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Anno XXV -1897

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a· Agosto

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'DIREITO
REDACTORES

,Conselheiro Tristdo de Alencar Dr. Antonio .Toaqleim de ]Vfacedo


Ararip~,Ministr<? aposentado do Soares, Ministro do Supremo Tri-
Supremo Tribunal Federal. bunal Federal.
Conse'lheiro Olegario Herculano de D;. Manoel Clementino do Monte,
Aquino e Castro, Presidente do Advogado.
Supremo' Tribunal Federal. Dr. Jotio Jose elo Monte, Advogado •


ESCRIPTORIO E REDAÇCÃO

51 Rua Primeiro ele Março 51

.
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.. .. .

~:

PROPRIEDIDE DO DR. JOIO JOSl DO MONTE


, "

DOUTRINA

INSTITUIÇÃO DO JDRY'
]ULGA'1\{ENT o A DESCOBERTO
CONSULTA

" Em face dos arts. 34, n. 23 (legislar, etc.) e 72, '. 31
(é mantida, etc.) da Consto Federal, podem os Estados:
a) abolir a instituiçao do Jury? b) reformaI-a, abo--
lindo algum dos seus caracteres essenciaes ?
Entre esses caracteres comprehende-se o escrutini()
secreto na votação dos juizes de facto, e o direito a re--
cusaçOes peremptorias por parte do accusado e do
accusador?

PARECERES
Quando a Constituição diz: «E' mantida a instituiçã(} do
'Jury» (art. 72, § 31), sua intenção manifesta ê determinar
tIue e11e, nos seus elementos substanciaes, continue a existir

'
~al qual era sob o regimen de que sahimos. A phrase «6 mano
ida» exprime evidentemente um laço de continuidade, e tem

f. cr fim obstar a solução della. Não quiz o legislador constituinte


simplesmente que a Republica fosse dotada com a instituição
~do Jury, a que, sob esse nome, se pudessem inllingir modifi·

~
Lcações de caracter: manteve a existente instituição do Jury,
'sto é, prolongou a dnração a uma entidade precreada, conso-
lidou-a, perpetuou-a, fixon-a.
: « Onde se dispõe» (são de um dos mais recentes commen·
tadores do direito publico americano estas palavras) «que
,se manterá o direito ao julgamento pelo Jury, ou que ficará
~intacto, quer se dizer que esse direito subsistirá tal como era,
;ao tempo em que foi adoptada a Constituição. And 10he?'~ it
:is provided that the right of trialby jU1'y shall « be p"eserved », •
lor shall «remain inviolate», it is meant that this right shall
icontinue as it existed at the, , adoption of the Oon8~it1dion.»
(BLACH: Americ. Oonstit. :4,iiw~ 1895. Pg. 494.)
, E «essa garantia», accrescenta o publicista norte-ameri-
cano, «veda ao poder legislativo, como aos tribuuaes, a intro-
--'6,.-

~;~~~~duCÇãO de restricções, ou embaraços, que possamJ.i;ljudical-a.:.


:(Iiidem.) , ",_' , "
Redigida, portanto, como s. acha -esta clausula }lllJon-
,stituição brasileira, ella envolve virtualmente uma limitaip,
nãQ só ás faculdades uo Congresso Nacional, ,como ao poder~,
'legislativo, ou constituinte, dos Estados, em def-eza dos prif"
cipios essenciaes á instituição do J u r y . , '
As leis e constituições dos Estados, que" Itlterarem n~
seus attributos capitaes, são nullas perante a Constituição dá.
"Republica, e das sentenças proferidas, sob taes leis ou consti-
tuições, nos tribunaes dos Estados, caberá, para o Supremo
Tribunal Fed~ra I, o recurso da Constituição, art. 59, § 10.
Ha, con] vIfeito, no proc"esso do Jury, condições, «que
" interessalJ,l á essencia do direito. 11'[any ofthe incidenis of ~
common-law iria1 by jury a1'e essential elements of the ,'ight.»
(COOLEY: Limitations, p. 392.)
" Uma dessas condiçõeR im:,epal'aveis do Jury é o direito á
recusa peremptoria úe certo numero de jurados: c •.• clallen-
ges ••. not only for cause, but a1so peremptory without assigning
, cause.:' (COOLEY, ibidem. BLACIC Op. oito p. 494.) ,
São a meu ver, condições substanciaes ao direito, que
essa instituição representa, todas aquellas, cuja omissão possa
deixar menos amparadas a imparcialidade e independeacia dos
membros do conselho. Neste ca.so se acha \) sigillo do voto na
adopção do veridictum. '
De largas considerações seria susceptivel a defesa deste'
parecer, a que sinto não me ser possivel' dar agora maior
,desenvolvimento. '
Rio, 7 de Março de 1896. - Ruy Barb03a:

: ,Mantendo como garantia dos direitos individuaes a insti-


tuição do Jury, a Constituição Federal aceitou· a naturalmente
, ,qlJa1 existia entre nós em sua organisação legislativa, ao
i,ÍIlBnos em sells elementos essenciaes.
,'. O Jury não seria, considera dó uma garantia poJitica, se
I
não merecesse, por' sua imparcialidade, a confiança das partes,
especialmente dos accusados ; e se não pudesse, por sua inde·:
,*pendencia, e pela liberdade e irresponsabilidade de suas ~
de",cisões, escapar aos resentimentos do poder ou dos interessadosf
ng julgamento.,' .
',., A organisaçaQ da lista dos jurados, e as condições da
ap~idão dell~s, ;~f sido objecto da attenção uos. ~egisladore~, I
e Ioram ' mUItas"~ezes alteradas c,onforme o espmto das leIS
;', .
-7-

politicas d!)-"npo; porém manteve-se ~empre, para a formaçfw


dos· C01'h/ÓS, o pri:1cipio cardeal das recnsações peremptorias,
CO"" qual, além de se attenlllll' o vicio ele ter sido a lista
i' jurados feita sob a influellcia do Gov€'rno, facilitam-se
,tS partes algumas exclusões, que não poderiam ser justifi-
ca.das, ao meno!'! na. occasifw:
«A recui'lução, diz Mittennayer, é ila essencia do .Tury,
porque asseglll'a aos aceusarlos o favor de não serem julgado" por
quem elles sabem ou suspeitam que os prejudicaria, etc. (ESp7·it
de3 Inst. ,lud. voI. VI, pago 455.)
O mesmo advert.e o sabio li'allst.in Hélie: «As recnsaçõps
são da e8s~71cia do JU1'J/, e póde·se dizer, q l1e esta in'3tituiçãtl
é forte ou debil, tutelar ou perigosa, conforme a maior ou
menor extensão das recusas. Não hast.a que m~ jurados sejam
indicados pela sorte; é necessario que sejam aceitos como
juizes pela accusação e pela rlefesa, e que ambas as partes os'
reputem dignos da magistratura temporaria, de que se
revistem.
E'isso flue constitue o podeI" do .Tul"y, e o que lhe adquire
a contiallç t elas partes, e o :-;entimellto de sua illlpan;ialidade.
Só quando livremente aceito COIDO soberano arllÍtl'O, é qne o'
J ury torna-8e como q ne orgão da conscieHcÍlt soeial e llS
suas decisões podem l>el' l'()Il~i,lt'!,adas e01ll1l a expres~ão da
verdade ... O di,.r.ito de rflcullaçlio é o c01npluuellto da it/slitniçllo
do J1try, .,en accelJ.,orio i."dixjlfllSUvel •.,e" 1n·lncijFio de vida.»
(T/'aité d' Instr. O'int., vol. VII, 11. 3252.)
A fÓl'IlIll do escrutinio secreto du .T Ul'y, adoptada na
legislação de todos os povos civilisados, só foi prescrivta na
França p~la leI de 9 de Setembro de 1835; talvez porque só
de· então se conheceu melhor e se aperfeiçoou a in:stituição do
Jury, que a revolução havia. admittido em 1791.
Hoje em dia rarissima é a excepção de t.al preceito, e tão
sómente applicavel ao caso em que o J ury póne delibera.r d~
prompt,n na propria séde. (Cod. do p/·oc. 9rim. do Est. de
Nova York § 4 2 1 . ) . .
«O escrutinio secreto, diz Faustin Hélie, foi estabelecido
para gm'antir, no interesse commum da vindicta publica e- da
defesa, a independencia do volo dos jU7·ados. (Obr. cil., voI.
VIII, n. 3724.)
Com effeito, se o Jlll'y é um tribunal de consciencia ; se
a lei' não lhe pede contas dos motivos de sua decisão (God.
do Pl'oc. Penal Ital., art. 498), antes proclama o grande
principio da. irresponsabilidade dos jurados, seria a maior
das incoherencias coagil-os ao voto manifesto, expondo-os
assim á censura publica, e, o qUi seria m!1is detestaval, ás
-- 8 -
~" , '~
'dep~ndenc~as do Governo ou dos particulares>"l1~ fnnccio-
DarIO publIco, ou que pessoa, por qualquer moito ubl),dente
do Governo ou de influencias poderosas, .poderia emittlllTre_
mente o seu voto descoberto?!
E' precisamente na independencia do'Jury, comotribunil.
popular e de consciencia, que reside a garàntia politica
consagrada na instituição do Jury. Sujeitar, pois, o jurado a
dar contas do seu voto, facultando 'ao Governo ou aos inte-
ressados no julgamento a possibilidade de .apreciaI-o,·é
anniquilar aquella garantia.
O profundo Blackstone, que reputava a instituição do Jury
palladiu'ln das liberdades da Inglaterra, aconselhava os amigos
de seu paiz que se puzessem em guarda contra innovações,
que desfignras~em a antiga physionomia da instituição, e pu-
dessem minaI-a insensivelmente. (CO'ln. elas Leis inglezas, trad.
de Chompé, voI. V., pago 62, vol. VI, pag.250.)
:)Em conclusão, cOÍlsidero direito de recusação peremptoria
e a fôrma do escrutinio secreto da votação como condiçõe<;
essenciaes da instituição do J ury, mantida pela Constituição
da Republica, e entendo que offendem a Constituição as leis
estadoaes que dispuzerem de modo contrario. E' o \meu .
parecer. ,
S. Paulo, 11 de Novembro de 1896.-Dr. M. A. Duarte
le Azevedo. ~

Os EstadQs não podem abolir a instituição do Jury; por-


que a Constituição da Republica-de 24de Fevereiro de 1891,
no art. 72 § 31, a mandou manter. Na phrase: é mantida a
instituição do Jury, considerada a significação do 'verbo 'I1Wnte1',
comprehendem-se ~-leis geraes que a regiam. Somente o Con-
gresso Nacional poderá legislar sobre a instituição do Jury;
e, por estar isso virtualmente expresso no citado art. 72 § 31,
não é facultado aos Estados legislar sobre ella, conforme o
art. 65 n. 2.
O argumento tirado do disposto no art. 34 n. 23 soffre a
limitação do § 31 do art. 72, isto é, si aos Estados por força
daquelle art. 34 n. 23~ ficou reservado o direito processual
para as suas justiças, a instituiçãO do Jury ficou exclui da da-
quelle direito processual, afim de ser mantida uniforme.
Sei bem que alguns Estados têm legislado sobre o pro-
cesso perante o Jllry; mas tal abuso não pode prejudicar o
, i~.;/.'
/p" , -9-
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que foi tã.~A"xpressamente consagrado na", Constituição da. Re· ..


publica.
Mesmo admittindo que os Estados possam legislar sobre o
processo perante o Jury, é certo que não podem alterar ouan·
. nullar os caracteres essenciaes dessa instituição, sem a in·
fracção manifesta do citado § 31 do art. 72 da Constituição
da Republica.

II

. Sendo mantida a instituição do Jury, conforme o citado


§ 31 do art. 72 da Constituição da Republica, é certo que os
seus caracteres essenciaes, seg1tndo as leis então em Vig01', não
podem ser eliminados nos Estados. Entre estes caracteres
comprehendem-se o sorteio rara a formação dos conselhos e do
tribunal do julgamento, o direito de recusação por uma e
outra parte, recusações peremptorias ou sem declaração de
motivo, e o escrutinio secreto nas votações dos juizês de
facto sobre os quesitos offerecidos pelo juiz do Tribunal, além
da sentença deste que deve ser proferida de accordo com a
decisão daquelles juizes em maioria, ou, no caso de empate, em
favor do réo.
Embora 'os Estados legislem sobre o processo perante o
Jury, seus Congressos são obrigados a manter a instituição
com todos 0;;1 seus caracteres essenciaes, afim de não tornarem
illusoria essa affirmativa constituCional, segundo a respectiva
regra de interpretação.
Sal vo melhor juizo.
S. Paulo, 16.ie Novembro de 1896.-0 advogado, João
MeneZes de Almeida.

Considerada em relação ao seu fundamentophilosophico,


assim como na sua origem historica, não póde haver duvida
que a instituição do Jury, de par com a sua funcção judiciaria,
constitue uma garantia de ordem politica, destinada a salva-
guardar a liberdade individual contra a influencia, tão amlsiva
quão il'remediavel, dos governos sobi'e os magist.rados que
nomêam e promovem.
Assim, em razão do seu objectivQ politico, tem sido essa
instituição justificada pelos jurisconsultos, preconisada pelos
publicistas e acolhida entre todos os povos de aspirações demo·
craticas.
Dahi procede, pois, que a Constit. Federal Braz., art. 72,
\ \

i . - 10 - \
.~. § 31, a exemplo de quasi todos os codigos pdi2:Kicos, sabia-
mente insere a instituição do tT ury entre as garantias/'constitu-
ciol1aes que consagra,-o que, swr.. dUVlçla, importa uma
restricção á autonomia dos Estados quantp_ ~ 'um dos elementos
da sua respectiva organisação judiciaria, conforme ao disposto.
no art. 63 da mesma Constit. Federal.
Segue-se, portanto, do exposto q \le não podem os Estados
(assim como apropria Ulliiio em lei ordinaria) abolir a
instituição do Jury, ou reorganisal-a de modo a supprimir as
condições de sua efficiencia como garantia constitucional da
liberdade e segurança individuae.s, qual é declarada. na lei
fundamental da Repl1blica.
De outm par~e, porém, não é menos certo que o tribunal
do Jl1ry desvirtuar-se-ia, tornando-se inefficiente quanto ao seu
objectivo constitucional, si na respectiva lei or~anica .fossem
supprimidas ou coarctadas as condições destinadas a assegurar
a isenção e a independencia dos jurados.
, E entre essas condições têm sido sempre reputadas
esseneiaes e congenitas á instituição: as recusações peremp-
torias (não motivadas) e a votação' por escrutinio secreto
A primeira porque, ainda que consagrada a egualdade politica.
e civil dos cidadãos perante a lei, é indispensavel pl'emunir-se
o accuslldo e o accusador contra a intel'ferencia, quiçá abusiva,
dos fUllccionarios encarregados da confecção da lista dos
jurados, não preenchendo esse intento as suspeições carece-
doral de prova, Hem sempre possivel, nem sempre convenient~.
A segunda porque o voto descoberto é incompativel com o
estado de subordinação economica e politica em que ainda se
acha o cidadão, mesmo nas sociedades mais avança,ias.
Fundado nas razões acima expenditlas. respondo:
I? Aos Es[ados é defezo abolir a instituição do J ury ;
bem como, .
2. - reformaI-a, abolindo algum dos seus caracteres essen-
ciaes ; entre os quaes,
3.- comprehendem-se as recusações peremptorias e' o
escrutínio secreto na votação.
S. M. J.
S. Paulo, 10-12-:-1896.-D,.. Erasilio dos Santos.

1°) Não podendo legislar sobre o direito material, em


vista do queprecAítúa o art. 34 § 3° da Consto Fed., carecem
os Estados de competencia :
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i>
f'
_ 11 _

a) para ,.ú,bolir a instituição do JnrJ', mantidll pelo art. 72


§ 31 da mésma ConstituiçãO; e
b) para supprimir alguns dos seus caracteres essenciaes;
:-uppressão que impo:-taria a mutilação, e nunca o mantimento
da instituição. '
~ O verbo c:manter» empregado pelo legislador constitu-
cional, no precitado § 31, como em outras disposições, signi-
fica «conservar no mesmo estado» ; o que exclue a faculdade
de modificar a instituição em seus elementos basicos.
2. 0 Entre os caracteres essenciaes -á instituição do Jury,
devem ser contemplados:
a) As recusações perempto rias por parte do accusado fi do
, accusador; e
?i) O escrutinio secreto na votação dos juizes de facto.
Porquanto, a declara~ão justificativa das causas dettl'mi-
nantes das recusações, além de destruir uma das condições
mais dignificantes da instituição, reduzB-as-ia aos unicos casos
de suspeição ou illegitimidsde; assim como embaraçl\l'Ía a ma-
nifestação livre e sincera do voto e escrutinio a descoberto!
(PIM. BUENO, Proc. Crim. cap. XIII, seco P; COOLEY,
Consto law, pago 305.)
Qualquer reforma nesse sentido, por isso mesmo que não
brota do espírito nacional, que não exprime ao vontade popular,
que o legislador deve sanccionar ; como uma creação arbitraria,
seria, além de inconstitucional), extemporanea.
A esse proposito não me parece descabido repetir com o
CONDE DE RUSSELL: «0'est au jury plus tlU'all systeme repre-
sentatif lui-même (tel qll'il existe· anjourd'hlli) que la peuple
doit la place qu'il OCCllpe dans le gouvernement du pays;
c'est encore au jury surtout, que le gouvernement doit l'amour
du peuple pour la loi; c' est une "éftexion que devraíent fai1'tJ
ceux de nos legislat6U7-s qui cherchent à cQ1","iger l' instit"tion áu
JU1"Y par des tnesures 1~ouvelles, f1"i~olp,s, et ve:x;atoi1'es:t (Dl'
Gouv.· et de la Consto Brit., Capo XXXIII).
Eis o meu parecer.
S. Paulo, 6 de Dezembro de 1896.-A. J. Pinto Ferraz.

. A disposição do art. 72 § 31 da Constituição Federal está


concebida em termos claros e terminantes: é mantida a insti-
tuição do JU1·1I.
Modificar a instituição de modo que se lhe altere a es-
sencia, certo que não é mantel-a. Por esse processo não seria
difficil eliminar successivamente os elementos essenciaes do
\

- 12 - \,~
\.'\
<':Jury, substituindo-se este tribunal por um . outrc., de indole
· çompletamente diversa,
, Cumpre, pois, indagar si o escrutinio sem'eto e as recusas
.peremptorias, ou não motivadas, constituem elementos essen-
. ciaes do J ury ,
O estudo da natureza da instituição e as lições dos mes-
tres nos convencem de que sim,
; O Jnry não se compõe de cidadãos que se dediquem a
uma determinada profissão, que vivam em uma esphe:a á parte
e tenham um tratamento juridico especial, como os juizes to-
. gados, O Jury compõe-se de nossos pares, que vivem a nosso
lado, mantendo comnosco relações de mutua dependencia, de
pessoas que'11os podem naturalmente ter odios, resentimentos,
ou affeições,
. Isto posto, como pretender que, abolido o escrutinio se-
" creto, os jurados continuem a :votar com a mesma liberdade?
E desde que o jurado não obe<Ülça a suas inspirações pessoaes,
e tenha de explicare dar contas de seu voto, não estará ipso
· facto alterada profundamente a instituição do J ury ?
Quanto ás recusas peremptorias, Mittermayer (Tratado da
prova, capo 13) expressamente as inclue entre os caracteres
especiaes do .Tllry.
Gozando o accusado do mais amplo direito de recusar, os
jurados se DOS apresentam como juizes cujas decisões o réo
livremente aceita. Abolido esse direito, vêm os jurados a. ser
juizes que sé impõem ao réo,
.Como provar resentimentos, prevenções e paixões, que se
adivinham, que se seutem, de que se tem mesmo certeza, mas
que. se não podem precisar, e algumas vezes nem sequer com-
prehender?
. .' Basta a substituição da recusa peremptoria pela motivada,
C(}U suspeição legal, para que se desnature a instituição do J ury. •
. Era tambem essa a opinião do marquez de S, Vicente, que
nos Apontctmenlos 8obt'e o P,l'ocesso Criminal Brazileú'o, pag. 135,
, escreveu «as recusações formam um outro dos caracteres phi-
1osophicos e essenciaes do Jury» ,
.Assim, pois, o estudo refiectiJo da natureza do Jllry e a
doutrina ensinada pelos mestres nos levam 1\ conclusão de que
·os. Estados não podem modificar esse Tribunal collectivo, ex-
·tingllindo o escrutinio secreto e as recusas peremptorias, E'
o meu parecer.
S. Paulo, 10 de Novembro de 1896.-Dr. Pedro Lessa.
! ~.. - 13 -

Entre o~. k~racteres essenciaes á instituição do Jury com-


prehendem-se necessariamente o escrutinio secreto e o direito
de recusar sem motivar.
Quanto á 1" parte: Quem quer q~e estude a indole ou
natureza do Jury, já pelos principios philosophicos, já pelos
~ fundamentos historicos, vê claro que o Jury, sendo como é
r uma instituição de ordem civil, e como tal ordenada a ga·
rantir o intereslle iudividual, é ao mesmo tempo uma insti·
tuição de ordem politica, destiuada a garantir os iudividuos
contra a oppressão da tyrannia.
O magistrado, connivente com o tyranno, é docil instru-
mento da oppresi:lão.
O direito do opprimido de ser julgado por seus pares,
victimas da. mesma oppressão, é um escudo inamolgavel apa-
rando os botes do oppressor.
Tirar aos juizes de facto o direito de votar em segredo-
é arvorar todos e cada um em magistrados.
Acabar com o voto de consciencia é ordenar que cada um
dê a razão de seu pronunciamento. Já aqui não temos pares
julgando o seu par, senão juristas a debaterem opiniões, desna-
turada a assembléa anonyma de julgadores em concilio de
rhetoricos, jazendo qual anima vilis em um plano inferior o
pobre réo, alvo immovel oferecido aos venabulos do tumulto.
O escrutinio secreto que, por condição de sua natureza,
opéra a sublime metamorphose de doze individuos em uma só
pessoa anonyma e irresponsavel, dá ao concilio julgador aquella
magestade imponentissima que tinham para os Gregos os
oraculos de Jupiter e de Apollo. Oonvencer ao povo, quer
congregado para commetter a guerra, quer apparelhado para
uma façanha civil, que não foi Apollo que falIou nos pene-
traes dú templo de Delphos nem Jupiter no bosque de Dodena,
é o mesmo que esvaecer por encauto a fé que inspira o Verbo
Divino ou perimir os brios nos corações mais varonis.
Quanto á 2& parte: Motivar a recusação é obrigar uma
polemica entre o recusaute, o recusado e a outra parte liti-
gaute. O recusado, pois que o ser jurado é muuus publico,
em sendo publicado o motivo da recusação, tem necessaria-
mente o direito de illidir a injuria ou a calumnia, ou a pecha,
qualquer que seja, que lhe ê assa cada pelo recusante. Onde
redimir-se da inculpação? AIli no tribunal? E, se o motivo
que tem o recusante para não querer por juiz o seu concidadão
é um desses factos intimos, um segredo profissional, uma nota
infamente, dessas que reveladas suscitam odios nas famílias,
abalam a cidade, conturbam a paz publica, deve o recusante
ser bastante herõe para arrostar o martyrio que chama sobre
\ '.
- 14 - ''\

si, ou bastante cynico para calcar aos pés as pr0111essas de sua


honra?
A ningnem é dado prever a~ concussões da e~phera moral
nem ·os absurdos do mundo jnridico qne surgiriam sem remissão
dessa novidade preternatnral e nef;lnda de serem motivadas as
recusaçóes. Nem a no~sa organisação moral nem a nossa estru-
stura juridica se compadecem com tal reforma.
o Ninguem aggride impune essa Arca da AJliança, santi-
ficada e crystallisad a p'lla ~ahedori:-t dos seclllo~!
A Oonstit,niçã.o ]1-'~der;tl, art. 72 § 31, diz qne «é mantida
a inst.ituiçi'i.o dI) Jnry». E"t:-1. ennnciaçiío singel1t traz rm si a
evUen>:Ía. Querer dar-lhe exolic1tção 011 fazer·lhe commentario
é pertllrb::.l' a Iimpir1 ~z lFilrtll.ll tina. daq uelIa phrase. Q!l; e~q llar
pllhvril.~ Ilue A:S:('l)gir8ml)~ pal'lt affirm:tl' aqnillo JlUllca serão
breve:", mais 1!itirlil''', mai:-; vigoro"a~.
llléti"
Se nii.r) trln'lS di';;li):oii;',:1 l"~;d q:lA rli(~;t o qlle é (-',;'!encÍOiI
e o (lue (~ ,L~Gid'::'!I,::l lHt ::lC'.,itl!Íção d,) .Tllr}'. (, <,;·j~eri() do
°
jurista ,. só aeeit~>t 110:-: tremo,; que reg!:lll!! (;<111. r1 .. Proc.,
permittidas apéna~ as alterações (le ordem extrinseca, qne
nem fil'am a~ relaçõe~ fIo direit.o individual, nem eSmlf'ç~m o
lustl'emagestatico que precisa ter na socieddde eStia tigura
sagrada.
Mantel' é ?nalllL tcnere, é tpr oa segw'ar á meio.
Qua.l se dissessemos: Só é malttido aquillo que é conser-
vado tão juntú e tão sob os OlllOS de quem o segura, que nada
se lhe pó de pôr, nada t.irar.
As sociedades por seus vicios collectivos, por tempestades
de odios, por COl'lCUS:i:ões violentas, 1,or febres de ambição e
. pOI outras paixões, padecem como os individuos retrogradação,
barbaria e anniquilamento.
Já Varrão disse, qua~i ao alvorecer d') christianismo,
uma verdade que tem resaibos de hodiernid ade :
«Nemo mgrotus qu,iequarn wntniat tam injandum, qu,od ??on
.aUquis dical plzilo80pltU.9. Não ha nada tão nefando que' um
doente sonhe, que algum philosopho não affirme.»
Só o imperio dessa phrase do mais erurlito dos Romanos
é que nos manda crêr como possivel que haja quem leia o
texto da lei fundamental e não derive dalli como necessarias
estas duas conclusões:
. La Os Estados nã.o podem abolir a instituiçãO do Jury;
2. IL Nem tampouco reformaI-a em algum dos seus caracteres
essenciaes. Sal vo o juizo dos doutos.
S. Paulo, 14 de Novembro de 1896.-Dr.Raphael OO~'rêa
da Silva.
.JURISPRUDENCIA

Jurisdiccão
, Criminal

o Jury-s;;eulI caracteres essenciaes.-Ques-


tão de suppressão : a) das recusações percm-
ptol'ias de.i urados pelas partes, b) do escru-
tinio secreto.
~iào excede os limites das fllllcções do seu
cargo, antes exerce·as ['egularmellte. o jui",
presi,Iente do tribunal do Jury. que. na
aprli('aç~o da lei .indiciaria do Estado. na
parte relativa á recusa motivada de jurado,s
e ao voto descoberto que ella prescreve'_
deixa de executaI-a por julgaI-a inconsti
tncional, porquanto, os juizes estadoaes,
COffi() ')8 fcdcraes. teem faculdade para, no
exercicio de suasfnncções, deixarem de appli-
cal' as leis inconstitucionaes.
Intelligencill do art. 59 n, III da Consto
FerI.. do :.rt. :!26 do Cod. Pen., do art. 13 § 10
da lei n. 221 de 20 de Novembro de 1894 e
do ~lrt. 8° da lei do ERtado do Rio Grande
tlo Sul (organisaçiio Jnrlicíaria) sob n. 10 de
16 de Dezelllbro de 1895.

Revisão-crilDe

ReC01'1'"nte-Dr. AlcideR dll }[endonça Lima, jitiz ia


comarca da cidade do Rio Gra~lrl~.
Rec01Tid()-Supe1'im'Tribttnal de JttStiça do Estado d9
RiQ a"ana, elo Sul.

Supremo Tribunal Federal

DENUNCIA

IlIm. Exm. Sr. pr~sidente do Superior rrribnnal.


Usando das atLribllições que me si'w conferidas pelos
artigos 6 P da Con~tit,uição do Estado e 9" da lei n. 10 de 16
fie Dezembro de 1895, venho denunciar o juiz de comarca do
Rio Grande, doutor Alcides de Mendonça Lima, pelos f~ctos
que passo a expôr :
-16-

" ' Tendo sido convocada a sessão do Jury, na cidade do Rio


Grande, pdmeira aUi do novo regimen judiciario do Estado,
. quando reuniram-se os jurados no dia designado para formar-se
o tdbunal, do qual era aquelle juiz presidente, e antes de
composto o conselho, com grande surpreza, deduziu elIe razões
de theoria contra as disposições legaes, que deviam regular
os trabalhos, e declarou que não executava a lei citada n. 10
'de 16 de Dezembro de 1895, por ser inconstitucional na parte
que refere-se ao modo das recusações e ao voto dos juizes
de facto.
a
E assim violando litteral disposição dos artigos 65 e 66
da citada lei, admittio arbitrariamente recusações e decisão
secreta em duas causas affectas ao conhecimento do tribunal,
pertm'bando o funccionamento da lei e inl1tilisando a sessão
do Jury pela plena nullidade com que ficou inquinado todo o
trabalho.
Além dos graves inconvenientes no publico serviço e dos
prejuizos causados aos réus que responderam a julgamento,
esse proceder illegal constitutivo de alta prevaricação, é um
attentado, que exige punição segura e prompta, sob pena de
implantar-se no Estado o reinado da anarchia.
, A obediencia á lei é o primeiro dever do cidadão e prin-
cipalmente do cidadão juiz, investido de autoridade para exe·
, cutal-a e fazel-a executar.
" " ,Oomquanto os poderes políticos e constitucionaes sejam
orgams de um mesmo apparelho governativo, cada um tem
sua orbita toda de acção definida, uma funcção especial a des-
empenhar e fóra dessa orbita toda a sua actividade é illegal.
:,:;..8i o poder legislativo agio nos termos prestabelecidos
lü)'ela Oonstituição, respeitando o processo decretado da mais
;;~;,ço~pleta publicidade e promulgou afinal a lei de organisação
1dlldi.ciaria, . não cabe ao poder judiciario e menos a um juiz
'.':l,~in.gular e isolado oppôr embaraços á sua execução.
;~{;;" ; O procedimento do denunciado é, portanto, criminôso.
;~,h':)::Indagando do pensamento que presidio sua irregular con·
;:';àucta, vê-se que só movido por paixão partidaria, interesse
':ê'ódio politico, ousou o denunciado affrontar o regimen con-
. stitucional do Estado e arvorar-se em supremo e original
,;, pO,der moderador para tardiamente offerecer seu véto á exec·u·
;'ção da lei.
' ... :, ., Quando em fórma de projecto correu a lei os tramites da
::publieidade, tendo o denunciado, como qualquer outro cidadão,
êfu s~u lar e no seu gabinete, uma particula do poder legis-
,lativo, podendo apresentar emendas, guardou silencio, e só
agora na cadeira de presidente do Jury, com abuso flagrante
- 17-
de autoridade, veio dar o seu grito de sedição, obedecendo a
interesses dos perturbadores da ordem.
A gravidade do facto, a natureza do delicto, demonstram
a premeditação do denunciado e a circumstancia de escolher
elle os auditorios de justiça para praça da sua rebellião contra
a lei e todo o regimen legal, accentuam a necessidade de ener-
gica punição, ao confessado crime tão caracterisado.
Nestes termos,. porque tenha o denunciado commettido o
crime previsto no artigo 207 paragrapho 1. 0 do Cod. Penal,
com as circumstancias aggravantes do artigo 39 paragraphos
2° e 14 do melilmo Cod., offerece-se esta denuncia, acompanhada
dos documentos de ns. 1, 2 e 3, afim de ter logar o processo
de respoJlsabilidade do referido juiz, com inquirição dos cida-
dãos Evaristo Teixeira do Amaral, Dl'. Germano Hasslocher,
Dl'. José Pinto Guimarães, João Antunes da Cunha Netto,
Dl'. Marçal Pereira de Escobar e tenente-coronel Marcos Alen·
castro de Andrade, todos residentes nesta cidade, cujos depoi-
mentos attestarão a verdade do allegado, para o que requer-se
as intimações em tempo habil, de um e outros, sob as penas da
lei.
Assim D. e A. pede·se o andamento da culpa em processo
de responsabilidade.
E. R. Mercê.
Porto Alegre,' lo de Abril de 1896.-0 procurador geral
do Estado, Antonio Antunes Ribas.

DOCUMENTOS}. .QUE SE REFERE A DENUNCIA

N. 1.-Estado do Rio Grande do SuI.-Palacio do Go·


verno em Porto Alegre, 31 de Março de 1896.
Ao Sr. desembargador Procurador Geral do Estado.
A Ref01'ma desta capital, em numero de 29 do corrente
mez, .inseriu telegramma procedente do Rio Grande, dizendo
que o juiz de comarca, Dl'. Alcides Lima, ao abrir a 1~ sessão
Grdinaria do Jury n'aquella cidade, declarára contraria ás
Constituições federal e estado ai a lei n. 10 de 16 de Dezembro
do anno findo, na parte do Jury reff'rente a recusações de
jurados e ao voto a descoberto, e mandára observar nesses
pontos a antiga lei.
Hontem, transcrevendo o dito telegramma, mandei que o
citado juiz informasse com urgencia sobre a veracidade de tal
com muni cação . .
A sua resposta, dada hoje no telegramma que jl1nt'J em
DIa. VOL. 73 2
-18-

" original, affirma a exactidão do que publicou aquella folha.


Danuo'YlJs de tudo conhecimento, faço·o l}ara que vos digneis
promover, com a possivel brevidade, a responsabilidade do
juiz deljnquente e faccioso.
Saude e fraternidade.-Julio de Caatilho8.
o
\ ,'" N. 2.~ Tele.q,·amma---,- Estação de Palacio. Porto Alegre,
- 30 de Março de 1896.
Urgente.-Juiz Comarca, Alcides Lima.- Rio Grande.
Jornal Rf'jorma, que aqui se publica, inl'eriu ultimo
numero seguinte tel~gramma: «Rio Grande, 28 Março. Foi
hoje instaUada a 1"' sessão do Jury no corrente anno. O juiz
da comarca, Dl'. Alcides Lima, ao abrir a sessão declarou ser
co.ntraria ás Constituições federal e estadoal a lei que dá nova
orgfl,nisação judiciaria ao Estado nl'\. parte do .Tury referente a
recm;a~õei de jurados e ao voto uescoberto. Justificando esta
, inconstitucionalirlade, o DI'. Alcides Lima mandou ob~ervar a
antiga lei nesses pontos.,. Informae com urgencia sobre
veracidade tal com muni cação . - Julio de Castil/ws, presidente
do Estado.
N. 3. - Telegramma - Presidente Estado. - Informo ser
, e:n.cta communicação telegraphica publicada jornal Reforma a
que 8e refere vosso telegl'amma de hontem. - .Ãlcides Li.ma,
juiz Comarca.
"\

RESPOSTA DO JUIZ DENUNCIADO'

Ef}regio Superior Tribunal.

, , , O Presidente do Estado, em 31 de Março proximo findo,


,',<>rdenou ao desempargador procurador geral que promovesse,
:,is'em peràa de tempo, a minha. responsabilidade pelo facto. já
:,~ntão notorio, de haver eu como presiuente do tribunal do
'Ju'ry, em sessão de 28 daquelle mez, rleclarado contraria á~
'Const. Fed. e Est. a lei n. 10 de 16 de Dezembro do anno
'proximo findo, na parte do Jury referente a reclnsaçóes de
I, jurados e ao voto secreto, mandando observar nesses pontoi!

:,a le,i antiga. .


'; O procurador geral no dia seguinte, obedecendo prompta-
,t;nente e com a maior brevidade, effectivamente denuneiou-me
·',ao'.superior Tribunal como incurso no art. 207 § lU do Co-
digo Penal e circumstancias aggravantes do art. 39 §§ ~o e 4-
do mesmo Codigo.
"
- 19-

Da dennneia e dos documentos que a instruiram foi· me


remettida copia pelo desembargador relator, o qual em portaria
daquella mesma data, ordenou· me que respondesse no prazo
improrogavel de quinze dias.
Em obediencia, pois, ao desembargador relator, passo a
responder âquella denuncia,com a calma e serenidade de
animo que me infundem a confiança nos meus juizes e a in..
abalayel certeza do meu direito.

***
Seja·me, porém, licito, preliminarmente, ponderar ao Su·
perior Tribunal a inopportunidade deste processo e os incon-
venientes que podem surgir do pronunciamento do Superior
Tribunal antes da decisão do Supremo Tribunal Federal nas
especies em que a denuncia allega ter sido commettid<l o
crime.
Não preciso invocar a detida attenção dos Srs. desembar·
Iladores para esta preliminar, cuja importancia technica a sa-
bedoria do Tribunal melhor do que eu saberá salientar.
O crime que em definitiva me attribue a denuncia é o.
de ter eu procedido contra litteral disposição de lei estadoal. A
infracção deu~se por ter ffil entendido, no cumprimento stricto
de um dever, que a dita lei contraria uma disposição expressa
das Constituições Fed. e Est.
Precisando os factos, resulta em ultima analyse que, como
presidente do tribunal do Jury, admitti, contra litteral dis-
posição de lei estadoal, recusações peremptorias de jurados e
respostas secretas dos mesmos aos quesitos por mim formulados,
por entender que a lei estadoa) contraria o disposto no art. 72
§ ~1 da Constituição Federal.
Ora, nestas condições, a autoridade competente para de·
finitivamente resolver o fundo da questão, isto é, decidir si a
lei estadoal é valida em face da Constituição da União, é o
Supremo Tribunal Federal. E' expresso o art. 59 § 10 lettra b
da citada Constituição quando dispõe: . «Das sentenças das
justiças dos Estados em ultima instancia haverá recurso para
o Supremo Tribunal Federal quanda se conte~tar a validade
de leis ou de actos dos governos dos Estados em face da Con-
stituição ou das leis federaes, e a decisão do Tribunal do
Estado considerar validos esses actos, ou essas leis impugna-
das.» Donde se conclue que emquanto o Supremo Tribunal Fe·
deral não decidir a especie em que foi agitada a inconstitucio·
nalidade da lei estado ai em face da federal, não deve o Superior
-20 -
Tribunal do Estado decidir si foi criminoso o juiz que deixou
de applicar a referida lei. _
. '. Admittir o contrario seria abrir uma porta para con6ictos
de jurisdicção entre a justiça estadoa\ e a federal Im materia
da exclusiva competencia desta; seria destruir a necessaria e
imprescindivel subordinação do Tribunal do Estado ao Supremo
Tribunal Federal em assumptos que entendem com a interpre-
taçã.o da lei basica da União. .
Figuremos a hypothese que dá ao denunciado uma con-
demnação por violação da lei esta,doaI.
- Neste caso, si o denunciado não quizer usar do recurso
. de revisão, soffrerá inevitavelmente os effeitos da condemnação:
será. encarcerado, inhabilitado para exercer outro emprego e
multado na fórma da lei.
Entretanto, nas especies que foi'em ao conhecimento do
Supremo Tribunal Federal poderá este decidir que a lei es-
tadoal é inconstitucional, e neste caso fica evidenciada a in-
nocencia do denunciado. '
Não está. ahi um grave con6icto entre uma decisão da jus-
tiça estadoal e outra em sentido contrario da justiça fideral?
Não ficará a justiça estadoal abalada no prestigio das
suas decisões? f<

A questão principal versa sobre a inconstitucionalidade de


uma lei estadoaI em face da Constiturção Federal.
O processo. de responsabilidade é um incidente originado
'daquella questão'; e, como o conhecimento e decisão do prin-
cipal compete ao Supremo Tribunal Federal, é claro que o in-
cidente não pó de nem deve ser decidido pelo Tribunal do
'Estado antes da. decisão do Tribunal Federal sobre a questão
·principal.
. Como se pode decidir da criminalidade de um juiz, ac-
'casado de violar uma lei estadoal, que elIe julg'a contrari.a á
,OonstituiçãO Federal, sem primeiro estar resolvida pelo poder
(competente a constitucionalidade daquella lei?
. O incidente, isto é,' o processo de responsabilidad e não
,pôde deixar de ficar paralysado, em quanto não for decidida a
questão principal que lhe dá origem.
A mais elementar discrição aconselha o Super ior Tri·
~bunal a abster·s~ de conhecer de uma denuncia, que envolve
factos da competencia do Supremo Tribunal Federal.
. Apezar de acreditar que o Tribunal pesará mad uramentE
,esta circumstancia, reconhecendo que a sua compete ncia esU
,suspensa nesta questão, passo a considerar os factos constitu'
tivos da denuncia.
***
-21-

E' meu proposito summariar quanto possivel esta resposta.


Não se tratando de julgamento e sim de simples denuncia,
que pó de ser ou não procedente, seria extemporaneo todo o
desenvolvimento que eu pretendesse dar a este trabalho.
Expondo com sinceridade o meu procedimento, terei pa-
tenteado ao mesmo tempo os intuitos que o derminaram.
O Congresso Constituinte, quando discutio o projecto deCon-
stituição Federal, approvou uma emenda dos deputados França
Carvalho e outros mandando manter a instituição do J ury .
Nessa época, como desde então até hoje, foi minha intima
convicção, que á União e aos Estados seria vedado não s6
abolir o Jury, como diminuir· lhe os attributos esseneiaes.
Aquella emenda, convertida no § 31 do art. 72 da Con-
stituição Federal, era uma limitação expressa á faculdade dei-
xada aos Estados pelo art. 34 n. ,23 para legislarem sobre o
direito processual.
Assim foi geralmente entendido, sem que no Congresso
ou f6ra delle, jamais se levantasse qualquer interpretação em
sentido contrario.
Neste Estado, porém, alIei n. 10 de 16 de Dezembro de
1895, dispõe:
« Art. 65. As sentenças do Jw'y serão proferidas pelo voto
a üescobm'to ela maioria, § 1. Q As sentenças poderão ser moti-
vadas; e, neste caso, o~ seus fundamentos serão exarados em,
seguida a fiada resposta aifirmativa ou negativa do Jury ás ques-
tões propostas pelo presidente do tribunal. Art. 66. Os j~61"ados
não podem ser recusados,»
Estas disposições pareeeram·me desde logo offensivas ao
art. 72 § 31 da Constituição Federal, que dispõe: «E' man-
tida a instituição do J~6ry.»
Nestas condições, chegada a época legal da primeira
sessão do Jury, na qual aquellas disposições deviam ser appli-
. cadas, eu declarei aos juizes de facto que naquelles pontos não
me era licito pôr a lei em execução, e determinei que seobser-
vasse a lei anterior. "
Par& assim proceder vali-me da "generica disposiçãO do
art. 8. 0 da dita ~ei, nestes termos: «Os j~6izes deixarào de ap-
plicaras leis e "egulament()s manifestamente inconstitucionaes.»
Eis ahi como se passaram os factos. Vejamos si elles se
justificam perante o Direito.

***
E' innegavel que a instituição do Jury mantida pelo le-
gislador constituinte é a que jâ existia organisada ao tempo
- 22-

da promulgação da Constituição Federal. O texto constitu-


cional está redigido em termos tão expressivos que nãu deixa
margem á qualquer duvida nesse sentido. A sua obrigatorie-
'dade,tanto se refere á União como aos Estados.
A este respeito tambem não ha lugar para divel'gencias.
E foi tal o respeito do legislador constituinte por essa in-
stituição nacional que a manteve como um direito individual,
inserindo o seu dispositivo sob a rubrh;a - declaraçiio de
direito8.
São estes os termos constitucionaes :
« A Constituição aSRegura a braliilei}'o.~ e a estrangeiros
"l3sidentes no puiz a im:ioZàbilidade ,los direitos concernentes á
Zibe1'daüe, ú. segm'ança individual e á pl'opr'ieãarlc nos termos
8eguintes. . .. § 31. E' mantida a institlll\(iO dó J1U'Y».
(Const. Fed. art. 72.) •
E' pois evidente que a Constituiçii.() (11,,'l,[1:1,)\1 {1 institui-
ção elo Jury como um direito individual, l:1I,P. illviülauilidade
, ficou assegurada a nacionaes e a estrangeiros.
Não é, portanto, lícito á União como aos Estados desco-
nheceI-a ou supprimil·a.
Ser-Ihes-ha., porém, permittido legislflr sobre essa insti-
-tuição, de modo a poderem SU1)primir qualquer dos seus attri-
butos essenciaes?
Uertameute não.
Despil-a dos seus attributos capitaes seria o mesmo que
anniquilal-a, o que contraria0 texto constitucional.
Ha, porém, nessa illstituiciLO attributos que lhe são inhe-
rentes, omittidos os quaes, deixa ella de ser a instituição
mantida pela Consto Federal? ,
Si não .admittissimos nessa instituiçã.o pontos extremos
que não podem ser ultrapassados sem completo desvirtuamento
'do Jury, chegariamos á conclusão de que o legislador ordina-
rio, estadoal ou federal, está autorisado, por exemplo, a con-
-fiar aos jurados a solução das questões de direito ou a appli-
cabilidade d,1, pena, a crear jurados permanentes, nomeados
})elo governo, on oütras medidas similares, que indirecta-
mente aboliriam a instituição em seus fundamentos constitucio-
. naes, de modo "tal que d' eBa não restaria mais que o
nome.
Desde, porém, que se admittam limites além dos quaes
não é licito ao legislador levar a sua acção reformista, é-se
f(~l'çado a reconhecer que a instituição possue caracteres pro-
_prios, inherentes e essenciaes ao seu fllnccionamento constitu-
cional.
Entre esses caracteres essenciaes ao regular funcciona-
-23-

mentI.! (til t.ribunal do Jury devem porventura ser cOlltauos o


sigillo do voto e o direito ás recusações?
Na innàga(~ão deste ponto controverso, convém obst!rvar,
não é nel theoria do Jury que devemos procurar os elemelltos
de urna convicção juridica, mas sim na propria ()rgani~ação
alltig,l do Jnry, tal como elle fnnccionava lia. epocha do Con-
greiSS) COllstiwinte, pois foi a instituiçãojá (ll'gltuisada,já exis-
tente, jó funccionando desde a nossa emancipaçãú lJOlitica,
que ;\ C,/!istitllição Fed. mandou manter.
() qlie cnmpre, pois, ill(lagar é, si no Jnry existente
qual i" a COlli-'t. Fed. foi promulgada, eram ou não attrilJut08
capo . ~ o sigillo do voto e o direito ás l'eCII~as peremptllrias,
si f~ -. dous attributos podiam ser snpprimidos sem ficar <lba-
lada ' I'~i'eneia da instituição.
) Jill'y foi sempre unifJrme e invariavelm~nte conside·
rad( IILJ'e nós uma garantia da. liberdade individn<i!, de inde-
pen Il'ia e imparcialidade nos juigament()s, ás qua.es nem
sem. poneriaru attingir os juizes ~ingula.res.
i',' Hssa a noção conservada pela tradic(;iio, tl'l1usmittida
pelo:, Dilll!icistas e pelos trabalhos dos legisla(lores.
Hoi sempre es~a a. explicaçào resumida que ua excelIen-
cia «(.) tribunal e da sua exist-p.ncia na nossa legislação deram
os jlp'i"eI.IIlSl1ltos.
«Sobretudo em materia politiea, diz Piment.a Bueno, Proc.
Cl'irn. B/'az., é o Juryo baluarte das liberda.des que força o
governo a conter·se dentro de seus justos limites. E' por isso
mesmo que esta planta. não nasce e menos floresce senão em
terra ou estados livre;;; é incompativel com o despotismo e
mesmo eom leis sevems de mais, pois que força o legislador a
corrigi! as. »
Mas, a que fica. reduzida essa garantia de imparcialidade
offel'eeida pela lei ao cidadão, e excelsamente apregoada pelos
publidstas patrios, si ao réo não assistir o direito á recusa.
peremptoria de certo numero de jurados?
A que fica reduzida essa garantia de independencia si os
jurados timidos (tl a lei não tem meios de os distinguir dos
que o nãO são) não puderem occultar no sigillo da sua decisão
a sinceridade da sua consciencia?
.Entre os jurados escolhidos pela sorte muitos haverá que
offereçam sérios motivos de parcialidade manifesta contra o réo.
. Si não puderem ser depul'ados pelas recusas peremptorias,
elIes poderão constitnir até a unanimidade do tribunal, hypothese
que poderá realisar-se com frequencia nos julgamentos de cri-
mas politicos, em que o réo fôr adversario da maioria dos'
jurados.
-24-

Nestas condições, que vaIol' terá a garantia de imparcia-


lidade assegurada pela instituição do Jury?
Que confiança inspirarão esses juizes ao réo?
« Com razão estabeleceu a lei, diz Pimenta Bueno, a va-
liosa garantia das recusações peremptorias, Pôde haver odios,
antipathias, ou fundadas ou nascidas sômente de' prev6nções,
preconceitos que não se podem expliear e menos provar, e que
entretanto exerçam influencia e impressões incommodas e afili-,
ctivas sobre o espirito do accusado ou accusador, Pôde haver
motivos occultos que não se possam nem ao menos expressar,
porque ofendam conveniencias publicas ou gravee interesses.
E' por isso que a lei não obriga, e até prl)hibe expôr as razões
das recusações peremptorias; e certamente que o contrario
fôra reduzil·as aos unicos casos de suspeição e illegitimidade,
e destruir uma das condições que purificam e mais illustram a
instituição.» (Proc. Orim., pg. 39 da 2& ediç.)
E' pois com sobeja razão que a recusa peremptoria é consi-
derada parte integrante da instituição do Jury, existente na
legislação do antigo regimen, conservada e mantida no regimen
actual.
Não carecemos de recorrer á opinião de jurisconsultos
estrangeiros para fundamentar a nossa, porque em geral ,os
, seus estudos não versam sobre a adaptação do Jury ao Brazil,
tal comu a legislação brazileira sempre o considerou.
Como, porém, temos visto citado o parecer de Mittermayer
°
em divergencia com ponto de vjsta em que nos collocamos,
não podemos deixar de. appeIlar para o juizo recto e profundo
do sabio professor de HeideIberg.
", . «E' sabido,diz o Dl'. Mittermayel', que os caracteres es-
>.',peciaes do Jury resultam do seguinte:
. . '. /, 10, de serem para cada causa, tira.dos dentre o povo os
,<êidadãos chamados a julgar;
., 2°, de não serem esses cidadãos sinão juizes de facto;
., 3°, de não serem obrigados a motivar a sua sentença, visto
" ,'estarem livres de tod3s as regras de prova legal, e não oberle·
:cerem sinão á. sua convicção pessoal ;
. '. 4 o, que os jurados podem ser juizes de livre escolha do
. aecusado por ter este o mais amplo direito de recusação.
'Os adversarios do, Jury não possuem argumentos fortes
, ", ,para combater seriamente.» (Trat. da p,'ova -trad. de A. Soaris
" 'tU. 10 pago 139.)
.' . ' / Si recorrerinos, como elementos de conTicção, ás varias
:,.;pbases legaes atravessadas pela instituição do Jury em nosso
I ";paiz, encontraremos em todas ellas o direito ás recusações e o
voto secreto sempre mantidos.
- 25-
o Decr. de 18 de Junho de 1822, que iniciou no paiz o
julgamento pelo Jury, ainda que na sua fórma mais elementar,
dispunha:
~ Os réos poderão recusar destes 24 nomeados 16: os 8
restantes, porém, procederão ao exame, conhecimento e averi-
guação do facto, como se procede nos conselhos militares de
dnvestigação. »
'. «No dia aprazado, diz o projecto da Assembléa Consti-
tuinte, mandado executar pelo Decr. de 22 de Novembro de
1823, concorrendo o juiz de direito com os eleitores na Casa
da Camara, a portas abertas, fará extrahir da urna 12 cedulas
das que hão de formar o segundo Conselho, não entrando nelle
os que já tiverem formado o primeiro; e neste caso poderão os
accusados recusar até 20, e o accusador ou accusadores até 10.»
E, em outro artigo: «retirando-se os 12 vogaes para outra
casa a portas fechadas conferirão entre si sobre cada um dos
quesitos na fórma, etc.»
A lei de 20 de Setembro de 1830, ainda sobre o abuso de
liberdade de imprensa, dispõe:
« Art. 33. Retirando-se os juizes de facto a outra sala,
conferenciarão sós e a portas fechadas sobre cada uma das
questões propostas, etc., etc.-Art. 4i>: entrando-se no sortea-
mento para formação do Jury, etc., farão accusado e' accusador
as suas recusações sem as motivarem.»
Do Co digo do Proc. Crim. em diante, como anteriormente,
todas as 'nossas leis referentes ao J ury jámais deixaram de
consignar na instituição o direito a recusas e o voto secreto.
Conceitos secundarios foram varias vezes alterados, ora
em relação ao numero de jurados, ora ao modo da formação da
lista, ora á divisão do tribunal em jury de sentença e jury de
accusação.
Em todas as vicissitudes, porém, porque passou O' JlJry
entre nós, jámais perdeu a instituição os seus dois attributos
essenciaes: o direito a recusações. peremptorias e o voto se-
creto.
Até nas leis que crearam apenas o embryão do Jury, como
tribunal politico, destinado á repressão dos crimes por abuso
da liberdade de imprensa (leis cits. de 1822 e 1823), até nessas
já eram mantidos. aquelles attributos.
O direito á recusações peremptorias de um certo numero
de juizes, estava de tal modo consagrado no corpo de nosso di-
reito processual, qUe até nos tribunaes permanentes compostos
de profissionaes, era admittido e respeitado de modo a facili-
tar ao accusado e ao accusador a escolha de juizes de sua. con-
fiança.
- 26 -

o Superior Tribunal herdou da extincta Relação e COll


servlIu no seu regimento interno essa valiosa garantia á im
p::trcialidade dos julgamento~, «Em qualquer tel'lllO do pro
cesso, diz o Rt'g. -art. 117, até o dia da. sessão do julgamento
mas antes da lli~cussão, poderá o réo reCusar umjuiz e a parti
accusao.ora outro, sem motivarem a recusa.»
Est<t persisteneia. do legislador nacional, desusada em re
lação ás olltra~ eondições da ill~tituição, sempre firme, semprl
, cohel'ente, sempre inalteravel em relação ao direito á recusa
. e ao voto secreto, não fa,lla bem alto em favor do nOS80 pOlltl
de vista?
A interpretação nada. pelos leg'isladol'es que organisaram
.1t.\5en,·01 Veram e aperfeiçoaram a im,titniçâo, não é a melhol
" fonte:8 celteza na indagação das condições essenciaes ao J l1l'j
' . do P"ll1íg-O regimen?
, ~':i passarlllOS a ponderar o modo (le vêr elos legislaàore~
·'actu"i-;.· ~ da Ullião e dos Estados, encontraremos expressa·
',menh" l~ünsagrados aquelles dois attributos nas leis fe.deraes t
nas do~ ~~tados de Amazonas, Pará, Rio Granile do Norte:
Pernambuco, Alagoas, Minas, S. Paulo e S. Catharina,
As orgallisações judiciarias dos outros Elltados, exce·
ptuado o Rio Grande do Sul, nada contém que autorise a acre·
',ditar que as suas leis I'roces5uaes baniram as recusas perem·
. ptorias e' u voto secreto, como se pó(le verificar em Souza Mar-
tins, no recente livro: Ol'ganisação Judicia7"i(t e Policial da Re-
publica dos E. U. do BrazU.
: Alguns dos Estados alt.eraram a legislação anterior em
pontos secundarios da instituição; não .tocaram, porém, no di-
(reito ás recusas e no sigillo do voto .
., Eis, pois, Srs~ Juizes, como no antigo e no actual regi·
!Den foi por toda a parte insti tuido o tT ury : uma consagraçiio
1'Constante e uniforme ao' direito á recusas e ao voto secreto .
.~ Por outro lado é indispensavel pesquizar qual o intuito
lue animou o legislador riú-grandense a supprimir as recusas
~eremptorias e o sigillo do voto, rompendo aSsim bruscamente
~ de modo in explica vel as tradicções dessa instituição popu-
liar.
Os antecedentes historicos mostram a tendencia para
~esprestigiar, desnaturar, inutilizar a instituição que não po·
dia ser directamente repudiada pelo Estado .
., Já no vrojecto de Constitlliçil.o Politica dava-se ao J llry
;attribuições de mero tribunal correccional.
:. Competia-lhe apenas o julgamento dos crimes aJ!i.ança,
,~eis e em ge1'al de todos aquelles em q1t8 os réos se podmn li·
'",ral' soltos.
-27-

o tribunal era presidido por um juiz amovivel e tempr)-


rario, e das suas decisões havia appellação para o juiz da co-
marca(Acto n. 283 de 25 de Abril de 1891, arts. 59 e 60.)
. Não' foi sem grandes difficuldades que o Congresso Con-
stituinte do Estado deu ao Jury attribuiçúes mais elevadas.
'., Apenas por um voto de maioria passaram naquella as-
í~embléa as disposições actu.aes da Consto Polit. referentes ao·
~iury.
. As discussões então havidas no seio do Congresso evi-
(ilenciam o descredito fi, que se queria lançar a instituição do
ITury, e disso é eloquente comprovação o voto em separ;>odo do
irepresentante Francisco de Miranda, membro da commissão
lO.e constituição, o qual assÍln se exprimia: «Fui vencido nas
~mendas que apresentei sobre diversos artigos do projecto, no
~entido de manter em sua plenitude a instituição do Jury,
tal'antida pela Consto Fed. Penso que a Constituinte do Rio
,Grande do Sul não deve m"tilar uma tão liberrima e garan-
;tidora instituição, ainda mais quando de sua longa i~l'ittica
hão se podem accu~ar resultados mãos . ~ (Oongl'. do Rio
G"ande n. 2.)
Ainda em discurs() dizia o mesmo representant.e: «Assim,
.se houvessemos de mutilm' alguma causa, eu quizera q lIe o
fosse essa engrenagem partidaria, que é a causa motora da
maior parte dos crimes e não o Jury (apo'iados) , que é uma
~aralltia solida p~ra a defeza d~ tod~ e gua,lquer cidadão acc~­
~ado de um CrIme real ou Imagmano.» (Oong1'. do Rw
firande n. 6.)
Essa propensão aggressiva á instituição do J ury mos-
fna·se em toda a sua exhuberancia por occasião de ser por
't-: ,mUnaria organisada a magistratura estadoal.
. Na exposição de motivos que acompanhou o projecto dessa
~f:'; Irl~sse. o presidentlil do ~sta?o: ~ Urna vez que o estatuto
\CCllstItuClOJal manteve esta mstltmçao (o Jury) reputo neces-
llIarlo melhorar o seu funccionamento.» E mais adiante: «A
{s'llit abolição immediata é o postulado que a nova escola penal
tem proclamado em nome da sciencia e da evolução.>
E', pois, fóra de duvida que s6 a exigencias con!.ltitucio-
'P!U~8 devemos a conservação do Jurj no corpo da nossa. legis·
Jaç~o .
Mas, o governo legislador conservou· a, deturpando.a,
mutilando·a e ferindo-a de morte. .
1. Para esse legislador os attribntos essenciaes ao Jury não
sãü o voto secreto fl o direito á recusações, mas !!im, o invenw,
ist.o é! o voto a descoberto e a snppressão do direito á l·ecusas.
Siv) seus os seguintes conceitos: cO systemt\ vigente de recu-
-28 -

sações não pode subsitil' sob pena de alimentar uma dai


fontes de desmoralisação do Jury.:.
. E ainda:
«Mas, a reforma porventura mais interessante é a qUI
estatue o voto a descoberto como condição elementar á rege-
neração do JUl'y.» (Lei n. 10 ed. ofi'. pags. 50 e 51.)
Portanto, é fóra de duvida que até no proprio conceitc
do autor da organisação judiciaria as condições referentes ac
voto e ás recusas são elementares á instituição, e tanto é
assim que elle não aboliu-as senão para substituil-as por ou-
tras inteiramente oppostas, mas que na sua opinião devem ser
inherentes ao Jury regenemdo conforme as conclusõe8 da
8ciencia.

***
Ferida assim a instituição em dous de seus elementos, ba·
sicos, devia o juiz applicar a lei estado aI nos casos occurrentes?
Certamente não.
Para justificar-se perante um juli'ador desapaixonado e
imparcial bastaria a esse juiz abrir a lei n. 10 e apontar para
o art. 8', onde se lê: «0s juizes deixarão de applicar as leis e
regulamentos manifestamente inconsti tucionaes.»
Nesse artigo está compendiado um postulado genuinamente
republicano. Principalmente nos Estados-Unidos donde o tran·
splantamos para o corpo da nossa legislação, aquelIe conceito
juridico é um axioma democratico, ao qual a União e os
Estados se submettem convictos de ser elIe uma ef:ficaz garan·
tia contra as in debitas excursões dos poderes legislativo e ex-
ecutivo pelo campo constitucional.
«0 poder de i:tlterpretar as leis, diz Story, comprehende
necessariamente o de decidir si são ou não conformes á Cons-
tituição, e neste ultimo caso declaraI-as nulIas e sem nenhum
valor _ Como a Constituição é a lei suprema de um paiz, si um
8onflicto surge entre ella eas leis do Congresso, ou dos Es-
tados, a autoridade deve seguir sómente aquelIa' que é de
obrigação principal, isto -é, a Constituição. Este principio re·
sulta de uma constituição republicana, porque de outra ma-
neira os actos das autoridades legislativa e executiva seriam
- inata caveis e fóra de toda a fiscalisação: apezar das prohibi-
ções e das restricções contidas na Constituição, as usurpações
menos equivocas e as mais perigosas teriam lugar, sem repa-
ração possivel.» (O.m. Abrev. trad. de Colvo T. II 4& ed.
pago 422-423.)
E é muito para notar que o preceito contido no referido
-29 -
..art. 8." ê um dever imposto á magistratura do Estado, como
ibem pondera. Bryce, quando affirma: .
, cO poder de annullar as leis inconstitucionaes é antes um
:aever do que propriamente um poder; e tal dever incumbe,
'~'ão menos do que á Suprema Côrte Federal em Washington,
.o mais humilde tribunal de qualquer Estado, logo que pe-
ante eUe se pleiteie algum feito que porventura levante a
uestão.> (Milton-A Oon.t. ao BraziZ -pg. 77.)
I O proprio governo-legislador escreveu referindo-s'e ao art.
a?: «A disposição do projecto nada encerra de vago e peri-
goso, porque ella traduz apenas essa preeminencia necessaria
,da lei constitucional quando em conflicto com as leis ordina-
rias.» E em seguida, citando Savigny, atravez de Paula Ba-
ptista, disse:
\ «E' preciso que se tenha sempre em vista o que Savigny
chama a ligação de todas as leis e instituiçõe8 de di1'eito aõ seio
,ele sua vasta unidade».
E depois, citando:as palavras do proprio Paula Baptista,
preceituou:
«A la regra é que as leis oonstituoionaes, na parte que es-
tabelecem o regimen polítioo e garantem os individuaes, exer-
cem uma preponderancia decidida sobre todas as leis seoun-
'darias.» (Lei n. 10, ed. ofr. pago 35.)
De todo o expendido a conclusão a tirar-se requer unica.-
mente o esforço do bom senso. Si a propria lei attribue ao
magistrado a faculdade de :o,egar execução ás leis inconstitu-
cionaes; si essa faculdade é antes um dever do que um direito
ou um poder; si o proprio autor da lei considera essa faculdade
isenta de perigos; é claro que o magistrado, usando dessa
faculdade, cumprindo aquelle dever, não faz mais do que
exercitar uma funcção propria do poder judiciario.
Como se pôde transformar na pratica de um crime o cum-
primento de um dever imposto pela lei?
Qüal o caminho que conduz a essa transformação?
Realmente vendo o poder publico do meu Estado clas~i,
ficar como criminosa a execução da sua propria obra, eu me
julgaria viver no paiz dos cafres, si não tivesse diante dos
, meus olhos para tirar· me dessa illusão a denuncia official da
Procuradoria Geral do Estado!
Na Republica Norte Americana tem surgido por parte
do C?n.gresso tentativas de embaraços ao poder judiciario no
exerClClO dlaquella sua nobre e elevada funcção. Por veze~
tem·se negado a apPellação para a Côrte Suprema nas causas
em que poderia apparecer a controversia sobre a constitucio-
nalidade da lei, cuja execução o Congresso considera necessaria.
- 30-
Outras vezes tem-se augmentado o numero de jnizefl, preen-
chendo-se os lugares com partidarios da lei que a Côrte Su-
prema poderia impuguar por ine'lllstitucional_ (Racioppi:-
Nuovi limiti e f7-eni pag. 340.)
Não consta, porém, que jámais se lembrasse o Governo
daquella Republica de manád.r responsabilisar· os juizes que
Si prenunciam pela inconstitucionalidade de uma lei do Con-
gresso. E não passa anno, affirma Racioppi, oh. cito pago 339,
em qne n'uma das numerosas Côrtes da União ou dos Estados
não se faça questão da constitucionalida.de de alguma lei do
Congresso.
Neste Estado, que, com razão, é considerado um dos mais
adiantados da Republica, persegue-se com um processo de
responsabilidade o primeiro magistrado que no exercício de suas
funcções ousou preoccupar-se com a inconstitucionalidade de
uma lei ordinaria ! !
• Tempo virá em que este processo ha de ser relembrado
como notavel attestado da sabedoria da época!

** I
MaOl, tem-se objectado, a lei refere-se aos casos mani·
festamente inconstitucionaes, e o de que se trata não está
nestas condições.
1:'ouco importa, respondemos nós, uma vez que o interprete.
do-manifestamente-é o executor da lei e não outro.
Si ao juiz parecer a lei manifestamente inconstitncional,
é seu dever inconcusso negar-lhe applicabilidade aos casos
occurrentes.
Sem duvida que o juiz deve ser circumspecto e reservado
no cumprimento desse dever. afim de evitar os sobresaltos da
susceptibilidade do legislativo; mas, uma vez convencido da
inconstitucionalidade, não deve hesitar nem deixar-se possuir
de falsos escrupulos ou infundados receios de desagradar o
poder que exorbitou. Deve agir na conformidade da sua inter-
pretação doutrinaJ, visto como a interpretação das leis, no
dizer de Story, obro cito pag. 338, é um attributo especial
do poder judiciario.
Noexercicio desta missão o magistrado usa do seu poder
discricionario, no dizer de Delisle:-Traité de l' Interprétation
Juridique, tom. I pago 4.
Em synthese, não se pó de honestamente vêr um crime
na interpr~tação, embora má ou erronea, que o magistrado dá
aos textos de uma lei.
Mas, objecta a denuncia: «quando em fórma tie projecto
-31-

'Çorreu a lei os t.ramites da publicidade, tendo o denunciado,


içamo qualquer outro cidadão, em seu lar, em seu gabinete uma

~
'-'. rticula d.o p~der legi.slativo, 11odendo. apresentar .emendas,
<Jlar1ou sIlenclCl, e 80 agora, na cadeIra de presIdente do
l·· ry, com abuso flagrante de autoridade, vem dar o seu grito

sedição, etc.» -
, Affil'mar que o cidadão tem no seu gabinete uma particula
~ poder legislativo, pelo facto de poder apresentar emendas
um projecto de lei, é desconhecer deplora velmente a natureza
'aquelle poder.
Particula do legislativo é a individualidade de um depu·
do ou de um senador, cujo voto ou deliberaçã", cuja vontade
intelligencia influem efficientemente ria forruação da lei;
I articulas desse poder são os cidadãos de alguns Estados da-
, nião Americana, que submettem á ratificação popular os actos
e suas legi!llatura~, porque ahi a vontade de cada cidadão
, flue directamente na manutenção da lei, de modo tal, que si a
aioria do povo não approval,a, ella não adquirirá força obriga-
ria; partícula do poder legislativo é, finalmente, cada cidadão
L isso quando chamado pelo processo de f'eferendum a sanccionar
;!qm acto da Assembléa Legislativa.
;iJ Mas a simples faculdade de apresentar emendas, que podem
I"~U não ser acceitas pelo governo, segundo o seu unico criterio,
iq,.teress~ partidario ou preferencias doutrinarias, é um escar?eo
,que se faz ao povo soL o pretexto de dar-lhe collaboração n um
ppder, que de facto só reside na pessoa do presidente.
:/~ Foi para não ser cumplice nesse escandaloso falseamento
qo regimen democratico; foi tambem para não projectar a
J~inha actividade fóra da missão especial do poder judiciario,
que não apresentei emendas tendentes a restaurar o sigillo do
~oto e as recusas perempto rias. •
'. ? E, de mais, que esperanças poderia eu nutrir de vêr accei-
~as as minhas emendas, quando ellas já e~tavam de antemão
i:ondemnadas?
,;.: Pois a apologia pomposa com que a exposição de motivos
:~!rcuI?dou o projecto de lei no tocante áquelles dois pontos, não
:~~clUla préviamente toda a possibilidade da aceitação de qual-

;I
q,per emenda? .
'.' . O autor do prc ject o deÍ:i:ou claramente manifestada a sua
bma e profunda convicção sobre a conveniencia de adoptar o
oto a descoberto e de supprimir as reeusas peremptorias: como
. . ovidencias elementm'es de mm-aZisação e ,·egene1·açlJ.o do J'Iu·y.
,.:i Portanto, aceitar emendas em contravenção ás excellen-
Cla~, préviamente proclamadas pelo proprio autor do projecto,
sena dar uma rude prova de incapacidade ou de leviandade, a
-32-

que indubitavelmente não se submetteria o presidente legis-


lador.
E, de facto, não vimos totalmente rejeitadas, sem contem-
plação e sem embaraço de especie alguma, as emendas que
juizes, advogados e mais cidadãos apresentaram ao projecto?
Mas, o facto de não ter enviado emendas exclue por ven-
tura o dever de negar applicabilidade â lei reputada inconsti-
tucional?
De modo nenhum.
Esse dever subsiste, tanto para mim que não me propuz a
emendar o projecto de lei, como para o honrado juiz de São
Gabriel que offerec~u emendas afinal repellidas.
. A esse dever imposto por um'a lei imperativa seria ridiculo
contrapor a simples faculdade permittida aos cidadãos para
apresentarem emendas aos projectos de lei do presidente.
Extranha a denunda que só agora na cadeira de presi-
dente do Jury désse o meu grito de SEDIÇÃO! Nlida vemos ahi
digno de censura. .
Sómente lamentamos que o denunciante, forçando o poder
inventivo do seu espirito, creasse uma sedição unipe880al para
ter o gosto infantil de logo abandonal-a sem piedade.
Em que phase da lei queria o procurador geral que hou-
vesse opportunidade para declarai-a inconstitucional?
Durante a sua gestação?
No acto de publicai-a?
. Depois de executada?
Só vemos uma occasião em que a magistratura póde de·
clarar a inconstituciona:Iidade de uma leL E' no momento de
applical-a :1 um caso submetticlo ao seu julgamento.
Esse caso appareceu na primeira sessão do J ury a que tive
de presidir. O momento foi, pois, opportuno.
Mas, objectar-se-ha, deixar de applicar alguns artigos da
lei por motivo de inconstitucionalidade e applical-a nos demais,
é dar prova de incoherencia flagrante.
Si attentarmos a que a lei n. 10 dispõe sobre vari as ma·
terias, independentes umas das outras, si bem que coneurrentes
a um fim commum, veremos logo que tal objecção é de todo
improcedente.
No terreno dos principios isso é caso resolvido. «Quando
differentes partes de uma lei são entre si independentes, uma
parte póde ser declarada nuUa por inconstitucionalidade sem
prejuizo das outras.» (Walker: Int. to Arnerican Law, § 27 b)
Não podemos abandonar este terreno sem nos referirmos
mais uma vez á denuncia, na parte em que o denunciante
affirma que o juiz « arvorou-se em supremo e original poder
-33-

moderador para tardiamente offerecer o seu véto á execução da


lei. » .
E' ;:dnc1a para lallJentar que um membro do Sup. 'l'l'ib. vá
pedir ao antigo l'egimen um simile Sfltn applicabilidade no
actual.
E', portanto, com a devida venia que vemo-nos coagidos
a recorrer a autoridade de Cooley, pata dibsuadir o procurador
geral da per::iuasão erronea em q ne parece ehtborar a respeito
do papel du poder jndlciario no seio da moderna organisação
democratica do paiz.
«No exercicio desta alta autoridade os JUIzes não se re-
ferem a uma supremacia judieiaria, mas são simplesmente OR
administradores da' voutade publica. Si um acto emanado do
Congresso é declarado unllo, isto não aeontece porque os jui-
zes enrçam alguma tiscalisação sobre o poder legislativo, mas
porque a vontlule do povo, declarada nesta ultima, é supe-
rior ã. dos seus representantes ex.pressa na lei.» (Racioppi,
obr. cito pag. 33) . .
Já vê o procurador geral quanto é i.nfeliz a sua :referencia
ao poder moderadol' da constituição imperial.

***
Depois de tactear por varios artigos do Codigo Penal a
denuncia fixou-se no art. 207 § lOque preceitúa: «Commetterá
o ~rillle de prevaricação o empregado publico q ne, por aft'eição,
OdlO, eontempb(ilo OH para [ll'OIllOVel' interesse pessoal seu:
l. o J ulgal' ou prc)ceàer contra litteral disposição. da lei.
Penas - de prbilo cellular por seis mezes a um anno,
perda do emprego com inhabilitação para exercer outro, e
multa de 200$ a 600$000.»
Como ::;e vê o Coc1igo refere-se ao odio e o procurador
menciona o odio politico; o Codigo refere-se ao interesse pes-
soal do delinqnente e o denuIiciante ao interesse politico; fi-
nalmente o Codip:o é omisso quanto fJ paix.ão partidaria, mas o
procurador geral a inclue entre os moveis reprova';los do
crime.
Dcy1!le se pórte conelnir, com visos de aeerto, que o pro-
Clll"ador g'i'l'al o~hnnr1() 'lue o Cocligo não era bem explicito
ou nfiO se i1.iustava. perfBitamente á éspecie, proenrou conigir-
lhe os defeit.os, sUPIHimindo·lhe as lacunas e amoldando-o ás
CÍrcnlYlstallci,t;; .
Somente Il llt'oturador geral parece ter-se esquecido de
que UtlnUIlCÜtV;l, llill membro de sna classe, que, respeitando
os ~E'ns talentos, comtudo llão o púde aceitar como legtslador.
DUt. VOLt 73 ~
- 34-

o assumpto que é essencialmente juridico, presta-se fi.


longos commentarios, que o Superior Tribunal me dispensarÁ.
de fazer.
Nada de novo poderia eu produzir em tal materia, da
qual o 'l'ribunal é conhecedor eminente.
O seu criterio salientará desde log'o a inanidade jurídica
da denuncia.
CU1111ire-me apenas relembrar que a violação de lei ex-
pressa só constitue crime quando praticada sob o impulso psy-
chico de algum dos moveis reprovados que o Co digo taxativa-
mente enumera; que o odio mencionado no Codig'o é o que o
juiz alimenta contra a parte a quem prejudicou com sentença
ou proce(limento ; que o interesse do Codigo é o interesse pes-
soal do proprio juiz, não de um partido político; finalmente,
que o legislador não cogitou da paixão particlm'ia referida pelo
procurador geral.
A este incumbe a prova de que o denunciado agio mo-
vido por odio ou para promover interesse pessoal seu nos
termos estrictos do Cotligo.
Emquanto o procurador geral não produzir as provas, a
nossa defeza consi:,;Lirá em pedir-lhe que as produza. '
li~ nfto ser-lhe-ha isso cúusa de pouca monta. «Para se
necidir a existencia do adio, diz Ferrão-Th. do Cndigo Pf.nl/l
vol. 6." pr-.g. 66,-seria preciso penetrar os reconditos do eo-
ração do juiz; e não ha vistas humanRs, por mais atiladas que
sejam. que possam pre:;;crntar a cOlIseienclu ele c~da um.,.
Tambem no mesmo sel'ltido exprime-se R.ogran :
<lA corrupção pode-se revelar por f,tet.os maLel'iaes; mas
assim não acontece com o crime que eOllsist~ no prollullcia-
ment.o por favor ou por inimizade.~, pOl'fJU~, provando-se qHe
tal juiz tinha illteres~e ou inimizalle por tal litii,\'<lllte, nfw
íle IJl'ovará ainda que foi o favor ou a ÍnimiRade que Ililaram
a sua decisão.» (Les Vocles F1'ançai8 5~ ed. CUlUgO l'enal
pag. - 80.) •
P meu procedimento, deixando de applicHI' uma lei ex-
pressa, obedeceu exclusivament.e fi, nor;ll.o llítida da fnnc(Jw
que exerço, como orgão do poder jn(lidario.
Si o procurarlor geral vio um ci'Íllle nesse ,:el.o, difficiJ-
ment~ poderá elle sustp.ntal' o beu ponto de vi:-:ta; e llÓ~ ()
emprazamos para opportunamente explanar o a<:::mmlito com a
HllIlJlitude que não comport.a esta res1Jo:;t:..t.
Por emquanto, nos limitamos evidenci:,l' a (',olltrndicç;:o
manifesta em que callio a denuncia, allegan(lo a premedital:;w
como RggntVante d ~ um C)'ime commAtti(lo, 1!O seu pl'Opl'Ío
c'lll(~eito, suo o impllbo d,t Z)((i;dio [JCI'J'tiü{/)'ia.
- .
35-

No sentir de AI imena - I limiti e i modificatori dell'impu-


tabilitá - voI. I pago 395 - «a premeditação deve suppõr a
calma e a frieza do animo> estados de espirito estes in-
compativeis com o de pa.ixão que céga e desvait a o enten-
dimento.
Sem duvida que o meu acto foi premeditado, reflectido,
maduramente pensado e estudado com calma e frieza. de raeio-
cinio, não sob a pressão dos moveis subalternos mencionados
na denuncia, mas debaixo da suggestão natural dos princi-
pios geraes de. direito, a que está subordinado o exercicio do
meu cargo. •
O procurador geral indagan(lo do pensamento que presidio a
i1'1'egulm' conducta do- juiz, vio somente a paixão partidaria, o
inte1'esse e o odio político.
Foi muito longe o chefe do ministerio publico. PenE-
trou até aos 1'econdito8 do coração, na phrase do autor illustre
já citado.
Pois bem. Porque não poderemos tambem nós, usando
dos principios admittidos pêlo orgão da Justiça Pnbljca, in-
vestigar o sentimento que gerüu este !ll'OCesso?
8rs. juizes, a denuncia que ides-apreciar é filha da pre·
cipitação funesta que ao cheí"e do ministerio publico commu-
IIÍCOU o espHto alarmado e injustamente irrit.ado do president.e
do Estado. Ambos ~Ó viram no meu procedimento uma revol-
t.ante ag-gl'es!1fw ao Poder Publico e ao prest.igio dLl. recente lei
~le or&,anisação jlldiciaria.
Si no;; primeiros rnomentoSl tivesse havido em palacio
c~lma e reflexão, o meu <tcto teria sido logo encarado sob o
seu vel'dadei 1'0·e natural aspecto: decisflo j lldicial de primeira
instancia, ~u.ieita i a precial'ã.o Ile superior illstallcia ;'- inter-
pl'et.açiio doutrinaI, erronea ou yel"lladeira, de um membro do
poder .indiciario no legitimo exercido ItaS suas fUJlcções; -
emfim, aeto exclnsivamente judicial, aI) qual o Poder Ex-
ecutivo não podia. crear embaraços, nem mesmo a. titulo de
obter informações.
Dada, porém, a super-excitaçi'í.o do eS!lirito, as delibera-
çõ\':s tomadas foram todas violent.as e tlesast.nula.s.
Não ~e vio outra solução para o caso sinão um processo
de responsabilidade para o juiz e uma remoçflO acintu:sa pari\
o pro.mot.or publico; como si a rebponsabilidade, quando mesmo
fosse jnridicameute exequivel, pudesse dar ao caso definitiva
e pl'oUlpta solução; e como si a remoçiio do promotor e con-
sequente nomeaçãu 11e ontro orgilo (Ia justiça pudessem im·
pedir que o juiz cOlltinuas!:'e a dar á lei a interpretação ante-
riormente miluifestada.
~ 36-
..
Si ás àeliberRções na presidencia tivesse presidido a calma
do animo, teria ella, em vez de remover o promotor, sugge-
rido ao procurador geri11 que urdenasse ,1, interposição de ap-
pellação nos proceSSOS j u1gadús pêlo .J Ui'y.
O promotor não deixaria de cumprir a ordem superior
sob pena de ser responsabilisado como desobediente. Esta
solução, llnica consentanea com a prudencia e a moderação
proprias de um bom governo, foi desprezada. A remoção, como
providencia violenta, pl'opria dos governos irrefiectidbs, foi a
que predominou. -
Si 'o presidente do Estado não tivesse sido momentanea-
mente privado da lucidez normal du sen espirito, e da compre-
hensão eleval1a das snas funcções governameutaes, ter-se-ia
abstido de il'fogar-me os epitlletos afrontosos de delinquente e
faccioso, que como estigmas !le ignominia destacam-se do final
da sua ordem ao IJI ocnrador geral.
Foram actos dessa especie que o eminente Ruy Barboza
profligou com mascnla indignação nestas elo quentes palavras,
que deviam senil' de ensinamento aos governos precipi-
tados: ,
«O Poder Executivo não julga, nem condemna. E' parte
querellante, quando muito, perante a justiça cl'Íminal. Ne-
nhuma autoridaJe lhe as:,;iste para qualificar de máOR cidadãos
os que a sua porcia, fallivel e apaixonada, aponta como cri·
minosos; porque criminoso!', n'um paiz livre, ~ão unicamente
os convencidos pela .iustiça. E só uma sociedade sem moral,
indigna de po~suit' tri~nnaes, seria capaz !la referendar esses
juizos incol1lpetent.es da precipitaçt'lO administrativa. (Pet. de
habeas-corpus no Di1'eito, 58--253.)
Estes conceitf)s, que se fundamentam na radical separação
dos poderes IJoliticoB (la nação, pal'eeem ter 'cahirlo infeliz-
mente em tf.I'J'eno est.el'il. Quatro annos após a sua emissão,
apparecem governos 'lne, com manifesto desprezo pelas attri-
buições do poder jndiciario. e illridindo publica e solernnemente
nas penas do crime (1t-~ ca.lnm11ia, qualificam de delillquente e
faccioso a qnem o poder eompetente ainda nãojulgon.
A que deprimente Ilerrota não fiea exposta a presidencia
do Estado, si os tJ'ibtlllae~ competentes, contrariando o ~eu
prévio e apaixollndo jnlgalHf>nto, (lecla,rarem por um de.creto
judicial il'l'evogavel, que °
úellunt.:Íado 11em é delinquente 11em
faccioso?

p(lj'tallto, i) qn:; [(11:118;: ';.·'ili {~úe v6~1 Sl'i~. jtiizcs do Su-


perior 'frib ullal; Jl ilo (~ ~~ Ilm ,le llLlllcict qne se ilüi pil'a,no bem

publico e no zelo pela administração da ju~,tJça. E' obra da
immoderada e passageira irritação lli'p;;;idelieiaL infelizmente
transmittida ao procurador geral, q Ub no texto da propria
denuncia deixou estel'eútY1HldcL a f1ilta de m;dum e séria refle-
xão. Nessa importante peça judicial, illkio e llase tIo processo
de responsabilidade, do qual podem resultar as mais graves
consequencias moraes e materiaes para o proces::i<1.rlo, 'a procuro-
doria geral foi dubia e exhitante ao capitular o cl'irne, demons-
trando assim a sua pouca ou nenhuma convicção juridica na
existencia real do delicto. Or.1 attribue 1".0 denunciado o crime
de alta preval'icação,-niio l1efinitlo no Cod. -, ora o de con-
ducta irregular (art. 238), depois o de abuso de autol'idade
(art. :?24), em seguida os de sedição (art. 118) e rebellião, e
finalmente o de prevaricação.
Percêbe-se que a llerplexidade da procuradoria origina-se
na carencia de b~se juridica para a incriminação de um acto
regular.
Está concluida esta resposta. O Superior 'rribunal, inspi-
rando-se na sua alta missão, decidirá si deve ser submettiuo a
julgamento um, memlJro do po(ler jlldiciario, pelo facto de
haver dado á lei uma interpretação que 111(; pareceu a mais
. juridica.'
A sociedade rio-gl'andense desde este mOl'lellto tem volt,ada
a sua attenção para o mais elevado tribunal (io Ji:stado, porque
a decisão desse tribunal é q l1e vai mostrar-llle. clara e
definitivamente si a independencia do poder jndicíario, a que
estão ligados os vitaes interesses da população, é realmente
um facto ou um simples adorno cOllstitucional.
E. J.
Rio Grande, 19 de A.bril de 1896. -Âicides de ~]}lendonça
Lirna, juiz de comarca.

Vistos, relatados e discutidos estes antos de responsa-


bilidade criminal :-E' denunciado pelo desembargador pro-
curador geral do E~tado o juiz de comarca elo Rio Granda,
bacharel Alcides de l\Ielldollt;a LilllPu) por ~l'ilIle de prevaricação
(art. 207, § lOdo Cod. P~lul) em 'Vista tle seu l!rocedimento
na presidencia do tribllllal do .Inry dt'.qnella cidade, não appli-
cando a lei ultimamente Vl'on'lllg:tlh ,lu, orgnisa.çfw .iudiciada
do Estado na parte referG~tG ,lO mGJo das recus1çôe::; e do
-'- 38 -

voto dos jurados, com fundamento de inconstitucionalidade, e


havendo sido a isso movido por odio e interesse politico.
E' ouvido o dito juiz (11. 15 a 34 v.), dizem testemunhas
(tls. 34 a õ4) ; e falla á. fi. 55 o procurador geral.
Presente a questão que suscita em sua resposta o denun-
ciado para suspensão deste processo por motivo de conflicto
preconcebido de decisões das justiças federal e estado aI sobre
a validade da citada lei nos sobreditos pontos em face d",
ConstituiçãO Federal, aecórdam em regeitar semelhante preli·
minar, attenta a incolltestavel competencia do tribunal para
processar e julgar originaria e privativamente nos crime!! de
responsabilidade os juizes de comarca, sendo que não lIa logar
no ca80 a conflicto, senão a recurso, ex-vi do art. 59 § 1. o
lettra b, dessa mesma. Const., citada contra-producentelnente.
Considerando que a especie sujeita afasta-se da genera.·
lidade do figurado crime da denuncia (§ 1.-), colhendo-se por
sua qualificação em diversa disposição penal; pois mostra-se,
já desde as primeiras palavras do denunciado trazidas á causa
(fls. 6 e 7), que o seu procedimento é justificado, corno em
uso de prerogativa jndiciaria, no exercicio de urna funcção
propria do emprego (Feei, 8t!cl jm'e feei) ;
Considel'anllo que O direito allegado, ou a lei com que se
defenie o denunciado é o art. 8" da mencionada lei estado ai
(n. 10 de 16 de Dezembro ultimo) que diz: 03 jwize3 íleixa1'eio de
applica?' a3 lei,ç e reuulam~ntOl:J manifestamente ineonstittueionaelf.
E, mais, quP as disposições encontradas em collisão são as
seguintes: E' mantida a instituiçcio do JU1'Y, (Const. Fed.
art. 72 § 31). As sent,nça& (lo Jury serao profe1'ida, pelo
vóto a descooerto (la maioria. Os }ul'aclos não podem 8C1' 1'eewJado. ;
á medic[a, porém, qú'e fm'em &orteados, podercio as pm'telf Opp61··
lhfJ& 8u&peiçcio motivada,. que será decidida pelo p"fJlfidente do
t1'ibunal (arts. 6& e 6ti da lei' Est. n. 10);
Considerando que, para sustentar a indispensavel incom-
patibilidade e legitimar seu procecimento, o juiz processado
diz entender que na indagação dQ ponto controverso, isto é,
si o sigillo do voto e o direito ás recusações são caracteres
essenciaes /lO regular funccionamento do Jury, que não é na
theoria do Jnry que se deve procurar os elementos de uma
convicção juridica, mas na. propria organisação antiga do J ury,
tal como eBe funccionava na época do Congresso Constituinte,
etc.-fl. 19. ;
Considerando que, com tão falsa interpretação, pois que
çonfunde extranhavelmente o di1'eito com a fórma, e a in3ti-
tuicllo com a orqanisaçeio, intenta-se restriugir o poder dos
Estados emquanto á ordem do juizo por jurados, assim prevenido
-39-

grande parte do processo criminal com enorme diminuição U?v


acção legislativa competente; pelo que toda a reforma, ou
melhoramento padecer;'" a censura de inconstitucionaiidade, e,
pois, ficará. inexecutoda nesse conceito contra os pl'illCilJios
constitucionaeR, e, accentllad:Hllente, o elemento federativo,
substancial. (Arts. 34 § 23 e 6:3 da Const. Federal);
Considel'allc1o que, não póde prevalecer a dita defesa
chocando a opiniào commum e a illtelligencia pratica dos lesgis-
ladores da União e dos Estados, inclusive, por exemplo, o
constituinte de S. Paulo (Const. art. 44) em que alterações
tem sido feitas, desde a primeira lista para se formar o J llry
até os recursos üas decisões delle, comprehendendo-se l~as
mesmas o modo do julgan1ellto ; n[to sendo licito ao juriseon-
sulto, ao juiz profissional, iguorar a ligaçã.o estreita elo ponto
controverso, na expre:'lsi'io !io dE'Un!lCiado, com a composiçã.o
!lo J nry e processo réspectivo, e como são debatidos seme·
lllantes assumptos sob a relal;ão da verdade e virtude da mesma.
illRtitnição. Vem a pello notar ter procedido com falta de
inteireza, sem coherellcia, o juiz responsabili:sadu, porque
applicon 8. lei de reforma na parte em que reduzio o numero
dos jurados;
Considerando q ne a attrilJniçü,o, ou ftincção j urisdicciom.l,
objecto da excepçào neste processo, é por :sua natureza
r8stricta, devendo ser elltenuida nos termos rigorosos da
deela.raçã.o legal (art. 8° da citada lei n. 10, vb. manifesta 0

mente) e de accôrdo com a doutrina calcada sobre a juri;.;o


Jll'Udench do systema constitucionanl americano, -que adverte
ao juiz que a constitucionalidade da lei é presumida, e que só
Ilumpreolhe declarar um neto inconstitucional, quando eUe
clara e evidentemente viola a Constituiçào, devendo em caso
de duvida ser em favor do poder legislativo; e que o
assumpto é extremamente tlelicado, e para. ser trataclo com
reluctancia e hesitação para nào subverter-se a llecessal'Ía. e
legitima coordenação dos departamentos do poder pllblico, e
não fe desprestigiar o regimen republicano, que <leve ser
verdadeiramente o governo da lei (Fim. Walker, I'ltroà. to
Âme1 ican Lati', Part. 2" secç. 27, pg. 73 noto b:; eooley,
0

Const. Limit. capo 7- 11ags. 193, 195 e 216) ;


Considerando, mais, para o exame da intencionaii<lade ou
inflnencia moral, o que clepu7.el'am as testemunhas acerca
<lo motivo politico actuando sobre o juiz denunciado:
Accordam em Superior Tribunal julgar procedente a
denuncia para pronunciar o bacharel Alcic1es de1\Iendonça
Lima, juiz de comarca do H.io Grande, incurso nas penas dl)
art. 226 do Cod. Pen. e sujeitar o mesmo á accusação e
-40-
julgamento e máis e±feitos da lei. Mandam sejam desentra-
nhados os documentos juntos com o officio do desembargador
procurador do Estado a fis. 53 e seguintes, visto que só
poderiam ser attendidos si apresentados antes da audiencia do
denunciado, art. 399 do Regul. n. 120, de 1842. Porto Alegre,
29 de Maio de 1896.-Franco e Souza, presidente. -:.EZm·es.
-Paulino Chaves, vencido, quanto á c1assifica~ão do crime .
. O delicto por que é }'esponsabilbado per:tnte este tribunal,
o qual está perfeitamente demonstrado, nào só com a sua pro-
pria, confissão, como com as provas documeutaes e testemunhaes,
que instruem este processo, foi perfeitamente eOmlJrehendi~~o no
art. 207, § I'! do Cod. Pen., como tive ensejo de mostrar no
debate havido por OCCêlSião de fundamentar o llleu voto. CIJm
effeito, o juiz responsaLili:5ado, deixando de cumprir as disposi-
ções consignadas nos arts. 65 e 66 da lei Est. de 16 de Dezembro
de 1895 incorreu inquestionavelmente nas penas do art. 207,§ 1<>
do cito Cod. Pen., visto que assim procedendo ferio de frente a
litteral dispo::;i(;ãü da cit. lei, e illl1Jellido apenas pelo odio politico
que consagra ao Dl'. presiclente do E:;tado, o qual manifestou
por actos bem significativos como uniformemente asseveram
nos seus depoimentos as testemunhas que juraram ne~te processo.
Assim, pois, de accôrdo com a prumoção do Sr. desembargador
procurador geral do Estado, e pelos fundamentos acima
expostos votei para. que o juiz l'esponsabilisado fosse pronun-
ciado no art. 207, § 1l} do cit. Cod. Pen., porque entendo
que elle commetteu este crime JliJ exercido de suas funcçóes,
visto que para assim proceder usou de um dirdto, que a lei
lhe concede, mas, abusando de:;se direito, desrespdtou o
espirito dessa lei e os termos claros de sua redacção.- Vieira
da Ounha, vencido, votei pele im proceclencia da accusação,
porque não. se póde considerar crime a interpretação, embora
erronea da lei dada pelo querellado no uso legitimo de suas
funcçóes de magistrado. A lei n. 10, de 16 de Dezembro de
1895 é constitucional em todas as suas partes, não só em face
da Consto Fed. como tambem da do Estado. A suppressão das
recusações peremptorias e a innovação do V0tO a descoberto
nella consignados não desnaturam a instituição do Jury, que
\,. foi ~antida até com a sua competencia anterior. A lei,
gravItando dentro da crbita t:-açada. pela Consto Fed. que
facultou aos EHtados a elabol'açiio da:; suas leis processuaes,
apenas modificou a instituiçii.o do J llr}' )lO':; detalhe~, de
ol'ganisação, conservanuo illesos seUil principios basicos
que 810 :
a) O julgamento do cidadão pelo cluadão, s,thido de um SOl'-
, teio; b) a deci3ão Uit crtu.~a pela convic~ão intima 'dos jurados, sem
'regras prestalJelecidas. São estes os attributos essenciaes da ins-
tituição U<4J ury; :-:;ão estas as supremas garantias individuae::; que
la Constituição Fedei'al quiz mau.ter, tanto a"sim que i~cl~iu a
,instituição do J Ul'y na seeçàu (Ie «Dedaraçào de Dmlltos».
,Declarando manifestamente inconstitucional a lei da organi-
sação judiciaria na parte do .J Ul'y referente ás recusações
,perempto~ias eao voto a descoberto, ojuiz querellado mal inter·
ipretou o art. 8" q ne diz: «Os jnizes deixarão de applicar as
'leis (l regulamentos manifestamente 'Ínconslitllcionaes. ~ Em conse-
fquencia desta interpretação erronea, o querellado proceden
contra ~ litteral disposic;ão da lei lWS pontos alluditlos (arts. 65
e 66 da lei Il. 10); porém agiu dentro dos limites das suas
'funcções, executaudo até nm;t di:-posi\ão que o autorisava
expressamente a exercitar a. funeção j udiciaria da inteí·pretação.
1Portanto," o pl'oceuimento do quert'lladú "nào se enquadra no
'art. 226 do Cod. Peno O ai,nstl de autoridade, que caracte-
risa·se pelo excesso dos lillliti's da.:,: f'ullcções p,lOprias do
emprego, é o crime <la autoridade poli cid, por exemplo, que se
ingere em negodos cíveis, e por esta cau:::a orrlen;:t prisões. Esta
tem sido a jurisprudenr:ia <lus trillUllaes e nomeadamente a do
Acc. Rev. da ReI. l10 Rio, 11. 2.130, lle 19 (le Setembro de
lele 1873. Tamhem llÜO lIMe ser ,:;apiLnlado l1QS arts. 207 e
,210 do Cod. Peu. A pl'eVaricaçll.O definida no art. 207 é
.um delicto complexo. A reunião de todos os seus elementos

~
IOU circumstaucias é, no diZer ele Ortolan, indispensavel para
que o deliCiO exista. Nas mesmas condições está a falta de
xacção no Cl/(illil'imento d.o dever, crime, de que, aliás, não
. e cogitou. No (~<l:50 sllolllettido á apreciação do Tribunal ha
carencia absolutl d.e provas ele prevaricação, cujo elemento
:principal ou cl'.racte:istico seria, na especie, o moveI do odio
político, paixfw p,útidr. ria. e illter~sse }Jessoal; attribuido pela
ldenuncia ao juiz l'espoll~abilisado. As testemunhas do•. processo
1não geram no meu espírito a convicção ele que o querellado
.~osse impulsionado por algum daquelles moveis reprovados.
fOs factos que referem Hão contêm siqller indicios consistentes
ije prevaricação; são os indicios equivocos de que faUa o
telatorio apresentado pela commissão do corpo legislativo a
llProposito da discussii.o do arl. 183 do Cod. Peno Francez
i~nalogo ao art. 20'1 do 00[\. Pell,"Ll Bl'azileiro. Quando se
~rat~ de um jl\lgal1lellto attl'ibuÍtlu ;Í, paíxão do juiz, a regra
Dratlca e salnt~lt' pal'~l a ap\'ecia~<l~) do .iulgador é a que
illsina Ohau"t'au, relemtll'illHlo a illterp"tJta~ão li lle applicavam
~ esta matel'ia os velhoJ .iuri:scoll~dtos da França, antiga.
~abedoria, que não rwdé'rtlo::i rtlpurlictl', que llO,~ deve guiar ainda:
(In dubio judex non lIolo sed pe!' ilnpcrjliwn 1nalc jndicassc pr6-
- 42-

8umitltr. Não foi pois um deIicto o que praticou o JUIZ respon-


sabilisado; foi uma interpretação erronea ou in!pedta .que
deu ao art. 8° dro lei da. organisação jTlrliciaria. A este 'l'ri-
bunal como seu superior compete corrigir aquella interpre-
tação, restaurando a constitucipuaIiuacle da. lei violada nos
I)Ontos já ,mencionados, e em provÍIm~llto ordenar ao querellado
que a cumpra em todas as suas partes, sab pena de incorrer
então nas penas de desobediellcia por transgressão de uma
ordem ou proviment.o legal eman,'.\lo do seu superior legitimo
e competente, nrt. 13F5 in fine do Cod. Peno Esta me parece
a unica soluçãO comp:!tivel com os principios do direito e da
justiça.-Epaminonüos.-Fui presente.-Riba8.

ACCORDAM DE CONDE~NAÇÃO

Vistos e relatados estes antos, dalles se mostra accuiía~ão


pelo desembargivlor procmador do I~stado, como .]0 libello
á fi. 108 ao juiz de com:trca do Rio Grande, Dl'. Alcides de
:Mnndonça Lima, por o procedimento que teve na. presidencia
do tribunal do Jllry daquella cidarle, em dias de l\'Ial'ço do
corrente anno, negando applicação á lei estadoal n. 10 - de 16
de Dezembro de 1895, na parte em que foi abolido o
escrutínio secreto e foram sUPPl'imidas as recllsaçúes peremp-
torias.
Ordenadas as diligencias para a defeza, vê-se aban-
donada.
AtteIidendo a que a existeneia do facto criminado, conhe-
cido pela confusão do réu na fórma a que se allude no decreto
de pronuncia (Acc. á fI. 94), ainda se verifica, para melhor
aprecia~ão, pelas actas das supraditas sessões (las quaes
resulta haverem-se effectuarlo jnlgamentos inquinados de nulli-
dade derivada da inobsérvancia. da cito lei sobre o modo da
votação do Jury;-sendo (lue as recusações não motivadas,
oferecidas com J'edl1c(~fto rio numero da legislação anterior
(art. 275 do Ood. Proc.) não foram usadas pelas partes;
Attendendo a que é sem legitimo fundamento ,a justifi-
cativa intentada na resposta á fI. 15, já ante a força da
expressão manife8tamente illconstitucionaes do art. 8° d:\
mesma lei n. 10 de cuja disposiçilo soccol're-se, aliás, o
denunciado, entendida ao fUllCçfl,o ahi declarada com o seu
caracter judicial, que exclue deliberação discricionaria e gernl,
seIll caso propriamente levantado em especie, sem ter sido
promovido direito individual ;-já ante os textos da inculcada
43 -

collisão-quaes o do art. 72 § 31 da Cunst.Fed., que diz-


/mantida a instituição do Jury, e os dos arts. 65 e 56 da lei
I estado aI em questão, depurados com as referidas reformas,
tendentes como outras do mesmo legislador, a corrigir a
'pratica, ~ a assegu.rar. ~ efficacia da institui~ão, respeitado
o Eeu espirito ou prlllClplO ;
Attendelldo a que, continuando·se ·a applicar o Jnry
. em materia criminal, em virtude da indicada garantia, deverá
'o ~er mediante leis dos Estados lregnladoras do processo
respectivo em crimes d'alçada das jüstiças locaes, por obe-
. diencia ao ·regimen federativo institucional da Republica-
arts. 34 § 23 e 63 da Consto Fed. i
Attendendo a que os pontos controvertidos pelo juiz
respon~abi1isado entl'am no systema da nova lei para o me-
lhoramento do Jury, prendendo· se a invigencia das recusações
não motivadas, verdadeiramente arbitrarias, á compcsição do
tribunal desde a primitiva lista, independente da de eleitores,
vista a inst.ituição sob o aspecto judiciario, e não podendo
deixar de se encarar, com a selecção confiada á magistratura
(arts. 58 e 62), a diminuição do numero de juizes de facto i -
I e quanto ao estatuto, pronunciado invalido e insullsistente,
! do voto publico e oral, o que se não convence ser elle atten-
: tatorio da instituição, tendo sido' decretado como uma condição
: da cuidada regeneração do Jury, realizando-se o deMideraiurn
de competentes i
Attendendo a que o caso sujeito de violação da lei contra
a boa ordem e admillhitração publica, vindo figurado com a
questão de attribuição suscitada, fica al'sim mais preciso e
diversamente previsto, para não ser comprehendido na gene-
ralidade do § 1- do art. 207 do Cod. Pen., resultando ser o
facto propriamente de-abuso de autoridade, ou, diga.se, de
excesso no exerci cio de fl1ncção judicial conforme já foi
c.lassificado para fi accusação (31t. 226); não sendo a hypo-
lhese tão sómente de omissão (art. 210), nem de mera
infl'acção de regras dQ processo, com danmo pnblico e parti-
cular, embll'a (art. 211 § 2);
Attendendo a que são fugitivas para a vertente respon-
sabilidade comiderações de excu~a pur erro ou impericia, nem
póde aproveitar a jurisprudencia cujos exemplos se encontra
na sentença de um not.avel magistrado (Di1·. XXXIX, 400),
Ilonderado8 o objecto e o alcance <lo procedimento arguido
. criminoso, não se tratando da execução da lei, ma~ de inexe-
cução della, e havendo-:,:e o accusado sem boa fé, o q ne se
mostra pela falta de coherencia escolhendo nas refórmas, ina-
ceitaveis todas pelo criterio adoptado, as que lhe aprouve
para o ~eu proposito; sendo de considerar-se a prova testemu
nhal exhibida para Ilemonstrar a intendonalidade do meStnl
juiz:
Accordam pelos fundamentos expostos e o mais que dOI
autos consta, julgando·o incurso 110 grão médio do art. 226 di;
Cod. Pen.) attellto serem as circllmstancias aggravanteJ
articuladas elementares no caso, condemnar o accusado, Dr.
Alcides de Mendonç:-t Lima, juiz de comarca do Rio Grande, em ~
mezes de suspensão do emprego; e nas custas. Porto Alegre, em
18deAgosto de 1896.-2hwco eSouza, presidente.-Plln·es.-
Paulino Ohaves: votei pela condemnação do juiz responsabilisad~
âs penas do art. 207 § 1·, grão maximo do Cod. Penal, por SI
darem as circumstancias aggravantes dos arts. 39 §§ 2' e H
do mesmo Ood., por isso que, - como já tive occasião dl '
demonstrar, nos debates ha viuo:> em sessão e no voto qUI
proferi quando foi o mesmo juiz pronunciado, que elIe perpe.
trou o crillie porque foi d.enunciado, por ter procedido, impeUid~
apenas pelo odío, ou paiúo politica, que consagra ao goverm
do Estado, no intuito de de::;morali::;al·o e auxiliar a allarchi
contra a litteral disposiçãc> da lei, que calma e pl'~meditamelltr
violou, como elIe pl'opdu cOllfe::;sa na sua defeza. Si, pois, o odio.
ou paixão politica, como está provado dos depoimentos das teste·
munhas, que depuzeram nestes autos, foi o unico moveI, que
levou o juiz responsabilisauo a commetter este crime, é bas·
tante para classifical·o, como eusiuRm Chauveau e Hélie na
sua obra-Do Ptlned voI. 5·, pago 631, como incurso no crime de
prevaricação, eu não podia deixar de, adoptando, como adopto,
esta valiosa opinião destes eruditos criminalistas l coudemnaI·o
nas penas do art. 207 § 10, grão maxima, em face das robustas
provas, que ministram estes autos. Epam'inondas. -Sciente.
Ribal!.

PETIÇÃO DE RECURSO

Egregio Supremo Tribunal Federal.- O bacharel Aleides


de Mendonça Lima, Juiz da comarca da cidade do Rio Grande,
Estado do Rio Grande do Sul, condemnado em processo de
responsabilidade pelo Superior Tribunal do dito Estado, Ilas
penas do art. 226 (lo Cod. Penal, vem requerera este egregio
Supremo Tribunal a revisão do dito processo, conforme lhe
facultam a Constituição Fedeml e numero lU do art. 9° do
decreto n. 848 de 11 de Outubro de 1890, fUl\f1?.llflo o seu
pedido em ter a sentença que o conilemllon, infringido lei
expressa, cOllfonne se evidellcia dos auto;:; e dtt defeza do sup·
-4õ-
licante, estando além <l'isso em contradicGão com as provas
os autos, o que tudo opportunamente melhor se demonstrará .
. estes ternlOs,espera o Suppli(~allte se lhe fêl.rá justiça.-O ad-
/ ogado-Plínio Alvim. .

PARECER DO PROGURADOR GERAL DA REPUBLICA

Não está completa a instrucção d' este processo de recurso


e revisão, interpOíoito pelo doutor AlcideR de Mendonça Lima,
esde que falta a informação do Tribunal da condemnação,
xigida no artigo 104 § lodo regimento do Supremo rrribu-
aI Federal.
N[LO posso ajuizar do merecimento do recurso, sem a lei
o Estado do Rio Grande do Sul ll. 10 de 16 de Dezembro de
' 895, na parte referente ao .Jury arguida de inconstitucional;
. corno Hão exista ella no archivo do Supremo rrribunal Fede-
aI, n'esta data requisitei do presidente daquelle Estado a
remessa de um exemplar, de conformidade com o dispQsto no
art. 40 da lei federal n. 221 de Novembro de 1894.-Rio de
,'Janeiro, 3 de Novembro de 1896.-So~tza Martins.

DESPACHO DO SR. MINISTRO RELATOR


Vistos.
A despeito do parecer do SI'. ministro procurador geral da
~Republica, tenho por completa, quanto possível e sufficiente,
fa instrucção do processo para que prosiga em revisão. E'
(certo que não foi prestada a informação do rrribuI1al da con-
,demnação, aliás pedida na pe~,ição de recurso de fi. 152, e
ínaturalmente não foi porque o peticionario deixou de arra'zoar,
.limitando-se aos termos da petição de ti. 2, em que declara
j res~rvar·se pa:CI. mais ampla demon~t.r:\(;ãO do seu ?i:eito; mas
;razoes, qHe deIxaram de ser l'l'odmmlas peraute o JliIZO a quo,
(,nao
- se :.t(lnllttem
' perante este rrl'ibullal. nos ll'l:Ul'~OS d' esta es-
'pecie, como se uão admittialll nos extill·~,tos de revista. Não lIa,
'pois, sobre que mandaI' informar o rrribUllal da condell1nação.
,P~o~iga, portanto, o feito em revisão, passanüo os autos (li) Sr.
~!lIlISt!·O 1." revisol', depois de numerados ]'(~guhrme:lte, como
Ja deVIam ter vindo :1, minha conclusfw, p,ll'a que desappal'eça
. a lacuna entl'e as fis. 57 e 94 da l1!lllH'.I'ação aetn:tl, que é a
primitiva, lacuna que se explica pelo dé::;euLl'ililll(tlll,~uto orde-
nado llO final do acconlam de fi. !H:i como se vel'ifie:L pela nu·
memção l'iseada nos documellLos desentranhados e novamente
-16-
juntos ao libello, e flue (lecorrem de fls. lU a 145 da nume·
ração act.ual.-Rio 12 de Novembro de 18%.-L1tciode Men·
donça. (*).

Damos em seguida as luminosas e jul'idi~as ra''.ões apresen·


tadas em defeza do recort'ente pelo eminente jurisconsulto-
Dl'. Ruy Barbosa, as quaes, ex·~lÍ do clesph.cho supra do E:x:m.
Sr. procurador geral da Republica, deixara:1. de ser juntas
aos autos, mas que, impressas, foram distribuídas por todos os
dignos Srs. ministros do Supro Trib. Fed. ,pelos demais trio
bunaes, pela imprensa. e pelos cultores da~ letras juridicas.
E' uma excellente monographia, sob a epigraphe «O .Jul"y
e a responsabiliãaáe penal ([os juizes», o que trasladamos, e
que merece ser lida com interesse, quer pela magnitude do
assumpto, quer pela maneira brilhante porque é eIle discutido.
Da RelI.

DEFESA DO DR. ALCIDES Dg l\fENDONÇ,\ I.DL\


NO RECURSO DE REVISÃO

Não é 86 a defe~a de um magistrado que


ne~te rapido imp"oviso se empl'ehende. mas
!l dos dois elementos. que, no seio das nações
modernas, constituem a ulma e o nervo da
L.iberdade: o jurJ e a indepondencia da ma-
gistratura.

Srs. Juizes do SUJll'cmo J.'ribu.-wl Federal

A qnesW.o, qne neste feito _ se V;18 resolver, Ilecillirá


dos destinos do JlIry entre nós, detel'~illall(lo ~:'B .1, l't~plll)lic:t
o acolhe, nos tel'mo~ Ih nova. coustitniç,lo, como UIlI doi' ell,)·
llIentos estaveis do I'egimen aetual, ou SB o a''I"ise;t ao VlIdal'
das escolas, das facções e das seitas, a ell1e a fortunit l'olitic;t
eutregar o govel'llo, l1ii UniãO, ou nos !~st.[ul()s.
O espírito da lei, fi. que (J acclls;lelo )"e~istjl1, em cumpri·
mento do s.en (leveI', teve a mais clara, t~Xpl'I~SSi"tO 110 arrazoado
oiTIcial, com que o govel'llarlor buscrm justificar a SLHI. reforma
cout.ra as ernBndas alvitmelils pela opilliilo dos elJl1Ipetente~
no fÔl'J rio-gl'allden:;e. «A simple:-; oJservêlr;iio eornmnm», diz

C'l Nomeado o sr. ministro relator posteríormcllte. em Janeiro do cor


rente anno, procurador geral da Republica, em virtude do falleciment~
do sr. ministro SOUllR Martins, foi designado relatol' do feito o sr. nll-
nistro José Hygino.
Da Red.
-47 -

aIli o SR. JULIO DE CASTILHOS, «reconhecerá facilmente o


inilludivel declinio dessa instituição, cujo destino historico se
approxima cada vez mais do seu termo fatal.» (1)
Comquanto o legislador l'io-grallllense, no uso das funcções
dictatorias, que lhe confere a constituição positivista, onde
pela primeira vez se ensaia na administração de um povo o
systema politico de COMTE, encarnação moderna, s~gundo
MILL, do genio das theocl'acias, declare que pretende apenas
«corrigir os defeitos do Jury, para melhor o conservar»,
affirmando-se alheio a «pl'eoccupar;ões escolasticas» e «imbuido
unicamente no pensamento decoucorrer para a regeneração
de uma instituição decadentp,»; comqllullto se deftmda contra
a increpação. que lhe attribue «o pensamento velado de f~rir
de morte o .Tury~, assegurando que «soerguel-o do seu abati-
mento actual é o unico objectivo» desse acto (2), as opiniões,
os argumentos e as allctol'idades, a que se arrima, evidente-
mente UHl definem a philosophia, a tendencia, a inspiração,
filiando as medidas, alli l'ecommendadas eomo «reformas
opportullas e uteis, para dilatar o cyclo» (3) àe existencia do
Jury~ á propaganda empenhada, nftO em melhoral-o, mas em
lSupprimil-o.
A impngllit!;ã.o 110 presidente legisla(lol' ás emellrh,8 sugge-
ridas em defesa do J Ul'y tem o seu ponto expresso de apoio
na superioridade da «nova escola pellal» ; t~ esta (é eUe
mesmo quem o diz), «applicalldt) o methodo positivo ás inves-
tigações cl'iminaes, tem eheg,ulo á conclusão de que é neces-
saria a eliminação do Jury, em tlllme tla defesa social, já que,
(,m vez de ser um factot' de repressitO, eHe tem sido um
elemento protectol' do erime" _ (4) A este (',onceito de G ARO·
)'ALO ajullcta elle o (1..e lTSRR1. (lUanrlo escreve que «O Jury é
lllllll instituição regTessiva, segalu10 os dados cLt historieI. eda
tiociologia ; porque representa a vllase l!l"üienl. e iustinctiva
da justiça penal». (5)
Deste modo eviàentemeute a lt'g"isl,\!:ftO rio-grandense
firma a solução al1ovtal1;t llum ponto d~ vista opposto ao da
con~títui(;ão brasileira, que, Ü1S(~J'evendo 1111 sua «Declumção
de ([il'ci!os), a manutenção do .Jury. ns:-:ig-nalon assim a mente
de eOllsil1eral-J uma llecessiaa(L~ ll!oderaa, um dos elementos

(1) Lei n. 10. de 16 ele De~emb}·o ele 1895. O/·gani8açüo judiciaria.


Estaelo do Rio Gmnde do Sul. gd. oflic. H\95, pg. 47.
(2) Ib., p. 47, "iD.
(:~) Ib" p. ~8.
(4) 10" p, 47.
(5) Ibideln.
-48-
permanentes do pr{Jgt'flSSO e um dos l)['inr:ipins racionael'l da
justiça repressivà.
Dizer qlle o JUl'y no.,; atra%it a um período illstinctivo di/,
civilização, nos recondnz á ednde média é, não obstautli
os nomes de LOl'tIBROSO, FERRI e GAROF.U,O, um desses abusos
da logomachia dos syiitemas, tão aucr-Orizado pela verdaàe,
quanto o que deuullcias~e uma eutUade retardataria e me-
dieval no governo re)Jres,:,ntativo, ~ujas remotas origens se
perdem, tambem muito longe, nA. GermanÍ:l. [le 'rACITO e na
lucta do:'! barões iuglezes ~om JOÃo SEM 'r ERRA em principios
do seculo treze. São duas theses irmãs, em fiLIe os panegy-
ristas da autocracia volitica estari alll naturalmente de
accôrdo com «os n,)vos tecrorisül,s do magist,~t'Ío penal. » (1)
As dllas illstitnições descem das mesmas verLentes para o
mundo contemporaneo, apre:,entam mais uu menos a meSllla
antiguidade; e o parrdlelijtilo [la sua evoln(;ão. da sua conso-
lidação, da sua propagação evidencia uma aflinidade quasi
organica, de que a hb;toria de mais de um seculo nos mostra
indicios constantes.
Se o Jllry, ue que já se encoutm a prefiguração longinqua
nos ju([iaes romanos, (2) se não nos dikistas gregos, e nos
cetlten-t aomites dos primitivos germanos, immortalizallos por
TACITO (3), auctorizando lJÍstoriadores e enthl1siastas seus a
gabarem·n'o de medit, o CHrso da civilizH(;ão (4), se o Jury,
associado, na investigação das ~Hlas origens histol'Ícas, ora
aos teutões, ora aos slavos, jít ,toS nunnaullos, já aos dina-
marquezes (2), recebeu 0" primeiros trüços da :,lua fórma
definitiva no sólo britalll1i (',0 , depois ua (;oilrruista lJorn:anda,
sob Henrique Ir, extinguiudo-se ·na F~(lllça, de onde fôra
transplantado nos seilS mais ~ro::;seiros rudimentos com as
Oapitnlares (6), !lU .1lwLct edaLle ingleza é que elle revestiu

(1) LUCCHINf: I simplkisti. p. 257. .


(2) «Le jugement par de véritablcs jurés.)) GUJ;;RIN: Etude sur les
droits et libere. du citoyen aux Et. llnis. Bulletin de la Sor;. de Legisl.
Comp. 1892, p. 320 U.-LESSER : Jury S!lstem, e. m. .
(3) TAClTO: De s/tu ae populis Germanice, XII.
(4) « The developmellt of lhe .i ury rfiay i ustly bc said to measure the
mareh of civilization. » LEssER : The Historieal Development of the Jury
System (New-York, 1894). p. 14. -« ... the jl1ry tlws gained ground with
advaneing civilization. gradually superseding- tite more alleient and bar-
barolIS customs ... » MACCLACKLAN : Engl. Cyel. lU, 2ci-«'rhe jl1ry svstem
is both the cause and proof of civilization anu liberty. » Cox : Three de-
cades af federal legislatian, ]lo 604.
(5) ELLIS STEVENS: Soltsees a( the Constit. ar the llnited S/ates, p. 233-4
-FRANQUEVILLE: Le SYSt(!lilC judieiaire de la Grande Bretagne. I
p. 490-92.
(6) S'ruBBs: The Canstitutíanal Histarll af Burlland, v. I. p. 612-:l5.
-49-
a imagem, sob que a éra moderna o adoptou. Comtado, é
contemporaneo o momento da sua culminação juridica, o
periodo da sua universalidade, a epocha da generalização dos
seus beneficios a toda a parte culta da especie humana.
AnteE de passar das Ilhas Britannicas ao continente, ti. ve-
lha inspiração do genio legista dos anglo-saxonios estabelecêra
a saa segunda patria no sólo americano. O jury foi uJlla daEl
instituições mais antigas das colonias inglezas na America do
Norte. (1) Já o consagrava formalmente a carta régia, ou-'
torgada ao primeiro grupo de emigrantes que da Inglaterra
veio civilizar aquellas paragens. (2) à patente dada, em 1629,
aos colonos de Plymouth, os paes da America actual, assegu-
rava-lhes entre «as livres liberdades do livre povo inglez» (3),
. ~antificadas quasi na mesma linguagem da Magna Carta qua-
tro seculos antes, ojulgamento pelo jury. Já então se reputava,
entre americanos, uma das leis· fundamentaes. (4) Todos os
nucleos de população européa acerescentes ao primitivo, no
Massachussetts, em Conneticut, em New-York, seIlavam a
inauguração da sua existencia Ilebaixo deste céo com a de-
claração dessa garantia. (5) Só uma excepção se abriu, a prin-
cipio, em New-Haven. (6) Mas já nesta pequena circumstan-
cia, aliá!! passageira, se poderia observar a relação, invariavel
em toda parte, entre o jury e a liberdade j porque essa der-
rogação á generalidade americana tinha a sua causa na feição
theocratica, de que se revestia alli a sociedade colonial: pres-
cindiu-se do jury em razão de não se lhe encontrar apoio nas
leis de Moysés. (7) Mediante a constitui~ão da Virginia, ado-
ptada pela ·assembléa da colonia em 1621 e imitada, ao de-
pois, como padrão commum pelas outras provincias reaes, «o
systema de governo representativo, como o processo do jury,
adquiriu fóros de direito reconhecido em o novo hemispherio .•
(8); de modo que, muito antes de constituirem nação inde-
pendente, « o julgamento geral de todas as causas pelo jllry se

(1) GOURD : Les chartes coloniales et les constitutions d~s États Unis,
v. lI, p. 176.
(2) CRANE and MOSES : POlities, p. 92.
(3) « '" the free liberties of the free-born people of England .•• ,.
STORY: Comment. L p 33.
\4) « •_. what may properly be deemed the fundamental laws of their
jurisprudence. »Ib.
(5) STORY: Comment. 1, p. 46, 49, 60, 80.
(6) GOURD, lI, p. 178.-ALEX. JOHNSTON : The Genesis of a New Englantl
State. Jonks Hopkins University Studies in Hist. and Pol. Science, First
Series, XI, p. 17. '
(7) JONH FrsKE : The be,qinnings of New England, p. 136, 250.
(8) GEOR. DANCROFT: Hilt. of the Uno Btat. of Amer., V. 1, p. 117-8.
DIR. VOL. 73 , 4
-50-

achava tão universalmeI}.te estabelecido nas colonias como na


metropole.» (1)
Presavam-n'o os colonos ing'lezes «como uma das suas
instituições mais caras». (2) Era um direito ingenito aos
americanos, a sua primogenitura, o seu patrimonio l1eredita-
rio, thei1' birtht·ight. (3) Encaravam-n'o como «a parte mais
preciosa da sua herança.» (4) E, quando se separaram da mãe
pa.tria, um dos aggravos «trovejados pelo Congresso Conti-
nental aos ouvidos do mundo, como afronta sufficiente para
justificar a revolta» (5), foi o de que o governo de Jorge IH
«os privára, em muitos casos, do beneficio do jury.» São pa-
lavras da Declaração de Independencia. (6)
«Caminha para a sua ruina, tentado por algum espirito
maligno~, dizia, a respeito do jury, um pampbleto 1mblicado
ao tempo dos debates sobre a comtituição americana, «aquelle
que, em opposição ao genio dos Estados Unidos, se atrever ao
pensamento de subvertel·o.» (7) Deste privilegio os america-
nos nunca se despiram,dizia JOHN MACLAY, escrevend6 o dia·
rio do primeiro senado, em que se sentaram os represen-
tantes da Uniã() constituida. (8) A constituição americana,
portanto, «não podia deixar de consagraI· o nos mais solem-
nes termos, sem incorrer na mais irrespondivel censura.» (9)
cc Ter·se·iam coberto de infamia» (10) os auctores da-
quelle famoso documento, se não sigillassem as suas con·
q uistas com essa garantia. Mas, como no pacto americano
eUa. se ciscumscreve aos litigios de natureza federal, as
constituições dos estados á porfia, reaffirmando a legisla-
ção preexistente, capricharam todas em ::Icautt>llar com as
definições mais IJl'ecisas o antigo direito (11), cuja santidade

(1) STORY: Camment. I, p. 117.


(2) WHlTBRlDGE : Jury. LALOR'S af ClIc1. )iol. science, v. lI, p. om.
(3} Pamphlets an the Consto ()f the ~·n. ctat .• published dur-hlg its
discuss., p. 186, 241.-STORY: Co?mllcnt. l!, p. G;;9.
(4) « '.' the most precious part Df their inheritance.» JEREmAH DLACK:
Defense af irial byjury. SNYDER'S Great Speecltes, p. 490.
(5) Ib., p. 491.
(ti) « ••• for depriving us in many cases of the benefit of trial by
jury. »
(7) JOEN DICKINSON : The letters of Faoius; Fard's PamlJhlets, p. 186 .
.. (8) Journal of JOHN MACLA.Y, p. 109.
(9) STORY: Comment. n, p. 559.
(lO) SNYDER'S Great Speecltes, 491.
(11) Alabama. Constituição de l8l9,a. I, secç. ]0 e 28; constit. de 1805,
a. J, secç. 7; constit. de 1867, a. I, secç. 8; constit. de 1875, a. I, secç. 7,
e a. VII, secç. 3. (PooRm ; The Feder. anel Stat. Constitutions and colonial
'cha1·ters of the Un States, 2" ed., v. I, p. 33.34,49,65,77, 90).-Arkansfts.
Consto de 1836, art. lI, secç. 8 e 11; art. VI, secç. 12; consto de 18tH,
a. lI, secç. 11; consto de 1868, a. I, secç. 1], a. VIr, seeç. 11 ; consto de
1874. a. lI, secç. fi e 7, a. VII, secç. 23. (POORE l. p. 102, 103,112, 122,
- 51-
não concebem os americanos em seu paiz t,yt'allnia capaz de
violar. (1) , .
E não se enganava a geração, que o dotou com a lei
constitucional. Quando, oitenta annos mais tarde,' access( 8
ainda os odios da lucta, que contlagál'a a nação na mais tre·
menda guerra civil que a bistoria conhece, tl'es cidadãos ame·

135, U4, 155, 165.)-California. Constit. de 19.{1I, a. I, secç.8 ; consto de


1879, a. I. secç. 7. (POORE I, p. 195.-Annuaire de Lfgisl. étmng. 1879,
p. 836.)-Colt:wado. CODlltit. de 1876, a. lI, lecç. 16. (POORE I, p. 221.)-
Conneticut. Consto de 1818, a I, secç. 7 e 9. (POORE, I, p. 259.)-Delaware.
Conllt. de 1792, a. I, seco. 4; consto de 1831, a. I, seco. 4 e 5. (POORE' I,
278,219, 289.)-Florida. Constit. de lia8, art. I, secç. 10; consto de 11:!65,
a. I, secç. 6; consto de 1868, a. I, secç. 9. (POORE I. 317, 332, 333.)-
Georgia. Conat. de 1798, art. m, secç. fi; consto de 1868. a. I, secç. 7 e
a. V. seco: 13. (POORE I, 3'5,413, 422.)-lllinois. Consto de 1818, art. VIII,
p. e secç. 6; conat. de 1848, a. XIII, secç. 6; consto de 1870, a. 11. seco.
5 e 9. (POORE 1,431, 441,446,461,466,471.) -Indiana. Consto de 1851, a. I,
secç. 13 e 19. (Poon. I, 513.)-IolOa. Consto de 1846, a. I, Stcç. 7 e 9. consto
de 1857, a. I. seco. 9 elO. (POORE I. 537, 573.)-Kansas. Const.de 1855. a. 1,
secç. 5 e 10; consto de 1857, bill of ríghts, pro e secç. 6 e 8; consto de
1859. pro seco. 5 elO. (POORE I, 581,609, 615, 630, 631.)-ICentucku.
Consto de 1792, a. XII; consto de 1799, a. X, lecç. 6 elO; consto de 1850,
a. XIII, secç. 8 e 12. (POORE I. 654. 665, 666, 685.)-Maine. Consto de
18~O, a. I. secç. 6. (POORE I, 789.)-L01lisiania. Consto de 1812, a. VI,
seco. 18; consto de 1864, tit. VII. art. 105. (POORE 1,707, 749.)-Marllland.
Consto de 1851, a. 1:1; consto de 1864, a 21; consto de 1867, a. 21. (POORE I,
838, 860, 889.-Massachussetts. Consto de 1780. a. XII. (POORE I, 958.)-
Minnesota. Consto de 1857, a. I. secç, 4 e 7. (POORE I. p. 1.029.)-Mi-
chigan. Consto de 1835. a. 1. secç. 7, 9 elO. (POORE I. 983.)-Mississipi.
Consto de 1817. a. I, secç. lO e 28: consto de 1832. a. J. secç. 8. 10 J) 28 ;
.const. de 18ti8, a. I, secç. 3, 7 e 12. (POORE 1, 1.067, 1.068. 1.069,1.081.)
-Misso!lri. Consto de 1820. aó I. lIeco. 8,9 e lIr.; consto de 1865, a. I, pr.;
seco. 17 e 18; consto de 1875, a. li, seco. 22. (POeRE I, 1.114,1.138.1.167.)
-Nebraslut. Consto de 1866-67, a. I. secç. 5 e 7; consto de 1875. a. I,
secç. 6 e 11. (POORE lI, 1.!l04, 1.214, 1.215.-Nevada. Consto de 186'{, a. I,
secç. 3 e 8. (POORE lI, 1.247, 1.248.)-New Ham~shire. Consto de 1792.
a. 15 e 16. (POORE n. 1.295.)-New Jerse1/. Consto de 1876, a. I, ns. 5,7.8.
(POORE lI, 1.314-5. )-New rorl!. Consto dt 1821. a. VII, seeç. 2; consto
de 1846, a. I. secç. 2. (POORE lI. 1.344, 1.351.)-North Carolina. Conit.
de 1776. Decla1"ation of" "/"ights. IX; consto de 1876. a. I. Recç. 13. (POORE
p. 1.0,19, 1.410. 1.420. 1. 437.)-Oltio . Consto de ISi2, a. VIII, seeç. 8 e 10;
consto de 1851. ã. I, S. 5. (POORE. 1.462. 1.463.)-OI·egon. Consto de 1857,
a. I: s. 11 e 17. (POORE, 1.492-'Ll-Pensylvania. Frame of" gorernment,
1683. n. VIII; consto de 1776, Plan of" got'ernm.ent, S. 25; consto de 1790,
a. 9, S. 6 e !l; consto de 1838. a. IX S. 6 e 9; c; de 187:1. s. 6 e 9. (POORE.
1524. 1546. Hi5-1. 1564. 1570.)-Rhode Island. Consto da 1842. a I, S. 10 e 15.
(POORE, 160-1·3.)-South Carolina. Consto de 1700. a. IX, S. 6: C. de 1865,
a. IX. S. 7; C. de 18fi8, a. I. S. 11 e 12. (POORE. lG3:3, 1643, 1G4i3-7)-Ten-
n~ssce. Consto <le 1796, 11. X, li. 6 () O; C. de 1834. a. I, S. 6. e 9: C. de
1870. a. I. s. 6 e 9. (POORE, 1674. 1678, 1695.)-Te.:cas. Conilt. de 1836. de·
c/m·at. of" l·ights. n. 6; C. de 1868.a. I, s. 6 e i; C. de 1876, a. I, S. 10
c 15. (POORE. 1'j6:.!. 1801-2. 1825.)- Vermont. Consto de 1777, capo I, arts. X
e XII; consto de 1/8G. capo I, a. XIV. C. lI, a XXVIII; consto de 1193.
c~p. 1,11. XIV. (POOltE. 1800; 1863.1869,1873 e 1876.)-Yirginia. Bi/l of
rtghls, 1776, s. 8; consto de 1850, bill of" l'ights, VIII; consto de 1870, a. I,
S. 10. (POORE. Hl09, !(l2[) (l 195'L)-lVest Yirgillia. Consto de 1861-113,
art. lI, S. 8; consto de 1872. a. m. !I. 8. lO e 14. (POORE. 1978,1993 e 1996.)
-lViscollsin. Const. de 1848, a. I, S. 5 e 7. (POORE, 2.028.) .
(1) Pali/l)7tlets on tllrJ Constilution, pag. 362.
- 52-
ricaIiOs se viram condemnados á forca por uma commissão mi-
litar, a suprema côrte, em uma sentença unanime, os salvou,
aftirmando a inviolabilidade do direito ao jury, não obstante a
pressão do sentimento geral, que se pronunciava pela morte
dos' condemnados; e, curadas as chagas da campanha fratri-
cida, a oração do advogado, que ousára arrostar a impopula-
ridade da causa supplantada, cresceu, e immortalizou-se na
conscienCÍa nacional «como um monumento, para onde terão
de volver-se os olhos da humanidade, toda vez que os ,seus di-
reitos forem assaltados.» (l) De sorte que essa instituição de-
clinante, cujo destino historico, ria opinião da di~ta~ura rio-
grandense,se vai approximando accelel'adamente do seu termo
inevitf.vel, é a mesma, cuja autoridade vemos donlÍnar sobera-
namente o direito constitucional dos quarenta e oito estados,
que compõem a maior nação do lllUndo, desvanece.odo-se da
universalidade e da solidez desse resquicio da barbaria medie-
va (2) no seio do regimem, cujas virtudes os ensoberbecem. (3)
Se os americanos realistas de 17615, na declaração do
congresso reunido em Nova-York contra a tyrannia tribu-
taria da Grã-Bretanha, reivindicavam o Jary como «um
direito ol'ganico e inauferivel dos subdit08 inglezes nas colo-
nias americanas» (4), osdem(Jcratas americanos do ultimo quartel
do seculo dezenove continuam a ver nessa instituição «o
baluarte da sua liberdade» (5); e a mínima infracção della
melindraria alli gravemente o senso popular. (6).
Bebendo na fonte ingleza e na fonte americana a idéa das'
garantias individuaes, a revolução franceza assimilou a grande
instituição tute11ar da justiça criminal, posto que lamentavel-
mente alterada pelas preoccupd.ções da democracia nascente,
que, rejeitando o principio inglez da capacidade, exclui o a
noção das cathegorias, hoje dominante por toda porte (7), con-

(1) SNYDER :Great Speechf;s, p. 482.


(2) <CDissera, ossia ripeterono, ohe e il giudizio della cc oieca sorte lO,
che e un malaugurato ricorso delle età barbariche», che e «una pianta
esotica», ohe e l'ignoranza fatta sovrana. ohe e un peso insopportabile
ai oittal'!ini. che la corruzione regna su tutta la linea .•. »LUCCHINl:
I sempliscisti, p. 257.
(3) <c... in this country the system of trial by jury is universal. »
LALOR'S Cyclap(J!dia, lI. p. 657. .
(4) « That trial by jury is the inh~rent and invaluabla right of avery
Briti.h subject in these colonies. » Journal af th~ Stamp-Act Cangress.
NILES: Principles and acts af th~ Revalutian in America, p. 163.
(5) " We are bound to the jury trial by all thc holiest traditions of
our past llistory; we esteen it as the very bttlwarlt af aur liberties. »
POMEROY: Municipal Law. introd., § 6.
(6) « Trial by jury is justly dear to the american people. 1t has alwaya
been ali object of deep interest and sollicitude, and every encroachment
upon it. has been watched with great jealousy.lO ParstJns v. Bedford.
(7) PALMA: Corso di diritto castituz.; 3& ed., lI, p. 606-7.
-69-
fundindo o jurado com o eleitor. De constituição em consti·
tuição (1), estabelecido pela de 1791 (c. IV, art. 10, n. 9) e
continuado pela de 1793 (art. 96), pela de 1795 (arts. 222,
237, 240 e 251), pela de 1799 (art. 62), pela. de 1814 (art. 65)
e pela de 1830 (art. 36), organizado, entre outras, nas leis de
1793, 1795,1817, 1820,1827, 1848 e 1872, o .lury fraucez
chegou até aos nossos dias atravéZ de variações e eclipses,
que assignalama sua correspondencia natural com o caracter
político dos tempos, a inclinação destes para a liberdade, ou
o despotismo. O consulado napoleonico retirou-lhe, no anno
X, a competencia quanto aos crimes políticos e delictos de
imprensa, que Ile lhe r~stituio em 1814. A restauração, defi·
nindo o seu pendor reaccionario, subtrahiu-Ihe de novo, em
1822, aquella auctoridade, em que foi reintegrado, ao assomar
das idéas liberaes, com a monarchia ele Julho. (2)
Na Belgica o jury, creado pela constituição franceza
de 3 de Setembro de 1791 ti confirmado pela de 18 fructidor
anno III, foi abolddo, por decreto do principe soberano dos
Paizes Baixos, em 6 de Novembro de 1814. (3) Era um typo
de antigo Cesar, cynico e brutal, esse chefe de estado _ Rei
apparentemente adstricto a uma constituição, costumava res-
ponder aos propugnadores da responsabilidade ministerial
que os seus ministros não valiam mais para 'e11e do qüe 011
~eus estribeiros. Se lhe fallava.m em opinião publica, não
a reconhecia: «Opinião publica! Cada qual tem a sua.»
O uso do direito de petição exasperava· o como attentado ás
prerogativas da sua corôa. c:E' uma cabeça de ferro, de onde
seria. impossivel deslucar uma prevenção», dizia, definindo·o,
o homem que mais longa e intimamente o tratou. (4) Conhe·
cido esse temperamento, ninguem estranharia a linguagem de
GUILHERME á legislatura do seu reino: «Refundi, como qui--
zerdes, o codigo penal, comtallto que não me restaureis a
instituição do J ury.» (5).
Todas as classes da nação, porém, lhe resistiram ener·
gicamente; e a abolição do J ury foi uma das causas principaeH
da revolução, que, em 1830, derribou o thl'ono, y libertou o
paiz. E' o que vig"ol'OSamellte declaral'am, no congresso cons-

(1) LAJI'ERRIÊRE: Gonstitutions, p. XXIII, XXVIII, LXI, LXIII, LXIV, LXXX,


CXVII, CXXIX.
(2) DE NOVELLIS : Il Giuri, p. 157, 159.
(d) GmoN: Le droit publ. de la Belg., p,136.-THONNJ N: La
constitution belge, p. 295.
(4) THeNIssEN: La Bel!]" sous Léo]lold I, v. I, p. 3-4.
(5) HUYTTENS: Discussions du Gongres National de Belgique (Ii30-3I),
v. lI, p. 235.
-54-
tituinte d.e 1831, os oradores de todas as opiniões, lembrando
a insurreição americana, indicando na suppressão daquella
garantia um dos attentados mais odiosos do governo subvertido,
affirmando que sem Jury não poderia haver liberdade reli-
giosa, e sustentando que ~<se devia desesperar do povo, que, sup-
pondo·se maduro para a liberdade, não soubesse adoptaI-o». (1)
Tal era, porém, a anciedade nacional pela reconquista
desse direito que, sem aguardar a lei constitucional, o governo
prQvisorio, instiLUido pelo movimento popular de 24 de Se-
tembro, tinha, dentro em menos de um mez, restabelecido a
instituição proscripta. (2) Org-anisado o governo constitucional
sob a influencia uesses sentimentos, a assembléa belga não
se contentou em renovar a garantia decreta tIa (na consti-
tuição de 1791: alargou·a aos delictos politicos e aos delictos
de imprensa.
Introduzido na Italia com o dominio francez, o Jury não
se manteve alli, senão nas provincias que lograram preservar
a sua autonomia: na Sicília e na Sardenha. De Napoles
baniu-o o governo de l\Iurat. A situação política desse paiz
tolhera-lhe, na primeira metade deste seculo, o goso das
liberdade!!!, que outras nações eUl'opéas desfmctavam. (3) Só
de 1859 para cá se re:5tabeleceu o Jury, e com a sua reim·
plantação definitiva na peninsula, observa LUCCHlNl (4), coin-
cide eloquenten:ellte o movimento nacional,. que dissolveu os
principados, cl'<:on o governo popular, e construiu a Italia .
.. Semeado 1111. Austria pelo sopro liberal de 1848, o jury ca·
!lio pouco depoi:;, ao recrescel' do antigo regimen. O codigo de
1853, que :;e inspirava na legislação franceza, desappal'eceu,
substituído pelo de 1803, que se restabeleceu, e com o qual se
extinguiram os jUl'ados.:Mas a corrente reaccionaria retiuiu, a
monarchia cOllstitucionalizou-3e seriamente, e, ao influxo dessa
tendencia progressista, a instituição liberal lançou· ao solo
raizes dllrave;s com a lei de 2l de Dezembro de 1867, a de 19
de Março de 1869 e o codigo do processo criminal de 23 de
Maio de 1873. (1)
Razão tinha, pOl'tanto, o barão BEYTS em dizer, lia ses·
8ent.a e seis annos, na constituinte uelga: «Todos os povos,
mallltes caue a fortuna de reconquistarem a liberdade, apres-

(1) lb., p. 229, 232, :133.


(2) 'l'HONNISSE;-<: La Bel{/ifjue, v. I, p. 27.
(3) BUSCHE : Etude sur la loi du 8 juin 1874. Bullet. de laSoc. de
Lég. Comparo I877, p. 402.
(4) I Semplicisti, p. 265.
~5\ DARESTE : Les canstitutions madel'nes, I p.-l:Iul~r;t. de .Ia .':iDe. de
Le{Jtsl. ComlJar'., vol. I. pag. 150, valo ll. p. 159, voI. 'I .. p. 61-2.
- 51)-
sam-se em assegurar a posse do julgamento por jurados.» (1)
Uma das cabeças mais politicas da revolução franceza dizia
que o jury valia mais do que toda a constituição da Ingla.terra.
Essa instituição, accrescentava SIÉYES «é a verdadeira garan-
tia da liberdade individual, em todos os paizes do mundo, que
aspirarem a ser livres.» (2) Não se pensava diversamente, da
outra parte da Mancha, onde o espirito mais eminente da po"
litica ingleza nos fins do seculo dezoito chamava ao jury o es-
teio fundamental da liberdade, the butt1'ess 01 lisérty. Mas an-
tes do grande PITT já BLACksTONE, refutando prognosticos
sinistros contra a constituição ingleza, escrevia que as suas li-
berdades nãp se perderiam, como as de Roma, Sparta e Car-
thago, porque a Inglaterra estava defendida pelo jury, que
aquellas nações não conheceram. (3) Quasi meio seculo depois de
lord CHATHAM o bom senso britannico dizia ainda, em terra in,
gleza, que, emquanto não se violasse esse palladio, as fran·
queza.s do governo livre não pereceriam de todo.(4) 4:A liber-
dade, qual a concebemos, não pode existir sem processo pelo
jury~, affirma, ainda mais tarde, um dos interpretes mais altos
das instituições americanas. (5) Aquella raça, a que o mundo
contemporaneo deve as SMS instituições livres, ainda não dei-
xou, pois, de ver na do jury «o grande baluarte das liberda·
des estabelecidas pela Magna Carta.» (6)
Longe de se ter enfraquecido com a experiencia, esse::
sentimento naturalmente. se foi aprofundando entl'e os observa-
dores despreoccupados e intelligentes dos factos politicos
do seculo dezenove. Elles mostram que «o jury é de ori·
gem moderna: nasce com a verdadeira liberdade.» «Sua ap·
parição foi consequencia natural da volta dos povos á vida li-
vre.E' uma instituição, que surge e morre com a liberdade.> (7)
Esta realidade notoria, attestada pelos publicistas e juris-
consultos que mais seriamente se entregaram ao estudo dessa
entidade constitucional (e entre esses apontaremos as summi-
dades de BlENER e BRUNNER), ainda entre 6S adversarios do
jury tem encontmdo confessores. N' um livro d~ acerba critica,

(1) HUYTTENS: Congrês National, lI, pago 234.


(2) 8Il~YES: Qu' est-ce que 7e Tie/'s état ~ P. 100, 101.
(3) BLACKSTONE: Com.mentaries, 349, 350.
(4) « 80 long as this palladium remains sacred and inviolate, the li-
berties of fi free government cannot wholly faU. » 8TORY: Comment. lI,
p. 560, § 1780.
(5) « Libel'ty, as we cGnceive it, can no more exist without the trial
by jury.» LIEBER: On Civil Libel'ty, ed. de 1883, pago 233.
(6) 8TEPHEN'S Ncw Commentarics on the L(~ws of Englancl, voI. IV,
pago 398. .
(7) MANDUCA : Elllroce(limiento penal !J Slt desarrollo cientifico. Tl'ad.
de ANUEL PINTOS. pag. 186.
-68-
eseripto cohtra e11e, ha poucos annas, na !talia, o Ructar não
ponde contestar que, «em todas as lnctas deste seculo o jury
acompanhou, quasi sempre, a victoria dos povos, succumbindo
com elIes.» (1) Ora, o objecto dessas luctas foi sempre a li-
berdade. Não exagerou, pois, o egregio professor de direito
constitucional na universidade de Roma, affirmando que o jury
tem sido companheiro inseparavel da liberdade, e que o dia dI!.
sua abolição seria certamente um dia retrogrado na liberdade
civil (2), nem o grande criminalista franeez, que, examinando
os motivos da estabilidade dessa instituição atravez das vicis-
vitndes legislativas de seu paiz, resume a lição historica, di-
zendo que «verdadeira liberdade, não pôde. haveI-a sem
jury». (3)
Está, portanto, na ordem logica das causas e effeitos que,
sob uma constituição, como a rio-grandense, onde o governo
absorve o poder legislativo, o poder municipal e, até, o poder
constituinte, a política se impaciente contra essa ultima bar-
reira á sua omnipotencia. Ha incompatibilidade essencial en-
tre o mecanismo daquelle regimen e essa fôrma da justiça, que
«é uma das mais conspicuas feições do estado moderno» (4)
entre as nações livres, e em todas as redistribuições' da autori-
dade politica neste seculo tem sido especificada como um dos
direitos do povo.» (5)
Não é, com effeito, o jury unicamente uma instituição ju-
ridica: é uma creação política de suprema importancia no go-
verno constitucional. Quando a Europa quiz adoptar este re-
gimen, não imitou o pariato, nem os juizes de paz, nem os
scheriffs, nem os tribunaes régios: nacionalizou o jUl'y. (6)
Os jurados são uma fôrma da liberdade política. (7) Desde os
seus primordios «a instituição do jury assentava numa idéa re-
presentativa», e foi «associando-se ás instituições representa-
tivas preexistentes» que penetrou na Grã Bretanha. E' o que
nos ensina a maior de todas as autoridades na historia consti-

(1) « In tutte le lotte accadl1te in questo seoolo i1 giuri segui quasi


sompre iltrionCo dei popoU e soggiacque com esso. DE NOVELLIS : Il
Giuri, pago 99.
(2) «E' innegabile ohe il giuri ci si presenta compagno inseparabile
della liberth ... Perci6 il giorno in cui, per qualsiasi motivo, si abolisero
(i guirati) sarebbe senza dubbio un giorlll> di regresso nella libertá civile. »
PALMA; 0071;0, v. lI, p. 619.
(3) « ..• cette grande illstitution du jury ... elle donne l\ la liberté
civil e son plus énergique appui. Il n'y a point de vraie liberté sans le
jury, car elle ne saurait avoir un autre rempart. » FAUST. HÉLIE: Traité
de l'Instruction Criminelle, vol. VII, pag. 117, 118, n. 3142.
(4) WHITBRIDGE: Trial Oy jury. LALOR'S Cycl., v. lI, pago 653.
(5) Ibid..
(6) PALMA, loco cito
(7) Ibidem.
-67-
tucional do Reino Unido (1). O sabio GNEIST, na Allemanha,
como o sabio STUBBS na Inglaterra, referindo-se aos grandes
tractados de BRUNNER, BIENER e FORSYTH sobre o jury, su-
blinha a importancia consideravel, na historia constitucional,
da connexidade entre os elementos teclmicos, de cuja combina-
ção elle resultou, e a organisação política da nacionalidade. (2)
Na America, diz, por sua vez MITTERMAIER, «por toda' a
parte se revela o conhecimento rigoroso da estreita correla-
ção entre as disposições do processo criminal e as instituições
políticas, protectoras da liberdade». D' ahi vem a consagração
constitucional do jury. (3) Instituição política, elIe não pode ser
correctamente aI,reciado, sem que o consideremos tambem
desse ponto de vista. (4) O jury e o processo penal consti-
tuem innegavelmente «ramos do direito publico, e por isso par-
ticipam, nem poderiam deixar de partici par, na orientação deste
e nos seus canones fundamentaes.» (5)
«Base do direito publico e privado:. (6), a propria escola
positiva não lhe sabe neg-ar as relações, que o vinculam a
certos principios cardeaes no moderno organismo, ao papel do
povo no governo, á defensão da liberdade, á cultura' moral da
nação. (7) O comtismo, enthronizado na constituição rio·gran-
dense, não podia deixar, portanto, de ser fatal a 'essa insti-
tuição perservadora. Era necessario averbal-a então de deca-
dente, para -facilitar passag-em às reformas, que deviam
reduzil-a a impotente simulacro. Mas, decadente como, se· até
hoje todas as nações, que têm pretendido a iniciação no
re~imen livre, conferem, nas suas leis organicas, ao jary
Ioga r de honra, e em todas elIas a opinião geral o sustenta
conti'a as velleidades das escolas radicaes ?
Da Grã-Bretanha passou. o jury aos Estados Unidos,

(1) STUBBS: Constitution. History, voI. I, pago 608.


(2) GNEIST: The History of the English Constitution. vereão ABTRWORTR
(Lond., 1886), voI. I, pago 182. .
(3) MITTERMAIER: De le procéd. crimin. en Angleterre, en Écos. et
dans l'Amér. du Nord, p. 46-7. (Trad. CUAUFFARD.) ,
(4) «Le jury est donc avant tout une inBtitution"politique. C'est lL ce
point de vue qu'il faut toujours se plaoer pour le bien juger.,. TOCQUE-
VILLE : Démocrat. en A mér ., lI, p. 179.
(5) LUCCHINI : I semplicisti, p. 280. '
(6) L'existenoe du jury est le fondement du droit public et privá.:. CH
PERINS: Lois de la Société chrêtienne, lI, p. 243.
(7) Gli stessi «Náovi orizzonti »rioonoscono esser innegabile obe il
giuri « rende omagio alia sovranitá. deI popoIo »-nientemeno 1-; che
« nella ginria potrebbesi inoltre ammettel'e la virtualità di preservare la
libertà civile e politica dagli abusi e dagli attentati »-anohe cio parmi
s~a qualche cosa 1-; e ohe inflne« puo eziandio il giuri rafforzare il seu"
tImento della uguaglianza e de!la dlgnità nei cittadini ... e puó agevolare
e spanclere la educazione politica dei popolo. » Se non erro, 06 A'é abbas-
tanza I» LUCCRlNI: I semplicisti, p. 272.
-58-

dos Estados U !lidos e da Grã- Bretanha aos dois continen tes .


A França communicou·o á Belgica, aos paizes germauicos
desde a invasão das provincias rhenanas em 1791, e á Europa
meridional. Quasi em todas as nações cultas o encontt'amós:
na Prussia (1); na Baviera (2) ; no Bavre (3) ; no Wurtemberg
(4) ; em Baden (5); na Saxonia (6); na AIsacia Lorena (7);
nos tribunaes do imperio allemão (8); 'na Suissa, para os tri-
bunaes federaes (9), e para os cantonaes de Genebra (10),
Berna (11), Zurich, Friburgo, Soleure, Argovia, Thurgovia,
Tessino, Vand, Neufchatel (12); na Rumania (13) ; na Servia
(14) : na Noruega (15); Suecia (16); na Dinamarca (17); em
Portugal (t8) ; na Hespanha (19); na Grecia (20) ; até na Rnssia
(21) ; na Jndia (22), no Japão (23) ; na generalidade das ilhas e
colonias inglezas, Jersey, Mauricia, Cabo, Guyana, Australia,
(24); Canadá (25); no estado livre de Orange (26) ; nas ilhas

(1) Desde 1819, pelo decreto real desse anno: (LALCR'S Cyclop. II.
p. 66Ó.-LESSER, p. 159.) Constituições de 5 de Dezembro de 1848 (ih.) e
de 31 de Janeire de 1850, art. 94 (DARESTE: Constit. M'odernes I, p. 175.)
(2) Desde 1848. (LESSER, ib. LALOR'S Cyct., ib.)
(3) Desde 18408. Ib.
(4) Desde 1849. lb.
(5) Desde 1849. Ih.
(6) ARANGIO RUIZ: Delle (juw'entigie ronstitllzionan, p. 401.
(7) LEDERLIN: Organisat. judic. de l'Alsace Loraíne. Bullet. de la
Soc. de Leg. Comp., t. lI, p. 360-61. ,
(8) Cod.pen. do imperio allemãe, p. }a t. VI. (DUBAULE, lI, p. 57 e
seg.)
(9) Consto feder. de 29 de Maio de 1874, art.l06. (HILTY: Les constit.
(lJdérales de la con{édération Suisse. Neuchatel, 1891. P. 472.)
(10) Consto de 24 de Maio de 1847, art. 96. (Récueil eles constitutions
fédérales et contonales. Edit. otlicielle. Bern., 1880. P. 958. •
(11) Consto de 31 de Jul. de 1846, art. 63. (Récueil, p. 209.)
(12) Bull. de la Soc. de Lég. Comp. voI. X. p. 62.
(13) Consto de 30 de Jul. de 1866, art. 105. (DARESTE, lI. p. 282.)
(140) Consto de 20 de Junho de 1869, art. 117. (DARESTE lI. p. 309.)
(15) Desde 1 de Julho 'de 1887. (LESSER,p. 157-8.)
(16) SENTUPERY: L'Eur01Je ]Jolitique, t. UI, p. 1020.-EncyclolJaedia
Bl'itannica, 9th. ed., voI. XXIII, p. 743.
(17) Constituic. de 28 de Jul. de 1866, art. 74. (DARESTE, lI, p. 74.)
(18) Consto dá 29 de Abril de 1896,. art. 119. (DARESTE JI, 39.)
(19) ANGEL PINTOS, n. 9 á p. 246, O]]. cito
(20) Desde 1834.Garantido pela constit. de 28 de Nov. de 1864, art. 94
(DARESTE, lI, 335.-LALOR'S Cyel. lI, p. 660.-Encycl. Britann. voI. XI.
p. 85.)
(21) Ukase de 1864. (Encycl. Britann., XXI. p. 71.) Celebrou-se alli
o primeiro julgamento pelo jury em 8 de Ag. de 1SGG. (LALOR'S Cycl.,
lI, 660.)
(22) ARANGIO RUIZ : Op. cito p. 406.
(23) BOISSONNADE: Proj. de code dc procedo cl'imin. pOUI' l'emlJÍ1'e
du Japon. Toldo, 1882, P. 706 e seg.
(24) AVALLE: Notices sW'les colonies anglaises (Par., 1883), p. 43, 139,
161, 424, 453, 479, 551. .
(25) MUNRO: The constituitiou of Canadá (Cambridgc, 1889), 1). 09.
(26) Constit. de 8 de maio de 1879, art. -lU. (DAREsTE lI, 604.)
~59-

de Hawai (1) ; no Mexico (2); em quasi todas as republicas


sul americanas (3), inclnsive o Paraguay (4), e especialmente
na republica Argentina. (5)
A área geographica do jnry é, portanto, a da civilisação
moderua. Onde quer que ella reponte, ou desponte, vereis, quasi
logo, com o christianismo, a escola popular e o systema repni.
sentativo, a magistratura dos jurados. Só um paiz verdadei-
_ramente livre a não conhece: a Hollanda. Mas para essa
excepção, definida pela sua singularidade, só poderia appellar
~quem acreditasse possivel crear, noutros estados, magistratura
permanente, dotada de prestigio tal, qual o da que existe
nesse paiz." (6) Não será demasia, pois, affirmar, com o mais
recente expositor da historia dessa instituição, que «a neces-
sidade e a efficacia do jury de julgamento, em materia crime,
estão acclamadas hoje pelo consenso universal.:. (7).
Grande fundamento faz contra elle a escola anthropologica
e, á sombra desta, o governador d!) Rio Grande do Sul (8),
nos trabalhos do congresso dos juristas suissos reu1lidos. em
1881. Não tenho presente a obra de FERRI, de onde o legis-
lador rio-grandense extrahiu a citação, exarada naquelle
documento oftlcial, como «conclll.sões apresentadas pelos rela-
tores FAYET e SCHNEIDER.» (9) Mas no livro de ARANGll)
Rmz, hostil ao jury, vêm transcriptas litteralmente as mesmas
proposições, a que se apoia o Sr. JULIO DE OASTILHOS, não
porem, como conclu~ões, mas como «quesitos» (10), o que lhes
altera fundamentalmente o valor. Adversario do jury, não
ha motivo para suppôr que RUlz se privasse de um argumento
util, conyertendo as conclusões do congresso, formuladas pelo
relator, em interrogações dirigidas pelo relator ao congresso.

(1) LESSER : Jury System., p. 158.


(2) Ânn. de lég. étranrl., 1891, p. 981.
(3) LALOR'S. CyclOll .. II p. 660.
(4) Constituiç. art. 11. (AROSEMENA: Estudios constitucionales, I'
p. 264.)
(5) Constitucion nacional de 1866, art. 24. Constituições das provin-
cias de Buenos Ayres, art. 14, Cordoba, art. 134, Entre Rios, arts. 12
e 179, Salto, arts. 14 e 188, San Juan, art. 127. (Oonstituciones de la Re-
publica Argentina, Buenos-Ayres, 1885, p. 4, 44, 73, 90, 114, 188. 236.)
(6) Sul novo lJositivismo nella glustizia penale (Torino. 1860). p. 45.
« Quantos outros paizes poderiam enumerar-se, em condições semelhantes
ás que permittiram. na Hollanda, attribuir aos juizes o poder de gradua-
rem a pena desde a prisão perpetua até ao mini mo de seis dias 1 lO Ib.
(7) LESSER: Jury System., p. 175. .
• (~) JULIO DE CASTILHOS: Emendas ao l)j'ojeclo de organisaçtio jucli-
cwna, p. 47. .
. (9j Dl.
{!O, « Nella reunione dei giuristi svizzeri il relatore FAYET poneva i
sCJincnti (juesiti. » Delle guarentigie, p. 405. Rurz verte do original aUe-
mao: « Yerhandlungen des Schweizerischen Juristenverein. 1881. »
- 6()-
Como quer que seja, porém, entre essas sentenças, a snppol-as
affirmativas, duas ha, que singularmente contradizem e nulli·
ficam as outras: a de que, «apezar dos seus defeitos, o jury
praticamente não tem exercido influencia perigosa sobre a
repressão dos delictos» e a de que, «nas democracias, o jury
é sobretudo uma escola para os cidadãos» (1). Accreice qu~
a. primeira das sentenças alli enunciadas attribue o falsea-
mento do jury, na Suissa, ás m6didas adoptadas por desconfiança
contra elle (2), asserto com o qual nos parece estranha logica
a de quem com aquella auctoridade pretende justificar novas
providencias, inspiradas exclusivamente no mesmo sentimento
de restricção e suspeita. Em boa razão, o que desse documento
se poderia colligir, é que a opinião da assemblêa lamentava as
alterações introduzidas no typo continental des'Ja garantia, e
fazia votos por vel·a realizada na sua pureza e amplitude
originaes, tal como as nações anglo-saxonias a praticam. E,
depois, aos que nos apontarem, na Suissa, pareceres de juris·
consultos desfavol'aveis ao jury, poderiamos contrapôr summida-
des belveticas oe uma altura excepcional, como a de RUTTIMAN,
que, em vez de reduzir o circulo dessa instituição, quereriam
ampliaI-o immensamente, aggregando-lhe á competencia cri-
minal a jurisdicção civil. (3)
Na AUemanha não arrefeceu a opinião, que, em 1947,
no congresso juridico de Lubeck, reclamava a instituição do
jury: ainda o decimo congresso ·dos jurisconsultos aIlemãls,
reunido em Francfort, no anno de 1872, com o concurso de
GNEIST,. «mui energicamente se pronunciou pela mantença do
jury com asua missão propria e independente.»(4) E a nata do
sabor politico allemãb, apurado no 8taats- Wom·t6rbuch de
BLUNTSCHLI (5), suffraga o principio do jury como verdadeira
c: nece,siãaãe relativa»· no regimen constitucional, accrescen-
tando que «ainda os escriptores não particularmente addictos
ao processo pelo jury, confessam que elIe, na Allemanha,
tem provado l'empre bem.» (6) Assim na Italia, onde apezar
de todos os vicios, que o inquinam, estudos conscienciosos,

(1) J. DE CASTILHOS, loco cit .-RUIZ; loco cito


(2) I provvedimenti presi in senso di ditfldenza contra il giuri hanno
falsa to in Svizzcra questa instituzione. RUIZ. ib.-J. DE CASTILHOS, ib.
(3) « Die Au.dehnung der jury auf alle wichtigern Zivil-und Criminal-
Sachenwurde es m6glich machen, im Bunde und in den Kantonen mit
einer kleinen Anzahl von Ri chtern, die dann geh6rig besoldet und in eine
ganz unabhãngige Lage gebracht werdell. kõnnten, auszureichen.»-RuT-
TIMANN : Das nordamericanischc Bunderstaatsrecht verglichen mit den
politischen Einrichtungen der Schweiz. V. I, p. 376.
(4) Bullet. de la Soco de Lég. Comp., 1873, p. 265,266.
(5) IX, 366.-Apud LESSER, p. 198.
p. 367.-LESSE:R, p. 174.
(6) Staats- Woerterbuch, ib"
61 -

estribados em documentos ofticiaes, demonstram que esse


tribunal «não t.em sido inferior á sua tarefa, mantendo-se na.
altura da sua missão» em emergencias muito graves. (1)
Na Inglaterra já vimos em que estima (\ têm as aucto-
dades mais preclaras. Se DE LOLME, no seculo passado,
o celebrava como «uma das partes mais preciosas do direito
inglez» (2); se BLACKSTONE, antes de DE LOLME, via nessa
instituiçãO «o melhor cl'iterio jamais estabelecido para jnves~
tigar a verdade dos factos» (3), não pensam de outro. modo,
no seculo actual, os BROUGHAMS, os COLERIDGES, os ~HEP~ENS.
O primeiro escreveu uma das mais calorosas'.' ,ápqlogi~s
das suas virtudes politicas (4), e proferiu, na camat~dos pa-
res, o maior elogio do seu valor judiciario, que aos olhos do
celebre magistrado toca á perfeição. (5) O segundo, num dis-
curso memol'avel, citado nos livros americanos como egual-
mente verdadeiro para ambos os continentes, attribuia em boa
parte a essa interferencia do elemento popular . na judicatura
o apreço da opinião publica,na Inglaterra, pela sua justiça. (6)
O terceiro afinal o encarece como o methodo mais efticaz deste
mundo para a averiguação da verdade. (7) A tudo isso não
basta oppõr um art.igo anonymo da Revista de Westminster,
que, num paiz tão fertil eJIl revistas, e mais consideradas que
essa, não pode constituir de per si só autoridade infaUivel.
Para os inglezes o jury continúa a ser «a arca santa». (8)
Alli «mal se ousam pronunciar investidas contra o jury.;, (9)
Nada,por emquanto,contradiz os votos de HAI.LAM, quando,na sua
grande obra sobre a edade média, aspirava a que a Ingla-
terra nunca se désviasse « do grande principio de política sa-
xonia: o julgamento dos factos pelo paiz.» Ainda não se lhe
vê no horizonte indicio nenhum de que ella se resolva «a to-
car nos grandes canones de seu processo criminal, mórmente
no jury, que é a sua alma. »(10) A grande obra de GLASSON
attesta que o jury criminal continúa a ter aUi grande popula.
ridade. (11)

(1) PIZZAMIGLIO: Dei Giurati in Italia.-Bullet. de la Soe. de Legisl.


Comp, v. m, p. 350.
(2) DE LOLME: The Gonstitution of England, 1. I, e ii.
(3) Gommentaries, m. COOLEY'S ed., p_ 384.
(4) De la Démoeraeie. Trad. Regis. P. 234-5.
, (5) <I ••• an almost perfect invention for the purposes of judicial in-
qmfy. " Ápud LESSER, p. 223.
<6) LALOR'S Gyclop. lI, 661-2.
(7) STEPHEN: Ner.o Comment. on the laws af Engl., tom. llI, p. 557.
(8) Bullet. de la Soe. de Lég. Gamp., v. I, p. 154.
(9) Ib • p. 107.
(10) Ibidem.
(11) His taire du droit et des institutions de l'Angle te rre. v. VI, p. 769.
-62-
Na poderosa democraçia anglo-saxonia, cuja. ~_randeza
representa a America aos olhos do universo, a opIlllao con·
tinÍla a venerar no jury «a grande instituição historica entre·
tecida, por toda parte, á eSltructura da sociedade e do governo
entre os povos de raça ingleza.» (I) Pode·se assegurar que não
existe aUi penllor alg-um paI' modificar os textos constitucio-
naes, que asseguram a dlll'abilidade dessa garantia. (2) A idéa
de abolil-a exprime, quandct muito, Ilaquelle paiz, ~uma vel-
leidade puramente academica», sem o minimo principio de vida.
no sentimento popular, (3)
'fhermometro especifico da grande vitalidade das insti-
tuições judiciaes, a opinião dos magistrados americanos
apoia essa conclusão em testemunhos de supremo vlllor.
Aqui é o juiz BARRETT enaltecendo, em allocução a um
conselho de jurados, a 8llgacida:ie desse tribunal:· «Elle
chega ao fundo e amago dos factos muito melhor do q na
nós outros juizes.l> (4) Alli é o juiz BROWN attestando que
o culto das tradiçõfls nacionaes pOI' essa fÓl'ma de processo
nã.o tolera ainda sequer a critica dos seul( tlefeitos. (5) O ex-
juiz DU,LON, no seu livro recentissiu;o áceJ'ca do direito
anglo-americano. eucarecendo essa ill,t.itui<;ão como parte
eS6encial e vital do systema jndicioll io uos Estados U 11 Í1los ,
afihma que, tendo presidido a milh:1J'fR de jllJ'y:i, ranlS vezes
se lhe offerecell motivo de desgcn;io pelos veredictos. (6) O
juiz 'l\!NEY, uma das celebl'idades hil'Otoril:alS lh magistrat,llra
americana, deixou cODsignana nas suas :-:elltellí;ajj a cOllvicçfLO
de que as liberdades populares estftc) illtilll:1l1H:mte ligadas á

(I) "\VHITBli.IDGE : LALOR'S, Gvelo]). lI. 661.


(2) CHAMBRUN: Droits et libe~·t{s au;;a États Cnis (1S\)1). pago 442.
Em seu apoio menciona o auctor uma recente decisão. pl'ofel'ida, «com
extrema energia» pela suprema côrte federal no pleito lJurtauo Y. the
llcoplc of Galif"ornia. rIb. pago 444.)
(3) «The question of abolishing the jury cun lrarc1y he callen a living
ol:l.e, and its discussion at the present dai is ]Jurel?! acadelllical.» LESSER:
The .iury system, pago ~20. O livro de LESSEJt data apenas de dois annos.
(4) "Tltey get at the heart, and bottom of things far better than we
j udges do. » The Peopl e V. Cleary. (,4.pud LESSER, p. 179.)
(5) « Trial by jury is still to the a'Ve.age legisllltor the embodime!'.t
·of the wisdom of aH the ages. and is so tirruly entrenched iu the tradi-
tions of the people that another generation at leu8t ma,. pass heforll its
defe~ts will even be accorded a respectful cO:lsidel'ation.» 20 .-im. L.
Revzew. 340. (Ap. LESSER, pllg. 223.) .
Ui) «I consicler the trial by jury an essential part of OUI· jud;:cial
system ... It is a vital part of it. Its RIJortcomings are not inherent. Ir
judges will do their fuH duty, juries will do theil"s. I have tl"Íed literally
thouaancls of cases with juries. and the instances are few where. I luuJ
reason to be dissatisfied with their vercIicts.» DILLON: The {ates and Ju-
l'isprutlencc orEn{jlanil and America (Boston, 18~)v) paI;. 122.
- 63-

existencia. do jury. (1) O juiz MILLER, não menos notavel


pelos seus commentarios da constituição que pelas suas sen-
tenças, professando, antes de entrar na magistratura, idéas
contrarias ao jury nas causas cíveis, mais tarde, esclarecido
pela pratica dos tribunaes, veiu a se retractar, confessando a
excellencia dessa combinação no exame das questões de
facto. (2) O juiz COÓLEY, emfim, certifica que a reverencia
americana por essa instituição, encarada como «parti neces-
saria das liberdades do povo», mal sojfreria que se lhe questione
o valor. (3)
Se os inglezes acatanl no poder confiado aos jurados «o
melhor instrumento da justiça», phrase de Iord CAMBIlN
no parlamento (4) os americanos, pela bocca dos seus
juristas mais emin~ntei', o recommendam como «o melhor
abrigo da. innocencia e o mais seguro meio de punir o
crime.» (5) O que RUDHART sustentava, na Allemanha,
em 1831, escrevendo que o jllry «é um factor essencial á
constituição das monarchias limitadas e á pureza dlt admi·
nistração da justiça >-, (6), pensam ainda hoje, na democracia
americana, os espiritol! mais provectos na sciencia das leis
Q na experiencia do fôl'ü, venerando nessa garantia uma
condição de perpetuidade para as instituições republicanas. (7)
Das criticas a elle oppostas não se deve inferir qUi a.
sua existencia se ache ameçada. (8) 'rodas as instituições
modernas estão expostas ao embate violento da contradicção
humana, que julga. affoitamente a terra e os céos. Mas os
povos livres sentem nessa profunua creação da, historia um
desses orgãos essenciaes do direito, que se malsinam, mas não

(1) « He has left on recorrl his deliberate opinion that our liberti8iJ are
closely bound up witlt the prcservation in fuU vigor anti usefulness of
the great principles10f the common law ànd triaI bJ jury.» DILLON, op.
cito p. 167.
(f) MILLER: The sustem of tdal li!! juru,» A.jJI~I·. Law R~t·ien',
vol, XXI pago 861. 3m,
(3) « The privilege (of trial by jury) in criminal cases has been looked
upon as a 'necessary part of the liberties oí' the people, and a sentiment
aUaches to it which ",iH scarcely suft'er its value to be que:;;tioried.»
COOLi:T: Gen~r. Princ, of Consto La/I', p, 238.
(4) JAilIES PATERSON: The liberty or the press (Lond., 1880) p. 81.
(5) « Like cvery thing human it hns its imperrections, I only say. that
it is the best protection for innocence and the surest mode of punishin~
guilt that has yet becn oi3covercd,» .TEREMIAH BLACK (SNYDER'S Gr~litt
Specches, p. 4~O.)
(6) Citado no Stltals· "VVoertcl'lJ/lcl: de BLUNTSCHLI, v· SCll'uhrgericht
(IX, p. 344).
(7) « It is a historical ano e"sential part of the free institutions of
England. It equally belongs to Ollr own free institlltions, It springs out
of them. and trmds to ]JP1jJctuate them,» DILLON : La/cs anel Jurisp. of
England (()/(Z Alil" p. 123. .
(8) CHAMBRm! : Dr. et lib, aux Et. Unis, p. 449.
-64-

se pode.rão substituir. Não é facil desarreigar da consciencia


humana esta idéa superior na sua simplicidade, em que o jury
assenta a as suas bases, de que a humanidade não permitte
applicar. um~ pena grave, «emquanto a culpa não fôr mani-
festa aos olhós do senso commum.» (t) A observação todo
dia está mostrando qt'!e, «se ha cidadãos incapazes no jury,
tambem nos tribunaes se encontram juizes incompetentes» (2),
e que, se as sentenças da toga. não se profel'Íssem, pela
natureza da sua jurisdicção, n'uma. atmospbera menos sonora
que a dos jurados, não seria difficil dar com as mesmas
aberrações nos dois systemas. (3) Os que se irritam com
certos males da grande instituição liberal, não cogitam nas
consequencias, muito mais graves, da extincção deUa. (4)
«Não é nos tempos tranquillos, mas nos dias procellos')s, nas
.pochas de oppressão», que se lhe podem aquillttar justamente
as vantagens. (5) Defeza popular, com que, nas democraciu,
se ampara a innocencia contra os excessos do povo (6), quando
a oppressão vem do poder executivo o valor tutellar do jury,
excede então incomparavelmente o da magistratura. (7) ~
ainda aquelles, que divisam nos longes do porvir, como
resultado natural do progressso, a eliminação dessa forma
protectora, se não tiverem o espirito obscurecido por obsessõell
de systema, hão de reconhecer, como o professor SIDGWICK (8),
que no estado actual das sociedades, ao menos para os
casOs de attentados graves, é indispensavel o concurso dos
jurados. «Não ha, para elles, succedaneo acceitavel aos juristas,
ou toleraval pelo povo.> (9)
. A zona occupada pelo jUl'y atravéz do mundo contempo·
raneo traça quasi exactamente o meridiano juridico da civi-

(1) BLUNTI!CHLI: Droit Publ. Génér •• p. 223.


(2) c ••• ignorant persons are sometimes found in a jury and inoom-
petent judges on the bench.lO WOQLSEY: Political Science, v. II, p. 339.
:3) c I verdetti de la giuria hanno iI torto di essere troppo in evidenza,
per la natura delle oause in oui essa pronuncia; che se deI pari lo sieno
talora le ilenten~e dei gi1ldici togati, non e difficile l'imbattersi in aber-
razioni simili a quelle che si dovettero deplorare in alcuni recenti ela-
moroai processi. lO LUClfTNI : I sernplicisti, p. 257.
(') " Nor are those, who feel irritated at ~8me resultJ of the trial bJ
jury acquainted with the operations of trials without jury.lO LIEBER:
Civil Liberiy, p . .233.
(5) PALMA: Corso, lI, 617.
(6) LIEBER: op cit. p. 236: " It stands, in republics, as a committee
of the people between the accused and the people them~elves."
(7) PALMA, loe. cit.-A. BauNIALTl: Rassegna di scienze soeiali e
politiche a n. 1886, v. n, p. 189.
(8) The Elements of Polítics (1891), p. 474.
(9) «In criminal cases there is no substitute for the jury that would
be acceptable to the profession or endured by the peopl0." DILLON: op.
eit., p. 124.
- 65-
lisação, e, pela nitiJez com que a sua realidade se accentua
de paiz a paiz, se poderia determinar a situação da liberdade
individual no seio de cada povo. Não é uma inlitituição
retrocessiva, descahindo para o occaso, como se . cuida no
mundo official rio-grandense, mas um instrumento universal
da dignidade humana, em plena actividade entre as. nações
livres. Se as raizes da sua idéa mergulham, sete seculos
atrãs, no profundo sub-solo das origens inglezas, á sua sombra
!Ia abriga hoje uma centena de constituições, uma infinidade
de leis, toda a familia das raças creadas no regimen moderno.
Na sua physiologia «ba razões de ser, que sobrevivem ás que
o produziram» (1), cominuando-Ibea vida, como um principio
de actualidade sempre renovada, por entre as maiores diffe-
renças sociaes Ile tempo, meio, organisação e cultura. Nem a
praxe, nem a philosopbia da jnrisprudencia ainda lhe desco-
briram equivalente. (2) Desanimadolil ante a pujança da sua
seiva, quasi tão robusta em nossos dias como a do governo
popular, os seus inimigos dissimulam sob a apparencia atte-
nuante de reforlllJls os artificios imaginados para lhe operar a
suppressão. A seu respeito BLACKSTONE escreveria como SE-
NECA (3), e BROUGHAM, COLERlDGE, TANEY, MILLER, COOLEY
como BLACKSTONE. Os seculôs variaram; mas a lição dos
seculos aprofundou n!) homem os instinctos de defeza contra
o poder organizado, os quaes têm no jury a sua expressão
mais completa. Quando Alfredo o grande, glorificado pelos
saxonios como o mais s!1bio dos soberanos, fazia subir ao
patibulo, com observancia· stricta das fórmas legaes, quarenta
e quatro juizes, por haverem recusado a bomens livres as
garantias tutellares do jury, não era para o seu reino, nem para
() seu tempo, que o seu sceptro abria na historia da magistra-
tura esse sulco de terrivel severidade: era para uma cadeia
. de gerações innumeraveis, cujo termo ainda não se divisa.
Nos livros de educação elementar ensinam os americanos aos
alumnos das suas escolas, como reminiscencia inolvidavel, que'
o primeiro acto da primeira colonia estabelecida pelos expa-
triados inglezes em terras' deste continente foi a decretação
do Jury. (4) As revoluções l'.onstitucionaes do seculo deze-

(1) CHAMBRUN: Op. cit., p. 446.


(2) Ibid.
(3) « Questões ha, em que o jurado, não sendo jurisconsulto. p6de
opinar optimamente. quando se trata de apreoiar a realidade de um faoto.'"
SENECA : De beneficiis. I. IH, c. 7.
(4) « The f1rst legislative act on record is the establishment of trial
by jury.» GEORGE H. l\fARTIN: A text-book of civil government in the
United States, p. ·76.
DIR. VOL. 73 5
-66-
nove, na sua qnasi totalidade, tem procedido, até hoje, do
mesmo modo, seIlando 'sempre com o principio do jury a
~)edra angular da liberdade, que edificam. Se lIa, portanto, um
dado positivo na situação moral da nossa idade, é a certeza
de que a consciencia liberal dos povos modernos não toleraria
a suppressão do jUl'y. (1) Corôas, aristocracias, igrejas, tradi-
ções immemoriaes, fórmas venerandas têm cahido, ao tumul-
tuar das revoluções; mas a justiça dos jurados passa illesa
atravéz das catastrophes politicas, como se urna dessas neres-
sidades inconscientes e il'resistiveis da nossa natureza, agulha
fiel no delirio das tempestades, não cessase de lembrar ás
.nações que, «perdido esse direito, com elle se perderiam toàus
os outros». (2)
O legislador, que, cego a est~ immensa verdade, enxerga
no jury cuma instituição, cujo destino historico se approxima
cada vez mais do seu termo fina!», bebendo inspirações uni-
camente na escola cE'lebre pela guerra a essas garantias do
processo, onde os povos modernos se habituaram a ver os
sustentaculos da liberdade, é natural que llftO seja o melhor
interprete do espirito desta instituição, o mais avisado medico
para os seus males, o reformado,r mais leal dos seus defeitos.
Esse legislador~ porém, estauelece o seu ponto de mira
em direcção opposta ao da nossa constitni(;ão. Se os auctores
della vissem no jury uma instituição prestes a transmo!ltar-se,
não teriam coroado com eUa a tleclaração de direitos, talJoa
t:J.e inviolabilidades, a cujos interesses -é destinada a Eel'vir a
estrnctura constitucional, em todo o mecanismo (1as suas com-
binações. Tel-a-iam ignorado, como a ignorou a eonstituiçíLO
imperial, entregando·lhe os destinos á anctori<1ade dos parb.-
mentos. Se, porém, tornando e~sa instituiçào ás leis ol'din"rias,
a enthesoiraram no lIacrario do direito constitucional, é que a
julgavam mais radicada nos sentimentos do paiz, é que Imp-
punham a sua idéa mais adiantada com o adiantamento da
nossa cultura, é que a consideravam como elemento fnnda-
mental de renovação, prosperidade e .iustiça, é que a tinham
por condição valiosa de força, durabilidade e prestigio entre
as bases do novo regimen.
Dessa opposição flagrante entre as duas maneiras de
ver na constituinte brasileira e na organização rio-grandense
natural é que emanassem effeitos Opp0stoS. Honrado pela
primeira como um poder bemfazejo, com ti veneração devidr.

(I) BRUSA: Sul nuovo positivismo nella giusti:.iapenale, p. 45.


(2) The right of trial by jury being gone, all otlJcr rights are gone
with it.» JEREMIAH S. BLACK. (~NYDER'o Ureat SjJeeches), p. 50'1.
- 67-
ás cousas perpetuas, o jury viu-se tratar pela segunda, como
um paciente valetudinario, com as liberdades da grande
cirurgia.
E' o que vamos demonstrar.

A lei 1'io 'g1'anàense


Alei rio·gl'andense n. 10, de 16 de Dezembro de 1895,
projectada, discutida, votada e promulgada. pelo governador,
em exercício das fllncções legislati vas e (~xeeuti vaso q ne nelle
concentra a constituição daquelle Est.ado, começa em materia
de jury, por fixar em cinco o Ilumero dos seus membros. «o
tribunal do j ury compor-se· hô.l», diz ° art. 54, «de cinco
juizes de facto.»
O auctor da reforma não quiz conservar o numero doze,
porque, ainda na Inglaterra, onde aliás esse numero "tem li.
sua explicação em um facto histo:'ico», a maulItenção de1le
até hoje só se comprehende, tal vez por um Sll persticioso res-
peito á tradição, tão prop!'Ío do genio ill~lez.» Eutl'e IlÚ~,
porém, «a fixação do numeru de jurados foi uruitmriil, ou ad,)-
pt.a<la do jury fwncez, por mal ent.endido e!'Jlirilo dt~ uui-
tação.» (1)
Ha, realmente, um traço de fHlper:'t.i(;ilo n:1. e~colll1t primi-
tiva dt'sse llUlllero elltre os bl elües. Elle expl'imili. ol'igillal'ill-
mente, ellt.I·~ os \I0V(,g do nort.e, \1ma e:;pfleie de mystel'i(,) 1'.,.
ligibso: «Nilril saneU/l.~, niltil fllltÍljuins fali; llerinde (/e .~i in
ipso hoc numero ,~eel'cta q'/Lotlam es.~et 1'el'igio.» (2) l\Ias eS8e
reflexo lJistorico do sobl'é:nat.ur~tl, que <loira () uel'ço (Ie tant.:lS
illstitui(;ões, ue tantos COSlU:Ilt'~" ni"to os (le~al1tfjl iza \la etitilllll
du phil;)so}Jho, OH do estadbta, IjllillJ,lo a t.1'.ltli\üll. IICOllsenso,
a. praxe invetel'a(b, a prova da. eX;Jerienda ~t'ellhl' sellou
a pop,~ia das origp,ns (',Olll ... CIlIlIt" d~ 111ll6\. IOIlg'iL III,ilidathl.
Os lluotZeeim. 'lf'galis de vicillrtO, fixados, el\l 116:1:, lIéL'
constituiçüo de Clareut!oll, os XII lt'.fI(di.o/'e,~ homincSl de Imlt-
dl'f(IO, estipulados, de:;: anllo:,; llIais 1artlt1, lIil I/.\.~ixe de Ola·
rend(Hl, os duodedrn liberos lt,qales llOlniltf1.9, taxados, em 1176,
nos estütntos ele NOl'thamptoll (3), l'epI'OdllZp.lIl·~e hoje qnasi em
toda a pal'te 1I0S doze junulo::;, cujo C{JUl:IlI'::;O actllalmellte
compõe o jnl'y nlt generalidiule dos paizes, qlle o admittem.

