juiz da causa, aliás cons- Supremo Tribunal Federal, 6 de Agosto de
titucionalmente competente, ele vês q·ue juiz 1942. - Lat~ào de Camargo, Presidente.
de direito da capital do Estado (art. lOS) an·· castro Nunes, relator.
dou cwcrtadamente não acolhendo a arguida in-
competência.
(8)
20-1-43 ARCHIVO .TUDICIARIO 81
·enumerados no artigo 90 da letra "b"; é certo O Dr. Procurador Gerrtl, no lOU\'ccvcl em-
que poderia ser mais claro esse texto, mas não penho de defesa elos interesses ela Fazenda, po3
posso admitir que a concessão de beneficios a questão em pontos de vista absolutamente dife-
·nele outorgada só viesse favorecer a escrivães, rentes elos até então configurados, não só na
escreventes e oficiais de justiça_ sentença ele primeira instância, como no acordâo
Ao revés por força dessa regra é que podmn elo Tribunal superior.
-eles, como os ex-juízes, obter nomeação p·ara Creou S. Ex., com a sua argumentação,
cargos de vantagens equivalentes aos extin- uma situação sem igual para os juizes fede-
tos, sem dependência do cumprimento de for- rais. De acordo com S. Ex., os magistrados fe-
-malidades estabelecidas para o ingresso na car- derais, com prerrogativas de vitaliciedade, ina-
reira de magistratura. a nomeação de cargos movibilidade e irredutibilidade de vencimentos,
administrativos ou o provimento de serventias. que todas as legislações consagravam, viriam a
A disposição do artigo 92 da Constituição
ter, pela Constituição nova, uma situação ver-
_proibindo qualquer atividade ao Juiz em dis- dadeiram·ente no ar, sem ter onde pousar; e sem
-ponibilidade está conjugada à hipotese da le- ter, no caso de qualquer suposta violação de
tra "f" elo artigo 103, da mudança da sécle do
seus direitos, argumento nem texto ele lei al-
Juizo, e, de qualquer modo, não se aplicaria,
guma a que se pudessem abrigar.
sinão aos juízes como tais reconhecidos na vi-
Evidentemente, não -é este, não pod~rá ser
.gênte organização.
este o espírito que tem de presidir a interpre-
Pela mesma razão, considero inócuos os
tação de um caso desta natureza.
:argumentos ligados a átos ordinários, tomados
depois de 1937, em relação a magistrados elo Na verdade, como diz S. Ex., a extinção da
Distrito Federal e do Acre, nos casos de supres- Justiça Federal não decorre da Constituição. Es-
:>áo de suas va.ras (decretos-leis ns. 318, 968 quece-se, porem, S. Ex. de uma consideração es-
<de 1938). sencial. E' que à Constituição atual não prece-
Em verdade, a exposição de motivos, que deram trabalhos preparatórios, de discussão, de
precede o primeiro desses diplomas diz da apli- elabmação, pelos or.gãos legislativos, para conhe-
cabilidade do artL1o 182 da Constituição apenas cimento perfeito e exato que todos teriam do
aos funcionários, mas isso não altera a questão . que se iria transformar em estatuto constitu-
nos termos em que a coloquei, coincident·es, j cional. Por conseguinte, temos de imaginar que
nesse particular, com a invocada opinião do ,. apenas o elaborador da Constituição tinha co-
Consultor Jurícl,ico do Ministério Dr. Fernan- nhecimento de que se devh extinguir a Justiça
do Antunes, que confessa haver orientado o Federal; e, por isso, n&o se referiu, expressamen-
Governo na solução de tal problema, em entre-, te, a ela. Mas perdeu, assim a figura jurídica
vista junta pelo embargante a fls. 27: elo magistrado a sua feição antiga, no sistema
"Quanto ao Juiz substituto dos Feitos da constitucional, sistema que a própria Constitui-
Fazenda Municipal e ao seu prtmeiro suplente çãn respeitou, considerando o Poder Judiciário
dei parecer reconhecendo o direito deles à dis- um poder constitucional, segundo os termos cla-
ponibilidade com vencimentos integrais. ros elo art. 90 das disposições sobre o Poder
"Afirmei que a extinção desse juizo não de·- ·Judiciário.
corria da nova Constituiçao e sim de um decre- Com a devida venta, pois, parece inconsis-
to lei posterior a este estatuto; e sendo assim tente a argumentação, nesse sentido, do ilustre
este diploma veio encontrar aqueles juizes am- Dr . Procurador Geral .
parados pelas garantias de vitalidade inamovi- O voto do Sr. Ministro relator se reportou
bilidade e irredutibilidade de vencimentos". ao que se processou no desenvolvimento ela Cons-
Rejeito assim, os· embargos. tituição de 91. Todavia, S. Ex. se esquece de
O Sr. Ministro Anníbal Freire (Revisor) --: que um dos casos mais memorav.eis, na história
Sr. Presidente, com o meu voto tem de ser di- da magistratura brasileira, foi o referente à si-
vergente do Sr. Ministro relator, permito-me tu ação dos antigos juizes alcançados pelos dls-
a liberdade de, primeiramente, considerar as- positivos da Constituição nova. Tinl1am sido
pectos em que colocou a questão o eminente Dr. postos em disponibilidade e, depois, em conse-
Procurador Geral e, em seguida, referir-me à quência elos termos do decreto n. 2. 056 ele
passagens elo voto do eminente Sr. Ministro Pl1i- 1895 apos·entados nos cangas que e)éerceram ·
1adelpho de Azevedo. , Graças a memoravel aresto - e a todos os ter-
(101
20-1-43 AP.CHIVO .TUDICIARIO 83
mo~ e!GSlt', aliás, não me submeto, po:· espírito de lntcrpretaç:'\o, com a devida vê:1ia, não tem
ele elouuina; mas estou fazcnclo, apenas, 1·emc- c característico de dif-erenciação integral elas
mm·ação, por simples cuidado ele elucidação h1s- normas comuns de interpretação, dês que a ma-
tórica. O Supremo Tribunal determinou que es- téria nele versada não afete ele perto a organi-
ses juizes deviam ser aposentados com venci- zação- J;Olítica estabelecida no estatuto.
mentos integrais, porquanto, postos em dispo-
nibilidade à SU3. revelia, isto lhe era assegurado Nem a doutrina, nem a experiência ampa-
1
pelo espírito ela constituiçüo de 1891 . ram essa linha divisória, niticl1m2nte clemarcrtda,
E acorelão, no qual figuravam nomes como que a altos espíritos SB afigura existir, entre as
os ele Aquino e Castro, Macedo 3oc.res e otltros, forn,as ele interpretação elas leis. Há ele ser
este Pretória, embora tambem nele figurassem, :cempre elo regime americano que irradiarão os
como vetos divergentes, autoridades elo porte ele ensinamentos na matéria, porquanto é nele que
Jos~ Higino e de Ribeiro ele Almeida. O Go- existe o paradigma elo sistema do controle d.a
verno ele Prudente de Morais, sendo /1.maro Ca- constitucionalidade das leis, creanclo, pelo ma-
valcanti Ministro da Justiça, solicitou entáo do nejo dessas peças ele articulação entre os pode-
1JOder competente a abertura de crédito para ocor- I res, o que o então senador Georges Sutherlan,
rer às despesas resultantes desse pronunciamen- depois o grande Juiz Sutherlan, definiu de
to da Justiça. "democracia temperada".
Por conseguinte, o Supremo Tribunal Fe-
No período clássico do judiciarismo norte-
deral, já nessa oc:tsião. havia reconhecido que
americano, predominou sempre o conceito de que
aos magistrados atingielos pela Constituição de
"the establisheel ru!es of construction applica-
1891 cabiam vencimentos integrais.
I ble to statutes also apply to the constructions
Fiz esta rememoração não porque adira à
doutl.1·na de que a aposentadoria, na hipótese, o f constitution. (Tucker, ·constit·ucional Law).
A mesma linguagem se depara em todos os tra-
deve ser dada com vencimentos integl·ais -
tadistas, desde B!ack a Willoghoubly. Os comen-
de resto, tenho voto conhecido no plenário a
tadores alienígenas do regime não tem impres-
respeito da interpretação sobre vencimentos atri-
são diversa. Jacques Lambert deciara categori-
buíveis no caso de aposentadoria por força elo
art. 177 ela Constituição de 1837 --, mas por- camente:
que a verdade histórica é essa. "O Juiz da CorteSuprema, posto que não
Explicado, com a devida vênia, esse ponto, ·possa violar abertamente a letra da Constitui-
passo a ler o meu voto. ção, faz aplicação à lnterpretaçâo das cláusulas
"O caso sujeito à nossa apreciação versa a constitucionais do critério de due process ot
aplicação do art. 182 da Constituição Federal. Za1o, tal como o havia destacado p:na a inter-
A Constituição de 1937 manteve o Poele1· pretação da lei. Due proce.os oj law n'io impli-
Judiciârlo entre os poderes elo Estado. Salvo 1:o cando como na Inglaterra o respeito dos pro-
capítulo atinente à cleclaraçào de inconstitucio- cesses estabelecidos, mas o respeito da substân-
nalidade das leis, não afetou nenhum dos ele- cia dos direitos". (Du controle de constitutio-
mentos que lhe deram tamanho relevo na \'ida nalité des lois ou gouvernement des ju[[es, 2.o
constitucional do pais. Em relação aos juizes, \'Olume, 1937) . Nem é preciso aludir ao movi-
assegurou-lhes as garantias necessárias ao exer- mento da renovação da chamada "jurisprudência
cício de suas funções e tornadas básicas na dou- sociológica", ele que são luminares na alta ma-
trina e na legislaçã-o, salvo as limitações expres- gistratura Holmes, Brandeis, Cardoso, e na pu-
sas no mesmo estatuto. blicística Bound. Corwin e Llewellyn, e à qual
Antes ele tudo, não é de se informar o con- se reporta Oliveira Viana, em brilhante capitule•
ceito de que as cláusulas constitucionais tem dos seus Problemas de direito co1'porativo, por-
de ser interpretadas por um processo peculiar que essa reação se operou contra formalismo,
aos altos e supremos desígnios a que eles visam. inclusive o formalismo no manejo das regras
Justamente por ser a constituição o estatuto ele interpretação.
político por excelência, constitui ele o instru- No caso sulJ judice, a extinção da Justiça
mento mais poeleroso da unidade política, social, Federal não obed~eu à imperiosa r:wfio de Es-
económica c cu! tural ela naçüo. Por isso a sua ta elo nem se articula ~os c2racteristico3 elo novo
interpretaç~o tem de ser orientada por um pro-j Estatuto, que visa sobretuelo ao fort::~lecimento
cesso evolutivo e construtor. :rvras esse processo do pocler executivo.
111)
AHCHIVO JUDICIARIO 20-1-43
Tal extincão resultou da no\·a onmniz~ci"t:J 1 O Sr. Ministro Goulart ele Oli1·cira - Sr.
judiciária, cm;soante a unidade do dir;ito, c~n- I Presidente, acompanho o voto do Exmo. Sr.
sagrado no estatuto. Temos, portanto, de con- Ministro revisor, não só pelos fundamentos dele·
siderar o art. 182 da Constituição à 1uz das li- constantes, como tambem pelos que expendi em
ções da doutrina e de próprio contexto de outros voto que proferi em caso semelhante.
dispositivos constitucionais. O Sr. Ministro Waldemar Falcão - Sr. Pre-
O citado dispositivo não tem, a meu ver, sidente, tenho voto conhecido neste Tribunal
de ser aplicado aos juizes, por vários motivos. sobre a aplicação dos arts. 177 e 182 das Dis-
Refere-se ele a funcionários da Justiça Fede- 1 posições Transitórias, da Constituição de 1937,
ral. Tal termo tem de ser entendido de acor- aos magistrados.
do com as regras uniformes do direito aplica- Com relação ao art. 182, ao se discutir essa
vel. Não se pode negar aos membros do Poder tese na T,urma, mantive o critério, já então as-
Judiciário a qualidade de servidores do Estado', sentado em meu espírito e externado em diver-
mas o que a doutrina, a legislação e a jurispru- sos julgados, neste Tribunal, relativos ao art.
dência lhes negam é a incorporação aos fun- 177. a respeito do qual já me pronunciára ca-
cionários públicos, na acepção adotada na té- balmente em casos de que fui relator - no sen-
cnica do direito administrativo. tido de que o referido dispositivo, de natureza
temporária, e·ra cristalino e iniludivel no se1t
A própria Constituição, sempre que se refere
texto e na sua aplicação.
aos membros do Poder Judiciário, designa-os por
juizes (arts. 91, 92, 93 e 103). O art. 93, par2. Como muito bem salientou o Exmo. Sr. Mi-
o efeito de competência na concessão de li- nistro relator, em: seu brilhante voto, há per-
cenças, faz a descriminação entre membros do feita adequação do dispositivo do art. 182 aos
Tribunal, juizes e serventuários. magistrados. S. Ex. trouxe, com muita pro-
priedade, exemplos históricos tirados da época
Com a devida vênia, não me parece fulmi-
em que se fez a revolução ele 15 de Novembro de
nante o argumento de que, tendo o art. 182
feito referência ao goso da garantia de vitali- 1889, da qual resultou a implant1ção do regime
ciedade, deve ser ele terminantemente aplicado republicano, pass_ando-se então do regime mo-
aos juizes. Da mesma garantia gosam outros ser- narquico para uma nova ordem de causas. Nessa
vidores da Justiça e só a estes se d·eve referir o ocasiãa, a mietanção adotada. pelo governo foi
dispositivo. a que muito bem esboçou S. Ex .. assinalando
Há, porem, uma razão em favor do ponto que, na verdade. se tratava de uma contingên-
de vista adotado que sobreleva aos demais. cia pclitica inevitavel, que forçava o Poder Pú-
blico a adotar tais medidas excepcionais com
A própria Constituição de 1937 admite a
r-elação aos magistrados, até então, e como de-
disponibilidade com vencimentos integrais para
pois o foram, tratados com o respeito, com o aca-
o juiz, que em caso de mudança de sede, não
tamento e com as garantias a que o seu elevado
queira acompanhá-la, faculda'de de que pode
munus fazia jus.
usar sem limitações. (Art. 103, letra f) . Dir-se-á
Na hipótese vertente, não preciso estender-
que esse dispositivo visa a evitar a reprodução me em rrmiores argumentos para demonstrar
de medidas. que, para castigar juiJzes, eram por
que não se pode recusar ao magistrado a deno-
vezes tomados por dirigentes arbitrários e ines-
minaçáD de "funcionário", embora a essa de-
crupulosos. Mas, se num caso em que ao juiz
nominação 5ü empreste, em geral, conceito mais
fica pE'rmiticlo opor-se à deliberação do Poder
terra a terra e seja ela geralmente entendida
Executivo, assegurando-se-lhe disponibilidade,
como se referindo aos servidores propriamente
sem perda das vantagens pecuniárias ligadas ao
burocráticos da Naão.
cargo, como imaginar que à mesma figura ju-
O magistrado n·:io é, evidentem-ente, um fun-
rídica de clisponibilidacle seja dada situação di-
c:onárlo comum, um funcionário igual aos <!e-
ferente, em hipótese em que o juiz não tem mais, mas é, ainda assim, um funcionário.
qualquer manifestação de vontade'! Nüo preciso recordar aos eminentes colegas
Pelo exposto. recebo os en1 b;Jx.;os, para re- a C:i;,tinção qu2 os tratadistas 1Ttais notayt:is tra-
formando o acordfi·CJ recorrido, restabelecer n c;nn1 no tocanLe ao funcionali::;nlo público. Fiel-
senten~;rt ele prin.1~1ra instúncia, qnc julgou a açüo i cionâl ia público é todo o servidor (\o Est:.\do.
}.U'ocectonte". I Conto serviclor elo Estaclo, a nntur;;za rLt ativi-
!12 \
AHCII!VO .TCDIC!AniO
-----~--··----
C Sr. Ministro Annibal Freire (Revisor) O Sr. Min.istro Walclemar Falcão - Mas,
Como V. Ex. al ucle ao professor e nós fomos quando a Constituição cogitou da extinção ela
pro~essores, per.:;unto eu a V. Ex., no caso ele Justiça Federal, não criou nenhuma excepção
extinção ele uma cadeira, no magistério superior, em relação a juízes; tratou "funcionários"
desapareceria a função do professor atingido? tão som'ente: E em bôa técnica administrati-
Como se lhe daria a disponibilidade? va, em direito administrativo contemporãneo,
O Sr. Ministro Waldemar Falcão - A mi- ecmo acabo de mostrar, não se pode tirar elo
nha· resposta ao aparte com que 1ne honra o no- Juiz a sua característica de funcionário, embo-
bre colega é a ele que não se poderia alterar a ra que emprestando-lhe um carater eminênte,
remuneração do professor, no caso de ele ser ele diferente, peculiar, que o distingue nitida-
posto em disponibilidade. mente, dos demais funcionários públicos. Não
O Sr. Ministro Annibal Freire (Revisor) vejo pois, como se possa compreender o artigo
Trata-se ele vencimentos integrais. 182 da forma por que o entende o meu eminen-
te colega Ministro An-nibal Freire.
O Sr. Ministro Waldemar Falcão - Entre-
tanto, minha resposta não aproveita ao argu- Nessa ordem de idéias e reafirmando o
mento que S. Ex. imagina. porque, no caso, ponto ele vista em que me coloquei na Turma,
existe uma disposiçã() taxativa da Carta de 10 ao discutir esta tése, não tenho senão que
de Novembro de 1937. acompanhar o voto tão brilhantemente justifi-
Tal disposição taxativa, cogitando de r2me- cado, do Sr. Ministro relator, rejeitando os em-
diar a situação criada com a extinção da magis- bargos.
tratura federal deu a essa extinção as conse- O Sr. Ministro Orozimbo Nonato - Sr.
quências traçadas no art. 182, já citado. Se Presidente, recebo os embargos. Neste mesmo
não houveses esse dispositivo tão claro, tão cris- caso - ou em caso idêntico - já expus, de
talino, eu não· teria nenhuma dúvida em seguir modo sucinto, o que entendo a respeito cl2sta
a diretriz do voto elo Sr. Ministro Annibal !'oexata quaestio, que ainda não encontrou so-
Freire. lução uniforme nos tribunais.
O Sr. Ministro orozimbo Nonato - O que se Quer o arti·;o 182 - assento legal da ma-
discute é ,se se aplica o art. 182 aos juizes. téria, como salientou, em seu brilhante voto
O Sr. Ministro Annibal Freire - Este é o o Sr. Ministro Annibal Freire - .seja inter-
.o único ponto. pretado à luz do que se chama '·jurisprudên-
O Sr. Ministro Waldemar Falcão - Eu nfto cia sociológica", quer seja visto á luz da her-
teria nenhuma dúvida em seguir a opinião elo menêutica comlun, conclue que o m·encionado
Sr. Ministro Annibal Freire, aplicando o cri- artigo nfl.o atinge o.s magistrados, não compre-
tério da remuneração integral, si não houves- ende os juízes da extinta Justiça Federal.
se tão claro L•xto ela Carlll Política ele Hl37. .N~l.o estú. e1n jogo a intesrid~Llic ch:J :10\·0
Agora inclo :1o f'llC'Ontru cio aparte elo Sr. ~'li sistr·1na politico e l'L)llstitucional, qut' nl~:.ntt:·d:~
nistro Orusimbo Nonato, li<'YO :1C"Plltllclr que n:-Lo 11() particuLu· de que s.c trJ.ta. p_Hltt:~tl .....-,..<J.ll.0u-
I 13)
SG AHCHIVO JCDICL\HIO 20-1-43
cia a uma tradição do nosso Direito, quz lança De nwc!o que a procura, a pesquiza clrt
raizes nos primordios d·e nossa organização po- "mens legislatóris" - que, aliás, não é o cri-
lítica. tério mais sábio, para a inteligência das leis -
Por outro laclo, a constituição meoma, em ainda essa pesquisa me levaria, data venia, a
seus. próprios dispositivos, ampara o direito do afirmar esEe principio, pelo motivo, de que
embargante. A invoca-ção de leis anteriores não se _pode atribuir ao elaboraclor da Consti-
serve apenas de mostrar que se trata, no caso, tuição o propósito de retirar uma garantia tão
de uma idéia inserida em todos os sistemas importante sem se exprimir de modo induvi-
politicos, de uma preocupação comum aos le- davel, completo e cabal.
gisladores de todos os regimens. Sempre se deu O argumento apesar da alta autoridade de
aos juízes membros de um dos poderes comJti- onde pr01nana, não convence e, como não se
tucionais do país um conjunto de garantias que póde atribuir ao legislador uma contradição
refletem a importância de suas funções e cons- evidente: dar garantias e rettrar garantias,
tituam meio indispensável ao decoro e indepen- usando nessa denegação de garantias ele uma
dência do Poder Judiciãrio. palavra equívoca, recebo como disse, os embar-
Esta tradição é invocada apenas para mos- gos, reportando-me, data-venia, aos meus vo-
trar que não houve entre as leis antigas e a tos anteriores, em casos idênticos.
atual qualquer solução de continuidade. Não. O Sr. Ministro Castro Nunes - Sr. pre-
O Estado Novo conservou aqui a tradição dos sidente, sinto verdadeiramente não poder ade-
1·egimes antigos, e expressamente, em disposi- rir aos votos favoraveis ao a·mparo da situação
tivo constitucional, garantiu aos magistrados a do embargant=, aos votos manifestados e bri-
inamovibilidade, a inclemissibilidade e irrecluti- lhantemente fundamentados, pelos nossos emi-
·bilidade de vencimentos. Foi a necessidad.e de nentes colegas Srs. MiniStros Annibal Pr·eire,
unificar a Justiça, no plano ela Justiça estadual, Orozimbo Nonato e Goulart de Oliveira. Mas,
que levou a Constituinte à inelut<tvel contin- tenho necessidade de colocar o meu ponto de
gência de extin}uir a Justiça Federal. Extin- vista dentro de um quadro de idéias, de man-
gui-la, mas serrr quebra do principio, proclama- ter, não tanto por amor à coerência, mas por
do pelo próprio constituinte, da irredutibilida- efeito mesmo dessas diretrizes, c-erta confor-
de dos vencimentos. O que, pois, data-venia, midade na solução de hipóteses mais ou me-
se deve concluir é que o artigo 182, ao se re- nos vinculadas à proteção ou à garantia dos
ferir aos "funcionários da Justiça Federal", não direitos da Magistratura.
abrange os juízes. Sem necesEidade ~e maiores indagações,
E' razoavel raciocin:Jr que, si fosse esse o ainda porque já vai adiantada a hora dos nos-
seu 'desejo, teria ele dito os "funcionários, in- sos trabalhos, - ao enunciar o art. 182 -
clusive juízes", ou, então os "juizes e demais que é, a meu ver, o que resolve a questao - a
funcionários". Se a Constituiç-ão ao se referir disposição kansitória em virtude ela qual os
a juizes diz, expressmnente, e sempre, juizes ou funcionários ela Justiça Federal, não aprovei-
magistrados, não poderia ao cercear um direito tados na nova ordem de coisas, seriam aposen-
consagrado em longa tradição jurídica, usar do tad0'3, sendo vitaliícios, se tivessem mais de 30
termo vago "funcionário". anos ele serviço, com vencimentos integrais, e
Que o Juiz não é funcionário, a não ser j os que tivessem menos de 30 anos ficariam em
em sentido amplo, todos concluem; em que nao , disponibilidade até serem aproveitados, confe-
.seja furu:ionãrio público, strictu sens•u todos !riu ao embargante, que não contava 30 anos
conspiram. E' ele servidor elo Estado, mas esse de serviço, a situação de Juiz em disponibili-
servidor, não é aquele funcionário a quem o ar- dade, situação regid-a, pela segunda parte do
tigo 182 nã-o reconhece a irreduzibilldade dos dispo:oitivo. Ainda há 'pouco, da Tribuna, o
venciln'.:ntos. ilustre advogado do embargante recordou voto-
O Sr. Ministro A,nnibal FreiTe - Basta ter meu - e, aliâs, é ponto pacifico: "funclonárie>
garantias especiais, para não ser incluído no em dispo:nibilidade" conserva, em potencial a
quadro geral. função de que foi afastado temporari(l,mente.
O Sr. Ministro Orozimbo Nonato - Por porquanto poderá a ela voltar e será obrigado-
que então e para o efeito de negar uma garan- a voltar, quando chamado para a mesma fun-
tia constitucional, enquadrá-lo no critério geral ção ou função equivalente; não se equlpGra,
de "funcionário"? . portanto, Sr. Presidente, a situação elo fun-
(14)
20-1-43 AHCHIVO JUDICIARIO 87
cionúrio em clisponibiliclaclc :'t daquele que é 1 O SI. Ministro Orc;âmbo Nonato - No ar-
aposentado. A garanlia da irredutibiliclacle, tigo 177 visa-~e a outro objetivo: é o de afas-·
que eu tenho entendido, nos casos de juizes de tar elementos contrários ao regime apreciaclo·
Mato Grosso, que não Ge aplica aos juizes apo- pelos Juizes e se refere, até, a militares, que
sentados - porque elo seu natural a aposen- não são funcionários. Não creio que sejam
tação envolve a proporcionalidade que é a re- Iguais os dis~ositivos.
gra legal - aplica-se aos juizes em clisponibi- O Sr. klinistro Castro Nunes _ V. Ex.
!idade, exatamente .porque não se lhes retira a encontra na Constituição - não tenho clG me-
função, senão temporariamente, função qne vir- mória, mas no capitulo relativo a "funcioná-
tualmente conservam. Eu lhes clo.ria, portan- rios públicos". a palavra - "funcionários''
to, os Yencimentos integrais se não houvesse mais de uma vez empregada em sentido com-
diSposição expressa ele lei. E ele que lei? Da preensivo ele todos os servidores, inclusive ma~
própi-ia Constituição. gl~traclos. Quando a Constituição diz, num.
Não saio elo princípio doutrinário, não pre- nos seus artigos, sob rubrica "Funcionários
ciso modificar o meu voto claclo no Tribunal Públicos" - que o fl.mcionário que se invali-
de Contas e há pouco recorclaclo, por que tenho dar para 9 serviço, têrá ...
de atencler ao preceito constitucional que, ex- O Sr. Ministro Annibal Freire - (Revisor)
pressamente, determinou que aos juizes fe- Mas, compreendido o pensamento legislativo, o
derais postos em clisponibilidade seriam dados :pensamento constitucional foi completado pelo
vencimentos proporcionais ao seu tempo de Estatuto elos Funcionários Públicos, do mesmo·
serviço. Governo que elaborou a Constituição de 1937.
Desse Estatuto foi expressamente excluido·
De moela que existe exceção expressamente
o Poder Jud1ciario.
prevista na lei constitucional, para determinar
O Sr. Ministro .-:,•astro Nunes - Não estou
a prDt.oorc!onalidacle, isto é a disponibilidade
contestando, meu eminente colega, a distinção
i:om vencimentos proporcionais, solução que
que V. Ex. brilhantemente, fez.
não preciso aplaudir e não aplaudiria, solução
O Sr. Ministro Annibal Freire (Revisor)
que contraria a noção mes.ma ela disponibilida-
Não 'é es~e o ponto.
de, nos termos expostos, solução injusta para
O Sr. Ministro Castro NwLes - Estou de.
com os juizes ela Justiça extinta, mas que o le-
inteiro acordo com V. Ex. nesse ponto.
gislador ela Carta ele 10 de Novembro expressa-
O Sr. MinistTo Annibal Freire - (Revisor)
mente o. dotou.
V. Ex: se refere ao capítulo da Constituição-
A outra tése levantada da Tribuna - e
relativo aos funcioná.rios, que não se aplica aos
nos embargos - e r\;latlva à distinção entre:
juizes.
juizes e funcionários, é outro ponto paciüco,
do qual não preciso afastar-me, porque eu ado- O Sr. Ministro Castro Nunes - :?erdão.
I
to, como não é possi vel deixar ele adotar, a dis- V. Ex. vai concordar comigo. Quando a Cons-
tinção entre Juizes e funcionários: o Juiz não tituição cliz que o funcionário, que se invali-
é funcionário senão latu sensu, mas latu sensu dar por acidente ocorrido em serviço, será apo-
até o Presidente ela República o é. O Juiz não sentado com vencimentos integrais, pergtmto
é funcionário, senão funcionário latu senstt - eu: o juiz, invaliclaclo por acidente no exercí-
é membro do Poder Judiciário. São distinções cio de suas funções, não terá tambem, direito
conhecidissimas e sobre as quais não preciso aos vencim·entos integrais do cargo que exer-
lns!stir. cia?
Mas, no caso, ainda aqui, repetindo as pa- O Sr. Ministro Orozimbo Nonato - E' para.
lavras iniciais do meu voto, acho que não te- o efeito da garantia.
Ilha nocessicl.ade senão de me cingir e.o precei- o Sr. Ministro Ca.stro Nunes - Trata-se
to do art. 182, porque quando no a.rt. 182 se de uma disposição geral elo capitulo que se re·-
emprega a palavra "funcionários da Justiça Fe- fere aos funcionários públicos, sem menção
dera!" emprega-se em sentido amplo e com- expressa dos magistrados.
preensivo dos magistrados, à semelhança de Estou lembrando argumentos que se en-·
outros preceitos da mesma Constituição, à se- contram na própria Constituição, e, aliás, in-
melhançà do art. 177, anele tambem se empre-~ cidentemente, pois não desejava chegar a esses
ga a mesma palavl'a na acepção genérica de aspétos, para não prolongar o 1neu voto.
'"rv!dores. E' um exemplo entre n1.uitos.
ll5j
88 AnCHIVO .TUDICIAniO 20-1-43
Perdoem-me VV. Exs., estar atropeland.o I Há outro aspecto, apontodo, com muito bri-
·os argumentos. lho, pelo Sr. Ministro Annibal Freire, em seu
Ia dizendo que existem, na Constituição, exaustivo voto sobre a matéria., secundado pelo
certas diEposições excepcionais que se aplicam Sr. Ministro Orozimbo Nonato, a que me ren-
ao ca·w. O princípio, a regra pacifict\. () " dis- deria pelas perspectivas que apresenta, no
tinção: o juiz não é funcionário públco sinão ~entído de uma construção constitucional
lato s~nsu. Tais disposições excepcionais, ,po- que pudesse superar a letra dos textos
rem. sob1'etudo aquelas duas disposições tran- para encontrar um sentido mais alto na so-
sitórias, Eão de caráter compreensivo, de in- lução de todas essas questões, sob uma form-:1,
tuitos claram·ente aompreensivos de todas as superior que o novo regínle não alterou, como
modalidades da função pública. V. Ex. mBs- ficou bem salientado.
mo lem.brou, ainda há pouco, o art. 177, que
Com ele eu estaria de acõrdo, seria capaz
abrange, tambem, os militares.
de aderir a esse ponto de vista se nãq estivesse
E' fato.
em causa disposição transitória, que me pa-
Nessas condições, sou forçado a adm.itir na
rece impossível trazer à colação, para o efeito
expressio "funcionários da Justiça Federal" s
de construir uma doutrina. Na verdade, a dis-
inclusão, tambem dos juizes.
posição transitória é, por natureza, suspensão,
Aliás, se o legislador constitucional tivesse dí.1pensa de princípios da Consti.tuição. Le-
querido restringir, teria usado de expressão gisl·:t-se, transitóriamente, para dispensar na lei;
mais própria, para designar os escrivães e ou- legisla-se, transitóriamente, para suspender a
tros auxiliares de justiça da expressão consa- execução de alguma disposição permanente.
·grada de serventuários·, o que levaria a excluir Quando o legislador legislou sobre a situação
os juizes. dos juizes nos arts. 177 e 182, o fez exatamente
De modo que, usando da expressão "fun- porque esses. juizes tinham garantias de fun-
cionários da Justiça F'edera,l", ele quiz abran- ção e o legislador quiz, justamente, dispensar
ger os juizes e os servéntuárias que são tam- tais garantias, para permitir o seu afastamento
bem funcionários. pela aposentadoria ou disponibilidade não re-
Não dispondo de tempo para examinar ou- munerada integralmente.
·.tros aspétos da matéria.
Não pod·eria a;derir e nem o ju!go necessá- Sentiria certa dificuldade em construir com
rio a todos os argumentos expendidos, bri- base numa disposição transitória que é uma
lhantemente, pelo Dr. Procurador Geral; mas disposição de exceção.
adiro, pelo menos, a um deles que me :parece Não fõra isso e eu estaria com os colegas
conclusivo e merece adesão. Refiro-me à afir- porque tambem sinto a necessidade de desen-
mação de s. Ex. de que se não não fora o ar- volver as garantias da magistratura, desenvol-
tigo 182 da Constituição, os juizes não .pode- vimento que nâo repugna ao atual regime e
>'iam ser aproveitados em outras funções, por- , que é condição básica de todos os regimes li-
que seria essencial o concurso para o ingresso vres.
-em outra investidura, mostrando com esse ar- Eis os fundamentos que me levam a re·
gumento que o dispositivo visou, não somente jeitar os embargos.
·os escrivães, mas tambem os juizes. O Sr. Ministro Laudo de Camargo - O
o outro argumento não me par~ razoa- art. 182 da Carta de 37 só alude aos fUncio·
vel, dat'' venia. De fato, ainda que a Consti- nários da ,Justiça Federal e não aos juizes.
tuicão não tivesse cogitado da situação illter-
A estes o legislador constitucional deixou
te~poral dos juizes, ficariam eles· amparados
garantida a irredutibilidade dos vencimentos.
no tocante ás garantias da função, pela legis-
lacão ordinária. Julgo que o art. 182, nos ter- Do contrário. um
dispositivo estaria brigando
m~s em que está concebido, é o suficiente com outro.
para resolver a questão, já JJOrque a expressão Se no caso de sínlples mudança da sede
"funcionários" está, aí, empregada em seu sen- do juizo, ficou foacultado ao juiz não o "acom·
tido mais amplo e compreensivo, já porque a panl1ar" e "entrar em disponibilidade com ven·
situação de disponibilidade está, expressamen- 1 clmentos integrais" (Const. art. 103 letra "f''),
te, regulada com a cláusula da proporcionali-~ maior razão lhes assiste para tais vencimentos,
dade. quando houver extinção d,o cargo.
(16)
20-1-43 ARCHIVO JUDIClARIO 89
peição que lhe fora oposta p•2lo querelante. ex- tm flmclamento na letra "c", n. III. elo art. 101,
cedeu o prazo de 48 horas, fixado em lei, para da Carta Constitucional. Por ele cabe recw·so
rejeitá-lo, contando, como deve ser, tal prazo extraordinário "quando se contestar a validade
de minuto a minuto; mas, considerando que do~ de lei ou ato dos governos locais em face da
autos consta, e o próprio querelante reconhece Con!>tituição, ou de lei federal, e a decisão do
que a suspeiç~o arguida foi ter às mãos ·do que- tribunal local julgar válida a lei ou o ato im-
relado a 12 de Fevereiro ... e por ele foi des- pugnado". Ora, a decisão de que se recorr·2U e
pachado a 14 seguinte, o que estabelece a pre- que acabou por determinar o arquivamento da
sunção de ter sido a suspeição rejeitada dentro
queixa, apresentada contra o Juiz de Rosario
de 48 horas ... ; considerando que ao querelante,
Oeste não tinha que enfrentar e resolver - •2,
por seu procurador, cabia fiscalizar o processo,
na verdade não resolveu - qualquer questão
reclamando a tempo contra qualquer d•emora ... ;
relativa à validade de lei ou ato elo governo local
considerando que as demais alegações já foram e1n race da ConstitUição.
apreciadas pelo Tri·bunal ao tomar conlhecimento O que o TrHmnal decidiu e lhe fora pro-
da suspeição... Julgada improcedente; conside-
posto foi a questão relativa a uma queixa con-
rando que a acusação ... com referência às tes-
tra um. Juiz que, em um proce3so de suspeição,
temunhas ... as quais foram ouvidas pelo que-
teria incidido na hipótese prevista no art. 319
relado, é .de todo inlprocedente, conforme acen- do Código Penal, verbis: "retardar ou deixar de
tua. . . a douta Procuradoria Geral do Estado; praticar, indevidamente, ato de ofício ou prati-
considerando que a resposta do acusado, por cá-lo contra expressa disposição da lei, para sa-
sua serenidade e clareza, convence da improce- tisfazer interesse ou sentimento pessoal".
dência da queixa ... ; considerando qu2, nessa
hipótese é de ser pelo relator propost o· · ' o ar-~ E' certo que ' ao propósito deste recm·so. pro-
quivamento ' do processo, nos termos d o art . 559 cura o recorrente suscitar a questão da incons-
do Cód. Proc. Penal; ·consi d erru1 d o que expust a titucionalidad2 do .provimento de um do.s desem-.
a matéria... !Pelp relator, tfm. pe1o Tr'b 1 una1 1 bargadores
_ do Tr1bunal de onde se origma o
aceito o ... arquivamento do proce;;so, nos· t ·2r- "acordao". recorrido. . _ Só o fez, entretanto,
_ de-
mos da lei. . . Por estes fundamen t os. . . acor d am pois da 1nterpos1eao" do recurso, nao havendo,
determinar o arquivamento do processo ... " a respeito, qualquer pronunciamento daquele
Tribunal. E não havendo este. no caso dos au-
O "acordão" é de 8 de Maio de 1942 · Não tos, tido ens~jo de examinar a quesj;ão, é claro
encontrei nos autos certidão de intim!ição ou e clar!ssimo que não julgou válido ato ou lei
de que fosse o acorclão, em seu resumo, publi- do governo local em face da Constituição ou
cacto no orgão oficial do Estado· Em 27 de Maio, lei federal e que perante ele fosse impugnado.
manifestou o querelante recurso extraordinário, Não ocorre, assim, à evidência, a. hipótese da
na base das letras "a" e "c" do art. 101, n. III, letra "c" aludida.
ch Constituição Federal. por entender que 0 Quanto à letra "a". Indica o r·ecorrente
Tribunal se acha composto ilegalm2nte - nele como leis ofendidas em sua literalidade mesma
figura v a, como representante ela classe dos ad- os arts. 41 e 43 do Cód. do Proc. Penal que
vogados e do M. P., o Dr. Albano Antunes de dispõem, o prinleiro os requisitos da queixa -
Oliveira, ex-Juiz Federal e que não exercia a exposição do fato, qualificação do acusado, clas-
8-dvccacia - e que a decisão ofende a letra dos sif!ca.ção do crime e, quando necessário, o rol
arts. 41 e 43 do Cód. de Processo Penal. O re- das testemunhas - e o S·2gundo os casos de re-
curso se acha arrazoado a fls. A Procuradoria jeição - não constituir o fato crime, ext!nçl1o
Geral da República opinou para que se não da punibilidade, manifecsta ilegitimidade da par·
conheça do recurso, tendo em vista o parecer te ou ausência de c~ndição legal para o exer·
ele fls. 55-58, da Procm·adoria Geral do Estado. c!c!o da ação.
Passo, com •2ste relatório, os autos ao 'Exmo. Sr · O "acordão" nada enunciou ou decidiu, <11·
Ministro Revisor. reta ou indiretamente contra o .que dispõem tals
Rio, 14 ele Setembro de 1942. - Orozimbo aJ.'It!gos. Apenas, aplicou o art. 559 do mesmo
N ona t o. Código e que versa, exatamente, os processos de
VOTOS
I competência do Supremo Tribunal e dos TribU·
_
nals ele Apelacão:
o Sr. Ministro Orozimbo Nonato: - O re-
I "Se a resposta ou d•efesa prévia l1o r,cusaao
curso extraordinário ele que :se trata não encon- convencer da improcedência ela acusacâo, o re·
(18)
20-1-43 ARCHIVO .JUDICIARIO 91
!ator, proporá ao Tribunal o arquivamento do •2m sua interposicão, o prazo estatuiclo pelo a!-
processo". tigo 864, do vigente Código de Processo CiviL
E as razões da convicção da improcedência Condição primordial para a admissão desse
da queixa apresentavam manifesta consistência. a1Jelo, b.á de ser a observância do limite de pre-
Se o escrivã.o negou â parte a certidão a clus!J.o do direito de exercitá-lo, tal corno o es-
que o queixoso s-e refere, peclida verbalmente, o tabelece a nossa J.ei processual.
requerimento ao Juiz é que poderia definir a
E não estando provado, sequer indiretamen-
atitude deste e a sua recusa injustificada.
te, que foi o recurso manifestado dentro do ci-
Só então seria caracterizavel a acão ou omls- - d
· c1o 1ega1 , na.o po e ser o mesmo objeto de exame
são do Juiz para satisfazer interesse ou s·enti- . . Tr"b
, por •est·e E greg10
I
1 una1, que a
t a respeitu há
1
I
menta pessoal, na forma do art. 319 do Código firmado jurisprudência expressiva.
Penal. 1
Quanto a não haver o próprio Juiz suspe1- Por outro lado, não há como entender de
tado ouvido as testemunhas apre5entadas pelo contrária aos dispositivos legais citados pelo re-
suspeitante, nada tem o ato de ilegal e anteh corrente uma decisã.o da ·Justiça local, formada
0 seu procedimento orna com a lógica juridica com elementos circunstanciais examinados pelo
e com a doutrina mais razoavel. E sobretudo legislador estadual â luz da prova dos autos,
com 0 art. 187 do Código do Processo Civil. posta em confronto com os textos d-e lei que re-
gulam a matéria da imputação delituosa de que
contra ele ainda se arguia haver excedido foi inculpado 0 recorrido.
o prazo de 48 horas para os efeitos do artigo 187
citado. Destarte, quando mesmo deficiente não fora
Mas, a prova do.s autos aparecia logo, co11~ a instrução do presente recurso extraordinário,
trária â asseveraçã-O do queixoso. ainda assim dele não devera tomar conhecimen-
Os artigos de suspeição foram oferecidos em to esta Colenda Corte, por não ter adequação
12 de Fevereiro e 06 autos despachados em 14, nenhuma a espécie vertente aos incisos do ar-
dois dias depois. Não estando assinaladas a horu tigo 101, n. III, da Carta Constitucional v!-
da entrega ao Juiz dos autos e da devolu({âo au
genre, invocados em seu prol pelo recorrente.
cartório, a presunção, que não foi afastada, é a Votu, pois, pelo não conhecimento do re-
que milita em f·avor da regularidade dos autos. curso em questão.
O Tribunal, enfim, â luz das provas de qm: O Sr. Ministro G<Julart d.e Ol'iveira: - Sr.
desde logo dispunha, convenceu-se da improce- Presidente, não conheço do recurso, de acordo,
dêncla da queixa e assim decidiu, com funda- porem, com a funda;mentação do voto do Sr. Ml-
mento em lei, e sem violar qualquer dispositivo, nistro Orozimbo Nonato.
qualquer norma oNn sua própria superfície verbal. 0 Sr. Ministro Bento de Faria: _ Sr. Pre-
Outro motivo dado para não conhecer do sidente, não conheço do recurso, nos termos do
recurso é a ausência ele prova de sua tempesti- voto do Sr. Ministro \Valdem.ar Falcã.o.
vldade. O que, a respeito, al·ega o Dr. Procm·a-
dor Geral do Estado é, realmente, 0 que tem 1 O Sr. Ministro José Linhares (Presidente) :
1
orientado a jurisprudência deste supremo 'I'r!- Tambem não conheço. de acordo com o Yoto
bunal. do Sr. Ministro Waldemar Falcão.
Neste ponto, entretanto, tenho divergiao, DECISÃO
data-venia
Como consta da ata, a decisão foi a seguinte:
Entendo que, na falta de prova, ainda cir-
Nilo tomararn conhecimento. unanimeme:lte.
cunstancial, de ser o recurso tardio, pre:mme-se
que haja sido manifestado em tempo habil. Acordão
Não conheço, pois, do recm·so pelos pl'imel-
ros fundamentos. Vistos, relatados e discutidos est·es autos
O Sr. Ministro Waldcma1· Falcão: - o re- n. 6. 279, de Mato Grosso, recurso extraordinário
eurso acha-se deficientemente instruido, eis que em matéria criminal, recorrente Hermenegildo
se não encontra nos autos nenlnun elemenw Corrêa Galvão, recorrido o Juiz Dr. Alirio c e-
por onde se possa induzir a sua tempestividade. sario ele Figueiredo.
Com efeito, não é possível aclm.itir um re-I Acorda o Supremo Tribunal Federal. s:·c;un-
curso eJo.'traordinárlo em que se não possa ver!- I cia turmcl, intcgraclo neste o relatório cie fls. e
ficar do processo respectivo haja sido obscn·aclu, I n:t conformiclacle das notas taquigrc\ficas :Fe~c-
119)
92 ARCHIVO JUDICIARIO 20-1-43
dentes, a1ão ton1ar con11ecimento do recurso. potecas "privativos, unos e indivisíveis". como
Custas na forma da lei. está no art. 8 do dec. 370 de 2 de Maio de
Rio, 13 .cte Outubro de 1942. José Li- 1890, não alterado, nesse particular, pela !e-
nhares, Presidente. Orozimbo Nonato, re- glslação posterior.
lator. O Tribunal de Apelação, entretanto, refor-
mou a sentença e julgou válido e constitucio-
nal o decreto. Este não legislou - decidiu o
Recurso extraordinário n. 4.965 Tribunal - sobre registos públicos, nada dis-
(BAHIA) pondo sobre competência e atribuições do ofi-
ela!, organização de cartórios, ordem de servi-
Recurso extra.ordinário. Menção da lei, que o co e sua execução etc Apenas dentro na
autonza. • ' · · s
1
O poder privativo da União c:e le- suas atribuições, dividiu o município em duas
gislar sobre registos públ~cc:s. não coli· cir'Cunscrições territoriais para os efeitos do re-
de com o do Estado de dwtdtr seu ter- .
ri tório para os efeitos dos registos. grsto de imo v eis. Çonsiderou ainda que o desdo-
A vitaUciedad·e não limita, inteira- bramento do ofício de reooisto está previsto nos
mente, a faculdade, que assiste ao Po- . " .
der PúbUco de alterar a organização decretos 18.542 de 1928 e 4.857 de 1939 (artr-
dos serviços públicos, ampliando e re- go 36), podendo o Estado subdividir geografi-
duzindo encargos e proveitos e C:rividin-
do ofícios de justiça. camente seu território para o efeito desses des-
dobramentos.
RELATÓRIO Por outro lado, o decreto não atingiu a
O Sr. Ministro Orozim,bo Nonato - Jorge vitaliciedade a que se refere o autor, que não
Constantino Grego, oficial do Registo Geral de tem vencimentos irreduziveis, como os juizes.
!moveis e Hipotecas na comarca de Itabuna, Manifestou, então, Jorge Constantino Grego,
Estado da Bahia, propoz ação para anular o em tempo hábil, recurso extraordinário, na base
decreto estadua~ n. 9. 732 de 19 de Agosto de do art. 101, n. III, letra a) da Constituição de
1935, por força do qual foi aquele municí- 1937.
pio dividido em duas circunscrições territoriais Razoaram as partes. Nesta instância, assim
para os efeitos do registo de !moveis. se manifestou a Procuradoria Geral da Repú·
blica, por orgão do Dr. Luis Gallotti, em pa·
·Segundo o autor, o ato de que se trata
recer que teve a concordência do Exmo. Sr. Dr.
ofendera preceito da Constituição de 1934, ar-
Gabriel Passos, Procurador Geral:
tigo 5, n. 19, letra a) que atribui à União com-
petência privativa para legislar sobre registo3 "Preliminarmente, o recurso parece-nos ca·
públicos e fere os arts. 8 e 9 elo decreto fe- bivel, com base na alínea c do art. 101, n. III
deral n. 370 de Maio de 1890 que afirmam a in- da Constituição, pois o recorrente contestou a
divisibüid.ade dos ofícios de Registo de !moveis validade de ato elo governo local em face da
e Hipotecas. Constituição (fls. 212v.), e o "acordão" de
fls. 116v. julgo válido o ato impugnado.
Demais disso, alega o autor, dividindo o ofí-
cio, privativo, uno e indivisível de que é ele E' certo que o· recorrente invocou a alínea a
titular, frauda o decreto a garantia de vitali- (fls. 120) . Mas o Egrégio Tribunal já assen·
ciedade que lhe cabe por força da lei estadual tou conhecer do recurso extraordinár~o com
n. 2. 225 de 14 de Setembro de 1929, art. 412, fundamento outro que não o indicado quando o
letra •B. Suscitada e resolvida uma questão de fundamento omitido ~·essalta da discussão
competência, deu o juiz, afinal, ganho de causa ( p. eX. , ac. no ARCHIVO JUDICIARIO, VOl. 7, pá·
ao autor, pela sentença de fls. 96. gina 100).
Considerou o juiz ser da competência pri- De meritis, opinamos que ao recurGo seja
vativa da União legislar sobre registos públicos negado provimento, pois o acordão reconido é
art. 5, XIX, letra a da Constituição de jurídico ·e guarda perfeita conformidade com a
1934), não cabendo o ato de que se trata na jurisprudência deste Egrégio Tribunal (v., p. ex.,
competência supletiva do Estaclo. Teve, ainda, acordãos na Rev. do Sup. Trib ., vol. 65, pá·
em vista ser uniforme, a respeito, a legislação gina 252, na Rev. de Jurisprudencia, vol. 14.
federal, pois, desde a lei L 237 de 24 de S<l- p. 292 e no .AltCHIVO JUDICIARIO, VOl. 19, p. 184
tembro de 1864, são os registos de !moveis e hi- e vol. 32, p. 307) ".
(20)
20-1-43 ARCHIVO JUDICIARIO 93
J'asso con1 este relatório os autos ao Exmo. dão.s consta dos próprios autos, ou se sobre es-
Sr. Ministro revisor. pécie lavra divergncia notória em assunto ·entre
Rio,· 17 d~ Junho de 1942. - Orosimbo No- as decisões dos tribunais, não hesitaria em to-
nato. mar conhecimento elo recurso. se 0 juiz, hoje,
julga até por provas que existem fora dos au-
ANTECIPAÇÃO AO VOTO tos, por provas aliunde, como não admitir o re-
o Sr. Ministro Orozimbo Nonato:
- Sr. curso que, apesar do erro ou omissão da· parte,
tem cabimento manifesto?
Presidente, é exato que a parte não alegou o
fundamento da letra "d", na interposição do
VOTOS
recurso extraordinário. Alegou o da l-etra "a".
1 O Sr. Ministro Orozimbo Nonato: - Co-
Ainda há pouco, ouvimos o respeitavel voto do
Exmo. Sr. Ministro Goulart de Oliveira, em nheço do recurso com fundamento na letra "c"
que S. Ex. conclue que a invocação errônea do do art. 101, n. III, da Constituição Federal.
inciso constitucional não permite se conheça do Por meu voto, entretanto, não lhe será clado
recurso. Embora com o respeito qu:o devo a provimento.
S. Ex., ;persisto em ficar com a jurisprudência S~mpre competiu à União legislar sobre re-
deste Tribunal, que é mais litberal. Vou àlem, gistos, na sua parte substantiva.
"data-venia": - entendo ·que a própria des- A constituição de 1934 lhe outorgou, às
menção do inciso constitucionàl, por parte do completas, essa competência. Não podem os •Es-
advogado, não ;prejudica o conhecimento do re- tados dispor sobre o a que chamou Pontes de
curso, se este, na real verdade, encontra fun- Miranda" legislaçã-o registária" (Comentários à
damento na lei, que o juiz conihece. A parte Constituição de 1934, vol. I, p. 227) . E em face
narra o fato e o juiz declara o direito. da Constituição de 1937 é tambem essa compe-
Ao tempo em que as leis processuais exigiam tência maior ele qualquer dúvi-da ou entre-
que se indicasse o dispositivo de lei em qu-e dúvida, ·pois abrange ela todo o direito civil,
se fundava a interposição do agravo, clamavam comerciàl, aéreo, operário, penal e processual
os autores, à 'Una, contra o desarrazoado e ob- (n. XVI, elo art. 16).
soleto da prescrição legal. A manifestação do
Mas, o decreto estadual ele que se trata não
recurso extraordinário exige a lei seja funda-
se pode enquadrar na legislação registária re-
mentada. Esta fundamentação, porem, não im-
servada à União. Trata, apenas, de divisã.o ju-
plica a indicação do fundamento do recurso e
diciária, ele inquestionavel competência elo Es-
da lei ofendida.
tado. O .poder privativo da União de legislar
E' de se presumir, sempre, que o juiz co-
sobre registos públicos não colide com o do Es-
nheça a lei. Uma vez que o caso se coloque
tado el-e cliviclir seu território para os efeitos
em quàlquer dos incisos constitucionais, pode
elos registos .
o Supremo Tribunal F-ederal, "data-venia", co-
nhecer do recurso. Por outro laclo, a ind&missibilidade garan-
Neste ponto, "data-venia", continuo, como tida por lei ao recorrente, não limita, irres-
já disse, a guardar a tradição do Tribunal, e tritamente, a faculdade que assiste ao Poder
até de modo mais amplo, pois conheceria do Público, como já reconheceu este Tribunal um
próprio recurso em que a .parte praticasse qual- poder de v-ezes, de alterar a organização dos
quer'engano ou erro na citação do inciso cons- serviços públicos, ampliando e reduzindo encar-
P,'OS e proveitos e dividindo ofícios de justiça
titucional, desd·2 que evidente o cabimento do
recurso. (ARCHIVO JUDICIARIO, voJ. .... , págs. 307 e segs.) .
O Sr.· Ministro José Linhares (Presidente): A ementa do "acordão" que rejeitou os em-
- Já tive, aqui, um caso em que V. Ex. não bargos à apelação civel n. 3.683 conclo2nsa, ao
tomou .parte, e no quàl, havendo !fundamentos propósito, a melhor doutrina:
divergerrtes, podia-se conhecer p01r um ou por "A vitaliciedade é uma garantia funcional;
outro. garante o individuo no cargo em que foi pro-
O Sr. Ministro Orozimbo Nonato: En- vido ... mas não pode impedir a criação de no-
tendo que pod-emos con'hecer elo recurso ex- vos oficios ele justic:a. de acordo com o clPsen-
traordinário desde que, pela índole, .pela fei- Yol vim.en to e com as exigências elo servi c: o pú-
ção da lide, o caso seja manifestamente ele re- blico" (Rev. elo Supr·en;•:> Tribunal, vai. LXV.
curso. Se, por exemplo, a clivergênica elos acor- pág. 252).
(21i
94 ARCHIVO JUDICIAHIO 20-1-43
Tem sido, com respeito ao a.Esunto, unifor- de divisão do território em comarcas ou cir-
me a jurisprudência deste Supremo Tribunal, cunscrições. Tiram ao juiz de resguardar a
havendo, no sentido indl·cado, "copioscs prece- · "unidad,e da função", o que viria fragmentar o
dentes", como observou o eminente Sr. Mi.- registo e dar-lhe aspecto de multiplicidade in-
nistro Cunha •Mello, em voto v·encedor proferido compatível com a sua mesma índole. A refe-
na apel!lção cível n. 5. 823 (in A.RCHIVo Ju- rência, no art. 9°, a "escreventes", argue ~r
DICIARIO, vol. LVIII, pág. 76). essa a finali-dade da lei. Interpretação contrária
A preeminência •do interesse público não levaria ao absurdo de não atender ao desenvol-
rpode sofrer subordinações inspiradàs no inte- vimento da população e às necessidades do ser-
resse particular, a não ser que este se adargue vico público.
em lei ou princípio irre<:usavel ,o que não ocorre De resto, o art. 36 do decreto n. 4.857,
no caso, .por isso que a divisão do aficio não viola de 9 d-e Novembro de 1939, reproduzindo o de
a garantia da vitaliciedade de seu titular. igual número do decreto 18.542, de 24 de De-
zembro de 1928, admite, expressamente, a di-
Dada a índole do .:;argo público e a natureza
visão do cartório por critério geográficü, dispon-
das relações entre o funcionário e o ·Estado,
do que, nessa hipótese, como na desdobramento,
seria incurial, a:qui, a aplicação extremada do
p-ermaneçam válidos os antigos registos.
"pacta sunt servanda", quando as exigências do
Nestes termoo, conheço do recurso com fun-
serviço público tornam indispensavel a divisão
damento na letra "c". Nego-lhe, porem, provi-
dos oficios de justiça.
mento e condeno o recorrente ao pagamento das
O conjunto de direitos que o funcionário
custas.
adquire com a nomeação são definidos no res-
pectivo estatuto e não emprestam àquelas rela- O Sr. Mintstro Waldemar Falcão- Conheço
ções carater contratual. A lição, entre outros, do recurso com fundamento no art. 101, n. Ili,
de :S:ouriou, é, a respeito, terminativa: - tem letra c, da Constituição, eis que, na e.;p:?vie ~m
natureza estatutária a situação jurídica do fun- foco, foi contestada a validade de aw do poder
cionário. Dentro nessa compreensão, que já não público estadual frente à Lei Magna do !Pais
tem o valor de verdade nova ou paradoxo, reve- e às leis federais havendo o Tribundl local jul-
la-se a todas as luzes, improcedente a pretensão gado válido esse ato.
do apelante. O serviço público, como observa Mas, conhecendo do mesmo recurso, nego-
Jéze, requ,er um regime jurídico que o contrato lhe provimento.
não satisfaz. A competência para. legislar sobre registros
Nem a tese, que é ;pontualmente verdadeira, públicos, <'statuida pelo art. 5°, n :.çrx, letra a,
importa desconhecimento de direitos do funcio- da Constituição Federal de 1934, como privativa
nário.
da União, não pode envolver a proibiç:i..l de le-
Apenas, esses direitos não derivam de con-
gislarem os Estados sobre materia suplt'tlva des-
trato e não se .podem opor à divisão de oücios,
ses assuntos, qual seja a ·que &<; relacio·;:a com a
quer dizer, ao desenvolvimento do serviço pú-
divisão judiciária estadual e com o desdobra-
blico.
mento conse•quente dos cartório.> encarreg::dos
A delTadeira: - não oferece fundamento
d.o registro público, para atender :is pecnliarida-
mais seguro à :pretensão do recorreu te o argu-
des locais ao critér10 geográfico e à evolução e
mento de que a "indivisibilidade" dos ofícios
de registo de imoveis é uma "constante" em desenvolvimento desses serviços.
Aliás, essa possibilidade está expr.:.ssamente
nossa legislação, desde os seus primórdios e se
opõe à divisão, operada pelo decreto estadual contida no§ 30 do próprio art. 5° da citada Cons-
n. 9. 732, d·e 1935. Não é exato, a meu ver. Sem tiutuição de 1934.
dúvida que os arts. 8 e 9 do decreto n. 37G-, Por tal, o decreto bahiano que dividiU em
de 2 de Maio de 1890, dispunham: duas circunscrições· territoriais, :.Jara efeiw da
"Os oficiais do registo geral são rpor sua re~lização desses serviços, o municiuio de ua-
natureza privativos, únicos e indivisíveis". buna enquadra-se rigorosament~· dentro de.<;.qa
"Todavia, os oficiais do registo geral poderão faculdade c.onstitucional vigente ao t~mpo em
ter os escreventes juramentados, que necessá- que surgiu· dito decreto.
rios foren1 .para o respectivo serviço". Por outro lado, 0 art. so do clecret•J n. 370,
Tais dispositivos não visam ao objetivo de de 2 de Maio de 1890, há que ser ent~nc\itlo em
impedir o desdobramento dos ofícios por força. combinação com o.s diplomas legais po.steriores,
(22)
20-1-43 AnCHIVO JUDICL\niO 95
que regularam a matéria dispondo soiêr-c ns mo- r.om 1.m1a compreensão talvez mais restrita do
dificações aconselhadas pelo desenvr.lvimento que a ele S. Ex.
econômico do pais e, pelo aumento d:• populn,- No m:eu entender não é dado ao Tribunal
ção no território nacional que não permitiriam levar este espírito e este princípio de liberal!-
se estratificasse numa indivislbiltdade rígida os dade além duma esfera traçada, ri,;orosamen-
oficios de registro geral criando-se assim um t.e, pelas leis, tanto as de caráter substantivo,
obstáculo ao aperfeiçoamento e melhor funcio- ..:orno as de caráter adjetivo. Sempre que o le-
namento de tais serviços. gislador pensou e exercitou esse seu pensamen-
Ora tanto o decreto federal n. 18.542, de 24 to traçando, nas leis, nas organizações do Di-
de Dezembro de 1928 como o 'recente decn:to reito Judiciário, as esferas limitadas dos recur-
n. 4.857, de 9 de Novembro de 1939, conteem sos, estabelecendo, geralmente a ação stricti ju-
disposições, como se vê de seu art. 36. que irHlu- ris do Tribunal ou do Juiz, não me entendi
zem à possibilidade da divisão do.s Cartó:·ios de autorizado a expandir essa limitação, a ampliar
Registro Geral, "por critério geogrii.fic,}, ou de os lindes dessas esferas traçadas pela lei.
distrtbuição de atos'.'
•A minha liberalidade foi semp're baseada
Nem poderia acontecer diferentenwnt0, pois nos textos legaies, no sentido de harmoniza1· o
não seria possivel conceber ficassem tais servi- direito, aplicando esses textos. Sempre que o
viços cristalizados em moldes que se não com- legislador estatuiu e enumerou items, incisos,
padeceriam mais com o desenvol vim,,nto crEos- nas leis, estabelecendo que cs r-ecursos são stric-
cente das zonas populosas elo país e natuml re- ti juris, entendi que aos repr-esenta!l. tes das
flexo que esse desenvolvimento 11á oe ter na partes, habilitados, aparelhados para esse diS-
ampliação e desdobramento elos Registros Pú- cernimento, dentro da lei, incumbe distinguir,
blicos. na- lei, os casos em: que devem vir aos tribunais
A viltal!c!edade, que está assegura'.ia aos tí- Não é dado a estes se~virem de muleta a essas
tulare.> desses Cartórios. não podé ser entendida pessoas, técnicos reconhecidarr:-ente competen-
c.:>mo uma ante-mural e essas medid<ts que se tes pela habilitação profissional exigivel. En-
pnesumem Inspiradas no interesse da melhoria tender que bastaria, para usar dos recursos, a
do serviço público, tanto mais quanto a própr;a invocação vaga do diploma que os autores me
evolução e desenvolvimento de tais Registros, parece arbítrio do ju!z ou dos tribunais. O di-
efetuados nos respectivos Cartórios assegura, or- zer-se que se agrava, na forma do Código de
.dinariamente, a se.us titulares vant~geu.:; re- Processo, não é cumprir a exigência do legisla-
cuniárias sempre superiores .às que percebiam à dor e da lei, que determinam a menção do inci-
data de suas investiduras, que subsistem para so em que cabe o agravo; dizer-se que se recor-
todos os efeitos,_ na circunscrição territc.;ri(l'! que re, na forma da Constituição Federal, tambem
a divisão judiciarü• do municipiJ lb.e 3 traçar, não me parece seja uma salda para os descui:los
mantida sempre a sede do aludido ofíciO. e descasos dos profissionais, que se encarregmn
da função de agir na defesa elas partes, peran-
Por todos esses motivos, julgo incen.sura·Jel o
te os tribunais. Até a! não vai a minha libe-
aresto do Tribunal de Apelação da Bahia, r.a es-
ralidade, e, com'Q disse, com esta porta que
pécie em exame.
!eoho, não nego, não recuso, não diminúo a
O Sr. Ministm Goulart de Oliveira - Sr.
consideração em que tenho a :!'unção do advo-
Presid·ente, não conheço do recurso e insisto no
gado; antes, mais acentuo a elevação e a no-
meu ponto de vista, assinalando, com satisfa- breza que sempre a caracterlzararn.
ção, as palavras no sentido de reconhecer na
minha capacidade jurídica e nos meus senti- Si fõr vencido na preliminar, ne,;arel pro-
mentos de juricidade, com·o magistrado, o di- vimento ao r·ecurso.
reito de me manter dentro desta opinião, pa-
EXPLICAÇÃO
lavras proferidas com grande honra para mim,
!ielo eminênte Sr. Ministro Relator. Quero, O Sr. Ministro Orozim,bo Nonato (Relator)
apenas diz·er a S. E.x. que respeito muito o seu I Sr. Presidente, não era 'neu intuito voltar
sentimento de lilJeraliclade, como. magistrtlclo, a questão preliminar. Vejo-me. porém, força ao
5entimento que não costumo afastar de todos a fazê-lo porque não fui bem compreendido -
os meus atos, na distribuição da justiça, porem I naturalmente, por não me ter explicado com.
(23)
9G ARCHIVO J UDICIARIO 20-1-43
suficiênte clareza - pelo eminente Sr. Minis- damentação seja dada, mas, aí, não está a exl-
tro Goulart Oliveira.
Tambem', com S. Ex. entendo que o Juiz 1
l
géncla da Indicação do artigo de lei, nem póde
estar. A parte expõe o fato e o juiz declara o
n!to póde, sob côr de liberalidade, dispensar na direito. A parte não pôde deixar de fundamen-
lei e, por um laxlsmo a todas as luzes reprova- tar o recurso; não é obrigada, porém, a cita-
vel, substituir com facilidades as exigências e çOes de leis.
ngores da lei. O que eu entendo, data venta de A questão pois, é saber &!, apezar da omis-
S. Ex., é que na inteligência desses mesmos dis- são do Inciso, ou de sua men~·ão errônea, póde
posltlvos, sem os ferir, pôde o Ju!z, fugir a ln- caber o recurso. Da ta venia ao Exmo. Sr. :M!!-
terpretações severas e não cercear a manifesta- n!stro Goulart de Oliveira, penso que caberê.,
çfio de re-cursos, que atendem a uma poderosa alnda assim, porque corr~o disse, a lei não exige
e humana Inclinação dos litigantes. t{Ue ao juiz a parte, em qualquer caso, indique
E conllecenclo, dou-llle provimento, para re- da seu recurso em divergência, comprovada, to-
formar o acordão recorrido e julgar Improce- davia, por um aresto desta Corte de 1935.
dente a ação. De certo haverá outros mais modernos, mas
Segundo aquele artigo, a culpa do patrão a exégese 11 teral perde vigor dia a dia.
precisa ser demonstrada, pois não é presumida. Quanto a mim, que já havia concorrido para
não emerge do empregado. eliminar o famigerado artigo do ante-projeto
E é a própria autora que, na inicial, reco-
de Código de Obrigações, ví robustecida tal
nheceu a nenhuma culpa da ré, o que fez n'ês- convicção, dês que recentemente se afastaram
tes termos: düas consequências exageradas da doutrina hoje
"O acidente se deu por culpa exclusiva do dominante em quase todos os tribunais.
preposto da ré, nos serviços desta, sem que tl· Uma foi a reforma dos arts. 911 e 912 do
vesse a autora concorrido com imprudência de Código de Processo, que asseguravam a presta-
sua parte". ção de um capital a. ser transferido por morte
Sendo assim, não vejo como emprestar ao da vítima a seus herdeiros legítimos ou testa-
patrão culpa exclusiva do empregado. mentários, ao próprio Estado, com evidente en-
rlquljcimento sem causa.
O Sr. Ministro Philadelpho de Azevedo:
O art. 1. 523 foi um dos pontos destoantes do Agora se fará a prestação quantum satis
Código C i vil, fazendo-o nascer já velho para a para garantir a renda e não será dificil que in-
época, embora a culpa, nesse cumo em tantos teressados idôneos obtenham a substituição de
outros pontos, não po:osa caber a seu festejado apólices por uma garantia genérica e perma-
nente, como se já adota, aqui e em toda a par-
autor.
Com o tempo foi se agravando esse contraste te, na legislação relativa à exploracão do trans-
com a legislação, a doutrina e a jurisprudência porte aéreo.
vencedoras em todo o mundo civilizado de tal Outro óbice afastado é o de se permitir ao
modo que se engrossava paulatinamente a cor- patrão a dispens3. do empregado provadament'"
rente, que, aos poucos, atraia os adeptos da negligente, sem os onus da legislação traba-
pu.ra letra da lei, partidários de sua aplicação lhista.
Chegava a ser realmente ridiculo condenar-
"tal qual soam os seu·s termos".
se o transportador por culpa in eligendo, quando
Mas, tornava-se inviavel manter o enxerto, ele estava impedido de fazer ou corrigir a má
mal amanhado no conjunto do sistema, espe· escolha, demonstrada pela experiência.
c!almente em confronto com o texto próximo
Condenado pela justlça comum, porque con-
do art. 1. 521.
servava a seu serviço um condutor com a folha
Várias soluções técnicas puseram à prova o
de antecedentes profissionais tarjada, e conde-
talento dos exégetas, formando-se convergência
nado p-ela justiça trabalhista a reintegrar o mau
final de seus resultados, que não deveriam, tão
servidor que lhe traria certamente novos pre-
pouco, divergir da solução pr2dominante nos
juízos, a par de ofensa à incolumidade pública,
casos de culpa contratual.
u patrão se encontrava em estranha conjun-
A concorrência de culpa teria, assim, de tura.
provir automaticamente da culpa do preposto, Mas, essas consequências absurdas teem sido
de nada valendo, para disfarçar a conclusão, os afastadas pela justiça especialista com aoerto.
apelos à !alta de vigilância ou de escolha, por- Em tais condições, e dispensando-me de fun-
que, nesta ou naquela, haverá sempre culpa In· dalnentar mais profundamente um assunto ver-
direta e a questão final seria a mesma a ser en- dadeiramente espancado em todos os aspectos,
frentada sem rodeios. de modo a não permitir qualquer vista original,
Se os freios não funciOimm, se os trilhos !Imito-me a votar pela repulsa ao recurso in-
estão fraturados, haverá sempre culpa de pre- terposto, de que, todavia, conheço liminarmente.
posto, exatamente como na hipótese de negll· O Sr. Ministro Castro Nunes - Sr. Presi-
gência ou de embriaguez do condutor. dente, m:eu ponto de vista a respeito do as-
Assim, o problema oferece unidade funda- sunto, está mais aproximado da orientação do
mental a ser apreciada dentro do sistcmn for- Exmo. Sr. Ml.nistro Revisor, no sentidJ d·e
mado pelos arts. 159 e 1.518 e SBguintes. atender, de preferência, i\ teparação elo dano
A própria recorrente não se queixa ele ofensa sofrido pela vitima nlcsmo 1:áo encon tranclo
literal do art. 1.523, do Código Civil, mas fun- 1 culpa, ou a encontrando leve oc: !eyissima que
(27)
100 ARCHIVO JUDICIARlO 20-1-43
seja, para dar lugar à responsabilidade indi- te indenização, com fundamento no art. 1. 012
reta. do Código do Processo Civil.
Nessas condições, nego provimento ao re- Houve produção de prova abundante.
curso. Conclusos os autos o Juiz pela sentença de·
O Sr. Ministro Annibal Freire - Sr Pre- fls. 112 julgou os embargantes carecedores dos
sidente, de acôrdo com os meus votos anterio- mesmos embargos. (lê).
res, nego provimento ao recurso. Em apelação o Tribunal do Estado confir-
mou a decisS.o recorrida (fls. 138 - lê).
O Sr. Ministro Barros Barreto - Sr. Pre-
Dai o recurso extraordinário com fundamen-
sidente, dou provimento ao recurso por exi:sir to no art. 101 n. III, let. a da Constituição,
a culpa concorrente do p·atrão de acôrdo com por violação dos arts. 1.199 do Código, e 996 e
os meus votos anteriores. 1. 012 do Cód. Proc. Civ.
A.s partes arrazoaram.
DECISÃO
E' o relatório.
Como consta da ata, a decisão foi a se-
guinte: VOTOS
Conheceram do recurso, unanimemente, e O Sr. Ministro Bento de Faria - I - Não
lhe negaram provimento, contra os votos dos estou de acordo com o Juiz quando afirma que
Srs. Ministros Relator e Barros Barreto. as ações de despejo não podem ser qualificadas
como - reipersecutórias. A.ssim não penso por-
Acordão
que como tais se entendem as ações pessoa.is em
Vistos, relatados e disçutidos os autos de que se pede, não coisa fungível, mas coisa
recurso extraordinário n. 5. 42T da Bahia, em certa.
que é recorrente a Companhia Linha Circular E é esse o objeto da ação de despejo pela
de Carris da Bahia e recorrido Maria Valen- qual o senhorio exercita o direito de rehaver a
tina Malaquias, acorda a Primeira Turma do posse material do imovel, cessado que seja o do
Supremo Tribunal Federal, em deli~ conhecer, inquilino a respectiva detençáo, ou p~la violação
unanimemente, mas para negar provimento, das obrigações legais ou convencionais ou pela
por maioria de votos, e. de acordo com as notas terminação do prazo ajustado.
taquigráficas constantes do processo. Não adoto tambem o entendimento do Tri-
Custas pela recorreu te . bunal recorrido quando entende que em se tra-
Rio, 29-9-1942 (d. do j.) - Laudo de Ca- tando de execução de ação de despejo não há·
margo, Presidente. _ J'.hiladelpho Azevedo, re- , direito a oposição de embargos de retenção por
!ator designado. I bemfeitorias.
E divirjo porque:
a) - nS.o sómente o Código Civil no art.
1.199 assegura esse direito, em se tratando de
Recurso extraordinário n. 6.085 locação de coisas em geral, dês que se trata de
(MINAS GERAES) benúeitorias necessárias, ou de bemfeitorias
úteis, neste caso quando .feitas com o consenti-
Em,baTgos de benjeitOTias à execução de ação de
despejo. Inteligência do art. 1.012 do mento do locador; ''
Código de Processo Civil. Recurso ex- b) - como tambem o Código do Processo
traordinário a que se dá provimento.
Civil ocupando-se dos incidentes da execução,
RELATÓRIO outorga ao executado, como defesa, o direito
de pedir a retenção por bemfeitorias.
O Sr. Ministro Bento de Faria - Em exe- li - No caso, porém, apesar de reconhe-
cução de sentença de despejo de imóvel explo- cida a sua existência, circunstância aliãs, extra-
rado em parceria agrícola, no Juizo de Direito nha ao recurso, por constituir objeto de prova,
de Santa Luzia, Longobardo Bandeira 'rez inti- sou forçado a não conhecer dele porque é meu
mar Motekishi Takahashi e outros, para no pra- pensar que a inUenisação somente poderá ser
zo de 10 dias realizarem a respectiva desocupa- pleiteada pelos meios ordinários, sem posslbili·
ção. No prazo legal os executa elos ofereceram dade da pretendida retenção, em face do art ·
embargos para pleitear o direito de retenção 547 do Código Civil que reza assim:
pelas bemfeitorias que fizeram e sua consequen- "Aquele que semeia, planta ou edifica ern
(28)
20-1-43 AHCHIVO JUDICIARIO 101
terreno alheio perde, em proveito do proprie- pessoa obrigada cumpre reconhecer. (Af. Fra-
tário, as sementes, plantas e construções, mas ga, Inst. do Proc. Civil do Brasil, vol. 1, § 32,
tem direito, a indenisaç.'io, salvo se procedeu de pág. 245).
má fé". Ora, si o Código de Proc. Civil permite a de-
Por essa razão, não tomo conhecimento do fesa por meio de embargos à execução fundados
recurso. em bemfeitorias uteis feitas com o consenti-
o Sr. Ministro ,José Linhares: - Reconhe- mento do locador, nio houve como se negar aos
ceu a decisão recorrida, que confirmou a sen- recorrentes tal defesa sem prejuizo do seu di-
tença de primeira instância, as bemfeitorias rei to de retenção. Verdade é que na legislação
uteis feitas com consentimento dos locadores anterior ao atual Código de Proc. nas várias
pelos locatários, ora recorrentes, nos termos, cujo legislações estaduais dispunham semelhantemen-
despejo foi decretado. te ao decidido pelo Tribunal mineiro, hoje em
A questão roda em torno de se saber se dia não é de se aplicá-los dado a unidade do di-
não tendo os locatários contestado a ação de reito processual. Diante do exposto, conheço do
despejo, podiam, afinal, na execuçio apresentar recurso e dou-lhe provimento.
embargos de bemfeitorias, fundados !no arti- , O Sr. Ministro Goulart de Oliveira: - Sr.
go 1.012 do Código do Processo Civil, que pres- Presidente, j;ambem conheço do recurso e lhe
creve: - "Nas ações reais e rei persecutórias se- dou provimento .
rão licitas o pedido de retenção por bemfeitorias O Sr. Ministro Waldemar Falcão - Sr.
e a defesa de que trata o art. 1. 010 ns. I, l i e Presidente, não se pode negar o carater tambem
UI". A decisão recorrida, concluiu pela negati- reipersecutório das ações de despejo. Se elas
va, porque entendeu que não tendo sido alegada guardam outros aspectos, no tocante à. modali-
na contestação o direito à retenção por benfei- dade que podem assumir no curso da lide, en-
torias necessárias já não era licito aos locatários tretanto essa carf!cterística de processo reiper-
fazê-lo na execuçio. A decisão das ações con- secutório é imanente à ação de despejo. E' de
soante ao seu fim reipersecutórias - pessoais se lhe aplicar, por conseguinte, o disposto no ar-
e mixtos, é um romanismo que Teixeira de Frei- tigo 1. 012 do Código de Processo Civil. Não se
tas diz não apresentar no direito moderno in- poderia, na verdade, elidir o direito do executa-
teresse prático senão para assinar os efeitos de do de opor embargos à execuçw, calcado nos
transmibilidade destas ações. Para o ilustre fundamentos estipulados na aludida disposição
jurisconsulto as ações reipersecutórias não com- do Código de Processo .
preendem tão sómente as ações reais. Como as- Nessas condições, estou de acordo com Vos-
sinalou Corrêa Teles, na "Doutrina das Ações'', sa Ex., no sentido de conhecer do recurso e lhe
- assim é que o jurisconsulto brás!leiro ano- dar provimento, nos termos e para os fins expos-
tando o português diz: "Em 1° lugar, a expres- tos no voto que V. Ex. acaba de proferir.
são reipersecutórias, para o autor, abrange, O Sr. Ministro Orozimbo Nonato: - Sr.
Presidente, peço vista dos autos.
ações reais e pessoais, e, para nós, essa qualifi-
cação refere-se unicamente a c•:;ões pessoais, ern DECISÃO
que se pede coisa.certa (coisa não fungivel), em Como consta da ata, a decisão foi a seguin-
relaç'io às outras em que se pede dinheiro. te: Conheceram do recurso e deram-lhe provi-
(Corrêa Teles, Doutrina das Ações, acomoaada mento, contra o voto do Sr. Ministro relator,
ao Fôro do Brasil por Teixeira de :Freitas, ed. tendo pedido vista o Sr. Ministro Orozimbo
de 1902, pág. 9, (Add.) . Por aí está se vendo Nonato.
que o legislador fez a distinção, segundo Tei-
VOTOS
xeira de Freitas, em ação real e rei persecutória.
Todas as ações in rem, são reipersecutórias, dou- O Sr Ministro Orozimbo Nonato: - Sr.
trina Afonso Fraga, porque por elas, sem ne- Presidente, por força do art. 1. 012 do Cód.
nhuma exceção, demanda-se o que se acha fóra de Proc. Civ., nas ações reais e rei persecutórias
<lo património, isto é, o bem ou coisa do ti- serão lícitos o pedido de retenção por bemfeito-
tular que embora lhe pertença, se ache ilegiti- rias e a dafesa de que trata o art. 1.010, núme-
mamente, na posse de outrem. O contrário, em ros I, II e III.
1'egra, se dá com as ações que nascem do con- O cit. art. 1.012 foi o preceito que, segun-
trato, por iSso que por elas não se -demandam do os recorrentes, recebeu ofensa. em sua mes-
.senão os direitos de que se é titular e que n ma literalidatle, do "acordão" recorrido.
(29)
102 ARCHlVO JUDICIAHIO 20-1-43
Que a ação i:J.e despejo é reipersecutórir,, Qualquer elas interpretações poderá ofere-
coisa parece insusceptivel de dúvida, quer se cer em seu pról argumentos ponderosos.
adote o conceito restrito de Teixeira de Frei- Não creio, porém, que se possa irrogar ã
tas, quer se consagre o critério amplo de João do tribunal mineiro a balda de violadora da le-
Mendes para o qual reipersecutórias sio as ações tra da lei, cuja inteligência resulta da conside-
em que pede o A. coisa que faça parte de seu ração do complexo de seus dispositivos.
património, inclusive interesses e penas con~en Não conheço, pois, do recurso, de acordo
cionais. com o Exmo. Sr. Ministro Bento de Faria..
!Si, com respeito ao caso versado nos autos, DECISÃO
dominasse esse só dispositivo, concluiria com Como consta da ata, a decisão foi a seguin-
Y. · Ex., Sr. Presidente, pelo cabimento do re- te: Conheceram e deram provimento, contra os
curso na base da letra a), n. III, art. 101 da
votos dos Srs. Ministros relator e Orozimbo No-
Carta Constitucional.
nato.
Mas, de par com ele e cuidando especial-
mente do despejo, está no Cód. o art. 350, Acordão
ver bis: Vistos, relatados e discutidos estes autos de
"Quando a ação se fundar em falta de pa- recurso extraordináriCJ, em que são recorrentes
gamento do aluguer do imovel locado, e o réu - Motokichi Takahashi e outros, e recorrido -
não a contestar no prazo de 5 dias, o jUiz de- Longo bardo Bandeira:
cretará o despejo". Acordam, por maioria de votos, os Ministros
Entende V. Ex., que a aplicação do arti- do Supremo Tribunal Federal, em sessão de Se-
go 350 não exclui a do art. 1. 012. Entendeu o gunda turma julgadom, conhecer do recurso, e
acordão mineiro, naturalmente, para chegar a dar-lhe provimento, pelos fundamentos dos vo-
conclusão, que "j;irou, que o predlito geral do tos constantes das notas taquigráficas juntas.
art. 1. 012 sofre a exceção do art. 3·50 no caso Custas pelo recorrido.
especial da execuºio da ação de despejo, não Rio de Janeiro, 9 de Outubro de 1942. -
contestado, por falta de pagamento. José Linnares, Presidente e relator.
(30)
20-1-43 ARCHIVO JUDICL\RIO 103
lante Monzerino José Guimarães e apelada a que não foi func\amentQc\a ele conformidade
Justiça. com a lei.
O apelante Monzarino José Guimarães foi O Juiz, para aplicar a pena, não tem que
denunciado, perante o Juizo da 4." Vara Cri- levar em conta somente agravantes e o com-
minal, corno incurso nos arts. 155 e 129 do portamento do reu, mas c:onsirlerar tambem a
Código Penal, porque "no dia 22 de Jun110 personalidade do agente, a intensidade do dolo
último, cerca das 14 horas, penetrando na casa ou grau da eulpa, os motivos, circunstâncias e
de negócio - oficina da rua do Senado n. 0 86, consequências do crime (Códi)l;o Penal, art. 42).
dai furtou dois castiçais de madeira, e pressen-
Custas ex-lege.
tido pelo empregado daquela casa Carlos Ca-
bral Mendes, pôs-se em fuga, sendo persegui- Rio de Janeiro, 12 de Outubro ele 1942, --
do por Mendes, que quando o alcançou, foi Decio Cesario Alvim, presiden;;e com voto. _
por ele acusado, agredido". Toscano Espinola. relator. - OliDn,in Sobrinho.
Recebida a denúncia, interrogado o réu,
ouvidas as tesmunhas de acusação, arrazoado o
processo pelas partes, o Dr. Juiz, entendendo
.que o fllito da citada denuncia configurava Apelação civel n. 702
o crime do art. 157 parágrafo 1. 0 do referido
Código. condenou o apelante a ·1 anos de re-
Não hâ nulidade sem prejuizo; em consequên-
clusão, na ausência de agravantes e em face cia a simples inobservancia do atual Có-
do presumido exemplar comportamento ante- digo do Processo Civil não acarreta nuli-
dade da_ causa desde que nos termos dQ
rior do acusado. Dai o recurso de apelação, em seu arttgo 273 os atos como praticados
cujas razões se alega a nulid:::cle do processo, 1!-tin:g!ram o fim colimado . .4. fisionomia
porque não foi cumprido o disposto no art 1undwa de uma relação de direito não
se altera porque se entendeu denomina-
384 do Código de Processo Penal: "Pôde o Juiz la por outra forma que a prevista na lei.
reconhecer a possibilidade ·de noVt't definição - Para o uso de reivindicatória é indis-
pensavel seja o autor titular de direito
jurídica do fa.to, não contida na denúncia, mas real.
nesse caso tendo que aplicar pena mais grave,
baixará o processo, afim de que a detesa, no Vistos, relatados e discutidos estes autos de
prazo de oito dias, fale, e, se quizer, produza dpelação cível n. 702, em que são apelantes: pri-
prova, podendo ser ouvidas até três testemu- meiro o Banco Econômico do Brasil, e segundo
uhas' •. Quanto ao mérito a prova não convence, Alcides de Oliveira, sendo apelados Balbina Lui-
diz o apelante, da procedência da denúncia. za de Oliveira e outros.
O Dr. Procurador Geral proferiu o pare- Acordam os Juizes ela s.a Cãmara do Tri-
C!?! de fls. 58, opinando pela intprocedência <:\3 bunal de Apelação, dar provimento a ambos os
preliminar, porque a denúncia já configurava recursos para, reformando, como efetivamente
o roubo e, de meritis, pelo não provimento do reformam, a sentença apelada, julgu a ação
recurso. Improcedente.
Isto posto: Arguiram os apelantes ser nulo o processo a
Acordam, por unanimidade, os Juizes da partir da audiência de deliberação das provas
2.a Câmara do Tribunal de Apelaçã·? dar pro- pelo fato de que quando se realizou essa audi-
vimento ao recurso, para anular o proeesso de ência já vigorava o atual Código do Processo,
fls. 47, inclusive, em diante. Licii;o não é ao visto como teve ela lagar no dia 5 de Abril de
Juiz, quando um réu é processado por crime, 1940, seguindo-se dai por deante até a senten·
e entenda que pôde ser dada nova definição ju- ça o processo do antigo Código, com violação do
rídica do jato, e em consequência tenha que disposto pelo art. 1.047 do Código vigente.
aplicar pena mais grave, deixar de baixm· o pro- Não há dúvida, com efeito, que não se observou.
cesso, para que a defesa fale, no prazo de oito no proeesso, desde aquela audiência, o que dis·
c\ias, e ofereça. podendo, prova testemunhal, con- põe o citado artigo 1.047, desde que, deterrni-
forme determina expressamente o art. 38·1 do na ele aplicaram-se as disposições do novo Có-
Código de Processo. Qum1do, entretanto, assim digo, aos processos pendentes, salvo se houves-
não fosse de se reconhecer a nulidade do prc.- se iniciado a intimação em audiência causa que
cesso, a sentença recorrida estaria nulu, por- no caso não se verifica.
(34)
AHCHIVO .JUDICIAHIO 107
Ocorre, entretanto, que no vigênte Código No fundo, embora usando ele varios circu.nlo-
do Processo determina o artigo 273 que quando quios, o que os apelados pretendiam e a senten-
a lei prescrever determinada forma, se1n a co- ça lhes concedeu, era uma verdadeira reivindi-
minação ele nulidade, o juiz deverá considerar cação embora ele causa alheia, pois só assim, con-
valido o ato, quando, entre outros casos, pratica- quanto evidentemente injuriclica, se pode admi-
do por outra forma, tiver atingido o seu :fim. tir certa coerencia entre a situação elos autores,
Assim, e como por um lado o aludido artigo
com a solução da ~entença apelada.
1. 047 do Código vigênte não comi na nulidade
Qual poderia ser, com efeito, o interesse e
para o ca~o em que, como no presente, se te-
objetivo dos autorea em pleitear a anulação da
nha prosseguido na ação com o ritual do proces-
escritura ele compra e venda entre o 10 e 20 ape-
so antigo, apesar de não se ter ainda iniciado
a instrução quando entrou em vigor o novo Có- lantes senão o ele reivindicação a cousa obje-
digo, e que por outro elado, seguindo-se aqui to daquela compra e vencl:~? Admitindo-se, por
o rito do proces~o antigo foi atingido o fim absurdo, que tivessem os autores juridicamente
colimado, se1n que se possa verificar qualquer a possibilidade de anular ver inter allios acta
prejuizo para as partes, não seria caso de anular- sem 'ser com aquele objetivo, resultaria eviden-
Ee o processo, embora reconhecendo não terem temente que como consquência da anulação, vol-
sido observados os mandamentos da lei. taria a cousa pertencer ao vendedor, sem pos-
Quanto ao mérito, os autores, ora apelados, sibilidde legal de o obrigar a transferi-la para
alegaram que haviam comlJinado com o segun- eles autores. E resultaria então, com toda evi-
do apelante Alcides ele Oliveira, que embora fi- elência. a mais completa carencia de direito e
gurasse ele como promitente comprador do ter- ação, por falta de interesse econõmico ou moral
reno a que se referem, serviam eles autores que dos autores no fim visado para demanda. Mas,
J!gurarlam como compradores, em condominio, para que pudessem usar da reivindicatória, es-
~encial seria que os autores pudessem invocar
na escritura definitiva -de acquisição da proprie-
dade, e que, em con~equência dessa combina- direito real: a propriedade da co usa reivindi-
ção, forneceram a Alcides as quantias com que cancla.
pagou este as prestações ela compra, tendo sido Ora, os autores jamais invocaram tal direi-
ainda por eles autores totalmente custeava a to; jámais pretenderam ter clominio sobre o
construção da casa existente no dito terreno e terreno vendido pelo 1° ao 20 apelante; ao con-
por eles habitada; que entretanto Alcides train- trário, reconhecem e proclamam que o clominio
do a combinação feita, ultimou a acquislção em eobre dito imovel pertencia ao 10 apelante que o
transferiu ao 20. Logo, a presente ação é um per-
seu nome unicamente obtendo que o vendedor,
feito absurdo, juridicamente considerando. Sem
or:a Jo apelante, lhe obbrigasse a definitiva es-
critura ela compra e venda. Fazendo-se, como dúvida que na hipótese ele serem procedentes, ou
é mister, abstração dos detalhes e circunstân- melhor, de serem verídicas as alegações dos auto-
cias intercorrentes, de como Alcides teria con- res, terão eles contra o 20 ap. alem do procedi-
seguido iludir a boa fê dos apelados e ·obtido que mento criminal que no caso couber, o direito de
o 1° apelante lhe outorgasse a mencionada es- rehaver as quantiag que segundo 3.firmam lhe en-
critura definitiva de transferência da proprieda- tregaram para determinado fim, e das quais o 20
de, por is~o que não afetam nem interessam, apelante se teria apropriado para com elas ad-
esses detalhes, o aspeto puramente jurídico do quirir para si a propriedade elo terreno ele que
caso, há que considerar, com efeito, que na se trata, terão ainda. em tal hipótese, o direito
presente ação não pleiteiam os autores, ora ape- de haver o valor elas bemfeitorias que alega1n ter
lados, qualquer direito pessoal contra os réus em boa fé feito no dito terreno, podendo, en-
ora apelantes. o que eles pretendiam era a anu- tão, exercer a retrução, achando-se eles. como
lação da escritura pela qual o 20 apelante Alcides dizem, na posse do terreno e elas bemfeitorias.
obteve do 10 apelante Banco Econômico do Bra- O que evidentemente porem eles não podem, ê
sil a transferência, para si, ela propriedade do pretender anular a acqu!sição do aludido ter-
terreno de que se trata, e aliás. a sentença ape- reno feita pelo 2c apelante, e muito menos que
lada decidiu que a escritura ele compra e venda se tran~mucle o adquirente, tal como foi cleci-
seria valida, porem que se consideraria como elicio pela sentença, passando eles a serem con-
adquirente, não o 20 apelante e sim os apelaelos. sielerados como adquirentes em sub3tituição elo
135)
108 ARCHIVO JGDICIARIO 20-1-43
20 apelante: A sentença apelada não podia, por- 1940, in ARCHIVO JUDICIARIO, VOl. 56, pag. 343, re-
tanto, deixar de ser reformada, para ser a ação lator De&embargador Martinho Garcia Caldas
julgada, como é, inprocedente. Barreto: "Acentue-se: o contrato social vedava o
Custas pelos apelados. uso da firma como fiadora de terceiros. - O em-
Rio, 28 de Julho de 1942. - Henrique Fia- bargante. contrariando flagrantemente a letra
lho, Presidente e relator. - Nelson HungTia. do instrumento contratual ao dar a firma como
naclora, violou o contrato, o que vale dizer vio-
lou direito expresso. A sentença que deixou de
Apelação civel· n. 1.284 lado esse contrato, por sua vez atentou contra
direito expresso. Essa circunstância autoriza a
Locaçdo de imovel. Fiança prestada por socto ação rescisória e impõe o reconhecimento de
de firma come1·cial contra proibiçdo de sua procedência". Acordão desta Câmara, in
clãustda inserta no contmto social.
Responsabilidade do locatário ARCHIVO JUDICIARIO, VOl. 58. pâg. 178, proferido na
apelação civel n. 9. 090 em 7 de Janeiro de 1941,
Vistos e relatados estes autos de apelação relator Desembargador Fialho: "Reconhece a
cível n. 1. 284, entre partes: 1. 0 apelante Dr. validade da fiança. arguicla de nula, desde que
Pery Valentim, 2. 0 apelante Miguel Acc·etta - o contrato da sociedade não a proibia, de modo
Casa Bancária; apelados os m·esmos e J. Al'aujo expresso, reservando, ainda mais, como era aliás
& Cia. fatal, ao único sócio solidário o uso da firma".
A sentença apelada condenou o locatário ao Na espécie, trata-se de contrato social de
pagamento da dívida proveniente ele alugueis e !lrma comercial devidamente registrado, com
demais despesas concernentes à locação, devida- proibição expressa ele uso da firma em fiança
mente apuradas na causa, excluindo dessa res- e outros negócios, extranhos ao interesse da so-
ponsabilidade a firma ré, ora apelada, J: Araujo ciedade. O contrato rege as relacões entre as
& Cia., embora solidariamente responsavel pelo parte's e contra tercei?os, uma v~z preenchida
cumprimento ele todas as cláusulas e obrigações a formalidade legal do registro (art. 126 c/c o
inherentes à locaÇão como fiadora, eis que pro- art. 301, alínea 2" do Cod. Comercial que dis-
vado está se conter no contrato social da firma tingue, no art. 316, o uso indevido ou não au-
(fls. 52 v., cláusula 5"), devidamente arquiva- torizado da jiTma do abuso da firma. Aqui
do no Registro de Comércio, cláusula pi'oibitiva houve uso ndo autorizado, logo expressamente
a qualquer dos sócios solidários usar da razão proibido. Não há, pois, obrigação para a socie-
social para operações alheias ao giro de co- dade, uma vez que a fiança foi prestada por um
mércio. sócio com infração do contrato social, regi~tra
~al decisão assenta em jurisprudência tor-
do legalmente.
rencial, que, o Dr. Juiz a qno transcreve. A es- Relativamente ao recurso do réu, locatário,
ses julgados ê ele se acrescentar, alem de que llão há como se possa atender à sua pretensão,
foi citado, proferido no recurso de revista na em face ela prova dos autos, demonstrativa de
apelação cível n. 4.262, in ARcHrvo JunrcrARIO, ' sua responsabilidade, consoante as cláusulas do
vol. 42, pág. 45 7 , relatado pelo Desembal'sador contrato ele locação pelo,débito de alugueis ven-
cidos, custas do despejo e preço ele obras, que
Pontes de Miranda, com a seguinte emenda: "O
deixara de efetuar no imovel, tomadas, como
uso da firma, dentro dos limites objetivos elo con-
foram, a seu cargo.
trato, mas em negócio particular do sócio, obri-
Em tais condicões:
ga a sociedade e a isso é que se chama abuso de ' -
Acorclam os Juizes ela 4a Câmara do TribU·
firma. Tratando-se de transação extranha ao ne-
nal ele Apelação do Distrito Federal, pelos votos
gócio designado no contrato e pelo mesmo pro-
do relator e do revisor, em negar provimento
ibida, a obrigação contraída pelo sócio já não
constitue abuso ele direito de usar da firma, a ambos os recursos afim de confirmar a deci·
são apelada que é jurídica, conforme a ]uns-
mas uso .a que não tinha direito.
I
Não é responsavel a sociedade comercial prudência e, à prova dos autos.
Custas ex-lege . .
pela fiança prestada em seu nome, com infra-
Rio, 6 de Outubro de 1942. · - Edmundo de
ção de proibiçfto expressa no contrato social,·
devidamente registrado", mais os seguintes ele Oliveira Figueiredo, Presidente com voto. - A.
datas recentes: a cordão em gráu de embargos M. Ribeiro da Costa, relator.
na apelação cível 7. 772, de 2.a de Junho de
136)
20-1-43 AP.CHIVO JUDICIAHIO 109
somente" que ele tambem ê respons:\Vel, mas mente no seu dispositivo. M.::ts, in casu, a n1u-
não excluindo a responsabilidade solidária . do lher é herdeira instituída da metade elos bens
pai ou tutor, solidariedade que resulta do8 prin- disponíveis. Entre os disponíveis se inclue o pro-
cipias reguladores da culpa in vigilando, expl1- duto do seguro por f'arça elo próprio artigo 1.973.
c1tos no Código. Portanto, o produto do seguro deve ser dividido,
Pensar de modo contrário seria admitir qut: como bem disponivel, entre a viuva e os filhos,
u Cod1go dispensou a vtgll~ncla do pai ou tutor metade aquela, metade a estes, devendo a parte
sobre o me11or que atinge 16 anos, o que não e da viuva ficar sujeit·a á cláusula testamentarla
exato, nem se póde suspeitar em face dos pre- a respeito c·an.stante do testamento. O art. 1.473
ceitos estatuidos no Código (Carvalho Santos, I do Código Civil, dispondo que o seguro com a
vol. III, pág. 300) . cláusula á ordem será pago aos herdeiras elo se-
,sem qualquer aplicaç'io ao caso os prlnci- gurado, não faz distinção alguma a respeito
plos !lrmados pela doutrina e jurisprudência na desses herdeiros, se legitimas ou testamentn-
interpretação do dec. 2. 681 de 191.2 (transporte rios. A tése sustentada com brilho pelo 3.o curg-
por estradas de ferro) . dor de Orfãos, o ilustre Dr. Fernando Maxi-
·A concurrencia de culpas tambem não põde miliano, é verdadeiro, isto é, que ., art. 1.473
ser aqui agitada, como· já foi acentuada, 1sso j pôs termo á controversia existente anterior·-
constituiria ou constituiu matéri-a relevante no mente estatuindo que ·na falta de indicação ele
julgado criminal ou m.esmo no civel anterior. beneficiários devia o seguro ser pago aos ller-
aqui é de todo exorbitante a sua apreciação. - deiros do segurado. E' o herdeiro no sentido
Custas pelo 2° apelante, 10 apelado. técnico, induzindo o seguinte: o segurado que
Rio, 29 de Setembro de 1942. - Flaminio não indica o beneficiário fica em situação idên-
de Rezende, Presidente com voto. - Afranio tica à do indivduo que não designa os pró-
Antonto da Costa, relator. prios '.SUCessores; presume-se ter querido que
a transmissão dos seus bens se verificasse cem-
forme à lei, isto é, segundo as normas esta.bele·
cidas para o caso do silêncio· do de cujus sobre
o destino do crédito.
Apelação civel n. 1.42L. O seguro de vida passa diretamente do
patrimônio da seguradora para o benejiei•lrfo.
Seguro emitdo à ordem - Os beneficiários são Por isso não está sujeito a imposto de transmis-
os herdeiros do segurado, não distin-
guin·do a lei a respeito desses herdei- I são causa mortis e nem responde pelas dividas
ros, se legitimas ou testamentár·ios. Ar- do falecido, isenção autorizada expressamente
tigo 1 . 473 do Código Civil. O seguro de
vida não está sujeito a imposto de trans- pela lei municipal - decreto 4.613, no art. 62,
missão. n.o 3. O beneficiário não adquire j1~re hereditá-
rio, mas sim jure próprio: opera-se a transferên·
Vistos, relatados e discutidos estes autos cia como se se tratasse de um direito condicional
de apelação civel n.o 1. 425, em que é apelante e verificado o óbito, o direito retroage até a data
o Dr. 3.o Curador de Orfãos e apelada Erika do contrato, o beneficiário é o credor imediat~
Hupfeld, inventarilil.nte e testamenteira do es- desde a origem da convenção (Vivante - Trat.
pólio de Hermann Rupfeld. di Dir. Com. vol. IV, 5.a edição, fls. 501; Godant
Acordam em 5.a Câmara do Tribunal· de Ape- et Perraud. Code des Assurances n.o 755-60).
lação, pelos votos do relator e revisor, em dar Mas a lei brasileira não faz distinção entre her·
provimento, em parte, ao recurso, nos termos deiros legítimos ou testamentários e sendo a
do parecer elo Dr. Procurador Geral. viuva meeira apelada a herdeira usufrutuaria da
De fato, no seguro emitido á ordem, os bene- parte disponível dos bens inventariados,· o pro-
ficiários sãc; os herdeiros do segurado, em face duto do seguro deve ser dividido na forma do
do texto expresso ela lei (Cod. Civil, art. 1.473, parecer do Dr. Procurador Geral e nestes termos
in fine) . Se o legislador não falou no cônjuge,
é dado provimento em parte ao recurso para ser
fe-lo intencionadamente, porque, como bem diz modificada a partilha.
o parecer, o legislador sabe falar, e é contrario Rio de Janeiro, 7 de Agosto de 1942. - Fre-
de1'ico Susselcind, Pr·esid'"nte. - A. Saboia LiPW,
á boa hermeneutica presumir que o ná!) saiboJ.
para, sob esse pretexto, interpretar a lei dando I relator.- Candido Lobo.
lhe pen.samento diverso elo expresso inequívoca-
(381
20-1-43 MlCHI\'0 JCDICIAIUO 111
(CAPITAL)
Ou, conforme recomenda Ramalho, -- "os
louvados ... declararão o valor em que estimão-
Nem sempre_ a avaliação para inventário pode nas, não pelo mais alto .preço que puderem al-
servtr de base para a adjudicação; aten- cançar no mercado, mas com moderação e equi-
de:ndo a possível valorização e principal-
mente por se tratar de 1Lm único bem dade pat·=rnal" (lnst. Orfanológica, § 114).
inventariado, o juiz deve ordenar nova
avaliação. O me:;omo Lobão dizia, com a sua conhecida
sagacidade: "não .pode fazer-se argumento de
Vistos, relatados e discutidos estes autos do justo valor, nem com as avaliações feitas em
processo n. 17.054 - agravo de instrumento de inventário, porque ou favoraveis e diminutas
São Paulo - em que é agravante o Dr. myss2s Pegas, 10 !for., p. 549, Col. 1 Pon. C. 2 n. 15
Coutinho e é agravado o Dr. curador de Au- - ou excessivos para ostentar riquezas e animar
E~tes: casamentos de filhos" (fls. 297, n. 47, op. cit.,
51).
Do despacho que ordenou se fizesse nova
avaliação para o efeito da adjudicação reque- A adjudicação, prin-ci;:Jalmente se tratando
ri da pelo Dr. mysses Coutinho, como cessionário de um único bem inventariado, deve ser pelo
de dois ·herdeiros dos falecidos Alexandre cunha mais alto preço que ele possa alcançar no mer-
e sua mulher, do único bem inventariado, foi cada, sem o que os outros herdeiros serão le-
pelo requerente interposto est2 agravo com fun- sados.
damento no art. 842, n. XI, do Código de Pro- No caso dos autos, há, alem do requerente,
cesso C i vil. um outro herdeiro ausente. O juiz tem r:~zões
Toma-se conhecl.m.ento do recurso porque 0 .plausíveis para acreditar na valorização do bem.
despacho importou em negar a adjudicação, tal terreno na rua Oscar Freire, da data da ava-
como foi pedida, isto é, tomando-se por base liação· no inventário para cá. Ordenou multo
a avaliacão feita no inventário. bom. a nova avaliação. Por esta o requerente
poderá fazer a aqjud!cação. Se lhe não convier,
Nem sempre a avaliação feita em inventário
o remédio jurídico é a venda em hasta pública
pode servir de base para a adjudicação.
ou o condomínio .
Lobão distingue no preço natural de uma
Pelo exposto, acordam em Primeira Câmara
causa, - "isto é, no regulaclo pela estimação e
o.pinião pública", _ três graus, ínfimo, módio e Civil do Tribunal de Apelação negar P.l·ovimento
supremo (At:aliaçüo, § 50) . ao agravo. Custas pelo agravante.
Nos inventários, a avaliação dos bens, se- São Paulo, 14 de Setembro d·e 19<±2. - Ma-
gundo a lição de Pinto de Toledo, deve se re- rio GH-i17Wrães, Presiclente. - Paulo Colo11/JO,
guiar - "pelo preço médio, e não pelo mais relator. - J. M. Gonzaga.
( 40)
20-1-43 ARCHIVO JUDICIARIO 113
DO RIO DE JANEIRO
JURISPRUDENCIA
çõ2s únicas estabelecidas na lei. O domínio elos ter sido o ato praticado em estado de neces-
!moveis só se adquire com a transcrição. Antes sidade, em legítima defesa, em estt·ito cumpri-
da transcrição do titulo, não é licito ao adqui- mento do dever legal ou no exercício regular
rente dispor da coisa imovel, gravá-la de onus, de direito, constitue coisa julgada no civel. O
hipotecá-la, reivindicá-la do poder de quem a agente fica isento da obrigação de ressarcir o
dano. causado. O Código do Processo Penal es-
tenha, nem se opor às ações reais. Se o adqui-
clareceu dúvidas. Prescrev.e no art. 66 ou e a
rente não transcr·Bveu o titulo de aauisição, não decisão do Juizo criminal não será pre.1·1clichl
lhe pertence o domínio. Em relação ao alie- da ação civel se o acusado for absolvirlo sem
nante é ele simples credor. Não lhe cabe ação o reconhecimento, de modo categórico,_ da ine-
real de natureza nenhuma. Contra :::> alienante xistência material do fato. O art. 67, autoriza,
só tem ele ação pessoal. Para que fins? ou para tambem, a ação civel, embora t2nha o inquérito
coagi-lo a entreg:ar·-lhe o imovel, ou para obri- sido arquivado, por insuficiência de poova rela-
tiva à existência do crime ou sua autoria, não
gá-lo à indenização de perdas e danos. Quanto obstante decisão que julgar extinta a puni~Jili
a terceiros, é-lhe vedado intentar ação de rei- dade, ou apesar de sentença que declare que o
vindicação. Assim, quem não tem o domLl~O não fato imputado nào é d·efinido ccrrno crime. To-
pode reivindicar. Porque o fundamento (,nico e das a;; medidas assecuratórias sào dadas ao ti-
exclusivo da reivindicatória é o domínio. Aque- tular do C.ireito à indenização, que pode requerer
le que não é proprietário faltct qualidade para seque2tro e hipoteca legal dos bens do indiciado,
promover ação dominial. E' o que sucede na antes de iniciada a ação ou de haver julgamento
d·efinitivo.
espécie. O apelante quer reivindicar um imov·2l,
ou parte de um !movei, cujo domínio é da ape- A lei dá ao apelante os meios de cbter a
lada. A escritura de D. Alice de Barra.:; Aze- reparação dos danos que porventura tenlla ~o
frido. Permitir~lhe pross-eguir nesta ação impró·
vedo está registrada desde 5 de Outubro :!2 1931.
pria, sem fundamento legal, a qual, ao fim de
mais de dez anos antes da propositura da pre- contas, terá de ser julgada improced-ente, Eeria
sente ação. contrariar os princípios de celeridade, ec"'momia
Ação para obrigar a entrega do imovel deve e simplicidade, oue norteiam o direi:o •:·Clces-
ser intentada contra a vendedora. Ação d·2 nu- 'ual moderno.
Assim,
lidade da escritura e, em con~equência do re-
Acorda a Primeira Càmara conhec·~~· ' ape-
gistro, se cabivel, teria de ser intentada ·~ontn lação, negando-lhe provimento pelos .noti·lc<; e
a ré e a vendedora. Assim não procedeú o autor. fundamentos acima expostos.
Ação pauliana, d·2stinada a invalidar alienações Custas na forma da lei.
feitas em fraude de credor, não se confl;;ura nn Niteroy, 21 de Dezembro de 1942. - Macedo
espécie. Soares, Presidente. - Ivair Nogueira Itagiba,
Ação de indenização de perdas e danvs, l:á relator designado. - Barreto Dantas. - Olde-
de ser movida contra o delinquente, ou ;.;us h :r- mar Pacheco, vencido.
deiros, qUB devem responder pela obriga'<ão até
ao valor dos bens herdados. Agravo de instrumento n. 449
Sabido é que o delito pode causar dano pú- (ITABORAÍ)
blico nela perturbação da ordem social. Podf
Arts. 386 e 429 do Cód. Civil. A hasta pública
produzir, tambem, dano particular consbkl1te deve ser exigida para a venda de imo-
na violacão de interesses patrimoniais. A açãD veis de menores, quer estejam sob tu-
tela, quer sob o pátrio poder. A distin-
penal visa reparar o damo público com a apli- ção que sempre se fez a respeito não
cação da pena ao dellnquente; a actio civilis tem razão de ser. O art. 386 só se refere
à autorização judicial. Não fixa o modo
ex-delicto tem por fim ressarcir o dano partt- por qu,e é realizada a venda, que deve
_cular causado. ser em praça. - O Código de Processo
Civil, sem quebrar a unidade do direito
Em havendo julgamento no processo crime, nacional, detennino1L nos arts. 495 e
oumpre ao Juiz do civel aplicar o art. 1. 525, 498 que os bens necessários ao paga-
mento do passivo, de custas e de im-
do Código Civil, segundo o qual não é possivel postos nos inventários, onde existem in-
"questionar sobre a existência do fato, ou quem teressadDs menores, sejam vendidos em
hasta pública. - Em qualquer caso,
seja seu autor, quando estas ·qu-estões se ach~t desde que há menores, a licitação é da
rem decididas no crime". E' terminante, j)Ois, nat1L·n:za das vendas. - O pátrio poder
a prejudicialidade do jtúgamento crLt:ninal .s••b ·e é antes um dn•er do qnc mn direito.
o civel no que diz resneito à existência do <~to Vistos, relatados e discutidos estes au:os de
e à autoria. A sentença penal que reconbccct agravo de instrumento n. 449, de Itaboraí, em
(43)
11G AHCHIVO JUDICIAHIO 20-1-43
que é agravant€ o Dr. Adjunto de Promotor de A hasta pública é 11ma necessidade. num e
Justiça, e é agravado o espólio de Manoel Ma- noutro caso. A distinção, que vem sendo feita,
galháJes Bastos: não tem razão de ser. E foi por esse motivo
o despacho agravado consentiu na venda de que o Código do Processo Civil, sem quebrar a
bens imoveis de menore~ sob pátrio poder, com unidade do direito nacional, regulou a ma.térla
dispensa da formalidade da hasta pública .. Vem nos inventários. Os arts. 495 e 498 do Código
a talho dizer .que juristas da autoridad.., de do Processo prescrevem que os bens ·neceEsários
Virgilio Sá Pereira e Clovis Bevilaqua susten- para o pagamento do passivo, ·de .preferência os
taram, interpretando os arts. 386 e 429, do Có- moveis e semoventes, de impostos e custas, se
digo Civil, que só deve ·ser exigida a hasta pú- não houver no monte importância suficiente em
blica para. a alienação dos imoveis de menores
dinheiro, serão vendidos em hasta pública. Tudo
sob tuteia. Em se tratando de menores sob o indl·ca que, em qualquer caso, desde que existam
pátrio poder, basta a autorização judicial. Os menores, a licitação é da natureza das vendas.
tribunais brasileiros perfilharam a opinião dos Na espécie é a venda pedida para pagamento
eruditos e laureados jurisperitos. Os Juizes, na de impostos, custas e dívidas. Pelo que se de-
sua maioria, aceitaram a lição. E, tambem, os pr•2ende dos autos, autorizou o Juiz a alienação,
advogados sem-pre estabeleceram a clistinção en- independente de praça ou de leilão público, de
tre menores sob pátrio poder e pupilos, invo-
todos os irrnoveis com.ponentes do espólio. Cum-
cando a ;õUma apadrinhagem dos dois insignes
pre ao Juiz, antes do mais, averiguar a necessi-
mestres.
dade da venda alegada pela inventariante. Se for
o art. 386 do Código Civil faz depender da réalmente procedente o pedido, deverá permitir
autorização do Juiz a venda ou onus dos bens
a alienação, em hasta pública, tão somente da-
imoveis do menor sob pátrio poder. Vê-se que
quilo que for de evid·2nte utilidade, de incon-
o preceito só se r2fere à autorização. testavel necessidade, ou ·estritamente indispensa-
Não fixa o modo por que é realizada a ven-
savel ao pagamento das despesas. De mais a
da, que deve ser em hasta pública. O Juiz é
mais, corre-lhe a obrigação de dar preferência,
o acautelador dos intere.oses dos menores, quer
na venda, aos moveis e semoventes, se porven-
sejam pupilos, quer est:ojam :oob o poder pater-
tura existirem. Só assim terá resguardado, como
nal. Os po-deres do pai, no que tange com os
or.gão que é do poder estatal, os elevados inte-
bens dos filhos, não devem, via de regra, ex-
resses dos menores, que lhe compete acautelar.
ceder aos ela simples administração. O interesse
Por esses motivos,
do filho está acima do inter2sse do pai. O pá- Acordam os Juize3 da 3a Câmara do Tribu-
trio poder é antes um dever que um direito. nal de Apelação, em dar provimento ao agravo
Se o .pai ·comete abusos de ordem moral ou para o fim de determinar sejam rigorosamente
econômico, intervem o poder social, represen-
observados os arts. 495 e 498 do Código do Pro-
tado pelo Juiz, para imp-2dí-los ou corrigi-los.
cesso Civil.
Se a hasta ·pública resguarda melhor. os inte-
resses dos pupilos deve ser exigida, tambem, em Custas na forma da lel.
relação aos atos alienativos dos bens de menores Niteroy, 14 de Dezembro de 1942. - Ivair
sob pátrio poder. Pais existem que· não se pe- Nogueira Itagiba, Presidente e relator. ·- Side-
jam em 'prejudicar os próprios filhos. nham Ribeiro.
(44)
20-1-43 ARCHIVO JUDICIARIO 117
DE SANTA CATARINA
JURISPRUDENCIA
Destarte, o parágrafo 2° do art, 56, do Có- siclo pagas as cust~s. terá a decisão passndo en1
digo de Processo Civil, afasta toda e qualquer julgado, salvo força maior.
dúvida. EssG ê, aliás, a- lição dos comentadores
Diferente é a providência determinada pelo
autorizados, com'o Jorge Americano, ("Comentá-
art. 827, § 20, que trata do preparo do recurso,
rios" - vol. 10, pãg. 102, 103), Herotides da depois de recebido e i·mpugnctdo, em primeira
Silva Lima (Código de Proc. Civil, Comentado, instância, para remessa dos autos à segunda ins-
pág. 111) , e Pedro Baptista Martins (Com .. tância.
vol. 1o, 160), de cujas opiniões se valeu o Dr. No pr!lneiro caso, se não .forern pagas as
Cassiano Marcotn•des Rangel, Juiz de Direito de custas, o recuEo náo será admitido, não haverá
Capivari, em bem fundamentado despacho, con- recm·so; no segundo, o recw·so existirá, terá sido
firmado por acordão da 2a Câmara Civil do Tri- interposto, mas ficará deserto, se as des·pesas
bunal de ApelaçãD de São Paulo (Revista dos não forem pagas antes de find·ar o prazo para
Tribunais - vol. GXXXVTII, págs, 119 a 121) . a remessa. Estas deepesas compl'eentiem, ape-
E' lição de;;se acordão, que se ajusta, como uma nas, os emolumentos e custas devidas, depois de
luva, à espécie debatid•a: recebido o recurso-e as do seu porte.
"No regime da lei anterior, as custas de pri- Nem foi outra coisa o que decidiu a P Câ-
meira instância eram pagas antes de ser pro- mara no acordão citado, em que se lê o seguinte:
ferida a sentença, podendo o réu ser absolvido "Nos termos do art. 56, § 2°, do Código
da instância, se ·o autor não fizesse o pag~mento Processual. a:; custas devidas até a audiência,~
dentro do prazo de trinta dias, depois de inti- ou relativas a atos nellL praticados, serão pagas
mado. Ao autor não seria licito pretender que pelo interessado, antes da interposição do re-
fosse proferida sentença, antes de pagas as curso ou da execuçã.o da s~ntença. E o art. 827,
custas. § 20, estabelece que o escrivão não será obri-
Com a aceleração trazida pelo novo Código gado a remeter autos (no caso de recurso), sem
e introduçã.o do sistema oral, o processo teve o pagamento das de;;.pesas do preparo e da re-
de ser modificado. As custas vão sendo pagas, messa. Quer tudo isso dizer que, antes de in-
à proporção que as partes vão praticando atos t.errpor o recurso, deve o vencido pagar as custas,
processuais, de modo que o juiz possa preferir que, até enHio, se hajam tornado exigíveis; e,
a sentença na própria audiência em que se fez a antes de subirem os autos, as do preparo do re-
instrução, ainda sob a impressão produzida pelas curso e remessa daqueles. Da combinação dos
provas e debates orais, sem necessidade de man- dois dispositivos se conclue que, antes da subida
dar os autos ao contador. Ficam, porem, certas do recurso, as custas ainda em débito e as des-
custas, que não podem ;;er solvidas no momento pesas de remessa hão de ser pagas pelo recor-
em que o ato é rpraticado, como a própria au- rente".
diência de Instrução e julgamento. Para asse" 1 Não é possível ser mais claro. As custas a
gurar o imediato pagamento dessas custas e serem pagas antes da subida do rccut·so são as
t~mbem evitar recursos prot·elatórios, estabe- que forem feitas depois da sua int·erpo3ição e
leceu o legislador providência eficaz, não admi- não as anteriores.
tindo recurso do venCido, nem ingresso 'do ven- A analogia procurada pelo agray;ante, com
cedor à execução, sem que estejam saldada:;. outras disposições da lei processual não pode
Comentando o art. 56 e o citado parágra- ser admltlda, por terem elas finalidades muito
fo 2o, diz Jorge Americano: diferentes. No caso dos autos, trata-se de um
requisito para haver recw·so, que não foi obser-
"No sistema oral, tievendo a sentença ser
vado.
proferida em regTa, na própri·a audiência, a re- A exigência legal ob;;ervada pela--decisão- re-
messa dos autos ao contador seriam um óbice , corrida não ê draconiana, nem cerceadora. da.
à celeridade do julgamento. Por isso, a lei pro- defesa. Se ao Juiz foss~ lícito acolher os ar-
videncia para que, seguindo-s3 a sentença, em
gumentos do agravante, tambem poderia dila-
ato contínuo às provas, as cu;tas sejam poagas
tar o prazo para o preparo, o que lhe é defeso"·
antes elo recurso".
- Silveira de Souza, relator. - Guilhern~e
Como se vê, o pagamento das custas ante-
riores é uma condição para ser admitido o re- Abry, com voto de desempate quanto à pr·2li-
curso. A penalidade é fatal, po!s, decorrido o minlir. - Fui presente: Manoel Pedro Silveira..
prazo para óUU interposição, sem que tenham
(46)
20-1-43 AHCHIVO .TUDICIAHTO 119
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l.a1t
120 AHCHIVO JUDICIARIO 20-1-43
JULGADOS E PARECERES
- que, por informação do Inspetor fiscal Importaria, afinal, em uma deformação das fi-
Sr. Mario Altino. justamente a autoridade que nalidades do Ministério Público Federal.
lavrou o auto acima referido, ficou ciente ele Os autores juntaram a fls. 23 a cópia fo-
que em suas mãos se encontrava a cópia da tostática do recibo referente ao depósito feito
contra-fé que foi dirigida ao D1'. Procurador na Recebecloria do Distrito Federal da multa
que funciona no feito, para ele mesmo tl8.r a imposta em virtude elo auto em que se exige
informação ele praxe, isto por determinação elo o pagamento, nesta Capital, elo imposto de ven-
Dr. Rezende Silva; das e consignações das obms feitas na cidade
- que, tendo o referido Inspetor Fiscal in- dt. Santos e objeto da presente ação. A fls. 27
teresse na causa, e send•J o autor ela exigência consta o termo da conferência determinada por
do pagamento, neste Distrito Federal, elo alu- este Juizo.
dido imposto, outra não poderá ser a sua infor- Observadas as formalidades legais, foi pro-
mação do que sustentar o seu ponto de vista. ferido o despacho saneador de fls. 30 v., do
Requerem, afinal, a jc:ntacla dos documen- qual não houve recurso.
tos de fls. 13 a 15, afim ele contradizerem <.1 Comparecer:;tm à audiência ele instrução e
informação que - a seu critério - seria pres- julgamento o clr. advogado dos autores e o dr,
tada. 1 . o Procurador ela Repúbllca, que se . reporta-
O Dr. 1. o Procurador da República apre- ram, respectivamente, aos argumentos desenvol-
sentou a contestação de fls. 17 a 19, na qual Yiclos na inicial e na contestação.
alegou, Isto posto:
Preliminarmente: Os autores pretendem seja dechraclo por
- que, na espécie, não parece cabivel tt este Juizo qual o Jogar em que deve ser pago
ação declaratória, por mais ampla que seja a o imposto sobre obras e imóveis em constru-
sua compreensão e a sua aplicação no atual ção: se nos Estados, ~mele são executadas as
regime processual, ume vez que o seu objetivo mesmas obras; ou no Distrito Federal, em razão
é que o Poder Judiciário cl.eclare o direito, ten- ele tere11J. os autores aqui sua sede e haverem
do-se em vista uma determinada relação juri- ditas obras sido ajustadas, tambcm, nesta ci-
dica e,. no caso em espéci~. foi provocada a ma- dade.
n!festaçfto do Poder Judiciário apenas em tese,
O art. 2. o elo Código ele Processo Civil
sem ser estabelecida qualc;,uer situação ele iato
dispõe:
para que o mesmo Poder se manifestasse sobre
"Para propor ou contestar ação é necessá-
o direito decorrente elas mesmas situações de
rio ;egitimo interesse, econômico ou moral.
fato; Parágrafo único. O interesse do autor po-
- que o Poder Judiciário não pode ser derá limitar-se à declaração da existêncict ou
transformado em orgão cousultivo fora ele suas
inexistência de Telaçao juTfdica ou a declaração
iunçõcs especificadas ele natureza puram·ênte I de a1ttenticidade ou jalcidade de documen-to".
jurisdicional; 1
rei to, quant0 o famoso personagen1 ele Mo. 1 Será um clire'to o que pretendem eles seja
Jiére se embasbacou, quando soube que havia declarado por este .'Juizo?
mais de quarenta anos fazia prosa, sem se Para a propositura da ação declaratória,
aperceber disso" (Tratado de Direito Civil Bra- segundo Chiovenda, são necessárias tres con-
sileiro, vol. 9. 0 , pág. 592) . dições: 1.a) - Existência de vontade ele lei
Referia-se o consagrado jurista à passagem -cuja declaração positiva se pleiteia, ou que
focalizada por Moliére em "Le burgeois gen- não exista a ele que se pleitea a declaração ne-
tilhomme", nos seguintes termos" gativa; 2.a) - a "legitimatio acl causam"; 3.a)
"O professor de filosofia: - o interesse de agir.
"Tout ce qui n'est point prose est vers; et As duas primeiras condições exigidas não
tout ce qui n 'est point vers est prose". merecem estudo no caso sub-judice, uma vez
que há uma lei cuja vontade positiva é plei ..
M. Jordain:
teada e ou autores são partes legitimas "acl
Et comme l'on parle, qul est-ce que c'est
causam" por isso que poderiam exercitar ação
clone que cela?
condenatória.
O Professor:
~oclavia, merece cuidadoso exame a tercei-
De la prose.
ra condição.
Jourdain:
Doutrina Chiovencla que "com respeito à
Par ma foi, i! y a plus ele quarente ans ação declaratória como figura geral, desejando
que je clis de la prose, sans que j'en susse encontrar uma fórmula compreensiva ele todos
rien".
(Ato II, cena IV - Oeuvres complétes de
I os casos possíveis, pode ·Se dizer somente que
o interesse de agir decorre de mna situação de
Moliére). jato tal que o autor, sem a declaração judicial
O conceito de relação jurict:ca, segundo " da vontade concreta da lei, sofreria mn dano
conclusão ele Esplnol&, após investigação dou- injusto, ele modo ·que a declaração judicial se
trinária e segura, pode, a rigor, extencler-se apresenta como o meio necessário de evitá-lo.
alem elo ele direito subjetivo, eis que alcança, Essa é, cabalmente, a definição assimilada no
tambem, quando há um intermediário entre o projeto da comissão para a reforma elos Có-
sujeito e o bel)l, o dever elo obrigado. E, pois, digos. Mas é, sobretudo, a prudência elo magis-
·a relação jurídica, alem ele abranger o ct:reitc> trado na avaliação dessa necessidade, caso por
subjetivo, compreende o dever jurídico, quan- caso, que pode garantir contra abusos even-
do há uma obrigação concreta (Eduardo Espi- tuais, como sejam os processos colusórios ou
nola e Eduardo Espinola Filho, Tratado de Di- fictícios, as ações inconsicleradas e vexatórias
reito Civil Brasileiro, vol. 9, pàgs. 584 e 585) . Pode semelhantemente dizer-se·, de modo
Contudo, nem sempre, como esclarece geral, que a incerteza t2m ele ser objetiva, no
Francesco Ferrara, as relações jm·idicas são sentido ele que não basta que o tit1ilar de um
fonte imediata ele dire:tos e obrigações; muita direito esteja inseguro dele, mas exige um
vez são, apenas, a base de direitos e obrigações I ato ou fato exterior objetivo, em condições ele
possíveis no futuro. tornar icerta a vontade concreta da lei no es-
Em suma: "Haja ou não am·eaça ou viola- pírito ele qualquer pessoa normal. A incerteza
ção de seu direito, ao autor em caso ele dúvida tem ele ser jurídica, isto é, relativa a direitos
ou incerteza relativamente a determinada si- ou obrigações; e atual, isto é, já existênte e
tuação jurídica, ou quando lhe pareça necessá- não só possível". (G. Chiovenda, Instituições
ria a declaração da sua existência ou Inexis- de Direito Processual Civil, tradução portu-
tência, será sempre licito o exercício da ação guesa ele Guimarães Menegale, vol. 1. 0 , pági-
declaratória· (Comentários ao Código de Pro-~ na 324).
cesso Civil ele Pedro Baptista Martins, vol. 1, Aplica-se perfeitamente aos autores a ex-
pág. 34). celente página de Chiovenda.
No caso em estudo, os autores teem a obri- Há, realmente, uma situação de fato qual
gação concreta ele pagar, mas estão Incertos a a ela incerteza elo local onde deve ser efetuado
respeito elo lugar onde efetuar tal pagamento. o pagamento elo imposto devido, situação qué!
Fugirá a pretensão elos mesmos à realida- pretenclem seja declarada.
de concreta como sustentou o ilustre Dr. 1. Do mesmo 1noclo é objeti\·a a :ncerteza,
Procurador da República? tanto que já foram multados por não h?.vercm
(51)
12-! ATICHIVO JUDICIAIUO 20-1-43
feito os pagmuentos onde as autoridades cn- ' ilustre magistrado Guilherme Estellita (Da
tendiam devia o mesmo ser efetuado, o que Ação Declaratória no Direito Brasileiro, pág. 89).
lhes causou prejuízo. Na verdade, como doutrina o brilh<,nte e
E' sem dúvida., atual a incertea. seguro processualista Luiz Machado Guimarães,
Será a mesma jurídica, relativa a direitos ou nenhum tema tem prendido com mais inwnsl·
obrigações? dade a n.tenção da moderna doutrin<J, ele clireiw
Pagar não é apenas uma obrígaçao do réus processual do que o estudo da ação dectarntór!a.
Debeüdi, mas tambem um Direito c;_ue result:~ (ARcHrvo JUDICIÁRIO, Suplemento, vol. 40, pá-
da faculdade que assiste a quem se acha vincu- gina 41).
lado juridicamente de desprender-se desse vín- Nesse sentido, são de claresa meriaiana a,s
culo. A amparar esse direito existe o r<>média cc.nsiderações elo grande Costa Manso. com :rela-
específico da açã0 de consignação em pagam<mto. ção à ação declaratória, "remédio preventivo elos
Entretanto pa.ra a validade do pagamento. litígios''. "Por ela, exerce o Estado a açfto tutelar
torna-se necessário seja ele feito ao credor no r,ue lhe coiil!Pete, não só assegurando a paz en-
tempo, forma e lugar determinados na convenção tre os cidadãos, mas tambem garantindo os Cl!-
ou na lei. reitos subjetivos, quando, ainda que náo viola-
Assim, para o exercíci 0 desse dil''"ito tem o elos, sofram grav.e, ameaça ou se tornem incertos,
devedor interesse em saber onde deve St"r efe- e da! resulte uma diminuição da sua importãa-
tuado, o que é indispensavel à sua validade, cuja cia social'' .
efetuação é dever, mas, tambem, direito seu. E!n seguida, apresenta ele esse <)Xelnplo:
Ademais, se a obrigação é uma restrição da "Impor-me paralelamente o sacrifício de
liberdade, no entender de Savigny, por isso wes- aguardar o vencimento da divida, pa:·a sõ então
mo é a situação transitória que explica o pensa- agir, será tornar ilusória a garantia, será dimi-
mento de Ferrara de ser a obrigação um meio nuir a extensão do meu direito. A açilo declara-
dinãmico para a consecução de um fim, verdade tória, entretanto, me acudirá, pois, por meio dela
que se verifica em todos os vínculos obl·igacio- afasto a dúvida suscitada, torno l!mpido o di-
nais a não sei!' nas obrigações negativ:~s. reito, e evito o dano que estive an~eaçado de
Em suma: se o devedor tem dil'eito de pa- sofrer".
gar para se liberar do vinculo a que está preso, E ter:mlna o grande jurlstlL:
tem direito, quando sm·ge dúvida concreta e "Recusar a ação meramente dcclaratórta,
obfetiva d·"' saber das condições de validade admitindo apenas o uso do remédio judicial,
desse pa.ganl!ento entre as quais a do lugar ela quando o direito se tornar e'Xigivel, é, óe um
solutio. lado, deixar sem garantia inúmeras rclaçõe3 ju·
Os autores, no caso estão incerto.s quanto a 0 r;dicas e, de outro, colocar-se o Est:tdo na po-
local do pagamento que, sem dúvida, é uma si- oição de um provocador de litigios, :;ó se i'J.L2!'·
tuação de fato; e essa incertea lh·es pode causar pond 0 entre os contendor-es depois d," tn.vada a
prejuízo, o que aliás já se verificou, uma vez qu,e luta. O Estado, escreveu alguem, exige o respei-
após a propositura da presente ação, foram au- to à lei por ele promulgada; não deve, pois, or·
tuados em virtude de não terem recolhido, no denar ao cidadão que a infrinja para só €ntáo
Distrito Federal, o imposo de vendas e con&igna- conhecer o seu alcance".
ções referente a obras executadas nos Estados Sustenta., tarnnem, o llustre e btilhante Dr.
da União, onde 0 veem pagando regularmente. 10 procurador da República que na ~.çã 0 decla·
Há, portanto, incerteza jurídica causadcra cie ratória em matéria fiscal não pode &er :1dmiti·
prejuízo objetivo e atual, razão por que cabe ação da a def-esa sem estar :previamente seguro o juizo
declaratória para (prevenir danos injustos, que pela penhora ou pelo depósito do imposto exi-
se sucederão, alem do verificado log0 após a pro- gido e, nesse sentido, invocou um voto proferi-
positura desta demanda. do pelo Ministro Castro Nunes.
Nem se diga que poderiam os autoreó: espe·- Não se aplica à hipóte.se dos c..ut•JS o acordãO
rar a efetivação do dano para, em emb!U'gos ao invocado porque os autor-es não contestam a
executivo, sustentarem o seu direito, o que serta legitimidade do imposto como ocorr.Ju no caso
negar à açã 0 declaratória "forma aperfeiço:tda de aoordão citado, em c.ue o autor ~ustentava
de tutela jurídica, porque ampara os direitos não estar obrigado ao pagamento do sclu peni·
a~tes mesmo de violados'' na feliz expressáo do tenciário.
(52)
20-1-43 ABCHIVO JUDICJAIUO ·)~
1 -d
Na espécie. os autores nem depositar podiam "A operação de que se trata, po1·cm, apre-
porque estavam incertos a respeito ;lo lu;,tar do senta mais de um momento: à tradição antece-
pagamento, cuja declaração pleiteiam, e ne.ssas de sem;pre com -espa<;o maior ou menor de tem-
condições, nem saberiam onde efetuc~r o riepósi·· po, o contrato que, como disse Dernburg, cita-
o, antes de propor a ação. do na lição de Carvalho de Mendonça, é- o pri-
meiro degrau para a aquisição da.. coisa .por
Entretanto, tendo sido n1.Ultaaos d·epots ele
parte do comprador".
proposta a ação e de intimada a Uniào, dero.sita-
"O contrato torna-se perfeito pelo mútuo
ram a importãncia, como faz cerLo o clocun1en';o
consenso. Não transf·ere a propriedade, mas ori-
de fls. 23, devidamente conferido a fls. 27.
gina o Jus ad 1·em obtinentam, por força do
Depois desse fato ainda pretend<'m ""]a cie- I
1
qual pode o comprador exigir, judicialmente, a
clarad 0 qual 0 lugar anele deve .ser feito o pa.- tradição".
gamento do imposto, o que lll<=S ê licito ccmo Decompondo-se, pois, a operação eJr.. dois
entendeu o Ministro Castro Nunes no próprio momentos. não é absurdo, em reg•:a, possa o
voto referido pel 0 Dr. 1o Procurado!· da. nepú- f!Eco fazer incidir o imposto em qualquer deles.
blica, sustentando "que o contribu:nte tem o Isso na comiPra e venda. comu1n, e~n que há,
direito de antecipar-se ao executivo fiscal para. apenas, o fornecedor e o comprador 0 o contrato
discutir com a Fazenda o seu direito, ::> qe<e é per se refere especialmente às mercadorias nt>gocia-
m!t!clo para que o contribuinte nã.o sofra inhib!- das.
çõel! n~~o sutt atividade de Industrial ou conl.er-
No caso dos autos, todav1a, os uutores, c,n-
ciante ( Aar:HIVO JuDICIÁRIO, vol. 60. pág. 397),
genheiros empreiteiros, têm a sua sede no Dis-
como poderá acontecer cmn os autol·es, em vir-
trito Federal e estão executar1do as "on~truções
tude da incerteza existente quanto a:> local do fora daqui.
pagamento do imposto.
Segundo o critério das leis fiscais' o lugar ela
Nessas condições, não procedem as preli- operação era o -em que tinha o ·;cnder!or a fede
minares arguidas pelo ilustre Dr. 1° Procurador do seu estabelecimento, e definia lugar d::;, ope-
da República. ração 0 em que .se achava situada a sede do PS-
Deve, pois. ser declarado por este ,ruizo qual tabelecimento do vendedor, critério que viriha
o lugar em que os autores devem efetuar o pa- desde a lei n. 187, de 5 ele Jandro de 1936, cujo
gamento do imposto sobre obras e :moveis em artigo 37 estabelecia:
construção . "As vendas e consignações por com.,rcian-
Os aut.ores reconhecem que com,, emprei- tes, produtores, inclusive indust!'iais, conside-
teiros construtores sã 0 considerados, pela lei ram-se efetuadas na localidade em que tenha
fiscal, comerciantes pelo fato de fornecerem às SEde o estabelecimento do vendedor, cu con-
obras que cxecut~m os yários materhis t:ecessii- signante; e quando o vendedor ou consignante
r!os à sua construç3.o. Teem dúvid~.s. ap~nas. tenha mais de um estab·elecimento considcrn!1l.-
r,uanto ao local onde deve ser fei 0 tai pagamen- s.e l'ealizada onde se ache situado o da c,_ue se
to: se no Distrital Federal, sede da firma., ou no fez originarimnente a expedição da mercadoria,
Estado onde executam as construções. ou em que o produto vendido, ou c;onsignac!o,
Questão .semelhante a essa, mas não idênti- foi obtido ou preparado, inicial ou definitiva-
mente".
ca, foi discutida no agra.vo n. 9. 333, d 0 qual f vi
Esse critério foi afastado pelo artigo 10 d 0
relator o eminente Orozimbo Nonato, que, com
o brilho e a segurança de sempre, sustentou: decreto-lei n. 140, de 29 de Dezembro de 1937,
que estabeleceu:
"O lugar da operação é, realmente, pelos
"O imposto sobre vendas e consignaçijes a
principias d 0 direito comum, aque-le em que se
c,ue .se refere a letra "d" do n. 1 do artig 0 23
verifica a tradição, isto é, a entrega da coh;!J, n.o
da Constituição é devido no locll da origem da
comprador, ou melhor, a passagem desta C·Jisa
operaçã.o, e para efeito da tributJ.ção consideram-
ao seu poder jurídico".
Se vendas ou consignações as transferências de
"Sem a tradição não se verifica a transfe-
mercadorias :para esses fins destinadas·•.
rência ela pcroprledade". (J. X. CarvalhJ de
M:enclonça, Tratado de Direito Comercial, vol. mas voltou a dominar co1n o decreto -121
tl. 0 , n. 600; M. I. Carvalho de Mendonça, Con- n, 915, que n 0 art. 10 determinanl. :;e,· o impo.s-
tmtos, vol. 1.o, pág. 323). to de vendas e consign.1ções cleviclo :10 lu"'l'' em
(53)
12ü ARCHIVO JUDICIARIO 20-1-43
que se efetuava a operação, IS no parágrafo únic8, a faz::-r. E' po:·tanto. na execução ela construç5.o
definia lugar em que se efetuava a opcraçãc para que o imposto de venda e consignaçõe.s é de-;ido.
efeitos fiscais. Na verdade, o empreiteii·0 de obras p consi-
"o em qtw tem s2de 0 Htabel-?d~ento do derado comerciante, pelo fafo de fornecer às
obras que executa os materiais necessários à sua
vendeor ou consignante, seja mairiz, filial, su-
construção. Não importa, todavia, para os efei-
cursal, agência ou representante co1n c:epósito
tos fiscais, que o empreiteiro compre as merca-
a seu cargo das mercadorias vendidas fJU con-
l~Orias para as suas obras, porque o fato de as
signadas, salvo quando se tratar de venda efe- fornecer a seus clientes a lei o entende como
tuada diretamente pelo próprio fabricant~ ou vencla. Portanto, caracteriza-se o momento em
produtor, caso em que o lugar da operação será que o imposto de venda e consignações é devido
aquele onde foi fabricado ou prodazidP. a merca- no ato da entrega dos materiais na obra que
doria". executar. E', pois, pelo emprego elo ma teria! na
construção que nasce a obrigação eLe pagar o
Entretanto, posterimm·ente foi promulgado
tributo, por que até esse momento só hwia a
o decreto-lei n. 1.061 de 20 de Janeiro de 1839, obrigaç'io de construir estabelecida no contrato
que expressamente retificou 0 parãgra.fo único de empreitada.
do artigo 1° do decreto-l-ei n. 915 de 1 d" De-
A respeito do momento do pag~mento do
:-~embro de 1938, acima referido, estabelecenclv
Lm.posto de v:ndas mercantis é princípio clomi-
en1. seu artigo único: nante na legiElação fiscal que a sw, obrigação
"-Para os efeitos fiscais, considem-se lu;;ar .se ccnsun1a con1 a. entrega, real ott. sin1bóllca, da
em qu2. se efetua a operação (vencia ou consi- mercacloria (artigo~ 1 o elo decreto n. 22. Ub1, ele
gnação) o em qUe está situado o estc.belecimen- 9 de Novembro de 1932) que, no ca.so. se v.·2·rit'ica
to do vsndedor ou consignante, seja matriz. filial quando a rne.oma é empregada na obra, ocasião
sucursal, agência ou representante co:n depósito da entrega ou tradição, momento snpr2mo üo
a s:u cargo das mercadorias vendidas ou consig- negócio jurídico, que torna consumado o con-
tra to, na fellz expressão ele Carvalho de ·Mendon-
nadas salvo quando se tratar de venda ou con-
ça (Trc•tado de Direito Comercial Brasileiro, vol.
signação efetuuda diretamente pelo próp! io fa-
6.o, 2a ,parte, pág. 21) .
bricante ou produtor caso em que o l'.Hjar da
Na espécie, à tradição não antecede, em re-
operação S·erá aquele onde foi fabricada ou pro-
gra, o contrato comum ele compra e V·2nei'1. dos
duzida a merc::~doria. Nos casos em que hem ver
materiais, devidamente discriminados, conw su-
s1mples depósitos de mercadorias a serem ne-
cedeu no caso acima referido, ::nas, apenas, o
gociadas por estabelecimentos situados em ten!
contrato de empreitada, do qual não se originou
tórios de Estados diferentes ,o lugar da operação
o 11Ls ad rem obtinentam, sufici:ntc pam c:on·
é aquele em que estiver situado o depósito onde
ceder ao comprador o direito de exig1r juc\icüi-
se encontrar a mercadoria".
mente a tradição, porque "para se operar a tra-
Assim, dA acordo com a lei em vlgm·, o im- dição a coisa vendida tem de achar-se cieterrni-
posto deve ser pago no local ondê foi efetu~td:t t.ada e certa" (Carvalho de Mendonça - Trata-
a operação; e .para ficar esclarecida, perfeitamen- d-o de Direito Comercial Brasileiro, vol. 50, 2~
te, a questão ê mister examin~ esw ,Tuto o caso parte).
em tela. Assim, no' caso, o fisco não pCJderh fazrr in-
cidir o imposo senão no momento da t;·nd!çáo
Trata-se de firma construtora que executa
do material, impo.ssivel de ser exigida pelo con-
obras n 0 Distrito Federal (sua sede) e nos Es-
trato anterior.
tados, ele modo que é preciso sa distinguir a on-
gem do imposo, ist 0 é, c;ual a opera<;ão de que Pelas leis acima referidas, tamberr. fiçou cla-
ele resulta, ro que "lugar da operação" é aquele em que se
vende ou se consigna a mercadoria existente t-m
Evidentemente, não se origina. o ~mpo.:;to re- depósito ~ cargo ou de responsabilidade do ven•
ferido de vendas e consignações do co:J.trato para c:lEclor ou consignante, tendo, portanto, a lei fis-
construir, ato que a lei sujeita EOmente ao pa- cal .seguido 0 rprincípio geral do no.sso d ire! to
gmnent0 do selo proporcion[ll; mas, sim. da cons- cmn relação aos ef-eitos do contrato na Vt'nda
trução que por ele os empreiteiros se obrigaram mercantil, c,_ue se consuma pela tradição.
(54)
20-1-43 ATICHIVO JUDICIAHIO 127
E o artigo único elo decreto-lei n. 1. 061. i Tanto assim é qu·2, enquanto n<'io e:<ecutar
a<:ima citado, estabeleceu, e~press:o~me~te, om &ua a obra que por contrato se comprometeu a fa-
parte final : ~er, não há imposto a exigir, só devido quando o
"No caso em que houver simples depósitos de empreiteiro forneee os materiais à -:onstrução.
mercadorias a serem negociadas por estabeleci- O momento da incidência, pois, é esse e
mçntos situados em territórios de Estados dife.- occrr·2· no lugar onde a construção é realizada
rentes, o lugar da operação é aquele em que es- porque, segundo a lei fiscal vigente, é nele que
tiver situado u depósito onde se encontrar a se efetnua a operação.
mercadoria". Nem se diga que o imposto deve ser pago
Ora, na espécie, os materiais são entregues sempre no Distrito Federal, em virtude da dis-
na obra, ond·2· se efetua a traclição, p<~ra nela. se- posição do decreto-lei n. 2. 383, de 10 de Julho
rem empregados, e é claro que os cmpr·2iteiros de 1940, porqu31 este só tem aplicação no próprio
antoiS de os entregar os teem em depósito a seu Distrit 0 Federal e não pretendeu, siquer, alterar
c&.rgo. Por isso, o imposto de venu::ts e consigna- cs princípios gerais já consagr2.dos na legislação
ções te1n origem no fato de fornecerem cs ;em- em vigor r~uanto ao "local da operaçã.o".
preiteiros materiais às obr::tS a executar, e, por Àtendendo, assim, e ao mais que do1 autos
ocasião de sua execução, é que devem ser emi- consta:
tidas as duplicatas representadas pela soma do Julgo proo2dente a ação e, em consequêncià,
lornecimento de ma terials já empregados na cieclaro que o imposto sobre obras e i.noveis E-m
obra. construção deve ser pago no rugar ela operação,
Assim, encontrando-se a mercadoria, antes isto é, onde houver depósito de materiais a cargo
da tradição, no locar onde a construção é execu- dos empreiteiros para fornecimento às obras que
tada, este é considerado o lugar da o~eração, E>stiverem executando.
conforme a parte final do artigo único Co de- Outrossim, determino sejam ob:;ervadas rs
creto-lei n. 1.061, de 20 de Janeiro de 1939 ora demais formalidad·es legais.
em vigor, razã 0 por que não há dúvicl:t de que .é Custas, ex-lege,
no lugar onde se executa a constr~ção que: o
P. I, R.
lm.poso de vendas e consignações é devido, e só
neSSe momento o empreiteiro toma, segundo a Recorro desta decisão para o Egrégio Supre-
lei fiscal, o caracter de comerci3.nte, quando for- mo Tribunal Federal.
nece os materiais que adquiriu para empregar Rio de Janeiro, 9 de Outubro de 1942. -
na obra. Aloysio Maria Teixeira,
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ARCHIVO JUDICIARIO
<PUBLICAÇÃO QUINZENAL 00 "JORNAL 00 COMMERCIO")
Denegação do pedido. Não infringe a lei a no art. 303, todos da Consolidação das Leis
presidente do Tribunal ou cãmara ou Penais.
turma que, no caso de empate, não
tendo toma-do parte na vot,•ção, desem- Houve recurso no sentido estrito, em cujo
pate contra o réu. Aplicação do arti· julgamento verificou-se empate. O PTesidente
go 615 § 1.0 do Código de Processo Pe·
nal. da Câmara, que não tinha tomado parte na
votação, tendo em vista o disposto no Codigo
RELATÓRIO
de Processo Penal, art. 615, § 1.0, proferiu voto
O Sr. Ministro Annibal Freire - Os advo- de desempate no sentido da confirmação da
gados Moésia Rolim e 'Ary Morais impetram pronúncia.
uma ordem de "habeas-corpus" em favor de O acórdão respectivo tem a data de 1.0 de
Djalma de Andrade Cardoso, pronunciado por Abril de 1942.
tentativa de homicídio na comarca de Gara- Não estruva, porem, em vigor o referido Có-
nhuns, Pernambuco, e preso na Detenção de digo, quando foi interposto o recurso.
Recife. Queira V. Ex. aceitar os meus protestos de
Alegam os impetrantes que o paciente so- consideração e estima.
fr.e constrangimento ilegal em face da decisão José Neves Fil-ho - Desembargador Presi-
do Tribunal de Apelação de Pernambuco, que dente'•.
confirmou a pronu,ncia do mesmo, tentlo o
VOTOS
presidente usado do voto de qualidade para so-
lucionar o empate verificado. O Sr. Ministro Annibal Freire: - Pela se-
A petição estende-se em considerações so- gunda vez o paciente apresenta-se a este Tri-
bre o assunto e invoca acórdãos do Supremo bunal, solicitando a medida liberatória.
Tribunal referentes aos casos de Oto Morais No "habeas-corpus" n.o 28.115, do qual foi
Rego, Osvaldo Botelho de Castro e José Joa- l·elator o Sr. Ministro Barros Barreto, 1icou
quim de Lima, pelos quats foram reformadas decidido indeferir ~ pedido, por não se achar
decisões do Tribunal de Pernambuco. o mesmo suficientemente instruido nem se ha-
Solicitei informações ao Exmo. Sr. Presi- ver provado o constrangimento.'
dente do Tribunal, que -m'as prestou com o se- No correr do debate, o voto do Sr. Minis-
guiu te ofício : tro José Linhai'!ls, acompan;hado 00. maioria,
"Em resposta ao oficio de V. Ex., datado acentuou que o paciente responde por dois ca-
de 24 de Julho último, tenho a informar o se- >Sos e quanto ao primeiro, a pronuncia não
guinte: devia ser confirmada, por ter ocorrido a pre-
Djalma de Andrade Cardoso, em cujo :fa- ponderall.cia do voto de qua.lidalde.
wor impetrou-se o "b,abeas-corpus" n. 28.235 O ,presente pedido vem 1acompanhado de
de que trata o mencionado ofício, foi pronun- certidões da decisão impugnada. e por isto li-
(1)
131) ARCHIVO .TUDICIARIO 5-2-4:J
por este Supremo Tribunal, em julgado que, com I eminente Sr. Ministro Costa Manso; Cód. de
outros, em casos idênticos, formou jurisprudên- Proc. arts. 329, 330).
cia correntia, ainda depois do deereto-lei 1.168, E estando a relação de direito de que se
de 22 de Março de 1939 e do dec. -lei 1. 564, de trata soberanamente decidida e encerrada, sob
de l:'etembro de 1939. o selo da coisa julgada, nãD era susceptivel de
Sustentou a Fazenda que o dec. 1. 564 tor- modificação por deçseto-lei posterior que não
I
nou .sem efeito as sentenças CDm que se adarga na atinge, aos melhores de direito e consoante
o embargante. Mas, o .Juiz deu ganho de causa jurisprudência deste Supremo Tribunal.
ao réu, nãD atribuindo efeito retroativo ao alu- ,Nego provimento ao recurso ex-ojjicio.
dido decreto e recorreu de s·eu oficio. DECISÃO
Nesta instância, assim se pronunciou o Sr. Como consta da ata, a decisão foi a se·
Dr. ~rocurador Geral da República: guinte: Negaram provimento. Unanimemente.
"Temos, em inumeros casos analogos, ali-
nhado as razões pelas quais não reconhecemos Acordão
a exceção de tratamento que se arrogam alguns Vistos, relatados e di'acutidos estes autos
magistrados estaduais, quando se negam ao pa- n. 10.326, do Espírito Santo, recorrente ex-
gamento do imposto de rendas. ojjicio, o juiz dos feitos da Fazenda Pública,
Como magistrados, estão sujeitos ao im- agravado Dr. Augusto Affonso Botelho:
posto geral sobre rendas os juizes, desde a Cons- Acorda o Supremo Tribunal Federal, se-
tituição de 1934 (art. 64, c, no fim).; como fur..- gunda turma, na conformidade das notas taqui-
cocmários, na acepção Jacta do termo, servi- gráficas precedentes e integrando neste o re-
dores da coisa pública, não teem direito à isen- latório de folhas, negar provimento.
ção, igualmente, desde que o art. 17, n. X da Custas na forma da lei.
Constituição de 1934 só isentava. desse tributo Rio, 20 de Outubro de 1942. - José Li-
os serviços dos Estados e dos Municípios, e seus nhares, Presidente; Orozimbo Nonato, re-
bens e suas rendas. Efetivamente, os juizes ou !ator.
funcionários não são nem bens, nem rendas,
nem serviços, - não se justificando assim uma
isenção que significaria tratamento desigual de
pessoas que auferem rendas acima de certo li- Agravo de petição n. 10.712
mite. A Constituição mantem o canon da igual- (DISTRITO FEDERAL)
dade de todos perante a lei; mesmD perante a I Petição inicial - Como deve ser tnstruida
lei do imposw de rendas cumpre que tal igual- Petição inapta - O que seja.
dade se observe.
RELATÓRIO E VOTO
Não 11á excusas razoaveis, data-venia, para
a isenção pleiteada. O Sr. Ministro Bento de Faria - No Juizo
Esp·eramos, pois, que o Egrégio Supremo Tri- da 1a Vara dos Feitos da Fazenda. Nacional nes-
bunal Federal reforme a decisão agravada e de- te DistritD, a Companhia Comercial Paulista
termine se prossiga no executivo. S. A .. intentou contra o Departamento Nacio-
14 de Abril de 1942. - a.a.brtel Passos." nal do Café, fazendo citar a União Federal,
uma ação ordinária para o fim de ser este com-
VOTO pelido a restituir-lhe, em Campinas, ou em i!.
cidade de São P~ulo, 17.126 s~cas de café que
Tem o recorrido em seu prol a concessão de I lhe foram entregues compulsoriamente. como
um mandado de segurança, confirmado por este quota de sacrifício, relativas aos despachos anu-
Supremo Tribunal em Junho de 1939. lados pelo mesmo Departamenw, ou caso não
Somente quando negado, não faz a sentença possa fazê-lo a pagar o seu equivalente em di-
do mandado de segurança coisa julgada (Castro nheiro ou sejam - 52:8075000.
Nunes, Do Mandado de Segurança, pág. 337 e E ainda os juros da mora. custas e hono-
segUinte: Pontes de Miranda, Comm~tários à rários de adYogado.
Cons. de 1934, t. II, pág. 265; ac. deste Houve contestação do réu à fls. 100 n:1.
Supremo Tribunal no mandado de segurança qual foi arguida, preliminannente, a omissão
n. 266, de 11 de setembro de 1936, relator o da instrução da inicial, dês que se juntar:cm
(3)
132 ARCHIVO JUDICIARIO 5-2-43
apenas cópias sem nenhuma autenticidade (fo- Deixo de considerar a incompetência incul-
lha~ 101) - (ns. 7-10, 11-33). cada pelo Sr. Procurador G€ral da República,
A União subscreveu a tal contestação nos pois sobre essa questão ainda não se mani!es-
termos formulados (fls. 125) . ~ou o Juiz.
Ouvida a autora sobre a arguição prelimi- Assim, dou provimento ao recurso para
nar manifestou-se nos termos da petição à fo- mandar que o Juiz, sem considerar inepta a ini-
lhas 127. cial, decida afinal como entender de direito.
Conclusos os autos, o Juiz acolheu a pre- VOTOS
liminar para julgar nulo o processo (fls. 129 l .
Daí o agravo interposto. O Sr. Ministro Orozimbo Nonato - Sr.
Remetidos os autos, o EXlno. Sr. Procura- Presidente, mando que os autos vão para o juiz
dor Geral da República manifestou-se nos ter- competente.
mos do parecer à fls. 163. O juiz é incompetente ratione materiae, e,
Isto posto: ao conhecer do peclido, deu-se, virtualmente,
O Código do Processo Civil dispõe que a como competente para anular o processo, quan-
ação deve ter inicio por petição, na qual sejam do é, repito, incompetente ratione materiae.
indicados - os meios de prova com que o autor Por conseguinte, dou provimento, em par-
pretende demonstrar a verdade do alegado (ar- te, aó agravo, para mandar que os autos vão
tigo 158, n. V) determinando que a petição à Justiça competente. Não dou provimento in-
seja instruída com os documentos que o autor totum porque, pelo art. 279 do Cód. de Pro-
fundar o pedido. cesso Civil, só se anulam os atos decisórios.
O Juiz com fundamento no art. 1.60 julgou O Sr. Minist7'o Waldemar Falcão - Sr. Pre-
nulo o processo, considerando inepta a inicial, sidente, acolheria o ponto de vista defendido
porque os documentos que a instruíram era:m pelo Exmo. Sr. Ministro Orozimbo Nonato se
cópias sem autenticidade. não houvesse, em relação à matéria, um dispo-
sitivo do próprio Código do Processo, que a ilus-
E' certo que os documentos referidos são
tra. Assim, o art. 279 diz:
cópias (alguns são impressos) atribuídos ao "No caso de incompetência do juiz, s::Jmen-
Departamento Nacional do Café, sem autentici-
te os atos decisórios serão nulos.
dade. Foram juntos para demonstrar a quanti-
Parágrafo único - Reconhecida a incom-
dade dos cafés referidos pela autora, na inicial.
petência, do Juiz, ex-ojjicio, ou a requerimento,
De nada valeriam, por si sós, mas em conjunto
ordenará a· remessa dos autos ao juizo compe-
fazem, pelo menos presumir, que merece ser
tente".
examinado o pedido por isso que o edital do
Na forma do parágrafo único, uma vez que
réu publicado pela imprensa e cujo exemplar fo1
o juiz tomou conhecimento, está nulo o ato.
junto, não tendo sido contestada a sua veraci- O Sr. Ministro Orozimbo Nonato - O ,Juiz
dade, tornou públicas as deliberações que a au- devia mandar os autos para o Tribunal compe-
tora pretende invalidar - não permitir que tente. Não o fez, porem, e nós o dC'Vemos fazer
certos conhecimentos relativos a determinados ex-ojjicio.
cafés sejam incluídos em lista de liberação. O Sr, Ministro Waldemar Falcão - Confir-
Conseguintemente, trata-se de prova que mo meu voto, no sentido de acompanhar o
pode ser completada, e não da omissão de qual-~ o Exmo. Sr. Ministro relator.
quer prova.
Demais por petição inepta se entende: DECISÃO
a) - a que é incompreensível, quer na
Como consta da ata, a decisão foi a seguin-
narração, quer na conclusão, sem que se possa
te: Deram provimento, sendo que o Sr. Minis-
perceber quais os fundamentos da ação.
tro Orozimbo Nonato só em parte, para que os
b) - ou quando o que se pede contradiz
a,utos sejam remetdos ao juiz da Capital do Es-
flagrantemente as razões aduzidas para arrimar
tado.
o mesmo pedido.
l\!las, tal não ocorre em relação a inicial
Aeordão
é clara, precisa e concludente.
Pode não veicular um pedido justo, mas Vistos, relatados e discutidos estes autos de
não é inepta. agravo de petição. e.m que são: agravante -
(4)
5-2-43 ARCHIVO JUDICIARIO 133
Comp. Comercial Paulista, S. A., e agravado ração elos seus rendimentos e a inculca como
- Departamento Nacional elo Café e a União devendo ser a elo mínimo (50$000) estabele-
Federal: cida pela lei nova para caso semelhante.
Acorda o Supremo Tribunal Federal, pela O Procurador Seccional entende que a mul-
Segunc!a Turma, dar provimento ao agravo, para ta havia de ser, entào, a aplicada pela lei ante-
os fins declarados nas notas taquigráficas e rior ou seja a de 50 % (Dec. 21.554 de 20 de
pelas razões ai expostas. Junho de 1932, art. 116, parágrafo único) e não
Custas pelo a}ravante. essa de 50$000 que não existia e só foi institul-
Supremo Tribunal Federal, 27 de Outubro da pelo dec. -lei n. 1. 168 de 1939, e é inapli-
de 1942. - José Linhares, Presidente. - Bento cavel por não se tratar de pena criminal e,
de Faria, relator. portanto, sem efeito retroativo.
Afasto-me, com pezar, do douto R.Bpresen-
tante da Fazenda. E' principio dominante em
Agravo de petição n. 10.806 direito fiScal, com referência às suas sanções
(DISTRITO FEDERAL)
de natureza compulsória, que as multas, ou
sejam penalidades de natureza não criminal, se
Multa fiscal - 2\finoração em lei posterior -
Aplicação retroativa. ajustam à minoração do castigo quando consi-
derado, em lei posterior, como aplicavel ao mes-
RELATÓRIO E VOTO
mo fato previsto na anterior.
O Sr. Ministm Bento de Faria - No Juizo Assim, deve beneficiar ao contribuinte que
da 3a Vara dos seus Feitos, neste Distrito, a. Fa- invoca esse favor, sem escusar-se a sua su-
zenda Nacional intentou o presente executivo jeição.
fiScal contra Floriano R. Queiroz, para cobrar- Por essas razões, nego provimento ao re-
lhe a importância de 351$000, do imposto de curso.
renda do exercício de 1934. DECISÃO
Feita a penhora, o executado ofereceu os Como consta da ata, a decisão foi a seguin-
embargos de fls. 12 alegando, preliminarmente, te: Negaram provimento ao recurso ex-officio e
a prescrição, e, quanto ao mérito, a improce- ao agravo. Unanüne1nente.
dência do executado por nãD auferir renda tri-
Acordão
butavel dês que o seu ordenado sendo de réis
1:600$000 mensais provia a subsistência da es- Vistos, relatados e discutidos estes autos
posa e de cinco menores, o que, provou.
E admitindo a falta de declaração por esse
Ide agravo de petição, em que são: recorrente,
ex-ojjicio, o Ju!z da 3a Vara dos Feitos da Fa-
motivo entende que quando muito lhe poderia zenda Pública, neste Distrito, agravante, a Fa-
ser aplicado o mínimo da multa ou seja 50$000. zenda Nacional e agravado, Floriano R. Queiroz:
Conclusos afinal os autos o Juiz proferiu Acorda o Sup. Trib. Federal, pela 2a Tur-
a. sentença para. julgar procedente a ação tão ma, negar provimento a ambos os recursos pe1as
somente pela importãncla de 50$000. (:Us. 24 razões constantes das notas taquigráficas.
- lê). Custas na forma da lei.
Houye recurso ex-ojjicio tendo a União se Supremo Tribunal Federal, 11 de Dezembro
agrava do à :Us. 28 . de 1942. - José Linhares, Presidente. - Bento
Remetidos os autos o Exmo. Sr. Procura- de Faria, relator.
dor Geral da República opinou nos termos do
parecer à fls. 40-v. (lê) .
Isto posto:
Apelação civel n. 7.629
I - Não .tendo o executado recorrido, a (SÃO P.AULO)
sentença em apreço transitou em julgado quan- Suspensão de instância; juizo arbitral; indejeo
to à preliminar da prescrição recusada. :Resta, rimento. - Imposto de renda; legiti-
midade da incidência.
pois, o exame do mérito.
II - O mesmo executado no final dos seus RELATÓRIO
embargos, ape.zar da justificativa oferecida para O Sr. Ministro Annibal Freire - (Rela-
a ·não sujeição ao imposto, admite tt possibi- tor) - Sr. Presidente, antes ele· proceder à lei-
lidade ela multa por não haver feito a decla- tura elo relatório, elevo trazer ao conhecimento
(51
134 ARCHIVO JUDICIARIO 5-2-43
<la Egrégia Turma uma petição que me foi en- seria desnecessário) "ter instrução verbal do
dereçada pelo advogado da apelante. Com"J a Governo, por intermédio do Exmo. Sr. Minis-
questão já estava em pauta, entendi que, na tro da Fazenda", para "concordar", como con-
qualidade de relator, de acordo com o Regi- cordava, com a suspensão de instância, assim
mento, já não podia mais decidir sobre a ma- tambem se manifestando na apelação civel nú-
téria, mas achei, igualmente, conveniente, em mero 7. 627, como salientou, em seu voto, o
vez de indeferir, liminarmente- a petição, trazê- Exmo. Sr. Ministro Orozimbo Nonato.
la ao conhecimento da Turma, que poderá de- Em vista das razões aduzidas, requer a Su-
liberar a respeito, como tem feitd em outras plicante a V. Ex., como preparador e relator
circunstâncias. do processo (Reg. Int. do S. T. F., arts. 42,
46 e 53) se digne de, procedendo a concordân-
A apelante pede que seja determinada a
cia do Exmo. sr. Dr. Procurador Geral da Re-
suspensão da instância, pelo prazo de 60 dias,
pública, cuja audiência ora solicita, determinar
prorrogavel nos termos âa lei (§ 1. 0 do art. 198
a suspensão de instância, pelo prazo de ses-
do Código do Processo Civil), alegando que
senta dias, prorrogavel nos termos da lei, desde
tanto a suplicante como a União Federal estão
que permaneçam as razões determinantes do
de acordo com a suspensão da instância, nas
presente julgamento".
ações sumárias especiais, propostas pela supli-
Por já estar em pauta o presente feito não
cante e companhia,s associadas contra a União
quiz, por mim, resolver o assunto, sem a ll,U-
Federal.
diência do Tribunal.
Lê-se na petição o seguinte:
Entretanto, solicitaria a V. Ex. que ouvisse
"E' do domínio público e consta, por cer-
o eminente Sr. Dr. Procurador Geral da Repú-
tidão, em vários dos processos, ora nesta Su-
blica, antes do pronunciamento da Turma.
perior Instância, o acordo celebrado entre as
partes nas demandas, para ser apurado o "quan- PARECER ORAL
tum" da dívida que a União intenta cobrar da o Sr. Dr. Procnrador Gera·z da República
Suplicante e Companhias Associadas, numa .Sr. Presidente, Egrégia 1.a Turma:
transação e composição amigavel que consta do Efetivamente, em casos análogos, a Egrégia
documento junto, no qual se lê a aprovação do
2.a Turma resolveu não conceder o adiamento
Dr. Getulio Vargas, Chefe do Governo.
solicitados, baseada em dispositivo do Código
Nos autos das apelações cíveis ns. 7.322 e
de Processo Civil segundo a qual, depois de
7.381 consta o documento oficial, consubstan-
ajuizada uma ação, não se pode mais, sobre ela
ciado na exposição ministerial n. 1, com o des-
pacho de aprovação do punho do Exmo. Sr. e seu objeto, estabelecer UJn juizo arbitral.
Getulio Vargas, Chefe do Governo, aprovando a Esse dispositivo taxativo do Código de Pro-
nomeação de uma comissão apuradora do cesso Civil é que levou a Egrégia 2.a Turma a
"quantum" da dívida, "quantum" esse posto indeferir pedidos análogos ao do requerente.
em dúvida e reconhecido ilíquido por parte das Devemos confessar que concordamos com a
mais graduadas autoridactes fazendárias. solicitação do requerente porque não se trata,
E' tambem do punho do Exmo. Sr. Chefe propriamente, de um juizo arbitral, visto como
do Governo o despacho de nomeação do Exmo. a obrigação tinha sido reconhecida pelo execu-
Sr. Ministro Hermenegildo de Barros para in- tado.
tegrar essa comissão apuradora, sendo certo que Apenas, desejava-se a constituição de uma
o Exmo. Sr. Presidente da República aprovou comissão par~. apurar o qua.ntum devido, afim
a exposição ministerial e a convenção das par- de conglobar numa só quantia essa cobrança
tes, no sentido de mandar suspender toda a co- com a qual o executado expressamente concor-
brançrt dos débitos reputados ilíquidos, e, con- daria depois de ser a mesma fixada.
sequentemente, as ações sumárias especiais da De modo que, como não versava a suspensão
natureza da presente". da lide sobre a obrigação em si. mas se trata-
Alega a parte, no caso, para requerer a sus- va de uma verdad·eira tomada de contas, feita
pensão da instância, motivo de força maior e por uma comissão acima de toda suspeição, es-
termina dizendo : colhida pelas partes, tínhamos de concordar.
"Em casos análogos, o Exmo. Sr. Procura- Entretatnto, a Egrégia 2.a Turma não tern
dor Geral da República, emitindo parecer, nas admitido a suspensão de instância, julgando os
apelações cíveis ns. 7. 322 e 7. 381, declarou (e feitos desde logo, na conformidade da jurispru-
(6)
5-2-43 ARCHIVO JUDICIARIO 135
dência elo Egrégio Supremo Tribunal Federal, t1l.ncia, de acordo com o voto do Sr. Ministro
que tem repelido a pretensão da autora, em relator.
jurisprudência pacífica, uniforme e múltipla. O Sr. Ministro Laudo de Camargo (Presi-
dente) - Indefiro o pedido de suspensão da
VOTOS Instância.
(Sobre a Preliminar) RELATÓRIO
O sr. Ministro Annibal Freire (Relator) - O Sr. Ministro Annibal Freire (Relator) -
Sr. Presidente, ele acordo com as informações do The City of Santos Improvements Com'pany
sr. Dr. Procurador Geral ela República e com Ltd. Intentou ação contra a Fazenda Nacional,
as decisões da Egrégia 2.a Turma, indefiro o pe- para anular o ato da Diretoria do Imposto so-
dido de suspensão da instância. bre a Renda relativo à cobrança da taxa de 4%
o sr. Ministro Annibal Freire (Relator) - prevista no art. 174 do Regulamento, por ha-
Sr. Presidente, defiro o p€dido de suspensão
ver a autora, em 31 de Dezembro de 1934, cre-
da instância .
ditado à matriz em Londres, a quantia de .•
Diz o Código de Processo Civil. no artigo
2.161:982$920.
1. 035, parágrafo único:
"Não se admitirá juizo arbitral depois de o Juiz julgou improcedente o pedido, de
proferida a decisão em qualquer Instância". acordo com decisões anteriormente proferidas
Só o entendimento literal desse dispositivo (fls. 58 e 58 v.).
levaria à conclusão que adotou a segunda turma A parte interpoz apelação, arrazoada de fl8.
e ora aceita pelo Sr. Ministro relator. Eu, po- 60 a 67 e de fls. 69 a 71.
rem, não o p·osso entender assim, porque a o Sr. Dr. Procurador Geral proferiu o se-
transação, tradicionalmente, é apl!cavel a todos guinte parecer:
os direitos, enquanto não há coisa julgada; ate
"Não há hoje quem oponha em dúvida oa
lá, emboru ·haja sentença de primeira instância, segumtes postulados:
as partes podem transi:;ir e desistir e, portanto, a) _ as empresas concessionárias de servi-
tambem, celebrar compromisso.
ço público estão sujeitas à tributação pela ren-
Assim considero que quando o Código se
da, quer a concessão seja federal, quer seja es-
refere decisão de qualquer instância pressupOB
tadual ou municipal, quer a sua situação seja
haver ela pasado em julgado pois impunemente
examinada de acordo com a Constituição de
não se alteram princípios seculares mister é
1934, quer o seja de acordo com a atual Cons-
.a prova explícita de uma nova intenção dos
tituição;
seus fundamentos.
h) - os dividendos, os juros de debentures
Nestes termos, havendo transação para su-
estão sujeitos ao mesmo tributo, quer sejam
jeitar a lide a decisão arbitral, concedo a sus-
remetidos efetivamente para o estrangeiro quer
pensão requerida, ex-vi do art. 197 do Código
sejam creditados aos credores no estrangeiro ou
de Processo Civil.
à matriz das empr·esas sedeadas no estrangeiro.
O Sr. Ministro Castro Nunes - Sr. Pres!•
c) -- não sendo feito o desconto do Im-
dente, estou ele acordo, com o Sr. Ministro re-
posto, as empresas o devem como fonte paga-
lator. Sinto não poder aderir ao vot_o do Sr.
dora infiel e de qualquer modo por ele res-
Ministro Phlladelpho de Azevedo.
pondem.
As partes, se quizerem transigir e obter a
A jurisprudência do Egrégio Supremo Tri-
suspensão, o trancamento da instância, devem
bunal Federal firmou esses princípios norma-
desistir do recurso; mas não pela forma esta-
tivos, após longo e minucioso exame ela ma-
belecida ou pretendida. As partes não desistem.
téria, de modo que se torna desnecessário rea-
O apelante não desiste de seu. recurso. Preten·
brir discussão sobre esses pontos.
de que o Tribunal não se pronuncie sobre a
E' de acordo com essa sábia jurisprudência
.questão, até que se resolva a transação entre
.as partes. que esperamos a reforma da sentença apelada,
Estou com o Sr. Ministro relator em que julgando-se improcedente a ação.
.se· deve julgar a apelação. Rio de Janeiro, 10 de Abril de 1942 .
O Sr. Ministro Barros Barreto - Sr. ~r e-~ Gabriel de Rezende Passos. - Procm·ador Ge-
s!dente, Indefiro o pedido de suspensão de ms- ral da República".
(7)
136 ARCHIVO JUDICIARIO 5-2-43
viço público, do imposto de 4 % a que está su- O Sr. Ministro Bento de Faria - No Juizo
jeita, nos termos do artigo 1'1'4 do Im.posto sobre de Direito da 2.a vara de Orfãos, Antonieta Go-
a renda, por haver creditado ou remetido à sua mes Nogueira propoz uma ação ordinária con-
matriz em Londres lucros apurados em 1934. tra a menor Juracy, tutelada de D. Emília Ma-
Funda-se na imunidade reciproca estatuída ria da Conceição, para o fim de ser declarada
no artigo 17, X da Const. de 16 de JuLho de filha adulterina do Dr. Carlos Gomes Noguei-
1934, pretendendo estender a isenção até mesmo ra, por ter nascido das suas ligações com Rosa
ao imposto de renda que nenhuma ligação tem· de iMorais, mulher desquitada.
com o ap·arelhamento do serviço concedido. Tal pedido foi julgado procedente pela sen-
tença de fls. 18, •sendo confirmada pelo acor-
Já tive ocasião de examinar em outro caso
dão da 3.a Cãmara do Tribunal de Apelação do
a extensão relativa da isenção que, em termoe
Estado (fls. 21).
muito restritos, reconhecia aquela Constituição
Dai o recurso extaordinário interposto com
às empresas concessionárias de serviços públi-
fundamento no art. 101 n. !II lets. a e d da
cos, dispensando-me de reeditar as razões em
Constituição em vigor, tendo sido arrazoado
que me fundo para chegar, no caso dos autos,
pelos ~nteressados.
à mesma conclusão negativa.
VOTOS
Isenta não es_tá, pois, a apelante daquele im-
posto que, aliás, ela deve como fonte arrecada- O Sr. Ministro Bento de Fartx (Relator) -
dora, pela obrigação que lhe impõe a lei de O posterior dec. -lei 4. 737 de 24 de Setem-
não remeter ou creditar lucros à pessoa residente bro de 1942, que aplico ao caso, por não haver
no estrangeiro sem descontar o tributo devido à direito adquirido a qualificação de uma filia-
Nação, onde explora o serviço e tira os lucros ção, por forma a impedir os seus efeitos de
que exporta. açordo com a lei nova qUe a ampara, dispõe
no art. 1.0 - que o filho havido pelo cônjuge
Nego provimento.
fora do matrimônio pode depois do desquite
ser reconhecido ou demandar que se declare
DECISÃO
sua filiação.
Como consta da ata, a decisão foi a segmn te: Ora, ·no caso trata-se exatamente dessa
Indefirido o pedido de suspensão, contra o voto hipótese.
elo Sr. Ministro Philadelpho Azevedo, negaram .A.'lBim, dou provimento ao recurso para
provimento, unanimemente. julgar improcedente a ação.
Demais não há ação para declarar algue!ll
filho adulten;no.
Acordão
O Sr. Ministro José Linhares - Conheço
Vistos, relatados e discutidos estes autos de do recurso oom fundamento no ~nciso a, por-
apelação clvel n. 7. 629, de São Paulo, em que quanto é sabida a divergência de interpretação
é apelante The City of Santos Improvements dada pelos Tribunais, do art. 362 do Código
Ltda., e apelada a Fazenda Nacional, resolvem, Civil. Dou-lhe provimento ao mesmo consoan-
vs Ministros do Supremo Tribunal Federal, I te os meus votos anteriores, porquanto é sim-
componentes da Primeira ·:rurma, negar provi- plesmente natural o filho de prui desquitado,
(.11);
5-2-43 ARCHIVO JUDICIARIO 137
•ainda que o vinculo matrimonial seja indisso, 1 Ma:; da sua argumentação se vê que, no
1uvel - o filho havido fora do casamento é s2u entender, teria sido contrariada a letra da.
simplesmente natural, como já foi estabeleci- lei (hipótese da alínea "a") .
do em recente lei. Entretanto, não conseguiu o recorrente de-
O Sr. Ministro Orozimbo Nonato - Sr. monstrar que tal houvesse ocorrido.
Presidente, ainda que fosse possivel a ação de- Ao contrário, do acordão de fls. 260-v./261
clatória de estado, deixaria, no caso, de ter J seguram"ente se verifica que a Justiça Local, de-
fundamento em face do decreto-lei n. 4. 737, cidindo a pr•2sente liquidação, aplicou a lei,
termos em que acompanho o voto de V. Ex. em face das provas, o que não dá 1ugar ao pre-
tendido recurso extraordinário.
DECISÃO
Opinamos, pois, que deste não conheça o
1
Como conta da ata, a decisão foi a seguin-- Egrégio Tribunal.
te: Conheceram e deram pavimento. Unani- Distrito Federal, 21 de Novembro de 1941.
memente. - Luiz Gallotti, Procurador da Re;:Jública. De
Acordão acordo. - Gabriel de Rezende Passos."
• E' o r ela tório.
Vistos, relatados e discutidos estes autos
de recurso extraordinário em que são: recor- VOTOS
rente, a menor Juracy, tutelada de D. Emília
O Sr. Ministro Castro Nunes (Relator): -
Maria da Conceição e recorrida, D. Antonieta
C. Nogueira. Trata-se de fixação do quantum de uma con-
Acorda o Supremo Tribunal Federal, pela denação, tendo em vista a prova dos prejuizos
Segunda Turma, conhecer do recurso e dar-·lhe e lucros cessantes, o que desde logo entre-
pro\nimento, pelas razões e para os fins cons- mostra qu2 a de-cisã.o re-corrida, confirmando
a de primeira instância, cingiu-se a essa apu-
tantes das notas taquigráficas.
ração, não comportando o recurso extraordinário·
Custas pela recorrida..
que, omitido o fundamento con3titucional. é de·
Supremo Tribunal Federal, 11 de Dezem-
supor que pretendesse o recorrente enquadrá-lo
bro de 1942. - José Linhares, Presidente. -
na alínea "a".
Bento de Faria, relator.
O recurso me par-2ce incabivel, ainda que·
improcedente a arguição de não conhecer dele·
por haver o recorr-2nte usado simultaneamente.
Recurso extraordinário n. 4.229 no mesmo prazo. do de embargos de declara-
ção, de vez que dos autos se vê que esses em-
(MINAS GERAIS)
bargos foram rejeitados, não sofrendo assim
Recurso extraordinário - Interposição simulta- qualquer alteração o julg~do recorrido.
neamente com embargos de declaração
rejeitados - Admite-se o recurso ex-
Meu voto é para nã-o conhecer por inca-
traordinário, mas dele se não conhece bível.
por incabivel - Sentença de liquidação O Sr. Ministro Philadelpho de Aõevedo (re-
- Decisão por apreciação de provas.
visor) : - Sr. Presidente, desprezo a prelimi-
RELATÓRIO nar levantada pelo ilustre "batonnier" na sus-
O Sr. Ministro Castro Nunes: - A sen- tentação oral. Justament~ pelo preceito excep-
tença de fls. 240 julgou procedentes em parte cional do Código de Processo, que retira da
artigos de liquidação, fixando assim o quantum parte o direito ao prazo de recurso, quando os,
da condenação. Conftrmou-a o ac. de fls. 380-v., embargos de declaração sã.o desprezados, e como-
do qual se interpôs o presente 1~cur.so extra- o advogado nunca poderá ter c-erteza de que·
ordinário (ns. 271), sendo arrazoado e contra- esses embargos serão aceitos ou nã.o, é da mais
arrazoado. O recorrido levanta a preliminar de elementar cautela que, desde logo, interponha.
se nã.o con:ttecer do recurso, .por ter sido usado o recurso, prevenindo a hipótese de não &2rem
simUltaneamente o de embargos d.:~ declaração., admitidos o.s embargos de declaração. (Lê o-
O Exmo. Sr. Dr. Procurador oficiou a f o- voto escrito) :
lbas 289, nos seguintes termos: "Conh2ço e uego provimento.
"O recorrente invocou o art. 101, n. III. I Embon o dano deva. em princípio. ser pro-
da Constituição, sem indicar a alínea que ser-~ \·aclo na ação e asshn reci.procament" de ser
viria ele base ao recurso (fls. 271) . presumido, quando a sente:1ça tiver ordena elo
(9)
138 ARCHIVO JUDICIARIO 5-2-43
:-a reparação, sempre as nossas leis prooessuais quantum. A parte alega que a sentença exe-
:atenuaram esse rigor puramente lógico para co- quenda mandou pagar prejuízos decorrentes do
gitar do caso de infrutífera liquidação e do meio negócio de agente de automov-eis e, na liqui-
·de resolvê-lo. dação, achou-se que não se devia pagar nada.
Hoje, a solução está no art. 915 do Có- Alega-se, então, que isso infringe a sentença
•digo de Processo - a nova liqui·dação. exequenda.
N-ão se justifica, assim, a intervenção des- O Sr. Ministro Castro Nunes (relator) : -
ta Suprema Côrte para amparar indebitamente Apuraram-se cinquenta e tantos contos. Se se
a coisa julgada, ainda que ela iipudesse entrar apurou bem ou mal, não podemos corrigir o
no exame de prova, razão única do v. a cordão desacerto possível da decisão, justamente por-
·de fls. 261, explicado a fls. 266. que apurou à vista de provas, dos elementos
A invocação dos arts. 289 e 891 do Código constantes dos autos.
•de Processo, mais remotos, :fica assim ·afastada o sr. Ministro Philadelpho de Azevedo (re-
·pela, mais próxima, do art. 915; aliás, nenhum! visar): - Por mim, é ponto d-e vista pessoal.
-d:les foi objeto de referência e:xcpr·essa do ac~r- o sr. Ministro castm Nunes (relator) : -
·dao re<:orndo, embora pudessem todos ter s1do _ Eu, não conheço do recurso com fundamento
:apreciados implicitamente, o que me leva a co- ·, na letra "a" ·quando se esllá diante de provas,
:nhecer liminarmente do recurso. de apuraç§,o de prejuízos; bem ou mal decidi-
EXPLICAÇÃO
dos, bem ou mal apurados, não importa. E tem
sido essa a orientação do Tribunal. Eis a razão
O Sr. Ministro Castro Nunes (relator) : - pela qual não conheço do recurso, mantendo
Sr. Presidente, a preliminar da não admissi- o meu voto.
:bilidade do recurso extraordinário, por ter ha- O Sr. Ministro Annibal Freire: - Sr. Pre-
-vido embargos de declaração, eu a rejeito. Não sidente, não conheço do recurso.
-tenho admitido, e o Tribunal assim tamb2m O Sr. Ministro Laudo de Camargo (Presi-
-tem julga;do. dente): - Não conheço do recurso.
O Sr. Ministro Laudo de Camargo (Presi- DECisÃO
dente): - Fui relator ·de um desses casos.
Çomo consta da ata, a decisão foi a se-
O Sr. Ministro Castro Nunes (relator) :
guinte: - Não conlleceram do Ncurso, contra
·Não julgo intempestivo. o recurso. A parte po-
o voto do Sr. Ministro revisor.
dia usar de embargos de dedaração. Embora
rejeitados esses embargos, nem por isso estaria Acordão
ela ·impedida de usar do recurso extraordiná- Vistos, etc. :
·rio. Os en1bargos de declaração são meramente Acorda o Supremo Tribunal, ;pelos Minis-
interpretativos. tros componentes da Primeira Turma, e que
O Sr. Ministro Philadelpho de lA~evedo (re- nos termos dos votos proferidos e constantes
visor): -- Exatamente, mas o Cócligo de Pro- das notas taquigráficas juntas, em não conhe-
oesso, para evitar chicanas, deu essa sanção cer, por maioria, do recurso extraordinário.
exagerada. Custas como de lei .
O Sr. Ministro Castro N1Lnes (relator) : - Supremo Tribunal Yederal, 17 de Setem-
Não -podemos aplicar o Código neste ponto, por-~ bro de 1942. - Laudo de Camargo, Presidente.
que a parte tem de usar de todos os recursos - castro Nunes, relator.
ordinários, um dos quais é o de embargos de
declaração; estes podem ser n~cessanos; não é J
possível usai· de recurso extraordinário antes de I Recurso extraordinário n .. 5.261
saber qual o julgado -definitivo.
(RIO GR4NDE DO SUL)
Quantú ao cabimento do recurso, p:trece-
me tratar-se de um caso típico de não conh3cer A prescnçao para exelrução do julgado não é a
trintenária, mas a q1te corresponde !i
do mesmo. Trata-se de apuração de quantum, ação proposta.
,para sobre ele correr a execução da sentença.
RELATÓRIO
As contas se apuram à vista de provas, de
comprovantes. o S1·. Ministro Philadelpho de Azevedo: -
O Sr. Mini.stro Philadelpho de Azevedo (re- O Padre Emilio D'Amor·2, socorrido pela Justiça
visor): - Perdão. Não se trata de fixação do gratuita, recorre do v. a cordão do Tribunal do
(lO)
5-2-43 ARCHIVO JUDICIARIO 139
Rio Grande do Sul, que declarou prescrito, o d'Amore e recorrida Ambrozina Pezzi Pepe,
direito de executar sentença em ação de co- acorda a 1a Turma do Supremo Tribunal Fe-
brança de· alugueres, proferida mais de cinco deral, dele conhecer preliminarmente e negar-
anos antes contra Ambrozina Pezzi Pepe, no lhe provim-ento, de acordo com as notas taqui-
!ôro de Porto Alegre. gráficas constantes dos autos.
O recw·so extraordinário se funda nas le- Custas pelo recorrente.
tras "a" e "d" do n. III, do art. 101, da Cons- Rio, 5-10-942 (data do julgamento).
tituição, ligada aquela à ofensa dos arts. 177 Laudo de Camargo, Presidente. - Philadelpho
e 179 do Código Civil. de Azevedo, relator.
Ambas as .partes arrazoaram, invocando os
con1tecidos precedent-es de doutrina e jurispru-
dência a propósito da exaustiva discussão, que
se há travado entre nós sobre a prescrição do Recurso extraordinário n. 5.279
julgado. (SÃO PAULO)
Com o relatório, à revisão.
O valor dado inicialmente à cc•usa, ainda que
VOTOS para efeitos de taxa judiciária, prevalece
para os efeitos de alçaaa estabelecida
O Sr. Ministro Philadelpho de Azevedo: - posteriormente pelo Código de Processo
Conheço, por se tratar de caso típico de r·ecurso Civil.
extraordinário. RELATÓRIO
No mérito nego provimento porque nunca
O Sr. Ministro Philadelpho de Azevedo: -
tive dúvida sobre a inexistência de exceção ao
Em 1915 Leonardo Monffe e sua mulher propu-
art. 173 do Código Civil em favor da sentença
zeram, no fóro da capital de São Paulo, ação or-
definitiva, como diversamente acont-ece em ou-
dinária de esbulho, relativa a um terreno si-
tros paises onde :pá disposição expressa: assim
tuado entre Vil!a. Mariana e Ipiranga, contra
me manifestei em 1925 (Rev. de Crítica Judi-
ciária, vol. 2, pg. 139), como em 1940 (ARCHI-
Mauricio Klabin; através vários incidentes e pa-
ralisações, só em 1941, quando am'bas as partes
\'0 JUDICIARIO, vol. 56, Suplemento, pag. 131) .
já haviam falecido e sido substitui.dos por seus
Dispensam repetição os argumentos já bem
~onhecidos e que, parece, já foram recebidos em
herdeiros, foi proferid3. a sentença de fls. 303,
que, ressalvando o problema do domínio, consi-
acordão unãnime desta tumna.
derou melhor a posse dos autores e a assegu-
O Sr. Ministro Laudo de Camargo: - . Co-
rou.
nheço do recurso, dada a divergência de julga-
Apelaram os sucessores do réu, sem oposi-
dos a respeito da matéria d·?Cidida.
Mas, conhecendo, nego-lhe provimento, para ção dos apelados; mas a 2.a Câmara Civel do
me reportar aos fundamentos já aduzidos em Tribunal de São Paulo deixou de conhecer do
hipótese idêntica, como se fez certo pela trans- recurso por se tratar ele caus:t de alçada, na for-
crição do voto que prof.erí no recw·so extraor- ma do art. 839 do Código de Processo.
dinário n. 3. 652, de Minas Gerais (vide fo- Dessa decisio interpuzeram recurso extraor-
lhas 147) . dinário ,sustentando que o valor real da causa
Ali deixei ex;presso que a prescrição da supera de muito a importáncia. atribuicla na pe-
execução é a mesma da ação. tição inicial e para o único fim de pagamento da
E, como foi isto que se decidiu, só me -cabe taxa, tanto mais que isso acontecera ha vinte
eonfirmar o acordão r-2corrido, deixando de aco- sete anos, qu3.ndo as partes podiam fixar arbi-
lher o recw·so . trariamente o valor ela causa.
Insiste em que essa base não poderia preva-
DECISÃO lecer, maximé para efeitos supervenientes, valen-
Como consta da ata, a decisão foi a se- do hoje as terras, no mínimo, 30 contos de réis.
gUinte: -- Conheceram do recurso e lhe nega- Contraminutado, subiu o recurso e foi em
ram provimento, unanimemente. tempo preparado.
<\cordão VOTOS
Ao contrário, o texto do art. 839 do Código e recorridos os sucessores ele Leonardo Monffe,
de Processo Civil foi literalmente aplicado, esca- acórda a 1.a turma do Supremo Tribunal Federal,
p!).ndo as demais alegações ao exame desta Su- contra o voto do Ministro revisor e de acordo
prema Cõr.te. com as notas taquigráficas constantes dos au-
O Sr. Ministro Laudo de Carr.•:trgo (Revi- tos não conhecer do recurso.
sor) : - Conheço do recurso e lhe dou provi- Custas pelos recorrentes.
lnento, para que o Tribunal local conheça da Rio, 5-10-42 (data do julgamento). - Lau-
apelação e a resolva como de direito. do de Camargo, Pl·esidente. - Philadelpho Aze-
Consta dos autos ser superior ao da alçada vedo, r ela to r designado.
o valor da causa, comportando assim a apelação
interposta.
Não importa, pois, que da inicial conste o Recurso extraordinário n. 5.444
valor de 2:000$000, uma vez que foi dado, de
(DISTRITO FEDERAL)
modo expresso, tão só para o pa,gamento da taxa
e isto em época distanciada de 27 anos, quando Falta de área no imovel vendido prescrição
da ação "ex-empto". - Divergência
assim se praticava, sem prejuízo de novo valor i1trisprucLência entre a c•plicaçüo do
a ser ·dado .afinal, tudo de acordo com os jul- prazo jixctdo para as ações edilicias e a.
da regra geral, si a hipótese é excl1dda
gados do então, inclusive do Supremo Tl'ibunal. do caso de vícios redibitórios. - A
O Sr. Ministro Castro Nunes: - Sr. Presi- circunstância especifica de se tratc•r de
arrematação, só havendo precedentes
dente, creio que a lei nunca distingui\]. os efei- relativos a a!ienacão voluntária., será.
tos do valor dado á causa, se unicamente para 0 apreciada oportunamente, pois a deci-
são se limita ao c•specto da prescrição,
pagamento da taxa ou se para todos os efeitos. único até agora examinado na Justiça.
A jurisprudência é que tem distinguido al- local.
RELATÓRIO
gumas v~zes, não a lei. A alçada é fixada pelo
valor da causa. Uma vez fixado o valor da cau- O Sr. Ministro Philadelpho Azevedo:
Isolda Freitas Valle arrematou, em praça veri-
sa, na petição inicial, é este valor que vai dizer
se a causa está dentro da alçada ou se a exce- ficada no Juizo da 5a Vara Cível, em 1935, no
executivo hipotecário movido pelo Banco Alian-
de, de modo que daí por diante tudo segue este
ça do Porto do Rio de Janeiro contra Laura.
valor, anteriormente dado.
Palha Alvim, um terreno no Leblon por 21
O Sr. Ministro La1tdo de Camargo (Revi-
contos de réis, mas achando-se ele em aberto
sor) : - Agora, é esta a jurisprudência, mas a
com outro, contíguo, surgiu dúvida, resolvida
antiga entendia de modo diferente. amigavelmente por um laudo de engenheiros,
O Sr. Ministro Phíladelpho de Azevedo (Re-
que reconheceu a redução do terreno em mais
lator): - De outro modo, só depois da senten- de um vigéssimo; por isso, propôs contra o
ça é que saberia o valor da causa. Banco, nos termos do art. ~. 136 do Código Ci-
O Sr. Ministro Castro Nunes: - Tenho vo- vil, ação ordinária para abatimento proporcio-
tado assim: a alçada é a competência fixada nal do preço, com sua restituição, juros e
pelo valor da causa. Onde se dá o valor à cau- ·custas.
sa? Na inicial. A parte contrária póde impugnar O Banco alegou a improcedência do pedido,
esse valor; o Juiz pode atender à Í!IIlpugnação eporque não houve evicção, porque a responsavel
moditfcar o valor dado; mas, se não ha impugna- seria a alienante executada e não a exequente e
ç.ão, é este o valor até final. porque a açio estaria prescrita, além de que,
Acompanho o Sr. Ministro relator: não co- no mérito, o desfalque não teria atin'gido à di-
nheço do recurso. ferença legal, tendo a autora recebido da Pre-
feitura indenisação pela perda da parte necessá·
DECISÃO
ria ao alargamento de ruas do Leblon e devi-
Como consta da ata, a decisão foi a seguin- damente desapropriada.
te: Ni\o conheceram do recurso, contra o voto A autora impugnou a prescrição invocada,
do Sr . Ministro revisor. com assento do art. 178, § 10, n. IX, ,relativa
a dano causado à propriedade, e o juiz conside-
Acordão rou esse texto inaplicavel, mas deu pela prescri-
Vistos, relatados e discutidos os autos de cão por se tratar de vicio redibitório, decorri·
recurso extraordinário n. 5. 279, de São Paulo, ~los mais de seis meses da transcrição da carta
em que são recorrentes Bertha Klabin e outros de arremataçi\o.
(12)
5-2-43 ARCHIVO JUDICIARIO 141
emplo a aplicação desse mesmo texto à especie, tre os fins de Dcze1nbro e começo de Janeiro
estaríamos prejulgando a ação no seu mérito e dos anos de 1938 e 1939, foi procurador pel()
suprimindo a jurisdição local. Dr. Marcos Melega, diretor da Com'panhia Fer-
Assim, dou provimento ao recursà para, jul- l'oviária .São Paulo-Goiás, que solicitou a sua
gando não prescrita a ação, ·mandar que a Jus- intervenção junto à Diretoria do Banco do Bra-
tiça local prossiga no conhecimento e processo sil, afim de obter um empréstimo de cinco mil
da causa ajuizada. contos de réis, para ser aplicado no pagamento
O Sr. Ministro Laudo de Caríwrgo - Co- de dividas, aquisição de material fixo e rodan-
nheço do recurso, dada a divergência de julgados, te e nos estudos de prolongamento dos trilhos
na interpretação do mesmo texto do Código Ci- daquela ferrovia em direção ao Estado de
vil, relativo à prescriç\ío. Goiás.