(1) JULIO DE CASTII.HOS: lei n. 10. de 16 de De;. de 1895. p. 49-50.


(2) BLACKSTONE : Comm., vaI. m.pago 3Gü.-Sn:PHEN: New Com-
mentaries(ed. de 1890), vol. III, pag, ;);)tlll,
(3) Li:SEHH, 11. 137 -41.
-68 .....

Esse numero não é britannico, não é francez: é belga, é


allemão, é austriaco, é suisso, é italiano, é hespanhol, é por-
tuguez, é americano, é universal. E era brazileiro desde 1822,
tinha setenta e tre8 allHOS de existenci:'l. llJ Brazil, e, se, con-
siderado em relação á sua primeira escolha, poderia qualificar-
se de arbit~'ario, hoje, após tres quartos de seculo de duração
continuada, era já uma tradição. Ora, arbitrarios são os que se
abalançam a demolir antigas tradições, não podendo contra
ellas allegar mais que o arbitrio da sua remota proce-
dencia.
Adoptando o jury, as nações contemporaneas admittiram
o numero doze, não por arremedilho futil, ou servil, da ima-
gem saxonia, mas porque esse nnmero, nem muito amplo,
nem muito estreito, comportando certa média de variação nas
capacidades, nas attitudes, nas opiniões, nos interesses, asse-
gurava razoavelmente as vantagens de urna deliberação colle-
ctiva no julgamento, e difficultava as pressões da corrupção,
ou da força. Qualquer alteração delle, auctoJ'isado, como está,
pelo assento geral e pelo nosso proprio uso, diffieilmtlnte po-
deria abonar-se com razões desinteressadas e positivas.
O legislador rio·grandense, porém, suppoz justificar are·
ducção, que decretou, ao numero de cinco, simplesmente com
dizer:
«Uma das bases da reforma é a reducção ao minirno pos-
Bível do pessoal, que deve -compor o tribunal, como meio (le
tornar mais pm1eita a Mlecção.»
Mas abaixar ao minimo possivel o pessoal de um corpo
colIectivo como meio de lhe assegurar escolha mais pura, vem
a ser novidade, que mal se entende. Não é o numero, grande,
ou pequeno, evidentemente, o que I determina a inferioridade,
ou excellencia da selecção. Do seu processo, ou das con-
dições de capacidade, a que elle sujeitasse os elegendos, sim,
dependeria, em grande parte, o valor do resultado. Mas, não
se alterando as regras de aptidão, nem o processo selectivo,
diminuir o pessoal {', incontestavelmente, diminuir os ele-
mentos de probabilidade favoraveis á competencia do tl'ibunal.
Se a escolha se opera pelo mesmo systema, em um corpo de
doze membros haverá duas vezes e meia mais probabilidades
de boa composição que n'outro de cinco.' -
Diminuindo, pois, de doze a CÜICO o numero dos jurados,
o unico r!:'~ult!'.do certo é estreitar·lhe nessa proporção a eg-
phera, tO! !laTIdo o. jury, na l1ir~rua razão, mais accessivel ás
influellcüu: iWIJuras, ou Úl'preHivêls, em que a lJfJlitica se fia,
para o avassallar.
Ao legislador rio-gl'andense não bastou, sequer, o modelo
- 69

mexicano, que os fixa em nove. (1) PORFIRIO DIAS é liberal


demais. Havia dous padrões mais perfeitos: o elo Jury co-
lonial na India que é de cinco (2), e o da p01'ota, o jury servio,
de quatro. (3)
Approuve-Ihe o typo do colonato indiano, apezar da pro·
veniencia ingleza. Não se sabe porque não chegou até á porota.
Mas, como <uma das bases da reforma é a reducção do pessoal
ao minimo p08sivel» (4), a linha da perfeição jaz, ainda abaixo
da porota, em o numero trez. Esse é que seria o mínimo pos-
3ivel; pois não se ha mister de mais, para constituir o corpo
collectivo, e permittir a deliberação por maioria de votos.
Ella então ficaria em dois. Mas, afiaal, como seja de trez
pela reforma em vigor, a sorte dos accusados não sofi'rerá,
com a differença, prejuizo sensivelmente maior.
Actualmente, no Riu Grande do Sul, para condemllar um
homem pelo jury, bastarão t1'e8 jurados, quando a supe1'stiçlío
do systema inglez, enraizado no Brazil, nos protegia. com o
o requisito de sete.
Sete era a maioria, que a Constituição Republicana. en·
controu na lei brazileira do jury. Quem, sem o mais· cruel
desprezo do senso commum, poderá su:;:tentar que o jury, onde
tres votos bastam, para sacrificar a liberdade e a honra· de
um homem, seja a mesma instituiç.ão, onde menos de sete suf-
fragios não poderiam sent'~ncear?
Não nos demoramos, entretanto, nesta particularidade,
senão porque ella seria sufficiente, para caracterisar as in-
tenções da lei rio-gralldense.
Os pontos, em que lhe resistio o juiz da comarca do
Rio Grande, não estão nessa clausula, mas no art. 65, § 1°,
e no art. 66.
O primeiro estatue:
«As sentenças do jury serão proferidas pelo voto a iles-
oobe1'to da maioria.»
O segundo prescre7e:
c: Os jurados não podeln 861' 1'eClt8ado8 i á medida, porém,
que forem sorteados, poderão as partes oppôl'-lhes suspeição
motivada, que será decidida pelo presidente do tribunal.»
E' com estas duas incollstitucionalidades que especial-
mente nos devemos occupar.

(1) Annuaire de Lég. étl'" ano 1891, p. 891.


(2) RUIZ, op. cit '. v, I, pag. 405,
(3) Annuaire, 1891, pag. 8tii.
(4) JULIO DE C..lSTILHOS, pa,. 14~.
- 70 >-

o art. 72, § 31, da Constituição


« E' nW11tiáa a instituição do jury, declara alli o pacto
de 1891.
A attenção do interprete deve fixar·se na expressão
mantm', aqui excepcionalme::Jte empregada pelos auctores da
Constituição.
Manter é conservar o que está, em condi~ões que lhe não
alterem a identidade. O legislador, nesta parte, não se li·
mita a assegurar a instituição do jury, á semelhança do que
faz em rdação a outras garantias libel'aes : manda respeital·a
na situação em que a encontrou. Isto é, não contente de lhe
affiançar a existencia, c((raclcl'izlJ,-o, prorogando a duração da
entidade preexistente.
Essa clausula tem, portRnto, o duplo valor de uma ga·
rantia e uma definição. Resolve continuar as fórmas tutellares
do jury, taes quaes as fixára o uso nacional, apoiado no das
outras nações.
A palavra adoptada nesse texto significa o apreço extra-
ordinario, que, entre todas as fórmali protectoras da liberdade,
merecia aos constituintes esse tr.ibunal. Ella não fossiliza o
jury, cerrando·o hermeticamente a alterações accessorias,
que possam melhoraI-o, fortalecendo.lhe, e aprimorando·lhe as
virtudes: melhoral·o na direcção das suas qualidades essen-
ciaes é, sem duvida, conserval·o, Mas obsta de modo infle·
xivel a innovac;ões, que, sob o nome de reforma, o moditi-
quem organicamente, demudando·lhe as feições caracteristi·
cas, e interessando· lhe os elementos substallciaes.
Ha, em verdade, lia qnestão do jury, duas classes de
reformadores clistinctas: a dos !.leus adeptos, que, crentes na
efficacia da. intititniçií.o, se empenham em aperfeiçoal·a, e a
dos seus antagonistas, que, mediante providencias inspirarIas
110 pensamento opposto, buscam cereear e desnatural' progres-
soi \'amente essa tradição, até que a eliminem. Os segundos
USi~m tambem o nome de reformadores, quando -o que real·
mente lhes cabe, seria o de abolicionistas: porque a telldencia
dos seus alvitres é, se nem sempre confessada, ao menos
sempre manifesta, a aboliç<1o do jw'V, (I)
Na Inglaterra, nos Estarlos Unidos, na Allemanha, os
principaes defeitos di~clltidos no ~ystema do jl1l'y i'e referem
á~ coü(lições de capacida(le dos jurados, á faci"lídade das es·
cusas, as relações entre o presidente do tribunal e os jnizes

(1) "The radical rerncdies, whiclt have heell proposed look toward
the complete abolition of the jury» LALOR'S C!JcI •• lI. !l. 660.
-71-

de facto, á' exigencia da unanimidade para a condemnação. (1)


Ninguem dirá que, abolindo a condição irracional da unani-
midade nos veredictos, modificando o papel do juiz na direcção
dos debates, circumscrevendo o circulo das isençóel'1, ou esta-
uelecendo condições de idoneidade mais severas para a es-
colha dos jurados, se abastarda a instituição na sua substancia,
ou nas funcçóes organicas, que lhe distinguem a individua·
lidade .
Estn dando-a, um dos oraculos da escola positiva enumera
como caracteristicos, que differençam o jury inglez do ita-
liano «a segregação completa dos jurados desde o principio do
julgamento até !lO veredicto» e ~a unanimidade das suas deli·
berações.» (2) Graças a essas qualidades, accrescenta o «jury
iuglez se regula de um modo incomparavelmente superior ao
nosso.» (3) Ora, dessas duas peculiaridades do regimen inglez,
a primeira se introduzio entre nós com o systema do jtuy; a
ontra, a condição da unanimidade, ha muito que se acha
st.ygmatizada, na Inglaterra e nos Estados Unidos, como «o
grande defeito intrínseco da instituição» (4), «uma reliquia
anacltronica de barbaria» (5), uma antigualha « repugnante
á experiencia das acçôes e paixões humanas» (6). Mas não é
por etfeito da mesma inversão visual, cuja fallacia lhe figurou
uma admiravel superioridade saxonia na absurda excentrici-
dade, tão lllultractada pela opinião dos competentes nos paizes
inglezes, que o egregio criminalista prég'a «a restricção do di-
reito de recusa.» (7) Elle discerne claramente, e francamente
confessa, que eí'sft reforma «seria o primeiro passo para a
aboliçiJ.o cornpleta do jury nos delictos cúmrnllllS.» (8)
Ora, como, em presença de uma constituição que de-
termilla mantel' G jlll'y, se poclerá considerar constitucional
uma reforma qualificada pelos seus inspiradores como «I) pri-
meiro passo para a aboliçãu deUe»?

(1) LESSER. p. 180, 183, 184, 1S7.-DILLON. p. 125, 129.-WoOLSEY:


Political Science, lI, p. 340.- WHITBRIDGE: L,\LOR'S Cycl •• lI, p. 661.
(2) GAROFALO : G'riminologia, p. 355.
(3) 1/J., p, 356. ,
(4) LESSER: Jury Syste112, p. lS7, lS9, 190,
(5) HALLAM : Middi Ages, II, supplemnot.-LIEBEII : Civil Liberty; pa-
gina 237.
(6) CllRISTIAN'sBALCKSTONE, p. 375. n. Ap. LESSER, p. 18S.-LALOR'S,
Am UW'/Ol' .• Il, p. 6GI.-CoOLEY: Principies, p. 238.
(7) GAIWFALO : Ci'i,J/),n%gia, p. 37~.
(8) «Tutti gli nomini serii farebbero plauso a tali riforme, le quali
per,) sarebero da considerarsi como it primo passo verso l'abolizione
COT.lpleta deI giuri pei l'eati comIDuni." GAROFAI,O, iú., p. 273.
Note-se que ó aproprio anctor quem sublinha as palavras o lJrinwil'o
l' lSSO.
-72-
Certamente não foi nas doutrinas da «nora escola penal» ,
bebedouro da reforma rio·grandense, que se moldou a nossa
constituição republicana. O espirito liberal, que nesta palpita,
está no mais accentuado antagonismo com as inspirações da-
quella. Para nos harmonizarmos com a sciencia da crimino-
logia, cujas opiniões se symbolizam nos celebres nomes de
LOMBROSO, GAROFALO e FERRI, patronos da lei rio·grandense,
teriamos de subverter ab imis fundarnentis as garantias mais
respeitaveis do processo penal entre nós, os dados elementares
da sua dogmatica, favorecendo a ampliação do carcere prt>,-
ventivo, diminuindo os casos de liberdade provisoria, abolindo
a publicidadade na formação da: culpa, cerceando as conse-
quencias naturaes á presumpção constitucional de innocencia,
mutilando o direito de graça, amesquinhando a amnistia, e
restaurando a pena de morte. (1).
Rumo opposto ao da constituição, portanto, seguem os
que se approximam das conclusões dessa escola em materia
penal. Se o pacto da União dissesse simplesmente que ga-
rantia o jury, por ahi teria deixado, talvez, aberta a que se
lhe fossem buscar variantes na theoria abstracta da insti-
tuição. Mas, declarando que o mantinha, evidentemente se
reporta. a um estado anterior, para o consolidar com o re-
forço constitucional.
, Procedeu a Constituição brazileira á semelhança das
dos varios estados na republieR americana. Quasi todas em
relação ao jury, preestabelecido no organismo judicial das
colonias, usam de formulas equipollentei'5 ú. nossa. Diz uma
dellas que «a antiga fórm:.t do processo pelo jury se conside-
rará sagrada, e in.violavel, ficará o direito correspondente.» (2)
Outra declara que ~ ficará para sempre inviolavelmente
preservado o julgamento pelo jury; qual em uso até aqui.'> (3)
Estas asseguram que esse direito «permanecerá. illeso em. todos
os casos, nos quaes se usa até agol'a.~ (4) Aquellas deter-
minam que 4:!:ubsistirá inalterado parasempre.:I) (5) N'umalij se

(1) LUCCHINI: I semplicisti, p. 273,280, 282, 283.-BRUZA: Nuovo po-


sitivismo, p. 14,20, 26, ~8. 36 e 37. MANDUCA :-El procedimiento penal,
p. %15. .
(2) Constituições de Kentucky de 1799 e 1850: «The ancient mode of
trial b:r jury shall b.e held sacred, and the right thereof remain invio-
late.» POORE : Federal and State Oonstitutions, iJ. 667, 684.
(3) Constituição da Carolina do Sul: «The right of trial by jury, as
heretofore used in their state shall be forever inviolably preserved.»
POORE, p. 1633, 1643.
(4) Kew York, consto de 1831 : «Thc ris-t of trial by jury in all cases
in which it has been heretofore used shall oe inviolate.» .
(5) Constituições da Florida, Nevada e California: «The right of trial
by jury shall for ever remain inviolate .»POORE, 333, 1.247, 195.
- 73-
juxtapõem as phrases: «qual em pratica" ou «qual em uso até
aqui» e «manter·se-ha inviolado.» (1) Em outras apenas se falla
na conservação do jury «como em uso até agora.» (2) Na
maior parte, porém, a formula se reduz ás palavras «existirá»,
ou «manter-se-ha inviolado.» (3) Em outras apenas se pro-
hibem innovações, que o alterem quanto á sua competencia, á
composição do tribunal' e ás normas deliberativas, que o regem.
Assim, se em varios estados não se abrangem na alçada do
jury certas infracções menos graves, como o furto, a vadiice,
a embriaguez, se as leis ordinarias, que regem essas exce-
pções á garantia geral do jury, se reputam constit'ucionaes, é
porque essas leis se limitam a prorogal' uma praxe anterior
ás constituições, de modo que estas, sanccionando a situação,
que encontraram, implicitamente deixaram confirmadas aquellas
derogações ao principio commllm. (4) Para que no estado de
Iowa se pudesse reduzir legislativamente o numero dos ju-
rados nos tribnnaes inferiores, foi necessario que a constituição
actual explicitamente o auctorisasse. (5) Para que se derogasse
a norma de unanimidade,quanto ao jury civil, na Luisiania (6),
0, na California (7), q"Uallto ao jury criminal, pa..ra os de-
lictos inferiores, em Montana (8).e ldaho (9), foi mister que

(1) Illinois, consto de 1870: «The right of trial by jury, as hereto-


fore enjoyed, shall remain inviolate.» POORE, p. 47L-Pennsylvallia, con-
stituições de 1838 e 1863: «Trial by jury shall be as heretofore, and
the right thereof rema in inviolat!!.» POORE, p •. 1.564, 1.570.
(2) Carolina do Norte: «No freeman shall be convicted of any crime
but by the unanimoues verdict of a jury of good and lauwful men, as he-
retofore used.lo Poore, p. 1.409.
Constituição do Delaware, Kentucky (1792) e Pensjlvania (1776):
«Trial by jurl. shal! be as heretofore.» POORE, p. 278, 634, 1546, 1554.
(3) Constituição de Kansas: «The right.of trial by jury ahall be in-
violate.» Poore, p. 630.
Constituições do Alabama, Arkansas, Colorado, Georgia, Illinois, Mi-
chigan, Minnesota, MiS'sissipi, Missouri, Nebra:;,ka, New Jersey, Ohio,
. Rhode lsland, South Carolina (1868), Tennesse e Texas: «The right of
trial by jury shall "emain inviolate.» POORE, p. 34, 77, 102, 121, 135, 155,
. 221, 422. 446, -{66, 983, 1029, 1081, 1138, 1204, 1315, 146!, 1465, le05, 1646,
167-i, 1678, 1695. 1825.
(4) « Such stat,utes are held to be constitutional, though they dispense
with trial by jUl'y, since they simply tend to continue and perpetuate a
practice prevailing at common law from time immemorial.,. Du{fy v_
People. People. v. Me·. Carthy. LESSER: Jury System., p. 153. «But
this power of conviction without a jury cannot be extel.lded to classes of
cases other than those in which it lias been ordinarily and customarily
employed.» Winchamer v. People. Hill V. People. Baldwin. v. New
York. LESSER, p. 153.
(5) « ••• the general assembly may allthorize trial by jury of a 1ess
number than twelve men in inferior courts.» Consto do lowa, art. l, § 9,
(LESSER, p. 227.)
(6) Constituiç. de 1879, art. 116. (LESSER, p. 227.)
(7) Constituição de 1879, art. I, § 7. (LESSER, p. 228.)
(8) Art. IlI; § 23 da constituição. (LlilSSER, p. 228.)
(g) Art. l, § 7. (LESSER, p. 229.)
-74-

as respectivas constit.uições o permittissem. O que a juris-


prudencia, em summa, tem estahelecido, é que «as garantias
constitucionaes (l.~seg·uram o (li~'eito ao julgamento pelo jury
tal q7tal então existente (as then existent),» a saber. tal qual
existia na data de cada, constitnir;iio, «protegendo-o assim
contra alterações, que lhe tolham a snfficiencia como paI-
ladio da liberdade.» (1) As legislaturas ordinarias não
podem mudar o regimen dessa instituição, qual se pra-
ticava em cada estado, no tempo em que a constituição a
garanti0. (2)
Na cQnstitüição federal dos E5tados Unidos não se en-
contra a locução incisiva as heretofore, qual até aqui, em relação
ao jury. lHas o motivo, aliás ouvio, se acha explicado nos
apontamentos de MADISON (3), nos pampbletos da época (4) e
especialmente no Federalista (5). Não htwia, em 1787, nos Es-
tados Unidos, justiça federal, jury federal. A instituição era
local: só existia nos estados. Não podia, . conseguintemente, o
pacto da União, assegurando o jUl'y para os tribunaes federaes,
alludir, como preexistente, a lIma entidade, que, federalmente
considerada, só então principiava a exi~tir. Não obstante, a ju-
l'isprndencia americana tem applicado ao jury federal o mesmo
criterio dominante quanto ao jury nos estados, entendendo que
« o que a leiorganica r1a União, tanto qnanto a dos estados, quiz
afiiançar, é o jUl'y, ta,l qltal existia na Inglaterra e n08 EstadoB

(1) «In JIaínes v. Levin 51 Pag .-414. ít is said that constitutiollal


guaralltees secure the rigltt of trial hy jury as then eXistent, and protect
it « from innovations which might destroy its sllfficiency as a palladium
of the liberties of the citizens.» LESSER, p. 226.
Note-se que é o auctor quem gripha as palavras «as then existent,
tal qual então existente».
(2) « ••• provisions, more or lesB extensíve, s(3curing the right of trial
by jury. T Itese and other requirernents cannot he violated by acts of the
legislature establishing anti ilxing the jurisdisdiction of the cOl'poration
court 'or tribunal.» Drr.LoN : Law of Municipal corporations, r, p. 497,
§430,
(3) MADISON : Debates on the adoption of tlw federal eonstitution (ed.
de 1801), p. 550.
(4) LEICESTER FORD : Pamphlets 071 lhe Const. of the lln. States pu-
blished duri71fl its rliscussion by {l/e peo)lle, p. 149, 157, 241 e 36].
(5) «The minority of Pennsylvania have proposed this mo de of ex-
pression for the purpose-«Trial by jllry shall be as heretofore»-and this
r maintain would he senseleils and nugatory. The United States, in their
united or collecLive capacity, are thc object to which all general provi-
sions in tllO cOllstitution mllst necessarily be constl'11cd to' refer. Now it
is evident that, though trial by ,iury witll variolls Jimitations, is ],IJOwn
in cach state individual1y, yet, in til~ Unitcd :::ltatcs, flS sueli., it is at
this time altogether llnhnown, becau5e tlJe present federal governrnent
has no judiciary powcr wltatever, anel conseqllentJy therc is no propel'
antecedent 01' pl'cvious cstablishment, to wiliclt tile term hcrctu(O)'é! cOLlld
relate», F(1)el'a{ist, Jl, LXXXIll, (I<;d, LOLJGE. p, 5::5·ü,)
- 75-

Unidos, quando essas constituições se adoptaram.» (1) E' o que en·


sina HARE e, com elle, LESSER na sua monographia do jury. (2)
E' ainda o que estabeleci COOLEY, o magistrado e o conilti·
tucionalista: «Toda a vez que a constituição estabelece, sem
limitação, ou reserva, o direito ao jury, devemos entendel·o
como fixado em todos os caso~ de jury pelo direito commum,
e com o concU1°SO de todos os incidentes associados pelo di1'eito
commum a essi p1°oces80, ao menos ernquanto elementos de pro·
tecção pa1'a os accusados.» (3)
Entre nós militam ainda em apoio desta hermeneutica
outras considerações seriamente valiosas. No Brazil o jury
não era provincial: era nacional. A sua entidade estava, pois,
definida, sem variações de provincia a provincia,por uma só
organização legal; o que imprimia á referencia do legislador
constituinte uma precisão absoluta. Depois, ao passo que,
nos Estados Unidos, a garantia do jury, firmada na VI
emenda á constituição federal, só contra as auctoridades fede-
raes protege o cida.dão, o que egnalmente succede com outras
declarações tutellares dr individuo, como as da emenda V,
concernentes á propriedade, á liberdade e á vida. (4), no
Brasil, pela declaração de direitos, essas garantias todas su-
jeitam aos mesmo::; limites o poder da União e o dos estados.
D'aqui uma vantager.J notavel em segurança dessa instituição
entre nós; e é que, em quanto nos Estados Unidos, o jury,
superior ás leis locaes, pode ser alterado no sen systema pelas
constituições dos estados, no Brasil nem as legislaturas destes,
nem as suas constituiutes dispõem de arbitrio, para cercear
ao individuo essa garantia.
Convertido, pois, em tribunal de cinco um de doze mem·
bros, substituindo o sigillo peja pnblicidade nas deliberações
do conselho, roubando ao accusa(lo o direito de recusa, tão
antigo quanto as duas grandes magestades que conceberam e
crearam a grande instituição, Roma e Britannia, tão universal
quanto o jUl'y e o governo representativo, a lei rioograndense
offendeu tres vezes a cOll!'1titllição republicana, reduzindo a
justiça dos j nrados a um joguete da prepotenéia officiaI.

(I) What the organic laW8 of the Union and the several states con-
tem'plate and are designed to seoure, is that trial by jury 811a11 remain
as 1t stood in England anrl tltis rnunt)'y at the dr1('laralion of indepen-
dcnce, ana do/cn to the pel'iod 11:118n thc!! /{'ere adoptcdo» HABE : Amcl'.
Const Lalc, lI, p. SôO.
o

_ (2) Jury S!JS{t'1J/, ]l. 225·6.


(3) « and with aH the common-law incidents to ajl1r~' trial, so far,
o ••

at least, aR they can be I'cgul'dcu as tending to the pl'otection of' the


accused.» COOLEY: Uonstit. Limitat., p. 3VO.
(4) STOl\Y; (;o/1/'I11ent. lI, p. 562, n. ao
-76-
Não se quer, porém, que em tal exista inconstituciona-
dade; porque, no dizer de um dos magistrados que votaram a
pronuncia e a condell1nação, a lei, de que se tracta, «gravi-
tando dentro da orbita traçada pela constituição federal,
que facultou aos estados a plaboração das suas leis pro-
cessuaes, apenas modificou a instituição do jury nos detalhes,
conservando illesos os seus principios basicos, que são: 10,
o julgamento do cidadão, sahido de um sorteio i' 2°, a decisão
da Cll.usa pela convicção intima dos jurados.»
Sophisma, sophisma e sophisma.
Sophisma ; porque a competencia dos estados, em mlt.teria
penal, como no mais, tem, innegavelmente, limite na invio-
labilidade das garantias firmadas pela declaração nacional de
direitos. Se essa limitação Dão existisse a respeito do jury,
pela mesma razão não existiria no tocante ás outras immuni-
dades estabelecidas, sob, a mesma série, pelo art. 72, nOI
§§ 13, 14, 15, ] 6; e esses direitos supremos, encarnados
em algumas fórmas de processo, das quaes pende a liberdade,
a humanidade, a honra, perderiam o grande baluarte, a unica
defeza de confiança, que os abriga em um paiz como o nOllso,
tornando-se livremente confi~caveis ao arbitrio dos governos
locaes.
Sophisma; porque não (exacto que seja uma. reforma cde
detalhe8» a q,ue reduz a tres, em vez de sete, o numero para
a senten~a condemnadora, a qRe desobriga os juizes do se-
gredo, cujo escudo os amparava contra as pressões do odio,
ou do interesse, a que esbnlba a defeza. dos seus direitos tra-
dicionaes de interferencia na selecção do tribunal.
Sophisma, ainda; 'porque é arbitraria a definição, alli
posta, «dos principios basicos do jury». O principie do sorteio
e o principio da nacionalidade nem sempre mereceram respeito
aos legisladores, que se affastam das normas consuetudinarias
da instituição. No Mexico o estrangeiro entra no censo dos
jurados, em contando tres annos d.e estada no paiz. (1) E, se
ha modificação que não interesse o caracter judiciario do tri-
bunal, nem o eive de inconstitucionalidade sob um regimen,
onde a declaração dos direitos individuaes equipara aos na-
cionaes os estrangeiros, seria a que estendesse li estes as
funcções de jurados. Pelf) que respeita ao sorteio, qu;tntas vezes
não tem ~abido os governos inutilizaI-o, ou burlaI-o, em certos
regimens, como I) da lei de 10 de Janeiro de 1792 em França,
o da constituição de 22 frimario, anno VIII, o do senatus-

(1) Annuai,.~ de lég. camp., 1891, p. 981.


-77-
,.
COMSUltO de 16 thermidor, anno X, pela creação dos jurys es-
peciaes, a entrega da composição das listas ao arbitrio de
certos agentes e as distribuições de cathegol'ias?
O sorteio, assim ~omo a irresponsabilidade do jurado, isto
é, a soberani::t da consciencia, exercida por eUa ante si mesma,
sem que nenhum poder, na terra, lhe possa tomar contas, são
apenas manifestações, corollarios, necessidades de um prin-
cipio cardeal: o dessa independencia suprema, sem & qual
não ha jury.
Tudo o que contravier, pois, á independencia do jury,
ha de forçosamente ser inscripto, em que pese ao superior
tribunal do Rio Grande, entre «os attributos esseneiaes da
instituição do jury:., que um dos membros daquella magistratura
pretende circumscrever a proporções tão mesquinhas. «O que
é essencial a todo o instituto judiciario, politicamente conside-
rado», reflecte um celebre criminalista, <lé a independencla.»(l)
Mas a independencia tem duas faces: uma interior, que
se volta para nós mesmos, e se chama imparcialidade; é a
isenção da consciencia; a outra, externa, entende com o mundo,
em que vivemos, e chama-se irresponsabilidade; é a eliminação
dos perigos e dependencias, que podem constranger a impar-
cialidade da apreciação intima a se desmentir na enunciação
publica da sentença. A primeira corresponde, no jurado, ao
direito de recusaç.ão ; a segunda, ao sigillo do voto.

o sigilZo do voto no jury


A independencia é a basE? de toda a justiça. Para as
magistraturas permanentes sUa se estabelece pela inamovibi-
lidade, que faz o magistrado <immutavel como apropria leb,
na phrase de ROYER COLLARD. Para as magistraturas ephe-
merai, como a do jury, ephemera~ mas gravissima, querem
alguns que «a maili grave e solemne das funcções pelo cidadão
exercitadas» (2), o que a aSiegura é a irresponsabilidade. «Quando
um principe abso~uto possue a faculdade de mandar judicial'
por delegados seus os factos criminosos», escreve TOCQUE-
VILLE, «a sorte do accusado está, digamos assim, préviamente
fixada. Mas, ainda quando o povo esteja deliberado a con-
demnar, a composição do jury e a sua irresponsabilidade offe-

. (~)« Cio, che essenziale, ad un instituto giudiziario daI lato politieo


e ?a. tndependenza ». ELLERO: Trattati criminali, p. 430. (O italieo é do
orlgmaL) .
(2) LIEBER: Political Ethics, lI, pago 405.
- 78-
receriam, em todo caso, probabilida(les fltvoraveis ao ac·
cnsado.» (1)
A vitalieiedade da mag;istratnra j udiciaria está. consagrada
hoje nas legislaç.ões dos povos livres, e tem na constituição
brasileira lagar especial. Mas a independencia dos tribunaes
criminaes depende, ao mesmo tempo, da independencia do
juiz e da independencia do jurado. Assegurada pela inamo-
vibilidade a do primeiro, como firmar sériamente, a bem da
do segundo, a sua irresponsabilidade?
Uma das paginas mais famosas na jllri~prudencia ingleza
é a decisão, que celebrizou o nome de sir JOHN VAUGHN,
quando, pondo termo ao aruitrio das penas impostas por juizes
aos jurados, cujo veredicto nào llles obedecia ás instrucções,
assentou para sempre a regra da liberdade absoluta do jury
como apreciador exclusivo e soberano do facto. (2)
Não basta, porém, emancipar da multa e· do carcere os
membros do jury, para os dotar com a verdadeira irre~ponsa·
bilidade. _~ propria Inglaterra, cujos eost.umes politicos aliús
tão profundo respeito asseguram ao cidarlito nos actos de con-
sciencia, bem o reconheceu, a.doJ)tanrlo o sigillo para as deli·
berações do grande jllry, () jnry (lc~ acctls:',\iio. Graças a es:'ft
me(liàa tutellar, nem a pressão dos magi~trados, lIem a da
corôa lograram, em 1681, dol)l'(~t' () grawle jury de Londl·es á
injust.iça da accusaç~lO machillada contra o conde de SlIAFTE'i-
BURY. (3) O rei, vencido pelo prestigio in esis ti reI do podel'o:,;;o
cheff\ da opposição nos COlllmnns, (lissohrc!":t a camara, capitu-
lando em alta traição a hostilidad.e parlalllêllf,ill' do ~eu antago-
nista, qne man(lOll encarceraI·, e a quem a illfiliellria da cÔlle
sobre a toga fez IIPgal' o habeas,c01]Jlt8; IIlas u grande jllry,
prot.egirlo pelo escrutinio secreto. que fllrtant os vot.os illdepen·
dent.es á vinguuI;a do poder, IlllllitlcOIl :t COiJjllração do par;o,
rejeita.ndo a accusação.
A' acção das forças poltticas, a qnr. cedêra. a l1l.a~istralllra
toe-ada, teria sucumbido o jury, se as suas deliberações nfto se
achassem abrigadas pela reserva legal. E, se a Illglaterl'a nfio
applicon o meslllo principio ao jUl'y tld l'ieIlU~nça, é l)()rque ja () .
tinha nu jury de acel\saç~tO, primeira lnllr;t!!J:t proteetora cout.ra
as iniquidades da força, e porque ao n~gra (la Illlanimidade
no jury de sent.ença envolve e dilue Bit solirladeciade cullectiva
do conselho a respnmmbilirLule individnal (los jnrados.
Nas legb;la(je~ (~lJlltilltC!ltaes o vuto í:i(~e . . eto acun1 pnnlla o

(1) Dhnocrat[e en Amcrique, lI, p. 180.


(2) SNVO·ER: Rreat opi;/irms 7J.'I.!/i"eat jm/r/cô, p, G51-2.
(3) S S(at~ 'j'rials, 75\J.S;31.-LESSER, p. 176.
-79

jnry CjuaRi desde os primeiros dia3da f:ua admissão. Já a con-


stitniçào franceza de 1795 rreserevia (art. 239): « Os jurados
votar[w sempre por escrutínio secreto.» Trinta e dois annos
depois, qualldo a monal'chia legitimista se approximava da sua
queda, exaceruando o caracterreactor da sua política, o jury, obs-
taculo formidavel á intolerancia, do governo, devia necessaria~
mente incorrer-lhe nas suspeitas. Era necessario amolgaI·o.
Veio então a lei de 1!:l27, que impoz aos jurados responderem
aos quesitos em alta voz. Oito :'.llTIOS illp.is tarde a politica li-
beral de LUIZ FELIPPE anllullava a reforma dos BOUl'bons,
restabelecendo o sigillo das deliberações do jUl'y. E ti'io longe
vae alli li severidade IH1- obsel'vancia desse preceito, que se
veda, até, a publicação, nos pel'iodicos, dos nomes dos ju-
rados. (1)
A Suissa e a Belgica abraçaram a mesma idéa. No ultimo
desses paizes os dehates da camara dos representantes, em
Fevereiro de 1838, elevaram á grande altura a apologia do
voto secreto, defendido pelos nomes mais eminentes do parla-
n:ento, entre os qnaes bastará declinar os de BROUCKERE e
~JEULENAERB. (2) Ainda ha l)011COS annos, no cndigo de pro·
t;esso pell:tl sabiamente projectado para esse paiz por THO-
NISSEN, uma das f'na~ celebri<1ades como estadista, constitucio-
nalista e jurisconsulto, se llrocurava rodeai' o escrutinio secreto
das condições mais efTIcazes de rigor, mandando votar os ju-
rados por um traço, nu sim, ou 11\\ não, imtll'HSSOS na cedula,
°
que a cada um daria, após os debate:s, pl'esidente do tribunal. (3)
A Allemanha (4), a ltalía) qua~i todas as outras nações, de
cuja legi:;!ação temos lloti(~ia, imprimiram ao jury esta lllesma
feiçrto, e em todas ellas sobresu0, n;1O t;OlliO accessorio, mas
como elemento ol'ganko des~a entidade.
Em França, por ex~mplo, Olule o art,. 341 do co.digo do
processo criminal qnel' que () p1'8!"jllellte allvirta o jury de que
a votaçfw deve fazer-se por eserutínio secreto, se entendêra a
}lrineipio quê essa fomlalidade (<1 da ati vert.ellcia), não tendo
sido prescripta sob pena fle nnllidadl-), llÜO pOllia l:onsiderar-se
subst.ancial. Neste sentido se decidiu em 1837. Mas de 1850
em c1iallte a côrte de ci1~'sa(}w ünnoH a jurisprndencia de que
«!I, omissão do aviso ao jury úeel'ca do escrntinio secreto en-

(1) NOVELLIS: Il !liuri, p, 180._


(2) HYMANS : Ilistoire parlúmentaú'e de la l1el.QÍlj1/e, v. L, p, G03-4.
(3) THONISSEN: Travauc:: ]Jl'(\]Jaratoires du code de l'roceclurc llénalc.
Rapll lJl'ts, v, lI, 11, 70.
(4) LeiJ jurés et lea échevins sont tenus de garder le secret des tléli-
beralIolls ct du vote.» Co(!e d' orgwúslllion judiciail'c allcilwnrl, art. 200.
DUllARLE, lI, p, 112.
- 80-
volve a presumpção de illobservancia desse regra, e determina
assim a nullidade do veredicto.» (1)
FAUSTINHÉLm, l'eferin(lo-se ao eno primitivo do grande
tribunal francez, corrig'ido mais tarde l)elê1, solução exarada no
aresto que acabamos de transcrever, exprime-se dssim : «Mas
essa jurisprudellcia não persistiu». O tribunal reconheceu
«que a advertencia prescrfpta no § 3° do al't. 341 é formali·
dade 8ubstancial, cuja preterição ha de acarret.ar a nullidade
do veredicto; porquanto, de um lado, a prova da observancia
das formalidades, a que o jury se acha adstricto nas suas de-
liberações, reside tão ::.;ómente IH!. presumpção de direito resul-
tante das advertencias que se lhe fazem, e, do outro, o escru-
tinio secreto instituio-se pal'a assegm"ar, de conformidade com
o interesse commum ao desaggravo publico e á defesa, a inde-
pendencia do voto dos j~6radoa.» O presidente deve, pois, sob
pena de nullidade, prevenir o conselho de que os seus suffra-
gios tem de ser llecretos.>', (2) D'ahi se segue, outrosim,
accrescenta o mestre do processo penal francez, que, «tambem
sob pena de nullidade, ha de constar da acta dos debates essa
advertencia, annullando-se, consequentemente, os feitos, onde
se não enunciar essa declaração.» (3)
Assim o silencio da acta quanto á informação do juiz aos
jurados ácerca do sigillo do voto importa nulJidade do pro-
cesso; isso porq~e a omissão, nos autos, da menção da adver-
tencia prescripta envolve a presumpção de se ter omittido
essa formalidade e a preterição da advertencia estabelece a
presumpção de não se ter ol)servado o segredo, cujo deve r é
pelo aviso do juiz que a lei suppõe levado ao eonhecimento do
jury. Suppõe-se que o jury não observou o sigillo, se o juiz
não lh'o recommendou, e que (l juiz lh'o não recommendou, se
a acta do julgamento o não declara. São duas presumpções
encadeadas uma á outra, com o fim de assegurarem o sigillo
do escrutinio, solemllÍziludo as precalH;ões destinadas a
mantel-o, e punindo a inúbservancia elo segredo com a nulli-
dade do julgamento.
E' que, no sentir dos expositores do direito jueli~ia!io, em
todos os paizes onde o jury apresenta essa caractenstlca, ~o
segredo é da essencia (las deliberações do jury.» (4)

(1) DALLOZ: Répertoire. v. XXIII, p. 724. n. 2.939.


(2) F. HÉLIE : Traité de l'instruction criminelle, v. VIII, p. 157,
n. 3.724.
(3) Ib .• p. 158. n. 3.725.
(4) «L'ensemble de ces mesures a paul' but d'ussurer le seeret. qui est
de l'essence des délibérations du .iury." DALLOZ: Rlépcrt, v. XXVIII.
pago 739, n. 3.022.
-81-

Tão absoluto é o imperio desse preceito, de tal modo se


liga. ás funcções vitaes da institnição, que, para encerrar o
sigillo das responsabilidades do jurado no mysterio mais impe-
netravel, a jurisprudencia franceza annulla os veredictos,
quando precisarem o numero de suffragios da maioria, em vez
de attestarem apenas que ella transcende o minimo de sete,
ou quando condemnarem com a declaração .de unanimidade,
porque a resposta nesses termos dá virtualmente a conhecer a
opinião de todos os jurados. (1)
O grande commentario de BORsANE e CASORATI ao codigo
do proce~so penal italiano corrobora a nossa these. (2)
Occupando-se com o art. 502, que mauda responder aos que-
sitos por votação secreta, eapprovando o systema como «ga-
rantia da liberdade e independencia da judicatura», os autores
remettem-se ás observações por elles feitas n' outro logar
acerca do sigillo do escrutinio nos tribunaes criminaes, e,
pronmiciando-se na antiga questão entre a publicidade e o
segredo, enunciam·se deste modo: «Sem nos remontarmos a
vetustas memorias da Grecia e de Roma, bastará lembrar que,
em França, sob as aspirações generosas despertadas pelo
orgasmo de uma grande revolução, que submettia de novo á
aeção fundente da critica todas as instituições sociaes, uma
lei, de 26 de Junho de 1793, estatuio que os juizes delibera-
riam publicamente, proferindo o voto em voz alta. Por que
modo os resultados corresponderam á nobreza da idéa, em que
o legislador se inspirára, assaz o mostra o facto de que a
constituição do anno UI (art. 208) se apressou em restabe-
lecer a disiiplina do voto secreto. Então veiu a ser de novo
o sigillo do voto uma disciplina de m'dem publica, uma das
bases fundamentaes da organisação judiciaria. » (3)
'. Base ~undamental do jury, na expressão de uns, parte da
sua essencia, na de outros, não podia o sigillo do voto ser
subtrahido ao jury, senão por quem sobre este possuisse a
auctoridade de crear e destruir. Se os estados, em face da
clausula da constituição que lhe dá existencia nacional, não
podem abolir o jury, tão pouco lhes seria licito desfalcaI· o na
sua base e na sua essencia; porque é pela essencia, que as
compõe, ou pela base, onde assentam, que as realidades exis-
tem, ou se extinguem.

(1) DALLOZ: Repert., XXVIII, p. 766 e 768, ns. 3.160 e 3.165.


(2) BORSANE E CASORATI: Codice di procedura penale italiano com-
mentato. v. V, § 1.918, p. 480.
(3) Op. cit., v. IV, pag. 499, § 1.577.
D~T~.~ 6
- 82-
ÁS "ecusas p61'emptm'ias
O direito ás recusaç5es peremptorias é ingenito ao jury e
deIle inseparavel: nasceu com a instituição, com ella existiu
sempre, e, a ella inherente, a acompanha por toda a parte.
Para mostrar como este direito constitue um dos elementos
primarios dessa entidade, a que ponto entra, por assim dizer,
no seu plasma organico, bastará notar que, realizando-se ella
conforme os povos que a adoptaram, em dois typos, distinctos
a varios respeitos, o britannico e o francez, n'um e n' outro se
manteve com a mesma amplitude e a mesma irrecusabilidade,
esse caracter essa raiz commum, que os irmana.
Nas jurisdicções da lei romana, onde a magistratura po-
pular era designada por um sorteio e um subsorteio, sOl'titio,
subsortitio, as partes exerciam com a maior largueza are-
cusação immotivada. «801'S et 'm'na fisco judicem aS8ignat».
escr~via PLINlO; «U,'et ,'ejicere; licet exclamare: Hunc nolo.» (I)
Lançados na urna os nomes de todos os juizes da lista
annua, nomina judicum se1ecto1'um, á medida que o sorteio ia
extrahindo os llecessarios para funccionarem na assentad:t,
«accusador e accusado tinham direito de rejeitar aquelles q1tfJa
paru'll~ 8ibi idoneos 'puta1'ent, direito que só terminava com o
esgotar da urna,» (2)
O l.limples «Não quero, Hunc no1o» do interessado bastava,
li ara excluir o julgador. Já então o genio da grande raça com-
prehendia os motivos de profunda verdade, que impõem as re-
cusações peremptorias. «Quando os comicios populares cessa-
ram de administrar directamente a justiça, e se inauguraram
. em Roma as jurisdicções, conhecidas sob o nome de quws-
tiones, em que participava apenas limitado numero de cidadãos,
surgio para logo a urgencia de prover a que ellas não fossem
arbitrariamente constituidas, sujeitando·se á influencia exclu-
siva do juiz presidente, do accusador, ou d6 accusado, Sen-
tio-se a necessidade, em summa, de furtar os juizes cidadãos á
influencia das paixões e machinações partidalias, atim de que
pudessem julgar com animo sereno, e captar a confiança das
partes. Foi então que a sabedoria remana firmou o principio,
geral a todos os juizos, de que jnizes fos'iem unicamente
aquelles, acerca de cuja escolha estivessem de accôrdo as
partes, principio ~ssim bellamente enGnciado por CICEIW (pro
Oluentio): «Neminem volue1'u1tt majores nosü'i, non modo üe
existirnatione cuJu~q"am, sed ne pecunia1'ia qu'ide1lL ele 1'e 1winhna

(1) Panegyr, de Traj" XXXVI,


(i) F. HlkIE: Instr. crirnin" I,pag. 4G.-LESSER, pago 39.
-88-

esse judicem, nisi qui inter adve?'sm'ios convellisset. ~ (1)


O accusador e o accusado «recusavam quantos lhes pareciam»,
e da primeira vez podiam repulsar todos os juizes, cujos nomes
sahissem da urna. Em seguida, mercê de outro sorteio, sub·
801·tit-io, outros nomes succediam aos rejeitados, e franco era
ainda o arbitrio da repulsa após o segundo sorteio, até não
restar mais que o numero requerido para. o julgamento.:. (2).
As listas, sobre que se operava o sorteio, abrangiam ()itenta tl
um cidadãos; por onde se pócle ver quão vastos eram os li·
mites dentrQ nos quaes se exercia entre os romanos a l'ejectio
judicll1n. (3)
Na Inglat.erra, comquanto se diga que na ol'igem só SB
admittiam recusas motivadas (4), já em 1302, dez annos após
o mais antigo feito relatado nos al'chivos jndiciaes do paiz, se
encontra reconhecida sem reserva ao l'éo a faculdade de in·
tervir na selecção dos seus juizes. (5) Como quer que seja,
porém, no regimen actual, que data de grande nntiguidalle, taes
IH'oporções tem o direito de recusação IIp.l'emptol'ia que, «para
bem dizer, é o accusado quem elege os sen~ juizes.lO (f» A' corôa,
ape:t.ar de reclamal-o, llunca ~e admitt.iu el'~e dirt-ito (7). Privi·
legio alli do aecusado, graça:,; a «misa humanidade para com o
réo, a que tão justa fama devem as leis inglezas,. (8), ellta. fl1.-
cuIdade legal a uctol'iza· o a rt'jl-' i t:\ r perempt.ol'iamente (]Je1'em.
to'I'Y cJwllenge é a lucução ingle:t.a) vinte jUl'lldos nos llelietc8
graves (f'Jlunies), inclusive I) de attenlado contm o principe
reinante (9), e trinta e cinco em gerál IltlS alt.o~ crimes poli·
ticos, high andpdit treasons. (10) Nas tram;gressões de Cal'eetel'
inferior (misclemeano1's), para as qnaes o pl'lljecto do codigo penal
iuglez de 1878 fixava. em sei)l o numero lIa reelli;:H;ões puras e
simples (11), o cost.ume, sanceiolllldo pela .illl'i~lll'I\(IeIlCia, nhriga
o fUllccionar io competent.e a llfw c:ha.Illiu' os l1ome:.-, a que a de·
. f'esa, on a. aecLlsação se opponlw. (l~) J ustifkalJ(io Post.e :;ystem!l,

(1) BORSANE E CASORATI : Procedura lJenale, v. V. pag. 184, § 1760.


(2) lb., pag. 185.
(3) The Works of James Wilson (Chieago, 1896), lI. pago 174-5.
(4) BORSANE : Proc. pen., v. V, pag. 186.
(5) LESSER, pago 143.
(6) DALLOZ: Répert .• V. XXVIII. pago 487, n. 1852.
(7) MITTE.l1.MAIER: Procédure c1'im., pago 437.
(8) STEPHEN: New Commentaries. v. IV, pago 402.
(9) Erradamente dá MITTERMAmn. (Proc. crim., pag., 439 n. 6) o nu·
mero de vinte e quatro. Ver HARHIS: Prinâples oI' Criminal Law, 6th. ed.
pago 408.
(10) Sl'EI'HEN, ib .• pago 403-~.-l\lll'TERl\IAIER. pago 43!1.-WHARTON.
A tí'eatise OH the criminal lal(' of' the United S/ates, V. 111. pag.4312,
§ 2.958. Bulletin de la Soc. ele lég. compar., V. XIX, pag. 103;
(11) BORSANl!l, v. V, p. 187, n. t.
(12) HARRIS, Principies of' criminal law A'rTEN60URGH ed. (100.2). p. 408,
-84-
STEPHEN raciocin'a com o profundo bom senso inglez. Cumpre
que o réo confie no seu juiz. Aliás não terá o equilíbrio moral
indispensavel á defesa. Ora, para abalar esse conceito favo-
ravel ao julgado!, no animo do accusado, bastam muita vez
impressões instinctivas, resulta~Ites meramente da presença, do
aspecto, da attitude do individuo. « A lei ingleza não quer que
uma pessoa seja sentenciada pGr quem lhe inspire opinião des-
favoravel, ainda que est.a não estribe em motivo determinado .•
E, depois, a recusa motivada, quando não admittida, poderá
deixar no espirito do recusado prevenções, que o indisponham,
mais ou menos seriamente, contra o recU!lante. (1)
Allega o arrazoado official do governador l'Ío-grandense,
abonando-se com o depoimento de MITTERMAIER, que, «em
regra geral, na Inglaterra, não se exercem recusações. (2) Mas
o pl'oprio MITTERMAIER explica o facto como « signal da hnpar-
cialidade do sheriff e da confiança dos accusados em que os jura-
dos escolhidos cumprirão conscienciosamente o seu dever .• (3)
Se na propria Inglaterra, porém, essa confiança no sentimento
geral do dever, esse habito de não recusar, não apagou das lei:;
o direito de fazel-o, como havemos de extinguil·o, n'um paiz,
onde o habito opposto, a frequencia usual das recusações
attesta, pelo contrario, a desconfiança ordinaria dos réos nos
juizes de facto?
MITTF.RMAIER mesmo, algumas linhas adeante das trans-
criptas na defesa official da lei rio·grandense, observa:
« Rouco imp01'ta que rammente alli se 1ltilize o direito de recusa:
o essencial é saberern todos qne o occusado tem a permisslio de
exercel-o na mais ampla medida.» (4) Nem se pôde confiar
de todo, aqui, no testemunho do escriptor allemão, que se
refere principalmente ás suas observações de viagem pela
Grã-Bretanha; porquanto em livros inglezeil se nos depara
aftirmação divergente. E' assim que, havendo o celebre DE
LOLME escripto, em 17U, o mesmo que MITTERMAlER em 1851,
um dos seus edictores contemporaneos, annotando-o, assegura
que a recusa se tornou de pmtica frequente. (5) Oomo quer
que seja, todavia, nos delictos políticos, nos quaes tem eviden-
temente os olhos~a política do reformador rio-grandense, é MIT-
TERMAIER quem nos diz que as recusas «slio amiudadas, sont

(1) MITTERMAIER. p. 436.


(2) JULIO DE CASTILHOS. Zoe. eit., p. 50.
(3) MITTERMAYER, iMdem.
(4) I\hTTERMAIER, ibidem.
(5)« At the time wllen De Lolme wrote, this remark was true j but
for some years ehallcngin.r; jurymen lIas beeome of (i'cljuent practiee. »
JOHN MAGGREGOIt. DE. LOR:\lE'S Gonstit. of Engl., p. 81.
-ê8 -
nombrem6s .• (1) Graças à essa faculdade. tendo cada réo, tio'
processos contra muitos, completo o seu dit'eito a rejeitar vinte
quatro, ou trinta e cinco nomes, o proceso dos fenianos,
celebrado no 1ribunal central de Londres, em 1858, deter-
minou a convocação de quinhentos jurados. (2).
lmmemorial nos Estados Unidos (3), a eliminação dos
jurados pelas partes se estende quanto ás recusas pel'emp-
torias, no jury federal, a vinte nomes pelo réo e cinco pela.
União, nos casos de traição, ou crime capital; dez e trez,
respectivamente, pelo accusado e pela justiça publica, iia
hypothese de outros attentados graves (felonies), e tres, pela
defesa, ou pela accusação, nos demais crimes. Tal é o estado
actual do direito, assente na lei de 8 de J uuho de 1872 (4),
que modificou ligeiramente o anterior. (5)
Quanto aos jurys locaes, o numero de nomes peremptoria-
mente recusaveis diversifica entre os varios estados. A~ recusas
peremptorias, que, na maioria deUes, se reseJ'vam ao réo,
com exclusão do accusador publico, são de vinte, em Nová
York, para os crimes capitaes, e de cinco para os outros; no
Massachussets e no Conneticut sobem ao mesmo numero; na
Virginia, a oito; na Carolina do Norte, a quatro, em certos
delictos, e a quinze em outros; no Illinois vem a ser vinte para.
os crimes de pena capital, dez para os de prisão excedente de
dezoito mezes, seis para to,los os demais (6); na Pensylvania
se fixam em vinte para as offensas graves, para as mais leves
em quatro. (7)
Pelo que toca aos delictos mais graves, pois, a extensão
da recusa peremptoria é a mesma em quasi todos os eatados,
e identica, ainda hoje, á que já se estabelecia, em 1636, Jlas
leis fundamentaes da primeira colonia organizada em territorio
americano pelos immigrantes de Plymouth. (8) Atravez de
todas as variações de numero, porém, quanto aos outros

(1) MITTERMAIER, ibidem.


(2) Bullet. delaSoc. de Lég. Oamp., v. I, p. 157.-GLAsSON: Hist.
du.droit et des instit.de l'Angleterre, v. VI, p. 776.
(3) GOURD: Ohartes cOloniales, lI, p. 182; .
f..
(4) Revised Statutes of the Uno States, ed. de 1878, seco 819, 15~~
TSONISSEN (Travaux préparat. du code de procéd. pé». belge, I, p •. 15)
menciona apenas a recusa peremptoria de trinta jurados nas causas cá-'
pitaes, citando uma lei de 30 de Maio de 1872, que não existe.-Ver VON
HOLST: Das Staatsrecht der Vereinigten Staaten von America (Freiburg,
1885), § 87, p. 140.-Ante as disposições da lei de 1872 tambem já não são
exactas as tnformações a esse respeito ministradas por MITTE;RMAIER
(Proc. crim., p. 450) com respeito ao jury federal.
(5) WHARTON : C/"im. law, m, p. 432-3.
(6) MITTERMAIER : PJ:océd. crim., ~. 4?0-51.
(7) WHARTON: Op. c~t., m. §§ 269"" 2693, p. 433-4.
(8) STORY: Oomment., I, p. 33, § 59 .

- S6-
estados, o que se observa sempre, é «o grande cabedal, que
faz o legislador americano de que se possa exercer nos mais
amplos limites a faculdade da recusa,. (1), especialmente a da
recusa peremptoria, que as auctoridades constitucionaes da-
quelle paiz costumam enumerar entre 08 p1'incipi08 áo jury
americano. (2)
Na França a recusação peremptoria mereceu as honras da.
consagração suprema em varias constituições. A de Setembro
de 1791, instituindo, no t. IlI, c. V, art. 9°, o processo do
jury, deixou á discripção do accusado reCU!:lar, sem motivos, até
vinte jur~dos. A de 1795 (anno IH) confirmava essa facul·
dade, no art. 251, keservando, porém, {i lei o fixar o numero
das recusas. Regulando.o, o codigo do processo criminal
(art. 399) vedou absollttamente ali reCl'81t3 motivadas, franque-
ando o direito ás peremptol'ias, por parte do accnsador e do
ré o, até que 02 nomes remanescentes 'na urna do sorteio não pas-
sem de doze. Por este systema cada. uma das partes exclue de
nove a doze jUl'Ildos. (3)
A Belgica adoptou o mesmo regimen, que se generaliza
a grande numero de nações européas. (4) Assim na AJIemanha,
as duas partes podem recu~ar tantos sorteados, quantos os
nomes contidos na urna, que excederem de doze. (5) Na Au~­
tl'ia, do numero de jurados, emquanto superar o de doze, accusado
e accusadol', cada qual por sua vez, podem refusar metade. (6)
Na Suissa, do mesmo modo, as recusas pel'emptorias se
exercem livremente de um e ou! ro lado, até reduzir a lista ao
numero l~gal de juizes de facto. (7) Todas essas legislações,
cuja auctoridade nos parece esmagadora, não só excluem com-
pletamente as recusas motivada~, como levam as peremptorias
até ao limite extremo, determinado pela reserva do. numerf)
indispensavel á composição do tribunal.
Na Italia, segundo a lei de 1874, o ministerio publico e
o réo podem rejeitar cada qual oito sorteados. (8) A nação
occidental, que se approxima da lei rio-grandense, é o imperio

(I) MITTERMAIER, op. cit., p. 447.


(2) «It cannot have esoaped ,.ou that I have been describing the prin-
cipIes of our wel known trial by jury.lO The Yorks of JAMES WILSON, li,
p. 179. . . .
(3) DALLOZ: Répert., voI. XXVIII, p. 487, n. 1854.-F. HÉLIE : Instr.
crirn... voI. VII, p. 292, n. 3254.
(4) BORSANE. Pl'ocedura penal, voI. V, p. 190·91.
(5) DUBARLE, li, pago 62.
(6) BORSANE, 1', pago 192.-Bullet. de la societ. de lég. comp., V.
r, pago 152.
(7) Bulletin de la Soe. ele leg. camp. V. X, pago 62 (FAVEY: L'O)'-
gani:;ation Judieiaire en Suisse.)
(8, BOR'lANE, v. V. pago 193.
-87 -

mosc ov ita, o unico estado europeu, onde se restringiu o direito


de rec usa, que, fixado em seis nomes na lei de 1864, desceu
a tres pela de 12 de J"unbo de 1884. (1)
Mas a Rt~ssia ~esma é mais liberal que o legislador republi-
cano do Rio Grande; porque admitte a recusa immotivada
comquanto reduzida a sós tres nomes. Nem ha, para eUe,
simile em llenhuma das legislações, que admittem o jury ;
pois at~ na Hespanha, onde"a sua existencia tem sido breve
e precaria, o legislador comprehendeu que jury e recusa
peremptoria são idéas inseparaveis. (2)
Ainda no extremo oriente, no Japão recem·admittido ao
gremio da civilisação occidelltal, o jury penetrou com esse
cunho essencial da sua sinceridade. Oada uma das partes alli
pôde recusar peremptoriamente cinco jurados em uma lista. de
vinte, mas assistindo ar) accusado, vantagens especiaes; por-
que, de um lado, é o accusador quem recusa primeiro, dei-
xando assim ao réo maior latitude, para o caso de coincidir
na exclusão de um nome o interesse de ambas as partes, e,
do outro, se, por auséncias, estiver incompleta a lista, ê o di-
reito da. accusação que se deiSfalca, não (ó) da defesa. Tal o
f:ystema do projecto do codigo do processo penal japollez. (3)
Assim que, em toda a duração dos tempos, na snperfide
inteira do planeta, não houve, não ha, uma época, uma nação
onde existisse, onde exista o jury, senão con30rciad(} á re-
cusa peremptoria, impregnado nella e por ella caracterizado.
A maior extensão da Europa, a ârea "onde mais intensa
é a cultura oceidental, da Mancha até aos Alpes, dos Pi-
ryneos ao Baltico, não conhece a recusaçij,o motivada, mas
pratica a recusa peremptoria nos termos da maior liberalidade;
ao passo que, no resto do mundo culto, não se nomeia uma só
nacionalidade, que, aceitando a recusa mot.ivada, não dê á
peremptoria uma situação ampla e indisputavel na lei do jury.
Das duas especies de recusação existentes, em uma palavra,
uma, a recusação I:llotivada, não funcciona senão como acces-
sorio da outra em certa extensão parcial da zona do jury.
Essa, entretanto, é a unica, a que a lei rio-grandense abre
espaço. A outra, a recusação perempto ria, junta á primeira,
ou sem ella, coincide invariavelmente com todas as organiza-
ções, passadas, ou presentes, ~do jury: é primitiva e contem·

(1) Annuaire de légisZ. étrang., ano 1884 pago 664-6. .


l2) MANDUCA: RI procedimiento lJenal," pag.246, n. O.No" MexICo as
recusas, certamente peremptorias, estão fixadas em seis por cada parte.
Annuaire de li:g. etrang., 1880, pago 715.
(3) BOISSONADE : Pi"l~jet de coele de procéclure c/'iminelle lJou!:, Z'gnt'l
pi1"C dt~ Japon, pago 687-8." _
porai1es, ê actual e antiga, ê universal no tempo e no espaço.
E, com tudo; é a que a lei ultra-russa do Rio Grande proscreve.
Com que fim? Dir-se·ia que com o de extirpar o jury. Mas
não: é com o de retemperal-o!
Esse jury, porém, que nenhum seculo conhece, que ne-
nhum estado, coetaneo, ou antigo, admitte, o jury sem a re-
cusa peremptoria, esse jury sem affinidades, nacionaes, ou es-
trangeiras, sem antecedencias, -historicas ou modernas, pôde
ser o jury, que a constituição brasileira designa, perfilha e
assegura? Que enigma então seria o desse texto constitucional,
alIudindo, pelo nome especifico de uma entidade vulgar no
globo inteiro, a uma irrealidade absttacta, inaudita, de bojo
franco aos mais imprevistos caprichos?
q Dois elementos de grande relevancia, post.o que sem
liame historico», diz um bom observador francez das coisas
politicas da outra raça, «comprehende o julgamento pelo jury.
O primeiro, de procedencia romana, é a apreciação dos factos
por certo numero de pessoas distinctas do juiz. O outro, de
germen saxonio, é ct livre escolha, por 'onde esses individuos
saem do commum dos cidadãos.:. (1)
A livre escolha exprime o preito de confiança, o acto de
adhesão, pelo qual o accusado contribue, para extrahir da
lista dos capazes segundo a lei o escol apurado simultaneamente
pela sorte e pelo réo, para0 julgar. «Convém que, nas gran-
des accusações, o delinqu6nte concorra com a lei na selecção
dos juizes, ou, ao menos, cumpre facultar-lhe numero tão co-
pioso de recusas, que os nomes restantes se possam ter como
de sua eleição.» (2) O autor do Espi1'itO das Leis bebêra essa
idéa, a que DONNAT injustamente desconhece a ascendencia
romana, no conhecimento directo da justiça ingleza, onde
outro estrangeiro celebre na sciencia das _constituições devia
ir buscal-a tambem, no fim do seculo dezoito, para a divulgar
no continente. DE LOLME accentuou, com effeito, ainda mais
vivamente que o famoso pensador francez, a importancia ca-
pital do principio da quasi nomeação dos jurados pela des-
ignação commum das partes. (3) «Como a sorte do preso>,
pondera elIe, «dependa completamente dos individuos, que
compõem o jury, reclama a justiça que elIe participe na sua
escolha: é o que se obtem pelo extenso direito, com que a

(1) DONNAT: Lois et mccurs 1"épublicains, p. 99-100.


(2) MONTESQUIEU: Esprit rIes lois, 1. XI, c, VI.
(3) «The judges themselves have no power to paaa sentence till the
matter of fact has been settled by men nominated, we may almast say,
at the comman choice of the parties.» DE LOLME: Consto af England, pa-
gina 81.·
-99-
lei o dota, àe rejeitar os juizes de facto, em quem n~o
confie.» (1)
Nos ultimos annos do se cu lo actual a opinião entre os
jurisconsultos é a mesma que nos derradeiros do seculo pas-
sado. «Para corresponder ao espirito da sua instituição., en-
sinam os expositores do processo penal na Italia, co jury,
sobre possuir a capaciàade legal de exercer as sua" funcções,
ha de tambem ser imparcial, e merecer a confiança das par-
tes.» (2) E para assegurar a confiança das partes é que serve
o systema das recusas peremptorias. (3) GNEIST, na Alle-
manha, el!!tudando o direito peremptorio de eliminação dos
jurados pelo réo nas leis inglezas, aprecia-o assim: «Realmente
este systema liberal de recusações dá em resultado annullar
de antemão a desconfiança na composição do jury, e simpli-
ficar-lhe a praxe.» (4)
~ Nos processos politicos a propria escola positiva não ousa
aconselhar a suppressão do jury. (5) Nota MITTERMAIER
que, na Inglaterra, nã;o se vê, como em França e Allemanha,
o adherente de um partido perseguir e vilipendiar os seus
adTersarios. Comtudo, nas questões penaes dessa cathegoria,
«ainda. hoje se observam alli os efeitos do espirito de partido,
uma del!!confiança mutua e a tendencia, de parte a parte, a
quererem que a lista do jury se forme n'um sentido exclusi-
vista, para satisfazer a intuitos politicos.» (6) Sendo essa a
realidade, n' um paiz aliás,onde o cidadão eleito para o con-
selho de jundos, «penetrado dos dictames do seu juramento,
não iuquirirá se o accusado pertence, em politica, a outro
pa.rtido» (7), temos nesse facto a medida, para avaliar o que
não se dará nas sociedades, como a nossa, onde a politica
semeia em todas as classes paixões tão violentas, e oblitera o
s'entimento dos mais poderosos deveres. «Os· partidos politicos
tornam os antagonistas inconscientemente prevenidos e in-
justos uns para eom os outros. Por isso não quiz a lei que o
aecusado tenha por juizes a cidadãos, em quem veja adversa-
rios, ou dos quaes não forme bom conceito, ainda quando não
posl!!a indicar o motivo, e .fornecer a prova. A recusa perem-
ptoria, de mais a mais, exactamente pela incerteza das razões
que a suggerem,. elimina os mãos humores, os resentimentos

(1) Ib., pago 127. .


(2) BORSANE e CASORAl'l: Procedura penale, V, p. 182.
(3) Ibid. .
(4) GNlllST: La constitution communale de l'Angleterre, voL IV, p. 1%.
(5, FJl:RRI : Sociologia criminale (1892, p. 644.)
(6) MITTERMAIER: Proc. pen., p. 430-31.
(7) 1b., p. 430;
-90 -

e as discordias, que da. manifestação dos motivos· poderiam


derivar, actuando por modo tal que o jurado não possa con-
siderar offensa a repulsa da sua pessoa. Nem todas as re-
cusas, emfim, assentam em causas manifestas de incompati-
bilidade .. Motivando-as, seria mister exigir a comprovação dos
factos, que as auctorizassem, e a apreciação da sua procedencia
pela auctoridade judiciaria, ou por outra. Ora, pesquizas e ve~
riticações taes complicariam os julgamentos, e, quando se não
reconhecesse a legitimidade da repulsa, repugnaria ver func-
cionar, juiz agastado do recusante, o cidadão recusado.» (1)
Em consequencia, «o jury e a mais ampla faculdade de
recusa ,3ão te1'mos insepm'aveis.» (2) Ora, das duas especies
de recusas, «a veremptoria é o fundamento e a essencia do
jury, constituindo, especialmente para o réo: di1'eito substan-
cial da defeza.» (3) O direito de recusa não é efficaz, não"
é sério, não é livre, se não fôr peremptorio: «a liberdade de
recusação exige que não se lhe hajam de indicar os motivos». (~)
Abundando no mesmo sentir, escreve MITTERMAIER:
«Com razão se considera o direito de recusa um dos signaes
mais essencialmente adequados a caracterizarem o jury.» (5)
E, no seu celebre Tractado da Prova, fixando «os cara-
cte1'e& especiaes do jury», accentúa, entre 06 quatro enume-
rados, o de que, «desfructando o accusado o mais amplo
direito de recusação, tenha por juizes aquelles, cuja auctori-
dade acceitar livremente.» (6)
Ao sentir de italianos e allemães se juncta o dos inglezes
e americanos. «Os elementos camcter.isticos do nosso jUl'y'»
são, diz LESSER: «primeiramente que os factos se liquidem
por pessoas distinctas do magistrado ; depois, que essas
pessoas sE'jam l'lvremente escolhidas d' entre a collectividade
geral dos cidadãos.>.' (7)
FAUSTIN HELIE, estudando esse direito em França, onde
não se admittem as recusas motivadas, ensina: (8) «As 'recusas
8aO da essencia do jury, podendo-se dizer que esta insti-
tuição é robustlt, ou tlebil, tutelar, ou perigosa, conforme eUas

(J) BORSANE e CASORATI, v. v, p. 183-4.


(2) Ib., pago 183.
(3) «Questa specie de recusa e il {andamento e l'essen'Ja deU' instituto
della (Jiuria, e constituisce. specialmente per l'accusato, un diritto suztan-
ziale per la sua defesa." BORSANE, voI. V, p. 182.
(4) «La libertá della recusa esige ehe non si debbano indicare i motivi
dei quali e mossa.» Ib., p. 183.
(5) Procedo crimin, p, 436 n.
(6) Trad. hespanhola de GONZALEZ DEI ALBA (1893), p. 91.
(7) "The characterist elements of our jury are ... » LESSER: Jury System,
p. 44.
(8) Instruction Crimincllc, v. VII, p. 290.
-91-

se exercem mais .ou menos extensamente ... Destruir o direito


de recu!lação, ou comprimil·o em limites nimia~ente acanhados
seria conferir o direito· de julgar ao accaso, á ignorancia, ás
paixões, aos preconceitos; seria lançar no jury todos Oi!
gtnmens de discordia e injustiça, que fermentam na sociedade;
seria abaixaI-o, em vez de elevai-o, entregai-o ás calumnias,
em vez de envolvel·o na confiança publica, proporcionar inex-
hauriveis pretextos a todas as recriminações, a todas as
queixas. O direito de recusa é o complemento da instituição
do jury, seu accessorio indispensavel, 8eu principio de
vida.»
Outra anctoridade, magistral no assumpto, exprim~-se com
a mesma força : «O direito de recusação é a mais preciosa
gm'anUa da lei ao accttsado; é mediante elIa que este ·remove
as prevenções e os odios, obstando a que a paixão venha
sentar-se no logar da justiça. Extincta !lUa, o jury já não
seria o julgamento do cidadão pelos seus pares: degeneraria.
em verdadeira commissftO, muito menos tranquillizadora para
o réo do que a jurisdicção dos tribunaes. Bem se concebe,
pois, qutll tudo o que respeite ao exercicio da recusa, toca
essencialmente á lIubstancia da inlltituição do jU?'Y, e que a mi-
nima dm'ogaçã o das regras traçadas, a este respeito, pelo
legislador, opera a nullidade do processo, ainda que tal sancção
não se ache lit.teralmente escripta na lei. Essas irregularidades,
uma vez occorridas, não se pódem sanar, é assente na juris-
prndencia, n~m pelo consentimento. exp"es8o do accusado. De
accôrdo com este& principios se tem julgado: I? que a facul-
dade de recusa 6 inlterente á instituição do jury; de sorte
que, se qualquer das partes se achou inhíbida, seja por que
circumstancia fôr, de usar dessa faculdade, os doze cidadãos
reunidos, 8em .terem passado l}ela prova das recusas respe-
ctivas, ~e consideram méros individuos particulares (1) ; 2°
que constituindo o direito de recu~a parte essencial do di1'eito
de defesa, todo obstaculo ao livre exercício do direito de
recusa vicia mdicalme'lte a composição do jUl'y, e ammlla de
pleno aireit9 o processo.~ (2)
Esse direito, como se vê, considera· se até, irrenunciavel.
'J.'al a sua valia. Definindo·o na sua essencia, reflexiona ainda
outro escriptor: «Não é essencial que o numero de jurados
seja de doze, em vez de outro, llem que elI.es se designem
desta ou daquella fÓI ma, que exista 11rl1 jnry de accusaçã.o,
que o veredicto se profira por unanimidade. Mas é, pelo con·

(1) LE SELLYER : Traité de Droit Cl"imincl, v. m, ll. 1320, p. 723.


(2) DALLOZ: RélJertoire, v. XXVIII, p, 481. ll. 1854.
trario, de ab80luta neiJes8idade, prtra que uma instituiçt%1) met'6çd
'o nome de jury, que se componha de cidadãos escolhidos ne
seio do povo e destinados a volverem a eBe ape nas desempe-
nhada a sua missão. E' necessario, outrosim, que essa missão
se reduza a um numero mui parco de veredictos e que ao ma-
neira da selecção, combinada com uma ampla faculdade áe
reCU8ar, assegure ao accusado, nos seus juizes, capacidade,
independencia, imparcialidade. (1)
A imparcialidade é a face, por onde essa instituição se
liga indissoluvelmente aQ direito de recusa. A' constituição
americana (emenda VI) mereceu esse caracter do jury a espe-
cialidade de uma consignação expressa, comquanto se tractasse
de um predicado necessariamente commum a todaespecie de
justiça. «Em todos os processos criminaes terá 'direito o
accusado a julgamento prompto e publico, mediante um j'Ury
im:1at'cial.» (2) Nos commentarios de STORY a definição do
jury especifica entre os seus requisitos constitutivos o de
serem os seus membros «imparcialmente escolhid08» (3); ao que
se accrescenta: «E a lei, que preterir qualquer desses requi-
sitos, pôde con8iderar-8e inconstitucional.» (4) Referindo-se aos
termos da constituição americana, dizia um dos grandes
oraàores forenses daquelle paiz, em occasião solemnissimas
perante a suprema eôrte federal: cO crime do accusado, ou
sua innocencia, se verificará por um jury imparcial. Estas
palavras inglezas hão de entender· se na sua accepção ingleza:
querem dizer que á sel@cção dos jurados procederá lealmente
um funccionario juramentado, escolhendo-os d' entre os pares
do réo, e que este, sorteados os do seu julgamento, poderá
eritremar o conselho de prevenções, improbidadei, malque-
renças pessoaes, mediante certo numero de recu8a8peremptoriàs,
além de quantas outras logre justificar.» (5)
Nessa relação fundamental com a imparcialidade, indis-
pensavel condição moral e social de toda magistratura, está
o motivo determinante da recusa peremptoria. «O direito de
;:ecusa peremptoria concedido ao accusado, affirma MITTER-
MAIER (6), com;i~era-se «meio essencial. á imparcialidade do

(1) lJictionnaire Génér. de, la pOlitique, por M. BLOCK (ed. de 1884)


v. lI, p. 159.
(2) «In all criminal prosecrrtions, the accmsed shall enjoy the rigtht
to a speedy and public trial, by an impartial jury ... "
(3) <<Impartially selented.» Ed 1891, v. II, 559, n. 2.
(4) "Any law, therefore, dispensing with any Df these requisites, may
be conBidered unconstitutional.» Ibidem.
(5) JEREMIAH S. BLACK: Argument in defensf:' or the trai by jury.
SNYDER: Great spf:ches, p. 493,
<6> Proced. criminal., p. 437.
93

jury.» Este juizo encontra ainda confirmação no testemunho


de um dos mais eminentes publicistas inglezes do nosso tempo:
«Assegura· se a imparcialidade do tribunal, ao que se crê,
mediante a introducção, na sua escolha, de um elemento suf·
ficiente de casualidade e o direito, outorgado aos litigantes, de
recusarem motivadamente certas pessoas, rejeitando outras,
nos pleitos criminaes de importancia, sem indicaçã.o 4e
causa .• (1) .
Nos escriptores americanos sobresae ainda em mais alto'
relevo a essencialidade da recusa peremptoria em relação],'
existencia constitucional e á verdade juridica do jury.. ....... .
« Muitos dos incidentes do proce~so do jury estabelecidos'
pelo direito commum:., diz COOLEY, «são elementos ess(mciaes'
do direito. Cumpre que o jury seja indifferente entre o réo e
a republica; e, para assegurar essa imparcialidade, se aucto-
risam as recusações, não só motivadas, ma8 tambem perempto-
ria" isto é, sem menção de fundamento.» (2) Quem poderá
sensatamente contestar que, neste lance, a sentença onde o
auetor CalIa nas recusas peremptorias como garantia necessaria
da imparcialidade prenda com a anterior, onde se' allude aos
incidentes usuaes do processo, que constituem elementos essen-
ciaea do direito? Condições ha, que são da substancia do jury,
Ora, uma dessas condições é a imparcialidade. Mas as recusas
são da essencia da imparcialidade. Logo, são da essencia do
jury. Aliás com esta proposição,ainda mais energicamente
formulada, já muitas vezes nos temos encontrado, aqui, nos
grandes commentadores francezes, allemães e italianos supra-
citados.
«.0 jury ha de ser imparcial., diz BLACK; «e, para
assegul'ar esse resultado, o réo deve ter' o direito de recusar
ou objectar aos jurados por qualquer motivo inaptes. A legis-
. latul'a pó de prescrever a opportunidade e a maneira de im-
pugnar a competencia dos membros do jury, mas não pôde
acabar com o direito a essa impugnação. « Não são, entre·
tanto, inconstitucionaes as leis, que limitarem o numero de
recusações peremptorias fl'anqueado ao réo, ou as que outor-
garem á accusação egual faculdade. » (3) Por outr~: o poder

(I} HENRY SIDGWICK: The elements of politics. (Lond., 1890), p. 467.


. (2« Many of the incidents of a common-Iaw trial by jury are essen-
hal e ements of the right. The jury must be indifferent between the pri-
soner and the Commonwealth; and to se cure impartiality challengs are
allowed, not only for OaUl!!e, but also peremptol'y without assigning cause.»
COOLEY: Const. limito (ed. de 1883), pag. 392.
(3) BLACK: Am. Consto Law., p. ~94-5.
94

legislativo fixa constitucionalmente o limite ás recusas perem-


ptorias; mas exorbitaria da constituição, se as abolisse.
« ]'orça é que o jury seja imparcial:\>o, eSl!I'eVe WHIT-
BRIDGE. (1) Isso é da sua essencia; e o principal meio, por
que se diligencia obter, consiste na maneira de escolher os
jurados o no direito, attribuido ás partes, de recusal-os. »
No Bl'asil, a noção da importancia vital das recusas pe·
remptorias data. do primeiro alvorecer das instituições livres.
O Decr. de 18 de Junho de 1822, onde tem a sua primeira
. nascente o jmy entre nós, determinava: ~ Os réos poderão re·
cusar, destes vinte e quatro nomead,)s, dezeseis; os oito res-
. tantes, po::ém, procederão ao exame, conheciménto e avario
g'nação do facto, como se procede nos conselhos militares de
investigação. » O projecto da assembléa constituinte, posto em
vigor pelo DecI'. de 22 de Novembro de 1823, estatuia: «No
dia aprazado, concorrendo o juiz de direito com os eleitores na
casa da eamara, a portas abertas, fará extrahir da urna doze ce·
dulas, das que hão de formar ú segundo conselho, hão entrando
nelle os que já. tiverem formado o primeiro; e neste caso poderã.o
os aecusados recusar até vinte, e o accusarlor 011 aecusadol'es até
dez. » A lei de 20 de Set.embro de 1830, art. 33, prescrevia
que, «entralldo-se no sorteamtlnto para a formaçfW do jury. _-
farão accusado e accusadol' as suas reellsa~, sem as motivarem.»
O codigo do processo criminal, emfim, art. 275, estabélecen
definitivamente, em nossa legislação, o direito ás recusas immn-
tivadas, associado sem pre, alli, como em todas as outras leis do
imperio, anteriores e posteriores, ao sigillo do voto. E nunca
houve reaccjão, que ousasse tentaI' cont.m arJlwlle attdbuto, im·
memorial, universal, essencial da instituitJLO.
Nüo lia lembrar.o que a sen respeito entendiam liberaes,
Ilem imaginar o que da su:t fl.holiç~iO Lerianl cUto I'ttpubliellllos
~(}b a monaJ'chia, qnando se pensa no que acerca. tlc,-sa garantia,
venel'11da por toda8 as escr!J;~s. sent.iRm eülIservadores, como I)
marquez tle S. VICENTE. «00111 raziio e.•. t,aheleeeu I.L lei:t, e:·-
crevia eJIe, « <1, valiosa. gal'ant.ia das r~cl!sa(;ões' peremptorias,
Pôde haver odios, ulltipathias, ou t'UlHli1.(!its, ou llascidas só-
mente de prevenções, pl'eeonceito!:> ql\(~ n;lO :::e podem expliC!\r,
e me1lOS IJl'ovur, e que, entretanto, exerçal)) influencia e illl-
pre9lões incommo ias e aftlietiva ~ sobre o espírito do accnsa.do,
ou aceusad/)t'. PÔ ~e llavd' motivo~ o(~c,ulto:;, que lIi'lo se possam

(I) CyeZo]). of Political Seienee, p, 658. «The jury must ~e impartial.


This IS 01' its eSgence: It ie in the main sOllght to be accomphshed by tho
manner of selectiug tho jnl'or8, and by giving to the pal'ties the right 01'
challenging the jurors ellOsen. »
-95 -
nem ao menos expressar, porque ofendam conveniencias
publicas, ou graves interesses. E' por isso que a lei não obriga,
e, até, prohibe expôr as razões das recusações peremptorias;
e certamente que o contrario fôra reduzil-as aos unicos casos
de suspeição e illegitimid~de, e destruir uma tias condições, que
purificam e mais illustram a instituição. »(1)
A recusação peremptoria adhere', pois, de um modo in-
destructivel, ao jury, como elemento substancial do seu orga-
nismo:
historicamente, em todos os períodos da sua evolução
atravez dos seculos, desde Roma até á Grã-Bretanha, desde
08 Estados Unidos até á Russia ;
actualmente, nas leis de todas as nações, que o adoptaram;
judiciariamente, nos arestos de todas as jurisprudencias~
que o definem';
scientifiC:Rmente, nas opiniões de todos os :auctores, que o
expõem i
nacionalmente, em todo o curso da nossa existtncia como
povo emancipado, desde 182l:1 até 1891. .
A penas um gTUpO 9.e espíritos contraria e1'sa tradiciona-
lidade, essa invariabilidade, essa unanimidade, essa universa-
lidade: são os escriptores da escola anthropologica. Mas eSiles,
propondo «a restricção do dil'eito de recusar, n[w hesitam em
descobrir as suas intenções, confessando nessa medida uma
reforma preparatoria para a abolição dI) jury.
J ury sem recusa perempto ria. é noção, portanto, que não
podin atravessar a mente do legisla.dor constitucional. Pelos
traços rnàis profundos elle poz de manifesto que não 'obedecia
aos canones dessa escola, extinguindo a pena de l!!orte, con·
servando na sua latitude antiga as fun~ões da gTaça e da
amnistia, esmerando-se em perpetuar as gai-antias processuaes
. da libei'riade, e ordenando sem reservas a. manutenção do jury.
As instituições têm caraderes artifieiaes e transitorios; mas ha
elementos permanentes, phyéologicos, essenciaes, sem cujo
concurso nüo existem. Na ultima dessas duas catl!egorias está,
em relação ao jUl'y, a recusa peremptol'Ía. E' uma das condi-
çõe~, que (. definem.
Depois, é principio de interpretação firmado entre os con-
stitucionalistas americanos a proposito da linguag-em usada,
quanto ao jul'y, lias constituições dos estados (2), que, «nos
textos onde se estatne «será mantido o jury», ou «ficará invio-

(1) Processo Criminal, 2" ed., p. :39.


(2) Assumpto. oom que já nos ocoupamos (pag.)
- 96-

lado», a intenção é q\Je esse direito continue tal qu.al existia


ao adoptar-se a con8titltição.» (1)
Nos Estados Unidos a constituição federal se limitou a
garantir o jury federal, porque esse jury é creação sua; não se
se oceupando com o jury loca.l, porque o caracter local deste
se achava preestabelecido, e a sua inviolabilidade já estava
sob a tutella inexpugnavel das cartas, das leis, das constitui-
ções dos estados, assim como dessa commonlaw, o direito con-
suetudinario inglez, que é a alma omnipresente da liberdade
nas constituições de origem britanica em ambos os continentes.
No Brasil, porém, onde o jury era uma creação do paiz, e
não das provincias, o legislador constitucional vio que desfal-
caria a liberdade e a justiça dessa garantia sobre todas ne-
cessaria, se a não vinculasse, pelo cunho, que lhe manteve,
de instituição nacional, ao patrimonio brasileiro das garantias
índividuaes, que as leis do processo nos estados não podem
transgredir sem inconstitucionalidade. E, como a constituição
brasileira empregou, em relação ao jury, linguagem identica
á de muitas constituições de estados americanos, a nossa ex-
pressão «é mantida» não poderá deixar de entender-se no
mesmo sentido que a daquelles textos,«.shall be prt!8t!rved», isto
é, como penhor da inc'olumidade absoluta dessa instituição a
reformas, que a desnaturem.
A constituição republicana prometteu o jary, como pro-
metteu as outras garantias do art. 72, ao paiz todo, não só
contra a acção dos poderes federaes, senão tambem contra a
dos ~overnos dos estados_ As leis de estados, tanto como as leis
federaes, que negarem o direito de reunião, o direito de petição'
o direito de locomoç~o, o direito de propriedade, a inviolabi·
lidade do domicilio, a liberdade da imprensa, a liberdade de
cultos, o habeas-cm'pus, o sigillo da correspondencia, que
autorizarem a prisão al'bitraria, abolirem o julgamento pelos
tribunaes e proscreverem as garantias elementares da defesa,
indubitavelmente são nuUas. Pelo mesmo motivo nuUo é o acto,
federál, ou local, que abolir o .i ury, Ilssegurado no mesmo artigo
e sob uma fórma de declaração ainda mais incisiva. E, se é
invalida a medida legislativa, que declaradamente abolir o
jury, invalida é a que virtualme.nte o abolir, decollipondo-o,
mutilando-o, annulando-o, mediante j;juppressão de elementos
essenciaes.

(1) «And where it is provided (as it is in many of the state consti-


tutions that the trial by jUl'y shall « bc pl'esef'ved », or shall « l'emain in-
violate:o, it i" meant that tItia rig-ltt sltall continue as it exiiltcd at the ado-
ption of the constitution.» BLACi.: ..4.mer. const. lalO., p. 494.
- 97-

Todos os estados brasileiros têm respeitado a garantia


federal. O Rio Grande do Sul é o unico, onde, sob as
intluencias especiaes que moldaram a sua organisação presente,
entrou a se desenvolver, desde os' trabalhos constituintes, o
espirito de antagonismo ao jury. Meras funcções de tribunal
correccional, presidido por um juiz amovivel, eram as que alli
lhe attribuia o projecto de eonstituição política. Apenas se lhe
deixava «o julgamento dos crimes affiançaveis e em geral de
todo8 aquelles, em que 08 1'éo8 se podem livra)' soltos.'» Era a
inversão mais radical de todas as idéas conhecidas no assumpto.
Opiniões ha que pugnam pela extensão do jury á generali-
dade dos casos penaes. Outras pretendem circumscrevel·o aos
delictos de mais gravidade. O projecto rio-grandense transpu-
nha os termos do senso universal, entregando ao jury unica·
mente as infracções de ordem secundaria. Ahi transluz clara·
mente o artificio de subtrahir aos beneficios aessa instituição
tutellar as accusações politicas; nas quaes aliás até a escola de
FERRI e GAROFALO o acceita.
As clausulas dos arts. 50 e 58, que, na constituição do
Rio Grande, mandam funccionar o jury, «mantida a sua actual
competencia'», não vingaram senão por um voto de maioria.
Os debates do congresso desenvolveram contra a bemfazeja
tradição liberal a mais violenta hostilidade, a que poude re·
sistir o nome da instituição, mas não as declarações acaute·
latorias, em que forcejavam por envolvel-a os amigos da justiça.
E' o que resumbra das palavras escriptas, naquella assembléa,
por um membro da commissão de constituição, justificando seu
voto em separado': «Fui vencido nas emendas que apresentei
sobre diverso~ artigos do projecto, no sentido de manter em
sua plenitude a instituição do jury, garantida pela eonstitui·
ção federal. Penso que a Constituinte do Rio Grande do Sul
não deve mutilar a ·liberrima e garantidora instituição, ainda
mail!! quando de sua longa pratica -não se podem accusar resul·
tados mãos.:.
A politica dominante naquelle Estado, portanto, não re·
conhece no jury esse caracter de constitucionalidade federal,
que é a base da sua estabilidade entre nós contra as pretenções
das tyrannias locaes. Queria eliminai-o da organisação judi-
ciaria no Rio Grande do Sul. Não n' o tendo conseguido,
abstem-se agora de investil-o pela frente, diligenciando chegar
ao mesmo resultado por uma grosseim manobra de flanco. (I)
• (1) eLe gouvernement impérial, n'a;rant pu le renverser de fronb (le
Jury), «l'attaqua ensuite de biais et lUl porta de nombreuses blessures,..
MIOT DE MELITO. Apud GRUPPI: Napoléon et le jury. Ga;;ette des Tribu-
nauil1, 17 Out. 1896, pago 1044.
DIa. YOL. 73 7
- 98-

Em defesa da lei, que a operou, insinuam os sens apolo-


gistas que eIla deixou illesa a constituição, tocando-lhe apenas
em accidentes, que não lhe interessam a essencia; ou o caracter.
Mas nas proprias razões elo governador se descobre a inten~ão
de submetter o jury a uma transformação fl1ndamental: «O
sy:;tema vigente de recusaç6es não póde subsistir, sob pena de
alimentar-se uma das fontes (le desmoralisação do j1try . .. A má
escolha actual dos jurados e ainda o direito de recusar perem-
ptoriamente são caU8as dir~ctas do falseamento do jury ... lHas
a reforma porventura a mais interessante é a que estatue o
voto a descoberto como condição elementm· á regeneração do
jury.» (I)
E' o pl'Oprio legislador rio-grandense, que lavra, portanto,
a confissão de que a sua reforma. interessa por dois modos o
principio vital do jury, alterando-o em dous pon.tos sub~tan·
ciaes, com o fito dê sal vaI-o. (2)
Entre os que defendem a tradiçl'i_o nacional do jury e os
que afoitamellte se :<tbalançam a invertel-a, é commum o ~enti­
mento de que a vida ou a morte delle estão ligadas á questão
da recu~2, peremptoria e á do sigillo ou publicida.de na adopçd.o
do veredicto. A divergencia está no II.ntagonismo da solução
proposta. por uma e outra parte, ás duas questões. Emquanto
a lei positivista, com a confiança dos mezinheiros sociaes nas
panacéas rev:olucionarias, preCOnillR no voto a descoberto e na
alJolição do direito de recusa a formula salvadora, o espirito
conservador das grandes instituições vê, pelo contrario, na re-
cn~a pereml)toria e no voto ~ecreto dois elementos imprescin-
diveis á exh.,tellcia do jury. Estará, si quizerem, a razão com o
governad(;r d,o Rio Grande, em quem fez erupção a tendencia.
radir,al; não estará com o recorrente cujo espírito. calmo de
magistrado quer oppõr á Lwra do vulcão a barreira constitu-
cional. l\Ias o que é inquestioll:1,vel, pelo menos, é que a legenda
constitneional do jnry, os termos da sua in13cripção llalei funda-

(1) L. n. 10. de 16 de Dezembro de 1895. Impugnação das emendas
pelo SR, JULIO DE CASTILHOS, p. 50, 5].
(2) São oe mesmos sentimentos de atrecto por essa instituição, que
protestavam os amigos de Bonaparte, advogando o projecto, em que o
primeiro consu1, no anno de 1801. subtrahia ao jury a~ infracções graves,
entregando-as a um conselho especial, de tres magi~tradoil. tres militares
e dous cidadãos nomeados pelo chefe do governo. cc DUVEYRIER, lléfen-
dant le projet, laissa voir avec naivité le but poursuivi par 1e PremieI'
ConsuI. Il protesta de son mnour pour le jU;'!J, "bienfait et garant de la
liberlé.» Mais, pour sauver, dit-iJ, « les restes faibles et précieux» de
cette institution, iJ fallait lui épargner des difiellltés, qu'elle ne saurait
vaincre. Il fallait lui r·éservel· le jugement des {autes tégeres.» (CRUPPI,
loco cit., p. 1043.)
E', como se ve, o me1!mo que se tentou fazer no Rio Grande do Sul.
V. supra, p.
- 99-

mental, não pó de abranger, ao mesmo tempo, os dois pontos de


vista in conciliaveis.Si a distancia entre o j llry tradicional e o jury
do futuro é tamanha, que as condições de vita.lidade são oppos tas
entre os dois, a lei que determina manter-se o primeiro, não
podia ter cogitado no segundo.
Para que este vingue, portanto, necessario é rompel-a, ou
reformaI-a. De reformal-.. não tinha competencia o legislador
rio·grandense, e em rompel-a não devia ser cumplice o recor-
rente.

Novum cl'imen: o c1'ime de hermeneutica

"Não se p6de considerar crime a interpre-


tação. embora erronea, da lei, dada pelo
querellado no uso legitimo das suas funcções
de magistrado ... O querellado". agiu dentro
dos limites das suas funcções. executando
até uma disposição. que o auctorizava expres-
samente a exercitar a funcção judiciaria da
interpretação. Portanto, o procedimento do
querellado não se enquadra no art, 226 do
Cod. Peno O abuso de auctoridade, que carac-
teriza-se pelo. excesso dos limites das fun-
cções PI'oprias do emprego, é o crime da
autoridade policial, por exemplo, que se
ingere em negocios ciyeis, e por esta causa
ordena prisões. Esta tem sido a lurispru-
pencia doa tribunaes e nomeadamente a do
Acc. Rev. da ReI. do Rio, n_ 2.130, de 19
• de Setembro de 1873.»
VIEIRA DA CUNHA (voto vencido no accor-
dam' de pronuncia),

A r~si8tencia do juiz da comarca do Rio Grande a essa


transmutação do jury numa degenerescencia indigna de tal
nome ~urprehendeu a politica daquelle estado com o impre-
. visto de uma força' viva e independente, a consciencia da
magistratura, difficil de submetter-se á prepotencia dos go-
vernos. Com a neces~idade então de acudir a obstaculo tão
inesperado, improvisou-se, por acto de interpretação, DOS
tribunaes locaes, contra a magistratura, um principio de
morte, de eliminação moral, correspondente ao que, por acto
legislativo, se forjára, contra o jury, no gabinete do gover-
nador. O jury perdêra absolutamente a sua independencia,
com o escrutinio descoberto e a abolição da reCUSrL peremptoria:
o poder não abrira só um postigo sobre a consciencia do
jurado: aquartelára-se nella. Para fazer do magistrado uma
impotencia equivalente, crearam a novidade da doutrina, que
inventou para o juiz os crimes de lzermeneutica, responsabili-
100 -

zando-o penalmente pelas rebeldias da sua consciencia. ao


padrão offtcial no entendimento dos textos.
Esta hyperbole do absurdo não tem linhagem conhecida:
nasceu entre nós por geração espontanea. E, se passar, fará da
toga a mais humilde das profissões servis, estabelecendo, para
o applicador judicial das leis, uma subalternidade constante-
mente ameaçada pelos oraculos da orthodoxia cortezã. Se o
julgador, cuja opinião não condiga com a dos seus julgadores
na. analyse do direito escripto, incorrer, por essa dissidencia,
em sancção crimin~l, a hierarchia judiciaria, em vez de ser a
garantia da justiça contra os erros individuaes dos juizes,
pelo systema dos recursos, ter-se-á convertido, a beneficio dos
interesses poderosos, em mecanismo de pressão, para substituir
a consciencia pp.ssoal do magistrado, base de toda a confiança
na judicatura, pela acção comminatoria do terror, que dissolve
o homem em escravo.
Os autos patenteiam a energia desenvolvida pela admi-
nistração rio-grandense, afim de impôr á magistratura essa
abdicação de si mesma. Não se lhe mandou snbmetter o
procedimento do juiz da comarca do Rio Grande, para que o
apreciasse. Prescreveu-se-Ihe antecipadamente a obrigação de
condemnar, mandando-se «promover, com a possivel brevidade,
a responsabilidade do juiz delinquente e faccioso.» Taes as
palavras do governador, no offtcio de 31 de Março deste anno,
ao desembargador procurador geral do estado. Ficava sei ente
o tribunal, por aviso cathegorico, de qlJe não poderia abso lver
o accusado, sem se constituir faccioso como elIe.
A attitude de imperio, assumida, na queitão, pelo go-
verno rio-grandense, foi maravilhosa nos seus effeitos. Mi-
nisterio publico e julgadores andaram ás apalpadelas, para
acertar com uma qualificação penal, onde pudesse ca lhar,
sem maior escandalo, a vontade do chefe do estado. A's c egoas,
quanto ao crime em que haviam de capitular o réo, um ponto
houve sempre, comtudo, em que nunca hesitaram: o de que
a sentença tinha de ser condemnatoria, fosse qual fosse a
inscripção criminal, em que se houvesse de encartar.
A denuncia averbou o facto no art. 207 § 1" do codigo:
prevaricação consistente em ~julgar, ou proceder cúntl'a lit-
teral disposição de lei. ~ Se~undo essa classificação, a li tte ra-
lidade evidente da abolição dQ voto secreto e da recusa pe-
remptoria Da lei rio-grandense vedava ao juiz conhecer-lhe da
constitucionalidade. O codigo penal de 1890 derogára a c on-
stituição federal de 1891: constitucionaes, ou inconstitucionaes,
as leis, em sendo expressas, hão de forçosamente cumprir- se.
O superior tribunal não se conformou com o . erro crasso do
-101-

orgam da justiça. Aceitou, sim, a accusação, mal para a en-


casar no a~t. 226, onde se prevê o crime do funccionario, que
«ex ceder os limites das funcções proprias do emprego». Não
foi, porém, sem dilaceração interior que alli se chegou a esse
resultado. A pronuncia vingou por sós dois votos consonantes.
Dos outros dois, subscriptos ao accordam, um abraçava a
jurisprudencia do procurador geral, o outro opinava resoluta-
mente pela absolvição. Ao julgamento compareceram apenas
tres juizes, além do presidente; e, divergente um deIles, os
mesmos dois, a cujos suffragios se devia a pronuncia, deter-
minaram a condemnação.
Felizmente, pois, não é grande o numero dos que acei-
taram a responsabilidade extravagante da sentença, que vai
julgar o Supremo Tribunal Federal.
Negando-se a applicar um acto legislativo, que tinha por
inconstitucional, o accusado excedeu 08 limites das jÔlCções
P1'op1'ias do seu cargo. Eis a substancia da decisão.
Ora, os seus prolatores não se affoitaram a negar aos
juizes, neste regimen, a obrigação (não só o direito) de re-
cusar obediencia âs leis inconstitucionaes. A noção era nimià-
mente elementar, para ser contestada sem indecencia. O mais
ignorante dos magistrados não poderia contrariar hoje, entre
nós, esse principio, ainda que se reserve praticamente, como
no caso actual, o arbitrio de transgredil·o. O jui~ da co-
marca do Rio Grande suppoz séria a nossa adaptação ao 1'e-
gimen americano, onde «o chamado poder de annuIlar as leis
inconstitncionaes é antes dever que faculdade, e dever tão
impost0 ao minimo tribunal de qualquer estado, em se susci·
tando a questão no curso de um,~pleito, quanto á suprema
côrte federal.» (1) Acreditou na verdade, energicamentE" fol'-
mulada por BRYCE, (2) de flue, quando o congresso ultrapassa
. as raias da constituição, já nào é um corpo legislativo, «'fitaS 1un
~imples grupo de pa1'liculal'es, (t mel'e gl'OUp of p1'ivate persons.})
Tinha, para isso, além das razões geraes, dos rudimentos
communs ao regimen no paiz todo, motivos peculiares ao Rio
Grânde do Sul, em cuja lei de organização juo.iciaria via
inscripta, pelo 'proprio governador actual, a regra de que «os
juizes deixa1'ão de appli( ar as leis m.ani;festamente inco1tsii-
tucionaes.» (3) .
O legislador administrativo ou arlminhtrador legislante
(não sabemos como exprimir esse hybridismo indigena), de-

(1) BBYCE: Th~ American commonwealth.v. I, p. 1, C. l:ÃIll.


(2) lbi.
(3) Lei rio-grandense, n. 10. de 16 de Dezembro de 1895, art. 8°.
- 102-

fendendo a clausula por eIle inserida a11i em artigo especial,


vindicára com o maior desassombro a doutrina americana em
palavras deste vig"or:
« A disposição do projecto nada encerra de
vago e perigoso; porque ella traduz apenas
essa preeminencia necessaria da lei constitucio-
nal, quando em conflicto com as leis ordinarias.
«Ha Ullla ordem geral que prende todas as leis
a um systema harmonico, de modo que umas
n[w destruam as outras. E' preciso que se tenha
sempre em vista o que SAVIGNY chama ligação
de todas as leis e instituições (le dú"eito no seio de
Slta vasta un'idade. D'ahi, como ensina PAULA
BAPTISTA, a primeira regra é que as leis c07lsti-
i> tucionaes, na parte em que estabelecem o 1"egi-
rnen politico, e garantem os direitos indi1:Jiduaes,
exercem uma preponderancia decidida sobre todas
as leis secundarias. Eis o criterio, que deve
guiar o magistrado, que na contradicção entre
a lei fundamental e a lei ordinaria, não pode
vacillar sobre a validade da primeira. E' isso o
que está expresso na Constituição da Republica
e na lei n. 221, de 20 de Novembro de 1894,
art. 13, § 10 .» (1)
Ora, é mister mlia sagacidade inaccessivel ao commum dos
mortaes, para conciliar essa attribuição, reconhecida pelo le-
gislador rio-grandense aos juizes, de verificar e pronunciar
a inconstitucionalidade das leis, com a competencia, reivin-
dicada pela mesma autoridade para o governo, de responsa-
bilizar os juizes desobedientes ás leis inconstitucionaes. Evi-
dentemente, se o executivo, que no Rio Grande faz a lei, póde
averbar de rebelde o magistrado, que a declara inconstitu-
cional, a funcção de aquilatar a constitucionalidade das leis
passou, alli, dos tribunaes para a administração. O poder de
azer a lei e o poder de executaI-a confundem-se, alli, na mesma
fcabeça, no cerebro do governador. Accres~entando a essa
concentração de prerogativas a de aferir o acerto das sen-
tenças' em materia de direito constitucional, o constituciona-
lismo rio-grandense reduz ã sombra d~ uma sombra o papel do
magistrado. Seria sempre natural que o auctor da lei se em-
penhasse em propugnaI-a. Se a decretára, a presumpção é

(I) JULIO DE CASTlLHOS, loco ci{., p. 35.-05 italicos são do governa~
dor do Rio Grande.
-103-

que o tinha feito, por lhe crer na legit.imidade. Mas accusar


de crime o juiz, que a negava, era negar· lhe . o poder de jul-
gal·a, que aliás, por outro lado, em principio, lhe confessa •
..c\. lei não é manifestamente inconstitucional, não occorre
na espede a inconstitucionalidade rnanffesta: eis o subter-
fugia, por onde, em auxilio do governador, busca o superiõr
tribunal do Rio Grande harmonizar a autoridade do juiz com
a imputação de abuso, que se lhe assaca, no exercício della.
Mas não é ao anetor da lei que compete pronunciar sobre a
evidencia da sua inconstitncionalidade, n'um regimen que en-
trega aos magistrados o criterio dessa apreciação. Por isso a
tacÍla de faccioso. vi.brada pelo governador contra, o accusado.
resvala, sem n' offender. Depois, as opiniõe~ dos juizes, quando
erroneas, no uso dessa attl'ibuição, tem a sna emenda, não na
responsabilidade penal dos magistrados, mas na reforma. das
sentenças. Nesta these, que demonstraremos, assenta aqui o '
eixo da defesa, o seu ponto capital.
Se, com effeito, se provar que os juizes não têm responsa·
bilidade criminal pelas incorrecções de hermeneutica, em que
incorrerem na analyse da constitucionalidade das leis, não se
ha mister de mais nada, para a absolvição do recorrente. Es-
forçando-nos por evidenciar a monstruosidade constitucional do
jury rio-g-randense, tivemos em mira, não tanto a defesa do .
. nosso constituinte, como a da instituição, anniquilada naquelle
estado, se o supremo tribuIlal a não salvar com um aresto
restaurador. Mas o recurso 'interposto não depende essencial-
mente dessa questão; porque o juiz podia errar, considerando
inconstitucional uma lei constitucional, sem incorrer por isso
em criminalidade, em quanto não se mostrar a formula criminal~
que preveja e castigue, nos magistrados, crimes de ~pinião.
A sentença n'um considerando fundamental declara «sem
legitimo fundamento a justificativa intentada na resposta á fi. 15
ante a força da expressão manifestamente inconstitucionaes, do
art. 8° da lei n. 10, a cuja' disposição se soccorre o denun-
ciado. »
Principia a$entenç8. por empregar de um modo lastimavel-
mente errado o vocabulo justificativa, que em um documento
judiciario não póde ter semelhante applicação. Perante os
arts. 27 a 35 do co digo penal, a justificativa presuppõe a exis-
tencia do crime, cuja responsabilidade vem dirimir; e o magis-
trado, que se defende, sustentando o uso constitucional da sua.
auctoridade, nega a acção criminosa: não aUega escusas, que
o isentem do castigo. •
, lJepois, esse julgado commette ainda a erronia estranha de
filiar a.o art. 8° da lei rio·grandense a fllncção, incumbente á
-104-

II.tagistratura, de proteger o direito constitucional contra as leis


ordinarias, que o violarem. O art. 8° da lei rio·grandense é
uma rednndancia na jurisprudencia republicana. Essa preroga·
tiva da justiça, no regimen actual, resulta directamente da
constituição da republica, onde, na phrase do Sr. JÚLIO DE
CASTILHOS, é exp1'essa. Ora, o adverbio « manifestamente », in-
serto no texto da lei i"io-grandense, não se acha no texto da
carta federal. Foi colhido pelo legislador daq uene estado no
art. 13, § 10, da lei n. 221, de 20 de Novembro de 1894; e,
estando na lei federal n. 221, como na lei estadual n. 10, por
um acto do congresso e um acto do legislador local, não tem
outro valor, além do que lhe reconhecer a magistratura como
interprete suprema da constituiçãO e afferidora, pela consti-
tuição, dos actos legislativos.
Se os tribunaes, pois, reputassem inconstitucional a res-
tricção posta á sua auctoridade pelo arlverbio« manifestamente»,
cumpria-lhes despresal-o, como lhes cumpre despresar, no con-
texto das leis ordinarias, tudo o que não se harmonize com a
lei constitucional. Para se conformar com essa definição le-
gislati ra do seu poder constitucional, necessario é, portanto,
que a magistratura comece por submettel-a ao seu proprio juizo;
e, se subscreve o « manifestamente », que na constituição não
se enuncia, com isso manifestamente firma a lição de que uma
idéa não necessita ser f'xplicita, para ser manifesta.
Ahi está onrie naufraga a ingenuidade dos que snppõem
ter, por esse manifestamente, delimitado com a precisão de um,).
raia inequivoca a linha entre o e:1.ercicio correcto e o exerCÍcio
incorre(~to do poder confiado a(IS juizes, para joeirarem a con·
stitucionalidade e a inconstitucionalidade na critica das leis.
O que é manifesto a um espirito, pó de ser duvidoso ao criterio
de outros, ainda figurando que estes e aqueIles occupem nivel
superior, emparelhando, ao meslllO tempo, no talento e no de-
sinteresse. Não se descobrio, até hoje, a pedra de toque, para
discernir com certeza absoluta o oiro falso do verdadeiro na
interpretação dos textos. E, quando estes são os de uma consti-
tuição, lei política, lei das leis, isto é, lei condensadissima na
expressão e no intento amplissima, os juristas mais eminentes,
os magistrados mais rectos podem conscienciosamente divergir
quanto ao alcance de uma phrase, de uma fórmula, de um
enunciado, ligando-lhe pensamentos diversos, ou limitando-lhe
extensões desiguaes. A consequencia é que -a mesma lei, confe-
rida pelo mesmo padrão constitucional, acontecerá ser contra,
dictoriamente julgada válida e nuHa, sem <fue de uma e outra
parte haja quebra na competencia, ou na !:'inceridade.
Consideremos por um instante a hypothese vertente. A
- lJ5-

lei rio·grandense alterára, em todos os caracteres de que a


revestia a tradição' universal e a tradição brasileira, a inlHvi-
dualidade do jury. Augmentára em razão mais que dupla a.
facilidade das condemnações, reduzindo a cinco os doze mem-
bros do conselho. Enfraquecêra o jurado, abolindo o segredo
protector da sua isenção. (1) Prohibindo, emfim, a recusação
peremptoria, matára a confiança das partes nos juizes de facto,
e fraudára a defesa numa. das suas garantias mais efficazes.
Admit.ta-se a opinião de que, assim transmudado, o jury
sej<t superior ao antigo. Em todo caso não será sensata a de
que não esteja inteiramente demudado. Será, se quizerem,
uma invenção melhor. Mas da sua prellecessora não conserva
muito mais do que o nome. Ao juiz, pois, logo que se lhe
ofereceu ensejo de lidar com essa irmovação radical, necessa-
riamente se impunha o confronto com a clausula da constitlli-
ção republicana, que declara «lllantida a instituição do jury».
Tin.ha-se instaurado o litigio, e, com elle, determinado o
caso concreto, /.t especi~ individual, que submetteo acto le-
gislativo á verificação judiciaria da sua constitucionalida1e.
Não se havia mister de que a questão fosse levantada por uma
das partes, como aeream'lnte figura a sentença recorrida.
O iimite da frrncção jndiciaria está em não considerar a incon·
stitucionalidade senãl) no caso pendente. Mas no terreno es-
tricto do caso pendente nada tolhe ao j aiz a iniciativa no
exercicio ele uma attribnição, que, além· do interesse das
partes, entende com as bases organicas de toda a. justiça.
A maior das nullidarles é a nullidade da lei, a sua illegiti-
midade constitucional. A lei inconstitucional, neste re~imen,
é inita de nascenç.a: it is az if it had neveI' been», diz
COOLEY. Sua invalichie é irremediavel. () consenso dos iute-
res:mdos não pode sanal-a. A iniciativa dos interessados não
poderia ser, portanto, requisito essencial da sua decla-
ração. Movida por elles a acção competente) o tribnnal
não ha de ser obrig-,Ido pelo silencio das partes a dar vigor
a uma inconstitllcio!ll1.!idade, cuja evidencia o colloque na
altel'l1ativa de afastar~se da. lei, para observar a constituição,
ou infringir abertamente a constitniç~o, se executar a lei. Só
as llullidades institui das no interesse dA.s partes necessitam,
para que a ju'Stiça as conheça, que as partes as argúam. As
nullidA.des estabelecidas no intere88e da lei, são dd . ordem

(1) «Oggidi tutti i legislatori si accordano nello stabilire ohe la deU-


berazlOne e votazione debbono essere segrete. perchà il segreto, oUre a
meglio conciliare lo studio e il racoglimento deI giudici, à indispensabile
per assecurare l'independenza dei medesimi. .. MAT:rrRoLo: Trattato, vol.
IV. p. 37, n. 39.
-106 -

publica, e, como taes, se pronunciam ex-officio. O direito


civil considerou sempre como de interesse publico as nulli-
dades, que envolvem a ordem das jllrisdicções. No direito con-
stitucional, portant.o, não se pOderiam deixar de haver como
de ordem publica as Ilullidades concernentes á ordem dos po-
deres. Inconstitucionalidade, numa ld, quer dizer invasão da
soberania constituinte pelo poder legislativo. Pouco importa,
pois, que as partes a não articulem, se, na contenda entre as
partes o juiz não póde .iulgar~ sem encontraI-a, e obedecer-lhe,
violando o direito constitucional, ou desobedecer-lhe, lJara o
manter.
O juiz da comarca do Rio Grande não podia esquivar-se
á questão. A lei rio-grandilllse mantinha o jury? A novi-
dade, sob que essa reforma o tolerava, seria o jury mantido
pela constituição? Perdurava a natureza da instituição atra-
vez das transformações introduzidas? Assegurando a mann-
tenção do jury, dera, ou não, a lei fundamental á magistra-
tura a incumbencia de preservaI-o?
A' ultima destas questões, a resposta, manifesta na con-
stituição, parecia inevitavelmente aftirmativa, tanto quanto
negativa a solução das anteriores. A declaração constitu-
cional de direitos, nas consr.ituições de poderes limitados, tem
por fim dar a esses direitos invulnerabilidade absoluta contra o
governo, acautelando-os contra as absorpções do executivo,
ou do congrBsso. Na ordem judiciaria está a barreira entre
os direitos declarados e a contingencia dessas invasões. O
que se transmuda, o que se substitue, o que se inverte, não
se mantem. Converter o segredo em publicidade, a recusa
peremptoria em recusa motivada não é conservar: é inverter.
Isso era manifesto aos olhos do recorrente, como é manifesto
aos nossos.
Acreditou elle, como nós cremos, que a definição das in-
stituições não definidas no texto COJlstitucional se encontra
nas leis, na jurisprudencia, nas tradições, nas idéas correntes
ao tempo em que se decretou esse texto. Uma regra de in-
terpretação constitucional na j urisprl1dencia americana quer
que as constituições se entendam á luz da legislação preexis-
tente no paiz. (1) Vio o recorrente que, nos varios estados
da União americana, esse fôra o criterio discriminativo, para
se fixar o pensamento constitucional em relação ao jury, que
as constituições estadoaes declaravam manter. Sendo equi-

(1) « .~ constitution should be co,~strued with reference to, but not


overruled by the doctrines of common law the legislation previously
existing in the State.» CAMPBElL BLA.K ; Ol)nstruction an(t mtçrlJrçtation,
ofthe lmes (119.), p. 19.
- 107-

valente, ou igualo texto do pacto federal entl'? nus, acerca


do jury, aos dessas constituições americanas, inferio que a in-
telligencia alli attribuida a elles, devia moldar a do nosso ;
visto ser principio corrente, na hermeneutica das constituições,
que, trasladando para a lei constitueional do paiz uma clau-
sula da de outro, já illterpret[.l.(la alli, a presumpção é que o
legislador constituinte a adoptou com o mesmo pensamento. (1)
Attentas essas consirleraçõe"l rnanl(estamente se antolhou
ao accusado que a lei do Rio Grande contravinha á constitui-
ção da Republica .
.à.os juizes, q~le o condemllaram, se affigura man!fisto o
contrario. Na sua estimativa a lei rio-grandense mantém o
jury constitucional. As grandes novidades, que o transfi-
gmaram, são apenas variantes superficiaes na physionomia,
matizes de colorido, ou requintes accessorios de gostn. O
organismo é o mesmo. Tanto faz á j llstiça (lepender de
sete consciencias uma sentença funesta, como de tres. Tanto
importa ao jurado sentenciar seguro da impenetrabilidade do
seu voto, como arriscado por elle a sobresaltos, a vindictas, a
dissabores. 'ranto monta ao accusado ver-se julgar por um
tribunal, em que confia, como por um conselho de suspeitos,
ou desaft'ectos. Não ha dift'erença de entidade entre as .duas
instituições, vasadas nesses moldes appostos. Na retina dos
prolatores do aecordam recorrido es~a é manifestam entfl a
imagem da verdade.
Temos, pois, duas opiniões oppostas, a respeito do as-
sumi)to, no seio da hierarchia judicial: uma sustentada por
um magistrado, na primeira inst3.ncia; a outra, na segunda,
por dois. Para esta é manifestamente constitucional o jury
rio.~randense; para aquella, manifestamente inconstitucional.
Ambas as maneiras de ver são professadas com a mesma sin-
ceridade. Ao menos a .nenhuma das partes dissidentes é licito
insinuar outra co usa . O superior tribunal do estado não tem
por graça da sua. superioridade official esse direito. O de in-
íallibilidade tambem não lhe assiste. Um parecer subalterno
póde ter razão contra julgados supremos; um voto individual,
contra. muitos. A questão, em ultima analyse, se reduz, pois,
ao isto; um conflicto intellectual de duas hermeneuticas, falli-
veis ambas e ambas convencidas.
Alguma das duas póde ser criminosa, quando ambas ex-

(1) Where a olause or provision in a ooustitution, which has reeei-


ved a settled judicial construetion, is adopted in tne sarne words l-y the
irarners of an?ther ~onstitution. it wiU be presurned tha the conitruetioIl
hereof Was hkwewlse adopted.» I1J., p. 32.
- 108-

primem o facto mental, involuntario e .honesto, de uma con-


Ticção?
A sentença recorrida é de parecer que sim; porque,
acoimando o recorrente de «exceder os limites das funcções
proprias do emprego», implicitamente lhe reconhece o poder,
que ainda expressamente lhe attribue, de negar observancia
ás leis inconstitucionaes_ O crime está em considerar inconsti-
tucional uma lei constitucional no sentir de outros juizes.
Nessa estranha entidade criminal não ha o menor laivo
de immoralidade: ha meramente um desaccordo scientifico
entre o condemnado e os seus condemnadores. Estes não n'o
increpam de haver usurpado funcções alheias. O excesso das
proprias, que lhe assacam, cifra-se em ter dado, como juiz,
ao texto de uma lei, a lei cOllstitucional, intelligencia, que o
tribunal superior não acceita: Na phrase constitucional, que
mantem O jury, O recorrido enxerga manifesta a vedação de
reformas, que o alterem; ao passo que, para os prolatores da
sentença~ manifesta é, pelo contrario, para as legislaturas, a
faculdade de alteral-o. Toda a questão versa, pois, sobre o
alcance das palavras «é mantida», nas quaes, de um lado, se
sllppõe o animo de conservar com os mesmos c~racteres a in-
stituição, a . que do outro se considera permittido mudaI-os.
O que c0nstitue, portanto, o crime, é a i1tterpretação erronea
do texto.
Antes de examinar se o direito penal conhece esta especie
de crimes, julgada l(lgo prima facie pelo instincto ii1falJivel do
senso commum, vejamos o alcance da inaudita entidade criminal.
Admittido, entre os abusos da auctoridat!e judiciaria, o
delicto de interpretação inexacta dos textos, nestes se hão de
comprehender tanto as leis ordinarias, corno as constitucio·
naes. Se o juiz, que, ainda no uso de' uma fllncção legal,
errar na intelligencia da constituição, incide em criminali-
dade, lliio incidirá menos o que attribuir a uma lei commum
sentido incorrecto. Note-se que em todo o curso desta demon-
stração, os adjectivos incorrecto, inexacto, el'1'oneo, falso pre-
suppõem sempre infallivelmente definida a verdade pela opinião
. vencedora na instan~ia superior.
Ora, raro é o pleito, nos diferentes ramos da jurispru-
dencia, em que se não controverte, e diverge sobre a her-
meneutica de uma clausula do direito escripto. Na aPlllicação
da mesma lei, do mesmo texto, o juizo dos magistrados varia
continua e incalculavelmente: de um para outro litigio no
no mesmo tribunal; no mesmo feito, de um juiz para elIe
mesmo, de uma instancia para outra e, na mesma instancia,
no mesmo tribunal, da maioria para a minoria.
-109

Não ha talvez uma só, das muitas questões já senten-


ceadas no Supremo Tribunal ácerca de leis inconstitucionaes,
em que a decisão fosse unanime. Hajam vista: os habeas·corpui
de Abril de 1892 a favor dos desterrados; os de Agosto e
Setembro de 1893 em beneficio dos presos do Jupiter; a acção
contra' a reforma dos officiaes e a demissão dos lentes vita-
licios polo governo do marechal Peixoto; a intentada em
defesa da antiga magistratura contra. a sua aposentadoria.
forçada; a questão dos impostos inter·estadoaes e dos man-
dados prohibitorios contra actos inconstitucionaes do governo
da União; a do caracter, militar, ou civil, dos militares
reformados; a das consequencias constitucionaes do estado de
sitio. Em alguns desses casos, como o dos limites do arbitrio
do governo durante o estado de sitio e o da situação dOR
officiaes reformados perante a lei militar, houve, no supremo
tribunal federal, sentenças antagonicas entre si. E, quer
nesses, quer nos outros, sempre se viram, no seu seio~ votos
dissidentes da solução predominante. Em certas dessas hypo-
theses, taes como . a das reformas arbitrarias de officiaes, a
das exonerações de empregados vitalicios, a da aposentação
geral da antiga magistratura, a dos mandados prohibitorios
contra impostos inconstitucionaes, as sentenças do supremo
tribunal confirmavam julgados do juiz de secção.. Em todas
essas especies, pois, a intelligencia dada na segunda instancia
ao nosso direito constitucional coincidia com a da instancia
inferior.
Figuremos, porém, o contrario. Demlls qne o juiz seccional
houvesse entendido oppostamente o nosso direito, quanto aos
mandados prohibitorios, á disponibilidade da ma~istratura, á
inviolabilidade das patentes e dos cargos vitalícios, e que o
supremo tribunal reprovasse a decisão por elle pronunciada.
Qual era o correctivo do erro .'ommettido pelo magistrado
inferior? A reforma da sentença? Ou a punição do juiz?
Se, além da reforma da sentença, se houve~se de proceder á
accusação 'do magistrado,. uma j urisprudencia tal negaria á
consciencia do juiz singular os direitos, que reconhece, no seu
proprio seio,. a todos os seus membros. Não ha, talvez, delles
um s6, que na interpretação de textos legislativos, apreciando
a extensão dos poderes do tribunal, não SH tenha visto em
minoria uma vez, não haja alguma vez figurado entre os
vencidos. Na questão suscitada, por exemplo, pelo decr. de 25
de Julho de 1894, que aposentou os antigos magistrados em
disponibilidade, a votação empatou. A quatro dos ministros
pres6lntes á assentada se affigurava manifesto, no art. 6° das
disposições provisorias, o direito dos magistrados á perpe-
-110-

tuidade da sua situação; a outros quatro se representava


manifeste, com a mesma evidencia, o direito do poder execu-
tivo a aposental·os. Foi apenas pelo voto presiàencial que
preponderou a primeira opiniã.o. Admittamos, porém, que
prevalecesse a outra. Pela jurisprudencia do tribunal rio-grau-
dense o juiz seccional devia ser responsabilisado. EUe e~eaêra
os limites aas j1lnCçÕee propria.s.do Se1t emprego, anullando um
acto do governo manifestante consonante, segundo o voto
vencedor no supremo tribunal, com o pensamento da consti-
tuição.
E' absurda a consequencia? Então absurda é a premissa,
de onde elIa fatalmente deriva. Não ha delictos de interpre·
tação. Por interpretação injuridica só é responsavel o juiz,
qnando ella ferir «di&posição literal:» ; e, ainda nesse caso, não
é o erro, que se reprime; é o dolo, a saber: a sentença dada
«por affeição, odio, contemplação, ou para promover interesse
pesioal seu. ,. (Ood. Pen., art. 207, ro.)
A literalidade da lei violada é requisito elementar da
culpa no exercicio da funcção judicial; porque só a literali·
dade estabelece com toda a nitidez as balizas entre a opinic70 e
a intenção, a opinião, que nunca é crime, e a intenção, que
póde sel·o.
Quando a constituição prescreve, por exemplo, qu~ o con-
gresso se comporá de duas camaras; que os mandatos de se-
nador e deputado não se podem accumular; que ao poder le·
gislativo compete fazer o orçamento, votar o imposto, ~onceder
amnistia, legislar sobre o direito civil, commercial e criminal;
que o poder executivo nomeia os magistrados federaes; que os
juizes da União só perderão os cargos por sentença; que os
estados não podem rejeitar a moeda nacional; que a republica
só reconhece o casamento civil; que nenhuma pena passará
da pessõa do delinquente; que ficam abolidas as galés, o bani-
mento e a morte, o intento do legislador é preciso e inillll-
divel. A letra exclue interpretação, ou a reduz aos elementos
da visão intellectual, em que a evidencia opera por intuição
como nos processos mais simples do entendimento. Sob taes
textos, o juiz, por exemplo, que condemnasse á morte, a bani-
mento, a galés, a confisco, que attribuisse effeitos civis ao
matrimonio religioso, que désse por válic10 um acto do governo
demittindo magistrados, que reconhecesse juizes federaes
nomeados por govern~dores, que !:I.pplicasse codigos civis,
commerciaes ou criminaes feitos pelos estados, que admittisse
amnistias outorgadas pelo presidente da republica, que obri-
gasse os contribuintes a pagar impostos não votados em lei,
que executasse como leis meros projectos votados em uma
- 111-

só camara, que condemnas8e o thesouro a émbolsar simulta-


neamente ao mesmo cidadão os subsidios de senador e deputado,
prevaricaria, ultrapassaria as suas funcções; assumiria fun-
cções alheias, transgredindo grosseiramente a lei expressa,
a lei cathegorica, a lei formal.
Ma.s os grandes debates da hel'lueneutica, em assum{ltos
de lei ordinaria e lei constitucional, se travam, por via de
regra, no dominio de relações, onde o direito não póde Cl'yS-
tallizar-se nessas formulas lineares e incisivas, onde a solução
das difficuldades suscitadas impõe cOil.frontos, analogias, infe-
rencias, deducções, Ol~de o processo da interpretação é com-
plexo, lida com elementos technicos, é obriga a raciocinios
delicados. Dessa complexidade resulta o dissidio entre os
julgadores, já no mesmo tribunal, já de um para outro.
A theoria do superior tribunal do Rio Grande converte esse
dissídio em crime, para os membros da minoria vencida, ou
para os magistrados inferiores, na escala da. autoridade judi-
cial. E o delicto, então, resulta simplesmente do estar em
minoria a opinião stygmatizada, ou exercer o accusado a sua
jurisdicção numa instancia menos alta.
Nunca se attribuiu, em parte nenhuma, á magistratura
este genero de responsabilidade.
. «Admittia a lei romana, em geral, a responsabilidade do
Juiz, nos C!lSOS em que, por dolo ou culpa sua, houvesse dado
ao processo uma solução injusta. Considerava,se então
que, segundo a formula de direito, liteln veZ causam suam
fecisse, isto é, tornára a causa pessoal a si (1), queren-
do·se com isso dizer que assumira lt imputabilidade do
prejuizo causado. Se o convenciam de dolo, incorria em
pena (2), e o dolo existia, se o jaiz obrám por odio, obsé-
quio, ou corrupção (3), evicT~ns a1"gnatu1" ejtt8 veZ gratia, veZ
inimicitia, veZ etiam sordes. (4) Se Sé houvera. apenas com im-
prlldencia, só incorria em perdas e damnos. T .il era a decisão
de Gaio.» (5) Dessa decisão, textualmen te reproduzida lÍas
Instit7ttas de Justiniano (6), diz CUJACIO nestes termos: «Judex
1nale jwJicat .a'ltt PC)' impl'udentimn, aut per tlol7tm. Ol~m per
dolum, verant aJsti1nationern ei qnem ZESU ])1"mstat, ~t infamis
fito QltOd se per imprudentiallL, hoc ca8n non est clefinitlun u

• (1) L. 6 Dig'., De extr. cogn.; 1. 15 Dig., Dejudiciis; Inst., L IV. t. v.


lU pro CUJACIO, Comm. ac/leg. 5 Dlg., De O/Infl. acl § Sijucle,-c.
(2) L. :t Cod., De llCCnrtjudiciis ({ui male j!tdiccwit. . .
(3) ULP., 1. 15, Dig., De judiciis.
(4) F. HÉLIE: Instnection criminelle, V. IV, p. 91, n. 1594.
(5) L.lV,t. v, inpr.
(6) COílun. acl leg. 15, Dig., De...., udiciis •
-112-
verum lUis C8stimationem prrestet, fitd tantum quod religioni
judicantis requum videtur prmstat.» (I)
Só para o caso de dólo havia, como se vê, comminação
penal, que era a de infamia : i'llfamis jit (2), além da indem-
nização do damno. Essa dupla responsabilidade só se veri-
ficava na hypothese de sentenças csciente e volu'II.tariamente
p"oferidas em fraude da lei.» (3) Judex tunc litem suam facere
intelligituf', d/,m dolo malo in fmudern legis sententiam dixerit.
Dolo autem mala videiu1' hoc facerc si evidens arguatur ejus vel
gratia, veZ inimicitia, veZ etianl sordes : ut veram aJstimationem
p,.mstare cogatu,.. Sem dólo mau, dolu8 mal~s, não havia res-
ponsabilidade criminal, e só se reputava existir esse elemento
indispensavel de culpabilidade, quando o moveI evidente,
evidens, do julgado fosse a complacencia, o rancor, ou o inte-
resse venal.
Em não se dando circumstancias taes, que obviamente
correspondem á prevaricação do nosso codigo penal, art. 207,
só se admittia, para. o caso de imprudencia, a· responsabili-
dade civil, commensurada, entretanto, pela impOl-tancia do
prejuizo, mas reduzida pelo arbitrio equitativo do julgador:
tantum quod religioni judicantis mquum videtur. Fóra dessas
hypotheses, em que o magistrado male judicat, mas' que ex-
cluem o de simples erro, não era o juiz nem penal, nem civil-
mente responsabilizave!. O que o direito romano punia, em
summa, no juiz, era a f?'aude (4), nunca o erro, estabelecen-
do-se, para aquella hypothese, além da obrigação de resarcir,
a actio ex malejicio. (5)
Salvo nessas circnmstancias, naturalmente excepcionaes,
o meio reparatorio contra as sentenças injustas, contra os
erros judiciarios, con8istia nos recursos, admittidos ainda no
caso de violação ostensiva, pelo juiz, de uma lei, um senatus-
consult.o ou uma constituição. (6) O regimen feudal não co-
nheceu «a appellação,· tal qual se achava instituida pelas leis
romanas e canonicas, isto é, para um tribunal ~uperior, que
reformasse a sentença do outrO.1' O prejudicado empregava
contra o juiz as mesmas vias de desforço, que poderia em-

(1) POTHIER: Pandect. Justin.,1. V, t. I, n. 75.


v. XXVI, p. 2, v.O Forfaiture,
(2j DALLOZ: Répert., n. 2.
(3) L. 15, Dig., Dejudiciis.
(4) MATTIROLO : Trattato di diritto giudiziario civile italiano, v. IV,
p. 11%6. n. 1263.
(5) Pro Inst., De oblig, qure quasi ex delicto nascuntur. L. 5 § 4,
Dig., De oblig. et act. L. 15 Dig., Dejudiciis.L. 6 Dig., Dee:x:traordin.
cognit.
(6) SAREDO : Instituzioni di procedura GÍvile, v. lI, P 6,
-113 -
pregar contra a parte. (1) O appello era umaaccusação pes-
soalmente dirigida contra o prolator da sentença impng'lada. (2)
Mais tarde as sentenças já não se contestam mediante ac-
cusação contra o magistrado, impngnam-~e mediante recnrsos
deIlas contra eIlas, reservando-se as acções civis e penaes con-
tra o julgador· para as hypotheses extremas de dôlo e culpa
lata. (3)
E' a doutrina que já se encontra formalmente consagrada
na legi~lação franceza do seculo dezeseis. «Com o progresso dos
costumt~~ e idéas, o recurso contra as sentenç:u'l houve de ser
dirigido, i!>alvo os ca~os extraordinarios, não coutl':( () juiz. mas
contra a parte, que as olJtivel'a. Uma oruenação llrolllulgada
por Francisco I, em Dezembro de 1540, estatuia que os juizes
não podiam ser accionado8 (pl'is à partie), a não ser nos casos
de dolo, fraude, ou concussão, e a acção directa contra o juiz,
que tinha sido, em França, uma acção de direito commom,
tornou-se via excepcional, admittida unicamente quando \) juiz
envolvêra a sua responsabilidade por acto eminentemente cul-
poso.,. (-4:)
No mesmo sentido prescrevia a ordenação de 1580: «Ne-
pourront les juges être pris à parti e sinon que 1'0n maintienne
par relief qu'il y ait dol, fraude ou concussion, ou erreur évi.
dente en fait ou en droit.» Pelas palavras «erro evidente », ou
. «fraude manifesta» (encontram-se e1'tas ultimas na ordenação
de Maio de 1579), queria, porém, o legislador francez indivi-
duar unicamente ° erro, que, pela 81ta gravidade, se houves8e
de assimilar ao dolo. Por mais a miudo que se repetissem os
casos de acção (pris à pm·tie) contra o juiz, diz-nos FAUSTIN
HÉLIE, «a jurisprudencia tinha· os limitado, estabelecendo uma
regra, que dominava todo o a8Mumpto. Bebida na lei 15, Digesto,
de judiciis, essa regra vinha a ser a de que só se permittia a
acção civil (pris8 á pal'tie) , quando o juiz procedesse per
fraudem, gratias, inimicitias aut s01·des. Assim que, ainda aqui,
como na jurisprudencia romana, nlio bastava a culpa, ou o
erro, para occasionar a responsabilidade do juiz, a menos que,
pela sua gravidade, se devesse assemelhar ao dolo. ~ (5) As
condições da assimilação figurada nestas ultimas palavras, de-
finio-as um antigo jurisconsulto, ROUSSEAUD DE LA COMBE, nesta
passagem após ellas transcripta: «E' maxima cO,nstante que os

(1) MONTESQUIEU : Esprit d,s lois, 1. XXVllI, C. XXVIt.


(2) MA.TTIROLO, v. V, p. 1127, n. 1263.
(S) lbia~m.. .
(4) DALLOZ: Répertoire, T. XXXVI, p. 895. V. Prisf: à parhe, nó 3.·
(5) FAUSTIN HÉLIB: Inslr. crim., v. IV, p.V2-3. .
DIB. TOL. 7t '1
-IB-

Jlllzes nito podem Ret' pe;;~)ilkl?nt.e c·nltl"!ml1:1.do~ a. in,lemaktr


as parr.es por sLnples !ln~bl'1l. elas o\'llenaçõeil, f\elieto3 L' (Ieda.·
raçõe;;; <10 rei, c0mmettic!;t paI' me!';,), ill1ldvarteilei:t, itwxperi·
eneia, ou insufíkiellei:·t (le s'llll~r, s': n~o COnCOI'l'er (llllo, {"rll.1lile,
oil corll~\lssi'i.o, salvo se :se trltr;i,ar (1·~ CI~itas conlraV"ellçtJ~ls, em
COllS(:qIWl1ciil. d<1." qn<tes os .illi;l,e~; se il.cham expres"a.meme su-
jeitos IH/:!.s 1ll·(I(:nil.(~iJ·~s a. pel'l[<tR e (hl.:llil'H, Otl senllo a contra·
venr:lo t.iio notavel, t.ão cOllsirlel'H.\'el, tão manifrxla contra. o
.~('nso comllwm IJ filo 1"(,nnscrulll, que se não possa. pre~nll1il'
eXel1lpLl. (11'\ eloll), ou fraude. » (1")
Kole·se qlIe, no t.oca.llte a jni;.;es, ainrlll. p!11'1l a. simples
re~rf)ils'lhilid;t(ltl eivil) ll:in é fUll'!:llllF!lItn snffi·.;ient.e () erro f te
rlireit.o, excE'pro se peLt sua el\ormi(lat!t~ (~xeluil' ontm expli-
cação raso;wel qUE' nào a do animo.) doloi;o. A aec;ilO civil, eamo
se sflbp, coneeJJ"(.l'icll, li. êlCÇ~LO penal. vi:it. •• snppOl'elll ambaf.l a
eulp:t do acciOiltl,do, t.em U!llét circumfereaôa mnit.o lllai~ i1mlpa:
applica·f;e a llypotheses, on(lp, lIP.:l colhe fi. llc~5.,) penal, ao
passo que nã.o lia. respou5a.!Jilirlll.de penal. olldl'! nito lJí)nver a
ei vi!. (2) O;; prhei pio", q ua li:tl i tH.nt l\ n~~lHln";H.h i [i(hei·:>. ci vil
do ma,gi:;:tnt!Io, l'e.;tringem, pois, ,tia la. e01i1 ill:-tior flJ l'!:,l , a SllOt
respollsabilidadfl el'i:ninal. P.)l' is:;o ll~JS dd.dCIj!l\!)S Clll consi-
deraI-a mais de e.spaço.
Em Fl'illlf:;a. H u:tBdi:;ic:, a acçfto civil peculiar aos e:1.~OS
de respollsabililltt(h~ pes;::oal do .i alg';lti01' l'Hceb~1l a dell')ll\ illilÇã.r)
de pr'ise à p{frtio, llloldaJa no conceit.o I'OmilllO dt\ qne :1. sen-
tença. pro[el'ida em fntll,.1e do <lil'eito ~llb.sr,itne pela p'·~~l)r1. do
juiz a da p:nte ill.iu~tnlHellte beneQl:Íll!lil: .flukIJ litlJ1n ,~!ta1n la-
cito A~ .hS'islaçú/,:l::; italiallas, porém, eonsult:lllllo antt~:'\ a l't~ali·
Ilacle juri1lica do qne It pIJase primevtt tIa ill~t.it,uição, deixaram-
lhe puramente I) ll/lll1fl CCllllmnrn de ({Gção civil. (3)
Se a. lei Iol.rllllittis~e cout.nl. o juiz li. acçíi.Cl de rep:uaçií.o nas
('.ondi~;õe~ onlinarias que gaaTll para o anetor do pl'ejnizo o
encargo de eOmpelll3aJ- I, o arbítrio de acciouar o magi~trado
, ereal'ia ohstaculos a,bsul'clos ao exercicio (la magi~tl'at.ura. «Aue-
turisando o recnr:-iO pf'ssol\l ct14 parte contra o juiz », escreve
DALLUZ (4), «a lei teve que encerrai' em justos limit.es o exer-
cicio desse recpl'so. Se imi,ol'ta á. ordem social proteg .. l' o j llris·
'?

(1) ,"\[at, crim., p. 114.-Apud. F, HI~LIE, loco cito


(2) " lo alltmetto s.mpre che i!' tutti cotes ti CAli si tratti di azione
civile. a'vvegnacM non lJotesse ave r luogo la:;ione peliale. dal!o cui anti-
tefi)i.l'azío~e civile !lembra desumel·. il proprio signiftcato.» BORS.~RI,
sul! art 73:3. Ap. MATTIROLO, v. IV, p.l.I43, n. 1.299.
(3) MATTII\OLO, v. IV, p·n.l26 e 127, n. 1.263·.,-DALLOZ: FltIl'l?rt. v.
XXXVI, p. 196. V. p,.ise à pttrtie, 11. 6.
(4) Rtl'el;IIJiJ"e, v, XXX VI, p. 896.
-115-

diccionac1o contra abusos de anctoridade, que a experiencia do


coração humano e suaR fraquezas obriram o legislador a prever,
importa egualllleute Falvagultnlar a. tnwqnillidade e a digni-
dade do magistrado contm a. indefinida liberdade, que teria o
litigante, de pedir·lhe conta das suas selltenças. gis porque,
nos caROS ordinarios, a pes~oa, lesada por uma decisão a seu
ver inj Ista, deve, segundo :t maxima de que o j!lcto !lo juiz
é jacto da parte, endereçar contra o seu antRgonist.a o recurso
interposto para o .i niz superior.»
Sal vo exce pçóes muito stl'ictas, «no caso de dnmno tra-
zido pOl.' sellt.ença, para que se pos::;a moyer <l ac~ão civil contra
o magititrado, que a pronuncion, necessuio é que se lwjarn
p"imeiro e:cha1ll'icZo tonos os "(31nedio,~ o1'(linfI1·io.~ e exfrnordina-
,'ios contra ella.» (1) Se «o doio do juiz impossibilitar o litigante
de Ill'oseguil' na lide com ~sl'erança de tom exilo»; se o juiz,
por exemplo, houver 8ubtrahido aos autos um dor:tunento es-
sellchll, t,lem o qual a parte nlio t€llha meio de just.iticar o seu
direito j» se deste modo se cerrar ao interf'ss3el0 o caminho
da l'ellara~ão no cursO da lide, então llie será jicito, antt s de
exgot aelos o~ leCI11'1'08, intelltar a lleçiLO civil eoutl'it °
jnlg-ador
culpado. l\IH8 08 mesmos I"!'crirtl))'ps, qne insi;,:iE'nl 113.r1ielllar-
mente lia iJll}.lortallcin rlestag derrogações á lPgra gemI ha
pouco formulaúa, cr,nfil'l1lam, e subscrevem essa l'f. gra , reco-
nhecendo que, «se () damno derivélnte da bnrJa do j~dz contra
a parte .vencida pndel'ia ser rel'arlldo elll um juizo I'llccessivo
de embargos, appella~1io, re'\.'oga<;ão, (lU casHH;i'tO, e 1Ião o foi,
pOlqlle a JWI't.e mesma deSClll'OIl de impugnar a sentença, não
compct-i1'á contra o jniz a arção civil. (2;' Innvitavel é a ap-
plicação deste pl'ill cipio ao direit.,) penal. «Em q n" nto a. de-
cisão judicial, sobl'e que pCf;;L 11 inCl'e!la~ito de erl'O, ou dolo,
não houver percol'l'ido, até á derraueira, ar.; iustancias, a que
a ordem legal do pr()ce~so 11. ~ubmette, n~lO ha. judicialmente,
dolo, nem eITO; pOl'que () vicio, de qlle a accllsam, nii.o tem
existencia. vel'ificada, emquant.o :.t. an'3toridarle do nH.imo tri-
bunal, na ~érie da .iul'Ísdie~ão preventa pela vene!encia da
causa, não pronunciar, acerca da opinião d(~nUllciada, a ultima
palavra. Se est.a lhe é favonnrel, liqnidon-!:Ie que o supposto
erro era a verdade, o pret.enso dolo a just.iça. Interceptar,
pois, um pleito em andamento, tratal·o COIllO finrlo, qu.tndo
contra os desvios do juiz llillda se acham de par em par fran-
queados os recursos nOI'maes, e chamaI.!) a contas noutra ac-

(1) ?lATTIROLO : Di/". Giucl., v. IV. p. 1. 130, n. 1.270 •.


(2). MAT1'IROLO: lú., p. ·1.131, n. 1,271.
- 116-
ção, responsabilizando- o, civil, ou criminalmente, por nctos,
que têm a seu favor a presumpção de juridicidade, emqu;'Into
não reformados na instancia superior, e que nesta .poderiam
receber a sancção de uma sentença confirmativa, é a mais vio-
lenta, a mais cras~a, a mais tresvairada enormidade, a que
no fôro se poderia assistir.
Pois é a que se dá, com os traços da mais tumn1tnosa
anarchia, neste feito, onde a soffreguidão persegui!lol'a, para
. intentar contra o recorrente a acção penal, preteriu o recnrso
natural das suas decisões na presidencia do jury para () tri-
bunal sUl'erior, e, caso a opinião deste lhe fosse adverf'la, o
recurso necessario para o supremo tribunal federal nos tf\rmOS
da const,ituição, art. 59, § 10, b.
Observa MERLIN (1) que, de todas, a acção civil contra
o magistrado «é a mais extraol'dinaria e odiosa.» E' «um re-
medio violento, ainda que necessario, quando o jniz teve o
infortul1io de cahir em alguma das hypotheses, nas qua€s a lei
permitte Bn,pregal-o. Cumpre, portanto, que e~ses casos sejam
distinctamente especificado~ '11'1. IRi, IJara se tolher de todo o
accesso ao arbitrio. Nem ( o,,,, (!\)~·,SH deploravel éxtremo se
deve facultar, senão tomalb1l as foi eCàdçõe,l capazes de lt'.giti-
mal-o mediante a prova celta 0.)'. sua necessidade i porquanto,
se é da maiur l'elevancia pü'ra a Od81ll publka o não l!\grarem
os juizes abmlar impunernenLe do poder: qu r I"~ lhes confia,
não lhe importa menos a elh assegurar-lhes a auctori<la<le e a
reputação contra investi<las, com que a só malignidade se sen-
tisse tentada a feril-as.» Assim se enunciava o relator da
secção de legislação do tribunato (2), abundando nas idéas
expostas, em nome do governo, por BIGOT PRÊAMENEU, ao
apresentar ao corpo legislativo, em 1806, o projecto da lei,
que ficou regendo o assumpto. «Se convém que as partes»,
dissera o orador officüil, «tenham certeza de obter justiça,
ainda contra os seus juizes, o interesse publico exige que os
ministros !la justiça não se vejam despir de toda a dignidade,
como se veriam, se 08 pleiteantes pudessem, á mercê dos seus
resentimento8 e das suas paixões, obrigaI-os a <lescer do··.tri-
bunal, para justificar os seus aetos . .A.buso tal repôrúos-ia na
época, em que, por um resto de abuso, ainda mais grave, do
feudalismo, os juizes eram responsabilisaveis pelas suas sen~
tenças. Só existe uma auctoridade, que, entre os magistrados
e as partes, convenha, ao mesmo tempo, ao prestigio de uns
. .
(1) Rép~toire, v. Frise à partie, 1'711~ .. • ..
(2) M. ALBISilON: Rapport rait au corps législatif (séanoe du 17 avril
1806). DALLOZ, v. XXXVI, p. 896, n.
-117-

e á segurança das outras: é a auctoridade da lei mesma, que,


especilicalldo os casos, nos quaes se consente a um litigante
chamar a juizo o seu proprio juiz, estabelece a barreira, que
o respeito devido â magistratura não deixa transpôr. » (1)
Estabelecendo, pois, como canon fundamental que o
magistrado não seria l'espollsabilisavel, senão nos casos expreS8a
e taxativamente designados na lei, o legislador francez estatuiu
que a acção civil (pTise à partie) contra os juizes só é admis-
sivel numa destas quatro hypotheses: «1.. Se ha dolo, fraude,
ou concussão, em actos do processo ;-2.· Se é expressamente
0
auctorizada por lei a acção civil ;_3 Se a lei declara sujeitos
os juizes a perdas e damllos; -4.· Se ha denegação de jus-
tiça,» (2) Esse é o art. 505 do codigo do processo civil
frallcez, CUj08 termos a jurisprudencia considera limitativos,
não se podendo ampliar a outras eventualidades, além das
«explicitamente previstas e nominativamente enumeradas»-
no texto. (3)
O art. 783 do co digo do processo civil, na Italia, é
equivalente: «A auctoridade judiciaria e os officiaes do mi-
nisterio publico são civilmente responsaveis: 10 Quando no
exercicio das suas funcções forem accusados de dolo, fraude,
ou concussão; -2. 0 Quando recusem decidir acerca. do reque-
rido pelas partes, ou se desleixem de julgar, ou concluir os
feitos, que hajam de ser decididos; -3.- Nos demais casos,
que a lei aeclarar.:t (4) Em verdade as quatro especies da lei

(1) BIGOT' P~AMBNEU: :6xpose des moti':; presenté au corpa législatif


(séance du 7 avril 1896). DALLOZ, ib p. 895, n. 1. .
c Rien de plus dangereux, pour l'ordre sociallui même, que de livrar
la juge aux passions haineuses de ceux qu'il a du condamner. Des cet
instant, disait un avocat général au parlement de Grenoble, avili par l'opi-
nion même de la loi, la magistrat serll.it dégradé dans ses fonctions; Bon
autorité, liée h la dignité de son caractere, s'afl'aiblirait comme e11e, et,
lorsque le juge serait sans considération, la loi serait sana force.» BE-
DARRIDE: J)u dol et de la fraude, voI. lI, n. 449.
(~) DALLoz, v. :XXXVI, p. 896, n. 7.
(3) n., n. 8.
Mais les juges jouissent d'une double garantie· et quant au fond et
quant h la forme de la procédura. eLes actes du juge», dit la cour de
cassation, cquand ils se rattachent A l'exereice de ses fonctions, na peu-
"ent engager sa responsabilitê qua dans les cas expressément prévus par
l a loi qui a introduit la voie extraordinaira de la prive à partia ;d'oú il suit
qu'aucun acte du ministere du juge ne peut autoriser una poursuite
personnelle contre lui, A moins qu'il ne soit au nombre de caux qlIe
]'art. 505, C. pr., a pris soin de déterminer d'une manitlre' limita.tive.»
L.utoMBIbE: Obligations, voI. VII, p. 549-50.
(4) MATTIROLO, v. IV, p. 1.139. n. 1.283.
",Del resto e fuori di dubbio che i casi indicati nal eitato amaoIo
lon? tassative a le autorita giudiziarie non possono essere reBponsabili per
,!all diversi da quelli indicati teltualmenta ne11a legge. La giurisprudaJlZ&
• concorde.» O.'OllGI: Teoria. delle obbligasioni. vol. V. p. 3Ot. '. ,
-118 -

franceza 8e reduzem a estas tres, limitativamente particula-


rizadas: (lOTO, denegação de justiça ou e~pecialização formal
na lei. l\1as todas ellas se condensam numa formula cabal: o
juiz não é civilmente responsavel senão nos casos nomeados
em lei. .
Aqui avulta em caracteres gigantescos a diíferença incom-
mensuravel de paizes, owle ainda os Bonapal'tes sabem o valor
da magistratura, e lhe rodeiam de augustas garantias a digni-
dade, para outro~, onde a toga se vê ludibriada, pelo capricho
de todas as dictaduras, grandes e pequenas. AlIi até para
a responsabilidade civil, no magistrado, se exige a prescripção
explícita da lei. Aqui se e~t1belece a responsabilidade penal
por inferencías tecidas sobre expressões vagas de um texto,
que não a menciona. Ao passo que um principio absoluto de
hermeneutica interdiz, em materia criminal, a interpretação
ampliadora ainda para os delictos communs, quer· se agora,
mediante esforços de logica subt.iJ, creal' para a magistratura
uma responsabilidade criminal. Joga-se assim com a dignidade
e indepelldencia da justiça, sob um regimen, cujas leis lhe
confiaram as funcçóes mai~ eminentes da sua constituição, ao
passo que, em modestas republicas, onde a missão do juiz é
infinitamente mais humilde, as leis hesitam em lhe tocar como
num arminho. «A acção contra os juizes não tem exemplo em
°
nOSSJS fastü8 judiciarios», dizia relator do co digo do processo
civil genebrino. (1)
Se ha principio absoluto em direito é o da responsabi-
lidade civil pelo damno, imposta ao seu auctor. Entretanto,
as legislações mais adeantadas e os jurisconsultos mais emi-
nentes submettem esse preceito ás maiores reservas, no caso
de prejuízos occasionados por actos de um juiz. Em com~
mentario ao art. 1151 (lo cod. civil italiano, que consagra
€ssa l'esponsabilidade n' uma disposição amplissima, escreve um
.dos luzeiros do saber j uridic o naq uelle paiz, considerando a
applicabilidade desse texto ao damno cansado. por actos judi-
ciaes: «Seria, porém, conveniente deixar que esta acção
civil coubesse em toc[o caso ãe dá'mnop"oãueião pelo juiz, e se
:exercitasse pelos tramites usuaes do direito commum? A;
maxima parte dos legisladores responde negativamente. O de-
coro, a dig'nidade da magistratura, a índole especial do poder,
,que ::le lhe confia, aconselharam uma derrogação ao direito
commum. Gonsiclerou-se, e j~tstamente, se1' necessario premuni-

(I) «L'action contre lcs juges est sans exemple dans nos fastes jUdi"
ciáires.BELLOT. Ap: À'IATTIROLO, Y. IV, p. 1.127, n. 1.265. '
- 119-

rem-se os magistra~los contra accl1saçiies intemperantes, ori-


ginaria~ de rp.sentimHntos pessoaes, e, portanto, especificar
as causas, pelas quaes (:xccpcionalmente se permitte aos parti-
culares intentarem acçào ci~'il contra magistndos ... D'a(IUi
decorrem dllfl.S cOllseq nendrls importantes: a) Que, tirante o
caso ~~lIpm referido ~ (peculato, conclJ.!j.~ão, corJ'ltpçilo, ou abusa
de autoridade), « em que o facto do magistrado reveste ca-
racter rle (lelicto, fl, por isso, StJ lhe instit.ue juizo penal, a
acção civil do partieulal', para se re::;arcir do 'uamno, é inad·
missivel, não sendo proposta nas fÓl'mas e.speciaes e ante a
autoridlllle competente, de accôrdo com os arts:785 e seguin-
tes do codigo do proces:;,o civil_ .... _ b) Que a acção civil por
damno só se pócrê mover nos casos taxativamente iixftdos
em lei.» (1)
Os casos ti8 <1010, fraude, ou concnssfLO estã.o definidos
em todos ns codigos modemos _ Do almso de allc~ol'jdlUle oc-
cupar-nos-hemos, oppol'tnnamente, ao di~cutir a. face penal da.
questão, mostrando a ausencia, 'na especíe vertente, dos ca-
racteres, quo o constituem. A denegação rte jnsti(,ia. é, pur
sua vez, Ul1I delietu nitidament.e definido, que não telll relaçiio
com a especialidade neste estudo. As contingencLul alllHlidas
no art. 505, n. 3, do codigo do processo civil frallcez (2),
em que fi. lei particlllarizadnrnellte (leclara. os juizes sujeitos ao
pel'llH.s e damnos, SriO pl~culiares ao ctil'eito daqut\lle púz. As
hypotlwses de acção civil IH)!' explicito precdto da lei, for-
malmente desigl.ladas no cod. do processo ct'Í:nillal francez,
arts. 77, 112, 164, 271, 370 e 595, têm exclusivamente por
fim defender a liberdn,de individual contra a violaçãn das
fórmus que a protegem, assegmar a moralidade dos depoimen-
tos, e garantir, em geral, n. authellticidade das sentenças. (3)
Eis o circulo da acçflo cl vil coutl'3. os magistl'a<los. A brau-
ge, como se está vendo, uma área mais vasta: que a da acção
penal, incluindo todos os casos desta e muito~, a que e::;ta não
se estende. Oomtudo, a nenhum delles quadraria o da respon-
:;;abilid::tde criminal, inventada, em terras do Rio Grande,
contra o l'ecorrónte.

(1) MATTIROLO :
-- v. IV, p. 1129.
uH secondo privilegio» (dellll. garsnZÍa judiciaria) « ristringe Ia. res-
ponsabilità tassatiVamente a quelle colpe che sono iudicate tassativa11?ente
d~lla legge : cio e, al dolo, alla frode, alia concussione ; nonchiJ al rI1luto
dl provvedere sulle domande delle parti. E qui veramente lo scopo della
legge si ta chiaro, VUOL SOTTRARRE IL GIUDICE ALLA RESPONSAHJLITA'
DELL'EltRORE GIUDIZIARlO.» GIORGI: Delle oblÍ(lazioni, vol.' V, p. 308,
n.205_ '
(2) V, pg. deste memorial.
(3) DALLOZ; Répert .• V.o XXXVI, v. Prise à partie, ns. 9,24, 28,30.
- 110-
Essa excepção aberta, em favor da magistratura, ao prin-
cipio geral de direito comm'.lm, que associa á culpa a respon-
sabilidade, essa excepção, verdadeiro progresso da jurispru-
dencia moderna (I), é o que se chama, na França e na Ita·
lia, D. garantia judiciaria. EUa não elimina, para os juizes,
a responsabilidade, commum a todas os que, em paizes con-
stitucionaes, exercem alguma parcella ela auctoridade publica;
mas cede á evidencia de que não pode ser regulada pelo
mesmo modo que a de outros cargos (2) a responsabilidade
legr.l, em um ministerio, «no exercicio de cujas funcções o
erro as mais daí> vezes outra cousa não é que o. effei.to da di-
versidade de pareceres em materias controversas. ~ (3) 4tAc-
cumule no entendimento o juiz todas as leis positivas, quem
poderá jamais acautelai· o de interpretaçõet! transviadas? quem
o guiará nas questões indecisas, no silencio das leis, na critica
sempr~ espinhosa das provas? Tão provavel se antevê aos le-
gisladores de todos os tempos o erro judiciario, que f;empre
instituiram meios, para impugnar as sentenças, creando uma
organização de tribunaes superiores e inferiores, com o designio
de que uns emendem os desacertos dos outros. E, pois que,
de outro lado, a primeira cogitação de quem perde uma de·
manda ê criminar, pelo menos d" impericia, o julgador, todos
enxergam a que perigos ficariam expostos os magistrados judi-
ciarios, se fossem civilmente responsaveis pelas suas sentenças,
quando revogadas e corrigidas na instancia superior, a que
perturbações e conftictos se acharia dest' arte aventurada a
administração da justiça. ~ (4) Obvio é que esse perigo seria
infinitamente mais grave, em se t.ratando, como no caso ver-
tente, não de uma reparação civil, DIas de uma repressão
penal, não de sentenças contra interesses particulares, ma.s
de julgados contra actos do poder político, não de uma decisão
f'ensurada em grãu de recurso, mas de um juizo, a que adrede
i ~o se oppoz o recurso legal.
: Evidentem6I1tf'. pois, na especie actual assume caracteres
illlllolitos e inauditos a violação da garantia judiciaria. Por eUa
no tocante aos actos da magistratura, a responsabilidade é a

(1) GEORGI! Obligazioni, voI. V. p. 305.


(2) "Tra i publici ufficiaU si devono altresi annoverare i magilltrati.
Dovranno ancor essi essere responsabili daU'operato Ioro? Non ,,'ha dub-
bio se si ha riguardo all'importanza delle missioni da loro esercitate~
Per6 dessa responsabilitl vuole essere regolata alquanto diversamente
da quella de~li altri publici ufliciali.lt UGo: La res.p0nsabilitá dei.pu-
blici ulflciah, p. 253.
(3) GEORGI! Obbligazioni, vol. V. p. 305.
(4) lb., p. 306.
- 122-

(L. la, § 2D • Dig,., De dolo malo). Varias e encontl'auas podem


8er as causas e formas do dolo. O odifl, ou amor, para com
lima das partos, a submissão a recommelldações depoderosol:l,
o interes~e l)eSsoal, a cOlTbpção vem a ser outras tantas ori-
gens possi.veis da acçào má, 8cientemellte praticada pelo ma-
gistrado. E o procedimento doloso pode insinuar·se em illde·
termina. vel copia de atetos: na sn btracçftO de um documento~
por exemplo, na alteração do depoiment'o de uma testemullha,
ou das respostas ao interrogatorio (le uma das partes, no atrazo,
de que resulte a perda. .ou commisso de um direito, ou na.
sentença, q~e de industria se pronuncie contra a lei, ou a
justiça.» (1)
Em vista do principio romano, segando o qual lata culpa
dolo equipamtur, ventilaram os jnrisconsultos, no tocante á
respollsabilidade profissional dos magistrados, se a culpa gros-
seira lJoderia determinal·a. DALLoz, combatendo uma decisão
franceza, responde energicamente que não. «Se é certo que a.
maxima lata culpa !Colo eq1âparatur seja applicavel, em geral,
nos casos ordinarios de responsabilidade civil, não se segue
que deva sel·o em materia, onde tudo é de direito estricto,
nem se trata HÓ de reparaçilO pecuniaria, ou perdas e d::.mnos,
mas de 1una quet3tão de ordem publica. Segundo a lei romana a
culpa só era comparavel ao dolo, em relação ao magistrado,
qUlndo este procedesse com intenção dolosa, movida por senti·
mentos de favor, vingança, ou inimizade. (L. 18, Dig., De jud.
L.2 Cod. De pam. jucl. qui male jud.) Se a ordenação de Blois e
a de 1667 faziam responsaveis os magistrados pelos seus erros,
taes preoeitos, resquicio do uso que compellia os tl'ibun,teS a
descerem á arena, para defender os seus julgados, não eram
observados pela jurisprudencia. Em LouET, letra O, summa·
rio 3, s'e nos deparam, com effeito, varios arestoE:, nos qnaes
não se adwittia a acçfw civel contra magistrados, que Unham
julgado abe1'tamenfe contm disposição formal de um regula·
mento, se tinham obrado sem dolo, nem fraude. No mesm(}

(1) MATTIROLO, v. IV, p. 1139, n. 1283.


« In piú maniere i1 giudice pud commettere·dolo o frode; v' e d6lcr
quando giudica contro la ~iustizia, per odio od afl'ezione verso una delle
parti; per deferenza a reccomandazioni autorevoli ; per interesse per-
sonale o per corruzione ; e puõ tradurre questi suoi sentimenti o nell'al-
terare scientemente la resposta di una parte, la deposizione di un testi-
monio, il senso o il valore di un titolo; nel far10 disparire, e via dicendo.
La frode e la concussione non sono che una specie deI dolo, ossia una,
determinazione ·speciale deI genere dolo, e giá neI diritto romana erano'
considerati como sinonimi il dolus malus e la fraus, onde Ulpiano di··
ceva: inest et dolo ti'aus». Leg. -:, § 10, D. d~ ]lactis." « SARE DO : Ins-
tituzioni di procedura civile ítal., voI. Il, p. 361-2, n. 1302.
-123 -

,"Se~tido se decidio, applicando a lei rom~na, que um juiz só


pó de ser sujeito á responsabilidade civil, quando plenamente
convencido lI"ja de ltdve1' .qe'llienciado p01' odio, fa1Jor, ou COl'ru-
fpÇão . (Cam. civ. 16 mess., ali. 3.) Aliás o disposto na orde-
Inação de Blois e nas de 1667 não se reproduziu no co digo de
brumario anno IV, e o principio, que lhes serve de base, af.fi-
,gura-se-nos virtualmente condemnado pelo art. 505 elo codigo
do processo. De facto esse artigo,. autorizando esta acção
uuican!ente para. os casos, que por enumeração expressa de-
terminou, e admittindo-a em termos limitativos nas hypotheses
de doio, fraude, ou concussão, evidentemente a 1'e~'1elle nos de
erro. E' O que, de mais, claramente resulta dos discursos do
,orador do governo e do orador do tribnnato, ambos os quaes
se pronunciaram a uma voz quanto á necessidade de circum-
SCl'ever em limites precisos e nit.idos a acção civil contra os
juizes, e nada fiar do arbítrio, num assumpto que em tão alto
gráo toca á honra da magistratura. Quão pfwigOIJa e cruel,
realmente, '1IãG seria a funcção do juiz, tendo que "esponder
ainda pelas falhaM do seu entendimento! Certo que, se a appli-
cação das leilS fosse sempre singela e facil, poderia reput.ar-sp.
culpa grosseira o julgar mal. Mas llinguem ignora que de vezes
se sentem enleiados os melhores espiritos, no discernir o justo
do injusto e enxergar a ver:.lade, quasi sempre obscurecida
pelos pleiteantes. Ninguem ignora, ainda, quão complicado é o
estudo da legislação, e a que 'ponto os raciocinios de um arra·
zoado habil difiicultam a applicação dos textos. Qual não será
a situação do magistrado, a quem, apóz os seus traballlOs, só se
offerecessem as aggressões.de litigantes agastados pelo despeito
e pelo rancor, com o direito de o responsabilisarem pelos erros
do seu criterio e da sua razão! Nós opinariamos, portanto,
C?~ M. CARRE', que o julgado errQneo não autol'isa a acção
CIvIl, excepto sendo tão crasso o erro, que só a prevenção o
pudesse inspirar.)), (1) A gravidade da culpa, em summa, con-
clue o famoso repositorio do direito francez, não justifica de
per si só o uso da acçáo civil ('ontra o magistrado: indepen-
dentemente da seriedade da culpa, é mister que exista, averi·
guada, a intencionalidade, isto é, a consciencia maligna do
abuso commettido, o animo descoberto de rasgar a lei.
Em Italia a. . jurisprutlencia é quasi de todo accorde no
mesmo ponto. (2) Salvo casos excepcionaes, designadamente

(1) DALLOZ: Répert., v. XXXVI, p. 899-900.


. (2) MATTIlIOLO: v. IV, p~ 1142. :
Si c disputato se la eolpa lata rende responsabile il giudiee, e, poi.
, «
ehc CullJa lata dolo ooquiparatur, vi í'u taluno; ehe sostenne l'affermatlva,
-124 -

mindeados nas leis, a culpa do juiz, «per quanto lata», nãl


dá Ioga r á responsabilidade do culpado para com a parte. (11
O projecto belga traslada a mesma disposição do codigo f!'aTIcel
e do italiano, càlando apenas, por escusada, a concussão j e
o relator, a eiise proposito, considera: «Mantendo este dizer
(dol ou fraude), a commissão descobre claramente o fito de não
assimilar ao dolo a culpa, ~eja Q1w1fo1' a s1wg1'avidade, a menol
que a lei encer1'e lJ1'escripções f01'mae8 e especiaes, de1'1'ogando o
principio exarado neste n. O systema contrario seria, pcwa o.~ ma-
gistrados, fonte inexha1wivel de vexames,)) (2)
Ora, ao passo que entre as nações, onde a cultura jurí.
dica é mais elevada, a jurisprudencia, em derrogação a lei
geral de connexidade, que associa sempre ao damno a respon·
sabilidade civil, não n' a admitte em actos da magistratura,
senão quando manifesto o intento de violar a justiça, de favo·
recer, ou lesar, de servir, ou desservir, o arssto rio-gran. '
dense acaba de lançar as bases de uma escola, para a qual na

la quale pote sembrare plausibile in Francia, anche perche un'antica ordi·


nanza di Blois concedeva l'azione contro il giudice per colpa manifesta.
perci6 si vide la Cassazione di Parigi adottare da principio questa dottrina
rigorosll, e autorevoli giureconsulti, como CARRE" MERLIN, FAVART e
PeNcET prestarvi i loro assentimento; ma la Cassazione atelsa non tardó
a ritornare sopra i suoi passi, e a .tabili~e una gi~rillprudenza contraria.
(Cus. 25 ag, 1825, SIREY, 26, r, 181; 17 Jul. 1832, wt, 32, r, 484; cau. 24
maio, 1842. Pasicr. franc., 42, r, 92O.)Se tal e cambiamento non piacque
alIo CBAUTliIAU, ehe na mosse aspra censura, noi, con tutto il rispetto
all'illustre procedurilta, scorgiamo nel suo assunto l'avvocato devoto
alla causa,anziche lo acrittore fedele aI pronunciato della scienza; poioM
CH.lUTllAU fu per l'appunto il difensore dell'antica dottrina innanzi alla
Cassazione, quando essa cambiO giurilprudenza.
" Ammettendo la responsabilitá per colpa graTe, non e chi non veda
a quale conseguenza si andrebbe incontro. Si aprirebbe l'addito a quegli
inconvenienti, che la legge volle ap}>unto evitare. Chi saprebbe mai di-
videre con taglio netto Ie colpe gravl da quelle leggiere, e segnare la linea
da cui ogni colpa comincia ad.essere grave' Parra chiara a taluno una
legge, che per altri rimane oscura; parr~ imperdonabile tale negli~enza
agli occhi di un morãlista severo, mentre sembrerá fall0 perdonabIle ad I
aItro meno rigoroso. PerCÍO in Italia la dottrina diCHAUVEAU gia abban-
donala anche in Francia, non ha trovato mai credito, non ostante una
senteDza dell'antica Corte di Nizza. che tentó in vano d'introdurla tra
noi.1> GIORGI : DeUe obbligazioni, voI. V. n. 205, paga. 309-310.
« ... Nel dirimere le varie questioni sulla interpretazione della legge,
devono (i magistrati) avere piena liberth, e non l'avrebbero, se per una
interpretazione che essi vogliono dare alla legge, e che si discosta alo
quanto dalle opinioni communemente seguite, potessero temere di venire
taceiati d'i~noranti e condannati a risarcire il danno arrecato. La stessa
ragione mihta per non doversi dichiarare i magistrati responsabiJi
neppur }ler col,Pa grave ... Per quanto la colpa grave, la mancanzadella
iU usuale del1genza, si av"icini aI dolo, tuttavia non é ancor dolo. E vi
f. di1ferenza, fra chi cagiona danno per mancanza di diligenza sia questa
anche la piu usuale, e quell0 cbe lo cagiona CGn deliberato proposito.'
tTGo: Re,ponsaoilità dei pubblici ufticiaU, DS. 239,.2 40, 249,pags. f53 e 2'97.
(1\ lo .• p. 1144.
(2) ÂLL4BD, Ranorl, p. 334.- Ap. MATTIROLO, v. IV, pag, 1.141,11.
- 125-

applicação inexacta de uma funcção por ella mesma reconhe-


cida ao:; juizes se verificam hypotheses de responsabilidade'
,penal, se realiza o criine de abtMO de auctoric1ade.
I Resa a sentença, em barbara e quasi inintelligivel liugua-
'gem, que reproduzimos ipsis litteri8.
cAttendendo a que o caso sujeito de violação de
lei contra a boa ordem e administração pnblica,
vindo figurado com a questão de attribuição su-
scitada, fica assim mais preciso e diversamente
previsto, para não ser comprehendido na generali-
dade do § 10 do art. 207 do Cod. Pen., resultando
ser o facto propriamente de abuso de autoridade,
ou, diga-se, de exceRSO no exercicio de funcção
judicial conforme já foi classificado para a accusa-
ção (art. 226); não sendo a hypothese tão !'Iómente
de omissão (ar~_ 210), nem de mera infracção de
regra do processo, com damno publico e particular, '
embora (art. 211 § 2); ... accordam.>
Se ha meio de tirar em vernaculo esta aravia, o conside-
rando tl'anscripto poderá verter-se assim: tendo o réo violado
a lei, em detrimento da boa ordem e administração publica, e
suscitando-se, no caso, a questão de attribuição, o facto é de
abuso de auctoridade, ou excesso no exercicio de funcção judi-
cial. Não ha, como se vê" caracter de raciocinio neste apon-
toado de sentenças sem relação logi~a, nem subordinação dedu-
ctiva. Parte da existencia do crime, sobre que se discute, para
concluir pela sua realidade, que se nega. O que se contesta é
precisamente a infracção da lei em prejuizo da ordem publica,
estoffo juridico do delicto arguido. Entretanto, a sentença,
para provar,· começa dando·o por provado. Suscitada a questão
de attribuição, discorre o excentrico argúmento, o facto é de
abuso de auctoridade e excesso della. Seria necessario, para
isso, confundir o uso incorrecto de uma attribuição com a ap-
plicação della a materias não comprehendidas na sua alçada_
Se o juiz tem o dever de recusar observancia ás leis inconsti-
tucionaes, declarando inconstitucional uma lei, não póde, em
hypothese nenhuma, exceder o limite da sua attribuição. Será
mal avisado no seu uso, quando considere inconstitucional uma
lei, que o não seja; mas não terá transposto jamais as raias
do seu poder.
, Se se reconhece competente o magistrado, para determinar
quando o acto legislativo é, ou não, constitucional, como' se ,
Conceberá que, no declarar inconstitucional u~ acto legislativo,
ultrapasse jamais o circulo das suas funcções?
- 121i -

l\fas, objectíu10, era constitncional a disposição, que elle


capitulou de inconstitucional. Nesse caso, porém, o que se dá,
não é demasia : é fi/TO,
A pl'evalt~cer doutrina contraria, entr~damos num campo
de absurdos infinitos. Se applicar mltl umil. fllllCção é excedel-a,
todos os erro~ judiciae:-: poderiam rednzir-se a abusos de Rncto-
l'idade, Esta. não se põe em llliJvimento, não pratica um acto,
não resolve acerca de um ponto, maximo, ou minimo, seja qual
fôr, sem exerce1' uma aUl"ib'LÍçãn. E, se exercer uma. att.dbui·
ção erruneamente, é excede l-a, todu erro, no administrar, ou
no julgar, é excesso de poder.
Em toda a parte Oi! abu~os de auctoridade são entidades
penaes nitirhmente definidas, IHW\ nã:) se deixar' a h'tt.el'pre·
tações requintadas o direito de crei1r, sob eStola rubrica, um
regimell de impertillencias, ameaças e veXl1mes. que ma.nietaria
por todos os lados o exercicio legitimo do poder. O nomen
crÍ1nini.~ vem da legislação fl'anceza, onde o cOfli~o penal,
desde 1810, estabeleceu o direito vigente ainda hoje I1aqueIle
paiz. Alli se di8tiibuern os abusos de allct.oridade elll duas
classes: contm os pm:ticularell e c(mlm a cuusa publica.
Abusam da Ructoridade os t'unccionarios contm os pal'tic~dares,
-quando lhes entl'am illegalmente no domicilio, qualldo lhes
denegam justiÇH, q Ulllldo perpetram violellcias CI)Jltra. as pes~oas,
quando violam a. correspondencia particular. (Arts. 184-187)
Contra a ordem publica se vedfica o abuso de autoridade
(arts. 188-191), nos casos de ordem ou reqnitolição tendente ao
emprego da força pnblica, afim de obstar á execução de uma
lei, ã C()brall~a de uma contribuiçao, ou ao effeito de urna ordem
regular. (1) São casos de in versii.rJ formal das attribuições
contiadas ao agente da auctoridade, que não admit.tem ampliação,
ou restricçãu hermeneutica, em damno ou a beneticio do
accusado.
Ha, no codigo' penal italiano, um capit.ulo, cuja inseri·
pção corresponrle á da secção, em que, entre nós, figura o
art. 226. Diz-se aqui: <ExceslIo ou abulIo de auclo"idane e u",r·
paç{J.o ([e jltncçõell pILblicall ... E aUi: Dell'abw.o ái attlm'itá e
della violazione dei doveri inerenti all un pnbblico ujJlcio.~ Sob
esta epigraphe o legisladol' italiano encerra: o abllS() de uma
foncçâo, contra direitos de outrem, mediante a pratica de Retos
arhitrarios, ou a ordem de os commettel', e bem assim a exci.

(1) GARBAUD: Dr. pénal v. m. p. 41t-20, 464-6,- CHAunÁU e W:LtE:


Th. du code p~n. (ed. NYP.lLS). v. I ; ns. 1887, 1984.-D.LLOZ : Répert.,
v. nn p. 4 • seiS. '
-- 127 -

fação a tran~gl'e(lir a. lei (art. 17:)); o pa.trocinio offieial de


interesses privados (a.l't. 176) i a ilhcita revelaçã.o de segreio:j
officia.es (art. 177); a omissão ou (lenegaçã,'J dos u.evetes do
car~o, sob qualquer pretexto (art. 178) i li indociliditde dos
agentes da. força publi'!a. a. req llisil~ões da auctol'idade compe-
t.ente (art. 179); a inact;ividade on omissã.o em commllnicar
i1. auctoddarle competente facr.o,.; de caracter cl'Íminoso, em
casos ele acçii.o publica. (art. 180) i o aballdono de emprego
(art. 181).
Dessas infl'acçues, a unica susceptível de ser praticada p~r
um fUllccionario (h ordem jnrlicial é a primeira, na. qual in-
corre (I fUllccional'io, que, « a.bllS<iudo do sen eé\rgo, (ll'dena, ou
commet,te contl'rc Ofl (Ureitos de outrem a.l~um acto arbitrjll'Ío ,;;-L0
previsto como Ilelicto por UIl1a. disposiçã.o especial de lei. » E~ta
clausula, porém, é, como 8~ vê, simplesmente protectol'Cl. dos
direito~ inriividuaes contra 05 desmandos da auct.oridl'_de. Ji:m
não se "eriticando €'s.::e f(~'lllisito, só constitllêLU erime os a~HB()S
desta liRpecialmente l}/'evistol! 11<\ lei. Os outros textos (I.) eodj~~o
italiano, onde !'le falia em exercício abnúvn da. auct.orhhde, s:io:
o art. ] 47, eoncemente ao fUIli:cion:uio, que, «eom atHlso das
sua!! t'nncções, ou preterição das formas le~aes », priva. a,lguem
da. liberdade pessoal; o a.rt. 158, relativo I\'i fllllcciollllriO, que,
nas nttliimas conllições, viol(\, o (lfJllIiciUo p<I.\'ticular; () art. 179-
e o al't. 170, especill.l ao fUllccionario, qlle, c.l.busando do seu
officio., extorque dinheiro, 011 valores de outra especie. Em
todos isseS.CI\SO~ o exce:iSO assume as propl}l'ções gt'osseiras de
attentados do genel'O lll!i.i:1 grave e do caract.er ma.is inequívoco:
concussão; violação de domicilio; prisã.o a.rbitraria. Empe-
nhado em atalhar o arbítrio do poder, o texto corta pela raiz
o arbitl'io dos ittterpretes.
A disposição ampla, que, no codigo italiano, abrange todos
os abusos de Iluetoridade illnOmina(los, é, porém, a do art. 175,
acima reproduzida. Depois de se occupar em gel'al com as offensas
aos dil'eito:i do:; cidadã.os. e em particular com os attentados á
liberdade individual, essa. (lisp(lsi~iio abrange as arbitrarietlades
commettidas pelo fUDcciollario« em prejuizo de qualquer direito,
sem distincção entre a liberdarle e os outros assegnratlos ao
cidadão em um estado civili~a(l() e livl'e .... (1)
Ora, a provisão do art. 175 no co digo italiano é justa-

(1) •.. cnell' art. 166 (ora 175) la cui dilposizione e... una crande çaran-
2ia li deU' indiViduo ehe delluooietá contro quasivoglia atto arbitrariO p.r
qualunque fine comme.so e con lesione di ogni diritto, sem-a r'listin;;;ioM
ti'a la Utertà e gli altridiritti, assicurrztti al cittadino in uno s'a to ci"ile
• libero •• Rela:io'" della Commissione della Camera.- 11$88.
:~~.
-128 - •
ment~ a que corresponde á do art. 226 no nosso. Com efféito,
ao passo que, no primeiro, o legislador fulmina indistincta·
mente o abuso das funcções pelo funccionario, no segundo se
pune o funccionario, «que exceder os limites das fuqcções
proprias do emprego». A formula brazileira é equhralente á
italiana; porquanto, se indagarmos «que cousa se entenda por
abuso das funcções em um funccionario publico », teremos de
concluir que «abusa das suas funcções o funccionario que opere
fõra dos limites a eIla assignados na lei ». (1)
O pensamento daqueIle legislador, ao redigir o art. 175
do codigo penal italiano, deve, portanto, servir de lume á in·
tenção do nosso na phraseologia do art. 226. Ora, eis como o
ministro ZANARDELLI, submettendo' o seu projecto á camara.
dos deputados, se exprimia acerca do art. 175, então designado
pj)lo numero 166: «Encerra o primeiro artigo Jo capo IV uma
di~posiçâo geral e complementar, concebida com o fim de re·
primir todos aquelles abusos, commettidos pelos fnnccionarios
P"~J:icos em detrimento do direito de outt'em (cont1'o l'alt,,'U;
dil'itto), que não se acharem contemplados em disposição es·
pt:cial de lei. Como nem todos os abusos, que se pódem com·
n.,~~ter p,'r fnnccionarios publicos, estejam designadamente
previl"tos e reprimidos pelo codigo, justo é, para evit.ar de·
plonrveis lacunall, que uma norma geral venha prover a todas
as c~'ntil1gf,ncjas possíveis. Bem talhado parece, poís, este logar
para essa disposição, por dois motivos: primeiramente, porque,
incluida no titulo dos delictos contra a libérdade, seria nimia·
mente al~aDbado o circulo dos abusos, a que esse texto se
referiria; em segundo logar, porque, prejudicando o livre exer·
cicio dos direitos individuaes, os abusos, a que se quer acudir,
lesam sempre a administração publica, visto ser o instrumento
da. lesão o abuso dessa auctoridade, cujo prestígio elle
abala.» (2)
'Por sua vez a com missão da camara, adoptando as idéas
do ministro guarda-seIlos, projectou ainda sobre o llesignio
legislativo do art. 175 este raio de luz: «Até aqui os codigos
vigentes, na Italia, com particularidade o toscano, limitavam
o titulo de abuso de auctoridade a uma só serie de delictos : -t'
os perpetrados contra a liberdade pelos funccionarios publicosj .
entretanto, que os abusos, a' que deve attender o legislador

(1) c Abbiamo ~i' spiegato che cosa s'intenda per abulO delle funzionl
in un pllblico ufflclale. Abusa delle sue funzione quell' ufflciale' che opera
fuori dei conful,i delle funzioni che gli lono dalla legge assegnate.~ NEGRI :
D,i delitti contro la Z.õertd. P. COGLIOLO: Completo "'attal.'i clirittf
penale. T. I~, parto I, ,pago 464. '
(2) ZANARDlILLI: Relazione ministeriaZe, XCII.
• • •
129 -
~

com adequadas sancções penaes, além da libel'dade, podem ainda


oifendel' outros dü"eitos individuaes (possono ledere, 110n solo
la libErtá, ma anclte alt,"i diritti individuali) , e offendem sempre
a publica administração.» (1)
A clausula do art. 175 do codigo italiano, e, como essa,
a do art. 226 no codigo bra:oileiro, deri'vação daquelle, consi-
deram os abusos de auctoridade, emquànto altentatorios de
direitos individuaes não contemvlados nominativamente como
objer.to de delictos classificados sob designação especial. Não
se postergando um direito, não se veritica o abuso de poder
na acçepção desse texto. E é essa a unica interpretação capaz
de substituir a indetinida elasticidade das Gonjecturas por um
criterio positivo e infallivel. Determinada uma funeção 1mblica;
se ella contina por qua.lquer parte com o terreno de um direito,
fixado alli ou alhures, a linha fronteira desse direito balisa a
raia terminal da attribuição, que com elle entende. Transpondo
essa divisoria, o funccionario <exaede os limites da3 funeções
pl'oprias do emprego.» Num vasto numero de casos as contin-
gencias possiveis desse genero de invasão já se acham previs-
tas em clausulas especiaes. Mas, como, apezar da longa enume-
ração consagrada, nos arts. 207 a 223, a essa eathegoria de
crimes, poderiam, em todo caso, oecorrer hypotheses omittidas
na série, a generalidade do art. 226 estabeleceu previdente-
mente a repressão commum a todas elIas.
Se, poréIl! não bouve direito les_do, nem a especie cabe
em alguma das inscripções peculiares, a que se ajustam cara-
cteristicamente os crimes da auctoridade judiciaria (cod. peno
1. U, tit. V, C. un., secçs. I-V), a illfracção commettida per-
tencerá ao numero desses abusos «não bastante gl'a ves, vara
merecerem ser castigados como delictos» (2), se em lei esvecial
não tiverem a repressão appropriada.
O facto de proceder contra a lei, não se podendo c1assi.A
ficar n'alguma dessas eathegorias, isto é, não tendo averbação
criminal em clausula expressa, ou nfw incindindo, por qualquer
offensa dó direito individual, no excesso de poder, que o
.- art. 226 contempla, só constituirá delkto, se a lei em questão
fôr violada literalmente. E' a prevaricHção figurada no art. 207,
i 1-; «J ~lgar ou proceder contra literal disposição de lei.»
Assim como notou de crimes os aetos do fUllcdonario, que

c..... . LII.
(1) VILLA: Relazione della commislione della camera dei depHtati,

- (2) c....
che siasi commesso per' parte di un pubblico urftciale' un..
abuso dt auto/'ità abbastanza grave da mel'itare liii essel'e j'epl'esso come
r~ato.,. CRIH1LLARI: Concetti (ondamentali di diritto perlale, p. 437.
IHa. TOL. 73 9
:. 4~~.:

.- 130 - "

trausgJ;i\dissem líte~'almente a lei, o codigo teria qualificado as


infl'acções não litel'aes, se t1mbem as quizesse reprimir. São
correlativas as duas idéas. O legislador não podia cogitar na
primeira, sem abranger forçosamente no campo da visão 'men-
tal a segunda. Logo, se se absteve de nomeaI-a, é porque de
intento a desprezou: i1/.clusio uniu.s, exclusio alte1'ius.
Intimamente associada::;, como são, as duas entidades, a
lei uão podia contemplar especificadamente a primeira no
art. 207, sob o aspecto do attentado «contra litteral disposição
de lei», para envolver vaqamente a outra na formula. de «ex-
ceder o limite das funcções proprias do emprego». As duas
- bypotheses representariam dois graus na es(~ala do mesmo
desvio: proceder contra literal disposição de lei, e proceder
contra disposição de lei não literal. As duas classificações de-
viam seguir-se, pois, uma á outra, como notações successivas
e variantes inseparaveis do mesmo conceito. Não se concebe-
ria a sua separação, e ainda menos a differença do seu enun-
ciado em e~pressõés tão discordemente variadas.
E' que, muito de proposito, o legislador não quiz sub·
metter a consciellcia do funccionario, particularmente a do
juiz, a um regimen de censura comminatoria, expondo-a á
contingencia da responsabilidade penal por factos de mera in-
terpretação de lei, quando esta, pela sua literalidade, não
excluisse a ínnocellcia no erro. cAi de nós», exclama um
grande criminalista, cse toda sentença iníqua fosse um delicto
no julgador. A ignorancia e o . erro süo a escusa inevitavel-
mente connexa ás violaçõe~ do direito, que por este meio se
consumam. E, comqnanto o illustl'e TOMMASEO denominasse
juizes malfeitores os que mal julgam, ainda não sendo este
effeito obra da sua malicia, essa phrase ha de considerar-se
como um geito de dizer, e não no positivo sentido jurídico.
Releva, por isso, notar neste caso outra excepção á regra,
com excessiva generalidade ensinada como absoluta, de que o
erro de direito não absolve. ,Já desta regra, alludi a uma limi-
tação no erro em direito civil, 1\hs n~ hypothesE' de um juiz,
que, por es:enqJlo, ordenasse Ulu,t encarcel'açftO illegitima, pro-
cedendo assim ]JOI' errOtlea inierpl'elaçtío (le wn artigo de lei,
I) errt) yersaria sobre direito ]J(,nalj e, todavia, com exbttrem
110 facto os elementos (le UIlIa prisi10 Gl'bit/,(lria, não incorrerict
em castign esse fUlIccionario, aUdnta a (!efesa de bo,\ fé e ansen-
ci,t de doll). Deste mOllo, em termos Hualogt)s, vi julgar peia côrte
de Genova, no caso de nm~ uuse'i il1egal, opel'adallOt' um fllllC'
donario induzido em equivoco 11d. illterpl'etaçfw da lei. >, (l)
tI) CARRARA: Programma. Pai'te lpec., v. V, p. 07,
-131

Porque se estabeleceram os recursos das sentenças; senão


por se haver reconhecido não haver outro meio sensato de
emendar os desacertos da magistratnra no officio de interpretar
e ap{1licar as leis? Por que, em vez de associar a cada erro
judiciario a pena de responsabilidade, se lhe abriu simples.
mente o caminho da revisão na outra instancia, ou na mesma,
senão por ser evidente que o erro do juiz não é sensatamente
responsabilísavel? (1) E, se não se póde admittir acção contra
o juiz por deslise da verdade na inteIligencia do direito, em
que outro criterio, a não ser a existencia manifesta do dolo, a
intenção de malfazer, poderá encontrar-se, para o magistrado,
o começo da responsabilidade? <Um magistrado independente,
já pela inamovibilidade, que desfructa, já pela liberdade de
voto, que se lhe assegura, chamado a interpretar e applie,ar
soberanamente a lei, bem pó de acontecer qUê, cedendo ao ins·
tincto, nativo a todo poder, de ampliar as proprias attribni-
çôes, se sobreponha á auctoritlt1.de da. lei, snb!:ltituiudo, nas
sentenças, pelos seus principios, criterios e intuitos, o criterio
e o pensamento do legislador _:. (1) Mas, se, para atalhar
contingencias dessas, os codigos ligassem ás 'E'xorbitallcias ,
possiveis do julgador a ameaça de sallcçfw penal, intentallJo
evitar os excessos de poder <la justiça, ü que de fa.cto se teria.
logrado, era abolil-a. (2)
Posta a condição de frande, 0\\ dul.), juridicamente' averi-
guada, como elemento essencial d~\ criminalidflde nos UCLns da
justiça, a independencia desta não sollreráj 1>01' isso que a
alçada penal, subordilla(la a esse requisito, gyra num circulo
de limites precisos, a que as l'egms strictas da prova não
deixam eiva de arbitrio. (3) ~Ias, desde que o erro venha a

, (1) «Nostris vero, ac m1iltorum aliorum mOl'ibus rarius est, ut judex.


male juliioando !item suam faoiat ; eo quod ex sola imperitia aut impru-
dentia eum non teneri tralatitium est, sed demum ex dolo, qui diffioilis
plerumque probationis est: male namque ageretur dem judicibus, pr(/)-
aertim infcrioribuB, juris imperitis, si in tam diffusa juris et pracois
seientia, in tanta opinionum varietate, tantoque causarum moram non
fe~'entium ae obruentium multitudíne, ipsá singulanem litium periculo
tenerentur obnoxii quoties ipsorum iníqua sententia non a il.olo, sed el--
1'ore, imperitia, vel impruclentia, oirginem habet,» VOET: Commentaria
ad Pandectas, V, 1. 58,
. (2) MATTIROLO: Trattato di diritt. giudiziai'io ci'!iilc italiano (40 ed).
voI. I, palf; 101, n. 108.
(3) «Amsi et par rapport à' la prise ll. partie, le doI consistera dans
lee machinations ou les artifioes qu'un juge se sera permis á l'encontre
d'une partie. 11 y aura fraude lorsque, voluntairement et dans le desseín
d~ nUtre, le juge aura ouvertement violé la IOi qu'iI était chargé d'ap-
phquer.
" Le doI peut se réaliser soU dans le cours de l'instru ction, soit au
moment du jugement; la fraude ne résulte que du jugement lui même.
- 13:1

constituir delirto, desde que o excesso, erroneo e nã'O dolo80,


sujeite o seu auctor a comminações repressivas, a consciencia
terá de substituir-se, no juiz, pela obediencia, o exame inde-
pendente da lei pela submissão passiva aos superiores, o espi-
rito do direito pelo automatismo da hierarchia.
Consideremos" com effeito, praticamente a maneira
como actuaria um tal systema. Até agora a auctol'idade das
sentenças dos tribunaes superiores não obriga os juizes infe-
riores, senão nos litigios em que forem proferidas. Noutros
nã,o tem, legalmente, importancia coercitiva. Se calarem no
animo dos competentes, pren.lecerão como arestos pela
sua solidez. Se não,' os tribunaes de primeira instancia
poderãu insistir nal:! mesmas decisões, até. que a instancia revi-
sora reconsidere a sua jurisprudencia, ou esta acabe impondo-se,
mercê do seu valor doutrinaI, á opinião geral da classe. E, se
a liberdade intellectual dos tribunaes inferiores é plena sempre,
fóra do caso julgado, ainda. para os analogoF, claro está. que,
a forlio1'i, dada uma especie nova, suscitada uma questão sem
. precedentes, o julgador não tem que consultar senão o seu
fôro intimo e o seu saber. Mas, se o erro judiciario passou a
ser crime, quando capitulado em excesso de auctoridade, e se
necessariamente a competencia final,· para definir, em cada
hypothese, o erro criminoso, reside nos tribunaes superiores,
toda. sentença contraria á opinião destes corre o risco de en-
TOlver o seu prolator em acção criminal. O magistrado inferior,

Ce n'est qu'alors, en eíYet, que le préjo:dice qu'eIle a pour but d'ooc&sioner


se manifeste,
" De l~ oette consequence qo:e le fait qualiflé fraude, et sur l'exis-
tence du quel il ne saurait y avoir doute, peut n'etre que le résuItat
d'une erreur involontaire. Le doI, au contraire, emporte ave C lui l'idée
d'une intention évidemment mauvaise. En effet, les maneuvres, les arti-
1ices qui le caractérisent ne permettent gUElre d'équivoquer sur l'esprit
qui a dicté les unes ou les autres. Comment le jo:ge pourra-t-il se justifier
d'avoir, par des moyeni fallacieux, amené la partie ll. des aveux ou !lo des
ooncessions qu'elle ne devait pas 1 D'avoir ajouté ou retranché la déposi-
tion des témoins qu'i! a entendo:' Comment le rapporteur d'un procEls
innooentera-t-il le fait d'avoir soustrait d'un dO'lier, ou dissimulá dans
son rapport, une piece décisive pour la partie , D'avoir présenté comme
certains des faits qu'il sait 4tre faux 1 Comment enfln le président, qui
apres la prononciation du jugement en altere la rédaction en y ajontant
ou en y díminuant, pourra-t-il persuade r de sa bonne foi 1 Chcun de cel
faites est trop contralle à la loyauté ~u'exigent les fonction. du magilitra t,
pour qu'on puisse se méprendre sur 1 intention Q.ui les a dictés.
«Mais, il. la différence de la ftaude, le dolne réllultera jamais du
jugement, en ce sens que les faits qui le conlltituent ne relortiront jamais
du rapprochement de celui-ci avec Ie texte de loi. D'alors, B'i! est vrai
qo:e la fraude, comme le dOl, doit étre prouvéB, il n'est pas mois certain
qu' il y aura dans la preuve oíYerte cette distinction importante que ceIle
de la fraude devra porter sur l'intention do: juge, et ceIle du doI sur
l'existenoe des faits dont on veut le faíre résuIter.» BlilDAHRID:I: Trait~
tlu dol et de la {rf.Jude, TO!. lI, p. 5-6, na. i53-5.
-133 -

portanto, que não se resigne a enfiar uma carreira de suspen-


sões successivas, tropeçando a cada passo em processos, terá.
de reduzir·se a espelho inerte dos tribunaes superiores. Ainda
nas questões, em que elles tivessem juizo conhecido, commoda,
bem que vil, seria a condição do juiz. Mas nas questões de
emergencia nova, nas especies juridicas inexploradas, como
evitar o perigo, a não ser advinbando, por arte maravilhosa,
as inclinações reconditas da maioria na alta magistra-
tura?
A existencia do magistrado seria entãQ, um curso intole-,
ravel de humilhações e tE'rrores (1), emquanto não vingasse o
degrau, que leva da passibilidade servil á suprema inflillibi-.
dade, da sit,uação de titere á de orsculo, mediante essa tran-
sição miraculosa, que, pelo condão do 'accesso official, conver·
teria um juiz sem direito á sua opinião em inquisidol' com o
sacro privilegio de impol·a. Não serio logico, em tal caso, eli·
minRl' o estadio inferior no processo judiciario, ou circums-
crevel·o á fllncção preparadora, e reduzir a uma só as instan-
cias, acabando com a superfluidade dos recursos?
lHas n[w ficam aqui as consequencias dessa ridicula e
desastrosa evers[w nas idéas cuncernent.es á responsabilidade
da mil.gistratnra. Emq\lRut.o se não atinar meio de fixar perpe-
tuamente a m:'.ioria nos f',orpns collectivo,;;, () (logma rlr, hoje,
nos tl'ibunaes superiores, estará exposto <'t S81' li heresia de
amanhã, e o (11'1'0 (la vespljl'a, a campear de verdade no outro
dia. B~ntão, sob a dialectica ,h nova theol'ia, a "entença proferLla.
pela maioria de um mlmento poderá converter·se, maii3 tarde, em
caso penal contra os sens membros, chamados a contas pela maio-
rta 8uperveniente. Não ha meio (le fugir aos corollarios de um
principio falso, des(te que interesses po(lerosos se achem em-
penhados em distendel·o até ás conclusões extremas. Se o erro
judiciario pode averbar-se em delicto, ao jllizo da maioria na in·
stancia definitiva, os TIl3gistrados, que a compõem, quando
ena se inverter, estarão sujeitos [l, ser colhidos nas malhas da
responsabilidade pena I anteriormente imposta ao juiz sing'ular.
rroda vez que se maligna o direito, insillURllr1o·lhe noções ini-
quas,. ou insensatas, o damno não para no serviço fruido pela
combinação ephemera, que o inspirou: cnda conv8nieneia ul-
terior, utilizando a semente germinaua, extrallir·llle·á quantos

, (1) «Ben pochi sarebbero coloro che volellero sobbarcasi al grave


canco del magistrato, s'essi potessero temere ad ogni instante um accu.a
ed essero tenuti aI risarcimento anche quando si sentissero incolpabili. :t
GALDI, PISANli:LLI, SCIALOJA E MANCINI: Commentario deZ codice de pro
cedura civil" voI. VI, pago 585, n. 1200.
-134 -

attentados a sua fertilidade possa auctorizar, embora os auc-


tores da novidade queiram limitar-lhe os resultados, e protes-
tem contra o imprevisto dos fructos, que agora combatem, por
não lhes aproveitarem. Na chronica dos corpos collectivos,
politicos, ou judiciaes, não faltam exemplos de reacçõe8 e
depurações, exercidas, no seu proprio seio, por uns de seus
memb~'os contra outros, ao alternar das n~aiorias. E, quando
se lll'oduzir na magistratura a obliteração do sentimento dos
seus deveres, necessaria para que ella desconheça no magis-
trado a liberdade amllla de applicar a lei segundo a sua
consciencia (*), as minorias, nos tribunaes superiores, não se
poderão considerar a salvo da invenção perseguidora, forjada
contra os juizes singulares. Se o m!1gistrado, male juclicando
80la impel'itict, se faz réo, no mesmo crime do juiz singular,
pela sentença, que pronuncia, incorre o membro do tribunal
collectivo, pelo voto, que dá. E, depois, logo que os tribunaes
superiores variarem de jurisprudencia, onde vae parar a mo-
ralidade da justiça, quando a houverem de acarear com as
sentenças, em que ella d'antes fulminava l)enaS contra os jui-
zes, a cuja opinião acabou por se converter ?
Só determina responsabilidade penal, portanto, a interpre-
tação ei'ronea, quando attentatoria _de disposições literaes.
Se a disposição não fôr literal, a materia é opinativa: per-
tence ao dominio de phenomenos intellectuaes, que não toleram
coacção, ou rapressão; pode ser conscienciosamente objecto
de soluções difI'erentes, ou contradictorias, submettida á apre-
ciação de juizes distinctos.· .
Se em direito penal a hermeneutica é restl'iCLa, não- será
licito ao interprete classificar de delicto, sob o rótulo de ex-
cesso de poder, actos judiciarios não condemnados em provi-
são literal, quando só aos attentados contra disposiçãO littral,
e sob um qualificativo diverso, o de p,'evctricação, allude o
egilslador.
:Mas « julgar contra literal disp08ição de lei» (art. 226 do
co digo penal) o mesmo é que julgar contra di,'eito expreS80.
E o que esta ultima expressão signifique, já o definia o co-
digo felippino, ainda hoje em vigor: «E é por direito a sen-
tença nenhuma... quando foi dada contra direito expl'ess~,
assim como se o juiz julgasse direitamente que o menor de

(*) «Le juO'e a rempli tous les devoirs envers la societé, envers les
parties elles m8mes, lorsque, interprétant le fait ou le droit,il a prononcé.
da,. 1e sens, que sa conscience lui a indiqué comme 1e plus lJrobable.La
purété de ses intentions, l'indépendance de son caractere sont les seuIes
garanties que la loi pouvait promettre aux justieiabIes.. BEDARRID.:
J)u dol et de la fraude, vol. l, p. 452.
-135-

quatorzeannos podia fazer testamento, ou podia Eer teste-


munha, ou outra cousa semelhante, que seja,.,. contra
direito 6xpresso, >' (1) Contra direito expl'es8o ou literal dis-
posição de lei, julga, por conseguinte, a sentença, se
firmar these directamente contraria ao preceito legis-
lativo, Se o juiz declarasse, figuremos, que a communhão
não é o regimen legal dos bens entre os conjuges matri-
moniados sem contracto ante-nupcial, que o casamento não
legitima os filhos anteriormente havidos entre os casados, que
a maioridade não principia aos vinte e um annos, que a
hypotheca não grava o immovel. contradiria formalmente
prescripções expressas e literaes do direito positivo; e a
decisão pronunciada com esse caracter de antagonismo fla-
grante á lei, sob a influencia de interesses e paixões, não
deve ficar impune. .
Sob o nosso regimen politico actualmente, porém, /I. clau-
sula, que veda julgar contra o direito expresso, ha de ser en-
tendida ainda com reservas, que lhe limitam immensamente o·
alcance. Ao magistrado incumbe hoje o dever- de oppôr,se á
execução dos texto~ mais peremptorios na lei, quando envol-
vidos no curso das questões submettidas á sua auctoridade, se
esses textos contravierem o direito constitucional. Entre
duas clausulas, que collidem, a da constituição impõe-se á
obediencia do juiz, e obriga o juiz a não obedecer á lei. Da
existencia dessa collisão é arbitro o juiz. Um poder novo,
desconhecido nas constituições onde a legislatura é soberana,
dilatou enormemente as funcções da magistratUl'R. Com essas
funcções cresceu, para ella, a necessida.de de independencia. e
força. A legitimidade das leis ficou submett.ida aos mesmos
tribunaes, onde outr'ora só se julgava a legitimidade das
acções particulares, ou a legalidade dos actos do executivo.
Pará. supprir as coutingencias de erro no exercicio dessa.
attribuição melindrosa, constituio-se este areopago, onde vem
terminar, de todas as justiças do paiz, pela organização pre-
vidente dos recursos, todos os litígios, que se allegue interes-
sarem á constituição. Só nos casos extremos, porta.nto, de
incompatibilidade ind~tbitavel entre a decisão de inconstitucio-
nalidade i o texo constitucional, poderá ser criminalmente
responsabilizado o prolator da sentença.
A não ser assim, a se admittír que as m&gistraturas
locaes, constituídas com a debilidade que se sabe, invadidas e
subvertidas tantas vezes pelas revoltas do interesse politico,

(1) Qrd., 1. 1II, t. LXXV, pro


- 136 -

ameaçarIas COll:st:l.lltemente por oppressões irresponsaveis, nulo


lifiquem a resistencia constitucional dos juL:es independentes
ás conspirações do legislador estadoal contra o direito supremo
da repubJica, teremos acabado com a ultima garantia da
liberdade individual e da uniformidade das instituições tepu·
blicanas nos estados. Pelos processos penaes contra os ma·
gistrados, que lle destacarem da craveira dos fracos, dos
submissos, dos que preferem a boa avençcl. com o poder into·
lerante aos riscos da justiça praticada sem consideraçõe", ba·
nir·se á da toga o espirito vil'Íl, extinguir· se·ha nos tl'ibnnaes
dos estadvs, de que principalmente depende a felicidade do
povo em geral, ,) zelo pela lei das I eis, o estimulo da sua
deft'za.
Sob as instituições actuaes, pOl' conseguinte, mais do que
nunca se impõe ás justiças do paiz o ml-tior cuidado no a.s·
segurar, em toda a sua dignUade, contra os sophisuLtS de
pel'spgi.lí!~~o esse principio ftmllitmAntal das immllnidacles da
mHgt~tr;).tl1ra, tão vigoro:'\ilment~; definido n'um gran(Ie itt'esto
da jU!'Ísl'nHleneia illgleza: «~Ho ciJ.b9 acçitü contra o jniz
por i-leL";; praticado~ ou opiniões exprimi<las, na S\l;1 capaci·
dade jLi(lkhria, em nm tribnn::tl de jlu.ir;a. Estt (loutl'Ín:l.
tem,se applicado a todos os triun!laes. E' essencial, em to,!os
os triLnnaes, que os juizes, in"tituitl()S ))'11',1 administrar jl!s,
tiça, llOSBiUll pxercel·a sob a lJl'uteeção da lei, inclepeullente e
livremente, sem contemplaçfw, Hem temor. Não é em prate·
cção e beneficio dos juizes 11010s03 e corrompidos que se esta·
beleceu esta norma jUl'Ídica : é (~l:l proveito do publico, inte·
ressado em que os juizes se sinfa:n em libenlaria de exercei'
as suas fnl1cções com desitssomoro e sem receio dp. conseq nen·
ei,as. Como poderia um j lliz desempenhar·se assim do seu
cargo, vendo·se cada dia e a cada hora sob a ameaça de
processos, em resuIttuo das suas sentenças ? » (1).

(1) c No action willlie against a judge for any acts done or words
spoken in hisjudicia1 capacites in a oourt ofjustioe. This doctrine has
been applied not onIy to the superior courts, but to the court of a coro·
ller and to a court martial, w11ich is not a court of record. It is_ essen-
tial in all courts t11at the judges who are appointed to administer the law
shoulcl be permitted to administer it uncler the protection of t11e law
independently and freeI'y, lfithouth [avour and without fear. This provi·
sion i of the law is not for t11e protection or benefit of a malioious ()r
corrupt judge, but for the beneflt of the pubblic, whoie interest it is ihat
the judges shoud be at liberty to exercise their functions with indepen·
dence and withoutfear Ilonsequenees. How coulda judge so exeroise Ili.
oruce, if he were in daily and hourIy fear of an aetion being brought
against him and of having the question submitted to a jury wether a
matter on which he had commentedjudicially was or was not relevant to
tha case before him?» SeoU v. Stan,fidcl. L. R. 3 Exch. 2Z3. AC<!sol<l :
The Law and Custom of the Constillltion (1892), Y. lI, p. 454.
- 137-

Diga-se embora que a faculdade, attribaida á justiça, de


negar a sancção das suas sentenças ás leis inconstitucionaes, uii.o
vae além dos casos de obvia inconciliabilidade entre a lei e a
constituição. Obvio, ou manifesto não quer dizer literal. Ha
noções, intenções, regms obvi/l.mente çontidas na constituição
e não expressas, comtl1do, em nenhuma das clausulas do seu
texto. Nos aunaes da jllstiça americana' sobranceiam decisões
ele immensa importancia nacional, proferidas pelos tribunaes no
presupposto dessa verdade. Basta recordar as vicissitudes da
questão varias vezes suscitada pelos Legal Tendm' Acts. Antes
de 1862 nillguem, nos Estados-Unidos, reconhecêra ao congresso
o poder de emittir papel-moeda com curso legal. Tl'es leis desse
anuo e do seguinte, porém, auctorisaram o thesouro a emittir
notas de circulação forçada. Depois de varios litigios provo-
cactus por esses actos legislativos, se manifestou em 1869, na
cansa Hepbu1'n v, Gris/Volcl, a mais viva contestação da sua
constitl1douali<lade, que a suprema côrte federal negou, por
considerar as leis de 1862 e 1863 contrarias ao espirito da con-
slUnição e como taes por ella annulladas, não obstante o voto
dissidente ele um dos membros nmis eminentes do tribunal, o
juiz MILLER. No anno suusequGnte os feitos Knox v. Lee e
Pal'kel' v, Davis reviveram a legal tende/' qllestion, e a suprema
côrte federal reformou a sua. jurisprudencia, declaranuo validas
as leis, que no anterior ave:'bára de insubsistentes, bem que no
seio do tribunal li opiJlLto divergente, advogada habilmente
por juizes como CHASE, CLIFFORD e FIE LD , inRistisse em que o
curso forçado violava 1tma (Zisposição expressa da constituição.
Oito anHOS depois o pleito Juillal'lZ v. GJ'eenman reiterava o
julgado; mas a dissidencia não se extinguim no seio da côrte
suprema, onde teve então por orgam o juiz FlELD em um voto
«notavel pela. schncia e vigor dos argumentos ». (1) .
Ahi temos, na mesma pendencia, á distancia apenas de um
anno, em assumpto que entendia pela b1\se com as finanças da
União e o trabalho recoHtlLl'uctor do paiz desorganizado peht
guerra separatista, duas sentenças entre si contradictorias,
proferidas pelo grande tribunal da repnblica, e magistrados
como FIELD e lIhLLER, os maiores jurisconsultos do seu tempo,
divi<lidos acerca <la solução, <lHe um aJ.vogava como dictame da
constituição no seu espirito e outro romo contraria á consti-
tuição na. sua letl'a. A apparencia ela lt3tm cedeu á, realidade.
do espirito. FIELD viu-se venci<to por MILLER. A suprema

(1) CARSON: The Supreme Cow't of the United States (1892) pags, 443-57,
502-3.
-138 -

côl'te variou radicalmente de parecer. E ao voto definitivo


ficou, nos annaes da justiça, contraposto o protesto de uma
dissidencia veneranda.
A que se reduz, pois, ante factos como esse, cujo numero
nos seria facil multiplicar, a doutrina intractavel da inco'1lslitu-
cionali(lade manifesta, amurando a alvenaria nos limites dá in-
terpretação grammatical o criterio dos juizes, pretendendo-
crear, para a exegese jurídica dos textos, um padrão de evi·
dencia tão absnl'do, quanto a pedra philosophal, e reso lvendo
os casos de conscieMcia juridica, os problemas de interpretação
constitucional, a golpes de penalida{le contra os magistra-
dos?
Essa theoria excentrica e odiosa não se podia inventar
em peior Oppol'tuniclade, nem para fins mais deploraveis. Já
depois de semeada no Rio Grande se lhe sentio germinar perto-
de. nós um rebento nefasto. E' o instrumento adoptado agora,
para remover do pretorio e f1agellar de suspensões iniquas os
magistrados incommodos ao governo.' Passando por sobre o
juiz da comarca do Rio Grance, porém, o raio agora vae ferir
uma victima incomparavelmente mais alta: a grande institui·
ção dos paizes livres, que elIe defendeu com a sua coragem, a
sua integridade e o seu civismo.
Ha, na c.arreira de Bonaparte, um longo episoclio, que
corta como um traço vivo de caracter a parte mais extensa e
dramatica da sua vida, desde 1801 até 1814: é a luta contra
o jury.
Obsesso do horror a essa garantia liberal, cuja vitalidade
lhe oppunha, a cada passo, um obstaculo á eliminação dos
seus inimigos, Napoleão, em cujo animo acabou por se apagar
de todo o senso da legalidade, escolhido o ensejo, aprestada a
scena, industriados os comparsas, convocou, em 1804, o seu
conselho de estado a uma sessão especial, em que a palavra do
genio e o prestigio do imperador haviam de fulminar o exo-
tismo do cbarbaro e ehaotico» producto inglez, contrabandeado-
atravez da Mancha pelos «metapbysicos> e «ideologos» de
179] . A irritada magestade, que a eloquencia, a grandeza e
o terror coroavam de fulgores e ameaças irresistiveis, trovejou
contra o jury entre Cambacerês e Portalis. Mas essa fascina-
ção, ante a qual empallideciam os maiores generaes, não intimi-
dou a convicção dos grandes jurisconsultos, infl.ammados pela
voz de BERLIER e TREILH.ARD. Quando o archichanceller, en·
cerrado o debate, estendeu os olhos pela assembléa, para contar
os votos,extraordinaria maioria oppunha-se á vontade do despota
presente. A batalha renovou-se, porém, n'uma série de sessões
tempestuosas, sempre com o mesmo resultado, até que o impe-
- 139-

rador cessou de assistir ás sessões, e suspendeu a discussão do


codigo, que só em 1808 veio a recomeçar. Estava então assi-
gllada a paz de Tilsitt; e é sob esses auspicios que o arbitro
da politica europêa se entregou novameríte á sua campanha
contra o jury, triumphante emfim, hinda qne viciado no codigo
do processo criminal. A tyrannia do reorganizador da França
restaurára os carceres de estado e as prisões arbitrarias. «Mas"
nos quadros dessa justiça imperial, corpo de exercito judiciario,
de que Napoleão será tambem o general em chefe, resta um
canto, um refugio para a justiça do futuro. O nomp. e a imagem
do jury subsistem: imagem bem informe, instituição que, por
muito tempo, não terá influencia, nem valor real. Mas o seu
valor symbolico é immenso. Elle representa essa debil institui-
ção, que o vencedor da Europa não logrou anniquilal', o indes-
tructivel espirito de liberdadE', que lhe resistio ao poder.» (1)
E não se quer que, emqnanto a maioria do conselho de
estaelo napoleonico defendia assim o jury contra Napoleão,
obrigando-o a assignar a sua derrota, houvesse, numa republica
organizada sob as fórmas da liberdade americana, um magis-
trado, capaz de arcar, 1101' e11e, com um acto illeg'itimo do
poder.
O que a gloriosa dictadura da maior cabeça da historia,
na phrase do velho DE BROGLIE, não conseguio do cenaculo
deslumbrado, que, com e11a, fizera, em França, o co digo civil,
não lia de arrancal·o, aqui, do supremo tribunal federal a.
sombra de longe projectada sobre a mais luminosa altitude da
justiça brasileira pela philosophia oppressiva dos herdeiros de
Comte.
Ra, felizmente, um abysmo entre a política e a justiça.
Quando BONAPARTE, que, em 1802, expedira sete mandados
de ,prisão contra a totalidade dos membros do jury militar,
cuja maioria absolv~ra RIVOIRE, acoimando esse tribunal de
«rebeldia contra a constituição», mandQu, em 1810, desres-
peitar o veredicto do jury belga, no processo WERBROUCK J
arguindo-o de «não corresponder á confiança da lei», e orde-
nando que o 'IlIaire absolvido se submettesse a novo julgamento,
em camaras reunidas, sem jury, a côrte de cassação, unanime
e peremptoriamente recusõu desviar·se da lei, declarando o
procurador geral MERLIN que a sentença era regular, e não
havia meio de annullal-a. Emquanto a justiça desobedecia, a
política obedeceu. O senado executou docilmellte o attentado,
que DUPIN classificára, com razão, como «um golpe de estado

(1) CaUPI ; Napoléon et le jUl''!I. Gazette àes Tribunaux, 17oct. 1896.


-HO-
judiciario» sob o pretexto, commum a todos os crimes poli·
- ticos, de que a decisão dos jurados de An vers «attentava
contra a segurança do Estado». Mas, pouco depois NAPOLEÃO
abdicava, e o mesmo senádo, firmando o decreto d~ deca·
dencia, protestava, nesse documento, contra a annullação,
cujo instrumento elle fôra, do veredicto do jury de Anvers,
exprobrando ao imperador hava:' «confundido todos os poderes
"e destruido a independencia do.3 corpos judiciarios».
Vêde como a intrepidez da magistratura contrasta,
deante da força, com a covardia do interesse político. Nó.3
confiamos que o Brasil tenha tambem magistrados, esperando
que aquilIo, que os grandes e brilhantes despotismos não extor-
quiram á justiça imperial de França, a justiça republicana do
Brasil não conceda á esteril e obscura oppressão das tyran-
nias provincianas.
Abrigue o Supremo Tribunal Federal sob a sua toga o
jUl'y brasileiro mutilado, honrando o compromisso constitucional,
que l'ho recommenda. Esta é a questão inevitavel neste
pleito. Da outra dissemos, por acompalllwr a sentença; e nilo
deixar sem repulsa um erro perigoso. Mas para o recorrente
não se ha mister do refugio, que ahi se lhe offerece; porque
o erro, o attentado é dos que o perseguem. A sua defeza é
a defez:l do jury, E' o jnry que ficaria sacrificado, se a re-
visão não considerasee o processo sob esta face.
Ruy BARBOSA.

ACCORDAM (FL. 12d)


Vistos, relatados e discutidos os autos de revisão-crime,
em que é recorrente o bacharel Alcide~ ele Mendonça Lima,
juiz da comarca do Rio Grande, condemnado pelo Supremo Tri·
bunal do Estado do Rio Grande do Sul.
Examinadas e discutidas as seguintes requisições do pro-
curador geral da Republica : P que seja absolvido o recorrente;
2~ que seja deC'larado incorrecto o seu procedimento, isto é,
ter havido, da 'lua parte, infracção material da lei;
Considerando: Que o recorrente foi cJndemnaflo li. 9 meze s
de suspensão do cargo, como incurso no grão medio do art. 226
do Cod. Pen., que dispõe: - «exceder os limites das funcções
proprias do emprego» ;
Que o facto imputado ao recorrente, e que deu logar á
condemnação, é :-tel' o recorrente, como presidente do Jury
- Ul-
da cidade do Rio Gran~e, deixado de executar, por julgai-a
inconstitucional, a lei estado ai n. 10 de 16 de Dezembro de
1895, na parte relativa á reCU8a de jurados e voto des-
coberto;
Que este facto não constitue excesso dos limites das funcções
proprias do cargo do recorrente, porquanto, os juizes estadoaes,
assim como os federaes, têm faculdade para, no exercicio das
suas f'uncçóes, deixarem de applicar as. leis inconstitucionaes,
como é expresso na Constituiçãu da Republica, art. 59 n. 3°,
lei n. 221 de 20 de Novembro de 1894,'art. 13 § 10, e na mesma
lei rio-grandense de 16 de Dezembro de 1895, art. 8° j facul-
dade que presuppõe a competencia para apreciarem a incon-
stitucionalidade e declararem-n'a para aquelle efeito i
Que, portanto, o recorrente, declarando nÍllla, em parte,
por inconstitucional, a citada lei rio-grandense, e deixando de
applical-a, não excedeu os limites das funcções do seu' cargo ;
pelo contrario, exerceu-as regularmente;
Que esta conclusão, a favor do recorrente, não depende de
decisão do Supremo Tribunal Federal, sobre a inconstitucionali-
dade da mesma lei rio-grandense, visto que, si por este Tri-
bunal fosse ella julgada constitucional, ficaria estabelecido que
o recorrente errou na sua apreciação, mas, não, que de-
linquiu;
Que não póde ter lugar a desclassificação do facto para
o art. 207 § lOdo Cod. Pen., porque falta o elemento subjec·
tivo do crime abi definido-afeição, odio, contemplação ou
interesse j circumstancias que não podem prevalecer, sem
prova sufticiente, não bastando a presumpção derivada de
divergencia politica entre I) recorrente e o presidente do
Estado do Rio Grande do Sul i nem é licito a desclassificaçÃo
do facto, quando importa pena maior, á vista da. Constituição
da Republica, art. 81 § 2 0 ; decreto n. 848, art. 9° n. 3°
§ 2° j lei n. 221 de 20 de Novembro de 1894, art. 74 § 7.· ;
Accol'dam, sem entrar na apreciação da inconstituciona·
lidade da lei rio-grandense, em dar provimento ao recurso,
para absolverem, como absolvem, o recorrente, e em julgar
Improcedente a segunda requisição do procurador geral da
Republica j pagas as custas pela Fazenda do Estado do Rio
Grande do Sul.
Supremo Tribunal Federal, 10 de Fevereiro de 1897.-
.J..qnino e Castro, pre~idente. - Ribeiro de .lllmeida. - João
BarballtO. - Ámerico Lobo. Votando de accordo com as
co~clusões desta sentença, ora compendio o que disse durante
o Julgamento ácerca da constitucionalidade da lei do Estado
do Rio Grande do Sul, cuja inexecução motivou o processo

-142 - '
do recorrente. Deformado 11ela lei de 10 de Junho de 1835
que entregou ao arbitrio dos senhores, sem nenhum appelIo
a vida dos escravos accusados da autoria de crimes alli pre-
vistos, mutilado radicalmente pela lei n. 261 de 3 de De~
zembro de 1841 que, instituindo o caviloso resumo de deb ates,
aboliu o grande jury de accusação, baluarte da liber dade
individual prescripto na emen1a 5& da Constituição dos Es~
tidos Unidos, e conferiu ao juiz de direito o poder exorbitan-
te de anniquilar as decisões dos juizes de facto, por meio da
famosa appellação ex-officio, e espoliado successivamente pelo
decreto n. 562 de 2 de Julho d~ 1850 e pelas leis n. 581 de
4 de. Setembro do mesmo anno e n. 1090 de 1 de Setembro
de 1860, que attribuiram a outros juizos e tribunaes o co·
llhecimento de delictos communs, o jury, tal qual o encontrou
a Republica, era uma instituição em ruinas que a Consti~
tuição no art. 72 § 31 mandou melhorar, eis que a manteve
no crime, com exclusão do civel, onde jamais funccionára, a
despeito da terminante disposição do art. 151 da Cartil. de
25 de Março de 1824.
No texto do § 31 do art. 72 da Constituição Federal en-
contra-se delegada solemnemente a todos os cidadãos no gozo
de seus direitos politicos a. funcção de juiz de facto e pois o
respectivo exercício não deve, nem póde ser tolhido ou sub~
trahido, a arbítrio das partes, ou, melhor, de seus patronos,
visto que em quasi sua generalidade, os réos submettidos a
julgamento são pessoas desconhecidas para os juizes. O citado
artigo constitucional aboliu nos paragraphos 20 e 21 as penas
de morte, de galés e de banimento judicial, e de accordo com
os principios humanitarios consagrados no Decr. n. 774 de 30
de Setembro de 1890, nosso Cod. Pen., no art. 44, pros-
creveu as penas perpetuas. Nestes termos não se justifica
mais a sobrevivencía da recusa peremptoria que, na lição de
Blackstone constitue um privilegio concedido aos infelizes ac-
cusados de crimes capitaes in favol'~ vitce. Contra as injustas
condemnações, o legislador constituinte abriu o largo portico
da revisão, Cl'eada no art. 81, revisão que póde ser requerida
tanto pelo sentenciado, quanto por qualquer do- povo, e até
ex·officio pelo procurador geral da Repnhlica.
Conforme se arguio mais de uma vez no acto do julga-
mento, o escrutinio secreto do conselho de jurados é incompa-
tivel com a unanimidade de suas decisões, tal qual é exigida
na Inglaterra: mais incompativel é elle ainda com o § 12 in
fine do mesmo art. 72 que, prohibindo o anonymato na im-
prensa, virtualmente o condemna nos juizos e tribnnaes. De
feito, se o escriptor se descoure quando critica actos de admi-
-143 -
nistração ou simplesmente denuncia abusos ou crimes, não se
comprehende como se esconda á sombra do mysterio o juiz que
impõe penas restrictivas da liberdade individual ou de outros
direitos.- Manoel M1wtinlw. Votei tambem pela absolvição do
peticionario, declarando, porém, considerar erronea sua opi-
nião sobre Íl. inconstitucionalidade da lei do Rio Grande do Sul
n. 10 de 16 de Dezembro de 1895 na parte em que, ao orga-·
nisllr o jury naquelle Estado, abolio as recusações peremptorias
e tornou descoberto o voto dos jurados, visto me parecerem
taes disposições perfeitamente compativeis com o art. 72 § 31
da Constituição Federal, por não affectarem a essencia da in-
stituição do jury. - João Pedl'o.- H. do Espidto Santo. Ven-
cido. Apezar de ter a sentença recorrida classificado mal o
crime, como dos autos se evidencia, e assim o di~se positiva.
mente o accordam, pois na hypothese sujeita, é indubitavel
que o recorrentep1"ocedw cont1'a litt~1'al disposição de lei, art. 207
do Co digo Oriminal, fui levado a confirmaI-a, em razão de não
ser permittido no recurso de revisão aggravar a pena imposta
ao condemnado. Annullar-se o julgamento seria a decisão maís
consentanea aos principigs de direito.- José HlIUino. Votei'
pela absolvição do recorrente, fundando·me nas seguintes razões.
Trata·se dl3 saber se orecorrente commetteu um excesso de poder,
deixando de applicar a lei rio-grandell8e de 16 de Dezembro
de 1895 que reorgal1isou o jmy. A constitucionalidade da lei é
pois a questão capital, pOl'quanto si essa lii não é constitucional
falta o elemento material do delicto, e, quando esta falta, é inutil
ou melhor não tem sentido investigar si se deu ou não o ele-
mento subjectivo (culpa). Ora, a lei rio-grandense de que !li e
trata é inconstitucional tanto por sua materia corno quanto á
sua fórma e origem. Por sua material porque não Ee conforma
com o art. 72 § 31 da Constituição Federal que declara mantida
tt in8tiittição do jU1'Y, e consequentemente manteve esta institui-
ção com todas as suas bases e condições essenciaes de existen-
cia, tal como se achava admitt.ida na nossa legislação vigente
ao tempo da promulgação da mesma Constituição. Entre eSl'1as
base;; figuram tanto o sigillo do voto, que é a suprema garantia
da independencia do jurado, como as recusações não motivadas,
que é a suprema garantia da i-mpal'cialidade de um tribunal
popular, q nal o jury; e assim se tem enten dido em todos os
paizes ela Europa e da _America, cujo jury tem por modelo e
typo immediato o jury do Cod; do Pl'( c. Crim. francez. 'Esta
llupla base do jUl'y foi supprimida peia lei rio-granelense. Quanto
á Su~\ fórma e origem, llorque a lei em questão emanou exclusi-
vamente do govel'lladof do Rio Grande do Sul, sem a coope-
ração do Congresso daquelle Esta(10. Segundo o art. 63 da
-J4~-

Constituição Federal, os Estados se regem pelas constituições


e leis que adoptarem, respeitados os principios constitucionaes
da União. Evidentemente pertencem ao numero desses princi-
pios o regimen representativo e a divisão de poderes (art. 1
e 15 da Consto fed.). Não é licito a um Estado adoptar outro
regimen que não o reprellentativo caracterisado pela existencia
de uma assembléa legislativa oriunda do voto popular, nem
fundar,sl sobre out.ra base que não a divisão de poderes. Â
Constituição rio-grandenlie porém assenta !'lobre a confusão
de pod~reB, reunindo nas mãos do governador do Estado
o poder legislativo e o poder executivo. Consequentemente
a lei rio-grandense de 16 de Dezembro de 1895, tendo
por unico faetor legislativo o governador do Estado, incorre
no vicio de inconstitucionalidade e não póde ter vali-
dade.-P/lreira Jiranco . . O meu voto absolvendo o recor-
rente fundou-se nas mesmas razões expostas pelo SI', mi-
nisto José Hygino. - Figueif'edo Junior. DQ accordo com o
voto do SI', ministro José Hygino, na parte em que, consi·
derando questão capital, por entender com o elemento mate·
rial do delicto, a constitucionalidade da lei por cuja inexecu-
ção foi aecusado o recorrente, jul~a inconstitucional li. dita
lei no seu todo, por emanar do chefe do governo, investido
pela Constituição do Estado das funcções legislativas, com
flagrante violação dos arts, 15 e 63 da Constituição Federal.
-Bernaraino Perreira. Votei pela absolvição do impetrante,
mas sómente pela poderosa razão, d&duzida do disposto no
art. 24 do Codigl) Penal, de não ter presidido intenção cri-
minosa no acto de jurisdicçãO pelo qual foi accusado e con-
demnado o mesmo impetrante. Si é ou não constitucional a lei
estadoal, cOIiltra cuja execução se pronunciou o impetrante, como
presidente do jurYi entendo que não pôde ser, discutida e deci-
dida, tão import.ante e grave questão, no julgamento summario de
simples revisão criminal. Pela natureza especial d'este recurso,
creado exclusivamente, na phrase constitucional. em beneficio
nnico do réo cOlldemnado, a funcção do Supremo 'rribunal
deve necessariamente se adstringir - á confirmação da culpa-
bilidade ou ao reconhecimento da innocencia do sentenciado-
nos casos que, segundo o at-t. 81 § l? da Oonstitttição Fe et'al
fOf'em especificados em lei, e que pelo art, 9 n, 3 do Decr.
n. 848 de 11 de Outubro de 1890, sã@: pena contraria á
direito ou á p1'ova dos auto8 ou nullidade do processo. Sendo
Msim é obvio que não se póde dilatar a esphera da jurisdicçã@
federal para abranger uni caso não previsto em lei j tanto mais
quanto, gravitando a questão sobre a contestação da validade
de uma lei estadoal em face da ConstituiçãO, o seu conheci·
- 14:5 -

mento só pôde ser devolvido ao Supremo Tribunal por :via de


recurso extraordinario. Com effeito, a Constituição Federal
assim se exprime em o art. 59 n. 3 § 1 lettra "- b-: «Das
sentenças das justiças dos Estados, em ultima instancia, haverá
recurso para o Supremo Tribunal :» « Quando se constestar a
validade de leis ou de actos dos governos dos Estados em
face da Coniltituição ou da!! leis federaes, e a decisão do Tri-
bunal do Estado considerar validos esses actos ou essas leis
impugnadas .•
Portanto a doutriD!l, que se pretende sustentar de qUf\ em
processo de revisão-crime pôde conhecer-se da valiáade de l/ma
lei estaáoa7, e'Ílcontra em nossa lei organica untural e illvell-
civel obstaculo. Nem se diga que o mencionado dispositivo
soffre limitação quando se trata de leis criminaes, pois que,
tendo elle a mais completa explicação na indole do nosso
systhema federativo, que não permitte que os Estados possam
ser colhidos de surpl'eza em assumpto que lhes affecta directa.-'
mente á sua autonomia, como seja a decretação de nullidade
de uma sua _lei, ê claro que d'est' arte não procede a distincção
que se quiz fazer e sem o minimo apoio na lei institucional.
Procura-se tambem basear a doutrina ex-adver80 no § 10
do art. 13 da lei n. ~21 de 20 de Novembro de 189-4: que
assim preceitua: «Os juizes e tribunaes apreciarão a validade
das leis e rlgulamentos e deixarão de applicar aOl! casos occur-
rentes as leis manifestamente inconstitucionae8 e os regula-
mentos manifestamente incompativeis com as leis ou com a
Constituição .• W de vêr que semelhante regra não tem appli-
cação á especie vertente. Esse paragrapho está intimamente
ligado e dependente do art. 13 que estatue: «Os juizes e tri-
bunaes federae3 procurarão _e julgarão as causas que se funda-
rem na lesão de direitos individuaiS por actos ou decisões das
autoridades administrativas da União.. Consequentemente,
desapparece este argumento diante da seguinte consideração-
não 8e trata de acto8 ou d~ci3õe8 das autoridade8 administrativas
da União, mas pura e simplesmente da contestaçl1.oda valiàaáe
dá lei t:stadoal ào Rio Grande do Sul, que organisou asua justiça
criminal. Mas dir-se-ba, nestes termos, como desmembrar da
decisão que vae proferir o Tribunal à questão da inconstitucio-
nalida-de da lei? Perfeitamente: uma vez que o impetrante
não interpoz o recurso extraordinario da sentença proferida
pelo Superior Tribunal do seu Estado j e attendendo-se a natu-
reza do processo de revisão-crime, por elle escolhido, eviden-
temente que as razões que exhibe em justificação á resistencia
que offereceu á lei impugnada, só podem servir para salientar
a boa f~, isto é, aausencia de intenção culposa em o seu pro-
Dm.Y~iU W
-146 - '
cedimento. Subrelevando notar que a opinião que sustento não
deixa ao desamparo os direitos daquelle que, em ~eu cOllceito,
se julgar condeuJlladu pOI' um .ini~ iHconstitucional ; porquanto,
dada essa emergencia, elle pórle e deve contestar llel'aute os
tribunaes estadoaes, em face da Constituição, a validúde dessa
lei que ol'ganisou o Jury e o nJOdo do ~ell julgamento; usando,
,depois ele proferida a sentença em ultima inst.ancia, do recurso
extraonlinario que lhe serve de protecçito e garantia.-Fui·pre-
sente.- Lucio de Mendonça.

J urisdicção Oivil

Nullidade do Decr. n. 2056 d. 25 de Julho


de 1895. que apoeentou os ffi:::gistrll.dol Im
diaponi bilidade.
Intelligencia do art. 6° dlls dispoliçõu
transitoriRs da Consto Fed. (.)

Acção IIIUJDlllaria eepecial

A ufor- D,'. Manoel G (dof1'edo de .LI lencastro .Ánfran, JI';M


(l~ âi1'~ito
em di~l1onibilid(((lf·.
Ré-A União Fedel'al.
Juizo secciona.l do Eatado do Rio de~Janlir.

RAZÕES FINAES DO AUTOR

Não ha ningnem que ignore o modo excepciona.l, senão


unÍco certamente nos aBnaes da historia, pelo qual entre nós
se operou a mudança de furma de governo.
A revoluçiio de 15 de Novembro de 1889, que substituiu
em todo o paiz o regimen monal'cMco pelo 1'epublicano, não foi
.., o relSultado de um convenio fratricida em luta saugninaria;
?' mas a consequencia. de uma ltspiraçii.o g8:'al em bem da collec·
tíyidade política. Por isso não alterou a publica tranqnilidade
em part.e H!guma do grande B va~tissimo territorio nacional.
E o Governo l'rovborio proclulIIando a garHlltia dos direitos e
rLéllllelHlo todos os aetos em (jI.te e~ta \'0:1. em penhac!a a fé l!lllJlica,
lJem COIUU O flltlccionalisUlo, il1,~piroll, geral e iJllIll~dh!tllmente, I.L.
_ _ f _ _ __

(") Vil!, Di;', vvl. 71, pllg, 104 fl vol. 7%, pa.~. M.
- 14.7-

firme (;011 vi(;~il.O de q ne obedecia a um idéal púlitico e não á paixões


ou intel'e~~es privados. (1)
E~:;a garantia, portanto, quer quanto :lOS aclo3 publico"
qüer qua!lto ao fuuccionalis11lo, .muito plilldpalmente aos encar-
regadus da aumiuistração da justiça, não foi 11ll11l. veleidal1e ou
~imples reel11'80 àe occasião, UlaS um fonllCll compromiuo, de
cuja ~el'iedade não é licito duvidar.
Por Ullla serie constante de aetos de soberania confirmou
o Govemo Pl'ovisol'io os seus illtnitos belH~ficos, e será ocioso
enumerar os casos, em que se manteve o direito adquÍ1'ido pela
anle1'io/' legislação, il despeito llvs 110\'08 moldes do regimen
adoptildC'. (2)
ndaLirame.nte ao:;fullccio1!m'ios euca.rregôldos da tulminis·
tração tltt jllliti\a, o Decr. 11. 7 de 20 de Norembro d<:l 1889,
fixan.lo l,rovisoriamente as attrilmições llos go\'el'Il~dores dos
Estalllls, li!) ~ !f' do art. 2" l!'all'ilgul\\'ilou o direito dOI magii-
irados perpetuas vedando a sua demissão e só permittilldo a
8ulpell,~ã(J pilm serem devidamente respon~a1.dlisados e punidos
com ret:lll':iU neee~::;ario par(\, o Gurel·no. E, para evita!' toda
a duviJa, qnàlllo it prel'ogllti"à dos mesmos governadol'ell no
pro\'iI:.ll!1lto 11it lIla{;istratul'a, o DecLn. 12 de:23 de Novembro do
referido allll!) !lO ::ieH art. 1" dechlron serem da txclusiva com-
petellcift du Govemo lTederal as nomeações (lo,~ maghirado3
pe1'1JelllÜlJ •
A~l!'illl,
e sempre COllsoante com a sua llorma de conducta,
o GoVel'llü l'roviso1"Íu ll:\ Rel'ul.Jica j;WHtiS consentiu na lesão
do di, eiio ill!!el'ellte aolo1 el\rg-()~ vita.licios, e até foi prodigo
em uelleliciiJs pessoaes, f'aciliulIulo as 0lJoselliadorias a pelUdo,
com remulI€l'açílO vautajosa!
IJe parte, porém, os {'(feitos bons oa mãos do poder des-
cl'iciouario, o que é factll, e que a 7Ilagibtndura vilalicia, como
deposital"Ía (le lima. funcção sU{.Irema, qual a de dh;tribllil' jus-
tiça, ik()ll á coLeI to Jas violencias l,artidatias: a wa pe1pe-
tuidatle ficou ganllltida de lIiOltO incunte;;tanJ.
Em! eta!l to, devendo terminar o periodo p1'ovisorio, e con-
vindo assell tar as ba!1es da ol'[lrOlisaçlr(l df'jiniliva, O Governo
fez baixar o Decl'. ll. 510 de 22 de Julho de 1880, onde ainda, ~

(I) Ve.ia a E-r:]losiçcio apresentada ao Chefe do G,wcrno Provisorio


em 15 de Janeiro de 1891 pelo ministro e secretario dos negocios da.
justioa Dl'. Manoel F,errllz d.e Campos Sallei. .
(2) V. o Decr. D.5 de 19 de.Novembro de 1889 as~egurando a conti-
nuação dos subsidio., com que o e:x·imperadol' pensionava de seu bolso a
necessitados e enfermos, orphãos e viuvas. V. mais o reviso do winistei'iQ
dos ne{/ocios do illlcrioi' de 16 de Abril de lSUl relativamente á cor grua.
1108 v igarios.
- 148-

para effectividade d'esse direito reconhecido! se vê o seguinte:


« Nas primeiras nomeações para a ma.qi&tratura federal de pri-
meira e segunda instancia, o presidente da Republica admit-
tirá, quanto convenha á boa ~elecção d'esses tribunaes e jui.
zos, os ju'l~es de di1'eito e desembargadores de mais nota (art. 7"
das Disposições transit01'ias) (3).
« Na primeira organisação das suas respectivas magistra-
ttWa8 os Estados contemplarão de preferencia, quanto lhes per-
mittir o interesse da melhor composição d'ellas, os actuaes
juizes da primeira e segunda instancias~ (art. 8· das Dispo&i-
ç6es transito/'Ías).
~ Os desembargadores e juizes d6 di",ito que por etreito
da nova organisação judiciaria perderem os seus lo~ares, per-
ceberao, em quanto não se empregarem, os 8eU8 ve"cimentos
a.ctuaes» (a1't. 10 das citadas Disposições tran8itorias).
« Emquanto os Estados se não constituirem, a despeza
com a magistratura actual correrá pelos cofres fed~raes:.t, (a1't.
11 das citadas Disp08ições tmnsitorias). .
Estas disposições, que são a consagração d0s principias
estabelecidos, foram consignadas, ipsis ve1'bis, nos arta. 7, 8,
9 e 10 das Disposições transito rias do Decr. n. !H4 de 23 de
Outubro do dito anno de 1890, que publicou a Constituição
submettida ao Congresso Constituinte.
Coube aos eleitos do povo na confecção do pacto funda·
mental dizer a ultima palavra sobre a sorte dos magistrados
perpetuos. Não faltou discussão, nem debate, que deixasse em
duvida o direito_ reconhecido. (4).
De facto, o Congresso Constituinte, promulgando em 24
de Fl'lvereiro de 1891 a Oonstituição dos E8tados U9lido8 dI
Brazil, estatuiu o seguinte:
« Nas primeiras nomeações para a n1agistratura federal e
para a dos Estados serão preferidos os juizes de direito e os
desembargadores de mais nota».
. «Os que não forem admittidos na nova organisação jndi-
ciaria, e tiverem mais de 30 annos de exercicio, serão aposen·
sentados com todos os vencimentos».
« Os que tiverem menos de 30 annos de ~xercicio, conti-
nuarão a pet'ce be1' seus ordenados até que 8ejam aproveitados 01~
~p08entados com ordenado correspondento ao tempo de enrcicio ».

(3) o Decr. n. 8~8 de 11 de Outubro de 1890, organisando a justiça


!~der~l, em .~I! art. 14, ~a~da nomear os juizes de lecção d'entre OI
cIdadaos habIlItados em dIreito com pratica de 4, anno~, pelo menos, de
advocacia oI! do exercicio de magilltratura, devendo ter preferidos, tanto
quanto pOllslvel, 0$ membro. actuaes d'8$ta.
~4) V. o OlJuscribo do Cons. RUf Barbosa, lIob 11 titulo de apos~n­
tadon" (orçada dos magistrados em dlsponibilidade, pags. 14 ~ 20.
-149-

« As despezas com os magistrados aposentados ou postos


em disponibilidade serão pagas pelo Governo Felera!:. (art. 6°
das Dispo.~içõe8
transitoria8).
O com}1romisso do Governo Provisorio, corroborado pela
formal promessa da Assembléa CONstituinte, firmou um di1'eito,
Clue não póde deixar de subsistir.
Isto posto, foi justamente em attenção ás prerogativas dos
magistradoil, cuja perpetuidade, devia ser respeitada, que o
Governo Provisorio, fiel ao seu programma, por Decr. de 19
de Abril de 1890 (doc. de fi. 4) designou a vara de casamen-
tos da capital do Estado do E~pirito-Santo para n'ella ter
exercício o autor, que era juiz de direito em disponibilidade (5).
Sem ventilar quaes os motivos, nem fazer praça de me-
recimentos proprios, vê-se dos presentes autos (doc. á fi. 6),
que o autor, em virtude da organisaçã6 judiciaria. do refe-
rido Estado, ficou privado do respectivo exercicio, e voltou á
disponibilidade, recebendo então pelo Thesouro Nacional o ven-
cimento mensal de duzentos mil réis (doc. de fi. 5), na confor-
midade do art. 6·. das disposições transitorias da Constitui-
ção da Republica promulgada em ~4 de Fevereiro de 1891.
Firmado assim o direito do autor a receber os seus ven-
cimentos de jniz em disponibilidade, é bem de vêr-se que foi
lesado pelo dispositivo do Decr. n. 2.056 de 25 de Julho de
]895, que é Horbitante do Poder Executivo.
De facto, á despeito de transito?,'io o art. 6° encerra um
preceito constitucional garantidor dos direitos adquiridos pelos
magi.t1'ados P~t'P~tuo,. Estatuto emanado de um Oongr~sso
Oon~tiluinte, não dependia de execução odiosa, qual a que lhe
deu o chefe do E:>tado, sem lei que o autorisasse a tanto. O
que é f1l.cil demonstrar.
A aposentadoria forçarIa fOI no antigo regimen consitle-
l"<\(Lt l'tllllpre um aUeutado contra a perpetuidade da magistl'R-
tllL:; Para cohíbil' o abuso, a. leí n. 2.033 de 20 (le Setembro
de J871, em seu art. 29, §§ 10 e 11, prescreveu regras para
a aJ,,)sl-lltadúria dos magistrados, tirando-lhe o caracter de via-
lenóa e cOllvertendo-a em ,qa1'CLntia. E o Decr. n. 3.309 de 9
fie Ontllbro dtl 1886 ampliou o Tlcne/ido d'es:-:a lei. Fóra, por-
tanto, rl'esses preceitos estatuídos, o Govorno não podia agir j
e tlesrle eutão tornou-~e para os magistrados perpetuos effe-
ctÍYa e real a resalva de seus direitos.
Ora, a Constituição da Republica em seu art. 83 declara

, (5) V. o Relatorio do Ministerio da Justiça de 1889. Essa disponi-


hIlidade resultou de ter Rido o autor, que era juiz de direito, exon.rad~
do cara-o di chefe de policia àe Matto Grouo. '
-150 -

que continuarão em vigor, emquanto não revo~ad3fl, as leis


do antigo regimen no que explícita ou implicitamente niío for
contrario ao fy5tema de governo firmado pela Constituição e
aos principio~ n'ella cons:ograd0s. E n§o é ~ó Í~~o. O legislador
co~stitninte. sempre consoante com os b"ons intuitos de um
reformador lisento de paixões partida1'ias, tratou (le collocar
os novos funccÍonarios da Repllblica fóra dos cflpriclJos do Go·
verno e dos favon~s da politica. Pelo art. 75 da me~ma Consti·
tuição a aposentadoria dos funccionarios publicos s6 poderd
ser dada IJtn ca.~o de invalidez no serviço da Nação. (6)
A aIJOSentadoria fC1'çada, p01'ta11to, quer no antigo, quer
no novo 1'('gimen, tem })o1' barreira natural a propria lei; e
fóra na lei nenhum acto do Govern() póde prevalecer.
Objecta,se que o'alludido art, 6° das Di,çposições tmr1si-
torja8 crMU direito novo j mas contra -isto protesta o espirito
do legislador constituinte.
E, quando não bastem os claros termos dos arts. 78 e 83
do pacto fundamental, ahi está a lei n. 44 B de 2 de Junho
de 1892, que no Eeu art. 1° assim estatue: Os direitos aaqui-
ridos por empregados inamoviveis (,U vitalicio.~, e por aposen-
tado!>, na conformidade das leis ordirwria. ante1'iores á Consti,
tuição Fede1'al, conHnuam a ser gal'antiàos flm sua plc'ltitltde.
Ora, os juizes de direito e desembargadores do antigo regimen
eram pe1'[Jei1ws e só por sentença podiam perder os seus lo-
gares (Constituição Politica, art. 183) ; a não ser por pedido,
só eram aposentados nos termos da citada lei n. 2.033 q.e
1871, art. 29, §§ 10 e 11, e do Decr. referida n. 3.309 de
1886 art. 1- § 1·. Logo adqui1'Íl'am 11m direito, que garantido,
como se acha, pela Constituição Federal, não póde ser pos-
tergado.
E tanto é isso verdade, que a lei n. 117 de 4 de No-
vembro de 1892, regulando a aposentadoria dos empl'egados pu-
blioos, no seu art. 9, exclue de suas disposições o,~ fttncciona-
rios, cuja aposell.iadm'ia é 1'egulada em lei especial, como os ma-
gistmdos, professores e militares de terra e mar.
Esta disposição é tão cla.ra e incisiva, que dispensa por si
mesma qualquer desenvolvimento (7).
Ondt', pois, a razão de ser do Decr. n. 2.056 de 25 de

(6) A Lei n. 23 de 30 de Outubro de 1891, reorganillando os serviços


da administração federal, no seu art. 11,! unico, terminantemente ga-
,-antiu' todos os dú'eitos adquiridos pelos empregados dos ministerioB e
repartições extinctas, obrigando o Governo a aJ,lroYeital-os, segundo as
A:onveniencias do serviço, e mandando addir ás ditas repartições, reorga-
.nisadas. 011 que excedessem do relpectivos quadro,
(7) V. o citado opusculo-A aposentadoria (orçada de Ruy Barboza,
.1!age. 37 a 48.
- 151 -

Julho <1e 1895 (loc. de fi. 13) aposentando os magistrados em


disponibilidade? , .. Nada. o justifica.
De quanto ficou dito está p,üente, que o autor, como
juiz de direito em disponibilidane, não se achan(10 invalidado,. e
tendo menos de trinta anllo.~ ele eX~l'cicio (8), confiava Il:l. pro-
mllssa constitucional de ser aproveitado e prestar ainda á Re-,
publica os seus serviços; e, quando estes não fossem precisos,
qualquer que fosse a apreciação do Governo, compensava-o de
qualquer suspeita de inaptidão o pagamento de seus ordenado!!
pelos cofres da União; A aposentadorict, portanto, que lhe foi
dada pelo Chefe do P,)t1er Executivo, ex, vi do Decr. citado
n. 2.056 de 25 de Julho de 1895 (doc. de fi. 12) ferio de frente
ao seu (lil'eito adquirido.
D'ahi a razão ao presente pleito, cuja procedencia é
eviriente em face da lesão de direit0, resultante da cessação
do percehimento de seus legaes vencimentos.
O campl'OnaiIJ80 d~ legisla.l}or constituinte, q u.:.nrlo tlésse lo·
gar á \lma medida de ordem política, llllO era o Governo, i~to é,
o Chefe do Poder Exectivo, o competente para decret(Jl·a. Não"
se tratava de di~p()siçfto legiBlativa qne dependesse de regu-
lamentação. As apolenta.iloria" foram sl~mpre reguladas pelo
Poder Legislath'o.
O Chefe <lo Execntivo na promulga(:tto do citatb decreto
n. 2,056 lle 25 de Julho de 1895, como Reto proprio, arrogou-
ie uma attribuição que lIfw tinh:i. E, quando competente
fOB~e, tIcio podiafeJ'i.r dil'eito3 adquirido8, sem q tie dés5e logar
â reparação da lesão respectiva-o .
Ohjecta'lIe que, tratandoM (te um acto de governo l de
imperio do Po(ter Executivo, 11[\0 compete ao J udiciario re-
vogar ou nullificar o Ueei'. n. ~. 056 de ~5 de Julho de
18j5. (9)
, A objecç1\o não procede ante o espirito e letlra da lei
n. ~21de ~o de Novembro de 1894, em seu art. 13 S§ 7 e 9 õ.
Qua.lquer que seja o qua.lificativo do acto do. Gov~n!O,
qualquer que seja a fôrma de que eUe se revista l desde que
lése ao individuo, a conclusão é, que cabe o recurso ao
Poder Judiciario, unico realmente competente pllra uecreta.r
a reparação do grava.me. No exame do!'! faetos, submettidos
ao juiz, hem pô(h~ acontecer quo este encontre um di1'eilo
individu,ll oifent.!JlllJ por act'J tla autol'iLla,te public!\, praticado

(e) o autor, se~undo a revisão feita em 31 de Dezembro de 1889, e


o tempo decorrido até 25 de Julho de 1895. tinha 12 annos menos
7 diai,
(9) V. o litado opusculo-.-i a.poS8ntada;'ia (orçada, paga. 47 e 48.
-152 -
BO exerclclo de suas funcções, e que seja invocada a reinte-
(raçáo do direito Tio lado .
Em tal caso, en!inam os tratadistas, é incontestaTel
que o Pocler Judicial possa reparal-os nas sua~ consequencias,
garantindo a indemnisaç40 pecuniaria correspondente & lesá.,
ou reconhecendo o dominio, a propriedade. Nem se diga. ou
pense, que o citado Declo. n. ~.056 de 25 de Julho de 1895
não lesou a direito. indivlduaes, por não serem os empregos,
ou cargos publicos, um patrimonio.
A corrente dos escriptores modernos, principalmente na
Ilalia, considera o emprego um direito individual, e classifica
as relações do poder publico e do empregado como uma mo-
dalid!lde do contracto de locação de serviços. (10)
. A questão, porém, não é de emp"ejO, nem de obrigar °
govúno a empl'egar. O aeto do Chefe do Poder Executivo
h'aduzido no alludido Decr. n. ~.056, que aposentou, arbi-
trariamente, I)S magistrados em disponibilidade, falseou a ga-
rantia constitucional e infringiu os preceitos legaes, prejudi-
cando não só o direito de serem taes funccionarios aprovei-
tados, como o de continuarem a. perceber 08 seu!! ordenados.
E haverá. lesti,o mais palpavel do que esta? Como admittir a.
lesão sem a indemnisação? E' o que não ~e pôde compre-
hender.
O proprio procurador da Republica, no Districto Federal,
na defeza que adduziu em bem dos interessei da Fazenda
na questão de Alcides Bruce (11) confessa, que: o Puder Judi-
ciario, considerando-se competeJ,lte para conhecel' da legalidade
de um decreto do Poder Executivo, não pÓlie ol'denar are-
vOg'ação d' esse decreto, e, apenas, dedalJ certas condiçõ", de-
clarar a inconstitucionalidade ou a illegalidade da medida, e
condemnar a União a pagaI' a indetrmi.açlLo cOI','eapondente á
les{[o.
Ora, na hypothe!'e presente, as condições, em que (oram
apo,ent(({lol1 os desembarga~ore15 e jui~e8 el/L dilJponibilidade,
são de tal ordem iufringente's do dir,ito,que não se pó de pôr
em dudda a competencia do Poder Judiciario para decidir,
como Ill~ cumpre, já declarando a inco?Htitucionalldáde ou il-
legalida«e do Decl'. citlHlo 2.056 de íl5 de Jnlho de 1895, já
condetnnundo a Fazenda; a indemnilJar ou pag(,ll' o que fôr de-
vido.
Em conclusão. O autor prOVOll a sua intenção, quanto pos-

_.
(lO) V. Orlando. Principii dll dirittoadministrativo, nl. 14' e 14P.
(11) V. o opuseulo-Justiça Fed,ral-A acção do pod.r judieiario
.m actOI 41.0 Goverll' pelo Dr. Gra;a Ara~h&.
-153 -
sivel. E' natural que, quasi ao correr da ptnna, se descu-
rasse da fórma, deixando em desalinho, talvez, muito argu-
mento adduzido. O certo, porém, é, que n:poz o dir,ito, como
elle é, sem atavios, nem floreios. Confia na justiça de Ima
causa, muito principalmente attendendo·!e ao julgado em caso
identico, como se vê da sentença impressa í. fl. H:. Nio é
uma estravagancia o seu pedido na presente acção. Legem ha-
btmW8! E a lei é clara, termina.nte e decl!iTa: não carece de
interpretação, pois fôra ocioso explicar o que é intuitil'O.
Na verdade, basta attender, !em prevenção, ao disposto
no art. 6° das Di.po.içõe& tl'an&itorias da Constituição da Re-
publica, para S\3 vêr que é procedente o emprego do meio ju-
diciario para. a salvaguarda da instituição política e resalva
dos direitos individuaes. .
De facto, os termos - contin"ar~o a pet·c.~er 6S seus oro
clenados, até que .ejam ap,'ov.ilados ou aposentado. com o o"ae-
nado c01Tespondente &0 tempo de exercicio-não autorisavam a
medida tomada pelo citado Decr. n. ~ .056 de Julho de 1895.
A expressão -flt' que lejam ap"oveitadol - corresponde á em·
quanto ndo fOl'.m aproveitados.
Do contrario dar·se·hia incongruencia. de principio!; pois
era mais curial estabelecer a aposentadoria dos' magist rado!
que tivessem menos de 30 anno~ de exercicio, com ord enado
proporcional, na mesma alinéa do artigo relativo á aposentado-
ria dos que tinham mais d'esse tempo. Ora, as leis de favor
só podem ser interpretadas favoravelmente.
Mas, admittindose mesmo que outra seja a intelligencia
das dü posiçô,.; constitueionaes, qual a lei, reguladora das
aposentadorias decretadas pelo acto de 25 de Julho de 1895? .. ·
Onde a aulod.açlfo legi.lativa para que o Poder ExecntÍTo to-
masse semelhante medida? .. Podia o Governo em um s6 rasgo
de penna tornar nenhuma [\ garantia dos dil'eilo3 adqiurido.
pelos magistrados em dispo,libilidade?. A reiposta não pode
ser duvidosa.
Em taes emergencias, o autor espera, com justa razão,
~ue a presente acção seja afinnl julg'arla procedente para o
fim de, declarada nulla a sua allosentadorhL pela inconstitu-
cionalidade do Decr. n. 2051) de 25 de Julho de 1895, ser
condemnada a Fazenda Nacional no pedido e custas, como é.
de inteira justiça.
Petropoli.s, 17 de Agosto de 1896.
Mano.l Godofredo de L lencastl'o Àutran.
-154 -

RAZÕES FINAES DO PROCURADOR DA REPUBLICA-PELA


FAZEND.~ NACIONAL

Somente para obedecer aos tramites processuaes vimos,


em breves phrases, demollstrar a improcedencia da acção pro-
posta pelo autor contra a ré, a Fazenda Nacional j por-
quanto segundo o brocardo « in ela ris eessat inte1'ln'etatio~ nada
mais teríamos a addllzir senão implorar a attenção do meretis-
simo juiz para a disposição constante da 3- alinéa do art. 6?
das Disposições tra1Miiorias dl\ Constituição Federal que de um
modo tão claro e positivo firma o principio geral de que os ma-
gistrad·os não aproveitados na organisação judiciaria, quer da
União, quer dos Estados, pcaríam por este mesmo facto apo-
sentados. \
Ass:m o Decl'. n. 2.056 de 25 de Julho de 1895,
nada ma.is fez do que cumprir tal preceito constitucional, e,
desde que o autor não fôra aproveitado em nenhuma das
Qrganisações judiciarias alludidas, adquirira naturalmente o
direito á. sua aposentadoria. E no intuito louvavel de acau-
telar as vanta.gens, que competissem a cada um dos magis-
trados, dispoz o mesmo art. 6? o modo porque se regulariam
estas aposentadorias 'Ut se verifica. das alinéas 2& e 3" do re-
ferido artigo das Disposi~!õe, tran.ilm'ias.
Consoante, pois, com a. disllosiçã') contida na 3· alinéa do
lil't. 6° teve o autor a ~ua, aposentadoria computando-se·lhe
o ordenado de accordo com o tempo do exercicio de sua judica-
tara. E, para provar que eSI& interpretação é 8. verdadeira e a
legal, basta eitar que diversos foram OI projectos de lei tendentes
a modificação do texto do art. 6? no intuito de obstar que os
magiiJtrados nã() aproveitados e de menos de 30 annos de exer·
cicio fossem aposentados a. contragosto garantindo-lhes a dispo-
nibilidade, tendo Bido vetados sem que nenhum conseguisse
reunir os dons terços para. li ~ua approvação.
Dispunham taes projecto8 que os magistrados só podiam
ser aposentados com ordenado proporcional ao tempo de exer·
cicio si o «requeressem ou cahissem em invalidez."
A com missão de com-tituição, legi~lação e justiça, a quem
foi alfecto o pl'ojecto, aS!Jim, manifestou·se: cO projecto é
mallifastalllente inconstitucional na parte em que deterffiina
que O!! magistrAdus que cuntarfm men0!! de 30 IlHDOS de exer-
cicio, e que nãn tiverem sido aprofeitados só têm direito á.
apos~ntadol'ia com ordenado correspondente ao tempo de enl'-
cicio no c3.sounico de invalidez.
Com eífeito o al"t. 6" 3 pal'te da~ Di"po3içõ~s transito-
A

,·ia,~ da constituição dislllJe de modo bem terminante que aoS


-155 -
magistrados n' essa!! condiçõe!! será. concedida aposentadoria
com ordenado correspondente ao tempo de exercicio, de modo
que restringir a aposentadoria no caso unico de invalidez é
ferir essa disposição.
A Constituição Política pàl't\ impedir que o~ antigos ma-
gistrados não aproveitados na organisação lia justiça. quer
federal, quer dos Estados, ficassem, depois de tantos serviços
prestados ao paiz sem quaesquer TellCimentos, distinguiu entre
os que contassem mais de 30 Ilnnos de serviço, e os que
contassem menos, e asserurou aos primeiros a aposentadoria.
com todos os vencimentos e aos segundos a aposerita.doria com
o ordenado ao tempo de exercicio.
Como, porém, a justiça Cederal e a justiça local do Dig-
tl'icto Federal e ajustiça dos Estad\>lnão podiam ser organi-
sadas no mesmo dia, mas em epocas divenas, e convindo que
os magistrados não aproveitados nas primeiras nomeações do
logar em que se achassem (Di&tricto Fed~ral Olt do Estado) nl.o
foram de~de logo aposentados, porque poderiam ser aprovei·
tados na organisação da justiça de outro Ioga r, (lis.poz o citado
art. 6'" .:que os magistrados com mBnos de 30 annos de lIer-
viço deviam continuar a perceber seus ordenadOi, até que
fosse ultimada a organisaçãG judiciaria de toda. a União, para
então serem aposentados com o ordena.do relativo ao tempo de
serviço":. Esse é o pensamento da lei, e não cabe ao Poder
Legislativo ordinario o poder de fazer distribúiçôes que não se
acham no texto constitucional para conceder aposentadoriaS.,
aos magistrados com meJlOS de 30 annos de serviço:. (Anllae&
da Camam elos Deputados-vol. 4°, pago 54.)
Assim, pois, a intelligencia dada pelo Governo ao art. 6-
das Disposições transitm"ias da Constituição Federal está
authenticamenta interpretada pelo Poder Legislativo.
Do expostoconcluimos, pedindo que seja declarada im-
procedente a presente acção ou d' eBa carecedor o autor; e,
invocando os doutos supplementos do M. J., aguardaml)s a
devida justiça.
Petropolis, 30 de Setembro de 1896.-Affonso Augttlto
da Costa )Jfachado, procurador da Republica.

SENTENÇA

" Pede o juiz ele direito em disponibilidade, Manoel Go-


dofl'edo de Alencastro Autràll, residente nesta cidade, que seja
declarada nnHa a sua aposentadoria, porque o Decr. n. 2.056
156 -

de ~5 de Julho de 1895, que o aposentou forçadame nte, é


nnHo, por ser illegal e inconstitucional, ~ condemnada a Fa-
zenda Nacional a paga.r os vencimentos de 200$ mensaes,
qne d&ixoll de perceber desde a data de~te decreto, a.ssim
como o que deverá receber até ser aproveitado na magistra·
turara actual ou ser aposentado na fôrma da legislaç~.o em
vigor.
Impugnando o pedido allega o Dr. procurador da Repu·
blica, que a acção deve ser julgada improcedente, attenta a
validade do referido decreto, o qual não é mais que a fiel tra·
ducção do art. 6? das disposições transito rias da Constituição,
quando firma, de accordo com a doutrina vencedora nas ca·
. maras, o principio geral de que os magistrados não aprovei·
tados na organisação judiciaria da União ou dos Estados fi·
carão por· este mesmo facto aposentados. Considerando que
as partes nada allegaram contra o merecimento do processo;
considerando que o art. 6° das disposições tranilitorias da Con·
stituição de 24 de Fevereiro de 1891 é o que rege a materia
em controversia, dispondo com a maxima clareza, na sua
i\:: parte, que os juizes que tivessem menos de 30 annos de
exercicio, como o autor, na data da deftniva composição das jus·
tiças rt'publicanas federal e local, continuariam a perceber seus
ordenados, até que fossem aproveitados ou aposenta.dos com o
ordenado correspondente ao tempo de exerci cio ; considerando
que a parte citada refere-se evidentemente aos antigos ma·
Aistrados que não foram admittidos na nou organisaçA.o ja·
diciaria e que tinham menos de trinta annos de eft'ectividade
lia. magistratura, pois, os qne tinha.m mais de trinta annos,
foram aposentados com todos os vencimentos j considerando
que nestas condições os magistrados com menmJ de trinta
annos de exercicio, e que não foram aproveita(lo!! na actnal
magistratura da União ou do!! Estados, têm' a seu favor o
direito defluente dll. referiria disposiçRo constitucional, que
lhes permitte optar ou Ilela apoltentadoria com o ordenado
correspondente ao tempo de effectividade ou llela prolongação
da disponibilidade, até s~rem aproveitados; considerando que
fôra desta altel'llativa t@m elles ainda o direito, á vista do
artigo contitucional, ou á aposentadoria, quando completarem
trinta annos de tempo, pois este conta·se aos juizes em dis·
ponibilidade, ou quando cahirem em invalidez; considerando
que o l1nico meio que a União tinha pua ~e libertar das des-
pezas com os magistl'ados - postos em disponibilidade era
. aproveital·os na nova organisação judiciaria, de accôrdo com.
a primeira parte do art. 6-, influindo para. que os governa·
dores dos Estados cumprissem, como era de seu dever, esta
-157 -

obrigação constitucional, pois, a Constituição', como lei geral e


suprema, deve ser observada por todos, sem prejuizo da auto·
nomia local, que tem os seus justos limites no art. 63 da pro·
pria Constituição; considerando que da observancia do artigo
que se discute póde·se inferir que as nomeações de juizes fe-
deraes ou locaei, que nã9' pertenciam ao quadro dos antigos
magistrados são inconstitucionaes i considerando que é ex·
pressiva e justA a analyse do Dl'. Ruy Barbosa, o mais no·
tavel dos nossos constitucionalistas antigos e modernos, no opus·
culo-A apo8entadoria forçada dos magistraáos em di .•ponibili-
dade-quando diz, acerca do art. 6- das disposições tl'ansi-
toria9 : «A selecção da nOTa magistratura iria buscar de pre-
ferencia os antigos juizes, aggremiando todos os mais notaveis,
dada a sua prestabilidade, qualquer que fosse o seu tempo de
serviço. Os regeitados nessa escolha ficariam distribuidos em
duas cathegorias, conforme tivessem mais ou menos de trinta
annos de eft'ectividade. Os de mais de trinta annos receberiam
a apGsentadoril\ im",ediata com todos os seus vencimentos. Os
de menos de trinta ann08 seriam mantidos em inactividade
com ordenado, para dois eft'eitos alterna.tivos: serem apro-
veitados,' quando coubesse, ou aposentados com a quota
de ordenado proporcional á antiguidade, se o pedi.sem ou
se illhabilita"em. Estas duas condições deviam subentender-se:
quanto ao caso de invalidez, pela razio da. necessi·
dade; qua.nto ao de opção voluntaris, pela combinll.çli.o do,
canones legaes em vi&,or, que excluiam 11. aposentadoria,
fóra. dessas hypotheses, com o intuito patente do legisla.dor,
que, nas medidas excepcionael desse texto, obedeceu á idéa
constante de protecção e recompensa. aos velhos senidores
do paiz, ameaçados pelas contingencill.s da revolução.» ePor
varios modos se revela no Irt. 6° esse intento de beneficiar:
na preferencia dada ao~ antigos juizes para a composição do
quadro inaugural da magistratura republicanll. ; no diriito á apo-
sentadoria COM ioão, 0.vencimeftt03, assegurado ao de exer-
cicio excedente a trinta anflo., quando a legisla.ção imperial não
lhes admittia essas vantll.gms senão após.{O annos de activi-
dade; no jus á aposentação com o ordenado proporcional, re-
conhecido aos de eft'ectividade menor de trinta annos, 8~ja
q~talftJr o 3eu temlJo, quando as instituiçôei!! antigas nã.o pen-
SIOnavam com o ordenado a aposentadori& senão depois de
um decennio de serviço.»-Considerando que llS qUlI.tro partes
em que se decompõe o art. 6" justificam essa interpretação ;"1:
considerando que qfter no dominio das leis de 1871 e 1886,";'
quer no da legislação actual, não é justo a aposentadoria con-
cedida ao autor contra. a sua vontade, principalmente depois
-158 -

da lei interpre'tativa do alt. 6°, a de 20 de Novombro de 1894,


que no seu art. 7° manda subsistit, a preferellciadada aos antigos
juizes para o preenchimento das vagas de juiz federal, em-
quanto houver magistrados em disponibilidade, por não terem
sido aproveitados na organisaçflo judiciaria dos Estados e do
Districto Federal; considerando que o Dc!cr. de 25 de Julho
dQ 1895 não póde prevalecer como acto do poder executivo,
contra o disposto no art. 6' das disposições transitorias da
Constituição e contra as leis de 13 de ,T ui I.J. o de 1893 e 20 de
Novembro de 1894, promulgadas DO tempu em que já estavam
funccionando as jnstiças da União e dos Estados; conside-
rando que a doüt.rina vencedora nas Camaras legislativas deve
ser almrada antes pelas leis acima citadas que exprimem de
uma maneira inequivoca o,. pensamento dos legisladores, que
nas recusas de sancção pelôs dous terços aos vetoi de 6 de A~osto
de 1892 e ne . 18 de De7.imbro de 1894: julgo, fundado nos
arts. gry e 10 da lei n. ~!n ele 20 de Novembro de 1894,
nullo o Dec!'. n. 2.056 de 25 de Julho de 1895 e cOlldemno a
Fazenda Nacional a pagar ao autor os ordenados que deixou
de perceber desde a data de sua aposentadoria até hoje e os
que lhe cabem até ser aproveitado na magbtratura Hctual oU
aposentatlo na fórma da legislação em vigor e nas custa!". Pu·
11 q:1e-se. -
Petropolis, 16 de Novembro de 1896 .-GodOf,.t.do Xa vi« l'
ã", Ounha.
i
·
LEGISLACAO
"
Legislação Federal

DECISÕES DO GOVERNO

MINISTERIO DA GUERRA
Declara: l° que os estabeleeimentos mili-
tares, existentes nos Estados, sujeitos ao re-
gimen de regulamentosespeeiaes, como os ar-
senaes de guerra,as escolas militares, as esco-
las praticas etc., estão nadependeneia directa
e immediata dos commandos dos respeotivos
districtos militares, presoindindo da subordi-
naç.ão intermediaria dos com mandos das
guarnições j 2° que os commandos das refe-
ridas guarnições cabem aos commandantes
mais graduados ou mais antigos dos corpos
existentes nas guarnições.
1\Iinisterio da gnerra-Rio de Janeiro, 3 de Setembro
de 1896.-A' Repartição de ajudant.e g\~llel'nl.
O commandallte da Escola Pratica <lu EXHcito, no E~­
tado do Rio Grande do Sul, consulta:
1.. Si em face do art. 14 do regulamento que baixoll:
com o decreto n. 432, de 4 Julho de 1891, a referida escola
está subordinada ao commalldante da guarnição da cidade do
Rio Pardo;
2." Si no caso affirmativo este commalldante tem inge-
rencia no serviço .della ;
3.· Si o ajudante do dito estabelecimento, que tem suas
funcçôes definidas, deve tirar ordem na glHl.rnição :
4. o Si a correspondencia da escola para com o comman-
dante do districto eleve ser feita por intermedio do da guar-
nição;
5.° Si o commandante da escola deve accumu]ar.a funcção
de commilndante da guarnição, quando fôr de patente superior
á deste.
Em solução a esta consulta que acompanhou o officio
n...1.280, de 9 de Maio ultimo, do commJll1uante do 6° districto
mIlitar, dirigido a essa Repartiçfw, e ao oftido em qne o do 25°
batalhão de infantaria reclama contra a flnlem que mandoa que
elle passasse o commando da gU1\1 nição do Rio raHlo ao te-
neute·coronel Francisco de Paula Azeredo, con mmdante da.
E~r'(Jla PI'"ol'C" ,10 L'xer"I··C
..... ''''L ... ,",
.... "'" .i~
'L',.~
_ ' , .... 0 .I!.I
U .... ..,rlo (I" u;.., (J.~""'''o do Q"l ,
l.o.\....... t.V l,,~v V"'{\J.J..~...... hJ",~
-160 -
por ser este o official mais graduado da guarnição, oMcio junto.
ao do referido commandante de districto, lob n. 1.514, de
10 de Junho seguinte, declare-se a' essa autoridade, para os
fins ctmvenientes, que os estabelecimentos militares existentes
nos Estado!:j, sujeitos ao regimen de regulamentos especiaes,
como os arsenaes de guerra, as escolas militares, as escolas
praticas, etc., e que estiveram sempre subordinados directa·
mente ao min sterio da guerra, até a creação dos districtos mio
litares, passaram por força do art. 40 das instrucções que bai·
xaram com o decreto n. 431, de 2 de Julho de 1891, a ter
dependencia dos commandos dos mesmos di8trictos.
Essa dependencia, attenta ainda a natureza especial de
taes estabelecimentos, regidos por meio de regulamentos espe·
ciaes, não pó de deixar de ser directa e immediata, prescindindo
da subordinação intermediaria. dos commandos das guarnições,
que, nos termos claros e precisos do art. 10 das citadas instruo
cções, devem caber aos commandantes mais graduados ou mais
antigos dos corpos existentes· nas guarnições.
Para o caso vertente, que deu motivo á consulta e ao offi·
eio de que se trata, ainda é claro o art. 14 do regulamento
das escolas praticas do exercito, estabelecindo quo o comman·
dante da escola é o orgão unico, official e legal, para pôr o
estabelecimento em relação com as repartições superiores por
intermedio do commando geral da arma da artilharia, na Capital
Federal, e do cOfll'mandante do 60 disiricto militar no Estado
do Rio Grande do S1tl.
Assim, de accordo com as disposições em questão, os
quesitos formulados na consulta ficam respondidos do seguinte
modo:
.1 0 Não está a escola sllb1lrdinada sinão no que se acha
estatuido pelos preceitos geraes de subordinação militar;
0
2 Respondido com a solução do 10 quesito;
3 o Não, porque não existe subordinação que a isto obri.
gue e o ajudante tem a categoria de fiscal do estabelecimento;
4. o Deve a correspondencia ser feita directamente com o
commando do districto militar, não impedindo isto as commu·
nicaçõei e requisições directas ao cO.mmando da guarnição' no
que possa interessar o serviço commum e para cumprimento
do disposto nO.s §§ 20 e SO do art. 90 das mencionadas
instrucções. .
5. o Competindo o cO.mmando da guarnição aos comman.
dantes mais graduados ou mais antigos' dos CO.rpos nella exis·
tenteEI, de aecO.rdO. com o que dispõe o art. 10 destas instruc·
ções, náu pO.derá o. da escola pratica assumir o da guarnição,
salvo' nomeação especial do Governo.-Bernado Vasque ••
DOUTRIN..Lt\

DIREITO CRIMINAL
A INIMPUTABILIDADE (I)
Ha tempos aprecianQo nesta revista' o grande valor da
nova obra do protessor Alimena diziamos o seguinte:
«A' obra falfa talvez a. parte mais importante ainda no
prélo e porventura a que interessa melhor aos juizes e advo-
gados porque mais pratica, isto é, a que se refere a todos os
casos de não imputabilidade, de justificativas e attelluantes
desde as moles tias melltaes at.é as attenuantes gene ricas» (2)
AS<sim é quasi um livro novo e difl'erente o que acaba de
apparecer, constituindo a quarta parte da obra - a não impu..
tabilida(le (3).
Em capitulos separados toda materia é extensa e profi-
cientemente explanada sob ~st.es variadissimos aspectos :
moles tias do espirito ;
somnabulismo eSpolltalleo, hypnotismo, fascinação e sug-
gestão; .
surdo-mudez;
embriaguez ;
idade;
sexo;
ignorancia e elTO, boa int-enção e boa fé ;
arrependimento êfficaz e reparação.
E' difficil dizer qual desses aSsllmptos foi melhor tra-
tado.
Nota-s.:: á pl'ilU.eira vista a cópia surprendente da legis-
lação comparada e a riqueza bibliographica, pºr assim dizer

(1) Vid. o Direito,' vol. 65,' p. 481: «naturalismo .ritioo e direUo


penal.» . .
(2) U Direito, 65, 489.
(3) B. Alimena, I. Limiti i Modiflcatori dell'Imputabilità-Toriao, '
Fratelli Mocoa, 1896, 20 vol.
DIR. TOL. 73 11
-lG2 ~

uuiversaes, inclusive o Brazil com seus codigos e alguns de


seus autores, tão pouco conhecido e desprestigiado entre nós
mesmos.
Passando ao objecto do precioso livro, não podemos fazer
. nestas· linhas mais do que esboçar uma vista muito geral das
doutrinas nelle contidas.

o primeiro ponto tratado é o que podemos denominar da


amentalidade, isto é, das molestias do espirito, como elle o
ehama.
A loucura como dirimente não é uma causa de jU'lti·
ficação, conforme o grosso erro de Chauveaux Hélie, na l)hrase
d'O autor, porque os loucos são inimputaveis.
Tanto é assim que elles podem ser responsabilisados ci-
vilmente, quando não podem sei-o os que commettem crimes
justificaveis, cuja responsabilidade civil evola·se a par da
criminal.
E aqui note-<ie por honra nossa que eBe (1eju1'e consti·
. tuendo prefira a da lei do seu pai'z a disposição da nossa nesta
questão, muito brazileira que é, citando o nosso CoG.. de 1830
e a opinião de Silva Costa que preferi á de Laffayette no meu
commentario (4).
Alimena interpreta ao nosso modo o direito brazileiro
neste ponto, fazendo votos pela reforma do italiano no mesmo
sentido (5).
- E' injnslificavel por isso que na revisão do nosso projecto
de 1893 se tenha supprimido a allndiaa disposição e com -ella
todo o titulo da satisfação do damno ex-delicio!
Nem a «exposição de motivos» da revisão, redigida nesta
parte tão eruditamente pelo deputado Arthur Orlando convence
do acerto da suppressão de um instituto verda.deiramente cri-
minal na opinião até dos proprios autores classicos, como é o
sabio professor de Lyoll, R. Garraud (6).
Descnlpada a digressão, o autor neste capitulo aprecia o
conceito pathologico da loucura, discute a vexata qurestioda
loucura moral com os problemas que suscita sobre saber si póde
,------
.....
(4). João Vieira, Cod. Crim. Braz., Commentario, etc., Recife 1889,
p. 427 n. 145. .
Silva Costa, A satisfação do damno, etc., Rio, 1878, n. 19.
c-,) OI)'". ci~ .• 2° vaI. Da!:'~. q e 113.
\6) Lc dl'oi:1Jena, trançais, ctc.,2 o voI. pag. 17 e segs., RCl). Aca-
demwa do Rect('e de 1894, pag. 177.
ser uma fórma clinica Pel' se (tU identificar-se com a delin·
quencia.
Em seguida trata dos estados p~ychicos intermedios, 1'e-
pellindo, quer em theoria como inadmissivel scielltificamente,
quer na pratica judiciaria como absurda e perigosa, a respon-
sabilidade parcial ou semi-responsabilidade (pgs. 27 e 73).
Ainda hem qüe nem os 110SS0S codigós, nem o projecto
de 1893 se lembraram de tal formula, tão' condemnada por
bons espíritos, mas admittida ainda 110 nosso Cod. italiano.
Receio, porém, que a formula diffusa do art. 24 da re-
visão desse projecto, assim como o art. 35 que faculta-converter
em attenuantes todos os casos dirimentes não façam surgiL' na
pratica a theoria do vicio parcial da mente.
O illustre autor, porém, addicionando todos quantos eg·
ta<los possam influir na imputabilidade, provenientes de outras
enfermidades ou condiçõe"s physiologicas, assignala as vistas
mais adiàntadas nesta parttl do direito penal e 'da medicina
legal (p. 36). '
Depois occupa·se das questões, não só de direito como
também da pratica judiciaria, concernentes ás molestias do,
espiritl), resolvendo o impertinente problema do lncido inter-
vallo, discutindo o qual se refere á critica que fiz ao codigo
anterior, art. 10 § 2", que elle suppõe ter tido por ponto o
portuguez, quando este, ao contrario, reproduzio o nos~o,
mais de 20 annos mais velho que o de Portug'al de 1852 (pa-
gina (j9). -
O nosso codigo de 183,0 foi realmente uma das fontes do
Cod. porto de 1852 (7).
Mas aqui vem a proposito lembrar que o nosso projecto
de 18fl3 supprimindo e a 1'edacção para 3" discussão na ca·
ruara dos deputados este anno, mantendo essa suppressão da-
quella clausula do Cod: anterior, anElaram bem avisados (8).
Respondendo á critica do parecer da Faculdade de São
Paulo disse : ~ ,
A excltlsão do requisito - no momento em que commetteu:
o facto - tem sua resposta na Exposição de motivos. -
Pareceu-me uma reminiscencia dos intm'valla' sensu Ba-
niom dos romanos, cuja' inclusão na formula combati mais de
uma vez.
Vi depois que o meu modo de pensar era brilhantemente
fundamentado por Augusto Setti de accordo com o direit.o, a

(7) Silva Ferrão, Cod, Pen. POl't. 1" vol., pago LXII; noto in fine.
(8) Meu Ensaio, etc., pago DO; Meu Comnumtm'io cito n. 7ô,
-lF4-

psychiatria e os codigos de S. Marino, toscano, dinama:-quez,


soeco, holIandez e hongaro (9).
Fechado esse parenthesis; no dedalo de formulas que as
theorias propõem e os codigos adoptam para 'traduzir o con·
ceito da loucura, Alimena conclue: '
«Eu creio que as definições melhores sejam aquellas que
com orna formula rapida e geral comprehendam t.oflos os
effeitos das molestias mentaes sem enumerai-as.' ,
«Quando o legislador diz: - não ha imputabilidade si o
agente se achar attingido por alguma molel'ltia do espirito-
já- diz bastante e se diz mais torna obscuro e duvidoso o _que é
claro -e certo» (pg. 88).
Por connexão de materia é tratana em seus varios as·
pectos a força in'esistivel que o- nosso ClId. aut" art. 10 § 3
consagrava e que o Cod. actual, art, 27 § 5° parecendo redu-
zir pelas palavras á physica, entretanto isto é bem duvidoso,
desde que falIa de ameaças acompanhadas de pel'igo actual
na mesma disposição e de crime para evitar mal' maior no
al't. 32 § 1°.
. Só o projecto de 1893 supprimiu a chamada. fOl'r;a ú're-
sistivel, declinando positivamente o esta[Zo de necessidade para
evitar que a confusão ou duvida o substituísse por aqnella
ampliando,o; achando-se o)1tros casos de attenuação, de que
ainda não se occupa Alim~na, 11.0 art. 28, logo depois daquelles
casos, ora dirimentes ora attenuantes dos arts. 26 e 27 do
projecto.
II
Neste capitulo o autor nota bem que á proporção que
caminha 110 seu assumpto o horizonte se vai alargando cada
vez mais, justamente porque não ha condição da vida que
não possa ter uma relação qualquel' com o produzil'-se (la
criminalidade.
Naturalmente diante de problemas novo'" cuja solução a
sciencia e a pratica da vida todos os dias ~ lU imperiosa-
mente do jurista, não é facil a tarefa que ,~<fI!d.tar-se sempre
e cada vez mais o campo de estudo para o legislador, o juiz
e o advogado.
Acertadamente Alimena parte do mais simples para o
mais complexo que aqui faz coincidir a ordem logica com a
chronologica.

(9) «Rev. da Faculdade de Direito do Recife>', IV, 1894, pago 167. O


b"1?rojecto do Q(jd, Peno e a Faculdade de S. Paulo, Recife, 1895, pago 31.
-165 -
Trahl. primeiro do somnambulismo espontaneo, quer natu-
ral, quer pathologico e da sua correlação com os estados
hysteric()8.
O direito antigo e moderno é exposto sobre a questão que
comprehende o desdobramento do eu ou da personalidade com
os ~a bidos estados primeiro e segundo ou as personalidades
n. 1 e n. 2 em um só e mesmo sujeito, além de outros proble-
mas da responsabilidade penal.
Pondo- de parte o m01'b"8, em taes casos a irresponsabi-
lidade é a regra, podendo-se talvez admittir uma punição
ligeira nos 'factos graves culposos confo:'me opina Garraud,
sendo, porém, a jurisprudencia franceza contraria (pg. 117).
Depois vem o hypnotismo, cujas formas e modalidades,
controversias e factos estão completa .e nitidamente compan-
diados.
A dissidencia entre a escola de Paris e a de Nancy não
elimina a importancia da questão no campo criminal pelas
rasões que dá o autor.
Quanto á responsabilidade, o hypnotisado póde ser victima
de crimes e attentados de toda ordem, isto não offereçe
duvida ..
Esta surge quando elIe póde ter sido instrumento consciente
ou inconsciente do hypnotisador. "
Este ultimo estado é o da plena irresponsabilidade.
O outro é UI~a forma do mandato, porque o hypnotisado
procura. na suggestão uma força cru o disfarce para praticar
mais facilmente o crime (pg. 129). _
Nota o autor que só o projecto de Cod. Peno argentino,
al't. 59 n. 3 se refere especialmente ao hypnotismo. '
O nosso Cod. vigente odeclina como elemento do estupro_
DO art. 269, hoje commentado na iuteressante e vultuosa mo-
Dographia de Alcantara MaC'hado (10)
Tambem o nosso projecto de 1893 diz:
«Art. 34. São circumstancias attenuantes :
«§ 3. o Ter o réo obrado sob influencia de sltggestão hypno-
tica ou semelhantes.»
Respondendo á critica feita ao projecto disse eu :
c A proposito do art, 23 vem a questão do hypnotismo que-
nenhum co digo que eU conheça, contempla taxativamente e
que só figura no projecto, porque conteve a ciréumstancia
attenuante da influencia da suggestão hypnotica e semelhantes
que podem seJ' }1,té a -do morphinismo, etherismo etc., que
tanta estranheza CRU80n ao meu illustre censor.

(10) o Hypnotismo, S. Paulo, 18~5.


-166 -

«E a que vem o receio da chicana, idéa apadrinhada com
autoridade de Ginlio Campíli, cujas opiniões nunca segui sem re-
servas, preferindo em alguns pontos do assumpto as de Alim€n&
e Innamorati, apezar de ser este contrario á nova escola? (lI}
«A que. vem a állUsão ás escolas de Nttncy e da Salpe-
triêre, quando é cedo para os codigos resolverem esses proble- .
mas que a pratica resolverá com a sciencia e as perieias?
« O gosto de ostentar erudição facil e inopportuna dei-
xando as difficuldades instantes.» (12)
Esta digressão mostra o que se vai passando por caSa e
ao mesm0 tempo que a nossa orientação não é· a peior.
Forma um subtitulo á parte a suggestão que o autor. não
confunde com o bypnotismo, porque este. não faz sinão favo";
recer aquella, e como 11a hypnotismo sem suggestão, ha sugges-
tão sem hypnotismo.
E sob tal epigraphe se desenrolam todas. quantas questões'
ella póde abranger sobre a responsabilidade e a· couelin-
quencia, como a suggestão voluntaria e a invollllltaria, a auto-
suggestão, a suggestão individual e a collectiva, o contagio do
delieto e do suicídio, a pluralidade de delin:}uentes e o delicto
collectivo, idéas propagadas por Aubry. Tarde e outros e sob
o aspecto da participação ·criminosa pela systematisação de
Sighele a que me tenho referido algures (pg. 169).
Justificando a inclusão da t: associação para delinquir» no
projecto de 1893 respondiamos á critica feita a este:
A duvida neste ponto não é hoje mais permittida depois
da tão adiantada encycIopedia de Scipio Sighele sobre a
pluraliclade de delinquentes, desde o par cl'iminoso até á
multidão criminosa, passando pelas associações para delinquir,
inclusive os terriveis organismos da ma/fia e Cam01'1'a italianas,
r.a mão negra .hespanhola dos b.andos parisienses (sm~teneur8
et 1'odeul's) etc ...
. O nucleo da disposição estavá ria aggravante do ajuste,
art. 16 § 17, que era uma das originalidades do Cod. de 1830,
tão mal interpretada na nossa jurisprudencia por falta de
senso juridico mais desenvolvido. -
Sighele' accusava ha pouco a falta de lei e de theoria
sobre a especie psychologica quando desde 1884 encareciam os
o merito do nosso Cod. anterior
..
neste ponto. (13)
'

(11) Meu commentario, .n. 79. '


(12) "O projecto do Cod. penal e a Faculdade de S. Paulo,., Recife
1895, pag. 31.
(13) Meu Ensaio, pgs. 169 e 202; Meu Commentario, pg. 153, n. 51.
Revista Academica do ·Recife, VI, 1896, pg; 19-«A co-pluralidade d~
delinfjuentes>.) pelo autor.
167 .....

UI

A surdo-mudez, objecto de um capitulo especial na obra,


presuppõe dous problemas, o pbys ico-pathologico e o psycho-
logico.
Si o primeiro póde ser resolvido com relativa facilidade,
o segundo -dferece questões controvertidas pela difficuldade-em
dar valor preciso e exactoás relações entre a linguagem e o .
desenvolvimento psycbico .
O surdo-mudo psychicamente é um ser inferior:
Elle porém é equiparado ao menor e não ao louco.
Tambem nunca vi- equiparar o simples surdo-mudo, só
pela surdo-mudez, como tal, ao mentecapto: Nestas condições
os autores equiparam-no aos 1ne1101'e.~, deixando muitos codigos
a solução das questões ao direito commum. Assim Berner,
Garraud e outros (14) . '
E' a solução da legislação comparada essa dupla via,
onde taes individuos não apparecem, dependendo a sua sorte
dos principios geraes reguladores, limitativos ou lllodifica.
dores, da imputabilidade, ou onde apparecem expressamente
como sujeitos com direitos a dirimentes ou attenuantes. da
responsabilidade criminal. Alimena estuda separadamente os
dousgrupos de codigos naquellas direcções notandi> o silencio
do codigQ do imperio e a menção do da nossa republica nos
respectivos grupos _ .
«Alguns codigos, porém, por exemplo, o da Republica do
Brazil (art_ 27 § 78 ) distinguem de modo eilpecial, a surdo- .
mudez innata Oll contrahida ná primeira infancia da surdo-
mudez adquirida.»
Innterpretando o novo Cod. italiano, resolve Alimena as- .
questões que o assumpto póde suscitar, confrontando a surdo-
mudez com a cegueira ao terminar esta parte do seu estudo
(pàg. l!H). .
IV
A embriaguez é um dos mais agitados e contradictol'ios
dentre os maximos problemas da penalidade_
Esta verdade nós a reconheciamos fazendo uma ligeira
recensão da interessante dissertação do Dl'. Alcantara Ma-
chado (15). . _
A questão da embriaguez de extrema complexidade na.

t (141 «o projecto do Cod. Penal e a Faculdade de S. Paulo», 1>. 30. _


. (15) A emOriague~ e a responsabilidade criminal, S. Paulo. 1894.
--- 168 -

medicina legal, é 'uma das mais importantes para o legislador


e para o juiz, porque envolve problemas dif:ficilimos e irreso-
lutos, que constituem ainda questõos abertas para o jurista e
o medico em um dominio da sciencia, não ditio inexplorado,
mas onde o esforço das pesquizas eo interesse da:'s observa-
ções não compensam a obtenção dos resultados correspon-
dentes (16).
Não houve face da questão que o autur não desvendass e
no seu precioso livr9. .
O alcoolismo e a criminalidade são abi apreciados I:!m re-
lação aos estudos estatisticos.
O vinho como causal; o alcoal como causa de degeneração;
os effeitos physiologicos do vinho que no primeiro momento
apenas eleva o tom da vida; os periodos dessa loucura arti-
ficial na pbrase de Krafft-Ebing; a psychologia do ébrio; são
outras tantas tlleses por elle desenvolvidas.
Seguem-se-Ihes as t,heorias juridicas 'da embriaguez em
seus diversos estados ou phases, em correlação com o dolo e
a culpa, as acções e omissões, não esquecendo a comparação
dos seus effeitos com os do bypnotismo que ora são harmo-
nicos e ora não (pag. 240).
, Tambem o estudo da legislação comparada nada deixa a
desejar neste ponto, onde o autor nota que as discussões dos
criminalistas sul-americanos seguem nesta parte a dos crimi-
minalistas· europeos, citando o nosso commentario ,do codigo
de 1830 (pag. 255).
Naturalmente (l Ood. italiano, fonte aliás do nosso e do
projecto de revisão, mereceu estudo mais detido, resolvendo-
se vilrias questões mesmo praticas (pag. 261 e § 6°).

v
A idade nas differentes pbases -correspondentes á respon-
sabilidade criminal, com o exame do problema do discerni·.
mento, é um outro assumpto magist.ralmente tratado, sendo a
conclusão final que a maioridade criminal, deve sel' inferior á
civil e não coincidir com esta (pag. 271).
Em pdncipio, pareCd que assim deve ser, mas atten-
dendo ao nosso systema de graduação 110 calculo das penas,
a attenuante da menoddade de 21 almos não produz grande
effeito no abaixamento da pena, desde que houver uma aggm-

(16) Jornal do Commercio, n. 113 de 4 de Maio de 1895.


- 169 -

vante e são os casos mais senos, e quando nãG houver, o


crime não será gl'ave e assim não repugnará punil-o menos.
Na Halia, a menoridade de 21 annos não converte a se·
verissima pena do ergastulo em prisão por 30 annos ?
Na parte da legislação comparada, o autor allude ao
problema da velllice que em alguns codigps que d~lla tratam
constitue circllmstancia attenuante, ou importa em commutação
da pena, COIllO succedia no' nosso Cod. de 1830, art. 45,
mandando converter em prisão com trabalho a de galés do se·
xagenario. .
Apontando os codigos que ao lado da privação na mente
por cau~as morbosas. collocam a privação da mente por de~re­
pitude, não cita o nosso Cod. Pt'n. art. 27 § 30 que consigna.
a dirimente «dos qUf-\ por enfraquecimento senil forem inca·
pazes de imputação» (pag. 307).
Comme ntando o direito italiano ventila e resolve diversas
questões sobre a idade e a pesquiza dI) diseernimento em re-
lação a certos e determinados crimes, assim como ás classes
do::; permanentes e dos continuarlos (pag. 308).
O exame nesta parte termina pela. solução da questão si
a idade é questão de facto oude direito (pag. 329) e a qual
não IJóde ser absoluta porque seria até absurda.

VI
O sexo naturalmente el'a outra questão que devia ser
tratada, c\)mo é, em f'ar',e da anthropologia e da estatistica,
comparando·se a crirninàlidade masculina com a feminina.
O delicto da mulher é mais cruel que p do homem; a mu-
lher delinque mellOS que o home m, mas quando delinque
muito peior (pag. 334).· -
O autor occupa·se (la cOlltroversia sabida sob o ponto de ..
vista juridico e opina que o sexo feminino per se não é nm
miulJrativo de imputabilidade, mas deve ser apreciado na ava-
liação das dirimentes e justificativas (pag. 348).
. No po~co q ne se encontra nas .. legislações, elle nota as
d.lfferanças apenas apreciaveis, já contidas no nosso Cod, ante-,
nor arts. 43 e ~5, sobre que o vigente é de todo,mudo, isto é,
menor rigor no cumprimento das penas e o addiamento da
. execução da mulher gravida até qUe dê a luz, nos codigos que
consagram a pella de morte (pag. 356).
- 170

VII
o capitulo é interessantissimo sobre a ignorancia e o elTO~
a boa intenção e a boa fé, assumptos pouco condensa<los e
aprofundados Tlas obras vulg'ares dos criminalistas e obscure,
cidos pela confusão resultante do máo veso de applicar aqui
principios inapplicaveis do dil'eito civil.
E' impossivel resumir a substanciosa monographia d()
autor na ill<!teria.
Pouco annotaremos.
São notaveis as soluções das questões sobre o error ilt
oojecto ou in persona e a abernttio ictus (pags. 373 e 377).
O mesmo se póde dizer a respeito da questão da boa O~
má intenção em que se cita o nosso -Cod, anterior (pag. 386).
A proposito-do consenso, surge a questão do homicidio-
suicidio, citando-se o DOSSO codigo vigente e um nosso estudo-
na Revista Academica do Recife, de cuja solução dissente ()
autor (pag. 396).
Seguimos no caso a opinião de Ferri (17).
Na questão da boa fé estuda-se o significado da formula.
-factum pro dolo accipitur-e as difficuldades que o problema.
offerece em relação ao crime e ás contravenções (pag. 399).
Entretanto não concordamos com o autor em que a boa
fé exclua a responsabilidade civil si não houver culpa ao-
menos civil, o que aliás parece contradizer o principio acceito.
anteriormente, encarnado em' nosso direito e de accordo com
.a opinião que lembrei de Silva Costa (pags. 113 e 413).

VIII
Tambem não concordamos que o arrependimento efficaz s~
possa ter lugar na simples tentativa e não no crime frustradll-
(pago 424).
Uma analyse profunda não encontra motivo de distincção~
bastando considerar que codigos como os nossos fundem os.
dous momentos do iler C1'iminis em uma só formula.
O autor tambem publicou uma monographia sobrá a.
tentativa. (18) .
Mas é impossível dar idéa exacta de obra de tal natureza.
em uma ligeira critica.

(17) c Revista da Faculdade de Direito do Reoife», anno IV, 1894,


pag.3. . .
(18) Alimena, «Rioerche intorno alla nozione deI tentativo», 'l'orino
1896 na Revista Penalfl vol, XLIII, fase. VI.
- 171 -.:..

o terceiro e 'L~ltimo volume já no prelo contém tres partes


que tratam: Da justificação, isto é, dos crimes commettidos
em execução ,da lei 011 em virtude da obediencia hierarchica
e do estado de necessidade;
Das attenuantes, isto é, das paixões vis-a-vis da crimi-
nalidade, problema que se desdobra no do impeto de justa
ira Oll justa dôr, no auxilio á justiça social é nas attennan tes
genericas ; .
Das aggravantes que se dividem na inténsidade do dolo
e da culpa, no motivo determinante e na reincidencia.
Como homem do officio prevejo o serviço real que preso'
tará esta parte. do livro, porque já senti as difficuldades na
falta de elementos segllros e sufficientes. para commentar ta
assumptono codigo anterior, p.otando neste ponto os desvios
da nossa jurisprudellcia por ausellcia. de bases scielltificas
- que as obras então conhecidas entre nós não offereciam.
Pernambuco (Recife) Novembro de 1896.

Da. JOÃo VIEIRA DE ARAUJO.


JURISPRUDENCIA

JurisdicQão Oivil

Manutenção de posse de igreja em favor


de seu legitimo representante não obstante
ser eBa dependencla de convento de ordem
religiosa extincta, cujos bens tenham sido
incorporados aos proprios naeionaes.
Appellação civel n. I '76

Appellante - O fl,evmo. bispo diocesano ~o Estado do P,u'á,


Appelladà - Li Fazenda Nacional.
Supremo Tribunal Federal

,4.CCORDAM

Vistos, expostos e dlscutidos OR presentes autos de appel.


lação civel, em que é appellallte o Revmo. bispo dioeesallo do
Estado do Pará e appelIada a Fazenda Nacional.
Mostra-se dos mesmos autos que este litigio se originou
acerca da posse da igreja lIas Mer~ê~, reclarnR.da pelo bispo
diocesano e contest.ada pela Fazenda Federal, com o funda·
mento de ser a referida igreja l1ma dependencia do convento
da ordem religiosa dos frades mercenarios, outr' ora incorporada
ao dominio da Nação.
Mas, considerando que, si a ordem dos religiosos merce·
narios foi extincta pela bulIa pOIiti(icia, de 13 de Novembro de
1787 e p~la sentença apostolica. de 15 de Setembro de 1791,
e os selÍ; 1:,;.s incorporados aos proprios nacionaes, em virtude
do aviso da Secretaria de Ultramar em Lisboa, de 24 de
MarçQ de 1794, todavia, se recommeudou expressamente que
na igreja das Mercês se continuasse a celebrar os officios ,do
culto religioso; ,
COllsideràndo que, nestes t~rmos, o aviso de 8 de No·
vembro de 1797 approvandodisposição do governador 6
capitão-general do Parã, concernente a ser de'stinado o con·
vento dos religiosos mercenarios para alfandega e arsenal de
f .- 173-
, guerra, determinou que a igreja das Mercês ficaria a cargo da
: irmandade militar de Salüo Christo do Forte;
Considerando que, por isso, sendo occupado o convento
pela alfandega e repartições annexas, e tendo sido dissolvida
a irmandade militar de Santo Christo do Forte, para logo se
tornou exequivel a ultima disposição do citado aviso de 24 de
Março de 1794, ordenando-se pela ret-iolnção do Governo de 22
de Setembro de 1822 (collecção Nabuco) que se entregasse
a igreja ao bispo diocesano para a reger e administrar;
Considerando mais que as igrejas, uma vez sagradas, se
reputam dedicadas ao culto divino, são excluidas do commercio,
e ficam unicamente pertencendo ao uso dos fieis;
COllsiderai!ào que as igrejas, quando sejam catholicas,
devem seI' guardadas e administradas pelos respectivos bispos
ou lJl'elados: epi8copU8 et quilibet p,'celatu8 ecclesiasticm"um
renun sit p-"ocurator (ca p. 2 donat.); ,
Considerando ainda que, apesar de se conservar desde·
algum tempo fechada a ig-reja das Mercês, por carecer de con-
certos, esta cil'cumstancia por si só não induz a certeza de
, seu abandono ; ,
Uonsiderando que tanto não estava no animo da autori-
dade ecc1esiastica abandonar a igreja das Mercês que, vendo"se
ameaçada da turbação da sua posse, rerluereu immediatamente
o necessal lo 'Inandatnm de manntenendo;
Accordam, por estes funrlamentfJs e pelo mais que dos
autos consta, dar provimento á appellaç\o para, reformando'
a sentença appellarla, julgar, P,OlUO julgam, procedente o
mandado de manutenção requp-rido pelo appellante Revmo.
bispo diocesanu. E eondemnam a appellada, Fazenda Naciolial,
uas custas,
Supr-emo' 'l'ribunal !federal 13 de Fevel'piro de 1897.-
Aquinu ,e Castro, l)/'eside~1te. - Berna1"llino li'e1"'eira,....; João
Pedro.-R'ibeiro ele A.lmeilla.~ Manuel MU1'tinho,- Pindahiba
de j}fatloll. -H. elo Espirito Santo. - .drne1'ÍGo Lobo, voto de
acconlu com o vencido, por julgar que, dedic&.da desde a sua
~undação ao culto publico a igreja das Mercês, não era e não
e propriedade particular de llillguem, que se pudesse incor-
porar aus proprios nacil)uaes, mas sempre pertenceu, como
continua a pertencer, ao condominio e com-possessão dos
catholicos de Belém. -Pigneireelo Jnniol',-Jóão Barbalho.-
Fui presente, Lncio de Mendonça.
-174-
E' caso de appellação quando ã. sentença
excedendo do seu objecto, que era a excepção
de incompetencia, decide a questão principal,
julgando a autora carecedora de acção.-Nul-
lidade da sentença Ilessa parte, sendo refor-
mada quanto á excepção de incompetencia
que é improcedente, por ser competente o
juizo federal para conhecer da acção movida
'entre um Estado e individuo residente em
outro Estado. -A clausula de diversidade
das respectivas leis, no flnal do art, 60,'
lettra d, da Constituição, refere-se ao caso
da ac(.'ão entre habitantes de Estados ditr~·
rentes,

Appellação civel n. 2:2:3

.Âppellante-D. Lfiopolda Appell Pinto, visconães!la de Fe1",


,'eira Ri nto.
Appellado-O Estado do Espírito Santo.
Supremo Tribunal Federal

ACCORDAM

Vistos, relatados e discutidos os autos, entre partes,


D. Leopoldina Pinto, viscondessa de Ferreira Pinto, appel·
lante, o Estado do Espirito Santo, appellado: Tomam conhe.·
cimento da appellação, visto que a sentença appellada exce·
dendo do seu objecto que era a excepção de incompetencia,
decidiu a questão principal, julgando, como julgou, a appel·
lante carecedora da acção. E', portanto, uma sentença
definitiva, 'a que cabe appellação. E considerando que nessa
parte, em que .julgou definitivamente a acção sem contestação,
dilação probatoria e discussão, é nnlla a sentença appellada,
por ter preterido formalidades snbstanciaes do processo:.
Reg'uI. n. 737 de 25 de Novembro de 1850, arts. 672, 673 e
674. Oonsiderando mais que o juizo federal é competente,
sempre que a acção se move entre um Estado e individuo
habitante em outro Estado, pois a clausnla de diversidade das
respectivas leis, no final do art. 60 lettra d) da Constituição,
se refere ao caso de acção entre. habitantes de lf~stados diffe·
rentes, o que se manifesta, j.í da legislação anterior, Decr.
n. 848, :le 11 de Outubro de 1890, art. 15), lettras b e a,
onde os dous casos vêm separados, já da lettra da Oonstituição,
visto que o demonstrativo-estes -só~ente a Estados se pó de '
referir, não a Estado: Accordam em anllulIar, comô annullam,
a sentença appeIlada na parte em que jtdgou a appellante
ca:'e:"erlora (h acçã,), e ref'JI'lnal-a na parte relativa á ex:?er~rw
de illCollllletellcia, quejulgam improcedente, por ser competente
-175 >-

'Q juizo federal. E, assim julgando, mandam que se prosiga nos


termos regulares da acção, e condemnam a appellada nas
-custas.
Supremo Tribunal Federal, 27 de' Fevereiro de 1897.-
Aqttino e Oastro, presidente. - Ribeiro ele Almeida. - H. do
Espírito Santo, vencido na preliminar.-João· Pedro, votei
para que não se conhecesse da appellação, por ser o caso, a
lIIeu ver, de agg-ravo, e vencido nesta preliminar, manifestei-me
pela reforma da sentença recorrida, mas tão sómente para
,o effeito de ser declarado nullo todo o processo, visto como,
não se tratando de lesão de dil'eito individual, determinado
llor acto de autoridade administrativa da União, era de todo .
'n ponto in admissivel na especie o emprego do processo especial,
ereado pelo art. 13 da lei n. 221, de 20 de Novembro de
1894. A nullidade, por esse fundamento, é :-ubstancial e
insupprivel, nos termos claros e precisos do art. 47 § 1", n.4
~a cito lei n. 221, e, uma vez resolvido que se conhecesse
da appellação, não podia deixar de ser pronunciada, tanto mais
quanto foi arguida na excepção de incompetencia de juizo,
'Qpposta pelo procurador seccional, a respeito da qual foi pro-
ferida a decisão recorrida.-Manuel lIIurtinho, conhecendo da
appellação, votei pela annullação de toda seJ,ltença appellada,
por ter sido esta proferida tumultuariamente, visto como em
vez do juiz a qttO pronunciar-se sobre a excepção de incompe-
tencia opposta no processo, tomou ,intempestivamente conheci-
mento de me1'itis para julgar a autora carecedora de acção.-
João Barbalho.-Americo Lobo, vencido. na preliminar, - pe-
f'eira Franco. -Macedo Som'es, vencido na preliminar, votei
pela anullação da sentença appellada.-Figlteiredo Junim'.-
PineZahiba de Nattos.-Bemardino Fe1"1'eira.-Fui.presente.
Lucio de, Mendonça. \
- 176-
.As emprezas particulares que executam
obrai publicas. em virtude de oontractos
celebrados com a administração federal, de-
vem ser demandadas no f6ro federal pelos
particulares que se julgam lesados com os
trabalhos realisados pelas ditas emprezas.
São da competencia da justiça federal to-
das as questlles fundadas em actol adminis·
tivos do Governo da União.
Obras no littoral dos portos; oonstrucoão
de docas e cáes autorizada pela lei n. 1.746
de 13 de Outubro de 1869.

Aggravo Civel.

Àgg1'avante-A Companhia Docas de Santos.


Aggravado-Manoel Homem Bittencou1't.
Superior Tribunal do Estado de 8. Paulo

Manoel HOJIlem Bittencourt allegando es ~ar na posse


. mansa e pacifica de terrenos de marinhas sitllatlos á margem
do canal do porto de Santos requereu ao juiz de direito da
la vara dessa comarca manutenção de posse a seu favor, visto
ter â Companhia Docas começado a fazet; obras nos ditos ter·
renos.
Deferido o reqíleriment() de Bittencoul't, em occasião op·
portuna offel'ecen a Companhift a. ~eguill~e

EXCEPÇÃO (FL.25)

Por· excepção âeclina iM'ia Jori diz a exce·


viente Companhia Doca.s de Santos: .

Que a presente acção ~'oi requerida e próposta perante


juiz incompetente, pois

Que as obras que a excipiente está fazendo no littoral do


porto de Santos fundam-se em actos administrativos do Go·
verno Federal, com o qual contracton a ropstrucção do cães
de Santos e outros trabalhos supplementares.
Decrs. do Governo Federal ns. 9.979 de
]2 de Julho de1888, 10.166 de Janeiro de 1889,'
lO.277 de 30 de Julho 1889, 966 de 7 de No·
- 177

vembro de 1890, 74 de 21 de Março de 1891,


789 e 790 de 8 de Ahril de 1892~ 942 e 943 de
,15 de J 111ho de 1892) e aeto de 14 de Outubro
de 1894.

Que só a justiça federal é a competente para conhecer das


causas que tenham fundamento em taes actos.
Consto Fe<1eral,árt. 60 ; Decr.848 de 1Ld&
Outubro de 1890, art. 15 a; DecI'. Legi~l. u. 221
de 20 de NoveIlluro de 1894, al't. 12.

Que no_s melhores de direito a presente exeepção (leve ser


recebi'la e julgada provada para o fim de se cónsiderar este
juizo incompetente, devendo ser remettida a acção para a jus-
tiça federal, pagas as custas pelo excepto.
Com todos os prot.estos necessarios.
Santos, 3 de Setembro de 1896.-0 advogado, José
Xavie1' Oarvalho de Mendonça.

SENTENÇA (FL. 36)

Vistos, etc. Julgo afinal improcedente a excepção oppo,stl'


á fi. 25, para o fim de julgar, como julgo,. competente ~ Justiça
estadoal para conhecer da presepte causa, po::quanto não se
fundando a questão, como pretende a excipiente, na lesão de
direito individual 'por acto ou decisão de auctoridade federal;
mas por actos dapropria réoxcipiente, que não provou estar
para sua pratica especialmente autorisada pelo governo fe-
deral, não tem applicação na hypothese' dos autos a disposícãe'
do art. 12 do Décr. federal n. 221 de 20 de Novembro de
1894, invocada pela mesma excipiente e nem a do art. 13, para
que se julgue a causa da competencia da justiça fecleraI.
E assim julgando, mando siga a causa seus termos e con-
demno a ré excipiente nas custas do retardamento. ' .
Santos, 20 de Janeiro de 1897.-Luiz Porto Moretzsoln
de Oastro.

12
-17S -

IllNUTA DO AOGRAVO

Egregio Tribunal.-A sentença de fi. 36 julgando impro-


cedente a excepção declinaioria fori oPPQsta á fi. 2Fi' decidio
contra direito e merece reforma.

§
A aggravante Companhia Docas de Santos não baseou a
excepção declinatoria na alIegação (le qne a questão Pl'QPosta
pelo aggra vado se fundava lia lesão (le direito ind.ividual po~
acio ou dccistio de auloridwle federal, como affirma o juiz a quo
em sua sentença; seria alterar a verdade dos fclctos, sem o
menor resultado pratico. A aggravallte disse que era incom-
petente a justiça local para eonhecer e julgar a acção posses-
soria intentad.a pelo aggravado porque esta se fundava em
uma pretendida tUl'baçfw cansada pelo des(mvol vimento das
obràs do porto de Hautos, que pertencem á .Uniãõ e são ex-
ecutadas pela aggravante autorisada para isso por actos ad.
ministrativos do governo federal.
Nestes termos, é de toda a evidencia a competencia da
justiça federal para conhecer da cansa (art. 60 da Consti-
tuição Fed. ; art. 15 a do Decr. n. 848 de 11 de Outubro de
1890, e art. 12 da' lei n. 221 de 20 de Novembro de 1894) .
§
A CO,mpanhia Docas de Santos executa no litLoral do porto
lia Sa!:.t9>S
obras de ca7'acleJ" federal, isto é, obras pertencentes
á União, havim~~/cóÍltraetàdoa coilstrucçào dellas com a ad·
ministração federal mediante'o rl'gimen que, em Direito ad·
ministrati vo, se denomina'- concessão - (lei 11. 1. 746 de
13' de Outubro de i869 e Decrs. federaes .n~. 9.979 de 12 de
Julho de 1'888; 10.166 de Janeiro de 1889; 10.277 de 30 de
Julho de 1889; 966 de 7 de Novembro de 1890; 74 de 21
de Março de 1891; 7a9 e 7.90 de 8 (~e Abril de 1892; 942 e 943
de 15 de Julho 'de 18~2; aeto de 14 de Outubro de 1894;
Decr. federal n. 2.411 de 23 de Dl''zembro de 1896).
A feição caracteristica deste acto, uma das fôrmas espe-
~ificas, ~a realisaçãode obras pnblica~, é a segui,lte : ~ a' Ad·
ministraçãocontracta a execução da obra com um empreiteiro,
o qual é pago do seu trabalho não com dinheiró directamente
recebido da Administração, mas sim com o uso e,goso da obra.
durante certo tempo j ou melhor, o empreiteiro recebe em pa-
gamento do preço da obra o direito de 'Usufrttil a durante de·
t~rminado prazo (Aucoc, C'onjé1'ences de D1'Oit Adm.., voI. 2°
- 179-

DS. 611 e seguintes; A. CHRISTOPHLE, Trait.é de :b'ava1tx


[J,tblics, 2:1, ed. ns. 1458 e 1459 ; DALLOZ, 8uppl. (tu Repm·toire,
verbo Concc8slon). - '
Foi justamente isto o que fieou expresso no clausula II
do Decr. Fed. n. 9979 de 12 de JÜlho. de 1888 que conferio
aos concessionarios (antecessores da agg-l'avantp.) o uso e gozo
das obras durante o prazo da concesl'ã); findo este prazo, re-
verterão para a União, sem indemnisação alguma, as obras,
terrenos e bernfeitorias, bem como r.odo o material rodante da
empreza.
A Companhia Docas de ~antos é, pois, simples ttslifm
• ctual'ia das obras Que contractou; a União ou a Fazenda Nã-
cional é a lJ1·opdrtaria.
Como il81ljructua1'ia a Compall1lia. Dllcas de Santos tem 'a
duplice flualillrtde de pl'OCltratol' in rem suam e 'in l'cm alte1'iU8 ;
é um v6l'dadeiro guarda da COUS;t e ao mesmo tempõ Íllanda- "
taria legal da. pl'oprietaria e p.stú, rev~stida do mandato neees~
sario á boa administração e det'eza da cousa, quer parà aetos
judiciaef;, quer extnjutliciaes (CUNHA. MmXNDA, DireitOs de
'Il,S!tJl'llCtO, l'ag. 77). .
Do exposto'se çonclueque a Fazenda Nacional (a União)
proprietaria das obras do cáes de Santos vem a ser directa.-
mente interessada. na acção que o aggl'avado pl'OpOZ. A Com-
panhia Docas de Santos, usufructnaria daquellas obras, repre· '
senta, neste particular, a Fazenda Nacional. "
. E' pois fóra de duvida que, ainda sob este ponto de vista,
o fôro ~ompetelltepal'a ser processada é jnlgada esta acção é
o federal (Const. l!'ed., art. 60 "b; Decr.ll. 848 ele 11 de Ou.
tubro de 1880, art. 15 d; lei n. 221 de 20 de Novemln'o de
1894, art. 12). .

As obras executadas pela aggravante Companhia Docas de


Santos Ilr littorlll do porto incidem sobre terrenos de mari-
nhas e all1gadoS' que margêam o canal. Estes terrenos que vão
até á dist.ancia" de 33 metros para a parte de terra con-
tados desde o ponto a que chega o preamar médio (art. 1°,
§ 1? do Decr. n. 4.105 de 22 de Fevereiro de] 868). fazem
}larte donominio patrimonial da União (1'gIXEIRA DE FREITAS,
, Oonsol. das Leis Civis, art..1)2 §. 2"; SOUZA BANDEIRA, .1J.:.(a:
ll~al dos Feitos, § 501 n. 2), - ,
A turbação ita qual o aggl'avado se queixa é justamente
a. das obras feitas nestes terrenos á m"arg~m do canal, q lIe es· '
tlveram sempre na posse da Fazenda Nacional apezar do ag-
-180-
gravado dizer serem de sua propriedade e posse em vista de
uma pla.nta (?), sem o menor caracter de authenticidade, por elle
mesmo engendrada e de umas escri pturas adredes. preparadas
de má fé com· o barão de Paranàpiacaba!
A Administração deterluinou a execução das obras do
eaes e outras supplementares nestes terrenos de propriedade
da União e será o caso da aggravante chamar a Fazenda Na-'
cional para a assistencia da causa (Arg. da Ord. L. lU, tit. 45
§ 10; OOELHO DA ROCHA, Di1'oito Oivil, § 618).
Vê-se assim mais uma vez que não pôde deixar de correr
a presente causa na justiç>t federal, não só porque se vae
discutir e julgal' a posse de terrenos de marinhas, propriedade
federal, como porque a Fazenda Nacional tem de ser chamada I

á assistencia da caus a.

§
o juiz a quo além de ter comprehendido maIo funda-
mento ,da excepçiio de fi. 25, conform~ mostramos no começo
desta minuta, parece que apeiar de tudo, proferia a sentença
aggravada por não ter a aggravante provado estar auctorisada
pelo governo federal a praticar especialmente os acto8 que o
aggravado considera .turbativos. ' ,
Na excepção de fi. 25 estão citados todos os actos ad·
. ministrativos do governo federal autorizando as obras do po rto
de Santos.
Que outra prova queria o juiz a quo que o aggravante
fornecess e ?
E mais :'-a aggravante tem junto a si u:n fiscal de no·
meação do governo (clausllla X[ do Decr. n. 9.979 de 12de
Julho de 1888); este seria o. primeiro a se oppôr a execução
de obras não previstas nos contractos celebrados com a pu·
blica administração ou não autodzado.s por actos administra-
tivos. .
O facto da Oompanhia aggravante continuar nas obras é
prova indiscutivel dá estar para a execução dellas devida·
mente autorizada.
Si o aggravado nega isso, isto é, si nega que a aggravante
não está autorizada para executar as obras, que diz, lhe cau·
saram turbação, vem fornecer poderosc argumento a favor da
competencia da justiça federal para julgamento da' presente
eal),sa, pois ter· se-ha de apreciar a força e extensão dos con·
tractos que a Oo.mpanhía vocas celebrou com o Governo Federal.
Isto parece-nos evidente.
-181-

A justiça local não póde, pois, conhecer desta causa.


Casos de perfeita analogia foram neste sentido decididos
pelo Supremo Tribunal Federal nos accordams de 12 de Julho
de 1893 (Direito, vol. 62, pago 37) e de 9 de Maio de 1894
(Direito, voI. 71 pago 118).
Acreditamos que o honrado juiz a" quo, á vista do ex-
posto reformará a sua decisão, não esperando que. suba aocol~
lendo Tribunal de Justiça o aggravo interposto.
Santos, 29 de Janeiro de 1897.- José Xªvier Oa1"valho
de Mendonça, advogado.

SUSTE.NTAÇÃÓ DO AGGRAVO (FL. 50 v.)

Egregio TribunaZ.-Julgo não ter feito agg1'avo com o _


despacho aggravado, cujos fundamentos, data tle1lia, offereç()
como parte integrante desta. "
Accresce quanto á nova allegação feita nas razões de ag-
gravo, de tratar-se de posse de terrenos de marinhas, que ~ã()
foi ella articulada na excepção e nem provada .
. O egregio Tribunal de Justiça .melhor decidirá.
Santos, 3 de Fevereiro de 1397.-0 juiz de direito, Lui•.
Porto Moretzsohn de Oastro. -

ACCORDÂM

Accordam em Tribunal, examinado, relatado e discutido,


o recurso constante do presente· instrumento a requerimento da.
Companhia Docas de Santos contra o despacho declarando im-
procedente a excepção de incompetencia offerecida pela re-
corrente para que o juiz de direito da comarca de Santos de-
clinasse de conhecer da acção de manutenção. intentada pO,r
Manoel H(JDem de Bittencourt, v,isto como naquillo que praticou
e de que este se queixa, se presume auto risada por uma con-
cessão do Governo Federal conforme os. actos e decretos
que invocou, dar, como dão ,provimento ao mesmo' recurso,
porquanto consideram manifestamente incompetente a justiça.
estadoal desde que não póde soffre1' duvida que a defeza da. .
reeorrente na aIludidaacção tem por origem actos administra-
tivos do Governo Federal, e em tal hypothese é expressa. .a
competencia da justiça federal para processar e julgar a causa.
pelo que foi disposto no art. 15 do Decr. n. 848 de 11 de Outubro
- 182 -

de 1890, ao qual é remissivo o art. 12 da lei n. 221 de 20 de


Novembro de 1894. E assim decidindo, como aliás foi julgado
por este Tribunal em accordams de 6 de -Agosto de 1895 e 12
de Dezembro de 1896, em os quaes (vid. Gazet(t J1tridica,
voI. 13 pags. 51 a 61) só se admittio a competencia da justiça
estadoal em questão allaloga com a mesma Companhia Docas
de Sa~tos por effeito ae prorogação e como foi julgado pelo
Supremo Tribunal Federal por accordams no Direito, vol. 62
pags. 32 e,71, pago 118, reformam o despacho do qual se
recorreu para. declarl1.rem, como declaram, incompetente a
justiça estadoal para proseguir no feito, e condemnam o dito
recorrido nas custas.
S. Paulo, 13 de Março de 1897.-B1·otel'o, presidente.-
Ignacio .;1.rruda.-Fen·eira Alves, vencido. Opinei pela, com·
petencia dá justiça local, porquanto o facto. de uma empreza
ter favores eprivilegios e concessões por dec:reto do Governo
não lhe dá o fôro especial para as acções que tiver de sus·
tentar com os particulares (sentença do Supremo Tribunal
Federal de 26 de Janeiro de 1895, Di1'eilo, voI. 66 n. 4,
pags. 536 e f,37).-Oliveira Ribei1·o.- Oanuto Saraiva.-M.
Oesar.- ViJ'gilio Oardo.~o.---: Delgado.-r-Foi voto vencedor o
81'. ministro Godoy. --1gnacio Arruda.

A se n tença que julga a não interdicção. ta-


cultan do ao interdicto a administração de sua.
pessoa e bens, tem o eàl'acter de definitiva.
põe termo á causa,'não é, oonsequentemente,
aggravavel.

Aggravo de instruD1ento
Aggravante-'-O Dl'. curador geral de orphãos.
Aggravado-João Baptista Accioli Lins.
Superior Tribunal de Justiça do Estado de Pernambuco

SENTENÇA (FL. 27 v.)


Em face das affirmações co nRtantes dos attestados a
fls. 21, 22 e23, ou exame, como o prolator da sentença á
fi. 7 chamou as constantes dos outros attestados a fls. 4
e 5, e, bem assim, dos pareceres . do curador, á fi. 26, e do
illustre Sr. _Di'. promotor public o, á fl. 27, no q1ial esse
fuuccionario diz: «sou de parecer que ~em o exame de sani·
dade devidamente feit,o se poder á verificar que o interdicto
está habilitado a reger sna pessôa e bem», estarldo lllovada a
-183 -

capacidade de bem reger-se J.jão Baptista Accioli Lins, filho


dos finados Barões de Goicana, o julgo e declaro não inter-
dicto, facultando"se-lhe a admi:listração de sua pessoa e bens.
Fica assim defiridaa petição á f1. 19, cujo· sigllatario pague
as custas. Publique-se.
Rio Formozo, 18 de Dezembro de 1896 . ....,- Berna~'àino
Maranhão.

CONTRAMINUTA (FL. 32 v.)

A interposição de recurso de decisão profúida por mim


produz-me sempre immensa satisfaçãt\, E penso que o contrario
só me aconteceria ou si eu não tivesse amor pela profissão,
ou si me faltasse a consciencia plena de que jamais procego
de má fé. Na verdade, tão natural parece-me que úm juiz se
orgulhe em ver proclamados pelo tribunal competente_como
acertados .os seus julgamentos, como não me" parece menos
natural que elle tambem sinta amplíssima satisfação em ver
devidamente corrigidas aquellas outras decisões que por' ven-
tura tiverem saído viciadas, erradas ou injustas. .
Ante esse meu modo de pensar e tendo em consideração o
caracter official do aggravante, mandei tomar por termo o seu
. recurso, máo grado não haver o recorrente declarado a basé,'
. o fundamento . d'esse acto, lacuna que era de esperar fosse .
preenchida na minuta. .
N' esta parece;me não haver contra o despacho recorrido
". argumento algum pr9cedente. Disse o recorrente que faltou o
exame de sanidàde. Poderia ter accrescentado: e o depoimento
de testemunhas. .
. Mas tudo isso faltou (é patente dos autos) á' sentença que .
decr.etou a interdicção, aeto, ao menos, de igual gravidade.
Si bem apanhei o pensamento do honrado aggravante,
tão honrado que, averbando sua' confissão de haver lançado
um parecer defeituoso, conclue sua minuta, - pedindo. ao Su-
perior Tribunal provimento, com a condemnação do aggra-
vante nas custas; si bem apanhei, repito, o pensamento do
honrado aggravante, outro devêra ter sido e ainda cumpre
que o seja o proeedimento de S. S. que não pó de ignorar esta
regra, qúe «A.cl·um non ceZeTn'a1'e, veZ minus 1'ite c6l6brare,
'pa~'ia Sltnt; qure enirn nOJa ~.'ite fiunt, pl'O non factis hav~ntur ....
Em face das considerações supra mantenho o despacho
recorrido. O escrivão remetta, com a possivel brevidade, os
- 184-
.autos ao Superior Tribunal, cuja decisão aguardo para' cumprir
com exactidão.
Rio Formozo, 9 de .Taneiro de 1897--Bernardino MQIe
ranhão.

ACCORDAM

Accordam em Superior~ Tribunal que, feito o sorteio e


rélatados os autos, • •
Não tomam conhecimento do aggrd.vo interposto por não
ser caso deUe j porquanto a decisão da qual se aggravou tem
f) caracter de definitiva, pondo, como poz, termo ao processo.
Além d'isso o aggravante não o fundamentou em disposição
,de lei alguma.
Custas ex-causa.-Recife, 12 de Fevereiro 1897.-Fran·
-ci.Bco Luiz, pre8idente.-Lyra.- João em'los.-Oarlos Vai.
-Fui presente, Julio de Mello.

Recurso extraordinario : -d'-se da decis!o


proferida pelos Tribunaes Administrativo e
de Conflictos do Estado da Bahia. por serem.
pela Constituição d'esse Estado, verdadeiros
tribunaes judiciarios e porque a decielio
reoorrida julgou em ultima instancia validas
u leis estadoael impugnadas como infrin·
gentes da ConstituiQio Federal.
Impoetos de exportação inter-estadoal.-A
eompetencia dos Estados paradecre'tar im-
poetos de exportação sobre mepcadorias de
lIua propria producção~ com~rehende a eJ;-
portação de uns para outros Eltadoe da Ré-
publica.
Intelligenóia dos arts. 7 n. 2, 9 n. 1 e
• 2°, e 84 I 5° da Constituiljão Federal.
Recurso extraordina1'io n. 921

.RecO''rentes-.:.. Francisco Oardoso da Silva &1 O.


Recorrida-A Fazenda (lo Estado da Bahia.
Supremo Tribunal Federal

RAZÕES DO RECORRENTE PERANTE O TRIBUNAL ADMINISTRATIVO


DA BAHIA (FL. 13)

Oommercio da Cabotagem Nacional. - Dit·eitos illegaes e


inconstitucionaes de exportação.
Chegou o momento em que o commel'cio d' este Estado
entendeu reagir contra o esbulho de que tem sido victlma
- 185

resignada desde Janeiro de 1892, paIo facto de extorquir·se-.


lhe contra as disposições constitucionaes e legaes, a lição dos
mestres, a experiencia das nações, pretendidos direitos de
expm'tação pelo commercio de cabotagem nacional.
Firmado no art. 7° n. 2 e 34 n. 5 da Const. Fed. de
24 de Fevereiro de 1891, no art. 125 § 1 n. 7 e art. 10 das
Disp. Tránsitorias da Oonst. do Estado da Bahia de 2 de
Julho de 1891 e no acto de 26 de Janeiro de 1892 do Go-
verno do mesmo Estado, qne deu regulamento para a arre-
cadação e fiscalisação das taxas de expm·tação, vêm os recla-
mantes pedir ao Tribunal Administrativo da Bahia, nos
termos do art. 23 da lei n.. 94 de I) de Agosto de 1896,
restituição do que illegal, indevida e inconstitucionalmente
arrecadou o Thezouro do Estado -dos mesmos a titulo de
imposto de efEpm'tação, conforrue tudo se vê da. petição inicial
e documentos que a instruem. '
Os fundamentos da presente reclamaçãó serão expostos
em capitulos para melhor estudo da questão. Os reclamantes
t~m plena certeza de encontrar n'esse egregio Tribunal a
justiça que lhe vem pedir; mas se por acaso os honrados
juizes que o constitUem entenderem na sua alta sabedoria
indeferir a presente reclamação, desde já os reclamantes pedem
permissão para interpor o recurso extraordinario para o So-
premo Tribunal Federal, estatuido no art.. 59 § 1 lettra b da
Consto Federal •.
*.
**
O que se entende por exportação ou impostlJ de exportaç4,o1
Todos os lexicographos, todos os economistas e financeiros, a
sciencia, emfim, define imposto de exportaçllo o que é lançado
sobre generos, productos, mercadorias, que são remettidas ou
enviadas de um paiz para outro, pa1'a o estrangeiro. Assim
Caldas Aulete no seu Dicciona1'Ío Contempomneo da Lingua
POI'tugueza diz:

«)i~xportar significa remetter ou transportar


para fóra do paiz as producções naturaes do sólo,
os prod uctos das artes ou. intlustrias nacionaes.»

Fernandes, Waldez no seu Novi~simo Diccionario Fran-


cez diz:
«Exportation -exportação, acção e eft't~ito de
mandar para o estrangeiro generos nacionaes.»
--,. 186 -

Ferrari a Cac~ia no seu Diccionm'io Italiano nos ensina


que a palavra esportare, significa:
«Remetter para jÓ1'a do paiz o producto da
natureza ou das artes.»

Fleming and Tibbins no seu Royal Dictio'llat,y (um doi


melhores eonhecido~) diz:
«To exp01't- transportar mercadorias de um
paiz para outro. li
Ferreira Borges no seu Diccionario Oornrnel'cial diz:
«Exportação é o acto de levar fazendas nossas
para fóra; e o commercio que se faz na saca dos
generos do nosso paiz para o estran,qeiro.» .

Coquelin et Guilhaume no seu Diccional'io de Economia


Política diz que :
«A exportação é o conjuncto das mercadorias
que sahem de um paiz para:'iodos os outros paize8 .•
Bouillet no seu Diccionario das Sciencias, Lettras e A1'te3
diz que:
«A exportação é a remessa de mercadorias pal'a
o estrangeiro.»

Pierro Larousse - no seu Diccionario Universal ão Seculo


XIX diz:
«Exportation. Acção de exportar mercadorias,
vendeI-as, e enviaI-as para o estrangeiro; com·
mereio. de exportação; direitos de exportação.»

Du Mesnil-Marigny (citado por Larousse) diz:


«As exportações são as mercadorias de um
paiz que se remettem para o estrangeiro.»

A Consolid~ção das Leis das Alfandegas do Brazil diz


no seu art. 563 que são sujeitos a direito~ de exportação oS
generos e objectos seguintes que dos portos da Republica se
exportarem pm;a mercado ou paiz estrangeiro.
Todos os economistas e financeiros una voce ensinam que O
- 187

imposto de exportação é o que recahe sobre os generOS reI?e~­


tidos para o estrangeiro. Oooley no seu-The general P1:WCt:
ples of Constitucional Law in the U. S. of Âl11e1'ica dIz a
pagina 77 :
«The imports and expm·ts IH're iutended are
imports from aud exports to foreingh countriestonly.»
Na França se entende por exportação.
« L' ensemble des marchandises qui passent
ti l' étranger sans distinction· de leu!' origine
française ou étrangere, sortant d'un pays pour
tous les autres pays.'b
Nos Estados Unidos na grande obra-Cust011l8 Regulations
of tlze U. S. Whash-ington Gove1'nment printing o:Dice, 1892,
arts. 835 e 838 lê-se o seguinte:
«Art. 835. The terme country as used in the
law, is to be regarded as embracing all the pos-
sessions of a nation, however widely separated,
which are subject to the same supreme executive
and legislative authority and central.»
«Art. 838: Merchandises from an interior
country intenued for exportation through the ports
of anothe1' count1·y to lhe United-States~from
Switzerland by way of Havre, for exemple-is con-
sidered as exported j withind the meauing of the
law when jt, passes the frontierE botmdary of such
interior country.»
Entre 116s toda a lf:.gislação declara terminantemente que
os direitos de exportação se entendem os lançados sobre a pro-
duCÇão nacional destinada a paizes estrangt'iros ; nessa confor-
midade o alvará de 25 de Abril de 1818 ; a lei de 31 de
. de Outubro de 1835 i o decreto de -23 de Março de 1853
n. 1133, etc.
Não se pôde, pois, chamar commercio de exportação ao
que é feito dentro dos limites do mesmo paiz; este chama-se
commercio de cabotagem; é isso um axioma que ninguem
discute. Nós mesmos temos o Decr. n. 123 de 11 de Novembro
~e ·1892 que no seu art, 2 diz que a navegação de cabotagem
e a que tem por fim a communicação e o cornmercio directo
entre os portos da Republica etc.; navegação esta que por
força do § uni co do alt. 13 da Consto Fed. será feita por
navios nacionàes.
**..
-188 -

Sabido o que significam as palavras-exportar, exportação,


direitos e commercio de exportação e cabotage'TJL - vejamos que
valor tem o imposto ou os direitos de exportação.
As imposições lançadas sobre a. exportação, universal·
mente são combatidas como, anachronicas, gravosas' e preju·
dicialissimas ao paiz que as estabelece.
O grande Leroy-Bealllieu com a authoridade inexcedivel
do seu sàber ensina, no seu Tratado de Sciencia das Finança8
que esse imposto é mau, que impede o desenvolvimento e a
expansão do commercio e industria nacionaes; elle chega a
dizer que seria preferivel ao Brazil não taxar talvez o seu
café. .
Isso apezar do monopolio quasi absoluto que temos do
commercio do café nos mercados consumidores.
Exp0rtaTos 3/4 de todo-o 'café que se consome no estran·
geiro.
Não ha economista liberal que não condemne taes imo
postos. E' uma contribuição que onera. ó producto; augmenta·
'lhe o preço e ao mesmo tempo diminue ·lhe a procura e dif'ftcul·
ta-lhe a concurrencia nos mercados consumidores com os
similares que a não supportam.
Na Europa quasi banido e na Ameriea até a Republica
Argentina diz a Consto que o imposto de exportação será
conservado até 1876. A Consto dos E.U. da Columbia no n. ~
do art. 8 prohibe que se tribute a exportação, cuja. liberdade
o- Governo Geral é obrigado a manter. O proJecto de Consto
do Brazil approvado por Decr. de 22 de Junho de 1890 do
Governo Provisorio no § 2 do art. 8 declarava que dA 1895
em diante cessariam de todo os direitos de exportação.
Tavares Bastos, na sua obra ...4. provi1lcia, publicada em
1870, tratando do imposto de exportação diz:
Não pôde ainda o Thezouro dispensar esses tributos se·
culares, rendimentos do erario de D. João VI?
ElIe conclue fazendo votos pelo ensaio das contribuições
directas. O grande Ruy Barboza, a alma da revolução ,repu·
blicana. e do Governo Provisorio, n'um discurso memoravel
pronunciado na sessão de 16 de Dezembro de 1890 no Con·
, gresso Constituinte sobre a vital questão da descriminação
das rendas, uma das mais poderobas producções daquellegenio,
ao mesmo tempo em que dizia que em materia de impostos não
devíamos cingirmo-nos aos instrumentos enferrujados e 3.
fontes escassas do antigo regimen, que tinhamos, como etfe·
ctivamente temos, nesse particular, um mundo a explorar,
~üando do imposto de exportação diz que o I:;enso commum,
ha muito, o fulminára, e a escola liberal fizera da sua suppres'
- 18~-

são bandeira de comhate.Vê-se, pois, do que fica dito que o im-


posto de exportação é ·um imposto condemnado pela unanimi·
dade dos mestres e pela experiencia. . .
E' um imposto CDntrario ao senso commum, n3. phrase
enel'gica de Ruy Barboza.
*
**
Vamos agora passar em revista muito resumidamente 3
'historia do imposto de exportação entre nós. E' sabido que'a
Constituição' mOllarchica em materia di> descriminação de ren-
das nacionae~ e provinciaes nada ou quasi nada dizia. Nesse'
particular nem se pó de estabelecer confronto entre ella e a
Constituição republicana que é um modelo de clareza e
perfeição no assumpto. Não ha mesmo nenhuma constituição
que a exceda na intelligente e boa descriminação que fez das
rendas publicas entre os Estados e a União.' . '
Quem a ler fica desde logo conhecendo os limites das
respectivas competencias.
Sabe-se, diz o illustreSr. L. R. Gava}cante de Albuquerque,
muito digno director das rendas publicas no seu magbtral pa'
recer de 20 de Fevereiro do corrente anno ao ministro da fa-
zenda sobre direitos (le 'exportação de café de Minas e Rio de
Janeiro, que as prov!ncias (abusivamente) arrecadavam nas
raias das suas circumscripções um imposto de sahida sobre os
generos e o Governo Geral a quem competia tributar u com-
mercio de exportação só cobrava esse imposto quando as mer-
eadorias 8ahiam para o estrangeiro. Assim, continlÍa elle, °
café, a borracha, o assucar, o algodão, etc., navegavam Z'im'e-
'/lente em cabotagem de um extremo ao outro do paiz. .
Cita elle a ordem no Thezonro n.6, de Janeiro de 1890,
que pr()hibio ao Estado do Amazonas a, cobrança do imposto
de expm'tação sobre os productos navegados em ca7Jotagem.
Diz elle que á dita taxa de fixportação' escapa toda e qual-
quer quantidade de producto natural con8umido no paiz; nem
podia deixar de ser .assim desde quando as provincias, en-
tão, nem os Estados, hoje, podem desvirtuar a natureza do im-
posto de exportação, convertendo-o. em -imposto de oonsumo ou
. pl'oducção, desde que se tolerasse cobraI· o sobre generos con-
sumido8 no paiz.
Foram assim vivendo as provincias abusando sempre em
t~xar os generos que sahiam em c(lliotagem para os portos na-
clOnaes, vida essa' precária e a miudo interrompida pelos pro-
testos dos regulamentos fiscaes desde tempos remotos, -dos
debates das Camarl1.s e do Conselho de Estado e a despeito de
- 190-

tudo jsso iam as assembléas provinciat:;s desmoralisadas e in-


_competentes avolumando Buas rendas com o imposto odioso,
ilIegal e abusivo de consumo e saltida, adulterando o que nesse
}:articular lhes facultára o AcLo Addicionillllo art. 12.
Por vezes soffreram crueis decepções vendo annulladas
as suas leis como por exemplo aconteceu em 1870, sendo
revogadas as leis de diversas Provincias que decretaram
impostos incol1stitucionaes.
O illustre Rodtigues de Souzá na «AnaIyse e commentario
da Consto do Imperi.o» diz o seguinte: Não 8atisfeitas (as Pro-
vincia~~ com as quotas dos direitus de exportação concedidas
pelo art. !:J § 6 da lei de 31 de Outubro de 1835, têm accres-
centado impostos á exportação para fÓI'R do Imperio. A termi·
nante disposição do art. 12 do Acto Addidonal não lhes tem
sérvido de olJstaculo para trilJntar R ill1portação estrangeira e
das outras provincias. Para estabelecerem impostos de expor-
tação protesiam que o art. 12 do Acto Addicional só veda-
lhes crear impostos dI;. importação; como ~e o~ ditos impostos
não prejudicassem as iillposi~ões geraes do Estado; entretanto,
apezl<r da proplia conjj~~ão de serem-lllPs yedadoR os impostos
de importação, nflo têm duvidado JegislarsolJre elIes.
Os impostOR de exportação não só prejudica~ as imposi-
ções geraes do Estado, como grande influencia exercem na
importação e por ambas as razões não podem as Assembléas .
Provinciaes estabeleceI-os. Pela rl:'Jàção intima da exp(lrtação
com a- importação e grande influencia no commercio externo
não permitte a Constituição -Federal dos Estados Unidos a
nenhum Estado; sem o consentimento do Congresso, estabe-
lecer impostos ou direitos sobre as importações ou exportações,
á excepção do qu~ lhe fÓl' absolutamente necessario para a execu-
ção das leis de inspecção. O pl'o(lucto liquido ele tOGOS os
direitos e impostos estabelecidos por qualquer Estado sobre
as importações e exportações fica á disITosição do rl'llezouro dos.
Estados Unidos, e toda lei. desta. naÚll'e~a é sujeita á revisão
e ao contraste do Congresso.-Secção 10 rJa Consto Federal. Ora
se em Estados que apenas cedem parte de sna autoridade
soberana para a formaçftO do vinculo e Governo Federal, assim.
acontece por utilidade do commercio geral, muito mais deve
ser n'este paiz ás Provincias que, sem autonomia, constituem
llnidade nacional.
Uma razão circumstancial oc~olTe juntamente, e é o
estado monetario, quasi exclusivo do papel-moeda; em tal
estado e em falta de moeda preciosa, é pela exportação que
liquidam-se .as contas ela importação estrangeira e affectando o
-191 -

imposto provincial âquella, produz repercussivamente o mesmo


effeito n'esta.
Como tem ponrlera.}o o Con8. de Estado, em geral é a
importação que regula a exportaçã') principalmente nos paizes
agrícolas e sendo o preço dos mercados da Europa o regulador
do valor permutavel dos nossos prodnctos de exportação, tudo
quanto affecta a esta reage na importação e póde prejudicar a
renda que da' mesma resulta, pelo que implicitamente teriam as
Assembléas Legislativas Provinciaes direito de regular a impor-
tação podendo prejudicar a renda d' eIla se tivessem faculdade.
de impôr sobre a exportação.-Consnlta de 13 ue Dezembro de
1853. Aviso de 7 de Agosto de 1840; 3 e 7 de Abril de 1857
sob ns. 120 e 135; 1.3 de Julho e 1° de Agosto de 1860.
N'essa mendicidade e usurpação de taxas pela desidia das
suas Assembléas- viveram as Províncias até á queda da mo-
nal'chia; não é preciso grande esforço parI\. calcula!' o prejuizo
que essas contribuições vexatorias, anachl'onicas e abusivas
causavam ao commercio nacional interno e externo, - asphy-
xiando a lavoura, o commercio e a hlGnstria do paiz, .Que
contraste com os E. U. da Amedea do Norte, nossos irmãos
em annos e. que, sós, offerecem concurrencia á Europa inteira
e com eIla .luctam victoriosos na febril actividade e liberdade
de seu commercio.
Ali comprehendeu·se bem o que convinha ao paiz. Faei- •
litar·se por todos os meios o commercio nacional; a remessa
para o estrangeiro na maior escala; procurar·se vender muito,
embora se cumprasse muito; entre nós cousa dó o que se passa.
Importamos cabos de vassouras e palitos do estrangeiro e
esmagamos ao mesmo tempo a lavoura, à industria incipiente
com os estupidos impostos de exportação inteiramente falseado-
ainda pelas leis provineiaes durante o 'antigo regimen e pares
cendo que esses abusos se vão perpetuar mesmo sob a Repu-
blica, com manifesta violação da sua Const. e leis. N' esse
ponto estivemos e ainda estamos inferiores aos E. U. da Co-
lumbia que garante a livre exportação do paiz, eomo já vimos;
a Republica Argentina do mesmo modo; os E. U. da America
llI) n. 2 da Seeção 10 da 8ua Consto já vimos que tambem
prohibem taxar-se a exportação, e n'esse sentido o Sr. Nicolãs
Antonio Calvo fornece-nos na s.ua -tradueção do «Comentario
abreviado de J. StOl'y" muitos exc mplos de decisões a respeito,
como por exemplo:
«Me. Culloch v. State of Maryland, 4 Wh, 316;
Brown v. 'l'he State of Maryland 12 Wh.
419; ,.
-192 -

Chegamos á Republica e logo o patriotico Governo Pro.


visol'io no documento solemne que foi o projecto da Consto
para o Brazil affirma a superioridade da nova organisação
marcando o anno de 18~5 para o termo final d'essas taxas
absoletas ernquanto os legisladores estadoaes despertass em do
lethargo em que viveram sepultadas as Provincias e viessem
explorar as grandes fontes productoras das contribuições, como
a pro priedade, a renda, etc., e declarou logo e ao mesmo tempo
no § 2 do art. 6 qUf era livre o commerciode coatea.qern á8
mercad'orias nacionaes, bem como ás estrangeiras que já hou·
vessem pago direitos de importação. Uns arrebatamentos de
8obm'anÜt estadoal levaram alguns representantes no seio do
Congresso COl1stituinte á pretenção exagerada e impossível
dos Estados receberem até parte dlls taxas. de importação.
Tudo queriam tirar á União e dar aos Estados que afinal
levaram a melhor na partilha das rendas. Sal Vou-se, porém e
felizmente,11O meio de tão descabidas pretenções o principio
liberal da liberdade do comme1'cio de cabotagern á8 rne1'cadol'Ías
naciona'es e ás estrangeiras que jli tenham pagO'tlireitos de
importação,- Consto alto 7 n, 2, dando,se aos Estados o direito
de tl'ilJUtar a exportação de :sua pl'opria pl'oducção. - Consto
Fed. art. 9 § la. ' -
O ilInstre RI', Cavalcante de Albuquerque no seu magni.
, fico relatorio a que já alIudimos diz a respeito: «O novo re·
gimell politico da Nação sem jamais pretender desvirtúar a
nature'7,a do imposto de exportação, cede-o aos Estados.»

Ficou, como já vimos, feita a partilha das rendas entre a


União e os Estados Braiileiros.
Não sabem os reclamantes se elles ficaram satisfeitos;
presume que desejassem mais; o certo, porém, é que a
organisação federativa, aquella em que os Estados que as
comtituem são mais largamente aquinhoados em materia de
impostos, é a nossa. Basta um simples confronto. .
Os Estados Brazileiros podem até tributar a sua exportação
(para o estrangeiro). .
Já vimos que 1la Columbia nem o governo Geral o pôde:
alli reina o grande principio da liberdade de commercio sem
entraves nem difficuldades. No Mexico o § 9° do art. 72 dá-
p'oderes ao Congresso para impedir que se estabeleçam no com·
mereio de Estado a Estado restricções onerosas; no art. 112
prohibe aos Estados impôr direitos sobre a exportação. À Ve·
-193 -

neznela no § 6- do art. 13 prohibe a taxação de mercadorias


de um Ei;lado para outro.
Nos B;stados Unidos da America do Norte o n. 5 da secção
9 pl uhibe lall~ar <.:ontribuição ou- direito soure artigos expor-
tados de algum Estado. Na Republica Argentina o n. 1 do -
art. 67 fixa.ndo o anno deH166 p'ara a terminação da cobrança
de direitos de exportação como imposto nacional, declara no
final que este imposto não podm'á 861' provinciaZ.
Por este quadl'o compatativo vemos que só os Estados
Brazileiros podem tributar a exportação (para o estrangeiro)
por forçado art. 9° § 1", sendo livre l\ cabotagem nacional por
força do art, 7° n. 2,
No inte.resse dé auxiliar edesenvQJver o seu commercio o
geniu poderoso' e inventivo do saxonio Imaginou até um sys-
tema engenhoso de animal-o, que consiste na restituição dos
direitos pagos na importação quando as mesmas mercadorias
são reexportadas.
E' o perdão ou restituição dos direitos que elles chamam
-dra1Oback.

*
**
Chegàmos agora ao. ponto p~incipal do assumpto desta.
reclamação. ,
A despeito e contra o disposto no art. 7- n. 2 da Donsti-
tnição do Estado da Bahia, de 2 de Julho de 1891, tem-se. na.
Bahia e:Itbrquido ao commercio um imposto sobre a sahida de
generos nacionaes em cabotagem.
P,lrece incrivel, mas • a triste verdade.
Póde o Estado da Bahia cobral·o? Podem os Estados,
em geral, taxar o commercio de cabotagem? 'Quem tiver co-
nhecimento da nossa Constituição, quem snbe que o pensamento
do legislador,.constituinte revelado no projecto da Constituição -
do Govel'110 Pruvisorio foi até abolir o imposto geral de expor-
tação, condemnado até pelo senso commum, não poderá vacillar
em responder pela negativa.
O legislador determinando no art. 78 n. ~ que o ColU-~
mercio de cabotagem -seria livre ás mercadorias nacionaes e_
até ás estrangeiras que já houvessem pago imposto de impor-
tação, teve om vista acabar de uma vez com o abuso das pro·
vincias que acabrunhavam o commercio nacional com os seus
impostos inconstitucionaes pela sahida dos seus portos de ge·
neros em cabotagem. .
Em compensação concedeu aos Estados a larga fonte da
exportação (para o estrangeiro) que eIllbora condemnada oft'e·
PIa. '.L. 73 . ' 13
- \94--
rece largas contribuições aos orçamentos que nelIas 'se vãlJ
fartar. E' escusado dizer que a exportação se faz em maxima
parte, quasi totalmente para o estrangeiro.
O substancioso relatorio que por vezes já se tem aqui
feito· referencia diz a respeito, tratando da cobrança do im-
posto em 'Minas -«Cobram-se logo 11 por cento de imposto,
tributando-se, tambem, o café consumido aqtti o.u netvegaáo em
cabotagem para os Estados, COUSA. -de que jamais cogitou á Con-
stituição da Republica no art. ,90 n. 1 e art. 5° da~ Disposi.
ções transitorias, quando cedeu essa renda 11.I)S Estados e não
cogitou de sua applicação ao consumo privado da Nação.
Temos aqui desvirtuado desde já o imposto de exportação,
pois tanto importa precipitar a sua cobrança sobre a totali·
dade de um producto (café de Minas) cuja grande parte é ccn-
sumida aqui no petiz ou antes não exportado para o exle.l·iol'».
Como sê vê, continúa elIe, referindo-se aos abusos das le·
gislações estadoaes-«cobram-se 08tenIJivamente o imposto geral
de sete por cento sobre o producto que é remettido para os
E~tádos da Republica, sem se indagar se é destinado ao ex·
terior, e menos ainda attender á indole e natureza do imposto
de que se trata je o que é mais,· sem a menor attenção ao 1'e·
gimen fiscal das a~fandegas, estatuido por leis expressas que
nem aproprio mi!listro da fazenda pÓde preterir, etc.»
1'ão claro é que os generos expot'lad08, enviados de um
porto para outro dó nosso paiz não devem pagar direitos que a
Consolidação dSE Leis dasAlfandegas declara no§ 13 do art.564
o seguinte: Verificado o factn da lransfel'encia, pum po'tios da
Republica, de generos já despachados com destino a l'aize.s es-
trangei1'os, tê1n di1'eiio os dono8 016 expol'tctif01'8& de tae8 generos
á restituição dos di/'BU08 pag08, ainda que já e8tivessem elles
ernbctrcado8 aO tempo de ,·.eaZi8a1'-8e a tt'al1sf81'encia. ,
l\Iais adianté diz no § 2° do art. 567: aos geIieros nacio-
naes se concederá a sahida, independente de de8pClcTw ou guia,
nos termos do art. 388 do presente regulamento.
Ü art. 388 do mesmo concede até - aos gelleros nacionaf8
navegados em cabotagem um enorme privilegio, COr.lO é o de
o serem descarregados onde convier ao commandante da em,
barcação que os transportar, independente de despacho Olt
guias : O § 2° do art. 568 diz ainda- <los despachos ou guias
de exportação por cabotagem, de genel'os nacionaes, são dispen·
sados os v-apores e mais embarcações empregadas na navegação
de cabotagem .
, Parece ao reclamante pel feitamente dispensaveis qnaes·
quer outras citaçõeA e mais argumentos para "provar que o com-
m er 0io fnt,t)r'~5~~{loa~ 8 intetri1l!l~ptfl Hvr~ qos p.re~~nqi(~Q~ 4j,
- 195 -

reitos de exportação, summamente gravosos e prejudiciaes a o


paiz e em parl,icular aos Estados. No caso de que tratamos é
publico e Dotol'ÍO que o commercio da Bahia está qnasi pai'a,·
lysado para os demais Estados, apenns fazendo-se o que é ab·
solutamente illevitavel em vista e unicamente por causa do s
absurdos, illegaes eincollstitucionaes impostas estatuidos nos
seus orçamentos, a partir do primeiro que é a lein. B de 11
de Janeiro de 1892. Na Bahia paga-se o mesmo por uma mer-
cadoria remettida para a visinha .cidade da Estancia, no Es-
tado de Sergipe, que se fosse eUa exportada para a Russla ou
China. E' o cumulo do abuso.
, Em o mez de Julho do corrente anuo a Associação Cóm-
mercial da Bahia dirigio supplicantemente ao Senado Bahiano
uma representação reclamando contra a cobrança integral do
imposto do café daqui para os Estados do Norte. Na verdade'
só um povo ordeiro e pacato como o nosso supportaria semelhante
extor~ão.
E' escusado dizer que o disposto no art. 34 n. 5 e árt: 70 ,
n, 2 da Constituição Federal está virtua.lmente revogado por
essas libe1'dades que os legisladores deste Estado se têm per-
mittido em materia de impostos de exportaç.ão, a despeito d,ls
repetidas queixas do cOlnulercio éxpOl'tatlol' e do lual estu~' das ,
classes laboriosas.
Parece que tiramos o odioso e désmoralisadol' privilegio
de leis inconstitncionaes não ·só qnaIito á ext)ortaçiio como a
importação. O chamado imposto de estatistica já cahio fulmi·
nado pela. manifestação do mais elevado orgão (Lt jtlstiça do.
paiz e quanto ao de exporlaçao e de eslatística já o ministro da.
fazenda em aviso de 23 de Outubro de 1894 dirigido ao gover-
nador deste Estado pedia providencia para fazel·o cessar.
Diz o aviso:- Ao guvernador da Bahia, pedindo provi-
dencias para que cesse; por ser 'ÍllCOIl.'ltituC'io1la.l, li cobrança do
novo impostá de 2 o lo de estatistic?-, constante das leis órç1.!-- ..
men~aria~ daquelle Estado (Bahia) relativo aos exercicios, de
1892 a 1894 sobre o valor official dos generos de prodllcção
estadoal qne fV1'em expm'lados, etc ...
Delle nos dá noticia o ill nstr e DI'. secretario do Governo',
no seu relatorio, publicado este allllo e n[w se allimanâo a im-
pugnar-lhe a procedencia e verdade da censura, apenas contesta
o ministro o poder e direito de tazel-a. E' qnasi nml1. confissão ..
O lnminosorelatorio du Sr·. Cavalcante de Albuquerque,.
manancial a. que nos temos soccol'l'ido. comQ inext.inguível e ab-
solutamente insuspeito por sél' obra lnagistral de um fnnccio··
nario publico distinctissimo, diz-llos ainda tratando do despacho
QO café oseg'llinte;-«0 café 4e Mhws, Rio ()\1 R! P~Hllo c()mo oa d~,
-196-

mais productos naturaes ou indigenas, como. se queira co.nsi-


deral-o.s, só estão &ujeitos ao imposto. de 7 [.01' cento. quando,
effectivamente despachados para os pai.es est1'angeiros, de co.n-
. formfnade co.m a legislação que estabeleceu semelhante im-
posto, etc.
Maisadiante, continúa e11e-«O despacho entende·se o. de
. 3ahiãq para f6f'a do paiz, tal qual. se observa no regimen de
todos os tempos em que tal imposto de exportação foi arrecadado
por isso que o art. 9° n. 1 da Co.nstituição e art. 5° das Dis-
posições Transitorias não. alterou a natureza de tal imposto
. de exportaç~o.. "
c No regimen desse serviço de exportação de pro.dueto.s
nacionaes, não é licito a Estado. algum tomar, qualquer alvitre
com referencia ao movimento de carga' e descarga das
embarcações de longo' curso ou de cabotagem, se não de
in~eira conformidade com os regulamentos adqaneiros e in~
strucções de 30 de Janeiro de 1892, attenta a soberania que
cumpre á União manter nos termos da legislação em vi-
gor,' etc.»
Se fôrmos aos Estados Unidos beber inspirações veremos
além do que já temos referido, que a .lição dos mestres e os
julgados do.s tribunaes são uniformes no sentido de não poderem
'os Estados tributar a exportação..
O mais illustre dos actuaes publicistas daque11e paiz, o
grande Tho.maz Co.o.ley, diz á pago 595 do. seu monumental
livro- A treatrise on the Oonstitucional Limitations :
«The States, therefote, can enforce no're-
gula.tions which make fo.reign 0.1' inter-state
co.mmerce subject to. the· payment o.f tribute to
them.» .
Mais adiante cita-no.s elle as seguintes decisões:
«A tax upo.n receipts from the transpo.r-
tatio.n o.f go.o.ds fro.m o.ne state to ano.ther by
rail is bad. Case of State Freight Taxe, 15 Wall
232. Forse v., Michigan, 121 U. S. 230.»
c:So. is o.ne upo.n the gro.ss. receipts fro.m
transpo.rtatio.n by sea between different States,
0.1' t9 and fro.m fo.reign co.untri~s. Philá. S. S.
00.. v. Pensylvania.122. U. S. 326.» '
Para co.mpletar a narração. do. abuso. que vamo.s assigna~
lando. é indispensavel declarar aqui que o. impo.sto. de expo.r
tação. cuja restituição. o.ra se reclama e se espera co.mo. um
- 197-
dever elémentar de moralidade e probidade administrativa, é
arrecadado por força o na fórma de um regulamento que SÓ dis·
põe para a exportação para paiz estrangeiro e que os exactores
do fisco estadoal eiJ-propl'io Marte ampliaram ás mercadorias
que sahem em cabotagem.
De facto o regulamento estadoal de 26 de Janeiro de 1892,
que dispõe sobre a arl'eoadação e fiscalisação das taxas de ex· '.
portaçllo diz logo no n. 1 o seguinte:-De -ora em diante a '
pessoa que pretender despachar para 8 esb'angei1'o algum ge-
nero ou mercadoria, etc. ,
Qua.l é, portanto, a lei, o regulamento em que os exactores do
fisco estado aI se firmam para exigir tão iniqua cuntribuição,
inteiramente prohibida pela Consto Federal e legislação aduà·
neira, como já vimos? Qual é? ,
Pois será possivel que os nossos legisladores não sintam
que o povo vive oppresso por esses impostos vexatorios e ille·
gaes jque não perc'~bam que sua autoridade de legisladóres
vae dia a dia se esboroando ao embate das decisões judiciaes'
contÍ'a os seus excessos j que os prejudicados já se vão habi- ,
tuando ao recurso dos tribunaes de justiça que são oreducto a
que se abrigam os contribuintes perseguidos pela voracidade
do fisco?! "
Esquecem eUes os mananc1aes em que fartam-se á larga -- '
os outros paizes sem os vexames e prejuizos dessas contribui·
ções anachronicas e absoletas e atiram-se a esse trabalho de
tosquia, de exterminio da seiva nacional, da vida eaonondca do "
paiz, apenas incipiente:
Basta lembru!-, o imposto geral sobre a pl'opriedaáe como
uma fonte de renda ,capaz de por si só fornecer uma impor-
tante somma para os nossos orçamentos. '
Nos Estados Unidos calculado esse imposto por occasião -
, da reorga)lisação politica do paiz, com a parcrmonia com que,
Hamilton o estimou, em um milhão de dollars para toàos os Es-
tarIos, rendia em 1880 mais de :100 milhões como itttest.a í),Boa1'd
of Equalization,', ,
Além desta, out~'as fontes existem como a 1'enda, o alcfJol~
a ter1'a, etc., entre nós quasi inteiramente isemptas de contri· ,
buições. Porque, pois, não mudar de rumo j tentar abdr novos, ,
horisontes em substituição á velharia, á rotina,á ruina do ~
paiz e do Estado que os nossos legisladores vão cavando com '
as suas proprias mãos?
Os reclamantes esperam que o Tribunalreconhecendoque
o oomrnercio de cabotagem é livre ás mercadm'ias nacionaes e
ás estmngeiras que já tenham pago direitos de importação nos
termos do art. 7° n. 2 da Constituição Federa.l; que nos termos
- 19t1 -

do n. 7 do § 1° do art. 125 daOonstitnição do Estado da Bahia


de 2 de Julho de 1891 não se IJodem crear fontes de renda
que contr:w€llb3.m o disposto nos arts. 7,9 e 11 da Constituição
Federal; e que o regulamento de 26 de Janeiro de 1892 ape·
nas di~põe sobre a exportaçtio para o estrangeiro, visto como
nos termos da legislaçfw aduaneira do paii a cabotagem na·
cional está isempta de qualquer contribuição e que, finalmente,
só ao Oongresso Nacional compete nos termos do al't. 34 n. 5 da
Consto Fed·eral regular o commfrcio dos Estados entre si, orde·
uará a restituição requerida do imposto cobrado ilIegal e in·
constitucionalment.e conforme o pedido de fi.
Em additamento ao que temos dito depara,s8-nos a oppor-
tunidade de tnnfscrevel' um topicó de lIm - importante art.igo
. do Jornal ero (J01)lmC1'GÍo de 21 de Julho do corrénte anno .
. E' sabido que esse orgão de publicidade é sem constestação
o mais authorii'acl0 da imprensa. brazileira.
Por elle Il6de-se bem avaliar o estado da nossa civilisação
e cultura.
Po'is bem; no numero citado e.sse grande campeão da im-
prensa commelltando uma lei pel'llambncana sobre impostos de
tonelagem de nwios, tamoem incompati\rel ·com o art. 7 li. 2
da Oonst. Fed. e manifestamente inconstitucional diz o
seguinte:
«Se o Governo Federal, se os poderes const.itucionaes que
têm por dever velat' {mIa UJlião Bl'azileira, uescurarem dessas
usurpações que pouco e pouco vfto fazendo os poderes esta-
doaes a pretexto do autonomia dos Estados, o regimen político
theoricamente aUIJptado desapparecerá. Poderemos vir fi, ter na
melhor das bypotheses em vez de Federação, uma Oonfede-
ração, que não foi o que procurou crear a Constituiçã.o de 24
de Fevereiro. . ,
«Receiamos consa peiol' ainda; o desmembramen'to de facto
. do Brazil em vinte pequenos reinos electivos, uns patriarchaes
e pacificos, outros despoticos e turbulentos, 11 que se af1aptem
todas as seitas e todas as escolas que a imaginação dos politicos
tem sllgg-erido para a delilgraça ou para a felicidade dos povos.
«Aft'rouxar os laços da União por leis de ordem ecollomica,
• polít.ica ou fisc[ll que representem soberania ou invasão da.s
attribllições deixadas ao Go"erno Feder.al, é enfraquecer a este,
é destruir íl federação.
«Não nos esqueçamos que outros Estados por pretextos
mais ou menos especiosos têm taxado a importação, e, o que
é nw.is graY8 llnra a União, têm tí1X11.do o commercío inter-
estacloitl, que S{f com o fraedonal!1ctlto do Drnzil1'6de deixar
de ser ('lJil11detal1lellle llvl(~.
- 199 -
«'l'uuo quanto póue interessar privativamente a Pe1'l1ambuco
deve ser pelos seus proprÍ'ls habitantes tratado e l:esolvido, mas
aq neIles serviços e aq ueIles negocios que affectam a solidarie-
dade dos vinte Estados e as suas relações com as potencias
estrangeiras não podem pertencer· lhe. Interessam a todos nós
tambem.
«o imposto estado aI de Pernambuco sobre os" navios estran·
geiros é inconstitucional, não póde persistir.»
Para o grande orgão, uma especie de oraculo nacional, a
questão da liberdade commercial ifiter-estadoal é condição
essencial da nossa integddade; para os lrgisladol'es da Bahia
lJarece ao contrario, que a sua interrupção ou inteira paraIy-
sação é o supremo d!'side1'atltnt a que visam.
Bahia, 10 de Novembro de 1895.~ O advog"ado, Thomaz
Guerreiro de Castro.

IlELATvRlO PERAN'fE O 'l'RlBUNAL ADMINISTRATIVO (FI,. 20 v.)