E, conhecendo dou-lhe provimento, porque Essa incumbência lhe atrib1.üu o referido
se não trata de vício redibitório. cliretor da ré, e bem assim a de estudar a si-
DECISÃO tuação jUll'íclica dos seus negócios, de modo a
Como consta da -ata a decisão foi a seguin- colocá-la em situação de poder realizar aquela
te: Conheceram do recurso e lhe deram provi- operação de crédito, depois que se verificou o
mento, unanimemente. fracasso das negociações para levantamento de
outro empréstimo junto à Caixa Econômica Fe-
Acordá o deral.
Aceita a incumbência, e depois de ter estu-
Vistos, relatados e discutidos os autos de
recurso extraordinário do Distrito Federal nú- dado o assunto e assentado as medidas indis-
mero 5 .444 em que é recorrente Isolda de Frei- pensáveis para colocar a ré em condições de
tas Valle e r~orrido o Banco Aliança do Rio de realizar o empréstimo, alega o autor que S·e di-
Janeiro, acorda unanimemente a 1a turma do rigi·U ao Dr. Marques dos Reis, Presidente do
Supremo Tribunal Federal, em consonância com Banco do Brasil, entabolando com ele as ne-
go~iaçôes que foram tambem objeto das car-
as notas taquigráftcas antes reunidas, conhecer
do recurso, e lhe dar provimento, para que a tas de fls. 12 e 13 e telegrama de fls. 14.
Justiça Local julgue o mérito da ação como for No item segundo da sua petição inicial,
de direito, sem embargo da alegada prescrição, relaciona o autor as diligências por ele realiza-
inexistente na espécie. das no sentido da obtenção do empréstimo de-
Rio, 16 de Novembro de 1942 (data do jul- sejado pela ré, e que consistiram:
gamento). - Laudo de Camargo, Presidente. a) - em levar à presença do Presidente do
-- Philadelpho Azevedo, relator. Banco do Brasil o diretor Dr. Marcos Melega, e
o diretor do Banco do Comércio e Indústria de
São Paulo, Dr. Euzcbio de Queiroz Mutoso,
Recurso extraordinário n. 5.556 tendo este confirmado estar aquele Banco pron-
to afiançar a operação de crédito proposta;
(SÃO PAULO)
b) - que a operação do empréstimo che-
Rec1Drso extraordinário interposto do a.cCYTdão gou a ser autorizada pelo Banco do Brasil, por
que indeferiu •a "revista", tendo por
objeto a. questão federal em~rgente do seu Presidente, pela importância de cinco mil
(ICcrdão anterior - Tempestividade - contos de réis, reduzida dep'ois dessa impor-
Banco do Brasil, seu enquadramento no tância a três mil contos de réis, por dell:bera-
rr.•scánisrr.!o da a.dminist1·a.qão financei-
ra. da União - Proibição legal de ser ção da própria ré;
procurador de partes junto a. reparti-
ções públioas - Professor de direito - c) - que tanto é verdade ter sido a ope-
Servi{;o da mediação ou corretagem, ração convencionada que a minuta da escri-
prestação, remuneração.
tura cllegou a ser lavrada e enviada ao tabe-
RELATÓRIO lião, deixando de ser ultimada em virtude de
O Sr. Ministro Castro Nunes A sentença desistência da iprópr:a ré;
de primeira instância expõe os fátos e o direito d) que para isso conseguiu teve o autor de
nos seguintes termos: fazer várias viagens ao Rio de Janeiro afim de
"Vistos, etc. e.ntender-se !Pessoalmente com 0 IPreside.nte do
Pela presente ação ordinária aléga o Dr. Banco do Brasil e com o Chefe da Carteira In-
Vicente Ráu, advogado nesta Capital, qUe en- dustrial, além de ter tido vários entendimen-
(,14:)
5-2-43 ARCHIVO JUDICIARIO 143
tos com o gerente ela filial elo Banco nesta Ca- menta com o autor, deliberaram p·a.gar-lhe a
pital. importância de quarenta e cinco contos de·
Diz ainda o autor que a primeira proposta réis.
de empréstimo foi por ele assinada no Rio de 'Isto, no dizer do autor. vem demonstrar
Janeiro, ec;tando pa.ra isso autorizado pelo Dr. não só a prestação dos serviços com a conclu-
Marcos Malega que lhe enviou uma procura- são do negócio, como tambem o reconhecimen-·
ção de próprio punho para rati'ficação do á to. to pela própria ré, da sua obrigação de pagar ..
Entretanto, porque se deliberasse que a pro- Todavia, porque o autor se recuse a acei-
posta devia ser apresentada em São Paulo na tar o pagamento da quantia ofertada, que cha-
filial do Banco, e diretamente pela Companhia
ma de ''(;orgêta' veio a juizo com a presente
São Plaulo-Goiáz, foi aquele instrumento de ação para demandar o pagamento da justa re-
procuração devolvido a ré.
muneracã>o pelos s2rviços prestados a ré.
Mesm·o assim e depois ele ter a ré delibera-
Estima o autor os seus serviços, o valor
do reduzir para três mil contos de réis a im-
portância do empréstimo, ainda foi solicitada destes, em: duZRntos e cincoenta contos de réis
(250:,000S000), importância essa corresp·ondente
a int·ervenção do autor para atPlainar certas
a cinco por cento (5 %), sobre o valor do em-
dificuldades, cbtenclo uma redução ele comis-
préstimo autorizado, de cinco mil contos de
são e conseguindo outras concessões, nã.o
réis, proposto e ac-eito inas Se submete tambem.
somente do Ba.nco elo Brasil, como tambem
a regular arbitramento, incluindo-se na con-
do Banco do Comercio e Indústria, fiador do
denação os juros da móra e custas e deduzin-
empréstimo.
do-se a importância de dois contos de réis que
Informa tambem a inicial, que ao ser pro-
a ré lhe forneceu.
curado para dili:;enciar a obtenção do emprés-
timo, o autor teve oferta do Dr. Marcos Mele- Estão expostos, sem maior possibilidade de
ga de pagar-lhe a comissão de sete por cento, síntese, - os fundamentos do pedido e a sua
conclusão, isto é o próprio pedido.
a mesma que havia assentado pagar aos 1nter-
me<iiários ela operação anteriormente negocia- Defendeu-se a ré, pela contestação de fo-·
da com a Caixa Econômica Federal, tendo o lhas 23 em que suscitou várias preliintnares que
autor declarado que se sat.isfazia com a remu- o desp·acllo de fls. 77 expressa ou tacitamente
neração de cinco por cento sobre o total do em- repeliu.
prestimo de cinco mil contos de réis. De mérito. alega-se na .contestação que a ré
Aconteceu, en~retanto, que depois de con, não é devedora ao· autor de qualquer importân-
cluida toda a negociação com o Banco do Bra- cia, por isso que a sua intervenção junto ao
sil, de já autorizado o em,p'réstimo e de já apro- Banco do Brasil para obtenção do e~n~Préstl·
vada a minuta do contrato, resolveu a ré de- mo se deu expontaneamente, se1n qualquer so-
sistir da operação para realizar outa·a com a licitação em termos a obrigar a contestante pela
Caixa E-conômica Federal, m.edia.nte despesas remuneração dos serviços que o autor diz ter
que andaram pela cifra de seiscentos contos de prestado.
réis (600:000$000) · Mas, admitindo-Se o contrário, ter-se-à ve-
Ao entabolar as novas negociações com. a rificado tambem que aquela intervenção não·
Caixa Econôm1ca Federal, a ré mandou dizer se fez no sentido da obt-enção do empréstimo·
ao lJ.Utor por intennédio do Dr. Euzebio Queiroz nas condições pretendidas quanto ao prazo, im.-
Matoso, que os seus direitos eram sagrados. gn- portância e juros, pois que o autor sô logrou
tretanto, depois recusou-se ao pagamento da trazer um negócio completamente diTerente a
remuneração a que se obrigára. tudo aquilo que á ré convinha.
E aconteceu ainda que em assembléia dos r· N t ·
acionistas da ré, 0 Dr. Numa de Oliveira, tes- ega es a que a proposta do Dr. Numa dé
temunha que fôra de todo 0 trabalho do autor, O!lveira apresentada a assembléia dos acionis-
propôs e foi unanimemente aprovado que a Dl- tas ao envés de dem'onstrar a sua responsab111-
retoria ficasse autorizada a entrar em. entendi- dade para com o autor,. põe ao contrário em
lllento com 0 autor para 0 pagam.ento dos seus evidência a sua irresponsabilidade pelo paga-
honorários. men to da remuneração demandada.
Reunidos, porém, a Diretoria e o Conselho Com a. inicial e a contestação, autor e ré.
Fiscal a ré, ao envés de procurarem entendi- ofereceram documentos.
(15)
144 ARCHIVO .TUDICIARIO 5-2-43
A requerimento daquele foi feito um exa- Não incidiu, portanto, o despacho sanea-
me nos livros e arquivo da ré, e procedeu-se dor em nenhuma omissão e se não justifica,
ao ar'bitramento da remuneração questionada. pois, a censura que se lhe fez nas alegações
As folhas 89 e 131 en·conti-am-se os laudos orais do ilustrado procurador da ré. Muito me-
do exame e do arbitramento. nos justa a afirmação de que daquela supos-
Na audiência de instrução e julgamento a ta omissão resultou cerceamento de defesa.
ré, prestou depoimento pessoal por intermé- A oportunidade para decidir daquela maté-
dio do seu diretor Dr. Marcos Mele.ga e foram l·ia capitulada como preliminar na contestação
tomados os depoimentos de duas testemunhas hà chegado agora.
I
arroladas pelo autor. ·1 Faço-o, porém', para desprezá-la pela sua
Afinal, numa segunda audiência, foi a cau-J improcedência dadas as razões de fato e de di-
sa debatida p'elos procuradores das partes, apre- reito que à seguir destacarei, enumerando-as.
s€·nta.ndo ambos o resumo escrito das suas ale- 1) - Negar a própria ré que tivesse outor-
gações orais. gado qualquer mandato expresso ao autor para
Usando da prerrogativa que me confere o tratar do negócio do empréstimo em questão
·artigo 271 § único do Código de Processo Civil j-unto ao Ba,nco do Brasil, don<le resulta que se
Brasileiro, adiei o julgamento e designei o pri- não houve nomeação de procurador não ;tlà por-
meiro dia útil desimpedido para publicação da que cogitar da proibição de que trata o invoca-
.sentença. do decreto n. 24.112, de Abril de 1934.
Passo agóra ao exame da causa. Antes, po- 2) - que na proibição do citado deco:eto
:rém, de apreciar o· seu merecimento, devo me se comprende a má advocacia administrativa, o
detér ainda no exame de uma das prelimina- emprego da influência política, ou de mano-
res suscitadas na contestação, itens 3° a 5° e bras inexcusaveis, para obtenções de favores ou
.que diz respeito à ilicitude da obrigação deman- concessões do Governo ou da administração pll-
dada •t:>elo autor, que sendo professor catedra- blica, o <;ue importa em advocacia !licita, ofen-
tico da Faculdade de Direito de .São Paulo, siva da ética profissional, e da ordem pública
aposentado rpor decreto de 13 de Janeiro ue e por isso mesmo prescrita pela lei;
1939, estava com'prendido pela proibição con-
·.tida no m·tigo único do decreto número 24.112, 3) - entretanto, que, no caco, tal não po·
:de 1<1 de Abril de 1934, qual a de ser procura- dia ter ocorrido porque no dizer ainda da ré
.dor de partes perante qualquer repartição p11, os serviços por cuja remuneração o autor está
1Jlica administrativa federal, estadual ou muni, dem'andando, · não foram de advocacia. e sim de
ccipal. corretagem, verifioa.ndo-se a sua intervenção
como mediador para obtenção de um emprésti-
!Mistér, e necessária se faz agora, e somen,
mo no Banco do Brasil, operação absolutamen-
te agora, a decisão da matéria alegada que mui··
te li c i ta e cercada de todas as garantias;
-to mais propriamente censtitue merecimento do
.que preliminar da ação. 4) - que, por outro lado, não pode o
Como já fiz· sentir na audiência de julga, Banco do Brasil merecer, à rigor, a classioficação
-menta, repito ainda, .a:s nulidades sobre M de repartição pública, ou de orgão da. admt•
quais, na sistematica do novo Código de Pro- nistração públiea nacional; é ele uma Sociedade
.cesso Civil, deve se pronunciar o -despacho Sl!l.- Anonima, regida por · es~atutos próprios, sendo
neador são as de natureza própriamente ptoooa- os seus diretores eleitos pela assembléia dos
sual. acionistas; o fáto de ser o Governo da Repúbli•
ca ou o Tesouro Nacional subscrtto~r de um
A que foi objeto da preliminar em disCU:!l, grande número de ações não implica, ou me-
são envolve matéria que, se atendida fõr, nl!.o lhor, não signHica que aquele estabelecimen-
implica na anulação do feito, porque, sem du- to decva se~r cla.ssificado ·OOmo repaxtição ou
vida, ela não diz respeito ao processo e sim prO- orfão do!> serviços públicos; do mesmo modo
priamente a obrigação em lide. Para decidir se não póde ter aquela consequência o fáto dO
essa obrigação padeoe dos vicias de origem que Governo legislar de modo especial para o refe-
Ihe atrib~e a ré, terá f~rçosamente . o j~gador I rido estabelecimento bancário, notadamente no
d.e arprecta-la na sua essencta. Para ISSO e inex- ' que diz respeito às medidas de proteção à la-
<{)Usavel o exame do merecimento da caus~t. I vol.U·a;
(16)
5-2-43 ATICHIVO .JUDlCL\nTO 145
pero menos em relação ao acõrdo para esta úl- t;eres.se e provccação de terceiro, r'o co..so do Bnn-
tima operação de crédito. co do Comércio e Indústria, a quem mais sorria
A prova tambem i.l'retorquivel de que a ré a realização do empréstimo.
aceitou esse último empréstimo encontra-se na A prova dos autos, de maneira alguma, uu-
ata de 20P reunião da sua Diretoria, em 30 toriz.a a assertiva feita afine.1 pela defesa d:;
de Junho de 1939, segundo a qual, tomando ré, para isentá-La da obrigação de remunerar
conhecimento da minuta da escritura de eJnprés- os serviços do autor.
timo, resolveu a.·ceita-la em principio. Em Iace do exposto e considerando que "·
Não cabe aqui indagar dos motivos parti- prova do contro.to de mediação entl'e o autor
culares que teve a ré para desistir do emprésti- e ré resulta de documentos ext!'aidos do arquivo
mo ajustado de três mil contos de réis. Essa de- d·esta, tais sejmn as atas das reuniões da sua
sistência ou renún'Cia encontra explicação certà- c!Iretoria e da a.<;sembléia dos SC'l3 acionistas; "
mente no fato de haver surgido !para a ré as atendendo a que, segundo reconheceu então a
novas possibilidade.3 do empréstimo que veio prótPria ré, a mediação do autor se fez efetiva
afinal a realizar com a Caixa Econômica Fe- e utll para consumaçào do emprestimo que E~
deral. não efetivou por vontade exclusiva da. ré, não
Mas, certo como tambem se me afiguta que vejo como jurídica e moralmente recusar-se aco-
ela já havia aceito a operação do empréstimo lhida à presente ação para condenar a ré a pa-
de três mil contos de réis, tanto assim que a gar uo autor a justa remuneração a que tem
sua Diretoria chegou mesmo a ap1·ovar em Ul"in- d:reito <pelos serviços prestados.
cipio a minuta da esc1"itura, e que para esse Essa remuneração dada a ausência ele con·
acôrdo de vontades entre o Banco do Br-~3il e a vençao expressa entre as partes, (leve ser a cor-
ré foi fator decisivo a interferência do autor, rente ou usuaf·de três por cento sobre a quan-
não vejo como se justificar agora a reCUSa do tia de três mll contos de réiS, valor do empréa-
pa.gMnento da justa remuneração, maximé em tJmo que foi concertado e que r.ão ultimou por
se consiclera.ndo que, de principio, a assembléia vontade exclusiva da ré.
geral dos acionistas resolvia autorizar o pa,;a-
Nesoa conformidade julgo em parte proce-
mento.
dente a açãb para condenar a ré ao paga-
Entendo, outrosim, que não cabe agora con- mento da quantia de noventa contos de réis
siderar as 1·azôes remotas qUe levaram a ré a ( 90:000$000) , com os juros dQ. móra, mas dedu-
pleitear o empréstimo de cinco mll contos de zida a de dois contos de réis que o autor con-
réis, depois reduzido a três mil contos de réi.~, fessa haver re.cebido.
perante o Banco do Brasil e encarregando o au-
Custas tambem pela ré .e por inteiro de
tor de diligenc1ar nesse sentido.
vês que o autor declarou na inicial conforma:-
SI constrangido ou não pelo seu credor o se com a condenação que fa.õse arbitracla.
Banco do Comércio e Indústria a tomar aque:e.
Para ser publicada em audiência para hoje
iniciativa, o certo é porem que a ré confiou ao
designada.
auto;r a incumberncia de negociar o empréstimo.
O intermediário é que nade. ~m à ver com a São Paulo, 17 de Junho de 1940'. - João
influencia persuasiva ou constrangedora do M, carneiro Lacerda".
credor da Té. E prova de que o autor foi es- o A. não apelou, conformando-,se com a
tranho àquelas influencias encontra-se ainda sentença.
ne. declaração do diretor Dr. Melega qultndo err.. A·pelou, porem, a ré. O Tribunal de Apela-
seu depoimento pessoal procurou fazer crer que ção por uma ele suas Cãmaras, negou provimen·
a interferência do autor se deu expontaneamen- to ao recurso, confirmando a decisão, pelo
te, faZJendo-se acreditar que significasse uma ac. de fls. 243, do vol. 2lp (llip.), acordão que
retribuição ao obsequ1o que lhe pre.st!:tl'am o passo a lêr:
Inesmo Dr. Melega e o Dr ... Antonio Pruden;;e A ré intea1pôs recurso de revista, sob a ale-
, de Moraes, no sentido de obterem do Presidente gação de que em outros julgados já o Tribunal
da Repúbl1ca o adiamento ou a revogação da or- a<lmitira o Banco do Brasil como repartiçãO
dem de sua expulSão do país. pt'lb!ica federal, afem de outras alegações qu<!,
r
Injusto é atribuir-se à inte:c·ferência do au-l IPOl' igual, não foram aceitas pelo ac. que não
tor aquela feição de obliquidade, por conta, in- admitiu a revista (vol., fls. 104) .
(18)
5-2-43 AD.CHIVO JUDICIAT\10 147
Isso se vê claramente da sentença de pl"i- 1 do1· ela parte patrocinando interesses IW!'ant~
meira instância que o ac. recorrido confirmou e-1~incorre na proibição legal do decreto 22. 112.
sem qualquer restrição. Mas o A. não agiu como procurador, caso em
Com !efeito diz o Juiz de prirr.,edra instância que a repartição não admite o procurador por-
na sua aliás bem fundamentada sentença qU'ó que não poderia admitir a procuração, ficando
o Banco do Brasil, não obstante a intervenção o funciol].ário que com ela se aposenta sujei-
que nele tem o Tesouro, que é o seu maior acio- to ás sanções disciplinares que couberem. No
nista, é unHL soci·edade anônima, não sendo a caso dos autos a ré aceitou a intervenção do
rigor repartição pública ou orgão da administra- A., sabendo ser ele professor oficial e portanto
ção ,pública federal. funcionário público. Concorda em lhe pagar
Temos decidido de modo contráll'io e, ainda 45:0008000, o que exclui categoricamente a gra-
recentemente, no rec. ext. n. 4.339, ac. de tuidade. ainda que ilnpugnando o rpedido ou
17 de Julho de 1941, e por unanimidade dos contesta·ndo I:J ajuste anterior na ba.se pedida
votos desta TUrma. Disse eu no n<eu voto de pelo A.
relator: "E' fóra de dúvida que o Banco do A Justiça local, não dando o que o A.. pede
Brasil, pelas suas vinculações com o Tesouro, ne1n o que "' ré ofEa·ece, mas a soma arbitrada na
é 1nais do que um méro Banco, constituído base de 3% usual para a remuneração dos ser-
um departamento da administraçflo financeira viços de corretagem ou mediação, ou sejam
da União" 7G:OCOSOOO, decicliu com ac2rto. con< razoavel
Essa foi sempre a tese assentada por este entendimento d,a lei civil e principias gerais de
Superior Tribunal. As leis citadas pela recoru:n- direito que não permitem que da própria malícia
te sobre a organização e os serviço·s a cargo do possa tirar proveito aquele que aceitou os servi-
Brflsil servem a essa conceituaçãi:J, .isto é, ao ços de outrem.
entendimento de que o Banco do Brasil é um
Conheço do recurso. mas nego-lhe provi-
Banco oficial ou semi-oficial, uma autarquia
mente.
federal ainda que sob a forma privada de
sociedade comercial, dada a natureza dos E-eus O Sr. Ministro Philad.clpho AzeDedo: -Co-
fins, articulado com o Tesouro no desenvolvi- nheço do recurso, a despeito da infrutífera re-
vista, mas lhe nego .provim<mto .pelas seguintes
mento da política financeira da União.
razões:
E', portanto, um departamento desta, e(}ui-
parado a muitos respeitos às repartições admi: -- a) - não pode alegar imoralidade da inter-
nistrativas, e por isso mesmo aos seus empre- venção quem a ,provocou e se dispôs a remune-·
gacTos se aplica a proibição de acumulações re- rá-la, .embora mais parcimoniosamente, dispen-
muneradas, por determinação expressa da lei õando-se. assim, o exame de aspectos de minúcia
respectiva. que excluiriam qualquer ilicitude, como afirmou
a Córte Paulista no exercício de funçf~o priva-
Mas ~e todas as normas legais invocadas nes-
tiva no exame de provas;
se sentido servem a esse entendimento ou con-
ceituação, não se pode daí concluir que, afir- b) - não é o Banco elo Brasil re.partição
mando tese diversa, as tenha violado o jul- pública, e a despeito do hibridismo que oferece
gado recorrido em termos de autorizar o re- sua atividade ern alguns 15etor·es, como no da
curso com base no inciso "a". O que ~e pode fiscalização bancária, é ainda uma soci·edade anô-
dizer é que cabe o recurso pelo inciso "d", ·:le I nima, ainda que sui generis, chamada diaria-
vez que uma das razões de decidir envolve
tese contrária à adotada pelo Supremo Tribunal.
I mente· aos tribunais :na Justiça !Comum e sujeita
a e~e.cução comlpulsória, sem ingerência da
Conheço pois do recurso por esse fundamen- União;
to. c} - a restrição de atividades contida no
Mas, nos termos já expostos, nego-lhe pro- decreto n. 24 .1>12, tinha de ser entendida res-
vimento, ainda que sem admitir a tese da tritamente, não sô quanto ao objetivo do ne-
sentença confirmada no tocante ao Banco do gó-cio na clàusula "em repartição pública", como
Brasil. no tocante à pessoa;
Este é repartição pública federal, serviço ofi- d) -
realmente, o professor não é um fun-
cializado da União. Quem quer que, sendo j cionário público na expressão restrita, em que o
funcionário público, se apresente como procura- trata o próprio regulam·cnto da Ordem ·dos Ad-
(20)
5-2-43 AHCHIVO JUDICIAIHO 149
o professor não tem o menor poder ele coação O Sr. Ministro Castro Nunes (Relator) : -
sobre o público ou a parte. com quem não trata; A recorrente 1noveu contra o marido uma ação
cie nulidade do casamento alegando que o filho
f) - inócua é a Invocação do art. 1. 290, do
nascid:J desse consórcio era. portador de sifills
Código Civil, pois, ma mediação, o mandato é congênita c hereditária, transmitida pelo pal.
secundário e, em rigor, di~pensavel, tratando-se Baseou-se nos arts. 218 e. 219, III do Código
prlnci·pal-mente ele locação de serviços, que t2m Civil.
de ser remunerada, seg·undo torrencial jurisorn- A ação foi julgada procedente em prime!rl!.
dência, fosse, ou não, o recorrido manda';ário e instância. Mas o Tribunal de Apelaç!l.o refor~
até advogado. mou, por unanimidade. a. sentença, pelo acórdão
da fls. 60-63, que ,é o seguinte:
O ST. Ministra Barros Barreto: - Sr. Pre- "Elépostc.s e discutidos estes autos de apela-
sldente, conheço do recurso, mas lhe nego pro- ção civil, ex-ojjicio, de Curitiba, .om que são
vlmento,. pois -estão provad:-ts a 1nediação e a apelados Maria de Lourdes Motter Areas e seu
prestação de serviços pelo recorrido. marido Alvaro de Souza Areas.
Acordam em_ Segunda Câmara. do Tribunal
DECISÃo de Apelação, por voto unânime, prover o re·
curso para, reformando a sentença apelada, jul-
Como consta ela ata, a decisão foi a seguin- gar a ação improcedente e a autora condenada
te:- Conheceram do recurso e lhe negaran1 rpro· nas cust.as.
vimento, unanimemente. O fundamento do pedido está no fato ele te1
a autora casado. d€ECOnhecendo que seu marido
era portador de uma infecção luetlca, existindo
Acordão
por isso erro essencial contra a sua pessoa, que
tornou o consentimento viciado. E:>iá, portant::>,
Vistos, etc. :
conforme reza a inicial, fundado o pedido no
Acorda o Supr-2mo Tribunal, pelos Ministros número III elo artigo 219 elo Código Civil.
componentes da Primeira Turn1a, de acordo com A existência deste fundamento, para ter a
os votos proferidos, e unanilnemente, constan- eficiencia de romper o vinculo conjugal, carece
tes {las notas taquigr-áficas juntas, em conhecer de· vir acompanhado da prova: - 1 a da moléstia
do recurso e lhe negar provimento. Custas. gmve; 20, contagiosa ou transmissível; 30, capaz
de pôr em rl.sco a saude do outro conjuge ou dos
Supremo Trib_!lnal Federal, 19 de Outubro seus descendentes.
le 1942. - La1~do de Camargo, Pre3idente. -· Na prova dos autos não se encontram ele-
castro Nunes, relator. 1nentos con;;inccntes .para J)eln aYali:tr a gravi-
clacle ela moléstia, o risco ctn sa uc\e ch autora
ou o pcrlgJ de comprometer a cta prole. Argu-
:211
1;)0 AnCHIVO .TUDICIAniO 5-2-43
Tudo isso está incllcanclo que o juiz prc- ) .'3e a sífilis está generalizada conviria que
cisa ter muito cuidado em aceitar a sffilis como 1 o legislador restringis&! o n. III do art. 219
causa de anulação do casamento, num regime 1 do Cód. Clvll mas a nós é qu" não cabe tal
como o nosso, m.una sistemâtica como a do papel.
nosso direito, do nosso Código Civil. em que a Explicação
anulação do casamento tem de ser dificultada;
O Sr. Ministro Castro Nunes (Rela.tor) -
tanto que a própria lei civil manda que o juiz
Sr. Presidente, não cabe ao juiz o papel de rcfor-
dê defensor ao vinculo, para que se dificulte
mar a. lei - e nesse ponto estou de inteiro
a anulação. Só em casos que se podem dizer
acordo com o Sr. Ministro Philadelpho Aze-
excepcionais é que devem os tribunais da1· a
vedo - , rr.,'ls cabe-lhe o de interpretar e
anulação pleiteada.
desenvolver os textos. Ora, o Tribunal de Ape-
o 'Tribunal de Apelação do Paranâ, consi- lação do Paraná deU uma interpretação rea-
derando a natureza da enfermidade, em vista lista, compatível com as circunstâncias, a.o dis-
da~ clrcunstanclas do caso, proferiu uma de-
positivo invocado do Código Civil, embora fora
cisão que, a meu ver. deu interpretação - e da letra.
a melhor - ao dispositivo do Código Civil in-
'Há uma circunstância importantíssima, a
vocado, sem ofenclê-lo ou violá-lo em termos
ser considerada.. Se admitirmos que o simples
que autorizem o recurso extraordinâTio.
fato de ser o marido portador de sífilis possa
Por esses motivos, não conheço do recurso. dar motivo à anula.ção do casamento, a gene-
u Sr. M1ntstro Philadelp•ho Azevedo rea.liza.ção dessa enfermidade ou, talvez melhor,
Conheço e dou provimento para restaurar a dessa cl:ia.tese, quasi presumida a tal \ponto que
sentença de primeira instância. é por ela que começam em cad3. caso as inda-
Aparentemente, a decisão se funda em mern gações clínicas. leva.râ ao seguinte: raro será.
apreclaçao de prova, mas na verdade, alem de o vínculo conjugal isento da possibilidade de
entrar em terreno perigoso para. juristas, aban- ser anulado.
dona. a prova de que a criança, que se vê a O Sr. Ministro Philaàelpho Azeredo (Revi-
!ls. 9. tem moléstia de fundo luético - fls. 7, sor) - Há inúmeros julgados que dão este
B e 33, não atribuível a.o lado materno, para efeito até a. simples gonorréia, que hoje pode
sustentar qué a sífilis não pode ser compreen- s·er curada em três dias.
dida entre as moléstias graves e transmlssl- O Sr. Ministro Castro Nunes (Relator) -
vels, a. que se refere o a.rt. 219 do Código Civil. Esses julgados não devem ser confirmados por-
Ora penso de modo divero, fundado até em que, repito, se admitirmos essa interpretação,
precedeu tes de vários tribuna.is do pais. estarão facilitadas dissolventemente as anula-
I..l1ante do triste resultado constante destes ções de casamentos.
autos e elos princípios de eugenia, que cada No nosso direito a lei permite a. anula<;><i..o
vez ma.is recomendam o exame ante-nupcial (de- do ca.sa.n"lento, mas só em certos casos e ela
creto-lei n. · 3. 200 de 1941), como tomarem o~ manda que a anula.ção seja dificultada.
juizes a responsabilidade de ordenar o prosse- O Sr. Ministro Philadelpho·Azevcdo (Revisor)
guimento da. vida conjugal na especta.tiva de I - E o exam.e pré-nupcial, do decreto-lei 3.200?
O Sr. Ministro castro Nunes (Relator) -
que haja cura e. assim, nenhum risco para n
saude ela recorreu te e da descendência do casal? Toda. a legislação recente visa o interesse da fa-
A Constituição prevê o conflito na. intel1- mília legitima, monogâmica; e digo isso insus-
gencla da mesma lei federa.l e, assim. na defe- peitamente, porque eu seria favoravel ao di-
sa desta, podemos chegar ao exame de situa- vórcio a vinculo.
ções fundamentais, como a fixação de defeitos O Sr. Ministro Philadelpho Azevedo (Revisor)
físicos e de moléstias graves, pois não é poss!- Eu tambem sou, é claro.
vel que, em certos Estados os ca.samentos se- O Sr. Ministro Castro Nunes (Relator) -
jart1 anulaao.. po:r si!!l!s, epilepsia, tuberculose Mas, no regime da nossa. legislação, a defesa
ou lepra e em outros pontos do território na- do casamento e dá família estão de tal forma
cional isso não aconteça. radicados que Ee admitíssemos a silfilis como
E 0 Código Civil não estabeleceu o re-~ motivo para anulação ele casmnento a inYocaçilO
quisito da incurabi!iclade a que aludiu o Tri- dessa molestia seria a forma n"lais f<lcil ele o:Jtcr
buna.! recorrido. a anul~ção. Tenho, a meu Yer, essa interpret<l-
(23)
152 AHCHlVO JUDICIAHIO 5-2-43
gw como incompatível com o espírito da lei el1 Conheço, assin1, do recurso e dou-lhe pro-
o intereses social ligado à defesa do casament:>. vimento para restaurar a sentença de primeira
Mantenho o meu voto, não conhecendo do instância, que julgou a ação procedeu te.
l'eCUl'SO. O Sr. Ministro Castro Nunes (Relator) : -
Sr. Presidente, vencido na preliminar, nego pro-
VOTOS vimento ao recurso.
O Sr. Ministro Barros Barreto - Sr. Pre- O Sr. Ministro Laudo de Camargo (Presi-
dente): - Nego provimento ao recurso, vencido
dente, a brilhante exposição feita da tribuna
na preliminar, ainda ele acordo com o Sr. Mi-
pela ilustre advogada demonstrou a l'elevância
llistro relator.
do caso sub-judico. Estou de inteiro acol'do com DECISÃO
o .sr. Mi:nistil'o Philade1pho de .Azoevedo. Conhe-
Como consta da ata, a decisão foi a seguin-
ço, pois, do recurso e lhe dou provimento, afim
te: Conheceram do recurso, contra os votos dos
de restabelecer a sentença de lB Instância que
Srs. Ministros relator e Presidente, e deram pro-
an~llára o casamento, aproveitando o ensejo do
vimento, contra os votos dos mésmos Srs. Mi-
aparte dado ao Sr. Ministro relator pelo Sr. nistros relator e Presidente.
Ministro Philadelpho de Azevedo, para declarar
que tambem sou favoravel ao divórcio a vín- Acordão
culo. Vistos, relatados e discutidos os autos de
O Sr. Ministro Laudo de Camargo (Presiden- recurso extraordinário elo Paraná n. 5. 737 em
te): - Não conheço do recurso. Ouvi atenta- c;ue é recorrente Maria ele Lourdes Motter Areas
mente a leitura do acordão e nada encontro. e recorridos o Tribunal de Apelação e Alvaro de
nos seus fundamentos, que possa constituir ele- Souza Arêas, acorda a P turma elo Supremo
mentos para a anulação do vínculo conjugal. Tribunal Federal, por maioria ele votos e tendo
o Sr. Ministro Annibal Freire - A tendên- em vista o texto elas notas taquigrafadas aos
cia de nossa legislação, mesmo com o aspect,o re- presentes já reunidas, conl1ecer do recurso e
formador caracteristico da nova ideação jurícli- clar-lhe provimento para restaurar a sentença
ca, ê para dificultar a anulação de casamento de· primeira ilu,tãncia ele fls. 54-55.
por motivo sobl'etudo de ordem subjetiva, re- Custas na forma ela lei.
sultante _de coação ou vício de consentimento, Rio, 12 ele Novembro ele 1942 (data do jul-
apto a procluzir incertezas e vacilações no es- gamento). - Laudo de Camargo, Presidente.
pírito elo julgador. Mas não o é no sentido - Philadelpho Azevedo, relator c\esignac\o.
de defender a próle em casos de verificação ob-
jetiva, que nem mesmo as controversias de
ordem científica conseguem obscuiecer.
O caso dos autos parece-me de evidente com-
Recurso extraordinário n. 6.088
preensão do aspecto social em que a questãc. (PARAHYEA)
tem de ficar situada. 1 - Por meio de embargos de declaração não é
As circunstâncias do caso, as provas in- possivel agravar 1trna condenação elevan-
do ao déC1tplo as custas vencidas. 11 -
concu.sas produzidas no processo, as consequên- O processo de recurso contra esse grava;-
cias do conhecimento do fato para a situação do rne não pode ser condicionado á sua pre-
via satisfação. 111 - O aumento de
casal após o nascimento do filho, pelo abando- custas, a título de pena, beneficia a
no elo lar por parte elo marido, tudo a meu v·8l' parte vencedora e não aos serventuários
q1te a elas tenham jeito jús. IV - Dt-
influi para a refol'ma do acórdão recorrido. jiculdade de ressarcimento em caso de
O direito ê -a realidade e a realidade na hi- reforma do pagamento em décuplo das
custas, se estas são previamente distn-
pótese é a existência de moléstia grave e tran~; buidas ao pessoal do juizo e a peritos.
mi&Oivel do mal'ido, nos termos expressos da lei
civil. Pol' outl'o lado, o matrimônio não é pul'a RELATÓRIO
fição, cleificacla somente pela celebração con- O Sr. Ministro Philadelpho Azevedo (Rela-
soante o rito legal. Se prevalecesse a decisão tor): - Decaindo da ·cobrança executiva, no
l'ecorl'ida., teriamos na realidade um matrimô- fôro cln, Parahyba, elo saldo de promissória de
nio de existência forçada, sem que se produzis- 16:0008000, .çmiticla por Dioni.sio Carneiro da
sem os efeitos sociais e jurídicos inherentes à Cunha, em vista elo recebimento dos em.bargos
união conjugal. da m1!ll1er elo devedor, já clesquit'lclo, o autor,
(24)
5-2-43 AT\CHIVO JUDICIARIO (SUPLE:\lENTO) 153
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ora rccorrent.e, Yiu .sua conclcnaçüo em custas F'ez-se a conta de custas cli~penclidas por
elevada para o décuplo, em vü·tude do recebi- ambas as partes, quando, com o recebimento do
mento de embargos de declaração. recurso nos efeitos, terla o autor de pagar as·
Apelando da sentença, recusou-se, todavia, a por de provocadas e só, afinal, responderia, se
satisfamr o pagamento de •custas, inclusive as vencido, pelas do adversário.
do recurso, contadas no décuplo - fls. 28; des- E tal conta, como as custas ela subida do
prezada a impugnação, ainda o autor insistiu, recurso, foram calculadas em décuplo, tornan-
ao se opor à deserção do recurso pleiteada p·ela do essa petição de prlncípio praticamente proi-
recorrida, não sendo, tão pouco, atendido, eis bitivo o recurso, intentado contra a agravaçã.o
que não se verificara qualquer caso de força de,S·2S onus.
maior e o art. 827 do Código exige o prévio Mais ainda: o cálculo foi feito de modo que
pagam-ento de custas para subida da a.pelação. as custas beneficiassem aos serv·2ntuários, quan-
Formou, então, a .parte o agravo de instru- do, a despeito de algumas opiniões como a de
mento dada a deserção do recurso, impugnando Jorge AQnericano, no sentido de que caberiam
a [!Iteração seródia da sentença, que contravin11a ao Estado, em contrário, tinham de beneflcl~r
ao art. 839 do Código de Proce"õso Civil - tam- exdvsivament-e à parte, assim participe da san-
bem, só seria1n cxigiveis as custas dr3 remessa ção aplicada ao adversário improbo e malicioso,
do recurso. eis que este fora recebido em am- como já dispõe o art. 1. 531, do Código Civil.
bos os efeitos. Pagasse as custas, em décuplo, a peritos, es-
crivães, e oficiais de justiça, como ,poderia o
O Tribunal negou provimento ao agravo, por-
autor recuperá-las em caso de provimento do
que não se apurou qualquer caso de força maior
recurso?'
que escusas2e a clemora da subida do recurso,
Parece-me, assim, de evidência haverem sido
não importando em obstáculo judidal a justa vulnerados vários textos do Código de Processo,
condenação do autor pelo dolo com que agira. subsistindo forte obstáculo judicial a impedir o
.Daí, o recurso extraordinário com fundamen- trânsito da apelação, eis que razoavelm·cnte o re-
to nas letrrts "a" e "d" do n. III elo art. 101 corre:1le resistiu a suportar o ilegítirno Yeto que
da Constituiçã-o, e ofensa irrogada ao art. 839 lhe opuseram.
do Código de Processo. Dou, as;im, provimento para que o Tribunal
de Apelação da Parahyba conheça da apelação
VOTOS interposta, sem dêpen!lência de .prévio pagamento
O Sr. Ministro Philadelpho Azevedo: - Mau
das custas em décuplo.
O Sr. Ministro La1<do de Camargo: Não
grado o rigor silogístico, com que argumenta o
se trata de apreciar o mérito da causa, ou seja
recorrido pretendendo reduzir ·o debate ao ar-
a condenação do recorrente.
tigo 828 do Cócligo de Processo .pela simples con-
Trata-se simplesmente de julgado que, con•
tagem do decêndio, sem pagamento de custas,
firmando a sentença da 1a instância, consid·2rou
que permitissem o acesso do feito à instância
deserta a a.pelação.
superior, conheço do recurso c lhe dou provi-
Fá-lo por não demonstrado o justo motivo
mento. da lei, para o nã.o seguimento do recurso.
Por menos direito que assista ao recorrente, Deste modo, o acordã.o recorrido não ofen-
por mais censuravel que seja sua atitude maU- deu a letra ele lei fedePal e sim apreciou as cil'-
ciosa em detrimento de uma mulher desquitada, cunstâncias ocorrentes e não impeditivas da ~u
1
certo é que sua ativiehtcle processual foi grave-~ bida da a.pelaçào.
mente atribulada. Não conheço, assim, elo recurso.
O juiz não pode, maximé na ausência ele DECISÃO
Pedido oportuno, quando já .oe alegara a má Gomo consta da ata, a decisão foi a se•
fé do recor1"2nte (fls. 51), agravar sua conde- guinte: - Conheceram do recurso, contra o voto
nação definitiva por embargos de declaraçã.o, elo sr. Ministro revisor, e lhe deram provimen-
quando nenhuma omissã.o extstira; daí decorreu to, contra o mesmo voto.
a série de vexames sofridos c a acumulação ct~
erros, sem que outra oporLuni~ladc se lh2 al)l'isse Acordão
Para obter o socorro de aplic~ção ela lei, a5sim Vistos. relatados e discutido' os autos de
Violada. rccur~o extraordinário da Parahyba n. 6. 08,8, em
125)
15-t ARCHIVO .TUDICIARIO 5-2-43
(27)
AnCHIVO JUDlCL\niO 5-2-43
TRIBUNAL DE APELACÃO
_, DO DISTRITO
FEDERAL
JURISPRUDENCIA
qual se lê, em seguida ao nome do apelante, a tença apelada, a ele reclusão por 2 anos. 6 meses
qualidade de "advogado", simplesmente, isto é, e 15 dias. Reconhecida, porem, a simples tent'l.-
sem qualquer especificação. Cartão é, por si tiva e tendo-se em conta a menoridade do ape-
só, anúncio? Evidentemente não. - Nã.o estan- lc.nte, as desfavoraveis condições em. que se
do, assim, caracterizada a contravenção defini- achava na sua adolescência. e a pouca gravidade
da no citado art. 47, a absolviçã-o impõe-se. do dano que pretendia ocasionar, é razoavel que
Custas na forma da lei. se reduza de dois terços em quanturn de pena,
Rio de Janeiro, 19 de Outubro de 1942. - sem prejuízo, porem ela- medida de segurança.
José Duarte, Presidente com voto. Joaq1ttrn prevista no art. 95, n. I, do Código Penal.
Mafra. de Laet, relator. - Nelson Hungria .. Cus;;as ex-lege.
Rio de Janeiro, 19 de Outubro de 1942. -
Adelmar Tava<res, Presidente. - Nelson H1wgna
Apelação criminal n. 3.606 relator. - Joaquim Henrique Mafra de .L.uet.
estado o of.endielo incapacitado por mais de 30 que clefine e pune tal delito. cometido em 22
dias para suas ocupações, impondo-se, assim, de Dezembro de 1941. O outro crime pelo ape-
a desclassificação pleiteada do delito para feri- lante. praticado ne.o:se mesmo dia, o do art. 124,
1nentos leves (art. 129 do Código Penal). § 2o da citada Consolidação, sendo por esta pu-
Não registrando o apelante antecedentes nido em seis meses a um ano da prisão, en-
judiciários, como se vê de fls. 26, mas tendo quanto pelo novo Código é apenado com de-
tido o crin>e consequências serias para o Dfen- tenção de dois meses a <iois an0'.3, - usou o
dido, e revelando o mesmo apelante, como re- Julgador da faculdade que a lei vigente ao
•conheceu a sentença, genio perigoso, e propenso tempo da sentenç•J. ll>e outorgava, de aplicar
a brigas, consideradas, por outro lado, as cir- retroativamente a lei nova (Cócl. Penal art. 2°,
cunstancias do crime e os seus motivos deter- parágrafo único), por mais favoravel ao acusado.
minantes, adequada e justa é a pena fixada, Assim sentenciando, <:umpriu o Dr. Juiz a
- a d·e seis meses de detenção, nos termos do lei, e não contrariou, de forma alguma, a juris-
art. 42 elo Código Penal. Custas, como d'" di- prudência deste Tribunal, nem a doutrina dos
reito. autores, que pro1bo apenas que o Julgador crie
Rio de Janeiro, D. F., em 7 de Dezembro d·e uma Iei rnixta., isto é, a um mesmo delito apli-
1942 - Edgard Costa, Presidente e relator que a lei vigente e a lei revogada, como se
Decio Cesario Alvim - Olive1ra Sobrinho. classific·J. o fato em determinado artigo do Có-
digo P2nal, e gradua a pena por este estabe-
lecida tendo em consideração atenuantes con-
signados no art. 42 da Consolidação da:3 Leis
Apelação criminal n. 3. 754 Penais e agravantes do seu art. 39 ou 41; ou
.4plicaçã0 da lei penal - Nula não é a sen-
se classifica o crime em wn dos artigos da
tença que apliCa a um dos crimes pra- Consolidação, e considera que se trata de de·
ticados pelo apelante a ConsolidaÇão das lito continuado, tendo em vista a teoria obje-
Leis Penais, então em vigor, e ao outro
delito, cometido na mesma ocasião, o tiva do art. 51, ~ 2o do novo Código, etc., etc.
Código Penal, retroativamente, por mais Tal não fez e. sentença apelada. Não criou o
jaVoravel ao mesmo apelante, tendo, en-
tretanto, observado o sistema adotado, Dr. Juiz, para beneficiar o apelante, uma le-
para graduação da pe:na., em cada lei. gislação legal de que participassem a lei pene.l
O que ao Juiz é defêso é aplicar simul-
taneamente a 1Lm ·mesmo jato, ao mes- em cuja vigência foi o fato cometido, e a lei
mo crime, as duas legiSlações, criando, nova, vigorante ao tempo da sentença.
dessarte, uma terceira norma, uma lei
mixta, de que participem a lei vigente Não lfoi tal o que ocorreu na espécie.
ao tempo em que foi 0 tato cornetiào e Dols eram os delitos cometidos pelo apelante.
a lei nova, em execução q1tando profe-
rida a sentença, e isso a pretexto· de A um aplicou a s·entença a. lei vigente ao tempo
Deneficiar o agente. do crime, e graduou a penaJ segundo aquela
Vistos, relatados e discutidos estes autos de lei - e. Consolidação das Leis ·Penais.
-apelação criminal n. 3. 754, em que é apelante Quanto ao outro <:rim~, punia-o a lei nova
Lourival do Nascimento: de maneira mais favoravel ao acwado. Fun-
Acórdam os Juizes da Segunda Câmara do dado no Código Penal, aplicou-o ao apelante
Tribunal de Apelação, por unanimidade, negar retroativamente, observando a técntca da lei
provimento ao recurso, tomado por termo a fo- nova, sem fazer. alusão a gráu mínimo, médio
1has 128 verso, para confirmar a sentença de ou máximo, ou sub divisões, e apenas fixando
fls. 119 usque 121, que muito bem decidiu, a condeno.ção em dois mêses, havendo antes
aplicando a lei com correção e criteriosamente aludido aos antecedentes do a<:usado e a m!V
apreciando as provas dos autos. neira por que se passaram os fatos. Não houve
I
I - Ao contrário do que alega o. apelante por conseguinte motivo de nulidade da senotença
nas razões a fl.3. 130/131, não aplicou 0 Dr. Juiz apel•ada.
a quo simultaneamente duas legislações - a II - Quanto ao mérito, a prova <ta autoria
Con.solic\nção das Leis f'enais e o Código !Penal do apelante nos fatos por que foi condenado
no mesmo fato, a nm delito continuado, <:amo é plena, náo obstante ter ele negado, no in-
-se diz ali. O que fez 0 mesmo Juiz na sua sen- quéri to policial (fls. 14 v) , a sUJ. participação
tença foi aplicar ao apelante a Consolidação das nos fatos objeto deste processo. As testemU·
Leis Penais pela prática do crime de lesões nhas da instrução, de fls. 85, 85V., e 92V.,
corporais graves - art. 304, parágrafo único, 1·descrevem como tudo se passou, deixando fors
(32)
5-2-43 ARCHIVO JUDICIARIO 161
de dúvidas a autoria do apelante, estando a do sobre umas caixas, este lhe pediu para aju-
materialidade das lesões sofridas por Franco- dá-lo a fazer os cigarros de maconha, dos quais
Uno Vieira Franco, verificadas e apuradas pe- sabia ser Raymundo fumador, sendo preso
los laudos de fl\3. 34 e 49, tendo sido apreen- quando assim o fazia. Acrescenta que hà mui-
dida a fls. 6 a na valha de que usara o ape- to não fuma maconha, nem vende a m•esma
lante. (Fls. 7 e 7v dos autos).
Custas na forma da lei. Os fiscais narram ter surpreendido os dois
Distrito Federal, 7 de Dezembro de 1942. fazendo os cigarros e a arrecadação do mate-
Decio cesario Alvim, Presidente com voto. rial que com eles estava, - os cigarros, a herva,
Oliveira Sobrinho, relator. - Toscano Es- o canivete. As fls. 22, estâ o exame da planta,
pinola. erva apreendida, concluindo os péritos tratar-
se da maconha, com o nome científico de can-
nabis indica e no longo relatório feito, frizam
Revisão criminal n. 767 a calamidade social que se tem constituído
o vício dessa planta, e os maléficos trazidos
Entorpecente. - A "canabia ind.ica" - A ma-
conha - Cigarros de hen?a daninha. p·ela mesma, e mui justamente nossa legislação
Fabricá-los para uso próprio ou de ter .. incluiu proibitivamente o canabis pelos seus
ceiros, é concorrer concientemente para
a disseminação de um dos maio1·es fla- princípios ativos entorpecentes e tóxicos, dec.-
gélos da lwmanidade. O combate á to- lei 891 de 1938.
xicomania. Só podem utilizar os toxi-
cos, as pessoas devidamente· autorizadas Em Juizo o requerente • diz que achou a
e na forma em lei estabelecida. O de- maconha que foi apreendida em seu poder, e
creto-lei 891 de 1938. - O artigo 281
do nosso diploma penal de 1940. três testemunhas depõem uniformes e harmo-
Vistos, e relatados e discutidos, os presen_... nicas sobre sua responsab!lidade, e preenchidas
as formalidades legais do ptocesso, o juiz seu-
tes autos de revisão n. 767, - requerente Ray- · tencia de conformidade ao disposto no artigo
mundo Clemente dos Santos, acordam os Jui-
33 do decreto 891 de 1938, .condenando-os a 1
zes das Câmaras Criminais Reunidas indeferir
ano e m'Ulta de 1 conto, no gráu mínimo, sen-
o pedido uma vez que a sentença do Juiz da
tença que foi confirmada por apelação de Pe-
Décima Sexta Vara Criminal, Dr. Octavio da
dro Gomes.
Silveira Salles e o acordão da Segunda Câma-
Agora, pede o requerente revisão dizendo
ra relatado pelo Desembargador Edgard Cos-
que não tendo apelado, o Tribunal não apreciou
ta, ( •) estão dentro da lei e da evidência dos
a sentença em sua parte, e que o fáto não se
auto's.
déra como consta do processo e só assinou o
O requerente foi, com Pedro Caetano Go-
mesmo por violência policial, havendo contra-
mes, preso em flagrante, quando em '29 de De- dição na prova. Refere que achou a maconha
zembro de 1941, na plataforma interna do ar- e si ter a "pósse momentânea" fosse crime,
mazem 12 do Cais do Porto, sobre uma pilha plantadores, e químicos, e farmacêuticos "que
de caixas de cerveja, manipulava cigarros de pousam as mãos em maconha", tambem seriam
erva maconha. Augusto Barros da Silva e Ce-
criminosos.
sar Augusto fiscais da Policia Portuária reali-
Não tem p·orém, procedência qualquer das
zaram a prisão, sendo arrecadados 25 cigarros
alegações. O pedido vem desinstruido de qual-
já feitos, e um p·acote contendo a erva, tendo
quer elemento de crédib!lidade ou prova de coa-
Raymundo, o requerente, declarado na Policia
ção sofrida na Policia, assinado o seu depoimen-
tê-.Ia adquirido de um seu conhe'cido, taifeiro
to perante a autoridade e improcede a dedu-
do navio Confidente, que lh'a ofereceu, por sa-
ção de plantadores, e químicos, e farmacêuti-
bê-lo gostar da mesma, e quando com Pedro
cos pousarem as melas na maconha. . . Só a po-
Gomes fazia os cigarros, foi surpreendido pelos
dem utilizar as pessoas devidamente autoriza-
fiscais que os prenderam. Pedro Gomes disse
das, com as formalidades legais, e na forma por
que tem estado • na Delegacia algumas vezes,
lei estabelecida. Tudo estâ na lei regulado.
pois sempre que ocorre ser alguem' preso por
Os ·que pod'Jem~".lidar CO'm entorpecentes, !SÓ
motivo de maconha, acontece que ele está per-
podem fazê-lo na forma pela qual ptescreve a
to ... E no dia do fá to, vendo Raymundo trepa-~ lei.
O requerente, de profissão "concertador de
(*} Vêr voL LXIII, pág. 357 - ,N. da R. caixas", foi condenado porque na pósse e uti-
(331
1!i2 ARCHIVO JUDICIARIO 5-2-43
vo!. XLVII, pág. 156/8). Demais, nenhum pre- como qualquer outro pro,prietário, auferindo
juízo sofreu a parw que teve todos os meios de vaontagelliS proventos para si próprio.
defeza. Ora, não se poderia admitir por um instante
N'o conceito ori•entador das leis proces;,;uals que o terreno em questão pudesse ser classifica-
vigentes, não hâ. que fulminar nulidades :oenão do entre os bens atribuídos ao uso públ\co. Ao
quando do vício processual advem prejuízo à contrário, o Estado, isto é, o Município retinha
parte. E' o que &e colide dos arts. 273 a 279 do o domínio direto, como <,_Ualquer particul\2.-.: por
Cód. Proc. Não é de acolher assim a pcel\minar interesse proprio, com o fim de auferir renda
da apelada, que, é regeitada. para si com a perce!Pção de laudemio e fôros.
Mérito: Entendeu o Dr. Juiz que os terre- Consegulntemente, s·erlam os bens em q11estão
nos em questão se acham localizados em cheio sucetiveis de prescrição. Esta prescrição, como
em á.l·ea da desmaria denominada do Sobejo ba- diz Lafayette, exige o lapso de tempo de 40 anos.
seando-se• para isso principalmente no laud·;) pe- Por exc·eção, só .podem ser prescritos por 40 anos
ricial de fls. 34-41. Seg-undo o laudo pericial os os bens do dominio do Estado". ( Di r. das
tklrrenos em c,uestão &e acham dentro da área Cois,as, § 70 n. 57).
de desmária municipal e assim estão sujeitos ao Daí se infere que pelo direito anterior, não
laudêmio. Este laudo foi unânime•.· A questão da era a pessoa, isto é, o titular do direito, que dava
inconstitucionalidade do decreto-lei n. 96 que a feiçâo jurídica aos bens, mas, sim a sua des-
declarou foreiros ao Distrito os im<YVeis comi)Jre- tinação. Esta invocação ao direito anterior não
enidos na área das sesmárlas de Estacio de Sá pode deixar de ser feita porque exatamente o
e dos Sobejos - iã, t·em sido submetida ao Tri- lapso prescricional decorreu, em sua maiO!' par-
bunal :Pleno, não tendo vingado essa a.rguição. te, no regimç daquele direito. Mas, o Cód. Civ.
Não h!l, pois, cabimento para novamente levan- alterou o conceito legai. No art. 65 declara pe-
tá-la. remptoriamente que são públicos os b"ns do
A questão doutrinária principal que se de- domínio nacional pertencentes a União, ao Es-
bate é a prescrição aquisitiva contra a Municl- tado ou aos Municípios" e ainda. no art. 66 frisou
palidade. O direito antoerior, na enumeração das bem nitidamente esta cal·acteristlca: "Os bens
pesso~s contra as quais não corria prescrição, públicos são _ n. 3 os dominicais, isto é, os
rão incluía os títula1·es do domínio direto. que constituem 0 patrimnio da União, clJs Es-
No caso em espécie o domínio direto estaria tados ou dos Municípios".
encabeçado na :M:unicipalidade. Lafayette cliz; Fora de dúvida, portanto, que na conceitua-
"Estão.fora <do comércio, e, portanto, não se ad- ção legal vigente os bens do Município são con-
quira por prescrição: ____, n. 3 as coisas do dom1- s:derado~ ·Públlcos e contra ele;; nãoo corre a
nio público, como os portos, os rios navegaveis, prescrição aquisitiva. Não há usocapião dos
as ruas, praças e estradas públicas; as que são bens públicos.
diretamente empregadas pelo Estado e1n ser-·
viço de utilidade geral, como as fortalezas, as Mas ainda r,ã outra circunstâneia a consi-
praças de guerra". "Não entram nesta classe, derar:. é que smntmte a. partir do Cód. Civ. teria.
acrescenta, e podem ser pJ"esoritas as coisas do começado este obstáculo legal para a p1·escriçii.o.
domínio do E>tado, isto é, aquelas acerel1 das
O art. 67 do Cód Civ. não se aplica as po·escri-
quais o Estado é considerado como simples pro- ções já consumadas. Mas, cuirupria a apelante
prietário". E ainda prossegue: "A mesma distin- como autora fazer prova dessa prescrição, o que
ção se dá relativamente aos bens provinciais e não se deu. Nem lhe <'Cria dificil, com elemen-
municipais - Há uns que são próprios das pro- tos documentais, entre el€s certidões dos regis-
vinclas e municípios, e constituem o seu patri- tros públicos relativas a estes imoveis. A certi-
mônio, e outros ç.estinados a uso público" (Dír. dão de fls. 3 não é sufici€nte, porque ela pro-
cl.as Coi.sas § 62 n. 23 nota 14) . Esta distinção va apenas que os terrenos em questão foram
estabeLecida pelo civillsta é importante, em suas aYerbados em 1865 em nome do Mosteiro de São
~on&equências, porque entre os bens dO Estado Bento, mas, não prova que inexistam transações
ele distingue os do domínio público, isto é, posteriores sem pag·amento d·2 lztuclêmim. Ao
aqueles dos quais o !Público é beneficiá!'io clireto, contrário consta lU11 paga-mento de foros, in-
como os logradouros, e os que o Estado possue, turuptivo, portanto, da prescrição.
(35)
164 ARCHIVO JU[)ICIARIO 5-2-43
Enfim, não se encontre,m nos autos el<;men- rei tos do vendedor. Essa qu:tntia coincide exa-
tos bastantes que autorizem a reforma da sen- tamente em seu quantum. com a reclamada pelo
tença recorrida, que é mantida, embora com di- apelado o que confirma o doe. de fls. 9. As-
-vergência quanto a alguns de seus fundamentos. sentou, assim, a sentença nos elementos cons-
CuRtas na forma da lei. tantes dos autos e merece ser confirmada. o
Rio, 27-10-42. - Edmundo de OLiveira. Ft- processo foi julgado nos termos do art. 308 do
gueiredo, Presidente com voto. ··-· Raul Camar- Cod. Proc. conforme decidiu o Juiz pelo inter-
go, relator. locutorio de fls. 27v .. O Cod. Proc. vigente
, no titulo III~ art. 302 e seguintes inclue a pres-
tação de contas entre as ações cominatórias.
Desprezadas as preliminares nega-se provimen-
Apelação civel n. 438 to ao recurso .
Custas na forma da lei.
A procurC!;ão que contiver a cláusula "ad ju-
ditia" habilita o procurador a praticar Rio, 23-10-1942. - Edmundo de Oliveira
todos os atos do processo, dispensada Figueiredo, Presidente com voto. - Raul Ca-
1T.o31l·Ção especial. A prestação de contas
está incluída no Cod. Proc. Civ. entre margo, relator.
as acões cominatórias. Não contestado
o futo alegado, tem-se por verídico, si
o contrario não resultar do conjunto
das provas. (art. 209 do Cod Proc.) .
Apelação civel n. 861
Vistos, relatados e discutidos estes autos de
apelação civel n.0 438, entre partes: apelante, A fiança prestada por um sócio em nome da
sociedade, que se compunha apenas de
:Francisco Novaes e apelado, Manuel Cerqueira, dois, e d<1vois da morte do outro sócio,
acordam os Juizes da 4.a Câmara do Tribunal Só obriga individualmente a quem a
de Apelaç§.o, por acordo de votos dos Desem- prestar. E' parte ilegítima a sociedade
con_tra a qual foi propósta a ação. A
bargadores relator e revisor, desprezar as pre- soctedade tem personalidade jurídica
liminares referentes ao prazo e ao mandato, distinta da dos sócios. Embora seja for-
mada nova firma pelos herdeiros
·e no mérito negar provimento ao recurso para funcwnando no :nesmo local, si nilo fôr
manter a sentença recorrida. sucessora da anttga, não assume respon-
sablltdade da primitiva. A responsabi-
Prelin:c'nares - A do prazo não p'recede. lidade passou individualmente aos her-
A sentença foi publicada a 30 de OUtubro, fo- deiros do sócio que finnon a fiança.
lha 36. O Juiz levantou inCidentes. Mas, ainda Vistos, relatados e discutidos estes autos de
desprezadas essas delongas e recurso foi inter- apelação civil n. 861 em que são partes: ape-
posto a 12. Estaria no prazo como C~pelação. lantes, Balthazar Alves Costa e Elvira da Cos-
Aliás, esse assunto ficou virtualmente decidi- ta Araripe e apelados, Martins, Saraiva"& Cia.,
do pelo ac. anterior (fls. 24v.). O recorrente
acordam os Juizes da 4"' Câmara do Tribunal de
levanta preliminarmente a insuficiência de po- Apelação, por acordo de votos e preliminarmente,
deres do mandato outorgado pelo A. ao seu
dar provimento a; agravo no auto do processo,
advogado. Mas, verifica-se que ele foi outor-
afim de decidir-se pela ilegitimidade da parte,
gado u:I juditia (fls. 9).
prejudicada a apelação interposta.
Nos termos do art. 108 do Cod. Proc. as
Preliminar - Agravo no auto do processo.
procurações que contiverem tal cláusula habi-
Foi interposto a fls. 86 do despacho de fls. 85,
litam o procurador a praticar todos os atos do
de desprezar, portanto, as preliminares, quer que decidiu, serem os apelantes parte legitima.
processo, dispensa da menção especial. São no processo, que considerou saneado, com fun-
do recorrente, quer do recorrido. damento no artigo 851 n. n . IV do Código Pro-
Mérito: - Os R.R. não ofereceram con- ceEso. Estas alegações são as mesmas que cons-
testaçiio, nem contas no prazo para esse fim. tam da contestação como preliminar a fls. 50. O
Apresentadas as contas pelo A. os RR. não as Dr. Juiz em sua sentença a fls. 98, declarou que
impugnaram (fls. 29 a 31). Completa e abso- "um melhor exame da espécie dos autos nos leva
luta revelia. Os arts. 308 § 2. 0 e 209 do Cod. a admitir a procedência da preliminar arguida
Proc. têm exata aplicação. Notifi-cado o ll!pe- pelos RR. '• Realmente, assim é. A questão fun-
lante nenhuma alegação ofereceu. Pela escri- damental reside neste ponto: se a firma ré é
tura de fls. 10 o apelante tendo comprado o ou não a responsavel pela obrigação em fóco,
estabelecimento comercial, reservou-se a quan- ou em outros termos, se é ou não parte le-
tia de 2:500$000, em seu poder, para pagar di- gitima para contra ela correr a ação. Daí deflU-
(36)
5-2-43 ARCHIVO JUDICIARIO 165
I
em todas as consequências do julgado. Resolvido tintamente. Esta questão de ilegitimidade é
este ponto, que é capital e basico, todas as ou- prejudicial, e assim o julgamento não deve ex-
tras questões ficam prejudicadas, porquanto, isso ceder desse ponto. Preliminarmente provido o
importa em deslocar o processo para outras par- 1 agravo, fica prejudicada a apelação.
tes como réus. custas na forma da lei.
Convenceu os argumentos dos agravantes. A Rio, 24-11-1942. - Edmundo de Oliveira
exposição da matéria de fato esclarece suficien- Figueiredo, Presidente. - Raul Camargo, re-
temente a controvérsia.. A fiança foi prestacla lator. - A. Ribeiro da Costa
por Domingos Saraiva & C., que prestou em:
nome dessa firma. Entretanto, a esse tempo,
o outro sócio já era falecido. Operou-se, assim Apelação civel n. 992
a dissolução da sociedade pela morte de um dos
(EMBARGOS)
sócios. E' o caso previsto no artigo 335 n. 4 do
Código. Com que resa "pela morte de um dos Ação renovatória de locacão. -- Retomada do
sócios, salvo conven·ção em contrário a respeito prédio por um dÓs condominos. - In-
denização devida ao locatário em con-
dos que sobreviverem". sequência da mudança do negócio para
ototro local.
Na hipótese, eram só dois os sócios, de for-
ma que impunha-se a dissolução pela. força maior Vistos e relatado.> estes autos de embargos
das circunstáncia.s. Não há sociedade de um só. de nulidade entre partes: embargante o autor
A responsabilida-de é, porta.nto, individual do só-~ Armando Joaquim Marinho e embargados os
cio. E' o que ensina C. Mendonça: "a. nenhum réus Drs. Guilho2rme Guinle, Carlos Guinle, Ar-
naldo Guinle e octavio Guinle, acordam os
sócio é pertidido usar a firma social em obriga-
Juizes das .Câmaras Civeis do Tr}bunal de Ape-
ção a.lguma, a.inda que esta seja contraída antes
lação, em sessão conjunta, receber, em parte,
da dissolução, ou aplicada ao .pagamento de di-
os embargos tão somente para condenar os em-
vidas da sociedade. Si assina a firma social, res-
bargados a pagar ao embargante não só as des-
ponde pessoalmente pela "obrigação". (Trat. vol.
pesas de mudança para outro local, mas tam-
so n. 814 2" parte) . Maa, acresce que posteribr-
bem as que se tornarem necessárias para a
mente, faleceu ta.mbem Domingos Sa.ra.iva, que
nova instalação do seu negócio, conforme se
prestára fia.nça. Os seus haveres comerciais fo-
apurar na execução.
ram levados a inventário na 5a Vara Civel (fls.
87). Desde então não existia mais nenhum só- O autor, locatário da loja do ·Edifício Gu!n-
cio sobrevivente da extinta sociedade, em cujo le, à rua 7 de Setembro n. 70, a·cionou os réus,
proprietários do imov·el, para obter a renovação
nome fôra prestada a fiança. Os bens, como as
do seu contrato de arrendamento. Os réus, po-
responsabilidades pessoais do falecido inventa-
rem, reclamaram a loja para um dos condominos
riado, passaram a seus .herdeiros na universa-
alí esta.belecer-se co1n uma firma comercial des-
lidade da herança, que compre~nde o ativo e o
tinada a exploração de artigos de eletricidade.
passivo.
Por esse motivo a ação ficou prejudicada por
E' rudimentar a distinção entre a sociedade força do art. ao, parágrafo zo, letra "e", do
e os sócios, individualmente. Cada um forma decreto n. 24.150, de 20 de Abril de 1934. Para
uma entidade jurídica a parte e distinta (C. que o pedido fosse deferido os locadores nã.o
Mendonça. Trat. vol. III pág. 77 e 79) . A firma precisavam provar que o condomino tinha o
ré foi constituída em Junho de 1939, registra- firme propósito de explorar o comércio nesse
da no Departamento de Indústria e Comércio local, A simpJ.es declaração dos locadores deve
em Julho desse ano. Tem personalidade distin- ser aceita como verdadeira, porque se a reto-
ta das pessoas dos sócios, e não é sucessora da mada do prédio for requerida maliciosamente.
antiga firma, embora a mesma denominação da os proprietários, em face da lei, respondem por
antiga. Os sócios da firma nova são os her- perdas e danos cuja importância na espécie dos
deiros do falecido Domingos Saraiva (fls. 84) . autos já se acha fixada na elevada quantia de
"Mas essa circunstancia não altera a questão, por- 306 :6528000. Portanto, a presunçã-o é que os réus
que a responsabiiidade é do sócio Domingos Sa- estão ag·indo de boa fé, tendo-se em vista que
raiva pessoalmente, e a sociedade ré é nova c eles não iam sujeitar-se ao pagan1ento ele uma
não suce.<osora da antiga. A responsabilidade da indenização tão aVllltada se não tivessem real-
obrigação passou, portanto, aos herdeiros indis- mente necessidade do prédio para um. dos con-
137)
lôô ARCHIVO JUDICIARIO 5-2-43
domines. E' certo que essa presunção podia ser Imando Joa·quim Marinho, é verdadeirament·e ir-
desfeita .por prova em contrário, entretanto, no risória gritantemente insincera e constitue uma
processo, não existe prova alguma convincente · burla a que a justiça deveria opor os diques da
de que os réus estejam pro0edendo de má fé, lei, da lei no seu espírito, na sua finaUdade, na
não se podendo concluir por meras conjeturas sua alta jUstiça que atenta para os lídimos
e considerações sem fundamento nos autos que intel'esses da coletividade. Ninguem, em ver-
eles estejam exercendo pr·essão sobre o locatário dade, levaria a bom crédito o pedido de reto-
com o intuito preconcebido de molestá-lo ou com mada em questão, porque é de todo evidente
o fim de obter vantagens ilícitas à sua_ custa. l'llpenas o propósito do condomino Arnaldo Guin-
Assim, pois, o autor se acha obrigado a le no sentido de arrebatar ao seu modesto loca-
desocupar o .prédio, mas, nesse caso, tem direito tário a loja onde explora o seu negócio, com
a ser in<1enizado das despesas decorrentes da objetivos outros que não o de ai instalar-se
mudanç.a em. face do, art. 20, do decreto nú- com negócio à cuja exploração esteja à testa,
mero 24.1·50, de 2•0 de Abril de 1934, cujo dispo- ele próprio, locador, nos termos expressos da lei
sitivo deve ser aplicado por analogia à espécie (art. 8°, letra "e", do decreto n. 24.150, de 21
dos autos; porquanto, se a lei concede inde- cb Abril de 1934) . As razões de convicção a
nização ao locatário quando este desocupa o esse re,;;peito expostas na sentença de primeira
prédio por ter o locador obtido melhor :proposta instância, foram analisadas com segura argu-
para o seu arrendamento, tambem de acordo mentação, no já referido voto vencido e a eles
com esse critério e talvez com maior razão o me reporto.
proprietário deve pagar essa indenização quando ~ A. Saboia Lima, vencido, porque r·ecebia
é ele próprio quem exige o imovel para seu os embargos "in totum" para restaurar a sen-
uso pessoal . tença de primeira instância, adotando os fun·
Custas na .forma da lei. damentos do voto vencido do meu eminente co·
Rio, 29 de outubro de ·1942. - Vicente Pi- lega Desembargador Ribeiro da Costa e consi·
ragibe, Presidente. - Flam,inio de Rezende, re- aerando como parte int2grante do meu voto o
lator. - A. M. Ribeiro da Costa, vencido, pois, que proferi no acordão embargado, o qual fot
re02bia in totum os embargos, na conformidade publicado e comentado em revistas Jurídicas
do jurídico equitativo e brilhante voto vencido (Jurisprudência - Tribunal de Apelação, vol. 10,
do ilustre Desembargador Sabota Lima, a to- pg. 56; Revista Forense, vol. 91, pg. 408; AR-
lhas 191-200, para restaurar a sentença de pri- -S!P <7nb O '(998 . 2d '.,;g 'IOA. 'OimrhliUílf DAIH:J
meira instância que julgou procedente a presen- pensa a transcrição que deveria ·fazer para de·
te ação renovatória d·e locação pelo reconhecl:- monstrar qu3 a procedência de ação de reno-o
mento da insinceridade do •pedido da retomada vação se impõe em face da lei, da justiça e da
feita ·pelo condomino locador Arnaldo Guinle. moral. Demonstrei que é jurisprudência não só
Aquele voto vencido nada :resta acrescentar. deste Tribunal, como do Egrégio Supremo Tri-
Sustentei na assentada do julgamento, os bunal !Federal que não é absoluto o direit·o do
motivos da convicção, que bastam ao julgador, proprietário em pedir o imovel para s2 instalar,
face do sistema do Código do Processo, pela pois deve o Juiz apurar a sinceridade e a ne-
livre confirmação da prova, a habilitá-lo a de- cessid.ade que terá o proprietário para que este
cidir pela sinceridade ou não do pedido de re- direito de retomada ,pl'evaleça sobre o direito ao
tomada, abstraído de necessidade de imposição fundo de comérpio que tem o locatário.
do onus dessa prova ao locatário para encon- Demonstrei ainda no voto vencido que a lei
trar na sua omissão o forçado pretexto a lhe só permite a retomada quando o locador venha
indeferir a renovação da locação, não obstant•e 1 exercer pe.;;soalmente, "•3le próprio, locador", ar-
direito assegurado, de modo iniludivel pela pro- tigo ao, letra "e", do decreto n. 24 .150', e que
teção, ao fundo de comércio, adjectivo de pri- a ocupação deve ser rigorosamente pessoal, não
marcial alcr,nce da chamada "lei de luvas". O podendo ser fictida, nem intermitente, nem
Juiz não se pode abstrair da realidade, como parcial, nem real e contínua, não podendo ser
toda gente que a tem sob os olhos. !lldlda por qualquer forma, mesmo por i1lter•
Na e~pécle a pretensão do condomino Ar- médio de um gerente. Ora, o a cordão reconhece
naldo Guinle sustentando o pedido de reto- que a loja ê reclamada "para um dos condo-
mada para o fim de se instalar na pequena loja minos para estab<elecer-se com uma firma co-
ocupada, durante dez anos, pelo locatário Ar- mercial destinada à exploração de artigos de
(38)
5-2-43 ARCHIVO .TUDICIARIO 1(17
eletricidade". Na tribuna, na assentada de jul- geral de ressurgimento elo dano, mas dai não
gamento, o ilustr-e advogado dos embargados se segue que ao Juiz fique defeso o direito de
com a lealdade com que exerce as suas nobres examinar o caso com a previ·são e minúcia que
funçõ:::s, declarou que o Dr. Arnaldo Guinle, ele requer. Não há, na lei, nenhum texto ex-
iria exercer o comércio por intermédio de ge- presso e formal que autorize essa interpretação
rente e prepostos, organizando uma firma co- contrária aos intuitos do legislador e aos inte-
mercial. Ora, assim a loja •não será ocupada pelo resses legítimos do comércio, que a nossa lei
pro~t::'jrio pessoalmente, como quer a lei, mas procur-ou arruparar" (pág. 13a, do vol. 60, do
por uma sociedade com::rcial, pessoa jurídica ARcHrvo JumcrA.Rio) .
distinta e autônoma. tereeiro em relação ao lo-~ O Sr. Ministro Waldemar Falcão, igualmen-
catário, o que contraria o principio da lei. te, esclarece qu~ - "na verdade, a interpretação
Quanto à 8inceridade do pedido, já o Desem- a dar-se ao art. ao da lei citada não pode ser a
bargador Ribeiro da Costa provou que constitue de se deixar ao "arbítrio do proprietário e:osa
uma •burla a que a justiça deveria opor os di· banalidade de pedir o prédio locado, desejando
ques da loei. .E' tão evidente a insinceridade do ter necessidade dele para seu uso e admitir-se
pedido, que está na conciência de todos aqueles isso, ter-se-ia desmentido a própria finalidad"l
que conhecem o nosso meio social, e assim não da chamada lei de luvas; !haveria possibili'dade
podem conceber que o milionário Arnaldo Guln- de abuso.;; que viriam inutilizar, fundamental-
le venha exercer o comércio de eletricidade, que mente, o intuito do legislador" (pág. 140, vol.
não é necessário Insistir neste ponto. Vencido citado) . A interpretação do acordáo, portanto,
quanto ao recebimento "In totum" dos embar- contrariado, fundamentalmente, o intuito do le-
gos, aceitei o voto de maioria que manda pagar gislador, admitindo a retomada, ap·enas pedido
ao embargante "não só as despesas de mudança por um dos condominos, sem a prova dá sua
para outro loc:Ú, mas tambem as que se tor- sinceridade e da necessidade da loja, e prejudi-
narem necessárias para a nova Instalação do seu cando o "fundo de comércio" instalado pelo
negócio conforme se apurar na execuç.ão, apl1- embargante e por s·eu falecido pai, há mais de
..-:ando por analogia o art. 20 do decreto nú~ 10 longos anos!
mero 24.150. O Desembargador Saboia Lima, em seu jurr-
dico voto, já mo.;;trou que o Dr. Arnaldo Guinle,
- Frederico Sussekind, v·encido, .porque, re-
um milionário, não deseja só estabelecer, no lo-
cebendo os embargos, reformava o acordão em-
cal, com casa de artigos de eletricidade, tanto
bargado e restaurava a sentença de 1a instância,
que o seu digno advogado, da tribuna e durante
nos termos dos votos brilha:ntes dos Desembar-
este julgamento, declarou que o proprieti;rlo -
gadores Sa:boia Lima e Ribeiro da Costa. O acor-
"iria exercer o comércio por intermédio de ge-
dâo, pelo voto da maioria, entende que, para
rente e prepostos, organizando uma sociedade
ser deferido o pedido de retom~da, basta a sim-
comercial". Vale diz,er, não vai exercer pessoal-
ple.;; declaração dos loca.dor.es, declaração a ser
mente o negócio, condição exigida pelo art. ao,
aceita como verdadeira, porque se a. retomada do
letra "e", dô decreto n. 24.150, "ele próprio lo-
prédio foi requerida maliciosamente, os proprie-
cador". A ocupação há de ser rigorosam.ente
tários, em face da. lei, resp.ondem por perdas e
pessoal. (Piérre l\[~rim, Traité s1Lr la Propriété
danos. Decidiu contra os princípios da lei (de-
Commerciale, pgs. a9-90). O podido de retomada
creto n. 24.150, de 1934), lei de ordem pública,
constitue uma burla, mas que infellzmente, me-
.db interesse .social, e contra a jurisprudência do
receu acolhida da mal0rla do Tribunal.
Egrégio Supremo Tribunal Federal e deste Tr1· - Edmundo de .Oliveira Figgeiredo, vencido,
bunal. de Apelação., no prejulgado proferido no como revisor, •porque julgava in1lprocedentes os
agravo n. 1.990, em 2a de Jullho de 1937, fir- embargos para confirmar o acordão ·embargado,
ma;ndo-se que - "o direito de pedir o imov•el, o qual evidenciou que a tese de retomada da
im~edtndo a renovação d~ contrato à renovação, loja pelo proprietário, loc-ador, havia sido resol-
:não· .é ãL~soluto, mas deve ser agraciado pelo Juiz,
vido negativamente, pela .sentença a·pelada, como
verificando .se deve ou se é um meio de burlar
não corruprovada essa mesma retomada. Entre-
a lei, •e .a ind-enização do art. 21, nem sempre
tanto, o julgado embargado demonstrou que,
repara o -prejuizo ocorrente da perda do fundo
"ex-vi-legis", na doutrina. e 118 jurisprudência
de comércio, protegido e visado pela lei. " dos Tribunais, a decisão da sentença apelada
O Sr. Ministro Annibal Freire acentuou que I não foi acertada. Evidenciou o a cordão em.bar-
- "a lei impõe a indenização como principio ga.do que o direito de retomada pelo locador,
(39~
168 ARCHIVO JUDICIARIO 5-2-43"
está expresso na lei (decreto n. 24.150, de 1934, Como preliminares hà os agnwos no auto
art. ao, letra "e") e sem nenhuma restrição, do processo: a) o de folhas 91, do despacho do
não havendo autorização para indagar da sin- juiz que determinou a juntada, por linha, de
~ridade do pedido do locador. Está certo o acor- documentos oferecidos pela ré. Por maioria de
dão embargado, no decidir, não carece de de- votos é dado provimento a esse recurso, inter-
monstrações esse direito do locador, porque e&tá posto pelo autor, afim de que, cortada a linha,
a retomada expressa na lei, sem nenhuma ext- sejam os documentos devolvidos à parte. b) O
gência de prova de sua sinceridade, alem do que, de folhas 143, do despacho que indeferiu 11o ab-
-\POsteriormente, o Cód. do Proc. Civil, art. 358, solvição de instânc!o..
relativamente á oposição do locador sobre a re-
Ale:sou a ré que o autor deixara a ação sem
novação da locação por necessidade do imovel
andaanento por m:ais de trinta dias. O despadho
pelo locador, só exige a prova da sinceridade,
agravado dem'onstra a improcedência da alega-
quando a ocupação é da parte de pessoa da fa-
ção (fls. 134i. Aguardava-se que fosse junto
mília do locador. O citado dispositivo legal toi
alterado pelo decreto-lei n. 24.565, de 11-8-942, aos autos, a certidão do acordão do Conselho
art. 24, não se modificando o direito de reto- de Justiça proferido em reclamação feita con-
mada .pelo proprietário, na conformidade da ci- tra um despacho do magistrado. Tal certidão
ta;da lei de luvas. Decidindo o aéordão embar- era do interesse do juízo e não dos litigantes,
gado que a lei de luvas é lei equiUbradora dos porque a causa, no entender do juiz a q1w
dois direitos, em causa, por ser a finalidade da não deveria prosseguir sem que ao seu conheci-
lei, manter o valor de fundo eLe comércio ou mento fosse levada a resolução daquele Conse-
industrial e o direito de propriedade, garantido lho. Por unanimidade é negado ptovimento ao
pela Constituição do país, no art. 122, decidiu recurso. c) O de folhas 49, é do despacho sa-
bem a questão. O direito de propriedade, na neador, na ação de consignação em pagamento,
lei de luvas só tem restrição quanto ao int.e- em apenso, e na parte em que foram despre-
resse coletivo, representado pelo fundo de co- sadas as nulidades arguidas pela ré. O des-
mércio, ifi·cou o julgado embargado, 6er regra pacho concluiu pela improcedência das nuli-
legal, que quando o proprietário. na contestação dades (fls. 36).
da ação renovatória, alegou precisar de seu imo- Os seus fundamentos são jurídicos. Real-
vel rpara sí, a única sanção é a indenização em
mente nenhuma nulidade ocorreu pois que não
favor do locatário, caw o imovel não tenha a
só foi feita a prova, em tem'po habil da legiti-
ser ocupado, como foi pedido. Não era o acordão
midade do procurador, como o comparecimen-
para ser reformado, porque ele não é nulo, nem
to da p·arte contrária em juízo suprira a irre-
infringente do julgado, desde que ob2deceu o
preceito legal. gularidade da citação se houvesse a irregulari-
dade. Unanimemente é negado provimento a
este agravo..
Mérito. Trata-se de uma ação de renova-
ção do contráto de locação da loja sita na Ave-
Apelação civel n. 1.446
nida Mem. de Sã 297, parte dos fundos, corn
Ação de renovação de contrato de locação. Na frente para a rua Tenente Possolo. Pretende
contestação a parte deve, desde logo, o segundo apelante - autor - a observância
se opôr ao fiador, n.ão o jazendo, acei-
ta o fiadO?' proposto pelo autor. Não do contráto vigênte na locação a ser iniciada:
institue nulidade algum{L a inidonei'- prazo sete anos, alu:suel de 300$000 mensais
dade do fiador oferecido, desde que ne-
nhuma impugnação fôra feita na con- e demais condições. A primeira apelante - ré
testação e só após o despacho sanea- - aceitou as condições propostas, 7r,•znos quan-
dor fóra verificada a inidoneidade. Po-
de o autor oferecer ao coTrer da ação, to ao aluguel que deseja aumentar para 500$00.0
por ordem do Juíz, r e jorço de fiança. e quanto aos impostos e taxas, que devem ser
Tal permissão é a equidade preconisa-
da na lei de luvas. inclui dos por conta do locatário. Entretanto,
m'uito depois do despacho saneador, arguio !1
Vistos, examinados e discutidos estes au- ré nulidade do processo, porque o fiador ofere-
tos de apelaç;..'ío civel n. 1.446 em que são ape- cido estava impedido, pelo contráto social, de
lantes primeira Libania Rosalina elos Santos, Pe comprometer em fiança, sendo nula a ação
segundo João An1.ado, e apelados os mesmos. por infração çlQ ~·tigo 5o letra "·e" do decreto
(40)
5-2-43 ARCHIVO JUDICIARIO 169
24.150 ele 1934. O Juiz converteu o julgamen- pri.etaria L~norar a proibição ao contestar a cau-
to em diligência e marcou quinze dias para o sa e o seu silêncio a respeito indica que irrele-
autor esclarecer essa questão. No prazo deter- vante lhe pareceu a arguição. A base do proces-
minado foi oferecido outro fiador, que consti- so, ainda, repousa no contraditório judicial,
tuiu um reforço da primitiva fiança, e a ação como sustentou o Dezembargaclor Afranio Cos-
foi julgadà procedente, despresadas as nulida- ta, creação dos romanos com a Zitis contestatio,
des e fixado em cinco anos o prazo do novo instituto até hoje existente, embora sob ou-
contrato e o aluguel de 390$000 mensais. tros princípios ou outros nomes.
A sentença está certa em ter admitido a "Do pedido e da contestação é que se for-
nova fiança, pois tendo podido desde logo inde- ma essa figura abstrata do contraditório que
ferir a impugnaçãu da ré sobre o fiador, pr·Bf2- orienta o processo, a instrução e o julgamento
riu dar n~:Lior garantia ao contráto, melhor _se- da demanda.
gurado a fiança. Não dando pelas nulidades,
Nas aç•ões renovatórias a situação se defi-
tambem o Juiz teve razão. Não h à nulidade
ne ,de modo mais acentuado" (Afranio Costa).
sem: cominação expressa na lei. E' bem claro o
Se não houve contestação, no prazo legal, pre-
artigo 273 do Código do Processo. M:as, nuli-
sumem-se aceitas as condições oferecidas pelo
dade houvera, deveria ter sido alegada para re-
autor, porque o réu pode aceitar qualquer pro-
solvida no despacho saneador, que é o moment::J
posta, nada havendo na lei que o impeça de
próprio para regularizar questões ele forma. Se
assim proceder. Se a contestação é sobre deter-
o despacho saneador transitou em julgado, por
minado ponto e silencia sobre os demais, é cla-
sanadas devem ser tidas as nulidades eventual-
ro que os demais foram aceitos. Ponto pacifi-
mente ocon·iclas. Em virtude do disposto no
co, portanto, que a ré não mais poderia recla-
paragráfo único do art~so 277 du mesmo Código
mar contra a idoneidade da fiança pois, pelo seu
"a parte que não arguir, desde logo a nulidade,
responderá pelas custas acrescidas com a repe- silencio entendera boa. Reclamando como o fez,
tiÇ<ão de atos ou o suprimento de sua falta", inoportunamente, o juiz U§OU da equidade
e por isso entendeu a ré estar autorizada a ale- prsconizada na lei de luvas e admitiu o reforçO>
ga-las em qualqúer tempo. E uma extranha in- ela fiança. A primeira apelante, porem, voltou
versão da mens legis, essa de transformar co- a insistir nos mes1nos argum·entos e ofereceu
riünação de pena em direito de infringir a lei. um novo na se1:.sâo em que foi julgado o pre-
Do texto indicado não deflue o que pretende. sente recurso: o segundo fiador é tambem ini-
A redaç.ão desse paragráfo deve ser conjugada donêo p'orque no seu contráto social ha uma.
com a do artigo respectivo, e de tudo se con- claúsula que prejudica toda. a garantia - a
clue que as únicas nulidades de cogitação em· que permite aos sócios, pessoal e isoladamen-
qualquer momento, são exclusivaanente, as in- te contrair obrigaçõe~ em nome da firma, com-
sanáveis ou as que não comportàrem as medi- prometendo a segurança financeira da socieda-
das dos incisos do artigo 273 (do Código do Pro- de. Dai o entender que isso devia ser decidido
cesso). Não se trata, porem de nulidade dessa pelos j.ulgadores e em consequ,ência declarada
especie. A reclamação versa sobre fiança, di- a nulidade da ação por faita do fiador nos ter-
zendo a proprietária que a firma comercial apre- mos exigidos pela lei.
sentada como fi.adora não podia se comprome- Tal ar:;umento alem de impertinente, não·
ter como tal: seu contrato vedava esse compro- tem oportunidade e não se justiüca. Declarar
misso. Quando os tribunais tem decidido pela inielonea uma firma pelo motivo pretendido·
nulidade das fianças prestadas nessas condições, seria julgar ela validade do contrato social de
atendem à publicidade presumida que de~orre sociedadie que não está em causa. Firma que é
da Inserção dos c~ntrátos com'ercials no Regis- juridicamente idônea: seu contráto tem os re-
tro Público porque terceiros que negociaJn ou quesitos legais e seus fins são lícitos e conhe-
comerciam com a firm.a supõem que ela está cidos. Quanto ao prazo de locaçã.o deverá ser
livre cre encargos. mantido o de sete anos, com o qual a ré con-
Ora, se o fundamento da nulic!acle é exata- cordou. O aluguel será ele 390SGOO atende às
mente essa presunção ele conhecimento erga condições atuais ela zona em que esta situado
omnes decorrente do registro, não po-dia a pro- o imóvel,. além do que o negócio elo autor yae
(Ü)
170 ARCHIVO JUDICIARIO 5-2-43
em franca prosperidade, com'o ele próprio con- Atrawio Antonio da Costa, vencedor, per-
:fessa (doe. 2) . mitindo-se acrescentar à fundamentação do
O tempo do contráto, tambem autoriza o
acordão a afirmação que fiz na assentada do
:aumento. O imposto predial e ·a taxa de hidro- jUlgamento de que desafiando os tempos e as
imposições de técnicos sob o mesmo ou diverso
metro devem ser pagos pelo locatário. Seria in-
nome o que subsiste sempte, como elemento in.
justiça decidir-se o contrário, no caso dos au-
trínseco para orientar a instrução e o julgamen-
tos, dadas ás circunstâncias razoaveis em que é
to da causa é ainda a figura abstrata do contra-
·2.S.Segrurado ao autor a renovação do contráto. ditório judicial, exm,gente da controvérsia entre
Quanto a competência do Juizo da 8"' Vara a inicial e a contestação. E' por isso essencial
Civel é manifesta, para jUlgar, como o fez a ou <Jq.u;,'l.uuq.atdwoo urum'llxa ll?~ a .roq.n'll anb
ação. A esse Juízo foi distribuído a causa mas pedido e na contestação a matéria de fato que
.o titUlar efetivo deu-se por impetdido, e os tem a oferecer. Proferido o despacho saneador
-autos foram ao seu substituto l!'l:;al - ao Juiz acertada a parte formal, ordenadas as diligên-
da 9"' Vara Cível. Afastando-se o efetivo assu- cias às partes não é m'ais licito inovar na lide.
Nem seria possível pôr ordem ao processo; n,em
miu o exercício outro Juiz e os autos voltaram
ao Juiz abranger o conteúdo da demanda se per-
:à conclusão do Juiz da 8° Vara. O impedimen-
mitido aos litigantesalterarevarim:acada passo
i;o é pessoal, m·as a competência é sempre da
ps fatos articulados. A ré-apelante na contesta-
Vara que recebeu o processo. Nenhuma nulida-
ção ao envez de rep·eur a renovação aceitou-a
'i.e. A lei fielmente obedecida. Irn,procede a
explicitamente divergindo apenas das condições:
]>retensão do autor no que diz respeito a aplica- contra a fiança nada absolutamente articiUlou
ção cbo artigo 63 do Código do Processo. E' cer- (fls. 37 verso) e n:l.da tendo objetado não pode
·to que a ré nào demandou por espírito de emu- Eerodiamente pretender a improcedência da
1ação. por méro capricho ou por erro grossei- ação por motivo não alegado naquela oportu-
TO. Ela defendeu apenas o que julgou ser seu nidade.
·direito. A ação de consignação em p·agamento,
em apenso foi apreciáda com perfeito acerto.
'Foi o meio regular de que lançou mão o autor
para se garantir no cumprimento de seu con- Apelação cível n. 1.938
-tráto, deante da recusa da ré, em receber os Confirma-se a sentença da primeira instâna.ia
al ugeres vencidos. A ação é procedeu te. quando bem apreciou a prova dos at~tos
decidindo com acerto. Não há novaçéú>
Acordam pelo exposto os Juizes da Terceira f no jato simples do devedor pagar me-
tade ae sua dívidx, mesmo qtv.; esta se-
Câmara do Tribunal de Apelação dar provimen- ia em promissórict, n.ão tendo reforma-
to por maioria de votos, ao agravo no auto do do ou substituido o titulo.
processo de folhas 91 e em parte, unanim'e- Vistos, examinados e discutidos estes autoS
mente a ambas apelações: a do autor para fi- de apelação civel n. 1. 938, em que é apelante
xar a duração do contráto em sete anos, e da Antonio Costa e apelado o Banco Andrade Ar-
ré para inc1uir na obrigação do locatário o pa- naud Sociedade Anonima:
·gamento do imposto predial e da taxa de sanea- Em consequência do documento de fls. 4,
I
mento e negar provimento aos outros agravos no qual o apelante se obrigou a garantir
custas em proporção. I o empréstimo de vinte contos de réis, a Al-
berto Costa Couto, obteve este que o Banco
Rio de Janeiro, 27 de Outubro de 1942. - I
ap'elado, lhe entre,:;asse aquela quantia, medi-
Antonio Carlos Lafayette de Andrada, relator,
ante wna promissória.
vencido quanto ao agravo de fls. 91, a que ne-
Realizado o negocio aludido no mesmo do-
gava provimento, por entender que por linha,
cumento de fls. 4, ajirma o apelante ter
podem ficar os documentos que o Juiz assim dado a Alberto a importância de trinta contos
determ'inar, não só para os apreciar na ocasião de t·éis e Alberto destinou dez contos de réis
op·ortuna, co1no para esclarecer a Justiça, aos para reduzir sua divida com o Banco, que ficou
recursos que forem interpostos, nos autos. assim credor a pena~ de dez eon tos.
sidiu o julgamento o Sr. Des-embar,jador O pagamento feito por Alberto não impor-
:m:inio de Rezende, Andrada. tou em novação. Para que exista novação
(42)
5-2-43 ARCHIVO JUDICIARIO 171
mister "o ânimo ou a intenção de novar (ani- feitura do Distrito Federal e apelada Cia. Na-
mus novendi) . A novação importa E•emtpre por cional de Armazens Gerais :
parte do credor, que a ela aquiescs a renún- Acórdam os Juizes tia 5.a Câmara do Tri-
cia do crédito originário". A vontade de novar bunal de Apelação, pelos ~·oto~ concórdes do re-
não se presume; deve ser manifestada efetiva
lator e do revisor, conhecer da apelação, clespre-
e concretamente, de modo não duvidoso, ainda
que não seja exptesso em. termos sacramentais zando a preliminar arguida, e negar-lhe provi-
e pelas partes, com capacidade de contratar". mento, confirmando, por seus fundamentos, a
(Carvalho de Mendonça, Direito Comercial - sentença apelada.
vol. VI P parte) . Entendeu o Dr. Juiz a quo de negar segui-
Não provam os autos ter havido o animo mento á apelação,· por ter sido interposta fóra.
de novar, houve somente um pa5am·ento par- do prazo legal, desde que aos advogados da Pre-
cial, que veio reconhecer ainda mais a valida- feitura, nomeados por portaria do Prefeito, não
de da divida cujo titulo nem foi reformado ou se extendem as prerogativas que o art. 32 do
substituido, (fls. 22). O apelante continua com
Código do Processo Civil confere aos representan-
toda a sua responsabilidade bem caracterisada.
Quanto ao benefício da orderrJ, não o tem tes Q.3. Fazenda, relativamente ao dobro do prazo
o réu a seu favor. Como acentua a sentença, para re{)orrer (fls. 83-84) . O seu despacho foi,
não o socorre "o invocado artigo 1.491 do Có- porem, refonnado pela 3.a Câmara, em acórdão
di~o Civil, porque encerrasse a conta de fls. 4, no agravo de instrumento n. G.204, por não ser
uma fiança o benficio de ordem não lhe lícito ao Juiz, depois de recebida a apelação,
aproveitaria ex-vi do artigo 1.492 do mesmo em ambos os efeitos·, negar-lhe seguimento, aten-
Código", pois que a obrigação assumida pelo dendo á preliminar do apelado, f.m suas ra-
réu, foi de pagar integralmente ao Banco zões. "A matéria deve ser conhecida e decidi-
o debito de Alberto Costa Couto e "com prio-
da pelo Tribunal a.d quem (art. 831 do Código de
ridade sobre qualquer outro pagamento devido
ao mesmo emitente" (fls. 49). Proce.õso Civil" (fls. 26 v. -- 27 elo apenso). A
esta Câmara, a quem foi a ape>ação distribuida,
O apelante está solidariamente obrigado
perante ao autor e portanto, itfiprocede a alega- compete, portanto, apreciar e decidir a arguida
da obrigatoriedade de litisconsorcio. Este po- preliminar.
deria quando muito ser facultativo dependente Aos representantes da Fazenda, di.: o art. 32
do acordo de vontade dos interessados. Caso do Código, serão contados, em dobro, os prazos
ti pico· do artigo 88 do Código do ProceEso. para a interposição de recnrso. Visa o ct~sposi
Acordam, assim, os Juizes da Terceira Câ- tivo proteger a Fazenda i'úiJ!ica, e não aos seus
mara do Tribunal de Apelação, negar provim·en- representantes. E' o que acentúa De Plácido e
to ao recurso para confirmar a decisão recor-
Silva, em seus comentários ao atual Código (vol.
rida que bem ap'reciou as provas dos autos, de-
1.0 pg. 54): - "diz o art .32: -- representan-
cidindo com' acerto.
tes da Fazenda Pública. Dessa fórma, desde que
Custas pelo apelante. sejam outorgados poderes ao advogado, C'orn ou
Rio de Janeiro, 27 de Outubro de 1942. sem junção pública, par.J. defender os interesses
Antonio Carlos Lajayette de /ndrada, rela- fazendários, se cmnpreencle que, investidos nessa
tor. -Afranio Antonio da cosia. -Presidiu a representação, frúe a prerrogativa ela dilatação
sessão o Sr. Dcsembargador Flaminio de Re-
dos prazos". Designado rep~·esentante da Pre-
zende. Andrada.
feitura, nas ações movidas em Juizo, por desa-
propriação dos imóveis (decreto n. 6.911, de 28
de Janeiro de 1041, art. fl. 0 ), os nomeados, qual-
Apelação civel n. 2.061 quer que seja a sua função, são reptesentan-
E' em dobro o prazo concedido rw~ tep1 esentan·- tes do patrimônio da Faz~nc\3., representam esta,
tes da Fazenda para TCC•)TJ"•"~. Ex tende- goznndo, como consequênci•l, da dilatação dos
se a prerrogativa aos representantes da
Prefeitu·ra, advogados nomeados pelo Pre- prazos. E, sendo assim, ::> recurso de apelação
feito. O art. 32 do CórLigo do Processo foi requerido dentro do prazo legal.
procura beneficiar a Fa~cndn e não seus
rep1·esentantr.s. - Desa·;;rop1'fação. - O A sentença merece ser confirmada, porque
critério legal. pa.m a i!!âeniza.çü0, é o do atendeu ao clisposto no decreto-lei n. 3. 3G5. de~
imposto predial.
21 de Junho de 19±1, que ngnla <·s desapropria-
Vistos, relatados e exami!w.clos rstes autos ções por utilidade pública O critério legal é o
de apelação civel n. 2.061, scnrlo) apelante Pre- do imposto predial. Seg·und:l o s único do ·Jrt. 27,
(43)
172 ARCHIVO JUDlCIARIO 5-2-43
a indenização não será inferior a 10 e nem . ror não julgar de gravidade, tendo continuado
superior a 20 vezes o v:llur locati;·o, deduzida a trabalhar, que passa 5 dias começou a sentir
a importáncia do imposto lançado no r:no ante- fortes dores no Jogar em que levou a pancada,
rior ao mesmo decreto-lei. Dentro do critério começando então a fazer o tratamento na Caixa
legal, apoiado no laudo do Perito do Juizo, de Apos·entacloria dos Portuários; que continuou
fixou a sentença a indenização em um milhão a agravar-se o seu estado sendo obrigado a fazer
cento e noventa ~ seis mil cento e sessenta e ·.rárias intervenções cirúrgicas. O exame peri-
seis cruzeiros e quarenta centavos (Cr$ cial fls. 18 constatou perda funcional da mão
1.196 .166,40), indenização justa e que se c:m- esquerda. A testemunha de fls. 73, trabalhador
firma. Não procedem as alegações do ilustre - reoerva do agravante, confirma o acidente que
representante da Prefeitura, feitas nas razões e rliz ter assistido; a 2a testemunha tambem tra-
reproduzidas oralmente no julcsamento, porquan- balhador em serviços da R. disse ter assistido o
to o imóvel está situa~lo em Lona portuária, acidente (fls. 73); a 3.a testemunha tambem
em terreno plano, nivelado e consolidado, ser- trabalhador da R. confirma o fato que diz ter
vido, na frente, por via pública, por linhas de assistido.
carris elétricos, nos fundos por linhas férreas de O Dr. Waldemar Rosa, em intormações, a
bitolas que permitem o ~~cesso direto [.OS por- fls. 40 declara que fora procurado em Agos-
tões do fundo do prédio de Yap.;ões das linhas to de 1939 pela vitima que apresentava um
da Administração do Portj elo Rio de Janeiro. nem.ão na mão, e como medico da extinta Caixa
Estradas de Ferro Central elo Br3sil, Leopoldina dl.' Aposentadoria e Pensões dos Portuários mi-
Railway, Linha Auxiliar, Hi•J Douro, S. Paulo nistrou-lhe tratamentos, inclusive intervenção
Railway e Cia. Paulista, mostl\lncl::> a sua situa- cirurgica, não tendo obtido resultado por culpa
ção especial e privilegiada. da vitima, que deixou agravar-se o seu estado.
Custas pela apelante.
Isto se passou em Agosto de 1939, tendo a vi-
Distrito Federal, em 1 :le Dezembro de :942. tlma lhe declarado que se tratava de calo arrui-
FredeTicó Sussekind, Presidente e relator. -
Imdo em serviços caseiros; que o médico opera-
A. Saboia Lima.
ra mal (fls. 40) . O Dr. Emílio Niemeyer ex-
médico da agravante, informa em Agosto de 1939
que nenhum acidente foi registrado referen(,e ao
agravado.
Agravo de petição n. 5.999
A vitima depondo a fls. 44 declara que 3
A não comunicaçüo d~ acidente ao emprcgadoT, dias após ao acidente compareceu a sua casa
.d~corndo muzto tem,po do jato tendo a
vztzma se tratado em. domicilio e se sub- o Dr. Coelho Cintra facultativo da Caixa de
rr.etidc a intervencão cirúrqica tudo Aposentadoria dos Portuários, o qual o exa-
isso sem ciência da· empregador, ~ exone-
ra de responsabilidade pelas consequên- minando declarou que só poderia ser operado de-
cias do acidente. pois de 15 dias; que espirado este prazo foi real-
Vistos, relatados e discutidos estes autos de mente operado pelo Dr. Waldemar Rosa (fls.
agravo de petição n. 5.999, entre partes: agra- 45) . Depõe o plantão da R. de serviço no dia
vante, Administração do Porto do Rio de Janeiro do acidente, declarando que não teve conheci-
e ag'!'avado, Cyrillo João de Deus, representado I mento de fato algum. Depõe tambem a fls. 45v.
o feitor da agravante, dizendo que não chegou
!JC!o Dr. 10 Curador de Acidentes, acordam os
Juizes de 4a Câmara do Tribunal de Apelação, ao seu conhecimento qualquer acidente com
por acor~o de votos do relator e Juiz 1m'ediàto, I aquele operário. A fls. 52 ·junta a agravante,
um memorando do sub-inspetor da 12a secção
dar provimento ao agravo, afim de reformar a
sentença agravada e julgar a ação improce- do Porto do Rio de Janeiro declarando que OS
dent-e. üabalhadores reservas, que depuzeram, não tra-
balharam em extraordinário durante o mês de
O processo fol provocado pelo Dr. Curador
Agosto de 1939; que quanto ao agravado não
àe Acidentes. A vitima prestou dec!araçõea a
constou o conhecimento de qualquer acidente
policia aos 30 de Maio de 1941, disse ter sofrido
com o agravante.
o acidente nos fins de Agosto de 1939 por volta
de 2 horas da madrugada, quando trabalhava no A testemunha Antonio Alvares de Olivei-
o<:n·ico ele cnrre"'unento ele farelo; que no mo- ra a fls. 56 retrata-se do seu depoimento, di-
Jllento não ligou a menor importància ao fato zendo não ter assistido ao acidente. O mé·
(-14)
5-2-43 ARCHIVO JUDICIARIO 173
di co Dr. Walclemar Rosa depõe a fls. 66, man- No caso decorreram dias, decorreram meses,
Vmdo a sua declaração anterior. Acareados a vi- deram-se agravações da lesão, foram pratica-
tima e este medico a fls. 68 ·mantem os seus de- das intervenções cirurgicas e não se fez o res-
pOimentos. Impresisona mal a seguinte circuns- ponsavel ciente de qualquer destes fato~. Nw
tância. o agravante não precisou o dia em que houve a impossibilidade absoluta de que fala a
.sofreu o acidente, nem mencionou o navio a bor- lei, nem ocorreu qualquer outro obstaculo que
do do qual então trabal.hava. Não é possível que pudesse justificar o procedimento do acidentado,
<iuda a natureza do acidente a vitima não in- mantendo o responsavel alheio do acidente e às
<crrompesse o trabalho e continuasse ainda a suas' consequências. A prova colhida dos autos
prestar serviço durante varias dias. E' estranha- não convence da possibilidade de atribuir ao pa-
ver sobre tudo que durante o seu tratamento, trão, por qualquer forma, a responsabilidade pela
.que se prolongou por meses, tendo sofrido, se- gravação da lesão e nem mesmo ao acidente en-
r;undo disse, várias intervenções cirurgicas, não contra~se provas satisfatórias. Em consequência,
ti>·esse feito qualquer comunicação ou reclama- da-se provimento, ao agravo, para julgar a ação
ção, quer ao responsavel, quer a policia, quer improcedente .
.a Juizo, só procurando o Dr. curador em Abril Custas na forma da lei.
dr 1941. São contraditórias as suas declarações,' Rio, 11-12-942. - Eduardo de Oliveira Fi-
}Jois, não se ajustam aos fatos e natureza da le- [J?Ieiredo, Pre-sidente. -Raul Camargo, relator.
são, pois, tendo llavido fratura, conforme esclare- - A . M. Ribeiro da Costa.
<:e o lauclo, não se compreende que tivesse con-
tinuado a trabalhar, quanto mais quanto deu-se
comprometimento de articulação corresponden-
te. Agravo de petição n. 6.303
O depoimento da 1• testemunha do agravan· Reivindicação de objeto vendido corre< reserva de
te está prejudicado pela retratação por esta mes· dom in i o. Registro do contrãto. Depre-
ciacão da coisa e deducão do seu valor
ma testemunha a fls. 76. A 2• testemunlla a das importâncias que -o vendedor de-
fls. 37 disse que a vitima ficou com a mão volverei ao comprador.
lmpresada contra um vagão, o que por isso só
Vistos e· relatados estes autos de a.jTavo de
co~stituia impossibilidade de continuar o tra.
p·etição n. 6.303, em que são agravantes, Arp.
bulha; a mesma observação a fazer contra a & Companl1Ia síndicos da massa falida de H.
3• testemunha a fls. 37v. Aliás os depoimentos A. Oliveira, sendo agravados, J. Monteiro &
destas duas testemunhas acham-se prejudica- Filho:
dos pelo m,emorandum do sub-Inspetor da P Acordam os Juizes da Quarta Câmara do
Hcção, fls. 52, do qual conta que esses operários Tribunal de Apelação do Distrito Federal, pelos
não trabalharam naquela secção, extraordi- votos do relator e do imediato, em dar provi-
nário, durante o mês de Agosto de 1939. De for- mento ao agravo para reformando em parte, a
ma que a única prova dada, a testemunhal, se decisão recorrida mandar que seja restituída
acha desmerecida p'ür esses outros elementos, à rnassa a importância das prestações pagas, de-
que constam nos autos. Da parte do agravante, duzido o valor da depreciação do objeto vendi-
-tlntretanto, há homogeneidade de defesa pelas do.
declarações de fls. 40, do médico da secÇão de Custas ex-lege.
:acidentes da Administração do Porto do Rio· de A sentença julgando procedente a reivin-
.Janeiro, Dr. Niemeyer, do outro médico que tra- dicação, fê-lo de acôrdo com o disposto no ar-
tou do agravante Dr. Rosa, do men~•:Jrandum de, tigo 138 da lei de falências (decreto nllinero
fls. 52 e dos depoimentos do plantão e do feitor. 5. 746, de 9 de Setem'bro de 1929), por se tra-
:Embora não se deva levar a rigor a comunica- tar de venda em cujo contrato fõra estabeleci-
ção no meEuno dia ao empregador, art. 32, da a clausula de reserva de donúnio embora o
tambem não é possível sancionar o descum- mesmo não tivesse sido levado ao .Registro .de
:primento por parte da vitima de todas as obrl- Títulos e Docl!lllentos, para valer contra ter-
;gações que lhe incubem por lei. Seria injus- ceiros.
tiça carregar sobre os patrões todas as respou- Ficou todavia justificada a dispensa desse
.sabilidades decorrentes da incúria dos aciden- registro, tanto 1nais que terceiros, os credores,
tados. nada impugnaram na especie apesar de citados,
(45)
174 ARCHIVO JUDICIAHIO 5-2-43'
para esse . fim, regularmente. Tratando-se de 1 pararia nunca a oportunidade ele proferir a.
contrato liCito, clevlclo e legalmente provado, I sentençrt na préprirt audiência ele instrução e
não simulado o ato, cum.pria reconl1ecer. a sua debate. Profericla, porem a sentença, nem o
legitimidade, o que ficou bem apreciado na sen- vencido poderá dela recorrer, nem ao vencedor
tença. será permitido executá-la sem aquele pagamen-
Cabe, entretanto, mediante a necessária to. Por esse modo, assegura-se o direito dos
avaliação, apurar a· depreciação elo objeto ven- interessados sem sacrifício da marcha proces-
dido, pelo tempo de uso, e ded-uzir o valor des- ;mal. Mas, na hipotese de d-esinteresse de am-
sa depreciação da imp'ortãncirt correspondente bas as partes, por motivo de acordo ou tran-
às pretenções que o reivindicante terá ele devol- sação posterior, ficaria ai nela reservada aos cre-
ver à massa falida. dores o direito de promover a cobrança executi-
Rio, 13 de Novembro de 1942. - Edn:<undo va. O te~to da lei é limpido e transpar•ente,
de Olivceira Figueiredo, Presidente com voto. deixando perceber o pensamento do legislador
Antonio Ribeiro da Costa, relator. e o objetivo da lei".
O texto legal está aí para ser curo'prido,
atin']indo a sua finalidade. Escla,rece Pedro
Martins:
Agravo de instrumento n. 6.008 "Proferida a sentença nem o recorrido po-
Não deve o Juiz receber a apelação desde que derá dela recorrer, nem ao vencedor será per-
não foram pagas as custas na fórma mitido executá-Ia sem aqu-ele pagamento".
prescrita pelo paTagrafo 20 do artigo 56
do Código do Processo. Não hà semelhança alguma com o caso re-
ferido pelo recorrente que foi resolvido por
Vistos, relatados e discutidos estes autos aco!·dão ela Terceira Câmara. Nll!quele caso a
de agravo de instrumento n. 6. 008 entre par-
parte pedira que fosse levantada a conta de
tes: agravante Corina Vieira da Silveira, mãe
custas para satisfazer o pagalllento. Revelou
do finado Filemor Vieira da Silveira e agrava-
assim a sua intenção ele pagar no que foi obs-
da Companhia Cantareira e Viação Fluminen-
tada pelo Juiz. Este é aliás o mais assinala-
se, acordam os Juízes da Quarta Cãmara do
elo fundamento do acordão.
Tribunal de Apelação por conformidade de vo-
tos do relator e Juiz imediato, negar provimen- Na hipótese vertente, a parte ora recorrida
to ao recurso. nem pagou, nem requereu qualquer coisa que
Agrava-se da decisão de fls. 6, pela qual demonstrasse ao menos a sua intensão. O re-
não foi recebida a apelação interposta pela re- querente foi d.ezidioso, integralmente indife·
corrente da sentença de fls. 12 que julgou uma rente a mardha do processo. E' exatamente isso
ação de indenização com fundamento na lei o que a lei condena, impondo a obrigação de
de Estrada de Ferro: O Juiz fundam'entou o antecipar o pagamento, para garantir o exerci-
seu despacho denegando a apelação, nos arti- cio de um direito.
gos· 56 paragrrulo 2° e 821 elo Código elo Pro- Intuitivo, que si parte não satisfaz o re-
cesso. quisito l-egal está impedida de recorrer. A au-
Constitue assento do julgado o artt:so 56 toridade do Juiz é assim bastante para denegar
paragrafo 2° do Código do Processo que resa: o recurso.
"Logo depois de conciUido o ato, o requerente E' inaceitável o argumento do agravante,
pagará as custas respectivas. Paragrafo 20 - de que deveria o Juiz, ele oficio ordenar o levan-
As custas devidas até a audiência ou relativas tamento da conta. E' bem de ver que ao Juíz
a átos nela praticados, serão pagas pelo in- sBria deieso tomar tal atitude, substituindo-se
teressaclo antes da interposição do recurso ou a parte, no que interessava a sua própria e ex-
da execução da sentença". clusiva deliberação. Não hà paralelo cam ou-
Peclro Martins no seu comentário dá-lhe tro caso que foi objeto de julgamento hà tem-
interpretação autentica: "Artigo 160 - A re- pos; ad!llitido o recurso, o Tribunal o julgou,
gra consagrada no para.gráfo 2° tem por obje- porque as custas foram pagas p·ela parte ven·
to possibilitar o julgamento indepenclentemen- cedora, que tomou essa iniciativa.
te da conta das custas. Se a decisão ficasse Assim agindo, o então recorrido manifes-
condiciouada ao pagamento das custas conta- tou o desejo de que a decisão che::sasse a se·
das nos autos, é claro que ao Juiz não se de- guncla instáncia e fosse submetida a júlga.m:en-
(46)
5 2-43 ARCHIVO JUDICIAHIO 175
to. E' contrnc!itórlo que alguem pague custas, decreto 156 de 28 de Abril de 1842". Não encvn··
a que não é obrigado para permitir um julga- trei revogação expressa desse dispositivo,
mentCJ e depois procure impedir esse mesmo continua o serventuário - "que determina a
ju!gamen to. dedução do imposto predial nos casos como este,
Tambem não colhe o avgumento de que e, para tanto, verifiquei as leis gerais que re-
houvera um deposito para despesas judiciais, gulam a matéria, isto é, o decreto 2. 708 de 1&
porque foi ele feito para os fins de uma per i- de Dezembro de 1850, e o número 5. 581 de 31
cia, artigo 57 e assim não poderia ser desviá- de Março de 1874. Após a advento elo decreto·
do para outro fim. O caso _em debate enqua- número 4.613, que reproduz, com alt~;ração
dra-se, porem exatamente no dispositivo legal apenas do número de anos._, as mesmas expres-
Invocado e aplicado pelo Juiz, pelo que é de sões do número 2.800 (artigo 43, letra "b" e
se m'anter a decisão recorrida, negado provi- artigo 14, núm'ero 2, respectivamente) passou-
mento ao recurso. se a fazer deduções tambem nos cálculos de-
Custas pelo agravante. transmissão de méra propriedade e nos de doa-
Rio, 16 de Outubro de 1942. - Raul Ca- ção com reserva de dominio, em virtude do·
margo, Presidente e relator. - A. M. Ribeiro
disposto nas letras "c" e "e" do citado artigo
da Costa.
45" (fls. 16 v.) .
Realmente a~im deve ser entendida a lei. O
decreto n. 4.613 dispõe que o valor dos bens.
Agravo de instrumento n. 6.349 para o pagamento do imposto no usofruto vita-
Para o cálculo do imposto que recai sobre o uso- lício será o produto do rendimento de um &no
jruto vitalício, deve ser deduzido o im-
posto predial, pois este é renda dos co- multiplicado por seis (artigos 43,letra"b"). Está
fres públicos e não dos contribuintes. bem claro que é o rendimento de um ano, mas
Ha mais de quando anos essa é a norma deduzido do imposto predial, pois que já a Fa-
ser;uida pelos juizes e que não deve ser
modificada sem uma lei expressa, clara zenda recolhera parte do rendimento bruto, co-
e precisa nesse sentido. brando esse imposto. A não ser exclui do o im--
Vistos, examinados e discutidos estes au!;()6 posto predial seria permitir-se - bi-tributação,
de agravo de instrumento, n. 6 .349, em que é ou melhor, cobrança de um imposto sobre ou-.
agravante a Prefeitura do Distrito Federal e agra- tro imposto, o que não é legal, e nem justo.
vado o espólio de Maria Luiza Mora Neves: Alem disso há mais de quarenta anos a dedução
Trata-se de se saber se para 0 cálculo do tem sido a invar!avel norma do juizo, norma que
Imposto que recai sobre o usofruto vitalício não deve ser modificada sem um dispositivo ex-
deve ou não ser deduzido o imposto predial. A presso, claro e preciso a esse respeito. Acordam,.
agravante entende que não. Entretanto, o im- 'j pois, os Juizes da Quinta Cãmara do Tribunal de
posto predial deve ser deduzido, ele não consti- Apelação negar provimento ao recurso para man-
tu~ 1·encla elo proprietário elo imovel; ao con- I ter, como manteem, a decisão agravada de foll1as
traria é redução dessa renda, em beneficio dos j' 17 v.
cofres públicos. Não pode ser incluldo para o Custas da lei.
cálculo do imposto de ·usofruto aqullo que não
Rio de Janeiro, 24 de Novembro de 1942. -
aproveitou ao contribuinte, o que não entrou
Frederico Sussekind, Presidente com voto. -
para o seu patrimônio, o que não l11e benefi-
Antonio Carlos Lajayette de Andrada, relator.
ciou. Desde há lonsos anos essa exclusão veem
sendo feita, sem qualquer protesto do agra-
Vante. - ·
Como esclareceu o contador nas informações Agravo de instrumento n. 6.358
Prestadas, "durante a longa vigência do decreto
Açao de prestaçâo de contas - Recurso cabível"
federal, e a tanto alcança a tradição elo nosso óa sentença que a julga improcedente.
fôro, sempre foi deduzido o imposto predial nos Aplicação do Código do Proc. Civ. arti-
gos 810 v. 820, 842, n. 14.
casos da instituição ele usofruto, sem oposição
tia Fazenda Municipal ou Federal, e com a san- Vistos e relatados estes aut<Js de agravo de
Ção pacifica da jurisprudencia. Atendia-se. a!'i- i !nstnunento n. 6. 358. em que é agr:wante An-
&!m, a dispositivos vigentes da lei anterior que, tonio Pinto Ribeiro e agravado Laurindo de Aze-
I'
A sentença ora recorrida, nos termos do ar- do art. 820 do Cod. Proc. Civ., de recurso de
tigo 308, parágrafo 1. 0 , do Cod. Proc. Civ. re- apelação, sendo, deses modo, incabivel o agravo
cebeu os embargos opo:õtos pelo réu, ora rrgra- ele instrumento, ora interposto, com erro gros-
vado, na ação de prestação de contas exigidas seiro demonstravel à evidência.
pelo autor, eis que, exibida, em forma legal, a Sem aplicação à hipótese a providênc!á. cons-
quitação estava o réu, assim, desobrigado da tante do art. 810. Dem'ais disso, sendo o agravo
prestação de contas, julgando, em consequên- um recurso stricti juris, só nos casos especif!·
cia, improcedente a aç11o. cadamente em lei cabe semelhante recurso. Por
O artigo 842, n. 14, daquele Código, adml- consequência, acordam em 4.a Câunara do Tri-
te o agravo de instrurroento das decisões que bunal de Apelação do Distrito Federal, por
julgarem, ou não, prestadas as contas. Na espé- acordo de votos, não conhecer do recurso inter-
cie, a sentença não julgou as contas. Julgou im- posto, por !ncablvel.
procedente a ação de prestação de contas; isto custas como de direito.
é, julgou portanto, o autor carecedor de ação
face à prova tratzlda p€lo réu, da quitação, de- Rio, 11 de Dezembro de 1942. - Edmundo
Vidamente formalizada. E', pois, decisão defl- de Oltveira. Figueiredo - Presidente com voto.
n!t!va, suscet!vel, nos termos claros e precisos - A. M. Ribeiro da Costa.
(48)
5-2-43 ARCHIVO JUDICIARIO 177
poi·3, nem sempre os juizes estão à altura de como conselho, não a aceitando como imposição,
encargos tão elevados, como .iã revelou o Dr. po1· isso que, na execução, poderia ser des-
Juiz adjunto, através de decisões várias, que virtu-:tda.
envidenciam a falta da necessária Isenção de Mas, a verdade é que ·qualquer exagero na
ânimo ou mesmo sua parcialidade, a ponto de interpretação da ressalva poderá .;;er corrigido
ordenar que um oficial de justiça fosse bus- pela interposição dos recursos regulares. O pró-
car, todos os domingos, as crianças para le- prio · juiz pro~essante melhor orientado, poderá
vá-!as à casa de sua avó. eliminar qualquer demasia já verificada na exe-
Sendo certo o direito do supte. e mani- cução da ressalva. que, bem interpretada e exe-
festo o·· atentado que lhe causa e. l.'€S'.Salva cons- cutada, só poderá produzir efeitos benéfi~os.
tante do acordão, atentado esse agora agra- São Paulo, 23 de Agosto de 1942. - Mario
vado pela interpretação exagerada. que lhe em- Guimarães, Pre.;;idente com voto. - Leme da
presta o Dr. Juiz adjunto, forçoso seria con- Silva, relator - A. Ferrari - Pedro Chaves -
ceder a segurança impetrada afim de ser ga- Barbosa de Almeida - J. Macedo Vieira -
rantido a:queles direito. Cunha Cintra - Theodomiro Dias - MeireUes
ü mandado pleiteado é incabível na espécie 6.0s santos - Gomes de Oliveira - V. Pen-
desde que se não perca de vista que o acordão teado - Manoel Carneiro - J. M. Gonzaga
Frederico Roberto - Percival de Olivetra.
da 1a Câmara constitue decisão com trânsito
1=m julgado. No caso em apreço a medida de
segurança atua como verdadeiro sucedâneo da
nçãD rescisória, o que havia para realçar sua Apelação civel n. 16.225
impropriedade. (SÃO PAULO)
Quanto ao mérito, não é melhor a situação
Sucessão testamentária. - Usufruto ou fideico-
do impetrante. O direito que assiste aos pais, misso. Se o testador reiteradamente fala
detentores das "regalias e ·dever€s constitutivos em usufruto e jamais em fideicomisso, e
se do conjunto das disposições do testa-
do pátrio poder, não é absoluto, pois està su- mento não se conclue claramente que a
bordin&.do às restrições legais, inclusive a de- instituição é de fideicomisso, deve acei-
corrente da intervenção das autoridades jm:Íi- tar-se como sendo rearmente de usufru-
to, maximé atendendo-se a que, no caso,
ciàrias, · encarregadas de vigiar pelo bem estar esta ültima solução é a que melhor ctsse-
da..; descendentes menor·es ou dos incapazes. gura a observância da presumível von-
tade do testador.
Essa intercessão há de orientar-se em prol dos
1nteres~es das pessoas assistidas, que prevaloecem Acordam, em sessão da Quarta Câmara, vis-
sobre as do titular daquele direito. Assim, to- tos, relatados e discutidos oo autos· de apelação
das as vezes que surgir conflito entre o titular n. 16.225, da comarca de São Paulo, em que
do pátrio poder e os interesses dos menores, são ap<~lante.s Pedro Sant'Anna de Almeida e sua
relativos ao seu bem estar, esse conflito tem mulher, D. Edwiges Pires de Freitas e outros, e
que .ser dirimido em favor dos menores. Na Juvenal Ramos Barbosa e outros e apeladOS
espécie, a ressalva foi inspirada, segundo reco- D. Joaquina Ramos ele Sant'Anna e outros, .su-
nhece a inicial, por sentimentos nobres decor- cesGores de D. Benedicta Ramo·s BaDbosa, dar
rentes da elevada formação moral dos juizes provimento à apdação dos primeiros e julgar
que a ditaram, atendendo-se à circunstância dos .prejudicada a dos últimos, nos termos adiante
menores terem sido criados na companhia de declarados, pagas as custas ,pelos vencidos.
sua avó materna, que lhes dispensou carinhosa 1 - No testamento com que se finou em
e afetiva assistência. 1921, nesta cidade de.. S. Paulo, o Dr. João Al-
O acórdão não quiz privar ditos menores vares de Siqueira Bueno deixou consignada a
dessa assistência sentimental, proveitosa, ao ~>eguint-:= disposição, que interessa à soluçào dos
mesmo tempo que reconhecia ser deshumano problemas controvertidos nestes autos:
separar de vez a avó -materna de. convivência "Deixo meu prédio à rua de S. Bento, nú-
com seus descendentes, que representariam a mero 83, e prédio n. 104 da rua Lí:bero Ba-
filha extinta, progenitora daqueles pequenos daró ... , à minha mulher D. Deo1inda candida
ente.s. Em vez de censuras, o acordão merece Ramos Bueno, .que terá o usufruto dos mesmos
encômios, pela sua disp·osição humanitária. prédios, enquanto viva for, sem que dos mesmos
Aliás, o próprio requerente acha ace!tavel e com- se possa tirar dela sua posse, afim de que, en-
preensivel a ressalva enunciada no acórdão, quanto ela for, possa gozar e uti.lizar-se de seus
(50)
5-2-43 ARCHIVO JUDICIARIO 179
I
quem em sua vida deixo o usufruto, COlllO aci- consolidando-se de tal arte a propriedade na
ma declarei e estabeleci ..... , deixo, em partes pe&õoa da fiduciária, a viuva D. Deolinda, ao
iguais, aos ll1·2Us sobrinhos Maria Candida, ca- depois falecida, de quem são elas as únicas her-
sada com Zeferino Pires de Freitas, Benedicta
deiras. Não há cogitar - sustentam - de di-
Ramos, casada com Claudino de Almeida Bar-~ reito de acrescer, por não concorrerem para tan-
bosa, Marcolina Barbosa, casada com Joaquim
to os requisitos J.2gais.
Moreira, João Barbosa Gonçalves e Olegario Bar-
Apareceram, por fim, a fls. 180 e 3U,
bosa, todos filJ10s de minl1a finada irmã, D. Bri-1
D. Edwiges Pires de Freitas e outros, sucessores
gida de Castro, casada com José de Almeida
dos legatários pré-mortos, a qu·=m o testador
Barbosa. Se estes legatários do remanescente do
gi"atificara com o remanescente do valor dos
produto da venda dos ditos tPrédios quiserem
prédios. Asseveram que o caso :11ã-o é de fidei-
remir os mesmos ·prédios 'Para si, poderão, en-
comisso, senão de usufruto, consoante o decla-
trando de .pronto com todas as quantias cprecisas
rara reiteradas vezes o testador, que, como ad-
para todos os legados, impostos e mais despesas vogado que fora, não podia ignorar a exata sig-
determinadas, a-ftm-cte que nenhurrn. desses le- nificação juridica do vocábulo.
gados e mais despesas d·eixem de com o <produto
A sentença recorrida abraçou a segunda das
da venda dos mesmos prédios, detPois do faJeci-
mencionadas correntes: a que pl·opugna o fi-
mento de minha mulher, D. Deolinda Ramos
deicomisso, sem direito de acrescimento. Apela-
Bueno, que te1•á sempre livre o usofruto dos
ram os vencidos.
ditos .prédios, enquanto viva for".
3 - A vista do exposto, importa resolver,
Acrescenta o testador, passos adiante:
em primeiro lugar, se o legado em exam2 en-
"Instituo meu universal e único herdeiro a
volve usufruto ou fideicomisso. Se vingar esta
minha mulher D. Deolinda Candida Ramos Bue-
última soluçã<J, ter-se-á então de decidir se
no, a quem, alem do usofruto dos prédios à rua
ocorre, ou não, o discutido direito de acrescer.
são Bento e Libero Badaró, deixo os móveis do A distinção -entre usufruto e fideicomisso,
prédio da rua São :Bento e a minha chftcara facílima ein teoria, constitue, por vezes, na prá-
do Beliche. em S. Bernardo, outros prédios e tica, problema dos mais abrolhados de <lificul-
mais bens . que cpossuo e venha a possuir''. I dades. A termos de não se corar Teixeira de
2. - Aos· 28 de Setembro de 1941, faleceu
Freitas de confessar que eni;ymd•er os testamen-
a vi uva do testador. Sobrevivera-lhe cerca de tos e resolver se conteem constituição de usu-
29 anos. fruto ou constituiçào de fideicomisso foi"am tor-
Dos cinco sobrinhos contemplados com o turas de sua banca de advogado (Tabelionato,
legado relativo aos prédios da rua .São Bento e parágrafo 5•18).
rua Libero Badaró, já a esse tempo quatro eram Usufruto é o direito de usar da coisa alllda,
mortos. Apenas ainda existia a sobrinha D. Be- percebendo-lhe os frutos: - jus alienis rebus
j
nedita Ramos Barbosa, viuva de Claudino de utendi, jruencli. Ou, como o define art. 713,
Almeida Barbosa. do Cód. Clv. : é o direi to real de f rui!" as utl-
(51)
180 ARCHIVO JUDICIARIO 5-2-43
Iidades e frutos de uma coisa, enquanto tem- mentos, sem embaraço algum". Só para isso:
porariament.2 destacado da propriedade. Não gozar e utilizar-se de seus rendimentos. Está ai
tem, pois, o seu titular a propriedade da coisa, e claramente delineado o usufruto.
a~penas lhe cabe fruir transitoriamente as· utili- Há ainda mais. Pouco adiante, ao determi-
dades e d'rutos. nar a venda dos prédios, por duas vezes ainda
No fideicomisso, ao inverso, tem o gravado o testador afirmou e reafirmou que ele os dei-
ou fiduciário a propriedade, embora restrita e xava em usufruto à sua mulher: - " ... de-
rescluv-el (art. 1.734). Recebe-a com o encargo pois do falecimento de minha mulher, a quem
de transmiti-la a terceiro - o fidei·comissário. em sua vida deixo o usufruto, como acima de-
O usufruto fraciona a propriedade; o fideico- clarei e estabeleci. .. "; ". . . com o produto da
misso a conserva na inteireza de seu3 direitos venda dos mesmos prédios, depois do faleci-
componentes (Teixeira de Freitas, ob. cit., !Pa- mento de minha mulher D. Deolinda Ramos
rágrafo 520) . . Bueno, que terá sempre livre o usufruto dos ditos
Há, no fideicomisso, dois dir·2itos .sucessivos, prédios, enquanto viva for ... ".
isto é, um começa a ser exercido quando termina Por derradeiro, como insistente estribilho, a
o outro; são simultâneos no usufruto. No fidei- estereotipar frisativam·ente a sua int•cnqão, o
comisso, a propriedade é do fiduciário, a prin- testador, ao instituir sua mul.her sua única e
dpio; o usufrutuário não a tem; cabe a este o universal herdeira, ainda uma vez consignou que
uso e gozo; àquele, uso, gozo e domínio, embora lhe deixava - "alem do usufruto dos prédios
temporário, resoluvel (Maximiliano, sucessões, à rua S. Bento e Libero Badaró, os moveis do
II, n. 1. 257) . prédio ela rua S. Bento, a Chácara do Beliche,
São noções correntias, mas não é inutil re- em S. Bernardo, e mais bens que poõsua ou
Iembrá-las. venha a possuir". Aí, portanto, fez el·e a dis-
4. - Teria o Dr. João Alvares de Siqu·eira tinção entre os dois direitos reais: - o de usu-
Bueno deixado a propriedade, ainda que restri- jnlto, referente aos prédios da rua S. Bento e
ta e resoluvel, dos mencionados prédios à sua rua Líb~ro Badaró, e o ele propriedade a incidir
viuva, por forrrm que se caracterizasse uma ins- na chácara, outros prédios e mais bens qu·e pos-
tituição de fideicomisso? suísse ou viesse a possuir.
Por. ·conseguinte, o que ele quis deixar, e
Lendo-se a v-erba testamentária em exame,
efetivamente deixou à sua viuva, quanto aos
tem-se, logo de início, a impressão de que real-
dois. questionados prédios, foi a.penas o usu-
mente assim o determinara o testador, quando
fruto.
disse: - "Deixo meu prédio à rua São Bento, 89,
5 -Objeta-se, no entanto, que os sobrinhos
e o prédio n. 104 da rua Libero Badaró, a mi-
contemplados na deixa só de futuro, depois de
nha mulher D. Deolinda Cândida Ramos Bue-
morta a viuva, vendidos os prédios e satisfeitos
no ... "
os pequenos legados e des'Pesas, é que receberiam
Mas, essa primeira impressão logo se enfra-
repartidarr1o8nte o resíduo. Cogitar-se-ia, pois, de
quece, diante da restrição que fez a seguir o
Ubera!idades sucessivas, e não simultâneas, como
testador: - " ... que terá o usufruto dos mes- é da essência do usufruto.
mos prédios, enquanto viva for, sem que dos
Poder-se-ia acrescentar que, se o testador
n1esmos se possa tirar dela sua posse". ordenou a venda dos prédios, foi porque não
Foram, pois, ditos prédios deixados em usu- teve em mente transmitir a sua prci]Jriedade aos
fruto, vitalício a D. Deolinda. A definir o sobrinhos, visto que se não manda vender o
usufruto, em contraposição ao fideicomisso, ads- que a outrem pertence.
tringiu-se o testador a afirmar que se não po-
Essas considerações impressionam ao pri-
dia tirar os prédios da posse de sua vi uva. Da
meiro relanço. Ao ca·bo, todavia, de mais pon-
posse somente - 'atente-se bem - pois que
derada reflexão, patenteiam-se de todo improce-
apenas a posse lhe atribuiu. Não aludiu â pro- dentes.
priedade, que a ela pertenceria, se se cuidara Sem embargo de sua defeituosa :redação, o
de iicleicomisso. que transluz das declarações do testador é que
Não é tudo, porem: nas linhas subsequen- o seu intento foi legar desde logo a nua propri·3-
tes, explicou o testador porque deixara os pré- dacle dos referidos prédios a seus sobrinhos no-
clios a sua mulher: - "a-fim-ele que, enquanto meados na deixa, com a obrigaçào de, logo que
viva for, ~ossrt gozar e utilizar-se de seus rendi- os recebessem, morta a usufrutuária, pagar os
(52)
5-2-43 ARCHIVO JUDICIARIO 181
legados, imposto-s e demais d•espe~as, sob ·pena ''encla, foi para estabelecer uma permissão de
de se venderem os prédios para satisfação desses que esta se fizesse, caso os sobrinhos, por falta
pagamentos. Fez-lhes, portanto, um legado com de recursos ou má vontade, não entrassem de
encargo, tambem chamado liberalidade onerosa, pronto com o dinheiro necessário para as es-
ou sub modo (Ferreira Alves, in Manual, La- molas e os pequenos legados.
cerda, XIX, no ·148, pág. 255; Clovis, Teor. Ger., Então ficaria o testamenteiro com a facul-
parágrafo 60) . dade d-e fazer a venda, como anua ou meio
Curando da execução do legado instituído coercitivo para compelir os herdeiros ao cum-
em favor desses sobrinhos, o testador, pre- .primento elo encargo. Assim, temos como abso-
ocupado com que fossem prontamente pagos os lutamente certo que o objeto do legado não foi
legados menores e mais despesas, alvitrou que, se o remanescente do produto da venda dos pré-
os legatários não pudessem "remir" os prédios, dis, mas os próprios prédios".
vale dizer - resgatá-los, exonerá-los, alforriá- E' o que, por igual, afirma o Curador de
los desse onus ou encargo, fossem eles vendi- Resíduos, em .seu parecer a fls. 266. E é tam-
dos, para que tais pagamentos se efetuassem. bem o que, em.bora com menor precisão, vela-
Assim dispondo, cedeu o testador ao seu espíri'to clamente, o reconhe·cem os apelados, a fls. 384.
de minúcia, revelado no testamento, e sobretudo Essa é, realinente, a interpretação exata.
ao propósito de não se retardar o cumprimento ·E' estranho que todos el·es, com evidente in-
de suas derradeiras e generosas vontades. congruidade, se batam pelo fideicomisso, não
obstante decorrer de "uas asserções a simulta-
Podia certamente o testador, com mais pro- neidade das duas transmissões. Se, com efeito,
priee!ade, ter prescrito que, com reserva do usu-
o objeto do legado aos sobrinhos foram os iPró-
fruto em favor de sua viuva, deixava os pré- pzios prédios, e não o remanescente do produto
dios a seus mencionados sobrinhos, com o en- de sua venda, e à viuva coube apenas o usu-
car•:so de pagarem estes imediatamente os pe- fruto desses imoveis enquanto vive2se, é óbvio
quenos legados e despesas desde logo vendidos que não é possível falar-se em transmissões su-
para esse fim . cessivas, senão simultâneas: e, por via ele con-
Manejando, porem, canhestramente o verná-
sequência, não hâ co-gitar-se de f'icleicomisso
culo, preferiu ele usar de redação inversa, de
senão de usufruto, tal como o denominou acer-
seguro por emprestar maior energia e relevo à
tadamente o testador.
sua determinação de que se cumprissem sem tar-
Mortos quatro dos referidos legatários, ti-
dança aqueles encargos, sabedor, como era, por
tulares de nua propriedade, os seus direitos se
ser advogado, das alicantinas com que não raro
transmitiram aos seus herdeiros, sujeitos ao en-
se entorpece o andamento dos feitos e se eter-
cargo ou obrigação a que nasceram jungiclos.
nbzam os inventários. Aliás é de preceito que 7 - Segundo a conhecida lição de Gouvêa
nas declarações ela vontade se atenderá mais Pinto, aceita por Teixeira de Freitas (Testa-
a sua intenção que o sentido literal da lingua- mentos, parágrafo 230), e outros jul'istas, inclu-
gem (Cód. Civ., art. 85). sive Maximiliano (ob. e vol. cits., n. 1.2•58),
6. - E' de notar-se, aliás, que estão mais deve entender-se, no caso de dúvida, que há
ou menos de acordo todos os litigantes em que fideicomisso, sempre que o testador ordenar
legados aos sobrinhos foram efetivamente os "paGsagem de bens" a outrem, por morte do
prédios e não apenas o remanescente de seu prianeiro nomeado. embora em relação a este fale
preço. E' assim que Juvenal Ramos Barbosa em usufruto.
e demais sucessores de D. .Benedicta Ramos Importa deseJe logo. assinalar que, na espé-
Barbosa, não obstante pleitear o fideicomisso, cie, o testador não falou jamais em "passagem
dizem com acerto, a fls. 365; - "Nunca se pode de 'bens": não cometeu a sua viuva a tarefa de
fazer o acessório prevalecer contra o principal. transmitir ou ,passar os bens aos sobrinhos.
Se os encargos eram pequenos e valiosíssimos os Não. Usando da primeira ,pe:osoa elo ·indicativo
bens deixados aos sobrinhos com a obrigação ele presente, deixou ·ele próprio os ,prédios aos so-
satisfazê-los, não se pode dizer que a intenção brinhos favorecidos, embora subordinando a li-
do testador era a de que se vendessem os pré- berdac!c ao já aludido encargo.
dios para o }Xt@'alnento elas es1nolas e legados. O!Jsen·e-se, toclrrvia, que a rcgrrt ele Go.u•·êa
e não a de que os sobrinl1os os guarelassem, ]X1- Pinto .perdeu ele muito o seu prestigio, depois
gando e satisfazenclo os encargos. Se falou n~, da crítica judiciosa <o convincente que Ih~ fizc-
(53)
182 ARCHIVO JUDICIARIO 5-2-43
ram jm·istas da estatura de Carvalho Mourão, cisivo. Si deve sempre por mente alio scopo
Clovis Bevilaqua e Mend·es Pimentel, em pare- pratico, ·economico da essi propostosi, al' id
ceres emitidos ao propósito da interpretação de quorl actum est e provedere in coerenza com
cláusulas testamentárias, em que se !azia refe- quella forma giuridica che megllo risponda
rência a "'Passagem de bens". alia volontá delle parti. Fissara la vera ca-
"Salvo o respeito devido a tão altas autori- ratteristica giuridica, !I nomen i!Lris, é Cipera
dades - diz Carvalho Mourão - não é tal cri- de dell'ordinamento giuridico per organo dei
tério decisivo, por si só, para interpretação de giudice". - FADDA, Pareri giurdici, p·g. 8.
cláusUla ambígua, na qual seja duvidoso se a Na hipótese em estudo, porem, nenhuma dú-
verdadeira intenção do testador foi instituir um vida é possível. O testador não ordenou passa-
fideicomisso, ou um usufruto. gem de bens. Beneficiou direta e simultanea-
"De fato, para que tal critério fosse seguro, mente a viuva e os sobrinhos: est.es com a pro-
Seria mister supor que os testadores são pro- priedade, aquela com o usufruto. Não errou
fundamente versados em direito, conhecedor~s no qualificar a instituição. Chamou-lhe quatro
de uma de suas maiores sutilezas, tal como a vezes usufruto e ainda explicou que sua viuva
concepção do direito real de usufruto como apenas devia ser mantida na posse dos prédios,
para que pudesse "gozar e utilizar-se de seus
um desmembramento dlo domínio, passando
rendimentos, enquanto viva fosse". Desse modo
desde logo a sua propriedade para o segundo no-
definiu-lhe e limitou-lhe os direitos.
meado, a-pesar-de serem os bens entregues ao
Nem uma só vez falou o testador em fidei-
usufrutuário, em cujo poder ficou enquanto não
comisso, instituição que, como advogado mili-
se extingue o usufruto.
tante, não podia ct-2sconhecer. Por conseguinte,
Este fato é que fere a atenção dos leigos, e não há cogitar de fideicomiso, senão de usufruto,
nada é mais natural do que a concepção vulgar tal como o declarou, repetidamente, insistente-
de que, mesmo no usufruto, só passam os bens, mente, o testador.
para o nú proprietário por parte do usufrutuá- 8 - Doutrina a esse respeito Carvalho Mou-
rio''. rão, em seu já citado parecer:
"E' certo - pondera [M)endes Pimentel - "A denominação dada pelas partes aos atos
que os juristas diferenciam ontologicamente o jurídicos só não deve prevalecer quando do con-
usufruto do fideicomisso, dizendo que na heran- junto da estipUlação ou da disposição resulte
ça ou legado de usufruto há duas liberalidades claramente que outra é a natureza jurídica do
diretas, em virtude das quais, para logo e in- ato que se trata de classificar.
dependent·emente de qualquer condição, per- "Não há dúvida, porem, que deve prevalecer
tence a um instituído o usufruto e a outro a nua a interpretação que está de acordo com a deno-
propriedade, - ao passo que no fideicomisso minação dada ao ato pelo testador, pois é este
os dois benefícios são devolvidos, não simulta- um dos meios de expressão de sua vontade. não
neamente, mas sucessivamente. contraditada, de modo inequívoco, por qualquer
"O vulgo, porem, não faz estas distinções outra expressão por ele empregada.
sutís. No usufruto vitalício, o que lhe parece "Todo o mundo sabe quais os efeito.> que re-
· claro é que a propriedade só se transmite ao sultam de uma instituição de usufruto. Poucos,
segundo nomeado com a morte do primeiro, pois porem, sabem quais os direitos e obrigações que
que, enquanto vivo o usofrutuário, é este que resUltam da instituicão de l1l11. fideicomisso, cuja
usa e gaza, da cousa, é este que aparenta as concepção é alheia ao vulgo.
vestes de verdadeiro proprietário ... "Quando, por conseguinte, sejam ambíguas as
"A regra de Gouvêa Pinto peca, portanto, expre~sões de uma verba testamentária, deve pre-
por excesso de rigidez: nem sempre o fato de sumir-se QU9 o testador quü criar um usufruto,
ordenar o testador que os bens passem a outrem e não um fideicomisso, - mistério hierático pa-
por morte do primeiro nomeado significa subs- ra os leigos; porque o que comumente sucede
tituição fideicomissária. Isso importaria afirmar é certa e determ'ina pessoa a quem deve ca-
que são as partes que definem e conceituam irre- ber a plena propriedade por morte do primei-
fragavelmente os institutos jurídicos o que não ro nomeado".
é verdadeiro. Note-se que, no caso na consUlta a que se
"In generale la qualifica data dalle refere o parecer, se falava em passagem de bens,
parti non ha, ne puó averc, un valore de- o que não sucede no caso presente.
(54)
5-2-43 ARCHIVO JUDICIARIO 1.33
"Mais conforme à razão jurídica, é esta ou-~ qu'en cas d'obscuirté ou d'ambiguité du texte,
afin d'aider à l'élucider". (P.ands. Belgs., vo-
tra regra: - a instituição será de usufruto sem-
lume 107, co!. 464, n. 15) .
pre que, coexistindo as pessoas nolfreadas, em
"O que se leva em mira, ao interpretar um
primeiro e em segundo lugar, não resulte mani-
testamento, é averiguar o desígnio do testador,
festamente elas palavras do testamento que hou-
tal qual nesse documento se expressa; d2 <;;orte
ve intenção de instituir fideicomisso".
que, se esse desígnio se evidencia no testamento
Regra que merece os aplausos de Mendes em linguagem clara e inequívoca, não tem lugar
Pimentel, em seu já referido parecer, no qual a &2U respeito a inter,preta.ção jurídica".
ainda invoca, em seu abono, as autoridad•2S Transcreveu sobre o assunto trechos de
de Fada, Aubry e Rau e Carla Losana. Blackmore e de Donellus, e acrescentou:
Não dissente o preclaro Espinola: "Na hipótese, a constituição do usufruto não
"Se a testadora empregou na verba testa- se define unicamente pela denominação com qu3
mentária a expressão usufruto, se esse instituto o testador o designa, senão tambem pela carac-
é o corrente entre pesoas alheias à técnica jurí- .terização jurídica de que se reveste a disposição
dica, se com ele não são incompatíveis as de- da verba onde ele se estabelece" (Rcv. Jur.,
2 200
mais expressões da mesma, lógico e estritamente 1 )·
Predsamente, como na espécie. Alem de
legal é que se conclua pela usufruto, que veros-
por quatro vezes declarar, de modo inequívoco,
similhantemente melhor assegura a observancia
que instituía um usufruto, o testador, definindo
da vontade da testadora". -- Pandectas Brasi-
juridica:mente a instituição, explicou que a usu-
leiras, UI, 2.a Parte, pág. 357.
frutuária apenas teria o usufruto do;;; prédios
A vontade do testador, no caso ora julgado, enquanto viva fosse, sem que dos mesmos se
foi instituir um usufruto, consoante reiterada- pudesse tirar dela a posse, afim de que, en-
mente o declarou. No conjunto das disposições quanto viva fosse, pudesse gozar e utilizar-se de
testamentárias nada exist-2 que se oponha a seus rendim·2ntos, sem embaraço algwn. Usu-
essa instituição. Assim como nada justifica r< fruto, portanto, na denominação e na substân-
interpretação favoravel ao fideicomisso, insti- cia. Nada mais claro.
tuto de que o testador não cogitou e a que não 19- Admita-se, entretanto, que haja dúvi-
!ez jamais referência alguma. das quanto à interpretação da verba. Ter-se-á de
recorrer ao preceito salutar -do art. 1.666, do Cód.
9. - Consultado sobre hipótese sob muitos
Civ., que soa. "Quando á cláusula testamentá-
pontos semelhantes à que se debate nestes au-
ria for suscetível de interpretações diferentes,
tos, ponderou o conselheiro Rui Barbosa:
preval-ecerá a que melhor assegure a observân-
"Cinco vezes articula peremptoriamente e de cia da vontad-e do testador". Ou, como ainda
cu.jus a vontade precisa de criar sobre essa parte mais expressivamente aconselha o art. 1. 761 do
de sua sucessão um. usujndo. Como, pois, ad- Cód. C! v. português, que o inspirou: - "Em
mitir que seja um fideicomisso o que ele criou caso de dúvida sobre a interpretação testamen-
ou pretendeu criar· sobre essa parte de sua he- tária, observar-se-á o que parecer mais ajusta-
rança? do com a intenção do testador, conforme o con-
"Na execução de um ato de última vontade, texto do testamento".
como na de qualquer ato jurldico. o que se pro- Interpretar - diz Maximiliano - é perqui-
ema, e S·e tem de observar, é a delilJeração de rir e revelar qual seja. o Yerdadciro sentido e o
seu autor, tal qual se encontra formulada no alcance das disposições testanwn tãrins (ob.
instrumento". cit_ I, n. 597).
(55>
184 ARCHIVO JUDICIARIO 5-2-43
Lendo-se o testamento, verifica-se que o tBs- côl!juge supérstite, se existir, c aos respectivos
tador, ao mesmo tempo em que consigna pa- herdeiros. Porque, em verdade, nüo é ü? con-
lavras de saurlade à memória de sue~ primeira ceber-se que estivesse no pensamento do testa-
mulher e' expressões de carinho à segunda; em dor afastar dos beneficios de sua generosidade
que rBcomenda missas por intenção de numero- os cônjuges e a prole de seus sobrinhos lega-
sas pessoas, inclusive antigos escravos; em que tários.
perdoa dividas, - estabelece liberalidades sobre- No Brasil, em que o regime legal é o da,
tudo em favor das seguintes pessoas: a) as suas comunhão universal de bens, quem gratifica o
sobrinhas Joaquina Ramos de ·Sant'Ana, viuva, marido quer do m·2smo passo gratificar a mu-
Antonia Carolina Ramos, solteira, e Marcolina lher, e vice-versa. Nos casos excepcionais de der-
Marcilia Ramos, cas~da, filhas do finado Anto- rogação dessa regra. o testador ou doador faz a
nio Alves de Siqueira Ramos, irmão do testador, liberalidade com cláusula de incomunicabilida-
contempladas com a fazendinha Una, no muni- de. Na eE.pécie, isso não se verificou. Ao con-
cipio de Conceição de Guarulhos, com a criação trário, fez o t::stador referência eX}Jressa aos
d8 gado que nela existiJse. p~r ocasião de seu maridos de suas sobrinhas, ccino que a indicar
falecimento; b) os sobrinhos Maria Candida, ca- que tambem eles eram alcançados pelo benefi-
sada com Zeferino Pires de Freitas, Benedita Ra- cio. outrossim, é de sentimento geral que quem
mos, casado com Claudino de Almeida Barbosa, dá aos pais dá aos filhos. Especialmente na hi-
Marcolina Barbosa, casado com Joaquim Mo- póte.s.e vertente, em que os filhos tamibem es-
reira, João Barbosa Gonçalves e Olegario Bar- tavam ligados ao testador por laços de sangue:
bosa, filhos da finada irmã do testador D. Eri- eram seus sobrinhos.
gida de Castro, casada com José de Almeida 11 - Através de seu longo testamento, re-
Barbosa, aos quais deixou os referidos prédios vela-se o inventariado homem piedoEo, magnâ-
da rua São Bento e Libero Badaró, com o en- nimo, de sentimentos delicados, &?m ódios. Não
cargo do pagamento de numerosos pequenos le- lhe esqueceram os parentes, os amigos e até os
gados e outras despesas, prédios esses em cuja antigos escravos, que nominalmente designa.
posse só entrariam depois do falecimento da mu- Remitiu inúmeras dividas e determinou s-o res-
lher do testador; c) a sua mulher D. Deolinda tituissem os títulos aos devedores. Deixou 55
Candida Ramos Bueno, a quem· deixou, alem do pequenos leg~dos, de 1008000 a 3 :0~08000, em
usufruto vitalfcio dos mencionados prédios, to- favor de parentes, amigos, afilhados, instituições
dos os mais bens que possuisse ao tempo da de caridade, pobr·es, morféticos, veUws •criados,
abertura de sua sucessão, na qualidade de sua filhos de escravos, igrejas, etc.
herdeira universal. Repugna em absoluto acreditar que esse ho-
mem bom e justo tivesse sequer concebido o
Não estabeleceu o testador substituição algu-
propósito iníquo e odioso de privar de sua
ma. entre os beneficiados. Conclue-se dai que,
munificência, sBm motivo algum conhecido, que
em relação a cada. um d·2les, e2gotou a. sua libe-
nem sequer se aventa, os cônjuges de seus so-
ra.lida.de com a.s deixa.s que lhes fez. Deu-lhes
brinhos beneficiados e em particular os filhos
tudo qua.nto lhes queria. da.r.
destes, seus sobrinhos-netos, quando é certo que
Assim, tendo falecido quatro dos sobrinhos
rigorosamente cumpridos até os legados deixa-
a quem o de cujus legou os prédios da. rua São
dos a estranh<ls.
Bento e rua Libero Badaró, antes que se ven-
cesse o termo estatuido para entrarem em sua Náo se presume que estivesse em sua inten-
posse (ou seja o falecimento da usufrutuária), ção esse propósito odioso, porque não é o que
nada justifica a pretensão alimentada pelos ape- comumente acontece. e não podia ter acontecido
lados, no sentido de haver os quinhões dos pré- com o testador, cujos sentimentos de bondade,
mortos passados à viuva, a quem teriam eles transborda todas as linhas de seu testamento·
post·::;riorrnente sucedido. Nem tampouco se le- Não pode ser recebida são palavras de
gítima a pretensão do le-gatário sobrevivente, Mendes Pimentel - intcr.pretação que tão ra.s-
que m;pira a recolher sozinho, ·por direito de gadamente contraria a intenção manifesta do
acrescimento, as quotas deixadas aos seus co- testador. E essa interpretação é a que pretende
legatários pré-falecidos. vislumbrar fideicomisso na in,tituição a que o
A sol uc;üo legal, equânime e justa, consist.:: "ele cujus" c.hamou c reclamou, tornou a cha-
eln acljuclic~u-se o quinháo de cada um ao seu J mar e a reclamar usufruto e só usufruto.
(56)"
5-2-43 AHCHIVO J UDICIAHIO 185
Como de usufruto eleve, pois, ser consid~ Tamben1 se imp"dirá nue ess:·s bons se dis-
racla a instituição. Porque só assim se terá persem entre os herdeiros da viuva, contraria-
respeitado e cumprido, não só o que disse ex- mente à :presumiria intenção do testador, que,
pressa e claramente o testador, senão tambem a em relação a ela, exaurira, a sua Jib::raliclade,
sua vontade manifesta e presumida, única com- fazelldo-a .sua herdeira universal, al2m de pro-
patível com os seus nobres e altruísticos senti- piciar-lhe o mencionado usufruto, durante sua
mentos. longa existên·cia. E é certo que, quanto aos ou-
tros seus parentes, deixou-lhes dir·::tamente o de
12. - Acrescente-se que, ao tempo em que
cujus os bens com que lhe a·prouvera gratifi-
foi redigida a cédula testamentária, em 1911,
cá-los, não sendo razoavel superaquinhoá-los
antes, portanto, da vigência do Código Civil, se
com outros bens, em detrimento do.:; que, por
admitia no direito pátrio, no consenso de suas
justiça e de acordo com o sentiment.o g·?ral,
mais conspícuas a utoridaclcs, a transmísibilida-
devem recebê-los.
de da spes debitwn iri. Eram com 2feito, dessa
opinião Coelho da Rocha, Carlos de Carvall1o, 13 - Ocorre, por derracl2iro, que a admitir-
Pedro Lessa, Melo Freire, Velasco, Candido Men- se a ver2ão elo ficlei2omisso, em relaçáo ao le-
des, Trigo de Loureiro, Lafayette, Mafra, Silv3. gado instituído pelo testador em favor cl2 seus.
Costa, Francl~co de Sá, Souza Ribeiro, Ferreira referidos sobrinhos, forçoso tambem seria atri-
Alves c outros. Em campo oposto, de fora par- buir-se idêntica classificação aos 55 pequenos
te Bevilaqua, só avultava o grande Teixeira de legados ele quantias certas, no total ele réis.
51:5002000, que ele determinara fossem pagos.
Freitas, cuja genialidade, segundo o refere Pe-
por aquel:s legatários, com r2curso3 p1·óprios, ou
dro Lessa, já começava a mergulhar na noite da
com parte do produto ela venda elos prédios, de-
insônia, quando afirmou que o fideicomissá-
pois da morte de sua vi uva. E' de supor-2e que
rio tinha apenas uma esperança ·teologal in-
as pessoas contempladas com ess<!s pequenos le-
transmissível - (Cons., 3.a ed., nota 14 ao
gados já morreram em sua mór parte, nestes
art. 420). Lvcução que ninguem jamais logrou
quas.e 30 anos que mcdeiaram entr.8 o faleci-
decifrar (Espinola, ob. e loc. cit.) .
mento do testador e o ele sua vi uva. Com::> fidei-
Opinião domi:aante, por conseguinte, ao comisws, tais legados estariam caducos e nã.o se-
tempo da fação do testamento era a de que, riam pagos aos herdeiros dos lega tirios ( Cód.
quer no fideicomisso, os direitos do segundo no- Civ., art. 1.?38). Iric11·.< ou para as mãos que plei-
meado se transmitiam a seus herdeiros. E assim, teiain o acrescin1entc ou p.1ra as do':i llerdejros.
no caso, não t2ndo o testador feito qualquer da viuva, contrariando-Ee, de um modo ou de
restrição ou ressalva que obstasse a essa trans- outro, mais uma vez, a vontade do testador.
m!Esão, deve concluir-se que o ~eu desejo era de 14. - Relembra Maximilian.o, taxando-a de·
que ela, de fato, se operasse, na forma de dir·2ito, esclarecedor e seguro, o preceito de Marcelo, que
ainda que se culelasse ele fideicomisso. I diz em vulgar: - "Não convem apartar-se ela
Entretanto, certament·o porque soube;ose, significação das palavras senão quando é mani-
como advogado, que a matéria era passível de festo que traduz.em causa diversa do que pen-
controvérsia, em que se tratando de fidei2o- sou o testador" (Ob. cit., n. 607, in fine,
mlsso, timbrou ele em afiançar, tantas e tão pág. 623).
repetidas vezes, para assim afastar a possibili- Se o testador. invariavelmente, só falou em
dade d·o dúvidas, que o legado que instituia era usufruto. e jamais em fideicomisso, por que con-
de usufruto em favor da viuva e, por via de siderar fideicomisso e não usufruto a sua insti-
con<:equência, de propried:tde eni favor dos so- tuiçáo, jja<·,·, dessa Jr.a!l~ü·a fnlsear-lhe os cristn-
brinhos. linos propósitos ,desviando-lhe os bens de seu
Interpretada desse modo a verba test:~men natural destino, com violência à sua presumida
tária, evitar-se-á a injustiça pretendida p2lo le- vontad2?
gatário sobrevivente (ora representado por seus Por todas as razões expostas, a solução jus-
herdeiros) ele recolher s.ozinho, em sua totali- ta, jurídica e hllm"r,q ';lle curesp•.ucle à letra
dade, o legado, o:Julentando-se com os pr·".iuizos e no CS]círito elo tc'stmnento. é n que atribuí,
dos su·c2ssores clo3 legnt:"trio.s ,pré-n1ortos. E' n i con1o ora é dc:tenninaclo. r:s quotas elos legatá-
solução ploite:1cla pf'lo~ que propugnam o fidci- 1 rios pren1ortos ao3 seus cônjug2s supérstites. se
comisso con1 clireito ele acrescer. 1 existirem e aos ECUs hcrclei!·os (que d<"Yerc1o !n-
(57)
186 ARCHIVO JüDICIARIO 5-2-43
bilitar-se), com o rflizoavel, que será fixado pelo Março de 1941, a quantia de 76:573$600, que ali
juiz, os legados e despesas determinados pelo tinha em depósito.
·testador, sob pena de se venderem os prédios, Foi, então, pedida a destituição do inven-
·para que sejam satisfeitos sem demora tais pa- truiante, mas o Dr. Curador Geral opinou pela
·gam-entos. Desse modo a sua vontade será cum- sua audiência, afim de explicar o destino dado
prida. São assim providas as apelações de fls. áquela quantia.
::345 e seguintes e 368 e seguintes. Prejudicada Representado por seu advogado, respondeu
:a de fls. 354. o inventariante que realmente levantara o di-
São Paulo, 1.0 de Outubro de 1942. - nheiro em questão, quando ainda era viva a
'Theodomiro Dias, Presidente e relator. - Mei- inventariada, de modo que não tinha contas a
·.relles dos Santos, revi:>or. prestar sobre o que fez com ele. Acrescentou
que qualquer reclamação só poderia ser feita
depois das últimas declarações do inventarian-
te, as quais ainda não haviam sido prestadas,
Apelação civel n. 16.916 e, quanto à sua destituição, por sonegação de
(JAÚ) bens, não se poderia falar nisso em processo de
inventário, pois envolvia questão de alta inda-
:Inventariante; soneg(LÇãn de bens; remoção.
Pena de sonegados; aplicação. Cod. gação e a pena de sonegados só pôde ser imposta
Civil, arts. 476, VI; 1.781, 1.784; Cod. em ação ordinária .
do Proc. Civ., art. 466.
Os interessados continuaram reclamando a
Vistos, relatados e discutidos estes autos destituição do inventariante, mas não foram
'tle apelação n. 16.916 da comarca de Jaú, em atendidos e o inventário, aliás arrolamento,
.que é apelante o Dr. Curador Especial e são prosseguiu .
:apelados José Secagno e outros: Como em sua última declaração o inven·
José Secagno requereu, no fôro de Jaú, a tariante continuasse a nada dizer sobre o pa-
:abertura de arrolaiJ:?.ento dos bens deixados com radeiro do dinheiro, pediu o Dr. Curador Es-
:a morte de sua mulher, Emilia Facchi Secagno, pecial a sua destituição, e não sendo atendido,
por serem eles de valor inferior a dez contos interpoz agravo no auto do processo.
·de réis. Prestado o compromisso, declarou a Fez-se a partilha e o herdeiro que, como
ex,istênoia de herdeiro no estrangeiro, sendo procurador do inventariante, levantara o depó-
·nomeado curador especial para defender os seus sito bancário pediu a adjudicação do único bem
jnteresses. descrito, mediante reposição em dinheiro das
Herdeiros não representados pelo advogado partes dos demais herdeiros, o que foi con-
>do inventariante logo impugnaram as suas pri- cedido.
meiras declarações, alegando o seguiu te: o valor Apelou, então, o Dr. Curador Especial da
do imóv-el descrito era superior ao declarado; sentença que julgou a partilha e o seu recurso
-a descrição tinha omitido a existência de um merece acolhimento.
·barracão ao lado do mesmo imóvel; omitidas Dispõe o Código ele Processo Civil que o
llaviam sido dividas ativas do espólio e, prin- inventariante poderá ser removido, a requeri·
cipalmente, o inventariante não mencionara a menta de qualquer interessado, entre outros
existência da quantia de 76:000$000, que esti- casos, "quando sonegar, ocultar, desviar, ou de·
vera depositada em banco até doze dias antes lapidar bens do espólio" (art. 476, VI) .
·da morte- de sua mulher. f:, tambem, o que diz o Código Civil:
Ouvido o inventariante, deu explicações "Art. 1. 781 - Além da pena cominada no
:sobre o barracão e as dividas, mas esquivou-se artigo antecedente, se o sonegador for o pró·
-a dizer qualquer· coisa sobre a existência da- prio inventariante, remover-se-á em se pro·
quela quantia, sob o pretexto de que os her- vando a sonegação, ou negando ele a exisif;ência
·deiros queriam agitar em processo de arrola- dos bens, quando indicados".
mento questões de alta indagação. Como se vê, a sonegação, ou a ocultação
Solicitadas informações do banco, onde es- pôde ser feita pelo herdeiro, ou pelo inventa·
tivera depositado o dinheiro, confirmou o fato, rinnte, seja este herdeiro ou não.
pelo ofício ele fls. 33, no qual, declara que o Quando feita pelo herdeiro, a sanção é a
inv2ntariante levantara de uma só vez, em 3 de pena prevista no art. 1. 780, ou seja, a perda dO
(58)
5-2-43 ARCHIVO JUDICIARIO. 187
direito qu" sobre os ditos bens tivesse o sone- mente julg•ada. muito mais tarde, de modo que,
gador. Se a esta qualidade, reune o encargo ele quando a decisão viesse, não mais haveria ne-
inventariante, antes da imposição da pena é cessidade da remoção de inventários; todo o mal
tomada a medida preventiva da destituição. que a sua administração pudesse causar já es-
Quando não é herdeiro, como no caso elos autos, taria causoJ.do. E convem lembrar que, quando
mas apenas inv"ntariante, basta a medida de foi promulgado o Código Civil o processo não era
segurança da remoção. rápido como agora, podendo uma ação ordi-
A pena, isto é, a perda do direito aos bens, nária arrastar-se durante anos.
é que, nos termos do art. 1. 782 do Código Civil De resto, declarando o Código de Processo
só poderá ser imposta em ação ordinária, o que Civil, no artigo 466, que "o Juiz poderá decidir,
se compreende pela sua gravidade. A simples no inventário, quaisquer questões de direito e
remoção, não, porque é feita no próprio inven- de jato fundadas em prova documental inequi-
tário e não em processo à parte. voca", não há como recusar ao Juiz a faculdade
de remover o inventariante, quando estiver do-
De outro modo, o viuvo meelro, que rara-
cumentalmente pwvado que çculta bens do
mente tambem é herdeiro e quasi sempre é in-
• espólio.
ventariante, não sofreria qualquer sanção pela
Aplicando-se os princípios acima ao caso dos
ocultação de bens da herança. A pena não lhe
autos, verifica-se, pelo documento de fls. 38, que,
poderia ser imposta, por não ser herdeiro e
apenas doze dias antes do falecimento de sua
rerem as P"nas ele aplicação restritiva, e a re-
mulher, o inventariante levantou, no banco em
moção porque, quando viesse seria tardia.
que estavam d;opositados, bens pertencentes à
Esta tambem é a lição da doutrina.
comunhão. no valw de crs 76.573,00. Eslle
"A pena de sonega·::los, de que se ocupa este documento não foi posto em dúvida, tendo,
artigo, é a perda do direito qué teria o sone-
ao contrário, sido a veracidade dos seus ter-
gador, sobre o bem que ocultou ou não res-
mos expre--.3Samente confirmada pelo próprio in-
tituiu".
ventariante.
"A remoção do inventariante é ato de ju-
Prestando as primeiras declarações, omitiu
risdição administrativa, em que o juiz aprecia
ele este fato e a existência do dinheiro em
as provas, sem o rito do processo contencioso
seu poder. Denunciada a ocultação, não a negou,
ordinário". (Clovis Beviláqua - "Cód. Civil dizendo ainda que não devia explicações sobre
Comentado", v. VI). o destino dado a tais bens. Em suas l!ltimas
Não discrepa o f·estejado Carvalho Santos: declarações, ainda mais acrescentou a não ser
"Em se provando, pois, a sonegação, o in- que não havia bens a sobrepartilhar.
ventariante será, muito merecidamente, destl- A sonegação é ~clara, evidente e até acin-
tuito do cargo remoção essa que pode ser feita tosa. Impõe-se a medida pl·eiteada, de remoção
r.o próprio processo de inventário, pois trata- do inventariante, o que importaria no provi-
~e de ato de jurisdição administrativa, sendo mento do agravo no auto do processo.
bastante a prova jeit:x com docun:r?ntos". (Có- Este recur.so fica, porem, prejudicado, por-
digo Civil Interpret., vol. 25) . que, uma vez verificado que os bens do espólio
A tão autorizadas opiniões, ainda se pode são d·e valor superior a dez mil cruzeiros, o
acrescentar o seguinte: nos termos do artigo processo não poderia ter sido, como foi, o de
1. 784, do Código Civil, "só se pode arguir de arrolamento e sim deverá ser 0 de inventário.
sonegação o inventariante, depois de encerrada Pelo exposto,
a descrição dos bens com a d·eclaração, por ele
Acordam, em Segunda Câmara Civil do Tri-
feita, de não existirem outros por inventariar e
bunal de Apelação, dar provim2nto à apelação
Partir, e o herdeiro, depois de decl-arar no in:
interposta. para o fim de ser anulado t{)dO o
ventário, que os não possue".
processo e começado outro de inventário, com a
Ora, 0 inventário fica encerrado com as
nomeação de inventariante idôneo.
·últimas declarações do inventariante, seguindo-
Cust•as pelo inventariante.
se logo a liquidação e a partilha, que deverão
Sã.o Paulo, 20 de Outubro de 1942. - Mario
ser concluide.s rapidamente, pois, !Jara todo o
Guimarães, Presidente, com voto. - Perch·al
Processo, a lei marca o praz.o cte 90 dia·;:;.
de-oliveira, relator.
Uma aç.ão de sonegados, entretanto, mesmo
~arrendo sem incidentes, só estaria deflnitiva-
i59J
188 ARCHIVO JUDICIARIO 5-2-43
(60)
5-2-43 ARCHIVO JUDICIARIO 189
O Brasil tem uma. extensão de 8. 525.000 qui- que aí vivem deyem trazer o específico para a
lômetros quadrados. Sua população, computada urgente medicação. Nesses ca.5.os não se v-2rifica
em cerca de cinquenta milhões de habitantes, o exercício ilegal da medicina.
é escassa em relação à sua extensa superfície. Compõe-se a lei de dois elementos. Um, cor-
O movimento expansionista de nossos bravos co- póreo, extrínseco, material. E' o seu texto. Ou-
lonizadores espalha-se por todos os quadrantes tro, intrínseco, incorporeo ;. E' o G·eu espírito, o
do grande território. O brasileiro é o audaz seu alcance, o seu sentido, a sua. finalldacle.
bandeirante de sempre. Caminha para o norte, Cumpre ao intérprete examinar tudo isso, esta-
avança para as minas, irradia-se para o oeste, belecer a esfera da ação da lei, fixando-lhe o
e busca as terras do sul. Foge às soalheiras, in- campo de sua aplicação. A lei é um critério.
vade as selvas, procura os chapadões, transpõe Não é instrumento de opressã::J e de injustiça.
montanhas, atravessa rios, mergulha-se nos ser- Amoldá-la à realidade, ajustá-la às necessidades
tões, infiltra-se nas terras ferteis. As corren- da viela, descobrir-lhe o fim social, flexibilizá-la,
tes migratórias giram em todos os sentidos. eis a missão do Juiz na difícil arte da interpre-
E' esta a demonstração inequívoca da ener- tação e da adaptação elo texto abstrato ao caso
gia e da vitalidade de nossa gente, que funda concreto.
ni:Wleos de população em todos os setores. No cas::J em debate não se demonstrou te-
Mas p::lr este brasis ainda não há vias de nha o apelado ·exercido ilegalmente a medicina.
comunicação para todos os pontos. Só a audá- Não há nos autos a menor prova ela habituali-
cia permite que o homem galgue fazendas, e dade na profL<são, elemento necessário à con-
vilas abertas em locais quasi inacessíveis. Faz- figuração desse delito continuado. Nunca se
se a viagem do centro populoso mais próximo consider::Ju médico, nem existe no processo qual-
por caminhos ínvios, entre pedras e matagais quer ato doloso ou culposo por ele praticado.
quer nos planaltos, quer na fralda ou na ver- O aUJelado, farmacêutico licenciado, moureja
tente das grandes serras. Nessas paragens, onde há doze anos na estação Dr. Matos, da Com-
não vai o médico, seria deshumano exercer a re- panhia Leopoldina. Só em Cardoso Moreira, que
pressão contra os que, iniciados na arte de curar, dista quatro léguas da localidade, vivem médi-
prescrevem e ministram medicamentos aos do- cos. Aires de Souza Moreira foi chamado para
socorrer D. Esmeralda Freitas ele Andrade. Era
entes. O entendido é, muita vez, movido do sen-
grave o seu estado. Definhada, clorótica, a par-
timento de solidariedade humana. Seu simi-
turiente, sofrendo dores cruciantes, esforçava-
lhante nã::J possue ceitil. Vive em palhoça na
se por expelir o feto. O réu, que acudiu ao cha-
ignorância e na miséria. Necessita que alguem
mamento por motivo de solidariedade humana
alivie suas dores. A outros lhe não faltam
e por ser amigo da família, sentiu a. angústia do
meios. O facultativo, porem, está ausente, ou
reside léguas e léguas distante. Acometidos de I
1
caso. Viu que a doente perdia as forças. Notou
que a morte se aproximava. Mandou, então,
molestias, valem-se dos que podem minorar seus
c11amar médico por via telefônica. Enquanto
padecimentos. Aquele que indica remédios, pro-
aguardava a vinda do facultativo, que seria de-
pina preparados, dá conselhos, em casos tais, nãe> morada, usou dos recursos aconselhaveis. Inje-
deve ser punido, porque não viola a lei. Ocor- tou-lhe es,parteina, pituitrina e óleo étero-can-
re o mesmo com a parteira do sertão brasileiro, fcrado. Tonificou-lhe, desW.rte 0 coração; faci-·
forçada, por circunstância irremovivel, a fazer litou-lhe as contrações uterinas necessárias ao
partos. esforço da parturiente para a abertura do colo
Quem ocasionalmente prescreve meios tera- elo útero, da vagina e ela vulva, afim de ser ex-
pêuticos não incide na disyosição penal. Jornais, pelido o feto; proporcionou-lhe, finalmente, a
cartazes e revistas anunciam preparados. Os lo- reaquisição das energias perdidas.
cutores de estações de rádio fazem reclamos de Percebeu que o feto estava sem viela. com-
remédios para os nervos, fígado, baço, coração, preendeu que a mãe se encontrava em estado
intestinos ... A Saude Pública aconselha que os desesperador. A vista disso, lançou mão dos ter-
moradores ele zonas pai udosas tenham quinina ras. Fez inuti! intervenção, tentando extrair o
em suas casas. O soro antiofídico é recomenda- feto. Não o conseguiu. Observando que a mor-
do pelos próprios poderes públicos. Nas regióes, te se avizinhava ela parturiente, inoculou-lhe
anele são con1Ul1S certas endemias, as populações sol'O fisiológico. Tudo em pura perda. A doen-
{62)
5-2-43 ARCJIIVO JUDICIARIO 191
(64)
5-2-43 ARCHIVO JUDICIARIO 193
JULGADOS E PARECERES
sula testamentária, atendendo-se mais à inten~ BarroF5, lhe prestou gratuitrunent.~ os seus ser-
ção do testador do que ao seu sentido li teraJ, vicos. ou 1nelhor, lhe geriu todos os seus bens
contido no art. 1. 666, desta =esma legislação. sem jamais receber qua.isquer gratificações ou
Como diz e hem o egrégio Clovis, "é a vontade comissões, e "Or essa rázão foi que, em retribui-
do testador que o testamento exprime e o di- ção. o "de cujus" ord·enou que, por sua morte,
reito quer que se cumpra. Como regra ca.p!tal se lhe deixasse o legado de CrS 100.000,00 (cem
de interpretaçã,o das cláusulas testamentárias, mil cruzeiros) que deveria ser deduzido de sua
prevalece o principio: atenda-se à vontade ex- fortuna disponlvel em favor daquele seu antigo
pressa do testador" (Código Civil, Rio, 1939, 5" procurr.rlor (cert. d-2 fls. 28-v. in- fine) .
€d., vol. VI, pág. 126) . E outra, aliás, não é a Pergm!ta-se: !:'o r que haja com ·efeito o be-
lição de Aubry et Rau: Les dispositions de der- neficiário sido "rocurador e administrador dos
niére volonté qui ont besoin d'être interpretées, bens do "de cujus" sem jamais exigir e muito
doivent l'êt1·e d'·aprés l'intention presumée de lew· menos receber quaisquer gratificações ou comis-
auteuri Le juge doit, avamt tout, rechercher cette sóP.s, a v2rba testamentária em questão deverá
intention dans l'ensemble des clauses d1L testa- constituir let;adu ou ]JagameHto?
ment, ou des testa.ments s'il en exist'e plusieurs. Tenho para mim que não se trata de paga-
en s'attachant moins au sens technique des ter- mento "poot-mortem", mas, ,pelo contrário, de
mes. dont il s'est servi, qu'à l'acceptMion dans um legado.
la.quelle il les a vraisemblement employés d'a.prés I F. se assim decido não o faço em absoluto
ses habitudes cte langage. Subsidiairement. il por causa do emprego do termo - "legado" -
consultera la position personnelle du testateur, no testamento, porqu-2, em verdade, o uso da-
ses rapports avec ses parents et les légataires, quela palavra na ignorancia da term.inologia ju-
et• les usages d1L pays. ( Cours de Droit Civil ridiC:1 da expressão pelo seu autor não pode em
Fra.nçais, Paris, Marchai et Godde, 5" ed., 1919, absoluto ]JrevaJeeer sobre a presumida intenção
Tomo XI, § 712, pág. 436) . do testador, frente ao que dispõem os arts. 85
Por conseguinte, não resta a menor dúvida e 1. 666 do Código Civil.
que o Juiz, no oficio de intérprete das cláu- OUtras são as razões de decidir a espécie
sulas dos testamentos, deverá apegar-se menos submetida a julgamento. Com efeito, se o pró-
ao sentido técni-co e verbal dos termos do que prio testador confessou e confirmam unanime-
à intenção do autor das disposiçõe.s "mortis-
mente seus herdeiros que o "de cujus" t-2ve a
causa" e que someut-2 poderá ser bem inclagada
intençã,o de retribuir por meio daquela dispo-
€ melhor compreendida na posição do testador,
sição testamentária os serviços prestados dura:1te
nos atributos de sua cultura e educação, nos
a .sua viela por seu procurad\lr e administrador ele
círculos de suas r-elaçôes afetivas, morais e so-
seus hons, a conclusão que se impõe é de que
ciais, não só frente ao.s herdeiros como no to-
o beneficiário dela exerceu um mandato que se
cant2 aos legatários, e na fixação do fim eco-
opB'l'a quando alguem recebe de outrem 1o<ic~·~s
nômico que o "de cujus" pretendeu obter ao
para, em seu nome, praticar atos ou administrar
emitir determinada declaração de última von-
int2resses, nos termos do art. 1. 288 do Código
tade e no complexo das regras de e~periênc!a
Civil. E sempre se presum<! gratuito o mandato
social que emerg-em do quod plerumque accidit
quando se não estipulou remuneração, exc·eto se
na vid·a social e que, formando uma repe-
o objeto de1-2 for daqueles que o mandatário
tição normal de atos uniformes para determi-
trata por ofi-cio ou profissão lucrativa, na con-
nadas ~ircunstâncias, quer autorizados por lei formidade do art. 1.290 parágrafo único, ela
quer aconsel'lHlúos pela nwral, :taz con1 que st
mesmà." legislação.
presuma qUe .,o [procedimento de todo e qualquer
E na espécie jurídica destes autos, qn2 se
individuo deva ser correspondente à Gonduta
consuetudinária da sociedade. operou o mandato não resta a menor dúvida pois
Ora, na hipótese dos autos, o que se tem que o Dr. Affonso Bandeira de Mello recebeU
por ~erto, nao só porque assim o dizem a viuva procuração de .seu falecido sogro Vic·ente ria
e as filhas do casal (doc. de fls. 201) como tam- Paula Monteiro de Barros com plenos poderes
b2m porque o confessou ex;pressamente o testa- para, em seu nome, gerir e administrar todos os
dor (cert. de fls. 28-v. in-fine), é que real- seus bens, eis que po1· meio daquele instrumen·
m"'nte o Dr. Affonso Bandeira de .Mello, em vida j to surgiu a representação pela qual o mandatáYiO
de seu sogro Vicente ele Paula Monteiro de passou a agir em nome do mandante, obrigando
(66)
5-2-43 ATICHIVO JUDICIAniC' Hl5
teTcciros par~t com cst€ e por sua vez, este para 1 dizia Van Wetter que le payement (solutio)
com terceiros na aclministração ele todo o ,<eu I est la prestation ele ce qui jait l' objet de Z'obli-
patrimonio, já que se não ignora, por que bem o gatzon ( Pandectes,, Paris, Droit & Jurispruclen-
diz Laurent, que Ze mandataire ne jait qu,e répré- ce, 1910, Tomo III, § 285, pág. 3). E mais cla-
senter le mandant; c'est dane le mandant qui ro ainda, dando a impressão de que estatuia.
s'oblige envers le tiers (Précis de Droit Ci·utl, para o caso que se agita na hipótese destes au-
Paris, Chevalier Marescq, 5a etL, 1893, vol. XXVII, tos, o meu velho mestre Lacerda de Alm:eida
n. 334a, pag. 378). Por outro lado, que gratuito j afirmou e bem que "ato de natureza extintiva
foi aquele mandato, tambem não pad·ece düvida o pagamento swpõe e faz presumir obrigação ali-
pois que para a seu exercício não foi estipu!ada terior que lhe serve de causa. Feito portanto
remuneração, havendo até o testador confessadv na suposição d·9 dívida que realmente não exis-
que deixava aquele l-egado ao seu genro porque te·ou de obrigação natural, que por erro se supõe
durante o tempo em que gerira seus bens, jamais civil, o pagam·ento dá lugar ao que E€ chama re-
recebera quaisr.uer gratificações ou comissões, petição do indébito, que é a restituição a que
n·sm o seu objeto ·foi daquele que o mandatá- 1 tem dir·eito o solvente" (Obrigações, Porto _'\.!egre.
rio tratasse por ofício ou profissão eis que o ·nr., Ed. Cesar geinhardt, 1897, § 72, págs. 342-343).
D'"sde, pois, que não existe juridicamente uma
Aff011so Bancleira de Mello era então digno Di-
retor elo Departamento Nacional do Trabalho e, divida não pode haver pagamento mas unica-
em virtude m(}smo desta função pública, tinha mente retribuição, E no dil'-'ito civil a gratidão
ultimamente a proibir-1!1.3 o exercício daqÚela é fonte de retribuição int.er-vivos ou causa-
atividade lucrativa o decreto n. 24.112, de 11 de mortis mas não é causa de pagamento por u.to
Abril de 1934. E quando se não ignora qu'õ no entre vivos ou por disposição de última von-
casd o mandatário era casado com uma filha do tade.
mandante e gosava de sua amizade e admiração, Por conseguinte, se não era licito aO' manda-
mais s2 impõe a ;presunção da gratuidade do tário exigir o pagamento daqueles serviços que
mandato .pois que, segundo obs.erva e bem o sempre prestou ao mandante, como procurador e
próprio Laurent, cela est vrai quand le mandat administrador de seus b-2ns, porque gratuito era
eS't ccnjié à un parent, é une personne qui o mandato, eis <;_ue o seu objeto não era daqueles
veut naus obligcr et qui par son état et pat son que tratava por ofício ou profissão, nem a sua
aisance, est dan~ le cas de le f'-<ire, tanto quanto prestação foi condicionada ao pagamento de
le liens de parenté ou d'amitié qui existent en- qualquer remun-2ração, não há dúvida que, por
tre le mandant et le mandataire impliquent Ze morte de seu sogro, não poderia o seu genro ter
ptus souvent la gratuzté du mandat; pour miem; o direito exigir qualquer pagamento, mas unica-
dire, c'est une circonstance qui milite contre la I
ment~ e de aceitar uma. retribuição no caso e des-
prétention du manda ta ire à un sala ire ( Obr. ~it. li de o momento em que o de cujus houvesse por-
Vo!. XXVIII, n. 345, pag. 390; n. 346, pag. bem .contemplá-lo ex-gratia, como sucedeu na.
391). espécie destes autos a titulo de gratidão. Por-
Nestas condições foi gratuito o mandato. E tanto, se v·atuito era o mandato, o seu exercício
porque houvesse sido gratuito é qu2, jamais o pelo mandatario não poderia criar de forma al-
mandante estaria obrigado a pagar ao mandata- guma para o mandante qualquer divida ou abri-
rlo os serviços que este lhe prestou no exercício gação. E não existe pagamento, na técnica ju-
da procuração, nem o mandatário em tP.mpo rídica ,onde não houver uma divida ou obngação
algum adquiriu o direito de exigil· qualquer re- anterior.
muneração pelo desempenho da representação. E justamente seguindo essa linha de argu-
Ora, na técnica jurídica, pagamento é um tios mentação é que afinal &i! há de chegar à con-
modos pelos quais o devedor extingue a sua clusão de que. realmente a verba testam<mtária.
obrigaçãro [perante o credor. E' um:a forma de im- em questão não !POde ser considerada pagamento
Plemento de obrigação jurídica mas nunca de potlt-mortem, caso em que licito não seria re-
extinção de obrigação mural. !Poa:tanto o paga- duzi-lo com a dedução de quaisquer taxas ou
mento nada mais é do que o efeito de uma obri- im1postos ca"Zlsa-mortis 1nas, pelo contrário, deve
gação jurídica eis que a sua exigibilidade pres- ser entendida como legado que, compreendid:) no
supõe a existência de uma divida anterior. Já u art. 1. 685 do Cócligo Civil, incid-2 por con2e-
(67)
19ô ARCHIVO JUDICIAiUO 5-2-43
guinte no art. 5Q do decreto-lei n. 2. 224, de 23 Ruggiero, senza fare menzione rlel suo debito, ta
de Maio de 1940. un legato a un creditare, pane come regala una
presunzione in favore del legatario; il legato si
Pouco importa que para o seu reconheci-
presume fatto non per pagare il debito, ma per
mento se alegue até mesmo que o débito con-
compiere una liberalité (Ins·tit<uzioni di Diritt-:>
fessado pelo testador deriva de um titulo gra-
Civile, Milano, Messina Ed. Giuseppe Principato,
tuito como seja o mandato, pois que para a sua
1935 Vol. III, Cap. XXXV, § 150 pág. 683) .
existência, como observa Pacifici :M,azzonl, null"
rileva che il débito sia legale o convenzionale; Poder-se-ia entãd argum,entar que na hi-
che derivi da titolo oneroso o gratuito;. che am-/ potese dos autos, como houvesse o testador dito
monti a som ma eguale, maggiore o minore del que deixava tal legado - ao meu genro Dr.
valore del legato; che sia diversa o della stessa Affonso Ban/'teira de Mello, Diretor do Devarta-
natura deZ legato (Instituzioni di Diritto Civile mento Nacional do Trabalho, o qual durant~ o
Italiano, Torino Utet 927, 5.1 ed., Vol. VI, Par- 'tempo em que geriu meus bens jamais recebeu.
te 2"" n. 327, pág. 428) . A circunstância do tes- quaisquer gratificações ou comiStsões - a con-
tador have~r dito e expresso que legava determi- clusão é de que este reconhecimento de dl-
nada importância em moeda corrente ao seu vida fez com que desaJParece.sse o seu caracter
genro pelo fato deste haver administrado os de liberalidade que distingue o legado ;puro e
seus bens sem jamais receber quaisquer gratifi- simples do legado remuneratório que atua como
cações ou comissões não tira àquela verba tes- dação em pagamento. Mas a lei não distingue
tamentária o carater de - legado - para torná,. o legado puro e simples do legado remunerató-
la em dação em pagamento - pois que neste rio para os efeitos da legislação fiscal. E' bem
caso uma regra de experiência soCial mandaria verdade que para credor que não pode exigir e
que o de cujus confessasse eXjpressamente a di- provar o seu crédito como ocorreria, se débito
vida, deteri!lÍU1asse a sua causa, e'ltPecificasse o existisse, na espécie dos autos, tais legados de
seu valor e ordenasse a sua satisfação. A cir- quitação de dívida teem a vantagem de ficarem
cunstância do testador haver dito no testamento tão somente subordinados à execução adminis-
porque deixava aquele legado ao seú genro Dr. trativa das disposições de ultima vontad~ do
Affonw Bandeira de Mello, com a expressa ex- devedor. Mas, como far; notar Cunha· Gonçalves,
plicação de que assim o fazia porque este geri- "os legados em pagamento de dívida teem o in-
ra os seus bens sem "jamais receber quaisquer conveniente de sujeitar o legatário ao imposto
gratificações ou comissões" (cert. de fls. 28 v de. sucessão, que requzirá o montante da dívida;
in-fine, somente poderá ser interpretado como por isso o credor da divida verdadeira pode re-
uma justificativa para o seu ato unilate~·ai dei- pudiar o legado e reclamar a mesma divida _aos
xando de fazer idêntica disposição de última herdeiros, pelos meios competentes, ca..'>O em que
vontade em favor de seu outro genro, Sr. Jean o testamento servirá de meia [prova" (Tratado 1le
Dominique Eugenie de Barrai, Marquez de Lonft- Direito Civil Português, Coimbra, Ed. L tua.
nat e Conde de Barrai. O que não quiz o testa- 1935, Vol. X, n. 14442, pág. 73).
dor, para que se. não dissesse que não fôra justo E neste sentido foi, e outra não poderin ter
.e equanime na divisão de sua herança, foi que sido, a decisão que ordenou fosse deduzido do
se pudesse após a sua morte considerar aqu•2le legado em c,_uestão o imposto de 29% de que
legado como simples liberalidade, o que poderia trata a Tabela do art. 50 do decreto-lei n. 2.224,
ser causa para alegar a ausência de justiça. das de 23 de maio de 1940 (doc. de fls. 226 e 227).
suas disposições de última vontade. Por es3e Em consequência, o legatário ingressou pela.
motivo foi que o testador deixando o referido primeira vez nestes autos para renunciar ao
legado a somente um de seus g-enl'os fês men- legado a favor dos herdeiros neoessários do
ção dac,_ueles serviços e reconheceu uma obriga- de cujus logo que teve ciência da decisão que
ção que o direito ignora mas não o desconhece a.final julgou tratar-se de legado remuneratório
a moral. A sua gratidão fê-lo reconhecer-se e não de pagamento post-mortem a verba testa-
:.ponte sua credor pelo exercício do mandato que menta;ria instituída a seu favor pelo testador
a lei presume gratuito até prova em contrário, (doc. de fls. 228). Tomada a renúncia por
para justlfictu~ o legado pois que :o,áo devia igno- t-ermo (auto de fls. 230), foi feita a retificação
rar que se o testador, como observa Roberto dos cálculos (doe. de fls. 236 e 237) e sobre
(68)
5-2-43 ARCHIVO JUDICIARIO 197
ela ouvidos os fiscais, quando então o Dr. 2° adquirente não entrou de modo algum na posse
Curador de Resíduos não lhe fez oposição (cota da coiSa adquirida", e, nestas condições, ta.nto
de fls. 240 v. ) , ao contrário do nr. 7° Procura- bastA. para que se conclua que se deve· ser res-
dor da Prefeitura do Distrito Federal que reque- t!tuido o imposto devidamente cobrado quando
reu o cálculo do imposto devido -I>e•la renúncia ficar provado que quem o pagou não chegou a
do legado, na conformidade do art. 6° § 1° do entrar de qualquer modo na posse da causa ad-
decreto n. 4.613, de 2 de Janeiro de 1934 (cota quirida ,com muito maior razão se deverá ché-
de fls. 240). Impugnada a incidência daquele gar à conclusão de não ser devido o tributo fis-
tributo fiscal sobre a renúncia do legado pela cal no caso de ficar provado que quem a adqui-
inventariante do espólio (doc. de fls. 242), os riu, dela desistiu ou a ela renunciou enquanto
autos me vieram à conclusão para decisão final. dela ainda não se tornara por qualquer titulo
!Não tem a menor razão, nem jurídice. nem possuidor.
fiscal, o ilustre Dr. 70 Procurador da Prefeitura Ora, na espécie jurídica destes autos, aberta
Federal. a sucessão, feito o inventário, apre&ehtadP.s as
declarações finais, procedida a avaliação dos
Com efeito o art. 50 § 1 o do decreto número
bens e levantado o cálculo de impostos, a inven-
4.613, de 2 de Janeiro de 1934 diz que "o caso.
tariante impugnou o gravame de 29 % calculado
de desistência, renúncia, doação ou atos equiva-
sobre a verba de Cr$ 100.000,00 (cem mil cru-
lentes e de cessão gratuita de herança ou legado,
zeiros) institUida pelo de cujus a favor de seu
ou de direito e açã0 à herança ou Joegado, o
genro Dr. Afifonso Bandeira de Mello, sob o fun-
imposto será calculado sobre o valor da mesma
damento de que não se tratava de legadd mas de
herança ou legado, e pago juntamente com o
pagamento post-mortem r,ue não pode sofrer
que for devido .pela transmissão por título suces-
dedução resultante da incidência de quaisquer
sório ou testamentário", .segundo a sua redação
impostos fiscais (doc. de fls. 201). Qpinaram
textual. Entretanto, esta disposição de ordem
contra esta impugnação defendendo a aplicação
fiscal constitue uma bi-tributação categorica-
do tributo fiscal, o 70 Procurador da Prefeitura
mente proibida pelo art. 24 in-fine da Consti-
do Distrito Federal e a 2a Curadoria de Resíduos
tuição de 10 de Novembro de 1937, e cuja in-
(cota de fls. 203 v e 204). E sem que fosse' ou-
constitucionalidad·a seria suficiente para que se
vido o beneficiário da cláusula testamentária
lhe negasse aplicação. ·Mas foi justamente por e mUito menos se verificasse a sua intervenção,
essa razão constitucional que o legislador houve I foi decidido afinal que se' tratava de legado e,
por bem uniformizar os impostos caus,a-mortis portanto, justa era a incidência do imposto de
na.tabela do art. 5 do decreto-lei n. 2.224 de 23
29 % sobre o seu valor, previsto na. Tabela do
de Maio d·e !940 que é de aplicar-se na espécie
art. 5° do decreto-lei n. 2. 224, de 23 de Maio
destes autos em face do princípio de que o im- de iL940 (doe. de fls. 236 e 237) . Decidida esta
posto de transmissão ca1Lsa--mortis será o da questão, julgado que se não tratava de pagam.:n-
legislação em vigor ao tempo do falecimento do
to post-mortem mas de constituição de legadü,
testador, contido no art. 51 do decreto n. 4.613,
foi que o beneficiário que até então ignorava
de 2 de Janeiro de 1934 em face ainda do que qual a sua verdadeira posição, se de legatário
dispõe o art. 11 daquele outro diploma legal.
ou de credor, veiu a ter conhecimento da natu-
Mas que assim não seja e a v·e~rdade é que reza jurídica da verba instituída a seu favor
não se IPOde em absoluto concluir que a renun- para renunciar pois que ainda não havia pra-
.cia do legado possa incidir na tributação de 29% ticado qualquer ato que importasse em aceitação.
estabelecida 1para a llipotese dos autos pelo :u- Mas teria o legatário por qualquer modo en-
tigo so do decreto-lei n4 2. 224, de 23 de Maio trado na posse do legado por efeito da ab2rtura
de ,1940. da sucessão? Se soment-e o imposto devido pela
Realmente, o art. 63 § 1o do decreto núme- renúncia não pode ser cobrado e se, devidamen-
ro 4. 613 de 2 de Janeiro de 1934 que continua te cobrado, de.ve ser restitu!do, quando ficar pro-
em vigor por força do art. 11 do decreto-lei nú- vado que o legatário não entrou de modo algum
ro 2.224, d·e> 23 de Maio de 1940, dispõe em seu na posse dos bens deixados pelo de cujus, como
n. 1, letra a. c,:ue "o imposto de transmissão de cte!lue do art. 63, 1°, letra a do decreto n. 4.613,
propriedade inter-vivo,s 01.1 causa-mortis, quando de 2 de Janeiro de 1934, é de ver-se,pois , qu::m-
devidamente cobrado, não poderá ser restituido. do se verifica a transmissão da posse dos le-
·salvo quando se' provar evidentemente que o gados.
(69)
108 AHCHIVO JUDICIATIIO 5-2-43
-------------------
Neste ~cnticlo crtbc repe>>lr ::rt hipótese rlos ele ·coi.c:a lcgacla .son12nte s2rinn1. adquil'idas si-
autos a Jiçfto ele Tc1xen·a d.e Frcit.a.:; que, d~p:.>JS multane:unente pelo 12gatário após a partil!D,
ele afirm8r que "os herdeiros esc:·itos, elo n1e>smo que. :oliás. se mio n~rificou ~.té o pres2nk Inomen-
modo que os legitimas, teem nos bens de heran- to, razã.o porque a renuncia ao legado lhe foi an-
ça a po.ss.e civil {~Om todos os efeitos ele po.sse na- terior. E como o legislador dispôs que não é de-
tural", esclareceu porem que ·•nao estão no v!clo, porque ate mesmo pócle ser restituído, fe
mesmo caso os legatários, que não adquirem a cobrado devidamente, o imposto causa mcrt:s,
pm:~e do legado desde o falecimento do testaclc;r, no caso elo adquirente náo haver entrado ele
se bem que desde o falecimen ro do testA.cior modo algwn na. po2se ela coisa adquirida, na
adquirem a propriedade do legado" (Cor.•'iOlida- , r e{! ação d:J art. 63, n. 1, letra a, elo decre~o
ção das Leis Civis, R:o, Ecl. Garcnier, S/D, vo- j n. 4. 613, de 2 d~ Janeiro ele 11:34, manda a
lume n, art. 1.025. nota 57, p&g·o. 617-618) ·1 justiça. que se negue- a incidência do impo.st:>
E mais tarde, em comentaria ao nrt. 1. 572 do de 29 % da Tabela do art. 5o, elo decreto-lei
Código Civil, o egreg:o Clovis reanrmou esse I' n. 2. 224, ele 23 de Maio de 1940, ex-vi elo ar-
principio legal quando disse que "a proprkcla - tigo 6°, § 1o, daquele outro diploma legal wllre
de e a posse da llerança transmitem-se desde 0 a renuncia do legado instituiclo por Vicente ele
rr.omento dLL morte do ae cujus, aos herclci.:c.•s Paula Monteiro ae Barros em favor cte seu gen·
legitimas e testamentários, rem necessidade de ro Dr. Affonso Ba.ncletra de Mello no testamci1tO
ato algum da parte deles. Os .tegatarios, porem, que ora é objeto de exectlçfto.
Tra~a·o>e nada mais nada menos da aplicaçno
semente depois ela panilh<c entram na posse tlo.s
bens que lhe são deixados; a propriedade lhes da regra comum aos herdeiros, legatários e do-
é •:tdqmrida desde o momento ria abertura da n:Ltários, exposto por Girard-Eeboul-Maria!Jl,
suce:são, se a coisa deixada á fungivel; e com 2'égundo a qual la rencnciatíon ]azt dane cess::r
le saiszne et tendes ses conséqwmces avcc ejjct
a partllha, se a deixe consiste em coisa tungivel"
rétroactif au jour de l'ouverture aç la s1teces-
(Obr. Cit., Vol. VI, pág. 8). Ora, uma coisa, é
;;<on, il résulte de cette regte qn'au poznt de
a propriedade e outra é a posse da coisa legada.
vue fiscal, te renonctatzon. a pour cor.·séquence
Se a propr:edade e adquirida de:ode a morte do
a'attranchir l'héritier rcnonçant des droits ele
testador, a po2se somente .é adquirida por efeit:>
m utaUon por décés (Daclarattons ae Succcs ..
da par~ilha de todos os seus bens. E foi por e':.Sa
,;ion~>), Paris, Marcl1al et Blllarcl, 1928, Capttu-
razão que, comentando o art. 3. 766 do Có(llgo
lo VIII, ns. 57-58, pág. 197).
Civil Argentino, Baldomero Llerena disse e bem
Por todos esees fundamentos hei por benl
que lo que el Zega.tario adquiere a la muerte del
julgar, como julgo improcedente o requerimen-
testador es un derecho a la posesion y no la
to ele tis. 239 v. in-jir.•" do ilustre Dr. Setimo
poseEi01:• misma o el derecho de posesion (Ccn-
Procurador ela Prefeitura do DL>crito Fedaal.
cordancias y Comentarias deZ Codigo Civil Ar-
Distrito Federal, 16 ele Ja~Jro de 1943. -
gentino, Buenos Ayres, Ed. "Le Facultad", 1931.
O Ju.z, Hugo Auter.
aa ed. Tomo X, pag. 177) . E', aliás, a idéntíca e
mesma conclusão a que cllegou Pontes de Mi-
randa quando estabeleceu que ·•o legatário re-
cebe a propriedade do corpo certo e o direito (te Primeira Curadoria de Acidentes
pedi-lo, com a posse. Mas a posse ele não a re-
do Trabalho
cebe do testador por força de lei (T.ratado dos
TEstamentos, Rio, S/D, Vol. 111, n. 1.06d, Acidente 'do trabalho - Traumatismo canse-
quente a queda de andaime - Pnewno-
.pág. 470). Cf. Hermenegildo de Barros (Manual nia - Dilataca 0 cardiacn - Nexo cau-
do Código Civil Brasileiro - Do Dzreito das S·:.t- sal - Obrigação de indenizar - NãO
a exclue a motestia preexistente nem a
c<ssêes, Rio, Ed., Jacinto, 1929; Vol. XVIII, nú- concausa superveniente.
mero 20, pág. 38); Carlos Maximiliano ( Di-
Os empregadores foram os primeiros a re-
reito das Sucessões, Rio, Ed. l.<,reltas Bastes,
conhecer que Tertuliano Prates aos 30 de Maio
1937. Vol. II, n. 965, pág. 180).
de 1939 sofreu um acidente, por haver caido de
Ora, no caso ae quo agztur, porque se tl'a- um andaime, quando para eles trabalhava à rua.
te de um legado de dinheiro :>, portanto de Pinheiro Machado n. 181. Internado horas de-
colõ·::t fungível segundo a regra do art. 50 do 1;ois no Hospital Centml ele Acidentados, por
CóeLgo Ci\·il. tanto a prc•priedadc como a posse conta da Seguradora, clito operário veiu a fale-
(70!
5-2-43 AHCHIVO .TUDICIAIUO HHl
cer no clia 7 elo seguinte mês ele Junho (fls. 84 os resfri<lmentos c flS inllalações !Jruscas de ga-
c 8G), revelando a autopsi~t como causa-mortis ;oes deleterios, notadamente dos vapores de en-
- "pneumonia segmentar esquerda - dilatação xofre.
cardíaca" (fls. 25/25 verso). Desnecessária tam3.nha barulheira porque
Entretanto, insurgindo-se contra a decisão esse ensinamento, sobre ser por todos conhecido,
proferida pelo M. Juiz (fls. 98 usque 101), os é tambem o ministrado por outros não menos
patrões - Freire & Soclré - recorreram para ilustrados Mestres no assunto, dentre os qw;.:s
ess'1 Eg. Câmara sob o infundado pretexto de apenas citaremos:
que a morte não foi consequência do questio-
- Leon Imbert, C. Onelo e Cha?.Jernac: --
nado infortunio, uma vez que o paciente quan-
"Le traumatisme capable de produzirce une
do ingressou no Hospital não apresentava qual-
pneumonie est généralment violent; éboulement,
quer lesão causada pela queda ( !) , mas, sim,
tamponnement entre deux wagons, chute d'un
era portador de um processo de pneumonia du-
lieu élevé, coup de timon ele voiture, coups de
pla ( ns. 104/108 verso) .
poing, coups de pied. Mais parfois Ia contusion
Não te em razão.
peut étre beaucoup moins violente: c'est en tom-
Dos autos se infere que os agravantes n<w
bant de sa monture que !e blessé a contracté
produziram nenhuma prova em abono das suas
une pneumcnie"- (Guide pour l'évalu:rtion
alegações, nüo valendo como tal o tardio quão
esd incapacités, p. 580).- Asdrubal de Aguiar:
inopcnnte "protesto" de fls. 12.
E a ninguem é licito ignorà·r, maxim·é o dou- '"Em consequência do traumatismo podem mani-
fest:~r-se: pneumonia, gangrena pulmonar, pleu-
to patrono ex-adverso, que a teoria da prova, em
matéria trabalhista, sofre perfeita inversão, com- risia, tuberculose pulmonar, pneumotórax, he-
petinclo ao patrão trazer aos autos elementos de I motorax, enfisema sub-cutâneo, empiema, etc."
- (Medicina Legal - Traumatologia Forense, I,
convicção tendentes a excluir a indenização de-
p. 242).- Cunha Gonçalves: "Os mesmm trau-
-viela pelo acidente.
Vêde a respeito: ac. da 6a Câm. do Trib. mati.<:mos que rproduzem a tub-erculose podem
de Apelação, ele 15 de Setembro de 1939 - agravo dcterrr:,inJ.r a pneumonia: pancadas violentas no
peito, esforços excessivos, compressões dO torax,
n. 4.551; ac. do Trib. da Rei. do Est. do Rio,
quedas sobre as costas, couces de cavalos, res-
de 4 de Janeiro de 1933, ref. por Araujo Castro
- Acidentes do Trabalho - 4a ed. - p. 82; 1 friamentos, etc." - (Acielentes de Trabalho,
Jur. Arg. -lU Câm. Com. da Capital, de 13 de p. 70).
Outubro de 1925 e 11 de Fevereiro de 1926, in O que incumbia aos recorrentes fazer, mas
Saavedra Lamas - Código Nacional del Trabajo, não o fizeram, era demonstrar cabalmente que
tomo II p. 457. do acidente em apreço não resultou qualquer
Assim é porque, segundo refere Daniel An- traumatismo capaz de ter gerado a pneumonia
tokoletz, notavel professor da F-aculdade de Di- que vitimou o acidentado, visto como não basta
reito e Ciências Sociais de Buenos Aires - "Una para isso induzir a circunstância da necropsia
caracteristlca de las nuevas legislaciones es la não haver positivado a existência de fratura ou
presunción de culpabilida-ct de! patrón, la que indic!o percept:vel tie contusões, indiscutivel
pane e! onus probandi a cargo dei mismo, si como é que tal perícia foi levada a efeito após o
àesea eximirse de responabilidad" - (Curso de dccuroo cl>e 8 di'as contados do rejeridb info-rtunio,
Legislacion del Trabc•jo, tomo II, p. 118) . quando, portanto, os sinais das pisaduras já te-
Em outros termos: provado o infortunio, a riam ctesap3.recido.
responsabilidade patronal se presume e esta
Aliás, a ausência de vestigio da pancada que
presunç.J.o comporta a inversão do onus da prova
deu origem à pneumonia - não obsta a indeni-
(ac. da 4a Câm. do Trib. de Apel. de São
zação, por isso que o traumatismo podia não
Paulo, de 17 de Novembro de 1937; ARcHrvo Ju-
deixar vestígio externo, (ARCHIVo JUDICIARIO,
DICIARIO, vol. XLVI, pág. 48) .
vol. X, pág. 441).
Grande zo:~da fizeram os agravantes em tor-
no da opinião do clássico tratadista Adrien Sa- E' o que tambem ensina - Léon Ibert. C.
-cE-et, ao conceituar que os traumatismos susce- Oddo e Cha·veTnac, in ver bis: - '"Mais parfois
tíveis de provocar a pneumonia são da mesma le traumatisme thoracique qui a c:msé h pneu-
natureza que aqueles q11e, em geral, provocc1111 a lllonie n'alai~\''t_; nucune trace c.rtt'rtcure: u. peut
tuberculose, isto é, - os choques ou compres- axoir proctuit seu1('111E'llt. une e-cchynHlSC p!·ofon-
-'>Ões no peito, no torax ou nas costas, assim como cle'• - (Op. cit .. p. 581).
(71)
200 ARCHIVO JUDICIARJO 5-2-43
Todavia, Eg. Cfunara, constituem pontos pa- Mais uma vez não teem razão.
cíficos e incontestaveis no processo: Dando-se barato que essa dilatação de fato
a) - que Tertuliano Prates trabalhava nor- já perdurasse ao tempo do acidente, nem por
malmente quando foi acidentado, o que faz pre- isso menor seria a responsabilidade dos empre-
supor serem boas suas conctições de saude, ma- gadores, sabido como é que - "Em caso de mo-
ximé tratando-se de um moço de 26 anos de lestia preexistente agravada pelo acidente é sem-
idade, bem nutrido e de regular compleição físi- pre devida u indenização" - (Ac. da 2a Câm.
ca (fls. 25 verso) ; do Trib. de Apel. de São Paulo, de 4 de Março
b) - que a pneumonia em questão somen- de 1938; Rev. dos Tribunais, vol. 114, p. 141).
te se manifestou depois do traumatismo resul- A verdade, porém, é muito outra.
tante desse acidente, que, convem acentuar, con-
Ninguem desconhece, embora tratando-se de
sistiu em haver a vitima caído de um andaime.
um leigo, que a pneumonite determina geral-
Isto posto, si é exato que o conceito de aci-
mente o aumento de volume do coração, princi-
dente de trabalho compreende não só as lesões
pal orgão propulsor do sangue, dada a sobrecar-
corporais, como tambem toda classe de enfermi-
g.g, que lhe é imposta como resultado do bloquea-
dades originadas ou agravadas pelo exercício do
mento da região pulmonar afetada.
trabalho, ou em consequência dele; si tambem
é certo que a responsabilidade patronal subsiste Daí a justeza do velho aforisma sempre
sempre que se possa estabelecer o nexo causal lembrado pelos clínicos: "a doença é no pulmão
entre o -acidente e as lesões, as doenças ou a e o perigo está no coração''.
morte, - na hipótese em debate não há como Por conseguinte, quer seja encarada como
se recusar a íntima relação de causa e efeito molestia preexistente, quer como causa su-
entre a relatada ocurrência (queda ·do andaime) perveniente, dita dilatação de modo algum pode
e a afecção (pneumonia) que vitimou o operá- ser invocada como argumento capaz de eximir
rio. os empregadores do pagamento da indenização
"Cuando existe em autos una lógica relación a que estão obrigados, de vez que - "a lei n.w
de causa a efecto entre las contusiones (o trau- exclue uma concausa que possa surgir no trata-
matismo) sufridas por la víctima y la baciliosis meu to das lesões (ou doenças) produzidas pelo
pulmonar que Ie sobrevino, corresponde conside- acidente" - (Ac. do Sup. Trib. Federal, de 5
de Janeiro de 1934; .ARCHIVO JUDICIARIO, VOI.
rar ésta como accidente del trabajo" - (Jur.
XXXII, pág. 315).
Arg. - Suprema Corte Nacional, de 24 de Junho
de 1931; ref. por Sasot Betes - Accidentes del Em face do exposto, esperamos que a Eg.
Trabajo, p. 164, n. 88). Câmara confirma in totum a decisão agravada,
lnisinuam os recorrentes q'We a dilatação cujos fu,ndamentos bem se ajustam ao direito e
cardíaca verificada pela autopsia - "era inde- às provas dos autos, não carecendo, por isso, de
pendente do acidente e por ser preexistente qualquer corrigenda.
agravou de muito a pneumonia" (fls. 106, ver- Rio, 11 de Janeiro de 1943. - Bento de FC!-
so) . 1 ria, ( 1o Curador de Acidentes) .
(72)
ARCHIVO JUDICIARIO
<PUBLICAÇÃO QUINZENAL DO "JORNAL DO COMMERCIO")
Ainda mais: qualquer nulidade que adviésse gos, provou, juris tantum, nada dever à Fazen-
pelo fato de llaver o promotor em exercício, re- dr~ Nacional. O exator federal, em São Romão,
querido a penllora, esta nulidade automatica- recebeu a divida e deu o devido recibo, em data
mente ficou suprida com o fup.cionamento pos- anterior ao da extração da cert. da divida ajui-
terior, na causa, do titular efetivo. zada.
A arguição, pois, da nulidade citada, sendo Diante de tal prov.a de quitação, mando seja
inoperante, é verdadeiramente paradoxal a sua levantada a penhora, por extinto o executivo
citação por quem o foi, como se viu de ver. iniciado.
O que pede, in fine, o M. P. é de todo con- A Uni.S-o compete o pagamento das custas
traproducente. processadas, como de direito. I.
Não é possível pelo que vimos, se condenar "São Francisco, 16 de Fevereiro de 1942.
o adjunto de promotor em exercício, à época d·a R. F. da Silva. - Juiz de Direito".
inicial, ao pagamento das custas. E isto porque: Houve agravo dessa decisão, por parte da
a) - Ainda que tivesse havido a incompe- Fazenda Naconal, tendo o Juiz mantido a mesma
tência, mesmo assim não ficou provado que a decisão.
ação se tivesse iniciado com o conhecimento Nesta instância, o Dr. Procurador Geral da
pleno do referido promotor em exercício; República assim opinou:
"O executivo deve ser anulado, porque foi
b) -porque, afinal, a nulidade arguida ain-
intentado por pessoa a quem a lei não confere
da que existência jurídica tivesse, faleceu desde
poderes para representar a União.
o momento em que falou nos autos o promotor
Efetivamente, representantes da União em
~efetivo --o arguinte, no caso sub-judice. A sua
juizo são só e exclusivamente ·as pessoas referi-
fala sanou, validou, automaticamente todo o
das no art. 1° do decreto-lei 986, de 1938, lei
processado.
orgânica do Ministério Público Federal, isto e,
Si ao seu substituto não aproveita o ~que
do único orgão que advoga o intereSSe da ·união
suplica o M. P., muito menos a penalidade que
perante a Justiça do pais.
quer poderá atingir este Juizo, pelo único fato
Ora. a enumeração taxativa do citado arti-
de haver deferido a inicial de fls. 2.
go se detem nos Promotores de Justiça, membros
Ainda m.esmo no caso de haver a existência
ordinários do Ministério Público dos Estado~
da prejudicial levantada (diga-se de passagem
que são 'membros do Ministério Público Federal:
que o foi contra a processualistica, que manda
quando, na forma da lei federal, advogam inte-
se argúa qualquer prejudicial como defesa pre-
resse da União.
liminar), mesmo assim operou-se de jus, a vali-
Não quip; o legislador federal que outros
dade do ato incriminado de nulo, com a audiên-
membros do Ministério Público nos Estados se
cia de seu arguidor, como já se disse e não é de
avocassem qualidade de defensores da ~União,
mais repetir-se.
para não diluir-se a defesa dos seus interesses,
E', assim, pois, mais do que improcedente
para não dificultar-se o contrôle necessário ao
e mesmo injurídica a sÜplica de fls.
serviço de advocacia da UniS-o, para que os mes-
E' pueril o querer alguem a decretaçoio da
mos interesses da União não fossem. confiados a
nulidade de um processo, como o de que Se trata,
mãos presumivel e possivelmente inexpertas, para
quando este alguem ê o primeiro que, de meritis,
que não repousassem tais interesses em pessoas
acha fom de dúvida ter ficado ilidida a divida
constante deste executivo. destituidas de maiores garantias funcionais e
Mirabile dieta!!!
mais sujeitas a subordinações e fraquezas que os
Promotores.
Si o embargante provou o quantum satis,
estar quite com a Fazenda, porque a decretação E como o máu defensor compromete a bo!l
de nulidade? causa, vedou, ao demais, o aforamento dos exe-
A propósito disto, deve o M. P. ler o que cutivos da Un!âo nos termos judlciãrios, onde, cte
dispõe o Cód. do Proc. Civ. Unitário, em seu comum, não seria um Promotor de Justiça, mas
art. 275, in verbis: Quando o juiz puder decidir sim méro adjunto, tudo, indica que o legislador
do mérito a t;avor da parte a quem aproveite a não queria a· possibilidade de confiar-se interes-
declaração da nulidade, não a pronunciará, nem ses da Un!ê.o a pessoas n!ío habilltadas.
a mandará repetir o ato, ou suprir-lhe a falta. A essas razões que ditaram a lei, sobreleva
Pelas provas aduzidas pelo embarg.ante e a de que o defensor da União exerce um manda·
com as quais está de pleno acordo o M. P., dito to, com origem na lei, e, pois, como todo man-
embargante pelos dois does. juntos aos embar- dato, deve ser expresso e não presumido.
(2)
20-2-43 .A<RCHIVO JUDICIARlO 203
um Juiz inferior que esteja substituindo um públlca, perante a Segunda Turm'a, rccon:üde-
Desembargaclor. De modo que no caso. qu2m ro o n1eu voto.
funcionou na causa da União, era Promotor, Realmente, conforme lembrou o Sr. Pro-
porque o que a lei exige é que funcione um curador Geral, perante a segunda turma, em
Promotor, mas a lei não proíbe que o !Promo- sua oração, da qual teve a gentileza de envia-
tor seja substituido. E se não fosse possível ar-nle cópia, hà um decreto posterior ao que
substituir o Promotor, nos termos da lei de dispôs sobre o Ministério Público Federal onde
Organização Judiciária local, ficaria a União se conferiu ao Procurador Geral um poder ex-
impossibilitada de promover executivos. traordinário e especial para os casos em que o
E' Promotor aquele que a lei d·e Organi-~ Promotor Público, descure da defesa dos inte-
zação Judiciária determina, isto é: o ~romotor resses da União, podendo ser substituído, não
ou quem o substitua legalmente. O adJunto de por um adjunto, mas pelo promotor da comarca
Promotor, quando substitue o Promotor, é Pro- mais proxirna. Assim embora a lei não resolva,
motor. diretam'ente a questão do promotor que, por
A vista disso, sinto divergir do ponto de fêria<5, licença ou outro qualquer motivo, dei-
·vista do sr. Dr. Procurador Geral· da Repú- xar o cargo, hà todavia, um elemento herrne-
blica, mas estou de acôrdo com o Sr. Mini:stro néutico por ela fornecido que me leva a admi-
relator. tir a mesma solução prévista para a outra hi·
o Sr. Ministro Barros Barreto - Sr. Presi- potese.
dente, dou provimento ao recurso, para anular Nesta conformidade, reconsiderando o meu
a acão ab initio, porque entendo que o decreto- voto da sessão passada, dou provimento ao
lei ~. 986 de 1938, no artigo 1°, enuméra exclu- agravo.
sivamente os promotores de justiça, co~o mem-
. DECISÃO
bros ordinários do Ministério Público nos Es-
tados. Como consta da ata, a decisão foi a se-
vfSTA
g1.llnte:
O Sr. Ministro Laudo de Camargo - (Pre- Deram p·rovimento, par2. anular o executi-
sidente) : - Peço vista dos autos. vo, contra o voto do Sr. Ministro relator.
VOTOS Acordão
o Sr. Ministro Laudo de Camargo - Dou Vistos etc.
provimento para anular o processo executivo, Acórda o Supremo Tribunal pelos Minis-
proposto que fóra por pessoa que não repre- tros componentes da-Primeira Turma e de acor-
sentava a União em Juízo. d.o com os votos proferidos e constantes das no-
Qmnn' subscreve a Inicial é um adjunto do tas taqr:.igráficas juntas, em dar provimento
Promotor, que se não encontra incluido como oara anular o executivo contra o voto do Sr,
membro do Ministério Públlco Federal, pelo ar- Ministro relator.
tigo 1 o do decreto-lei n. 986 de 1938. Supremo Tribunal Federal, 17 de Agosto de
Nem se aluda à substituição ordenada pela 1942. - Laudo de Camargo, Presidente.
lei da Organização Judiciária, pois essa lei foi Castro Nunes, relator, clesignaclo.
a primeira a afastar o Adjunto, <.J.Ue pode até
ser um leigo, da prática de certos atos.
Assim é que o Adjunto só poda agir na co- Agravo de instrumento n. 9.168
brança amiga vel das dívidas estadoals.
(SÃO PAULO)
Como então agir judiciaJmente nas dívidas
da União, si nas próprias do Estado lhe seria o executivo fiscal não se rege pelo Córidgo de
Processo, senão pelo decreto-lei n. 960
defeso fazer? de 17 de Dezembro de 1938 e somente
Estes os motivos que me levam a declarar pode ser invocado no caso ele omiss!io_
da lei especial. Art. 64 do decreto-lei
Insubsistente o executivo. n. 960 e art. 168, § 1.0 do Código de
o Sr. Ministro Castro N1mes - .Sr. Pre- Processo.
RELATO RIO
sidente, eu havia negado provimento ao agra-
vo; mas, não só pelos motivos expostos no voto o sr. Ministro orozim,bo Nonato - Vê-se
ele V. Ex. como pelas razões que, em caso idên- elos autos· que a Fazenda elo Estac!o ele São
tico, ap,·escntou o Dr. Procurador Geral da Re- Paulo moveu contra "The S. Paulo Tramway,
(4)
20-2-43 ARCHIVO JUil ICIARIO 205
Light anel Power Company Ltd." executivo acordo com o seu art. 56, tem processo dife-
para hawr a importâcia de 1.479:104$000, taxa rente: - o da forma processual vigente, que é
de aproveitamento de força hidráulica de acor- a prescrita pelo Cód. do Procesw. - Muit<J em•·
do com o de c. 8. 615 de 30 de Setembro de 1937, bora, porem, estivesse incluído este recurso en-
adicional e multa referente ao exercício de tre os do predito art. 64, tal dispositivo não
1937. Houve embargos e, desenvolvido o pleito, colldir1a com o do art. 168, § 1o do referido
o Juiz, sob o duplo fundamento de inconstitu- Cód. do Proc., que Igualmente, exige a intima-
cionalidac!e do Código de Águas e de nã<J poder ção dos interessados, para todos os casos, ado-
o imposto ser exigido a empresas que, como a tando, porem, no Distrito Federal, nas capitais
ré, já exploravam, antes daquele Código, sua dos Estados, ou Territórios, um meio prático,
indústria, julgou improcedente a ação. O Tri- rápido e econômico, do qual só podem decorrer
bunal de São PaUlo, referindo-se especialmente vantagens e não prejuízos às partes. Na hipó-
ao último argumento, confirmou a decisão de- tese . . . a exequente e executada foram inti-
clarando estar a mesma de acordo com a lei e madas: regularmente, do a c. de fls. 219 em 12
com a sua jurisprudência. de Março . . . como se infere das certidões ...
Não é, pois, de ser acolhido o recurso extraor-
O "acordão" é de 4 de Março de 1940. Ém
dinário, ora interposto pela Fazenda do Esta-
20 de Abril, alegando não ter sido intimado
do, por estar o mesmo fora do prazp legal".
pessoalmente e não prevalecer, no caso, a inti-
Para tornar efetivo o r-ecurso extraordiná-
mação derivada da publicação do "acordão" no
rio denegado, a Procuradoria Fiscal veio com
"Diário Oficial", por se tratar de causa regida
carta testemunhavel razoando as partes a
em lei especial - o dec. 960 - , que manteve
fls. e fls., quanto à preliminar e sobre o mé-
a forma tradicional de intimaçãD, manifestou a
rito.
Fazenda recurso extraordinário, na base da le-
tra a) n. 111 do art. 101 da Constituição Fe- O parecer do Sr. Dr. Procurador Geral da
deral. Repúbllca se encontra a fls. 43:
O Sr. Desembargador Presidente, porem, "O recurso extraordinário nos parece ha-
indeferiu o pedido pelo seguinte despacho: ver sido interposto oportunamente e ter todo
o fundamento.
"Proferido o "acordão" de fls. 219, foram
as suas conclusões, nas 48 horas seguintes, pu- O Egrégio Supremo Tribunal Federal tem
blicadas no "Diário Oficial" do Estado, nos ter- admitido recurso a acordãos proferidos em exe-
mos do art. 881 do Cód. de Proc. C i v. Bras., cutivos fiscais, sem atender ao prazo do Códi·
como atestam . . . duas certidões . . . Tal pu- go de ~acesso Civil, desde que os executivos
blicação vale por . . . intimação às partes, se- se regem pelo decreto-lei 960, de 1938, como
gundo prescreve o art. 168, § 1o do mesmo lei especial que é e as decisões proferidas nesse
Cód.; e ela data ele sua vigência, com obser- processo só transitam em julgado depois de
vância obrigatória no Distrito Federal e nas intimada a p·arte vencida, se não houver recur-
Capitais dos Estados, ou Território. E' certo so no prazo da lel.
que os executivos fiscais são regulados pelo de- De acordo, pois, com o entendimento que
creto-lei n. 960, de 17 de Dezembro de 1938, o próprio Egrégio Tribunal dá à espécie, o re-
quanto ao respectivo processo. curso extraordinário é oportuno, pois não hou-
Entretanto, em referência às intimações, ve intimação da agravante.
em hipótese 9omo a de que se trata, a deter- Quanto ao mérito - e os autos oferecem
m!naçãD estabelecida pelo Cód. citado, posterior elementos para o seu julgamento - o recurso
àquele dec. -lel, é de ser cumprida, a meu sen- ê procedente com fundamento na letra a do ar-
tir, como regra geral, extensiva a todos os pro- tigo 101, n. III da Constituição.
cessos ajuizados. Efetivamente, no memorial in c! uso, se veem
Nã<J se objete que o art. 64 do mencionado acordãos dessa egrégia suprema instância não
decreto-lei, preceituando que. os prazos marca- só sobre a plena constitucionalidade do Código
dos em tals executivos correrã<J em cartório e cte Aguas, mas tambem sobre a legitima cobran-
independentemente de intimação às partes, ex- \'H da taxa ele que cogita o cl'êcreto-lei n. 24.673,
clui os casos de recursos. Estes, porem, outros de 11-7-934 e cuja cobrança nos anos de 1937
não são que os Jndlcados em seu art. 45, nú- 8 1938. estc,·e a cargo elo Estado de São Paulo,
meros I e II. O recurso extraordinário, ele por força do contrato com a União.
(5)
ARCHIVO JUDICIARIO 20-2-43
206
Tmnbem o art. 141 do cit .. Cócligo se refe· da primeira Junta de Conciliação e Julgamento
1
re a "contrato"; mas ensinam os juristas que desta Capital, proferida em 16 de Dezembro
ele abrange ainda os modos convencionais. de de 1938, no processo IRB n. 1. 967 de 19 3 8 ,
extinguir obrigações, como o pagamento, a re- em que é reclamante o Sr. Fernando Jean Ho-
mlssão, etc. (Vêde Carvalho Santos, Cód. Ctv. noré Milcent e reclamada a autora, em cuja
Jnt ., III, pág. 198; Eduardo Espinola, in Manual
decisão essa Junta, exorbitando-se de suas
Lacerda, III, parte 3a, págs. 364 a 365 e, sobre
atribuições legais, anulou, sem forma nem fi-
a lei italiana correspondente, C. e Abello, Trat.,
gura do Juizo, contrato de locação de serviços
I, pág. 671 e Coviello, Manuale, § 177, p. 535).
p·erfeito e acabado, feito em Agosto de 1936,
Nestes termos, nego provimento.
entre o reclamante a importância de 42:700$000
Resalvo, .porém, ao credor - já que se não e mais 1:500$000 por mês até o cumprimento
trata de ação, mas de pedido nos autos do in-
da decisão e ainda 8408000 corr·2spondente à.
ventário - direito a, pelos meios regulares, ha-
taxa de 2 % sobre o valor· da condenação".
ver a importância de que se diz credor e que não
Na sua fundamentação entende a senten-
foi admitida pelo Juiz a quo.
ça que as Juntas creadas em 1932 já eram or-
nEcrsÃo gãos da magistrat],.lra do trabalho e que estan-
Camo consta da ata, a decisão foi a seguin-
::lo ajuizada a execução da decisão trabalhista
te: Negaram provimento. Unanimemente. não há como admitir a ação sumária. para anu-
lar tal decisão ainda quando se pudesse negar-
Acordão lhe o caráter judiciário pois que tenia de valer
corno decisão jurisdicional administrativa já
Vistos, relatados e discutidos estes autos
em via de execução. Concluiu julgando "In-
n. 10.122, agravante Severino Bonifacio da No-
brega, agravado o espólio de Maria Virgínia da competente ou imprópria" a ação (fls. 74 v.).
Nóbrega. Apelou a A. tendo sido o recurco arrazoa-
Acorda o Supremo Tribunal Federal, segun- do por ambas as partes.
O Exmo. Sr. Dr. Procurador Geral da
da turma, integrando neste o relatório de fls., e
República opina pelo não proyünento da ape-
as netas taquigráficas precedentes, negar provi-
!ação no parecer de fls. 96, que é o seguinte:
menta, ficando, assim, confirmada a decisão re-
corricla. Custas na forma da lei. "Estamos de inteiro acordo com a sentença.
Rio, 6 de Outubw de 1942. - José Linhares, apelada e, mais de um vez já opinamos no
Fresiclente. - Orozimbo Nona.to, relator. mesmb sentido, com alegações que, por reitera-
das, são do conJ1ecimento do Egrégio SuRremo
Tribunal.
Apelação civel n. 7.282 Somos, pois, pela confirmação da senten-
ça, por seus jurídicos fundamentos.
(BAÍA)
12-12-941. - Gabriel de R. Passos".
Justiça do Trabalho - As Juntas criadas em Com este relatório passo os autos ao
1932 - Identificação d.esses aparelhos
com a Justiça elo Trabalho de que co- Exmo. Sr. Ministro relator.
gitava a Constit'!l'ição de 34 - Tais O Sr. Ministro Castro Nunes (Relator)
Juntas já eram a ~·magistmtura do
trabalho". como um Te[lexo da legis- Sr. Presidente, o ilÚstrado Dr. Procurador Ge-
lação social no seu. particuwrisnw - ral da República colocou a questão nos seus
A autonomia da jurisdição trabalhista
estava pressuposta nas inspirações que devidos termos, na brilhante oração que acaba
determinaram a sua instituiçiio - in- de proferir, examinanclo o problema da insti-
admissibilidade da revisão dos julga-
dos das Juntas na execução o1t a sua tuição da Justiça do Trabalho entre nós. desde
anulaçiio con;o atos administrativos. os seus primórdios, na preceituaçâo de 1932.
até os nossos dias.
RELATÓRIO
Tive ocasião, como, ainda há pouco, lem-
O Sr. Ministro Castm Nunes - A senten- brei, de examinar, quer em sentenças, quer
ça apelada expõe o caso nos seguintes termos: em explanação doutrinárias, todos esses aspêc-
"A Companhia Cessionária das Docas do tos e sustellltei exatamente essas idéhls que
Porto da Baía, sociedade anõnima, com sécle no acabam de ser expostas, com maior brilho,
Rio de Janeiro, representada por seus aclvoga.. pelo Sr. Dr. Procurador Ger8l ela República,
elos, propoz a presente ação sumár'a especial J encontrando--Inc. portanto. ele inteiro acordo
contra a Uni á o Federal. para anular a clecisão com S. Ex. nos principias que, a meu Yêr, são
(9)
210 ARCHIVO JUDICIARIO 20-2-43
os verdadeiros e devem nortear a aplicação da~ controu-as com as características a que teria de
leis, mesmo anteriores à atual organização da obedecer a organização da Justiça do Tra.balho,
Justiça do Trabalho. Porque, na realidade, prevista nesta Constituição, como um organis-
-como S. Ex. disse multo bem, a Justiça do mo de índole profissional e paritária. Creio,
Trabalho foi !nstituida entre nós, como não mesmo, poder dizer que a Constituição de 1934
podia deixar de o ser como uma magistra- inspirou-se na legislação de 1932, nos moldes já
-tura. encontrados na criação da Justiça do Trabalho
Ora, a jurisdição trabalhista que se criva- pela legislaç-3.o de 1932. E adotou-os, de modo
va, com orgãos, embora ainda não perfeita- que as Juntas precistentes puderam ser identi-
·mente conformados, ainda em estado embrlo- ficadas à vista da Constituição de 1934, como os
nário, refletia, necessariamente, o particularls- orgãos por esta previstos.
mo, da legislação social, obedecendo à inspira- Sobrevindo a Constituição de 1937, a lei nú-
ção dessa legislação como um reflexo da ques- mero 39 em nada alterou a situação. Aliás, a
tão social, num dos seus aspéctos, destinando- lei 39 veio para prover sobre a situação decor-
se exatamente a dar solução aos problemas en rente da supressão da Justiça Federal e dispor
tre o capital e o trabalho, de modo a canall- acerca da execução das sentenças das Juntas.
zá-los para as soluções jurisdicionais, evitan- Não deu organização nova às juntas, que con-
do as soluções de fato. tinuaram com a sua <mtiga feição de orgãos
Foi este o objetivo que presidiu à criação, classistas e aind~ continuam na atuãl organiza-
em /toda a parte da Justiça do Trabalho. Ela ção, ainda que a Constituição de 37 tenha dei-
surgiu como uma jurisdição especial, refletin- xado ao legislador ordinário ampla liberdade na
db os imperativos, os motivos, as aspirações da modelação da Justiça do Trabalho.
legislação social no seu particularismo; por Donde a conclusão de que até mesmo o Mi-
isso mesmo, ela surgiu e conserva este caráter, n~stro do Trabalho, no exercício da avocatoria,
aqui como em toda parte, porque é da !ndole agindo como instância superior em relação às
da própria instituição, como uma .Justiça de juntas, intervenç3.o que poderia ser suspeitada
compensação, u.m:a Justiça de retilficação das de inc001stitucional na vigência da anterior
Qesigualdades sociais. E daí as soluções no in- Constituição, teve legitimada essa atribuição.
teresse da proteção do trabalho e as resisten-
A vista diSso e .por essas considerações, em
elas que tem encontrado e há de encontrar no
que apenas rea.firmo o meu ponto de vista ante-
espírito jurídico clássico, exatamente porque rior, 0 meu voto (que aliás trouxe escrito, mas
-ela quebra, de certo modo, o equilíbrio do di- que desejei justificar mais amplamente, com essa
reito na solução das demandas, inspirando-se explanação preliminar) é no sentido de negar
em princípios que tornam flexlvel a regra legal provimento à apelaç3.o, mantendo a sentença ape-
para atender às imposições da equidade.
lada, salvo na sua parte final, porque o Juiz, de-
Como o Sr. Dr. Procurador Geral lembrou
pois de considerar que as ,Juntas são orgãos ju-
multo bem, ao tempo da pn~ceituação de 1932,
diciários - porque orgã:os de jurisdição do Tra-
a criar um corpo de doutrina acerca da mate-
balho e não orgãos ou departamentos adminis-
ria, tem acordãos no sentido afirmativo de
trativos, quando devia julgar carecedor de ação
que as Juntas de Conciliação e Julgamento ja o autor, julgou a ação imprópria, conclus'io, ao
eram CJrgãos da jurisdição do :trabalho. meu ver, contraditória com o fundamento da
Posso afirmar, sem poder citar de memória decisão.
nem a data nem o número do recurso, que em
Eu julgo carecedor de ação o autor. E' o
certo caso, num acordão notabil!ssimo de que
unico ponto em que modifico a sentença.
foi relator o Sr. Ministro Costa Manso, S. Ex.
O Sr. Ministro Castro Nunes (Relator}: -
afirmou - e o Tribunal o acompanhou - que
O meu voto, que trouxe escrito, é o seguinte:
as Juntas, criadas pela legislação de 1932, em-
bora embrionários, eram orgãos da Justiça do As Juntas foram criadas em 1932 como ar-
Trabalho. O Supremo Tribunal já havia dito gãos, ainda que embrionários, da Magistratura
1sto, !portanto, ao tempo da Constituição de do trabalho.
1934. Essa magistratura era, no rumo das idéias
E eram org3.os da Justiça do Trabalho, por que a pre,conizavam como coiii'Plemento neces-
quc? l 0 - porque foram criaclas corn essa des-~ sário da legislação social. um reflexo dessa mes-
tinucuo, pela lei de 1932; 2° - porque, sobre- ma legislação, obedecendo às mesmas inspirações,
Yindo a Constituição de 16 de Julho ele 1934, en- ao mesmo particularismo ela legislação social.
(10)
20-2-43 ARCHIVO JUDICIARIO 211
O Sr. Ministro Annibal Freire _ Sr. Pre- rém vinte reinvindicrr.ções falsas, por já es-
sidente, ele acôrdo com o voto de V. Ex. tarem no domínio público e acarretarem' a anu-
lação do privilégio, nos termos do artigo 68 § 3°
O Sr. Ministro Barros Barreto ' - Sr. Pre-
do decreto· n. 16.264 de· 1923.
sidente, de acôrdo com o voto do Sr. Ministro
Castro Nunes e coerente com 0 decidido, por Desenvolvendo essa matéria, sustentam os
nüm, em inúmeros julgados, nego provimento à autores de qualquer forma, a ilegitim'idade das
apelação. ameaças e turbações que a ré ao ·comércio de
lâmpadas foscas do sistema Naruse, em pleno
DECISÃO domínio público, dadas as diferenças funda-
mentais entre os dois sistemas, quer quanto ao
Como consta da ata, a decisão foi a se-
processo indústrial de fábrica, com uma só, em
~!nte: Negaram provimento, nos termos do
vez de cinco operações, quer quanto ao princi-
art. 67, § ··so do Regimento.
pio_ ciêntifico aplicado, quer, finalmente, quan-
Acordão to à utilização, de onde melhor perfeição de
trabalho e superioridade do produto.
Vistos, etc. :
Em reforço de argumentação, sustentam que
Acorda o Supremo Tri-bunal, pela Primeira o sistema Naruse foi patenteado nos próprios
Turma,- em negar provimento, nos termos do E1;;tados Unidos onde vários tribunais se pro-
art. 67, § so do iRegimento, oonforme esclare~ nunciaram pela diferenciação dos processos e
<:em os votas proferidos e constantes das notas consequente ausência de contrafação.
taquigráficas justas.
A ré, após levantar as preliminares ele ile-
Supremo Tribunal Federal, 6 de ·Agosto de gitimidade de parte, deficiência de docUlnenta-
J942. -Laudo de Camargo, Presidente. - Cas-
ção e incompetência de justiça, federal p~ra
tro Nunes, relator.
conhecer da causa e apreciar patentes ameri-
canas, concedidas a terceiros, ou, m€smo, bra-
(11)
212 ATICHIVO JUDICIAIUO 20-2-43
sileiras, expedidas em favor de outras autori- imponha à confirmação pelos seus jurídicos
clades, sustenta a legalidade do deposito e a fundamentos.
exatidão dos pontos reivindicados rigorosamen- 30-11-941. - Gabriel R. Passos".
te iguais aos referidos nos Estados Unidos; fi- Com o r ela tório, à revisão.
nabnente a.fil'llla que os peritos 'brasileiros na VOTOS
acbninistração e no fõro consideraram o pro-
cesso Naruse usurpador do de Pipkins, ao qual O Sr. Ministro Philadelpho Azevedo
foi concedido, não privilégio para processo, mas Dispenso a diligência, porque a causa está ins-
para produto qualquer que seja o sistema de fa- truída e a sentença foi proferida de acordo com
bricação, de sorte que a concessão feita a Na- os pareceres do Ministério Público proferidos
ruse nos Estados Unidos não prejudicou ~ an- anterim'lllente.
terior, sendo por isso inverídicas as referências Négo provimento, a despeito dos termos
a decisões judiciais naquele país, onde, como equívocos do pedido que ensejam sérias dúvidas
aqui, todas rechassaram as tentativas de inde- sobre a idoneidade do meio empregado e até
sobre a com·petência de Juízo e a intervenção
bita concorrência pelo autor e seus propostos.
da Uniáo.
Com a réplica, a tréplica e a prestação de
Em rigõr, seria incabível a ação declarató-
fianças à.s custas, reclamada pela ré, foi a
ria para cotejar sistemas técnicos üe fabrica-
causa p·osta em prova, depois de vários inci-
ção de lâmpadas, como por outro lado, inocua
dentes processuais; culnünou essa_Ij!se no exame
a anulação do deposito inicial para requerimen-
pericial, em: que a maioria dos peritos lfoi favo-
to de patente, por falta ele novidade de certas
ravel à ré, divergindo os louvados dos autores.
reivindicações ou falta de suas correspondên-
Extensos foraun os ararzoados de ambas as cias com as indicadas cu aclnüticlas em outro
partes, ap:reciando, diante do direito ind.ústrial país.
os ·conceitos de produto e resultado, além da
A lei permite é certo, a d·e2Iaração ele nuli-
novidade do inverno, em face de anteriores
dade de patente, no todo ou em parte (decreto
descobertas americanas, tam.bem patenteadas.
n. 16.264 de 1923, artigo 68, paragrafo único),
Ouvido sobre o caso, o então Procurador 1nas não é razoavel que em vez de se anular o
da Propriedade Indústrial Dr. Carlos Costa sa- privilégio que é o eiieito ou consequência, se
lientou a influência decisiva que deve ter no procul'e vulnerar 1.una ou algumas das causas
clesfe·cho dessas causas a opiniáo dos peritos, e ou antecedentes.
em consequência considerou a açáo manifesta- Aliás o principio da independência dos pe-
m·ente improcedente em face do laudo da maio- didos de privilegias em cada pais, é um dos
ria dos técnicos que acentuaram a novidade postulados do sistema ele proteção uni versa! dos
absoluta da descoberta de Pipkins, asseguran-
inventos, dês que os países civilizacios se> cons-
do exploraçáo comercial das lâmpadas foscas tituíram em: União para proteger essa manifes-
pela sua indispensavel resistência até aí não tação do espírito creador.
alcança.da. Houve, aliás, iclênticlade dos pontos da rei-
O Dr. Juiz a quo, considerando não haver vindicação, embora nos Estados Unidos se fi-
divergência entre os pedidos depositados no zesse modificação posterior à concessão da pa-
Brasil e nos Estados Unidos e atendendo ao tente no Brasil,; eis que o prazo de um ano
parecer dos peritos julgou a ação improcedente corre elo deposito no paíz de origem e não de
pela sentença de folhas 852, da qual apelaram seu deferilnento.
os autores alega!ldo que a alteração do deposito Mas, obedecendo aos principias do moderno
sofrido nos Estados Unidos por exigência do,rGo- processo sintetisado no texto do artigo 275 do
verno devia ter repercutido nos, demais paízes. respectivo Código não hà necessidade de esmiu-
çar esses p·ontos prelim'inares si o mérito foi
Subindo os autos, o Dr. Procurador Geral
apreciládo e decidido · satisfatórlaunente, como
da República assim se mani>festou a fls. 875v.
na sentença que óra confirmo.
"Não foi aberta vista ao Dr. Procurador da O Sr. Ministro Laudo de Camargo - Penso·
República na primeira instância para arra- dispensaNel a audiência do Sr. PTocurador da
zoar. República.
"Parece-nos que devem os autos baixar para Deste modo, e pronunciando-me sobre o
esse fim, embora ao cabo. a sentnça apelada se · mérito, nego provimento à apelação.
(12)
20-2-43 AHCHIVO JUDICIAHIO 213
"fiio hà Jogar para a nulidade pretendida obra pelas razões que longamente expõs na ini-
tiio pouco para a desigualdade pleiteada. cial.
Está demonstrado, documentalmente e pela Foi julgado carecedor de ação. Recorreu. O
p:ericia, que o pedido depositado pela ré no Tribunal de Apelação deu provimento ao recurso,
Brasil é idêntico ao depósitado originariamen- mandando que o juiz julgasse do mérito, o que
te nos Estados Unidos. foi feito, sendo proferida a sentença de f!s.
Demonstrada ainda está a invenção de Pip- 232v. julgando improcedente a ação.
kin conseguindo lâmpada elétrica internamente A razão de decidir foi a inexistência nos
fosca e resisténte à quebra, sem prejuízo da luz. autos de um documento, a certidão disorimina-
E demonstrado finallnente ficou, segundo a afir- tiva da medição final.
mação dos peritos, ser o processo Naruse uma Apelando dessa decisão, o A. juntou a cer-
usurpação à invenção de Pipkin. tid'io tiga por necessária. Mas o Tribunal de
Deste modo, o pedido não podia lograr aco- Apelação considerando tardia a juntada, profe-
lhimento, como aconteceu. riu o ac. de fls. 260 julgando o A. carecedor
de ação, mas ressalvando-lhe o direito de reno-
DECISÃO
var a lide. o a c. é o f:eguinte:
Como consta da á•>a, a deciscão foi a se- "Vistos, relatados e discutidos estes autos
guinte: de apelação da comarca de Belo Horizonte, ape-
Negaram provimento, unanimemente. lante -Antonio Perillo; apelado - o Estado
de Minas Geraes.
Acordão
Acordam em Primeira Câmara Civil do Tri-
Vistos, reJa ta dos e discutidos os autos de bunal de Apelação, adotando o relatório de
apelação civel n. 7. 422, do Distrito Federal, em
fls. 258v., negar provimento ao recurso e con-
que süo apelantes Torn'i~aburo Naruse e outros
firmar a sentença recorrida, pelos fundam~mtos
e apelados Gen2ra! Eletric .S. A. e a União Fe-
dados pelo Juiz, a fls. 230v. e seguintes. Cor-
c',eral, acorda a Primeira Tunna do .Supremo
l'igem, entretanto, a ação, para que subsista este
Tribunal Federal por maioria de votos e de dispositivo: - Julgam o autor carececlor da
acordo com as notas taquigráficas constantes ~.ção.
dos autos negar provimento ao recurso. Assim, dar-se-á ao mesmo autor ensejo de
Custas pelas apelantes. renovar a lide, juntando todos os documentos
Rio, 12 de Outubro de 1942 (data do julga- necessários, Inclusive a medição final contra a
mento). - Laudo de Camargo, Presidente. - qual reclama e que foi tardiamente oferecida
F·.'Lilaclclpho Azevedo, relator. nas razões do recurso, quando não era mais pos-
sível ao Juiz de 1a instãncia apreciá-la e sol-
ver as questões que da mesma mediação advêm
Recurso extraordinário n. 4.885 e que estão no pedido, querendo ele.
Custas pelo autor.
(MINAS GERAES)
Belo Horizonte, 13 de Março de 1941.
Mediçâo ·ae obra - Prova complementar, por (Assinaturas ilegiveis) ".
certidrlo, pmdu.ê~ida na instância da
apelaçâo - Distinçclo entre "fato novo" Recorreu extraorclinarimnente o A., con1
e "documento novo'' - Recurso extra- ba.se no inciso a (Const., art. 101, III) dando
oràináro ao qual se 'dá provimento pare!
que o Tribunal 1·eco1-rido conheça da como violados as disposições, que aponta, do
apelação. Código Nacional de Processo.
Arrazoado por ambas as partes, assim se ma-
RELATÓRIO
nifestou o Exmo. Sr. Dr. Procurador ela Re-
O Sr. Minstro Castro Nunes - O constru- pública.
tor Antonio •Peril!o, tendo contratado co1~ o Es- "O recurso vem fundado na alinea a do art.
tado de Minas Geraes a execução de trabalhos 101 n. III da Constituição (fls. 261) .
de terr[!Jplanagem e obras de a1·te em certo tre- Quanto aos artigos do Código de Processo
cho da estrada de ferro Paracatú, apresentou vá- Civil do Estado de Minas, que o recorrente apon-
rias reclamações pretendendo a revisão das me- ta como violados, não são eles dispositivos de
dições feitas, e, não sendo atendido administra- lei fedem! E'. assim, a letra c1este1 n;w poclcria
tivamente, propôs contra o Estado com o nm t.er si elo contrnrincla.
de proced·er juclicialmente ü revisiio e ser re- No t<Jcantc, porém, ao Cócligo Nacimnl ele
Parado dos prejuízos sofridos na execuç'to da I Processo Civil, pilrcce-nos que assiste razão ao
1131
214 ARCHIVO JUDICIARIO 20-2-43
recorrente, pois a sentença de fls. 230v ./232 xou de juntar a prova de mediçiio final, prova
foi proferida na sua vigência e o art. 1.047, s que só veio a oferecer mais tarcle, no processa-
1o do mesmo Código mandou que este, sem mento da apelação.
qualquer restrição, regulasse as nulidades dos Não se trata, portanto, de nova questão de
processos pendentes. fato, mas de documento novo, de prova comple-
Or.a, julgar o autor carecedor de ação, para
mentar de um só e mesmo fato,
que renove a lide, como fez o acordão de fls. 260,
é anular "in totum" o 4Jrocesso, com infração Fato novo, não deduzido na instância infe-
dos prncípios adotados pelo referido Código rior e que sobrevem ao exame da instância da
Nacional (v. p. ex., arts. 276 e 278) . apelação é pedido novo, nova demanda, que no
antigo processo não se admitia como receptivel na
Si no caso pior, de impropriedade da ação,
apelação e que o Código atual admite quando
o juiz apenas deve anular os atos que não pu-
-justificada a impossibllidade nos termos finais
derem ser aproveitados (cit. art. 276), não ve-
do § 1°, do art. 824.
mos como se justifique, na espécie, a anulação
total do processo. Mas se o fato é o mesmo e sómente novo
E tendo o Tribunal mineiro, para decidir é o documento oferecido para completar a pro-
como decidiu, considerando apenas que, junto va julgada 1nsuf1clente, cabe no âmbito da ape-
tardiamente um documento básico às razões de lação, com base no texto expresso do art. 824.
apelação do autor, não mais era possível à sen- Tratando-se da força extensiva da apelação,
tença de primeira instância aprecia-lo, opinamos já ensinava João Monteiro: "no juizo da apela·
pelo provimento do recurso, afim de que só- ção só não é licito .produzir demandas ou pe-
mente se anule o processo a partir da aludida didos novos ou que não estejam implicitamente
sentença, inclusive. compreendidas nos termos da contestação da
Distrito Federal, 21 de Novembro de 1941. lide", acrescentando em nota: "•Portanto é li-
Luiz Gallotti, Procurador da República. cito na segunda Instância produzir documentos
De acordo. - GC!briel de Rezende Passos". de que se não fez uso da primeira, uma vez que
Com este relatório passo os autos ao Exmo. se destinem eles a fundamentar ou repel!r a mes-
Sr. Ministro revisor . ma demanda". (vol. ]li, § 228, nota 13).
VOTOS
Pelo exposto, conheço do recurso e dou-lhe
provimento para anular a' decisãD recorrida, vol-
O Sr. Ministro Castro Nunes (Relator): - tando os autos ao Tribunal do Estado para jul-
O art. 824 do Código de Processo consagra o gar de novo a apelação.
principio conhecido da devolução integral da
O Sr. Ministro Philadelpho Azevedo: - O
espécie à instância ad quem, por efeito da apela·
ção. recorrente tem sido infeliz na demanda, mas,
em compensação, tem encontrado longanlmida-
Diz ele: "A apelação devolverá à superior ins-
tância o conhecimento integral das questões de por parte dos juizes e o próprio acordão re-
suscitadas e discutidas na ação ... " corrido foi para ele, assãs benevolo, abrindo-lhe
No § 1° declara que "as questões de fato não oportunidade para renovar o pleito, à custa,
propostas na instância inferior sómente poderão embora, de distinção duvidosa, eis que sempre
ser suscitadas no processo de apelação se as par- simpatlsei com a crítica feita pelo saudoso e
tes provarem que deixaràm de fazê-lo por mo· eminente Sá Pereira à formula. da carência de
tivo de força maior". ação, no acordãD de 18 de Junho de 1926.
Ora, no caso dos autos, não se trata de uma Mas, o recorrente, o culpado da insuficiente
questão de jato nova, superveniente, extranl1a preparação da prova, não se contentou com a to-
ao pedido. Se assim fosse nãD poderia ser admi- lerância e quer uma solução mais favorave!.
tida sem a justificação da força maior que hou- Por menos apegado que seja ao formalismo
vesse impedido a sua apresentação na instância e, inversamente, por maior entusiasmo que tenb.a
Inferior. pelo adiantado sistema de nulidade do Código
A questão de fato é a mesma, ~enas insufi- de Processo, encontro dificuldades sérias para
cientemente provada na instrução da causa. O prover ao recurso, nos termos em que foi situado
que o A. quer é a revisãD judicial da medição pela petição de fls. 261 onde, a par de texto do
da obra para ser compensado de prejuízos que Código local, só se encontram referências a dis-
reclama do Estado e que diz ter sofrido na exe-~ positivos do Código Civil, de todo estranhos à
cuolo dela. Juntou vários docum.entos; mas de~- espécie.
(14).
20-2-43 ARCHIVO JUDICIARIO 215
Nas razões de fls. 273 tardiamente se en- tar a prova julgada insuficiente na primeira
contra um apelo transeunte ao art. 278 do Có- instância.
digo de Processo. O que aquele dispositivo não permite é a
Quanto ao argumento invocado pelo nobre alegação de novas questões de fato na instância
advogado da tribuna, relativo ao art. 177, tam- da apelação. Não foi isso o que ocorreu. De
bem não foi examinado, nem levantada oportu- modo que, n(i.o admitindo o oferecimento de
namente e nós não podemos atender à argumen- documento complementar das provas já produzi-
tação que o advogado mais experiente possa de- das, o julgado recorrido decidiu com ofensa ao
senvolver, reformando a atitude do seu colega dispositivo legal.
na instância inferior. Mantenho o meu voto conhecendo e dando
Mas o pedido se apoiou no art. 1. 047, § 1° provimento.
do referido Código para um resultado sem dú- O Sr. Ministro Annibal Freire - Sr. Pre-
vida impossível, pois o fato de mandar que as sidente, dada a divergência entre os 6lllinentes
leis locais c.ontinuassem a reger os feitos que já Srs. relator e revisor, cabe-me fixar o meu voto
haviam transpostos certa fase não sublimaria em ligeiras palavras.
tais diplomas, a ponto de lhes outorgar o bene- A razão jurídica, a meu ver, com a devida
ficio de recurso extraordinário. vênia, está com o eminente relator. O acórdão
Não posso, ainda, atravessar a parte que recorrido, em definitivo, está em antítese com-
a lucidês dos pareceres do iMinistério Públic0 pleta com as diretrizes de orientação do Código
·apontou, isto é, consagrar o mesmo texto a de Processo, quanto à questão das nulidaaes,
aplicação do sistema de nulidade aos processos porque, numa questão em apelação, que devolve
em curso, qualquer que seja o grau de seu an- à instância superior o conhecimento integral dO
ctamento e, assim, a sentença de fls. não deveria caso, o acórdão não anulou o processo, mas jul-
ter anulado o :processo, quando, vigente o novo gou o autor carecedor de ação. Assim virtual-
Código, indicava este o remédio salutar. -mente anulou a ação; e anulou com infração do
EXPLICAÇÃo p-ensamento capital do Código do Processo Civil.
o sr. Ministro Castro Nunes (Relator) : Não basta que o Tribunal declare a violação
Sr. Presidente, há outros aspectos, outros dis- de uma lei, o que, em regTa, se não faz. Se as
positivos federais violados e, ainda hâ pouco, Iconclusões da orientação do acórdão, porem im-
da tribuna, o ilustre advogado fez referência a J:lOrtam em antagonismo com a lei federal ex-
eles, entendendo que dispositivos do Código de pressa, evidentemente é caso de recurso extraor-
Processo estadual, mandados manter pela Cons- dinário e eu acompanho o Sr. Ministro relator,
tituição de 34 seriam leis federais. dando provimento ao recurso.
Não levei em consideração este ponto, porque O S.r. Ministro Barros Barreto - Sr. Pre-
a alegação já tem vindo ao Tribunal e jamais sidente, c.onheço e dou provimento, de acordo
foi atendida. Mias, o ilustre advogado fez refe- com o Sr. Ministro relator.
rência a dispositivos do Código de Processo - O Sr. Ministro Laudo de Camargo (Presiden-
art. 824, § 1 o, para mostrar que se trata de te) - Tambem conheço do recurso e llle dou
prova complementar e nfto de fatos novos que provimento.
tenham sido aduzidos. DECISÃO
Essa disposição terá sido invocada nas ra- Como consta da ata., a decisão foi a seguinte:
zões de recurso, se não foi feita na própria pe- Conheceram, unanimemente, e deram provimen-
tição de sua interposição. Mas era direito do to, contra o voto do Sr. Ministro revisor.
recorrente completar a sua argumentação e é
Acordão
para Isso mesmo que a lei lhe dá prazo para ar-
Vistos, etc. : Acorda o Supremo Triqunal
razoar o recurso depois de mterposto.
Se o recurso não é cabível por outros fun- pelos Ministros componentes da Primeira Turma,
damentos invocados, por este é evidentemente de acordo com os votos proferidos e constantes
cabivel, porque nw há considerar como fato das notas taquigráficas, em conhecer unanime-
novo um documento novo, prova complementar mente do recurso e lhe dar provimento, pélo
do fato alegado. voto da maioria. Custas.
Ora, a apelação, devolvendo à instância su- Supremo Tribunal Federal, 24 de Setembro
perior o conhecimento de toda a questüo, devo!- de 1942. - Laudo de Camargo, Presidente. -
ve-lhe a apreciação das provas, das preexisten- Castro Nunes, relator.
tes e das oferecidas com o recurso para complc- .
(15)
21G ARCHIVO JUDIClARIO 20-2-43
tegónca nesse sentido e que sempre prevale- Assim fiz porque, de acordo com ponto
ceu nos seus acorcliios. de vista expendiclo em outras circunstâncias,
De modo que, como sustentou 0 Ministro considerava que qualquer limitação imposta ao
castro Nunes, a Justiça do Trabalho será uma Poder Judiciário contrariava preceito constitu-
magistratura; não uma Justiça administrati- cional expi·esso.
va, mas uma jurisdição que se 'esgota nas di- Não se chegou a declarar a constituciona-
ferentes instâncias isto a partir da sua ins- lidade ou não do dispositivo aludido.
talação definitiva. Todavia, evidentemente, a decisão do Tri-
Não tmnaria conhecimento elo recurso ex- bunal cearense se fundamentou nesse disposi-
traordinário, pelo menos, porque não versando tivo citado, que o Supremo Tribunal - não
a contro\·érsia sobre a mesma lei federal, como em acordão isolado, como disse o eminente Sr.
acaba de decidir na hipótese, a 2a Turma. En- Ministro Bento de Faria, mas em vários acor-
tretanto, unânime que foi a decisão da P Tur- dãos, em cuja discussão tomei parte - reco-
ma, não mais susceptível de reforma neste jul- nl1eceu ser abusivo, visto constituir restrição
gamento. inçlevida imposta ao Poder Judiciário.
No mérito, rejeito os embargos. O Sr. Ministro Bento de Faria (Relator)
Como na sentença proferida se aprecia, .A lei pode retirar ao conhecimento do Poder
sempre entendi que a ação do Ministro do Tra- Judiciário casos dessa natureza.
balho tinl1a a sua atuação administrativa limi- O Sr. Ministro Annibal Freire - Penso que
tada aos estritos termos da lei. Mas, exerci- não.
tando essa competência, com a avocação do O Sr Ministro Bento de Faria (Relator) -
processo, a sua decisão nele se integrava. Como não?
Assim. não há desencorporar a decisão do
o Sr. Ministro Annibal Freire - Temos
Ministro a ponto de excusá-la da execução, ga-
cleclarado inconstitucionais vários dispositivos
rantida à parte pelos textos legais.
semelhantes. A lei não pode afetar a consti-
De acordo porem com o' critério com que
tuição.
sempre apreciei a t.ese debatida, não posso acei-
tar o fundamento básico em que assenta a de- O Sr Ministro Bento de Faria (Relator) -
cisão, e rejeito os embargos. A Constituição, hoje, é como uma lei ordi-
O St. Ministro Bento de Faria - A maté- nária.
ria deste recurso é idêntica ao de n. 5.493. O Sr. Ministro Annibal Freire - Não nego
Recebo os embargos para restaurar a sen- que, atualmente, o Poder Público pode delibe-
tença de fls. 34, por isso que conforme tenho rar o que entender em relação à própria Cons-
votado penso que a lei pode limitar a defesa tituição.
sem ofensa ao Poder Judiciário. O Sr. Ministro Orozim,bo Nonato - Consti-
Assim. não tenl1o por inconstitucionais as tuiu-se justiça especial de cujas decisões não
que nas execuções elas decisões dos Tribunais havia recurso para a justiça comum. O que,
trabalhistas restringem à mesma defesa, a nu- agora, porem, se discute é se tal justiça es-
lidade, quitação ou prescrição da divida. pecial estava constituída, nesse tempo.
O Sr. Ministro Annibal Freire - Sr. Pre- O Sr. Ministro Annibal Freire - Foi o que
sidente, na Primeira Turma, logo depois ~,e s.e fez, agora, em relação à Justiça do Tra-
empossado no cargo de Ministro do Supremo balho.
Tribunal, houve julgamento sobre o mesmo caso Sempre entendi que todo dispositivo que
do Sindicato de Bancários e o London Bank. importe mutilação às atribuições do Poder Ju-
O meu primeiro voto, nessa ocasião, foi diciário é inoperante.
confirmatório da decisão do tribunal local. O Sr. Ministro Orozimbo Nonato - Trata-
Posteriormente, porem - devo confessar se de restriçáo de defesa, como nos executi-
rendi-me à argumentação da corrente que en- vos cambiais.
tendia não se poder aplicar o art. 2° do decreto-
O Sr. Ministro Annibal Freire - Era esta
lei n. 39, de 3 de Dezembro de 1937, que
inhlbia a Justiça comum de conhecer, em tocln
la explicação que desejava dar, para justificar
a sua plenitude, elas questões submetidas à sua 0 meu voto, rejeitando os embargos.
alçada e ele cisão, no c1.unprimento das clelibe- O Sr. Ministro Philadelpho de Azevedo
rações das Juntas ele Conciliação e Julgamento. Sr. Presidente, rejeito os embargos.
(17)
218 ARCHIVO JUDICIARIO 20-2-43
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VISTA ele ele reprimir desacertos e excessos a que os
juizes leigos, mais ainda elo que nós outros,
O Sr. Ministro Orozimbo Nonato - Sr. Pre-
da magistratura togado, deviam pagar foro
sidente, peço vista dos autos.
quantioso. E o ato de revisão do Ministro por
VOTOS não perder carater administràtivo, pois o Mi-
o Sr. Ministm Orozimbo Nonato - Em nistro não era nem podia ser orgão da justiça,
rnodesto parecer emitido quando Consultor Ge- sujeitava-se à censura dos tribunais da justi-
ral da República e em obscuros votos proferi- ça cmnum.
dos neste Tribunal, procurei fundamentar a outra importante consequência daquelas
proposição de ser a Justiça do Trabalho - des- imposições, foi deferir aos JU!Zes togados a exe-
de seus primórdios - pois já agora a tese as- cução dos julgados das juntas.
sumiu evidência inofuscavel vera magistratura, Aí, entretanto, limitou-se a defesa do exe-
orgão jurisdicional e não administrativo. cutado, daquele contra quem existia sentença
Na medida, que é curta, de minhas possibi- ela justiça encarregada, especialmente, ele diri-
lidades, forcejei por confutar os argumentos mir os dissídios derivados elas relações entre
contrários: - o argumento ab ordine, derivado empregado e empregador. Dispunha o parágra-
de a essa justiça se referir a Constituição ao fo único do art. 7 do dec. 22.131, de 1932:
propósito da ordem econômica e social, de prés- "A matéria de defesa, estabelecida a iden-
timo escasso, como já observava Saint Albin, tidade elo infrator, não pode consistir senão na
tanto mais quanto, como esclarece o eminente prova de quitação, ela nulidade elo processo ou
publicista e Juiz, Sr. Ministro Castro Nunes, prescrição ela dívida".
na enumeração das instâncias judiciárias, a Não vejo, data venia, inconstitucionalida-
Constitutição não lhes es:sotou a lista, nela, não de na limitaçãD da defesa que se desenvolvia,
se contendo o juri, o Tribunal Especial, os tri- apenas em certa fase, perante juizes togados,
bunais de exceção". A enumeração diz respei- onde já a matéria estava resolvida em sent;mça,
to aos orgãos da justiça comum; o argumento tratando-se, apenas, de sua execução.
oriundo das peculiaridades da justiça do tra-
Mas, a jurisprudência tomou rumo diverso
ball1o, algumas arguinclo a aceitação ele "sur-
e os tribunais entraram ele apreciar, tambem,
vivals"da justiça patriarcal, como a conciliação,
0 m'érito da defesa. Já o dec. 22 .132 não repro-
e todas impostas pela natureza mesma do "di-
duziu o dispositivo limitador e o clec. 24.742
reito de vanguarda", que aquela justiça realiza
de 14 ele Julho ele 1934, art. 40 em homena-
e aplica; a objeção derivada de sua organiza-
gem, talvez àquela jurisprudência ou tendo em
ção especial, e que é tambem reflexo da singu-
consideração os possíveis erros das juntas, es-
laridade daquele direito.
tabeleceu, no art. 4, que a execução das de-
Tais peculiaridades, porem, não retiram à
cisões elas juntas se regeria pelas disposições
atividade de seus orgiios o cm·ater jurisdicional.
elo processo ele executivo comum.
Guardo, nesse particular, fidelidade à lição
O decreto-lei n. 39 ele 3 de Dezembro de
de Castro Nunes, Francisco Campos, Oliveira
1937 voltou, entretanto, a confinar a defesa
Viana.
à matéria ele nulidade, ou ele pagamento ou
Razão, porem, é que se reconheça que essa prescrição da dívida. Em suma: - 1°) apesar
justiça não apareceu, desde seu início, com de constituir a _Justiça do trabalho orgão juris-
seus lineamentos completos e sua arquitetu- dicional autônomo, a lei, em certa fase, e pelos
ra acab"ada. Envolveu-a de início uma atmos- motivos aludidos, admitiu, nas execuções, a in-
fera administrativa de certa densidade. tervenção ela justiça comum; 20) quaisquer li-
Daí, a anomalia, consagrada em lei, e tal- mitações à defesa, nas execuções perante a jus-
vez imposta pelas incertezas e dificuldades do tiça comum não podem, a meu ver, sofrer a
início, de em alguns casos, remeter-se o julga- balda ele inconstitucionais.
menta por ato administrativo: - a decisão do Foram os embargos, no caso dos autos, ate·
Ministro do Trabalho, nas avocatórias. recidos em pleno regime do decreto-lei n. 39
Sofria, nesse caso, a índole jurisdicional das de · 3 de Dezembro ele 1937 que, no art. 2° e
juntas gra\"c perturbação. A lógica era vencida sem ofensa da Constituiçiio, limitou a defesa
- como tantas vezes no direito - pelas im- nas execuções. E como a defesa, que no caso
1
posições ele utilidades prática, pela necessicla- extra passou aqueles limites se desenvolveu no
(18)
20-2-43 AHCHIVO JUDICIARIO 219
te nflo pócle exigir ela outra parte o cumpri- Esta, pma cumprir a lei n. 178, de 36, e..s-
mento ela convenção, é o que diz ç, art. 1.092 tabeleceu a quota do autor, não contemplan-
do nosso Codigo Civil; do os fornecimentos das terras arrendadas, por-
Atendendo a que, a lei n. 178 de 1936, não que ex-vi da rescisão contratual, nada havia a
tinha quando promulgada e não o tem agora, contemplar.
efeito retroativo para o fim de invalidar o acôr- E pelas falhas no fornecimento de 39, fez
do feito entre o apelante e a apelada em 1934; a ré restringir a quota do autor.
êsse diploma legal, como sustenta às folhas 467 Foi contra tais fatos, que reclamou este
em lllmino!'o pm··~eer o grancle jurista - Mendes por entender infringidas as novas disposições
Pimentel - "Só alcança os usineiros e lavra- ela lei n. 178.
dores que se encontravam ao tempo de sua pu- Esta lei regulando a situação entre lavra-
blicaçüo, em 1'elações contratuais", e assim, não dor e usineiro, com compelir o s-egundo a ad-
tem a extensao de ja.:;cr Tessurgir sit<Lações j7L- quirir do prim-eiro certa quantidade de cana,
rídicas dejinit ivam.ente estrita, un~(J, vez que, a que produzisse, Iez est1tbelecer a média a ser
escritura é de 1934 e a lei n. 178 é de 1938; observada.
Em tais conclicões: E afim de atender aos s.eus dispositivos, foi
Acordam, os Jlliz·es ela 1.a Câmara do Tri- que a ré estabeleceu a quota do autor, sem
bunal ele Apelação, negar provimento á apela- contemplar o fornecimento provindo das tenas
laci'\o, parrt confirmar, como confinnron, pela arrendadas.
sua conclusão, a sentença apelada Não a:;iu mal, assim procedendo, disse o
Custas pelo apelante. acórdão recorrido, porquanto a autora deixára
Niteróy, 19 ele Janeiro de 1942. - Macerlo de ser o fornecedor de que fala a lei.
Tavares, Presidente. - Oldemar Pacheco, rela- Realmente. não seria possível contemplar o
tor. - Ribeiro de Freitas Junior, revisor". fornecinl'ento de tais terras, quando exploradas
Daí surgiu o presente recurso extraordiná- por outrem, ou seja pelo próprio proprietário.
rio, com fundamento na letra "a" do prec;;ito A nova legislação só podHia regular as re-
constitucional, sendo dada como ofendida a lei laçôes contratv}:Lis existentes, pois cessacla.s
n. 178 de 9 ele Janeiro de 1936, lei de amparo estas lagar não havia para aplicar aquela.
ao lavrador de cana. Si ao envez de exploração ser feita, como
Com este relatório, passo os autos á revi- foi, pelo proprietário, tives~-e sido praticaclo por
são.
terceil'o, como ainda atender ao antigo forne-
Rio, 29-4-942. cimento?
VOTOS Si a lei manda calcular a medida do quin-
o Sr Ministro Laudo rle Camargo (Relator)
quenio, como faze-la conhecida no período em
Trata-se de verificar, na esp'ecie, si a lei nú- que cessaram as relações contratuais?
mero 178 de 9 ele Janeiro de 1936, foi ou não Releva ainda notar que, na rescisão do con-
infringida pelo acordão recorrido. .trato. o autor deixou bem expresso o seguinte:
Entendo que não. "transmite desde já e para sempre à Compa-
nllia Agrícola e Industrial Magalhães toclos seus
E como a preliminar esteja ligada ao mé-
direitos e garantias, que 1!1e competissem sobre
rito, farei apreciação em conjunto, para a con- a exploração das ditas fazendas ... dando-se p·or
clusão a ser tirada. inteirP,mente pago e satisfeito das ditas incle-
O autor, lavrando terras próprias e terras nisações e valor dos bens e desistindo, como
de outrem, dadas em arrendarnento, pa.ssou a desiste, de toda e qualquer reclamação presen-
fazer fornecimentos de cana à Usina Barcel- te ou futlu·a, com base ou fundamento na
los. parceria agTicola ora distratada e nos bens ora
Fê-lo até 1934, quanto às terras arrenda- vendidos".
das, pois a partir desse a1Jo, a ré, proprietária Deante de tão categórica manifestação que
de tais terras, veio a explora-las, uma vez res- lhe tl'aduz numa renúncia de quaisquer direi-
cindido o contrato de arrendamento. Nos anos tos existentes, não se vê como infirmar o ato
seguintes, continuou o autor com· os forneci- ela ré, funclado jú na nova JegislaeCto. jú na \'On-
mentos, sendo que llaYcncio úlllws quanto ao taclc expre~sa elas pnrtcs intcrcs:-oaclns.
de 1939 pelo eles\' i o p~<ra outra usina. llOllF~ E quanto ü restriçc1o cln r!uotn. pelo forne-
protesto ela ré. cimento de 3D, bem ele Ycr que elrt se fcl!Yiou
(21)
222 ARCHIVO JUDTCIARIO 20-2-43
na diminuição de fornecimento, pelo desvio O Sr. Ministm Castm Nunes - Sr. Presi-
ocorrido. dente. conheço elo recurso. que m-e parece p·er-
Decisão que aEsim apreciou os fatos e fez fcitàmente cabivel, pela letra "a". Cablvel por-
aplicada a nova legislação, não podia ter aten- que em face da lei n. 178. conforme consta do
ta do contra os seus dispositivos. mP.mórial que me foi encaminhado. o jul'";ado
Por isso, não conheço do recurso. ora recorrido estabeleceu uma distinção que a
lei não estabelece. Pelo menos. um dos funda-
O Sr. Ministro Philadelpho de Azevedo
mentos da questão é essa distinção, fundada na
Conheço e nego p·rovimento, pois a decisão re-
condição de proprietário ou arrendatário da
corrida não ofendeu à letra da lei n. 178. de
terra lavrada. Ora, a lei não estabelece, em
1936, antes lhe deu interpretação compativel
sua letra, tal distinção: a relação segundo ela,
com as leis físicas que as juridlcas não podem
se estabelece entre usineiro e fornecedor ele ca-
impunemente desatender.
na, provenha esta. portanto da terra ele sua
Nada se crêa, nada se perde na natureza. propriedade, ou seja ele arrendatário ou traba-
O fornecimento está ligado ao solo e cana lhe sob o regime da parceria. Em face da lei,
só se produz na terra; quem esta vende não pois, pouco importa a situação jurídica elo la-
pode, assim, pretender quota. que, ao revés. vrador. qualquer que seja a procedêÍ1cia da
passa ao comprador. seja estranho, seja o pró- cana. Por conseguinte, está configurada a in-
prio industrial. fraçJo da lei, pelo menos sob esse aspéto.
O parecer do em"inênte Florivaldo Linhares
De resto, o fim da lei n. 178 - eviclen te e
já acentuava que o fornecedor nào poderia exi- conhecido - foi o ele proteger a situação dos
gir o beneficio p·ara fornecer cana alheia ou
lavradores em face elo usineiro. Em todo caso,
adquirida ele outro lavrador (fls. 539). basta o aspéto literal ela lei para que, de acor-
Isso que acontece no caso de cessão da> elo com m-eus votos anteriores, eu aclmitlJ. o re-
terras, próprias ou arrendadas, pouco importa, curso.
teria que ocorrer porporcionalmente na hipó- Entretanto, segundo se verifica elos votos
tese qe transferência parcial. aliás. anterior à dos Exmos. Srs. Ministros Helaior e Revisor,
lei e sem eiva de fraude. a questão não apresenta, apenas, esse aspéto; hà
Assim considero tambem decidido o pleito nela, outros aspétos entremeiados, ele 1naneira
sem necessidade de entrar em outras indaga- que a decisão se baseou em outros fátos, em
ções. como a da natureza da ce"si\o de 1934, outras circunstãncias, em outras provas. em
ou o efeito retroativo ela lei n. 178. outras considerações de direi to.
Apre-ciando os fatos, se apuraria ainda a Nessas condições, conhecendo elo recurso,
conformidade do recorrente com a fixação ela nego-lhe provimento,
quota proporcional à produção das terras. que O Sr. Ministro Annibal Fretre - Sr Pre-
conservara e entr-egara no quinquênio em deba- sidente. nüo conheço elo recurso, porque houve
te; nunca pretendeu procluzir a soma ele dois simples invocação ela letra "a".
milhões e 1neio de quilos de cana nos anos de O Sr. Ministro Barros Baneto - Sr. Pre-
1936 e 1939, e a referência ela inicial a danos sidente, tambem não tomo conhecimento do
anteriores a 1940, foi inconsist~mte. não se co- recurso, por não verificar ofensa ao texto legal
gitando de qualquer prova de dano na ação. invocado. Trata-se de apreciação de provas,
· cirC1mstância que o art. 281, paragráfo úni- em que é soberana a justiça local.
co elo Código do Processo não justificaria.
DECISÃO
Em relação ao ano de 1940, quando se ca-
racterisou o litígio, a q1.1antidade referida na Como consta da ata a decisào foi a se-
inicial como recusada ficara ainda muito a guinte:
quem ela quota geral pretendida. .Não conheceram elo recurso contra os votos
Por elemais, o Tribunal recorrido. com a elos Srs. Ministros revisor e Castro Nunes.
autonomia no exame da prova que lhe é atri-
buicla, acentuou a infração cometida pelo re- Acordiio
corrente. entrcganclo cana a concurrente da Vistos, relatados e discutidos estes autos
Usina, com a agravante ele insinceridade na pri- ele recm·os extraorrlinário n. 5.881 elo Rio de
lneira e:-~plicaçií.o, Iornecicla ao orgfl o oficial re- Janeiro, en1 que s~"'i'J re~_'ülTC:nte Francisco Fer-
·;·ulador ela proeluç."\u ele açuc:cu· c nlcool. reira Gomes e recorrida a Compm1llia Agricola
(22)
20-2-43 ARCHIVO JUDICIARIO 2 ')'>
~,J
e Industrial Magalhães, acorcb o Supremo Tri- tro Laudo de Camargo, devolvendo-se os autos
bunal Feclernl em nCto conhecer do recurso, nos ao conhecimento do Tribunal local.
termos das notas taquigrafica.s juntas, pagas Opostos embargos de declaração para que
pelo recorrente as custas. se declarasse explicitamente a competência da
Rio ele Janeiro, 28 de Setembro ele 1942 Justiça local, o Tribunal declarou que a remessa
Laudo de Camargo, Presidente e relator. do recurso fora determinada para que a Corte
local dele conhecesse e julgasse como de direi-
to, fls. 217.
A Caixa Econômica ofereceu a fls. 219,
Recurso extraordinário n. 6.093 Iassim como Uberto Faldlni, embargos de null-
dade, opondo-se remessa dos autos para nova
à.
(SÃO PAUW) decisão e arguindo incompetênci"' do Tribunal
local - embargos esses não admitidos, em face
Intervencão da União em causas movidas con-
tra as Caixas Econômicas, com ressalva do art. 194 do regimento interno, pelo despa-
da opinião do relator. cho ele fls. 228, confirmado por a cordão. Pro-
Anulado o processo por inconlT[Ie-
tência do juizo da jalência e do Tri- feriu, então, a P Câmara o a cordão de fls. 243,
bunal de /.1pelaçâo local para conhece- que reformando a sentença, deu pela procedên-
I em, em ambas as instâncias de a cão
revocatória ele mútuo com garantia il.i- cia da ação, considerando que a ordem judicial
potecária contraida por concordatário não cobrira a constituição de nova hipoteca, sur-
com a Caixa Econômica de Sâo Paulo,
Poh·em os autos ao Juizo dos Feitos da gindo, depois, o cessionário de antigos créditos
Fa~.cnda F·liblica. nnteriores a concordata, menos importando ain-
Po1· aplicaçâo do art. 279 do Código da que não se configurasse qualquer elos casos
de Processo podem, ser aproveitados to-
elos ou alguns dos atos probatórios ve- elos arts. 55 e 56 da lei de falências, diante da
rijicados na causa.
nulidade plena e do processo se haver desen-
yolvido com ampla discussão.
RELATÓRIO
DJi, o recurso extraordinário interposto pela
O Sr. Ministro Philadclpho Azevedo (Reln- Caixa Econômica com fundamento na letra a do
tor) ~ A massa falicla de Biola Amasso & n. II e d do n. IU do art. 101 da Constitui-
Cia. propoz perante o Juizo ela 2a Vara Civel ção Fecleral, em face da jurisprudência iterativa
de São Paulo contra a Caixa Econômica Federal do Supremo Tribunal Federal, chamando a Caixa
naquele Estado, e outros, ação revocatória de ao juizo privativo da Un!ã.o, pela responsabili-
hipotec~t constituída no período em que subsis- dade subsidiária que esta assume; tambem
tia concordata e, portanto, contra a proibição Uberto Falcllnl, réu na causa, interpôs recurso
por irrogada ofensa aos arts. 55 e 56 da lei
expressa contida no a.rt. 156 da lei falimentar.
n. 5.746.
Processada re,::;ulannente a ação, o ju\z
Ambos foram Indeferidos, um, por se con-
considerou a autora clela carecedora, porque pre-
siderar o problema de competência já prejulga-
cedera licença judicial para o cancelamento dos
da (fls. 252) e outro, por tardio (fls. 258).
anteriores onus e o empréstimo feito pela Caixa
fora aplicado no pagamento de todos os cre- :Baixaram, então, os autos, mas, provendo
dores, tanto que se pediu o julgamento de con- este Egrégio Tribunal a agravo de Instrumento
interposto pela Caixa Econômica (fls. 279 e se-
cordata cumprida, npa1as adiado por falta de
guintes) processou-se o rec1.u·so desta, entran-
qulta~ão fiscal, fls. 134.
do Faldini em acordo com a n1assa.
Interposta apelação, a 5a Câmara da Corte
Arrazoaram as partes e o processo subiu no
local entendeu nue a presença. da Caixa Eco- prazo, assim opinando o Dr. Procurador Geral:
nômica forçava, em face da jurisprudência, a
"O cabimento do recurso é ponto já deci-
competencia do Supremo Tribunal, ao qual en-
cllclo pelo acordtio de fls. 279-281, proferido no
dereçou, assim, o conhe<!imento do recurso,
agravo de instrumento n. 10.105.
fls. 190.
E. ntendenclo ao parc~cr clc·sta Procun,clo-
Distribulclo o fclto i't P tl!rma, esta nüo ri~ Geral no reiPriclo Dgrayo (fls. 279-v.). Gpi-
conh2ceu d.\ apebc<io, contra o voto elo JVíinls- n::uuns que ao rcclu·so seja dado provimento,
'23!
224 ARCHIVO JODICIAIUO 20-2-43
afim de ser reconhecida a incompetência, do Trl- 1 que, a meu ver. a ação não teria carflter rcvo-
bunal local. catório, escapando, assiln, à regra ele concentra-
ção falencial, eis que nào se fundou nos caso3
Distrito Federal, 22 de Dezembro de 1942.
elos arts. 55 e 56 da citada !e!.
Luiz Gallotti, (Procurador da República) .
Em tais condições, deveria ter sido propos-
De acordo, - Rabriel de Rezende Passos".
ta no Juizo privativo, isto é, no da Vara dos
VOTOS Feitos da Fazenda Pública.
Assim, minha conclusão será no sentido de
O Sr. Ministm Philadelpho Azevedo - O
serem devolvidos os autos ao Juizo dos Feitos
cabimento elo recurso está assegurado pela de-
da Faze1;1da para nova declsii.o, podendo seu ti-
cisão de fls. 281, tomada contra o único voto
tular aproveitar os atos ordenatórios, despre-
do Ministro Octavio Kelly, e as ra-zões de fo-
zá-los, inodificá-los ou repeti-los, como julgar
lhas 300 não infirmaram seus fundamentos.
conveniente, no apreciar os demais aspectos da
A própria turma deu a devida interpre- controvérsia, atendendo aos princ!pios de eco•
tação ao seu julgado anterior e, assim, o Tri- nomia processual, que norteiam o novo Código,
bunal terá decidir, tenclo em vista sua. juris- especialmente seu artigo 279.
prudência sobre causas da Caixa Econõmica.
o Sr. 1'v1intstro Laudo de Camargo - Co-
Sendo a primeira vez, que a examino con1o nhe{)o do recurso e lhe dou provimento, para
I
relator ou revisor, animo-me a c!Lssentir da que nova cLecisão seja proferida, segundo pro-
maioria e voto pela submissão das Caixas Eco- nunciamentos anteriores,
nômicas à Justiça comum, ressalvando o caso
em que a parte expressamente reclama a res-~ DECISÃO
ponsabilidade subsidiária da Un!ao.
Como consta ela ata, a decisão foi a seguin-
Assim, negaria _provimento, por esse motivo, te: Conheceram do recurso e lhe t!ermn pro\'1-
embora, se fosse possível, desse pelo segunao, mento, unanimemente.
isto é, desprezo completo dos arts. ·55 e 56 a a
lei de falência para admitir a ação revogatória
Acordão
fora dos casos ali discriminados e sem que da
conduta da Caixa resultasse qualquer fraude a Vistos, relatados e discutidos estes autos
legítimos credores; esse fundamento foi apenas de recurso extraordinário de São Paulo núme-
invocado no segundo recurso que o intBressaclo ro 6. 093 em que é reeorrente a Caixa Econômi-
cleixou em abandono. ca Federal de SãQ Paulo e recorrida a massa
8
Se, entretanto, a maioria da tunna, comD falida de Biola, Amosso & C ia., acorda a 1
é provavel, der provimento ao recurso pela in- turma do supremo Tribunal Federal, seg1.mdo
competência. do juizo, teremos ele aplicar ab consta dos votos devidamente taquigrafados,
regras processuais atinentes à espéci-e. con!1ccer elo recurso c lhe dar provimento para
.Seria de se anular todo o processado, por anular as decisões profericlas e1n ambas as ins-
incompetência do juizo da falência ou apenao; tâncias pela Justiça ele São Paulo c mandar que
sejam os autos remetidos ao Juizo dos Feitos
a clecisão d-o Tribunal, dada a aplica;ção do
ela Fa-zenda Púb!lca daquele Estado, o qual nos
princípio contido no art. 23, ~ 3 do decreto es-
tadual n. 11.958 de 26 ele Abril de 1940, ln- termos do art. 279 do Código de Processo Civil
vocaclo pelo recorrido e que permite interve- aproveitará, a seu juizo, os autos probatórios.
nha a Fazenda nas falências concordatas, in- Custas pelos recorridos.
ventários e partilhas, ainda que processados n::~
Rlo, 19 de Novembro de 1942 (data _elo jul-
Capital?
gamento) - Laudo de Camargo, Presidente.
Mas, ainda nessa hipótese, valeria a senten- Philadelpho Azevedo, relator, CGlll a ressalva de
ça ele primeira instância para que o Tribunal
seu voto na preliminar de incompetência dO
conhecesse da presente como apeJação, voltan-
Supremo Tribunal Federal para decisão de cau-
do-se, depois de tanto esforço e de dois ano~
sas ele interesse de Caixas Econômicas, quando
perdidos, à posição primitiva, Isto é, de fo-
não expresamente reclamada a responsabilidade
l11as 193?
sub;;lcliária ela Uniüo.
Nilo me p~rcce. conttirlo. que eleva prevale-
cer scmc·lhantc prec~ito cltt lei local, at.é por-
(24)
20-2-43 ARCHIVO .IUDICIARIO
"A União Federal, por seu representante Outro fundamento ainda, e não menos re-
abaixo-assinaclo de acórclo com o disposto no levante, mnpara a presente ação re9cisória.
artigo 97 do Regimento Interno do Sup:remo Como se vê da parte .final ("explicação')
Tribunal Federal e no artigo 101, inciso II, n. do voto ·;vencedor elo eminente Sr. ·Ministro Oro-
1 da Constituicão, quer propór perante este zimbo Nonato (doc. junto) S. Ex. só condenou
Juizo uma açüo rescisória contra o Coronel José a União apezar. do referido artigo 18, porque
Julio üe Anclracle, brasileiro, comerciante, casa- no ·Caso ela "não deve inclenizaçüo", tratando-se
do, residente nesta ciclacle, pelos motivos a se- apenas de "restituição do indebito".
guir expostos: Ora, si assim é, se trata de restituiçclo do
indebito, só a quem recebeu (o Estado do Pará)
O suplicado propoz contra a suplic'ante, o é que caberia restituir, nos precisos termos do
Estado do Pará e o seu ex-Interventor Coronel artigo 964 elo Código Civil:
Joaquim ele Mlagalhães Cardoso Barata, (doe. "Todo aquele que recebeu o que lhe não
junto), uma ação ordinária para 11aver a quan-
tia de 544:259$449, juros ela móra e custas, vis-
Iera devirlo jica obrigado a restituir".
Não resta dúvida, pois, ele que, fazendo res-
to reputar ilegal o ãto elo citado Interv0~1tor tituir, não ''aquele que recebeu", nos termos
que obrigou a entrar com a referida quantia do citado artigo 964, mas um terceiro, o venera-
para os cofres da Recebecloria ele Rendas da- VBl acordão rescindendo tambem ai contrariou,
quele Estado. data venia, a lei expressa.
A · ação· foi julgada procedente (documen- A \'ista elo exposto, e sendo 0 caso típico
to j1m to) . de ::Jção rescisória, a Sllplicante requer a V. Ex.
Es~c julga1nento, porén1. clctta r:cr;.ia, se con- a. -citnçüo elo suplicado, ficanclo-ll1e m:arcaclo o
trapõe á letra da lei. prazo do dez dias para a contcst~l(:flo e pros-
(25)
226 ARCHIVO .TUDICIARrO 20-2-43
seguindo-se na fórrna da lei, de modo que, após 18, justo não é que Yenha sofrer as suas conse-
as razões finais, subam os autos ao Egregio su- quências.
premo Tribunal Federal e este declare rescin- Nesse ponto, salientamos com o devido res-
dido o seu venerando acordão e julgue o su- peito que o fundamento elo erudito e luminoso
plicado carecedor de aç.ão contra a suplicante, voto do eminênte M1nistro Relator, proceden-
condenando o mesmo suplicado nas custas. te em tése como suas sabias lições, leva á con-
A suplicante não tem provas a dar, al~ clusão pleiteada pela União desde que não se
das certidões que ora oferece, por ser a ques- verifica na hipotese elos autos 1.un caso ele res-
tituiç:ào elo inclebito, não só porque não bà in-
tão exclusivamente de direito.
' debito, desde que inclebito não é o recebimento
Dá à causa o aludido valor ele 544:259$449 .
que a Constituição aprovou, mas tambem, ain-
Nestes termos. E. deferimento.
da que inclebito houvesse, só poderia restitui-lo
Pará, 10 ele Dezembro ele 1941. - Octavio
quem o recebesse e a União não o fez. Admiti-
Mello, Procurador Re:;ional ela •República".
das as brilhantes premissas elo voto ele S.Ex.
Impugnado o pedido a fls. 25 e apresenta- como s·e impõem pelo seu rigôr, igualmente se
das as certidões ele fls. 43-77v, subiram os au- impõe a conclusão ela improcedência da ação,
tos ao Supremo Tribunal Federal, onde o Dr eis que a Uni:lo nada recebeu, como causa al-
Proccuador Geral opinou pela rescisão elo ve- guma se lucupletou, e pois, nada tem a resti-
nerando acórdão no parecer c!B fls. 80, que pas- tu ir.
so a ler: VerHica-se, como está acentuado na ini-
"A inicial põe a questão com singeleza em cial, que o venerando acordão foi proferido
tennos indesYiaveis. contra letra expressa de lei, e pois, é nulo, de-
O venerando acordão recindendo, data ve- vendo ser rescindido.
nia, violou o artigo 18 elas Disposições Transi- Ao cabo será julc;ado o autor carececlor de
trias ela Constituição, porque anula 1IDl áto a·ção, como é de inteira justiça.
praticado por a.gente elo Governo Provisório, no Rio de Janeiro, 27 de Abril de 1942. - G<t-
período revol ucionârio. briel de RezencJ,e Passos, Procurador· OBrai da
E' preciso que SB tenha sem'pre presente República".
que o artigo 18 citado é expressa e solene ma- VOTOS
nifestação ela vontade popular para aprovaa-
todcs os atos elo Governo Provisório, anistiando
O Sr. Ministro Barros Barreto - A mim
a Umão elas consequêncws dos êrros e dos de- s·e afigura improcedente a ação, votando eu,
sacertos inevitaveis num período revolucioná-~ pols, nesse sentido·
rio e concorrendo para estabelecer-se a tran- Pretende a União, que o ato do então Inter-
qu1:1.1c1a d e nas re 1a-coes
- ]une .
· · 11cas na aurora cl a vnntor Federal no Pará, compelmdo o Coronel
ordem que sucec!B~l à ordeln revolucionária. Jc~é Julio de Andracle, ao pagamento de avul-
Nem necsesário seria que fossem aprovados os ta ela importância, estava abrigado pelo artigo
.átos regulares, praticados de acôrclo com a lei, 18 elas Disposições Transitórias ela Constituição
com os rBgulamentos ou cmn os estilos admiti- de 1934, e, daí haver sido o acorclão rescinden-
dos, pois essBs traziam na sua substância a sua do proferido contra letra expressa de lei.
legi timidacle. Entendo, como sustentou o eminBnte Mi-
nistro Orozimbo Nonato, que a finalidade do
Carecem de aprovação excepcional para va- citado preceito constitucional foi a ele evitar
ler justamente os átos revolucionários, os átos prejuízos ao erario púl)lico, mas não a de au·
praticados contra a Constituição, contra as leis ferir lucros indevidos. Trata-se, na especie de
contra os direitos até então resguardados. um pagamento a.rl)itrariamente exigido, e não
O egregio Supremo Tribunal Fecleral já re- sendo ele licito, como ficou evidenciado, não
conheceu e proclarou inúmeras vezes essa in- podia o ato do delegado elo Governo Provisório
teligência do clispositivo constitucional, a única ficar acobertado co1n um verdadeiro bill de in-
que explica a sua Bxistência. elenidade, isto é, comprenelido naqueles que o
No caso elos autos, ao demais, a União de legislador constituinte excluiu de ap·r·eciação
modo nenhum tirou qualquer lucro ou benefí- judiciária.
cio com o :i.to elo Interventor Fecl·eral, ·e si por O Sr. Ministro !innilJal Frr'irc - A razão
.,lc nüD r~·.--;r:(1llcle cn face clE'.'-:sa cil'cunstüncia prillCipal c! a reschórb é a ele lla ver o acórdão
cL u!··.k·m oUpcrior ou em face elo citado artigo crnl)argacln yiuLtclo o a.rti~o 18 elas Disposições
(26)
20-2-43 ARCHIVO JUDICIARIO 227
Transitórias ela Constitutição ele 1934, visto como objeto daquele "bill de idenidaele". Se o inter-
anula um ato de delegado do Governo Provisó- ventor, por exemplo, exorbita dessa situação e
rio, prati·Cado no período revolucionário. age, vamos dizer, criminosamente, é eviden-
Sempre tenho sufragado, em pareceres pro- te que o Tribunal abrirá exceção à prorbição do
feridos na qualidade de Con.~ultor Geral da aludido artigo 18, para apreciar essa atitude,
República e em votos proferidos neste pretó- essa atuação criminosa, que não estará, por
rio que o r·eferido m·tigo compreende todos os conseguinte, ·dentro da esfera daquela indeni-
atos do Governo Provisório e de seus delegados dade.
átos administrativos acabados, mórmente os Sob este aspecto estou inclinado a aceitar
que se distanciavam dos preceitos legais e po- o voto elo Exmo. Sr. Ministro revisor, ressa1-
diam ocasionar reparações e indenizações pe- vada, porém, a restrição que ora faço, afim de
cuniárias. não ficar preso às afirmações possíveis do acór-
Tal entendimento foi o que recentemente dão, seguindo, aqui, o exemplo muito aconse-
presidiu à decisão ela qual fui relator, no re- ll~avel elo Sr. Mlnistro Orozimbo Nonato, que
curso extraorclinrurio rel<~tLvo à indenização faz, sempre suas restrições, afim de não ser apa-
pleiteada pela S. A. "Correio Paulistano" versus nhado na generalidade das decisões.
Fazenda elo Estrtclo de São Paulo. Neste feito O Sr. Ministro Annibal Freire (Revisor i
cogit,wct-se soJJt'étuL!o ele ãto de desapropria- - A afirmação genérica a que V. Ex. aludiu
ção cxp·2diclo pelo Intenentor Federal e desa- é elo :E;xmo. Sr. Ministro Orozim:bo Nonato, no
propria~üo t~cfinitivamente proces~a>da e ao voto prof.erido na Se<>:unda Turma e não do mo-
monVtnte da qual se pretendiam acrescentar lu- desto revisor.
eras cc~santes, tanto mais quanto a decisão Apenas, sob c·ertos aspe~tos, eu a acolhi.
mandava pa;·~,r o material não incluido na de- No seu p·onto de vista, realmente. V. Ex.
sapropria~ão além dos juros da móra no res-
tem razão, diz.enclo que o artigo 18 não abran-
pectivo pagamento. ge tão só os átos do qual tenha de derirar luna
A Jlipóte"e presente é absolutamente cliver-
.catisfaqão pecuniária. O Exmo. Sr. :i\1.inistro
sa; mio se trata de indenização por áto prati-
Orozimbo Nona.to discutiu porém'. em seu Yoto,
cado c-om infração de preceito legal. Trata-S·e
o elemento histórico daquele elispositiyo consti-
de extoreüo amplamente caraterizacla, efetuada
tucional, ao qual -!1avia aludi elo o E-...:mo. Sr.
por um agente do Poder Público. Ministro \Valdemar Falcão,· argumentando que
Nua se me afigura justHicável ni\'elar tal tal elemento histórico não podia s·er decisivo,
áto, ele que se Jucupletou o ·erário estadual, a porquanto, segundo afirmou o então Ministro
quaisquer outros que tenham sido objêto de Juarez Tavora, ele visava, justamente, evitar o
decisões deste pl·ená;rio, no que concerne aos pagamento de indenizações por parte ela União.
efeito elo citado art.· lB. O Sr. Ministro Goulart de Olireira - Não
1viet1 voto é pela improcedência ela rescisó- fiz alusão ao voto ele V. Ex. nesse ponto.
ria.
O Sr.· Ministro Anntba! Fret1·e (Re~•16or; -
O Sr. ;wini.,tro Goulart ele Oliveira - Sr.
Falo em atos administrativos ac·abados, lllormen-
Presidente, não concordo data venia, com a
te os que se distanciavam do preceito consti-·
afirmac;~o constante do voto do Exmo. Sr. Mi-
tucional e podiam ocasionar incten!zação.
nisüc revisor, no sentido ele que o artigo 18 O Sr. Ministro Goulart de Oliveira - Não
das Disposições Transitórias da Constituição de se pode g:u-antir que o voto de V. Ex. seja ven-
1934, só pode ser aceito pelos tribunais· com a cedor. Quando 1ne referi ao acordüo, não quiz
sua feição proibitiva, quando flproveita ao erá- referir-lne ao voto de V. Ex.
rio ela Nação. Tal dispositivo parece-rme, é arma. O Sr. Ministro Annibal Freire (Revisor) -
de dois ''Um·es. Aprova o ato, qtwlquer que seja, Não tenho nenhuma pl\?tensão nesse sentido.
quer dizer, aproveita ao particular ou aprovei- O Sr. Ministro Goulart de Olive·i.ra - O ar-
ta aos cofres públicos, federais ou estaduais, gumento. que não está no voto de V. Ex. está
conforme emane o áto do Presidente da Repú- no da maioria elo Tribunal. Este Tribunal, con-
blica ou ele seus inten•entores.
Esta minlla assertiva nüo importa entre- I tra o meu voto, considerou aprovada pelo art. 18
das Disposições 'l'ransitória.s da Constituição de
tanto em incluir entre os atos aprovados aque- 34 o ato elo intenentor do Estido LtYOntYCl a
les que C'xorbitcn1, c~~nKl 111;- p~ln'ec ser o cDso um clcscmbargaclor e atncaelo pel:: 'Jnião.
presentf'. ela ntua-ç:}o r:.~_su1;lr do Prt'sid~ntc c1n Houve inúmeros casos, aqui. em que se cicci-
REpúlllic.c ou ele s''Us pn•postos. que cleycm ser eliu que o art. 18 - proibição ele controle jucll-
(27}
228 ARCHIVO JUDICIARIO 20-2-43
cial - acoberta atos fa\'Oraveis à parte contra o do Pará e jamais para os cofres ela. União, que,
Estacl~. Não vejo razão para que nfw sejrt issCJ portanto, nada tinha a restituir ao reclmnante.
aceito, como princípio. Fui vencido e, ainda agora, só me resta o
dever de manter o ponto ele vista em que então
Se se passa a esponja, se se apagam os efei-
me coloquei, por força do qual não po.sso realizar
tos elo ato, se os atos ficam apro,;aclos, recusan-
do-se-lhe a apreciação judiciária, com a respon- a critica desse ato; eu a faria, tal·..-ez, com vee-
sabilidade de quem os praticou - náo importa mência igual a de que usaram o Sr. Ministro
essa circunstância, que é geral, na restrição de Annibal Freire e o meu eminente colega ele Turm'a
só se aprovar, de só haver bill rie incleniclade, julgadora Sr. Ministro Bento ele Fari:1, cas::> pu-
quando tiverem sido tais atos praticado.s em fa- desse entrar no exame detido desse ato. Mas,
vor do erário público, da UnHo ou do Estado o legislaclor constituinte ele 1934 preferiu con-
Constituiria isso um absurde>, dentro elo ponto siderar os atos emanados do Governo Provisório
ele vista em que coloquei sempr·e, defronte elo de então como atos que tinham em seu prol a
dispositivo de lei, a que aludi. Esta é que é a presunção de representaram a vontac!e coletiva.
Ora, é sabido que, em direito público, exis-
minha restrição.
te tuna doutrina que concebe o ato unilateral do
Assim, no caso concreto, pode isso repugnar
poder governamental co1no representr1nclo sem-
ao Tribunal. Admitir-se-á que ele intervenha,
pre a vont;~cle coletiva, c::>J,.~ide,·anclo -os, pois,
apezar da proibição elo art. 18, porqne esse ato
como perfeitos, como sólidos jurirlicmnente, por
do interventor não está dentro da esfera cla-
quelecs que deve1n ser sancionados e aprovados, isso que tais atos, embora não visando a filwli-
porque aberrante ela sua função ele administrador clade do Direito, que eleve hr1ver em toda mani-
do E·stado, com uma sign!fica;;ão que excede a festação ele vontade que ~arma o ata juriclico
essa autorização. representam, ainda assim, :1 vontad-e ela maioria,
ou seja a vontade ela Nação.
com essa única restrição, acompanho o voto
Foi, certamente, diante cless:c concepcão que
da Turma, julgando improced0n·"e a ação.
a Constituinte de 34 se orientm1, ao votGr o dis-
O Sr. Ministro Waldemar Falcão -- Sr. Pre-
positivo a traz citado. Aln·açou. qviçá a chamada
sidente, fui voto vencido na Turma, com re-
doutrina elos juristas alemães, qu., presume sem-
laçáo à decisão da qual se interpõe a presente
pre imanente ao Estado, ao potler público, a, au-
ação rescisória. Disse eu, ante a Turma julga-
toridade, isto é, o poder ele comandar, o Ilcr?·-
clm·a, e, ainda agora, o reafirmo ante este Egrégio
schajt, a que Ee refere J2llinel;:, saindo cl·2sse po-
Tribunal, que, por mais simpática que fosse a
der a faculdade ele criar o nróprio direito. r·ol
hipótese, do ponto de vista em que se colocava
à sombra cle.ssa presunção, dessa jictio juris, que
o autor, na licle, o Coronel José Julio ele An-
se implantou o art. 18. Longe ae mim justifi-
drade, e por mais revoltante que ti\·esse s!do o
não car esse princípio, que ordinariamente domina
ato praticado contra o seu patrimônio, l"U
durante as fases revolucionária.s, e que sunpre
poderia apreciar esse ato, porque entendia que a
repugna ao nosso senso jurídico, por isso que
isso se contrapunha uma norma expressa, proibi-
colide com o nosco sentiln2:1to ele respdto ao
tiva: a consignada no art · 18 cl~s Disposições direito. Mas, devemos atentar que se estava,
Transitórias da ?onstittúção Fedem! de 1934. então, diante de contingências históricas ine-
Trouxe, entao, aos meus eminentes colegas lutaveis. O constituinte ele 103-1 não poclia dei-
da Turma julgadora, o meu depoimento ele meJn-1 xar de encarar aqueles atos e fatos como consu-
I
bro ela Assembléia Nacional Constituinte, por mados, como representando, iniludivelmente, a
onde se poderia verificar ter s!d.o manifesto o vontacl~ coletiva, de que era orgão, a esse tempo,
desejo do legislador constituinte de 34 ele
. excluir
. o po d er pu. bl'1co, que se t'1nh a cna
. d o pe 1a f orca
da apreciação judiciária, integralment'l, os atos das armas, pela mamfestacão ineqü!·voc;t. de u~a
que, contrários ao direito, tivessem sido pratica- revolução, e que era, então·, o depositário ela von-
clos pelos orgãos elo Governo Discrecionário que tade nacional.
se implantara no país pelo advento da revolução Foi dentro desse espfr!to, dessg, idéia, - que
de 1930. encontramos, por exemplo, esboçada ua obra
Ainda mais: pecl! a atenção dos colegas para de Michoucl, como na ele vários juristas alemães,
outro aspecto da questão, que era o da irres- - que o poder constituinte de 34 criou esse prin-
ponsabilidacle ela União pela repetição do in- cíplo.
débito. que sr; vlnclicava naquela lide, porque o Se estamos diante ele ato qu•" teve, p:ua se
cHnhciro anancuclo violentrlmcnce, elas mãoo do acobertar, essa presunção cte representa1· a von ..
autor ela ac:-\0. teria iclo pena os cofres elo Estado taclc elo Estado, e ele ser, por conseguinte, intan-
(28)
20-2-43 AHCHIVO JUDICIAHIO 229
givel; e se temos, contra o de.o;e_i:J da análise, elo sobre os tafos consumados, como um bill de in-
exame e elo julgamento pcl·cuclf:nte desses atos, denidade, para evit.a.r prejuizos ao erário püblico.
essa barreira que o constituinte de 34 levantou, Admito, pois, o art. 18 sem qualquer re>-
não se! como se possa, - tlata vente. dos meub trlçáo.
eminente colegas, que pensam de 1'10do diverso, Quando era Juiz em Minas Ge;·ais, hesitei,
- apreciar e criticar o ato c:m questão; e, ainda a principio. EntendJG. que esse artigo ·só se
mafs, para atribuir, como con~ectar!o clesse ato, aplicava aos a·:os prG.ticados em função dos fins
um dever de indenizar, de restttnlr, a uma en- revolucionários e não a.os atos aclministrativos
tidade que, rigorosamente, nem se aproveitou ordinários. Depois, vi que s~ria impos3ivel essa
das conscquências ecDnômicas deses ato. distinção, que inclue sutlleza cóatraria ao que
E' nesta conformidade que, reafirmando o nele se diz, e accettei-o, tal como di::.pos a v.Jn-
ponto de vista em que me coloque! ante a Egré- t(lde ilimitadamente soberana da Assembhiia
gia Turma julgadora, cnte:1elo que a decisão res- Constituinte.
cindenda foi proferida contra a letra expressa Mz., não e exato, •3 meu v2;·, c!ata venia elo
do art. 18 das Disposições TransJtorl8S da c::m.s- Sr. Mmis:ro Waldemar Falcão. que aquela As-
tituição de 34. E, assim sendo, julgo proceclente r.embJéia tenlla, necse .passo, procedido ern nome
a ação rescisória, nos term'Js do pediclo àa Pro- de principias juriàicos, em nome de um sistema
curadoria Geral da Repüblicn,.
político, como norma a ser seguida. permanen-
O Sr. Ministro Orozimbo Nonato: - Sr.
temente. DQ 3 debates históricos então traV(i.C!OS,
Presidente, a qucstao está amp!a.mente deba··
o que ficou evidenciado foi a feiçao es:R-e'!t3l
tida, d2 modo que poucas pal•1.vras terei a di-
elo art. 18, que nem c·e pod{; considerar conn
zer; c o faço apenas em atenção às objeçcv~s
conoequência Inafastavel da vitória da RevoJ.u-
levantada,õ pelo Dr. Procurador Geral da Repú·
<,ão. A Revolução podia ser vitoriow<, como fol,
blica, em seu meritório e patrió'ico dever ele
sem que na ConstitUição viesse a figurGJ.· o r,r-
defende:· os interesses da União, e às referências
Ugo 18, F!te tvl, ttptona~. expedie:1.:.e, provlden-
pesso•1is con1 que me honrou o meu eminente
Ci8. ilnposta ao cnn.'tltulnte, alarmado pela
colegr, 51·. Ministro Gou!art ele Oliveira.
iminência elas ações que contra. o erario pübl:co
Na 2" Turma. acentuei como principio, qu2
E.enarn propostas e que irim.n debilitar, profun•
até hoje cweito, que o art. 18 das Disposiç0es
clan1ente, as finanças nacionais.
Transitórias não oterece trl!1ca por onde se !i'l-
Sempre entendi esse artigo como dispositivo
sinue qualquer exceção; que, uma vez com·
que protege a União contra açoe,s que VIOO-m ao
preencliclo em seu alcance, o o.rt. 18 é um dis-
•.mpobrecimento do erario público; ma.s não a
positivo inteiriço, que não comporta exceçC>€.,.,
pode .proteger con:ra as ações que não VJSern R
nem ainda. aquelas que vierain cmn a au oridL'L-
e,;.se empobrecimento, que apen:1s, tenham ·~omo
de do Exmo. Sr. Ministro Goulc1rt de Oliveii·a.
ohjetivo impedir prejuízos particulares, snr,
A fin:1Iidacfe do art. 18 foi tirar acs atos
prejuízo ela Fa:z.enda Pbllca.
praticaclos quQ.Jqucr eiva de ilocgalidaae, quer no
O Sr. MtJ;,:stro Waldemar Falcão: - Com
que respeiCrt ao contendo, que1• 11ü que respt>ita este entendünento, V. Ex. votaria pela proca-
à forma, quer, ainda, em atenção à ativid:1de clência da resc1;orta, porque, na realidade, a
das autoridades do Governo Provisório.
União não receb€u nada.
Se o Interventor praticou um ato qualquer, O Sr. Ministro Orozimbo Nonato: ~ V. Ex.
na. qualidade de que .se acllava inves' Ido, não é está se antecipando a outros desdobramentos de
de se indaga.r se o art. 18 o pro'::~ge ou não pro- meu vo~o. Essa. objeção, aliás, foi levantad;J.;
tege. No caso dos autos, seria. impossível ao com muito brilho, pelo sr. Dr. Procurador Ge-
Interventor praticar o mencionado ato, se nã~ ral da República, dizendo S. Ex. que, não sen ·
estivesse armado da qualidade a e intervento,·. do a União acctpiens, não podia restituir.
Entenclo, data vema, que o art. 18 abrml- Peço licença para não quebrar o fio de3t~
ge não só a.<o. atlv.idades normais dos interv<m- primeiro argumento, para chegar, logo, ao se-
<tore:, como, tambem, qtiaisctuer outras pratica- gundo. Por enquanto, estou, apenas, procuran-
das na qualidade de agentes do Governo. E foi do fazer, em. terrnos rápidos, a exegese, a int.er-
justamente para evttar que sobre essas ·ativi- pretCLção do a ri.. 18, em o·l'll slgniflcndo e ·~m
dades ccentricas, anormais, ilegais, confluis- seu alcance. O art. 18 encontr~t '2Xplicação, di-
sem a.s. ações contra a União, que velo o art. 113, zia, na necessidade ele evitar a ruina do erúrio
cmno un1 véu sobre o passado, como um selo pübl!co, sem que possa encoiitnt.r justifica ci'Ir<
(29)
230 ARCHIVO JUDICIARIO 20-2-43
em doutrinfL pumanente, ligada ao conceito da R0]Jito, com func!acla convJcção, que as'im
onipotenclfL do Estado. vota, não p~ra qucDrar principi·Js <'In í'acc ele
O Sr. Waldemar Falcão: - Mas essa foi a causa que, por seu aspecto, imponha, ineulw.te
julgamento de equraade.
justificação teól'lca que muttos constituintes
Na verclacle, como disse o Emo. Sr. Min!s ·
deram para obter a aprovação do art. 18. Esra-
tro Goulart de Oliveira. seu cioso dos princípios
va lá e posso dar esse testemunho a V. Ex.
e cr!ter!os gerais de julgamento. Entendo CJU"
O Sr. Ministro Orozim,bo Nonato: - Na não os devemos fazer com que eles cedam diaflte
Turm::t. tive ocasião de, em debate com V. Ex., desse ou ua.quele caso.
observar que não importa ao intérprete, para a
o ou:ro argtunento, ma.is. iYnprcssionante,
inteligência do dispo3itívo em estudo, rastrea-r
foi trazido pelo Exmo. Dr. Procurador Geral
a opinião pessoal deste ou daquele parlamentar.
da Repübl!ca e pelo Sr. Ministro \Valdemar Fal-
Citei, a respeito, a lição de Ferrara. 'A lei é o
cão - é o que trata da restituição cio indébito,
que ela s~gnifiCa, em sua finalidade, em sua
que deve ~:.er í'eita n.a. medida do que se rece'Jcu
expressão, e não o que, ao propósito, consti- !nclevldamente. Ora, a União não foi accipiens,
tuia o pensamento de A ou B. Dai distinguu·- nada recebeu e, portanto, nada pode c!evolVCl',
se entre os traball'l~ 3 prepara1órl'Js propriamen- tuna vez que não auferiu qualquer prov8ito.
te ditos, de valor insignifica.nte para o in:.érpre- Realmente, e~.te argumento impressiona.
te, sem significação, e o elemento histórico de E' preci,o, entretanto, atentarem que não
granEle voJ.lia, o momento htstõrico em que apa- se trat,a. rle hipótese comum de restituição de
l'·ece a lei, com a ~.ua fisionomia própria, com a indébito, em v1stu de pagamento por erro. O <le
sua destinação histórica, com o fim a que ela que se trata é de tomada ele dinheiro por vio ·
visa, com o car.ater que lhe imprrme o seu siga') lência, .prevalecendo-se a autoridade da. força,
de na.oclmento. para obrign.r a.Jguem a pagamen-o que ele !lllo
O constituinte não teve ~m vista e nem fez voluntarimnente nem por erro.
podia .:er, no art. 18, o propósito de cnar uma De modo que os dois extremos da restitLtl·
fonte de renda para a União, através de pre- çâo do indébito, no direito privaclo, não ocorre-
Juízos dos direitos de partiéulares. Ao contrário, ram, no o::tso.
o m·t. 18 visa o s:tcrif!cio rrúnlmo imposto ao
Quando me referi à restitulçào do Indébito,
particular apenas sempre que, dessa restrição
foi para dizer que não se trata àe perd"s c cla-
de ,,eus direitos, pucless2 surgir um prejuJO para
noo., para lembrar que pode haver prejuízo pa.r:.
o erário púbUco.
o> particUlares sem que haja. prejutzo para a
V. Ex.. Sr. Ministro Waldemar Falcão, trnlão.
sa.b€ ma.is do que eu, e tomou pa.rte brilhante
Trata-se ele açrto que não .:e compara com
nos dcba.tes d•:t ASsembléia Constltuin:.e, que
vá'rlos aeputados adotaram, como just!fica.tiva, aqueles casos e1n que uma das partes pa3'a,
o critério da necessidade publica; era necessar!o voluntariamente, mas por erro.
o .sacrifício de alguns particularçs para que a E a. União é responsavel porque o a.'·o lesi"O
Nação não se arrumasse, a.traves das ações que <! de um funcionário da União, que procedeU
se intentassem. Ora, não há prejuizo nem qual- como seu delegado. Si a. Unlã.o, em consequc,1-
quer danq para a Nação ou para o erário públi- cia, teve prejuízo desse ato do seu delegado,
co, quando, apenas. devolve aquilo que a·ecebeu pode procurar repará-lo, .proponclo ação conTra
Indevidamente; não se trata, af, de ação de in- o Elõtado.
denisação, de ação de perdas e danos. Apenas, O Sr. Mtntstro Walàemar Falclío: - A jU-
Vl•SQ. o A. a retirar ao erário pílb1Jco aquilo que dtwrudência elo Supremo Tribunal tem enten-
nao Na devido e que pode ser entregue &JIT• cl!rlo que, mesmo no regime da tntervençã.o, a
qualquer preju1zo. respoi1Sabilldade é do Estado porquanto se su-
põe que o ato pra.ttcado pelo interventor fe-
Entende que o art. 18 tem essa destinação.
deral é caracterizado pela natureza da um ato
Com essa finalidade e int€ligência, não 1h.e crio
do Governo est.ac!Ual.
restrição; apenas, não lhe dou o alcance que
V. Ex. lhe dá, pois entendo •JUe ele não rol O Sr. Ministro Laudo ele Cm~ (i?'go: - :Hão
aprm·ado cmn o fito ele obter lucro.s plLra o erá- é unifor:rne n jurispructcn-::1u; há ncorrlüos nnm
rio. mas ooó com o de évltar-lhe prejuizos. spnticlo e noutro.
130\
20-2-43 AHCHIVO JUDlClARIO 231
O Sr. Minzstro Bento de Fana: - ·.re1n h:-t-1 quele período, que jamais se negou pudessem
Vi do L!íV2rgencía. neste p·:H·tícu!a.r. 1 ser ajuizados; daí a distinçiío entre atos legisla-
O Sr. Ministro Orozimbo Nonato: - Os tivos e atos a-dministrativos, fiscais, financeiros,
eminentes colegas responderam ao aparte com etc. ':Mas a razão, que já tive ocasião de salien-
que me honrou o Exmo. Sr. Minístro Walclem~r tar, está em que, nesses casos, ê a União quem
Falcão. vai a juizo para pleitear um pagamento; e si
põe o caso em juizo, sujeita-se às consequências
O Interventor adnlinistra o Estado, ma~S
dessa sua atitude, à defesa daquele que ela cha-
não se pode dlzer que, no caso, ele nao te::J.hú
mou a juizo, defesa que envolve a apreciação dos
procedlclo armado da torça que .:he deu a União.
seus atos.
Não se póde nega-r que a União seja respo.ttsa-
vel por esse a•':O. Não .se curdava, aqui, de Lun Devo dizer que a União, propondo sua ação,
ato administrativo estadual, mas de violência rescisória, não se fundou,_ apenas, no art. 18,
data venia elos ilustres colegas que n1e precede-
praticada por alguem que só poderia fazê-lo, ar-
ram: mas tambem no art. 964 do Cócligo Civil,
mado do poder que a União lll.e <'_,{)IlfeTiu.
que diz que todo aquele que recebeu o que 111.e
O Sr. Minzstro Waldemar Fatcao: - S i uma
não era devido fica obrigado a restituir. Ela diz,
autorid·:tcle. o Presidente ela Repúbllca, ou mes-
porém, que não está obrigada a restituir por-
mo o Ministro da Justiça mandasse praticar
que não recebeu. A questão foi examin'lda, ain-
o ato, ai se poderia restituir ou admitir a .:es- da l1á pouco, pelo Sr. Ministro Orozimbo No-
tituição dO inclébko. O Interventor, entretanto. nato, em resposta ao voto manifestado pelo Sr.
praticou o ato co1no chefe do governo e>tadwu Ministro Walclemar Falcão, mas data venia, Sua
e em proveito elos cofres estaduais. Ex. nio me convenceu de que, no caso, não se
O Sr. Ministro Orozimbo Nonato: - Ele trate de restituição ele indébito porque houve
praticou esse ato como delegado da União, 1JOr pagamento, rnanu militari, coativamente exigido.
ele respondendo a União, que poderá procurar a Ainda que devido o imposto, a parte foi coagida
restituiçâo pelos melas regulares do direito. a pagá-lo e tem direito ele vir pedir a restituição
Tais as razões elo meu voto. elo "quantum" e, nessa restituição, o Estaclo que
o Sr. Ministro Castro Nunes: - Sr. Pl·e- clefenda o seu direito.
sidente, entendo que se trata de ato do Governo
A União está condenada a restituir aquilo
Provisório em que não está eliminada a aprecia-
que não recebeu. O Sr. Ministro Orozimbo No-
ção judicial, pelas razões elépostas nos votos elos
colegas que me precederam e ai11da por 1.una cir- nato colocou a questão nestes termos, o inter-
cunstância que me permito acrescentar e que é ventor é um delegado da União e, portanto, au-
peculiar à hipótese: é que se trata de cobran- toridade federal, por cujos atos deve responder
ça de impostos coativamente feita, rnanu mili- a Fazenda Nacional. Jamais pude aderir a esta
tari, por funcionários do Estado, à ordem do in- doutrina, no Supremo Tribunal. Ainda qua11clo
terventor. Tratando-se de imposto, o principio juiz federal, com assento aqui, proferi voto lon-
gemi, jamais contestado, na vigéncia ou depois gamente fundamentado em que mostrei, aliás, de
da aprovação da Constituição ele 1934, ê que acordo com muit.as decisões, embora não uni-
formes, do Supremo Tribunal, que o interventor,
nunca se trancou a defesa do contribuinte. Quer
quando assume o governo elo Estado, faz as ve-
isso dizer que o Estado - falo de um modo
zes de governador e vai :aànünistrar e executar
geral, na acepção genérica . - indo a juizo co-
brar um imposto, torna acessivel à apreciação orçamentos, cobrar i.mpostos, arrecadar receitas,
judlctal o ato do Governo Provisório, federal ou fazef despesas, de a.corclo com a legislação e a
local. No caso, o Estado do Pará prescindiu do preceituação em vigor, no Estado, mover os
aforamento da clemancla, do pedido em juizo, e, funcionários que ficam sujeitos a sua direção
manu militaTi, coagiu o contribuinte a pagar, e disciplin:t ,enfim, ê o governador; por seus
de modo que esta circunstância pecl!liar à hi- atos, não responde a União, que se limitou a
pótese, tratando-se de cobrança ele imposto, em investi-lo, responde o Estado.
que o contribuinte não teve modo regular ele O Sr. Ministro Orozim,bo Nonato: - No
defesa, lhe dava direito de vir a juizo para pe- caso elos autos, o 'interventor agiu a mão arma-
dir a restituiç'lo do indébito. ela, não fez uma cobrança comum, a favor elo
A possibilidade de se discutir nas cobran- Estado, serviu-se de sua autoriclaclc oficial, do
ças fiscais o nto elo Governo Provisório era um exercício ele sua funç.'\o, para fazer unn coJJran-
argumento, de que muitas vezes se usou, para ça de imposto que a lei ni\o autorizava. Não se
dizer que existem atos da administração, na- trata ele ato administrativo, mas de um ato de
31
232 ARCHIVO .JUDICIARIO 20-2-43
força ou de poder, só praticado por delegação ela a União Federal, sendo réu José Julio ele An-
União. Um ato administrativo que ele pratic[lsse drade:
com ess[l [\ utoridade de governador elo Estado: Acordam os Ministros do Supremo Tribu-
nomeação ou execução de funcionário, está b_em, nal Federal, em sessão plena, julgar improceden-
o Estado é que responderia, mas ele praticou, te a ação, por maioria de votos.
contra a lei, um ato que não é de cobrança de O relatório elo feito e as razões de decidir
imposto, e só o fez porque estava investido da constam das notas datilográficas que precedem.
.autoridade federal. Custas na forma da lei.
Rio, Setembro 8 de 1942. - Eduardo Espi-
o Sr. Ministro Castro Nunes: -Agradeço o
nola, Presidente. - Barros Bcm·eto, relator.
aparte ele V. Ex., mas peço licença para ponde-
rar que V. Ex. ohservou, aliás muito bem, que
o interventor, praticando, embora, um ato vio-
lento, ilegal, o fez na qualidade de interventor Conflito de jurisdição n. 1.377
e não poderia praticar e.~se ato si não fosse in-
(SÃO PAULO)
terventor. Trata-se, pois, ele um ato, qualquer
que seja a sua qualificação, de interventor ou de A lei de Estado que cria em cada comarca a
função de depositário judicial tem ca-
seus delegados. rater territorial, de organização judi-
ciária, e se ·aplica às diligências depre-
Dizia eu, Sr. Presidente, que, de acordo cadas, ainda que o juiz deprecante haja
com a doutrina a que me tenho semrpre man- designwdo depositJário particular.
tido fiel, o interventor, assumindo o governo
RELATÓRIO
do Estado, ag-e pelo Estado; portanto, compete à
Fazenda do Estado a responsabilidade. E' a ela O Sr. Ministro Barros Barreto: - No curso
que compete restituir o que recebeu por violên- •da ação ürdiná!ria movida por João Marques
cia ou extorsão. A União não pode ser obrigada \Soutelo contra Maria Candida Fonseca Lima,
a restituir aquilo que não recebeu, aquilo que 'Perante a 6a Vara Civel ela Capital de São
foi recebido pelo Estado, coativamente, por um !Paulo, e em que o autor pleüela seus direitos
ato de força do seu governo. sobre uma escritura de comrpromisso de compra
Nestas condições, julgo procedente a ação e venda do imovel denominado Itambé, situado
rescisória, por este segundo fundamento, sómen- na comarca de Santo Antonio de !Platina, Estado
elo Paraná, requereu ·a ré o sequestro da dita
te para declarar o autor carecedor de ação contra
propriedade. Deferida a medida e nomeado de-
a Uni.ão, mas resalvado o seu direito de agir con-
tra o Estado. positário, expediu~se 1a competente precatória
ao juizo de direito de Santo Antonio de Plati-
E' o meu voto. na, o qual, destituindo o depositário particular
O Sr. Ministro José Linhc-res: - Sr. Pre- nomeado pelo juiz deprecante, ordenou fosse o
sidente, voto de acordo com os Srs. M;inistros imovel depositado em mãos do depositário pú-
Relator e Revisor. blico da comarca.
Dai, surgiu o presente conflito positivo de
O Sr. Ministro LaUdo de Camargo: - Não
jurisdição, devidamente intormado por aqueles
se trata de arplicação do art. 18. E, sendo este o juizes, a fls. 18 e 21: (lê)
objeto da ação, dou a mesma como improce- O ilustrado Dr. Procurador Geral da Re-
dente.
pública oficiou, a fls. 23, nos seguintes ter•
O Sr. Ministro Bento de Faria: - Sr. Pre- mos:
sidente, julgo a ação improcedente.
"O conflito positivo de jurisdição nos pa-
rece procedente, desde que juizes sujeitos a jU•
DECISÃO
risdição estadoais diferentes se julgam compe•
tentes para praJticar o mesmo ato judicial -
Como consta eLa •ata, a decisão foi a seguin-
nomear depositário de bens sequestrados.
te: ,Julgaram improcedente a ação, contra os
O juiz de Direito de Santo Antonio de Pla·
votos dos Srs. Ministros Waldemar Falcão e
tina, no Paraná, ao cumprir uma precataria de
Castro Nunes.
seu colega da 6a Vara Civel da Capital de São
Acordão Paulo, na qual pedia a eJ'etlvação de um. se·
questro de certos bens, atendeu o pedido
l
_ Vistos, _relatados e cliscut:dos estes autos de dando curso à diligên<:ia, mas destituiu o de·
acao resc1sorw n. 78, do !Para, em que é autora positário indicado pelo juiz deprecante e desi-
(32)
20-2-43 ARCHIVO JUDICIARIO 233
o Sr. Ministro Waldemar Falcao - Sr. Pre- O Sr. Ministro Laudo de Camargo: - Voto
sidente, parece-me que a razão está com o cam o Sr. Ministro Philadelpho Azevedo.
Sr. Ministro Philadelpho Azevedo, data venia O Sr. Ministro Bento de Faria - Julgo
do .Sr. Ministro relator, porque, na espécie, procedente o conflito e competente o juiz de-
existe uma lei em vigor no Estado do · Paraná, precado, na conformidade do voto do Sr. Mi-
lagar em que se reallza a diligência, e essa lei nistro Rhiladelpho Azevedo.
é precisa, terminante, inequtvoca no conferir
DECISÃO
a competência para o deposito a determinado
funcionário judicial. Como consta da ata, a decisão foi a se-
Nessas condições, voto pela competencla do guinte: Julgaram procedente o conflito. unani-
julz deprecado, para autorizar 0 deposito nas memente, e procedente o juizo de direito da
mãos do depositário público de lá. Comarca de Santo Antonio de Platina (Estado
O Sr. Ministro Oroztmvo Nonato - Sr · Pre- do Paraná), contra o voto do Sr. Ministro re-
sidente, o voto do Exmo. Sr · Ministro Barros !ator, que julgava competente o juiz de direito
Barreto tem um fundamento impressionante:
de S. Paulo. -- Designado para lavrar o acordão
é o de que o funcionário nomeado para deposita-
o Sr. Ministro Phlladelpho Azevedo.
rio judicial deve prestar contas e responder pe-
rante o juizo de todos os seus incidentes. O
Acordão
argumento, porem, não é terminante, data venia,
porque nada impede que as contas sejam pres- Vistos, relatados e discutidos os autos de
tadas diretamente ao juiz da causa. Uma vez conflito de jurisdição n. 1.377 de São Paulo, em
que na comarca onde se reallzou a diligênc:a há que é suscitante Maria Candida Fonseca Lima e
runclonárto legalmente nomeado para o encargo são suscitados os juizes de Direito da 6a Vara
e que a competência do juiz da causa prlncipal, Cível da capital de S. Paulo e o da Comarca
ainda que abranja os seus incidentes, não com- de Santo Antonio da Platina, Estado do Para-
preende a nomeação, em caso em que a lei ná, acorda o Supremo Tribunal Federal jul:;;ar
resolve o assunto, chego à conclusão do voto do o mesmo procedente e declarar, por maioria de
Exmo. Sr. Ministro Philadelp~o Azevedo, em- 1 votos, competente o juiz de Direito da Comar-
bora reconhecendo que o argumento suscitado ' ca de Santo Antonio da Platina, Estado do Pa-
pelo Exmo. Sr. Ministro Barros Barreto seja ranã, pelas razões constantes dos votos taqul-
ponderoso. grafados.
O Sr. Ministro Annibal Freire - Sr. Presi-
dente, voto ele acordo com o Sr. Ministro Phila- Custas na forma da lei.
delpho Azevedo.
O Sr. Ministro José Linhares: - Sr. Pre-~ Rio, 30-9-1942 (data do julgamento). -
sidente, acompanho o voto do Sr. Ministro Phi- Eduardo Espinola, Presidente. - Philadelpho
ladelpho Azevedo. A.zevedo, relator designado.
(34)
20-2-43 ARCHIVO JUDICIARIO 235
rispruclência, Tnbunal de Apelação, vol. 4, pag. E' de considerar-se que em relação à culpa
55, julgou procedente a ação em caso idêntico, aquiliana para que produza a eficácia obri-
isto ê, no ônibus o passageiro viajava com o braço gatória ou sujeita o seu autor à repara.ção do
para fora do veículo quando outro ônibus, que dano é precisa a prova da falta de diligência;
vinha em sentido contráJrio, passando de raspão, na culpa contratual, pelo contrário, não se im-
arrancou o braço esquerdo do ,passageiro: o pri- põe, essa obrigação a quem pretendeu ser in-
meiro acordão julgou procedente a ação, mas de- denizado, incumbindo a quem devia cumprir
cidiu que havia culpa tambem da vítima, que o contrato provar que procedeu com a diligên-
imprudentemente viwjava com o braço par:t fora cia requerida pelo dito contrato ou pela lei.
do veículo e dada a culpa de ambos, a indeniza- 'i O princípio da legislação brasileira é que
ção devia ser repartida. Em embargos, a 4a Câ- as empresas de transporte respondem pelos de-
mara restabeleceu a sentença de la instãnct'l. por- sastres que sofrem os seus passageiros, presu-
que "a responsabilidade pela indenização não &e mindo-se a culpa sempre delas e somente se
pode dividir entre as empresas transportadoras admitindo em contrário a prova de caso for-
e a vítima", declarando o relator, Desembar;:a- tuito, força maior ou culpa do passageiro, não
dor J. A. Nogueira, que "o art. •17 ela Joe-i :l . G81, concorrendo culpa da estrada. Basta, portanto,
de Dezembro de 1912, § 2.o é claro e repele a a culpa da transportadora, para que não mais
doutrina do concurso de responsabilidades, pois se possa invocar a da vítima, se pudesse exigir.
só admite como defesa a prova da culpa. do A da empresa, se presumida, prevalece sobre a
viajante, não concorrendo culpa dm estrada - o outra (art. 17 da lei 2.681 de 7-1~-1912). E' o
que i.m.porta em esta-belecer que mesmo no caso que tem sido firmado pelos tribunais e dentre
de culpa tambem do viajante a responsabilidade os numerosos julgados, pode apontar os que
da estrada é integral". foram publicados na Jurisprudência., Tribunal
As transcrições dos acordãos referidos são su- de Apelação, voi. 1, pg. 21; vol. 2, pgs. 45, 58
e 82; vol. 3, 13; vol. 4, 56; vol. 5, 73; vol. 6,
ficientes para demonstrar a divergência da tese
30, 40 e 43; vol. 8, 17, 49, 50, 105, 114 e 130;
com o acordão recorrido autorizando o recurso
Revista Forense vol. 90, pg. 126 a 132, e 148;
de revista, sendo que no segundo aresto as c,ues-
vol. 88, 422; vol. 87, 169 e 420; vol. 85, 92 a
tões de fato se ajustam perfeitamente ao caso 94, 351 e 360; vol. 86, 373, 380; vol. 83, 118 e
srb juclice. 159; .ARCHIVO JUDICIARIO, VOI. 63, 264; vol. 62,
o Direito - A jurisprudência, aplicando a 22, 142, 289 e 441; vol. 61, 183 e 246; vol. 60,
lei 2. 681, de 92, às empresas de bonde e de ôni- 266, 372, 445; vol. 39, pg. 183, 254 e 500.
bus, igualadas às estradas de ferro ,tem decidido O Fato - O recorrente ·viajava num ônibus
uniformem•ente a explorar tais serviços, e.::;tabe- da recorrida, vindo com o braço pelo menos
lecem desde logo uma relação jurídica entre si pa?'cialmente de fora, conforme a perícia, cuja.
I
e os transportados, tornando-se responsaveis para conclusão foi aceita pelo juiz, quando o ônibus
com os me<.mos p·elos prejuízos e danos causados, em que viajava foi abalroado por outro ônibus
assumindo a obrigação de transportar os passa- da Viação Grajahú que vinha em sentido con-
geiros, com a devida segurança ao ponto de des- trário, resultando a amputação traumática "ao
tino. Se por culpa própria ou do seu preposto nível do terço superior do humero esquerdo".
sofrer qualquer dano alguma das pessoas trans- A vitima viajava no ante penúltimo banco, como
portadas é a companhia ou empresa responsavel informam o motorista, fls. 45 e a perícia a
pela indenizaçã-o. E' a con~equência da falta de fls. 46 e é o banco que fica sobre as rodas,
cumprimento da obrigação assumida, isto é, de mais alto que os outros, podendo o passageiro
transportar o passageiro ao seu destino são e apoiar o braço na janela conforme se verifica
salvo, em virtude do contrato chamado de trans- da fotografia a fls. 22, porque seriam necessá-
porte. A companhiia, recebendo o passageiro em rios na janela correspondente dois varais, em
seu carro, se obriga a conduzi-lo, com toda se- vez de um, para proteção completa do passa-
gurança, do lugar de partida ao do destino e, se geiro. As três únicas testemunhas. de vista, fo-
durante a viagem ou finda esta ,o passageiro so- lhas 30 a 32-v. informam que o recorrente via-
frer algum cl~mo, a empresa é responsavel. pefa java apoiando o cotovelo na janela afim de se-
culpa contratual, por i.<;SO que não cumpriu o gu"ar o vidro, que por motivo da velhice do
obrigação decorrente cb seu contrato rr'aterial subia constantemente.
(38i
20-2-43 ARCHIVO JUDICTARIO 239
Há assim a culpa in vigilando porque o gador Afranio Costa, está na competência das
ônibus não oferecia completa proteção ao pas- Câmaras Conjuntas decidir da espécie, "nos ter-
sageiro, impedindo qualquer imprudência por mos do artigo 859 do Código do Processo Ci-
parte deste, pois as janelas ·devem ter os varais vil" ... decidindo-a "definitivamente". Refere-
nec-essários que impossibilitassem o passageiro se o pronome "a especie", substantivo que lhe
colocar o braço fora da janela, estando em po- está mais próximo e não a "interpretação•' (do
sição normal. Há ainda culpa in eligendo em direito em tese), que está mais afastado. Tem
face da péssima folha de antecedentes do mo- por objeto o recurso de revist"a a divergência na
·torista ,fls. 34, que demonstra ser um prepos- interpretação do direito em tese (Cód. Proc.,
to imprudente, o que por si só determina a artigo 853), sendo ainda admissivel no caso em
responsabilidade do patrão, conforme jurispru- que a decisão final de qualquer das Câmaras,
dência, mesmo nos casos da culpa aquiliana, e ou turmas, contrariar outro julgado tambem das
na espécie, a imprudência ressalta do próprio Câmaras Reunidas. Esta é, por assim dizer, a
fato, pois fosse diligente,· conduzisse com pru- chave para que o Tribunal conheça do mérito
dência, o veículo não passaria de raspão com da decisão da qual se interpôs revista. Cum-
o outro ônibus, que vinha em sentido contrá- pre-lhe previamente examinar se é caso de re-
rio. Habitualmente vemos a Imprudência dOE vista. Se decide que é, como proceder? Pre-
motoristas quando os ônibus se cruzam, no di- ceitua o artigo 859 que, decidido prelimln~men
zer dos peritos, fls. 47-v., "passando muito pró-
te que o caso é de revista, deverá o tribunal fi-
ximo um do outro" (tirando um fino) como
xar a interpretação que se deverá observar na
dizem na gíria os motoristas:•. O acordão exo-
espécie e "decidindo-a definitivamente". Deci-
nerando a empresa de qualquer responsablli-
-dindo que? ..,... A causa. No recurso de cassação,
dade porque o trocador da empresa avisara o
o tribunal de cassação, após fixar o ponto de di-
passageiro de que este violava dispositivo de
reito controvertido, remete o feito (renvoi) para
tráfego, está em completa divergência com o
um outro tribunal, que, devendo conformar-se
acordão acima citado que estabeleceu que não
com a interpretação da lei sustentada pelo tri-
basta que o empregado advirta o passageiro,
bunal supremo, julga o mérito da causa. A fór-
para que desapareça a responsabilidade da em-
mula inserta no dispositivo é a seguinte: "re-
presa de transporte, porque tal imprudência
met la cause et les parties au même et sem-
não devera ser permitida nem tolerada. Esta é
blable état ou elles etaient avant l'arrêt cassé"
a tese que deve prevalecer.
(Faye, La cour de cassation, p. 296). Assim se
Provada -a responsabilidade da recorrida, procedia nas revistas interpostas para o Supremo
não há que cogitar da imprudência do recor- Tribunal de Justiça do Império, o qual, se admi-
rente, e a procedência da ação de indenização tia a revista, cometia o feito a novo julgamen-
se impõe como consequência da tese fixada e a to da Relação revisora para isto designada (T.
ser aplicada úa espécie. Decidem os juizes em de Freitas, Prim. Linhas, II nota 706 ao paragra-
maioria que a Câmara que proferiu o acordão fo 370). Norma semelhante adotou, após al-
recorrido deve julgar novamente o mérito de gumas vacilações, o Supremo ·Tribunal Federal,
causa, aplicando a tese fixada e mandam que nos casos de recurso extraordinário. Admitido
a Egrégia 3a Câmara novamente se pronuncie, o recurso, por se enquadrar o feito em algum
como aliás foi decidido no acordão proferido dos casos, em que a Constituição o autoriza, o
na revista l!l. 165 (JurisprUdência, vol. 3, pá- Supremo Tribunal Federal passa a julgar a
gina 13), o que foi cumprido (Jurisprudência,
causa, aprecia-lhe o mérito, profere a decisão
vol. 6, pg. 43).
que lhe parece melhor convir à espécie_ Atual-
Rio, 14 de M!aio de 1942. - Vicente Piragibe, mente, o recurso de revista constitue feliz ada-
,Presidente. - A . Saboia Lima, relator. Fui ven- tação. Ele constitue uma feliz adatação do
cldo em parte, quanto à parte final, porque en- recurso extraordinário ao foro local. A principio,
tendo com os ilustres Desembargadores Flami- restrigiam este remédio judicial criado pela
n!o de Rezende, José Antonio Nogueira e Afra- Constituição de 1891 ao exame das matérias que
nlo Costa (Jurisprudência, voi. 3, pag. 14 e 15), o tornavam viavel. Depois, liberal e acertada-
que os autos não devem ser remetidos à Cá- mente, passaram a considerar-Ias com simples
mara originária para julgar de novo a espécie, preliminares para darem ou não admissibilidade
pois, como argumeta o eminente Desembar- I ao recurso. Aceito este, o pretório excelso exa-
(391
240 ARCHIVO .JUDICIARIO 20-2-43
minava a causa em conjunto e fazia justiça in- quaestio. O alvitre da limitação jurisdicional
tegral. O mesmo, e pela mesma razlio, se deve elas Câmaras Cíveis Reunidas ao conhecimento
admitir a respeito da revista. Esta, aliâs, já da preliminar do cabimento do recurso é, assim
existiu no Brasil, no reglmem Imperial. O Su- inaceitavel, por absurdo. Intepretario illa sum-
premo Tribunal de Justiça, à semelhança das menda quae absurdum evitetur. E a única solu-
Côrtes de Cassação, dá Europa, examinava só ção que ao legislador brasileiro pareceu razoavel
a "preliminar": se era caso, ou não de revista. foi a de ampliar a jurisdição das Câmaras
Quando concluía afirmativamente, mandava os Reunidas, dando-lhe a faculdade de estatuir so-
autos a um Tribunal de Relação, para julgar a bre a quaestio juris, para manter ou cessar a
espécie. O pretório designado, se achava inváli-, decisão recorrida. Na última das alternativas, a
do o processo, pronunciava a nulidade do mes- sentença proferida em gráu de revista substitui-
mo e ordenava a sua renovação; se o não con-~ rá a decisão recorrida e, consequentemente,
slderava nulo, entrava no mérito e decidia a de- ellm'inará a divergência de interpretação do di-
manda como se fôra ele o primeiro a conhecer reito em tese, que teria operado como causa ou
do caso. Igual vereda, justiceira e luminosa, de- fundamento do recurso. A divergência substitui-
vem trilhar hoje os Tribunais de Apelação. Eis o rá, todavia. se fôr mantida a decisão recorrida,
que informa, a respeito, o seguro e prático, Tei- porque o acordão de que ela divergiu só por pro-
xeira de Freitas, Primeiras L1nhas sobre o Pro- vocação das respectivas partes e mediante o re-
cesso Civil, vol. II, nota 706 ao paragrafo 370: curso apropriado poderá constituir objeto de
"As Relações, a que forem remetidos quaisquer discussão. Mas é evidente que, mesmo nesta
autos para a revista, em todo caso se conside- última hipótese, a. finalidade do recurso estará
rarão plena e perfeitamente substituicLas as ou- preenchida, porque atendidos teriam sido os in-
tras Relações, •Tribunais, corpos Colegiais e Jui- teresses de ordem pública, que não consistem
zes Singulares, que tiverem proferido as sen- proplamente na reparação da Injustiça, mas n·a
tenças que deram motivo ao recurso, para julga- eliminação ela Incerteza. Foram estes, sem dú-
rem as causas a vista do que acharem alegado e vida, os mot-ivos que teriam influído na elabora-
provado nos autos; da mesma forma que se por ção da nossa lei que, de modo expresso e claro,
tais Relações, Trfbunats, corpos colegiais e Jui- não só confere ao Tribunal ad quem poderes
para verificar se, de fato, ocorre divergência
zes Singulares n·unca tivessem sido julgados".
Pronuncia-se de modo Igual o Conselheiro Ri- quanto à interpretação do direito em tese, mas,
ainda, no caso afirmativo, lhe impõe o dever
bas, Concolidação das Leis do Processo Civil,
de fixar a Interpretação que se deverá na es-
artigos 1. 660 a 1. 663". Em face do exposto, ao
pécie, decidindo-a definitivamente: "No julga-
tomar conhecimento da revista, por lhes parecer
mento da revista, o Tribunal examinará, preli-
cabível o recurso, as Câmaras Cíveis Reunidas
minarmente, se a divergência se manifestou, de
julgam logo o mérito da questão, mantendo ou
fato, quanto à interpretação do direito em tese,
reformando a decisão recorrida. Como dizem o
fixando, no caso afirmativo, a Interpretação que
Dr. Pedro Baptista Martins e outros juriscon• ,
surtos, em parecerem recentes. "Se assim não se deverá observar na espécie e decidindo-a de-
fosse, Isto é, se a jurisdição do tribunal ad quem I finitivamente".
não se estendesse ao mérito da questão, frusta- -Nelson Hungria, vencido: Não era ecaso de
I
do estaria o intuito da lei, porque os juizes a revista. Os acordãos, apontados como divergen-
quo, aos quais se devolvesse o conhecimento, tes, decidiram casos diversos pelas circunstâncias
manteriam certamente a primitiva decisão e, I de fato. Ainda, porem, que divergência ha-
com ela, a divergência. O recurso, pela sua vendo, devia prevalecer o acordão recorrido, pois
inutilidade prática, se tornaria absurdo lncom- não hâ responsabilidade da campanha transpor-
patlvel com o nossos sistema processual que, tada, quando o acidente sofrido pelo passageiro
como é sabido, se inspirou primordialmente no derivou de culpa exclusiva deste. E' preciso
principio da economia do Juizo. O recurso, que acentuar que os meios de transporte modernos,
tem por finalidade eliminar divergências na in- notadamente dos grandes centros urbanos, im-
terpretação do direito em tese, jâmals poderia portam, necessariamente, um certo risco, que a
realiz}r este objcti vo Ee o próprio tribunal ad lei tem de tolerar, sob pena ele divorciar-se da
quem, constituiclo pela reunião elos juize.s das realidade da vida. Já não estamos no temp'o de
turmas divergentes, não resolvesse a vexata carro de bois ou dos transportes ein câmara len-
(40)
20-2-43 ARCHIVO JUDICIARIO 241
ta. o presente acordão, ao arrepio da ei, defen-, jo, como aconteceu na espécie em causa, desde
de, e1nbora disfarçadamente, uma pura responsa- q.ue o réu alegou benfeitorias e foram elas ava-
bilidade objetiva. Por último, tendo decidido que ' Iladas acima da taxa legal prevista no art. 839
o fato de viajar o passageiro com o braço para do Cód. do Processo; o divergente, de acordo
fora da jánela do veículo não exclue a responsa- com o voto vencido constante do ac. recorri-
bilidade da empresa transportadora, não obstante do, sustentando que aquele valor é imutavel,
as medidas preventivas na disposição dessa mes- se na constestação da ação de despejo o réu não
ma janela, o a cordão prejulgou a questão, e não o impugnou, na forma do § 1 o do art. 48 dO
havia, portanto, que devolver o feito à Câmara cit. Código.
originária. Está esta adstrita, ociosamente, a re-, um, afirma a possibll!dade de alteração do
petlr o que vem de ser, aqui, decidido. valot' da causa, ao p·asso que o outro, nega essa
- José Antonio Nogueira, vencido no mérito. possibllldade em face dos textos invocados da
O fato de o passageiro viajar com o braço para I lei especial para dirimir a dúvida.
fóra não exclue a responsab!lldade da compa- Quanto ao fato de não ter o ac. recorr1-
nhia, que p·odia pelos seus prepostos fazer parar do decidido, sinão, a !mposslbilidade processual
o veiculo e recorrer-se preciso, à Policia. 'Não do Juiz de negar seguimento a apelação que,
vejo motivo de se remeter a matéria a novo exa- anteriormente, mandara subir através do seu de-
me da Câmara. ferimento e recebi.mento nos efeitos legais, dú-
vida não pode haJVer de que esta questão envol-
ve obrigatoriam'ente a do valor da causa, por-
Recurso de revista n. 252 quanto, foi devido a esse valor que o JU1z en-
tendeu não poder fazer chegar o caso ao conhe-
Hzlor da causa. Desde que ao contestar a ação
de despejo o réu não impugna o valor cimento do Tribunal - ad quem, uma vez que
dado pelo autor na inicial, nem, oferece tratava-se de - ação de despejo, - cuja renda
- reconvenção, - não mais pode ser
alterado aquele valor, segundo a melhor anual era de 400$000 e nenhuma impugnação,
interpretação que deve ser dada aos ar- por parte do réu, tinha sofrido tal valor dado na
tigos 46, 48 § 1o e 151 do Cód. de Pro-
cesso. Doutrina e jurisprudência. Vo- inicial e sobre ele pago a taxa judiciária.
tos vencidos. Assim, dita - preliminar - envolve o mé~
rito da controvérsia e p·ortanto é ela improce-
Vistos, etc. : dente, desde que o ac. que é definitivo na ma-
Acordam 013 Juizes das Câmaras C!veis, em téria por ele resolvida, perfaz um todo homo-
sessão conjunta, em julgar improcedentes as gêneo e dele não podem ser destacadas teses e
- preliminares - levantadas pelo recorrido razões de decidir.
contra o voto do <Desembargador Frederico Sus- De meritis: Como já acentuado ficou, tra-
sekind que julgava procedente a segunda. e - ta-se de uma aqão de despejo, cuja renda anual
de meritis, - em' julgar procedente a - revis- era de 400$000, pela qual foi paga a taxa judi·
ta - para o fim de restabelecer, como verda- ciária e contra a qual, nenthuma impugnaçã.o
deira, a tese sustentada no voto vencido con- ofereceu o réu, assim correndo o processo até
tido no acordão recorrido, contra os votos dos sentença final inclusive. Dai em' diante, porem,
Srs. Desembargadores Ribeiro da Costa (rela- surgiu a dúvida levantada pelo réu ao endere~
tor) Frederico Sussekind, sendo que o Desem- çar o recurso d!e apelação que interpôs ao Tri-
bargador Rocha Lagoa que com a maioria, en- bunal de Apelação, entendendo o Juiz que na
tendia que devia ser restituído o prazo para forma do art. 839 do eit. Cód. de Proc. na
embargos à sentença, pl·evistos no art. 839 do espécie, cabia apenas, o recurso de - embargos
Cód. do Processo, em favor do recorrido. Custas -· para ele próprio Juiz e não para o Trtbunal,
lia forma da lei. ra:<Jão pela qual deixaJVa de determinar a subi-
Com efeito, improcedem as - prelimtnares, da do recurso. Houve - agravo - por parte
- uma vez que a divergêucla entre os acs. apon- do réu na ação de despejo e foi-lhe dado pro-
tados, é evidente porque simple13mente verifl- vimento, contra o voto do desembargador Can-
cavel pelo confronto dos dois julgados: o recor- d!do Lobo, para o fim de determinar que su-
rido, ·aceitando a tese que sustenta adimite a bisse a apelação para o Tribunal, o qual, atra-
possibilidade da alteração do valor da causa, vés de qualquer de suas competentes Câma-
mesmb depois de sentenciada a ação de despe- ras, deveria, oportuna.rnente, conhecer o recur-
(41)
242 AHCHIVO .TUDICIARIO
segundo a doutrina e a jurisprudencla, nao Ivergência com a recorrida, podia ser invocada
se deve incluir nesse cálculo, o valor dos pelo recorrente, si "pela vez primeira no Brasil
impostos e taxas ainda que o inquilino por eles o acordão recorrido teve oportunidade, na vigên-
se tivesse obrigado, porque não representam ela do novo Código de Proce:o.so Civil, de interpre-
renda. tar e aplicar o seu art. 43. E' que a disposição
E mesmo não se compreenderia que as - constitue um:a inovação virtuosa do novo Código.
bemfeitorias - pudessem, per se, influir no va- O autor do ante-projeto do Código, o ilustre
lor da causa, quando pelo próprio Código do jurista Dr. !Pedro Baptista Martins acentua, em
Processo em seu artigo 42, apenas 3 são os seus Comentários ( vol. 1 o, pág. 161) : " - no
elementos geradores do aludido valor: principal direito anterior: - sem correspondência; no
da dlvlda, pena convencional e juros até n direito comparado: - sem exata correspon-
data da propositura da ação. Não faz u COdlgo dência". - Se assim o declara 0 próprio autor
qualquer referência, mesmo que Indireta, as - do novo Código, como se invocar, em divergên-
bem feitorias. cia, decisões anteriores? Tanto Isso sentiu o
Não há que Invocar analogia e equldacte recorrente, que Invocou, para justificar o re-
quando há lei expressa. curso, decisões que decidiram de teses diferen-
Não tem apllcação, portanto, o disposto nu te.;;, sem qualquer aplicação ao caso julgado
.artigo 114 do Código do Processa que é extra- pelo acordão recorrido. A decisão de fls. 14
11ho ao problema que se debate nos aut();J. é do Conselho de Justiça, não conhecendo de
A relação jurídica que está em causa, con- uma reclamação contra o ato do Juiz de pri-
meira Instância que, na espécie, não admitiu
sequentemente, devia ter sido julgada, em recur-
o récurso de apelação, decisão que não pode
so, na forma do artigo 839 do Codlgo elo Pro-
-cesso e nno através de recurso de apelação ser Invocada no recurso de revista, como di-
vergente, desde que o art. 853 só permite a
para o Tribunal, dado que o valor da causa tor-
revista entre dec!sõoo finais de duas ou mais
nou-se lmutavel pelo silêncio do réu ao contestar
Câmaras ou que decidir contrariando outro
.a ação de despejo que lhe movia o autor.
ju"!gado, também final. das CâmaroJ.s Reunidas,
Essa, a tese que predomina no confronto excluídas as do Conselho de Justiça, em face
com a do ac. recorrido. de sua competência meramente corregedora e
"Ubt semel acceptum est judicium, i"bt et jt- não julgadora.
-nem habere debet". A decisão, junta à fls. 15, foi proferida em
Rlo, 15 de outubro de 1942. - Vicente Pi- 1933, quando em vigor outra legislação. Final-
7agibe, Presidente. - Candido Lobo, relator. mente, a de fls. 17 e que levou a maioria, con-
Frederico Sussekind - vencido, quanto à preli- tra o meu voto, a conhecer do recurso de re-
minar e ao mérito. vista, também não podia justificá-lo. Alem de
Na Inicial, alega o espólio recorrente que: não se provar ter sido final a decisão. resolveu
- "pela vez primeira, em face de todo o re- matéria outra e sem cogitar da aplicação do
gime legal e a jurisprudência que tem vigorado art . .43 do novo Código. O que a decisão de
no Brasil, a respeito, a decisão, que Se pretende fls. 17 resolveu foi sobre a. interpretação dos
submeter ao recurso de revista, sufragou a tese arts. 42 e 44 do Código do Processo Civil, ao
de direito processual" (fls. 2). de dever ser passo que a recorrida só apreciou e interpretou
somado ao valor do aluguel, em ação de des- a disposição do art. 43 combinado com a do
pejo, o das benf·eitorias, para efeito do conhe- art. 46. Não conhecendo de uma apelação, por
-cimento da apelação interposta da sentença de ser de valor inferior a dois contos de réis a
primeira instância (fls. 25 v.) . ação proposta, entendeu o acordão da 1.a Câmara
'Se assim aconteceu, se "pela vez primeira" que se não podiam somar ao valor da ação o
sufragou o acordão recorrido a tese de se levar da reconvenção, não sendo de invocar o art. 44,
em conta, pa.ra o efeito do recurso, a soma do porque se refere, expressamente, à cumulação de
valor dos alugueres ao do das benfeitorias, en- pedidos e estts eram os do autor. Ação e re-
tão, "ex-vi" do disposto no art. 853 do Código convenção são quantidades heterogêneas, que
<ie Processo Civil, o recurso de revista não podia não podem ser cumuladas para o efeito da
ser conhecido pelas Câmaras Reunidas Cíveis, admissibilidade dos recursos. Não apreciou, en-
dada a falta ele divergêncU1 sobre a mesma tetSe tretanto, a tese sustentada pela <lecisão recor-
de direito. E nenhuma outra decisão, em dl- rida, da 5" Câmara, quanto à aplicação do ar-
(43J
244 AnCHIVO JUDICIAHlO 20-2-~
tigo 43 em ação de despejo. Somando o valor pedem, não prestações em dinheiro ao valor
dos alugueres e das benfeitorias, tidas estas da causa será a quantia correspondente ao be-
como benefício patrimonial, o acordão reeor- nefício patrimonial a que se dirigir a ação"
rido, não só interpretou e aplicou, "pela vez (Herotides da Silva Lima, Código Proc. Civil
primeira no Brasil", as disposições dos arts. 43 Brasileiro, vol. 10, pág. 96). Ainda De Placido
e 46 do ·novo Código, como decidiu dentro dos e Silva assinalou, em seus Comentários ao Có-
principios constitucionais (art. 133 n. 37 da digo (vol. 1°, pág. 69, 2a ed.) que: - "sendo
Constituição), por equidade, em caso concreto assim o valor da causa, em tal circunstância.
e especial, o que exclue qualquer divergência será calcado pelo valor da util!dade patrimo-
com outros julgados. 1 nial que o benefício revela, estimando este em
'soma que lhe corresponda".
Quanto ao mérito, julgava improcedente a J
revista, sustentando á decisão recorrida, por A doutrina moderna, como ensina Zanzuc-
seus fundamentos e pelos expostos, com brilho, chi (Di. Proc. Civ., vol. <lo, pág. 424, -.! a
pelo Desembargador Ribeiro da Costa, relator do do valor econômico do que se julga na causa
feito. que determina a competência pelo valor e o:r
seus recursos. E' também a lição de Mortara
A regra, nas ações de despejo, é a de que ( ~ 3°. pág. 93) mostrando o valor pa trimonlal
o valor da causa é o da renda anual do imovel como preponderando para a competéncia e para
(art. 46). Nas ações de despejo, ao contrário o julgamento.
do que sustenta o acordão, não se pode impu- o aumento do valor econômico da causa,
gnar o valor da do pelo autor na inicial, por- transferindo do I>atrimônio do réu locatário para
que o valor há de ser o correspondente a rénda o do autor proprietário do lmovel todas as apre-
anual do imovel (art. 46) . Nas ações de des- ciaveis bemfeitorias, realizadas no imovel e ava-
pejo, ao contrário do que sustenta o acordão, liadas em quantia vultu()S(I, justificava o co-
não se pode impugnar o valor da do pelo autor nhecimento do recurso de apelação da sentença
inicial, porque o valor há de ser o correspon- de primeira instância, tanto mais havendo esta,
dente a renda. de um ano de aluguel, e nem contra a jurisprudência uniforme dos nossos trl-
em reconvenção, por ser esta inadmissivel em bunais, deixado de reconhecer em favor do lo-
ação de despejo (art. 190). A impugnação ao catárlo o direito de retenção até ser pago do
valor da causa. fixado. na inicial pelo autor, valor das benfeitorias efetuadas e com a cir-
dlz respeito a pedido de quantia "em dinheiro" cunstância relevante de ser reconhecido, pelo
(art. 48). Embargando a ação de despejo, não próprio espólio ora recorrente, ao descrever os
por faltar ao espólio recorrente o direito de bens deixados em Inventário, que haviam no
exercitar a ação, desde que em falta no .paga- terreno benfeitorias e que estas não pertenciam
mento da renda, mas para requerer qUe o des- ao espólio, mas a terceiraa (doe. de fls. 31) .
pejo ficasse condicionado, em sua execução, ao Como acentuou, recentemente, o ilustre Desem-
prévio pagamento de ·benfeitorias, realizadas no bargador Saboia Lima: - nas ações de despejo,
imovel, incontestavelmente o atual recorrido principalmente de valor, é de boa política ju-
deixou certo que o valor das benlfeitorias de- 'i diciária, alem de assegurar o direito de retenção,
veria ser somado ao da renda anual do imovel permitir sempre que o recurso da sentença, que
e para O'? efeitos dos arts. 43 e 46 do citado decreta o despejo, seja apreciado na superior
Código. A demanda, com o pedido de retenção instância. (Ac. da 5a Câmara e no AaCHrVo
pelas benfeitorias e que foram devidamente JuorcrARro, vol. 62, pág. 47) .
avaliadas .por peritos em diltgência judicial, pas- Se o aumento do valor da causa, com o
sou a ter outro valor econômico a ser apreciado reconhecimento do das bemfeitorias, não influe
e julgado. Daí a justa e !humana aplicação ao sobre a competência do Juizo (artigo 151). mes-
caso do disposto. no art. 43 do Código, aten- mo porque não há alçada na Justiça do Distri-
dendo-se ao valor das bemfeitorias ou ao bene- to Federal, competentes que são todos os Juizes
fício patrimonial em causa. A exproosão bene- de Direito do Civel para as ações de despejo,
jicio patrimonial, escreve CarvalJ:J.o .Santos (Com., qualquer que seja o seu valor, há de, entretan-
vol. 1°, pã.g. 239), está empregada como tra- to, influir para o conhecimento dos recursoil das
duzindo um aumento patrimonial qualquer, um decisões proferidas nestas ações. Havendo. no
acrescimo no patrimônio do autor. Outro co- ' caso, beneficio patrimonial, transferido do réu
mentador, acentuou que: " - nas ações em que 1 para o autor, aplicavel devia ter sido a dlsposi-
(44)
20-2-43 ABCHIVO JUDICIABIO 245
ção do artigo 43, somando-se o seu valor ao indo da realidade, empresta ao direito a tese que
da inicial e para o efeito de ser conhecido o re- mais se aru.olda _à .finalidade hUmana e moral de
curso de apelação, como bem decidira o acor- sua real!zação.
dão recorrido. Em verdacte seria rematado absurdo rugrr o
- A. Ribeiro da Costa, vencido no mérito, juiz à sistemática do nosso direito judiciário,
com o seguinte voto: O fundamento do acordão de fUndo realista e positivo, para admitir numa.
t"ecorrido, que admitiu o recurso de apelaçãg açao com pedido reconvencional, à Inalterabi-
embora se tratasse de causa de valor inferior lidade do valor da causa segundo o pedido fel-
a 2:000$000, assentou na consideração de que. to na Iniciai pelo autor, embora aquele valor
sendo na ação de despejo o valor da causa de- !!casse multo aquem do "beneficio patrtmontar•,
terminado pela renda anual do imovel, "ex-vi": objeto da reconvenção, que é verdadeira açao na
do disposto no art. 46 do Código de Processo açao. Seria negar a evidência e denegar justiça,
Civil entretanto, tal valor não é imutavel si como no caso em apreço, adotada solução diver-
o réu, - em defesa, - nos embargos - , aló!- sa, pois o rem - como Iocatár:io, tendo realizado
ga a existência de bemfeitorias, pede reten- bemfeitorias do valor de 22:000$ não poderia
ção e, assim, reclama "beneficio patriml1n1al" usar do recurso de apelação, jungiao ao valot
(art. 43 do Cod. Cit.), devendo-se, nesse caso. Cla açao e obrlgaao ao dlspoto nos artigos :19 do
levar em conta, na fixação do valor da causa, Cod. Proc. Civil.
o desse "beneficio patrimonial", que si re::>re-
Assim, segundo o artigo 190 desse Cócügo si
sent~ pelo valor da bemfeitoria.
o réu poaera. reconvir ao autor quando twer-
Ora, si o valor da causa. decorrente do pe- ação, é certo que a alegação de bem!eltorias,
dido. é inferi oi a 2: OOOS, o pedido com a defesa feito nos embargos à ação de despejo repre-
sendo suo<Orior aquela quantia, dá-se a apli- senta a defesa, equivale a reconvenção, pois pede
cação do disposto no art. 43, porque a defesa ele pagament::> daqui!Io que lhe deve o au-
na acão de despejo, exercida por meio de em- tor, visando portanto modificar ou excluir o
bargos equivale a pedido reconvencional toda pedido do autor.
vez que se alega bemfeitoria e pedido de re- Quando o a cordão de fls. 17 adota a tes~
tenção, como garantia. _de que os dispositivos do Cod. Proc. de moa~
Efetivamente a reconvenção é uma verdadei- inequtvoco se reterem ao pedido do autor dect.
ra a cão na ação. Daí porque o acordão recorri- dlndo que só se leva em conta para fixação do
do considerou o pedido do réu como pedido de valor da causa o pedido na ação, o pedido do au.
"beneficio patrimonial", de que cogita o arti- te<.", elimina, evidentemente a reconvenção. Ai
cto 43. culmina a divergência com o acordão recorrid"
no adotar ~e.se interpretativa dos mesmos dis.
O a cordão de fls. 17, indicado pelo recor-
positivos legais.
rente. decidiu que não se deve levar em conta na
determinação do valor da causa, o valor do pe- Como se depreende, não se trata, na espé·
dido na reconvenção, mas sómente o valor da ele de alteraçao ao valor dado Inicialmente a
acão, no que diverge manifestamente do acor- causa. cogita-se de saber se prevalece o valor
dão recorrido no to2ante à interpretação dos ar- do pedido da reconvenção sobre o pedlc!CI na
tigos 42 e 43 do Código do Processo. E assim ação, que é inferior àquele - Nesse caso face
Porque ao acentuar que para fixar o valor da ao disposto no artigo 190, combinado com os
causa, os artigos 42 e 44 so se referem ao "pe- artigos 43 e 46 do Código Processo Civil, deve
dido do autor", adota esse acordão tese de prevalecer o valor do pedido reconvencional e
todo contrária à do a cordão_ recorrido, que en- Isto fol, o que bem decidiu o acordão recorrido,
tende se deve levar em conta, igualmente, o cuja Interpretação do direito em tese se mostra
pedido do réu. jurídica, altamente humana o sobre ser moral, se
Manifesta a divergência é mister examinar a coaduna com a sistematlca do nosso direito Ju-
.questão para decidir qual a interpretação ao diciário .
direito em tese que se aeverá observar na es- - Rocha Lagoa, vencido em parte, pois res-
pécie. titula ao recorrente o prazo para embargos à
Inclino-me pela interpretaçâo adotaria pexo sentença de primeira instância nos termos do
acordão recorrido que a meu ver, não se abstra- artigo 839 do Código de Processo Civil, por en-
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ARCHIVO JUIDICIARIO 20-2-43
246
tender, não ter havido na espécie má fé ou erro E que sempre foi assim na tradição do
grosseiro na interposição de apelação em' lugar nosso direito dí-lo Vanguerve: "Porem se tal
daqueles embargos ~lo que o recorrente não de-claração desfizer toda a sentença e toda a
devia ficar prejudicado consoante a regra. conti- condenação dela, não se admite, porque o que
da no artigo 810 daquele .diploma legal • declara, não pode acrescentar de novo, como é
de dire'ito comum: e a razão da razão é porque
então seria mais nova disposição do que de-
claração, o que o direito não admite". (Prática.
Judicial, parte 3.0, cap. 22, n. 10).
Ação rescisória n. 16 Paula Baptista explica que os embargos de
de-claração consistem simplesmente em a parte
(EMBARGOS) expor em seu requerimento, os pontos em que
acha a sentença omissa, contraditaria ou obs-
NuUdade de processo. - Qualquer que seja está cura, pedindo que seja explicada (Prat. do Proc.
subordina~a à regra. de que "sem r:rre-
juizo não há nulidade". nota 1.a ao § 221) .
Preliminarmente, portanto para o fim vi-
A embargante pretende seja o acordão de- sado pela embargante são seUs embargos ina-
clarado: a) - porque _o Tribunal não apreciou dmissiveis.
a nulidade da ação por ela suscitada e consis- Devem, porem, os embargos ser recebidos
tente em não haver sido citada inicialmente para o efeito de declarado certo ponto do acordão
para a rescisória, o que importa em omissão no que devera ter sido mais claro e explícito no
julgamento; b) - porque há contradição entre refletir o resultado do julgamento. A nulida-
a parte preliminar do julgamento que admi- de arguida da falta de citação da embargan-
tiu como legitima a sua interveniência, por ser te não foi omitida no julgamento, ao revés
terceira prejudicada e a conclusão que repeliu foi expressamente agitada e repelida. Foi dis-
a prejudicial de nul'idade no processo, quando cutida com o mérito do recurso, no qual se en-
esta seria a conclusão forçada daquela; c) - trosava. Tendo sido voto vencido nesta parte
porque em qualquer das alternativas deve ser o do Sr. Des-embargador Saboia Lima, que não
considerado prejudicado o julgamento do mé- tendo tido vista dos autos, manifestou a sua
rito da causa, que não deve ser conhecido, convicção sobre procedência da nulidade, pelos
pela incompatibilidade com a decisão da se· argumentos expandidos no Tribunal na assen-
gunda preliminar e da ·aludida prejudicial. tada do julgamento. Aliás. já a própria embar-
gante focallzára no merecimento da caUsa essa
Mas nunca foi possivel anular julgamento
matéria (tls. 103).
por via de ·em'bargos de declaração; a inidonei-
dade do meio é manifesta. Diz o § ·4.o do art. o Tribunal admitiu os embargos de nuli-
862 do Cod. de Processo: "Se os embargos forem dade como de terceiro prejudicado, COliSideran-
providos a nova decisão se limitará a corrigir do toda a matéria neles oferecida, concluindo
a obscuridade, omissão ou contradição". A con- pela sua improcedéncia. E na parte referente
à nulidade por falta de citação da embargante
clusão do acordão não pode ser atingida com
para início da ação, repeliu-a o Tribunal p~r
a procedência dos embargos, portanto, em qual-
que: 1°) - a matlária agitada pela embargante,
quer hipótese não pode "ser considerado pre"
juàicado o julgamento do mérito da. causa.",
e que foi debatida nos autos desde início, é
pUramente de direito, tendo sido mais uma vez
para dele não se conhecer, como pretend€1 o
erúdita e cuidadosamente esmerilhados todos os
embargante.
aspectos da questão; 2°) - a matéria versada
Já Pereira e Souza esclare-cia que "decl'a·· em todo o desenrolar na. ação rescisorla é res-
ratório se diz de um ato _que só tende a fa·· trita à interpretação de uma clausula testamen-
zer a explicação de algum fato ou de alguma tária; as teses alinhadas sempre foram as mes-
coisa, sem contar nova obrigação ou diSposi- mas, desde a ação em que proferido o julgado
ção nova (Dicc. Jurídico, verb. declaratório). rescindendo; siquer arguição nova foi trazida nos
Nas primeiras linhas do Processo Civil acres- embargos, e não só foi sempre a mesma, como
centa - "Por embargos de de-claração não pode debatida com rara proficiência pelos advOjados
pedir-se correcão ou mudança (nota 599 à que funcionaram na causa; 3,o) - a embargante
edição de 1858) . não teve como articular siquer qualquer prejuiro
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20-2-43 ARCHIVO JUIDICIARIO 247
absolutamente aptos à finalidade a que o pro .. José Firmino Borge.:; e sua mulher Alice Fer-
cesso Ol'> destinava". 6. 0 ) - em consequência, r eira Borges e réu, Dr. Carlos Drecour, acor-
subordinadas as nulidades à regra geral precípua, dam: Ob Juizes das Câmaras Civei.s Reunidas
da falta de prejuízo, e não tendo a embargante do Tribunal de Apelação, preliminarmente, julgar
apontado que qualquer lhe haja sido imposto, o autor carecedor da a~ão, por unanimidade de
nem do processo se possa vislumbrar algo que votos.
disso convença repeliu o Tribunal a arguiçãc, Há duas preliminares: uma referente à coe-
nos termos do art. 278 § 2. 0 do Código do Pro- rência de ação, outra. é prescição. No julga-
cesso: ",Não se repetirá o ato nem se lhe suprirá mento deve preceder a primeira, porque refere-se
a falta, quando não tiver havida' prejuízo para ao objeto mesmo da ação.
as partes". Segundo a inicial pretendem os autores "a
Q~1anto à contradição arguida em 20 lugar decretação da nulidade do executivo hipote-
carece de importância. Há uma lamentavel con- cário, a partir do edital de 1a praça, para que
fusão entre princípios rudimentares do direito esta praça com a necessária publicação seja feita
formal e os do direito material. Nem seria pos- obedecendo as formalidade.s legais e se a ela.
sivel que todas as vezes que o Tribunal conhe- concorrer o réu só poderá fazer a arrematação
cesse de um recurso, fundado em redação ex- ou adjudicação pelo preço convencionado de
pressa do texto permissivo, estivesse obrigado a 130: OOOE'.QOO. Querem os autores portanto, a nu-
concluir pela sua procedência. Conhecendo dos lidade de atos judiciais, e não de qualquer sen-
embargos, como de terceira prejudicada, o Tri- tença. Paro isso invoca o art. 798, inciso I
bunal sobre elles admitiu discussão peLa possi- letra c, do Cód. Proc. M'ls, salta aos olhos
bilidade eventual de haver sido essa. embargante desde logo que este dispositivo legal não pode
prejudicada pelo acordão embargaclo como ter- ~ervir de assento a ação, porque ele visa exa-
ceiro que até então não interviera no processo. tamente a nulidade da sentença. Não ,há, as-
Peca a preliminar por falta de equilíbrio: seria sim, sentença cuja nulidade haja de ser de-
inadmissível que depois de reconhecer a embar- cretada. Escapa, portanto, a hipótese ao texto
gante prejudicada, fosse o Tribunal manter a legal invocado. A ação não tem siquer por objeto
sentença que a. p!'ejUdicou. O Tribunal aplican- a finalidade prevista pela lei. Se a intenção
do art. 815 do Cod. do Proc. Civil conheceu dos dos autores é a nulidade de atos judiciais, como
embargoos para julgá-los improcedentes. I claramente indicam, então_ a hip~te:>e seria ~u-
Para esse fim e por esses fundamentos, a cor- tra - a do art. 800, paragrafo um co do Cod.
11am os Juizes das Câmaras Reunidas Cíveis dO Proc. vigente!
Tribunal de Apelação julgar em parte procedeu- No caso a arrematação não foi emoarga<ia
tes os embargos de declaração. e assim nem siquer houve mesmo sentença a
ser rescindida. ,Na hipótese do art. 800, pará-
Custas da lei.
grafo único que vise os atos judiciais, que não
Rio, 1'5 de Outubro de 1942 · - Vicente Pi- dependem de sentença - a nulidade poderia
ragibe, Presidente. - Afranio Antonio da Costa, ser apreciada por via anulatória. E' a opinião
relator. de C. Santos. (Cód. Proc. vol IX, pág. 164).
Partllha dessa opinião do Dr. Pro c. Geral. A
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248 ARCHIVO JUDICIARIO 20-2-43
arematação difere da adjudicação, porque esta julgado provado pela sentença não constitue nem
~ julgada por sentença, o que não acontece com em. tese o deLito do artigo 300, parágrafo úntco
aquela. Para. a adjudicação, julgada por sen- da Consolidação das Leis Penais, mas sim o do
tença, própria é a rescisoria e competente o Tri- artigo 301, cuja pena é de prisão celular por 1
bunal de Apelação. Para rescindir a arrema- a 5 anos, de fórma que não tem a menor apli-
tação, como simples ato de aquisição, a ação cação à espécie os artigos 2°, parágrafo único
adequada deveria ser intentada perante Juiz e 127 do Código Penal, como pretende a alu-
competente. A anulação de meros atos judiciais, dida sentença, citando os impetrantes assim a
como a arrematação, inexistindo sentença, não opmmo de vários autores e comentaristas do
pode ser objeto de re.scisoria perante este Tri-~· Código Penal de 1890 (Eduardo Durão, Bento
bunal. Foi inidoneo o meio judicial empregado. de Faria, Galdino de Siqueira, João Vieira de
Nessa conformidade é acolhida a preliminar .!l..raujo, Nelson Hungria), como a jurisprudência,
para julgar o autor care<:edor de ação. notademente o acordão desta Cámara, de 25 de
Custas na forma da lei. Maio último, de que foi relator o Juiz que re-
Rio, 5-11-942. - Vicente P'iragibe, Presi- lata o presente "habeas-corpus", e no qual, em
dente. - Raul Camargo, relator. hip'ótese perfeitamente igual, isto é, em que a
gestante tambem falecera e ·con~entira no aborto
nela praticado pelo réu - Dr. Roberto Estrela, a
este fóra aplicado o artigo 301 da citada Conso-
Habeas-corpus n. 1.907
lidação das Leis Penais, e não o seu artigo 300
A órbita• de "habeas-corpus" não compreende a paragrafo 1o.
má interpretação de um dispositi?:o le-
qal, a s1ta errônea aplicação, e tão so- A inicial está instruída com várias certidões
mente nula por manifesta transgressão que se veem a fls. 9 usque 21. O Dr. Juiz da
de dispositivo literal da lei.
A sentença que aplica mal, que er- 4a Vara Criminal presta a fls. 23 as seg~lintes
roneamente interpreta a lei, somente por informações: "A paciente foi denunciada neste
meio de recurso ordinário, de apelação, Juizo, incurso no artigo 300, parágrafo 10 da
será corrigido.
Consolidação das Leis Penais e, processada re-
Vistos, relatados e discutidos estes autos de gularmente, foi afinal condenada a pena de 2
"habeas-corpus" n. 1.907, impetrado pelos ad- anos de reclusão, gráu mínimo do artigo 126
vogados Drs. Carlos Alberto Dunshee de Abran- comb. com o artigo 127, ambos do Código Pe-
ches e Eliezer Ross em favor de Ernestina Dutra nal, por ser a pena mais benigna na lei nova,
Honoud. tendo sido tambem condenada ao pagamento
Alegam os impetrantes que esta se acha so- da taxa penitenciária de 50$000 e nas custas
frendo constrangimento ilegal na sua liberda- do processo, por sentença deste Juizo de 7 de Ou-
de e na iminencia de ser preso porque denun- tubro último. Expedido o competente mandado
ciado por haver provocado, em' outubro ele de prisão contra a acusada, foi certificado pelo
1941, aborto na pessoa de Luiza do Nascim~nto, respectivo oficial de Justiça encontrar-se a mes-
em consequência do qual veio esta a falecer, o ma foragida, tendo tido ciência da sentença o
Juiz em exercício da 4a Vara Criminal julgou pro- seu advogado, pois o mesmo requereu suspes-
cedente a denúncia e decla1:ou a paciente incur- são da execução da pena em 21 de Outubro do
sa nas p·enas do artigo 300, parágrafo 1° da Con- corrent-e ano, o que foi indeferido, desse despa-
solidação das Leis Penais - Prisão celular de cho havendo recurso, que, processado regular-
6 a 24 anos, mas, considerando que o Código Pe- mente, se acha nesse Egrégio Tribunal, aguar-
nal em vigor comina a esse crime, no seu artigo dando julga1nento.
127, última parte, combinado com o artigo 126, Isto posto:
pena menor - reclusão de 2 a 8 anos, resolveu Acórdam os Juizes da 2a Câmara do :Tribu-
aplicar a lei nova, de acordo com o disposto no na! de Apelação, unanimemente, denegar a
artigo 2o, parágrafo único do mesmo Código, e ordem de "habeas-corpus" preventivo, por isso
condenar, afinal, o paciente no gráu mínimo, a que na espécie se se trata de sentença errada,
2 anos de reclusão, negado, em consequência, que teria aplicado a paciente dispositivo de
o benefício do s1trsis. lei não aplicavel, segundo interpretação dado,
Alegam mais que tal decisão é nula por ha- a caso inteiramente igual, por esta Câmara, e
ver sido proferida contra disposição literal da não de sentença manifesta1nente nula. A órbita
lei, de vez que o fato descrito na denúncia e do "habeas-corpus·• não compreende a má inter·
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20-2-43 ARCHIVO JUDICIAHIO 249
pretação ele um dispositivo legal, a sua crronea aquele não torne a clelinquir. A idade, segun-
aplicação, e tão somente a sentença nula por do a sentença recorrida, deve ser a atuai e não
manifesta transgressão ele disposição literal da a que tinha o condenado na data do crime, por-
lei. A sentença que aplica mal, que erronemente que dada a finalidade do instituto em questão,
interpreta a lei somente por melo de recurso or- o fundam·ento da exceção contida no citado
dinário, da apelação, será corrigida. paragráfo 3° do artigo 30 foi, nas penas de cw:-
Custas pelos impetrantes. ta duração, livrar do contágio nocivo ela prisão
Distrito Federal, 14 ele Dezembro de 1942. o moço e o velho, assim amparando a inexpe-
Edgard Costa. Presidente. - Oliveira Sobrinho, riência do prinleiro e a fraqueza do segundo.
1·elator. - Tosca no Espinola. A Procuradoria Geral. sem propriamente
chegar a mna conclusão, assinala que aquela
disposição legal se refere à idade do condenado,
e não do réu; como que a indicar que a idade é
Recurso criminal n. 2.086
a do tempo. da condenação: o que já constitue
Suspensüo condicional da pena: reqmsitos urna terceira interpretação diversa ela que con-
A idade que permite a suspensão da re- sidera a idade atual, isto é, a idade ao tempo
clusâo é a que o condenado tinha , na
data do crime. Presunçüo de que não tor- em que se tom·a conhecimento do pedido.
ne a delinquir; não a autoriza a falta Os textos legais prestam-se realmente, por
de cumprimento da promessa de casa-
mento m~zdiante a qual o crime joi pra- sua letra, à discussão de que vêm sendo obje-
ticado. to. Si, poram, se atender ao critério que o novo
Código adotou no estabelecer os requisitos da
Vistos, '.'elatados e discutidos estes autos suspensão, chegar-se-á .à conclusão de que a
de recurso criminal n. 2.086, em que é recor- idade de que cogita o para.:;;ráfo 30 do artigo 30
rente Lindolpho Carreira Vianna e recorrida a é a do réu na data do· crime.
Justiça.
O referido artigo 30, com e'leito, não fez
Acórdam os J·uízes da Primeira Câmara do
Tribunal de Apelação, unanimemente, negar parte do Capitulo relativo à suspensão condi-
provimento ao recurso, para confirmar, como [ cional da pena ( Cap. III do Titulo V) e sim
confirmam, a sentença recorrida. Assim deci- 1 do capitulo que define as penas principais e
dem pelos motivos seguintes. O recorrente foi regula a sua execução (Cap. I do mesmo Titu-
condenado, por sentença de 6 de !Maio do cor- lo). E, ~im, quando o paragráfo 3o do arti-
rente ano, a qual passou em julgado, à pena go 30, depois de firmar a regra de que a re-
de um ano de reclusão, gráu mínimo do artigo clusão não admite suspen~ condicional, ex-
267 da Consol!daç_ão das Leis Penais, combinado ceptúa os menores de 21 anos e os maiores de
com o artigo 1~ n. I da Lei de Introdução do 70, não hà nisso o intuito de estabelecer re-
Código Penal, o arti"o 215, parágrafo ·único do quisito para suspensão da pena, e sim o de
mesmo Código. por crime de deflora.mento, pra- ca.raterizar cOlllo menos rigorosa a reclusão apl!-
ticado em Agosto ele 1940. Pediu suspensão con- cavel aos menores e aos setuagenários, em' ra-
dicional de pena, invocando o dl.sposto no ar- zão, portanto, da idade que tinham na data do
tigo 57, combinado com o artigo 30 parágrafo crime. Da expressão condenado usada no para-
3° do Código Penal; iSto é, alegando que ao tem- gráfo 3° do artigo 30 nada logicamente se pode
po do fato era menor, e ter sido condenado. a concluir €lll1 favor deste ou daquela interpre-
pena não superior a dois anos de reclusão. tagão; a execução da pena presupondo a sen-
Ainda alega que, restituído à liberdade, pode- tença condenatória, o delinquente passa a ser
rá mais facilmente tratar dos papeis de diabili- o condenado. Porém, dai não se segue que o le-
tação do ·casamento com a ofendida. gislador tenha querido referir-se á idade ao tem-
O M. M. Juiz a quo indeferiu o pedido pe- po da condenação, e, menos ainda, à idade ao
los seguintes fundaanentos: não (haver prova de terinpo de se tomar conhecimento do pedido de
que ao tempo do crime o recorrente fosse m'e- suspensão da pena.
nor; o recorrente não contestar que seja atual- Mas não hà prova de que, ao praticar o
mente maior, e ser a idade atual a que deve . crime, o recorrente fosse menor: simples alega-
ser levada am conta na aplicação do invocado ção. E, além disso, conforme bem' acentúa. n
artrgo 30 paragráfo 30 do Código Penal; a per- sentença recorrida, as circunstâncias do crime
sonalid8cle do reconente e as circunstâncias do nã.o autorizan1 a presunção de que o requeren-
crime não autorizassem a presunção de que te não torne a delinqu.ir; falta assim, para a
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250 ABCHIVO JUDICIAniO 20-2-43
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concessão do benefício pretendido, o requisito acordo com os artigGs 75, 79, 82, - I, e 92-III,
do n. II do artigo 57 do Cócligo Penal. que seja a ré submetida, pelo menos, a um ano
cam efeito, não cumprindo a palGvra que ele internação em casa ele tratamento. Nas pro-
déra à ofendida, no sentido de se casar com ximidades do cumprimento da pena corporal,
ela, 0 requerente não merece da Justiça a con- aparece Corina de Assis, e dizendo-se amiga
fiança que a suspensão da pena presupõe maxi- íntima da recorrente, alegando conhecer que a
me quando, continuando ele a afirmar que ain- mesma não precisa de tratamento de saude
era pretende reparar pelo -casamento o mal pra- mental de espécie alguma, pede que o Juiz de-
ticado, entretanto, não providencia para que termine a suspensão de sua internação, e que
essa solução honesta lhe restitue a liberdade. ela, requerente, assuma a responsabilidade do
Custas na fó11ma da lei. I tratamento que Sebastiana precisar, por ter
Rio de Janeiro, 21 de Setembro de 1942. meios para isso, e ser empregada de um médico.
Adelmar Tavares, Presidente. - Joaquim. Indeferido o pedido, recorre Sebastiana, na for-
Henrique Majra. de Laet. relator. - Nelson Hun- 1 ma de fls. 167 e 168, concluindo de que se não
problema de aplicação ela p~na" é a lei vi:;ente ao Sousa, acordam os Juizes ela Primeira Cô.marél,
tempo em que o livramento é requerido e não a negar provimento ao recurso interposto para con-
do tempo em que a infração foi cometida ou a firmar a decisão que denegou o pedido, por ter
condenação Imposta. assento em lei e nos princípios de direito que
Isto posto: regem a especie.
Considerando que se trata, na espécie, de um E assim decidem', porque quer na lei ante-
pedido de livramento condicional, matéria de rior ao Código, quer no Cdigo atual, n\io esta o
execut;ão da pena, sua última étapa, e, assim Juiz adstrito tão somente ao ratione temporis
nw há cogitar de retroatividade ou ultra-ativi- elo cumprimento penal do requerente. Outras
dade da lei penal, de vez que somente quando condições se impõem para a concessão do livra-
o oa.so é de aplicação de pena, e a cominada na mento, principalmente a concessão ela periculosi-
lei posterior é mais benigna se aplica a fato pra- dade, aquele desaparecimento elo receio ele peri-
ticado na vigência de outra lei, já revogada; go para :a ordem pública que se vê nos motivos
Considerando que a lei penal substantiva e do dec. 24.351, ele 6 de Junho ele 1934, e 1. 665,
adjetiva tem aplicação imediata, salvas as exce- ele 1924, nas linhas definidoras elo instituto, que
ções que estabelecem, e não l~á no Código Penal, se consubstanciam no inelice regenerativo do In-
nem no Código de Processo Penal, nem, ainda divíduo. O liberando tem que oferecer à Justiç11
nas Leis de Introdução de um e de outro, clispo- um conjunto .de circunstãncias de condições
sitivo algum determinando que seja dada a.pli- que ll~e despertem, lhe infundam presunção de
cação com ultra-atividade aos preceitos da lei regeneração. Só assim lhe poderá, conferir o
n. 24.531, de 1934 (art. 5°) e da lei n. 16.665, nihil obstat para reingressar na comunhão so-
de 1924 (art. 10) que até 31 de Dezembro de cial, no con vício da sociedade.
1941, regulavam a concessão do livramento con_
Assim, o instituto elo livramento, ontem;
dicional;
assim hoje, no art. 60 do Cód. que além elo
Considerando que falta ao recorrente o re-
tempo estabelecido para o cumprimento da pena,
quisito principal de ter sido condenado à pena
exige a verificação da ausência da periculosidade,
de mais ele três anos, para que pudesse obter o
a prova da boa conduta carcerária, e aptidüo
livramento condicional (Cód. de Proc. Penal,
art. 710, e Cód. Penal, art. 60). para prover a própria subsistência median-
Acordam os Juizes da Segunda Cãmara do te trabalho honesto, etc. Ora, a decisão do Juiz.
Tribunal de Apelação negar provimento ao recur- às fls. 252, frisa que não obstante o tempo, de
so, para confirmar a decisão de fls. 91. cumprimento penal, as informações elo relatório
Custas na forn1a da lei. são ele força a se admitir uma conduta indica-
Distrito Federal, 12 de Fevereiro de 1942. - tive• de regeneração para o crime de que tratam
Edgard Costa, Presidente. - Oliveira SobrinJw, os autos, tratando-se de preso e já condenado por
relator. - Toscano Espinola. De acordo com as contravenções que demonstram máu carater ou
conclusões, porque o liberando, a meu ver, não astúcia. Walter de Sousa que tambem usa o nome
satisfazia os requisitos da lei antiga, para obten- ele Paulo de Sousa, foi condenado pelo art. 330,
~ 40 da Consolidação, constando às fls. 39 a 1i-
ção do livramento condicional. E a lei antiga,
tambem a meu ver, é que deve ser aplicada, pois cha de várias infrações que o revelam um desa-
é mals favoravel ao réu, sendo o livramento ins- justado do convívio social. O Juiz pesou tudo
ti~to de direito substantivo.
isso para negar esse favor libera tis. E do relató-
rio do diretor da prisão, e ela fi oba dos an tece-
dentes, e do delito nas suas circunstâncias R
valor sintomático, e de espírito do instituto que
Recurso criminal n. 2.132 é a regeneração do penitenciário, na cessaçw da
sua periculosidade, se impõe de Justiça a con·
Livramento condicional. Não está o JutZ, no li-
vramento condicional, adstrito ao "ra- firmação da decisão.
tione temporis" do cum.prrimento pe-
nal. Outras condições se impõem para Custas. da lei.
sua decisão, principalmente as que
dizem com ·a periculosidade do liberan_
do. Este tem ·de oferecer à Justiça um Rio, 23-11-42. Carneiro da cunha, Presl-
conjunto de condições que infundam dente com voto. - Adelmar TavaTes, relator. -
presunção de regeneração.
José Duarte.