Francisco Cardo~o e Silva & C. requereram anle o 'flle-
zouro do Estado a restituição de impostos de exportação para
diversos portos do Brazil de prlldllctos nacionaes constantes
das notas de sua petição de fi. 8, ~ob fundamento de que os
impostos que pagaram são inconstitucionaes em face dos
arts. 'f n.2 e 34 n. 5 da Constituição Federal; 125, § P, n. 7
da Consto deste Estado e art. 10 desta mesma Const.na parte re- ~
lativa ás disposições provisorias, e do acto do Governado Estado
de 26 <le J alleiro de 1892 . Junto por copia a informação ministrada
pela insvectoria da alfandega com a relação das notas do:! despa-
chos, em q na se "ê q ne é de 11 :007$116 (inclusive o imposto
. de 2% de estatistica) a importaneia dos impostos pagos pelos
recorrentes, e ,Ouvido sobre a especie o DI'. procurai.or fiscal
foi indeferida á reclamação por despacho de fi. 8, do qual recor-
reram os reclamantes para este 'l'ribunal, 11t petição de 11. 7,
para onde vieram remettidos os papeis com o officio de fi. 2.
N' e~te 'l'rilJnnal foram ou vidas as partes, faIlando de fi. 13
a fi. 18 os recorrentes em sustentação da mesma recla.mação e
a 11. 19 o SI'. Dt·. Rubstituto do procm;allor geral combatendo·a.
Bahia, B de Dezembro de 1895.-Pacheco de Mello.

e DECISÃO DO TRIBUNAL ADJ\IINJSTRATIVO (FL. 21)


Vi~tos e relatados estes antos de reclamação de Francisco
Cardoso da Silva &; C., lm 'a l1a ver do" 'l'hezonro do Estado a
- !OO-
restituição do imposto de exportação de mercadorias nacionaes
despachadas para diversos portos da União constantes da relação
annexa á informação da inspectoria da alfandega deste Estado
ás fis. 9 e 10, sob fundamento de inconstitucionalidade desse
imposto em face do art. 7- n. 2 da Oonst. Federal e de outl'llS
disposições de lei: - negam provimento ao recurso interposto
da decisão da inspectoria do Thezouro, á fi. 18 para julgar,
como julgam, legalmente cobrado o referido imposto em virtude
dos §§ 7 e 11 da tabella annexa Iilob n. 1 da Oonst. lfederal
e do art. 125 § 10 ns. J. e 7 da Oonst. deste Estado e mais
disposições em vigor.
Bahia, em 'l'ribunal Administrativo, 13 de Fevereiro de
1896. - A. Ooutinho, pr esidente. - Fui presente, Victor de
Ãraujo.-Pacheco de Mello, veIJcido : votêi deferindo a recla·
mação por considerar inconstitucional o imposto de exportação
dos productos llacionaes para portos dos Estados da União,
attento o sentido universalmente adoptado da palavra expor·
tàçao por exprimir a remessa de genel'os para fóra do paiz, o
dis(lOsitivo do art. 7 n. 2 da Oonst. FederaI- proclamalldo a
liberdade do commercio inter-estadoaI respeitado, como Stl vê,
pelo art. 125 § 10 n. 7 da Const. deste Estado, e o aeto do
Governo Estadoal de 26 de Janeiro de 1892 l'figulando a arre-
cadação e fiscalisação das taxas de eXl,ortação de mel'cadorills
tão sómente para o estrangeiro, de accordo com a consolidação
das leis das alfandegas e mesas -de rendas de 1895, de que é
"rclproducção a de 1894.-Braulio.-Oerne. .

. RELATORIO (FL. 25 v.)

A' resolução de fi. 21 que negou provimento ao recursO,


pelos fundamentos constantes da mesma, oppozeram os recor·
rentes os embargos de fi. 24 reportando-se á mesma mate ria
(le sua primitiva reclamação, os quaes depois de impugmdos
foram sent.enciados, ut fls. 24 e 25.
Bahia, 26 de Março de 1896.-Pacheco de Mello.

2a DECISÃO (lI'L. 25 v.)

Vililtos e relatados estes autos de embargosoppostos â,


resolução de fi. ~1 por Francisco Oardoso e Silva & C. contra
a Fazenda Estadoal, despresam os ditos embargos constantes
-201-
de fi. 24 por sua materia 'já discutida e regei ta da ; pagas as
custas pelos embargantes. .
. Bahia, em TribuIlal Administratifo, 26 de Màrço de 1896.
-A. Coutinho, presiuente. -'- Fui presente, Victor de Araujo.
-Braulio.~ Pacheco de Mello, vencido.-Americo Barretto.

RELATORIO PERANTE o TRIBUNAL DE CONFLICTOS (FL. 30)


Recurso interposto por Francisco Cardoso e Silva & C. da
decisão do 'l'ribunal Administrativo que consta de fi. 24, e que
despl't'zon os eBlbiugns OppfJstos á decisão do mesmo Tribunal,
quP. C()ll~ta de fi. 21. Recorreram para o Tribunal de Conflictos
firlllà<1o~ no § 2- letra b do art. 60 da lei de 15 de Jülho
de 18!-12.
Ott'erecf nl10 como parte in tegran te a suas razões de
recUlSO, as j~ expendidas perante o rl'ribunal Adlúillistl'ativo
e qne COllst".nt de pags. 13 a 18, pedem que este Tribunal de
Conflictos lhes Ilulnde rel-it,itllir aquantía de 11:007$U6, que
pag'àl'am ao Thezouro do Estado a titulo de impostos de expor-
tação e estatistica de generos nacionaes exportados para outros'
Estados da Republica.
As razões do recurso acham·se á pago 28, impugnadas em
seguida peito DI'.· suhstituto do procurador geral.
Nellltulll argullIellto avresentamalém dos já sufficiellte-
mente conheciltos e discuticlos n' este 'l'ribullal, pelo que nada
mais tenho it accerescentar n' e:;te rapido relatorio.
Bahia, 20 de Junho de 1896.-B,·mtlio Xavier da Silva
Pereira.

DECISÃO DO TRIBUNAL DE CONFLICTOS (FL. 30 v.)

Vistos e relatados em sessão do Tribunal de Confiictos,


o presente recurso interposto por Francisco Cardoso e Silva
& C. di!. decisão do Tribunal Administrativo, constante de fi. 24 -
a 25 em que não foram recebidos os embargos que oppuzeram
~resolução do mesmo 'rribunal, qUe negoU provimento ao recurso
l~t~rposto da d~cisão do inspector do Thesouro do Estado inde-
ferIndo a seu pedido de restituição da quantia de 11:007$116, .
que pagaram nos annos de 1892 a 18!H, a titulo de imo
p~sto de exportação de mercadorias .deste Estado para outros
da Repnblica.
Fnnda-se a reclamação e o presente recurso nas disposi·
- 202-

ções contidas no art. 7° 118. 2 e 34 n. 5 da <'onst.i tuição Fe-


deral e nas do art. 125 § la n. 7 e art. 10 das disposições
transitorias da Constituição deste Estado, assim como no acto
do Poder Executivo de 26 de Janell'o de 1892 em que foram
dadas as instrucções para cobrança de impostos de exportação.
Questão já conhecida, discutid:l. e varias vezes julgada
por este Tribunal, o presente feito nada traz de novo, encerra
em si o pedido de restituição deste imposto, que suppõem os
recorrentes ser producto de uma. disposição inconstitucional e
que portanto deve desapparecel' das leis ol'çamentarias do
Estado. --
Bem examinadas e ponderadas todas as peças do pro-
cesso, conforme o relato rio ,-elro e :
Considerando que inconstitucional só póde ser a lei cuja
disposição estiver em formal contradicção com o preceito con-
stitucional, quando clara e evid~ntemente violal·o, de modo a
não poder ser applicada sem completo desrespeito á lei fun-
dameJltal; circumstancias em que não se acham as disposições
da lei estado ai em virtude das quaes se cobrou o imposto, em
relação aos artigos da Constituição em que se firmam os recor-
rentes, ou mesmo a quaesquer outros. O art. 7· n. 2 da Con-
stituição Federl\l refere se ao poder de tributar da União e
restringe esta faculdade quando em sua parte final declara
livre ú commercio de cabotagem ás mercadorias naciollaes e
ás estrungeiras que já tenham pago o imposto de importaçfw.
Certamente nada tem que ver com esta restricção imposta á
União, cada um dos Estados, a cuja economia fiscal absolu-
tamente não se refere o texto cita do.
São differentes e discriminarlos, giram em espheras di·
versas, os poderes tributarios da União e dos Estados; por
não poder a primeira impor o pagamento de certos direitos,
não se segue por isso que os Estados tambem soifI'am esta
restricção. Seria injusto em relação á sua vida economica e in·
compativel com a sua autonomia.
~A..lém disso a mesma Constituição Federal dá exclusiva·
mente aos Estados o poder de tributar sabre a exportação de
mercadorias de sua propl'Ía producçilO, como clara e expressa-
mente dispõe o n. 1 do art 9~.
Este imposto que é pois excluido da União pelo Ul't. 7
n. 2 é expressamente cOllferido aos Estados pelo n. 1 do
art. 99. Por consequencia debaixo deste ponto ele vista é intei-
ramente constitucional a tl'iuutação questionada.
Esta convicção ainda mais se firma e robustece dean te da
disposição de- n. 1 do art. 11, quando o legislador constituinte
prohibe aos Estados como [l União-crear impostos de transito
- 2U3 ---

pelo territorio <le um Estado, ou na passagem de um para outro,


sobre prodllctos de outros Estados da Repllblica ou estrangeiros,
e bem assim sobre os velliculos de terra e agua que os trans-
portarem.
Está bem claro que esta restricção impost.a á capacidade
tributaria dos Estados, referindo-se somente ao imposto de
transito pelo seu territorio, que ficou prollibido, tornou mais
uma vez patente o seu poder de tributar o proprio pi'oducto
quando -exportado.
Da combinação, portanto, destes preceitos da lei funda-
mental resulta: 1°, que á União.é vedado qualquer imposição
so bre a cabotngem i ~o, qne aos Estados compete exclusiva-
mente tributar a exportação de mercadorias de sua propria
produeção, e 3.° que não pode crear impostos de transito ou de
passagem pelo seu territol'io sobre productos de outros Estados
ou do estrangeiro. Para elucidar melhor esta questão é preciso
que fique patente qual a significação que juridicamente póde
exprimÍl' a palavra -cabotagem. Do inglez-Coasting -com-
mereio de cabo a cabo, que se faz ao longo das costas de um
tenitorio. A cabotagem póde ser extensa em relação ás costas
da Republica, desde que llão ultrapasse Sell:i limites ou pelo
menos certos grãos de lattitude e lIe longitude. Entretanto
em relação a qnalqneI' um dos gstados J parte restricta e limi-
tada dentro da União, não se póde com o l:lesmo fundamento
chamar commel'cio de cabotagem o que ultrapassa Iargametite
os seus limites e leva para fóra do Estado a mel'cadol'ia de sua
propria producção. ExportaI', do latim --6.I'}Jortare-levar para
fora, tirar, transportar, é, sem duvida, P.. ll!l.lavra que exprime
em relação ao Estado o acto de commerdo sobre o qual impoz
a lei do seu orçamento o tributo impugnado. Ninguem dirá que
a União, isto é, o Bmzil exporte a mercaúllria que 'da Bahia
seja l'emettida para o Pará, pois que nfto'l. levou para fÓl'R,
não a tirou ou transportou de si i entretanto em relação ao
gstado, não se póde dizer o mesmo-a mercadoria foi condu-
zida para fórR, sallÍo do seu territorio, de sna zona fiscal- foi
exportada.
EntrtJ nós não lia lei qu~ disting'a a cabotagem propria-
mente dita da exportação, que dê os traços caraeteristicos de
cada um destes meios de commercio, e por isso tomos forçados
a procurar o verdadeiro sentido destas paLtrras em sua ety-
mologia, poderoso auxiliar da historia, por ilua vez perenne
manancial consultivo do direito.
Sendo exportado do Estado aquillo que V86 para fóra do
\ seu territorio, embor~\ não ultrapasse os limit-Bs da União, vem
- a lei orçamelltaria, cuja validade se pretende. I' IJhtestal', ell.
")::
0

- 204 -

COntl'Hr C.j){)ju na ('l~H"', c()ncí~:1. e tE'rminill1tR r1i>1pO"


fran:;o
f-H,:;\U ,1" i,:;. ~.Q ~
la (1a ConS;ilIl 1(;:íll Ij'd~~;-ill. I;,W riA "", E.~·
ta,t,,~ ,:',I'I:letf~ill';\ t'xelll:<i V . lie ;)r·;\.".l','i.itl' iidllO ..;t,!:-: ~:lll; 'o' :l f,X·
r0j'! ,v;éÍ.o ri:, ij!er'.~;Hi:Jrias \lp::I;~ pr.lpl'ia JUiJlta,'r::-t'j, DtI,lld e
do,".ii\e preePito fUllilanlPut.al e Filtend itla~ eOI!lO :lev~m ser as
ll;,lHí'nn-C![úoíi111<'Hlt e expl)l'taçüo--, lllo de fl'rçvsamente ::lllc,-
elllllbir '!odos 0S íli gumentos que procurem attacal' ao validade
da lei estatloal, nu ponto q\>'StiCllll.do.
Acceref<ce a todas estas \"):I;,.íderli(~ÜeS que Ple:-:il10 no tt>.lll!'J
do Império, no dominío dn. célltTHlis,IÇflO; as PrOyilli;;a" t.nbu-
tavam o CI)~11mel'cin entre "i /~ esí.es imposto:'l llii.o 1',)Ueas Yl";2t:'S
estendiam,se até ás merc;,:luria:'l el11 trall~ito (le nll'1Il para 011-
tl'a, e já cilamiivalll~ ~ell'lo ~imple:o; Prorin,'ias rio lmpt'.riiJ:
exporthçüo tudo IlUa1ít() ~aiJjs:-:e !le sen~ P0i'tos, r(l~::;l; on náo
para o estrangeiro,
Fl'eqHt'n[emellt.~ V('UHIR ellll1l)~S/iS leis nSCitc:s (lar·sl:' ao y,)(";t-
lnllo ~t:'xpGl'tnf;;U;--il il""SlIi? :si~Jti!iUl1JW btymologicil, e assim
é muito CÚlllnlUlll di;r,i~r·:-;:J -eXl'\ll't'l(;:"i.,) pa,';{ () ,.. ,;tt'itu<.!eit'OJ to,
exportação para OllU'fi:; ploviildil.:', ÍlI.je .b.'-I.;tdl}.~ ilo nr;li;il.
Portanto, ;, inrl:l q naado pltlece$:;t\ ~iH enn 1rap"'lt;:i.1l I)
preceito llo n. 1 dI) art, 90 di! CotlRtituiçãn B't~,.lel'al COlll o ,lo
n, 2 (tu art, 7° ;la mf';.;ma lei. ell">4 se combinam e e'"tdu per-
feitam(~l1t.e h<tn11flllisarlo:,; ~I)j) o plil.T;o finauí:eit'f;' (lllr dbVf: m/,·
. delfil' ,)8 Ol'çai,\entos g'!l'<,es ii LI;;th pm tlm;\. t't'l'lilJli':il ft~(lIJn­
Ulth'ff., Um llá ao E;;ta'lo o 'lirei!o d(~ t.ri!Hi ;~r it lllPI"';vlul'ia
r:p ;·;ua l;rnl',i,t pl'od ' {(>r;;3.o, ':i::1I111n !<Jr exptlitalb: eX:ldalll'c:\!lln
por este motivo e para. í,Sti' i.llt'dLI) li outro o {.ira á Uniã(J ()
mesmod ireito qnanro no (:IJlQJH8I'eío inb'lr·e~taJoai.
Considerando quanto i'!O ~;eg'lUllia fundamento ilo l'ecnl'SO-
o art. 34· n. 5 dtl mesma CO:l"t,itlliçil(; federal (111e dGch"l'a da
c.ompetencia privati',;a do COlJgres!'!1) NitCÍoJJa!, regular o com-
merdo intr::rnaci(illP.l, o d:)f; Estado8 ent.re ~j e (~om () Oi:;tri:·in
B\cder:d, alflllldl'gar pOl'to~j, Cl'flat' e ~1llJlpril1lil' f'nt.n'p"~;w~.
!~c:t;;. dispO;iir,;;:i,1) Hlfmtica á (Lt COllstitllil;.:lo N(ldH' AiTl;c.ri(::lila~
1:r::'te l'artícnl:-l.l', de olllle tirií. sua (;rig-em, Ili'itl P/}tie ir :tlélll
da juterprc~,açã,) que lhe têm dado o lJl)der jndir,iario e varios
escript.oreH jurisclimmltos dRqut:ll fl gl'RlIJ.e nação. Nào se I'efero 9
exportaçfto eff'3~t:Jada dê um Estariu p'l.ra outro~ mas apenas vem
impedir os impo::tos rl.e tmnsit,o ou de passagem de mercado-
da,s entre os Estados, reglllal' este cornrnercio, cuja attri·
JJuição nãr, podia ser conferida ao poder legislativo (Ie um,
qn.ndo vae aff<~et!l,r intei8sses écollOmiens e thICaes de nuds de
lui1 ou (le muitos JB::;t.ftdOf,lo NeRtas con1liçõf)f.) só ao (1011gresso
Nacional, i'ppre:.ientante tlirecto da cOlled.ividade dOíl l!lstados,
é dado legisl:tr· sobre o seu commercio commum, reg'ular suas
~ 205-
reciprocas relações commercif\.as, plivando ao poder legislativo
de um Estado de intervir na eeono,'nia e renda fiscal do outro.
Concluir· se d'ahi ';.:lC nãr; pGJe o Estado tributar o gener O
de sua propria producç~o que vae export.adú do seu territorio,
é alénl de dar ao preceito constitucional lattitude que elle não
tem, attental' franca e inconteFta velrnente contra a soberania
(lo me:;mo Estado, da qual é um elemento essencial o exercicio
defte rlireito. 1.\ imposi.0 ~reado pela As~embléa Legislati;ra de
um Estano sobre a mercadorill em seu territorio e que vae
sahir, não affecta cel't?Inp.ute o commercio de qualquer outro
Estado, lIem Sf''':: "el ',\'Flil .f.,~~!\es. Por esta fórma vê·se que
',bedece ao mesmo plall" :k~ artigo!! citados, o § 5° do art. 34,
1']fIS porfeitamente corr1\;I''>.flos j nem é possivel aamittir-se
:e cxi:>ta entre elles contnulicção e isto pelas regras mais
'.]ltlci(las e communs de hel'r!tueutica jurídica.
Con,:ideran(lo (P':v'.,\ ftO tf'r,',piI'O fundamento do recurso-
,; hl't, 12ij § 1(\ 11. 7 d,l t :onstir.niIJtú do Estado -que declara
fontes ~le sua', .,~it.~, q uaeSq net' Ilue forem crea.das sem con-
traven~ão do dispo"to no art. 7 I., 2 e art. 11 da COllstituição
Federal.
P ... Il\s considei'!l(;Õe!ol até ll.<l'li éxpeurlidas, está bem clar,\
<lllf; () '1'riLunal níio considpra ,) impol'to em questão em con·
traVPllPAn de text\Jftlg-ulII eOI1:'iltnciunAI e ao contrario de ac-
crll'{l(, com os IIH'8111O:';, i,plo qne deixa de entrar em larga
:q,recta~flO pal't.i(·.I!::tI' ~t t.,~t.e tlispositivo legal, por lue ter per-
i'eita al'pli~ll.~:i.n tl1l1o quanto fica (lito. O imposto não foi creado
em contravencüo da lei hasi~a da União e portanto é inteira-
mente viavel em faee da mesmo lei do Estado.
Consirlel'l1.ndo qnanto ao quarto fnndamento do recurso 1
isto é, o Rcto do Poder Exeenti '10 do b:stado, (le 26 de Janeiro de
1892, que deu o I'l'gnlamento para a cobrança do imposto de
exportação para () estrangeiro e não se refere á exportaçãO
para uutros Estados, como se vê de sua primeira dispo~ição. Pre··
1.el\(!elll os recorrelltes que este facto venha em apoio a suaS
allegações, porquanto não se trat.a ahi do imposto sobre expor"
taçfw d' este para outro Estadu, mas exclusivamente para o estran·
geil'o. A razão d'esta omissão é simples e obvia, nem mesmo se
trata de mllli. lacuna 011 falta: o acto deu regulamento a n
serviço que d'elle precisava, dispoz sobre o qlle necessitava de
ser regulamf'ntado e pOI' isso nada tinha que vêr com a- expor'
t.açii.o para outros portos da Republica, porquanto sobre este
stJl'viço nenhuma duvida havia surgido até ent.ão; era regular-
mente feito.
A raz:ü'o, l)ois, di' reç:nl<J,nwllt,o nada dizer sobre l)
- 206 -

assumpto em questão, não vem ainda influir para que se possa


increpal-o de inconstitucional.
Considerando, finalmente, que este Tribunal nada tem que
vêr além da questão de ser ou não constitucional a cobrança
do imposto, cllja restituiçãü pretendem os recotrentes, deixam
por isso de entrar em outra ;0rdem de considerações, aliás já
e:q>endidas em outros feitos lden ticos submettidos, como éstt>, •
á sua decisão jurisdiccional, e onde varias consideraçõeslegi.
timam a existencia da lei orçamentaria· impugnada j mas náo:.~
o f1zem porque escapam ellas á esphera limitada. de su~
àttribuições, 110S termos das leis de 15 de Julho de 18926'.'
de 5 de Agosto de 1895.- Resolvem negar,como negam, pro-o
vimento ao recurso interposto da resolução do T!'~bual Aqmi,
nistrativo, que consta de fI. 24 e condemnam os recorrentE
nas cu!tas d05 autos. Bahia, em sessão do Tribunal de CL
flictos, 9 de Julho de 1896. - Á. Coutinho, presidente.-
Braulio Xavim', relator.-Pacheco de Jllello, vencido.- Om·nc.
-Fui presente, V. ele Á,·aujo.

PETIÇÃO DE RECURSO (F! .. 40)


. Exms. Srs. Ministros do Supramo l'!'ilmual J!'edel'al:
"Para esse egregio Tribunal interpuzeram Fl'ancisco Cal'·
doso e Silva & C. o recurso extl'aordinario de!l. 38 do al'estó
do Tribunal de Conflictos d' este Estado de fl. 31 que negou
aos recorrentes restitl1içãoda quantia de 11:007$116 que 03
mesmos pagaram á Alfandega para a 1!'azenda d' este Estado a
titulo de direitos de estatística e expoltação por generos
nacionaes remettidos por cabotagem para outros portos da
Republica, impostos estes creados e arrecadas com flagrante
violação dos arts. 7 n. 2, 9, 11 e 34 u. 5 (la Consto TI'etleral,
tendo, infelizmente, os rrribunaes Jijstadoaes sU:-1tentado a
constitucionalidade d' eUes. As leis d'e~te Estado que estatuem
semelhantes impostos sflo as fleguintes: lei !1. 11 de 8 - de
Janeiro de 1892 (para o exercicio de ] 89~) ; lei n. 28 de 25
de Agosto de 1892 (para o exercicio de 1893) ; lei n. 51 de
31 de Agosto de 1893 (para o de 1894); lei n. 73 de 28 de
Agosto de 1894 (para o de 1895); lei n, 111 de 13 de Agosto
de 1895 (para o de 1896).
Apezal' d' esse egregío Tribunal já ter em sessão de 23 do
corrente anno, julgado o recul'so extraordinado d'este Es·
tado n.82 proclamando a inconstitucionalidade dfl taes impostos,
aqui n'este infeliz Estado não só nil.o Si cumpriu a sentença,
','

- 207-

\0 continúa o Governo a arrecadar taes impostos e os Tri-


'ounaes Estadoaes por sua vez continuam a sustentar-lhes a
~,onstitucionalída<le cobrindo·se os nomes dos honrados juizes
üesse 'l'ribunal dos mllis cl'ueís apodos e allusÕBs ferinas- á
".sua honra e 8aber d'elles. Cousas da épocha.
( Os recorrentes offerecem COIr) partes integrantos d' este
'~reeurso as razões impressas de fi. 13 a fi. 18 e o merecimento
'~';dos autos, esperando que esse egregio Tribunal reconhecendo
"novamente a inconstitudollalida(le de taes impostos ordene a
. •tituição da quantia de 11:007$116 aos mesmos- pelalfa-
~,.f;a 11' este ~~stado e mais os j llros da móra e custas.
, ',i Bahia, 22 de Julho de 1896-Thomaz Guen'eil'o áe Castro,
auvogado .

.)FFICIO DO SR. MINISTRO PROCURADOR GERAL DA REPUBLICA


(FL. 46)

Ao inspector do Thezouro do Estado do Bahia dirigiram


Fr'ancisco Cardoso e Silva & C. a petição de fl. 8, datada de
27 de Agosto de 1895, requerendo restituição do que pagaram
na Alfandega do Estado nos annOi:l de 1892 á 1894, na im-
portancia total de 11:007$1l6-fl. 9.
Indeferida a petição, e negado provimento aos recursos
ptllo ']'ribllnal Administrativo ti fi. 21 e pelo Tribunal de Con-
flictos á fi. 30, intel'pozel'am os peticionarios á, fi. 38 v.
recurso Extraordinario para o Supremo Tribunal Federal.
Como é concedido este recurso das sentenças das justiças
do:; E:3tados em ultima instancia, Constit.uição Federal art. 59,
III, § 1°, sou de parerer que se não tome coilhecimentod'elle,
lJol'quant.o nfw foi proposta. acção perante o tribunal de 1" ,ins-
t.allcia da capit.al da Bahia, de cuja decisão caberia conhecer
em segunda e ultima instancia o Tribunal de Appellação,
segnndo a. lei judicial'ia d'aqnelle Estado, n. 15 de 15 de Julho
de 1892, arts. 20 e 24.
Rio de Janeiro, 14 de Agsoto de 1896. - Souza Martins •

..
~-j fI (\ ACCORDAM (FL. 47)
*t'l,J,
,,' /)35 Vistos, expostos e discn tidos estes autos de recurso extraor·
dinario, em que são recorrentes.lfrancisco Cal'rloso e Silva & C.
e recorrida a Fazenda Publica do Estado da Bahia, verifica·se
- i08-

que, tenrlo os recorrentes pago á recorrida durante o anuo' u ...


1892, 1893 e 1894, de accol'do com as respectivas leis de orça-
mento, a quantia de 11:007$116, de direitos corresponde~1tes &.
varios despachos de mercadorias de prouucção do dito Estado,
exportados pata outros da União, reclamaram em 1895 ao in·
spector do Thesouro a restituição da dita quantia, allegando
serem nulla3, por contrarias á Constit.uição Federal e á do Es·
tado, as referidas leis, na parte relativa a taes direitos. Inde-
ferida a reclamação pelo inspectol' do Thesouro, recorreram
para o Tribunal Administrativo e deste para o Tribulla~ de
Conflictos, de cuja final decisão, por lhes ser tambem contr~,.iI1.,
interpuzeram o presente recurso para o Supremo Tribunal Fe-
deral.
Não obstante a preliminar, suscitada no officio de fi. 46 do
procurador geral da Repnblica, de não se tornar conhecimento do
recurso, lJor não ter sido interposto de uma sentença da jus-
tiça loca I, conhecem do (lito recurso, porquanto, seg undo 11.
Consi ituil;iio da Bahia, o Tribunal Administrativo e o de Con-
flietos SilO verdadeiros tl'ibunaes judiciarios e como taes con-
sider,ldos entre os orgãos da administração da justiça (arts. 63
e 65 pl', e n8. fi e 7), embora com jUl'isdicção especial e res-
tricta ás Ulllterhs declarada.s nos arts. 72 e 73; a, p()r outro lado,
a sentenGa :'eL:orrida julgou em ultima. installcia validas as
diliposições legislati vas loeaes imptlgllaila~ pelos recorrentés
como infringentes da Constitnição Federal, realiz:-l.Il(lo-se, por-
tanto, o Cita0 por esta previsto no art. 59 § lI? lettl'a c.
. Não procede, porém, a arguida incl>llstitucionaHdade das
leis impugnadas.
O arr.. 9" n. 1 da Constituição, estatuindo a competellcia
doa Estad·ts para dflcretar impostos de expoltação sobrA !tS
merCfl,(lorÍrls de sua pl'opria pt'oducção, não exceptnou dessa
conipet.enda, nem explicitamente, nem como ilustentam os re-
correntes, pela força impiídta do termo, a exportllção de um
para ontro Est"do da Repllblica,
A it1éa iultel.'ente á palaVl'a -exportação-, tomada em
abstracto, é, na linguagem currente e consoantemente com o seu
valor ety:nologico, a de remessa (le mercadorias para fóra de
certa área, cllja comprehemlão territorial e cathegol'Ía politica
só ei!l cada caso concreto se determinam, pelo que, como bem
pondera )lO se;1 parecer de 4 (le Setembro rIe 1896 a com missão
do Senad., e (la Camara dos Deputados, tão verdadeiro é di-
zer-se -exportaçãu rla Europa, como a da nação A, a do Es,
tado B Oll a do mllllicipilJ C.
Trlitando·s{~ no cita(l!) art. 9° n. 1 particularmente.dos
Estados e sendo, pOl'tanto, com referencia a estes, que se 4a
, "

'cle entender o que seja exportação, torna-se obvio que esta, Ae


ve.riliea para o Estado 'Itrodl1ctor, dbsde que os productos trans-
ui:161lJ,:Ra raias do respectivo territorio, quer sigam para o ei-
t~ aI. ~dro, quer para algum outro Estado da União.
Tal já era aliás a lei no passado regimell monarchico, du-
rant.e o qual, embora pelo governo central fosse muitas vezes-
)mr,bgnado . o direito pleno, que reivindicavam as -provincias,
.iil:: ~xar a' exportação'dos seus proprios productos, jamais se
)r"l:i:~m duvida, quanto ás taxas reconhecidas legitimai, que
iilFjltm'essem o trafico interprovincial, como succedia c(lm a.
(li, rtf"ql1e lhes foLdeixada, dos dizimos cobrados na. exportação

(ie; u. 99 de 3i de Outubro de 1835, art. 9- § 6-, eómbinado


eOl(\ 08 arts. ~. e 3Q do Decr. de 16 de Abril de 1821; con •
•!ilHa da secção de fazenda do Conselho de Esf:ado de 14 de
Dezembro de 1850; aviso n. 247 de 19 do dito mez e
anuo).' ,
Nada suffraga a arbitraria supposição de ter querido o
!2gislador eonstt)uintl:l altera.r a significação usual das palavra<:!,
l,ara.8 ch~gar, por esse pI'oeflSSO anomalo, á alteração do dií'eito,
r8(IIlHlndo aos ~stados dà nova federação aquillo de que go-
sa vam as provincias doimperio e estabelecendo um regimen
inconveniente e de injust~, desigualdade para aquelles, dos
'llW8S uns, por não terem o que exportar para'os paizes es-
trangeiros, ficariam privadoi de toda a renda de exportação,
e (,s mais felizes, expostos á defraudação desta fonte de re·"
ceita, pelo artificio do despacho para outros Estados de mer·'
cadorias destinadas a serem depoii exportada.s para fÓÍ'a do'
territorio' nacional. .
Nem pl'Bsta argumento 'elll contrario o § 2° do art. 9". '
isentando de jmpostos, no EstaJo por onde se exportar, a pro-. '
dneção dos outros Estados. A hypothese prevista é a de mel'- '
cadorias que, primitivamente exportadas tio Estado productor,
venham ainda a ser objecto de exportação .no Estado que as c
importou do primeiro. Ora, esta segunda exp.rtação, tanto S6'
pôde dar para fórada Republica, como, para algum outro Es-
tado deUa, nada autorisando no texto a conclusão de quesõ
chama ahi-exportação"":"a que se faz no primeiro caso.
A plenitude dacompetencia dos Estados D,8. decr~tação
dos impostos de exportação sobre os seus proprios productoe,,'
cO)lfirmaoije ainda com o disposto no art. 11. n. lo Não soffre
dnvida, com effeito, que a prohibição aos Estad<i8 de crearem
iüipostOS liO transito ou passagem sobre prodl1eto~. de outros
i .·taclos import.a o reconhecimento em cadlt "!In relies da fa-
tdidad6 de I dbutal' na sahida para fúra do reS!I',;(' :.ivo territorio,
as suas pl'opl'ialcl merca.dorias, as quaes nada oh~ta, aliás, sejam
DXR. VOL. 7~ 14.
- ~lO-

tandas pelo Estado no momento da producção, Oll qúalldo en. '


tregues ao conflumo loca). 6 '.

O art. 7- não cogita sinão de poderes da União; e, pois,


a clausula incidente do § 2°, relativa á liberdade de commercio
de cabotagem para as mercadorias lladollaes ou para as estran·
geiras, já quites do jmposto de importação, apenas ençerra uma
isenção de impostos federaes, conforme está hojé de<llarado pela
lei u. 410 de 12 de Novembro de 1896, e não, como'sustentam
os recorrentes, uma limitação ao direito, irrestricta.mente con·
ferido a c1\da um dos Estados por outro artigo constitucional, de
tributar a exportação das mercadorias de sua producção. .
Tambem não se pôde enxergar tal limitação no art. 34:
§ 5- da Constituição. O poder, ahi attribuido privativamentE'
ao Oongresso Nacional, de regular o commercio internacional,
. bem como o dos Estados entre si e com o Districto Federal,
não envolve o de regular a tributação das mercadorias ou do~
mercadores. '
Este ultimo poder fÓlma objecto de outras disposições cano
. s.titucionaes, as dos' arts. 7°, 9°, 10, 11 i 12, que' o distri,
buem entre a União e os Estados e que, na parte relativa ft,
estes, poderiam, em tudo quanto interessasse ao commercio
entre ~les e com as nações estrangeiras, ser virtualmente ano
nulladas pelo Congresso Nacional, si lhe coubesse exercer a
suprema tutella que se quer inferir do citado art. 34 § 59 ,
. Por estes fundamentos, e deix:ando de apreciar a, questão
sob o ponto de vista, que não compete a este Tribunal, dn
conformidade das leii impugnadas com a Constituição do
Estado: '
Accordam negar provim~nto ao recurso e condemnar os
, recorrentes nas custas.
Supremo Tribunal Federal, 13 de Fevereir'o de 1897.-
Aquino e Oastro, presidente.-Figui!!i1'edo Junior.-H. do Es·
pirito Santo.'-Americo Lobo. Estando de pleno accordo com ,1,
sentença, devo r.om tudo reproctuzir o que disse na discussão
em referencia: ao art. ,7" n. 2: em meu conceito, elle obriga
tanto a União como os Estados.- ManoeZ :Af1.wt'Ínho.-João
c Ba1'balho, vencido.-Ribeiro de Almeidà.-JoãoPedro.-Pin·
hiba de Matto8.- Pereira Franco. 'l'ornd éonhecimento dú
1;" 'mie recurso, peJos motivos expressos no accordam, do qual,
poré;,;, dj~'irjo quanto á segunda parte, em que fui vencido, POiH
'votei daudo provimento ao mesmo recurso, em razão da incon-
atitucionalidade dali! disposições das leis do ol'~amento da Balrlti~~
que istaUí:: ~',:::;;,n'l impo;-Jtos Je exportação de um E!IItado pal.'1
. outro da Rei,;;',j;ea, que 08 reCOl'l'en(:(~s pagaram, ",em a iSS8 se-
rem obrigados; ,pelo que afil re~r>ectivas importancias deVeriam
f'er-lhp,s 1'e<:\ uÍt'x:, n'd~~r Hln(lo 1l1P.llt:~.'f ü voto, que dei em
q lledão Ru :'~'i" :lmf>,i1 t ;111",'; i.ca, re<:.ol\'i 't>l por e~.t,::! Supremo
I>

Triutlnal 1"'1' :)I~I'(:rrb,m f!,~ 23 de ~,íajo ,.te 1396, proferUo no


, recurso t'nlao·.'\l111ado n. 82 i Í1:ftóq'O!ito por Domingos :H' . .Mil-
~', reHo, pel r\ (lU,: 1 ,;ukando-.'j~\ () ret:' "1',311te desobrigado <lo im-
,',> po~t.o que lhtl fei cobrado, iWlni()tH1H que lhe fo~:se restituid3. a
:: ylÜilltia ii!d,:,vidtmel1~e pagil., ri') A di~pogiç~co, que servio às base
I'l, eis:!. dtcú,:iio, lIH ql1d ap!'Il8S l~ouvt' um voto vellcido é a do
;'t.7 !l, 2 na C:v;;"tiwi<;i\o }'eoe;'.u, qUê df-!clara Hn's o com-
mercÍu de ~al.liltRgel1l {ti~ roÇ'l cadoriafj ne.cionaes, bem como sá
estl'll11gejru. 'lilb .ia tenhv.m 1;:'1;0 1i'~I'OSto ue impoi.,tllção, E:ita
diílPOsiçii,Q é til{) i~lal'a \l )t'filliu:1l'te, ql!6 pc'!' si só, a meu 'ver,
e LambeU! (10 SUrl'l)il\n TriJ,unl'J. no accl)l'(h1.HI (',itado, rosolve :a,
qnestrw, i~e n C0:1~,~ituir'ilo i),\"~c!"~ve, que seji', iíV:'f fi commercio
de cabot8.~~·(~rn, Il~O "e (~f)l!Il'r€llellde !'.Ow.o M ~eís oi'çamentnrill,g
dos El'>t8.dl);) !1lll\'sam taxEr Hi-! mer"hi,TIK" l{iH' por c"botageln
vão de lirrl !lorto da Ur,ião ;'iHil, C\1t·,,:,:, i'p,m que (le~~e modo
trnnsgri(1l\UJ fi)l'm:ilnIent~ o ~'l'e..;it() -:O):3tj:,uc;ollal allnuidiJ. Os
I'ecorrt'lut..;\;) ~,imbein ~t3 tlnn'iU1 ljl) 'iiHl (:~;r.atu6mJ alem de ou-
t.ros, O~; ;·.rti!, ! 1 11. 1 e iH 11, 5 <IR meiHi11l ~:'lmstit.niçiLO, O pri-
meiro elos f!ílae;, vedd !l,1);j B:"i.l1l1íd arar ÍliJpost,OB de transito
peio ten'j lurj,) de ,[Dl I\!:l\l:l, OI. l!!i 1,a~::;""eHl drJ Ul'J:l paraolltro,
e o i~(: t~llH(11~' (L:~',lttra ('.ur~~ l"\~U~' :;lÍ v ;.~ ~·i \Y)~IHeu~e 8.0 UOll~~T~~SS'')
Naei(!lIal l':{.;'uLi' l' CUf:1\nt1rl:'; doti F8.:i,t;;i\ eutre;;i t) COr:i ,~
Di::;trÍLr.o Felleral; Jispf.lsi\oes Pst~Hi fi Ih' ti(~ari&m sophismadas
desde que (J'; E~,tllclo~ pudHlsem impô\' sutr~ mereadr,!ias que
passassem Je lilll Estalh para. c,utro, intluiuLlo assim no com-
merdo illter-~~t({n[)~d . •4. f'olltititniçt~v do Estado dfl. Bahi/l.
Lambem senTe (1:", ha~~8 A opillião qlle me va1ece a verdadeira.
O art, :36 fiOS §§ 4 e 17 d.i~:pullclo ('lImp('tir à Ass81í1bléa Geral
fazer leis l't'g'nlando [t !·ll'l'pc,:.;taçào das relltlag do Eiltado, esta-
1J elecendo as contrihuic;üe;:; I tax.u:) e illilillstos n8cessarios, e
estalJeleeenc10 reg:ras sobre o cC'llllnercio , illdti~tri~s etc.,
dedarou CJne taes attribuições deveriam ser exercidas nos
lilllit.efl tI ~~çddQS pela 'Constitni<,;ão l~~ederal. '!'ambem o art, 125
no § 1" l1S, 1 B 7 ~st;üne, qUê eOI~~!it.uHlO ol',ieef.o de receita elo
E:.;t ado os ímpo8toil e taxas ql1R ri/tem llec.r:o.t'\.Ii(,s s(',Dre a ~1>.1.1!\:'­
ta(;ão de ~'eilel'09 e merciidori;ls, !'alvo Oí. qne vio!'cm em transit.o,
CiJl1l clireilo?J prrgllsemout,!,os Jj~~!trlílo:", UI<ÜllJ G0il:080hl( :,llR8sqn81'
outl'a!'; fontt:~ de i'\:c.í.-dta 'lU". [I)reir) ('\'(';i,;:;U';, ,;el~1 cUllrn~Vell!~i'w
(li) dÜ'llO~t() lh;,~ iu'tf.i, 7~, !elo e 11 Ih t\Ut;tituição Ftrlel'al, a
que acim;t n.(r'ri'lIle. Da. mesma 1l('l'L,; () lU j, 10 Ila~ lii~pO~I<;\H~,I~
',:

- 212 ~

,transitorias autorisou o governarlor do Estado, immediatamente


após a publicação da Constituição, a entender-se com os mais
governadores dos ~~stados sobre a suppl'essãQ e allu'ullação dos
impostos on quaesque1' direitos inlo'i'BiailoaeR, de conformidade
com o § 14 do, art. 59, que dá ao governador a attrilmição de
celebrar com outros Estados ajustes e convenções sem caracter
politico, mediante autorisação e apl)rOvação legislativa. -Por
fim o acto do Governo do mesmo Estado, de 26 de Ja '1,,;rl'
de 1892, regulando a arrecadação dos impostos estadoaes d,
exportação, usamlo da attribuiçi'io ctlliferilla no § 1" do
art. 59 da Constituição, diz positivamente no art. 1 0 que são
sujeitos a dirmto de exportação os gelleros e mercadorias, que
dos portos do Estado se exportarem para porto ou mercado
estrangeiro; no art. 23 § 1- que o secretario do rrhesouro
poderá marcar um ou mais pontos de embarqne, em que tenha
loga.r a confQJ'encia de todos eis generos que se pretenderem
exportar pa1'a jóra da Rep~tblica, etc., e no art. 28 que o go-
vernador, medianie certa:; e<lutt-'ias e garantias, poderá conce-
der a uma ou outra ellllJarcaçãu licença para carregar em algum
determinado "porto do Estado,\~om destino a p01'io8 eSlranúeü'o8,
generos de proflucção ou manufactura estadoal. As di::posições,
a q-ue acabo de reportar-me, põem fóra de duvida, que a lettra
- e o espi.rito dellas, com particularidade as do Estado da Bahia,
suffragam a opinião, que sigo. Souretndo o regulamento do go:
verno da Bahia -estabelece de um mo(lo preciso, a não poder
, suscitar duvida, que ao direito de exportacão sómente são sujeitos
os generos e mercoadol'ias, que de portos do Estado se expor-
tarem para porto ou mercado estrangeiro. Sei, que o Congresso
Federal votou a lei; qué tomou o n. 410 e tem a ,data de 12 -
de Novembro de 1896, em cujo alto 2· 8e prescreve- que os
direitos de entrada, sahida e f'stalla de navios, de que é
livre pelo art. 7° n. 2 da ConstitLli~ão fia Republica o
commercio de cabotagem ás mercadorias naçionaes, beln como
ás estrangeiras, que já tenham pago o illlPosto de exportação,
são os ,de docas, pharol. expellientt', e outros quaesquer da
exclusiva ~ompetencia da Uniãó. Esta disposição evidentemente
restringiu, sem o poder fazer, a liberdade de cabotagem, ~on­
ferida pelo art. 7°'§ 2 ela Constituição ás mercadorias nacionaes,
8

bem como ás estrangeims, que já tenham pago o imposto


de impqrtação, nos termO:3 os mais amplos: pelo que, sendo
manifestamente inconstitucional, não póde ter applicação ao
I!.aso vertnlte, em face do que terminantemente prescreve a
lei n. 221 de 24 <te Novembro lle 1894 no § 10 do art. 13.-
Bernm'dino l<'en'eint. Pelos me:,mws flln(l~melltt)s (10 voto do
Sr, ministro Pereira Frallco.-lIface<10 Soare8. Variei de voto
. -
-213 -

depois de mais aturado estudo da questão, que, da primeira.


vez, foi J1IellOt) hem uecidida pelo Tribunal. E isto é devi'lo á
Jles~jma fÓI'!!!:t (le .illlg·arHelltos~ herdada. do extincto Supremo
rrrilmnal de ,J u:-;ü(;a, ~ujos membrof, tranferidos.para. esta,
fiZBl'atll 11111 R"g'i;'li.,~ltJ illcomvativer com a T1QVa ol'ganisa'ião
I da J usti(;:t Fed êml, q ne e11e8, em maioria- pela novidade da-"
materia, nem conhedam. Qnestào do mator momento são aqui
apl'esentaoas de ~lIlletilo, com o estudo apenas de um relatol'
e dois revisores, e decidirias pt-' la grande maioria da Casa, á.
qual nem tempo se dit para examinaI-as, e na de votàl' na fé
dos que as estndalalll, E~tnH. hoje convencido, e sobretudo
_ Ilepois da luminosa discussão, travada na imprensa diaria dt'l\ta
cidade, entre os Dr8. AnHl.ro Cavalcanti, Ruy Barbosa e 'Aris-
tides Maia, que a COll~\Íit.ni(itO l!'edêral não instituiu a liberdade
de cabnt,rtgem. Vê·sp. c1anwlent,b do art. 13, paragrapho unico,
a restl'ic<;tW de tiÓ l!uti~Jl tiel' feita. a ll,tVegaçào de cabotagem
por navios uacicll"e:" em COlltl<triIJ <las aspirações liberaes,
defendidas, na. CallHUil. dos Deputados do Imperio e em
escriptos, pelo eminente democrata Vr. Aureliano Candido 'l'a·
vares Bastos. A liberdade cOllce<lida á 11 Rvegação de cabotagem
pelo art. 7°, § 2°, da Con~titui\ào Federal é só quanto aos
direitos de entrada, estada e sahida de llavios, em relação
ás mercadoris naciollaes e âs estrangeiras que já tenham pago
o impost.o de importação. E' a conclusão logica do est.udo
desse art.igo, em confronto com 08 arts. 9° n. 1, 11 § 1" e
13 paragrapho ullico. E por isso, retratando o foto anteríol',
votei com o SI'. llIinistro l'elator.-Jusé Hygino, vencido. De
Recordo com o voto dó Sr. ministro Pereira Franco.- Fui
presente, Lucio ele ~Mendonça.
. ,

. Na mesma conformidade, diversificando apenas os fUll(hl.~


mentos, foi julgado o seguinte:
Recurso extraordinario ,n. 98

ReC01Tente - João Carvalho.


-Reco1'rida-.Li Jt7azenda. do Estado da Baltia.
Supremo Tribunal Federal

. RELÀTORIO PERANTE O TRIBUNAL ADMINISTRATIVO DA BAHIA


(FI •. 21 v.) ,
João Carvalho reclamou ante a inspectoria do ThezoFro
-do Estado a restituição. do que pagou de imposto de expon.a-
çãü ele gel1eros nacionaes que remettell, d'este Estado. para.
- 214,-

outros do BrazH em 188.3, deb:allilo de lMl1cional' a quantia


por dever 1l1b cOi1stal' (la jnfol'TI1r<(i;;) qn\:' l'I'i·:,tal' n inspect.uria
da AlfaEfle!:':L relatii'nl!lellL~ ás ,,:!;t,; dos t1 ""lJ:1,chns lli;, ] 56
ile Agosto, (5fi7 (le l\(I',rembl'ü, :!:>:i, ,J(19, 4FI e 227 :ly p~.
ze]nbru du rlitCl 1l1111O, alit-:;~'(\Jld() eou!u i'nndilliiento da l'etLtll:açào
que o referido imposto é iUf'onstitnciu\lal elll vj~ta das leis, que
citou em sua l)etiç~lO d" tl. S.
CC1} a inflll'mnr:F,íJ da Ali'all'l"g'a e jlHi'i:cCel' (lo Di', procn-
rador ilsc"l tio K':,;1,rlO jnutils pnr copia a fi. ,i c f!. 5 foi illtlefe.
ridil. a l'eClnllw,(~ão, rlfô (;njo índer(~ri1'1elJt'.' recorreu o rpdall:ante
pura este 'l\ibunat lítli" pe! içã,; de, n. 7, ~eur:\) J'Ol' rlle remet-
tidos os autos e::Jnl o (Júiei,) (le fl. 2. Xeste Tduullal foram
ouvidas as lml':e~, éU'l';J;,;o"lld,) u t'<?(··L>.I!lp.I!t.e de fI. 11 a n. 18,
e o Sr. Dl'. snllstitnto de' n:-C'Cllrndoi gemI dê fI. lD a fI. 21.
As~im relatados sBrão Oi>' antos apresellblr10:-; em iilt:,O:I, llHra
julgamento. Bahia, 14 Je Novemhro de 1895.--Pacheco de
Mello.

D-;:;t";lSÃO DO l'ItlBUSAL ADi\11l':ISTRAT1\'O (FL. 22 v.)

Vistos '3 ff'latadrlS (,,-'\;';8 antos de ree1:imaçi1. r ) {le João


Cana1ho pill'a lHlvt'l' d,j '.f11~~L,tllir() ÜO Es~ad() iL i'e~t,it.ni\flf) (lo
impo~to de (~Xi'l'l'í,;',:{iü d;:1 ,;H,]'(:;d()!,ja~ lI'lI,j;Jil.'1.8l'l Ile:ipfi,elln.d,,"
-para 08 }lortol4 d.,! l-!ií) (\(' .TaL··L'", Pel'1l'lm!;lléo e Pene!!,),
COJ1~tai1tes da inflirma(;iÍo de fj. ,t (Li in:ipel'toria da A![;ulíh'ga
d'este Estado, soh f~illihmento do ser. iHeollflLit.rciollctl a co-
ur;wça (r este imposto em face do L,ri. 7° TI. 2 da Constituição
Federal e de olltras dL;posi.;ijfj:j de ]fÜ: lleg~lll1 J.ll'(lYillll~ut(J ao
recurso iilterpo.-Jo da decisi't0 d il, impt(',t~)l;ia do Thezoni'o, (t li. tl,
para julg;ar, ",r;m0 julgam, lr;gttlnwllttl eulJJ'lulu o ]'I'ft'l'idll imo
posto em virtnd~ dos §§ 7 e 11 ria tabella n, 1 all118Xa á lei
estauoal de ~:) de Agosto (1 8 1892 de accordo com o art. ge
n. 1 da Constituição FeíleraJ, e do art. 125 § 10 lJS. 1 e 7 da
Constitniçfw d' este Estado e illRis rH,posiç0es em \·jt'(or. Bahia,
em Tribullal Administrativo, 13 de Fevereiro de iF396. -A.
Coutinho, pr~sÍ!leJlte.-Frri prei'ellt8, í'. de Arallj().---l'a.c1wco
de l!Ir:lio, v(;ncilb: votei defol'Íwlo ;\ rec};ll1liv;i'i.o po!' tOlll:'trhmtr
Íncon:1tüiJ,dIJTJ:::: o impusto dl:l e;;)0rt:íçii!) (1!-) mere,ulul'ias llit-
eíonaes l:,ir:l. I):; l!oríos dü.; E.sj,t:tdos dil UJ!.i~,Ü, l1.ttellto o ~ellti(l()
llllÍ'{ersa!1l!R!lt'1 ;dopLdo da l",icL\'! il. eXI'()'tfl~'í1o lHra. ('xpli;llíl
a l'ell:e~::,::, t~e gtlm\l',JS \!c<,nt f6ul. do p,.";;:,, di~l.;(J~l(.iv(J do
art. 7(:n, 2 (:a CU 1 l:;LÍUii:;il" I('(j(lf~ra!.--- )1J'oel:ilnalldo a liJw.r-
d;Hle do ~,:ulnnH:HT,10 iJILel'·c:<;"(I'~!.(L!, l'éHveilaít(), GOiHt) [,e vê,
pdo 'i,r!. 12G fi ti;' lI, 7 d;~ {:on:;Utlli~rtn d'este Ei!tado , (10
~ 2V:í -

acto do Govemo 8fltatloal de 26 (1e Janeiro de 1892 1'8g-ulando


a arrcf',aílaçfw e fh;cGl!i:;;açào an.:-1 Lua::; de E'xporta~ão (le mel'-
ca(l(JrLt~ tão i·'~n'8nte par(l o estrangeiro, de accordo com a
(;íillSolidaçfto (1;\8 ir~is tlitS alt'anoeg'Hs t3 nlPSil$ de rendas de 1885,
de que é rep],LJduc,~üu ade 1894.-Braulio,-Oerne.

'DECl;.;lo DO TR1BC~A.L D:JJ CONFLICT0S (FL, 31 v.i

Visto!, relatados estes autos, negam provimento ao.recurso,


desde que nad<t de novo f)Í allegm!o contra os fnndamentos
. das resoluções llnt.eriIJrei'l, sendo de facto improcedentes as
a\l\~gl\ções de illcon~titncionaliditt1e feitas cont.ra a lei estadoal
que ollrig'a a direitos (l(~ exp('rta.;ào o:; 2eus pl'orluctos, aindlt
que parfl outrO~j K,nwlu~;, v"njne 11t"1l ~Ó esse direito foi cvn-
fel'idv aos Eslatl()~': art. 9 5' 1 'l, fienl l'estricçiio al~uma) pela
Constituiçfll) Federal de 2-1 de FeVel'êiro de 1891, mas ainíla
nada tim que vá de en\\OlÜrO á libltrdade de uabotagem, prin-
cipio aliás q llt\ a referida Constituiçao não adoptou, eonfol'me
~;e yê 110 ~en ~tl't. 1il S unieo.
Cn~tas 1wlo l'ecol~rido.
Bahia, 16 de Jnllto de 189G.-·A. Ouutinho, pl'2sidente.
- lTui presente, V. tlq Araujo. - Cerne, relator. - Áme1'ico
Ban'('f(o. -Braulio, -Paclwco de .Mello, vencido. .

Ol'FICIO DO SR, MINISTRO PROCURADOR GERAL DA REPUBLlC,~


(FL. 39.v.)
Parec,e-me que o 16cnrso extraordinfll'Ío, usado por João
Carvalho eontl'il. a Fazenda do EsU,do da Bahia, não está no
i:aso de 82 tomar cOllhecimento, pur não se traÚr de sentença
(Om uI tim? inst.aneh. Vl'oferida por t.ribunal j adida.rio do dito

K,,\,~~;l11. O que houve, foi decisii.o do inspector do rL'hesouro


est.ai!o<l.l com l'ecnrso para o rrribunal Administrativo: fi. 7;
decif:ii.o 0.eSÜl com recurso para o 'rriullnal de Conflictos,
H. 22\ e finalmente ela dccis.1o <reste á fi. 27 se pretende
remm:o extraoràirtarÍo rara o Snpl'omo Trit.H'illal Federal, pai'a
o r;.U8 lavrou-se o ten110 Ú 11. ai) v.
Rio d.e .Janeiro, ;~~l de Setembro oe 1896.--Suwm lIIartins,
- 916-
ACCORIrUr (FL. 40 v.)

Vistos, relatados e discutidos estes autos de recurso ex·


traordinario interpost-o 'por João Carvavalho, segundo o art. 59
§ 10, letra 0, da Constitniçãu Federal, da dpcisão á fi. 31 v;,'
na qual o Tribunal de .. Conflictos do EstaM da- -Bahia julgou
definitivamente não offerider os arts. 7- n.. 2, 11 n. 1 e 34
n. 5 da mesma Constituição, o imposto que 6 Thesouro do
referido E'3tadQ, ora recorrido, baseando·se em tabel1a~annexa
. á lei local de 25 de Agosto de 1892, exigin do recorrente pela
exportação de fumo e charutos bahian08 para ontros Estados da
Republica; _ _
- Considerando que o texto constitucional distingue repe-
tidamente os arts. 7° n. 1 e 9° § 3-, entre importação de pro-
cedencia estrangeira e importa ção de proeedencia. nacional,
quando atttribue á competellcia exclusiva da União tributar a
primeira e quando outorga aos Estados a faculdade excepcional
de lhe lançar sobretaxas, a bem de suas industrias i
Considerando que não expressa restricção alguma áampl!s.
sima disposição do art. 9° ll. 1, por não ser licito' distinguir
onde a lei não distingue, os habita.ntes dos Estados, quando
consumidores ue productos de outro Estado, estão obrigados,
com mutua utilidade de suas industrias simila.res, ao pagamento
dos impostos de sahida, como eram, conforme as respectivas
leis vigentes na data da proclamação da Republica, os habi-
tantes de todas as antigas provincias, antes de cuja organisação
a legislação colonial já em~regára o vocabulo-exportação-
para designar o commercio de mercadorias transportadas das
antigas capitanias para a metropole;
Consideran~o que, estabelecida para um paiz, cuja pro-
ducção, em sua maior parte se consome no exterior, a dispo·
sição do art. 9° n. 1 não se restringe tão sómente á exportação
para o estrangeiro, porque, na hypothese contraria, os Estados
ver·se-hiam na contingencia de perder seus direitos ante a só
affirmativa prrticular, sem possivel contraprova, de que seriam
cousumidas na ·Republica as mercadorias levadas para onde
não chega a acção do Governo e do Poder Judiciario local,' e
dest'arte,. fraudada a disposição, legitimar-se-hia contra os
Estados a pratica possivel e constante do crime de contrabando,
o"qual consiste, como se vê do art. 265 do Codigo Penal, em
evitar no todo ou em parte o pagamento dos direito8 80bre à en-
trada, 8ahida e ,onsumo de mercadorias, (J por qualquer modo
illu,dir ou defraudar e88e pagamento;
Conilidel'ando que, com prejuizo e ruina dos ES.tados soli·
dal'h· . el. manutenção de suas existencias, a alludida restricção
911-
ainda. subverteria e destruiriíl toda a federação, porque o Estado,
por onde, afinal, se Hp(,rt[l5~ell1 as l1lerl~adf)rías de outro, ou
tributal·fts hiá á sahida, soL pretexto de estarem confundidas
com aR lJropri:u, ou, eU! caso rl(~ leal obi3rrallda ela isenção
prescripta no § 2°' do art. S·, exerceria em seus portos, com
violaçâ.o do art. 8·, o odiosissimo monopolio dt} commercio de
outro Estauo, dando isso Iogar a que logo se orgallisasseni syn~
dicatos para o fim de rlpfraurl:u a noss'a principál renda estado aI
por meio de uma exportação, de facto destinada- para o estrRn-
geit'o, mas disfarçada na phase inicial em navegação de cabo-
tagem até praça mal'i tima, não pertencente ao terl'itorio do Es·
ta<lo matl'iz. lAto posto, .
Considerando que, dada verdadeiracontradicção entre os
arts. 9° n. 1 e § 3° de natureza politica ou fundamentaIe os
arts. 7° n. 2 e 11 li, 1 de ordem economica. déveriam prevalecer
os primeiros de que üliás se póàem considerar os segundoS' mBras
gs.rantias accessorias, porém tal contradiçii.o de fllcto não existe,
pois todas essas d}spo~ições sé hl1,rmonisam inteiramente entre
si, de modo a concluir· se que a liberdade de commercio de ca-
botagem e de transito terrestre, firmada a favor das mercado~
rias nadonaes, bem como das estrang~il'as que já. tiverem pago
os impostos de importação devidos á União, ~ub;)rdina·se á
condiçã(l essencial de se 'solverem os imposto<' de exportação
decretados pelos Est» dos sobre as suas mercad()rias e as sobre-
taxas com que elles onerarem o consumo da.s estrangeiras; .
COH'!i 'Grando, outrosim, ay.f>., r,Of ser privativo, ao envez
do que dULdrmina o art. 10, secção 10.., da Constituição Norte
Americana, o poder que o art. 9° n. 1 da nossa Constituição
conferI' aos ESLados exclue peremptoriamente a intervenção do
Congresso Nacional, e pois não póde por eUe ser de fórma
alguma embRraçado sob pretexto de exercicio de àttribuição
inteiramente lUverM, consignada no art. 34 n. 5, de regular
o comme' ~10 internacional e inter~estadoal :
O Supremo 'l'ribunal Fecleralnega provi:::ento ao presente
recurso, eGufirma a decisão do Tribunal de lJollflictosdo Es-
tado da Bahia e condemna nft8 custas o recorrente.
Supremo Tribunal Federal, 17 de Fevereiro de 1897.-'
Aquino e Oastro, presidente.-Americo Lobo. -Manuel Murti-
do. -João J>edro, com restricções quanto aos fuudamentos.-
Bibeiro de Almeida, de nccordo com o voto supra.-Pereim
Franco, vencido pelos fundamentos do vóto que dei uo recurso
extrllordiuari0 ,\. 92 sobre .,:atel'ia idelltica. -li. do Espit'ito
8anto.-Jo8~ JilYUino: venéido.--Figlteil'edo Ju,nior.- Be1'1u,r-
dino Perreira, venciJo.~Jfacedo Soares, pelas razões que dei
-218 -

no recurso extraordinario n. 92.:......Fui rrespnte, Ludú ile


Mendonça.

DO:tção ',!lor tis Ca!!3,l feita pelo rnal'H.!O li,


mulher: falta de assignaturu da dOJUltaria
na respectiva escripturn.-E' tida como dis-
posição de' ultima vontade, e vale como
legade .-Incapacidade do rloador .-Solemni-
dades e.s:tcrnal.- Testemunhas instrumen-
tarias quando invalidam o neto •

.A.cção ordiI,Hu'ia

Autfl'e,~ - B61;,ediclo LOJies Rodri.fJllM e Anna RoeZri(fI,'!!8


Portilho.
Ré --- D. Ant~mia di AS8UnlilÇão Co(/lw.
Juizo de direito li'), comarca de Cametá (Esbdo do Pará)

SEN'l'E:-IÇA

Vistos OS autos etc.


Os autores Bene(licto Lopes Hodriglles e Anna Rodrignes
PortiIllG al1eg~l.m CIJntl'lt li re D. ~ntonia de AssmnpçflO Cue-
11( em SPll libe.fIo de f!. 8;
1)

Que i'ão tmloH recol!llcci(los de Narciso Hoclrigl1cs da Síhra,


6 . cOluequenternentc pt'8Soas competentes para illtellt~~rem <t
preHsute {t(;ÇilO ; .
Qne a líberpJidade que l~cb escriptnra de fI. 12 fez Nar-
ci"o Hodrignes da Silva á sua 1111111ier a ré D. Alltonia de
ASSUllllJç[l',) COf'lho, ele sua terça, no valol de 40:000$) não I,~
uma vel'dat1.eira (loação 1i1orli8 causa, porquanto Ilil,) houve ~
traüiçtto (lo!". 1>8118 do;qlos á )J2,r;e(ida r!a, llF.lYl a ARt:-t ~8 illl!JUZ <1
obrigaf;ào de 08 restituir, si 'I dOf:tdoi' ille ':oblr.vhe~·se, 1)11
falleee!lse em 0lJtl'O lnnce qi[ll llHO () vreviilto, ú qne e;U'l1,ctc~­
l'i3it a vcnldl'lt doaçã.o 1JIorliD ('(1118([;
Que o que representa o titnlo de fi. ] 2 é Hll1::t promess:t
gratnita d8 bens para produzÍr efl'"it,) delJols (l;t morte
do prc:niU,e);:.\~, o que se IlHO t'ófle dL.,el' coutract.o, cumo
é a Ú!i.l':'-C, e ~im (Uspnsil)io de !!ltim:l, v(llll,Hle depen-
deilti'! l11:ld ~;oI8InaicLl.{le8 t('~!,ii:ne!ltariits, !'ohmnil!itrles qll~
COlflLwL nüo fel':lill preell~~!lif\"S l)(Jr )1:10 te:'em a~sistido ao
aetü Cílll',O t.e;'ji..í:·,mnniHuJ, (',(ilYJ() ':,(1 reqner lla OreI .L. 4 ti::. 80
}H'., flUe tr;·j,a dn:; tl~;,;tnnWllto!; pnhlieOR, numero qne ua hypoo
these I,~,O se verificou ~xi~,til' por !lão tor assistirlo 110 neto,
embc]'v. tlVe;~::J a"sigilallu, ;l l,estelllllLDa, .Jerollymo AULonio
Rotlrignes ;
- 219 -

Que ainda é nulIa a referida escriptura por não ter o


doador ditado as suas disposiçpes, e por se ter lav-rado em'
~'ala differellte d'aque]]a em que elle se achava;
Qne ainda quando fosse pelo doador ditado aquelIe docu-
mento, não era, eUe a manifestação livre de sua vontade,visto'
enmo lia epocba de sua factura não se aC,hava elIe no goso de '
::.:uà capacidade civil, porque o completo e5tado pathologico,'
que o coIloctlva á beira do tumulo,na visinbança do ankilosis,
o coIlocava em absoluta impossibilidade de conscientemente
ddiberar j
Que a molestia de q~le faIleceu o doàdor não foi 8.queUa de
qne fllIJa a certidão de obito de fI., e sim uma paralysia que se
,'jnba gen~ralisando das extremidades inferiores para as'
.~l1periores ;
E pedem afinal que sejam seus artigos recebidos e por
llm julgados provados .para o effeito de ser julgada nulla a
eseriptura de doação, e condemnada a ré nas custas. .
Ao seu libello juntaram os autores os documentos de
fls. 10, 12 e 14.
Confrariando o libello de fI. a11ega a ré :
Que nAo procedem as l'azlles com que os autores preten-
elmn a décretação da' nullidade da dooção em seu favor feita
por seu fllllecido marido Narciso Rodrigues da Silva;' .
Que a liberalidade a si feita da terça dos beIIs de seu
llHrido na estimativa de 40:000$000, é uma verdadeira doação
mol'tis causa; porqUanto o instrumento que traduz essa libe·
ralidade acha-se revestido das solemnidades internas e externas
illdiipensaveis para garantir a- sua legitimidade, e. a effectivi·
(lade de seu direito, tae!' como a vontade livre- e espontanea
do doador manifestada na presença de cinco testemunhas,
entre as quaes Jeronymo Antonio Rodrigues, que assistiram
ti sua leitura l)elo tabellião, -assignando a rogo do doaàor-por
ilfí.O poder escrever pessoa differente i
Que o tabellião. J Qsá Simplicio Vieira e Souza, que
lavrou a fallada escriptura, é fllnccionario, que, pelo eonceito
de que gosa, é incapaz de conoorrer para uma falsidade i
Que -não é essencial, na doação mortis causa a tradição
dos bens doados, nem a imposição de obrigação da restituição
desses bens ao doador, no caso de sobreviver, ou faUecer
este em outro lance que não o previsto; ' .•
Que, sendo revogavel esse acto na hypothese de sobreviver'
o duadol' ao lance que determinou a suspeita da morte, e ainda
H1l11is em quanto viver, e legalmente ~aduca a .doação no caso
do fallecimento do donatario antes do doador, seria. superfluo
fazer ~'ednlldalltes l'tllletições de condições q ne o dil'eito l'ellUta
\' . /-!:':'~ :....
" '1\\. '1' ..
' .
-220-

existirem no aeto, maxime no caso dos autos em que se veri·


ficou a morte do doador;
Que as doações mortis càusa não repellem- a gratuidade
para [\s liberalidades que ellas encerram; e a que foi constituida
pela escriptura de f1. 12, com Rcceitação da beneficiada, é um
contracto bilateral perfeito, dependendo a positividade do
direito transmittido da partilha dos bens do doador i
Que ainda mesmo que se possa considerar o acto <.:onstanh.1
da faUada escriptura como disposição de ultima vontade,
ainda assim é valida a liberalidade ll'elIa exarada, visto ter
sido ellerevestido de todas as solemnidades e~igidas para sh(~
validade;
Que o doador Narciso R.odrigues da Silva tinha perfeita
sanidade de espirito, nada sofrendo a sua capacidade eivii,
moral, obrando assim livre e conscientemente;
Que, si bem que o doador se achasse em estado patho-
logico, comtudo tendo sido feita a escriptura publica de n. J 2
dez dia!:! antes de sua morte, não tinha elle a aIlegada inealia··
cidade absoluta; e pede que, julgado valido o documentn de
fI. 12, t;ejam os aut0res julgados carecedores de 3r:çfw, e
condemnados nas custas e mais pronunciações de direito.
Em sua replica de fI. 23 allegam ain.da os autotes :
Que como quer que seja ellcarada a liberalidade que se diz
ter feito' Narciso Rodrigues, como doação mortis causa, oU
como disposição de últ.ima vontade, qualquer à'estas especi,-s
deyende das formalidades indispensaveis ao testamento, publico:
e na hypothese o.os autos não foi o aeto d' eI1as revestido ;.
Que a falta da assistencia de uma só testemunha inStl LI-
mentaria basta para determinar a nullidade do mesmo aeto,
pois que deviam as testemunhas presencial-o para af:fl.rmar a
manifestação livre do doador e acceitação da donataria;
_ Que não obstante constar da escriptul'a a aceeitação dest.a,
todavia não a tendo assignado, não se póde affirmar ter 'elIa
. estado presente ao acto;
Que Narciso Rodrigues da Silva" não ditou a eseriptura <la.
doação 'mortis causa, objecto da questão;
Que aind~ .quando fosse por elle ditada e querida e88,t
liberalidade, não póde eUa gerar direito algum, visto a sua.
manifesta nullidade resultante de yicios internos i visto como
no. estado pathologico, em que a ré confessa estar o doador na
epocha em que foi lavrada a escriptul'a, não podia deliberar
conscientemente e estar no goso de sua capacidade civil,
attenta a paralysia geral que sofria, a qual das extremidadr.3
inferiores invadia: as supérioreil, estacando assim a acção u~
todos os centros nerVQSOB;
- 221-
Que finalmente a febre de que se diz ter fallecido o doador,
. lOl}ge de ser a molestia principal que o atacára, era apenas
symptomatica de seu estado pathologico.
Em Rua treplica por fim allega a ré:
Que ainda mes.mó que se retire da escriptura de fi. 12' .
o·caracter de doação ttl01'U3 oausa para considerai-a cemo dis-
posição de ultima vontade, ainda assim tem ella toda. vali- a
daue por se terem obsel'vado todas as solemnidades legaes
f{uer internas, quer externas;
.Que, si a donataria, que assistiu á factura do instrumento
publico, não o assignou, nem por isso retirou ao lnesmo elemerito
,tlgum que prejudicasse a sua validade;
Que o doador nada soffria em suas faculdades menti\eS-
nelo facto de achar-se dollnte de febres dez dias antes de sua
morte, as quass, ainda que fossem symptomaticas do seu
estaQo pathologico, nlo eram suftlcientes para obliterar-lhe a
intelligencia e a vontade ao ponto de annullar a questionada
escriptura. .
Aberta a dilação probatoria, produziram as partes as tes-
temullhas-que decorrem de fi., a fi., sendo ali dos autores em
numero de quatro e de sete as da ré. Encerrada a dilação
(lisseram as partell afinal, pelos antorell de fls. 66 a 70, e
pela ré de f18- 71 & 77, em que desenvolveram a materia. dOi
Ilrticulados respe_ctivos.
O que tudo villto e attentamente examinado.
ConsiderandJ que a doação m.rti. oaU8a propriamente dito
t~ um contrll.cto gratuito feito mediante a condição de que o
(loador não sobreviva no donatario, ou indeterminadamente
uH passado certo acontecimento que elle suspeita poder acar-
retar-lhe a morte; e assim para que ellese verifique, no rigor
do direito, e em regra geral, é necessario o concurso de todos
os elAmentos constitutivos do contracto-capacidade aetiva e
passiva, accordo reciproco das partes contractantes, objecto
possivel e causa licita, necessitando, para seu complemento, da
tradição, ou de uma estipulação ou de acceptilação; __
Considerando qua, em bora fossem em regTIl. prohibida-s por
Direito Romano as doações entra marido e mulher, como no
caso .dos autos. 8e verifica, todavia essa pl'ohibição não se· en-
tendIa com as doações mortis cauM,que, fazendo -Uma das ex-
cepções n'elle consagradas; eram permittidas, porque a sua
perfeição suppõe o casamento dissolvido pela morte -do conjuge
doador, o que foi acceito pelo 110SS0 direito, como se deduz da
OJOd. Liv. 4.tit. 65 § 3° -Int61' vil'um: et uxorem 'mortis Caw?a
donationes recflptw linnl. fI'. 9 § 2? Dig. De don. 'iltl. vir. et
"., n.l: ,---j quia in ltOa te11lp·us-ea.'curl'it dc.ualionis eventus,·quo vir cf
• J .. :.... i
,
-222-
UXO?' 686e di3inunt-fI'. 10 Dig. eod.-; Borges Carneiro-Dir.
Civ.·Liv. 1- t. 16 § 154 ns. 21 e segs.-; T. de Freitas-
a onsol. das L. L. Civis noto ao art. 143; ,
Consider~ndo, pIJrém, que, no tocante á tradição, não é
esta exigida como compleniento na doação 11lorli., cafl,a feita
pelo marido á mulher, pois qUi, como ensina Acc!l.l'ias-Dir.
Rom.' voI. 10 n. 309, pago 811 noto 3", «entre eSpO!l08 a
doação mortis causa não prorluz jamais effeito algum antes da
morte do doador: especialmente a tl'an~ferencia da propriedade
não se opera senão n' essa epocha-Dejtmcto viro viva mulim'(3
3tipulatio 8olvitw', ut tradWo qltod mandante 1(XOre ?lÚlrtis causa
Jacta est ,: nam q1tO casu -intm' extero8 conlliUo 'lascitul', intm'
marito8 nihil agitur-fl'. 52 § 1- Dig. cit.;
" Considerando entretanto que s~ do titulo de fi. 2 vê-se
apenas a noticia dada pelo taueIlião de que presente se achava
a donataria, que acceitou a eS,criptura tal comô era feita, vê-se
~omtudoque nãO a assignou, o que, sem embargo do que ensina.
1'. de Freitas á Pereira de Souza-Linhas Oivis-not,483, era
imprescindi,el e substancial em face da Ord. liv. 1-, tiL 78
§ 4- nas pelavras-« E tanto que as partes outol'g~rem assl·
gnarão ellas a as testemunhas» j e assim essa omissão tiJ'a ao
referido acto o caracter de contl'acto e o valor de- verdadeira
doação, pois que é da convenção das partes que o cOlltracto
recebe força e vigor-Ord. liv. 4°, tit. l- pr. e tit. 46 pro j
mas
Considerando qae, ainda qtiand') ao tit. de fi. 12 não fal-
tasse, como falta a outorga de uma das partes contractalltes-'
a acceitação, todavia encenando elle com~ ehcerra. uma promessa
gratuita de bens para produzit· effeito depois da morte do pro-
mittente, vale como disposição de ultima vontade, senelle
conçorrem todas as solemllidades exigidas pl)r lei para sua va-
lidade, entre as quaes se não conta a acceitação do beneficiado,
por tratar-se de um simples acto juridico sem caracter de con-
ven9ão,e á classe das di~posiçõe~ de ultima vontacle,~ post mor-
tem....:-pertencem as doaçoes mortzs causa-T _ de FreItas, Um 1sol.
noto art. 417 § 2-; Clovis Bevilacqua-Dir. das Obrigo § 99
pag .'270: M.GÚcez-Nullid. dos act. jltrid. pago 59;
_Considerando que a doutrina dos provectos jndsconsultos
patrios appliçada ao tit. de fi. 12 ene.ontl'a seu apoio egual-
mente na lettl'a expressa da lei" romana, em vtgor entre nós na
ausencia de leis patl'ias que o contrario consagl'e!I1, lei em vir-
tude da qual as doações mortis causa são comparadas aos le-
gados, e o que o direito exige para a validade destes sel-o·ha
exigido para "alirlade daquellas-lllnd generalitel' 1nemin~8se
opol'tebit, donatione8 mortis causa jactaslegatis compal'atas; quod-
- 223 - .

cúmq1te igitw' in lega tis J1tl'i,q est id in mortis Ca1tsa donationibui


e1'it a ccijJiend1l1n-fl' , 37 Dig. De mo?'f. c(ms.donat.;
ConlriderRn<1o que o caracter de disposição de ultima von·
tade que se attribue á liberalidade constante do instrumento de
,I 12 di corre ainda de suas propl'ias palavras na declaração'
. que fAz o promittente aos· seus heldeiros de que estes não·
poderão ir de encontro á sua disposição l)ur .se)' a de 8uaultima
vontade; e ainda da snbstancia do mesmo acto, pois que a lf·_
beralidade nelle feita consiste na db:posição dó valor de sna __
terça, e este somente depois de sua morte se podeda verificar;
e si' é certo, como ensina Almeida e Souza-Pcasoa-§ 73 e
not., que não se deve attender ao llome do eontraeto, si a sua
substancia indica outro diverso, dever-sf'-ha ,encarar oaeto-_
questionado não mais como nelle se denomina-doaç,-lo mat'U,
cau3a-, mas como disposição de ultima vontade, e sujeito a
todas as solemnidades- testamentarias-Clovis, Ob'l'. e 10e. cit.. ; - .
Considerando que da fallada escriptura publíca de' fI..12 .
consta a fé prestada pelo official publico de acl!:tl'-se o outor·
gante Narciso Rodrigues da Silva doente d~ cnmà,lllas em
,seu perfeito juizo e claro entendimento, do qne :'esulta uma
presumpção de direito de sua sanidade mental,~lne somente
por prOVHS em contrario poderia ser destruida-Fouvêa Pinto,
Trat. de Succ. e Test" ed. de T, de Freitas, nol. 22 i .
Considerando que do facto de achar-se Nard~;o Rodrigues
soffrendo de. uma paralysia nas . pernas, (lue - lhe dif:fi·
cultava a motilidade, ou de 'febres de que veio afaUe;.-
cer, como dos autos está provado (fi, 64), IJão se póde juridi·
camente inferir a sua fraqueza mental. d(lz nias antes de
sua morte; llorquanto «uma doença ou uma éllrermidade phy-
sica, diz 'l'aylor, não influem sobre a Vl\ \idade de um testa·.
mento a menos que o espirito não se tenha 11eriurbado directll.
ou indirectamente; o espirito humano lle::;sctscircumstaI,lcias
,.pôde estar tão forte como no estado de saude robusta, conser·
vando entretanto todo o se-u. poder deliberàdo.» «Em todos os
casos de erysipela, febres, paralysia, continúa o mesmo es·
criptor,. a lei se occupa exclusivamente do effeito actllal da
molestia physica sobre o espirito no momento em que 0_ teso
tamento foi feito j e a loucura de uma pessoa, que não foi re·
cOllhf'cida tal por uma commissão medica, não deve sê apoiar
sobre uma simples presumpçào OH uma possibilidade,_mas ser
e~tabelecidapor uma prova positiva. »-Taylor,Med. Leg. ca·
PIto 45 pag, 882, ed, de Pm'is de 18fH j
. Considerando que as expl'essõe~- estado patholog'ico-,
) de que se' servi o a ré em seus Rrticulados, não podiam ser
empl'egadati .no sentido em que as tOlIl,mml os autores funda·
o :-:~: t-
- 224

dos em Legrand du SauHe, que divide as faculdades intelle· .


ctuaes dos velhos em tres estados-physiologico, mixto e pa·
thologico, attribuindo aos qne· neste se acham ab~luta in·
capacidade j e assim não o fizeram, não só porque essa divisão
é arbitraria e especial daquelle notavel medieo legista, como
porque aquelIas expressões significam mais propriamente estado.
morbido, doença, em que tambem não deixam de estar .aquelles
por elIe mesmo colIoeados no estado mixto, aos quaes entretanto
não nega a existencia de capac.idade civil e si a capacidade pllra
testar começa pela nossa lei mesmo antes de attingir o individuo
a sua maioridade, sendo eonsegllintlmente mais ampla do que a
.. que se exige para os demais Retos da vida civil (Ord.-liv, 4°
tit. 81 pr.); e assemelhando-se rigorosamente a capacidad~
dos velhos no estado mixto á dos menores puberell,8egne-se
que;· como a estes, áquelles se não pode negar a faculdade de
dispô r de f:8US bms para depois de sua morte i tanto mais quanto,
aCCl'e:óeenta ü InflSmO Legrand du Saulle,«em these geraI a ex·
tre.m::l -relhb:; lú\Oimpede de testar, e todas as vezes que a
fraquaa llb espirito ou a avançada edade do testador exige a
intel'veur}w mediea em matelÍa de testamento ou de doação, é·
necessariIJ dtlplicar de reserva e de eireumspecção, porque 811
parteRintere~qlt(h~ nos trallsmittem muitas vezes informações
inexactas, exp.i;'el','j das ou falsas e procuram intl uencial' nOS80
juizo-J[f'(l. [J'::g. lJag. 1.872 j
CCll;;ider,lBclu que dos autos não consta prova alguma que
convençl:l. (1a a ils8ncia de sauidade ment,al do doailor no actó
da faetunt (~" instrumento de ti. 12, ou antes ou depois do
mesmo aeto; ao cOll~,rario o que consta das pl'oprias testem~·
nhas dos c1.utores é que llas visitas que estas lhe faziam jamáis
notaram Qualqll8l" facto que <lenotasse de sua lJarte fraqueza
do espirito, eO:lsel'vamlo aliá" díaq depois daquelle aeto espio
rito ~ão, n~conh~'eenJo:l. todos, e com eIles conversando acerta·
damente, t'l'llJura eO!l1 alg-nrna dífficul_dade, f\ttenta a sua fra ..
queza corpural,-ll,L e ld& testo dos aut., ll!', 2'!- e 3l!' da ré;
Consillel';',lldo que () doador no acto da liberaliclade· por
elle feita. cúnhecia a ns.tnrez;\.do aeto' que praticava, a somma
approximalla <1e sua fortuna, e o justo titulo d' aquelles que lhe
eram aífeiçoadcs de perto j porquanto deixando salva a he·
rança de lieus filhos legitimado::l e dos natnraes que com eIles
concorrem, eon;,;ist.e!1t.e nas (luas terças partes de seus ben!!,
demonstrou á 1';11:10 mulher a muita atfeição qnelhe votava,
segundo a tt:l~;. de fi., sendo aquelles conhecimentos, como
são, no (1 i 7,(::' (le 'PI\.y1(;1' 0[1. ': 10C'. cit., o melhQl' criterium de
eaphd;htde lJiLI'lt () ado di) i(~.;;j}lJllbil(); ,
ConsitLmtlldo qil~~ a, vi;',lidadt' do titulo de fI. 12 COlllQ
-225 -
disposição de ·ultima voptaqe decorre ainda da óbS1\rvancia djls
solemnidades externas exigidas por lei, taes como o ter sido
assist.ido por cinco testemunhas varões e por aUas assigna.lo
e pelo testador 011 por umad'ellas aseu rogoPQl' não.po~r
este assignar, declarando ao pé de sua assig~atlll'!IJ'~ rl\~ã'o por
que o fa~ia-Ord. liv. 4° tit. 80 pr.-,-G. Pint(h~d. d~ T,de
. Freita!J § 69 j o • o •

Considerando que a formalidade da subscripçã.9 de cinco


testemunh~s é ainda exigida por lei ~xpre~s_a JIjeSlllO n~ do~çãQ
11.01' tis causa, sem eml;1I1rgo do que, em contrario 1 e aind!1
corroborando a validade do titulo de fi. assertam os Aces. do
Supro Trib. de Just. de 6 . de Out~lbro de 1888- 12fr. voI. 47
pag. õ~6, e reviEor da ReI. da Bahia de 25 de .Julho de 1890
-Di?'. voI. 53 pag. 68'j porquanto bem terrninallt~ é a <Hs-
po~ição da Consto 1: Cod. Dl! 'fIIort. caus. donat. (L. 8 t. 52)
n' estes termos: Sed ita res procedat, ui si quing1t6 testibu8
prmsentibus vel tn scriptis aliquis volueril mortis cq~Q, dop~tio·
nerlt facere • .. ínejJfcax atque innutilis videatur e~ pmnlis e:ffertu~
lIortiqt~r, quo~ "Uimoo habent liberalitatl'!s n60 tllll qqijpumque
'parte absi,,~ili, eis intel~iqattu';
COlisiqerando que do instrumentQ ~e fi. l2 const~.8,
subsCI'ipção de ~eis testemunhas instl'Umen,tarh\~, jll~m elo
tabeUião que o fez, entre as quaes se não pó de d~i~ár 91:\ ~nq- .
merar a de nome Ar anije I Pel'eíl'~ ':Pa vares por ter ~ssig!la(lQ a
rogo no pro~ittente Narciso Rodrigues <1& Silya: porq\1/lnto
na bypot,hese de não poder ou não saber o t!::~t~qor assignar,
a incumpencia clti assignar li: ~eu rogq cabe ~ \lJQll- das teste-
munhas do instrumento, e não á diversa pessoa, e ao cOlltrariQ
do que succede nos contractos, e é expresso na Ord ~ liv. 4°
tit. 80 pr.: ~E não sabendo ou uão podendo, as~ignará por
elIe uma das testemunhas »j assim,
Considerando qUe a fé que tem o inst.rumento pub!)co e a.'
presumpção de v,erdadeiro que elIe encerra sómellte póde ser
illi~id~ por provas cOlltrariss, si a~ proPrias test~~u.nIH~s in~
strumentarias são concordes em impugna,l-a (P. ;aaptista-~,
Proa. qvil, § l48) ; 0lI como en~ina T. de Freita:s a Pere~r~
e Souza-Linhas Civis-not. 498, :5i as testemunhas il!~trq­
mentari8~ concorc1a~ todas em impugnar a Ter~ade, do instru-
mento, nRe) assim si só parte dellas jurar ~q~t.r~ <? instrumepto,
e outra parte fôr a favor delle ; ,
Conlliderando que da . prova teste~nunhal PFoduzid~ por
- I\mb as as pa,rtes oque contestemente se verifjcâ é que ao actê}
não assistio a testemunha JeronYIllQ 411toniQ ltodrigues, qQj:l'
sóm ente depois do facto, e, segundo algumas, no dia "eguip.te
'.;-,•. assignou a questionada escriptllra ; mas o ',"

o. • DIa. VOL. 73 15
COJlsideralldo que a f,tIL, r1rS:~"l testemunha, nft.o IlJejl.lr1iea
a vldÍil~1I1e do titnlo de 11. 12' pc·i- rlne ::>em ella üca o nu-
mero de eillCO testemulihas c1)lllplei.o t:om It que H ;\1:';0 '-;0 ou-
torg1l1Üe l'\lll'ci;,;o l10drigues :_ti;::,;ig'llOU, () qU-3 8lli f,l('o Itr. cit..
Ord. liv. 4, tit, 80, pr., nELo po(lel'ia tazer ~i lllW fos~e tambem
testemunha do aeto ;
Considerando (P.H3 o dito da. 4" testemunha dos autores,
Manoel do ESIJÍrito Santo Lobato, na parte em li n8 H.ftirma
'-lue Jo aeto s6 assistio á leitura da escl'iptul'ê1, feita lJt!() tabellíãú
na pres~nça das ontrastestemunhas,llleMs ,Jeronymo Ho(lrigues,
ach11.·l'e destruido pe11t8 ilpma iS te't(;m'l:lh~ i ll>:trIlnJen t nriils, U\PS
cumoa 2'(1(,8 811tores, que v;oCjne ,u~ tt':·,fenJllldH\s,úe:.'~el)ção de
JewDymo Rodl"iguts, e~~tavam l-l '. senlt::;, t entravam no quarto
ou sala 0lil que estava o doente, us :3", 4 n e 5"- tla 1"8, bem
como a 6' te~temunha á fl. 56, 11;:1) illsÍ,illmel1t:11'!;1! é eerto,
por nflO saLer escrever, m?s que f.s~btio a ttJll!J o <teto; e todas
aftirmP,ID que a eIJe HSSÍf'tiullll b'das as tef'temul1has com a
alludida exclusão de Jeronymo, e p.ssim incluiram a de nolile
Manoel do EllpiritO ~anto Lohato ;
COlHurlerando mais que o dito da 2" testeml1nha dos ant,)-
res Manuel I'el'f~ira 'ravares, na p;(rte em qne depüe llfl/) ter
sido a c:<criptUla lida l1elo tahellião ,lO (103(\0]', e~tá igualmente
destrniôo pel<ls afihmRi;ues enl contratio <lr.s outras testi:llJtlllhas
instrumentiirills, taes como a. -1' teF'temllllh:l dus autorp!;! J~ 4"
e 5a da ré, bem cumo da 6" da jt:eSn)~l ré 'In6 lIa mesma i'6rma
usshtiIJ á(lltella leHma, e uee]:mlçi'l.O do doador de CJ.lle a
acha va conforme ;
COllsidel'anào que ~Ó a meSll.'fl t (~~:Le!il UI,lm j\[auod Pe-
reira Tavares depõe que 8S dellJai:, Hão onYÍram da pinte os
termos flil qne queria que fosse :t escl'iptum cClH:€bida; e11-
tretado \\ffirma que for!;!:,; e)]H8 enmll'Hil! !lO ql1HI't;.) em que
se aeh,wa e U00llte, e del!o já tendo :~ahir1ú, 1l~IO ouvio o 'lHe
e~te lhes dizia; mas aquelle seu (1ito lIem foi (;!)l11irnwdo pelacl
outras iest2J:lulUJaS im:trnIlH_'Jltní'Ías, npnl, aill(la quan(to o fi-
zessem, seriam rellas attendida~) a mellOS que llÜO coal'etassem
a ilE:'u .tiva, sem (J qne não poderiam offendel' f'l. v,dilla<1e do
instn1 11ento.-Lobãe-8cg. linlw8, vúl. l, noto '173, 11S. t3 e 8,
pc.g. 491 ;
(;on~ítlerando que est~. dG me,lo jnequivor-.o (' plenamente
provado das testemunhas, que . e:crip1.tIl'f\ que;:.:tiOll:l(la. foi
lavrada f;m ;~ala diVérsa à'aqut'lla em (lue doente í'e acIJava o
ontorg,lllt8, explieada esta c!J'('nnJ8u:lllda pl:la razão de ser es-
cura pam fóscreve1'-se, e est.ar eLeja de ln()\'ej~ .• rêrles e mais
objectos (p!e j!))llO;,;~'j!JiLtcivHm aW ser bvnula a 0l'C:Jiptllra j
mets
- 227 ~

ConsIderanuo que sendo a esçl"iptura lavrada na mesma


casa do o\lt,or~ante, tSllào o têlhellião' ouvido as sua,'! tão sim·
pIes dispo~' ~(jfS e feito em prf'H'llça dns testemunhas a lei-
tura &0 c]callor qne a i'..chon confonre á sua 1'ontede,. não
tem fomento de justi<:a a pretf'ndida nullidade re5ultante desse
acto ; porquanto o fim da lei é que a escriptura seja a ex-
pressão fiel da vo lltade das partes, e esta se não póde' dizer
viciada pelo facto arguido, seguindo-se como se segúio a lei-
tura do neto e a subscripção das partes e testemuuhas ;
Considerando finalmente o mais que dos autos consta e
dispoRições de direito com a8 quaes me conformo;
Julgo improcedente a presente acção, valida a. escriptura
publica de fi. 12 e conuemno os autoras nas cust.as.
Publique-se e faíiam-se as intimações necessarias.
Cnmetá, 4 ele Setembro de 1896.-Santos E8tani81áo Pes-
80a de Vasconcello8 ..

Esta sentença passou em jnlgado.

E' ill'lprocedente a acção propowta pelo pro-


curador seccional para annullar uma lei esta-
doaI, e sustar sua execução, ('orno inconstitu-
cional; cabendo-lho unioamente a avocatorla
estatuida pelo art. 29 n. 3 da lei fedéral n. 221
de 20 de Novembro de 1894, quando por ven-
turada especie tomar conhecimento a jus-
tiça estadoal_

Acção ordinaria
O DI;, JJ1'oc1wadm' 8eccional no E8tac1o do P,tt'aná.
ÁUt01' -
Réo-O Estado do Pamná.

RAZÕES POR PARTE DO RÉO

A acção judiciada não se pó-ie est.abelecer


onde não houver ag-gmvo ao direito de uma
pessoa: port.anto a justiça federal não pôde as·
sumir sua autori<lade protectora da Constituic;ão
senão quando os aetos do poder politico CQlli·
, dil'em com os direitos individuaes. -
A justiça asseglll'a a estabilidade dos princi-
pios cOllstituciolla.es relo julgamento de casos con·
el'etos, pois, os tribunaes não diseutem esse,
. :1i'1!'iumptos in (fb,~f1'(frffJ
- 228-

Dos conceitos exarados na ej,ig-l'apl18 licitmt, resulta evi-


dentemente a impl'ocedencia, d.a l.rê~entH acção.
Assim o te:!! julg,ulo o ~~':1l"eld() Tn 1'1111a: Fp(lH:ll em eg-
pede, e em caso ànillog') :l t>j1~ "uI)[lwUir!n 1'(-10 meio legal e
proprio~ qual é o reeUlso flxtraOl(nn:·.rh (li} ljli8 falia o art. 59
n. lU § 10 leitra b) da CÚll:;t.ituiçilO ,la RGpillJlica~ e al't, 9°
paragrapho unico lettra b) do Deer, n. 848 de 11 de Outubro
de 1890, ou a avocatoriade que falla o art. 29 n. 3 da lei
. n. 221 de 20 de Novembro de 189'l,
Era esta a pl'oviriencia leGaI, qne oPPoi'tnnamente cabia
aô orgiLO do millisteric pllhliu) fe,leral i'ilZel' valer, rara aR-
segurar os dí~'eitos da TTnião, l'oi::, é el;:;;a attribuição eoufe-
rida, 'estl'ictamente ao caso ~lllljeit(), pelo art, 3H, 11 3 da ci-
tada lei n. 221. e pejo ar!. :};) 11. ~"
o
Não' tome nobre pr(!(;ur:ul(';l' see :io!1i1.1, Clljo pl'ocedimenLo
l

correcto folg"amos rec:onhe,'i:'!' em to.hó 0'1 <\('1.,'8 .'h~ :-:eu hOli-


roso ministerio, em má p:H't8, ,~ eOn!o indnn:H;ií.o) o flue yamos
dizendo; ma" permHra-n!ls qne 'ira (~:{Ii'anlhHl]I)S o seu proce-
dimento na pre"i.:ntl~ ea"';.i dp",j"):u;:l!l inteir:l:)lf>,nte <10 que ttW9
na cans::•. origil1ctl'iamentH movjt1a. ll\~~Le .hi7. ój TI'':]O tab(:llião (11:'
CaWpo Largo, tftO salJia!iwnte jnb;!vb nestct ill;;\,wcia, n:t
qual' applau1lic. nos~(Js ;l.:';;;;f-'j'!,ns r. (',I)llfló'mnn llnsso, c. c)J1('.éitns,
tendentes H. ilIilli:' a fleçã() p:' ,!)()'U:. li,,·,t(~ .il1i:,~() se,·.(',i.,\tlótl, peh
qual preteIHIÍ;~ liU1liti\~(ll' \I Hrjd i:" P!l'~r'l' Exp,emivo, qlle o
preterir, no exprdeit) IlesPl1 .)rfLil', :,.:1,) e:':te oriundo (la lei,
que organisol1 a .insti<;,':' ),) E?,t,alÍ". Y'q\1di,.: (~;l~l), como l1e:~~\',
a questão Sc rt'r1U7 (t nulIi!i::il' uma. ld !lo E:sudo (c, cojnci·
dencia notayel, hrrJba~ r\c (jtg',1Jli:i:l.Ç:tO .indiciaria) qUtl se pte·
tenue incollstituciPPül.
Si naquellp e~tSO o ;,r,.e2fUmento di) nohl'e procurador
seccional foi C01lf.rr!.l'Í0 á pl'et,!;llI ~~Il (10 t:{l,1p.llii; () re(',:~tJnanLe ou
litigante, po\' íJ,(~(;aql(1tellcja di) jLlizo, rl.nre () rilla1 lll()via :1.:;;-
si m litígio, eomo se jnstlticél. o ,·;(·t\ j)l'o(:éldiment,) actlHt) ini-
ciando llf.'ste jUlZo !l )!ll':cPllt,e n,1',(,!ii/) in Idi.';[;'(wln, il(~m um caso
concreto d8 [',gg ri'. Y'.' a.) (linito t!:1 !!!l];\ p<~·,:;f)~1? QUI,tI () itdi·
vidlW ('Il!ltril. lli~I~1l1 :{ ,j ~l~:ti(~~. ,:;~i;d,);tl ',)SUl ill ..;r.:l.I1!'.tiI.1'l p)'I)C(~SS()
por ct'im~ 11(, (~oll;l'ah;tlUll),ln lI<! llJo:)r::t fals.L ? j'enhum. Seuflo
assim, tj i,t·!)n) ;ú!l(:nr,\(loi' seCrd')lHll fere·,,!, eorn as snas pro·
prias arm:1::~- Pedki'p '1WUil, ijJ8'~ j'ef'Ísli ll'!í::ln,
Na Ji.ev!~:t;t !lI) flU,itnto ih Ot'llom d'H A(lvo~ildo8 Bt'Rzl'
leiros,f.0fll f) 1 t, (L AL.:') ,L, 1893,:.llleOil:~j':1.·S'\ o I1.ccol'tlil.m do
'; ,.. , '1'·, , . .. " 0'1 A 1 " 1 1;h;J,~,
. Q 11
I,' premo rnli'!;!l,<!;U :':')',I::j ':',', :!" ""; :.\ l:'ll ' .•..
f\ ')
S(\)f . a 0pl-
,
gr~t.i,hn-·() '-;,~t!I:'::-~~'dq fl":';;i!:"-'~',': ;:':-i(i,',~~?; ).1;:.") :;C;(~l:lrll_ dEl ?J):".. t,l'ctetú
a illeOn~.,tiLncion:)Ji{·tad~~ (t:J,''': :,.:1.~, nl(':~; ;~Ú ;0 e,,~p~~íjH, re~ol­
\,1..

vendo a 'lIH:l~tão Sll:-iíôÍt,lr!.;' ,i, :,';"3 r,~.,peito, em pkito J'eguLt r,


- 229 .....
-
Posteriormente outros julgad{)s tem proferido-aquelle egre . .
gio' 'l'ciuullal, mautendo igual doutrina, e nomeadamente Of;
que t;C lê iH) Diretlo, "01. ti8. Vago 54 e 254, que referimos
elll lln~:,;a C('lltt':,tHÇ:W, al~m de onuus que deixamos de referir,
. para !lÜO a vUlalllill' estas razões, com a .citação dalles -.eUf;:
opiniões correlltes. .
Por üo~sa parte uão contestamos a inconstitucionalidade
do li. 24 do art. ·:1:5 da ld estadoal D. 191, de 14 de ,F~vc.
l'eiro do corrente anuo (1896) conferindo á justiça lccal~o C(I·
Ílhecímento e julgamento dos crimes de moeda-falsa e contn.-
balldo,qne alei J:l~ed. n. ~21 de 20deNovembro de 1894 conferül
á justiça federal: o q ne corrtestanws foi o meio de que usou
o Dobre procurado!' seccional - para assegurar os direitos êa
União, propondo a presente acçãu para ammllaçãode uma lei
estadoa) em ah~t,racto, sem UI11 cttso conr,réto, e em especié,de
aggravo iudivirlnal, caso que deveria aguardar para então in-
terpôr o meio legal ou recurso, que a Constituição, Decr. n. 848 -
e lei federal D. 2:':1 lhe at.trilJuio, caLf'ndü ao juiz ou trio
bunal, por sua parte, a oLJsel'vall(hl. do disposto 110 § 10 do ar-
tigo 13 dacit. lein. 221.
Não contestamos a cOl1lpetenCÍa da justiça federal par;:.
o conhecimento de taes crimes, DOS termos do n. õ d.o art. 21 1
da c.itada lei n. 221,-quando atfectem á fazenda e proprie-
dade nacional, e não quando atfectem á fazenda e propriedade
estadoal; pOl'q nanto, si a COllstituiç.ão Federal attribuio aos
E8tados a competencia de decretar impostos sobre a exportação
. de mercadorias de sua l'Jopria producção,conforrue dispõe 4)
ar·t. 9n. 1 e § 3",a corupetencia do cOllllecimellto da respectivé'.
violação hào lhe póde ser tirada por lei ordiuaria.
_ Assim se vê julgafto pelo juiz:o seccional do Estado dô,
Ballia, por sentença de 15 ele :Maio de 1895, no Di"eitQ v.69,
pago 24õ H 249, onde tambem se lê, á pago 161 á 165 um illus-
trctdo e,bem elaoorado artigo de doutrina do Dl'. Araujo Góes
sobre o assumpto. .
Do expo;'t.o Ml vê que li Illateri:t é contro\rertida, e pOl
i~so a lei ll. 221 de 2U de Novembro de 18!:J4, cujo project('
(a. 100) veio do Senado, tl'az:elldu as:5irn tão valiosa reeommen·
dação-e o prestigÍ\l de sua origem, tem sido taxácta de inc.on··
stitueional, e em sua discu::,são não paSSlltl sem o protesto do
deputado, n Si'. Pal'auhos Montellegro, como se- pôde ver á pa-
gina 566 dos Annaes da C'amai'u 'dos Dep71tadoa, 1'01. 6, sessão
de 23 de Outubro de 1894.
Em todo o caso exist8 e vigora a lei, ampliativa aa com
petencia. (1,1. .íUSt.j~lt fe~:,,;·.J ;(('8 caSos ndla enumerados: já (,
o ~::;ta(lo Jo Riu fie JLmeil'O prestou-: 11e () de\iülo at.:atamento l
_._. :a3!! -

dispOllC]O 110 UI't. 23 da lei li. 287 de 14 de Março (Ie 1896-


que ílc:nn eXtlnirla!'; da l;UnH'l1l'ütnrn do art,. 2~1 lf:'tJra li) t::-t
lei n. :13 de 1893 us clÍmf':-, Clljo ,iulganwlltc cUlIlprte ao juiz
federal. melJeiclwdo8 !to <In. ::0 da lt:i n. 221 de 20 d~~ No·
vembro' d~ 1894, e iICrHIiUl!iiOS q\lu de egnal mod{, procC'l1erá.
este 1!~stado, e aflsim se gllnrdnrá O harmonioso e pamllelo
fUllcciouamento (11,8 duas jllsti~as federal e estadoal.
Terminamos l'e/lindo no honrado e iJlustrado julgador It
improeedellr.:ia da IJl't'sente P.(;~\', praticando assim mais um
acto de sna ci)stumada jus:.íça.-E. C.
Cl1rityba, 18 de Junho de HlDfl.-u procurador geral da.
justiça do Estado, Eucli(hs 1"I((nc[,~co de Jlúurct.

::iENTENÇA

Vistos e examinados os pl'c,~e!lte'l antos, consta delles qne


o procnrador da RrpulJli~"\ neyt;a secção pmpoz contra o Estaclo
do Paraná <t l':·p:;ent.e aCl:~'), ~:e li!lI1u f;('>jet aannllad:t a lei est~t·
. .tloalnumero 181 de 14 d!:l l~:iõ\'erei['l) do allUO C,)fl'ente e decre-
tada sua sllspeni'ão até que i:iej:1. li mesma reformarIa pelo poder
legislativo do Estado. All"g:-t cun:o fllu:1:llllento da acção qne a
citada lei invade á COl!lpetí'lll;ia dil. ju~ti(;<t f~~df\ral) dando, em
seu art. 46 § 2°, attribuj,:à,) fi j'11iti<;a elo Esta(io para julgaI'
crimes que Íllc!ilern extllt~Í\':l'llelll;e soh a aJron.cla daollella.
O procurador geral (tt j Il~tiça (10 Estad~ contr.:-tfJll H. acção
a fts.l0 e :'cgllintes. Rejllicrtll,b (I antor por neg'ação a tI. 18 V.,
seguiram-se os demais terlllOS da aeção até as razões finaes de
fls. 21 a 26.
O que sendo tLHlo yisto e ex;nninado, e cousiuel'ando que
a lei do Estado li. 1!)l dé l! (k l.'twereil'o deste Hnuo effecti-
vamellte brade attl'iIJni,;õ(:s (1" .iu,.;Uça federal, como se verifica
ele Se,H art. 45 § 2°~ 11. XXi V, qUA dá aos juizes rle direit.o
('onlpeteIlCii1 l;am processarem e julgan:lll os cl"imes de eontra,·
b,'l1Jo e Illoeda fal,:a, enjo eOlllledlllento l'ertfmce :u, jnJ'y federal
(il.l't.. 40 do Decr.1I. 848 (i!) 1 t de Outubro de 18!JO e art. ~()
da lei ll. 2:'::. de 20 d(l Nf}relllbl'u de 1 S!J4 em seus UUl1leros
VI e Xl);
COlisirlel:lll :lu, pOlún, fi lie o Est'l.rIo (lo l'il.ntllá votanrlo
e pl'~mniga.n ri O alI ib~ LJi l'iJl' ~el1,,, pOdE~r(:'S lcgi.t i rn:~ment.e con-
st.Itui/lo;; ((:01l8t. rio Pj[(lrZu do PaI'uná. art. 2(j n. 10, combi- .
nado com () t::1 rh f'O}/SI:i,':f"fi) r'r',Z"I';J/1 f> "('1'('(' [I l'nl 'I{'to (lO
• ~ Ji .' _I' '. '") f -'l, J., , (.J ,

p')(lcr,ü solJt,.ranw q:le, Icre ,~'r;! ;d, 11110 lJnde; ~;el' atl-l~ado(J~1)1'I{.:\.nA
--, !)Jelto I' ,de! (d, Cd:: ~.; li f· f',\ l\ll,'L,,'()V })/'" ('(J'll~l' :,~ ()"l.{i) •
, ' •• ' ~ ., A J ' . .J ..1. , • l 'I :) " ,
-- ~i) 1 -

Oonsiderando q !:e é da eiJsencÍa do poder jndiciario agir


Sf;mpl'e em hyp!'the~('s determinadas, e jamais resolve!' questões
Qll1 these;

Considerando que a acção rI esse p(lder só apparece quando


um direito individual é ferido, já lias relações de illllividuos
para com individuoR, já entre estes e a publica administração
e que elle devt1 ser sempre provocado pela parte ojfendida
(CLARK HAH.E -- Amel'ican C'onslitncioilal Lato, vol. 1
pRg. 123);
COllsi(leJ':\J\flo l1~fltes termos ()UP. qner a illconstitncionali'
da:\e das leii'l elo:; l':~tados, qnel' ~il1t iuva!i(lIHle perante as leis
ft>deni6s-jalllais p{nlp l'onstitnil'-se n:n ohje(:to ou fundamento
exclusivo de litigio e sim Eóm\~llte a base (Ie recI,unações contra
Retos ou factos attelltatolios a direitos individnaes (cit.
HARI~) j
Considerana,) que ri aCf;ão, em tal caso, nunca se dirige
contra fi lei OH nwdi<h o~fensiva á Constituição e ás leis iede-
l'aPS, l11a~ tão SÓlllellte contra sua in"ficacia para reger o caso
el'pe.:;j;{l qne se discute (itl'g. dos § 9 letra a e § 10 dalei 221 ;
U

cito I-LARE) j
COI!! _<11110 qne taes lH'Íllcillios passam por in(',ollc.usSOS
lIa jurisf,- .dencia da Amel'ica do Norte, qne não pó'le deix;1.r
de ser mOllelo da nossa (eie. HARE; 'rWKNOH. OURTIS
J[i810ry of C01l8titntlon V. UI, pa~. 433 a 4:Jõ j - L\.BOU·
IJ.~.YE-aon8t. (lelJ hats- Unis. lição 18a j STORY, Comm. ert.
rle Cal vo uS. 897 fI 898; n AJIlllfO ~ - Tlie F~derali8t, C'11'ta
I./XXVJII) ;
Considerando qne, na !Jypothese dos autos, a lll'OcedtH1cia
da acçiio proposta pelo DI'. procm<tllol' liecciollal M~ria uma in·
Justifielwel ingel Pllei,t em q nestiies RlIlll1lt<ttirlas ás justiças do
E8t.adu eOllt,ra () pl't't'.('.ito do i1rL 62 d,t Oonst, F~àerlll, porque
(i jnst.i~a fedel'al Bit') C(lllllleto ('.(}uliecer, 118111 mesmo em hypo-
tllPse, ori;;innriluneut.l·, da vaIi(l!i.ile das leis dos E8tadoi pe·
rante a COlIstitniçflO e leis da Uniiio-- e sim súmente em gl'áu
0
(1 R reClIl'SO extraordiJJaril! (art. ;39 § 1 lHtr<1 li) Constit.
Fe(I!}!'al) ;
COJ\::;Í,lel':1ntlo que lltWl um valor tem na pl'atica as dispo-
f'ieõQs da hi esUvJoal -numero 191 que ferirem a. competenciR
feclel;l!, porquanto, flstando derrogado o Hrt. 16 do Decl'. 8,1,8
pedi) :Irt. no § 1° ;l;t ("Jllstit. Ferlerct!,poc{9:ll ~:,-lIllpre ,I,S ('.OlJ1P'>,-
t~lllditS l'úspedivüs ::;er l'est'tbeleC'irlns poia.s ILYoe:1.toria.s pCtldiB
iJOt' piti'Í,es, üupd<l Jlliui::\Ler1 f l lillÍ>li(~IJ (il.rt. 'iU (h cit.lei u. '2:':1
de Lt:91 conllJinado com o <tet. 2!) 11. :3 Uit 11l1:~mlL' lei);
-232 -

Considerando que sua doutrina é lrancaménte expozaila


pelo procurador dajust.iça elo Estado quando diz, á 6., 12 v. :
«Áctualmente, depoi8 da lei fed(n'al n. :22.1 dG
20 ele Novembro (le 1894, , . n{l.o pódiJ restar~duvüla
sobre à competencia da jnllfiCa fedf,ral paTa o
julgamento de tacs O1'),1IIe8, de modo que é let,.a
m07,ta a disjJosiçOo contitla no numero 24 do ar.t. jfJ
§ 2 ({ri lei 191, que motivou ti, )J7'eaente acç401\;
Considerando que assim, pelas disposições expressas di>
direito vigente, ficam conciliados, na pratica, a supremacia da.
Constituição e leis da União com a autonomia dos EstadQs, sem
necessidade das iu va!.'ões Mutinuafl de poderes federaes nos
negocios peculiares a estes ultimos.
Consideranrlo o n'ais constante dos autos e os fundamentos
,da8 razões do. Dr. procurador do Estado, julgl) o Dl'. procu-
. rador seccional care(jeder .da acçãoproposta, sem custas- na
. fôrma da lei.
Cutitiba, 11 de Julh, de 1896. -O juiz da secção fede·
ra1.-- Manoel Ignacio OarValho de Menàonçq..

. .'
Jurisdioção Commeroial

A appellação interposta da decisão que


julga os embargos 'oppostos em acção deoen-.
dial, só é recebida em ambos os effeit08
quando elles são julgados provados.

Aggravo cOIDIDercial

Aggratlante -J01'ge Luis T~ixei1"a Leite,


Aggmvada-A Oo,npanhia Viaçao Perrea Sapucdhy.
Conselho do Tribunal Civil e Criminal do Distrioto Federal

DESPACHO A FL, 242

Recebo 8. appellação. em seus e1Itlitos regulares, expedin-


do·se os autos no prazo legal, COlll citação das partes. Rio.; 17
de Nonmbro de 1896, ~Montenegro.

MINUTA Dl:·,.T('ltAVO (FL. 246)

Para o. collendo Conselho i'" 'rribnnal Civil a Grhuinal se


aggrava, na fôrma doart. fJt;fl S: S'do R~gul. n. 737 de i850',
Jorge Luiz Teinira Leite di) lh~::.;pacho de fi. ~J4.2 pelo. qual o
M. M. juiz aquo recebeu em ambos os effeitof: a appellação in-
terpo.sta á ti. 239 v. pela Clllupalll1ia Viação ~errea ~apucahy. ' '
O .ggra vante exporá r:tpidp,:",lente os fundamento! deste·
re~~. . .
Trata·se n'estes autos de uma acção dec~ndiaria em que os
embargos da ré, ora aggravada, foram recebirlos comcondemna-
ção, ut accordam á fi. 72, e Hfinc\! jnigados não. provados pelo
aecordam á ti. 237 que con()omnou l' 8ggravadll e a Companhia
Empreiteira ao pagâmento. pedido ua acção.
Em· que effeitos deve ser recebida a appellação aú aecor-
dam que assim decidiu?
O rlespacho aggl'avaclo recebeu a nos etreitos l'egnlares,seli!
duvida por entender o !VI. 1\1. juiz a quo que, tendo sitt re-
cebidos os embargos de fI. 45, embora com condénlll<lção, a
causa. tomou curso ordinario (art. 260 do Regul. 11. 73'{ de
1850).
Mas, o appellante pede venia para ponn\'rul' que tal ill-
t~lligencia n!\,o é a que tem pl'evalec~do e IWIlI é, segnra·
mente, a melhor. .. .
A pratica de julgar, aUesta,la peja j:-,l'i;pl'l1ileneh <1').8
. Tribunaes (Dec. da Aggr. do pres. da 'rrit> .. lo OOlll. da CôrLe,
de 17 deDezembroàe 1857, cito por Odnll i1/) not,:\ 18! ao
art. 260 do Regul. 737; Dac. de Aggt'. do lllu,'1110 pl'E'8., de 2
de Dezembro de 1872, Ga~. Juriã. vol. 3' ~)P.;s. 304-; Acc, ua
ReI. da Corte. de 11 de Fevereiro de 1875, Direito, vol. 45
pago 570) é quesó no .effeito devolutivo recebe-se a appella-
çRo interposta da sentença que julgou, atinai, os embargos á
assigna<;ão de 10 dias, recebidos com coudemnação.
. E assim tem uniformemente decidido o collendo Tribunal
aà quem.
Os fundamentos para assim decidir são Ol! seguintes: 1-.
. Que o facfo de terem os embargos recebidos na assignação de
10 dias discussão ordinaria não autorisa a applkação do pre-
ceito do art. 652 relativo /tos etfeitos da appellação na acção
ordinaria, porque não se trata de acção de tal natureza,
2" Que haveria contradicção entre o art. 259 do cito
Regul. que manda executar asentença (com a unica restl'icção
de prestar o autor fiança) e o art. 652 que, marcando o~ dois
effeitos para o caso vertente, impediria aquella execução.
Na hypothsse dos antos o autor, ora aggravante, que já tirou
sua carta de selltença, e que até já mandou intimar a ré, ora
aggmvada, pllra dar bens á pellhora,não poderá prosegllir por-
que o tolhe'o despacho aggravado.
3& Que si a appellação da sentença., que, desprezando
logo os embargos, cOl'ldemna o réo, tem só o effeito devolu-
tivo, será absurdo que tenha ambos os effeitos a appellação da
sentença que, com todo o conhecimento de causa, isto é, de-
pois de discussão e prova, condemna o réo, desprezttndo-lhe os
embargos, ou julgando-os não provados.
A' vista do -exposto e dos doutos supplerpentos, espera o
aggravante que o collendo Conselho acl quem dê provimento
ao presente aggra vo, si o M. M. juiz a quo não reformar o -
despacho aggravado, para ser recebida a appelIação somente
no effeito devolutivo como é de justiça. ..
Rio, 19 rle Novembro de 1896.-Candiao D1'1t1nmond F. de
!llen~onça.
DESPACHO ([<L. 248)
Refülll1v (I uespcl!o á ti. 2,t:~ para J'ec€ber, em um só
effeito, a al1iJel!aç[i(l illterlJOs1.a.
Rio, 30 de Novembro de 1806. -:uont.3lt6[J1·O,

'rendo a Companhia Viação Fel'l'ea Sal'ucahy aggravado


d'esse despacho, que foi mantido pele juiz a q'tlO, sutAram os
anto~ ao OOllselho do 'l'ribnnal Civil e Criminal, que n'e11e8
proferiu o Begüinte: . .

ACCORDAM (n. ~5G v.)


Vistos em me811 <o 1~1::ttado5 08 at:.tofl. accordrrm em Conse M

lho elo TribnllRl Civil e ClÍrninal nep:a:' pí'ovimenfli ao llggravo,


attent.a a pl'ocêdeuda dns l'Ilzões á tI. '246: :1< llf'p6Jlaçã ') in-
~nlJ08ta da decisão que jul~a os embllrgofl rppostos em acção
decf'un,hl só é recel)ida t~m ambos I s effeít!:.': qualldo i3~O elles
julgilllos pro\'ados~ Si tem ingre~;~o a exscução ao t.empo de
8"'\1 rec~bimento, qUllnrl.o Ilil,: ::ie acham eUnlFj(lamellte pro-
varI08, fôra paradoxo admLiir H ~na Im~pensü,o quando defini-
tivamellt~ julgado.!! n[1O provado~. ('l\!~tas pela Ilggravante.
Hio, 10 de Df'zembl'o de 1896 .<- M1tni~ ];!l1Teto, presidente.
-PitdtlQ(I, relato)' .-8e.q1trado.

ElnbarlrO em naTio csh<angeil'o.


i\avio estrangeiro pôde ser embargado por
laltas na entrega da oarga.
Intelli.zencia do art. 482 do Codigo Com-
marcial.

Aggravo conunercial n. X"


.d!l!ll'avrtnte--f'. L!ldke,c/lpítão do lU.fJm' allemão «Hermann
l;cehel·.»
Agrl'/ll'(tàos--Aze'/Jrdo Bra!la, Pinto &; O.
Supremo Tribnnnl Federal

MINuTA DF. AGGRAVO

Srs, .Juizes do SII}i7'f'-mo Tribunal Fedel'al.-C. Ludke,


,Cct)Jit:10 do illgar allemão lJc?'mann BeckcT, fnn(la<1o 110 art. /".1
,Q, 1(\
;j ~ U(~ Dflcr. 11. ~21 de 20 de Novembro de 1894, a~~r"you do
uel'ipauw (!Ub eoncedeu o embargo sobre o 8~n 1ilwio,
-236 -

A illegitimidade do despacho aggravado é manifesta.


O art. 216 do Decr. 848 de 11 do Outubro de 1890 dis-
põe terminantemente que o embargo de embarcação só pode
ter logar nos casos dos arts. 479, e seguintes d.o Codigo Com-
.mercial. '
O art. 482 do Cod. Commercial por seu turno dispõe
tambem terminantemeute que os navios estrangeiros surtos nos
portos do Brazil não podem ser embargados nem detidos se!}ão
por dividas contrabidas no territorio brazileiro em utilidade
do mesmo navio ou de sua carga, como igualmente já dispuzerà
o art. 450 que liellhuma embarcação póde ser elllbargada por
divida nã9 privilegiada, Ralvo no porto de Sua. matricula.
. Ora, dos autos se verifica que o navio do aggravante <le
bandeira. allemã foi embargado, não por divida privilegiada,
contrahida no territorio brazileiro em seu proveito ou da re-
spectiva carga, mas pur uma obrigação pessoal do capitão,
qual a entrega da carga que o constitue na posição de .depo-
sitario, nos ternlos do art. 519 do Cod. Commercial, sujeito 'á
prisão na falta de entrega immediata.
Vê-se,'pois, que o despacho aggravado confuudio a res-
ponsabilidade que a lei claramente dhitinguio: a do navio pelas
dividas contrahidas em territorio brazileiro em utilidade propria,
c(>m a garantia do resppctivo embargo; a do capitão, pela guarda,
conservação e entrega da carga t sujeito ás penas "de deposi-
tario infiel. •
Não ha subtileza que autorise a confusão entre a divida
contrahida em utilidade do navio e a obrigação do capitão de
entregar a carga.: são co usas q rie á primeira vista se dis-
tinguem. -
. ELitretalltc, a dedsão aggravada, não levando isso em
conta quanto á ailegada transgressão da obrigaçãO do capitão,
applicou o relnedio violento que a lei expressamente restringio
á responsabilidltde do navio pelas dividas contrabidas f'm uti-
lidada. sua ou da carga_ . ' . . .
Acalilo a acção de deposito não era bastante para ga-
rantir a entrega da carga?
E se a prisão inexequivel antes do prazo legd.l de 48 horas
não podia impe!Er a paI tida do navio, o remedio não era
certo o emb r.· o ri.O navio contra dis{:osição e:x:pressa do Co·
digo Comme ~Jal} mas sim a detenção pessoal nos termos do
art. 44 do r,lte.(10 Decr. n. 221 de· 1894. Tanto assim que
os arrestante:'J, não contentes com o violento embargo no navio
do aggravante, acabam com manifesto absurdo de propor-lhe
acção de deposito para restituiçãO da carga que já emb~r·
garam e confiaram a outro depositario !
- 237-

Isto posto, espera. o aggravante, caso o meriti9simo juiz a


qu.o mantenha o seu despacho, 'lue o egregio Supremo Tri-
bunal dê provimento ao recurso para JIlan<lat' levantar o em-
bat'go~ condemnados os aggravados nas custas.
Rio, 15 de Janeiro de 1897.-.01' . .José llIêtria Leitão da ~
Ounha.

CONTRAMINUTA

o aggravo interposto á fI. 29 .pelo capitão C. Ludke dQ


lugar allemão Hertnann Beckm' não pôde ter provimento sem
grave offensa ao direito, á equidade e á bôa fé.
Os aggravados tinham que receber do aggra vante um carre·
gamento de pinho embarcado no porto de Paranaguá. Aqui che-
gando o navioem fins de Outubro do anno passado, recusou-se o
capitão a entregai-o sob o pretexto de que se lhe deviam frete e
sobl'e-estàdias ; e depois de varias peripecias, muitas das quaes
se passaram em juizo, os aggravados entraram em accordo com
o aggravante, -recebendo . este 8: 000$ por conta e saldo
de todos os frotes e sobre estadias a que se . reputava com
direito.
Antes de conclui da a descarga, o capitão, faltando á fé do
cOlltracto, rcusou·se a entreg'ar o resto do carregamento, pro-
cedendo pela fôrma de que dão teiíltemullho In; depoimentos
constantes dos autos, declarando peremptoriamente que nã(J 1\
entregava fi ia sahir barra-fóra, levando o carregamento como
lastro d. navio,
Nestas condicçóes, o que restava aos aggrava<1()~:? Em-
bargar o navio com fundamento no art, 479, combipi\dn e.r,m
o art. 470 do Codigo Commercial, pois, aut.orisando o emlHtl't~O
nos casos previstos no art. 470, uma das hypotheses cL,;:-;t.e ar-
tigo-prevista na alinéa 9~--é a falta na elltrega dn. carg.a, o
que se den no r.aso vertente.
Invoca o capit.ão o art. 482 para fazer cahir o embargo,
afim de que desembaraçado o navio, possa abrir o paalLo, le-
vando o carregí'tmento dos aggravados, em bURca de oiltms pa-
ragens onde venha rir a bom rir das leis e justiça de um paiz
'em que impunemente se póde levar a effeito o att.<:~nta(l{) de
que falIam os autos.
Felizmente a lei invocada nftO. snffl'aga semelhante eles-
p!,oposito. O proprio art. 482 cita<lo ex-ailve?"~o é que dutO:,
l'lza e justifica o embargo no caso occurrente. O embargo do
navio estrangeiro épet'luittido no caRO da divida Her contra-
hi(~(), !lr) territorio lll':\zileiro e em utilida<1e do nnl'Íu 8 tie 811'-1,
- 23g-

carga. A divida ou obrigação de que se originou o embargo foi


contrahida em territorio nacional.
O carregamento fez-se no porto de Pal'anaguâ, territorio
da Republica, além de ter sido aqui firmado o documento pelo
qual o capitão, recebendo 8:000$ e dando plena quitação por
frete e sobreestadias, obrigou-se a entregar o carregamento,
sem mais reclamação. Foi ainda a obrigação em utilidade do
navio.' Foi divida ou obrigação proveniente de frete, frete qlle
éem utilidade do navio, mesmo a primeira das vantagens ou
utilidades do navio.
O que a lei quiz foi remover todos os obstaculos á nave-
gação estrangeira no Brazil provenientes de creditos .que pu-
dessem seraccionados em outros logares ou cuja cobrança e
execução pudesse acarretar duvidas e delongas em prejuizo da..
na vegação nas aguàs nacionaes fl s6 em beneficio de credores
estrangeiros. Igual disposição encontra-se no art. 871 do Co-
digo argentino, no art. 844 do chileno, no art. 654 do Oodigo
mexicano, e no de todas as nações novas, todas inspiradas no
intuito de attrahir os navios estrangeiros a seus portos, mas
todos com a l'estricção consagrada em nossa lei com l'efel'encia
á obrigação contrahida no territorio nacional eem utilidade
do navio, em cujo caso sempre se compJ'eh~ndem as dividas re-
sultant98 d0 fretamento, não havendo hel'meneutica que possa
tirar ás obrigações oriundas do frete o caracter de obrigações
de utilidade para o navio. .
. O navio €strangeiro não p6de ter privilegio t.ão exorbi-,
tante, que permittisse a seus capitães praticar attentados d'l
ordem do que rezam os autos e que se consumaria se não fosse
o remedio do embargo. .
• Graves prejuízos e damnos causou o aggl'avante aos ag-
gravados e ·a acção que estes propuzeram contra eUe se toro
naria illusoria, mesmo no caso de condemnação da aggravante,
se fosse licito a este largar-se para mares e terras, onde nunca.
o alcançasse o braço da justiça brazileira.
E' o que não se dará, pf)is o despacho aggravado ha de
ser confirmado, como o exigem a lei e a justiça,
Rio, 16 de Janeiro de 1897.-Dr. Ped1'o LeãoVello8o Fillto.

RESPOSTA DO JUIZ

Mantenho o meu despacho por não ter feito llggra'fO ao


aggravaute, porquanto:
a) trata·se de uma divida privilegiaua (Ood. art. 470, IX)
faH,a na entrega da .carga ;
- 239 -

li) a aivil1<'t foi conlndti(1.t 'ó'm ténHorio brazildro e em


nUlidade .(L lW \'10, y:::'!U (l í"j }li! :\0, :HelJido a importaucia do
frete e a lH.·,·,cj·t,:.lj~~la. (1a ~~,)1Irt:é,~U~í.:i:t:
c)'(l acç,~() il(~ d"!I0;,ifo L:,U b ,lliw'/ôlmíl'a ás medidas asse·
cUl'atorias da detellção lJe:-;soal e <lo tmbargo, l1em €8tas se
contl'apõem . .As mei1i,1as aliSf'clllatol'iar; - detenção pessoal e
embargo -- f!l'eC,e(lelll e ':\'.OlllfJM1!liUl1 t.odas as aeções, quando
neCESSárias para g~.l'al:1 li, da t:X'~CII(/'P. P, assim ponol11 prece~er
e aeullIl'anh<ll' a acçi\u tle df'p()~ito j e bem assim a deteução
}Jüllsnal n:ltl lJl'iva <L parte cr,>rlol'lí rito iUllC;[ll' mão da medida
do emlJ:lI'f!;I), cumo se vê tXIJfes:'ltl1lP,lILe idcultado pelo art. 349
§ 5° 110 0otl. CUmlllfl'cial; selldo livre á yarte credora lançar
mãú (b. medirIa que melho!' B nlllis prollJ1Jté\mente garantir o
l'ieu llil'eito j
(1) não aproveita ao aggruvunte a dispo::,ição do art. 519
do Codigo Comrnercial; pois n fere,se á posição juridica do
capitilo do navio, cUIlRti\.uilldo·() ('OIl\O depositario e 8ílsim sujeito
á acção de Ilf:!pu~ito, mas nliO elimina as medj(lfl~, prevontivas
da ddençtio 1'('1'::;0111 e do embargo. '
A:ll:dnl !-! lJor Rstas I aZÔRS llluniellho o mou despacho e
cOlld'II1J1JO lIas custas e;P·caU8a :W llggravante. _
Rio, 19 cleJandro de 1897.-J1tllriqUi! r'"..czPintoGoellto.

ACCORD,IM

Vbtos estes autos em qlltl C. Lndke, c?,pifão do brig'ue aI·


lem~lO J-Terrnfl/w n('c!itl', surto no port.o desta cHiade, com a só
argnic}lO de competir antes a detell,~üo (le sua pessoa, f!e ag·
gmva do despacho (18 tI. 28, em qlHl li juiz federal deste Dis-
l!'ic.t.o concedeu em f,tVo!' de, AZi'.\'e,10 Braga, Pinto & C., ora
flg'gl'avados, embargoBoure o dito navio, para asse.gurar o Ín-
Lei 1'1I inlplenJ6uto da ohrigação li ue o aggl'u vau t.e c.ontl'allio elll
PanUl:l!5'uá. d('l, transportar o carl'egalUellto COllst~ulte elo cuuhe.-
(',imlCnto de 11. 25 e de entregai·o aqui 110S aggrav!i.do~, de
(~l1em já l'eceheu o preço c!.o fl'ettl 13 dit~ sobreestadias, conforme
se lllü:1Ü'a do dOt.'umento dt\ fl. 24 :
C'IJ]sidon:lldn t}l:e a olJrigaç,ttl ,le 6:1t:'()g'a!' :;s mercadorias
traw;lJ,')úas de IlIll vara out.ro l'uri.o (lo i\;rl'itorio nacional,
long'3 dtl ser chinJgraplJal'ia, l'tlpntit,sEl feita em utilidade do
1I:-t vio, e:\1 ri fítljAita ao Jll': vileg-io eXi'res.:'o, (H/instar tlo ar-
tigo 1(18, llu lU t" -170 § :/" (1n (:ul\. CUllJlllerl',Lil: 8, t';)l'l.ant.o,
antOl'\sa ,.I r:'1I11I:i!'g'ü de que trat.a o art. 482 domesmo Codign;
C(}n~ifle],H:j(io (1[10 OI' plivilpp;ios dos (',~\! n:g:tdoJ'es, j:{ dt~
-240 -

si . exclusivos da detenção pessoal dos capitães, correriam


risco de ser fraudados com a dprretação dessa medida odiosis·
1!ima, porque as embarcações sobre que incidissem poderiam
abandonar ru! aguas da Republica sob o commando de sueces-
sores ou dos immediatos dos capitães detentos:
O Supremo Tribunal Federal confirma o de!!pacho aggra..
vadQ, pagas as custas pelo aggl'avante.
Rio, Capital Federal, 30 de Janeiro de 1897.-,-Áquino e
Oastro, presidente . ..,-Ame1'Íco Lobo.-PareÍ1·a F,·anco. -li. àQ
liJ,pirito 8anto.-João Ped7'o, vencido por ser o caso de acçãQ
de deposito, nos termos do art.. 519 do Codigo r.ommercial,
combinado com o art. 280 do Regu!. n. 737 de 1850 e não o de
'embargo.- Flgue"'edo Junim·.- l'ríanoel Mm·U1tho . ...,. Ma(JtJdo
Soares, vencido com o Sr. ministro Joll.o Pedro: a llCção de
deposito dos arts. 268 e seguiutesdo Regu!. 737 de 1850 nãos~
pMa confundir, nem substituir pelas dQarresto do art. 321 ou
da detenção ~e8soal do art. 343.-João Barhlho.

Não p6de prevalecer o. embargo effectuado


em quantias devidas por compradores de
carregamentos de naviOI, não s6 porque o
embargante, na qualidade de cessionario não
se mostra devidamente habilitado para re-
quereI-o. oomo porque a obrigação attribuida.
á embargada não é divida certa e fundada
em prova litteral. que possa autorisal' essa
medida aaseouratoria .

.Ã~gravo de petição ~. I"'S

Aggt'avante - Â Oompanhia Geral de Oornmercia e In·


dustria.
Ag.qravado- J . .A_. Sarnmuelson.
Supremo Tribunal Federal

ACCORDAM

Vistos, expo~tos e discutidos estes autos de aggravO. !I~


petiçlío interposto pela Companhia Geral de CQWrnercio e In-
dustria do despacho' a ti. 42, pelo qual o jui~ secciQual {l~
Districto Feuflral malllloll snb:iistir o embarg(>, a requerirnaqto
do aggravA,ílo .J. A. Bammuelsnl1, effectuado nas quantias qu~,
em restl) rle pa~amento dOR r~srectivos preQOB, deviam ~ Qom~
panhia aggravallte os l:l)mpl'ad()t"f:l~ dos calTegamentos (la m~·
deiras vindas pelos bttrco., Lilll e p,.inceM Wilhelmine, a que
á mesma Companhia haviam sido consignados pela viuva J. B.
- 9<il -

BerIa, de Pariz: Aceordam dar provimento ao aggravo, para


que o juiz a Q1W, reformando o seu despacho, ma.nde levantar
o embargo, que não pôde prevalecer, já porque, figurando o
embargante J. A. Sammuelson como ce~sionari() da viuva J.
B. Berla, não se mostra habilitado nesta qualidade com in-
8trnm~nto juridico idoneo, não podendo tal reputar-se a carta
a 6. 25, destituida de todos os requisitos de authenticidade,
jã porque a obrigação attribuida á aggravante não é uma divida
certa e fundada em prova litteral, que pudessQ, nos termoS
de direito, autodsar previamente aquella medidá assecuratoria.
Pague o aggravado as custas.
Supremo Tribunal Federal, 6 de Fevereiro de 1897.-
.Aquino ~ Oast1'o, presidente.- l!igueiredo Junior.- H. do
E'pirito 8anto.- Manoel Murtinho. - Jol1o P~dro.- .Plnda-
hiba de Mattos.- Bm'narditlo Fe;"reÍ1·a. - Ribeiro de Almeida.
- Pereim Franco.- Americo Lobo, julgo incompetente o juizo
federa), porque, conforme se mostra do teôr do aecordam. não
se t.rata de questão que se prenda a direito internacional nem
á segunda parte do Codigo do Commercio.- Macedo Soare8,
-Jo(J,o Barbalho.

Não faz aggravo o despacho do juiz que


recebe para discussão os embargos relevantes
c provados oppostos á. acçllo de segoro em
que se pede o pagamento da importanoia de
parte das passagens de immigrantes falIe-
oídos de morte natural, em viagem da Europa
para o Brazil, porquanto a responsabilidade
da Companhia seguradora, em vista da apo-
Hce, é limitada à índemnisação de prejuízos
provenientes de fortuna e risco do mar ; e
quando mesmo o contrario tivesse sido esti-
pulado, seria nessa parte insubsistente a
obrigação e nuHa a respeotiva apolice.

Ag-gravo de petição n. 1:8:.

Alluravantes- ~. Fiorita &1 O.


~uuravada- A Oompanhia de Selluros «Bonança».
Supremo Tribunal Federal

ACCO&DAM

Vistos e relatados estes autos de aggravo de petição,


entre partes, como -aggravantes A. Fioritar & C., e aggravada
a (\lmpanhia de Seguros «Bonança» - Accordam em negar
provimento ao mesmo aggl'avo, para confirmar, como confil"
mam, o despacho de fi. 77 v. por ter sido este proferido de
DIa. JOL. 71 16
- 242-

accordo com os arts. 258 e 307 do decreto n. 737 de 1850.


De fnct.o, ten(lo sido a ré aggravada, demandada, mediante
acção de seguro, para pagar aos antores aggravantes a impor-
tancia de parte das passagens de immigrantes f,dlecidos de
lllorte natural em viagem da Europa a portos do Brazil, velo
- fundamento de que a responsabilidade estipulada na apolic.e
de seguros n. L637 (fi. 5), comprehende a obrigação do pa-
gamento das passagens dos immigralltes que, por quálquer
motivo, deixassem de chegar ao logar do seu destino j e havendo.
a ré aggravada, nos embargos que oppoz em defeza adduzido
entre outras allegações, que sua responsabilidade de segura-
dora. estava limitada a indemnisar pl'Pjuizos provenientes de
fortuna e risco de mar, como se deprehende da respectiva
apolice, entendida de accordo com o art. 666 do Codigo do
Commercio,e é da propria indola da acção de seguro (art. 299
do citado decreto n. 737), e conseguintemente não podia
abranger facto que nenhuma rela<;ão tem com aquella causa,
como a que servio de base á acção proposta i pelo que, quando
mesmo tivesse a ré aggravada contrahido semelhante obriga-
ção, ~eria elIa insubsistente, e neste ponto, nulla a, apolice
de que se trata, náo podiam taes embargos, que teem assim
seu fundamento de direito no citado art. 666 do Codigo Com-
mercial e de facto na indicada apolice, deixar de ser conside-
rados relevantes e cumpridamente provados e portanto rece-
bidos como foram, para dar-se logar á discussão, nos termos
dos referidos arts. 258 e 307 do decreto n. 737. Assim deci-
dindo, condemnam os aggl'avantes nas custas do incidente.
Supremo Tribunal Federal,13 de :Março de 1897 .-Aquillo
e Casü'o, presidente.- Manoel MUl'tinlw.-Pereim Franco.-
Macedo Hoares.- H. do Espirito Hanto.-Ribeiro de Atjneida.
-João Peàro.- Bm'nal'dino Ferreira.- Figneiredo Jltnim·.- '
Pindahiba de Mattos.
2U .-
S'~~:Ul'O mal'~tímo 'sobt'o Y8.lor de Í'assa':;'8Jl~
dA f'íl1Í:.:'rantes li ~T1lbarcarem ll:~ E'JrOpO, j'3f<1
o lIr'lzií.- n.esnolls~bilidad(l d;1, Compa;,1.i',
sru'll':lilllra p~lõ ,1?IDd c, pro\'cuieJ<te d,) 1110
Clá!l!ll·}mGní.'~, d;~ :Jl'olk~'1 pOl' f~tr·to alheie ~~
'\'t>ulade do ~('gUl'adu, como de,'icon,'ccimr'nw
por parte (reJle de ado do Govcrn',l 'lü
Brazil q'lC prohibifl a cntrada de emigra~i:ps
yindús de portos estrangeiros {lndo grass~w"
epidemia,

Apl1(!lllln!e -- CWli!7o C)'{",n


Appl'/la,ll! -- Li Compnll?li(1. lle 8('[;'/it'OS Ma)'iti\IG~ p, To'-
"(,8t1'88 «Gal'antia»,
Supremo Tribunal F,~del'al

Vistos, expo::tns r. dh'!~n1idos e~t?s autú~ (ie apn~::açii)


COJllllH'\'()<t! entre ]linte:1, como antrl' aP!J(',l1antc, Camil:/)
Cl'flsta, e'eOlHI) ré appella(1;L It Cümp:l11hilt de Seg!1ro2 Mar!-
timos (l 'l'el'J'fH;:,tres «Gar"l]Ii;:.. ;
COnSl{{pt'i.11H!P fl118, pela .'qJoli..~e â fI., ;l [lP11p.llada. [~\.'gtlr( u
ao appp~li',;!r(; ;~ qnalltia (L· ~;(ÍO:(!IJi"~' \-,:hi' de l';l';"a?,:':'ll:;; I:)
e.nig·ra~lte8 r~. enJharcn.r H~l lj~':r:.!~,,(t ,~nJ "'\'~qll~.~·\,S elH.s~itie(l.~..:·~,
pam diYer:,;rú~ !IO:'tI)S do J~],:lz:l, illdn"ivt\ I} (l~ S,ll:h,t', ,',Lt" "
eapital 11,. E:lt./lllo (18 S. J\:'1~{l, (Jbri'~ail<;i1-~'-l.'\ in,l(lplilbi!' "
imporlanda da:,; pasRag(>ll-, (li,; t,'1;:ig'l!j]drs li IH', emk\j',:ar1o~,
dei.!fl.s~eJr] por 1(1Iall[llH mntiY0 :1,' l'llpg-;11' ao sen d"stin l) ;
Com;:!el'[l.l'(lo Ilne, na en;liül'lli(hlle dessa f'.,1Ji)g(~e, I) HP-
peiJante pífe('Lnon I) i'>f'gUI'O l.h'3 p:\,;Q",g-~ns ,10i; emig!'tlHtes
yilldos pelo vapo!' it"liano RMil,O, ü',JHIl' ~;Ilo 11 l'e~:r'2ctiva
apo!ltill,1, la!l\adil na Hjlolicn (1<' fl .. a 21 dd A::;'11:'1tü de 1893;
('ollsi(lf-l.n.lHln ql((~ o il\'to do (hye\w) Br;lZileil'(), tle 27
ae ,llllho (te 1893, dt~darl\lJ(h ~,u~p:cito \1 porto rln N,lpoles,
apenas Rll,ieita Vil os ll:1.yj,.:,: de::sa rrOc.eden1~ia, segnllilo o
llrt. 150 elo (1e r rdo n, D.5:~'t de 3 (lfJ Fevereiro de HlS(-;. a
nwdillas Silllit.'1I'i;!,<;: de dp~inft~(',(l() p i"ol:Ú11flttn, pel,) qUi> 11[:W
~ dJi b. ht q il2 n~~ P!11 i grall h, :-~ (~,b t·,j.~·;1 ~~f_) nI H() ~':; ti ([ e~ ti!l!) !--l
! PC\!· ..
tan! \; ni\q ()bri!~;n'a I) H\'i'ell:~ ntA i. ~'i1:';1){,;1:1",1' o servil;1l Ih
fnl!gra~:tc) !L .~(Jn ,_'(lrgo ~
('oJJ;~i(1{)l'a))(1() elllll (1 d,xJ't't:-' IÍ<' H>'iillJ\l Goú':nn, (1,-' H:
de ':\gOfito ele 18\!3, dcC,!;t!':l.i;:tn in! :~:',;t)l\:~llc (l 1\I:d.o ,le Na-
}iOles) e {il'ohibilHb a ent.IH!l<l ]lO ni'ai.il :le Pl1lig~':1i:le~ (jl't::)
ebrJ.Hrlht {\;'tL, ejI'Ú~:"ih' ;~;l~::,,- ';1} I:;t ]'dia Ol: de qnalqtler
pair; (11)(18 !H;UvtS,:;e clJ',:Jel';i jl10!'hus, lneÜHLl, 'di,í:;, lJã,,; autori·
- 244-
sada pelo referido decreto n. 9.534, então vigente, foi publi-
cado no Diario Ófficial de 17 (lo mesmo mez e anno ;
Oonsiderando que, reRitliJ1(lo o :lllpellante na capital do
Estado de S. Paulo, só na noite do dia 17 podia ter conhe·
~~ - cimento da rQsolução tomada 1J810 Governo, e lhe cumpria.
~.', providenciar no sentido de suspender a partida de emigrantes
dos portos da ltalia para o Brazil j
Oonsiderando que o telegl'amma de fl. 36, escripto a 16
de Agosto e transmittido a 18, não prova que o appellante
tivesse conhecimento da resolução do Governo, antes da. publi-
cação do decreto de 17, que prohibia a entrada dOIl emi·
grantes vindos dos portos da Italia, pois o mesmo telegramma
referia-se ao governo do Estado de S. Paulo, como bem mostra
a carta de 21 do mesmo mez, transcripta á n. 62 no auto
do exame dos livros do appellante j
Considerando que o vapor italiano Remo sahiu de Genova
no di.. 15 de Agol5to ás 4 hOl'a~ da tarde, com destino ao
porto de Napoles, ourle chegoú ao dia 17, sahindo na mesma.
dáta á tarde em dil'eitul'a para o Rio de J lt,neil'o, tendo os
papeis "de bordo legalisados por autoridades brazileiras e ita-
lianas, e as listas de emigrantes devidamente authentic"da!'l
pelos consulados do Brazil em Genova e em Napole8 ;
. Considerando que, estando o damno de que se trata,
comprehendido na apolice de fi. 4 e não tenrlo-o acontecido
pOl'facto do segurado, devI'! o ll!e~lHO damno ser indemnisado
pela appellada j
Accol dam dar provimento á appellação: para,reformando
_a sentença appellada, julgar procedente a acção e cOlldemnar
a appellada no pedido e lias custas.
Supremo Tribunal Federal, 21 de Novembro de 1896.
-.Aquirio e Oastro, presidente. - Jos6 Hygino. - Lucio de
Mendonça. - Ribei1'o de Alrneid(t. - PCl'eint Franco.-H. do
E,pir#o-Santo, vencido. - Jiigueiredo J1t1tio/-. -.R1&dahiba d~
Matto., vencido. - ]facedo Soares, vencido. Reporto-me
aos fundamentos juri-dicos da sentença appellada, fi. 212,
e aos não menos jurídicos do voto do Sr. ministro Pindahiba
de Mattos, vencido no accordam proferido em causa iden-
tica, fI. 236, signarlter á fI. 239, onde, com assento nos factos
, constante1'l daquelles e destes autos, se applícam proficiente-
mente á especie os principios de direito commercial e mario
timo applicaveis a ella. Quo o appellante teve conhecimento da
prohibição do Governo sobre a intl'oducção de immigrantes no
territorio d,l Republica, ao tempo habil, afim (le evitar os
seus prejuizos, consta até dos seus proprios livros e !los depoi·
mentos tirados na Italia .. O mai!! é resultado de incompleta
- 245-
a.prpcíaçiic or,8 provas e de má ap:l)licn';ão :las regras do Codigo
ao CRSO ')(~(·n!')'eiite. - F:)j l'rP~ent8 o SI.'. procurador g·eral.

Respons~>bilidâde dos l,onductore. de gf}-


neres e cormnissaJ'ios de tr:\Dsportes pela
omj~sí\o ou culpa de sens prepo.to8.-Aban-
doüe do lláVio.
lntelligenciv. d(\ art. 9Q e do art. 4g4-z..
j>nrto-tlo Cod. (;orum. >

AppelIação connllcrcial n. 210

Appe.llante- Tenente Jocio Baptiiifa (1(' Almeida F-illiJ.


AppeUad"- ('((}/it.à>o El}itl ia Bem Dias de Jilo1l1'a.
~\ll'rem() Tribunal Federal

ViSt08, rehüarlos e (lj~ellU(lus e~te8 anl..)s de appeIlaçã n ,


iiltel'po~tl't. pelo teikl1tf' .>Ioiio JLtp(.i~ta de Almeic1a Filho, (1<\
~el\tençtt á a, 8i) elli lpW () jUii: fH1(~l'F,1 :le ~rnt;-o·Gros::;o jnlgnl!
n&o pro';iill,:s (,s rmll,trge c;> 1'0" 131k Ofil~i'eddos Ú execu<;ü,) que
lhe mún' (I ilppt·lla<.!(l ,'a pi ::11j E1t1j([j'í Ikln T,;,ts (le illonra :
Cüll~idpnu;,lo que , illillli~,Hiit~ COrtH' (', ~l. l'espon;:abílidl\de
dos condllr~tÜl't',,, (lf~ gmli:\r:l:' fi \:f)iJ)mi'<,,:irio,-, rtetransportes pela,
omissitl) 01\ enlplt dt~ ;:ea8 ,11"epPf,tus ((;oclig r/ \'oilllnercial art, 99),
o al'pellnlltê, 1'211do ~lldo l~ilJ1df>:nnHI1() lIessa !Jnalidarle, pela
sentt:llr;a e:Z(·~qnell<1H, a il't1rmnh;(ll' (li) appdblio os IHf>juiz(j'>
qUi:' 111e irr'jgu[l t) piloto (h lancha Anlollit:ia, não podia, ~on:
l're t,0 !I r! f:; 11 , r~~ti':li~il' a pl!-,:sente t'XdÜUi;~;) ao valor do diti,
vehielllo) lll.r 1111,1' :,t', t\llr'.lH;,rrtr IlH:'! coltlli~:Õt'.i\ de dono OH à~
comp!1.rLo' da f"!illlcenç:i\.o ti Qllt'Bl ,1 art, 4;14, in-fine, do Codigo
C(Jil]llteCi.:ial c.oli:;rdl' I,,, Ll::ll~,h;(c d.e ja;,?l c-.,s;,ar a sua respon·
~1ll.Jilida(k pelo;; {l.:jl\L:;n" (';I'I";;;()I'" a, ti~r,~eij'O F'.lo capit~o
ahalHlUlllL1\dt,·lhe,-; !) navio;
estar 11(-'~dt; .1'1 \leeidido, pelll. seno
(jou..;idel:l1H1c,: llntrosiu'.
t.ell<;a de d. 79, COlJ fjI'1l1R.ta. nesta, SUperlill' instancía, ser
ünlJ)'ocfrtente fl linHo I) abandono f",L,o lieio appellallt.e da lancha
~-!jlioniet((, S(JÜre U 'lual [,e ba~lj<ir:;m exclusivamente os em·
harw)s do fi, 63 e o pn';1tiÜI') re:unw:
O Supremo rl'ribunal Fedei'al '\t'ilega provimento á app~~l"
L\,ilo i,1t(~!'p{)1'l;t " c,ond'>ll1lt1l nas Clb:.;tS :1 appel1nnre.
~'~\il't'!:iil:i ')'l'iiHi:L': :i'c(hm l , 17 de n'\'<:rej\(} de 1897.
·..·-Aqui),,) e ('((81'-0, i,;l'si\l('ilh'.·--.il'.f'í i"" r >'i,,-, •·• .. Joi.!a lhdi'O.
--Bentlf1,dino;,'(j)'/,cí)'(I, • .- !'n';}il'it Fi'iLl-,"; ...··.f:tú,'l'iO tI;; ,cH.
....;,. 246-

meida.-»fanuel MUJ'tinho.-lJ, do Espi1'ito San~o.-Macedo


.Soal'e~.-Fig1tdreda JUlliol'.-Jocio BarballlO.-José lJygino.-
, Fui presente, Lucio de l1f<n:701Iç((, .

Questão ue avarias,- Termos em que deve


ser requerida e effectuada a vistoria para
verifioação das avarias. .

Appellação conunercial n.2Izg

Appellante-A Oompanhia de Navegaç{f,o, A. O. de Jf'reUas


& Comp.
~ppellaão8-Af!evedo Irmao., le: Oomp.
SUprimo. Tribunal Federai

ACCORDAM

Vistos, relatados e diSCl1titlos os ant.os, entre partes: ap-


pellante, a Companhhde NiwegaçrlO, A. C.de Iheitas & Comp . .;
.. :tppellados, Azevedo Irmãos & Comp,
Con~iderundo que conforme o art. 618, ra alinea, do Co-
., rligo Commercial, depois da üntrl'glt (111. carga, a vist.oria para
'verificação de avaria (leve ser l'eaiümr1a no pl'edso tCirrno de 48
horas, contado da descarga, II~.O sendo admissivel reclamação
alguma, depois deste pmzg; e 111'\.0 basta que seja requerida,
(hllltro do prazo, é preciso que dentro delle, seja effectuada,
interpretaçrto que resulta das expreSs.õed do citado artigo,
}ll'inc. 1f}- e iA alíneas, quando, ue modo preciso, fixa o prazo
de 24 horas, no caso de ainda não ter sido entregue a carga,
o de 48 horas, no ele ter sido éntregue, e o de 10 dias, si a'
avaria nã.o fôr visivel pOI' fÓl'a; selldo esses prazos contados,
110S dojs primeiros casos (la descarga e no terceiro da entrega:
iiiterpretaçflO que é conforme o art, 441 do mesmo Cuuigo, o
li lIal tiecla ra fataf'S e illll,rul'oga \'(;is os prazos Illal'eados para
ser intentau.ll algllma acção OH protesto 011 lJl'aticado qualquer
outro aeto;
Conl:iidel'audo que, conforllle os autores aPl)ellados (fI. 51)
a descfirg·'.\ terminou no dia 8 d(~ Abril (ll~ 1895, c, portanto, é
certo q ne a vistoria, em 17 de Abl'il, foi effectUtlda fÓl'a uo
prazo i
Considerando que nrLO está llrOva(lo que tiveS!38 havido
impedimento do jllizo, nem tal impedimento f:e pó(le presumir
do despacho á fI. 21, e designação do dia á f!. 21 V.: por quanto,
o llue so vê é, que em :J(j de M,l\'(;u llHllllloll () jui,..; ao escri-
-- 247 --

,,[w designar um dia desimpedido, não o primeiro di'! àesim·


pe(lido) e qne o escrirfw ue!ig-noH o dia 17 de Abril) como
jlvcleria dêsigl~al' qnalqn81' oatro desimpedi(b; S€.lll ter em vista
o prazo que ainda não tinha começad,) a. correr, llem se podia
prever; qnando começaria a correr j -
Acc,ordam (tal' provimento á appellaçi'i.o para, reformando a
sentença appelhvla, na p:nte relativa?', acção, julgar esta impro·
cedente e absolvc!'el1l a ré appellante, do pedido; pagll.~ pe!oi
autores appellauos, as custas, não Só da acçii.G, COillO tambem da
reconvenção de que não houve pppellnção.
Snprem0 r1.'ríbullal Fedeml, 6 de j)ll1.r~o de 1897.-Aquino
e ('(,.stro, prt::Ri(loute ,-Ribeiro de Almeidn.,-Manoel Jlul'tillho.
-Pigueil'edo Jllní0r.-Percira Pra/1t'o.-Il. do ES]Jirita·Santo,
vencido.-Macedo t')owr,l'. -Atiwrico Loúv.-Berna1'díllo Fer-
reira, vencido.-Jo/7.a ['edro, vencido. -Jolio Bru'baUIO.-·Fui
presente, L1Wio de "l[c>zdl)lIça.

Improcedeneill do acçãa proposta para in-


dr:mnisação do valor de um lI:m'sgllmento
perdido, pOI' motivo de naufragLO do pontão
que () conduzia, yiato proyar·.e que o ~illistro
foi doYido, u~o á culjJa da cJmpalíld~ aeoio-
nada, pl'ojJrietaria do Yf.por que rcbocava o
pontão e que deJIe Sepl.rOll·se poc- 3e terCIT!
partido as amarras, pu!' e[(eito de temporal,
mas eim á for~a maior.
Contracto de reboque; principios que o
regulam.

Al>peUaç:5o cOluluercial 21. IB5

Appellante -Joaquim Fel'reira Coelho.


Appellarlr!·-Â Anwz"n 8tr.am. ':Yllvigalio1!) IAmited.
Supremo '!'riIJunal FClTenlt

A'JCORUAi\I

Vistos, exvostll8 e discutidos ('stes ;llltos de appel·


ia~(ll) dnl, em lJue (~ appellante ,lo1tquim Ferreira Coelho
":lppr.lllll~ ;1 Am,!··(,,11 ,""(,'(111, .;"(n'!çl(il,(})).Umif('i!. rlt\JlpR Be
illil::;tl';1: (~ne, tendo o êlPlJtllal:tü emLal'l'il(lo a,. Lodo do
}JlJJllf\o Joao dU.qUliio, 110 porto de Aiem'luer, pam o de Be\Pln,
lU riu Allla;"onc"~, um (,.fll'fl'gallltllHO ,10 llL'l'êaclOrias, <'1"11 1,;Uii~
111'Iljli'iH:: 10 ('la pal'((\ nllIti<:i 1; t<mwcla;;l a Ú'I~Ül, :Htreg')1] () rli1.u
pUllLllO ao COllJlll'uHlnute dI) \'al 101' JiJão A~/rcliu, perLenCCl!te á
".oltljl;lllhia al~Jlell(lttt, para lóül' po)' e;-;te Luüca\lo ao porto do
-248-

destino; Que na noite do segundo dia de viagem, partidas as


amarrações do reboque por effeitode forte temporal, foi o
Jol1o Augusto arrebatado pela COlTenteza das aguas, perden-
do-se com todo o carregamento; Que, responsabilisando a
appellada pelo sinistro, com fundamento no mâo estado do
pontão, assim como na carencia que neUe havia dos necessa-_
rios aprestos e na incuria do commandante do navio rebocador,
por parté do qual não foram tomadas providencias de 8ah'a-
ção, accionou o appellante a appellada perante o juiz federal
do Estado do Pará, para haver deIla, com os respectivos
juros da mõra, a quantia de 166:843$600, em quanto estiman.
o carregamento perdido, acção que foi afinal julgada_ impro-
cedente pela sentença a fi. 276. O que tudo apreciado, '
accordamnegar provimento á ai'peIlação, visto estar provada
a força maior de que resultou o naufragio do pontão J,{lo
.Augu3to, e não serem imputaveis á appeIlada as culpas arguidas
pelo appellante. O pontão Jol1o A1tg1l3io, comquanto proprie-
dade da companhia appellada, não foi por e:>ta dado em freta-
mento paI a o tramI'orte do calTegamenfo perdido, pois achava se
alugado, púr tempo inrleterlllinado, a Joaquim Caetano T8~
TtlÍra Bal bosa (fi, 43), tenrlo sido por este sublocado ao-
appellante, que foi quem por conta propria o empi'egou na
viagem Hm que naufragou. ·Entre o appelIallte e a appellada.,
por seu Ilreposto, o commandl\llte do vapor Jo{lo .A.lfredo, o
contracto havido foi simplesmente o de levar este a reboque,
dü Alernquer a Belém, o pontão carregado pelo IIppellante_,
Em falta de lei que o defina, u contracto de reboque ha de
reger-se pelos principius geraes cuncernentes ás convenções,
não podendo ter outros effeitos, além dos resultantes da sua
propria natureza e da vontade expressa das partes. Ora, não
tendo_ no caso vertente havido entre estas quaesquer estipula-
ções especiaes, é claro que á appelladll. nenhuns outros encargos
competia sinão os inherentes á obrigação contrabida pelo
commandante do vapor Jof1o .Alfreio, isto é, o de prestar a
força motriz do navio rebocador ao pontão João Aug'/uto, por
meio da conveniente ligação deste áqueIle e o de applicara
nece88aria~ diligencill. para conduzil-o seguramente ao !-eu des-
tino. As regras de fretamento, essas, são evidentemente
inapplicaveis ao reboque; e, pois, não cabia á appellada
responder pelo pretenso máo estado do pontão Jo{l6 A.ugulto;
tllnto mais quanto no contracto a fI. 43 reconhecêra o locatario
Ferreira Barbosa o bom estado em que o recebia, nem igual-
mente apparelhal-o com os aprestos necessariol'! para a viagem.
Quanto á negligencia do com mandante do Jo{lo Alfredo, longe
de estar provada, convencem os autos de haver elle envidado
-- i49 -

tod.os os p.sforços lml'd. sah;,l' Oj1o,Jtãl"' (!psg'Rrrado. Por ~stes


funtl8.me.m~)s, (~()nl1J1i1;:m H ".'i,~i l:!~' !'}Ildbla ~ condénmam o
appellante MS cnsta~:.
Supl'flmo 'l'ribunttl Fpúel :t:, ) I) dI', 2.!3.l"'~O de 1897. -Aquir.o
e (}4sit'o, presidente,,- Figueircdr; ,hOiiúI'.-Rilieiro de Almeida.-
-Manuel lf'll.dinho.-Jotf.o jjw b,ilho, -H,rlll Ef/]>irito 8a.ntc.-
Jo{lo Pedro. - Pindahi )(/ di': Maf(oIJ.-Maccdo 8oa,'e8.-Pe;'eira
'
,Pranco.-B~rttoHlino F~n·t!inj.--Amet'Íc{) Lo'bo.-li'tü presente,
Lucia de Mendonça.

pl'(lcedeneb da &J,poliação interposta da


.entença que julgou nullo o prooesso em Que
o appelhmte pedla. indemnisação de perdas
e dalllf!08, Cor..Roque1ites de abalroação, com
o fundarilento de que, devendo o damno ser
ragu (leiO navio abalroadol', s6 contr'l o dono
do navIo, e não c'mera " eapitão, era 'lppel-
lado, dovia ter corricJ 1\ ac,;1ío.
A l'e.ponijnbilíd!~de do proptmente para ~om
terceiros, pelo dolo (lU culpa 110 preposto,
não elid@ 3 qut' para cste foIé origina do facto
proprio, cabendo' 11011 terceircs o direito de
dem".ud,lr pela reparaçiw do damno, tnntc &
um "('UlO a outro, ou :oi ambOM (!unjuncta-
mcn~tl, Na. especie é püt011te /l. imprudencia
Ol! incuria da capit.ão.
O protê3to, r~titl(;ado muito <lepoí.. dlls 24
horas Rubsct,uentcil, .:lão induz Ilullidad.e dI'.
prl'va test"1l1un 'J.~l pro'hzida no processo
ue rntiRl.!!\ção. () o sil!isLo, indeper.d'2nte do
prote,:to. póde :JU provado por todos os
l4ido$ :lc (hrcit,),
Ao capit!io COl.'f'J a obrigação de indem-
nizar o damno <,r.usado, sendo neste sentido
reformada a liHhltl'nça c fixado o valor da
iudemníw.ção.

Appellação êOID!Üel<ctaÍ 11. 1'14


App.Uewtf,--,John Nilifell, capi;<ão da, õru w sueca «Bondilu~».
Áppellado,-.-R • .Mull~:·, fi,::piti/o da bul'O(( allemll ~Nann'JI».

ACCORIHM

Vistos, exposto;.:; e discutido:'] e!iic:-1 autos ,de appella-


ção commercial entre partes, appl:':!lante .Tohn Ni1sen, capitão
da barca lIutWl~ Bonditz<t, e nppdlili1.o B. Mnller, capitão
da barca aHemã Nll1l71l': TeH\lo () ;',~')!('lhnh' ac('·i\~Jl1l.d() o
appelJado !10['etnt0 o J!l;Z ReC\'I,:lla! .\n :-I~t,trictri) Fe(lel'::!, para.
haver a qUantia, de !-i:821:t', ~, jl!IUSÜ lhaj'fI, a titulo de inrlem-
nisação de perdas e damnus c,ous~q nel1Ll~~ ltcl' abalroaçào 80fttida
- ~5U-

pela barca B01idina da barca NamlY, no porto do Hio de Ja-


neiro, a 21 de Olltnbro de 1893, foi, afinal, pela sentença
appeIlada, annulIado todo o pl'oeessado com o fundamento de
que nos termos do art. 749 do Codigo Commel'cial, devendo o
dlmno inteiro, causado ao navio abalroauo, sei' pago pelo
abalroador, só contra o dono da barca Na1my, e ui"\O contra
o appellado, seu capitão, 110deria ter logá!' a acção .
. re!ponsabilidade do proponente para com terceiros,
pelo dolo ou culpa do preposto, não elide a que para este se ~
origina do facto proprio, cl\bendo aos terceiros o direito de
. demandar R.ela reparação do daml1o, tanto a um como a ontro,
ou a ambos cOJljunctamente: tal é o principio de direito com-
mum, cuja derogação em fAvor dos capitães de navios nada
autorisil. a inferir do '1irtigo citado do Codigo Commercial,
como pareceu ao juiz prolator da sentença appellada.
Bem dirigida foi, portallto, Il acçüo <lu l'lppelIante contra
ó appellado, a cuja culpa, como capitão da barca Nanny,
attribuia aquelle a abalroação da barca Boncltna.
Convencem os autos de que, achando-se fllndel\do!i 03 dous
navios a pequena distancia um do outro, proximamonte ti. for~
tàleza de Villegaignün, foi a barca Nanny que levantou (erres
e poz-se em movimento, para entrar 'mais pua dentro do
porto, indo abalroar a barca Bondina: é o que l'esulta das
proprias declarações feitas pelo appellndo no consulado I\llemão
(H. 54: v.) e attestam as testemunhas da. ratificaçil.o do pro-
testo do IlPPl:illante, feit! pernnte o juiz seccional. com citação
do appellado, testemunhus de entre as qUl\es 88 de~tacam pela
sua imparcialiadade, o capit.ão e o segundo piloto do navio
. sueco SaZoha e de cujos .depoimentos torna-se patente a impru-
deneia ou incnria com que agiu o apllellado. A circumstancia
de ter sido o protesto do IlppelIanttl ratificado, não nas 24
horasslIusequentes ao facto, e sim mnito depois, t\ 6 de De-
zembro ele 1893, não induz, como pretende o al,pellado, a
nuIlidade da prova testemunhal produzida no processo da
ratificação, desd('j que nenhuma lei tal preceitua f:l o ,sinistro
póde, independente de protesto, provar·se por todos os meios
de direito, e conforme é dontrina corrente.
Ao IIppelJado corre, f!OiR, a obrigação ele illilemnisar o
damno feito i'1. barca J:ondiwl [lida ahalroaçii.o ela barca Nal1n;l/.
Não pódo, porém, prevalecer o qllantwm em que nu sua petiç[w
inicial estimou o appellanto a indemnisação devida, uma vez
que 08 peritos nom.adol:! pelo con~ulado sueco avaliaram em
4:821$ o concerto das avarias da bal'caBondina e, em 5:000$,
os da vistoria a que se procedeu no CUl'80 da acçiw, já depois
de.concertadas as ditas avarias. Por estes fnudamentos: aceor-
/
-251-

({am dar provimento á appellação, para reformar a sentença


}!,ppelladll. e conuemnar o appellante no pagamento da quantia
de 4: 821$, juros da mora e cust".!!.
Snpremo Tribunal Federal, 17 de Março de 1897.-Aquino
f. Oa3t,·o, presidente .~Figueil'edo .J't/,fliol', -J{)(lo Barbalho ........
,rolé Hygino.-Matwel j)1U1'Unho.- João Ped1'o.-HeJ'minio do
JiJslJidto Santo, -Ribeiro lle Almeida. - pereim Franco.- Ma.
redo Soares, -Pindahiba de Matto8.- Berna1'dino Ferrei,'a.-
Fui presente, Lucio de Mendonça.

Questão de seguro marítimo com grande


fundamento no art, 693, combinado com o
art. 694 do Cod. Comm., e não no art. 700,
s6mente applicavel quando se prova que o
segurado procedeu com fraude.
Condemnação de custas pro rata. lntelli·
gencia do art. 251 do Deor. n. 848 de 1800.
Elllbarg~1!I de Ilul1idade n. :0109

Emba/'gante-A Oompanhia de Segw'ofl Brazil Federal.


Embargailo-Riclt Reitle1' & Comp.
Supremo Tribunal Federal

ACCORDAl\!

Vistos, expostos e discutidos os embargos de nullidade de


fi., recebem e julgam provados os embargos para reformar o
accordam em Largado,. sómellÍ(! 'lia parte rtllat,iva ás custas, nas
quaes condemnam p"o ,-ata o embargante e o embargado; e,
quanto ao mais, confirmalr. o dito accordam, porquanto este
fuuda-se no art. 6~3, combinaelo com o art. 694 elo Codigo
CommerciaJ, e não no art, 700 do mesmo Codigo, sómente
applicavel quando se provar que o 5egurado procedéu com
fl'aude, e no caso vertente a nota de fl. 60, firmada pelo se·
gurado e exhibida em juizo pelo segurador, prova a boa fé
com que aquelle IH'ocedeu. Custas destes embargos pelo em-
bargado.
Snpremo 'l'ribunal Federal, 19 de Dezembro de 1896.-
Aqltillo c Oa~tro, !,/'c·sicl<::nle.- .ro~é llygir:o. Despresei os
elllbargos, mesmo na parte referente ás custas, tendo em atten-
ção o dtsposto no art. 3õ 1 do decreto n, 848, que sómellte manda
cOlldernllar cada uma das partes na pro-porção do vencido,
qUf1.udo o autor pedir muitas eonsas em snaacção ou quantias
tliVCl'SH:3 f\ o réo fôl' condemnado em parte e absolvido em parte,
j"!IY1Jothe~e que :sf' uflo veniica uestes autos,- P{,J'eim Franco,
- 252-'
vencido, quanto á segunda parte do accordam, pois recebia e
julgava provarlos os embargos.- Americo Lobo.- P~nilahib(t
d611fattolf.-Ltlcio de Jlendonça.-Ribeíro de Almeida.- lI,
do Espírito Santo, vencidl), de accordo r,om as razõelól- do. vot,o
do Sr. José Hygino.- .Figueiredo Junior.- Bernardino Fel'·
reira. - Macedo Soare3.

Damno eausado por &balroa~o de nanol.


Desnecessidade de prévio arbitramento.

ElDbargos na execução n. :altO

Bmõargante3- Wil"on Sons & G.


]j]mõa"uado-Emmanuele Garõone_
Supremo Tribunal Federal

ACCORDA.M

Vimtos, relatad,)s e discutidp8 eetes a.utos de execuçiio ~n tre


partes, Emmanuele Carbone, commalldante do vapor italiano
Sulferino, exequente, e executados-Wilson Sons & O., pro-
prietarios do rebocador S. P(tulo, os quaes oppuzeram á pE~'
nhora os embargos de ti. 46, em cujos artigos, arguindo. 11
nullidade da sentença exeqnenda, por ter sido proferida. contra
o texto dos arts. 749 e 750 do Codigo do Commercio e dos
arts. 189 e 213 § l° do Regu!. n. 737 de 25 de Novembro de
1850, concluem, todllvia, por pp.dir que seja ella reformada,
afim de se julgar não provaia. a acção :
Considerando que, .endo nótori&, Im face do depoimento
conteste de tres testemunhas, admisaiveis para proTas de de-
lictos e qua!!i·delicto~ (argumento a oontrado do art. 182 § I"
do Regu!. 737), a culpa da tripolação do S. Paulo, quando estr.
rebocador, movendo·se de dia no porto de Santos, abalroou ()
vapor Sulfel'íno que ahi esta.va fundeado 8 em sel'viço d~ de.-
carga, essa falta não carece ser verificada por meio de previa
arbitramento, ~Ó necesiario em caso de dnvida, e eitá" de
mais a mais, corroborada pelo silencio dos meamos embargante/!
que não &llegaram e menos provaram a ausencia de culpa,
tlLnto durante a dema.nda, 11. que foram reveis, quanto no pro-
cesso des!'!es embargos, cumulativos de materia de nullidadé e
infringentes do julgado, e, pois, emquanto infringentes, sub·
stancialmente dependentes da exlübição de documento!! de novo
obtidos ([Ject'. n. 848, de 11 de Outubro de 1890, art. 302,
lettra h in fine) ;
- 2:'3 -
Considerando, outrosim, que, no auto de 6. 10, se pro-
~edeu í'lO arbitramento tlo darl:u) (·.tll~ar1() pela ahalro!l.ção so-
m:,dita, e isso se fez eom f<r.iencül. Jd& elllbaJ'galltr.~ que dei-
.:al'1illl cone I' á revelia iVlllt'llt\ ael () de hJJl·() nwmenw :
O Supremo Tribunal Feuel'l>.J. de::;pl'e1.,:,l os embargos de
J. -46 e condemna nas cust.as os embargantes.
Supremo Tribunal Federal, 17 de Fevereiro de 1897.-
4qnino e Ca8tro, presidente. --Ame rico Looo.~--Jolio Pedro.-
Per.,im Fra1ICo -- Rcrnar(Uno FerreÍ>-a.- MmlOel Murtinho.-
!T. ào E,'pirilo Slmto.-Macc,do Soare8.-Ribeiro de Almeida.
-Fiptteiredo .Tu"i01·.-Jolio Da1'balllO. --Jo8~ Hygíno. -Fui pre-
tonta, Lucia ele Menclo1lça.

Iller.i.timidada d.e acção resc-i.soria para an-


nu1lação de sentença ;]eclal'atoria de fa1len-
cia fundada em impúi"/fu(1.lidad6 de paga-
mento de letras, que tendo motivado um
arreito preventivo lia competente aeção de-
condiana, foi posteriormente desistido pelo
credllf. o, nesse ínterim, foi requerida a
fallencia pelo curador das maSlas faUidas.

Acçüo ordinarJa COUlll.lercial

Autm'-HefU'Y Lrnondeg (conde de Leopolà€na.).


Héo8-0 Banco da R~publi(Ja do Brrt~U e a Empl'('za Tndllll-
ria,l de 3.felho1"atlllmto8 do Bra.i!, 'y"d-icos da fail~Twia d(j auto?:.
Tribunal Civil c Criminal do Districto Federal

PETIÇÃO IN ICIAL

Em acção ol'diuaria e rescisoría Henrique


Lowndes, condf1 de Leopolrlina, diz e pl'oval'á
contra a nUílltia fallida conde de Leopoldiua, re-
preHentada pelos respeetivos synoicos fi o DI'.
curador fiscal, o seguinte
1."
Qn8 a requerimento do Dr. cnradol' fiscal drts ma3sas fal-
li(ias toi declarnda aberta a falIencia do auto!", por sentença
de 3 (le Março de 1892, - prolatoi' o Dl'. Sl\lva.dol' A. lIouiz
B~rret() de Arag'ão, juiz da Camal'a CO!JllilerGial do 'l'ri\:Junal
Civil e eliminai, e p0l" acconllllU de 18 do mesmo me~ e anuo
o COil:_elhu (lO referido Tribunal Civil e Orirnin8.1 negou provi-
meuto ,UI aggra vo interpost.o dell! ne! la senteuç.l1 Udl) a.utor.
doe. JUlHO, fls. 77 a 95 e 128 a 154: ; .
.'!.
2ó4.

...
" I)

Que asmencionarlas sf'utençás SilO evidentemente nnlhts


nos termos do ttrt. 680 § 2- do Decr.. 737 de 25 de Novembro
de 1850 por serem pI'oferidas contra a expressa disllosição da
legislação commercial ;

Que as mencionadas sentenr;as violaram a lei não atten·


dendo a que o estado de falIencia não se caracterisa" unica
e exclusivamente, pelo facto de não pagamento, no vencimellto.,
de qualquer obrigação mercantil liquida e certa, fundamento
que as sentençalil encontraram para a declaração da fallencía
do autor;
4,-

Que, de Rccordo com o voto vencido no Conselho do


Tribunal Civil e Criminal, o Decr. n. 917 de 24 d e Outubro
de 1890 não abandonou a noção juddica de fallencia, respei.
tada no art. 797 do Codigo Commercial ;
5.-
Que o art. 1° in lJr. do citado Decr. n. 917 enuncia,
conforme o voto vencido do president.e da Camam. Civil, um
indicio lndicativo do estado de fallencia mais commurn ...
« Fni pensamento do /lutor do decreto pôr termo ás Vil'
cillações da jurisprudencia a respeito dos factos que revelam
a existencia daquelle estado.»
c NaqueIla disposiç1Lo teve elle o intuito de COI'tar noras
duvidas nestes pontos: 1°, basta o n110 pagamento de uma
obrigação liquida e certa para comprovar a falJellcia; 2°, a
- obrigação não paga deve ser mercantil j 3°, dada a recusa do
pagamento deve ella fundar·se em raz1ío relevante de clireito,
a qual ha deser algnma das enumeradas no art. S- § 1-. »
« Sim, as relevantes razões de direito especifica(las no
§ 1~ do art. S- do Decr. (com a omissão de Ilullidacl.e) evi!lente·
mente concernem á recusa do pagamento de divida certa e li·
quida, vencida, provada pelo protesto ou pela exhibição do titulo,
e basêam·se em factos anteriores áqnella recusa.» Mas:

6'"
Que a defesa' do devedor não é 1'estricta . ao caso da re·
cusa,
25i) -

«Niio leve e11e, em verdade, razfto Judaica


para se oppor ao pngamento, - deixou de pagar
a úbriga~itO; pOl'Í'rn !,ilgo\l·a, inovou·a, etr..,
df'pois do vetwimctlto, àp]!oi8 do pt'ot"to, dep'uls
mesmo de iniciado o l'rocr"o da fallencia, ailt<a
da ileelm'oçtlo eleIta com todos os seus eífeitos?
- garante·lhe a l.d defesa ne2se terreno.
o

Qlle bem terminantemente -dj;~ o Decr. cito em seu al't. 8


in pr.: ~ O devedor poderá, emquullto se proceder ás dili
gellcias ailteriores á declaração da fallencia, allegar' por petiçâo
e provar em triduo - qu.nto uja fhlCtI"ario lJara excluil·"-
e depois de declarada embargai' a sentença ou a~gravar.;, .

Se a defesa do devedor nio tem limitação


algnma, porque 111!.0 poderá r1111. abranger o paga-
men':o ou 1\ novaçãu posterior ao vencimento da
obrigaç[tÜ, cio protesto, etc. ,

u'
Qlle, e segundo L .: no § I! di,} art. 8° do cito Decl';,
<'omo relevantes razões diteito são consideradas: a faIsi-
darIe. o pagamento, a L 'lw, a prescripção, a ))' teril1. do
ltrt, 588 do Codigo Comi . e do, art. 252 do '.lI. 737
de 25 ~e Novembro ele 13;".

90
. Que, eviuentemente, It .allegação feita. pelo dev,c,(lor, etn·
q1{(liItli IlCprocedM/t as diligencia8 anteri01·t!8 a dee1,trt'_?ão. da
falli:ncia, dI' pagamento, ou, depois d~ declarada a falIenei., a
me~ma allegação nos embargos á sentença e no aggravo- della
interposto - é de ordem, uma vez comprovada, a e~clttir a
fallenma : a tüllencia é nm estadp aetual. Se o indicio da fal-
.Ienda, qne <JWIl.J'eceu contra o devedor desappareceu, ipso facto
desappar6cen O efltltdo de fallellcia. Conseguintemente,

10
Que por si só nit,) é snfficiente, para antorisar a decla-
ração da fallencia t'; '2. t:ftinnação jndidal desse estado r o facto
do protesto por falta àe -pagéH!lêuto, Gsem embargo de lH'ova,
- ~5S-

exhibida, posteriormente a eq~e r,l'otesto, do pcgamêltto da obri.


cY'ação. • • .
« Se jJl'(Itesto, diz Aut.ran, tivesse a força
(j

q Uf' lhe fHllpre:sLt rt maioria Llo C()useiho, toda


a defesa ficaria, "xcluida e o .i uiz limitar-se· hia
a nomear syndicos,»
11
Que o decret.o de 1890 ;l;~LO se apart.ou do Codigo, da
doutrina e Jut'Ísprudell<:Í:t rlomi~1l1.ates ao tempo deIle; e disto
convence o '1 ne se lê no refer:do "\'oto vellddo:
«(Jonservllwlo ao curador fiical das massa~
fallida; a nttl'ilJuição que já tinha por força do
decrete, que Cl'eou o seu eal'go, ele promover a
(leclaruJit) e o an:(Cl.llieutl) do processo da fAllen-
cirt, clc.ro (~ que, se com ;,;eu pen<:J.:' o protesto das
divlilit3 veilcida~ acarretaílse irremis3ivelmente,
a dec: araçito ,h fallencia do devedor nego-
ciante, o Il:aoi' do (lC1creto não f Multaria ao men-
cionado cura.]')r o iLlÍiL'1O arbítrio no exerdcio
daqunlla attribn i<;ão; ll' contrario prescreveria
tHillinantemElllte, 'lU:'. viiita da relação do~
protestos oGGon'illo:1, ,I :lIF,dol', v~l'ifkailrlo ape·
ll;;~ a qualifhrl(~ C01l1m dai Illls Ilevf>fll)re!'1, con-
tra d!es !"·~lr!Mp.!,1·· !';i\!l1 penll1 de tempo, a
medida gra vil'tlim,. da falleucía.»
«Â~sÍ\n, pOI;>.m, não (li~po:l no art. 3 § 4," :
Q

antorisou ahi q ua .) cnraltor (laR massas falidas


procedei;lOe, como enlen1lellse convcmient_, dev1jndo
dar conta FiO j:dz df'.:I suas iuvesúgll.ções.,
gsta~ i!IVc8t1ga<.;õe~ sito, sem duvida, as cor.-
cemen!.t·:.; ,ti< e"L:ulu da:; dividi:l.s protestadas; se
j:i [oram peI g(l~ J novada!:!, ~tc., mesmo depo,s do
prote!'Jto,:h- sorte que não ha mais Jogar a decl9.ri.ção
. da fallencia; para que requerer então estll.?~>
12
Que a falJo!lcil'. sendo, como é, um estado (lr;tual,
« ... em juim não se vae 'íel'ificar 38 fllIa
t'Xif.:r:il. mas Sfl exbt~: a88im r,c'mo, em relação
it :.·U!.!·;l.~ r:"l!l'lfl:;:li: rl(\ o8ta.]() pOi eX., flm' l'az1i,o
dtJ IJlodignliíhi,e, JlÃi) ~e tr,Üft de verif1(',ar se
K~:'1a exl.:;Liu, Hj~~3 be eúi;Le."
- j57-

Ao juiz incumbe pronunciar-se sobre .0 es-


tado das consas existentes no momento em que
elle pronuncia a sentença; tem pofs que atten-
der ás alterações occorridas na sit1lação do de-
vedor, á satisfação dos creo.ol'es ou ás -conces-
sões sobrevindas mesmo á declaração da faIlen-
cio da qual se recorreu (Alàuzt?t D. Com.
n. 2412 a 2415.)>>
«Nesta conformidade têm procedido os tri-
bunaes francezes (V. decisão em Dalloz. R. P.
1874 Table o. b. Failtite n.38.»

13
Que se o devedor apresenta im juizo-depois do pro-
testo e d.fl iiliciado o processo commercial da sua fallencia-
autes da declaração desta para excluil-a ou, depois de decla-
rada, no recurso de embargos ou de aggravo, osproprios
tit,ulos de obrigação liquida e certa, paga posteriormente ao,
acto do protesto, e l'ecebidos<das mãos de seus credores-a
verificação deste facto é, nos tel'l1lOS da lei commerCial1 sufti-
ciente para excluir o estado de fal~encia ;

14
Que as sentenças declaratoria e confirmatoria da faBencia,
-apoiadas no simples protesto, sem attenção á razão relevante
do pagamento-posto que postel'ior ao referido protesto, é con-
t.raria á expressa disposição da legislação commercial (art. 8°
~ 10 alinea b-do Decr. n. 917 de 24 de Outubro de 1890).
Isto posto e cOlJsiderando .. '.