Vistos, relatados e discutidos estes autos i
de livramento condicional, recorrente, Walter ele I
(52)
20-2-43 AHCHIVO JUDICIARIO 253
(54)
20-2-43 ARCHIVO JUDICIARIO 255
é cleterminaelo por lei expressa. O próprio pedidn o seu direito [t rcno,·nçJ.o. Esse contra to findou
relati\'o a esses juros eleve ser entendido nessa para todos os efeitos. Sómente passado mais
conformidade. Se, portanto, segundo dispõe corn ele un1 n1ez foi que celebrou novo contrato.
a maior clareza o decreto 21.758, de 26 de Maio Não houve então qualquer referência a prorn-
de 1933, a Fazenda Pública só está sujeita. a tais gação ou continuação do anterior, mediante no-
juros, a partir da sentença irrecorrível que, em vas clausulas. Na inicial a fls. 2. diz textual-
execução, fixar o valor da condenação, sempre ment-e o recorrente que "findo o prazo deSSB i.•J ..
que a obrigação fõr ilíquida, e se esse decreto cação lfoi feito novo contrato cl·esse pr&clio pelo
se aplica à Fazenda do Distrito Federal, nos prazo ~e 38 mes2s" (folhas 2). Ê esse, portanto,
termos do artigo 22 da lei 96 de 22 de Dezembro o contráto vigênte a renovar. 2\ias, a lei o ex-
de 1937, é evidente que o pedido ele pagamen- clue para o exerc!cio do direito ele renovação
to dos juros ele móra, formulado na ·ação, e a (artigo 2.o alínea h ela lei 24.158). Ê o pró-
genérica condenação ela Prefeitura ao pagamento prio texto da lei a dizer "a renoYa\ão elo con-
das vantagens economicas e todos os ejcitos pa- trato ele arrendamento de prédios" etc.
trimoniais, estão impl!citamente suborcltnados Logo, a lei cogita e protege os comercian-
aos preceitos legais supra referidos. Por isso dei tes, que te1n contrato; não garante as locações
provimento aos recursos, em parte, para deter- em geral, n1as, somente aquelas que tem con-
minar fosse excluidR da quantia ele 35:5398400, trato escrito. Tendo findado um ·contrato sem
unicamente os juros da móra. rBnovaçüo extingue-se o clirBito, que só nas-
ceu com o novo contrato. Este é que deve ser
focalisado para estuclo e soluçCto elo cUreito a
Apelação civel n. 1.339 renovação. O apelante teve uma soluc;:w cie
continuidade ele "contratos" o bastante pa!·a
Si o locatáTio deixou decorrer o prazo do con- fa"'er c!Bcaír o seu direito, que nascia desse CDll-
tráto, sem exeTcitar o se1L direito a Te-
novação, não pode pretende-la poste- trato. E' 1.1111' direito inhcr2nte a unw relaç:\o
riormente. E' necessário, no conceit'J contratual. A prevalecer principio contrário en-
legal, que não haja interrupção de lo-
cação contratual. A simples permanên- tão os locatários não tBri~m mais interesse em
cia no loca,l com tunda de comércio renovar as locações. Bast:~ria que contintwsscm
ntío basta para conferir ao locatário c nos in1oveis, sem locação -escrita, para pedir :1
âiTeitn à Teno7lação. Sendo o prazo du
contrato inferior a 5 anos nfío autoriza renovação quanto bem entendessem. Não foi
o zccatririo a peclir renm;açtío. este o pensamento, o objetivo da lei, porqtlC
seria sancionar o abuso. Nessa ·Conformidade
Vistos. relatados e discutidos estes autos
assenta em lei a sentença que é mantida.
clB apelação n. 1. 339, entre part2s: apelante
Custas n.a fórma da lei.
Aclolpho Tcixeirrt Vasco Girão e apelado Antc-
Rio, 27 de Novembro de 1942. - Edmun-
nio Henrique Ribeiro, acordam os Juizes da
clo de Oli'l;eira Figueiredo, President-e. - Raul
Quarta Câmara elo Tribunal ele Ap'elaçilo )n~·
Can,•:trgo, relator. - .co. ,~f. Ribeiro ela Costa.
acordo ele votos, negar provimento ao rectu·.:;o.
afim de confirmar a sentença recorrida.
Da prova dos autos resulta, se1n som'bra de
dúvida: 1.0 que o primitivo .contrato de locação Apelação cível n. 1.501
findou em 25 de Dezembro de 1938, (fls. 4v);
Açtío de despejo proceclente. Findo o prazo da
2. 0 que aos 27 de Janeiro de 1930, foi celebra- locaçao, não tendo o locador optado pela
do novo prazo a 1 desse m·ez (fls. 6v); 3° que prorrogaçao elo contnr-to no pmzo con-
vencionado, tornou-se a locaçüo por
embora por acordo das partes o prazo retroa- tempo indeterminado. Assim, era licito
gisse ao dia 1° aindrt assim restou um prazo de ao locador notificar o locatário para des-
ocnpar o prédio no prazo ele 30 dias.
6 clias sem contráto algum. Ntío occorre concl.ição puramente pote.~
tativa, proibido pelo art. 115 do Cócligo
E' um fato que o locatário continuou no Civil, se a verificaçtío do evento nac- Ji-
me;cmo local, pagando o aluguel, sem interru- C01L dependenfio unica e excl-asivamen-
pçfw. Mas, essrt situação ele fato não pode al- te do arbítrio de uma das partes, desde
que o locatário não pode compelir o lo-
terar, substancialm-ente a dB direito para con- cador a prorrogctr o contrato nem o lo-
ferir ao locatário um direito, que ele nãn tem. cador pode obrigar o locatário a perma-
necer no prédio.
Houve na realiclaele um perioclo de locat:i\o vc,:·-
b~.!. C cpclnclc ckixou cJ:ponUncamcni 2 cleco".. Vistos. relatados e discutidos estes auto;; de
lTl' o praz·.) elo contrato anterior, sem' exercitar apelação cível n. 1. 501, sendo apelante Hi!de-
(55)
20-2-43 AHCHIVO .JUDICIARIO 257
garcl Lesser c apelada Juditl1. Teixeira Czü·va-1 Casados llá mais ele longos trinta anos, clo-
!Lo, acorc!an1 os Ju1zes ela Qunlta Camm·;, do Im·osa deve ter sido a situação da autora ape-
Tribunal ele .AJpelação elo Distrito Federal, pelos lada ao requerer o desquite do casal. Só um
votos elo relator e revisor negar provimento à motivo gr·ave a teria levado a essa resolução. Os
apelação, confirmada assim a s-ontença recorrida, elementos elos autos convenc:om da procedência
que decretou o despejo ela apelante do apP.rta- ela ação. Se a viela vinha sendo· áspera para a
n:ento que lhe fora lü'cado pela apelada. autora, tornou-se impossível a continuação em
. _ comum com o marido, quando por este seviciada.
Assim clecJC!em porquG.nto, finda a locaçao
. _ E·3ta Câmara, na apelacão c i vel n. 9. 409 em
por praso eleternunaclo, e na o tendo a locadora 1 · '
6 ele Maio ele 1941, já confirmada em embargos
ora apelada optado pela prorrogação. eis que não
pela 3a Câmara, decidiu que a sevicia, nas ações
levou o instrumento elo contrato do Tesouro Na-
de desquit-e, não precisa ser demonstrada por
cional, para. averbac;:.ão elos s·clos cleviclos tornou-
exame pericial, ba.~tando o meio indireto de tes-
fJIJ a locação por tempo indeterminado pelo que
tBmunhas (Jurisp. do Trib. de Apelação, volu-
lícito era à loca{lora notificP.r à locatária, ora me IV, pág. 122) .
a.pelante. para desocupar o imovcl no prazo d2
De fato, o art. 317, n. III, elo Cóeligo Civil,
trinta c! ias solJ pena ele ser despejada.
admite, como n1otivo determinante elo clesquite,
Não colhe a alegação ele que.> a cláusula sé- a sevicia (no singular), sevicia única, que não
tima elo contrato de locaç5.o é nula nos t<'rmos precisa se revestir dos característicos elo Direito
elo art. 115 do Código Civil por conter uma Penal, .mas que pode ser apurada por testemu-
ccndição potestativa, pois esse dispositivo ].?gal nhas, e ser a,preciada pelo Juiz.
veda a condição puramente. potestativa o que O réu apelante, em seu depoimento. reconhe-
não concerne na espécie, pois, a verificaçi'\0 elo ce ter tido um atrito com a sua esposa, no dia
evento nüo ficara dependcnelo única e exclusi- 8 de Abril (fls. 94). A autora, em c1ec1arações
vamente elo arlJít.rio ctc ume das p~rtrs pois. nent muito sinceras, afirmou ter sido agrediela, bem
a locatária poderia compelir a locadora a prorro- como uma sua fii!Ja que interveio en1 seu favor
gar n locaç.üo, nen1. a locadora poc~cria oiJrigar a (fls. 91). Comparec€ndo imediatamente à resi-
locatária a permanecer no apartamento. Ficcwa dência do Dr. Pecl.ro ela Cunha, foi a autora por
expresso que à locatária era lícito devol•:cr as este examinada e encontrada - ;;com rnm1cl1as
chaves dentro no prazo ele oito dias após o tér- no pescoço e no peito, manchas que clenunc1a-
mino da locação como permitido era à locadora vam a agressão relatada", segundo afirmações
optar pela prorrogação ou elespejo. deste ilustre médico e professor (fls. 97). As
Custas ex-lege. p1·aças da Polícia Militar, enviadas pelo comis-
Rio ele Janeiro, 7 de Agosto de 1942 -- Fre- sário do Distrito Policial à residência ào casal,
confirmam ter verificado na autora os Jnesmos
derico Susseldncl. Presidente con1 voto. - Rocha
sinais de agressão. No mesmo sentido são as
Lagoa, relator.
declarações de uma empregada do casar ( fo-
lhas 106-v.), e outras ciua.s pessoas (fis. 108-v. e
110) . Se a autora não foi submetida a exame de
corpo ele delito, quando reclamou providências
Apelação civel n. 1.882 clac> autoridades policiais, tem-se a explicação na.
atitude elo respectivo Delegado, procurando har-
Desquite. Julga-se procedente, quando com monizar o casnl. E a autora comprovou. corn tes-
fundamento em sevícia. Esta não pre- temunhas idôneas, a sevicia recebida, impedindo
cisa ser provada por exame pericial, bas-
tcmclo que por 111 cio indireto de teste- que se prolongasse a viela que, ele há muito,
munhas. vinha mantendo. com sacrifícios.
tor (fls. 2, item II) ao .pas.so que a teswmu- Vias de contratos, que se encontram nos autos a
llha afirma que no carro_rcboque (fls. 97) . As fls. 8, 9, 10 e 11. Em suma: nos termos em
outras só souberam do acidente, por informa- que foi posta a questão a relação de direito
ções. A sentença tendo apreciado devidamente em fóco estaria suficientemente esclarecida para
a prova dos constante dos autos, deixou-me a permitir o seu julgamento. Impõe-se a denega-
impressão de que mereceria ser confirmada. ção do recurso.
Mérito - Refere-se a presente ação a desa-
propriação dos prédios à rua General Cãmara 176
Apelação cível n. 1.963
e 268. Alega o A. que recebera, mandato do R.
O Cóá. Pmc. artigo 248 permite a acareação para tratar das referidas desapropriações junto
de umas testemunhas com outras ou à _Prefeitura, mediante o ajuste de 50% do que
com as partes, mas, não a acareação das
partes entre si. E• destituído de quaquer excedesse de RS. 245:000$000 da desapropriação
eficácia jurídica, <'; assim não gera obri- do prédio 176 e Rs. 189:000$000 do prédio 268.
gação, o contrato cujo objetivo torna-se
inexistente. Constitue advocacia admi- Assim reza a inicial. A conta corrente de fls.
nistrativa pleitear por meio de interme- 4 descrimlna despesas feitas pelo A. 10 apelr.nte,
diário, em processos de desa,vropriações,
a majoração de avaliações. Tais contra- inclusive honorários a um advogado, na impor-
tos, por 1:isarem atividades ilícitas, i1Wi- tância de 15:000$000, somando tudo 127:930$300.
dem no art. 145 n. li e 82 do Código
Ciril. · A fls. 6 encontra-se a carta dirigida pelo R. ao
A. reiterando o cancelamento da sua pro::ura-
Vistos, relatados e discutidos estes autos ·de ção, datada de carta anterior ,de 5-6-942. A fls.
apelação civel n. 1.963, entre partes: 1a apelan- 7 está junto o D. Oficial, do qual constam as de-
te José Luiz de Souza Filho, 20 apelante Pedro sapropriações dos prédios por 355:8508000 e ...
sucar - apelados o~ mesrr>os; acorda.m os Juize3 302:116$000. Os does. basicos da questão acham-
da 4a Cãmara do Tribunal de Apelação, preli- se juntos a fls. 8 e 10. São cartas dirigidas
minarmente, e por acordo de votos, negar pro- pelo R. ao A. em que se estabelecem as bases
vimento ao agravo no auto do processo. No do ajuste, de referência aos prédios 176 e 268.
mérito, tambem pelo mesmo acordo, dar provi- Tem a elata de 29 de Maio de 1942. O doc. de
mento à 2a apelação para reformar em parte fls. 9 a que faz o 10 apelante reiteradas refe-
a sentença recorrida, incluindo na condenação os rências resa: "autoriza o A. a assinar concor-
honorários de avogado a razão de 20% prejudi- eláncias com a Prefeitura pelos preços de ....
cada a 1a apejação. 302:016$000 e 355:850$000 de acordo com a com-
Preliminar - Nega-se provimento ao .:~gra binação feita". Tem da mezma forma a data de
vo. Estão bem fundamentados os despachos re- 29 ele Maio. Nesse mesm'o dia foi tambem outor-
que permite o Cód. Proc. ar- gada a procuração de fls. 166, com e.:se mes-
corridos. O
tigo 248, é a acareação das testemunhas com as mo objeto. Esses documentos todos se integram,
partes. Q!Janto ao depoimento elas referidas, bem formando em conjunto um mandato retril)uido
esclareceu o Juiz o seu despacho. Não se per- na forma de outros documentos (cartas ele fls) .
cebe que esses depoimentos pudessem esclarecer Na contestação de fls. 108 assenta o R. a
a questão, em seu aspecto principal. As teste- UH< defesa em clois pontos: 1° nulidade elo ato
munhas trazidas seriam sufi.cientes para permitir jurídico por ilicitude do seu objeto; 20 inexis-
ao Juiz proferir o seu julgamento. Aliás, na tência de objeto porque na data docontrato
petição de fls·. 145 o requerente não indicou já estavam autorizadas as desapropriações pelos
quais as testemunhas. Fê-lo em forma ampla, preços fixados. Suscitou-se tamoom a prelimi-
genérica, de maneira a não orientar o Juiz, nar ele carencia de ação, que o Juiz bem apre-
abrindo somente a porta a um transbordamento ciou. Houve de fato um mandato e assim não
de prova testemunhal, dilatadora do feito. Quan- há como desconhecer a ação respectiva corres-
to a petição de fls. 148 fez o requerente l.una pondente que é a de prestação de contas, ele que
longa enumeração ele documentos. O Jui<; os usou o A. com propriedade. Impunha-se assim
selecionou, admitindo os necessários nos itens o despreso dessa preliminar. Foi exibida a cer-
r ·e II, que tinham ligação direta com a causa, tidão de fls. 113, passada pela Prefeitura. ela
Isto é, os prédios de.oGpropriaclos ela nm Gene- qual consta que as avaliGções que sen·iram ele
ral Câmara. Os itens 3, 4. 5 e 6 referem-se a ou- base as clesapropriaçõcs jâ estGI·<un feitas desde
tros prédios. os itens 7 e 8 dizem de segundas 22 e 26 ele Maio, pelos mesmos valore.3 a que
(59)
2GO AHCHIVO JUDICIAniO 20-2-43
se referem os documentos de fls. 8 e 10. Juntou 11:1ra a c!eterminacflo do vaiar. São incumbidas
ainda o R. um convite do cooordenaclor da disso pec::soü.s con1 atribuições ef:pcciais. Encar-
Sub-Comissão ele Desapropriação, pan1 compare- regar n.Igucn1 de conseguir 1najoração de a valia-
cimento pessoal à repartição, datado de 30 de ção, ê admitir implicitamente a influência de
Maio, isto é, um dia após o mandato e aos do- estranhos, junto a pe6Soas incumbidas de rea-
cumentos do ajuste. lizar um ato processual ele vit~l importância. Ca-
racwriza-se nitidamente a advocacia adminis-
O Dr. Juiz resolveu que o contrato era
trativa. Incorrem assim os ajustes combinados
inexistente, JJOrquanto, o seu objeto era nenhum,
na censura dos arts. 145, n. II, e 82, do Código
sendo que naquela détta os prédios jã estavam
Civil.
avaliados por preços prefixados. Cumpre apre-
Não é objeto lícito a aclvocaciá administra-
ciar qual o objeto do contrato. Segundo a pro-
tiva., como já decidiram as Primeira e Terceira
curação de fls. 166 seria "representa-lo perante
Câmaras elo Tribunal de Apelaçüo (A,tcr-rrvo Ju-
as repartições públicas, relativamente ã desapro-
DICIARIO, VOJ. 5°, pág. 498). ÜCOiTe 33Sim uma,
priação dos imoveis, podendo requerer, aceitar
preço, acordar, assinar o acordo relativo à fixa- nulidade de pleno clir·eito. E tanto essas a ti viela-
ção da avaliação ele cada desapropriação e pra- eles eram ilicitas que para elas chamou a atcncão
tical" todas as diligências necessárias ao dito ci.o apelado o C~1·2fe ela .sub-cornissüo enc:nrreg:.l.~:ltt
fim". Na carta ajuste de fls. 8 se diz "reque- e.specialnt:Jnte ele coordenar as desaproprinçõ€s.
l'er, acertar preços com a Prefeitura, acordar, Daí resulta a não procedência ela primeira ape-
l·:~çlo.
tratar e acompanhar o processo, dispensando-lhe
toda a assistência que for necessária". Nesses Quanto ao segundo recurso merece provi-
documentos está nitidamente declarado o olJ- nlento pa.ra o fim ele mandar incluir na conde-
jeto elo contrato, assinalada assim a diretriz nação os honorários ele aclvogado, à razão ele
elas atividades do manclatãrio. Ao autor cum- 20 Si . Justificam-se esses honorários, porque a
pria, portanto, satisfazer a prova dos serviços ação não tem fomento algmn ele Justiça. e as-
que prestara para justificar a sua remuneração senta. e1n ajustes eivados de nuliclaclcs por ilici-
pro-lab01·e. A desapropriação consumou-se com tude ele seu objeto. Nessa conformiclaclc, pre-
ba~e nas avaliações. Nestas tiveram logar, ante- llnünarmente, nega-se provimento ao agravo no
riormente ao ma.ndato e ajustes. Assim não ha- auto elo processo e no mérito clá-sc; provunento,
via. mais Jogar [para que o a.utor aceitasse en1 parte, ao recurEo elo segundo apelante para
a. sua atividade nesse negócio. Tanto assim q'::e incluir os honorários ck advogado à razão ele
recebido o mandato no dia. 29, nesse mesmo dia 20 % na c;entença, que é mantida. quanto ao
ou no seguinte já assinava o acordo e a 30, mais, ficando assim prejudicada a. primeira ape-
um dia logo após. o autor era. che..mado ao ga- lagão.
binete do coorclenaclor ela sub-comissão "pessoal- Custas na forma da lei.
mente" (fls. 114) . Aí ficou inteirado ela mar-
Rio, 24 de Novembro ele 1942. Edmundo
cha do processo dos seus antecedentes, o que clec
de Oliveira Figucircclo, Presidente. Rn;ul Ca-
terminou a cessação do mandato. Conseguinte-
margo, relator. - Alvaro Ribeiro da Costa.
mente, é fora ele dúvida que o contmto tornou-
Ee sem objeto, inexistente. Aquilo que prome-
tera fazer o autor jã estava feito. Incide o
contrato no art. 145 do Código Civil pela im-
pc·:o,;ibiliclade do seu objeto. Ma.s, há ainda um
Apelação civel n. 2.009
outro a.specto da causa ainda a. considerar, que
foi aventado na contestação e não resolvido pela Ape~ação. --- Dela se conhece. mesmo que não
pagas as custas devidas até a audiên-
Eentençt< - a ilicitude do CDntrato. O objeto elo cia, po1·que o art. 56 ~ 2. 0 do Código do
ajuste não foi outro senão conseguir majoração Processo Civil, a respeito, não comina
qualquer pena, poclendo as custas ser
nas avalie..ções. Isto está salta.ndo aos olhos e pagas até jinal. -- Tmtando-se ele pas-
rezt< mesmo o contrato, por escrito. A condição sageiro, a culpa do transportador e
seguncta ".subordina. a remuneração à avaliação. presumida. Caso de forca m.lior ou caso
fortuito. ·
A mco.ma referência se encontra no ite1n 5o, quer ·
de uma quer ele outra carta contrato.
Vistos. relatados e examinados esws autos
o,·~. " ~valiac:Cto é nm ato inhcrente ao pro- ele apelac;üo clvel n. 2. 009, senclo "PPL<nte Con·
ccs:--·n cL:- cl~'-c::rq.roprin(.~rtcJ. E' u1n 11onto lJúsico j chcta Franccza ou conceiçfio Frnnceza e apela-
r GO)
20-2-43 AP.CHIYO JUDICIARIO 2G1
gamento das prestações importaria na rescisão lhador, dando lugar a aplicação do art. 707 do
do contrato de pleno direito, devendo o Ct'm- Coct. Proc.
prador entregar os imoveis no vendedor, ime- No caso a posição do esbul~,ador é patente
diatamente. Não há dúvida de que inúmeras pelas expressões do próprio agravado, quando diz
prestações· já eram devidas. por ocasHlo da morte na contraminuta que o move! deve ser "vendido"
do comprador. Após a abertura do inventário (fls. 20). Com que direito poderia !fazê-lo o es-
continuou faltoso o espóllo, não só quanto as pólio se não tem o domínio? Quem quer vender
prestações, como tambem quanto aos Impostos, o que não é seu - confessa-se esbulhador. Não
o que deu lugfl.r a um executivo fiscal. Foi com- se diga que o inventário é processo administra-
placente o credor em aceitar a venda e1n leilão tivo e não daria margem a tal decisão. O art. 466
do direito e ação. Ainda teve tolerüncia o cre- do Cod. Proc. vigente definiu fi. autoridade do
dor em conceder dilação e prazos. Juiz, do inventário nos seguintes termos: "O Juiz
Vale transcrever a contraminuta do Dr. In- poderá decidir, no inventário quai.~~Jucr ques-
ventariante judicial, quando assinal::t que "não tões de direito e de fato runclaclas em prova do-
podia deixar ele consignar a tolerância elos agra- cumental inequívoca, remetendo para os fins or-
tantes, para com o eGpólio, o que aliás a sen- . dinãrios as que exigiram maior inclagnção".
(63)
2(i4 AHCHIVO .JUDICIARIO 20-2-43
Ora, no caso dos autos, a prova clocun1ent.al rum tolerantes. Si tivessem usaclo desde logo do
é inequívoca, resulta de clá.'.lslll:<s contratuais rigor da lei, estariam em meEloms conclições.
claras, expressas, insofismaveis quanto a:Js direi- Enquanto o espólio ]JSufrue o prêclw, o credor
tos do credor, e no que respeita a situação dos vendedor que .wm o seu contrato violado não re-
bens no espólio se constata peb próprio inven- cebe prestações e v~ o imovel executado pelo
tário. Há uma face da qustão que parecendo fisco, ficando privado de medid•lS legais de pro-
superficial, afeta o fundo do julgamento, que teção. Os agravantes alegam rnesmo que fizeram
e a da posse dos bens ar.recadados no inventário. a notificação para o efeito do art. 14 do decreto
Provado o esbulho, pela não restituição dos bens 3. 079 de 15-9-938. Tudo isto não pode escapar
na forma contratada e pelas intenções manifes- ao julgamento para acentuar nma solução justa.
tadas pelo agravado define-se a situaç.f<o jurídica Nessa conformidade dá-se provim'ento, em
para aplicação do remédio judi-cial, Esclareça-se, parte, ao recurso uma vez que a decisão recor-
porem, que não se encara a rescisão do contrato rida reconheceu os direitos dos agravantes imi-
em muito menos a sua conceituação jurídica em tindo-se os agravantes na posse dos bens e nesse
face da lei 58 de 1937, resalvando-se assim às sentido reformada a decisão rec()rrida.
partes o direito de liquidarem seus contratos Custas na forma da lei. ,
pelos meios cabiveis na espécie. Há ainda a con- Rio de Janeiro, 13-11-942. - Edmundo de
siderar o lado moral da questão. Os agravantes Oliveira Figueiredo, Presiden~~- - Raul Camargo,
estão na contingência atual somente porque fo· relator. - A. M. Ribeiro da Costa.
(64)
20-2-43 AP.CHIVO .JCDICIARIO 2ü5
vigente ao tempo do fato, e julgada idônea para Marques, relator. - Ferreira França. - Dia-
toclos os efeitos legais. genes do Valle, com restrições quanto aos fun.
E' verdade que o M. Juiz, por ocasião damentos. - Renato Gonçalves. -- Amorim Li ..
da interposição da apelação, e só então, achou ma, com restrições, quanto aos fundamentos.
- Oliveira Cruz.
que tal fiança era "insuficiente" em face da
tabela do novo Código, e por isso exigiu fosse
reforçada, o que, não sendo atendido, motivou
a expedição de mandado de pri>ão, objeto da Habeas-corpus n. 2.661
presente ordem. (CACONDE)
Entretanto, uma tal exigência, alem de não Estelionato; locacão de coisa alheia; herança
atender, rigorosamente, a nenhum dos casos ex- jacente.· "Habeas-cOrpus": casos em
pressos de "reforço" de fiança, previstos )\lO que, por ele, pode ser invalidado o pro-
cesso criminal.
ai't. 3 do dito Código. desatendeu, ainda, ao
disposto no art. 2° do decreto-lei n. 3.931, de Vistos, relatados e discutidos os presentes
10 de Dezembro de 1941 ("Lei de Introdução autos de "habeas-corpus" n. 2.661. da comar-
do Cód. de Proc. Penal"), quando manda apli- ca de Caconde, .em que é Impetrante o bacha-
car, em matéria de fiança, aos processos em cur- rei Octaviano José e é paciente o bacharel
so, alcançados pelo Código, a lei mais favoravel Manfredo de Souza Alves.
a qual, no cas_o, era a lei anterior. Acordam. em Câmaras Conjuntas Crimi·
De invocar-se, finalm'ente, a veiha e sábia nais, negar a ordem, condenando o impetrante
lição de Oliveira Machado ("A Fiança no cri- nas custas.
me", 1882, págs. 176-177), repetida por Galdi- Assim decidem, porque não é exato. como
no Siqueira ("Curso de Processo Criminal". se alega, que o fato· imputado ao pac'ente, no
za ed., n. 230). e Bento de Faria ("Cód. de processo criminal que lhe move a Justiça Pú-
Proc. Penal", v. 10, pág. 396), e apoiada por blica da comarca, não constitue crime.
Eduardo Espinola Filho ("Código de Processo Pe- Qual o fato imputado?
nal anotado", v. 3°, págs. 399-400), com este Segundo denuncia, certificada nos auto~.
comento próprio: - "De fato, nãc nos parece co1n o procurador ele wn inclh·icluo. que se di-
razoavel que, fixada a caução :1 ser pr~st8da. zia filho natural de um outro. falecido na co·
o acusado, após obter a soltura mediante de- marca. e cujos bens foram arrecadados e custo·
pósito. fique sem garantia. sujeito a \'Oltr.r à diados em juizo, como herança jacente, o pa-
prisão a todo momento, porque, inesj)eracia- c:ente ·'deu em locação", a un1 terceiro, me-
mente. se resolva fazer uma revis~o do arbitra- diante contrato verbal, parte das terras dessa
mento, entendendo a autoridade ter se engana- herança. Esse procedimento, de acordo com a
do com uma exigência deficiente". - Esse mesma denuncia, teria sido de mã fé, pois o
mesmo autor. por último citado, examinando. paciente sabia que se tratava de uma herança
em seguida, os poucos casos em que o reforço jacente. sobre n qual o seu cliente nEw tinha
de fiança se impõe, sem que o impeça a cir- nenhum direito como sucessor d.o "de cujus".
cunstância de já ser irrecorrivel a decisão in- uma vez que essa pretendida qualidade, ainda
voca a autoridade de Borges Rosa (' Proc. Pe- dependia de reco~1heciment.o judicial; numa
nal Bras. •', v. zo, págs. 34-345), para qu2m ação de 'investigação de paternidade que esse
o reforço só é exigivel por "fato supervenien- individuo move no Juizo dos FeitCJs da Fazen·
te": a) que altera a classificação do delito, ela Nacional. nesta Capital. Se esse é o fato
reconhecendo-o mais grave; b) altera o valor imputado. não há dúvida que se trata, em
elos bens dados em fiança, reconhecendo-os ele tese, de um crime de estelionato, como foi ca-
yo.Jor nulo ou 1nenor do que o nec2ssário para pitulado na denúncia, previsto no art. 171 §
garantia·'. 2. 0 • 11. i, do Côcligo Penal em \'igor: "dar em
Por todo o exposto, não há dúvida que. na locação coisa alheia como própr'a · ·.
espécie, o presente pedido de "hal:Jens-corpus" Que a coisa era "aiheia", não ha questio·
era cabiv·el e de todo procedente, nos termos em nar, embora desconhecido o seu legítimo dono.
qnc ~ ordem foi concedida. Como ensina Manzini, tratando do crime dfl
8étu Panlo. G ele Outubro ele 1942 - Ma- "furto" . . . . "·Ma poiché e manifesta cl1c !e cose
n 1 ~f'l eurlo....,·. PrPsiclente. - J. C. ele A'Zevcdo c!i una ereditá rimangono nela esfer:·t di domi-
f66)
20-2-43 ARCHIVO JUDICIAHIO 267
nio e d·! custodia nella quale si trovavano pri- damento para a concessão da ordem. Quanto
ma della 1norte de! "ele cujus", e passano ne- a isso, se o processo decair a final, o prejudi-
cessaria.tnente nel p·ossesso di qualcuno, si le- cado terá os meios civj:; e criminais para as de-
redo ou "11 curatore dell ereditá giacente", o vidas reparações contra os possiveis responsa·
il depositário, ecc., cosi la possibilitá de! furto veis.
in senso propio rispetto ad esse si deduce dala São Paulo, 24 de Novembro de 1942. -
!oro condi2llone giuridica, anche senza ricorre- Manuel Carlos, Presidente. - J. C. de Azeve-
re ali art. 925 cod cl vil e, per il qual e "li pos- do Marques, relator. - Diogenes do Valle. -
sesso dei beni de! defunto passa di diritto nela Oliveira Cruz. - Amorim Não tomava
Lima.
persona dell erede, senza bisogno di m'ateriale conhecimento do pedido. Reputo o "habeas-
appreensione" ("Trattato'', vol. 8. 0 , pág 62). corpus" meio inidôneo para impedir o curso
Ora, o que diz o mestre, em relação ao da ação penaL Somente a coação, que impede
furto, não há por que se de!xar de aplicar ao!!> o livre exercício do direito de locomoção, - e
demais crimes contra o patrimônio, inclusive o suscetível de ser corrigida por meio desse re-
"estelionato". curso excepcional. Assim, de não haver prisão
A questão de ser verdadeiro, ou não. o I preventiva, pronúncia ou condenação, não exis-
fato; se praticado de boa ou má fé, é matleria te matéria de "habeas-corpus".
só apura ve! e aprecia vel no próprio processo
criminal. estranha e imprópria do "habeas-
corpus". Aqui. o que somente cabia ,·erificar.
em face do alegado, era se o fato, pelo qual o Agravo de petição n. 14.323
paciente está sendo processado, constitue. ou (PRESIDENTE PRUDENTE)
não, crime previsto na lei penal . Se o consti-
tue, como a contece, nada podia fazer o Tri · cwnulaçao rie ações: adotado o rito ordinário,
pocle ~e dar a c1Lmulaçüo embora rli-
bunal no sentido de Impedir que o pracesso vereas as formas do processo para cada
continue até a sentença final. um dos pedidos. Cumulacão da acão cle-
marcatória. com a, de esbÚiho. -
Em lunünoso acordão unânime, o Supremo
Tribunal Federal compendiou os ún:cos caso' Vistos. relao:ados e cliscuticlos este 3 autos
em que. por meio do ·':habeao-corpus", se pode ele agmvo ele petiÇão n. 14.323, ci·'<· comarca de
invalidar lUn processo criminal. a saber: Presidente Prud-ente, em que 8ão. agravan::es,
a.) .-:;e o lfato arguiclo nüo constitue. en1 João Vieira de Medeiros. sua mulher e Domin-
tese, o crilne imputado; gos Vieira da Silva, e, agravados, Nicola Castro
b) se constituindo-o. ja se houwr consu- .-: . 011tros:
mado a respectiva prescrição;
Acordam. em Terceira Cãme,r.1. Civil do Tri-
c) se o processo esti,·er radicalmente nulo l:mnal de .-\pelaçào de S. Paulo, por votação
por falta de' alsum termo essencial ( '·R:·y. _slg~ I
nnãni!ne. conhecer do recurso e lhe dar provi-
Trib.". \'OI. 41. pág. 322).
1nento. para re!ormar o despac',lo saneador de
Alegou -se, ainda, por ocasião elo julga·
ns. 75. e manctar que se prossiga nos termos do
menta. que o Juiz llavia ordenado a apresen-
proce~so, com a cumul•:tção da aC'ão demarcat.õ-
tação compulsoria do paciente para determina-
ria e queixa ele esbUlho. na forma da peticüo
do ato do processo.
ínicinl.
A respeito, dispensou-se o Tribunal ele pe-
dir infor·mações ao Juiz, bem assim de exig·ir A.ssim dectaem, na conformidade de julga-
a prova do alegado. E' que a exigêno'a judicial dos ante;·iores desta mesma Cãmara. e po:·que
estaria amparada pelo cl1sposto no art. 2u0 do a razão está com os autores, cu~o pa.:ronQ e:;:-
Código de Processo Penal. Ora, se se trata de põs a qucstào e argumentou multo bem, na
.medida legal, a coação tinha "justa causa". minuta do agravo, de modo a dononstrar que
não podendo ser anulada pelo Tribunal. A a diEpos!ção do art. 412 do Código do Proce.s.s:>
coação, que justifica o remédio dó "habeas .. Civil não contral'fa a do a.rt. 155. poJ..s não proi-
corpus", é somente aquela que não tem "justa be a. cumulação de ações, e usando da express,\o
causa", isto e, sem "motivo legal". "nã::. impedú·ã", quiz dizer que c permitido o
Finalm·ente, as acusacões contra o Juiz e
c promotor público, ele que esti\o perseguindo
I recurso. por açào clirctn. aos interclltos pos es-
sórios, scnl que isso impeC'a ser u pedido cumli-
o paciente, nào podiatn ~;er acolllidas con1o fun- ] lado R ou1 rn. nrãa, quund(; !"·~t· ~·:1."' 1
2GS . ARCHIVO JUDICIARIO 20-2-43
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20-2-43 ARCHIVO JL'DICIARIO 2G9
que o assegura. A sua legitimidade estava con- pode ser intentada. porque a pronü~sõria n:'u
tida ainda no art. 76 do Código Civil que con- está vencida. Mas se a lei faculta o seu de"-
signa a necessidade, para propôr uma ação, de conto, a sua imediata transformagão em di-
legitimo interesse econômico ou moral. Assim nheiro, há de haver Ul11 meio que assegure ac;
entendeu o Ministro Costa Manso, ao elaborar o portador esse direito. O meio é a aç.ão declara-
projeto da lei processual para o Estado d<e São tória, que desfaz dúYidas, tornando possível a
Paulo. No direito francês e no italiano, Il'ào realização de UJin direito sacrificado no mo-
existia, twmb€m, 'disposição legal taxativa que mento.
a reconhecesse. Não obstante, Maynard e Cl1io- O CódLgo de Processo Civil não di~lcipli
venda errum de opini·ão que constituia ela con- nou propriamente a ação declaratória.
sequência imediata de leis de seus paises que
. Convenl1a-se, entretanto. em que pode ser
não a autorizavam expressan1ente.
movido contra uma pessoa deter!Thinada, ou no
As objeções rel~.tivas à admissibilidade da
dizer de Hugo Alsina. no seu Tratado de De-
ação declm·atória desapareceram. Opugnaçôes e recho Procesal, p. 201, contra pessoa incerta a
defesas, incertezas e vacilações a ela referentes re.gpeito da qual se deseja uma decisão com au-
não teem, hoje, mais razão de ser. O Código toridade de coisa julgada. A lei não estabel~
do Processo Civil tirou todas as dúvidas. O ceu o rito especial para essa ação. Deverá, pois.
parágrafo único do art. 20 - fixou o seu obje- ter cur·so ordinário, nos termos do art. 291 do
tivo, que é a "declaração da existência ou ine- Código de Processo. Não vale invocar o rito es-
xistência de relação j'Urídica ou dá autenticida- pecial correspond:ente à ação executiva.
de ou falsidade de docum'ento". Em face da lei. o processo da ação decla-
Tais expressões, redundantes aliás, pois na ratória é o ordinário, constante do Livro III,
cláusula atinente 1à "declaração da existência ou título único do Código. Quanto à competên-
inexistência de relação jurídica" §;e acha com- cia, o fôro da declaratória é o da executória.
preendida a da "autenticidade ou falsidade de A ação termina com a sentença declarató-
documento", são as do Código alemão no arti- ria, que valerá, segundo dispõe o art. 290 do
go 256. Código de Processo, como prece i to. A sen ten-
Para legitimar a ação declaratória preciso é ça não tem destarte, força executória direta. O
que o autor tenha wn interesse. Não importa julgamento declaratório difere do julga;g.mento
que o interesse fique circunscrito aos limites no processo contencioso. Neste, a sentença é,
da declaração dia existéncia ou inexisténcia d'l concomitantemente, declaratória e executória.
relação jurídica. O que é indispensavel é que A sentença declaratória, transitada em julgadu,
o interesse exista realmente. fica dep·endendo de execução, que se obtem pela
sentença condenatória. Pleiteia-se, então, a con-
A finalidade dessa aç.ão é afirmar, definir,
denação "por meio de ação adequada á efeti-
dar corpo, infundir estabilidade ao direito do
vação do direito declarado", na forma do pará-
autor que se acha diante de uma insegurança
grafo único do art. 290 do Código de Proces-
jurídica .
so Civil. Proferida a sentença declaratória, as
Costa Manso exemplifica diversos casos de
custas são devidas pelo vencido.
ação declaratória. Certa mulher viveu. 111uitos
anos em concubinato com um ihomean. Sepa- No caso em debate, devia o autor ter pro-
rada, passa a jatar-se ser casada legitimamente movido desde logo ação de prestação de contas
com ele. O indivíduo quer contrair matrimô- contra o réu. Se :fosse julgada procedente, teri9.
nio, ou deseja alienar um imovel. No primeiro ele . em seu favor uma sentença declaratória e
caso, sente-se repudiado pela família da mu- executória ao mesmo tempo. E a ação de pres-
1.1\.er a que pretende ligar-se pelo casamento; no tação de contas, prevista no art. 307 do Côd[go
segundo, exige-se-lhe a outorga da pretensa es- de Processo Civil, é cabivel na espécie. Pois são
posa. Diante disso, só lhe resta pedir judicial- obr~jlados a prestar contas todos aqueleS/ em
mente a declaração de seu estado. O portador cuja guarda ou adiministração existirem bens
de uma nota promissória vê-sé impossibilitado alheios. Estão sujeitos a prestá-las os inven-
de descontá-la, por ter o devedor veiculado nlt tariantes, os testamenteiros, os tutores, os cura-
praça que se trata de documento falso, ou de dores, os depositários em geral, os gestores de
obrigação já resgatada.. A ação de cobrança não negócios, os mandatários. O espúlio do Dr. A!-
(701
20-2-43 A:RCHIVO JCDICIARIO 2il
trcdo José :V~arinllo não pode fugir a essa pres- Acorda a Primeira Câmara conhecer da
tação. Este advogado exerceu nYandato que lll<e apelação, e lhe dar provimento para o fim de
conferiu Migual Garcia Bueno, na qualidacte cassar a decisáo recorrida, e determinar o pros-
de inventariante dos bens deixados por Eduardo seguimento dos demais termos do processo,
Avelino Garcia. Como mandatário, promoveu os unanimemente.
termos elo inventário, e recebeu diversas impor-
tâncias pertencentes ao espólio, ora apelante.
Custas na forma da lei.
l"alecendo o Dr. Alfredo José Marinho, é claro
que o seu espólio está obrigado a prestar as Niterói, 14 de Janeiro de 1943. - Oldemar
suas contas de m-andatário. E quem pode pedi- Pacheco, Presidente. - Ivair Nogueira Itagiba,
las é o espólio que o advogado representou. relator. - Macedo Soares.
mente, julgada Improcedente. A autora ape!2. seguiria ilidir a prc-.·,~ cic< u 1wntal •':dstente
ela sent,:nça. nos autos.
Isto . ,posto, O Barão ele Guarullw.s, em cédula codicl~
A a,pelante carece de razões. Ao seu agra- lar, deixou à auton, ora epelante, a casa da
v o é negado provimento. E, tambem, à sua rua 13 ele Maio "para ela gosar e usufruir. en-
apelação. O' processo, outróra, tinha feição pu- quanto viva, passando, por sua morte, se não
ramente individualisti-ca. Alheiava-se o poder deixar filhos legítimos, .para a Santa C1sa de
púbUco dos litígios entre os indivíduos. O Juiz Mi~ericór,dia ele Cl:unpos". Argumm1ta-se que
era inativo· Assistia à luta judiciária travada só por testamento pode o testador dis-por de
entre as partes. Sua obrigação consistia em
bens imo v eis para' depois de sua morte. Na
julgar pelo alegado· e provado. Hoje, a missão realidade, no direito atual, o codicilo é ato
primordial do Juiz é promover o bem da soc!e-
simples, de última yontade escrita, datado
dade e dos indivíduos que a formam. Dia:1te
do processo que corre sob sua responsabilidade, : assinado por pessoa capaz de testar. Por meio
não pode ele cruzar os braços sobre 0 peito, j dele, o codicllante, nos termos do3 arts. 1.654
nem se vota à contemplação estática e mulçu- ; e 1. 655 do Código Civil faz disposições reJa-
mana .dos orientais. A Justiça é função do Es- ' tivas ao seu enterro. a esmolas d2 pouco pre-
tado, no dizer de Ludovico Mor tara. O poder ço a pessoas determinadas. ou indeterm.inada~
estatal é representado pelo Juiz. E o Juiz é mente aos pobres de certo lugar, lega moveis,
figura imparcial, ativa e dinâmica. Com,:oete- roupas ou joias, não muito valiosas. de seu
lhe orientar a prova, fiscaliza o proceoso, im- u~o pessoal, nom "ia ou substitue testanl'entei-
pedir abusos, expedientes capciosos, sutis e va- ros. Não fica 0 disponen~e proibido de nele de-
t•iados usados com o fito de tolher a lei e di- clarar 0 adiantamento r.o herdeiro. ou ao le-
latar a causa. Cabe-lh2 velar pela economia de gatário, de parte ela herança, ou do legado.
tempo e dinheiro, procurando d·2scobrir a· ver-
dact.e para a realização da Justiça integra. Sua Foi o codicilio lauaclo em 1889. . Nesse
esfera de ação é, assim, a da inteligência, von~ tempo o codicllio era um testamento menos
ta de e liberdade. Calha dizer que esses ,princí- solene. Nos testamentos fazia-se desllerdação,
pios não são absolutos. Há de haver modera- e dispunha-se dos bens a título ,universal, no
ção no arbítrio do magistrado, que dirige o codicílio a dispooição era a título singular ou
processo, sem .prejudicar a defesa dos interessa- ! sob forma de legados.. A Ordenação livro 4,
dos. Não lhe é lícito, d2starte, cercear aos 11- tlt. 86 proibia, por meio de codicilio. tambem
tigantes o uso dos meios adequados à cons~- conh-2cido por pequeno testamento ou cédula.
cução de seus legítimos objetivos. Se o Juiz por diminuição, instituir herdeiro, ou desher-
não admitir a prova necessária requerida pela dá-lo. Estas regras originaram-se do direito
parte, ou impedir, de qualquer forma, a d,ofe- romano do reinado de Augusto. Este impera-
sa do interessado, a lei autoriza o agravo n<J dor submeteu aos jurisconsultos o cMo d·~
auto do processo, conforme prescreve o inciEO cornelio Lentulo, proconsul na Asia, que, de-
l i do art. 851 do Código de Processo. 1 pois de seu testamento, deixou, em bilhetes ou
Testemunha qU!e não com[parece à audl- codicilos, cUversos legados. Decidiram os ju-
ência d-eve ser intimada. Se intimada, não s~ risconsultos que os ~e gados devia ser satisfel-
apresentar, sem motivo, no local designado, tos, coiUO se constassem do testamento. An-
incorrerá na pena de condução, e respondera tes da vigência do Código Civil, entr,2 nós Im-
pelo aumento da despesa a que der causa. ,E' .peraram esses princípios. Assim, o legado del-
este a intellgênciia do art. 238 do Código de do pelo Barão de Guarulhos, em cédula codl-
cllar, devia ser cumprido, como, na realidade,
Processo Civel. Outra é a Interpretação dada
o foi.
no despacho agravado, que não é reformado
pela desnecessidade da prova testemunhal para Usufrutuária, a autora tem a posse, o uso,
a decisão do CfliSO em debate. Admiti-la seria a administração do imovel e a perce,pção dOS
dilatar o feito, e encarecê-lo sem vantagem frutos. A posse de usufrutária não lhe dá,
para a autora e para a Ju.stica. Quaisquer que porem, direito a usucapião. A ,posse. que exer-
fossem as testemunha-o, por valiosos que f os- ce. é en1 nome da nua propriet;iria. Não pas-
sem os depoimentos. a intere~sada jamais con- sue nem nunca possuiu a coisa como sua, com
(72)
20-2-43 ARCHIVO .JUDICIARIO 273
o ânimo de dona. S2111 esse ânimo, que é re- Não se pode re<'onl1ecer o don1int:Y da au-
q1iisito indispensavel para quem quer u.suca- tora sobre o imovel. O domínio e. indiscuti-
pir, na forma do art. 550 do Código Civil não velmente, da apelada.
se pode obter o domínio. E o domínio no caso Por esses motivos,
pertence à apelada, desde o momento da mor- Acorda a Primeira Câmara negar provi-
te do testado. A prova testemunhal demonstra mento ao agravo no auto do processo e à ape-
que a autora procurou o administrador da casa lação, unanimemente.
de Misericórdia para transferir a esta ·o direito !Niteroy, 31 de ·Dezembro de 194:2. - Ma-
de usufruto qu-2 tem sobre o imovel, objeto da cedo Soares, Presidente. - Ivair Nogu.eira Ita-
ação. giba, relator. -· Barreto Dantas.
7
Al1CHl\'O Jl'DlCL\HIO 20-2-41
JURISPRUDENCIA
Aincia r<::te ano, c1n acord~-to de 12 de Feve- tureza administrativa, C{Ue o poder judiciária
reiro, esse Tribunal pela sua Quarta Câmara pratica, quando elabora o seu regimento inter-
Civil, de<:idiu oue "o mandado de segurança não no, organiza a sua secretaria, os seus cartórios
é meio icloneo para pleitear-se a rescisão de e mais serviços auxiliares, propõe a criação e
sentença que transitou em julgado" (Rev. Fo- supressão de empregos concede licença organi-
1·ense" - ml. 90 - pag. 768) . za a lista de antiguidade e m'erecimento para
O ilustre Temistocles Cavalcanti escreve promoção de juizes, etc. Alcantara Machado, de
não caber o mandado ele s·egurança em casos cuja opinião se valeu o Sr. Dr. Procurador Ge-
que tais "porque a lei só fala em "ato" e nã·:> ral do Estado. para ilustrar o seu parecer de
em "decisáo", como resava a em'enda Leví Car- fls. ':.7, pensa da mesma Iorma. Náo se tratan-
neiro. Quem diz "ato" de juiz ou tribunal, diz do de funções meramente administrativas de-
evidentem-ente. causa diversa de "decisão" mais ~empenhadas pelas autoridades judiciarias inad-
parecendo referir-se a expressão "ato" às de- missivel se torna o mandado à e segurança. A
liberações puramente administrativas e náo nossa lei de organização judiciaria vigênte (ar-
tambem às ele ordem jurisdicional. Seria" não tigo 85, I. 1°, b) só fala em atos administrati-
hà dúvida. crear insuportavel regime de qúvi- vos permitindo o mandado de segurança, segun-
·da e instabilidade permitir a reforma da deci- do acentúa o mencionado parecer, adotando
são jucli2ial ou suspender-lhe a execução, m·e- assim a melhor doutrina.
diante o mandado de segurança, remedio crea- Deante do exposto não podia este Tribunal
·do para obviar a outras neces3idades. decidir de modo .contrario. Oficie-se com bre-
A mel!1:Jr doutrina, portanto, é a que néga vidade, ao Juízo ela execução a que se refere o
o manclaclo contra decisões judiciais. O Supre- despacho de fls. 21 v considerando sem efeito o
m'O Tribunal Federal salvo uma única exceçã:J, anterior ofício que determinara ficasse susta-
assim ~-empre decidiu. (ManrkLdo de Segurança da a marcha ela aludida execução em face deste
- 2a edkão - página 122; Rev. Forense - julgado.
citada. \'Ol. 79 - página 466). Custas pelo ;mpetrante.
Não é para confundir-se a expressão "ato",
Sele-se. P. intime-se.
usada p.e!a lei com o termo "decisão", da té-
cnica judiciaria. No sentido em que a última Bahia, Tribunal de Apelação, 16 ele Outubro
palavra é tida na processualistlca, na vida fo- ele 1942. - Euvaldo Luz, Presidente. - Osc:zr
Tense, difere por completo do vocábulo - ato. Dantas, relator. - Sal rio Martins - Alvaro
Nem obsta a essa conclusão o fato de empregar Clemente - Demetrio Tourinho - Cleobulo Go-
a lei a expressão "qualquer autoridade". Já se mes - Andrade Teixeira - Vieira Lima - Ar-
tem explicado que isso se fez para abranger thur Conrado - Polybio Mendes -· Joaquim
tambem no ambito do mandado, os atos de na- Laranjeira - Leonardo Lessa.
( 751
276 AHCHIVO .TCDICIARIO S0-2-43
JULGADOS E PARECERES
(76)
20-2-43 ARCHIVO JUDICIARIO
siderações anteriores, quer quanto à prescricão, Esse entendimento assim assente, realmente
quer qurmto ao mérita. atendeu ao espírito da lei ele 1932, que se ê
Isto posto: certo no artigo go dispunha que a prescri-
A questão relativa à prescrição quinquenal ção uma vez interrompida, começaria a correr
estabelecida a favor d1 Fazenda Pública, e que pela metade do prazo. tambem determinou em
·o decreto 20.910 de 6 de Janeiro de 1932 tam- seu artigo 1° que o prazo de prescrição conti-
bem veio regular, no tocante ao número de in- nuaria sendo o de cinco anos.
terrupyões e efeitos dela, tem sido no Juizo Sustenta-se, no entanto, que com o adven-
da Fazenda Pública objeto de constantes in- to do decreto 20.910, o titular de um direito
·dagações, inclusivé por mim nas várias vezes que interromper o prazo de prescrição, antes
em que tenho exercido as funções de Juiz das ele decorrido o quinquênio, não tem mais di-
1,a, 2.a e 3, 3 Varas. reito ao prazo de cinco anos na sua totalidade,.
Desde a publicaçiio elo decreto 20.910 de mas tão somente ao de dois anos e meio, con-
1932, ao meu espirito dç advo~aclo de entito. tac!os ela data do ato interruptivo. Assim, de
se apresentou como inaceitavel a doutrina qu'-' acordo com esse absurdo modo de entender, o
ao5 pouc2s procurou se firmar, de que o fllU- titular elo direito que interrompesse no primei-
c!ido decreto restringira o prazo de prescrição ro mês após o ato violador elo seu direito, o
de 5. para dois anos e meio, como reiterada- prazo de prescrição, teria reduzido esse prazo
mente \'inham sustentando as Procuradorias da para dois anos e sete meses, e não usufruiria
Fazenda F~deral e Municipal, nos pleitos ju- mais do prazo ele cinco anos.
üicbis. E' manifesto que este entendimento não
Os julgados se sucederam e a pouco e pou- pode prevalecer, por atentatório da lógica, do
co a ju:·ispruclência se firmou no sen~ido de bom senso e da boa hermenêutica.
que, realmente, o citado decreto tnão visara Entender-se que o credor diligente, em ra-
restrin.;ir o prazo ela prescrição de 5 anos, ao zão da sua diligência caracterizada pelo protes-
qual expressamente se referia em seu artigo P. to, ficaria com menos direito elo que o credor
mas apenas, e tão somente, deu novos efeitos inerte. que nenl1um ato houvesse praticado en1
ao prctesto interruptivo dela, fazendo. decorrer defesa ele seu direito, é l!ogismo que nenhum
novo prazo, pela metade, da data do ato inter- jurista pode aceitar.
i·uptivo. A questão é de tal simplicidade, que custa
E' essa a jurisprudência assente hoje so- mesmo a crer possa gerar dúvidas, como as que
bre o a.ssunto: ve em sendo levantadas.
"O decreto 20.910 não encurtou o prazo Já por várias vezes apreciei o assunto, entre
da prescrição quinquenal contra a Fazenda Pú- outras decisões nas proferidas nos processos da
b!ic:~. Pc'lo contrário, o mantere. Deu outros Marcenaria Anler, de Augusto Nogueira Gonçal-
efeitos aos atos interruptiveis da prescricão". ves, de Aclelino José Naz::~rio, ao que me recor-
(ARcHrvo JunrcrARIO. vol. LVI, pág. 410; idem. de, e em todas elas, embora nào tivesse chega-
vol. LIII, pág. 112). elo a expor a tese que me parece acertada, data
Essa jurisprudência é firmada, aliás, com Yênia dos que pensam de modo diverso, deixei
o pronunciamento favoravel da Procuradoria da patente o meu modo de entender a espéci'2.
República, quer através ele seus orgãos regio- O decreto 20.910 teve apenas dois efeitos:
nais (ARcHrvo JuorcrA.Rro, vol, L, pág. 137), como 10 - só permitir uma interrupção ele pres-
do seu chefe: "Acresce ainda que no caso dos ~rição, (art. 80);
autos o prazo prescricional ele cinco anos não 2' - fazer correr pela metade do p.razo
foi moclificaclo; apenas a lei poz um limit.e ao iniciado com o ato intenuptiYo (art. go).
abuso dos protestos jucliciais para interromper a Veja-se a respeito o luminoso voto vencido
prescrição, os quais, ao cabo, dilatavam o prazo elo Desembargador Mario Masagão elo Tribunal
respectivo a limites imprevistos de maneira que ele Sã.o PaUlo, in ARCHIVO JUDICTARIO, vol. XI.. H,
o prazo legal de cinco anos passava a ser real- página 370; idem do Tribunal de Goiaz in AR-
mente de dez, quinze ou trinta anos (Parecer CRIVo JUDICIARIO, VO!. LVIT, pág. 38.
do Procurador Geral da República. Dr. Gabriel Tal clecreto, como o as~inalou o Dr. Pro-
de Rezende Passos in AacHn'o Juorcr.\RIO. \'O- curador Geral cl:l República, Yisou limitar a
lwne LIX, pág. 228). procrastinaçào inc!efinid:-t do prazo de presc!·i-
(ÍÍ)
278 AHCHIVO .TUDJCIARIO 20-2-43
~·ão, pois até o seu aparecimento "jamais se prescrição; foi mais longe, pois determinou que
consumaria a prescrição enquanto fosse inter- o novo prazo, o prazo renovado, fosse apenas
rompida pelos sucessivos protestos''. (ARcHr\·o ele dois anos e meio (art. 90 J .
JunrcrARIO vol. XLIV, pág. 178) . A consequência, porem, é a mesma, isto é,
Verificada, pois, uma interrupção da pres- não desapareceu o prazo originário de cinco anos,
crição, o novo prazo que começa a fluir da e apenas o credor protestante, teria acrescido
data do ato interruptivo, será, não há dúvida, àquele prazo, tantos meses quantos fossem os de-
de dois anos e meio, mas nem por isso ele ex- correntes da data do ato lesivo até o limite de
clue, ou afasta, o prazo originário de cinco anos,
dois anos e meio.
a que teria direito o credor, com ou sem pro- Assim, se o credor formular o protesto na
testo interruptivo. primeira metade do quinquênio, esse protesto é
Expliquemo-nos: ãnodino, sem qualquer 'prestabilidade, isso pela
Admita-se que em Janeiro de 1920. al- razão simplista de que o restante do prazo ori-
guem teve po;- ato da Fazenda Pública, atin- ginário absorve o prazo renovado, e assim o
gido um seu pretendido direito. credor não acrescenta nenhum db ou mês ao
Contado o prazo de prescrição de acordo prazo de cinco anos.
com o disposto no artigo 178, ~ 10, n. VI du Se, porem. a interrupção se der alem da
Código Civil, (e artigo 10 do decreto 20.9101, metade do quinquênio originário. terá o credor
poderia o lesado intentar a sua ação até 31 acrescentado ao seu prazo, tantos m€ses quan-
de Dezembro de 1925, isto é, dentro no praao tos forem os excedentes dos cinco anos, e que
C:·e cinco anos. couberem nos dois anos e meio contados ela
Se interrompesse o credor o pra,zo prescri- data elo ato interruptivo.
cional, na primeira metade do quinquênio, a Exemplifiquemos:
consequência seria que ele teria acrescido o Se o ato originário se deu. como acima, em
prazo originário, de tantos meses quantos fos- 1920, o prazo originário irã até 1925;
sem os decorridos entre a data do início do Se a interrupção fosse feita em 1921, ou
prazo (lesão), e a data do protesto. 1922, sendo o novo prazo apenas ele dois anos
Assim, se interrompidos seis meses depois e meio, ele findaria em meiaclo.s de 1923 ou
do fato, ele passaria a ter contados do fato meiados de 1944, estaria assim r~iJsorviclo pelo
cinco anos e seis meses, ou seja, cinco anos prazo originário ele cinco anos que só se ex-
exatos, da data da interrupção. tinguiria e1n 1925. e nenhtnn efeito teria, con-
Se a interrupção, ao inyez, de se verificar sequentemente.
nos primeiros seis 1neses elo cnrso do prazo, se Se. pore1n, a interrupção se de~s::: e1n 1924,
objetivasse quando já decorridos quatro anos e contados os dois anos e meio da data elo ato
onze meses do mesmo prazo, teria o credor interruptivo. teria o credor dilatado o prazo ela
acrescentado. do mesmo modo ao prazo origi- prescrição para mciaclos ele 1926, L-to é, tantos
nário, tantos meses quantos os decorrentes elo meses ale1n do prazo de cinco ano::: qu[lntos fos-
início do prazo até a data ela interrupção, ou sen1 os decorriclcs elo prazo originário, até o
seja quatro anos e onze meses, contando-se máximo ele 2 anos e meio.
novo prazo de cinco anos da data do ato inter- Não há nisso nenhuma novidade. nem cria-
ruptivo. ção de qualquer espírito fantnsist:t: e pura ló-
Nada mais incontesta vel. gica aliada à llermenêutica.
Ora, o decreto 20.910 veio proi·bir suces- A intercorrência dos protestos, alem disso,
sivas interrupçõ-es. Dado que ele assim so- não prejudica as suspensões elo prazo prescri-
mente dispuzesse, qual a consequência que dai cional operadas em razão da entrada ele re-
adviria? querimentos na administração pública e ele-
Necessariamente a mesma a que já nos re- correntes do tempo em qne no estudo do caso
ferimos, isto é, interrompido o prazo, acrescen- se tivesse empenhado a administraçáo.
taria o credor ao prazo originário tantos meses Do prazo originário ele cinco anos, ou do
quantos fossem os já decorridos, com a dife- prazo renovado ele dois anos e n1eio, serão des-
rença, que apenas por uma vez poderia usar contados os meses de suspensão, pois diversos
ele tal prática. são os efeitos da interrupção e da suspensão
O decreto 20.910. porem, não se limitou do prazo de prescrição, (Veja-se clecü;õcc ú•
<: n:strins-ir a uma única yez n interrupção da ARCHIVO JUDICIARIO \'OI. LIII. pá.g. 69; LE, p,4,·
I?U)
20-2-43 ARCHIVO JUDICIARIO 279
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gina 377; LI, pág. 324; XLVII, pag. 400) em- nerou, pra7..o su_perior àquele que por lei lhe é
bora tenha sido entenclido, porem erradamen- concedido para anular o mesmo ato.
te que a reclamação administrativa durante o Custas pelo autor. - P. R. I.
seu curso interrompe a prescrição, quando na Rio de Janeiro, 1 de Fevereiro de 1943. --
verdade a suspende (ARCHIVO JuoiCIARIO vol. LV, Elmano Martins ila Costa Cruz.
pá.g. 320) .
Assim, tenho como verdade jurídica a se-
guinte conclusão: Juizo da 16a Vara Criminal·
o prazo de dois anos e meio fixado no de-
creto 20.910 de 1932, corre conjuntan,•cnte com
(DISTRITO FEDERAL)
o prazo originário de cinco anos, sendo pelo mes- Imunidades dos agentes diplomáticos - Incom-
mo absorvido ou acrescendo-o, conforme seja petência dos Tribunais Brasi-leiros para
processar e julgar deUtos praticados
feita e interrupção na primeira meíade, ou na por agentes diplomáticos estmngeiro3.
segunda. do prazo originário. Estes sã.o processados e julgados pelos
Tribun':Lis dos Estados que representam ..
Estabelecida essa premissa, cabe-me exami- Imunidade de jurisdição e p1·errrogátiva:
nar em face dos autos, se teria ocorrido a pres- da inviolabilidade dos agentes diplomá-
ticos. Consequências.
crição do direito ·do autor.
O autor foi demitido em 13 de Julho de 1 - A Especie - Trata-se na hipotese dos
1936; teria direito a propor a ação, por conse- autos de delito de atropelamento. prévisto no
quência, até 13 de Ju!J1o de 1941, isto é. no artigo 129 § 6.o do Código Penal. cuja autoria é
prazo com um de cinco ( 5) anos. atribuída ao Sr. • Secretario da Embaixada da
o autor, porem, usando do direito que lhe Inglaterra.
assegura o artigo 4° do decreto 20.910, que aliá E· Impõe-se. prelinYinarmente. o estudo das
é m·2ra repetição do consignado na lei 5. 761 imunidad~s diplomáticas. no concernente à ju-
Esteve. por consequência. suspenso o pr3zo Federal competência para processar e julgar ·'oõ
prescricional durante 8 meses e 9 dias, isto é, -en1baixadores p, nlinistro ... diplomátic::>.s nos cri··
o prazo originário que determinaria. em 13 mes comuns e nos de responsabilidade".
de Julho de 1941, em rnzão da su.spensâo só Surge naturalmente da simples leitura ào
se extinguiria em 22 de Março de 1942. texto constitucional a pergunta: - t!·ata-se dc.s
Assim. ao tempo da propositura da ação, diplomatas nacionais ou dos estrangeiros?
11 ele Julho ele 1942, já teria expirado o prazo Se a Constituição se referisse aos estran.
originário de cinco anos concedido por lei ao geiros era e\·iàente que teria derrogado os pril.~.
autor para usar da a cão que lhe competisse. cipios do direito público internaciomü. como
Acontece, porem, que o autor tcnnbem in- ainda· as son\·enções anteriores. que isentarmn
terrompeu judicialmente o curso do prazo pres- :J::> cliplo1nat.as estrans·eiros drt jurisciiç.~to elos tri-
cricional. fr.zendo-o em 13 ele Julho ele 1937 bunais nacionais. quer no crilne. cr.._ter no cive:l
(fls, 12-v.), e sendo essa interrupção já na A Consti tuicào p::Jrem. só se reiere aos na-
vigência do decreto 2{). 910, \'alia por dois anos cionais que con~-eten1 crin1es no estrangeiro.
e meio da data do ato· interruptivo por força ··o que se tem entendido" ensina Pontes dr
do artigo 9° do mesmo diploma. Miranda. "e o que se .hà de entender, a respeik>
D-est'arte, intimada a Fazenda em 13 ele lloje. elo artigo 101. I ·'b" como ao tempo d:.
Julho de 1937, os dois anos e meio termina- Constituição de 1891. a respeito do artigo 59,
riarri em. 13 de Janeiro de 1940, ou seja clois I. "b" é que a competência de que se ocupa o
antes da propositura da ação, estando o novo texto brasileiro, originaria e .privativo. só se re-
prazo absorvido no prazo originário de cinco fere a Agentes diplomàticos bmsileiros".
anos, sendo ânodino e de nenhum efeito o Os Agentes diplomáticos estrangeiros
protesto tomado por termo em juizo. "não gozam de foro especial. Têm eles. tantn
Nessas condições - acolhendo a preliminar em m:1téria penal quanto em m:-,rCTia ch·iJ. a
i.!c. ?;,zEnda, julgo prescrito o direito do autor, imunidade diplomática... e a im·iolabilicladc
pc11: hccvu· c<ecorrido ela data elo ato que o exo- pessoal" (Pontes de l'vlirancla. Comçn.tários (i
l'i9!
2SO .\RCHIVO JUD!CIAHIO 20-2-43
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Constituicão Federal ci2 1937. ,-oi. III, pg. 73). tigo 1°, declara expres.,amcnte :1ue íicc1m r.:.i.
N·o :r.egilne da Constituiçáo de 1891, tatn- sa.lyados:
hen1 a.ssir.1 se entendeu J. respeito de iclênticr:. ··r - cs trataâo::;J n.'> cc.'U'ençó~s e regra::l de
disposição com'o se póde ver em João Barbalho, Direito Internacional"
Comentários. 2a edição P5. 315. Como se vê, o nO\'O Código de Processo Pe-
Clovis Bevilaqua mostra que as Constitui- nal reconhece a vigência e a aplicação dos
ções de 1891 e 1937, nos artigos citados, consa- princípios ele Direit.o Internacional e elas Con-
gra a doutrina da isençãu dos diplomatas e~ venções, que excluem ela sua incidência os c.t-
trangeiros, da jurisdição dos tribunais nacio- sos regulados pelos preditos princípios e con-
nais, pois pressupõe a incompetência dos tri- venções.
bunais do pais da residência dos diplomatas Resta-nos pois estuda-r os princípios e co:l-
brasileiros, para julgar os crimes por eles pra- venções existentes a respeito ela. 1na teria de q '·;'"
ticados nos países onde estão servindo e, por nos ocupamos.
isto, providenciou sobre a competência dos 5 - Nas convenções - Na. convenção ele
Havana, sobre func~onários diplomáticos, assi-
tribunais nacionais e1n tais casos, resolveno.o
assim, dificuldades naturais para a fixação da nada em 20 de Fevereiro ele 1929, rat~ficadh
competência pelas regras comuns. (Clovis Be- pelo Brasil em 30 de Julho do mesmo ano e prc-
VIlaqua, Direito Público Internacional, 2a edi- mu!ga.cla pelo decreto 18.956, ele 22 de Outubro
de 1929, ficou estabelecido no artigo 19, o .oe-.
çãD, voL I, pag. 354) .
guinte:
De tudo o que foi dito, resulta que a Cons-
"Art. 19 - Os íuncionários diplomáticus
tituição de 1937, só se refere aos diplomatas na-
estlo isentos de toda jurisdição civil ou crim;-
cionais e assim, não derrogou os princípios e
nal do Estado ante o qual se acham acredita-
lets anterior<•s a respeito das imunidades do
dos, não podendo, s:.llvo no caso em que. c'.evicla-
diplomatas estrangeiros.
nlente autorizados pelo seu Governo, renunciem
3 - No Projeto do Codigo de Processo Pe- á imunidade, ser processados e julgados sen8o
nal de 1935 - Após a promulgação da Consti- pelos tribunais do s·eu Estado". (in Coleção à·~
tuição Federal de 1934, o Ministro da Justiça Atos Internacionais, n. 21, Imprensa Nacional,
de então, professor Vicente Rão, nomeou uma 1930).
Comissão para elaborar um· Código de Processv No Código de Bu.stamante, aprovado pelo
Penal, unificado para todo Brasil. A pedido d9. decreto n. 5. 647, de 7 de Janeiro de 1929, igudi-
Comissão, o professor Haroldo Valadão um dos mente se convencionou a isenção, nos seguintes
grandes internacionalistas do Brasil contempo- termos:
râneo, organizou a parte da_ introdução do pre- "Art. 297 - Estão isentos das leis penais
dito projeto de Cócligo, na qual previa de modo de cada Estado contratante os Chefes de outros
claro e expres,;.o a situação dos Agentes diplo- Estados que se encontrem no seu território",
Ináticos estrangeiros. con1 referência á jlU'iD- "Art. 298 - Gozam ele igual isenção os re-
diçiio penal, no artigo :;o que assim prescre- presentantes diplomáticos dos Estados contra-
via: tantes, em cada um dos demais, assim como os
"Art. 4° A lei processual penal nãD se seus empregados estrangeiros, e as pessoas da
aplica aos Ar~entes diplomáticos estrangeiro-:;, família dos primeiros que vivam em sua com-
ao pessoal oficial da missão e aos m·embros da panhia".
respectiva família que viverem sob o mesnw O estatuído nas Convenções acima citadas
teto". é a consagração, em texto de lei, dos princípios
§ único Os elementos de prova que aceitos e praticados no Direito Público Interna~
se colherem, quanto aos delitos pra.ttcados cional, e a orientação sempre seguida pelo Bra~
pelas pessoas ac~ma referidas, serão enviádos sil, como o demonstram os antecedentes diplo~
ao Ministro das Relações Exteriores" (Projebo maticos.
do Código de Processo· PenaL publicado no Dili- A Inglaterra, não é signatária das Conven-
rio Oficial de 25 de Setembro ele 1935). ções acima mencionadas, e por isto, aos seus
Infelizmente, tais disposições indubitavel- representant-es diplomáticos não se lll'as pode·
mentes uteis, não vingaram na lei. aplicar diretamente.
4 - No Código de Processo Penal de 1941. Falta-nos pois apreciar os princípios de Di-
-- O Código ele Processo Penal em visor ( clecrc- reito Internacional, com os quais terá ele ser
to-lei 3. G8\J, ele 3 de outubro de 1941), no ar- solucionada a hipótese elos auto.s.
(80)
20-_2_-~ A_R_C_H_I_V_O__J_U_D_I_C_I_A_R_IO~-(~S~U_P~L=E~M~E=N~T~0~)___________
____________ 281
6 - Nos Princípios de Direito Público In- diplomaticos não estão sujeitos à jurisdição cri-
ternacional. - A imunidade elos Agentes Diplo- minal no Estado onde residem e de que tal imu-
máticos é um uso antigo, que remonta às mais nidade se estende à família e demais funcioná-
velhas épocas da História. rios da missão diplomática (Art.s. 145 e 209) .
A principio, na época de Grotius, no De jure Eustamante, internacionalista americano do
belli ac pacis, dava-se como fundamento da imu- mais justo renome, tambem salienta:
nidade, a ficção da exterritorialidade, pela qual, ;oPara el debido cumplimiento de su missión.
supunha-se, achar-se, o Agente diplomático !ora los hà acompanai:to la inviolabilidad desde los
do território no qual exercia suas funções. Hoje, tiempos antiguos, aunque su fundamento fuera
todos os internacionalistas, em sua quasi unani- entonces diferente. Ese privilegio se extiende
midade combatem esta f!cçií,o por considerá-la por motivos ·análogos ai personal de la missíón,
irreal, desnecessária e inutil. siempre que este último tenga tambilén ciudada-
E' inutil porque, como diz Clovis Bevilaqua, nia extranjera, y a las familias de dichos fun-
"o que se pretende com ela é assegurar .a liber- cionários diplomáticos que viven ep. su com-
dade de independência, .ao enviado diplomático, pania. Cuando alguno de ello'1 rea.ttza un acto
afim de que possa bem desempenhar a sua mis- punible, el Estmdo en que se encuentran lo pane
são, e isso obtem-se, diretamente, ('Crcando~o de en conocimiento de aquel a que vertencen para
respeito, conferindo-lhe imunidades, sem neces- que tome las medidas oportunas". (Manw:•Z de
sidade de uma ficção mais própria para estorvar Derecho Internacional Privado, por Antonio San-
e obscurecer, do que para, claramente, definir chez de Bustamante y Sirven, pg. 392, n.· 184,
a situação jurídica do Agente diplomático" Havana, 1941, 2a ediçii.o).
(Clovis Bevilaqua, Direito Público Internacional, Entre os nacionais, podemos citar Clovis
vol. I, pg. 347). Bevilaqua no seu Direito Público Internc<cional,
Com este ou aquele fundamento, num pon~ vol. I, pg. · 353 mo..~trando que os agentes diplo-
to todos os autores são acórdes: - é que a isen- máticos estão isentos de jurisdição penal: Hil-
ção da jurisdição penal dos Agentes diplomáti- debrando Acyoli, :no seu Tratado de Direito In-
cos, é princípio de Direito Internacional, univer- vernacional Público, tambem consubstancia os
salmente aceito, reconhecido e praticado. mesmos principias de modo claro e preciso e com.
sua indiscutivel autorid·ade na matéria. (Ob ..
Sir Ceci! Hurst, Conselheiro Jurídico do
cit., vol. II, pg. 306 e seguintes) .
Foreing Office, chega a firmar que há uma con-
venção tacita, dado o respeito que todos os Es-
Oscar Tenorio e o Ministro Bento de Faria,
t-ados lhe dão, ou in ver bis: igualmente mostram, nos seus livros. Tratado de:
Direito Penal, vol. I, p.g. 235, n. 259, e Comen~·
"íElles ee fondent sur I'usage e sur la· con- tários ao Código do Processo Penal, vol. I, pg. 14,
vention tacite que existe entre les :e:tats que e seguintes, que os Agentes diplomáticos estão•
les representants qu'il reçoivent resteront en isentos da jurisdição penal no território onde·
dehors de la jurisdiction local e (pg. 123, vol. residem, respondendo, porém, perante, os tribu-·
12 -- Recueil des cours - Académie de DroÚ; nais do Estado que representam.
Internatlonal - Les Imm1mités DiplOmatiqu.es
7 - Resumo e Consequéncias. - De tudo
- Sir Ceci! Hurst, G. C. M., K. C. B. - Con-
seiller Juridique du Foreing Office) ". oue foi dito com apoio na lei, convf.'nções, trata-
dos, princípios de direito público internacional e
Do mesmo sentido se manifestam o professor na opinião de renomados tratadistas se conclue
Louis Le Fur, in Précis de Droit Jnternacio7Wl que os Agentes diplomáticos goza.m, entre ou-
Public, 4a edição, Paris, 1939, pg. 255, n. 469 e tras, da.s prerrogativas da inviolabílidcuie e da
Julio Diena, dizendo: isenção da jttrisdição penal e civil.
"Los agentes diplorn:aticos no pueden ser
sometidos em materia penal, sin el consentimi- Consequentemente nio podem responder a,
processo de qualquer especie, seja qual for o de-
ento de su próprio Gobierno, a los magistrados
lito perpetrado, não podendo nem mesmo serem
del Estado on ejercen sus funciones" (Julio
chamados à policia para prestar declarações, por-
.ij>iena, Derecho Internacional Publico - Tradu-
que isto implicaria em ofensa à inviolabilidade
cion de J. M. Tr!as de Bes - Barcelona, 1941,
de que gozam.
pg. 367) .
O classico Bluntschli, in Le Droit Interna- De t[lis prerrogativas gozam os Chefes da
tional Codijié., 511 edição, Paris, 1895, entre os M;issào Diplomática (Embaix~dores e Ministros),
principias de Direito Público Internacional, por os demais membros da missão (Secretários, Con-
ele codificados, se incluem os de que os agentes selheiros, Adidos, etc.), as pessoas àe suas fa-
(81)
282 ARCHIVO JUDICIARIO (SUPLEMENTO) 20-2-43
-milias, e, ainda, os empregados estrangeiros que "Os crimes dos Agentes diplomáticos devem
-servirem na legação ou embaixada. (Clovis Bevi- ser levados ao conhecimento dos seus Governos,
-laqua, obre' cit., vol. I, pg. 362; H. Accioly, únicos competentes para julgá-los e puni-los"
idem, vol. II, pg. 309, n. 1.155; Bento de Faria, (Ministro B. Faria, op. cit., p. 16).
idem, vol. I, pg. -19; Julio Diena, idem, pg. 9 - Conclusão. - Em tais condições, é este
368; Convenção de Havana, já citada, art. 14; Juizo incompetente para apreciar a espécie de
Eustamante, idem, pg. 392. que trata o presente inquérito e, por isto, re-
queiro sejam os autos remetidos ao Exmo. Sr.
Não podem ainda os Agentes diplomáticos
Ministro de Estado da Justiça e Negócios Inte-
renunciar suas imunidades porque as mesmas riores, por intermédio do Exrn.o. Sr. Desembar-
lhes são concedid·as no interesse do Estado r~
gador Corregedor, de modo a possibilitar a baixa
.presentado e, ;portanto, sómente oeste, por seu
na distribuição, .que no seu alto critério resol-
GQverno, o póde fazer. verá se deve, ou não, dar, por via diplomática,
Em caso de delito, praticado por Agente di- conhecimento ao Governo da Inglaterra, do pre•
plomático cabe ao Governo do Estado onde foi sente fato.
cometido o ato, se assim o entender, dar conhe- E' nosso parecer.
cimento do mesmo ao Governo do Estado, que o Rio, 18 de Janeiro de 1943. - Clovts Paulo
Agente representa. da Bocha, 50 Prom. Substituto.
(82)
ARCHIVO JUDICIARIO
<PUBLICAÇÃO QUINZENAL DO "JORNAL DO GOMMERCIO")
tantes interess<=s de ordem material e moral Bento ele Faria, com o prestigio ele sua 1'2-
para tomar o particlo da fuga. Por outro Htclo, conllecida autoric!ade ac!1·ene r;ontl'a o ·arbí-
nao lla que temer de sua ação para. perturbar trio que, no caso, reconhecem alguns ao Juiz.
a da Justiça; não é autoridade e nem dispõe de "valendo-se de suas convicções pessoais forma-
prest1glo para tanto. E a ocorrência desses ele- das fora dos autos, embora no meio em que
mentos deve se achar provada convincentemen- os fatos ocon•eram".- (Cód. d,e Pruc. Penal,.
te. Aqui invoca o recorrente a lição de nosso vol. I, pág. 370) . E' certo que a prisáo pre-
preclaro colega Sr. Ministro Bento cie Faria a ventiva não se justifica sempr~ e que deve o
qU.eln se refere com altos e merecidos encômios: Juiz, nesse assunto melindroso que interessa à.
"A prisão preventiva só deve ser declarada liberclacle individual, proceder com circunspec-
quando justificada pela conveniência ou neces- ção, a tendendo a todas as circunstáncias do
sidade, segundo a prudente apreciação do Juiz". caso. Como reconhece, .entr>etanto, Bento de
"A decretaçao da prisão preventiva deve ser Faria não se encontram definit!os por meio de
fundamentada. Quer isso dizer que não basta- regras fixas os limites da necessidade ela prisão
na as referências às provas do crime ou às preventiva. Eles resultam de circunstâncias con-
cn-cunstâncias justificativas da SUSlJeita da au- cretas e variaveis emerg-entes rle cada processo·
toria ou cumplicidade, é mister que o Juiz de- (liv. cit., vol. pág. 368) .
monstre, com os elementos do processo, a sua O atual Código de Processo dá, em princi-
necesstdade em ga.rantia da ordem pública ou . .. pio, a medida a se guardar na decretação da.
conveni~nc1a d-a tnstruçtl.o criminal. prisão preventiva quando a qualifica de "ga-
Não me alisto, portanto, entre cs que, com
rantia da ordem pública", providência inspi-
J7.mrLcmento no arbítrio sempre justificado para
rada na "conveniência da instrução criminal'"
permitir qualquer restrição à liberdade indivi- ou imposta pela necessidade de "assegurar a
dual, outorgam ao Juiz a faculdade de ordenar aplicação da lei penal" (art. 313) e quondo, no
semelhantes prisões, valendo-se das suas convic- art. 315, dispõe seja o despacho respectivo "sem-
ções pessoais formadas fora dos autos, embora pre fundamentado". E' claro que a fundamen-
no meio em que os jatos ocorrerem.
tação a que S<? refere a lei não exige o lardo
Neste caso, deixa de ser legitima para trans- da erudição, a elegáncia e o brllho do discur-
fo::rrn:t.r-se em ato ilegal". so, o ornamento e o remamo das citas. Bast;a,
no caso, deixe o Juiz posto de mànifesto njío
Pediu o recorrente juntada por linha dos
estar procedenao por simples determinação d·e
seguintes documentos (léJ .
sua vontade diScricionária e motivada. Julga-
E' o relatório.
dos ·llá que proclamam, desenganadam12nte, ser
de exclusiva competência do Juiz do proceo.sü
VOTOS a apreciação da conventencta c!a prisão preven-
tiva: - ao seu bom arbítrio, ao seu esclarecido
O Sr. Ministro 01'0Zimbo Nonato (Relator)
critério ê que se deveria entregar inteiramente
Sobre a extensão dos poderes do Juiz do
o caso.
processo no decretar a prisão preventiva, não
Outros nl'lo consagra mo illmitado dessa tese.
guarda a jurisprudência linha nítida e uni-
Restringem-lhe a exterl51l.O que, em lógica ri-
form-e.
gorosa, tornaria, em todos os casos, inutil ou
A convicção, por um lado, de que se trata, inidôneo o recurso nos casos de decretação de
como diz Luchini de providência coerciva ex- prisão preventiva.
trema para casos excepcionalíssimos, d·e "uma E fulminam com um "subterfúgio o fa·
injustiça necessária do Estado contra o indivi- moso critério do Juiz processante. Tem, pois, a
duo", na frase lembrada pelo eminente Bento jmisprudência vacilado entre contrários. Data
de Faria, e, por outro, os imperativos da de- vénia, parece que a melhor orientação, prin-
fes~t social representam fundamentos que so- cipalmente em face çlo direito vigente que con-
licitam os espíritos para direção contrárias. Os fia ao Juiz do processo a responsabilidade de
julgados refletem orientações e tendências di- tiUa direção, é proclamar o "princ!pio da con-
versas e deles dá ampla noticia Eduardo Espi- fiança no Juiz do processo' 'e reconhecer-Jlle,
nola Filho nos excelentes comentários que está no caso, certa autonomia.
publicando sobre o Código de Processo Penal, Não pode a prisao preventiva ser derxa.cla
vol. III, ns. 622 e seguintes. providência excepc!Onal, que é, e de graveza
(2)
5-3-43 ARCHIVO JUDICIARIO 285
inclisfarçavel - ao só e cliscrlclonárlo arbftrlo elo 1 nistro relator, em torno elas questões atinentes
Juiz processante. Mas o Juiz ela instância su- 1 à prisão preventiva, tem um espírito sadio, que
perlor deve reconhecer no Juiz do processo, uma 1 S. Ex. soube muito bem por em relevo. A
certa extensão de poderes na apreciação das cir- idéia de dever ficar ao Juiz do feito um certo
cunstânclas que cleterm!naJ·am a n-ecessidade arbítrio em relação à necessidade da prisão pre-
da prisao preventiva. ventiva é defensavel, no comum dos casos. En-
"O Juiz vive no meio em que os fatos oco:·- tretanto, em hipóteses concretas - como esta,
rem e se desenvolvem, conhece a vitima, co- sob julgamento, e no qual o Juiz ponderou pela
nhec.e o acusado, conhece as testem.unhas, está necessidade dessa decretação - tal necessidade
a par ecos costumes, locais e, por conseguinte, não pode assentar sobre palpites. Um Juiz
dispóe de elementos subjetivos que lhe !orne- 1 como no caso presente, que ouviu, no proces-
cem meios muito mais extensos do que ao Juiz so, 22 testemunhas ~ prendeu 7 inimigos figa-
superior, na apreciaçâo da~ circunstanclas ao dai~ da vitima, podia inquirir 200 testemunhas
fato. e prender 70 inimigos figadais.
Como Juiz ele instância superior entendo Tal inimizade está, na hipótese, apoiada
que só é de conceder habeas-corpus e cbnsl- apenas na circunstância de haver entre a ví-
derar injusto o despacho, quando a decisão do tima e o seu pretenso matador, entre os 7 in-
Juiz manifestamente contrária à prova, quando digitll.dos, uma questão de terras, questão que,
o paciente demonstre cabalmente que está. so- segundo expõs da tribuna, o advogado, não foi
frendo Injustiça, e não quando apenas invoque a ele molde a criar uma situação que pudesse au-
fraqueza elas provas ac;eltas pelo magistrado de torizar a certeza dessa Inimizade capital. Ade~
primeira instância". (ARCHIVO JUDICIARIO, 32, mais. conforme firmou o advogado e refei·iu
páginas 289-290) . provado no processo, esse inimigo figadal t-eria
recorrido à Justiça e dela obtido reparação do
Ora, no caso dos autos, demonstra o inqué-
dano, desaparecendo, portanto, essa situação de
rito policial que o recorrente era inimigo fi-
contenda permanente de contenda ardente, que
gadal da vitima com quem andava em luta acesa
pudesse explicar a possibilidade de um assassi-
por questões de terras que, principalmente no
Interior, alimentadas por intrigas e enredos le- nio, tanto tempo depois.
. . Por outro lado, das testemunhas do pro-
vam, tantas vezes, os espintos aos pontos extre- ·
cesso, entre as 22 colhidas, uma, solitária, faz
mos de exacerbac1l.o. A própria forca pohcial
· ·
chegou a ser convocada a Intervir em uma to-j
I .
alusão vaga a uma circunstância completamen-
. _
•
mada de posse de terras. Por outro lado, refere I te desmoralizada no processo, porque nao apu-
rada devidamente, e outra assenta apenas na
uma testemunl~a. circunstanciadamente, em- · _
colncidencia do apelido "Pernambuco", comum
bora 0 fato não haja originado processo, que, a um suposto mandatário, c a outro, agdra sus-
tem]~Os a traz, chegou 0 recorrente armar em- peitado na perpetração material do crime.
baseada contra a vítima. E outra testemunha No primeiro caso, tratava-se de um "Ma-
afirma, tambem circunstanciadamente, que o
noel Pernambucano" e no segundo, de u1n "An-
recorrente mandara matar Esmeralda por Ma- tonio Pernambucano". Cmno se vé questão ape-
nuel Pernambuco, impressionando a circunstân- nas de coincidência de apelidos, coincidência
cia de estar agora Antonio Pernambuco indi- vaga, afastadíssima, sem ·fomento de just~ça,
ciado como autor material do delito. ,;em capacidade para gerar confusões de conse-
O Dr. Delegado Auxiliar, em pedido funda- quências tão graves. Não se surpreendem assim,
mentado, que o Juiz acolheu, refere-se à ne- 110 caso os "indícios suficientes" exigidos na
cessidade da prisão preventiva para a regular 1e1, até mesmo, porque não há sequer indícios,
instrução do processo. tr.as simples clrcunstrtncias.
Em face dessas circunstâncias não se pode Por todas estas razões, com a devida vênia,
afirmar que a providência tomada pelo Juiz o discordo da conclusão a que chegou o eminente
tenha sido !motivadamente e seja filha de seu ::lr. ·Ministro xelator e concedo a ordem.
puro arbítrio. O Sr. Ministro Orozimbo Nonato - (Ex-
Aplicando ao caso os princípios expostos, p!lcaç5o): - Sr. Presidente, não costumo vol-
nego provimento. tar à discussão dos casos, Jimlt8ndo-me a f~lar
O Sr. Ministro Goulart de Oliveira -- Sr. uma vez e enlitlr apartes que os colegas per
Presidente, a tese defendida pelo Exmo. Sr. Mi- mltmn.
(3)
286 ARCHIVO JUDICIARIC 5-3-43
no sentido de não deixar ao Juiz esse arbítrio, dizer que essas condições todas, essas !ilusões
tão pleno e tão completo quanto se poderia feitas pela lei, estão naturalmente inspiradas
imaginar, na decretação da prisão preventiva. pelo desejo de assegurar da melhor forma a
A lei determina que os indícios devem ser sujt- normalidade do procedimento penal contra o
cientes e ainda agora, com o brilho de sempre, paciente.
esclarece o Ministro relator que hão de ser tais Na hipótese, porem, todas as considerações
tndícios suficientes para a decretação da prisão estao presas, vinculadas a uma outra condição
prevent\va e não para a prova da autoria do bàsica, que seria a de serem "suficientes" os
crime. indícios, nos quais se basearia a decretação da
Aceitando esses esclarecimento de S. Ex., I prisão preventiva. A convicção que dimana dos
entendo que é mister que os indícios, em que fundamentos invocados pelo Juiz que decretou
se arrima o Juiz, para a decretação da prisão a prisão preventiva é de que esses indícios nâo
preventiva, devem ser indícios suficientes, por- são "sufici-entes", para importar num constran-
que se a lei não houvesse acrescentado à ex- gimento ilegal o sujeitar um cidadão à prisão
pressão "indícios" essa outra expressão "sufi- preventiva pelo só fato de haver, no processo,
cientes", poder-se-ia admitir qualquer indício, uma testemunha que declare já ter ess~ indi-
Indícios vagos, impalpaveis, mesmo, como uma víduo mandado emboscar ou tentar contra a
vida da vítima.
razão de convicção, que orientariam o Juiz no
O Sr. Ministro Orozimbo Nonato (Relator'
exercício desse arbitrlo e que teriam sido des-
- Há duas testemunhas: uma fala em embos-
pertados no ânimo do Juiz pela ambiência lo-
cada; outra, em tentativa.
cal, como disse o Sr. Ministro relator.
O Sr. Ministro Waldemar Falcão - Uma
Por mais que me esforce, não posso consi-
das testemunhas - declarou o próprio Sr. Mi-
derar como su!lcientes para a decretação da
nistro relator - fez afirma-ções erradas e até
prisão preventiva, os indícios em que se apoiou
desencontradas com a própria realidade dos fa-
S. Ex.
tos como disse o Sr. Ministro Goulart de Oli-
Esses indícios estão pulverizados em gran- veira, pois aludiu a uma personalidade que não
cte parte pelas próprias considerações que pal- é a tal envolvida no processo.
pitam do exame desses indícios. O fato de uma O Sr. Ministro Orozimbo Nonato (Relator)
::;6 testemunha ter aludido a uina circunstân- -· Esta é a quarta circunstância que o Julz
. ela, que não está provada sequer, no processo, extraiu; é __ chamar-se o indiciado Antonio Per-
quer me parecer não é indício suficiente para nambucano e haver sido um Manoel iPernam-
um Juiz decretar a prisão preventiva e encar- bucano o encarregado de tentar, anteriormen-
cerar UII! cidadão, que está submetido a uma te, contra a vida da vítima. crsto não tem im-
acusação criminal, desde quando este cidadão, portãncia à primeira circunstância - a questão
tendo responsabll1dades no lugar, tendo proprie- das terras; à segunda - a emboscada e à ter-
uades, tendo bens, tendo, até mesmo, conceito ceira - a tentativa.
social, vai defender-se da acusação, no JuL:uo O Sr. Ministro Waldemar Falcão - A ini-
competente, e não foge, absolutamente, ante a mizade capital com a vítima, à qual alude o
lnculpação do delito ao ensejo de provar sua Sr. Ministro relator, se merecesse a importân-
Inocência. cia que lhe deu o Juiz, teria de importar tam-
O Sr. Ministro Orozirnbo Nonato (Relator) bem na prisão dos outros sete inimigos da mes-
E' que nos crimes afiançaveis a lei exLge, ma vitima, que foram mencionados no pro-
para a prisão preventiva, que se evada o cri- cesso.
minoso. O fato de ser radicado no local, não A questão de terras parece provada, no pro-
tem importância nenhuma, em relação as> n. 1 cesso; naquilo que poderia ter de mais agudo
li o art. 313; no n. II é que se exige essa prova. que podia mais irritar o paciente, ·fora resol-
O Sr. Ministro Waldernar Falcão - A cir- vida em ambiente judicial, por medida judiciá-
cunstância invocada pelo legislador no a~t. 313, ria adequada, que foi posta em jogo pelo pró-
tmvolve uma consideração da conveniência da prio interessado.
ação criminal, envolve ainda, uma outra con- O Sr. Ministro Orozimbo Nonato (Relator)
sideração de garantia da ordem pública, envol- Os indícios tomados separadamente, nã.o
ve, finalmente, un1 outro princípio: o desejo teem valor probatório; mas todos eles reunidos
de assegurar a aplicação da lei penal. Quer constituem certa prova de convicção. Aprecia-
(5)
288 AHCHIVO JUDICIAHlO 5-3-43
dos pelo Juiz local, em face das provas, me pa- U Sr.jviinistro Bento de Faria - Embora
recem suficientes p~u·a a decretação da prisáo ch~i pudesse resultar inimizade, tal, por si só.
preventiva.
O St. M-inistro Waldemar Falcão Mesmo
I
nao se relacionava com o fato cl"iminoso.
Alega~se tambem, que há uma semelhança
reunidos estes elementos, como deseja o Sr. de nomes entre o matador e o de alguem que
Ministro relator ... antes teria preparado uma emboscada para a
o Sr. Ministro Orozirnbo Nonato (Relator) vitima, a mando do paciente.
Não ê como desejo; ê como me parece. Esse fato seria, realmente, indicio aprecia-
O Sr. Ministro Waldemar Falcão vel se fosse recente. CJcorreu há três anos, po-
ainda assim, por mais que respeite a convicção rem. E não consta que tivesse havido processo
de S. Ex. e máu graclo os brilhantes funda- algum por esse fato.
mentos de seu voto, não posso participar de tal O Sr. Ministro Orozimbo Nonato (Relator)
convicção. Penso que ess~ indícios não são E' verdade; não há prova disso no pro-
suficientes para a dacretaçiío ela prisão preven- cesso.
tiva em questão. Teria ele apoiar o voto de O Sr. Ministro Bento de Farta - Por con-
S. Ex. se a lei falasse, simplesmente, em in- seguinte, não posso considerar suficientes sim-
dícios e não exigisse que eles fossem suficien- ples suspeitas, e ainda assim sem fortaleza.
tes. Como, a meu ver, os mesmos não são su- São muito remotas, mas pesam, da mesma for-
ficientes, data vênia da opinião elo Sr. Ministro ma, sobre os outros indivíduos, tambem inimi-
relator, divirjo do seu pronunciamento e acom- gos da vítima, mas que não foram presos.
panho, nessa parte, o voto do Sr. Ministro Gou- \Por essas razões, concedo a ordem.
lart ele Oliveira. O Sr. Ministro Castro Nunes - Sr. Pre-
O Sr. Ministro Bento de Faria -- Sr. Pre- sidente, acho que o Sr. Ministro relator poz
sidente, sem quebra elo respeito que muito me a questão nos seus devidos termos. Na reali-
merece o eminente relator e sem desprezo pelo dade, não se pode admitir que o Tribunal su-
proveito que aufiro sempre das suas lições, la- perior, em habeas-corpus, possa renovar ~ apre-
mento, sinceramente, ter ele me apartar ele ciação dos fatos, das circunstâncias, dos indt-
S. Ex. cios com que o Juiz da formação da cul-
O Sr. Ministro Orozimbo Nonato (Relator) pa, conhecendo melhor como muito bem disse
A mim é que compete lamentar. S. Ex., a ambiência, para decretar a prisão pre-
O Sr. Ministro Bento c!e Faria - A lei, real-
ventiva.
mente, fala de indícios; mas, num elos artigos Esta autonomia do Juiz, que é inerente à
anteriores, esclarece como devem ser conceitua- decretação da prisão preventiva, está hoje re-
dos. E' preciso que haja r,elação de causa e !crçada pela letr"' do Código de Processo Pr-
efeito; isto é, é mister que esses indí<eios se nal, na disposição que foi lida, ainda há pou-
rHJram aos f a tos constitutivos ela prática deli- co, pelo Sr. Ministro Wald-emar Falcão.
tuosa e suas circunstâncias. Na preceituação antiga, estabelecia-se, para
Diz, na verdade, o art. 239 do Código ele decretar a prisão preventiva, a necessidade de
Processo Penal: prova material do delito e a existência ele in-
"Considera-se indício a circunstância co- c!ícios vee1nentes de quem fosse o seu autor.
nhecida e provada, que, tendo relação com o O Sr. MinistJ'o Bento de Faria .- E' a mes-
fato, autoritz~. por indução, concluir-se a exis- ma coisa: suficientes ou veementes.
tência de outra ou outras circunstâncias". O Sr. Ministro Castr0 Nunes - A lei nova
Pelo despacho ora apreciado como o infor- nlio fala mais em indícios ·veementes e sim em
mou o Sr. Ministro relator, verifica-se que o indícios suficientes. O Juiz, na fundamentaçã'CJ
Juiz considera indício a circunstância da vítima elo despacho,· teria que mostrar isso: que os In-
ter tido questão de tenas, anteriorment,e, com dícios eram veementes. A lei atual contenta-se
o assassinado. ·Mas isso teria acontecido há três eom indícios suficientes. Veja bem o Tribunal
anos passados. A semelhança, até era nenhuma. d diferença estab-elecida entre os dois adjeti-
O Sr. Ministro ·Orozimbo Nonato (Relator) vos. Veemência do indício significa lntensida·
_ A inimizade preexistlr, a essa questão ele pró-~ ele dele; "Indício suficiente" -é aquele que pa-
prto clcclarou que era inilnigo ela vítima há rl:Çlt ao Juiz da culpa bastante para a dccreta-
sete: anDs. ~ <;áo ela pris!lo preventiva. Não me parece que
(6)
5-3-43 AP.CHI\'0 JUDICIAiUO 289
O St. Mtntstro Bento ck Farta - Sob a O Sr. Ministro Annib<a Freire - 8ra, do
fl.,calização elo Tribunal Superior. r·xame da prova resulta, claramente que a lei
O Sr. Ministro Castro Nunes - Na aprecla- foi descurada.
<;ào doutrinária do assunto, da própria nature- A prisão preventiva é, por sua natureza, mc-
z:t preventiva da medida, vê-se que se trata de clida excepcional e só circunstâncias ex2epcio-
ato de policia, da alçada do Juiz do processo. nais a justificam. O texto legal ·e:tplica clara-
E tanto isso é exato; .tãt> expressiva é a índole mente a finalidade da prisão prev·entiva como
da medida no seu aspecto de premuni·ção, que meio de defesa social. É este o seu aspecto: ga-
"' prisão preventiva pode ser c:ecretada em be- rantia da ordem públi·ca e conveniência da ins-
nefício do próprio preso, para poupã-lo à vln- trução do processo. Mas a própria lei, conforme
nita popular ou às represállas da v!tima ou de demonstraram os ilustres Ministros que me pre-
.:;eus amigo~ " parentes. cederam, estabelece ressalvas e condições ex-
Só em casos excepcionais poderá ser revis- pressas. Não se trata d·e averiguar a intensi-
ta pela instância superior, não me parecendo dade do termo sufi.ciente para avaliar o movei,
que tal ocorra na espécie. o objetivo da prisão prev·entiva.
Por esses n1otl vos, nego a ordem, com o Sr. O Sr. Ministro Orozimbo Nonato (Relator)
cederam. arbitrária.
Rio. 3 de Junho de 1942. - Jcsé Linhares, O Sr. Ministro Annibal Freire -- Nós não
Pr~siciente. - Goulart de Oliveira, relator de- poderíamos, em obediência incondicional à con-
signado. cepção processualística vigênte.
O Sr. Ministro Orozimbo Nonato (Relator) O Sr. Ministro castro Nunes - Não digo
- Se esse exame de provas não é possivel, não que seja arbitrária. Falo em linguagem técnica.
será o fato de o relator o ter feito que o torna- Discricionária significa cmn. certa autonomia.
rá licito. O Sr. Ministro Annibal Freire - . . . abs-
O Sr. Ministro Castro .Nunes - V. Ex. não trair dos termos legais ..Ora, o texto 1e1al, ex-
está obriga elo a trilhar o mesmo caminho. presso que regula. determin:1cla situação jurídi-
O Sr. Ministro Anniba.l Freire - Parece-
ca. não pode ficar ilidido por dispositivo de or-
me, pois, ponto pacifico que o exame de provas
dem geral.
foi debatido. .Mas a verdade é que do exam·e
de provas pode resultar infraçào da lei penal. O Sr. Ministro Orozimbo Nonato (R-elator J
Neste caso, não p'odem.os ficar tolhidos - ins- Nenhum de nós sustenta isso.
tância superior que somos - de examinar o O Sr. Ministro Annibal Freire ~ E~tou res-
fato em todos os seus aspectos. pondendo à argumentação no sentiçlo de que se
O Sr. j'vfinistro Castro Nunr>s - Por i2so t.rata d2 capacidacle discricionária do Juiz pa1:..
mesmo, examino a prova, para ver se é caso ex- yerificar a procedência ou não da prisão pre-
cepcional. ventiva.
(7)
290 ARCHIVO JUDICIARIO 5-3-43
Esse texto é que, na hipótese, não se adapta gos do assassinado. Por si só, nã.o basta tã.o fra-
aos fatos constantes do processo, o que ,se vê gil razão.
é que só hà um argumento decisivo: a inimiza- O Sr. Ministro Orozimbo Nonato (Relator)
de. Não falo em !n!.mi.zade capital: a slllliPles Por si só, não.
inimizade bastaria como disse o Sr. Ministro
O Sr. Ministro Octavio Kelly - As demais
Bento de Faria. Todavia essa Inimizade se es-
invocadas estão de tal modo diluídas pelo exame
tendeu tam•bem a outros indivíduos. Por que
da prova que nenhuma delas, a meu ver pode
razão somente em relação a UIIL deles se esta-
autorizar medida tão excepcional, estabelecida
beleceu a necessidade de prisão preventiva? O
pela política criminal e só reclamada por moti-
próprio relàtor confessa que os argumentos são
vos imperiosos de segurança coletiva, porquan-
frageis e que só concatenados é que se pres-
to a liberdade é bem que não pode ser sacrifica-
tam a uma conclusão de tal ordem.
do sen§.o por motivos muito graves e em face de
O Sr. ll(inf3tro Orozimbo Nonato (Relator)
razões convincentes.
- Toda argumentação jurídica é nesse sentido.
O Sr. Ministro Annibal Freire - Todos os Sempre tenho, aqui sustentado, por vezes
indícios são frageis; não é possível concatená- vencido, que a instância do habeas-corpus com-
porta, em certos casos, o exame da prova, de
los para dar-lhes força que não possuem. Dos
modo que me sinto muito bem <lm verificar, neste
vários indícios insuficientes não pode absoluta-
torneio de discussão, que ·a prova foi objeto
mente resultar o indicio suficiente a que se re-
do nosso exame e que mereceu, tambem, honras
fere a lei.
de julgamento deste Tribunal, o que mostra
Por t(l(l~~·-esses fundamentos acomparuho o que em matéria de habeas-corpuS!. casos há em
voto dc.;c:'" -r~. <Ministros Goulart de Oliveira e que a prová não pode ser liminarmente excluída.
Waldemar Falcão.
O S1·. Ministro Castro Nunes - Para conce-
O Sr. Ministro Barros Barreto - Sr. Pre- der habeas-corpus, é preciso apreciar a prova.
sidente, nego provimento ao recurso, a decreta- O Sr. Ministro Orozimbo Nonato (Relator)
ção da prisão preventiva é medida que a lei con- - Em tese, não se aprecia.
fere ao prudente arbítrio do julgador. O emi- O Sr. Ministro octavio Kelly - Imagine-
nente Sr. Ministro relator demonstrou que não mos, por ~xemplo, caso de que!~ oferecida por
houve abuso da autoridade. pessoa Incapaz.
O Sr. Ministro Octavio Kelly - Sr. Presi- sejam expressões equivalentes. Creio mesmo que
dente, sinto muito divergir do Sr. Ministro re- terá havido o propósito de aumentar a auto-
lator, acostumado, como estou, a apreciar sem- nomia ou autoridade do Juiz da culpa.
pre a orientação traçada por S. Ex. Sabe o Tribunal que a decretação da pri-
O Sr. Mtnfstro oroztmbo Nonato (Relator) são preventiva funda-se no poder de polfcia
- E u é que costumo seguir a que V. Ex. traça. conferido ao Juiz. A medida é de policia judi-
O Sr. Ministro Octavio Kelly - A razão de elária.
ser da miriha divergência repousa, entretanto, O Sr. Ministro Cvstro Nune~ - Isso não é
na só circunstância de não entender eu que prova, é pressuposto do fato.
o Juiz, para a prisão preventiva, tenha larga fa- O Sr. Ministro Octavio Kelly - Evidente-
culdade de deferi-la, mediante o concurso de mente, a prova da incapacidade pode resultar
elementos JDJUitas vezes insuficiêntes para tal. de fatos que teremos, aquí de examinar. A pro-
Os indícios, define o Código de Processo, va de prescrição pode ser aqui apreciada, se mo-
como fez acentuar o Sr. Ministro Bento de F'a- tivar um fundamento de habeas-corpus, de sor-
ria, são "a circunstância conhecida e provada, te que este postulado, esta afirmação, pelo me-
que, tendo relação com o fato, autoriza por in- nos, que, em tais feitos não é facultado, o exame
dução, concluir-se a existência de outra ou ou- da prova n§.o é, penso, radical,
tras circunstâncias". O Sr. Mtnbtro oroztmbo Nonato (Relator)
Na espécie, penso em que não há. ln<Uc1os; -Todo direito nasce de um fato. Quando o fato
há suspeitas, há precedentes que podem autori- não está provado, tem-se de examinar a prova,
zar certo juizo desfavoravel a esse paciente; mas não se trata de examinar a prova da justi-
mas indícios, propriamente, não há. A inimizade ça ou da Injustiça da deciSão.
não o é, é apenas circunstâncias, porque, se in- O Sr. Ministro Octavio Kelly - De acordo;
dício fosse, deveriam ser presos todos os iními- não se pode, aquí examinar provas de conivên-
(8)
5-3-43 ARCHIVO JUDICIARIO 291
não houvera, na espécie. propriamente denün- cu jurídica que vede ao Est[ldo [lgir deseng[lna-
cia do Ministério Público, quando o clelito ele que d·:unente contra o autor do d2lito.
fora inculpaclo o paciente seria de ação pública. Houve, no caso dos autos, cujo proc-esso é
Ademais, nula ainda teriiD sido a próprio:1 aJJOntado como nulo, a interferência do Minis-
sentença condenatória porque, já estando conclu- tério Público, representado por um de seus fun-
sos os autos para julgamento, permitira o Juiz cionários, que nada aditou à queixa apresenta-
a juntada ·de uma petição firmada por outro ad- da pelo cidadão lesado por crimes puni!dos pela
vogado do querelante ratificando todos os ter- lei penal aplicavel à espécie, e que afinal pe-
mos e atos do processo, eem que ao querelado diu a condenação do p&eiente, ato este que iln-
ora recorrente, fosse dado se pronunciar a res- ;plicitamente importa no dever de pleitear a puni-
y:<e!So. ção do que infringiu a lei penal.
Teria, alem disso, deixado de ser aplicado, no
No particular do fundamento já há alguns
-caso o disposto no art 5o da Lei de Introdução
julgados do Egrégio Supremo Tribunal Fed-eral,
do Código de Processo Penal, pois, apesar de
vindo e, pelo citar o menciona.do à pág. 7 (4.387)
já estar, no aludido feito, encerrada a produção
do· Segundo Suplemento, do "Dic. de Jur. Penal
da prova testemunhal, fora regida a última fase
do Brasil", da autoria de Vicente Piragibe, por
do procedimento criminal em questão pelas
cuja leitura lícito é concluir que não cabe apli-
normas do novo Código de Processo Penal, quan-
car ao caso vertente o recurso de "habeas-
do, ao invés, se deveria observar o rito da an-
corpus".
tigiD lei processual bahiana, vigente anteriormen-
te naquel·e Estado, segundo a qual deveria dei- Ademais ocorreu a hipótese do paciente já
xar ,de ser observada a formalidade da sentença se achar condenado quando impetrou a ordem
de pronúncia, sendo certo que na e~pécie ver- e em ocasião em que a sentença condenatória já
tente, condenado fora logo o paciente, na con- havia transitado em julga~lo, isto é, depois de
formida.de da nova processualistica penal (ut repelido o argumento de ilegitimidade de pro-
petição e razões de recu"'rso, fls. 27-301 . I curador que firmou a queixa, exc-eção essa que só
velo a lume na fase final do processo, ou melhor,
O Procurado!' Geral do Estado,_ falando a
fls. 32-33, pronunciou-se contra o ponto de vista na do julgamento, ainda, inteinpestivamente, de
do recorrente. vez que o réu não a articulou quando apresen-
O acordão do Tribunal da Bahia encerra, tou sua defesa.
na sua parte principal, as seguintes razões de De outra parte, nos autos apareceu um re-
decidir (fls. 20-20): querimento firmado ,por um dos advogados do
"Os dois primeiros fundamentos devem ser querelante ratificando todos os atos já pratica-
cuidados conjuntamente, pois se houve queixa dos per um seu colega da procuração, esta cons-
crime deixou de aparecer a denúncia, sendo cer- tituida por um mandato em que o outorgante
to que qualquer das duas espécies processuais nomeou a.dvogaclos para o ex-ercíeio solidaria-
serve de veiculo il. postulação de ca~·ater penal. mente.
E' indubitavel que a ação penal movida Ora, ante todas essas particularidades é ca-
contra o paciente começou por uma queixa cri- bível afirmar que o processo está manifestamen-
Ine, na verdade assinada por um advogado que te nulo?
exerce um cargo público, como funcionário lo- Quanto ao último argumento - nulida.cte
tado em .serviço ou repartiçã-o policial, de. vez manifesta por erro de apllcação de lei proces-
que é professor de penalogia da Guarda Civil e sual, é, igualmente, im,procedente.
1-epre:;:entante em juizo dos guardas dessa cor- O direito intertemporal teve acertada apli-
por·:L~ão policial. cação no caso .
Tal eircunstância pode servir de fundamen- Se é verdade que a lei procB;o;sual nova sur-
to à invocação do remédio judicial ora em uso, preendeu a ação movida contriD o paciente em
,por imprimir à ação penal a f·eição de processo momento em que não havia despacho de pro-
manifesta1nente nulo? núnBia, fórmulã esta exigida pela Consolidação
Positivamente não. das Leis do Processo Penal deste Estado, cum-
Consoante a exposição retro apresentada, e pria ao Juiz da causa ordenar o processo para o
no dizer do próprio paci-ente, os atos praticados julgamento final da espécie delituosa em foco,
pelo réu siio ele molde a ensejar a ação pública, tal como o fez, aplícando nonnalmente n lei
vale as.scvera.r. nüo existe razüo ele ordem social nova _ Cód. de Proc. Penal.
(lO)
5-3-43 AHCHJVO .JUDICJAHIO 203
Não se nega que o prolator da sentença con- Código Penal não causou nenhum pr-ejuizo real
denatória ensejou o sistema contraditório pre- à cl2feoa do recorrente, de vez que. antes de
ViSto no n. 11, artigo 122, da Constituição Fe- prolatar sua sentença condenatória, no presente
deral, por isso que só exarou sentença depois caso, abriu o julgador novo ensejo de debate
de novamente estabelecido o debate .entre as par- entre as partes, o que permitiu até ao paciente
tes, convindo salientar que o paciente chegou at2 apresentar documentos comprobatórios de suao
a apresentar docum-entos comprobatãrios de .suas assertivll5 - conforme observa o acórdão re-
alegações sem que houvesse requerido qualquer corrido.
providencia ou diligência, como lhe era faculta- Só por superstição formalistica poderia, pois,
do, "ex-vi" elo artigo 499, elo C. P. P. ser tida como pi:'oceclente a arguição ele nulidade
com esse iunclamento.
Eis por que a Câmara do Trib. ele Apel. ela
Aliás, a isso se oporia o artigo 563 elo vi-
Bahia, p-ela unanimidade ele seus Juizes, acorda
gente Código de Processo Penal, que reza:
em não conhecer elo pedido de "habeas-cor-
"Nenhum ato será declarado núlo, si ela nu-
pus" em favor do réu José lV~oreira Leal ou José lidade não resultar prejuízo para acusação ou
Leal".
para a defesa".
- E' o relatório.
Nego, em consequência, provimento ao re-
VOTO
curso.
que se esteia o presente recurso. . . _ J Como consta da ata, a decisãc foi a seguin-
Iniciado fõra o procedimento cnmmat em 1 te: Negaram provimento ao recurso, por una-
questão sob a vigência elas antigas normas pro- I nimidade de votos.
-
cessuais que permitiam fosse a açao pena 1 rnov1-
. . I
J
Solicitou então por duas vezes revisão cri- quaisquer dos títulos ou papéis falsificados na
minal. A primeira revisão tomou o n. 4.532. forma deste e dos artigos anteriores".
e foi indeferida por acordão de 6 de Novembro O capitulo II do titulo X do novo Código
de 1941. Penal nãa reproduz este dispositivo. Especi-
Apresentados embargos, foram os mesmos fica claramente o art. 293 o crime de falsificar,
rejeitados unanimemente. fabricando-os ou alterando-os os selos, papéis,
o segundo pedido de revisão tomou o nú- passes, bilhetes, etc., e nos § § do mesmo de-
mero 4. 536, igualmente indeferido, por unani- clara incorrer na mesma pena quem usa qual-
midade de votos, pelo acordão de 5 de Abril quer dos papéis falsificados a que se refere o
de 1942. artigo. O art. 294 classifica como crime fabri-
Novamente apresenta-se Paschoal Gallo im- car, adquirir, fornecer, _possuir, ou guardar
petrando revisão. Sobre o pedido, assim opina objeto especialmente destinado à falsificação <ie
o Sr. Dr. Procurador Geral: qualquer dos papéis aludidos no artlgo ante-
"O parágrafo único do art. 622 do Código rior.
do Processo Penal esta•belece quanto à revisão E' de estranhar que o legislaaor puna quem
criminal, que guarda objeto próprio para falsificação de tailó
"~ão será admissivel a reiteração do pedi- papéis e não aluda ao fato de alguem possuir
do, salvo se fundado em novas provas". e ter sob sua guarda papéis evidentemente fal-
O presente pedido é o terceiro e não apre- sificados. Mas a omissão existe e dela teem do
senta sequer um argumento novo, quanto mais decorrer consequências, como a que se nos of()-
"novas provas". rece nestes autos.
Parece-nos, data vênia, que devera ter sido O novo Código Penal é terminante, ao re-
liminarmente indeferido. gular os efeitos da lei penal no tempo. De-
De qualquer modo, pedimos o apensamento termina o art. 2o:
dos autos de revisões criminais ns. 4.532 e 4.586
e esperamos o indeferimento do pedido, como "Ninguem pode ser punido por fato que a
de Justiça. !e! posterior deixa de considerar crime, cessan-
Rio de Janeiro, 29 de Junho de 1942. do em virtude dela a execução e os efeitos pe-
Gabriel de Rezende Passos, Procurador Geral da 'nais da sentença condenatória".
República". Dentro da sistemática adotada, o legislador
VOTOS acentua o seu critério ao reafirmar no art. 108,
n. 3, "que a punibilidade se extingue pela re-
O Sr. Ministro Annibal Freire Pela troatividade de lei que não mais considera o
quarta vez é este caso submetido ao tribunal fato como criminoso.
pleno, já o tendo sido de uma feita em gráu A expressão retroatividade tem despertado
de embargos à apelação e duas outras em gráu críticas de comentadores do novo Código, maM,
de revisão.
é evidente a Intenção do legislador e em bri-
Do estudo do volumoso processo verificou-
lhante conferência o Desembargador José Duar-
se a improcedência do pedido, largamente exa-
te poz em relevo a importância -e alcance do
minado pelos votos dos Srs. Ministros Laudo
dispositivo contido no artigo 30 do Código Pe-
de Camargo, Carlos Maximll!ano e Barros Bar-
nal, mercê do qual questões que na prática fi-
reto.
caram sujeitas à interpretação doutrinária, fo-
Agora, entretanto, o pedido se baseia em
ram em definitivo, afastadas com as regras es-
novo fundamento. Impetra o requerente que
tabelecidas (ReVista Forense, vol. XL, página
seja declarada extinta a pena que lhe foi apll- 622) .
cada, em face do disposto no novo Código Pe-
nal (decreto-lei n. 2. 848 de 7 de Dezembro de Nestes termos, conheço do pedido e o de·
1940), art. 293 e seguintes. firo, afim de ser declarada extinta a pena im·
o pedido tem toda procedência. O reque- posta a Paschoal Gallo.
rente foi condenado como incurso no parágrafo O Sr. Ministro Castro Nunes - O reque:
único do art. 250 da Consolidação das Leis rente, que tem tentado, reiteradamente, a .re-
Penais, que assim dispõe: visão do seu processo, apresenta agora um ar-
"Possuir ou ter sob sua guarda, para fim gumento que me parece relevante. Está ele con-
cr!m!noso, moeda falsa, selos, estampilhas ou denado como incurso nas penas do art. 250, pa-
(12)
5-3-43 ARCHIVO JUDICIARlO 295
rágrafo único da Consol. das Leis Penais: "Pos- Prescreve o art. 2.o do Código Penal : -
suir ou ter sob sua guarda, para fim crimi- "Ninguem pode ser punido por fato que lei
noso, moeda falsa, selos, estampilhas ou quais- posterior deixa de considerar crime, c·essando
quer dos t!tulos ou papéis falsificados na for- em virtude dela a execução e os efeitos p:mals
ma 'dest<'l e dos artigos anteriol'es". na sentença condenatória.
O novo Código Penal não cogita dessa mo- A questão está em saber se é possível a re-
dalidade do falso, definida pela simples guarda, visão de processo findo fora dos três casos pre·
detenção ou posse, ainda que dolosa, de selos vistos no art. 621 do Código do Proces.:;o Penal,
ou estampllhas, pois que o que se pune no entre os quais não se compreend-e o d·3 ter a
§ 1.0 do art. 293 é o uso: "quem usa qualquer lei nova deixado de considerar crim•e fato que a
dos papéis falsificados a que se refere este ar- lei anterior o fazia. Penso que. nenhum ·2mba·
tigo". raça de processo pode obstar a imediata apli-
Ora, dispondo o art. 2.o do Código vigente cação de um preceito de lei que vise à liber-
dad2 do individuo, tornando a sua condenação
que - "ninguem pode ser punido por fato que
inexbtent". Se com a revisão se abre nova faS0
lei posterior deixa cl·e considerar crime, cessar"do
de conhecim~mto do processo criminal, já findo
em virtude dela a execução e os efeitos ~nais
para obviar um erro judiciário, que acaso fora
da sentença condenatória", é bem de ver que
cometido, não há razão jurídica que impeça seJa
procede o pedido.
o reu posto em liberdade, desde que a lei nova.
É certo que a extinção de punibilidade deve liberta-o da condenação e a sua conservação na
ser requerida ao Juiz da execução da pena com prisão constitui uma coação ilegal (Cód. Penal,
recurso para a instância superior competente, art. 648 n. IV). e, esta, uma vez provada po ..
na sistemática da atual preceituação penal. Mas derá s-er afastada sempre que o Juiz ou o Tri-
isso náo seria possível em se tratando de con- bunal venh~ dela ter conhecimento, fazendo pas-
denação imposta pelo Supremo Tribunal que só sar im<ediatamente ordem de habeas corpus. E',
ele mesmo poderá fazer cessar, do .que decorre apenas, de inteHgência compreensiva da lei.
que, nã-o podendo conhecer da extinção da pu- O caso dos autos reflete positivamente a es-
nibilidade por via de recurso ordinário, que te- pécie acima apontada. O Código Penal vigente
ria de ser interposto para o Tribunal de Ape- não define a simples posse ou guarda de papéis
lação, só por meio de revisão ou de habeas-corpus públicos, como crime, como fizera a lei n. 4.780,
poderá conhecer da arguição. E' o que ocorre de 27 de Deezmbro de 1923, art. 20 - conG::J·
na hipótese. lidado no art. 250 § 1.0 da consolidação dQS
Meu voto é para deferir a revisão. Leis Penais.
Dlante do exposto, conheço do pedido de
PEDIDO DE VISTA
revi.são, e defiro, nos termos em que fizeram
O Sr. Ministro José Linhares -· Sr. Presi- os eminentes Ministros relator e revisor.
dente, peço vista dos autos. O Sr. Ministro Orozimbo Nonato : - Sr. Pre-
sidente, o caso não é patentemente, de revi-
VOTOS são criminal, mas de extinção de punibilidade,
O Sr. Ministro José Linha.res - Pela ter- que se processa no juizo da execução. Nem faz
ceira vez volta Pascoal Gallo a requerer re- ob.stã,culo a esta conclusão o fato de se tratg,r
visáo do processo, em que foi condenado por de sentença, ma.s de verificar-s:, em face da lei
nova, deixou a mesma de ser aplicavel, visto
este Supremo Tribunal Federal ao cumprimen-
como já não mais é incriminado o fato.
to de pena pelo crime de falsidade.
Não conheço da revisão. Conheço do P<'·
Funda-se o atual pedido em que condena-
dido, porem, como ·de habe.as-corpus, por ser
1:lo que fora o requerent3 no crime definido no
caso, verificavel independ-entemente de mais pro-
art. 250, § único da Consolidação das Leis pe-
nais, isto é: "Possuir ou ter sob sua guarda, vas, de extinção da punibilidade.
para fim criminoso, moeda falsa, selos, estam- E concedo a ordem .
-pilhas ou quai.::.quer dos títulos ou papéis falsi- O Sr. Ministro José Linhares (Explicação) :
ficados na forma deste e dos arts. anteriores". Sr. Presidente, no m.eu voto, deixei bem expli-
Penas ... " - o atual Código Penal, só con- cito que não havia embaraço ern conceclcr a re-
sid·erar crime de falsidade de papéis públicos, ~ vi~ão, por isto que constitue uma coação ilegal
uso n1.encionados, e não a simples guarda. o fato ele estar o peticionário na prisão.
(13)
AHCHIVO JUDICIAHIO 5-3-43
O Sr. Ministro Orozirnbo Nonato - Não ó O Sr. Ministro Castro N1mes (Revisor) - A
motivo ele revisão. sentença ero. conforme à lei e tornou-se contrá-
O Sr. Ministro Bento de Faria : - A deci- ria a ela. Neste momento, é ou não uma senten-
são não fOi proferida contra a lei. ça contrária à lei?
O Sr. Ministro José Linha1·es : - Toda vez O B<r. Ministro Orozimbo Nor :~o - A lei
-sm que o juizo ou Tribunal encontrar uma pcsterior não a tornou ilegal, mas inexequivel;
coação provada. mandará conceder o hábeas-cor- é o caso de uma sentença que manda conceder
p1/-S. pen;;ão alimentar a mn.a. pessoa que falece.
O Sr. Ministro Orozimbo Nonato: -Foi ne:>- O Sr. Ministro Castro N1mes (Revisor) - A
te sentido que conclui: dando o habeas-corpus, sentença foi proferida de acordo com a lei vi-
ex-ojjicio. gente ao seu tempo; veio uma lei posterior que
deixou de incriminar o fato; a sentença está de
O Sr. Ministro José Linhares: - Acho que
~é. continua a produzir efeito contra a lei vi-
é um•a questão ele formalismo. Não era possível
gente; exllite um condenado que está ~;:ofrenclo
que a lei pud~sse prover uma hipóteso:; que so-
!?sses efeitos.
breleva a todas as outras.
O Sr. Mini~tro Laudo de Camargo - :E::
O Sr. Ministro Orozimbo Nonato: - Não
preciso notar que a sentença, ai, é do próprio
concordo, data venia, com V. Ex., quando diz
Supremo Tribunal.
Eer formali~mo, tendo mais com este formalis-
o Sr. Ministro Castro Nunes - Na ocasião
mo não há sacrifício d~ direito da -parte.
em que foi proferida, não era contra disposição
O Sr. Mtnistro Jos•é Linhares:- ASsim, man-
expressa de lei. Neste momento, ela o é porque
tendo o meu ponto ele vista ao admitir a re-
a lei não permite retroação dos efeitos da sen-
visão, é a meu vêr, dar uma interpretação
tença, quando lei posterior deixe de incriminar
com'Preenslva da le1.
o fato.
O sr. Ministro castro Nunes (Revllior) (Ex-
Seja como for, o caso é que, de fato, o Sr.
plicàção) - !Sr. Presidente. na qualidade de re-
Ministro Orozimbo Nonato tem razão, quando
visor, .quero dizer algumas palavras.
diz que não está prevista na lei esta hipótese de
Conforme ficou, claramente, exposto, no revisão criminal.
meu voto, embora, reconheça que o caso não Estou .procurando justificai' uma ampliação,
-está, expressantente, pre-;isto como de revisão, enquadrar na lei, com este argumento, bom ou
a razão ..predominante, no meu espírito, para I mau, a hipótese, afim de encontrar uma solução
a admlttr fm, exatam{)nte, o fato de se tornar para o caso, porque, de outro modo, seria pre-
impossivel a extinção ela punibilidade, visto como ciso admitir a competência do Tribunal de Ape-
de tal cleci.<Oão caberia recurw para a instân- !ação para fazer cessar os efeitos de uma con-
cia superior, que não é este Tribunal, mas o denação prof.erida pelo Supremo Tribunal.
Tribunal ele Apelação. O S;r. Ministro Orozimbo Nonato - Desde
Estou de acordo com o Sr. Ministro Oro- que parte de V. Ex. o argumento, deve ser bom;
zl.m.'bo Nonato: de fato, a revisão criminal, na bastaria sua autoridade. Mas não parece inteira-
primeira hl.pótese, está consignada na lei no ca,;o mente exato que se possa chegar à n1.esma con-
em que se trate de decisão contra t2xto expr-~s clusão, resolver o caso, praticamente, sem ferir
so de lei. A sentença, aqui, não foi proferida o principio de que a revisão só se concede na-
contra texto expresso de lei. Mas a lei poste- queles c-asos expressos de lei. A lei posterior tor-
rior deixou de incriminar o fato, de sorte que nou a sentença lnexequivel, de modo que eu re-
será possivel entender que os seus efeitos estão solvi a dificuldade por meio de habeas-corp1tS,
hoje em conflito com íl lei vigente., entendi- ex-ojjicio.
mento um pouco fora da letra, reconheço, mas O Sr. Ministro castro Nunes (Revi·õ.or) - O
justificado pela impossibilidade de processar a habeas-corpus é uma segtmda solução, a que te-
extinção ela punibilidade com recurso para o rei de aderir, logicamente, se o Supremo Tri-
tribunal· local. bunal não admitir a. revisão.
o Sr. Ministro Orozimbo Nonato - A sen- Como dizia, desde que não é posivel a ex-
t9nca tem cunho de legalida-de ou ilegalidade, no tinção da punibilidade, pelo processo normal,
lllO~lCnto em que é proferida. Apenas, fatos pos-[ torna-se viavel uma solução indireta e esta só
teriores podem alterar o seu conteuclo, o que não I pode ser por meio de hubeas-corp1t-S ou ele revisão
é caso ele ilegalidade. criminal. A revisão criminal é que possibilita
(14)
5-3-43 AP.CHIVO JUDICIAP.IO 29í
-------------------------------------~-----------------=
nwior defesa. casos 11averá em que se torne ne- Acordão
cc5sário maior esforço ele provas.
Vistos, relatados e discutidos estes autos de
O pr-esente caso envolve uma simples ques-
revrsão criminal n. 4. 537, de São Paulo, em
tão de direito, a não incriminação do fato por
que é peticionário Paschoal Gallo, resolvem,
lei posterior. E' uma das hipóteses de extinção
os Ministros do Supremo Tribunal Federal co-
de punibilidade; mas não é a única. De outras
nhecer do pedido e deferi-lo, por maioria de
cogita a lei penal. Msim o casamento ela ofen-
votos, de acordo com as not'.1s taquig>áficas
dida num processo por crime de sedução.
anexas.
Do mesmo modo a retratação do agente a,pe-
Rio, 9 de Setembro de 1942. -Eduardo Es-
ranclo a extinção da conclena.ção.
pinola, Presidente. ~ Annibal Freire, relator.
Saia facil admitir na presente hipótese a
wlução elo Sr. Ministro Orozimbo Nonato: o
habeas-corpus ex-officio; mas, em outros casos
que envolva a necessidade de fazer prova, sera
Recurso extraordinário n. 4.344
pr€ci"o, para não quebrar o principio de que o (CEARÁ)
habeas-corpus não comporta prova, a.dmJitir a Regimen de bens; casamento; não pode o viuvo,
revisão criminal. tendo filhos da cônjuge falecida, con-
Não existira a dificuldade que agora .,,e apre- volar a novas nu.pcias, antes de jazer u
inventário do casal e dar partilhas aos.
senta, exigindo que se amplie, por interpretação herdeiros. ·
construtiva dos textos, o âmbito da revisão cri- Não estando ainda julgada a par-
ttlha, à data do novo casamento, não se
mineJ, se ainda houvesse a Justiça fecleraJ de entende cumqJ1'ida a exigência legal de-
rrimelra instância, porque então o recurso or- corrente dos arts. 183, n. XIII, e 225,.
do Código Civil.
dinár·io ou decisão sobre a extinção da punibi- Recurso extraordinário de que se co-
lidade viria ao ·Supremo Tribunal. nJLeve e a que se dá provimento, por
haver o m·esto do Tribunal estadual
O Sr. Ministro Orozimbo Nonato - E' o pro-
contrariado a letra da lei federal cons-
cesso técnico. tante dos citados dispositivos do Có-
O Sr. Ministro Castro Nunes - Eis a razão digo Civil.
pela qual admito a revisão. Sem dúvida admi-
RELATÓRIO
tiria tambem o habeas-corpus como meio extre-
mo para resolver questão da coffiJJetência pa1·a O Sr Ministro Carlos Maximiliano - Hil-
a extinção da punibilidade. Mas exatamente debrando Ribeiro de Oliveira, viuvo, tendo filhos
pol'que cabivel seria o habeaii-corp1<S é que me do primeiro matrimônio, deu bens a inventá-
parece tambem c'.1bivel a revisão, se o réu usa derio, procedeu à partilha e à entrega dos qui-
tal recurso, que aliás possibilita exame mais
nhões e convolou segundas nupcias com a se-
amplo. nhora Maria Luiza Lopes antes de julgada a
Mantenho o meu voto.
partilha; por isto o genro Vicente Maria Li-
O Sr. Ministro Barros Barreto - Sr. Pre·nharea e sua mulher acharam não se ter dado
siclentc, indefiro a revisão, desde que não esta
a comunhão de bens no segundo consórcio;
clevida111ente fundamentada a alegação apresen-
pelo que acionaram a viuva, -afim de ser de-
tada. clarada inexistente aquele estado entre o fa-
O Sr. Ministm Laudo de Camargo - Acom-
lecido e ela e ser excluida a meação da mesma
panho o voto do Exmo. Sr. Ministro OroZimbo
senhora, no inventário do defunto. A sentença,
Nonato.
de fls. 112, anulou o processo, por não ter sido
o Sr. Ministro Bento de Faria - Sr. Pre-
citado 1.un co-herdeiro menor; o acordão de
slaente, não conheço do pedido ele revisão.
fls. 160 repeliu a ~nulidade e julgou improce-
DECISÃO I dente a ação. Houve embargos, rejeitados in
Como consta da ata, a decisão foi a seguin-1 limine pelo relator (fls. 170) ele acordo com
te: Conheceram do pedido e deferiram a revisão o art. 833 do Código do Processo; houve-
contra os votos dos Srs. Ministros Orozimbo No- agravo, acolhido pelo acordão de fls. 174 v.,
nato,e Laudo de Camargo, que não conheciam porem, o acor~ão de ,fls. 196 confir.mou c;,
do pedido de revisão, mas do mesmo pedido como anterior favoravel à viuva; porque atribuiu à
de habeas-corpus o deferiam c elOs Srs. Minis- demorn, no julgamento à culjJa elo juizo, tenao
tros Barros Barreto e Bento ele Faria., que não , o viuvo cum.prido a lei, ao dar bens a inven-
conheciam da revisão. i tãrio e até entregar aos herdeiros os respectivo:ô.
(15)
298 ARCHIVO JUDICIARIO 5-3-43
quinhões, com os quais os referidos sucessores citava o decreto n. 181, variamente interpre-
se mostraram satisfeitos. Os ven<:idos interpu- tado, pensando uns que bastava o inventário,
zeram recurso extraordinário, baseado no ar- opinando outros que este devia <:ompletar-se
tigo 101, n. III, letra a, da Constituição, por com a divisão dos bens.
se haver deixado de aplicar o art. 183, n. XIII Sobre esta materla, veje.-se o que !icou ex-
do Código Civil. A primeira esposa faleceu em pendido no <:omentário 10, ao art. 18à". (Có-
29 de Outubro de 1936; o seu inventário .jjeve digo Civ. coment., 2a ed., vol. n, pags. 97).
<:omeço em 12 de Maio de 1937; o último ato E no <:omentário indi<:ado acima, diz, entre
processual (parecer do Curador Geral) foi outras cousas, o seguinte: "A obrigação im-
praticado em 22 de Julho de 1937, tendo os posta ao viuvo, ou viuva, é de fazer inventário
herdeiros e seUs representantes legais se de- e dar partilha, antes de contrahir novas nu ..
clarado concordes com tudo; em 31 de Julho pelas, sob pena de ser privado do usofruto dos
foi determinada e feita a remessa dos autoa bens dos f!_lhos menores do leito anterior.
pe.ra o Juiz julgador, sendo a partilha homolo-
A nova edição do Código Civil tornou clara
gada por sentença de 26 de Setembro de 1938; a
necessidade da partilha, acrescentando, à
a 7 de Janeiro de 1938, se efetuou o segundo
consórcio de Hildebrando. formula anterior·, o complemento, que lhe era
O inventário deveria ser, e foi, processado dado, apenas, pela referência ao art. 225: -
e dar partilha aos herdeiros (ob. e vol. cits.,
hum. municipio, Santa Cruz, que é termo, e
julgado noutro, •Ipú, sede da comarca. pág. 25).
Nem se alegue que a demora tão longa, havi-~ a inven·tário. Ainda assim, interpretes havia
da entre a reme&Sa dos autos ao Juiz que rtever!a que compreendiam na exigência do inventário a
julgar a partilha e o respectivo julgamento, nao da •partilha.
-correu por culpa do de cujus. Não parece ser essa a melhor opinl11o em
Se estet observara a respeito a nece&;aria di- .face daquele decreto, como demonstrou com se-
ligência, fazendo acompanhar o proce3..."0 em gurança Estevão Pinto (in Revista Forense, vol.
todos os seus termos e certificando-se afinal III, pág. 370).
ãe&Se julgamento, antes de realizar o novo casa- A primeira edição do Código Civil manteve
.mento, teria certamente poupado a sua nova tambem apenas a exigência do inventário, per-
cônjuge ao vexame dessa vicissitude, causada durando, assim, as dúvidas em torno do assunto.
pela inobservância do princípio legal em sua Di.."Sipando-as, completamente:, veiu o d~-
plenitude. creto n. 3. 725 de 1·5 de Janeiro de 1919.
Não é possível, porem, ao julgador da lide, O texto tomou sentido inequívoco com o
diante do claro texto da lei, deixar de cumprir o acrescimo das •Palavras "e dar partilha aos her•
seu mandamento, uma vez verificado ter sido o deiros".
mesmo desrespeitado. A meu ver, qualquer entre-dúvida aesapa•
Voto, pois, por que se conneça do' re-surso receu inteiramente: - o viuvo ou vi uva que
extraordinário, com fundamento no art. '101, houver filhos do cônjuge pre-morto não se po-
n. :trr, letra a, da constituição Federal, dandCJ· derá casar no regime de comunhão de bens en •
·se-lhe provimento para o efeito de cassar o jul- quanto não fizer inventário do casal soluto e
gado recorrido, oriundo do Tribunal de Apela- "dar partilha aos herdeiros".
ção do Cearâ, e julgar procedente a ação pro- Repitamos que não basta o inventário. Con·
posta pelos recorrentes, nos termos do pedido cluir o contrário é dl.s;pensar na lei. Como escre•
de fls. 3. veu .Pontes de Miranda a sanção dos arts. 183,
· o sr. Ministro oroztmbo Nonato - Conhe- xur e 226 cabe ainda que tenha sido fP.ito o
ço do recurso na base da letra a po inciSo III inventário... é preciso que se tenha concluído
do -art. 101 da Constituição Federal. E dou-llle a partilha e rpassado em julgado a sent-enç1., com
provimento. Deixou o acordão de aplicar o ar- as formalidades exigidas pela lei para que se
tigo 183, n. XII:! do Código Civil coinbinado haja dado a partilha (Dir. de Fam., 2.a ed., pág.
-.com o art. 226 do mesmo Código. Exige a lei, 138 in fine) .
ctcsenganadamente, ao viuvo ou viuva que con- Na mesma opinião, conspira Carvalho Santo-5,
vole a novas núpcias, sob pena de vigorar a se- verbis:
paração, dê a inventário e, ainda, à partilha o "O impedimento não desaparece com o hto
acervo do casal extinto. Não basta ocorra o in- de haver sido iniciado o inventário. A lei quer
ventário. Faz-se: mister, ainda, a ocurrêncb ela e exige mais: - que o viuvo ou vi uva ele par·
partilha devidamente homologada. tilha aos herdeiros, isto é, faça julgar por .sen•
O art. 183, n. XIII do Código Civil do pon- tença a partilha". (Cód. Civ. Int. IV, pãg. 54,
to ele vista da sanção é uma lei minus quam n. 14). I
perjer:ta, para lembrar linguagem, que vem do Já o ante-projeto de Clovis Bevilaqua exl-
Ulpiano. A consequência da infração não é a gia, no caso, a partilha, que a Comissão R<>Vi2.o-
nulidade ou anulabilidade do casamento. A con- ra, intencionalmente, suprimiu (Atas, pág. 86) •
sequência - e esta irrevogavel e inafastavel -· Prevaleceu, entretanto, o modo de ver do sábio
é a imposição do regime de separação. jurista e o decreto 3. 725 não deixou trincRs per
Ele vigora pleno iure em todos os casos a cnde se insinuem quaisquer düvidas. E corno
·c,ue faz referência o parágrafo único do nrti::;o se trata de dispositivo de ius cogens não modl·
258 do Código Civil (vêde Oliveira Castro, Re- ficavel ao nut<? dos particulares, nem é necessá•
gimens Matrimoniais, n. 90, pãgs. 96-97). E rio, em rigor, ação esp-ecial para que reconheça
nem basta, no caso, inventário. Ainda se torna o Juiz a ocurrência das consequências da infra-
necessária partilha, qu-2) só se completa com o ção. O acordão recorrido, pois, a que não fal·
respectivo julgamento. I tam, aliás, brilho e elegância, relegou a obllvio
O direito precodificado era diferente. Nfio se , a aplicação dos artigos citados do Código Civil.
encontrav~t no decreto 181 ele 2-1 ele Janeiro ele / Os argumentos do acord1ío tendentes ::t jus-
!
1880 ::t exigênCk'L da partilha. Ele Só se referi:1 tificar a dispens::t na lei, que ele implica, não
!171
300 ARCHIVO JTJDICIARIC 5-3-43
este relatório, os autos ao Exmo. Sr. Mlinistro réc:urso extraordinário, com fundamento na le•
revisor. tra a), indicando-se como leis· ofendidas os ar•
Rio, 21 de Abril de· 1942. - Oro2imbo No- tigos 550, 551 e i68, n. IV do Código Civil.
nato da Silva. O art. 550 versa o usucapião extraordinário.
VOTOS
Trouxe esse dispositivo inovações: - não
o Sr. Ministro oro2tmbo NonCJto (Relator): incluiu a prescrição de 40 anos e a !memorial,
- Trata-se, no caso dos autos, de uma ação de do direito anterior e dispensou a boa fé. Dis·
reivindicação de um terreno sito eiiii Belém, do pensou-a, aliás, como observou Sá Pereira, !POr
Pará e assim indiViduado pela :A: um processo tímido e obliquo:- presumindo-lhe,
"terreno situado na Vila do iM.'Osqueiro, no invencivelmente, a existência... Não vejo no
It~;gar denominado "Praia .GTande", hoje Boule· acordão recorrido proposição contrária à tese do
vard Antonio Lemos, por onde faz frente, me- artigo, tal como este a exprime, literalmente. O
dindo 32 metros, com 26 metros de fundos, que Tribunal considerou provados os extremos da. fi·
vão ter à 4" Rua, onde tambem faz frente; con- gura do usucapião extraordinário e, neste ante-
finando, a direita, com o terreno de Rodolfo Ro- suposto, aplicQu o disposto no art. 550.
drigues Pampolha e sua mulher, Rosa Candurú o mesmo passa com respeito ao art. 551,
Pampolha, e à esquerda com os terrenos de Eu- que trata do usucapião ordinário. Nada existe,
zebio Maria e de Raimundo de Oliveira ... " no acordo recorrido, que a_fronte o citado artigo,
Os r-éus alegaram prescrição aquisitiva: - em seu enunciado literal. Argui o recorrente que
durante mais de 30 anos possuíram os réus o ó julgado reconheceu a existência de wna posse,
!movei, ;por si e seus antecessores que foram os que uão _ocorreu, para os efeitos da prescrição
alienantes do terreno à autora, que ·nunca teve .. aquisitiva por ausência de antmus domint, a que
posse do mesmo, que foi até inventariado e hi- se opunha a clCI!Usula constttutí inserida na es-
potecado, sem qualquer oposição. critura de fls. O acordão, entretanto, ·rastreou
Alegaram, ainda, prescrição extintiva da ação a existência daquele animus através de atos que,
real proposta, que' ocorre em dez anos entre pre- segundo decidiu, a demonstram à evidência.
sentes e vinte entre ausentes. o Juiz considerou Nosso Códtgo Civil não exige o "animus do-
que os antecessores· dos réus não tiveram a posse mini" para a posse aã interãicta. Exige-o, po-
do terreno: - transmitiram-na, pela clausula rém, na posse aã usucapionem, in verbis•' pos-
constituti, ao comprador e, pois, ip06suindo alie- suir como seu ... " (arts. 550 e 551).
no nomine eram simples detentores. A prova desse "animus domini", isto é, da
De-resto, D. Rosa Pampolha Candurú, v1uva vontade de exercer o direito de propriedade e
do vendedor, assim o declara. no doe. de fls. 62. que se não confunde com a opinio domint, 'll.
A "accessio possessionis", pois pretendida convicção certa ou errada de ser proprietário, é
pelos réus, sucessores dos alienantes, é impossí- diabolica, chegando alguns praticas antigos a
vel, diz o Juiz, que ainda põe em relevo não sugerir, ao propósito, o juramento do lnterflSsa-
ter havido abandono do terreno. Adverte !!.inda
do ...
o prolator da sentença de fls. a· inocurrência da
A revelação exterior desse elemento subjetivo
prescrição extintiva pelo último dos consideran-
é tão diftcilmente apreensiva! que "a jurispru-
da da sentença, a fls. 98: dência alemã. chegou a organizar a lista dOS
". . . tratando-se de ação de reivindicação,
sintomas'', qUie a dlefinem. Inutilmente, en-
que é por essência real, a data em que pOderia
tretanto, pois todos eles podem ser exercidos
ter sido proposta a presente ação seria aquela
pelo detentor (v. Rodrigues Junior, A Posse,
em que D. Rosa Candurú Ilampolha alienou as
pãg. 82).
terras a S. Marques & Comp., isto é, em 1933,
A vontade, pois, a que se deve atender, como
e desta data aM o presente momento não de-
ensina Jhering, é a abstrata, ligada à causa da
correram os 10 anos, se se quizer considerar pre-
detenção.
sente a A. ou os 20 anos, se se quizer conside- Como q1,1er que seja nã.o estando, slquer, de-
rá-la ausente ... " finido no Código o "animus domini'• expresso
O Tribunal de Apelação reformou a sen-
nas palavras "como seu", é bem de ver que, a
tença. \Julgou a ação prescrita, acrescentando
esse propósito, não pOdia o acordão ofender a lei,
não haver a A. provado o seu ius in re, perten-
em sua literalidade. - Resta examinar o art.
cendo a prioridade do registro dos terrenos aos
168, n. IV, segundo o qual não corre a pres-
réus, não se achando cancelada a transação.
crição em favor do credor pignoraticio, do man-
Foi julgado extinto o direito da A. e pres-
datário e, em geral, das pessoas que lhe são equi-
c:rita a ação, que o assegurava. Dai o presente
llQl
302 ARCHIVO JUDICIARIO 5-3-43
paradas, contra o depositante, o devedor, o man-, ele correr prescrição aquisitiva de que o outor-
dante e as pessoas representadas, ou seus herdei- gante se beneficie. Há, no caso, representação.
ros, quanto ao direito, e obrigações relativas aos há mandato. Estabelecido o constituto possessó-
bens confiados à sua guarda. rio, passa o antigo possuidor a rpossuir em nome
O dispositivo se encontra no título da pres- do novo, como seu representante, como seu man-
crição extintiva. E' certo, porém, que ele se datário.
aplica, igualmente, à prescrição aquisitiva. O constituto possessório, que o nosso Cód.
O instituto da prescriç.ão é, fundamental- Civ. consignou como um dos modos de se adqui-
mente, uno. Certas conveniências, que não são / rir a posse (art. 494 n. IV), "essa conversão da
de ordem puramente lógica, determinam classi- posse em detenção sem qualquer alteração ex-
ficação diversa em tratados e codificações. terior que ateste a mudança na relação entre a
Parece-me, a respeito, terminativa a argu- pessoa e a coisa (Cornil, Possessória, págs. 144-
mentação de Fadda e Bensa, egrégios anotado- 145), já causava pasmo a Azon (vêde Savigny,
res de Winq.scheid (vêde nota ao § 105 da tra- Traité de la Possession, trad. de Staedtler, 4a ed.
dução italiana das "Pandekten"). páig. 307, n. 1) e é visto com hostilidade pelos
A prescrição é sempre filha de um conceito juristas de todas as escoias, que versam o as-
único, como dizia Carvalho de Mendonça. sunto.
A tése, entretanto, só ela não esforçaria o O Cód. alemão, na última parte do art. 854,
asserto, pois que vivamente se encontra. impu- admite-o com restrições e, do direito in jieri,
gnada em muitos autores. E sua discussão, no sua ação devia limitar-se aos casos de posse in-
pleito, é ociosa, pois é expresso, a respeito o ar- direta, com permanência da posse direta em fa-
tigo 553 do nosso Código e que vale por teste-· vor do transmitente.
munho eloquente da procedência da doutrina, a
Como quer que seja, o nosso Código não
que nos referimos:
contém limitações e certo é que o constituto
"As causas que obstam suspendem ou inter-
não se limita a transmitir a posse; quem a es-
rompem à prescrição, tambem se aplicam ao usu-
tabelece, torna-se um representante do adqui-
capião, assim como ao possuidor se estende o dis- rente.
posto quanto ao devedor".
Tais considerações me levam a tDmar co-
A aplicação do art. 168 n. IV do Código Ci-
nhecimento do recurso e dar-lhe provimento. O
vil foi, insistentemente, reclamada pela .parte,
acordão recorrido, apesar de dar a prescrição como
com a alegação de que estando inserida na escri- seu fundamento único, indicasse outra: - a au-
tura do casal Condurú a clausula constituti, não sencia da prqva do ius in re da autora, pela pre-
se póde, em favor dele, reconhecer-se posse ad valência dos títulos dos réus, transcritos anteri-
usucapionem por força, exatamente, daquele dis-
ormente e sem que o registro fOSSe cancelado.
positivo. E como a posse dos sucessores daquele •Mas é ele referido como alegação ornamental,
casal data de 1933, impossível o reconhecimento sem reflexo na decisão.
da prescrição .
Nestes termos, tomo conhecimento do recur-
O "acordão'• guardou silêncio, a respeito.
so, dou-lhe provimento em face do fundamento
Mas, concluiu pela ocurrência do usucapião, ter- aludido, para que seja a ação julgada de-meritis,
mos em que, si procedente a alegação, cabe re- como de direito.
curso extraordinário na base da letra a) . O Sr. Ministro Waldemar Falcão - A de-
Basta, por isso - e assim tenho votado, fun- cisão recorrida deu unanimemente provimento
damentadamente - que a decisão ofenda a letra à apelação dos óra recorridos para, reformando
ela lei, declarada ou indeC!aradamente, direta ou a sentença ·de 1a instância, "julgar extinto o
indiretamente, mas realmente. No caso o que direito da A. e consequentemente prescrita a
cumpre verificar é a natureza, a extensão da ação que o assegurava" (ut fls. 123 e 123 v.).
ofensa; não o modo rporque se ela manifesta. E acrescentou ser esse "o fundamento único
Na escritura de fls. se encontra, realmente, da decisão" (fls. 123 v.), aditando-se outras
estipulado o constituto possessório; transferem considerações já na parte final do acordão, ten-
os outorgantes o domínio direto, ação e senho- dentes a demonstrar que seria tambem impro-
rio que tinham no terreno vendido em cuja posse cedente a ação de reivindicação em causa, si já
iá tem o comprador em virtucte desta e da clau- extinto não estivesse o direito invocado pela au-
sula constituti. tora, na lide.
Estabelecido, como foi, o constituto posses- A questão federal controvertida no rectuso
sório em favor do outorgaclo, não pode contra é, pois, a que diz respeito ao àmago, ao "funda·
(~0)
5-3-43 ARCHIVO JUDICIARIO 303
pelos re{:orridos, por isso que resultava de uma· e sen11orio que tinham no terreno em transação,
alienação feita a non domino, oriunda que seria cuja posse já tinha o comprador em virtude da
de venda anteriormente feita por quem não era clausula constitu.ti".
dono da coisa vendida. ESsa condição de bõa fé, a que tambem não
Na hipótese, a yiuva PailliPolha não poderia alude siquer o aresto questionado, não fora, pois,
vender o terreno questionado à firma S. Mar- concretizada na hipótese.
ques & Companhia, em 28 de :Fevereiro de 1933,
de vez que era simples detentora do imóvel, Não se objetivara, consequentemente, aind::~
como administradora do mesmo, tal qual ·se sob esse aspecto, o usucapião previsto no art.
551 do Cód. Civil.
obrigára peLa escritura de venda firmada por
ela e seu marido, em data de 15 de Setembro de Acresce a ch·cunstância de que não poderia,
1904, e outor_gada ·ao Dr. Teodoro de Brito Pon- no caso vertente, correr a ·prescrição imaginada
tes, marido da autora-recorrente. pelo acordão em favor dos vendedores, de vez que
Tambem não militava em prol dos prescri· eram estes, em face do proprietário do mencio-
bentes o requisito da bôa fé. nado imóvel, equiparados ao mandatário, aten-
Esta, segundo a lição de Lafayette (Direito tos ao termos da própria escritura de venda a
das Causas, vol. I, § 69) "é a crença do possui- que se vincularam.
dor de - que legitimaiillente lhe pertence coisa Era, pois, de se obedecer, no caso, à regra
sob sua posse". do art. 168, n. IV, do cit. Cód. Civil, segundo
E transcreve o insigne jurista o preceito do a qual:
direito romano, a esse respeito:
"Não corre a prescrição:
Bana fides justa opinio qua quis rem aUe-
nam tanquam suam ignoranter potlsiàet'' (ob. IV - Em favor do credor pignoratico, do
cit., vol. 1,0, pág. 186, nota 1). mandatário, .e. em geral, das pessoas que lhe são
Esse requisito era de ser exigido, no caso, equiparadas, contra o depositante, o devedor, o
"assim no começo da posse como em todo o de- mandante e as pessoas representadas, ou seus
curso de sua duração". (Lafayette, ob. e vol. herdeiros, quanto ao direito e obrigações relativaa
cits., pg. 187). aos bens confiados à sua guarda'•.
E' que, em nosso direito, calcado a esse res- i.Por todas esas razões, conheço do recw·so
peito na Codificação Felipina, prevaleceu essa com fundamento no art. 101, n. III, letra a, da
exigêncta das velhas Ordenações, onde - segundo Constituição Federal; e dou-lhe provimento para,
ensina Sá Pereira, (Manual do Código Civil, vol. reformando o acordão prolatado pelo Tribunal de
VIII, pg. 219) - "se acolheu o princípio do di- Apelação do Pará, restaurar em todos os seus
l!'eito canônico que exige a boa fé em todo o termos a sentença de 1.a !nstãnc!a (fls. 91 usque
curso da 'prescriçiio: "Salvo se constar da má 98), que julgou procedente a ação.
fé dos subreditos, porque em nenhum tempo po- O Sr. Ministro G01tlart de Oltveira: - Sr.
derão prescrever" (Ord. L. 4 T. 3, § 10), pala- Presidente, conheço do recurso, em virtude da
vras, no entender de Lobão, adicionadas ao dis- violação do art. 551 e seus parágrafos do Código
positivo por já ter uma lei de D. João III, de 4 Civil.
de Fevereiro de 1534, mandado aplicar o mesmo
As questões foram muito bem esplanadas
princípio à prescrição extintiva".
pelo Exmo. Sr. Ministro relator e algumas
Ora, é evidente que bôa fé não :poderiam ter
delas, como a da presença do procurador, - por-
os vendedores que, na linguagem do próprio
que a questão da ausência é concebida, pelo nosso
acordão recorrido, se .apoderaram do terreno ven.
legislador, com a preocupação da vigllãncia -
di do ao Dr. Teodoro Brito Pontes para hioote-
cá-lo" (ut fls. 122 ). - I constituem assunto que está dentro da minha
Si é certo - como diz Carv:alho Santos convicção jurídica, dentro do meu sentimento
( Cód. Civ. Brasil.interpr., vol. 70, pg. 439) jurídico, mas que se não surpreende rigorosa-
que se reputa "de má fé o que possue contra o mente dentro do dispositivo expresso do Código
seu título", é evidente que, na esp(écie, estariam Civil.
de má fé os vendedores, :porque na .escritura de Entendendo que cabe o recurso extraordiná-
venda do terreno em questão ao marido da rio, por violação daquele dispositivo, e daí de-
recorrente, se haviam comprmnetido, con- corrente, imediatmnente, a conclusü.o ele que dou
forme esclarece ai nela o a cordão recorrido (fls. provimento ao recurso, para o fim previsto no
121 v.) -- a transterir "o domínio, direito, ação voto elo Exmo. Sr. Ministro relator.
(221
5-3-43 ARCHIVO JUDICIARIO 305
.somente o cal30 em que os C<Jncubinários vivam Não estou, data 1:enia, de acordo com c.
rmore u:rorio, mas que pode o reconhecimento de Exmo. Sr. Ministro revisor, quando S. E.x. diz
filiação disputado com esse fundamento decor- que se trata de questão de fato, porquanto enten-
'.l'er de fatos outros que induzam a presunção do que a conceituação do concubinato, nas dUaf..
de uma ligação estavel e duradÓura entre pes- modalidades conhecidas, constitue um pressu-
.soas de. sexos diferentes. E' o que se lê na con- posto jurídico.
,clusão do julgado, quando assim se maniJfesta ~ja, porem, como fôr, nos termos em que
o seu ilustre relator: "Tambem se deve enten- ponho a questão, entendo e assim tenho sempre
der, para os efeitos do art. 365 - I do Cod. entendido - e creio que a turma me tem acom-
Civ. a união dos amantes quando provado fica: panhado - que não podemos corrigir o julga-
a) frequência seguida e constante da mãe por mento proferido pelo Tribunal de Apelação em
aquele que é designado como •pai; b) a noto- recurso de: revista. Com efeito o recurso de re-
riedade dessa ligação; c) a fidelidade da mu- vista tem por fim coordenar julgados diver-
lher ao homem com quem est'ã concubinada; gêntes sobre uma tese de direito para assentar
d) a coincidência da época da concepção com uma interpretação uniforme da lei. Não po-
a dessas relações. E' este o caso dos autos" - demos, corrigir o julgamento proferido pelo
(fl. 339 v.). No acordão trasladado a fl. 4 cto Tribunal de Apelação, porque é a este que cabe
l.P volume foram razões de decidir: - "O con- verificar se existe a alegada divergência de .1ul-
.cubinato de que cogita o Código não se pode gados em torno de uma tese legal.
dizer existir só no fato de conviverem um ho- o Sr. Jlfinistro Anntbal Freire - Não esta-
mem e uma mulher sob o mesmo teto (fl. mos corrigindo julgamentos. Estamos, apenas,
10) ". "De concubinato pode haver uma noção dizendo que, na revista, se declarou que não·
vulgar e uma significação jurídica, mas em jace havia divergência, razão por que dela não se
de nossa lei civil, só se pode tirar do concubi- conheceu, quando, realmente, há.
'l'!ato a presunção de paternidade quando haja O Sr. M1nistro Castro Nune:J -Isso não será
convivência more .uxorio entre a mãe e o pre-. corrigir o julgamento? Corresponde a dizer que
.tendido pai (fi. 12) ". E porque esse concubi- o julgamento não foi certo, porque existe a di-
·nato assim definido não ocorresse na espécie vergência. Estamos, pois, corrigindo o Tribunal
sujeita ao seu julgamento, a 2a Câmara houve de Apelação; dizendo o contrário do que ele
a ação por improcedente (fl. 13) . Esse con- disse. O Tribunal de Apelação disse que não ha-
-ceito ainda foi repetido em gráu de embargos via divergência e que, por isso, era incabível
repelidos pelo a cordão de fl. 27 v. a revista; julgou-a improcedente. Nós vamos
A' vista do exposto, conheço do recurso ex- dizer que a revista é cabível, que existe a di-
traordinário e lhe dou provimento para refor- vergência.
mando o acordão de fl. - mandar que as Câ- O Sr. Ministro Annibal Freire - Como a lei
maras Civis se pronunciem sobre o mérito da conce!tua a revista? E' o instrumento adequado
revista. para unificar a jurisprudência do próprio Tri-
O Sr. Ministm Barros Barreto - Não coõ~he bunal. ora, no caso, essa jurisprudência, evi-
ço do recurso. Inexiste a apontada violação do dentemente, é desconforme e o Tribunal entendt:
artfgo 853 do Cód~go de Processo Civil, dês que que é conforme. Assim, há ou não violação da
o Tribunal de Minas Geraes - bem ou mal lei que conceitua esse recurso.
decidiu a espécie soberanamente. Assim F- o Sr. Ministro Castro Nunes - Isso corres-
que, apreciando a prova produzida pelos liti- ponde a julgar o recurso, o que pertence ao âm-
gantes, resolveu que não havia alegada Lliver- b!to· do Tribunal de Apelação. A este é que cabe
géncia entre os citados arestos do mesmo Tri- dizer se existe, ou não, divergência.
bunal. O Sr. Ministro Annibal Fretre - Mas, de
O Sr. Ministro Castro Nunes - Sr. Presi- o que o Tribunal declarou colide com a pró-
dente, apreendi perfeitamente a hipótese. Tra- pria conceituação do recurso de revista, nós não
ta-se de saber se o concubinato se configura conhecendo do recurso extraordinário, erigir€·
I
pela simples aproximação de pessoas de sexos mos em poder soberano.
<iiferentes, que tenham relações sexuais segulcl:-:s O Sr. Ministro Castro Nunes - E' função
::, regulares, ou se é necessária a coabitação more própria dele, é :funç?..o que 1l1e é pec-.._:~::\:·. V':'
,l.rório. / r! ficar se existe a divergência.
(241
5-3-43 ARCHIVO JUDICIARIO 307
O Sr. Ministro Anntbal Freire - Tal função O Sr. Ministro Octavio Kelly (Relator) - o
própria dele, é função que lhe é peculiar, ve- Tribunal de Apelação optará por uma ou outra
ri!!car se existe a divergência. das soluçõe.s dos julgadores apontados.
o Sr. Ministro Annibal Freire - Tal fun- O Sr. Ministro Annibal Freire - Se achar-·
ção é determinada em lei federal. Ora, se essa mos que há divergência, o Tribunal de Apelação
lei foi violada, o caso é de recurso extraordiná- decidirá por uma das fórmulas.
rio. O Sr. Ministro Castro Nunes - Nós já temos
O Sr. Ministro Castro Nunes - Se assim en- decidido, em inúmeros casos que aqui foram,
tendermos, toda vez que tivermos de dizer so- apresentados, mandando admitir o recurso de
bre julgamentos em apelação, embargos, ou agra- revista quando 0 Tribunal local, em São Paulo,
vo, contrários à lei, teremos que admitir o re- não o admitia, fundado em lei estadual contra
curso extraordinário. o !e! federal. Em casos semelhantes a este porem,
o Sr. Ministro Octavio Kelly (Relator). -· já temos votado nesse sentido, em casos de que
Desde que haja violação da lei, cabe recurso tenho sido relator: já tenho sustentado que o.
extraordinário. julgamento da revista, a apreciação da alegada
o Sr. Ministro castro Nunes _ o ,Tribunal divergência, o reconhecimento de que os jul-
local, que examinou os acórdãos apontados e o~> gado.;; são discrepantes - entram no âmbito.
comprovantes constantes dos autos, declarou que do Tribunal de Apelação.
não há divergência e que, por conseguinte, não O Sr. Ministro Octavio Kelly (Relator) -
cabe a revista. Poderiam os obrigar o Tribunal de v. Ex. acha, então, que o Tribunal de Apela-
Apelação a admitir o recurso de revista, se ção não está adstrito ao cumprimento do pre--
ele não o houvesse admitido por motivos de or- ceito do Código de Processo, que manda ce-
dem formal. Nl!.o podemos fazê-lo, porem, quan- nhecer da revista quando houver divergência?'
do se trata do julgamento do recurso de rev!s- O Sr. Ministro Castro Nunes - Entendo
ta, seja na preliminar, seja no mérito. que essa apreciação é inherente à função do '!'ri-
Desde que o Tribunal local não encontron bunal de Apelação no julgamento de tal re-·
divergência, porque, segundo informa o Sr. curso.
!Ministro revisor entendeu que a matéria era de O Sr. Ministro Octavio Kelly (Relator)
prova, não podemos dizer que ela existe, que o Penso diferentemente.
recurso deve ser recebido, porque estariamo~ O Sr. Ministro Castro . Nunes - Nó.s pode-
julgando da sua procedência; em última análise, mos mandar admitir em certos casos, mas não·
estaríamos julgando o recurso de revista, o que prejulgar o recurso de revista. O Supremo Tri-·
não nos compete fazer. bunal não tem que corrigir a apreciação do di·
O Sr. Ministro Annibal Freire - Estaríamos reito, nem, muito menoo, a apreciação de pro-
determinando a aplicação exata da lei que con- vas. Se o Tribunal de Apelação, à vista dos.
ceituou o recurso de revista. julgados oferecidos, diz que eles não são de.;;-
O Sr. Ministro Castro Nunes - Repito a V. toantes, limita-se a uma apreciação jurídica
Ex. que o :Tribunal de Apelação declarou que diante das provas apresentadas.
não há a alegada divergência e, se dissermos que O Sr. Ministro Octavio Kelly (Relator) -
há, que estaremos fazendo sinão julgando pro- O Tribunal local não pode, diante do julgado-
cedente o recurso de revista? do supremo Tribunal de que há divergência e
O Sr. MinistTo Octavio Kelly (Relator) - não há divergência. Ele terá de examinar :t
Justifica-se o recurso extraordinário exat~;.- de que é caso de recurso de revista, dizer que
mente -diante da alegação de não ter o Tribun~l questão e optar por uma das soluções· que a
de Apelação aplicado divergência. Côrte Superior entender divergêntes. O Tri-
O Sr. Ministro Castro Nunes - Se V. Ex. bunal local ]JOderá achar que divergência não
diz, !l a Turma o acompanha, que existe a ale- existe; se o Tribunal Superior pensa de modo
gada divergência, que os julgados apontados contrário, ele terá de decidir por uma ou ou-
são discrepantes, vale Isto dizer que o recurso de tra hipótese e, desse modo, é que cumprirá o
revista deve ser provido. Está prejulgado. Que texto legal, que lhe dá competência para co-
restará ao Tribunal de Apelação sinão decidir o nhecer da revista em caso ele clivergênci:t para
recurso de revista, que já estará provido nos I conhecer da revista em caso ele divergência clt-
termos elo acórdão deste Tribunal? . suas Turmas.
(25)
308 ARCHIVO JUDICIARIO 5-3-43
A Té ofereceu contestação, disendo que o de- à coisa julgada, a uma sentença do egrégio su-
creto-lei em. questão não podia afetar a causa premo Tribunal Federal, que criou para a embar-
julgada. gante a obrigação de pagar à União certa impor-
Ouvido, assim se manl!estDU a Procuradoria tância. Só o perdão expresso dessa dívida faria
da República: desaparecer a obrigação. O dispositivo a que se
"A presente ação rescisória é proposta com apega a embargante não tem alcance, pois deixa
fundameno no art. 798, I, c do Código do Pro- de existir imposto de selo devido sobre contrato
cesso Civil, a saber, porque o venerando acordão de compra e venda de mercadori;ts celebrados
seria nulo eis que foi profeTido contra liten.l dis- anteriormente ao mesmo decreto-lei. O decrçto-
posil;ão de lei". lei não perdôa dívidas da União, mas imp'JStos.
É esse o fundamento da Tescisória, que desta No caso dOIS autos, trata-se de dívida liqui-
arte, envolve uma grave !ncrepação ,que preci- da e certa. A coisa julgada só seria anulavel se
sa ser considerada afim de verificar o egrégio o decreto-lei ··a ela expressamente se referis5e; do
Supremo Tribunal Federal se incidiu, em verda- contrário, seria a anarquia dos julgados, a inse-
de, em tão marcante culpa, qual a de julgar gurança da própria Justiça. Não se pode anular
contra literal disposição de let. uma sentença soberana por urna interpretação
Como a autora demonstra essa tese? excessiva e indebitamente extensiva. A tranqui-
Alegando que o art. 20 do decreto-lei 1. 704 l!dade das relações jurídicas veda essas liberda-
de 24 de outubro de 1939 a isenta do pagamento des. A jurisprudência do egrégio Supremo Tri-
do imposto e que, entanto, o egrégio Tribunal a bunal Federal, no resguardo da coisa julgada, é
condenou a esse pagamento. r!gorosa e invariavel; até mesmo a decretos-led,
expressamente destinados a anular sentença, não
Isso, em síntese, é ~ alegação da autora. se
dá validade (casos das anulações de sentenças
puzermos em linha as .ponderosas considerações
an~ores que julgavam isentos do tmposto ele
em que se baseiou o venerando acordão, verifi-
ca-se que esse diSpositivo não foi transgredido. l'€nda os Magistrados e funcionários estaduais;
apelação cível número seis mil oitocentos e trin-
Efetivamente, quando o dispositivo foi pro-
ta e três em que são parte Barros Fournier e o
mulgado, já não se discutia mais a origem da
Tenente Coronel Meira de Vasconcelos, como,
dívida, a sua legitimidade, desde c,_ue essu era
matéria que havia passado em julgado definiti- pois, há de a111iquilar um seu decreto judicial por
simples, fragil e capciosa interpretação? Os em-
t'amente, com a rejeição dos embargos à penho-
bargos não teem fundamento e merecem li.SSim
ra.
ser rejeitados, como é de Justiça".
Os embargos à arrematação se referem a
Não houve como se verifica. julgamento con-
nulidade que porventura ocorram após o Julga-
tra literal disposição de 1e1, caso estrito de res-
meno do executivo, não podendo ser um "deve-
cisória, a que se não permite inteligência am-
nir porpetuel" da mesma matéria já urna vez
pliativa, que no caso seria, ao demais, de ínjurí-
soberana e definitivamente julgada.
dica, injusta.
Dest'arte, quando o egrégio Supremo 'I'ribu-
Ro de Janeiro, 20 de Janeiro de 1942.
nal Federal proferiu o sábio aresto que a ·auto-
Gabriel de Rezende Passos, Procurador Geral da
ra pretende anular, já não havia motivo para a
República".
consideração do dispositivo citado. Digamos en-
Com este relatório, passo os autos à revisão
tão que a embargante-executada já agora não
Rio, 23 de Janeiro do 1942.
deve nenhum imposto de selo, senão quant!a cer-
ta, por força de sentença do mais alto Tribunal
VOTOS
do país, pouco importando, nessa fase do pro
cesso, qual haja sido a origem da dívida". A O Sr. Ministro LaUdo de Camargo (Relator)
lei, diz o art. ao da Introdução do Código Qivil, A autora sofreu um executivo fiscal, para o
não i[lrejudicará, em caso algum, o dí~ito adqui- pagamento de certa impOrtância, referente ao
rido, o ato jurídico perfeito, ou a coisa ~U!gada". imposto de selo proporcional em contratos de
.Parece qUe basta a inTVocação desse texto, compra ~ venda de mercadoria, vindo a ser con-
oem .plena vigência, e que envolYe um princípio denada.
geral d·e direito, para por termo de vez à reni- Dias depois da sentença passar em julga~lo,
tente rebeldia da embargante em pagar a im- surgia o decreto-lei n. 1. 704 de 39, com o obje-
portância a que está condenada. Estamos frente tivo de, segundo os termos de que fez uso, escla-
(27)
310 ARCHIVO JUDICIATIIO 5-3-43
recer dúvidas sobre a incidência do selo em con- Bem de ver, entretanto, que, na hipótese em:
tra tos tais . estudo, ela não se limltou em interpretar, p8ra
Transcrevo o decreto, para a sua exata apl·e- concluir, como concluio, pela Incidência do sele>.
ciação. Foi alem, dispondo que todo>s os co~tratos.
"Considerando que sobre a incidência do de compra e venda celebrados até o seu apare-
selo nos contratos de compra e venda de merca- cimento não poderiam sofrer a incidência do selo.
doria.s surgiram dúvidas e tais contratos teem A expressão do novo mandamento: "não po-
sido geralmente celebrados sem o pagamenw do derá ser exigido o imposto do selo sobre os con-
selo devido; tratos que hajam sido celebrados até a daLa elo
Considerando que essa situação reclama j presente decreto-lei", está a mostrar que toda a
uma providência de carater excepcional que a. exigência fiscal, ilegal se tornaria por falta de
regcüarize, decreta: texto para ampara-la.
Art. 1° - Os contratos de compra e ve!lda O próprio decreto reconheceu que, de então,
de mercadorias incidem no selo .proporcional a tais contratos t~m sido geramente celebrados
que se refere o n. 24 da tabela A o dec:eto sem o pagamento do selo devido''.
n. 1.137 de 7 de OutuQro de 1936. Dissilpando dúvidas, conclUlo pela incidên-
Art. 20- Não será exigido o imposto cto selo cia fiscal •. mas nivelou a todos os .contratos, t..lu-
devido sobre os contratos de compra e. venda de rante certa época, para que deles nada Se exi-
mercado>ria que hajam sido celebrados até a gisse.
data do presente decreto-lei. Foi como que uma anistia fiscal a favore-
Art. aa - Este decreto lei entrará em vigor c,er os contratantes.
:r.a data da sua publicação, revogadas as dispo- Diante de considerações tais, não posso dei-
s:ções em contrário". xar de reconhecer a ,procedência da aç'io.
E' o meu voto.
Eis aí o qu~ se dispoz a re.~peito e poucos
O Sr. Ministro Octavio Kelly - O acordão
dias após passar em jUlgado a sentença condena-
deste Tribunal, c..ue se pll'etende rescindir, Jeci-
tória.
diu que, vencedora a União em um pleito, lhe
Em vista disso, a executada pedlo fossem
aplicados os novos preceitos regedores do caso era defeso, por seUs orgãos legítimos, ainda mes··
julgado então er.n face da execução. mo com função legislativa, renunciar ou abrir
Mas não foi atendida. mãos, de direitos reconhecidos pela Justiça, pela
Dai esta rescisória. única razão de que se o fizesse, importaria. em
proclamar ser lícito, por esse modo, reform::u:-
Fui voto vencido no acordão re."Cinclendo, sentenças judiciárias. Na espécie, não se cogi-
pois entendi que, dados os termos cla:os e ex- tava de obstar efeitos de um julgado, ma.s de se
pressos do novo decreto, não seria possivel &.!ixar haver como extinto o crédito proclamado pela
de atender a parte executada. sentença, por ato espontâneo do credor vitorioso
Deste modo, resultou um julgado contrarian- na lide, único interessado em executá-lo, e que,
do texto expresso de lei. por atD ex.presso, resol-veu dispensar a arr!'>cada-
E' certo que a sentença se cumpre pelo que ção do imposto, cuja cobrança judicial se fazia.
nela se contem e declara. Negando ao decreto n. 1. 704, de 1939, o alcance
que deflue de sua própria letra, para entender
Mas, não menos certo que, ao fazê-la exe- exigivel tributação, expressamente repudiada
cutada, não se deve desprezar o novo manda- pelo texto, como era a do :o:elo nos contratos an-
mento, quando diretamente lhe dlga respeito teripres à expedição desse diploma e Impedindo
como, na espécie, acontece·. o conhecimento de tal defesa em tempo útil
Se, embargando, podem ser alegados. pelo (Cód. do Proc. Oi v .. art. 1. 0'11) teria a cordão em
executado - o pagamento, a transação e outros, exame atentado contra a tese da lei. Julgo, por
porque impedir a aplicaça.o dos novos preceitos isso, tpro~dente a ação.
referentes à nenhuma responsabilidade fiscal, O Sr. Ministro Gout.art de Ollveíra: - Sr.
nos contratos a.té então celebrados? Presidente, do debate, o que colhi, com a devida
O novo decreto, na conformidade dos seU-9 venia elos meus emmente:3 colegas que entende-
dizeres, velo interpretar uma lel. rnm diversamente, foi que o Tribunül julgou,
L~i interpretativa n~o pode r€almente atin-~ conforme C'Xpós 0 cmo~1cntc Dr. Procurar!or
gir a.s causas jinitae. mente de uma elas partes nessa relaç~w jurídica,
( 281
5-3-43 ARCHIVO JUDICIARIO 311
Na execução desse julgado, depois da pe-l Conclue da! a autora que ;teria o Poder Público,
nhora, surgiu um decreto-lei emanano jlL>ta- com essa isenção, assim expre5.5amente declare-
mente de uma das partes nessa relação jurídica, da, dado à mesma autora uma dem.onstraçl!.o de
'decreto esse com a fine.J.idade de isentar e. ou .. Iiberá-Ie. daquela ol>rigação. I-Sso equtvaie a
tra parte, exatamente, do pagamento pleiteado e.rirmar' que teria esse ato Importado em quita-
e julgado naquela decisli.o. ção ou pagamento realizado - vamos Imaginar
A parte embargou a arrematação, porque pela própria autora.
esse decreto surgiu, no interregno que o legis- NeSSI3.S condições, estribando-se no 'l-rtt-
lador comum estab~leceu, para 6oincidir c.om a go L 011 do Vigente Código de Processo C i vil,
superveniência de quitação bastante para libe"·- entend~ a autora. que põ(ier!a embargar a exe-
tar o devedor do seu dêbito, nos termos do ar:. cução, wb o fundamento de que, supervenlen-
t!go 1.01l 'do Códlgo de Processo Civil. temente. a penhora, ocorrera o pagamento, ocor-
Nesses embargos, onde a pm"te pod!a e de- rera uma quttaçâ'o, que a libere.ram dessa obri-
via alegar essa qultaçw, foi e&S<l. matéria nle- gação; e, deste modo, eram perfeitamente pro-<
gada. o Juiz recusou o conhecimento de38es cedentes .seus embargos, e não tinha razão de
embargos e os remeteu para o Tribunal e o Tri- ser a pr~%ecução dá execução,
bunal recusou a prova de pagamento feita pela Mas, para chegar a essa. conclusãó, é mister
parte deveaora. atribuir ao decreto-lei n. 1, 704, de 24 de outu-
A parte prejuiDc-ada, asstm, por esse jUlga- bro de 1939, uma forÇa retro-opemn.te oontra !l
do, propCis ação rescisória do mesmo: e propOs coisa jUlgada, que, a meu ver, ele não ;tem. E
muito bem. FUnaamentou essa sua pretensão de não a. tem porque e. Lsso se opõe, taxativamente,
tal maneira que coincide com o direito a.sseg-n- o dispositivo do art. 3o, da Lei de Introdução
rado no Código cto Processo e com a vont.aa.e ao Código Ci"Vil, que diz:
manifestada pela União Federal, em cte,creto-lel, "A lei nào prejudJcarâ, em caso e.lgum, o
de ter como quitada a d!Vida. No m·.t. 20 de3:>e direito adquirido, o ato jur!dlco perfeito, ou a
decreto eu vejo, não a sua finalidade monl, coisa julgada".
mas a sua finalidade jurld!ca, de valor eouw O Sr. Laudo de Camargo (R3lütor) - Ma&,
qurtação de divida. como é que se compreenderia, entw, o dispo-
Sendo assim, não vejo como possa, com ess:~ sitivo do decreto-lei n. 1. 704, quando diz: "os
convicção, jtúgar diversamente a ação. Acom- contratos... que he.jam sido celebrados até a
panho, por esse modo de entender, o voto do data. do presente decreto-lei?" Esses contratos
Sr, Minffiro Laudo de Camargo. sã-o os realizados no futuro, no p-resente ou uo
o sr. Mtnist;o Waldemar Fatct!o: - ar, pe.s3ado?
Presidente, em se tratando de ação resclsOr!a
O Sr. Ministro Waldemar Fal.cáo: - São
com fundamento no art. 798, n. I. letra. c, elo
aqueles em relação aos quais não houver coisa
vigente Cõcl!-go Processual, vale dizer, com :tun-
damento na alegação ele que o julgado rescin- julgada; é que a lei não poderá prejucticá-ios.
O Sr. Ministro Oetavio Keny (rlevisor) -
dendo teria decidido contr•a. literal disposição
de lei, é tarefa indispensavel examinar, per- Então, V. Ex. nega ê. parte vencedora a facul•
cuclentementc, se, de ft~.to, no ]1.úgado rescin- dade de ·desistir de um direito já reconliecido ?
dendo, 11ouve essa manifestação julgadora., 'CtJll- O Sr. Mtnist1·o Waldemar Falcão: - Não
trárla à letra cxprNsa da lei. nego á pa:·te vencedora tal direito.
Data venta do ponto de vista em que f., O sr, Mlnistro Octavio Kelly (Re>·!sor) -
colocaram os eminentes colegas que me prece- Parece .. ,
deram com seus votos, entendo que nao hm11·e O 97. l!fini.stro Watdemar Falcão: - Enten-
tal; e vou procurar- demonstrar a razão ·Jessa do é que, no CüSO, não ·existe e3sa renúncia, à
minha convicção. vista dos termos Jeguls. Ela nao se encont~
Na espécie, arega a autora qu€' existia ttrn no diploma legal que disciplina ?. matéria.. Não
decreto-lei do pl'Oprlo Poder Püblico feder;>,!, era esse o melo idoneo de se operar e. renünc:a.
tributador, decreto-lei n. 1. 704, de 24 de uu- ainda porque isso se chooo.ria com a proiblçfto
tubro de 1939, cuJo art. 2o teria, expressamente, explicita da própria lei civii.
lsent?-do de sêlo os contrrttos de cm·;1pra c '\"<'n- O Sr. ;,rmtstro Laulo de Ca•1wrgo 1ReL<.tor)
da de m~rcaclorlas que houves"<:m sido ce'te" --- Se· n:i.o fôr apllc:J.do no pcv=:·S:tci.ü, 0'3SC" disp:J~
bmdos até a clata do mesmo cl_lplmna· legaL citlvo do ar·é. 2° fic~r!~ ~m npllcaç:'lo. Prtca
l291
ARCHIVO JUDICIARIO 5-3-43
312
que casos se pode aplicar, sinuo p-ara o pas-~ renuncia expressa, de desistência da União, as-
sim o entendesse, assim o determinasse ,assim,
sado?
O Sr. lkfíniStro Waldemar Fateao: Para manifestamente, o declarasse o Poder Público.
os casos em que a Fazenda NaciO'Ilal desisttr, Mas ouvimos, há pouco, a própria palavra -dO"
exprc.s.samente, por um ato de renuncia. Dr. :Procurador Geral da República, em que
o sr. Ministro Laudo de Camargo (Relat.o;r) S. Ex. demonstra que o Poder iPúblico Federal,
~ Não era, assim, preciso um decreto. a Fazenda Nacional, da qual é representante, não
o Sr. Mir..~stro Octavio KeUy (Revisor) - desistiu, ·prossegue na sua intenção de cobrar.
o decreto fica sem aplicação, evidentemente. Não houve, assim, ato manifesto de renuncia,
o sr. Mtnistro Waldemar Falclto: - Si :1ào em relação à cobrança do selo.
existisse a coisa julgada, poder-se-ia admit-ir O Sr. Ministro Orozimbo Nona-to- Os ter-
que a lei cLtada, vasada em termos genéricos, mos da lei são claros: não será. exigtdo Imposto
sobre os contratos, até a data do presente de-
pude3Se aplicar-se à matéria em exame.
o Sr. MiniStro Octavio KeUy (Revisor) creto-lei ...
v. Ex. acha que a parte que tem uma sentença O Sr. Ministro Annibal Fretre - • . . Que
em seu favor não pode des!st!r, renunciar, tran- não tenham sido objeto de decisão judiciária.
O Sr. Ministro Orozimbo Nonato - Este de-
sigir com seu <tireLto ?
creto-lei é, tambem, renuncia de direito, por
o Sr. Ministro Watdem.ar Falcão: - Só por modo em que este pode ser manifestado.
ato expresso que fizesse rem!ss1io expl!cita ao O Sr. Ministro Annibal Freire - Não na es-
caso vertente. Não póde, porem, ir contra a fera judiciária, porque, ai, vai de encontro à
coisa julgada, mediante uma lei em termos ge- coisa julgada.
néricos. o Sr. Ministro Jose Linhares - E' questão·
o Sr. Ministro orozimbo Nonato - Contra meramente processual, que se resolve na exe-
a coisa julgada há dois remédios: há os embar- cução, por fato novo, superveniente.
gos supervenientes à penhora e há a ação res- O Sr. Ministro Castro Nunes - Na Turma,.
cisória. Nos embargos opostos à penhora, póde-se não pudemos admitir assim porque n3.v havia
alegar fato superveniente à mesma. quitação e o Dr. Procurador Geral insistia na
o Sr. Ministro Laudo de Camargo (Relator) cobrança.
- Fato novo. O Sr. Ministro Orozimbo Nonato: - A qui-
O Sr. Ministro orozimbo Nonato - Si o de- tação está aqui, no decreto; é o pagamento. O·
creto envolve - e ele está claro - renuncia ao pagamento não é, só, a entrega de dinheiro; é
direito de cobrar; si é posterior à coisa julgada, perdão ou remissão. O particular daria recibo;
mas anterior aos embargos, que podiam ser como é a União o credor, expede decreto-lei.
opostos, os embargos foram opostos com base O Sr. Ministro Waldemar Fc!lcão - Dizif!.
nesse decreto-lei superveniente. Assim, o que que a minha divergência nodular com os ilustres
diz o Sr. Ministro Waldemar Falcão não .;,e colegas era no tocante a compreender como pa-
pode aplicar a este caso. Os embargos à arrema- gamento o ato de isenção constante do decreto.
tação são os de que trata o art. 1.011. A coisa A meu ver, esse decreto-lei não vale como qui-
julgada tambem tem em si a cláusula rebus síc taçã-o, para os efeitos encarados no art. 1. 011,
stantibus. Pode haver uma relação posterior que porquanto ele não pode ter força de alterar a
a altere e essa relação existiu posteriormente, situação de direito creada pela coisa julgada,
com o pagamento, no caso. isso em virtude do que dispõe o art. 30 ela Lei
o Sr. Ministro Waldemar Falcão - Seria de Intt;odução ao Código Civ!l. Não tendo ha-
perfeito o argumento de V. Ex., si tivesse ha- vido, como n3.o houve, segundo demonstrou, ain-
vido, na espécie, pagamento; Si o ato que se da há pouco, a palavra do Dr. Procurador Ge-
objetivou, nesse decreto-lei n. 1. 704, pudesse ral, renuncia expressa do Poder Público, em reia-
ser interpretado, validamente, como quitação, ção à cobrança de selo, objeto da lide, sobre a
em relação à autora. Mas, a meu ver, - nesta qual se prolatou a sentença, hoje transitada em
parte, está o ponto nodular da minha divergên- julgado, não é posivel aplicar o decreto ao caso·
cia com os colegas que me precederam com seus em espécie.
votos- pelo art. 30 da Lei de Introdução ao Có- O Sr. Ministro Laudo de Camargo (Relator)·
digo Civil, esse decreto não poderia ter força re- - A intenção dO Governo não era esta, mas, jus-
troperante, em relação à coisa julgada, na espé- tamente, o que está ma lei. A parte reclamou do
cie. Pocteri<~ ter est~ força, si, por um ato de Governo, pediu que houvesse ato que deixasse
(30)
5-3-43 A·RCHIVO JUDICIARIO 313
bem claro, si bem que claro já estivesse, a in-~ de rações do Exmo. Sr. Ministro Annibal Freire,.
tenção do Governo. Disse, porém, o Ministro da dadas em apartes, de que a coisa julgada está.
Fazenda que não· havia razão legal da necessida- sobranceira ao próprio decreto que lhé sobre-
de dessa manifestação do Governo. Trata-se, di- vem. Mas o decreto-lei, no caso, não visou a coi-
zia s. Excia .• de matéria interpretada e esclareci- sa julgada: foi o único modo válido que tinha
da e, por isso, o Poder Judiciário saberia reco- uma das partes em litigio - a União - de re-
nhecer, a seu tempo, o direito do suplicante. nunciar aos seus direitos. A União não podia
o Sr. Ministro Waldemar Falcão - Agradeço renunciar senão por me_!o de um decreto-lei, que·
o esclarecimento de V. Ex. e devo dizer que, si se expressou de modo solarmente claro.
a intenção do Governo é esta que V. Ex. acaba O contrato de que se trata foi celebrado an-
de proclamar, era muito fac!l ao Governo, por tes da data a que se refere o decreto. Logo,
um ato administrativo puro e simples, renun- esse art. 2° vale como renuncia do. direito jã..
ciar a essa cobrança, afastando a contingência reconhecido. Ora, o art. 1.011, do Código de-
de nossa decisão. Processo Civil diz que o executado, nos embar--
o Sr. Ministro Octavio Kelly (Revisor) gos à arremataç.ão, poderá alegar nulidade da
Parece que um ato administrativo é um ato de execução, pagamento, novação, concordata judi-
menor importãncla que urr. decreto-lei. ' cial, transação e prescrição, supervenientes à pe-
O Sr. Ministro Waldemar Falcão -No caso, nhora.
seria de muita importância, porque mostraria, VV. Exs. sabem. que a palavra pagamento
claramente, inequivocamente, a renuncia. tem significação ampla em direito civil. o seu-
o Sr. Ministro Octctvio Kelly (Revisor) - significado vulgar e corrente é o de entrega de
A lei está acima do ato administrativo. dinheiro para extinguir uma obrigação. Ele, po-
O Sr. Ministro Waldemar Falcão - Não rém, significa ainda, tecnicamente, a extinção·
pode haver lei contra coisa julgada.· O decreto da obrigação, o seu cumprimento. Por isso·
não póde, no caso dos autos, ter força de vigên- mesmo, o termo "solução" é muito mais expres-
cia. Não pode prevalecer esta interpretação, di- sivo. A solução do débito diSsolve o rínculum.
ante dos termos do art. 3° da Lei de Introdu- juris.
ção ao Código Civil. Não póde, assim, aplicar-se
E' o pagamento que, assim, toma significa-
ao caso sub-judise.
do amplo, abrangendo, ao lado da entrega da. res-
Divergindo, data venia, dos colegas, que, an- debita, a renuncia, o. perdão, a remissão. Si o
tes de mim, se manifestaram, julgo improceden- art. 1.011 autoriza que, depois do julgamento
te a ação rescisória, por não ter havido viola- da penhora, após a arrematação se possam opõr·
ção de literal disposição de lei, no tocante ao embargos dessa natureza, autorisa, evidentemen-
acordão rescindendo. te, seja ele infringido por meio desses embar-
O Sr. Ministro Orozimbo Nonato - Sr. Pre- gos, autoriza a revisão do julgado, por fato su-
sidente, já em apartes, revele! minha opinião so- perveniente. A coisa julgada pode sofrer e sofre·.
bre o assunto. A meu ver, a questão não se acha transformações, pelo fato superveniente: - a
desdobrada em seus verdadeiros termos. clausula rebus sic atantibus inére nas senten--
Trata-se de ação rescisória. A ação rescisó- ças.
ria •é excepcional: só se dá naqueles casos ex- A renuncia do crédito é solução, é paga-
pressos e inampliaveis de que a lei cogita; quan- mento deste e se compreende no art. 1.011 ci-
do proferida a sentença por juiz peitado, impe- tado. O Exmo. Sr. Ministro Waldemar Falcão
dido ou incompetente ratione mC!!teriae, com manifestou-se de acordo corn essas considerações.
ofensa da coisa julgada ou contra literal disposi- Apenas, interpreta de modo diferente o decreto,.
ção de lei, ou quando fundada em prova cuja entendendo que o único modo habil de provar a
falatd&de se tenha apurado, em juizo criminal. renuncia seria o ato administrativo diretamen-
A parte indica, no caso, como lei violada pelo te relacionado com o caso mesmo da demanda.
acordão, o art. 2o do decreto de 1939; todavia, Discordo, data venia, inteiramente, de S. Ex.
essa lei, realmente não foi violada. Esse decre- e o faço porque o ato administrativo, no caso,
to-lei dz que não será exigido no caso, o lmpos- pressupõe o decreto, não podendo a renuncia, na.
to de selo; mas é ele posteror à decisão e, como hipótese, deixar de se manifestar por via de de-
o Tribunal tem decidido, a lei, ainda. que re- creto, E este, assumindo feição generalissima,
troativa. não póde atingir_ a coisa julgada. Neste abrange a todos e a cada um elos contratos a
particular, estou de plPn0 aeordo com as consi- \ que ele se refere.
(31)
314 ARCHIVO JUD ICIARIO 5-3-43
o ato administrativo, sem o decreto ou con- [ aqueles que se encontreyu em idêntica situa-
tra ele, seria exorbitante; com o decreto, e dados ção, e s1, em .relação a um desses contribuin-
·08 termos deste, ocioso e tnutil. tes, ha colse. julgada ,ha sentença transi~ada em
O Sr. Ministro waldemc•r Falcão: __::_Si não julgado, n!io é poss!vel mais rescéndlr esse jul-
fosSe possivel a renuncia, por um ato administra- gado, por efeito ·da lei posterior; r.inda porque
·tivo com a expressa remissão à coisa julgada. serta um precedente que não devemos admitir,
O Sr. Ministro Orozimbo Nonato: - A lei Isto é, que a coisa julgada seja acessivel a qual-
·é ordem geral, permanente, imposta a todos. A quer melo estranho ao proprio Tribunal.
renuncia da Uniiio poderia ser feita de dois mo- O Sr. Ministro Orozímbo Nonato: - A não
dos: ou para todos os contribuintes, por uma ser quando a leí o permite.
:lei; ou para um só, em contráto. Ora, esse de- O Sr. Ministro Castro Nunc."J: - A lei não
.creto-lei abrangeu todo sos contratos. Para que pode Invalidar ou infringir, de qualquer modo,
.iria a União, em cada espécie, baixar decreto es- uma relação jurldica decidida pelo Supremo Tri-
_pécial, si o primeiro abrange .as hipóteses todas bunal .
.a que faz referência? O Sr. Ministro Octavio J[elly (Revisor) : -
O Sr. Ministro Waldemar Falcão: - Por- A coisa julgada, ai. foi decls1lo em favor da par-
·que, no caso, há coisa julgada. te, do Estado; de modo que V. Ex. nega á parte
O Sr. Ministro Orozimbo Nonato: - Há jul- vencedora faculdade de desistir desse direito.
~amento contra o qual são admissíveis os em- O Sr. Ministro Castro Nunes: - O Estado,
bargos do art. 1. 011. O decreto não anula a quando quer desistir de seus direitos, em face
coisa julgada; mas a renuncia, que ele exprime, de julgamentos nossos,. tem que faze-lo de outra
é matéria para os embargar, que, contra a lei, maneira, ou, então, intentar ação rescisoria.
não foram admitidos. o Sr. Ministro Orozimbo Nonato: - Entre
Nestas condições, acompanho o voto do particulares, não é possivel o pagamento pela
Eximo. Sr. Ministro Laudo de Camargo. pane que teve o seu direito reconhecido em
O Sr. Mi1liStro Castro Nunes: - Sr. Presi- juizo. Se eu, por exemplo, demando V. Ex.
dente, fui um dos votos vencedores no. acórdão pül' divida inexistente e V. Ex. paga, não posso,
rescindendo e não tenho razão para modificar na execução, opor esse pagamento á cousa jul-
.a minha atitude, a!S.Sumida na Turma. gada. Esse ato é a remissão da divida .
Entendo que, nos termos em qi.tc foi posta O sr. Mtntstro Castro Nune.~: -· No caso, po-
-a questão, perante a Turma, não podia ser ou· rem, nâo ha ato de parte. A Uniâo expediu o
.tr!l. a solução, do ponto de vista em que a co- decreto-lei agindo como Pocter Pú)}Ilco e não
loquei, porque não considerei com'J uma re- como parte. Se o Procurador Geral, que a repre-
núncia feita pela União o dec'reto-lei que eE- senta, se n1anifestasse no sentido da renúncia,
tava sendo invocado e que, ainclét agora, est& eu a atenderia. Ainda agora, porem, a atitude
sendo invocado, para a presente 8.ção reEcisó· de S. Ex. foi no sentido ele nli.o aderir á pre-
ria. Expedindo esse decreto, a. Uniãü agiu, não tendida renúncia da União.
·como parte, mas como Pocler Legislativo. Vou chegar, entretanto, a uma conclusão
Por isso não vejo co1no possivcl admiti-lo que preciso justificar e de· perfeitn, coerencia
.como implicando a renúncia. da coisa julgada, com o que venho dizendo.
preferida em favor dela: ainda porque, segun-
A minha atitude, quando elo primeiro jul-
do sustente!, e, ha pouco, recordon o Sr. Mi-
gamento da causa, foi essa a que me referi.
nistro Waldemar Falcão, a Procuradoria Geral,
Nessa ocasião, declarei que o direito da parte
que é o orgão judiciário da União, aquele que
só poderia ser atendido por tnel:> ele ação resci-
pode, autorizado pelo PresidentóJ da República e
sória. Foi o que a parte fez; seguiu caminho
pelo Ministro da Fazemla, desistir, estava Insis-
certo: intentou ação rescisória para anular o
tindo no pagamento.
nosso julgamento.
o Sr. MiniStro Orozimto Nona.to: - Sem
dúvld8. nenhuma, o Chefe do Ministério Público Agora é que é posslvel ~,tender á arguição
é órgi'lo dessa vontade. Quundo, porem, se er- porque está feita pelo meio próprio, que é a
gue uma vontade superior, que é a da lei, a açao rescisória.
interpretação cabe ao Juiz, não a S. Ex. De fato se o Poder Público, por lei paste-
o sr. 1viinistr0 Castro Nnn~s: - Mas, jus- rlor, reconheceu inequivocrunente a 'sencíw, deu
t::unentc por se tratar ele lei, cl;~ v2.le parrt lodos j à lei vigente ao tempo ela senteuç.t uma inter-
(321
5-3-43 ARCHIVO JUDICIARIO 315
prestação autêntica que faz corpo com a lei apenas os que estivessem em fase administra-
anterior. tiva.
Meu voto é, pois, para acompanhar a tur- O Sr. Ministro Laudo de Camargo - (Rela-
ma, julgando procedente a rescisória. tor) - Não se pode tirar essa conclusão cios
O Sr. Ministro Annibal Freire - Sr. Pre- termos da lei. Esta se refere a todos os contra-
sidente, quero salvar a minha consciência de ha- tos, estivessem em fase administrativa ou :aa
ver praticado" qualquer deslise. O meu voto, I:La judiciária. Não podemos restringir o que a
Primeira Turma, obedeceu a uma preocupa.;iio lei não restringe .
puramente doutrinária - a da intangibilidade O Sr. Ministro Annibal Freire - Se a lei
da causa julgada perante o decreto-lei em ques- abrangesse a causa julgada, o que seria absurdo
tão. A mim me surpreendeu que, por força e inoperante, deveria mencioná-lo expressamen-
desse decreto, que regula relações jurídicas com te. Julgado de modo diverso, iremos subverter
referência à incidência de imposto, se pudé.Ose um principio universal, qual o da intanglbili-
afetar a causa julgada. dade da causa julgada.
O Sr. Ministro José Linhares - Não havia,
No caso, trata-se, evidentemente, de causa
na hipótese, causa julgada e, sim, caso jul!;~do,
julgada, isto é, de executivo julgado, em sua
cuja decisão ainda poderia ser reformada por
primeira fase, pelo Supremo Tribunal - julga-
meio de embargos.
mento unânime - e julgado, em gráu de em-
bargos, pelo mesmo Supremo Tribunal. O Sr." Ministro Annibal Freire - Aludiu-&e,
como já disSe, à renúncia por parte do Pod~r
Não se invocou, na Turma, senão a aplicação
Público. Mas essa renúncia não existe. Fui
do artigo 2° do decreto-lei n. 1 704, de 24 l<e
isso que determinou o meu vota. Ao contrário,
Outubro de 1939. a Procuradoria Geral da República, que é o
A minha consciência ficou, então, dian~~ órgão constitucional criado para defesa dos lute-
deste dllêma: ou reconhecer a legitimidade :.:.:.~ resses da Fazenda, insistia em que se prossc!;Uis-
intervenção do Poder Legislativo em relação aos se na execução.
nossos julgamentos ou deixar de sufragar o di- Desde que a ação rescisória só pode fundGr-
reito da parte, em atenção ao que se invoca. Não se em violação de direito expresso e uma V(lZ
hesitei: coloquei-me ao lado da supremacia üo que o voto da Primeira Turma, no meu enten-
julgado do Supremo Tribunal, mesmo porque der, não violou tal direito, sinto divergir da
sempre me pareceu - e o brilhante debate aqui egrégia turma julgadora e não considerar pre-
travado não me convenceu do contrário - que cedente à ação rescisória.
o decreto n. 1 704, no artigo 20 é aplicavel so- O Sr. Ministro JOsé Linhares - Sr. ?resi-
mente às questões na fase administrativa. Se dente, julgo procedente a ação resciSória, r:;.os
porem, questão dessa natureza já foi julgada de- termos do voto do Exmo. Sr. Ministro Rela-
finj,tivamente por um tribunal não me sinto colll tor.
DECISÃO
forças para fazer, ai, aplicação da lei aludida.
O Sr. 1Winistro Orozimbo Nonato - Estnri!l Como consta da ata, a decisão foi a se-
inteiramente de acordo com a doutrina de V. guinte: Julgaram procedente a ação re.sclsór~a,
Ex., aliás discutível, si o decreto em causa niio contra os votos dos Srs. Ministros Walclemar
valesse tambem como extinção da obrigação, por Falcão e Ann!bal Freire.
parte do credor.
Acordão
O Sr. Ministro Annibal Freire - Não se co- Vistos, relatados e discutidos estes auto.;; de
gitou, na Primeira Turma, dessa hipótese. o c,u.cação recisória n. 76 do Distrito Federal, em
se procurou foi, apenas, evitar a incidência i.lo'
que são autora Casa Mayrink Veiga S. A. e ré
imposto, por efeito ela aplicação do artigo :;o a Fazenda Nacional, acorda o Supremo Tribm>:::.l
do aludido decreto. Federal em julgar procedente a ação nos Lermos
dos votos proferidos e constantes das notas tP.-
A argumentação ele que a promulgação da quigraficas juntas, pagas na forma legal as
lei n. 1 704 significa uma renúncia por :par- custas.
te da Fazenda, não me prn2ce procedente, ôatt! I Rio. 24 de Julho ele 1942. -Eduardo E.·pl-
·venia. nol.a. Pr~.o'clcnte. - Laudo de Camargo, rela-
A lei, ao se referir aos contratos celebn-1 tor.
dos até aquela data, abrangeu, evidentemcr,t~.
(33)
316 ARCHIVO JUDICIARIO 5-3-43
Acresce que a paridade, que se tinha por Const. de la Belgique, vol. II, n. 275); Chlo-
existente, entre o recurso extraordinário e o re- henda, Dir'itto Proc. Civile, página 1.020). Por
'JUrL:> de revista do Império é muito contestavel, Isso mesmo não se admite em tais pafses a re-
não sõ pelos motivos então apontados mas ainda quête civile e a revocazione, a que corresponde
por outro que direi adiante. a nossa rescisória (Japiot, Proced, n. 1.102;
A principal objeção fundava-se em que o Errera, Droit Public Belge, pág. 246; Chiovenda,
págs. 1 . 00 f) .
recurso extraordinário, com assento no texto
constitucional de 91, definindo-se pela contro- Pelo recurso extraordinário, se dele conhece,
vérsia sobre a validade ou aplicação da lei fe- ;:, Supremo Tribunal julga o feito, ainda que
deral, não correspondia à hipõtese da· ação res- aceitando os fatos na sua apresentação, isto é,
cisõria por violação de ddreito expresso, sendo que nos mesmos termos em que tinha sido posta a
era precisamente esse um dos casos em que se questão ao julgado recorrido. Reforma, confir-
autorizava a revista. levando Pedro L€ssa a di- ma ou anula a decisão.
zer que desnecessaria seria então a rescisoria Se assim já se entendia sob a Constituição
"porque a revista tinha por fim verificar (sem- de 91, que se limitava a dizer que "das senten~
pre restrita a questão ao ponto que se, discute) ças das Justiças dos Estados. . . haverá recur-
se uma sentença fora dada contra direito ex- so ... " por melhor razão hoje em face do texto
presso". constitucional que expressamente declara que ao
Havia uma outra razão para não admitir supremo Tribunal compete julgar em recurso
a rescisõria de julgado proferido na antiga re- extraordinário as causas decid-idas pelas Justiças
vista, razão que, entretanto, inexiste tratando- locais, ainda que restritamente ao ponto em li-
se de recurso extraordinário. tígio na questão federal. (Pedro Lessa, Do Pod.
Com efeito a decisão que o Supremo Tri- J1td., págs. 100 e 123; Matos Peixoto, Do Rec.
bunal de Justiça proferia em grau de revista E:xt., pág. 272).
não era de reforma, senão de mera cassação ou
A outra razão invocada na antiga jurispru-
anulação do julgado revisto, designando a Re-
clência para não admitir a rescisória era a de-
lação que houvesse de julgar novamente o fei-
r;orrente da inadmissibilidade de embargos na
to - remetendo os autos à Relação que de.si-
execução a acordão do Supremo Tribunal. Mas o
gnar para rescisoria, em vista da comodidade das
decreto-lei n. 6, de 16 de Novembro de 1937,
partes". (Rodrigues de Souza, Análise da Cons-
admitiu tais embargos (art. 7.o), e tais são os
tituição do Império, tomo II, pég. 412).
embargos chamados remetidos da competência
Do mesmo modo esclarece Pimenta Bueno: do Supremo Tribunal, do que resulta que o
"Se conclue que a tese geral, o direito da lei foi preceito da lei de 1921 está hoje revogado.
respeitado, denega a revista sem se importar Há que_ admitir, pois, a ação rescisõria de
com o fundo da causa, com o bem ou mal jul- julgados do Supremo n·lbunal mesmo quando
gado em relação à parte; se conclue o contrá- proferidos em recm·so extraordinário; e nesse
rio, cassa a sentença, e para que o império da sentido está a nossa jurisprudência mais recente ..
lei seja restabelecido, expressa as razões pelas Mas em todo e qualquer caso? Caberá a via
quais a julgou violada, expõe a inteligência que rescisória contra acordão que não tenha conhe-
entende ser a verdadeira, e manda a causa a ou- cido do recurso?
tro tribunal para que proji7'a nova sentença" Qual será a lei violada em que se náo te-
(Pimenta Bueno. Direito Público Brasileiro. to- nha admitido o recurso extraordinário?
mo II. § 4.o pág. 372). Sabemos que só por hipót"se S>' poder:'l
A revista era, pois, recurso de cassação, e conceber violação de c!ireito expresso em ta\s
assim a qualificava Pimenta Bueno (ibidem, julgamentos, ioto é, no clesta1ue ela questão
§ 1.0 ) não alcançando o reexame da espécie para fCclcra l, operüç·ão de arte ou técr.Jcr. jul'idica
o. confirmaçáD ou reforma do julgado revisto; que se realiza 1nediante mn contronto entre o
ad instar do que ocorre na França, na Bélgica e julgado recorrlc!o e os pressupostos constitu~êo
com algumas restrições tambem na Itália: cas- nais do mciso em que se .pretencto. cnqua.rl:Jr
sada a sentença, é remetido o caso para ser pro- o recurso.
O C'Xnn1c sltua-.c:e c!c ::::cu n8.tnra!, nurl1. tcr-
ferido novo julgamento a um tirbunal da mes-
reito expresso que, no caso, teria de ser o texto Dai resulta que, já hoje, em tace do novo
constttuc!onal mesmo. inciso, ciljas origens, na suges'cão do saudo~o
Mas temos admitido. E, ao meu ver, hã qtJe Ministro Arthur Ribeiro, o equiparal!l à via
admiti-la em principio - e é quanto basta 1J8r3 rescisória, é necessário admitir a rescisória do
a admissibl1idade - de vez que a equação res- julgado que não conheça do recur-so exttao!·cti-
cisória' pode ocorrer em hipótese rara, mas nos- nãrio na competência do Supremo Tr!bunal,
c~;!vel, e tal será aquela em que o argmmte pu- po;s que só ele poderá reexaminar a a:·guida
desse alegar (em se tratando da hipótese da violação para chegar à mesma •Ju a outra con-
letra a, por exemplo), que a TUrma, r.ão obst·'l.n- clusão.
te haver reconhecido que a decisão loool forn No caso dos autos trata-se, como disse, de
proferida contra a letra, deixara de conhecer do acordão que não conheceu do recurso.
recurso. Admito a via rescisória e na competência do
Reconheço que a hipótese figurada dificil- Supremo Tribunal.
mente poderá ocorrer. é quasi meramente teó- Mas julgo-o improcedente. Nem houve vio-
rica, mas basta para mostrar que o simples fato lação aberta da lei federal no julgamento do caso
de se tratar de acordão que não conheceu do pelo Tribunal recorrido nem a Egrégia Segunda
recurso, não exclue liminarmente o uso da Turma podia admitir o recurso, inteiramente
rescisória, como meio adequado a corrigir o incabível nos termos dos votos manifestados.
possível desacerto, apreciação essa que jã 3,~r~ O Sr. Ministro Orozimbo Nonato (Revisor)
do mérito d.a controversla. - Sr. presidente, estou de inteiro acordo com
Entendeu-se algumas vezes que, não calwn- a conclusão do eminente Sr. Ministro relator
do a rescisória para corrigir o tüo conhecim~n quando conhece de ação rescisória de julgado do
to do recurso. caberia entretanto na comne·"ên- Supremo Tribunal.
cia dos Tribunais de Apelação para rever o Jul- Mas, a meu ver, o acordão que deixa de co-
gado local sem ofensa à decisão deste Supremo nhecer de recurso extraordinário com funda-
Tribunal que, não conhecendo do recurso ~x· mento na letra a) quando, entretanto. ·a deci-
traordinãrio se pusera à margem do mêrito da são recorrida ofende, na real verdade. letra de
questão. lei federal, incorre na mesma censura que se
Assim decidiram os tribunais c1e anelacão ci<1 pode irrogar à sentença, que ele pratica, com
Distrito Federal e de São Paulo, considerando-se ofensa da lei ofendida.
não impedidos de conhe-cer e julgar a rescisóri•• O Sr. Mtntstro Castro Nunes (Relator)
subsequente, de vez que, não admitindo o r<!- Viola a Constituição, que manda conhecer do
curso extra.orclinário, o Supremo Tribunal s~ recurso quando haja violação de lei.
~bstivera ele qualquer apreciação de julgado ;c>
O Sr. Ministro Orozimbo Nonato (Reviso:)
cal rescindendo, deixado intao:o, sem reformt - A meu ver, o julgado do Supremo, nesse caso,
ou connrma<;ao. reitera a violação da lei federal.
A esse mesmo, entenu1men;;o parece nav<er O Sr. Ministro Castro Nunes (Relator) -
chegado o Supremo Tribunal no acordão de 10 Violação indireta, violação tácita.
de Setembro de 1919, do qual foi r~Jato'' o nv>>o O Sr. Ministro Orozimbo Nonato ·(Revisor)
insigne ex-presidente Ministro Edmu!1úO Lins - Violação real ainda que indeclarada.
admitindo claramente a competência dos Tri- O Sr. Ministro Castro Nunes (Relator) -
bUn:l.is de Apelação até me,mo naqueles ;?.305 Não daria lugar à ação rescisória.
em que, conhecendo do recurso, lhe fosse ne- O Sr. Ministro Orozimbo Nonato (Revisor)
gado provimento. (Rev. Supr. T>'ib., vol. ;l2. Permito-me divergir nesse particular.
pf\g. 42). O Sr. Ministra Castro Nunes (Relator) -
Mas a esse tempo não havia na Constitui- E' que V. Ex. admite ação rescisória contra
ção a hipótese da letra a, em que, nao conhe- acordãos que não conhecem do recurso.
cendo do recurso, o Supremo Tribun:ll procla- Pode haver, admito, essa violação em caso3
ma não ter havido julgamento contra literal multo restritos, por ofensa ao preceito consti-
disposição da lei federal, o que equivale, de tucional invocado no enquadramento do recur-
certo modo, a um prejulgamento da resci.srír)~ so. Este é que é o preceito normativo ofendido
que vcnh8. n s::'r propost8. para chter pr2~is(t. pelo nfw conhecimcn to.
mente o contrúrl0, i'to é, qu2 o ju!garlo recor· O Sr. Ministro OroziJnbo Nonato (Revisor)
ri elo vioi~Ha ciireito expresso. -·- De qualquer modo, estou de acon\o com a
(36)
5-3-43 ARCHIVO JUDICIARlO 319
:~ja:::~;:;~~c::e;:::~e n:ar'~a:r:t:·~
guinte:
n::i:::a I! Julgaram 4nJ.procedente a ação rescisória,
unanim'emente.
gração da figura da coisa julgada, no caso ocor- Acordão
re somente a identidade de pessoa.
Vistos etc.: Acor>Ia o Supremo Tribunal,
De justiça ou injustiça das decisões rescin-
em sessão plenária, e por unanimidade, em jul-
dendas não há cogitar, nem ainda, nesta segun-
gar improcedente a ação rescisória, conforme es-
da ação resc1sona, pode ser considerada a
clarecem os votos proferidos e constantes das
questão da ofensa do ius in these.
notas taquigráficas juntas.
O debate se confina em encerras ainda Custas, como de direito.
mais estreitos e só diz respeito à ofensa de coisa Supremo Tribunal Federal, 2 de Setembro
julgada que a meu ver, não existe. de 1942. - Eduardo Espinola, Presidente. -
Tenho a ação como improcedente. Castro Nunes, relator.
(38)
5-3-43 ARCHIVO JUDICIARIO 321
TRIBUNAL DE APELACÃO
_, DO DISTRITO
FEDERAL
JURISPRUDENCIA
1.0 ACÓRDÃO
artigo 267 da Consolidação, e tendo ocorrido tal
Concessão d{) julgamento <"m ~iii<Jt!Ec!a para que fato em 1920, e sua condenação em 1924, fo-
o juiz recorrido cumpra o disposto 110 lhas 165, tendo cumprido a pt)na fls. 171, vem
art. 589 d<J Codigo do Processo Penal.
agora,~ de acordo ,com as leis atuais, rc1uerer
Vistos, relatados e cUscu·i;idos estes autos de
reeurso criminal n. 2. 125, em que é recorrente cancelamento c:;, nota do Instituto de Identi-
José Pedro da Silva, sendo recorrida a Jus- ficação e consequentemente sua rehabilitação.
tiça: Do processo, consta ter o requerente pedido re-
O sentenciado José Pedro da Silva pediu ao visão no Supremo Tribunal, que lihe foi in-
Dr. Juiz da a.a Vara Criminal o livramento con- deferida, de acordo com o artigo 8ô da Conso-
dicional. Opinaram contrariamente e.o pedidc. lidação (fls. 173) . Ao pedido atual, foi exigido
o Conselho Penitenciário (fls. 239, 240) e o Dr.
o cumprimento do artigo 744 do novo Código do
Promotor Público (fls. 257 \' 0 ) . O Dr. Juiz efe-
tivo da Vara despachou nos termos seguintes: Processo, e o orgão do Ministério Público, quan-
·"Indefiro o pedido de livr.:tmento pelo junda- to às exigências do n. I, frizou a do n. V (pro-
·mento dos pareceres". De~ta decisão recorreu o va de haver ressarcido o dano causado pelo cri-
sentenciado, arrazoando o seu recurso a flS. 264, me, ou persistir a impossibilidade de jazê,-lo)
e contra-arrazoando a Promotoria a fls. 266 1.0. fls. 14, a que o requerente às fls. 16, pelo seu
Conclusos os autos ao Juiz, e estando E'J;D. exer-
advogado alega que está prescrito, ex-vi-legis, o
cício o Substituto, este se limitou a E'screver
direito da ofendida disp·utar o dote, o que é re-
a fls. 267: "Subam os a?Lf.03 á Superior Ins-
tancia". Não- satisfez ao que lhe determina o batido pelo Ministério Público às fls. 20, di-
art. 589 do Código do Processo Penal. Não de- zendo que o direito da ofendida está no artigo
clarou, pois, como lhe ,mmpria. em obediência 276 da Consolidação e 1. 548 do Código Civil, e
áquele preceito processual e ao que tem deter- no livro de Carlos de Carvalho "Nova Consoli-
minado este Tribunal em diversos acórdãos, si dação" artigo 965, aduzindo outros argumen-
mantinha ou si sustentava o despa.cl~o recor- tos. O requennte responde aos argumentos do
rido, dando os motivos por que se· decidia. por
Ministério Público e diz que se não trata de
uma ou outra fôrma. Limitou-se a ordenar que
ação de indenisação, e sim de exec·ução de sen-
subissem os autos a esta Instiincia.. Não é l&So
o que ordena a lei, nem o que tem decidido a tença, e quer se argumente com a letra "e" do
jurisprudência. Para que o Dr. Juiz a quo obe- artigo 85 do direito [;nterior, quer com os ar·
deça a ambas: J tigos 217 e com o 109 n. IV do direito penal de
Acórdam os Juizes da Segunda. Ca.mara do hoje, a regra prescricional impõe silêncio a
Tribunal de Apelação, unanimemente, converter ofendida, e não lhe ampara mais direito a agi-
o julgamento em diligência afim de que o Dr. tar ·o dote, e o orgão do Ministério Público qt:e
Juiz recorrido cumpria o que dispõe o Código de
Processo Penal no seu art. 589. passou a funcionar no processo, às fls. 40, es-
Custas na forma da lei. pósando essas alegações, - frisa que a execução
Distrito Federal, 5 de Nove.mbm de 1942. - da sentença está subordinada à prescrição da
Eàgard Costa, Presidente. ·- Oliveira Sobrinho, condenação, e assim não se opõe ao pedido.
relator. - Toscano Espino,a. - Ciente·. 13-11-42. O Juiz recebendo tais fundamentos, dejere a re-
Romão c. Lacerda.
habilitação, e na forma do artigo 746 elo novo
Código do Processo recorre ex-ojjício. Damo~
Recurso criminal n. 2.150
provimento, pore1n, ao recurso, para Tejonrar a
Rehabilitação. O artigo 744 do Código do F'I'O-
cesso Penal e o artigo 119 do Código Pe- decisão e indeferir o pedido, por se aclla cum-
nal atual. Ressarcimento do dano ou in:•- prida a exigência do n. V do artigo 744 do Có-
possibilidade de o tazer. Com o ressarci-
mento, e o direito d.e o ag1tar, nada tem digo do Processo. O requerente não ressarciu
a prescrição da ação p~nal ou da. con- o dano, (não cumpriu o dote a que foi conde-
denação que é excluswa do d1re1to
penal. Desde a trc•dição d~ nosso àt- nado), nem comprovou pelos meios regulares a
reito, a obrigação q,e ressl!rc1r o. dano e
regulado pelo di.re1to C:1V1l, pedtda po! impossibilidade de o fazer.
acão civel· e assnr.•, açao pessoal que e,
presidida pelos artigos 177 e 179 do C~ Não recebemos o fundamento ela sentença,
digo Civil. Sem a prova do ressarct- de que se não trata de indenisação e sim de
mento, ou impossibilidude de o jaze!,
prova feita pelos meios regulares, nao execução de sentença. O ftriigo 70 do Cód.lgo
hà de deferir rehabilitação para pro- Penal de 1890, dizia expressamente que "a obr\-
dução dos seus jurídicos efeitos.
gação de indenisar o dano será rcgul a do pelo
Vistos e relatados e discutidos.
F. M. R. P. comerciante, diz que tendo direito civil, e o artigo 1. 548 elo Códi·_;o Ci\'il,
sido processado e condenado a um uno, pelo que "a mull~er a.gravada em .sua honra tem cll-
(43)
32() ARCHIVO JUDlCIARIO 5-3-43
reito a exigir elo ofensor, se este não puder ,ou lente livro do rrofessor Vicente de Azevedo, edi-
não quizer reparar o mal pelo casamento, um ção ele 1934, a qual vimos citando no presente
dote correspondente à sua própria condição e acordão.
estado", e enumera os casos, em que tal ocorre. São ainda do livro de Vicente de Az-evedo,
E já a lei 261 clé 3 de Dezembro de 1841, no essas conslderacões: - "prescrita a condenação,
artigo 26, dtzla que a obrigação ele indenisar só essa condenação, apesar da prescrição, p'ode ser
prescreveria em 30 anos, sendo a obrigação de alegada, corno base da ação civil ele ind-enisa-
indenizar, ele satisfazer o dano wna divida como ção?" A resposta hà de ser pela afirmativa sem
outra qu"tlquer, e tal obrigação seria pedida por dificuldade.- A prescrição da condenação extin-
ação civil - arti:so 68 da lei citada - Vicente gue seus efeitos perante a lei penal, diz respei-
de Azevedo, Crime, Dano e Reparação, - prin- to à execução da sentença. Claro que se refere
cipias que foram sufragaclos pelo Código Civil. tão só às infrações ela lei r;enal. E nYais adiante
Neste magnifico trabajho, lê-ae que "a ( cp. cit. lfls. cits) : - "no particular ela inde-
prescrição ela ação penal, ou da condenação, penclência das prescrições ciYil e penal, nossa
nenhum efeito produz quanto à reparação do legislação se apresenta de acõrdo com as mais
dano civil, pois a prescrição penal fixa-a o Có- adiantadas. No clireito civil, a prescrição re-
digo e ~s leis penais, e a prescrição cível, o Códi- pou~a sobre as presunções legais, e descn:,penlw
go C i vil nos artigos 177 e 179 e esta, a da re- ela divida; e no direito criminal, repousa sobre a
paração, como ação pessoal que é, só prescre\'e presunção legal elo desaparecimento elas p1·ovas
em trinta anos a contar do dia em que ocorreu elo crime e elas ela inocência".
o fato. Si pelo decurso elo tempo, desaparece Em nosso recente diploma ·penal, artigo 119,
por parte da Socieclacle, o interesse geral ele pu- a rel1a!Jilitação, que visa a extinçüo da pena de
nir, em certo lapso mais curto; o interess-e elo in tercliçüo de direito, exige não só as provas efe-
particular no ressurcin1ento elo dano, perdura tivas de bom comportamento, como do ressar-
muito mais tempo" (Vicente de Azevedo, fls ·
cin:,~nto do dano causado pelo <:'rime, si podia
140). jazê-lo. E se formos à matriz desse artigo, va-
E' com. o direito civil que diz essa repara-
mos encontrar no Código Penal italiano, artigo
ção, di-lo o citado escritor, fls. 294; di-lo Vi-
179: "La riabilitazione non puó cssere conce-
veiros de Castro, nos Delitos contra a Honra da duta quando il conclanato non abbia aclempiuto
Mulher, citando Francisco Luiz, e Silva Costa, e
le obbligazloni civil! derivantl ela! reato, salvo
?aula Ram:Os, e avisos, firmando que o dote não cl1e dimostri di trovarsi nella impossibilitá cli
é pena, nem multa, e sim indenisação do pref1li- aclempierle".
zo sofrido, e assim "não tem que ver com a li-
quidação ela sentença no Juizo ela execução da Bento de Faria comentaclor dos mais autori-
pena, no crime e, sim, no cível". zados do nosso Código, diz no vol. II, elo Código
Penal Brasileiro de 1940: "A prescrição da ação
A sentença criminal firma a obrigação, mas
ou da condenação não regula a da açao para o
é no civel que se a exige, e é o direito civil
ressarcimento elo dano, ou para restituição ou
que regula e preside essas relações. Assim tam-
reivindicação do corpo de delito, cujo prazo
bem, lemos em Crisolito Gusm'ão, Crimes Se-
prescricional é regulado pela lei civil". E ci-
xuais, fls. 404, apoiando-se em Bento ele Faria,
tando Penso; - Altra clltferenza é cl1e la pres-
e Macedo Soares, comentários do· Código de
crizione del reato o della pena non importa an-
1890; e abrindo-se o Código Penal de Costa c
c11e la prescrizione dell'azione civi!e cliretta, ad
Silva, pagina 332, no qual esse grande jurista
ottenere la restituzione ed il ressarcimento del
faz a distinção entre pena e ressarcimento do
danni derivanti dal jatto delituoso. De Manzi-
dano, com indicação de Florian e Bincling, con-
ni, e outros comentaclmes do artigo 198, em que
clue: - "Os princípios que regulam em nosso
se firma que a extinção do crime ou ela pena,
direito o ressarcimento do dano ex-delito, se
não importa a extinção das obrigações civis ori-
encontram no livro III, titulo VII do Cócli~o
undas do mesmo, se vê a exigência da pt·ova de
Civil, e no titulo seguinte, se fixam, as ngras
ter ressarcido o dano, ou impossibilidade de o
concernentes a liquidação dessas obrigações",
fazer, tudo justlfi~ado e provado pelos meios
- e e1n nota final da página, apontando riquís-
regulares.
sima a literatura estrangeira, aponta na litera-
tura jurídica nacional subr<: o Código ele Hl3U, Assim, não se tratando ele execuçc1o ele sen-
"A satis_iacüo elo dano ccwsaclo pelo delito", de tença, nem de prescrição penal de ação ou eon-
Si!ya Costa, e sobre o Cócligo ele 1890, o exce- clenação, como se argum'entou, e foi recebido na
(44)
5-3-43 ARCHIVO JUDICIARIO 327
sentença, e sim de prescrição civil quanto d atenuante a que o Código não se refere no
reparação do dan.o, ação pessoal que é, regulado artigo 48, prevista na legislação revogada, e,
pelos artigos 177 e 179 do Código Civil, como aliás, reconhecida contra a prova dos autos
acima demonstrado, retormarr.os a sentenç<. (fls. 211, 56 e 57) •
para indeferir, agitando o requerente os seus in- Para a fixação da pena imposta não a~en
teresses pelos meios competentes, como de di- tou, pois, devidamente o Dr. Juiz para o dllirJos-
reito. Custas da lei. to no artigo 42 do Código Penal .
Rio, 14 de Janeiro de 1943. - Carneiro da Rio de Janeiro, D. F., em 17 de Dezembro
Cunha, Presidente sem voto. Adelmar Tava- de 1942. Edgard Costa, Presidente e relator.
res, relator. - José Duarte. - Joaquim Hen- Decio Cesario Alvim - Oliveira Sobrinho.
rique Majra de Laet.
Revisão criminal n. 792
Mesmo quando fosse de se admitir como ver-
Apelação criminal n. 3. 785 dadeiro que o Códig0 Penal de 1940
excluiu entre as circunstâncias que
E' nula a sentença criminal não fundamenta- sempre agravam c pena, a da superio-
da quanto à pena fixada, por desc:u.m- ridade em arma, de modo que o ofendido
prir o disposto no artigo 42 do• Curiigo não se pudesse defender com probabi-
Penal e 387 do Código do Processo; in- lidade de repelir a ofensa ( consol. das
cide o sen prolator no pagamenco das Leis Penais - art. 39,§ so). nâo es-
custas, "ex-vi" do artigo 20 do respectt- tando ela incluiria na disposição gené-
vo Regimento. rica da última parte da letra "d" n. li
do art. 44, - ainda assim não seria de
deferir o pedido de revisão fundado na
Vistos e relatados estes auto.s, em que é aplicação retroativa da lei nova, pari)
apelante Octacilio de Almeida, condenado pela ser excluída aquela agravante reconhe-
cida na sentença condenatória. Em se
sentença de fls. 61 do Julz substituto em exer- tratando de causa julgada esta só ce-
cício na 3a Vara Criminal, Dr. Emílio Pimentel derá: 1°) se o jato considerado crime
pela lei anterior deixou de ser havido
de Oliveira, - a 2 anos de reclusão e mulla de como infração penal pela nova lei; 20)
2:000000, "mínimo do artigo 155, paragrafo 4°. n. se esta, ~mbora defina o jato como
crime ou contravenção, comina-lhe, en-
IV, do Código Penal, na ausencia de agravantes tretanto, pena menos rigorosa, seja no.
e visto a existência da atenuante do exemplar que diz respeito à duração, seja no que
concerne à qualidade ou espécie (prisão
comportamento anterior, e "bem apreciados os szmples ou multa, em vez de detenção ou
requisitos exigidos no artigo 42 do cit. Cocligo" reol1tsão; multa, em, lugar de detenção).
S~, porem, se trata de um "simples
(5>ic) : ctrcunstância", a causa ·julgada não ce-
Acordam, por unanimidade de votos, u.:. Jui- derâ.
zes da 2a Câmara do Tribunal de Apelação em Vista.s, relatados e discutidos estes autos de
anular o processo da sentença apelada, inclusi- revisão criminal n. 792, requerida por Oswaldo
ve, em diante, e condenar nas custas o Dr. Juiz Barbosa de Azevedo ou Oswaldo Barbosa Pi-
a quo, "ex-vi" do artigo 20 do respectivo Regi- mentel:
mento. Destes autos e dos em apenso, vê-se que
Assim decidem, na conformidade das ~uas o requerente foi condenado pelo Tribunal do
reiteradas decisões, por não estar a sentença Juri, em 24 de Novembro de 1939, a dez anos
apelada devidamente fundamentada, como o e seis meses de pri3ão celular (fls. 111-112 v.),
exige o artigo 387 do Código do Processo Pe- como incurso no gráu sub-médio do art. 294,
nal. § 20 da Consolidação das Leis Penais, condenação
con:rtrmada por acordão da Segunda Câmara,
Em acordão de 16 de Julho deste ano, na de 16 de Fevereiro de 1940 (fls. -142). Em
llpelação criminal n. 3. 368, já deixou esta Câ- Novembro desse ano pediu indulto e em Fe-
mara acentuado que - "embora não haja pm·a o vereiro do ano seguinte revisão, que tomou o
Juiz a obrigação de passar em revista, um a um. r<. 468, na qual alegava nulidade do processo
os elementos mencionados no artigo 42 do Có- por defeito de citaçio, pedido esse ültimo que
digo Penal, para fixar a pena aplicavel, G ne- lhe foi negado, pelo acordão de 15 de Julho
cessária, porem, que na sentença deixe eviden- de 1941. Em 6 de Abril de 1942, solicitou ao
ciado tê-los tido em atenção e considerado com r Juiz da 1a Vara Criminal, "amparado nos ter-
esse fin1". I
mos do p~rágr~fo único do art. 20 combinaria
Que ~ssim não agiu 0 Dr. Juiz a quo, ele- com os arts. 12, 121 e 42 elo Código Penal
nota a circunstância ele ter reconhecido uma em vigor", a incliviclualização e redução ela pena
(45)
328 ARCHIVO JUDICIARIO 5-3-43
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que lhe fôra imposta (fls. 178). O titular da- I derá: 1°) se o fato considerado crime pela lei
quela Vara, sem dar os fundamentos da sua anterior deixou de ser havido como infração
decisão, no seguinte e só período, deferiu o penal pela nova lei; 2) se esta, embora de-
pedido: - "Reduzo para oito (8) anos de reclu- flria o fato como crime ou contravenção, co-
são a pena imposta ao sentenciado, Oswaldo Bar- mina-lhe, entretanto, pena menos rigorosa, seja
bosa de Azevedo e decorrido o prazo do recurso no que diz respeito à duração, seja no que
retifique-se a carta de guia" (fls. 193). De se- concerne á qualidade ou espécie (prisão sim-
melhante sentença não recorreu o Promot,or Pú- pies ou multa em vez de detenção ou reclusão;
blico, pois, anteriormente, ouvido sobre o pedido, multa em lugar de detenção). Somente nes-
havia oficiado, igualmente, sem expor os motivos ses dois casos cederá a cousa julgada, e apli-
do seu parecer: "Opino pelo deferimento dope .. car-se-á retroativamente a lei nova - (Cód.
dido de fls. 178, reduzindo-se para oito anos de Penal _ art. 2.o, parágrafo único, in fine). Se,
reclusão a pena imposta a Oswaldo Barbosa de porem, se tratar de uma simples circunstância
Azevedo". atenuante, então, a causa julga~a não cederá.
Do processo em apenso, pois, não constam as Aliás, isso está claramente expresso na
razões que teriam levado o Juiz da execução a Exposição de Motivos elo Sr. Ministro da Jus-
individUalizar, reduzindo de lOV:, para oito anos tiça, ao submeter o Projeto do atual Código
a pena de prisão que r.fora condenado o ora re- Penal, em 4 de Novembro de 1940, ao Sr. lPre-
querente. Este, em 26 de Agosto de 1942, pediu siderite ela República - no tópico seguinte:
nova revisão, em petição que se vê a fls. destes "7. A seguir, o projeto resolve outras questões
autos, por ele próprio assinada e desacompanha- ele direito intertemporal. Três são as hipóteses
da de qualquer documento, pleiteie.ndo a exclu- que podem ocorrer: a) um fato considerado
são da agravante da superioridade em arma, re- crime, pela lei vigente ao tempo em que foi
conhecida por 4 contra 3 cédulas, por ocasião praticado, deixa de o ser por lei posterior; b)
do seu julgamento pelo Jurí, por não mais exis- as duas leis, a anterior e a posterior, incrimi-
tir no Cod. :Penal. Embora o Dr. Juiz da 1. a r..am o fato, mas a última comina pena menos
Vara Criminal, ao beneficiar o ora requerente rigorosa (quanto à espécie ou à duração); c)
com a redução da sua pena de 10 e meio anos ambas a.s lels incriminam o fato e comina;n
para 8 anos, não tivesse. na sua supra trans- a mesma pena in abstracto, mas a atual é, por
crita sentença, indicado os motivos de fato e qualquer outra razão, mais favoravel qUe a an-
de direito em que se fundava para assim pro- terior (como, por exemplo, se reconhece uma
ceder ( Cód. Penal, art. 42 e Cód. P. Penal, atenuante estranha à lei antiga) . " Nos casos
arts. 381 · e 387), é de presumir que tenha "a•' e "b", a lei posterior retroage, subver-
levado em consideração a alegação agora feita tendo até mesmo a cousa j1Llgada, ressalvados
pelo requerente, e outras circunstâncias quais· os efeitos civis da condenação. No caso "c",
quer ocorrentes na espécie. porem, a retroatividade da lei posterior detem-
Mesmo quando se pretenda ser verdadeira se diante da res judicata, Isto é, a lei pos-
n afirmativa de que o novo Código Penal ex- terior só se aplicará aos fatos ainda não irre-
cluiu a agravante da superioridade em arma, corrivelmente julgados. Há uma conveniência
de modo que o ofendido não pudesse defen- de ordem pratica a justificar este último cri-
der-se com probabilidade de repelir a ofensa, tério, diverso do primeiro. Evita-se com ele
r..ão podendo tal circunstância ser incluida no uma extensa e complexa revisão ou ajustamento
dispositivo genérico ela letra "d", última parte, ele processos já ultimados, Se injustiça grave
do n. II do seu art. 44, agravadora sempre surgir nalgum caso concreto, poderá ser fa-
da pena, mas, apenas, rpoclendo ser conside- cilmente remediada com um decreto de graça."
rada a fixação estabelecida no art. 42 do mes- Isto posto:
mo Código, - em qualquer dos c-asa.s não cabia Acordam os Juizes das Câmaras Criminais
ao Tribunal conceder a revisão para excluir essa Reunidas do .Tribunal de Apelação, unanime-
circunstância agravante, reconhecida pelo Juri mente, indeferir o pedido de revisão.
com fundamento nas provas do processo, .mas Custas na forma da lei.
não mais existente, o·u não mais expressamente Distrito Federal, 5 ele Janeiro de 1943.
consagrada no Código Penal vigente entre as José Antonio Nogueira, Presidente com voto.
que sempre agmv:un a pena (art. 44). Oliveira Sobrinho, relator.
Na espécie, em exame se trata de res judi-
catc!. E em tal l1ipótese o caso julgado só ce-
(46)
5-3-43 ARCHIVO JUDICIARIO 329
As '.!istorias de fls. 5 e 198 fazem certo e cessares, dos próprios títulos ele aquisição. E'
incontestavel que o imovel reivindicando cons- pois, certo que pelo menos ele 3 ele Outubro de
titue parte elo lCJtc n. 2G que o autor, credor 1G1G a prinçipios cl•c 1932, sendo dom.iciliaclos
hipotecário cxequente, arrematou justamente nesta m2sm'"L cicl,\cle o autor c Carlos Oscar
com os lotes 24 e 25, além ele outros mais, sen- Lessa - antece&;or elos réus apelados, 2stc úl-
(47)
330 ARCHIVO JUDICIARIO 5-3-43
relator e do revisor, negar provimento ao agra- vencido, tolerância que, segundo a jurisprudência
vo no auto do processo e à apelação, confirmando, das Câmaras Civeis Reunidas, pela maioria de
por seus fundamentos, a sentença recorrida. seus membros, considera como de modifkação
Bem decidiu o Dr. Juiz a quo quando, no de cláusula contratual, por assentimento recí-
despacho saneador de fls. 109, indeferiu aB di- proco dos contratantes. (ARcHivo JUDICIARio.
ligências requeridas pelos réus apelados. A vis- vol. 62, pág. 279).
toria visava os efeitos futuros do despacho de Custas pelos autores apelantes.
recebimento da apelação, como se confessa, sem Rio de Janeiro, 1 de Dezembro de 1942.
se alegar a existência de benfeitorias que aGse- Frederico Sussekind, Presidente e relator. - A.
gurassem a retenção do imovel. O exame de li- Saboia Lima, revisor.
vros não era necessário ao julgamento da cau-
sa, desde que procurava provar o pagamenw do
aluguel, em dias fóra do prazo contratual, já Apelação civel n. 2.042
constando as datas dos recebidos exibidos. -
Nos casos de .C'l'lP~ .contrat1tal não tem aplicaç(b
O despejo foi requerido eiP 10 de Setembro de os d1spostt10s dos artigos 911 e 9l'J da.
1941, por !alta de pagamento do aluguel ven- lei de processo, alteràdos pelo decreto
4.565 de 1942. Provado o contrato de
cido do mês de Agosto. A cláusula 2a do con- transporte, e transportadora terá de in-
trato determinava que o aluguel fosse pago, nos denizar os danos que causar aos seus
passageiros.
escritórios dos proprietários, o mals tardar, até o Voto vencido: Critério para a inde-
dia cinco (5) do mês seguinte ao vencido (Hs. nização. Calculado sobre os ganhos da
vítima por ocasião do acidente. Arts. 911
4). Aconteceu que o Governo havia declarado o e 912 do Código do Processo aplicam-se a
dia 5 de Setembro feriado, consagrado à Juven- todas de indenização por dano, quer na
culpa aquiliana, quer na culpa contra-
tude, realizando-se a respectiva Parada. E' fato ~ual. _"Dolo e culpa" são de aplicação
notório. nevido à inclemência .do tem;:o, foi tr:t~d1a1!a os rejeridos artigos. A retrroa-
twldade das leis não é mais princípio
anunciado, pelo Departamento Nacional de Im- constitucional.
prensa e PUblicidade, a transferência dos fes-
tejos para o dia seguinte, seis (6) . Como con- Vistos, examinados e discutidos estes autos
sequência, no dia 6 o fôro não funcionou, os ban- de apelação civel, n. 2. 042, em que são ape-
cos não se abriram. Realizou-se a Parada da lante o primeiro Aricllus da Fonseca Lobo e
Juventude, sendo o dia considerado como leria- segunda a Companhia Cantareira e Viação Flu-
do. O dia 7 foi, igmilmente, feriado nacional, ten- minense e apelados os mesmos:
do caido em um domingo. Somente no dia ,;ito, Não tem qualquer procedência o agravo no
portanto, podiam os locatários ter procurado os auto do processo a fls. 51. O pedido de
proprietários, por seus repre~entantes, para o exame nas livros das firmas para os quais tra-
pagamento do aluguel do mês vencido de Agosto. balhava o autor, alem de intempestivo é im-
Assim procederem, segt~ndo relatam as :ouas pertinente. Nenhuma razão para tais exames
na escrita comercial de sociedades estranhes a
testemunhas, que depuzeram em juizo. EnL<e-
présente demanda. Por unanimidade é negado
tanto, já no dia 8, os autores proprietários ha-
provimento ao agravo.
viam determinado aos seus procuradores a rel~les
Merito - Está provado nestes autos que
sa do recibo ao seu advogado, para o despejo
o autor so!freu grave lesão quando, viajava num
(fls. 131 v). Foi então, pelos locatários pro-
aos bondes da ré, este descarrilou. Nenhuma
movido o depósito do aluguel, em petição ante-
dúvida quanto a este fato, que a própria com-
rior à citaÇã'o para a ação de despejo. Houve, as-
panhia não negou ao oferecer suas alegações.
sim, motivo legal impedindo o pagamento até o
E' o ce.so típico da aplicação do decreto 2. 681
dia fixado no contrato.
de 1912. A transportadora terá de indenizar
E nem se compreende que os réus, locatá- os danos que ocasionar aos seus passageirO'.;;.
rios de mais de vinte anos, fossem deixar de No que diz respeito ao grau de inca,pa.aidade
pagar o aluguel, para se sujeitarem ao despejo, resultante pare. o autor-primeiro apelante -
ao pagamento da multa do contrato e á perda do como 'bem acentua a sentença de primeira ins-
"fundo de comércio", instalado no "Prédio. tância, "não tem procedência a alegação da
Acresce que os autores proprietários, por ré quando afirma que a Invalidez alegada pelo
:seus procuradores, recebiam os aluguere;; em autor teria resultado de ato &:u, que teria,
<latas posteriores ao dia 5 do mês seguinte ao executado com a perna movimentos prematu-
(50)
5-3-43 ARCHIVO JUDICIARIO 333
ros. A alegação se funda numa afinnação do criticas de vários juristas, principalmente dos
laudo de que o encurtamento'- da perna teria Deos. Gonçalves de Oliveira ( Rev. Forense 83,
sido consequência, possivel, a movimentos pre- pág. 390, Eurico Sodré, Rev. Foremse 82, 254,
maturos da vitima (fls. 63). Trata-se apenas Olymp!o de Carvalho, Rev. Forense 82, 265 e
de uma hipótese levantada pelo dr. perito Rev. Tribunais 127, pág. 648 e Felippe de Souze.
insuficiente por si para estabelecer certeza de Mattos, A.RCHivo JUDICIARIO, vol. 53, pág. 141,
que o autor tivesse posto uma concausa capaz Sup .. , e Rev. Tribunais, 127, IP!Í€· 311).
de diminuir o gráu de responsabilidade da com-
Esta Câmara, na apelação cível n. 9.601
panhia pelas consequênclas diretas do desastre"
em acordão do qual if'U[ relator, tendo as muitas
(fls. 117). Como se trata na espec!e, em apreço
considerações merecido a honra de serem acei-
de culpa contratual e não de ato illcito, não
tos pelo eminente Desembargador Candido Lobo,
é de se aplicar os artigos 911 e 912 do Código
sempre tão brilhante e erudito nos seus votos,
do Processo alterados pelo decreto 4. 565, de
pronunciou-se nos seguintes termos em relação
11 de Agosto deste ano. Assim veem enten.
aos referidos artigos: "O art. 911 do Código
dendo a maioria dos Juizes do Tribunal de
do Processo Civil contem a disposição prind-
Apelação.
pal sobre a forma de indenização (V1de H.
Justifica-se em ~ace das provas e• esclare-
Mazeand e L. M., vol. 3 n. 2.324 e seg.). E'
cimentos no processo, que o quantum a ser
fora de dúvida que adotou a capitalização da
pago ao autor seja apurado na execução tomado
renda ou pensão, de acôrdo com o sistema de
por base 81 importância de Cr$ 450,00 men-
anuidades, para durante a vida provavel da vi-
sais. As demais verbas da sentença referentes
tima, de modo a estar esgotado o capital do
aos honorários médicos:, aoo medicamentos
término dessa vida provavel (Vide R. Pirson
transportes, roupa inutilizada e honorários do
e A. de Villé, Tr. de 1"' Resp. Civ. Extra-
advogado são mantidos. Estão de acôrdo· com
Contract. vol. 1, n. 194). Tal era a nossa ju-
as despezas reais e prejulzos do autor. Acor-
dam, assim os Juizes da Quinta Câmara do risprudência dominante ... Entretanto a dispo-
'Ilribunal de Apelação, negar provimento ao sição secundária do art. 912 estatue qUe a
agravo no auto do processo, por unanimidade, sentença determine a aplicação do capital em
e dar provimento em parte, ao recurso do pri- titulas da divida pública federal para a cons-
meiro apelante para não aplicar, no caso em tituição de renda", e mais que "esse capital será
apreço, os artigos 911 e 912 do Código do Pro- inalienavel durante a vida da vitima e serã
cesso, fixando em Cr$ 450,00 mensais o orde- partilhado entre os seus herdeiros, de acôrdo
nado para servir de base ao cálculo da inde- com a lei civil."
nização, que será apurada na execução, pelos Ora. a interpretação l!terai do texto sem o
votos do relator e do Desembargador !Presi- conjugar com o preceito principal do art. 911,
dente, bem como negar provimento ao recurso levaria â conclusão (contrária ao sistema de
da segunda apelante, unanimemente. anuidades, para a capital!zação da renda ou
Custas da lei. pensão) de que o ressarcimento consistirá na
Rio de Janeiro, 8 de Dezembro de 1942. - o.tribuiçéio da propriedade sobre um capital,
Frederico Sussekind, Presidente com voto. - em títulos de dívida (pública federal, e tal que
Antonio Carlo8 Lafayette de Andrada, relator
produza a renda ou pensão arbitradas como
designado. _ A. Saboia Lima, vencido, somente pertencentes â vitima ou a seus herdeiros. E',
na parte em que não foram aplicados os ar- porem evidente que a semelhante conclusão,
tigos 911 e 912 do Código do Processo modifi- alem de importar numa locupletação à custa
cado pelo decreto-lei n. 4. 565, de 111 de Agosto do alheio, o alheio da empreza de transporte,
de 1942. Este decrP.to-le! .4. 565, corrigindo a está em. manifesta antinomia. com a dispo-
defeituosa redação dos artigos 911 e 912 do sição principal constante do art. 911.
Código do Processo, velo fazer obra de morali-
dade e de defesa do patrimônio dos obrigados, De acôrdo com as regras de hermenêutica
que se esvaia em beneficio do enriquecimento jurídica relativamente às disposições, que, na
de terceiros. Este novo decreto entrou em vigor lei, se afiguram contraditórias· cumpre ao in-
na data da sua publ!eação. como dispõe o ar- terprete esforçar-se pela concil!ação dos textos,
tigo 46. A primitiva redação dos arts. 911 e tendo sempre em vista a disposição principal,
912 do Códlgo Ido Processo mereceu seve~as afim de que esta prevaleça (Carlos Maximi-
(51)
334 ARCHIVO JUDICIARIO 5-3-43
liano, Hermeneutica, n. 140 e 171; covielo, Man. - A indenização referida no artigo anterior
de Dir Civ. It. 3a edição, pág. 78) . será fixada, sempre que possivel, na ação prin-
Os dols textos se harmonizam, o do ar- cipal, e compreenderá as custas judiciária, os
tigo 911 e o do art. 912 desde que, adquiridos honorários de advogado, as pensões vencidas e
tantos títulos da dívida pública federal quan- respectivos juros, devendo a sentença deter-
tos produzam a renda ou pensão arbitrada; minar a aplicação do capital em títulos da dí-
volte depois esse capital à empreza de trans- vida pública federal para a constituição da
porte feitas antes a dedução, no caso do fa- renda. Esse capital será inalienavel durante a
lecimento da vítima, das quantias bastante vida da vítima revertendo após o falecimento
para assegurar a renda ou pensão aos ber- desta ao patrimônio do obrigado. Se a vítima
deirO's pelo tempo restante em que foi esti- falecer em consequência do ato illcito, prestará
~ada a duração provavel da. vida da vítima. o responsavel alimento às pessoas a quem ela
O disposto no art. 912 do Código do Pr_ocesso os d-evVa, e levada em conta a duração provave!
sobre a aplicação em apollces não é faculdade, da vida. da vítilma. Neste· caso, .a reversão do
uma alternativa do -.Juiz, mas um dever impe- capital ao patrimônio do obrigado, somente se
rioso. Visa evitar que o beneficiário, mal avi- efetuará depois de cessada a obrigação de pres-
sado ou tengido pela necessidade, transija com tar alimentos".
o seu direito, ou delapide a indenização re- Estes dois artigos resolvem, de modo claro
cebida., ou ainda seja explorado pelos seus in- e certo, com espírito de justiça e equidade to-
titulados patronos. A finalidade do art. 912 doo os casos de indenização proveniente de da-
é de compensar, de certo modo, a diminuição nos, fixado a interpretação dos art. 1.·537 e
ou parada total de ~apacidade sofrida pela ví- seguintes do Código Civil. Tambem aplicam-se
tima., por culpa ·de quem a causou, e não a na reparação dos danos nos contratos de trans-
de instituir um imoralíssimo comércio de in-
portes, regulados p€lo decreto 2.681, de 1912.
denização a gronto pagamento, que precisa ser
Nesses casos a indenização é resultante de
combatido, em ·benefício das próprias vítimas,
obrigação contratuaL inexecutada, e que por co-
não só pelo judiciário como pela nobre classe
modida:de do viajante lesado, a lei estabelece
qos advogados ...
a presunção de responsabilidade do transpor-
Em •conclusão: a jurisprudência. tem man-
tador s_em necessidade da indagação da culpa
dado observar os ganhos da ou provento da
ou ato ilícito, pois o transportador não llide
vítima na ocasião do acidente, e isto com a
sua obrigação de ,reparar o dano ainda que
mais intuitiva procedência, porque se tais ga-
prove ausência de culpa de sua parte, mas so-
r..hos poderiam por causas imprevistas, ser au-
mente se provar caso fortuito, força maior ou
rruentados, poderiam igualmente seJ; diminui-
culpa exclusiva do viajante.
dos; que o critério chamado das anuidades é
o 1na;is lógieo e aconselhavel por consistir na Alega-se que no caso de viajante, não se
fixação de um capital aos juros legais, para aplio:t 0 art. 911 do Código do Processo, por-
assegurar a anuidade, isto é, uma pensão ou que o inciso se refere a "indenização prove-
renda, correspondente ao ordenado mensal da niente de ato ilícito". Evidentemente o legls-
vítima até atingir o limite provavel da exís- lador falou em sentido genérico, porque Latu
tência". Este acordão, que é de 13 de Maio sensu quem não cumpre um contrato, quem
·de 1941, foi public:tdo no vol. 5o, pág. 73 não executa o pactuado que, em virtude da ine-
de - Jurisprudência - Tribunal de Apelação, xecução contratual causa dano à outra parte
Imprensa Nacional. Esta conciliação, que o contratante tambem pratica ato !licito. H<t
acordão- procurou realizar entre dois artigos da sempre "dolo ou culpa, contratual ou extra
lei que pareciam -contraditórios, foi definitiva- contratual" na forma do art. 64 do Código
mente reali<'~-:lda com a feliz redação feita pelo do !Processo. A nomenclatura "indenização"
decreto 4. 565 nos arts. 43 e 44, referentes aos quiz se referir a todos os casos de responsabi-
arts 911 e 912, que assim ficaram redigidos: lida de quer o ato ilicito propriamente culpa
"Art. 911. No arbitramento da indenização pro- aquiliana ou culpa extra-contratual, quer de
veniente de ato ilicito os lucros cessantes serão culpa resultante de obrigação contratual inexe-
converticlos em )Jrestação ele renda ou pensão, cutada, ou propriamente contratual. Se não
mec\iante pogamento ele Ca)Jital, que aos juros •·constitue ato ilicito o exercício regulctr de um
legais, a.ssegure a.s pre.stações clevid:ls". Art. 912 direito", quem não c1.unpre um contro.to não
(5~,
5-3-43 ARCHIVO JUDICIARIO 335
seja certa e periódica, e r1ue esteja subordinado rlõdica, a comparecer diarlam<mte ao seu escrl-
ao ernpregaclor. tõrio, em horário que ficou coa·;encionado, su-
O conceito da subordinação, entretanto, va- bordinando-se aos empregadores, à sua fiscall-
ria de acordo com a natureza dos serviços pres- zaçlto. Se se trafasse de u:m.a empreitada, o con-
tados e a condição do profissional que os pres- trato escaparia á. legislação social, porque o pres-
ta. De fato, a subordinação deva ser entendida. tador dos serviços obrigava-se pela solução final
em termos, posto que se não p<>ch~ ~xlgir do mé- do trabalho e mediante o pagamento de uma re-
dico, do advogado, do professor, etc., a mesma muneração única. Distingue-se do trabalho, por-
subordinação ao empreg_ador que aquela que se que nesta prevalece o trabalho slinordinado. Pou-
verifica entre este e o trabalhacl.or !JraÇEll. Ao co Importa ainda que o contn.to tenha sido por
profissional liberal é asseguradQ.. maior Jil:erda- prozo determinado; 1lá. duas espécies de contra-
de de ação, a par da autonomia técnica. impres- to de trabalho: o de duração indeterminada e o
c!ndivel. Ainda mais, não se faz mistér que os de duração determinada. O autor agravado, nEs-
serviços sejam pre~ados com e."clusividade, pois ta ação; reclama salários e uma multa, salá.rios
a legislação não proíbe a acumulação de empre- oriundos de um contrato com o"> requisitos de
gos de care.ter privado". Essa a ori~ntação .Ee- trabalho. Para dirimir a controvérsia, para de-
guida pelo Ministro do Trabalho, em vá.r,ios pro- terminar o pagamento dos salários, a Justiça
cetsSos ("Diá.rlo Oficial" de 3 de Abril de 1941 competente é a do Trabalho.
e de 7 de Março de 1941). Custas pelo agravado.
No caso destes autos, o. proUsstonalllibe- Rio de Janeiro, 8 de Dezembro de 1942.
ral obrigou-se a prestar seus serviços aos ;agra- Fret!erico Sussekinà, Presidente e relator. - A.
vantes, mediante uma remuneração certa. e 1=-e- Saboia Lima.
~1i5)
338 ARCHIVO JUDICIARIO 5-3-43
vencimentos a que tem direito o autor, na base I tegoria. No silêncio do ato de nomeação, quan-
de 1:700$00, mensais, até final reposição, com os to aos vencimentos, a presunção legal é que a
juros da mora• .sem honorários de advogado. a·etribuição seria equivalente a que era aufe.-
Apelaram as partes, com as finalidades ex- rida pelos demais fUncionários, da mesma elas-
postas nas !Petições de fls., sendo os recursos re-· se, como ocorre comumente, mesmo porque, em.
cabidos, arrazoados e contra-arrazoados, na for- face da lei, todos devem receber igual trata-
ma processual em vigor. mento, segundo a regra salutar contida no·
O protesto judicial, realizado em 27 de De- art. 122, n. I, da Constituição Federal.
zembro de 1940, interrompeu a prescrição, inuti- Atenuadas, em-·parte, a ilegalidade e a in-
lizando o quinquênio já decorrido. Assim, a justiça que o autor vinha suportando, pelo ato
ação proposta em Maio de 1941, Ingressou em que o considerou adido junto ao Hospital Mu-·
juizo em tempo util. A reclamação administra- nicipal, com a gratificação mensal de 200$000,
tiva, todavia, levada a termo em 1938, ê de ne-
segue-se que o autor tem direito a perceber a.
nhum efeito, de vez que se consumou fora do
dl!erença de vencimentos desde 27 de Dezem-
prazo de decadência a que se refere o art. 6° bro de 1935, para que .receba o ordenado pa-
do decreto n. 20.910, de 1932. Conseguintemen-
drão de 1:700$000 mensais, a partir daquela.
te, cobravel ou exigível seria somente a difeliença
data, por força de sua nomeação efetiva reali--
de vencimentos relativa ao quinquênio anterio1·
zada em 28 de Junho do mesmo ano. A sen-·
ao protesto judicial aludido, o que significa que
tença, neste particular, está perfeitamente fun,-·
os vencimentos anteriores a 27 de Dezembro d~
damentada, dispensando qualquer outra consi--
1935 não são exigíveis, prescrito como está o
deração para que subsista.
direito à sua reclamação e percepção.
Quanto ao mérito. Ingressando no quadro Não obstante ter o autor sofrido rebaixa--
mento funcional, pela sua designação, em for-
burocrático da ré, o autor, servindo, a princí-
ma de nomeação, para servir como simples
pio, como contratado, no dia 28 de Junho de
analista do Laboratório :M;unicipal, rebaixamen-
1935, foi nomeado médico efetivo do Departa-
to esse já atenuado pelo aproveitamento da
mento de Cultura e Recreação do M:unlcipio de
atividade do autor como médico adido junto.
São Paulo. O título de nomeação não aludia
ao Hospital ~nicipal, a condenação, como de-
a vencilnentos, mas não é menos exato que o
lineou a sentença, fica circunscrita aos efeitos
ordenado padrão, dos médicos efetivos, do mes-
.patrimoniais, até que as autoridades munici-
mo Departamento ou de outros setores da ad-
!Pa1s deliberem aproveitar ou reverter o autor
ministração, era de 1:700$000 mensais, do que
ao cargo para o qual foi nomeado em carater·
é de Inferir-se que a retribuição atribuída ao
efetivo ou a outro ·equivalente.
autor, após sua integração efetiva no quadro
dos funcionários, derivou de simples equívoco Pelo exposto, acordam, em Terceira Câma-
da secção de contabilidade, que teve em vista, ra, por maioria de votos, dar provimento, em
erroneamente, os vencimentos do !unclonário parte, ao recurso da ré para reconhecer a pres-
contratado. Persistia essa situação anõmala crição quanto à diferença de vencimentos an-
quando, por ~to de 27 de Dezembro do mesmo teriores a 27 de Dezembro de 1935 e negar pro-
ano, o autor foi designado para exercer as fun- vimento ao do autor, para que subsistam os.
ções de "analista" do Laboratório de Pesquisas demais dispositivos da sentença apelada.
Químicas, constando do respectivo ato que os Custas de acordo com o vencido.
vencimentos do funcionário designado seriam São Paulo, 6 de Maio de 1942. Mario
de 1 :000$000 mensais, ao mesmo tempo que se Guimarães, Presidente. - Leme. da Silva, re-
nomearam novos médicos com os v~ncimentos lator designado, vencido em parte, pois dava
de 1 : 700$000 . provimento ao recurso do autor para o efeito
Esse ato é passível de censura jurídica por de conceder a verba de honorários de advoga-
atribuir ao autor serviços realizaveis por pes- do, na base de 10 'lo sobre o montante atual.
sõa leiga, e, bem assim, por ter fixado seus da condenação, atendendo a que a atitude da
:vencimJentos em dissonfmcia com a remunera- ré, sobre ser ilegal, foi de protelação pois até
.Ção que deveria recolher como funcionário efe- agora não solucionou a reclamação administra-
tivo, do quadro médico ou seja na base a1lfe- tiva. esboçada pelo autor, forçando este a lan-
rida pelos demais funcionários da mesma ca- çar em juizo a competente ação para restau--
(57)
340 ARCHIVO JUDICIARIO 5-3-43
ração de seu direito violado. Deve, pois, a ré gulss!mas pretensões e que se não diga em oue
arcar com a despesa referida, para que se não direito .tais pretensões se baoeiafu. Qual o ar-
~esfalque a Indenização que o autor vai rece- tigo de lel que justifica o pedido .ao autor? Não
ber. - J. B-arbosa de Almeida, vencido. Dava o encontro nem nos articulados, nem nos "rra-
provimento, em parte, à apelação do autor, e zoados e nem nas decisões .
negava à da ré. - Alcides Ferrari, vencido. Porque há médlcm na Prefeitura que ga-
Dava provimento à apelação da ré, para julgar nham 1:700$000 há de se admitir que todos
a ação improcedente, e julgar prejudicado o os médicos ai, devam ge.nhar essa quantia?
recurso do autor. Parece-me que não. Em todas as repartições
Não acolho• a alegação de prescrição '>P.não há diversidade de venci!llentos: na Magistrar-
para os o.tos anteriores a 27 de Dezembro de tura, no Ministério Público, onde todos são ba-
1935. A reclamação a.dministratrva de 2 de Ju- chare'is; nos departamentos de Educação, onde
.nho de 1938 é inócua à vista do disposto no ar· todoo são professores; nos de Saude, onde to-
tigo 6° do decreto n. 20.910, de 6 de Jant!lro de dos são médicos; nos escritórios, onde todos
1932, uma vez que foi apresentaae.· mais de ano são contadores, etc.
depois de qualquer ato dentre os reclamados. AdmitirJse a alegação de equivoco da se-
·Vale, pois, .apenas o protesto de 27 de Dt- cção de contabilidade é difícil; os vencimentos
zem'bro de 1940. AliáS, mesmo qu::.nto aos atos continuaram a ser de 1 :000$000 porque o apro-
prescritos, a recllílhação n!lo teria. fundarnellt.O veita_mento, segundo a !e!, teria de :ser feito
legal. com os mesmos vencimentos.
Consequentemente o único ato a ser apre-
E' evidente que, se se tratasse de equivoco,
ciado é o de 21 -de Dezemfuo de 1935, pelo qual
.o Prefeito "usando das atribuições que lhe são as reclameçôes do autor teriam sido atendidas .
conferidas peJo art. 42, item 4o, da Lei de Or- Quem nomeia, promove, remove e demite os
funcionários municipais é o Prefeito e de acôrdo
gamzação Munrclpal n. 2.484, de 16 de Dezem-
bro de 1935, e nos termos do art. 9.o, do ato com as leis. Seus atos, quando mesmo in-
,n. 984, de 27 de Dezembro de · 1935, resolve justos - no sentido em que essa expressão é
aprove1tar o Sr. Dr. Rubens Cordeiro Leite, empregada - não sendo ilegais, escapam à al·
médico da ,secçà:O de Parques 1Ii!ant1s da Divi· çada do Judiciário, cuja Intromissão em atr1·
buições alheias não é regular.
são da E"ducação e de Recreios do Departamen-•
"to de Cultura e Recreação no cargo de analista O Invocado artigo 121, § 10 letra "a" d.a
do Laboratório de Pesquizas Químicas, perce- Constituição Federal de 1934 não aproveita ao
bendo o ordenado mensal de 1: (J00$000. " autor, pois que proibia diferença de salário
Mas, esse ato !oi absolutamente legal, -pois para um mesmo trabalho "por motivos de
que foram mantidos os vencimentos e não hou- idade, sexo, nacionalidade ou estado civil" e
ve o alegado rebaixamento. O cargo de anallsta riâo por motivo de d!ferança de categoria, com-
era ,para ser exercido por médlc6 . petência, tempo @ serviço, etc.
E' interessante qUe se arme um. ;processo Em última análise: a pretensão do autor
do porte do presente, com. largos debates e !ar- não encontra fundaménto legal.
(58)
5-3-43 ARCHIVO JUDICIARIO 341
que ele possa fazer o serviço de que foi encar- reconvenção num total ele CrS 16.000.00. A re-
regado. Não hà dúvida que o contrato do ad\'O· tribuição é devida pelos serviços realmente preS-·
gado, que participa da representação, se reveste tados. Não importa que a contestação seja di-
de características de locação de serviço. A es- ferente ela reconvenção. Não interessa a cir-
fera ela locação de serviço é, porem, mui limita- cunstância de ser esta um·a contra-ação, uma
da para conter os principais reguladores da atio ação dentro de outra. Nem pode ser levada em
vidade J1rofissional em relação ao cliente e ter- conta a afirmativa de que a reconvenção seria
ceiros. julgada procedente, graças à temeridad·e da lide,
Não existe em direito civil um instituto em profissionais executados na ação devem ser exa-
que caiba inteiramente o contrato do advogado. minados no seu conjunto. Não se justifica que
A missão dos advogados não consiste só em no mesmo processo, se separe a contestação da
defender os clientes. São eles auxiliares da ad- reconvenção. Deve o autor receber pelos servi·
ministração da Justiça. O Estado não pode ços prestados nesta causa a importância de ...
di!UJensá-los embora não .sejam fllncilonáric.s, Cr$ 8.000,00, correspondente a 10 % sobre o va-
exercem uma função pública. No caso de assis- lor da ação, com o que, allá.!l, está, de acoroa
tência judiciária corre-1hes a obrigação de acei- a ré. O autor não fez jús à quantia maior;.
tar o patrocinio de um cliente desconhecido, pois a ação não ohegou a seu termo. No perio-
sem estipulação ou direito ·à retribuição. A do de instrução os contendores puzeram fim à
advocacia é um nunus publicus, uma ocup'açãc. contenda judicial.
de serviço público. Applewn, no Traité àe La
IV - A sentença apelada estimou os servi-
Profession à'Avocat, escreveu que a assistência
ços extrajudiciais em CrS 7. 800,00. Foi justa a
em justiça é, antes de tudo uma operação de
estimação. A ré não contestou o valor dado
serviço ;público. O contrato de advogado é, \POis, a esses serviços. Limitou-se a sustentar a pres-
contrato de direito público. crição da ação do advogado para pedir o paga-
Entre o advogado e o cliente quasi sempre mento dos honorários por trabalhos prestados
existe mandato expresso. Muita vez falta a re- extrajudicialmente.
presentação. Hà serviços judlctats; hà-011 extra- A prescrição do artigo 178, § 6, n. X do Có-
judiciais. O advogado às vezes dá consultas, de- digo Civil aó se refere à ação para pagamento
fende causas administrativas fiscais, compare- de serviços judiciais. Pois o dispositivo que deve
ce a conferências, promove acordos, redige con- ser interpretado restritamente por se tratar de
tratos e dlstratos, assiste a lavratura de do- prescrição fala em. procurador judicial, Assim,
·cumentos públicos ou p·artlculares, locomove- a prescrição dos honorários por serviços ex-
se a lugares afastados do centro de sua ativida- trajudiciais é de trinta anos, na forma do artl-
de, sacrifica o seu expediente diário para aten- go 177 do Código Civil.
der ao cliente. A ação do autor contar a ré não se acha
Os serviços advocaticios, sejam quais forem prescrita. Porque é decorrente de serviços de
devem. ser pagos. Não havendo contrato .feito advocacia prestados fóra do pretório. A conde-
com o cliente, nem chegando as partes a acordo, nação da ré, adicionadas as duas parcelas de
fixar-se-á a retribuição por arbitramento judi- honorários relativos a trabalhos judiciais e ex-
cial. trajudiciais, é fixada em Cr$ 15.800,00 além
III - Todos os serviços profissionais recla- dos juros da m'óra, que devem ser contados na
mados foram realmente prestados pelo autor a forma da lei.
ré. Entre o advogado e cliente não houve con- A' vista do exposto,
tra to escrito . Nem tão pouco acordaram. no va- Acorda a Primeira Câmara, depois de re-
lor da remuneração. jeitar a matéria de prescrição, dar em parte pro-
O autor na qualtdade de advogado da ré, vimento à apelação da primeira apelante, fican-
contestou a ação ordinária contra ela movida do prejudicada a do segundo ap·elante, unani-
por Maurice Danon. No mesmo processo, dentro. memente.
do termo legal, apresentou reconvenção. Antes Custas ex-lege.
da causa atingir a decisão final, os contendores Niterói, 8 de Fevereiro de 1943. - Olde•
entrararn en1 acordo. mar Paclteco, Presidente aà hoc. - Ivair NO•
A sentença apelada condenou a ré a pagar gueira Itagiba, relator. - Macedo Soares.
Cr:S 8. 000.00 pela contestação e CrS 8. 000,00 pela
(60'
5-3-43 ARCHIVO JUDICIARIO 343
para receberem dos antecessores a posse d06 os atos inaproveitaveis, e determinar a prática.
bens elo mandante. dos que são indispensaveis, para que a ação se
A imissão de posse não é propriamente processe, quanto possivel, pela forma adequada ..
uma ação possessória. ];>arque pressupõe a exis- Na espécie nada há que possa ser aproveitado.
tência dO domínio. E é o domínio que dá di- Pois não cabe a ação de despejo com apoio no.
reito à ação de imissão. Os adquirentes dos art. 1.209 do Código Civil invocado.
bens, ao promovê-Ia, exercem o direito de pro- O decreto-lei n. 4.598, de 20 de Agosto <ie·
priedade diretamente; os administradores, re- 1942, em cuja vigência foi proposta a ação, só
presentantes ou mandatários exercem-no indi- autoriza o despejo nos casos previstos no seu
retamente. art. 4.o. Dentre eles não se enquadra o des-
Não se verifica na espécie nenhum dos ca- pejo por motivo de não convir mais a locação.
sos que autoriza a ação de imissão de posse. O réu está em dia com os seus alugueres. A
o apelado é locatário. Ocupa o prédio como ação de consignação de pagamento movida con-
inquillno. O próprio apelante reconheceu essa tra o apelante foi julgada procedente. Para a.
circunstância. Por não lhe convir mais a lo- sua própria residência no prédio, era de mister
cação é que notificou o réu para entregar o ·que o proprietário fizesse a notificação com o
prédio dentro em trinta dias, com fundamento .prazo de três meses. Não consta que o prédio
no art. 1. 209 do Código Civel. Nos casos de necessite de reformas urgentes. Não se pode-
locação, expressos nos arts. 1.193, 1.195, 1.197, converter, nos termos em que foi requerida, a.
1.209. e 1.212 do Código Civel, a ação cablvel ação de imissão em ação de despejo.
é a de despejo. E' este o meio judicial~conce-
A' vista do exposto,
dido ao locador para compelir o locatário a
desocupar o prédio locado. Acorda a Primeira Câmara negar provimen-·
A ação intentada é imprópria. A impro- to à apelação, unanimemente. Custas na forma.
priedade da ação não importará nulidade do da lei.
processo. Segundo o disposto no art. 276 do Niterói, 8 de Fevereiro de 1943. - Oldemar
Código de Processo Civil, verlificada a impro- PMheco, Presidente. - Ivair Nogueira Itagiba~
priedade, compete ao Juiz anular tão somente relator. - Macedo Soares.
-·-
(63)
346 ARCHIVO JUDICIARIO 5-3-43
São palavras do primeiro desses in3ignes ju- co. do Código Penal. Não se trata ele mero in-
ristas: cidente ele execução, mas de um característt-
"Em matéria penal, o princípio regulador do co essencial ela pena". "A lei que regula o lt·
conflito de leis no tempo é o da lei mais favo- vramento condicional é autêntica lei ·penal. E
ravel (Consolidação das Leis Penais, art. 3.o; não é mais grave somente a lei penal que de-
Constituição Federal de 1934, art: 113, ns. 26 fine um crime ex novo ou exagere a pena comi-
e 27; e Constituição vigente, art. 122, n. 13); na pela lei anterior, senão tambem aquela que,
não o do respeito aos direitos adquiridos, que em ele qualquer modo, se apresenta mais favoravel
matéria penal não os há. O livramento condi~ ao réu. Se a lei nova deixa ele conceder um
cional, reduzindo ao mínimo a privação da li- beneficio que a anterior outorgava, é, sem du-
berdade imposta ao condenado como etapa fi- vida, mais grave elo que esta e, portanto, não
nal elas penas ele prisão, imprime à pena em que tem efeito retroativo. Eis a lição de Manzini"
êle é facultado, sob certos requisitos, natureza (re<:urso criminal n. 2. 092, in ARcHrvo Junr·
peculiar, modificando-lhe essencialmente a qua- CIARIO, vol. LXIV, págs. 365 e 366).
lidade ou intensidade. Assim, fazendo o livra- V. Aos lógicos EJ. lúcidos votos citados não
mento condicional parte integrante ela pena cá- há necessidade de acrescentar outros argumen-
minada na lei, como um elos elementos ela pri- tos, bastando apenas assinalar que é o próprio
vação ou restriçãD peculiar ele direitos que a Código Penal que entret~ce o livramento con-
constitue, é manifesto que a lei que veda para dicional na pena, colocando-o, em capitulo es-
certos crimes. o dito beneficio, agrava-lhes a pe- pecial, no seu titulo V, que trata das penal!.
naliclaele c, em rigor, sustitue por outra mais P&ra o Código é, pois, o livramento condicional,
grave a pena antes cominada na lei. Do expos- consoante o conceito do preclaro Carvalho Mou-
to resulta <,'Ue, nos expressos termos elo pre- rão, "parte integrante da pena cominada na let,
ceito constitucional citado, a lei nova que, para como um elos elementos ela privação ou restrição
os conelenaclos por certos crimes, aboliu o be- peculiar de direitos que a constitue", e impri-
nefício elo livramento condicional, antes facul· me á pena em que, sob certos requisitos, é fa-
t~c!o. não se aplica aos casos anteriores".
cultado, "nature:;a peculiar, modificando-lhe
E' elo voto elo Ministro Orozimbo Nonato a e:osencialmente a qualidade ou intensidade''.
seguinte as.serção:
"Os motivos que levaram a carta ele 1937 a Assim sendo. há jurielica.s razões para incluir
impedir a agravação da pena ao" crin1inoso. a o l!vramento condicional no amparo do art. 122,
lmpzclir a w.sravação da sua situaçüo penal, são n. 13, ela Constituição Federal e para o con-
de direito universal. Ninguem negará que é uma , sicler?.r tambem compreendido no parágrafo
mitigação ela pena. uma pena cumprida branda- único do art. 2.o elo Código Penal.
mente: o lirramento condicional constitue um
VI. No caso elos autos, é patente a dispa-
benefício aos réus c como este beneficio não es- ridade de situações do paciente em face da lel
tava excluido ela lei. no regime da qual prati- atual e ela anterior, contemporánea dos seus cri-
caram eles o delito .• foram processados e jul- mes. Pela lei antiga, precisará ele, para alcan-
gados, não se c.eve aelmit'ir a aplicação ela lei
çar o livramento condicional, de quatro anos,
posterior" ("Habeas-corpus" n. 1.409, de Flo-
quatro meses e quinze dias ele prisão; pela lei
rianópolis, julgado a 14 dP. Outubro de 1942, .re-
nova, que instituiu a reincidência genérica (Có-
lator desembargador Silveira de Souza, in Diá-
digo Penal, art. 46, § 1. 0 , n. I), condiçãD em
rio Oficial ele Santa Catharina, de 18 ele Novembro
que o considera o juiz, precisará desse tempo
de 1942. Jurisprml.ência elo Tribunal ele Apela-
ção).
e ele mais met_ade, isto é, ele seis ·anos, seis me-
ses e vinte e dois dias ele privação da liberda-
IV. Igual doutrina assentou, em decisão de
de.
21 ele Setembro ele 1942. a Primeira Cãmara do
Tribunal de Apelação do Distrito Federal. "O Em outros termos: pela lei anterior, pode-
Instituto do livramento condicional, - diz o rá receber imediatamente o beneficio requerido,
acórdão respectivo, que foi lavrado pelo douto ao passo que, pela lei ora vigente. terá ainda
desembargador e criminalista Nelson Hungria, ele permanecer encarceradc cerca ele dois anos.
- é de clireito penal material e regula-se, no Basb estR computo para mostrar que a
caso elo conflito ele leis sucessivas, pela zex mt- pena é ngTavada pela lei nova, e que esta, por-
tior. na conformidade elo art. 2. 0 , parágrafo únl- tanto, não pode ser aplicada ao caso sub-juelice.
(65)
AHCHIVO JUDICIAniO 5-3-43
-------------
O paciente não pode, por conseguinte, ser de votos, deferir o pBdido, para conceder a Es-
·considerado reincidente, pois que não o era pela menio Rosalina da Silva o livramento condicio-
lel anterior, sendo ainda de notar que, em ma- nal, cujas condições serão determinadas pelo
téria de reincidência, é preciso ter presente o Dr. Juiz de Direito da cõmarca de São José, de
que determina o art. 18 da lei de introdução do conformidade com o art. 721, do Código de Pro-
Código Penal (decreto-lei n. 3. 914, de 9 de De- cesso Penal .
l;!embro de 1941) . Sem custas.
VII. Em face do exposto e porque, con- Florianópolis, 8 de Janeiro de 1943. - Me-
forme reconheceu o Conselho Penitenciário, tem deiros Filho, Presidente. - Henrique Fontes, re-
o paciente as condições necessárias para ser lator para o acordão. - Urbano sanes, vencido.
atendido na sua petição: - Silveira àe Sousa. - Luna Freite.
Acordam, em sessão plenária das Câmaras Foi presente ao julgamento o Sr. Dr. Pro-
Reunidas do Tribunal de Apelação, por maioria curador Geral do Estado. - Henrique Fontes.
(66)
5-3-43 ARCHIVO JUDICIARIO 349
JULGADOS E PARECERES
funclamento no art. 552 e seus parágrafos do Civil, se sentiu "autorizado a dizer que as di-
Código de Proces5o Civil (doc. ele fls. 2). vicl-:'Ls ativas ela União e c!C'3 Estados, como
Autuada e despachada a petição inicial ele bens públicos, escapam à presc.riçii.D, iJorque
fl's. 2 regulaTmente instruida com os does. ut tais bens som·ente perdem a sua inalienabil'-
fls. 3 usque, fls. 18, foram ouvidos os Fiscais, dade por determinação expressa ela lei" (Teoriu.
havando o digno Dr. 7o Procurador· dü· Pre- Geral do DiTeito Civil, Rio, Francisco Alves, 2a
feitura do Distrito Federal requerido o paga- ed. 1929, § 90, n. V. pàg. 417). Realmente,
mento do imposto devido pela instituição do como diz e bem, Câmara Leal, "se fl critérlo
usofruto no estrangeiro sobre o imovel situado ela imprescritibiliclacle é a inoalienabilidade, essa
nesta capital, com fundamento no art. 43, 7J, !i relativa, quanto aos bens públicos, porque o
do decreto n. 4.613, de 2 de Janeiro de 1934 próprio Código admite que eles percam a ina-
( cóta de fls. 29), contra o qmil foi invocada lienabilidade, que lhes é peculiar, nos casos e
a prescrição fundada no art. 177 ex-vi elo arti- forma que a lei prescrever. Aclemais, _ acres-
go 179 do Código C i vil (doe. de fl~. 30) , ao centa este ilustre civilista - tratando-se de cll-
passo que o ilustre Dr. 2o Cm·ador de Resíduos nheiro, objDto ele direitos creditórios do Estado
opinou pela incompetência desta jurisdição sob ou de suas dívidas ativas, ele é, por sua natu-
c fundamento de que a extinção do usofruto reza, alienavel, porque se destina à viela finon-
c'.everá ser processada e julg•:tda pelo juizo elo ccira ela Nação, entrando para os cofr2s públi-
inventário, nos termos do art. 552 do Código cos e deles saindo para o património parti-
de Processo Civil (cótas de fl\3. 31v. e 34), o cular, por meio ele pagmu.entos a funcionários
que tambem foi objeto de contestação (doe. de e a credores elo. Estado" (Da PTescrição e da De-
tis. 33). cadência, São Paulo, Saraiva & Cia., 1939, nú-
letra b .elo Decreto n. 4 .613, ele 2 de Janeiro partilha nos autos elo innent{trio elo de cujus
de 1934 pois que as taxas de imposto ele trans- processado no Juizo ele n:reito ela 1" Vam Civ-el
mis-são ca11sa-mortis sempre serno as ela legisla- da Comm·ca elo Pmto, República ele Portugal,
ção em vigor ao tempo elo falecimento elo tes- tt conclusf\o que nccessarim112nte se impõe é a doe
tado ou intestaclo, segundo o Alvará n. 512, ele que a eficácia em nosso território n:lcional, quer
13 ele Novembro ele 187;:, e os arts. 30 e 51 entre a:s próprias pactes como em relação a ter-
daqueles outros dois diplomas ele lei fiscal. ceiros, sómente se opex~ria após a sua homo-
Em tais hipóteses permitir que o prazo logaçào pelo Colendo Supremo Tribunal Fe-
trintenal previsto no art. 177 do Código Civil ct.eral. R.ealmenta, a execução extrnterrit<Jrial
comece a correr do dia d(\ instituiçã<J do usofru- elas sentenças é uma exceçüo ã regra geral ela
to no estrangeiro sobre imovel situaelo no Brasil, territorialidade das leis ele outro Estado que não
·sobre nf\o ser juct•J, tamlJom neto atcncl-c ao poclen1 rcye~tir-Ec de aL,tol·i::ladc: ele cou:=;Ct jul-
fundamento filo~ófico elo instituto jurielico ela gael•.c fóra elo csprrço ele surr juri:iclicCw, ~cob
(691
352 ARCHIVO JUDICIARIO 5-3-43
pena de ser lesada a soberania nacional. Mas I Portanto, llavenc'o '3iclo publicaclo a 13 ele-
como, s2gundo S3.muel Martins, "furtar-se um Maio ele 1942 o venerunclo acordam elo Colenelo~
1
Estado à execução destas sentença é estatua Supremo Tl'ibunal que homologou a sentença
e.ste o princípio do injusto e do desonesto nab de partilha elo imovel ela rua Senador Pompeu~
relações internacionais e abrir um espaço que o n. 168, nmta Capital proferida a 3 ele Abril de
isola da comunhão mundial, por não obrigao- 1908 no Juizo de Direito ela 1n Vara Civel da
rem as suas leis o executado a satisfazer os Comarca elo Porto, República de Portugal, e
seus compromissos contraídos no estrangeiro e pela qual no processo de inventário ele João
de boa fé" (Execução das Sentenças Estrangei- Manoel Gonçalves foi acljuclicacla a núa pro-
ras, Recife, Ed. Edelbrock, 1906, n. 18, págs. priedade às filhas elo casal, tendo sido institui-
41-42), o nosso legislador houve por bem dis- elo o usofruto a favor ela viuva por ter pa.ssuclo·
pôr em que condições é admissivel a eficacia a segundas nupcias por força do art. 1. 236 ex-vi.
das sentenças estraugeiras no território nacio- elo art. 1.109 elo Código Penal Português (certs,
nal no Decreto n. 3. 084, de 5 de Novembro de ele fls. 7, 8, 9, 14v. e 15), não resta, pois, a me·-
1898, no art. 16 da Introdução do Código Civil r.or dúvida. que sómente ,daquela data da ho-·
brasileiro e no art. 15 do decreto-lei n. 4.657, mologação é que começou a correr a prescriçã:>
de 4 da Setembro de 1942. elo art. 177 elo Código Civil Brasileiro contra a
Ora, tanto o art. 16 da Introdução do Có- '?refeitura elo Distrito Federal para o efeito ela
digo Civil como o art. 15 do decreto-lei nú- cobrança. elo imposto devido pel•2L instituição ela-
mero 4.657, de 4 de Setembro de 1942 que o que usofruto legal na conformidade dos arti-
n<celificou, não decl'U'aln expressamente . que a gos 14, n. 2.o e 30 do decreto n. 2 .800, ele 19 d~
homologação tenha por fim a publicidade das Janeiro ele 1898 que era. a legislação então em
decisões estra.ngeiras no território naciona.l; fü- vigor segundo a regra elo alvará n. 512, de 13
zem-no, entretanto, o art. 17 da. Introdução do ele Novembro ele 1875, o art. 30 claquela diploma
Código C i vil e o do decreto-lei n. 4. 657, de 4 legal, e ainda o art. 51 elo decreto n. 4. 613,
de Setembro de 1942. quando afirmam que to- de 2 de Janeiro ele 1934.
davia tais decisõe.3 não terão eficácia no Brasil Mas posto que assim mesmo não haja. in-
quando ofenderem g, soberanio:1 nacional!, a or- corrido na. preorição, não vejo porem como possa
dem pública e os bons costumes. !Portanto, a agom a Prefeitura do Distrito FecJ,eral exigir
homologação n'ão tem apenas por fim outorgar- neste processo de extinção ele usofruto daqueles
lhos vigência extraterritorial, mas tarnbem dar que são os nús proprietários o imposto cleviclo
eficácia às sentenças estrangeiras que tenham pela. sua. instituição.
de vigorar em nosso País, eficácia que não só E se assim decielo é porque reülmente não
envolve a idéia de execução como tambem con- há mais que se falar na sua constituição quan-
e!iciona a ieléia de produção ele efeitos, que nacla do já se trata nestes autos da extinção pleno
mais são do que corolários ele sua publicicla.de. jure elo usofruto. Com efeito, como clispõe E'X-
Por conseguinte se estão sujeitas à homo- pr-E·<osamente o art. 739, I elo Código Civil, a
logação as sentenças estrangeiras ele partilha exemplo do que detern<ina outrossiln o art.
noa processos ele inventário para que produzam 2. 241 do Código Civil Português, pelo simples
s~us efeitos, quer entre as próprias partes como fato ela. morte elo usofrutuário se extingue de
em relação a terceiros, no Brasil, não há dú- pleno direito o usofruto porque, e.3tanclo vin-
vida que sómente do ato homologatório do Co- culado à pessoa a cujo favor foi instituído por
lendo Supremo Tribunal Federal é que tais cle- ato intervivos, por causa-mortis ou ex-vi-legis,
c~sées poderão ser erga omnes consideraclas res nada mais é elo que uma servidão pessoal, o que
judicata para o fim de gerar clil'eitos e crear foi, aliás, suficiente para que o egrégio Clovis
obrigações. Em consequência, tão sómente a concluisse num•2L síntese feliz que "a 1norte ex-
publicidade elo acordam que homologa a senten- tingue n~c.';Sa.riarnR'nte o u.sofrubo" (Código
ça c~'trangciro.. é que lhe dá vigência, a torna Civil, Rio, 1938, 5a ecl., vol. UI, pág. 311) .
eficaz e faz com que daí em deante se presuma E neste sentido é unãnime a lição elos dou-
j1'ris et ele jure o seu conhecimento por ter- tos, tanto assim que Didimo Agapito da Veigrs
ccci!·,;s pena crea.l'-lh"s cbl·igaçõ;cs ou pern<itir- 11oU\'e por bern concluil' que "o preceito que
declara 6er a rnortc elo usofrutário causa da
!_'i'OJ
5-3-43 AHCHIVO .JUDICIARIO 35R
fruto náo se pnga integralmente pois em regra Direito ela 1" Vara Cível da Comarca elo Porto"
a lei impõe aos beneficiários o encargo propor- em Portugal e de haver sido e ainda ser o do-
cional à vantagem, pagavel no momento de au- micílio do de cujus, da usofrutuária extinta
ferí-lo. Assim, o § 1. 0 dispõe sobre o pagamento e das n úas proprietárias naquele país.
do imposto que haja sido parcialmente deferi- Com efeito, não há como negar que o fôro
do" (Comentários ao Código de Processo Civil do do domicílio do de cujus é o competente para
Brasil, São Paulo, Saraiva & Cia., 1941, vol. H, o inventário, a part1lha e todas as açtíes rela-
páJg. 479). tivcls à herança, segundo a regra do art. 135 do
Nem se diga, em contrário dest•:1 razão de Código de Processo Ci\;.il. Mas como observa.
decidir, que, na espécie destes autos, porque os com justa razão o eminente jurista Pedro Bap-
nÚ's proprietãirios sejam herd·eiros necessá1rios tista Martins, "o fôro do domicílio do defunto
da usofrutuária com relação aos bens que por- é o competente para todas as ações relativas à
ventura existam e lhes caibam por força da heran-;;a enquanto esta se conservar indivisa"
abertura da sucessão, devam responder pelas di- (Comentários ao Código de Processo Civil, Rio,
vielas da de cujus, na conformidade dos arts. Ed. da Revista Forense, 1941, vol. li, n. 23,
1. 792 e 2. 019 elo Código Civil Português, já que pág. 49). Mas concluído o inventário, julgae\:1
o óbito ocorreu em Portugal (cert. de fls. 3 a partilha, e, portanto, desaparecido o estado de
e 4). E não se clriga porque, como ensina Lacerda inclivi:são, não mais tem aplicnção a regrn do
de Almeida, "a morte elo usofrutuárlo extingue art. 135 elo Código ele Processo Civil que passa
o usofruto como direito essencialmente pessoal a dar lugar à norma conticln no art. 134 ou no
que é: o uso fruto é in transmissi vel por heran- art. 136 elo citado diploma legal.
ça" (Direito das causas, 'Rio, Ecl. Jacinto, vol. E' bem vere! nele que o art. 552 in-fine elo
I, § 73, pág. 399), e, mesmo que assim não fosse, Código de Proc2sos Civil dispõe que n extinção
náo se compreenderia que o nú proprietário, na cto usofruto será processado e julgada pelo juizo
posição jurídica de herdeiro necessário elo uso- do inventário do testador ou pelo juiz elo elomi-
frutuário, viesse a ter, por morte deste último, cilio elo do•:~ dor. Mas, na hipótese cls autos, não
. o usofruto a titulo de herança, eis que esta se tratn ele usofruto instituído por disposição
s2rvidão pe:ssoal se extingue em virtude da- de últimn vontade ou por qualquer doaçáo, mas
quele evento por forç•:l ele lei para o efdto de por elisposição ele lei por isso que n mãe binuba
consolidar a propriedade. E se o nú proprietá- sóment:: pócle ter o usofruto do bem ela fillla
rio não herda do usofrutuário o seu direito ele elo primeiro leito, na conformidade do art. 1. 236
fruição da coisa de que já tem domínio e posso ex-vi elo art. 1.109 elo Código Civil !Português.
indireta, não póele nem deve re~oneler pelas E mesmo que assim não seja, a verdade é que
dividas que este contraiu com a instituição do aqueln clisposlçi\o {le nosso direito processual
uwfruto nos autos ele sua extinção. A di viela em vigor sómente pócle ter «plicaçáo territoriaL
fi;scal do de cujus que porventura pass-ar ao es Nestas condições, razões ele ·ardem práticl\, ele
pólio não pod·erá ser cobrada, pois, em processo arrecadaçüo fisc.al e de economiü processual,
de extinção ele usofruto, no qual os nús pro- estfw a indicar n aplicação em llipótese.s iclên-
prietários apenas estão. obrigados ao pagamento ticm;; à ele que se «gita no ventre destes autos
elo onus proporcional que lhes compete por for- eln regra de competência pela qual no:ts ações.
çn elo que dispõe o art. 43, letra c elo decreto relativas a imovel deverá ser competente o fôro.
n. 4.613, de 2 ele Jo:~neiro de 1934. ele sua situação, consagrada no nrt. 13.6 do Có-
li - Com relação à segunda questão este digo ele Processo Civil. Pouco importa que, as-
Juizo tambem não tem a menor dúvida em re- sim o determinando, haja o legislador ressalvado
conhecer a sua competência para o efeito de de- o disposto no al't. 135 do mesmo diploma legal,
clarar a extinção elo usofruto instituído sobre o em que se apoiou o ilustre Dr. 2.o Curador de.
1movel cln run Senador ·Pompeu n. 168, na Fre- Resíduos para negar a competência cle9te Juizo
guezia ele E:ant' Ana, nesta Capital, apesar dele ( cóta ele fls. 34 e 34v.) . E pouco .importa por-
hnver sido constituído por forçn elo que deter- que, fnzendo aqueln ressalva, con1o diz ainda
mina o nrt. 1.236 ex-vi elo a.rt. 1.109, elo Có- Pedro Baptista Martins, apena5 "a lei reconhe-
digo Civil Português, nos autos do inventário eie ce expressamente a prevalência elo fôro do in-
Joi\o Mrlnoel Gonçalves. processado no Juizo ele ventário para as ações. mesmo reais ou relati-
(72)
5-3-43 AHCHIVO JUDICIARIO 355
vas a imoveis, que se propu:serem contra a he- Bevilacqua (Direito Internacional Privado, Rio,
rança indivisa" (Obr. Cia., n. 24, pág. 51), e, 1938, 3a ed., § 33, págs. 231-238) .
no ·caso de quo agitur a extinção do usofruto Ex-Positis:
se operou quando a herança já havia saído do Por todos estes fundamentos hei por bem jul-
estado de indivisão por efeito da sentença de gar, como julgo competente este Juizo para de-
partilha com t1·ânsito em julgado (cert. de fls. clarar a extinção do usofruto instituido no es-
8v. e 9).
trangeiro sobre !movei situado no território na-
cional e o direito da Prefeitura do Distrito Fe-
Ora, o art. 136 do Código de Processo Civil deral a cobrar tão sómente nestes autos o 1m-
estabele<:eu o jorum rei sitae para todas as posto. devido pelos nús proprietários na confor-
ações destinadas à defesa do domínio ou· posse midade do art. 43, letra c do decreto n. 4. 613,
ou relativas a direitos reais sobre imoveis, mes- de 2 de Janeiro de 1934.
mo provenientes de herança desde que esta já Clli>'tas ex-lege.
tenha :saldo de seu estado de indivisão oi'iginal. P. R. I.
Esta regra é derrogatória da norma contida no Juizo de Direito da Quarta vara de Orfãos
.art. 552 do citado diploma ele direi':o prÓc€s- e Sucessões, Distrito Federal, 22 de Janeiro de
sual quando não mais se encontra indivisa r. '942. - O Juiz, Hugo Auler.
herança que instituiu o usofruto porque o seu
fundamento é justamente a unidade do juizo
do Inventário, e atende melhor ao principio con- Juizo de Direito da 1. a Vara de
sagrado do art. 10 da Introdução do Código
Família
Civil Brasileiro segundo o qual os bens ~moveis
(DISTRITO FEDERAL)
e-.;;tão sob a lei do lugar onde situados, e no
art. 8. do decreto-lei n. 4.657, de 4 de Se- A separa\ção judicial de corpos é desnecessãria:
0
Não nos esqueçamos de que requerer, nestas Todos, com efeito, no mesmo diapasão, afi::-
circunstâncias, uma separação que, de fato, já mam que o alvará de separação judicial de corpos
eXiste, seria, ~ como apontou Ferreira dos San- não é termo essencial do processo de desquite.
tos Junior (0 Desquite, p. 171), "além de me- E rpoude, assim, sustentar Hugo Simas, que, não
dida vã e ociosa, um verdadeiro ludibrio à Jus- obstante poucas opiniões isoladas, "é pacifico
tiça" . na melhor doutrina e na jursprudência a não
essencialidade da separação judicial". (Obr.
Já na vigência da lei 181, de 24 de Janeiro cit., p. 46) .
de 1890, referindo-se ao art. 77 da mesma lei,
Da jurisprudência, que é torrencial, em abo-
o Conselheiro Barradas pontificava in verbts:
no dos conceitos f!lOr nós abraçados, indicamos
••o fim desta disposição, como era o do dep~sito da as seguintes decisões: ARCHIVO JUDIClARlO,
mulher casada no direito canônico é fazer cessar v. XL, p. 356; v. VI, p. 444; Brasil.Acordãos,
o constrangi:mento dos cônjuges que vivem sob o v. IV, n . 11 .144 e segs . ; Revista de Direito, v.
mesmo této, par.a intentarem, um ou outro, a 8, p . 519; v. 22, p. 362; Revista do Sup. Trib.,
ação de divórcio; ela rpressup"ôe, portanto, a con- v. 68; p. 124; v. 74; p. 85.
vivência dos conjuges na mesma casa". E con- Uma vez que os esposos est!i.o separados de
duia, asseverando que cessa a razão de ser da tato e vivem sob tetos diferentes não existe mais
lei qua[ldo os cônjuges, rpor vontade própria já a possiblildade de constrangimento e desavenças
estão, de fato, separados, vivendo sob tetos di- entre eles, e o objetivo da lei foi colimado (AJt-
ferentes. CHivo JUDICIARIO, V . 58, p . 51) .
Apoiaram essa inteligência do texto legal Sendo essa a situação da suplicante e do su-
doutores dos mais conspícuos, aplicando-a ao plicado, por estes fundamentos e pelo m.ais que
dos autos consta:
art. 223 do Código Civil, que é reproduç.'á.o do ci-
Julgo improcedente o pedido de fls. 2, po!'
tado dispositivo da lei 181, a mencionar entre
muitos: Clovis Bevilaqua - Comentlários, v. 2, isso que o considero desnecessário e Inteira-
mente ,ocioso, 1.m1a vez que os cônjuges vivem
}!). 96; Coelho Rodrigues - Revista de Dtretto,
separados de fato, sob tetos diferentes, jâ tendo
v. 4, p. 688; Eduwrdo Espinola - Annotações sido alcançado o objetivo da lei.
v. 2, p. 462; Carvalho Santos - Cód. Ci'D. Custas ex-lege .
Bras. Interp1., co:ment. ao art. 223; .Alnaral Publ.iJque-se e registre-se.
Gurgel, - Desquite - p. 109; Hugo S1mas - Rio de Janeiro, 1 de Fevereiro de 1943. -
Co1'TWntário ao Código de Processo Civil, p. 45, 47. Martinho Garcez Neto.
(74)
ARCHIVO JUDICIARIO
<PUBLICAÇÃO QUINZENAL 00 "JORNAL DO COMMERCIO")
VOTOS
Recurso de habeas-corpus
n. 28.260 Dois são os fundamentos apresentados, para
justificar o co~strangimento de que se queixa
Habeas-corpus; concessdo -Ame~a de pnsao
administrativa e iminência de processo, o paciente: um, atinente à ameaça de prisão,
por crime de peculato. A importância à vista do inquérito adm'inistrativo; outro reJa-
fixada como alcance, de que é acusado
o paciente, achando-se compreendido ti vo à iminência de processo por crime de pe-
no provimento de quitação,. expedido culato.
pelo Tribunal de contas, é exceder-se a E' verdade que foi !nstru!da a inicial com
ordem impetrada.
ttma decisão do Tribunal de Contas, em que se
RELATÓRIO dá quitação ao paciente de avultada importân-
cia, recebida por intermédio da agência do Ban-
O Sr. Ministro Barros Barreto - Evaldo PI- co do Brasil, em Teresina, Capital do Piauí,
nheiro, por seu advogado, impetrou "habeas- a 6 de Outubro e 12 de Novembro de 1934, para
c, rpus" a este Suprem·o Tribunal, sob alegação atender a encargos da função que exercia na-
de que está ameaçado injustamente, de prisão quele Estado.
administrativa e de responder a processo crime Entretanto, do processo enviád~ pelo Mi-
por peculato. nistro da Viação, e que se acha em apenso, não
!'lo processo adm'inistrativo, que se Instau- está evidenciado - como pretende fazer crer o
rou e foi remetido pelo Ministro da Viação, em funcionário acusado - que a restituição exi-
atenção ao meu pedido de Informações encon- gida, por ser ele tido como alcançado, esteja
tra-se a exposição do fato, que, resumido, é o compreendida na verba, a respeito da qual ob-
Eeguinte: tivera a quitação em apreço.
Sendo o paciente acusado de se haver apos- Diz o Ohefe da Secção do Serviço do Pes-
sado da Importância de 22 :625S600, o titular soal, em parecer a folhas 429:
da Viação determinou a reposição da mesma. 'Atendendo que a reposição determinada
so'J pena de se proceder contra o funcionário, pelo Sr. .Ministro, conforme se verifica a fo-
na forma da legislação vig·ente, sujeitando-se lhas 399, 407, 408 e 418, não tem relação com a,
este às sahções penais do peculato. quitação dada pelo Tribunal de Contas, parece
Sustenta o paciente que o Tribunal de a esta S. C. que não é caso de revisão do pro-
Contas já lhe dera quitação daquela quantia, cesso de tomada de contas".
conforme se verifita de documento que juntou, Em seguida, assim opinou o Diretor Geral:
enqt)anto o Ministério ela Vir~ção entende que "Em facP das declarações do próprio res-
dita quitrr<;ão nada tem a ver com o rrlcrrnce de [Jons:nei de folhas 34 e 185 não vejo i·azão
que tratrr o citado proc-esso administrativo. para modificar a opinião que expedi a fls. 39[).
E' o relatório. 407 c 418, com a qual se dignou concordar o
(1)
358 ARCHIVO JODICIARIO 20-3-43
ta pelo Tribunal de Contas e não mais pPcO 1 a hipótese prévista no artigo 650, § 2° do Código
Ministério da Viação. 1
de Processo Penal.
O Sr. Ministm Goulart de Oliveira - Estas Nessas condições, adiro à dil~}'ência.
considerações só as fiz para poder apreciar a o Sr. Ministro Orozim.bo Nonato - O prin-
proposta de diligência. cipio geral d-e que no juizo de "habeas-corpus"
A dili:;ência pedida ao Tribunal de Contas, não se examinam provas, apezar das objeções
conforme parece r;ue é o caso dará com o resul- que, em brilhante parecer, em outro processo,
tado, a meu ver, as mesmas afirmações que jã levantou o Exmo. Sr. Dr. Procurador Geral
constam do processo, isto é afirmações que não da República, parece-me exato.
chegam a uma conclusão no sentido ele prova. Esse ·exame é próprio, em linha de princi-
Em todo o caso, com·o a solução na hipóte- pio, do processo de revisão. Ha, entretanto, cer-
se seria negar o "habeas-corpus" e como a di- tos temperamentos. No caso da prisão preven-
ligência poderá, talvez trazer alguns esclare- tiva, por exemplo hà que examinar, embora com
cimentos, que permitam ao Tribunal chegar a aceitação do principio da confiança no critério
uma conclusão satisfatória - a ela não me do Jiuiz da instrução da causa, a prova da exis-
oponho. Defiro-a, pois. tência do delito e a ocorrência de indícios con-
O Sr. Ministro Waldemar Falcão - Sr. tra o réu.
Presidente, o paciente situou seu caso dentro A mesma limitação àquela regra geral se
do artigo 650 § 2° elo Código do Processo Penal, impõe na espécie.
que, em principio, não admite o "habeas-cor- A prisiio se torna impossível, quer dizer
pus" contra prisão administrativa. constitue coação ilegal, quando o paciente pro-
O próprio Código porem, estabelece nesse duz prova ele quitação.
mesmo dispositivo, uma excepção a esse princi- Hà, pois, que examinar essa prova.
pio, que se concretiza quando o pedido se ba- A parte junta, a respeito, um clocmnento,
seia em prova da quitação. a que a autoridade administrativa não atribue
Pelas alegações do paciente se verifica que alcance.
entende ele ser ileg:j.l o constrangimento, resul- O documento provem elo Tribunal de Con-
tante ela ameaça de prisão administrativa, pelo tas, o orgão mais qualificativo para esclarecer
fato de ter já a prova ele quitação dessa respon- o alcance do recibo que o paciente exibe.
sabilidade, em: que se achou para com a Fazen· O esclarecimento, pois, sugerido pelo Exn10.
da Pública. Discute-se, porem - e o Sr. Minis- Sr. Ministro Laudo de Camargo, tem toda a.
tro relator examinou ess2 argumento - sobre pertinência.
se essa quitação não alcançaria os valores cita- Voto pela diligência que s. Ex. propõe.
dos no despacho elo Sr. Ministro da Viação, maó o sr. Ministro castro Nunes - Sr. Pre-
sim outros valores confiados à guarda do pa-I sidente, a lei permite o "habeas-corpus" con-
ciente.
tra prisão administrati-va, quando o paciente faça
Ora ~1á um orgão encarregado ele julgar prova da quitação. No caso, diz ele que tem pro-
de maneira clara e peremptória sobre os alcan- Yisão de quitação do Tribunal de Contas, mas o
ces dos responsáveis: é o Tribunal ele Contas. Ministério ela Viação se insurge contra isso, des-
A diligência sugerida pelo eminente colega conhece o alcance ou os efeitos desta provisão
Sr. Ministrq Laudo de Camar'So visa precisa- de quitação, nega-lhe, portanto, efeito.
ment-e a esclarec-er, por intermédio desse orgão, Por isso diz o paciente, por seu ilustre ad-
que tem atribuição constante e conhecida nessa vogado, que hà um verdadeiro constrangimen-
matéria, um ponto nevrálgico do debate, Isto é to, pelo conflito entre o Ministério da Viação
se porventura a quitação exibida, apresentada e o Tribunal de Contas, porque o Ministério
pelo paciente reporta-se de fato aos valores con- diz que a quitação não abrange as contas que
siderados no despacho do Sr. Ministro da Via- está obri<;ado a prestar o paciente.
ção. De .modo que o caso é a meu ver, de dili-
Só teremos a lucrar com o esclarecimentc gência com a qual estou de acordo para que o
desse aspecto c: a quastão: vindicarem.:os um Tribunal ele Contas •·erifique se estão abran-
principio legal, co:'cedendo ou não o "habeas- gielas pela quitação as contas objeto do inqué-
corpus", se se verificar que se não concretiztt rito.
(3)
360 ARCHIVO JUDICTARIO 20-3-43
O Sr. Ministro An nibal Freire - Sr. PrBsi- Sr. Presidente o "'habeas-corpus" é simples-
dente concordo com a diligência, à vista dos mente pre\·el1tivo, porque ainda nào hü ordem
termos expressos do artigo 650 do Código do de prisão. O Ministro da Viação mandou, tão
Processo Penal. somente, que o paciente entrasse com a impor-
O Sr. Ministro José Linhares - Sr. Presi- tância ou que se procedesse na forma da lei.
dente, sou contra a diligência, mesmo porque Concedo assim, a ordem nestes termos.
ainda estamos em período de inquérito admi- O Sr. Ministro Waldemar Falcão - Sr.
nistrativo e, por si mesmo, não constitue ele Presidente o caso assenta, flagrantemente, no
coação ilegal. arti:;o 650, § 2° do Cócligo de Proc2sso Penal,
que dispõe:
DECISÃO
"Não cabe o "habeas-corpus" contra a pri-
Como consta da ata, a decisão foi a se- são administrativa atual ou iminente dos res-
guinte: ponsaveis por dinheiro ou valor pertencente à
Conhecendo do pedido de "habeas-corpus" Fazenda Pública, alcançados ou omissos em fa-
contra os votos dos Srs. Ministros Barros Bar- zer o seu recolhin>en to nos prazos legais, salvo
reto e Bento de Faria que do mesmo não co- se o pedido for acompanhado de prova de qui-
nheciam, em face do estado de guerra, con- tação ou de depósito do alcance verificado, ou
verteram o julgamento em diligência, pura pe- se a prisão exceder o prazo legal".
dir informações contra os votos dos Srs. Mi- Pela informação lida, hà pouco, pelo Sr.
nistros Barros Barreto, José Linhares e Bento Ministro relator, verifica-se que hà no caso,
de Faria. uma prova de quitação, em relação à responsa-
VOTOS
bilidade do paciente.
o Sr. Ministro Barros Barreto - Na se~são Nessas condições concedo o "habeas-cor-
pus".
de 2 do corrente, este Egrégio Tribunal ib.ouve
por bem requisitar informações ao Tribunal de O Sr. Ministro Orozim.bo Nonato - Sr. Pre-
Contas, em face do documento certificado a fo- sidente, provada a quitação concedo o "habeas-
lhas 9, que o digno impetrante do presen;e corpus" preventivo.
"habeas-corpus" alega ser a prova de quitação O Sr. Ministro Bento de Faria - Sr. Pre-
dos adiantamentos feitos ao paciente e estando sidente vencido na preliminar de se não conhe-
ali compreendida a importância de 22:625$600, cer do "habeas-corpus" em virtude do estado
de que trata a notificação ordenada pelo Mi- de guerra, concedo o "habeas-corpus" preven-
nistro da Viação para restituição da :rr.eSm.a, tivamente.
sob as penas da lei. DECISÃO
O ilustre presidente do Tribunal de Con-
Como consta da ata. a decisão foi a se-
tas, Ministro Rub::l Rosa, enviou o ofício de
guinte:
fls. 18, que passo a ler: (lê) .
Concederam a ordem de "habeas-corpus"
Destarte - segundo apurou o Tribunal de
preventivo, unanimemente. -- Vencidos os Srs.
Contas, à vista dos elementos constantes do
Ministros Barros Barreto e Bento de Faria, que
processo administrativo -remetido com a requi-
preliminarmente não conheciam do pedido em
sição de informações - dita importância, fixa-
vista do estado de guerra.
da como alcance verificado em contas de Evald:>
Pinheiro, acha-se comprendida nos adiantamen- Acordão
tos recebidos pelo referido funcionário, em 6 de
Outubro e 12 de Novembro de 1934, por inter- Vistos, relatados e dlsclltidos estes autos
médio da agência do Banco do Brasil em Te- de "habeas-corpus'' número 28.260, do Distri-
resina, Estado do Piauí, e relativamente aos to Federal, em que é impetrante o Dr. Benja-
quais aquele Tribunal mandou expedir-lhe pro- min da Lu7 Vieira, sendo paciente Evaldo PI-
vimento de quitação. nheiro:
Isto posto, vejo-me na contingência de re- Acordam os Ministros do Supr·emo Tribunal
considerar o meu voto anterior, afim de cem- r·ecleral, em sessào plena, por unanimidade de
cecler a orclcm impetracl;c a favor elo paciente. votos, conceder a m·clem de "habeas-corpus",
O Sr. Ministro Philaclelpho Azevedo - c nreventivo.
(4}
20-3-43 ARCHIVO JUDICIARIO 361
VOTO RELATÓRIO
muito modestamente, embora, as declarações que E é por essa razão fundamental, condizente
tive oportunidade de fazer, a propósito des;;a com a natureza mesma do writ, que muitos dou-
matéria". tores julgam incabível o mandado de seguran-
Ainda recentemente, por ocasião do proces- ça para obstar a cobrança de um imposto, ou
samento do inventâr!o dos bens deixados pela seja, para evitar uma convocação do devedor
mulher do requerente, o assunto foi devidamen- a juizo, onde ele se pode defender livremente,
te apreciado e julgado por V. Ex., na quali- de maneira a vedar qualquer violência.
dade de Juiz da Vara de Orfãos desta Capita~. O chamamento a juizo não é ilegal nem
por ter a Delegacia do Imposto de Renda m- violento; o mandado ae segurança, pois, não
sistldo na cobrança do imposto em questão. pode obstâ-lo.
Após naturalmente meditado estudo, V. Ex. Como, a ação petitór!a, no caso dos autos,
houve por bem, esposando a opinião da mala- é o executivo fiscal, não procedem as objeções
ria dos membros do Egrégio Supremo Tribunal que a sentença formula contra a ação.
Federal, julgar o requerente !sento desse paga- Esperamos a reforma da sentença, de acor-
mento e mandou prosseguir no inventário. A do com as alegações da Procuradoria Regional,
Fazenda Nacional, ciente desse despacho, con- como é de Justiça.
formou-se, pois contra ele não interpoz quál- 12-12-941. - Gabriel de R. Passos".
quer protesto ou recurso.
Erh face çlo exposto, o requerente pede a VOTO
V. Ex. que se digne reconsiderar o seu despa-
cho que recebeu a inicial do executivo fiscal A questão - que dividia juires e doutr!-
em apreço para o fim de indeferi-la in limine, nadores - da possibilio'ade do mandado de se-
visto o mandado de segurança acima mencio- gurança em .matéria fiscal encontrou solução
nado o ter salvaguarci'ado do pagamento desse no art. 320, n. IV do Código de Processo que
Imposto e o citado decreto-lei n. 1. 564 não o não a admite, em principio (não se dará man-
atingir. dado de segurança quando se tratar ... de im-
Nestes termos, junto aos respectivos autos". postos ou taxas), permitindo-o, porem, se a
Atendeu o Jiuiz ao pedido do réu, não sem !e!, para assegurar a cobrança, estabelecer pro-
observaçóes quanto à sua oportunidade. Inde- vidências, restritivas da atividade profissional do
feriu o Juiz o pedido inicial, dizendo (ler fo- contribuinte, isto é, reforçar a execução judicial
lhas 26). Dai, o agravo da Fazenda. m!nutado como a que chamava Mirbach (in Castro Nunes,
·e contra-minutado. Do Mandado de Segurança, pg. 207 in-fine) .
E' o relatório, a que acrescento a leitura A lei 191, admitindo o mandado de segu-
do parecer do Exmo. Sr. Dr. Procurador Ge- rança contra ato do Juiz ou Tribunal (art. 5,
ml: I, c). deu ensejo a que se impedisse, no caso,
"De acordo com as ponderosas razões adu- o mandado, havendo votos vencidos.
zidas pelo Dr. Procurador, somos pelo provimen- A questão, porem, é, agora inexumavel.
to do recurso. O mandado foi concedido e a sentença res-
Não há nenhum desrespeito à Justiça no pectiva logrou ser confirmaà.'a em acordão cuja
Intentar a Fazenda o executivo fiscal, pela cir- conclusão se publ!cou no Diário Oficial de 31
cunstância de se encontrar o devedor na posse Maio de 1939.
de um mandado de segurança. A Fazenda suscita porem, duas objeções con-
"O mandado - diz o artigo 113, n. 33 oa tra a decisão agravada:
Constituição de 1934, que instituiu esse w:it I 1 a) O mandado de segurança não prejudi-
entre nós - , o mandado não prejudica as açoes
ca as ações pet!tórias, competentes e, no caso,
pet!tór!as competentes". a ação petitória é o executivo fiscal;
A saber, o fato de ser ou não concedido
2.o) a alegação foi apresentada em tempo
um mandado de segurança não obsta ao pro-
!nha bll e forma irregular.
cedimento judicial para aclarar de vez as con-
trovérsias jurídicas. As objeções não merecem prosperar.
E assim é porque esse remédio visa a evi- E' exato que o art. 133, n. 33 da Consti-
tar uma violencia, um ato ilegal, e o procedi- tuição de 1934, que adotou, entre nós, o manda-
mento judicial não constitue violência nem é 1 do de segmrança, estabelecia que ele não preju-
!legal. I dicava "as ações petitórias competentes".
(7)
364 AHCHIVO JJJDICIARIC 20-3-43
Mns, o feito dessa a!sposição era o de im- I\ natureza, entretanto, da defesa fundada e pro-
pedir a litispendência e ainda o de não impedir, vada, desde logo, e à evidência, na coisa julga-
quando negado, a açl\.o petitória. da e os pr!ncip!os de economia processual jus-
Quando, porem, era concedido fazia coisél tificam, ainda nesse particular, a decisão de
julgada menos de parte da ação por ventura fls., que conflrmo, negando provimento ao
não incumbida no mandado ou excluída deste agravo.
DECISÃO
(vede Pontes de Miranda, Comentários, tonro li,
pg·. 265), hipóteses que não ocorrem na es- Como consta aa ata, a decisão foi a seguin-
pécie. te: Negaram provimento. Unanimemente.
A questão é versada larga e proficientemen-
Acordão
te pelo nosso eminente colega Sr. Ministro Cas-
Vistos, relatados e discutidos estes autüs,
tro Nunes. De modo geral ensina S. Ex.:
agravante a Fazenda Nacional, agravado, o Dr.
"A sentença denegatória do mandado nan Aristoxenes Correia Bittencourt:
farà caso julgado para a reparatória que cou-
Acorda ? Supremo Tribunal Federal, segun-
ber.
da turma, integrando neste o relatório de fls. e
O direito não foi declarado certo e incon-
na conformidade das notas taquigráficas prece-
·testavel; mas Indeferido não foi senão o re-
dentes, negar provimento ao recurso.
médio, podendo de novo ser ajuizada a preten-
Custa.s, na forma da lei.
são do autor, por outra ou outras vias; e serão
Rio, 13 de Outubro de 1942. - José U-
essas as que o "mandaó'o", scilicet denegação do
nhares, Presidente. - Orozimbo Nonato, relator.
mandado "não prejudica". (Do Mandado de Se-·
gurança, pg. 337, n. 6).
E versando especialmente o caso da petitó-
rta da Fazenda, vencida no mandado, mostra Agravo de petição n. 10.460
S. Ex. que "dizendo a Constituição que o man-
dado não prejudica as petitórias, não pocie que- (DISTRITO FEDERAL)
rer que o direito já declarado" certo e incorr- Reserva de domínio; embargos de tercciru se-
testavel possa ser de novo ajuizado pela Fazen- nhor e -r:,ossuidor fundados em contrato
de venda com reserva de dominio; pro-
da, parte vencida na causa (liv. cit., pg. 339) . cedência.
A sentença que concede o mandado por atrl·
RELA'IÓRIO
bulr ao requerente direito certo e incontestavel
é in-etratavel, salvo o caso de ação rescisória, O Sr .. Mini~tro José Linhares (Relator) --
Jà havendo este Supremo Tribunal decidido que No executivo fiscal movido pela Fazenda N!l!Cio-
seria absuráO admitir pudesse ser novamente su- nal contra Manuel Custodio Rosas, para cobran-
jeito a contestação um direito que. foi declara- ça e imposto do lndústri& e profissão - ful pe-
do incontestavel (m. de seg. 266, ac. de 11 d(;l nhorado um automovel, marca Chevrolet, licen-
Setembro de 1936, relator o eminente Sr. Mi- ciado para o ano de 1941, sob o número 14620
nistro Costa Manso) . aluguel. Como tenha sido este automovel ven-
O Código de Processo se ajustou a essas dido a crédito ao executado com reserva rle do-
considerações, permitinclo que o req1terente plei- n:ínio, Cl1inrller & Adler apresentaram a ~ls. .1:
teie por ação própria o seu direito, o que antes- e seguintes, embargos de terceiros senhores e
supõe decisão denegatOria e permitindo a rei- possuidores, fundados no contrato de venda, de-
teração do pedido quando a <iecisão denegató- vidamente registrado no Registro de Títulos e
ria não lhe houver apreciado o mérito (arti- Documentos em que Hcou estabeiecida a cláusu-
gos 329, 330) . la de reserva de domínio até final pagamento.
A segunda objeção, a que, aliás, o parecer Com os embargos forMil juntos documentos. A
do Exmo. Sr. Dr. Procurador Geral da Repú- Fazenda Nacional, por um dos seus representan-
blica não atribuiu grande momento, pois sua tes, impugnou a fls. 11 - os em'bargos - ale-
brilhante argumentação incide especialmente, gando, como preliminar, terem sido eles apre-
na primeira, não deve, a meu ver, ter o mérito sentados [fora do prazo de 5 ·dias contados do
de obrigar o réu a dar bens à penhora e aguar- ato da peruhora, e, de meritis, não terem sido
dar a oportunidade elos embargos, como seria juntos os títulos da dívida a que refere o contra-
de rigor, em face cio art . 16, parágrafo único do 1 to de fls. 6, o qual, por si só, não prova a leGitimi-
decreto-lci n. 960 de 17 de Setembro de 19:18. l dade do alegado e que, mesmo que assim fosse,
(8)
20-3-43 ARCHIVO JUDICIARIO 3G5
não teriam os embargantes, como alegam, a pos~-e O Sr. Ministro Oro<:imbo Nonato - Sl". Pre-
ela causa penhorada e o decreto-lei n. 9ilu. clr sidente, peço vista dos autos.
1938 - é claro. precisando ser "o terceiro, ao
DECISÃO
mesmo tempo senhor e possuidor elos beru, pt:-
nhoraclos, etc". Como costa Ja ata_. a decisão foi a seg".línte:
Procedeu-se a aucllênc!a de julgamento,
Pediu vista ios autos o Sr. Ministro Oro<:ambo
trndo o respectivo Jui7 proferido a sentenç'
Nonato, depois r'le terem votado os Srs. M!n~Etros
de fls. 19v ., em que coz.clui pela imprúc":dên·
relator, Gou.art de Olivena e Waldemar ?olcão
cia dos embargos, de vez que os terceiros em-
que davam provimento aú agravo.
bargantes não tinham a posse do bem penll·.>radc
para poderem defender-se da penhora por meio VOTOS
de embargos de ter-ceiros senhores e possuidores.
Não se conformaram os vencidos, interpondo O Sr. Ministro Orozimbo Nonato - Chin-
no prazo legal, agravo. As partes fizeram as dler & Adler apresentaram embargos de ter-
suas alegações rw. instância inferior, subinu(J os cei.ro senhor e possuidor no executivo fiscal
autos com a su.stentaçao pelo Juiz do seu des- movido pela Fazenda contra Manuel Custodio
pacho. Rosas e em que foi penhorado um automovel
Nesta instância, o ilustre Dr. Procuradot "Chevrolet", n. 14.620.
Geral da Repúbllca opinou nos seguintes ternos. Esse autQinovel fôra V'endido pelos em-
"A sentença agravada merece confirmação por bargantes a Manuel Custodio Rosas, mas com
a cláusula reservati domini, não se achando,
seus jurídicos fundamentos".
ainda, pago.
E' o relatório.
Por força do art. 707 do Código de Pro-
cesso Civil, quem não for parte no feito e
VOTO
sofrer turbação ou esbulho em sua posse, ou
direito, por efeito de penhora, depósito, arr?s-
O sr. Ministro José Linhares - Si no con-
to, sequestro, venda judicial, arrecadação, parti-
trato de venda se estabeleceu a cláusula de re-
lha ou outro ato de apre2nsão judicial, poderá
serva de domínio, não ht. como se possa legiti-
defender seus bens, por via de embargos de
mamente negar a posse r. quem o tem, por isto
terc-eiro''.
que posse não há m&is legítima e nem mais pro-
Alegando domínio do objeto penhorado
tegida pelos ;nterdictos do que a deriva do exer-
apresentaram-se os referidos embargos que, en-
cício da propriedade, e uele se origina c01:1-:> seu
tretan-to, não lograram êxito porque o caso é
e.tributo natural. Si a propriedade é certa, in· regido por direito especial, o decreto n. 960,
conteste, não se pode negar a posse - o prin- de 1938 e este exige seja o terrel.ro ao mesmo
cipio que nihil ha.bet comune proprietas cum tempo 13€nJ:wr e :Possuidor dos bens !penho-
possessione só diz respeito a propriedade incerta, rados.
t.ão, como no caw, em que dúvida não pode ex'is- Não há que invocar o subsídio do Código
Lir. Ora, do p!·óprio contrato de venda rons · de Processo porque a lel não é omissa.
tando a cláusula de r<>integração de pos3e ao O raciocínio parece irr-epreensivel. Se os
vendedor, no caso de mora de julgamento - não embargantes não são 'POssuidores do automovel
Ee pode aderir aos fundamentos da sentença que e se a lei especial que Tege a espécie exige a
decidiu serem os agravantes carecedores do re- dupla qualidade de senhor e possuidor, os em-
médio para excluir o bem penhorado da pe- bargos não 'POderiam vingar.
nhora. Posse, a1,1da que indireta, tem os agra· Dá-se, porem, que os ~mbargantes tanl-
vantes do automovel. Assirn sendo, os embargos bem alegam a qualidade de po3Suidor indi-
de 3.o senhor e possuidot admissíveis pelo ::trtigo I'Btos, cit-ando em seu prol o art. 486 do Có-
42 do decreto-lei n. 960, de 1938 - têm fun- digo Civil:
ctamento legal. "Quando, por força de obrigação ou di-
Dou provimento ao agravo para julgar pro- reito, em casos como o do usufrutuário, se
cedentes os embargos, em face da prova produ- exerce pignoratício, do locatário, se exerce tem-
zida, de vez que o contrato de venda, com a re- porarimnente a posse direta, não anul:l esta
serva de domínio, reveste todas as garantias par.:~ às pessoas de quem eles a llouyerem, a. posse
valer contra terceiros. indireta."
(9)
366 ARCHIVO JUDICIAHIO 20-3-43
O art. 486 é, na nossa legislação, do.s coisa penhorada. O R€g. 737, de 25 de No-
mais carac,teristicos da aceitação da doutrina vembro de 1850 deu a tais embargos, entre-
de Ihering. tanto, a designação de embargos de terceiro
Em face da teoria savigniana, e~e seria s·enhor e possuidor, exigindo-se, pois, ao em-
inteiramente incompre·ensivel. bargante a dupla qualidade de dono e de pos-
E' exato que, no exemplo do art. 486, suidor.
não se acha o caso dos autos. Mas, é tambem Os códigos processuais dos Estados, entre-
sabido que o art. 484 é manifestamente enun- tanto, em faee das garantias outorgadas ao
-ciativo, o que se vê de sua própria linguagem possuidor pelo Código Civil, passaram a ad-
"em casos como .. ·." mitir embargos quer fos.se o embargante simul-
A fcrnte u2sse dispositivo, o art. 868 do taneamente senhor e possuidor, quer fosse
B. G. B. fala em qualidade de usufrutuário, dono apenas ou somente possuidor, direto ou
etc. ou "titulo análogo". (Vêde Carvalho San- indireto (v. Hugo Sime.s, ao art. 707). A mes-
tos, Cóà. CiV. Int., vÔl. VII, pág. 27; Tito ma é a orientação do Código Nacional de Pro-
FulgenciÕ, Da :Posse, n. 16 in fine). cesso (art. 707) .
ora, no negotium iuris de que trata o Dela se desviou, sem .razão, o dec. n. 960,
doe. n. 2, o outorgante reservou-se o direito que rege a espécie e exige seja o embargante
e, ·proteger o objeto contra turbações de ter- senhor e possuidor.
ceiros, sem retirá-lo ao outorgado, que, entre· A dúvida, no caso, incide na qualidade de
tanto, não podia alugar o automovel nem ceder possuidor. Como, porem, o emb&rgante ot.em
o uso dele. essa qualidade, como possuidor indireto, dou
No desdobrar das relações entre as par- provimento ao recurso para julgar procedentes
tes surge a figura da. poose indireta, de que é os embargos·
índice seguro a possibilidade do uso dos in- DECISÃO
terditos. O efeito especifico da posse é a ação
Como consta da ata, a decisão foi a se-
possessoria, como demonstrou Corn!l; a pos-
guinte: Deram provimento. Unanimemente.
sibilidade, assim, do uso da ação possessoria
indica a existência da posse. Acordão
A posse indireta, como toda a, posse ori- Vistos, relata<!os e discutidos estes autos
gina ·a ação possessoria contra todos, salvo de agravo em que são agravantes - Chindler
quanto ao possuidor direto, contra o qual se &; Adler, e agravada a Fazenda Nacional.
acha o indireto protegido pela própria r·elação Acordam cpor unanimidade de votJos, os Mi-
contratual. nistros do Supremo Tribunal Federal, em ses-
Não cabe aqui a discussão academica de são da SegunQ.a turma julgadora, dar provi·
saber qual a posse verdadeira, se a direta ou mento ao agravo para, reformada a sentença
indireta - doktorjrage sobre a qual tanto ele pr~meira instâneia, julgar provados os embar-
discuti-ram os juristas alemães. Par·ece mais gos de terceiro E·enhor e possuidor opostos à pe-
racional a doutrina de Wendts de não .ser a nhora, pelos fundamentos constant~s do~ votos
posse .mediata, em pura doutrina, verdadeira em notas taquigráficas jlmtas.
posse (vêde Bufnoir, e outros, Cód. Civ. All., Custas ex-Zege.
ao art. 868) . Mas, se por invencíveis motivos Rio de Janeiro, 2 de Junho de 1942. -
de ordem prática, (que, aliás, entre nós, ainda José Linha1·es, Presidente e relator.
antes do Código Civil de longe em longe se
impunham ao senso realista dos juizes), a
posse mediata ou indireta tamlJem comporta
a ação possessoria, não se pode negar, a meu Apelação cível n. 3.649
vêr, ao título dessa posse o uso de embargos
(DISTRITO FEDERAL)
de terceiro.
O terceiro pode ser, no caso de embar- Embargos; rejeição. - Monte-pio militar. Sua
conservação. Apltcação do art. 19 do
gos, possuidor direto ou indireto (Hugo Simas, àec. n. 695, à e 28 de Agosto àe 1890.
Com. ao art. 707 elo Cód. do Processo, pá-
RELATÓRIO
gin(l 179, n. 110).
Permitiam as Ordenações embargo" de ter-[ O Sr. Ministro Annibal Freire - Em 1918
ceiro a que1u alegasse don1ínio ou posse ela I D. Diva Fagundes Caiado Jardim, assistida de
(lO)
20-3-43 ARCHIVO JUDICIAHIO 3G7
seu marido, Cel. Eugenio Rodrigues Jardim, acio- do montepio e meio soldo assegurado às suas
nou a Uni'io, alegando: famílias pela lei 720, de 28 de Setembro de 1843
"lO) - que, por falecimento de seu primei- (lei n. 2. 290, de 13 de Dezembro de 1910, ar-
ro marido, Capitão do Corpo de Engenheiros tigo 19) ".
Ovídio Abrantes, lhe fo11am concedidas as pen- O Juiz julgou improcedente a ação. Inter-
sões de montepio e meio soldo militares no valor posta apelação, o então Procurador Geral emitiu
de duzentos mil réis, por atos de 22 de Novem- o parecer de fls. 51:
bro de 1906 (does. 3 e 4), as quais foram devi- "Perderá a pensão a viuva que casa com in-
damente aprovadas e registradas pelo Tribunal divíduo que não seja do Exército ou da Mari-
de Contas; nha ( dec. de 28 de Agosto de 1890, art. 22) .
2o) - que a suplicante esteve sempre no
E' o que diz a lei em que se inspirou a sen-
gozo pleno dessas pensões, recebendo-as regu-
tença e cujos termos s'1o tão claros e precisos
larmente aM 31 de MarÇo de 1910 (doc. 5)
que não admitem interpretação <l.iversa quê lhe
quando, por despacho de Abril desse ano, foram
deu o ilustre juiz a quo.
as mesmas suspensas sob o fundamento de que
A autora, viuva de um ofieial do Exército,
a suplicante contraíra segundas núpcias; e
casou-se com um oficial do Corpo de Bom~eiros,
3°) - que, mais tarde, em 4 de Dezenfbro
isto é, com um "indivíduo que não pertence ao
de 1913, quando a supl!cante teve conhecimen-
Exército ou à Marinha"; perdeu, portanto, o di-
to daquela arbitrária decisão, sem entretanto, se
reito à pensão que estava percebendo, deixado
declarar ciente dela, oficialmente (doc. 5), foi
por seu primeiro marido.
not~flcada a restituir a importância recebida
após o seu casamento, o que não fez por não De acordo quanto ao fato, que é ela própria
se conformar com ela; quem expõe, sem contestar a existência ou pelo
4°) - que, posteriormente, em 16 de De- menos discutir o sentido da disposição transcri-
zembro desse ano, apesar dos protestos da su- ta, insurge-se entretanto contra a conclusão a
plicante, seu segundo marido recolheu à Dele- que um e outra conduzem 1atalmente e isso
gacia F'iscal de Goyaz a importância re'cebida porque no seu entender não é esta a lei que rege
após 3 de Novembro de 1909, data de seu se- o caso mas o art. 19 da lei 2. 290, de 13 de De-
gundo casamento, a qual legalmente lhe perten- zembro de 1910, por força do qual "as viuvas
cia, como lhe pertencem todas as prestações dos oficiais e praças do Corpo de Bombeiros
vencid:as e não pagas, a contar dessa data, por desta Capital gozam das mesmas vantagens que
isso que o fato de haver a suplicante contraido I competem às viuvas dos oficiais e praças d0
novas núpcias não lhe tira aquele direito adqui- ' Exército"·
rido; portanto. O argumento é t'í.o fragil que não merece
5°) - o conceito legal das pensões de mon- lhe sacrifiquemos o nosso tempo.
tepio e meio soldo dá-lhes o carater de bene- A autora esquece que não é viuva de oficial
fício pessoal ou pensão alimentícia à família do Corpo de Bombeiros. Quando o fôr terá di-
dos militares, sio alheias à comunhão 'cto casal reito ao montepio e meio soldo que deixar o seu
e administraveis ·pessoalmente pela mulher, inde- atual marido. São estas as v.antagens de que
pendentemente de outorga ou procuração do gozam as viuvas dos oficiais e praças do Exér-
m'arido, e mais: cito.
6°) - que, tendo a suplicante se casado Confirmando a sentença apelada fará o egré-
em segundas núpcias com um oficial reformado gio Tribunal ,a costumada Justiça.
(doe. 6), não perdeu o seu direito às mesmas Distrito Federal, 12 de Abril de 1920. -
pensões que lhe deixara o primeiro marido, por Pires e Albuquerque, Procurador Geral da Repú-
isso que blica".
7°) - a lei só priva dessas pensões às viuvas A Egrégia Turma Julgadora por unanimi-
que se casarem com indivíduos não militares ou dades de votos, negou provimento a apelação
civis ·(dec. 695, de 28 de Agosto de 1890); para confirmar a sentença recorrida (fls, 64
8°) - como é sabido, o oficial reformado e 68).
conserva os privilégios, prerrogativas e vant·a- Foram opostos em!bargos ao acórdão (lfo-
gens do seu posto, como se estivesse em pleno lhas 73 e 74v). recebidos, em sessão plena ela
exercício de suas funções, tendo sido os oficiais [ então Côrte Suprema, por serem considerados
do Corpo de Bombeiros equiparados aos elo relevantes, contra o voto do Sr. Ministro Ben-
Exército para o efeito de gozarem o beneficio I to de Faria.
(11)
3ü8 AH.CHIVO JUDICIAH.IO 20-3-43
o Sr. Dr. Procurador Geral assim opinou I O Sr. 1liinistro Castro N1mes - Os embar-
sob~·eos em.bargos: "Contest,o os embargos por gos já foram. recebidos como relevantes e, por
negação; protestando con'Vencer Bifinal.". isso dêles conheço. Mas rejeito-os, porque, a ar-
gumentação embora habil, não muda os termos
VOTOS da questão.
Com efeito, do exame das diversas normlas
o Sr. Ministro Annibal Freire - Os em,- legais apontadas o que se infére é que a regra
bargos, apesar de habilm•ente deduzidos - e é a perda da pensão pela viuva que passar a
de certo por esta circunstãncia mereceram ser segundas núpcias, salvo - e nisso é que está a
considerados relevantes pela então Côrte Su- exceção a ser entendida restritivanHmte - se
prema - não convencem do desacêrto da deci- casar com militar "do Exérci:to ou da Mari-
são embargada. nha" .
Na sistematica do montepio militar, pre- O que se pretende é ampliar esse direito
domina em todos os estágios de legislação o excepcional a hipótese não incluida no seu enun-
principio de que a viuva de militar perde a ciádo, de modo a alcançar tambem os oficiais
pensão se casar com c i vil . do Corpo de Bombeiros, pelo argum•ento de que
Os termos do artigo 19 do decreto núme- estão equiparados legalmente aos do Exército,
ro 695, de 28 de Agosto de 1890, que creou o concluindo-se daí que, remaridada com um: des-
montepio para os oficiais do Exército, são pe- ses oficiais não perde a viuva do militar do
remptórios: Exército ou da Marinha a pensão, 'luando o que
".São. herdeiras da pensão: curialmente decorre dessa equiparação é que a
1,0 _ a viuva, enquanto viver honestamen- viuva de oficial do Corpo de Bombeiros reca-
te, ou enquanto não mudar de estado, casando sando-se com oficial do Exército ou da M;m·i-
com pessô11 civil". nl1a, não perderá a pensão de montepio.
Logo, casando com militar, subsiste o seu Ora, a autora, ora embargante, era viUva ele
direito à pensão. A lei procurou então designar oficial do Exército. Casando-se com oiicial do
o qUe seja militar, para os efeitos de aplicação Corpo de Bombeiros, ·não recawu com oficial do
do artigo 19 e no artigo 22 especificou: · Exército, hipótese a que se restringe a jus sin-
"Igualmente perderá a !J·ensão a viuva que gulare, a ser entendido literalmente.
casar com individuo oue não seja do Exército O direito a conservar a p-ensão decorrente
ou da Armada". da equiparação existiria se enviuvando de novo
Na hipotese a apelante contraiu segundas viesse a casar com oficial do Exército ou da Ma-
nupcias com um oficial reformado do Corpo de rinha.
Bombeiros. Quer então que se não aplique ao
seu .caso a disposição terminante do artigo 22 DECISÃO
do decreto n. 695, devendo-se-lhe aplicar o es-
tatuído na lei n. 2.290, de 13 de Dezembro
Como consta da ata, a decisão foi a seguin-
de 1910.
te: Rejeitaram os em'bargos, unanimemente.
Não tem razão a embargante. A lei núme-
ro 2. 290, com louvável espírito de justiça, le-
vando em conta os relevantes serviços prestados Acordão
pelo Corpo de Bornbeiros, tão radicados no
apreço popula.r, equiparou as vantagens das Vistos, relatados e discutidos estes autos de
viuvas dos oficiais e praças do Corpo às que embargos na apelação cível n. 3 .149, do Distri-
competem às viuvas e praças dos oficiais do to Federal, em que é embargante D. Diva Fa-
Exército. E' o que reza expressmnente o artigo gundes Caiado Jardim e e1nbargada a União
19 do citado diploma. Nada mais confere a lei Federal, resolvem os Ministros do Supremo Tri-
do que a obtenção da pensão nas mesmas con- bunal Federal rejeitar os embargos unanime-
dições estipuladas no montepio m1litar. Não mente, de acordo com as notas taquigráficas
tem, pois, tal preceito a força de infirmar dis- anexas.
positivo expresso, como o que se contém no ar- Rio, 2 de Setembro de 1942. - Eduardo
tigo 22 do decreto n. 695 aplicado com exati- Espinola, Presidente. - Lnnibal Freire, rela-
cláo pela sentença de primeira instància e pelo tor.
n::orclão confinnatório ela 1nes1na.
Rejeito os embm·gos.
(12)
20-3-43 ARCHIVO JUDICIARIO 369
curso na sanção do art. 3-38, n. 5 da Consolidação recurso extraordinário, por não haver lei fede-
das Leis Penais, e sendo absolvido, a 2.a Câ- ral ofendida.
mara Criminal do Tribunal de Apelação do Dis- Não conheço.
trito Federal deu provimento à apelação inter- O Sr. Ministro Bento de Faria - Não cons-
posta pelo Ministério Público, para condená-lo, ta do instrumento do recurso o acordão que,
mas, apenas do grau médio daquele dispositivo, reformando a sentença absolutória, teria con-
reconhecendo a agravante do § 9. 0 , primeira par- denado o recorrente a 30 mesês de prisão (gráu
te do art. 42, da mesm.e. Consolidação. médio do art. 338, n. 5) por haver reconhecido,
Uma vez ;pas.sada em julgado essa deci- alem de uma atenuante, tambem a agravante
são, o recorrente requereu do Juiz da execução, do § 13 do art. 39, todos da Consolidação das
baseando-se no art. 13 do decreto-lei n. 3. 931 Leis Penais (ajuste) .
de 11 de Dezembro de 1941, que lhe fosse re- Vê-se, porem, que, tendo l'Cquerido, pos-
duzida a pena para o grau mínimo, com a apli- teriormente, na vigência do novo Código, a ex-
cação ·da lei nova, o novo Código Penal, ao fato clusão dessa agravante, por não ter sido mats
por que fora condenado porquanto nesse di- considerada como tal, GJ que lhe reduz a pena
ploma não mais figurava o ajuste como cir- ao mínimo, a. 2.a Câmara do Tribunal de Ape-
cunstãncia agravadora da pena, Bm cuja gra- lação indeferiu o pedido porque, sobre tratar-se
duação permaneceria apene.s a atenuante do do pedido recusado, em revisão, pelas Câmaras
bom coffiJJortamento anterior. RBunidas, dita circunstância ainda hoje é apre-
Entendendo-se incompetente o Juiz, recor- ciada, não eE\Pecialmente para exarcebar a pena,
reu para a 2.a Câmara da Corte de Apelação, mas como elemento que o Juiz deve tomar em
que proferiu o acordão que se encontra a flS. colllSideração para fixàção da pena aplioavel.
7 dos autos (lê). Inconforma.do, entrou ele Essa decisão não foi contrária à letra do
com o presente recurso extraordinário criminal novo Código Penal.
com fundamento no art. 632, n. I, 2."' parte E' certo que a lei nova aplica-se ao fato
e n. li, última parte, do Código de Processo julgado na parte em que comina pena menos
Penal, sob os mesmos argumentos constantes rigorosa, mas, no caso, o novo Código estabelece
· ela petição endereçada ao Juiz da execução. pená mais rigorosa para o estelionáto.
Entendo que, não ;podendo mais ser a.gra· O ajuste não era integrante do crime e sim
vada a. pena, pela. circunstância do ajuste abo- cir.cunstância que podia influir na graduação da
lida no Código vig'ente, imlportava em reco- pena, mas sem alterar o rigor estabelecido para
nhecê-ia, nos termos do art. 13 do decreto repressão do fato conceituado como delito.
n. 3. 931 de 11 de Dezembro de 1941. E tal circunstância não foi despresada, mas
O Procurador Geral do Distrito, arrawa deixou de ser especialmente considerada porq;ue,
recurso a fls. 14 e nesta instância falou 0 são punidos igua.!mentc todos os que participam
Procurador Geral da República, à fls. 20 (lê). do crime de qualquer modo, com ou &em ajuste
E' o relatório. (art. 25) que, aliás, só resultará impunível
Rio, 30 de Setembro de 1942. - Goula1·t de quando o crime não chegar, pelo menos a ser
Oliveira. tentado (art. 27).
Essa circunstância, ainclft h.oje, pode ser
VOTOS atendida pelo Juiz para alferir drt intensidade
do dolo, ao determinar a pena aplicavel.
O S,r. Ministm Goulart de Oliveira. - O art. E o que resulta, para mim, da combina-
20 do Código Penal no &eu parágrafo único es- ção do art. 42 com o artigo 27 do vigente-
tatue que a lei posterior aplica-se ao fato jul- Qécligo Penal.
gado por se:ntença condenatória. irrecorrível, na
parte em que comi na pena menos rigorosa. DECIS~O
Quer isso dizer que ainda mesmo depois
Como consta da ata, a decisão foi a seguin··
de condenado definitivamente, o reu por cri-
te: Não tQIDaram conhecimento. Unanime··
me, que deixou d'e sê-lo, ou cuja pena, em
abstrato, passou a ser menos rigorosa, terá o mente·
dil"€ito de obter a liberdade, no 1.o caso, e a Acordão
recl uçfto d::L condenação no segundo.
Não se adaptando ao caso concreto nenhu- Vistos e relatados estes autos de recurso ex·
ma das hipóteses legais, não há conhecer do . traordinár'io criminal n. 6. 328, em que é re-
(14)
20-3-43 AHCHIVO JUDICIARIO 371
corrente Floriano Sampaio Guimarães e recor- !art. 1.579 de Cód. Civil) - "é a pessoa que
rida a Justiça Pública: e5tá na posse e administração da herança até a.
Acordam os Ministros que compõem a 2.a partilha dos bens";
Turma do Supremo Tribuna.! Federal, em não Atendendo a que, na sistemática do atual
tomar conhecimento, nos termos das nota<> ta- Cód. do Proc. C i vil que se está aplicando neste
quigráficas juntas. Custas iPelo requerente. feito desde folhas 34, a herança é representada.
Rio, 13 de Outubro de 1942. - José Linha- passivamente pelo inventariante não dativo, sen-
res, Presidente. - Goulart de Oliveira, relator. do de pouca importância o fato da nomeação ju-
dicial ulterior e confirmatória, como sustenta o
apelado, "se acaso os apelantes o tivessem pro-
Recur-so extraordinário n. 5.598 vado", tanto mais quanto, pelo art. 88 § único,.
dispensada ficou a citação do herdeiro cuja in-
(RIO DE JA..">EIRO) tervenção é facultativa;
Atendendo a que, não ha tamnem a prescrt-
Espolio; representação - A herMLça é_ represen-
tada pelo inventanante nao datwo, çito alegada, como bem demonstrou o apelado em
dispensada a citação dos herdeir?s - as suas razões da apelação, e, quando essa are-
Aplicaçtlo dos arts. 85 e 88, pCLragr~fo
único, do Código de Processo - Matena gação estivesse provaãa, em se tratando de uma
de jato, qn~mto à prescrição da dímda questão de fato, deveria ter sido arguida na ins-
e à jnmde dos títulos ajuizxtdos - Não
conhecimento do recurso. tância inferiqr, para que a parte "ex-adversa"
pudesse produzir prova em contrário, segundo o
o sr. Ministro BaTros Barreto - Na ação disposto no art. 294, n. 2, do cit Cód. do Proc.
executiva promovida por José Alves contra Luiz Civil ou provar motivo de força maior de não
Martelleto e outros, herdeiros dos finados João ter podido arguí-la no Juizo de P instância, como
Martelleto e Antonia Martelleto, que correu à está expresso em o art. 824 § 1 o do aludido Cód.;
reYel!a dos interessados, foi a penhora julgada Atendendo a que, quanto â última alegação
subsistente e, quando o feito já se achava em de fraude pela falsidade dos títulos ajuizados,
termos de e"'}ledição de editais de praça dos bens I .• ão ha nos autos a menor prova e os próprios
penhorados, suspendeu-se a instância, até que apelantes (folhas 97v.), apresent<lndo como ra-
se procedesse à habilitação de outros sucessores :-cões complementares do seu recurso de apelação
dos espólios executados. as que Ee encontram âs folhas 85, ratificam a
Atendendo à -citação, compareceu João e Ju- declaração feita às folhas 88 de que "essa maté-
lio Carrarini, assistidos de seu pai Peregnno ria. (de fraude) será discutida a seu tempo, se
Carrarini e na qualidade de netos de Antonia fôr necessário'', o que significa dizer que desisc
Martelleto, os quais interpuzeram apelação, ale- tl'm, por enquanto, de semelhante alegação;
gando nulidade do processo, por falta de citação
inicial de todos os herdeiros dos executados,
prescrição dos títulos ajuizados e fraude pela Assim:
ante-data dos mesmos (fs. 97) .
Negando provimento ao apelo, o Tribunal do Acordam,_ os Juizes da P Câmara do Tribu-
Rio de Janeiro proferiu o acórdão de fls. 121, Jial de Apelação, negar provimento à apela.ção
que passo a ler: para, confirmar, como confinnam, a sentença
"Vistos, relatados e discutidos estes autos d" apelada.
apelação civel em que são apelantes João Carra- Custas pelos apelant~.
rinl e Gilio ICarrarini assistidos de seu pai Pere-
Niterói, 16 de Outubro de 1941 - Ribczro ae
grino Carrarini e é apelado José Alves;
Freitas Junior, Presidente. - Oldemar Pacheco,
Atendendo a que, não procede o fundamento relator. - Barreto Dantas, revisor".
da nulidade de todo o processado pela falta da
citação de um interessado herdeiro do devedor
falecido, desde que a citação inicial fora feita. na Os apelantes não se conformaram com esse
pessoa do herdeiro da metade dos bens do deve- julgado e acudiram com o recurso extraordinári{>l,
dor, e, portanto, na qualidade de cabeça do casal, ; basea::lo no art. 101, III, letras a e d, da. Carttt
ou tanto vale dizer, a sua qualidade de inven- ; de lO de Novembro de 1937, devidamente arra-
tarlante, pois cabeça de casal, segundo Clovis - / ~o:oado pelas partes, a fls. 133 e 14o2.
(15)
372 AHCHIVO JUDICIARIO 20-3-43
Por outro lado, cumpre não esquecer que, civil determinará os casos de desquite e de anu-
em 1933, quando esse recurso foi criado por lel lação do casamento havendo ;;-empre recurso
federal, os Estados é que legislavam sobre o ex-ofjicio, com efeito suspensivo .
processo. . A' primeira parte do dispositivo era inócua,
Assim, aquela lei (cit. decreto n. 23.301, de. porquanto o Código Civil já regulava os casos
30 de Outubro de 1933), consagrou antes um de dissolução da sociedad·3 conjugal e só se com-
conceito de direito substantivo de que propria- preenderia o dispositivo, nos termos em que fOi
mente uma norma processual. redigido, se nele se ac·3ntuasse o critério a que
' Já o Código Civil, no art. 222, determinar!. devia obedecer o legislador ordinário. Da parte
que a nulidade de casamento se processasse por final, que é a que interessa à hipótese, ressalta
ação ordinária, na qual seria nomeado curador ao contrário uma afirmação nítida da vontade
para o defender. do l·3gislador de deixar desde logo firmado o
Prevaleceu o conselho de Andrade 'Figueir~ : princípio da continuidade do recurso ex-ojjicio,
"O casamento . é instituição que interessa instituido em lei pr-eexistente. Assim, o decreto
à sociedade, não pode ser anulado facilmen- n. 23.301 não perdeu a sua finalidade em face
te ... n da Constituição, como se afigurou ao acordão
Ora, a lei federal de 1933 inspirou-se nesse recorrido; ao invés disto, o princípio encontrou
mesmo interesse social, de alta relevância, liga- no estatut'o reafirmação categórica e irrefragavel.
~·
do ii estabilidade do casamento, que constitue
A Constituição de 1937 não reproduziu o
matéria de direito civil.
dispositivo, talvês pela sua desnecessidade, sis-
É, pois, uma lei complementar do Código
tematizada como ela o é na enunciação das
Civil, de carater substantivo, que nâo foi, nem
matérias. Mas o princípio contido no dispositivo
se compreende que fosse, derrogada pelo Código
afirma com o contendo de novo estatuto na
de Processo.
conceituação da família.
Em face do exposto, opinamos pelo provi-
Deste modo parece-me claro que a Constitui-
mento do recurso, afim de que o· Tribunal lo-
ção de 1934 reafirmou o decreto n. 23.301 e a
cal conheça da apelação ex-officio interposta
Constituição de 1937 ao de leve nâo podia tê-1<.
da sentença de fls. 59-66.
afetado.
Distrito Federal, 3 de Agosto de 1942.
Luiz GalLotti, Procurador da República. Trata-se, portanto, de matéria deflnitiva-
De acordo. - Gabriel de R. Passos''. ment.3 regulada por lei especial, á qual se vem
acrescentar outra lei especial, que reproduz em
termos iniludiveis o preceito ora debatido.
VOTOS
Com efeito, o decreto-lei n. 4.857, de
Novembro de 1939, que dispõe sobre os registos
O Sr. Ministro Annibal Freire - A matéria
públicos, estabelece no § 2.o, do artigo. 108 qu!l
versada no presente recurso é das mais impor-
tantes na estratificação da jurisprudência em as sentenças de nulidad.3 ou anulação de casa-
mento somente poderão ser averbadas depois de
torno do problema da posição da família na
definitivamente confirmadas na instância su-
evolução social brasileira. Impõe-se, portanto, a
perior.
análise, embora perfunctória, como de hábito
neste pretório, das circunstâncias do caso. Não me parece plausivel o argum•3nto, que
O decreto federal n. 23.301, de 30 de Ou- tal dispositivo, por ser reprodução do decreto
tubro de 1933, que dispõs sobre a apelação ex- n. 18.542, de 1928, deve ser entendido como
officio nas s•3ntenças de nulidade ou anulação referente à apelação voluntária, pois os t3rmos
de cas'lmento, veio sem dúvida atender a impe- da lei são decisivos e pressupõem a exigência dO
rativo de conciência jurídica nacional, zelosa em recurso ex-officio e não o dependente do apra-
manter o prestígio e solidez do casamento. zimento dos int3ressados.
O legislador constituinte de 1934 manteve Cllbe agora considerar o último argumento
integralmente essa orientação no capítulo da do acordão recorrido - a revogação do decreto
família elo estatuto constitucional. Assim o pa- n. 23.301 pelo Código do Processo Civil.
rágrafo único do art. 144 prescreveu que a lei J Não me convenci da procedência da alegação.
(18)
20-3-43 ARCHIVO JUDICIARlO 375
1
O Código do Processo encontrou regulada curso nas ações de desquite por mútuo con-
em leis especiais uma situação jurídica, embora sentimento (art. 824, § 2.o) do que se tira
processual, mas pelos seus efeitos e repercussão, argumento, a contrariu serz.su, para dizer que
intimamente ligada às normas substantivas ati- o excluiu das sentenças proferidas nas ações
nentes à matéria. Não há em todo o seu con- de anulação de casamento. Mas, como bem se
texto um só termo do qual se possa inf•3rir a observa no parecer da douta Procuradoria G€-
revogação do5 preceitos firmados naquela legis- ral da República, do recurso ex-ojjicio nos
!ação especial. Invoca o aresto recorrido o artigo casos de d.esquit·e amigavel se cogitou tão so-
1.047, § 2. 0 , que preceitúa a admissibilidade dos mente para excluir o exame do mérito, reti-
recursos, seu processo e julgamento pelo Código. rando à apelação o efeito devolutivo que lhe é
Mas dentre os dispositivos que regulam os re- inerente e está expresso no mesmo art. 824.
cursos não há nenhum que importe na revo- O Código não impede, pois, que subsista,
neste corno em outros casos, o recurso de ofí-
gação expressa do preceito especial concernentt~
cio estabelecido em leis especiais.
à matéria. E o legislador precisou recentemente
Assim é que nas causas da União, mesmo
o seu pensamento, no decreto-lei n. 4. 565, de,
não sendo fiscais, sobrevive o recurso das pre-
11 de Agosto de 1942, ao determinar que o ar-
ceituações anteriores; e assim o decidimos,
tigo 822 ficasse redigido de modo a afastar quais-
nesta Turma, em caso· de que fui relator (ape-
quer dúvidas sobre a permanência da apelação lação civel n. 7.678, D. F.).
necessária nas 1')3ntenças que declaram a nuli-
O decreto n. 23.301, de 1933, não foi re-
dade do casamento. vogado. Leis posteriores, a começar pela Cons-
O mais, port''"nto, a se objetar é a existência tituição de 34,- dispuseram no mesmo sentido
de dúvidas em torno do assunto. Mas a revo- ou pressupuseram o recurso de ofício nele es-
gação das leis .jamais foi declarada por força tabelecido. Tal o caso do decreto n. 4. 857, de
de dúvidas na sua vigência. Não tendo havido, 9 de Novembro de 1939, já na vigência da atual
pois, revogação expressa nem tácita dos decretos Constituição, o qual, dispondo sobre registos
referidos, impõe-se a reforma do acordão recor· públicos, o pressupõe no art. 108.
rido. Nem mesmo há necessidade de argumentar
Alem dessas razões, acresce que o autor do com a possibilidade de subsistir como lei ordi-
ante-projeto do Código de Processo e colabora- nária o disposto no art. :1,44, § 1.o, d·a Consti-
dor principal do decreto-lei n. 4. 565, em entre- tuição de 34, consoante o entendimento que
vista publicada na "A Noite" e reproduzida na tem grangeado voga entre nós no sentido de
"Revista Forense", deixou bem evidenciedo o atribuir vigor a certas cláusulas que, não po-
seu p3nsamento de não haver o Código de Pro- dendo vigir como norm:as constitucionais, vigem
como regras legais.
cesso Civil abolido a apelação ex-of!icio nas
E' uma doutrina que só pode ser aceita.
ações de nulidade de casamento. com grandes reservas, não obstante o apoio
Pelo exposto, conheço do recurso, com fun- que encontra em precedentes da jurisprudên-
damento na alínea d .. n. 3, do art. 101 da Cons- cia francesa.
tituição, atente a divergência com alguns ares- Mas, como disse, não é necessário arrimar-
tOII invocados pelo recorrente e dou-lhe provi· se ao texto constitucional de 34. Basta consi-
menta para que o Tribunal local conheça da derar que este mantivera ou reproduzira a re-
apelação ex-ojjicio. gra legal anterior, a qual, nã.o tendo sido re-
O St. Ministro Castro Nunes - O recurso vogada, jamais deLxou de existir, constituindo
necessário das sentenças anulatórias de casa- uma norma especial que, omissa a Constitui-
mento estava estatuido no decreto n. 23.301, ção de 37, subsiste.
de 30 de Outubro de 1933. A decisão recorrida, deLxando de admitir o
A Constituição de 16 de Julho de 1934 recurso de ofício, desconhece).! a. existência.
manteve-o no art. 144, § 1.0. Posteriormente, dessa nom1a, que teve como revogada pelo Có-
a. Constitufção de 10 de Novembro não repro- digo de Processo.
duziu essa cláusula. Foi por esse moti·>o que o cccordi\o !·ccor-
O Código de Processo, por sua vez, nada riclo náo aplicou aquela disposição de lei es-
dispõe a respeito. Cogita, é certo, de tal rc- pecial. do que decorre que é antes de um pro-
(19)
376 ARCHlVO JUDICIARIO 20-3-43
blema de vigência de lei federal que se trata, extraordinário, ainda que não tenha sido parte
e não propriamente de decisão contrária a texto no feito, por divergência de jurisprudência.
expresso, que SUipõe aplicabilidade não questio- De modo que está fora de dúvida o cabi-
nada por aquele fundrunento. mento do recurso.
Eu conheceria do recurso pelo fundamento O Sr. Ministro Castro Nunes - V. Ex.
da letra b. Não pelo invocado inciso a. Mas está lembrando, realmente, um aspecto inte-
o nobre procurador .geral do Estado invocou ressante e de tocta procedência. Quando não
tambem o inciso d, apontando julgados do Rio fosse possível admitir o recurso, o Dr. Procura-
Grande do Sul, Goiaz e Minas Gerais, admitin- dor Geral da República teria qualidade oficial
do o recurso necessário em hipótese idêntica. para fazê-lo.
De modo· que o recurso é irrecusavelmente ca- O Sr. Ministm Philadelpho Azevedo -
bível na letra d; e dele conheço. Embora haja engano de referência no texto do
O mérito está prejudicado no exame que parágrafo único do art. 101 da Constituição
acabo de fazer. Vigem as leis especiais por Federal, pois em lugar de número II, 2. 0 , letra
disposição expressa d.o Código de Processo (ar- d, deve se ler número III, letra d, o confronto
tigo 1.o) que nada dispôs acerca do recurso com os textos anteriores de 1926 e 1934 asse-
ex-ojjicio nas ações de anulação de casamento. gura essa faculdaó.e ao Ministério Público fe-
A lei de 1933 jamais foi revogada, subsiste, deral ou local. No mérito, t?Stou ele inteiro
pois, aliás articulada com o espírito e a letra acordo, não só com o parecer do doutor 2.0
das novas instituições na preservação do casa- Procurador da República, Dr. Luiz Galloti,
mento e da família. como com os votos ela Tunna, que demonstra-
E' certo que lei recente dispôs sobre o as- ram toda a procedência elo recurso.
sunto, estabelecendo o recurso necessário das
DECISÃO
sentenças anulatórias de casamento, lei post.e-
rior à decisão recorrida. Como consta da ata, a decisã.o foi a se-
Mas há que entender como interpretativo guinte: Conheceram elo recurso e lhe deram
o novo texto, de vez que as disposições ante- provimento, unanimemente.
riores sobre o recurso ex-ojjicio, nas causas
de anulação de casamento e nas causas da Fa- A cordão
zenda, sobre as quais tambem se legislou nas
Vistos, relatados e cliscutid.os estes autos,
modificações recentes do Código de Processo, de recurso extraordinário n. 5. 741, do Rio de
estavam sendo aplicadas, havidas como subsis-
Janeiro, em que é recorrente o Procurador Ge-
tentes por este Supremo Tribunal e por outros
ral elo Estado e recorridos Arthlir Ferreira da
Trtbunais elo pais. Costa Guimarães e otelina Reis Guimarães, re-
Sem relevância me parece a objeção de ter
solvem os Ministros elo Supremo Tribunal Fe-
sido este recurso extraordinário interposto pelo deral, que constituem a Primeira Turma, una-
procurador geral do Estado. nimemente, conhec.er do recurso e lhe dar pro-
·Se ele teve como M. P. intervenção nos vimento, de acordo com as notas taquigráficas
autos, oficiando a folhas perante a segunda anexas.
instância local, não há como lhe recusar com- Rio de Janeiro, 8 ele Outubro de 1942. -
petência para recorrer extraordinariamente, Laudo de Camargo, Presidente. Anniba!
continuando na sua função de orgão da lei e Freire, r ela to r .
da sua fiel execução, sobretudo em causa como
esta, em que a ré, embora não declarada inter-
dita, é dada,_ como demente, e, o que é mais, Conflito de jurisdição n. 1.386
foi revel.
Send.o milita:·es a vitima C' o acusado, é compe·
;Meu voto é pois, para, conhecendo do re- tent<3 paTa ci procc<so crimina~ a Justiça
curso, lhe úar provimento afim de que a Corte Militar "ex-1>i" do artigo 88, letra "m"
do decreto n. 325, de 38.
local julgue o recurso ex-ojjicio.
O Sr. Ministro- Philadclpho Azevedo - RELATÓRIO
Sr. Presidente, a preliminar é interessante. No O Sr. Ministro LaucLc tlc Camargo - 0 sol·
caso da letra d, a própria Constituiçáo admite dado Suetonio ele Souza Neves, a 10 de Juni1o de
que o Ministério Público interponha o recurso 1941, à tarde, dirigia sem as devidas cauLelas, o
(20)
20-3-43 ARCHIVO JUDICIARIO 377
automovel n. 2. 600, d.e propriedade do Tenente litar, segundo a inteligência que o egrégio Su-
Wallace Scotll Murray, quando, em frente a.: premo Tribunal Federal vem dando ao já citado
Núcleo Técnico de Aeronáutica causou um aci- dispositivo do Código de Justiça Militar.
dente, do qual v.\eram a ficar feridos alguns mi- Juntando cópia de nosso parecer no conflito
litares e mortos outros. n. 1. 298, concluímos pela competência da Jus-
Processado perante a Justiça Militar e pro- tiça Militar, desde que procedente é o conflito
cessado igualmente, perante a Justiça Civil, en- positivo de jurisdição."
tendeu o auditor daquela suscitar o presente De acordo, pois, com a jurisprudência fir-
conflito. mada, somos pela competência da Justiça Mi-
Ouvido, o Juiz após mencionar os termos da litar.
denúncia recebida e proce&sada, concluiu por Rio de Janeiro, ·30 de ·setembro de 1942. -
entender da sua alçada o conhecimento do pro- Gabriel de R. Passos, Procurador Geral da Repú-
cesso. blica".
Ouvida, assim se pronunciou a Procu;·actoria E' o relatório.
Geral: VOTO
"Em casos análogos. conflitos de juri~dição Entendo ser a. competência para o processo
ns. 1. 255, 1. 298 e 1. 370 o egrégio Supremo Tri- da Justiça Militar em face do artigo 80, letra
bunal Federal tem julgado competente a Jus- "m" do decreto n. 925, de 38, uma vez que são
tiça M'ilitar. No último àos citados casos á.Ssim militares o denunciado e as vitimas.
nos pronunciamos: Sou, assim, pela procedência do conflito e
"Em casos análogos - conflitos de jurisdi- pela com,petência dessa Justiça.
ção n. 1.255, do Distrito Federal, de que foi re-
DECISÃO
lator o Exmo. Sr. Ministro Armando de Alen-
car, julgado em 21-6-939, e n. 1. 298, do Distrito Como consta da ata, a decisão foi a seguinte:
Julgaram procedente o conflito e competen-
Federal, de que foi relator o Exmo. Sr. r,nnis-
te a Justiça Militar, unanimemente.
tro Laudo de Camargo, julgado em 28-8-40 -
foi firmada a C;)mpetêncra da Justiça Milltar. Acordão
Assim se deu porq_ue naquelas hipóteses, embora Vistos, relatados e discutidos estes autos de
fosse o fato criminoso idêntico ao destes <.utos conflito de jurisdição n. 1.386, do Distrito Fe-
aconteceu que as vitimas respectivas eram mi- · cleral, em que são suscitante o Conselho Pcrma-
litares, e, desta arte, de acordo com o artigcJ rente de Justiça Militar da Aeronáutica e sus-
88, letra "m" do decreto-lei n. 925, de 1938. citado o Juiz da 6.a Vara Criminal, acorda o Su-
firmava-se a competencla. da Justiça Militar·. premo Tribunal Federal em julgar procedente o
No caso ora aprecir.do, embora exista uma conflito e competente a Justiça Militar, nos ter-
vltlma civil - uma menor - contudo feri- mos das notas taquigraficas juntas.
mentos foram produzidos num militar, :;oldado Rio, 14 de Outubro de 1942. - Ed'!Ulrdo Es-
Waldemiro de Paula Cordeiro, • integrando-se as- pino la, Presidente. - Laudo de Camargo, r e-
sim a hipótese da competência da Justiça Ml- lator.
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378 ARCHIVO JUDICIARIO 20-3-43
honorários para os advoga<:Jos do autor; embora tematicamente, excluia da liquidação das per-
não pedidos na inicial da ação, estão com- das e danos os honorários do advogado do
preendidos na indenização por perdas e danos, autor, mesmo quando o direito à. indenização
podendo ser incluídos na sentença de liquida- resultava de ato !licito do réu. Era em vâo
ção, como esta Câmara tem sustentado em vários que se sustentava, com irrecusaveis argumen-
acórdãos. E' que, para ser completa a reparaçf\o, tos de ordem teórica e prática, que a inclusão
nesta devem ser incluídos os honor1irios de ad- dos honorários do advogado era uma injustiça
vogado, que são despesas inerentes ao custeio não sancionada pelos princípios gerais de di-
da própria demand•a, si não incluidos, a re- reito.
paração não seria integral (Ac. do Tribunal A !ndenisação, principalmente quando re-
Pleno, no recurso de revista n. 497 e no ARcHrvo sultante de ato ilícito, deve ser a mais com•
JUDICIARIO, VOl. 30, pag. 200". pleta possível. Se a parte não é !licito ingres-
O acórdão proferido nos embargos de de· sar em juizo senão por intermédio de advo~ado
claração, declara que "os honorários dos advo- legalmente habilitado e se, por outro lado, a
gados do autor, fixados em 10% sobre o valor própria lei (Cód. Civil, art. 1290, parágrafo
da condenação, não estão sujeitos a qualq)ler único), reconhece qUe não se deve presum!l'
compensação". Declara o recorrente que é pro- a gratuidade do mandado a advogado, ilogico
cedente o recurso porque a decisão, nlterandü será que o responsavel, mesmo quando conven-
a sentença liquidanda, diverge das resoluções cido de má fé, não incorra na obrigação de
das demais Câmaras que nos julgados que men- satisfazer os honorários do advogado con<,rá-
ciona, assim tem decidido: "A liquidação da r!o.
sentença é um incidente da execução sem ou- A !ndenisação devida à vitima deixava de
tro fim que determinar a soma ou valor certo ser, em virtude da resistência dos tribunais,
da condenação que, pela sentença ficara inde- "a mais completa possível". Mais tarde, pr1ll-
terminado e incerto. A sentença sobre ~sse in- Clpalmente no Distrito Federal, os Juizes de
cidente, pois, sendo simplesmente declaratória 1a instância, mais jovens, e por isso me3mo,
da primeira, por ela se deverá regular o Juiz menos impermeaveis aos ideais de renovação,
executor, sem que a possa alterar, reformar ou cedendo à pressão dos argumentos com que :!.la.
interpretar no que !oi explícita em suas con- imprensa, nos autos, na tr~buna, os advogados
clusões". Ora, esta tése é paei~ica em direito c:ombatiam as conclusões da jurisprudênCia.
e nem to! contrariada nos acordãos recorri- acabaram, quase todos, por mandar incluir nas
dos e na sentença confirmada. A sentença li- mdenisações os honorários do advogado, a ,ies-
quidanda condenou o Banco do Brasil "a pres- peito da hostilidade dos Tribuna!s que em re-
tar ~ culpa e a satisfazer o dano na importân- gra, lhes reformavam, nesta parte, as senten-
cia em que foi o mesmo liquldado na exe- ças". Foi coerente com esta orientação da .lu-
cução, atendendo a que com essa liquidação t'!sprudência, de incluir os honorários nas pei-
dever-se-á tambem como pedido pelos auto- das e danos que o acôrdão recorrido decidiu
res - fazer a do saldo da divida, afim de pro- que na sentença liquidanda imp!icit;amente
ceder-se á necessar!a compensação''. Esta sen- vstavam incluidos oo honorários de advogado,
tença liquidanda, foi reformada e afinal restau- sem haver, divergência-, com os julgüdos que
rada em embnrgos pelo acord:ío da a.a e 4.a pacificamente decidiram que na liquidação não
Câmaras, esclarecendo este que se restaurava tie pode alterar a sentença.
o. parte da condenação e não os fundamentos. Em face do exposto não há divergênc!!l e
Ora, o acordão recorrido entendeu que in- por isto não se toma conhecimento da l'e-
clue<:~.e no dano os honorários do advogado, vtsta.
como implic.itamente compreendidos na ~;en Rio, 19 de Novembro de 1942. - Vicente
tança liquidanda. Ptragibe, Presidente. - A. Saboia Lima. re-
A este respeito, merece ser transcrito 0 !ator, destinado para o acordão.
comentário do Dr. Pedro Baptista Martins, no - A. M. Ribeiro &a Costa, vencido. Conhe-
vol. 1, pág. 204, dos "Comentários ao Cód. cia do recurso de revista por ser man.H·esta a di-
da ·Processo Civil (edição Rev. Forense) !10:> vergênc!a que caraterisa no caso concreto. A
termos seguintes: "Ha cloze anos, aproxim;,:l,:t- questão a resolver fica en1 torno à controYC''sla
mente, acentuou-se na doutrina brasileira r;ma estabelecida pelo recorrente com o afirmaT que
seria reaçP,o contra a jluisprudência que sis- . o acordao recorrido exorbitou dos limites a que
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380 ARCHIVO .TUDICIAHIO 20-3-43
Mas cumpre encarar o caso sub judice na risprudência e tendo que decidi-la as Câma.ras
sua feição particular. Não se pretende mudança Cíveis reunidas, por maioria, julgam procedente
radical do nome, mas simples alteração com o a revista para fixar que a interpretação que
acrescimo de mais um sobrenome... Não há deve ser observada é a que !foi dada, pelo
fins ocultos ·nem maliciosos, mas justifica-se o acordão divergente a!Cima transcrito nas ter-
·pedido com um motivo legitimo que é a con- mos essenciais, proferido pela mesma 4a Câ-
tinuação do :mesmo nome na firma cuja exis- mara do Tribunal de Apelação, cassado o acor-
tência data de muitos anos e gosa de vasta dão recorrido.
clientela e prestigio. Invocam-se interesses de De fato, admite-se a mudança por exceção
terceiros, em se tratando de firmas comerciais, motivadamente : quando o indivíduo atinge a
mas não procede a obrigação de vez que quais- maioridade, durante o primeiro ano dela (CLr-
quer alterações nos contratos devem ser regis- tlgo 70 do decreto n. 18.542, de 1928); ou
trados na repartição competente. Foi atendida, então, como é expresso no art. 71 do decreto
portanto, a publicidade para interesse e sal- n. 4.857, de 9 de Novembro de 1939, repro-
vaguarda de terceiros. Para esse efeito mesmo duzindo de resto, o art. 71 do referido decreto
é que existe o registro publico das firmas oo- 18.542: "Art. 71 - Qualquer mudança pos-
merciais. O público a este pode recorrer para terior de nome só por exceção e motivada-
conhecimento do capital e fins da sociedade e mente, será permltida por despacho de Juiz to-
conseguintemente poderá fazê-lo tambem para gado a que estiver sujeito o registro e audi-
conhecimento da composição da firma. ência do Ministério Públlco, arquivando-se o
A respeito se manifesta Carvalho de Men- mandado, quando fôr o caso, e publlcando-se
dança: "Para não sofrer alteração a firma co- pela imprensa. Parágrafo único - Poderá tam-
merci<ll com a sucessão de nogócio ou com a bem ser averbado nos mesmos termos, o nome
retirada do sócio é muito frequente as pes- abreviado usado como firma comercial regis-
soas, que sucedem, entram ou ficam na socie- trada., ou em qualquer atividade profissional".
dade, substituírem o seu sobrenome civil pelo A lei prevê dois casos: - mudança do nome
do' comerciante que cessa o exercicio da pro- no primeiro a.no da maioridade civil e poste-
fll3são ou pelo sócio il'etirante. A firma nova riormente a esse tempo. No primeiro, é ela per-
continua a representar a verdade, exiStindo o mitída amplamente, sem motivação, sem inter-
registro para informar a terceiros" (Tratado venção do Poder Judiciário, no segundo, ainda
Dir. Com., vol. 2 n. 195). Do mesmo pensar é permitido, mas por exceção e motivadamente,
é Serpa Lopes: "Outra !face distinta dessa com intervenção q_o Juiz.
mesma questão é a da alteração do IWme para Em nenhum se verifica a proibição absolu-
o efeito da continuidade da firma social. De- ta e irrestrita que just)ficaria o acordãoi' recor-
mos que nesse segundo caso é admissivel senão rido. Não pode ser considerado ato ilicito a al-
uma mudança de nome, porque isso seria con- teração de nome para efeito comercial, desde
trário ao próprio espírito da lei, pelo menos que ela remete de uma autoriza~ão judicial,
uma alteração desde que esta se processe com e se apoia no uso que a lei absolutamente não
a permanência integral dos dois princípios su- contraria.
bstâncias que viemos de assinalar: o da co- Da alteração do nome que não é uma con-
incidência com o nome civil. e o do respeito veniência, mas um direito de manter a razão
a composição dos apelidos, de acôrdo com os social, nenhuma inconvet'liiÂncia resulta para
da família. A necessidade dessa coincidência terceiros que nesta pratica só podem encontrar
não carece ser demonstrada pois se impõe a a garantia e sewrança na.s relações que man-
s1 mesma". tem com a firma. A fixidez e a imutabilidade
Por este motivo o acórdão divergente man- do nome comercial são tão necessárias para. in-
teve a senteiJIÇa. que autorizara a alterar o dividualizar a personalidade jurídica da socie-
nome com ·o acrescimo de um. dade como é a do nome civil para identificar o
Evidentemente os julgados se contrariam no individuo. Nas' suas relações com a clientela,
interpretar o direito em tese e assim o re- com os credores e com os estabelecilnentos ban-
cm·so é conheci elo, despresadn, a preliminar. cárias, hà toda conveniência que se m.antenha
A quest:to de ser admissivel, em tese, a al- a sociedade semp1·e com o mesmo nmne, que
teraçw de nome para fins comerciais é bem fig·ura nos contratos, títulos e obrigações con-
controvertida, quer na doutrina, quer na ju- traiclas. A retirada ou falecimento ele um' só-
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382 ARCHIVO .TUDICIARIO 20-3-43
cio não altera essa situação porque na pratica depois para Augusto Pereira de Almelcla e te-
quando o seu nome é substituido pelo de outro riamos outro individuo inteirrunente desinden.
sÓcio que o adota, essa substituição é auten- tificado do nome prlml ti'Vo.
ticada pelo registro mercantil e pela publicida- Esse o aspeto legal dentro da exegese do
de pela imprensa e por circular com· que são texto. Ha outro, porem, e não menos . impor-
avisados todos aqueles que têm relações com a tante. O património comercial que se consti~
sociedade. tue no nome de alguem, é o produto do esfor-
O eminente jurista Levi Carneiro (Revista ço individual desse al.guem, de uma vida labo-
de Direito, vol. 115, pg. 3) declara que man- riosa, honesta e exemplar que tmpõs esse ai·
tida a jurisprudência de não permitir a alte- guem no conceito público. Esse nom'e, por essa
ração do nome por int€resse co!IliCrcial o Trl· feição considerado representa, pois, uma série
bunal "privará o nosso comércio tão sacrificado de requisitos personalíssimos. Assim, quando
por tantos meios; de uma de suas praticas ho- outrem pretende acrescentar ao seu nome o de;;;.
nestas, de uma das garantias m.ais expressivas, sa pessôa é para que terceiros que transac!onam
do seu crédito. Nem são apenas interesses de ou comerciam com ele fiquem na persuasão dQ
ordem: financeira q·ue estão em jogo. Nesta nos- que aquele alguem ou contlnúa na firma co-
sa t€rra sem tradição, sem sobrevivencia sem mercial ou outrem que o identifica lá perma-
continuidade, era ao menos um consolo que per- nece. E é isso exatamente o que l"eputo grave
durassem por longos anos os nomes de certas perigo, porque terceiros podem ser prejudica~
firmas comerciais", - conclue o emérito juris· dos na sua confiança, na sua bõa fé, supondo
consulto. que a flrrnla não sofreu modificação. Não colhe
Em face do exposto, o art. 71 do decreto o argumento de que a pessoa que pretende alte-
n. 4.857, de 9-11-1939, permite a alteração de rar o nome já ifazia parte da finna, porque de
nomes para perpetuação das firmas comerciais de d'Uas uma: ou o seu nome singularmente
e na espécie o recurso foi devidamente instruido considerado não é bastante para manter o cré-
e os motivos apresentados para alteração do dito e a confiança de que a firma desfrutava
nome são, no caso, atendíveis e em consequéll- anteriormente e isso representa um fortaleci-
cia é julgada procedente a revista. mento flcticio de crédito á !';Ombra de um nome
que não mais existe ou então é uma formali-
Rio de Janeiro, 17 de Dezembro de 1942 · · dade desnecessária. De qualquer modo não se
Vicente Piragibe, Presidente. - A. Sa.boia justifica. Mesmo porque não sei de alguem
Lima, relator. - Afranio Antonio da Costa, que pretenda desfigurar-se propositadamente
vencido. Regulam a matéria os artigos 70 e 71 ~em um fim qualquer. Poil" estes fundamentos
do decreto n. 4. 857 de 1939. O parágrafo úni- neguei provimento à revista entendendo pre-
co do' artigo 71 diEI!JÕe: "podBrá tambem ser ferível a tese sustentada no acordão recorrido
averbado. . . o nome abrevia.do ·usado como fir-
à do divergente. - Henrique Fialho, vencido de
ma comercial registrada ou em qualquer ativi-1 acordo com os fundamentos do voto do Exmo.
dade profissional". O de que a lei cuida, a meu
Desembargador Afranio Antonio da Costa.
ver, é exclusivament€ de "nome abreviado"; não
Edmundo de Oliveira Figueiredo, vencido na
hà assim como entrevêr a possibilidade de qual-
conformidade dos votos vencidos supra.
quer adjunção ao que consta do registro de
pessoa nsica. E' pei'mitido que José Augusto
Vieira Meirelles possa chamar-se José Augusto
Meirenes ou José Vieira :MíJlrelles ou José Mei-
relles ou J. A. Meirelles'' para fins co:m:erciais Recurso de revista n. 308
ou em qualquer atividade profissional. Mas,
alteração para acrescentar outro nome ou pre- Recurso de revisna. Só é admissivel quando se
nome é o que a. lei não permite. Mesmo .porque provar a divergência entre j1Llgados. so·
bre a interp1"etação 'ao direito em tese.
a ser assim teríamos um individuo alterando - Da decisão, que obriga algw~m à
por etapas e integralmente o nome primitivo. JJrestação de contas, oa.bivel é o recUrso
Hoje passaria de José Augusto Vieira de Me!rel- de apelação; da que julga ou, não pres-
tadas as contas, cab·ivel é o recurso de
lcs a Josó Aus-u.':":ito PerPira ldm~icla de lvt:.~lrcl1(_·~-;. c! gravo de in.'ltrutnento.
nHlis tarcle, por 1notivos cc:merciais nüo lhe; con-
·;inclo m:c!s es.'e nome, pediria no Juiz que Jlle Vbtos, relatados c examinaclos estes auto5
a1JI·t:=\·ia2~se o nu1ne para .Ju:-;é Pt::reirn. de Alrr~:;icLt, ele recur.o-o ele rcvi.st" n.
:YDB, S{)lltlo recorrente
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26-3·43 ARCHIVO JUDICIARIO 383
pois, decorreram 4 dias, de modo que ainda trante, combinado com o art. 508 do vigente
faltavam 3 dias para a extinção do prazo de Código de Processo Penal, tinha para ofeTecer
15 dias uma vez que, de acordo com o artigo a denúncia. O zeloso representante do M. P.
508 do Código de ProcessQ .Penal "não se da primeira vez recebera as 3 cópias, insufi-
computará... o tempo consumido posterior- cientes para instrução da denúncia que preten-
mente... na obtenção de cópias e documen- dia oferecer, no dia 28 de Agosto de 1942 (ofi-
tos." cio de fls. 7, alto, do processo criminal da
1.a Vara) passados apenas 5 dias, ou seja em
O requerente do habeas-corpus, que, como
3 de Setembro seguinte requereu as cópias do
se disse, é Juiz de casamentos e como tal ad-
processo falencial especificadas na petição de
vogado de ofício perante o Juizo em que foi
fls. 6, despachada pelo Dr. Juiz do Civel
iniciada a ação penal, omitiu na petição ini-
o da 13.a Vara por onde corre a falência' do
cial qualquer alusão ao fato de ter o Dr. 1.o
ora paciente, a 8 do mesmo mês de setembro.
Curador das Massas Falidas antes de oferecer
Somente a 13 de Outubro seguinte foram
a denúncia, arguida de nula, requerido cópias
terminadas as cópias pedidas (fls. 21 in fine)
do processo falencial. Limitou-se a juntar à
e o Sr. Escrivão, a 15, abria o termo de vista
petição de habeas-corpus certidão da data da
que se lê no alto da folha 22 dos apensos, e
den1incia (19-10-1942) e da data do recebi-
a 16 de Outubro o Dr. 1.° Curador das Mas-
mento pelo Curador denunciante dos papéis
sas Falidas lançava, logo abaixo daquele termo
que o Ju~:<lü da Falência lhe remetera -
de vista, a anotação do recebimento dos autos,
(28-8-1942) e em vista dessas duas datas, afir-
e em seguid.a, datada de 19-10-1942, a cota:
mar que somente depois de decorridos, entre
"Ofereço a den1incia em separado", denúncia
esta última data e a· da denúncia, 53 dias
que está a fls. 2-3 dos mesmos autos em
oferecida fôra a denúncia por aquele Curador.
apenso, recebida pelo Juiz da 1.a Vara Crimi-
Diante disso e das informações do Dr. Juiz ao
nal a 21 ainda üe Outubro de 1942.
processo criminal, das quais parecia. haver um
Do exposto se verifica que, ocultando- o
lapso, ao dizer que os documentos solicitados
requerente do habeas-corpus circunstância que
pelo representante do M. P. em 3 de Setem-
não podia ignorar, desde que vem ele atuando
bro lhe foram remetidos em 16 de Setembro
no processo criminal (apresentando a defesa,
apresentando ele a denúncia decorridos 4 dias,
do denunciado, revél, que está a fls. 29 e 30,
datada ela de 19 de Outubro de 1942, foram
na qual não alegou a nulidade da denúncia),
presentes à Câmara os autos do processo cri-
qual a de ter-se escoado o lapso de 1 mês e
minal a que responde o paciente pelo delito
13 dias - isto é, de 3 de Setembro, data do
de falência fraudulenta. Desses autos se veri- '
requerimento da Curadoria, solicitando novos
fica, desde logo, que houve um engano no su-
documentos - fls. 6 - a 16 de Outubro, data
pra..,rnencionado ofício-informações de fls. 7
da volta dos autos com os novos documentos
destes autos de habeas-corpus: o Dr. 1,0 Cura-
pedidos - fls. 22 - durante o qual os autos
dor das Massas Falidas, depois de ter reque-
não estiveram em mãos daquele digno repre-
ria() cópia de várias peças do processo da fa-
sentante do M. P., pediu o habeas-corp1LS,
lência do paciente ao Juizo da 1." Vara Civel,
imputando ao aludido Dr. 1.0 Curador das
somente recebeu os novos documentos, autua-
Massas Falidas uma desídia, uma falta de exa-
dos com o ofício desse último Juizo, remeten-
ção no desempenho do seu cargo, que não
do-lhe as 3 cópias anteriores, datado de 26 de
ocorreu. E' isso tanto. mais de estranhar e de
Agosto de 1942 (fls. 7) - no dia 16 de Ou-
lastimar, quanto é certo que quem requereu o
tubro de 1942, e não no dla 16 de Setembro
habeas-corpus é um advogad.o de · ofício, um
de 1942, como se diz naquela informação de
Jui121 de Casamentos, mais do que qualquer
fls. 7. Ora, tenao o aludido Dr. Curador re-
outro impetrante, impedido de alegar uma
cebido a 16 de Outubro de 1942 os novos do-
falta do representante do M. P. que sabia não
cumentos (não a 16 de Setembro de 1942) três
existir, e que para aparentar ter-se dado, ins-
clias depois, a 19 do mesmo mês oferecia a
truíra a petição de habeas-corpus com uma
denúncia, demonstrando, assim, toda diligên-
certidão apenas da denúncia e do recebimento,
cia, zelo e exação. Nem mesmo excedera os 15
pelo Curador elas Massas Falidas, denunciante,
clias que, ele acordo com o art. 175 § 3 .o in 1
jine cl~, lei ele falências, c i taclo pelo impe- I das cópias da ata da assembléia de credores
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20-3-43 AHCHIVO JUDICIARIO 385
I
voque decadência desde que os crimes de fa- ocorrida em 13 ele Janelro de 1937, a 10 anos de
lência são ele ação pública, e decadência só prisão celular, grau médio do art. 294 § 2° com-
ocorre em se tratando de delitos de aç{w pri- binado com o art. 13 da Consolidação das L~is
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386 ARCHIVO JUDICIARIO 20-3-43
P<:nais; e por homicídio consumado, ocorrir\o em reconheceu e de que resultou a fixação da pena
2 de Ma.io do mesmo ano, a 10 anos e 6 meses de no grau submédlo .
.Prisão celular, grau sub-médio do dito artigo 294 Custas na forma da lel.
§ 2° - penas essas que, confirmadas na Superior
Rio de Janeiro, 17 de Setembro de 194'2. -
instância, foram depois reduzidas, de acordo com
Adelmar Tavures, Presidente corri voto. _ .Joa-
o Cód. Penal novo, a 7 e 9 anos de reclusã<:J, res-
quim Henrique Majra de Laet, relator. - Nelson
pectivamente. Pretende ele agora - e esse o
Hungria.
objeto do presente recTtrso - que se reconheça
tratar-se de crime contin11ado e que, portanto,
se lhe imponha somente a mais grave daquelas
p<>nas, com aumento de um sexto a dois terços, Apelação criminal n. 3.687
nos termos do art. 51 § 2° do citado Cód.