15

Que a declaração da fallencia do autor foi requerida pelo


J?r. curador das ma!'~aR nos ant.os (le embargo promovido pelo
]1anco da Republica dos Estados Unidos do BrILzil, conforme
a petição á fi. 2 v.'no documento junto,. em ~8 de_ Janeiro de
1892, para segurança da divida de mil e duzentos contos, em
duas lettras de seiscentos contos cada uma, acceitas em 15
je Outubro de 1891 e vencidas-uma a 7 e outra em 24 de
.Janeiro de 1892, ambas, assim como outras, dadas em caução
p?ra gamntia tle nm debito da Companhia Geral d e Estradas
ue fi\lrro no Bl'H7il :
~lR. VOI.. '?~' ~7
- 258-

l()
Que, na petição -do referido embargo, ,e pretendeu jus-
tificar a medida violenta e initante, empregada contra 08 bens
e credito do autor por meio de aIlegações call1mniosas, como:
a) Achar-se oaotor ausente-segundo ~e dizia-na ci-
dade de" Barbacena, Estado de Minas, em quanto a policia pro-
cedia a inqllerito requerido pelo ministerio publico sobre o
emprestimo Morton, Ro~e & C., e -a Companhia Geral de Es-
- tradas de Ferro no Brazil, de que o autor fôra. intermediario;
- b) Verificar-se a parte .directa que o autor tivera nesse
negocio, do qual recebêra préviamente valiosa commissão,Sl3Il1
que o emprestimo fosse eff.ctivamente reali:il:1\do; .
c) Serem at lettras vencidas e ollt.rlÍs a vencer recebidas
pilo Banco embargante do autor, -110 presupposto da realidadt;
-do emprsstimo Morton, Rose & O. j •
o) Haver o Banco, induz\do pelo autor e pela. refel'ida
Companhia Geral, com quem o autor se achava iiitimameute
ligado, subscripto quinhentas mil libras esterlinas do referido
emprestimo j"
. ,,) Ser notorio que o autor e a mencionada Cnmpanhia
jogavam na praça com os debentures emittidos por conta du
-emprestimo; vendendo-os precipitadamente quando se üeseo-
TJrio o i?lgano, em qu" havia .cahicTo a p,'aça rIo Rio fIe Janeiro.
17
Que por meio dessas aIlegações, notoriamente falsas, se
pretendeu provar a certeza da divida e a mudança de estado do
devedor, bem assim as liquidações precipitadas por elIe feitas,
e o artificio empregado para obter o credito do Banco· e da
praça do Rio de Janeiro, e sobre eIlas se fundou o Banco
para o seu pedido de embargo em todos os vens qne o antor
posstda j
18

Que, não satisfeito com essa medida illegal e violenta, o


Banco embargante requereu mais, para mais solemne ternar o
escandalo, que fossem intimallos do embarg'o os tabeIliães desta
capital para não lavrarem escripturas alienatorias dos bens
embargados;
19
,-"C Que, apezar da estravagante violencia e da ilIegalidade
do absurdo pedido, o mel'itissimo juir. deferiu a petiçãQ sem'
a condição de jnstiu(',aç:to préri:l: f;em 11:)\';,1' o B;lJ1eO em1lH.1'0
gante aHegauo a hypotlwse l'revi:;ta no § 2° do art. 323 d
Regul. 737 de 25 de NuvemlH'o cle 1850;

20

Qlle tal lietição, ou Iibello difl:'ilmatorio, encontl'.ando o


snffragio do prestigio, da ju::.tiça, era 1)01' si só bastante para
abalar a reputação mercantil mai~ solidamente firmada;
21
QUê, além' de set· a medida 8ssecuratoria certeiro golpe ao
credito do autor, não se limitandg tal medida, confolme o pre-
ceito imperativo do ttrt.327 do cito Regul. 737, a tantos õens
quantos ba3ta8scm para iL &l'gurança da (lívida, privava ao autor,
absolutamente, de meios para romlt' a divilla e determinou a
bl'nSC!l. interrupção do c()llsideravel e opulento mov-imento de
" tl'ansacçôes mel'canlis do autor;
22
Que o autor, tendo noticia, por uma publicação inserta no
jo:,nal O Tempo edição de 5 de Fereroiro de 1892 (cloc. junto
fi. 11 v.) dI!. concessão do emuargo, allegoll por meio da petição
que se vê á fi. 9 v. : .
a.) Não haver o embargante a1Jeg'ado facto 0\\ cil'CUm!ltll.llcia.
que justificassem a w'gencirt 011 ine,Oicrwia do 6móal'go-~ 2- ~o
art. 327 do Regu!. 737 cit.-para ser dispensada a prévIá
justificação dl}!:l gratuitos e calulI1l1io$os motivos j
b) Ser expl'eSSamellt,e lll'ohibitlo o p,mU,tl'!lO na .totalidade
dos uens -o que só encúntl'a.ria explicação no intuito criminoso
de cercear pela base o credito do autor;
• 23
, Qne apez!l.l' das jUl'idicas ponderações do autor, o meri-
tIssinto juiz manteve o seu despacho e a cousequente violencia
em todos os seus iniq nos effeitos ;
2-1
Que para a justificação no "trídu') o Ba.nco embargante.
~pl'esentou como testel.nnnhas dois dOI sell~ empregados (doc'
Junto fl:;. 20 e 22 v,). os ql1acs, entret,\nto, não deposeram
de modo a provar o allegROo ;
260

25
Que, embargando o embargo, o aut.or allegou (doc. junto
fls. 34 v. a 37),' além da mate ria de impugnação já repro-
duzida: '
a) Ter sido apenas o negociador do emprestimo Morton,
Rose & C., em Londres, como mandatario-da Compànhia Geral,
ficando exonerado desse man(lato des(le que entregou a pro-
posta á Companhia e esta, com Bancos desta capital, entrou
em relações directas com os mesmos Morton, Rose & C: para
accordarem nos termos e condições definitivas do mesmo em-
prestimo;' '
b)' Ter o embargante Banco lIa Republica, perfeito
conhtlcimento da operação e, portanto': não poderallegár o
supposto al'tificio empregado para olltenção de credito i
c) Serem as letras que deram logar ao embargo, assim
como outras de igual vall)1' prefilzelilto toda:;; a quantia de tl'es •
mil cont,os de réis, a:-;~igll(ulas pelo autor em garantia I\, um
debito da Companhia Geral em letras por esta a(~eitas e endos- .
sadas pelos negociantes rrl'ajallo 'José de Moraes, Antonio
Paulo de Mello Bart~tto e Leopol(lo 'reixeira Leite, directores
daquella Companhia; achando·se, além disso, esse debito
'garantido por caução de cem mil debelltnres de ,e 20~O. o. ~
d) Constituirem aquellas letras a rnaÜ3 eloqnente prova da ,
boa fé do autor e o intuitl) de acautelar os interesses do refe-
rido Banco embargante;
e) Figurar o embargante 1111, liquida(;fw jndicial da Com-
panhia Geral como credor da me:-;ma conta. ;,sanmtida com as
letras e os cem mil debentul'e:>, e ter ::ii'lo, C01ÜO um dos maiores
credores, nomeado syndico da liqnida~ão ; I

f) Resultar disso que o elllh~l\'gallte optára pela respon-


_ sabilidade da. Companhia Geral em acto soltmne· f judicial; e,
assim, excluida ficava a responsabilidade, que era su1Jllidiaria;
do autor;
g) Dar-se duplicata de debito, porque o embargante figu-
rava, na liquidação judicial da Companhia Gel'al, como credor
do mesmo debito que pretendia garanLir por meio de embargo;

26
Que, á vista da procedencia dos embargo~ oppostos pelo
autor ao embargo e sabendo q'te do exame <los livros de sua
escl'Ípturação resultaria prova plena e inconcussa do allegado, o
Banco ,"m:Jiu'gallte desi:-;t,: I[ (lo (~rllbal~l'iJ e (1;>, ace:v! dtlCellllial
(doc. junto fls, 60 e 66 v.) e taes <fesístencias-foram homo-
Jo[~'ad,'..~ pejas sentE':lças ,1,1:\ n". (j2 () ()7 do doc. junto, pl'ofe-
riditi [Jr;}O mt-;;::1!!) lllórii,issi '!lU ,j ItiL! LU; dee:'etou a fd.llen cia ;

(~ue, \"I;,l'd,l'1 i,'. •• e:;t;;"", C<>1i;;;i,;.;'uiJú u Jim jJilt'Vel'3o que


tivera. em \'i:,;Lt <' plliter ",:.':nltu I! !lI; t',H't;P'Y<i o B:tIl(;O @,!1l'
bnl't'anta a tfw arrisl~;Hlo e,illlent!J prol~ede\', porque o Dl'.
CUi'iU'Or Ji~cal elas maSila.S fé1.~ld;t~, .ie:;j<enivto pdo e:lcaudalo
da publicilL1.<1e pl'oposítalt,I8'ut,: (hda. êi.G mOllstruoso embargo,
pedia rista. dos aIH.I)i:) a 18 de li 'ev0i'eiro de 1892 e a 22 do
llíef11110 me?' requereu f05se (ll~chl"'ada a í'allencia do autor
1dL'g'a Jl(l,O : _
li) SeI' {, ;~alO' Ut'í~,)d:lIH\~ m:\t,rit'11l1h!O e, portanto, não
t,n;' ll/ga" f:(IJi1.L. plle (/ em!);;! '''(', nos termO:3 do § 5° ln-jilt,--
(l,t't. 3~J.l dI) ni.\n'l\l. ,;)7 ;
11) Bwer o" :tnt(): Ji:ix:l']" (:t; lf.1.~:,G llid!tr..~ não se apre-
~entalldo ao ,iGiz I)) U;l m') h~!:;;J 1"\1'1:1. fazer de(~larações a'.:erca
<lo e~Lldo (Il: sua l'i\::~i,:
c) E .. t,al',':n tÍ":f:' L\':h;. P"\'\'a,dü:', JiUei'id 1i!éilCc eOlJl o l~ro·
testo do.:! jit;l:'i:~, :(q,oi-tlt:1J!" ih:, t('~,lí;;i1!inhnil da ,iustificaç[w
tIO i~l1Jbarg'o; rlec!i1l':ll:,\u (t,: aill ::í()c~it) \li) l.utor c allegaçio .in-
,'llll;t do B<l:1CO i')'l1b(~: g'<1 11 te ;

Ql1e, intil1l;1('ll p8l'1~ di;~ul' SOlll'e as :ü!egaç0(~.s rio Dl', curA"


do)' nseaL o :.ul.nr alleg'ou fls. ti:! a Gi) (;(' fh)~. junt.o:
rI) rl\~r n i~all(:'O ellllHngalw~ rql,!!,:tdO ,1 Offe,nsl1. e a injuria
TIe a Sll;, tlire~to!'ic~. ent.ão dE'misdll1\f'.l'ia) Üí:.Gl'ii 8.0 credito
(lil ,i.I1Z0r, d.1~f,i~till(lo di) emlli1!'é;il e d;· ;l\~Ç;;,1) decendial e 3U'
l,\'()g'aJ\(lo·ihp i'l.S lt'tl'êu; pl'ote~'t.ii;i:t::;
b} i h .,'~, J'ef1~::! ta<1() a:' kl,~'> ", ('.u,it);' \ll"Jtestos flÍram por
eel'tidilG a :'I'PSl:Jl t,id ',l:~ "do f L' , Clilil l 1.01' lh>i:a 1; e est,arem, por
eOllsei~'nil'i ;', (,stiilda~ ;lS ()ln')~~;l~i'le::, ([e,lIa,; ,1 t :jlncutes;
c) j'",o (él' {'.ai';',~'~\,r :l l ;:wil1Ltl a ".~!!(ç:\ü legal do não
(,()lnpa~,,'>,in!('u;:; "111 jni,/!): ,
n i I.·,i~~l {'.(lP1';' ,I ;:.; 1:'·?·~H~nH d:~ ~:U~:V~Hc.i;~ !~oDtra quem se re-
Lí;'a J~'\ I" : p' .(\~;j·~ti\, ..' '.. ~ j~.~:;. '1 t!:ri'i:. iH'ç!e~~! ;i,dol';
. ,~!~;"i.r
,.. ) .... ' :,' ~';"(!:,-' ..·::n ;t .. ··";:ih(.t'i;') i1~.1 -:~i_lr:}~':lÇ,ã,f)
e fie.a.r.
as~jm: ulin~:w<; ,', !':l!::i,. \lI.' i 'E:: ",:,) ~,!!l iui/.ll roi} credor para
r\~I:eher () P;q;'.\II •.",nt.o ('iH ;:lc'cd,: i;:, í';\ll~íl:;irl., nu(l,) Dl', cnrador
ii~c~:i P.'I!"t d.\··['l,'~'~·\ '.I:' \ol" t>,· I~.,"r:~;:.; ill~~~credtn'n~;
1(>

./.~ '~;\'.I 1'\.::--;;:" n :~.':-,,~.,t.: . ·U,~.>.~~:. ,{,lt~ ::. il. ri;l~~d(1~ {l~
ct"\.~t~;tJtJ; ;.;, .t.J)lti~.tltU, \l-l\.~ ~: l !'.' '.;.,,1 :'>.',!-, ~i,:~,:,t\_~t.:t'~(t,
Accre~ce :
29
Qlle havia, elltão, llma campanha p01icial dirigirla cOIr,tm
as instituições indllstriaes e de 'credito e os pl'ÍncilJues uupita-
listas da pr'aça: o credito estremecia sob a preEsão da espio-
nagem e da má vontad~ dos altos poderes da. nação; eram. in·
uicados os. mais notaveis commerciantes e indllstriaes como te-
miveis adversarios da situação politica inaugurada 11 23 de
Novembro de 1891; e o autor, 11<1. sua residencia de ve"rã:o
em Barbacena, no Alto dil. Boa Vista dá'l'ij IIca, na l'na do
'Riaclmelo, era cnidadosan:Bnte vigiarIo- e acompanhado pelos
agentes da policia secreta-noite e dia. E~saopprimellte vi-
gihlllcia policial acom panlu va o até ao seu escriptol'io á l'lk\
Primeiro de Março'n. 7J) ;
30
Qne, inuteis como foram os esforços empregados para en· ..
volver o autor nos crimes imputarIos ao direc~orio da Compa-
nhia Ge!'al pOl' ficnr ~rovado qUéllenhuma ingerellda tivera nas
respectivas opel'açõe~ e, ao cOlltrario empregára em auxilio
dessa empreza quuutia superior a vinte mil contos. de
réi~, o meio mais eXp'~àito encontrado para desmoralizar e
castigar o auto!' fui 11. fallencia j a qual fornecen pretexto,
como docil instrumento do sinistro plano, á directoria do Banco
dos Estados UnirIos do Brazil que, requerendo o embargo na
totalidade dos bens do autor, SllppOZ reconquistar graças e
vantagens e. dar arrhas de céga obediencia. .
Rea.zado o eS('êlndalo da fallencia seguia-se, para completo
exterminio da victfrna, a imputaçilo de conspirado!', a prisão
e destérro do autor para Cucuhy;

31
Que, não obstante as allegações de dií'eito e de facto evi·
dentes e inelutaveis, prodnzidas pelo autor em sua defeza na
resposta qne offereceu ao pedido do Dl'. curador fiscal, foi de·
clarada a sna fallencÍa j .

32
,Que recorrenuo, como lhe permittia a lei, da seulençá
(leclaratoria (b fallencia llam o Conselho (10 Tribunal CÍvil e
Criminal foi ne~':Hl(l provimento ao reenrso (le aggravn intel'-
l,,):~~tu :
263 -

33

Que as mencionadas sentenças, l'espeitosamentefallando,


violaram direito expresso, disposições claras e precisas da le-
gislação commercial, pois que como tal se deve considerar o
DecI', n. 917 de 24 de Outubro de 1890 por ser sub~titutivo dll
parte 3!)- do Co digo Commercial, a' qual inscreve-se: Das
qt,e~ra8 j

'Que cOllstitnelh legislação commercial o Codigo Com-


mercial e, subdial'iamente, os usos do commer,cio-art. 2? do.
Regul. 737 cito ;
35

. Que a legislação commercial foi, flagrante· e evidente~


mente, violada com a declaração da fallencia do autor, não
obstante haver este provado plenamente-com a exhibição em
juizo dos titulos protestados e pagamento das obrigações-
facto que, como é expre~so na legislação commercial, constitue
razão relevante de direito parll excluir a fatlonciA. 'l'el'mi-
nantemente diz o art. b- do Decr. 917 cito que ~: .. '.0 devedor
I'oderá emquanto se pl'o,!.'edel' ás diligencias anteriores á de-
claração da fallencia, allegar por petição e provir em um tri-
duo-quanto seda nece33aJ"io l'an, excluil-a j e, depois de de-
clarada, embargar a sentença ou aggravo;

.' 36

Que a falleneia, sendo um estado aetual, tal estado não


existia ao tempo na sentença que a declarou j porquanto a
apresentação, feita pelo autor, dos titulos, que poderiam-deter-
minar o estado de fallencia, importava, inquestionavelmente, a
prova, não só de haverem desappal'ecido os motivos 'determi-
nantes do protesto pelo facto do pagamento, aliás reconhecido
pelo accordam citado, como tambem que o estado do autor não
era o de insolvabili(lade, declarar, em taes condições, a falo
leucia é de certo UllJ attentado, 1l!0 simplesmente eOIÜl'a os
princípios geraüa (le direito, a (loutriuA. e a jUI'Í.':pru(lenda,
mas contra a pl'opria Jegislllçn.O COmllHll'cial (art. SI> dó De-
creto n. 917 cito em seu § 10, alillea. ó, combinado com os
alts. 398 e 434 do Codigo Commercial) ;
264 -

Que, 1'I'Ofei'i(iê18 c(;nt i 2:. dispo:,içõ€:.; expressns (la legislaçiio


eommtHeial, as sentellça~ de-3 de hlan;',J de ] 892, do ])1'.
S'l!yador A. Moniz Banetto t!" A ragão e aecordam do COIlselho
do TribuIlal Civil e Oriminal de 18 do mesmo mez e anuo -são
Il ullas.
Nestas tormos;
Ped e o autor que flejam anmdladas as referid:ls H6utenças;
para o que pl'oplie a p1'8Scntié :-l,CÇilO reseisorirl, que se funda
no art. 680 § 2", combinado com o art, 6S] § 4° do regula*
mento 737 e al't. 20 110. mesmo, lei de 24 de Outubro de 1890,
Codigo Commel'cial, regras e principios de d::'eito.
P. P. N.N.ecustas.
Protesta-se por todo o gen~ro de prova.
Rio, 31 de Janeiro de 1896.- O advúg'ado, Domingos
Olyrnpio Braga CavaZcanti. -

CONTESTAÇÃO

Contestando a aeção proposta pur Henrique


Lowlldes (colide de Leupoldina) dizem os syn·
dicos da massa fll.!lida du mesmo 11. Lo\Yudes,
E. S. N.

P. P. que a íallene.ia da autor, Ir, Lúwnl1es; foi declarada


por sentença de :3 de Março de 18!:12, a reqnel':llItlnto do cura-
dor fi!:leal das massas fallidas, depuis tio arn"stl) feito Boure
seus hells pelo Banco da Rel'lIblita dos EsLulos UIlÍl10S (lo
BI'itzil (doc. a n. 44 v.);
, P. P. que em 22 de Fevereiro do meSDlf) ailJiO, data em
que foi requerida li falienei".) tinlw, o autm.' ddxado de' pttgar
em seus vencimentos letras no valorde 2,526:f3G3$OOO, a saLer:
a) a. letril de 15 de Outubro (1~ 1f:HH, por (lHe acceitü e
saccad.a I,elo Banco (1a Repnblka dos Estados Unidos do Ura·
zjJ, DO valor de 600:000$, vencida em 7 de Janeiro de 1892;
7;) ::I.. letra de J 5 de Outuuro de 1891, eom seu aeceite e
o mesmo s3ccador, de igual quantia e veneida a 24 de Ja-
neiro de 18\-12;
c) a ldr:.:o de 1:) ue Novembro de 1891, de seu saque e
endosso, aeceita por Vi;~t.or José de FreiUl.H Reis, (1a quantia,
de 1 j 2:í)() Cl 8l/i){J, vei,ci<Ü1 ,I, 1a rlr; F'~'/f~!'ei]'t) de·1 f)9~ F 1'1'0-
te,,;tada nelo H<weu (la Lavoura e !lo Commel'cÍo do Brazil j
-.
- 265-
. d} a letra de' 7 de Outubro de 1891, da quantia de
445:000$000, de,RP,ll Haílue H eJllh~so, acceita pela Estrada
d~ Ferro do Qliil,)mbo, vencida em 8 de JTevereiro de 1892 e
protestada pc;lo Banco do Brazil ; .
8) a letra de 16 de Outubro de 1891, de seu endosso, ac··
ceita pela Companhia Industrial de H.!111P::tt', sHceada por José·
Julio PereÍl'a da Siln, da qnantiêl, de 20:0008000, vencida. em
5 -de Fevereiro de ] 892 e protestalLt pelo }3,1-11CCf da Lavoura e
do Connuercio;
f) a, letra de 23 de Outubro de 18!) 1, de seu endosso, sac-
cada por José Pereira da Cunha, aeceita pu}' Henrique Pereira.
de Faria, vencida. em 23 de .T:llJl-~iro de 1H92, da qriantia de
24: 000$000, protestada pelo lhncoda IJ,tVQ.ura e do Com-
mereio j .
g) a letm de 3 L de Olltnbro 11e' 1891, de seu saque tl en-
dosso, accêita por A401plH> de FH~ita.::, d:l quantia de 15:000$,
vencida em 10 de .Taneiro Ile 18H2 e pr.)t.í:'stl-td::\ pelo Banco da
Lavoura e do Commercio ; -
h) a letra de 1° de Outubro d~ 1891, de seu endosso, sac-
eada pelo Dr. Fernando l\!eull('s ele Aluleirta, ;tcceita por AI·
fredo Matson, da quantia de 100:000:'5 V2Ueil!a no I? de Feve-.
reirode 1892 e protestada pelo Bancl) da Layonrae do COlll-
mereio;
i) a. letra de 21 de Dezembro !IH 189J, de seu aeceite,
quantia de 500:000$, vencida em 20 de Fevereiro de 189~ e
levada a. protestô por falta de pag'amellto;
}) a letra de 21 deDezt~lIlbr() de 18Hl, de seu acceite,
quantia de 100:000$, veneilla elll 20 d,~ Fevereiro de 1892,
levada a protesto por fa! ta ele pagam!'ll to ; .
P. P. que os protestoi; por falta de pagamento deviam
necessariamente determinar a dee.laraç~lO da falletrcia ;
Porquanto,
p, P. que, 110S precisos terlilos do art..l o do DecI'. 917
de 24 de Our.llbro lle 18!J0, o eommerciànte lj l;t', sem relevante
razão de direito, deixa de jiclg,li'1l0 l'ellcÍlllt'llto qualquer obri-
gação mercantil li'luida P, eérta, entende-se fallido;
Ont,
P. P. que não póde haver duviua de que eram liquidas e
certas as obrigações vencillas, pois (lUe tratava-se de letras
não pagas e protestadas, e -o Ilrt. 2° 110 c.ií.;)'I.; necret.o de 21
Outubro, com l'efe~·ellc.ia ao :n!; ::-±7 d,) Re,~al. ;1. 737, mand,l.
que se considerem liquidas e c(~rt.its «a:-; let,ra~ de ca.mbio e aquel.
tas que conforme I) Corl. teem a )),(]:"111<' í\li'(je' p, aeçii.o";
Como tam bem
P. P. que o autol' Hão cOllseguiu lH'OVal' que em sen
fa.vor militasse relevante! azão de direito, pois estas são defi-
nidas 110 art. S- do decreto lh: ~4: de OntulJro, e G pagamellto,
que é a razão allegada) quando \I1cSllliJ;,;8 tiyes::lc vel'i!1c,t<!P, lIito
foi feito nas condições em que êlqnelLl.lei o couddcl'<1 relevante
razão de direito;
ABSl:iim é que
P. P. que para queo pagamento tenhaa vil'tudedeexcluil'
a fallencia á necessario que tenha sido realizado allt(~s (lo l,ra-
testo i é isto o que se iufere (le todo o espirito do ~decreto de
24 de OutnlJro e, com a maior clareza, do facto (lt~, €:5tabele-
cendó elle yarios meio~ de prevenir c obstar a faIlencia, COliJO
sejam a 1Iloratoria, Q acco1'ilo extrajudicial, a cuncordata pre-
ventiva e (I, c13Mc7o de bcn,~, só os admittil' qnundu não tenha
havido protf3sto por não pngamento de oorigaçii.o mercantil,
salvo, quanto â CeS:iã0 de bens, Í)e o re(!uerilllenf.o do deve-
àor foi npresentnuo IHtS 48 horas l·recisas depois do I'l'ot.esto
(arts. 12, 107, 120 e 131) i
~mais

P. P. que, além de se te'. oper>l,do a. fallellcia de pleuo


direito pelo lJl'ote!3to lJOl' não pagaIllento, tornOll·l)e da maior
evidencia :lHe, ao tempo em 4.11é foi ella dedara(!Il, achava-se
o autor em estado de complettt illsolvabilidatlt;

E ainda
P. P. que o autor penleu Lu,la :t capacidade 1'<1.l'a reda-
mlll' con tra a sentença II ue aJJrill·lhe a falleucitt, arguillllo·a
de violenta, de::;de flue com dIa. se conformou ao ponto
de, por mais de uma vez, peLlil' o Lwvl' da cOlleoruata
lior abanc1011o, qUf:J veill a 01)1.1;1' do!) seus eredores (de)es.
juntoli) ;
Fillalmente
l', P. que os arL~. G80 S !J 0 e 68 1 ~ ,1" di) regulamento
737 ele 1850 nãl! podem servir defulldamento á acção pl'oposta, •
porquanto o 'j LlU ellm; dispõem {õ (1 ue (1, (t(;\;iicJ resdsoria para
llullülade da 5~Jilfynçit ~Ú tem lognl' quando e:itu. f{)r proff:\rida
contra. a €xpreJsa d,i'po;je;il'l (LI, legi ,~l;lf::lO CI)W lllllt'd:d, f:l, t',n\
reirl.ção ;J, fâll\~ill;i;.~. ri,) ~~\,Ii)l', 11:'.0 ;']UiTllolll,e a S,'IlLeIH:a n:i.o ili'
fringin nenhuma lei, Ci}jllU !'ui prut"el'ii.la de aecordo com ale-
gi::;la~~tl) cüJlllUel.'cial ;
- ~67-

E nestes termos
. P. P. que a presente contestação deve ser recebida ete.
O ªdvogado-Sa1zcho de Ba7T08 Pimentel.

RAZÕES J'lNAES per.os SYNDICOS, BANCO' DA REPUBLICA DO BRAZIL


E EMPREZA DF. MELHORAMENTOS NO BRAZlL

Vindo pedir a rescisão da fallencia que lhe foi aberta em


1892, o &.utOI', conde de Leopoldinà, apresenta-se como uma
victima do Governo e dos tribnnaes- . do paiz, alIiados para
perseguil-o e al'l'uinal·o, mas só chegando a e:ste resultado
infringindo e violentando a lei que o protegia como devedor
que não tinha faltado a05 seus compromissos. Se vai n'isso
urna inversão dos papeis; se, por ter sido grandissima- parte
. entre os que, se entregando ás mais extravagantes especulações,
foram causa -de innumeras desgraças; se essas especulações
deviam in€vitavelmente trazer, e effectivamente trouxeram, a
perda d' aquelles mesmos que, com ellas, sonhavam a formação
de fortunas colossaes j se a faUen.cia não foi mais do que a
conseqnencia logica e legal da desordem em que vieram a
achar-se os negocios do autor n' essa orgia de praça ou de
bolsa em que se achou envolvido; é, em resumo, o que vamos
examinar para respondermos às razões de fI. 237.

*
* '"
o ponto lH'illcipal d'este pleito é a interl)retação do
art. 1" da moderna lei das fallellcias, Decr. H: 917 de 24 de
Outubro de 1890, e a questão, como a expô4} o autor, é a
mesma que foi discutida entre os signatarios do accordam ~
que declarou a fallencia, os quaes divergiram no modo de
ent.ender aq uelle artigo, pronunciando-se a llt!'l.il)ria pela fal-
lencia e entendendo um dos juizes que elIa não devia ser
declarada. .
Os fundamentos do voto vencido são os fl\llàamentos dá
presente acção e, do pont.o de vista legal, todos elles se
resumem ll'esLe argumento: «O Decr. <1\3 24 de- Outubro nao
altei'on a noção d,t falIencia acceita pelo' art. 797 do Co-
. digo Commercial, e com." segundo essa noção, .1, fallencia só
podia sel' declarada quando tivesse sido allegada e provada a
insolvabilidade do devegoí;, ainda hoje não tas',a, para que
seja ella aberta, que o lleg'ociante tenha deixado de pagar em
seu vencimeuto tiLlllüs de uivida liquidos e cer1x,:.»
-- 2138 -

Entl'al1,io na. demou~tl'a.çÍL() d\'stas lli'Oposições~ o autor


vai nrOC:li';tl' :l~; oríg-ells do iut. 1;11 (l;) lWS"O Coc1igo Commer-
ei:1l e :13 C-llCuHt.ril lJ:l~; :ei,; l'i':Hl"t'Z:t:-; de 12 de ,~',~tembre de
1~:i:7 I' 5!8 ,h'; ~d ,t:,) ,le 1;:'33, das illlH"~<; Pldvein ') ([I L. 4B7 do
{'ud!g'o (")Il11i](~I'(;i:11 fl'it1lC:t::Z. (:(\Ilc~'!'íilo n'esles termos.: «l'01tt
comnierçri1/ t qui c"s,'e .~f;8 P;! !!Pimenls ('Si Clt é/at de failll te» e
'1ne () lil'::;SO lpgi~;l::,h,r não f~:,; mais do qne tT:llluzir quando
l'eLligin j.H)~' este wo;1(j li é~rL. 797 /10 !l0S~0 C(lcligo: «'fouo
cOInmerCia;lte I]U8 (~r;:,:,a Slõn;-; p:lg-iunenttls ("ntl'wle':-:e quelJl'atlo
ou iêdlii.\n,.-} (}:-a. f-xclama irÍnmph>llltt>mente () autor, (;01110 em
FralH:a ;,'t;iT1l))" ;;:2 (,!lit'j](lt~u 1:1Ii'. a Himples f':-t;ta r!\; pagamento
de 11m uU out.ro titulo Hão Illlél' c\iMI' l't's:<açiio rl,õ pag'[l,lIlelltos,
e eJltre ;:1):3 ol1tra ;L-tll lia Rhlq ;j, ili!.~l'pl'e.taçito~ elMO é que o
instrll11l8lltO d" ')1'()t~~:,il ll:IO lUiita para que () devedo)' sej:-t
considerado élli f>Ll(!" (1fj i'aU8iltia,
J<;~t", ,1rgcmeLk, 'iUI~ {~ () flue (lá ,i,ngresso ~s ,razões do
autr(", e lmpi'U:' ,(;, :;~f; p(dt~I)]f)s 1l18,'lllO (I1ZPl' f11Lt' \0 bls f), qner
qnc1.1lt.o au (1il',~Ír'! l;ai1el'Z~ qn(~r i:Willtu ai) !l(H:::O.
J<:lil r,.1,-:.,).:, ar, di,·'!o f[':l11(:P;I, finem 110i-o vai dem nllst.rar
é ~ l,n'l·l'i:l. :]11."[(IJ :!lJ'1co CH ';Ilem 0 autor ~(~ i-l.[!"i:l, atí,ribllill-
do-lh(~ nD;;, Pi . ini:l:J (P'i; ,; lIilÜ a ,ma. l:{.(:('~rimo-Il()s a D,!Jloz. Exa-
mirlê., de j(:it'j, 1':ót.l~al'Ull', a 'jJesLio de Sel', ou lli"lO. a insoi-
valJ[)id:v.lf;: ciJntliçii.o jll":r".~":·\ji;\ [/ina a C(~6saçi'l(J de pagamelltocl,
e, segundo o ~:r:-'te;na ;o:,eg'nid'J li\.! vasto Repl.'í'lorio, Ci)l!le~a por
eXIJO!' a~ opÍiliõ'::..o 'em um (~ ont.·.',) HGntíll\., dawiG o prilllAiro
logiu ;1. Locré;. que, em llma úi~:'!ert.açií.l), tinha sustént.allo a.
8.íTi1'llmtiva; ma,.; 11,·Vo em :-:.eg'uilla escreve: «Vinc,m.:l, Bonlay-
h,ty, H,;rs()!J, I.J~tin!lt! e ll1as~,é sitO 0.6 <!ríllt.l'in,t eontraria.
Ltment:muo 'IU'- I) Cotligo Hã.O tenha dist.inguido (,;nt.re a cessa-
l;ãú e a ~n~J)(~l!,~ill) de llag'ltmentos, pensam elles que, na opinião
de ileus allt()r~'J, não tral.(t-8e 1Jara o commer<lÍanle (le .ser ,~olw~
veZ on iM(}!va.xZ, mas de sabp,1' se, dr' file/o, d/c lJ1/,ga on não
papa; fJ1W, r!r;8:!e l'nl/io, 'lu,u!(!nc.I· que 8Cj(( o (teUv(; r!fl um ne.QÚ~
r;i,llIlh, Ijurwdo ;lIesmo f'steja dw: vezes (I(;imn do seu, p(t,9/lil)(),
f.:0 e!le Di~IXA on eeSSll de paga)', (!~(á q1u7Jrarlo, ?naS fJl'6, se
pU" é {'xo,r.;lu íUiS 'Ht1tS pagarneníos, 8e, por n/li credite .5ernpt'e
,tinne, lo;: cOl1s:anlcln~ni,ef(((;e a. 8CUS GOlllJlí'om,i88os, (únrla que deva
de.zé)::;;ri! iié,(!, 's {70 que pOBsne, nau oâw-sc (fb,~olllfamcnte em
e8!(1(I') (ll' IJ':/íl~i!.~),. A divergencia enLrp, ()<; .iuriseon~ulto:l
'-rmncezc:: !'ofl(~(:;.::;-:;t: na jnrispnHlenda (105: l.rib,~tHtes, e tão
facil Ylns ,,'!:; i~, ;I'jlli ]'í~!)J'f)c1uzjr f):-J arc"tos dtatlGs no Repcrlol'io
em b\':l" (1.. ,j'I"i,,'j,n dI', ;\!~,s.d- e ,I,', :}Uh'Oê, quanto fileíi
f,;~ (tU : .... ' :; l;:j"",:.:·:i: r.~; fin'; aii; :<i.iJ ('i;,,'illu~ í:lil favor di:\.
ÜUôlL:j,J;l d,~ !..JIJCtf:, (; I.; IH; Lnportf'. ~ l'ill.!eJ' qlW.l :t t.'illl('ll1~;\o dos
audoj'{";, do l~,:;(,,~i)nlj, ,; ;~::Ll, iOllge (le ser ;1, illW lhe::! tOmpresta
- 269-
-
o autor, trancrevendo nm trecho que pertence â exposição
das opiniões, é inteiramente o opposto, E, senão, veja-se:
4: Concluamos, pois, que.li vii'tlt da lei actual
nenhuma differença existe, quaIlto aos eifeitos, entre
a cessação e a simples suspensão de pagamentos;
que- o devedor,' 'me8mo .~olvavet, que ceSSa da pagar,
deve ser,- se nãooutem immediatamente moratol'ia,
(leclarado em fallencia, salvo aos cl'edores sustarem
mais tarde os eifeitos da JecIaraçilo de fallencia e
rep0'llll o devedor ú testa de seus negocios se reco-
nhecerem que o acti vo pel'lllitte-lhes esperar que
elle satisfaça seus compromissos ('!lo, Faillite et
Banqueroule, D. 73).
E de modo ainda mais terminante, se {~ possível, é esta
opinião sustentarIa velo Ilwsmo autor qnallrl0 no moderno
Supplemento ao Repel't01'io, volta a disr.util' a qU8;;tào :
«Como ficou peremlltoriamente denronstrado' no
Repert01'io ns. 73 e 153, llenuumll distincção com-
porta a lei franceza entre a cessa~ilo dos pagamen·
tos, que snppõe a insolvabilidade, e a simples
'suspensão de pagamentos sem ínsolcabifidade; o faoto
exiel'ior da cesação dos paga:llentos é a condição -ne-
~ cessal'Ía esu.fficiente da i'allencia ou da liquidação
.indiciaria, independente da questão de saber E'e o
activo do uevedol' é UlI não superior au seu pa:)~ív(),
independente tamhem das causas que tenham pc-
di(lo motivar a sllspelll'ão de senE-; pagamento;~,
«Neste sentidu julgOU-fie, soh o imp€rio (h le;
de 1838; 'qüe em l11élteria oe fallencia, não dbr,!il'
guindo a lei entre a cessaçào e a simples suspensã.J
de pagamentos, todo .commerdante' que não; paga
francamente (à oUl'eau ouve!"t) acha-se eíu est<l.ttv
de fd!lencia., - DaIloz, Sup. ai, Rép._ vo. Ftti7lite
e n. 256,
Entre nós a mesma dive;'gencia se produziu na iritdli·
gencia e applicação do art. 797 ,querendo nns que a cessaç~to
de pagamentos devia por si só determinar a fallellcia eO opÍ·
nando ont.r,os que ella só podedaoperar esse eifeito uma ,",1/:
provada a Ins()lvabilidad~ do 'levedor. A l'epl'O(lllCção dos jltl.
gados nada aproveitaria desde qne UIlS contra(liZ81n o~ Olltl'OS ;
Il (lllC aqlti) púrtanto, ÍmpOl't,l (~, ('.'):110 ae:.tbH,Ill'):ldi~ t'ili:er em
lelação ao direito fmllCez, illctilgal' tI mtl das dna.~ Íntel'llleta·
- 270,.-
ções ê a que tem por si os melhores element-os,e nests. inda-~
gação não seria possivel caminhar mais seguro do que tomando
como guia aquelle que é, sem constestação, a maior auctoridade
entre os jurisconsultos brasileiros, Teixeira de Freitas. Para
elIe o que devia interessar á defesa do negociante que se n80
considerasse fallido era a natureza das dividas, isto é, se eram
liquidas e certas, caso em que não poderia impedir a fallencia,
ou illiquidas e incertas, a cujo pagamento pudesse e devesse
oppor-se. Quanto, porém,á disfincção entre cessação de paga·
mentos e insolvencia, eUe absolutamente não a admitte. Eis
suas textnaes palavras:
«Ha um erro commum em distinguir-se entre
insolvabilidade e cessação de pagamento~. A in-
solvabilidade do negociante exprime o estado da-
quelle a quem não é possível pagar suas dividas
,passivas; e a cessação de pagamentos exprime o
effeito de tal esta:lo, Oll a sua realidad·e para com
os respectivos credores e commercio em geral.
«O jltiz que aóre a fallencia não tem que es·
merilhar soóre as causas da insolvaóilidacle, nem
tem meios para fazer desde logo tal investigação
eom probabilidade (le bom exito.
E, fazendo suas' as palavas de Goujet et Mel'ger, con-
tinúa:
«Desde o momento em que a cessaçào de pa..
gamentos é constante, a fallencia existe, qualqller
que seja a sua causa, embora provenha de força-
maior.
e Pouco importa igualmente que o activo seja
superior ao passivo; não Se trata de saóm' se o ne-
gocíante é 80lvavel ou insolvavelj mas unicamente
se elIe paga ou não paga em dia.
«Mas, pelo contrario, possua eIle o dobro do
que deve, cahirá em fallencia desde que qualquer.
embaraço o force a cessar seus pagamentos. (Addit.
ao Ooá. Gom. v. 2°, pago 1.090.)
Para Teixeira de Freitas., portan.to, o Co digo brazileit'o
l'epelIe a doutrina segundo a qual o negociante possa ddender·se
all~gando que a falta de pagamentos foi um embaraço .t>assa·
gelro que, não significando insolvabilidade, não deve trazer
a sua fallencia. Para elIe, como para Dalloz,falta ou cessação
de pagament?s são a mesma cousa e exprimem nma .no<;ão
- 271

inteiramente diffel'C'nte da de jll~()lv:i.l>ilidade, a qual, para o


eífeito da declaraçrto ua fallencia, -é indiffel'eul.e que exista on
que não exh,ta. _ .
Que faz, p(ll'ém, o voto yellcido? Confunde. cessação de
págamelltos com insolvalJilidade afilll de, forçadamente, fazer
entrar no art,. 797 esta ultima noção. Com e1fe!to, lê·se logo
no coméço d' aquelle voto: «A failenda é, sob o regim~n do
decreto o mesmo que er3. sob o regimell do Uodigo-a cessa·
ção de pagamentos.» O voto vencido parte, pois, de, uma con·
fusão, tomando a cessação de pagamentos como insolvabili-
dade, dando assim como provado equillo justamente que era
preciso provar, e provar contra a opinião de Teixeira de
Freitas.
Admitta-se,})orém, que tenham valor os argumentos em
. sentido contrario, isto.é, que o art. 797 prestese tambem á·'
illtelligencia que lhe dá o autor, o menOs que se nos' põue con·
ceder é que, no regirnen do Ood. Commerciàl, . a questão era
das mais controvertidas e que, portanto, uma sentença, que.
se fundasse na nossa interpretação, em caso nenhum poderia
ser consiQerada como proferida conl/"{t expj'essa disposição ~a
legislaçtio commercial, para tornar procedente uma acção res-
cisoria. (Reg uI. 737, art 680 § 2°.)
Desde que' as palavras cessação de pagamentos teem dous
sentidos, poderiamos dizer, com tanta razão pelo men9s quanto
o voto vencido, que o DecI'. de 24 de Outubro no seu art •. 1°.
veiu confirmal'luna disposição que se acha"a no Co digo Com-
mercial. Como quer que seja, porém, o que é certo é que sub·
stituindo aquellas expressões por estas outras-falta de paga-
mento da obrigaç<7o mercantil liqniáa e certa, no sen vencimento,
toda riu vida desappareceu.
Para escapar á significação litteral destas palavras, pre-
tende o autor que ellas enunciam um indicio indicativo do es-
tado de fallencia, mas não no facto que necessariamente deva
levar o juiz a declaral·a.-.::.Pnra argumentar com mais força
contra esta opinião, admitta·se que o Co digo deixou ao arbi-
trio do juiz jlllg'ar da insolvabilidade do negociante, mesmo
assi.m não será possivel demonstrar que o DecI'. de 24 de Ou·
tubro mantenha esse arbitrio; pelo contrario, do facto de pro-
ceder por enumeração, e não por defilJiç[w, como fez o Codigo,· -
o que se deduz é que quiz l'eagÍl' contra este, ou que quiz cor·
tal' a questão que se levantava na interpretação das palavras
cessação de pagamontos. O voto vencido reconhece que °
peno
~a~ento dó antor do decreto foi pôr termo ás vélci!lações da
JUl'lspruc1eneia a resp~ito dos facto:;; que revelám a existencia·
do estado defallencia. Se assim é, só poderia conseguir esse
-- 272,-

fim pl'ecl~:J,n('in 0:'3 factos qne> C,:{IT.r.t~~l'ÜH\m e não os deixando


á itpl,~(;i(\ço~,n 110 jHiz, Ol':~, eilUll:;iar um inrliefo apenas índi-
cati~'o Il? f<lllu:cj;1, i:;!j,('j:) ((t;" () j:1Íz t~>J:>v :ieIDiJlu o arbitrio
de .illlg[~I' 'jue (Li,l) ~: L:i; Ct,:,[,(, 1,.',\·.~l~.d,,,' d,'lla 3cI'ia deixar a
q U"stdO lIJ ili8sn:i: ,"::t,;l.!\,);l1:: ill,' ',' I't l';~a e 1:1 'J ne elb ~e achava
an tf:'.S dl>.qnelle \le\~)A,), ,H no l'/-.gi 1!:011 do (JiJltíg'o 'l'eÍxêil'a de
Freitas :~l!S~,e:1tava ([ue <~:-il~ I) CUllill1er,;i:lll:.':'. illsolvavel é aquelle
que Il2J) phdc fazer SI.'\1,' l):'~l'~l'bHV." \:ill rlia,<t ces:;ação de lJaga·
meutos(qne para 81le em () m'·'··;:!íU que liJpontllalidade) pl'ovataZ
irnpossibilirlurle,I.:Gll lllllit,) m;tis r;\z:lü,devemos IltJ:;:,-ug-oJ'a que
o dpé:i'eto Jlitrticr;]:ll'it,ét it !o,tlw di-' [lHL(:nnento (ie divida liquitla.
e c21ta cOu1U Cclr;\;;Lli~~i:t]i,ílJ ,;, út1klll"itt,--t3llstental' que a sim·
pIes Ímpontna1!d"".10 pro!',( este (~t,taoiJ,
O llrOLC3l.',; (al't. 'r' dn Lt.:J'<:to) I:' \) n:e;o (te provar a falta.
de pag'amentos; (L1 qua] ~t rd!~tlda t~ lln:ê~ consequ8Ilcia qllf~
não l.t';]t\ ser 2'-'7i~,Ll<L I'!)f ll,lg';U:1Cll 8 \i'Jsteríu[' au mesmo pro-
te:;'/). E' ) 'lU; :".' (ls'llí~~ ,li) Íi,er.iJ rlre, ç"t'1heler':ll' o clet:l'et.) que
a mo!',ü:)ll":, I} ;·te:~',i".lo (2:-::ti'ajlldi'_i",:. n t;tJl1c: nr 1lab pI'eY~nLiYa
e :~ '>:0 ::l,; I;,:; l)lj!!, ',:!l':t liq,':Lv\,\,1) judicial ;-:;ii.o os meios llni-
COS i;, .'; I~ v'.'' li' ,: ;;1;:;11,:' , lid!;~iI·r',i.t; lua'; ,,')1) a CO!llliçilo (le flue
não le:li!,( !U/ui'lo :.i'I),~!"I'1 Jj!;,';-u:,1 :J'I,',ill(!t(O de o(Ji'f.r;ltçr;'o 'liler'

cantil, ;.;.t\\·i) ,:,.:",:1.'1 d, b''-'l>, ~p () f'\3qlli:',rimento


ii;:':i[.::i,
do du \,8,1\1:', ri':' li :l'h 'i'" j .. " :t.' !"~,'):"l b: 11) Il(t~ 48 lwra, precisas
depoL', ,!u j!l'O!,,:.-,~.I; (:H'f;;' L:!. ~;)': , ; ;.:'u [~ 1: i),
Viii (hs ; .!!l'.~ijii}.e:', li:J-, ti,· i!ilU I,') i S,)!Jt'i~ failem;ia é SUl"
:pl'ej!l-:'i(]:~( UJ~::;6")Ljitllt(~ d':;iLl ;i ";\',C;it(lo ]";';0 'lue (lHe se veja
D<t eiJnu;l'.(::.ll('.iit de não V:!c:l' '::ltLi~l';I.í';i>J' ;t- tc\(lu:'i Oi! seuS corn-
pl'Omls~()S,
~\ T<.~ii,tt'Jl!;I\ d(j 1,0\10 (;'lmmf:'i'.;i,wt.t\ t; !t(Iia r , o mais póssi-
ve1; :'.dl',~LI:',,\:),:. lla LL~L:::[(',i,,; e :,j~, i~')l'(lilej 1Il\~S:Ül) depois dl~
st'~Hh'·s,' ".I)'I'{edl'l" 'í' , .. li-> '''I;' ['''t'-' (;1',HP['omissos de toda
'o;'úe'l11 '.:~()W ;;; r:'I,~i;\;':~~;":li~:'~'e;:i':'::lJi,',,:~ Ul1"'ci;nJ a~l!elles cujas
divida" ~,fó Vi~tu \'1:-'.'1(',"],((,. ;,,·i\,:~".;(\,; dos IJutl'OS.
:2olll prejui/o
J)'al 1! Vém s·,gni:ih 1~ iil!:.~·.i!g('lr: dI)!; ,in:-i::;eonsultos, ,t 0.03-
(]lle,
ddl':lf;:~" ;]". l';;.ll'!ll·;ia d\~ve ',lUlflnt,jr:,p.,' o Car.to a ell,t Vl'eexÍs-
tentb, !l'i;t:; :ui.o vmll eCé);d·o, l;ili~,;) (r;1 Li pr')cede a obrigH.ção
qrw ~'~ li;! ;C1;IÕ'; (De(~~·. jl.r!;, 0") ,t') :tr\v(~rlor, que faltar ao pa-
gaml:l,'." (t: ;tl:;"!iiit lli'/i'\,<.t '';'Jll1:1l'.;t'eia!, fle,!lo preei:'io termu
de eille'J :Ih':, (',m;:1,Ill); (h 'J(~Il'.:ifil"lll(), apIl:ISent.at' ao juiz do
eom :,tc: ,;):] '.Lr: Ítcl'::..:rÍ,i', .1.: "11;h fj a~sigllal1(t por elle ou seu
P""'211l'::.:I'ij, ;".lj: T": (;Xri:>lliJ:1. ai; (~;Ul:,as !lo fallir.:\ento e o es·
tit,ltl :1;: "< i ""'" ;:·:!:!P'JllJ;· ... ,.;i~ pi.:n;m, que ao dev811ol'
.com titui:};..; rJ'I;L:;'~I;': i:' ··).;l·~ P:-::"i:;t,),Íd!). l;v.itr)1' a fI1:llen~j~L pur
.::~e('r:}---:~,,: '-, )ni í):-.: "!j'I.\~('·:':' " :!j:~" LI~.i·l~'}~) iP'lnle~r\) ;)(1 fl)~~p,nl vell~
cel!:b, ,( ,;üj!'-:·}'.ll'"'/l:1.,, (o ,)1", j~. 110 et<t:.ido (le f'l.llBllcia, ser-
- 173 -=
lhe-ia facultado, para conteI-os, fazer nego cios que, se adia,·
riam a sua rui na, tornal-a-iam mais profl1ndJl., e, portanto.
maiores os prejuizos que viriam a soffrer a generalidade do~;
credqres. ceria, pois, cO!ltradicção se o legislador, 'depois. de
tão salTero se mostrar no art. IOdo decreto, q uando prescr~Vt
a fallencia para o negociante qUe deixe de pagar suas" dtvi~
das no vencimento, viesse admittir como relevante razão dt
direito" para excluil-a~ o pagamento depoi~ do protesto.
O systema do de.creto de 24 de Outubro: repetimol-o, re·
presenta a reacção que se tinha, levantado entre nós 1 como em
França, cl)ntra a ambiguidade das palavra~ ()e8~aç{lo ã.e pago.·
mento8 e inIJolvabiliáa(le. A cOJlfii'mação disto nos dá a excel'
lente monographia de Thaller-DaB Fallencias em Direito Co tn -
paraáo, que parece ter sido a fonte paincipal da reforma p-or
que em 1890 passou o nosso Codigo na parte das quebras. As
palavras da lei frauceza de 1838 parecem a ess~ ~uctor tão
obscuras. tão evidente a necessida'de de limitar o arbitrio do
j1Iiz, que elle preferiria, apesar de ainda não achai-o bastante
preciso, o Codig.o de 1807, pOJ·que especificava certolJ faotos ao~
quaes d~via seguif··se a fallencia. E neste sentido propõe eUe
a reforma do actual art. 437 dO' Codigo do CommerCio por uma
disposição que particularise os casos da falIencia e que consi-
dere o protesto como o principal caracteristico de~te estado.
Eis suas palavras;.

«A intimação pelo official, tal é, em minha


opinião, o acto entre todos sobre o q1lalo pedido
de fallenci~ d~yeria operar-se. Em materia com-
mercial, e em sua applicação aos .efeito" de
commercio, a intimação tem um nome particular,
o de protesto. Quando a recusa do devedor, em
10~I?,i de fu.udar-se em uma contestação sincera.
'e leal da. divida,provém de uma falta fIe áinheiro.
-questão df. facto, apparentemente,-essa falta
de dinheiro disfarça seus embaraços e legitima.
a abertura de um processo collectivo sobre o~
bens (T. I? n.42).

E conclue:
< Está explicado qual o meu tim: a cor-
recção que eu proponho se faça na lei consistiria
em estabelecer, em logar da cessação de paga-
mentos, causas devidamente. especificadas .·de
fallencia ... (v. IOu. 45) .
•"A. TOL. 73 18
- 274-

Foi esta a reforma que e!1Ll'i~ uós


já .foi realizada pelo
Decreto de 1890, senrlo, l!el~ Illenos,
um anachronismo a
doutl'ina do accordam do CO!1seiho do 'Tl'ihlllaJ Civil e Cri-
minal (duc. junto pelo autnr á fl.) em que ~e pretellde voltar
á confusão a que davam lugar as palavras cC'ssaçllo de paga-
mentos e insolvabilir7ade. E se muitos não são os accordams
que tenham firmado a doutrina rle que 11ojl.: a simples impon-
tua.lidade determilla a fi:\llencia, é que raros l5áo os (:a808 em
que a questão tem sido apresenLulit aOs lribullaes; mas soul'e
elIa têem tido os juizes desr[t f\;Tegilt Cama:<t yari<1s occasiões
de pronuDr,iar·se 'rl1an!lo, a pl'Opo!:!Íto d<t liqnida(;ão (le so-
ciedades all~,j<illlílS, têem traçado a díi'itiueção entrt O
art. 797 do Codigo Commel'cial, que, na ol'iniào de algul1s, '
ainda a r{'ge, e o i'yf>tell:a. du decreto de ll4 de Outubro.
A:!sim que, 110 acconlam dl~ 5 de Marl;o, qne julgou impro-
cedente o pedido de iirplidilC;ií.o do Llo,rd Brazildro, lê se :
« Accresce IIHe a liquiul.H;ftO f'urça(la das cOlllJ)anhias allonymas
sendo regnhtla pelas i!j~posiçúe:-l rlo Cudigo Commel'cbl, lia
11arte civii e admini:,tJ'Il.LivH, o I.'riteri1l1/t legal do est.allo d/\
cessa(;ào n;w é, como uas fallo1iciu8 dü8 comme)'oialll~M soõ firmu
individual ou .~ocial (llecl'. 11. 917 Ué 1890) a simples inzpon-
tualidade do pagamento, maB a ee:.:saçi'tü eartlr,teril'lada ppJu. ex-
tincção na perda du el'edito eOJ1Jl1le]'cill] eü;. (Dl'. ~rolltpnegto,
Trabalhos juâieiaes p~g. 3!-!7). :So wesmo ~('lll.irlo () l'I'CélÜIj
accordarn de ~2 ele .Maio, quo decretou a !iquiclariliJ da ('um-
lwnhia Viação Ferrea de 8o)!ucahy (Jornal elo C(j1/ii/tt~'iJil) de ElO
de :Maio de 1896). E, ile accorou com es~'~ jnriSl'l'urlencia,
escreve 11m dos mo(l.emos cümrflentadol'eB da nos~a legi:,laçfw
commercial: « Esta ,iisposilitO (H. do ar!.. 1") alterou pro-
f'unoamente a que lhe cOl'l'espolldia '.10 dírf\ito 311terior. Pelo
art. 797 do Cod. considerava'fe fallÍ,lo o cummel'r.iallttl que
cessava sens pagamentú3 ... Hoje a cxltiMção do tilulo de ac,
dito, aco1ll}Junhato com a c";1·tidão do 1))'ole8!o de níio lJagC1/I.Mto,
aut(j1'isrt(l declal'ação da fJuebra . .. (8. Pinto, Diec. df'. Le.f:,
Com. Braz., nota 290).
Uma consideração ql1e domina todo f'lite pleito é flue a
questflo lltÚ) lló~le ser aqui collocada no IlleSmO terreno em quo
o foi quandi) Be proferio ° accor,larn qne declarou a fallencia,
N'aquella oecasiào tinham os juizes o arbítrio ele escolher,
e11 tre (luas interpretações do texto J':,gal, a q ne lhes parecia
mais COIlsentanea com o espírito da nova lei sobre faIlencia, a
que melhor lhes pal'eciu expl'ÍmÍl' a vontade do legislador.
'rmtando·sú, porém) de. nwa ,l(;(~i10 ! esc i~olü h:-1. uma pre·
limimlr a ~ esolver, e 6 sr: ti lei ()l1O :!e applic:oll em de tal
lhOdo dura que llenÍluma. (111rida ~Iíllilitti-;''ie 11,( ;:;l1a apl'licaçiw
- c,-'-,..
~/') -
011 que o f~_d,! rle sat' ap~):;Ctl,l ~J:l 11m CMto ,~entill(j cOllsti-
tnisse viohvJil) !la ài8pO_~i~'a{J I!,,)'(."" Ih lf'~:~);t;;:t'1 C')mmercial,
E' lllll iJl'i:ldpto 11;>, Ol',:,·'.':n lJ;!):i:~': :1 ll'! a:-: sC'ltenças d (),~
tl'i ÍJullai-ls nit;) ti 'i {le m ')1I j e; : i ~ ,) i' ", I, (-:L rnt ill-:erte:r,ct, co nw
aconteceria ~" a ltt"'1iil ~'~l",~i:; li:'. ,~,Il ,.\~;; ,h se!' ;sómente ne!'
mittirla no ea,~o de vioLH~.lr! ">;:,'1'C:,;;,,l ,1 L >i, >id6"se;,ervi~' rl~
meio pam se renovarem lllri~l~ili(hi1iH\])t(~ as .1emandas, 'lindo :.i
tOl'l1al'-~e, p01' assim djzer, llil~i. no'.',\. Í'lsrancia aberta depoi:; Ih;
terem elJlls sid(, rleli:Jitivdmü,lI,e jul:::,"uta:s, J-~' exactr.mente isLü
o qlle mmt.o hahilmlõnte S8 pl'íj(~lil'it "fazer Cill tono ti correi' das
1'1l~~ões tio fi, 237 P. bem n (lJIWIl:,h o fado atJ se fund?rem
eli'ls sobre tUllo /lO yoto i:éiil~i(lr;~ í:nj'-Ll ('o nsúTerrótl([o8 , repe-
timos, podiam ter o m,ti(jt' :;:lbim,;nto l1(l;1tlelLt o(',casião, lli;;,S
cui!) autor, e~tamos cerln,..:, p. 1)(>',11 ') ré!Ye!t;l'O grande esfurço
ft-lito para sustent.ai' SIl.1 o:,;,li:i. ,), - Ili'il) Vl'et"nderia que fosse
e~t.a. nmil. illtel'pret:\ç'ill ial:\iül'I'OY'_'J',q rl:l (1i;;pusi(:,ào legal.
Por est.:t I'<l.zii.o hilstalÍ~L L,:!, HX[!I:,~t() a (le~inteliigenciaem
Qt13 se n(',hlllo os juizes, i]li:wriu ní?:·;tl1O l~il,) ~t~ itoll1it.ta que (>
art. lOdo Decl', exdne a inLr:r;.i'tciaç:i.o d·) voto vení:idü, comI)
pensamo,..: ter delllontl'ado,- para qno lítio no .. fo;;se preciso
proseguir; lllas tttl' é a ill:-list6Ji Gilt com (ple o autor :ü.tribu,~
, á sentença. l'eseinllenr1a (! me"l ]!ei'sf{Juiciio flue força é ~com~
panltal-o.
Não temos autoridade ,-- W'll !;.3 l'Í a: ei.::tb ;) Jogar, - para
apreciar e jnlg-al' os artos !loiitit:os dOei 1lllSSfJS ,dtiPlOS go\'sr-
1l0g, lr.~í''; (lCl't~dit1~mOS_ qnc, f;t.'lll éxeepUU,1' () geVel'11O rlC'i com-
muna de Paris, nenhum :dihla llitll\'P. e,J) palz ci\ri!iZRilo que
tivesse org;·wiz:ulo ,<uma call1p:tllll;L c()i]~,ra as instituições in-
dU8triao~ e de rrtlilit,}, e eOlltl',t ',B pl'incipal'l~ capitalistas da
praça)} (ti. 12), UllHl Ihs t,!stE~ml!lih:ls do auU)J', j)n.riL inenlcar
que, no meio c1as n()s~;\s pertul'b,\ções nulitiCilS, elie era ho-
mem qlle só se ocetlpfJ~'.'t GOi1 l (l~ ~é,l1S Il~gocios, recorre atQ ao
phl'asearlo :~()r!:~ljgLa para 11izer-1l0~', qu~ elle soffreu da «guerra
f]ae entflo se movia ao capital! »
A vAl'<laI18, porém, é ontr''.. To(lo~ se lelnbram da agi-
taliw prollnzid:t na praça do Rio de Janeiri) pelas especulações
imu:.i1Has [ll'o1J1ovi(las pelos homens da r'oíJ/.uanhia Ge,"al, (h
Elitrada8 de FnTo, aqnell'1. mesma 1111<', ~ fürça de emittir dd-
benllll'f',q, apresentou !lil litlnÍllêt0~!() um l)'-l~,~jvo superior a nm
milhão e dll7.êlltOS mil contos. Os chei'es d~ssa empl'eza já ti,
nham ehoíÇar1tJ á beira do }ll'ecipicio,- 'b311l o revela, entre
mnit,n,: (lU t.!'!" , () eXI)(~dienln Il,c d,"S,)~pr'j'() 11,' jit p:1g>U'i31ll pelo
'[illllpiro I]\le :,0 lhes emplcsl ii vn () .In,'" ih 30 púl eellt:J .c·'
llleÍ'~, -q naJlrlo enll:'ieg'l!~ mm Clll pt\lX j l!1,U' ;"'. tio Governo t~ il611e
eueont-l',i,l';Un () de~e.inll() apoio, I:OIllO o aUest.n. o neto (t.) mi-
nistro da fazenda ma-ndanclo recolher ao Banco de Credito Uni-
versal, que era a pl'opri;l, COIUP:\nhiil. Geral, OR saldos do 'file·
souro!
. Dias no dia em que esse acto, j{L noticiado pela imprensa,
deTia ser publicaJo n') JJiario Official ~ob a fÓl'ma de decreto,
a revolta de 23 de Novembroapeon o Governo e levantou outro
c9m cujas boas graças não podiam contar aq~lelIes homens de
negocios, entre 'os quaes se achava o antor, segundo depõe
uma de suas testemunha!!!, commendadol' Cllaves Fària, por
e8tas palavras: «Que a testemunha pensa que o autor estava em
relações intimas com aquelles que se occupavam da realização
das promessas feitas pelo Governo ao Banco de Credito Uni-
versal.» E como o novo Governo teve naturalmente por adver-
sarios os partidarios da administração deposta, entre os quaes
o autor,Joi este comprehendido nos actos politicos de depor-
tação. Em caso nenhum, porém, sua prisão poderia dar causa
a que as leis commerclaes ficassem suspensas e os credores
privados de ter contra o auto~' o procedimento a que alias lhes
davam direito. «A CeRS1trJto (lp p,lgamentos constitue o devedor
em fallencia, qualquer qllP spja a causa, quando nlesmo fosse
elIa attribnida a um acontecimento de força maior extrallho
ao seu commel'cio, lctl como a 81lCl p/'izlio por medida admini,~­
trativa.»" (Aresto da C. de Casso em Dalloz, Refi. vb. Paillite,
n.68).
Vê-se, pois, que a allegada perseguic;:LO não provém do
simples facto de ser o autor nm capitalista j mas, seja qual for
a sua explicação, o que é de todo o ponto inveridice é a alIe-
gação de que o Banco Ja RepnlJlica dos lestados Unidos
do Brazil« se tivesse pl'efltado, como docU instrumento
ao plano sinistro de al'l'llinar o conde de Leopoldina». Pois,
nãó está saltando aos olhos que. E'e esse fosse o intuito do
Banco, não consAntiria eUe em tróc~ú;por oi.tr':lR as letras ven· .
cidas e, protestadas, com cuja apt"esentaçfLO se OppOZ o autor á
falIencia? E ná,) é absndo fi U{~, q aerendo alllliq uilal-o, fosse
aquelle Banco um dos q ne concederam a concordata que desde
logo o desonerou dos elfeitos commerciaes, civis e criminaes da
fallencia? ,
O facto é que quando a fallencia foi requerida pelo
curador da., massa.') el'!\ publico e notodo o estado de insol-
vabilidade do conde d~ IJeopold ina, e este facto é agora posto em
evidencia pelas testemnnhas, em cujos depoimentos teve o
autor a cautela de f1(~ llflO :1 poi:tr. S8JJrl0 q ne em suas ext.ensas
razões tucl0 quanto (li;.: ace!'(~a d:t prova t(~steml1nhal, a que
aliás elIe mesmo se sOl\correu, é ,[lIe elLt é Rerodia! (fi. 306).
-São as proprias testemunlt11.s olfel'ecidas.pelo autor que dizem:
-277-

uma, que tendo o conde estado unido á Cumpanhia Geral de


Estradas de Ferro e, se e5teve envolvido na negoci~ão de
lHortoll Rose, 1IOtilr[,ll1w71te :':len credito DCOU abalado; outra"
que acrellita que o llli:i.logro do emprestimo possa ter abaladu o
credito do c:;!J(le de Leopoldin, i <~ terceira, que tendo O auto i'
tomado CeI'C!L de tres mil contos OI) eruprestimo, não póde dizer
se seu credito ficou totalmeute intacto, mas que de certo não
nCJU 'l'obustecido (fis, 217 v., 220 v., 225 v.).
As testemunl; -.S de tis. ~31 a ~35 são ainda mais posi-
tivas, tendo o dep .>l1ento dellas o maior valor não só pela
sua honorabilidade, como por serem banqueiros e terem per-
feito conhecimento -de estadu da praça naquelle tempo. Assim
é que o Dl'.· Adrianu Fortes de Bustamante, actualmente pre-
sidente do Banco Agricola do Brazil, depõe;

«qne, lJelo:i tins do anno de 1891 e principi~s


de 1892, o 'Tedito do conde ele Lepol(Una achava-se
aúalado, po;se'1' geralmente sabido que não tinha
podido sati:;fazer ao pagamento das letras de sua
responsabilidade de que eram portadores o Banco
da Lavoura e do Commercio doBrazil e o Banco
da Republica dos Estados Unidos do Brazil-
(fi. 233 v.). '

o commendador Jop..qllim Arsenio Cintra da Silva cont5rma


o depoimento ant,erior nOi segnintes termos, ainda mais signi-
ficativos :
«que, ao tempo em que foi requerida a falo
lencia do conde de Leopoldina, elle testemunha,
como director q ne era do, Banco das Classes La'
hOrÍosaR e acompanhando attentamente o movj·
mento da praça, llóde dizer que era public~ e
notodo que, a esse tempo, já nelo podia o co(ltde
de Leopôl(Una satisfazer aos compromisso8 pon-
traltüZos nas avulta(las e fabulosas operaçõe~ e1)'
q1te sc tinha eUl'nlvi<70. Que era voz corrente que
'o çonde de Llopoldina e conselheiro Mello Bar-
teto eram os i,rÍncipaes entre os que promoviam
as grandes operações da C,Hllpanhia Gerál de
E~tradas de Ferro, entre as quaes sobresahiam
os repOl'ls pelos qnaes a mesma Companhia chegou
a pagar (J premio de 20 e 30 por cento ao mez.
Que C01Tia que ella é qumn dirigia esse
11e!jÚ0io» (1L 2~~\:, v,),
- 2l.'J--

H,i, porém, um depoimelll0 que lllnça aillt1<t mrtis; luz


soun o Yenl~t(leir() f'stR/!O "nl qne se R,'havl o (',olllle de, Lp,o-
pr;(lina, é o O,) Dl', FI'H.nc:i~(;1) }f;ntins E~teve:,:~ (liredo!' do
Banco dil. Lavoura e do COl1l11I(~I'l.:io, um ,108 que eram porta-
dores de letras yencictH~ e protestari;{s e que contlescedel'Hm em
entregaI-as ao autor quanf.0 se quiz 0PPÔl' ft fa1!r!1cia. Essede-
poimellto é sobr~tnrlo interessante e conclurl"llte quando, reve-
lando a razão porque for:'.m fiS letra" entregues, clrixa hem
claro (Jue, longe dt-\ o terem sido purque o B:lIlCO considerou o
antor em esta(10 (le so1vahilirlade, foram trücarlas,instHmante }lor
se achar elle falliao. Disse () VI'. Francisco Martills Esten:\s:
«qne fi cI'l!(le de Leopoidina adIOu-se insol-
vavel deslle .Tnneiro de Hl92, puis qne Ilf'ssa épor,a
Il[W pflllde f'atbf"zel' ao IJclgament.o de vélrillS letra R
de qne era portador .) BallCO da Lavol1n::. e (l°
Commercio, o qn:ü, no 1'(?ceiv (108 Jl/'{;jnizo,~ de
uma fallencia, e'lll~elltio em E'utr"gar,lhe a" letraS
.iá ,"enei/las e prot,esLarll':', em trOl'.:l :1 •.; uma só
let.rn, <lo flUI aceit~, obriga'lflo-se o conde de Leo-
pol(liuf:l. a reRt.itnil';\s primeiraii letras se, no
vencimellt.o da que ,leu em troca, nlW fosfle esta
paga. »
Eis aÍli! I) Bnnc() da, I.,:lV oI1t'n, e aI) CU1l1mell'.io 118m sahia
que o 8eu (lehibl já n~o lh~ l}n:leriã ser pago ,;:elli'io r,tn moeda
rle falielHja .. 'l'ro('on a~: letrns purque, f'rnfim, irnaginav/I. a pc:;-
sibili(1ade (1-\, H') intcl'vall::, obter o autor para sen pHg'amento
Rlgnlli:t quantia 130m fJ!lr pu/lesse arHar a catastrophe, ma~ com
ElO ponca eOIlD:1Tlça niiito qn(~!-'ó (I fez Inp.oiante 11 obrigal~ilo,
lmposta ao cn!1rle de IJeopolrlina, dA restituir a~ primeiras le-
tras senão pagas:o:e as fiP'g'l1I.U]aS. Ol'a, é eXll.ctamente para im-
pedir tran~acçi5es como esta, OH Oll'ra~ qtl~ se f~çam entre v
clendor f'ftllirlo e um ou alguns credol'ps, em l"'ejuiz r) nos
outros, que a lei estat.uir) que, lJarf'nílo letras protestadas, a
fallemia não pôde ser evitada. Contillúa o DI'. Frandsco Mar-
tin& Est::::ve:;;
«Que é llntoí'Ío que, intimamente envolvido
!lOS llegocios da CompalllJb Op,ra] de Rstrailéts
de Ferro, o credito elo c,fJllfle de Leopo!(lina
ficou ahalailo ('.Olll o mallogrado émpre:'t,illlo Mor-
f01l ]{08C (l, conseqnent.e ruinH d~tflnel1:-l Com-
vanhi~.
"(~U(~ \: Jactn llljtol'io qu/: o ef)lldl~ de Leo-
lJolditHt acilon-se [,olJ1pl'olllettido llas operações de
- 27!J -

1'epOl't, feitas pela Oompanhia' Geral Estradas de


de Ferro, p01' ellas se T'3sponsabilísando com os
dil'ectores da mesma Oompanhia» (fls. 230 v.
e 231). '
, ,

E, a despeito de tudo is~o, pretende o autor qu~ a «sua


solvabilidade ~ra, manifesta» '(Jl. 303j arg~'l}ent~ndo comum
balanço onde,-para só analy:;j:ll' algumas, ,suas verbas,-
figuram dividas actiras desta lll:.tnreza:
Antonio Paulo de' Mello Barreto, , , 2,250:000$000
Companhia G8ral de Estradas. de I "o. • '1.809:,!61$67Ô
Companhia Mineração Municipio 'r
tes . , ........ , ...•. '. . . . . . . "" ,j • QIO:OÓO$OOO
Banco ele Credito Universal. ••••• ' 1<, , J 87:027$940
'l)tnlos de terceiros ............. . 2~, 301:900$000
Acções e de~e'l1t"l'e8 . •••••••••••••••.• ' 21.0Si':'883$176
Aspinal Rocherfort & C .•......• : ; . -. .. ) ~W,: QOO$OO O
Estes algarismos sommam, ..•.. , . 74~ 786:772$786,

mas pouco mai8 que nada representam. :\eiU é I!rechiq,demonstrar


o nenhum valor de debitos do Dl'. Mello Barreto, da 'Oompanhia
Geral de Estradas de Ferro, do Banco de, '"'-' '~t(l Univer8111,
entidades envolvidas no mlsmo descredíto 'ne!';ma ruina.
Das acçõel e (7ebentul'es, que figuram por 21.L '':1$176'1'8,."a
maior pal'tesão titulos da llIesma Companhii1. G,~" CornpalÍ~Ja
Mineração Municipio Tiradeíltes, que tigllra. plJ. ,v, O10: 000$,
llâG <;e s,lbe o que seja. Aspinll.l Rochefort '" O. SflO m,Ht so-ere-
dade fallida.
Propositalmente deixamos para ultimo Iogar uma a!legação
pela qual talvez pareça qne deviamos ter come,;tHlo,' pois que,
preliminarmentt>, ella éxclue a presente ac~ão: referimo'11os
ao facto dE" se tel' o conde de Leopoldina conformado com a
deelr.ntção da fallencia. Se o não fizemos, foi por querermos
acompanhar o autor nas questões que levantou J mesmo quando
sem uma relaçfto muito dir8cta com o objecto principal do
litigio. " <

Por duas vezes, como se acha provado a fls. 189 v. e 192,


pedio o autor' aos seus credores que lhe concedessem concor·,
data pOi' abandono. Note-se bem que não pedio concordata. por
pagamento, como teria feito se confiasse nesse ~ctivo que nos
descreve como superior ao seu passivo. Da segunda "e7
teve, assistind0 alie Ulp.smo á reunião dos credores, cC'
veritica da acta á fi. 470, o que demonstra que não eí'
esse 'Constrangimento a que se apega 11ara dizer ("
"
-280-

procedeu para evitar maior perseguição. Ora, se a fallencia


foi uma violencia, e SI' o autor se qneria reservar o direito de
ainda reclamar, devcl",a ter feito o seu protasto e nãü diri-
gir-se aos cl'eflorós para pedir-lhes o f.wol' da concordata por
abandono.
I!'Íca demonstrado que a presente acção não pôde ser con-
siderada procedente, e ~sl!!ím o julgando fará essa egregia Ca-
mara a costumlH~a il1l'1tíça.- O advogado, Sa1ICho de Barro"
Pimentel.

:, .... CORDAM

Vistos, re:'»trj,':' '., _.. 'utidos estes autos, acção ol'dinaria,


entre partes, ::.J~';;·He,;,\ Lowndes (conde de Leopoldina) e
l'éos o Banco (1:' L,,·':".;:'!. ,fL do Brasil e a Empreza Industrial
de Melh()ramento~ do brasil, syudicos da sua fallencia, e o Dl'.
curador das massas fallidas.
O autor, sob o fundamento de que a sentença declara-
toria da sua fallencia proferida pelo juiz da Camara Gommer-
daI, 1"- 93, 1"-\ u.nDrmada pelo ConsfJlho do 'l'ribunal Civil e
Crimil.,}.:: ';, 1 ;; v' "'ou disposi~ões expressas uo Decr. ll.917
de 16~:(: (.i!( ::ljtuio a parte UI-das quebra!l, do Co digo
do O(lY~!, iEi ) ..f.. I " a annllllação das referiuas sentenças
declar.t~:;,. ':I.;,;, ,:nat.iva (la fallencia, sob ~ sancção do
art. ti:";;.~ ·h '::(·gul. n. 737 de 1850.
_E, c.U:l)O rÜ/"i\:' justificativas do pedíilo, allega. :
qu;. li;, ~l.jnLf!:V';; annullandas, pelo só facto da impontua-
lidade no p<Lgameuc, de letras; de responsabilidade do, autor,
protestada~ nos re.;pectivo8 "~mr.imentos, declararam a sua
fallencia, não attendendo a que a imp,~nt!((Jlidad6 é, apen!l.s,
um indicio indicativo e o mais commum do e~tado da fallencia,
mas não é c- seu caracteristico iegal;
que o legi"htdor de 1890, no intuito de pôr termo as
vacillaçóes da jurisl'l'udencia a respeito dos factos que revelam
a existerlcia desse estado, não abandonou, !Jlltretanto, a noção
juriuica da fallencia do Codigu do Commereio, continuando,
;.;ob um;3 outro regimen, 2. ser a fallencia Ulll estado ue facto,
caract,:,risaclo pela perda do credito, revelando a impossibilidade
de f;olver o comlll~~i'daDte os seu::; compromissos; .
qu~ o Decr. J:. 917 ele ! 890 não tenao Gl'eado direito
e s& preci;jatiiJ o pensamento do art, 797 do Codig'o do
l'ClU, ;, hIlJ)ol?(;I.,li;rlade dos pagailwlltos, I,l'ovada peln
~I,(~riil.l d'JS prvt-.j,o,,!:~, hão fal'.: suq~ir de plelw 'lireito
-281-

a ra11encia, cujo estado só existe depois dI), sentença que a.


declara (Decr. cito arts. 4 e 6) ;
que a SQllte.nça, como em relação a outras mudanças de
estado, devendo verificar o que existe na actualidade, e llão o
que existi0, desde que desappareceu o indicio ~a impontuali-,
dáde, fosse o pagamento realizado ou não em periodo suspeito,
fosse posterior ao protesto e ao iniciamento do respectiyo
processo preparatorio, esse pagamento é razão relevante de
direito para ob~tar a sua declaração, ou para excluil-a, quando
declarada (Decr. cito arts. 1 e 8)";
, que' desattendendo 8. prova do pagamento dos titulos pro-
testados, na posse do autor, Llela entl'ega que lhe fizera o
credor (Codi~o do Commel'cio, i l'ts. 398 e 484), e exhibidoS"
para obstar a requerida declnr. 1,,;:[,) ~;: sua fallenciá, as sen-
tenças annullandas infringiram ,!i~l:tt;;~;Ji::, ;l'l. lei commercial,
porquanto, devendo co'niltar o e. :",!f) l.f;lLL, as alluclidas seno
tenças, não obstante ter cessado " í';-lU;:;"., \~, !'ortanto, o etreito,
pelo desapparecimento do indic~'" \11...", p,tlf-'ia càracterisal-o,
confundiram o estado de facto d U ([, Úileito da fallencia,
fazendo Burgil-a dos protel'ltos, :iii. TI 'lllitic,llll);,i pela entrega dos
titulos, e, portanto, sem divihs ex[giy~ls, ou credores, que
justificassem sua declaração.
Contestaram os reos dizendo :
, "que a sentença declaratoria da f,dJenda do autor não
violou disposição da lei comme:'cial, eOJl"i(~eiando, como cara.-
cteristico do estado· de fodlellcia, o não pagamento de letras
vencidas e protestadas no valor de 2.526:863$000;
que, pelo protesto, tendo·se operado de pleno direito á
fallencia, 'o pagamento .posterior, presumivel pela entrega dos
ti~ulosprotestados, não podia excluil·a; sendo, aliás, notorio o
estado insolvavdl do alltor, com o seu credito abalado pelo
DlI111ogrado empre:ltimo da Oompanhia Geral de Estradas de
Ferro, por eUe ~egociado, e pelas avultadas ,e fabulosas espe-
culações de· bolsa, especialmente os 't'eporls a premio de
20 e 30 "I. ao mez ;
que a interpretação dissonante sobre o direito que consa-
grou o art. r do Decr. n. 917 de 1890, é o fundamento da
acção intentada,. desenvolvendo o alltor as razões do voto
vencido do accordam, fi. 144:, o qual considera como caracta- .
ristico da fallencia «o mesmo estado de cesssação de pagamentos
do art. 7·97 do Codigo do Commercio, motivado pela insolva-
bilidade e perda do credito do commercim1te» ;
que essa desintellig'ellcia, )la applicação da lei, não é fun-
damento legal para a acção rescisoria, a tqualpresuppõe
violação da lei em these,_ transgresl$âo de um seu pre~eitQ
-- :.!82-

formal e Rbsoluto i aeCl'eScelltlu, que te I!. sido uniforme e COIl~


s0unt.e a jurispr1Jr1enc~a no 8eH titlo do voto vencedor do Rccor-
dam, f1. 144;
que o autor, ten(lo-se {',Oilf'll'mado e0m a sentença declrt}':-
toria da sua úlilencia, a qnal terminoll pela concordata pOl'
abandono, por elle insistentemente prlJpost.a e, afinal, acceita
pelos credores, e8sa eoncon]ata não só illfirma o allegado con-
strangimento e a perseguiçi"to, qne (li?; ter pruclll'ado evitar,-
como tambem exclue sua legitimitbde para intentar a presente
acção .
•A~S razões que oppõem os rúos á intenção de aut.or, refutam
seu pedido e C0nclntm pela impi'ocedencia da presente acção,
~ porquanto:
A illegalidíule dá tj;;ci~tfo, e não dos seus motivos e enun-
ciado, é o caraeteristieo da sent811çFi. 1l1111A., segnndo o disposto
no art. GSO §~ .. do ]{~"gul. 11. 73i ~e 1850.
15to é, «a viulaçãlJ da lei em th8.";e, a negação absoluta de'
um seu preceito form,d e n:io a)J razOes ~e julgar e a aprecia-
ção intrlllseca das pr. 'iii~, i'inda. que (:ont,'''t () direito das par-
tes», cumo, em diversos al'e::;tos, duutrinou f) iJnpremo 'I.'ribunal
de Justiça.
Ora, o Decr. n. 917 (le 1890, lei actual sobre ,\;:: fallen-
cias, não po(Ha estabelecer llreeeito nH1.is expresso, mais l',;~i.
tivo lJ formal que o do Ilrt. 10 (piando dedara fallirlo-«o ne-
gociante que, sem relevante razitn de direito (alt. se), deixa de
l;agar no vencimento (1 ualq uer [) briga(;fl.,) mercall til liquida e
cel'ta»-; e, aílHla, o do art. 3" enuueiando--«que a falLa de
pagamento ficará plenamente pl'ovada com a certidão do pro-
testo interposto perante o officÍitl compet~nte».
Conseguintemellte, RS senteúças il.nl1ullaudas, se, pelo fnn~
damento da imprmtnalidade no pagamento de letras protesta-
das, daclaral'am a falleneht do autor, nrw podem incidir, como
sentenças Dnllas, na f:ianC(;ã0 do art. 680 § 2° do ReguI. ll. 737
de 1850_
A rleRintelli;ellcia llll, illt,f\l'pret:v(ii.o dout.rinária. do::; citados
arUgos e qut>. a prillcipi fl , f~z variar a jurisvrnclell0ia d03 tl'Í-
hunaes, não é fnndamento legitimo para a acçií.() rescisol'ia, cujo
objeetiV'o é ° pl'oprio direito e não sua applicaçitO á hypothese.
Nullidade absolnta, el1;w relativn, suppr~vel pelos recursos 01'-
dinarios.
Na hypotJH~SP~ porém, o:;: propl'ios motivoR e o emmtiatlo
d:;ts sellt,:nças annnllalldils nrw justificam sna pretendida revo-
gação.
1'38 a celi8uçeio de lJilgamentm:, aeeiclenlal e temporada, ou
c.on:>:t.a'lte e Illotivada pela ptmb. do credito deveria cal'actr;l'i~
- 283-

zar O verdadeiro estado de t'allencia, foi, no regimen do C0cligo


do Commercio, q llestào controvertida J fI l1e fez variar a jurisprn-
!leneia sobrlJ a intt'l'pl'etaçRo do SP,1l 8.l't, 797, identico e litte-
ralmente tradnzido do art. 437 do Codi;;o Commercíal francez.
O Decr<~de 1890, porém, omittio a pHhvra-Ce88Ilçllo: e,
especificando ou particularis\l.ndo causas de fallencia, no seu
art 1- declara fLdlido o commercilulte/1ue-« deixa de pagar no
vencimento »;e no § l- enumera certo! far.;to~ caracteristicos da
fallencia, «não obst'-\nte não haver f,tlta de pagamentos». E, para
prova de!l!se estado, estabeleceu- o «protesto..», quanto á im-
pontnalidade (V~cr. cit. art, 3·) e a <justificação», por do-
cumentos ou testemunhas q~anto aos factos do § l-Cart.4 § 4),
Consegllintemeilte, cessaçii,o temporada 01~ abs/)luta, !3 só
fdctO da impontualidade prova(J;t pelo protesto; ou a jU8tifieação
de um dOI CRSOS particularisados no § 1'), f<ãü os caract.erísti-
cos do estado legctl da fallencia, segundo a legisl:lç.ão em vigor.
A fallencia, no a(',t.ual regimell, mIo é, portanto, como
pretende o autor, a ces.sII.ção de pagamentos dn Corligo do Com-
mercio. O legislador de 1890, se não creou rl.ireito novo,s ban-
donou, sem duvida, a noção do seu art. 797, fazendo depen-
der a fallencia do só facto exterior da eessaç5ú, sem inquirir
das suas causas.
Se, t'vitando a ambig-uidade da J1ala~'l'a-cessação, que
tanto fez vacillar a jurisprudencia, preelsou as causas indicati-
vas da fallencia, não obstante a-'~pontnalidade de ragamen-
tos:., 'nàosp> comprehende como reviver as duvidas e hesit.?-
çõps do antigo l'egimen, quando, no actual, o efreito ou aexte-
n'oridade da cessação, e não a !3ua causa, é O cdtM'ium legal
da fallencia.
O pagomento é i'Rzão relevant.e de direito, cont,ra a1mpon·
tual!dade, para excluir a sua deelaração. O pagamento, porém,
que OppOZ o autor ao requerimento da SUlt fallencia; posterior
ao protesto e ao inicio do respectivo processo, torn01\,se Ü're-
levante para o effeito de prevenil-a 01\ excluil-a.
O credor, que t.ransigio com os titnlos protestados, l)e1'-
deu a qu:>Jidade para promover a útllencia; para o devedor, po-
rém, esse estado ficou cO!lstatado pelo protesto. Elle existe,
virtualmente, desde que dá-se a impontualidade) embora. seus
e(l'eitos legaes só rlecorram do jnlgamento declaratot'Ío, E' um
estado que preexiste á twutençlt. d 1101' i~so~ dIa não julga, mas,
~:implesmente, o declara, quando reqli~ri.da pelos interessados;
Sflm t{ ue S11a !lGgaLi Y<l Í<\ça (~:\~(; j nlgado (Decr, 11, ~117 cit.,
(tlL. H).
lJahi, o arl.Jitl'io que tem o juir. p<1!'il, retrotrahil-a acs 40
<lias anteriores ao primeiro pn.:estll ou t'tlqnerblento para ju;;:-
-i84: -

tificação (art. 6 para~ra.pho unico, i); e a obrigação imposta


ao devedor que faltar ao pagamento de algurna diviáa conrnrnercial
de, <l<no preciso termo de cinco dias contados do vencimanto,
',apresentar em juizo uma declaração das causas do fallirrumto e
estado de seus negocios., pela fórma prescl'ipta no art. 5°.
A fallencia, como diz o' autor, é um estado actual.
E foi essa actualidade que o legislador de 1890 teTe em
vista antbenticar, sorpl'endendo o negociante della ameaçad6.
Facultando ao faUido os meios preventivos para, tempo-
raria ou definitivamente, 8uspendêl·a e aos credores os impres-•.
cjndiveis para a sàlvaguarda do activo (Decr. cito art'8. 7
e 12), a lei não descurou dos interesses da 'communltão, imo
possibilitando a protecção de uns em prejuizo dé outros. Ao
devedor, tendo imposto a declaração judicial no termo perem-
ptorio de cinco dias, admittio fosse req'uerida pelo credor
ainda sem titulo vencideí (Decr. cito art. 4°, c) e pelo curador
das massas fallidas . (art. 4°, d), ao qual impoz o dever
de sy~dicancia sobre os devedores de titulos protestados
(art. 3° § 4°). .
Ora, se pelo Dl'. curador das massas fallidas, e não pelo
credor, lá. desinteressado, foi requerida a fallencia do autor;
se, pelo protesto das letras, ficou, virtualmente, constatauo o
estado da sua fallencia ; se esse estado, como affirmam as
testemunhas a fls. 231, 233 e 234, era de notoria. insolvabili-
dade, aggravada pelas temerarias especulações de bolsa, de
que dá noticia o balanço á fI. 331; se, a de~peito do venci-
illento das letras, o autor não se apresentou em juiza, occul-
tando o seu estado de fallimento aos proprios credores, com Oi.
quaei poderia ter transigido, no intuito de evitar sua decla-
ração; se o pagamento, que fez ao credor arrestante, foi pos-
terior ao protesto e ao arresto effectuado em seus bens; esse
illegal pagamento, só presumivel pela entrega dos titulos protes-
tados, e já em moed tt de fallencia, como, anteriormente, fizera
o autor ao Banco da Lavoura e Oommercio (depoimento fI. 231),
não podia, como razão relevante de direito, ser opposto ao
requerimento do Dr. curador das massas fallidas para excluir
a fallencia declarada pelas sentenças annullandas.
A concordata por abandono, proposta, insistentemente,
pelo autor e, afinal, aceita pelos credores, em reunião á f1.470·,
á qual foi presente, é uma confirmação daquelle estado, e, ao
mesmo tempo, a illfirmação do' constrangimento e da pel'lSe-
guição t de que se queixa o autor:.
. Desollemdo, pela concordata, de toda resp011sabilidade e
hbe~tado dos effeitos commerciaes, civis e .criminaes da falo
lencIa, como compensação do spu activo adjudicado aos credQ-"
-t85 -
reg para solução do passivo (Decr. 917 cit., art 43), quando
admissivel a rescisão do contrato, pelo vicio de consentimento
(o que, aliás, não pede o auto!', l!em seria attendivel e~ face
do art. 54), n'1o illiuiria a Jlresumpção legal de que, eVlt,ando
o contracto de união, ou a concordata por pagamento, o a::tol'
se conformAra e se resignára eom a supposta injustiça da sua
fal:çmcia, declarada na conformidade da lei !3 verdadeira apre-
ciação da prova do~ factos que a determinaram.
D1~1"a lex,
Negtes termos,
SC([ lex. . .
.
Considerando:
que a acção rescisoria não é meio prGcessuallegitimo para
a annulIaçJ,o de sentença, que não foi proferida contra a ex·
pressa disposição da legislação commercial (Regu!. n. 737 de-1850,
art. 680 § 2° e 681 § 4°); .
que a iIlegalidade da dMisão sendo o característico da !len-
tença nulIa e causa juridica para a sua revogação (art. 680 cit.,
alínea), não pôde autorisal·a a simples illegalidade dos seus moti·
vos e enunciado, e;menos ainda, a interpretação doutrinaria de
uma erroneajurisprudencia, que, falseando a verdaefeira intelligen-
cia da lei, contradiz o espirito ou razão logica. de suas disposições;
que, na hypothese, as sentenças annullandas não violaram
o direito positivo do Decr. ri. 917 de 1890, nem mesmo o d~
parte, comp foi demonstrado; _
Accordam em Camara CommerciaI do Tribunal Civil e Cri·
minaI' julgar improcedente a acção, e, absolvendo os réos aQ
pedido, conJemnamo autor nas custas.
'Rio, 19 de Março de
1897.- Pitangà, presidente. -Mon.
tenegro, relator.-Oelso Guimm'lle8. -Ban,eto Dantas, vencido.
Votei pela procedencia da acção - para o fim indicado nQ
libello de fi. ,porque:
O autor pedal por meio da presente acção, a rescisão da
s~ntença de fi. ,declaratoria d(~ s.ua faUencia e do accordam
do Conselho do 'l'ribullal Civil e Criminal fi. ,negando pro.
vimento ao recurso de aggravo interpost.o daqueUa sentença
- por serem nuUas, nos termos do art. 680 § 2° do Regu!.
n~ 737 de 25 de Novembro de 1850.
A nullidade consiste em viOlação de disposição expressa
da legislação commercial - (art. 8° e § 1o lettr~ b do Decl'.
n. 917 de 24 de Outubro de 1890 - ) que faculta ao devedor
emqua~lto se lJrocedem diligencias anteriores á declaração da
frtllencla, allp,gar por petição e [ll'OITll.l' em um triduo - quanto
~eja necesstlrio para exclui/-a, e, depois de declarada, embargar
a sentellçaou aggl'aval', e no § 1· lettra b considera como relevante
razão de direito - o pagamento.
- 286-
Allega o autor que, sorpl'endido p0l' um embargo de todo,
os seus bens - requerido pelo Banco da Repnblica dos l~s
tados "Cnidos do Brazil t illlerrf;() 110 rçsIJe,~,tivo processo 1
DI'. curador das lllassas fallidas e req llerr:u a sua fallencia I

fundado na falta de pagamento de diversas Jettras protes,


tadas sob a pressão do embargo, qllando essa violencia (J
privava de todos os meios de solver os seus compromisso;
mercantis e ojfendêra profundamente o seu credito j entl'~
tanto, intimado, na fórma do § 3° do art. 4') do citad,
Der.r .•_ll. 917 de 18~W: para dar as razões do não pagament
em 24 horas, exhibio em juizo a proY~ de pagamento com (-
proprios titnlos protestados, ten(lo o credor embargante desh
tido do embargo e cOllsequente acção, desistencia homologar],;
pelas sentenças de íb,
As sentenças fe.scindf'nuas, com quanto cOIlsiderassem '
exbibição de todos os titulos pl'ote8tado~ como pagamento, P(I'
força dos al't:'l. 398 e 48:1: (lo CoJigo Commereif\l, entellderam
que essfl. exhibição, feita.. delJois dos protestos e quando já se
tinha CUl'Ucterimdo e operarlo a f<l.llencia, não poditl absoluta-
mente exc!uil,a, porque a eontal' do não pagamento da obriga-
ção lllercantil - provado pelo protei!to, existia de 111el10 di·
reito operado e fixado a falli-\llcia do devedor.
Semelhante doutrina restringt', se não exclue, contm a
letra expresfia da lei, o direito de defeza qne, ie pode 8er exer·
cido sem limites - depoi::: da sentença tleclflratoria 1lO1' meio
de el!).bargo ou aggl'a\'o da falle11 drt, com maioria de l':lziio
deveria ser resp~itad.) e pl'otegido, quando utilisado no prazo
de 24: horas, fixado pelo § 5" do art. {O do citado decreto ~liil'(l,
o respectivo exercieio.
A fàlleneia é um eSÍiído de [,tcto, cujo iudicio, caracte-
rísado pelo pl'otesto, desapparece com a prova legal do lli:lga-
mento dos títulos pl'otp.stadús.
As allegações do autor invocaram a dontrina e jurisp1'n·
dencia sempre snstentauas pelos tribullRes, antes ti depois (la
f'al!ellcia, e cOllsagTadas pelos jnrisconsultos e tribunaes' dos
paizBs, onde a [alIcncia é regida por legislação idelltica.
Oil réos alIegaram, em contestação, que sendo liquidas e
certas as obngações protestadas, o pagamento para ser feito
em condiçóés de' ser considerado l'plevante razão de direito e
ter a virtude de excluir a fallencia, era necessario que tives;;;e
sido l'Aalizado ante;; do protesto, tanto a8sim que o Decl'.
n. 917 só admitte os meioi'l de prevenir e obstar a LtlleucÍH,
como sej[un a munito1'ia r: aceoruo ext1'a.il1Jil'.iaI, a CO!H',o;',!afa
j

preventiva e cess~.o dp, ben;;, ll11ttllílo niLO t~nh(\ lnwido liru-


testo.
- 287

Allegam mais que, além de se ter operado de pleno di-


reito a fallencia pelo protesto por não pagamento, tornou,se
da maior evidencia ~ ins()l vabilidade do autor ao tempo
em que a fallencia foi declarada, e que, finalmente, perdêra ft
qualidade para reclamar conti'a as sentenças rescindendas,
desde que com ellas !ie conformou, pedindo e obtendo' dos-seus
credores o favor da concordata por abandono. _
.A. controversia versa, portanto, em 1· lugar sobre se as
sentenças rescindendas violaram disposição expressa do Decr.
n. 917 de 1890, e se por isso são nulla!õ, nos termos dos
arts. 680 § 2- e 681 § 4° do Regnl. n. 737 de 1850 j e em
2- lugar-se a concordata por aballuono tira ao autor a capa-
cidade para impugnar as sentenças por meio de acção rescisoria.
Não llOuve contestação do facto essencial nesta causa-
o pagamento das ltltras protestadas j - as sentenças, cuja res-
cisão é pedida, o admittiram e os proprios ré os apenas pon-
deraram que para ter elIe o eft'eito de excluir a fallencia -
deveria s.er eft'ectuado àntes do protesto. l'rata-se, pois, -de
verificar se o protesto opera de pleno direitó o estado de fal··
lencia e exclue a defeza fUlldadaem relevante razão de dÍleito;
como sf'ja o pagamento das oorigac;ões protestadas. O DecI'.
ll. 917 de 1890, art. 1°, considera fallido o commerciante que
sem "elevanie 1"Clzão de 4lireito, deixCl de pagar' no vencimento,
qualquer ourigação mercalltilliquida e certa.
Nesta disposição está, por assim dizer, engastada a idéa
predominante em toda a reforma do regimen legal das quebras,
quanto á definição ie int!olvabilidade e dos factos caracteris-
ticos da existencia do estado de fallencia: - não pagamento de
üma obrigação certa e Jiquida j-ser mercantil essa obrigação
e fundar-se a recusa do pagamento em razão relevante de di-
reito j ou, em summa: -que a simples cessação ,de pagamento
não importa a íallenCia do devedor; é essencial que seja mo-
tivada pela insolvabilidade. Nesta disposição, como em todo o
decreto citado, o legislador não se divorciou da doutrina con·
sagradá pelo Codigo Commercial, art. 797 j e se no regimell
dessa legislação o devedor, mesmo depois de declarado fallido
podia subtrahir:se aos etreitos da fallencia, pagando as suas-
obrigações, é evidente que no regimell do citadõ de creio, in-
spirado em pl incipios muito mai:,; liberaes, esse direito.de de-
fesa não só foi garantido em toda sua plenitude; como am-
pliado com diversos meios de excIiJir a declaração da fallencia
e evitar os sens ejf'eitos. Esse direito foi expressamente con-
sagrado 110 aI t. 8 0 -qualldo se procede ás diligencias ante-
riores á declaração da f,dlencia por peti<;ão, e depois da sen-
tença por émbargo_s ou pelo recurso (lo ag'gravo.
o devedor ameaçado pela fallencia póde aZÚgar quanto
seja nece8sario pm'a exclliil-a. o que sem duvida comprehende
as ra:ilÕe8 relevante!) iuclicéula:,; no artigo citado, § 1-. Entre
essas mzões nenhuma póde ser mais efficaz do que a fundada
em pagamento, como acontecen no caso em questão, te~do o
devedor, depois do protesto, exhibido prova legal da extincção
da3 obrigações liquidas e certas. Esse pagamento era direito
que o facto do prote~to não podia proscrever, mesmo porque o
citado decreto, art. 28, lettra a, só con!liderou nuIlos os paga-
mentos feitos pelo deveJú~-depois da decretação do sequestró'
ou da declaração da fallencia publicada nos termos do art. 11.
Da doutrina contraria rfllmltaria o absurdo de ser 2. fal,
lencia declarada de pleno direito sem remissão ou defeza pos-
sivel pelo facto do protp.stoj quando a disposição do art. 3°
apenas estabeleceu que falta de pagamento de divida3 men-
cionadas no art. 2° ficaria plenamente provada com a cer-
/ tidão do protesto interposto pérante omeial competente.
Oonstituir prova plena do facto de não pagamento, não
equivale a aftirmar, como fizeram as sentenças rescinderidas,
. que o protesto opera de pleno dit'eito a falleneia, qu ... ndo é
,evidente que, annullados os effeitos do protesto pelo paga-
mento, elle perde o seu valor de prova plena para fundar a
declaração da fallencia:-o pagamento extingue a3 obrigações,
desapparecendo, portanto, o motivo da fallellcia, e é absurda
a sentença que, não obstante, declara existente o estado trans-
itorio da insol vabilidade q ne poderia ter existido, mas já não
existe.
Se essa doutrina pude~sé ser deduzida da disposição do
I art. 30, seria conseguintemente estabelecer que, dado o pro-
testo e exclui da toda a defesa, as diligencias anteriores á de-
claração da fallencia seriam ociosas:- o juiz deveria pronun-
ciai-a, nomear os syndicos e seguir os tramites do processo.
. Se o pagamento só fosse 1'azão relevante quando preexis-
tente ou co-existente ao vencimento das obrigações e ao pro-
testo, como allegaram os réos, não haveria a faIta de paga-
mento, não teria logar o protesto e não haveria motivo para
se requerer a falIencia do devedor: causa sublatà tollitur effectus.
Ó argumento deduzido da intervenção do curador-fiscal,
como orgão do ministerio publico"':"'representando na fallencia
interesse de ordem publica, não é pl'ocedente, porque de todo
o corpo do Decr. n. 917 de 1890 -se evidencia. que o legislador
. teve em mird proteger os interesses dos credores subordi-
nando o procedimento da justiça. ás deliberações delles. De
re8to, o cumdor fiSCClJ c!)mf:'~'! a tomar em consideração OS
facLor-: que intel'esf:?.[{,;i justiça lJublil;(~ dep'Jis de declara.da a
- 289 -

falIencia, antes da qual, nos termos expressos do art. 67 do


citado decreto, não poderá ser iniciado contra o iaIlião o pro-
cesso criminal.
E' p;'eciso convir que o protesto não força o curador fis·
cal a promuver a fallencia, visto que, conforme o dispositivo
do § "0 i:') art. 30 do citado decret.o, -elle tem faculdade de
pr(,c,(·lÚ'.i' ~omo entender conveniente, isto é, se ppezar do pro-
tu: t ( ,~! lugar a fallencia, dando conta ao juiz de suas inves·
,1

f,,',;ii,:-"It>,-·qlll:l não são outras senão as concernentes á ~itua~


(;:, .h" i.ividas pl'otestadas-par:t verificar se permanecem os
L:::";J.'· ,ie illsolrabilidade,ou se foram pagas,novadas - de modo
Cj i:' ,,(' vxcll1<t li prova plena ão não pagamentú por outras que
,:,(,' .l:':1I a decretação da fallellcia.
~'" 8Ü doutrina adoptada pela jurisprudencia dos tribunaes
.li' .:' eapitaI-alltes e depoi'S da falIencia do autor, foi com~ide·
rOI'i;; no accordam do Conselho do Tribunal Oivil e Oriminal a
fi ,'-- ua fallene.ia dos commsrciantes Aspinall Rochefoxã & C,)
11e1,; lermos seguintes que o Decr. n. 917 de 1890 no art. I"
n:io '~reou dil'eitú novo, precisando, apenas, o pensament.o do
Mt. 797 do Cad. CorrI. j-lue as letras, cujo protesto deu lugar
<\ú~!ellcia, süo dividas liquidas e certas, mas o facto matel'hll
do llwtest.o que, não faz surgirde pleno direito o estado da fal-
lencia i-qne a falIencia só existe depois da sentença que a de·
clara, conforme a disposição expressa do citado decreto, arts.
4 e 6, tornando imprescindível a sentença declaratoria para os
devidos efl'eitos, e facuItanrlo ao dev",lor a defesa,emqnnnto
se r"')C' 11 u {,:; lnigencin.s anterirJr(:S; -que, fillalmente,-rlesde
'jue j'""i :)1 hnrHseu', qUA feram ouvÍ(lo", os dfyeclores allega-
1'8.m u,':" :2,\i'i('1l t i} das letl'as pr(itestat' '''>, exhibindo em juizo
ef'se" ; ií ;lr,~' !i~i":':J e::::clnida a presumpção lla fallencia, moti-
vada pelo pi'otesto: art. 8 § l° letra b do Decr. dt.., 434 do
Cod. (10m.
E:,;(tS cat1 i)< silo perfeit:\mel1:J identicos com o do antor.
A imli~lt;liJlO ao inscIvalJiJillade, como prova de fact'Js que
não f'Ol';UH t:ul\i!18ttirlos ao conhecimento .los juizes que proferi-
ram :1:, sente!l!;aS 1'8scindenibs, não pl'oceãe contra os funda-
mentos da nc(;ilo l't'scisol'ia que visa a nullidade dellas pela
vioL1(;~,o de prp,l~eit.os legaes. Essa imputação, eiüretanto, foi
conte~.t<uh, com vantagem, llas allegações fiuaes do autor e
com o'; {10Cllmelltos que as acompanharam, provan.do que,
qnando \~ml);tJ',2'(Hbs os b~ll'l de seu avuIt.ado pat,l'imonio, esta-
V2.m lin',:,; {le :rwll]uer onu!'} €'xCP(lialll em mnito o valor das
obrig:tçíj~::'i, e'} 111" OR propl'ios rr . :do1'i~s (lpmm testemunho de,
confiançH, C.:l11H" provam as (lpsist,cncins do. emb:trgo e. da acção
c [~ ~:',,!t~(':'{~i:-'('t lll~'r ;11)'\i:~loro, ~:--:Sn. lnatei'Jft é ln1p0.rt111e~~te na
,l.:.m, VOl" 73 19
" - 290 -

acção rescisoria,onde não cabe a apreciação intrínseca das pro.


vai, assim como da illegalirlarle dos motivos e enunciados das sen·
tença:::, porquanto a llullidade prevbta no § 2° elo art. 680 do
Decl'. n. 737 de 1850, resulta da ilIegalida-de da <lecisiiopro-
ferida contra expressa di~posição da leghllaçfw comLt,'Cial.
'A, concordata por abandono, consequencia da í'allencia dctllliti·
'Tamentt3 julg'ada, resultado legal das sentenças, não pú,i:~. Ter
o etreito de privar o autor do direito de promover a 1".-iei,.;W
dellitg. '
. O Reu emprego, meio legal par,. evitar os effeitL; ci vi;: ,;
crimin~es clafallencia, não illlpolta conformação com 'Ui ~·ClJj·('.:1-
ças; e é do nosso direito I]ue sentença nulIa em tem}lf\ :,lgnill
paSia 'como cousa julgfi(la; não é necessario ter della 8!'f'",1]al!o,
pois aÍl,lda qne a a !'1'611açflO pareça acto approvativo ,',ella,
não setã por isso feitH 1)01' direito valiosa.

Desse accordam illterpi:z o autor o recurso de appellação


para a Côrte de App<:llaçitl), cnjo julgado àaremos em occasião
oppportuna.

J urisdicção criminal

Não se dá cumplicidade criminal quando


o concurso que a constitue, não é prestado
dolosamente, isto é, com sciencia e C011-
sciencia do crime.

Revisão crhninal

Recor1'ente- Amim Matar.


Recorrida-A JUBtiça elo Estado de S. P..4Uloó
Supremo Tribunal Federal

PETIÇÃO DO RECORRENTE

Eg,'cgio Tri6unal.-Na America do Norte, meado. ou a


findar o seculo passado, era a Carolina do Sul infestada de
negros fugidos á escravidão, e de bandidos de toda a especie
Para reagir contra quilombo8 e quadrilhas, pela poptdaçã·
, foi investido de poderes discricionarios um colono irlandez dO
e
-- 291 -

nomr. Lyneh, que aieton :=t lei. e p~'e8i(1ill Ú sua e;~2ecção,


t;OW(I fk jll':'l~[),
,:;tLu1,ê{ fali:!. lli!l r.:alJ'1 (te g:WlTn.
Oi d.\',',l)rb Úo Cl'írlJ\~ Ctillit·d, pl'PSOf' e;)l flagrante, eram
'jnk,u!o;; SUltllll;:l.liarnellte, l:;t pr:l,ç~l pnbE"ll, ouvhhs as teiltemu;.
'lJIJ~:::, l\tfluil bla a defezit, e l'ee01Íliu()~ 0:3 votos d,) fortuito
trilJlwaI. ~'Yillinli::1~ll;:'S no lCYcllltal' d,tS '1liiO:5.
CU!;,! ,'l'lll:JtlU o 1I1'e80, J!:i'J l,,~\'ia rtnll'~'O d[t sellte\[(~éC, B cc
exeeu'i") :'f.\ re',zia j:Jlllldiêl~'IW"JHe t\l1l nma fOl'c(l, iml')'oyj:::nü,~
lll'tl'll o Cil;';(I.
p_ :)~tl'h~r;l. lls?.nr,rl.. qlW Lli ::eí; it ro :'UeZ:l 110s ten'iL'os 11t1cl€Si!~
expliea t ' "1\.i 1:.;é,itiC:u", ~;'J!Jtillllil a.inil" h()j(~! ,';,mo pu!'a l:n:):;lral'
que s,,iJ a relle d,) l!vmelll cívili~at.lü ) "68 (l antigo l1abitant'3
~l,lf:: ea Vél'!litf:.
1~ t!';lllSJllall~ada para e.;!;t p~dtE' dI Alii~rica l\l"riiiional,
1'1'(\(11';';:\1 ;:IJ,U; variedil1lu:;.
. UnJa, o lyllch~:::c.!l~O da l'U:l, :::Llpi'l'imiu todas <1S fOi'ncl!las.
(1:sP(-J'~;';(1 :(~~:tellln!lllHS, não iltlmitte deft'í;a, prescin(le de Yota-
\::\11. E-":0,d:l(:,i. () preso, Illas UflO tileg", a devoraI,o.
ti i)i:! t'(l., aldnh(l·~p 11a i;npre,ú~a f el'l\lJ.i,'l,a. Rssoi1ra tiinios
1

e f'!1utit dl!!.-'. (lt~,fiQ.'uLl os frtcto3 l1Hra filZ'·l' litter:1.l :H',l de se:l Q

<:<J('U()
,.(I" ,·t'- , •""'I"i
\·,t I ')
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11(':1",1"(,,:;,, \,. . '.( l
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I \ 1.,1 , ' ( l \ ~ "l!(;'n'I>"tl"'l'j'J
, ' . ~b •. ,...' "- {I" "lS
(,_ t(\,t"l'l"l111a'~
>.: ;.
\.....- "él'hii;a
l'
>.\ . '.' n'- illÍZe"
I,. I.. - ... \ c) ... ,.,;;

e Ín:'lJita senteu(;as iuiqna;;:.


Edeve o reCOlTtntc a pOllto de ser e~postE'jado em 11010-
caw,/o <lO flll'()l' da ü;ultidOo, e veio a 3('r justi~p.do V:'lCl. im-
prpllSIl j;H\!lista. plU'a, gloria (los escl'illtores de not,idario, e
proveito (la ve'.lila i:wulsa.
A marga ~el'R, tellJernrin ni'w é, a Clueixa do cOllÜemllado.
Os t1f~sl/ario.3 e a illl:lfll:lt\llcia da justiça pelw.l têm
sempre l1!1l prr.texto, uma exp1ieação snpei'ficial e lllll HlOVsl
v€l.lladé'l'o.
O p,'etexto é a moral. OH (I direito ou o patriotismo. A
explica(:Ho l.Jan~1 é o odio ile raça Oll de religião.
A causa é selllpre a coliig-a~flO dos vencidos c.(irÜra os
vencedores na luta pela vidc1, .fI0í!10 710/11 illis lll.jJllS,
No isrnelita a EUl'ora p€l'::.e8'1I8 o financeiro, o commel'·
ciallte, o artista. '
O irlandez da C:-llifoJ'llia p!'OCt1nt exterminar o ehim,
victorioso 110 trabalho.
O recorrente faz parte de um grupo tle immigrantes al'aoes,
que sem })l'otcer;ii.o de goyerno (clf;;f]'angdro. sem ::lnxilios do
g?venlO d~ Brazil, sem ccuheeImento (la lingna do paiz~
v!emIn nQm estabelecer-EC, e tem cOllsegliidG l'eJatiya prospe-
l'ldade. Nilo lhes üdtüu a malevoleucía dos conctllT€nt.es onasi
todl)s esLrallgeil'os tambem, q:le os denomilH',J'(:1,ll1 tUi'('OS~ G s'obre
- 292-

a sua religião e costumes fizeram circular as mais absurdas


noticias.
Incansavel e sobrio, como os da sua raça, o recorrente
ajuntára algumas economias, e gl'angeára credito bastante
para estabelecer-se commerciante, quando vio-se envolvido em
um drama de san~ne, cuja responsabilidade não lhe cabe.
A' vacillação dos accnsadores responde a incerteza dos
juizes no correr do processo.
Trata-se de um assassinato commettido em rua central de
uma grande cidade, ás 8 horas da- noite, em preSinça de
muitas pessoas; houve prizão em flagrante. Dons são os
indigitados criminosos.
A respeito de um, Caim Aded, nenhuma· duvida se
levantou.
Foi considerado incurso nas penas do art. 294 § 10 do
Cod., como autor que directamente resolveu o crime, e com
surpreza o executou.
Quanto ao outro, Amim Matar, o recorrente, que variedade
de classificações! que reticencias significativas! que torturas
morae:> revelada::; a medo, no meio artificial creado pela levian-
dade lloticiarista e pelas manobras de alta e pol1el'osa socie-
dade secreta!
A denuncia considera-como autor directo, e não explica
qual a cil'cumstancia que autorÍsa a capitular o delicto no § 10
do art. 294.
A queixa (neste processo ha duas accusações paraIlelas d~
l)rincillio a.fim), falIa vagamente no art. 294, sem se pronun-
ciar pur um dos §§. -
No parecer de fi. 179, descobrio o promotor u. circnm-
stancia que lhe estava faltando para justificar ~a classificação
do delicto 110 § lOdo art. 294: tinha havido sorpreza,
Abrandou porém o rigor quanto aó recorrente, que de antor
desc8H a cnmplice, nos termos do art. 21 § 10.
A queixosa, arrasoando antes da pronuncia, mantém tibia-
mente ,\ <tcc~lsação contra o recorrente, declarall(lo por tres
vezes fine lU contra elle pJ'esllmpçíZo de cumplicidade, se111
citar <) ai t. uo Cot1. em que o julga incnrso.
A l;l'olluncia foi por cumpliciílatle (a. 128 v.), o libello
por ~\Iltoria (11. 200).
() jcllY negou a elementar da sorpreza, admittiu a .atte~
nuante de [ctlt<t de pleno conhecimento do mal e (Urecta in'
tençilfJ (:'e ;) praticar, t1r:~ uma aggril. vante fez duas, negou a-
autorh, ;lf!lt'lliOU 8, célmpEcidade, e condemuol1 a 11 anuos de
lH'isãu cellub.r, lTI3(lio elo l11't. 294 § 2? para a cumplicidade
(fl.. 2%).
-- 293 -

O_,'ltiulllla! Srrperiol' :'ednzil1 tl, peiM a 7 annos, sub·mediu


daquelle LU Ligo, l2on1ra o voto do jllÍZ Ferreira Alyes, nnieo
que serenamente aprecio H os factos da cansa, e fez lucida
applicnção do direito, absolvendo o reCOi'rente da flccm;ação de
homicidio.
Assim o reeOl'l'&ut.t3 foí i.',oJl:;i<lel'atlo incnrso no § 1° do
art. 2!H Conl autol' e como cll'nplice ; 110 grán m:lXimo em eada
i)

uma dessa.s hY1!Otheses, no medio e no sa1)·medio, Pen:J. á es·


colIJa: pris~,o cellnlal' por 30 anHos, por 24, p81' 10, por 7.
: NfiO é preciso mais para se reconhecer que a jnstiça anQou
desnorteada.
, CUiliprehenc1e-se a d;f[;c1ilda\~e de classificar crim(~s poli-
Ocos, delictos contra a admillistl'uçft(J llull!ica: CJ:rtas modali·
(L(les do l'!'(:then estelli011::ÜI! 8 al:;;nmas lufraeçõ6s (lê' somenos
grayj(bde. QWl.ado pOl0.!l1 tannllll.1 hesitaçãO se mostra
quanto a0 ruBis cOllhecit1o de todus os crimes, (l hOF1.IC i dis)- ~
que os fados !:ão se enql1ü(h'am lla (lefiüjç~io legal, e 1) dirdt\i
lesit:tf; Íls influencias pertnrua\lvl'as em que o querem elrroh'er.
f\f,o fluá o recorrente cabedal las It\lllidades lll'Olasamente
semeadas nos autos.
A um novo julgamento pt'l0S mesmos tribil!lneS preféri!:ia
toffrt'r l'lté o fim 0_ erro jnrliciario de que é victhna.
Si a S~la posição fosse a de qur.m pleHeia grau de pena.,
ou implora compaixão, uastaria mostrar que o promotor só
arHculoil uma aggravante, e o jllry cQucedel1·lh~ dl!u.s, ne·
nhuma Jas quaes tem fundamento.
Disse o promotor a 1'18. 201 e 201 v.: "Õ C 1? que os réus
tinham sUIJeriol'idade em forças e armas de modo que o ojfen·
dido não podia oefeudeN.:e com pl'obabilid'id.e de: l'cpe11ir a,
offenfla ... Nestes termos pede-se l'. condemnação des réus no
gráu nJnximo do art. 294 § l° por ter concorrido a :1::rji'aralt!fl
do § 1)0 do art. 30 ... ». Pura a acensação, só havÍ;t uma aggTiJ.'·
vante, (lUe foi desdobrada llO~ quesitos, donde se conel.,,,! que
ou etitú errado o lilJelto, ou o questionario :10 jnry, e 13m ambos
os Câ~OS incGrreu e111 desenHo o jniz que ou devi:) mnr:(lar cor~
rigir o li1ellú, 011 reprodl1zil~L! sem "Iteração !1(j!': (peRitos.
Que a sUlwrioridade de forç:t e armas nãu passa dfl im:,,··.
ginarin, qvaiJ:lo atirllJlildll. ao recorrente, ha. de fkr,J.' ;.'!'iwado
i nCÍlltuiemellto llO COlTor dl·~te traoalho. .
Disse o reeOl'l'ente que duas accni'açõe~ correram paral.
leIas, e HCCl'tsc:ental'á ag·nra: com me:'to8cabv 101 1E::) c C}iJ.l
C',riCélli(, 1·!1H'cialiclat1e, Olh~ felmilJ('fI eiD um ccn1uio c:!tl'e l'
Pl'l:liiolc'l: o jllii~ e o ;',t,~u,:-d(ll' p'·ticnlal'.
P:U'rt lF'e i11io fiqn(,~ll d nyíl1:1S, 1epete () CGllrtemnado a
accnsu~ão e a 1Ilorur:linc(J)/tiitenli, e do yentrt dos alitu~:: 1:18,
- 294 -.;.

noscabo da lei, evidente parcialidade, cOIlluio entre promotor,


juiz e accusador particular.
Assassinado Jósé Glllckmalln em 7 de Julho de 1895, pre-
cedeu a policia a inqllerito e o promotor deu denuncia, rece-
bida a 13 (fi. 4 v.).
A 16 a viuva deu queixa (fi. 60), teve licençA. para ac-
cus ar por procurador, e interveio desde então em todos os
actos do processo, não obstante declarar o juiz no despacho
dê fi. 71 v. que não recebia a queixa.
Si não era receptivel a queixa, como foi admittida nos
auto~ ? como se- deu licença á requerente para accusar por
procurador?
Não admira: a queixosa foi inquerid:t. como testemlmha
e deu-se 8. palavra ao seu advogado para reinquiril-a!
Mais: - O prazo que em seguida ao interrogatorio sa cou-
ceda ao indiciado para se defender, foi convertido em prazo para
a accusação ! A fi. 152 requereu a viuva que Ih. fosse permittido
arrazoar no p,'azo concedido para a def'flJa. Foi deferida essa
monstruosidade, e veio assim o réu a ter tres accusações nó
summario, de uma das quaes não teve conhecimento: uma em-
'boscada judicial.
O que, porém, excede as raias do verosimil no escandalo
-. é a comedia que a justiça representou no jury.
Dos termos de fi. 226 e sego confirmados peh. acta, de
fi. 244 em diante, vê·se que, ,lido o processo, teve a palavra.
o promotor, que leu o libello, mIJstrou o~ artigos da lei e des-
envolveu Il accllsação, concluindo por, pedir a eondemnação.
Voncluída a accusação, o promotor achando-~e incommodado,
requereu a nomeação de um promotor ad hoo, o que foi defe..
rido, recahindo a nomeação em um dos advogados da quei-
x~sa, o qual presta compromisso e fat: novà accu,açilo. .
'- O promotor, depois de perorar pedindo a condemllação do
réu, adoece m'uito a proposito; o juiz não aeha alguem mais
idoneo para representar a justiça publica do que um advogado
'que, tendo interesse particular na causa, estava inhibido de
ser orgão do -ministerio publico, que deve ser desapaixonado
'e isento de qualquer interesse particular, por legitimo que
seja j e o advogado da justiça e da parte faz nova accu8ação.
Si lhe lembrasse tambem ficar incommodado depois de
-terminar o discurso, seria nomead.o mais um ad hoc, e ter-
ceira accusação seria proferida. ,
Que efficacia podia ter a defe:m do misero estrangeiro,
victimado pela prev6nção do vulgo, explorado como assumpto
por impiedosos follicularios, e, na hora extrema, ludibrio de
secretos conchavos?
-- 2%-

y elad:.ls fiea~sem 88 r1ídll'];lt!PS Lutelares 110 direit.,), a:::


formulas, poueo il!')iorra :.-.rlfilaR prc1CÍIlIle o recorrente. para
só 1ll0,-Lral' que as jU8!j(;aS d.3 8. Pi'tttI1, cedendo á intlue;;c,la do
meio, fl.pplicaram o Corl. Penal llalih'1o em vez do Hrazileiro e
julgaram r~O!ltl'a f. evicll'\ncia doa autos .
•'3c·gundo o Cod. Itnl., art. 64::
E' PIUlitO ... eo1ni ('.11e é concol'SO 11el reato ...
2" col Q.uü istrllzirm'3 o col sornmilli~tl are mezú
per eseguirlo.
Dl1ag b.vpúthe~e-;: é CU!11plict; quem concorre pàl'a fi
crime dando illst.ru\?'r;ões ;,~n;>. a !'!ua execnçilo; tambem é
eumplkt~ quelU fúl'llece 0S meios para. que o delil\to 8tJja com-
mettido.
O Cod. Braz., que muitas vezes tl'aduúo 8,quelle ,mtro 7
aq \li sellarouse do original, dis ponclcj:
Art. 21. Serão cnmplices:
§ 1. O! que não tendo resolvido ou pro-
(>

vocadv de qualquer modo o crime, l'ol'lltc?l'em


instrneç0'~ vara, commettel·o e prestarem alixilio
á !ua execução.
Neste paragrapho ha uma só hypotheae, a dliquelle que
dá instrueções, e pre~ta auxilio lliul\ a execução.
Ha qualU,diga que UélU Unia nem a outra lei satisfazem as
exigeucias da ~ciencia penal; mas ao juiz nada interessa in-
dagar qual dos legisladul'l'ls se mo!';trou mais sahio, ou si am-
hos sQ.o deficiente~'. Cada llR<iw faz cumprir os iHlllS co:1igos.
Ora, o recorrEnte foi condemul\do em' virtude de um
qu~~ito, que siria completo na Ibllia, mas que é truncado no
Rrazi1.
Perguntou o juiz a fi. 234: o réo, não telldo resolvidG
ou provocada por ljualqner moelo a morte de José 0111ckmann
pl'estou auxilio á execução do lIlesmo crime úe morte?
O jul'y respondeu aftirmativamellte, o que na Halia acar-
retari" a condemuação, porque al!i o con.~urso pUllivel talil.to
póde consistir em forn!'cel' lllsiol'l como em nar in~trncç0es:
«dare illlitl'uzion€ o somJlli~tl'are D:ezzi ». Aqui a (~ulllplicirlade
só tlxiste si o agente forneceu instruc!;i'ies e p)'e.~l~;".·.'J:xilio.
O texto é tão ela\'o qllA nito aclmitte cornmelllt.l·ios. () q,'c"'-
sit.o f,Ó podia ser t'onlluLd!) nos I'estric~.o~· term',:> àú art. 21
§ P:-o réo não tendo resolvido ou provoct.;'1,{') de (i\t.illjner
ill()(lo o crims, fornec"111 instl'U(;(;ões para, cOllimettel·o A prc::itou
auxilio á sua exeeução? ~
- 296-

Era preciso que o recol'l'ente fosse condemnado em sa-


tísfação á opinião publica, que é por turnos, como Roma, a
alma mater e a rneTetrix gentium.
Peniou·se em attribuir-lhe a autoria, como se elle dil'e-
ctamente houvesse resolvido e executado o crime. Em im-
possivel : "em uma disputa occasional entre o recorrente e José
Gluckmann interveio inesperadamente Caim Aded, sem ser
chamado, e deu em José uma facada que o matou.
Ninguem neste mundo responsabilisaria o recorrente por
essa desgraça, que elIe não resolvêra, nem podia prever.
Procurou-se dar-lhe autoria, como si elIe .antes ou dllrànte
a execução tivesse prestado auxilio sem o qual o crime não
seria commettido. Naufragou a tentativa, frouxamente esboçada
na denuncia, contt;ariada no parecer do promotor a ti. 179,
renovarIa no libello, e repellida pelo conselho do jury.
Transigio-se, accommodando ás necessidades da oceasião o
§ 10 dO,art. 21, debastado do requisito forneem' instrueções. Custa
t~o pouco transformar o e da lillgllll. pOl'tugueza no o da italiana.
Finalmente todos os peitos se desopprimiram de cuidarIos,
quando o jury afastou a circumstancia elementar, e condem·
nou o turco a. 10 annos de pl'izão cellular, para não ser mal-
eJ;'Ía,do, e o Tribunal Superior lib.eralmente reduziu a pena a 7
an,nos, contra o voto do Sr. Ferreira .!.lves que, resistindo A
omnipotencia. dos jornalistas, não viu a. cumplicidade do recor-
rente no crime d~ Caim Aded. Bem haja. o juiz a cujos ouvi·
dos não chegam os ruidos da rua.
O 'fribunalde S. Paulo não deu pelas nullidades do pro-
cesso, nem pela amputação que em orgam eisE'ncial á sua exis·
tencia soffreu o art. 21 § 1. .
Seja.. '
O recorrente, acceitando todos os dados da accusação
mostrará que foi condemnado contra a evidenc'a dos autos.
Diz a rlenuncia. fi. 2, baseada no inquerito que Emílio
(aliás Amim~, Matar e Caim Aded achavam·se em uma das cal-
çadas da ladeira de S. João, impedindo a passagem das pessoas
que subiam ou de.sciam ; EI approximalldo-1Se José Glucklllanu e
sua mulher, os accusados dirigiram insultos a e~ta e como.
Gluckmann se voltailse para l'epellÜ' ditos insultos, foi aggre·
di do por Matar. '

« ao ().ual o Dt'. Fmncisco Tybiriçá qtte passava


·r?[;~8e:momento, prendeu. Cetim Aded aproveitando ·se
da '!o>n(us{io que reinava, saceou de uma fac(/, com a
qual estava armado e vibrou-a mn Gluckmam, que
1) oueos filumentos depois era Cat:;.~·'(~r.»
~.
- 297 -
\
(' delegado (fi. 49), expondo com certa fidelidade os fa-
ctos diz: «Glllchmann, justamente indignado, repe1lill esses in.-
sultos dirigidos á sua senhora, sendo nessa occasião aggre-
dido por Matar que foi seguro pela 1'" testemunha Dl'. Fran-
cisco Tybiriçá que o impediu de espancar a Gluckrnann. Em
quantoisto se passava, Caim, companheiro de Matar, aggrediu
a Gluckmann dando-lhe uma faca(la que produziu-lhe a morte
momentos depois.
O prazo concedido ao réu pela lei, para defender-se no
summario de culpa foi transformado em prazo para a accusa-<
çáo, e dentrodelle a queixosa (que tambem foi testemunha" e
como tal inquerida por seu proprio advogado perante o jury f)
offereceu as razões de fi. 165 v. •
. Este privilegio l contrario ao direito escripto e á equi-
dade natural, produziu o fe1iz resultado de patentear a inani~
dade -da queixa e da denuncia contra o recorrente. .
Com effeito, nas allegações de fi. 165 a :fi. 175 a quei~
xosa achou contra o recorrente presumpçao de cumplioidade.
Nada mais. Qnatro vezes o disse:
,
. .~ a provI!. testemunhal ministra elementos e"
,. : )Jios valiosos, donde decorrem as mais vehe J

mtJ.tes p1'esumpções de que, não só sobre Oaim


Aded. .. recahe a responsabilidade do nefando
crim~ (ti. 166 v.) - dos autos resnlLam, as mais_
vehementes pre&1tmpções da sua cumplicidadtl (~e
Amim MataI) no mesmo crime. (fi. 199)j-teria
Matar, senão procurado impedir o golpe, pelo
meno::; Leria no momento protestado coutra a sua.
presumivel CUIDI!licidade (fi. 176 v.)-E tanto
mais vehemente se tornará esta pt'esumpção ..•
(fi. 172).
Estavam colhidas todos as provas em minucioso inquerito
e no s.ummario de culpa, e o maior interessado dizia repetida-
mente que contra Amim Matar só havia prt~sumpção de cum·
plicidade.
Quem ,arrazoou é advogado dos mais distinctos e illus~
tl'adissimo lellte da Faculdade de Direito de S. Paulo.
Versado nas lettras juridicas, elle sabe bem o que é cum-
plicidade, e á sua l'éctidão repugnou affirmar que Matar fosse
cumplice de Caim Aded.
Infelizmente filill de mais nos conhecimentos alheios, e
dizendo que havia vehementes pl'eSllmpções contra orecor·
rente, suppoz sabida de todos a disposição do Cod. Crim. l'C'
- 298 ~

rrl)(1\1/;I):;, no art. fi? (lo ('IH!. Penal yi:;ente: « "J-('í!lW1lI(/ !,re-


. su.'r,/;,:,{:; por ma[.~ t'ehonenle que st:ia, (!(~rá lugnr Ú imlJ08ição
de llt; !lr/."
Cillllj>l e 1l.g·ora mostrar com ét prova dos ilntos que os ItC-
cnsaÜores t.inham !'aZtW fIe hesitar, e que a t:ünrlemJl;lI;ão é con·
trai'ia á evidench. Kfll) !tosjl1izes de f/lcto, que decjllem por
iUf-pil:içõeil ,1e momento, !!las aos 1i1ftgi:<traL1o~:, incumbe velar
peja [1!trl'7,(t do rlindto, impedir as dellla:Jias dos oJt'eadirlos,
S@111IJ!'e disposto~ a COnflllJflir a vingallçf\ com a. justiça, corri·
. gir os excessos dos llovêlieiros e as incontillellcias tios tribu-
uaes.
. .Á. prova testemullhul, rlua~i enií'"nne s.)bre o incidente
(pe jll'€é:e(leu I) c1'im~· . oft'érece dUh" ver,.,ões inc0!lei!Llveis
qll1l.ntCl á parte attrlbnida ao reeol'rente no triM,e :H;')llteó-
men r::. Posh qt,e n~ilhumi\ das (lua~ eXl'rilll~ intt';l'iHoent,6 a
verdade, t~ seja direit,) do réu proferir a qne lhe ~ IlHlis faYo-
ra;"el, o l'eCOrr\illte acceíta ambl'.s, e as :,ulalysil.rá. piHi!. mo,,>trar
que nÃQ era po~sivelllem f,e deu a i>J!à comparticil'<l:;:io no de-
lictJ.
Em uma noite de Julho de ] 895, dizem, Amim Matal'
achavtt·>:~ postad.o em frente a uma loja m'I·)R.dell'a tle S. João,
. imperlinrl.) o transito, e vindo a passar por'k . :"' Jsé Glnckmann
com 8Url. mulher, tiveram do t1,bandonar o passeio e procurar o
cent.ro da rua.
C')!lviria dizer que Matar não tinha o proposit{} ele im-
pedit o transito, mas sendo estreitl\ a cal<;alla on palseio,
qUHll:10 vinham pessoas em rancho ou magote encontravam
emlJfl.r;\~()S, e foi o que !I.ef)j1t'!l(~en quanfIo pl'et~nderaJl1 Ila'"tU'
em gl'L1l'v Jvsé Gill(j(manll e sua mulher, umíl prima. e um
cunlv,d e mais .José Taugari e SUI\ Innlher (-lepoimslltos de
i
)

'l'anglll'i 3. fi. 10'1 e d~ pI'opl'Ía queixosa a fi. 132).


A COll!,!'â1'ied~f13 ínspit'on a alguem ou ;tlg;um; dlt comitiva
obselvRf;t'ies PO[!(;(l h"n;woIaIl sobrê 03 turcos ti SUa. grosseria,
ao que Matar teve Ü ··oIHlemnavel pl'ocedimfluto de teHponrlel'
com torpes injuriaíi, proprias de homem lTlal educado e que
cehhrárfl com libaçôe~ lllinwdera(bs aquelle dia, qlHl era llo-
millg'o. Voltol1 Glnekmann, e lJi1teu com 11111 guanla·ehnva em
:MatHi', que jJi'octll'on (h·felJller-se com a sua bengala. Intel'veio
C8im Alleâ, que S(~ adIava na porta da loja, \1 desearre,gou em
Git!('b'1,wn un)';. í~acadt1. mOI tal.
~)ilo Lodos 3.ceordes em reconhecer que Matar n[io re;,()!\reu,
]lãl) eX'.lf~lltou, ;Ú} ill,Ulilou executar () :l1',='!1.ssinato; nJ,j dl:lmon
CailJJ, nito [)()(lia evít;n a ;,ma flllle~tlt e ill:1thlnu};t ill(.el':ellí~ão.
i L:, pO;·(:JJJ, llu,',:,' V,"t'"ÜC~i:i ~iJbre a po:,,t(~ilú dos <t{;tOl'I.lS rro
mOf1lé"ilto da eatilstl'Oplte.
-- !99-

Spgundo a primeira, logo no começo do conflicto, o Dr.


FI'anci8Co 'l'ybiriçá «segurou Amim Ma.tar, dominando·o com
força:. (ti. 24), e procurando detel-o até a chegada da policia
a quem ia entregaI-o, não poude observar o que então ~e
passou entre Gluckmann e Caim (fI. 2-40 v. ) ; entregou o prezo
ás praças e o acompanhou , policia, acreditando que o feri-
m,nto deu-SI depoi8 1",e eUe depoente retinm Matar (fls. ~5
e 25 v. ).
O DI'. Tybiriçã assi~tiu aos factos de pdncipio a fim, e
só não vio Caim ferir a Gluck.mann, porque estava occupado_
em segurar o recorrente, mal! acrPllita que o ferimento se deu
depois que elle depoente retirou Màtar.
Este depoimento prestado logo após o acontecimento põe
o recorrente fórA di cau~a.
No summario " telltemunha confirmou os pontos essenciaes
da sua narrativa, dizendo a fI. 78 T. que "apeZ!ll' da reiis.
teneia opposta por Matar, consegui e subjugai-o, prendendo-o
contra a parede:.; a fI. 79 «pôde affirmar que durante o tempo
em que .egurava o braço de 11atal' e o subjugava, este não
podia ter ferido a J ol'té GI uckmll.nn», e a fI. 85: «agarrou Matar,
quando separou de Gluckmann pel.)s braço:;, s8!5ll'ando pri-
meiro pelo braço esquerdo e depois pelo direito, e levou-o á
parede, onde o manteTe IIsguro:..
Neste segundo depoimento e Dl'. Tybiriçá. declara que
Matar deu-lhe uma facada no fraque e outra no pulso, o que só
verificou em caRa, depois do primeiro depoimento.
O rl.lgA.o do fraque não passa do re!!ultado dos empurrões,
em que andaram os dons e a escoriação do pulso foi produzida
pelo botão do punho, como bem oecorreu â. testemunha ..... iltonio
Tybiraçá, irmão do precedente (fI. 10i).
O que Matar tinha era uma bengala que lhe foi tomada;
ninguem lhe viu faca. --
Segundo a outra versão, Cairo atacau a -Gluekmann
pelas costas lI.O mesmo tempo que Matar o esbordoava pela
frente. -
- Quando assim f05se, como se poderia dizer que Matar
prestou auxilio a Cairr, quando (oi fOste quem veio se intrometter
na ifisputa ?
Oomo impedir, ou lIiquer prever que Caim daria uma fa-
cada mortal em Gllckmann ?
Affirmou-se que Matar espancou ou esbordoou a Glu·_
ckmann, dando-lhe feroz e brutalmente com uma bengala na
cabeça, no rosto, atc.
Aqui se r.evela quanto é fallivel o testemunho humano, e
·- 300 -

como 11:3 pt<'$l)flij mais resp!~iLtveís ohservam mill, (·.onclnem


sobn, ;lPllnre~l('jas e fOllnam juizo;; infnntlados.
'Viram algumas te;-.~h~mmtlli1;;; qUf Gillf'kmann~ \7oltann.o de
seu U1EÚ:;h n , atacou c:om um gnarrla.cllliva a Matar e este
servio·~e ,l;~. be!1grJa que trazia. 'ranJo bastou para di;t,erem
que Jldnr 8sbordoon a Glndotlll1111, fazenul)·lhe nm f8ri~~ento
1JR, fRr~e, f:f·~. .~_ ... ~: .._~,-,.~
O:':t, G l'eeOrrellte Hão fu m:ú; do (ll1e aparar !l.!'l l'illlC;Hlas
que l;i~~ eDFl ctll'ildas por Glnekniitlll1. ~\ prova está nos ll.utt:S
e t. (';:·I:.';?'fdol'i'..
I_L..:,':' t;;jpois do confii.-f.o, procedeu·se a eorpo (18 n.eEeto,
e os jl;·;:-(~i'()s ~Ó tllCC'lltríl"'lJll ):0 otfenclido f) ferjmeI~t.i: lllO!'hl
Clt:'" 1::: f(:!':' feito ne:a faca (1~~ Caímo NenllUTu;'. outra oil'ensa
"";]'1""; .n , "-"'()":"('00' ";'1If-,;"CtO nCC!"\'DIo'QP 011 fel'ià:)
.. " .' j. ~ _ ""\... ). l(i.Jílt _: \.' • h .... t. , • J 1 ..., _' I. I

. E;.,í:;t ;;IGOlllV1eto f) I~XiÜ!!e. iH,nine fi estauo do ()ff'ennj,,10 era


gl'!Wi:.~il!1(j; !l;aS 110n\:: :1ff\r,;s proceden-sH á autoi,sin e ai!
iuv~,:::!j[;;)!;üc'~' 1';0111'6 o t,\;al'd' f 01'(1.111 longa-s e minlido:;:~,!!(.
EnL (:,""uti;;i I,er;t,:;s ~Ó elit~olltl'ara~ aquelie mesmo feri·
lTIsl!t·: .~;l :'dHill1 'iC'·ii 6'in d~s suppost:ts bordoêil!as.
1'erU!l1tli é certo i.itl'3 tl rClorrente, aggl'edidO por Glnck"
xnaull, d~,['\:.ilJu·l!;(; ':!~; gr!Ii'~tj eom a llengala sem r..ttiugil' o
corpo do aggl'e8S0r.
E descobriram \lue elle tinha superioridade de arma d~
modo que o offenuido não se ponde defendt:f com probabiii·
da de ue repellir a offeliS::i, donde se ccnclue que a fl\cada foi
dada. com a bengala.
'rEmbem, por um processo cujo segredo a ning!lem édado
penei,rar, deeidic-se que Matar era mais forte que Gluckmaull,
e por it,!f.;O este ultimo não i)üude repellir a facada de Ca.im.
Dê-se ao reconente a posição que quizerem accnsadol'es e
testemnnhRíl) 3. evic:encia estará l:lempre clamandl) coutra 3,
COnd8IniJaçào PÍJI' cumplicidade de homicídio.
Q!:e!' Amim M~Jar P:;:tiV(lSSe preso, snlJjugítdo) encoshrlo á
;lurerk I,p!rJ Dl'. 'J'yllÍl'içfl, /lO ll111mento em que GluekrlllWIl foi
:('1:,].;; .,,-t.; .";0 (\Chh;iP,G é:ni fl';:-,nte d~f)te no combate de bp,n·
[;}i!a. Ci'l.r,l'a guarda-cbuva; quer luctaFsem os d(l!lS e",rpu a.
corre : ;;o~'''8T(1 ~o 8iTiIJ,1,~<:; l;l\rn Sl-'",W <ii7.(~l' que esse homem
prest'cJl: G.uxiliu a antro, que, intl'ornettendJ's~ 1m cO!lten(~It, I]es r

fpcholl ie'cpirh f::leada eolltraUlil d();;tC()11tewlores.


!"r,i ;:'.' di A(h'. c: íl nern "llien<le~( Jévnr ao reCtJTcn t..:;: um
a?~:i1!c :',~, y:!;}(k·) 11(~:'~'rol'ol"·jona!lo á pentlentin (1';0 nrío
bl"L"
w1
"""·;,1,,
! I(~ .-:.. ' : ~,,,.~""
.;~;
J..U ~.G, ;.:-0 1lOl n"~"
~-;!~~H'(' t"·u "to L.H.Jel
H e.;. ,.. ~~el.··
',", veld~clC ~ (4,i

-'li;n(.~~. r('!~ r:~~ :~.:::-:;;~~: ~:1PJo. -


.}('f:: 'J\,;tS;~;jl t..: .. leLl1nh ú da 11':cuSa(;~1O e muür)insu.;peíta,
- 301 -

porque ia em companhia de Glllckmann e participou da oft'ensa,·
disse a fi. 114 estas palavras que merecem ser meditadas:
« Os factos que acaba de narrar foram todos '
de momento, de casualidade. .
« C~im não recebeu ordem alguma de Ma-
tar, nem auxilior nem podia mesmo re0eber,
visto como deu a facada emquanto Matar dava
com a bengala em Gluckmann, e este em Matar
com o guarda·chuva».
Não proseguirá o recorrente no exame deste processo de
sensação, em que por muito collabomram a imagimção mor-
bida do noticial'ista e a passividade dos que recebem pela
manhã, j\ feitas, as opiniões Ile qne hão de senir-se durante
o dia.
Egregio Tribunal:
E"pera o recorrente que a sen Lença condemnatoria pro-
ferida em ultima instanCÍa pelo Tribunal. de Justiça de São
Panlo será declararla contraria ao texto expresso ,10 llrt. 21
§ 1° do Ood. Peno e á evidellda dos untos para, se julgar im-
procedEnte a denuncia.
Rio, 18 de Setembro de 1896. -- U. do Amaral; advogado.

ACCORDAlII
Vistos, expostos e relatados estes autos de revisão cri-
~llillal,
em que·é recorreute ..'ullim .1Iat.ar, cOlltlcumauo pelo
Jllry da cidade de S. Paulo ll:l. pena do médL üo art. 294
§ 2', combinado com o art. 2t § 2' do Codigo Penal e refor-
mada a sentença .pelo Supremo 'l'ribullal de J Llstiça daq uelle
Estado, para ser o réo cOIHlelllnado na pena, entre o grão
médio e o minilllQ do Illesmo art. 294 §~o, com referencia
ao art; 21 § 20 ; - dão provimento ao presente recuno para,
reformando a sentença recol'l'ida, absolver o recorrente da
acção intentada, attenta a evidencia dos autos j porquanto
deUes mostra-se de um modo iuhlJitavel que -o réo OQim Aüe(!
aproveitou ·se de um conflictü occasional entre o recorrente e
José Glllckmaull para ferÍi' a este com um g:)lpc: de punhal,
desfechaclo por detl'az, não tendo ln:eeeüido 1l(:c:ll'i1i) entre o
recorrente e Aded, nem teullo mesmo o recorrente conueci-
mento da resolução inopillUUal1lCll to tomada polo tmUjl (:() 110-
micidio, durante o mesmo cullllicto.,Nel1humLt respom;aLilluade
c~iminal pórle, nestas condiçüe::i, cabel' ao recon ellt8, visto
- 302-

como 1\;1(: H~ púde (1al" etlmplid(~aap cl"Ímin:<.), sin:i'1 qll'llJ:lo o


COnCE"';n qnn n 1~,OI;"titlll) é pn·"t'l(ln JUIOSl4ilkll('\ i~t,) é.
com H'If'J:(i,( te f'Í'meipII('ia {:iJ (Time 1':.\1 ti o qual a /l:3~i-.:Lelll~j;l
é preFtnda. A propri,:. Senlf'llça !'(->{'olTida, reconheef'lIdo que
a Ütí'(l!' 'lO fN,()J'!'t-nte r:revhleeill. li attElliJante de ml'!}OS ii1t'IlO
eOllhedm('ll"{) do na] e da illtellç.\'J inrlireda de o praticar,
iml,licitall1elJ(e l'e'~Gllhen) il. fl.l1rlé].eiii d(; cun;plieU(\(ü, já qlle
esta n:lo j:ôde \in nlelamellie cillvosa, mas (,ltl ne! (:1 h;'·se
sempre iJur um Cüllcun:o lil'e;;tP,du scinllcr et li1lellteJ'. Cn··tas
cx .. caFSG.
Srl'l'enjo 'fribUlU:d Feder,!}, 3 de FeHreiro de J 8D7.-
Aqniílo e Cil/di'O, pl'esiI1eute.-JoM6 II.IIUino.-l'illduhill(f. de
]Juí!o,<,-I"'Tfi)'o, Franco • ._. ~;!áCfdiJ Sow·l!g.-.A11'trico LolJo.
-lI. rIo .ITspid!o S(ltIto.-Ml1i1oct M/lrfillh/J.-Jo(',l} ],:'dl'f,'.--
,}ulÍ.o Bru'l!aZJ,o.- Bel7lanlino Fcrrl''Í!a .-Fi[Jueirl'do Junil'}'.-
Fui llre~ent8.-L1Wio d,~ ;.ileut!(Juç!t.

neyi~ão de processo de injuries \'crbaes.-J~· re(o\,-


mada a sentelll:~ contlQmn~tOJ'i:1. para que pre\'~Jcça a
absoluto ria proferida eUI I" invt:mciól., \'isto já ter c'ita
passado e;n julgado qllalldo foi iuLcrpoStl1 a appellação
por meio da qual '-oi o qtlerellatlo conJenJll,g10.

Rcv is{:;,o-crinl.c ll. X ..38

I?lIjielt'ante-A?'l1no' de SOUZrt Rnbirn.

Supremo Tribunal Federal

_'l.CCORDA:-'l

Vistos, expostoil e dii!cutidos estes aut.os de l'ev)~ao, im-


petra\la por ArthUl' de SilUza RulJi m, do processo de ll1J lll'1ilS
verbaes contra si instaurado pelo b.lelwrel Emygllio G,mçal ves
Pellreira, penmte o supplellte de jni;c de direito do tp.1'!l10 de
S. ,Jo;,é dos Mattões, séde da COIlHl.l'Ca do l1leSlnO 110me, do Es-
tadü (lo I\Luallhão, processo no quaL depoill de dlf8protlunciaílo
}Jelo rd'el'idO supplente (fi. 2'1), foi o impBtrante cOlidem nado
em 2~! Íllst.ancii:l. pelo juiz dé direito da. comarca á. pena dü al't.
319 § 3° do Uodigo Penftl e no grão maximo, sem illtliCitc;ãO
ele :r.wllhuma cireumstancia itggraVêtllte (ti. 4(1):
Considerando (llle a sentença á fl. 27 é substaneialmtmle
unm scnteHr;? de aIJ::;u! Vi\~lI), llii.fJ obstante o erro de lillg-uagem
~lo jll~Z illeL1 <l.1fJ que p, proferiu, Jizi.m\lo de8[iI'Ommcial' o l'éoj
pül'quanto) telmillddo como eslava o proeesso, erfl. julga- °
mento detiuitivo que lhe competia então proff':rir, nos termos
- 303 -

da lei mamnhense 11. 19 de 15 de Outubro de . 1892 (ilrt. 38, _


a
COlli brnado com o al't 32, 2 parte, § 10 e al't. 85) 1 vbto tra-
tar~e (le Ulil caso da jUl'isdicção eOl'l'eccional commettilla em l'~
instanda aos sllpplentes dos juizes de direito nos termos sédes
de comarca, e em que não lIa despacho de pronuncia (dt. lei,
arts. l° H. 3°, 38, 77 e 76); e as:<im ° entEndeu o juiz tle
direito, cOllheCelltlo da appellaç~lO elo queixoso, admissivel no _
caso de tal julgamento e llfw no de pronuncia ou não pronuncia
r
(~it. lei, art. iH §§ l° e 2 );
Oonsiderando que, aiuda quando se admi.ttal11 as duvidas
levantadas pelo autor a respeito (la int.imação da sentença au-
sollltoria do leO, proferida e publicada a 23 de Agosto de 1895,
não é menos certo que a 30 do di! o mez, já o autor tinha della
scieneia, comI) se prova com o. illi'trumento de procuração por
elle pll~sa<lo nesta data, em S. JIi:,é dos l'IIattões, e bncle de-
clara o outorgante constituir os dons lirocurarlores que nomeia
«especialmente para appeIlarem' da sent.ellça proferida contra
si no processo de crime de illjul'ia~ verbaes intentado contra
o cidadão Al'thur d.e Snuza Rubim» (iL 32 v.) ;
Considet'ando que, em taes cUlldi\ões, desde muito havia
l'assado em julgado a 8ellt.enç~ de 1'.\ ill~tancia, quantlo, a 5
de Novembro do mesmo alll,l), um dos proe.uradores do autor
recorreu ao singular expediente de requerer a Slta propria in-
timaçi\.o para scie.ncia da refe:'ida st'llt.ença, a pretexto de não
. ter Rido feita até elltão 1W sen con:':titnillte (!1. 3]);
Oonsiderando qne a intima;;ão, assim pedida, e a 8 de No-
vembro effe.ctuada em cumprimell10 de despacho. do juiz de di-
reito(tl. 33), não podia abrir nova ;l1stancia para uma causa
finda por sentença já irretract.a vel i
Oonsi(lel'ando, portanto, que, não mais podendo admittir-
~e a appellação que no dia 9 do dito mez intel'poz o autor
para o juiz r.e direito pelo termo á ti. 34, nulro é o mencio-
nado termo, bem como todo o processado em 2 tt instancia por
virtude de tal appeIlação: Accordam assim julgaI-o, para o fim
de mandar que prevaleça a sentença proferida a favor do im-
l)etrante pelo juiz da 1';t instancia, pagas as custas pelo autor
decahido.
Supremo Tribunal Federal, em 17 de Fevereit'o de 1S97.
Aquino ~ Gasi1'o, presidente.-Fiqueil'edo J~tnior.-João Bm··
,balho.-.3fanoel MUl'tinlw.-João Pcdro.-Ribeil'o de Almeida.
-..d.'1Iu1·ico Lobo, dei provimento á esta revisão, por virtude
da compensação estabelecida no art. 322 do Oodigo Penal.-
José Hygino.-B~l'na1·dino Fel'reim. -H. do Espirito Santo,
votei por alguns dos fundamentos do accol'dam. -JIaceão Soa-
'8.-Pe1·~ira FrarlCo.-.I!'ni presente, Lndo de JIendo71ça.
.'0

304 -
Applioação dOI Artigos de Guerra e do Cc
digo Penal da Ar:ffia~a.

Revisão criIninal n. ~I6

Recon'ente- O alferes Julio Sampaio.


Rec01'rido-O Supremo Tribunal Militar.
Supremo Tribunal Federal

SENTENÇA DO CONSELHO DE GUERRA

Vistos, relatados e discutidos estes autos de processo verbal


do réo-alferes do 11° regimento de cavallaria Julio Sampaio;
Considerando que não ficou provado pelo depoimento das
testemunhas de :tis. 51 a 53 que o réo se recusasse a auxiliar
a escripturação da secretaria do 6° batalhão de artilharia de
posição, porquanto do depoimento das testemunhas de fi. 52a
54 se conclue que o supradito réo pedio dispensa de fazer o
serviço para que fôm nomeado até solução á consulta que pedio
permis~ão para dirigir ao Sr. marechfll ajndante-gen~l'al do
exercito, consulta referente ao assUl1ljJto, dispensa essa que
não foi nem deixou de ser concedida, visto como o réo teve
ordem de prisão logo depois de ter-se retirado da secretaria
do batalhão, com licença e após a entrega do livro de om·
ciaes, dirigido. pelo commandante que lhe foi feito ~em ob·
jecção por parte do réo. E pelo mais que dos autos consta,
absolvem o réo alferes di) lI? regimento de cavaIlaria Jl1lia.
Sampaio, e appelIam. . .
Dada e passada na Crlpital Federal da Republica dos.
Estaelos Unidos do Brazil, neste quartel-general do exercito,
aos 23 dias do mez de Janeiro do anno de 1896 .-Joaquim de Mo·
raes Jardim, auditor.-Francisco Luiz JJI01'eira Jnniol', tenente·
coronel presidente.-Pedro de Alcantal'a Fonseca, major in·
terl'ogante.-Carlos Sizenando Rino, tenente vogal.-Joaquim
Elias Peixoto, tenente vogal.-Antonio dos Santos JJlcllrlonça,
tenente vogal. -Lniz Ladisláo Nunes de Freitas, alfer~s yogaI.
SENTENÇA DO SUPREMO TRIBUNAL MILITAR

Vistos estes autos, etc. Reformam a sentença do Con·


selho de Guerra que absolveu o réo alferes do 110 regimento
de cavaIlaria-Jlllio Sampaio da accusa~ãoque lhe fOI inten·
tada por crime de insubordinação; porquanto, recusando-se
ao serviço para que foi designado pelo com mando do corpO a
que se achava addido, incidi0 na sancção' do art. 90 dos de
-305 -

guerra do regulamento de 1763, revigorado pelo art. 94 do


Coàigo Penal da Armada. .
E assim julgando, condemnam o mencionado réo a um
mez de prisão em fortaleza.
Oapital Federal, 13 de M~l'ço de 1896.-D. Oarvalho.-
Pereira Pinto. - Miranda Reis. (Vencido. Votei pela absolviçãO ao
accusado por não estar pr.,vado ter elle recusado fazer serviço
algum que lhe cUllIprisse executar na qualidade de official do exer-
cito)-O. NiemfJyer-(Vencido por haver votado pela absolvição,
em consequencia de não estar provado haver -0 accusado se
recn~ado a cumprir serviço qlM lhe competisse, como official do
exel'cito).- Ouriques Jacques.-O. Netto.-F. A. de ])fo1tra.-
A. A. Cal'(loso de Oastro.-J. N. de Souza Om'valho, vencielo
pelo mesmo fundamento dos dous votos vencidos anteriores.-
Antonio Caetano Seve Navar1'o, vencido pOl' ter votaào pela
confirmação da sentença absolutoria do Conselho de Guerra,
por í3er improcedente a accusação, visto como as teíltemnnhas
da accusação, assim como as de .defesa affirmaram que o
accusado não recusou-se a fazer o serviço que lhe fôra orde-
nado pelo commandante do batalhão; e, quando se houvesse
recusado, não teria commettido um a~to delictuoso, porquanto
não podia ser obrigado a fazer um serviço. que não é proprio
de official e sim de praças de pret, na conformidade elo § 30
do art. 7° do regulamento approvadó pelo Decr. n. 338 de
23 Maio de 1891, consoante C0m o art. 30 do ReguI. annexo
ao Decr. n. 7669 de 21 de Fevereiro de 1880. A força armada
é essencialmente obediente aos seu!! snperiores hierarchicos;
mas esta obediencia nã.o é absoluta, como a que o escravo
prestava aos se'lS senhores; ella é exigUa dentro dos limites
ela lei, art. 14, 2"' parte, da Constituiçfi.o da B,epublica;e
nillguem pôde ser obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma
COU;;,\, senão em virtude ela lei, art. 72 § 1 da Constitlliç~o
0

da Repnblica.

AcdoRDAM (fI. 75)

Vistos, l'ehtados e discutidos estes autos' de reVIsao cri·


minaI, em que é peticionario Julio Sampaio, alferes do lI"
batalhão de cavallal'ia, negam provimeNto ao recurso inter-
posto j confirmada, assim, a sentença <Í. fi. 71 destes autos,
pagas pelo peticionario as custas.
Supremo Tribunal Federal, 6 de Março de 1897.-Arzuino
e Oasi1'o, presideute. - Figu~iredo Junior. - H. d'f) Espir·ito
mLY~.~ ~
- 306-

8anto.- JoãoPedro.-lIIanoel jllm·tin71O.- João Ea1·balho.-


Ribt'Í1"o de Almeida.-AmericI Lcbo.-Bernaf'dino Fe1·r~im.­
P,,'úra Franco, vencido.-.J1"acedó Scares, vencido. Votei de
accordo com os votos vencidos dos Sl's. millistl'õs (lo Supremo
Tribunal Militar, constantes do accordam recorrido f!. 72 v.-
José Hygino, vencido. Votei no sentirIo de annullar·se a seno
tença condemnatoria, por ter feito applicação do denominado
Codigo penal da arinada,. q na não tem fundamento nlt COlJ~ti·
tnição.-Fni presente, Lucio de Mendoltça.

ISão se conhece da appellação official do


juiz seccional por não ser cabida em vista
da lei. Provimento da appell!lção interposta
pelo procurador seccional. para que v~ a
ca usa, a novo j ury por ter sido. a decisão con-
traria á evi4iencia dos autos •

. Appellação criIne n. :l Z

1° Appellantc- O juiz lJeccional do Estado do Rio Granrle


do- Sul.
2" Appellante-O )Jl'ocltl'wlor da Republica '/to mesmo Eatado.
Appellado-José OlyntllO de Carvalho e Silva.
Supremo Tribunal Federal

ACCORDAM

Vistos e relatados os ant.os de appellação crime, entre


parteR, l° .appellunte- o juiz seccional do Estado do Rio
Gran(\e do Sul, 2° appellallte-o procurador da Republiclt do
mesmo Estado e appellado JOf'é OJyntho de Carvalho e Snfa,
não tl!mam conhecimento da alipellação official uo dito juiz seco
ciowd, vor não ser cabida em vista da lei, e dão provimento
á illteqJosta pelo ~o apppllante, procurador da Rupublica, para
qne a tansa vá a riovo jUly por ter sido a gecisão appellada-
contraria, á evidencia elos autos. ClIstas pelo appellauo.-Su-
premo 'rri,bnnal, 23 de F~vereiro de 1897 .-Aq'Uino e Castro,
pl'esidoilte.-Macedo 8oarfs.- Pereira Franco.-:Pindahiba de
JlúitolJ.-lIfanoel 1Ilw'tinho .-H. do Espirito 8anto.'-João Pc'
dro.-- .AlIIe1'Íco Lobo, vencido. O poder judiciario não pôde
acceumuJar a funcção l'egulativa e decretar que a accusaçao
tenha o recUl'SO de appellar das decisões do jury, sob fuuda·
mento (\e contrariarem a evideBcia dos autos. Si o jury não
corresponde á espectativa constitucional, reforme·se o art. 72
- 307-

§ 31, mas n1l.o convém concorrer ainda mais para o descredito


da instituição, tiranoo-se aos juizes de facto a responf'abilioade
moral de suaiS decisões, rescindendas a arbítrio da accusação.
Dando hoje á accusação um privilegio tão extraordinal io, o
Tribunal n[lO poderá amanhã denegaI-o aos conelemlladas.-
Figueiredo Junior, vellcido.-Be1·nal'dino Ferreira. - Fui pre·. '
sente, Lucio Menclonça.

Nullidade do processo criminal do libello


em diante, por se ter este apartado da pro-,
nuncia, na qualificação do facto criminoso,
não empregando a terminologia que dafine
o crime de Que se trata e dando assim talvez
logar a equivoco nas -respostas do Jury e n~
decisão appellada. que é contraria á eVi-
dencia dos autos. '
Regularisado o processo na parte annul-
Jada, são os réus submettidos a novo julga-
mento.

Appellação-crilll.e t .... 13

App( llan~e - O procurador seccional elo Estado do Rio


Gronde do Sul
AjJJlellado8 - .1IIíguel Alve8 de Om'valho e José Ccunarchi.
Supremo Tribunal Federal

ACCORDAM

Vi~tos, relatados e discutidos estes autos de appella..


ção pelo procurador seccional do Estado do Rio Grande
do Sul, interposta da sentença proferida pOl' decisão do jUl'y
feclel'al, que absolveu' os réus Miguel Alves de Carvalho e
Jo~é Oamarchi do crime ele terem usado ,de estampilhas falsas,
sahcurlo que o eram e vendendo-as como verdadeiras, pelo que,
f01':1 m pronunciados como incur~os no art. 250 do Codigo Penal;
veriticl!:!',e que o libeIlo á fi. 142 e Oi'! quesitos propostos ao
jllrya fls. 162 e 131; quando articularam o facto crimiIlbso,
não empregaram a terminologia que define o mencíonarlo crime
e sim 118 palavras - introduzir na circulação - comprehen-
siva:o; de cl'ime diverso - o de que trata o art. '241 do mesmo
Codigo; - e por essa fôrma, essas peças dos autos afasta-
ram-se da prounp.cia, .dando talvez logar a equivoco nas res-
postas do jury, e consequentemeute na decisão appellada, que
é contraria ás provas dos autos e á evidencia resu\tante dos
debates, como allega o appeIlallte. A' vista do que, o Su-
premo Tribunal Federal, dando provimento á appellação, julga
-308 -

uuHo o processo do libeHn, inclusive em diante, e manda que,


offerecido no.vo libello, de -conformidade com a pronuncia,
siga o processo seus termos legaes, afim de que sejam os réus
submettidos a novo julgamento.
Paguem os mesmos as custas. .
Supremo Tribunal Federal, 10 de Março de l897.-Aquino
e Oast1;o, presidente. - Pindahiba, de Matto8 - H. do Espirito
Santo.-Jofto Pedro. - Macedo Som'es, -Manoelllfu1'tinho. -
Figneirc(Io Juniol'.-Ribeiro cIe Almeida.- Pereira Franco. -
BernanUno Fe!'J'eira.-Jo{io Barbalho. - Âme1'Íco Lobo, ven-
cido. Estando hoje extincta a appellação ex ...officio das de-
cisões proferidas contra a evirlencia dos autos, não pôde eUa
Subsistir (la parte do procurado'r da Republica. Entretanto, é
o que consta dos autos, noi"! quaes o Tribunal annullou o jul-
gamento absolutorio, graças á simples bypotbese de um equivoco.
- Fui presente, Lucio de Mendonça •

. Habeas-corpus :-Concede-se 110 réo, maior


de 14. e menor de 17 annos, pronunciado por
juiz competente em crime cujo maximo da
pena é prisão cellular por quatro annos,
afim de que seja admittido a prestar fiança
e possa livrar-se solto,
lntelligencia do art, 65 combinado com O
art. 304 § uniao do Codigo Penal. .

Recurso de habeas-corpus n. 9I~

Recon'ente- O c01'one1 Sebastifto Fernandes Pereil'a, em favor


de scufilho, o 'l"{wnol' Ulyse8 Fm'nande8 Pel'ei1'a.
Becol'rWo-O Ti'ibunttl c7a Relaç{io (lo E8iado de Mina8 Geraes.
Supremo Tribunal Federal

PETIÇÃO (FL. 2)
Ao Supremo Tribunal FederaJ-Pal'a o Sllpremo Tdbunal
Federal recorre o coronel Sebastião Fernandes Pereira do ac-
cOl'dam da Relação desta cidade, de 8 de Agosto ultimo, pu-
blicado em audiencia de 2 do corrente mez (fi.), em que dene·
gou se-lhe a ordem de habeas-corpu8, que impetrou a favor de
seu filho, o mellor UlysseB Fernandes Pereira, e instruindo o
seu recurso, sujeita ao conhecimento do Egregio Tribunal o
traslado das peças essenciaes do respectivo processo e o auto
de exame de sanidade, constante do documento junto.
O paciente é ameaçado lle constrangimento illegal, di
prisão, que o recorrente reputa illegal por ter sido ordenada
- 309-
em despacho de pronuneü proferido em 'proce~so nullo, ine
subsistente.
E' na verdade nullo o processo que formou-se contra o
paciente, por crime de lesões corporaes, em virtude de de-
nuncia do promotor da justiça da comarca deOaldas, deste
Estado, porque lhe falta um dos termos essenciaes, a citação:
lei mineira n. 17, doe 20 de Novmnbro de 1891, art. 5.
E' certo que da certidão á fi. 10 consta ter sido o pa-
ciente citado !)ara a formação da culpa; mas o paciente ê
menor, filho-família (fi. 12), e a citação ficou incompleta, pois
cumpria que fosse igualmente citado seu pai, o l'ecorrente-
Ord. L. 30, tit. 41, §§ 2, 5 e 8.
Accresce([ue o delicto imputado ao paciente não podia ser
classificado no art. 304 paragrapho unico do Ood. Penal á
vista do auto de sanidade feito quatro dias depois do corpo
de delicto (fi. 5 v. e documento junto), do qual consta-que
das offeusll:s não resultou gTande incommodo de saude, que
inhabilitasse o offtmdido de serviço activo por mais de 30 dias.
. Dessa irregular classificação do crime resultou privar-se o
- paciente do direito ã fiança em caso não iucl uido no art. 406
do Cod. Penal (art. 303).
A pronuncia não obsta a concessão do habeas-co)'pus; são
expressas as disposições dos arts. 9° da lei mineira n. 17 supra
citada e 50 § 1° da lei mineira 11. 72, de 27 de Julho de 1893,
que rfivogaram o art. 18 § 2° da lei n. 2.033 de 1871, har-
monisando as leis do processo criminal com as disposições das
Consts. Fedo e estadoal j e já o Egregio Tribunal assim julgou
em autos de habeas-corpus da comarca de Juiz de Fóra.
Não obsta i15ualmente a concessão do lwJjC(I(;-C01]nlS a er-
rada c1assificàção do crime, devendo-se pe~mittir a prestação
da fiança; e assim julgou o. EgTegio Tribunal recorrido em
autos da comarca de Tres COl'll.ções do Rio Verde.
Por estas razões aguarda I) recorrente o provimento de seu
recurso, a concessão do haoeas-co?'1)US ao paciente para que
possa livrar-se solto ou_ affiançado, nos termos do art. 50 da
citada l~i n. 72, e ex-more, justiça.
Ouro Preto, 15 de Setembro de 1896.- Advogado, Lc'"
vindo Fe1'reÍ1'a Lopes.

ACCORDAM RECuRRIDO

Accol'dam em Relação etc.-Que vista a petição de fI. 2


em que Sebastião Fernandes Pereira pede ha7;cas-co'l"l1U8 em
fovor de seu filho ·menor Uly~ses Fernandes Pereira) amea·
- 31J --

çado de P,1;';,'0 illegnl em C')!l~\.'r!llellCi:1 de pronnuch em


proce~so em que ll:i'l h'l 1'1'0\"(1.8 (la ~Taí'hlade das olfêll~as,
cuja autoria é infnncliuhm811te :ittl'ibuirLl ao lJaciel1Le, e nllllo
por lltW Ler "ido o liW:,1ll0 cita(b para s:~ ver processaI', dllCn-
Jl'.entos qne ill~t~'\lirRm-llll, n?~V),;t<t e ,1iieumentos ministrados
1',°10 juiz da l'i'iJlll111C;i, e l'e:,:p(Jstü:.: do l'a"iente perante o Tri-
bnnal-,dtll!egalJl a i!lll"'Lr:1Lh o1'11;m 11e lwbeos-co!'[il8 e a
expt'ít>:fio (lo cOlltm-:ilnlltlalio (10) pri!<:I), visto qnfl -'(1a,; 1!l'(l':aS
eüllli,l,~~ lHl;i diligenda::: feit:ls SI.' \'t-riEc,a I'st(~r lcgall1lf~ntlj <)
r;jcient~ f.\1jeito á pl'i:'iiiO (; lii'ranlell~') ~':mj) eft'~itil da l!l'(J'
11111lcia plilferiria, SHlilo COllt' mio aO fin~ (los auto" C' ~:"ta a
n.ll:'g·açi\o <1e qnG o r~o ll~l.O fill eit)trlo para 8'j y':'r IJI'oces:;ar.
Cüli~lellillam (> impetrante !las cm.;ta~,
CniO Preto, 8 de ;\::;-;.;;;10 de 18%.- ThfO!lhilo, presi(len~.e
com I'oto.-B:'aulio,--FU'/'c,ja l'illú"IJ, llég-nei a soltura pc'r
lÜü :;:-:1' nullo o fiUn111L11 lO, vi:\tn ter sjiln () paciente rlennlldaao
para \'t;r-~Ij pI'OCP~S<lI', e si l1Ü 1) foi intilJli"l'), a falta é tlevj(la
a tPj' ~e occlütíl(lo ()L; e5tn\' l'oragit!l). - Gama (/CI'q)é('iJ'u.---
elle
Flli presente, rerll{wi!.r,~ Tr)i'i'rs, FOI':!!l1 voto:.; Yencel~t!re:, (I~
S,'s, Llr;;;. juizes Üe lheiu!, Fernandes RIlJtlll,) e AUgU~ito t1l~
Lima.-Bralllio.

ACCORD.Ul (FI,. 32)


Vj:~tos, relatados e discnLidos estes autos Uf' recnr.~11 de
ha7J'Oa8·cl)]jmS, que o coronel Sebastião .Fernúlides Ptm'ira,
par; do mellor Ulysses Fe 1'11 fl lides Pereira, Íntel'pOh (10 aeeonLl'n
d::t Relaçãü do E~tado de Minas Geraes, negawrio da E'O}t\ll'h
do dito lJlysses, o qual, S~l1UO processado por é\~itoria de oft'ell~Rl~
libysico,s pl'?ticadas na pessoa de José Lnií': de Oliveira, esti\.
pronl1lw,iadll pelo juiz de direito da comarca de Caldas, do
referid.o E . ~tado, Co..lllO incurso lias penas do art. 304 § nnico
do cor.. PPllal;
M%trandc-se dos autos adlllittil' fianç~,na form:t (lo Rrgnl.
t':sUuloal n. 613 ele 9 de Março de 1S!)é3, art. 18U, o erime
attJihuido il_O paciente; porqníl.llto,sC'lIdo elJe maiorde 14 anuos e
mellor 0.1" 17 ao tempo do delieto, como Jll'vva com a certi(Hío
de illarh; de fI. 15 v., aiuda Hão exhibida, em razXtO de sua
revelia, 110 juizo snmmal'iante, somente p0derá s')jfrel', em
virtlHle do deseonto pl'edetel'ruillfHlo no art. 65 do Codigo, a
muximd l,r:ma de dois annos e oito me;r,es de prisã') cellular:
. O Snpl'emo 'rribnnal Federal conce<lc proviment.o ao pl'ee
sente recurso e ll1H.n i l" flue seja o pacitlllte admittido a prestar
nança, nos termOi-l da lei.
-;- 311 -

Custas ex·causa.
S,upremo TribunarF,~dtn'), 14 de Outubro de 1896,-
A quino e Castl'o, presid(~ll u~ ,--~ _J !/lel'ico Lobo ,-lIIacedo SOa1'e,Q.
J08é Hygino,-Figueil'edo ,]l1n[OI', --H,(ro EspiritoSanto, Yencido.
~Lucio de llfendonça, Yê11ci(\.il: !,enso que é caso em que, por
lei, não póde ser coneedi(lo i! (I beas,cOl'pttS, e, pois, não cabe·
a providencia do acc,jda11J. <lllctllrisada pelo nosso RE'gim.
interno, art. 65 § &0, __ Jíilí,';!'o de Almeida, -':Pindahiba c7e
Maltos, vencido, p'elor- lllf;~lll'IS motivos do voto do S1', ministro
Luciu de Mêndonça,-J>ereh' Franco,-Bernardino Pen'eim,
·vencido, pelo-s mesmos ft:nua1ll6utos do voto do SI'. ministro Lucio
de l\Ie-ndonça,

Ilabeas-coi'llUS, - Não constitue con_


strangimento illegal a ordem da autori-
dade policial prolLibindo a reunião e
funccionamento da associação politica
intitulada-«Centro Monarchista de São
Paulo» ,

Habeas-corp~s n, 936

Impetl'ante-O DI', JGão Mendes deAlmeida,pl'6sHenteilo


lIIonat'chi8ta (Te S. Paulo:.,·
«Oe1lt1'o

ACCORDAM

Vistos, expostôs e discutidos estes autos de halteas,C01'1)'uS


que o Dl'. João Mendes de Almeilla, por ter sido duas vezes
intimado pela policia da capital de S, Paulo, a principio,para
fechar e depois, para não reabrir o Oentro lIIonatchisia, . de
novo -impetra para o fim de se lhe manter o exercício dos di-
reitos de reunião e de livre manifestação do pensamento, sem
dependencia dô pré via licença da autpridad_e, conforme o art,
123 do Codigo Pena1. . - .
Escusada a ausencia do impetrante, á vista de dous ato
testados de molestia, agora exibidos, e,
Considerando que, sendo uma aSilO-~iação política perrn.a';'
"ente, mas ainda não organisada nos tel'mOi d.\ lei regulamen·
tal' 0.173 de 23_<1e Setembro de 1893, e ten'lo fins iucompa-
tiveis com as instituições vigente .. , o Centro lIfonm'chista. de
_H. Paulo, cujos socios não estão nomeados em parte alguma dos
autos, j!tnuis ie confunde com as reuniões accident(BS e pu·
blicas, detinidas no art. 123 do CudigolPenal,nas quaes o povo
- 312 - .