Pela reforma do despacho recorrido, no qual, Julgamento do Juri. A decisão do Tribunal
aliás, não foi apreciada a hipótese, opinou a do Juri só é s1LScctive1 de 1·ejorma
quando nenhum apoio encontra na
Procuradoria Geral, em amparo da pretenção do prova dos a1ttos - voto vencido.
recorrente, argumentando ser !rrecusf!.Vel o nexo
existente entre os dois crimes momentos cl'.vecso.s Vistos, relatados e discutidos estes autos de
da objetivação de uma só determinação da von- apelaçâo criminal n. 3. 687, em que é apelantll
tade, impulsionada por um motivo único, o ciu- a Justiça e apelado Alfredo Guszi:
me, que levou o recorrente primeiramente a Acordam, por maioria, os Juizes da 2a Câ-
tentar matar a amante e depois a conseguir a mara do Tribunal de Apelação, adotando como
eliminação do rival. parte inte,o-rante deste o relatório de fls. 126/
126 v., negar provimento ao recurso ele fls. 115,
Segundo o novo Cód. Penal, não é requisito
para confirmar com confirma a decisão ape-
do crime continuado, como antes era, a unidade
lada.
de resolução; consequência de ter sido adotada
Não ha como afirmar que a decisão do Jur1
nesse estatuto conforme na exposição de moti-
esteja em desacordo com a prova dos autos. Do
vos assinalou o Ministro Francisco Campo,s, a
fato os testemunhos são pouco esclarecedore:!.
teoria objetiva, pela qual o conceito de ação con-
tinuada é deduzido dos elementos constitutivos No sumário da culpa, só o guarda civil, que pren-
(;Xteriores, da homogeneidade. Dispensada, po- deu o apelado, é que conta que, ouvindo os dis-
rem, a unidade de resolução, dai não se segue paros, correu para o café, e aí encontrou o ape-
que a existência de c_ualquer nexo baste para lado em pé junto a uma mesa, sobre a qual se
caracterizar a continuação: é preciso que pelas achava um revolver. E acrescenta que já havia
condições em que os crimes ocorreram, o subse- ele dado três tiros contra seu antagonista, que
quente deva ser havido como continuação do não foi atingido e que, estando ainda no local,
priinedro - diz o § 2° do art. 51. apontou o apelado como o autor, pedindo sua
prisão. A:> outras testemunhas da instrução cri-
Ora, no presente caso o que se verifica é que
minal não mencionam pormenores do fato, pois
primeiro crime teve realmente por move! o c!urne:
nada viram até a prisão do apelado (fls. 42
o recorrente vivera, até pouco tempo antes, rna-
v/44). Em plenário, o guarda civil esclareceu
ritalmente com a vítima e esta o deixára pàra
que o apelado, na ocasião em que foi seguro, es-
viver com Manoel Cardoso de Souza, a vítima /
tava com a mã.o apoiada sobre a mesa e "junto
do segundo crime; o segundo crime porem, foi 1
de dedo um revolver".
praticado em condições que excluem o pláno flUe,
Da pl'O!Va feita, pois, em juizo e no plenário,
pelo parecer da Procuradoria Geral, o recorrente
só uma conclusão é licito tirar: o apelado, quan-
teria posto em execução, tentando matar Osca-
do foi detido, já havia suspendido a ação de11-
rina e depois matando o rival. Com efeito, du-
tuos!1,. Houve desistência voluntária, e nos ter-
rante os três meses e meio que decorreram entre
mos do art. 13 do Código Penal, só pode ele
o primeiro e o segundo crime, o recorrente, con-
responder pelos atos praticados. Caso desejasse
forme suas próprias- expressões, fez as pazes com
prosseguir na ação, tinha meios para faze-lo, pois
:tv1anoel; e o segundo crime ocorreu quando Ivla-
o revolver ainda dispunha de duas balas. Em
r.oel, empunhando um pçclaço de borracha, pro-
todo o caso, não se poderá dizer que a deeisão
curou o recorrente na residência deste e ~i o
do Jur1 se distanciou da prova a tal ponto que
provocou - cirçun.stância atenuante que o .!uri
(30)
20-3-43 ARCHIVO JUDICIARIO 387
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mereça reforma. Impõe-se, assim, sua confir- Não houve, por parte do apelado, como se
nlação. argumenta nas razões do recurso, desistência
Custas na forma da lei. voluntária da consumação do delito; não: ele
Rio de Janeiro, 14 de :Oezembro de 1942. - não prosseguiu na agressão por ter falhado o 40
Edgard. Costa, Presidente com voto, vencido. - tiro e ter acudido prontamente o guarda-civil
Toscano Espinola, relator. - Décio Gesario CJUe o prendeu, coagido, portanto, moral e mate-
ALvim. - Eclgard costa, vencido. Dava provi- rialmente pelas circunstâncias. Considerando,
menta à •apelação da Promotoria Pública para I ;pc..rtanto, extreme de dúvidas a t·entativa por
COIIldlénar 0 apelrrdo, como réu de tentativa de J que foi denunc•:ado o apelado, fixava a pena, -
homicídio, (Cód. Pen., arts. 121 e 12, § único), como de início declarei, - em 2 anos de reclusão,
em dous anos de reclusão, taxa penitenciária atendendo aos seus antecedentes e à sua persa-
de Cr$ 100,00, e nas custas. Que o apelado nalidade, e tendo em vista os motivos e as con-
tentou matar Rafael Colino Lobo, fazendo con- E.equências do crime.
tra o nuesmo, com essa int·enção, os três dis-
paros de revolver, é o que 1nostram, sem necessi-
dade de esforço na pesquiza dos elementos que
integram a íigura delituosa da tentativa, as pro- Apelação civel n. 27
vas dos autos; o Juiz, portanto, negando essa
(EMBARGOS)
tentativa, íê-lo contrariando abertamente ditas
provas. Atenda-se, de início, a que a negativa da
intenção, ou seja - a inexistência da tentativa A companhia empregadora é respons1avel pelos
danos oausados por seu empregado,
de que era acusado, -somente surgiu nos autos quamdo no exercício de suas ju.nções.
com a defesa prévia de fls. 36, oferecida pelo Provado o ato danoso sem que tenha
havido c::aso fortuito, torça maior ou sem
habil patrono do apelado; até então, - assim no que_ haJa sido provocado pela vítima,
auto de flagrante como em Juizo, - o apelado esta provada a culpa da Companhia. -
A responsabiUdade, nesse caso, decorre
sempre negára a própria autoria dos tirOS, dis- do arttgo 1. 523 do Código Civil. - A
parados à porta de um café em plena Avenida mái embora casada, mas cujo marido é
inválido e não pode prover as necessi-
Rlo Branco (!), declarando - "não ter feito dis- ~ades da família, tem direito aos ali ..
paro algUlll contra quem quer que seja" (fls. 32), mentos que lhe eram dados por sua fi-
lha, com o produto do seu trabalho
que - "a arma não lhe pertencia", que "a pessoal. O marido da vitima, homem
sadio, com elevado ordenado e com
imputação não era verdadeira" (fls. 33) . aposentadoria assegurada por lei não
pode pl.eitear alimentos e nem indeni-
Atenda-se, a seguir, a que se deu a inter- zação pela morte de sua esposa.
venção imediata do guarda civil que efetuou a
prisão do apalado, agarrando-o pelas costas,
Vistos, examinados e discutidos estes autos
achando-se o revolver sobre a mesa junto a qual
de embargos de nulidade e infringentes do
ele se encontrava em pé, tendo-o próximo á mão,
julgado, na apelação cível n. 0 27, em que são
ou na própria mão, depositando-o a seguir sobre
embargantes - 1° Antonia Marques ou Antonia
a mesa, no dizer da 2a testemunha, no flagran-
Cichell!, 2° José G1l e embargada a Companhia
te; atenda-se, ainda, a que essa arma tinha a
Carris, Luz e Força do Rio de Janeiro, S.A.:
carga de 5 projet!s, dos quais 3 foram disparados,
um est!Wa ligeiramente picotado e um, apenas, Os autos mostram, com. a maior. clareza, que
intacto,- e a que o aQJelado era desafeto de Ra- o desastre, do qual resultou a morte de M,aria
fael, pelos motivos, que este explica a fls. 1 Ov. , Estrela Gil, foi devido exclusivamente à culpa
ao prestar declarações no flagrante; -atenda-se du motorista, culpa que se verificou pela velo-
a tudo isso e mais às circunstâncias do local e cidade excessiva com que conduzia o seu carro:
do momento, e à atitude do apelado referida pela derrubou um poste de iluminação, e, ainda cor-
1a testemunha, e, sem esforço, e em pleno acordo reu uns quatro ou cinco metros, deixando a
com a realidade, ter-se ha que concluir que o marca dos pneumáticos na calçada, apezar de
apelado agiu com a intenção manifesta e mani- não se tratar de um dia chuvoso. A vítima foi
festad·a. de 1natar o :s-eu desafeto, e se isso não apanhada na calçada. em que, na companhia de
conseguiu foi por circunstâncias alheias à sua duas outras pessoas, aguardava o momento para
vontade. I tomar Ullla condução: "a vítima e as pessoas
(31)
388 ARCHlVO JUDICIARIO 20-3-43
que a acompanhavam, como pretendessem uma CIVil. As pessoas jurídicas "que exercerem ex-
condução para a cidade, colocaram-se em cima ploração industrial, somente são responsaveis
do poste de parada de ônibus que fica defronte provendo-se que concorrerem para o dano por
à rua Ferreira Viana, na Avenida Beira-Mar; culpa ou negligência de sua parte. Ora, ha-
em dado, momento surgiram, vindo de Botafogo vendo a ré escolhido o motorista que dirigia "o
para o Monroe, dois ônibus, um à frente e outro carro que ocasionou a morte da vítima, por sua
do. "Viação Excelsior", um pouco à retaguarda imprudência, "concorreu, mediante a escolha de
do primeiro; como a vítima desejasse tomar o pessoa inhabil" para o lamentavel acidente. E'
prim,eiro ônibus, fez um sinal para que o chauf- a culpa in eligendo, que é a culpa da empresa,
jcur freiou o carro, mas parou um pouco maLs embora o ato material s2ja do seu preposto"
adiante do local em que a vítima se encontrava; (Sent. ref.).
o chauffeur do carro da Light, que vinha atrás, E' devida uma indenização às pess9as ali-
-em virtude de ter o ônibus que trafegava à sua mentadas pela vítima. MJulher casada, que vivia.
frente, parado, deu um golpe de direção para o em companhia de sua mãe e seu padrasto, aos
lado da muralha, trepando na calçada onde quais auxiliava no sustento da casa, com o pro-
ainda se encontrava a vítima, derrubando o duto ct-e seu trabalho pessoal. Sua mãe, septua-
condutor de iluminação e imprensando de en- genária, adoentada, já sem o vigor necessário
contro o mesmo o corpo da vítima, que se par- para a manutenção da família, tinha nesta filha
tlu ao meio" - (fls. 76 v.). - a vítima - um arrimo, um apoio de valor.
A jurisprudência tem entendido, de acôrdo O padrasto, doente, debil mental, sem emprego
com a lei, que a culpa do empregado, em casos e sem possibilidades para o exercer, vivia ao
semelhantes ao dos autos, é extensiva ao em- encargo da morta e da velha progenitora. A
pregador. Provado o ato "danoso, sem que te- falta da filha, privou a família de grande au·
nha havido caso fortuito, força-maior ou sem xílio. Justa a sentença de primeira instância
que haja sido provocado pela própria vítima, que isso reconheceu, mandando que na liquida·
está re ipsa provada a culpa da empresa". Assim, ção se fixasse o quantum a ser pago, com obe·
a Companhia .proprietária do ônibus é respon- diência aos artigos 911 e 912 do Código do
savel pelos danos resultantes do. ato de seu Processo. Procedem, pois, os embargos ofereci·
preposto, de seu empregado. Podia ter esco- dos ao acordão, pela mãe - primeira emibar·
gante.
lhido um preposto mais prudente, mais atento,
mais diligente, e não o tendo feito é culpada. R·Jalmente está provado: a) a necessidade
Como salienta o Desertfuargador Saboia Li- para subsistência; b) que os alimentandos não
possuem bens; c) que não podem prover pelo
ma, de tal modo o preposto se acha vinculado
seu trabalho à própria mantença; d) que a ali·
ao preponente, que, sob o ponto de vista da res-
mentante podia fornecei-os, sem desfalque do
ponsabilidade jurídica, os fatos reputados pelo
n·Jcessário ao seu sustento.
primeiro se reputam pelo segundo (Sent. de
30 de Abril de 1934). E. Carvalho de Mendonça
Quanto à pretensão do marido da vitima
(M. I.) diz que "o que se chama responsabi- - José Gil - segundo embargante - não tem
lidade por fato de outrem é, num sentido mo- amparo neste processo. Homem válido, com os
ral superior, uma responsabilidade de jato pTó- vencimentos d-e dois contos e quinhentos mil
pTio, tendo por fundamento a culpa in vigilando réis, mensais, como funcionário d11 Caixa Eco·
ou a culpa in eligendo e não o direito de re- nômica Federal, não tem dir·2ito a alimentos
presentação, pois que o responsavel jamais pode de sua falecida mul•her. Se ela contribuía para
ser presumido como tendo dado ao seu repre- o seu casal, tal contribuição não pode fazer falta
sentante direito de ofender. De modo que essa a-o marido, não teve dano mateJ.'ial a ser ressar·
-espécie de responsabilidade não é derogatõria do cido. Tem o marido seu sust.Jnto garantido pelo
princípio de personalidade Ida culpa" ( Ob7iga- elevado vencimento que recebe, alem de aposen·
ções, vol. 2) . tadoria que a lei lhe assegura, para o futuro.
Incontesto.vel, em face da prova, a existên- Por esses motivos, os Juizes das Câmaras Ci·
cio. do elcsastre e elo dano, c em face ela lei e veis Reunidas, acorelam, por 1naioria ele votos,
ela jurisprudência a TCSponsabilidadc da Com- julgar procedentes os cn1bargos da. primeira em·
panhia. E' a hipótese elo artigo 1. 523 do Código bargante, Antonia Marques ou Antonia Cwhelli,
(32)
20-3-43 A.HCHIVO .JUDICIARIO 389
projeto aprovado pela Prefeitura" conforme con- contestação a imperfeiç.ão elos trabalhos. A res-
trato existente"; "de acordo con1 o nosso con- ponsabilidade por esses prejuízos cabe ao cons-
tráto". A folhas 215 aí estão as especificações trutor. Entretanto, não hà como julgar prova-
para a construção do edifício escolar" o qual da a reconv·enção, quanto à responsabilidade
tennina assim "por estarmos justos e combi- pela paralisação das obras, porque, para isso
nados, firmamos o presente afim de produzir tamb-em concorreu o proprietário, quer pertur-
os efeitos legais, juntamente com o contrato b-ando o trab-alho dos operários, quer faltando
de construção e Jinanciamento, os projetos a ao fornecimento de capitais. Demais, não se
.;:-erem aprovados pela Diretoria de Engenharia encontran1 nos Rjustes ptazo para conclusão elas
da Prefeitura. Quanto ao preço. Foi de 300 I obras e anda.mento dos tr?.balhos, o que tira
todo o valor à notifica.ção. Não se pod.e exigir a
::~~::.a!i~: ad~s~~; a~!~~=a;el~;~::~~io a~:~ I
0
um en1'preiteiro que de um momento para ou-
!ante: do qual consta: "valor do contrato ... tro, e sdb pena de pesada multa, prossiga. em
300:000$000, aumentos 70:000$000. Documen- trabalhos quando nos ajustes prévios nada se
to irrespondivel é tambem o de fls. 71, propos- convencionou sobr-e prazos e modalidades, quer
ta para o emJpréstimo hipotecário, 300 contos pa.ra o andamento dos trabalhos, quer para a
destinados ao financiam-ento da construção. Ar- conclusão das obras. Daí resulta que não se
sinado Manoel Conde - empreiteiro contra- justifica a irr.posi-ção da multa, na forma pres-
tante". A conta de fls. 72 não deixa a mlenor crita pela sentença.
dúvida - obras do edifício principal contrata- Enfim do exposto resulta, que são aplica-
do em 2,6..,10·936 - 300:000$000. Assim tambem veis à espécie os artigos 1. 237, 1. 245, 1. 246
a fls. 269. Significativo é ainda o documento de do Código Civil. Nessa conformidade, é provido
fls. 76 onde o apleant-e resumiu em 380:000$000 em parte o recurso, para o fin1 de reduzir a in-
todas as despesas finais, fls. 70" eu me com- denisação por perdas e danos aos prejuízos ve-·
prometi a terminar as obras pelo preço contra- riJficados por vícios ou defeitos da construção
tado. "Portanto, são os documentos fornecidos e tambem excluir da conclenação a multa ele
pelo próprio apelante que se encarregam de de- :000$000, imposta pela sentença.
monstrar que as obras foram previamente ajus- Rio, 18 de Dezembro de 1942. Edmundo
tadas por 300:000$000, aos quais se deve adicio- de Oliveira Figueiredo, Presidente. Rocml Ca-
nar os acrescimos ou m.odificações feitas de margo, relator. - A. .M. Ribeiro da costa.
acordo com o proprietário.
Quanto a valores é o que vai esclarecer a
perícia com o "eu primeiro orçamento no pre- Apelação civel n. 1.665
suposto de empreitada e preço ajustado. Esta
refere as ver.bas: obras feitas 272 :019$000; acr·es- O prazo mento
do contrato renovando, em arrencla-
pedido para fins comerciais,
cimos e modificações 91:407$700. Hà uma par- tem seu termo inic1al a part1r da ter-
cela nessa perícia, que não pode prevalecer pela minaçüo do primitwo arrendamento,
mas, a partir da data do registro é que
cifra estipulada. E' a referente ao acabamen- são devidos os novos alugueres fixado3
to das obras, compreendidas as reparações. na renovaçüo .
A obrigação do empreiteiro é, precipuamen- Vistos estes autos ele apelação cível mJ.me-
te, a de terminar as obras e reparar os danos ro 1. 665, entre partes, como apelante, Antomo
consequentes aos vícios e defeitos da constru- de Oliveira Tarré e, como apelado, João Adeli-
ção, não importando quanto tenha de gastar no de Castro, acordam os Juizes da 4.a Cãmara
para isso. Portanto, as cifras referentes a e'sas do Tribunal de Apelação do Distrito Fecleral
parcelas poderão solfrer alterações, resultantes em negar provimento ao recurso, afim ele con-
da oscilação dos preços de =teria! e não de firmar a sentença recorrida.
obra. As quantias já recebidas conferem corrJ Confessa o apelante locador, por ocasião
as provas dos autos. De forma que temos.- Pre- dos debates na audiência de instrução e julgn-
ço ajustado 300:000$000. Acrescimos e moclifi- ~ento (fls. 43) que a_ sua recusa em receber
cações 91:407$700. Remate das obras, compre- os alugueres oferecidos, provinha ela contesta-
endendo os danos, o que for apurado na exe- çio feita à ação renovatória, proposta pelo in-
cuçci'lo. A clccluzir as cruantias que fora,m rece- quilino, o apelado. Justificncla, estft a f\Ção de
bidas 354:0008000. clepósi to, por consignaçfw ele pflgamcn to de
,\ r.econvcnção est:i provada, quanto aos de- alugueres cieviclos. No julgar procedente esse
feitos e Yicios cl:< construção. Não pode sofrer depósito, baseou-se a sentença apelíêda na ju-
(34)
20-3-43 AHCHIVO JUDICIAHIO 391
rispruclüncia dos Tribunais, vigorante, no sen- A venda do pr."clio não é motivo ponderavcl
tido de que, face o art. 19 da lei de luvas c para evitar a rcnovaçfto e muito especialmente
art. 355 do Cód. do Proc. Civil, o prazo con- no caso elos autos, onde os interessados não
tratual renovado, teve seu termo inicial a par- nrovaram a outorga da escritura definitiva. Pl:>de
tir da terminação do primitivo arrendamento, mesmo o comprador ter desistido elo negócio, à
mas, a partir da clata do respectivo r-2gistro, vista da cláusula que o prende ao contrato em
são deviclos os novos alugueres fixados na re- vigor. Quanto ao aluguel, a sentença acpoiacla em
novatória. solidos argumentos desatendeu aos apelantes, no
Relativamente à Ialta de depósito dos im· que anelou acertadamente. A perícia, o local em
postos devidos, a ausência ele qualquer notifi· que está situado o imovel e o lucro q.ue será
cação, exigi ela pelo art. 361 do Cód. do Pro c. garantido acs propr,ietários com o aumento de
Civil, como ainda pela impossibilidade mate- CrS 700,00 por mês. permite seja mantida a sen-
rial do conhecimento ela cifra devida nos im· tença ele primeira instância. Neste processo foi
postos, por não dizê-lo o locador, justificaram I atendido plenamente o decreto 24.150, e assim:
o procecl!mento elo locatarw. Acorctam os Juizes ela Quinta Cãmara do
Custas na form::~ ela lei. Tribunal ele Apelação pelo voto do relactor e do
Rio ele Janeiro, 22; 12;1942.- Edmundc .•·evisor negar provimento ao recurso de Franklin
de Oliveira Figueireclo, Presidente e relator.
Van Ervan e sua mulher para manter a decisão
Raul Camargo. apelada.
Custas pelos apelados.
Rio ele Ja·neiro, 8 de Dezembro de 1942. -
Frederico Sussckind, Presidente com voto. - An-
Apelação dvel n. 2.007
tonio Carlos Lajayette de Anclrada.
Conoedida a renovação do contrato de loéação
,:uando pmtegida pelo decreto 24.150.
A clausula de "herdeiros ou sucessores"
obriga os sucessores inter-vivos, os pos-
siveis adquirentes do ünovel. A venda do Apelação civel n. 2.063
prédio não impede a renovação do con-
trato. Desquite. Acordo em relação aos_ filhos. ·caso3
omisso9. Deveres e junçoes do Ju1z ae
Família. Responsabilidade de cargo. Si-
Vistos, examinados e discutidos estes autos tuação dos filhos de desquitados .. Dever
ele apelação civel, n. 2. 007, em que são apelantes dos pais. - Não tem efeito de cotsa JUl-
gada as decisões proferidas em processo
l<'ranklin Van Ervan e sua mulher e apelados de desquite. Interp1·etação do w·t. 327
S. A. J. Lucena: do Código Civil. O bem dos filhos é o
limite de arbitrio do Juiz. A obra edu-
Os apelantes se opõem a renovação elo con- cativa dos pais prej1tdicada pelo des-
trato ele locação ela sociedade apelada, porque quite.
pretendem vender o imovel locado, conforme es-
Vistos, relatados e discutidos estes autos de
critura ele promessa de vencia já assinada e sus-
apelação civel n. 2.063, em que é apelante, D.
tentam .que não tendo clausula que os obrigue
M. R. G. e apelado o Dr. A. c.· ele C.
a respeitar a locação uma vez realizada a venclac, Acordam em Quinta Câmara elo Tribunal de
não deve o contrato ser renovado. Entretanto, Apelação, pelos votos elo relator e revisor, em
entendeu que uma vez conceclicla a re.novação o negar provimento ao recurso. Entendendo ter
novo aluguel terá ele ser ele CrS 200,00 mensais. havido omissão no acordo para o desquite ami-
Há no contrato a cláusula• que obriga os gavel, quanto ao clireito do pai durante as férias
herdeiros ou sucessores a respeita r a o pactuado. cscohres da filha menor, o Juiz determinou:
Tal clausula prende não só os herdeiros como os "Durante as férias eEcolares, a menor filha
sucessores e inter-vivos, como os possiveis adqui- elo casal fioarii, durante o mês de Fevereiro com
rentes do imovel (:te. na ap. civ. 9.423, ele Maio I o pai e cluTante o ·mês ele Janeiro com a mãe;
os dias ele Dezembro que tiver de féria.s, passá-
de 1941) . Além disso o contrato foi regularmen-
te nr:istraclo e vab contra tercetros. los-á com o pai e os ele Março 1ns mes1nas con-
O direito de renovação é manifesto. O con- dições con1 a mãe''.
trato tem todos cs característicós para ser re- Esse o ato que a autora, ora apelante, pre-
novado e os apclnntc.s apenas se opuzcrmn ao tencle anular por meio ciesta açüo. E' o objeto ela
preço ela locnçüD. Portanto as condições pedida' /.iclc e o fl1ndamcnt.o único é a i.lcgaliclacle elo
foram virtlmlmcn te aceitas. ato. por ter importaclo 2111 alteraçüo arlJitr:iria
(35)
:i92 ARCHJVO JUDlCIARlO 20-3-43
lias cláusulas convencionais para o desquite por no processo, elementos justficativos elo seu pro-
mútuo consentimento. cedimento; mas, no anligavel, esses elementos so-
Não tendo efeito ele coisa julgada as deci- mente em casos raros lhe serão nlinistraclos.
sões proferidas em processos de desquite por E, se1n base segtu·a, não deverá usar de
mútuo consentünento (art. 288 do Código de um poder, que se tornaria odioso, quando a lei
Processo Civil), o despacho foi proferido em f·::tce lhe conferiu a bem dos filhos. No caso de to-
do que não constituía coisa julgada, requisito mar o juiz sobre si regular a. situação dos fi-
essencial para se supor a sua modificação por J lhos cessa o direito dos pais de a respeito com-
meio de ação recisória. Por cons·eguinte, a pre- binarem qualquer coisa em contrári~ não cessa,
sente ação foi regularmente proposta para anu- porem, o seu direito de vela.r pela educa.ção dos
lar ato do Juiz que teria modificado disposições mesinos, porque so•m:ente nos casos elos artigos
do desquite amigavel definitivamente homolo- 394 e 395 ser-lhes-à suspenso ou retirado o
gado. pátrio poder". Por sua vez diz Tito Fulgencio:
A sentença apeLada julgou improcedente a "Necessidades inevitáveis... é a.ssim que tra-
ação para o fim de indeferir a revogação pleitea- duzimos os motivos graves do Código e parece
da. A conclus§.o da sentença, deve ser mantida bem : o pátrio poder com seus atributos não
e confirmada, pois, como bem opina o Dr. Pro- vem da lei, m.as da natureza; os •filhos nascerMU
curador Geral, "não houve modificação no acor- para a companhia de seus pais, e, portanto, para
do da parte apontada, isto é, no direito de guar- romper com o que é natural, preciso é que ocor-
da da filha menor do casal desquitado e isso ram necessidades inevitaveis, que motivos gra-
porque essa guarda foi estabelecida transitoria- ves o imponham pa.ra a maior vantagem dos fi-
mente, tanto que ao pai foi assegurado o direito lhos". Em havendo motivo grave, portanto, de-
de visitar e de guarda da menor durante 24 ho- verá o juiz agir com plena llberdade, visando
ras seguidas, sendo tambem estabelecido que ao sempre o bem do menor.
atingir a idade de 10 anos seria a menor interna-
Por exemplo, a saúcle precária do filho
da em colégio. O Dr. Juiz decidiu, apenas, um
constitue por si só, motivo bastante grave, para
caso omisso no acordo inicial, ou seja a hipótese
impedir a sua retirada da companhia e guarda
das ferias escolares, dividindo-as igualmente
da mãe, tanto mais quanto, para que o juiz
entre os pihs, medida que o Dr. Procurador Ge-
adote a medida reclamada pela segurança do
ral, reputa justa e sem qualquer ofensa ao di-
menor, não é preciso, na frase de Pontes de Mi-
reito transitório de guarda dada à mãe.
randa, que já exista princípio do mal, bastando
A guarda dos filhos não é, em regra, defi-
receio que haja contra o •bem físico e moral do
nitiva, mas resolvida de acordo com as condições
menor (Revista Forense, vol. 44, pg. 85 e Re-
do momento, e por isso, havendo motivos gra-
vista dos Tribunais, vol. 74, pag. 338, v, 83 pg.
ves, poderá o Juiz em qualquer caso, a bem dos
62). A bem dos filhos. E aí como diz Carvalho
filhos, regulá-la de maneira diferente da esta-
Santos, está fixado o limite do arbitrio do juiz.
belecida mesmo em sentenças definitivas. Com
A lei regula o modo de atribuir os filhos aos
maioria de razão é acertada a intervenção do
cônjuges desquitados e é claro que o juiz tem
Juiz para resolver casos omissos dos acordos,
de obedecer-lhe.
que nem si quer constituem coisa julgada.
Na espécie o ·Dr. Juiz decidiu por razão de Desobeclecer-lhe-<à entretanto e substituirá
equida,de e em virtude de ser omisso o acordo. pelo próprio critério e elo legislador se for a bem,
dos filhos. No poder de apreciação ilimitado, o
Nestas circunstâncias, como nos casos do art.
327 do Código Civil, o juiz está investido de po- juiz encontra no interesse dos filhos o llmite
deres amplos de apreciação, devendo ter em para a sua iniciativa, sénclo d·ever seu procurar
vista o sexo, o estado de saude do menor, as conciliar esse interesse elos filhos com o dos
necessidades da sua educação a conveniência ele pais.
retirá-lo do convívio de más companhias, a de- O bem do filho, o seu interesse, eleve ser,
fe.sa da sua moral. em suma, a preocupação dominante do juiz.
Nesta emergência melindrosa, 0 Juiz d-eve Tendo este arbitr.io e competindo-l.he atribui·
proceder, ensina Clovis Bevilaqua (Com. ao ar- ções tão elevadas, quais as estabelecidas no ar-
tigo 327), com o maio'r critério. Tanto mais c!is-[ tigo 48 do decreto-lei n. 2.035, de 27-2-940, deve
cricionária é a sua autoridade, quanto mais ex-~· o juiz da Vara de Fam!lla ser varão prudentis-
tP_nsa hó, ele ser a sua responsabiliclacle. No cli~ sim o, possuindo alei~ ele prcclicaclos intelectuais
vorcw litlgwso, prossegue o grande m.estre, tera quallclacles ele coraçao, energia e ele cm·ater, ele
(36)
20-3-43 ARCHI~O JUDICIARIO 393
serenidade e de compostura, ele ünparcialicla- fraternais, não tem com alglmas penadas ins-
de e ele espírito lnunanitário, compreendendo a piradas em certos textos perfeitamente adapta-
sua nússão cmno um apostolado na defesa da veis a princípios de altíssima m:Oral social ar-
organização ela fam!lla e dos altos interesses ruinado legiões de seres humanos, espalhan-
da criança. do a deshonra, o desespero e até a morte - tudo
A austeridade e o amor à ciência e à práti- isso por um erro de hermenêutica, por uma es-
ca, os elementos jurídicos e os elementos so- treita compreensão da missão social que desem-
ciais devem hannonicamente concorrer para a penha!
formação do juizo e para a escolha das suas O Direito não é um fim, senão wn meio.
sanções. Não deve ser o juiz simpl·esmente, um Fiat justitia, floreat m.undus, eis o tema aoei-
jurista, chamado a se pronunciar sobre a gra- tavel. A justiça sem mais nada, a justiça como
vidade dos fatos, sobre questões conjugais e
um fim absoluto, a justiça sem a equidade, sem
aplicação das leis, mas um psicólq:;o e educa- atenção às suas consequências e aos fins para
dor preocupado em compreender as d·eficiências que é organizada converte-se nv1m. .aparelho
de carater, a incompatibilidade de gênios, a irri-inquisitorial de imenso poder destruidor.
tabiliclacle dos cônjuges outrora unidos, enten- "Tu não és s-enão justo e portanto injusto,
der a alma ela crianca e os sentimentos dos pais, diz Dostolewesk!, traduzindo ele modo eloquen-
devendo ter predica~os de sociólogo de elevad'o te, pela sua aparente antinomia o summum jus
senso In'oral, conhecedor das vantagens e atri- 3umma injuria dos mais remotos precursores,
bulações ela vida conjugal, hrubil e perito no dos partidários hodiernos da socialização e da
seu trato. humanização do direito, em suas aplicações às
Mais do que outra judicatura, deve o Juiz realidades da vida".
de Família ter sempre presente estas palavras A espécie dos autos revela um destes ha-
do grande jlíz que foi Rafael de Magalhães: bituais aspectos trágicos dos casais desavindos,
"O juiz deve ter a longanimidade necessária recaindo a consequência das incompatibilida-
para ouvir com paciência as queixas, reclama- des conjugais na peswa dos filhos. Os polos
ções e réplicas que a parte oponha aos seus des- em torno dos quais gira toda a obra educativa
pac'hos e sentenças. Apontar os erros do julga- são a autoridade paterna, a dedicação maternal
dor, prdiligar-lhe os deslizes, os 8busos, as in- e a piedade filial, sentim·entos naturais e cor-
justiças em linguagem veemente, é direito sa- relativos, convergentes para a unidade do mes-
grado do pleiteante. mo resultado.
O calor de expressão hà de Eer proporciona- Que faz o desquite ou o divórcio da autori-
do à injustiça que a parte julgue ter sofrido. dade pctterna ou do ajéto maternal? Para firmar
Nada mais humano do que a revolta do liti- a própria estima na alma do filho, cada um dos
gante derrotado. .Seria wna tirania exigir que que outrora se amaram. e hoje se odeiam, se
o vencido se referisse com meiguice e doçura esforçará por convencê-lo <!.a própria inocência,
ao ato judiciário e à pessoa do julgador que isto é, da culpabilidade do outro. O pai dimi-
lhe desconh·eceu o direi to. O protesto h à de ser,
nuirá insensivelmente no coração do pequeno a
por força, em temperatura alta. O Juiz é que veneração à sua mãe; esta irá demolindo pro-
tem de se revestir da couraça e da insensibili- gressivamente o respeito ao pai. Serão a prin-
dade profissional neceosária e não comete'!' ex- cipio palavras como que caídas distraidamente,
cessos". reticências que dizem muito; depois narrações
Este outro grande juiz que é José Antonio intencionais; finalmente, a iniciação triste na
Nogueira, nos "Aspectos de um ideal jurídico", série das revelaçõ-es dolorosas.
indica as consequências nefastas que proviriax11 Neste duelo em que se vão degladiando os
fatalmbnte ela aplicação dos velhos adágios jurí- pais, o filho senta-se corrJo juiz, do seu proce-
dicos: "Fiat JtLstitia, pereat mtLndus"; dura zex din1!ento na vida. Que o filho mostre em pre-
sed zex". sença de um .dos de~·quitaclos afeto, ternura,
"Quanta vez, prossegue J. A. Nogueira, no preferências pelo outro, será motivo de cium·es e
decorrer dos tempos, em nome dessas heresias tristezas. Recrudescerá, então, a porfia pelo do-
sociológicas, um homem respeitavel, ma111sueto e mini o no cora.ção ela criança: concessão irre-
bem intencionado, no tranquilo ã.mbito de seu ! fletida de todos os pedidos, aprovação de todos
gabinete, rodeado elos carinhos ela familia, de ! os caprichos, afago ele toclas as paixões nasccn-
tudo enfLm que desperta sentimentos suaveis e i tes. Paul Hervieu, obsenador de uma psicolo-
(37)
394 AHCHIVO JUDICIARIO 20-3-43
gia perspicaz, pinta-nos na Vie de l'homme esta illostrado professor, que a menor mostrava uma
realiclacle viva. quando põ-e estas palavras no-;: ex c i tn.1Jilicladc nervosa anorn1~l c .senc:o crian\·a
lábios ele Laura. mãe cli1·orciacla: "Penso no ·.:iva e inteligente tc·n1' n~·ces.::;iclnclc ele que se
que me falta para ter a seu tempo sobre mi- lhe evitem grand·es emoções que a tornariam
nha filha uma influência decisiva. Muito sen- uma personalidade psicopática. E' o destino
tiria que ela encontrasse em casa ele seu pai, certo ele todo Iilho disputado pelos pais clesqui-
urn bem estar material, satisfação ele amor pró- iaclos, sem orientação unifonnc nos princípios
prio, incita.mento a todas as elegâncias, que não educativos, vivendo num espetáculo c:oloroso,
lhe oferece~.se a minha casa". E ·eis arruina~::t (procurando contentar os pais em divergên-
a insubstituivel ação formadora ela autoridacle cia.
paterna. Em face ela criança que precisa ser protegi-
Á simultaneidade e convergência dos seu3
da, é que avulta o dever do Juiz ele Família, que
dois elem·entos conju-;aclos, a separa:;ão conju- não eleve contribuir para aumentar as dificulda-
gal faz suceder a alternação e o an.tagonismo. des de terr,permnento elos pais, evitando atitu-
O efeito, de naturalmente construtivo, passa a des agressivas, prec!isponclo-s.e contra um elos
ser inevitavelmente demolidor. A estas deca- cõnju:;es, tomando atitudes violentas, medidas
dências graduais da autoridac1e doméstica. cor- vexatórias, como busca e apreensão. agindo ele
responde na alma da criança a atrofia progres·- n~oc!o intolerante e áspero; 1nas eleve, aa con-
siva do sentilnento mais poderoso na obra edu- trário, d·e1nonstrar paciência em ouvir as recla-
cadora: - •a piedade filial. Com toda a expon- mações, não denegar provas necessárias, agir
taneidacle de mn instinto profundo, o coração con1 a máxima benignic!acle, como eJe.mento
dos filhos vai buscar, num complexo inde~ini conciliador, procurando fazer com que o menor
vel de gratidão, dependência, docilidade e amor
não sofra iniluência decisiva de um dos conju-
os corações elos pais, sem os c!isting·uir sem 02
ges, quando ambos são dignos. No caso dos
separar, sem os opor. Ao encontrá-los divididos
autos a apelante se mostra 1nãe dedicada e amo-
pelo ódio, ou, pelo menos, estraljl1os um ao ou-
rosa, senhora digna de todo o respeito e con-
tro como dois c!esconhecid.os, o amor filial re-
sideração, nenhun1a acusação a macula, capaz
colhe-se, IT\Urcha, como flor em atmosfera sem
d·e todos os •mJaiores sacrifícios pela filha. Vive
oxigênio.
Uma contradição como veneno sutil, insta- em companhia do pai, carater ilibado e austero,
la-se-lhe no mais profundJo da alma em! botão homem de alta compostura moral, médico ilus-
e daí vai corroendo todas as suas forças vitais: tre e administrador modelar; o pai da menor é
a alegria, a espontaneidade, o entusiasmo, a es- um cidad<ta digno e se mostra dedicado pela fi-
perança. Sobre esse fundo ele a!lla!·gurns in- lha, vivendo em companhia de sua ven·eranc!a
curavels, suficientes para envenenar uma exis- progenitor.a, viuva de ·Um magistrado. E' o chete
tência que desabrocha, o trabal11o dos anos vai do serviço de oto-rino-laringologia da Assistên-
cia e neste posto conquistou renome científico
acrescentando novos dissabores.
em todo o pais.
E' a estima dos pais que vai caindo em
Assim, o trato que a menina L. tem nas duas
ruínas à luz das manifestações de seus desman-
casas só pocl·e ser idêntico - o mesmo ambiente
dos, de suas c! i vergências, ela traição à fidelida-
sauc!avel.
de dos seus juramentos. Com a estima irá di-
minuindo ao afeto aos que sacrificaram a ele A função do Juiz é aproximar a filha ele
üdelic!ade ao próprio egoismo a quem preferiu seus pais, procurando diminuir as divergências
as suas satisfações de 1nul'her aos seus deveres entre os dois, para que a menina não venh:.
de mãe, o filho vae can1pre·enc!endo aos poucos mais a sofrer na sua educaçiio e na sua forma-
ção moral.
que ele já não bastou/ao coração elos seus pais.
Neste mnbiente psicológico antinatural, que A decisão apelada, cleciclindo um caso omisso
será da formação m.oral da criança? Ond·e se no acordo inicial de desquite, eleve ser mantida
exigia a mais espontânea sinceridade sucederá pelos fundamentos acima expostos, devendo, po-
pouco a pouco o espírito ele simulação e de hi- rem, o juiz atender, com a maior prudência e se·
pocrisia: o pequeno deverá _3gl'aclar alternativa- ren!dade, aos altos interesses da defesa de saude,
mente a dois coraçõ-es separados pelo abismo moral, espíritual e física da menor.
ele ressentilnentos profundos. Rio cie Janeiro, 2 de Fevereiro de 1943. -
E.'ltes autos cláo un1a impressão deste esta- A. Saboia Lima, Presidente e relator. -· sau!
do ele alma da criança no a testado firmado por de Gusmão, revisor.
(38)
20-3-43 AHCHIVO JUDICIARIO 395
vado nestes autos. Cabe a culpa a ré -primei- Vistos, relatados e discutidos estes autos
ra apelante - uma vez que a vítima era passa- da agravo de petição n. 6. 360, em que são
geiro do bonde. Mesmo que a vítima tivesse sido partes: agravante Silva Braga & C. e agrava-
i'll11Prudente, não eximiria a culpa completa da do espólio de Francisco Gonçalez, por seu in-
r&, parque esta só ·está isenta quando a culpa ventariante José Teixeira (funciona o Minis-
é unicamente do acidentado, ex-vi do artigo tério Público, "falência'• denegada de Fran-
17 do decreto 2.681, sendo ce·rto que nesse s<:n- cisco Gonçalez), acordam os Juizes da 4.a Câ-
tido é a juritWrudência das Câmaras do Tribunal mara do Tribunal de Apelação, por conformi-
de Ap·elaçâo (ac. da 3.a Câmara, Jurisp. Trib. de dade de votos do relator e do Juiz imediato,
Ap. vol. nt 5.a Câmara, na ap. cv. 425 de 14 negar provimento ao agravo para confirmar a
de Novembro de 1941) . decisão agravada.
Se o pingente tem sido tolerado p21a com- Os agravantes requereram a falência de
panhia apelante e é uso esse· modo de viaja:- nos Francisco Gonçalez com fundamento no arti-
seus veiculas, quando cheios, não há como se go 2. 0 n. 6 da lei de falência. Os requer·entes
ace•itar a imprudência dos passageiros dessa es- alegaram que o requerido se mudara para lu-
gar ignorado, não tendo deixado alguem habi-
pécie para diminuir a responsabilidade que tem
litado a pagar as obrigações da firma. Foi fei-
a transportadora pela reparação dos danos ocor-
ta citação edital, sendo chamado ao processo o
ridos.
Dr. Curador de Ausentes, que oficiou a fls. 19.
Em relação ao quanturr., é razoavel o critério
A fls. 22 compareceu a Juizo o inventariante do
de 50%, destinados ao sustento da famila au ..
espólio do devedor, informando que este fale-
sente- e os 50% restantes aos gastos pessoais da cera em 11/6/941, deixando 6 filhos menores, e
vítima, que teria ainda de pagar a licença pam bens que orçam por 80:000$000, prontificando-
o seu trabalho. Assim dos Cr$ 700,00 mensais se a pagar no inventário os credores, que se
arbitrados pelo perito da ré (fls. 105) Cr$ .... 11abilitarem. A fls. 28 do Doutor 4.° Curador
350,00 representam a manutenção da :nl.tora, de Orfâos alegou q~e a falência não podia ser
que será garantida na. forma da pre,stação men- decretada "ex-vi" do art. 5.o, segundo o qual
sal, cruno prudentemente indicou a sentença de ela "poderá ser declarada at-é dentro de um
primeira instância, até que seja em definitivo ano após a morte do devedor". O Dr. Juiz
esclarecida a Inexistência d·~ filhos. Essa obri- proferiu o despacho de fls. 35, indeferindo o
gação durará pelo prazo de vida provavel que . pedido de falência por esse motivo.
teria a· vítima, fixado esta duração em set<mta e Alegam os agravantes que requereram a
quatro anos. Quanto aos honorurios do advoga- ffllência antes de um ano, em Abril, não seu-
(39)
396 ARCHIVO JUDICIARIO 20-3-43
dança das circu-nstâncias que det,erminaram a de ser, urna vez que aí estão as palavras e os
sua realtzação" (ac. Desemb. Lagôa, fls. 11-v.) fatos inequivocamente, dúvida nãü pode haver
Se medida - aclministrativa - tambem, não de que da decisão que, mais un1a vez, ratificou
pode deixar de ser classificada a contida, como a anterior, por não encontrar, ainda, motivos
complementar, na decisão de fls. 36-v., que superiores que autorizem "a mudança de cir-
deferindo ao pai da menor o encargo de ocorrer cunstâncias", cabe n2curso de apelação üU o de
com todas as despesas de sua filha, 'por isso que agravo, não sendo caoo de erro grosseiro, com
a agravante "não contesta a paternidade que rundamento no inciso XVI do art. 842, do Cód.
se atribue ao requerente e a este portanto não do :ProceSGo, se concordarmos em que, corno diz
se pode Tecusar que cumpra o dever legal de· o Dr. Juiz a quo, trata-se do dever legal de
prestar - alimentos - â filha adulterina e no prestar alimentos que S. Ex. mesmo, .entendeu
caso concreto, os alimentos compreendem a edu· negar à agravante. E interposta que ·foi a ape-
cação e instrução" . Se ainda estas duas de- lação dentro dos 5 dias. o recurso teria que subir
cisões continuam a presidir a situação, como para que esta 5" Cámara o julgasse de meritis,
tudo leva a crer e não foi contestado, ant~s. decidindo, prelimina1·mente, .se como de ape-
objeto de afirmação continua dos interessados lação ou como de agravo.
e as palavras valem pelo sentido inequívoco que O que não resta a menor_ dúvida é que po-
oferecem ao intér,prete: Corno sust-.,ntar que, na sitivamente o despac11o era recorrível, !IJOr sua
espécie, trata-se de matéria definitivamente jul- própria essência, pelos próprios termos em que
gada, "não ser mais susceptivel de recurso", a controvérsia foi colocada, quer na sentença de
despa-cho que a agravant~ reconheceu, tanto que 1a instância a que já fizemos referência, quer
pediu sua revogação ? na palavra do ac. da 5a Câmara. Não sendo
E se o processo é administrativo, pois, st assim. teríamo.> que aceitar = situação que
trata de tutela especial onde as decisões não não se coaduna com o nosso espírito de jul·
constituem - sentenças definitivas, - temo:s gador, qual, a de sustentar que não se trata na
que convir que a todo tempo, a matéria po- hipótese de uma medida provisória, si · et in
derá ser renovada afiln de ser ou não revogada quantum., como é ela, mas, s!rn, de urna reso-
pelo próprio Juizo que a praticou, uma vez lução definitiva que já passou em julgado e que
comprovada a mudança das circunstâncias que mesmo que as circunstâncias au.toriZem, não
deternlinaram a sua realização, corno sustenta mais poderá ser modificada, dada a res judt-
o acordão lavrado pelo ilustre Desembargador cata, embora, se trate de um processo admi-
Rooha Lagôa. Portanto, não h.á que falar em nistrativo de tutela especial. O nosso entendi-
decisão irrecorrivel, porque confirmativa de de- mento, porem, não vai até ai porque absurdos
cisões anteriores. não podem ser entendidos, maxlmé, quando exr~-
Data vênia dos nossos ilustres colegas, esta- te a precípua missão de fazer justiça. Alem
mos certos de que a agravante podia reiterar disso, há que ponderar que o despacho negando
&2U pedido, -como reiterou, agora, em Agosto de
à agravante, mão da menor, o direito de con-
·1942, contra o decidido pelo Dr. Juiz a quo, aos tinuar a prestar-lhe alimentos, educação, ocor-
4 de Dezembro de 1940 (fls. 37), desde que rendo com as despesas do colégio, é uma decisão
ficou soberanamente assentado em todos os pos- que pelo seu conteudo e consequências, não
teriores julgados, especialment3 no último que pode, nem deve ficar irr.ecorrivel, sem a razoavel
possibilidade de ser reexaminada pelo Tribunal
é o já apo!1tado acordão do Desembargador Ro-
cha Lagô::t, nesta 5a Câmara, que se tratava de Superior.
1
uma medida administrativa, revogavel a qual- Em ca·3os semelhantes, a liberalidade dos
quer tempo, por ato próprio do Juiz, se as cir- Juizes ele 1a instância e das próprias Câmaras
cunstâncias assim determlnass2m. Foi o que ela de Apelação, tem se manifestado por diversa3
fez; veio aos autos, novamente, e insistiu para vezes. Nada justifica cortar pela raiz o conhe-
que continuasse a pagar o colégio de sua filha e cimento elo Tribunal em um ·caso de tão largas
com ela tivesse o encargo de alimentá-la. .projeções e que até seria motivo de ainda maior
Note-s-e, neste ponto. que foi o próprio Dr. ' tranquil!dade do seu prolator, se viesse a ser
Juiz a quo, quem aludiu ao "dever legal de novam2nte estudado e novamente confirmado.
'prestar alimentos à filha adulterina", como já Deixar a agravante sem recurso porque o des-
transcrito ficou neste voto ao aludir a cert. de pacho recorrido "mantct:c a situação anterior",
Ds. :36. Se as.sim é, se assim nào pode deixar I seria argumento convincente se se tratasse de
(41)
ARCHIYO .TUDICIAHIO 20-3-43
coisa julgacla, 1nas, como bem acentuado ficou. const~ntes dos presentes autos por c··rticlóes au-
pelas próprias pala,•ras elo último ac. cleõt~ mes- tênticas. Logo: por ~1ue ncg·ctr à CJgraYnntf~ 0
ma. 5a Cân1ara, a agra\'rtnte não ficou ilnpossl- clireito ele recorrer?
bllitacla d·e repetir o pedido, um.a vez que em A agravant-e tem em seu patrintônio o sa-
processo de - tutela especial, - nã-o há comu grado direito de defc·;:·a qu: pode ser exercido
invo-car a res judicata para solucionar a con- dentro dos quadros processuais que isso permi-
trovérsia, meclida administrativa ·2 provi~ória que tem. Não é fav-or algum. é direito seu, indis-
é a contida naquela processo "que a todo tempo cutivelmente s-eu. Armada com ele, ela .pode
poderá ser r<ovogacla pelo próprio Juizo que a pL··itear perante os Tribunais que lhe reconhe-
praticou, uma vez comprovadas as -circunstân- ç::.m ou que lhe 11egucn~ sua pretençã.a. e de ..
cias que deter1ninaram a sua rea1ização", na cidir com demasiado e de~aconselha •·el rigor, é
frase do ilustre Desembargador Rocha Lagô:t. Impedir os recu1·sos cabivei3. mesnw aqueles cuja
Resta ponderar que a menos que houvesse admissibilidaà:, seja du\'idosa.
expressa di~posição legal impeditiva do recurso, No caso dos autos, o que evidentemente se
o que não há na espécie, tudo no caso em apreço, V·eriflc;a, ê que a agravante obtevç utna decisã.o
e"tá indicando que melhor terh sido o .provi- c-::mtrária e1n processo que to.dos ·proclmnam
mento do recurso afim de que subisõe a decisão eomo sendo daqueles em que a matéria julgada
de P instância pJra ser examinada, ou melhor. é de efeitos provisórios, modificaveis a. qualquer
reexaminada, precisamente para o fim de por um tempo, mas, quan:lo ela por estas mesmas razões,
u·c. do Tribunal. ficar mais uma vez esclare- recorre ·para procurar demonstrar, embora repe-
cido que, a agravant.2 estava ou não estava em tindo que recurso, que já está em condições de
condições de obter o que pretendia através do 0bter aquele favor leg:'ll por entender que as
recurso tempestivo que interpôs. Não há dú· c1rc1tnstcincias mudaram, o Dr. Juiz. aplicando
viela, entre o dar e o negar um recurso, é obr:. o principio inverso. interpreta o caso como jâ
de prudência e tamb2m de acerto, resolver pela tendo sido definitivamente julgado e nega à
primeira d-ecisão. agravante até o ~eu incont~stavel direito de re-
No caso, entretanto, data vênia, dos meus correr para o Tribunal.
ilustres colegas, não estamos em dúvida, antes Assim, não podemos concorrer com o nosso
pelo contrário, nos colocamos convencidos a,.c_, voto para ratificar aquela interpretação, hoje,
lado dos que sustentam a admissibilidade do apoiada -pelos elementos de maior prestf.gio cul-
recurso interposto. E =m -precisamo-.; invocar tural na •Magistratura local e dos quais senti-
aquela liberalidade. Se a agravante tem o pâ- mos sincerament3 ter que diver.gir.
trio poder, apena-s, suspenso, como aliás é o que Aos ·poucos vamos nos convenGendo que para
afirmam os julgados já proferidos, ela pode re- os próprio.s interesses da agravante, melhor seria
petir a matéria decidida, a;penas, em princípio. que lhe tivessem revogado definitiva e absoluta-
provisoriamente, para que seja reexaminada. l'l. ment.3 o pátrio .poder de sua filha, porq.ie só
porta não lhe foi definitivamente fechada; se. assim,' ela se 'preservaria da luta inglória que
ao contrário, nem recorrer cpocle •2la ele um in- tem mantido através dos inúm2ros incidentes e
deferimento a uma sua pretenção, que se justa recursos de que jrá lançou mão sem que conse-
ou injusta não deve ser assim declarada somente guisse até hoje vencer qual:tuer deles, demons-
por ato do Juiz da 1a instância, então, não trando, embora, por outro lado a inquebrantavel
mJ.is será lícito argu.mnntar que na espécie em fibra materna e o valor indiscutível da sabedoria
di·;:cussão trata-se de processo de e-feitos provi- dos romanos: Clama, ne cesses. - C. Lobo.
sórios, processo simplesmente administrativo.
proce52os cujas decisões podem ser renovadas P
reexaminadas para possíveis ou não modifica- Agravo de instrumento n. 6.365
ções de acordo com as novas circun,tâncias, visto Embargos de terceiro. Em face do art. 486 do
como, os efeitos dos julgados em tais processos Código Civil o promitente vendedor terr;•
a posse indiréta e o promitente com-
são definitivos e passaram em julgado sobera- prador a posse di'!'éta. Penhorado o
namente e só por meio de rescisória poderiam in:cvel por dívida do promitente com-
prador, tem aqueLe direito a se opôr à
ser cL?sfeitos. penlwra por via de embargos de ter-
Ora, no ca.so sub judice, não se trata desta ceiro.
última. hip~tese evidentemente, pelas própria.~ Vistos, relatados e discutidos estes autos de
1
expre~sõcs elos .Julgados trazidos a confronto,, agravo ele instrumento n. 6.365, em que são
(42)
20-3-43 ARCHIVO JUDICIARIO 399
agravantes Monteiro & Rocha e agravados Ma- as rendas são acessarias que seguem o princi·
noel Raposo elo Amaral e Maria ela Gloria elo pal. Instruindo o agrm·o consta às fls. 3~ o
Am:ual: lraslaclo ela certidão elo Registro ele Imoveis
Acordam em 5a Câmara do Tribunal de sobre a transcrição em nome dos agravados dos
Apelação, pelos votos do relator e imediato, em !moveis.
negar provimento ao recurso. Estes fatos são suficientes para evidenciar
Na ação executiva que os ora agravantes a manifesta improcedência do recurso, mas
promoveram contra Antonio Ferreira para co- como os agravantes alegam conluio e fraude à
brança de 30:000$000, representados por 60 pro- execução, é necessário salientar que os agrava-
missorias, tendo a penhora recaído nos imoveis elos é que com maior razão poderão fazer tal
à rua Ituna ns.' 13, 15 e 17 e respectivas afirmativa. De fato, em 25-11-1941, o executado
rendas, apresentaram embargos de 30 senhor
e possuidor os ora agravados. Estes embargos
foram julgados provados pela sentença recor-
l assinou como promitente vendedor, a escritúra
cl2 promessa de venda. Entr·etanto em 17-12-1941,
isto é, 1 mês depois, e sem que o promitente
rida, que examina bem a prova dos autos. O comprador tivesse pago qualquer das prestações
Dr. Juiz procedeu à vistoria no imóvel para mensais, fazia este a declaração, junta pelos
a sua perfci ta localisação. A penhora foi pro- 8gravantes às fls. 8, cleclar8ndo não ter título
cedida em 30-12-1941. Nessa época os imov~is prote<tado ou outro qualquer, assumindo a res-
penhorados já haviam sido transmitidos aos ponsabilidade por qualquer divida que apare-
agravados por Francisco Vieira Goulart, desde cesse e pudesse influir em qualquer transação
22 de Setembro de 1941. É exato que os agra- feito em seu nome, dando como garantia as
vados por escritúra de 25 de Novembro de 1941 I propriedades das quais era promitente-compra-
dar, isto é, os imoveis que ainda eram de pro-
prometeram vender os referidos imóveis ao exe-
cutado, mediante pagamento em prestações priedade dos agravados, e 13 dias depois, em
mensais, pena de rescisão em caso de inadim- 30-12-1941, apareciam as promissórias ·emitidas
plemento, independente de notificação judicial, a favor dos agravantes e por indicação destes
ficando o promitente comprador na posse diréta aos oficiais de justiça foram as propriedades e
do imóvel, enquanto que a posse indiréta coYJ.- os agravados penhorados rumo pertencentes ao
tinuava com' o promitente-vendedor. executado. Assim, se houve conluio não .partiu
Assim, decidiu com acerto o Dr. Juiz, de- elos agravados.
clarando, em face do art. 486 do Código Civil. A sentença_ está juridicamente certa e bem
que os agravados têm o domínio sobre os imrJ- apreciou, com critério e justiça, a prova dos
veis e a sua é a melhor posse, eis que a pro- autos, merecendo ser confirmada.
priedade ínãa se transferiu ao executado e, Rio ·de Janeiro, 15 de Dezembro de 1942 -
assim, não se poderia em favor deste julgar a Frederico Sussekind, Presidente - A. Saboia
posse (Cód. Civil, art. 505). Os !moveis pe- Lima, relator. - Foi voto vencedor o Sr. Desem-
nhorados estão devidamente caracterisados, e bargador Lafayette de Andrada.
(43)
400 ARCHlVO JUDICIARIO 20-3-43
são Paulo, 10 de Janeiro de 1843. -- Th ·1 Dentro deste critério - esclarece o S•· Pe-
ele Piza, Presidente. -
Toleclo Pedro Chaves, dro Baptista - o Código de Proce.;oso, por vá-
relator. - J. Barbosa ele Almetda, vencido. rias razões, não quiz estabelecer regras para a
IJel provimento ao agravo de .acordo com o discriminação da competência internacional; o
meu voto exposto no julgmento do recurso, parágrafo 1° do artigo 134 cingiu-se a admitir
que junto aos autos. a possibilidade de correr no foro brasileiro
Declaração de voto do revisor: ação entre autores e réus domiciliados no es-
Ferreira Lage & C ia., comerciantes em trangeiro, relegando à doutrina a missão im-
Santos, propuseram uma ação ordinária con- portantíEsima d·e assinalar esses limites (ob.
tra Victor Guedes & Cia., estabelecidos em cit. ns. 5 e 17).
Lisboa, reclamando a entrega ele 2. 000 caixas Concluo, porisso, que o 'dispositivo em
de azeite "Galo" que lhe venderam e dcix:u-am
questão não tem a força imperativa que lhe
de entregar no tempo e pelo modo ajustado, ou.
atribuiu a decisão recorrida, de sujeitar à juris-
então, a indenização de todos os prejuizos de-
clição dos tribunais brasil·eiros o réu domicilia-
colTente da falta.
do no estrangeiro, pelo simples fato de ser o
Citados em Lisboa, mediante rogatória, os autor domiciliado no Brasil. Aliás o próprio au-
réus entraram com u1na exce~o de incompe- tor acentua que a competência do foro do do-
tência, julgada improcedente. Daí o recurso. micilio ou residência do autor é meramente
ora apreciado. subsidiária - (v. comentários ao artigo 134,
Na inicial da ação, invocando o artigo 134, n. 17).
parágrafo 10 do Código do Processo, os autores No Código de Processo não se encontram
sustentaram a competência do foro de seu do-
outras disposições que possam fixar a compe-
micílio (fls. 23v) . O Dr. Juiz de Direito fir-
mou sua decisão no mesmo dispositivo legal. tência porque o Códi'1'0 conforme o testemunho
E o ilustrado relator, no brilhante voto que ou- do autor, não quiz estabelecer regras a res-
vimos, tambem entende que o julgamento está peito.
preso à interpretação do citado artigo 134, pará- Mas a nova Lei de Introdução ao Códir;o
grafo 1o do Código Processo. Civil já em vigor, consigna no artigo 12, a com-
1Aconselha Pedro Baptista Martins que "a petência da autoridade brasileira quando o réu
primeira preocupação do Juiz perante o qual se for domiciliado no Brasil ou aqui tiver de ser
propuser a ação, quando o réu não fór dom.i- cumprida a obrigação.
ciliado ou residente no território nacional, deve En1 se tratando de venda com a cláusula
ser a da eficácia do seu julgamento. Se a sen-
"CIF" a doutrina e a jurisprudência corrente
tença tiver de ser executada em pais estran-
consideram a obrigação do vendedor exequivel
geiro cun1pre averiguar, preliminarrnente, se
no porto de embarque, que seria Lisbôa no caso
ela será, ou não, ·suscetivel de homologação
pelos tribunais do pais onde deverá produzir os I
dos autos.
Assim &e exclue a c01npetência da autori-
seus efeitos jurídicos. Se ele preencher os re-
quisitos exigidos pela lei do país da execução , dade judiciária brastleira, prevista no artigo
para que possa ser homolo'jada nada mais 12 da Lei de Introdução, pois nem os réus têm
pode obstar a que se considere firrnada a com- domicilio no Brasil, nem o contrato deveria
petência internacional da Justiça brasileira, por- ser executados aqui.
que a decisão que se vier a proferir terá asseg:u- Ademais, os agravantes demonstra.ram a
Tada a execução'' ( Cócl Pro c., 2° vol., página com.petência dos tribunal;; portugueses para
16). julgar a mesma relação de direito, de sorte que
A norma traçada pelo autor do Código de a sent-ença proferida no Brasil correria o risco
Processo se conforma cmn a regra, lem!brada por de não ser homologada para execução em Por-
Clovis Bevilacqua (observação 3 ao artigo 15 tugal. Com isto surg.e para o Juiz a primeira
da Introdução ao Código Civil) segundo a qual preocupação de que fala Pedro Baptista Mar-
-em geral os tribunais não têm competência tins: a da eficácia do seu julgado.
})ara chamar à sua presença estrangeiros resi- Dou provimento ao agravo, para acolher a
ilentes fora do país. exceç.ão ele incom.petência.
(45)
402 ARCHIVO JUDICIARIO 20-3-43
ta e elos elementos outros existente3 nos a·utos 1 pos, em que é apelante o espólio cL2 José de
traz a convicção segum ele que a com.pradora ! Azevedo Vasconcelos, e é apelado o Dr. José
nunca esteve ele boa fé. Na ausência d-este re- Felix de Sá:
quisito, é claro que a restituição do preço não r _ o Dr. José Felix d-e Sá moveu ação
tem a menor cabida. O contráto de compra e ordinária contra o espólio ele José de Azevedo
quer intervenção sua. Se a assistência médica Acorda a Primeira Câmara negar provimento
foi prestada ao inventariado, seu espólio nào ao agravo no auto do processo, e dar provimento
pod-~ deixar de responder pelo pagamento dos em parte à apelação para reduzir a conden'lção
honorários respectivos. Inquestionavel é, pois, a crs 1. 000,00 e juros da mora, contados na
o direito do facult'ltivo à percepção da remu- forma da lei, unanimemente.
neração. Custas proporcionais.
IV - Não há contrato, nem acordo sobre Niteroi, 4 d·3 Fevereiro de 1943. - Oldemar
a importância da retribuição. Cumpre, pois, • Pacheco, Presidente ad-hoc. - Ivair Nogueira
fixá-la, segundo o costume do lugar, o tempo Itagiba, relator. - Macedo Soares.
do serviço e a sua qualidade. Examinado o caso
dos autos à luz desses critérios, vê-se que a con-
denação determinada pela sentença excedeu os
limites do razoavel. E' sem dúvida, excessivo o Apelação civel n. 799
valor de CrS 4. 000,00 por duas visitas do facul-
(NOVA IGUASSÚ)
tativo. Consta do processo que é costume do
lugar o pagamento d.3 crs 200,00 por visita do A, boa fé não cteve ser encaradfÍ só do ponto
médico de Campos a Taí, onde demorava, o de vista psicológico. Porque, então, não
haveria critério seguro para jixá-la.
doente. Mas o facultativo foi chamado em São - A boa fé é legitima quando pro-
vem de erro excusavel, invencível .. Erro
João da Barra. Desta cidade a Campos, o preço OTiundo de culpa não tem excusa. Ato
de uma visita deve custar. Cr$ 200,00. Pela pri- que provem de culpa não produz efei-
tos jurídicos.
meira visita justo é qu.e o médico receba mais - Arts. 516, 517, 545 a 547 do Có-
Cr$ 200,00 por ter viajado durante a noite e digo Civil. Plantações e construções
não constituem benfeitorias prapria-
permanecido por horas à cabeceira do doente. mente ditas. São acessões industriais,
As três parcelas somam Cr$ 600,00. A segunda que, quando feitas de boa fé, dão di-
1'eito à indenização, sem a retenção que
visita é fixada em Cr$ 400,00. Pois o médico, só é concedi® no caso de benfeitorias.
quando chegou à casa do inventariado, já o
Vistos, relatados e discutidos estes autos de
encontrou morto. A remuneração a que tem
apelação civel n. 799, da comarca de Nova.
direito é de 1. 000,00.
Iguassú, em que é apelante João José Rodri-
Não há motivo para qualquer majoração.
gues, e são apelados João dos Santos e sua
Por causa das duas visitas a clínica do médico
mulher:
não sofreu solução de continuidade. O seu tra-
Acordam em Primeira câmara do Tribunal
balho durou pouco. Não podia ser eficiente;
de Apelação, pelos votos do relator e do Presi-
porque o inventariado era quase nonagenário,
dente, em dar provimento ao recurso para re-
e se achava nas últimas horas de vida. O mé-
formar a . sentença apelada. Trata-se de ação
dico não chegou a receitar. Deu-lhe a medica-
de reintegração de posse. Não resta a menor
ção prescrita pelo seu assistente. - Dr. Cicero dúvida que os apelados teem direito â restitui-
Cruz Alves, que, por sinal, foi quem lhe atestou ção do terreno de que o apelante se assenho-
o óbito. O inventariado não possuía largos re- reou. O próprio apelante, aliás, não nega a
cursos. Seus bens foram avaliados em cruz·3iros obrigação de restituir a posse da át"€a que vem
70.000,00. A' vista de todos esses elementos, a <X:upando.
retribuição não deve ir alem de Cr$ 1. 000,00. A discussão versa sobre se o apelante pro-
V - A, sentença condenou, t<lmbem, o espó- cedeu de boa ou de má fé, para que lhe seja
lio ao pagamento de Cr$ 800,00 de honorários do ou não assegurado o direito à indenização por
advogado do médico. O réu não alterou inten- plantações e constt:uções feitas no imovel. A
cionalmente a verdade; não se conduziu de mo- boa fé não deve ser encarada só do ponto de
do temerário no curso da lide; não provocou vista psicológico. Considerá-la. unicamente co-
incidentes manifestamente infundados; a ação mo crença, convicção, suposição que o indivi-
proposta não resultou de dolo ou de culpa. Não duo obtem, segundo o meio onde vive, é dar-
Se justifica a condenação em honorários advo- lhe feição menunente subjetiva, é fundamentá-
catícios. la na incerteza. Não hayeri:l. então. critério se-
Por esses motivos, I guro para fixá-la. Não teria bases objeti \·as e
(49)
406 ARCHIVO JUDICIARIO 20-3-43
certas. Dependeria exclu.sivamente do arbítrio num movei ou nmn imovel para o fim de 0
daquele que a investigasse. conservar, melhorar ou embelezar. A lei só au-
A boa fé é legítima quando provem de erro toriza a retenção, quando se trata de benfei-
excusavel, invencível. Erro invencível é o que ·torias, nos termos dos arts. 516 e 517 do Có-
não se origina de culpa. Erro oriundo de culpa digo Civil. Plantações e construções são aces-
não tem excusa. O ato que dela provem não sões indu.strials, reguladas pelos arts. 545 e se-
se reveste de boa fé; não encontra apoio na guintes do Código Civil. No caso não ca·be a
lei; não produz efeitos jurídicos. retenção. como não há prova cabal e convin-
Na espécie o apelante procedeu com inques-· cente do valor das acessões, deve a indenização
1;1onavel boa fé., Fez plantações e construção ser apurada na execução.
no terreno contíguo na suposição de que era Cu.stas na forma da lei.
o de sua propriedade. Tem, pols, direito à in- Niterói, 25 de Fevereiro de 1943. - Macedo
denização. As plantações e construções não Soares, Presidente com voto. - Ivair Nogueira
constituem benfeitorias propriamente ditas. En- Itagiba, relator designado. - Oldem(LT Pacheco,
tende-se por benfeitorias toda a despesa feita vencido.
(50)
20-3-43 ARCHIVO JUDICIARIO 407
JULGADOS E PARECERES
cio de fls. 27, por entender que "está certa a Iadaptar-se-ão as disposições deste Código, que
distribuição para essa Vara de acordo com o ar- sobre umas e o11tros, prevalecerá".
tigo 101, § l i n. I da Constituição de 1937". Dest'arte a disposição regimental que dis-
Em princípio a decisão do eminente desem- pôs de forma contrária a letra da 1·3i, não pode
bargador corregedor, não me obriga, porquanto suplantar a esta, devendo o Juiz ater-se aos ter-
l
das decisões dos Juizes de 1." instância que se mos da lei e deixar os do Regimento, dado que
julgarem incompetentes cabe recurso de agravo a 1ei expressamente pNvê a sua preeminência
com fUndamento no artigo 846 do Código do sobre aquele, que a ela deve se conforamr.
Processo Civil, para uma das Câmaras compe- - Alem disso, sendo o Regimento Interno do
tent·3S do Tribunal ad-quem (Tribunal de Ape- Egrégio Tribunal, um conjunto de normas dis-
lação ou Supremo Tribunal), e não para a Cor- ciplinadoras da atividad.3 daquele CoZendo Pre-
regedoria. tório, a elas não estão obrigados os Juizes da
instância inferior, eis que não se lhes aplicam
Não quero, porem, ser mais realista que o
as mesmas normas, em nenhum dos seus aspectos
rei, e tendo conhecimento de que o Egrégio Su-
ou alcance.
premo Tribunal, tem ao3itado o processamento
Nem mesmo um caso julgado, ou uma ju-
das rescisórias nos juizos de 1.a instância, jul-
risprudência assente exist.3 que possam obrigar
gando-as como de direito, recebo e cumpro a
aos juizes da instância inferior, dado que se
determinação do Sr. Desembargador Corregedor, queira arguir de inconstitucional o preceito do
processando a present.3 ação, pedindo vênia, po- artigo 144 n. IV do Código do Processo Civil,
rem, para deixar patente o meu ponto de vista, porquanto ai sim, em obediência ao julg0.do,
e que serviu de norte ao despacho exarado in- face ao caso concreto, estaria para o judiciário
limine.
estabel•3Cida a inaplicabilidade da lei, e o juiz
O Código do Processo Civil dispoz no artigo inferior teria que se cingir ao que fôra pre-
144 n. IV que ao Supr•3IDO Tribunal Federal estabelecido.
compete processar e julgar A emenda regimental de que resultou o ar-
"as ações rescisórias de seus acordãos". tigo 97 não foi adaptada em um caso concreto,
Tendo em vista o preceito constante do ar- em dada hipótese, mas em tese pelos eminentes
tigo 101, II, I da (Jarta de 10 de Novembro de Ministros do Pretório Excelso, e como nenhum·
1937, o Pretório Ex~lso, ao redigir o seu regi- Trtbunal julga em tese, ma.s em hipóteses sub-
mento interno incluiu no texto o dispositivo metidas a sua apreciação, a determinação cons-
constante do artigo 97 e que assim reza: tante do artigo 97, com a devida vênia dos
"A ação rescisória de acordãos do Supremo Egrégios Srs. Ministros, é nenhuma quanto à
Tribunal, ou de suas turmas, será processada
sua obrigatoriedade relativamente aos Juizes da
no Juizo local do domicílio do réu, e se for mo-
instância inferior.
vida contra a União, Estado ou Distrito Fe-
Mas, ainda que E•3 desça à própria análise
deral, ou por estes intentada, no respectlvo Juizo
do texto invocado como inconstitucional, em si
dos Feitos da Fazenda Pública.
mesmo, não nos parece ocorra tal inconstitucio·
Este dispositivo regimental, não tem a meu nalidade.
ver preponderncia sobre o preceito de lei, nem Se o texto do artigo 144, n. IV, fosse fla-
a ele estou obrigado, pelos motivos que a seguir grantemente contra a letra da Constituição, pa-
são enumerados. tente e insofismavelmente derrogatório de qual-
E' certo que compete ao Egrégio Tribunal, quer preceito da lei magna, contradição que
nos termos do artigo 93 a da Constituição, a decorresse da só leitura de ambos os preceitos,
elaboração do seu Regimento Interno, mas não ai sim estaria extreme de dúvidas demonstrada
é menos certo que esms regimentos, quaisquer a inconstitucionalidade do preceito de lei, frente
que eles sejam terão que ser conformados à lei aGJ artigo da Carta Magna.
processual, ex-vi do disposto no artigo 1.049 do Na questão em exame isso porem não se
Código do Processo : verifica. A Constituição diz é certo que ao Su·
Art. 1. 049 - As leis de organização judi- premo Tribunal, comr-ete julgar as rescisórias
ciária e os Regimentos Internos dos Tribunais, dos seus acordãos.
(52)
20-3-43 ARCHIVO JUDICIARIO 4091
No poder ele julgar pode-se ter por implícito Ministério Público Federal, Dr. Gabriel de Re-
o de processar o feito, sem que dessa ampliação zende Passos, no ARcHrvo JunrciARro, volume•
de conceito, decorra necessariamente a eiva de XXXIX, pág. 305, em que se propugnava pela.
inconstitucionalidade da lei ampliadora. admissibilidade em tese do recurso extraordi-
O Supremo Tribunal Federal, sempre teve e nário nos mandados de s-egurança interpostos.
tem a sua órbita de competêncLa estabelecida e Julgados nos Tribup.ais locais, por conside-
na Constituição, mas sempre teve, e tem atual-· rá-los compreendidos na expressão causas de
mente, implícita nos termos constitucionais com- que cogitava a Constituição.
E assim realmente sempre julgou quer o-
petência para apreciação de outros feitos, não
Supremo Tribunal - decisões já apontadas -
expressament.3 mencionados na Carta M"'-gna.
quer a Corte Suprema, como se pode verifi~ar·
Assim, pode-se afirmar que ao lado da com-
do ARCHIVO JUDICIARIO, vol. XXXII, pág. 191.
petência expressa da Constit'uição, o Supremo
E' indiscutível, pois, que ao lado da sua.
Tribunal tem exercido o seu poder jurisdiciOnal
competência expressa, sempre admitiu o mais-
pela admissão de uma competência implícita alto Tribunal do pais, casos em que por força
decorr·3nte de sua posição nos quadros do re- • da competência implicitamente a ele atribuída,
gim e. c:mhecia e julgava das espécies respectivas.
Na Constituição de 1891, no artigo 59-EIJ, se Assim a emenda regimental, alem ele não·
regulava expressamente a competência do Su- ter sido proferida em razão de_ um julgado -
pre1no Tribunal Federal. mas em tese pelo Tribunal - não pode ter a
Não se cogitava naque~e artigo da compe- força de derrogar preceito de lei; ainda que
tência do Pretória Excelso, para o proc-;;ssamento tal acontecesse relativamente aos Srs. ministros
dos juizes federais e seus suplentes; os habeas- a quem o Regimento obriga, não poderia ter·
vis compulsiva sobre os juizes da instância in-
cor-pus ern que fossem coatores Juizes Federais
ou Ministros do Estado, da homologação das ferior, obrigados à lei e à jurisprudência.
sentenças estrl3.ngeiras, e no entanto por força Mas ainda quanto à obrigatoriedade no
da subordinação em que se encontravam as próprio Pretória Excelso seria ela diGcutivel,.
autoridades ou assuntos, ao Supremo Tribunal, como já o assinalou a clarividência de Pedl'O
implicitamente se reconhecia compo3tente o mes- Lessa:
mo tribunal, para processar e julgar as espécies
referidl3.s. "A jurisprudência ele que, a este respeito da
noticia, já está profundamente alterada. Em.
Veja-se a reõpeito o luminoso parecer de
virtude de uma emenda ao regimento do su-
Luiz Gallotti, encontrado no ARCHIVO JUDICIARIO, premo Tribunal Federal, proposta pelo Procura-
vol. XLII, pag. 221, 0 confiram-se os julgados dor Geral da República em Julho de 1915, e
do Supr=o Tribunal encontrados na Revista aprovada por _grande maioria de votos, ficou as-·
do Sup. Trib., vols. XLVI-36 - XXI-449 - sentado e assim tem decidido o Tribunal, que·
XLVI-36 - XXI-449 XLIV-48 - XXX-19
as ações rescisórias Ge processam na primeira;.
e L-64; XLI-221 XLIV-3 XLVIII-5
instância federal e são remetidas ao Tribunal
XLVII-130; todos consagrando o principio
para serem por este julgadas, sempre que ti-
da competência implícita do Pretório Excelso.
verem por fin1 a anulação de sentenças do
Com o advento da Constituição de 1934, a
mesmo Tribunal.
situação não mudou, e assim, embora se esta-
belecesse nos artigos 76, n. I, letra i, a compe- Isto posto, alterar a competência do Juizo
tência restrita da então Corte Suprema, para para o processo e julgamento das ações resci-
conhecer do mandado de segurança contra atos sórias, por meio de dispasições insertas no re-
gulamento de um Tribuna!, fmporta em: 1.0 -
de Presidente da República ou do Ministro de
Estado, conhecia ela tambem dos interpostos estatuir num regimento de tribun-:~1 de 2.a ins-
tância matéria estranha e descabida; pois o
contra atos dos Juizos Federais em razão da
regimento de um tribunal só· pode conter nor-
subordinação imediata daqueles.
mas concernentes à sua economia interna, alem
Em abono dessa tese, alen1 elo parecer ja
referido do 2. 0 Procurador da República Luiz da transcrição claG leis e reg'Ulamentos que o
GallotÜ, que se apoiou aliás no famoso caso Tribunal julgue conveniente reproduzir no re-
Marbury & Madeiun há o do ilustre cl1efe do gimento, o quul nlmca deve encerrar preceitos,
(53)
-tiO AHCillVO JUDICIAHIO 20-3-43
fonnulados pehJ tribunal par~ o fiin ele rcgL~rcnl 1 clecenclo-!3e no disposto no artigo 07 elo Regi-
a primeira instància, isto é, destinados a vt- menta e não ao 144, n. IV, do Cócllgo, ainda
gomr fora do Tribu1z.al" (Do Poder Judiciário, assim. estará errada a distribuição para o Juizo
pãg. 83). da Fazenda Pública, porquanto, nos termos do
Foren1 esses os 111otivos que n1e 1evaran1, artigo 97, a ação deverá ser processada "no Jui-
embora lêsse desde logo no preâmbulo da peti- :lO local do domicílio do róu" e, somente quan-
ção submetida a meu despacho que se invocava do for movida contra "a União, Estudos ou Dis-
como autoriz;'ldor da Inillha competência o pre- trito Federal" é que deverá correr pelo Juizo
c..ito do artigo 97 (inicial, 1." página. linhas 13), da Fazenda, Pública.
e embora conhecesse o julgado proferido na Ora, a presente rescisória não é intentada
a(,'ãO rescisória 71 que s.e processou na 1.a Ins- contra a União, Thto.dos ou Distrito Federal, e
tância c foi julgada na 2." - sem que, porem, assim, nos termos da organização judicdã.Tia
fosse discutida a tese - só podendo obrigar. (decreto-lei n. 2. 035, art. 45, I), combinada
assim. pelos motivos implícitos decorrentes do com o artigo 97 do Regimento do Supremo Tri·
julgado. foi 'qUe me considerei incompetente bunal - supletivo da lei _: não é da compe-
para o processa1nento da pre~ente rescisória, a tência do J·uizo da Fazenda Pública, e sim do
que já agora. dou curso, n1ais por reconhecer Juizo local, isto é, qualquer das Varas Cíveis
uma sit.uaç.ão de ja.to - que no dizer de Cornil a que for distribuida. Voltem, pois, os autos
e Dugult, citados por Emmanuel Sodré em me- ao Exm'<>. Sr. Desembargador Corregedor para
mmavel sentença, "são mais fortes do que os que seja o processo redistribuido a uma das
ll.omens, e mais fortes do que a lei", do que Varas Civeis locais.
por me curvar a uma injunção de direito. O que se cumpra.
Mas, ainda mesmo que prevaleÇa a deter-
.minação para que o p1·ocessamento se faça na I Rio, 26 de Janeiro de 1943. - Elmano Cru~ •
:1.a intitância, e não n:J Supremo Tribunal, obe- --V-e-1-.-n-este volume fls. 407. _ N. da R.
(541
SUPLEMENTO
(77)
A PRESCRIÇÃO DAS AÇÕES DE
ANULACÃO DE CASAMENTO ..;>
"Sr. Presidente - Cuidando dos prazos de ele que a coação só cessara mer.os de seis me-
prescriçãc das ações ele anulação de casamento, ses antes da data em que a ação fora proposta.
nos casos de erro essencial e de coaçcio, o Co- Foi portanto, o abuso verificado na aplica-
digo Civil determinava que nos primeiros o ção ele uma norme legal que se destinava a ser
prazo tivesse curso a pm·tir da data do casa- aplicada somente em casos excepcionais, que ra-
7ii.ento (art. 178, § § 1 o e 7o, n. I) e nos se- ranlente '"~ Yerific::trinm em um grande centro,
gundos a 71artir da data em que tivesse cessado cnde a liberdade ele que gosam os adolescente;;;
a coaccio (art. 178, § 5o, n. I) . no seio das famílias exclue em regra, a possi-
Esse sistema vigorou até 29 de Janeiro de billclacle de virem a sofrer qualquer coação. foi
1935, quando o decreto n. 13, votado com gran- a excessiva tolerância dos tribunais, largamente
de açoclamento pelo Congresso, determinou que, demonstrada em inúmeros julgados. que ia. aos
r>.os casos previstos no art. 178, § § 1 o e 70. poucos transformando em um di\·órcio disfar-
n. I. os pmzos ele prescrição seriam "contados cado a anulação de casamento, que torr:.ou de
da data em que o conjuge enganado tenha tido imperiosa necessidade a noYa norma baixada p,)l·
conhecimento do fato que constitue o erro es- V. Ex. pelo já citado decreto-lei n. 4. 529.
sencial, nos termos do art. 219 do mesmo Có- Um exame mais cuidadoso no assunto. en·
digo". tretanto .. depois ele baixado esse último decreto-
Assim, cs prazos de dez dias e de dois anos.lei convenceu-me de que os que pleiteiam a
previstos no citado art. 178, §§ 10 e 7°, n. I, dissolução da sociedadE' conjugal. não deixarão
que deveriam correr a partir de uma data cer- de ir buscar na acão ce anulacão fundada em
ta, a da celebração do casamento passaran1 a erro essencial o r{'lnédio qu.2 prOcu::J. 1::U11 com a
ter um termo incerto. depcncll'rltc "da data (in-n;.esnla a cão con1 funcianle:!Ho na co8.c~1o.
certa) em que o conjuge enganado ten11a tido Nen1- se diga que a proya do e1:l·o é n1ai~
conhecilncnto elo fato que constitue o CITO es- dificil do que a ela ccaç3.o. Qu:n;do as partes
sencial. nbn!1donan1. o seu domicilio en1 busc,; de lu§;s.-
res distantes anele no são con!lecid2s. co:nc é
Ora. pelo decreto-lei n. 4. 520, ele 30 de fl·equcnte c!n casos àessn orcletn. pode-s-e ~f:!··
Julho elo corrente ano. foi modificado o artigo n~nr que não ha pro\·a que seja inlpOs5i',·el. nen1
178, § oo, n. I elo Código Ch·il, para o fim ~:iquer dificil, sobretudo porque. ness2.s acões
especial ele ficar estabelec·ido que, se no caso trcpidnnl \?In aceitar os n1~~ds des8.gTJ.dàTeis
de coacáo o prazo ele prescrição de ação para papeis.
anulacão elo casamento comecaria a correr na
data dn celebmcâo deste, e Úfio mais naquela E1n tais circunstô.ncLl.s. p:1!"~e-rnc que.
em que tivesse ·cessado a coação, como dispu- para C'f·rtos casos. a proYa do erro scrj 3t~ n1~:E
zera o mesmo Código. facil do que :1 da coru::·fto. O ca~~~l :3t>n:.. filhos,
por cxen1plo. talyez tenha difit..·ulC~tdc C'lll :lLh~;:
Deu lugar n essa medida o número yerda- quenl repr('seute. con1 ap~rênt. . i~1s: de Y~1'32idad~.:".
deiramente extraordinário ele anulacões de ca- o papel de co:1.tor. Entret<fJ.nto. podcrA sen1pre
samento.; que se vinlut verificando nos últi- ft1zer proYn: por n1eio dC' te.stennn;,.:1~~_:;: c que (1
nws anos, toclns sob o fundamento ela coação, t~x~uue 1110dico confinn;.l.rá, dt... q'...:·:_" :l 11YGll:e~
embora já decorridos muitos anos ele viela con- ,i i E-ra dt~flornda . C' que L) n1:1rüio ~6 suube do
jugal. E' que a lei clava lugar a que, juntmnen- fl_tto n1enos de 10 àt~s ~tntes. A prl')Y:1 de df'ft'i~~o
te com a prova ela alegada coação, tosse feit.a a flsicn. ou de nloh'sthl ~rn\'e. t~1111ben1. 11~\o ~
ct~fi("il. sobretudo df'Pl1is ~qu~· SL" !'t"'-""-·n~ht.."C't."U aue
n. inf~..)~..~c~l'- 1 sifi:ith~:1 ~'~..)tic se:· ~:".'-·~:.:·:,~::. c:1:-:.. t~ ~~s &
do ouilro conjugc cuja alegaçüo depencle ape· Con1.o V. Ex. não i~~nor2.. a "icleia'' ela in-
llfl.S CtO CSCl'Ú!)lÜCJ c!as purtcs, não muito fre- clissolubiliciacle elo yínculo é um elos mais im-
qt~cnte cn1 c1uen1 cstú clon1in~clo por algunui pGrtantes f8 torcs ela felicicli\r.le conju•;al. Tem
paixiio. sido, por isso, elas mais perniciosas sobre as Ia-
E certo que esces abusos ainda não se ve- millas brasileiras a influência exercida pela
rificaram, ou, pelo meno~. ainda não se verifi- idéia, g-erada p.elas faciliclacles ele certos julga-
caram em número tão grande que assunlisse elos, ele que a anulação de casamento estaria
&s proporções de un1 escândalo, como sucedeu sendo, no Brasil, o sucedâneo elo divórcio, pon-
cmn as anulaçõeE por coação. Mas isso só se do termo definitivo aos matrimônios infelizes.
deu porque havla esse último caminho aberto, Estou, por isso, convencido ele que. revo-
que falcutnva às partes alegações menos cons- gando o mencionado d.ecreto n. 13 e restaur~,n
t~.ang8doras. Estancada essa fonte de anulações, clc a plena vigência dos ~ ~ 1 o e 70, n. I, do
porem, é inevitavel que as parte~ procurem a art. 178 elo Cócligo Civil, V. Ex. contribuirá de
outra, vencendo sem grande dificuldade os pri- modo eficaz, como já o fez cem o decreto-lei
nleiros escrúpulos que possam suscitar alega- número 4. 259, para solidificar a indissolubili-
cões de outra ordem. dade do vinculo matrimonial, cuja guarda nos
• E' para evitar que isso se verifique que é imposta pelo art. 124 ela Constituição.
tenho a honra de sugerir a V. Ex. seja baixado A V. Ex., entretanto, caberá decidir como
o decreto-lei cujo projeto vai anexo, pelo qual lhe parecer acertado.
seria revogado o decreto n. 13, de 19 de Janeiro Aproveito a oportunidade para renovar a
de 1935, e restabelecida a vigência integral do V. Ex. os protestos do meu profundo respeito.
art. 178, § § 1 o e 'i: I, do Código Civil. (a) Alexandre Marcondes Filho".
ABORTO NO CASO DE GRAVIDEZ
RESULTANTE DE ESTRUPO
PELO
Porque Se não observa, na Casa de Monte-~ continua o vigoroso escritor dos nossos dias,
zuma, o ucase de Padro Grande, datado ele está fundado somente sobre os postulados da
1822, proibindo aos magistrados, "sob !!Jena ele matéria. isto é, o ,principio ele individuação, exi-
morte, int·erpr·etar as leis, ou determinações so- gindo que ocupe um lugar e tenha uma quan-
beranas, as quais cteverimn se·r e1n tudo e sem- ticla::le. Da sorte que, enquanto somos indiví-
pre literalmente cumpridris", animo-me, posto duos, não somos senão fragmentos de matéria,
que reconheça a fraqueza elos meus conhecimen- u1n::t parte deste universo, distinta. senl dúvida,
tos, a cluzir algumas consideraçôas contrárias mas uma parte, unl ponto deste im,anso reser-
ao n. II do artigo 128 elo Código Penal Bras i- vatório de forcas e influências, físicas e cósmi-
lelro, desde que o considero assás perigoso à cas, vegetativas e animais, e étnieas, atávicas,
dignidade familiar. llereclitárias, econóulicas e históricas, cujas leis
As !·eis são rpromulgac!as para benefi.ciar a ntportamos".
coletiviclacle, garatinclo os direitos ele cada um Mas, a pessoa é uma substância individual
dos que a ccmpõetn e prcscrevenclo-ll1e's, outros- completa, ele natureza intelectual e senllora de
sim, os clevercs a cujo cumprinlento llles não suas ações, "sui juris", autônoma no szntido
será lícito eximir-se; porcnr, nào s.2 pode admi-
tir que, ilnpregnaclo elo liberalismo,· herdado da autênti·CO da pa.lavra. Assim, o nome de pessoa
revoluç81:) francesa, o legislador lloclienio queira é reservado às substâncias que possuenl essa
tmpor-nos um cócligo colcsivo ::;o.s ensinamentos coioa divina, - o espírito - e que. por isso,
cristã.os. que ,presiclirmn a nossa fonnação. sáo e1n si mesmas lun nrunclo superior a toda
ordem de cOJ'j)OS, mn mundo espiritual e moral
O individualismo, que agitou o século der- que, propriamente, não é uma pavte deste uni-
rad·eiro •COm as errada<i •concepções da vida hu- verso e cujo segredo é inviolavel até ao ol•har
mana, clerivou-se, cxatarnente, do Jiberalisnw, dos anjos; o nome ele pessoa é resen·ado à.s
para o qual os caprichos individuais mereceriam substâncias que, escolllenclo seu fim, são cap8-
obecliencia incondicional, u1na vez que a exis- zes de determinar os rneios e introduzir no uni-
tência nfw poderia ser lilnitacla ;por leis clesti- verso, IPOr sua liberdade, series de aconteciJnen-
nadas a esta·belecer o equilibrio- de todos os va- tos novos; às substâncias que. a seu modo, po-
lores humanos para a obtenção elo aperfeiçoa- dem dizer: Fiat, e será feito. O que a su::t digni-
tnento social. E' na própria razão, que deverá dade é a alma espiritual e imortal.
reger-lhe as atitudes e nunca nos i'nteresses mo-
mentánsos, que ele tem ele basear a liberdade; Aceitando os sensatos conceitos d.o Jacques
portanto, repelidos os apelos da razão, que o Maritain, por ver neles apadrinhada a doutrtna
coloca em situação .privilegiada, na terra, :pre- salutar da Lgreja Católica, da. qual sou im[per-
valecerão os reclamos dos instintos, cujos funes- feito 1nembro, reconheço que a vonta~e ea In-
tos cfcito.s silo cnumcraclo.s pelos >estudiosos cl::t té'li!C;ência, quando b::ml1aclas pela luz mconfron-
sociologia. trv:Cl elos E,·ang:._~lho.s, n1antêrn o llon1'E':nl en1
E o homem é livre, por que ·é pessoa, sc- conclieôes ele não consentir. nunca por nunc~. no
gunclo obscnou Jacques Maritain. "O indivíduo, primnclo elo sensualismo, do qual promanam to-
18!)
(i ABCHIVO JUDICIARIO (SUPLEMENTO) 5-1-43
das as inov:1ções perversivas, nas quais se delei- CDITec!ios, os quais depau.perant o caraL'r de
tanl os tcn1p:.:r~un~ntos cgolátri~os. urna. naçüo, cujos alic:ercc.s, para não serern afrou-
E, qu:1nclo se cuici.a ele destruir, no hon1en1, xados pelas n1isé'rias n1unclanas, c::n·cccn1. re:-:1-
culto ou ignorante, o dominio da espirituali- mente, das virtudes domésticas e cívicas dos
dade nas suas ações, busca-se, unicamente, o seu que povoa.m o território.
amqtulamento moral, porquanto 1p assará a ser As leis tem ele ser elaboradas para tutelar
um escravo das malignas veixões, provocadas, os 1nt-eresses soc:ais e ntmc~t para permiti'r o
por sem dúvida, vela~> frequentes explosões do::, mcremento dos males, que arruinan1 cidades,
instintos. expondo-as à ganancia ctos ~tudazes.
. Privado, deetartc. de tão precioso guia para Os direitos de família de•correm do direito
Jornaclear, nest-e "vale ele lágrimas", o homem natural; e. ·para os pais, assemelham-se a direi-
se a~erm.anaria com aquele nwnstro de apatia, tos, que lhes são confcriclos, afin1 de que, mc-
nnagmado por João Gontcharoff, romancista ~horm,ente, cumpram os ~eus deveres e1n relacão
russo do século passado. no Obblomoff - céle- a prole: _que, em leito abençoado, geraram. Sao
br~ romance de costumes, cujos clireit.os auto- as famllJas, que compõe ma socieclaclc; e, para
rais ele os c.ecleu por 10.000 rublos, equivalen- que_ esta prognda, moral e materfalmente, ne-
tes, na época, a 40.000 francos. E' realmente, cessal'lo se faz rodear a família, forn1acla conso-
essa aspiração constante para o que é sublime -- ante as leis c i vis e religiosas, das mais sólidas
consequéncia lidima ela espiritualiclade. que en- utilidades, que nã.o foram inventadrrs pelo di-
tus1as1na e conforta o hclnl?!n, -- que inspirou reito pOSitivo e sim p·ela vontade divina, caben-
Vi1'gilio e Dante, - os poetas máximos ela lati- do ao legislador impór a obrigatoriedade dos
niclade - imo·rtalizou Miguel Angelo e Rafael - textos legais, que hão de acoitar-se na moral
cs delicados pintores ela renascença italiana, - cristã.
perenisou Castro Alves - o bardo de altisonan- Corrompendo-se a vida ,privada, a. sociedade
tes poemas, e Rui Barbosa - 0 batalhador in- vai perdendo a sua austeridade de usos, c as leis
fatigavel e eloquente do direito - , Roosev.elt e e as ctecisôes, refletindo-lhe a fisionomia moral,
Churchill - os inc!Bfesos e arrojados cruzados, apress~r-lhe-ã.o a. decacléncia, de que se apro-
que estii.o pelejando cc·ntra os que tencionam ve1tar21o os de habitas vulturinos. E à família
subverter a organização do mundo moderno, elevem ser oferecidas constantes e seguros 1neios
substituindo-a por um sistema. que talhe as re- ela :oua . defesa física e moral, afim de qne, na
galias individuais. para implantar uma tirania hod1ermdade, tão gabada pelo seu adiantamen-
igual a dos aômninaveis cesares; e é, eviclente- to científico, se ·nã.o realize1n aquelas cer1as la-
n-wnte, na liberdade, como a conceitua a filo- nlentavets, que prelucliara1n o desmoronamento
sofía •Cristã., que devemos cha.nta.r, pa.ra. alcan- elo império romano.
çarmos a suspirada harmonia social, os funda- _o aborto despertou. na própria antiguidade
mentos de todos os nossos feitos paga, ~ormal desaprovação; e aquele que foi
Sei que as leis não ·podem Ser isentas de
cogn~nunado o pai da medicina - Hipocrates
falhas; e ainda me não esqueci das palaVTas de
Filangierl, citadas por Gustave Rousset (Scien- de Cos - impunha aos seus alunos a obrigacão
ce Nouvelle de.s Lois) : "Car. quelque excellente ele recusar um penaria a qualquer mulher. que,
que puis~e êtt.e une législation, elle a necessai- para abortar, lh'o solicitasse. Entre os hebreus,
rement des vices particulieres, parce que l'im- como se lé nos livros sagrados, existiam castigoo
perfeition est attaohée aux ouvrages eles hom- para os que foS&em causa.clore.s de aborto; assim,
mes" - <Com as quais se identificam as que o Exodo determinava: "se algum homem peleja-
~airam da !pena autorizada do asseado estilista
renl, e um deles ferir uma mulher pejada, e se
lusitano: ·"o limitado e o imperfeito são o si- ela abortar, em consequência da ferida, ficando,
nl1l qUe o Criador estampou na fronte do ho- todavia. viva, com[Jetir-llle-á pagar a m.ulta exi-
m·~m e na face da t.erra, para nos recordar a
gida pelo esposo e admitida pelos árbitros; en-
torto o instante a nossa origem" (Lendas e Nar- tretanto, se lhe ocasionar a morte, dará vida
rativas, vol. 20, pág. '127, ed. de 18_77). Porem, por vida: oculum pro oc1tlo, dentem pro dente,
se a lei "n'est plus cette voix solenelle de Dieu manv.m pro ma.nu, pedem pro pede; adustio-
qu; se revéle a Moise au millieu eles éclats dn nem pro adustionem, vulnus pro vulnere, livo-
tonnerre, ni cette inspiration divine que la nyrn- rem por Zivore. Foi o Cristianismo que opoz a
.phe Êgerie transmet à Numa, tous les efforts barreira invencível a tal cr:tne, infelizmente ge-
clu législateur tenclent a fortifier et a sanctifi.er neralizado em Roma, porque ntulhcres despudo-
pour ,ainsi clir.e le respect de la loi qui a son radas, .para não sacrificarem a belesa do cor·po,
príncipe dans l'interet de tous et de chacurt esquecidas ele que a formosura moral não é
et oue elle ait peur source la volonté nationale, estragada pelo tempo, não queriam tornar-se
l'autorité la plu' sainte ruprês Dieu.; qu'elie ne participantes das delicias da maternidade. O es-
hlesse ni la justiee, ni la morale, ni aucun eles toici~mo que seduzira vários jurisconsultos, en·
sentiments intimes qui, dans le ·coeur de l'hom- tendia que, em quanto permanecia o joetus no
me, clominent toutes les autres influences"; por ventre materno, nã.o se deveria reconhecer-se-
conseguinte, dentro . dos preceitos cristãos, que lhe qualquer direito; e, como notava Carrara.,
hei de adotar, tanto que tiver de pronunciar a tal priicípio legitimava a multLpllcação de tiW
minha. desvaliosa opiniã.o, tenho de impugnar, à nefando crime. !Pessina encerra a essência do
cara descob-erta. o cli9POSitivo do vigorante Có- delito, na circunstância de ser provocado o abor-
digo Penal concernente à irr1punlclade da que to e recomenda o seu castigo, escorado em dois
pratica o feticidio, invocando a violência como motivos relevamtes: o aniquilamento de um ser
caus!l. geradora. da sua gravidez. Semelhante humano, en~bora nã.o esteja comjpletamente cria-
disposicão penal. principalmente numa época do - spes hominis, e a ele pôr em risco a vida
em que &e conjugam esforços no respectivo iJ. da mulher, a quem manobra tã.o abominavel po·
defesa cta família, tão enfraquecida pelos cine- derá produzir-lhe graves enfermidades.
mas amorais. pela literatura locaciana, pelas de-
dsõe.s assecuratórias cte i~ais vantagens aos Scepe suos utero, qure necat ipsa perit.
filhos de qualquer procedência, pelas sentenca.s (Ovidio)
anulatórias de matri·monios válidos, motivadas
n:-t 1óQ·ica judiciárl:t dos enan1orados dos aplau- Reside, !ndisc11tivelmente, no aviltamento
ros púhncos, pclo.s c:;nct:iculos deletérios das dos ·costumes nacionais, o grande n:ml oriundo
nrains d0 bnnhoc:. .~ {'asinos; s€!nelha,nte dispo· elo aborto, pois, transgredindo os mandamentos
siçfio pc:nal constitue un1 incentivo ans amor<~s de Deus, consubstanciaclos no texto canonico e
(82)
5-1-43 ARCHIVO JUDICIARIO (SUPLEl\ffiNTO) 7
no Direito Criminal, aqueles que cometem o exe- os direitos ele todos os seres llU11lanos, porque o
cranclo crimo c!B interromper a vida do feto, vinculo obrigacional h a de ser conservado in tan-
qu~lc;uor quo seja 0 gráu do seu desenvolvimen- givel cmno um dos elementos destinados a man-
to, estão cooperançto para a desnaialiclade - um ter a •paz entre os individuas, sendo que o des-
dos grandes fatores do abastardamento do cara- tinatário de todo o direito, no parecer do autor
ter popular. da luta pelo Direito, é unicamente o homem.
Vale recordar a opinião abalisada do Prof. Não pode dispor a mulher da sua vida, cmn-
Joaquim Moreira da Fonseca, assás respeitado petindo-lhe velar pelo seu prolongamento; por
pela sua com.pctência, bem como pela nobreza conseguinoo, não lhe é lícito, igualmente, que-
do seu carater: "ontologicamente é o aborto brar uma vida qUe se inicia no seu ser, o que
um verdadeiro homicídio, porque é em substan- equivaleria a desobediência ao suum cuique trt-
cia um atentado contra à vida humana. Endosso buére e ao honeite vivére - os belos brocardes
tfi.o jurídica asserção, uma vez que um dos ca- juríclicos, que resumem a beleza das lutas fo·
nones ela ciência, defendida í]Jor Leibntz- a ne-. Ten&es, em qUe se empenham advogados e jul-
gação ele mna injustiça -- recomenda que se gadores, propelidos pela nobre ambição de ver
não cause a ninguem a menor lesão aos seus di- restaurado o domínio da justiça terrena. ·
reitos; ademais, se a força ela obrigação se ori- Combate-se o abuso do direito de deman-
gina do alterwn non Zaedere, claro é que deixa dar, porque ninguem UJOde abroquelar-se na
de •cun1.prir o compromisso assumido com Deus ação para molestar o próximo; e não deverá, ou-
no tocante à propagação da espécie, quem, im- trossun, ser equipa.rado a um gravíssimo abuso
pelido UJOr desprezíveis razões, invalida o quo do di:reito a inten-upção de uma vida indefes8,,
deveria infundir-lhe os maiores zelos. Talvez se que merece ser amparada? Evidentemente. por-
a,pegucm aos princípios da escola <1e Bentham, que tem de ser recusado o pensar ele Paul Rolin,
para quem a força obrigatória dos contratos era combatida, superiormente, pelo eminente Prof.
uma lidi:ma consequência dos proventos que pv- Tanner ele Abreu, nlllll erudito traballlo, par:1.
deriam auferir os interessados, - doutrina re- quem o feto - paquet ro~~ge - .pode ser com-
pudiavel pelos espíritos genui·namente cristãos parado a um polipo e eliminado, quando lhe
- todos aqueles que julgam ser permitido à convier.
mulher inutilizár uma vida para ocultar erros Exeroe, por consequência, o direito de modo
cometidos, ordinariamente, com o concurso de assás ·pernicioso à sociedade, incorrendo na san-
duas vontades. cão penal, aquela que, não tendo sabido escudar
E' a moralidade que tem de ser r<wutada o· a sua inocência, a.pllcou 0.'! me!os conducentes a
fulcro da satisfação contratual; e à uma mulher fazer deli:r das vistas do público o que não teve
que se sentiu grávida, não assiste outro dever a menor responsabilidade na. sua gestação; não,
senão o de deixar nascer a criança que, em suas o direito de !PUnir não é = a manifestiação da
entranJh.as, se formou. "Os di:reitos não são o brutalidade d poder público, mas lll1la coleção
estofo, o objeto da vontade, servem-lhe, apenas, de providências para obstar o triunfo da per-
de condição; não •. soo o fim,, mas o meio. Se a versidade. ·E, deste modo, náJo se pode considerar
vontade fosse o fim do direito, qne seria dos di- inculpada a que exterminou UJna vida.; nã.o, o
reitos nas mãos de pessoas sem vontade? As vigente dispositivo não pode prevalecer, uma
magníficas palavras de Ih.ering enfeixam uma vez que o Direito não pode ser gozado em detri-
teoria a.ceitavel, admitido que à lei outro obje- mento de legítimos interesses do homo est qui
tivo se não deve emprestar senão o de protegP.r futurus est - na frase de Tertuliano.
(83)
O NOVO CÓDIGO DE PROCESSO
PENAL
CONFERÊNCIA REALIZADA PELO JUIZ NARCELIO DE QUEIROZ,
NA "SOCIEDADE BRASILEIRA DE CRIMINOLOGIA",
EM 11 DE AGOSTO
Deste Código bem s2 pode dizer, repetindo gão elo C011\'C11Cllll('Tl(O elo juiz quanto [ts cir-
Jo:1o Monteiro, no seu relatório sobre o projeto CUnstàncias esscncüüs elo processo. Muit~ls vezes,
de código ele processo penal para S. Paulo, que nessa oportuniclae:.?, pela eyiclente sinccrielaele na
é, quanto convinha, brasileiro. e que seus ela- retratação de um acusado, poderá o juiz negar
boradores procuraram faze-lo claro na redação, valor a uma confissão feita no inquérito, e oca-
lógico na exposição das matérias e parco no for- sionalmente coincidente com. as demais provas
malismo processual. (1) dos autos. Por outro lado, o interrogatório mi-
nucioso, longo, explicativo, é sempre valioso
.Q CóDIGO DE PROCESSO E O CóDIGO PENAL para melhor conhecimento da personalidade do
: : : : j, • i· ! :11:t 1 delinquente, que ê o grande elemento a ser le-
3 - O exame do novo Código, em face ela vado em conta na fixação da pena.
legislação anterior, mostrará que não rompeu
ele, de maneira nenhuma, com as linhas essen- . Esse exemplo bem demonstra que o crité-
çiais de nossa legislação tradicional. Nele há no _de aprec1açao da lei não pode ser mais 0 de-·
muito do Código Criminal do Império, da Lei c!d1r-se alguem em face das opiniões divergentes
de 3 de De3embro e de muitos dos códigos es- d~s autoridades consagradas. O olhar do critico
taduais. As inovacões introduzidas destinam-se dc\'e 1r mms longe, e procurar penetrar a índole
a tornar mais eficiente a repressão, quando não do slsten1a, apreciando no seu conjunto a nova
são o resultado ela nec2ssidade de disciplinar o legislação brasileira.
:funcionamento de institutos adotados pelo Có-
digo Penal, não conhecidos pela legislação an-
terior. UM CóDIGO LIBERAL
Nessas condições, num exame comparativo
a, que se tenha de proceder entre o novo Códi- 4 - Uma análise imparcial da nova legis-
go e a legislação processual derrogada, não se lação de processo demonstrará que não se trata
deve perder de vista a impossibilidade de se de uma ins.inceridade, ou de uma manobra. para
abstrair a circunstância de que o Código dt mascarar uma reallclade diferente a afirmacão
Processo se teve de conformar co1n as llnhas fun- ele que não nos apartámos de nossas tradicÕes.
damentais do Código Penal, que, este sim, rom- liberais, ao redigir o projeto do Código de Pro-
peu abertamente, em numerosos pontos, com cesso Penal .
o direito anterior. Isso evidencia que um ele-
mento de grande monta terá que intervir em Antes de tudo, deve ser destacado o dispo-
qualquer debate que ~e possa travar sobre ~ sitivo referente à garantia de defesa, em todos
conveniência ou inconveniência de certos dispo- os termos do processo: Art. 261. - "Nenhum
acusado, atnda que auser.•te ou foragido, será
sitivos da nova lei processual. processado on jnlgctdo sem defensor". Art. 262.
Tomemos um exemplo: Divergem prcl-
çessualistas sobre a extensão que s2 deva dar "Ao acusado menor dar-se-á curador". Arti-
ao interrogatório elo acusado. O insigne João go 263 -"Se o acusado não o tiVer, ser-lhe-á no-
Monteiro, fazendo-se eco da condenação ao ca- meado defensor pelo juiz, ressalvado o seu dl·
rater inquisitorial do interrogatório da lei frau- retto de, a todo tempo, nomear outro de sua
ce:a. ad<_?to.u. no já citado projeto paulista, a confwnça, ou a si mesmo defender-se caso te-
onen taçao anglo -americana. O juiz dirigiria ao nha habilitação". '
acusado as perguntas contidas .na lei, e só elas. TaL~ dispositivos decorrem do mandamento
de maneira a evitar que o acusado podesse ser constitucional de que "a instrucão criminal será
surpreendido com questões habeis e viesse a contraditória". (2) . •
confessar, sem a devida expontaneidade. Sendo
o interrogatório uma peca de defesa, não devia
.a lei deixar brechas por onde podesse ser trans-
formado em elemento de acusacão. Dai o sis- (2) - Pondo em relevo as garantias que o
tema h€1'mético de perguntas saCramentais, do- n~s.so direito estabelece para a defesa, tive oca-
minante nos uossos códigos. s!ao de fazer no Segundo Congresso Latino Ame-
Entretanto, sem que possa, de nenhuma ma- ricano de Criminologia, reunido em Santiaao do
neira, ser confundido com o interrogatório in- Chile, em Janeiro de 1941, quando se di~cutia
.qu!sitorlal, o sistema do novo Código de Pro- a tese - "Reforma ela Leglslaçáo Penal n<3. Amé-
cesso abre ao juiz a possibilidade de fazer ao rica" - as considerações seguintes, que trans-
acusaelo perguntas não rigorosamente taxadas na crevo dos Anais, vol. I, pág. 126: "Q1tiero traer
lei, tendentes todas ao esclarecimento da verda- al conocimiento de lt! Tsambléa, que en el Brasil
de, quer sobre as circunstâncias elo fato deli- todos los principias aqui defendidos por el Dr,
tuoso, quer sobre a personalidade do réu. O Có- Eusebio Gómzz ya están consagrados en nuestros
digo Penal investe o juiz de amplo arbítrio, prin- textos legales, tanto de derecho material com!l
cipalmente na fixação da pena. Todo o Código formal.
se onenta no sent1do de dar ao juiz a maior "Las garantias individuales son minuciosa-
responsabilidade na repressão. O Código de Pro. mente q,efinidas en nuestra Constitución, que
cesso não podia !ugir a esse critério, uma vez preceptua que las penas establecidas o agra•
que não mais merece consideração o argumento vadas en la nueva ley no se aplican a los hechos
que se . fundava na possibilidade de vir o juiz anteri_o_res, c0111;0 asimis.mo establece que la ins·
por mew de perguntas cavilosas, a criar arma- tntccwn cnmnwl sera contradictoria. Conse-
dilhas no interrogatório dos acusados. Tão alta c·uent~mente, nuestro Código Penal consagra en
é a função do juiz penal, em face da nova Ie· su pnmer articulo el principio de reserva de Za
glslação, que argumentos dessa ordem na. criti- Le1f y nue_stra legislactón procesal assegur:l las
ca de dispositivos, perderam a razãb de ser. mas ampltas garantias para la defensa de los
Nmguem melhor do que o próprio acusado par::t acusados, que son asistidos por defensores desde
fornecer os elementos necessários à fo:·n1a- los wctos preliminares del proceso. Tenemos
también el Jurado, que es una instit1tción emt-
nentemente democrática. Por otra parte, está
el Brasil perfectamente apa1·ejado p!Lra defender-
(1) - Projete elo Ccírligo Criminal elo Esta- se contra la ]lTOJJa_qanda ele ideas subveTsivas de
do à e S. Paulo, Tipograflfi do "Diário Oficial". 1 las instituciones pol-iticas dominantes en A77té·
S. Paulo, 1893, pag. 5. i nca. Nuestms tmtculos de cxtradición satisfacen
(66)
5-1-43 ARCIIIVO JUDICIAHIO (SUPLE::O.IE:'\TO) 11
corrente com o pl'incípío elo "contraditá-~ la Justicia Federal y los Tribunales ele la Capf·
rio", eliminou o novo código qualquer ato se- tal y Territorios Nacionales'', ele 17 de Outubr·J
creto. nu instruct-lO. ele 1888, e ainda hoje em pleno vigor na Repú-
Na vigência ·da legislação anterior era possi-· blica Argentina, dispõe, no art. 180: "O sumá-
vel a prática de atos secretos. Como exemplo r'o é secreto c não se admitem nele debate:; nem
pode ser citado o Cócligo de Processo Penal do defesas".
Rio Grande do Sul. S:gundo o seu art. 347, a Em face de dispositivos como esse, da le-
instrucão secreta seria encerrada dentro do prazo gislação vigente naquela democracia, não é pos-
de oito dias que decorreria do recebimento ela sJvel pôr-se t>m dúvtcla a superioridade do no~so
queixa ou clenúncia. Na conformidade elo arti- Código, o qual, aliás, "não se apartou de nossa...
go 346. "se pelo interrogatório, inquirição elas tradições liberais".
testemunhas, ou informações a que tem procedi- Se alguem pretender enxergar traços de au-
do, o juiz se convence da existência do crime toritarismo em certos dispositivos do Código,
e indícios veement2s de quetn seja o seu autor, deverá primeiro submete-los a um exame demo-
deve pôr termo à instrução secreta. Quando, po- rado, evitando as afirmações simplistas e cate-
rém, não tem ainda obtido pleno conhecimento góricas. Talvez a disciplina do "flagrante dell-
do crime e incliclos veementes d: quem seja o to" esteja destinada a criar alguns equivocas.
seu autor, deve prosseguir na instrução secreta, Entretanto, a maior amplitude do conceito de
até colher prova suJ'!ciente". ''flagrância", para que já tendiam alguns código~
A lei estadual n. 141, ele 23 de Julho ele 1912, estaduais, foi trasladado para a nova lei bra~l
que alterou vários artigos elo Código, fez substi- leira do Código de Instrução Criminal da Fran-
tuir a seguncla alínea desse art. 346, pela seguin- ca, de 1808.
te: "No caso contrário deve (o juiz) prosseguir ·
na instrução 3ecreta por mais quinz? dias, fin ..
I Essa e semelhante origem tiveram muitos
dos os quais, se julgar insuficiente a prova CQ·· outros dispositivos do novo Código, nos quals
lhida, remeterá os autos ao juiz da pronúncia alguns críticos apressados estão descobrindo um
para qu~ este resolva sobre o arquivamento do ar suspeito de anti-liberalismo.
processo ou sobre a abertura da fase pública".
Explicando o sentido do dispositivo, escre- A EXEGESE DO NOVO DIREITO
veu ilustre comentador da lei procesual gaúcha
e membro da Comissão Redatora do Código de 5 - Talvez a maior virtude do Código de
Processo Penal do Brasil: "Dest'arte, fica per- Processo P<enal consista na clareza com que fol
feitamente claro que o prazo estatuído no artt- rerligido. Sem se distanciar de uma rigorosa te-
go 347 deve ser prorrogado até mais quinze cnica jurídica, procurando estar em intimo con-
I
dias, sempre que for mister prosseguir-se na tacto com a moderna doutrina processualistica,
instrução. para colllerem-se lndicios suficiente.s o Código se manteve fiel à nossa nomenclaturn
da autoria. Se, findando-se os quinze dias dfl. tradicional, só a abandonando num ou noutro
prorrogação, ainda não se tiverem colhido indi- ponto. já demasiadamente antiquados, ou aber-
clos sulicientes de quem seja o autor do delito, rantemente distanciados da atual sistemática.
devem então os autos ser remetidos ao juiz d:l E' de esperar-se que a singeleza da redação
pronnncia, para decidir sobre o arquivamento do do Código evitará as interpretações contradi-
processo ou sobre a abertura da fase públi- tórias. Não sei de maior fonte de desprestigio
ca". (3). da lei e de diminuição da própria autoridade
Na "Exposição de Motivos" do projeto de punitiva do Estado do que os julgamentos fun-
1897, Julio de Castilhos, referindo-se à instru- daclos em Interpretações contraditórias. Fura
ção secreta~ fazia notar que "o projeto é muito evitar os enorm-es malefícios dai decorrentes, é
mais liberal que o código argentino, não só por- de esperar-se que o Ministério Público, quando
que admite a publicidade, no segundo periodo d<l náo o fizer a defesa, há-de esforçar-se por pro-
instrução, como tambem porque nessa fase per- vocar sempre, em tais casos, o pronunciamen~o
mite a repetição dos atos anteriores, lnqu!nn- do Supremo Tribunal, por interposição de Recut-
dos de nulidade, e a audiência de testemunllao so Extraordinário (Cód. de Proc. Penal, art. 632
do réu, a quem faculta tambem recurso contra n. IV). Assim. dentro de alguns anos, se terf~
os despachos do juiz". logrado obter uma jurisprudência uniforme na
Tinha razão o grande estadista riograndense interpretação do novo estatuto processual.
O "Código de Procedimentos en lo Criminal para De qualquer maneira, é indispensavel que
a magistratura do Bra.s:l, que tanto tem llon-
rado a nossa cultura na aplicação do direito,
bem se co;npenetre dos exatos rumos a seguir
perjectamente al propuesto por el eminente re- na mterpreta<:ão da lei.
lator. A lei, como manifestacão da vontade sobe-
"Por lo tanto, es para la Delegaoión brasi- rana df'.stinada a regular a atividnde dos cida-
le·íi.a un gran placer poder deoir a los Seiiores dãos e dos orgãos públicos, constitui uma en-
Delegados de! Continente Americano, que las tidade autônoma, inteiramente liberta da von-
aspiraciones defendidas por el Projesor Gómez tade das pessoas que concorreram para redi-
ya están en el Brasil y en s1t totalidad, conver- gi-la. Bem >c entende, assim,' que a exata in-
tidas en una realidad legislativa. terpretação deve tender para não aceitar a von-
"A hora, en lo que a la ad.opción de la escFela tade dos autores conl1ecidos da lei, mas a von-
posttzva .se rejim·e, seria ésto una aspi1"adón tade da própria lei, tai como decorre expressa
utópica, dado el hecho de que no hay un sólo de seus t-ermos. (4)
código que la consagre íntegramente. Pienso, O jurista deve sempre ter diante dos olhos
como el ilustre maestro, Protesor Luís Jiméncz o fim da l.::i, o resultado prático que ela intenta
de Asúa: La lucha de escuelas pertenece al pu- atingir. (5)
sado. Ninguna escuela., ni doctrina, ni sistema
penal alguno, pudem servir de base a la contru-
ción integral de un código. Sólo es r.osible la
l'ución eclética"!
so-, (4) - Vicenzo Manzlni. Trattato di Dirítto
(3) - FLORENCIO DE ABREU, Novos Comentá- Processual e Penal e, vol. I. pg. 88.
1iOS ao Códtqo de Processo Penal do Estad-o d.o (5) - Francesco Ft'rrRl'n, Trattato di Dil·itto
Rio Grand-e do Sul, pag. 56. Ctvtze Italiano, vol. I, pg, 212.
(87\
12 AH.CHI\'0 JUDICIAIHO (SUPLK\IE:\TO) 5-1-43
O testemunho elos autores ele um projeto esquecendo-se que entre o maior trataclo e a
üc lel só póclc ter o \·alar que na interpretac:·w nwls modesta lei penal existe uma ditercnçfl qua.
é possivel atribtlir-se aos "tra!Jalhos prepara- lltatrn:nnent2 insanavcl. A l2i é co111 frequência
tórios". Estes podem esclarecor o sentido ele 1nais sábia do que s2 supõe; porem, para enten
certos dispositivos, pelo conhecimento que for- dê-la., é preciso estudá-la com ânimo prudente
ne-cenl dos ,pensmnentos ·e princípios que ani- e boa vontade". ( 8)
maram os autores da lei. Mas, se os autor~s
não lograram transplantar para o texto legal, AS INOVAÇõES DO CóDIGO
com fidelidade, os princípios e pensamentos que
os animavam, não será a palavra deles que possa 6 - A "Exposição de Motivos" do Minist:o
ter o dom de insuflar na le1 um senticlo que Francisco Campos poz b21n em relevo as ino-
dela não decorra expressa ou tacitamente. vacões introduziclas pelo novo Código no no,;s,,
Por outro lado, não é possivel conceber-se clil:eito judiciário penal.
uma atitude "crítica" em face elo texto legal. Sem falar nas modificações trazidas pa:,.
A lei vale pelo que é - e não pelo que pod-orb alguns institutos, tal como o que diz respeit.)
ter sido. A atitude mental de quem estuda as ao flagrante delito, à prisão preventiva, às nuli-
normas jurídicas deve ser u de quem não se dades, aos r~cursos, enl que se consagraram prin·.
prêocupa sobre se os efeitos concretos que a cipios antes ensaiados com pleno êxito pelas le·
norma produz n:o. vida social são, ou não, de gislaç:ões de alguns Estados membros, para mim
aprovar-se, como conformes; com um ideal tle as inovações mais importantes do Código sãu
justiça. A atitude mental do juiz não pode ser o "sistema d-o relacões entre a acusacão e a sen-
uma atitude crítica. (6) tença" e o "princípio da livre apreciação das
Nem por isso se entenda que não admitimos, provas pelo juiz".
num certo sentido, uma atividade "crítica" em Não deve ser esquecido que o Código acabou
relacão à lei. Essa Cl'itica tem cabimento como de vez com a iniquidade de negar-s-2 liberdade
pEsqtliza do direito a {;onstituir-s-e,, como uma provisória ao acusa.do que, por pobreza ou desam-
preparação à atividade legislativa. Por dois mo- paro, não tinha como prestar fiança. O art. 350
dos, como observa Arturo Rocco, pode exercer-se dispõe que, nos casos em que couber fiança, u
essa crítica: dirigindo-se a institutos que o di- juiz, verificando a imposibilidade de prestá-la
reito vigente consagra, pretendendo a reforma o réu po-r motivo de rpobreza, poderá conceder-
ou a aboliç"io deles, ou pl«iteando a consagra- lhe a liberdade provisória, sujeitando-o às mes-
ção de institutos estranhos ao dicelr,o positivo, mas obrigações que a lei impõe ao que presta
aclotados pela l_egislação de outros países ou pel:1. a fiança.
~egi.sl·açâo derrogada. Tambem não é posshel Como juiz criminal, muitas vezes experi-
negar-se a oportunidade de uma critica que, no mentei 11. sensação de verdadeira repugnância,
âmbito do próprio direito positivo, se proponll11 quando tinha que presidir a processos de réub
a demonstrar as contradições, dioparidades o'.l presos, pela Impossibilidade econômica de pre~
d~sharmonias que possam ser encontradas no tarem tiança, enquanto outros, envolvidos -no
se1o do próprio direito escrito, apreciado no ~eu mNmo fato e às vezes muis culpados, mas com
conjunto, e a impossibilidade de atingir a lei recursos, esperE.vam soltos o pronunciamcntc:. da
a finalidade pretendida pelo legislador. Tal crl- justiça.
tica, que é deduzida dos princípios e da apllcn- Muitas outras disposições do Código estão
çào prática do direito vlgente, é a que Rocco a merecer aplauso pela sua oportunidade e con-
chama ele crítica jurídica. veniência. Numerosas dúvidas que se vinham
Entretanto, como pondera ainda Rocco, u~ suscitando na vigência ·'da legislação anterior
criticas mais frequentes que se fazem às let~> foram claramente dirimidas pela nova lei, em
não te-em por base os 1prindpios do direito vi- cuja redação se teve o cuidado de procurar
gente, mas obedo:ceJn a considerações de orden. .prever as consequências possíveis ele sua apli-
social ou política. E essa critica não cabe· numu cação. E' evidente que tuclo não foi r<:solv!do,
atividade puramente jurídica, pois é função da pois muitas dificuldades que terão de surgir
filosofia do direito penal e da política criml- são imprevlsiveJs. Multas vezes, textos, que os
nal. redatores da lei consideram da mais simples
Por mais agrad:1.ve1 e sedutora que possa oor, compreensão, prec1 'amcnte são os que, na prá-
por:''m, a ativida-de do crítico, dele deve exigir-se, tica, veem a constituir problemas de extrema
antes de tudo, um exame minucioso do text-•· complexidade.
legal, por melo de uma apreciação conciendosa
ela lei em conjunto. (7)
A LIVRE APRECIAÇAO DA PROVA PELO JUIZ
Como faz notar o eminente mestre argen-
tino Sebastián Soler, no pórtico ele seu admlm- 7 - Já o Ministro Campos, na "Exposição
vel tratado, mais do que nunca nos corre o de Motivos", de munelra sintética e brilhante,
dever de prestigiar a lei, de fomentar um senti- tracou as linhas divisórias entre o sistema das
m<n to ele respeito para com ela. "As reiterada~ chamadas provas legais e o elo livre convenci-
críticas à lei penal determinam certa atitudo mento do juiz, pondo em relevo os aspectos prin-
ele indiferença, conforme temos observado entre cipais do critério da livre aprec·iação.
jovens estudantes. A lei é apresentada com fre-
quência como uma opinião a mais, dentro de um Entretanto, não obstante essa precisa colo··
conjunto •de teorias, e essa opinião, alem de cação do assunto, não são poucas as dúvidas
tudo, é geralmente considerada como pouco que veem repontando, aqui e ali, sobre a exata
sensuta. Deste modo, ao envez de fomentar-se extensão dos conceitos ele livre apreciação das
o esforço por apresentar a lei em seu melllO! provas e de livre convencimento do juiz.
sentido, frutificu certa inclinacão demolidora Não iremos repetir u história da evolução
> 'I desses conceitos, através elo direito romano e
do direito germânico, com as combinações pro-
(6) - Filippo Grispigni, Corso dt Diritto cessadas em épocas posteriores, pois tuis consl-
Pcnaic, 1·o1. I, pg. G.
(7) - Arturo Rocco, Il problema c il me-
tecla clclla scicn::a dcl cliritto pena/c, nas Opere (8) - Sebastiún Solcr, Derecho Penal Ar-
Glunclichc, yol. 3.0, pg. 310 , gcntlno, \'Ol. I, p~. 12.
(88)
5-1-43 ATICHIVO .TUDICIAHIO (SUPLEJ\IE~TO) 13
dcraçõcs sfto perfeitamente clispen;;aveis para a I sistência, ou não, elas circunstâncias ele fato,
con:preensüo atual elo as.suuto. 1nas, ao contrário, cle\'e linlitar-se e:8rLlpulosa-
Pam um entendimento perfeito clr! n•atérLJ rnentc ã taxati\·a avaliaçào elos elementos ele
d:\·e iicar bem claro que tudo se resume sim- provrt, realizando, por sua parte, a open1ção pu-
plesmente em um critério para apreciação elas ramente n1:cânica e passiva ele a;Jlicar, caso por
provas, en1 um 1nétodo para avaliação dns pro- caso, a tarifa preordenada pela lei''. ( 11)
vas produzidas no processo (Beweiswürdigung. Co1no se vê, o juiz não era senã.o u1n i~1s
eles fllcmães). (9) trumento impassivel, que devia conformm·-se
A provrl, no processo, não tem outrfl finali- com a tarifa legal das provas. De\·ia ele verificar
dade senão propiciar o. descoberta da verdade. cada 2lemento, caela circunstância do fato - e
Por eb é que o juiz forma a sua convicção sobre a val!ã-los, segundo as prescricões ela lei ou dlt
a existência ele um fato. ou sobre circunstâncias doutrina. Essa doutrina elas provas, dominante
capazes ele excluir a criminalidade. 8.té os nossos dias, tinha sido pacientem·2nte
Pela prova é que o juiz chega àquela verdade I elaborada pelos criminalistas práticos elos séculos
histórica, que é, de um ponto ele vista subje- clezes·2eis e dezessete.
tivo. a certeza que se requer para o julgamento. Pouc0 importava qu~ a conclusão a que che-
E isso porque, com. as naturais deficiências dn.s gasse o juiz. de acordo com a hierarquia proba-
operações lógicas e com os defeitos na obtenção tória estabelecida pela lei ou assentada pela dou-
das provas, nunca é possivel saber-se exata- trina, corresponclesse, ou não, à sua própria con-
mente a distância que vai dessa verdade histó- vicção. O juiz propriamente nã.o julgava. Limi-
rica, ou fonnal, à verdade material. A c2rteza tava-se a e.o.pecificar as confissões. os t2stemu-
é sempre um estado de conciência individual, é nhm, as presunções, os indícios. Cada unl deles
a configuração subjetiva da verdade, e, portanto, tinha um efeito legal. E a sentença se reduzia
emin?ntcm<mte relativa, dado as dif.erencas de a uma operação matemática, pois não era se:··ão
condições psicológicas em que cada homem exerc't uma cl2dução elas provas colhidas durante o -r;ro-
a atividade de crítica da prova. A convicção não cesso. (12)
é, pois, senão a repr2sentação da verdade, que Nesse regime é que se tinha a confissão c!o
logramos formular em nosso espírito. O cui- acusado como a "rainha das provas", era que
dado na colheita da prova. e o critério e o equi- a prova podia ser plena ou semi-plena, que os
líbrio crítico do juiz são os elementos indis- Indícios podiam ser leves, veementes ou graves.
pensaveis para que essa repTesentação se apro- Por outro lado, o testemunho, ou prova teste-
xim ~ o mais po.,si vel da verdade. As provas de- munhal, os escritos, ou prova instrumental, e
feituosas e a falta ele critério ou ele penetração as presunções. ou prova conjetura!, eram hierar-
psicológica elo juiz cada vez mais distanciarão qmzados e classificados, .de acordo com a im-
a verdade, como a podemos apreender. da ver- portância de cada um. E por mais absurdo que
dade. como realmente exist-~ no mundo. pareça, o rigor na obtenção de tais provas estava.
No método de apreciação das provas é que em geral, em proporção com a gravidade do
realmente divergem os dois sistemas a que nos crime a purür. Se a pena cabivel era a de morte,
vimos referindo . se exigia o concurso de provas completas. Mas,
E foi precisamente nesse campo de apre- S·e se cogitava de acusação de menor gravidade,
ciação da prova que se realizou a mais formi- relaxavam-se as exigências do sistema. (13)
davel rEVOlução do processo penal. ( 10) I E' bem verdade que a legislação brasileira
No regime chamado das provas legais, do- derrogada pelo novo Código de Processo Penal
minante até à revolução francesa, a lei não se já não observava rigorosamente tal sistema, pois
limitava a indicar expressam·ente as maneJ.ras Já se vinhR transigindo em muitos pontos, prin-
pelas quais se devia investigar e provar a exis- cipalmente no que respeita a uma maior liber-
tência do crime e quem fosse o seu autor. A lei dade do juiz na apreciação da prova. Por ou-
disciplinava, de maneira extremamente minu-
ciosa, as provas que seriam suficientes para es- tro. lado, a influência ela doutrina estrangeira,
tabelecer a certeza da existência de um fato, dis- principalmente francesa e italiana, toda oriea-
criminando para cada prova o valor que lhe tada no sentido do livre convencimento, muito
d·evia emprestar o juiz. concorreu para que se fosse infiltrando nos nos-
A;o.sim se refere Lucchini ao regime das pro- sos métodos de julgamento os critérios do sis-
vas legais: "O estado rudimentar ela cultura, o tema probatório só agora expressamente consa-
carater supersticioso do tem.po, a f:~cil tendência grado pela lei. As nossRs coleções ele julgados
para a casuística e o sentido inquisitório do pro- estão cheias de decisões assim orientadas, onde
cesso favoreceram o des-envolvimento do sistema são frequentes as aplicações dos ensinamentos
das provas legais, que teve o seu germe nas ar- da psicologia judiciária na critica da Dl'ova.
dálias ou juizos de Deus, no juramento do E' assim de registrar-se que os nossos julms
acusado ou dos exorcisados e no duelo judiciário, e tribunais, como grande parte dos nossos dou-
e que recebeu a sua máxima consagração. sob o trinadores da especialidade, já se tinham adian-
domínio das jurisdições eclesiástica.'>. Os elemen- tado, em certa medida; à consagração leghla-
tos ele prova são aí tarifados ele tal modo que. tiva do novo sistema.
para ter-se a plena certeza, uma só testemunha,,
por mais resp2itavel, não basta, e os crimina- OR.IGEM E EVOLUÇAO DO PR.INCíPIO
listas elo tempo gastam R maior parte C!lo seu
trabalho no definir, avaliar e medir o valor de
I
8 - Foi sob a influência da obra dos filó-
cada el2mento ou adminículo probatório, com sofos revolucionários do século dezoito que se
análises e classificacões as mais miudas e ca- processou a substituição do regime elas provas
prichosas. De ma.neíra -que o juiz, não :JOdG j legais pelo do livre convencimento do it~iz.
fazer nenhurna apreciação própria sobre a sub- 1
-- . ~---(-1.-1) - L . Luc<:hini, Elementi di Procedura
(9) - Julius Glaser, Handbuch des Straf- .Penale, pg~ 173.
prozesscs, vol. I, pg 245; Kost c Kaiser, Juristís-- \' '(12) - Faustin Hélie, Traité de l'InstnL-
ches Worterbuch, 65. ct1on Crimin.elle, vol. II, pg. 314.
(10) - Salvatore Mecsina, Il regime delle i (13) - R . Garraud, Tmité Tlzéorique cl
prore ncl nuoro Corlice cli P1'0cer1um Pena.le, 1 Pratique d·'Instruction Crin;•!nelle et de Procé-
pg. 3GG. Jure Pénale, vol. I, pg. 503.
( 8f/ I
14 ARCHIVO JUDICIARIO (SUPLEMENTO) 5-1-43
Muito ao contrário elo que possa parecer a prova, cuja fO!'Ça seja unicamente fundada em
alguns espíritos pouco avisaclos, não há no sis- documentos, e1n um ·certo número de tcstcmu-
tema em !Joa llora acollliclo pela nova legLolação
processual elo Brasil nada que ilnporte em po- ~ll~~a~1~ou e~1~~r!~1~ic~~<>slo~e le~~~a a c~:~~;is~l\~;ict~~~~:
del' arbitrário elo juiz. Tal princípio vai embeber vas, pois que as deixa, sem restrição, à apreciação
as suas raizes nas mais p1.u·as fontes elo pensa- elo juiz, cuja conciência não pretende acorrentar:
mento libertário e clemocrá:tico. Ala delxa ao juiz a plena liberdade de apreciar
Já Beccaria tinha observado que a certeza ,..ada testemunho, cada indicio, e de formar, no
que se requer no processo penal não pode ser ~eu foro interno, ele acordo com todos os ele-
encerrada nas regras de uma prova científica. lll2ntos que tenha recolhido, a sua íntima con-
E Filangieri demonstrou mais tarde que essa vicção. Esta convicção é a única base elo julga.
certeza não se pode encontrar senão na con- menta. (15)
ciencia do juiz. Depois ele fazer essas citações. Se bem que estabelecido originariamente
observa Hélie que o principio da prova moral. para o julgamento pelo juiz, o principio da
que substituiu o da prova jurídica, se tornou " livre apreciação das provas se estendeu, como
base da reforma elas leis criminais francesas. ( 14\ critério elas decisõ2s dos juizes togados, não só
Na Revolução, o princípio foi consagrado na própria França, (16) como à Alemanha (1848)
pelo voto da Assembléia Constituinte, que tomou e à Austria (1873). (17)
conhecimento ela questão através do relatório ele
Duporê., na sessão de 26 ele Dezembro ele 1790. J\l'a Alemanha, o principio é hoje expressa-
apresentado em nome dos "comités" de constl- mente consagrado, tanto na Strajprozessord-
tuição e ele juri~pruclência crim1nal. Depois dp, nung, ( § 261.) como na Civilprozessordnung.
uma discussão de vários dias, em que tomaram Na Italia, não há controvérsia sobre a ado·
parte Duport Prugnon, Tronchet, Tl1ouret e Ro- ç!'to do principio, muito embora não se encon-
bespierre, o projeto foi a.provaclo, na sessão de tre ele expr2ssamente declarado lHll11 disposi-
18 ele Janeiro de 1791. Com ele entrava para tivo legal. Está implícito, porem, na orienta-
a consagração ela lei francesa o princípio do ção geral do direito processual italiano, tanto
convencimento livre do juiz, condenando-se de- civil, como penal. ( 18) Aliás, já em 1914, Ali•
finitivamente o regim·e das provas legais. O ar- mena se n1ostrava admirado por ainda existirem
tigo 24 do tít. VI da lei ele 16 de Setembro de tantos paises americanos, e entre eles o Brasil,
1791 o adotou expressamente, e a instrução de anele se adotasse o critério das provas legais. (19)
29 de Setembro do mesmo ano o formulou assim· Embora fundados ambos na livre apreciação
"E' particularmente nos depoimentos e debates das provas e no convencimento intimo, num
que se tenham realizado em sua pre.sença que ponto diverge o julgamento do juri do julga-
os jurados elevem fundar a sua convicção pes- mento pelo juiz togado: E' que no último deN
soal, porque é de sua convicção pessoal que aqui ser demonstrada a razão ele decidir. O juiz é
se cogita; essa é que a lei lhes pede para ma- livre de dar às provas o valor que julgar maia
nifestar, e é dela que o acusado e a sociedadP conveniente, pois que a lei não preestabel·2ce re-
dependem". O art. 372 do Código ele 3 brumário ~;ras para a valorização delas, deix<tndo isso a.
do ano IV não fez senão reproduzir esse dispo- livre apreciação elo juiz. Este examinará a cre-
sitivo. O Código de Instrução Criminal de 1808 dibllldade dos testemunhos, em cada caso par-
adotou integralmente o mesmo principio, no seu ticular, s-ervindo-se de todos os meios a seu al-
artigo 342: Antes de começar a deliberação dos cance para surpreender a verdade. Ninguem lt.e
jum.dos, o presidente lfle 5 fará a leitura da ins- impõe que deva crer na testemunha que ;;ati3-
trução seguinte, que, será, alem disso, afixada. fnça tais ou quais condições, mas está o jUi?.
em grandes caracteres, no lugar mais visível da obrigado a declarar em quais t-estemunhos 'e
sala: "A lei não pede contas aos jurados dos fundou para formar a sua conviccão. Se .jcs·
meios pelos quais se conv-::;nceram; ela Dão lheB prezar as declarações de alguma testemunha, terá.
prescreve de quais devam faZBr particularment" ele tambem de expor os motivos que o levaram
depender a plenitude e a suficiência de uma u lhe negar credibilidade.
prova; ela lhes pr·2screve que se interroguem 11 De qualquer maneira, deve o juiz funda-
si me~mos, no silêncio e no recolhimento, e mentar cumpridamente a sua clecisão, de forma.
que procurem, na sinceridade de sua conciência. a ctemonstrar todos os motrvos que concorrerar'1
qual a impressào que à sua razão produziram para o seu convencimento. Só assim, examitua-
as provas trazidas contra o acusado e os argu- d0-&2 a prova existente no procesEo e as ra~õ2s
mentos em sua defesa. A 1·2i nüo lhes diz: Te- de decidir, será possível formar-se um juizo so-
reis por verdadeiro todo rato atestado por tal ou bre o teor de justiça ela sentença.
qual número de testemunhas; ela tambem não O Código dispõe no art. 157 que "o juia.
ll1e3 diz: Não considerareis como suficiente a formará sua convicçã.o pela livre apreciaçâo c!a
prova que nào estiver formada por tais peça", prova". Como corolário desse princípio, o Có-
por tantas testemunhas e por tantos indícios; digo desliga o juiz até mesmo de acatar incon-
ela não lhes faz senão esta pergunta, que abran- dicionalmente o juizo técnico dos peritos. Dtt
ge todos os seus deveres: Tendes uma íntima fato, estabelece o art. 182 que "o juiz não fi-
COll\"ÍCC:lü?", cará adstrito ao laudo, podendo aceitá-lo ou re-
E ·depois de historiar a2sim a marcha ven- jeitá-lo, no todo ou em parte".
C·2dora elo novo principio para a sua primeira N~o obstante a alta autoridade d3 Floriun.
consagração legislativa nos tempos 1nodernos, Hé- que se rebela contra tão largos poderes conce·
lie conclue o seu magistral capitulo com as con-
siderações seguintes.
'Era im·possivel declarar com maior precis!l.o (15) - Faustin HéJi.2, op. cit., vol. II.
" firmeza a aboliçào das provas legais e o novo pg. 316.
princípio que tem como bas2 elo julgamento a ( 16) - Faustin Hélie, op. cit., vol. li,
convicçào íntima elo juiz. A lei não se limita pg. 320.
a formular uma regra geral; ela leva sua sol1- (17) - Julius Glaser, op. cit., vol. I,
citude até a proscrever minuciosamente toda pg. 350.
(18) - Pletro Rossi, Convincimento del giu-
dice, no Nuovo Diycsto Italiano, vol. IV. pg. 214.
(14) - Faustin Hélie, op. cit., vol. Il, (19) - Bcrnarciino Alimena, Principii di
p;;. 315. Procedura Pena/c, vol. I, }Jg. ·127.
(90)
5-1-43 AHCHIVO JUDICIAIUO (SUPLEMENTO) 15
I
diclos ao juiz, pois isso importa em pressupor feitas ~-.s citações ou intimaçõe3, para todos o~>
para esse "la universalc scienza", (20) o legis- efeitos legais.
lador brasileiro não podia ter ch:•gado, coeren-
temente, a outras conscquências. Inlpor ao juiz FUNDAMENTAÇAO DA SENTENÇA
as conclusões do laudo pericial, qualquer que
tosse o número dos peritos concordantes, impor- 9 - Como já acima referimos, a faculdad~
taria em uma flagrante mutilação do principio do llvre convencimento do juiz não o exime
do livre convencimento e em usurpar 'to juiz da obrigação de fundamentar a sentença, !ndi..
a função ele julgar, pois, em numerosos cr.sos, cando todos os e!en1entos que serviram para
a decisão da causa dependeria apenas do juizo formar a sua convicção. E' o que decorre do dis-
dos peritos. posto no art. 381: ".4 sentença conterá . .. III -
a indicação dos motivos de jato e de direito em
Em numerosos outros dispositivos do Código que se fundar a decisão". Consequentement.z, a
surpreendemos a preocupação do legislador em !'alta na sentenca de indicacão desses elementos
I
manter perfeita coerência com aquele principio é motivo de nulidade (art. 564, letra "m") .
fundamental. / Não pod·e, por exemplo, limitar-se o juiz ~
Tais são as disposições contidas nos arts. 197, concluir pela condenação do a-cusado, com a
198 e 200, sobre u confissão, e art. 202 - "toda afirmação de que não logrou ele destruir as de-
pessoa poderá ser testemunha", inclusive os me- clarações ele duas testemunllas de vista. Dev&-
nores de 14 anos (urt. 208) . examlnar o valor dos depoin1entos d,~ tais tes-
O novo Código de Processo Penal baniu temunhas, tendo em consideracão as suas con-
tambem, ainda como mna consequência do livn adições pe.,soais, assim corno subineter essa prova.
um exame comparativo com as demais '!ircuns-
convencimento, toela e qualquer presunção legal.
As presunções ainda existentes em nosso di- tânclas provadas nos autos.
reito punitivo não são de natureza processual\ Náo pode tambem o juiz restringir-se à d.z-
pois estão contidas no direito penal material. claração de que a prova ê insuficiente oara con-
Na verdade, o Código Penal e a Lei de Contra- vencer da culpabilidade do acusado óu que é
venções Penais consagram várias presuncões e bastante para convencer sobre a autoria que llle
ficções, atendendo a conveniências ele política é atribuída. Deve o juiz deduzir claramente quaib-
legislativa, para mna mais eficiente repressão os motivos que o levaram a considerar a prova
dos delitos. Assim, a presunção de imaturidade Insuficiente, ou que razõe.s concorreram para
p5iquica dos menores ele 18 anos, contida no que a julgasse plenamente convincente.
art. 23 do Código Penal, que os considera, desde Não pode o juiz desprezar uma perícia, com.
logo, irresponsaveis e sujeitos às normas esta- a simples declaração de que o laudo não merece
belecidas na legislação tutelar; a presunção de homologação. Deve criticar o laudo, mostrando
periculosidade contida no art. 78 do mesmo Có- os motivos por que não o adota como base do
digo c no art. 14 da L€1 de Contravenções; a julgamento. (22)
presunção de violência constante do art. 2?.4 do Quando tais omissões importarem numa de-
Código Penal, a.<'Sim como a presunção jztris et ficient-e demonstração dos motivos de decidir,
de jure, de que o agente conhecia a circunstân- ele maneira que, por -outras afirmações da sen-
cia de não ser a ofendida maior de quatorze tença, não seja possível apreender-se o raciocí-
ano.;; (letra "a"), etc. nio do juiz na critica ela prova, deve ser decre-
tada a nulidade do julgado. A matéria é das
Em tais casos, a apreciacão sobre a imatu- mais d.zlicadas, sendo inviavel a Possibilidade de
ridade ps!qulca dos menores, a de "él'ÍClilOSl- regras gerais a respeito. Cada êaso tem o seu
dad·e, nos casos especificados. a de violência, etc., aspecto particular. E .sendo de desejar-se que
ao Invés de ser deferida ao juiz criminal, fo! as nulidades se reduzam a um 1ninimo. os jul-
:feita antecipadamente pelo legislador, com um gados deverão ser examinados sempre no con-
critério presuntivo imperativo. junto de seus fundamentos. Nunca deveria ser
Para muitos a dispo.sição do art. 92 do Có- decretada a nulidade de uma sentença, ainda
, di.go de Processo Penal tal vez pareça importar que defeituosa na sua fundamentação, quando
numa limitação elos pocler'cS elo jniz penal na do s2u teor geral se pudes:oe colher uma con-
investigaçào, assim como uma rcstricüo à sua 11- vicção coincidente com o seu di·spositivo.
berdacle ele convencimento. Entretanto, a "con- Assim, tendo o juiz de indicar os motivos.
trovérsia sobre o estado civil elas pessoas" não é de fato em que sB fundar a sua decisão. é evi-
senão um obstáculo ao exercício ela ação penal. dente que deverá ele limitar-se ao ,oxaine das.
A dificuldade e d2licade:;;a da prova necessária provas produzidas no processo. Livre conven-
(para dirimir tal controvérsia bem estão dando a cimento não quer dizer liberdade ele decidir o
sentir a conveniência de quB essa matéria seja ,lulz de acordo com o seu conhecilnento privado·
d~ic_llda sempre pelo juizO- cível, com compe-
tenma pnvativa. O julgado da jurisdição civll fatos dos fatos. O conhecimento particular de certos
não constitue uma limitacão ao livre conv·=ncl- pode substituirque tenham relaçáo com o processo não
mento do juiz, pois a solu.cão da questfto de es- a provu existente nos autos ou
suprir
tado é apenas, no caso, um pressuposto proces- eventualmente, a que deles esteja au~ente, mas, apenas, e·
sual, uma vez que :·a sua falt::~ impede o livre iluminar a li\Te apreciução do·
movimento da ação penal". (21) juiz. (23)
Uma presunção acolllida pelo Código d·3 Pro- De fato, é possível que o juiz t2nl1u de lan-
~esso Penal não diz respeito à matéria de prova. çar mão de matéria não contida nos autos, como
E' a que decorre elas citações e intimações fel- elemento de eo;clarecilnento da prova, con1o con-
tas por meio de edital (arts. 361, 362, 363 e tribuição à sua operação critica das circuns-
392) . D2corrido o prazo do edital, presumem-se tâncias provadas no processo. Isso só pode ocor-
rer com relação aos "jatos notórios" e às "nor-·
mas de experiência".
FATOS NOTóRIOS I mente elos fatos notórios. São normas ele valor
Notoriun~·
geral, inclepcnden :es do cnso particular :tu'~ ::
10 - non eget probaiionc. Em I objeto do julgamento. SCw princípios que levam
dlretto processual. cliz··se que um fetto é notório. no juiz r.1n [-_;Ubsíclio para con1prcen::Cto uu intel'-
quando, sendo geral o conhecimento ele sua exl~ pretação das provas produzidas no proc2sso.
têneia, seria perfeitamenk ocioso pretender pro- Fundam-se na observação quotidiana daquilo
vá.-lo. A verdade aí está ao alcance de to- que a.contece normalmente. no icl quod plerum.-
dos. (24) Ninguem, por exemplo, precisará pro- que acciclit.
var que a subida ao Pão de Açucar se faz por "As máximas de experiência. como regrns ela
lJ.ln cabo aéreo. Seria impertinente que um juiz vida, fatos sabidos e1n geral, são, assim, prin-
exigisse a prova de que o tráfego de veículos no cípios supremos (não jurídicos) elos julgamentos
Rio se torna dificil nos dias ele Carnaval, ou a ele fato". (28) São definições ou julgamentos hi-
prova de que não é permitido o trânsito de au- potéticos de conteuelo geral, que nCw ekpenclem
tmnoveis, durante quase todo o dia, ·"m gran- 1 da espécie que é objeto do processo em julga-
eles trechos ela rua elo Ouvidor, no Rio, e na I mento. Por elas é po.osivel ao juiz penetrar o
rua S. Bento, em S. Paulo. sentido das versões que clecorren1 ela prova e
"A proibição ele decidir o juiz de acordo compreender mais claramente o conteuelo elas
-con1 a sua ciência privaelrt não vale e1n relação circunstâncias. Tanto poclem as n:.-iximas de ex-
uos fatos notórios (ofjenku.ndige Tatsachen). periência se referirem aos costtuncs e regras da
Estes não carec"m ele nenhuma prova". (25) sociedade, con10 ao exercício ele artes ou profls-
No direito alemão, este princípio é claramente EÕcs. Para bem cmnpreender as circunstâncias
expresso (Civilprozessordnung, § 291). em que certos elelitos são praticados, é frequente
Não nos parece aceitavel a estreita con- ter o juiz de recorrer ao conhecimento que tem
cepção de Coviello sobre os fatos notórios. (26) ela mane1ra por que se exercem eleterminados
A circunstância de que o juiz tenha tido ciência oficios.
dos fatos notórios na sua "q1wlità di privatto", Exemplifica Florian: "Em um processo de
como qualquer outro cidadão, não o inhibe ele apropriação indébita, agente e vítima são comer-
servir-se deles para o seu convencimento, como ciantes e o crime se refere âs suas relações co-
"persona pubblica". A proibição de servir-se o merciais. E' evidente que não se torna neces-
juiz, para formar a sua convicção, d·e fatos que :o:ária a prova elos hábitos comerciais do determi-
-chegaram a seu con;",ecimento particularmente, nado ramo d-e negócio, pois que isto é bem co-
por meios estranhos "b processo, não tem o seu nhecido pela experiência do juiz". (29)
fundamento senão na lmposcibilidade em que Aliás, muitos julgados dos nossos juizes e
ficariam as partes e a superior instância d-3 co- tribunais são frequentemente fundados em nor-
nhecer as fontes da prova. Assim, seria impos- mas de· experiência, pois que cada vez mais a
sivel uma critica conveniente dos meios de prova experiência e a observação da vida veem aju-
<JU informação de que se teria servido o juiz. dando o juiz a bem compreender a prova, para
Por outro lado. tal sist-ema d·9 conviccão não que o seu convencimento chegue perto da ver-
s-e conformaria com os princípios do contradi- dad·e.
tório e da publicidade, que dominam integral-
mente o nosso processe- penal. NOTA FINAL: AS APELAÇõES DAS DECISõES
Tambem não procede o argumento de Co- DO JURI
viello de que "não basta provar a simples noto-
ri-edade, porque isso não equivale a provar a 12 - O art. 96 do decreto-lei n. 167, de B
verdade". ele Janeiro de 1938, provocou críticas e equi·
A notoriedade deve revestir-s-e de tal grauvocos.
'€ os fato, devem ser de natureza que per- Houve quem acusasse a lei de incoerente,
mitam não hav·er dúvida sobre a verdade deles. uma vez que os tribunais d-e apelação podiam
E' claro que deverá ficar a critério do juiz o rever as decisões do juri, para retificar o julga- ,
julgamento sobre a notoriedade de determinados menta, em face das provas existentes nos autos,
fatos, assim como a necessidade de sua prova. o_:u p~oduzidas em plenário. A injustiça da acusa-,
Ninguem, por exemplo, pretenderia fosse d1s- çao e manifesta.
pensavel a prova da existência de um crime e O art. 96 daquele decr-eto-lei expressamente
de quem seja o seu autor, por mais notórios deterJ!l.Ínaya que o Tribunal de Apelação deveria
que fossem tais fatos. E' bem de v-er que o con- aprecwr ltvremente as provas que tivessem ins-
ceito de notoriedade t-em um âmbito muito mais truido a decisão do juri. Com ess~ dispositivo,
estreito. Fatos notórios são os a que já nos refe-foi consagrado em tais julgamentos o principio
rimos de maneira exemplificativa. E a ess·es da livre apreciação das provas, pois a liberdade-
ninguem poderá negar veracidade. que se c;mtorgava aos tribu,nais, de apelação nll.Oo
era senao a de apreciar as , provas livremente,
NORMAS DE EXPERI:ll:NCIA isto é, sem atender às regras' probatórias ex!B-
tentes na legislação proc-essual para orientar os
11 - As máximas, princípios ou regras de julgamentos da justiça togada.
·experiência, disciplinados pelos autores alemtíes Apreciando, assim, as provas existentes nos
(Erfahrungsstitze) (27) distinguem-se nítida- autos ou produzidas no plenário (a lei mandava
resumir os depoimentos das testemunhas ouvi·
das na assentada do julgamento), podiam os
(24) - Friederich Stein, Das prtvate Wis- d-esembargadores formar a sua íntima convicção,
sen des Richters, pgs. 138 e segs.
(25) - Friederich Stein, Grundriss des Zi-
vilprozessrechts und des Konkursrechts, pg. 247. cessualista alemão é muito interessante a mo-
(26) - Nicola Coviello, Manuale di Diritto nografia de Gennaro Roberto Fistolese, La prova
Civile - Parte Generale, pg. 516. civile per presunzioni e le c. à. masime d·i espe~
(27) - Frieclerich Stein, Das private Wis- rieenz!W. Ce-dam Paelua. •1935.
sen des Richters, pgs. 21 e segs.; Grund.riss des I
(28) -
Zil'ilpro:cs-'rccl> t,s uncl eles Konlcursrcchts, pá- , P'S. 242.
Frieclerich Stein, Grundriss cit.,
~·ina~ 2~11 ;_· ,c::cg.~. Con1o \·ul~·ari7,::u;ão dos prin- I (2~) - E. Florian. Principii cli Diritto Pro-
clpius prol)::ttérios c\efencliclos pelo notn\·el pro-; ~cssualc Pcnalc, p;·. 331.
(D21
5-1-43 ATICHIVO JUDICIARIO (SUPLE:\lENTO) 17
da mesma maneira que os jurados. Já vimo3 ajustava à interpretaçiio ela lei penal dominante
que a única cliferença entre os dois critérios na época do julgam€nto.
de julgamento reside na prerrogativa elos ju- O novo Código procurou ser ainda mais
rados ele não fundamentarem a sua decisão. claro e dispôs que só se poderá dar provimento
Assim, nào havendo demonstraçáo dos motivos á apelaçáo da sent·ença do juri, fundada em
d 2 convicção, nào há como verificar-se se O:'\ Injustiça dela, "quando o Tri~unal ele Apelação
jurado3 se serviram de fatos ou circunstâncias se convBncer de que a decisão dos jurados nào
não provadas nos autos, e ele que teriam tido encontra apoio algum nas provas existentes nos
particular ciência. Quando isso ocorresse, ou, autos" (art. 606).
mais ainda, tivesse sido a decisão inspirada por Já se não falou em "apreciação livre", por-
motivos sentimentais, estranhos totalmente ao qu~ o princípio informa hoje todo o nosso di-
caso em julgamento, cabia ao tribunal r2ajustar reito penal probatório (art. 157). A nova re-
a decisão à prova produzida. Entretanto, como dacão, em contraste com a do art. 96 da lei
se deduz claramente ela letra ela lei, a reforma anterior, bem está dando a sentir a intencão
do julgaclo só deveria ocorrer quando a decisão da lei em prestigiar as decisões dos jurados, que
fosse flagrantemente aberrante ela prova. Admi- deverào subsistir em regra, só devendo ser cas-
tir que, em todos os casos, pudesse o tribunal sadas em casos excepcionais.
rever as decisões elo juri, para reconhecer uma
agravante a mais ou uma atenuante a menos, * * *
seria faL;ear o objetivo ela lei, que se destinava E' multo cedo para bem julgar-se a reforma
a coibir os julgamentos escandalosos, e náo a peaal do Brasil. E quanclo esse julgamento se
anular as prerrogativas do juri. Não é possivcl tornar oportuno, não deve ser esquecido que
perder-se ele vista o contendo político elas de- 11em só elas leis depende a eficiência de uma
cisões dos jurados, os quais não podem fic:.u justiça. Todos sabemos que outros fatores muito
adstritos, na apreciaçáo complexa elos fatos, aos vomplexos interveem no seu destino.
mesmos critérios que inspiram os juizes profis- No momento em que o Brasil chama pela
sionais. lealdade, pela firmeza e pelo espírito de sacri-
ltcio de seus filhos, sejamos· dignos d·ele, ser-
Daí os numerosos equívocos em que incor- vindo-o de boa fé, .cada um no seu setor. E,
reram alguns elos mais brilhantes e ilustres homens da lel, náo o ser iremos melhor, nem
juizes. Algumas vezes, as decisões do juri che- rnell1or faremos por merecê-lo, senão 1utando,
garam mesmo a ser reformadas em homenagem com todas as forças da inteligência e do coração,
a teses doutrinárias ab·ertamente controvertidas. por nos s·entirmos à altura do nosso grave mi-
E' que a decisão do tribunal popular não se nistério.
(93j
REGISTRO BIBLIOGRAPHICO
(Dezembro de 194.2)
\'.O
dante D. Margarida ·Lima Heitor. - Apelada: -- Tribunal de Apelacão do Estado do Rio
Distribuidora de Papéis e A1'tes Grájieas Ltda. de Janeiro - Apelação civel n. 727 - Relator:
- Relator: Desemb. Caldas Barreto. - Me- Desemb. ·ozdemar Pacheco - Apelantes: João
morial da apelante - Escritório dos advoga- Corrêa e Clara CorrêtL Pupake - Apelado: Es-
dos: Das. LEVI FERNANDES CARNEIRO, CID BaAU- pólio do Dr. Alvaro de Castro Neves e Almeida.
NE, J. M. CARVALHO ··SANTOS, CESARIO LEVI CAR- - Memorial dos apelantes pelo advogado DR.
NErRO, AMERIOO LUZIQ DE OLIVEIRA e SILVIO JOSÉ HERDY GARCHET. - Tip. do "Jornal do
LEVI CARNEIRO. - Tip. do "Jornal do Com- Commercio" - Rio, 1942.
mercio" - ·Rio, 1942.
(98)
A indissolubilidade do casamento
e as ações de nulidade e anulação
PELO
A renovação político-social de 1937, põe por c). E' membro de uma profissão: por meio do
princípios valorizar as nossas realidades sa- ,;eu grupo profissional designará os mais ex-
cias, os agrupamentos tradicionais que, sem- perimentados (art. 57) que, no governo pro-
pre, através da história da nossa formação. movam os seus legítimos interesses (art. 61),
constituirmn a nacão brasileira. de modo a sobre eles legislando (art. 63) e concorrendo
contrastar a tendê.ncia dispersiva do sistema na escolha do chefe do Estado (art. 82) , b)
que, inutilmente, pertenceu fundar o equilí- que sobre todos governa, assegurando a unidade
brio social numa espécie de solidariedade me- e a indivisibildade da soberania nacional (arti-
cânica entre os indivíduos. gos 72 a 75); e, se, no trato da coisa pública,
Se a Constituição de 1891 foi apodada dP udquiriu experiência, exercendo cargos de gc-
Idealista por procurar modelar a realidade por verno, ou técnicos, ou se distinguiu por sua
Idéias sem base na verdade social, donde os cultura, poderá ser sempre chamado ao gover-
nossos desajustamentos durante largo período. no, como membro de uma das Câmaras (aTti-
a Constituição de 1937 parte da realidade con- gos 52 e 53) .
creta para sobre ela fundar o governo do povo Na hierarquia legal, sobreposta à hierar-
Atente-se no sistema de representação qma natural, reside o verdadeiro princípio da
numa e noutra das duas cartas políticas. Num~ representação e organização, bem como o da
se considera o povo um conglomerado de indi- tgualdade, que não consiste slnâo, como diria
víduos. arbitrariamente contados no corpo so- ttuy Barbosa, em considerar desigualmente os
cial, chamado perioclicnmente a exercer a sa- L!esiguais na medida em que se desigualem.
berania; noutra o povo se concebe como o Para organizar a sociedade impossível abs-
conjunto de grupos sociais, de famílias, de cralr dos agrupamentos naturais que a for-
'profissões, de responsabilidades, formando um:. mam. Considere-se a licá<J dos mestres das
llirarquia natural. Numa, o povo é aglomeração escolas sociológicas as m'ats diversas, a de Le
mecânica de indivíduos munidos de cédulas Play, de um Comte, de um Durkheim, - todos
eleitorais; noutra, a aglutinação orgânica da
repelem o liberalismo individualista para ver
nação. Numa, o individuo é tomado abstrata-
mente, porque considerado fora das agrupa- " solução do problema na valorização dos gru-
mentos naturais a que pertence, a familia, a pos sociais - a comunidade local, o agrupa-
profissão. a comunidade local, para exercer os mento profissional e cultural, a formação fa-
seus direitos políticos. Noutra, o homem se miliar. Nem mesmo os fisiocratas propugnaram,
concretiza nessas formações orgânicas, em no terreno político, o liberalismo inorgânico, a.
cujo funcionamento solidário residem a harmo- Rousseau· tanto apregoavam o liberalismo eco-
Hómico quanto detestavam o político, respeito-
nia e o equilíbrio sociais. sos de toda a hierarquia social, como escreve
O homem, no sentido concreto, é parte Gide na sua História das doutrinas.
Integrante da comunidade local, cujo horizonte
o mais modesto pode a barca r: por isso ele devt~ A valorização dessas formações naturais
eleg;Jr os melhores dessa sua comunidade para cem sido levada a cabo, como é notório, no
o governo dela e para, na esféra mais vasta <ttual regimen, por forma continuada e siste-
dos interesses nacionais escolherem, em seu mática. Assim, no tocante à família, é por
nome, aqueles que lhe lü\o de dar as leis " demais conhecido o que se tem feito para sua
reger a coisa pública (Const., arts. 47 e 82, proteçào, direta e indiretamente.
(57)
24 AHCHIVO JUDICIAHIO (SUPLE:\IENTO) 20-1-43
Informada nas nossas tradicõcs, baseou-se os que vão alem e sustentam qu" a nova pr~s
a Constituição no casamento indissoluv8l. Se' e:tição continua a viver ao laclo da antig::t., a
essa indissolubilidade não figurou na Carta de do Código Civil, de modo a aplicar-se, em cada
1891, vemol-a, entretanto, alçada à categoria de caso concreto, a mais rigorosa.
canône constitucional em 1934 e em 1937; e,
mesmo no regime de 91, o Código Civil havia AS ANULAÇõES POR EREO
acolhido o principio. ·
Passemos aos casos de erro.
NULIDADES DO CASAMENTO Por direito canônico distinguia Graciano
quatro espec1es de erro no cas2.m.e1•to: euo
Mas, o que é indissoluvel é o casamento sobre a pessoa, erro sobre as qua.iidaues, erro
válido. Alem dos impedimentos por parentesco, sobre a riqueza, erro sobre a condição da pe8soa.
por btgamia e por crime ( Cod., art. 183, 1 a O erro sobre as quattdadeE: ou sobre a
VIII), que· tornam o casamento nulo, ou ne- riqueza do outro cônjuge não dava ao contra-
nhum, e da nulidade decorrente da incompe- ente enganado o direito ele pedir a anulacão do
tência da autoridade, sanavel pelo decurso de casamento. O erro, como se sabe, é víéio do
dois anos, estabelece o Código os casos de anu- consentimento; se o cônjuge errou ao receber
labilidad.e, nos ns. IX a XII do art. 183 e no seu consorte, não deu seu consentimento, donde
my. 218, entre eles os de coação e de erro. a anulabilidade dQ casamento. Poi.s bPm: quem
casa com determinaclo pobre cv.dand<t-o rico,
NULIDADE DECORRENTE DA COAÇAO r..ão pode diZier que não deu seu eonb•om:imento
para easar com esse pobre dCtermina!lo. O erro
Assim, o cônjuge que tenha con~raido o ma- sobre as qualidades é o que di3 respeito às
trimônio movido por violência ou ameaça que qualidades morais e às qualidades físicas tio in-
incuta temor de dano iminente c, pe1o menos, clivicluo, e ta1nbem não constit1.ura r.toliv:J de
igual ao receiavel do casamento <;>.torc,uido nulidade. porque o consentnnent,o, nüo obstante
(art. 98) pode pleitear judicialmente a anula- o erro acidental (e não essencial) foi dado.
ção deste. Tinha, porem, que entrar em juizo Se A ca.sou com B cuidando ser este de i)oa
dentro de seis meses, e contar ·do d13. em ·que rnoral, quando 0 não era. nen1 por isso, desco-
ficas.s.e livre ela coacão. b·crto o eng::~no, poderá cliZier que não deu seu
No direito canôi1ico o casamento do coacto consentimento para casar co1n B Fc; com B
Era nulo, ou nenhum, e a ação para declarar a que, a.pesar di.Eso, A consentlu em casar. Asssim,
nulidaele imprescriptivel, com asse tempern- até mesmo a não virgindade d:t mulher nfto
mento, talvez: que importava val1daçã 0 ou as- era motivo de pleitear anulacão do casamento,
sentimento do coact 0 ma-nifestado . dê>pois de salvo pacto antenupcial em contrá~·Jo c-Jino ensi-
cessada a coação. Essa ratificação, do direito na Esmein.
canônico, como se vê opera-se, pelo C:xli;so. se, Mas o eiTO sobre a pessoa vir::lava 'J consen-
aentro de seis meses, o cônjuge já liberto da timento, e tornava nut 0 o matrinll'\nio, nulidade
violência, deixa de pleitear a nul!clade. que podia ser demandada em q:nlqucr tempo,
Mas, por esse sistema, o cón)1.1ge, q1w!que,· salvo se, cOmo no caso da coacão, o cas:'<~11ento
que fosse a d1Lração do se1L casmnento cinco, fosse validado por 1.ill1 novo consentimento dftdO
dez, vinte, trinta anos, podia demand,u a anu- depois de cessado o erro. O erro sobre; <t pessoa
l!tçúo, bastanao-lhe dar prova ele que r" coação ou era erro quanto a ielent.idauc jv;ica ou
cessara não havta ainda seis meses, prov~'< esEa quanto a identidade civil. O pnmeir,, tem
sobretudo testemunhal e, portanto, de produção exemplo no casamento ele Jacob com Lia ,que
!'elativam·ente facil, mormente quando os côn- segundo Graciano, só foi validada sulls~quente
juges e suas !amilias se punham ce a~Dl'do. mente: "Jaco h ergo et Lian non fecit con·iuges
Daí a medida legislativa, para obviar o in- praececlens consenoce 0 sed subsequc;o.s''. Este
conveniente, baixada com a lei n -±.528 do cor- e.rro, graças às fonnalielades ela celebraçã-o moder-
rente ano: nâo mais se admitirão acôes ele anu- na, é quasi impossível verificar-se. Nute -se c,ue
lação com esss fundamento. viEaflcÍo cs matri- a pessoa que disse o "sim" an juiz e aquela
mónios velhos ele mais de dois an.:;s. que se considera casada; assim, mr. sósia pode
Dir-se-á que será Isso reconh3cer aos que induzir o nubente em erro quanto à id~'lt:idade
tem interesse em coagir alguem ao casmnento o fí3'ica.
poder de tornar válido o matrimónio viciaelo No tocante à ielentidade civü, o erro con-
persist1ndo na prática da violêncut durante dois siste em receber por conjuge o contraente en·
anos a contar da celebração. Mas, cmno já ganado. pessoa oriunda de família diferente da·
acentuou notavel sociólogo, a lei nã 0 visa o quela a qual acreditava que ela pertencesse
ótimo, mas tão só o melhor, o mal menor. (erro de filiação) . Um canonista distinguia
Ela sacrifica, dispondo como cl1sp6e, rarissl- muito bem a hipótese dizendo que se o con·
mas situações Individuais, para prevemr um mal traente se fazia passar por fill1o de tal rei ou
que se mostra, no sentir do legislador, pratica- de tal conde, não o sendo, havia erro sobre a
mente maior, qual seja o de transformar a causa pessoa; mas, se se inculcav::~ filho de rei ou de
de anular em causa de divorciar. E' o mesmo conde, ele modo geral, sem que o fosse, só ocor·
fundamento lógico que se observa pant não Ee ria erro quanto à qualid.ade.
E~sa doutrina canônica passou ao direito
introduzir o divórcio na legislação: em curar o francês, em que o erro sobre a identidade é
mal de alguns llláo há por que aniscar o bem motivn lle anulação, não o sendo os erros so·
de todos. AsSim, em sendo pDssados t.!ois anos bre as qualidades (honra, riqueza. defeito físico,
a contar da celebração do casam,mta, mesmo impotência, até moléstia grave) .
em se tratando de casamento contrairlo antes O erro sobre estas qualidades, ainda mes·
ela lei 4.529, nã0 cabe mais a ação anulatória. mo que provocado por manobras do cônjuge,
E acresoente-oo: se a prescrição de seis Illl2ses, a 11ão pôde ser alegado; o dolo não serve de fun·
contar cl::t data em que cessou a coaeão, já estava d8mento à nulidade •do matrimônio: en mariage
consuma.cla ao tempo da atuaç~\o ela lei 4. 529, tromp~ qui pcut. Na "encllntadora e perpétua
o novo prazo de prescrição nesta l<o:i e.,tal;eleciclo n1e11tira elo amor" as partes, como observa Pla·
não ::~provclt::t ao cónjuge coacto, nav~nclo, até, 11iol, para vencer as hesitações uma ela outra,
(08)
20-1-43 ARCHIVO JUDICIARIO (SUPLE:.IENTO) 23
(59)
As tendências modernas do direito
administrativo
PELO
I
Venho, hoje, aqui, a esta Casa, pagar uma jurídico, incompatível com a unidade do Direi-
velha dívida contraída com vosso Presidente. to, mas apenas em aceitar-se uma divisão do
meu eminente amigo, Dr. Miranda Jordão. Dí- Direito, por meio de um processo técnico de
vida, que estaria prescrita, não fosse uma obri- agrupamento, dentro dos quadros ou discipli-
gação natural, dessas que só se extinguem com nas autônomas, de relações sociais equivalen-
a morte. tes. identificadas por traços comuns, e obede-
Pol" isso aqui estou, e talvez tambem um cendo a uma finalidade comum.
pouco por vaidade, pressuroso em ocupar esta E esta diferenciacão se foi tornancio cada
tribuna, onde me engrandeço, relembranclo os vez mais frequente, ém consequência ela com-
vultos que por ela passaram. plicação das relaçõ~es sociais, e multiplicação
E tanto menos indicado estou eu para elas normas jurídicas reguladoras dessas rela-
ocupá-la, quando nem siquer trago comigo, as ções.
estrelas e bordados do Marechalato da profis- F'oi em virtude desses fenômenos que no-
são a que teem direito os sócios desta easa. vas disciplinas foram surgindo. São conheci-
Mas aqui estou como demonstração do meu cj.as as orígens do Direito Comercial, e as ra-
apreço pessoal, a todos quantos militam neste zões de ordem econômica e social que moti-
"Solar de ·Montezuma", como gosta de denonli- varam a sua autonomia, cmno tambem o seu
nar esta casa o vosso Presidente. desdobramento, hoje, especialmente com o agru-
Longe, portanto. de recaírem os onus da di- pamento de algumas de suas normas sob a de-
vida sobre o deveclor, que sou eu, de preferên- nominacão de Direito Industrial.
cia eles rccaern, ncst'e momento, sobre o cre- O ÍHreito Administrativo nasceu, tambem,
dor, obrigado a ouvir-me em palestra tão en- da necessidade de uma sistematização de prin-
fadonha. sobre matéria tão esteril. cípios e normas, agrupadas em torno de um
Escolhi como tema algumas tendências mesmo fim, obedecendo a uma mesma técnica
modernas do Direito Admínistrativo, e permiti- 1 jurídica, a processos especiais de aplicação e in-
me que sobre ele me estenda, abordando os as- terpretação, relacionados todos com a organiza-
pectos que parecem de maior interesse. cão do Estado, sua estrutura administrativa, e
Dispensamo-nos, inicialmente, do dever de suas relações com os particulares.
definir essa disciplina jurídica, diremos, apenas, Destacou-se, por isso, elo velho Direito Pú-
que ela constitue, hoje, uma especialização, de blico; e do próprio Direito Administrativo já
normas e doutrinas, cuja importância é tanto se vão, tambem, emancipando o Direito Fis-
maior quanto mais frequente a sua aplicação, cal, e m;n Direito Disciplinar em formação, não
e_ mais constante a repetição de fatos e situa- se falando no Direito do Trabalho, no Direito
çoes, em que se apresenta a necessidade da cons- Social, e todas essas novas disciplinas em que
trução de um regime jurídico regulador da vida a conciliação do interesse público e do parti-
interna da administração, e das relações entre cular constitue a própria essência de sua cons-
esta e os particulares. trucão.
Nem ele outra forma se justificaria a cons- ·E' a velha complicação dos fenômenos so-
tituição elo Direito Administrativo como disci- ciais. que Spencer resumiu, em um dos seus
plina autônoma, e o desenvolvimento dos es- princípios de Sociologia. ·
tudos em torno da sua matéria. E' verdade, e convem guardar bem a obser-
E' preciso. entretanto. advertir que essa di- vação, que a autonomia de todas essas <lisci-
ferenciação de normas jurídicas nüo importa plinas é relativa, por que entre todas existe
em acllnitir-so a existência de um pluralismo uma interdependência, que leva, por veses, às
(61)
28 ARCHIVO JUDICIARIO (SUPLEMENTO) 20-1-43
Lemrb~r a ll\ta que se travou nos Estado.<, tro de um quadro inteiramente Imprevisto, de
Unidos, em torno desse problema, é demonstrar acordo com as contingências do crescimento das
como o Direito Administrativo americano evu- funcões do Estado e ela inadaptabllldade das
lulu com o seu sistema democrático. . novas formas de intervenção, com as exigências
E, na reallclade, o sistema de concurso e a restritas das organizações burocráticas existentes.
democratização da a.dmlnlstraçao, por melo de Imprevisto porque a sua criação obedeceu
uma penetração, cada vez maior, na massfl. da a uma lmposlçio das exigências econômicas s
populaçno, nos orgias administrativos, e mesmo, sociais, e na impossibilidade do esforço parti-
de direcâo do Estado. cular de levar a cabo tarefas inadiaveis que, no
Mas não sómente esta vantagem trouxe momento, se impunham.
consigo a aplicação dos métodos de selecção inte- Assim ocorreu com as instltuicôes de Prevl-
lectual. Ampliando os seus serviços, mesmo no dênc!a. Assim aconteceu com os orgãos de inter-
terreno industrial, o I!!Staao necessitou de elevar vencão na economia. E assim tambem verificou·
o nível profissional dos seus servidores, e, ao ' se com os serviços Indústriais.
mesmo tempo constituir entidades que, em sua A planificação prévia, portanto, nã.o teria
estrutura, s:l.o ae todo em rodo dl!erentes dos sido posslvel, esperando-se apenas que todas es~as
velhos orgãos burocráticos a a administraçio. instltulcôes se reajustem, dentro de padroes
Foi preciso que ele recorresse a novos pro- mais oú menos semelhantes, de acordo com o~
cessas, nova forma de distribuição dos seus ser- tipos, finalidades e funções comuns ou equiva-
vlço,;, adaptados a finalldaaes espedi!cas dos lentes.
servicos industriais bancários e de Previdência ·Faltou, tambem, na organização dessas entt·
Social. dades, um preparo prévio da doutrina jurídica,
E não teria obtido os resultados desejados, que, como acontece frequentemente, no Direito
si nao tivesse descentralizado os seus serviços, ,1\.cf.mlnistratlvo, em formação, é feita a poste-
atravez de orgãos autonomos, com personali" rtort, como construção nascida da experiêncut,
dade jurídica própria, e cujos fins se podem e por melo dos quais podem se corrigir os de-
resumir nos seguintes itens: feitos e os erros praticados, com a utilizaçio df\
1o. Descentralização dos encargos da adml- processos puramente empiricos.
nistração, evitando o que Manoilesco denominou Este ploblema da planiflca.ção não é só-
o "surménage elo Estado". mente nosso. Foi agitado, tambem, com especial
2o. Diferenciac:lo, de acordo com a natureza v1gor, nos Estados Unidos.
peculiar elos seus fins, elos diversos serviços eles- Ali, a crítica severa de alguns autores cen-
centralizados. surou o Congresso por não ter tido a menor
30. Libertação dos rigores da fiscalização Idéia sobre a posição das Corporações públicas,
financeira comum. quer no sistema legal daquele país, quer no seu
Através desses orgias, o Estado realiza certas sistema econõmico.
funções que não lhe são ·privativas, amplia a E ali tambem se aconselhava um Estatuto
esfera de suas atividades, donde a denominação dentro do qual se deveriam colocar as "Corpora-
ur,ual que se lheR atribue, de - Orgã.os de eles- ttons", obedecendo às normas gerais traçadas na
centralizaçiio funcional. sua lei orgânica.
Este terreno, como se sabe, é extreJnamente Mas, nos Estados Unidos como entre nós, o
!ertil aos estudos do Direito Administrativo, que que caracterizou a construção clessas entidades,
se desenvolvem através de numerosos capítulos, foi a adaptação de sua estrutura às suas fina-
entre os quais poderemos mencionar os seguin- lldades Imediatas.
tes: Não nos deteremos nos problemas da c1ass1·
1. Da conveniência ou não, de planificar e f!caçiio, da denominação, e outros menores, cuja
padronizar os diferentes tipos de Autarquias: lmportãncia é relativa, e não oferece bastante
2. Da possibilidade de uma classificaçii,o. Interesse prático.
tomando-se por base a estrutura, ou os fins A questão da personalidade jurídica merece,
dessas entidades; entretanto, ser tratada, pelo seu relevo, qut:or
· 3. Da natureza jurídica da personalidade quando se considera a necessidade de adaptar
das Autarquias: si de direito público, ou de di- u Código Civil à realidade presente, quer quan-
reito privado; do se tem em vista o problema das funções es-
4. Da denominacão a lhes ser dada: Autar- tatais, delegadas a essas pessoas Jurídicas des-
qulas, ou Orgãos púa-estatals; centralizadas
5. Do problema da administração, e do con- Tenho, sempre, sustentado, a personalidade
trole- ou tutela elo Estado; do direito público das Autarquias. E fui dos
6. , Do patrimônio das Autarquias: si ele primeiros a fazê-lo, entre nós, quando ainda
se ldentLfica com o da pessoa jurídica descentra- vacilante a doutrina, e contra ela se apresenta-
lizada, si pode ser considerado patrimônio do vam autoridades inc.ontestaveis.
Estado, ou ainda, . si pode ser considerado pa- E nada tenho a alterar ao que escrllvi,
trlmônio público; então. faz cerca de dez anos.
7. Da receita e natureza da contribuição E desde aquela época, mais se consolidou
arrecadada; esta doutrina. mais se acentuou o cnrater de
8. Da delegação das funções disciplinares, e delegação às funções exercidas pelas autar-
da repress·âo administrativa. quias. delegação na própria essência da inatitui-
Cada um desses problemas, reveste-se de ção, no direito de arrecadar tributos, no dir8ito
singular lmportãncia, mas longe de mim a idéia de exercer funções quasi legisilJ.tivas, no aireito
de aflorá-los todos, nesta rápida digressão. repressivo, administrativo e disciplinar, no exer-
Não me dispensarei, porém, de comentar al- ,1 cício, finalmente de uma ação coercitiva. mo-
guns dos mais importantes. nopólio e privilégio do Estado.
O primeiro é de um interesse teórico e prà- Não me parece, entretanto. quo esta lden-
tlco lndiscutivel - Da Convenlencia ou não de tificação das entidades autarquicas com o Es-
Pactronizar os tipos de Autarquias, planifican- tado, constitua razão suficiente para sup!"imir-
. do-os dentro de um esquema previamente ela- se a sua personalidacle jurídica. em seus elenren-
borado. · . tos essenciais, como o patrimônio e a auto de-
Penso, entretanto que essa idéia não obede- , tonninacflo d2 sna vida inteTna, naquilo (!1\2 se
ce às tenclênclas gera'is ·do problem[l, da desceu- 1' compreende restritamente em Ena compcl ên~ü
tralização funcional. Esta se desenvolveu clen- , legal. E aqui encontramos um cios mais diíir.ei.>
(63)
30 ARCHIYO JUDICL\RIO (SUPLE~lE::\ITO) 20-1-43
I
problemas de toda a doutrina - o controle dos mais fechados à influência elos orgãos propria-
.atos de aellninistracão e u suborclinacãe> llic- mente aelntinistrativos. scn1 que isto exclua o
rarquica dos admiÍ1istradores perante- os Mi- controle final do Presidente ela República atru-
instros de Estado. vés de orgãos de controle financeiro espec.tais.
Lenta tem sido a construcão desta doutrina Em ralacão às "contribuicões arrecadada:;
entre nós, ao contrário da Argentina, por exem- pelas autarquias'', verifica-se 'o exercício de
plo, onde foi o tema objeto da num-erosos estu- uma delegação do Estado, e assim o entendemos
dos, notadamente do mestre Rafael Bielsa e, porque não se poderia tornar exequivel a arre.
mais recentemente, Horacio Her.zdia em tese cadação, sem a acção coercitiva, sem que a fun-
especialisada. ção estivesse revestida dos característicos de uma
Apezar de tudo, já podemos encontrar em ação coatora, privativa do Estado.
nosso direito positivo, material para a constru- E aqui remamoramos o que dissemos, de
cão de uma doutrina. início, sobre esta função estatal e a clilataçáo do
· Assim, a organização das comissões de con- poder coercitivo como sistema de equilíbrio
trole, a determinação expressa nos textos le- Estas contribuições, entretanto. dado o seu
gais dos recursos cabíveis dos atos dos adminis- destino
tradores, o processo de exame da gestão finan- veis em especial, tratand0-58 de serviços diviol·
sua essência e em sua fonna, revestem-
ceira, etc.
De todos esses elementos se vai formando se de todos os caractel'isticos das taxas em sua
a doutrina, .sup~indo-se .às lacunas da lei por conceituacão
Tamb'sm
moderna.
a delegação do Estado se verifica
mew de apllcaçoes analoglCas e dos princípios na esfera repressiva disciplinar e administrativa,
firmados pela jurisprudência. porque ela se exerce não somente dentro do b!"U·
O problema do patrimônio é, tambam, do po e das instituições. segundo o conc2ito preciso
maior interesse prático. inclusive fiscal.
Tem entendido o Departamento Admlnis- de Bretlle de la Gressaye, mas tambern em re·
trativo do Serviço Público e o fez em reci!Dêt !ação a todos os que direta ou llldiretamen t<:; es.
parecer, a equiparação dos bens das entidades tão em relação com o instituto autárquico.
autárquicas aos do próprio Estado, invo•;anc:·.J E, como exem:plo desta afirmação, sobre a
uma doutrina americana e uma jurisprudência qual tambem não nos podemos infelizmente es·
que. com a devida vênia, já se vai tornando oo- tsncler, aí está o regulamento elo Instituto do
soleta. Mate baixado com o clecreto n. 10.755, d,: 30
O desenvolvimento extraordinário naquele de Outubro de 1942, cuja leitura recomendamos.
pais das chamadas Business e Public Cbrpon· Diterent-e em sua estrutura jurídica e em
tions, uma das quais a Tenness2 Vall2y, aiJran· sua expr2ssão econômica é a sociedade de eco·
ge vastíssimo território dos Estados, tem oc;a->io· nomia mixta - forma interessante de participa·
nado uma reacão severa contra a liberalidade da ção do Estado nos grandes empreendimentos in·
doutrina de isenção fiscal que sonegaria ao' Es- dustrlals e flnancelros.
tados vultosa renda. . Por este meio o Estado supre a deficlénd~
Nos Estados Unidos a solução judicial (: do capital particular, nacionaliza empresas d9
controvertida e o próprio governo tem procurado nacionalielade suspeita ou duvidosa. exerce com
resolver amigavelmente por melo de acordo con; a colaboracão elos particulares e ela econowra
os governos estaduais e locais, por melo de uma privada, funções estatais, anima as iniciativas
redução equitativa dos impostos e taxas de for- particulares com vantagens e privilégios sem G5
ma a atander aos interesses recíprocos. governo quais Eerimn inexcquiveis. Por n1eio desta EiS·
empresas públicas. Abstemo-nos de citar ns de- tema, construiu-se em um período de paz e de
cisões porque evitamos maiores detalhes, que equilíbrio, uma parte da indústria aiemá, ~'
tornariam fastidiosa esta palestra. grandes iniciativas financeiras ele colomzaçao
E' bem verdade que, em virtude do desdo- do Norte da Afrlca, Inclusive o Canal de suez, o
bramento das pessoas jurídicas públicas, pelas Banco de Marrocos, o petróleo de Mo~sul, etc.
entidades autárquicas, tambem ter-se-ia de c:cs- O prestígio da economia mixta, se estende
dobrar a divisão do domínio e do patrimônio hoje a todos os países, atingindo até as or~anl·
públicos, discriminados no artigo 66 do Cócligo zacões da economia Russa, dos Torgs mtxtos,
Civil. incentivo do Estado a certas ativiclades priva-
Mas tambem é indiscutível que, quanto a das. Seria longo aqui discriminar todas as ini·
sua destinação o patnmônio das autárqulas \"1- ciativas devidas a esta forma de empresas, modo
sa a satisfação dos fins próprios a cada uma € de agir segundo pretendem alguns. do moderno
a obtenção de uma renda que não se coniunde socialismo moderado, receioso de uma estati·
com as rendas públicas. sacá<:J muito radical.
Ainda m•ais, o conceito do patrimônio se • Entre nós, aí estão as grandeos iniciativas:
identifica com o próprio regime financeiro e o Banco do Brasil, o Banco de Crédito da Bor·
contabil das autarquias, de todo em todo dife- racha, a Companhia Siderúrgica e a Companhia
rente do regime das entidades estatais de gráo Vale do Rio Doce.
superior. Ha tambem toda uma ctoutrina, a construir
O problema da personalidade jurídica, tem sobre o assunto. Natureza do patrimônio, me·
assim, doutrinariamente aspectos da maior gra- dida da integração no Estado, privilégios fis·
vidade, e que tornam inconfundíveis as pessoas cais, etc.
jurídicas com certos serviços autônomos, mera Deixamos estes probelmas apenas coloca·
diferenciação de orgãos burocráticos, mas sem dos, como demonstração de que tambem aqui
as características de pessoa jurídica, de fundo muito existe para construir.
patrimonial e funcional.
Desejaria abordar aquí tambem com ampli-
tude os problemas do controle financeiro e do A regulamentação dos serviços de utili·
recw·so hierárquico. Direi apenas, para não dade pública
estender este exame, que o controle financeiro,
bem como o recurso das decisões dos adminis- Um exemplo típico do desenvolvimento do
tradores. v8à obedecendo em nosso regime a nosso direito administrativo encontra-se no ca~
uma subordinação hierárquica. através dos Mi- pítulo das concessões de serviço público, em
nistros ele Estado salvo naturalmente em al- catninl1o franco para utno. regulamentação, su.
gumas entidades como certos Institutos (Ja Ma- bordinando os contratos feitos pelo Estado a
te, elo Açucare Alcool, etc.), mais autônomos, um regime legal enquadrado na teoria dos con·
t64)
20-1-43 AHCHIVO JUDICIAIUO (SUPLEMENTO) 31
tratos clirigiclos e da regulamentação legal dos A emencla foi combatida notadamente pelo
contratos. saucloso Ministro Arthur Ribeiro, mas acabou
Consiste, afinal, a regulamentação na apli- prevalecendo, afinal, com a redação do Sr. João
cação de um sistema de controle pelo Estado Mangabeira, que dizia: "Juizes e tribunais que
das emprezas concessionárias, afim de manter a _lei ordinária criar", redação que, entretanto,
o equilíbrio econômico entre os interesses das nao alterava em substância o pe·nsam.e·nto da
empresas e dos consumidores. minha emenda, com mais amplitude.
Foi a rewlta contra as emprezas de Es- Previa eu, ali, a penetração do Poder Judi-
tradas de Ferro, a especulação, a sêde de lu- ciário nos setores especializados da administra-
cws extorsivos, a origem do movimento gran- ção, com a aplicação de normas. jurídicas e os
gista nos Estados Unidos e do qual resultou processos técnicos especializados na solução de
toda esta formidavel construção jurispruden- controversias a111eias á esfera puramente do di-
ci~l iniciada com o famoso caso Mun v. Illi- reito privado.
nois, revivido na não menos famosa decisão . Não vingou a idéia nas Constituições pos-
no caso Smyth v. Ames, e que servirum de base tenores, mas, na realidade, a falta se faz sentir
a muitas outras decisões, estas iluminadas pe- porque o congestionamento dos 0 rgãos existen-
los conceitos de homens notáveis como Bran- tes revela, apenas, a necessidade de uma am-
deis, Stones, Holmes, 'I'aft, Hughes, mixtos de pliação dos quadros judiciários, na proporção
juristas e economistas e que souberam tão bem elas novas exigências e da afluência cada vez
identificar as controversias jurídicas com os in- maior ele processos.
ter<>Sses econômicos e políticos em jogo. Neste ponto, o direito judiciário se aproxi-
1\ verdade é que, elo tudo isto resultou uma ma elo direito administrativo, ou melhor, este
nova concepção _iuridica elos contratm de con- vem pedir ao direito jucliciário, os elementos in-
ces.•ões, numa permanente aplicação da vell1a dlspensaveis para a solução dos seus problemas
cláusula rebus sie stantibus, ás normas contra! fundamentais.
tuais especialmente ás tarifas elos serviços de E' u1n velho tema este do contencioso adm!-
utilidade públic&. nistrativo, e o da Justica administrativa, mas
Já os autores franceses, aliás, reconheceram que tem de ser encaradÓ agora solJ um prisma
sempre á matéria ele tarifas um carater regu- novo, principalmente nos paises em que o ju-
lamento.r q_ue lhe conferia uma maleabiliclacle cliciarismo ainda constitue a base ele toda a es-
pouco conciliavel com a estrutura rigicla dos truturl'l.. jurisdicional, mesmo -!Uanclo se trata
contratos. ela apreciacão dos atos ele adm!nistl'acão ou de
governo. - -
O interesse em torno de todos estes assun- A criação de tribunais pun.men te aüminis-
tos, é enorme, e, no terreno jurídico, as inda- trativos, en1 seus elementos, na sua composição,
gações são tanto mais curios!i_s quando se pe- em seus processos ele julgamento. constitue so-
netra nas relações existentes entre os argu- lução nen1 sempre satisfatoriu porque ou sub-
mentos de ordem econômica e financeira e as trai o conhecimento da contro\"ersla ao julga-
téses jurídicas aplicáveis na interpretação elos mento da3 instâncias judiciárias, ou criu uma
contratos. instância intennecliaria. nun1a ccn1plicacão cles-
A questão do custo histórico e elo custo nec:?ssána, que .só acarreta a de!.nora da~ .solucão
atual, para efeito ela fixação ele tarifas e da definitiva. elos litígios. A ConstiõUlção ele 19-34,
encampaçáo, o que se eleve entender uor tari- tentou a cria,ção ele um tribunal superior admi-
fas razoaveis e tarifas coniiscatórias, a medi- nistrativo, mas a ten~ativa não poderia surtir
da da intervenção do Estado neste setor e os efeito clacla a complexlClacle do aparelho que f'e
orgãos que exercem diretamente ou, por dele- pretendia criar.
gação, esto.s funções. Eis os numerosos capi- Outra solução é aquela adotada na Argen-
tulas novos desta parte do Direito Administra- tina, de uma instância judicial d<' recurso elas
tivo. decisões administra ti va.s.
Deus me livre de tentar siquer pener.rRr A solução, entretanto, viria quebrar o nosso
profundamente nestes setores por meio de tu;:tavelho· sistema das duas instancias judiciais, por-
explanação mais detalhada do assunto: in a- que, entre nós, a<J contrário da Argentina, não
mos muito longe. Limito-me apenas a dizer- existe o contencioso adn1inistrauvo.
vos que o problema elas concessões tomou -~ntre A soiucão, a meu ver. estaria. no sisterna
nós um rumo inteiramente imprevisto, nestes Americano,· sem quebra ela nossa estrutura ju-
últimos vinte anos. Devemo-1 0 ao S6di;;o de diriarista, mas adaptanao a organização elos nos-
Aguas, em cujo projeto Alfredo Valladão abriu sos tribunais às exigência-s técnicas da justiça
novos horizontes ao nosso direito administrati- moderna.
vo e, mais tarde, ás Constituições de 1934 e 1937, Nenhuma razão existe para considerar-se
que acharam de incluir em seus dispositivos necessária a criação ele Camaras criminais, para
normas wbre a fixação de tarifas. as quais são escolhidos de preferência juizes
mais afeitos ao estudo .-·.as ciências r:nais, e não
Tribunais e juizes especializados existam instancias especializadas para julga-
mento ele questões fiscais ou ad Inistrativas
Quando se discutiu, perante a comissá<J cuju complexidade é infinitamente maior.
chamada do Itamaraty, e que, sob a presidên- Não queremos levar o criterh ela especiali-
cia do eminente jurista Afranio ele Melo Fran- zação à~ ültimas consequencías, mas si nos afi-
co, elaborou o ante-projeto da Constituiçáa gura extremamente clificil para um juiz, leigo
de 1934, o problema da organização judiciária, aDs assuntos adn1inistrativos, o exaiT·e das con-
tivemos ocasião de apresentar uma emenda trovérsias surgidas em torno elas classificações
que acho agora de referir oara justificar o aduaneiras, ele impostos diversos, só para cim1·
meu ponto de vista em torno do tema - Jlli- os casos mais comuns.
zes e '!'ri bunais especializados. Nós mesmos, mais afeitos a este· gênero de
Dizíamos, então, que, alem do Supremo estudos. muitas vezes nos perdemos no seu
Tribunal Federal e dos Tribunais de Apelaçá<.>,l exame, ·diante ele um processo fldministrativo e
a Justica tambem seria constituída por tribu- elas intrincadissimos pautas aduaneiras.
nais especializados cuja creação se tornasse na- Nilo menores inconvenientes cncontramas
cessária. na apreciação. dentro ~os métodos atualmente
(65)
32 ATICHIVO JUDICIAHIO (SUPLEliiENTO) 20-1-43
empregados, por juizes e tribunais ordinários, das ventura lesados pelas co1nissões, se1n que, entre.
questõ8S que ver.oa.m solJre pat•e>nt.es e marcas. tanto, o exame judicial, ele rrcorclo com a Juris-
Falta na organização dos juizes e tribunais, até prudência Americana, pudesse penetrar na ma-
um aparelhamento adequado e a necessária téria de fato, restrita apenas à protecão dos di-
técnica de que se possa o juiz socorrer para co- reitos. -
nhecimento completo da verdade. E entre estes direitos tambem se inclue o
E quantas horas não perdem esses juizes exame do mérito das tarifas nos casos em que,
na aprot'undamento e pesqulzas sobre os dados por ínfimas, devam ser tidas como confiscató-
técnicos, tnuitas ?ezes sem que a este trabalho rias, ou, finalmente, quunelo injusta a decisão
penoso corresponela um resultado satisfatorio. proferida pela Comissão.
O pleno conhecimento da verdade, a posse Não foi aceita a sugestão elo ante·projeto,
de todos os dados indispensaveis ao exame da não obstante o brilho com que o defendeu o seu
·controversia, cons71tuem os elementos necessà- autor. Mas, já agora, a idéia volta em termos
rios à boa distribuição da justi.~a Ora este re- não menos precisos na declaração de princípios
sultado, a nosso ver, só será obtido com a cria- firmados por uma parte da comissão encarregada
ção de instâncias especializadas, Tatione mate- de elaborar o projeto de regulamentacão elos
Ttae, instancias incluldas nos quadros da jus- serviços públicos, declaração firmada por" Anhaia
tlCa COmUlll. Mello, Alves de Souza, Bilac Pinto e Plinio
- No estado atual da nossa organização juc!i- Branco.
clárla, bastaria um Trililunal de Apelação Fe- Ali se afirma que a regulamentação somente
deral dividido em câmaras, constituldo ele ju- s?rá efetiva se as comissões de serviço público
ristas e juizçs afei:os a este ramo de estudos. exercerem funções administrativas, jurisdicionais
Caberia das suas decisões, recurso extraor- e normativas, sem recurso para os tribunais or-
dinário para o Supremo Tribunal Federal, que dinários e uutorielacles administrativas.
ficaria aliviado de todos os recurws ordinários Esta tese foi, aliás, tambem sustentada por
que lhe sobrecarregam atualmen~e os trabalhos. Bilac Pinto, em seu livro sobre Regulamentação
A composição deste Tribunrtl Judiciário êfetiva dos Serviços de utilidade pública.
administrativo e fiscal, depender.i;t de um estudo Atribue-se, portanto, às comissões, o exer-
esta.tistico em que se teria de apurar a quanti- çicio pleno de todos os poderes, sem recurso,
·dade de trabalho que tl2riam de supc rtar os seu3 sem exame judicial de suas decisões, nem quanto
membros, levando-se. em conta, igualmente, a. à justiça nem ao direito.
capacidade média de trabalho dos juizes qu~ Desejaria aqui, trazer ao debate a jurispru-
compõem os nossos tribunais. dência americana, a opinião de toda uma alu-
Nos Estados Unidos, tem-se orientado neste vião de escritores que tratarmn do assunto nos
sentido o cl.cscnvolvunento da chamada justiça Estados Unidos, mostrando a complexidade elos
adtninistrativa. Al!, numerosas Cõl'l€S foram problemas centrais ela regulamentação, desd·e os
criadas. cuja. função especifica demonstra a ne- critérios usados na fixação das tarifas, até às
cessidade de uma :-speciaHzação maior dos or- controvérsias surgidas em torno desses critérios
gãos jurisdicionais. perante as instâncias judiciais americanas.
Em um trt1bal11o notav€1 o deão da !·iscolfi Mas isto foge ao tema por nós traçado.
de Harward, Jam€s Landls, teve octi.>iâo ele abor- Basta dizer que nos Estados Unidos não
dar o problema e de mostrar a necessidade da seria possível, à luz da emenda n. XIV da Cons-
constituição ele instancias especializadas onde tituição, e em face da regra do due process, so-
mesmo a técnica do julgamento pudesse carac- negar ao conhecimento do poder judiciàrio tudo
terizar a natur€za das controversias e onde os quanto atiJ;J.gir aos direitos essenciais elos cida-
julgamentos atendessem, não ~omente, à obe- dãos.
dicncia elo principio ela supremc.c:a da lei, mas
tambemá lmportancla do contacto dos homens E assim tambem o entendemos, por mais
com os fatos e a realidade. obsoleto que se nos afigure o mecanismo de cer-
E nem outro pode ser o ideal tl<' todos quan- tas instituições ainda existentes em nosso pais.
tos vêem na Justiça apenas um Instrumento da O que Se nos afigura recomenclavel é a boa ar-
ordctn juriclica, considerada estA.. em sua con· ticulação de uma instância jueliciária especiali-
cepção mais perfeita, do equllibr'o social e cco- zada, tecnicamente aparelhada e uma instância
nomico. judicial superior que possa assegurar a perfeita
Isto quanto aos orgãos propriamente jucll- obediência às normas jurídicas e proteger os di-
clais, mas· outros problemas temos, agora, ele reitos violados pelas instâncias administrativas.
enfrentar, porque o debate se ·cl'ft de generetl~ Não podemos omitir, tratando dessa função
zar abrangendo outro terreno, q<-_al o de atn- jurisdicional exercida por orgâos extranhos ao
buir-se a. entidades administrativas o exerctclO poder judiciário, o que dispõe o Estatuto da La-
ele funcões jurisdicionais. voura Canavieira, baixado pelo Decreto-Lei nú-
A questão já foi colocada no. anteprojeto elo mero 3. 855, de 21 de Novembro de 1941.
Código de Aguas, da lavra do !lustre Mu:nstro Aquele diploma legal atribuiu a comissões
Alfredo Vallaclão. Ali se propunha a cnaçao de especiais a solucão ela controvérsia entre forne-
Comissões de Servico Público, uma federal, com cedores e recebédores, bem como naqueles lití-
numerosas delegacões estaduais, em cuja compe- gios decorrentes da contratos de locacão de terras
tência se incluia a de "Processar e decidir todas de lavoura. com recursos administrativos e pro~
cesso peculiar.
as questões entre as empresas e o público a res-
peito dos fornecimentos dos serviços e contra- Mas, embora sujeito a restrições quanto aos
tos respectivos" (art. 221 - XI) . prazos e condições, não excluiu o estatuto da la-
Compreendia-se, portanto, de modo expresso voura a apreciação judicial das decisões defini-
a função jurisdicional, sem falar nas demais que. tivas, à condição que sejam definitivas, que te-
pela sua natureza específica e técnica, não ex- nham sido interpostos todos os recursos admi-
cluem a apreciação de relações de direito. nistrativos e a ação proposta d<mtro de 60 dias
Refiro-me, especialmente. a de fixar tarifas, sob pena de perempção.
mantendo o necessário equilíbrio entre as em- No mesmo sentido podemos tmnbe1n men-
1 cionar o Tribunal Marítimo Aclmimstrativo, cujas
presas c os cons111nidorcs.
NCw excluiu o proj"tcJ o recurso judicial.
c1fim ele proteger clc\'idamente os direitos por-
I clccisóes não escapam ao exame judicial, bem
como a Câmara ele Reajustamento Econômico.
(66)
20-1-43 ATICHIVO JUDICIAniO (SUPLE:.IENTO) 33
São exemplos todos estes que definem as Não é sem um certo te1nor que abordamos
tendências do direito moderno. e a influência estes problemas, nas vésperas de uma transfor-
que o direito adminisLrativo vai tomanclo na mação social e econômica, cujas tendências ge-
construção dos orgãos jurisdicionais. rais podem apenas ser vislumbradas através de
Eu quizera tratar aqui de outros problemas toda a tragédia que abala o mundo.
que revelam as tendências modernas do Direito E' preciso, entretanto refletir sobre a ex-
Administrativo, como a questão da Codificacão periência do passado, pesar os beneficios e os
e do Processo Administrativo, da delegação das erros da civilização que se extingue, para delas
funções normativas, de legislação secundária, tirar os ensinamentos que o sofrimento e as
emanada de orgãos administrativos menores, lutas não podem fazer esquecer.
emfim, da transformação da estrutura do Estado,
inclusive de todos estes orgãos consultivos e té- Existe um direito novo em formacão, baseado
cnicos que completam a organizacão do Poder em princípios de solidariedade humana. Deve-
Executivo. Todos esses problemas "estão ligados mos colaborar todos com a inteligência e com o
às transformacões do direito administrativo em coração para o estabelecimento de novas formas
sua função disciplinadora da ação centralizadora de equilíbrio, sem preconceitos e vacilações, mas
e autoritária do Estado moderno; mas seria es- com a consciência alerta na defesa do patrimô-
tendermos demasiado esta dissertação. ·a que se nio moral e espiritual sobre o qual se assentam
verifica de todo o exposto é uma crescente pre- as nossas tradições jurídicas.
ponderânciá das soluções racionais e técnicas Não devemos, porém, temer as novas insti-
sobre as soluções puramente empíricas, é, enfim tuições, porque elas correspondem aos anseios d-e
uma tendência democrática acentuada, no sen- todo o mundo.
tido da participação cada vez maior de todos os Agradeço a atenção que me dispensastes e
elementos de vida, de atividade, na estrutura ad- •espero que desta Casa sa1am os estudos, as su-
ministrativa do Estado moderno, tão bem real- gestões que representem valwsa colaboração parg,
çadas por Haroldo Lasky. · a construção do direito de amanhã.
~67)
o DIREITO E A GUERRA
SOBRE DEBENTURES
(Para o Livro do Centenário do Instituto dos Advogados)
PELO
I - O direito comercial, como todos os ::amos Entretanto, por curiosa anomalia, assim
do direito privado, tem que resolv~r situações como é causa de infortunios, é tambem fonte de
imprevistas criadas pela guerra, nas quais as vantagens econômicas e de enriquecimento, o
obrigações e os direitos não mais se podem ajus- c.,ue todos estão observando neste momento. será
tar pelas normas anteriores; e terá que se modi- para alguns ou muitos um acontecimento bené-
ficar, como as artes, as Indústrias, os costumes fico em vez de funesto.
sociais, no sentido sempre do aperfcl<,.oan1ento. E ai estão duas maneiras opOSLas de consi-
de resolver os problemas humanos co1n mais derá-la, individual, social e polltican,enw, por-
acerto. que não só os indivlcluos e as C!npr'"sas, como
Durante e após a guerra de 1914, o direito ta1nbem certos pa1ses estão lucrando mais do
que mais foi atingido, foi o de propri<Xtadc de que perdendo.
imovel, relativo a habitações e ocupação comer- II - Não é possivel deixar cie observar a
ele.! e industrial, onde os princip!OS que pare- influência que está tendo a guerrll ;;,tua! no de-
ciam inabalaveis de autonomia da vontade !! da senvolvimento de certo comércio e de certa in-
liberdade de transigir foram alterados com a dústria, e as consequências que essa sitnação
lntervencão coercitiva do Estado, substituindo vantajosa está causando em determinadas "'ela-
este a vóntade das partes contrata:ltes de modo ções contratuais, dCSilJ.Uilíbrando as :;ltuaçOes
o mais flagrante e1n benefício da can.unidade. jurídicas correspondentes do direito comercial.
O "jus utencli et abutencli" elo proprietário
E' o caso, por exemplo, qUe ocorre no Brasil
desaparaceu, para Imporem-se regrcts que o in- com as sociedades anónimas que tendo por
objeto algumas dessas indústrias acham-se· em.
teresse geral ditava, diante das circunstàncias prosperidade
criadas pela dificuldade da exist~ncin normal. tal que depois de constitntrem o
m!'Lximo de reservas pernlitidas em lei e nos es-
Desd·e então as modificações jmidlca:; neste tatutos fazem aumento de capital, emitindo
setor do direito civil acentuaram-se e a proprie- ações representativas de lucros, para d;stribtü .. Jas
dade é hoje um capitulo bastante diferente do entre os acionistas, evitando entrogar clito lucro
. que era anteriormente. Verifica-se que em vez de diretamente em dinheiro, como expressamente
haver direitos absolutos, há agora verdadeira prevê a lei atual.
relatividade de direitos. Acontece que essn prosperidad"l real deter-
Quanto às relações obrigacionais sobre mo- mina a alta das cotações em Bolsa n,as, neio só
veis verifica-se tambem que a guerra tem em de suas ações de capital, como tambem a de se=
certos pontos irrecusavel influência. títulos de empréstimo uo portador por clehentu-
Sabe-se, por exemplo, que é uma escusa res, porque efetivamente o público sente que
consagrada nas leis para a. falta de cumprhnento suas economias ficam bem empregadas e o ren-
das obrigações e, portanto, para extlnç~o ou sus- dimento que delas provirá, é nâo so garantido
,pensão de \direitos, a força maior em cujo con- como assás remunerador.
ceito se compreende a guerra, ccmo menciona Entretanto, verifica-se sensivel desigualdade
Chironr no seu consagrado livro sol:-re "Colp11 ele 1posição entre o acionista que aufere todo o
contrattuale", mas, os aspeçtos que .Jssa escusa beneficio recebendo não só o má:ümo ele divi-
assume, são .. os mais imprevistos. dendo permitido em lei como aincl:J. novas ações
Trata-se na renlldade de um nconteclmento valorizadas sem Pntrada de mais numerário, e os
funesto e dni consicternr-sc conto cau2.a. impre- credores por d{)bénturcs a_uc sõ pocl--:n1 rcc~b~r
visivel e incvitavcl de prejuizos e pvr conse- estritamente os juros estipulados c fic:E1l suje'-
guinte dirimente dt1 faltn de um co'ntratnnte. tos a se verem clcsapo.'3ó'aclos elos ti t ulos ,em vir-
(69)
36 AHCHIYO ,JUDICIAHIO (SUPLEJ\IENTO) 20-1-43
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tude de resgate, que a devedora tem o direito de Eis a questfto ele direito co1nercial que agora
rnzer, pelo valor nominal, apestcr ele estarem os com a guerra pode-se ven l ilar en trc nós.
titulos valendo multo mais em Bolsa. III - As leis niio são só imperativas ou
Ora, 0 empréstimo por debêntures [Jode-se proibitivas, são tambem simplesment-3 disposit1-
considerar um segundo capital: 1°, pelo lorigo vas e interpretativas, ou supletivas da vontade
praso que a devedora tem para pagá-1:):. 2°, pelo dos interessados, como resume H. Capitan, na
vulto que geralmelite toma, sendo que a lei ex- sua "Introducão ao estudo elo direito civil".
pressamente determina não dever ser maior que Na hipótese ter-se-á de ver, ou melhor, ca-
o próprio capital da devedora. bcrà aos juizes dizerem, se podia estar na von-
Alem disto, é um empréstimo feito com 0 tade das partes contratantes, aincla que se tra-
público (Clovis § 77-A p. 207, "Obrigações" 3" tando de contrato por adesão, de declaração um-
edição), porque é titulo ao portador, negociavel lateral apenas da devedora, dar ao credor o pre-
publicamente, ele propriedade anônnna. juízo de receber o pagamento do títufo pelo va-
Quem o tiver comprado sensivelmente acima lor nominal da emissão, quando este talvez o
tivesse comprado em Bolsa por muito mais, e
do par sofre, com o 1'€sgate pelo valOr nominal, quando podia certamente vendê-lo por mais pela
prejuizo consideravel, quando, entretanto, a de- cotacão pública.
vedora acha-se desfrutando uma prospel'ldade À natureza ele contrato público implica
excepcional devida ao desenvolvinlento de sua que~tw de intereEse geral e não meramente in-
indústria pelo fechamento dos mercatlos de im- dividual, nem mesmo de U1na classe apenas, mas,
portação da Europa, em consequênc1a da guerra; do público anônimo, dai o dever de atender-se
e não necessita cau.:o:ar esse prejuizo. ao objetivo da lei que é o bem comum.
As escrituras desses empréstimos esta.be- Tratar-se-á mesmo de matéria ele d!relto
lecem longo prazo para a amortização e final li- soclal, segundo a lição ele um especialista na
quidação por via de regra, mais de :00 anos, e matéria, Geore;es Gurvit{:h, quando cliz: - "Un
essa é uina das razões pelas quais os títulos são cas tout particuliéer du droit social pur, mals,
preferidos como emprego de economias, longa soumis à la tutéle du clroit étatique et classé
duracão alem de garantia hipotecúria sobre os dans le droit privé, cas qui démande à être
bens" in{ove1& d& devedora e vend?. por simples analisé ele façon spéciale, c 'est 1'aménagement
entrega de corretor a corretor. d'une propriété, en prenant pour base le drolt
Estabelece tambem a amortização por per- social qui se dégage de l'organisation fonnée par
centagens anuais e o resgate antecipaclo, se con- les propriétair2s communs d'un J)atrimolne, par
vier, podenclo a amortiz:tção de determinada quo- exemple, la proprlété eles société3 en comman-
ta ser obrigatória, mas, sendo o resgate anteci- dite, ele sociétés anonymes par act!on, de su-
pado em parte ou total facultativo. . _ clétés de crédit mutuel, etc. Naus avons ca-
A maneira, porem, de efetuar a amort1zaçao racterlsé ailleurs cette forme ele propriété comme
ou o resgate. é autoriz:tda por dois meios, por - "propriété fécléraliste" - étant clonné qu2 le
sorteio ou por compra em Bolsa; e essa cir- droit de proprité appartient !cl à la fois à la
cunstância de haver duas maneiras facultativa- totalité et à chaque membre separé. qul peut a
m0nte é que faz surgir, no momento em que a la sort1e exiger le paiement de l'equivalent pê-
guerra proporciona grandes lucros à devedora, cuniaire de sa part. mais non le partag.~ du
e os títulos de debêntures estão com Ullla co- bien. Or. dans cette forme ele propriété. !e
tacão muito superior ao valor nominal, a ques- tlroit social ele l'organisation superpo~ée eles pro-
tãô de saber se pode ela optar pela maneira prlétalres penetre clirectement clans les rapports
evidentemente prejudicial aDs credores. de la P'"rsonne avcc la chose, rapnorts qui r~
Não será ISto espoliação sofrida pelo credor,
que podia ter V·2ndido o titulo pelo preço da
cotação, e, entretanto, é forçado a receber por
ele muito menos com o resgate da devedora?
Ilêvent de l'ordre du droit indivlducl".
Assim é o direito do debenturista em relaçã.o
ao crédito hipotecário comum, de que cada cre-
tlor possue um ou vários titulas, e que o decreto
E' uma situação jurídica que care·ce estudo n. 781, de 12 de Outubro de 1938, confirmando
diante dos princípios hoje ass>?ntados sobre o lei anterior, veio declarar dentro de uma comu-
abuso elo direito e sobre o desv10 de poderes uhão de interesses, ele forma autônoma, de ca-
(détoJLrnement de po1woirs) . rater social, como prevê Gurvitch, aliás sob tu-
A devedora tem, como se disse, dois modo:; tela de lei especial.
de operar a amortização e resgat·e dos títulos O dir·2ito tem em vista o bem ela sociedade.
em circulação, um é o sorteio, pagando o valor o interesse geral, o bem comum, ou o bem geral,
nominal, outro é a compra em Bolsa, pagando como dizia Bossuet, citado por Le Fur.
o valor da cotação; pelo primeiro agirá legal- Vale a pena frisar em que consiste o bem
mente, mas, dará um prejuízo avultado ao cre- comum e;om as palavras do Professor Jean Da·
dor, pelo segundo agirá equitativamente, pagan- bm: "C'est donc l'indiviclu et l'indiviclu con-
do o que realm·ente valem os títulos, pela oferta cret, en chair et en os - qui est à !'origine et
e procura em vendas públicas oficiais, cotação au terme (sinon au centre) du bicn comun:
que resulta dos balanços publicados, tornando sans individus, membres composants et agissants
certa a prospericlade real da devedora com a de l'ensemble, 11 ne peut y avo!r ni société, n!
guerra. bien comun, au même temps que la soc!été et
Já o provecto comercialista brasileiro, Pro- 1-e b!en comun ne peuvent avoir d'autre fin que
fessor Inglez de Souza, no seu bem elaborado de compléter et de parfalre le bien privé, par-
projeto ele reforma do Código Comercial, previa ticulier des inclividus".
no art. 449. n. I, o resgate de debêntures pelo Daí a nova Introdução ao Código Civil Bra-
valor da emissão ou por preço superior a esse sile!ro determinar. no art. 5°, que o Juiz de·
valor. vera atender aos fins sociais e que a lel se di·
Usando do primeiro meio, quando está em rige às ex!g~ncias elo bt;m com~m. .
plena pujança, e não carece ,dar prejuízo, não . Na. h! potes~. os jmses terao que apllcar os
haverá um abuso de direito? prmcipws g'era1s de doutrina sobre o abuso do
Os diretores, usando da faculdade que lhes direito, para atender ao fim social, ao bem
drto os estatutos e a lel. em tal momento, pre- comum, ao interesse geral flagrantemente
juclicando os cr·::-clores, nCw estaráo desviando de leosado.
seus Justos fins os poder2s que lhes foram con- Dentro do espírito dessa legislaçáo é que
fiados? Georges Rippert diz no seu "Regime democrá-
(70)
20-1-43 ATICHTVO JUDICL\IUO ( S UPLE.MENTO) 37
ti co elo direito civil moderno", que o juiz eleve Atos excessivos, segunclo Louis Josserand,
voltar-se para o espírito e as necessidades de são " - os que realizados dentro dos objetivos-
sua época, apreciar se o ato realizaclo é aprova- traçados pela lei e por motivos valiosos, causam,
do pela opinião, e discernir se é útil ao bem entretanto, a um terceiro um prejuizo que seria
da comunidade. Não basta, diz ainda, analisar Injusto fazê-lo suportar definitivamente".
o pensamento do autor do ato, nem mesmo es- Inatacaveis em si mesmos, e em sua gê-
colher dentre os motivos que o fizeram agir, é nese CO'mo em sua finalidade, são contudo, ge-
preciso julgar o ato - segundo seus resultados radores de responsabilidade, porque determina-
- ou pelo menos segundo aqueles que se pre- ram um prejuízo excepcional, cuja incidência
tendiam atingir. Para que seja condenavcl, deve ser modificada, sob pena de injustiça -
basta que o ato seja inutil no ponto de vista "qui case les verres les paie, même s'ils ont
econômico. . . O juiz deve, pois, dar sua apre- étc cassés légalement, correctement, car nos
ciacão sobre a utilidade econômica e social elo droits ont pour limites les droits également
ato·. respectables d'autrui".
IV - Disse-se por muito tempo que Mas, poder-se-á objetar que os direitos
"neminem laedit qui jure suo utitur" - mas, contratuais em que os contratantes reciproca-
como era ele prever, o sentido do interesse geral mente consentiram, nfw podem ser apreciados-
e bem comum que passou a dominar a evolução ao mesmo modo, enquanto não lesarem a ter-
.ou o aperfeiçoamento do direito, fez com que ceiros.
aquele axioma perdesse de valor. e hoje está A situação não muda, porque se o contrato
fortalecida a sentença do jurisconsulto Paulo raz lei entre as partes contratantes, as suas
- "non omne quocl licet 'llonestum est" - , o cláusulas podem tambem ser interpretadas, se
que quer dizer que nem por ser licito, nem por não abusiva·mente, excessivamente, contra o in-
constituir um direito, o ato será sempre ho- • teresse social, representado por um d('' lados
nesta e, portanto, permitido. Há o interesse contratantes.
geral, o bem comum a apreciar-se e a fazer E' facil apontar, com esses autores que
prevalecer. vimos citando, várias situações resultantes de
Por i"sso, a teoria do abuso do direito, ou da cláusulas contratuais, que podem provocar o
sua relatividade, tem origem no direito romano, abuso de direito e consequente responsabilidade
na própria definição que deu Celso: - "Jus est de reparação.
ars bani et requi" - ; apesar de só recentemente V - O principal propugnador da teoria,
estar sendo reconhecida e sustentada, o que Professor Josserancl, ensina que nem por ter
aliás acontece com a maioria das descobertas uma origem contratual e alcance restrito, as
científicas que, realizadas .agora, referem-se, obrigações têm menos prerrogativas sociais, nem
entretanto, a fenômenos preexistentes, ela socie- são menos destinadas a se realizar socialmente,
dade como da natureza, porque ninguem dirá equltativamente.
que as ondas hertezlanas só começaram a exlstlr
depois que foram descobertas e utilizadas. E 0 Professor Jean Dabin, na sua obra de
Hoje, como- explica Rippert, não se truta Filosofia Jurídica Positiva, acrescenta essa ex-
plicação - : "Na operação nenln1ma clsa partes
apenas de condenar quem abusa de seu direito, pensa ser lesada: nenl1uma espera, n1esmo senão
agindo mal, o que se quer impedir é o exerciclo enriquecer-se à custa ele outrem, ou pelo menos
dos direitos individuais, mesmo legítimos, quan- realizar negócio vantajoso. e isto nacla tem se-
do esse exercício parece contrário ao interesse não de muito legitimo. Mas, pertence à justiça
geral. pôr um freio ao ardor do ganho, introcluzir
Ainda no direito romano encontram-se entre as prestações de recíprocas um certo equi-
como preceitos fundamentais do direito: --- líbrio ele valor."
"honeste vivere, alterum non laedere, suum Não parecerá que a sociedade anônima, res-
cuique trlbuere" - , onde se vê que, entre os gata.ndo o título de debênture. por valor bem
primeiros principias proclamados pelas "Insti- menor que o da cotação, está dando um pre-
tutas", estava o de -- alterum non laedere - juízo e tirando um vantagem abusiva, que os
que é de cm·ater fundamentalmente social e juizes devem obstar, atendendo aos fins sociais
contemporâneo, porque na realiducle, como nota ela lei e tratando-se de uma cláusula com opção
Josserancl nüo é tanto como incli\•íduo que o ele agir desse ou de outro modo?
homem interessa aos legisladores, aos podere~ Quando seja contrato de execução demora-
públicos c aos juristas, mas, principalmente da ou parcelada, para ambas as partes ou uma
como unidade social, que não deve prejudicar só delas, acontece, em período de crise, que o
às outras unidades. equilíbrio existente no dia da troca de consen-
O mestre insigne,. de todos muito acatado timentos, no caso concreto e época da emissão
e prezado, Clovis Bevilaqua, em uma oração re- do empréstimo, desaparece no fim ou no curso
cente de colação de gráu aos bach.areis da Fa- da execução, por acontecimentos imprevistos,
culdade de Direito da Universidade, brilhante como a guerra, determinando a diminuição· da
e sábia síntese das mais novas e fundamental~ prestação pela depreciação da moeda. E' hipó-
conquistas da ciência jurídica, disse, com a sua tese prevista por Dabin.
consagrada autoriclacle: " - O exercício irregular Os contratantes só manifestam acordo for-
ou anormal elo direito entrou para a categoria mal sobre o ponto essencial e não provêm ex-
dos a tos ilícitos. " pressamente todas as eventualidades; em caso
E' um axioma da ·doutrina do abuso do de conflito, é o juiz que interpreta ou supre a
direito que o egrégio jurista proferiu dilatando vontade de cada um deles, não arbitrariamente,
o âmbito da responsabilidade, traçado pelo Có- mas, com sentimento de equilíbrio e equidade.
digo Civil. A convenção -cessa de constituir lei entre os
Os atos excessivos de direito - tornaram- contratantes, desde que seja abusiva; e, quando
se ilícitos, atendendo ao fim social, ao bem se dá o caso de opção entre várias maneiras de
comum, ao interesse geral, que constituem o agir e é preferida aquela da qual resulta pre-
objetivo da lei, ou da, justiça, em nossa época, juizo, já a jurisprudência francesa. segundo
como acaba de firmar a nova Introducão do testemunha o Professor Josserand, tem julgado
Código Civil Brasileiro. · lt opção ele cara ter abusivo.
(71)
38 ARCHIVO JUDICIARIO (SUPLE~lENTO) 20-1-43
(72)
PELOS DOMÍNIOS DO DIREITO
PELO
A FUNÇÃO DA MAGISTRATURA
"Se é preciso, num concerto ele vozes ou ele ins- aumentá-las. Quando falamos delas, falamos
trumentos, manter certo acordo entre sons dis- ele Yirtucles que influíram no curso da histó-
tintos, sob pena ele ferir, por un1a cliscorclâücia, ria humana, ele virtudes que alguns homens pra-
o ouvido delicado, e se a medida estabelecf'l ticaram mais do que outros, que ninguem pra-
a unidade entre vozes as mais diferentes, não ticou suficientemente, mas que um número
é menos verdade que uma semelhante tona- suficiente de homens praticou em um gráu su-
lidade na ordem política, admitida entre as ficiente. para dar, de tempos em tempos, à hu-
classes alta, média e inferior, forma a união manidade, no decorrer ele períodos ele duração
elos cidadãos, pois, a harmonia na música é a variavel, uma idéia do que poderia ser a cidade
concórdia na república, laço estreito, garantia, livre".
forte e legítima, ele sua conservação, a qual Penosa e árdua, assim, nestes dias trágicos,
não poderia subsistir sem a justiça" (DE crvr- que o mundo atravessa, é a função da magis-
TATE DEI - Lib. !I, XXI) . tratura. O homem contemporâneo vive numa
Ante a anarquia dissolvente das idéias, o sociedade que já se familiarizou com o fragor
câos alucinante das teorias econômicas, a con- elas batalhas, as soluções guerreiras dos confli-
tradição sombria dos interesses particulares, e tos humanos, à identificação entre o Direito e
a mediocridade, perigosa, do pensamento cultu- 3 lei arbitrariamente promulgada. Mesmo en-
ral das classes dirigentes, que assolam o mundo tre pessoas dotadas de grande, extensa, e apro-
contemporâneo, essa tarefa de harmonização so- fundada cultura, o exemplo ele tantos e tama-
cial, que é a função específica da magistratu- nhos atentados escandalosamente triunfantes
ra, tornou-se de extrema dificuldade e comple- contra princípios, conceitos, e instituições ou-
xidade, mas se revestiu, paralelamente, de as- trora considerados sagrados pelas conciências
pectos de alta e insubstituivel importância. retas, e fundamentais para o progresso cres-
Quem teve a visão exata destes difíceis e de- cente da comunidade humana, não poderia
licados problemas foi Walter Lippmann, quando deixar de repercutir com funestas e sombrias
afil·mou (LA CITÉ LIBRE - trad. franc. de Geor- consequências, no seio do pensamento juríclico
ges Blumberg, págs. 427-428): "Mais a socie- universal. E' freque.nte, senão geral, por isto,
dade é maior, mais são altos e variaveis os ní- nos nossos dias, a tendência para confundir 0
veis ele vida, mais são diversas na invenção, Direito com a vontade soberana dos governan-
iniciativa, e adaptação as energias da popuia- tes. Aquele só existe enquanto esta o promul-
ção: mais se torna certo que a ordem social ga, através de preceitos escri;tos, nos orgãos ofi·
não pode ser planejada ex-cathedra, nem gover- ciais ele imprensa, com as características exter-
nada por decreto administrativo. Vivemos numa nas de atos governamentais.
civilização tão formidavelmente diferenciada que Ora, a função especifica da magistratura,
o único critério inteligível que os pensadores no seio dos povos cultos, consiste precisamente
políticos podem ter a seu respeito, o único fim em não permitir que seja considerada legitima
accessivel que os homens de Estado podem se esta tendência que clesnatura a essência moral
propor quando eles o governam, é conciliar os elo Direito. Incumbe-lhe, pelo contrário, tornar
conflitos que resultam desta diversidade. Eles cada vez mais sólida e respeita vel a noção do
não poderiam esperar enfeixá-la num sistema, Direito como força moral estavel e superior à
pois, ela não é sistema. Eles não poderiam es- vontac1e dos governantes. Ao ser instituída, a
perar planejá-la ou dirigi-la, pois ela não é magistratura contrai, então, a obrigação inde-
uma organização. Eles não podem esperar se- clinavel ele se erigir em sentinela vigilante e
não realizar a justiça legal entre indivíduos ou inclormida ela manutenção do conceito do Di·
agrupamentos, quando os seus respectivos in- reito como entidade moral limitadora de to::las
teresses estão em conflito, mitigar a violência as atividades, tanto as da autoridade pública
dos conflitos e da concurrência, tornando a jus- quanto as ele todos os particulares. Para ela
tiça legal cada vez mais equitativa. não há poderes arbitrários, nem exigências ir-
Para realizar bem tudo isto, é mister muita reprimíveis. Governo e Povo, classes dirigentes
virtude. E' mister um grande desejo de ser j1~sto, e massas populares, autoridades legislativas e
e uma aptidão crescente para a justiça. E' mis- agentes elo poder executivo, tudo está e precisa
ter apreciar com discernimento e simpatia as de ser submetido à sua apreciação serena, Im-
reivindicações elos interesses divergentes. E' parcial, e reta.
mister princípios éticos, que impeçam a caça Quando, portanto, no seio ele uma na<;:ão,
aos privilégios e ao exercício elo poder arbitrá- surgem atos do poder público, - ainda que su·
rio. E' mister a resolução e a coragem para periormente inspirados - , que implicam em tor·
resistir à opressão e à tirania. E' mister ouvir. nar soberanas as autoridades governamentais li·
as queixas, discutir, negociar, e conciliar com gaclas diretamente ao poder executivo, parece·
paciência, com tolerância e com benevolência. ncs que a magistratura, para preencher a sua
Mas, todas essas ~rtucles são humanas; elas verdadeira finalidade, deve ele examinar, quando
são muito altas, mas não tão altas que o ho- provocada pelos meios habeis e competentes, a
Inem, tal como nós o conhecemos, não as possam natureza desses atos, o seu alcance, e a sua
atingir. Elas existem. Todos os nomens, exceto significac;ão, para os declarar legítimos, ou en·
os 1nais cleseSperaclarr.lente degenerados, as pos- tüo c pelo contrário, inequivocamente ilegais.
suem em algum gráu. Nós sabemos que ele pode J I;csclc que tais atos tiveram, ou possam vir a
(74)
20-1-43 ARCHIVO JUDICIARIO (SUPLK\IENTO) 41
ter, repercussões sobre o patrimônio de uma ajuizar do acerto ou desacerto ele certo prece-
pessoa que vive sob a alçada da magistratura, dimento das autoridades administrativas, cuja
é dever desta prestigiar semelhantes atos, quan- honestidade, boa-fé, e sinceridade estão, como
do justos e legais, ou· negar-lhes eficácia, quan- tudo que é humano, sujeitas a erros e enganos.
do injustos e ilegais, Em nenhuma hipótese, Não se justifica, pois, segundo pensamos,
porem, deve a magistratura abrir mão, expon- I
que o Juiz, Dr. Edmundo de Macedo Ludolf,
taneamente, desta sua tão nobre e superior arpeciando a portaria n. 12, de 31 de Outubro
prerrogativa. Serena mas firmemente, auste·- de 1942, - que extendeu às locações de escri-
ra mas intransigentemente, imparcial mas tórios, salas, lojas, armazens e outros locais
desassombradamente, a magistratura precisa de destinados a fins comerciais, industriais e uso
exercer, sob a só inspiração dos preceitos da das profissões liberais, as disposições do de-
verdade e da justiça, a sua nobilitante e digni- ereto-lei n. , 4. 598, de 20 de Abril de 1942, ~
flcadora tarefa de julgar, tambem, os atos dos tenha sentenciado:
governantes, quaisquer que eles sejam. Os ho- "O magistrado, mais do que ninguem. deve
mens de governo não são infaliveis. Eles estão, saber sentir e compreender a delicadeza do
como todos os mortais, sujeitos a erros, pai- momento, para que dele nãD parta, em atinên-
cia à sua atuação judicante. qualquer atitude
xões, e desvios. que redunde no enfraquecimento ou ineficácia
Eis porque causou-nos penosa surpreza a de uma medida de governo adotada em prol
leitura de três julgados, que foram publicados do interesse geral. Legitimamente autorizado ou
na "A Noite", de 17 e 1 a de Dezembro último. não, incontestavel se afigura que o Sr. Coorde-
nador procedeu no caso daquela portaria sob
Dois, da lavra dos Juizes Drs · Paula Fonseca, 0 influxo do pre-invocado estado de guerra em
titular da ua Vara Criminal, e Edmundo de que nos achamos, fazendo-o, ainda, abroquela-
Macedo Ludolf, titular da sa Vara Cível, cons- do num decreto governamental, o que tanto irn-
tam da ediÇão das 11 horas daquele jornal de porta, conforme o imperativo do art. 170 da
17 de Dezembro; e 0 terceiro, da autoria do nossa Carta Política vigorante, na vedação de
ser apreciada por juizes e tribunais a arguição
Juiz Dr. Heraclito de Queiroz, titular da 9a Vara de ilegitimidade do ato praticado. dentro do
Cível, consta da edição final do mesmo jor- escopo de anUlá-lo nos seus efeitos".
na! de 18 de Dezembro. Não aplaudimos estas ("A Noite" - pg. 3, cols. 6a, 7a, ed. das
sentenças, porque, consoante o nosso modesto 11 hs., de 17-12-42) ".
modo de entender, nelas se dá valor a teorias, Da mesma forma, não é de se aceitar esta
que tiram à magistratura o seu importante pa- outr'outra asseveração, que, a respeito do mes-
pel de orgão revisor de certos atos da admi- mo assunto. fez o Juiz Dr. Heraclito de Queiro!Z:
nistração pública, que é proclamada, assim. por "... o decreto n. 10.358, de 31 de Agosto
elas como único orgão legítimo e autorizado da deste ano, que declarou o estado de guerra· e
nação. o magistrado, entretanto, nas sociedades suspendeu a vigência da garantia relativa ao
direito de propriedade, estatuiu a necessidade
civilizadas, é, tambem, orgão do Estado, e ex- da delegação para a prática dos atos impres-
pressào legítima da vontade nacional. Ele não cindiveis à situacão atual. Assim, o decreto-
fala nunca em nome de interesses, que lhe são lei n. 4. 750, de 28 de Setembro último, insti-
pessoais, ou sob a inspiração de motivos su- tuiu o orgão coordenador da Mobilização Eco-
balternos ou mesquinhos. o seu mandato se nômica com os poderes implícitos ou explici-
confunde, por assim di:zer, com os imperativos tamente estabelecidos para regular contratos,
precos e atividades.
gerais da própria Justiça; e o instrumento de · Operante e obrigatória, po'r conseguinte, se
que se serve, para bem desempenhar as suas torna a portaria, crnn a força necessária para
funções, é a sabedoria jurídica, que é um pa- debelar a calamidade do encarecimento da vida
trimônio cultural multisecular, que ele herdou, e reprimir a nefasta ganância de quintacolunis ..
pelo estudo, pela reflexão, e pela meditação, das tas, aproveitadores da guerra, na maioria es-
trangeiros qm~ se agacham na retaguarda para
gerações, que o educaram, e que tinham dele explorar a economia do povo.
o depósito. Melhor do que ninguem, ele está E para que, nessa situação, 0 interesse indi-
habilitado a conhecer o que é o interesse geral vidual não prevaleça sobre as exigências da co-
da comunidade, o que constitue, verdadeira- letividade, afim de que impere plenamente a
mente, as exigências da coletividade, e em que efetiva ação governamental, a sábia Constitui-
consiste, na sua significação exata, a ordern e ção em vigor .. no art. 170, subtraiu do conhe-
seguran a pública"0 Estas expressões frequente-I cnnento .cto.s JU!Zes e tnbunms a vallclaele d?~
ç atos prat1cados em VIrtude do estado ele guerra· .
I
• . _ ' . .
mente empregadas na legJs!açao constltucwnal ("A Noite" -·- pcr. 3, co!. ra, ed. final de
dos povos ctvllizados, teem sentido jurídico es- 18-12-42) . o
pecifico, nem sempre aceito, todavia, com sub- Finalmente, menos ele acolher, ainda. é a
missão, pelos dirigentes desses povos. Quando, atitude do Juiz Dr. Paula Fonseca, que, "a pro-
por isto, elas são invocadas, embora com razões I pósito de uma ordem de habeas-corpus, impe-
respeitaveis, pelas autoridades 'administrativas de trada a favor de um contraventor sobre "jogo
mp. país para justificar alguns de seus atos go- do bicho", declarou:
vernamentais, não pode a magistratura cruzar, só "no caso "sub judice", ocorre uma circuns-
por isto os seus bracos deixando assim de exer- tãncia que deverá forçosamente influir n:-t so-
eer sob 1:e a administra~ão a sua' acão ~onstruti- luçào do pediclo de fls. 91, qt~al seja a ela or-
. dem emanncla do chefe de Policia por pol'tana,
vamente fiscalizadora. Ela tem luzes, conheci- e conHJ a imprensa já noticiou. ordenando o
mentos, e dados culturais que lhe permitem encerramento da prática da contmYenção do
t751
42 AI\CHIVO .TUDICIAIUO (SUPLEMENTO) 20-1-43
art. 58 do clecreto-lei n. 3. 688, ele 3 ele Ou- anterimmente promulgacla, que é, afinal de con-
tubro de 1941, com a prisão de seus infrato- tas, a fonna norn1a1 por que se nutnifesta, no seio
res, por ordem e segurança públicas, cessando, dos povos cultos, a força moral do Direito ra-
assim, segundo o meu nwdo de ver, a facul-
dade do Poder Judiciário, do conhecimento ale- cional e justo. Numa sociedade bem ordenada-;-
gado pela defesa ... " nenhuma atividade governamental pode ser ile-
("A Noite" - pg. 2, cal. 6.a, ed. das 11 gal, nenhum interesse individual legítimo é con-
11oras de 17-12-42) . trário à.s exigências da coletividade, e nenhum
Estes julgados não podem prevalecer, por- diréito da pessoa humana pode ferir a ordem e
que partem, a nosso ver, de ponto de vista to- segurança públicas. A magistratura não tem,
tn.lmente falso: o da incapacidade da magistra- assim, por função limitar apenas o arbittrio das
tura para conhecer e decidir do que seja "in- pessoas privadas, coibir os abusos jurídicos dos
teresse geral", "exigências da coletividade", e particulares, e reprimir os interesses individuais
"ordem e segurança públicas". ilegais. A sua atribuição mais importante, en-
tre os povos livres, consiste, outrossim, em. exer-
Entretanto, a experiência dos povos civili- cer, no organismo jurídico da nação, a tarefa
zados, mostra que os juizes raramente se en- delicada de estabelecer limites aos arbítrios dos
ganam sobre a verdadeira sig·nificação destes orgáos dirigentes da nacão, aos abusos adminis-
conceitos. O pensamento cultural das nações trativos da sautoridades. púbÜcas, e às lesões aos
mais adiantadas da terra já precisou, desde mui- direitos individuais da pessoa humana.
to, nas suas leis escritas ou costumeiras, o sen- Graças, portanto, à faculdade, que llle é ine-
tido exato de S3melhantes expressões. A ma- rente, de poder rever, para çleclarar legais ou ile-
gistratura, assim, destas nações está apta a dis- gais, atos de agentes do poder legislativo ou exe-
cutir, nos seus julgados, tudo quanto se rela- cutivo, é que a magistratura fica em situação
cione com matéria tão importante. E estando de bem servir ao interesse geral da sua nação,
apta a agir desta maneira, deve de enfrentar, representado, comumente, por uma lei de grande
então, serena e tranquilamente, o problema, valor política ou social, que aqueles atos amea-
sempre que ele lhe for presente. Isto é tanto cavam destTuir ou inutilizar. Resguardando
mais necessário quanto a legislação, que ela terá ~om efeito, semelhante lei, a magistratura não
de aplicar, nessas hipóteses, se confunde, nas defende interesses puramente individuais, mas
suas determinações e na sua finalidade, com presta, pelo contrário, inestimavel serviço ao
aquilo que já constitue, em si mesmo, o "inte- "interesse geral", às "exigências da coletivida-
resse geral", as "exigências da coletividade", e a de", e à "ordem e segurança públicas", porque
"ordem e segurança públicas". A autorização todos estes conceitos encontram a sua expressão
leg'itiml'l,, de que fala o Juiz Dr. EdmÜndo de mais fiel precisamente nesta lei, cuja intangi-
Macedo Ludolf; o interesse individual, de que bilidade o Juiz cuidou de assegurar. E' pro-
trata o Juiz Dr. Heraclito de Queiroz, e a ordem C€dendo deste modo que a magistratUl'a coopera,
e segurança públicas, invocadas pelo Juiz Dr. de forma eficiente, com o poder executivo, no
Paula Fonseca, merecem ser defendidos e resguar- governo da nação, pois, com semelhante pro-
dados pela magistratura não só porque fazem cedimento, corrige e retifica os erros e enganos a
parte integrante do bem comum da sociedade, que estão sujeitos todos os homens, sejam ou
como tambem porque se fundam numa lei geral, não governantes.
(76)
REGISTRO FORENSE
TRIBUNAL DE APELAÇÃO
A POSSE DOS NOVOS PRESIDENTE, VICE-PRESIDENTE E CORREGEDOR - OS
DISCURSOS PROFERIDOS
Realizou-se. ontem, no Tribunal de Apela- emite os sons, à semelhança dos que ouvem, em
ção, .sob a presidência do Sr. Desembargador Beiruth as operas de Wagner, de olhos fecha-
Vicente Piragibe, e com a presença dos Drs. Ro- dos, voltados para o seu interior, mergulhac!oo
mão Côrtes de Lacerda, Procurador Geral do na meia luz melancólica do ambiente, para que,
Distrito, Armando Vidal, Presidente da Ordem concentrados, o espírito se transporte, no apuro
dos Advogados, no Distrito Federal, de toda a da estesia, para junto da entidade que, só ela,
magistratura, representantes das altas autori- realmente, deverá ser ouvida.
dades, membros do Ministério Público, elevado Acolho desvanecido a distincão de ser o in-
número de advogados e muitas outras pessoas téq:rete do Tribunal de Apelação, nesta soleni•
de destaque social, a posse do Sr. Desembarga- dade, com a incumbência, assãs significativa,
dor Edgard costa, Presidente eleito daquele Tri- de oposta polaridade - o que sobreenche a mi-
bunal para o ;período de 1943-1944. nha vaidade - de dirigir à administração que
Em seguida à posse do novo Chefe da Ma- finda a nossa despedida, dizendo-lhe, num OO•
gistratura local, assumiu este a presidência da rinhoso depoimento do quanto nos orgulhamos
sessão dando posse ao Vice-IPresidente Desem- da forma operosa, digna, fidalga, e inteligente
bargador José Antonio Nogueil'a. e ao Correge- com que Se houvera no árduo mister e, do mes•
dor, Desembargador Frederico Sussekind. mo passo, apresentar aos que se investem na
Prestados os compromissos, usou da palavra Rita graduação, por lhes ser, agora, deferida a
o Sr. Procurador Geral em nome do Ministério honraria, as nossas congratulações efusivas, a
Público, evocando a personalidade dos recem- que se adicionam, duma aglutinação perfeita, os
eleitos e fàzendo consideracões sobre a ativida- votos mais sinceros de eonfianca nas excelên ..
de do Tribunal no último ano. cias que advirão da nova gestão-.
·Em seguida foi dada a palavra ao Sr. De- Aqui mencionamos, então, o motivo culmi-
sembargador José Duarte que, em nome do Tri- , nante da nossa ufania; poder irmanar no mes-
bunal, proferiu o seguinte discurso: mo pensamento de solidariedade e consideração
DISCURSO DO DESEMBARGADOR JOM os que se apearam e os que se alçaram às grim-
DUARTE pas, onde não sabemos. pela postura que as-
sumem, se são mais honrados que honradores.
"A profunda emoção da primeira hora, em A subida, porem, não desmerece a descida. Que
que peitos anciosos aguardava<m. r/, .revelação belesa nas atitudes!
dos nossos sufrágios. na escolha dos que, no A natureza d-esta solenidade, para a gente
b!ênlo de 1943-1944 - teriam a suprem.a. dire- que é, inculcR a simplicidade de uma espontâ-
Çao deste Tribunal, sucedera na nobilitante se- nea .saudação, em que não pomos artifícios,
renidade de homens, já afeitos a es~se prélio, e grangeando pala.vra'3 que vistam de pompas ou
que, sobretudo, são juizes, e, por isto mesmo, redoiradas g.:1las o que tenhamos de exprimir
veem, agora, de público, numa manifestacão de a membros da mesma família-. Vai melhor a
sentimentos elevados significar a sua soliclarie- singeleza no dizer.
d_ade e o seu apreço aos colegas, por todos os Eu vos falei em administração que finda-
t1tU!os, merecedores de homenagens que se re·- ra e daquela que se inicia. Vale as3inalal'
sumem !llesta saudacãP. que assim .é. no tempo. pela contingência e
Não sou eu quem fala neste instante. :E objetivismo das coisas humanas. Mas, a rigor,
a voz mais potente e autorizada do Tribunal não há senão uma descontinuidade material,
,de Apelação do Distrito Federal que se faz 01.1vir porque homens ela mesm<t linhagem, infatiga-
através o órgão destoante. E3tareis no esta elo \reis lidadores ela 1nesn1a causa, ctesan1biciosos
PSicológico de quem abstrai elo círculo ou lugar sacerdotes do n1csmo culto, com as qualidades
em que se encontra, esquece a presença de quem que 0 honroso oficio propicia e as que são con-
177)
44 ARCHIVO JUDICIARIO (SUPLEMENTO) 20-1-43
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genitas, os substituímos nos postos, de espac.o A VV. Excias. Srs. Pr·esiclente, Vice-Pre-
a espaço, por conveniência de ordem nos servi- sidente e Corregedor, ora em'possados, o tri-
ços, que pedem comando e direção, l'epresenta- buto de nossa entranllaela estima e admira.cão
ção e coordenacão, unidade de acão e de orien- e .os_ n9s_sos parabens. No desempenho de vosso
tação, o que nã.o pôde, ao mesmo tempo, caber ministeno, em cargos ele relevo e confianca
a todos, mas, o pensamento que eleva os nossos se_reis aqueles mesmos juizes cujas virtudes -s~
pares aos •altos posta.;;, o sentido que preside à nao regateiam. O ca.hedal é farto e valioso·
r~ossa escolha. o espírito que desmaterializa o zelo, dedicação, estudo, probidade, retidá!O. Nã~
nosso sufrágio, é sempre, o de continuidade e careço exaltar as vossas qualidades pessoais que
de harmonia, elevação moral e empenho em que todas se exalta~ por si mesmas e, antes de as
se persevere na primacial aspiracão de fortalecer procl.amarmos ja o juizo público, de nossos ju-
e dignificar o Poder JudiCiário. - ndicwnados, as considera na devida conta. O
O lema que se inscr·eve no seu escudo é, passado é profeta que não fa.lha.
sempre, o me:;mo e a ação do tempo lhe não
esmaece as cores vivas
valia. '
I Aliás, "jamais o elogio poude dar vida ao
nem lhe diminue a que deve morrer ou matar o que deve viver".
Direi, no entanto, que as credenciais de
Numa espécie de !materialidade visual alon- vc,sõa.s vidas _ de Juizes - segadore·S de opima
go os olhos para o passado, ausculto a tradição seara - serao o penhor valioso de vossa pró-
desta Casa augusta e me apercebo, em orgulho, pria ad.Ininistração, a que não faltará o inte-
de que, invariavelmente, o que aspiramos é o resse de corresponder a confiança que em vós
que condensa no compromisso que acabais de puzemos.
prestar em obediência à lei. E vós que recebeis A ascenção, destarte, não yos fará maiores
a nova investidura, como os de ontem, nenhuma I porque _os vossos pré.stimos nem :porque
outra coisa trazeis diante dos olhos que perse- chegais ao ap1ce, se torna.m melhores ou mais
verar nesse nobilíssimo propósito, sobre emi- estimaveis. Todavia, como sabeis "o grande de-
nente ao personalismo, que a dignidade a que ver humano não é a realizacão de uma tarefa
atingis os obriga e as virtudes próprias vos individual e sim a cooperação para uma obra
impõem. comum". Eis porque a sabedoria dbs povos tem
Nenhum de nós sente menos intensa e assentado que "passam os indivíduos, mas ficam
sincera a saudade dos que se apartam dos pos- as suas ações perdurando na cadeia das causas
tos, do que a alegria pela recepção dos que as e dos efeitos".
galgam, irmanados todos pelo mesmo ideal de A emulação ardorosa que vivifica e crea
bem servir a si próprios. servindo dignamente -está na categoria das forcas construtoras e in-
à Lei e à Justica. dispensaveis à obra de unidade m'oral de uma
Cada um de- nós tem a sua hora e contribue cla.sse ou de um grupo ou de uma instituição.
no setor que lhe é reservado, com a sua inteli- Aqui, neste Tribunal, onde não chegam a
gência, o seu escrúpulo, o seu carater e a sua [ veemência das paixões e os destemperos dos
cultura para a mesma suprema aspiroação de dissídios, que envenena.m a.s alma.s, num am·
enobrecer o il'oder Judi'Ciário, realizando a mis- biente de serenidade, de equilíbrio, de coopera-
são social que nos incumbe. A forca moral ção, de solidariedade e confiança, tlbdos nos· uni-
desse Poder mais depende da atuação- de seus mos derredor dos que recebem a nobre inves-
membros que da lei que o cria e organiza. Aí tidura, querençosos de que possamos contribuir
onde mais exubera o valor da nossa profissão
ou o relevo escultural da nossa funcão de pa~ra que o impét·io da lei, o rprestígio da Jus·
tiça, o culto da a.utoridade, a disciplina do
Juizes. -
Não importa que cada um tenha o seu direito, a noção do dever, se mostrem, reahnen-
modo de ser, de agir, de pensar, coisa natural te, com a feição dominante de um Ideal que
porque somos um temperamento, sensibilidade dúvidas, todas
dom1na as vicissitudes, desata todas as
coíbe todos os ímpetos, refreia todos
e inteligência, e as nossas manifestacões emo- os ódios. Legionários devotados da Justiça. vi-
cionais e volutivas são, puramente individuais, vamos, contínua e afervorada.mente, em cla-
mas subordinadas a muitos fatores. Há toda- reira de paz jurídica, apoiados nas nossas pró·
via, um ponto de convergênci•a, de entendimen-
to, de compreensão, de comum aspiracão, que se prias consciências e coews na a.ção. Assim é
não destr<?i, •a bem do prestígio da própria que que a vida singularmente harmoniosa ele mn
nos aproximam e entrelacam numa solidarieda- juiz, polarizada na direção do dever, pode ser
de instituicão. - digna do respeito dos Homens, que sáo os
No clima espiritual em que vivemos não nossos jurisdicionados.
há, pois, falar em descontinuidade, quando nos Eu me comprazo em afirmar que estas pa·
desdobramos e continuamos, nem podemos su- lavras exptinlem um sentimento coletivo, a que
bestimar o eflforço, a colaboração, o sentimen- a tácita aprovaçáo dos meus ilustres colegas
to, os anseios, os zelos dos que pertencem à empresta um excepcional relevo de autoridade.
mesma class·e e teem ideal comum. Aqui tudo Senhor·es: avanca o tempo, cor.re1n os anos,
se continua e conglutina, como expressão de sucedem-se as administracões e, se interro·
uma autoridade e de uma pujança que devem gamos a História, vemos que subsiste, intan·
permanecer inteiriças, porque a Justiça con- rsivel e inconspurcavel, o mesmo espírito de dig·
serva a solidez d·e sua estrutura, a euritmia de nidade e de justiça, de a.usteridade e de sobran·
seu plano, a claridade de seus fins. Duas forcas ceria, de amor e de nobreza, dentro deste Tem·
da mecànica social orientam e guiam os nossos plo em que conservamos em ànfora sagrada a
passos, no desempenho dessa tarefa: inteligên- p,mbrosia, que se não evapora, das nossas tradi-
cia e cm·ater - perenes zeladores da indefe- cões honradoras, de fama e lustre.
ti vel grandeza. - Aqui, como que existe no interior, à seme·
Aos que, ontem, dirigiam o nosso Tribunal lhanca d.os vetustos monumentos de Atenas,
e enfeixavam nas mãos as atribuicões adminis- de que nos fala Plutarco, Ulll ar sempre reno-
trativas, as homena.'Sens do nó~so n1erecido va.do de frescura e novidade, que contem em
a.preç·o. Temos a fortuna de vê-los, agora, após si mesmo o espírito que os revigora e lhes man·
afanosa lide. mareando noutro plano. restitui- tem, sempre, um privilegiado s[tbor de atual!•
elos iL honrosa função ele julgadores. €m que ela de e de 1nagnificência. '
as .suas luzes e experiência tão uteis serão à A misteriosa aliança elo passado e do pre-
Justiça. sente, formanelo o elo ele continuidade, vmca,
(78)
20-1-43 ATICHIVO JUDICIAHIO (SUPLEMENTO) 45
fortemente, o rumo aos nossos passos e balisa As eleições dessa natureza, neste Tribunal,
os nossos destinos, sob o cetro da L·ei e no res- não s~-;nificam a exclusão de merecimento dos
peito que devemos, até à superstição, à toga que não foram eleitos, mas a proclamação do
'que vestimos. valor dos escolhidos. Cada voto é apenas a
Não direi que seja, hoje, um assinalado manifestação de uma preferência circunstan-
dia de felicidade porque, com a intuição das cial, conforme o ponto de vista de cada eleitor.
causas contingentes da vida humana que passa, Exatamente por isso todos os juizes se sen-
temos no exercício de nossas funções de juiZies, tem à vontade, neste momento em que aplau-
a sensação inédita de vivermos, sempre, cas- dem' os vencedores.
tamente gr·egos, saboreando, perenemente, a Fe- Os eleitos são incontestavelmente dignos
licidade, :porque é viver assim, sentindo-se e dos cargos para os quais foram escolhidos.
palpando-a, sob forma de rara beleza, o dis- Por isso e ainda porque toda as.cenção
tribuir justiça, o ser util aos nossos semelhan- que resulta do valor pessoal é obra de justiça,
tes que se enrodilham nos pleitos, -e congrega- não podiam os .juizes de primeira instância do
mo-nos a um sacordócio, com espírito de renún- Distrito Fede-ral deixar de trazer a esta soleni-
cia e de sacrifício, contribuir, desveladamente, dade que estamos assistindo a manifestacão de
para a paz e a ordem social, para o bem estar seu contentamento. ·
e segurança invididuais, o possuir a confiança Edgard Costa - Antonio Nogueira e Frede-
dos bons, dos justos, dos dignos e desfrutar as rico Sussekind - representam três tempera-
prerrogativas de um Poder que, na Terra, maior [ mentos diversos, espíritos diferentemente lapi-
e mais extenso, só se faz sentir o de Deus. Eis dados e facetados, mas que, por isso mesmo, se
porque não somos, jamais, tocados daquele compensam e se completam, formando a trin-
pessimismo que pretende, "tenha cada um de dade que encerra todas as virtudes da m'agis-
nós, no fundo de sua conciência, o tédio da' tratura e que vai orientar a administração da
vida, e julgue a felicidade só abundante para Justiça do :Cistrt:to F&d·eral.
os outros". Edgard Costa é a austeridade.
Nos ângulos desta sala, saturada de espi- Antonio Nogueira é o illealismo.
ritualidade, reboem os acentos de minha voz Frederico Sussekínd é o senso jurídico; a
como uma lidima mensagem de confiança e de serviço da brandura cordial.
fé, de solidariedade e de estimação, em que en-
Todos inteligentes, cultos, enérgicos e tra-
balhadores.
volvemos os que ontem, como os que hoje, nos São os três lados de um triâng'Olo equi-
postos de direção deste Tribunal, cercados de látero: figura regular simbólica, por ser a úni-
um halo de benemerência, souberan1 e sabem, ca em que qualquer dos lados se une direta-
manter ilesos -e altos os créditos desta Casa mente a todos os outros.
augusta, na faina meritória de zelar pelo seu Na ârea desse triângulo que bem represen-
prestígio e pelo seu no.nome, sem a hipertrofia ta o Tribunal de Apelação do Distrito Federal,
de uma paixão que é, sempre, sintoma de de- está conpreendida a expressão da sabedoria de
sEquilíbrio e mórbida demasia. seus julgados: ora externando conceitos rigo-
Rejubila-se o Tribunal de Apelação do Dis- rosos e justos, nítidos como a próp'ria caligra-
trito Federal com a vossa posse e vos apresen- fia com que são escritos os acordãos e provi-
ta congratulações pela honra que acabais de mentos que Edgard Costa red~-;,e; outras vezes
receber". manifestando a ância de aspectos de urn novo·
Usou da palavra, em seguida o Juiz de Di- ideal jurídico, em julgados que nervosamente
reito Sylvio Martins Teixeira, que, em nome de Antonio Nogueira escreve, co1110 se estivesse na
seus colegas, disse o seguinte: frase do poeta das pombas, "ruflando azas,
sacudindo as penas" para alçar a paragens ele-
vadas; ou então, como nos trabalhos de .Fre-
ORAÇAO DO JUIZ SYLVIO MARTINS derico Sussekind, discorrendo despretencwsa-
TEIXEIRA mente, simples e claro, como a água cristalina
que, brotando de dois mananciais - da cor-
"Para esta tribuna n1e enviararn os JUizeG dialidade e do s.enso jurídico - fossem se
de primeira instância da Justica do Distrito reunir num só regato que vem aplacar a sed.e
Federal, afim de, em seu nome, inclusive o de justiça.
meu, saudar os Exmos. Srs. Deiõlembargador
Edgard Costa, Antonio ,Nogueira e Fred-erico Quando conheci Edgard Costa, hâ mais de
Sussekind, eleitos pelo Tribunal de Apelação, um quarto de século, tive logo o pressentimen-
para exercerem respectivamente os cargos de to de seu triunfo.
Presidente e Vice-Presidente do mesmo Tribunal Era num velho casarão ela rua de S. Chris-
e de 'Corregedor, no biênio que ora se inicia. tovâo, onde hoje está instalado um patrona-
Excusado seria dizer aos Exmos. Srs. De- to de menores. Nas salas da frente trabalha-
sembargadores, que bem conhecem todos os vamos: Costa· Ribeiro, pretor criminal, e eu,
juizes desta Capital, pois julgam cotidiàna- per1nanentem:ente e1n exercício na 5a P1·etoria
nlente os seus trabalhos, que a escolha de meu Cive1 para a qual tinha. sido nomeado quando
nome, a mim transmitida pelo Exmo. Sr. De- era ainda J,p Pretoria Civel e Criminal. Era
sembargador Vicente Piragibe, organizador des- adjunto de promotor dessa pretoria - Adelmar
ta solenidade, não representa a indicação de Tavares.
um expoente da classe, nem a eleição do mais Na sala dos fundos estava a 5a Pretoria
merecedor ou do mais acatado. Recebi a in- Criminal, da qual era juiz Carlos Affonso.
cumbência como 1.una ordem dada a um velho Edgard Costa havia sido nomeado adjunto
()amarada, que a todos antecedeu no trato com de promotor dessa pr,etoria.
a magistratura do Distrito Federal, e que, por Já então tinha Edgard Costa o ar de cor-
ser camarada e vel'ho, podia dizer de ,conheci- regedor e os modos. de vitorioso. ~
mento especial, com a ponderação da velhice e Quando o Yi pela primeira •·ez, Yinha atra-
cmn a liberdade da c<-unaradagenl', co1no ascen- vessanclo a 111.inl1a sala en;,_ cl:recão à sua.
deram pelo valor próprio os recem-eleitos aos Olhava do alto de sua estátura como se
ma1s elevados cargos de sua carreira. verificasse se estava tudo em ordem; caminha-
(79)
4(i ARCHIVO JUDICIARIO (SUPLEi\lENTO) 20-1-43
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va em. passos longos e firmes, como em' mar- Evocamos tamben1 os presidentes clessa casa
cha triunfal. A, primeira impressão que se tem que já não se encontram entre os vivos: Mon-
das pessoas é a que fica e com ela se torna a tenegro, Nabuco, Pitanga e muitos outros.
idéia de seu esp'írito e do seu carater. '"&s vezes, disse Edgard Costa, quando olho
Edgard Costa me pareceu wn desses pre- para trás e não vejo mais nenhuma dessas fi.
destinados ao mando. Como só pode mandar guras representativas da Justiça, sinto im!Pressão
quem vence, ele tinha de vencer. igual 1à que deve causar o vácuo ou o isola-
As qualidades de energia, da capacidade de tnento".
trabalho, de disciplina, aliados· à inteligência e Recordando o passado, quiz mostrar, como
à cultura, são prenúnéios certos de vitória. te-stemunha qu~ sou da mesma época, que há
Edgard Costa, onde quer que esteja, re- no desalento dessa frase que ouvi uma ilusão
vela esses traços de seu espírito e temperamen- de persp·ectiva. Como ainda não estou no cume
to: corno membro do Ministério Público, como da montanha, não vejo apenas por cima e em
juiz, como presi'dente do Tribunal Jori, como torno de nlim o espaço infinito que parece o
desembargador, como Correge.dor, e, certa.mente, vácuo.
irá mostrá-los na presidência do Tribunal de
Apelação. · Nã.o, eenhor desembargador! Aquelas fi-
Já foi dito corm acerto qUe o estilo é o guras representativas não desapareceram: fo-
hom<>m. O estilo não é só, porem, a fo1·ma de ram substitui das. E' a lei fatal: nada se perde,
manifestar o pensamento; é tambem a maneira nada se cria. As saudades que das gerações
de revelar o carater. passadas sente a geração de hoje, hão de tam-
O procedimento, ou a atitude de cada pes- bem sentir desta, no futuro, as gerações que
soa, é o seu estilo moral, retrato de sua per- se sucederão.
sonalidade inconfundível. Assim, pois, para se falar apenas dos que
Edgard Costa triunfou em toda sua carrei- ainda vivem e prestam seus valiosos serviços
ra. Há vitórias que não surpreendem, mas que, nesta casa:
ao contrário, parecem demoradas, porque, pre- Será recordada a administracão criadora e
vistas, são sempre esperadas. produtiva de· Vicente Piragibe, · inaugurando,
Surpresa foi para mim, e será para todos renovando, m:elhorandb e embelezando, salas e
os que ainda o desconhec6Ill, a forma pela qual instalações. Ainda que seja curta a p'aS.sagem,
ele se revela, não mais con1o autoridade no cc•rr:,:J a ele Alvaro Berforcl, ninguem se esque-
desempenho de sua árdua missão de julgar, cerá do seu trato a>mistoso, de seu talento e de
de punir e de corrigir, mas no convívio social, sua palavra que entusiasma. Os que o tenham
nvm ambiente de amizade de camaradagem. visto marchando no pátio do Quartel General e
Esse homem solene, enérgico, inflexível, que incitando em nome da magistratura o patrio-
não perdoa as faltas no cumprimento dos de- tismo dos brasileiros em frente á bandeira na-
veres, é brincalhão, pilhérico, risonho na inti- cional, nunca· mais se esquecerá do fulgor da-
midade entre amigos, colegas e camaradas. queles olhos claros de olhar penetrante, daque-
Vou fazer uma indiscreta revelação para la cabeça reveladora de inteligência que sa-
a qual solicito previamente indulgência: é capaz cudia os anéis grisalhos, conforme o ritmo de
de deixar-se cavalgar pelos netinhos e não con- suas entusiásticas palavras, que arrancavam
l!ente que a estes, à sua vista, lhes seja mi- lágrimas de oficiais e soldados e de séus com-
nistrado o castigo de uma palmada oportuna panheiros de jornada, promotores e juizes.
ou da prisão sem: trabalho por cinco minutos, Sr. Desem'bargador Edgard Costa, sua pas-
assentado numa cadeira. sagem por esta casa deixará tambem impressa
Contraste que só os avós compreendem! a sua personalidade no espírito dos que mil!·
Foi há poucos dias que nós, envergonha- tam atua.lmente na Justiça.
dos, nos confessamos mutuamente essa fra- Ninguem se esquecerá de que Edgard costa
queza. vence como as palmeiras e os coqueiros: reto,
Que nos julguem os avós. solene, sobranceiro e que as tempestades o agi·
Há quem ple'iteie a organização ·de um tri- tam, p"odem arrancar-lhe algumas palmas, mas
bunal especial para julgamento dos menores. não o quebram. Passada a intempérie, vindo a
Não seria tambem mal que se criasse um tri- bonança, continua erecto, !Produzindo os seus
bunal especial para os avós que moram com os frutos apreciados pelos que teem o seu gosto
netos, sendo nomeados para o julgam'ento de educado col11 o sentrmento da justiça.
suas faltas juizes que ta>mbem foEsem ·avós, Muito se assemelham os frutos da Justi·
afim de que pudessem observar com conheci- ça com os dos coqueiros: por fora a aparên·
mento de causa própria o que dispõe o art. 42 cia rija, porque na verdade são contumde!ltes;
do Códi<1;o Penal: determinar a pena "atenden- dentro. porem, se encontra a água fresca e a
do aos antecedentes e à personalidade do agen- doçura da polpa.
te e aos motivos, às circunstâncias e às con-
sequências do ato".
O Desembargador Antonio ,Nogueira, o novo
Quando hâ pouco levei a recordação para vice-presidente do Tribunal de Apelação do DiS·
alem de 2.5 anos passados, não tive o intuito trito Federal, é um contraste entre a ap'arên-
de atestar a idade do novo presidente do Tri- cia e a realidade.
bunal de Ap'elação do Distrito Federal. Faz-me lembrar a contradição que nota:rn
Outra, menos indiscreta e mais sentimen- as criancas entre a figura e os atos de Papai
tal, foi a minha intencão, resultante de uma Noel. ·
frase que ouvi de Edgard Costa, quamdo re- tPorque me veio à m<>nte a lembrança dessa
cordavamos com saudade o norne de Renato Ta- comparação, se Antonio No-sueira não tem as-
vares, nosso am'igo, meu companheiro de aca- pecto de velho com longas barbas brancas?
demia de estudos, que deu a esta casa o -brilho Foi porque o semblante fecb.ado de An·
inesquecível ele seu espírito iluminado e justo. ton1o Nogueira, como a figura de Papai Noel,
Recorclavan1os as figtu·as que hayian1 fale- nüo faz aclivinhm· a sua bondade.
ciclo e que para nós, para os elo nosso tetnpo, As crictncas teem tneclo ele papai Noel, nus
pctrecimn insepctraveis da idéia ele justiça elo gostam imeriso dele, porque é bom, é gene-
Distrito Fcclerrtl. roso.
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20-1-43 ARCHIVO JUDICIAIUO (SUPLEMENTO) 47
cinto deste Tribunal, a saudação aos novos cli- mo de fórmulas que lhe tem dado um carater
rigentes da Justiça do Distrito Federal. esotérico, quasi impenetravel ao grande pú-
A honra é tanta, a responsabilidade é ta- blico".
manha que não fõra a certeza de que com be- Quantas vezes uma decisão em absoluto
nevolência e indulgência seria recebida, ter- antagonismo com os princípios do justo e do
me-ia escusado tal a minha póuquidade em equitatlivo, graças ao infantil ocultismo •das fór-
face da tarefa. mulas usadas em tom grave e solene, se reveste
Os eminentes desembargadores .Frederico das aparências de máximas morais, elevadas ou
Sussekind - Corregedor, José Antonio Nogueira, de verdades jurídicas tradicionais e incontes-
Vice-Pre.sidente, e Edgard Costa-Preside~te, táveis".
são poersonalidades que requerem do biógrafo Nas suas E·entenças - disse, notav-el escri-
acurado espiirito de síntese, rpois ao revez poderia tor brasileiro - "fala a lingua d.e todos nós
derrramar-se em longas laudas no proclamar-lhe.> paisanos da isotérica jurídica, e tanto refoge ao
os méritos. pedantismo da forma como se insurge contra
A função de Corregedor já de si espinhosa o cachetismo da hermenêutica emperrada. Pro-
veio a caber a um magistrado com larga folha cura introduzir entre nós os ideais dos renova-
de serviços à Justiça, e com trânsito nas vária~ dores do direito na Europa, os Geny, os Van der
gradações da. hierarquia judiciária, desde as an- Siken, os Dugui e os Demoges".
tigas preterias até a catedra de Desembargador, Ingressando na Justiça do Distrito Fedel'al
que o novo Corregedor vem ocupando há anos como Juiz de Dirieto, ascendeu mais tarde a
com o brilho a que já nos habituamos. e"'te Tribunal, do qUal é hoje uma das figuras
Dinâmica, agreste, complexa a função da mais proeminentes.
Corregedoria está de tal modo entrosada· a mar- .Seja-me permitido agora, antes de exami-
cha dos serviços forenses, que pode-se dizer são nar a personalidade do eminente Presidente do
supervisionados peja Corregedoria, o que requer Tribunal de Apelaçã-o, dar os lineamentos do
do seu ocupante uma soma respeitavel de es- atual estacl:o do judiciarismo, muito especial-
forcas e dedicacão. mente no que tange ao nosso país.
·O novo CÔrregedor, porem, reune em sua
pessoa todos os elementos necessários para que Afirma-se a cada momento nas esquinas e
possa levar a teTmo a missão que lhe foi con- portais que o Poder Judiciário não mais tem
fiada, principalmente na nova organização da aquela magestade de que se ornava antes de 10
Justica do Distrito Federal. de Novembro de 1937.
É' que S. Exa. foi um dos autores do an- Nada mais inexato, nada mais falso. A ma-
te-projeto de organização judiciária, que afinal gestade e a autoridade do Poder Judiciário, não
se converteu em lei, elaborado em conjunto com foram diminuídas, reduzidas ou amesquinhadas
os Srs. Ministro Philapelpho Azevedo e Desem- com a Carta de 10 de Novembro como propa-
bargador José Duarte, por incumbência do Go- lam os detratores do r·egime, nem o !POdiam ser
V€rno da República. porqua-nto alicerce do Estado forte, consiste
Os salutares efeitos tra1zidos à marcha dos no respeito à Justiça.
pleitos judiciais pelos novos diplomas proces- Não importa que um artigo da Constitui-
suais, seriam reduzidos não possuíssem os qua- çâo estabeleça que a palavra do Judwiário não
dros da Justiça a necessária adaptação para en- seja a última na resolução dos problemas a ele
frentar as novas criações das reformas elabo- afeitos, permiti~do a sua derrogação rpelo Legi_s-
radas. . . !lativo nos modos e pela forma_ l?'?r. que preve.
O decreto-=lei 2.035, atingiu, no advento do i Sendo vedado ao Poder Judwmno pelo ngor
novo 'Código do Processo Civil, cabalmente a 1 da fórmula . const1tucioru;l. cc,nhec.er de ques-
sua finalidade, e tanto basta para elevar os tões exclusiVamente pohtlcas, ao Jruz ou aos
seus autores. Tribunais nos julgamentos, não interessa saber
O Desembargador José Antonio Nogueira, o como o Estado recebe ou receberá o seu pro-
Juiz sociólogo cujas tendências à humanização nunciamento, pois não lhe cabe fazer o exame
do direito lhe asseguram uma posição destaca- objetivo do aspecto político a que reflexa ou in-
da no seio do Tribunal, é o seu novo Vice-Pre- diretamEnte atinja o julgado, em si ou em seus
sidente e o substituto eventual do Chefe da efeitos, eis que o "Juiz é o próprio Estado ad-
Justica' Local. ministrando Justlca" e é bem de ver que estará
Ás suas decisões, votos e acordãlo·s vêm sem- sempre implícita na apreciação do caso subjeti-
pre impregnados daquele sentido social, e, como vamente pelos Tribunais c juizes, o possível
se disse "de uma larga dose de compreensão interesse estatal, encarado, porem, exclusivamen-
humana haurida na, viagem que desde a juven- te, pelo prisma jurídico.
tude empreendeu através dos maravilhosos pai- Si esse interesse não corresponder acaso ao
ses da literatura e da filosofia". do Executivo, não há dimlnui.ção nem quebra de
Despretencioso, simples e bom, o Desem- inder;endência com .a aplicaçã:o da regra. cons-
.bargador Nogueira procura dar a seus atos na titucional, pois está previamente ·estabelecida
vida prática a feição que expõe teoricamente em essa possibilidade, com a limitação dos efeitos
suas obras, seja no "Amor imortal", n:a "Orga- elo julgauo p.elo Legislativo.
nizacão da Democracia Representativa", ou em Assim como não se diminue o Juiz pela re-
"Asp'ectos de um Ideal Jurídico", o que dá a forma operada na segunda instância, tambem
seus pronunciamentos de Juiz um carater tipi- não decai o Poder Judiciário pela contrariedade
camente seu, inconfunclivel e singelo. pcsta pelo Legislativo ao seu último lj)ronuncla-
Em conferência realizada em 1929 no Insti- mento desde que se exerça no modo e nas con·
tudo dos Advogados, sob o título "As Novas Di- dições pre-estabelecidas.
retrizes do Direito" deixou assinalado o nosso A •competência, po~s. do próprio Supr.emo
Vice-Presidente o prisma especial por que enca- Tribunal, que é ele órbit.a constitucional, pode
rava a função do Juiz, acentuando que "um elos sem quebra do respeito e da autoridade dev_l-
mnis fortes aspectos ela novíssima orientacão do dos ao Judiciário, ser limitada pelo Constit:üçao
pensamento jurídico com3istc precisan1ente num ou pelo poder a quem se atribue a compctencia
grande esforço para dar no direito un1 nc~nto para moclifieú-la. . .
ele Jcnlcl:Hle, de simplicidade e verclacle. t1ran- Mas a respeJtabJ!Jclaclc c a 1nagcstade do
elo-lhe essa roupagem ele "nr.got", esse nlgel)ris- Pocler Jucliciário resicle1n mais nos seus Juizes
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20-1-43 ARCHIVO JUDICIARIO (SUPLEMENTO) 49
Inexcedível fil1meza· - que convidado ao tem- Se o Papa nl"e ordenasse, dizia Santo Igna-
po do Governo Provisório para uma das Se- cio de Loyola, que ao mar me fizesse em uma
cretarias do seu estado natal, pelo então in- embarcacfw se1n remos, nem velas e sem leme,
tervent-or General Mena Barreto -·· seu amigo de eu cegamente obedeceria.
todas -as horas, - exigiu e obteve, como condi- Mas, seria urna loucura! - alguem ob-
Ção sinc qua para. aceitar a honrosa investidi..ll'~. ::::crvou.
que 'POl" decreto o Governo Provisório ressalvnss2 E' certo, respondeu o Santo funclac!or dei
suas altas prerrogativas. Companhia de Jesus, mas a sabedoria deve ser
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50 ARCHIVO JUDICIARIO (SUPLEMENTO) 20-1-43
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emprega.da na ordenação e não se precisa bus-~ Assim. vós, cada 1Jll1, ,;ois um 1Jon1 Juiz!
cá-la na obediência. Todos o sentem. todos o cllzcm c, por m.inha
Obedeço, pois, à dewrminação que me foi voz, toclos o procl::unam!
feita. Unta tal manifestação pela sua, !ndiscre-
E obedeço, ainda, porque desejo mostrar pãncia. é o melhor e mais alto elogio que se
àquele que m'e convocou, que não tenho re- vos p·ode fazer. E' uma, consagração!
ceio de fraquejar, embora a emoção que me as- Niio há, nesse conceito em que sols tidos,
salta, deparando, entre os que vieram de ser lugar para a a,dvertência que, emoldurada da
eleitDs e que vão ser por mim saudados, com alegoria exiswnte em uma das salas da Corte
a. pessoa do Sr. Desembargador Edgard Costa, de Cassacão de Paris, fez inscrever, o meu e o
bacharel como eu da turma de 1908. vosso paraninfo, Sr. Desembargador Edgard
Não era permitido, em Roma, a quem quer, Costa, no nosso quadro de formatura de 1909:
apresentar-se a cavalo perante o Consul, conta- "DECIPIMUR SPECIE RECTI".
nos Tito Livio.
A recomendação que lançou Horacio, em
Quando seu filho foi chamado ao Consulado, suas Epístolas a Lucius Calpurnius, da família
:Fabio Maximo, - o Contemporizador, - mon- elos Pisons, ou, cmno mais conhecida, é, a obra,
tado em um: belo ginete, com ele veio ter. A "Arte Poética.", embora eu a tenha sen1.pre pre·
poucos passos de distância, o filho do Consul sente, pa.ra honrar o mestre insigne'. que
ordenou-lhe que descesse imediatamente. nos deu a mão a1n'iga. e1n nossos prhneiros
O pai obdeceu e, abraçando o fill1o, disse- passos, o saudoso Lima Drumond, e por que,
lhe: "'Bravo, quiz verificar se sabias manter en-. em. verdade, frequentemente nos enganam as
relacão a qualquer um a dignidade de um aparências do justo, náo enquadra ao vosso
conSul''. ~ caso, Srs. Desembargadores Presidente, Vice·
Quero. ta.mbem, curvando-me à ordem que Presidente e Corre:sedor.
recebi, mostrar-me digno da classe que, pe~a
voz de seu chefe, m'a expediu, dizendo-vos tao Vois todos, como aquele Targa, do século
somente a verdade, justa e sincera. XVII, o tão celebrado autor das "Ponderazzione
Maritime", sois peritos, previdentes, probos, pro-
Quero dar-vos a cert-eza de que, neste passo vidos, puros.
felicíssimo de minha vida, em que, por impo- Em vossa longa vida de magistrado, deixas·
sicão de um amigo e colega de turma, que al- tes o traço que vos marca a individualidade:
ca-nçou. pDr seus avultados méntos, o posto má- Rígido ou brando, ou equânime, na aplica·
ximo a que pode aspirar um advogado - o de cão da lei, ao julgardes, todos vós sempre fos·
"batonnier" de sua classe, com propriedade tes e sois servos da lei.
chamada - "seminarium dignitatis", - devo Sois Juizes Homens!
saudar a nova administracão deste E. Tribu-
nal, junto ao qual, há mais de trinta anos, faço Sois, conforme o vosso feitio e temperamen·
e advocacia e à cuja presidência ascende outro to, a lei falando .
colega dos bancos acadêmioos, assim aos elmos De vós se pode dizer, reptindo a Lamolg·
de sua carreira, toda ela feita com a mais exem~ non, que não sois louvados porque o vosso ca·
piar retidão, que sois vós, Sr. Desembargador rater vos torna o árbitro da fortuna e da vida
Edgard Costa, a quem me prendem laços de uma dos homens, senão porque a vossa virtude im-
amizade que nasceu a um temp·o, que já vai põe que cada um confesse que é assegurar a
longe, em que, "doctos cum libro", arn.bos bus~ fortuna ·e a vida dos homens o confiá-las a
cavamos o saber, - quero dar-vos a certeza de mãos· tão puras e tão vigorosas, quais as vossas.
que tals circunstâmcias, embora me conturbem,
não influirão, todavia, no julgamento a que es-
tais sendo submetidos.
O advogado é homem de atitudes e, o que Conta-se que um cidadão de Sparta, :Feda~
sente, diz. reta do século IV, dos mais prestantes e no·
A lei e a sua conciência, bem o sallentou bres', concorrendo ao pleito pm·a a formação do
Ruy Barbosa, são os dois únicos poderes huma- Conselho dos Quinhentos, não logrou ser esco·
nos, aos quais a sutt dignidade pro!ls~ional se lhido.
inclina. E no momento, ê de nossa conciência Chegando à casa, contente, à sua esposa,
que brotam os elogios que merecidamente re- surpresa, disse que multo era o seu regosljO
cebeis. por haver verificado que em Sparta havia qui·
Não temo, pois, que me faltem forças para nhentos homens dignos da Investidura a que
faz-er o elogio dos ilustres recipendiários, Já ele aspirava, por ser, tambem, dela digno.
que o que vou dizer aos que me ouvem é tão
só o que tenho ouvido elos que me falam, quan- Convosoo concorreram, ao preenchimento
do lhes falo acerca de cada um de vós: - Que dos cargos em que fostes investidos, colegas·
bons juizes se afastam de suas magnas funções! vossos, dos mais eminenws.
O Duque d' Aosta, duma feita, a um solda- Como o nobre spartano, terão eles regressa·
ao, que o não conhecia, pe11guntou: Quem sou do a seus lares, rejubilados com a vossa escoTha,
eu? um general, disse-lhe o soldado. - Mas, que pois que, conhecendo-vos, sabem que a três vir·
general? :nsistiu o Duque; - Um tenente-ge- tuoscs clirigBntes é confin,cla esta .Augusta Ca.o;a,
neral, precisou o inferior. a que prestaram' eles os mais preciosos serviços.
Não me conheces? Eu sou o Duque d'Aosta, E a classe a que pertenço e em cujo n()I!I1e
Ao ouvir este nome, o soldado, em seu dia- vos falo, gratissima aos vossos antecesso-res, que
leto veneziano, exclamou: sempre a estimaran1 e honraram, lan•~mtando
"Ostregheta! Il Duca d'Aosta! sinceramente o vosso afastamento das CâiiN!.rall
Quel bon signor!" em que julgaveis, em grau de recurso, tem li
Observado por alguem, que ao lado se acha- confortar-lhe a certeza de que continuareis,,nall
~:~~. a<:.'crca cio nue clis~-:.r:ra, o ~olrlado, com a altas funcô~s que icles dcsl'mp'enha.r, a d!spen~'·
rnak.:t :-::Inr~crid}Jdt•, ohtempcrou: .sar-lll" o >tratamento a que da faz ;lús e a~
"Dicq c·rJs-=:' TJr:rclH~ tutti lo dis~~. Lo giu1·o gurnnca (!c que os que vií.o tomar os vossos lu-
:"::u~!:..l, U·:-:ta cle:i nlid b::unbini". gares. nns turmas julgaclorns, são, como vós.
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20-1-43 AHCHIVO JUDICIAHIO (SUPLE:.IENTO) 11
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juizes peritos, prcvidcnte:ó, probos, puros c pro- da Secçüo da Ordem dos Advogados, e as sau-
vidos". dações que em nome clela me foram dirigidas
Depois de ha.vcrtlll falado os srs. D2SClll- pelo Eeu ilustre dcleg:tdo, -- o brilhante advo-
bargadores José Antonio Nogueira e Frederico gado que já nos acostumámos a admirar, ex-
Sussekind, agradecendo as homenagens que lhe.o poente ele sua cla-sse, Dr. Jorge Fontenelle. A
foram prestadas, o Sr. Desembargador Edgard demonstração de solidariedade que assim me
Costa proferiu a seguinte oração: traz a nobre classe dos advogados, pelo seu
orgão máximo neste Distrito, tem para mim um
DISCURSO DO DESEMBARGADOR EDGARD alto :;igniflcado e fala mui de perto ao meu
COSTA coraçao pela coincldéncia de representarem-na
neste momento dois· velhos e queridos amigos,
"Assumindo a. Presidência do Tribunal agra- colegas que fomos dos bancos acadêmicos, inte-
deço aos n1ceus c1ninentcs .pa1·es a honra que grando a mesma turma de bachare1s de 1908.
quizeram me conferir, conduzindo-me à culmi-:
nância desta cadeira.
Nilo .seria sincero se clisscse nunca ter as- Um Presidente do Tribunal não tem pro-
pirado a esta posiçiio: a minha antig·uiclade no grama administrativo; o seu programa está no
Tribunal e o seu critério tradicional a respeito, solene compromisso prestado, e inscrito no
e a serena tranquilidade ele que, sem possível nosso- Regimento, - o de dar perfeito desem-
brilho ou maior relevo, m,as . com dedicação, penho aos deveres que lhe impõe o cargCJ e o
tenho procurado bem servir às minhas funções, de cumprir e fazer cumprir as leis e as decisões
tcrnavam. - sinão legitima, - pelo menos jlli- da Justiça..
tificacla essa aS(]Jiração. Bem desempenhando aqueles, e bem cum-
Mas desejo afirmar nesta oportunidade que prindo, e fazendo cumprir este, - estará pug-
não me candidatei nem disputei tão insigne nando pelo respeito à Lei e pelo prestígio da
honra,; sabem disso todos os meus eminentes co- Justiça. Esta é a tarefa a que me proponho;
legas. se assim quizerem, - o meu programa. E no
Por isso mesmo, tanto mais me sensibilisa desempenho dela, - não poupare! esforcos nem
a escolha, e maior reconheço ser a responsabi- conhecerei dificuldades, não me ent1b1árão sa-
lidade que neste momento assumo. crifícios, sejam de que natureza forem, nem
Com muita precisão já acentuou o vosso in- trabalhos por mais árduos que possam ser.
térprete nesta solenidade, - que nas substitui- Há 25 anos sirvo à Justic3. deste Distrito:
ções de postos de direção da Justiça - tais hoje, ao atingir o seu supremo posto, sinto
as que ora se ve~·ifica1n - não há a rigor sinão ainda por ela o mesmo encanto e o mesmo de-
uma descontinuidade material, porque essas votado culto dos primeiros momentos.
·mutações se fazem apenas por um imperativo
de ordem, interna dos serviços. Um só e único. .Sempre procurei servi-la dando-lhe todo~
e sempre, de fato, •é o desejo que nos anima; os E'.Sforços de que fui capaz, consagrando-lhe
invariavel, ta orientação que nos traçamos; per- toda a minha dedicacão, servindo-a com todo
severante a idéia que nos domina - o presti- o entusiasmo ele um<-í vocacio sincera e con-
gio da Justiça e o império da Lei! vencida. -
Esta cadeira é como o ponto de convergên- Em todos os postos que ocupe! - poy for-
cia de todas as vontades deliberadas e firme~ ç.a de lei ou pelo sufrágio dos meus colegas. -
de cada um na consecução do mesmo objetivo identificado com as minhas funções, procure!
<:omum de bem servir à Justiça. sempre honrá-los, dignificando a investidura.
O que a ela ascende tr,a.nsitoriamente, Quando se aproxima agora o momento de
pode ser, - e 0 ·é de direito, - o prhneiro entre encerrar a minha carreira, em vez de des3.len-
nós; mas - o primeiro entre iguais. . tos e canseiras, sinto um grande desejo de
Ao meu eminente colega a quem sucedo, redobrar essa dedicação, para, num supremo e
- e a quem me"'"ligam os laços de uma estima derradeiro esforço, colaborar para o m•üor pre.s-
cordial nunca interrompida na carreira que t!glo dessa Justiça, que foi afinal, o objeto e
juntos fizem.os desde os tempos de Pretor, que a finalidade da minha vida, a constante preo-
ambos fomos, -- quero manifestar nesta opor- cupação de meus dias. -
tunidade, - e já agora o faço na qualidade de Nesse propósito foi que aceitei a. indicaçã.c
dele, - I
Presidente do Tribunal, e falando em nome ' do n1eu nome pare: ocupar esTa cadeira: COI!l
o agradecimento a que fez jús pela essa q.eliberação é que hoje nela me assento.
operosldade com que se houve na direção desta com a responsabilidade de Chefe da .Justica de
Casa; ratifico com prazer os belos conceitos e I Distrito Federal. -
as palavras proferidas pelo Sr. Desembargador E porque o faça nesta lloYa conturbada ~e
que, interpretando os vossos sentimentos, pres" graYe que atraves.sa1nos. avalio bem todo o pe.';D
tou-lhe a homenagem devida. dessa tarefa e a grandeza dessa res:ponsaom-
Por minha vez agradeço-lhe as e~ressões dade.
com qüe traduziu os sentimentos cordiais do Mas, -- !nslsto em dlzer, - não me oltemo-
Tribunal para com o seu novo Presidente. riza a perspectiva. E" que confio na coopera-
Agra«;J.eço ~gualmente, as palavras amigas e as J çl\o dos meus eminentes pares. -
1
cooperaçEic
:eferenc!as bondosas com. que ao meu nome e quE' estou certo niio me faltará; 11a colabora-
a minha atuação na vida judiciária, se referiran1 ção de todos os serY~dores da Justiça. - Juí-
- o eminente Sr. Dr. Procurador Geral do zes. funcionários, e serventuários de Lodas as
Distrito, em nome do Ministério Públlco; oo categorias; enfim, da n0bre classe dos advoga-
distintos Juizes Drs. Syl vi o Martins. Teixeira e dos, - dessa classe que, no dizer de Dupin. é
Elrnano Cruz, pelos seus dignos colegas os se- tão antiga quanto a Justiça, - e que corrosco
llhores.Julzes de Direito e ,Juizes Substitutos. comtmga no n1esn1o culto à Lei, ciosa, por fun-
Recebo-as como a manifestacão de ·uma solida-~ ção, do prestigio do Judiciário.
rieda.de conciente e de elevndos prqpósttos, que A todos e a cada um conclamo, portanto.
há de sobremodo facilitar a minha missão. a que. unidos. C'.JC'~0.s. se rsforce!:1. l:v :::f'~,~~:· d;:
Agradeço finalmente, e n1.uito especialmen- i SU;;. ati\'i.fl,:ldt.:' r'o;__1!' lJl'I:.'.. . .~lH11prir 1.>S ~:?'US deY.e-
ti!, a presença a estr~ solenidade, e o prazer dtl ! reS. co1no senct"-""' a 1n:~::c:n1 n1elhü:- C.c bt?nl ~..::·~
ve-Io ao meu lado, - do eminente Presidente ! \"ir . .nesr.a hor~1. (.) B:·:1:~::. - ,... ~~-::.y,:Ih"..,.•. :.:·:·t:f:-
(85)
52 ARCHIVO JUDICIARIO (SUPLEMENTO) 20-1-43
cando e dignificando a Justiça, - esse ideal luz elo sol, indiferente aos destroços que lhe SO·
por que Inill1ões ele homens, neste mom.ento, brenaclam em torno".
oferecem em holocausto a próp.ria vida. Mantendo essa fé inabalavcl na Justiça, -
Não fôra .a Justiça a um tempo, a base t: trabalhemos sem esmorecimentos, antes com
o coroamento de toda a estrutura social, e a. afinco; sem inuteis dissídios, mas com coesão
suprema garantia das liberdades públicas. e discLplina, - pelo seu maior prestígio e res-
Repetindo o que neste mesmo recinto disse peitabilidade.
há. 9 anos passados, ao ingressar neste TriQu- E' o que prometo, e é o que espero".
nal - "ela poderá ser sacudida, - e o tem Todos os oradores foram longamente aplau-
sido nas tempestades que veem varrendo o mun- didos.
do moderno, como o mar enfurecido acomete o
rochedo; mas como o rochedo, após a tem- (Do J'ornal do Commercio, de 4-5 de Ja-
pestade, ela tambem, firme, ressurge para a neiro de 1943) •
(86)
JUIZES E TRIBUNAIS
Palavras proferidas no Tribunal de Apelação do Distrito Fe-
deral - Juiz ünico e juiz plural - Psicologia das massas e psico-
logia dos grupos organizados - Máximo de trinta e mínimo de
quatro - Lição de Huxley e de Dubreuil - Ao redor de dez é que
se ootem o ponto ótimo de eficiência - Numerologia antiga e
moderna - Uma reforma necessária das câmaras cíveis isoladas -
A junção do juiz é de ordem espiritual - Os poetas da Virgem e a
invocação Espelho da Justiça - Et quasi cursores . ..
PELO
DESEMBARGADOR J. A. NOGUEIRA
(88)
NATURALIZACAO TACITA -3
Semelhante disposição foi mais amplamen- maior rigor ~e imporá na apreciação da von-
te incorporada ao texto do decreto-lei n. 389, tade elo naturalizando, no caso ele ter sido u
de 25 de Abril de 1938, instituindo o art. 27: transcrição posterior a 16 de Julho de 1934.
"Considera-se como tendo renunciado à na- Sobre o mesmo requisito, indaga-se se a
cionalidade brasileira o naturalizado que vol- alienação do imóvel, depois de preenchidas to.
tar a r·esidir por mais ·de dois anos seguidos no das as condições legais para a naturalização
.seu pais de origem ou de sua nacionalidade an- tácita, a esta prejudicará. Penso que não in.
terior, ou que residir por cinco anos ininter- flirá a não ser como presunção da vontade da
ruptos fora do Brasil salvo se provar, dentro ser conservada a nacionalidade de origem.
de tais prazos que tem a intenção de regressar Outra questão - a morte do cônjuge bra-
2>-o Brasil e que a sua residência no exte1·ior é sileiro. Desde que posterior ao preenchimen-
determinada ... ". O prazo de cinco anos, de· to das demais condições, parece-me não obstar
vendo contar-se a Partir da nova lei, só finda- ao reconhecimento da nacionalidade brasileira
rá em 20 de Abril- de 1943. Então, a residên- Semelhante considero a solução para o casó
cia do naturalizado no exterior, onde quer que de desquite, a não ser se infira dai a inten·
tenha sido, implicará na renúncia à naciona- ção contrária à naturalização.
lidade. Em consequência, o titulo não deverá Quanto ao requiSito de "ter filllo brasllei·
.ser expedido. ro", o qual pode ser suprido pela condição da
"ser casado com brasileira", há os que enten.
II derão, como o ministro Eduardo E<spinola (Trat.
de Dir. Civil Brasileiro, vol. V, pág. 404), que
"é a filiação resultante do casamento que a
Mais graves e numerosas são as control•ér- lei considera"
sias em torno do n. 5 do mesmo art. 69. Diverso é meu entender, já porque não se
Ao contrário do inciso anterior, este es'l.a.- fez qualquer restrição, ao se proscrever "fOI
belec€u uma norma permanente de nacionali- casado com brasileira, ou tiver filho brasilei·
zação de todos ro", já porque, na interpretação desse disposi-
tivo, se deverá atender à norma de igualdade
"os estrangeiros que possuírem bens imó- in.scrita no art. 126 da Constituição vig<.nte.
veis no Brasil e forem casados com bra· Finalmente, a última condição - "deixa~
sileiros ou tiverem filhos brasileiros, con- de manifestar a intenção de não mudar de na·
tanto que residam no Brasil, salvo se ma· cionalidale", tem sido diversamente considera·
nllé·3tarcm a intencão de não mudar de da na doutrina e na jurisprudência e encerra
nacionalidade". - o grave defeito do dispositivo constitucional.
Com efeito, não se fixou o momento em que
Admite-se que essas condições se verifi- a manifestação do ânimo de conservar a nacio-
quem sucesivamente, em qualquer ordem, con- nalidade se deve produzir para que tenha o
tanto que tenha coexistido na vigência da Cons- efeito de obstar à aquisição da brasUeira opa
tituição de 1891, e é hoje indubitavel não ser legis, nem a forma· "'""~a manifestação. Dai,
preciso mais de um imóvel, ou mais de um afirmar Pontes de Miranda que a manifesta·
filho, posto que o preceito constitucional se ção deveria ocorer, exatamente, no momento
refere, no plural, a "estrangeiros". em que o último dos fatos materiais se real!·
Entendem uns, em maioria, ser necessária zou. A melhor doutrina, que tem prevalecido
a aquisição de propriedade imóvel, pela forma no Supremo Tribunal Federal, e que julgo ser
regulada no Código Civil, isto é, pela transcri- a verdadeira e conveniente aos interesses na·
ção do titulo no registo de imóvel (art. 530) . cionais é, pelo contrário, a de que, alem do~
OUtros ponderam que se deverá atender ao fatos materiais - casamento com brasileira ou
conceito de poses vigente ao tempo da Cons· filho brasileiro e posse de bem imóvel - é
tituição de 91, e concluem ser apenas neces. essencial o fato psicológico da renúncia à na-
sária a prova da detenção do imóvel e do "ani- cionalidade de origem e aceitação da nova cida•
mu.s domini". dania, a qual se investigará através da conduta
do naturalizando no período seguinte àquele>
Cresce de importância a controvérsia, fatos até ser requerido o título declaratório da
quando se trata de decidir se terá adquirido nacionalidade brasileira. Deste modo, se des·
a nacionalidade brasileira e o estrangeiro que cobrirá muitas vezes que o estrangeiro contraiu
satisfez as demais condições do citado preceito casamento com mulher brasileira, ou teve fllho
constitucional e, antes de 16 de Julho de 1934, brasileiro, e adquirlu um imóvel no Brasil, ma.'!
possuía um imóvel com a intenção de se tor- continuou a se qualificar como estrangeiro, a
nar seu proprietário, havendo patuado a sua se submeter ao império de sua Nação, a usar
aquisição e pago o respectivo preço, mas que, prussaporte estrangeiro, etc., numa demonstra·
só depois daquela data, adquiria a proprie- ção• inequívoca do ânimo de não mudar a na-
dade do mesmo. cionalidade.
Alguns casos já foram decididos de acordo São estas Sr. Presidente, as principais que>·
.com a segunda orientação, que é sustentada tões frequentemente suscitadas no exame de
pelo douto consultor jurídico deste inistério milhares de requerimentos de titulo dclarató·
e pelo eminente consultor geral da Repúbli- rio, para as quais indiquei a solução que me
ca, Dr. Hahnemann Guimarães. lWeu parecer parece mais justa e conforme à lei, e que LenhO
é tambem favoravel a esta solução, atenden- a honra de submeter à alta sabedoria de V. EX
do não só ao texto constitucional mas tambem Alexandre Marcondes Filho.
a que é justo reconhecer, na aplicação do ca-
pital, a iiiltenção de radicar-Se ao pais. Apenas Aprovado. 21-12-42. - G. VARGAS.
(74)
PELOS DOMÍNIOS DO DIREITO
PELO
DA FINALIDADE DA ADVOCACIA
Atividades há, no seio da comunidade hu- I blica no sentido de resguardar, a todo o transe,
mana, que são de dificil desempenho, porque os êxitos puramer.te pessoais da sua carreira
podem ser desviadas, sob o impulso de paixões politica, com preterição manifesta do bem pú-
pessoa!s subalternas daqueles que as exercem, bllco, de que os direitos fundamentais da pes-
de suas verdadeiras e superiores finalidades so- soa humana são parte integrante, o que ele
c!ais. Sem a vigilância constante e pertinaz está a realizar, nos postos de governo ou de
sobre os seus próprios ideais e o seu quoti- administração, é tão simplesmente a terrivel
diano procedimento. os homens, que desempe- mazela da politicagem. Finalmente, o advogado
nham tais atividades, podem ser arrastados a que transforma a sua atividade profissional de
preterir os deveres a elas inerentes, para cui- serventuária intrépida da Justiça em instru-
dar, antes de tudo, dos proventos tnateriais que mento medíocre de obtenção facil de riquezas
elas podem lhes proporcionar. e proventos materiais, o que ele institue, com
. Entre estas atividades, sujeitas a tão fu- este seu procedimento, na vida austera do Fóro,
nestes desvios da sua finalidade, podemos apon- é o deprimente vicio do mercantilismo, que con-
tar, alem de muitas outras, as do sacerdócio, :;;~lo~ Pretória em simples balcão de co-
milttança, política, e advocacia. Quando, com
efeito, o sacerdote sobrepõe, no exercício de seu Infelizmente, a praga do mercantilismo
apostolado, os interesses da sua pessoa aos de- está muito mais difundida do que ordinaria-
veres indeclinaveis do seu sagrado ministério, mente se pensa, no seio das nações modernas.
I
ele, com isto, lança, no seio da comunidade que A advocacia é praticada, por muitos que a exer-
Deus confiou ao seu zelo, os primeiros alicer- J' cerr:, não co~o arma nobre. e eficiente da implan-
ces sinistros da dissolvente simonia, que é a taçao do re1nado da just1ça entre os homens.
traição mais funesta e perniciosa aos impera- 1 Ela é, bem mais frequentemente do que ousa-
tivos da sua vocação divina. Alimentando este mos confessar, exercida como adequado meio
vício, o sacerdote se esquece da sua santa seara de vida, apto a conduzir, depois de alguns anos,
religiosa, para zelar, numa atitude vulgarmente quem o adotar, às culminâncias da fortuna, da
satânica, pelas coisas de natureza exclusiva- consideração governamental, do prestígio so-
mente temporal, que ele abjurou, entretanto, cial, ou, pelo menos, do conforto, e do bem
aos pés do Altar de Deus. Se, por seu turno, estar. Ela não é vocação, mas apenas carreira.
o militar perde a noção de que deve estar, por As causas não são problemas de justiça, mas
entre sacrifícios e renúncias, ao serviço inln- tão unicamente negócios.
terrupto da sua Pátria, entrando a sustentar, O nosso ponto de vista foi sempre, toda-
como na Alemanha de Hitler e na Espanha de via, inteiramente diferente deste que acabamos
Franco, um regime que erige o Exército em de pintar em largos traços. As nossas preferên-
tutor do pais, e sufoca os direitos inviolave!s cias se inclinaram sempre para aquela conce-
da pessoa humana, o para que está a concor- pção que, adotada por muitos dos nossos ju-
re_r é para a implantação do sombrio milita- r!stas, identifica a advocacia com o combate,
rismo entre os seus desprotegidos concidadãos. permanente e desassombrado, pela implantação
Desde que, igualmente, o politico, alheio aos da Justiça no selo das comunidades humanas.
mais elementares deveres da sua nobre e deli- Onde quer que, por isto, surja, em nome de
cada missão, orienta os ·atos da sua vida pú- uma lei divina ou humana, um direito a am-
(75)
58 AHCHIVO JUDICIARIO (SUPLEMENTO) 5-2-43
parar, uma injustiça a reparar, um coração ago- Ewert ou Harry Berger. O primeiro destes do-
niado a sustentar, ai deve de estar firme, enér- cumentos traz a data. de 11 de Janeiro de 1937
gico, desassombrado e desinteressado, o advoga- e foi dirigido a um parente, que, estando fora
do, conciente da sua árdua e perigosa missão. do Rio nessa ocasião, nos escrevera uma carta
Dentro das modestas possibilidades da nos- onde, sob os influxos de seu :uelo desinteres-
sa personalidade. temos procurado, - sabe Deus sado pelo nosso futuro, desaprovava, categori-
com que lutas íntimas e secretas - , manter, camente, o nosso procedimento. Amargurado,
nos dias de cáos e desordem que o mundo atra- mas conciente dos deveres árduos que nos ca-
vessa, est.e ideal do advogado que não deixa bia cumprir, assim respondemos a este paren-
jamais sem éco o apelo que, em nome da lei ho- te, que tão zeloso se mostrava para com a nossa
nesta e da justiça serena, lhe é, frequentemen- tranquilidade futura: "Que tem você. . . que se
te, dirigido por aqueles que teem a indescri- envolver com o meu gesto .de aceitação da de-
tível desdita de se verem às voltas com os ri- fesa de Luiz Carlos Prestes? Longe de merecer
gores dos diferentes orgãos da nossa JustiÇa. eu censura dos corações bem formados, como
Foi em nome desta superior orientação pro- o seu, deverei deles recolher aplausos e louvo-
fissional que, em 1937, não vacilamos, por um res. Nunca me afirmei homem TÃO NITIDAMENTE
minuto siquer, em aceitar o patrocínio, pe- CHRISTÃO como na hora em que declarei ao Con-
rante o Tribunal de Segurança Nacional, da selho da Ordem dos Advogados no Distrito Fe-
causa de Luiz Carlos Prestes e Arthur Ernest deral que aceitaria o patrocínio da causa de Luiz
Ewert ou Harry Berger. Ao proceder, assim, nada Carlos .Prestes.
mais fazíamos do que continuar, na esfera dos Não há. . . ninguem que não tenha direito
processos políticos, aquilo que, desde o nosso a uma palavra de amparo, de conforto, e de
ingresso na advocacia militante, vínhamos fa- defesa, ante o Tribunal dos homens. Deus, que
zendo, com a mais absoluta fidelidade, na es- tudo sabe e tudo pode, antes de proferir a sua
fera dos processos comuns. Nenhum Juiz ou sentença contra Caim, que acabava de derramar
acusado apelou jamais em vão, nos domínios o sangue de seu irmão, quiz ouvi-lo, como nar-
da Justiça comum, para a nossa assistência ra explicitamente a Sagrada Escritura, dando
profissional. Tais apelos nós os acolhemos sem- aos homens, com este seu exemplo, a indicação
pre como determinações indeclinaveis do dever irremovivel de que o direito da defesa é, entre
profissional. Era, pois, imperioso que seguisse- todos, o mais sagrado e o mais inviolavel.
mos a mesma trajetória em se tratando de um Nada ilustra melhor esta verdade do que a
processo de natureza política, onde bem mais carta, que se segue, escrita por São Francisco
difícil era, por força da exacerbação das pai- de Salles ao Duque de Nemours, que condenara
xões sectárias, a situação, já em si penosa, dos dois irmãos do santo Bispo sem admitir que
principais chefes da insurreição de 1935. se defendessem: "Os Papas e os Príncipes", -
Grande, todavia, foi, - como hoje ainda diz o Santo, que a Igreja venera - , "teem
é - , o número dos que não compreenderam tribunais de justiça, aos quais enviam as acusa-
o que havia de profundamente christão, e de ções afim de que sejam examinadas a fundo,
superiormente honesto, neste nosso gesto. De e para que, pela audiência das partes e das
toda a parte nos chegavam censuras acres; e testemunhas, se possa discernir de que lado está
perguntas, a um tempo, inquietas e escandali- a verdade ou a mentira: é este um caminho
!Zadas. Numerosos eram os que não chegavam que eles são obrigados a seguir, sob pena de
a ver, siquer, a natureza legal do dever do advo- danação eterna; de outra maneira, não haveria
gado. Não permanecemos, porem, silenciosos, mais justiça sobre a terra. Recebendo acusa-
ante esta investida contra a nos~;a posição. De- ções contra meus irmãos fizestes bem de ouvi-
fendemos, concientemente, a atitude, que to- las; mas, se nelas acreditastes, perdoai-me, a
mamos, e explicamos, espontaneamente, àque- mim, que sou, não somente vosso fiel servidor,
les que mais de perto estavam ligados ao nosso mas, tambem, vosso dileto, ainda que indigno
coração, a conduta que havíamos seguido, para Pastor, de vos dizer que ofendestes a Deus e
que, bem esclarecidos sobre os nossos superio- que sois obrigado de vos arrepender, AINDA MES-0
res propósitos, pudessem, com a sua alta auto- MO QUE AS ACUSAÇÕES FOSSEM VERDADEIRAS: POIS,
ridade moral, provar, com firmesa, no meio NENHUMA PALAVRA CONTRA O PRÓXIMO DEVE DE SER
em que vivemos, a verdade e a correção da ACREDITADA ANTES DE SER PROVADA, E ELA NÃO PODE
nossa atitude profissional. SER PROVADA SENÃO PELO EXAME E A AUDIÊNCIA DAS
Transcorridos, agora, tantos anos, sobre PARTES. Quem quer que vos fale de modo con-
estes dias cheios de agonia e amargura para a trário, Senhor, está traindo a vos a alma. Por
nossa alma conturbada, achamos que é do nos- mais dignos de fé que sejam os acusados, É PRE-
so dever tra:uer ao conhecimento rda opinião pú- Ciso SEMPRE QUE OS ACUSADOS SEJAM ADMITIDOS A
blica brasileira, para seu adequado esclarecimen- SE DEFENDEREM: os homens mais dignos de cré-
to, alguns dos documentos em que fixamos, com dito podem se enganar, ou serem levados, por
nitidez, os Imperativos de conciência que nos alguns motivos humanos, a enganar" (Hamon
forçavam n patrocinar, em nome da Lei e da - Vie de Saint François ele Sales, vol. 2.o, pá-
Justiça, e perante a administração elo pais, com ginas 159-160).
vigor infatigavcl e firmesa crescente, os direi- Deixar, nestas condições, de patrocinar a
tos de L11iz Carlos Prestes e Artllur Ernest causa de Luiz Carlos Prestes &eri::t. . . atentar
(76)
5-2-43 ARCHIVO JUDICIARIO (SUPLEMENTO) 59
contra a caridade christã. Ninguem, que se alheio aos motivos que determinaram o meu
honre com o magnífico nome de christão, tem gesto de aceitação do patrocínio da causa de
o direito de não estender a sua mão amiga a Luiz Carlos Prestes e de Harry Berger. Imagino
quem, como Luiz Carlos Prestes, se vê insulta- bem o que já não lhe terão dito a este res-
do, injuriado, e escorraçado do convívio dos seus peito. Pelo que se vem passando comigo, e
semelhantes. com os meus companheiros de escritório, prevejo
Por maiores que sejam as suas culpas, há que censuras semelhantes. senão mais acres, ao
nele alguma coiSa de grande e de elevado ... meu procedimento, já foram formuladas jun-
Em 1930 não lhe faltaram oferecimentos os to de você, que terá encontrado, entretanto, no
mais sedutores. A tudo resistiu, porem, para reservatório inexaurivel da sua amizade, as ex-
ficar fiel às suas idéias, erradas e funestas, é pressões apropriadas à minha defesa. No i"n-
verdade, mas adotadas e seguidas com rara sin- ' tuito de informá-lo das verdadeiras razões que
ceridade". me levaram a ter aquele gesto, envio-lhe, por
Nesse momento, os dedicados e solícitos ami- cópia, as cartas que dirigi ao Conselho da Or-
gos e companheiros, que, no escritório, que nos dem deste Distrito Federal", e a que mandei
é comum, compartilham das asperezas da nossa a um parente atualmente fora desta Capital,
advocacia árdua e penosa, punham-nos ao par "nas quais deixei patenteados os motivos da.
dos rumores que corriam, em muitas esferas minha resolução. Alma christã e superior, você
da nossa sociedade, a respeito de;;te gesto, que não se escandalizará com a minha atitude, na.
aqui era objeto de extranheza, e acclá de re- qual, pelo contrário, só encontrará razões para
provação. Patente era, portanto, a incompreen- louvar este já tão experimentado amigo fiel".
são com que olhavam uma atitude, que, na rea- Não estava, ainda, satisfeita a nossa con-
lidade ,era o cumprimento, simples e sem mé- ciência. Deveres filiais, destes que encontram a
rito, do mais elementar dever de um advogado sua origem austera na Fé religiosa, nos obriga-
católico. Empenhados, contudo, em dar com- vam a abrir a alma a alguem que é, hoje, e
bate, logo no nascedouro, a_ esta mentalidade para o nosso coração saudoso, uma recorda-
comodista, egoista, e anti-chrlstã, dirigimo- ção sempre viva, mas que era, então, o conse-
nos àqueles que, por motivos justos e superio- lheiro leal e prudente da nossa atividac:le nas
res, deviamos dar, sobre tal assunto, completas horas difíceis e amargas: D. Sebastião Leme.
e cabais explicações. Eis porque, endereçamos Procurâmo-lo, então, para dizer : "iEminência.
em 14 de Janeiro de 1937, ao Dr. Affonso Penna Eu não me permitiria a indelicadeza, imperdoa-
Junior, ·estas palavras leais e sinceras: "Conhe- vel, de deixar o meu Bispo na ignorância dos
ço a grandeza do seu coração e a solidez do seu motivos superiores que me levaram a aceitar o
espírito christão. Não preciso, assim, justifi- patrocínio gratuito da causa de Luiz Carlos
car-me do gesto que acabei de ter, aceitando o Prestes e de Harry Berger.
patrocínio da causa de Luiz Carlos Prestes e Tal patrocínio não e um ·gesto puramente
de Harry Berger. profissional. Ele transcende, pela significação
Eu não me sentiria bem, se, na hora em de que se reveste, o campo puramente jurídico,
que me são feitas as mais graves censuras, não para atingir as esferas superiores da moral so-
fornecesse, espontaneamente, ao amigo a quem cial, da qual Vossa Eminência, por investidura
mais devo, neste mundo, os maiores favores, Divina, é, e tem de ser, no seio da coletivida-
as razões do meu procedimento. de brasileira, um dos guardas mais autorizados
Na carta que dirigi ao Presidente do Con- e zelosos,
selho da Ordem na secção deste Distrito Federal, Na carta que dirigi ao Conselho da Ordem
e na que escrevi a "um parente que, achan- dos Advogados. neste Distrito l!'ederal, e na que
do-se ausente do Rio, se mostra alarmado e mandei a "um parente que, cheio de preocupa-
agoniado co:m o meu gesto", do qual prevê ções, me escreveu de fora", procur,oi, na me-
consequências funestas para o meu futuro, con- dida das minhas forças, explicar os moveis que
signei, sincera e corajosamente, os superiores atuaram sobre a minha conciência.
moveis que inspiraram a minha grave reso- Para conhecimento de Vossa Eminência re-
lução·. meto-lhe, por cópia, o texto integral destas
Sei que o Sr. será daqueles que não de- cartas no que se refere ao assunto em questão.
saprovarão a minha atitude. Basta-me o con- Nutro a esperança de que o meu amado Pas-
forto da sua solidariedade, e o de mais alguns tor não desaprovará o gesto desinteressado da
amigos diletos, para que eu me dé por satis- humilde ovelha que, em todos os seus atos
feito dos incômodos que já venho sofrendo, e profissionais, se esforça, dentro das suas pos-
que, por certo, irão aumentando até o desfe- sibilidades, por cumprir apenas christãmente os
cho final desse monstruoso processo, túmulo seus deveres de estado.
das nossas tradições jurídicas". E' bem provavel que o mundo, com a sua
Falara, nesse bilhete, a voz da. gratidão, inexgotavel malícia, não me pouP,e às suas con-
amiga e confiante. Outra precisava de se fazer tundentes censuras. Mas, tenho a certeza de
ouvir, outrossim: a do irmão, dirigindo-se ao que Vossa Eminência não se esquecerá, neste
seu chefe na Ação Católica. O bilhete que se transe delicado da minha vida profissional, de
segue era, assim, destinado a Alceu Amoroso orar com fervor a Deus Nosso Senhor pnra que
Lima: "E' evidente que eu não o poderia deixar 1 dê luzes e conforto a este seu í"ilho em Jesus~
(771
60 ARCHIVO JUDICIARIO (SUPLK\IENTO) 5-2-43
Christo, que lhe beija, respeitosamente, as mãos • predomínio das normas inerentes às exigências
sagradas". da civilização christã. O que a esta torna ex-
Seguindo esta rota, que pareceu, então, er- celente e respeitavel é a dignidade da pessoa
rada e funesta, a tantas pessoas dignas e ho- humana, de que os direitos individuais são, em
nestas, estavamos, ao em vez disto, mostrando toclas as suas modalidades, uma elas mais hon-
aos nossos concidadãos, como era de obriga- rosas expressões. Quando a advocacia trabalha,
ção, que a advocacia, ao contrário do que vigilante e firmemente, para que, no seio de
muitos deles julgam, é atividade, que precisa uma sociedade, nenhum homem seja, sob ne-
e deve de ser exercida não em proveito do seu nhum pretexto ou motivo, desrespeitado na sua
titular, mas das prerrogativas indeclinaveis ·da dignidade pessoal, ela está sendo, em tudo e
pessoa humana, cuja intangibilidade moral e por tudo, fiel à sua nobre e especlfica fina-
patrimonial é o mais fundamental dos elemen- lidade.
tos integrados do bem público. Ela é atividade Estes teem sido até agora, - e esperamos
que tem finalidade própria e específica, que está que continuem a ser até os nossos derradeiros
muito acima dos interesses pessoais do advoga- dias -, os princípios que veem norteando a nossa
do. Ela é serviço social. Aqueles que a abra- tão agitada, e, tambem, - porque não di-
çam, precisam, assim, não esquecer nunca que zer? -, tão despremiada e incompreendida v1da
a fortuna, o bem estar, e o conforto deles não profissional. Se poucos são, assim, os frutos de
podem ser, jamais, elevados à categoria de ideais índole e natureza pessoa( que temos consegui-
profissionais. A meta cujo rumo lhes cabe se- do colher, no exercício da nossa árdua e tra-
guir intransigentemente, e acima de quaisquer balhosa profissão, não nos tem faltado, toda-
considerações, é a das exigências da Justiça. via, um sem número de veses, aquela alegria
I
Para a estas fazer prevalecer, sempre e por toda suave, austera e consoladora, que produz den-
a parte, cump:re aos advogados não pensar tro do nosso coração, ardente e entusiasta, a
nunca na obtenção de riquezas e proventos conciência do dever cumprido sem tibiezas, nem
/illateriais, mas cuidar, sem desfalecimentos, do capitulações.
(78)
Os vencimentos dos magistra-
dos do Distrito Federal em face
da Constituição Federal e da lei
PELO
••• DR. A. RODRIGUES PORTO - PRESCRI-; ridico penal (Alfredo Balt/ULzar da Silveira). ~
ÇAO PENAL - 1 volume de 91 páginas - Em- os embargos de 3.o e os credores com direito
prêsa Gráfica da "Revista dos Tribunais" - real de garantia. O art. 707 do Código do Pro-
São Paulo, 1943. ces.w Civil (Frederico da Silva Ferreira). - O
INDICE: TÍTULO I: Introdução - Capítulo I: protesto de uma duplicata, por falta de aceite,.
Fundamento e natureza jurídica da prescrição interposto regularmente, não dá lugar a repa-
- Imprescritlbilidade - Capítulo 11: Efeitos da ração (Eurico Paulo Valle). - Culpa aquilina.
prescrição - Capítulo I11: Decadência de direi- Responsabilidade do pai por ato ilícito do filho.
to - TíTULo TI: A prescrição antes de transi- Inegavel a imprudência paterna consentindo que
tar em julgado a condenação - Capitulo I: Es- dirija automovel seu, um filho menor de 18
pécies de prescrição - Capítulo 11: Crimes com anos, não habilitado oficialmente (H. Canabar-
penas privativas da liberdade, com ou sem mui- ro Reichardt). - Crime de dano. Destruição
ta - Capitulo 11I: !Pena de multa - Capítulo de encanamentos. Ato de desforso à vista de
IV: Interrupção e suspensão da prescrição - certa medida administrativa. Denúncia por de-
Tí:ruLo III: A prescrição depois de transitar em sacato e por crime de dano. Procedência so-
julgado a condenação - Capitulo I: Penas pn- meüte qu:mto a este. Aplicação dos arts. 134 e
vatlvas da liberdade, com ou sem multa -- Ca- 329. § 2. 0 da Consol. das Leis Penais (Basilio
pitulo Ill: Penas acessórias. Medidas de seg~- Garcia). - Anulação de casamento baseada em
rança. - Capítulo IV: Interrupção e suspensao coação. Aplicação dos prazos prescricionais da-
da prescrição - Capítulo V: Suspensão condi- dos pelo recente decreto-lei 4. 529 de 30-7-42 e
cional da pena. Uvramento condicional - Ti- pelo art. 178, § 5. 0 , n. I do Código Civil (Achi-
TULo IV: Prescrição das contravenções - Ti- les Bevilaqua). - O pecúlio pode constituir·
TULo V: Infrações reguladas por leis especiais - herança jacente? (Melchiades Picanço).
TÍTULO VI: Matéria _processu.al relativa à pres-
crição - TíTULO VII: A prescrição no tempo e
no espaço.
-REVISTA DOS TRIBUiNAIS - Direção!
Drs. Plinio Barreto, Noé Azevedo, L. G. Gyges
••• DR. JOSÉ DALMO FAIRBANKS BELFORT Prado e Philomeno J. da Costa - São Paulo -
llE MATTOS (Livre-docente de Direito Interna- Volume CXXXIX, fascículo n. 509 - Outubro
cional Püblico na Faculdade de Direito - Uni- de 1942.
versidade de São Paulo) - A EVOLliÇAO DO DoUTRINA' Crimes contra o patrimônio e
DffiEI'l'O IKTERNACIOKAL NOS (;LTII\IOS não crimes contra a propriedade (Prof. Noé Aze-
VINTE E CINCO ANOS - Conferência, realizada vedo). - A ação direta da vítima contra a
sob os auspícios do "Instituto dos Advogados de companhia seguradora de responsabilidade civil
S. Paulo", na Faculdade de Direito - Outubro (Dr. J. G. de Andrade Figueira).
de 1942. - Emprêsa Gráfica da "Revista dos
Tribunais" Ltda. São Paulo. 1942. Volume CXL - Fascículo n. 510 - Novem-
bro de 1942.
REVISTAS: DouTRINA:A proteção penal da propriedade·
- REVISTA DE CRíTICA JFDICJ..\RL\ _ I
imovel (Palestra realizada na Faculdade de Di-
reito da Universidade de São Paulo, pelo Prof.
Diretor e redator-chefe: Dr. Nilo c. L. de vas- I Noé Azevedo). - Denúncia remunerada (Pro/.
concetos _ Rio _ Volume XXXVI, ns. 3 e 4 Candido de Oliveira Filho).
- Setembro e Outubro de 1942.
Sur.1ÁRIO: Aplicação do princípio domiciliar
para reger a capacidade dos estrangeiros no
Brasil (Filadelfo Azet~edo). - Conselheiro Ri- ~ ,JUSTIÇA - Direção: Drs. Poty Medeiros·
bas (La·udo de Cama1'&'o). - Conceito de sa- e Plinio Brasil Milano - Porto Alegre - Vo--
lário. Doutrinas sobre a sua fixação (Joaquim lume 21. fascículos ns. 1, 2, 3 e 4 - Julho,
Pimenta). - CuriosidadE>s judiciárias. Magis- Agosto, Setembro e OutL:.bro de 1942.
trados portuguêses de outrora. Vestimenta. uso DoUTRINA: Da liquidação de cálculo nos in-
da vara. Residência. Casamento. Obrigaçüo de yentários (Dr. Candido d.e Oliveira Filho). -
Plantar amoreiras (Candido de Oliveira Filho). Dinheiros pertencentes a meno:·es sob o pátrio'
- Circunstâncias ele traição. Seu conceito ju- poder (Dr. Paulo Franco dos Reis) . - A apli-
(87)
70 ARCHIVO JUDICIAIUO (SUPLEl\1ENTO) 5-2-43
cação da pena no novo Código Penal. - Fixa- na a transmissão, a passagem do primeiro para
.-ção da pena "in concreto". Causas de aumento o segTitcldo beneficiado, não se devendo atender
e de diminuição. O problema da pena-base. In- às palavras mas ao espírito da verba testamen-
terpretação do art. 50. As opiniões de José tária. - Pareceres dos DRS. ALFREDO BERNARDEB,
Duarte, Nelson Hungria e Roberto Lira (Dr. José CLOVIS BEVILAQUA, HAHNEMANN GUIMARÃES, ÜRO-
.Salgculo Martins) . ZIMBO NONATO e CARLOS MAXIMILIANO - Pelo ad-
vogado DR. HAROLDO VALLADÃO. - Emprêsa Grá-
fica da "Revista dos Tribunais". - São Paulo,
1942.
~ PARANA' JUDICIARIO Diretores:
.Drs. Clovis Bevilaqua Sobrinho e Antonio Chal-
band Biscaia - Curitiba - Volume XXXVI,
·fascículo n. VI - Dezembro de 1942.
DoUTRINA: O Brasil tem que defender o - Supremo Tribunal Federal - Recurso
.seu patrimônio moral (Prof. Clovis Bevilaqua). extraordinário n. 6. 565 - Questão de fato, de
- A purificação do direito pela religião (Dr. H. apreciação de prova e de aplicação à espécie do
.Sobral Pinto) . ...,... Princípios americanos de di- dispositivo de lêi federal qué parece aplicavel,
:reito internacional (Dr. Breno Vieira Cavalcanti). não autoriza o Recurso Extraordinário. . . Não
tendo o recorrente jamais invocado ou questio-
nado sobre a aplicação das lei~ federais Invo-
cadas, no curso do processo, incabivel é o re-
- REVISTA DE DIREITO AGRARIO curso extraordinário fundado no art. 101, III,
Diretor: Dr. Vicente Chermont de Miranda letra a) da Const. Fed.... Não tendo o recor-
'Rio - Volume I, n.o 1 - 21 de Novembro de rente siquer indicado na petição do recurso ou
1942. - Número especial comemorativo do 1.0 nas razões decisão definitiva dos Tribunais de
·aniversário da promulgação do "Estatuto da Apelação de Estados diferentes ou do Sup. Trlb.
Lavoura Canavieira". Fed., dando intellgênoia diversa às leis aplica-
DOUTRINA: Industriais e plantadores ge ca- das pela decisão recorrida, incabível é o recur-
nas, no período colonial (Barbosa Lima Sobri- so extraordinário fundado no art. 101, III, le-
nho) . - Razões e diretrizes do Estatuto da La- tra a) da Const. Fed .... Podem ser declarados
voura Canavieira (Vicente Cherm,ont de Miran- nulos os contratos convencidos de simulação
·da) . - A função social da terra na valoriza- mesmo celebrados por escritura pública, inde-
·ção do homem (Francisco da Rosa Oiticica). pendentemente de ação direta, desde que pro-
A oláusula' de inalienabilidade nos contratos de vada a simulação e a causa simulandi. . .. "A
:penhor rural (Clovis Paulo da Rocha) . prova contra a presunção legal será sempre ad-
mitida, salvo quando a própria lei a excluir"
(Cód. do Proc. Civ., art. 251)... "O dolo, a
MEMORIAIS: fraude, a simulação e, em geral, os atos de má
fé poderão ser provados por indicias e circuns-
Supremo Tribunal Federal - Embargos in- tâncias'". (Cód. do Proc. Civ., art. 252) ... "Na
·fringtmtes (recurso extraordinário n. 6.151) - apreciação dos lnd!clos, o Juiz considerará livre-
·Relator: M1inistro Annibal Freire - Revisor: Mi- mente a natureza do negócio, a reputação dos
·nistro Castro Nunes - Embargantes: Muanis, indiciados e a verossimilhança dos fatos alega-
Irmãos & Cia. - Embargada: S. A. Indústrias dos na inicial e na defesa". (Cód. do Proc. C!v.,
Khair - Memorial dos embargantes pelo advo- art. 253) . Recorrentes: "Dr." João Baptista de
gado DR. JosÉ NEDER. - "Le jugement moder- Azevedo e Casa Bancária do Globo Ltda. -
ne !'inspire de la finalité du Droit. Des conside- Recorrida: D. Thereza Rculice Von Minkewitz.
-ratlons tirées de l'u.tillté sociale pêsent dans - Ra<~ões da recorrida pelo advogado DR. JoÃo
l'espirit du juge au point de !ui faire appa- PINHEIRO DE MIRANDA FRANÇA. - Tip. do "Jor-
raitre que son devoir essentiel ne réslde pas nal do Commercio" - RiG, 1943.
1;ant dans l'application de la !oi que dans la
realisation de la justice ... " A. Maurin - Tip.
rdo "Jornal do Com:mercio" - Rio, 1943.
- Supremo Tribunal Federal - Recurso
extraordinário n. 5. 710 (embargos) - Relator:
- Supremo Tribunal Federal - Recurso Ministro Waldemar Falcão - Embargantes: Ir-
·extraordinário n. 5. 155 - Recorrente: Maria mãos Leal - Embargos: Braga & Pinto - Re-
Luiza Borges de Castro - Recorrida: Constan- novação de locação para fins comerciais. - O
.ça Gonçalves Gaio e outros - Relator: Min. adquirente do imovel, que expontaneamente
Bento de Faria. - Enfim ... fideicomisso! Im- mantem o locatário, cfujos direitos não estava
possibilidade da revista se as Câmaras do Tri- obrigado a respeitar por falta dos requisitos do
bunal de Apelação, segundo se provou e decla- art. 1.197 do Código Civil, torna-se locador e,
·ra o próprio acordão, já firmaram, jurisprudên- ao termo do contrato, pode pedir a casa para
.cia uniforme no sentido de uma das duas teses si, com fundamento no Decreto n 24.150, de
jurídicas discutidas acerca do usufruto e do 1934. Ao locador a lei expressamente garante o
fideicomisso (parágrafo únioo do art. 853 do Cód. direito de retomada para uso próprio e não hâ
·proc. Civ.) . A tese do Tribunal recorrido de que como invocar os fins da lei de luvas, quando
'"há usufruto quando o segundo beneficiado é ela própria consignou a exceção. Uma vez de•
pessoa certa, existente e designada e fideico- monstradas, pelo locador, a necessidade do pré·
misso no caso contrário, devendo-se na dúvida dio locado, para nele se estabelecer com negó-
entender que se trata de usufruto e não de fi- cio diverso do locatário, e igualmente a since•
deicomisso", baseada em princípios do direito ridade do pedido, não se lhe pode recusar o di•
francês, é contrária à letra dos artigos 1. 733 e reito de retomaéia, expressamente assegurado na
1.666 do Código Civtl, à lição de toda. a dou- própria lei de luvas. O adquirente do !mmovel,
trina pátria, de Teixeira de Freitas a Carlos que mantem a locaeão em cur.so, fica subroga·
Maximiliano, e diverge ela jurispnulênci.ct assen- do em todos os dire'aos elo transmitente, assis·
te do Supremo Tribunal e dos Tribunais esta- tindo-lhe, assim, o direito de pedir o prédiO
duais. A verdadeira regra para caracterizar o fi- para uso próprio. Para que a cláusula ele "pre·
deicomisso, acolhida pelo acordüo embargado, é ferência" possa importar em renúncia. do J2r?·
.a de que ele existe sempre que o testador arde- prietário ao direito de retomada é necessano
(88)
5-2-43 AHCHIVO JUDICIAHIO (SUPLEMENTO) íl
que tenha sido consignada sem limitação ou , - Supremo Tribunal Federal - Embargos
ressalva, e não quando fica ela dependendo da na apelação cível n. 7.530 - Embargante: An-
vontade do locador de continuar, ou não, a lo- tonio José Fernandes Junior, na qualidade de
cação. No julgamento das ações de renovação inventariante do espólio de D. Eufrazia Teixei-
para fins comerciais, cabe ao juiz apreciar, além ra Leite - Embargada: A Fazenda Pública Fe-
das regras de direito, os princípios de equ.ida- deral - Memorial do embargante pelo mesmo,
de, devendo ter sobretudo em vista as circuns- como advogado. - Relator: Ministro Orozimbo
tâncias especiais de cada caso concreto, de vez Nonato - Revisor: Ministro Waldemar Falcão
que a lei de Itwas não admite nem regras rígi- - Matéria: · Imposto de renda sobre juros de
das nem defesas absolutas, que não sejam sus- apóiices federais. - Tip. do "Jornal do Com-
cetíveis de serem alegadas e provadas pelo lo- mercio" - Rio, 1943.
cador, contestadas e discutidas pelo locatário
e examinadas, pesadas e cotejadas pelo juiz.
Memorial dos embargados pelo advogado DR.
RAUL GoMES DE MATios. - Tip. do "Jornal do - Supremo Tribunal Militar - Conselho
Commerclo" - Rio, 1943. de Justiça da 1.a Auditoria da 1.a Região Militar
Defesa do Dr. Ca:uby da Costa Araujo, pelo
advogado DR. MOESIA ROLIM - Tip. do "Jornal
do Commercio" - Rio, 1943.
- Supremo Tribunal Federal - P..ecurso
extraordinário n. 5.427 (Baia) - Embargos .-
Uma ação de responsabilidade civil sem alega- - Supremo Tribunal Militar - Apelação
ção nem prova de culpa - Rel!!tor: Ministro n. 9. 115 - R ela to r: Ministro Pacheco de Oli-
José Linhares - Embargante: Companhi<L Lt- veira - Revisor: Ministro Bulcão Viana - Em
nha Circular de Carris da. Baia - Embargada: defesa do Comandante José AU!JUsto Vieira -
Mari<L Valentina Malaquias - Memorial da em- Razões apresentadas pelo advogado DR. EvAN-
bargante pe1o advogado DR. ANT. B. TAQUES DRO LINS E SILVA. - Tlp. do "Jornal do Com-
HoRTA. - Tip. do "Jornal do Commerc!o" - mercio". - Rio, 1943.
Rio, 1942.
(91})
A LICITACÃO NOS INVENTÁRIOS ..3
cio Estado do Rio de Janeiro (iei n. 1.580, ue elos co-herdeiros pouco abastados que assim fi-
20 de Janeiro de 1919), art. 1. 870, e, sucessiva- caricnn recluzidos "' accitaren1 a parte fraca ela
m~nte, pelo do Ceará (lei n. 1. 952, de 30 de herança. Desapareceria a igualdade de partilha,
Dezembro de 1921), arts. 945, 950 e 951; pelo a qual consiste, na frese ele GouvEIA PINTO, em
de Minas Gerais (lei n. 830, de 7 de Outubro de levarem os co-herdeiros partes iguais no movel e
1922), art. 1. 000; e pelo de Pernambuco (lei nú- na raiz; no bom e no mau.
mero 1.763, de 18 de Junho de 1925), art. 1.004.
E' evidente que afinal caberiam a todos os
V - Fonte do art. 503, do Código nactonal herdeiros igual p:nte do valor total das avali<L-
áe processo civil. Artigo citado: ções, e talvez realmente superior soma de valo-
"Os b:ms são suscetíveis de divisão cômoda, res, segundo uma apreciação imparcial aos h(:r-
que não couberem na meação do cônjuge sobre-
vivente ou no quinhão de um só herdeiro, serão deiros não licitantes; isto posto, não deixa tam-
vendidos na forma dos arts. 704 a 706, parti- bem de ser verdade que aos credores pobres não
lhando-s·e o preço, salvo quando os interessados flcam reservados senão os bens que ao licitante
preferirem arrendá-los, administrá-los ou pos- aprouve deixar, talvez a maior quantidade, com
sui-los em comum, ou se qualquer herdeiro, ou certeza, porem, os m~nos prestaveis ...
o cônjuge sobrevivente, requerer a respectiva ad- ... Tendo, pois a licitação por fim causar a
Judicação, repondo, em dinheiro, a diferença. opressão dos co-herdeiros menos favorecidos da
Parágrafo único - Requerida a adjudicação fortuna, contraria evidentemente a todos os
por dois ou mais interessados, sem que seja po3- principies da. equldade, é dura e revoltante, por
s1vcl acordo entre eles. o Juiz marcará dia e isso que a todos os co-herdeiros deve caber igual
mandará citar 03 interessados para proceder-se quinhão na parte boa ou na má, ainda que rece-
à licttação entre o cônjuge sobrevivente e os co- ba. compensação em maior porção de bens infe-
hercleiros, incluindo-se os bens no quinhão dt; riol.'2s. PEGAS, à Ord. Liv. 10 tit. 87 § 4 n. 68
quem oferecer maior lanco".
Eõt." artigo reproduz, 'com pequenas modifi- L. C um. oport. § sm autem: Cócl. Li v.' 5o tit.'
cações, o disposto no Código Judiciário do Rio 61: "maximé in ter fratres iniqu1tm est u.t da
d<: Janeiro: una substantia quibus compctit, aequa suc'!ssio
"A.rt. 1. 870. Havendo bens que não caibam jiat inaequalis clivisis, ct procttosa, optimaqurJ
na meação do cônjuge superstite ou no quinhão trzbuant1tr uni, alter vero inania sib adjudica~a.
de um só herdeiro, e c,.ue não admLtam cômoda et vilissima ingemrscut: Jungat libero; acqualis
divisão, serão vendidos na forma elo art. :?..053 gratza aequos qualis funxit natura". E' eviden-
sendo rcparticlo o preço, s:11vo se os interessados te que a clisposição desta lei, bem como a sen-
preferirem po3suí-los em comum, ou se algum tença ele PEGAs, refere-so a toda sorte do herdei~
GU alguns dos herdeiros ou o cônjuge sobrevi- ros igualmente.
vente requerer a respectiva adjudicação, re'[>Ondo O próprio VALAsco reconhece os· inconve•
aos outros em dinheiro, o excesso verificado. nientes da licitaçã.o, que não raras ve?&s ocasio-
Parágráfo único. Neste último caso, não ha- na. discordias e dissenções entre os co-herdeiros,
vendo acordo. marcará o juiz uma audiência. e frequentemente a ruina. elos licitantes, que
ufím ele se proceder à licitação desses beru; entre esquecidos ele seus interesses, e no calor r:\J. li-
o cônjuge sobrevivente e os co-herdeiros, sendo citação, movidos p?lo amor próprio, levam os
os bens incluidos no q<.linhão de quem oferecer b2n3 a um preço elevadis.simo (VALASco), Cons.
maior lanco". 114, n. 6. Tunc obvitanaas sed.tttones ct JW[Jta
Idêntico era o mandamento do Cód\go de tnter cohaeredes, q1ti cupiditate alicuj1ts rei he-
processo de Minas Gerais, art. 1 . 000. reditar!ae, et calare lic1tandi multoties, ad i71f·
quissima pretia ascendunt) .
VI - Crítica eLo artigo do Código de p1·o- Alem disso, ou os bens inventariados se
ccsso civil. Penso, data venia, que não andou acl1am avaliaclos em seu justo preço, ou não;
be1.n inspirado o autor do Código nacional de no primeiro caso, admitir a licitação corresponde
process::J civil ressuscitando a prática da licita- a dar ao c·~-herdeiro a liberclacle de eleger os
ção, condenada por CLOVIS BEVILAQUA, segundO bens. em que quer a sua legitima, o que só per-
VlmGs, por ALMEIDA NOGUEIRA, TEIXEIRA DE FREI· tence ao juiz da partilha (VAr.Asco, Cons. 114,
TAS e FELICIO DOS SANTOS, como tambem O fôra n. 2 - GUERREIRO, ob. cit. Trat. 2.o Liv. zo,
por PEREIRA DE CARVALH'), GOUVEIA PINTO e outros Cap. 14 n. 29); no segundo c''so. encontra-3e
juri.<oconsultos portugueses enfileirados por nns Ordenações providências jurídicas, que uas-
LOBÃO (5). ' sarnos a examinar ...
ALMEIDA NOGUEIRA, em extensa monogra.fttt . . E1n conclusão: conquanto não se ache
(6), rrsslm se pronunc10u: repelida pela Ore!. Liv. 4, Tit. 96 § 50, a licita·
" .. Por outro lado. desde que se admita que ção não é uma provlclêncb apontada. pelo r.osso
a licitação dá direito à adjudicação do objeto, direito, nem como meio normal de se corrigi·
grave·3 inconvenientes deste fato resultarão. re1n <1s avaliações nos inventários, ne1n como re-
Dir-se-ia então um odioso privilégio aos her- médio subsidiário para sol ver as dificuldades
deiros r1cos, que, escolhendo dentre os bens da ocurrenws por oC'asião da partiih:l de coisas indi·
sucessão a melhor parte, conseguiriam por meio viduas. O silêncio do legislador já seria. um po-
da licitacão fazê-la sua deixando os de menor deroso argumento a favor desta conclusão: com
préstimo "aos co-herdeiros menos favorecidos pela efeito, sendo os compiladores das Ordenações tão
fortuna ou impossibilitados de com eles •compe- versados no direito romano, o seu silêncio rela-
tirem. tivamente a esta matéria exprimirh antes a in-
Estabelec-er-se-ia com isto a tirania legal d:• tenção de revogar, que uma censuravel inadver·
riqueza. Muito precária tornar-se-ia a condição tência ...
... Fulminada pela lei, a corruptela. deve ser
elo fôro eliminada e banida".
( 5) Acôes sumárias, v. 2. Dtssertac0.o VII. Esses conceitos mere-ceram de TEIXEIRA Dll
(G) Tl:anscrita no "O Dircit,o". v.· 4, p. 337; FREITAS (7) a seguinte aprovação:
no livro ele ASTOLPHO REZENDE, "Inventários e
partilh"'", p. 273 a 28'7; e no livro ele CANDIDO
NAVES. "Comentários ao Código dr; processo ci- (7) Consolidação das leis civis, nota 26 ao
vil", p. 37G a 395. · art. 1.166:.
20-2-43 ARCHIVO JUDICIARIO (SUPLEMENTO) 75
- "Louvores ao bem pensado e bem escrito, TELLES, Doutrina elas Ações, § 149, nota 316; C,
estuà.o do Sr. J. L. de Almeida No queira sob r~ DA ROCHA, § 185) ,
a licitaçiio no Direito, revista de Í874, · t•ol. 4, E assim tambem se expres.sava o projeto de
p. 337!'• Código civil brasileiro, elaborado por COELHO
FELICIO DOs s.~NTOS, entendendo que a licita- RODRIGUES: "Art. 2.674, § 2. Uma vez licitados
ção "r,uasi sempre ocasion'"- ódios e dissenções um ou mais bens, que inteirem o quinhão do
entre co-nerdeiros e muitas vezes a ruina dos li- licitante, ele não poderá mais licitar sobre ou-
citantes", ao elallorar o "Projeto de Código civil tros".
brasileiro" ~omente a R<lmitiu nos bens moveis De outro modo - segundo explicava FELí-
da herança (art. 1.525) com as sábias precau- oro nos SA~Tos ( 11) - desapareceria a igual da-
cões constantes dos arts. 1.526 a 1.531 do dit"J de das partilhas. Um herdeiro opulento licita-
projeto ( 8) . ria, com exclusão de estranhos, sobr8 os mel!w-
Os nos:>os juristas assim se manifestando, res bens da herança, e forçaria. a,,s1m, os outros
foram inspirados nos conceitos dos jw·istas. por- herdeiros a receberem dinheiro, em vez desses
bens.
tugueses. Segunda. A licitação não pode versar sobre
"Seria para desejar-se - escrevia P.snEIRA DE os bens confendos pelo herdeiro.
CARVALHO (9) - que a licitação fosse pres<;rita Isso porque enes bens .;ão propriêdade elo
de todos os juizos em que se tem <tcimit.lclo. conferente. A colação é ordenada tão somente
A emulação, a inveja, e mil outras pai:<õe,q ele para se igualarem as legitimas •:iCJS herdeiros.
semelllante natureza, presidem qnasi sempre a Terceira. A licitação não deve ser feita por
este ato, e muitas vezes sucede, que o apaixo- animosidade ou emulação.
nado licitante leva a coisa ao dõbro ,,u tresd6-
bro do seu justo valor, vindo assiJill a. fi.c'.ar con- O meio de evitar esse inconveniente é proi-
sideravelmente prejudicado nos seus direitos, ou bir que se admita de cada herdeiro mais de
a ver-se obrigado a intentar um litgio para os um lanço, ou, como dizia o citado 'JrojeVJ ele
outros co-hercleiros lhe comporem a lesão''. CoELHO RODRIGUES -- "nenhum herdeiro poder{t
VII -- Omissões do Cócligo. E não foi só- fazer mais de uma oferta sobre o bem que pre-
I11entc .e-=~·.J. 1nancha. ferir".
Com a preocupação de sintetizctr em maté- A redação do art. 503, § único, do Código
ria árdua de fonna - e releg~ndo a-:J soluções do processo .,--- "mandará citar 0s interessados
de casos concreto3 ao arbítrio dos jui~es - o Có- P·Jra procede1;-se à limitacã::~ entre o cônjuo-e so-
digo, ao restabelecer o deserépito instituto, re-
pudiado e combatido por nos.sas sumidade:; ju- brevivente e os co-hercleiros, incluindo-se o;; bens
rídicas, lhe não traçou os contorno~. ou exten- no quinhão de quem oferecer maior lanco' • -
são. . parece repelir eosa proibição: havera lanços, sobre
_ A mesma lacuna ocorrera nos Códigos da Fe- lanços, como nas arrematações jlld!eiai:;, o que
deração que trataram do assunt.J. acene! era a í'lamn ela emulacão en ·rp os co-ller-
As un1cas expressões consagradas à licita- deiros. que a -:ultigrt prittic·a pmc Lli·ou amortt:-
ção. pelo diploma unificador de nclssns leis pro- cer.
cessuais, são ns do cito. do art. 503 i único. que j
nada csclareccrn, e não reso1ve1n, denttc outras, Quarta. Quanto à última q,1e.st:lo, eu rne
as seguintes clúvidas lenultac!C~S na antig:~ prit- louYaria, para solvê-Ia, nos s~~nunes eoncei-
tica: tos ele FELÍCIO DOS SANTOS ( 12) :
Primeira, A licitação pode excedE:!' o quiulJão "A licitação pode ser preju~licial ao llcitan-
do licitante? te, niio é um ato de aclministr~cf't,); não convi!·ã
Segunda. Pode versar sobre os !J;;ns cloadJs deixar só ao arbítrio do tutor faze;· licitrrcôes em
ou conferidos pelo herdeiro?
. Terceira. S-::rá permitida a r<.>lícitação, isto nome do seu tutelado. E' a razão por ·que se
e, mais de um lanço de cada licitant•J ou reli- exige a permissão elo juiz. Nfl') se entende isso
citante? com o pai nem com a mi\8, quando administra-
Quarta. Poderá o tutor licitat· sem dcença dores dos l:ens elos filhos menores; porque é
do juiz? ele presumir que atendem para os interess-~s cl•Js
. VIII - Solucões. As soluçõ.2s elas três pri- filhos com mais zêlo do que um tutor" .
men·as qw:stõ2s foram dadas pelo art. 848 ela IX - Conclusüo. Concluindo este esboço,
Cons:olidrt~áo etc Rrr.\s, acin1a, transcrito, a
faço votos pan~ que se pa~~e a esponja no
'"bcr:
Primeira. A licitação não pode exceder o s único do art. 503 elo Código cl2 i:;Jl'Ocesso civil.
quinhão elo herdeiro. - Ha no espólio bens inclivisíveis ou que
. LAFAYETTE (10) .1á dizia: "0 preço da coisa não possmn partilhar-se sem grave dano? Os su-
licitada deve caber no quinhão do licitante e ce2sores não concordam em p::~ssuí-los em co-
não excedê-lo ( Vej. PEREIRA E SOU5A, § 102; C. mum?
Sejam. então, ,.ei1clidos em hasta pública, ou
_ (8) Artigos citados: "Art. 1.526. A licita .. leilão - de que poderão prtrtieipar o cônjuge so-
Çao se ten1 lugar nos bens moveE-, que se não brevivente, os herdeiros, os legatários ou estra-
P~dem dividir sem grave detrimentú. Art. 1.527.' nhos ·- partill1anclo-se o prodUtJ apurado.
Nao pode haver licitaeão sobre os hen.~ conferi- Ficará. por essa forma, resra!Jeiecida a pu-
dos pelos herdeiros. Ârt. 1. 528. Ninguem pode reza das sábias disposicões da Ordenação do liv.
licitar senão até a quantia correspondente à sua 4, tit. 96, § 5, e do Código civil, rrrt. 1. 777, de-
quota dos bens comuns. Art. 1. 529. O tutor turpada pela prática odiosa da licitação.
~o po~e licitar sem licença do juiz. Art. 1.530 E desapareeerá esse moti•;o tle discórdia no
Nao sera admitido sobre a mesm:t coisa mais de selo das fnmilias, ao cerrarem-se os olhos do
um lanço de cada licitante ou relicitante. Arti- autor da herança.
go 1.531. Não será admitic!a a Jicitacão sobre
COisas. igl!ais, que podem, "'m proporçio, entrar
no qumhao de todos os Jntere<3snt!os". ( 11) Projeto citado, v. 3, cc:.mentário ao
(9) Juizos divisórios, n. 72. art. 1.528.
(10) Pareceres, v. 1, p. 415. (12) Obra cítaclrt, comentário ao art. 1.529.
(85)
Ligeira contribuicão ao estudo da
decadência e da prescriÇão
PELO
Nestes últimos anos ressurgiu, no Brasil, Mas, neste outro exemplo, já se trata de
uma questão bem velha de direito: a da distin- prescrição e não de decadência: prescreve em
ção entre decadência e prescrição. seis meses a ação dos hospedeiros, estalajadeiros
Essa questão parecia ter sido definitivamen- ou fornecedores de viveres destinados ao consu-
te solucionada pelo Código Civil, que não faz mo, no próprio estabelecimento, pelo preco da
qualquer distinção, no caso. Só doutrinaria- hospedagem ou dos c•!iní.entos fornecidos;' con-
mente poderia ser discutitla essa tese de direito. tado o prazo do último pagamento.
Clovis Bevilaqua, em seus comentários a Ao direito olJjeto da decadência, não cor-
lei cívica do pais; escreve: responde uma obrigaçio a ser cumprid:l pela
"O Código não distinguiu a prescriç'io dos parte contrária, no plano elas relações jurídicas.
prazos extmtz1:os, que operam R decadência ou Outro tanto não acontece com referência à pres-
caducidade· dos direitos. No entanto, a doutrina crição, que ocorre quasi sempre entre partes
estabelece diferenças entre as duas figuras ju- , contratantes (devedor e credor).
ridicas. O prazo extintivo opera a decadência elo A consumação da decadência faz que subsis-
direito. objetivamente, porque o direito é con- ta uma situação jurídica, que poderia ser mo-
ferido para ser usado num determinado prazo; dificada, se não fora a caducidade verificada do
se não for exercido, extingue-se. Não se sus- dinoito. A ocorrência da prescrição dá lugar a
pende nem se interrompe o prazo; corre contr:-t que cesse a obrigação, sem subsistência de rela-
t?cto.~, e é fatal. Termina na hora preestabele- ções jurídicas entre as partes interessadas.
Cida . . , Decorrido, por exemplo, o prazo de dez dias
!
Como se viu, o Código, tal como acentuou para o marido anular, de acordo com a lei, o ca-
Bevlla_qua, não faz diferença entre prescrição e Eamento contrário com mulher já desvirginada.
decadencm. subsistirá o matrimônio, que nio poderá mais
Os prazos são os mesmos, pouco importan- vir a ser invalidado por aquele mesmo fato.
do que se denominem urescritivos ou de deca- Mantem-se, assim, uma situação juridica pre-
dênci:t . . • existente, em relação aos conjuges.
Doutrinariamente, Clovis Bevilaqua enume- Se, porém, está em jogo uma obrigação e a
ra alguns casos de decadência: o de três meses parte interessada não exige o seu cumprimento
para a celebração do casamento, a contar do dentro do prazo legal, deixando, desse modo.
momento em que o oficial do registro certifica que Ee consume a prescrição da ação, lícito não
a habilitaçio dos nubentes; os prazos para se será mais ao ex-credor exigir se cumpra uma
pleJtear, nas hipóteses legais, a anulação do ca- obrigaçiío, que deixou extinguir por inativida-
s~mento; o prazo estabelecido para a contesta-
çao eLa legitimidade do filho; os prazos para pro- de, por negligência. Verificado esse fato,· ne-
nhuma relação jurídica subsistirá mais entre an-.
posta de. remissão do !move! hipotecado, e para tigo devedor e antigo credor.
a oposição' do credor dela notificado,
- Depois de estudar o assunto, sintetizei O marido, que está presente, tem, como se
do s~guinte modo a conclusão, a que cheguei na sabe, dois meses para contestar a legitimidade
m~teria: Na decadência, perd.e-se a faculdade de do filho de sua mulher. Se não o fizer, prevale-
ag'f no aproveitamento de um prazo, .para defesa cerá, decorrido o dito prazo, a situação anterior:
ou,preservação de um direito. Na prescrição, há o filho continuará sendo tido como do casal.
o perecimento da. c-ção, O caso é, portanto, evidentemente, de de-
Estabelece, por exemplo, a lei o prazo de cadência. Há, aí a extinção de um direito: o
dez dias, conta<los do casamento, para o marido de contestar a legitimidade elo filho. O pai não
:Promover 11 anulacão do matrimônio contraído usou da faculdade, que lhe dava a lei. Cadu-
com mulher já deflorada. cou. dessa form~. o direito ele se opôr a uma si-
Ora, facilmente se reconhece haver aí um tuação, que vai subsistir à decadência verifica-
casd de decadência e não ele prescrição. da.
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78 ARCHIVO JUDICIARIO (SUPLE:\lENTO) 20-2-43
Se alguem, todavia, credor de outrem e não I Mas dizem alguns tratadistas que, na dec::t-
procede judicialmente, em tempo oportuno, con- dência . o que perece é o direito, a jaculdude cte
tra o devedor, perde o direito à aç§..o, devendo agir, ao passo que, na prescriçC\0, o que ocorre
ser esta considerada prescrita. é a extinção da ação .
E' observado, como se viu, a diferença entre Ora, é ele decadência o prazo de dois meses
prescrição e decadência. Não obstante isso, é di- concedidos ao marido para impugnar a legitimi-
fiei! conseguir-se uma definição precisa do que dade do filho de sua mulher e, no entanto, a
seja decadência e do que seja prescrição. lei fala que a impugnaç9.o, no caso, será feita por
Só indiretamente consegue o j1uista escla- meio de ação. Há, portanto, decadência de ação.
recer o assunto. Mas à respectiva ação não corresponde uma pres-
crição inicial. Equivale isso a dizer que a ação
E' tão sútil, para alguns, a diferença no caso, em
que juristas e legisladores preferem deixar de posta. apreço só poderá prescrever depois de pro-
lado os pontos diferenciais a respeito, confun-
dindo a decadência com a prescrição. - Parece que se poderá distinguir a deca-
Esse critério foi o adotado pelo legislador dência da prescrição, dizendo-se que esta depen-
brasileiro, na feitura do Código Civil. de apenas do decurso do tempo, em relação a
um ato em geral normal, jurídico, ao passo que
Troplong, depois de se referir à opinião con- aquel~· resulta da terminaçao de um prazo mar-
trária de Merlin, prefere ficar, no assunto, com a cado pela lei para que o interessado, no exercic;o
opini9.o dos que sustentam haver numerosas di- de uma prerrogativa, peça a decretação da nuli-
ferenças entre a decadênca e a prescrição. dade de um ato ilegal, injusto, anormal.
Diz Troplong que a prescrição se funda Não é razoavel que a mulher já deflorada re
sempre numa negligência prolongada durante case como virgem.
um certo lapso de tempo, ao passo que a de- E' ilegal o nascimento de um filho de mu-
cadência pode provir não de uma omissão, mas, lher casada, quando a paternidade não cabe, no
sim, de um fato delituoso e punivel, como aque- caso, ao respectivo marido. Não é normal, do
le pelo qual o devedor decai do benefício do mesmo modo, o ato do menor, que se casa sem
termo quando tem sua faiência declarada, ou o consentimento do seu representante legal. São
quando diminue as garantias do credor. hipóteses essas de decadência.
A prescrição constitue apenas matéria de Se o ato é ilegal, mas envolve, de moào di·
excecão. Ao invés disso, a decadência, bem mais reto, uma questão econômica, o prazo será de
rigorosa em seus efeitos, "pode servir de funda- prescriç9.o e não de decadência .
. mento a uma ação, e opera-se n<J. maioria das Nesta, o fundo econômico poderá existir, mas
vezes de pleno direito". hà de ser remoto, como a realização de um ca-
Ademais - diz Troplong - pode-se, em samento anulavel ou nulo, com o objetivo de fa-
todas as hipóteses possíveis, renunciar à pres- zer jús o interessado a uma herança futura ..
criciio; ao contrário, .nem sempre se pode re- · Na decadência, venficada esta, o ato pode-
nunciar ao beneficio de uma decadência. rá tornar-se inatacavel, uo passo _que, na pres-
E a renuncia da decadência, quando possí- crição, perece o direito.
vel, não se pode fazer senão por um ato no_vo, O cas!<mento, cuja nulidade deixa de ser
que restam;e <?S çlireitos .a~ingidos pela d~caden- pleiteada no prazo de dez dias, eml,ora a mulher
. cia. A re11unc1a a prescnçao nada ma1s e que o não fosse mais virgem ao se casar, fica válido,
afastamento do obstáculo que paralizava a obri- salvo se existir outro motivo de nulidade. Mas,
gação primitiva, restituindo-se-lhe, com a renún- na divida prescrita, desaparece o crédito. Por
cia, o livre curso . aí se vê que há realmente diferença entre pres-
E' do mesmo Troplong: ". . . eu creio que, cricão e decadência.
no fundo, a decadência tem um cm·ater de pe- · Carlos Maximiliano, em notavel trabalho pu-
nalidade mais assinalado que a prescrição; é com blicado em Direito, vol. 1, reconhece flagrante
razão, pois, que a linguagem do direito distin- semelhança entre decadência e prescrição extin·
guiu uma da outra''. tiva. E acrescenta:
Doutrinariamente, sente-se, percebe-se, de "Sobre o critério para distinguir uma da ou-
modo mais ou menos claro, a diferenca existen- tra, reina incerteza na ciência e na lei; pelo
te entre decadência e prescrição, mas, 'na prática, que escritores de nomeada, como Voet e Merlln.
há inegavel confus9.o de uma coisa com a ou- preferiram confundir as duas espécies juridicas
tra. sob a denominação romana ele prescrição". M.a·
Em face do Código Civil Brasileiro, não é ximiliano apoia-se, nessa passagem, em Giorgio
licito distinguir-se a decadência da prescri- Giorgi (Teoriu delle Obligazioni, 7a ed., vol.
ção. VIII).
No art. 178, dispõe o dito Código: "Pres- A Corte ele Ca.ssaçiio de França, que - como
creve: acentua Carlos Maximiliano - é um elos mn1s
§ 1o - Em dez dias, contados do casamen- iluminados pretórios do universo, vacilou, s
to, a ação do marido para anular o matrimônio princípio, no assunto; em 1842, pi'oferiu um
contraído com mulher já deflorada". Aí está aresto de acordo com o pensamento de Merlin.
um caso cláro de decadên~ia, que a lei inclue Os jurisconsultos romanos não estabeleceram
no capítulo: Dos prazos da prescrição. diferença na matéria. No entanto, a diferença é
Tratada como prescriçã:o a decadência, não feita hoje, por meio de exemplos, na doutrina e
é dado ao aplicador da lei separar as matérias, na prática. O próprio Chironi, como jurista mo·
para seguir critério diferente na contagem, por derno, pretenclenclo manter-se fiel ao pensamen·
exemplo, dos prazos. Importaria isso em desu- . to antigo, julgou-se obriga elo a qualificar a pres·
nir coisas, que a lei uniu expressamente. crição tida como decadencia, considerando-a
Merlin, Dalloz, Voet e Dunod ficavam com prescrição especial.
a lei, colocando a decadência e a prescrição no Inclue, portanto, apenas, a clecaclêncla no
mesmo plano, quanto à interpretaçiio jurídica, gênero-prescrição, conceituando-a como espé·
que lhes davam. cie prescritiva.
Separando-se a decadência da prescrição, Segundo Medica, "decadência é o fim da
não se poderá deixar de reconhecer a existência ação por não haver o interessado exercido o di·
ele acôes sem prescrição inicial.
I reito dentro do termo peremptório fixo, estabe·
Bevilaqua, entre casos ele decadência que lecido por lei, sentenca, convencão ou tBstR·
enumera, inclue o que diz respeito ao prazo es- 1nento". · ·
ta belecielo para a contestação ela legi tirnida<le do De conformiclacle com o pensamento de Huc,
filho. O caso é realmente ele decadência, em decrcclência é a perda ele uma faculdade, de nm
face da doutrina. direito ou ele uma açiio, resultante ela só expira·
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20-2-43 ARCHIVO JUDICIARIO (SUPLEMENTO) 79
cão de um termo extintivo predeterminado. O ço por tempo além do tolerado por lei, perdendo
que a caracteriza é, pois, o não repousar sobre o emprego. Houve, em tal hipótese, como que a
uma presunção de aquisição, nem de liberação prescriçio de um direito.
qualquer; multo se assemelha aos prazos proces- Feita a necessária adaptação do exemplo aos
suais. casos que se poderão debater na tela judiciária,
Outros autores, citados, em seu trabalho, ter-se-a uma idéia da decadência e da prescri-
por Carlos Maximiliano, explicam do mesmo modo ção.
a decadência. E' de se reconhecer, porém, que No âmbito da prescrição, há tambem, em re-
nenhum autor conseguiu definir até hoje a deca- gra, um obrigado certo, determinado. Na deca-
dência de forma a extremá-la, claramente, da dência, a relação não é de devedor e credor; não
prescrição. há um obrigado propriamente dito.
Sabe-se o que é. Apresentam-se exemplos E' de Cunha Gonçalves: "A prescrição atin-
de decadência. Mas, - quando se pretende de- ge diretamente a um direito ou uma obrigação
finir a extincão de um direito, em virtude do ou onus real; a perempção extingue pura e sim-
decurso do lapso de tempo necessário à decadên- plesmente uma acão e torna inatacavel o estado
cia do mesmo direito, - n?..o se encontra meio de fato, que é fambem um estado de direito,
de o fazer. contra o qual ela podia ser e não foi exercida.
No começo deste trabalho, dissemos: "Na de- Por exemplo, o art. 107 do Código estabelece
cadência, perde-se a facuLdade de agir no apro- um prazo para o marido impugnar a legitimi-
veitamento de um prazo, para defesa, ou preser- dade do filho nascido na constância do matri-
vacão 'de um direito. m_ônio. Trata:s~ duma perempção da ação, e
• Na prescrição, há o perecimento da ação". nao da prescnçao, porque, dentro de um prazo
Chegamos a essa síntese depois de muita peremptório e improrrogavel, deve ser exerci-
meditação sobre o assunto .. _M:~s somos os J:!ri- da a ação, para ser modificado um estado de
meiros a reconhecer a deflctenc~a de nossa tn- coisas legalmente existente. Não sendo exer-
terpretação a respeito. Seja, porém, como fôr, cida a ação dentro desse prazo, a legitimidade
tem-se, naquela smtese, uma idéia mais ou me- do filho torna-se incontestavel, mas não por
nos aproximada da verdade, na matéria em de- efeito da perempção, pois que ela era antes, e
bate.
- Não se resolve, tambem, de modo com-I continuou a ser depois. um efeito direto do
preceito legal que atribuía o filho ao marido
pleto, a questão, dizendo-se que, n:t decadência, da mãe. Doutro lado, a situacão do filho não
perece o dreito de contrapôr-se o interessado a
um ato injusto, ilegal, porquanto há caducida- era um estado de fato; é claró que o marido
de de direitos em relaç?..o a atos tolerados pela não tinha, antes, o direito de o repudiar;- ele
lei. E', por exemplo, de decadênc:a a perda do só tinha a faculdade de impugnar a sua pater-
prazo de três meses para a celebração do casa- nidade, isto é, uma ação, que ficou sem efeito
mento, a contar do momento em que o oficial pela perempção".
certifica a habilitação dos nubentes. Cunha Goncalves esclareceu bastante, nessa
passagem, - coino se viu, - o que é decadên-
Todavia, é possível dizer-se que, quando a cia e o que é prescricão. Mas, como tantos ou-
decadência fosse de uma ação, esta haveria de tros, acabou por confessar a impossibilidade rle
ter, forçosamente, por escopo, a oposição a um tracar rumos certos entre uma coisa e outra, di-
ato anormal em face do direito, a um ato in- zen-do: "Em todo o caso, vê-se que a dzferencia-
justo, ilegal. Exemplos: o prazo de dez dias para ção entre a prescrição e a caducid.c•:le da ação ê
o marido anular o matrimônio contraído com um problema que tem agitado os doutrinários''.
mulher já deflorada; o prazo de dois meses para Da licão de Cunha Goncalves, deve-se con-
o marido contestar, por meio de ação, a legiti- cluir não' interessar a decadência, diretamente,
midade do filho de sua mulher; o prazo para a ao ato princípal, ao direito propriamente dito.
ação do pai, tutor, ou curador, com o fim. de Só indiretamente é que a ação, objeto de deca-
anular o casamento do filho, pupilo,' ou cura- dência, aniquilaria o ato principal, o direito em
telado, contraído sem o consentimento legal. substãncia. Com a prescrição, já não ocorre a
Não é de se desprezar, de todo, o C):itério mesma coisa, porquanto ela se entenqe direta-
econômico, para se diferençar a decadência da mente com a obrigaçio, golpeando, de modo
prescrição. · completo, o cerne do direito.
Na decadência, náo há, em regra, fundo eco- A decadência como que se dá em relação ape-
nomico. E, se existe, é apenas vago, problemá- nas a um incidente do ato jurídico. A prescrição,
tico, remoto. Ao contrário disso, a prescrição pelo contrário, opera-se com referência ao pró-
diz respeito a uma ação, que envolve, direta ou prio ato. Por outro lado, a decadência é s~mpre
indiretamente, uma questão econômica. inicial; ela não se verifica no correr da ação,
Na decadência, perdida a faculdade de agir, como sóe acontecer com a prescrição, que é um
subsiste, em regra, o ato, que poderá continuar perigo judicial iminente em todas as fases do
interessando àquele gue perdeu o respectivo pra- processo, podendo alcançar até mesmo a exe-
zo. Na prescrição, e exclui do, na maioria das cução.
vezes, da relação jurídica, o que deixou a ação A decadência é o não aproveitamento de um
prescrever. O credor, cujo crédito foi atingido prazo especial, isolado, independente, para se
pela prescrição, deixa de ter a seu. favor uma opôr alguem à consolidaç§,o de uma situação ju-
relação jurídica, que a ele mantinha subordi- rídica, que poderia ser inquinada de nula, que
nado o devedor. Mas o pai, que não contestou, poderia ser atacada pelos meios regulares, des-
no pra?.o legal, a ilegitimidade do filho de sua fazendo-se. A prescrição é coisa diferente: corre
mulher, continua, por lei, a ser havido como parelha com a acão, fica como que em estado
Progenitor do filho em questão. latente, à espera· apenas do decurso de certo
A prescri.ção exclue. A decadência mantem, tempo, para extingui-la, aniquilando o direito,
~ob o ponto de vista das relações jurídicas. a obrigação.
Poder-se-ia, quiçá, admitir-se para exemplo, O cerne das relações obrigatórias é atingido,
e somente para exemplo, a seguinte hipótese, diretamente, pela prescrição. A decadência ope-
para melhor compreensão do assunto: nomeado ra-se de modo diverso, pois só indiretamente é
u~ funcionário público, tem ele, no máximo, 30 que ela interessa à substância do negôcio ju-
dtas, para tomar posse do cargo. Ele deixa que rídico.
se escôe o prazo, sem que se em posse no cargo. No exemplo citado do filho ilegítimo. a si-
O seu direi to caduca. Desse modo, verifica-se, tuação principal é a da legitimidade da paterni-
no caso, a decadência de uma prerrogativa, que dade, presumida por lei. O interessado poderia
era a de se empossar no cargo. O funcionário, impugnar aquela legitimidade. Mas, como perdeu
todavia, assume o lugar. Depois, falta ao servi~ o prazo para o fazer, a paternidade continua as-
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80 ARCHIVO JUDICIARIO (SUPLEMENTO) 20-2-43
segurada por lei. Do mesmo modo, o casamen- Luiz Carpenter não concorda com Alfrect
to realizado com mulher já deflorada. O ato Jourdan, quando este afirma ser confusa a si-
principal é, fóra de dúvida, o casamento. O fato tuação reinante, quanto aos característicos di--
de se ter casado a mulher já desvirginada é um ferenciais da ·decadência e da prescrição. Escre-
incidente do contrato matrimonial. Decorrido o veu o tratadista brasileiro: "Não tem razão o
prazo de dez dias marcado por lei, caduca o di- Ilustre professor. Porquanto, nem a teoria do.
reito de pedir\ o marido a anulação do casa- prazo extintivo está por construir; nem é obscura
mento. a diferença entre prazo extintivo e prescrição;
Se, porém, prescreve uma divida, nada mais nem se controverte sobre o ponto de saber se·
restará da relação jurídica, que existia entre as regras da prescrição se aplicam aos termos
devedor e credor. extintivos.
Há casos, porém, em que o jurista vacila ao Com efeito, em primeiro lugar, se encontra..
determinar .se a hipótese é de decadência ou de bem exposta, nos autores, a teoria dos prazos.
prescrição. Verbi gratia: o prazo para o doador E para prová-lo, nem ê preciso sair da França••.
revogar a doação, contll.do o mesmo prazo do dia Cita, então, Carpenter, em nota, o autorizado.
em que ele souber do fato, que o autoriza a re- Planiol, que cogitou largamente do assunto. Mas
vogá-la. Há, aí, caracteres tanto da decadência, prossegue o mesmo Carpenter: "Em segundo lu-
como da prescricão. O fato de ficar de pé o ato, gar, claríssima li a distin9ão entre prazo extinti-
se caducar o díreito de pedir a decretação de vo e prescrição l!beratoria. O prazo extintivo
sua invalidade, é característico da decadência. aniquila direitos ou faculdades (!acultates C!gen-
Mas a existência de um réu certo, determinado, di, isto é, direitos no sentido subjetivo), ao passo.
e o fundo econõmico do pedido representam ele- que a prescrição liberatórla aniquila ações. Não
mentos que caracterizam, de certo modo, a pres- tendo nascido a ação, isto é, não tendo o titular.
crição. Além disso, a ação, no caso, visará o ato um direito exigível, ajuizavel, será erro falar de
principal (doação). Não obstante isso, parece ser prescrição.
de decadência o caso, porque, à caducidade do A prescrição liberatória é na verdade um
direito de pedir a anulação da doação, subsiste prazo, e um prazo extintivo. Não, porém, um
o ato com todo o aspecto de validade. Em nosso prazo extintivo de direitos ou faculdades, sim,
entender, é. a subsistência do ato, que continua um prazo extintivo de ações,
produzindo efeitos jurídicos, o melhor meio de Em terceiro lugar, finalmente, tendo a pres-
diferenciação da prescrição e da decadencia. Na crição l!beratória, de comum com o termo ex-
prescrição, não subsiste ato algum, porque ela tintivo, o fato de ser um prazo, as regras legis·
como que passa uma esponja sobre a obrigação, lativas que a disciplinam no carater ou aspecto
apagando-a, fazendo-a desaparecer de todo, ex- de prazo, são apl!caveis ao termo extintivo, v. g.,
tinguindo-a por completo. as regras sobre a contagem do tempo.
Prescreve o art. 75 do Código Civil: "A todo Não assim quanto às regras legislativas que
o direito, corresponde uma ação''.· Assim, quem disciplinam a prescricão l!beratória no carater ou
tem um direito representado, por exemplo, por aspecto peculiar de instituto cuja função ou des-
uma nota promissória, dispõe da ação competen- tino é extinguir ações". (Da Prescrição, pá·
te, para cobrar o título. Essa mesma ação está gina 77). .,.
sujeita à prescrição. - De t_udo o que ficou exposto, é de se re-
Quem se casa, não adquire, porém, um di- conhecer nao ser isenta de duvidas a matéria,
reito a que corresponda uma ação. Mas, corno o porquanto as opiniões doutrinárias não se har·
casamento pode ser nulo ou anulavel, por cer- monizam a respeito, e a lei (Código Civil Bra·
tos e determinados motivos, a lei dá à parte in- sileiro) não distingue entre prescrição e deca-
teressada a faculdade de agir para invalidá-lo, dê1Wia, disciplinando uma coisa e outra por
sob pena de, não o fazendo dentro do prazo meio das mesmas regras, e chamando mesmo de
prefixado, tornar-se inatacavel o ato. O caso é, prescrição à decadência. Diz-se que a prescri·
pois, de decadência. O assunto continua, toda- ção liberatórla põe termo a ações, aniquilando-as,
via, obscuro, duvidoso, sem possibilidade de uma ao passo que a decadência extingue direitos ou
definiçãc> clara, segura, positiva, a não ser a cer- faculdades. Mas é sabido que, pela jurispru·
teza de que, na decadência, o prazo em regra se dência dominante, o prazo de cinco anos faz
escõa de acordo com a deliberação de rtão agir prescrever a promissória vencida, quer quanto
do interessado ao passo que, na prescrição, não à ação, quer quanto ao próprio direito. Por ou·
existe, no comum, deliberação e, sim, negligên· tro lado, a lei fala em ação e não em taculdi:!d(}
ela. ou direito, quando marca o prazo de dez dias,
A decadência poderá resultar de uma como contados do casamento, para o marido promover
que opção entre a' conveniência de agir·e de não a anulacão do matrimõn!o contraído com mulher
agir. já deflorada.
O professor Alfred Jourdan se externou da Não há um critério legal, único, preciso, de·
seguinte forma, a respeito da matéria em apre- f!nido, para se dizer, com segurança: este J?r~zo
ço: "Ao lado da prescrição extintiva se encontra é de decadência, e aquele outro, de prescnçao.
no direito francês a instituição muito menos im- Que· é decadência? Tente o jurista defin!·lR,
portante dos prazos prefixados. A teoria destes sem exemplificar, e extremando-a, ao mesmo
está longe de ser perfeitamente construída; se tempo, da prescrição, para ver se o conseçue.
parece haver acordo em distinguir a pres- Parece-me, contudo, aceitavel o critér_io da
crição extinta dos prazos prefixos, os critérios subsistência do ato, em relação à decadencia.
propostos carecem de precisão e acerca de quasi · Se a ação não é l?roposta dentro do. J?razo
todas as regras de prescrição se controverte so- legal, o ato ficará de pe, continuando a ongmar·
bre o ponto de saber se se aplicam aos termos se dele efeitos jurídicos. Na ptescrição, d~-se
prefixos". justamente o contrário: desaparecem o~ e!~
Carpenter, em seu . conhecido livro - Da obrigacionais, com o aniquilamento da açao. E
Prescricão, diz, numa das suas notas: "No Drzw- claro que, assim nos expressando, temos em vis·
NARIO prático del diritto de Scialoja, o Instituto ta a decadência e a prescrição dentro do terre·
da decadência foi 'tratado por ToMMAso Srcr- no do direito civil. _
LIANI, que, aliás, nas oito extensas colunas que E' de se ter em vista que, com a prescriçao,
lhe dedicou, nada teve de claro, nem de satisfa- se beneficia, economicamente, uma das partll!'•
tório". com a exclusão da outra, pelo desaparecimen·
Carpenter observa, porém. ser digna de men- to de quaisquer élos obrigacionais entre ela~.
ção a bibliografia dos autores italianos, que tra- Uma das partes interessadas é afastada do neg •
taram da decadência. cio pela prescrição.
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20-2-43 ARCHIVO JUDICIAIUO (SUPLE~lENTO) 81
Na decadência, aquele que perdeu o direito meditação por parte dos juristas, que disponham
de agir, poderá continuar ligado ao ato, ao ne- ele aguda penetração intelectual. Quanto a nós,
gócio, ao assunto, ao contrato, ou ao fato juri- só nos foi dado fazer trabalho de exposição,
dico. aventando hipóteses e tentando ver onde tudo·
Escrevendo as presentes linhas, não tivemos é mais ou menos obscuro e confuso. Mas, pen-
o objetivo de cortar as dúvidas existentes na samos, nada vimos que ainda não houvesse sido
matéria. Nem poderiamos tê-lo, porquanto a visto pelos que já se dedicaram ao estudo da
outros mais capazes, pela inteligência e pela cul- matéria. Póde ser, todavia, que, com o presente
'tura, ainda não foi dado, até hoje, traçar rumos trabalho, concorramos para despertar o interesse
definidos entre coisas tão afins, sob o ponto de de outros juristas, que venham em auxilio do·
vista principalmente legal. O que' objetivamos, esclarecimento do assunto. Já ficariamos satis-
no caso, foi contribuir, de qualquer modo, para feitos com esse resultado de nosso modesto con-
o maior debate do assunto, digno de profunda curso ao estudo da 'decadência e da prescrição.
(91)
PELOS DOMÍNIOS DO DIREITO
PELO
l
E' próprio de toda atividade humana ter nha, paralelamente, a possibilidade de encon-
um sentido, um rumo. e uma finalidade. O trar acolhimento e guarida perante os orgãos
homem precisa ter sempre a noção conciente judiciàrlos que vão dela tomar conhecimento.
do que faz, dos meios com que age, e da obra 1 O advogado ex-o[jicio, para poder agir, deve
que realiza. E' que, entre todos os seres cria- contar, a um tempo, com a confianca do
dos, ele é o único que dispõe de razão e de seu cliente. e a eficácia da sua defesâ. Nos
liberdade. processos políticos, então, estes dois ele-
Não o satisfa.z, por isto, de maneira com- mentos sobem de Llnportância principalmen-
pleta, a ação que se funda tão somente no há- te quando entre cliente e patrono não hi
bito ou no pragmatismo. Esta, no fim de certo identidade de idéias, e quando, - o que é, ain-
tempo, o !.atiga· !J€la sua vulgaridade e aridez. da, mais delicado e grave, o cliente não
Em ve:~; de ser, assim, instrumento de pro- acredita, - fundada ou iüfundadamente - ,
gresso e aperfeiçoamento, individual e coletivo, na imparcialidade e serenidade dos Tribunais
uma tal atividade se torna. pelo contrário. melo que o vão julgar. Em semelhante conjun-
funesto de atrazo e degradação. tura, não nos parece leal, honesto, e justo que
Para fugir a esta consequênc!a corruptom, o advogado, preterindo, insensivelmente, as deter-
a ação humana, na multiplicidade in!!nlta das minações categóricas do seu cliente e:rJ-0//icio,
suas formas, não deve, então, perder Jamais insista em apresentar uma defesa que não este-
de vista o sentido. o rumo, e a finalidade da ja em harmonia perfeita com o sentir intim0
profissão de que ela é a legitima e autorizada do acusado. Oferecer a um tribunal político
manifestação. alegações de defesa que nãci correspondam à
vontade exj:Jressa do acusado, constitue, no nosso
Aplicada à defesa ex-ojjicio, esta orientaçao modo de ver, um .atentado à dignidade da
to~na particularmente delicada a posição do pa-
pessoa dele, o que está em oposição manifesta
trono que é indicado para fazê-la. A atuação
dele, no exercido de tão nobre função, tem de com os preceitos da Justiça. Foi por pensar
visar, sempre, e necessariamente, uma obra de assim, que deixamos de oferecer, perante o
indefectível Justiça. E' através desta que os Tribunal de Segurança Nacional, quaisquer ra-
interesses individuais legítimos do acusado se zões de defesa em favor de Luiz Carlos Prestes.
harmonizam e se integram na corrente cauda- Para explicar e justificar, quer aos juizes desse
losa do superior interesse coletivo. O advogado Tribunal, quer à opinião pública brasileira, como
ex-otjicio não pode, assim, no exercicio da sua era do nosso dever, semelhante procedimento,
profissão, atender tão somente os interesses do dirigimos, leal e respeitosamente, rm 29 de Janei-
·seu cliente, mas deve, simultaneamente, zelar ro de 1937, ao Juiz Dr. Raul Campello Machado,
pela intangib!lidade do Interesse coletivo. Para a seguinte petição: "Tanto que recebeu de V. Ex.,
que ele possa agir, nobre e eficientemente, den- e por indicação anterior do Conselho da Ordem
tro da realidade palpavel dos imperativos inde- do"' Advogados da Secção deste Distrito Fe-
cl!nave!s da Justiça, e alheio aos artificiallsmos
vastos de uma atitude de pura formalistica pro- I deral, a nomeação ele advogado ex-ojjicio do
cessual, é necessário que a sua d·efesa. refletin- acusado Lulz Carlos Prest"s, o Suplicante pro-
do, nos seus desenvolvimentos fundamentais, os j curou e conseguiu com este ter livre comuni-
pontos de vista doutrinários do seu cliente, te- cação.
(93)
84 ARCHIVO JUDICIARIO ( SUPLE:\lENTO) 20-2-43
Avistando-se, assin1, com o seu cliente, o , " eu nfto julg-o que o advogado possa ser·
Suplicante c\ele ouviu a declaração, formal e obrigaelo a prestar o seu ministério ... quando
categórica, de que repelia qualquer defesa, que o cliente o recusa obstinadamente (o que tem
seria por ele futuramente desautorizada, caso acontecido), quer na audiência, quer nas co-
fosse apresentada. Acrescentou, então, que to- munlcaçôes anteriores. A lei concede um de-
talmente segregado do convivia humanu, sem fensor s.o acusado, mas não lh'o impõe. Alem
o mais longinquo contacto com o mundo ex- disto, se o desinteresse exige que o advogado
terior, Impedido de fazer quaisquer leituras se devote à defesa do pobre, ele isto não exige
tanto de jornais quanto de livros, não dispondo em face da recusa deste último, que tem tam-
d-e papel, lapis, ou caneta, e cercado só de po- i bem h sua independência". E logo abaixo, es-
lwials, nãq aceitava a apresentação de uma de-~ clarece este consagrado codificador dos costu-
fesa, que, nesta conjuntura, não pode ser con- mes, regras e deveres do advogado (Ibid., pá-
slcterada ntm ampla, nem livre, nem indepen- gina 80): "O Conselho tem todavia decidido·
dentt. Alem disto, - exclamou ainda - , se o que, em todas as causas criminais, o advogado
Senador Abel Chermont, apezar de suas imuni-· nomeado de ofício será obrigado a comparecer
dades parlamentares, foi preso só por ter re- e a permanecer na audiência, até a leitura da.
querido um habeas-corpus a favor de Berger, sentença, pois o acusado pode mudar de re-
camo admitir-se que outro advogado, que não solução, e a ele recorrer",
goza de tão altas garantias, possa usar livre- Estes preceitos não variaram até hoje. um·
mente da palavra, e empregar os meios ade- dos mais recentes tratados sobre a profissão·
quados a uma defesa eficiente? de advogado (Payen et Duveau - Les regles de
Ora, o Suplicante não pode, não deve, e la projession d'avocat - pág. 209), prevendo
nem quer desatender às determinações, para expressamente o caso, confirma, em todos os
ele sagradas e respeitaveis, de Luiz Carlos Pres- pontos, as decisões da tradiçãv. Eis como, a
tes. Não oferecerá, por isto, defesa prévia, li- respeito, se pronunciam estes autores: "Pode·
mitanclo-se a ficar à disposição do mesmo acontecer que o Indiciado, sem escolher ele
acusado, para, em qualquer tempo, e caso mude, próprio um advogado, recusa 0 que lhe foi in-
ulteriormente, de deliberação, intervir em favor dicado. Este deve, então, pedir ao bastonário·
dele· que designe um dos seus confrades. Se, no úl-
Assim agindo, conforma-se o Suplicante tlmo in:;tante, o indiciado proibisse ao advo-
com as tradições e a prática imemoriais da sua gado de pleitear, este deveria de se abster, mas.
profissão. como passa a mostrar, escudado em deveria assistir à audiência".
fontes autorizadas. Na verdade, examinando a
hipótese, ora em apreço, Saillard (Le rôle de Tais são os usos e costumes ela profissão,
l'avccat en rnatiére crirninelle - págs. 225-226),
quando um dos seus orgãos tem diante de si
esclarece: "Vimos, que, em certos casos, o acusa- um réu de crime comum, que está .sendo pro-
do ou o indiciado deve de ser provido de um cessado na forma da legislação normal, il peran-
defensor, na audiência, sob pena de nulidade. te um Tribunal ordinário.
ainda mesmo que ele não tivesse teito o pe- Mais delicada, porem. se torna para o advo-
dido, ou que recusasse a sua assistência: qual gado ex-ojjicio a sua situação, já de si difícil,
é, nesta última hipótese, o dever do advogado? quando ele tem de agir perante um orgão ju-
Foi decidido, por ocasíào do processo da diciário, que, alem de se afastar de todas as
alta Corte de Bourges, que bastava, para o tradições da vida jurídica do país, contraria.
advogado, escrever ao seu cliente na véspera na sua organização, toda a sistemática da le-
ela audiência, afim de lhe proporcionar a opor- gislação penal comum, como é o caso deste·
tunidade de aceitar ou re-cusar o seu ministé- Tribunal de Segurança Nacional, e da forma
rio; a isto se limita o dever do detensor. processual nele seguida.
Nós preferimos a solução inversa, admiti- Na realidade, tudo, na criação e regulamen-
da por quasl todos os autores, pela qual o tação definitiva deste Trilmpal, é de molde a
advogado designado deve de assistir até o fim inquietar aos que, como os advogados, teero o
os debates; se o seu cliente não lh'o permite, dever de pugnar intransigentemente pela li-
ele deve guardar o silêncio; mas, desde que ele berdade ampla da defesa. Pois, sem falar no
recebe a sua missão da lei, deve, por conside- direito outorgado aos Juizes de realizarem ses-
ração a ela, continuar junto do acusado a sua sões de julgamento, dentro dos próprios presí-
assistência material". dios (art. 49 elo Regimento Interno}, fora das
Idêntica é, a este respeito, a lição de Cres- vistas ela opinião pública (arts. 73 e 74 do ci-
son ( Usages et regles de la projession d'avocat tado Regimento); sem aludir ao arbítrio dado-
- vol. 1°, pág. 364): "Recusa· o acusado o aos Juizes Preparadores de secionar a instru-
advogado que lhe foi indicado por uma nomea- ção elo processo em tantos atos judiciais au-
ção de ofício? Proíbe-o de pleitear? O defensor tônomos quantos forem os réus, ou grupos dll'
não rode deixar de comparecer à aucliência; ele réus que entenderem de formar (art. 57 dO
deve acompanhá-la; mas tem o direito de se Regimento citado): urge focalizar a proscrição
abster ele pleitear". absoluta elo exercício da palavra oral da de-
Outra gr~ncle autoridade na matéria, Mollot fesa, por ocasião elo julgamento, estabelecentlo-
( Réglcs âc lct projc>ssicn d'arocat - vol. 1°, SP. entretanto, uma situaçào privilegiada para;
púgs. 79-80) se pronuncia no mesmo s3ntido: o orgfto ela acusaçào, que, ante a defesa amorda-
(9i)
20-2-43 AP.CHIVO JUDICIAP.IO CSUP LK\IENTO)
çada, poderá falar. desembaraçadrrmente e sem um sentido, rumo, e finalidade que não se se-
peias, a título ele esclarecer o seu parecer emi- parmn, jamais, das exigências incoercíveis da
tido nos autos (art. 86 do citado Regimento) . Justiça, pareceu-nos que, por se tratar de um
Acrescente-se a tudo isto a clrcunstáncla processo substancialmente político, para a ins-
de que o processo é de inequívoco carater po- tauração e julgamento do qual fora criado um
lítico, para que se tenha, desde logo, a noção Tribunal Especial, e ·estabelecido um rito pro-
exata da posição extremamente grave do Su- cessual todo particular, não nos era licitei, sem
nlicante em face de Luiz Carlos Prestes, que ofensa às leis da Justiça, contrariar a vontade ex-
insiste na deliberação, jã manifestada a V. Ex., pressa do nosso cliente ex-ojjicio. Insistindo ele,
de nãD se defender. em termos enérgicos, em não confiar no acerto
Aliás, dentro dos postulados sociais que o do julgamento a que la ser submetido, não ti-
acusado esposou. não é de extranhar este seu nhamos argumentos para vencer e dobrar a sua
procediment<J, que é aconselhado e sugerido obstinaç!l.o, dadas sobretudo as condições difíceis
por Lenin e ( Oeuvres complétes - Edits. So- dentro das quais se movia a Defesa. Se. fechando
ciales Internatwnales, vol. XXI. pág. 36), atra- os olhos a esta realidade dura e penosa, teimas-
ves desta ponderação: "Os Tribunais são orgãos semos em· desrespeitar a vontade do nosso clien-
do poder. Os liberais esquecem-no algumas ve- te ex-ojjicto, apresentando uma defesa ampla-
zes. o marxista não o deve esquecer nunca ... mente justificada. e o Tribunal de Segurança Na-
A ditadura militar age. Seria, então, rid!- cional viesse a rejeitá-la, totalmente, .,Jla sua de-
culo falar neste caso de "Tribun:iis" regulares. cisão final, Luiz Carlos Prestes poderia entrar a
Não se trata de "justiça", mas de um episódio suspeitar da nossa lealdade, e a não acreditar
ele guerra civil. Os partidários· do compareci- mais na correção e lisura dos advogados brasilei-
mento diante dos Tribunais erram em não que- ros. Teríamos, com efeito, em semelhante hipó-
rer compreendê-lo ... O de que o poder precisa, tese, dado a impressão ·de que, longe de o ampa-
n!l.o e de um processo, é de perseguição dos rar, como o exigia.m os nossos deveres profissio-
mternaclonallstas. Prendê-los e guardá-los sob nais, hav:iamos, pelo contrário, desrespeitado as
cnaves, e'ls o que é preciso ... ". justas suscetibilidades da sua dignidade pessoal
Nestas condições, o que o dever proflsslo- de criminoso politico. Poderia, então, julgar, que
ual lmpOe ao Suplicante, como advogado de fôramos postos junt<J dele, não para defender oo
Luiz Carlos Prestes, é a obrigação formal de seus direitos, mas para legalisar tristes e in-
se manter dentro do mais absoluto silêncio, em justificadas capitulações.
race do processo que lhe está sendo movido Passadas, jâ. e para sempre, estas nossas
neste Tribunal de Segurança Nacional. horas de indescritível agonia, e inquietação,
Requerendo a juntada da presente aos res- resta-nos, agora. a convicção consoladora de
{J€ctlvos autos, para que deles tique constando que foi esta atitude austera e leal que veio
a deltberaçlto que o Supllcante adotou, e da revciar ao nosso cliente ex-ojjicio que, entre
qual, nesta data, dá conhecimento ao Presiden- os juristas brasileiros, a advocacia tem um sen-
te do Conselho da Ordem dos Advogados da tido partiCularmente nobre, porque para eles o
Secção deste Distrito Federal, P. Deferimento". exercic!o dela Implica a a.sS<>Ciação íntima e
Agindo desta maneira, preenchemos, com !J€rieita entre os direit<Js legítimos do cl!ente e
sinceridade e dignidade, o nosso arduo dever. os direitos, não menos sagrados, de toda a co-
Não foi por tibieza, comodismo, ou falta de letividade. Recusando-nos a defender Luiz Car-
visão que guardamos, nessa época que já los Prestas, nas condições apontadas na peti-
vai longe, perante o Tribunal de Seguran- ção de 29 de Janeiro de 1937, quizemos dar
ça Nacional. o mais intransigente silêncio uma demonstração não somente ao nosso clien-
no que se referiu à defesa propriamente dita te ex-ojjicto, mas tambem a todos os nossos
de Luiz Carlos Prestes. Os moveis que nos contemporâneos, de que a advocacia só se tor-
inspiraram toram, pelo contrârio, de natureza na respeitavel quando, no seu exercício, ela,
a mais elevada e superior. Mantivemo-nos ca- por amor dos interesses sociais, não esquece nun-
lados, nessa conjuntura grave, não porque so- ca a dlgnid!l.de pessoal dos acusados. Só assim é
mos defensores intransigentes da orr:Zem christã. que ela tem urn sentido, um rumo, e uma fi-
que é o oposto cta revolução comunista, mas nalidade verdadeiramente moraiS e dignifica-
porque não podíamos dar ao nosso adversário doras, porque só a&_sim é que ela desempenha
de idéias, e a pretexto de o defender, a impres- a sua superior função de instrumento digno e
são de que não eramos capazes de cultuar a eficiente aa Justiça serena, impa,rcial, e sobe-
lealdade. Por exercermos a advocacia dentro de rana, no seio das nações civilizadas.
(95)
O REGULAMENTO _DA ORDEM
DOS ADVOGADOS
PELO
o Regulamento da Ordem dos Advogados E' um trabalho de alto mérito que se inspi-
está em v esperas de sofrer nova reionna. rou, principalmente, nas organizações do Chile e
A iniciativa nesse sentido foi tomada pelo do Uruguay.
próprio Conselho Federal, e, sem dúvida, ela me- A criação do Colégio de Advogados, com fei-
.rece aplausos. ção legal, na Argentina vinha encontrando obs-
A instabiildade da lei diminue-lhe o pres- táculo numa querela acadêmica. Garantindo a
tigio; perturba o seu perfeito conhecimento. constituição daquele pais, a liberdade do exer-
Mas, o Regulamento da Ordem se apresenta ele cício das profissões - uma corrente se formou
tal maneira, que não há como concordar na sua - para impedir a existência do Colégio, o qual
revisâo. "tolheria essa liberdade".
Antes de mais nada, poderiamos dizer que Argumento t§.o inconsistente não poude pre-
a comissão encarregada desse trabalho procederá valecer e n0.o durou n1uito. Entret·.1nto, os Srs.
com acerto si restaurar um hábito antigo, no Rcdolfo Moreno e Vicente Solauo Lima na justi-
campo ela legislação, submetendo a reclaçiío elo ficaçc'\o elo p·ojeto que traçaram, ocuparan1-se
ante-projeto ao exame ele um filologo. clEm2Eiaclo na refutação clessa opinião, deixando
Desprezada essa praxe, como tem acontecido, transparecer assim ligeiro temor pela resurrei-
justamente quanelo mais necessária ela se torna ção ela celeuma.
pela elaboração-relãmpago elas leis, não será ele Falharam, já, acentuam aqueles juristas nu-
estranhar que, na redação destas, fosse crescen · merosas tentativas de dar forma legal aos colé-
do o número de hiatos, solecismos, barbaris- gios de advogaclos. Agora, entretanto, parece des-
mos, discordâncias, etc. tinado a feliz resultado o esforço para elj.Se fim.
O Regulamento da Ordem sofre desses "res- 1\fas o que interessa para nós é, principal-
friados" e de males ainda mais graves. Altera- mente, divulgar os pontos mais interessantes do
do por sucessivos decretos, a sua inteligência às projeto.
vezes, terna-se clificil com dispositivos que se Entre as finalidades estabelecidas para o
repelem. Colégio, existen estas:
_ Veja-se, por exemplo, o que sucede em rela- "Colaborar em estudos, informações, proje-
çao ao voto. tos e trabalhos que os poderes públicos lhes en-
O decreto n. 24.784, ele 14/2/931 dispunha: carreguem, sejam ou não gratuitos. yuer se re-
"o voto é obrigatorio em tbda eleição, sal'Go doen- firam à profiss<to ela advocaci:-t. à ciência do di-
ça ou ausência compTOv~....'ta. reito, à investigação de instituições jurídicas e
Mais tarde, em 1934 o decreto n. 24.631 ins- sociais".
tituiu o voto por correspondência. Desde então, "Institui a béca e prêmios de estimulo para
o advogado pode votar de qualquer lugar em que os seus membros pela. especialização em estudos
esteja, remetendo o seu voto pelo Correio. jurídicos que os tornem merecedores dos mes-
. A ausência n§.o deveria, pois, continuar a dis- nlos''.
pensar o advogado da obrigação ele votar. Aceitar arbitramentos e responder a con-
Entretanto, pelo Regulamento, o advogado sultas".
ausente está dispensado de votar (art. 62) Esta última atribuição inspir[t-se, evidente-
quando o ~ 10 diz que o ausente pode votar por meer.e no que ali jú vem sendo praticado; os co-
correspondência. légios podem desempenhar o papel de arbitras
A antinômia é evidente, a menos que se quei- nas pendências de honorários entre cliente e
ra afirmar que o voto é jacultativo para os acl vo- advogado e fazen1 até oferecimento nesse sen-
gados ausentes. tido.
O nosso propósito, entretanto, não é o de As sanções disciplinares aplicam-se, entre
apontar defeitos no que existe, mas o de forne- outras, por estas causas: perda, por indgnicta-
cer elementos para o trabalho novo, em pers- cle, da cldadimla; condenação criminal. qualquer
Pectiva. ação de natul'eza püblica ou prh·ada que com-
Parece-nos, asSim de grande oportunidade pron1etJ. a honra e' n dig-nid:1dc cio ~lc1,'ogado.