'discute man~a e pacificamente os nego cios comllluns-, ou oxerce


do mesmo modo o direito de representação, consagrado no art.
72 § 9° do Pacto Federativo-l't',I..JÍ0ü' ,h natureza inoffensiva,
que à autoridade, todavia, póde i!"iJii,il, durante o estado de
sitio para evitar que ellas se tO:'11í.'lH ,tdiciosas j
Considel'ando, outrosim, I.jtlE' iJ;tt'.J'vindo a policia de São
Paulo, conforme ° art. 72 § E" do C"llstituição, para manter
a ordem publica ameaçada COlbt;'.~,: eliknte pelo Centro Monar-
chistct, que é considerado pelo ;Juvenil: do EstAdo. como um fóco
de perigos gravissimos para a exis! euda ou segurança dos po-
deres politicos da Republica, ,.:ujlt dEposição seu directol', o
impetrante, já annunciou,Dltll'clI'.Hlú·ille dia certo, em mani·
festos distribuidos ao povo, não :"= éi\lnprehende como a Justiça
Federal, incompetente para pr0ces~;u' e julgar contravenções,
ainda que em grão de revisão (dem'eto n. 848 de 11 de' Ou-
tubro de 1890, art. 9° alínea 3~ § 1e» , funccionando longe do
lugar dos acontecimentos e despida de todo e qualquer ele· .
mento de pesquiz:a, intervenha, a SeU tUl'llO, contra a policia
. e Governo do Estado, p-aralysando·lhes subitamente a acção e
deciuindo de plano, com qtiel.Jra da fé impressa no momen-
toso documento á fi. 14, pelo art. 66 n. 1 ela Constituição,
que não llouve, nem haverá perturuação ou ameaça de pertur-
bação da ordem, filiadas ao referido Centro e que, portanto, a
despeito da falta de lJuLlicidade e responsauilidaele prescl'i-
ptas na lei regulamentar u. J 73, está elle no pleno direito de
continuar as suas ses~ões, sou o amparo da milícia com que o
art. 69 n. 4 do Pacto de 24 de Fevereiro de 1891, ,assegura
a execução das senteuças federaes j
Consiueralldo, em summa, quP, mantendo o recurso extra-
ordinario e summarissimo ue habeas-corpus, ti'1.l qual já existia
no Codigo do Processo Criminal, arts. 340, 353 e na. lei
n. 2.033 de'20 de Setembro de 1871, art. 18 § 1-, sob a
sancção elo art. 207 ns. 11 a 13 do Código Penal, isto é,
como um instrumento tão sómente de~,tinado a pri,tsger a li·
uerdacte corporea dq cidadão cOIÜl'a <] ualqusl' constrangimento
illegal ou sua ameaça. o art. 72 § 22. da Constituição in·
tel'lJl'et'l-se de. acconlo com as citadas leis, e 1l[1O se presta,
apezar da indeterminação elo seu texlo. a ser ampliado á offensa
de todos os direitos, sob pena não ;;ó de abranger a uefesa uos
direitos reaes e portanto a posse dos JJells, o que é absurdo
~llanife:;to, mas de nullificar o mesmo Pacto Fundamental, cuja
mtegra prohibe que o Poder J udiciario, delegauo vitalicia.
mente a magistrados não eleitos pelo povo, se arvore em Go-
verno dos Governos da União e dos E:'iL[o.dos e, pois, elll arbi-
tro so.berano da execução das de liberações ad minh;trati vas 1 pl'O-
- 313-

postas ás exigencias de interesse publico, resalvadas no prc~


cesso da acção e:-:pecial creada 110 art. 23 da lei n. 221 de 20
de Novembro de 1894, conforme se vê no § 70 •
O Supremo Tribunal.li'edel'al nega a ordem ora- impetrada,
pagas as custas ex-causa.
Supl'emo-Tribúnal Federal, 27 de Janeiro de 1897.-
Aquino e Oast1'o, presidente,-A1Ilerico Lobo, em meu con-
ceito, a conce~são da ordem ainda fereria o texto do art, 23
dalei n. 22], por ser originario o requerimento dehabeas-c(>)'pus,
e não se verificar nenhuma das eXCelJç(ies legaes, preliminar
que não foi proposta.-João Ped1'o.-H. do Bspirito Sanlo.--
B~rna1'dino Fe1'1'ei1'a.- .Ioc7o Barbal!lO. Denegpei o habea8·~orJ}lt8
por não ser caso deIle. Pindaltiba (lc Mattos, neguei o habea[J~
corpus por não caber esse recurso no cas(l sujeito,-ManoeZ
MlIrtinl/O, votei pelo indeferimento eto llUbeas-col'pUS, visto como,
sendo este nma gal anUa de lilJenlarle individual, sómente pôde
ser concedido a 11m individuo e nunca a uma pessoa moral oli
juridica, do que resulta que tal recurso, ainda mesmo que
fosF'e deferido ao impetrante, al1enas 11le aproveitaria para prc--
tegel-o contra a comminação po~icial de que se queixa,quando,
entr et anto, o pedi do de haucas- C01'QllS visa um effeito mais
amlllo) qual o de fazer cessar a ordtm do chefe de policia de
S. Paulo, que prohibira a reunião e funccionamento do Celli1'o
Monat'clti8la de que é presidente o dito impetrante, pelo que
llão podendo o nab(j((s-col'pUS requel'ill0 attingir o fhn desejado,
devia ser denegado.- Pu'eira Franco) vencido, por entender
que a ordem expedida pela au toridade policial, infringindo clara~
. msnte o di~l)Osto no al't. 72 § SO da Cnl1stitui~ão, a, assim, ponflo
• o impetrante e os demais membros do ,,,Centro Monarchista» lia-
S. Paulo.em imminente perigo de sl)ffr~l' violencia ou coacção,
por illfgalidade ou abuso de poder, !lOS termos expressos no
§ 22 do mesmo artigo, justificava plenamente a concessão da
ordem requerida de habeas-corpus preventivo. Q mencionado
§ 8° diz-que a todos é licito associarem-se e reunirem -se li-
Vremente, e sem armas j não' podendo iJltervir a policia, sinão
l)aramanter a ordem publica. Não eonsta dos autos que esta
hypothese se désse, para legitimara interferencia da policia;
pelo que, o' direito de associação, que o mesmo paragl'apho ga-
rante tão amplamente,é o fundamento iucontestavel do habeas"
C01'PU8 impetrado, e relo qual votei.-Fig'llei1'l3do- Juni01', ven-
cido. Congregando-se em associação politica, os -monarchistas
de S. Paulo exercem Um direito garantido pela Constituição,
art. 72 § S·. «O CentroMLlnarchisti de S. Paulo, diz, po-
rém,o chefe de policia no seu offieio de f!. 14, é uma associo .
ação creada como objectivo ou com o fim manifestamente re-
314 -

-volucionario, de trahalhar pela restauração da monal'chia e


que, para a consecução de tal desideratltrn, entendeu hnçar
mão ele tO(105 os meios que em seu conceito pudessem concor-
rer para destrl1ir às instituições vigentes)); e, passando a es·
peciticRl' os allucU(los meios, aponta a divulgaÇ.ão de boatos
:;tlarml\nte~, ora de se ter insurgido aq ui ou acolá. a forGa federal,
ora de estlll' 1l1f111communacla com a policial contm o Governo do
Estado, chegauclo mesmo o presidente do «Centro» a iUlllun·
dar,- em manifestos puLlicados pela imprensa, o dia em que
se pretenrlia elar a restauração mOllarcllica, do qtte tudo con·
clue ser o -«Centro Monarchista», pl'los seus fins e meios, uma
a~socja(~ito perigos(\,' para a ordem publica.
Os fins, por mais revolncionario~ que sejam, não tornam
illicita ou criminosa a associação, desde que esta não tente di·
rectamente e por fados realisal-)s violentamente, (Codigo
Penal, arts: 109 e 115 § 2'); a propria policia. do S. Paulo o
reconheceu, consentindo que esta. funccionasse durante o largo
-espaço deccorriclo antes da resolução de prohibil-l. Os meios,
esses, emquanto não sahem do tel'l'eno pacifico da discussão e
doutrinamento, tambem não são iIlicitos,pois nenhuma lei os veda
aos cidadãos individual ou collectivamellte ; antes Ih' os permitte a
clam!l1la constitucional que affirma ser livre em qualquer assltmpto
a manifestação do pen :amento. A notada, tolerancia da policia
indica que outros não foram empregados, ao menos até certo
tempo. Depois vieram os boatos alarmantes e o annuncio do
dia da restauração monarchica; e tal parece ter sido o motivo
da nova attitude de rigor assumida pela autoridade policial.
O annuncio, não se dirá que Mja meio lle opprar uma revolução •
ou de preparaI-a, nem de alarmar a opinião publica pela crença
_ou reeeio da sua realisação no dL1. marcado. Os boàtos, em-
bora reprovaveis e capazes de prodnzir a inquietação no espi;
-rito popular, só poderiam legitimar quaesqller providencias que
dentro da léi pudesfiem sel' tomadas, sinãopara reprimil;os,
- para neutralizar· lhes o effeito nocivo. O que certo, poi'ém, não
podia a policia fazer, era dissolver a associação, ai'lda'quando
provado estivesse partirem desta os boatos. Em p,rimeil'o logar,
na earencia de lei que definisse os abusos cuja existencia au-
torisasse a su-,vensão de um direito constitucional, não é admis-
sivel que fique e8te á mercê do arbitrio policial. Depois, quando
se enxergasse- em taes boatos jlBta causa para a dissolução,
seria a autoridade judiciaria. a Qompetente para decretaI-a,
ex·vi do art. 13 da lei n. 173 de 10 de Setembro de 1893,
llenhuma razào havendo para limit.ttl' esta competencia ás asso-
ciações inscriptas no registro civil }l;t fôrma da mesma lei, üma
vez que não _ha disposição alguma deferind.o-a, quanto ás não
- 315

:n;';('I'Íptas, a (In! I a alltOl'irltlr 1é, p á ,ju<Lch;ria compde.m ('.~;sell·


,~jalmblJte as df'c,:sõei' "ttillt:nLê8 a direitus ill(Uvid!l1'ps. N;clJi i'f3
'll~tiiica :t éxtillCç:10 SlIIlJlllilTi"sillla do «Centro l\iolH\l'ti:j,-tü1'
,0 l!l a l'a:'itO, atlduzida pelo (;]lf'i,' de polida, de ser e::::ta a~so­
:ia(/w, "do seu escülJO, perigosa para a ordem publiciI. Com-
)l~plJe1J(le ·se q ne, pelos pCl igos a q Uf;' pr;dem expô!' o J:1:~tado,
qejnm as aSl'ociaçõl:'s politieaf1, JnOllnenle <\8 afheriú\S Hi' "YS-
;erna de gnvemo in:-lituitlo, sUUll1et,tidas a eon\iil.:[Jt~'" e ;'e~Ta.S
acautel',lori,HI especiaes, dentro das qll~.e3 llm:sa a :Hl'"')I'i(1.1(b
:igir eOlll certa discrel;ão, tanta f}uanta illdispelí~;lVt~i li.'!';! ga"
nUlti a da tranq nillidat18 pu blic;~ ; mas em um p>tiz li Vn\ 1:'130 só
1!6de ser oura da lei. Na falt.a deRta, ('omo se dá filtre nós, a
ael)io preventiva da llolieia nito rude ir alén:: da cOllyeliiente
vigilailcia j a medida violenta de, e!illlÍtlar a (',s"Oti:',\~lO, a pre-
texto das pertlll'lJtlçõe:) que viria a provocar de fntnro, (Iuando
hOllvesse de entrar IJU phase (le 1':~aJI~;J;;ilO do seu i(le;1.!,--e~sal
nií·) liHI':-:a (le llll! aei o de pU! o desJ)I)! ismo. Sendo, por t ;lnto l,~,a­
l';/,'sta fi ilIegaliflalltl do procetlilliAlito da l,úliciri. (it: f3. Paulo
l!ic' c1. com I) "Centro Me,narchista,,., 1\:<"im 1'01110 a CO:-l.(;(;Üi! maÍ/') ial
:,1 ," ) e~,pedi vos so('jns, im l'edid(i~ l){·lcl força de e:x:ercp r nm lillei to
:1~',eGnrado pela Cúnst.itllir)i.o, níw ha Ilegal' a, pnwerlencia do
.i fi 11(8-CO/'pllS impetrado por um dos pacientes, u pr~l'illellte ao

«l ',~ntrú :rüonarc:hista>. Pt!n~o importa uão ter havitlü prisâo on


~\lIi!aç;, fÜnllHI de prhilu ; as nOS"RS leis C'stenllem \) habeas·
"";')'/18 a lodo C'ollstrangimmto illegal nu ameaça delle, como se
verificou 110 act.o qUê IlrohiIJio n, I eallertnra. do «Ceníro ill(11la.r-
d:i::;Ut>" • .Nilo cnllte tanthem (\ objec(;iio de ser o habUls-co/'pU8
um ;eellrSf: protector tão SÓIllente da liberdade physka. A coa-
(~í/l(\ feita. a esta liberdade pôde ~el' .11m, obellecendo ao de8i~nio
elo:. Hlulestar • paciente uuieamente no seu d.ireito de 1L'r,Olhol~üo,
UH :,;er meio de ojl'endli!l·o em qualquer outro direito, como na
éf:ptcie vertente, em que; para levar a effelto aqnella prn!ülJi-
çào, a autoridade policial empregou contra os l'1,ssorj(lllOS a
ameaça de constrangimdlto corporeo, implicitament.e eontida
no mandado á fl. 5~ Não se concebe que, por se t.llrnar então
mais valioso, alí'lpal Hndo, por "ia de r,ollseqnencia, outro direito
do paciente, além (l;t l'llil liherdade pessoal, não a('.IHla a. f:::te
segundo rflso o remedio d., habeas,c01'l1ll8. O facto de nftO ter
o «Centro Monarchista tle S, Panio» os seus est:~tnt(\s inscriptos
no registro civil, de nellhnllla sorte tolhia. aü~ seus membros
o direito de pedirem lwõea8 corpus eOl't"? a violencia que soffl'e-
ramo A insrripção eSlalwlt:dda n:\',' - Ú ! > ' } t1e 10 de Se-
teml.lro de 1893 só é neLi's;;aria l'am d "l assuCÍilÇão o ca-
racter de pessoa juridic[i, distincLa dos 'EÚ~t' ',,,,,, reviE~
tiudo-:). da eapacidi\de civil aetiva e passiva Ila~ l'e!;\(:C'es !:1.ÍTe·
316 -

rentes aos direitos patrimoniaes (cit. L. arts. 1 e 5-); não


deixam, entretanto de ter existencia legal. ou se consideram
lllicitas, as associações não inscriptas (art. 15). Demais, o ha-
oeas-corpus só póde ser concedido a individuos, e neste pro-
cesso figura como impetrante o Dl'. João Mendes de Almeida, '
um dos pacientes do abuso de poder commettido pela policia
de S. Palilo; pelo que' uMa vem ao caso a falta <te personaH~
dade juridica do <!C3utl'G "Monarchista». Cabe aqui ponderar.,
que, tratandc-se de um constrangimento feito aos membros de
uma associação. para prival-3s do direito de continuarem asso-
ciad Ofl , a ordem que a favor do impetrante se expedisse plITa a
cessação de tal c~mstrangiment(l, teria por effeito necessario
assegl\rar o exercicio daqllelle direito, não só ao impetrante,
,. como tambem, por uma consequencia illhel'ente á natureza do
direito assegurado, a -todos os seus cOllsocios. Isto responde
ao argumento formulado pelo Sr. ministro Manoel Murtinho em
s'eu voto acima. Quanto á opinião do Sr. ministro Americo Lobo
sobre a incompetencia do Supremo Tribnnal Federal para conhe·
cer orig'inariámente do habeas-cOrpus requeritlo, não me parece'
tambem acceitavel. O criterio firmado na natureza federal do
crime, couforme o art. 23 da lp,i n. 221 de 20 de Novembro
'de 1894, é visivelmente <leficien te . Nem todas as prisões e
attentados contra a libenlcule individual fundam-se ou tomam
por pretexto a imvutação de nm crime; muitas vezes nenhuma
outra razão teem sinão a vontade arbitraria de uma autoridade
prepotente. Nestes casos, é obvio que, si o facto se prende a
interelSses federaes, não se poderá sllbtrahil' á jurisdicç~o ori-
ginaria deste Tribunal a concessãq do l!aTlea8-éorpu8. _ E' o
que se dá na especie sujeita, onde está em causa um habeas·
corplt8 .. provocado por aeto da autoridade local, como mellida_
preventiva <le um crime político contra a fÓl'ma. de governo
da Nação, receiado da parte <le uma associação monarchista.
- Jlaceclo Soares, vencido. Concedi á ordem impetrada, ex-vi
elo art. 7~ §§ 10, ~o, 8°, 11, 12 e 22 da Constituição Federal,
que assegUl'qll<lo a inviolabilidade dos direitos concernentes
á segurança e á liberdade individual, e consag\'8.m os direitos
ele acção, de reunião, de associação, de manif'e8tação do pen-
samento pelapalavra~ verbal ou escripta, s&lvo sempre o res-
peito ás leis, á ordem e tl'anquillidade ptlblica~ e o supremo
direitl} de lt(l[jeas·corp1:~m caso tie coa(;ão i116gal, como na es·
pecie se dá. SelÍf~ l'id ' r'nlr'" impolitico, incnrial,' injuridico que
-tive8sem os 111811ê\' • . na Republica mellos faculdades
do que tiveram OR, lli,ldlllOS no Imperio; meDOS libel'llade,
meU(,;3 di (;i I" - .. ;. •. i).l'. chtJfe de policia de S. Paulo, na sua
infoJ'_;~., ,:J.i~... :f1c<)l[ os l'ec6ios, ainda mais pueris que
:
-'317 -

phantll.stico~J
da propaganda dos mOlrarchistas para a subver-
são da Republica. E bastava o final do seu officio, resumido.
nestes termos fieis: «Decidi o que quizerde~, que llQS faremos-
o que entendermos, isto é, desobedeceI-o·hemos», para que o
Trib~mal, vindicando a sua dignidade, mandasse expedir a
impetrada ordem.-.tosé Hygino, de aecordo.com o voto do Sr.
ministro FigueiredQ Junior. -- Ribeiro de Alliteida, vencido.-_
Fui presente. Lucio de lIIen<lonça.

Habeas-corpus-Não • illegal a ordem de


prisão expedida por autoridade compet~nte
contra o tutor encontrado em alcance nas- .
contai prestadas em juizo, embora penda de
appellação, recebida em um ,6 etreito,a sen-
tença que as julgou.
.-
Recurso de habeas-c<:lrpus 11. 949
Reconoente-Migttel Antonio Fernandes Ribeiro.
Reconoido- O Tribunal da Relação do Estado do Rio ae
Janeiro.
Supremo Tribunal Federal
ACCORDAlII

Vistos e relatados estes auto3o.e recnrso de habeas·colopU8


preventivo, impetrado por Miguel Antonio Fernano.es Ribeiro,
delles se verifica que o imp,etrante, tutor dos menores Manuel
e seus irmãos, filhos de Manuel Corrêa de Amorim, 0.1\ muni-
cípio de Santa Thereza de Valença, E~Ü1.do ctn Rio (le J;l11e1rO,
na- prestação de contas da sua tntnrh, foi el1eolltnulo em
alcance, tendo sido por sentença (lo rei'pectivo juiz de direito,
em 20 de Agosto de 1896, destitl1i(lp e cOll(lell111ado, sob as
penas da lei, a entrar para o cofre dos Ol"l1Jlãos ou caixa
economica do municipio com a quantia de 4:513$923, além
de 785$675, juros de dinheiros pm seu poder, étlt sentença
por certidão á fI. 12 v.); que dessa sentença appellou para a
Relação do Estado,' re-cebida a appellação em um só effeito,
tendo' sido denegado provimento ao aggravo que interpoz, para
o recebimento em ambos, fi nâo constando dos autos que já' -
tive~se· sido julgada a appellaçã i ; ; que o juiz municipal em
execução da. mencionada sentença expediu malltlado deprisão
contra o impetrante, qu~ disso aggravou e nftO teve provi-
mentoü Reu 2ggravo ; e que tendo impetrado á neLtç,~u nma
ordem d.e habeas,c01-pu8 preventivo foi-lhe denegl> ;i", do qne
recorreu para este Tribunal. .
- :n8-
_-\111"2,'(111, tiara flllHlaHleDtHl' 8CH jlHlido, iJH·()mp(-~tl~I'('i.t do
Jl11Z 1ill!ilieiral que fxpedi!1 a (lnlf:'11l (1(-' prbf({) r fi. lctlt ,t de
justCl c,\n~a. para elb, ac,tre~cent.alldo naH J ~Izi)es dü pn'.:-'f::ite
que IJÜO se lleu I) i\]cilllce, E ('olJ:4i<!ernll(1o fi11P, '-,V-I);
li~Cli)'::W
. rlc~ Hlk. ~~i}5 200 e ;2\19 let.\ra 1, é :.!8~-, eultll';U,iI!::';':, (L~ ld
)1. 4':) A) IIH 1 ilIan;o Ile 1893, d1'_ (o'gci1\i~a(Jt() .ii~.li,~jal i:1.·(10
. li}.. (.",l.;; do Hio, é ine(lnte~kl yel a ('01i1pd.ellC'ict ,li) ,itli~~ iilU',li-
eíp;Ji V.!"l P (' ;:"1) e n[to fSI(l. dt3 'l1 i JrlO alg'Il1l1 IllOyada ;\ 1':l1t:'. de
jnstil ""n~;I., ;lc\.:reRcentalldl) (ln" !!;l. 'lI, PXFCl1i;ll, e 1'1':11\l1.Ziililo
sen:~ eff~,i!.!js !1~gaesJ llma ~enten\a \"alir!a:llt-ntu proferida e que
l'eco"he:'e a ,:'xistpndct do aL~;~.nce, a qnal vigíJ!':t ernqn;:::tu o
Tri1.\un,tl ad ,!aciII (:\ Relui;ã.o do Esti1. !o) nào a tiver ret'''lill:t,io:
i

O SUlli'elli i , '!'ribulJal FeÜe!';!I, tonw.lldo Cll!lltecinwnto ,1,) i'e-


em:-') 1,01' ll.:t,) C'oilsidel'al·', inteq)(';ibi fóra do pl't'ZO ll'~:d, f'm
vis1:, (1,t eenidiio dCl tI, 5:3 V. e art. -):1 ,lo 11e(;rdt) il. o'I811e
11 di, i 'n!l!h:\) de 1880, (l!-llegn. jlltl\'illlPllt<.: a') l't'CIU'/") ::"pe-
tr~l!lo rif~li> 'paeiente ~liglld Antonio Fel'll:I~1,1es ItilJeii'l!.
SUliremo Trlbu'JL\l Ft--den:L 1;) d(;fi'e\"?l'ei:', ,1::jt~~)7,-­
A111lino A (',U{/,(), pri:',~:dt--n!e,-.r()ã() D'fi'/iali/f) -l'e,'(il',i, Fl'ill/('O,
--JJ!crcertu SU"i'G8,-Benw)'rlino TCl'I'einl. -Am,~l'i(:() j,ol;iI, Ir.
üu Y;,"pil'ito Santo, - ]JiU(/,'lti1j'.t rie Jr{/!lo,3 '- HilJei:n d(, .Il-
meid((.- ,Jo17o 1'cdro,-Jl(1noc7 JIiI/li';/w,---.l(lsé HyúíllO.

IlabeaJ-corjiU.),-l~' illcgal a pri.'i'ío do pa-


ciente qllltndo, kvado cm cúr:ta o t<:111 I' ,1 d~
pl':são pl'cventi\'a que sofJ'reu. a('ha-Do jlt
eumprida a rena I.l que foi rOlldci,,:I:,JO.-
Computa-se inlcgl'almentc em p'êlll ! .. ,::d a
prisâo preventiva do iildiciado.- TlIt'-'lii;;t'n-
cia dos arts. (1) c i')\) do Cod. Penal. '

Recurso de babeas-col-PUS 111,961

Re,;rJfJ'!'nte- O j) r, A lber!o de Carvalho em favor ,lo pa·


,~i"ii!(!, mcno/' José P,,·ei,.a da Silva,
i)

j,r('o,'}';;{n-O Coner:l!w Supremo da Cárte do AíI,-,,!l,,~'au


do i.';;jéJ i 'i0 'PcIleral,
Supremo T!'ibunal Federal

ACCORD_HI

Vi:-;tU8, eXp0sto~ e <lí~el!tidos estes a:itos de reGIll'SO, illtAr-


llf)13~(j pc]" Dl'. Alberto Ih Cal'yalho ,\a s{:Hft'll<';". 1,"Ja qu,!! o
Oonse]Jli/ bl1]il'(;HlO di] f_:"rLe ;lc A,vpelll!ção JCl1et}Ol! a ,:'(km de
- 319

habeas-corpus impetrada pelo recorrente, em favor do paciente


seu curatellado, o menor José Pereira da Silv:t, preso em fla-
gránte a 11 de Julho de 1896, e por sentença da Oamar;.>"
Cl'iminal do 'l'ribullal Civil e Criminal, de 27 de Janeiro d:)
coÍTente auno, condemnado a sete mezes de prisão cellnlar e
milIta de doze e meio por cento do valor do . crime, grão
medio das penas do alt. 338 § 5 do Codigo Pen'al;
Q
..
. COllsi(leralldo que a prisão prêvelltiva, comqnanto pelos
seus motivos determinantes não seja Ullla pena; assume todavia
retroacti Vilmente este caractér por eft'eito da sentença con-
demnatol'Ía, afim de ser levada em conta na peúa legal im-
_posta ao condemnado (Codigo Penal, art. 60); ,
Consi(lerando que 111'\1l1 no citado texto, 11em em qualquer
outro; cogita o Codigo Penal da differença, 'sob o pontl) de
vista de illtensidade do soffrimento, entre a pri.são preventiva
e a pl'il'ão eondemnatoria, para que sónlellte com certo des-
falque, reputado compellsativo da maior dureza de·ta, seja ô
tempo dHf}uella computado 110 cnmpl'Ímento da pena"
COllsiderando que o art. 409 do citado Codigo apenas'-
contém lll'ovidellcias tl'llnsitol'ias tendentes a obviar, na falta
de estabeledlllf'l1tos adequados e emqnallto nfw se fundarem
em nUlllero 8ufficiellte, a· impossilJilidade material d<thi l'esul·
tallte em toda a Republico. para execução da nova pena de
prisão ct-lllulal', te, na maior parte. dos logares, para. a n" que
a· subst.itue, de IJl'isão cõm trabalho, 110S estabelecimentos-
l)enitenchlrj, ,~, existentes, sf'g'ulldo o regimeli do Codigo de 1830;
OUIIi'iderando que, ainda quando, 'apezal' disso se qnizesse
ver na cOlJven;ão álli prt:'scrillta tb Fisao cellular elll :vdsão
shnple:-, Culll o Huglllento da sexta parte do' tempo, 11ll1,t (lis~
p()si~rto organica do systema penal illstitnidu pelo Co(ligo de
18\)0, nem aSl:iim se porleria, sem formalllostel'gação da i't'gra .
fundameJltHI de interpretação firmada no art. 1°, segunda ,
parte, alllplinI-:l a pretexto de Rllal0gia e com aggl'HYaçi"\o da
. SOlte dos J'éus, a e~pecies não compreheu(lidas no texto, pl'ati-
r.an(!o coma prisão pl'evt'\utiya: 110 (~aso do art. 60, a o!-,el'ação··
.Í!~versa áquella conversão e at.é 110S logares em qUE', como
,~ç'~edt'> Ilest.a capital, mesmo com relação á pri:;;ão pemJ,
não é admií'sivel tal conversão ex-vi do ,projnio art. 409, em
razão de .poRsuirem estabelecimento penitenciario pura o
CUllllJl'imento da pena de Illisão com trab,tlho ; -
Considerando, portanto, qne, nada autorisando o desconto da
sexta parte, até agora praticado, não se pÓde d,1!' aOR termos
irrestrictos do art. 60, do Codigo Penal outra intelligencia,
sinfto a de computar-se integralmente na lJena legal a priSttl)
preventiva dos indíciados ;
- 320-

CÜlisilIeranrlo qHe isto mai:3 inconte~tavel se torna á vista


do <,-;t. T.' tIo decret<) JI. 77-1 (10 ~o de Setembro ele 1890,
que, lliLo oustante vigorar ent:lo !) art. 49 do Couigo Cri-
mÍtl<ll de 1830. Oll.:1e se ,~:ltauelecia para a conversão da
prisãu com traballlO em plisiio sinJple~, regra igual;1 do art. 409
do COLligo vigente, 1l1,wJ;1"'ct, pam completar o tempo da
ljl'Ísil.o c,olH{emnatol'ia, adJki,)l;U,' (lO já cumprido pel l ) ~\J:hlem~
w'.Go o da prisão preyentiYd, ]lor elle soffrida;
C Il1Bideranl1ü que, exce:l'~l~,l() da missão do executor a
cOlTecc:ãú da lei, lleLO j ustitÍl'flm di .. ersa interpretação as des-
igllal'lnlles eomparativa;:;, a qHe em r.erlü" casos particllhr~;,;
üê LgtU' a Íntell,1 e0!l11 '11tal;i"\0 da pisi"lo }Il'e'lentiva, (le:::i b nal·
chde-s 'lue resnlLun, aliú::I, li,t im~erféiIJ\o ine\'itavel em toda
obla legisl::J.tiva ; .
Cvusidt!1'1UliJO, fllliilmfmte, Ilue a pen:t impos~a ao il1v~iente
ncon eUllllll'i\la em 11 <le ji't3vereil'iJ nltimo. leva(~o em r:Clllta
o teiLlpl) da lJl'Ísào pre,-entivit pur elle sOifri;ia,e que, ·id,\t"lltO:
illeg<ll ~e tornou (1esde en~~w a ;,UR (~('!;:.;erv(l.çií.() em l'rhqo;
Piir estcd fUlli1all'::.nt,,') e (li5r'~I]5:ill<lu, por "e (ll~hal~m
sUPPli()v; eo;u o (lIlcm,iemll uli'erecÍ,ll) [leiO impetrílute 8 a in-
f UU1]<tçúo do direci,or (\", ('a;:~t de COlTecç~.I), os e,~cl,1,n;cil11en­
(OS exigiaog <lo pre;,i!len to:; dll. ('amam Criminal (Ie 'L'ribllllal
Cir!! p, Criminal e ;;;í~!': ll,lJ:ivos j htiíieado:-i nãu prestallus :
Accorllêi.m dal' pl'lhi!ll-::I\tc) au 1'~\'llr:30, lJ<!l'íl. m tllil)u' que
se5n. ht cO·I·~tZn€nti pú~tu '~1l1 IiLtl'd~lde (, pH,~i01lte, si 1/\.)1' alllão
e:~tÍ'.·c;.í preso.
,"i!iureWv T!'il,ilIlal Feileral, ::; üe ~larço de 1897.
--AQu.illo e Cc.8lro, pl'tsLiente.-- Figneii'ellrl Junior.-- .1Jtwedu
8oaI1'3.-João Redro .-Ribeito ele AlmeicZa· o - 11[(()lOd MuI'-
linlco,·--Juao BaI'7)alhú.-José lfygino, V61icitlo. _- BenLO.nlino
FeJ'i'ei)Oa. -- .Pe1'cira F1·anco. - l)iJt(Zallióa de Mattos, YGncido.
- l i . do Espírito Santo, vencido.
Fui voto vencido o do Sr. minb;tro Amel'Íco Lobo.
·.:}:.~~,'o commereial-A appellaçã~ illterpo~tada deciSão
.. y,~::~~êf;J"!llga os embar~o!! OPP09tos em 8,cçao deoendlal, aó é' rece-
. :.~)', ..~~,~~: ambos os ~ltelt08qu8:ndo el~es lio julgados provadoi~, 23l
<:"""' :.l!}Ill~~tgo em naVIO estrangeIro. Navio estrangeiro 'póde'ser .
, :; - e.bll'!'Ji:ado por. faltas na e!1trega da carga. InteUigencia do
':; ·~t~6~ed~r~~:II~~erC~~~~~~I~iie"c"t~~d~ .~~ q~~~ti~~"d~;id~~, .
.' pôt':~pradore.s de carregamentos de navios, não s6 porque
·o;,:e-.,l:iargante.".na qualidade de celsionario não se mostra 4evi~
dAJn8IJ:fê h~bhrtarlo para requerel-o. como porque a obriO'ação
·áW~bu{da á embargada não é divida certa e fundad: em
prlN,Hitteral, que possa aut~risar essa medida asseouratoria. ~ 240
- ~()!..à~ aggravo o despacho do juiz que recebe pa!a discussão
. O1I;e~bargos relevantes e provados oppostos á acçao de seguro
'~Ôl:'Wid se pede o pagamento da importancia de parte das,
p~!~gens de immigrª"ntes fal1ecido~ de morte natural, em
'vi~el~t.da Europa para o Brazil, porquanto a responsabilidade
dª'COU1yanhia seguradora, em vista da apolice, á limitada.à.
irtaemnlsal;ão de prejuizos provenientes de fortuna e risco
. do'. ijlaí.; e quando mesmo o contrario tivesse sido est~puláaO,
. ;" .éft:ã 'Mssa parte inlubsistente a obrigação e nuUa a respeotiva'·
.,.:. 'apólice": .......... , .......................................... ;. 241
-- SegutQlnaritimo sobre valor de pass8gens de emi~ranteB a
'eli)~.~rftar~m na Europa para o Brazil.-~esponsl1b!hdade d!L
, :..O,omP!l~lla Be~uradora pelo dam.lio provemente do nao cumprI-
~ent9 ela apohce, por facto alheIO á vontade do segurado, como
. ·descb.idiecimento por parte d'elle de acto do Governo do Brazil
qtlifp'iohibia a entrada de emigrantes vindos de portos estran-
'g&ir~.,.QÍlde grassava epidemia .... , ......... ' ................ ..
v.~' lf;e~ó.nªabilidade dos conductorea de generos e commissarios
'. de t.porles pela omilsão ou culpa de lieus prepostos.-Abah-
, 'dotifi ,d~'navio. Intelligencia do art. ~~ e do art. 494~ parte
Q:3~~deC~~a~i~·s·.~· T~~~'~~' ~~;. 'q~~' 'ci~~~' ~~~. ~~q~~~{d~ .~ 245
·el:l'e.ct:t1ada a vistoria para verificação das avarias ........• ~; ~ 246
lmpro<;adencia de acça~ proposta para indemnisação do valor
d~'lim~~~rreg!Lme~to perdido, pOl'motiv~ ~e naufr:a&"io .do po~tão
QU80 conduzIa, Vlllto provar-I e que o Sl/llstro fOI aevldo, uao á
llulp8.\dá. compar..hia secionada, proprietaria do vapor que..
rebQcií,ya o pontão e que deUe separou-se por se terem partIdo
~ amarras, por effeito de temporal, mas sim á força maior.
Cóntracto de reboque ; principios q'.1e o I'cgulam ....•... ; .... - 247
Pi'Qoedenoia da appellaçáo interposta da sentença que julgou
nullo ~cfproces90 em que o appellante pedia indemnisação de
per.d!l~~~, damrios, conaequentes de abalroação, com o funda-
mentfde que, devendo o damno ser pago pelo navio abalroa-
dor. cía.'contra o dono do navio, e não c')/ltra o capitão, ora
appeI1ad.o, devia ter corrido 3: acção. A relponaabilidade do
propóneJíte para com terceiros, pelo dolo ou culpa do preposto,
nio·.elidO a que para este se origina do facto proprio, cabendo
ã~' teÍ'!léiros o direito de demandar pela reparaçao do damno;
.~Ii.to. :à"um como a outro, ou a ambos conjunclamente. Na
·)6SPQQie;:é. ilatente a imprudencia ou incuria do capitão. O pro-
·teatõ';'l'atiHcado muito depoil das 24 horas subsequentes, não
itiduz ·nuilídade da prova testemunhal produzida no processo
'dê:tàtifteaoão, e o. sinistro, independente do protesto, peSde
$er ~provlldo por todos os meios de direito. A.o capitão corre
,á otirigação de indemnizar o damno cauaado, sendo neste
"lie,utido, reformada a lentenoa e fixado o valor da indemnilaçio. , .249
Questão' de seguro maritimo com grande fundamento no
. arl;/ 61)3", combinado com o art. 694 do Cod. Comm.,· e não no I
art. 700, Só mente applicavel quando se prova que o 8egurado
. pro:cedeu,com fraude. Condemnaeão de custas pro rata. lntel-
I~\, lig~~bJii. do art. &51 do Decr. n. 848 de 1890 .•..••.•••• , .••.••• 251
. l-., Da~#o. causa~o p~r aba~roação de navios. Desnecessidade de' .
, I · .pr'l1Q ap.bitra, "en"G •. , •• , •..••.••.• " ••••••.••• "'" •••••••••••. '. . 252
- Ille)ntiJl)ldádi, de ac~âo resGÍl:loria ,,:>are annullãoão de senten(!a.
:, decfaatOI'!!1 de f;WenciQ. fundada,em impontualidade depa~
;"t.,-
!!'a21(;~jt~) de letY~;:3. que fn::J:.-' n~{)L:\'hrlf) um arres~'o p~"~\i~nti\'o
âll co;npeteute r,,'Ç:~o dec;!idi"rla, roi po,~ter~orment,e de, isticla
pel,' ('.'('dor, e, r.eôse ;"[",·j'll. foi "eql;erid~ a fallen~ia pelo
('uratior tias m[~!-~f:HS ftUid~-lQ., ~ a .............. ' ••• '........ ••••• • 2~;i:
Jur~'ilHeçà() c1!'iminnl--:\ào ,;,; d:'( ("lmplirililrj.,' cl'imin;tJ quando
o concurso que :. c')!;Eiitl1<? t,lão é pr"3::o<dc ·..!olosame!J[", i,;to
é, eorn sciellcia e i.:Oil seienCl3. t1 () (:!'1 !:.rlC ............ ' .......•. ~ :200
H.evjsão de processo (~C rr.
Úljl):".:..,:.; \'1. ~;'t'~."-,, E' I'CfO;;~12db. 3.
Selltença cOlldemn9tOI'l~. l'U!'''' 9:1·~ rre':~:sr,a
a ab!wlutoria
proferida. em l' illstU!lC,ja. \iGiQ.ia ti,:, ~,,,ta j''1.'isado cmjnlgad(,
quando foi intprposta a appella,;ão l'or r.:leio (li. qual foi o
querellado eonde:m;?do .. ,., .................... , ..... ,....... 3(12
Applicação dos Artigos ~e 'C.iner;'a c do Co(liJ0 Pena! da
Armada •..•... " .............. , ............ '.. ..•.......•.• 80·1
Não se conhecI) da lipp,,!la,;,i.) atíleial do juiz 8ccciunal por
;lão ser cabida <OI.... vi~ta dH le'. Provimcr,to da appellaçto in-
terposta rol:> proc:uaàol" ::Iel:cion:l.!, Pil!·:J. que vá a (!!lUSA. a
novo jury por tcr "ido li .](;cisüo cont.raria á é'lidereia dos
auto;'; ...... o....... , ..... ' o.............. ,....... .•.......... :~Qó
~uI!idade do p:c,ce~'~(J '::;III;;:rÚ lL, libello em diante. por ~o ter
este apartado d/\ pl·(;lilin";ll, 1l:~ qüaliÍh'!icão GG fuelC' criminoso,
não ~nlpreg(_'nür a b-;Lúiuologi:l que ãeline o cr:rüB de. que se
trata e di:.1I10 %sim t'.;"e/. ] cJ,zca J' a et;oivoco lla~ '·I.·')lon?.s do
Jury e na decb:lc; ilPr:.:!!adc', que e (lodraria á "YiJ(!!'.=ia dOr!
autos. l{.egl1h~:,adl' o processe, Tú< p?rtc b"null~(ü·, 520 os
rJus grrbnH?~rd'J:~' rt ~oi/D;nlg."1:l1t.lr,:,:)",.",~".,~., , .. ,........ 3(/j
l-rai;lJo~-Corl!us ~--Co:lrlede-'.:e ,tO r't;·:.,' nU!10r" de ~; f~ rn?fiOl" de
17 ann')8, prc":J;,dad0 pU>' ,illil (o.lil'clçnte é,n CTir;lé' e\ljo
mnximo da ,penft, f~ D!'iõ:.ão cpl1·,lJ.r pDr q,uitro íJI1~O.:! aÚm de
que g(~ja admH.tido ;: presLa.;-" 1iHn(~a e pos~;~ ijvr~r-"e solto ..
lnt('~ljgeneiá tio art65 Cl'f(lb!!!:ltlo CO!,-, CI art 30·1 § Ul1ico do
Codigo PcllHl ..•.......... , ...... " .... o •••• " •• , . ' •• • • • • • • ••• • :30-;
Habeas-('mílll.~.- :";ii.o ~(,:,,·,titl;P COJ'~t~"w:',!mer;to iJIegal n
ordem da aUlo!i~.1je pOlie",; pro!~:J..indo 11 ,··~m:lÍíl() t1 ú:;lccio-
namento da &ssoeiaçiio Dolítio:', lDtiSuli\dá--~':elltro ,Monardlist~
de S. Paulo» .......... ~.................. .................. 3Jl
J1abcas·cm·p~!s-~:''íio Ó 'l,eg"l a ord'J'l' ti" pl'l!';;,o expedida por
auiorida(.J eOIDpe:entc cúntra o tutor en~O!lL!'ildo em alclince
nas "OLta::~ presto,·Jas ',m j\lízo, "!'l':,Or:l. J",::dn de Hppella~ão.
reoebidaem' um ~r:, etl'eit'l, a sGnLeJlçl! que as jl1 lgou. '" .. ' .. 3,7
llabeas-corpus .--E' illegrd D. prir,ã;.l do paciente quando, levado
em eOüta o tempo da prieão l)l';;veJltiy~ q,ue . som'eu, acha.. sp.
já cumprid!l i1 pena a que foi (,olld"'!~}!i(l<iú .-Compntu-Ie int.e-
gralmente em per:ó. kgal a pr:s'iio preven~i"r. do indiciano.-
IntelJigenéia do~ arts. 00 e ·íOY do Cori. Pent>.J... ............ 318
~:1
DB .~. ~
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LE(Ü~t;\CÃ()~ UOl"t'I'UINi\ E .JLRISPJlUO-ENtL


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, .' - ' 'REDACTORES. '.' -.:1
.Con8élheil'o 'J'1'i~tãO de, Alellcw·IDr. _A 11(0.1110 Joaqtt-i1~1~ de Ma,'~,~lr
. 'Araripe, lHi nistro aposell tano Sow'e8, Ministro do .Supr.enl'
doSupl'e'mo 'l'l'iLHllial Ferlel'lll. 'I'l'ibllllal Fe,deral. >,~
.. Oonselheiro Ol~gctrio Herculano IDr.
Manoel ciem~nt-ino do lIlQ~::
'. rteAquino e Ca8tro, Presidente I Advo~ado._~,
'dÓ Suprem o '!'ribu !lal Ff'lleral. Dl' . .Toão J08~ do },f~nte,Ad"Og1~(
-
::.1

AnnoXXV--Vol. LXXIII ~.:. N. j~" _ ", L

15 DE JULHO DE lB97

PFWPR!EDAOEOO OR. JOÃO JOSÉ DO MON,TE

... ~ .
RIO DE ,JANEIRO
Papelaria ,e TYP. MONT'ALVERNE-R. DO OUTIDPR; 82
4' ~- • • ,.

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~...... ~~-,,:'--::.,.- --_.;....'-----;....-·-..-..."---'-;;'O"'.......-~>·,..;;....·-.,'"''''''~·IIIlii...~. .


- . ...

:8 TI MM A fi. 1'0-'

jUl~18P t..tUD~NOIA

~urisdicção ci'Vil-Sendo a exb'acçiio das loterias geraes 6er;,.·:~


'0' viço a·cargo da União, e eon?tituindo renda orçamentaria o,,".'
legilimps proventos della (lelluzidos. é incofistilucionál o actQ:"
do Gnverno dos Estados que prohibe a venda dos bilhetes'
no' respectivo territorio por falta de prévio pagamento de,.;'
impostos estadoaes.- Em tal caso, os gstadOR, além de serem"
privados da quota beneficiaria que lei t'edel'al lhes tem :Iesti~
nado, ficam sujeitos a indell1llisaçào para com a Companhiá,
ou einpreza j:lue, em "irtude de contmcto com o Guverno dª"
União, esteja encarregada do refel'ido servico. IntellÍlzencia dd.:-'
art. 10 daConstituiçào Federal e do art, 24 § 30 da IÉ!i n. 42~'. ,:,~
de IQ de Dezembro de 1891\................................... ~':; ._.'
-- As cartas teatemunhaveis tiradas por denegação do l'ecurs9'
extraórdinaJ'Ío para o Supremo Tribunal Federal, de~idamente.
instruidas com o trasladu do:,; uutos. devem ser proeessadru..
como o são os recurBO~ extraordin<lJ'ios. nüo se lhes appll;
caIido o disposto no art. 9:) do Regi mento do mesmo Tribullak
. õ· qual se refere ás cartas teslelll'Jnhaveis por denegação dó ./il'6:;.
recurso de aggravo ...........................................',' ._.~~:
N:io é pi'ovido o aggravo quallllo o damno em que se fund:&.·
nbo se .acha cOroprehen.iilTo na disposição da Ord. liv. 30.~
tit. 69 pl·. e § l°. O .inil. a quo. quantlo houver de manter o.'
despacho de que se aggrava, dCl'erá dar as razOes de direito~
em que ~e' funda ......................... , ..............•.....•..•.
E' caso de ag-gravo o de~l'aclto de.i niz rederal que rejeitE!--,
in liminp. a petivii.o inicial de acçào intentada contra o governo'.
municipal para nullidarle 'de contl'acto feito COIl1 a respectivà .
administração. A accão. neste C:1.'5O. é ordinal'Ía, 'não (lodencto.
ser incluida nas enumer'adas no arL. 1:3 da lei n. 221 rle 1894.'
por não tratar-se de acto de autoridade admini~trativa dá
União. Intelligencia do aI't. 117 do Deer . .n. 8-18 de 11 de
Outubro de 1890 e ,{o RI·t. 51 li. G letra:; da lei rI. 2'!1 de.
20 de. Novembro dc 18~)! .................................... ; ; "
Conhece-se do aggravo. ernhora interposto de outI'a decisão de.
aggravo, s6mp.nte qnando o I\wrlamento .continua a ser a in;-:.
coropetenciade juizo. expressamente allegada antes da. decisão.'.
recorrida: ......................................................... .
,-- Não cabe aggl'avo Úd, dcci-;üu qUtl I'ejeita a exccpção de illegI~.
timidade de parte ........ : ........ , ......................... 0-'
.- Da decisão sobl'e a excepção âeclinatoria {o ri. mesmo recebida
e julgalla depJis de dbcutida, cabe ag-gravo. O compl·omisso.
de respondt)l'por algum negocio, ou de pagar alguma di vid'lI •.
. em lugar determinado. importa a renuncia do f()ro uomicL-
liarioe a olwigação de responder no do contracto ........ ;.~.' ·346
Casamento civil celebl'acl').in e:.clremis sob a fÓl'ma testemll ô
nh~l: requisitos pa ra a sua validade. ht~lli~encia dos arts .38:.
e 3" §§ I e 4 <lo Decr. n. 181 de :!! de JanClro de 1890 ...... ; .'
Não é caso de reClJl'"o extl'aOl'dinarlo a decisão proferida peta;'
justiça estadoal sohre n:ateria attinente ao exel'clcio de fuilCf~
ções legislativas e arlministl'ativas de uma Camara Municip.al •.
nãosen,lú posta em duvida a validade ou applicaçd.o de rei
alguma federal ou a constitucionalidaue de lei o1stauoal.• sobre
cujos pontos se tenila b:ise.luo a decisiio l·ecclrriLla .... '......... ~
ESTUDO JURIDICO

DIREITO CRIMINAL
lJO LEN0CIN 10 ('i')

I
Ensinam os escripte;'c's qtíll Lenocini(), no sentido jUl'idieo,
exprime acto dt'sllOlIe::;(.I~ " e;:ped:,-bente indica os aetos pelos
qUlte~: édguem ~e colloca éilLn:J 11u;ls peSS0<1,8 para fazer com que
UW<i, ae0edü. aO de,e,;D \':all,tl ,ltL outra ou para Ül.cilitar e
<t\lxiliar a J\~idj;a(:ito du., l\;(',il'l'üCOS desejús~ preexistentes em
.(muas. d", c'~~ e,lul18l:en:lll l:ül'llalmente.
Os Ltt.iJ!')s I.le;:1S;"n'W'l!i1 COLl <1. palavra lenociuio estes factos
qHe !lO (lÍt:er tte .,:J'fl,' Fre;l'c~ (TlI~t. Jll'r. (!1'im. Lus.) § -XIV)
C01!~;UtuGm Cl'i!)(r ;1, ildC:itil'/l') II./;~ ct OlCllt 1I/.a:âmo humuni generis
li dI' i iII 1!1l to CiJ1l) ltnctl! I:; •
Elltl\'. eIllpl'egada quer no
~;()~ :~ n:I'~'m[: l~~.~:i::;1\,~J'.l! L,i
CO(l. Phl. ,~~l 1 :.;~):l, qÜ"1 He,; I)t"i}~\"ti::~
(le 1803 t de 1896.
No ellli:autu. :; OJ'd. do Liv. ~) 1'iL. 32 llümêa-os pela
il:lhVl'ií alcovilm'il., cnjct, tt'<t:hle(;.o serve vulgarmente, em hes-
p,W;IOJ, pan>, indicar P. l!1e~;'!il', cüHiia, 1üiás tambern expressa pelo
i1.11ntlilll) YO(',;\ l.11.l1o---1811ociEÍü--G p,lJit pa,la vra --pl'oxenetismo-,
qu,: (!, Academia J-LJspal:llolc. <tÍiilicl, lli\.O admittio, mail provem
do grego pl'o:vclleié8, ÕU--llU2- 'i l~81' diZGl' negociador e é usada
na terminologia ::;c.ientilic'l, em Fm!\ça~ ,.I 11(1 e ~ml>stitue a. ex-
pressüo vulg-a\' ?J!([!jUC /'el! apc.
O termo-!::l::jí.'iuiu-'.ÜÍ empregado POl Mello Freire em
sen COIl., Or,lIl, 01lC'JIltril-;.ie no iUlt.igO e no model'llo Cod. Pano
POl'tuguez, a:~;:liHl ':ClllJO liÜ ili.VO CUd.P611. Italiano.

" . (') E:'ite bello éstUI!'J. !lubli,~;\(lo lJO Jornal' do Com.mel·cio, foi-nos
(ll\~o pelo soa illustro :,nLOI', que l'edio'{\úi:! o tl'a,slada&semos para O Di-
;4Cl-lo. o (lUe t'a~c!!los eC'l_'~ ~~~J·.s:'~Lt)io~
(DI,lüm.,
DIR. VOI.. 73 ~l
- 322-
E' manifesta, sob :) primeiro f\l,pe l: , ,:dor grayirlade
do lenocinio, que, ~m qualqu01' 112 surs fôrmae, é sempre um
crime hediondo e revoltante, cujo opjectivo reside nos costumes
publicos " na moralidade social. Mas a systen1atisaç1i.o das forças
'organicas de semelhante crime tem sido grandemente contro-
vertida, quer na doutdna, quer na legislação; resultando dahi
fllmolla divergellcia no tocante á sua. formula scientifica e legal.
No Brazil o Cod. eriro. de 1830 omittio essa q\lalificação
delictuo~a, mas o Cod Peno de 1890, e os Projectos de 1893
e de 1896 previram, na expressamente.
O Pl'ojecto de 1893 copiou o novo Cod. Pen. italiano;
inlorporando, aliás, em uma incriminação sujeita á mesma })e118,
não só a inducção d p"ostituição e a excitação á corrup,llo,
como tambem o fav01'ecintento e o avxili. nesses factos. Por
isso, em face do alludido Projecto existem tre~ lispecie!l de
lenocinio :
1a especie- Induzir á prostituição, excitar á corrl1pçlio,
favorecer ou auxiliar nesses factos, afim de servir, a libidi-
nagem de outrem, uma peslloa menor de 21 anIlO$ (art.. 294).
Considera-se aggravada essa especie do lenocinio e maior
pentt lhe é comminada se o crime é commettido : ,
a) contra' pessoa que não tenham completado 12 annolj
b) com engano;
c) por ascendentes consanguineos ouaffins, pai ou mãi
_ adoptivos, marido, tutor ou por outra passoa a que o menor
tenha ~!ido confiado em razão de tl'atamento, educação, ins-
trurção, vigilancia ou guarda, ainda que temporaria ;
d) habitualmente; ,
e) com o fim de lucro (art. 294 § 1-). O concurso simul-
taneo demais de uma das referidas circumstancias aggrlvantes,
augmenta a duração da pena, restrictiva da liberdade pessoal;
ha.vendo no caso do fim de lUC1'O e do habito tambem a pena
de multt'i de 500$ a 5:000$ (art: 294 § 2-).
2a especie -Constranger com violencia ou ameaça o
ascendente, coIisanguineo tm afim, o marido ou o tutor, a.
prostituir-se o descendente ou a mulher-ainda que maiores
ou o menor sujeito á sua. tutela (art. 295 princ.)
3" especie-O ascendente ou o marido induzir, com engano,
á prostituiçãe, O descendente ou a mulher (art. 295, paragrapho
~~. .
i~os casos dos arts. 294 e 295 a condemnação tQrá por
effeito em r9lação aos ascenoentes a perda de qualquer di'reito
que em tal qualidade lhes seja concedido pela lei sobre a
pessoa ou bens dOR desce11<lentes, em prejnizo dos quaes tenham
CO'illmettido o crime, e, em relação aos tutores, a remoção da
-323-

tutela e a exclusão de qualquer outro offieio semelhante


(art. 298).
Convém assignalar o caracter supplementar desta contiga-
ração delictllosa, qualquer que seja a sua especie. Sempre que
no facto primordial, em que um indívidllO intervem, COIllO
proxeneta, desenha-se um crime distincto e autonomo, :PÓ:l' .
'suas condições intrínsecas, em face da lei adaptam-se os
lineamentos do lenocínio a verdadeiros ~,ctos de c1o\mplicidade,
em cujas penas incorre o delinquente. '
Esse é o ensinamento scientifico, que Carrara (Pl"ogt'.
Plu't. Sp. voI. VI-pago 67) apregôa como uma das applicaÇ.ões' .,
racionaes do criterio da 1)j'evalencia no diagnostico juridico
penal. .
II
Na l" especie do lenocinio delineam-se dua!!! figums
distil1ctas. A ausellcii\ de qualquer das. mencionadas circula-
stancias aggravantes CRl'acterisa a I'" figura. A superveniencia
de II,lg'uma ou de fllgllma.s das mesmas circumstancias impriml~
á 2a figura o seu caracter dilferellCÍal.
.À 1" figura contém, portanto, elemantol positivos e
elemetos negativos. São elementos positivos da 1a figur~l:
a) induzir á prostituição, excitar á corrupção, fa vorecel'
ou auxiliar nessl's factos;
. i) &fim de servir á Jibidinag~m de outrem;
c) uma. pesl'loa menor de 21 a n l l O " . _
Os elementos negativos da P figura são uS seguintes:
a) não ter completado 12 annos a pessoa prostituida,
. corrompida ou a quem se fa vorecell Oll auxiliou na prostituiçã0
ou na corrupção; .
b) não ter sido o fãcto commetido com engan@;
c) não o ter sido com abuso de autoridade resultante-,da:-;
relações especiaes entre a victicma e o o1Iellsor;
d) não o ter- sido habitualmente;
e) não o ter sido com o fim de lucro.
No 1° elemento positivo da la figura desta especie do 1e·
nocinio deparam-se mod.alidalles diversas, constituidas pelas
circumstanclas :
1. o de induzir á prostituição;
2. ° de excitar ú corrupção;
3. o de favorecer ou auxiliar nesses factos.
Na P e na 2"- modalidade, as palavra:;; indnzir e excitar
revelam claramente o acto do criminoso. Este se constitue ll,
causa determinante da prostituição ou da corrupção; eUe faz
-324-

nascer na victima o pensamento e o desejo de prestar-se á libi-


dinagem de outrem.
Na 3~ modalidade, o dSIÍül1nente é, apenas, a causa occa-
sional da prostituição ou déi eorrUl'çii.o; elle fornece a esses
factos a necessal'ia OPIIOl'tmüda.de ; elle é meto auxiliar moral
ou material.
. A linha que Sepétl'il ala e a 2& modalidades da 3a con-
funde-se com o {'ff;.-:ito da acç~o criminosa. O mesmo facto
pódt1 f'ervil' jl;ll'Cl iwlilzir ú pl'o,:Utni\(ii.o, para excitar á cor-
rupção e }H1t'êt . LdliLal' eU auxiliaI' na lH'ostituiçào ou na
con·u11ção. ':f.1udo depende uas eOli(iÍções particulares da victima,
que está, ou não, corrompi(la, (llH1 está, ou nãl), prostituída.
O favorecimento e o auxilio resultam de qualquer acto
pelo qual o criminoso haja dado- ao offellsor o meio de satis-
fazer a sua libidinagem e á victima o meio de se corromper ou
de se prostituir.
E' difficil apurar com segurança os actos constitutivos do
favorecimento ou do auxilio. BJanche refere o caso de Guilleux,
proprietal'ia de uma casa 'habitada exclusivamQnte por proilti-
tutas, a qual nessa casa alugou um aposento a Lanaud,-que
era prostituta, sabendo disso Gllilleux.
O tribunal correcional n~.o consagrou a criminalidade de
GuilIenx. Mas, appellando o ministel'Ío publico, a sentença.
foi, afinal, annulIada; por quanto reconlwcell o tribunal supe-
rior que ~mbora Guilleux nfto houvesse intervindo directa-
mente no exercicio da prostituição de Lanaud, o facto da
locação nas circumstallcias, em que esta ~e verificou, bastava
por si só para que se julgasse que Guilleux forneceu a Lanaud
o meio de ent!'egar-::;e â prostituição. (Études prato sur le
Cod. Pén., tom. 5, pago 187. 2a ed.}
Em innumeros julgados tem a magistratura franceza firmado
esta ultima interpretação do art. 334 do respectivo Cod. Peno
que, conforme se decidio, é applicavel- por exemplo: au
gérant d'un llOtél garni o-i6 de8 jilles mineures 88 livt'ent à la
débauohe et a1t restaurateul' qui 1'eçoit des flUes mineures qui lIe
Zivrent à des 1'appm'ts sexuels dans son établi88ement. (Garl'aud-
Droit Pén. F1'ançais, tom. 4°, l)ag. 512.)
A magistratura italiana tem sanccionado identica theoria,
applicalldo o art. 346 do novo Cod. ~en. que o projecto brazJ-
leiro de 1893 traduzia. Dest'arte tem eBa decidido que:-
Sebbelle eccitamento· aUa corl''Uzione non p08sa ve1'~jica.rsi sopra
una rninoreune {rià cOJ11pteüt?nente COi'Totta, t1tttavia p1W 80bra
tale pm'sone oommetter~i'i favoreggia.mento od agevolazione alla
pl'ostituzione ..
E decretou que no art, 346 do novo Cod. Peno inoide:-
- 325-
il tenent, prostlbolo che accoglír l1fl suo stabiUmento fanoiutte .
giá C01'rotte.· (God. Pen, 'Barbél'a editore, pag. 444.)
No emtanto, para obviar as possiveis perplexidades·· e
vacillações da jurisprudencia, tão perl1icioíias ao prestigio da
lei e á magestade da justiça, parece,me conveniente adaptara
disposição expressa do art. 278 2:: parte do Ood. Peno de
1890 ao systema preferido pelo Projecto de 1893. '
Na citada disposição do Cod. Peno de 1890 define-se como
crime~-o facto de prestar alguem a mullleres, por conta propria
ou de outrem, sob Hua ou alheiarespollsabilidade, assistenciaJ
habitação e auxílios para auferir directa ou indirectamente,
lucros de!!lta especulação. '
Oarlos Stoos, na exposição de moLiyo~, do seu .Ante.pro~
jeoto do Cod. Pen. SUiS80 justifica criteriosamente semelhante
qualificaçào delictuosa. Ha flagrante analogia entre os '. actos
immoraes praticados nás casas de tolerancia e o estupro pro-
priamente dito. Muitas vezes aS desgraçadas inquilina,s cedem
á necessidade- violenta que a eS11eculação do proxeneta lhes
depara nas exigencias illimitadas de uma· cobiça infame. .
Demais, para. a inexperiencia e a miseria de inumeras
creaturas, de cuja emenda não era ainda licito duvidar~con­
stituem essa! casas um perigo diuturno; pois {lue a preoccu-
pação constante dos proprietarios dellas é architectar a sua
prosperidade no bom serviço presl.adu aos t;eus frequentadores
e essa preoccupação maldita sl1ggere·lhe~ a Jll'ocura' de mu..
lheres l'elativamente pouco corrompidas, que assim melhor-
mente se prestem.· á torpe exploração.
Na I" parte do alto 278 do Cod·. Pen.de 1890 delinea-se
uma modalidade do lenocinio sobl'e a qual deve o actual legi8-~
lador seriamente meditar; tendo sempre em vista que a lesão :
desse crime provinda dirige-se aos costumes publicos e á mora-
. lidade social. - / ' ,
O legislador. de 1890 pretendeu punir propriamente os
rufiões, isto é, as pessoas que-na phrase da Ord. Liv.:5
Tit. XXXIII, princ.-têm manceba teíHla em mancebia, de
que receba bemfazer ou eUa delIe. . .
A. Ord_ Affons. Liv. 5 'rito 22 chamava rufião O homem
que trazia comsigo' meretrizes para ganhar por eU as (e dantes
as mantinha na maneebia e bordel) e faz as suas partes, ·toma
08 seus duelIos,- etc.
Não será conveniente prever e punir especialmente esta-
fôrma do opprobrioso miste~'? . .
No elemento positivo da FI figura, que se descreve nesta
espede do lenocínio e qne tenho aua lY;::'l.Ilo, é preciso dis-
tinguir ainda a CO'l'1"upç(11) üu P1'ostUuição, palavras a que os
- 326-

escriptores designam significações peculiares. Pl1glia (Il'eati


di Ubidine-pag. 145) entende qUe a corrupção importa na
perda do sentimento do pudôl' e ela ctlstidade e pó de ser
physica ou moral. E' physica, quando á depravaçào do espio
rito acompanha a perda da castidade COl'porea ; é moml,-em
todos os outros casos.
A p1'o3titniçfio presuppõe a corrupção moral e pbysica,
maiS exige, como elemento essencial, a nmltiplicidacle e a pro-
miMcuidctde dOi; concubilos.
Segundo um regnlamento, que vigorou na Italia, a '1)I'OS- .
titlliçíto consiste no infame trafico do proprio corpo elevado á
profissão. '
Oarrara (PJ'og. Ptl1't. speciale, 4" edi(~ilo, vol. VI, pago
96) pondera que O yenladeiro conceito dit p/'ostitniçfio l{'side-
nella libertá deU' acceSllO jJJ'omiscno, E' prostituta" ilO sentido
restricto e genuino, a. mulher, que se entreg-a a quem quer que
á requeste, ainda que pi~ra elJa seja novo e de~conhecido.
Neste caso pÓrle·se prescindir (la vendidatle 011 do preço, como
elemento da, prostit,uiçii.o. Os Retos el'oticos praticados por
Messalina, que pagfiva aos amantes em Te!' de ser paga por
elles, traduzem V81'dadein:, ploSLüuiçüo.
Os rO!11l:\no~ C(lllsider?iVHl11 meretriz OH prostituta 3, mulher,
que se entregàva pOI' dinheiro ou de graça, publicamente e sem
escolha (palam et sine llcltcta).
CostaIlzo Oalogero, referiurlo-se a 'raurneo, Oompl. TraU.
teor e prat di D.- Peno pnbl. (la Pietro Oogliolo voI. 2°,
parto prima. pago 1191) observa não poder appellidar·se pros-
titul:a. a mulher (lne illude o pl'opl'io nlal'ido, ainda que o faça
com varios amantes, o que Ütmbem se u::io poelel'~ dizer de uma
rapariga. que facilmente conceda o gôzo da Pl'Opl'Ía. pessoa,
embora, como a pl'ecitu(la adultera, se a con1iidere de costumes
dissolutos e condemnaveb,
, O 2° elemento positivo da la figura, nesta. especie de,
lenocínio, consiste no objectivo do snj eito activo do crime:
-serviT á libid·inagem de outrem, consoante a techuica do
Projecto de 1893, que traduzio o novo Cod. Pen. italiano,
onde se lê :-11e,· serv'ire all' alt1'i1~ libidine. .
Este elemento é caracteristico do crime de lenocinio e dis·
tingue·o do de corrupção de menores, previsto no art. 287 do Pro~
jecto de 1893 e no art. 266 § unico do Ood. Peno de 1890.
No crime rlenolllinado-colTl1pção de menOl'es-o objectivo
e~sencial é a satisfaç~to da lJ1'Op1'i(l lilJidinagfJ1iL; no lenocinio
assign ... la esse objedivo a satif;fação da libidinagem alheia.
Vinda, commelltando o 00<1. Peno hespahhol, Rivarola,
analysanuo o Cod. Pen. argentino, RoJJustiallo Vera, l:eferindo·se
- 327-

ao Cod.Pen. chileno e Tuozzi Pasquale~ escrevendo sobre o


novo Cod. Peno italiano, insistem judiciosamente nesse facto.
«Ténga·se múi principalmente en cuenta- diz Viada-
que para que exista este delicto es preciso que la prostitll-cion
ó corrnpcion de menores de idade que se promove e facilita,
. tenga por objecto satisfacer los deseos de otro. (Codigo Penal
-4" ed. Tom IU-pag. 138.)
'l'uozzi Pasquale ensina que «il lenome nom opera egli
stesso gli atti di libidine e solo fa si che altl'i li compiano.
Il Ianoue quindi deve agire per conta altrni seI in questo sta
la nota differellúale tra il lenone e la corruzione dei minori».
(001'80 di Di?'itto Penale. voI. 2, parte 2&, pago 537.)
E' este, portanto, o elemento, que imprime ao lenocinio
o seu cunho positivo e differencial, relembr!l.udo o typo do.
Zeno e da lena tão bem descriptos nas comedias de Terencio (li
de Plauto.
O ~Q elemento positivo da 1"' figura nesta especie . de le-
llOcinio consiste na idade da victima, que, segundo o Projécto
de 1893, dt've ser uma p68soa 1nenOl' de :J1 annos.
No tocante a este elemento convém notar que os Coiigos
dns nações cultas dividem-se em dous grupos. Na Françlt, na
Belgica, na Hollanda, emPol'tngal, na Hespa1J.ha e na ltalia
(no novo Cod. Peno assim como no Cod. sardo de 1859), a
existencia do lenocinio depende da menoridad. da victima ou
da sua presumida Incapacidade de reacçãú, contra 03 actos
constitutivos desse crime. -
Ànalysanâo o novo Cod. Peno Italiano, Impallomeni sus- .
tenta que não é attribuição do Estado constituir.se vingador
da pureza dos costumes, mas sómente lhe cumpre obstar o
abuso da juventude inexperta e propensa ás at,tracções' do
vicio e que, por isso, o lenocinio só é um delicto, quando
presuppõe, ao menos, uma capacidade limitada na pessoa
sobre a qual elIe se exerce.
Na. Allemanha, na Austria, na Hungria e em qnasi todos
os Codigos sllissos o lenocinio é um verdadeiro delicto contra
os costumes e a moralidade pnblica e, por isso, incidem em
sancção penal os aetos, que o constituem, quaesquer que sejam
a idade, a experiencia e a moralidade anterior das victimas.
Não prevalece, l)Ortanto, neste systema sobre a protecção â.
)TIoral publica-a defesa da inexperiencia juvenil, exposta. aos
torpes manejos da corrupção e do vicio.
No Cod, Pen, Bi'asileiro de 1890 a menorid'ide da -victima
não é elemento essencial do lenocínio; de modo que, se fôr
approvado o texto do Projecto de 1893, em mais ci.'itica situação
ficará a sociedade brasileira.
- 328
Qualquer que seja a opinillo adoptada sobre a importancia
theorica de semelhunte circltl1lstancia, a verdade é que a
OPPol'tunidade e as convenielicias sociars devem f;er sempre
poderosos limites impostos ao conceito da criminalidade sob o
aspecto legislativo. Na adaptação, á formula do direito na·
cional, de doutrina aceita em legislações extranhas é mister
que se não menosprezem as relações de tempo e de espaço.
Esse axioma sociologico jUfitifica a eliminação da circmu·
stancia da menoridade da victima- como elemento essencial
do lenocinio no Brazil. A questão reveste aqui aspectp grave
e Ilério.
Ha algum tempo a im!H'ensa, tratando do assumpto, in-
siste em nobres reclamações, l'ellletas de indignação sincera 6
de advertencia salutar aos poderes publicos. E' indiscutivel a
opportunidade do momento 1Jela imprensa escolhido para essas
reclamações, desde que se pretende reformar agora a n08sa
legislação penal. Pois bem, se o legislador brasileiro preferir
o regimen do Projecto de 1893 ao <lo Codigo de 1890, a punição.
contra cuja brandura se reclama e n I1lO1'aJi(iade social protesta,
converter-se-ha em absoluta e escandalosa impunidade, pois
que quasi todos os proxenetas poderfto tripudiar abusiva-
mente sobre as ruinas da moralidade flocial e da lei que os
punia, convertendo·se a propaganda que a imprensa realizou
em espectaculosa exhibição de miserias humanas que o poder
publico indifferentemente contemplou.
Porque não se ha de preferir, observadas as condições
especiaes do tempo e do lugar,-ao primeiro o segundo systema
que vigora na Allemanlla, na Austria e na Huugria,de onde
os miseraveis importam de preferencia as victimas do seu
commercio infame e torpe? Parece-me decisiva essa prefe·
rencia na imitação legislativa.
O momento essencial da criminalidade coincide no systema
preferível com a oJfensa á moral pulilica pela desbi'iada inter·
venção constitutiva do lenocinio.
As condições particulares do sujeito activo ou do sujeito
passivo do lenocinio não influem sobre a essencia do crime,
mas sobre a gravidade dolle. determinando a maior severidade
da punição. Ellas não devem ser circumstancias elementares,
mas sim circumstancias aggravantes do delicto.
A antiguidade da prostituição confunde-se com a antigui.
dade do mundo.
Em todos os tempos e em todo8 os lugares elIa tem sido
um mal necessa1'io. EntrEtanto, a histol'fa ensina que os habi.
tos de ociosidade e de lllxo. em luta Jenllidn. com as difficul·
dades da vida; o augmento 'progressivo da população; o amor
- 329-
do prazer e da sel)sualidade e' :1té os requintes da propria civi·
li~açiio,emprestaram a es~e.DlI).l proporções assustadoras e gra·
vissimas directamellte rell1ciolll1d/l~ com a f'xploração revol·
tante que delle se faz na 1:1 atita 1\ ud!\rio~a do lenocínio, -em·
prejuizo dos costumes publicos e da moralidade social. De!ta.
arte, observar o facto malefico pa] a soffrear-Ihe o abuso e'
sua visar-lhe a necessidade indiscutivel, é uma das m'ais sérias
formas da questão social, em um paiz culto. -
Examinados os tres elementos positivos da 1a figura' desta
especie de lenocillio, é mister relembrar que a permaneneia
dessa ~gura depende da inexistencia das circumstancias, que
denominei elementos negativos. O accrescimo de qualquer
dessas círcum!!tancias gera a 2· figura desta especie de
- lenocínio.
In
As circumstaucias, cnjo accrescimo produz a. 2a fi~ura,
são:
a) a idade da victima - inferior a 12 annos;
b) o emprego do engano;
c) o abuso da autoridade de ascendentel!l, consanguióeol ou
affins, pai ou mãi adoptivos, marido, tutor ou outra pessoa a
que o menor tenha sido confiado em razão de tratamento,
educação, instrucção, vigilancia ou ~uarda, ainda que tempo..
raria;
d) o habito; __
e) o fim de lucro.
a) b)

, As circumstancias enumerndas nas letras cs) e li) indu~em


verdadeira violação da liberdade individual pela ausenciapre·
sumida ou real do consentimento da victima cuja innocencia. se
atraiçôa e se explora.
c)

Na letra c) previne-se o torpe abuso das relações domes-


t.icas e da confiança no 'criminoso deposta pela sua posição
especial.
Monseignat, dirigindo-se, em sua emposiçllo de moti'l108, ao
corpo legislativo francez, denominou elegantemente de infan·
ticidio moral semelhante modalidade da 2a figura da I" especie
do . lenocínio e observou que se fosse licito descobrir grãos na
infamia do infamissimo procedimento os mais abjectos, coinci-
- a3E1-

diqam, ae certo, com este facto, em que se descobre o abuso


do deIlosito sagrado da iUllocencia. incauta.
d)
A circumstancia do habito suggere um problema grande-
mente controvertido. InquireooSe, a semelhante proposito, se a'
constituição do habito depende sómente da pl1tralidade ie aetos,
por parte do criminoso, ou se depende tambem da plU/'uliüaüe
de victimas. Os praticos annexavani essencialmente o habito ii.
noção do lenocinio e, por isso, diziam qlJe para a existencia
desse crime devia exigir-se sóment8 trinum actum-I) qne cons-
tituia a consuetudo. Dahi concluio-se que os antigos doutores
faziam repousar a noção do lenocinio na plltralidade d.s aotoi,
ainda qUI-: recahissem elles sobre uma só pessoa.
Farinacius (Quest. 144, n. 35) escrüveu.: «Non dieitur
leno nec lenocinii pama tenetUl(, qui semel tantum lenocininrn
feclt; requiritur enim consuetudo saltem per trinum aott~m».
Na verdade, o habito presuppõe a pratica reiterada dos
mesmos Rctos ; mas esses actos não devem ser considerados em
l'ilação com as pessoas victimas do delicto e sim em relação
com o~ criminosos.
O que se deve sp.mpre verificar é a reiteração dos actos de
inducção á prostituição, de excitação á corrupção e de favore-
cimento ou de auxilio nesses factos, ainda que tenham elles sido
pratir.ados sobre uma. só pessoa.
Referindo-se ao ahtigo Cod. Peno Portuguez, Levy JOJ.'dão
pondera que, sendo o habito uma condição do delicto, é claro
que a lei exige para a incriminação repetição de aotos de comi'
pção da pa1't~ do agente ; mas não é preciso que este tenha
corrompJdo muitas victimlils e,- eitan(l,)- Morin,- _ac,~!'escenta
que a pl1walidade exigida é a dos ac(os deoo1'l'upção e não a das
pessoas c01Tompidas.
Boitard, Blanche, Chauveau e Hélie, Garrautl e outros
e~regios escriptores adoptam a opiniào que Morin defende B
Levy Jordão relembra.
A -doutrina, como diz GarralHl, é unanime neste assl1mpto .
. No emtanto, a jurisprndencia fl'anctlza, que parece; hoje,
uniforme, hesitou, durante algum tempo, em prescindir da
pluralidade de viotimas para a caracterisação do habito, por
haver o legiE'ladorescripto no art. 334 do COl1.. Peno fratlcez
estas palavras :-« Quiconque aura attenté aux moeurs, eu ex-
citant, favol'isant ou t'acilitant habituellement la débauche ou In
cOl'ruption de la jeunesse de l'un ou de l'autre seu au - des
sons de l' âge de vingt et UH ans ... »
- :J31-

Entendiam alguns magistrados que a palavra jeunesse.do


texto citrldo refpria-se a uma collecçào de individuos, á plura- .
lid€l,(/e de victimas e não á idadll das victimas de ambos os sexos
-o que, aliás, não sendo licito infe\'ir-~e. da discussão do
Cocligo, originou a jurisprudencia, que consagr~, hoje, a
doutrina geralmente professada pelos criminalistas.
. Mas se mesmo no regimen do Cod. Penal francez, em que
se empregou a palavra j',ttneue a!i!sim interpretada. por alguns
magistrado!!-outros emprMtavam a e8se vocabulo· a sua signi-
ficação genuina, hoje geralmente aceita, é evidente que, ex-vi
do Projecto de 1893, no Brazil, assim como do novo Cod. Peno
italiano, nenhuma duvida haverá na caracterisação do pheno-
menu di) habito.; porquanto o Projecto traduzindo o Cod. italiano,
usa das palav.ras: uma peSioa menor.
Na applicação do art. 379 do Cod. Penal belga, Im que ti.
.expl'essão - d. la jeunesse- foi substituida por esta: - de,-
1I!inem'~- a magistratura aceitou a doutrina cuja unanimidade
Ganaud proclama.
As palavras- uma pessoa meno~', contidas no Projecto di
1893, têm, .. na historia do novo Codigo Peno italiano, missão
especial e util. Ellas não se deparam no projecto do provecto
'ministro Zanarrlelli, onde occupam o seu lugar estas outras:-
dO!!1W min.re di etá. Pl'econisava-as Zanardelli, com a conve-
niencia de prudentemente prevenir-se supremo escandalo, inhe-
rente a processos desta natureza, em que figurem como victimaSl
pessoas do sexo masculino - o que, além disso; excepcional-
mente succedel'á.
Assim não entendeu a commissão especial do Senado italiano,
que snggerio a substituição das pala vl'as-donna 'lltino~'e di etá-
por estas - per80na di etá mino1'e afim de que seja punido o
lenocinio, mesmo nesta especie, qualquer que seja o sexo da
victima.
Zanardilli acolheu a modificação proposta pela commissão
senatorial- conforme as~ egura em seu Relatorio apresentado ao
rei. da Italia, flara 'aallProvação do texto definitivo do Coqigo
e essa modificação mereceu do illustre advogado Luigi Ghirelli,
em commentario ao referido codigo, sinceros applausos ; por-
quanto não deve a lei consoante as suas expressões; negm' aZ
maBchio minol"~tn8 quella tutela cite in ugl~ali oondi~ioni viene
(tUa donna>~.
COnC~8Ila
, O novo Cod. Peno urug'uayo e o Cod. Peno argentino que
(hlfel'e neste assnnTpto do Projecto Tejedor, só se vreoecupam
com o lenocínio de menores do sexo ftlminillo.
" l\~el'ece particular indicação a judiciosa critica feita a essa
UlSPOSIÇão do Cod. argentino pelo notavel Rivarola, que nãó
...... 3~9 -
descobre um motivo sufficientementf\ justo para tamanha beni.
gnidade da lei. Ainda que se acredite na diminuta frequencia
do crime ou mesmo na inexistencia deUe em qualquer paiz, basta
que seja. possivel o seu coinmettimento para que a lei o deva
prever e punir.
Os Codigos de Portugal, da Hespanha, da França, da Bel.
gica, da Hollanda e do Chile consignam o systema preferido pelo
novo Cod. Peno italiano· e, com eUe, pelo Projecto de 1893, no
Brázil, isto é, prescindem da distincção de sexo, como parte in·
tegrante das exigencias conceituaes do leDocinio. '
E' interessante ob[jervar a preponderancia concedida ao:
phenomeno do habito, pelas legislações dos povos cultos, nó i
conceito do lenocinio. '.
O Cod. portuguez (arts. 405 e ~06) e:Jtige aUernativamente'
o habito ou condições de parentesco, tutela, educação, direcção e
guarda como elementos essenciaes desse crime.
O Ood. allemão (§ 180), o de Zurich (§ 121) e o da HolIanda
(art. 2~0 § 2°) exigem alternativamente o habito ou o fim de
lucro. Prescindem porém de semelhantes condições o Cod. alIe mão '
(§ 181) e o de Zurich (§ 122), quando existem' as relações de
parentesco ou de tutela entre o criminoso. e a victimã ou quando
o crime é praticado com insidioso!:! artificios.. .
O Cod. hollandez (§ 250 n. 1) Ill:\quelle caso dispensa tam·
bem ou o habito ou o fim de lucro. .
O Cod. francez (art. 334) e o belga (art. 379) exigem s6·
mente o habito i o hespanhol, o argentino, o chileno e o peruano
exigem alternativamente o habito 'ou o abuso de autoridade ou de
confiança.
O Cod. da Republica Oriental do Uruguay, copiou o novo
Cod. Peno italiano nas definições das diversas especies d. leno· .
cinio, deixando sómente de mencionar o habito como circum·
stancia aggravante do crime, isto é, como elemento negatifo .
da l~ figura e positivo da 2- figura da la especie de lenocinio.

e)

O fim de lucro como o habito era circumstancia primordial


do lenocinio no Direito Romano.
Carmignani, considerando-o, tambem, assim, definio O·
lenocinio :- Prolltitutio alienro p'Udicitiro animo lucrandi jacta. .
O lucro póde ser de varias especies, não sendo nec~ssario que
elle consista em recompensa pecuniaria immediata. Para que
haja o fim de lucro é sufficiente que o criminoso auflra ou pro'
cure auferir do lenocinio urna utilidade qualquer.
- 333-
Em tal crime o lucro pôde consistir, conforme decidioa
lrisprudencia italianà: - «nella elevatissima pigione che il
lpevolo esiga dalle persona minorenni» (Cass. 22 genn. 1891;
asso unica li, 171).
Nas legislações cultas da actualidade o fim de lucro nãO é,
empre, em qualquer caso, circumstancia elementar do leno·
(nio. .
Repugna tambem ã consciencia publica não recâia se"é"
issima punição sobre o individuo, que se entrega, sem paga.
lento, á torilÍssimamercancia da pudicicia alheia, apenas,
,or baixeza de caracter ou exclusivamente pelo proprio bis-
ineto tenebroso da perversidade ou do mal. Assim pensava. e
I disse Zanardelli em seu Relatorio apresentado á Camara. dos
)eputados, na ltalia.
IV
Contemplada isoladamente a 2& especie do lenocinio j das..
obre·se nella a existencia destes elementos essenciaes:
a) constranger a se prostituir;
b) o ascendente - consanguineo ou affim-o marido ou o
ntor;
c) ao descendente e á mulher, ainda que maiores, ou ao
lenor sujeito á ilna tutela; .
d) por meio de violencia ou ameaçllt.
Analysada semelhantemente fi. a~ especie manifeltam-lIe
elIa as circllmstancias elementarel!! seguintes: .
a) induzir a prostituir-se;
·h) o aseendente-consanguineo ou afftm- ou o marido;
c) ao descendente ou á mulher;
d) por meio de engano.
Do confronto dfl. 2' e da. 3~ especielil resulta.m nesta. duas
10dificaçôes nots.veis:
l- nas qU!l.lidades do sujeito activo do crime i
2" no meio empregado.
Eliminou-se a qualidade de tutor das que inüuem sobre
. 9ujeito activo do crime e substituio-se aviolencia ou amea.ça.
,eio engano-como meio empregado.
A significação peculiar do vocabulo tutor explica a elimi·
ação. Esse vocabulo presuppôe a menoridade da victima. e,
es~e callo, surge uma. das moda.lidades da 2& figura da 1" es-
eCle do lenocinio, iste é, patentêa-se o lenocinio praticado
oro engano e abuso da autoridade de tlltor contra uma
eB~oa menor de 21 annos. (Art. 294 § 10 ns. II i III do
·roJeeto de 1893.)
- 334-

A alIudida eliminação previne, portanto, . a reclundancia


do preceito legal.
Quer se considere em relação ao suj~ito activo, quer em
relação ao sujeito paflsivo do Cl'ÍI1HiI, ti. '2 a i a 3'" Ispecies do
lenocinio ostentam gravissima féição.
No sujeito activo do crime revela·se maior temibilidade e
crueza, attento o meio empregado e o abuso da autoridade
oriuncla. das relações especiaes de direito e de facto, que se
estabeleceram entre elle e o sujeito passivo.
Neste deparam-se os inconvenientes correlatos á temibi·
lida de e crueza do delinquente, isto é, grava lesão da liberdade
individual e menor pos~ibilidade de resistencia.
A abjecção e a vileza dos proxenetaidQsta~ e!!pecifts
operam mais facilmente as desorganisações no seio da faUJilia,
onde os bons sentimentos se amesquinham na. pavorosa disso·
lução dos costumes.
A profanação di tarefa, que a natureza ou a lei confiaram,
ao homem e- a perigo!!! .. cobaràia de5sa profanação constituem!
Il eSilencia destas t'lapecies delictuosal, qualquer que iiflja a
idado da victima.
A manutenção da menoridaàe no tocante ao tutor depende
da propria natureza do instituto da tutela, que com a maiori·
dade desapparece.
A Ord. do Liv. 5, Tit. 25 § 9, punia os maridos que
punham suas mulheres a ganho, o que tambem fazia o Direito'
Romano na lei Julia (Frag. 29 § 3, Dig. Liv. 48 'rit. 5).
O que é notafel, advute Levy J ordáo, citando Bedel-é
que o autor desslllei tão severa contra os maridos fosse Augusto,
esse mesmo que, diz-nos Suetonio, se não escandalisava de
ver sua mulher Livia favorecer os seus adulterios· e ~té
buscar rivaes ..
A precedencia da prostituição pór parte da mulher, ao
matrimonio que a rehabilitou, não prejudica a exiiiltenciR do
crime de lenocinio, por parte" do marido, que olvidando os
deveres cOlltrahidos para com o santuario da f~milia, flll-a
voltar á abjecção primitiva d' onde elIe Pl'Oprio a retiro\!. A
Côrte de C~ssação de Napoles, applicando o art. 424 do Cod.
Sardo de 1859, assim decidio.

V
As modiftcações introduzidas no projecto de 1893 pelo
pl'ojecto n. 1U de 1896, recentemente pnblic~do, no que con·
cerne ás definições das diversas etlpecies de lenocínio, refel'em·~e
apenas, ás duas figuras da l~ especie.
- 335-

o projecto de 1896 aa.crescentou aos elementos negativos


da la figura, que são elementoi;l positivos da 2a :
a) não t.er ~ido o crin.Je commettido com suggestão
hypnotica;
71) não ter sido commettido contra pe!!soa que não tenta
completado 12 annos de idade.
Este 2- elemento tem ligação intima com a modificação
feita no 30 elemento positivo da pt figura - a idade da
victima.
No projecto de 1898 em vez de - uma pessoa menor de
21 annos, escreveu-se: - qualquer pessoa e, por essa fórma,
subtrahe-liIe o alludido projecto á censma que fiz ao projecto
de 1893, sohre o ::tBsumpto.
Se a victima fôr maior.'d.e 12 e menor de 21 annos, a pena
de prisão será no emtanto mais duradoura do que no caso de
ser eUa maior de i1 annos.
• Mas o projecto de 1896 não está i~ento de critica, porque,
moflifica~o ll~sim o 39 elemento positivo da 1:t figura da 1- es-
p~cie, evidenda-f:e a inutilirlane da- disposição do seu art. 281
§ 10 tew. qlIe se define a 3" especie do lenocinio. .
$sta 3~ especie, isto é, o caso de induzir á prostituição,
com tengano, o ascendente e -o marido, ao descendente e ti mu-
lhel.,." qualº~tM' que seja (t idade destes, foi anteriormente pre· '
visto no art. 280 § 10, ns. 2 e 3 do mesmo projecto, qua
eacara o facto como modalidade da 2& fi~urada la especie.
A 3a elpecie, 'portanto, do Projecto de 1893 deve .ser
eliminada, por inutil, do Projecto de 1896, á vista da modi-
ficaçã.o neste projec.to realh:ada sobre o 3- elemento positivo da
la figura da la. especie, que é tambem um dos elementos da 2"
figura-pois que ~eus lineamentos 8ão formados, como demons-
trei, pelo accrescinio de alguma ou de algumas das circums-
tallcias enumeradas nos dous projectos.
Do novo Cod. Peno italiano e do Projecto de 1893 excluio~
se, na referida el'pecie, sómeJlte a palavra tutor;, porque,
como já escrevi- o instituto da tutela presuppõe sempre a
menoridade da victima e a cessação desta menoridade, é ex-
clusiva da propria existencia daquelle instituto; sendo que a
hypothese estava precedentemente definida como modalidade
da 2" figura da la especie.
Alterado, porém, o systema do novo Codigo Peno italiano
e do Pr(~ieeto de 1893, isto é, prescindindo-se da menoridade
da victima, como circumstancia elementar d.l la especie, em
qn:tlqner <lflS duas figura!l,- .não basta suppl'imir da ao. e!lpeeie
(art. 281 § I? do Projecto de 1896) a palavra tutor, é mister
-886-
.
que totalmente desappareça es~ ';l, 8& especie, ~ue se confunde
cl'm as modalidades da 2" figll 'lI.' dI!. la especie.

Deanecessario é reclamal\ a atLsnção do legislador brazi·


lairo para. os capitulos dos dous projectos relativos ao lenocinio.
EUa sabe, de certo, que nesse~ ('api~'Jlos 8e cogita da qualifi·
cação delictuo.a, que, como assegura Carrara Progr. Palt
Spec. vól. VI, pag. 143), foi a que se lhe afigurou mais espio
nhosa e difficil e que a penalidane ahi comminada attingirá aos
criminollos punidos pelo Direito Romano, no dizer do Imperador
Justiniano, na Novella XIV § 10 : - tanquam pestiferoB el
cOttunu1'is castítati. vastator8 jacto8.
Dezembro de 1896.- J. O. Lima Drummoni.

,-
JURISPJ~UDENCIA

Jurisruoção Civil,

Sl)IÍdo a extracção das loterias geraes


serviço a cargo - da União, e con.. tituil).do
• renda orçamentaria os legitimos proventos
della deduzidos, lÍ. inconstitucional o acto do
Governo dos Estados que prohibe a venda
dos bilhetes no respectivo territorio por
falta de prévio pagamento de impostos es-
tadoaes.-Em tal caso, os Estados, além de
serem privados da quota beneficiaria que lei
federal lhe tem destinado, ficam sujeitos á
in~ernnisação para com a Companhia ou em-
preza que, em virtude de contracto com o
. eu. Governo da União, esteja encarregada do
referido serviço. .
~sta Intelligencia do art. 10 da Constituição
Federal e do art. 24 § 38 da lei n. 428 de 10
de Dezembro de 1896.

Appellação civel n. 2I8

~pellante-A.
Fazenda Publica do Estaào áe Pernambuco.
ppéllada-A Sociedade Ânonyrna Lot81'ia Nacional.
Supremo Tribunal Federal

ACCORDAM

. Vistos, expostos e discutidos os presellt~s autos, em que


Fazenda Publica do Estádo de Pernambuco, devidamente
nstituida pelo seu repre~entante legal, appellou da sen~ença
juiz seccional, que na acção intentada pela Sociedade Ano-
ma Loteria Nacional, havia condemnado a mesma Fazenda
indemnisação pedida pela appellada por prejuizos a elIa
Jsados em virtude da ordem do governador daquelle Estado.
a prohibira, por falta de pagamento de certoM impóstos, a
culação dos respectivos bilhetes, que aliás era autorisada,
~ contracto celebrado com o Governo da União.
Accordam negar provimento á appellação, confirmando a
tença appellada por seus fundamentos. Com effeito, o art. 10
Constituição Federal, prohibindo taxativamente aos Estados
lutarem l'a:ldas federaes ou serviços á cargo da União, e
DIa. VOL.71S 22
- 33~-
-
considerando o Decr. n. 1.482 B de 24 de Julho de 1893,
não só como serviço á cargo da União a extracção das loterias
geraes, mas ainda, como re~da ot'çamentaria os legitimas
proventos dellas deduzidos; torna-se obvio <lue o acto do go,
vernador do Estado de Pernambuco, vedando o curso de taes
bilhetes, sem o prévio pagamento de imposto, é manifesta·
mente inconstitucional. E nem se contrapõEiI a esta doutrina0
art. 24 § 3· da lei do orçamento n. 428, de 10 de Dezembro
de 18~6. Esse dispósitivo, além de não reger a esptlcie ver·
tente, jamais poderia ser entendido de mo !lo a offerecer in·
vencivel obstaculo ao preceito constitucional. Se assitn fosse
seria a lei do orçamento, nesta parte, de todo insubsistente.
Por conseguinte, não põdendo ter sido. esse o intuito do Con·
gresso Federal, a interpretação que logicamente resulta do
mencionado art. 24 § 3°,que autorisa expressamente ao Governada
União a regular o serviço daslote1'ias e a reformar pelo prazo de sete
annos o actual contracto com a appellada, é que os Estados que
prohibirem a venda em seu territorio de bilhetes das loteriasge·,
raes,ficarão privados da quota beneficiaria de Rs. 39:650$, mas
não isentos das necessarias indemnisações pelos meiosjudiciarios.
E assim julgando,condemnam mais a Fazenda Publica do Estado
de Pernambuco nas custas accrescidas.
Supremo Tribunal Federal, 6 de Março de 1897. -Âquino
e Oastro, presidente.-Bernardino Fer1'eira.-Pm'eil'a Fmnco,
-Manoel Murtinho.'- Macedo Soares.-Ribeiro de Almeiáa.-'
Figueiredo Juniol'.-H. do Espírito Santo, vencido. Votei pela
reforma da sentença appellada,. por ser proferida contl" di:
reito. Quando acaso inconstitucional fosse o imposto lançado',
pelo Estado de Pernambuco sobre a venda de bilhetes da lo·
teria nacional, á autora appellada só era dado contra o mesmo
reclamar peloe meIos regulares; Bão .lhe cabia indemnisação,
pois para tanto s6 teve o facto de haver desobedecido á lei do
referido Estado, titulo unico de reclamar perdas e damnos ima·
ginarios. E' menos exacto que o jogo de loteriá constitua um
serviço á cargo da União, nos termos do art. 10 da Consti·)
tução l!'ederal, e como tal isento de impostosestadoaes. Isto
. será verdade lá no Estado de Monaco ;[no Brazil não. Apezar de
ter o Decr.n.1.482 B de 24 Julho de 1893,permittido a existencia
da sociedade anonyma-Loteria Nacional-e,posteriormente, a
lei 428 de 10 de Dezembro do anno passado, no art. 24, ha·
ver autorisado o Governo a regular o serviço das loterias, e
destinado, afóra o imposto colhido pelo cofre geral, uma quo!&'
ás instituições beneficentes e de instrucção dos E:-;tados, UM
se llodElrá confuullil-as com o que o art. 10 da CoüstítuiçáO
ch:tma serviço a cargo da União. Objecto de imposto, como
alIas são afinal, e bens, rendas federaes ou serviço a cargo da
União, são co usas bem diversas,diametralmente oppostas.
E pelo facto de entràr para os cofres da União impostos
pagos pela autora,-Loteria Nacional, seguir-se-ha que não
podia ser esta tributada tambem pelo Estado de Pernambuco?
Responde que sim o art. 12 da Constituição, assim: «além das
fontes de receita descriminadas nos arts. 7 e 9, é licito á
União, como aos Estados, cumulativamente ou não, crear ou-
tras quaesquer, não contravindo o disposto n08 arts. 7, 9 e
11 n. L'> rrolerado ainda hoje, na mór parte dos Estados da
União esse jogo pernicioso aos bons costumes, a aeção do poder
publico deve apparecer necessariamente, fiscalisando, para
evitar a fraude ; dahi a confusão da _sentença em considerar
as loterias um serviço á cargo da. União, immune de tributo de
parte dos Estados,confusão ainda mais sensivel no accordam deste
Tribunal,que conhecendo e citando a refel'idalei 428,no seu arur4
§3,que dispõe: «o Estado q ne prohibir ou tivel.' prohibido a venda
de bilhetes de loteria, ou o que tivfl' abolido ou abolir lote-
rias, ou as tiver concedido que não fiquem subordinadas ao _
regimen da presente lei, bem como os que preferirem manter
os respecti.vos contractos, não terão direito á quota que lhes é
destinada, emquanto vigorarem as respectivas leis, ou. t'orem
executados os respectivos eontractos, ficando o cOllt.ractante·-
isento do respectivo pagamento». O que tudo se conclue depois
da leitura dHsta lei:. Que os Estados têm pleno d!reito de tri-
butar e até prohibir a venda de bilhetes da loteria naCional,
não recebendo a respectiva quota Ee assim fizerem. Pois o -
Recordam, citando esta disposição de lei; condemnou oE~tado
de Pernambuco a pagar indemnisação á Companhia-Loteria
Nacional-pelo facto de ter tributado a venda dos~respectivos
bilhetes !-João Pedro, vencido. Votei de accordo com o Sr.
ministro Herminio do Espiritó Santo.-José Hygino.--Arne-
rico Lobo, vencido, d~ aecordo com o Sr. ministre) H. do· Es-
pirito Santo. Ainda na hypothese de ser a loteria serviço fe-
deral, o que não é exacto, não podia a União impor a uns Es-
tados a obrigação de concorrer para serviços de, outros, con-
fundindo com a loteria nacional as istadúaes.-1fui presente,
Luoio de NfI?ldonça.
- 340-
As cartas testemunhavels tiradas por de-
negação do recurso extraordinario/para o
Supremo Tribunal Federal, devidamente in-
struidas com o traslado dos autos, devem
ser processadas como 'o são os recurSOi ex-
traordinarios, não se lhes applicando o dis-
posto no art. 95 do Regimento do mesmo
Tribunal, o qual se refere ás carta. teste·
munhaveis por denegação do recurso de ag-
gravo.

Carta 1:esteJllunhavel D. 1'73

Aggravantes-O capitllo Oandü!o 11lariano Rondorlt e outros.


Aggravaãos-D. Rit(l Peixoto e seu filho Prudente Gonçalve.
de Quei,;Oz
Supremo Tribunal Federal

ACCORDAM

Vista a presente carta testemunhavel, accordam conver·


tér o julgamento em diligencia para que siga-se a revlsao,
com audiencia do Sr. ministro procurador geral da Repu·
blica, porquanto, tendo sido a dita carta testemunhavel tirada
por denegação do recurso extraordinal'io,' e achando-se in·
strnida com o traslado dos autos, deve ser processada como o
são os recursos extraordinarios, não tendo applicação ao caso
vertente o disposto no art. 95 do regimento deste Tribunal,
que se refere ás cartas testemunhav~il:l por (lenegação do re·
curso de aggravo.
Supremo Tribunal Federal, 2 de Dezembro de 1896.-
Aquino e Qastro, presidente.-.Tosé Hygino.-Pindahiba de
Mattos. - Figuei,'edoJunim'. - Rióeiro de Almeida. -Macedo
8oarea-P. Franco-H. do Espirito Santo. - Lucio de Mendonça.
-Ame1"Íco Lobo, vencido. Ainda que o art. 95 do regimento
se referisse tão somente ás cartas testemunhaveis interpostas
de denegação de a ppellação, essa circumstancia não legitimaria
a diligellcia ora decretada, porque, no dizer da lei n. 221 de
20 de Novembro de 1894,art. 54 n. 4, recurso extraordinario
appellação é. A verdade, porém, está em que o art. 95 com·
,prehende litteral e indistinctamente todos os aggravos e cartas
testemnllhaveis. Mandando que o feito, por isso que contém
o traslado dos autos, seja revisto, com prévia andiencia do
Sr. pl'ocurador geral da ReIJublica, o Tribunal parece qu~'
rer julgar a questão, nos termos dos arts ..99 e 100 do regi'
mento, estendendo á especie o disposto no art. 70 da lei n. 221.
.:0 Tribunal, em vista da carta testemunhavel, mandar~ 68;:
craver o aggravo ou tomará logo conhecimento da materIa, SI .
- 34:1-
o instrumento· for instruido de modo que a tanto o habilite,
independentemente de mais esclarecimento». Esta disposição
entende-se em termos habeis e não permitte, por exemplo,
que por meio de uma carta testemunhavel, cujo fim é a inter-
posição de uma appellação, se julgue logo a mate ria de appél-
lação. A falta de termo de interposição do recurso ~xtraordj­
nado e a ausencia da citação dos aggravados, futuros recor-
ridos, para verem seguir ao Tribunal o_recurso em projecto,
obstam peremptoriamente a qualquer sombra ou tentativa de
julgamento prematuro. Isto posto, inutil é a revisão da pre-
sente carta e ociosa a audiencia do Sr. procurador geral. Si
eu agora conhecesse de meriti8, negaria provimento a esta,
carta, porque a decisão do Tribunal de Matto Grosso applicou
bem e fielmente á especie o direito em vigor e especialmente
a lei n. 601 de 18 de Dt:lzembro de 1850: os aggravantes p~e­
tenderam reivindicar um teneno não comprehendido na médição
da sesmaria concedida no dia 1 de Outubro de 1806· ao seu
antecessor.

Não é provido o aggravo quando o damno .


em que se funda não se aoha oomp'rehen~ido
na disposição da Ord. liv. 30 , tIt. 69 pro e
§ lo. O juiz a quo, quando houver de man-
ter o despacho de que se aggrava. deverá
dar as razões de direito em que se funda.

Ag:gravo de petição n. li ~6

- Aggravante-Francisco Xavim' da Silva Leitão.


Aggravada-Marie Adolphine Isabelle Neve, J mulher d9 a,g-
gravante.
Supremo~Triounal Federal

ACCORDAM

. Vistos, relatados e discutidos estes antos de aggravo de


pe~lção, em que é aggravante Francisco Xavier da Silva
~eltão e aggravada sua mulher Marie Adolphine Isabelle Neve,
Interposto do despacho de fi. do juiz seccional desta capital".
negam ao mesmo provimento, porquanto não pôde eIle de modo
algum, ser comprehendido no dispositivo da Ord. liv. 3, ti-
tulo 69 princ. e § 1. Recommendam ao juiz a quo que,
quando houver de mallte~' seu despacho, de qUI:: se agg-ravar,
Uos termos do art. 67 da lei n. 221 df3 20 de Novembro
- 3~2-

de 1894, deve dar as razões de direito em que, se fundar.


Pague o aggravante as custas.
Supremo Tribunal Federal, 16 de Janeiro de 1897.-
Aquino e Castro, presidente. -H. do Espi1'ito Sanio.-Figuci.
1',do Jnnio1·.-Pereira F1'anco.-José Hygino .-Amm'ico LODo.
-Macedo Soare3.-B~tna1'dino Fe,·reim.-Ribeiro de Almeida.

.E' caso de aggravo o despacho de jui~


federal que rejeita in limifle a petição inicial·
de' acção intentada contra o governo muni-
cipal para nullidade de contracto 'feito com
a respectiva administração. A aoção. neste.
caso, é ordinaria, não podendo ser incluida
nas enumeradas no art. 13 da lei n. 221 de
18\14 por não tratar-se de acto de autoridade
admini~trativa da União. '
Intelligencia do art. 117 do Decr. n. 848'
de 11 de Outubro de 1890 e do art. 54 n, 6
. letra :; da lei n. 221 de 20 de Novembro
de 189{.

Aggravo civel D. I 8 0

Aggravante-Lltciano Bm·trand.
Ággravado- O juizo. federal do Estado de Santa Oatlta·
1'in(l,.
Supre ao Tribunal i'ederaJ

ÁCCORD.A.lIl

Vistos e relatados estes autos de aggravo interposto por


Luciano Bertrand do despacho, pelo qual o juiz federal de
Santa Catharina rejeitou in limine a petição inicial da acção
pela aggra vante intentada cont&a o governo municipal da,
c~pital daquelIe Estado, afim de ser declarada a nullidade do'
contracto celeurado com Goulart· & C. para abastecimento de
carne verde á população do município; dellesse verificando
que a petição inicial da acção, fi: li?: não se -refere á acç~O'
alguma especial, summaria ou de outra natureza e não PO~lg
deixar de ser considerada como tratando de acção ordinarla,
que ê a competent8 para todas ai causas que não tenham ~ur8o:
diverso, conforme determina o art. 117 do decreto n. 84B da
11 de Outubro de 1890; não podendo, tão pou~o, ~er tomad~:
como ptltição inicial de acção das referidas no art. 13 da leI,
11. 221 de 20 de Novembro de 1894, porquanto nem dos termos;
della isso resulta, nem no caso se trata de acção contra, acto~
de autoridade administrativa da União, mas de autondade
-343-

municipal, pelo que não cabe applicar-se-Ihe o processo esta-


bp,jp,cillo no mencionado artigo ela lei n. 221 citada. O Supremo
Tribunal Fedel'al, toma.ndo conhecimento do aggra.vo, em vista
do disposto no art. 54, n. VI, letra &, da mesma lei, manda
que o juiz a quo reforme o despacho para que faça C9rrer a
acção seus termos na fôrma de direito.
Supremo Tribunal Federal, 27 de Fevereiro de 18~7 . -
Aqnino e Oast1'o, presidente .-João Ba'l'balho.-João Pedro."-
Ribeiro de Almeida.- Jllanoel Murtinho.- Pe/'eirct Fl'anco.-
.dmel'ieo Lobo, de accordo com o vencitlo, porque estendendo-
se aos Estados e aos municipios a prescripção da lei n. 221,
na especie dos autos o anno correria, não da data do c()n~acto~'
celebrado inter. alios, mas do dia em que foi nenegada ao
aggl'avante a abertura do açougue.- Be1'na1'dino Ferreira.-
H. do Espi1'ito Santo.- Figueiredo Juniol'.-Macedo Soares.
-F.indahiba d~ Mattos.

Conhéce-se do aggravo, embora interpoBto


de outra decisão de aggrayo, sómente quando
° fundamento continua a ser a inoompetenoia
. de juizo, expresliamente allegadé. antes da
decisão recorrida.

AggraTo de instrum.ento n. 68

~-tggravante-A Oompanhia Industrial do' B,'a~il.


Aggj'avada-A Oantara Munieipal·ãa Par'uhyba do S.ul.
Tribunal da Relação do Estado do Rio de Janeiro

ACCORDAM

Accordam em Relação.
. Vistos e, após o sorteio legal, expostos e discutidos estes
autos de aggravo, entre partes-aggravante a Companhia In-.
dustrial do Brazil e aggravada a Camara Municipal da. Para.-
byba do Sul-: . . .
Considerando que é caso de aggravo a materia de incom·
petellcia (art .. 669 § l- do Decr, n. 737 de 25 de Novembro'
de 1850), aqui allegada e deduzida;. .
Considerando que, por ser em Direito o mais it'felevante
vicio a falta de jurisdicção do juiz, repete-se, por formal ex·
cel'Jção, o recurso, sem dar·se· a anomalia ou redundanCia de. .
recurso, quando trata-se de incompetellcia, que ainda. é ar-
~:uida contra o juiz que proferir o segundo despacho, embora.
. Ja em grão de aggravo, como no presente caso em que, regu-
-344 -
larmente, Q1'dine ju(Ticii servato, só ao juiz de direito, prola·
tor da sentença no concurso de preferencia, cumpria interpre·
tal-a, e não ao juiz executor, o municipal;
Con8iderando que,l'estabelecelldo-se os termos processuaes,
fica como de pmneira instancia o despacho aggravado;
Considerando, entretanto, que a intelligencia, dada pelo
juiz de direito á sua sentença, n8.0 destâa nem dos funda·
mentos dalla, que são claros, nem do consequente decisorio
em que, reconhecida a preferencia do pedido !la aggravada,
se lhe~ mandou pagar integralmente, não tendo o juiz exclui do
parte do pedido feito, o qual consiste tanto na certidão de
'fi. 143,como na de tl, 64;
Considerando que a importancia, cons~ante da certidão de
fi. 64" e que tambem é de impostos devidos pelo executado
Francisco Antonio Pifano, ntt0 foi mandada ao rateio, por·
quanto a sentença, depois de firmar na especie a preferencia
da aggravada no tocante aos seus impostos, mandou pagar aos
outros credores p1'O rata, menos a ag-gravada que assim adqui·
riu direito ao recebimento integral;
Considerando que não procede a aIlegação de só poder
ser resolvida esta questão por embargos de declaração, cujo
prazo é expirado, porque não se verifica qualquer das hypo.
theses restrictas do art. 641 do Decr, n, 737 de 25 de No,
vembro de 1850, e a inteIligeneia da. sentença, como a dá o,
juiz a quo, não se estende, além da que suas palavras contém,
tomadas ou entendidas em seu conjuncto, e accommodadas ao
sentido claro de direito com que o juiz se conformára, quando
é indubitavel que é comprehendido n'uma sentença tudo quanto
deIla se deduz por necessaria antecedencia ou consequencia,
de modo que sem'essa intelligencia a decisão ficaria illusoria
(T. de Freitas a Pereira de Souza, nota, 605); assim tomam
conhecimento do aggl'avo, para, considerando o despacho ag,'
grl1vado como de primeira instancia, o· confirmar por seus
fundamentos.
Pagas as custas pela ág-grav81nte.
Petropolis, 13 de Dezémbro de 1895.-Gomes, presi·
dente, -Santos Oampos, relator .-Silva Fm'raz. -Ferreira Lima.
-845 ......
Não cabe aggravo da deoisão que rejeita a
excepção de illegitimidade de parta: ' .
Aggravo de ins1:rulUen1:o n. 69

Aggravante -Joaquim-José de Amorirn e Silva.


Aggravados-Benigno Ama(lo Rodrigues e outros.
Tribunal da Relação do Est!1do do Rio de Janeiro

ACCORDAM

Accordam em Relação.
Vistos, e, apóS o sorteio legal,relatados e discutidos estes
autos de aggravo, vin dos da comarca de Nictheroy, entre par-
tes,-aggravante Joa.quim José de Amorim e Silva e ag-gra-
vados Benigno Amado Rodrigues e outros:
Considerando -que o aggravante, no termo de recurso que -
assignou, não fez referencia a qualquer dispositivo de lei em
que o apoiava; e, se no final de sua minuta, tI-. 57, cita in-
determinadamente o art. 669 § 18, parece querer referir-se ao
Regu!. n. 737 de 25 de Novembro de 1850, o qual, nessa
parte, exara a admissibilidade tIe aggravo interposto de sen-
tença de lJrócedencia ou improcedencia do embargo;
Considerando que, entretanto, as allegações ou razões con·
tidas, nem só na petição de fi. 50 dirigida ao juiz prepàrador,
como ainda na minuta ao juiz julgador, não versam sobre a im-- _
prol',edencia do arresto, não se allegando não se terem pro-
vado devidamente as condições exigidas pelo art. 322 do cio
tarIo Regu!. n. 737, mas versam sobre materia de excepção
peremptoria de ordem processual da. propria acção principaJ, a
qual ainda nem proposta foi, isto é, sobre íncompetencia das
requerentes arrestantes para estarem juntos em juizo, ou so·
bre a indivisibilidade da causa, dizendo expressamente o ag-
gravante que se ab8tem de di8cuti?' o merecimento do feito;
Considerando que, se os actos jurídicos não padecem em
sua essencia pela denominação diversa que se lhes venha dar,
a incompetencia alludida é propriamente assnmpto de illegiti.
midade de pártes, e não de juizo, ou declinatoriafori, que nem
o aggravante de frente accentuou, t3 nem era de articular-se,
attentos os valores, superiores á alçada dos debitos pediJos por
qualquer dos tres segnintes arrestantes-Antonio Gomes de
Almeida, credor de 2:650$000, Manoel Rodrigues, credor de
4:725$000, e Antoniolglezias, credor de 1:066$000;
Considerando que da decisão proferida sobre illegitimi-
. drde de partes não cabe aggra vo, por não ser caso do art.669
do Regul'. citado nem de qualquer outro dispositivo, como tem
- 34~-

entendido os tribtmae~ (decisão do presirlente do Tl'ibun!l.l do


Cómmel'cio do Rio, de 5 de Novembro ,de 1869. e ,de 7 de
Maio de 1872, accol'.tam d;t Relação (to Rio di1 8 de Feverei 1'0
de 1876, e de 19 de Fevereil'o de 1881, da Relação de São
Paulo de 11 de Fevereiro de 1876, e da Relação de Ouro
Preto de 16 de Setembro de 1879, Revista Juridiaa n. 11
pag. 133, Direito, vol. 25, pago 56 e Orlando ao Regulamento
OOrJ'I.1nercial, nota 512); -
Considerando que decisões sobre incompetencia de partes
não são de incompetencia do juiz ou do juizo para que tenha
cabimento, em taes caso~, aggravo com fund>tmento no art.669
§ l° do Regltl. n. 737, recurso) que por slta uaturpza é res·
tricto e inampliavé'l de um caso a olltro diverso, como expres·
sam~nte se lê em Pereira Souza por T. de Freita~, nota 682;
Considerando que muito menos é incompetencia de juizo I
a materia de connexão de causa, que só é apreciavelno correr
da mesma causa pa.ra annullar ou não o processo, com effeito,
definitivo: resolvem, bem examinados as razões e fundamen.
tos do recurso, que, entretanto com muita impropriedade, ex-
clusivamentese reportaram á incompetencia do juizo, não co·
nhecer do aggravo por não ser caso deIle.
Pagas as custas pelo aggravante. ,
Petropolis, 17 de Dezembro de 189'5.-Gomes, presidente.
-Santos Oampos, relator designado.-Fel'rei1'a Lima.vencido.
-Oarlos BastaI, '

Da. decisão sobre a excepção declinatoria


fori. mesmo recebida e julgada depois de
discutida, cabe aggravo.
O compromisso de responder por algum
negocio. ou dep agar alguma divida. em lugar
determinado, importa a renuncia do f<lro
domiciliario e a obrigação de responder nO
do contracto. .

Â~~ravo civel

.Aggravante-Antonio José da Oosta.


Superior Tribunal d. 1ustiça. do Eitado de Perll.M,mbuco

ACCORDAM

Accordam no Superior 'l'rihulll\l de Justiça em tomar


conhecimento do aggravo porque da decisão sobre O incident,e
da excepção declinatoriafm'i, mesmo recebida e julgada depOIS
di discutida,· cabe tal recurso, For não imlTortar ella jul~a'
- 3~'l-

mento final da causa, istoê, da. materia daacção; Rev. n; 8.949


dp. 13 de Setembro de 1876, DireitG, tom. 11, pago 835; e
Acc. Rev. da ReI. de Porto Alegre de 12 de Outuoro de 1877,
Direito., tom. 14 pag: 752 ; Orland.>, 4& ed., pags. 663 e 664,
nota 517 ao § IOdo art~ 669 do Regu!. n. 737; e em-negar
provimento ao mes!ll0 aggravo porque, quando a]guem se obriga.,
a responder por algum negocio, ou a pagar alguma divida, em .
algum lugar, se tem obrigado ao fôro desse lugar que é 0.(10
contracto; Ribas, OO.ns. das leis do. PrO.c. Oiv., art. 168 ; Ord.
liv. 3° tit. 6- § 2~, e tit. 11 § 1-; serido que, si ,a obrigação
de responder por algum negocio, ou de pagar alguma divida,
em algum lugar, não foi satisfeita voluntariamente, deve sei-o
1'01' coacção da justiça, que deve' ser a desse lugar. Orlando,
4a ed. pag. ~29, nota 58 ao art. 62 do Regul. n. 737, e
pago 173, nota 496 ao § 4° do art. 354 do Cod. Oommercial,
registra varias decisões firmando a jurisprudeneia de que' o
compromisso de. responder por algum n~gocio,. ou de' pagar
alg'uma divida, em lugar determinado, importa a renuncia do
fôro domiciliario e a obrigação de responder no do contracto,
que é o ajustado para a. satisfação da obrigação, ou para O"
pagamento. Custas pelo aggravante Antonio" José da Costà.
Recife, 3 de Março de 1896. - F. LttiZ, presidente~- S.
GO.nçalves.:- Costa Ribeiro.. - Almeida.

eallamnto .ivil .elellra.. ia MItr..us ••\


a f61'ma t ..te.unhal : re(Uilitol par.... lU.'
validade.
Intelligencia dos arts. 88 e 39 SI 1 e .{ d.
Decr. n. lil de ~ de Janeiro de 1890.

Aggravo civel

Aggravantc8-JO.aquim Gomes do Amat'al e 8ua mulher.


AggravadO.s-JO.flO. OandidO. Fleury TO.rres e O.ut1·O.8.
-T rib.nal S\lperior de lultiça dQ, Ji:ltadQ do Par'

SENTENÇA.

Vi!ltos estes, autos, etc. R~quereram a este juizo os si.. '


gnatarios aa pet.ição de fi. 2 que lhes fossem tomadas para os.
effeitos de direit.o as declarações que traziam, relativas ao ca-
saluento civil, celebrado 'in extremis, . sob a fôrma testemu-
nhal, de Lourenço Gomes do Amaral com Emilia Joaquina
da Costa. Juntaram um termo av'ulso que na occasião foi la- .
vradIJ, o qual traz' 0'8 diZ'ires que a p'itição:. reproduz.
- 348 -,..

Do depoimento das testemunhas de fIs. 6 a 18 se deduz,


como historico das circumstancias dadas, Oll como reconstrucção
das circumstancias que se succederam, que:
Lourenço Gomes do Amaral vivia, ha 20 annos, mais ou
menos, com Emilia Joaquina da Oosta, com quem tinha tido 9
filhos. Em Setembro do anno corrente realisára o seu casa·
mento sob a fórma religiosa e, tempos depois, sentindo-se
doente, em 19 de Novembro findo, mandara chamar a auto·
ridade competente da localidade para fazer o seu ca~amento
ciTil. Não. sendo encontrada a autoridade, foram no dia se·
guinte (20), pela tarde, convidados, mais a recado de Emilia
Costa, do que a chamado de Amáral, cujos soffrimentos se
aggl'avavam !3 que por esse motivo não podia mais effectuar o
seu casamento civil pela fórma ordinaria, os cidadãos que as·
signaram a petiçãQ de fi. 2 e o termo de fi. 4. Presentes que
foram, á excepção de um (8:: testemunha), que, se compromet-
tendo a comparecer e chegaudo depois de feito e conclui do o
Rcto, não duvidou assignar os eu nome, como testemunha, lemo
brada e exigida para acompanhar. a assignatura do cidadão
que o fez á rogo da contrahente, no termo escripto, assistiram
a Lourenço Gomes do Amaral declarar que era de sua vontade'
casar-se civilmente com Emilia Oosta. Interrogado por tres
testemunhas (6::, 7a e 9a) se acceitava Emília Costa por sua
legitima mulher, ou se acceitava o seu casamento civil com alia,
exprimio Amaral pela affirmativa a sua vontade. Emilia Costa,
tambem presente, foi ouvida dizer, por sua vez, que queria
casar-se com o enfermo e declarou que o acceitava por seu ma-
rido. Foi lavrado um termo avulso no qual referiram-se essa.s
circumstancias, sentio por uma delIas escripto e a rogo de
Amaral assignado, assignaudo-o os demais com um outro cio
dadão que o fez a rogo da contl'ahente por nao saber ler, acom·
panhado de mais dous, prefazendo ao todo o numero de nove.
Morto Amaral no dia immediato (21), somente appareceram'
em juizo com a petição de fi. 2 no dia 23, allegando ter sido
donlingo o dia intercalado (22).
Ootejando-se a prova te:itemunhal obtidá com as allegações,
da petição de fi. 2 e as referencias do termo de fi. 4, salta a
repar~ a deticiencia, ou antes, a differença quantitativa de teso
,temunhos, relativamente a dous dos requisitos exigidos pelo
art. 39 de Decr. n. 181 de 24 de Janeiro de 18~0. Ao
passo que a prova testemunhal, que este juizo considerou bas-
tante para apreciar as circumstancias que se agruparam em
torno do facto principal, é evidéntemente conteste e uniforme
acerca não só das condições prestabelecidas. DO art. 38, c~m.o
sobre alguns dos requisitos. como que imp~rativamente eXIgI-
- 3-49-
dos, do art. 39 do cito Decr., todavia, a respeito dos requisitos
sob uS. 1 e 4 falhou esta contestidadee essa uniformidade.
Entretanto, elIes tiveram IJrova sufficientemente juridica e va.
lida para gerar a convicção de que foram observados' e' cum·
pridos, se não tão con vincentemente em relação ao primeiro,
ao menos quanto ao quarto. .
Affirmam a segunda e a quinta testemunhas, e a eUas se
reune a nona na confissão do encargo 'que recebera de Amp.Í'1I.1
enfermo, que foram chamjl.das a mandado deste, e as out.ras
asseveram que o foram a srec~do de Emilia Costa. Nacon·
junctura naturalmente atelTadora da vida da família, em que
se achavam,. resultante da aggravação da enfermidade de
Amaral, concedido, quer que Emília Costa fizesse transmittir
o chamado ás testemunhas de ordem ou chamado de Amaral,
o que não era impossivel, quer queella o fizesse por si, de motu
proprio, como interessada, o que é prova.vel, qualquer que
tenha sido a procedencia dessa determinação, não pôde, nem
deve ella prejudicar a legalisrlção do casamento civil exce-
pcionalmente celebrado, como fôra, porquanto, _<i\ntre outras
razões, sobreleva a de não dever ser difficultado o casamento
civil no regimen de igualdade e liberdade que politicamente
adoptamos desde 1889, se não, unicamente, por enfermidades,
mãos costumes, impossibilidade de manter os !ólncargos da fa--
milia, ou nos casos de impedimentos estabelecidos pela lei,
conforme já foi explanado 111) final do Av. de 11 de Setembro
de 1890, dirigido pelo ministro da justiça ao governador de
S. Paulo e publicado no Diario Official (Federal) de 13· do
mesmo mez.
Se não houve da parte do enfermo recusa alguma que
pudesse encabeçar-se no principio do art. 32 do Decr. 181; se
não transparecem indicios de que o enfermo soffres~e coaéção
de especie alguma ou não pudesse dar ou manifestar o seu
con~entimento por palavras de modo inequivoco, conforme es·
tatue o § 5° do art. 7° do cito Decr., não se pôde deixa'r de
attender a que o testemunho desses tres cidadãos, não obstante
o appal'ato exigido de seis testemunhas, apenas como garantia.
de maior publicidade-coram POpttlo-, sem com tudo dever ser
restricta e imprescindivelmente necessario para todas as ciro
cumstancias minimas que Ruooedessem, constitue prova bas.
tante para fazer conhecido e certo o concurso do enfermo para.
esse fim, um seu movimento volitivo para esse resultado;
tanto mais quando considerar-se que a restricção da lei (9 10
, art. 39), fazendo necessario o convite ou chamado âs testemu-
nhas apenas dependente do enfermo, deixa a outra parte con·
trahente na passividade silenciosa de Rcceitar tudo sem o direit9
-3S. -

ou faculdade de pronunciar-se ou agir em .proI da sua sit.uação,-


da situação de seus filhos, da situação do· proprio enfermo im-
possibilitado~ .
Certo, o espirito da lei não pôde ter sido tão escrupulobO,
concernen~e apenas a evitar a intervenção ou o concurso de
uma das partes, isenta mesmo de má fé, para essa circumstan-
cia, e commetter a. obrigaç'io de preenchel·a á outra parte
meI1~s capaz physicamente de agir.
Mittermayer, no seu Tratado da Prova ed. de 1871, pa-
ginas 438 a 439, capo XLVI; doutriria que bastam duas teste·
munhas para affirmar e rlemonRtrar 'certos factos.que se pren,
dem a um corpo de delicto, com tanto que sejam concordes
em seus detalhes, não sejam suspeitas,nem suggestionadas,
Mutatis mutandis, a prova obtida acerca do requisito questio-
nado não pôde ser recusada,
Clovis Bevilacqua (Di1'eito da Família pag, 110) com-
mentando e explicando o Decr. de 24 de.Taneil'o de 1890, não
faBa, entre os requisitos do casamento in articulo mortis da
necessidade de ser o chamado ás testemunhas imprescindivel.
mente da parte do enfermo; faz necessari. que ali testemunhas
tenham sido convocadas pa1'a o acto da declamção, sem tocar
nessa especialissima condição.
Quanto ao quarto requisito, affirmam a sexta, a setima
e a nona testemunhas e o coufirmam a segunda e quinta, que
ao enfermo (Amaral) foram feitas interrogações sobre se accei-
tava a contrahente por sua legitima mulher ou se acceitava o
seu ~asamento civil com eBa. Se não sãó contestes e unifor·
mes os testemunhos todos obtidos, nem por isso a prova dessa
circumstancia, assim explicada, se torna menos completa, por
parcialmente indirecta. A questão, porém, é que, se a. lei exige
a dicção da formula por cada um dos contrahentes, elIa não foi
feita pelo enfermo.
Entretanto, no estado de molestia grave em qu~ Amaral
se achava, as respostas affirmativas e confi'l'mativa8 dadas por
eUe ás interrogações feitas pormais de uma. testemunha-s o•
bre se acceitava Emilia Gosta p01' sua legitima mulher, se ao·
ceitava esse casamento civil com ella-, attendendo a que a
articulação da linguagem o fatigava, ut depoimentos, 8em to'
davia ter perdido o uso perfeito fte !luas faculdades mentaes,
I!!f!m mesmo estar nl!. proximidade da I!I.nkylosis, devem sup'
prir essa dieç!o d&formula, que deil:on di ter.6 seU mod.
flraI priciio por lircnmstaneia di for~& maior, alaei!., certa·
menttl, á. vista. dos factos da.dos, i . 'Vontadi do enfermo. ~.
outra sorte, a ter restricto cumprimento, em geral, o reqUl'
.ito de n. -4: d.art, 39 d. Decr • UH, Icaráprivado ia fa'
-3é1-
culdade de contrahir casamento todo aquelle que por defeito
physic(I não tiver a pronunciação perfeita, ou não a tiver dé
todo, ou não a tiver em consequenciade enfermidade local ou
da especie em que se achava Amaral.
Não constituem esses defeitos casos de impedimento ou
de incapacidade estatuidos pela Lei. o pensamento do legis-
lador na confecção do Decr. 181, não foi tão rigorosamente
especifico e restricto para tãosómente dar a legitimidade dó
casamento aos que tiverem a articulação perfeita e sã da lin-
guagem.
A Lei, é certo, estabelece principios geraes sob:'e casos ge-
raes, mais ou menos' communs. Dada a superveniencia de ca-
sos especiaes que ella não abrange em seu texto, mas não pôde
l'epellir do seu pensamento ou espirito sem offensa ao honesto.
e á razão natural, vem a interpl'et;:tção modificar a sua lettra
para evitar a inconsequencia e o absul'do na sua execução.
Paula Baptista, tratando dos elementos de interpretação
no seu Comp. de Be1'meneuUca §§ i3 e 14 ensina que-em.aZ-
gU'I1W8 vezes, o pensamento da Lei é em sua ve1'dade que deter-
'IIIina-Ule o sentido, 1'ectificando as lJaZavras, e que o pensamento
da Lei ent todo o ca,~o é que é a Lei.»
••• « &i não bastam as noções naturaes e ",gulares das pa-
lavn2.8 , deve"s~ 1'eC01Te?' á infl'uencia do pensamento, cuja veráadf3
e exacticlão não devem Se?' sacrificadas ás intpe1'jeições e incon-
seqnencias da lin,quagem.» '
Não foi proferida pelo enfermo a formula recommendada;
teve, porém, uma substituição equivalente, eft'ectuada pelas
interrogações das testemunhas e respostas do enfermo, ha-
vendo-a precedido a manifestação livre do eonsentimento ou .
da vontarle reciproca dos contrahentes. Se, como parece, essa·
forma excepcional de casamento civil-in a1"ticulo m011is foi·
estabeleeida para o fim de legitimar os filhos de uma' união
até elltão illegitima, ou constituir a famiHa-Iegitima-(n. 3
do art. 39), effeito precípuo do casamento na phrase de ·0. Be-
vilaqua e um dos Heus intuitos principaes na de Lafayette-
D. de Familia-, não deve ficar illusoria a intenção da liiua
execução em absoluto da sua fórma gl'aphica, rnaxime se con-
siderar-se que na hypothese occorrente «o casamento, adiado
ou 1'etq?-dado por qualqw:w motivo, é reclamado por um p1'inci-
. pio de moralidade e de justiça,» competindo ao Di1'eíto expun-
g~.1' áa família a nota de illegitimídade qUI a nodoava»-C.Be-
Vllaqua cito § 7° pags. 110 e 408. "
Assim, pois, attendendo a que os cidadãos que serviram
~e testemunhas, lavradores na sua maioria, se apegl1ll'am á
lUstrucções de formulario, sem attentarem para o conhecimento
352 -
que tinham dos factos que presenciaram, resultando d'ahi dis·se.
melhança ou falta de identidade entre a prova testemunhal e o
tel'molavrado (fi. 4), o que, todavia, não prejudica a celebração
do acto pelos fundamentos expostos;
Attendendo a que não seria pelo menos equitativo privar
da legitimidade do casamento civil celebrado entre os contra:'
hentes, um dos quaes morrêo na presumpção desse estado e o
sobrevivente presume tel·Q (art. F.3 do Decr. cit.);
Attendendo a qU(3 não prejudicou nem podia prejudicar a
apresentac;ão da petição de fi. 2 um dia depois do prazo do art. 38
pela interferencia de um domingo, porquanto este é feriado no
fôr{) , não sujeito a despacho e aqllelle prazo não tem i) curso do
fatal da appelIação (lei do Estado n. 455 de 11 de Junho do
anno corrente, art. 248) ;
Attendendo a que não se apresentou interessado Iro prazo
assignado pelo edital de fI. 19;
Attendendo ao mais que dos autos coüst.a, julgando, como
julgo, pelas considerações feitas, provados os requhit.os dos
arts. 38 e 39 do Decr.181.de Nde Janeiro (le 1890, hei por
verificada a idoneidade dos contrahentes Lourenço Gomes do
Amaral e Emilia Joaquina da Costa para casarem-se um com
outro, e como reconhecido legal o casamento entre os mesmos
celebrado da fórma que faz certo o termo de fI. 4; pagas as
custas do processo pela contrahente sobrevivente.
O escrivão intime a elIa esta minha decisão, assim - como
aos interessados parentes do contrahente fallecido, de prefe·
- rencia ascendentes, se os houver, e cumpra no mais o seu re·
gimento, publicando-a em seu cartorio.
Vigia, 28 de Novembro de 1896.-Aristides Oarlo8 de
Moraes.

Interposto aggravo desta decisão, proferio o Tribunal Su· -


perior de Justiça o se~uinte
ACCORDAM

Vistos, relatados e discutidos estes autos de aggravo de


instrumento da comarca- de Vigia, entre partes, aggravantes
Joaquim Gomes do .Amaral e sua mulher e aggravados João
Candido Fleury Torres e outrolil, etc. Accordam em Tribunal
negar provimento ao aggravo para confirmarem a decisão agg ra•
vada por ·seu~ fundamentos.
Os ·fundamentos do aggravo improcedem :
a) A incompetencia de juizo allegada nenhuma razão tem
de ser, pois provado, como se'aeha, dos autos a ausencia e imo
- 353-
pedimento dos juizes substitutos da circumscripção judiciaria de
Porto·Salvo, verificou-se a hypothese do art. 37 da lei n. 181
de 24 de .Janeiro de 1890.
b) As allegações de preterição de formalidades legaes rela·
tivas á validade do consentimento do nubente enfermo, nenhuina
procedencia tem, porquanto todas as testemunhas são contestes
em affirmar que elle declarou de modo inequivoco que queria casar
para legitimar seus filhos, não tendo repetido a formula legal por
motivo de força maior, qual o de não poder pronunciar phrases
longas, attenta a gravidade do s~u estado de saude. Ora, havendo
DOR autos prova plen'l sobre o consentimento do nubente enfermo, .
a preterição de uma formalidade, motivada por força maior, não
invalida o casamento, tanto mais quanto todas as circnmstan-
cias que cortejaram o farto, não deixando entrever indicios de
coacção, geram presumpções favoraveis á expontaneidade" do .
consentimento. O nubente enfeí'mo era amasiado com a mulher
com quem casou, 11a vinte almos; tinha 9 filhos; ha 2 mezés
havia contrahido casamento religioso; e o art. 75 da lei do
casamento civil citada considera o casamento nuHo ou annulla-
vaI, como prodllzind,.\ todos seus effeitos civis, não só em rela-
ção aos conjuges, como tambem em relação á prole, ainda que
esta fosse havida .anteriormente ao casamento, uma vez que
tenha havido bôa fé da parte dos contrahéntes. Custas pelos
aggravantes. •.
Belém do Pará, 20 de Fevereiro de 1897.- G.
RiUencourt, presidente. -.ifapoleão de Oliveira, relator.- Au-
gusto de Borborema.- A. Bezerra.-Ounha Moreira.-Accioly
Lin3.

Não· é caso de recurso extraordinario a


deoisão proferida pela jústioa estadoal sobre
materia attinente ao exerci cio de funcções
legislativas e administrativas de uma Ca-
mara Municipal, não sendo posta em duvida
a validade ou applicação de lei alguma·
federal ou a constitucionalidade de lei esta·
doaI, sobre cujos pontos se tenha baseado a
decisão recorrida. .
Recurso extraordinario D. 97
Recor1'ente-Loul'enço Franco da Silveira.
RecMTida-A Oamara Munif!-ipal de Atibaya (Estado· de
S. Paulo).
Supremo Tribunal Federal
ACCORDAM
Vistos, relatado;]· e discutidos estes autos, delles consta:
que a Camara Municipal da cidade de Atibaya, Estado de
J?IR. TOL. 73 23
- 354-

s. Paulo, propoz perante o respectivo .juiz de paz a acção


.executiva para hllver de Lourenço Franco da Silveira paga·
mento da quantia de 96$, de imposto municipal por 60 mil
péR de café de sua fazenda no bairro de Caetituba, do muni·
picio da dita cidade, imposto que deixou de pagar no exel·cicio
ele 1893 a 1894 j que defendeu·se o réo com os embargos á
fi. 13, allegando não ter sido publicado o codigo de posturas
com infracção da lei estadoal n. 16 de 13 de Novembro de
1891, arts. 8° e 38 § 3-, pelo que não estava obrigado a esse
imposto; que a sentt3nça á. fi. 16 despresou os embargos, e,
julgando procedente a penhora, mandou proseguir nos termos
ulteriores: que, appellando o réo dessa sentença, foi a mesma
confirmada pelo juiz de direito da comarca, A. fi. 2-4: ; que desta
sentença interpoz recurso extraordinari~, que não foi admittido
pelo juiz de direito; pelo que tirou eUe carta testemunhavel,
qUtl teve provimento neste Tribunal pelo accordam é. fi. 88,
mandand'o tomar o recurso para ser julgado como fosse de
direito. E considerando o Supremo Tribunal que, tratando·se
de materia attinente ao eurcicio de funcções legislativas e
administrativas da Camara Municipal, são da competencia das
justiças estadoaes as questões que dahi se originarem; e que,
na especie sujeita, não foi posta em duvida tl validade ou
applicabilidade de lei alguma federal, Dem allegada e discutida
a inconlltitncionalidade da lei estadoal, sob cujos pontos fOS8.
Jlr')ferida decisão pelos referidos juizes j 8 sendo v~dada a
imerferencia da justiça federal na 8sphera jurisdiccional das
justiças estadoaes, exceptuados os casos expressamente decla·
rados na Constituição da Uniao, não toma. este Tribnual
conhecimento do presente recurso extraordinario por não ser
caso deUe. Pague'o recorrente as custas.
Supremo Tribunal Federal, 3 de Março de 1897.- Aquino
e Calt·ro, pl'esidente.-Pindaliba de MaUo3. -Âme1'ico Lobo.-
PertJirlL Franco. -Bifleiro de Almeida.- Jo40 Pedro. ,- Manuel
Jlurtinho. ·-Joflu Barbalho. -Be,'n'ardino Ferreira.-H. do
Espirito Santo, - Macedo SOarl!3. - Figuei1'edo Junior. -JO.6
Hygi'fto. Fui presente-Lucio dtJ Mendonga.
-355 -
Não é caso de recurso extraordinario a
decisão proferida sobre quelltão de nullidade
de doação por falta de formula julgada
substancial, visto tratar-se de simples inter-
pretação e não de transgressão de preceito
constitucional ou lei federal.

Recurso extraordinario n. IOI

Rec01'rente- D. Joanna Pereira das N'V6S.


Recorrido- Joaquim Rodrigues de Freitas, curador do
interdicto-Oandido Rodrigues de F1'eita8.
Supremo Tribu~al Federal
ACCORDAM

Vistos, expostos e discutidos os presentes autos de recurso


extraordinario, interposto do accordam na Côrte de Justiça
do Estado do Espirito Santo, sobre questão de nullidade de
doação por falta de formula julgada substancial, não tomam,
em preliminar, -eonhecimento do mesmo recurso por não ser
caso dalle, visto tratar-se na e5pecie de simples interpretação
e não de transgressão iXpressa de preceito constitucional ou
de lei federal e condemnam o recorrente nas custas.
Supremo Tribunal Federal, 6 de Março de 1897.-Aquino
e Oast1'o, presidente.-Berna1'dino Fer1'eim,-PereÍl'« Franco.
-':'MacfiÜo Boa1'es. - Manoel Mm'tinho.- João Ba1'balho.- Ri-
oeiro de Almeida,-Jo{J,o Pedro.-H, do 1!lspi1'ito Banto,-Fi-
gueiredo Junior.-José Hygino.-Arne1"ico Lobo, vencido na
preliminar.-Fui
. , presente, Lucio de ]fendonça.

Recurso eleitoral: - não se toma delle


conheoimento quando interposto, processado
e apresentado ao Supremo Tribunal Federal
em auto apartado.
Recurliio eleitoral D. I3

Reco1'rente- JO(tquim Oamillo da Conccição.


Rec~rrida - A jnnta eleitoral da capital (lo Éstado de
Sergipe,
Supremo Tribunal Federal
I
ACCORDAM

Vistos, relatados e discutidos estes autos de recurso in-


terposto por Joaquim Camillo da Conceição, da decisão da
-356-

junta eleitoral da capital do Estado de Sergipe, que annullou


o ultimo alistamento do município de Maroim:
Accordam não tomar conhecimento do recurso, por ter sido
interposto, processadQ e apresentado a este Tribuual em auto
apartado, e não nos proprios autos em que foi proferida a decio
são recorrida, como deveria ilel·o conforme a regra do direito
processual em materia de recursos, regra que Dão comportando
excepções, senão nos casos expressamente declarados, não pôde
deixar de ser applicada ao recurso creado pelo art. 5° do decreto
n. 184, de 23 de Setembro de 1895, desde que deIla não o
exceptuou o citado artigo. E pague o recorrente as custas.
Supremo Tribunal Federal, 3 de Dezembro de 1896.-
Aquino e Oastro, presidente.- Macedo Soares. Não conheci
do recurso, porque a attribuição de julgal·o, conferida. ao Su-
premo Tribunal Federal por lei ordinaria, é inconstitucional.-
Pereira Franco.-Pind«hiba de M:attos.-H. ao Espírito Santo,
vencido.-Americo Lobo, vencido.-Figueiredo Junior.-Ber-
nardino Ferreira, vencido.- Lucio de Mendonça, vencido na
questão de nlio se conhecer do recurso, fui voto vencedor.-
J086 llygino.

Recurso eleitoral: - O Supremo Tribunal


Federal toma conhecimento delle por tratar·
se de materia concernente 11 direitos poli·
ticos que, implícita, senão expressamente,
está comprehendida na esphera da, jurisdi.
cção federal.
Improcedencia do recurso interpo~to da
decisão que deixou de conhecer do que foi
apresentado contra a organisação das com-
missões seccionaes de alistamento, por não
ter o recorrente provado a sua qualidade de
eleitor. .

Recur~o eleii:oral n. 24

Recorrente-Baoharel Ãscen,o MariCl Gonçalves de Ofl,st1·o


Mascarenhas.
Recorrida-A junta eleitoral do Recife (Pernambuco).
Supremo Tribunal Federal

ACCORDAM

Vistos, expostos e discutidos estes autos de recurso inter·


posto pelo bacharel Ascenso Maria Gonçalves de Castro Mas·
~-;'.carenhas da decisão. da junta eleitoral do Recife, Estado de
Pernambuco, que deixou de conhecer do recurso pelo mesmo
,-bacharel apresentado contra a organiliação das commisliões
-.;. 357 -

seccionaes do alistamento do municipio daquella capital, pelo


fundamento de não ter o recorrente provado sua qualidade de
eleitor com a exhibição do respectivo titulo ou de qualquer
outro documento que o supprisse, r,esolvida a preliminar de
tomar-se conhecimento da especie, visto tratar--se de tnateria
concernente a direitos políticos, que implícita se não expres-
samente está comprehendida na esphera da jurisdicção federal,
accoriam em negar provimento ao recurso por ser conforme
á lei a decisão recorrida, não podendo reparar aquella falta
a extemporanea e tardia exhibição feita pelo recorrente com
o seu requeriniento â fi. 36 dOI! autos. Pague as custai o
recorrente.
Supremo Tribunal Federal, 23 de Fevereiro de 1897.-
Aquino e Castro, presidente.- Pindahiba de Mattos. -Manoel
Murtinho.- Joo,o Ped,'o , - 1Jíacedo Boares, não conheci do
recurso por fundamentos já expendidos em recursos identicos.
- Americo Lobo.-Berna,'dino Ferreim.-Figueiredo Junior.
-Ribeiro de Almeida.-Eapirito Banto,-Fui presente, Lucio
de Mendonça,

o meio juridico para evitar que um dos


consenhores da co usa commum, pratica-
mente indivisivel, a desfructe com pri3juizo
dos demais consenhores, é o indicado na Ord.
liv, 4' tit. 96 11 5°.

Acção de arrendaIDento

Autm'es:-José Maria Carneiro da Cunha, sua mulher 6


outr08.
Réos-Ãntonio Leão de Castro e out,'o.
Juizo de direito da comarca de S. Lourenço (Estado de Pernambuco)

SENTRNÇA

Vistoi estes autos de" arrendamento do engenho «Colle-


gio» deste municipio entre partes: autores-,José Maria Car-
neiro da Cunha, sua mulher e outros, e réos-Antanio . Leio
de Castro e Manoel Umbelino Ferreira da Silva, uns e outros
consenhores do dito engenho, etc.
, Pedem os autoros que sejam. citados os réos para em au-
~iencia deste juizo nomearem e approvarem louvados que ava-
hem as rendas do referido engenho pelo tempo de trez annos,
àfim de ser o mesmo arrendado em hasta publica, ou allegarem ',.;
por via de embargos o que lhes convier contra dito arren-
- 358-

damento, sob pena de revelia e lançamento, o que lhes foi de·


ferido. Accusadas, as citações dos interessados;compareceu o réo
Antonio Leão de Castro que pediu vista e oppoz os embargos d,
fi. 61 em que aUega:
l' Que semelhante procedimento por parte dos autores é
nuHo e nenhum effeito pode produzir, porquanto nenhuma lei
autorisa um consenhor de um predio, pertincente em sua tota·
lidade a maiores, a obrigarem aos demais 8. arrendaI· o em
hasta publica, principalmente quando, como na hypothese, ,
existe um consenhor encabeçado e que não se recusa pagar
renda. aos outros, na proporção de suas partes:
2- Que a. Ord. Liv. 4° Tit. 96 § 5 em que os embarga·
dos suppõem encontrar apoio para o seu pedido, não os favo·
rece, pois que só tem applicação á divisão e partilha de bens
que se não pode fazer commodamente entre os herdeiros de
taes bens, como se deprehende de sua epigraphe.
O que tudo visto e examinado:
Considerando quo o remedio juridico para evitar que um
dos consenhores da cousa commum, que não pode ser mate-
rialmente dividida sem damno, a desfructe com prejuizo dos
demais consenhores é o indicado na Ord. Liv. 4: tit. 96 § 5
que assim dispõe:
«'rendo os herdeiros ou companheiro8 alguma cousa que
« não possam entre si partir sem damno, assim como •.. moi..
« nho, lágar ou outra cousa semelhante não a devem partir,
« mas devem-lla vender a cada um delles, ou a outro alguem,
« qual mais quizerein; ou por sim aprazimento trocarão com'
« outra~ co usas si as houver. E si. não pudtwem pm' esta ma·
~ neira avir, arrendal·a·hão e parli1'ão a renda entre 8i»; .
Considerando que notaveis praxistas, entre eUes conse·
lheiro Ribu, Consolidação cfas Leis do Proc8s8o Oivil, noto 78
ao artigo 860; Teixeira de Freitas, Consolidação dos Leis
Civis, noto 23 ao artigo 95~, cuja obra tem força obrigatoria
ex-vi da resolução de 28 de Dezembro de 1876, e outro!!, têm
entendido que a providencia da cita.dA. Ord. não só tem appli·
cação á respeito da divisão e partilha, entre herdeiros, ~6
bens que não podem ser commodamente divididos ou partl o

lhados, romo tambem a respeito de todos os ben! ou cousas


possuidas em commnm e que não podem ser materialmente di·
vididas sem damno;
Considerando que esta doutrina está. de accordo com a
jurisprudencia firmada pelos nossos 'rribunaes; como se pôde
,. vêr, entre outros, do accordam do antigo Tribunal da RelaçãO
. do Recife, que confirmou, em grão de appellação, a sentenç~
de I)rimeira instancia .na acção de arrendamento do engenho
- 359-

~QueimadasJo) de Ban'eiros (Direito voI. 2.- pago 246); do ae·


cordalD do Superior Tribunal deste Estado, proferido em
grão de app·ellação na. 8.cção de arrendamento do engan'lO
~Quizani8.. deste municipio, confirmando, por tmanlmidalle,
a sentença de primeira instancia, que julgou procedente dito
arrendamento,e de muitos outros julgados no mesmo sentido,
mandando applicar o remedio dll. citada Ord. sempre que a divilJão
da cousa commum não se puder fazer physicamente lIem prejuizo ;
OonlJiderando qne send.o o engenho cO.llegio. lima pro-
priedade agricola pertencente 8. dinrsos e d'aqnellas que
não podem ser materialmente .divididas sem damno, o _meio
de evitar que o réo embargante, a aproveite com prejuizo dOIl
demaiR, outro não pode ser sinão o indiclldo na citada Ord.,
e sendo "s~im, nenhumA. proc~dencia têm 011 embar'goll de fi. 6l
em qUI SI pede .. nullidade da presente acção por (alta de
base Juridica ;
. Por ,.tes fundamentos e o mais que dos autoil consta,
delJpre~o afina.l 08 embargos de fI. que julgo improcedentes e
não provados, e mando que Biga 11. acção 8~US- devidos termo~ ;
não pagas ali (mstas pelo embargante. Hei esta por publicada
em mão do escrivão, que fará as precisas intimações.
~. Lourenço, Julho de 1896.-Lui~ $ctlazal'da V. Pessôa.

Esta sentença passou em julgado.

Jurisdioção Commeroial
Dissolvida uma sociedade, perece a firma
commercial sob a qual eUa exercia o com-
mercio.
A continuaoão da firma á porta de um dos
socios, que fundou nova sociedade, é um
acto de concurrencÍlI. desleal contra a socie-
dade fundada por um dos outro. 8ocios, cujo
nome fazia parte deUa.
Appellação CODuDercial D.

Appellamtes- Oerquei1'a &: 8oal'es.


Apl)elZados- Ortiglfo, Santo8 & O.
COrte de Appellaoão do Districto Federal

PRTIÇÃO INICIAL
Exmo. Sr. Dr. Pruidente da Oamal'a Oommef'cialdo T,-ib,t·
nal Civil e Ol'iminal-Dizem Ortigão, Santos & C. que são uma so·
-360-

ciedade em nome coliectivo, cuja razão social é formada com os


nomes dos dous'socios Antonio de Barros Ramalho OrtigãoeJa-
cintho Roque Condé dos Santos (doc. n. 1) os quaes tinham ante-
riormente pertencido á firma Cerqueira, Ortigão& C., dissolvida
amigavelmente, nos termos do distracto a estajnnto (doc. n. 2).
Por effeito da dissolução desappareceu,-e não podia deixar de
desapparecer,-a firma Cerqueira Ortigão & O., composta de
quatro socios, dos quaes dous constituiram logo a firma sup-
plicante e' os outros dous formaram, na mesma occasião, uma
nova sociedade sob a razão social de Cerqueira & Soares.
O nome Ortigão, que figurava na firma dissolvida, é claro
que só podia ser usada por Antonio de Ba·rros Ramalho Ortigão,
em nova firma ou por outro qualquer modo, pois é uma pro·
priedadé sua que a lei garante.
Formando-se a sociedade Ortigão, Santos & C., ficou a
supplicante com direito exclusivo a esta razão social, sem que
a ninguem seja licito usar della ou de qualquer dos dous
nomes que a compõem: Sem embargo, Carqueira & Soares
conservam escripta á porta de sua casa commercial, á rua
dos Benedictinos n. 4, a firma Cerqueira Ortigão & C.,
sendo de 'notar que o nome Ortigão alli se lê duas vezes, pois
na mesma porta 'conserva-se tambem a primitiva firma Ortigão
& C., fundada pelo muito conhecido negociante Joaquim da
Costa Ramalho Ortigão, pae do socio Ortigão, da firma sup·
plicante (doc. n. 3).
Este facto só encontra explicação no proposito, da parte
de Cerqueirn. & Soares., de se recommendarem com o nome de
Ortigão, dando logar á confusão entre sua firma e a da suppli-
cante, que ambas têm por objecto o mesmo negocio, o de com-
missão, constituindo isso um acto de concurrencia desleal que
grandemente prejudica a supplicante.
A' vista do' exposto, quer a supplicante fazer citar a Cer-
queira & Soares, na pessoa de qualquer dos socios, para, na
primeira audiencia do juiz que fôr designado, sob pena de re-
velia, responderem aos termos de uma acção ordinaria a que
desde já, para os effeitos de direito, dá o valor de Rs. 50:000$
e na qual a supplicante provará:

I
que Cerqueira & Soares têm á pl)rta de sua casa commel'cial
o nome Ortigão, por este modo: - Cerqueira, Ortigão & ., e
Ol'tigão&C., firmas ambas a que pertenceu osocio da supplicante
'. Ortigão, e das quaes a ultima foi fundada por seu pae;
361

II
que assim procedendo, commettem contra a supplicante '
um acto de concurrencia desleal;
III,
que devem ser condemnados a não mais usar do nome
Ortigão e especialmente a apagaI-o da portada onde se acha;
a indemnisar a supplicante das perdas e damnos já. causados e
que se liquidarem na execução j a pagar 200$ por cada dia de
demora, a partir da petição inicial. '
, i'O
Nestes termos:
P. P. deferimento, ficando os supplicados
intimados para todos os termos da acção
até final sentença, sob pena de reV6lia.
Protesta-se por vistoria imme-
diata, depoimento dos supplicados e
todo genero de provas admittidas em
direito.
Rio de Janeiro, de Abril de 1895.-0. advogado, San-
cho de Barros Pimentel.

CONTESTAÇÃO
Conte&tandoa acção de fi., dizem Carqueira
& Soares contra os autores Ortigão Santos & C.,
por este, e melhor fórma de direito o seguinte:
E. S. N.
1.0
P. que a 3 de Agosto de 1878 fundou-se nesta capital,
sob'a razão social de Ortigão &; Oomp., uma sociedade com-
missaria, da qual foram unicos fundadores o finado Joaquim da
Oosta Ramalho Ortigão e o réo Joaquim J08é Oerqueira.
2?

• P, que fallecendo em 1889 o socio Ortigão, de quem


fora intimo amigo o réo Joaquim José Cer.queira, tomou este
a si, na forma do coutracto social, todo o activo da mesma
firma, pagando á vi uva e herdeiros de seu finado socio e amigo
todo o capital e lucros a elle ]Je1'teneetes, ficando unico respon-
8aveZ pelo pas8'ivo da firma.
- 361-

3.°
P. que o réo Cerqueira, querendo honrar a m.mGria de
seu unico socio na fundação da primitiva .ociedade, chamou a
si o filho mais velho do mesmo, o a1ttor Â. tU Barros Rama.
lho Or"gão, que acabdra dtJ chegar da Buropa e d. 't1t' eman,
cipado por supplemento dfl idade, e fel-o seu fOJi(l, dando,lhe
12 I. nos lucro! da casa.
Q .
4,·
p, que da mesma. fÓl'ma emprestou a seu empre,aào
(guarda-livrOf) o autor Jacintho Rogue C ondé dOI Stlntos, oca.'
pital d. 30:000MOO, e tambem fel,o .eu ,ooio AOlidario,
dando-lhe igualmente 12 e/. nos lucros.
5~

P. que esta nova sociedade, em que o unico capitalt.ta ~r4


° "'0 Joaquim José Clrqueira, continuou, ainda em honra'
memoria de seu companheiro (I .ocio naluna.gão8ob a razão
social de OrtiglJ,o & ç.
6.·
P. Que só a 2 de Janeiro de 1898, esta firma foi modi·
ficada, passando d'ahi em diante a ser Cerqu,ira Ortigho &O.,
á. qual espontaneamente deixaram de pertencer os auto/'e3 .A.
de Barros Ramalho Ortigflo e Jacifttho Roque Oondé dOI Banto.,
no dia 16 de Ma,'go do corrente anno d(l 1895, como se vê A,
fi. 8.

p, Que n'esse mellt1&o dia de 16 de Março do corrente anno


de 1895, foi constituida a finna auto1'(! Ortigão Santos & O"
como se vê á. fi. 6 v.
Isto posto,

p, Que os autores A. de Ba1"'08 Ramalho Ortlgllo, J~'


cintho Roqu. Conaé aos Santos e o outr' ora empregado, bOJ8
delles 8ocio, José Bugenio Oardoso de LemfJs sãopenoll.s in'
competentes e illegitimas para COLLJl:CnVAMENTE demandarem 3
firma ré pela não ,'etiraaa das portaaa. de lua. ca.a do nome
OrtigãQ, que ali existe legitimamente desde 1878 (17 anllo')
fazendo parte de firmas sociaes, constituidas ambas segundo
as regra.s de direito,
-363-


p, Que a firma ré-Oerqueira & Soares-não é dirlctamenttJ
cessionaria dos autores A, de Barros Ramalho Ortigão e Ja-
cintho Roque Condé dos Santos, mas sim Joaqui1n José Oe,'-
queira e Francisco Joaquim Pereira SOct1'ell, como se vê á fI. 8
da clausula 5:1 do distrato da firma Cerqueira Ortigão & O.
cessionat'ia aa firma 01'tigão & O.
Sendo isto assim
10
p, Que os autClrellA. de Barro!! Ramalho Ortigão e Ja-
cintho Roque Condé dos Santos, não tendo direito algum ao
activo da firma Cerqueira Ortigão & C"estã9, entretanto,
ainda ligados a elIa, que não está, nem podia, em dou8 meee8,
estar liquidada, pois tem obrigações legae!! pelo passivo da
mesma firma, Cod. do Comm., art. 329. Ora
11
P. Que a firma ré Gerqueira & Soa1'e. é inteiramente
distincta da firma autora; e nem poderá !!er confundida com a
dos autores, que é Ortigão Santos & O.
Isto posto
12
P. Que a firma ré 0e.1'queim & Soare8, nunca U3GU dasfir-
mas O,'tigao & (,. e Cet'quei,'a Ortigão & O. e é isto que o di-
reito prohibe-Cod. Commercial, art. 340.
13
1', Que nosso Codigo O.,mmercial, nem lei alguma brasi-
leira ou . estrangeira, chamou firma ou razão .ocial o nome-
ou l1istico que o uso introduziu fazer escrever nas portadas
das casas de commercio para designar que ahi eroiste a séde a,
tal firma ou rado Ilocial, poill que

14:
P. Q~e iit'ma ou ,'azllo comme1'cial é o nome .00 o qual o
commerciante EXllatCE NO COMME .. CIO E ASSIGNA NOS ACTOS A.
ELLE REFERENTES. A.rt. 2- da ltli n. 916 de 24 de Outubro
de 1890,
15
P. Que a ré nunca usou da firma dos autores Ortigão San-
t08 &; O,
-364-

Isto posto
16
P. que é absolutamente impossivel concurrenoia desleal,
negociando os réos sob a razão social de Cerqu.ira & Soare8.
17
P. E dos documentos de ns. ] a 20 se Tê provada sobe·
jamente a solicitude e até exoesso ele publioidade dada. á reti·
ràda dos autores da firma OerqueÍ1'a Ortigão & C.
18
P. que os diatioos, e não firmas, de Ortigtlo & e O., Ger-
?/.ueira Ortigão & C., que existem nas portadas da cata. da rua
dos Benedictinos n. 4, onde funccionaram durante annos aquel.
las firmas, juridicamente hoje desappa1'eoiáas mas não liquida,
elas, servem unicamente para indicar aoS fregueses das mesmas,
que têm saldos a retirar e oontas apagar, o local onde podem
fazel-o.
Para commerciar a ré tem, em lettra8 enormIB, e em pri·
meiro lagar, o distico CERQUEIRA & SOARES, que tambem é sua
razão commerci,al nos seus livros, nas suas transacç6es com Ban·
cos, ensaocadores, con~ todos os seus c01n1nlttentes, e a UNICA QUE
ASSIGNA.
19
P. que nenhuma disposição legal existe que imponha. fi
ré a obrigação de fazer apagar de suas portadas esses distioos,
ou, como pretendem os autores-o NO~E ORTIGÃO-j e por
tanto, o pedido dOI autores não tem fundamento em Direito.
·20
P. que se o commercio de commissõl~s de café fosse daquel-
les que a lei de mltrCCtSae fabrica abrangesse, o nome ou dis-
tico Ortigão seria uma usurpação. Mas não o sendo, porque o
commissario é unicamente intermediario entre o proauctor e o
comprador de café, O nome Ortigão é um simples nome patrony·
mico que distiugue o Sr. A. de Barros Ramalho Ortigão de
todo! os O?,tros 8eus socios. e entra hoje na composição da
razão commercial de Ortigão Santos & C. Nas portadas da
casa da ré não passa de parte integrante de disticos de firm a8
que alli existiram.
21
P. que o Direito não sancciona o pedido de indemnisação
-- 365 -

cumulativamente com a acção -ne usurpação de nome commerciaZ.


São acções diversas e de competencias differentes.
EBtretanto
22
P. que 08 autores Pedem â ré a arbitraria indemnisMá~.
de 200$000 diarios, il!to desde a petição inicial, isto é, antea
mesmo da P?'opositura da presente acção, O que o Direito não·
permitte de modo algum.
Neste. termos
P. que a presente acção ha de ser julgada improcedente_~
a ré ablolvida do injulilto pedido, e os autores condemnados
nas custas.
F.J.S.
E.O.
P. R. e C, de justiça.
p. P. N. N. e Utej~.-Protesta·se desde já pelo depoimento,
sob pena de confe888, üe cada um dos membros componentel
da firma autora, e por todo. os demais generos de prova em
direito admittidos. .
O advogado-Dr. Antonio ((6 Paula Ramos Junior.

ÁCCORDdl D~ OAMAR..l COMIIlERCIAL DO TRIBUlUL CIVIL


li: ORIMINAL

ViRtQs, relatados e Iliscutidos esteij autos, acção ordinaria,


entre partes-autores Orti(lllo, Santo" & O. e réoil Oer~ueir~
&Soàres : . ,
011 autores, firma· social cQmposta. dos socios .A.ntonio de
Barros R.malho Ortigão e Jacintbo Roque Condé dos Santos
(doc. á 11. 4) os quaes. haviam pertencido á. firma Oerqu6i1'a
Ortigão & O., dissolvida amigavelmente pelo distracto á tL 7,
pedem seI' condemnados os réos a' eliminar o nome Ortig40
que ainda conservam na portada da sua casa commercial (doc.
t 9) comminando-sl-Ihes a pena de 200$000 por cada dia de
lemora, ~ cOI)tar d~ data da petição inic,al e a indemllisal·os
~s perdas e damIIo~ que se liquidarem mio' execução e
:Ustas. .
. Como razões justificativas da soa intenção, allegam 0.51
lutores que, estandQ dissolvidl\s e definitivamente liquidadas
18 firmas antecessoras dos réus e persistindo elles em conservar.
:n?me Ortiuto, que não é patronymico de nenhum dos actuaes .
OCIOS, esse facto é caracteristico da concurrencia desleal em
-366-

prejuizo da firma autora, a qual tem po~ objecto o mesmo


negocio dos r40s.
Contra a intenção dos autores, oppõem os l'éos: -!O a
illegitiroidade e incompetencia para, collectivamente, deman·
darem os autores pela eliminação do nome Ortigão, socio, que foi,
das firmas das quaes são elles réos succceslores e, ainda sujeita li
liquidação do seu passivo a, de C~rqueira OrtigãQ & C. i 2- não
se prestarem as firmas autora" ré a nenhuma contusão on
engano, tendo elles réos dado a maior publicidade á con~ti·
t~içio da sua firma i 3", impossibilidade de concurrencill. des·
leal, negociando, como negociam, sob a firma social Oerqu.ira
& S.are3, nome por elle!! usado em t040s os Retos do leu eom·
mercio i 40 serem d.dico., introduzidos pelo nso, e nlo firmas,
os dizeres-Ortigão & O. e Oerqu6ira, Ortiglio & O., existentes
na portada da sua casa commercial, servindo de avisQ aos
committentes das antigas firma., por elle. '·epre"nlalla., do
local onde podem pagar seus debitos e retirar os saldos; 5°,
não haver di8posição legal que os obrigue a eliminar um dos
nomes dos alludido!! di8tico. referentes a firmas que, legalmente,
existiram i 69, ser o nome O,'tigão civil e não commercial e não
constituir, portanto, uma u,ürpação o ier elIe conservado na
portada do estabelecimento i e, em todo o caso, as acções
respectivas não poderiam ser, cumulativamente, intentadas.
Não procedem as allegações dOi réos, em face dos antos
e disposiçõel correlativas de direito, porquanto:
O decreto 916 de 1390, tendo creado o registl'o de firmas
ou razõps commerciaes, no art. 2° define serem ellas o «nome
80b o qual o commerciante ou sociedade exerce o commercio e
J assigna-sl nOi actos a elIes referentes •.
E como todo contracto de lociedade deve conter os «nomes,
naturalidades e domicilios dos socios. (Cod. do Com. art. 302
n, 1) prohibe o referido decreto fazer parte da firma -nome
que não seja dos socios (art.~·) e pre5lcreve (art. 8°) que, mo·
dificada unia sociedade pela. retirada ou morte de socios, não
poderá. a firma conservar o nome do socio que se retirou'ou
falleceu.. -
A firma 9u razão eommercial é o signal indicativo de
uma associação, o symbolo da personificaçlio da sociedade, o
seu «nome que, fatalmente, desapparece, desde que extingue-se
o commercio sob o qual elle era exercido, '.
A sobrevivencia d'~ste nome só é, legalmente, admIS-
sivel em dois 'casos: ou o da liquidação (Cod. art. 344~ e~
que á firma social deve ser additadaa clausula. - «em hqUl'
daçilo:tj ou a da acquisiçãO do estabelecimento mercantil (Decr.
- a6,
de 1890 art. cito 7 § uni co) em que o 'adquirente pôde
nsar da firma precedida da declaraçA.o - «suecesor de ... ,.
O «,nome,., encarado sob o ponto de vista. civil, distin·
rne o individuo cuja personalidade elle resume; sob o ponto
de vista eommercial, ê o symbolo da reuniA.o da clientela, o
thermometro do credito de um eommereiante, o distinetivo
dos seus eoncorrentes eomo aquelle o é de seus semelhantes.
E quer um, quer outro, a lei os protege, como direitos patri.
moniaes, interdizendo sua violação.
Assim: o uso do nome ou firma eommercial que lhe nl0
pertença, faça ou não parte de marea registrada, ê erime
previsto no art. 353 11. fl do Codigo Penal; o emprego ou uso
illegal de firma registrada ou inscripta dá direito ao douo de
fligir a l'rohibição d'esse uso e á indemnisação por perdas e
damnoB, além da acção criminal que no caso couber (decreto
eitado de 1890 art. 10); 8, quando mesmo legitimo o oso ou
emprego, pela identidade ou semelhança. dos nomes, o coneur·
rente pôde ser Obrigado a modificaI·o por fórma que seja.
impossivel erro ou confuslJ.o (deereto cito art. 15, combinado
com os arts. 11 n. la e 517 d'ls decretos 3346 e 9828,
de 1887. .
. Essa protecçA.o tem por objeetivo a. «concurrencia des·
laal:., emprego de meiQs illicitos por um industrial ou coro·
mereiante para desviar e chamar a si li clientela de uma
casa conheeida, quer illudindo slJbre a. orirem dos seus pro-
duetos, quer . procurando ~atab~l~o~r confusão ent,.e eatabeleci·
mentos rivaea.
E d'ahi a acção criminal S8 a delllealdade reveste 011
e~eméntoil constitutivos do crime, ou simplesmente a indem·
~lllação civil e a faculdade da prohibição contra 0/\ abasos da
lIberdade de concurl'encia: direito que a lei garante a todo
prpjudieado e um corollario das obrigações originarias do
qua8i-deliclo (Cod. Oiv. fr. arts. 1382 e 1383).
Do direito e do dever que tem todo o commerciante de
usa~ 0. seu nome ou firma social, decorre como cúrollario
o. dIreIto de prohibir a sua usurpação em todos os factos e
c!rcumstancias do. commercio. Seja o facto positivo ou nega- "
tIYO, • acção ou omissão voluntaria. a lei, prohibind() ao com·
merClante exercer o commereio sob nome alheio, proscreve o
emprego ou uso illicito para induzir em erro os terceiros
sobre a sua identidade. E, por isso, fóra dos easos dos
a~t. 34~ do Cod.e 7° §unico do decreto de 1890 e da~ .con-·
dlções n elles prescriptas, nenhuml.!o soeiedade pôde utIlIzar-
se da razão social de outra sem attentar contra a proprieda·
de e a posse commercial da sua concurrente.
-868-

Esse attentado commettem os réos, conservando estam-


pad"as na porta da sua casa commercial as firmas Orli.qão & C.,
e Oerqueira, 01'tigão & O., nomes c.ommerciaes de sociedades
que existiram e que, extinctas pela sua dissolução eliquidação,
com elIas tam bem pereceram.
AqueIles nomes não são, como pretendem os réos, sim·
pIes cisticos ou lettreiros; e, tanto assim, que «servem elIes
de aviso aos committenles das firmas, por elles representadas,
do local onde devem receber 08 saldos e pagar seus de·
bitos». A firma actual dos réos nao tem qualificativo aI·
gum que indique a continuação"d'aquelIas firmàs, ainda mesmo
para os actos da liquidação, ou a sua acquisição por acto
inter ViV08 ou causa mortis:
Liquidada ou não, a dissolução da sociedade por mutuo
consenso dos socios (Cod. art. 335 n. 3) fez desapparecer
aquellas firmas, pondo termo ás alludidas sociedades, ás quaes
serviam elIas de «nome:. para os socios e terceiros.
Â. insistencia dos réos em mantel-os á porta do seu esta·
belecimento, pri1lcipalmente o nome Ol'tigão que d'ellas se
desligou, esse acto é caracteristico de concurrencia desleal;
por isso que,. sendo patronymico de um dos socios da firma
autora, e sendo reputado no commercio, como reconheceni e
salientam os réos, p6de induzir em erro os terceiros sobre a
sua. identidade e estabelecer a confllsãó entre os estabeleci·
mentos.
E como o prejuizo, na hypothese, reflecte, positiva.mente,
sobre a firma social, affectando sua clientela e seu credito, á
firma é que não pÕlle, justamente, ser tolhido o exercício da
acção para o fim da eliminação requerida e respectiva indem·
nisação dos prejuizos.
Â. inscripção do nome commercial nos portaes ou tabo·
letas é, como diz Léon Humblet (Trait~ des Noms), ~uma das
manifestaçõe~ do direito do seu uso legitimo". E a dentativa
do engano sobre a identidade», como diz Vou Yhering (Actio
Inj1H'iarum) é a unica questão decisiva. Dá·se a violação do
direito, diz elle, dodas as vezes que um terceiro se apropria
da significação que tem o nome para o sea legitimo portador
com o fim de ser tido e havido como o prop"rio, ainda que,
sem usar Rome algum, se prevaleça do erro da pessoa que com
aUe o confunde».
Esta tem sido a interpretação doutrinariadôs tribunaes
e, dentre os arestos citados por Humblet e Yhering, o da
OOIbr de Paris de 20 de Julho de 1879 resolve a questão con·
trovertida n'estes autos: «O SI'. Valentino, chefe de orchestra
, . -1:169 -

de um café-concerto á rua St. Ronorá, deu o nome aqueJle esta-


belecimento, o qlli1.l, !lO publico, !tos jornaes, etc., fit.:oll couheci·
do por-Sala Valetltina-tamoem graya.do sobre ~eu frolltespicio.
Fitllet.:endo Valevti!lo e tl'ansfol'lIlitdo o concerto em sala. de
bail~, foi, no entretallto, conservado o nome. Seus herdeiros
df,mandaram a suppressao do nome e o tribunal ordenou-a,
de\;ldindo que !lua t.:onservação poderia autorisar o publico a
coltsidel'ar os herdeiro,!! Valetltino-participes da .direcção do
novo pstabelecimento.:. '
N'esses termos:
Considerando que Il. dissolução das sociedade9 cornmerciaes
f!fZ desapparecer o nome ou a firma ..!!ob o qual exercia,m ellas'
o eommercio j e que não deixàll,lo herdeiro~, que continuem
BUli petlsoa e usem o nome, n'aqnelles ca.sos mesmo em .que o
, cessillnario adquire o estabelecimento, por mais amplos que
sej<!1ll os termos da cessão, a lei veda 1118 exercer a profissão
sob o nome do StU pr~decesRor ;
. Considerando que as lirma8 Ortigão & a. e C~l'queira
01'tigão &.0. são nomes commerciaes de firmas dissolvidas, os
quaell, tendo cessa(io o exercicio do commercio, com elIas pere-,
Cel'am j que a inscripç!o d'esses nomes ou firmas na porta
da casa commercial dos réos, sem qualificativo de liquidação
ou 8ueoeS30r é um acto dA concurrencia desleal em prejuizo da
firma autora, pela lIigniflonção e reputllço;o do nome Ortigão,
pat.t'onymico de um dos socios t:l herdeiro d'aquelle nome j
Considerando que a recusa e repllgnancia. dos réos em
eliminaI-os revela a inteilçii,o culposA. da 4ieslellldade, funda-
ment.o do direito. á reparação e bem 18sim o da prohibição
d'esse uso illicito de nome que não lhe pertence;
que essa prohibição é um corollario implicitamente contido
em todo o julgamento condemnatorio lie perdas e damnol,
motivado como é' por uma falta ou facto illicito; e, constatar
que os actos imputados ao réo são reprehensiveis, é prohibir
que, elIe os renove; .
. que 8S8ft. prohibição é uma sancção legal contra a de.-
lealdade do commifciante no uso ou emprego do nome ou
firma que nAo lhe pertence; .
Accordam em Camara Commercial julgar procedente á
acção para condemnar como condemnam, os réos Cerqueira
& Soares li. eliminar o nome Ortigão sob a comminação 'da
penll., que impõem, de 200$000 por cada dia de demora desde
li. data. da condemnação, a indemniRar os autores dos prejuizos
, que, em execução, forem liquidados, e nas cuatas. '
Rio, 26 de Novembro de 1895.-Pitanga, presidente.-
·}fontenegro, relator.-Salvador Moniz. -Bar1·,to Dantas.
'Dl. , .... '78 24
- 370-

RAZÕES PELOS APPELLANTES, CERQUElRA & SOARES

Discutir these por thcse, cOllside1'((1lão por considerando O


extenso, diffuso, e injllridico accordam appellado, é no'sso
dever,
Solici tamos, portanto, desta egregia Côrte sua criteriosa
attenção para o que vamos expender no sentido de obtenção
da reforma do monst.ruoso acaordam appellado. E con-
tamos consegllil-o, desde que n'este Tribunal OS juizes
como dizia, Bacon, porteílt toujonl's le livre de la loi entre le~
'ltwins et l' esprit de la. loi dall,9 le CCCUI\

***
QuesUio prMimina)'

Articulámos na c07lfestaçlIo, e defendemos 11as i'({zõcs finae8


de fI. 121 que os appellados eram pC8soas incompctentes e me-
,itimas para, collectivamente demandarem os IlppellHntes afim
de estes retirarem das portadas de sua casa commercial o NOMJl
ORTIGÃO, ALLI ESCRIPTO HA MAIS Df. DEZESETE ANNOS,e fazendo
parte DE FIRMAS SOCIAES das qnaes s[w os appellantes os
UNICOS CESSIONARIOS, em virtlule da clausula 50. 17o distJ'acto 50'
eial de 16. de Março de 1895 que se vê fi fI. 'i',
Contra esta podenlsa allpgação, vPl'dn:deil'3. e conforme
ao Direito, o accordam appelhulo, depois de fazer !lescabida8
obS8rvações sobre ~(SO inc7euiclo !le jiI'JiWS, hy!,othese que se não
«eu, pois os apl1ellantes nwzcg, 11S(lraln ~eJ/a(; .ele sua.fil'1l!a, e.nos
autos não ha absolutamente prova s"nao d l:sto, (hz o segUlnte
para resolver I\. questão preliminar:
« Que os appellantes insistem em manter na
« porta de seu estabelecimento as firmas ORTI-
« GÃo & C, e CERQUEIRA, ORTIGÃO & C, e
«]1rincipalmente(?) o nome OJ'tigão que dellas se
« üesligou, o q ne é aeto caraeteristico ele concul'J'ellCil!
« desleal!»
« Que (esta insistencia) po17e (1) il1ülI2Ír . em
« erro 08 tereei'l'os sobre sua itleiltidwZe (1) e esta,
« belecer confusão entJ'C 08 estabelecimentos !»

E per fim:
« E como o pl'ejuizo 1za h!J1)othcse 'C!) reflecte
« positivamente sobre a .fi1'1Jla social t708 ({Ppc:-
lC lados, (~fJeetwldo sua clienlellct e sen creâito (!))l
- 371-

4( Não PODE ELLA SER TOLHIDA DO EXER-.


« creio DA ACÇÃO PARA O FIM DA ELIMINAÇÃO RE~
« QUERIDA E RESPECTIVA INDElIINISAÇÁO DE PRE~·
« JUIZOS !!!,
Egragia Côrte de Appellaçiio : desculpae que exclamemos
-Saulo Deus! Porque fugiram da Camara Commet'cial a ra-
zão e o direito?
Mas ...
Vamos d·emonstrar os erros 6 os absurdos juridicos desses
pedacillhós (Foiro do aecordam appalladlJ ..
EIlI 1- lugai': as firnias Ortigão & C. Cet'qlteil'a, Ortigtío-
& C. existem pintadas nas portadas da ClÍsa dos appellantes
.. successivamente ha DEZESETE ANNOS! OS appellados são esta-
belecidos 8ómenfe desde 16 de Março de 1895! '
Só por isto affirmamos, diante dO direito, e diante da opi-
, nião uwwime de todos os mestres da materia, que é erro paI·
IDar, a doutrina q ne a «conservação de faes firmas é ((oto ca-
I'acfe,.i.~t ico (70 cOllcurrenohG desleal»,
I'ul'i]u\l? '
l)ol'qns toc1os os ef'pecialistas-Gastambille, CaImels, Fli-
nianx, G. Mayer, Rendn e Ponillet,-ensinam que a concul'-
.. l'et!cia desleal é o emprego de mei08 f)'(mãlílel~los e (le81lOnest08
que tem POR FDI o DESVIO DA CLIENTELLA ALHEIA.
Ora os appellantes, hoje - CERQUEIRA & SOARES são
81lCCCS,';OJ'cs e ccss[on((rios 17' aijuâla8 firil!as q UH existem BucceslIi·
. vamente lia DEZESETE ANNOS. Ha, DEZESETE ANNO!! thn eUes
·c/icm', lia. sna, e extensa, ao passo que os _appelh'.dos, esta.
beleci(7os 7d/tia ({penas c70llS mC':·C8 qU((}u702)1'ol';;:'c;'((Jil. esta (tcrih,
não fili;U(ijl cliclIlclZa algulila, e t((lu.:· que ainda líi:!}e a 11170 tenham. •
.Logo a cOl/cllrroleia üesleaZ seria. em todas "s hypothestlS
impossirel a Cerqueira & Soares, a ÍlHhl, porque 11ào se com-
prehen\le qne o Jacfo nct/ativo c7n ((1i1tO rcti}'{((7a ,le ,on nome civil,
que cnll'{Ím lia composição das/iril/as al/leriores, de portada de casa
comlilcj'ci(7) srja um urt ijieio ji'(lluZulcllio c rI c371Oncsto paI'{[ <ics1.'ial'
.dion/dia {(Iheia. •
l~m 2- lngar: porqne a possibiliJarle (Te COl1fll!siio entre o
estab(']r,cimento dO:il appcllantcs e o no,w é'síebclccimcnio .<los aj)-
pellwhi é impossit'eI ..
Porque?
, POl'(llle 08 appellantes têm pilitado por eima das firmas já
eXIstPll'es nas 1l0l'talas de sua CH.S'1 o disticü _..- QCTICI1:.:'"EIRA.
&SG.\.HE,':i-CO~ilO se vê na photographb (10 n. ~), (3 appel. (j,
ladoB 16m uns pJl.'U:vl".sde StH.. casa o distico OnTL;Ão) 8,',:\T08
&; C,
- 312' -

Logo é impossivel a. confusão, prima faeie


- Mas, vamos aI) ponto capital-a illegitimidade e incom·
petencia para esta acção. _
Ortigão isoladamp,nte é um patronymico, e 10)1, nome civil.-
Ortigão, Santos &: O. é uma entidade j uridiea, distincta d(~ de cat/l!
1W1 de SetlS associac1os. O nome Ortigão não é propriedade da
firma- OJ"tigão, f5antos & O.
Purque?
E' principio inconcusBo que o direito de propried.1,rl6,
di?'eito ?'eal e abso11tto por excellencia, não llóde ge referir senão
á COl/8(t ap/"Opriavel. O lJl'oprietario de uma co usa (diz James
Vallaton em sua. recente obra La concltrrence déloya7e- Lau·
sanne Hl95-), ({ le droit dejonir senl, à l'exclusion de tOUB
les ju:-;ticiables, de la chose qu'il s'est appropriée-Ol' le .
nom est inaprop1'Íable. La soi·disant propriétetaire du 1/om-
il faut le reconnaitre, a une 11ropriét.é vmimente ~ingllltélel
Cet élelÍlent essentiel manque précisément à son.droit., cal'
de fait, il en jouit l'arement seul.
Et si 10 dl'oit ctn nom commm'dal peut être réservé a une
sClllC1Jc/'sonne, ce n'est que gt'ace à lalui, et nonpar'la nature
de son Ohjfb.
Esta doutrina, vencedora na moderna Allemanha e na
Suissa, é ainda ensinada por Kohler e La\l~el, e até pelo pro·
prio Renonard-Droit Industr-iel, pags. 360 e seguintes.
Ora, de!:'de que o nome- 01'iigão-não é pf'op1'iedade da
pe~soa jmidica-Ol'tigão, Santos & O.; deBde -que nfio faz dle
part.e U()~ har.ere3 d'aquella entidade juddica, desde que aI
pessoas de seus sodos são distinctas da pessoa i~widica 8Qcic~
da'Te, como Si pôde ver em Sabbatini, Individualitá giuridica
àeUa sociétá commm'ciali, pago 8 e seguintes; é claro, é logico,'
é jut'idicamente irrecusaveI que 01'tigão, Sant08 &0. são l'es~oas
incompetentes e illegitimas pat'a a pt'es/inte aeçiIo.
Que isto é de direito claro, eXpl'e1'180, irrecusavel, já o
demonslrámo5 á saciedade na primeira questão de nossaS
razões finaes, embora o accordam appellado, não podendo de
freIlte combatel·o, tivesse procurado uma hypothese, a de'"
POS,;IBlLIDADE DE PREJUIZOS-para legitimar a qualidade dOI
autores hoje appellados!
Quer a egregia e illustrada Côrte da Appellação sab~r.
quem affirma de modo cathegorico, i?'reeusavel e 'Ít'respondível que'
os appellado8 são pe3S0Ct8 illegitimas? E' o Br.A. DE B.urnOfl
RAMALHO ORTIGÃO que, VIMTE E SETE DIAS depois de se haver
retirêldo das firmas Ortigão & O., e Om'queim Ortigão & O.
como se vê do documento n. 1, protesta e af:firma. que «o usO
po NOME ORTI(JAO LHE PERTENCE, e que USA 'DE UM: DIREITO
- 373-

INCONTTESTAVEL, QUE LHE GARANTEM AS LEIS VIGENTE~~ EXI.. ·


GIN DO liEJA ELLE RETIRADO DAS PORTAD.4.S DA CASA DOS APPEx....
LANTE~ ! 11 » _
Se o nome ORTWÃO era P:ROPRIEDADE da.sociedade collectiva
. Ortir;ão, Santos & O., que éll1na entüladajuridica, e nãO'dapessoa
jJhy:;ica A. B'.R:amall!o Ol'tlgão, porque em 12 de A~,.il de 1895,
e~te :;enhor dIzIa que tal nome lhe pertencia, e amectçavct 08 ctppeZ-
lante8 Cont elJie prQcesso f Porque não foi a entidctde jurídica
Ortigiw, Santos & U. qUem fez a. intimação que ora jUlltarrws?
A egregia Côrt.e re~ponderá comn-osco : porque a referi4a
entidaue ,abta qlle tal n01J1C 1u70 lhe pertencia.
Logo, concluilllos nós, quem COll!e8t:Ja, quem prova. irreeu-
save7mente que os appellados srio pessoa illegitima na presenu
acção, é o Sr. A. de B. Ramalho Ortigão. Ora aegregia Côrte sabe
ql1P nllllo~ são os aelos e a sentença dada quando as partes que
figuram em juizo sÃo ILLEGITDrAS.-Pothier-Tract. das Obri-
gaçõ('í), vaI. 2°, pago 315-1ei de 22 de Dezembro de 1761 -tit.
3' § 12.-Pimenta BllCllo-Aponta/nentos sobre as formalidaMI
do processo civil, tit. 2° n. 47 e Regul. 737 de 25 de Nó·
lelllbro de 1850, art. 67~ § lO.
Portanto, concluimos: a preliminar da illegitimiáarle da.
pessoa dos appellaáu8 é irreeusavel e por isso nullo é todo o
pl'oee:;sado.
Piira demonstrar, porém, que o accol'llam appdld.do é
faho nl) funáo, como defeituoso na fôrma, pedimos venia á
Côrte de Appellação para prose~uir na analy8e do mesmo.

Primeiro consideran(Zo

l° Diz O aecordam appellado:


«Considerando que a dissolução nas socie-
«dades commerciaes faz desapparecer o llOllle ou
«firma ~ob o qual exerciam ellas o comm .. reio; e
«que não deixando herdeiro!'l, que contimwm sua
«pessoa e usem o nome, Ilaq uelles C!l~OS mesmo
«em que o cessionario adquire oestabtllecimento,
epor mais amplos que stljalll os termos da ces-
«sr.o, a lei veda· lhe exercer a profissão sob O
«nome de seu predecessor.»
E~te primeiro consinerando encerra erro' de doutrina e
inecc(Jctidão, que vamos dh;cutir e rectificar.
EITO ae (l'outrina.-As sociedades commel'ciaes ái~solv;aa&
- 374-

não desappCtl'ecem, e com eUas o nome oufil'ma sob a qual exer..


ceram ' o commercio.
Temos lei positiva que diz'isto: é o art. 335 n. v. 2" alinea
do Cod. Commercil:\l que preceitúa assim:

«Em todos os ca80S deve continuar a 80cierfar!e


~sóm.ente para se ultimarem as transacções peno
«dentes, proceclendo-se á liquidação das nltilllculas.»

Ora, o primeiro considerando do accordam appellado af·


firma exactamente o contrario: logo commette infracção de
ZQi, e erro de doutrina. . .
Admira isto; maxime sendo o douto relator do accordam
tão lido em materia commercial, tanto que acaba de publicar
sobre ella extenso trabalho.
Mas. .. ãorrnítat Homm'us.
Permitta agora o douto commercialista que, depois de citar
a lei que. contraria o consIderando, apontemos aqui opiniões de
ill1lstres ellMtlos seus que o contradizem, e su!!tentam a opinião,
ou melhor, a 1'egm de nosso Cocligo Comrnercial:

Casareges-Disc. 128 n. 4:
«Ql1amvis sit finita societas, suus tamen
«durat effectus, donec pertinentia ad illl1m ter·
cminentur et finiantun.
R,ta Genuce-Decis. 71 n. 7:
«Dl1rat effectus societatis, donecfl1erit ela-
«ctum omne id quod pertinet ad societatem».
J oan Bohl - o illustre jurisconsulto hollandez, tlIU seu
recente trabalho sobre o Cod. Commercial Italiano-ediç. 1894
-pago 173, diz:
«Les sociétés dissoutes CONTINUENT LEUR EX·
cISTENCE, fictionis jwris, por leu!' Ziquiã,ation. l)

M. Pirmez, relator da com missão parlamentar belga, as·


sim se expressou na discussão da lti respectiva:
«La dissolqtion de la société n'a pas pour
«conséquence de l'anéantir complêtement: la vie
«s' ellt retirée du corps social, SOI1 organisme ne
«fonctionne plus, il 6St incapablede faire une
«nouvelle opération ; mais sa masse inerte subsiste,
«et jl1squ'à ce qu'elle soit morcelée par le par·
.. tage elle demenre un tout qui n6 peut enCQ1'Q
«être consicléré comme (Zivis6.JI
375 -

Ora aqui tem a egregia Côrte de Appellação a mais bri-


lhante refutação do primeiro considerando: a lei escripta _,d~
Bl'azil, e a doutrina dos grandes rnestres,
Rectiflcação. Não ha n'astes autos a mais ligeira prova, ou
mesmo all~gação, por parte dos appellados, de que os appellan-
tes exerçam sua profissão sob o nome de seus predecess01'es. Oi
appellllntes continuam o mesmo genero de commercio, ruas sob
sua razão social: - Oerqueira & Som'es.
Logo é i~!nocuo, e descabido o segundo periQ(lo do consi·
derando que analysamos.
A rectificúção, porém, era indispensavel.
Pa8sem08 ao 2° considerando:

Segunáo consiáermH[O

Diz o aecordam :
«Considerando que as firmas «Ortigão & c,» ~ Cerqr1eira,
«Ol'tigão & C,:. sfw nomes commerciaes de firmas dissolvidas,
(as qllae~, tendo cessado o exercicio do commercio, com eUas
«pereceram j
«que a inscripção desses nomes o,u firmas na porta da
«casa commercial dos réos, sem qualificativo !le liquidaçllo ou
CSUcceisol', é um acto de cOllcurrencia de~leal em prej nizo da
«firma autora, pela significaçl10 li ,.,<putaçao do nome Ortigão,
«patronymico de um, dos SOCi08 e berdeiros daquelle nome:..
A primeira parte d' eHte considerando é reproducção do
erro de dout1'ÍlIa, e violação clara do art. 335 2" alinearlo Cod.
Commerdal, já examinado, e discntido,
Aceresce, porém, ponderar o seguinte:
O,i appellantes são, pela clausula 5[1. do distrato social de
16 de Março á fi. 7, ~ cesslonario3 e 8ucceS8ores das firmas Ger-
queira, O,.tigb,o & G. e &U tS antecessoras.»
Logo exercitam um direito procedendo á sua Uquidaçb,o.
Cod. Comm. art. 335 cito
. Não innoTar lilelJão cSoOt'eponáo sua nova fi1'rna ás anteri8-
re8», como fizeram os appelIantes, fi se vê da photographia
junta aos autos, era ainda um áireito e ao mesmo tempo um
dever, o qual se completou Ptl]o "egistl'o na Junta Commercial
da firma nova 'Oet'queira & Soares». Demais ficou demonstrado
á saciedade nas 1'(lZÕeS finaes elos appellantes que o ?lom,
commercialpintado nas portadas de sua casa não é, nem pode
ser, U80 de finnà, no sentido do art, ~ •. do Decr. n. 916 de 2~
de Outubro Je 1890, mas sim um dístico para indicar aos in·
tessados que «n' aquella casa ainda existe qnem tem reA]iOnsa7ri·
- 376-

lidades pelas fú'mas dissolvidas, e tambem direitos SOOre seu IIC.


tivo.
1\'fas, diz O acconlam appellado-: e.~8a in~cripção de firo
mas é um acto de concurrencia desleal em pl'ejuizo da firma
appellaela / /
,Mbericordia ..... E' O caso dp, bradar ~Aqui,d'El Rt'i»!
Em 1O. lugar: as fi1'1nas, ou distico8, como lhes challilllllOS
propriamente, 01'Iigão &; C., e Cel'queira, Orti,Qão & C. exislt'm
aUi SUCCl'ssivàmente ha deze.~ete annos. Logo não foram illSITi·
pias para usurpal' o que ainda não exixtia, isto é, a fWlI!a
dos appelhdos, que .~Ó eaJixtb de8cle 16 de /Jfarço de 1895.
Em 2- lugar: os appellantes det'am a maior publici<l;\de
possivel, e o provam os jornllfls que juntamos á contesta~i'to de
fi. 17 ao facto de ter sido dissolvida a firma Cerqueil'a, 0I'U,l/{10
& C., e constituida em seu lugar a nova firma OERQUEIRA &
SOARES.
Mandaram a todos os seus committellt3s circúlares im,
pressas, identicas ás que JUlItamos i'ob li!>. ~ e 4, e e isto em nu·
mero rte milhares.
Onde etitá,portanto, a fraude, e c1l'svio de alhei'l clieniella r
Em 3- lugar: com" é que o aecordam se contradiz, logo
no segunelo c01!sidM'anJo, affil'mi\udo que o liOrne OrtiytLo é pa·
ft'onymico de um elos apPt!llatloll, qneo herdára j 4.ua~illo ltld,t'S,
para refnt·llr o. ilIt'f/itimid(/fle 1ft' pell.çofl.. por nós allpgllrla, dava
dú'eito dA (leção ((o.~ (I)!P"Zllldo8, pnrq!!e com eS813 facto (~ da
conservação do nome Urtigão nas portadas da casa dos appel·
lanttJ~) elles soffriallL p1ejuizu8 e ll1)l' Íil:õo lIão potliam ser to-
lh-idos /10 di1'eito de exigirem sua eliminação /1
ncridi(hnnl>nte 11m f'~piritf) mahwnlo e callstico diria. tal·
vez que a Camará. Commercial Hem sabe direito commel'cial,
nem el:ltudou logica. NÓR, porém, ROmO!'1 incapazes rle o f'1I:1,llr.

Te1'Ceit'0 considerando

Diz ainda o accordam :


«Con~jrlt\r;illrlo qn8 a rprusa e repugnancia dos ré os em
«elimiu,d-us revda a inLulção cnliJo:,a da (lt-':,lealdade, funda·
cwellto ue dlleilu á nJlJala~ão e bem assim o da pTohir,ição
«deí'se tn10 il!ieito I~f' llOP.1f que não IIH~ pertence:..
Este considerando é- um pedacInho d'ouro da moderna
juri~prudellCiá. commel'cial, como o nome, the1'1nOmet1'u de
credito (apanhad{) em leitura rapida e nãl) entenditia de nal·
mels), é uma novidade, não inferior a de certo incidente d' este
pl'Ol'.e::H,o, de que os jOl'llaes deram conta.
-377 -

Vamos, porém, á sua analy51e:


A 1'epugnancia dos oppella'f/tes em eliminar as firmas (,le
que ~ilo cpssionarios e stccessores) 1'evela intenção (I) culposa (!)
ãe dl'.~Z,;aldade (!),
Custa a crer que _em quatro linhas se tiveSie elllcripto isto,
e ajnda maií,: que as assignassem magistrados do Tribunal Civil
e Criminal. .
Co !li effeito :
A iIIustl'ada CÔl'te de Appellação sabe que ha. distincção
salient.e entre a maleTÍalidade e a f01'1nalidade da acção, isto
e, o mal physico e o rnnl mm'o.l, o prejltizo occasionado 'e a
intenção de o commetle1', Isto é rudimentar t'm direito,
Ura, ern mate1'Ía civil a intenção de commetter uma ínfrac-
ção pl'esuppõe o_dólo'e nfalta, que se decurupõe:l° no conhe-
cillltmto da acção - 2-, nn voluntariedade do acto .
.Mas a C01lC!lrrencia desleal consistp:
a) ~1lI prucurar desvial' clielltella alheia.
b) nu uso de manobras reprehensiveis para
desviar, em seu proveito, a dientella alheia. .
Logo: para que se possa dar acção, e ter logar a repll.-
ra~ãude dornmages et intél'cls (Cudigu Civil Francez, artigos
1382 e 1383) é indispensavel:
a) damno causado a outro, mas damno m'a-
terial, diz Vallaton.
CUIllU
L) Llue haja acto illicito,
c)que haja uma falta.
Estes principios, que propotlitalmente l~stabelecelUos desde
já pna lIlaÍ:-; tarde delltollstrll.r o aMlll'do juridico da cla.mo·
rosa condenmação (tos appellantes na pena, 'multa, ou intfem-
nisuçc70 de 200$000 p01' dia, servem tambem para provar O
segHlllte, quanto a e~te t6ll'ceiro considerando:
lOQue ji1'tllaB 'inscriptas nas portadas de
uma lia 10ng08 anno,~, não podem denotar
CIl.I'!l
intuição p1'esente de p1'aticm' actos culpoNoa de
deslealdade para com uma firma que e:ri8t~ "e-
centemente. E' material e moralmente impos-
sivel.
2- Que tlctos de deslealdade, inferidos de
uma p,,,'u.dn-intflflçllo culposa, nunca foram por
nenhum escriptor considerados elem,ntos consti-
tutivos de concur1'encia desleal.
- 378-

E que (tetos de deslealdade se aponta contra os appellan-


tes? Respondamos: o aeto negativo de não im' eliminado da&
pm'tadas de sua casa o nome Ortigão!! Z'?
30 Que taes aetos de deslea 7dade (~e exist.is-
se11:) não dariam lugar a 1'epm'ação alguma, por
que não havia dolo possivel, aeto illicito e damno
material, qUE" são constitutivos da concurrencia
desleal. Sobre este ponto pedimos 1'1. Il.tt.enção da
Côrte de Appellação para a ultima ,'espos/a dós
peritos no exame de defesa.
Prosigamos porém: o 4-, considerando prende-se a ,este .
Diz o Recordam no 4- e ultimo considerando:
cque essa prohibição é um corollario impli-
ccitamente contido em todo o julgament.o con-
cdemnatorio de perdas e damnos, motivado como
cé por lima falta ou facto ilHcitoj a constatar
<que os actos imputados ao réo são reprehellsi-
«veis, é prohibil' que alIe os renove;
cque essa prohibição é uma sancçA.o legal
,contra a deslealdade do commerciante no usu ou
<emprego de noma ou firma que lhe não per·
tence~ :

Labora o accordam em sensivel engano = e~ta acção não


é de peJ'da3 e damnos· Esta acçio tem o seguinte objecüvo-
RETIRARElI'I os APPELLÁNTES DAS PORTADAS DE SUA CASA o
NOME ORTIGÃO, QUE PERTENCE AOS APPELLADOS, SOB PENA
DE PAGAREM 200$000, E INDEMNISARElI'I DOS PREJUISOS QUE SE
LIQUIDÁREM NA EXECUÇÃO." E é a isto que 08 appelIantes fu-
ram condemnados. Desfeito o engano, passamos ao fecho· de
ouro do accordam~
Condemnaçllo

«Accordam em Camara' Commercial julgar procedente a


eacçáo para condemnar, como condenmam, os réos Oerqueira
«& Soares a eliminar '0 nome Ol'tigão sob a commina~iio da
<pena que impõem, de 200$000 por cada dia de demora desde
<R data da condemnação, a indemnisar 08 autores dõs prejui·
czos que, em execução, forem liquidados e nas custa:;:),
.. <Rio, 26 de Novembro de 1895.-Pitanga, presidente.-
Montcnegro, relatel',-Salvadm' ]Joni~.-BatTeto Dontas,»
Dispõe a Constituição Brasileira no . art. 7!l § 14 que
- 379-

cningtlem se,'á sentenciado senão em virtude de lei anterior, e


na f6nna p01' ella regulada,»
Ora o accordam impõe aos appellll.lltes :
elr penet de 200$000 POR CÁDA DIA de dem01'a
éTesãe a (fata aa eonãemnação.»

Egregia Côrte de Appellação: em que lei, em que dispo--


5ição de direito,· se apoiou a Camara Commercial para profe·
rir esta arbitrm'ia e monstruosa condemnação'! Em que lei se
apoia a condemnação á «pena pecuniaria de 200$000 p01' __ dia
de demora oontm os appellantes»'! Não é exacto que assim como
ella condemnou os appelIantes a 200$000 por- dia (que foi pe-
dida. desde a data da aeção !), podia tel,os condemnado a um,
dous, dez CO"t06 de réis cUa1'ios '/
Mas, ,. vamos discutir calmamente este ponto.
Pediram 08 appellados que os appellantes fossem condem-
nados (t fazer apa.gm' das p01'tadas de sua CltSR -(J nome Ortigao.
Pediram mais: que fossem condemnados a pagar 200$000 por
dia de demora em o fazerem!! -
Foram os appt}llantes c01idemnados a isso, e mais a in·
demnis.ar prejuizos!! .
São penas pecuniat'ias!
Ora
Não se podia accumular a~ções differentes e com exeouçõés
distinotas: não se podia condemnal' a prestar um facto e con-
demnar á pena peotmiaria, além da ifldemnisaçllo d, p,'ejuizo.,~_
quando mesmo possiveis 6 legitimas fossem essas condemna-
ções,
Pois tudo isso fez a Camara Commel'ciall
Com effeito: a preBtação de UJll facto, que M hypothese é
a-reti1"ada do nome Ortigo.o das porttldtts da oala do. appeZ-
lante8-, importava na intimação dOIl vencido! para fazerem no
prazo legal, isto é,IlO de dez dias~Gllma-Decis. 277 n. 1-
Moraes-Exeout. Liv, 6° Capo 12 n. 85.
Mas como a sentença appellada condemna os appellantes
à-pena -de 200$000 POR CADA DIA DE DEMORA de.de a data
da condemnaçâo, segue.s~ fatalmente o seguinte :-qU8 o, ap,
pellantes, mesmo dentro do praso qU6 a lei concede pam cump1'ir·
ou 1)1'6stm' o facto, 6stãoconlfenmad08 á pena de 200$000 por
dia !1
CoUendo Tribunal: isto é monstruoso, é typico, para não
dize!' outra coi1~a que podia escapar-se dos bicos de nossa
Pellna.
- 380-

Além d'il!to: como é qne o accol'dam appellado condemna.


os appP\lantes por factoR fut'H'os , 1
Oomo seria isto possivel se, a vt'rificar-se 'a não pre.~ta­
flio elo facto , devia seguir se a liquidação dos p)'pjuilw.~, per-
- das f:! lll1 nu' 03, segunllo ensinam os mestres e os Codigos?
Ppl'mitta o collen.lo Tribunal que eOpip.1110S para aqui um
julgado que se lê em Dalloz-RécueiZ' 1847-2-85-{i~il·o­
«Les tribunaux ne peuvellt prononcer el'inhibitions et rléft·m,.;es
pour l' a vellir, avec sanctions pénales (léterminéeBj ils ne pelt-
vent notamment, fail'fl défelll'e à une partie de s'immit'ieer
dans une certaine fonetion, sous peine d' une somme détel'llli~
née i10ur chaque infraction; leur compétence se borne a r(>pl'i-
mel' les infl'actions déjà accolll [llie:- ~.
Depois d'isto só nos cumpre ponderar ao egregio Tribunal
o seguinte:
No exame de livros á fi. 102 feito por dous dos mais
honrados e distinct.os peritos do nosso fôro, lê·se o seguinte
em respost.a ao 8° quesito:
Do exame feito na tlscl'iptul'ação e corres·
pon(hmcia dos autores (-tppelladvs) nao colhem08
elementos 'le apl'éciaçãü qne nt)S induzam a snp-
por terem f'1lf'~: (appellado') Rnff1'idequ.alqnn: p,-(l.
juizo pelo facto do" ,'60S tàem con~erva.do na
portada da antiga cnlla commn'cial d,l OrtigãQ
& G., GerQufim, 01'tigão & G, e hOJe Cp,rq1túra
& Soa/'es, ali cl1WB antiga. jil'nHAII a que eflta auc-
cedtlu,
Pois bem: apezar d'isto o accol'd<tmappellado condem.
nQu os appellantú, por conwl'/'6ncia dl'Jlleal a satisfazel' per-
das e damno.!!!
Ba,.;t,a.
Temos desmantelarlo com a vet'dade e com o direito O
monstruoso accon]arll appellarlo, que tão celebre se tornilll no
101'0 d'esta Capital por facto qne a egl'egiaUôl'te de Appell<tçãO
de certo eonhece.
Resta-nos alIegi:tl' o seguinte:
O accol'dam da Gonr de Paris, relativo á Bala Valentino,
não tem applicaçã,o alguma á hypothese. Os novor proprieta-
1'ioll d'aquelle salão. que não eram 8ucces"oreB ,ce Valentino,
mudaram o genero de commel'cio~de café cantante para salá.
de baile, e continuamm a usar o 710me de« VaZentino». E' claro ~
intuit.ivo qne aqui havia u8ut·paçãó.
Ora, nada distose dá no presente caso: é pois rlesc:lhirlo,
e mal achado o simile. .
- 381 ---

Concurrencia de8leal

Os appellados bati(los na sua p,'im'ÍfÍva pretençt10 de ha-


ver, por part.e dos appHllanteR, 1MO indelJido de nome, apoiam-
se agora no accOtylam appeUado que condemnou os appellantes
por concurrencia de.~leal.
Vamos pl'ovar q ne isto é falso, inj uri(lico, e monst.ruoso.
Quanto aos elementos jnrirliclls da concun'encia desleal fi·
cou demonstrado que elIes não existem.
-Quanto aos factos. Ah! aqui a Oôrte de Appellação vae
admirar comó os papeis estão invertidos.
Ooncurrencia desleal, llIas por parte dos appellad08, está.
exhuberantemente provada de sua propria escripturação. Leia
a egregia Côrte no eXame de livros á fi. as cm'las dos appel-
lados dirigidas a. clientes dos appellallif.s em q UI:l elles solicitam,
pedem, e até procuram meiD8 artificiosos, para con'seguir .a
retirada da f,.,guezia da casa dos appellantes.
Leia o egregio Tribnnal'O famoso documento" que lhe of·
ferecemos sob n. 4: é uma carta dirigida pelos appellados a
Manoel fio ares ae Azevedo.
N' ella dizem os appellados :
c:Desejosos de vêr passar inteil'amente para nossa casa as
iransacçõcs que os nossos mais distinctos e" bons etrnigos tinham
com a firmeG extinctct (!) cujo (wervo passou, aos Srs. Om'queira
& Sotll"es,tenws solicitado de muitos à'clles. e p,'ornptamente tem.o,
sido obsequiosamente aUtruUdU8 o favor de ordenarem áque:Ze8
senh01'es que NOS ENTREGUE~I OS SALDOS DE SUAS CONTAS
OORRENTES PASSANDO EST.A.SPARA NOSSACAS.A. ACTUAL. »-
Póde o egregio Tribunal encontrar especimen mais cu·
rioso e 6ludacioso áe concltr1'encia desleal do que a que os appel-
lados . confessam ter empregado? De certo que não. _
Pois leia o Tribunal o documento n. 5. E' a.inda uma.
carta dos appéllados dirigida ao 8r . Bernewdo Gonçalves da Silva.
N'essa carta, no final d'ella, depois de esgotados todos 08 rf'
cursos para convencei' a Silva de que Hão tem 1'azão nll recusa ã.
8ua commitencia, cl1egam os appellados ao desatino, porque dei-
xam pairar imputações vagas e c1'uelmente doZorosa8 sobre 11.
immacula«a "'eputação dos appellantcs.
Felizmente essá carta teve uma resposta digna por parti
do honrado cidadão a quem era dirigtda: foi sua remessa aoS ap" .
pellantes com autorisação de poderem d'ella servir'-se J/ E' por
isso que a offerecemos hoje á consideração do Tribunal.
Os appellantes podiam deter·se aqui: mas os appeIlados,
que se jactam de tudo pode,', como se vê do documentá n. 6,
- 382-

e de facto até agora tudo têm podido, não -cessam de pôr em


pratica sua obra de conc!l1Tencia desleal.
Perdôe-nos a Egregia Côrte de AppeIlaçiio: respeitosa-
mente sllpplicamos a leit.ura dos documentos ns. 7 e 8.
São elles prova i1"l'{!cltsavel e l'ecento de COllCU1Tencia des-
leal, com manifesto dóI o poi· parte dos appellado8. Com effeito :
em 27 de Junho de 1895 A1lgUStO ]J[arUns Ramos escreveu aos
ll1>peIlantes pedindo lhes que pagassem um seguro de vida, que
possuia, e quando os appellantes foram pagaZ:o já os appellwlos
O haviam feito, selit ol'dem de Ram{J,~ ! ! Facto idelltico a este
consta do exame de livros á fi. 109. NasJRzõeS finaes por
parte dos réos, hoje appellantes, profligamos tal procedimento,
que é signal inequívoco àe conmwnmcia desleal.
Pois bem: os appellados riram se, chacotearam, em pmn-
phleto q ne espalharam aos milhares, d' essas argnições, e agora,
em 17 de Dezemlwo de 1895, continuaram, ou melhor, l'einci-
d-iraln no mesmo delicto ! !
E' demais, egregiaCôrte.
Se os al'lpellados são capazes, se podem articulm' e provai'
facto8 d'esta ordem contra os appeIllilltes, pedimos· lhes que o
façam. Se n[1o.. . -
Basta, colIentlo 'l'ribllnal.
A venlade e o direito não sl1ccumuem por .uma deeisflo
injusta. Estamos em Tribunal onde a vel'da(le e o direito
têm culto e cultores, A elIes confiamos os direitos dos appel-
lantes.
Fia!' justitia ne pe1'eat mundus.
E. C.
Rio de Jáneil'o, 28 de Janeiro de 1896. ~O advogado,
Df. Antonio de Paula Ramos Junio1'.

PELUS APPELLADOS, ORTIGÃO, SANTOS &; C.

A impressão final que deixa a leitura das razões de appeI-


lação é originalissima e talvez ainda não experimentada pol'
nenhum advogado ao responder ás allegações do adversario.
Trata-se de nma q nestiio de firma commel'cial, esta q nestfio
tem por assento na leg;islação :
um itecl'eto eS1JeciaI so ure firmas ou razões commerciaes,
o de n. 916 de 24 de Outubro de 1890;
o Codigo Peilal, cujo art. 353 § 6" é expressamente con-
~agl'ado á hypothese ;
- 383-

e ainda o Decr. n. 3.346 de 14 de Outubro de 1887, cujo


art, ] 4 § 7U é a fonte pt'oxima da disposição analoga daquelle
Qoc!igo. .
. Pois bem, os appellill1te'l conseguiram deduzir sua defesa
perfl.l1te essA. egregia Côrte sem tomar em eonsideraç~o Ilenhumà
des~as leis, uma vez apenas,- e -isto mesmo incidentemente,
referindo-se a uma dellas. E' um t010' de fOI'ce. Mas se pudesse·
ving'ar essa tactica de fechar os olhos au direito -escripto e de-
desprezar os melhores argumentos dI) adversario, os tribunaes
poderiam fechar-se por não haver mais a quem condemnar.
Supprimido, por e3te modo, o principal elemento da dis-
cussão" todo o arrazoado dos appellantes ficou sem base. E' o
que vamos demonstrar, --
Quando se tem uma ou mais razões de direito para OPflÔl' a
um jnlgado de que se l'econe, fere·se de frente a questão e,
n'lI111 enunciado precisu e claro, -destrue-se o erro do julgador.
QUi1.1l110, porém, faltam essas razões, buscam· se um sem numero
de llegações, vela l'Hzão de que, nenhuma satisfazendo, sente-se
sempre a necessidade de descobrir outra. E' um processo em-
pírico, em que se vai de experíencia em experiencia, a ver se
. acerta-se com aqui!1o que S8 procura, isto é, um argumento que
aCllco seja aceeito por aqnelIes que teem 118 deeidil'. Este o
metllOttO, para não diz~rmos a falta do methoclo, adoptado nas
razões dos uppellantes.
Começam por negar a legitimidade- dos appelhidos para
serelil parte nesta ficção, e isto inferem do facto de não· ser
Ol'tig!7o, Santos & a" mas Ortigão & O" e Cel'queil'q, Ortiqão
& O" as firmas que se acham escriptas na portada do n. 4
da rlla dos Benedictinos, . .
O argumento é simples, porque o facto ningnem contesta,
mas só a quem fosse muito simples poderia convencer. Os
appellantes são al'gnidósde usarem de uma firma que lhes não
pertence e que se confuno.e com a firma dos appellados, por
collter o principal nome desta; não s~.o accllsados de haverem
ol'ganiaado uma sociedade para a qual tenham tomado a pro-
. pria firma dos apl)ellados. _
O negociante que se quel' apI'Oveit.!H do nome de outro
nnnta, ° toma em snr-t int!:'gri<lade para si, e DIenos aiuda
allllll.ncia que o t011l0U, sob !l8mt de descuoril'·se logo e fazer
reeahir proml)tamente sobre _si a Aanc~i:'lO da lei. A má fé mesmo
que o leva a esse Reto acollselha·o a não dar elementos para
uma Cl'nuemnação e a, de alltemão, prepariu' i1. defesa, D'alli
~em (~lie a concorl'enci~ ilesleal que 8e exerce reL1. usurpação
ao Il.'-;Hd ou da firma, cOilsiste quasi sempre 110 seu emprego
com cJterações, 0ll1i8~(ies ou aCCl'eScilllUS, e é por isto que as
38-4: -

leis teem em vista todos os «factos, a maior parté das vezes


complexos, de uma infinit.a variedarle, que tenderem á con-
fu:-ão de dois ~8tabelecimentos para o fim de tirar a um a clientpla
em favor do outro». (Pouillet, Marq.< de Fab. e Gone. Dêl,
n. 459 bis.) E eis porque o Oodigo Penal, e antes d'elle a
lei de 14 de Outubro de 1887, depois de punir
o uso de nome, ou firma commercial, que lhe
não pertença, faça ou não parte de marca re-
gistrada (art. 353 § 6°)
declara que
reputar-se-ha a existente a usurpação de nome
ou firma social, quer a reproducção seja integral,
quer com acerellcentamenlos, omissões ou aUenlções,
comtanto que haja a mesma. possibilidade de
erro ou confusão do comprador.
Basta, portanto, o nome Ortigão em uma firma á porta
'dos appelIantes para que os que. não souberem ter elIe fUIl(larlo
uma nova sociedade ou, o sabendo, não cOllheçare-lhe a ~éde,
se equivoquem e se dirijam aos appellantes. Nem se diga que
a palavra comprador, empregada pelo Codigo, não se I'fJei'e
ao genero de negocio a que se consagram os appellados e os
appellantes: em. primeiro logar, porque a mesma regra de
interpretação deve prevalecer pai.'a intelligencia das expressões
«U80 de nome ou fi1"ina commereial» empregadas, na maior
generalidade, pelo Codigo; d.epois, porque, no ramo de dil'Aito
de que se trata, a palavra 1t80, segundo a lição dos mestres,
e conforme textualmente l5e exprime Maillard de Marafy,
abrange toda actó praticado com o fim, proximo ou remoto,
de tirar vantagem illicita da marca ou do nome alheio (Gr.
Dic. de la Prop. Ind. vb. U~aue); finalmente, porque o com·
mercio de commissões de café consiste em reeeber ellse genero
do prodnctor e em vendel-ó ao exportador, sendo do maior
valor a confiança que a este inspira. o commissario, pois ê
reercadoria que se vende por grandes porções. E se ha con'
correncia del!!leal no facto de «usar alguem, de uma denomina-
ção ou de uma razã.o sodal, por qualquer fórma, não só em
proflpectos ou circulares, como ainda em uma factura manuS-
cripta ou em um annuncio; se ella pôde dar-se no f!lCto de
usar alguem por palavras, v6rbalmente, de uma designação
pertencente a uma outra casa j se incontestavelmente n'ella
incorre o caixeiro que, para colher adhesões ou ordens de
compra, dá a tmtendtlT aos subscriptores e a08 compradores que
-- 385 -

represent.a uma rnmpallllÍa, qUA não é a qlle o tem como h.gente»


como desconhecel-,I nn facto de ter um negociante á sua port~
UlIJa firma que se pó,!e confundir com a (le uma casa) h aI?
(Ponillet, Obro cit, n, 460),
Um outro argnmento cl)m flue p'Jcuram os appellaRte'S
provar a illegitimi(lade Ilos aPl",11a:los é tão 8urprellf'llflente
qll~, se tives:Stlll\()s tamhelll () gosto de aeclltllnl,u' pOlit.ó~ de.
aumiração quP faliam aos olhos sem narla rlizerem á intelliO'encia
do leitor, torlos os signaes tle exclamação de q ue usara~n nás
raZÕes não nos seriam ba~;t,antes. Consiste elle em affirmar que
o nome ou firma, .não seu do coi~as apropriaveis, não ponem ser
ohjpdo de reivinrlicação e que, se Antonio de Barros Ramalbo
Ortigão direito .nenhum tem de exigir a eliminação do. seu
nOllle patronymico, que, alli se conservando, não é mais °
de!!t', mas o de um Ortigão qualquer (art.. 21 da Contestação,
°
art. 2° da 'rreplica) meuos ainda tem a firma de que eIle faz
p~rte e que é uma entidade juridica distincta da de cada um
dos seus associados. .
Prou~hon tinha creado o celebre aphorismo de que a pro-
priedade éum roubo; os appellantes invertem-n'o, su~telltalJdo,
em materia de nome e de firmas commerciaes, que o roubo
c(ln~titlle a propripdade-, pnis e~ta é logicamente a maior ela
qual se pôde concluir que em-queira & Soares teem direito de
continuar a usar do nome Ortigão, por poderem allegar que
o nOI:le que se lê á sna porta é o de um,Ol'tigão qualquer.
Apezar da autorillaJe que l'econheCt'mOil no patrono dos
appellantes, somos obrigado a lembrar que os jurisconsult.os
qlW teA1.ll est.utlarlo, em to(la a sua evolução, o direito romano,
illllicam como um dosprogrps:'los que ella lhe trouxe, a exten-
são que foi ganhando a noção de propriedade, que, a prin-
cipio applicada ás coi~as, pa:,;sou a :o;er applieada aos direito~.
«'l.'odos os actos, diz o sa bio Von YherÍllg, todas as rela ções
do direito patrimonial tiveram ·originariamente por objel.'to
8. coisa; visivel, palpavel, fórml:lo objecto primeiro e natural
do flil'eito e de t.onas as di~posições }ll'idicl:ls. Mas deste ponto
de partida mat,erial, o direito elevou-se pouco a pouco li uma'
concepção immaterial, espiritualista, que collocl:l ares ü,corpo-
I'alis na meSllllt linha que a 1''!S corporalis». (4ctio Injnriarttm,
trat!o fr. pag_ 146),- E' como se os appellantes dissessem
que nãoha propriedade de um privilegio, de uma 111 arca, de
uma letra de cambio, de uma producção litteraria, ou que
aqnella expressão juridica só pó de ser applicada ao papel' em
. que forem escriptos ou gravados.

.
A eS8a propriedade, que para os appellantes nem sequer
existe, escriptores como Calmels, referindo-se aos nomes de
~~.~ ~
- 386-
familia, eOl1sideram a, mais ab807<<fa de todas, prolwie(la(7,
em que nem se dcrc tocar. (Dcs No'/l1s et Marq. de }'ab.)
pago 73).
E tão respeitavel como a do nome patronymico é a da
firma commercial, pois que, se o primeiro distingue um ho·
mem dos outros" a segunda distingue um negociante dos SIlU~
concorrentes.
D e como é l)rotegida essa especie de propriedade nos
paizes civilisados, póde-se avaliar por dous arestos que,
delltrfl muitos outros, vamos citar.-Tendo o jornal Le Gauloi,
começado fi publicação de um romance, com o titulo Pot-Bouille,
do conhecido escriptor Zola, logo que nelIe appareceu um per·
sonagem com o nome de DtlVel'dy, lIome que era o de ,um advo·
gado de PllriZ, redamou este- sua snppressão e, Com'll1auto
declarasse o romancista Qne nenhuma allusão thllia' querido
fazer, pois que nem sabia oa existencia do II.dvogadn, orllenou
o tribunal que o nome fosse supprimÍll0, prevenindo, na seno
tenç~, que fi !luppre~são não poderia consistir em uma simples
allera r;ão orthographica, de modo que se conservasse a lIIe~ma
COllsolllillcia.-Deci:-ão inspirada nos mesmos princípios foi
proferida no proce~so intl3ntado por dous membros da família
Miron .contra o escriptor ]J[orin, que adoptára nos seus livros
O BnagraJllllJa de MirOl1. 0 tribunal, atlf>noendo â possibilidade
de cúnfllsão, prohibio que Morin usasse do nome ]JfiTon em
suas obras 011 expuzesse á venda qualquer trabalho com este
Domp. (Dalloz, S11]Jp. auRép. vb. Nom).
De cel to estamos longe da coarctada de que o Sr. An-
tonio de Bal'l'OS Ramalho Ortigão nada t.em que "SI' com o
seu nome escripto á porta dos negociantes Gm'queira & Soares,
porque esse Ortigão não é elle, mas um Ortigão qualquer t
A COllclusão do que acabltmos de expor é que Antonio
de BalTu; Ramalho Ortigão t.em o direito de,até por acção
criminal, impedir que C~rqt1eira & Soar'~8 usem de seu n(Jme
(Cod. Penal art. 353 § 6·) da mesma fÓl"ma que 0111 appellados
tef'm o de impedir que ~e use da sua firma, com ou sem altera-
ções. 8e preferimos propôr a acç1io em nome da firma, foi
porque, como dissemos Das razões de.fI. 113, o fim com que
em"queira & Soares commettem elSsa usurpação é aproveitarem·
se do nome OrtigãO' para o seu negocio, e é a nova s_ociedade
fundada por Antonio de Barros Ramalho Ortigão a quem isto
principalmente prejudica.
Até certo ponto de suas razões a defesa dos appellantes
consiste em allegar que não usam da firma em que figura0
Dome Ortigão, chegando a affirmar que não são firmas o que
está €scripto á porta de sua casa, mas meros disticos (Replica,
- 387-

art. 19; Razões, fi. 159). Sl1bito; porem, mudam de plano e


passam a sustentar que usam, sim, da firma, e que li isto
têm perfeito direito: .
10 porque a sociedade Cerqneira, OrtigtIo & O. não ficou
extincta com o distracto social de fi. 7 ;
2° porque são çessionarios e successores da. firmaOe1'-
queira, Ortigão & C.
Ambas estas proposições_ são invalidadas pelos appellantes
com as cOlltradicções em que calIem.
«As sociedades commerciaes não desappm'ecem, dizem-nos
com muita auctoridade os appellantes, 6 com ella8 o nome
ou firma sob O qual exercem o commercio», e em seguida,
apoiando-se em trechos de jurisconsul tos italianos, hollandezes
e francezes, accrescentam que ellas ainda perduram para o fim
da liquid&ção. (Razões, fIs. 157 e 158).
Acceitamos plenamente a doutrina, ficando entendido,-e
é intuitivo,--'que uUla sociedade 8ópóde subRistir para o fim da
liquidação quando lia liquidaç.ão . a flizer. Ora, na bypótbese
taluão se dão O fim principal da liqni<lação é a partilha dos bens
entre os socios, mas uma sociedade pôde dissoIver~se opao-
faudo-se a partilha no mesmo acto da dissolução, e é o que
fez a sociedade Ce,-qutlim, O,·tigão & C., no distl'acto de fi. 7. -
Eis a esse -respeito a lição dos jurisconsultos.:

~ Tod'avia, a liquidação não é Um antece-


dente necessarlo da partilhli.. Podem os il.ssb~ia­
dos, se estão de accordo, deixar de proceder a
ella. E' o que acontece notoriamente quando
elles conveem que a partilha do activo seja ope-
rada seni que as dividas sejl;lm previamente pagas,
Olt qlle o actÍ'vo seja attribttido p01' inteiro a um dQI
aS8ociado., ficando aStlu cargo' pagar as dividas
sociaes e entl'egar uma certa somma a seus as- _
sociados. (Lyon-Oaen et Rénaut, t. 2° n. 063) •

. Se a sociedade ficou em liquidação depois da retira~a dos


socios Ortigão & Santos, os liquidantes ficaram, sem duvida,
com o direito de usar da firma com a clausula...:-em liquidação~
Neste caso haviam de ter muitas vezes sentido a necessidade
de empregaI-a, e empregaI·a assignando-a, o que, segundo a
extranha these dos appellantes, é só o que constitue o em-
prego de uma firma. Careceremos provar que, passando re-
cibos, acceitando'letras para proceder a pagamentos, firmando
chéques para retirada de dinheiros, tomando até dinheiro por
- 388-

empreiltimo, pOI~em os liquidantes assignar a firma, additando


a cfausula-emliqnidação?
Mas se assim é,-e negai· o éabsurdo,-porque têm os
..appelhtntes tanto receio de confe~sar que usaram e usam da
firma?
Reprodl1zamo~ as proprias palavras dos appellailtes: «Mas
essa sociedade (a sociedalle em nome collectivo) usa de sua
firma quando a tem em dístico nas portadas de sua casa? De
certo que não ... Neste caso ella annuncia que alli existe a so-
ciedarie tal, mas não a usa no sentido juridico da expressão ...
Não ha portanto uso dessas firmas.»
Logo, concluimos nós, são os proprios appellantes que re-
conhecem que não ha liquidação. E esta é· a vel dade, para a
qual, se ainda uma. ~rova qmzessemos, tel-a-iamos no Silencio
absoluto do distl'acto, onde, de certo, se Cull veuclonal'Ía ~IJbl·tl
o modo de fazel·a e sobre quaes seriam os liquidantes S6 a so-
ciedade ainda devesse prolongar sua existencia durante um
periodo de liquidação.
Conceda-se, porém, que por ainda haver liquidação a
fazer, isto é, por continuar a ~odedaJe a exbtir, torlla·~e lIe-
cessario o uso, por este ou por aquelle modo, da firma, o Co·
. digo Commercial é terminante em exigir que, nest.e caso, se
additem á firma as palavras-em liquidação.

Art. 344. Di~solvida uma sociedade mero


cantil os sociol! a"torh,allu~ p~la gerir Jurdllte a
sua existencia devem operar a sua liquidação ne-
baixo da mesma firma, additada com·a clausula
em liquidação ..

Mas se são os proprios appellantes que se prevalecem deste


artigo do Codigo .para demon~trarem que a sociedade ainda
não está extincta, porque é que se não submetterám a. elle
quanto ás palavras-em liqMülação ? Se o não fizeram, foi p UI 4 ue
bem comprehenderam que a hyot,helile não era a do art.. iH4,
E agora os argumentos com que querem mascarar a sua des-
lealdade 8ão tantu mai~ incon~isLellte~ q uallLo elles meslIIOS
It.inda 'niio Iilabem o que lhes convém maif!: !óle sustentar que !la
00 que não ha liquidação. E, senão, veja-se:
«Não hlJ., portanto, dizem·no á pago 129 v., necessidade
de semelhante clausula, porque não. ha liquidação social em
IIlmt.ido stricto». Deve haver, por conseguinte, uma liquidação
em sentido lato e só para esta é que se fez o art. 344!
Uma causa que se vale de taes .argumentos é uma cauSa.
perdida.
- 389

Se na questão da liquidaçã.o os periodos dos appellanté"s


s6 se succedem para se contradizerem, sobre o ponto de serem,
ou não serem, cessionarios e successores da extincta. firma,
igualmente impo3sivel lhes foi acertar com o que menos os pre-
judicada: se dizerem que sim ou dizerem y'ue não. Mas, antes
de qualquer ráciocinio, ponhamos em frente, um do outro, dous
trechos dos appellantes :

P. que a firma ré Oe1'queira Os appellantessl!o pelacIan-


& SU(l}'es não é üireotamente sula ó~ do distracto social 'de
ce8s;onaria dos aut.ores An· 16rle Março á fi ... ce~8f(nia1'io3-
tonio de Barros Ramalho Oro e SttCCe8S01'es da firma Cerqueira,
tigão e Jacintho Roque Condt> Úrtigão & C. e suas anteeel!l-
dos Santos nos direitos que, Oí' soras. (fi.. 159).
mesmos tinham .nas firmas OI" .
tigão & O, e Oerqzwim, Ortigão
& C., mas sim Joaquim José
Cel'qlleira e Francisco Joaquim
Pereira Soares, como se -vê á
fI. 8 da clausula 5~ do distrato
social. (Art. 10 da Contesta·
ção).

Tomemos cada uma destas opiniões e vejamos o que dellas


se deve concluir.
No primeiro caso, não sendo a firma appelIante cessiona-.
ria dos socios que se· retiraram tendo havido' entre a dissúIu-
tão da firma Oerqueil'a, Ortigão & O. e a censti tuição' da firma.
OrrqueiJ'a & SOa?·.es outros adquiren tes das partes dos socio~
O tigão e Santos, como pó de ella se dizer successora da firma
de q ne estes ultimos se retiraram? .
No segull,do CllSO, se houve cessão, não podiàm os appel-
lantes furtar-se ao cumprimento da disposição da lei 916 de
24 de Outubro de 1890 que lhes impunha só usar da. firma
antecedendo·a das palavras « successor de» .
Diz O
Art. 7" § unico.-O adquirente por actoin-
ter vivos ou mortis causa poderâ continuar a'
usar da firmà antecedendo· a da que lIsar,
com a declaração «stlcces~O?' de :!> •••

A verdade é que nem assim poderiam usar' da firma éx'o


tincta porq ne a hypothese· deste artigo é outra. O que ell;e
Suppõe é' a transmissão directa de uma casa commercial, feita. "
- 390-

por uma firma a outra; e como a firma social não é coisa que
se possa compor com os nomes d!3 negociantes que não sejam
os proprios socias, a lei auctorisa que, ao lado da firma dos
adq uirelltes, se inscreva a firma dos cedentes, com a declara-
ção de que S9.0 successores de~tes. A firma, repetimos, só pode
ser cedida para ser empregada pelo adquirente com a declara·
ção de slteecssor, e bto pela razão de que um nome ou uma
firma não se transferem de um a outro, nft'l pódem ser, fóra
d'aquella condição, objecto de negocio. Mesmo para que a
sociedade appe11ante pudesse .usar, com aquella clausub, da
firma que se dissolveu, preciso era que isto tivesse ficado es·
tatuido no distracto. Ora,' o distra~to é mudo a este respeito,
liem se poderia cogitar de transferir ouso da firma Cerqueira,
OJ'tigão & a. qllal1do' cada um dos socios tinha o proposito,
que immediatamellte se realizou, de fundar nova sociedade.
Mas ainda neste ponto cahem os appelhntes em contradic-
ção flagrante, sustentando, ora que a qualidade <le successores·
111es dava o (lil'eito, lhes impunha até o <levc/', de conservarem
na portada a antiga fi1'ma, ora que nenhuma responsabilidade
teem porque já alli a acharam, sendo mero facto negativo o de
a não mandarem eliminar. Uma de duas: ou a conservação é
um dever e é peh vontade de cumpril·o que 08 appellantes
não retiraram as firmas de suas portas, ou é um aelo negativo, ,
e, então, não é pelo sentimento do dever qlle e11e3 as não eli-
minam, mas por simples omissão, pela qna1 sllppõem que não
podem ser condemnad03. i\Ia~, simples omissi"lOqllando os ap·
pelhHlos começaram por se dirigir aos appellantes chamalld()
. sua attenção para, o facto e pedindo, em termos muito corte·
ze~, que o fizessem cessar? omissão, mesmo depoistUe inti·
mados para a acção, mesmo det>ois de condemnados pelo tribu·
nal de primeira instancia?
. Ter escripto as firmas, ou conservaI-as é, na hypothese, a
mesma coisa, porque é absurdo suppor q ne algnem deixe em ~ua
casa o nome de outrem sem um fim qualquer.
O primeiro cuidado (10 particular ou do negociante, ao
entrarem para um edificio, é dissipar qualquer confusflO que
se possa dar com os que ne11e anteriormente habitaram.
O aresto dos tribunaes francezes no' processo Valentino
esclarece bem este ponto, bem como outros que se discutem na
presente causa; e como teem os appellantes a pl'etenção de
que só elIes entenderam esse caso, somos obrigados a .referir
em que elleconsistiu para tirarmos a verdadeira lição que
encerra.
Um certo Chabl'and havia illstallado em uma casa da rua
Saint·Honoré uma sala ele concertos, que ficou sendo conhe ..
- 391 -

ci(h pelo nome de Valenfino, que era o do chefe da orchestra.


Alguns auuos depois rei irou-se Yalc'Illino, mas este n()mé con·
tillllOU a figurar nos cartazes e !lOS jornaes, tendo sido a.té
gravado no fl'lmtespicio da s(\la lHJr um dos successores de
Chabraud. Pela morte do proplietario d.o lJredio, passou este
á slla neta, viuva Ladoucette, e esui o alugou a Dl1cl"\lTe, por
qnem a sala de concertos foi couyertida em í'ala de baile.
Nesta occasi~o, quando 37 allno~ já se _tillh ,m lJassado
depois da retirada de Valentino, seus herdeiros intent.aram
-um i,rocesso contra a proprietaria, viuva Laq,oucette, ecúntra
Ducarre, o locatario, afim de compellil-os a fazer desappare·
cel' do frontespicio da sala e dos annuncios o nome de Valen ..
tino. Um dos pontos da defesa foi o direito que devià ter pro·
dUZIdo em favor de Ducarre o longo lapso de ,tempo (lurante
o qual a sala foi designada pelo nome Valentino, mas o trio
bunal dr Sena, attendendo, entl'e out.ros consideraudos, a que o
nome, além de inalienavel, é imprescriptivel, condemllou Du·
cane e a viuva Ladoncette : .
« a fazerem desapparecer, dentro de quinze dias, do fron-
tispicio da sala, dos cal'tazes, pl'ospectós e inserções nos jor-
naes o nome de Valentino, ficando-lhes prohibido usar do dito
nome em qualquer logar e por qualquer motivo;
«a pagarem, no caso de não darem cumprimento a seno
tença durante aquelle prazo, aos herdeiros Valentino a quantia de
25 francos por cada dia de demora, a titulo de perdas e inte·
resses.-(A integra destã sentença, bem como a da Côrte de
. Pari~, q Il~ a confirmou, acham -se no Diccionario já citado, de
MailIard de Marafy, vb. Norn,) ,
Se n' este aresto trata-se do uso de uma denominação e
não do de uma firma, denominação dI:) que já se fazia uso ha.
dez:enas de annos é que apenas m'a constt'vada, não é o caso de
concluir de mais para mel108, a foram'-i, tratando-se de uma
firma e de reclamação apresentada incontinenti?
Como se acaba de ver, a sentença dos tribunaes france·
zes condemnou os réos ao pagamento de 25 francos por cada
dia de demora,isto é, condemnou logo pelas infracções futuras,
e claro está qne ele outra sorte a sentença nenhuma efficacia te·
ria, porquanto seria sujeitar os dois proprietarios do nome usur-
parIa a demandar dnrante toda a vida. -
, NiLO desconhecemos que ha quem dê ao aI't. 5° do Codige
Napoleão interpretação se~urido a qual ntio seria regulaI' a con-
demnação por infracções }'utllras, ma! é opinião individllal de
- um ou ontro escriptol', não adoptada pelos tribuuaes de ne-
nhUlll dos dous paizes a que aquelle Codigo serve de legisla·_
ção civil; ej lJara apoiarmos esta affirmação em testemunhe
- 392 -

da maior insuspeição, vamos recorrer a um d'aquelles mesmos


€scriptores:
Contesta-se aos tribunaes, diz Braun, o di·
reito de -fixar allteci-vaàarnente a saucção
penal das contravenções que não nasceram,
mas que podem ser commettidas. O art. 5°
do Codigo Civil se oppõe. Entret.anto, uma
juri&prudencia-· constante lhes reconhece o
direito de pronunciar condemnações com· .
minatorias, que outra cousa não são l:;euão
perdas e intereSies no futuro. (Tmité des
Marque8 et clu Nom.Comm. n. 236.)
E eis porque é qne os appellantes qualificam a sentença
de arbitraria e monstruosa, chegando atá a produzir como ar·
gumento o facto de· não ter sido uma tal pena prevista pela
Con:5tituição Brasileira IA dizer a verdade, não se pôde to-
mar a sério tão inesperada apparição da Constituição, que não
se sabe o que vem aqui fazer. 'rambem de perdas e interesses
não tlata a Oon8lituição Belga, e igualmente deixaram-n'as
no esquecimento todas as Oonstituições por que a Fra.nça se
tem régido depois de 1789. Mas para que ir tão longe? Não
temos no nosso processo civil as acções comminatorias, que
consistem exactamente no direito que tem aquelle que receia
UUla violenc1a de evitaI-a pela condemnação prévia d' aquelle
por quem se sente ameaçado? Não vai esse direito a.té o pouto
de se poder exigir caução peló damno imminente?
Entretanto, são penas essas de que não cogitou a Cons-
tituição da Republica I
Confiados nos douto~ supplementoR, nada mais· carecemo!
dizer sobre as allegações dos appellantes. Como pensamo,> ter
demonstrado, não ha nellas argumentos que attinjam os fun-
damentos do luminoso accordam do Tribuual Civil e Criminal i
em compensação ha exclamações de toda a ordem. «Santo
Deus!» «Aqui d'EI-rei «Misericordia I » são o commentario
li)

aos considerandos da sentença appellada, mas, como perante


essa egregia Côrte não é quem mais grita quem mais rasão
tem, espera-se a confirmação do accordam da sua indefectivel
Justiça.
Rio de Janeiro, 6 de Fevereiro de 1896.-0 adv.,Sano7!9
.de Ba,."o& Pimentel.
- 393

ACCORDAM

Accordam em Camftra Civil da Côrte de Appellação que, -


vistos, relatados e discutidos estes. autos: Os appellados,
Ortigão, Santos & O., pediram a eondemnação dos appell'antes.
Cerqueira & Soares a não mais usarem do nome Ortigão, das
antigas' firmas Ortigão & C. e Cerqueira, Ortigão . & C.,
exi~tf'nt.es nas portaàas do seu estabelecimento commp-rcial, e
especii1lment.e a apagarem ahi esse nome, bem como a illdem-
nízal o~ àas' perdas e damnos já causados, e a pagarem du-
zentos mil réis por cada dia de demora, a partir da data da
petição inicial.
Os appeIlantes se defen~eram allegando que usam unica-·
mente !la sua firma social, distincta da dos appellados;. que
nenhuma lei prohibe que ~e conserve nas portas das casas
commel'cÍaes as firmas que anteriorment.e ahi já existiam, de-
pell(lem de liquidação e antecederam á firma emexe:'cicio-
que, finalmeate, a firma appellada 011 seus socios conectiva;
mente não são partes legitimas para demandarem a retirada
do nOllle Ortigão das firmas estampadas nas portadas da casa.
delle~ appellantes, firmas sociaes ahi constituidas desde 1878
segundo as regras de direito (V. Contestação á fi. 17.)
O accordam de fl. 136 julgou procedente a acção e con·
demnou os arpellantes a eliminarem o nome Ortigão, sob a
comminação da pena de 200$ por cada dia de demora, desde
a data da conrlfmnação, e a indemnizarem os appelIaJos' dos
prejuízos que na execução forem liquidados.
Menos bem julgou o accordam appelIado.
Os appellados qualificaram, na petição inic-ial, de acto de
concilrrencia desleal que os prejudica, a conservação das.
firmas, já alludidas, á porta do estaQelecimento dos appel-
lantes, porque dellas faz pa:'te o ume Ortigão, propde'lade
do socio deIles appellados Antonio de Barros ltamalho Ortigão;
e por isso requereram a supressão, 'não daquellas firmas, mas
unicamente !l.esse name que neIlas tig·ura.
Na réplica de fi. 62, os appellados não pro seguiram fiel-
!Dente nos termos fundamentaes do seu pedido: para elles;
então passou a constituir o proeedimellto' dos appellantes-a
Usurpação da sua razão social-, sendo a presente acção aucto-
risada pelo decreto n. 916 de 1890; combinado com o deúeto
n. 3346 de 1887. Nas razões de fi. 113, os appelIados ac.- _
tenturam que o nome -Ortigão-Ihes pertence, porque formam
elles a sociedade em nome coUecti vo - sob a firma Ortigão,
Santos & O., e não era licito a um individuo ou a uma firma
Usar de nome que lhe não pertence; qne da firma Oerqueira,
- 394 _.

Ortigãú & C. não podiam mais usar os appella !ltes, lJor (lever
~stai' fill(la a liquidação da dita firma, e não a terem os
appelbutes adquirido, estando a mesma extiult l; -deiXdll(lo
este terreno, tOlnaram a snstelltar,.á fi. 116, que é para fllll
de cOllcurrellcia desleal que os appeIlantes têm ~ porta â firma
com o nome-Ol'tigão-para recommelldal'em·se com a honrosa
tradic,ão deste nome, que é preprieflade <le outl'em qlfe, exer-
<sendo a me:mw. iUllustria, delle se earece aproveitar para o
mesmo fim; fi üe este fi\cto constitue concurrenciadesleal,
porque neIle hn o proposito de, por mt'io de uma. confusão,
chamar a si parte da clieutela alheia; assim que, á n. 119,
não insistindo mais na illvocação dos decretos ns. 3346 de
1887 e 916 de 1890, declaram os appellados que não propu-
zeram a acção especial, na fÓl'ma de lei e~pecial alguma, mas
propuzeram a acção ordinal'ia facultada a. todo aq uelle que se
sente prf'jndicado pelo facto de outrem.
Entretanto, nas razões á fi. 175, ante o juizo dlit appel.
lação, os appellados de novo allegam-qne se tl'ata de questão
que te:.u. aS:lento na legíslação-: o decreto 916 de 1890, o
Codigo Penal, art. 353 § 6°, expressamente consagrado á
hypothese, e ainda o decreto n. 3349 de 1887 art. 14 § 7,
fonte proxima da disposiçfw analoga do Codigo.
A mesma vacillação de idéas que se nota nos articu·
lados e arrazoados dos appellados, patenteia-se no accordam
appelhul0. .
Ao principio oaccordam mostra que o nome eommercial que
distingue o commerciallte de seus concurrentes, tem, tanto
como o nome civil, a protecção das leis, como-se vê do Codigo
FerraI, dos decretos de ] 887 e 1890; accusa a firma appel·
. lante de não ter .qualificativo que indique a continuação das
:tirmas estampadas á sua porta 011 a liquidação dellas, nos
termos do decreto da 1890 art. 7~ l)aragrapho unico, e o Co-
digo COllimercial art. 341; pondera que essas firmas desap ..
pareceram-como as sociedades ás qml.e~ serviram de nome,
se dissolveram; depoi~, passando a outra ordem de conside·
rações, salientQ que o nome Ol'tigão, componente dessas firmas,
é o de um dos'socios da firma appelladae replltada no com-
mereio, o que pó de induzi!' em erro os terceiros sobre a iden-
tidade dos dous estabelecimentos, sendo esse nome tRmbem
parte da firma appellada, qüe assim fica prejudicalla ; refere·se
á insct'Ípção do nome cOillmsrcial nos portaes e taboletall como
uma das manifestações do direito do seu uso legitimo; lembra
o julg<tdo da OOM]' ÜC P,tris sobre a questão do nome «Valen-
tino» getdO ao nm café· concerto, e conclue: que a dissolução
das sociedades commerciaes faz desapparecer o nome dell . . s;
~.
- 396 -

que a inscrlpção-nas portas da. casa cl03 appellantes- das


firmas que pereceram, sem o qualiticativo da Iiqllidctl;ã.o ou da
slIccessão', é um act.ú de COIICl1ITellt\Ía desleal em prüjuízo da
firma appelln.ih!., pela significa~rw fi J'epLlt~ll<ii.1) 110 liome-Or-
tigão -, patl'onymico de um do~ - t;ocios, hel'ueiro d~,C'jllelle
.óme j que hove da parter dos appellantes a inteu(;iio cu1po:.:a da
deslealdade, que fUllllam'euta o direito á repit:'llçiio e á pl'uhibição
do uso illieito 51e nome (IUe lhes 1180 pel'telléej e em cOllseqlH~llcia
condemna os appelJantes a elimiutl.l'em o INJme- Ortigií.o- e a
indemnisarem.
Seja como fôr, quer se repute o I\ceordam appelhulo [(m·
dado na legislação que citou, quer fnndado no dil'eito cOll'ilD1.Un
ao qual por 11m recorreu :-improcedem os seus fUlldimwntos.
O decreto legislativo n. 3343 de 1887, e com elle o Co·
digo Penal art. 353 n._ 6, do qual é fonte, llão têm applicação
~ e~pecie, na qual não se tmta de nome commel'cial ou indu~.­
tl'ial, empregado como marca. ou em marcas de pr()dllcto~
ou mercadorias.
A legislação vigente sobre o U30 dtl. til'tHa. ou razão com·
mercial consiste no decreto do, G.werno Provisorio Il. 916 de
1890, o quul, quando se interprete, extensi 'lamente o decreto
de 1887, del'ogou este, sem alteraI-o, comtndo, no tocante ao
uso de nome em marcas de fa-brica ou de commarcio.
Nem o decreto de 1890, Bem o decreto de 1887 -sup·
pORto seja applicavel ao caso, 8uffragam a pretenção dos ap~
pilHados. Esta pretenção me~mo 11flO tem apoio algum no prin.
cipio geral do direito dominante nas questões de concurrencia
illicita entl'6 commerciantes de certa ordem, por meio do uso
ou imitáção de taboletas, disticos, etc. E, finalmente, a -acção,
que porventura tsnha o socio dos appellados, Ortigl'to, contra
os appellantes, não pôde ser exercida pela. firma appellada.
O decreto legislativo n, 13346 de 1887 teve POI' fim a pro ..
tecção dai marcas de mercadorias e mais prodllctos-e tambem,
pelas mesmas razões que justificavam aquella pl'otecção, a do
nome commercial, ~q uer miado como parte com ponen te de taes·
marcas, quer applicado, sem revestir a fôrma distinctiva neces-
saria para constituir a. marca, a prodnctos do productor possui..
dor desse nome, ou que o negociante, possuidor desse nome, tem
o direito de vender. E' direito de que usam inrlus!'riaes e com-
mOl'ciantes appôr o proprio nonle patronymko, sem lhe dar
rÓI'ma distinctiva, a08 prodnctos qne fabricam, extrahem ou ex-
põem â venda. E' UIllJ. especle de assignatura que cel'tificl\ o .
estabelecimento industrial, nü'al, colnrnel'cial, etc" de que prp-
vêm .os prodnctos (Humblet, TraiU eles Nom8-ns. , 323, 338 e
segullltes).
- 396-

E' neste restl'icto sentido cto nome OH firma. c()mmercial,


relaeionado á marca de prodtlcto~ ou mercflrlol'ifll'!, e não Pro
amplo sentido, ~obre os mais aspectos sou os quaes !lHe pódi
~er encarado, que a lei citada providenciou sobre a pl'otecção
que o mesmo merece ter.
Foi em virtude das estipulações da Conven9ão Interna·
eional de Pm'iz, de 20 de Março rte 1883, que se lratou de re·
formar a lei n. 2682 de 23 de Outubro de 1875 sobre marcas
de fabrica.
O pensamento dominante na convençãl> foi garantir os di·
reito!'! da industria e do commercio, contra a coucurrencia oes·
lul, em relação aOs productos que tivessem marca regi~tl'ada.
Nesse pensamento tutelar foi comprehendido-sem d"pp.1Hhm·
cia de I'egistro-o simples n'ome comlÍlercial, aproveitado tam·
bem para assignalar os producto!'!.
Combine-se o seu artigo S- com os arts. 9- e 10°, e pOlllle·
re-se qne ao!! intert'sses do commercio internacional em nada
importa vam a identidade, semelhança ou a uSllrpaçfw do nome,
senão quando applicado e!ite aos prodl1ctos negociados de um
paiz para outro.
Que nesile pensamento, no tocante ao nome commercial,
foi elaborado o art. 11 do projecto da lei de 1887, convence
a mera leitura. da parte respectiva do parecer das secções reu-
nidas do imperio e justiça do ConselllO de Estado incumbioas
de formular aquelle proj'lcto; convence-o o texto do citado ar·
tigo, tanto trais sendo estudado de harmonia com· outros arti·
gos do projecto, depois convertido em lei (v. mais Affunso
Celso, marcas defab,·ica,.n. 116).
O artigo de que se trata é antecedido do art. 8° n. 2,
que Ilrohibe o registro de mar.clt que contiver nome commer-
cial ou firma social de que legiti~namente não possa usar ore·
querente; do art. 10~ segubda parte n. 2, que concede aggravo
do despacho que admitte aquella marca. O artigo dispõe que
nem a falta de interposição do ·recurso, nem o seu indeferi·
mento derime o direito-para obrigar o concurrente que tenha
dirdto a nome identico ou semelhante, a modifical-o por fÓl'IDa
que seja impossivel o erro ou confusão.' .
Bastaria isto para demonstrar que na lei de 1887 se co-
gita sómente do nome empregado em marcas,-quer no sentido
technico e legal desta expressão (art. ::'-), quer não.
Bit ne11a., entretanto, outros preceitos qUi corroboram
este asserto.
'faes são as prescripções :-do final do art. 11, segll ndo
o qual a acção do posiuidor do nome prescreve não sendu in-
t~tada até seis mezes depois do registro da marca; e do art.
- 397

14 n. 7, que impõe penai'l fi. quem n!,!~r do nome ou fil'~11êl com"


merdal, faça. ou não parte da marca registrarIa, combinada.
com a,.; do arts. 22' e SO u. 2, cio art. 35 i1.) reguL-i.llitcnto e
art.. (.)0 da convenção int.ernacioÍlal, d~s quaes resulta qne o
possuidor do nome,-independentementa do registro da ma(ca
ou do 1l0me,-p6 rle pedir a app!·~11Pn~ÃO (Li'; lIlercadori;ts' ou
prodllctos revestidos simplesmente do nome. (Affonso Celso-
obm citada-no 112, 3°). . '
Retlicta-se que a noção do n{)ffie commercial não se limita
ao Dome, firma ou razão sob a qual se exerce o commer~io ou
a illllustria, estende-se ao nome de fantasia adoptado pelo lle-
gociante ou industria,l (Affonso eelilo-n. 109) e ainda ao nome
de terceiro que elle aproveita ,com o consentimento deste
(Humblet n. 303 e seguintes); l'eflicha-se mais que se a pro-
tec~ã() da lei amplia-se a este lIome de falltllsia, ou hist.orico ou
de terceiro, quand se o applica aos l'roductos,-em nada
f
)

aproveita ao mesmo nome figul'itudú em ell1blellla ou «tabuleta .. ,'


porque esta faz notorio o estabelecimento em que se encontra.
o pl'oduct.o ou mercadoria, mas conj Ilnct.amlmt.e com os demais;·
objectos da exploraçãu, não imprimindo portanto naquelles
nenhum cunho particular (Atfonso Celso-no 43); e concluir-
sa-1M que ~6Il1eut,e illt~l'el'sa á lei d~ 1887 'o !Iome i(lellLiticauo
com o producto por meio da marca, nos tp.rilloil do art. 2°, ista
é, I'eve~t.illdo fórma -distinctiva, 011 não, l'~g;f;t.I·a<la a mal'C,R 00
o Ilome,ou não registrados; não interessando á mesma lei o
nome quanto ás mais relações judaicas.
E tanto assim é que o critel'io para fi .i\ll~amento da usur-
pação <lo nome, segunno o art. 14 § 2°, ou da net'.essirlade da '-
sua rnodifieação, l'egun(lo o art.. 11, éo mesmo que a lei es-
tabd~ee para o julgament.o da eontrat'a.-t;i1o ou imitação daS'
mareas, conforme o art. S~ n. 6, ao qll;\1 () art. 11 fll~ ex-
pressa referencia, e conforme o art. 14 § ~', a que se lig:-t ()'
§ 1, isto é,-a possibilidade de erro ou confusão do compra-
dor i-e o que é mais, fi. acção s6ment.e compRte contra o cón-
.,eurrente na mesma especie de irl'lulltria ou commercio (regula-
mel1to art. 27): a razão da dispu!;içãu é patpavel.
E por isso a dita lei não condemna em absoluto a. homo-
nymia integral ou parcial ou a semelhança de nomes: a contraria
" ,ensu do disllosto, quer no art. 11 11. 2, quer no art. 14 §' 2°.
se a despeito da homunymia ou semelhança a confusão não é
po~sivel, o consumidor não pôde Ser induzido a engano-nãó
tem logar a acção contra o C0nCUl'rente. «Todavia não se deve
exagerar o principio ao ponto de censiderar usurpação de.-
nome: .. o emprego do mesmo ou semelhante, quando se lhe
-- 398 ~
.
a ccrescentarern indicaçõps ba!ltaute accentuadas para faeil·
ItIente distinguir-se UnJ do outro (Affonso Celw u. 115) .. »
Finalmente, tanto sempre se ent.endeu assim a lei de
1887 que, nesta praça, onde lia unJa infinidude de firmas
comrnerciaes compostas de uma certa série de nomes patro·
nymicos, cacla um dos quaes em. dezenas dellas figura, em
variada-s combinações, além de que muitos delles guardam
entre si certa semelhança que pôde induzir a erro (Affonso
Çelsô, n. 144, nota 22), nunca se invocou a citada lei, a não
ser no caso em que o nome constituísse marca ou elemento
della, para pecUr as penas da usurpação ou a alteração auto·
risada pelo art. 2-. ,
Se-despresado o elemento historico da lei citada, u seu
objecto pl'Íncipal,. o accordo das suas disposições-se a inter·
pretasse no amplo sentido em que a considerou o accordam
appellado, isto é, no sentido da protecção do nome, firma ou
razão cúmmercial independentemente de sua associação aos
-productos on mercadorias-assignalando-os em marcas regu·
lares, Oll não regulares, estaria a dita lei derogada, restrillgida
de facto nos mencionados termos a sua applicação, por força
do já citado decreto n. ~ 1~ de 1890.
Este decreto obedeceu á ordem d~ idéas difrtll'snte da que
pre1iidil':l ao decreto legislativo de 1887: Drotege simplesmente
a firma ou razão sob a qual o commerciante ou sociedede
exerce o commel cio e assigna-se nos actos a. elle refenmtes
(artigo ~O).
Ao envez da lei de 1887 que confere a acç;w do art. 2°
a quem prOVa a posse anterior do nonle, independentemente
do registro (registro que aliás não existia então, nem essa
lei creon) ; que í'ómente a adrnit.te contra o concurreute na
mesma espede de illdustria ou com1!lercio ; que faculta a. acçãO
não só contra·. o concul'I'ente de nome on firma identica, cOJU!)
contra o eoncuuente de nome ou firma temelhante: o decreto
de 1890 sómente dá a acção ao dono da firma regiHtrada
contra o -collcurrente que tellha direito á firma identica, seja,
qual fôr a especie _do commercio de ambos (art. 10 in pro
e § 3° e art. 1)0 § 1°). -
Ao dono do nome ou firma usurpada, isto é, usada por
aquelle a quem não pertença, cabe a acção da lei de 1887,
independentemente do registro i dhersamente o decreto de
1890 coucede a acção cOlltra o usurpadol' da firm.a registrada
ou Ínscripta (~rt. 10 in p1'.). . .
A diffe1'8uça das disposições dos dons decretos leglsI~tl.
vos de 1887 e 1890 provem da differença de ponto de· VIsta
dos seus autores, do fim que se propuzel'am preencher: um
- 899-

pl'otpge a proprie:lade do nome ligado ao pl'oducto 011 merca-


dori:\; o outro protBge essa propriedade nas relações geraei
da vida commercial, maxime nas attinentes á respectiva res·
ponsabilidade.
O legislador de 1887 tinha de ser,mais exigente quanto
ás relações graphicas dos nomes em questão j pois q~le a
simples semelhança bastaria para gerar a confusão, o engano
do comprador, em face do producto j ao passo que em nada
prejudicaria o 11"10 do mesmo nome ou semelhante, ainda que
usurpado, em ll\'odnct.o de natureza differente.
Ao legislador de 1890 só convinha proscrever. a identi·
dade de nomes, mas devia proscrevel-a em qualquer genero
de commercio em que apparecesse.
E', pois,· evidente .que, quando mesmo o dispositivo da
lei (le 1887 sobre o nome commercial ou industrial se esten-
desse além dos limites da applicação desse nome aos prodú-
cto~, teria ficado reduzido a'~sses limites por força do. dispo-
sitivo do decreto de 1890.
Do tlstlldo do decreto de 1890 resulta qtle, em relação á'
firma ou razão (supponha·:;;e de- sociedade em nome collectivo,
nos termos do art. 3° § l°), crea elle duas acções: .Primeira
-a tendente a. prohibir o uso de til'ma registrada e inscripta
a, entretanto, usurpada; é ao dono da firma que esta. acção,
compete contra o usurpador- e é de necessidade, portanto, a
homonymia da firma do autor e da usada pelo concurrente a
quem não pentence; Segunda-a que tem por fim obrigar' o
concurrente que tenha direito á ftrma-i<lentica ~a morlifical-a
por fôrma que seja.. impossivel o erro ou confusão (v. art. 10
in P", e § 3°, combinado com o art. 6° e § 1-).
Ambas e:;:tas acções competem á sociedade, suppostoJ como
dito está~ quI" se trata da firma ou razão social.
Outra acçiio antorisa virtualmente o decreto cit.ado no
art 8°: esta acção, porém, é individual. E' a attinente ao
socio que S6 retiro~ ou aos herdeiros do que falleceu, conti;
nuando, entretanto,* o negocio, a sociedade Assim modificada
,em seu pessoal j tem por objectQ a retirada do nome daqnelle
.ocio da firma que fica á testa do negocio, se tal nome· con-
tinúa abusivamonte a figurar ahi. .
Ainda uma acção póde fundar·se na disposição do
art. 7° :-é a do cedente e. portanto, tambem dos soci{)s que
se despecliram, . ou dos herdeiros do 80cio fallecido, contra: os
cessionarios ou os socios que formaram nova firma, para exigir
. que no uso da firma antec'essora façam a devida declal'ação
de succeBsão. .
Releva observar que levar além o exercicio desta acção,
- 400-
"
admiltil-a pnra o fim de Illandar, apagar R ih'ma cedirla ou
parte dellil, rnuLilallil".a, importaria na negação do direito
reconhecido no artigo dtado ao successor,-dil'eito de cujo
abll:40 SP. origina a acção tão sómente para cohibil-o, !oleHl pre-
juizu, pílrtànto, do uso do mesmo direito nos termos lt'giles.
Este direito estácollsagrado no alludido art. 7": o IIlJme
ou firma adquire se com u estalleledmento a. que e~titva
ligado i o que é pl'ohibUo é a acquisição da firma sem o e"ta.-
belecimento ou o negocio-e t.ambem o uso della. sem ser an-
tecedida pela do uso genel'ico, da. propria responsallili,lade do
adquirente, nos termos do art. 2°,-com a d~cla.rllção -suco
cessOI' ,ou Sllcessora (Ie. " C'itado artigo, paragrapho Illlico).·
A doutrina dhJcute sobre qual o verdadeiro ohjecto da
translllissão neste caso, pois que o nome patronynlÍl'.o, assim
como a firma, é inalienavel. Se não ~e transmiUt' IJO ligor
-juritlico a propriedade do nanle, transmitte-se a í'aculdarle 011
dirf'ito 00 seu uso limitado reJa declaração da fo:llC".(·p~~ão.
Pardt'~8us - Droit Gornmercial - ns. 158, 271 e 978 ; -
Hu.mblet, n. 280). Aliás IIão se deve entender a rlil'Op(j~i\ã~
citada de moelo li reputar sacrameIHaes os termo)ol p~los qllaeS
devtl constar a succes::;ão (le uma firma a outra: dei!ide que se
'torne paI ente a exi~tencia da successão sem a pGssihilidllde de
cngnno quanto á re~p()nsahilidade da firma successora, e qUitllto
á tl':illl'Omissão do negocio a esta, o pensamento da lei está
preenchi{lo.
UIII dos mais exigentes nesta mat.eria, HumLllet (,.·.itado
n. 28(1), ensina: - que o succeS80r não póde inscrever o
l1omi-' ,~p.rlido l1em s(lbre a tabolêta., nem sob.re os allllullcio~ e
factll! a~ - (',o mf'IlOS isoladament,e - (seul) - COlllO se este
nome fos!'e lealmellle o seu i que o rue Ih'l é pelmittido é
illdi,'ul - que elle tontinua o conmlucio tllllJl'e}lelldidu pelo
. anteeh'SUI', que o t'iStabelecimento que eUe dirige é o que o
seu i\lltecessor deixuu de possuir; que assim elle deve fazer
seguir. uu Jireceder seu prolll'Ío nome da.. menção - B. :sUC-'
cessu!' de A., ou A. B. successor, ou ainda B., casafun(l<\(la por
A., ou - qúalquer indicação ana.luga e tendo o mesmo sentido.
. t 'onseguintemente, a disposição do art. 9° do decreto dI!
1891) não obsta a que a firma, apezar de cancella.da, sobreviva
á sociedade liquidada, para, nos termos do art. 7°., passar ao
adquirente doe"tabelecimento, afim de Stlr' usada cum a
declaração da successão, - as~im como a propda sociedade
extincta sobrevive para os fins da sua liquidação, sendo &
respectiva firma ainda usada ao tempo da liquidação, CO~
a declaração deste estado (Co digo Commercial, art. 335 111
finee art. 344). -
- 401-
.
Entre os direitoll accessorios do activo do e!!tabelecimento
trll!ilpassado á nova firma comprehende-se, além do, Uf,O .da
firma antiga em suceesslão, 08 da denominação, emblema ou
tabolêta di quae8quer signaes distinctivos que possam serl'ir
para chamar a attenção para o estabelecimento, o de im-
pedir, em dadas circumstancias, o cedente de e8tabtlecer-se
de novo na mesma especie de commercio, emfim o da com:er·
vação da fl'eguezia antiga; este direito é um direito intel.
lectual, clRRsificado por isso entre os bens incorporeos trans-
mittidos (Boh;tel, Droit Oommercial, n. 429; Troplong, -
Mariag-, - n. 429; Alauzet, Oomm~"tair6 du Ood~, n. 1139;
Pardessus, ns. 9 e 271 ; Humblet, ns. 279 e seguintes, ns.
314 e seguintes). .
O principal deste!! direitos accessorios, - do qual os
outros, mesmo inclusive o do uso da firma antiga em sue-
cessão, são na realidade os meios, - é o da clientella ou
freguezia. .
E' para asseguraI-o ao suceessor que este fica na posse
da denominação do estabelecimento, das tabolêtas, declarl\o~!!e
successor, e pôde em principio vedar o exercicio de identieo
negocio ao cedente, como se vê dos citados autores.
O antecessor não tem o direito de reclllerar a clientella .
que alIe transferio com o seu nome (Humblet, n. 289).
Eis porque, além de consentir no uso da sua firma em
8uccessão, elIe cede tambem a denominação da casa, as tabo-
lêtas, etc.
Varias questões resultam do exercicio desses direitos.
Além de outras circumstancia!!, uma importa muito seja atten-
dida pelo julgador, na solução daquelIas questões. Antes de
examinaI-a, convém relembrar, ainda que perfunctoriamente,
os principios qae regAm o uso do emblema ou tabolêta, e deno-
minação do estabelecimento, maxime no caso da liIua transferencia
com este.
Preliminarmente, cumpre ronderar que não se deve con-
fundir o emblema ou tabolêta e mais distinctivos, ainda que
llJuraes, do estabelecimento, com a simples inscripção da firma.
nas portadas.
Esta inscripção limita-se a um dos usos da propria firma
dona do negocio, responsavel por elle, com ou sem declaração
da antecessora, ou da que se liquida: serve antes de auxiliar
a quem procura essas firmas. Aquelles outros meios são empre-
gados especialmente para. attrahir a freguezia ou para con-
servaI·a e augmental-a : são antes meios suggestivos.
Aquella inscripção é restricta á firma nctual! á sua ante-
cessora, ou á qUi se liquida, com a competente declaração •
.... TOL. 'li 26
- .{02 ~

Pôde-se dizer, li-o emtanto, que o mundo animado e inanimado,


até o mundo da imaginação, contribuem para a composição das
tabolêtai; emblemas ou denominação das casas commerciaes.
De certo modo estes distiuctivos do commercio têm sua
af:finidade com a pratica da8 marcas: assignalam os estabeleci-
meu tos, como estes assignalam os pl'oductos ; e eis porque, em
raz ão desta analogia, na falta de legislação especial, os prin-
cipios que regem a proprif:dadt> das marcas de fabrica - até
certo ponto são applicaveis á propriedade das tabolêtas (De
Villeneuve et Massé-Dictionnai1't~ Oomme1'cial-«Enseigne»-
n. 4), sem prejuizo do que a lei dispõe sobre o uso das firmas
o u razões commerciaes.
Além de variados desenhos, relevm;, imagens, etc., podem
fazer parte da tabolêta, denominando o estabelecimento, nomes
de fantasia, nomes historicos, nome de terceiro, com o con-
sentimento expres~o, ou tacito do mesmo, e o proprio nome do
commerciante, se é empregado ahi para ~sse fim da denomina·
ção e não para indicar a firma. responsavel pelo negocio.
A denominação do estabelecimento, isolada ou inscripta
na taboleta, ainda que conste do nome de terceiro ou do nego-
ciante, é cessivel, transfere-se com o estabelecimento. No caso
de ser cOllstituida pelo nome do cedente, não é necessario que
o cesFlionario accrescente a declaração da successão, como lhe
é obrigatorio em relação ao uso da firma cedida (Humblet
ns. 315 e 316).
Se ahi figura o nome de terceiro, mist@r é verificar le
este deu o seu consentimento expresso, não por mera defe·
rencia. pessoal para. com o cedent~ ; emfim, em termo!! taes
que aut01'l8em a transferencia (citado Humblet). Certamente
no pleito-Valentino-a que se refere o aecordam appellado,
não se produziu a prova do expresso consentim6nto i e de mais,
na hypothese, nãQ S8 déra. a. cessão do eltabelecimento.
rfudo isto aliás, cumpre notar, não tem applicação á sim·
pIes menção das firma.s nas portadas.
A considel'ação que sobreleva. ás outras, no julgamento
d.:..s questões sobre 08 direitos cedidos com o estabelecimento
commercial, refere-se á natureza do negocio em que se operou
a. sugcessão.
O~ commerdalistas fazem uma importante distincção entre
os varios ramos da mercancia. Ha o commercio cujas tran-
sacções Sã9 de natureza a se consummarem llO silencio ou P?f
correspondencia, sem que os interessados entendam necess~rl?
aI trahir a confiança publica por meio de annuncios,- lIml'
tando-s6 ao simples aviso da existencia das alterações ~o
seu contracto e ao uso de circulares; ha o outro commerclO
-~t8-

em que convém designar o estabelecimento, annunriaI-o aos


compradores ou consumidores, porque cam elles directamente
trata, distinguil .. o dos seus con~eneres, para 111elhor ganhai' e
manter a freguezia (Pardassus, n. 978; Alauzet, n. 1129).
Se no lierundo caio estão as casas de retalho, sob todas
I\S suas fôrmas, no primtiro está o commel'cio por gro!lso,
inclulive o de commissão. E' a grande di visão- dos merca-
dores ou negociantes por gros80 e com armazens-,e os mer-
cadores de retalho ou por miudo, It que!le refere Ferreira
Borgt"1 (Diccionario 00 m1JHIJ'cial-Qotlu... ,rcio) , explicando-lhe
a origem.
Deixando de lado as mais questões, as concernentes ás
tabolêtas e outros distinctivoa, em que l i envolva. ou não o
nome como denominação, sômente se suscitam entre estabele-
cimentos dos da segunda ordem acima indicadofj, aOIl quaes
utilisam aq uelles meios cenducentes á attracção da ooneur-
l'eucia publica.
Por via de regra o commereio d@sseli estabelecimentos é
de vida puramente local, de freguezia. limitada á localidadi,
e por illSO o facto de fundanm-se estabelecimellto8 do mesmo
negocio com tabolêtlll, etc., igua~s ou semelhantes, traz
prejuizo certo a. quem tenha o uso e gozo anterior dtlllas, já
bem acreditadaa, teudo lido aquelle facto ca.lculado para
illudir os compradores; tanto mais se o desleal concurrente o
realiz::a na. visinhançll. do setl collega de quem quer desviar a.
frejiuezia. E' da natureza deste genoi'O de commercio tratar
directamente com 03 consumidores, sendo o pagamento quasi
sempre no acto, e seus estabelecimentora são procura.dos mais
pei!, denominação, etc., do que pelo nome da flrm!t responsavel.
Eis porque, transferido o negocio, a tabolêta ou a deno-
minação passa.m para o adquirente ou successor: ellas garantem
a cOlltinuação da freguezia já creada.
, E' a este commercio que se applica a !leguinte judiciosa"
observação de Humblet (n. 3B): que muitas vezes a denomi-
nação dada ao estabelecimento tem uma importancia conside-
ravel 81b o ponto de vista da fregnezi1t ; porquanto essas ha
afamadas que não são ccmhecidas do publico senão pela sua
design1l.ção convencional, ignorando Ol:! fregu6zes o nome io
j'espactivo ]Jl'oprtlfl(t'l'io, e por isso o cessionario tem a peito
adquirir-ma.is do que o direito de dizer-se successor uaquelle
de~conhecido -a faculdade <1\3 C0l15el'Vitl' a beneficlt tabolêta.
Pelo contraLÍo, taes questõe5 l'olrttivas a tabolêtas, deno-
minações, disticos, etc., em nada intel'essam ao commercio ,de
importação, ao de exportação e ao de commissão, e é intuitiva
a razão porque absolutamente lhes não interessam: o seu
-404 -
negocio é de natureza a dispensar taes meios de concurrencia
e deIles não usa; esses e outros processos de publicidade, que
ás vezes fazem lemlJrar--os que o charlatanismo soe empregai
para captar a credulidade popular - são-lhe desconhecidos,
porque lhe são inuteis.
Aquelle commercio exerce-se em esphera mais alta do que
o commercio de retalho, suas relações estão travadas-com
este commercio, com os productores nacionaes e estrangeiros
e com o commercio estrangeiro de primeira ordem : não as
tem elle directamente com os consumidores; é, por assim
dizer-um commercio intermediario, traço de união entre a
producção e a sua distribuição mercantil por miudo, traço de
união tambem entre o commercio nacional e o dos outros
povos_ '
Elle não faz, ás mais das vezes, o negocio á vista, vive
do credito, e dá vida tambem pelo credito ao commercio secun-
dario, assim como anima, pelos adianta~entos e emprestimos,
a producção.
O uso da firma nas portadas, ou nas placas dos seus esta-
belecimentos, serve somente como mais um indicador para
quem os procura; não tem o alcance que ás vezes tem nas
casai de retalho, em que póde-na falta de denominação-
substituil-a.
E' evidente que neite genero de commercio, em que a
confiança é toda pessoal, a invocação de firma. alheia para
angariar relações, supposto inscripta e empregada apropria
nos actos de responsabilidade, seria um acto de rematada
inepcia, de resultado puramente negativo ou antes prejlldicial
ao seu anetor: quem se apresentasse para o negocio, attra-
hido unicamente pelo annuncio daquella firma nas portadas,
reconheceria immediatamente que outra era a firma sob a
qual em verdade gyrava o estabelecimento; e não se faria o
negocio, formando logo aquelle que do mesmo negocio viera
tratar o mais triste juizo sobre a seriedade desta firma. .
O simples facto do emprego do infiel distico da firma fana
decahÍl' immediatamente o seu autor no conceito dos seus
collegas do alto commercio.
E' bem de ver que o uso da firma antecessorà. nas por-
tadas deste genero de com:nercio, sem constar o laço de
successão, produziria o mesmo effeito que se daria, se não
houvesse aquella omissão: supposto o freguez ignorasse
ainda a alteração havida na propriedade do estabelecime~to
(não obstante a publicação pelos jornaes e o aviso feIto
por meio das Cil'Clllares), seria elle immediatamente infor-
mado daquella alteração, no estabelecimento, ao t,ratal' do
- 405-
negocio, e resolveria ou continuar suas relações antigas com
a nova firma, ou procurar os antecessores, que lhe mereciam
maior confiança.
Assim, salvo algum caso excepcional, revestido de
circumstancias especiaes, não ha como attribuir, neste objecto,
a um commerciante desta classe, o pensamento de uma fraude
que em 'nada lhe póde aproveitar e antes o prejudicará, ou
descobrir um ardil numa simples omissão por elIe commettida,
cujo resultado, para os seus interess~s, é o mesmo que viria
a ser se essa omissão não existisse.
Forçoso é, pois, conclnir que só por equivoco se l)oderia
decidir uma acção, como a intentada nestes antos, originada
da simples falta da declaração da successão entre os nomes da
firma actual e das anteriores, nas portadas de uma casa de
commissão de café; invocando·se, além de leis inapplicaveis
ao caso, principios que regem as questões relativas ao uso de
denominações, tabolêtas-em cOlI1mercio de outra natureza-,
e aliás esquecendo· se esses mesmos principios, quando se
referem ao caso da transferencia ou cessão dos estabeleci·
mentos.
Releva, finalmente, ponderar que não entram no patri·
monio sodal os nomes patronymicos dos 'respectivos socios,
assim como não entram os seus bens particulares, tanto mais
porque o nome é inalienaveI. Os socios continuam' com alma
personalidade distincta da da sociedade, creação do seu con·
tracto, personalidade e~.ta que não absorve aquelIa, sequer para
o restricto fim de represental·a.
Se algum ou alguns dos socios solidarios contribuem com
o seu nome para a constituição da firma ou razão social, nos
termos do art. 315 do Codigo Commercial e do art. 30 para·
grapllO lOdo decreto n. 916 de 1890, é deste nome assim
composto em seu complexo, que é dona a sociedade e não dos
nomes individuaes dos 'Socios que na firma figuram, como não
o é dos dos outros socios, nomes aliás que elIes podem levar á
formação de outras mmas sociaes ás qnaes podem perten·
cer (Codigo, art. 292), se no contracto não renunciaram o di·
reito de ajustar sociedades diferentes.
O que do patrimonio particular dos socios passa para o
da sociedade é a quota de capital de cada um (Codigo,
art. 301). Certo é que á sociedade podem interessar mais ou
menos as questões puramente pessoaes dos socios, maxime
as que affectam o credito dos mesmos em qualquer sentido que
se produzam; mas esse interesse não é um direito, e sequer
justificaria, sendo transferidas taes questões para a tela ju·
diciaria, a intervenção da sociedade como assistente ao socio;
..... ~06-

seria tão inadmissivel a representação do socio pela sociedade


nas acções autorisadas pela lei-quanto ao nome patronylliico
deIle -como seria nas demais acções civeis e cl'iminaes que
competem ao Bocio ou contra e11e, fosse qual fosse a influencia
que pudesse ter o objecto ou a decisão dessas acções sobre o
credito, a vida e o futuro social;
IIto posto:
Considerando que em successão á sociidade e firma
Ortigão & C., se contratou a sociedade e firma Cerqueira,
Ortigão & C., de que fizeram parte Joaquim JOlé Cerqueira,
Francisco Joaquim Pereira Soares, Antonio de Barros Ra·
malho Ortigão e Jacintho Roque Condé dos Santos, sendo o
seu objecto o commflrcio de commissão de café e outros ge·
neros do paiz, em continuaçào do da firma anteCEl!!sora (V.
escriptura. á fi. 64 j)-que desta sociedade se retiraram 08
BOcios Ortigão e Santos, cedendo expressamente todos 08 !:eu8
direitoli e acçlíes aos ROcios Carqueira e Soares e deIles rece·
bendo resalva cont.ra toda a responsabilidade (escriptura á fi.7),
e estes socios, na mesma data 16 de Março de 1895, firmaram
contrato de sociedade para o mesmo negocio de commissão
de café, sob a firma Cerqueira & Soares, para a qual passou
o activo e pu~ivo da firma anterior, tudo nOi termo I! do art.
343 do Codigo Commercial (V; os avisos publicados pela
imprensa a fls. 21 e aeguintes, circulares a fls. 167 e 168,
e dl1poimento (le um dos appellados li. fi. 87 verso); - que
os socios Ortigào e Santos a seu turno, naquella mesma data,
16 de :Mar~o de 1,895, fizeram o contl'acto de outra sociedade,
sob a firma Ortigão, Santos & C., tambem para commercio
de commissão de café (V .. e!!criptura a fi. 4), sendo certo
que-não Ista firma, mas a firma Cerqueira & Soares con·
tinuou estabelAcida. na casa em que anteriormente negociára
a respectiva firma antecessora Cerqueira, Ort.igão & C.,
successor& por sua. vez (la. primitiva firma Ortigão & O.,
reclamando por iSSQ os appe11ados contra a conservaçã.o do
nome- Ortigão-nestas d.uas firmas ainda traçadas às portas
da dita cala (V. petição inicial a fi. 2 verso)j-que este é
o uuico facto argnido pelos appellados aos appaIlante5, não
~. constando que jámais estes usassem quer de outra fórma-das
firmas antecllIsoras, quer de fórma alguma-da. fil'ml\ dos
appellados (V. depoimento d~ dois dos appeIladoil, a fi. 90 v.
in tine e fi. 9-1) i-e que de semelhante facto nã"O resultou
prejuizo algum aos appellados (V. resposta dos peritos do
exame dos livros dos proprios appellados, 8. fi. 110);
Assim que,
Considerando que os appellados não têm acção contra os
- 407-

appellantes para obrigaI-os a não conservar nas portadas do


seu eRtabelecimento commercial as firmas antecessoras, em-
bora semelhantes á delles appellados, como não teriam acção
pAra impedir.lhes o uso dessas firmas, mesmo em titulos do
responsabilidade, visto que as acções autorisadas pilo art. 10
do decreto n. 916 de 1890, suppõem a identidade das firmas
que contendem entre si; identidade da qual resulte o ingano
ou confusão; não se tratando, como não se trata, do nome ou
firma commercial apposta a. productos Ou mercadorias, ou
compondo a respectiva marca, cas ') em que bastaria, segundo
a lei ll. 3346 de 1887, a simples semelhança ou a homúllymia
parcial para legitimar a acção, respeitado~, entretanto, os
direitos do successor nos termos do art. 13 da mesma lei;
Considerando que sendo o negocio a que os appellanteB e
os appeIlados s'e dedicam o de commissão de café e de outros
generos do paiz, 6specie de commercio em que não se usa de
disticos, denominação, tabolêtas, etc., para attrahir freguezia:
não hll. como invocar 08 principios que regulam as questões,
entre o commercio de retalho, sobre taes disticos. denomi·
naçõell, etc. -- quando mesmo se lhes equipare erroneamente
a simples indicação da firma. nas portadas,-para obstar 80
simplell uso das tlrmas antecessoras conjunctamente com a
nova, nas portadas do 6l'1tabelecimento em que os socios
3UP/!t'.tit" formaram ti. nova firma, embora não precedidas
aquellas firmas da devida declaração da succ6ssão;
Considerando que, alib, dos termos do pedido de tl. 2 ~e
vê que os appellados reclamam somente contra a conservação
do nome - Urtigão - pertencente a um dos seus socios, nas
firmas existentes nas portadas do estabelecimento dos appeI-
lantes, em seguida á firma actual, a menção das quaes nesse
logar julgam apenas desnecessaria, porque o~ committent.es
que tinham saldos em poder dessas firmas ou os terão retirado,
ou continuado tran88.CçÔeS com a firma que a cada uma deIlas
succedeu (depoimento á fi. 90); e a acção que possa ter este
socio, que fizera parte de uina daquellas firmas e é filho de
um finado socio da outra, - para pedir unicamente - que
os apPIllantis não continuem irregularmente a ter estampadas
álsuas portadas as firmas anteceB8soras, sem a (leclaração da
succeS~l\o, - mas não para eliminal·as ou truncaI-as,-só por
elle pôde ser exercida, s~ndo a sociedade, á qual ora pertence
pp,ssoa illegitima para intentar semelhante acção:
Dão }lfovimento á appeIlação interposta á fi. 145 para,
reformandu o accordam de fi. 136, julgar improcedente a pre-
sente acção.
Rio, 27 de Abril de 189~ .-Roarigues, presidente.- G.
-40e-
d, OartJalho.-Ribeiro de Almeida. - Lima 8anto3, vencido.
Votei pela confirmação da sentença, menos na parte referente
ao damno causado, que não se acha provado.- Guilherme Oin·
tm.-Espinola, vencido. Confirmava a sentença appellada em
sua primeira. parte, e a reformava no tocante á multa para
mandar que em execução se liquidassem a.s perdas e inter-
alllel porventura. causados aos autores.

Otl'erecidos embargos de nullidade ao accordam supra,


foram impugnados como vê-se em seguida.
IMPUGNAÇÃO POR PARTE DE CERQUEIRA & SOARBS AOS EM·
:BAROOS OPPOITOS POR ORTIGÃO, SANTOS & C.

OS embargos de fi. ·210 intitulam-se de nullidad6 do


aocordam i, :1'. 186. ' ,
Entretanto o douto ex-adverso não allegou sequer uma
nullidade que pudesse atl'ectar o luminoso accordam embargado.
Porque, pois, lhes deu aquella denominação o illustre ex-
adverso?
. Pela seguinte razão :
Di!;põe o art. 77 do Regul. ao decreto n. 1334 de 28 de
Março de 1893, que o(l)S embargos que concluírem por fluIU-
dade serão julgados pelas Oamaras Reunidas.»
Era portanto indispensavel lançar mão de todos os possi-
veis recursos, afim de tentar-se ainda uma vez obter o que se
não conseguirá de certo.
O direito dos embargados está solidamente firmado no
luminoso, juridico e indestructivel accordam embargado.
Não será de certo com embargos de materia velha,· pro·
fundamente discutida e condemnada no accordam de fi. 186
u'qu~ fi. 206, que os embargantes hão de conseguir victoria
contra o direito dos embargados.
A verdade juridica é luz que· brilha sempre, quaesquer que
sejam os obstaculos que se lhe anteponham.
E R verdade juridica está no luminoso Rccordam embar-
gado. A cada um dos debeis articulados dos embargos de
fi. ~10 responde victorioso o Rccordam embargado. Como, pois,
nos seria permittido refutar o que já se acha tão brilhante e
juridicamente respondido? Como marear o esplendor da douta
argumentação do accordam embargado, trabalho tão pouco
commum nas actuaes lides forenses, com a nossa pallida
reproducção do que esse accordam doutrina?
Nã.o: não commetteremos esse attentado.
-409-

Quem refuta de fórma irresistivel os embargos de materi&


velha cIe fi. 210 é o aecordam embargado.
Os embargados nada pódem aecrescentar ao que neIle
se lê.
Limitam-se portanto a esperar que serão taes embargos
desprezados ficando de pé a veN[aae e o ([ireito consagrados
nesse julgado que honrará sempre a egregia Côrte de Appella-
ção. /
F. J. S. E. C.
Rio. de Janeiro, 4 de Julho de lSg6.-0 advogado, Dr.
Antonio de Paula Ramo. Junior.

SUSTENTAÇÃ.O DOS EMBARGOS POR PARTE DE ORTIGÃ.O,


SANTOS &C.

Nada ha mais velho (porque nada· ha mais faclI e mais


commodo) do que não impugnar embargos a pretexto de que
elIes só conteem materia velha. Entretanto, se já houve um
caso em que tal se não possa dizer é o dos presentes em-
bargos, que não versam sobre materia já discutida, pela
razão muito simples de que o accordam embargado resolve a
questão por fundamentos inteiramente differentes d'aquelles
com que os embargados tinham contestado a acção, de tal modo
que agora a discussd.O de direito versa sobre pontos de que os
embargados nem sequer tinham cogitado. ,-
A razão porque os embargados se absteem de impugnar
os embargos é outra, é a difficuldade em que se aclij>u o
seu illustrado patrono de manter sua coherencia diante de
um julgado que, mais de uma vez em pontos capitaes, se
acha em contradicção com as suas Razões io'inaes, não ha-
vendo outro meio de occultar' essas l:ontradicções senão pedir
pura e simplesmente a confirmação do accordam.
No extenso accordam embargado muitas são as ques-
tões de direito levantadas e largamente desenvolvidas,
ainda que algumas vezes não tenham, para servirmo-nos de
suas proprias expressões, «applicação á simples menção das,
firmas nas portadas» (fi. 198 v.). Entendemos, porém,
que, .para clareza na exposição dos fundamentos dos em-
bargos, o que convem antes de tudo é isolar a questão e
expol-a em termos simples, salvo depois apreciar as consi·
derações de ordem geral, sempre que comprehendermos a
relação que possam ter com a hypothese d'este litigio.
-- 410-
Nossa primeira propoSlçao é que é um aeto illicito o
que praticam os embargados conservando á porta da Sua
casa de commereio firmas de que, por modo nenhum, podem
usar, e a demonstração consiste u' este simplissimo syl1o-
gi!mo: a legislação commercial só em dois casos permitte
ao negociante usar de firma que lhe não pertence, e como
em nenhum delles entra o acto de que se trata, este acto é
vedado pela lei.
Desses dois casos o primeiro é aquelle para o qual o
Codigo Commercial consagrou a seguinte disposição:

Art. 344. Dissolvida uma sociedade mel'


cantil, os socios autorisados para gel'ir durante
a sua existencia devem operar a sua liquidação
debaixo da mesma firma, additada com a clau-
sula-em liquiáação.
Está-se vendo que o Codigo dispõe para o caso de
uma sociedade cuja dissoluçã(} foi resolvida pelos socios,
mas que continúa como communhão de interesses, para
o fim da liquidação; e tanto assim que esta só póde
ser procedila pelos socios que forem para isso anote-
1'isados pelos outros. Ora, do distracto da firma ((Oerqueirll,
Ortigão & C.> (fi. 7) verifica-se que toda communhão de in-
teresses desappareceu entre os socios Ramalho 01'Ugão e
Oonãé dos Santos, de um lado, e Joaquim Ce1'queü-a e Francisco
SOa1'es, do outro, pois que os primeiros retiraram-se depois
qu"e lhes foi concedida pelos ultimos «resalva contra todas as
responsabilirlades ll • Se liquidação tinha ainda que haver, res-
ponda-se-nos diante desse distracto: quem é que, nos termos
do art. 344, ftli autorizado a 0lleral.a? Ninguem foi autorizado,
porque não havia mais liquidação, tendo-se ella opertldo ipso
jacto, pelo modo por que é descripto pelos insig-nes LYON-
CAEN ET RENAUL'l':
«Todavia a liquUação não é um antecedente
necessario da partilha. Pódem os associados, se
estão de accordo, deixf\l.' de proceder a ella.
«E' o que acontece notodamente quando
elles convêem que a partilha do activo seja ope-
rada sem que as dividlts sejam previamente pagas,
ou que o activo seja ailribuido por inteiro a U~I
dos associacTos, ficando a seu cargo pagar as dI-
vidas sociaes e entregar uma certa somma 1\
seus associados - ( Traité de Droit commercial,
vol. 3.* pago 363).
-~1l-

Temos ainda contra a opinião de que a firma Gerq-ueira


k Soares ficou em liquida<;ão-a confií-são dos IJroprios embar-
gados e, o que é mais, o reconhecimento deste facto pelo
proprio accordam.
Se quer os embargados, quer o Rccordam, testemunham
que os primeiros nunca usaram da firma Gerqueira, Ortigl1o & a.,
mesmo com a clausula~em liquidaçtlo que prova mais irrecu-
r,avel pôde haver de que Om'queira &; Soares não tinham que
liquidar aquelIa firma? Ora, effectivamente, á fi. 126 v.
tinham allegado os embargados que não usavam d'aquelIa firma
porque 0lJenas a tinham como distico nas portadall da sua casa,
e depois vem o 'Rccordam textualmente dizer:
<Considerando que este li o unico facto (o de
ter a firma á porta) arguido pelos appelIados
aos appellantes, ntlo constando que jarnais estes
usa8/Jem quer áe outm j6nna áas firmas anteriores,
quer de fôrma alguma da firma dos appelIados .••
(fi. 204 v.).
Releve~se·noii1 a insistenci&, mas o argumento é tão deci-
sivo que não podemos deixar de repetir a interrogação: Se
jamai8 os embargados canceram usar da firma anterior por
qualquer fôrma, portanto mesmo, com a clausula em liquicíação,
como pretender que tivessem operado a liquidação d' elIa?
A firma de uma sociedade, da mesma fórma que o nome
patronymico, é inalienavel, e, se vulgarmente se falIa Eftn
aequisição ou venda de uma razão social, deve-se entender
sempre que trata~se da acquisição do direito de usar da deno-
miuaçào de successor d'essa firma. Está claro, diz HUMBLET,
que pela cessão o c~ssionario adquire unicamente a faculdade de
iDtitular~se: «8uccessor ãct sociecíaáe ... ». Este principio está ex-
pl'és~amente consagrado em lei, e esta é o Decr. 916 de 24
de Outubro de 1890, qUI reza assim: .
Art. 7.0 -E' prohibida a Rcquisição de firma
sem a do estabelecimento a que estiver ligado.
O adquirente por acto inter 'ilivos ou mortis
\ causa poderá continuar a ullar di}. firma ante-
cedendo a da de que usar com a deelaração"';'
, «8ttCCessor de. . . »
De Ondl\ se vê que' para que alguem possa usar da dec~a.
ração da successor de uma firma extincta é preciso que adqUIra.
esse direito. e elle só pôde ser adquirido de dois modos: ou
...,.. 412--
convencionando-!!e no distracto da sociedade qual o socio a
quem caberá. essa vantagem, ou, se o negocio passar a terceiros'
ficando expressamente estabelecido no contracto que, com a
transferencia do negocio, se transfere tambem ao adq uh'ente
o direito de intitular-se sllccessor; e isto porque constituindo
esse direito um valor, nenhum dos socios tem preferencia
sobre outro para apropriar-se deIle, nem o adquirente póde
fazel-o se Ih' o não foi cedido.
A. questão de saber-se, no caso de dissolução de urna
sociedade, quem fica. com o direito de dizer-se successol', está
estudada. e resolvida pelos especialistas da materia, e a SQlu-
ção é a. que um dos mais autorisados formulou na~ seguintes
palavras, que se applicam com a mais rigor'osa exactidão á
hypothese dos autos :
«A reputação que uma razão social chegou
a merecer ê o patrimonio da sociedade em·
quanto esta existe, e isto, bem entendido, mesmo
no periodo da liquidação, porque a sociedade
em liquidação a.inda é a sociedade. Mas que
fica seildo a razão social quando, terminada a
liquidação, a sociedade já não tem existencia
nem razão alguma de existir? Está bem visto
que a razão social desapparece com ella. Só
subsiste o diJ;eito para o continuador, para o
!!uccessor do ser social, se houver, de tomar
esse titulo e de lembrar sua origem. Mas a
.. quem pertencerá este direito? Quem se pl)d~rá
dizer o successor da sociedade? Poderão todos
os aSllociado., estabelecendo-se cada um de s~u
lado, tomar essa qualificação? E' o que só se
pôde decidir conforme as circumstancias de
cada especie. Póde acontecer, com effeito, que os
estatutos sociaiS tenham previamente regulado
98se ponto, ou que, na falta de estipulação no
contracto, os associados se tenham posterior-
mente posto de Rccordo sobre a qUQstão de
successão.:.(POUILLET, Tr. de8 Marq. de Jilab.
et d, la OORe. Déloyale n. 560).
Por ventura no Reto de constituição da sociedade Oet'queira,
Ortig40 & O., alguma. coisa estipulou-se sobre quem ficaria, no
caso de dissolução, com o direito de dizer-se successor? Não:
E no acto de dissolução (distracto de fi. 9) alguma coisa fOI
convencionado a esse respeito? Tambem não. Logo, nenhum
dOIi socioil póde chamar a si esse direito.
-~13-

o direito de usar da firma com a declaração de successor


não pertence, como pretende () accordam, ao numero dos que
se transmittem como accessorios com o activo do estabeleci-
mento, e tanto é elle um valor real t' á parte que iscriptores
como BEDARRIDE opinam que, não havendo accordo entre
os lI:embros da sociedadu dissolvida, póde elle até ser licitado.
(Dt!8 Brévets d' Invenlion et des Mm·q. de Fabriq. n. 759).
Mas, quando assim não fosse, nenhuma applicação teria
tudo quanto a t'Sfle re8peito se lê llO accordam, porque BO caso
que faz a mate ria deste pleito não ~e trata (le cessão de um
Jonds de COliL1nerCe, mas de desappal'ecimento de uma firma pela
extincção da sociedade que sob elIa negociavll. O accordam,
com a devida venia, confunde neste ponto duai) coisas distinctas
e que aliá!!, em outro logar, elIe mesmo distinguio : o nome ou
denominação commercial, que esta, sim, passa com o estabele-
cimento, e a razão social, que r-e diz tambem nome, mai que é
inalitlllavel e impl'escriptivel sem a declaração de successão.
E' assim que o nome ou denominação Notre Dame de
Paris ou Loja America e Ohina passariam ao adquirente
desses estabelecimeutos, mas qUI3 a razão, isto é, o nome sob
o qual as socieda(les existem j uridicament~, isto é, tratam,
estipulam e obrigam-se, só poderia ser cedido expressamente
e pam ser usado com a clausula -,ucceSSor de ... (HUMBLET
cito 11. 26~.) ,
O accordam embargado contraria em seu espirito e em
sua lettra. o art. 7° do Decr. n. 906 quando affirma (fI.
195 v.) que cO nome ou firma a.dquire-se com o estabeleci-
mento a que estava ligado.» A firma p6de ser adquirida, mas
para isso é preciso um acto inter vivo8 ou mortis caU8a. }; ão
passa, porta.nto, ipso facto ao adquirente do estabelecimento
sem acto expresso, e mesmo as~im sómellte para Ber usada
com a declaração de flUccessão.
'Ora, como aca,bamos de ver, nenhum acto houve pelo
qual oS! embargados tivessem adquirido o direito de usar da
fil'llla.
O aresto dos tribunaes francezes no processo Valentino,
que fôm referido na sentença da primeira instancia, e em
que tambem !IIe procura apoiar o accordam embargado, é para
as conclusões de,ite um argumento contraproducente.
S,lbre esse caso exprime se do seguinte modo o accordam
embargado: <Certtmente no pleito Valentino nií.o se produziu
'Ryl'ova do expresso consentimento e de mai.;, fi t hypothese,
nao se del'a a cestillo do e:ltabjlclcimcliltt}. ~ Sa tratcl.udo-:íle de
denominação, aquelles que pediram a eliminaçã.o do nome
Valentino obtivel'am ganho de eau::u. exactamente porque não
houvera expresso consentimElnto da parte daqnelleil a quem
pertencia es~e nome, com muito n;Jais razão, tratando·se de
uma firma, ninguem póde usar della !!Iem a expressa autoriza·
ção daquelle!ll que a compunham e fóra da!ll condições em que
tal uso é permittido pela lei. Quanto á cessão do estabeleci·
mento, vê-se da sentença dos tribunaes franr.ezes, que temos
presente na sua integra, que, ao contrario do que ~e diz no
accordam, o pl6ito se travou entre os herdeiros dfl Valerltino e
aquelles a quem tinha elle !lido cedido.-(MAILLARD DE
MARt\.FY, Grand Diet. de l(t Propriété Industrielle, vb. Nom.)
Aos embargantes interessava profundamenti demonstra,
que nem a firma Om'queira, Ortigão & O. ficou em liquidação,
116m Oerqlteira & Soures (os embargados) l:Ie podem intitular
JUCCellsores, para d' ahi concluirem q ne aq uella primeira firma
deve ser apagada da sua portada. O int.eresse de argumenta·
ção, porém, com que o accordam procura demon!lltrar, ora que
ainda ha liquidaçã.o, ora que os embargados teem o direito de
intitular·se SUCC6!!1!110reS, nA.o se pôde facilmen-t. comprehender,
porque, a.final, um a clausula-em liquiáaçl1o, 11em a decla·
raçA.o-811ccess01· áe ... se lêem em seguida é. firma - Cerqueira,
Ortigão & C. on antes uella. S6 por inconcebivel illogismo se
concluirá do facto de se llOder usar de uma firma com certas
declarações que é licito usar della sem declaração alguma.
O Recordam conseiue chegar á esta conclusão attenuando
a éxigencia. d~ lei até o ponto de sustentar que a !llfrRCção ao
preceito sobre a. declaração de successão nenhuma consequencia
tem, isto é, que é indifferente que aquelle que usa de uma
firma, de que se diz successor, faça, ou não faça esta de·
claração.
O primeiro argumento do accordam n' essa ordem de idéas
é que não se deve reputar saCl'amentaes os termos pelos quaes
deve constar a successão de urna fil'ma a outra (f!. 195 v.).
Perdão: Os termos: «8UCCeSsor á6 .. . :. são sacl'amentaes, a
lei quer que sejam estes e não outros, e por ist.o acham·se
elles escriptos no art. 7- do Decr. n. 969 em italico e entre
a~pAs. por este modo: com a declaração - « slwcesso/' de ... '"
HUMBLET, de quem se soceorre o accordam satillfaz·su com
qualquer declaraçao qu~ indique a successão, mas isto porque
na lei franceza não ha disposição que imponha palavms fJl"
maes, como faz o Decr. 960; em todo caso, esse ant(/r con·
sidera impl'escindivel uma decl&ração expressa.
« O cessionario, diz elle, fará seguir ou pre·
ceder seu nome proprio da menção «sncce8801' de
F.», «B... , succeS80r áe .A.» ou «A ... , B ... SUCo
-415 -
cessor... » ou ainda «B ... ClIs(tfnnáaãa por A .. . l)
ou qualquer outra iarlicação analoga e tendo o
mesmo sentido (Obr. cito n. 280).

Haverá, porém, por palavras sacramentaes, ou não, na


portada em que se lê a firma (Je1'queú'a, Ortigão &; O. qual-
quer declaração dessa natureza? Não existe nenhuma, absolu·
tarrente nenhuma.
Para que, porém, proseguir nesta demonstração, se é o
proprio accordam que, não se podQndo manter no terreno da
justificação do acto dos embargados, reconhece, pela mais
extraordinaria ilas: contradicções, que ha, da sua parte uma.
omiMsão (fl. 202) no facto de conservarem á porta de sua casa a
firma antiga ?
Pois, os embargantes fie satisfazem com esta concessão.
A omissão voluntal'ia do preceito legal constitue crime, e os
embargantes, que poderiam intentar a acçll.o criminal, se limi-
taram n'este processo a pedir a reparação civil. Salvo se ee
pretende que, conllervanrlo na sua casa de commercio uma
firma que lhes não pertence, os embargados, mesmo depois de
convidados por carta a retirar es~a firma e mesmo depois de
citados para a demanda, por omisslio involuntm'ia , que não
se moveram, Mas, mesmo assim, só ás penas criminaes é que
\ escapariam. Como é) portanto, que, depois (le reconhecer que
ha omilflO:o da parte rlos embargados, o accordam os absolve
dos efeitos rlella?
Pediriam os licença para manifestar a nossa admiração por
tal iuc<onseqnencia se d'essa licença não carecessemos muito
mais para significarmos o quanto nos deixou contundidoll a
part.e do accordam em que se pretende que os embargados
nenhum proveito poderiam tirar da conservação da firma antiga,
chegando-se a dizer" que n'este genero de comm~rcio, em que
a confiança é toda pel'l!!oal, a invocação da firma alheia para
angariar relações, Sllppost,o inscripta e empregada apropria
nos actos de responsabilirlade, sef"Ía 1tnt acto de rematada
inepcia, de resultado purament.e negativo, ou antes prejuuicial
ao seu auctor» (fI. 201).
Póde-se conceber que negociantes atilados como Of1'queira
&: Soares commettam por inepcia acto que só lhes póde trazer
~rejuizo? E se tal hypothese é inadmissivel, a cQnsequencia
e que, usando da firma, e usando d' ella iem as declarações
com que, na melhrl' hypothese, o poderiam fazer, elles só
te~m em mira o proveit.o qm) d'ahi lhes resulta, proveito que
e,Vldentemente consiste em recommeudar-se .com o prestigio da
firma antiga e que a esta provinha principalmente do nome
-~16-

de Orlig6,ó. Se não é assim, digam-nos qual é a razão porque


preferiram soffrer os incommodos de uma demanda a apagar
aquella firma. .
Demonstrado que os embargados praticam um acto illicito
affirmam os embargantes que este acto os prejudica, porquanto
com o nome Ortig(J,o, conhecido e reputado no commer-
cio, só elIes embargantes teem o direito de recommen-
dar-se por ser parte da sua firma. Bastaria, aliás, a pos-
sibilidade de prejuizo proveniente do uso desse nome por
outros negociantes, para que a acção intentada devesse ser
julgada procedente. Na petição inicial ficou bem firmado
que é uma acção, por concurrencia desleal a que se propoz,
e esta acção não carece de lei especial que a auctorize
porque é uma acção de direito commum, independen,te das
que são auctorisadas pela lei sobre marcas de fabrica.
Ha, é eerto, analogia entre certos meios por que os nego-
ciantes procuram aproveitar-se das marcas de outros e os
modos por que, mesmo nlio se tratando de marcas, exercem
uns contra outros concunencia desleal j mas essa analogia
não faz desapparecer as differenças profundas entre 11. arção
criminal ou a. civil especialmente creadas pelo Decr. n 3346,
de 1887, e a acção, sempre civil, que o prejudicado por
concurrellcia desleal tem o direito de propor contra o autor
delIa. As dua,; especies, entre as quaes nós apenas achamos
analogia, o accordam embargado as confunde; e como, em
relação ás marcas, sustenta eUe que é esta uma noção inlie-
paravel da de productos, conclue que não ha coneurrencia
desleal desde que nem os embargados nem os embargantes
exercem uma industria cujos pro duetos exponham á vernda.
Não I mil vt')zes não! Concurrencia desleal pôde
existir independente de marcas e de productos, e foi por esta
razão que, ao propormos a acção, não a assentámos sobre a lei
de marcas, a que I!!Ó depois nos referimo!! na Replica, como
um elemento de interpretação para achar-se a verdadeira
intelligencia das palavras - ((usar de firma que lhe não per-
tença:.. Toda a erudita discussão, portanto, em que entrou
° accordam embargado sobre a lei de 1887 nenhum subsidio
pôde offerecer para a rejeição do pedido dos embargantes.
E, senão, vejamos o que é concurrencia desleal e como nesta
póde absolutamente não envolver-se a idéa de pro-
ductos.
Ha concurrencia desleal, ensina uma das mais respei-
tadas auétoridades n' esta materia, quando alguem usa de
manobras reprehensivais para desviar em seu proveito a clien-
tela de outrem; essas manobras, quaesquer que sejam, te em
417 -

sempre por fim, já Cr~il.l' nm::t ctJ'lf!13ã'J entl'~ dOIB est;lbele


cimentos rivae~, já (!eiilCn:l,litar um em proveito (!OJ outro, ,-
jâ, o qU6 quer diztll' a llleSmll. coisa, exaltar um em detri-
ment.o de outro, já, finalmente, a apropriação indeL'ida. e por
meios desleaes áe certas vantagens pertencentes a outrem. CP ATAI-
LLE, Dict. áe la Prop. Indust. Ártist. et Litt. vb. COIwu1.,.ence
Déloyale.)Em termos aiuda mais frisantes exprime LAIGNIER
de q.Llftnto é compl'ehensiva a acção por concnrl'encia (Iesleal. ~
(~ito (!ller isto dizer, escreve elle, que fÓl'à .ta dCÇ;'W p~nal
da lei d. 1824 nao t.enha eu meios d~ coerção contra o con-
currente, que, selll usurpar francamente meu nome, fizer
d' elle uso de uma llIaneira indirecta e hypocrita, mas igual-
mente abusiva e perigosa para mim; o art.. 1.382 do Codigo
Civil estR.rl\ sempre ahi parll. m~ Qfferecer uma arma para· a
repillllçfto do prpj uizo q ne l1Ie ti \'1'1' i'< i rJo causadn, ') De l' US1t1'-
. paI. (les NOIII/J ds Gommerce, cap, 6" .ecç, li) O art 1.382
é (j que olJriga á reparação todo aquelle que causa um dalllno a
outrem.
As seguintes decisões, escolhidas entre as innurrieí'as
reproduzidas por PATAILLE, vem tornar ainda mais claro
como a concurrencia desleal se póde exel'cer indepsndente
de productos. Assim é qllP, segnndo os tribunaes francezes:
Ha concllrl'encia desleal, daudIJ logar a uma <lcção por
- perdas e -interesses, no facto de U!ll director de tbeatro an-
nUllciar e fazer apparecel' com o mesmo pseudonymo um
artista que nlo é o que d'elle usouem primeiro logar e deu-Ihi
. uma certa. celeiridade ;
Commette concurrencia deileal aquelle que, no exercfo da
arte de curar OI animaes, toma a qualificaçãl) de veterinario, '
reselvada pela Ordenação de 18 de Setembro de 1825 aos que
_obtiveram um diploma nas condições que alIa determina;
Incide em concurrencia desleal o director de um café-
concerto que induz um art.ista a romper o contracto celeol'ado
C6in um estabelecimento ri vai; /. -
'0 proprieta.rio de um hotel,a quem foi vedado por uma
sentença fazer entrar uma certa designação na denominação
do estabelecimento, não pôde Ul~ar da designação prohibida,
9uer nos annuncios, prospectos e facturas, quer ainda nos ob-
Jectos moveis, taes como a roupa e a prllta.-(PAT.ULLE,
Ibid).
Poder-sc-b.a, á vista d'isto, negar que a concurrenl,}ia
desleal pelo úso de umá firma, cuja iemelhança com a dos
embargantelf é reconhecida pelo proprio accordam (fJ. 205), ê •
.um caso de concurrencia desleal muito mais inanifesto ,lo que
os que acabamos de indicar?
DIn.71
418 -

. Illconcusso, é portanto, o direito dos embargantes vindo


pedir sua repressão aos triblluaes, os quaes, na opinião de
todos ·os tratadistas, «teem o poder soberaFlo de prescrever
as medidas que p:uecerem mais propl'ias para impedir avulta.
ou a continuação da concurrencia desle,aI.» (PATAILLE, Y. l'
pag. 345) A jlrimeil'R. dessas medidas é a suppressão do nome
litigioso, a qual deve ser decretada desde que houver possi.'
bilidade de' confusão, independente de prova do damno
causado.
« Qne importa; exclama P0UILl,JET, que não
tenha ainda l1avido prejuizo experimentado ou
'apreciavel, se existe a causa do prejuizo! Que
importa que nÍuguem tenha ainda sido enganado
se a confusão é possivel! Será preciso que o mal
tenha preduzido todos os seus effeitos para que
seja então reconhecido e- para q ne o façam cessar?
Não podemos admittil-o. (Obr. cito n. 686.)
Eis porque os embargantes podiam deixar para a liqui·
dação a prova dos damnos soffridos ... A eliminação da firma
litigiosa, que é o principal fim do pedido, podia ser decretada
como o foi pelos dous venerandos juizes que confirmaram a
sentença, independente d'aqu~lla prova. _
Insistamos neste ponto: o uso de firma alheia, com ou
sem alterações, é um acto illicito, que lIe póde dar de muitas
fórmas, e não sómente, como, quando se trata de marcas,
tendo a firma collada aos prodnctos da indnstria ou do com'
mercio. Pelo uso indevido das marcas se estabelece con·
fusão entre os productos; pelo uso iJlegal da firma se produz
. a confusão entre dons estabelecimentos, principalmente se
elIa é usada como ifistico, Iwmo os embargados concedem que
é, sem perceberem que esta concessão env olve a 'plena confissão
de serem réos de concurrencia desleal. Está escript.o peloi! em·
bargados: «é notavet a insistencia de chamar firma o que
não passa de um distico» {fi. 1~f;). Mas se a firma ficou &x·
tincta, como expressamente se diz no no distracto, e se ?
distico não traz a declaração de successão ou de liquidação, 80
o que se póde concluir é que, se eIle se acha inscripto nas
portadas de Cerqueil'a & SOa1'es, é para fazer crer que Ol'tii;ão
ainda faz parte da casa de com missões alli estabelecida.
Seria isto uma concurrencia desleal, quando mesmo. se
concedesse, para argumentar, que a lei de 1887 (ou o CO(l!go
Penal nos artigos em qne a reproduziu) não compl'ehell~a
llas expressões-usa1' de nome Ol~ firma comme1'cial que lhe 1/((0
p éI'Umç(t,jaça ou não jaça parte ([e marca re[Jistra(Í(t, O facto de ter
á r o ta uma firma que n:1o pertence ao don~ do estabelecimento.
-419 -

, Um instante não vacillâmos, como nos exproba o


,accordam, no modo de propor esta' acção. ,Da petição inicial
e do art. 10 da Réplica se evidencia que os embargantes
nunca tiveram em vjsta senão a concurrencia desleal contra
eIles .exercida e para cuja repressão propuzeram uma acção,
o.e direito coml11Jlm. Para demonstração do acto illicito in..
vocaram, além do Codigo C'ommercial, o Decr. de 24 de
Outubro de 1890 e a lei de 1887, o primeiro pela .regra
qUR estatlle para as sociedades em liquidação, o segundo ~.
pelo que estabelec8 sobre a declaração de successão, a. ter-
ceira pala inteIligencia que se deve dar 8. palavra semelha:nça.
Poderiam os embargantes propor. a acção criminal aucto-
l'izâda pela lei· de 1887; não o q~izeram flolzer porque
este processo não foi inspirado .pelo odio ou por desejo de
vingallf;a, mas unicamente porque sentem-se' prejudicados
j1eltJ uso que fazem os embargados de uma firmã que se
COllfllude com a sua, e não teel1l outro fim s(:Juão a cessação
desse uso e a reparação do IIlal causaAo. Mas do facto de
não proporem essa acção especial, ou outra auctol'isada pelo
Decl'. (le 1890, não se segue que deva: ser excluida a presente
acção, que p'or dil'eito commum inquestiona velmente lhes
compete propor. ,
Em conclusão: sanccionando o uso por um negociante
l1e fil'maque lhe não pertence e negAndo ao prejudil'.adó o
, direito de j1edil' a reparação ao autor do damno, o' accordam
viola leis expressas de principios de direito universal. Deve,
portanto, ser annuIlado, como é de justiça.
Rio de Janeiro. Julho de 18%.-0 advogado: Sanoho
de Bal'ros Pimentel.

ACCORDAl\l

Accordam nas Camaras reunidas da Côrte de Appellação,


que, vistos, relatados e discutidos estes autos, receb~m e julgam
provados os em burgos de fI. 20 J, para o fim de, reformando o
accordam embargado de f1. 185,restauraro accordam appella~o
de fI. 136, menos na parte relativa á condemnação de indem-
llisação dos prejuizos, aliás não !,rovados nos antos.
Riu, 3 de Junho de 1897.-Rodri,ques, presidente.-Gon-
çnlves de Carvalho, vencido; votei pela rejeiçãO dos embargos
mant.endo o accordam embargado, attentos os seus fllndamen--
tos.-F. Pinheiro ·vencido.-G. Cintl'a.-Lima Santv8.-T.
Ba8tos, vencido. ~ JIagalhães, vencido. - Espinãola, votei de
-420-

Rccordo com a declaração que fiz á fI. 206 V.-Dias Lima,-,


.DodvlVorth.-Mirttnda Ribeiro.

Domi.cilio do commerciante é o lugar onde


elle tem a séde de seus negocios. e distin·
glle-se da l'esidencia, que se adquire pela
habitação. e perde-li e com ella.. ,

Aggravo cornrnercial

Aggravantes - Manoel Joaquim de Oal'valho Junio1' e outros,


Agiravado - Porfi1'io Alves dli And,'ade Ramos.
Conselho do Tribunal Civil e Criminal do Districlo Federal

ACCORDAM

Relatados e discutidos estei:! autos, etc.


Considerando :
que o fundamento do aggravo, interposto e tomado por
termo á fL 27, é o do art 669 pal'ag. lOdo Decr.<n. 737 de
25 de Novembro de 1850 j
que a decisão aggl'avada foi a dp. fi. 26 e fi. 26 v., qae
julgou afinal provada a excepção de fi. 9, ti mandou s?gllir o
feito parante o juiz cumpetente, pelo facto de haver o exce·
piente allegado, com o docum~nto de fi. 22, attestado do
commissariado da terceira secção do primeiro districto de
Nitheroy de 22 de Maio do corrente anno, ter residencia n'a·
quella cidade, potque alli lnorava na rua de S. Carlos n. 9.
N' estes termos, considerando :
qt.e o domicilio é o lugar onde alguem' tem a séd8 de seus
nego cios e o centro dos seus interesses, ou como ensina ,8a'
vigny - (Traité, de Droit Romain, voI. 8, pllg!'l. 350 e St·
guintef.) - o lugar que livremente escolhe alguem como o
centro dOI sem! negocios e das suas relações de direito, ou na
phrase de Manzzoni - (Df't. civU Ital., vol. ~, pag. 53),-&
relação juridica de uma pessoa para o lugar onde @ll~ ~e
reputa sempre presente, para tudo quanto concerne o exerCIClO
de seus direitos e o cumprimento de suas obrigações j .
que o domicilio do commei'ciante- « diz aquelle, aonde o
negociante tem o seu escriptorio, o mercador a sua loj~" o
fabricante JI. sua fabrica. - (Ferreira Borges, Dicc. Jur,dIC9'
Commercial, pago 135) : .
que, conseguintemente, só se entende por domicilio, nos
Freei'os termos de direito, o logar onde alguem fixa a sua
-421-

residencia com o animo de ahi permanecer, ou como se enuncia.


Mello Freire - «seães animo perrnanenái» ; ..
, que o domicilio não se deve confundir com a residencia,
porquanto aquelle é o direito, este o facto. - « A residencia,
no sentido proprio e rigoroso, é o lugar. onde actualmente se
está, aiquire·:;e com a habitação e perde· se com ella, mas () _
domicilio, pelo contra!'io, é independente da hhbitação, não se
adquire assim como não se perde necessarialllente com ella.»-
(Mondon, Répétition, vol. 2, pag.321.)
E tambem considerando:
quo nos auto!!, se faz certo que o excepiente era, e ainda
é, negociante estabelecido n'esta capital, com negocio de com-
missões de café, antes como socio da firma Ramos, Carvalho
e Companhia que foi dissolvida, e de onde se originou a obri-
gação porque é demandado pelos aggravantes (fi. 3), e, actual-
mente como socio da firma Ramos e Companhia, da rua da
Prainha n. 63, o que ficou provado com o contracto social,
por certidão, á fI. 13 ;
que, n' e8t~ mencionado contracto social, que foi devida-
mente archivado ha cerca de oito mezes apenas, ficou ou-
I trosim confessado pelo excepiente a sua residencia n' esta ca-
pital, como a de seu filho e Socio, por isso que declararam
elles ser l'<'sidentes n' esta cidade, no establ:llecimento com-
mercial á rua da Prainh.a n. 63, que é a séde de seu negocio;
que, na excepção opposta á f!. 9, desacompanhada: de
qualquer prova, não 5e accentuaram os facto!! pelos quaes dcou-
manifestado, da parte do excepiente, o -abandono de seu domi-
cilio n'esLa ciliade, o que allegou, removendo a séde de seus
negocios, o centro de seus interesses, de sua actividade de
commerciante :
que, no entretanto, o aggravante cnmpridamente provou,
com os documentos de fi. 3 e de fI. 13, a impugnação que fez
da excepção de n. 9, sendo que'estes documentos não foram
destruidos por outra quaI.tuer prova e menos pelo simples
attestado de fI. 22;. Rccrescendo que elles protestam contra a
de8ertionem habitationis.
. Isto posto e pelo mais que dos autos const~, e pelas razões
da minuta de agravo de fl. 29 :
Accordam em Conselho do Tribunal Civil e Criminal dar
provimento ao aggravo, para mandar que o jlliz a quo, refor-
mando a decisão de fi. 26 e fI. 26v., se julgue competeI!te
para proseguir na acção intentada até afinal.
.- Custas pelo aggravado. - Rio de Jf.\neiro, 25 de ~unho
de 1897. -- Muniz Barreto, presidente.- Salvador JJfonu:, re-
. lator._ Segurado.
_.......
Jurisdicção Criminal

o direito de queixa é substantivo e não


adjec~lvo, isto é, 80 bre elie só pode legislar
a Umao.
Falta competencia ao Ministerio Publico
para denunciar e promover processo por
crime de injurias, ainda que a parte offen-
dida seja autoridade e no exercicio de suas
funeções, e, portanto, é nuHa; por inconsti·
tucional, a lei de ol'ganisação judiciaria de
qualquer dos Estados da União, na parte
.que confere tal attribuição /tO promotor
publico. -
Intelligencia do art. 34 § 23 da Consto
Fed. e art. 407 § 20 do Cod. Penal.
Revieão criIninal
Petioiona1'io .--:. Dr. El'ias Firmino de SOltza Martills,
Supremo Tribunal Federal
ACCORD-1,M

O Supremo rrribunal Federal, depois de vistos, expostos


e. discutidos os presentes autos de recurso, para revisão do
j~lgamento, pelo qual foi o Dl'. Elias Firmino de flouza Mal"
tins, á sua revelia, condemnado, com outro, em processo) in·
staurado por denuncia do promotor publico, por crime de
injurias impressas, dirigidas ao iovernador do Estado do Pio
auhy, a sete mezes de prisão simples e multa de 600$, como
incursos no art. 319 § l°, combinado com os arts. 316 e 317
do Codigo Penal.
Considerando : •
. Que sendo da esphera do Direito Penal a determinaçM
da acção publica, ou particular, para a punição dos delict.s,
segundo- a sua. natureza e gravidade,ao Congresso Nacional
compete privativamente, por força do disposto no art. 34 § 23
-da Constituição da Republica, o determinar os casos em que
cabem taes acçõIs j .
Que por isso, o Codigo Penal, que é lei da União, n~ § 2~
do art. 407, firmando o principio geral da competenCla do
Ministerio Publico para dar denuncia em todos os crimes
pub~icol!I ou particulares, exceptuou e:Xpresi'lamente, do p~o·
cedlmento official a punição dos crimes de injuria i ca!um~I8,
em que sómente cabe proceder por queixa da parte oftendlda,
-423 -

ainda mesmo quando sejá autoridade e no exerci cio de suas


fUllcções j .
Que assim, estabelecidil por lei geral da União, a compe-'
tellcü llllica do offendido para offerecer queixa contra seu
otféll.;or nos crimes de injuria e calumnia, não póde lei alg'uma
estadoal derogal' essa disposir;ão j
Que, portanto, clll'ecia de podeI' o Congresso do Estado
tlo Piauhy para, ampliando acompetencia limitada pelo Codigo
PeitaI, estender tambem aos crimes de injuria commettidos
contra agente da autoridade publica, a. acção do promotor
para otllcial' nos respectivos processos como denunciante j e '
Que, consE'gnintemente, contraria á Constituição Federal
não póde (leixar de ser c.onsidera!la a lei do Est::tdo do Piauhy,
que urganisou a sua justiça, na parte eín que cOllfel'Ío aos
promotores publicos attribuições qu~ lhes foram negadas, pelo'
Co!ligo Penal da Repnblica;
, Refoflíllt\ a sentença qne condrm:1011 os ditos réos, para
julgar, como jn1ra, illSélnavelmellte nuHo, desde sua orig~m
o al1uditlo processo, á vista da manifesta incompetencia do
Ol'gflO da Justiça publica púa denunciar e promover processo.
por crime dessa natureza.
Pilgas as custas ex-causa. .
Rio de Janeiro, 1 de Dezembro de 1894:.-Aquino e aastro,
pl'esitlente,-Pindahiba de Mattos,-Bai-ão de Pereira Franco.
-Fiza e Almeida,-José Hyginp.- Bernal'q,ino Fe/"Nlil·(t.---'
H. do Espírito Sa?lto.- Âm61'ico BrasiUense.- Fel'na1ido
Ozorio.


Applicação do Co digo Penal da Armada,
.de 189J .-Confirmação de!lentença do Su.,.
prllmo Tribunal Militar.

Revisão criIninal n. ~o~

Recorrent~-.ilferes.Jraduado Olymp'io Nascimento .Â,'a·


nma.
Recorrido-O Sup1'emo Tribunal Militar,
Supremo Tribunal Fed~ral

ACCORDAM

Vistos e relatl}.dos os antos de revisão criminal em que é


peticionario ~lympio do Nascimento Aral'lllla, alferes gra-
duado, !Legam provimento ao recurso interposto, confirmada,
assim, pelos seu!'; fundahlentos, a sentença ú fi. 89, q ne con·
- 424

demnon o réo no grão minimo do art. 166 do Codígo Penal


da Armada. Pagas pelo peticionario as custas.
Hupremo Tribunal Federal, 27 de Feven·i/'o de 1897.-
Aquino e Oastro, presidente. -Macedo Soares. 'rellho por in·
constifucional o Codigo Penal da Armada, feito, prolllulgado
e publicado em 7 de Março de 1891, pdo Poder EXecutivo, de-
pois de se achar já em vigor, a Constituição Federal de 24 de
Fevereiro do mesmo anno, a qual delimito.lt, em termos pre·
cisos, a flllicção d' aqueIle Poder em frente dos outros dons, o
Legislativo e o Judiciario, orgãos todos tres da soberania na·
. cional, harmonicos- e independelltes entre si (art. 15). Não
levantei esta questã.o prejudicial, porque nelIlt temos'sido sem·
pre vencidos, eu e mais dous ministros, 81's. Pei'eil'a Franco
e .José Hygino, que assim pensamOíl, POI' muitos acconlans,
muito!! e repetidos, do 8upremo 'l'ribunalFederaJ; conside·
rando o Codigo Penal da Armada, de 1891, _perfeitamente con-
stitucional e em inteiro vigol', como o considera o Supremo
Tribunal Militar. Honve, é certo, quebra dessa jUrÍslll'udencia
em um caso unko, em que, por maioria occasional, vingou a
opinião que defendemos; mas e~sa deeisilo não pórle certRmente
constituir, nem si quer significar o voto do Tribunal. Reno·
var a questão era incidir no conceito elo poeta lat,ino :.Nísi ulile
est q1wá facirnuI, 3tulta est gloria. Em meu conceito, sendo in·
constitucional o Codigo -de 1891, não podia ter suspendido, e
. muito menos conservar em suspensão inlif'finirla.) rle 1890,
feitura do Governo Provisorio da Republica, e qUE:', como o
Co digo Penal commum, a instituição 110 casamento civil, are·
forma do Codigo do Cummerciu, no tocante ás falleucias, e
outros muitos decretos daqut:lle Governo, fôra approvado, con··
firmadD e mantido ,pelaOonstitnição Federal. E, pois, a lei
applicllvl'I á esp~ie era. o Oodigo Penal da Armada,
da 1890. '
1\1 as este, o Tribunal consid'era revogado pela portaria de
1891, visivelmente inconstitucional. Restava applicar á hypo·
these os artigos de guerra de 1763, o' regimento do Conde de
Lippe, que, para o caso, conferia aos tribunaes militares imo
pôr' penas arbitrarias. Mas, esse arbitrio não é copcedido a.o
Supremo Tribunal Fe,deral, nem á .autoádade ou juiz, ou trIo
bunal algum, hoje que vigora no civel e no militar a regra de
direito: Nulla pmna sine lege. ~Não podendo applicar os ar·
tigos de gnerra, l'estava, como suLsidia:-io, o Co digo Penal
commnm; mas a pena deste (art. 221) é mllâs grave. Ora, o,
. Tribunal não pôde, em gt'âo de revisão, aggravar as penas da
sentença revista (Oonstituição Federal) art. 81, § ~O). .
Em conclusão: excluido o Codigo Penal commum, eaH)I
- 4,25 -

de disposição constitucional; excluidos os Codigos Penaes da


Armarla, o de 18!}0 ex-vi de decisões do Supremo 'L'ribunal
Federal, e o de 189-1, ex·vi da minha opinião em face da Con-
stituição Federal, só merestava confirmar a sentenr;a . do Su-
premo 'rribunal Militar, como fundarla, não no Corligo Penal
da Armada de 1891, mas no arbítrio que lhe dâo os Artigos
de. Guerra de 1763.-Não condnirei sem affirmar que, assim
votei sob proteAtn; rançando a cnlpasobre o Poder Legislativo,
que até hoje, desde 1890, nada aill(la resolveu sobre materia
de tanto momento e tanta l'elevancia.-3IllnIJelllIttrtlnho.---:'
. João' Barbalho.-Pereira FI'a1lCo, vencido, pois anllullava a
decisão recorrida, por tel-se fuudado no COI1igo Penal. da Ar-
mada de 7 de llarço de 1891, que julgo inC:lIlstituciona.1 pelas_
razões expostas no principio do voto supra du Sr. mini"tl'o Ma-
cerlo Saares.-João Pedro.-Rifleil'o (le Almeida. -Bernâl'dino
Fer1·eira.-Âmerico Lobo. Applico Q Cudigo Penal da Armada,
mandado observar ptlo decreto n. 18 de 7 de lHarço de 1891,
por ser o mesmo, excepto as modifica~ões estabelecidas na
(Jonstituição de 24 de Ft>vereiro do mesmo anno, promulgado'
por decreto n. 94:9 de 5 de Novembro de l890, o qual, como
bem pondera o Si'. relator, não podia nem devi~ continuar a.
ficU' indefinidamente suspenso. -H. do E,~'pirito Santo. - Jos~
Hygino, vencido, de accol'do com o voto do S1'. ministro Pe-
reira Franeo. - Pindahiba de . Mattns. -Figueil'eilo Junior.-
Fui presente, Lucio de Mendonça.

Crime de estupro praticado em menor de


12 unos, sendo casado o autor-art. 268
combinado com o art. 273 n. 2 do Cod.
Penal. No caso é aggravante a .circumstan-
oia prnista no art. 41 § 3° do mesmo Cod . ..,..
Impl'Oced~Qia do pedido de revisão.

Revisão crinlloal D_ .05

Recor1'ente-Jo8~ Mathias Barbosa.


Rec01Tida-A Jtt8tiça do Estado de Minall G'raes.
Supremo Tribunal Federal

ACCORDAlIl

Vistos, relatados e discutidos estes autos de recurso-inter-


posto por José Mathialil Barbosa, da sentença de fi. 21 v., na.
qual o juiz de direito da comarca de Juiz de Fóra, em con·
formidade com a. decisã.o tio jury o condemnára no maximo do
-426-

art. 268, combinado com o art. 273 n. 2 do Oodigo Penal,


sentença confirmada pelo Tribunal da Relaçãõ do Estado -de
Minas Geraes, cujo accordam declarou a obrigação em que
está o recorrente de dotar a offendida;
Considerando. qne, mostrando-se do ventre dos autos o
estupro commettido pelo recorrente, o qual o confessa no seu
requerimento de revisão, esse crime, que conforme os arts. 268
e 269 do Oodigo Penal, póde ser perpetra.do contra mulhér
de qualquer idade, qUtil' seja hOlle~ta, quer seja prostituta,
aggrava-3e com o concurso da circumstancia prevista 110
art. 4.1 § 3° do mesmo Oodigo, quando fôr virgem a offendida,
como aftirma o jury, de accordo com o auto de corpo da
delicto, que era a menina de 11 annos de idade, a quem o
recorrente infligiu a extraordinaria ignominia de que os autos
dão noticia. O Supremo 'l'ribunal Federal, negando provi-
mento á presente revisão, con'firma a decisão recorridà, pagas
as custas ex-causa.
Supremo rrribunaI Federal, 17 de Fevereiro de 18~7.­
.Aquino e Oastro, presidente.-Americo Lobo.-H. elo Espírito
Santo.-Figuei1'edo Junior. Reformava a sentença para re·
duzir a pena no grão mérlio, vbto que a circumstancia do
art. 41 § a'" reconhecida pelo jury, não p6de na especie ser
.considerada aggravante, por ser elementar do delicto. - Ma·
nu{;lllIu1·tinllO. Votei de accoldo com o Sr.Figueiredo Junior.
-Pereim Fmrzeo. - João Bm·baZlIO.-Ribeü·o de Alllieida, de
accordo com o Sr. ministro Figueiredo Juniur. - Bernardino
Fen'eira. Fui presente .-Ltteio de Mendonça.

Habeas-corpus.
Crime de· rapto seguido ie defloramento
(art. 470 § 20 do Cod. Penal). _10, Assiste
ao pai o direito de dar queixa por sua filha.
malQr de 21 annos. 2', O perdão da otfendida
não põe termo ao processo. 3', A falta de
corpo de deHato não constitue nullidade do
processo.
Recurso de habeas-corpus D. 959.
Rec01Tente-Bachm'el Lauro Lopes Villas-Boas, e'ln favor
do paciente Sebastião João Longo.
Recorrido - O Tribunal de .t4ppellação da Bahia.
Supremo Tribunal Federal
PETIÇÃO

Exms. Srs. Presidente e mais Oonselheiros do Tribunal


de Appellação e Revista.
- 427 -
Lauro Lopes VifIm:-Bôas, advogado, cidadão - brazileiro,_
em virtude do direito que lhe asseguram os arts. 340 do
Cod. cto Proc. Criminal e 134 da lei n. 15 de 15 ele Julho
de 1892, vem perante este rrribunal impetl'arordem de
Tlabeas,col]J1tS em favor de Sebastião João Longo, bl'szileiro-
IJaturalisado, illegalmente pronunciado pelo juiz de direito da
comarca de liMos, deste Estado, éomo incurso no art. 170
~ 2° do Codigo Penal. .
<: O supplicante, com os documentos queofferece á -apre-
ciação d' este Egl'egio rl'l'ibunal passa a justificar o seu pedido, .
motivado pela evidente ·nullidade do processo que deu logar
á pronuncia, que traz o paciente sob a pressão imminent.e de
constrangimento i l l e g a l . · .
Exms. Srs. :-Em 15 de Junho do corrente anno, á 1
hora da tarde, mais ou menos, a Exma. Sra. D. America'
Francelina da Silva, resideJIte na Barra do Rio de Contas,
com 24 annos de idade (dor. sob n. 1), víctima, provavel-
mente, de luctas intimas com sua madrasta e seu pai Fran·
cisco Manoel da Silva, retirou·se da casa deste. procurando o
amparo e protecção de Sebastião João Longo, cuja fam ilia ,
de ha muitos annos, entretinha como elle as mais estreitas
relações de amisade com a della.
Este passo deu a Exma. Sra. n. Franceliua Amedca. da
Silva, «de seu motu proprio, de sua livre e expontanea ~von­
taele, sem coacção ou illSilllUição de pessoa algllma, não ten~o
sido seduzida por Sebailtião João Longo, nem p1)r outra qual-
quer pessoa para lI.ssim praticar, mas só por ter assim resolvido
de sua livre vontade sem sedl1cção de ninguem), como a Illesma
Exma. Sra. franca, sincera e positivamente expressa em sua.
declaração judicial sob n. 2. .
Entretanto, Francisco Manoel da Silva, projectando desde
logo vingar-se dos protectores' de sua filha, a quem tent~ra.
matar, como diz eUa (doc. sob n. 3), intentou contra Sebas-
tião .João Longo o processo constante, verbo ad ve1 Jjunt, da.
o

certidão sob n. 4, iniciada por sua queixa, delle,. em cuja


petição de 21 de. Agosto pmximo passado (mais de. 2 mezes
após o acontecido) diz que sua filha maior de 24 annos de
idade, fôra raptada por Sebastião João Longo, pedindo a süa
punição no art. 270 do Codigo Penal. .
, N.o inicio do processo compareceu em juizo a suppo~ta
offendlda e re.quereu ao juiz proce8sante que fosse submetttda
a a~to de perguntas para prestar á justiça os devidos e8clar~·
reClmentos sobre os factos articulados na queixa de .. seu paI,'
como faz certo o documento !!Iob n. 5. .
Mais aiuda'; não sendo attendida' em seu justo pedido
- 428-

pela autoridade flllmadllra da culplt solicitou do juiz de direito


da comarca que l1Iilllda:-se tornaI' por termo as suafil declarações,
aceresceutt'lnrlo que, mesmo concedida a lJypothese oe. ter sido
eUa offendida pêlo dito Sebastião Jo!\.o Longo, desistia, como
unica ()ffelltlida e iutel'essacta, nos termos da lei, de qualquer
processo cuntra este instaurado, afim de ser o mesmo posto em
comvleto silencio, lavrando·se do exposto o respectivo tei'mo,
ccmo tudo consta do documento sob n. 6,dl) qual se evidenci~,
ainda) o final indeferimento do justo e legal requerimento da
Exma. Sra. D. Amedca Frallcelina da Silva lI! ...
Apezar do qUil.uto vem allegado, e acha-se exubit"ant o-
lflP,ntf> provado, o juiz de direito pronunciou a vi.ctima do odio
de Francisco Manoel da, Silva como incurso no art. ~70 §, 2-
do Codigo Penal I! 11 CO!110 se vê do despacho de pronuncia
.constante da referida certidão sob D. 4.
A ullllidade de to(loeste processo, tah'ez unicú no ;;eu
genero nos anna"s da jnrisprlldencia brazileiJa, é evidente,
prima facie.
Em primeiro logar, Francisco Manoel da Silva não tinha
nem tem, competencia para promover este processo) á vista
da disposição terminante <lo art. 72 do Cod. Processual, que
só confere o direito de qtleixa ao pai da o.fendicla quando
esta fôr men01'.
A supposta ofl'endida tem, porém, mais de 14 annos, como
provam os docum~ntos jUlltos e confessa o proprio qu~ixoso, e
ninguem ignora que a menoridade termina aos· 21 anuos ele
idade.
·.Assimjai.nda quando ~ffectivamente offendida. f~sse a
Exma~ Sra. D.· AllIerica lfrancelina da Silva, não tinha seu pai
cornpatencia juridica 11em legal para representai-a em juizo.
A queixa devia pal'tir della-da offendhla-ql1e jâ tinha capa-
cidade civil pal'aelltar em juizo.. .
De accol'do com o exposto, di~põe.o art. 407 do Ood.
Penal que nos crime.s de violencia carnal a acção penal \016 tem
JogaI' por queixa da pa1'ie oifendida ou de quem tiver o direito
de representai-a. .
Ora, na especie não tendo mais o pai o direito de re·
presentar a offendida por estar esta no uso de todns os
direitos, é claro que ~Ó apropria offendida podia iniciar a
acção penal questiunada,-que assim é uuHa por sua origem.
Em segundo !lIgar: () facto falsamente imputado 11 Se-
bastiú0 João .Longo por Francisco Manoel da Si! va, que -des-
naturadamente propala a deshonra de sua filha, é d' aquell,es que
deixam vestigios, e, pois, nos termos expressos dos arts. 138
do Cod. do Proc. Criminal e i5~ do Regu!. no. 120 lle 31 de
- 42~ -

Janeiro de 1842, só o corpo de delicto rórle sf,rvir de ba~e ao·


sllmmario de culpa.
Entretanto, o juiz da pronuncia pretendeu supprir esta
part.e fundamental do processo por um argumento que seria •
irri~orio. ~e não partisse de um membro, aliás distincto, do
poder judidal'io do Estado.
Esta a8serção resume-se em que: - estando 'a Exma. Sra.
D. Ameriea Francelina da Silva' desde Junho proximo passado
em qasa de Sebastião João Longo que, aliás, residia na- Barra
do Rio de Contas com sua mãi e irmãos, fui naturalméme' de-
tlorada por aq llelle ! !
De sorte que a virtude de uma mulher honesta só existe
para aquelle juiz, quando acobertada pela presença do pai,
ainda quando rlesnaturaflo!!!
A auselltil, pois, cio corpo de rlelicto, nahypotlJese, é
outro motivo para a UII \I idade do cerebrino processo, '
Em terceiro logar: - Em crime de acção palLiculac a
uesisfencia ou perdão da oífendida põe termo ao processo, como
disljÕe o art. 244 da lei estadoal n, 15 de 15 Julh~ de. ~892,
pelo qne os reiterados pedidos da supposta victima promoyendO' _
a desistencia da acção criminal não podiam ser despresados
pelo juiz do summario da culpa, o qual, ipsoJacto, não podia
pl'oseguir seus turnos para dar rogar á pronuncia questionada. .
O impetrante solicita os doutos supplementos d' este -
Egregio Tribunal para os documentos junt.os,· dO'S qnaes §e .
evidencia a llullidade do processo, em que nem a imaginaria'
victima foi ouvida sobre a phantasiada violencia, apezar dO'
seu pedido, nem o supposto algoz priude defender-SI do'ficticio
crime, pois o juiz pl'OCeSS!l.nte apressou-se em expedir contra
elle mandado de prisão preventiva!!!! .
O impetrante espera que, á vista dos documentos apresen- -
tados, este Egregio Trihunalliberte o paciente Sebastião João
Longo da pressãO' ou const.rangimento illegal que está sofrendo
em sua liberdade, em vista da nallidade' evidente do processO'
questionado, e respectiva pronuncia, concedendo o habeas-
corpus solicitado.
Nest-és termos
Pede deferimentO'
Bahia, 16 de' Dezembro de 1896.- O advO'gado" Lauro
L01)es Villat-Boa8. '
-430-

DOCUMENTOS A QUE SE REFERE A PETIÇÃO SUPRA

CertiMlO de edatle de D. America de que_eIla nasceu eu


Agosto de 1872.
2.°
Pdtição .de D. América, seguida de termo judicial, assi
gnada por ella e duas testemunhas, na qual declara que não
é verdade que Sebastião Longo a tivesse raptado e deflorado,
e sim que sahio de casa de s·ell pae por sua -livre vontade,
sem seducção de pessoa alguma.
3.-
Uma carta de D. _~mericil, anterior á sua sahida, na qual
ella declara que vae ab·alldollal' a casa patel'lla., porque seu
pae quer mataI-a,

Certidão de todo o processo.


5.°
Certidão do escnvao do proces:;o, dizendo que qUiln'.lo
começou-formação de culpa- D .. America COIllpare~eu emjllizo,
~ntregou um requerimento ·ao juiz e que este não b q uiz des-
pachar.
6,·
Um requerimento feito ao juiz, pedindo para ser pergun-
tada, pois tinha declarações a fazel' no sentido de que Longo
não a raptou, nem a ofl'endeu, e que, quando o tivesse feHo,
ella desistia do direito de queixa e lhe perdoava. lndefel'Íllo.

ACCORD_UI
Vistos estes autos, etc.
NeO"am a ordem de Tzabeas-coi'pttS impetrada por Sebastião
João LO~lg0, por serem improcedentes as nullidades allegada5
contl'a o despacho, qne o pronuncionno art. 270 § 2° do Cod,
Penal, visto ter o pae direito de dar queixa por RUa filha,
ainda que maior de 21 annos, porque o jillw-jarnilia8, qnal(IU~r
que seja a edade, p~rmanece sob o patno poder; - o penlao
- ~3L-

da offendida' não póde rõr termo ao processo ex·vi do art. 244:'


da lei 11. 15 de 15 de Julho de 1892 em virtude de ·t\'atar';'se
de um crime ~naf:fiançavel ; e a falta de corpo 'de delicto apenas
inflniria para a classificação do crime e não para mudar a sua
natureza e por este moti vo não constitui!' nllllidade que dê
lagar h concessão da ordem requerida.
rrribunal de Appellação da Bahia, 18 de Dezembro de
1896, - L. Vasconcellos, presidente e relatr·r.-Castro Lima.
-B. Dantas.-J. Spinola.-.dmel'ico Bar1'eto.~Lope8 ile. OaStro.
J, Aguiat',-Souza Lima.-Cutrim.-Candido Leão.~Guima-
1'(i~8
Cerne. .

PETIÇÃO DE RECuRSO

E[Jl'egio T1'ibunal Feàel'al- Crimes ha, cujo processo. e


julgamento muitas vezes causam maior alarme e escandalo á
sociedade do que o lançamento sobre elles .de um véo, e o
silencio que sobre os me.smos se guarde. .
N'estes crimes o legisladOl' muito acertadamente só ao
°
offendido dá direito de promover a punição do culpado, ne-
gando até a intervenção do Ministerio Publico; pelo ,'qu_e,
qnaudo ao offendido não convém, seja qual fôr o motivo, que
°
se persiga offensor, o processo não pó de ser instaurado e,
se o é, sua nullidade. é manifesta e indiscutivel, pelo vicio da
origem, havendo ent.ãoo recur~ode habeas COl'pltipara annullal·o
e fazer cessar a violencia, ou constran"imento illegal, de .que
é victima o proce~sado, - art. 353 § 3° do Co digo do Pro-
cesso Cl'ÍminaL .
Entre aquelIes crimes aclIam·se expressamente mencio-
nados no art. 407 § 2° n. 2, do Codigo Penal os de violencia
eamal e rapto,' . '.
O 'direito de qlleixa~ póde·se dizer, é pel'sonalissimo, não
podendo seI' usado por terceiro, tl'ata!!ldo,sij de pessoa apta
para todOil os actos da vida civil. '
Só no caso de menoridade ou illterdicção do offendido"póde
a queixa competir a seu pae ou llaãe, tutor ou curadór.
Eis o que expressamente dispõe o art. 72 do Codigo do ..
Processo e vem' tambem determinado no al't. 51 do decreto
n. 848 de 11 de Outubro d~ 1890.
O Codi~o Penal,. publicado tambem nessa data, declara
do mesmo moQ.o, art. 407 § 1°, que a queixa compet&á parte
úífendida, ,ou a qGem tiver qualidade para representaI· a, o que
só póJe ser eÍltendido de accordo com os citados arts. 72 do
- 432-
Codigo do Proce~~o e 51 do clecreto n. 848, os quaef; especi·
ficam QS CR~OS cle~sa representação.
40S 21 all1l0~, termina a menoridade e se fica habilitado
para todos os actos da vida civil, é o que terminantemente
dispõe a resolução de 31' de Outuoro de 183l.
Desde que dessa época em diante torna·fe o filI}o maior,
não pó de mais ser repre~entatlo por seu pae ou mãe, porque
tem representaçiio proflria, póde leliberar unicamente por si,
sem intervenção 011 depelHlencia de quem quer que seja, o que
importa a emancipação e terminação do patrio poder, como
entre outras deci:-oõcs, resolveu o accordam do Supremo Tribunal
de Justiça de 9 de Dt'zemoro de 1882, com cuja doutrina se
conformou o Tribunal' Hevisor, a RelaçãO de S. Piulo, em, 19
de Novembro de 188.3.
Lei alguma, t]l1ímno fe tratlt de matel'ia criminal, usa de
outra expressão q\le não seja II de - MItNOR.
Não ba 'uma l'Ó que empregue a de filho-jamilias, ou fale
em patrio pod~,', e em materia criminal é expl'e~~amente pro·
hibido, art. 1- parte 2a do Codigo frnal, a interpretação
extemiTa ou }lor allalogla ou puidade.
Deixou de ser meno)', ~ão póde mais outrem dar queiIa
por elle, e muito menos Ctntra sua vontade.
. A qualidade de filho familia3, por continuar a viver com
o pae ou mãe, embora tenha entrado na maioridade, hoje,·
depoill dos termos da re!olução de 31 de Outubro de 1831,
Constitui~ão art. 70 e decreto n. 200 A, não tem mais razão
de s~r, send{) manifesto e incontestavel; que, !linda lclmittida,
ces~a e desappnreee inteiramente, desde que o filho sahe da
companhia do pae ou mãe e vlle viver em outra casa, com eco·
nomia separada, semde'pendencia mais de se ris progenitores.
O patrio poder termina, quando o filho attinge á maiori·,
dade, diz em seu Direito da Familia par. 478, Clovis Bevila·
qua, um dOI! mais robUlto! e ctiltos talentos da actual geração.
Loureiro, civilista emerito, que com tanto brilhantismo hQnrou
a cadeira de Düeito Civil da Academia, depois Faculdade de
Direito do Recife, aliásaferl'adissimo, talvez em excersso, ás
velha!! Ordenações, no seu excellente Oonpetldio, § 91, tratando
dos modos de disiolver o patrio poder, diz tel'minántemente,
que tal poder se dissolve no caso de ter o filho completado a
idade de 21 annos.
Orlando, jurisconsulto nQtavel, em uma de suàs notas ao
Co digo Commercial diz- .. nem ha razão para nos adstringirmos
âs Ordenações Filippinal! com laivos do qui.1'itario romano, que
considerava o filho uma cotlsa, se attender-seque a lei de 31
de Outubro de 1S31 teve por fonte o art. 488 dO' Oodigo de
436 -

Napoleão,- que a dita lei investiu o que attinge á iriàde de 21


annos de capacidade civil para todos os actos de\' vida, -q ue
ficções e subtilezas não devem prevalecer ante a realidade dos
factos. O contrario até seria lançar a sizania no seio da fa-
milia: - o pae parasitando o íilho, direito sem obrigação corre-
lativa! Isso daria logal' a que, af/'ouxando- se os laços do res-
peito natmal, com os pés no limiar, o filho pudesse dizer
-deixo sua caRa! e eis f'sboroado tal poder paterno.
A lei !le 31!le Olltubro de 1831 baniu o direito antigo,
que admittia filltos-jamilias maiores de 21 anuos, o qu(> não é
mais admittido em legislação alguma de povos adiantados,
nem mesmo em Portugal.»
~ão nos podemos furtar ao desejo de transcrever os ar-
tigns do Co (ligo Civil Portuguez, refer6ntes ao assumpto, dos
quaes se verá, que alli não vigora mais esse anachronismo
que aqui se pretenle conservar!
« Àrt. 137. Aos paes compete reger a pessoa e bens dos
filhos menores.
« Art. 142. Os tilhofl devem em todo o tempo honrar e
respeitar seus paes e cumprir durante a menoddade os seus
preceitos.
« Art.. 170. O poder paternal termina. . .. 50 pela emano
cipação ou maioridade dos filhos.
« Art. 311. A época da maioridade é assignada sem
distincção de sexo aos 21 annos completos. O rnaí01' fica ha-
bilitado a dispor de sua pessoa e bens.
« Art. 304. O menor pode emancipar·se: I? pelo casa-
mento ~ 2° pelo consen~o do pae ou mãe i na falta d'este, ou
conselho de familia na falta de ambos.
« Art. 305. A emancipação habilita o menor para dispor
de sua pess(Ia e bens. »
Não ha um so artigo que trate de filhos-famílias maiores
de 21 anuos, nem de emancipação do maior.
O que, porém, resolve a questão de modo peremptorio é a
nossa propria le dslação, que é clara e terminante.
Já não é a resolução de 31 de Outubro de 1831 e Consto
art. 70, porém dispo~ição mais expressa:.
E' o n. 2 do art. 5° do decreto n. 200 A de 8 de Feve·
reiro de 1890, que assim se exprime -OSFILHOS-FAMIL~AS,
NÃO SENDO COMO TAE8 CONSI~ERADOS os MAIORES DE 21 ANNO.S
AINDA QUE EM COMPANHIA DO PAE. .
Em face do que vimos de expender nã.o póde restar a
menor duvida de que depois dos 21 annos os paes não podem
legalmente representar os filhos, muito menos por si sós, sem
annuencia e até <?ontra a vontade dos mesmos.
DIll. YOL. '73 28
- 434: -

Se até a data do d!3creto n. 200 A pod~a haver divergencia


de opiniões, d'ahi em diante tal divergencia nlio tem razão
de ser. Os proprios que apezar da lei de 31 de Outubro de
1831 - ainda queriam considerar em vigor a caduca Ord. L.
4 T. 81 § 3°, hoje de certo mudariam de parecer, não podem
mais ter esta opinião.
Trata·se aqui de uma moça de 24 annos, a quem se
quer á força considerar raptada e defiorlUla (!) que não mora
mais com seu pae, não está mais sob seu poder, vem á juizo
daclarar que não foi raptada, nem deflorada pelo paciente, e
que, quando o fOEse, não quer intentar processo contra o
mesmo, desiste de seu direito, e perdôa a offensa; e não ob·
stante, acceita-se uma queixa do pae da me!'ma, que já não a
tem em sua companhia, se instaura um processo contra o pre·
tenso offensor, e se o pronuncia. por crime de rapto e deflora-
mento, sem que este aliás esteja verificado, pois não houve
exame algum, só pela presumpção de que tal defloramento
devia ter-se dado, porque a supposta offendida esteve alguns
mezes em casa da familia do pretenso offensor, onde elIe tam·
bem reside ! ! ! ! ...
Existencia de crime presumida (!!!) como se não houvessp,
a disposição do art. 144 do Codigo do Processo, da qual se
vê que deve haver CERTEZA da existeneia do facto criminoso,
admittind'O-8e indicios vehementes somente quando se trata da
autoria de delicio, e unicamente para base de uma pronuncia.
Pobre Senhora! Seu pae quer que elIaesteja deshonrada,
que sua deshonra se faça publica, que fique perpetn~da em um
cartorio para sua vergonha 1)0 futuro, quando, ainda que fosse
real, o n!al llOdia !'er rtp" ado, e ella encontrar no pretenso
offt;lJ~or, ou em outro, um esposo !
Se foi infeliz, deixandc-se seduzir, eIla prefere o silencio,
e um véo !'obre sua desventura; lllas apezar de lhe dar a lei o
din-lito de exigir que disso não se trate, querem por força ag·
gra vaI' a sua sorte! ! !
A decisão recorrida é manifestamente contraria á lei ex·
pressa e offende a immutaveis principios de direito, pelo que
não póde deixar de ser reformada, para o fim de ser concedido
o habeas-corpus impetrado, annnllando-se o processo instaurado
contra o paciente.
Naquella decisão ainda cita-se o art. 244 da lei e~tado~l
n. 15 de 15 de Julho de 1892, que só dá ao offendido o di'
reito de desistencia e perdão, quando o crime fôr afiançaveJ.
Ainda mesmo que ~e pretendesse que uma lei estadoal
pud esse alterar ou revogar urna lei federal, isto é, pudesse~
ser nullificados os arts. 77 e 407 do Co digo .penal por uma lei
- 435-

de qualquer Estado, ha a considerar, que n'esse ponto a lei


estadoal da Bahia foi além do que lhe permitte a Constituição
de 24 de Fevereiro de 1891, porque, como é sabido e já o
tem decidido diversas vezes esse Supremo Tribunal, o direito
de dar queixa, desistir d'ella, perdoar, etc., é da classe dos
substantivos ou materiaep, sobre os quaes compete exclusiva-
mente á União legislar, e não á dos adjectivos, formaes ou
processuaes, que cabe aos Estados, os quaes n'esse assumpto
só podem prescrever sobre o modo porque a queixa póde ser
dada, ou admittida, ou d'ella desistir-se, ou realizar-se o
perdão.
O principal fundamento da decisão recorrida, ainda quando
pudesse ser acceita, isto é, admittindo-se que, continuando o
filho em companhia· de seu pae, ainda mesmo depois de ter
entrado na maioridade, pode ser por este representado em jnizo
mesmo em materia criminal, no caso presente não teria mais
razão de ser, porque, desde que a pretensa offendida abando-
nou a casa paterna, não voltou mais a ella, hoje vive por si,
com economia separa.da, cessada a causa de ser eUa conside-
rada filha-familias, desappareceu tambem o patrio poder, e
portanto a razão porque o Tribunal Superior d' este Estado
julgou o pae competente para represental-a e dar a queixa.
'1'al fundamento, como mostrámos, é inadmissivel ; mas
ainda poderia apparentemente illudir, si a filha do autor do
processo instaurado contra o paciente, tivesse sido realmente
raptada e depois voltasse á casa paterna, e ficasse sob seu
poder, o que não se deu.
Accresce que o direito dos paes em relação ás filhas,
que se deshonestam, não vae além dos 2l annos.
O direito de desherdal-as por tal motivo cessa, dada a
maioridade, continnem ellas a viver ou não sob o mesmo tecto
e economia, considerando-se por isso jilhasfamilias, na erronea
opinião dos que aiuda isso admittem.
Se não podem desherdal-as, se não podem ingerir-se
mais nesse particular, tambem não podem por ellas queixar-se
em juizo, e muito menos contra a sua vontade.
O paragrapho tmico do art. 276 do Co digo Penal, tra-
tando do consentimento da offendida para não ter lugar a im-
posição da pena, falia expres5amente em-maior-, d'onde se
vê 9ue basta a maioridade, mesmo sem emancipação, para ex-
c1t1ll' o pae de intervir em assumpto d' esta ordem.
O recorrente usou do recurso facultado pelo art. 49 do
decreto n. 848, e espera que ainda uma vez o Supremo Tri-
bunal Federal seja o amparo dos perseguidos e repare o erro
de um Tribunal estadoal, tornando uma realidade, que u bra·
- 436-

zileiro, resida neste ou naquelle Estado, tem os mesmos direitos


e as mesmas garantias. - O advogado, Lanro Lopes Villas
Boas.

ACCORDAM

Vistos e relatados estes autos de recurso de habeas,


em'pus, em que é impetrante o bacharel Lanro· Lopes Villas,
Bôas, a favor do paciente recorrente Sebastião João Longo,
negam provimento ao recurso interposto, confirmado as~im o
accorclam recorrido, á· fI. 35, destes autos.
Supremo Tribunal Federal, 27 de Fevereiro de 1897.
Aquino e Oastro, presidente.- Pindahiba de Mattos.-
Ribeiro de Almeida.-João pecZro.-H. do EspirUo-Santo.-
Bernm'dino Ferreira.-José Hygino, vencido.- .Americo Lobo
vencido. Sendo nulla a queixa, incompetente é o juiz da pro,
nuncia, visto que o processo equivale a ter sido instaurado
ex-offieio (Cod. Penal, art. 467 § 3°).-Manoel lJlnrtinho.-
Figueiredo Junior, vencido.-João Barbalho.-Maceáo Soares.
-Pe1'eim Franco.-Fui presente-Lucio de Mendonça. (*)

(')Esta decisão, conflrmativa do accordam reccorrido, destóa fla-


grantemente dos textos expressos da lei sobre o caso sujeito.
C. M.
LEGISLAÇAO

Legislação Federal

ACrOS DO PODER LEGISLATIVO


Lei n. 433-de 4~ de Junho de 4898
• Fixa a força naval para o exercicio de 1898
O Presidente da Republica dos Estados Unidos do
Brasil :
Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanc-
eiono a seguinte lei:
Art. 1.0 .A. força naval no anno de 1898 constará:
§ 1.. Dos officiaelil da armada e das classes annexas, con-
forme os respectivos quadros.
§ 2.- De 4.000 praças do corpo de marinheiros nacionaes,
inclusive 300 praças para as tres companhias de foguistas e
100 para a companhia do Estado de Matto Grosso.
§ 3. 0 De 700 f'lguistas contractados, de conformidade
I com o regulamento promulgado para os foguistas extraHume-
rarios.
§ 4.· De 1.500 aprendizes marinheiros.
§ 5.° De 400 praças do corpo de infantaria de marinha.
§ 6.· Em tempo de gUirra, do dobro do pessoal dos §§ 2-,
3°, 4° e /)0 do art. 1· .
. Art. 2.· Fica o Poder Executivo autorizado a considerar
'" reserva os navios que necessitarem concerto por mais de
90 dias.
Cada um destes navios terá a bordo o seguinte pessoal
militar: commandante, immediato, commissario, mestre, fiel e
um terço da lotação, percebendo os ·vencimentos de navio
armado. .
Ârt. 3.° Revogam·se as disposições em contrario.
Capital Federal, 12 de Junho de 1897, S· da Republica.
PRUDENTE J. DE MORA.ES BARlWS.
ManoeZ José Alves Bat,oosa.
- 438-

ACTOS DO PODER EXECUTIVO


Decreto n. ~.4ã9-de 12 de Fevereiro de IS9'='

Faz diversas alterações no decreto n. 2431


de 8 de Janeiro de 1897, que creou a Dele-
gacia Especial do Ministerio da Fazenda no
Estado do Rio Grande do Sul.

o Vice· Presidente da Republica dos Estados Unidos do


Brasil, tendo em vista a necessi<lade de modificar o decreto
regulamentar n. 2.431, de 8 de Janeiro de 1897, que orga·
nisa a fiscalisação aduaneira na fronteira do Rio Grande do
Sul, decreta:
Art. 1.0 Ficam extinctos os logares de amanuense e
fiscaes institnidos pelo art. 2. uo citado decreto, e creados
U

os cargos de ajudante e de secretario do delegado especial.


Art. 2.° O § 6° do art. 3° fica sub~tituido pelo seguinte:
Organisar e dirigir a correspondencia e a escl'ipturaçào da
delegacia, utilisan<lo o secretario; suspender, remover, punir
regulamentarmente, demittir e nomear provisoriamente quaes-
quer empregados das estações fiscaes comprehendidas den·
tI'O do territorio de sua jurisdicção, submettendo taes actos
á approvação do Ministro da Fazenda.
Art. 3. o O § 7 0 doart. 3 0 fica substituido pelo seguinte: colo
locar postos de vigilancia e de observação, determinando-lhes a
zona dev,endo neste intuito ter em attenção a topographía, as
estradas, os rios e os seus passos, de modo a impedir o transito
de objectos não despachados leg'almente; designando as es·
tradas e os passos que devem ser seguidos, de accôrdo com
os postos estabelecidos.
, Art. 4.-0 § 9" do art. 3.° fica substituido pelo seguint~:
Enviar trimestralmente ao- Ministro da Fazenda um relatol'lo
circumstanciado a respeito de todo o serviço a seu cargo, expondo
o resultado das medidas prescriptas e executadas e indicando as
providencias que entender convenientes e as modificações e
reformas que a experiencia aconselhar, podendo, além disto,
e sempre, enviar todas as communicaçóes e informações con·
venientes ao serviço. .
Art. 5. 0 O § II o do art. 3 o fica substituído peJo segUinte:
Nomear' edemittir o commandante, ofticiaes e guardas, sub·
mettendo nomeações e demissões ã appl'ovação do Ministro
da Fazenda;.
Art. 6. O al't.4 o fica substituido pelo seguinte: O de·
0

legado dará instrucções directa ou indirectamente aos sargentos


dé.stilcadni< nos pJ .. ~JS fü.:.:.es.
-439 -

Art. 7° O art.. 5° fica substituido pelo seguinte: Com-


pete ao corpo de guardas todo o serviço de vigilancia, rondas
diurnas e nocturnas, sentinellas, apprehensões, buscas, prisões,
nos CRoSOS determinados pelo delegado e todos os mais serviços
que por este lhe forem ordenados.
Art. 8.° O art. 7° fica substituido pelo seguinte: Aos
ofticiaes e inferiores compete cumprir todas as ordens, instru-
cções e recommendações do delegado e do com mandante.
Art. 9.• 0 O art. &0 fica substituido pelo seguinte: A' Dele.
gacia Especial, ao corpo de guardas, commandante, officiaes,
inferiores e guardas, cabem as disposições do capitulo 2°,
titulo 1°, arts. 16 a 30. da Oonsolidação das Leis das Alfan-
aega.~, tanto quanto' fôr applicavel, attenta a natureza e diffe-
rença da situação e dos serviços, excepto o que prescreve o
n. 2 do art. 24.
Art. lO.. O numero, classe e gratificação dos empregados
da Delegacia Especial do Ministerio da Fazenda no Estado
do Rio Grande do Sul será o lixado e constante da. tabella que
a este acampanha.
Art. 11. Revogam-3e as disposições em contrario.
Cal ital Federal, UI de Fevereiro de 1897, 9" da Repu-
blica.
MAXOEL YrCTORTh"O PEREIRA.
Be1'nardino de Campos.

Tab ella das gratificações dos empregados da Delegacia Especial do


Ministerio da Fazenda no Estado do Rio Grande do Sul
N. EMPREGOS GRATIFICAÇÃO ANNUAL
, ·c •
, 1 d~legado.......... . . . .. . .. .. . .. ... . . "l~)).oP$o.o.o.
1 aJudante ...•. ·••...........•..• . • • • • • . . 4.: $OQ~. ~o.o. .
1 secretario .•..... : ... ,,;"',
',.,::'11.;
o •••••••••••
"k~ '<l!1
ts, O,~ O"
:j,.'.:.1: P'.,h
1 commlindante (capItão) ............ ,... I':'.' 4:~ o.$qo,ü,
1
, '. ,( ,.'.,. 4 ).I o.cniÜOU"
tenente ..•.•.•... ~ ..•.•...... " .••••. , " ) . :,4, ,<IPi, iA' oil
"3 alferes, a 3:60.0.$ annuaes ca~a! N#.
";~l:<;l '\::)lO~:spb~Oyq'l:
lO. sargentos, a 2:880.$ anuu'aes éa.,.ua ilm.'.. ,,,I,,,?8J,9,9$\~:9b,.1
225 guardas a cavaUp, a. , 1:,5,69~J~1lI~ua~)3:"~,, ,- Id""
cada um, inclusive"forragem;:. ....... . g51: tlO$o.o.o.
.:. " I ., .' !I I . I[ . 'I
.. ~ {

243 421 :0.0.0.$0.0.0.


Livros,' expedi~tiee: e'-ràncllos':i1o's Pl1~S'o~ ..••. . 6:00.0$00.0.
------
427.00(,~G~O
. - 440 - '

OBSERVAÇÃO

o delegado, o ajudante e o secretario teI ã.o direito a


passagens nas vias ferreas e linhas de navegação.
Capital Federal, de Fevereiro de 1897.

Decrete a. ~.48D-de 4 de lIarço de 180"


Manda executar em todas as Allandegas e
llesall de Rendas habilitadas da Republiea.
a nova tarifa e sua. disposições preliminares

o Presidente da Republica dos Estados Unidos do Brasil,


em execução ao disposto no art. 3° da lei n. 428, de 10 de
Dezembro de 1896.
Decreta:
Art. L? Será executada em todas as Alfandegas e Mesas
de Rendas habilitadas da Republica a tarifa e suas disposições
preliminares, que acompanham este decreto.
Art. 2. 0 . Ficam revogadas as disposições em contrario.
Capital Federal, 4 de Março de 1i97, 9° da Republica.
PRUDENTE J. D.t MORAES BARROS.
Bernardino d~ Oampo8.

DeereCo D. de 8 de Março de 18."

Manda vigorar do dia 1 de Julho do


eorrente anno ai regras eonatantes do re-
gulamento annexo ao deoreto n. 1988 da
14 de Març. de 1995:

o Presidente da Republica dos Estados Unidos do Brazil:


Resolve, de accordo com o Governo de S. M. Britanica e o
dOI Estadoa Unidos da; America do Norte, que as reiTaI!l con r
stantei do regulamento annexo &,0 decreto n. 1.988, de 14 de
Março de .1895, para evitar abalroamento no mar, com as
modificaçõli' adoptadas' pelo dflcreto n. 2.402, de 10 de De-
zembro do anno Ando, 'comecem a vigorar no dia 1 de Julho
do corrente anno.
Capital Federal, 6 de ~arço de 1897, 99 da Republica..
PBU'DENTE J. DE M-oRAES BARROS.

ManoeZ Jo.é Alve8 Barbo811.


-441 -
Decreto n. ~.4"3-de I~ ele Março de 189"

Declara que gozarão das' vantages do art.3'


da lei de 6 de Novembro de 1827 as viuvas,
filhas menores, filhas solteiras e mães dos
oflleiaes falleeidos e que fallecerem em con-
sequencia das operações militares no Estado
da Bahia.

o Presidente da Republica dos Estados Unidos do Brazil:


Attendendo á natureza e especialidade I.OS serviços exi·
gidos pelas operações militares no Estado da. Bahia:
Decreta:
Artigo unico. Gosarão das vantagens do art. 3° da lei de
6 de Novembro de 1827 as viuvas, filhos menores, filhas sol·
teiras e mães dos officiaes que, fazendo parte de forças em
operações militares no Estado da Bahia, fallecerem em com·
bate ou em:consequencia de ferimento ou desastre occorridos
em serviço, durante. as respectivas operações.
Paragrapho unico. Esta disposição é extensiva aos offi·
ciaes já falIecidos em operações militares naquelle Estado.
Oapital Federal, 12 de Março de 1897,9 0 da Republica.
PRUDENTE J. DE MORAES BARROS.
Francisco de Paula Argollo.
ManoelJosé Alves Barbosa.

Deereto D. ~.4'f.-.e ta ele Março de 188'f

Approva o regulamento dos corretores


de fundos publicos da praça da. Capital
J'ederal

o Prlsidente da. Republica dos Estado!! Unidos do Brazil,


usando da 8.utorililação conferida no art. 15 do decreto n. 354
d-e 16 de Dezembro de 1895 : .
Decreta:
Art. 10 Fica. approvado o regulamento dos corretores de
fllndos publicos da. praça da Capital Federal, que a este
acompaalla. ..
Art. 20 Ficam reTogadas ai disposições em contrario •.
Capital Federal, 13 de Março de 189?, 9 Q da Republica.
PRUDENTE J. DE MORAES BARROS.

Bernardino de Oampos.
- 442-

Regulamento dos corretores de fundos publicos


da praça da Capital Federal
TITULO I
Organisação

CAPITULO I
CREAÇÃO E NUMERO DOS OFFIeIOS DE CORRETORES DE FUNDOS
PUBLICOS. CONDIÇÕES DE HABILITAÇÃO. I:~·VESTIDURA PARA
OS MESMOS. IcIANÇA. VAGA DO OFIcIeIO.

Art. 1° E' creado na Capital Federal, com caracter de


of:ficio publico, o cargo de corretor de fundos. i
Ao Governo compete supprimil·o quando entender conve·
niente.
Art. 2°. O numero dos officios de ~orretores de fundos
publicos da Capital Federal será fixado pelo ministro da fa-
zenda.
Art. 3°. Os corretores de fundos publicos, na Capital
Federal, serão nomeados e demittidos pelo presidente da Re-
publica, por decreto expedido pelo minilltro da fazenda.
Art. 4". Para ser corretor de fundos é essencial:
a) ser cidadão brazileiro ;
li) ter mais de 25 annos de idade;
c) estar no gozo dos direitos civis e políticos.
Art. 5°. Não podem ser corretorei!:
(() os que não podem ser commerciantei;
b) as mulheres;
c) os corretores destituidos ppr haverem sido condemn~
dos em crime a que o Codigo Penal imponha a pena de destI'
tuição do emprego, ou outra de cuja imposição resulte a
destituiçãO;
d) os individos que houverem sido condemnados nos crimes
de falsidadl. estellionato, furto e roubo;
e) os fallidos não rehabilitados.
Art. 6°. A nomeação pan o cargo de corretor de fundos
llUblicos da Capital Federal seri feita sob .informação da Ca-
mara Syndical instrui da :
a) Cflm certidão de idade do pretendente; .
li) com attestação da autoridade policia.l da circumscr~­
pção do domicilio do candidato, que declare ter este residenCla
por mais de um anno na Capital Federal (itrt. 39 n. 2 do Co-
J~~ .. ':'1) Con..:..~rció);
- 443-

e) com certificado, devidamente authenticado pejo reco-


nhecimento da firma, de haver o pretendente praticado, por
tempo nunca menor de dous annos, em escriptorio de corretor
de fundos publicos, ou funccionado em casa bancaria, ou com·
mercial de grosso trato, na qualidade de guardtl-livros ou na
de socio gerente;
d) com folha corrida.
Art. 7°. O corretor nomeado deve depositar no Thesouro
Federal, como caução, a quantia de cincoenta contos de réis.
Não lhe será expedida a patente ou titulo de nomeação antes
de feito o deposito.
Art. 8° A caução do corretor só poderá consistir:
a) em dinheiro;
b) em apolices da divida publica da UniãO, dos Estados e
da municipalidade do Districto Federal;
c) em letras do Th8!1ouro Federal;
d) em -letras hypothecarias emittidas por bancos de credito
real com séde no Districto Federal.
Paragrapho unico. As apolices da divida publica federal
serão recebidas pelo valor nominal, as dos Estados, as da muni-
cipalidade do Districto Federal, e as letras hypothecarias pelo
valor medio das tres ultimas cotações officiaes.
Ao ministro da fazenda compete determinar a especie
em que deve ser prestada a caução.
Art. 9.? Antes de entrar em exercício dl;lve o corretor:
a) fazeN!e inscrever na repartição competente para o paga-
mento do imposto de sua profissão;
b) tomar perante o syndico compromisso de desempenhar
suas funcções com probidade e de accordo com as leis em
vigor;
c) fazer abrir, rubricar e encerrar pelo syndico o caderno
manual e apresentar o pro'tocollo com as formalidades ... dos'
arts. 51 e 55 deste regulamento. ,
Art. 10. A fiança do corretor responde: !
a) pela execução e liquidação das operações em que o
mesmo tiver sido intermediario, ou de que se tiver encarregado;
b) pelas multas em que o corretorincorrer ;
c) pelas indemnisações que fôr condemnado a prestar, em
virtude de sentenç~ do Poder Jl1diciario.
Art. 11. Sómente dipois de liquidada pela fiança toda a
responsabilidade do corretor, poderá o restante da importancia
da mesma fiança .ser objecto de acções, sequestros e arrestos
para a solução e garantia de dividas particulares do corretor.
Art. 12. A fiança só poderá ser levantada depois de seis
:.nezes, a contar da e_JL.:.raGã .. ::m dJ fallecim.!lto do ':Ol're~:.:·.
444 -

Art. 13. Find~ este prazo, haver-se-ha por prescripta a


responsabilidade do corretor, salvos o caso de protesto pelo não
cumprimento e liquidação do contracto e aquelles em que,
segundo direito, não corre o tempo para a prescripção.
Art. 14. A Camara Syndical, quando occorrer o falleci-
mento ou tiver logar a exoneração de qualquer corretor, man-
dará dar publicidade á. Taga, durante 30 dias, nos boletins
commerciaes e affixar editaes no recinto da Bolsa, chamando os
interessados, em transacções em que houvesse intervindo o
corretor, a virem liquidaI-as no prazo de seis mezes.
Art. 15. Findo o prazo, a Camara Syndical expedirá em
favor dos herdeiros do corretor, dos representantel dos men'ores,
ou de quaesquer interessados, requisitoria ao ministro da fa-
zenda pi1ra o levantamento da fiança depositada no thesouro.
Art_ 16. Occorrendo vaga de officio de corretor, o syndico
procederá immediatamente á arrecadação de todos os livros e
papeis pertencentes ao mesmo e relativos ao offieio, e ao exame
do estado em que se acharem, na presença. das partes interes-
sadas e de duas testemuühas, e levará o facto ao conheci-
mento do ministro da fazenda.
Art. 17. Os livros e papeis arrecadados pelo ~yndico, na
hypothese do arti~o antecedente, lerão examinados pela Camara
Syndical, na sua primeira reunião, afim de verificar, por meio
denes, o e~ta.do das operações, que se achavam a cargo do cor·
retor, si é caso de dar-se a inierferencia da referida Camara,
para a completa execução da mesma, e para. resguardar qua,es·
quer interesses de terceiros, ou ~e deverão ser recolhidos ao
archivo, para serem entregues ao corretor que fôr provido no
officio vago.
Art. 18. Do exame a que proceder a Camara Syndical nos
papeis e livros pertencentes ao officio de corretor, em estado
de vacancia, far-se-ha declaração na acta da reuliião da Oamara,
e bem as~im do destino dado aos mesmos.
Art. 19. A vaga do officio de corretor será preenchida
temporariamente por um dos membros da corporação que o
syndico designar; o nomeado terá competencia para liquidar
as operações e expedir certidões das que houverem sido escri·
pturadas pelo corretor demissionario, suspenso ou fallecido.
Art. 20. Si a vaga occorrer por molestia incuravel que
inhabilite o corretor para o exercicio do cargo, ou por faUeci-
mento do corretor, será plrmittido á 0amara Syndical propôr,
de preferencia a outrem, um filho do corretor para l5ubstituil-o
no officio, dada a igualdade de circumstancias, quanto á ido·
neidade.
- 445-

CAPITULO II
PREPOSTOS DOS CORRETORES

Art. 21. Aos corretores de fundos é permittido terem


como auxiliares um ou mais prepostos, designados pelos mesmos
corretores e approvados pela Camara Syndical.
Art. 22. 'raes pr~postosdevem reUlllI' os J'equisitosexigidos
para o officio de corretC'r, comquanto lhes seja vedado operar
por conta propria.
Art. ~3. Os prepostos dos corretores estão sujeitos á b.cçãO
disciplinar da Camara Syndical, podem ser por esta suspensos
ou destituidos ex-oificio, e sel-o-hão sempre que o entender
conveniente o corretor.
Art. 24". Os actos de nomeação, de suspensão e de demis·
são dos prepostos serão levados ao conhecimento de toda a
corporação por meio de boletins af.fixados nos salões da Bolsa,
pelo tempo de oito dias.
Alt. 25. A Camara Syndical terá um livro especialmente
destinado ao lançamento dos termos de approvação dos prepostos
Ms corretores e fará affixar em quadros propl'ios.nos salões da
Bolsa os nomes, cognomes e appellidos dos prepostos em exercicio,
com indicação dos corretores com quem trabalham.
Art. 26. Os prepostos dos corretores são considerados
mandatarios legaes dos mesmos para os effeitos:
a) de praticarem os actos atLinentes ao officio de que forem
encarregados pelos corretores;
b) de substituirem os corretores nos seus impedimentos.
Sempre que houver de dar-se a substituição terá a. Camara
Syndical aviso prévio.
Art. 27. Os prepostos dos corretores possuirâo um ca·
I1hel1ho aberto, encerrado e rubricado em cada uma de suas
paginas pelo presidente da Camara SYlltlical, no qual rl:lgistra •.
rão as operações logo que as contntart:'m.
O canhenho será apresentado na hora da bolsa para serem
os operações nelle mencionadas transcriptas nas cadernetas
dos corretores e devidamente cotadas, podendo ser as ne·
gociações de cambiaes communicadas até á hora do encerra·
mento do cambio. Os lançamentos deverão conter declaração
explicita das quantidades e taxas a que operarem.
Art. 28. Os corretores respondem solidariamente por
seus prepostos.
-446 -

CAPITULO III
COMPETENCIA, EXERCICIO E FUNCÇÕES DOS CORRETORES DE
FUNDOS PUBLICOS

Art. 29. São da exclusiva competencia dos corretores


de fundos publicos e sómente por seu intermedio se poderão
realizar:
o) a compra e venda e a transferencia de quaesquer fundos
publicos nacionaes ou estrangeiros admittidos á cotação;
li) a negociação de letras de cambio e de emprestimos
por meio de obrigações ;
c) a de titulos susceptiveis de cotaçã6 na Bolsa, de Rccordo
com o boletim da Camara Syndical ;
a) a compra e venda de metaes preciosos amoedados e
em barra.
Art. 30. São nullas de pleno direito as negociações dos
titulos de que trata o artigo antecedente, quando realizadas
1,or intermediarios estranhos á corporação dos corretores.
Art. 31. A disposição do art. 30 não comprehende as
negociações realizadas fóra da Bolsa e directamente entre o·
comprador e o vendedor, as qURes todavia deverão ser com·
municadas á Camara Syndical pelos interessados.
Art. 32. O corretor não poderá encarregar-se de ope-
ração alguma, sem ordem eSt.:ripta do seu committente.
Art. 33. A ordem dada ao corretor terá vigor emquanto
não fôr retirada, salvo a declaração de prazo fixado p~ra o
cumprimento della; o recebimento dessa ordem importa auto·
risação ao conetor para operar em nome e por conta do com·
rnittente.
Art. 34. O corretor, em quanto não puder executar a
ordem recebida, dará ao seu committente diariamente os mo·
tivos da demora, afim de receber do mesmo novas instrucções
sobre o preço e outras condições da operação.
Art. 35. Os corretores de fundos teem inteira responsa·
bilidade pela execução, até finalliquidaçáo, das operações,em
que interferirem por força do privilegio que lhes conferem o
decreto legislativo n. 354 de 16 de Dezembro di 1895 e este
regulamento.
Art. 36. O corretor é pessoalmente responsavel, nas
negociações á vista, para com o outro corretor com quem
operar e para com o seu committente; pela entrega dos ti·
tulos vendidos e pelo pagamento dos q1le houver eomprado .
. Art. 37. A responsabilidade do corretor é inteira e
completa pela liquidação das operações feitas a prazo, sempre
-447 -

que no acto da transacção não fôr revelado, de modo regular


o nome do committente. Essa responsabilidade é regida pelos
principios que regulam a do commissario deZ C1·edere.
Art. 38. A fiança do corretor responde pl'la liquidação
das operações, a qual será feita pela Camara Syndical, de ac-
cordo com o regimento interno da Bolsa e da. corporação dos
corretores
Art. 39. Os corretores são responsaveis pela authenti·
cidade da assignatura do ultimo signatario das letras e dos
titulos endo:;saveis que negociarem.
Art. 40. Na falta de acceitação ou de pagamento dos
titulos. pelo corretor comprador e da entrega pelo corretor
vendedor, a revenda e a compra dos valores negociados pode
ser, a requerimento do corretor com o qual houver sido feita
a negociação realizada por iiltermedio do ~yndico, correndo
todos os riscos por conta do corretor omisso.
Paragrapho unico. Na revenda e na compra o syndico
regular-se-ha. pelo regimento interno óa Bolsa e da corporaçã~
dos corretores.
Art. 41. O corretor, salvo convenção em contrario, res-
poude perante seu committente pelo outro corretor com o
qual houver contractado equanto li liquidação da negociação.
Art. 42. Antes de aeceitarem a incumbencia de qualquer
negociação, teem os corretores de fnndos o direito de E)xigir
dos committentes as garantias que reputarem precisas para a
effectividade das operações, proporcionando, por sua vez, aos
committentes as que estes exigirem.
Art. 43. O committente que retirar a ordem dada e acceita
antes do prazo convencionado para a. operação, pagará inte-
gralmente a corretagem, como se ai. orrlem houvesse sido exe-
cutada. .
Art. 44. O committente que, sem prévia retirada da
. ordem dada, já tendo recebido do corretor encarregado da
operação a nota de haver sido a mesma executada, deixar de
fazer boa a transacção e realizai· a por intermedio de outro
corretor, será obrigado a pagar a corretagem ao primeiro
COl'l"etor e responderá por perdas e damnos perante a parte
com quem o mesmo corretor houver tratado.
A requerimento do corretor, poder·se·ha aftixar na Bohla
o nome do committente omisso com um resumo da operação.
Art. 45. O committente que deixar de cumprir um con-
tracto de corretor responderá integralmente pela transacção,
que em virtude de ~ua ordem escripta e de conformidade com
ella houver realizado o corretor. .
O corretor, em tal caso, revenderá os titulos que houver
-- 448 -

adquirido para o c('r.1mittente e que este não tiver pago, ou


adquirirá os que não houverem !"ido fornecidos pelo commitente
cobrando deste a ditferença da cotação que se der.
Em todo o caso, responderá o committente pelos prejui-
zos qne de :'lua falta resultarem.
Art. 46. Nas negociações de letras e papeis endossaveis
é o corretor obrigado a entregar ao tomador os titulos e ao ce-
dente a importancia ajustada dos mesmos .
..:\"'rt. 47_ O corretor deve guardar segredo sobre os nomes
dos committelltes; para mencionaI-os faz-se predsa autorisa-
ção destes por escripto, ou que a natureza da operação o exija.
Art. 48. As Ilegociaçõos de Bolsa, que não tiverem por
objecto letras de camoio, Ilão assentam sinão sobre quanti-
dades, sem especificação dos numeros e mais caracteristicos dos
titulos.
Al t. 49_ E' vedado ao~ corretores 'sob as penas do art. 59
do Codigo Commercial:
a) formarem entre si associação particular para operações
de sua profissão; .
b) fazel em toda a especie de negociações e trafico. directo
ou indirecto, delmixo do seu ou de alheio 'nome, e contrahi-
rem sociedade de qualquer denominação ou classe que seja;
c) adquirirem para si, ou para pei/soa de sua familia,
cousa cuja venda lhes houver sido incumbida, e venderem as
que lhe pertencerem, quando tenham ordem de comprar da
mesma especie ;
á) exercerem cargos de administração ou .fiscalisação de
Rocierl,ldes anonymas excepção feita da disposição do art. 163;
e) encarregarem-se de cobranças ou pagamentos por conta
alheia, salvo no caso de . liquidação do seu contracto.
Art. 50. Os corretore'l são obrigados a dar aos commit-
tentes recibos dos fundos e dos valores que lhes forem confiados.

CAPITULO IV

, E3CRIPTURAÇÃO DOS CORRETORES_ EXAME DOS LIVROS_ CERTI-


Dõm; DOS LANÇAMENTOS NELLES FEITOS; SEU VALOR JURIDICO.

Art. 51. Todo o corretor deve ter os seguintes livros:


a) um caderno manual aberto, numerado, encerrado e ru-
bricado pelo syndico ;
b) um protocollo aberto, numerado, encerrado e rubri-
cado pela Junta Coommercial.
Art. 52. No caderno manual deverão ser lançadas, apenas
- 449-

concluit1as, as transacções realisao.as pelo corretor ou por seu


preposto, com toda a clareza e individuação, afim de propor-
cionar noção exacta dêt operação realizada.
Art. 53. No protflcullo deverão ser diariamente lall~ados
os asseutO:-i (lo caderno mannal por cópia litteral, lJor extenso
e sem enwndas, ra~Ul'a!il, ~lltrelilllHts, transposições e abrevia-
turas, gnan};ulll a onlem lb. llllllll'ração :-lob a qual exi:-ltirem
as operações escril.ltll!'aclas no caderno mallllal e mencionando·
se o:,; nomes do COlllplwlllr, di) venclei!or, a nàtU1'8Za, o p:'eço, O
pr'azo e todas as condições das operaç5es.
Art.. 54. No" assentos elas negoeiações de letras de cam·
bio deverá o corretor mencionar o vendedor, o compratloI' e a
praça sobre a q lIal for feito o saq na. o prazo e as e:,;tipulações
a el'te referente:,;, s('m prejuizo das demais· declarações exigi-
das no al't. 4!:l (lo Cudigo do COl1llllel'cio.
Nas neg'Jciações de titl\I()~ ao portador á vista deverá
declarar nãu sómellte a llH.t.ureZá do titulo, mas ainda a serie
e os lIUlIlerOS, si o" cOlllmil,telltes o exigirem.
Art. 55. O protocollo telá as forl1lalidades exigidas para
os livros dos COm1ll81'c.iantes no art. 13 do Codigo do Com-
mereio, sob pena de não terel.l fé os a~sentQS 1Ie11e lançados.
Art. 5f.. Os livros dos corretores, que se acharem e!'cri.
pturados na fónlJô:1. deste regulamtnto, sem vicio nem defeito
terão fé publica. '
Art. 57. Os li vros Hão escriptll1'ados em fórma regular e
não revestidos das fOl'mx.lidades legaes não fazem prova em
juizo em favor do corretor .
.A.rt. 58. O I"xame parcial dos livros do corretor terá 10-
gar por ordem da Camara Syndical, sempre que se originarem
duvidas ou ventilar-se que:,;tão sobre operações de bolsa em
que o mesmo COl'I'etllr houver fllncciona(lo.
O exame geral só mente poderá. tel' logar nos casos expres-
sos no Codigo do Commel'cio e ne~te decreto, e sempre que a
Camal'a Syndical julgar necessal io tal name para apurar factos
que constituam em responsabilidade o COl'l'etor.
Art. 59. A Cltmara SYUltical, sem que instituir exame
sobre qualquttr ou todos os livros do correter, é obrigada,
debaixo do segl'edo profissiolll\l, 8. guardar sigillo sobre os
nomes dos committentes de todat! as operações nelles escri·
pturadas.
Art. 60. A recusa de exhibição dos livros, ordenada
por autoridade competente e nos casos do artigo anterior, su-
jeitará o corretor á applicação do disposto no art. 20 do Co·
digo do Commercio.
Art. 61. Os livros do corretor, quando arrecadarlos pela
Dm. TOL. '18 20
- 450-

Camara Syndical, serão guardados em seu archivo, ou entre.


gues ao successor no officio nas bypotheses dos arts. 16, 17,
19 e 20 deste decreto:
Art. 62. As certidões ex.trahidas dos livros com referencia
á folha em que os actos se acharem escripturados, sendo pelos
corretores subscriptas e assignadas, terão força de instrumento
publico para prova dOI!! contractos respectivos.
Art. 63. O corretor, que passar certidão contra o que
constar dos SIUS livros, ineorrerá nas penlLs do crime de falsidade
e perderá a metade da fiança.

C.A.PITULO V
ASSEMBLÉA DOS CORRETO~ES. BLEIÇÃO DA C.l.MARA SYNDICAL.
ATTRIBUIÇiES DEST.l."E DO SYMDICO

Art. 64. Os corretores de fundos publicos da Oapital


Federal constituidos em aSlembléa geral, em numero, pelo
menos, de dois terços elegerão a.nnualmente de entre iii uma
Camara Syndical, compostA de um syndico, como presidente, e
de tres adjuntos.
Art. 65. Da eleição que será feita por escrutinio liIeer4lto
e por maioria absoluta de votos lavral'·se-ha uma acta em livro
para el:i~e fim determinado; deIla extrahir·se-ha uma eópia
authenticada que será enviada 1'10 ministro da fazenda.
Art. 66. Us corretores llão se poderão reu.ir extraordi·
narialllente, a uão ser em virtude de convocação do syndico.
Art. 67. Os corretores Dodarão solicitar a convocação de
Uilla a::;sembléa geral de sua' corporação para deliberar .obre
caso UI gent.e e de justificada gravidade occurrente 110 luuceio·
llamento da Bolsa e com referencia á cotação do curso dos tiLulos,
das eí:!pecies e dos cambios.
O pedido de convocação deve ser formulado por escdpto e
aEsignado por dous corretores em exercicio activo da profissão.
Art, 68. A assernbléa geral cOIl!:.'tituir-se-ha com a maioria
absoiuta dus corretores e será. pr6l:!idida pelo syndico ; as suas
deliberações constarão de actas lavradas em livro proprio con·
fiado á guarda da Camara Syndical; servirà de secretario da
reunião o corretor que o syndico designar.
As actas serão assignadas por todos os corretores presentes,
não sendo permissivel delegação para iste fim.
Não 8e reuuindo corretores em numero sufficiente para
constituir maioria absoluta, o syndico convocará nova reuniAo,
com iutervallo de 24 horas, na qual se deliberará com qualquer
numero de corretores presentes ..

. ....
-451-

Art. 69. Os membrJs da Camara Syndical poderão ser


reeleito!!! ; ao syndico comnete designar o seeretariv e o thesou-
reiro da Camara, os quaes só poderão ser tirados dentre os
membros desta.
Art. 70. á nenhum corretor é licito eximir-se de ser
membro dft. Camara Syndical, salvo por molestia grave e con-
tinuada, provada perante o ministro da fazenda e, no caso de
reeleição, si não houver decorrido um anno entre a antecedente
e a no~a nomeação.
Art. 71. A Camara Syndical poderá deliberar sempre que
se ach";rem presentes metade e mais um de seus membros; os
negoci~s serão decididos por maioria ab80luta de votos; no caso
de empate, o presidente terá o voto de qualidade.
Art. 7~. Dal!l deliberações da Camara Syndical deverão
sal' lavradas ..ctas em liTrO aberto, numerado e rubrieado pelo
syndico e devidamente sellado.
As actas serão assignadas por todos oll.membros da Camara
Syndical, Que houverem tomado parte na sessão.
Art. 73. A' Caniara Syndical compete:
a) informn.r !lobre a conveniencia da creação e da suppres-
são de ofticios de corretores de fundol publicos;
b) propor a nomeação, a, destituição dos mesmos e a sua
suspensão por tempo maior de trinta diai;
c) organisar o regimento interno da Bolsa e da corporação
dos corretores e a tabelIa dos emolumentos que elles devem
perceber, sujeitando-os á approvaçãQ do ministro da fazenda ..
d) autorisar, prohibir e suspender a negociação e a cotação
de qualquer valor, com excepçãe) dos titulas da divida federaJ,
estadaaI e municipal e dos estrangeiros, que só serão admittidos
á cotação por acto do ministro da fazenda.
No uso desta attribuição poderá a Camara Syndical exigir
de todas as sociedades emissoras de titulos negociaveis na
Bolsa os esclarecimentos e documutos que reputar precisos
para a inclusão de taes vaIore8 no boletim das cotações;
e) impor as multas decretadas neste regulamento, facul-
tando de sua decisão recurso para o ministro da fazenda dentro
de cinco
, dias .,
f) fixar a cotação official do cambio, dos valores e das
especies, publicando o boletim diario, confeccionado após o
encerramento dOI trabalhos da Bolsa e em face das notas ou
m.moranda dos corretores e dos bancos ;
u) organisar a tabella das taxas a perceber pelas declara-
ções que forem publicadas no boletim official ;
lt) velar para que os corretores se contenham nos limites
de suas funcções legaes, podendo ordenar-lhes a apresentação
- 452-

de SE'US livros e prescrever-lhes todas as medidas de precaução


que jlllgar neceiisarias ;
i) infligir CE'llsura aos actos elos corretores, qllanilo irre-
gulares, e, segun1lo a gravidade d;) caso, interdizer-lhPR a
entraoa na Bol:,a ..Qurante um prazo não excedente de trintil rlias
e suspenflel-os por igual tempo;
j) fiscali:;ar qlW llenhum inoivifl11O, sem titulo leg;\l. pxerça
as fllllCÇÕP.S de corretor, pl'omovellilo pelos meios cornpr,t"'lltes,
a decretação da nullirlade das operações por elle realiz<td;t~ ;
1.:) ded(lir as contestações que ~e sU:5cÍtarem f'ntl'l'· n~ cor·
retores relativamente ao exercicio de :luas funcçõt>:3, com
recurso para o ministro (la fazen:la.
Art,. 74. No caso de impediment.o de adjllntos (Ie 100110
a náll porler reunir-se e deliberar a CillIlara Syndical, COllI'Í·
dará o t'ylJllico d'eJllre os membros tla coq oração os qllP fu-
rem neces',al'ios para completar a Camara Syudical. O ~yn·
clico será nesta hypothese substituido em seus imp~11 illlt lltos
pelo corretol' mai1'i antigo ou pelo mais idoso si houver mais de
um com igual antiguíd de.
Art. 75. Compete ao synnico :
a) representar a Camara Syndi cal e a cOl'poraçilo (los cor·
retores perallte o Govelllo, autorifladps constituídas e fim jnizo;
b) presidir as reuniões da Camara Syndica1, dil'j~ir as
discu~~ões e apurar as delilJerações, votando em ultimo lo~are
para desempate, 110 ca~o l1e ser necessario ;
c) executar as oeliberações da Camara Syndical ;
d) promover reuniões diarias -da Camara Syndical para ve·
rificação do resultado das operações, flet.el'minação dl. curso do
cambio e cotação dos fundos e valores negociados pelos corretores;
e) fbcalisar a escriptnração do livro dos preços correntes,
em que deverão ser rAgi~tl'ados os boletins apresentados pelos
corretores, nos quaes estiverem mencionadas as propostas e
transacl)ões que se houverem realizado e tiverem sino inseri·
ptas nas notas offerecirlas no recinto da Bolsa;
f) assignar e remetter ao ministro da fazenda o boletim
da cotaçáo dos fllndo~ publicos e do cambio.
TITULO II
Das operações
CAPITDLO I
.A :BOLSA. NEGOCIAÇÕES DE FUNDOS PUBLICOS: 1"') Á VISTA; 2~.l.
PRAZO; A) COM TRÀ.NSFERENOIA REAL; B) LIQUIDADAS POR
PRESTAÇÃ.O DE DIFFERENÇA DAS COTAÇÕES.
Art. 76. A Bolsa é o logar, no salão da praça do commer·
cio, destinado ás eperaçõEls de compra e venda de títulos pu·
- 453-

blicos, de acções de bancos e companhias, de valores com-


merciaes e de metaes preciosos.
Paragrapho unico. E' facultado aos corretores, fóra da"
hora regimental .da Bu!:';a,effectuar negociações sobre metaes,··
cambiaes, descontos e emprestimos commerciaes, comtanto que
no mesmo dia e na hora offieial da Bolsa, apresentem bole-
tins aS';lgnados mencionando a quantidade, a natureza, o dia do
vencimento e o preço dos titulos para cotação.
Art. 77. Só aos corretores de fundos é permittido o ac·
cesso dentro da balnstrada <la Bolsa.
Art. 78. A' Camara Syndical compete tornar effectiva a
disposiçã,o do artigo antecedente, vedando ás pessoas estra-
nhas á classe dos corretores de fundos o ingresso no logar re-
servlldo á Bolr;a, ernquanto esta funccionar.
Art. 79. Fóra do logar especial e das horas para o fune·
cionamento da Bolsa, é prohibida qualquer reunião, quer de
corretores de fundos, quer de pessoas estranhas á profissão,
para effectuar operações de bolsa.
Art. 80. O. corretores de fundos publicos reunir-se-hão
na Bol:,;a á hora marcada no regimento interno e inlluediata-
mente começarão a propôr em alta voz as transacções que de-
sejarem effectuar, determinado as condições em que devam ser
baseadas.
Art. ~n. Logo que qualquer corretor acceitar a proposta
e as condições da negociação reputar-se-ha fechada a tl'ansacção.
Os corretores a inscreverão em seus cadernos manllaes
e, acto continuo, trocarão entre si um mernorandum assignado
em que estejam comdgnadas todas as condições da operação
que acabarem de effectuar.
Art. 82 . .A. operação ultimada será immediatamente ins·
cripta em uma taboa collocada proxima á Bolsa e em logar vi·
sivel, para todos.
Art. 83. O corretor, comquanto não obrigado a decla-
rar a qua.ntidade total dos titulos e valores que tenh& de ne-
gociar, deverá determinar o nnmero, que se proponha a com-
prar e vender, no acto do prégão.
Art. 84 Encerrados os trabalhos da Bolsa reunir-se·ha a
Camara Syndical e procederá á fixaç5.o do curso do cambio e da
cotação dos fundos e valores negociados, taxando os limites
maximo e minimo.
Art. 85. Para a determinação do curso do cambio e dos
valores, a que se refere o artigo antecedente, apresentarão os
corretores á Camara Syndical boletins por elles assignados con-
t~ndo as notas correspondentes ás transacções effectuadas nesse
dIa. com menção dos limites m!l.ximo eminimo das cotações.
-454-

Art. 86. Com os elementos fornecidos pelo. boletins dos


corretores, q ne serA.o registrados em livro proprio, verificará a
Camara o resultado das operações do di,t e fixará, de modo de·
finitivo, o CLU'SO do cambio e da cotação dos titulo! e valores
negociados.
Art. 87. Em livro proprio se lavrará emfórma de termo
a deliberação da Camara Syndical e se expedirá, de conformi·
dade com ella, o boletim da cotação ~fticial Q do cur::;o do
cambio.
Deste boletim serão enviadas cópias authenticadas pelo ~yn·
dico ao ministro da fazenda, ao presidente da A~sociação Com·
mercial e ao Diario O:fficial.
Art. 88. Os titulos de emprestimos federaes, estadoaes,
municiplI.es e estrangeiros só poderão ser cotados na Bol~a me·
diante autorisação do ministro da fazenda, concedida sob iufor-
ma~ão da Camara Syndical.
Art. 89. Os titulos de emprezas nacionaes e estran geiras
sel-o-hão sómente com consentimento da Camara. Syndical.
Estn. responderá civilmente pelos prejuizos resultantes da
admissão á cotação de titulos, ([ebentures irregula.rmente
emittidli<; e ar.ções àe associações illegalmente constituidas,
ou que não tenham realizado o capital exigido na lei reguladora
do anonymato, para que as suas acções sejam negoci(~veis e
de sociedade sem existencirt real e actividr.de eífectiva, e
organisadas no intuito exclusivo de tentar a negoc iação de
titulos fi a exploração de operaç'io sobre os me~mos.
Art. 90. A venda de titulos ao portador reputa-se perfeita
com a tmdição do~ mesmos pelo corretor vendedor ao corretor
comprador, ou pelo seu lançamento nos livros daqueIle em
nome deste.
Art. 91. As operações á vista realizadl\!J na Bnlsa deverão
ser liq uid~tdas dentro de dois dias nteis; não o sendo neste
prazo, a Camara Syndical fal-os·ha executar lJla primeira reunião
da Bolsa, segundo o processo estabelecido no regimento
interno.
As de letras de cambio e especies m~tallicl\8 sel-o-I1ão rio
praso de cinco dias uteis, devendo tornar-se effectiva ares'
ponsabilidade do corretor dois dias utei~ depois do vencimento
da operaçã.o, no caso de faltar o commíttente ao cumprimento
do contracto.
Art. 92. O corr etor a quem o committente fornecer ga-
rantias para a effe~tivi dade da 'operação dará ao committente
recibo dos titulos, valo res, dinheiro ou' ordens que do mesmo
receber. Ao committent e é facultado fazer em estabelecimento
-455 -

bancario o deposito em garantia da liquidação da operação


confiada ao corretor.
Art. 93. Deixando o committente de prop;"Jl'cionar ao cor·
retor os meios de fazer effectiva a operaçã.o, passará o corretor
a vender os titulos que houver adquirido e pagará com o
producto o preço dl'_ compra, ou adquirirá os titulos cuja compra
houvp.r convencionado.
Em qualqner destas hypotheses responderá o committente
pela differença. que, com a demora da operação, haja oecor-
rido na cotação dos titulos.
A acção executivíf> é o meio judicial de apuração dos di·
reitos e da re8ponsabilidade provenientes destas disposições.
Art. 94. As liquidações das operações da Bolsa. feitas a
prazo poderão ier rea.lizadas pela effectiva entrega dos titulos
e pagamento dos preços, ou pela prestação da differença entre
a cotação da data. do contracto e a da época da liquidação.
São exceptuadas desta disposição as operações sobre letras
de cambio e moeda metallicll., q.e sómente serão liquiqaveis
pela entrega effectiva dos titulos e das especies.
Art, 95. Não são aceionaveis perante os tribunaes os con-
tracto8 de cambio a prazo liquidaveis por differença.
Art. 96. Não é licito pactuar nas negociações a prazo
que a liquidação só tenha logar pel/\ prestação das differenças
entre as cotações.
Art, 97. Sómente na. hypothese do § 2° do art. 2° do de-
creto legislativo n. 354 de 16 de Dezembro de 1895 são per-
missiveis negociações por meio de 11lBmoranda ou de quaes·
quer escriptos c~ntendo promessa de letras a entregar dentro
do prazo determinado. 1'aes negociações serão nuHas de pleno
direito qnandl) dellas não con:3tar o pagamento do sello propor-
cional e incorrerão na malta de dtlz contos de réis os que
nellas tomarem parte.
Art. 98, O tempo para. 8. liquidação das negociaçges a
prazo effeetlladas na Bolsa não póde exceder de trinta dias;
a liquidação terá logar de aceordo com o regimento interno da
Bolsa.
§ 1.0 As negociações a prazo a. cambiaes e de especies
metallicas não excederão do mesmo tempo, sendo permittido
prorogal-o duas vezes por trinta dias, mediante o pagamento
em cada pro rogação do se110 taxaào para a primeira operação.
A falta de liquidação da operação no prazo primitivo ou
no ,da pro rogação autorisa o protesto, como medida as~ecura­
tona, da prestação de perdas e damnos pelo não clllupl'lmento
do con tracto.
-4&6-

§ 2. 0 Na hypothese de prol'ogação deverão seI' os contractos


presf-'Iltes á Camal'a SyudicallJara regiiltrar. .
A rt. 99. O corretor tem o direito de exigir do commit·
tente lias neg'ociaçães a pmzo, um refurço de garantia segundo
a alteração do valor dos titulos negociados, de modo a po!-o
ao abrigo da impontualidaie ou da insulvabilidade do mesmo
committente.
Àrt. 100. A garantia poderá consistir em dinheiro ou em
valores, deverá constar de documento escripto pelo punho do
committente e que cont.enha declaração de que o dinheiro ou
os valores são consignados a pôr o corretor a coberto dos
riscos da operação e das diff\ji'tmças na cotação dt)s titulüs e
autorisação ao corretor para vellllel-os para a Iiqui<lc1çào de
operação, no caso de omissão por part.e do committente.

CAPITULO II
OPERAÇÕES E LIQUIDAÇÕES POR COMPENSAÇÃO, A PREMIO E FIRMES.
REPORTS. NEGOCIAÇÕES À PRAZO MEJUANTE DESCONTO. VENDaS
POR MANDADO JUDICIAL.

Art. 101. As diversas operações etfectuadas pelo corretor,


por ordem de um mesmo committente, são liquidaveis por com·
pensação em dinheiro ou em titulos da mesma especie, con·
forme houver sido' accordado.
Art. 102. AI operações realizadas por mais de um corretor
e por ordem e conta de um ou mais committentes, podem ser,
do mesmo modo do artigo. antecedente, liquidadas por compen·
sação, si 08 interessados n'isso convierem. .
Àrt. lOS. As operações a prazo, com excepçã.o das de
letras de cambio, podem ser feitas com a (acuidade de desis·
tencia por parte do committente, mediante o abono de uma
quantia convencionada para o premio de indemnisação pela
rescisão do contracto, de aecordo com o regimento interno.
Art. 104. O premio é estipulado sobre o valor de cada
titulo e não impede.que o corretor exija a prestação da garantia.
da opera.ção, na hypothese da consolidação.
Art. 105. O regimento intirno da Bolsa fixará o prazo
além do qual as operações apremio .e considerarão confirmadas.
Art. 106. E' licito ao comprador á vista, de titulos ne·
gociaveis, fazer no mesmo acto ao nndedor revenda de titulos
da mesma eHpecie, a prazo e por preço determina.do.
Art. 107. A entrega real dOI titules é condição substancial
á validade desta operação.
Art. 108. A propriedade dos titulos tra.nsfere·se na. ope·
- 457-

ração de que tratam os artigos antecedentes, ao com,prador;


é licito, porém, estipular que os juros e dividendo:'! que aos
titulos couberem durante o prazo do report pertençam ao ven-
dedor primitivo.
Art. 109. O ,·eport é renovavel a aprazimento das partes.
Art. no. Nas operaçõe~ a prazo, o cl)mprador tem o
direito de exigir, mediante desconto, a f'nlrega dos valores
negociados, por antecipação, isto é, antes d>t época fixada para
a liquidação da transação:
°
Art. 111. E' vedado desconto nas operações de "report
e nas de letras de cambio ou moeda metalica.
Art. 112. As vendas de valores negociaves na Bolsa, que
houverem de ser feitas por ordem de juiz competente, em
execuç'lo de sentença proferida em juizo contradictorio, ou de
acto de jurisdicção voluntaria serão executadas pela Camara
Syn(lical em leilão depois de publicadas, por meio de aviso, ou
editt1.1 affixados no recinto da B01sa, e durante oito dias pela
imprensa diarifl:.
Art. 113. No aviso far-se-ha menção dos titulos a nego-
ciar e de sua. quantidade, da decisão do juiz qlle houver
ordenado a negociação e do nome do corretor deUa incumbido.
Art. 114. Os valores que não tiverem sido admittidos á
cotação serão vendidos em leilão na Bolsa, sob a responsabili-
dade do corretor e mediante as formalidades estabelecidas no
regimento interno.
Art. 115. A Camara Syndical pôde resolver que se faça
em leilão a venda de titulos admittidos á cotação, sempre que
esta não se der, por falta de negociações de taes valores, ou
pela occurrencia de qualquer circumstancia que torne prejudicaI
aquelle miio de transferencia.
Art. 116. A venda dos titulos que se acharem no caso d~
art. 33 do decreto n. 4:34 de 4 de Julho de 1891 será levada
a efeito pelo modo estabelecido nos artigos antecedentes.
Art'. 117. A Camara Syndical organisará um regimento
interno da Bolsa e da corporação dos corretores, que, depois
de approvado pelo ministro da fazenda, far á parte integrante
deste decreto.
Nesse regimento serllo regulados os factos referentes á
organisação e ao funccionamento da Bolsa, da corporação dos
Corretores e da Camara Syndical.
- 4'8-
CAPITULO III
NEGOCIAÇÕEiil 'DE LETRAS DE CAMBIO E DE ESPECIES METALLICAS,
COTAÇÃO DOS RESPECTIVOS CURSO:!.

Art. 118. As operltções de cambio só poder~o realizar-se por


meio dlil letrct:-; ün de docllmentos, com sello prop orcioüal,' con-
tendo promeStil\ de letra.s a. entregar dtmtro ti o prazo deter-
minado.
Art. 119. São declarados nullos para todos os effeitos os
contractos de cambi&es ou moedlj. m~tallica a prazo que não
tenham o se110 legal.
Art. 120. As negociações sobre letras de cambio não
produzirão effeito para o fim de serem apuradas em juizo, e
lerem objecto de cotação, si não puderem ser provadas por
certidão extrahida dos livros dOli corret.ores e que fa.Ca menção
das declarações a que se refere o art. 54 dMte dicreto.
Art. 121. As negociações de espedes metallicas provar·
se·hão por meio de certidões extrahidas dos livros dos corretores,
que dêem indicação da quantidade, natureza e preço das espe-
cies.
Art. 122. Os estabelecimento!! bancarios, filiaes ou 'agen-
cias, nacionaes ou estrangeiras que negociarem em cambio e
moeda metallica são obrigados a remetter diariamente ao svndico,
em notas authenticadas pelos gerentes ou directores' respectivos,
a declamção das taxas a que tiverem operado e quinzenalmente
a totalidade das operaç{ies.
Art. 123. As operações realizadas pelos bancos e pelos
corretores servirão de elemento para a fixação do curso of:ficial
do cambio pela Camara Syndical.
Art. 124. A cotação á vista será a fixada para. as operações
a 90 dias, com deducção de 1/4 de penny, calculada sobre a
taxa ao par.
Art. 125. A Camara Syndical, além dos boletins diarios
do curso official do cambio, dos fundos publicos e das espedes
metallicas, remetterá mensa.lmente ao ministro da fazenda um
quadro do movimento da Bolsa, com fixação da média dos
cursos cotados.
Art. 126. A Camara Syndical P. responsavel pela exacti(~ãO
dos preços cotados no mercado de cambio, no das espeCles
metallicM e no de fundos publicos.
A falta de exacção na cotação acarreta para os membros
da referida Camara a incurs~o no crime de falsidade.
Art. 127. Depois da affixação do boletim da cotação,
-459 -

nenhuma alteração pôde !er n-:Iles feita-ainda que no intuito


de rectifiear a cotação.
E.' licito, porém, rectificar o boletim para o effeito unico
de completal·o, incluindo fundoii cuja cotação não tiver sido
mencionada, por omissão involuutaria..
Art. 128. .A cotação official do cambio determinará o
curso authentico do mesmo, e será fixada de aecordo com as
instrucções do regimento interno da Bolsl\; della será expedido
boletim pela Camara SYlldical, o qual será registrado no livro
competente assignallo pelo syndieo e pelo ilecretario da mesma-
Camara e publicado no Diario Ojficial.
Art. 129.. A' Camara Syndical da Capital Federal serão
enviadas pelos presidentes das juntas dos corretores de todas
ai; praças commerciaes da Republica communicações telegra-,
phicas das ta~s cambiaes do dia. A Camara Syndical ' organi-
sará com estes dados um boletim central da cotação cambial
da Republica no referido dia e com os limites maximo e mi-
nimo de cada praça_

CAPITULO IV
RESPONSABIF..IDADE CIVIL DOS CORRETOIES. SANCÇÃO PENAL.

Art. 130. A responsabilidade civil dos corretores <le


fLlUdos publicos resolve·se na prestação de perdas e damnos
resultantes:
a) da falta de execução da ordem aeceita do committente;
b; da entrega, em liquidação de operação, de titulo irre-
gular, amortizado, embargado, perdido, furtado, ou inclui do no
boletim official dos titulos cuja transferencia estiver suspensa;
c) de haver o corretor, para angariar bens para seu com-
mittente, ou proventos para si proprio, negociado de má fé
'letras, titulos e valores na época da operação, pertencentes a
pessoas cujo estado de fallencia for notorio ;
d) da irregularidade da escripturação do seus livros ás
partes interessadas nai operaçõeli.
Art. 131. Responderá o corretor pelos lucros cessantes
e damnos emergentes que decorrerem de I'leu actt quando pro-
var-se que a omissão em dar cumprimento á ordem recebida
proveio de má fé, ou que deIla auferiu o corretor qualquer
interesse. . .
Art. 132. Em qualquer destes casos a ordem acceita e
não cumprida será executada pela Camara Syndical,- â vista
na reclamação da parte interessada, com os fundos consti-
tutivos da fiança do corretor, operando·se o levantamento da
-460 -

quantia precisa para a final liquidação da operação, por meio


de req uisitoria dirigi!la ao ministro da fazenda.
Art. 133. A prestação de perdas e damnos tornar-se·ha
effectiva em virtude de sentença condemnatoria obtida pelos
meios ordinarios.
Art. 134. Os corretores de fundos publicos-além das
penas em que possam incorrer de accordo com as disposiçõss
do Codigo Penal, repressivas dOI!! crimes de funcção-são pas·
sivei'i1 das penas regimentaes de suspensão até tres mezes e de
multa até o valor da metade da fiança.
Art. 135. A pena de suspensão póde ser imposta:
a) pela Camara Syndical, com recurso voluntario para ()
mini~tro da fazenda, por tempo não exce!iente de um mez ;
b) pelo minist.ro da fazenda sem recurso, até trt'S mezes.
Art. 136. A Camara Syndical impõe a suspepsão ex·officio
ou medi3.nte queixa.
Esta !ó póde ser recebida. quando devidamente instruida
com documentos que demonstrem falta ou e,rro de officio com·
mettido lwlo corretor.
A justificação produzida perante autoridade judiciaria do
domicilio do corretor e com citação deste, póde ser acceita
como documento instructivo da queixa.
Art. 137. A suspensão pôde ser imposta ex·officio :
a) Si o corretor não tiTer em estado de integridade a
fian<;a depositada no thesouro f"deral ;
b) Si estiver em móra na liquidaç5.o de negociações que
tenha realisado ;
c) Si achar-se em atrazo no pagamento do imposto de
industrias e profis!!ões.
Paragrapho unico. Reputa-se em móra o corretor que não
liquidar qualquer negociação dentro de dous dias uteis do ven·
cimento desta.
Art. 138. As multas e!ltabelecidas neste regulamento
serão impostas administrativamente pela Camara Syndical, com
recurso voluntario para o ministro da fazenda, ou por este
quando julgar cabivel tal ,. ~.. .
Art. 139. O' recurso terá eft'eito suspensivo, deverá ser
interposto dentro de cinco dias, a contar da notificaç~o pelo
syndh~o, 8 será decidido dentro do prazo maximo de 15 dias;
a falta de decisão dentro deste prazo importa a confirmação do
acto da Cllmara Syndica.l.
Art. 140. O producto das multas !lerá recolhido ao cofre
da Camara Syndical, instituido no art. 16 d0 decreto legislativo
n. 354 de 16 de Dezembro de 1895, e constituirá um fundo
- 461-

de belleficencia dos corretores de funrlos publicos da Capital


Federal.
Art. 141. Incorrerão na pena de sl,Rpensáo pelo tempo
de tres mezes e na multa de um a dous contos de réis:
a) O corretor que assignar notas rle transacções qne não
haja efft'ctuado;
b) O que negociar titulos ou valores não admittidos á
cotação official.
Art. 142. Incorrerá na multa da quarta parte da !lança e
em suspell~ão por tempo de dois mezes o corretor cujos livros-
forem achail.os sem as formalidades e declarações exigUas
neste decreto.
Art. 143. Incorrerá na pena de suspensão por tempo de
tres mezes o corretor que já puni\10 por não t.t'l' os livros escri-
_ ptnrados com as formalidades e declarações exigidas nest.e re-
gnJalllellto-reincidir no acto, provando-se que fel-o fraudulen-
tamente.
Presume-se a franue 8enlpre que nas operações de cambio,
de espeeies meta11icas e de fundos não forem llIencionallos nos
livff:s os lIomes de committenteil de idoneidade reconhecida ou
quallllo ta.es operações não esti verem escri I,tUladas no proto-
colio.
úrt. 144. Incorrerá na multa de UIlI a CillCC contos de réis
o corretor que deixar de exhihir, pam a c.otação, até á hora
man'ada no expediente da Bolsa, as notas das operilções que
hOU\'f~1' realizado sobre cambiaes, del'collt.os, metaes preciosos
ou quesquer emprestimos commereiaes.
Art. 145. Incorrerã em suspensão pelo tempo de 30 dias
e na multl\ de um conto de réis o COlTetor que negocÍilr letras,
titulas e quaesquer valores pertencentt'l' 1'\ l,essoas cujo estado
de fallencia, ulteriormente declarado, f0r nntorio na. época da
operação.
Art. 146. Incorrerá na multa de uru conto de réis o cor-
retor que eximir-8e de ser membro da Camara Syndical fóra dos
casos estabelecidos no art. 70 deste reguhtIDento.
Art. 147. Inconel'I'ão na multa de 500$ a 1:000$ e na
de suspensão por 90 dias, na reincidencia, os corretores de
f~lndos que se reunirem, para effectuar operações de Bolsa, fóra
do logar e das horas da Bolsa.
Art. 148. Incorrerão na multa de cinco a 10 contos de
réis os estabelecimentos bancarios, filiaes ou agencias, nado-
naes ou estrangeiros, que negociarem em cambio e moeda me-
taUica e não remetterem diariamente ao sylldico as notas a que
se refere o art. 122 deste decreto, e os que rametterem notas
inexactas (art. 158).
-462 -

Art. 149 Incorrerão na multa d. dez contos de réis as


agencias de bancos nacionaes e estrangeiros e de companhias
estrangeiras que operarem sobre cambiaei s.m pagamento do
seIlo devido.
, Esta multa comprehende todos os que interferirem com
taes operações.
Art. 150. E' punivel eom a. multa de dez .. vinte contos de
réis a liquidação por ditrerença das operações de cambiaes e
moeda metallica.
Art. 151. Incorrerão na perda de metade da. fiança os cor·
retores:
a) que reincidirem depoi!! de multado51 em assignar notas
de transacçõel que não hajam effectuado ;
b) que reincidirem na disposição do art. 145 deste regu-
lamento;
c) que violarem as dispo~ições do art. 54 deste reiulamento;
d) membros da Ol\mara Syndical que fizerem sem a devida
en.cção a cotação dos preços dos mercados de cambio, das es-
pecies m.tallicas e dos fundo!!! imblicos.
Art. 152. Incorrerá na perda da 4" parte da fit.nça o cor-
retor que ineillltir na recusa do cargo de membro da Camara Syn-
dical, depois de intimado para aceeital·o por portaria do mi-
nistro da fazenda.
Art. 153. IncolTerão na multa de vinte a quarenta con-
tos <le réis os que reincidirem em liquidar por diferença ope-
rliçõe!'! ele cambio e de moedn. metallica, depois de multadoil em
dez a vinte cont08.
Art. 154. Além dos casos acima especificados, podf'rão as
penas de multa e sUilpensão lIer imposta!! disciplil\1l.rmente por
deliberaçlio dI\. maioria da Camara. Syndical, com audilllcia pré·
via. do corretor e recurso su!'pensivo para o ministro da fazenda.
Art. 155. As pe~soas que, sem a necessaria inl'estidura,
exercitarem as funcções do cargo de corretor incorrerão no pre-
ceito do art. ~24 do Codigo Penal.
O syndico remett~rá ao procurador seccionl:l.l da Repu-
blica os documentoi que possam instruir o procesM para appli-
cação da pena devida, no juizo competente.

DISP0SIÇÕES TRANSITORIAS

Art. 156. As agencias de baneos Dacionaes e estrangeiros,


as de compllnhias estrangeh as e quasquer outras institutuições
que negociarem em cambiaes com o publico !!!8.0 obrigadas a
fazer um deposito no thesouro de 100:000$, no minimo, em
- 463-

moeda ou fundos publicos brazileiros ou estrangeiros que te-


nham cot~ção na Bolsa da Capital Federal .
.Art. 157. A disposição do artigo antecendente não com-
prehende:
a) Oi'l bancos de depositos constituidos nesta praça sob o
regimen das sociedades anonymll.s j .
b) a~ filiaes de bancos estrangeiros devidamente autoria
sadas a funccionar na Republica.
Art. 158. As agencias de bancos nacionaes e estrangeiros
e de companhias estrangeiras e qUllesquer outras instituições
que negociarem em cambiaes ~~o obrigatlas a remetter diaria-
riamente ao syndir.o, em notas authenticas, a declaração das
taxas a que tiverem operado e quinzenalmente a da totalidade
das operaçõe!!!.
Art. 159. O syndico tran!!!mittirá em mappa mensal ao
ministro dll. fazenda o rel!umo do!!! dados fornecidos pelas ·agtn-
cias dos ba.ncos nacionaes e estrll.ugeiros e das companhias
estrangeiras sobre as operações de cambiaes effectlladas nesse
espaço de tempo.
Si esse!!! dados revelarem grande desenvolvimento de ope-
rações, o ministro da fazenda poderá elevar o valor do depo·
sito de gara.ntia a que se refere o art. 158.
Art. 160. Os bancos estrangeiros e filiaes que fllncciona-
rem na Capital Federal ficam sujeitos, nos termos das clau·
sulas dos acto~ que os autorisaram a operar no paiz, á fiscali-
sação das operações de cambiaes que 16varem a effeito.
Art. 161. A Camara Syndical organisará um regimento
interno da Bolsa, da corporação dos corretores, que, depois
de approvado pelo ministro da fazenda, fará parte integrante
deste decreto.
Nesse regimento serão reguladas a organisação e o func-
cionamento da Bollla, da corporação dos corretoro3 e da Camara .
Syndical.
Art. 162. Os corretores perceberão, como remuneração
das negociações que realisarem, as com missões estabelecidas
na tabella dos emolumentos que fôr organisada pela Camara
Syndical e approvada pelo ministro da fazenda.
Capital Federal, 13 de Março de 1997. -Bernardino de
Oampos.
- 46,j-

Decreto ll. 2.482 - de 22 de Março de t.897

Altera em alguns pontos 0isposic~es do


decreto n, 590, de 17 de Outubro de 1891.

o Presidente da Repuhlica dos Estados Unidos do Bra'


sil, attenden{lo a que a pratica tem sug-gerido a COllve"
niencia de modificar al~llInas disposições do rlecreto n. 590,
de 17·(le Ont.ubl'o de 1891, decreta:
Art. 1. o As factul'as de mercadorias embarcadas nos
portos do Rio rla Prata com dléstino al,s do Brasil serãu ~u·
jeitas ao visto do consulado brasilt'iro em tl'es vias e dpverão
conter declaraçilo expressa. (la quantidade, qllalidarl A e peso
bruto dos. volnmes, valor das mercadorias e sua qnali(Lule, e
demais re'quisitos exigidos pelo Codigo do Comll.ercio, de·
vendo ficar archivaria fi. terceira via 110 C',onsulado e formar
tantos volumes quantas forem as estações fiscaes do des~iJlo de
taes mercadorias.
Art. 2.· Os IlJcwife.stos de cal ga embarcada IIOS mesmos
portos, desti nados ás alfanrlegas do Rio Grande do Sul,
conforme o disposto no decret.o 11. 590, Ile 17 de Olltlll)l'ü de
1891, deverão mencionar o nome ou firma do consigllatario
ou recebedor, não devendo acceitar·se declarações vag:ts, como
sejam, á ordem ou por conta do Ca7'1'pgador,
Art.. 3.' Revogam-se as disp08ições em contrario.
Capital Federal, 22 de Março de 1897, 9 a da Repu-
blica.
PRUDENTE J. DE MORAES BARROS

Be,'nardino de Campos

Decreto D. 2.4S.-de 31 de lIIarço de t.88"

Manda executar o Tratado de Amizade,


Commercio e Navegação celebrado entre J
Brasil e 0 Japão, em 5 de Novembro de 189a.

o Presidente da Republica dos Estados Unidos do Brasil:


Tendo o Congresso Nacional apprnvado pela lei n. 41~,
de 27 de Novembro do anno proximo findo, o Tratado de Arol'
-465-
zadE', Commercio e Navegação,' concluido em Pariz em 5 de
Novembro de 1895, entre a Republica dos Estailo. Unidos
do Brasil e o Imperio do Japão, e tendo ~ido trocadall. as; res-
pectivas ratificações na mesma cidade em 12 de Fevereiro
ultimo, decreta que lieja observado e cumprido tão inteiramente
como nelle se contém.
Capital Federal, 31 de Março de 1897, 9& da. Repu-
blicll.
PRUDENTE J. DÊ MORAES BARROS
Dio'l'lysio E. d~ Oa.t1'o Oerqueira

S. Ex. o Sr. Pri~idente dos Son Excellence lê Président


E5tados Unido. do Brasil des Étll.ts Uni8 du Brésil
E SI1>1. Mag~stade o Impera- Et, Sá Majesté l' Empereur
dor do Japão, du Japon, .
igualmente an.imados do de-
sejo (la estabelecer ~obre bases étant également animés du
slJlida!ll e lnradonras relações désil' d' établir, sur une base
de amizade e de commercio solide et durable, des· relations
entre os dous Estados e seus d'amitié eí. de commerce: en-
cidadãos e subditos r8spectivos, tre lenrs États et ci~oyens et
resolveram celeurar um Tra- sujets respect.ifs, ont résolu de
tado de Amizade, de Commer- condure nn Traité d' Amitié,
cio e de Navegação, e para de Commel'ce et de Navega-
esse fim nomearam sens PIe- tion et ont, à cet effet, nommé
nipotenciorios respectivos, a pour leul's Plénipotentiaires
saber: respectifs, á sa voir:
Sua Exc~llencia o Sr. Pre-
sitIente dos Estados Unido. do Son Excellence le Pl'é.~ident
Brasil, o Sr. Dl'. Gabriel de des États Unis du Brésil, le
Toledo Piza e Almeida, seu Docteur Gabriel de Toledo
Enviado Extraordinario e Mi- Piza e Almeida, Envoyé Ex-
nistro Plenipotenciario em Pa- traordinaire et Ministre Plé-
riz, nipotentiaire à Paris,
e Sua Magestade o Impera-
dor do Japão, o Sr. Soné Ara- et Sa Majesté l' Empereur
.suké J ushii, seu Enviado Ex- du Japon, M.nsieur SonéAra-
traordinario e Ministro Pleni- suké J ushii, EnvoyéExt,l'aor-
potenciario tambem em Paris, dinaire et Ministre Plé-nipoten-
os quaes depois de communica- tiail'e. à Paris, lesquels, apres
rem os seus Plenos Podere~, li' être comm uniq ué lenra. Pleins
qUi foram aehados em boa e Pouvoirs, trouvés en bonne et
devida fôrma, convieram nos dne forme, sont convenus des
artigos seguintes: articles suivants:
11]8. TOL. 78 90
- 466-

ARTIGO I J.RTICLE I

Haverá paz perpetua e ami- Il y aura ptl.ix perpétnelle


zade COllP.!tantB entre os Es- et amitié con!1;tantij entre les
tados Unidos do Brazil e o Im- Ét.t\.ts Unis du Bl'ésillilt l'Em·
rerio do Japão, assim como pire du Jllpon et le8 citoyens
entre seus cidadãos e 8ubditolil et snjets respectif•.
respec ti vos.

ARTIGO II ARTICLE II

SUR. Excellencia o SI'. Pre- Son E:ree!lence le Prési·


sidente do!'; Estados Unidos to dent dei États Unis duBl'ésil
Brazil poderá, I!;e assim lhe pourra, si bon lui semble,
aprouv~r! flereditar um Agen- acrediter UH Agent Diploma·
te DiploIl\:\.t.ico junt.o ao Go- tique aupl'es du Gouverne·
verno do J apáo, e Sua Magei- ment dn Japon, et Sa Maje~té
tade o Imperador do Japão l'Emperenr du Japon pourra
poderá igualmente, si o julgar également, 8'H croit à propos,
conveniente, fazer residir um faire résider nn Agent Diplo·
Agente Diplomatico no Bre.zilj matique au Brésilj et chacune
e cada uma das duas Altas de deux Hautes Parties Oon·
Partes Contractantes terá o di· tractantes aura le droit de
reito' rle nomear Consules Ge- nommer des Consnls Généranx,
raes, Consules, Vice-consules Consulll, Vice-consuls et Agents
e Agentes consulues, que po- Consulaires pour les faire ré·
derio tinr luas residp.ncias sider dans tous Ies ports et
em todos 0/1 portos e cidades pIaces des territoires de l'an·
dos Territoriol da outra Parti tre Partie Contractante, ou
Contractante, onde a funccio- les mêmes officiers consulaires
narios identico~ da Nação maia de la Nation la plus favorisée
favorecida fôr permittido re- sont permis de résider. Ton·
sidir. Tod&via, p!1ra que possa tefoill, avant.qu'un Consul Gé·
exercer as suu fnncçóes, ne- néral, Consnl, Vice·Consul ou
cessitarA o Consul Geral, Con- Agent Consulaire, entre en
sul, Vice-CollllUl ou Agent. fonctions, il sera, dans les
Consular, segundo as fórmas formes usuelles, approuve par
usua.es, que Ileja a ~ua nomea- le GOllvernement du Pay/\ ou
ção appr')V'ltda pel0 Governo il est envoyé, moyennant uu
do paiz para onde fôr enviado Exequat1tr gratuito
mediante um lRxequatur gra- Les Agents Diplomatiques
tuito. et ConsulairdS de chacune des
Os AgentE'~ Diplomaticos e deux Hautes Parties Contra·
Consulares de cada uma das ctantes jouiront, conform~·
duas Altas Partes Oontractan- ment aux lStipuIations du pre·
-467 -
tes gozarão, conforme as es- sent Traité, dan3 les Territoi-
tipulaçõell do presente Tratado, res de l'antre Partie, des
nos Territorios da outra Parte, droits, privileges et immuni-
dos direito!!, pl'i vilegios e im- tés qui sont ou seront accor-
munidades que 810 ou forem dés aux rnêmes Agents de la
concedidos aos mesmos Agen- Nation la 1)} us favorisée.
tes da Naçã.o mais favorecida.
ARTIGO III ARTICLE III

Existirá entre os Territorios I1 Yaura entre les Territoires


e Possessões das dua~ Àltas et Possessions àes dellx Hau-
ParteR Contract.antes liberda- tes Parties COlltractalltes une
de rer.iproca de commercio e liberté récipl'oque de com-
de )j?,vegaçáo. 08 cidadãos e merce et de navigation. Les
snbtlito:-; respectivos terão o citoyells et sujets respectifs
direito de transitar livremen- (le chacune des deux Hautes
te e com inteira segurança Parties Contractantes auront
com seus navios e mercado- le droit de se l'endre librement
rit\s em todos os portos, rios et 611 pleini sécurité, avec
e logares onde igual favor fôr leurs na vires et Iems cargai-
permittido aos cidadãos ou sons, dans tom; les lieux, ports
subdit.oill da Nação mais favo- et riviêres des Territoil'es et
recida, e ahi poderão alugar Posiõessions t de l'autre ou Ies
ou oceupar cas:1.S e armazens citoyens ou sujets de laNation
e entregar-3e ao commercio la pIus favol'isée sont permis
por atacado ou a varejo de de se l'endrp.: ils pourront
todos os productos de mer- resteI' ou re:5ider dans tous
cadorias de commercio licito. Ies lienx ou ports OÚ les ci-
Qu:mto ao que diz respeito toyens ou sujets de la Nation
á Requisiçã.o, goso e ceEsão la plns favorisé~ sont lJel'mis
de propriedades de toda a es- de rester ou l'ésiàer ; et ils
pecie, os cidadãos 'ou subditos pourront y louar et occuper
de uma daf!! duas Altas Par- des maÍiions et des magasins
tes Contractantes serão col- et s'y livreI' an eOl1nnerce en
locados n08 Territol'ios e POi- g'ros ou eu détai.I de toutes
sessues da outra Parte no mes- espece~ de pl'oduits, objeta
~o pé de igualdade que os fabI'iqués et mat'chandises dn
cld~dáos e subditos da Nação commerce licite,
maIs favorecida. En tout ('.e qui COllcerne
l'acquisiton, jouissance et ces-
sion des propriétés eles tontes .
sortes, les citoyens ou sujets
d'une des dtouX HantesParties
Contl'actantes seront placês
468

dans les Territoires et Posses-


sions de l' autre, SUl' le même
pied d'égalitê que les citoy-
ens ou sujets de la Nation la
plus faTOrisée.

ARTIGO IV AR'l'ICLE IV

Ai duas Altas Partes Con- Les deux Hautes Parties


tractantes conveem que todo Con tractantes conviennent que
privilegio, favor ou immuni- tout privilêge, faveur ou imo
.dade em materia de commer~ muilité en ma tiêre de com·
cio, de navegação, de tran- m~rce, de navigation, de voy·
sito e de residencia que uma age et de résidence que l'une
das Altas Partef; Cl)ntractant.es des denx Hant!'!' Partiei eon·
conceder actualmente ou vier tractantes accorde actueUe·
a conceder aos cidadãos ou mente ou pourra accorder à
subditos de um outro Estado, l'aveniraux,citoyens ou sujets
se estenderão aos cidadãos ou d' un autre Et.llt, :;:eront éten·
subditos da outra Parte Con- dus aux citoyens ou sujets de
tractante, gratuitamente, si l'autre Pal'tie Contractaute,
a conces~ão feita em favor gratuitement; ~i la concession
deste alludido Estado for gra- acc(lldée en faveur de cet au·
tuita, e com as mesmas con- tre État aura été gratuite, et
dições ou 80 b condições eq ui- a vec les mêmes conditions ou
valentes, si a concessão for ave c des conditions équiva·
condicional; sendo sua inten- lentes , si la concession . aura
t
ção reciproca de collocar, sob été conditionnelle ; leur lU en-
todos os pontos de vista, o tion étant de placer, sous tous
commel'cio e a navegação de les rapports, le commerce et
cada Paiz no pé da Nação la navigation de chaque PdyS
mais favorecida. StH le pied de la Nation la
plus fayorisée.
ARTIGO V ARTICLE V

Não serãó lançados á impor- 11 nesera imposé à l'impo~'


tação no Japão de todos os tation au Japon de tous artl'
artigos produzidos ou fabrica- eles produitB ou fabriqués d~s
dos nos Estados Unidos do États Unis du BI'6Sil, et récl:
.Brazil . e, reciprocamente, não proquement il nf' sept impo~e
serão lançados á importação à l'importation aux Etats UOIS
nos Estados Unidos ao Brazil d u B réilil de to us articles pro·
de todos os artigos produzi- duits ou fabriqués du Japo:~
dos ou fabricados no J apáo, aucuns droits autres on pl
- 46'9-

direitos differen tes ou mais élevés que ceux qui sont ou


elevados do que aquelles que seront imposés aux mêmes ar-
. são ou forem impostos aos ticles produits ou fabriqués de
mesmos artigos produzidos ou tout autre pays étranger im-
fabricados em todo e qualquer portés dans le mêmebut.
paiz estrangeiro .e importa- 11 ne sera non pIus imposé
dos para o mesmo fim. dans les Territoires ou Posses-
Não serão tão pouco im- sions de l'une des dellx Hau..
postos nos Territotios ouPos- tes Parties Contractantes, à
ses~ões de uma das duas Altas l'exportation de tous articles
Parte i Oontractantes á ex- pour les Territoires ou Pos-
portação de t.dos os artigos s6ssions de l' autre, aueuns
para os Territorios ou Posses- droits ou cbarges autres ou
~õe8 de outra direitos e con- plus éleTés que ceux qui sont
trilJuiçõe!! differentes ou mais ou seront payabIes à l'expor-
elevados do que aquelles que tation de! articles similaires à
!ão ou forem pagos por arti- destination de tout autre pays
tOS similal'es, com destino a etranger.
outro qualquer paiz estran- Aucune prúhibition ne sera.
geiro. imposée'àl'importation de tous
Nenhuma prohibição :será. artieles produits ou fabriquás
imposta á importação de arti- sur les Territoires ou Posses--
gos produzidos ou fabricados sions de l' une des deux Hau-
Fobre os Territorios ou Posses- tesParties Cantractantes, dans
,!ões de uma das duas Altas Par les Territoires ou Possessions
tes Contractautes nos Territo- de l'autre, àmoine que cette
riol! ou Pos5e8sõe5 da outra, .a. prohibition ne soit également
menos que esta prohibição não appliquée à l'importation ,des
seja igualmente applicada á im- ,articles eimilaires produits ou
portação dos 'artigos similares fábriq ués dans tout autre pays.
produzidos ou fabricados em De même, a.ucuoe prohibi..
,Qutro qualquer paiz. . tion nesera imposée à l'tm-
Outrosim, nenhu.maprohi- portation de tous articlesdes
bição será imposta. á exporta.- Territoires ou Pl)ssessions de
'ção de artigos dos Territoroos l' une des deux Hautes Partias
ou Possessões de uma da.s duas CC\Dtractantes à de:,tination
!ltas Partes Contl'actantes des Terdtoires ou Possessions
com destino aos Ti'l'ritorios ou de l'autre, sans que ceUe ,pro-
Possessõe!! da outra, sem que hibition soit égl1.lement éten..
~9sa prohibição !le estenda due à l'exportation des arti..
I~ualmente á exportação de ar- eles similair~s à destination d0
tIgos similar~s com destino a tont autl'e pays.
,outro qualquer paiz.
-470-
ARTICLE IV
}.. RTIGO 1'1

Quanto ao que diz respeito Eu tOl1t ce qui concerne le


ao direito de transito, armaze- droit de transit, magasinage,
nagem, premios, facilidad~s e primes, facilités et dràwba.
drawbacks, os cidadãos ou sub- cks, le8 citoyens OH Slljets de
ditos de cada uma das tiuas . chacune des deux Relutes Par·
Altas Partes Contl'actantes 3e- ties Contractantes serout,tlaas
rão, nos Tel'ritorios e Posses- les 'rerritoires OuPo$~\essions
sões da outra, sob todos os de l' al1tre, placés, sous tous
pontos de vista, collocados no les rapports, ~ur 1e pied de la
pé da Nação mais favorecida. N<ttion la plllS favol'isée.
ARTIGO VII ARTICLE VII

Não serão impostos nos por· Ne F:eront imposéil, dans les


tos de Japão sobre os navios ports,du Japon SUl' le;; llavil'es
dos Estados Unidos do Brazil, des Etata Unis du Brésil, et
e nos portos dos Estados Unidos dans le8 ports des États Unis
do Brazil sobre os navios do du Bl'ésil SUl' les navires du
Japão, direitos ou tributos de J apon, 3,ucuns droits ou charges
tonelagem, pharóes, portos, de tonnage, de pilare, de pOl't,
pilotagem, quarentena, salva- de pilotage, .te quarantaine, de
vamentos ou ontros direitos ou sauvetage ou autres droits, ou
contribuições similares ou ana- charges similaires ou analogues
Iogas, de qualquer denomina- de quelq ue dénomination que ce
ção que sejam, lançados ou soit, levés au nom ou au profit
não em proveito do Governo, du Gouvernement, des foncti-
dos funccionarios plIblicos, dos onnaires publics, des llurticu·
-particulares, das corporações liers, des corporations ou des
"QU de qualq uer estabelecimento, établissements que1conques,
diferentes ou mais elevados autres ou plus élevés que ceux
do que aquelles que são actual- qui sont ac tuellement ou seront,
mente ou forem para o futuro à l'avenir, ll.ppliqués eu parei!
applicados em iguael! circum- cas dan!! les mêmes port~ sur
stancias nos mesmos portos Iss navires de la Natiou la
sobre os navios da Nação mais plus favorisée.
faverecida.

ARTIGO VIII A.RTlCLE VIII

A cabotagem das duas Altas Le cabotage des deuxHautes


Partes Contraetantes fica exce- Parties Contractantes est ex·
ptuada das disposições do pre- cepté des dispositiollS du pré-
- 471-

sente Tl'ataào e será respectiva- ::;ent Traité, 11 sera respective-


mente regu1ariRaàa pelli.sLeis, ment réglé par les Loia, Ordon-
Decreto~ e Regulamentos dos nancei!! et Rég1ements des denx
doulI Petizes. Pays.

ARTIGO IX ARTICLE IX

No presente Tratado todos Dans 1e présent Traité tons


us navios que, pelall Leis brazi- les navirel'! CJ.lli, conforlllément
leiras, puderem ser conside- aux Loia bré8iliem1!~S, pourl'ont
rados como navios br:lzileiros e être consiMrés eomme navires
todos aq [lelles que, segundo as brésilieni et toas las na vires qui,
leis .iaponezas, putlerem ser conformément aux Loisjapona i-
considerados como naviosjapo· ses, pourront être cOllsidérés
nezl!s, serão resp~~ctiva.mente comme navires japonais, seront
considerados como navios bra- respect.i vementconsidérés com-·
zileiro5 e japonez8s. lnr 1l1l i il es bl'ésiliens et japo-
n~us.

ARTIGO X ARTICLE X

Os slIbdit.os e os navios do Les sujets flt 1('8 Nlvires du


IUlpel'io (lo Japão que forem ao J apon qui se ren(lent an Bré;;il
Brazil ou á!l 8ua1'l aguas tetTi· ou dans ses ea,ux territ·)l'ia1es
tori:les i'e submetterfLO, {lnrante s~roTlt,anssi IOllgtemps qu'ilsy
todo o r,I"mpo de sua estada, resteront, soumi:-; aux l,)i;,l età la.
ás leise ãjnri~dicção do Br-azil, jl1ridictinn du Brésit, ~t l:,s ci-
bem como se :mjeitarão ás leis toyenA et l~s navil'f'~ dei'-Etats
e á jnrisdicção do Japão todos Unis du Brésil qui se l'endent au·
os cidadãos ou navios brazi- J apon ou dans ses eanx territo-
leiroll que forem ao .Japã.o ou l'iales seront aussi ég'alemen~
ás ~mas agua!'l territoriaes. sonmis aux lois et à la juridi-
ction du Japon. .

ARTIGO XI ARTICLE XI

Os cidadãos e subditos de Les citoyens et slljets de cha-


, cada uma das duas Alta!', Partes enne des denx Hautes Parties
ContractallteK gOBarão respe- Contractimtes jonirnnt respe-
ctivamente nos Terri torios e ctivement, dans les Territoires
Possessões dI\. outra Partli de et Possessions de I' autre Partie,
inteira protecção para as suas de la parfaite protection pour
pessoas e propriedades; terão lenrs personlles et propriétés;
livre e faeil aecesso junto aos ils auront nn acces libre et facile
Tribunaeli para a defesa de auprês des Tribllüaux pour la.
- 472-

seus direitos; e, da mesma poor:suiteet la dMense de lenrs


fórma que os cidadãos ou sub- droits eUlsauront,snrle lllêma
ditos do paiz, terão o direito pi.'ed que les citoyens ou slljets
de empregar advogados, soli- du Pays, la far.ulté d!emvl\lyer
citadores 011 mandatarios para des avoué:'!, des avocats {JU des
ie fazerem representar junto mandataires pourse faire re·
aos ditos Tribunaes. préHmter devant les susdits
'.Gosarão igualmente de uma Tribunaux.
inteira liberdade de conscien- Ils jouiront également d'une
cia, e, conformando-si:) com as liberté en tiêre de conscience et
leis e regulamentos em vigor, auront, en se conformar.t aUI
terão o direito de exercer pu- Loix, Ordonnancps et RegIa·
blica ou privadamente o seu ments en vigueur, le droit da
culto; terão igualmente o se li vrer à l' exercice pri vé ou
direito de enterrar os seus public de leur culte j i1~ j<JUi·
nacionaes respectivos, segundo ront aussi du droit d'inbumer
os seus ritl)s, nos logares con- leur! nationaux respectifs,
venientes e apropriados que, 8uivant leurs coutumes religi·
para esse fim, forem estabele· euses, dans les lieux convena·
cidos e mantidos. bles et apropriés 'qui seront
établis et entretenus à cet effet.

ARTIGO XII . ARTICLE _XII

Qnantoao que diz respeito á. En ce qui concerne l'obliga·


obrigação de hospedar milita- tion de logar les militaires, la
res"ao serviço obrigatorLo uos service obligatoirerlans lps ar·
exercitos,de ·terr.a.e mar,"s mées de terre ou de mer, las
requisições militares ou aos réquisitions /militaireson les
emprestimos forçados, os cida· emprunts forcéi-l, les cit"yens
.dãos ou subdito J de cada uma et flujets <le chacune des deU!
das duas AItasPartes Oontra- HilUtps Parties Contractillltes
ctantes gozarão nos Territorios jouiront, dltns Ies Territ,oires
e Possessões da (}utra dos mes- et Possessions de l'autre, des
mos privi1egjo~, immunidades même!! privilêges, immullités
e ililençõe!!que os cidadãos ou et expmptioni:l que cenxrlont
.8ubditos da Nação mais fav.o, .j()ui~ent les· eitoyens ou 8ujets
recida . de la Nation la plus favol'isée.

. ARTIGO,XIII kRTlCLE XIII

o presente Tratado entrará Le,présent Traité entreDa


'.em vigor immediatamente de- én v i g u e UT immêdiatement
pois da. troca dasratificaGões aprês I' échange des ratifica'
-413 -
a se "tornará obrigatorio por tions et restara obliglitoire
um periodo ,de doze annos, a pendant ,nne période ,de, dorum
parti!' do dia em que fôr posto ans à partir du jour o:iJ.,ilanm
em execução. été mis à exécution. ;
Oada uma das Altas Partes Chacune des denx, Hautes
Contractantes, decorridos onze Parties Contractantes aura,la
annos depois de entrar em vi· droit, à un moment quelcon-
gor o presente Tratado, terá o que aprés que onze années se
direito, emum.momento dado, seront écoulées depnis l'entrée
de o denunciar á outra, expio en vigueurdu présent Traité,
rando ,a11e no ,fim do decimo se· de not.ifier à l'autre Partie son
gundo 'mez a cootar:dessa no· intention d'y metre fin, et, à
tificação. l'-expiration du douziéme mois
qui suina cette notification,
ce ,Traité cessera et ;expirara
:en tiêrement.

ARTIGO XIV ARTICLEXIV

o presente Tratado será La présent Traité ser a ,f&it


feit.o em duplicata nas lingU1ls ·en donble dans les :langu6s
pOl'tugueza,japoneza e franceza; 'portugaise, japonaise et fran-
e, no cal!O de divergencia ,nos çaise; et, dans le cas ou des
texto!! japonez e portuguez, se différences existeraient entre
recorrerá ao texto francez, o l~s ·textes portugais etjaponais,
qual será obrigatorio para os il en sera déciM d'aprês le
doi!! Governos. texte français qui est obliga.-
toire pOUl' les deu Gouver-
:.nem 6ilts.

,.ARTIGO ;XV ARTICLE xv

o presellte Tratado será ra· 'Le préient Tl'itité sera rati-


itiflcauo pelas duas Altas i?artes fié pades deux Hautes .Parties
Contractantes, e a troca, das Contractantes, etles ratifica-
ratificaçóes terá logar em Pariz ,tious serout échangees à Plris
lqgo que for possivel. aussitôt que faire se .pourra.
Em testemunho ,do que os En foi dequoilesPlén'jpo~
Plellipotenciarios respectivos o tentiaires respecti'fil'l'ontsigIié
aSlSignaram e lhe fizeram pôr et y ont apposé .'leurs cachets.
o se1l0 de suas armas. ' 'Fait eu six expéditions à.
Feito ,em 'seis 'exemplares .Paris, leL"Í'Ilquiême jour du
em Pariz, aos cinco ,"dias do onziême mois de l' année mil
mez de Novembro do anno de huit cent quatre-vingt·quinze,
- 474-

mil oitocentos noventa e cinco, correspondant à la vingt hui·


correspondente ao vigessimo tiême annee de Meiji.
oitavo de Meiji. (L. S.) Gabriel de Toleclo
(L. S.) Gabriel de TolecIo Piza e Alm~ida .
.Piza e Almeida. . .
(L. S.) Sone Â1·a3uké. (L. S.) S01lé Á1'asuké.

Decreto n. ~.49:;-de 14 de Abril de 189'7

Crêa com o pessoal que f6r necesBario uma


legação no lmperio d. Japão e um consulado
geral de r classe com séde em Yokoama.

o Presidente da Reflublica dos Estados Unidos do Bra·


zil, aehando~se autorisado I,elo art. 2 0 da lei n. 419, <le 27
de Novembro de 1896
Decreta:
Artigo unico. Ficam creados com o pessoal que fôr neces-
sario uma legação no Imperio do Japão e um consulado geral
de la classe com séde em Yokoama.
Capital Federal, 14 de Abril de 1897, 9° da Republka.
PRUDENTE J. DE J\IORAES BARROS.
Dionysio FJ. de Calltl"o 01i1·quei1'l!.

Decreto n. ~.499-de 19 ele A.brll ele 189'7

Publica a deciilãn tomada pelos Governos


da Austria e da Hungria de accederem á
União fara a protQcção da propriedade in-
dUBtria •.

o Presidente da Republica dos E!!tados Unidos do Brazil


f~ publica a decisão tomada pelos Governos ;da Austria e da
Hungria, de accederem á União para a prot.ecção da Proprie·
dade Industrial, ~egullc1o a commllnicação do Consdho Fede·
ral Suisso, de 11 de Março deste anno,ao MinisttrÍo das Rela·
ções Exteriores, cuja traducção ofticial este acompanha.
Oapital Federal, 19 de Abril de 1897, 90 da Republica.
<I
PRUDENTE J. DE l\fORA.E3 BA.RROS.
Dionys'io E. ãll Ca8tro Cf6Tqueira.
-475 -

r.I.'raàucção-Berna 16 de Março de 1897.- Sr~Ministro.


Temos a honra de levar ao conhecimento de V. Ex. que, por
nota datada de 2 deste rne~, a Legação da Austria-Hungria,
em Berna, uos notificou a decisão tomaua pelo Governo da
Anstria e pelo da Hungria, de accedel'em á União ·para protec-
çfW da Propriedade Indu~trial.
E1\ta accessão comprehende â adhesão á convenção prin.
'cipal de 20 de Março de 1883, ao protocollo II de Madrid, de
14 de Abril de 1891, relativo ao registro internacioD?J das
marcas de fabrica ou ele commercio e ao protocollo UI de Ma·
drid, de 15 de .à..bril de 1891, concernente á dotação da Se-
cret~ri2. Internacional. Os dous GovernoR austriaeo e hungaro
detr.rminar~m ulteriormenti a época em que terá Iogar a en-
tratlll. tt:ft'ectiva das duas llartes da mOllltrchia, depois que. os
seus parlamentos approvarem a decisão dos respectivos Go-
vernos.
Ulteriormente, portanto,commnnicaremos a V. Ex ..a data
que fôr fixada 11&rL\ ti acce8sAo, assim como a classe em que a
Austri .. e a Hungria respe,ctiva.ment.e dev$m ser classificadas
quanto iI repartição das despezas d~ SAcret.llria Internacional.
Aproveitamos esta occasião, Sr. l'tIinif>it.ro, para renovar·
vos U8 segul'an(;as de n()s~a altl\ c()ll~ideração.
Em nome do Conselho Federal Sni8so. -O Presidente da
Confederação, Deuoh~,'. -O chanc.elhr da Confedercrção, R1ti·
gi~r.-A S. Ex. 081' • .Ministro dos NI!gOCÍ08 Estrangeiros des
Estados Unidos do Brazil, no Rio de Janeiro.

Decreto n. 2.õ07-de 4 de 1IIaio de 1897

Publica a entrada da Colonia Ingleza do


Ceylão na Convenção Telegraphica Interna-
cional.

O Presidente da Republica d08 Estados Unidos do Brazil


faz publico a entrMda da Colonia Ingleza do Ceylão na eon·
venção Telegraphiea Internacional de S. Petersburgo, ~egundo
a communicação da Imperial e Real Legação da Austna Hun·
gria, de 24 de Abril proximo passado, ao Ministerio das Re-
lações Exteriores, cuja traducção ofticial este acompanl~a.
Capital Federal, 4 de Haio de 189.7, 9° da Repubhca.

PRUDEN'l'E J. DE .MORAES BARROR.

lJionY8io E. de Oas17'o Oerqueira.


- 47,6-

Traducção-Imperial e Real Legação da Austria Hun-


gria, Petropoli~,~4 de A.bril de 1897.
Em virtude de uma com muni cação feita ao Imperial e
Real Ministerio do Exterior pela Real Legação da Grã-Breta-
nha, em Vienna; a Oulonia Ingleza do Ceylão entrou na Can-
venção Telegraphica. Internacional de S. Petersburgo, e, se-
A
gundo o seu desejo, foi colloca.da na6 classe quanto á contri-
buição para o custeio da Repartição Internacional dos Tele-
graphos.
Segundo o desejo do Real Hinistprio do Cllmmercio Hungaro,
na sua qualidade de encarregado da Administração, tenho .a
honra depedil' a V . Ex. que faça disso scientes as autoridades
competentes, com a observação de que as particularidades
restantes serão fumecidas pela Repartição Internacional dos
Telegraphos ás Administrações do Estado e Territorios da
União _
Queira acceital', Sr. Ministro, a expressão da minha mais
alta consideração. -Meze3l-A. S. Ex. o Sr. General Dio·
nysio E. de Castro Cerqueira, Ministro do Extedor, etc., etc.

Decreto D. ~.õI9- de ~2 do Balo de 189'7

Dá regulamento para a execução do art. 5'


.da lei n. 177 A, de 15 de Se.tembro de.l893.

o Presidente da Republiea dos Estados Unidos do Brazil


resolve, para a execução do art .5° da lei n. 17.7 A, de 15 de
Setembro de 1893, que se observe o regulamento que com este
baixa.
Capital Feffera.I,22 de Maio ie 1897, 9· da Republica.

P.RUOO'NTE u. DE MORAES BARROS.


Bernan!ino a, Oampo8.

'Regulamento para a execução do arte rda lei n. 177A


de ,15 de Setembro de 1893, a que se refere:o
,decreto lil.2.519 desta data.
Art_ 1'0. A sociedade anonyma 'que 'se 'achar .. mestado de
insolvencia au de liquidação lpoderá fazer ,aecordo com os porta-
dores de obrigações pl'eferenciaes (debenture~) âcerca do res-
gate ou pagamento ,das mesmas O'brigações, estipulando quaes-
querc1ammlas,comtanto que não sejam contrarias a direito.
477 -

Art. 2°. E; req uisito e!!senéial, para validade do aec{)rdo,


que seja elle consentido por portadores que repllesentem mais
de tous terços do valor total das obrigações emittid/ls,e por
accionistas que representem igualmente mais de dous terços do
capital social.
Art. 3". O aecordo consentido nos termos deste decreto
é obrigatorio para todos os portadores de obriga.ções.
Art. 4=-. O accordo só será admissivel depois\ que a socie·
dade anonyma se declarar em estado de insolvencia, ou depoi;:;
que entrar em liquidaçã.o amigavel ou forçada (decreto Il,. 4:34, --
de 4 de Julho de 1891, ·cap. VII).
Art. 5°. A proposta para o aceordo poderá Sir feita pela
sociedade anonyma ou pelos pOl'túdores das obrigações.
Art. 6-. A cOllTocação da aSierr bléa geral dos accionistas,
para resolver ácerca da proposta do aecordo que tinr de ser
offereeido aos portadores de obrigações, e 8. da q.•e tiver de
discutir e acceitar ou não' a proposta apresentada pelos por'
tadores de obrigações, vem como as deliberações que a res-
peito se tomarem, serão regidas pelas dispoiiições do dil'eitQ
vigente, ou que lhes forem applicaveis (citado decreto n. 434,
de 4 de Julho de 189L).
Art. 7°. A proposta· de accordo por parte dos ptrtadores
de obrigações poderá se realizar :
a) por declaração escripta ~ <tssignada pelos portadores em
numero sufticiente (art. 2.") ;
b) por consentimento deIles dado em reunião para esse
fim convocada.
Art. 8°. A chamada dos portadores de obrigações, para.
acceitarem a proposta formulada pela sociedade anonyma, ou
para apresentarem a proposta que por parte delles tiver de ser
offerecida á sociedaie anonyma, poderá ser feita:
a) pela directoria da sociedade anonyma:;
b) pelo conselho fiscal da mesma;
c) por portadores que representem mais de um quarto do
valor total das obrigações.
O ~onselbo fiscal só terá poderes para fllzer a. chamada
de que se trata, se a directoria a isso se recusar.
§ 10. A convocação dos portadores será feita por annuneios
publicados por tres vezes na imprensa do logar, si houver,
ou pelos outros meios ordinarios. A. reunião dar-se-ha trinta
dias, ao menos, depois do annuncio. . . ~
§ 2°. A reunião ser& presidida pelo portador, de ~b.pgaçoes
que f'ôr aeclamado ou nomeado presidente por maioria. de votos.
§ 3". Os portadores de obrigações podem·se fazer represen·
- 478-

tar por procuradores munidos de poderes 8ufficientes com direito


de votar.
Art. 9.- Das deliborações que forem tomadas peTos purta·
dores de obrigações se lavrará um termo que deverá seI' assi-
guado pelo presidente, secretarios e portadores, sendo as firmas
l'econllecidas por tabellião.
E;:;te documento fical'á sob a guarda do presidente que lhe
dará o destino legal.
Art. 10. Si, no dia marcado, não comparecer numero 8llfii·
ciente de portadores (art. 2-) será a reunião, a primeira v8'~,
adiada. por oito dia~, a segunda, por tres. Si, Itinda no dia por
ultimo marcado, não comparecer numero sufficiente entender-
se·hm. que os portadores de obrigações se recusam a formular
ou acceitar a proposta de aecordo.
Art. 11. A declaração el!cripta dOi portadores, contllndo
proposta ou termo de que conste a deliberRçiio propolHl0 o
accordo, ser~. apreseutada á directoria da sociedade e /lO conse·
lho fiscal, ou aos liquidantes ou ~yndicos, afim de :5tgnir·se a
convocação da alisernbléa geral dos accionistas que tiver de
.tomar conhecimento do accordo formulildoe resolverllrespeito.
Dentro de tres dias, depois, de apresentada. a proposta,
deverá ser convoc~da a assembléll geral d0g accionistas.
No caso de ser a proposta de accordo otferecida pela socie·
dade l'tllonyma, a reunião dos portadores de obrígtlções, para
discutil·a, acceit.al·a 011 'não, será convocada dentro de igual
prazo, t\ contar da data da deliberação.
Art. 1!l. O accordo offerecido pela sociedade allonyma e
aéceito pelos portadores de obrigações, ou proposto pelos por·
tadores e acceito pela sociedade anonyma, reputa·se perfeito e
acablldo desde o momento da acceitação, mas só produzirá os
seus eft'eito3 ne direito depois de homologado pelo juiz com-
mercial com jurisdicção na séde da sociedade
Pa.rllgrapho unico. O pedido de homologação será 'proces-
sado de accordo COIl'l os arts. 121 e 122 do decreto n. 917 de
24 de Outubro de 18,90.
Art. 13. Os portadores de obrigações designarão, no
papel escripto contendo a proposta de accordo (art. 7-), ou na.
reunião em que propuzerem o aecordo, ou na destinada. a
approvar a pró posta offerecida pela sociedade allouyma, um
fiSl~al que, em nome delles, colIabore com a directoria ou liqui·
dantes, na execução do accordo e que vigie por seus direitos
e interesses.
Art. 14. No caso de achar-se a sociedade aJllOnyma em
liquidação forçada, o accordo se juntará. aos autos respectivos
para o fim de ser julgado por sentença. '
- 479-
Pitragrapho unico. Podem embargar () accordo as partes
dissidentes, mas só são admissiveis embargos de nullidade,
fraude, simulação ou erro.
N,t apresentl\çiio, discussão e julgamento destes embargos,
que terão effeito suspensivo do aecordo, se observarão as
disposições do al't. 177 do decreto n. -4:34: de 4 de Julho
de 1891.
Art. 15 .•0 accordo, ainda julgado por sentenç;:t, poderá
ser desfeito ou rescindido por acç!!o, provando-se nullidade,
fraude, simulação ou erro.
Art. 16."A execução do aecordo por parte da sociedade
anonyma, incumbe á directoria ou a quem de direito representar
a lllesm~ sociedade.
Art. 1'7. A recusa do accordo, pela sociedade anonyma
ou pelos portadorell de obrigações preferellciaes, não induz
embaraço legoal para a tentativa e acceitação de nova pro-
posta, ~obrevindo motivos que aconselhem semelhante proce-
dimento.
Art. 18. Ficam re"\"ogadas as disposições em contrario.
Capital Federal , 2~ de Maio de 1897.-Berttardino de
OamlJ08.

Decreto n. ~.ii~~-de ~4 de Maio de 1897

l\Iarca o vestuario que, no exercicio de


suas funcções e solemnidades publicas, de-
vem usar os juizes federaes e os procura-
dores da Republica.

o Presidente da Republica dos Estados Unidos do Brasil,


á vista do disposto no art. 222 do decreto n. 1.030, de 14 de
. Novembro de 1890, resolve decretar que os juizes federaes e
os procuradores da Republica, no exercicio de suas funcções e
solernnidades publicas, usem do vestuario marcado para os
juizes de direito pelo decreto n. 1.326, de 10 de Fevereiro de
de 1854, devendo, porém, a faixa ser de chamalote verde-mar
para os juizes e preto para os procuradores.
Capital J:!'e(leral, 24: de Maio di 1897, 9" da. Republica.
PRUDENTE J. DE J\fORAES BARROS.

A maI'o Oavalcanti.
-·480 -

Deoreto n. ~.G~3- de ~4 de Maio de 18.9'7

Extingue mais dous logares de amanuense


da Secretaria da Justiça e Negocios Inte.
riorel.

o Presidente da Republica dos Estados Unidos do Brasil,


usando da autorização q)le lhe confere o art. 4° n. I, da lei
n. 191 A, de 30 de Setembro de 1893, revigor.da pelo art. 43
da lei n. 428, de 10 de Dezembro de 1896, resolve extinguir
mais dous logares de amanuense da Secretaria da Justiça e
Negocios Interiores, que se acham vagos.
Capital Federal, 24 de Maio de 1897, 90 da Republica.
PRUDENTE J. DE MORAES BARROS.
Ama1'o Cavalcanti.

Decreto n. ~.õ29-de 8 de Junho de 189'7

ApErova as modificações que, segundo a


revisa o feita na conferencia de Budapeat,
devem soffrer as tarifas e o regubmento da
Convenção Telegraphica Internacional.

o Presidente da Republica dos Esta40s Unidos do Brazil,


considerando esseneiaes as modificações que, segundo a revisão
feita na conferencia de Budapest, devem soffrer as tarifas e
o regulamento da Convenção Telegraphica Internacional:
Decreta:
Art. 1.. São approvadas as modificações adoptadas pela
conferencia de Budapest, nas tarifas e regulamentos da Con·
venção Telegraphica Internacional.
Art. 2.° As referidas modificações entrarão em vigor
no 10 de Julho deste anno.
Art. 3. 0 Ficam revogadas as disposições em contrario.
Capital Federal, em 8 de Junho de. 1897,9 D Ja Republiea.

PRUDENTE J. DE MORAES BARROS.


Dionysio E. áe Oastro Gerqueira.
DOUTRINA

DIREITO PROCESSUAL
o privilegio do fÔro para as causas da 1I'a-
zenda Naoional restabelecido pela lei n. 242
de 29 de Novembro de 1841 foi abolido, e re-
vogada por tanto a mesma lei' ...

Sem as precisas aptidões e sem titulos para doutrinar so-


mos, todavia, esti.mulados a provocar o estudo e medita(Jão dos
competentes sobre uma ou outra questão de jurisprudencia,
acerca da qual, por termos juizo formado, nos damos por ven-
cidos e não por convencidos. .
De uma vez por todas seja dito, que não nos move a penna
vaidade alguma, nem o despeito, nem pretenç~o de ordem
qualquer, e menos ainda o sentimento máo de desrespeito a
um venerando julgado do SupreqlO Tribunal Federal, quando I

devotamos a maior consideração e admiração aos seus mem-


·bros pelos seus talentos, virtudes e illustra(Jões.
Ninguem, juiz ou não, a menos que não seja um preten-
cioso vulgar, afagará a idéa de ser inerravel e impeccavel.
Quem tem uma convicção estudada, meditada e conscien-
ciosa, tem o d{\ver de defendel-a até ser convencido do seu
erro e não calar~se submisso e vencido sem argumentos, ainda"
que autoridade no assumpto seja o vencedor.
Assim é que, com a devida venia e com o maior acata-
mento, vamos ter a franca pusadia de nos occupar do jul-
gado do Supremo Tribunal Federal no qual fico~ aecordado,
que nao cabe appellaçflo ea:-ojJiaio da8 sentenças aontraria. á
Fazenda Nacional nas acções ordinaria8, ma8 86 nas ea:eouti1)a8
ji8caes.
Obedecemos á praxe estabelecida, ainda que com um
voto de grande pezo divergente, vencidos pelo dever de res-
peito para com o superior hierllrchico j mas nunca conven-
cidos. /
Temos a consciencia de que cumprimos o nosso d~ver,
e a responsabilidade pelo bom ou máo julgado não nos caberá
e ellÍ cuja apreciação não entramos.
A Fazenda Nacional sempre gosou de certa somma de
~~.. m
-482-

privilegias e nunca ent.rou em juizo sinão cercada de muitas


garantias.
No executivo fiscal gosa ella de forma especial para a co-
brança de sua divida activa pela razão de entrar em juir.o já
apparelhada e com a sua intenção flwrlada de facto e de di·
reito, e nas demais causas e acções obedece á formula com·
mum, quer nas que propõe e quer nas que são propostas con·
tra si, e, mesmo assim nesstts, está cercarla de certas- garan·
tias e privilegios, como alçada e appellação quando a decisão.
fôr contraria aos seus interesses.
A lei n. 242 de 29 de Novembro de 1841, que ,·estabele·
ceu o privilegio do fôro para as CAUSAS da Fazenda Nacional,
dispõe em seu art. 13 o seguiute: «Serão appelladas ex-ojJicio
para as Relações dos Districtos TODAS AS SENTENÇAS que fo·
rem proferidas contra a Fazenda Nacional em primeira instan·
cia, QUALQUER QUE SEJA A NATUREZA DELItAS e o valor ex·
cedente de cem mil réis ... > ' .
.A. excepção da alçada, que o § 3° do art. 1~ da lei n.221
de 20 de Novembro de 1894 aboliu nas decisões contrarias á
Fazenda, os demais direitos, privilegios e garantias estão de
pé por não ser isso contrario ao regimen actual, e disposição
alguma expressa de lei derogou-3s ou revogou-os, ao contra·
rio, e em vez de l'eEtringil-os, alargou-os mais a lei n. 221
com a extincção da alçada.
Pela actual organisação judiciaria, sua divisão e attri·
buições dos juizes, o Supremo Tribunal Federal assumiu as
attribuições das antigas Relações dos District.os para os casos
e especies das sentenças proferidas contra a Fazenda Publica.
A Fazenda Nacional tinha o seu representante na pes-
soa do procurador fiscal e dos feitos da fazenda, qne no pri·
meiro caracter exercitava a sua acção nas thesourarias de
fazenda e no segundo em juizo, funcções que hoje são desem··
penhadas pelo procurador da Republica nas sec(;ões. '
Para regular, uniforme, geral e cl)nforme fllllccionamento
do cargo baixaram as Instrucções da Directot'Ía Geral do Con·
tencioso de 10 de Abril de 1851.
Em garantia dos direitos e salvaguarda dos interesses da ,
Fazenda pela incuria, desídia, negligencia 011 omissão do pro'
curador dos feitos a lei armou o juiz previamente da ap~ella·
(;ão ex-ofjlcio nas decisões das causas quando contranas á
mesma Fazenda, e por sua sua vez armou o procurador quando
as faltas acima partissem do juiz e fosse elle o omisso no cum'
primento de seus deveres.
A sentença proferida contra fi. Fazenda é inexequivel em
quanto não fôr confirmada em segunda instancia, devendo o
- 483-

procurador della appellal' em qualquil' tempo, si o JUIZ não °


tiver feito ex-officio,e assim foi sempre entendido e observado,
como se vê de Souza Bandeira § 27, Perdigão Malheiros § 56
e nota 132 e art. 36 do Regul. de 29 de Fevereiro de 1888.
As leis processnaes da Fazenda, os seus direitos e privi-
legios não foram alterados pela legislação moderna e nem são
incompativeis com o regimen polít.ico da Nação e, ao contra-
rio, o art. 83 da Constituição man.dou continuar em vigor, em
quanto não revogadas, as leis do antigo regimen, no que ex-
plícita ou implicitamente n~o fosse contrario ao systema de
governo firmado pela mesma Constituição -e aos principios
nella comagl'ados, e o art. 387 do Decr. n. 848 de 11 de
Outubro de 1890 constituío legislação subsidiaria nos casos
omissos as antigas leis do processo criminal, civil e commer-
cial.
A legislação moderna nada ten(lo innovado e nem criado
em materia de legislação proeessual de fazenda, claro é que
as hypotheses e as especies devem ser reguladas pela legis-
lação anterior.
A lei de 184f'manda appelIar ex.officio de todas as sen-
tenças proferidas contra a Fazenda Nacional em primeira ius-
tancia, sem mais a alçada, que foi abolida pela lei n. 221 de
1894, QUALQUER QUE SEJA A NATUREZA DELLAS, não fazendo
distincção entre causas, acções, executivas fiscaes, acções 01'-
dinarias, summarias, executivas, etc. Onde, pois, encontrar· se
a distincção entre acções e executivos fiscaes e a aut,orisação
para a appelIação ex-offioio em umas e em outras não ,si n'estas
e não n'aquelIas? Na Constituição de 24 de Fevereiro de 1891?
Não: esta reproduzio em these nos arts. 55 a 62 o que es-
tava estabelecido no Decr. n. 848 de 11 de Outubro de 1890.
Neste Decr. n. 848? Não. Na lei n. 221? Não: esta an-
. tes alargou mais o privilegio e os direitos e garanti0 mais os
interesses da Fazenda abolindo a alçada no § 8° do art. 12.
No Decreto n. 9885 de 29 de Fevereiro de 1888? Não: este
deu unicamente regulamento ao processo do executivo fiscal
para a cobrança da divida activa na fórma determinada pelo
art. 8' § 5° da lei n. 3348 de 20 de Ontnbro de 1887, que
mesmo assim em seu art. 36 dispõe gen2ricamente que haja
appellação ex-officio da sentença proferida contra a Fazenda
Nacional, sem o que será ella illexequivel, e sem fazer distin-
cção alguma entre sentenças pl'oferid(t3 em acçóes àe qual-
quer natureza e especie e execnt i vos fiscaes.
:Na lei n. 173 B de 10 de Setembro de 1893? Não: esta
ampliou a organisação da Pl'ocnradoria, d,t Repllblica, e Fa-
zenda Federal e em seu art. 14 mandou unicamente observar
- 484-
na cobrança da divida activa (executivos fiscaes) o regula.
mento de 29 de Fevereiro de 1888, em tudo que não estivesse
1'evogarlo pelo Decr. n. 848, e o que foi que este Decr. re.
vogou da lei de 1841 e mais legislação de fazenda? Nada,
e apenas em seus caps. 28, 29, e 30, arts. 190' a 201, trata
da acção executiva e executivo fiscal, copiando pouco dós
arts. 310 e seguintes do ReguI. n. 737 de 25 de Novembro
de 1850, a lei de 1841, o Decr. de 29 de Fevereiro
de 1888, etc. .
O privilegio da Fazenda consiste principalmente em ter
o seu juiz privativo e nas excepções consagradas em lei para
sua garantia, rle sens direitos e interesses, nomeadamente a
appellação ex·offlcio obrigatoria ou a do seu procurador, sob
pena de inexequibilidade do julgado contra si proferido.
Em todas as causas ou acções civis em que a Fazenda
fôr autora ou ré, s~jam ordinarias ou sejam summarias, deve
observar-se as regras do processo commum estabelecidas pelas
leis geraes, só cabendo a formula privilegiada no!! executivos
fi::;caes e acções executivas, porque a Fazenda entra de logo
em juizo com a sua intenção firmada e fundada de facto e de
direito.
Nenhum dispositivo ant.igo ou moderno autorisa a appel·
lação ex-officio nos executivos fiscaes unicamente e não nas
acções ordinarias ou summarias e nem faz distincção alguma
entre estas e aquelles; ao contrario, a lei de 1841 falia em
causas e appellação de todas as sentenças proferidas contra a
Fazenla Nacional, QUALQUER QUE SEJA A NATUREZA n'ELLAS,
comprehendendo em tal disposição as justificações e habilita·
ções, só exceptuando as proferidas nas causas particulares
em que a Fazenda comparece como assistente e das quaes a
appellação é facultativa ao procurador.
Nós mesmos já tivemos occasião de appellar ex-officio de
uma sentença proferida contra. a Fazenda em uma acçãu ~e
reivindicação, da qual o Supremo 'J.lribnnal tomou conheCI'
mento e negou provimento para confirmar a mesma sente~ça,
O Regul. de 1888, si bem que tratando quasi excluSIVa' .
mente do executivo fiscal, em seu art. 36 fallatambem
genericamente de sentença proferida contra a Fazenda coma
alçada da lei de 1841 abolida pela lei n. 221 de 1894 e no sen
art. 45 manda obsel'var nas execuções fiscaes o ReguI. n. 787
de 1850.
No Decr. n. 9.549 de 23 de Janeiro de 1886, que regU'
lamentou a lei n. 3.272 de 5 de Outubro de 1885, não se e.n·
contra tambem disposição alguma sobre appellação ef1}-of~O,'o,
nem facultando em um caso e negando em outro, nem dlst!n'
- 485-

guindo as sentenças proferidas nos executivos fiscaes dai profe.


ridas nas cau~as e acções e nem fazendo distincções entre causas,
acções e executivos fiscaes.
A ter rigorosamente em vista os principios do novo
regimen -consagrados na Constituição e a legislação de fazenda
anterior, a appellação ex·ofjicío ou não cabe em caso algum, ou
cabe em todos os casos em que cabia anteriormente, não
havendo meio termo e nem distincções de executivos fiscaes e
de acções de qualquer especie ou natureza.
Na formula do processo estabelecida pela lei está a ga-
rantia dos direitos das partes como medida de ordem publica
e geral, assim como nos jnizes competentes e certos, entidades
que independem de escolha de partes, salvo a 6xcepção da
suspeição legal._
Estabelecendo a lei e regulamentando as formulas para
as acções ordinarias, summarias, especiaes e ontros actos, que
devam ser praticados em juizo, não se pôde por inversão de
formula conhecer dependencia jlldiciaria, excepção que sempre
foi feita dll! substituição do processo ordinario ao summario,
que foi salientada pelo § 2° do art. 47 da lei n. 221, isso
mesmo não sendo inpugnada na contestação, pela razão prin·
cipal de ser a formula ordinaria mais benigna e favorRvel ao
réo por lhe facultar mais amplitude de defeza.
Sempre a inversão da formula legal e o emprego de pro·
cesso:especial para o caso em que a lei não o admitta, foi motivo
para nullidade de pleno direito, absoluta e insupprivel, -e o
citado art. 47 n. 4 da lei n. 221 salientou tambem.
São cousas essas comezinhas para quem conhece um pouco
de praxe forense e tem alguma familiaridade com os praxistas
lidos desde os bancos academicos. .
Não está no' arbitrio do julgador nem das partes a invel'são
da formula estabtilecida pela. lei para esta ou aqueUa ordem
de processo.
Assim é, que debaixo da formula especial estabelecida
para os executivos fiscaes como privilegio só e exclusivo da
Fazeuda para a cobrança de sua divida activa, pela razão de
entrar eBa em juizo appal'elhada e co. a sua intenção firmada
de facto e de direito, não se pôde conhecer da allegllção da
constitucionalidade ou legalidade de uma lei, decreto, regulá.
mento oli acto do Poder Executivo, que depende de discussão
em formula ordinaria e commum.
Para reparaç1io da lesão dos direitos individuaes a lei
n.221 no al:t. 13 e seus §§ criou a formula do processo, for·
mula que não pode ser invertida, sinão por excepção para a
ordinaria, si não for inpugnada na contestação.
-486-

Isto posto, nos parece que, attendendo ao privilegio de


que sempre goson a Fazenda Nacional, cabe appellação ex·
offfcio, nos termos do art. 13 da lei de 29 de Novembro de
1841, art. 36 do Regul. de 29 de Fevereiro de 1888 e art.l2
§ 3 da lei n. 221 de 20 de Novembro de 1894, de toda e
qualq uer sentença proferida contra a Fazenda N:icional,devendo
o procurador seccional interpol·a quando o juiz fôr omisso,
não sendo exeq ui vel a sentença assim proferida em quanto
não fôr confirmada pelo Tribunal Superior em segunda e uI·
timli. instancia, por isso que disposição alguma de lei distin·
guio sentença proferida em acção ordinaria ou de qualquer
outra natureza de sentença proferida em executivo fiscal.
A não se reconhecer o direito e pl'i vilegio da Fazenda e
a não se admittir a regra geral para todas as sentenças, qual·
quer que seja a natureza d'ellas, tambem não se deve admito
til' por excepção para os exes;utivos fiscaes, distinguindo·se
onde a lei não distingue e como melhor se compadece com o
modo de pensar daquelles que julgam que, em face dosprin·
cípios hodiernos, não ha mais appellações ex.ofjicio.
Tambem nas f'uncções do procurador da Republica nada
se innovou a respeito, a não ser aquillo que se criou por vir·
tude do regilllen al~()ptado, passando para as limas attribuições
as dos antigos procuradores fiflcaes e dos feitos da fazenda e
para o procurador geral as dos antigos procuradores da corôa
e soberania nacional.
Ainda como privilegio gosa a Fazenda do beneficio da
restituição in integmm, nos termos da Ord. liv. 3° tit. 41,
como é preceituado no art. 17 das Instrucções do Contencioso
de 10 dt! Abril de 1851 e do direito regressivo contra o fune·
cíonario que der logar á condemnação em custas por virtude
de lesão de direitos individuaes, § 14 do art. 13 da lei n.221
de 1894; nada tendo o caso do al't. 76 com a Fazenda e só·
mente com o funccionario judiciario que der causa á nuIlidade
do processo.
Vem a proposito citarmos um ultimo aviso do ministro
da fazenda dirigido ao da jus-tiça em data de 24 de Dezem'
bro do anno proximp findo, respondendo a um outro d'este
ministro de 13 de Novembro do mesmo anno, em que consul·
tava qllaes as porcentagens que cabiam ao escrivão e officiaes
de justiça do juizo seccional p::lla cobrança das dividas fiscaes,
em cujo aviso, pnblieado no Dia1'io Ofticial de 29 do mesmo
meL: de Dezembro, declara aquelle ministro que as porcentagens
devidas são as do art. 16 § 3" da lei n. 242 de 29 de Novem-
bro de 1841, AINDA EM VIGOR.
Mais uma vez, não estamos sós. A lei está em vigor.
-487 -

Como quer que seja, obedeceremos o julgado e seguire·


mos (vencido~) a praxe adaptada pelo Supremo Tribunal.
Cumpram, pois, os procuradores da Republica com os
seus deveres, aos quaes concitamos a que appellem sempre
para a instancia superior de Lodas as sentenças contrarias aos
interesses da Fazenda Nacional e, na sua falta, as partes que
o façam, si não quizerem ver a sent.ença s~m execução.
Que façam isso e não haverá mais appella9ão inpertenentll.
Porto Alegre, 3 de Janeiro de 1897.

J. F. POGGI DE'FIGUEIREDO

.,
JURISPRUDENCIA

Jurisdiação Civil

Revista cível: d'ella não se toma conhe.i·


mento por ter sido manifestada depois de
promulgado o decreto n. 1.030, que extin·
~u eSia etpecie de reourso.

Revist:a civel n. 62.

Reccorrsnte- .Ântonio José áa Silva Macieira.


Recorrida-D • .Ântonia Basilia de Ramos Santos.
Supremo Tribunal Federal

ACCORDAM

Vistos,expostos e discutidos os presentes autos de revista


civel, entre partes, como recorrente Antonio José da Silva
Macieira e recorrida D. Antonia Basilia de Ramos Santos:
Accordam não tomar conhecimento da mesma revista por
ter sido maFlifestada depois da promulgação do decreto
n. 1.0BO-de 14 de Novembro de 1890, que em seu art. 220
extinguiu essa especie de recurso. E pague o recorrente as
custas accrescidas.
Supremo Tribunal Federal, 31 de Março de 1897.-
.Aquino e Oastro, presidente. - Bernardino Ferreira. -João
P6dro. - Pereira Franco. - Macedo Soares.-Manoel Murtinho.
- .Americo Lobo. - Riõeiro de .Almeida. - H. do Espírito
Santo.-Jollo Barbalho. -José Hygino. -Figueir,do Junior.
-Fui presente, Lucio de Mendonça.
-489-
Não é caso de reourso extraordinario a.
decielo ultima de justiça looal que julga'
improcedente aoção de manutenção de posse
de terrenos,proposta por uma Camara Muni-
cipal, e na qual não se questinou nem se,
julgou contra a validade ou applicação de
lei federal ou pela validade de lei ou aoto
estadoal em face da Constituição ou de lei
federal, nos termos do art. 59 110 lettral
a e 11 da Conllt. Fed.

Recurso extraordinario n. I I I

R,eeorrente-.A Oamara Municipal da cidade de S. PauZo.


Reeorrido - O Banco Evolucionista.
Supremo Tribunal :Vederal

A.CCORD.A.M

Vistos, relatados, e discutidos 08 autos de recurso extra-


ordinario, em que é recorrente a CRmara Municipal de Rão
Paulo e recorrido o Banco Evolucionista:
Considerando que o objecto da acção é a manutenção de
posse nos terrenos de S. Miguel e Lageado, pedida pela re-
corrente, a qual pretende que os ditos terrenos pertencem ao
seu patrimonio, e a acção foi julgada improcedente pela sen-
tença appellada, confirmada na segunda instancia, sendo os
fundamentos do accordam reccorrido: 1.-1 que os terrenos de
S. Miguel e Lageado foram excluidos da medição e demarca-
ção, feitas pelo Banco recorrido; 2. o, que os terrenos medidos
e demarcados o foram sem opposição da recorrente, a qual
reclamou tre.s annos depois; ,
Considerando que assim decidindo e por taes fundamentos,.
o accordam recorrido não dá logar a recurso extraordinario,
nos termos do art. 59, § 1.~, lettras a e b daConstitriição da
Republica, porquanto não se questinou, nem se julgou contra
a validade ou applicação de lei federal,- ou pela validade de
lei ou acto estadoal-em face da Constituição ou de lei federal.
Não tomam conhecimento do recurso e condemnam a recor-
rente nas custas.
Supremo Tribunal Federal, 28 de Abril de 1897.-
Aquino e Oastro, presidente.- Ribeiro de Almeida. -Pereilra
Ptanco.-ManoeZ Murt'nho.-Amerieo Lobo.-João BarTJalho.
-Figueiredo Junior. -José Hygino.-Pindahy'lJa de Matto8.
-JoO,o Pedro. -H. do E8pírito Santo. -Bernardino Ferreira.
'-Fui presente, Lucio de Mendonça.
- 490-
Reforma de official da -brigada policial da
Capital Federal, decretada pelo Governo:
inprocedem:ia do pedido de annullação para
o fim de ser o reformado reintegrado com
t9dos os direitos de antiguidade e respectivas
vantagens.
Como deve ser provada a idade do alis-
tando nas fileiras do exercito.

Appellação Civel n. I99

Appellante-A União Fide1'al.


Appellado- O capitão da brigada policial da Oapital Fc·
de1'al-José Antunes de Souza Guimarães.
Supremo Tribunal Federal

ACCORDAM

Vistos, relatados e discutidos estes autos, entre partes,


appeIlante a União Federal e appelIado o capitão da brigada
policial desta Oapital-José Antunes de Souza Guimarães, dos
quaes se vê que na acção por este proposta contra a appel-
lante foi proferida a sentença â fi. 32, declal'ando nuHo o de-
creto de 24 de Maio de 1894, que reformou o appellado, COl:-
demnando a União a reintegral-o no quadro activo da dita
brigada com todos os direitos de actividade e reintegração,
das respectivas vantagens, a contar àa data da reforma, e
custas.
E considerando que não provou o autor, ora appellado,
como lhe cumpria, não ter sido reformado por haver attingido
á idade compulsoria, nos termos do decreto n. 193 A, de 30
- de Janeiro' de 1890, em cujo caso é dispensada a inspecção de
saude pela lei n. 18, de 19 de Outubro de 1891, disposições
estas applicaveis aos officiaes da brigada policial, ex-vi do
art. 271 do decreto n. 1. !63 A, de 10 de Fevereiro de 1893;
Considerando que a falta de prova da idade do appellante
não póde 3er supprida pelo attestado á fi 17 v., que nem é a
sua fé de offieio, e no qual apenas se diz que o appellante
nasceu em 1852, s~m menção do dia e do mez do seu nasci-
mento, sendo essa sua declaração suspeita por só visar seu
intuito o interesse na occasião de assentar praça, quando a
idade se prova com certidão de baptismo ou com documento
obtido pelos meios regulares em substituição dessa certidão,
anterior ao registro civil estabelecido pela legislação hoje em
vigor;
Oonsiderando que tanto mais inacceitavel é a declaração
do appellado, ao assentar praça, como prova de SU\1 idade,
-491 -
quando é certo que no aviso do ministerio da gU,erra, de 21
de Setembro do anno passado (Diario Official de 5 de Oútu~
bro de 1896) e em muitos outros posteriormente publicados,
reconheceu o Governo da União que os alistados nas fileiras
do exercito davam, ora maior, ora menoridade, conforme o
fim que visavam, reclamando posteriormente contra a idad.e
que então haviam declarado por lhes prejudicar suas preten-
ções na actualidade, e por essa razão estabele~eu o mesmo·
Governo preceitos e regras para verificação desse assumpto;
Considerando que na ausencia da prova, que cumpria ao
appellado produzir, e rezandó aquelle decreto-que era refor-
mado de conformidade com as disposições em vigor-é ,bem de
ver-se que essa reforma teve lugar por ter o appellado attin·
gido a idade ~ompulsoria, ou por outra das causas que a justifi-
cam,nos termos da lei: \-
Reformam a dita sentença e julgam o appellado carecedor
da acção e o eondemnam nas custas. ' '
Supremo Tribunal Federal, 17 de Março de 1897.-
., Aquino e Oast1'o, presidente.-Pindahiba de Mattoll.-Bernar-
dino Ferr'ei,'a. -H. ilo E,~pi1'itO Santo.-João Pedro.-Manoel
Murtin7/O.-Ribei1'o de .Almeiáa.-José Hygino, vencid:>.-
Perei,'a Franco, vencido pelas mesmas razões dadas em ques-
tões identicas.-Macedo Soares, vencido. A prova da idade
do appellado, constante do doeumento de 6. 17, suppre a cer-
tidão de baptismo, nos termos da lei de 24 de Setembro de
1829; e podia fazer-se até pelo aspt!cto ou physionomia, ex-vi
das Ordenaçõe, livro 2°, tit. 54, e da lei de 11 de Outubro de
1837, art. 40 • Quanto á prova dos outros _casos da reforma ·do
RFpellado, não era a elle, mas sim á appellante que incumbia.
exhibir em juizo.-JOão B,arõalho.-Fui presente, Lucio de
Mendonça.
-~92 -
Questão de legitimidade de companhia ou
empreza industrial, como successora de ou-
tra para demandar a Fazenda Nacional por
indemnisação de prejuizol. oriunda ue con-
tractoll celebrados com o Governo da União
oontendo isenção de direitos de importação
ou consumo sobre materias primall destina-
das ao fabrico de aeus produotos. Proce-'
denoia da acção.

Appellação civel n. ][9~

)1ppellante8-A Fazenda Nacional e a Oompanhia Indu8'


trial àe Stearina.
AppelladCII-A Oompanhia Luz Stearica.
Supremo Tribunal Federal

ACCORDAM

Vistos, expostos e discutidos estes autos. de appellação,


entre partes a Fazenda Nacional e a Companhia Industrial de·
Stearina.,a primeira como ré e a segunda como assistente aDpel·
lante, e, como autora appellada a Companhia Luz Stearica,
proposta a preliminar da legitimidade da autora, venceu·se
pela affirmativa, porquanto a autora é a Companhia Industrial
de Sabão e Velas que, na qualidade de successora da antiga
Companhia Luz Stearica, adoptou esta ultima denominação,
como mostra a acta daassembléa. geral extraordinaria da Com-
panhia Industrial de Sabão e Velas, reunida. em 14 de Agosto
de 1891 (doc. fi. 176), da qual consta ter ficado a directoria
autorizada a mudar a denominação - Industrial de Sabão e
Velas para adoptar o nome de - Companhia Luz Stearica,lI.cta
inscripta no registro da Junta Commercial desta Capital, em
20 do mesmo mez e anno, sendo certo que de então em deante
a dndustrial de Sabão e Velas. passou a denominar-se -
«Companhia Luz Stearica., como se vê da petição dirigida ao
Governo depois do contl'aeto celebrado no rrhesouro Nacional,
á fi. 6, das numerosas petições dirigidas ao inspéctor da alfan-
dega desta Capital, de fi. 58 á fi. 86, do aviso ao Thesouro
Nacional á fi. 25, e do parecer da Commissão de Fazenda e
Industria da Camara dos Deputados á fi. 6 ; e, com quanto não
esteja. provado que a ~Industrial de Sabão e Velas. se fundira
legalmente com a antiga <Companhia Luz Stearica»,ou que le-
galmente a absorvera, como se affirma na petição á fi. 21, não
é por isso menos certa a identidade da autora e a sua legitimi-
dade para propor a presente acção, pois qne a Companhia In-
dustrial de Sabão e Velas tem ~ seu direito de pedir indem-
- 493-
,,.
nização á Fazenda, não do facto de ter-se fundido com' a
Companhia Luz Stearica, mas da primitiva concessão ,Cósta
Figueiredo, que adquiriu pelo contracto á. fi. 14, celebrado
com a autorização do Governo Federal (doc. á fi. 11):
Quanto ao merecimento dos autos: '
Oonsiderando ser iDcontestavel a competencia do minifÚl"o
da fazenda parí\ cel~prllr os contractos de fi. 24 e de fi. 26,
pelos quaes o privilegio Oosta Figueiredo, de que ê ce~sionaria
a autora appellada, foi reduzido, quer quanto ao prazo da con-
cessão, quer quanto ás mercadorias que gosariam da 'isenção
de impostos de importação, pois que esse privilegio, já exis-
tente antes da ConstituiçãQ, tornou·~e por aquelles .contractos
menos onoroao e prejudicial aos interesses da Fazenda;
ConsiderandQ que a validade de taes contractos não 'pôde
tambem ser impugnada, em face do artigo 8° do Decr. n. 947 A,
de 4 ue Novembro qe J890, <lue sómente se oppõe ás isenções
de direitos de importação ou consumo que comprehendam ge-
neros, mercadorias e objectos que teilham similares manufactu-
rados, de producçãQ nacional, dos quaes haja fabricas montadas,
abastec8-ndo os mercados em quantidade sufficiente para o
consumo, e da lista de materias primas constante do contracto
de 1 de Outubro de 1891, á 6. 24, se vê que de nenhuma
delIas ha similares na producção do paiz, de fabricas que abas-
teçam o mercado em quantidade sufficiente para o consumo,
como o reconheceu o ministro da. fazenda, por despacho de ~7
de Outubro de 1892 (doc. fi. 137) j
Considerando q lle os ditos contractos, definitiva,mente
concluidos com o Poder Executivo, estavam perfeitos e ara·,
bados e não precisavam para produzir os seus effeitos de
approvação do Congre~so Federal ou de medidas que deste
dependessem ; .
Accordam confirmar, como confirmam, pelos seus funda·
mentos, a sentença appelJada e condemnam os appelIantes nas
custas. .
Supremo ':rribunal Federal, 20 de Março de 1897. -Aquino -
e Oa8tro, presiden.te com voto de desempate na preliminar , -
José Hygino. - Pereira Franco.-Ribeiro de Almeida, vencido
na preliminar .-Figueiredo Jutlim·, vencido na preliminar.-
Manuel Murtinho, vencido na preliminar.-H. do B8pirito
Banto, vencido na preliminar; votei pela improcedencia. da
acção.-B~rnardino Fe1'1'eira. -Jolfo Pedro.-Fui presente,
Lucio de. Mendonça.
Não votaram, por não terem assistido ao relatorio, os'
81'S. João Barbalho e Macedo Soares, e por impedido o Sr.
Americo Lobo.
.
io
'

-494-

E' oabivel a appellação :ex-o!7icio nos pro-
oessos executivos fiscaes.
O proourador seccional da Republica,como
representante da União, é parte legitima
para demandar uma divida fiscal de qual-
quer dos Estados da União em virtude de
aecordo celebrado entre o Governo Federal
e o dito Estado para arrecadação por farte
d'aquelle de impostos de pro duetos d eate,
por intermedio das alfandegas dos logares
por onde se etfectue a exportação dos re-
feridos productos. '.
Já pelo valor litteral dos propri08 termos
do art. 666 da Consolidação da. Leis das
.Alfandegas, já pela sua combinação com 08
do art. 537 § 1" da dita Consolidação, o
engano ou erro em despacho de que falia
aquelle artigo é o que se dá no calculo.
isto é, nas operações arithmeticas para a
determinação da quantia a pagar pelos di-
reitos devidos; sendo, por tanto, inappli-
caveI ao caso de erro na interpretação da.
lei a prellcripção extinotiva de um anno para
as reclamações da Fazenda, estabelecida no
oito art. 666.
Intelligencia do art •. 14 do Decr. n. 173 B
de 10 de ietembro de 1893 e do art. 666 da
Consolo das Leis das Altandegas •

.Appellação Civel D. 22'1

Appellantes-1° e ex-officio Ó juie federal do Estado do Ba·


hia, 2° o procurador seccional da Republica no mesmo Estado .
.Appellaão-Mathias .Á.lves Dia,.
Supremo Tribunal Federal

ACCORDAM

Vistos estes autos de appellação civel, em que são 10 ap-


peIlante, ex-officio, o juiz federal do Estado da Bahia e 2°
appellante o procurádor seccional da Republica, e appellado
Mathias Alves Dias, delles se mostra que contra o appellado
promoveu o 2 0 appeIlante uma acção executiva fiscal para a
cobrança da quantia de 11:644$421, de menos paga por
aquelle na Alfandega da Bahia, dos direitos de expúrtação
correspondentes a varias partidas de café de Minas, dalli re·
mettidas para o estrangeiro, nos P1ezes de Abril a Setembro
de 18~4, provindo segundo a certidão á. fi. 3, a differença no
pagamento ~de differenças de pauta encontradas por occasião
da revisão dos despachos». Efff'ctuada a penhora requerida,
oppoz-lhe o appellado os embargos á fI. 8, nos q uaes, cumu-
lativamente com outros pontos de defesa, articulou a excepção
de prescripção, com fundamento no art. 666 da Consolidação
- 495
..• .
das Leis das Alfanilegas, por ter sido proposta a acção depois

de passado o prazo legal de um anno, excepção que' foi aflhál
julgada procedente pela sentença. appellada. Propostas as pre-
liminares de não se conhecer da appellação ex-oflicio e. de
ser o 2° appellallte, como representante da União, parte ille-
gitima para demantlal' uma divida fiscal do Estado de MinaS't
não se venr.eram: a primeira, porq ne, tratando-se de executivo
fiscal, torna-se ex-vi do art. 14 do decreto n. 173 B de '10
de Setembro de 1893, applicavel á especie o art. 36 do d~êteto
n. 9.885 de 29 de Fevereiro de 1888; a segunda, porq1ie; nas
faculdades de que ficou investido o Governo Federal pelo
contracto em que t.omou a si arrecadar, por conta do dito Es-
t:ldo, os impostos de exportação dos respectivos prodnctos por
intermeclio das Alfan(legas dos lagares por onde se effectuasse
a exportação, não pode deixar de iÍlclllir-3e a de usar 'dos meios
necessarios, inclllsive os judidae!l, para o bom âesempenho do
encargo assumido.
Quanto ao merecimento da cansa:
Con1\iderando que, segundo o art. I? § 2° do regula-
mento approvado pelo decreto n. 603, de 3 de Fevereiro de
1893, e pelo qual ainda no anno de 1894 se· regia a cobrança
dos impostos de exportação de Minas Geraes, estavam as' mer-
cadorias sujeitas, ao 'sahirem do territorio do Estado, á taxa
de 4 °/ ° nas recebedorias locaes e estações de estradas de ferro
encarregadas da arrecadação, devendo as que ulteriormente
fossem despacha~as para exportação nas Alfandegas mencio-
nadas no citado p-lragrapho, pagar ainda, como addicional. á
dita de 4 °I n' a taxa que anteriormente cobrava a União,
ao tempo em que tal renda lhe pertencia ( 7 °10 para o café),e
que recahia sobre o valor ofticial do genero na pauta semanal
organisada pela Alfandega; .
. Considerando que a AJfandega da Bahia,' porém, enten-
dendo, por má comprehellsão da citada disposição regulamen-
tar, que a taxa addicional re'Cahia sobre a importancia do
quantum anteriormente pago a titulo da primeira de 4 0/., as-
sim procedeu com relação aos despachos de exportação de
café mineiro, effectnados pelo appellado em 1894 ;
Considerando que, não obstante a defeituosa ce:tidão de
fi. a, com que foi instruída a petição inicial da acção,. tal é
l'ealmen t e a procedencia da differença de imposto demandada
ao appellado, como resulta das allegações, por este não con·
testadas,do 2° àppellante"na impugnação de embargos á fl.17,
combinadamente com a. certidão á fi. 59, junta embora na
2a installcia·,
Considerando que nenhúma applicação tem a semelhante


-496-

caso a prescrlpçao de um anno, extinctiva do direito da Fa-


zenda nas reclamações por prpjuizos resultantes de engano ou
erro nos despachos, conforme o art _ 666 da Consolidação da8
Leis das Alfaná~ga8, porquanto, já pelo valor litteral dos ter·
.,mos, já pela sua combinação com os do art. 537, § 1-, da dita
Oonsolidaçllo, torna-se obvio que o engano ou erro de que co-
gita o citado artigo 666, é o que se dá, no calculo, isto é, nas
operações arit~meticas para a determinação da quantia a pa·
gar pelos direitos devidos;
Por estes fundamentos,
Accordam dar provimento a ambas as appelIações para,
julgando subsistente a penhora executiva effectuada,condemnar
o appellado no pedido da acção e custas.
Supremo 'fribunal Federal, 27 de Março de 1897.-
Aquino e (,astro, presidente.-Figueiredo Junior, vencido na
preliminar relativa á appellação ex-oJJicio, com respeito â qual
votei para que não se conhecesse do recurso, por entender
que a vigente legislação do processo federal aboliu virtual·
mente as flppelIações ex-ojficio nas causas da Fazenda, desde
que as não enu)llerou entre os recursos estabelecidos. Preciso,
entretanto, explicar o meu voto divergente do que até aqui
tenho dado em casos analogos. Assim procedia, porque, na
pri.l.eira vez que tive de pronunciar-me a respeito em um ex-
ecutivo fiscal, opinando pelo não conhecimento do recurso, fui
informado de achar-se assentada por este Tribunal a doutrina
opposta, com fundamento em que, não havendo o decreto
n. 848 de 1890 revogado explicitamente as disposições da le-
gislação anterior relativas á materia, devia entender-se em vi-
gor o art. 36 do decreto' 9.885 de 1888, que, sobre executi-
vos fiscaes, continúa a reger, conforme preceitúa o art. 14 do
decreto legislativo n. 173 B de 1893, o respectivo processo,
em tudo quanto não esteja revogado pelo citado decreto n.848,
o que evidentemente não se pó de entender sinão da revoga·
ção implicita, por antagonismo com a letra ou espirito do de·
creto n. 848) uma vez que em todo o contexto deste não se
encontra a revogação formal de qualquer das disposições tio
mencionado decreto n. 9885 de 1888. Deliberei então, á vista
de tal informação, acompanhar a jurisprudencia adoptada pe!o
Tribunal, jurisprudencia que eu jlIlga va estender-se, por identl-
dade de razão, a todas e quaesquer causas da Fazenda Federal.
Verificando, porém, mais tarde, por oecasião do julg~·
mento da appellação civil n. 172, que assim não se entendIa
relativamente ás causas não fiscaes e, parecendo-me isso u~.a
incoherencia, declarei·me veneído no dito julgamento, justIfi-
cando o meu voto nos seguin tes termos:
~497""::'

"cO decreto n. 848, de 11 de Outubro de 1890, que rege


o processo judiciario fedElral, em nenhuma das suas (lisposi-
ções prescreve a appellação ex-offlcio das sentenças proferi-
das contra a Fazenda Na cional. Não obstante, tem este Tri-
bunal decidido em varios julgados achar-se ainda em vigor o'
art. 36 do decreto n. 9.885 de 29 de Fevereirp de 1888,mandado
observar pelo de n. 173] ~ de 10 de Setembro de 1893,art.14,
para a cobran~,a da divida federal,em tudo que não eS!tivor revo-
gado pelo citado decreto n. 848, tornando-se hoje a· dita
appellação illhnitada, isto é, não restricta ás causas excedentes
á alçada do juiz, por effeito do disposto no art. 13 da lei n.2U
de 20 de Novembro de 1894. Ora, desde que na omiH!ão do
decreto n. 848 de 1890, tlllanto aos executivos fiscaes, não..s8
quer ver 8. revogação do a.rt. 36 do decreto n. 9.885 de 1888,
nenhuma razão milita para de igual omissão, relativamente 4s
causas de outra natureza, induzir-se a revogação do preceito
generico do art. 13 da lei n. 242 de 29 de Novembro de 1841,
segundo o qual devem selO appelIadas ex-oflficio todas as sen-
tenças proferidas contra a Fazenda Nacional em primrira ins~
tallcia. A appelIação e,'C-officio é um recur!lO privilegiado
da Fazenda e, como tal, Oll deve prevalecer ainda in totum
ou já não vigora absolutamente, si entender-se o pdvilegio
incompativel com as novas instituições; o que me parece arbi-
trario e indefensavel, quer ante a lettl'a, quer ante o
espirito dos text6s qlie a instituiram, é a distincção entre es-
pecies de causas, em totlas afl q uae5 se verifica o interesse da
parte privilegiada, para adlllittir tal recurso em umas ti repel.'
U!"o em outras.> De então em deante continuei a Tolar pela
ru'esma fôrma. Reflectindo, porém, vejo que nenhuma. razão
ha para da minha. parte manter uma opinião que, (·.ontra. o .
que ma.is acertado me pareceu sempre, sómente adopt ei para. -
'acompanhr a maioria, desde que com isso não concorro para. a
uniformidade da jurisprudencia do Tribunal, quero antos dizer,
para resguardaI-o da notada incoherencia, como era minha
intenção. - José Hygino. - Bernardino Fert'eira, vencido na
preliminar.-Macedo Soares.-Ribeiro de Almeida, veneido,'-
Jo40 Barbalho, vencido: 1·, quanto á appellação interposta
pelo juiz: .) porque a antiga appellação ex-offlcio foi suppri-
ruida pela nova organização' judkiaria, não figurando ontre. ali
attribuções que aos juizes federaes conferem o decreto n. 84:8,
de 11 de Outubro de 1890, e lei n. ,221, de 20 de N,)vembro
de 1894 ; b) porq ne a attribnição de interpôr OS recursos legaes
das sentenças proferidas nos processos em que é interessada a
Fazenda Nacional, é incumbida, expressallJenttl e em termos
que excluem toda outra competencia, aos agentes do ministerio
am.7S 3%
- 498-

t>ublico, pela lei citada B. !~1 (art. la9, n. 5) ; c) porque o


art. 338 do referido decreto n. 848, exigindo que a appellação
~eja tntimadll á outra parte, deixa claramente ver que não é
admissivel appellação interposta pelo juiz, que em caso algum
poderia ser considerado como uma pal'te, sendo ainda certo
que a lei n. 173 B, na qual se fundou o juiz 4fuo,não pôde ser
bn.tendida sinão di accordo com ,a de n. 221, que lhe é poste·
I ior, e mencionando os recursos não consagI'a a appellação
official ; e d) porque o citado decreto legislativo n. 173 B, de
10 de Setembro de 1893, mandando observar, para. a cobrança
aa di vida aetiva, o regulamento n. 9.885, de 2' d. Fevereiro
da 1888, estatue, no art. 14, que eSle regulamento se observe
sómente no que não estiver revogado pelo meil.cionado decreto
'u. 848, e é evi'denti que eita já ha.via supprimido eSSij recurso
ew-offtcio, pelo qual o juiz appellava de si me~mo, recurso con·
trario á indole da nova organisação e incompativel com a
instituição do ministel'io publico, Cl'eado pelo supl'adito decreto;
'JO quanto á legitimidade da Fazenda Nacional como" parte na
presente acção: a) porque trata'l!e de cobrança de impostos,
não da União mas de um Estado, a a jurisdicção federal é
improrogavel aos objectos não compl'ehendidos na disposiçãO
'~os arts. 69, 60 e 61 da Constituição (accordam do Supremo
;fribunal Federal, n. 297, de 20 de Abril de 1892); b) porque
1I0S termos precisos do accordo dos governos. federal e do Es-
tado de Minas Geraes, de 18 de Setembro de 18~1 e ~o da
lIarço de 1893, beIl como dos decretol e instrucç5es referentes
(6s. 90 U'itM 25), o Governo F.ederal apenas se obrigou a arre·
.adar na Alfand.gc os impoRtoi da exportação daquelle Estado
e não a. tomar a si a cobrançajudicial delles; o) porque tanto a isso
unicamente se limitou o referido accordo, que até para se lhe ac-
crescentar a fiscalização necessaria da 6n trada e sahida dos gene-
}os, foi julgado imprel!cindivei fazer-se o, additamento de 20 de
Março de 1893, de que trata o decreto n. 1.134, de 28 do
mesmo mez e anno; à) porque não se póde considerar su~en.
tendido o encargo da cobrança judicial, já por não ser ISSO
consequencia necessaria. e indeclinavel do referido accordo,
iá por não caber nas faculdades do Poder Executivo contratar
a subrogação da Fazenda. Nacional á estadoai j e) porque se
o accordo pudesse abranger essa subrogação, ella deveria t~r
sido feita em virtude da lei que autorif:lusse ou por lei dever~1l
ter sido approvad'a, o que com relação á Alfandega da BahIa
não se deu; f) porque a especie, não se referindo a interess~
directo, geral e principal da Nação ou extensivo a todo~?S
Estados deUa, constitue direito 8ingular, do qual é princl~IO
~azer prova (Ord. liv. 3."', tit. 53, §§ 7. 8 e 8 •• , lei 5. Dig,
-- 499 -
de lJroTJat. e lei 34, de legib.) e nos autos prova alguma ex: lte
de se haver obrigado a Fazenda Nacional a tomar a si a
tarefa de promover em seu juizo eJôro a cobrança de imllo~ tos
de exportação do Estado de Minas, quanto a mercado! ias
sahidas pela Alfandega da Bahia; g) porque entre as aI tri-
buições conferidas pelas -leis ao minis te rio publico federal
(art. 24 do Decr. n. 848, de 1890, e arts. 29 a 36 da lei
n. 221, de 1894), não está incluida, nem deIlas se póde .Ínf, rir
a de propôr executivos fiscaes em favor dos Estado~, nem o
Poder Executivo tenha competencia para lhe dar essa a!tri-
buição, neme:x:iste lei federal alguma que assim tenhil de-
terminado. Assim que, não ha, absolutamente, disposição Irgal
que fomente a propositura e procedencia da presente acção,ca-
bendo considerar com Bacon . .Aph01'. de officio Judiei8: .lIe-
minisle debent judioes e~e 'nIuneris ,ui jus dicere, non at; tern
jus dare: 1ege8, inquam, inte1-preta1'i, 71Qn condel'e ;~S· qUH nto
á condemnação do appellado: a) porque o direito da FaZf:llda
Nacional de reclamar por erro ou engano em despachos preSCl"dYe
no fim de um anno (Oonsolidação das Leis das AlfandegaB,
art. 666) e esse tempo já havia decorrido quando foi proposta
a acção; b) porque é abitraria e injuridica. a diitincção e;:,ta.-
belecida pelo aviso do ministerio da fazenda de n. 25, de
19 de Agosto de 1895, que exeeptua da' citada disposiçã') o
caso de erro por má interpretação da lei j c) porque o cit.\do
art. 666 da Oonsolidaço,o áas Leia das Alfandega8, amplo e
generico em seus termos~ só tem uma excepção, que a e 3ta-
belecida como tal em lieu paragrapho unico (o caiO de direitos
em duplicata), e ao ministro não era licito ex·proprio M.wttl
crear·lhe mais outra excepção, o que importaria uma ve:-
dadeira de rogação da lei, que se não póde considerar na com·
petencia' dos seeretarios do Presidente da Republica; e" . d)
porque, dado que essa nova e não eogitada e:x:cepção fussa
admissivel, fôra ainda nacelsario que o a utOl' tivesse prondo
que elIa se ·verifieára no caso vertente! o que não fez, Hem
se evidencia da certidão de fi. 3, nem da que na insta' leia
superior se juntou (fi, é9), nada mais havendo, nhso hlém
da simples palavra do autor que por si só nada prova.-Joélo
Pedro, vencido na segunda questão premiminar. - Pe1'eira
Franoo, vencido, de accordo com o voto do Sr. ministro João
Barbalho. -, H. do Espi?'ito Santo. - Manoel Mul'tinho, vencido
Da segunda questão preliminar, bem como na de mel'itis.-
Pindal!iba de Mattos.
- 59Q--

Aposentadoria comllulsoria dOI magistrados


. em disponibilidade : nullidatie do respectivo
Deor. (n. 2.056 de 25 de Julho de 1895).
Competencia do juizo seccional do Estado
em que o magistrado tinha exercicio quando
foi posto em disponibilidade. para a res-
peotiva acção.
Intelligencia dall disposições legaes que
regulam a aposentadoria, nomeadamente do
art. 60 das disposiçl!es transitorias "da
Consto Fed.

Appeuàção civel n. 213'7.

Appellanie -.fi Fazenda Pederal.


Appellado- O juiz de direito Dr. Jo(J.o Antonio Ferreira
da Silva.
Supremo Tribunal Federal

ACCORDAM (FI.. 70 v.)


Vistos, expostos e discutidos os presentes autos de ap·
pellação civel, entre pai tes, como appt'llante a Fazenda Fe·
deral, representada pelo ministerio publico e appellado o juiz
de direito Dr. João Antonio Feneira da Silva.
lVIostrase dos mesmo.s autos que o appellado era juiz de
direito da comarca de Villa Nova, no Estado de Sergipe;
que, sendo preterido na organização judiciaria daquelle Es·
tado, f(lÍ posto em disponibilidade, percebendo o ordenado a
que tinha direito, até ser aprovei~ado, e que finalmenti pelo
decreto n. 2.056, de 20 de Julho de 1895, fJi -compulso·
riamente apusentado. .
Rejeitando a preliminar de nullidade da acção por in·
competencia do juizo, visto que, pertencendo ao Estado de
Sergipe a comarca em que tivera o appellado exercicio,
comu magistl ado, nenhum impedimento legal poderia privar
o respectivo juiz seccional de tomar conhecimento da causa
que iniciára sob o fundamento de lesão de direito effectuada
em districto de sua jurisdicção.
Isto posto; e /
Considerando que a vitaliciedade da magistratura é prin-
cipiQ de ordem publica, sem a qual não poderia existir uma
justiça regular e impareill.lj
Considerando que esta importante garantia; expressa·
ment.e estauelecida no art. 2° do decreto n. 848, de 11 de
Outuuro de 1890, e no art. 10 do decret'o n. 1.030, de 14
de Novembro (le 1890, foi posteriormente comagrada no
art. 74 da Constituição Federal;
- 501-
Oonsiderando ainda que, para tornar-se efi'ectiva - a in-
dependencia do Poder Judiciai'io, é necessario reconhecer que
(lS magistrados serão unicamente aposentados pelos modos
indicados nas leis do antigo regirren, as quaes estão _ em
inteiro vigor, por não serem contrarias á indole e espirito
do nosso Pacto Fundamental, que por sua vez taxativamente
declara no art. 75 «que só poderá ser dada a aposentadoria
aos funccionarios publicos no caso de invalidez no l!Iervi~o
publico» ;
OOIli:Siderando que, nestes termos, os magistrados só podem
ser aposentados a seu pedido, por motivo de invalid13z ou
pela presumida invalidez dos que attingem a idade de 75
annos j
Considerando que, sem deploravel confusão, não é dado
asseverar que tão salutar garantia acha-se derogada -pelo
art. 6° das disposições provisorias, que assim se exprime:
« Nas primeiras nomeações' para a magistratura federal e para
a dos Estados, serão preferidos os; juizE's (le direito e os
desembargadores de mais nota. Os que não forem admittido8
na nova organização j udicial'ia e tiverem mais de 30 annos
de exercicio serAo aposentados com todos os seus vencimentos.
08 que tiverem menos de 30 annos de exercicio continuarão
a perceber seus ordenados, até que sejam ap"oveitados QU
aposentados com ordenado correspondente ao tempo de exer-
cicio. As despezas com os magistrados aposentados ou posto8
em disponibilidade serão pagas pelo Governo Federal :t ;
Considerando que a construcção grammatical desse pre-
ceito constitucional e a ordem logica das suas idélls clara-
mente evidencia o pensamento que presiditt á sua elaboração,
de acatar as prerogativas inherentes ao Poder Judiciario:'
a) porque, se depois da reorganização das duas justiças,
esse! magistrados fieassem eliminados do quadro da magis-'
tra.tura, e condemnados a uma inactividade absoluta, não se
teria usado da expressão «os que não forem admittidos na
nova organização judiciaria e tiverem menos de 30 annos de
exercício continuarão a perceber seus ordenados, até que 8ejam
aproveitados » ;
b) porque, se fosse a intenção do legislador constituinte
autorizar a aposentadoria forçada a todos os magistrados com
menos de 30 annos de exercicio, não teria na ultima parte do
citado art. 6° os clássificad!> como magistrados em disponi-
bilidade;
Considerando que, quando porventura duvidas ainda se
p~desS~Il1. erg.uer)'.nãor seriar.lmito:l.attribniviáj'lei 'o.rgàni~a um
,IHIí:li.')hV1 ,t.;IIi!:',\J;'l{;; 'i 11I':i!:'Jilq', .cl" ''i(IILJ ,~,''\'','J 1'1 !HH ,I •.
-602-
sentido que não fosse mais conforme com a equidade e o
resleito aos direitos de outrem;
Considerando que, no art. 7- da lei n. 221, de 20 de
Noyembro de 1894, o Congresso deu igual interpretação a
f'i1M clausula constitucional, o que plenamente demonstra ser
eila a mais consentanea com o direito commum;
Considerando que, em vista do exposto, o art. 6° das
diFposições provisorias não pó de deixar de ser assim entendido:
o Governo tem o direito de aposentar, com todos os venci·
melltos, os magistrados que tiverem mais de 80 annos de
exrrcicio, ou, antes desse prazo, se ficarem physica ou mo,
ralmente impossibilitados de continuar nal!! funcções do seu
Cl\l6'0;
Acoordam por estp.s motivos, confirmar a sentença de
ti. 11 e declarar nu110 o decreto n. 2.05~, de 2~ de Julho
de 1895, para o fim de assegurar ao appellado Dl'. João
Antonio Iferreira da Silva o direito de ser mantido na dis,
pOllibilidade em qne anteriormente se achava~ condemnam
mnis a Fazenda .bederal a lhe pagar os ôrdenados que deixou
de perceber e nas custas.
Supremo Tribunal Federal, 7 de Abril de 1897. - .A.quino
e (a~tro,
presidente.-Bernardino Ferreira. -P~reira FI'a1lCo.
- R. do Espírito Santo, votei para que se reformasse a
sentença sómente na parte em que dealarou nullo o decreto
sei! ser em relaçrtO às caso sujeito. ~ Figueit'edo Junior,
Te :cido. - João· Pedl'o. - .A.merico Lobo. - J08~ HlIUíno, veu·
cid l. -João Bm'bdl1w.-Manoel Murtittho. ~Pindahiba de
Mt.ltos, vencido. - Maeeáo Soar". -Fui presente, Lucio áe
M. ndonça.

Condiiões para pagamento do premio insti·


tuido pelo Decr, n. 528 de 18 de Junho de
18\10 em favor de companhias da navegação
que tenham trall.sportado i mmigrantes ,

Appellação civeln. ~44

.A.pptJll4'1tte-A.. Fazenda Nacional.


Appellada- .A. Oompanhia de NavegaçtJ,f Nordàentsohsl'
Ll1yd de B,'emen.
Supremo Tribunal Federal

ACCORDAK

-<te appellação
JI~II IVâBtoBl,'1 ex:postosl1I6 I dt1scutidl(J~, estes ·autos
clvel, entre partes, como ré appellante a Fazenda Nacional,
- 503-
e como autora appellada a Companhia. de Navegaçã.o Nord·
dentscher Lloyd de Bremen:
Oonsiderando que o art. 15 do decreto n. 528, de 28 de
Junho de 1890, revogado pela. lei do orçamento de 1896,
permittia às companhias de navegação que houvessem tram-
portado durante o anno 10,000 immigrantes pelo menos, sem
que tivesse havido reclamação alguma a respeito das bagagp.n~
e tratamento dado aos immjgrantel!, o premio de ceJ;n ltil
francos;
Considerando que desta disposição se conclue que o dí·
reito ao dito premio dependia. destal! duas condições:
1-, que a companhia de navegação houvelilse transportado
durante o anno 10.000 immigrantes pelo meDQS;
2°, que durante o anno não tinISse havido reclamaçÃ,o
alguma a respeito das bagll.genlil e do trata.mento dado MS
immigrantes j
Congiderando que, quanto aos immigrantes transportad&!
durante o anno de 1890 nos navio!! da appellada, esta sati8fe7j
a 1a, mas nio a ~~ condição; porquanto houve reclamação por
parte dos immigrantes, vindos no vapor 01tio, com~ se vê da.
parte offl.cial apresentada â Repartição Oentral de Terras e
Oolonisação pelo interprete Eduardo Nicolick (docum.ento á
fi. 73), dando o mesmo interprete o seu testem.nho a respeito
da falta de asseio e do ml\o passadio, reclamação que o ins-
peetor geral levou ao conhecimento da appellada por offleio de
29 de Outubro de 1890 (documento t\ :fi. 74);
Considerando, porém, que, quanto ao premio correspon-
dente ao anno de 100 1, a appellada tranl5portou nos seul'!
navios 19.611 immigrantes, e Dão ~e provou ter havido por
parte destes reclamação sobre &8 bagagens ou o tratament.o;
Considerando que, com effeito, comquanto se leia na car·
tidão â fi, 83 qna tconsta dos papeis archivados na 8ecretaril\
(da Inspectoria Geral das Terras e Colonisação) que as quei-
xas dos immigrantes transportado!! no vapor Leipsig, foram
verbaes:., não se diz sobri que verlavam, quando e perante
quem forlm feitas taes reclamações, nem dfilIas se deu conhe-
cimento á. appelIada;
Aceordam dar provimento á. appellação para absolver a.
appellante do. pedido, quanto ao premio corre,spondente 3,;>
anno de 1890, e confirmar a. ~entença na parte ém que con·
demna a appellante ao pagamento do premio correspondente
ao anno de 1891 e juros da mora. Oustas pI'O f·Clta.
Supremo Tribunal Federal, 7 de Abril de 1897.-Aquino
e Oa.,tro, presidente. -José Hygino.-Jol1lJ Pedl'o.-Perein!
Fl'anco.-Pindakiba ele Matto8.-Manuel MUl'tinho.-Bel'ftar·
'~,

504 -

,ãino P,rreira.-Amsrioo Lobo.-Figu6iredo Junior.-Fai pre-


!ente, Lucio de Mendonça.-Foi voto vencedor o Sr. ministro
Macedo Soares.

A Fazenda Federal não ti obrigada á im-


demnisação alguma pela prisão de qualquer
pessoa,' elfectnada durante o estado de sitio,
como suspeita de parcialidade em favor do
movimento revoltollo que determinou a de-
cretação do lítio.
Ao Estado não cabe relponsabilidade pela
falta e omissões de seul funecionarios de
modo a responder por seul actOI abusivos
contra a- (I ).
Questjo de legiti midade do corretor de
fundos publioos. como depositario de tituloil
de aos, e de cujo poder são os meslIlos titulos
lubtrahidos ou extraviados, para demandar
. a sua reltituitão ou respectiva indemnisação.

Appellaçã.o civel n. 2155

Appellante--A Uniao Feieral.


Apl'ellado - O correto1~ de fundos publio08- Alfredo de
Barros.
Supremo Tribunal Federal

AOOORD.A.M ()'L. 186)


Vistos, relatados e discutidos estes autos de appellação civel,
interposta pela União Federal da sen~nça à fi. 160, onde o
juiz da primeira instaucia a condemnou a indemnisar ao appel·
1ad., tenente-coronel Alfredo de Barros, corretor desta praça,
o damno incutido pela detenção que elle Bo1freu por ordem do
chefe de policia, durante o estado de sitio declarado pela
lei n. 172 de 10 de Setembro de 1893 e prorogado successivl\'
mente até iH de A.gosto de 1894 por vario 51 decretos, o ultimo
dos qURes fôra o legislativo n. 201 de 3 do sobredito Ínez e
anno, e bem assim a restituir· lhe os valores tirados de seu
cofre pelo delegado da 1:: eircum3cripção urbana, quando pro·
cedeu no seu escriptorio, estabelecido á rua da Candelaria
n. 18, á busca e apprehensão não o.utoada, na tarde do dia 4
da Novembro de 1893, em cuja llianuã tinha elIe sido preso,
ou a pagar·lhe a somma equivalente de 51:243$320, eapecifi·
cados na conta de fi. 73 : ,
Considerando que o Poder Execntivo, ao decretar as m~·
didas de salvação publica, consagrada:; no art. 80 da ConstI-
tuição, para o fim de debellal' a aggressão estrangeira ou de
~ 5v5-

reprimir as commoções internas, exercI um direito, smao o


indeclinavel dever da defesa social e pois não obriga a Fa:-
zenda a prestar ás pessoas suspeitas ou crimillo~alil qualquer
indemni.ação, incompativel, Da especie dos autos, com o de-
creto n. 273 de 13 de Junho de 1895, onde o Congresso Na-
cional approvon tardia e mad uramente os actos pra.tieados
pelo Poder Executivo .e seus agentes por motivo da revolta de
6 de Setembro, e, portanto, a detenção do appellado, o qual,
nem fe quer demonstrou neste feito 'ser falsa li. imputação ex-
vressa no ofticio á fi. 88, de ter-se elle manifestado publica-
mente a favor da revolta, nesta cidade então con"vertida em
praça de guerra. ;
Considerando q ne em conformidade do decreto n. 1.564,
de 13 de Out,ubro, o appellado permaneceu na fortaleza da
Conceição até 23 de Dezembro de 1893 ;
Considerando qUi a remoção do appellado para a sala ~a.
Casa de Correcção destinada aos detentos políticos, foi medida
nec68saria imposta já pela insufficiencia do sobredito forte, já
pelo facto de estarem todas ali fortalezas desta Capital iujeitas
a quotidiano bombardeio da esquadra revoltada, ou em peder
dOI! insurrectos e portanto privados da protecção da bandeira
nacional (decreto n. 1.,560 de 10de Outubro de 1893);
Considerando não se equiparar á effectiva detenção cor-
porea o recolhimento do appelIado a seu domicilio, onde
permaneceu deide' 2 de Março de 1894, de onde reassumiu
aos 16 de Maio seguinte o exercicio da sua profissão, como 8e
mostra do exame á fi. 49, e aonde nenhum cOllstrangimeDto
ou coacçã.o lhe podia advir, ainda nOIi ultimos dias da proro-
gação do estado de sitio, por ter sido determinada a ~a
soltura pelo ministro da guerra na portaria de 11 de Agosto &
que é remissivo o Dim-io Offlcial á fi. 159 ;
Considerando ter "ido condemnada a Fazenda a re!!tituir
. ao appellado titulos de terceiros ou a pagar-lhe o seu equiva-
lente, isto é-18:000$ por 600 acções da Companhia de São
Paulo Industrial, representadas por tres cautela!!, cada qual de
duzentafl acções, pertencentes ao Dl'. José Luiz de Almeida
Nogueira; 1:375$000 por 650 debenture3 da'Leopoldina, cada.
um de 100$ nominaes, ao juro de.4 C/OI pertencentes a An-
tonio Fortes Mendanha; 650$ por 650 debeniures da Geral,
'cada qual de 11 libras e 5 schilings, pertencentes ao referido
Mendanha, e 480$ por 8 dos mesmos debentu1"18, perteDcente~ a .
Mafalda Nunes i porém nem a Fazenda possue esses (e outros
titulos) pretendidol':i peloappdlado, clJllforme se evide~ci~do
ventre dos autos nem o appellado tem competenclR para
exigir em juizo o 'pagamento daquelles de que se diz nú de-
- 50 -
tentor, de sorte que são contra direito uma e outra alternativa
da conclusão dos artigos á fi. 2 ;
Oonsiderando que tendo accusado aos 29 de Novembro
de 1894, na repartição da policia, a falta de certos e deter·
minados titulos no recibo dos documentos apprehendidos que
alli firmou, e que se encontra á fi. 41,-0 appellado ahi não
mencionou a perda das cautelas da Companhia S. Paulo In·
dustrial, mas cousa muito diversa, a de 3 cautelas de 600
acções de Companhia de .Me1horamentos, pertencentes a outrem,
o Dl'. Alberto Dias J'lfiqueira; não encontradas estas na es··
cripturação do appellado e substitRidas arbitrariamente por
aquellas no exame de fi. 48 v., mostrou'le, comtudo, da pro-
curação de fi. SO, que eram nominativas as acções ou as cou·
telas da S. Paulo Industrial, sem que os autos dêem, entre·
tanto, noticia da minima diligencia tomada por quem quer
que seja com fito de salvaguardar o direito do accionista contra
o injusto possuidor;
Considerando que, nem a resalva de fI.. 41, nem o reque·
rimento de fi. 15, dirigido pelo appellado ao chefe de
policia aos 15 de Fevereiro de 1895, nem o auto das decla-
raçõQs á fi. 18, datadt) de 19 de Março do mesmo anno, nem
o art. 8° da acção, nem o depoimento daI'! testemanhas, nem o
primeü;o exame de livros á fi. 47, que se verificou aos 25 de
.Abril do dito anno, nenhuma folha dos ailtos, emfim, contem
a menor menção ou indicio dos debentlp'es que diz o appellado
pertencerem a Mendanba, excepto o seg1wdo exame de livros
á fi. 132, cuja data é de 25 de Fevereiro de 1896, e isto de
modo illjuridico e improcedente por serem os sete protocollo s
do appellado complet.amente omissos a respeito do!! titulos,
a~8im de Mendanha, como de outros terceiroll, agora recla·
mados (Cod. do Com., art. 50) ;
Considerando que oito debe1ltures da Geral attribuidos
a Mafalda Nunes, devendo ter sido adquirido!'! antes de 25 de
Outubro de 1892, conforme a carta do appellado que eUa
exhibiu em juizo na occasião do seu depoimento (fi. 120) foram
com tudo, lançados, não no protocollo do appellado, mas 110 seu
livro de deposito~ e valorelil, em Junho de 1893, pelo preço de
60$ cada um, quando em .A.gOllto do mesmo anno, o appellado
comprou do!! me!!mos debentures por preço de mil réis i
Considerando, <Jutrosim, que prescrevendo no art. 34
ns. 1 e 4, con.petir privativa.mente ao Congresso Nacional
fixar annualmente a despeza federal, tomar as contaill da re-
ceita e despezll. de cada @xercicio financeiro, autorizar o p~.
der Executivo a contrahir emprestimos) legislar sobre a dI'
vida publica e regular a distribuição das rendas federaes; no
~6'7-

art. 72 § 19, a. intransmissibilidade da pena a qttem não seja


delinquente ; nos arts. 8°§ 4° e 82 a extricta responsabilidade dos
funccionarios publicos pelos abusos e omissões em que incorrerem
no exer~icio de seus cargos, assim como pela indulgenc!a ou negli-
gencia em não responsabilisarem effectivamente os seus subal.
ternos; e 110 3.t't. 89, a instituição de um Tribunal de Contas
para liquidar as contas da receita e desreza e verificara sua le-
galidade, antes de sluem prestadas ao Congresso; a Constituição
exclue a ra8ponsabilidade da Fazenda pelas' faltas e omissões dos
funccion!rios, contra b8 quaes durante o regimen imperial
eUa gOS&VI1, do exorbitante beneficio de restituição in integ;'um,
ainda considerado subsistente peJos. juizes deste Tribunal,
vencidos no julgamento dos embargoll oppostos A sentença pro-
ferida. no julgamento da appellação n. õ6;
Consitlerando que o Estado, como pes80a jurid.ica que é,
não eomm,!tte, nem executa delicto!! e pois o não attinge a
obrigação imposta aos delinqüentes pelo art. 69 do Codigo
Penal; .
Consi(lerando que, quer nos pel'Íodoi normae~ de pàz e
tranquillidade, quer nos dias tempestuosos de guerra civil ou
estrangeira, não é imputavel ao Estado, por não ser pesl!oa na-,
tural, o quasi-delicto resultante da negligencia na fiscalilllação
de seus funccionarios, de sorte a responder illimitadamente
por seus IIctO!! abusivos, como si foram seus filho! famílias,
criados ou escravos,por meio de uma acção noxal que, em relaçã.o
R')S ultimos, o art. 28 § 1° do antigo Codigo Criminal res-
tringia ao respectivo valor, permittindo aos senhores abando-
nal·os;
Considerando que, uercendo seus cargos a. bem do ser-
viço particular- e commum, 08 funcciúnarios nãO-lia consideram
mandatarioB do Estado, !!ob pena de responder a Fazenda
pelas operaçúes de compra e venda de fundos publicos (art. 1o
do decreto n. 1359, de 20 de Abril dê 1893', e n. 2.475, de
18 de :l\Iarço de 1897), pelo serviço de todas as eompanhias a
que o El!ltado conceder privilegios industriaes, como sejam
de viação ferrea e de communicações telegraphicas, e pelas
notas bancarias das emissões que elle autorizar;
Con~iderando que, applicadas por analogia ai! regras de'
direito civil às relações de rlireito publico, o funccionario só se
reputa mandatario do Estado ou da Fazenda, . quando age no
interesse dest,a, e lhe presta contas (Cod. do Com. arts. 140,_
15ó e 162), mas flntllo não obriga o mandante sinão dentro dos
limit~s do mandato (Cod.cit., arts. 149 e 163);
Considerando que a recente lei n. 221~ de 20 de Novem-
bro de 1894, estabelecendo acção especial para asstlegurar os
- 508-

direitos individuaes lesos por aetos ou decisões da.s autori


dades administrativas da União, si concede ao juiz o poder
extraordinal'io de suspender, a requerimento do autor, a ex·
ecução da medida impugnaria, si a isso não se oppozerem ra·
zões de ordem publica, firma o direito regressivo da Fazenda
para haver do autor do acto, porventura annullado, a restitui·
ção das custas em que !'!'nha ell~ I'Íllo condemnadll. e accentaa
a positiva resp.on~abi1idadl': civil e criminal da. autorid~e que
viola o julgado (art.. 13, §§ 7, 12 e 14);
Considerando que a singular disposiç!o do artiio 86 do
Codigo Penal, por cujo effeito a Naçã.o ou o Estado indemniza
ao condemnl1.do, innocente, rehabilitado por sentença deate
Tribunal, justifica·se com a irresponubilidade do Jury(Con-
stitllição, art. 72 § 1) e com o erro dejlllgamento demon~trado
pela descoberta de novol documentos ou testemunhas;
Considerando que, qualquir que seja o direito eonl!tituido,
jamais se obrigará a Fazenda siuão por factos incontestaveis
e notorios, a cuja classe certamente não pertencém OI! alIu·
didos pelo appellado, em relação ao confisco e indebita apro-
priação dos 1!8guint'8 valorel! seus :-350 debenture& da Geral,
, ou 350$000 ; 850 deb'ntures da Leopoldina, ou 6: 125$000; a
l'3tra ao portador n. H. 013, da responsabilidadd do Banco da
Republica do Brazil, ou 10:487$300; outra lettra n. 54.876,
da nsponiabilidade do lllesmo Banco, ou 2:041$620; final·
mente, papel moeda na somma. de 1: 700$000 ;
Oonsidera.ndo, de que se não. preli'Ume a apprehensão e
menos o de!!vio de titulos e valores mercantis em uma busca
de documentos politicol!! ;
Considerando que no seu depoimento á fi. 69, o delegado
da 1& circumscripção urbana explicou satil!factoriamente o
motivo porque não reduziu a auto a diligencia pratiJada no
cofre do appellado á tarde de 4 de Novembro, isto é, ter-lhe
dito o filho do appellado, que então lhe entregára a chave
. do cofre que a sua demora na cidade a.té á noite, aggravaria
ti. affiicção de ~ua familia., pelo que o delegado empacotou 08
papeis apprehendidos, com a deliberação de abrir os respe-
etil'os volumes no dia seguinte, na policia, com assi!!tencill.
do filho do 1tppellado ;.
Considerando que a resalva de fi. 41 não menciona
dinheiro de especia alguma, nem é verosimil que o appelllldo,
por si ou por outrem, deixasse de reclamar qualquer quantia
existente no cofre e tirada pela policia e só começasse a
alludir a papel-moeda na petição á fi. 16, dirigida ao chefe
de policia, em 26 de Fevereiro de 1895, na qual se refere
-509-

vaga e confusamente á quantia que lhe era impossivel de ..


terminar;
Considerando que, lendo escripturado, como seus, mas
gem ellpecificaç!o de dataI' ou de origem da acquisição; 350
debenfu1·e. da LeopoldinA, as qUAe~ tnuto porJiam ser nomina-
tivas como ao pCJrtador,o appollado não provou que tlJ.es
titulos fossem da ultima cll\sse e até 13 de Dezembro d~ 1895
em que propo\/: a acção ou até hoje, não 8mpregou a mínima
diligencia para defender ieUI direitos ~obre a companhia
emissora, nem UilOU da acção cr@ad& pelo decreto legislativo
n. 149 B, de 20 de Julho de 1893; dando·se identica omissão
qua.nto aos 350 d,b,nture, da Geral, cujo lançamento DO
livro de depositos e valores precedem 90 dias á prisão d,o
appellado; .
Considerando que, a~8im o delegado d& diligencia, como
o 2. 0 auxiliar negam que le houvessem apprehendido quaes-
quer valores do appellado:
Considerando que, ieus depoimentoi, um deIles requerido
e approvarlo pela parte, inutilizam as declarações dai teilte-
munbas principll€fI do appellado, a primei!'"R das quaes depõe
de modo imvero~imil em relação ás lettra8 sobreditas; a
segunda, que era socio do appellado, até 31 de Outubro
de 1893, mas, depois 'de rôta a sociedade, continuou a fre-
quentar diariamente o lieu t'scriptorÍll, depõe sobre o facto
proprio de fi. 30 e affirma singularmente o facto não verda-
deiro de uma primeira busca e apprehensão feitas pelo 2.°
delegado au'xiliar; a terceira se qualifica empregado do ap-
pellado até principios de Outubro de 1893, e s6 presenciára
o começo da diJigencia occorrida' muitas horas depoiili da
detençâo do antigo patrão; a quarta, finalmente, empregado
do appellado até o aia em que declara, em contradicção com
os depoimentos do delegado da la circumscrillção urbana e do
filho do appellado, ter assistido á busca e á apprebensão
realizadas na tarde de 4 de Novembro;
Considerando que OR depoimentos dos delegados de po-
licia, só entrt! si dissonantes quanto á circumstancia de terem
sido OI documentos do appellado entregues directa ou indi-
rectamente ao chefe de policia, estão de perfeita harmonia,
não 116 com o depoimento, fi. 63, acima de toda a excepç!l.oj
como com OI contra-indicios e a. prova litteral exhibida pelo
appellado: em verdade, tendo este pago da prisão ao Ban'co
da Republica do Brazil, conforme assevera a segunda teste-
munha, o saldo de uma conta-corrente de que era devedor" e
bavendQ entretido da mesma prii>ão com o thesourbiro do
mesmo banco uma correspondencia concernente ao pagamento
-510-

já consummado dBs Iettras ao portador n. 44.013 e n. 54.876,


todavia nada exigiu em tempo algum da Repartição da policia,
onde aliás era esperado o Dr. Mendes Limoeiro para receber
os documentos apprehendidos, e jámais prestou ao Banco,
seu credor, para o fim de prevenir ou impedir aqllelle paga·
mento indebito, irlformação pormenor, de existirem em seu
poder aquellas lettras e de terem sido ellas apprehendidas,
confiscadas ou fnl'tadas ;
Considerando que ambas as lettrai ns. 44.013 a 54.876
foram postas em gyro muitos dias antes da prisão do appel-
lado, porque, como se vê do exame á fi. 47, tinham ellas sido
debitadas a 3 de Setembro de 1893, mas creditadas
em 21 do dito mez, no livro de valores e depositos,
onde, segundo o texto do segundo quesito do segundo
exame de fI. 36, constam a entrada, a sabida ou a existencia
de titulos e valores que ao appellado houvessem sido confiados
por terceiros ou que lhe ~ertencesS8m :
O Supremo Tribunal, Federal, concedendo provimento á
appellação interposta á fI. 165, revoga a sentença recorrida
, para julgar, como julga, o appellado carecedor da acção in-
tentada e condemnal-o nas custas.
Supremo Tribunal Federal, 28 de Abril de 1897.-
.A.quino e Castro, presidente.-.A.merico Lobo.-Manoel Murti-
nho.-H. do Espírito Banto.-Pereira Franco, vencielo por al-
guns dos fundamentos da sentença appellada, que confir-
mava.-Joao Pedro, com reltricção quanto a,alguns dos
fundamentos. - Ribeiro d, .&lmeida, vencido: confirmava
a sentença com restricções.-Pindahiba de Mattol. -Figuei-
redo Junior, vencido. J nlga VII. improcedente a acção, tão só-
mente quanto á indemnização pela prisA.o durante o estado de
sitio e á. (los valores e titulos cuja existencia. em cofre, por
occalilião da bllscà policial, não ficou provada,-a sa.ber, a
quantia. em dinheiro e ieiscentos e cincoenta deb«ntu,." de
100$000 ela Compa.nhia Leopoldina, assim comu tambem
quanto á das sQiscentas acções da Companhia S. Paulo In·
dustrial ::e Agrícola, por iersm nominativas e portanto não re-
sultar do seu descaminho a perda da propriedade para o dono.
No mailii, tendJ como provadas as allegações tio autor appel-
lado, confirmava a sentença da primeira instancia, COlll a
modificação apenas relativamente aos titulos extraviados, de
serem indemnizados, não pelos valores perdidoi na II.cção, mas
pela cotação official do dia daapprehenslo deIles na aIludida
busca (4 de Novembro ele 1893).-Decidindo diversamente,
apoia-se o accordam em longa. serie de considerandoil, uns de
facto, outros de direito. Os primiiros, intiressa:n.do unicamente
- 511-
ao caso julgado, não valem a pena da discussão; quanto aos
segundos, exigindo a sua .discus!!âo largos desenvolvimentos,
de todo o ponto incomportaveis na occasião, limitar-me-hei a
breve contradicta, não de quanto nelles ~e aparta da minha'
opinião, mas unicamente do que me parece' importar completa
subversão da sã doutrina juridi0a.-Começaudo pela legitimi-
dade do autor para demandar a restituição ou indemnização
de titulos de terceiros, não sei como se possa negaI-a, desde
que, achando-se os titulos depositados em mão do autor na
qualidade de corretor de fundos, as obrigações por elleassu-
midas para com os committentes lhe conferiam as faculdades
juridicas necessarias ao seu cumpdmento, inclusive ade im-
plorar a protecç,ão judicial para a dffeza ou recuperação do
deposito.-Relativamelltt! ao ponto juridico fl1ndam~ntal da
causa, sem me fazer cargo da critica de todos os argumentoi!
em que edifica o accordam, pela primeira vez entre 'nós, a
theol'ia da absoluta irresponsabilidade du Estado pelos abusos
dos seus funccionarios, apenas quanto ao principal-de que
"o Estado, como pessoa juridica, não commette delictos, np.m
lhe pôde ser imputado o quasi-delicto (la negligencia na fisca-
lisação dos seus funccionario~. -, ptlflil'ei permissão para pon-
derar: I·, que a responsabilidade civil não é attributo da
responsabilidade criminal e qUé, nem por serem insusceptiveis
-desta, ficam as pessoas juddicas a coberto daquella; 2°, que a
responsabilidade civil do Estado assenta, não na presumpção
de culpa in vigilando, mas no principio da l'spresentação juri-
dica, em virtude do qual o representauo se obriga pelos actos
ou factos do repr\lsentante, praticados d;ilntro dos poderes da
representação, princil,io applicavel ao Estado, agindo por in-
termedio dos seus orgãos legitimos, q Hei' nas relações contra-
ctuaes, quer nas extra-contractuaes (Ohironi, Ool!Ja Oonlm-
ctuale, ~a ed., capo IX). Se pois o funccionario publico abusa
das suas funcçôes e lesa direitos. de terceiros, não ha como
furtar-se o Estado á reparação do danlllo. Nem colhe a obje-,
cção de que o Estado não autoriza abll~OS. E' preciso não o.:on-
fundir o abuso, isto é, o mão uso das àtt.ribuiç~e8 legaps,. com
o exc,esso de poder, consistente na pratica de act~s exorbltan-
~es daquellas attribuições. Se n'este ultimo caso é evid~nt~ a
Irresponsabilidade do Estado, não menus o é que no pnmell'o,
subsistindo o principio da representação, o Estado responde
pelos damnos causados a terceiros pelas culpai dos seus agentes
no exercicio das suas attribuições. Não obsta tambem o pre-
ceito estatuido no art. 82 da Constituição e invocado no ac·
cordam; porquanto ainda quando se queira entendeI-o com
referellcia unica. â responsabilidade dos funccionarios para
512 -

com terceiros, tal responsabilidade de nenhum modo implica


com a do Estado, conforme (\ regra. de direito que estabelece
a obrigação solidaria do preposto e do committente pelas per-
das e damnos causados a outrem por facto culposo do prepollto
no desempenho da commissão.-José HVUino. Vencido. De
accordo com o voto do Sr. ministro Figueiredo Junior,
accrescentando somente que 11. responsabilidade directa do
Esta.d) por actos dos funccionario8 pnblicos pratieados no
exerci cio de suas funcçôos e offensivoil de direito!! de terceiros
acha~se implicitamente 'reconhecida no art. 13 § 14 da. lei
n. 221 de 20 de Novembro de 1894.-Fui prelente, Lucio.e
Mendonça.

E' incompetente o juiz léCcional para 00-


nhecer da accão summaria proposta per
e.crivão de pretoria do Districto Federal con-
tra a União Federal, afim de ser annullado
o acto do ~residenta da Cõrta de Appellação
qua o demIttiu do emprego que exercia.-
A justica do Districto Federal é equiparada
á dos Estadol.-O omcio de que se trata é
de natureza local.-A competencia da jUltioa
federal para conhecer das causas que S9
íundarem na lesão de direitos individuaes s6
la refere aos aetos ou decis~es da. autori-
dades administrativas da Únião.-Ao Supre~
mo Tribunal Federal compete conhecer dos
.aotos do presidente da Cõrta de Appellaçio,
chefe de um tribunal de justica 10cal,.6-
mente por via de recurso extraordinario
nos casol previsto. na lei.
Intelligencia do art. 13 da lei n. 211
de 1894.

Appellação civel n., 246

Appellante- A.ng,lo Beneve",uto, e:x:-escrivllo da 10"pretoria


do Distrioto Federal .
.Appellada-.A Uni{io Federal.
Supremo Tribunal Federal

ACCORDAM

Vistos, expostos e discutidos os presentes autos de appel-


lação civel, entre partes, como appellante Angelo Benevenuto e
appelh.da a Uni90 Federal. Mostra-se dos mesmos autos que,
tendo sido o appellante escrivão da lot; pretoria condemnado a
uma pena disciplinar pelo Conselho Supremo da Côrte de Ap-
pelIação, em virtude de representação do . respectivo juiz
- 313-

Dr. Ataulpho Napoles de raiva, foi posteriormente demittino


desse cargo, por portaria do presÍ(lente da Côrte de Appellação;
que o appellante, nã.o se eonformando com esta ultima. deci-
são, propoz perante o juiz seccional a acçi'i.o Rummaria uo
art. 13 da lei n. 221 àe 20 ele Novembro de 1894, afim de 'ser
annulIado semelhante acto que o privára de seu emprego.
Isto posto : ..
Consideranào que, n~t eonformidaàe do art. 365 do Decr.
n. 848 de 11 de Outubro de 1890, a justiça do Districto Fe-
deral é equipa,~ada á dos B~staàos; sendo, portallto, o ofticio
que exercia o appeHante e do qual foi destituido, de natureza
puramente local;
Considerando que o art. 13 da lei n. 221 de 20 de No-
vembro de 189-4:, apenas dá competencia aos juizes e tribunaes
federaes para processarem e julgarem as causas que se funda-
rem na lesão de direitos individllaes por actos ou decisões das
autoridades aàministrativas da União; '"
Consiàerando que lh'stes termos, sendo o presidente da
CÔlte de Appellação o cllt·te de um tribunalloeal, não podem os
seus actos ser apreciados Rinão pela justiça local. competindo uni-
camente ao Supremo Trihnnal Federal deIles conhecer por via
de recurso extraordinario e nos casos previstos no art. 59
n. 3 § 10 lettl as a e b do IIOSSO pacto fundamental. Accordam
por e:!tes motivos, confhTllitr a ilentença á fi. 20, em que o juiz
a quo se declarou ineolll petmlte ratione materim para julgar
da presente acção e conc)t;mnam o appellante Das custas.
Supremo 'l'ribllnal Ft'(leral, 5 de Maio de 1897,-Aquiuo
(J Cast1'O, pl'esidente.- Bn11a1'dino Ferr,ira. -Pereirct Franco.

-Macedo Soares. - Ribeiro de Almeida.-João Barbalho,-


Manuel Mul'tillho.-H. do E8pi1'ilo Banto.-José .Hygino.--,
Figuei1'edo JU'lIi01·.-A11I1'1·ioo Lobo, vencido j a gravissima
questão suscitada pelo a),pellante ~ preterida afinal por uma.
supposta incompetencia de'. juizo não opposta opportullamente
na contestação de fi. 12. (~omliste em saber si o art. ~9 do dt'.-
ereto n. 1.030 de 14de Novembro de 1890, não passa de ecltl)
irreflectido de textos leghdativos promulgados durante o regimf·n
imperial, ou si, ao contrario, é reproducção material e juridica do
during good behaviour eltampadon. art., 3°, secção 1"', daColl";'
tituiç!1o Norte·Americana. onde os nossos legisladores republi·
canos beberaJII inspiraçõps, e de onde se deriva a inamovibi·
lidade dos magistradus dos Estados Unidos. .
, A exoneração do cargo de escrivã.o da 10. a pretoria dada
discricionariamente ao appellante, com qllebra. da 'regra non
b'is in idem, (:onstitue incontestavelment.e um acto de governo
e, T)nis. sujeito, mtione rnatel'ice, ao conhecimento da .Tnstiça
~~.~ ~
- 514-

Federal (Constituição, art. 60, lettra b): a palavra Governo


compl't'.llsnde de necessidade o Poder ,Tn(lidHrio, qnallilo
exerça aeto governamental, e a lettl'a b, § 9· do al't. 13
da lei n. 221 de 20 de Novembro de 1894, inclue na esphera
da acção especial aUi instituida até o~ aetos emanados de
autoridade incompetente, isto é, entidade particular no to-
cante á medida collocada fóra dos limites de seu poder.
Toda a questão dos autos, si me é licito este by~nn·
tismo, reduz·se a decidir si é ou não federal a j IIStiÇa. do
Districto Federal, em cuja cupola fnncciolla a autol'idarl.e (le
de quem partiu a medida impugn!\da e em balde submettida
no julgamento de juizes extranhos ã sua g'el'al'clJia. A' );eme·,
lhança do Papa. que não deixa de Sllr chefe da. Igreja Uatho-
lica rara se tornar capellão do Vaticanll, onde 8i1 circnms·
creve a sMe llOntificia, o juiz seceional da capital da Rel'llblicit
Dio perde o caracter federal só por ter a jurisdicção I imitada
a eite distrieto; outrotanto acontece ao jui,,:eg do Dist,ricto,
cujo offtcio é applicar o maxinmm das leis fedel'tl.es, deixando
ao seccional a tarefa de exercer o minilllut1& da excepção.
Confirmando a sentença da primeira instancia, acaba o
Tribunal de julgar que a Côrte de ApP811ação llào cOl1stitile 11m
tribunal federal só porque o decreto n. 848, para OI ~ells
effeitos, equiparou este Di~tricto aOi E8tados. O argumento
seria. verdadeiro si o Districto organizasse os seul tribonaes,
deeretas8e às lei8' de procelso, nomeasse e pagasl!le seul juizes,
como fazem OI Estadoi!l.
Maio contrario de tudo isto é o que se vê, porque de-
pois do decreto de lI' da Outubro, o de n. 1.030 organizou
as justiças do Districto e a -Constituição de 24 de .fi-'even~iro
. de 1891 excluiu ~s leis adjectivas e!. trganização .indiciaria
da competeucia do Districto (.trts. 3-, 34' n. 30, 48 n. 5° e
67): os juize!> communs desta secção teilll a me~m8. lJllt.urezli.
ferjeral dos agentes á. quem a Republica incumbir a observan-
cia da legislação especial q ne estabelecer o Congret;so, UOI
termos do art. 34 n. 31, para a fundação de arsenaiS 011 de
outros estabelecimentos e instituições de eon veniencia federal.
Si a analogia, por cujo meio tie estendem as dispoliições '
de uma a outra lei, depende eiisencialmellte de perfeita
identidade de razão de uma e outra, a analogia expresHR no
art. 365 110 Decr. n. 848 s6 autoriza a seguint.e conclll~ão:
Ao envez do que se vê no Districto da Colambia, ha neste
Districto dlla8 secções judiciarias de origem e natureza ~'e­
deral, movendo-se cada qual na linha de sua compet.t'IlCla,
sem que nenhuma deIlas jámais se deva considerar m uuicipal,
districtal ou estadoaI. As despezas de caracter local na
-!. 515 -
Capital da Republica incumbem exclusivamente á autoridaite
municipal; tal é o texto do paragrapho uni co do art. 67 da
Constituição, do qual se, deduz que a acção do appellado
aiuda se inclue na pdme,ira lettra do art. 60.
Fui presente - L1Wi. de .Mendonça.

Responsabilidade da Fazenda - Nacional


pelos preiuizos resultantes, da declaração de
caducidade de contracto para o estabele-
cimento de nucleos coloniaes agricolas, na
conformidade do Decr. n. 528 de'28 de Ju-
nho de 1890, caducidade motivada por falta
de deposito, por parte do concessionario, da
quantia correspondente ás despezas de fls·
ealisação, por não assistir dIreito ao Go-'
verno para resoindir-por tal motivo-ou de-
cretar lIemelhante oaducidade .-Indem.isa-
ção. .
Questão de lucros ces.antes e damnos
emerientes oriundos da referida caduci-.
dade.

- Appellação Civel ll. ,:lI53

ApP6llantes-l e A Pa.,naa NeaiontSl,:J~ A Bm'oneza do


Sen'o Azul e .eus filhos menor6S.
Appellad(),-O, ?nt.mo. reciprocamtmte.
Supremo Tribunal J'ederaI

ACCORDAll

Vistos, expo~ tos e discutidos e~teSl autos de appellação


civel, vindos do Estado (lo Paraná, entre partes, appellantes
e reciprocamente aplIelladas: 1? a Fazenda Nacional, ré; 2°,
a 'Baroneza de Se no Azul e seus filhos menores, autores, ve o

rilica-ie o seguiut e: Por cOlltracto com o Governo 'Federal \


de 24 de Olltubrll de 1890, tomou a si o finado Barão, do
Serro Azul, medimte os encargos e favores do decreto n. 528
de 28 de Junho do mesmo anno, o estabelecimento de nu-
cleos coloniaes ag ricolas na Villa Deodoro, do mencionado Ego
.tado, para a. colLcação de 1.000 familias de trabalhadores.
estrangeiros ê nacionaes, dentro do prazo de 5 linnos, em
terras que possuia e nas que mais devia 2dquirir para tal fim.
Dando execução aI,) contracto, havia o empl't'zalÍo eiitabelecidQ
já 68 familias de immigrantes isÚangeIrtR, das quaes perma-
necem ainda 63, e feito outros importantes trabalho8, inter-
rompidos depois pela guerra dvil de 189g o 1894, quando a
20 de Maio deste ultimo anuo, foi fuzilado, como suspeito de
- 516-' ·
cumplicidade na insurreição contra o C"overno légal; não ob·
stante o que, foi-lhe marcarlo, por avb·, no ministro na in·
dustria, viação e Ebras publicM, ne 30 do I d'erido mez de
Maio, o prazo de 30 dias para realizar o deposito da quan·
tia correspondente ái despezas da fiscalização do seu contra·
cto, sob penll de caducidade, sendo, afinal, por portaria do
mesmo m~nisterio de ~5 de Agosto subsequente, deelarado
caduco o contracto, por não ie haver etfectuado o dito depo-
sito. Julgando-FIe lesadoll em seüs direitos por este acto do
Govenio, os 2.08 appeIJantei-l, como successore~ do Barão do
Serro ,Ãzul (vi uva e ftl'1os) , propuzeramperante o juiz sec-
cional a acção constante destes autos, para haverem . da Fa·
zenda Nacional, la appelJ,ante, a titulo de perdas e damno~, a
illdem)iizaçA.o de 1.500:000$, tenclo sido esta afinal condemnarla
pelo dito juiz ao pagamento iJa qnantia de 620:100$ e respe-
ctivos juros. O que tudo visto j .
Considerando que, ainda quando se entenda extensivo ás
em prezas organizada. em virtune de. contractos anteriores o
encargo das despezat! de fiscalização, imposto pela~ leis 11. 26
ne 30 de Dezembro de 18lH. art. 8· § 4? e n. 126 B de 26
de Novembn de 1892, art. 68 n. 111, ás companhias ou em·
rn1Zai' que gozarem de garantia de juros ou I!lubvençào do
Thesonro Publico, nem por isso al!lsistia direito ao Governo
para lescindir ou déclarar caduco o contracto do Barão do
Serro Azul, pela falta de pill'amehto dão quantia fixana para
a~ rt'tt'rillas deppezas, uma vez que nem a lei, nem as estio
pulações elo dito contraéto, o investiam de poder para tanto, e
cOllsequentemente, fazenno-o, incorreu em culpa, que acar-
I'eta a resprnsabilidade da Fazenda Nacional pelos prejuizos
dahi resultantes para a outra parti contractante;
ClIllsidel'ando, porém, que os. autos não otferlcem elemt;lll'
tos paia a liquidação de tal responsàbilidade : .
•-\ ecordam confirmll.r a sentença appelIada na parte em que
julgou procedt'lIte a acção proposta e reformaI-a, na pArte em
q na fixou a iudemnização devida pela I" appellante ao·s 2°· appel-
lantes, para mandarem que seja a respectiva importancia liqu~­
dada lia execução. Paguem proporcionalmente as custas R~
duas partes litigantes,
SlIpremo Tribunal Federal, 15 de Maio de 1897.-Aquino
e Gasl1'o, pre~idente. -Figueiredo JUflió",-Ribt,iro de ~lmeida.
-lJfanuel Murtinlw, vencido. - Pereira Franco. - MacedO
8oares.-JoBé H'Vlil'o.-Bernm·dino F.r1·eira.-Jo(J,o Pedro.-
H. do Espírito Santo. Vencido.
Carece de razão jurídica o presente accordam, que con-
firmou a senténça ap,pelIada, reconhecendo, de parte dos
- i517 :-
autores appellados, direito á indemnisação, proveniente de
lucros ces!lantes e damnos emergentes, ql1e a eUes advieram do
facto de haVllr o Governo, em observancht ao art. 8° § 4° da
lei n. 26 de 30 de Outubro de 1891,decretado' a caduddade
do