~ar a conhecer alguns clisposi ti vos elo projeto ele Percebe-se. o qur111 w é Y:1sto o campo em que
il que, em Agosto último, os eminentes Drs. o Tribunal ele Disciplina exerce o "controle" so-
t'Odolfo Moreno e Vicente Solano Lima apresen- bre o advogado. A sua aç:1o niío está circunscri-
ararn para a organização legal dos colegios de ta apenas pelo exercicio profissional, mas se es-
advogados, na Provincia de Buenos Aires. tende a qualquer açi\o privada.
(97)
88 ATICI-IIVO JUDICIAniO (SUPLEl\lENTO) 20-2-43
Dispositivo de inegavel vantagem e que já , Mn.s, o que depencle ele interpretação não é
se encontra no Regulamento da Ordem de Paris, pacifico.
é este: Torna-se, indispensavel, portanto, um art!·
"Sem prejuízo da medida disciplinar o advo- go de lei outorgando só aos advo2,'ados aquela
gado culpado poderá ser inhabilitado pelo Tri- faculdade.
O projeto argentino consigna um prazo de
bunal Disciplinar para participar do Conselho oito anos de exercício da profissão para que o
Diretor, por prazo até 8 anos". advogado possa pertencer ao Conselho.
O projeto do Dr. V. Sol ano Lima resolve um E' bem maior que o interstício de cinco anos
assunto, ainda objeto de discussão entre nós fixado pelo Regulamento brasileiro.
quando estabelece que "a função de advogado Como se vê, há artigos do projeto platina
compreende: as consultas verbais ou escritas". que merecem atenç·lo e estudo da parte dos dou-
tos membros da Comissão a que o Conselho Fe·
O decreto brasileiro n. 4. 033 de Outubro deral da Ordem outorgou o encargo de estudar a
admite uma interpretação, a contrário senso, de reforma do Regulamento da Ordem.
que é prerrogativa dos advogados responder a
consultas e dar pareceres. S. Paulo, 18 - Dezembro - 1942.
Efeito suspensivo das apelações
nos inventários
1. Código de processo civil, arts. 509 e 510. 2. Direito anterior. 3. Fonte
dos citados arts. 509 e 510. 4. Conclusão de Candido Naves. S. Emenda
para peor. 6. Retardamento do inventário. 7. Cautelas do Código de
processo português, dignas d~ serem incorporadas à nossa legislação.
8. Mãos à palmatória . . .
PELO
outras leis suspendem as execuções as mais pri- diz CANDIDO NAVES '(7): "Segundo O projeto, arts.
vilegiadas. Com esta generalidade entendem 656 e 657, desde que fosse julgada a partilha.
muitos a cit. Ord.; outros, porém, e com muita deviam ser entregues aos herdeiros os bens, que
razão, fundando-se em que as leis devem en- lhes coubessem. Para extração, todavia, do for-
tender-se em termos habeis e de maneira que se mal deveriam os herdeiros aguardar que a sen-
não sigam absurdos, excluem os embargos de nu- tença transitasse em julgado. O Código reuniu
lidade e de paga, para provados incontinenti, e na em um só os dois artigos, e sómente autoriza a
forma do Assento de 6 de Março de 1790. E, com entrega dos bens após transitar em julgado a
efeito, não seria uma notória injustiça obrigar-se sentença de julgamento da partilha. Restabele-
o cabeca de casal, ou qualquer dos herdeiros, a ceu-se, desse modo, a dispos1çw do livro 4o, ti-
entregâr a outro uma coisa que já recebeu, e de t~lo 96, § 22, das Obrigações do Reino, que assim.
cujo recebimento se apresentasse um titulo le- dispunham: "E sendo a partilha acabada. se·
gal? Não seria uma incoerência constranger o meterão os herdeiros de posse de seus quin!lões,.
cabeça de casal a fazer entrega dos bens, apre- conforme as cartas de partilha, que lhe forem
sentando ele uma sentença que julgou nula a passadas, sem embargo de quaisquer embargos,.
partilha? Estou, portanto, persuadido de que a com que as outras partes a isso venham. Nem
cit. Ord., apesar de sua generalidade, não quis se impedirá a dita posse e entrega, posto que as
excluir os embargos de nulidade e de paga, e ditas partes apelem, ou agravem das ditas par-
que tanto uns como outros devem receber-se tilhas". -
suspensivamente, oferecendo-se logo com eles Penso, data venia, que não houve tal res-
uma prova terminante (GUERREIRO, Trat. 2. 0 , tabelecimento e que, em vez de ter sido a dita
Liv. 8°, Cap. 3, n. 1, e Cap. 6, ns. 2 e 3)". Ordenação restabelecicta, foi implicitamente re-
Cessa a obrigação de entregar os bens - vogada. Basta o confronto entre os dois textos.
observava SouzA SEcco (6) - nos casos se- 5·. Emenda para pior. O Código vigente fun-
guinte diu, no art. 509, os arts. 1.007 e 1.008 do Código
10, aos co-herdeiros maiores, que tiverem mineiro, acima transcrito (n. 3), com a única.
aceitado a beneficio de inventário, enquanto não diferença de que, segundo o art. 1.007, "julgada
prestarem fiança idônea, pela restituiçio dos bens a partilha", eram entregues aos herdeiros os
aformulados. Dec. de 18 de Maio de 1832, bens que lhes tocassem, conforme a Ordenação
art. 20. referida, ao passo que o citado art. 509 sómente
2°, aos co-herdeiros, dos bens que lhes fo- autoriza a entrega dos bens "depois de passada
ram adjudicados para pagamento de dívidas pas- em julgado a sentença de partilha".
sivas a cargo dos mesmos, enquanto não pres- Rompendo com essa tradição secular do nosso
tada igual fiança (número antecedente) . Dec. direito, o novo diploma - que teve a preocupa-
cit., art.; CooR. TEL. 2, T. 2, art. 1.131. ção exagerada de simplificar e abreviar o jul-
30, aos herdeiros ·e sucessores singulares de gamento das causas - dispõe, a seguir (arts.
bens não partilhaveis, e que lhes devam passar 829 e 830), que a apelação da sentença de parti-
precípuos, mas sujeitos a alguma reposição à he- lha seja recebida em ambos os efeitos, o devolu-
rança por l?reço de compra, bemfeitorias, ou tivo e o suspensivo.
obrigação hipotecária dos mesmos, enquanto ela E, pois, a situação legal é esta:
se não fizer ou o depósito equivalente. Ord. L. - Das três ações do juizo divisório - com-
4, tít. 95, § 1; LOB., a Mel., L. 2, tit. 8, § 15, muni dividundo, finium regundorum e jarniltae
n. 3. erciscundae - sómente em relação a esta deter-
4°, aos herdeiros e legatários, dos seus cui- minam a lei substantiva (Código Civil, art. 1.770)
nhões ou legados sujeitos à contribuição de re- e a lei adjetiva (Código de processo civil, art.
gistro, enquanto ela não paga, ou garantida sua 467) fosse concluída dentro de três meses, re-
importncia; pena de responsabilidade solidária metendo para as vias ordinárias todas as ques-
pela mesma, e multa de cinco por cento. Regul. tões de alta indagação ( Cód. de Proc . , art. 466) .
de 12 de Out. de 1860, art. 60, à Lei de 30 de Manda, entretanto, a lei processual que.
Jun. de 1860. nesta última ação, seja a apelação recebida em
ambos os efeitos (arts. 509, 510 e 830), ao passe>
3. Fonte dos artigos 509 e 510. Os artigos que nas outras duas, confere ao recurso o efei-
509 e 510 do Código nacional de processo civil, to tão sómente devolutivo (art. 509, combinado
acima transcritos, foram inspirados nos seguin- com o art. 830).
tes dispositivos do Código de processo de Minas - Não ê verdade que a lei adjetiva está em
Geraes: contradiçio consigo mesma e com a lei substan-
"Art. 1. 007 . Julgada a partilha, se rio en- tiva?
tregues aos herdeiros os bens que lhe houverem
tocado, sem que tal entrega possa ser embara- 6. Retardamento do inventário. Isso impor-
çada por motivo de interposição de recurso, salvo tará em retardar por meses, senão por anos, a.
a hipótese do art. 961, parágrafo único. terminação do processo de inventário.
Art. 1. 008. Passada em julgado a sentença Basta assinalar os seguintes prazos da lei.
de partilha, cada herdeiro poderã extrair o seu processual :
formal, que constará das seguintes peças: Para apelar (art. 823) . . . . . . . . . . • 15 dia.
1) têrmo de juramento do inventariante e Para oferecimento das razões do ape-
título de herdeiros; lado (art. 826) . . . . . . . . . . . . . . 10 dias
2) avaliação, em sua integridade, dos bens Prazo do relator (art. 873) . . . . . . . 30 dias
cujas frações tenham entrado na constituição do Idem, do revisor (arL 874, § 10) . . 20 dias
quinhão dado ao herdeiro; Se a apelante for a Fazenda Pública, terá
3) pagamento feito ao respectivo titular; o prazo de 30 dias para apelar (art. 32) I
·~) certidão do pagamento de imposto; Da decisão proferida na apelação, cabem,
5) sentença final. ainda, conforme o caso, embargos de nulidade"
Art. 1. 009. O formal de partilha tem força e infringentes do julgado, revista, :z:ecurso extra-·
executiva contra o inventariante, os herdeiros e ordinário... •
seus sucessores a título universal ou singular, Outro fator de grande retardamento das de-
sendo o processo o mesmo das demais execuções". cisões da segunda instância é a paralisação do·
processo durante meses e meses, devida ao gOZO'
4. Conclusão ele Candido Naves. Comentan- de ferias por parte do relator e do revisor.
do o citado art. 509 do Código de processo civil,
(7) - Comentários ao Código de proct>..sso
(6) - Orfanalogia prática, p. 147. civil, p. 444.
(76~
5-3-43 AHCHIVO JUDICIAHIO (SUPLEMENTO) 91
A verdade estava com o nosso RAMALHO, nos termos dos artigos 508 e seguintes, ou, se
quando, repetindo a lição elos praxistas portu- ele o preferir, serão Invertidos com audiência
gueses, cllzla (8 J : • . . elos outros interessados, em bens imobiliários,
"~ 135. Feita e assinada a partilha judiCial fundos públicos, ações ou obrigações de assenta-
pelo juiz e partidores, e desembaraçada de mento, nos termos dos us. 1° e 2°;
quaisquer reclamações que se levantem, o juiz 4°, A caução mencionada no número ante-
profere a sua sentença, julgando-a firme e va- cedente não compreende o rendimento dos bens
liosa, na forma que nela se contêm e declara, imobiliários, nem os juros e dividendos dos fun-
para produzir os seus efeitos, salvo o prejuizo de dos públicos, ações ou obrigações mencionadas
terceiro ... nos ns. zo e 3o.
. . . A sentença assim proferida extingue a Art. 731. As declaracões feitas no registr<D
comunhão entre os herdeiros, os quais devem ser ou no averbamento prodÚzem os efeitos que fi-
metidos na posse dos seus respectivos quinhões, cam mencionados no art. 355 quanto ao regis-
ainda que alguns deles apelem, ou venham com tro das ações. .
embargos à partilha". § 1°. Estes efeitos subsistem enquanto,
Acresce, ainda, a circunstância de que a au- por despacho do juiz, não forem declarados
toridade da coisa julgada ê atrlbulda sómente extintos.
aos julgados definitivos, proferidos em mater_la § 2°. Tendo de proceder-se a nova partilha,
de jurisdiçií.o contenciosa, e em juizo pleno; nao por efeito da decisão do recurso ou da ação, o
produzindo este efeito os atos de jurisdição vo- cabeça de casal entra:-á imediatamente na posse
luntária, como os inventários, as liquidações de dos bens, que, nos termos da decis§.o proferida,
sociedade, as divisões e demarcações amigaveis deixarem de pertencer ao interessado, que os re-
de prédios rústicos e urbanos, etc. (9), nào se cebeu.
justifica retardá-los. § 30. Na sentença, que julgar a nova par-
Chegamos, assim, à conclíUSão de que a tilha, ou por despacho, quando a execução da
emenda do Código mineiro, introduzida no art sentença não depender de partilha, o juiz man-
509 do Código nacional, foi para pior. dará cancelar os registros ou averbamentos que
Projeto de Pedro Baptista Martins: "Art. deverem caducar por efeito da sentença ou da
656. Julgada a partilha, serão entregues ao her- nova partilha.
deiro os bens, que lhe houverem tocado''. § 40 Se o interessado deixar de restituir os
Este artigo devera ter sido mantido e com- bens mobiliários que tiver recebido, será executa-
pletado pela segunda parte da lei filipina - "sem do, por eles no mesmo processo, e tambem o
que tat entrega possa ser embaraçada por mo- será pelos rendimentos que dever restituir, pres-
tivo de interposição de recurso" - Incorpora- tando contas nos termos dos arts. 738 e 739.
da ao Código mineiro, art. 1.007, e aos demais § 5°. Autuada a certidão da citação, segui-
códigos da Federação. rão por apenso os mais termos da execução, nos
7. Cautelas do Código portugUês; dignas bens rios".
da caução e nos mais que forem necessá-
de serem incorporadas à nossa legislação . Para Claro é que tudo isso é dispensado se os
o caso de querer qualquer lnteresado receber os interesados, logo após o julgamento da parti-
bens, que lhe tiverem tocado na partilha, antes lha, declararem, por petiçii.o, que a ela nada
de passar em julgado a sentença, instituiu o teem a opor.
Código de processo civil português, aprovado
pela carta de lei de 8 de Novembro de 1876. as 8. Mãos à palmatória ... Errare humanum,
seguintes cautelas, mantidas pelo Código de 1939. est ...
arts. 1.423 e 1.424, e dignas, por sua sabedoria, J;;nraiZado no espírito do autor deste livro,
de serem Incorporadas aos nossos textos legais: durante meio século - nos bancos escolares. na
"Art. 730. Se algum dos interessados quiser advocacia e na cátedra - o postulado de que,
receber os bens que lhe tiverem cabido em par- proferida a sentença de partilha, poderia ser
tilha antes de passar em julgado a sentença, logo executada, não obstante quaisquer embar-
observar-se~á o seguinte: gos ou apelação, e sem atentar para a disposi-
10 No título -que se passar para o registro ção extravagante do art. 509 do novo Código de
e posse dos bens imoblliarios, declarar-se-á ex- processo civil, ao tratar do Inventário, no volu-
pressamente que a sentença nii.o passou em jul- me 14 de sua "Prática civil". página 113 di~se
gado, e o conservador não poderá registrar a o seguinte: a) Apelação. Interposta por qual-
transmissão sem mencionar esta circunstância. quer dos herdeiros a apelação da sentença de
20 Os fundos públicos, ações ou obrigações partilha, devem os autos originais ser remetido~
de assentamento serão averbados com a decla- a segunda instância, independentement-e de
ração de que o interessado nã.o pode dispor li- traslado (art. 827); ao herdeiro, que quiser exe-
vremente deles enquanto a sentença não passar cutar a sentenca recorrida, fica salvo o direito
em júlgado; . de extrair o foirnal de partilha (Código de pro-
30 Quaisquer outros bens mobillãrios só se- ce..."So, art. 509 ) '' .
rão entregues se o interessado prestar cauçii.o A tese está errada. Assim devera ser; in1e-
llzmente não o é.
(8) - Instituições ·orfanolõgl-cas, p. 324. O.S autos originais devem. de fato. ~er re-
(9) - MAcEDo SoAREs, despacho transcrito metidos à segunda instância. independentemen-
no Direito, v. 47, p. 252; PAULA BATISTA . TeórHI 1 te de traslado; mas o herdeiro n§o poderá exe-
e prática, ~ 183; LAcOSTE, De la chose jugée. 2" t cut-ar a sentenca a.uelsà:9.~ nem e.xtra.ir o formal
ed., n.
I
131, p. 48; AUBRY ET RAU, Droit CiYilj de partilha. antes do pre>nunciament(' de:'initivo
frança!s, vol. 8, § 769, p. 367; L.uto:MBIERE, art. dessa instãucia. segundo presc..'"'t'>em os srts. 5{19
1.351, n. 12; LAURE:NT, V. 20, n·. 5; GARSON- e 510.
NET, vol. 3, i 469, e vol. 7, § 1.448. Estendo as msos à palmatória ...
i'17l
"Dentro da sistemática do nosso direito
é lícito ao par retirar o consentimento
dado ao filho para se màtri mon ia r?'~
componentes, para que não penetrem nela as Ora, os progenitores, porque almejam, uni-
aspirações espúrias, tão prejudiciais ao rebus- camente, um futuro radioso para os filhos, não
tecimento da solidariedade familiar. poderão permanecer insensíveis às nupcias dele!i;
Devotando-se, ,exclusivamente, aos misteres e, conquanto vencidos pelas contingências, ge-
domésticos, pois, - mulher do mundo difici.l- radas pela irreflexão dos nubentes, os quais,
mente se oonserva mulher do seu marido -- em certos momentos, se tornam surdos às exor-
conforme o velha adágio luzitano, a mulher tações das pessoas, em cuja lealdade deveriam
exercerá, a brio, o matriarcado, e a sociedade acreditar, inteiramente, não se eximirão aos de-
contará com uma pleiade de Cidadãos virtuosos. veres impostos pela franqueza, bem que dima-
em cujos corações arderão, de cotio, os mais nem dela frutos amargos. E, quem se não ca-
puros sentimentos, introduzidos neles pelos in- pacitou da nobreza da vida marital, porque só
confrontáveis zelos maternos. Não reside so- a. desejou como uma fonte inesgotavel de van-
mente a grandeza feminina na g'eração dos tagem econômicas, ou de folguedos materiais,
filhos; e, se a maternidade a dignifica, é indu- não compreenderá, em tempo algum, o espírito
bitavel que a direção da sua casa lhe aumenta de sacrifício, que é uma das manifestações po-
os merecimentos, pois, aparelhando a próle sitivas dos carácteres superiores; e, então, as
para uma vida honrada, ela torna-se a verda- dissensões constantes, que enfraquecem a har-
deira educadora do carater dos filhos - fnnção, monia conjugal, destruirão, de vez, os laços ma-
na qual ninguem a substitue com real pro- trimoniais, atirando os esporos nas garras da
veito. sensualidade. E, embora não exista, ainda, entre
nós, uma escola, na qual os candidatos aos des-
No colégio, o menino adquire diversos co- posório adquiram úteis ensinamentos, os pais
nhecimentos e desenvolve a sua inteligência; esclarecidos hão de guiar os filhos em tão árdua
porém. a ciência e o talento, bem que sejam lnterpresa, para que não experimentem eles
armas poderosas para as ásperas justas telú- acerbas desilusões, ao cabo de poucos anos de
ricas, não serão, jamais, suficientes para forta- convivência. Deixam-se impressionar muitos jo-
lecer o cai-ater do homem, que é, incontesta- vens pela beleza física, convencidos da sua per-
velmente, obra materna. "Feliz do homem a petuidade; entretanto, apraz-me recordar que
quem Deus deu uma santa mãe, exclamava os encantos morais, porque tem a duração, con-
Lamartine, quando via o luxo do segundo im- tra a qual é a inócua a ação dos tempos, tem
pério enfraquecer os costumes sociais da sua de ser catados com o labor Igual ao dos ga-
extremecida Paris. rlmpeirOI!, tanto que se dispõem a procurar ouro
O consórcio não é, positivamente, uma na.s areias.
união de indivíduos de sexo diverso, que se des- "ll: um llvro de uma só página a mulher
tine a of-erecer-lhes folguedos de qualquer casta b~a: examina-se com um só olhar. A que ê
e cuja dissolução seja determinada, sempre q_ue b la e boa, co;ntém tantas folhas, que a vida
se não satisfaçam os apetites epicuristas; nao, i teira não basta para folheá-las, nem o cdra•
é uma sociedade em que o homem e a. mu- ção para sentir as emoções que produz. Da for-
lher, governados pelos princípios da moral cristã, mosa o homem pode enfastiar-se; da esposa for-
-conjugam as suas energias para se mostrarem mosa e boa jamais sente fastio Nihil, o Cyrene,
dignos de perten·cerem à raça humana, perpe- suavius u:xore bona". ·
tuando a espécie, orientando, cristãmente, os fi- "Enganosa é a graça e vã a formosura, a
lhos e conduzindo-se de forma honesta, afim mulher temente a Deus, essa é que merece lou-
·de que eles nunca sé escorem nos exemplos dos vor (ProvérbiOI!, XXXI, 30); não olhes só para
progenitores para se justificarem das suas fal- a formosura, e não desekes para esposa uma
tas. Não se iguala aos clubes recveativos, que joven só pela sua beleza (Eclesiastes, XXV, 28),
cerram as suas portas, quando não podem con- pois, como advertia o inclito arcebispo Dom
tinuar a obsequiar os associa,dos com saraus e Antonio de Macedo Costa - a mais notavel fi-
concertos. gura do clero do seu tempo, no juizo de Joa-
quim Nabuco, - o mais notavel dos prelados
II - Não podem desinteressar-se os pais brasileiros, como o considerou Ruy Barbosa em
-extremosos do casamento dos filhOS, uma vez sessão do parlamento - beleza é Hôr que desa·
que decorrem de tão relevante ato, do qual brocha pela manhã e à tarde já está mureha.
dependerá a nossa tranqu1Udade espiritual, com- Nem abastança material, nem lindeza de corp.:l,
promissos de inconfutavel importância; . por que fenecem com o correr dos anos, ou com
conseguinte, compete-lhes indagar, com dlscre- as vicissitudes terrestres, para as quais ainda
ção adequada, das condições morais, biológicas não foram Inventadas providências eficazes, de-
e sociais dos que pl'etenderem entrar na sua vem ser os alicerces com que se edificarão os
·família. afim de que, ulteriormente, se não domic1Uos, nos quais serão praticados os man-
constatem fatos dolorosos. Não é permitido ao damentos de Deus, para que sejam suportadas
pai carinhoso aceitar com genro, ou como nóra, as contrariedades terrenas e gozadas as sadias
ao ente, que se não há recomendado pel~ sua alegrias, que esplendem nos lares abençoados.
conduta ilibada, desde que, para a realizaçao da "Procuremos todos, uma só coisa, bradavn
-vida conjugal, dentro dos canones da moral São João Cr!sóstomo, o notavel bispo da cidade
-cristã. se não podem desprezar os critérios mo- de Constantinopla, que foi alcunhado "boca da
·raiS, nos quais repousa o sossego da vida ma- ouro" (347-407), a virtude, um bem natural,
timonial. Uma boa escolha do ser com quem afim de gozar da paz, de provar as delícias
se viverá até que a morte arrebate um deles, duma canqórdia e afeição }terpétlUP.s". Vale
- porquanto sou partidário intransigente da citar outro trecho do insigne orador sacro e
indissolubilidade do vínculo consorciai, - não apreciado filósofo. . .. "Consideremos bem tudo·
pode ser empreendida senão com a maior cir- Isto, e em vez de procurar a fortuna, procure•
cunspecçáo. que nem sempre apanagia a .lu· mos a vit·tude, a honra, a modéstia. Mulhl)r
ventude; e a identidade de pensamentos con- modesta, virtuosa e cheia de siso, ainda sem
<:ernentes aos altos objetivos conjugais tem de fortuna, tirará melhor partido da pobreza do
ser procurada e conservada, para que se não que outras da riqueza : pelo contrário : mulher
extinga, a passos largos, a pureza do corpo e educada com mimos. intemperante, enfadadlça,
da alma, que é uma das bases seguras da feli- achasse embora em casa milhares de tesouros.
cidade dos cônjuges. logo os terá dissipado com a velocidade do
(80)
5-3-43 ARCHIVO JUDICIARIO (SUPLEMENTO) 95
vento e arrojará o marido em inumeráveis ma- vras: "gerou-o o ,pai em .estado de completa
les, alem da ruína. Não é, portanto, opulência embriaguês". E' razoavel entregar-se uma don-
que devemos procurar, mas sim mulher que zela a um mancebo, carregado de mazelas, que
saiba bem empregar os recursos da família... conseguiu ocultar, e que lhe estmgará a saude
O único motivo que vos deve levar ao matr!mô- física com sucessivos abortos e até operações
nio, é a resolução de fugir ao pecado, de esca- mutiladoras ?
par a toda deshonestidade; todo o casamento E aquele que, conhecendo a sua miSéria ar-
deve tender a este fim, ajudar-nos a ser puros. gânica, constitue uma fam.ília, nâo pratica um
Ora, assim será, se esposardes mulheres papa- crime horrendo ? ·
zes de inspirar-vos muita piedade, muito re- Evidentemente, porque, alem de danificar a.
cato, multa sabedoria Com efeito, a beleza do existência daquela com que se allançou, sujei-
corpo, quando não tem a virtude por campa- tando~a, .doravante, ao jugo de dolorosos pade-
nheira, pode reter um marido, vinte ou trinta cimentos físicos e morais - a ausência da saude
dias; mas, depois perde o seu império, deixa ver envolve oo indivíduos em profunda melancoHa-
os vícios que a principio ocultava, e, desde dará à nação rebentos de indisfarçavel !nutil1-
então, desvanece-se todo o encanto. Pelo con- dade.
trário, aquelas em que reluz a beleza dalma, "Hoje, melhor que ao tempo de Platão -
nada tem que temer da fugida do tempo, qU"l escrevia o Hustrado Juliano Moreira a semiótica
lhes ministra cada dia novas ocasiões de des- médica está a indicar quão eficaz sérá a organ1-
cobrir suas belas qualidades, e o amor de seus zaç~o. de co~ultórios pre-nupciais, através do
esposos torna-se mais ardente e mais fortes os terntorio nacwnal". Referindo-se ao exame-
liames que os unem (apud D. Antonio de Ma- pre-nupcial, o eminente ;professor Tanner de
cedo Costa - o' Livro da Família, págs. 35 Abreu traduziu o seu pensamento nas seguintes
usque 36 - 1930). palavras: "A medida em si, não há dúvida, ta-
Não é, realmente, a simples união dos cor- c!lmente reune as simpatias e os sufrágios da-
pos que empresta ao casamento a sua elevada que1es que se preocupem com os problemas so-
dignldade, a qual deriva da completa comu- c!ais e tem diante dos olhos o quadro terrível
nhão de crenças e de ideais, da absoluta !denti- de consequências funestas que decorrem do ma-
dade de orientação nos negocias familiares, da trimônio realizado sem a precaução salvadora
integral solidariedade dos esposos nos momen- que garanta, tanto quanto possível, as condi-
tos angustiosos e nos instantes agradáveis, por- ções de higidez de ambos os nubentos" (Estudos
que estabelece entre eles a solldez dos vínculos de Higiene·, ;pg. 206, edição de 1929) . Não se
da mau perfeita a!elçl\o. desconhece que o art. 20 do decreto n. 181, de
Tambem o aspecto biológico merece análise 24 de Janeiro de 1890, que Instituiu no Brasu
demorada, uma vez que as bodas impõem uma o casamento civil, assegurava "aos pais, tutores
mésse de obrigações, à cuja obediência se não ou curadores, dos menores ou interditos o di-
devem furtar os que as contraíram, para que relto de exigir do noivo ou da noiva de seu filho,
não sejam comprometidas as condições orgâni- pupilo ou caratelado, antes de consentir no ca-
cas dos filhos, pois, na linguagem evangélica sarnento, certidão de vacina e exame médico
- toda a árvore boa produz bons frutos, e toda atestando que· não tem lesão, que ponha errí
a árvore má produz maus fnLtos (Ma teus, 7, 17 ). perigo próximo a sua vida, nem sofre moléstia
É claro que se não deve aprovar 0 {:asa- incuravel, ou transmissível por contágio ou he-
t d d f i rança"; entretanto, não posso afirmar se aquele
mente de indivíduos por a ores e en erm da- dispositivo conseguiu obediência, porque.nto
des, das quais promanem terríveis consequên- nunca vi, nos muitos processos de habilltação
elas para a prole, v~ificada..<; por estatísticas, de casamento, em. que funcionei, quando desem-
realizadas com a mâx1ma segurança, desde que penhei, nesta cidade, o cargo de adjunto de
se não deve permitir a prática conciente de promotor públlco, por designação do eminente
uma perversidade, qual seja a de gerar seres desembargador Luiz Guedes de More.es sarmento,
Incapazes para os combates da vida terrestre semelhante peça processual. Não serã tambem
Nada lucra a sociedade com as uniões de seres uma vio[ência moral, indaga 0 prMJ.teado Souza
estragados por doenças perigosas; servem, ao Lima, que, jamais, será olvidado pelos e.studio-
contrário, para lhe onerar os orçamentos com sos, o sacrifício de. Ingenuidade, da inocência ou
o custeio de manicômios. de hospitais, de penf- inexperiência de filhas de famil!as, que se ex-
tenciárias, porque a descendência de seme- põem a receber, como dote nupcial, a ·contaml-
lhantes conúbios é constituída por pessoas abso- nação de moléstias !ncuraveis, e cuja transmis-
lutamente Imprestáveis - venuti aZ mondo so Blbllida:de à prole não é somente conjecturai, pc-
per far letame - confore o conceito do !mor- recrn quase certa ? (Medicina Legal, s.a edição.
tal florentino. "Para avaliar a responsabilidade pâg. 218).
que há. em se casar com um doente, basta refe- E, bem que não seja médico, tenho regia-
rir duas estatísticas. Um moço era filho de tado, todavia, na minha vida forense, observa-
uma senhora fraca de idéias. Apesar de her- ções de casos lamentaveis, em matéria de here-
dado o idiotismo materno, casou-se com uma ditariedade mórbida, que terie.m sido evitados,
moça sadia. Transmitiu. porem, o seu idioti~- se os progenitores não houvessem agido, com
mo, e, entre 480 descendentes, 193 foram idio- lastimavel precipitação, quando suas filhas se
tas, 8 tornaram:.,~;~t rufiões, 29 alcoolatras, 33 mostraram desejosas de unir sua vida à de ou-
moralmente desnatürados e 3 assassinos. Ape- trem. Assás louvavel, por conseguinte, é a pre-
nas 46 foram normais. Entra 701'1 descendentes ocupação dos pais de.svele.dos em subtrair as fi-
de Ada Jukes houve 64 loucos, 174 m\ch,elas, 196 lhas, criadas na pureza de costumes e na obser-
filhos naturais, 77 delinquentes com 12 assa~- vância dos preceitos higiênicos, aos afetos inte-
sinos e 142 tiveram que ser sustentados pela resse!ros de rapazes de aparência saudavel, me.s
municipalidade" (Padre Pascoal Lacroix, Solu- que se recusaram a apresentar-lhes a credencial
ção do Problema Sexual, pág. 263, edição de da saude. ·
1935). Sei que o casamento, pelas suas importantes
Platão, por que não ignorava os ruinosos fln_alldades, ~ não iguala. aos cruzamentos de
efeitos do álcool, não admitia que o usassem os a:umais, de..'itmados a ennquecer ~eus proprie-
recem-casados, afim de que não fosse prejudl- tar~os, porem, merecem ser cens;.nactos os que
cada a prole; e 0 filósofo D!ogenes, depois de J ace1tam os encargos nupcial;;. nao obstante se
haver amesquinhado um atoleimado, arrepen- enco!ltrarem. el!l condições ~1s!oas, q~e revelam
deu-se cia sua e.titude com 116 seguintes pala- contmua assiStênCia esculapma. Se nao endossa
(81)
96 AHCHIVO JUDICIARIO (SUPLEl\ffiNTO) 5-3-!3
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os exageros !llglênlcos, sobre que repousava a presas mút11as. Nüo havia em nenhum deles um
legislação de Llcurgo, a qual transformou Es- hábito único, um único gosto, uma única' rela-
parte numa vasta ca.serna., conforme n critica de ção, uma única mania que aos dois fosse co-
Etllgene Pelletan, não me soou, contudo, a dis- mum I Não falo de opiniões; nenhuma tinha
plicência daqueles que não meditam acerca dOS opinião. Não falo de idéias; nenhum tinha
resultados :runestos de certas alianças, cuja prol- idéias ... Hoje a casa dos dois é o,penas um lu-
blção deveria ser um dogma de direito de fa- gar por onde se pasa; deixou de ser o centro
milia das nações adiantadas, as quais nada lu- onde se habuta". Há, outrossim, outras castas
cram com o Incremento dos grupos dos dege- de ]ares, onde a mulher deixou de ser "a videira
nerados. fechada dentro dos muros da casa", para se
Tais zelos entram na categoria dos deveres ancilar às exigências do mundanismo; e, então,
indecl!naveis dos progenitores, que poderão obs- desmantelam-se as casas pela ausência de cul-
tar umH. descendência de depravados e de tm- .dados das que deveriam governâ-las, para ofe-
beclllzados com o auxílio da ciência. recer à nação servidores educados ao influxo do
Diz o Genesis que Deus deu a Adão mulher calor materno, que são. a lafé, ~ que cum-
·semelhante a si: Adjutorium simili sibi, seme- prem, à nsca os deveres cívicos e rellgiosos.
lhante não só na natureza, sinão tam.bem na Aludiu certo poligre.fo lusitano ao lar-mu-
condição, para que saibam os que querem ca- seu - para ser vú;to e nunca para ser vivido.
sar-se que só devem escolher pessoa que lhes Definiu-o períodos, que não podem ser consi-
seja Igual; sendo a disparidade de idades, con- derados frutos diletos do exagero.
dições e fortuna mane,ncial fecundo de desor-
dens e desavenças nas famílias". (O Livro da "Os estilos admiraveis dos lares museus, das
Família. Dom Antonio Macedo Costa, pg. 27, casas novo-rico, te.m um nome genérico, que a
edição de 1930) . todos se aplica: são os estilos-ausência. E entre
Não pode o homem afastar-se da vida so- tantos bibelots preciosos de Sévres e de se.xe,
cial; e, portanto, o estado familiar é o mais que refulgem nos mostruários vive o micróbio da
conciliavel com as necessidades peculla.res à sua neurastenia; entre tantos bens existe um mal:
natureza. E' indispensavel, por conseguinte, é o mal da desesperança que foi estigmatizado,
para a conservação da harmonia conjugal, que neste mesmo lugar pela senhora Condessa do
os nubentes pertençam o,o mesmo seio social, Vinho e Almedina, ilustre figura de mulher
pols, sâo, exatamente, certas diferenças de edu- criStã que eu neste instante com saudade evoco.
cação, de instrução, de crenças religiosas, de E' claro que no Lar-museu não há crianças: po-
posição social das suas famílias, de condição eco- diam estragar o mobiliário e com certeza estra-
nômica dat; mesmas, temperamento, que produ- gava:;n o epicurismo 'da vida. se existe um filho,
zem violentos choques domésticos, transforman- um unico filho - entregaram-no a mãos merce~
do o casamento numa oficina de dores, segundo nârias, encontra-se eternwm.ente ausente ... No
a expressão de São Basilio. lar-museu há fogões, há tapetes e há peliças,
mas tremenws de frio".
E' a desigualdade das rdades dos l!loivos ou-
tro fator de frequentes dissensões, desde que o Necessârio é que o'> olhos infantis contem-
mais idoso vive atormentado pelo ciume, que plem, nas casas em que nascero,m e vivem, cenas
leva ao desespero a sua vitime,, toldando-lhe as da mais requintada austeridade de hábitos, para
faculdade!! do racioc1nlo e amarrando-a às cor- que se acostumem a compreender a beleza das
rentes da im;prudência, considerada por um fi- V'irtudes domésticas, pois, palpitando em seus
lósofo o inicio da adversidade. Ora, os esporos cantos a nobreza dos sentimentos femjnlnos,
podem presumir-se de desa.,crradaveis di.ssenti- tornaan-se alegres e sensatos as crianças, tgua~
mentos, que enegrecen1 a existência, desde que lando-se àquela personagem de Maeterlinck, para
sejam bussolad0:5 pel!l. simetria de ldêlas, aspi- a qual cada dia era um domingo de festa em
rações e atitudes, a qual não medra slnão em cada case., quando a gente tem olhos de ver,
-corações identificados pela homogeneidade de alma para sentir e coração capaz de agradecer",
certos elementos. Na constituição de um lar, E o~ pa~ experientes, porque não conhecem re-
que é, realmente, um passo de indiscutlvel im- morsos para melhorar as condições morais e
portância para a vida do homem e da mulher, materie,ls dos que geraram, hão de esforçar-se
hão de ser estudadas, meticuloaar.rnJente as qua- para que eles edifiquem um lar, onde se não
lidades dos seus alicerces, afim de que sejam introduzam, ~amais, os rpr!ncipios dO lb<Jlorento
evitados os desmoronamentos, aos quais se equi- liberalismo, preconizado pelos partidários do co-
param as ações de desquite e de anulação de muniemo ateu; e, .então, procurarão intervir com
casamento; e uma bôa escolha, Isto é, um.a unlãD a autoridade peculiar às funções de orientador
presidida por uma possível afinidade de predi- legal e de defensor naturo,l da prole na forma-
cados morais e sociais entre os que querem ção das famílias, que lhe perpetuarão o nome,
consorciar-se, assegurar-lhes-á uma relativa fe- não por vaidades d0Cil1tlas, mM inspi.reld.as em
llcidade, neate vale de lágrimas. Não coexistin- santos afetos, os quais justlflcam, plenamente,
do, por consequêncla, tal similaridade entre oS semelhante intromissão.
cônjuges, multiplicam-se os aborrecimentos en- E, acostumadas a obedecer aos conselhos
tre o marido e a mulher, nutrLdos, ordinaria- paternos, desde que são ele!! fortalecidos pelOS
mente, pelas vaidades do que se considerar su- salutares exemplos, oferecidos aos seus olhOS
perior, e uma ~>epamção de corpos e de haveres curiosos pelas sentinelas dos penat-es - os pa.ls
é o remate daquelas lutas. São os chamados vigilantes - os filhos não se mostrarão indi!e-
lares-sorvetes, que mereceu de .Maria Amalia Vaz rentes, em momentos graves, como são aqueles
de Carvalho a seguinte descrição: "Ele tinha em que terá de assumir uma decisão definitiva
uma fortuna suficiente, ela aquilo que a nossa concernente ao seu futuro, às (pOnderações 1m-
burguezia define uma bontta educação. Eram postas pela lealdade e pela experiência e que 56
moços am.bos, e tendo-se encontrado quatro ou propõem a garantir-lhes uma certa tranquilidade
cinco vezes - no pe,sseio, em um baile, no tea- terrena.
tro e na missa - estavam intelram.ente per- n.r- Sempre l!le considerou o consentimento.
suadidos de que se conhecia.rn a fundo e se dos pais formalidades essencial pant lt validade
adoravam, para a vida e para a morte ! . . . Com do casamento dos filhos menores. um11 vez que,
toda e, pompa de um casamento de primeira pelos seus SUiiJCriores efeitos jurldlcos e BOCl~>IB.
classe teve lugar a cerimônia nupcial que unta tem de ser eoncluldo dentro das nom1as legaJ.S,
para o resto da vida dois patetas. O primeiro que hão de ser combinadas com a.s regras da
caoitulo desta união podia. intitular-se: Das sur- prudêncta, uid.a por Boneca fatos sufictl<mtes prus
(82)
5-3-43 ARCHIVO JOOICIARIO (SUPLEMENTO) 97
uma vida feliz ( . . . et purdentta. ad, bea,tam vi- criteriosamente, não fosse inquinado de nu1t-
tam satis est) . dade o casamento. ·
No direito romano , - "parte importantfs- No capítulo concernente ao pátrlo-poaet,
s!ma da história, ou de uma fase notavel do Carlos de Carvalho, o preclaro jurisconsulto pá-
movimento do p.ensamento humano" (Carlos de trio, redigiu da seguinte maneira o artigo 1567,
Carvalho), a permissão do pai, ou do tutor, para da sua excelente "nova consolidacão das 1e111
a Ieg!tlmldade dM núpcla.s do menor nubente, civis": "compete na constância dÓ casament~
era reclamada, naturalmente como uma conse- a -ambos os pais prestar consentimento aos 11-
quência genuina da organização da famílla. lhos menores de 21 anos para se casar, preva-
"Nuptiae consistere non possunt, ntsf. consen- lecendo, porem, no caso de divergência, a reso-
tiunt omenes: ià est, qui eo eunt quorumque lução do marido" (Decreto 181, cit. Arts. 1~.
tn potestate sunt (dig. 1·,12 tit. 2, rif. 2, de vit 20 e 21) ".
nupt.). Para abrandar o rigorismo em que se O Código Civil Brasileiro, que começou 11.
arrimavam alguns pater-tamílias, a lei Julia àe vigorar em 1.0 de Janeiro de 1917, firmou os
aàulterius estabeleceu o suprimento Judicial, seguintes princfpios :
sempre que se não estribasse em motivos justo!! f$'t. 180. A habllitlU)ão I(9.ra ,casamento
a recusa paterna. faz-se perante o oficial do registro civil, apre-
Consagraram as Institutas de Justinlano o sentando-se os seguintes documentos :
principio idêntico no tocante à anuência para
a realização do enlace matrimonial dos filhos
menores, como se evidencia do texto abaixo ci- I
tado: Justas autem nuptias inter se cives ro-
mani contrabunt, qui secundum pracepta le- n
gum coeunt :masculi quidem puberes, feminae
cmtem v!to-potentes, sive patres-familiae sint, III autorização das pessoas sob cuja de-
s!ve filü famtlias: dum tamen, si filü famllias pendência legal estiverem, ou ato judicial que
sint, consensum habeant parentum quorum in a supra, (arts. 183 n. XI, 188 e 196) .
potertate sunt. Nam hoc neri debere et civil!s et
naturalis ratio suadet: in tantum, ut jussum Art. 183. Não podem c a.> ar (Arts. 207
parentis praededere de beat (t!t. X, de nu- e 209) :
pt!us) ".
No Direito Brasileiro, em que se fez sentir I
a influência das leis romanas e canônicas, o
assentimento das pessoas, sob cuja dependência
se achava.m. os noivos, foi considerado impres-
cindivel para a eficiência do consórcio; e outra XI - Os sujeitos ao pátrio-poder, tutela oo
não é a lição colhida no Assento de 9 de Abril curatela, enquanto não obtiverem ou lhes for
de 1772, § 2.o n. 5, da lei de 6 de Outubro de suprido o consentimento do pai, tÚtor ou cura-
1784. O mencionado Assento de 1772 foi reva- dor (Art. 212).
lidado pelo AI vará de 29 de Agosto de 1776; e, Art. 18õ. Para o casamento dos menore."'
no parecer do eminente jurisconsulto Lafayette de 21 anos, wndo filhos legítimos, é mistér o
Rodrigues Pereira. a sua doutrina preferia às consentimento de ambos os pais.
Art. 186. Discordando eles entre si, pre-
disposições das leis de 19 de Junho e de 29 de
Novembro de 1775. Para fortalecer o pátrio pu- valecerá a vontade paterna, ou sendo separado o
der, o supra-dtado Assento de 9 de Abril de casal por desquite ou anulação de casamento
.1772, § 2 n. 5 e a pre-citada lei de 6 de Outu·
a vonta<ie dos cônjuges com quem esttverem
OS filhO.'!!.
bro de 1784, § 6, determinavam que o menor. Parágrafo único. Sendo, porem, ilegít!m08
que estivesse, sob o poder paternal, e, sem ~ os pais, bastará o consentimento do que hou-
sua manifestação contraísse matrimônio, não ver reconhecido o menor, ou, se este não for
só incorria na pena de desherdação, como tam- reconhecido, o consentimento materno.
bem perdia o direito de solicitar do pai au- Art. 187. Até a celebração do matrimônio
mentos. Os menores, que eram órfãos de pai, se podem os pais, tutores e curadores retratar o
se casavam, sem a aprovação do tutor e do jull"., seu consentimento.
Só poderiam gerir os bens, quando completas-
sem vinte anos (Or. liv. I, tit. 88, § 9). E u Art. 188. A denegação do consentimento,
próprio Lobão, escorado no ASSento de 9 de quando injusta, pode ser suprida pelo juiz, com
Abril de 1772 e no Alvará de 29 de Agosto de recurso para a instância superior.
1776, entendia que o titulo natural, para nllo Art. 196. O instntmento da ·autorização
sofrer aquelas penas, carecia do consenso dos para casar transcrever-se-á integralmente na es-
Pais, para o seu casamento ser reputado vã- critura ante-nupcial.
lido.
E, analisando a nOBSa evolução jurld!ca, ClU- Tais provodências são <Wterminadas pela.
rante o império brasileiro, em a.">Sunto matri- proteção que se deve outorgar aos menores, que,
monial, lembrava o douto La.fayette Rodrigues por se não acharem com a experiência sufi-
Pereira, que três eram as espécies de casa- ciente para assumirem compromissos de lnocul-
mento: tavel monta, como são os oriundos do casa-
mento, carecem dos conselhos daqueles que de-
a) o casamento católico, celebrado cOit· vem cogitar da sua boa fortuna; e somente
forme o Concflio Trtdentino e a Constitulçle os pais conhecem o que é convinhavel aos fi-
do Arcebispado ãa Bafa; lhos, mormente em assunto matrimonial, sendo
b) o casamento mixto, · entre catOlleo «> "os casamentos, na opinião de Portalis - um
pessoa que professa religião dissidente, contrai- dos conspícuos colaboradores do Código de
do segundo formalidade de direito canônico;
c) l
Napoleão e da Concordata com o lndeslembra-
finalmente, o casamento entre pes.so&!'l vel Papa Pio VII - de todas as ações huma-
pertencentes à seitas dissidentes, celebrado em nas as de que depende a felicidade ou infell-
harmonia com as religiões respectivas (Direito 1 cidade da vida inteira dos cônjuges e< que
de Família, pág. 17); porem, sendo os nut>en-1 exerceu uma grande influência na sorte das fa-
tes de menor idade, ficavam subordinados à 11·· mU!as, nos costumes em geral e na ordem
cença expressa dos seus responsáveis, para que, ( pública".
(83
98 ARCHIVO JUDICIAIUO (SUPLEMENTO) 5-3-43
(S4l
Algumas sugestões para a proteção
da infancia abandonada
PELO
Mesmo, porém, nesta última hipótese, o sis- lhõe~:. A generosidade de várto.s bemfeltore.s já
tema mais adequado é ainda o dos "grupos es- permitiu a construção de 15 pa.vllhões, que e&tão
colares sob o sistema familiar", embora com re- funcionando'• (obra citada, pág. 224).
curso a meios especiais de classiticação e mora- Sob orientação analoga se vai erguendo
lização (pág. 138). nesta Capital a Cidade das Meninas, cuja cons-
8. - De toda essa brilhante exposição de trução tornará Imorredouro o nome de sua emi-
João Chaves (que, embora date de 1912, ainda nente patrocinadora, Exma. Sra. D. Darcy Var-
apresenta hoje o mais completo interesse) resul- gas. que, P!Jr esta e !numeras outras obras so-
ta a toda a evidência que a intervenção princi- ciais, faz Jús à gratidão de todo o pais.
pal do Estado se deve concentrar na criação de Estes esta.belecmentos, porém, de tipo fami-
escolas para educação de anormais, viciosos e liar, embora tecnicamente perfeitos, não podem,
criminosos. . entretanto, ser tidos como solução completa do
O campo da infância meramente abandona- problema da infância. abandonada, por motivo
da é mais apropriado à Iniciativa da caridade de ordem material irremovivel: - não poderão
privada, que se deverá encarregar de promover ser em número e em espaço suficiente para abri-
a c~eança necessitada .~a adequada educação g~r tOdas as crianças necessitadas de tnterna-
familiar, embora sob VIg!lancia dos poderes pú- çao.
blicos. Com efeito, a capacidade máxima calculada,
Que vemos, entretanto, entre nós, ainda por exemplo, para a Cidade dos Menores Abando-
atualmente? nados, de São Paulo, será como vimos, a de
De uma parte, ainda não temos estabeleci- 2. 000 internados (Esolina Pinheiro, obra e local
mentos para creanças anormais, a não ser quan• cits.), ao passo que o número de menores care-
do cegas ou surdas-mudas. cedores de assistência no Distrito Federal, se-
Quem nos diz ê o eminente Desembargador gundo afirma o Desembargador Vicente Plragi-
Saboia Lima, quando Juiz de Menores desta Ca- be, alcança a 250.000 (id., pág. 107).
pital: - "No tocante à assitência aos menores 10. - Urge, portanto, procurarmos outros
anormais (escreve ele) estamos atrazadisslmos. meios de ação, além dos precedentemente expos-
Não temos estabelecimentos para menores de- tos, para a solução, ainda que meramente par-
bels mentais, nem para nevropathas, psycopathas cial e restrita a certos aspectos, do referido pro-
e epilépticos. O assunto é dos mais importantes blema.
de quantos aqui sucintamente se debatem. O Para esse efeito, o ponto fundamental será
alcool, a sífilis, a herança de nevropaticos e epi- certamente procurar obter para a criança mate-
lépticos, uma infinidade de fatores morbigenos rial ou moralmente abandonada, na medida do
tornam grande número de menores anormais. O posslvel, o setuinte: - habitação, alimentos,
Código determina que a autoridade submeterá vestuário, educação Intelectual, profissional, re-
os menores anormais a tratamento apropriado, llglosa., moral, disciplinar e de habitas de tra-
mas na realidade nada possuímos no Rio de Ja- balho, num ambiente familiar adequado.
neiro, a não ser os estabelecimentos especiais Como, porém, seria isso possível?
destinados aos cegos e aos surdos-mudos. Nos Não poderemos, certamente, pretender que o
poucos dias que exerço o cargo, tenho presen- Estado seja obrigado a, com enorme sacnficio
ciado casos dolorosos de menores anormais, sem financeiro, remodelar os Abrigos existentes e
poder solucionar'• (apud Maria Esolina Pinhel· criar novos sob a forma preconizada de "nú-
ro, Serviço Social, pág. 111) . cleos isolados sob sistema familiar".
"A falta de estabelecimentos adequados en- O mais natural, portanto, é que procuremos
tre nós, como alega o eminente magistrado (co- promover a colocação dos menores simplesmen-
menta, a propósito do texto supra, D. Maria te em casas de famílias idoneas.
Esolina Pinheiro, no seu excelente livro sobre Nesse sentido é que João Chavoo nos acon-
ServiÇo Social) , determina a vida em promis- selha, como solução ldéal, a "colocacão sem
cuidade de todos os internados, anormais e nor- pagamento" de menores, em oa.sas de ·família,
mais . Os prejuízos dessas vidas em comum são "por seus serviços".
1ncalculaveis. (obra citada, pág. 111). A dificuldade, porém, está de um lado em
encontrar boas familias que aceitem menores em
De outra parte, os Abrigos criados pela Es· tais condições, e, de outro, evitar que estes sejam
tado para os menores abandonados não preen- maltratados ou explorados e não sejam conveni-
cham em regra seu objetivo: "Apesar do esfor- entemente tratados e educados.
ço dos dignos magistrados que teem passado pelo
Juizo de Menores (escreve D. Maria Esolina Pi- 11. - A entrega do menor a qualquer pes-·
nheiro), os nossos estabelecimentos para as cri- soa que pareça idonea, sem mais atento exame,
anças abandonadas não preenchem sua finalidade e sem compromisso de ulterior remuneração e de
educativa". "Em internatos de.saparelhados os vigilância, traz as consequênclas tão duramente
menores ficam, apenas, segregados. Todo segre- descritas por Franco Vaz: "Os nossos pretores
gado é um recalcado, é um dissimulado, !gno- (escrevia ele), à falta de ·destino para esses des-
rando suas próprias tendências, desconfiado de graçados (menores em abam:lono), entregam-n•os
seus próprios impulsos. Quem saberá o que eles com frequência e quando a sua intervenção é re-
farão ao entrarem em contacto com a socieda- clamada, a pessoa que, aparentando certa decen-
de?'• "O que impressiona sobretudo, na situa- ela, são, grande número de vezes, de moralidade
ção dos abrigados pelo Estado é continuarem duvidosa. A criança vai para um perigoso foco
quasl nas mesmas condições de abandono moral em vez de ir para um santuário. Assiste a cenas
em que viviam, tendo mais um teto apenas, degradantes. E' o criado mais reles da casa. E'
tanto que, ao salrem, se encontram desapare- o portador para as compras no armazem, na qui-
lhados de quaisquer elementos para um inicio de tanda, no açougue, no botequim, em todos esses
Vida" (obra citada, págs. 102 ,e 104). lugares frequentados por gente de toda espécie.
9. - E' verdade que, ultimamente, se vem Nessas idas e vindas ele tem sempre meia hora
processando um movimento de reação para me- para cumprir o mandado e outra meia para a ca-
lhorar esses Abrigos, com a creação da "Cidade poeiragem, e para a vadiação. Quando chega à
dos Menores Abandonados" de S. Paulo e da C!- casa apanha uma surra. E' toda a educação que
dade das Meninas, desta Capital. lhe fornecem: oanoada de fazer dó. Os desal-
"Consta (aquela) de pavilhão de resldên- mados e retrogrados não compreendem que já
ela, Igreja, grupo escolar, escola profissional, está passado há multo o tempo em que o pau
campo de esportes, e tudo quanto de carinho e e o pontapé, a palmatória e o cachaçio tinham
cuidado corações femininos podem dar a meno- maior poder do que um simples olhar ou uma
res sem teto e sem lar. o plano geral é para I enérgica admoestaxãO, do que !}. privação da li-
educação de 2. 000 crianças alojadas em 40 pav1- berdade e a prlvaçao daquilo que a criança. mais
(87)
102 ARCHIVO JUDICIARIO (SUPLEMENTO) 5-3-43
deseja. A missão dessa espec1e de "educadores", (Proposição n. 2, apud Evaristo de Moraes, obra
a quem os juizes entregam. os desgraçados que citada, pág. 101) .
reclamam a sua atenção, é desempenhada por 13. - Refletindo sobre a matéria, e pro.
esse modo deshumano e claudicante. Nem si quer curando anciosamente uma solução prática, ocor-
mandam o pequeno ao colégio, raras vezes o en- reu-nos, desde 1929, uma idéia que nos parece
sinam a ler. Ha os que dizem não desejar cria- preencher todos os requisitos acima citados, e
dos literatos, nem precisar de doutores na co- ser, portanto, destinada a ter pleno êxito, em-
zinha. Por muito favor, e quasi sempre com bora, como dissemos, o pouco tempo em que es-
muito ma vontade, alguns recolhem mensalmen- tivemos, em Queluz de Minas, à testa da Socie-
te à Caixa Econômica, em nome da pobre crian- dade de Patrocínio de Menores, não nos tenha
ça, cinco ou dez mil réis e dão-lhe algumas pe- permitido uma experimentação concreta.
c;:as de vestuário, em geral feitas de roupas suas, Consiste essa Idéia no seguinte: - em vez
Jà postas fora do uso por imprestaveis. O Dr. de criarmos diretamente uma escola nova, ou de
Viveiros de castro, um dos ornamentos da nossa recorrermos simplesmente às famílias existentes,
magistratura, tratando perfunctoriamente do formaria.mos uma instituiç.ii.o por assim dizer
problema da infância abandonada, em um ràpi- intermediária entre a família e a escola.
do capítulo da sua obra "A Nova Escola Penal", Para esse efeito, escolheriamos determi-
toca de passagem nesse ponto e condena formal- nado número de famílias que preenches-
mente essas colocações em família, pelo processo sem os dois requisitos seguintes: a) de um
nosso, considerando-as uma exploraç§.o da parte lado, deverão ser idôneas e ter meio de vida
dos que querem criado de graça e por pequeno pró::-rio, de forma a não pretenderem tirar sua
preço" (Francisco Vaz, A infância abandonada, manutenção apenas do trabalho dos menores a
página 133) . serem internados; estes deverão vir a ser trata-
Lembremos, ainda, as tremendas palavras dos como "filhos adotivos•' e não como emprega-
de Evaristo de Moraes, a propósito dessa entrega dos mais ou menos escravizados ... ; b) de outro
apressada e descuidada de menores a farnilias lado, o trabalho a ser prestado por tais fami-
mal selecionadas: "Daria revelação dolorosas um lia;s _deverá ser remunerado por uma subvenção
inquerito acerca do destino das meninas que a mod1ca, correspondente a cada menor inter-
Justiça confia a particulares" (Criminalidade da nado.
Infância e da Adolescência, pag. 228) . E', com efeito, uma regra de ação prática
Não era certamente esse processo simplista e que todo o trabalho deva ser remunerado.
arbitrário de encaminhar, ou melhor de desem- E seria um absurdo, realmente, supor que
caminhar os menores abandonados, o processo se poderia obter que, a n§.o ser em casos exce-
que João Chaves aconselhava e o Congresso Pe- pcionais, famílias idôneas se apresentassem para
nitenciário de Stockholmo, de 1878, preconiza va, assumir a responsabilidade de receber em suas
quando proclamavam que o idéia! nessa maté- casas crianças desconhecidas, com o encargo de
ria seria encontrar familias inteligentes oH:re- as manter e educar, perturbando o conforto e a
cendo garl).ntias e dispostas a se encarregar da tranquilldade do proprio lar, sem esperança
educação de tais crianças (Franco Vaz, obra ci- duma recompensa material ou, pelo menos, sem
tada, pág. 132). a garantia de não ter de fazer sacrificios fi-
12. - O que João Chaves e, em geral, todos nanceiros, desequilibra.ndo o seu próprio orça-
os escritores teem em vista é que, após a entrega mento doméstico!
da criança a uma família, permaneça esta sob Esta subvenção a que nos referimos poderá
inspeção e fiscalização rigorosas do Estado e de consistir numa quantia fixa mensal, ou, o que
corporações (obra citada de João Chaves, pá- será melhor, poderá consistir em duas parcelas:
gina 128) . uma parte certa, de remuneração da familia
Alguns escritores ainda vão além, sustentan- escolhida., e outra calculada até um determina-
do que, longe da colocação do menor dever ser do máximo, para as despesas com cada menor in-
feita apenas "pelos seus serviços", e "sem outro ternado, ficando subordinado o cálculo do seu
pagamento", ao contrário, deve a mesma ser exato montante à verificação das despesas men-
sempre subvencionada. sais relativas a cada menor. ·
De acordo com esses mesmos autores, o se- Por este último sistema, a situação da fa-
gredo do êxito do sistema da colocação familiar mília em questão ficaria análoga à em que se en-
adotado em certos Estados da União Americana, contram, por exemplo, os funcionários e os em-
bem como na Alemanha e na Suiça, estaria pre- pregados particulares graduados. os quais, por
cisamente em que o tesouro de tais paises "gas- força do cargo, teem um ordenado certo para
ta importantes somas com essa colocação e com seu próprio uso e são obrigados a prestar contas
a respectiva fiscalização•' (Franco Vaz, obra ci- das quantias que despendem na administraç§.o
tada, pág. 132). dos serviços que lhes sejam afetos.
"Cantões existem (escreve Franco Vaz, a pro- Deve-se ainda notar que: a) a família, nas
pósito da Suiça) em que as crianças confiadas condições indicadas, ainda terá como lucro os
à autoridade municipal são por esta entregues serviços domesticas que os menores internados
a particulares que para valerem pela sua educa- lhes deverão prestar, na forma que será prescri-
ção RECEBEM UMA PENSÃO. A criança é Visitada ta no "contrato'• ou "estatuto" de organização
periodicamente, afim de se poder certificar se da Instituição; e terá, tambem, uma parcela no
a sua educação é negligenciada" (pág. 156). produto da venda dos artefatos ou colheitas rea-
Seriam, assim requisitos para o bom êxito lizados pelos ditos menores no interior da afiei·
de tais colocações: a) escolha de família idônea; na, horta, pomar ou terra de cultura que acaso
b) vigílância desta; c) subvenção. pertençam à casa de residência familiar; b) as
Além disso, cumpre ter em vista a recomen- despesas com os menores internados ainda pode-
dação do Congresso de S. Petersburgo, de 1890, rão ser diminuidas mediante recursos externos,
de que a família em questão deva ser não só- p. ex., o do "prato da criança" fornecido por
mente selecionada e inspecionada, senão tambem outras famílias, e, especialmente, por contribui·
"dirigida" pelo Estado na sua missão educadora ção que o Juizo de Menores, em processo rápidO,
(Resolução n. 5, do referido Congresso, apud deverá ser autorizado a impor aos pais ou a quem
Evaristo de Moraes, obra citada, pág. 102), t: competir dever alimentar em relação a cada um
que "em razão das experiências feitas, seria de dos menores, etc.
toda a conveniência, podesse ser conciliado o 14. - Toda essa organização consta do PrO·
sistema de colocação das crianças nas familias j jeto de Regulamento que publicamos no jornal
com a manutencão nos estabelecimentos, visto de Queluz "A Cruzada'', de 28 de Setembro de
que esses dois sistemas, considerados isolada-i 1930, relativamente à constituicáo duma "!am!-
mente, apresentam vantagens e desvantagens" lia-abrigo" ou "lar adotivo" para recolhimento
(88)
5-3-43 ARCHIVO JUDICIARIO (SUPLEMENTO) 103
de menores de 7 a 14 anos, em número máximo res, visto como: a) criaríamos verdadeiras "es-
de cinco internados. colas de preservação•' em que o regime discipli-
Ai se estipulava que só seriam recebidos "or- nar se associaria ao de organização estritamen-
fãos desvalidos, meninos desassistidos e cujos te familiar; b) o custo de tais escolas se reduzi-
pais tenham sido privados do pátrio poder ou ria ao mínimo, dispensando rrastos superfluos,
que, pela sua situação, não possam cuidar da como sejam aluguel do prédio, funcionalismo
educação dos filhos" (art. 4), "não devendo ser graduado, etc., e com a intervenção direta do
recolhidos menores pervertidos, delinquentes ou Estado, que poderia limitar-se apenas ao papel
anormais, aos quais serão reservados "lares ado- fiscalizador, o qual, aliás, poderia ser, em sua
tivos'• de outro gênero" (art. 6). maior parte, preenchido por uma sociedade de
A internação se faria mediante comunicaç3.o patrocínio; c) os menores recolhidos em tais
do Juizo de Menores ou do próprio pai, tutor "famílias-abrigos" teriam não sómente casa, co-
ou pessoa sob cuja guarda se achasse o menor, mida e regime educativo, como, acima de tudo,
com autorização do juiz competente e documen- obteriam o que lhes faltaria, em geral, nos gran-
tos relativos à idade e estado físico, mental e des "Abrigos" ou "Escolas'• congéneres mantidos
moral do internado (art. 5), devendo ser provi- pelo Estado: - um coração amigo e vigilante;
denciada pela Sociedade de Patrocínio de Me- um ambiente doméstico, como substituto, em-
nores ( art . 5) . bora imperfeito, do meio familiar natural que é
A casa destinada à internacão deveria ter o "caldo de cultura'•, sem o qual nunca uma
obrigatáriamente terreno onde podessem ser criança poderá crescer feliz e adaptada com as
construidos uma horta e um pomar (art. 7). condições normais da vida social!
Os internados deveriam ser empregados na 16. - A pensão acima referida a ser dada
cultura desse terreno, alem de obrigados à fre- aos chefes de cada "família-abrigo" poderia ser
quência do Grupo Escolar mais próximo (art. angariada pela Sociedade de Patrocínio unica-
7, parágrafo único). mente de seus sócios.
O "Chefe de Familia" deveria informar-se Si, porém, o Estado entendesse de dar, para
da situação do menor, preenchendo a respectiva esse efeito, uma pequena subvenção, seria de toda
ficha (art. 8). a conveniência que esta fosse rigorosamente
Além do Chefe Diretor, deveria haver um aplicada única e exclusivamente para o fim aci-
"guarda-empregado", encarregado da vigilân- ma indicado, isto é, para remunerar um deter-
cia e da condução dos menores à escola, bem minado número de chefes de "família-abrigo".
como dos serviços domesticas (art. 9). Para esse efeito, entretanto, cumpriria ao
Os internados seriam interessados na admi- Estado optar por um dos dois seguintes proces-
nistração e regime disciplinar, sendo incumbi- sos, radicalmente diversos: '
dos tambem, por turmas alternadas, do asseio do a) ou pagar diretamente tais "chefes" de
prédio, serviços de copa, consertos de roupas, au- família, em folhas de pagamento, - e, nesse
xílio da cozinha e trabalho de jardinagem, hor- caso, teria de, previamente, nomeá-los como
ticultura e pomicultura, sendo tambem esca- extra-numerários ou como funcionários propria-
ladamente aproveitados em serviços de escri· mente ditos;
turação (art. 11, e seu parágrafo único). b) .ou entregar a subvencão à Sociedade de
Seria redigido um regimento interno, no Patrocínio, para que esta págasse aqueles com
qual se disporia sobre programas, penas, re- quem houvesse "contratado".
compensas, honras, etc. (art. 12) . Neste segundo caso, os "chefes de tamilia"
No sistema de coerção adotado para os me- seriam meramente partes contratantes, com con-
nores seriam proibidos os castigos corporais, e trato particular, sem qualquer regalia inerente
os processos de intimação capazes de lhes abater à função pública. E, quanto à Sociedade, cunl-
o moral (art. 13). prir-lh e-ia prestar contas rigorosas da aplica-
Poderiam ser aplicadas as seguintes penas: ção da subvenção recebida.
repreensão, privação do recreio, privação do re-
creio com trabalho, separação temperaria do nú- Destas duas modalidades, parece-nos evi-
cleo de companheiros, reclusão em células (ar- dente a inconveniência da primeira.
Com efeito, com a nomeação de "funcioná-
tigo 14).
A educação fisica compreenderia a higiene, rio", o chefe da familia em cuja casa forem co-
a ginástica, os jogos desportivos, o trabalho diá- locados menores adquirirá direitos especiais con-
tra o Estado, peculiares a toda a função públi-
rio na lavoura, os exercícios militares e outros· ca, onerando, portanto, o tesouro com encargos
adequados (art. 15).
A educação moral seria dada pela moral prá- novos.
tica, abrangendo todos os deveres do homem E, além disso, a sua funcão tenderá a buro-
para comsigo e para com a sociedade e pelo en- cratizar-se, e a escapar à vigilância das Socie-
sino religioso (art. 16). dades de Patrocínio de carater particular, desvir-
A educação profissional consistiria no ensi- tuando-se, ainda, a idéia referente à interna-
no da agricultura e de um oficio; os trabalhos çio de menores em casas de família, que é a de
do campo seriam obrigatórios (art. 17). auxiliá-las e não a de transformá-las em escola
O ensino cívico e intelectual seriam dados oúolica.
na Escola Pública (art. 18). Ao passo que a segunda das soluções acima
Dos produtos da venda de artefatos e co- expostas colocará cacla "família-abrigo" na es-
lheitas, parte caberia ao menor, parte ao Chefe trita dependência da Socledacte de .Patrocmto,
da Família e parte à Sociedade subvencionadora .. dentro dos limites do "contrato" com esta la-
A subvenção seria de 40$000 mensais por vrado.
menor. 17. - Devemos, ainda, ressaltar ser de toda
O Regulamento em questão vigoraria como a conveniência que o "contrato" a ser lavrado
contrato, sob fiscalização constante da Sociedaae entre a Sociedade de Patrocínio e os chefes de
de Patrocínio de Menores. "família-abrigo" não seja uniforme nem perma-
15. - Adotando-se um plano análogo ao nente, mas sempre variavel, para cada caso con-
acima exposto, e estabelecendo-se um salário creto, além de progressivo.
certo para remuneração dos servicos do Chefe da Começaria, por exemplo, por se referir a
"familia-abrlgadora" e uma quantia máxima de uma colocação de menores a simples título pre-
despesas de internação, pensamos que poderíamos i cário, com pequena subvencão e rigorosa vigi-
oJ;ter com facilidade a disseminação desse novo J lância. ·
genero de internaç.!í.o. . Decorrido certO tempo, e comprovada a ido-
E, si tiveSSe êxito esse projeto, teríamos obti- neidade e eficiência da família escolhida, lavrar-
do o idéal em matéria de preservação de meno- , se-ia novo contrato, com maior prazo, estabil!da-
(89)
104 ARCHIVO JUDICIARIO (SUPLEMENTO) 15-3-43
Desde 1930 esta idéia crepita, sob cinzas, no, como mesmo um dever imperioso de conciên-
-em nosso cerebro, impedida de ser executada de- cl.a., dar publicidade a estas nossas idéiaS, que.
vido às circunstâncias, visto como não poderia são fruto de mu1ta refleXi.o e de alguma expert-
triunfar, como dissemos, sem o apoio oficioso ência, - certo de que, si tiverem a utllidade
(embora não oficial nem financeiro) por parte que lhes at_ribuimos, estarão confiadas a exce•
do Estado. lentes mãos que a tornarão em radiosa. reali-
No momento, porém, em que vemos a nóbre dade, para beneficio geral do povo e especial-
esposa do Chefe da Nação assumir a iniciativa mente das classes mais necessitadas· e da nova.
dum tão complexo e grandiOSO plano de Assis- geração que a.bre Os olhos para a vida e cons.
tência Social, parece-nos, não sómente oportu- titu1rão a pátria do futuro. ·
(111)
O art. 15, n. 16, da Constituição e o
imposto sobre os atos processuais
PELO
No terreno dos princ1p10s, ou a proibição negocias que são regulados por lei federal, e,
seria absoluta, ou, se o não fosse, não haveria alem disso, estão sujeitos exclusD.vamente a im-
como obstar aos extremos a que a faculdade posto da União.
poderia chegar: "If the states may taa; one A União, é certo, pode tributá-los, e só ela
instrument employeà by THE GOVERNMENT ín tem esse poder. Nem é tudo. Esse poder ex-
the execution oj its power they may tax anã eve- clusivo advem-lhe db próprio art. 20, I, e, mas
ry other instrument. They may taa; the mail; não da disposição final desta alínea, relativa aos
they may tax patent right; they may tax the atos regulados por lei federal, e sim da sua'
papers of the customhouse; they may tax JUDI- parte inicial, atinente aos atos do governo fe-
CIAL PROCEss; they may tax a!L the means em- deral e aos negócios da economia da União.
ployee by THE GOVERNMENT to an excess which Por leis federais é que são regulados os
would· defeat a!L the ends of government". atos do governo da União e os negócios da sua
(MARSHALL). economia. Pois bem: apezar disSo, como vemos,
Na mesma ordem de idéias, adu.z HEAltE: o legislador constituinte fez desses atos e ne-
"It was only by implication that the TREASURY, gócios uma categoria à parte, a que se referiu
the ARMY, the NaVY, the JUDICIARY Of the Unton de modo especial.
were sheltereà from taa;ation by the States" Por que isso, senão porque os atos a que
(Amertcan Constitution Law, pâg. 256) . se refere a disposição tn fine, são de uma na-
Como se vê, jurisprudência e doutrina alu- tureza diferente daquela pela qual se caracte-
dem especialmente ao imposto sobre o poder rizam os atos especificados in principio?
judiciário. Os atos regulados por lei federal, de que
KENTY refere-se precisamente ao selo, ao trata, sob esta fórmula, o art. 20, I, e, são,
imposto que, sob essa forma especial, recáia so- como se há de ver, atos de particulares.
bre os atos processuais, e diz: "It has been helà Entre eles, por isso mesmo, não se incluem
that Congress cannot constitutionally tax the os próprios atos do processo movido perante a
salary of an state juàge. Anã the same princi- justiça da União, como se não compreendem
ple has been thought by severa! state courts os processados perante a administração federal.
to apply to the requirement of a sTAMP on the Uns e outros, devemos procurá-los entre os atos
recotàs of state JUDICIAL proceeàing, etc. (Com- do governo.
mentaries, pâg. 429, nota). E' o que passamos a mostrar.
Tambem CooLEY informa: "It has been repea- O termo governo, do mesmo modo que o
tedly àeciàeà that the act of Congress which termo economia, tem mais de uma acepção.
ptovided• that certain papers NOT sTAMPED should Tomado o último na sua acepção mais am-
not be receiveà in evidence must be limiteà in pla, a economia da União compreenderia todos
its operation to the FEDERAL COURTS" (COOLEY). os negócios realizados no território do pais
Por que isso? Porque a tributação, tal seja, (Constituição, art. 40) .
pode tornar dificil senão impossível, o recurso Mas evidentemente não é nesse sentido que
à justiça local: ". . . hence otherwise Congress o vocábulo vem no art. 20, I, e.
might impose such restrictions upon the state Noutro sentido, ainda lato, a economia da
courts as woulà put an end to thetr effective União é a sua economia orgânica, o complexo
action, anã be equivalent pratically TO ABOLIS- da sua estrutura e do seu funcionamento, e,
HING THEM ALTOGETHER". assim considerada, nela entram todos os orgãos
Generalizando essa razão, já MARSHALL ha- da União, bem como as funções desses orgãos,
via dito no caso Me CULLOCH V. MARYLAND: isto é, os atos dos poderes federais. "Puisque
ce que généralement jait un organe s'appelle
"That the power to taa: involves the powet to sa fonction, les actes de l'autorité qut tont partie
destroy; that the power to destroy defeat and de la compétence de Z'organe, s'appellent les
render useless the power to create" . jonctions. de z:organe de l'autorité (M. KAR-
o art. 20, I, e. Nas palavras finais desta KOUNOV).
alinea é que está o argumento em torno do
qual se estabelece a discussão, pois, de acordo Mas a dlsposiçã.o constitucional refere-se
com ela, cabe à União, e somente a esta, tributar tambem, e especialmente, a atos do governo, e
"os atos do seu governo, negócios de sua eco- isto restringe o conceito em que nela devemos
nomia, INSTRUMENTOS OU CONTRATOS REGULADOS tomar a economia de que trata.
POR LEI FEDERAL". Entre os negócios da economia da União,
Tais são, de fato, os termos da disposição. portanto, não está todo e qualquer negócio do
Podemos, porem, entendê-la sem ter em Estado Federal, considerado nos seus dois as-
vista o art. 32, c? pectos Estado-pessoa e Estado-poder, mas
De modo nenhum. somente os do Estado-pessoa, como sejam os re-
Longe disso, cumpre-nos combinar as duas lativos aos seus bens, a que alude o art. 32, c.
disposições, vendo na letra c do art. 32, uma Quanto ao termo governo, que, numa ace-
regra, que, pelas razões em que se ins.,Pirou, é pção estritfssima, se confunde com o Poder Exe-
excepcional e preponderante. cutivo, compreende noutra, menos estrita, esse
A União pode tributar os atos regulados por poder e o Legislativo, e, lato sensu, vem a ser
let federal, contanto, porem, que o imposto não a reunião dos trés poderes.
recaia sobre serviços, bens ou rendas dos Es- Neste sentido, o governo não está em ne-
tados, ou dos Municípios. Eis a regra com a nhum dos três, senão no conjunto; mas os atos
sua exceção. de qualquer deles são atos do governo.
Essa exceção, como havemos de ver, é rea- Foi tomando o vocábulo nessa acepção que
firmada, quanto zos Estados, no art. 23, I, g, STORY escreveu o seguinte, nos seus Commen-
onde a Constituição declara que só os Estados taries on the Constitution of the United States:
podem tributar os atos do seu governo e os ne- "In the convention which framed the Constt-
gócios da sua economia. tution of the Uniteà States, the first resolution
Aliás, não são apenas os atos e negócios es· aàopteà by that body, was, that a national go-
taduais e munidpaüs que deixam de se enqua- vernment ought to be establisheà, consisting of
drar na disposição final do art. 20, r. e, tirando- a supreme legislative, JUDICIARY, cmà executive.
lho o carater de generalidade a•bsoluta, que, à Anã from this fundamental 'proposition spring
primeira vista, iPareça ter. Nela não se compre- the subsequent organization of WHOLE Gover-
endem até mesmo certas categorias de atos ~ nment of the Uniteà states". (§§ 518 e 5 191).
(94)
5-3-43 ARCHIVO JUDICIARIO (SUPLEMENTO) 109
'I
atos das três entidades União Estado e Mu- I, g, segundo a qual os negócios regulados por
nicfpio, exgotando as 'categorias desses atos lei est.adual são tributáveis pelos Estados, não
(arts. 20. I, e, in principio, 23, I, g_. 32, c e 26) se apltca, ape;sar da gen~ralldade dos seus ter-
a Constituição de 1937 deixa claro que na mos, aos negocies municipais, do mesmo modo
fo~muia instrumentos ou contratos regulados por
1 et federal,
que o art. 20, I, e, in fine, é inaplicável aos ne-
só se incluem os atos de pe!rticulares, gócios municipais e estaduais.
(95)
110 Ail.CHIVO .JUDlCIAil.IO (SUPLE:\IE~TO) 5-3-43
tência da União "decretar taxas de selo, salvo Diremos, sem embargo, que a sua função
a restrição do art. 9°, § 1o, n. 1". não é essa, isto é: que não são expressó<'s equipo-
No art. 9°, § 1°, n. 1, declarava que compe- lentes negócios da economia dos Estados e negó-
tia aos Estados, "decretar taxa ele selo quanto cws regulados por lei estacl1lCA; que por lei es-
aos atos emanados elos seus respeeti\'OA !!:overnfls tadual só negócios ele direito pHoiico podem. ser
e negócios ele sua economia". .. regulados, h a vendo, entretanto, negócios da eco-
Jo.~o BARBALHO, comentando o art. 9°, deu nomia elos Estados que são regulados por leis ele
ao termo economia u1na latitude demasiada, in- clucdo pnraclo; que a propria legislacão federal
cluindo na economia :ias Estados os atos elos par- reconl1ece isso. ·
ticulares, a que chamou atos ela 1:icla ciüil. Leis atinentes ao imposto elo selo já con-
Assim, ele um modo geral, a não serem o< fundiram, entre nós, 6 verclac!e, os negócios re-
atos excluiclos ç:la tributação estadual pelo artigo gulados por lei estadual com os negócios ela eco-
10 ela Constituição, que vedava aos Estados tri- nomia elos Estados. Houve uisso, eligamos assim,
butar servicos, bens e rendas ela Uniilo, os atos um descompasso, com que se replicou ao outro,
que se passassem no território ele .cada um inci- pelo qual sustentllram alguns autores que ca-
diriam sob o seu poder tributãrio, como se o biam aos Estados os impostos sobre os atos· re-
território de cada Estado não fosse tamlJem ter- gulaclos por lei federal, excetuados os atos elo
ritório .ela ·União, isto é, como se não fosse na- governo ela União e os negócios da sua eco-
cional a economia particular. nornia.
Essa inteligência não vingou. A lei elo selo Mas esse erro foi corrigi elo.
promulgada posteriormente à promulgaçflo, do A lei Yigente (clecrctu-Jci 4.655, ele 1912),
estatuto constitucional, repeliu-a, e foi pam por exemplo, cst~tuiu o seguinte:
exclui-la. •do art. so, I, h, ela Constituicào cl~ "Art. 51 - Sao isentos ele selo os papeis em
193-±. que esta yeio a üncerrar, no art. 6.Ó, I. c. que o on11s elo imposto, ante as normas cleste
in jine, a disposiçio reproeluzicla, com a moelifi- clecrcto, recaia c.rclltsiüamcntc sobre os Estados
cação já assinalada , no fim elo art. 20, I, e, da e Municipios.
Constituicão de 1937. Pnní.grnfo ünico - São LHnben1 isentos ele
O ART. 23, I, g. Enumerando os impostos es- selo os contratos ele emprcstimo~. ~olJ qualquer
taduais, diz a Constituiç'io, no art. 23. I, que moclaliclllel<:. clesele que o mu~1.ü•.ri<J seja a União,
c01npete exclusivamente aos Estaclos tributar: o Estad-o ou o Município, e heDl ::<csini ns opcra-
g) - os atos emanados elo seu go\·erno e çõe.:; can1biais ou bancárias ~·e;:;tütantcs clesses
negócios da sua econonna, ou regulados por lei contratos".
estaclu:1l. Este elispositiYo substitue o art. i2, b, ela
Depois do que elissemos a respeito elo art. lei anterior, 202. ele 1936. por anele eran1. de-
20, I, e, pouco nos cabe acrescentar aqu1. cl,rcHios isentos elo imposto os atos ou negócios
Se os atos elo próprio processo jecleral nfw ela economia elos Municípios e elos Estados, ainda
se compreendem entre os instrumentos regulaclos que rcgulaclos por lei federal:
por lei federal, a que alude essa disposiçào, qus b) a tu.::; ou ne6ócios ele sua ccono1nül, asshn
há de estranho em que aí se não enquadrem os consicierllclos os ele interesse imecliato ou direto
a tos elo processo estadual? elos Estados e Municinios".
Sob a Constituição de 1891, que não aludia Nas suas aplicaçõês, o art. 51. transcrito,
a atos Teg1LZados por lei estadual, nem a atos elo no\·o decreto, mostra.r-se-á, ou não, Ieliz nos
?'egulaclos por lei jederal, era entre os a tos elo termos em que está expresso, lllllS, como quer
governo do Estaelo que se incluimn os atos elo que :oe'ja, por ele, lJcm como pelo art. 12, a, ela
processo estadual (art. 93, § 1 o, n. 1) . lei anterior, n. 202, se \'C que foi reconhecido
Ora. se estes atos ermn atos elo governo elo o equh·oco ela confusita anterior, em virtude ela
Estado, não terão cleixaelo ele o ser porque tal qual se clefiniam os atos ela economia elos Es-
processo passasse a ser regido por lei federal. t,relos clizcnelo que eram os lltos regulados por
Cs atos elo gcvcrno elo Estado, s2jan1 reguh- lei estadual.
àcs por lei cstaellwl, ou por lei federal. cons- CONCLUSAO - A.'sim, pots, temos:
titUéln uma categoria especial. que' refoge, por
e:strt cspccialiclacle, no ilnpnsto cl~ Uniüo. a) que a clisposiçüo contida nas últimas pa-
Se a ele só se substraiss~n1 por serem. re- lan·as elo :ut. 20, I, r, náo tem o cm·ater de ge-
gulados por lei estadual, a que viria a referên- neralidade que ~'I primeir·.l •;ista aparente, ha-
cia que lhes faz especialmente o art. 23, I, g. vcnelo lltos re(iulaclos por lei federal, que, no
quando tambem alude à categm·ia geral dos ato;; entanto. nCto süo por ~lrt ~.l:'l'.1ng·iclos, elos quais
regulados por leis dos Estados? UEs cscr~pam à tributac·lo federal, e outros, que
Bastaria, em tal hipótese, que, na citaela ali- lhe nüo refogem, só incidem nela por efeito ele
nea, o art. 23. I, declarasse ela competência outras disposições, como seJam os atos a que a
exclusiva dos Estaelos o imposto sobre os atos propria letra e do art 20, I, alude na sua dis-
TcgulUclos por lei estadual, se o legislador não posicüo inicial; ,
preferisse dizer que os Estados só poderiam tri- b) que as palavras finllis elo art. 23. I, g,
butar ds atos não regulados por lei tecteral. exprin1e1n uma regra a que falta a generalidade
Procedendo, no art. 23, I, g, ele um modo que seria necessária para compreender todos os
semelhante àquele por que procedeu no lll't. 20. atos sujeitos exclusivament-e; á trilJutacãu elos Es-
I, e. isto é. distinguindo entre os atos elos go- tados. só a tendo o lec;islaclor estabeiecido por·
vernos elos Estados e os regulados por lei esta- que, se não é suf:.cientemcnte compreensiva,
dual. como distinguiu entre os atos elo governo· tem todavia a virtude ele ser absoluta, no to-
da União e os regulados por lei federal, o legis- cante aos negócios estaduais;
lador constituinte tornou patente que os atos c) que a justica estlldual é servico dos Es-
do governo estadual não podem ser tributados tado~ (Const .. arts.' 5°, 32, c, e 23, I, g');
senf10 pelos Estados, por isso só que são atos cl) que os serviços estaduais somente pelos
elo governo estadual. Estaclos poclem ser tributados;
A disjuntiva ou, que antecede, no art. 23, I, e) que tributar um ato elo processo judicial,
[!, a locuçflo regulados por lei cstad ual, não vem sendo estadual a justiça, é tributar esta e, por
elepois elas palavras atos elo governo dos Estados, 1sso mesmo. o governo elo Estllelo;
n1as sim em seguida a negócios ele sua economia, /) que os atos rcgulllelos por lei federal a
e, como já se viu, é entre os atos do governo que que se I".~fen; o art. 20, I, e. süo atos ele parti-
incluimos os atos 7nocessuc•is. Não temos, por cu!an's, atos privados (ncgatin), que não per-
isso, neces.siclllcle ele mostrar que o fim de tal dem. este carater ainda CJlWI1Clo reduzidos a ins-
conjunç8.o nüo é estabelecer uma sinonímia. tnmwnto público.
(96)
5-3-43 ARCHIYO JUDICIARIO (SUPLK\lENTO) 111
Dividindo, entre os Estados e a União, os Em matéria tributária, domina ali, com três
poderes e as funções por cujo meio a nação deve exceções, a regra da competência concorrente.
demandar os seus fins, a Constituicão cometeu Baseando nessa competência o seu imposto sobre
aos Estados, e não à União, o servico de distri- o Banco da União, o Estado de Marlyand defen-
buição da justiça, isto é, da aplicação da lei deu-a dizendo precisamente que não era de pre-
aos casos particulares, nos territórios estaduais. sumir viessetn os Estados a exceder-se no exerci-
A Constituição defende, no art. 32, c, o Po- cio dela: "that the Constitution leaves them right
der Judiciário, juntamente com os demais po- in the conjidence that they will not abuse it . .. ;
deres dos Estados, contra o contrõlo da União, (STORY, op. cit., § 1037).
como, no art. 103, o ampara especialmente, por Mais foi apesar disso que os. tribunais fir-
meio ela garantias aos juizes, contra os outros maram o princípio: "any such interjerence by
poderes locais. No primeiro caso, tem em vista the indirect means oj taxation is quite as mucíL
a autonomia dos Estados; no segundo, visa à in- beyond the power oj the national legislature as
dependência da justiça. it the interjerence were direct and extreme••.
Foi, em suma, por isso mesmo, isto é, por
Que se pode arguir contra isso? causa da distinção insinuada entre a interferên-
Dir-se-ã que não é de admitir procure a cia direta e interferência indireta, mediant€ im-
União, mediante o imposto, controlar os Estados, postos, que as constituintes brasileiras, todas elas,
ou embaraçar as funções da justiça. estabeleceram, de modo expresso, numa dispo-
Mas foi precisamente isso o que, eontra a sição precisa, a proibição havida como impztcita
tese que sustentamos, se arguiu, nos Estados na Constituição dos Estados Unidos.
Unidos. Rio, 23/1/43.
(97)
PELOS DOMÍNIOS DO DIREITO
PELO
A apropriação das causas pelo homem não Não preten~emos, neste instante, focalizar
pode ser objeto de discussão. Ela decorre "da o grave problema das diferentes formas de pro·
necéssidade de viver. Se o homem fosse espí- priedade: comunista, socialista, ou individual.
rito, como o anjo, a verdade lhe bastaria para O que nos interessa por agora é agitar, sim·
viver. Espir1to unido à matéria, e, por tantos plesmente e com finalidades de pura dogmáti-
lados, dependendo da matéria, ele tem necessi- ca jurídica, as diferentes teorias que, no seio
dade da verdade; mas, ele precisa, tambem; de do pensamento cultural do ocidente, se apre-
pão para nutrir o seu corpo, de vestidos para sentam para entrosar, na sistemática jurídica
cobri-lo, de casa para abrigá-lo, de armas para das nações modernas, a Instituição natural da
defendê-lo, de instrumentos para cultivar a terra propriedade. O que ambicionamos, neste mo·
e sujeitar a natureza ao seu serviço. A sua ati- mento, não é estudar um problema complexo do
vidade se manifesta de dentro para fora. E' filosofia, sociologia, e economia como o comu-
uma sujeição, um sinal de fraqueza, ter neces- nismo, o socialismo ou o individualismo, mas
sidade de tantas cousas; mas, é, tambem, uma examinar tão só um modesto aspecto da orga-
potência, um sinal de realeza, dominar tantos nização legal da propriedade no Brasil, direta·
sereá e submetê-106 às suas leis". (Monsenhor mente ligado a uma das teorias justificadoras
D'Hulst - Conjerences de Notre Dame, 1896, da propriedade privada, e isto com o objetivo
págs. 101-102). nítido e preciso de fazer a critica doutrinária
de um julgado do Supremo Tribunal Federal.
A rpropriedade é, assim, tn.stitluição impres-
clndivel à existência do homem sobre a terra. E, Consoante este propósito, cabe-nos relem·
dada a composição mista da criatura humana, brar, de inicio, que é costume invocarem-se, parat
isto é, formada de razão e de instinto, é evid.en- justificar a propriedade privada, cinco grándes
te que a apropriação, pelo homem, de todas as teorias: a da personalidade, a do contrato, a da
cousas de que ele necessità para se nutrir, ves- lei, a do trabalho, e a econõmtca juridioo-natu-
tir-se, abrigar-se, e se defender, constitue um ral. Pela primeira, a propriedade é derivação
dos elementos mais valiosos da sua dignifica- imediata da personalidade humana. Ela seria,
ção pessoal. E' esta apropriação conciente, aliás, assim, e de certo mOdo, uma parte da nossa
que o distingue dos animais irracionais, que se própria personalidade. Pela segunda, a proprie-
orientam, neste assunto, tão só pelos impulsos dade resulta de uma convenção entre os pró-
incoerciveis do seu puro instinto. prios membros da sociedade. Em tal hipótese,
se un:isversal é, portanto, a compreensão da ela se apresenta como instituição puramente con-
necessidade da propriedade como instrumento de vencional. Pela terceira, ela não passa senão de
vida dign!ficadora de todo e qualquer homem, mera criação do Estado. Este, através das suas
o mesmo já não acontece, todavia, quer com leis, é qu.e lhe dá legitimidade e a mantem. Ela
as formas de que a propriedade deve de se re- é, 'Para esta. corrente, simples instituto de Di-
vestir no seio das sociedades humanas, quer com reito Positivo. Pela quarta, a propnedade surge
respeito às teorias qu.e procuram justificar mna com características próprias, porque é já o pro-
daquelas formas, e que, entre todas, é a mais
1requentemente preconlsada: a propriedade tn-
I
duto do trabalho. O homem, para os partidá-
rios deste ponto de vista, consegue, com a pro-
d.ivtdual. priedade privada, guardar para si os frutos da
(99)
114 ARCHIVO JliDICTATIIO (SUPLK\IENTO) 5-3-43
sua atividade individual. Pela quinta, final- Com o correr dos tempos, esta simples en-
mente, a propriedade privada se justifica por trega da causa imovel já não era, só por si,
sua necessidade indeclínavel não só para o de- elemento prático capaz de gerar a estabilidade
sensolvimento tanto das relações econômicas da propriedade. Por falta de conhecimento di-
quanto das relações espirituais e morais dos ho- reto de certas vendas de um mesmo imovel,
mens pal·ticulares entre si e suas respectivas terceiros de boa fé, impossibilitados de saberem
famílias, mas tambem para o aperfeiçoamento da existência destas com base na só tradição, co-
ele todo o conjunto social. Defendendo e exal- meçaram a ser prejudicados. Um imovel situa-
tando esta última teoria, sustenta, com acerto, do em São Paulo, por exemplo, podia ser ven-
Cathrein (Filosojia Morale -- trad _ i tal. ele elido por escritura pública laVrada aqui no Ri·J
Tommasi, vol. 2o, pág. 320): "A única teoria de Janeiro. Como, tempos depois, uma tercei-
verelacleira faz derivar a proprieciade ni:ío do ra pessoa, residente em 'ouro-Preto, e a quem
conceito abstrato ela personalidade humana ou fosse ofereciela nova venda dessa propriedade,
do ela natureza e dos objetos da propriedade, iria verificar se náo tinha sido outorgada, e em
mas, bem assim, da necessidade quasi comum seu prejuíz-o, alem daquela escritura lavrada no
da mesma propriedade para o desenvolvimento Rio ele Janeiro, uma outra escritura, posterior,
salutar de cada indivíduo e de todo o consórcio referente ao mesmo imovel'?
humano. Esta necessidade tem o seu motivo na Urgia, ante esta realiclaele, criada pelas re-
natureza tal qual nos é ejetivamente conhecida lações econõmicas do mundo moderno, dar às
pelct experiência, isto é, com todas as necessi- pessoas de boa fé, empenhadas em transigir com
dades e com todas as forças, com as inclinações imoveis, um meio certo de apurar, cmn rapi-
boas .. e 1nás, que se revelain, em geral, na gran- dez e certeza, todas as transações de que ti-
de massa elos homens". nham sielo objeto esses imoveis. cuja aquisiçã-o
desejava realizar_ Foi dentro desta orientação
A organização legal da propriedade, no que o pensamento jurídico dos tempos mocler-
Brasil, se fi! ia a esta última teoria. O pensa- nos começou a cuidar ele um instituto legal
menta jurídico nacional,,- no qtle tem de mais que servisse de guia seguro para todas as pes-
sadio e de mais expressivo no domínio elo bom sons interessnclas em adquirir imoveis. Inven-
senso e da cultura - , ainda náo se afastou, tou-se, para isto, o Registro de I moveis. Neste
em sulJstãncia, elas diretrizes da teoria eco- existem linos apropriados, onde sáo transcritas,
11ômica jurídico-natural. E' na neccssiclacle, si- e através de extratos precisos. todas as escri-
multánea e paralela, de garantir a expansão turas públicas ele transfercncias ele imoveis.
do inelivíduo e de assegurar o progresso de toda Cacla localidade passou, as.sim, a ter o seu Re-
a comunidade, que a doutrina jurídica brasi- gistro, e todos os imoveis situados naquela lo-
leira faz repousar todo o nosso sistema legal calidade deveriam de ser lançados nos respecti-
da propriedade privada. E' em tal sentido que se \'OS livros próprios, pouco importando que as
tem orientado a nossa legislaçá-o sobre este as- escrituras, onde eram mencionadas as transmis-
sunto. Os institutos jurídicos que adotamos, sões a eles referentes, tivessem sido lavradas
mesmo nos períodos de instabilidade como o na prôpria localidade. ou em qualquer outra
em que vi1·emos, não se desviam substancial- do pais.
1ne11te desta rota· O ·nosso esforço, quer dou- Tal Registro teve, portanto, no seu início,
trinário quer legislativo, vem se concentrando, meras finalielades de publicidade- Com -ele. o
desde muit-os anos, e ele nlodo mais ou rnenos que se procurou, de começo, foi apenas acaute·
·coerente, para tornar cada vez mais sólida e lar a boa fé dos terceiros Estes, com efeito, an-
isenta ele flu~uações ou incertezas, a projn~eda- i tes de aelquirir uma proprieclade ímovel, iam
,de pnvaela · A medlela, P 015: que a. eXUJenencw 1 ao respectivo' Reo-istro. para verificar o que é
va1 apontando aqu1 e acola certas falhas elos . o. _ . _
institutos jurídicos que se destinam a dar so- que ali fora transcnto a respeito ele tal propneda-
1_l-d ez a
- - d d' - d t
propne a e pnva a, para que es a nao
- de, e se all nada encontravam reg1strado flcavam
. t . ll - , - . j •'d'
f - - t' el f' l'd
1 . 0 1sen os e a 1e10s as consequenc1as un 1cas das
UJa aos lmpera_Ivos a sua ma _ aae, nos~o escrituras não transcritas. Tal foi, entre nós, a
pensamento JUndwo _ procura, entao, na 1~edl- finalidade declarada dos decretos ns. 169-A, de
da_ elas suas possibllldades, remover, com mte- 19 de Janeiro ele 1890 e 370 de 2 de Maio do
l!genc1a, as mencwnadas falhas. Para se ter ' '
disto a certeza, basta, por exemplo, acompa- mesmo ano. Aquele, no seu art. ao, e este, no
nhar a evolução, que teve, entre' nós,. 0 insti- seu art. 236, faziam depender, realmente, da
tuto ela transcrição. transcrição, a eficácia, quanto a terceiros, das
transmissões de bens imoveis, entre-vivos.
Inicialmente, no Brasil, a propriedade pri- Já muito antes desta época, entretanto,
vaela, para ser adquirida, nada mais requeria, Teixeira de Freitas e Lafayette, - com base no
alem elo acordo das partes, da fixação do preço, pensamento jurídico das nações modernas, e no
2 ela im!i,·ic!uacão ela causa, elo que a efetíva- r·mpcnho ele permitir que a propriedade imovel,
çiio ela trarliçczo _ A entrega da cousu ao com- preenchesse, no pais, as necessidades individuais
prelclor, por um elos moelas admiticios em lei, c coletivas do nosso progresso - , não se ti-
.::::on1plcu:_~:::t, con1 a (_·loquCncia n1ucla da sua rea- nhanl contentado em ver, na transcrição ela es-
_'ichclc. u ato juríclicv ela ~rasl::tdaçáo ela proprie- critura ele vencla de um imovel, nos livws do
~L-: C: c_ respectivo Registro, um simples instrumento de
(1001
5-3-43 ,\P.CHIYO J"CDICL\P.IO (SUPLK\IE:\TO) 1Eí
(lOZ)
REGISTRO BIBLIOGRAFICO
(Fevereiro de 1943)
bargador Saboia Lima. - Razões elo espólio direito pode subsistir. Em uma sociedade 1!:5·
apelado pelo advogado DR. SILVIO CoSTA RODI\1- truturada nos princípios da m'Oral cristã, não
GUES. - Tip. do "Jornal do Commercio". - é admissivel a instalação de um "Cabaret", roce~
Rio, 1943. de criminalidade, junto a um prédio habitado
exclusivamente .por famílias. - Peticão inicial.
- Sentenca do M. Juiz da 2.a Vara e raZôes.
- Tribunal de Apelaç1\o do Estado do Rio do recorrénte Jacintho Cintra de Pa1tla, por
Acão rescisória n. 19 - Autora: D. Brillnca seu advogado DR. A. C. MOTTA PACHECO. - Em-
de sii Coutinho Marques Ribeiro, assistida dt; presa Gráfica da "Revista dos Tribunais'' Ltda.
seu marido, Sr. Francisco Marques Ribeiro (in- - São Paulo, 1943.
dustrial). - Ré: Sociedade Anônima Fazendas
Reunidas Gratahú, em liquidação. - Petiçáo
·inioial e razões finais pelo advogado DR. JosÉ DE
ALENCAR PIEDADE. - Tip. do "Jornal do Com•
mercio". - Rio,' 1943. - Câmara de Justica dO Conselho Nacio-
nal do Trabalho - Recurso extraordinàrio no.
processo C. N. T. :<.'i3.406/42. -- Recorrente:
I Cartonagem Luso Americana Ltàa.., em liquida~
- Juizo de Direito da 2a Vara Cível da ção, representada por sua liquidante D. Ma1'-
Capital - Ação ordinária - Autor: Jacintho garida Lima Heitor. - Recorridos: Antonio
Cintra de Paula. - Ré: Firma: J. Fernande .., Costa Almeida, Jos,é Bezerra de Oliveira, Ben'to
Filho & Cia., Ltã.a., proprietária do "Cabaret Pereira do Lago e Mario Moreira. - ~elator:
Tropical".- A tendência da epoca atual é paté\ Conselheiro Marcial Dia'S Pequeno. - Revisor:
a socialização do direito. O interesse particular Conselheiro Caldeira Netto. - Memorial da rt:•
.não pode primar sobre o interesse .coletivo. corrente - Escritório dos advogados: Das. l.EVl
Assim, o interesse do proprietário de um "cabtr FERNANDES CARNEIRO, Cm BRAUNE, J. M. CAR•
ret'• não pode prevalecer sobre o da família. VALHO SANTOS, CESARIO LEVI CARNEffiO e AMt-
Tal prevalência viria criar um conflito entre RICO LUZIO DE OLIVEIRA. - Tip. do "Jornal de>
o direito e a moral, divorciada da qual nenhum Conunercio". - Rio, 19411.
(105]
E QUI DA o-E E ARBITRIO
PELO
dade das convenções e tutelando os legitimo> I a usura. acrescentando que seria punidrr na
interesses individuais. forma da lei, esta se lirntou a dizer que a usu-
Manifestação da assinalada hostilidade ao ra será punida. E' manifesto que o âmbito do
contratualismo nas relações de direito privado, preceito de 1934 é muito maior do que o de
encontra-se recei\te decisão declarando a nuli 1937; aquele abrange as relações de direito pri-
dade de cláusula que, em instrumento de pro- vado, ao passo que este se restringe a determi-
messa de venda a prestações, pactuou, na hi- nar a cominação de pena, no sentido estrito,
pótese de rescisão provocada pelo promissória que é o ele pena criminal".
comprador, a exclusão de indenização e de re- A usura se restringe, assim, hoje, incluin-
tenção pela construção, levantada no imovel do-se entre os crimes contra a economia po-
antes da transferência do dominio. pular, de acordo com o decreto-lei 869, de 13
Apreciando a matériia demagogicamente c de Novembro ele 1938, às hipóteses ele:
fora de equação com preceitos indiscutíveis d3 a} juros superiores a taxa permitida por
legislação aplicavel, semelhante aresto repre- lei, ou comissão de desconto, fixa ou percen-
Eento. verdadeiro moisaico de concertos arbitni- tual, sobre a quantia mutuada, alem daquela
rios, muito interessantes à critica judiciária. taxa (art. 4.o}.
Atenta a incriminada cláusula contra a or- b} obter ou estipular, em qualquer con-
dem pública? Com infração de que lei? Da lei trato, lucro patrimonial que excecla o quinto
de loteamento, ou da lei de usura. ou da lei de do valor corrente ou justo ela p1·estacão feita
economia popular? ou prometida. "
ora, nenhuma destas leis ou qualquer ou·- . Constitue, pois, pura fantasia atribuir ca-
tra proíbe cláusula daquela natureza. rater usurário ao contrato que estipule cláusu-
O decreto--lei n. 58 de 10 de Dezembro de· la nos termos referidos.
193'7, dispondo sobre a venda de lotes a presta . Conforme salientou a Egrégia 5a Câmara do
ções, especificando as condições adotadas em Tnbunal de Apelação deste Distrito Federal:
garantia do promissário comprador, não proi- "A usura vem a ser a constatucão de lucros
biu o pacto relativo ao não pagamento dg excessivos, quer _por meio de gahlws ilicitos,
construção porventura levantada no ten·eno. <;~uer: pela prefrxaçao ele taxc•3 de juTos superio-
Muito ao contrário, o poder público homo- r_ es as estabelecidas ',l.rt ler, acarretando prejuízo
logou expressamente a cláusula, uma vez que queeconomra popular , acentuando em sc"uida
a
o
tal cláusula consta do contrato-tipo ou cader-
neta submetidp, préviamente á aprovacão e re- . "O enriquecimento !ndevido só pó de ser efe- ·
tuacto sem uma obngaçao que o JUstifique, ou o
gistro, na forma do art. 1.0 , III, do citado de· 1/!CltO".
ereto-lei. . - Carvalho Santos escreve que não há di-
Nem importa que o art. 11, letra ''f'' da rezto de retencao:
mesma lei véde a clausula penal superior a "quando c'onstar elo contrato clausula !sen-
10 % do débito e só exigível no caso de inter- tando. o locador da obrigaçfto de indenisar as
vencão judicial. b~mfertonas, <?U• o que é a. mesma coisa, proi-
'Esse dispositivo, reprodução literal do ar bm9o, o locatano de reclamar qualquer indent-
tigo 9. 0 da chamada lei da usura, se entende· zaçao' (Cod. Czv .• vol. XVII, pág, 124 n. 4)".
com a hipótese de cobrança das prestações em . De resto, a validade da clausula de renun-
atrazo, raloT pecuniáTio, ou na hipótese de Cia a indenização por -bemfeitorias está consa-
pacto adjeto de rinanciamento grada pela jurisprudência.
_ ": cláusula refc·ente á perda da construçãc f . Em acordão de 23 de Agosto de 1941, de que
nao e, de todo em todo. incompatível com .or relator o Desembargador Flaminio de Rezen-
aquela proib:ção, sabido que: d~, a Egrégia 3a Câmara do Tribunal de Apela-
"A renúncia a indenização por oemteito- çg,o ;::.este Distrito _Fed~ral, decidi'! que: -
rias não constitue c lá ucul a penal" (Brasil Nao tem direrto a mdenlzaçao por bemfei-
acordãos, n. 4.776, pág. 303; n. 312, pág. 312} torias feitas no imóvel o locatário que em con-
Carvalho Santos demonstra que o dec nu- trato escrito renuncia expressamente esse direi-
~ero 22._626. de 1933 (lei da usura} alterou c tc".,.iArch. {Ud; .. vol. 62. pág. 237}.
cod. CIVIl somente com relacão às cláusulas . O propnetarlo do imovel é obrio-ado a inde-
penais estatuídas em contrat'os referentes ~ mza!' as bemfeitorias feitas pelo l~atário, na
empréstimos de dinheiro, subsistindo quanto ao: 4a auseJ!C1a de contrato que isso regule" (A c. da
demais c-ontrate" os pr!nciplos gerais que em- ele Camara elo T. ele Ap. do Distrito Federal,
25/IV /41} .
prestam à cláusula penal as súas funcões es- "B~mf~itoria feita com expressa estipulaçao
pecíficas (vol. XI, págs_ 301 e 442} . ·
de r·enuncra de qualquer indenizacão não auto-
E, comentando o art. 927 do Cód Civil, acl- nza a retenção" (Brasil. acordao 'ns 4 835
verte que. em harmonia com o sistema adotado 4. 851 e 35. 665) . ' · · '
pelo Código Civil brasileiro, da mais amplH . "<?, direito ~le retenç'io é validamente renun-
liberdade das estipulações, a cláusula penal faz cravel (Acordao elo Supremo Tribunal Federal,
lei. entre as partes, somente desaparecendo m Rev. Sup. Trib. vol. 18, pág. 66) .
e~.oo, libertação se a convenção tere prircipios . Ainda P':la validade de renuncia do direito
cons:derados como de ordem pública. ele mcl~mzaçao por. bemfeltorias decidiu o Egré-
Por outro lado e segundo decidia o acor- glO Tnbunal de Apelação deste Distrito Fe·
dão in Arch. Judiciário, vol. 39, pág. 489: deral:
":'s disposições da lei da usura só se apll· "Acordão da 4a Câmacla, de 9/VI/942, pelos
cam as dívidas, em sentido restrito, provenien · voto~ dos desembargadores Oliveira Figueiredo e
tes de mútuo em dinheiro. Nos contrátos de Rrberro da C?sta, na apelação cível n. 682:
outra natureza. a cláusula penal só encontra - Acordao da 3a Câmara, de 22 de Agosto
limite no art. 920 do Cód. Civil''. de 1941, Arq. Jucl. vol. 62, pág. 237.
. O ilustre Desembargador Rocha Lagoa, em Decidiu o então Juiz, hoje eminente desem-
bnlhante voto proferido na apelacão civel nú. bargGclor S~tssekincl, em sentença in Arch. Jud.,
mero 9. 906, a cordão de 15 ele JÚlho de 1941. vol. V., pag. 372, que
advertiu, com precisão: _•·os princípios do Código Civil sobre indeni-
"A Constituição ele 34, em materia de usu- ZUÇ'lO por JJemfeitorias podem ser alterados pelos
ra. drverge bastante ela Carta constitucional ele Jranscreve escritos,
contratos exclundo a indenlzacã.o".
Azevedo Marques, quando ensiná que
1937. Enquanto aquela proibia expressamente
quer se trate de obras, quer de bemfeitorias ne-
(56)
20-3-43 ABCHIVO Jl;DICIAniO (SUPLE).lENTO) 123
cessarias ou uteis, a sua indenização ou não in- nos arts. 516 e 517, regulando aí o direito do
denização é Tegulada pelo contrato escrzto", con~ possuidor que as fez".
cluindo que "TUdo depende do contrato, que e -- Ora, os arts. 545 a 549, que sií.o os regu-
lei entre as partes e este tem que ser respeitado ladores ela espécie no caso ele edificações, não
pelo poder judiciário". _ . . . conferem a quem edifica em terreno alheio o di-
Quanto ao direito de retençao, liberaliza-lo, , reito de reter este terreno, até que llle sejam pa-
não terá ofendido apenas o pactuado; contra-~ gas as construções.
vem abertamente as disposições limpidas e i~ Reconhecem <~penas o direito de ser Jndenl-
perativas. E' oportuno ressalvar que a retençao zaclo, quando for ca~o.
n'io pode ser invovada quando se trata simples- O direito de rentcm;ào reg1.1laclo pelos art.~.
mente de construcões e não há bemfeitorias que 516 a 5HI do cócl. civil, se rPfere a bemfeitorias;
a isso autorizem 1ios termos da lei civil. a crédito por dcspes8s feitas em razão ela coisa,
O conceito de ·bemfeitoria é legal e não cor- melhoramentos, conservação, salvação, guarda.
. responde ao sentido vulgar ou genérico elo vo- (Aruolclo Medeiros da Fonseca, Direito de Reten-
cabulo. . ção. ns. 102 e 122).
No significado técnico-juridico, sómente au- E todos os escritores salientam que ('ffi se-
torizam a retenção as despesas que o proprietá- melhante situacão deve-se examinar si Bc trata
rio necessariamente faria para a conservação da ele despesas qu'e, si o possuiclor nw fi~cssc, o
causa, ou para tornar mais facil ou comodo o proprietário faria.
seu uso. A jurisprudência. Juizes e tribunais teem
A distincão entre construcão e bemfeito- obEI)rvaclo rigorbsamente a distincão legal:
rias n'io é púrame11te teórica e· a lei estabelece "Bemicitorias com direito ele retenção, o que
collSequência de todo rliversas em se tratando .sejam (Declsrio in Arch. Jnd., I. 16:l-167);
de bemfeitorias propriamente ditas, ou ele cons- "Construções não são bemfcitorias, posto
trucão. que na legislação e na cloutrína reine, por vezes,
·Clovis Beülaqua ensma: confusf•o entre umas c outra'>" ( Arch. Ju.d.. , vol.
"As construções e as plantações não entram 53, pãg. 373).
ne classe elas bem feitorias propriamente ditas.
São acessões industriais (art. 61, I e UI) que Ealientou o acordão cl?. 3a Câmara, Arch.
obedecem a regras particulares (arts. 545 e Jud., vol. XVI. pág. 406. que:
549 I " Cócl. Civil, \'Ol. I, pág. 285) . 1 - as construções que não produzem au-
Carval11o Santos, Cód. Civil, vol. II, art. 62, mento do valor, nem comodlclades do seu uso.
pág. 86, escreve: não são bemfeitorias utels, nos termos do § 2°
"Bemfeitorias. São as obras, as despesas que do art. 62 do código civil.
se fazem num movei ou num imovel, para con- ·- Parece demonstrado que assegurar a re-
servá-lo. melhorá-lo ou simplesmente emoole- tenção no caso ele construçõ~. quer não cor-
zá-lo. (Clovis, ob. cit., § 40; Coelho da Rocha, respondam a bemfeitorias, é gracioso, é aberta-
obs. cit. § 84; Vampré. ob. cit., § 51). mente !legal. E clcmonstracto, ninda. que a mal-
·'Nem toda obra feita, porém, constitue bem- sinada c!ausula não é, sob qualquer aspecto,
feitorias. Só a constituem as obras feitas com usurária, ou infr~ng8ntc de preceitos de ordem
um dos fins mencionados na àefinicão, isto e, pública.
para consen·ar. melhorar ou embelezar a co!s:;. De resto, ela se acha adotada pelo próprio
''As plantacões e construções não são consi- poder administratl v o n0 diploma regulaãor dos
deradas bemfeitorias, ensina Clovis, mas aces- contratos ele prome.ssa de vencia dos Institutos e
sões industriais (art. 61. I e ill) que obedecem Caixas de Pensões aos operários e empregarlos
a regras particulares (arts. 545 a 549) ". seus -associados. E' o decreto-lei n. 1. 749, de 28
E. a págs 127-8 do vol. XVII, escreve ainda, de Junho de 1937, que, no artigo 14, § 5o dis·
.mais incisivamente: põe:
"A verdade, porém, é que como bemfeitorias "A rescisão do contrato importará a perda
só se consideram as despesas - impensae - , das quantias já pagas, a.s quais seráo consideradas
feitas para conservar ou tornar mais agra.davel como aluguel do imovel, aderindo a es-te, sem
o uso da coisa (A. da Corte de Ap., Rev. de indenização, quaisquer bemfeitorias existentes·'.
Dto., vol. 52, pâg. 133). Nos tribunais do país não poderá, assim, pre-
"O próprio código civ!l prevê destacadamente valecer o arbitrio que pretende cancelar clausu-
as duas hopõteses, nos arts. 545 e segs. trata das la substancial de um contrato fundando-se em
construções e plantações, como verdacf:eiras nulidade que não existe e a jurisprudência tem
acessões, enquanto que elas bemfeitorias cogita formalmente repelido.
A TÉCNICA NAS SENTENCAS _,
PELO
ças existentes respectivamente entre carência, 1 dispositivo, se eleve tornar certa e determinaclél.
improcedêncif! e impropriedade de ação. , a condenação ou a prestação pedida, e nas cons-
Declarar-se-á nulo o processo ou parte dele, · titutivas em que se deve sempre declà'tar resol-
Vido, rescindido, revogado ou anulado o ato ju-
na forma legal, quando houver violação insana- rídico
vel, e argclida a tempo, de fundo da lei proces- anulaç~o por cuja resolução,. rescisão, revogação ou
sual, isto é, quando esta for ofendida no seu se debate.
espírito. Conforme o caso, poderá a nulidacle bem Nos tribunais superiores nem sempre tam-
os provimentos são feitos de acordo com a.
ser decretada de oficio, como no da incompetên- técnica. Quando se trata de julgamento refe-
cia ratione materiae. N~o póde, porém, o juiz.,
em anulando o processo, entrar em outras con- rente à carência de ação, de preliminar que pu-
siderações pertencentes ao mérito, porque se- examinado, ao
zera tenno proc2sso sent que o Inérito fosse
rejeitada a carência da a.ção, salvo
ria o mesmo que se querer dar vida a um ser si esta envolver o mérito, ou a. preliminar, deve
num ambiente tal em que só poderia surgir 1
morto. Seria absolver ou condenar o réu sem sempre o Tribunal Inandar que os autos baixem
processo. Como diz Inocencio Borges da Rosa, à primeira instância. para. que se pronuncie so-
a decretaçã-o da nulidade não atinge, não pode bre sentenças
o seu merecilnento. O mesmo acontece com.
jamais atingir o mérito da caus:~, que, assim. as extra
ou acordáos que julgam ultra e
petita, com ofensa à coisa julgada, casos
fica inteiramente alheio à decisão anulatória.
em que, ao dar-se o provimento. se deve decla-
Não basta, porém, que se julgue apenas pro- rar nula a sentença. Em o fazenc!o nã-o pode o
cedente a açã.o para que se tenha a coisa como Tribunal entrar no exame de outras questões
julgada. E' necessário ainda que a sentença cer- referentes ao mérito. Só poderá a ter-se aos mo-
tifique a existência do direito pretendido. Assim, tivos que dão o julgamento como ultra bu extra:
nas sentencas declaratórias, deve a sentenca de- petita ou como ofensivo à coisa julgada.. A sen-
clarar expressamente a existência do direitÓ que tença ou acordão niio pode conter premissas que
já se encontra incorporado ao património elo requerem dispositivos diferentes.
autor. Por exemplo: Primus propõe uma ação São estas breves consideracões, referentes a
de usocapião. Si a ação contiver todos os requi- técnica nas sentenças, que ju!'gamos necessário
sitos legais, o juiz julgará procedente a ação e, fazer com o fito exclusrvo de contribuir para
em seguida, declarará como pertencente ao seu que as decisões dos nossos juizes tomem sempre
domínio o prédio ou !move! usucapiente com uma feição clara, inequívoca e não passivel de
todos os seus característicos. O mesmo se deve discussão relativamente à compreensão, à exten-
fazer com as sentenças de condenação, onde, no . são da coisa julgada.
(60)
PELOS DOMÍNIOS DO DIREITO
PELO
A incumbência específica do Estado é zelar. lançá-los, por isto que somente a necessidade
<de maneira cuidadosa, pelo bem comum da socie· de atender e resguardar os interesses gerais da
dade. E' através do alto nível e extensão imensa comunidade é que pode e deve de servir do
dos interesses gerais que podemos aquilatar e fundamento ao estabelecimento de quaisquer im-
medir. com exatidão, do adiantamento real do postos. "A justiça", - doutrina grande soció-
organismo administrativo de um povo. Quando logo (Cr. Antoine - Cours D';ó;conomie Sociale
todos os cidadãos de uma nação desfrutam do - 6.a ed., pag. 132) -, "pede que os impostos
bem estar indispensavel à conservação da sua sejam realmente necessários, isto é, exigidos pelo
saúde e ao exercício, normal e ininterrupto, dos bem comum da sociedade política. Se fôr de
direitos fundamentais da sua condição de crea- maneira diferente, o imposto é injusto, e cons-
tura racional e livre, é que temos o direito de titue violação manifesta do direito d.e proprie-
t~firmar que o Estado, que lhes superintende os dade dos cidadãos. Examinando-se com cuidado
·interesses gerais, está preenchendo, com supe- o orçamento da maioria das nações modernas.
rior descortínio, a sua missão tutelar. quantas despesas inuteis e, por runa repercussãQ
Para levar a efeito esta sua tarefa de pro- necessária, quantos impostos injustos nele não
pugnador e defensor constante do bem comum encontraríamos?"
da sociedade, é imprescindível que o Estadc• Antes, portanto, de lançar um imposto novo,
.tenha a nocão exata das necessidades humanas
de cada mn dos seus cidadãos, e possa dispôr.
simultaneamente, dos elementos materiais ade-
devem os dirigentes de um Estado, - que teem
sobre os seus ombros a delicada e difícil tarefa
de promover e defender o bem comum da socie-
quados à execução dos serviços administrativos dade -, examinar, com a maior atenção, e de-
capazes de sat·!sfazê-las. Conciência da tarefa baixo de todos os seus aspectos. a natureza dç,
a realizar e possibilidade de executá-la, em toda sacrifício que pretendem exigir dos "contribuin-
:a sua plenitude, eis o que incumbe ao Estado. tes" desse Estado. As repercussões que o im-
.na sua qualidade, específica, de representante
iegitimo do bem comum tempDral da sociedade. posto pode vir a ter quer sobre a economia de.
Ora, é mediante o imposto, que o Estado cada um dos membros da sociedade. no seio da
coleta os meios financeiros necessanos para qual ele é lançado, quer sobre o próprio desen-
instalar e organizar os serviços aptos a promo- volvimento normal do bem comum dessa socie-
ver, desenvolver, e coordenar os i1tteresses ge- dade, são às vezes graves e desastrosas, embora
rais de toda a comunidade. não possam ser percebidas, desde logo, e com fa-
O imposto, assim, é necessidade indecl!na- cilidade. Urge, neste assunto, não perder nunca
~el, porque, sern ele, o Estado ficará desprovido
de vista a seguinte lição po Professor Mario Pu-
dos meios adequados de intervenção na ativl·
gliese (in Nuovo Digesto Italiano - vol. 6.0,
dade individual e social dos membros da co-
munidade, para incentivá-la e llarmomnizá-la pag. 813, n. 16, cols. 1.a e 2.a) : "Os efeitos dos
com os imperativos illtransponiveis do bmr.• co- impostos não são só os efeitos econômicos em
mum.
sentido estreito.
Desde que, portanto, a execução adequada Os impostos são instrrunentos aptos a pro-
<dos serviços administrativos, nos seus diferen- duzir, tambem, efeitos pollticos e politico-eco-
tes e múltiplos aspectos. não esteja a exigir a nômicos em sentido largo, sociais e psicológicos
~Coleta de novos impostos, não deve o Estado de notavel alcance, que devem constituir objeto
1(61)
128 ARCHIVO JUDICIARIO (SUPLEMENTO) 20-3-43
de estudo, para se conseguir que se manifestem dade quanto nos campos, a propriedade imovel
em sentido coruorme à vontade e aos fins poll- é elemento de socego pessoal, e de melhor ex-
ticos do Estado, antes do que em sentido con- pansão da própria personalidade. Esta verdade,
trário. atestada pela experiência humana quotidiana,
Efeitos políticos, porque os impostos, embora exige dos dirigentes do Estado moderno que se
não tendo a capacidade de mudar a constituição Interessam pelos destinos da pessoa humana no
econômica e a estrutura política dos Estados, seio da sociedade, que adotem um sistema de
como a escola do socialismo de catedra acredi- impostos, que estimule permanente e vigorosa-
tava, são aptos, em certos limites, para modifi- mente cada um dos membros da sociedade a se
car a distribuição da riqueza, quer em sentido tornar proprietário.
negativo, mediante. as arrecadações onerosas para Merece, por isto, a mais enérgica repulsa o
determinadas Classes, quer em sentido positivo. sistema de Imposto que, em alguns Estados da
mediante favores e isenções benéficos às outras Federação Brasileira, vem sendo adotado, ulti-
classes. mamente, e pelo qual o Fisco se permite cobrar
Efeitos político-econômicos, em sentido largo. o imposto de transmissão de propriedade logo
porque os impostos constituem um dos mais que é lavrada a escritura pública ele promessa
eficazes instrumentos para regular a direção, a de venda de qualquer propriedade imovel. Nem
quantidade e a qualidade do comércio externo. jurídica, nem política, e nem sociologicamente
e para imprimir à agricultura, indústria, e co- se justifica, sobretudo entre nós, tão extranha
mércio nacionais diretrizes acordes com a von-~ e abusiva prática fiscal. Realmente, a promessa
tade do Estado. de venda do lmovel constitue, hoje em dia, e em
Efeitos sociais e psicológicos porque, dentro face do que dispõem os artigos 252 e 253 elo De-
de certos limites, os impostos são capazes de creto n. 4. 857, de 9 de Novembro de 1939, alte-
comprimir consumos reputados suntuosos ou rado pelo de n. 5.318. ele 29 de Fe\'ereiro de
danosos; de promover consumos reputados utels; 1940, mero direito real sobre a causa prometida.
de favorecer o incremento demográfico do pais A transferência do irnovel só é possível, no nosso
e o desenvolvimento de cletenninaclas atividades Direito, mais tarde, e mediante a transcrição do
econômicas e cul turals. respecti1·o título ele aquisição no competente Re-
O conjunto elos métodos e procedimentos gistro de Imovcl. Cobrar. nestas condições, o
mediante os quais o Estado tende a impecl:r que imposto de transmissão de propriedade com fun-
os efeitos dos Impostos contrastem com as pró· damento em simples escritura pública de pro-
prias diretrizes políticas e económicas gerais: e messa de venda é indefensa vel monstruosidade
se esforça, pelo contrário, em obter que eles se jurídica, que a todos cabe combater. A intro-
harmonizem com tais diretrizes. constitue capi- missão desta prática fiscal arbitrária só se ex-
tulo cada dia mais Importante da ciência d:1s plica pelo gosto, tão generalizado hoje em dia,
finanças, que tem por objeto o estudo dos obje· que o Fisco manifesta, de preferência, pela pre-
tlvos extra-fiscais da finança pública". potência ilimitada, certo como está de que os
O lançamento, assim, dos impostos, está na órgãos da justiça não lhe podem pedir contas
dependência direta e imediata da política do dos atos que executa. Por outro lado, é mister
bem comum que o Estado quer e pretende esta-~ que não esqueçam os diriger,tes do Fisco nacio-
belecer e favorecer dentro do seu território. nal, sejam eles federais, estaduais, ou munici-
Se um Estado deseja, por exemplo, incrementar pais, que a política do Estado brasileiro, desde
e desenvolver, clentro do seu território, o bem os tempos do Império, foi sempre no sentido de
comum industrial, ele cria e estabelece todo um imprimir, em gráu cada vez maior, estabilidadCl
conjunto de medidas fiscais que estimule a ini- sempre crescente à propriedade lmovel do pais.
ciativa individual a se orientar no sentido da O instituto da transcrição, - tornado obrigató-
atividade industrial. Se, ao invés disto, ele tem rio pelo Código Civil. no seu art. 530, para o
a ambição de favorecer e fomentar o bem co- efeito da aquisição da propriedade imovel; e de-
mum agrfcola, esse conjunto de medidas fiscal~ clarado indispensavel pelo Decreto n. 4.857. d&
visa amparar, antes de tudo, o esforço Individual 9 de Novembro de 1939, alterado pelo de número
que se inclina decididamente para a atividade 5. 318, de 29 de Fevereiro de 1940, nos seus arti-
agrfcola. gos 252 e 253, para a validade da promessa d&
Pois bem, uma das manifestações mais tip~ venda dos !moveis - , foi creação desta política.
cas do bem comum, que pode ser ajudada, ou, elevada e esclarecida, dos verdadeiros conhece-
pelo contrário, entorpecida pelos impostos, é a dores das necessidades do bem comum da nação
que se traduz pela aquisição da propriedade imo- brasileira. Tal instituto, assim, nos termos em
vel. Conforme o sistema de Imposto adotado por ·que está organizado pelo nossa legislação ctv1l.
um Estado, a aquisição desta se fará em escal~ tornando absolutamente segura e estavel, em
maior ou menor. Sempre que, no seio de uma todo o território nacional, a propriedade !move!.
nação, a propriedade imovel ofereça condições é o melhor incentivo para a sua extensão no
absolutas de garantia e estabilidade, e não seja nosso meio. Finalmente, cumpre que os orien-
onerada, desnecessariamente, com impostos fre- tadores doutrinários do Fisco brasileiro não se
quentes e pesados, o número de proprietários esqueçam de que, consoante a experiência so-
tenderá a aumentar sempre, pois a propriedacle ciológica dos povos, a extensão generalizada do
!move! é o primeiro requisito de bem estar e instituto da propriedade imovel a toclos os mem·
tranqulliclade de qualquer pessoa. Tanto na c!- bras de uma sociedade, é, em grande parte, o l'~
(.62)
20-3-43 ARCHIVO JUDICIARIO (SUPLEMENTO) 129
sultado da sua estabilização legal e jurídica. para todos os efeitos, aquele que prometeu ven-
O homem só consente em aplicar a sua fortuna der o mencionado imovel, A promessa de venda
em bens !moveis quando estes desfrutam uma não é venda nem real, nem ficttcia ou simulada.
situação jurídica estavel, segura e definida. Nenhum daqueles que "deteve" sucessivamente
Entretanto, no dia em que se estabelecer, o imovel, por causa de promessas de vendas que ·
no nosso meio, como regra geral, uniforme, e recebeu, pode se comportar, em face deste, como
definitiva, que a promessa de venda de !moveis se proprietário fosse. Nenhum Poder Público, no
faz sujeitar, desde logo, o futuro comprador ao Brasil, pode ampará-los como proprietários reais
imposto de transmissão, todos estes beneficios ou fictícios. A lei tal não lhes permitiria, e com
desaparecerão como que por encanto. A dis- muito acerto, porque os institutos jurídicos não
cordância manifesta entre o Direito Civil e o são meras criações arbitrárias do legislador, mas
Direito Fiscal trará, imediatamente, o despres- são, pelo contrário, descobertas da ciência, sis-
tigio total e inevitavel do instituto da trans- tematizadas pela razão. Com que direito, então,
cricão, debaixo de todos os seus aspectos, fazen- quer esse mesmo Poder Público cobrar desses
do· com que nlnguem mais tenha confiança na "detentores", que, ainda, nã.Q são proprietários,
estabilidade e solidez jurídica da propriedadE o imposto de uma transmissão de propriedade
imovel, principalmen~e porque, dada a manifesta que. na· realidade, não se operou em virtude da
injustiça de se cobrár a título de transferência determinação categórica da própria le~islação
um imposto que o próprio Fisco confessa que se eivil decretada pelo Poder Público Federal. com
apoio na ciência do Direito?
refere a ato jurídico que não é de transfe-
rência, instala-se em todas as mentes a convi- Nessas sucessivas operações, descritas pelo
cção de que a lei fiscal, que impõe, abusivamen- Jornal do Bras-il, o que houve, e o que ha., é
te, a todos os proprietários um tão injusto sa- simples exploração comercia]. do !move!. Mas, tal
crifício, não tardará, amanhã, em criar, violen- exploração não ê legitimamente equiparavel. nem
tamente. novas e infundadas restrições ao pró- por direito fiscal, nem pelo diréito civil, a uma
prio direito de propriedade em si.
venda da propriedade imovel. E não é aquipa-
E' de lamentar, nestas condições, que o ravel porque pode ser feita, legitimamente, ho-
Jornal do Brasil (ed. de 2 de Março de 1943, nestamente, e dignamente sem nenhuma trans-
pag. 5, col. 1.a), um dos órgãos mais esclarecidos ferência do !move!. Para isto, não ha necessida-
e uteis da imprensa nacional, depois de reconhe- de de recorrer a fraudes ou sim ui ações, Todos oo
cer que "não ha düvida que a promessa de venda
dias, com efeito, vemos proprietários de !moveis
não é venda propriamente dita", entre, entre-
tanto, a sustentar, de maneira surpreendente, arrendarem a sua propriedade, por determinado
que "os fiscos estaduais estão sendo seriamente preço, a este ou aquele locatário, que, - não
prejudicados em cobrar somente no ato da venda raro na mesma ocasião, e no mesmo tabelião - ,
propriamente dita os impostos que lhes cabe", subloca parte apenas deste mesmo !move!, que
porque, segundo alega esse tão merecidamente acabou ele receber em locação, por preço superior
conceituado órgão da imprensa carioca, "é sa- àquele que vai pagar por todo o !Inovei. Trata-
bido que ha "detentores" de terrenos, como se, em semelhantes casos, de exploração comer-
de prédios e como de apartamentos que real!- cial do imovel, a qual foi feita diante dos olhos
·zam esta detenção por meio ele promessa ele mesmo do proprietário, e sem que tivesse se
vencia. o ilnovel de tal maneira detido é pas-
tornado necessário, para isto, realizar a trans-
sado ele mãos em mãos e somente do último
detentor, isto é, aquele que deseja ficar real- ferência da propriedade do imovel em questão.
mente com a cousa, é exigida a escritura e o Não é defender, pois, os interesses do bem
imposto pago, De fato, houve tres ou quatro comum nacional, o pleitear, nas colunas da nossa
vendas, tres ou quatro transferências reais de imprensa, a extensão a todo o Brasil de uma le1
domínio e os cofres públicos, que deveriam par- fiscal que, no seu próprio enunciado, já traz.
ticipar dessa série de transações, nada partici- sem nenhum vexame ou acanhamento, a confis-
pam. E' uma especulação feita à sombra da lei são do seu desrespeito absoluto à própria rea-
ou porque a lei, afastando-se de fato, ficou den· lidade das co usas. Prometer. com efeito, não
tro do princípio antigo que somente considera póde se confundir com agir. Pron:eter a venda
venda quando se dão todos os requisitos que ca- não significa, debaixo de nenhum aspecto. rea-
racterizam essa transação". lizar o ato de venda. Entre a promessa e a rea-
Ao contrário, porém, do que pensa o Jornal lidade ha, sempre e qualquer que seja a esfera
ào Brasil não houve, e nem ha nessas "deten-
ou domlnlo, a mesma distância que vae cto
imaginário para o concreto. Identificar, por-
ções", de que fala no seu comentário, venda de tanto, estes dois conceitos é atentar contra o
espécie alguma, nem pelo "principio antigo", bom senso. E é precisamente uma coisa à esta
nem por qualquer principio moderno, que tenha o que faz a lei fiscal que o Jornal do Brasil
sido criado em substituiçã.Q àquele. Para o nosso passou, agora, a enaltecer. Entretanto, não é
Direito, atualmente em vigor, enquanto não hou- atentando-se contra o senso comum que uma
\'er escritura definitiva de venda, transcrita de- legislação, sobretudo a fiscal, ha-de concorrer
VIdamente no competente Registro de Imovel. para a defesa, em terras do Brasil, dos altos e
o proprietârio do !movei é, e continua a ser, superiores interesses gerais da nossa comunidade.
(63)
, ,
INDICE ANALITICO
(8'1)
ÍNDICE ANALÍTICO
Ementário de jurisprudência
A PAGs.
PÁGS. Ação ele despejo - Valor da causa. Desde
que ao contestar w ação de despejo
Aborto - , Art. 126 do Côdlgo Penal. o réu não impugnou o valor dado p€lo
Pratica este crime aquele que, com autor nw inicial, nem oferece recon-
intenção dolosa, procura interromper venção, não mais pode ser alterado
a gravidez, usando de meios mecâ- aquele valor, segundo a melhor in-
nicos, minerais, químicos ou morais. terpretação que deve ser dada aos ar-
Tratando-se die feto a termo, e sendo tigos 46, 48 § 10 e 151 do Código dle
o intento único do agente o de salvar Processo. Doutrina e jurisprudência.
à vida da parturiente, não há pro- Votos vencidos . 241
voca·ção de aborto. . . . . . . . . . . . . . . . . . 189
- - Findo o prazo de locação, não
... art. 121, § 3.o do Código Penal.
tendo o locador optado pela proro-
Só ·há llomicldio culposo, quando da
gaÇão do contrato no prazo conven-
ação do agente resulta imprudência,
cionado, tornou-se a locação por
negligência ou imperícia. . . . . . . . . . . . idem
tempo indeterminado. Assim, era lí-
Ação rl«•elaratúri:t - Antes do atual Código cito ao locador notificar o locatário
do Processo Civil, não havia texto para desocupar o prédio no prazo de
expresso que admitisse essa ação. Já 30 dias ......... :. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 256
o Código Ciiil a permitia implicita- ·
... não ocorre condição puramente
mente nos seus arts. 75 e 76........ 269
potestativa, proibida pelo art. 115 do
- - . . . o parágrafo único do art. 2.o
Código Civil, se a verificação do
do Código de Processo fixou o seu
evento não ficou dependendo única e
objetivo. Sua finalidade. Por meio
exclusivamente do arbítrio de uma
dela declara-se a existência ou ine-
das partes, desde que o locatário não
xistência de relação jurídica. Seu
pode compelir o locador a prorrogar o
curso é o ordinário...... . . . . . . . . . . . idem
contrato nem o locador pode obrigar
... a sentença declaratória, na forma
o locatário a permanecer no prédio idem
elo a.rt. 290 do Código de Processo, va-
lerá como preceito. Não tem força - - E' julgada improcedente, quando o
executória . idem a•luguel foi d'epositado, embora fóra
Ação lle <l«'SP«'.io - Embargos de benfei- do prazo contratual, mas por impedi-
torias à execução de ação de despejo. mento legal, como o de decretação de
Inteligência do art. 1. 012 do Códig~ feriados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 331
de Processo Civil. Recurso extraor- - - .... segundo a jurisprudência das Câ-
dinário a que se dá provimento .... 100 ma.ras Cíveis Reunidas, a tolerância.
(89)
IV ARCHlVO JUDICIARIO 20-4-43
PÃGS. PÃGS.
PÁGS. PÁGS.
PÃGS. PÃGS.
PÁGS. PÁGB.
PAes. PÁGS.
realizada a venda, que deve ser em Casamento - ... não estando ainda jul-
praça ............................. idem gada a partilha! à data do novo casa,·
Bens de menores - ... o Código de Pro- mento, não se entende cumpr.ida a exi-
cesso Civ.il, sem quebrar a unidade do gência legal decorrente dos arts. 183,
direito na·cional, determinou nos ar- n. XIII, e 225, do Código C i vil. . . . . idem
tigo8 495 e 498 que os bens neces- Causas fiscais - Da União - Incompe-
sários ao pagamento do passivo, de tência do adjunto de promotor para
custas e de impostos nos inventários promovê-las'- Substituição do pro-
onde existem interessados menores, motor da comarca onde se inicia o
sejam vendidos em hasta pública. . . idem processo executivo, quando impedidos
- - ... em qualquer C!l!SO, desde que há ou afastado por licença ou férias,
menores, a licitação •é da. natureza das pelo promotor da comarca mais pró-
vendas. - o pátrio poder é antes xima, por determinação do Procura-
um dever do que .um direito....... idem dor Geral da República ........... . 201
Bôa fé - Não deve sér encarada só do
Citação - Inobser·~ância de formalidades:
ponto de vista psicológico, porque,
leitura do mandado ao citando e falta
então, não haveria critério seguro
de certidão de que este não exarou
para fixá-la . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 405
o ciente ... : . .................... . 31
- - ... a boa fé é legitima quando provem
de erro excusavel, invenci.vel. Erro ' - - ... não se decreta nulidade se o ato
oriundo de culpa não tem excusa. Ato por outra! forma houver atingido o
que provem de culpa não produz efei- seu fim (art. 273 n. I do Cód. do
tos jurídicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . idem Processo Civ.) . Inatendivel a recla-
mação do arguente que compareceu a
Juizo, contestou a ação e não teve por
c qualquer forma a sua defesa preju-
dicada • . . . . . . . . . • . . . . . . . . . . . . . . . . . idem
Caixas Econômieas - Intervenção da União
Codicilo - Arts. 1. 654 e 1. 655 do Código
em causas movidas contra as Caixas
Civil. Codicilo no Código atual e pe-
Econônlicas . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . 223
rante a legislação antiga ......... . 271
Cambial - Falsidade ideológica da em
branco. A nota promissória, quando Competência - Expropriação promovida
revestida dos requisitos essenciais, é por um Estado·_ Terrenos de mari-
a'Utônoma, valendo por si só, indepen- nha - Interesse da União afirmado
dentemente da causa que a tenha ge- perante o Supremo Tribunal pelo
rado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 343 Procurador Geral da República -
... a falsidade intefectual do título competência constitucional do Su-
cambiárlo ·em branco é defesa asse- premo para o recurso. Não conhe-
gurada ao réu contra o credor ime- cimento do agravo por motivo de na-
diato· ou contra o portador de má tureza processual ................. . 79
fé. o preenchimento infiel da cédula Confis~ão ·- A sentença homologatória da
cambial em branco não pode aprovei- confissão não pode ir alem desta. -
tar ao autor, nem ao co-autor do ' A obrigação constante do art. 912
falso .............................. idem do Cód. de Processo Civil deve cons-
· - - ... valor do exame grafoscópico e de tar da sentença condenatória ..... . 192
outras provas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . idem Conflito de ,jm·isdição - De acordo com
Casamento - Regimen de bens; não pode o Cdigo do Processo Civ!l, o conflito
o viuvo, tendo filhos da cônjuge fa- de jurisdição pode ocorrer entre au-
lecida, convolar a novas núpcias, toridades de ordem diversa (art. 802),
antes de fazer o inventário do casal salvo, como é de jurisprudência, em
e dar partilhas aos herdeiros ...... . 297 se tratando de dois juizes de hie-
(95)
X AHCHIVO JUDICIAIUO 20-4-43
PÁGS PÁGS.
PÁGS. PÁGS.
ação civel; e assim, ação pessoal que ato, pedir as custas relativas a ess-e
é presidida pelos arts. 177 e 179 do processo acessório idem
Código Civil ...................... . idem
Custa!! - Da ação e oportunidade do seu
Crlmê contra a honra - ... sem a prova pagamento. -Aplicação dos arts. 27
do ressarcimento, ou impossibilidade e 56, § 2. 0 , od Cód. Proc. Civil. -
de o fazer, prova feita pelos meios re- Toma-se conhecimento d~ apel:'lção
gulares, não há de deferir re- por ter sido interposta no prazo legal
habllitação para produção dos seus e pagas as custas antes do recebimen-
jurídicos efeitos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . idem I to do recurso ..................... .. 117
Crime de imprensa - Cabe apelação da ... Voto vencic:Lo:O pagamento das
sei,tença que ao réu condenado im- custas !ora· do prazo destinado à in-
põe multa pela demora em publicar terposição não repara a intempesti-
a sentença condenatória. Prescrição vidade do recurso. o pagamento das
<te condenação 25::J custas anteriores é uma condição
Cumulaçüo de ações - Adotado o rito or- para ser admitido o recurso idem
dinário, pode se dar a cumulação em- --Pagamento e multa. Interpretação do
bora diversas as formas do pí·oces!>o art. 817, do Código Civil. .......... . 119
para cada um dos pedidos. cumula- - - Por meio de embargos de decla-
ção da ação demarcatória com a de ração não é possível agravar uma con-
t.sbulho , . , . , ................... , . , 267 denação elevando ao décuplo as
custas vencidas .................... .
t;ustas - Cessado o processo principal
ainda que por acordo e levantando- - - ... o processo de recurso contra
se a penhora, ficam sem objeto os esse gravmne não pode ser condicio-
.embargos de terceiro, a que a lei pro- nado à sua prévia satisfação. . . . . . . . . idem
cessual empresta carater acessório. ... o aumento de custas, a título
Ausência do regras sobre o pagamen- de pena, beneficia a parte vencedlora
to das custas relativas a esses em- e não nos ,'lerventuãrios que a elas te-
bargos 5 nham feito jús .. . .. .. .... .. .. .. .. .. idem
... em princípio, o onus deve caber ao ... dificuldade de re;-,sarcimento em
executado, pois a ação da justiça re- caso de reforma do pagamento em
sulta da confiança do terceiro que décuplo das custas, se estas são
deixou seus bens em poder daquele, previamente distribuídas ao pessoal
nada ~e podendo imputar ao exe- do juizo e a peritos. . . . . . . . . . . . . . . . . idem
quente ......................... , . . iú.em Não deve o Juiz receber a a·pelação .
enfraquecimento por motivo eco. desde que não foram pagas as custas
nômico da separação das personali- na forma prescrita pelo parágrafo 20
dades fls!ca e jurtdicll. quundo idêJ, .. do artigo 56 do Cóàigo do Processo ... 174
tko fôr o interesse ne,sta contido .. , tdem Apelação - D€la se conhece, mesmo
apesar de que as renúncias não se que não pagas as custas devidas até
presumem, pode uma cláusula se! a audiência, porque o art. 56 § 2.o
Interposta da pe·ssoalmente contra v do Código do Processo Civil, a respei-
que, embora na qualidade de prest" to, não comina qualquer pena, po-
dente de uma sociedade, prestou ue- dendo as custas ser pagas até final .. 260
clarações solenes em escritura pu- Não é de molde ~ impedir o julga-
blica, sem qualquer ressalva; assim mento do recurso a falta de paga-
se a ré, pessoa jurídica, aEsumiu a mento das custas antes da sua inter-
obrigação de pagar as custas ela exe- posição. uma vez que ele se apre-
cução de outrem não pode o terceiro sente perante o Tribunal devida-
embargante, que a representara no mente preparado .................. . 262
(!l'il
XII ARCHIVO JUDICIARIO 20-4-43
---------------------------------------------------------------
PÁGS. PÁG!!.
PÁGS. PÁGS.
-.-
nada se podendo imputar ao exe-
quente ......................... .. idem
enfraquecimentD por motivo eco-
I
. . . si o proprietário concorreu para
perturbar os trabalhos ou não forne-
ceu recursos financeiros com pontua-
nômico da separação das personali- lidade, não há como r·esponsabilizar o
dades física e jurídic.a> quando idên- con.strutor pela demora da constru-
ti-co for. o interesse nesta contido. . . idem r ção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . idem
(99\
XIV AHCHlVO JUDICIARIO 20-4-43
PÁC·S. PÁGS.
Empreitada - ... é inoperante a notifi- ferida letra ele câmbio, com o saqne
cação com cominação de multas, si em branco, pode completá-la, sacan-
nos ajustes ou contrato não foram es- do-a. Contra ele, porem, serão opo-
tabelecidas modalidades para o anda- níveis as defesas pessoais que caibam
mento dos trabalhos, nem fiXado contra o primitivo tomador ....... . 188
prazo a sua terminação. . . . . . . . . . . . . idem Executivo cambial - As ações executivas
Enfiteuse - O decreto-lei n. 1907 de 1939 cambiais prescrevem en1 cinco anos.
não alterou o art. 692, ns. II e Ill Antes de se apurar a prescrição, pode
do Código Civil, de modo que o di- esta ser interrompida mediante noti-
reito à consolidação do domínio em ficação ao devedor .................. . 191
favor do senhorio direto, em caso de Executivo fiscal - Não se rege pelo Có-
falecimento do enfiteuta sem herdei- digo ele Processo, senão pelo decreto-
ros legítimos de sangue ou matrimô- lei n. 960 de 17 de Dez,embro de 1938
nio, sobreleva ao da vacância, em e somente pode ser invocado no caso
favor da União ..................... . 10 de omissão da lei especial. Art·. 64
Entorpecet~te - A "canabis indica" - A do decreto--lei n. 960 e art. 168, ~ 1. 0
do Código de Processo ........... . 204
maconha - Cigarros cte herva dani-
Ação recisória; procedência; - Si
nha. Fa:bricá-los para uso próprio ou
após a conclenação, e1n um executivo
de terceiros, é concorrer conciente-
fiscal, aparece decreto extinguindo a
mente para a disseminação de 1-un
obrigação da cobrança, a parte, na
dos maiores flagelos da humanidade. 161
execução, pode alegar o fato e o juiz
. . . o combate à toxicmnania. Só po-
deve atendê-la 308
dem utilizar os tóxkos as pessoas de-
vidamente autorizadas e na forma em Exercício il<•gal <la medicina - Cód. Penal,
lei estabelecida. O decreto-lei n. 891, artigo 282, parágrafo único; requisi-
de 1938. - o art~:;o 281 do nosso di- tos; a intenção do agente é o requi ..
ploma penal de 1940 . . . . . . . . . . . . . . idem sito moral do crime. Aquele que, em
Escalada - Não há se o ladrão entrou casos excepcionais, indica remédios,
normalmente no estabelecimento e, propina preparados, dá conselhos, não
no interior, se esconde, no telhado, deve ser punido, porque não viola a
para volver à loja quando a mesma Iei. Prescrever meios terapêuticos
se fecha. O fato da escada servindo ocasionalmente não é incidir na dis-
de esconderijo não caracteriza a esca- posição penal .................... . 189
PÁGS. PÁGS.
coação moral, em suma, deve ser feita civil, são incompatíveis para essa fun-
objetiva e subjetivamente. A intimi- ção, obviamente não podem votar em
dação coercitiva deve de ser exami- terceiro para exercê-la, nem ceder
nada em relação ao coagido e ao crédito para tal fim, porque seria
coator 51 burrar por via oblíqua, e proibição
Extorsão - ... crime dos mais graves é o legal
de extorsão pratica.cto por autoridades. Falência - ... a eleição do liquidatário é
A honra, a dignidade, o sossego, a ato que se processa na assembléia de
tranquilidacie e a garantia patrimo- credores, nela devendo ser proclama-
nial exigem rigorosa punição das au- do o resultado da votação ........... iàern
torida.ctes policiais apa:nhadas na prá- Contr~ de honorários médicos não é
tica desses atos criminosos. . . . . . . . . . idem título habil para instruir habilitação
de crédito; sendo como é uma simples
F alegação de serviços prestados, devem
ser apurados regularmente por ação
Falêneia - Delito falimentar. A pres- própria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111
crição da ação penal se rege, na lei
Crime ral'<'nclal. Denúncia. Prazo para
anterior, pelo art. 85 § 2.o da Conso-
o seu oferecimento; artigo 175, pa-
lidação, que consolidou o artigo 177
rágrafo 3. 0 da lei n. 5. 746, de 9 de
do decreto 5. 746, combinado com o
Dezembro de 1929 combinado com o
artigo 137 da mesma lei .......... . 26
artigo 508 do Código de Processo Pe-
... este art. determina imperativa- nal. Denegação do pedido de "ha-
mente o prazo de dois anos para o beas-corpus" 383
encerramento da falência, salvo caso
Não poderá ser declarada depois de
de forç·a maior devidamente provctdo idem
um ano da morte do devedor. embo-
... regra ger<ll do biênio a contar da ra tenha sido requerida dentro da-
sua decretação, e do dia em que foi, quele prazo. Não se trata de pres-
ou deveria ser encerrada, corre a crição, que (pOSsa ser interrompida,
prescrição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . idem mas de decadência de dire.ito ....... . 395
Honorários médicos- somente quan- Falsidade Ideológica da cambial em
do apurados em ação competente branco. A nota promissória. quando
podem dar ingresso no quadro de revestida dos requisitos essenciats, e
credores, entrando a sentença como autônoma, valendo por sl só, inde-
título de crédito ................... . 42 pendentemente da causa que a tenha
o depósito a que se refere o pará- gerado ... , •..•.•..... , . . . . . . . . . . . . 343
grafo 1.o do artigo 10 da lei de fa- . . . a falsidade intelectual do t.ítulo
lências ilide a falência. Feito o de- cambiário em branco é defe~a assegu-
pósito o juiz não pode decretar a fa- rada ao réu contra o credor imediato
lência do devedor. Tal depósito é ou contra o portador de má fê. O
uma perfeita consignação em paga- preenchimento Infiel da cédula cam-
mento. A promissória é um título bial em br<mco não pode aproveitar
autônomo, e não estando ligado a ao autor, nem ao co-autor do falso. idem
qualquer obrigação do credor, legi-
... vruor do exame grafoscópico e de
tima a divida e prova a importância
outras provas .................... .
do mesmo. Autoriza-se nesse caso a
que o depósito feito nessas condições Falsificação De certidão do registro
seja levantado pelo credor ........ . 42 civil. No ntual Código ~na1 esse
Liquidatário. - Desde que parentes crime está enquadrado no artig0 297
consanguíneos do falido, até o 4.0 grão e não no nrtigo 301 § 1. 0 • . • . • . • . 103
(101)
XVI ARCHIVO JUDICIARIO 20-4-43
PÁGS. PÁGB
Fiança - Locação de imovel. Fiança pres- Filhos menorPs - O art. 327 do Código
tada. por sócio de firma comercial Civil deiXa ao Juiz O· arbítrio de regu-
contra proibição de clausula inserta lar a posse e guarda dos filhos meno-
no contrato social. Responsabilidade res, quando culpados ambos os côn-
do Iocatãrio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108 juges, tendo em vista, principalmen-
te, o bem dos filhos. Entre tais moti-
A prestada por um sócio em nome da
vos deve ser considerada a afeição re-
sociedade, que se compunha apenas
ciproca do filho e da mãe de modo
de dois, e depois da morte do outro
, a justificar maior permanência da-
soc1o, só obriga individualmente a
i quele em companhia desta . . . . . . . . 36
quem a prestar ................... . 16 '1 j Filiação - Filho nascido fora do matri-
. . . é parte ilegítima a sociedade con- mônio depois do desquite - Reco-
tra a qual foi proposta a ação. A so- nhecimento - Declaração da filia-
ciedade tem personalidade jurídica ção . , ....•......•... , . . . • . . • . . . . . . 136
distinta da dos sócios. Embora seja Fôro competente -· Réu não residente ou
formada nova firma pelos herdeiros domiciliado no território nacional;
funcionando no mesmo local, si não fôro competente; Código de Proces-
fôr sucessora da antiga, não assume so Civil, art. 134, § 1.0 ........... . 400
responsabilidade da primitiva. A res- Funcionário público - Rebaixamento de
ponsabilidade passou individualmen- categoria - Diminuição de venci-
te aos herdeiro~! do sócio que firmou mentos - Ação contra a Fazenda
a fiança . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . idem Pública procedente no sentido de ser
Despacho que exige seu reforço; re- paga a diferença enquanto não for
curso; efeito . . . . . . . . . . . . . . . . . . • . . . 265 efetivado o autor em cargo equiva-
lente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 338
Fiduciário - Fiduciãrios e depositãrios
Furto - Desclassificação das penas do
da fidúcia, arts. 1. 605, 1. 718, 1. 729,
delito consumado para as da tenta-
e seguintes do Código Civil. - Dis-
tiva. Orientação dominante na jUris-
tinção entre os dois institutos. -
prudência na legislação anterior e na
Consequências jurídicas ........... . 33
atual. A figura deletiva do furto.
Fideicomisso - Sucessão testamentária. Da tentativa. Esfera de vigilância da
Usufruto - Se o testador reiterada- coisa subtraida. o artigo 12 ns. 1
mente fala em usufruto e jamais em e 2 do Cód. Penal atual ......... . 103
fideicomisso, e se do conjunto da!l Tentativa. Caracterização da reinci-
disposições do testamento não se con- dência específica. O furto tentado é
clue claramente que a instituição ê um tipo de furto consumado. Impo-
de fideicomisso, deve aceitar-se como sição de medida de segurança ..... . 158
sendo realmente de usufruto, ma-
xlmé atendendo-se a que, no caso,
esta última solução é a que melhor H
assegura a observância da presumi-
vel vontade do testador .......... . 178 Habeas-cm·pu~ - O exerc!clo da faculdade
de deter por motivB lle segura,nça
Disposição livre dos bens, que o cons-
públlca (Cart. Const. de 1937, artigo
tituem, pela fiduciária, inexistindo
168-a) vompete às autoridades po-
fideicomissários Consolidação.
liciais, como delegados do Governo
Imposto devido pela extinção do onus 262
Federal, bastando que sobre a conve-
Filhos a!lotivos - São os legítimos her- niência da medida, se tenham ma-
deiros do adotante, com capacidade nifestado a autoridade superior aa
para suce:osão, sal v o as restrições le- pol!cia nos Estados ou o Chefe de
gais Policia. no Distrito Federal. De tais
(102)
20-4-43
________A_R_C_H_I_V_O__J_U_D_I_C_I_A_R_IO~--------------~XVII
PÁGI5., PÁGS
constrangimentos n~o pode conhecer reguladores da atividade do advogado.
o judlclârlo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 Os advogados são auxillares da admi-
Habeas-corpus - A sua órbita não com- nistração da justiça. O Estado não
preende a má interpretação de um pode dispensá-los. Embora não sejam
dispositivo legal, a sua errônea apli- funcionários exercem uma função pú-
cação, e táo somente nula por mani- blica. O contrato de advogado é con-
festa transgressão de'" dispositivo lite- trato de direito público ........... . 341
ral da lei ......................... . 248 Honorários de advogado - ... os serviços
- - . . . a sentença que aplica mal, que advocatícios quer sejam judiciais,
erroneamente interpreta a lei, somen- quer extrajudiciais, devem ser 1Jagos.
te por meio de recurso ordinário, de A retribuição é devida pelos serviços
apelação, será, corrigido ........... . idem rea-lmente prestados ............... . idem
Casos em que, por ele, pode .ser iJI- - - ... a prescrição do artigo 178, § 6.o
val!dado o processo crlrnlnal ...... . 266 n. X do Código Civil só se refere à
- - Concessão -- Amée.ça de prisão P.d- ação para pagamento de serviços ex-
mlnlstratlva .e Iminência de procesw, trajudiciais, que .é de trinta anos, na
por crime de peculato. A Importân- forma do art. 177 do Código Civil.. ide11f
cia fixada como alcance, de que é Honorários médicos - Serviços médicos:
acusado o paciente, achando-se com- deve o executado pagá-los pelo preço
preendido no provimento de quitação, razoavel e comumente cobrado, não se
expedido .pêlo Tribunal de Contru., justificando quE:' por ser o exequente
é de conceder-se a ordem Impetrada 357 abastado ou por não lhe correrem as
Hasta pública -Arts. 386 e 429 do Cód. despesas à conta, Imponha ao exe-
Civil. A hasta públlca deve ser exi- cutado pagamento feito por mera g·e-
gida para a venda de !moveis de me- nerosidade, ou exigência de proflssio-
nores, quer estejam sob tutela, quer nais afamados . . ................. . 30
11 5 - - A 1·elação jurídica entre o médico e
sob o pâtrlo poder ................ .
. . . a distinção que sempre se fez a o cliente é de um contrato de locação
de serviço. A responsabllldade pessoal
respeito nw tem razão de ser. O ar-
do cliente subsiste, embora o cha-
tigo 386 s6 se retere à autorização
mado do médico tenha sido feito por
judicial. N4o fixa o modo por que
outra pessoa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 404
é realizada a venda, que deve ser em
... al'bltramento judicial dos hono-
praça . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . idem
rários médicos. Critérios para a sua
- - . . . o Código de Processo Civil, sem
fixação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . idem
quebrar a unidade do direito nacio-
nal, determinou nos arts. 495 e 498
- - ... nw devem ser incluidos na con-
que os bens necessários ao pagamento denação honorários de advogado do
autor . tdem
do passivo, de custas e de Impostos
nos Inventários, onde existem lnteres-
sados menores. sejam vendidos em I
hasta pública . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . idem Impenllorabllhlade - O doador ou testa-
. . . em qualquer caso, desde que há dor pode clausular os frutos e rendi-
menores,.,a licitação é da natureza mentos dos bens doados ou testados,
das vendas. - O pátrio poder é an- lncluslYe da legítima .............. .
tes um dever do que um direito . . idem Imposto --- Para o cálculo do que recai
Homicídio - Embriagués.A dirimente do sobre o usofruto vltaliclo, deve ser
§ 1." do art. 24 do Código Penal. deduzido o imposto predial, pois este
Em que condições é admitida .... 55 é renda do5 cofres públicos e náo dos
Honorários de a<ll'ogarlo --- O mandato e a contrilJuintes. Ha mais de quatro
~ocaçfio lle serviços sáo por demais anos éssa é a nonna Sf'guid:t pelos
limitados para conter os princípios juizes e que ni'lo deve sei' modlt"icacla
1103)
XVIII ARCHIVO JUDICIARlO 20-4-43
PÁGS. PÁGS.
sem· uma lei expressa, clara e precisa Constituição de 1934 foi a de evitar
nesse sentido ..................... . 175 prejuízos ao erário público, mas não
Imposto de renda - sobre juros de apó- a de auferir lucros indevidos - 1m-
procedência da ação ....... .. ... . .. . 22~
lices. ~ O Estado não está impedido
de .tributar a renda que ele próprio Inveutãrio - Inventariante; sonegação de
paga - Hipóteses similares à da bens; remoção. Pena de sonegaau.~~,
renda das apólices - Julgados favo- aplicação. Cód. bivil, arts. 476, VI;
ráveis à não incidência - Improce- 1. 781, 1. 784; Cód. do Proc. Civ., ar-
dência d!ll objeção da "res judicata" tigo 466 . 186
- Identidade da relação de direito, O art. 1.o do decreto-lei 2. 254 de 30
mas não da condição jurídica das de Maio de 1940, abrange o adjunto
pessoas - Decreto-lei n. 1. 168 - de promotor, quando este funciona
Entendimento de sua cláusula retro- legalmente, por força da Organização
ativa . . .......... · · · .. ·. · · · · · · · · · · 75 Judiciária de cada Estado ......... . 20'1
- - Legitimidade da incidência ........ .
- - ... !ll concordância dos interessados no
Indenização - Ação de nulidade de es- pagamento de dívida do espólio for-
critura, açao paul!ana e ação de in- nece eleme.nto não despresivel da sua
denização de perdas e danos. A últi- veracidade. - Art!!. 570, 571 do co-
ma ha de ser movida contra o del1n- digo de Processo. - Dívida lquida e
quente ou seus herdeiros que devem certa. Formalização do título . . . . . . idem
responder pela obrigação até ao valor
O relatório médico com o "quan-
dos bens herdados . . . . . . . . . . . . . . . . . 114
tum" pedido é um documento un1-
- - ... art. 1.525, do Cód. Civil. Arts. 66
lat3ral, isto é, feito unicamente por
e 67, do Código de Processo Penal. E'
uma das partes. Desde.que haja im-
term~nante a prejudicialidade do jul-
pugnação a dívida torna-se ilíquida 821
gamento criminal sobre o caso no que
- - ... a reserva de bens, em poder do in-
diz respeito à existência do fato e à
ventanante para solução de dívida iH-
autoria. Como se deve entender o ar-
quida, pode em certos casos se trans-
tigo 1. 525, do Código Civil. Exceções iden.
formar em coação para obrigar oa
- - Tem interesse econõmico para plei-
herdeiros a entrar em acordo desvan-
tear indenização por ato ilícito, o
tajoso e pagar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . u.fem
marido que perde sua mulher vítima
... portanto, em cada caso, deve-se
de um acidente, ocasionado por veí-
examinar o "documento" apresentado
culo na 'Via pública . . . . . . . . . . . . . . . . 330
e a natureza da impugnação, afim d~
- - ... voto vencido: Critério. Calculo
se verificar se existe "prova bastanto~
sobre os ganhos de vítima por ocasião
da <lívida" nos termos do artigo 497
do acidente. Arts. 911 e 912 do CO-
do Côd. Proc. Civil . . . . . . . . . . . . . . . . rcu:m
digo do Processo; aplicam-se a todas
as ações indenização por dano, quer Investigação da paternidade - Não é in-
na culpa aquilina, quer na culpa dlspensavel, no conceito moderno, "'
contratual. "Dolo e culpa"; são de cobitação para caracterizar o con-
aplicação imediata os referidos ar- cubinato. É preciso, porem, sejam
tigos. A retroatividade das leis não é frequentes, regulares e prolongacla.s
mais princípio constitucional ...... . 332 as relações entre os concubinários e
Instftncla - suspens:l-.,; juizo arbitral; guardada a fidelidade por parte da
indeferimento ................. . 13:5 mulher ......................... .
PÁGS. I
(105)
XX ARCHIVO JUDICIARIO 20-4-43
PÁGS • PAGa.
Lesões corporais . . . na falta de um e Livramento condieional - ... dessarte e
na deficiência de outra, desclassifi- de acordio com as decisões !fnterlores
ca-se o crime, aplicando-se a pena e com os recentes julgados do Supre-
cominada no art. 129 do Cód. Penal idem mo Tribunal Federal, a lei que regula
Libelo - E' a acusação articulada. De- a concessão do livramento condicio-
V•3m seus artigos ser formulados em nal "que não envolve o problema da
proposições claras, de acordo com a aplicação da pena" é a vigente ao
pronúncia. Cumpre que cada pro- tempo em que fo.l requerido t!l'l bene-
posição não especifique mais de um ficio legal, e não a contemporânea da
fato criminoso, com as circunstâncias infração ou da condenação imposta.. idem
conexas e inseparaveis ............. . 113 - - Não está o juiz, no livramento condi-
- - ... circunstâncias não conexas do fato cional, adstrito ao "ratione temporis"
são sempre expostas em outro artigo idem do cumprimento penal. Outras con-
dições se Impõem para sua decisão,
- - ... circunstâncias agravantes não de-
princiiJ"llmente as que dizem com a
fictas em lei não devem ser indica-
periculosidade do lit-2rando. Este tem
das. Libelo mal organizado pode acar-
de oferecer à Justiça um conjunto de
retar prejuizo à defesa e à acusação idem
condições que infundam presunção
Liquidação - A apelação de sentença de de regeneração .................... . 252
liquidação, deve ser recebid<t no efei-
- - Não se computa no tempo exigido
to apenas devolutivo. O Juiz deve
por lei, para a concessão do livram·2n-
sempre declarar, com clareza os efei-
to condicional, o lapso de tempo em
tos do seu recebimento ............ . 378
que o liberando esteve preso por mo-
Livramento condicional - E' inadmissível tivo extranho ao processo, ou mais
no fôrci m!lltar ................... . 25 precisamente, por motivo de ordem
- - Não se deve aplicar o Código Penal e regurança públiC"', fora do regime
vigente, em matéria de livramento carcerário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 324
condicional, quando agravar a situa-
- - Está amparado pelo mandamento do
ção do réu, condenado no regime da
n. 13 do art. 122, da Constituição
,Consolidação das Leis Penais, que
Federal - "as penas estabelecidas ou
permitia aquele beneficio .......... . 53
agravadas rut lei nova não se aplicam
... jurisprudência qo Supremo Tribu-
aos fatos anteriores". Está tambem
nal Federal a respeito. - Concessão
compreendido no parágrafo único do
do livramento, em face do principio art. 2. 0 do Código Penal. ........... .
oonsignado no art. 122 n. 13 da
constituição de 1937............... idem Locação - Interpretação de cláusula usual
- - Aplicam-se imediatamente os dispo- em, contratos d.3 locação acerca de
sitivos do novo Código Penal; não há "herdeiros ou sucessores", em termos
neles exacerbação ou agravação de gerais, e seus efeitos operantes em
pena, que impediria aquela aplicação, 'face do art. 1.197 do Código Civil_.
mas normas mais de oorater adminis- quando inscrita no Registo compe-
trativo qu.3 penal, propriamente; e tent.a .................... · · · · · · · · · · 67
não há na Lei de Introdução nenhu- ... retomada de prédio pam aliena-
ma determinação sobre a ultrativi- ção a terceiros, fundada no art. 524
dade da lei anterior reguladora da do Código Civil, e "defesa de direito"
concessão de medida ............... . 156 autorizada no art. 8. 0 do decreto
- - E' matérW. de execução da pena, sua n. 24.150, de 1934, a invocação da-
última étapa, ·e, assim, na sua apli- quele artigo em abstrato não basta~
cação não há cogitar de r·3troatividade para fundamentar o direito de proprie-
ou de últra-atividade da lei penal .... 251 1 tário à vista dos princípios ex;p!ica-
(106)
20-4-43 ARCHIVO JUDICIARIO XXI
PÃGS. PA<l8.
dores da função social da proprie-
M
dade, e, conforme lei, do art. 113,
n. 1'7, da Carta Política e do previsto Mandado de segurança - A sentença que
no art. 16 do decreto citado ........ idem o concede pvoduz "res indlcaia" -
Locação - Cláusula sobre o dia de pa- Impário da coisa julgada ........... . 130
gamento - Recebimento posterior - - - E' incabível contra decisão judicial
Como deve ser considerado - Efeito 1-54 transitada em julgado ............. . 177
Ação de despejo procedente. Findo o
prazo da locação, não tendo o locador I
I- - Não cabe contra decisão judiciária,
nem é meio· idôneo para obstar exe-
optado pela prorrogação do contrato cução de acordão do Tribunal e anu-
no prazo convencionado, tornou-se a lar seus efeitos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2'74
locação por tempo indeterminado. - - A sentença que concede por atribuir
Assim, era licito ao locador notificar ao requerente direito certo e incon-
o locatário para dooocupar o prédio testavel, é irretrat~vel, salvo o caso
no prazo de 30 dias................. 256 de ação rescisória ................. . 361
(107)
XXII ARCHIVO JUDICIARIO 20-4-43
PÁGS. PÁGS.
PÃGS. PÁGS.
PÁGS. PÁGS.
PÁGS. PAGS.
Prisão preventiYa - E' instituída no in- vidade das palavras escritas e orde-
teresse da JUstiça social. ti; faculta- nar o seu cancelamento desde que es-
tiva ou obrigatória. Casos ......... . 51 tejam em termos desrespeitosos ou
... não será a prisão decretada se dos contenham expressões injuriosas. . . . . 236
autos resultarem provas de que o Reclamação - O Conselho de Justiça não
agente praticou o fato nas condiçõE's tem competência !Para cassar senten·
estabelecidas no art. 19, ns. I, II e ça, mesmo quando em divergência
III, do Código Penal . . . . . . . . . . . . . . !1em com dL<>positivos categóricos da lel.
- - Para legitimá-la imprescidiveis se A sua função ê apenas de correção de
tornam os indícios suficientes da sua abusos de que resulta tumulto no
necessidade e conveniência ........ . 283 processo ......................... . 237
Processo penal - Nulidade - Quando o
Recurso - Aplicação do art. 575 do Códi-
Juiz entende a possibilidade de nova
go do Processo Penal: toma-se co·
definição juridic~ do tato, tendo, em
nhecimento do recurso, ainda que in-
consequência, que. áplicar . pena mais
terposto fora do prazo legal, se o re-
grave, deve obsei:\'ar o d_isposto no
querimento está datado dentro do
art. 384 do 0:5digo de Processo 105
prezo e sua apresentação foi retar-
- - ... so~ _pena de nulidade, a sen-
dada pelo diretor da penitenciária
tença· de condenação, deve ser fun-
onde o recorrente se acha preso .... 27
damentada nos termos do art. 42
- - Não pode a parte ficar pr•3judicada
do Código Penal ................. . idem
pela interposição de um recurso por
- - Vêr ainda: Nulidade. outro 269
Procuração - A que contiver a cláusula Recurso extraordinário - Deserção de re-
"ad judltia" habilita o procurador a curso extraordinário que não foi de-
praticar todos os atos do processo, vidamente caracterizado. Confirma-se
dispensada menção ·3Special ........ . 164 o despacho do relator que assim de-
Procurador - Proibição legal de ser pro- cidiu ............................ . 19
curador de partes junto a repartições - - Não constando dos auto;;, prova da
públicas - Professor de direito - tempestividade da interposição do re-
Serviço da mediação ou corr•3tagem, curso extraordinário, do mesmo não
prestação, remuneração ............ . 142 se pode tomar conhecimento. casos
Promotor de Justiça - O art. 1° do de- da letra "c" e da letra "a" do n. rrr.
creto-lei 2. 254 de 30 de Maio de 1940 do art. 101, da Constituição Federal.
abrange o adjunto de promotor, Art. 559, do Código Penal e art. 187,
quando este fu.nciona _legalmente, por do .Cõdigo de Processo Civil ......... . 89
força da organização ~udiciária de --Menção dt:t lei, qUê o autoriza ..... . 92
cada Estado ....................... . 207 - - Interposição simultaneamente com
Posse - Adquire-se por qualquer dos embargos de declaração rejeitados -
modos de aquisição em geral ....... . 50 Admite-se o recurso extraordinário,
- - ... adquirida ·que séja, conserva-se mas dele se não conhece por inca-
pela só intenção do possuidor, inde- bivel - Sentença de liquidação. -
pendente de prática> de atos mate- I Decisão por apreciação de provas ..... 137
riais, enquanto outro não se apossar !- - Interposto do acordão que indeferiu
do objeto ...............•.......... idem a "revista", tendo por objeto a ques-
tão federal emergente do acordão an-
terior - Tempestividade ........... . 142
R 219
- - Quando não é de conhecer ......... .
Ueclama~~ão --· O Juiz, ao receber as pe- --- Decisão que, apreciando os fatos, faz
tições ou ctespacht:tr nos aut.os, tem o a devida aplicação da lei, não com-
direito de examinar e pesar a gra- porta recurso extraordinário. -· Apli-
tllll
XXVI AHCHIVO JllDICIAil.IO 20-4-43
PÃGi<. PÁGS.
guiada pelo direito civil, pedida por que nenhuma impugunação fora feita
ação cível; e assim, ação pessoal que nll! contestação e só após o despacho
é, presidida pelos artigos 177 e 179 do saneador fôra verificada. a inidonei-
Código Civil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . idem dade. Pode o autor oferecer ao cor-
Rellabllltação - · ... sem a prova do res- rer da ação, por ordem do juiz, re-
sarcimento, ou impossibilidade de o forço de fiança. Tal p€rmissão .é a
fazer, prova feita pelos meios regu. equidade preconizada na lei. de luv!l!s 168
lares, não é de deferir rehabilitação Renovação de locação - Si o locatário
para produção dos seus jurídicos I
deixou decorrer o prazo do contrato,
sem exercitar o seu direito à renova-
efeitos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
idem
Reno\·ação de locação - O contrato com ção, não pode pretendê·la postertor.
prazo inferior a cinco a·nos não tem mente. E' necessário, no conceito
amparo no decreto n. 24. 150, de legal, que não haja interrupçálo de lo-
1934. - E' perrrtitido aos interessa- cação contratual. A simples perma-
dos convencionar contrato em prazo nência no local com fundo de co.
inferior a cinco anos. ao que isso im'- mércio não basta para conferir ao lo·
porta, de qualquer modo em· deso- c!l!tário o direito à renovação. Sendo
bediência à lei de 1uvas. Podem a·s o prazo de contrato inferior a 5 anos
partes rescindir um contrato do pré- não autor.iza o locatário a pedir rena-
d~o essencial, e em seguida celebra- vação ............................ ; . 256
rem um novo com prazo inferior ao - - E' carecedor de !l!Ção J)ara renovação
antigo, pois teem plena liberdade d'e de locação o locatário que tem mera
ação ............................. . 32 sublocação verbal. Não basta a ins-
Interpretação de cláusul!r usual em talação do fundo de comérci.o para
contratos de locação acerca de "her- autorizar o ingresso em Juizo, com
deiros ou sucessores", em ter:rnos gP-- ·base no decreto n, 24. 150, de 1934,
rais, e seus efeitos Op€rantes em face mas é preciso que exista contra-to
do art. 1.197 do Código Civil, quando válido . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 261
inscrita no registo competente ...... . 67 - - ... não lé posisvel a cessão do contrato
Retomada de prédio par!!! alienação a de locação, desde que nele exista
terceiros, fundada no art. 524 do Có- cláusula que a faça depender de con-
digo Civil, e "defesa d!e direito" au- sentimento por escrito do locador. . idem
torizado no art. 8° do decreto núme- --- ... a circunstância de ter o Juiz no
ro 24.150, de 1934: a invocação da- despacho saneador admitido a legi-
quele artigo em abstrato não bf!.Sta timidade da parte não o imp,edia de
para fundamentar o direito de pro- na final julgar o ll'lltor carecedor de
prietário à vista dos princípios expli- ação ............................. ·. idem
cadores da função social da proprie- - - Renovação de arrendamento de pré·
dade, e, conforme lei. dl:l art. 113, dio comercial . - A adição do prazo
n. 17, da Cart1r Política e do pre- do contrato renovando ao de arren-
visto no art. 16 do decreto citado idem damento par!~! satisfazer à exigência
- - Retomada do prédio por um dos con- do art. 2 .o, letra "b" do decreto
dôminos. - Indenização devida ao n. 24.150, de 1934, não sendo impe-
locatário em consequência da mu- rativa na lei, é todavia admissivel
dança do negócio para outro local ... com fundamento no art. 30, sempre
- - Na contestação !11 parte deve, desde que o Juiz verificar intuito delibe-
logo, se opor ao fiador; não o fazendo, rado de burlar os objetivos visado
aceita o fiador proposto pelo autor. pelo legislador ..................... . 322
Não constitue nulidade alguma a ini- - - O prazo do contrato renovando, em
doneidade do fiador oferecido, desde arrendamento pedido para fins co-
(113)
XXVIII ARCHIVO JUDICIARIO 20-4-43
PÁGS. PÁGS
merciais, tem seu termo inicial a par- tões incidentes, que dificultavam a
t.ir da terminação do primitivo arren- generalização da regra . . . . . . . . . . . . . . idem
damento, mas, a partir da data do Responsabilidade civil - Código Civil, ar-
registro é que são devidos os novos tigos 156, 1. 521 e 1. 548 - Respon-
alugueres fixados na renovação . . . . 390 sab11idade do pai na repaoração civil
Renovação de locação - A cláusula de dos atos ilícitos praticados pelo Ulho
"herdeiros ou sucessores" obriga os menor, sob .sua guarda e direção ... 109
sucessores inter-vivos, os possíveis
- - Acidente com passageiro. Responsa-
adquirentes do lmovel. A venda do
bilidade. Havendo culpa da trans-
prédio não impede a renovação do con-
portadora, fica excluída a da vítima.
trato ............................. . 391 Não basta que o empregado advirta c.
Reserva de do;minio - Contrato de venda passageiro da imprudência, para que
com reserva do domínio - Exigência desapareça a responsabilidade da em-
do art. 344 do Cód. Proc. Clv. Móra prêsa qe transporte, porque tal im-
do devedor. Execução. Dispensa de prudência não deve ser permitida,
~nterpelação judicial para constitui-
nem tolerada . . .................. . 237
ção em móra. Aplicação dos artigos
- - Se o autor tomou o veiculo pela
506 e 960 do Cód. Civil ........... . 45
entrelinha e se ficou como pingente
- - Reivindicação de objeto vendido com
não importa em eximir a responsa-
reserva de domínio. Registro do con-
bilidade da Companhia transporta.
trato. Depreciação da coisa e dedução
dora, desde que ela só poderia ser
rlo seu valor das importâncias que o
afastada se a culpa do desastre cou-
vendedor devolverá ao comprador .. 173
besse unicamente ao passageiro. Pro-
Embargos· de terceiros ~nhor e pos- vado ser a vitima passageiro é a
suidor fundados em contrato de ven- Companhia obrigada a reparar os
da com reserva de domínio; proce- danos resultantes do desastre ...... . 258
dência .......................... . 364 - - Tratando-se de passageiro, a culpa do
Responsabilidade civil - Do patrão, na re- transportador é presumida. Caso de
paração do ato danoso provocado força maior ou caso fortuito . . . . . . . 260
pelo preposto - Art. 75, 2.a parte do - - Nos casos de culpa: contratual não
Código Comercial, e art. 1.521 c;c tem aplicação os dispositivos dos ar-
arte. 159 e 1.523 do Código Civil - tigos 911 e 912 da lei de processo, al-
Diversidade de julgados - Prova terados pelo decreto 4. 565 de 1942.
plena e objetivo de culpa concorrente Provado o contrato de transporte, a
da prepo,nente, "in eligendo" - Co- transportadora terá de indenizar os
nhece-se de recurso, mas nega-se-lhe danos que causar aos seus passa-
provimento . . ................... . 21 geiros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 332
- - Não hã mais divergência de jurispru- - - Voto vencido: Critério para a inde-
dência no Supremo Tribunal Federal, nização calculado sobre 06 ganhos
formando-se sólida maioria na inteli- da vítima por ocasião do acidente.
gência do artigo 1. 523, do Código Ci- Arts. 911 e 912 do Código do Processo
vil com o sentido de fazer presumida aplicam-se a todas ações de indeni-
a culpa do preponente pela do pre- zação por dano, quer na culpa aqul-
posto, se a vítima não procedeu tam- Uana, quer na culpa contratual.
bem com culpa, no todo ou em parte 98 "Dolo e culpa"; são de aplicação
- - ... redução dos casos de culpa indi- imediatw os referidos artigos. A re-
reta a fórmula única, exigida pelas troatividade das leis não é mais pr1n~
condições sociais do momento histó- cipio constitucional . . . . . . . . . . . . . . . . idem
rico e acorde com o sentido universal A companhia empregadora é respon-
do problema. - Afastamento de ques- savel pelos danos causados por seu
(114)
20-4-43 ARCHIVO JUDICIARIO XXIX
PÁGS.I PÁGS.
empregado, quando no exercício de polícia nos Estados ou o Chefe de
suas funções. Provado o ato danoso Polícia no Distrito Federal. De tais
sem que tenha havido caso fortuito, constrangimentos não pode cophecer
!orça maior ou sem que haja sido o Judiciário .
provocado pela vítima, está provadll. '!!. Seguro - Emitido à ordem - Os bene-_
culpa da Companhia. - A respon- ficiários são os herdeiros do segurado,
sabtlidade, nesse caso, decorre do ar- não distinguindo a lei a respeito des-
tigo 1 . 523. do Código C i vil ......... . 387 ses herdeiros, se legítimos ou testa-
Responsabilidade civil - ... a mãi embo- mentários. Artigo 1. 473 do Código
ra casada, mas cujo marido é inválido Civil. O seguro de vida não está su-
e não pode prover as necessidades da jeito a imposto de transmissão ..... 110
fMnília, tem direito aos alimentos que de vida - Para que o "suicídio"
lhe eram dadoa por sua filha, com o Impeça a validade do prêmio de ·Um
produto do seu tra;oalho pessoal. o seguro de vida, é necessário que a
marido da vitima,; homem sadio, com seguradora faça prova de que o fatc.
elevado ordenado e com aposentadoria ocorreu por vontade conclente do sui-
assegurada por lei não pode pleitear cida. Via de regra o suícidlo é uma
alimentos e nem indenização pela fatalidade, consequência de gesto im-
morte de sua esposa. . . . . . . . . . . . . . . . idem pensado. In terpretaçã<J do art. 1 . 440
do Código Civil ................... .
A imprudência .da vitima só exime a
Companhia transportadora da culpa, Selos falsos - Interpretação e aplicação do
quando ela for única e exclusiva- art. 293 do novo Código Penal e do
mente da própria vítima. O "pin- art. 2.0 do mesmo Código quanto a
gente" tem direito a reparação do extinção da punibilidade .......... . 293
dano resultante do <iesastre, uma Sentença - E' nula a proferida com in-
vez que a Companhia tolera passagei- observância dos arts. 42 do Código
ros dessa espéc~e. Estando ausente a Penal e 387 do Código do Processo Pe-
:famil!a da vitima, justifica-se que no nal, 1sto é, não devidamente moti-
cálculo da indenização lhe seja atri- vada; na aplicação da pena de multa,.
buldo como manutenção, apenas a desprezam"-se as frações de dez crú-
metade do que ganhava a mesma vi- zetros .......................... .. 29
tima. Os honorários do advogado são
- - ....1ndispênsab!l1dade da investigação
fixados em 10 % tendo-se em vista
sobre a vid~ pregressa dos indiciados,
ao pouco trabalho que a demanda
dlligência que cumpre à autoridade
exigiu .......................... . 395
policial, de quem deve ser exigida,.
Revisão erimlnal - Com fundamento no nos termos do artigo 6, IX, do Có-
n. I do artigo 621 do Código de digo do Processo . . . . . . . . . . . . . . . . . . idem
Processo Penal. A emboscada; seu - - ... tendo dado· causa a nulidade de-
conceito ...............• , •.....•. 402 cretada o Juiz prolator da sentença,
é este condenado nas custas. . . . . . . . idem
s --Não motivada. 1!; nula, nos termos
da lei, a sentença não motivada . . . . 254
Segurança pública - O exercício da fa- - - Sua intimação M defensor; caso:
culdade de deter por motivo de se- Cód. do Proc. Pen., art. 392, n. III;
gurança pública (Cart. Const. de aplicação. Não conhecimento da ape-
1937, artigo 168-a) compete às auto- lação por interposta fora do prazo . . 255
ridades policiais, como delegados do - - E' nula a não fundMnentada quan-
governo federal, bastando que sobre a to à pena fixada, por descumprir o
conveniência da medida, se tenham disposto no art. 42 do Código Penal
manifestado a autoridade superior da e 387 do Código do Processo; incide o
(115)
XXX ARCHIVO JUDlCIARIO 20-4-43
PÁGS. PÃC;.s
seu prolator no pagamento das reu por vontade conciente elo sui-
custas, "ex-vi" do artigo 20 do res- cida . . ................ · · ·. · · · · · 34
peêtivo Regimento ................ . 327 Suicídio - ... via de regra o suicídio é
Sentença homologatória - Aceita para uma fatalidade consequência de gesto
evitar o retardamento do pagamento impensado. Interpretação do artigo
das pensões. Necessidade da sentença 1.440 do Código Civil . . . . . . . . . . . . tdem
condenatória 192 Superioridade em arma - Mesmo quando
Separação judicial de corpos - E' desne- fosse de se admitir como verda-
cessária quando já existe a separa- deiro que o Cód~-;o Penal de 1940
ção "de fato", isto é, quando os excluiu entre as circunstâncias que
cônjuges vivem sob tetos diferentes, sempre agravam a pena, a da su-
sem possib!l!dade de constrangi- perioridade em arma, de modo que
mento . 355 o ofendido não se pudesse defender
Sociedade - Liquidação - Liquidante - com probabilidade de repelir a ofen-
Quem deve ser 1D sa ( Consol. das Leis Penais - arti-
go 39, § 5o), não estando ela inclui-
Sociedade de fato - Não teem persona-
da na disposição genérica da últi-
lidade jurídica. Confundem-se com ma parte da letra a n. II do art. 44,
as pessoas dos sócios . Se elas não
podem estar em juizo, oos sócios,
- ainda assim não seria de deferir
o pedido de revisão fundado na
porem, é concedido esse direito ..... . 191
aplicação retroativa da lei nova,
Soe:ieclade irregular - Existência - Prova para ser excluida aquela agravan-
- Insuficiência da declaração no ter- te reconhecida na sentença conde-
mo do casamento 12 natório . . ..................... . 327
Sonegação de bens - Inventariante; re- Supremo Tribunal - Expropriação promo-
moção. Pena de sonegados; aplica- vida por um Estado - Terrenos de
ção. Cód. Civil, arts. 476, VI; 1. 781, marinlla - Interesse da União afir-
1. 784; Cód. do Proc. Civ., art. 466 186 mado perante o Supremo Tribunal
Sossego público - Multa consequente à pelo Procurador Geral da República
infração da lei que coibe os rui- - Competência constitucional do
dos em excesso. Incidência de pe- Supremo para o recurso ........... . 79
nalidade - Casos previstos. Omis- Suspensão condil'ional da exeeuçfto !la pena
sões da lei ...................... . 43
-Ao concedê-la cumpre ao Juiz es-
Sucessão testamentária - Usofruto ou fi-
pecificar as condições a que fica a
deicomisso. Se o testador reitera-
mesma sujeita (Cód. Pen., artigo
damente fala em usufruto e jamais
58), condições que se não limitam
em . fideicomisso, e se do conjunto apenas ao pagamento das custas,
das disposições do testamento não
mas que devem tambem referir-se
.se conclue .claramente que a Insti-
ã. residência e procedimento do réu,
tuição é de· fideicomisso, deve acei-
sua apresentação periódica em' Juizo,
tar-se como sendo realmente de
e outras ......................... . 159
us~fruto, maxirn'é atendendo-se a
que, no caso, esta última solução é Requisitos - A idade que permite
a que melhor assegura a observãn. a suspensão da reclusão é a que o
cia da presum!vel vontade do tes- condenado tinha na data do crime.
tador 178 Presunção de que não torne a de-
Suicídio - Para que o "suicídio" impeça linquir; não a autoriza a falta de
a validade do prêmio de um seguro cumprimento da promessa de casa-
de vida, é necessário que a segura- mento mediante a qual o crime foi
dora faça prova de que o fato ocor- praticado 249
(116)
20-4-43 ARCHIVO JUDICIARIO XXXI
PÃGS. PÃGS.
Suspensão condicional da execução da mitem ao legatário após a partilha,
pena - Inteligência do art. 30, § 3°, segundo a regra dominante no di-
do Código Penal; a ida-de referida reito d3$ sucessões . . . . . . . . . . . . . . . idem,
nesse dispositivo (menor de 21 e Testamento - ..• por conseguinte, se o
maior de 70 anos), refere-se à data legatário aceita e desiste, ou, sem
da sentença e não à da .época do fato chegar a praticar qualquer ato que
delituoso ................... . 253
induza aceitar, renuncia ao legado
antes da partilha dos bens do testa·
T dor, não poderá ser cobrado o imposto
previsto no artigo 6°, § 1°, do decre-
Tentativa - Furto. Desclassificação das
to n. 4.613, de 2 de Janeiro de
penas do delito consumado para as
1934, abstração feita de sua re-
da tentativa. Orientação dominante
conhecida inconstitucionalidade, p9r
na jurisprudência da legislação an-
isso que não é devido, tanto assim
terior e na atual. 4 figura deleti-
que, se devidamente cobrado, deve-
va do furto. Da tentativa. Esfera
rá ser restituído, provado que o le-
de vigilância da coisa subtraída. O
gatár.io não chegou a entrar na
art. 12 ns. 1 e 2 do Cód. Penal
posse da coisa legada, nos precisos
atual ....................... . 103
termos do art. 63, n. 1, letra a,
De furto. Caracterização da rein-
deste mesmo diploma de lei . . . . . . idem
cidência especifica. O furto tentado
é um tipo de furto consum'ado. Im- Testemunha - O Juiz é o orientador
posição de medida de segurança .. 158 do processo. Não -pode, porem, cer-
Terceiro prejudicado - Deve ser aprecia- cear aos litigantes o uso dos meios
do preliminarm.ente o interesse do adequados à consecução de seus le-
que apela como terceiro prejudica- gítimos objetivos 271
do, maximé se se trata da União,
- - ... inteligência do art. 238 do Cód. de
pois que se verificaria alteração gra-
Processo Civil. Testemunha que não
ve de competência. - Versando a
comparece à audiência deve ser in-
questão sobre matéria de direito
timada. Se intimada não se apre-
pode ser logo apreciada ......... . 10
Terrenos de marinha - Expropriação pro- sentar sem motivo, no local desig-
movida por um Estado - Terrenos nad,o, incorrerá na pena de condu-
de marinha - Interesse da União ção, e responderá pelo aumento da
afirmado perante o Supremo Tribu- despesa a que der causa idem
nal pelo Procurador Geral da Repu- - - Para prova de fato, dlfpois de ou-
bllca - Competência constitucional vidas três testemunhas oferecidas
do Supremo para o recurso - Não por qualquer das partes, o Juiz pode
conhecimento do agravo por motivo dispensar as restantes. Haverá cer-
de natureza processual ........... . 79 ceamento se o depoimento da teste-
Testamento - Interpretação das cláusu- munha dispensada for capaz de es-
las dos testam·entos. A exegese da-; clarecer obscuridades e desfazer du-
verbas testamentárias deve ser a vidas . 404
mais possível no sentido de ser ple-
Tutela - As decisões, proferidas em pro-
namente atendida a presumida in~
cesso de tutela especial, não são sus-
tenção do testador, na conformida-
cetlve!s de recurso de apelação.
de dos artigos 85 e 1 . 666, do Có-
digo Civil; legado e pagamento post-
S? cabe apelação de sentenças de-
morterr.•· '; distinção .·. . . . . . . . . 193
finitivas e como tal não se pode con-
- - ... a propriedade e a posse do legado sidera.r um despacho que mantem'
de coisa fungível somente se trans- situação anterior, já determinada em
(117)
XXXII ARCHIVO JIJDICIARIO 20-4-43
PÁGS. PAas.
anterior decisão e que mereceu a A posse é exercida em nome do nú
confirmação da Instância Superior. proprietário .................. 271
Voto vencido 396 Usufruto - A sentença que julga a sua
extinção não é atributiva de quel·
u quer direito real, mas declaratória de
um fato preexistente representado
Unificação de penas - Crime continuado: pela morte do usufrutuário. . . . . . . . . 349
novo conceito, segundo o art. 51, ... os nús propri~tários não podem
§ 20 do Cód. Penal vigente ..... . 385 responder· pela di vida do usufrutuário
Usucapião - Sob o império do direito an- nascida do • inadimplemento de sua
terior corria a prescrição aqui siti v a obrigação personalíssima de pagar o
contra o ~tado, quanto aos bens imposto devido pela instituição de
dominicais, mas, não contra: .os des- usufruto; a prescrição das dívidas
tinados a uso público. o Cód. Civil, ativas da Fazenda Municipal . . . . . . idem
porem, alterou o conceito legal; en- - - . . . I! competência para !Processar e
PÁGIO. PÁGS.
teriais a seu cargo para as obras que de domil;tio. Reg isto do contrato.
estiver executa'lldo . . . . . . . . . . . . . . . . . 121 Depreciação da coisa e dedução do
··\'enda com reserva de domínio - Reivindi- seu valor das Lm'portâncias que o
cação de objeto vencido com reserva vendedor devolverá ao comprador .. 173
SUPLEMENTO
- A prescrição das ações de anulação de Os vencim'entos dos magistradoê do Dis-
casamento (Exposição de motivos apre- trito Federal, em face da Constituição
sentada ao Exmo. Sr. Presidente d~ Federal da lei (Desembargador Collares
República, pelo Ministro interino da Moreir:a) 61
Justiça Dr. Marcondes Filho) ....... . 3 - Registo biblio:;ráfico (Janeiro de 1943)· 69
- Aborto no caso de gravidez resultante A licitação nos inventários (Dr. Can-
de estupro (Palestra realizada no Ins- dido de Oliveira Filho) ........... . 73
tituto dos Advogados pelo Dr. Alfredo
Ligeira contribuição ao estudo da deca-
Baltazar d-a Silveira) ............... . 5
dência e da prescrição (Dr. Melchia-
- O novo Código de Processo Penal
des Picanço) . . ..................•.• 77
(Conferência realizada nr.. Sociedade
Brasileira de Criminologia pelo Juiz' -Pelos domínios do direito (Dr. H. So-
Narcelio de Queiroz) .............•.. 9 bral Pinto); A defesa ex-ojjioio nos
Registo bibliográfico (Dezembro de crimes políticos ..................... . 83
1942) ............................. . 19 O regulamento da Ordem dos Advo-
- A indissolubilida:de do casamento e as gados (Dr. A. Padua Nunes) ....... . 87
ações de nulidade e anulação (Dr. Ro- Efeito suspensivo das apelações nos in-
mão Cortes de Lacerda) ............. . 23 ventários (Dr. .Cândido de Oliveira
As tendências modernas do direito ad- Filho) 69
ministrativo (Conferência realizada no
- Dentro da sistemática do nosso direito,
Instituto dos Alvogados pela Dr. The-
ê licito ao pai retirar o consentimento
?r:dstocles Cavalcanti) ............... . 27
dado ao filho para se matrimoniar?
-- O direito e a guerra (Dr. A. Moitinho
Daria) .
( Dr. Aljredo Balthazar da Silveira) .... 93
35
- Pelos domínios do direito (Dr. H. So- -· Algumas sugestões para a proteção da
bral Pinto) : infância abandonada (Dr. Francisco
- A. função da magistratura ......... . 39 Pereira de Bulhões Carvalho) ....... . 99
- REGISTRO FORENSE. Tribunal de Apela- O art. 15, n. 16, da Constituição e o
ção. A posse dos novos Presidente, impmto sobre os atos processuais
Vice-presidente e Corregedor. Os dis- ( Dr. Clodorr,,iro Cardoso) ........... . 107
cursos proferidos ................... . 43 Pelos domínios do direito (Dr. H. Sobral
Juizes e tribunais (Desembargador J. Pinto): - A Promessa de venda de
A. Nogueira) ....................... . 53 imovel . 113
- Naturalização tácita; expedição de tí- Registro bibliográfico (Fevereiro de
tulos declaratórios. (Exposição de mo- '1943) . 117
tivos apresentada ao Exmo. Sr. Pre- - Equidade e arbítrio (Dr. Edgard de
sidente da Repúblic.a, pelo Ministro in- Campos) ....................•......• 121
terino da Justiça, Dr. Alexandre Mar- A têcnica nas sentença (Dr. Jo:J.i
condes Filho) ....................... . 55 Oliveira Lirna) 125
- P€Jos domínios do direito (Dr. H. So- Pelos dom'inios do direito ( Dr. H. So-
bral Pinto): Da finalidade da advo- bral Pinto): -- O imposto sobre pro-
c ia mesa de venda de !moveis ............ . 127
(119}.
INDICE DOS ACORDÃOS PELAS ESPÉCIES E NÚMEROS
MATÉRIA CIVEL
MATJ!:RIA CRIMINAL
I - HABEAS-CORPUS: I -AGRAVOS: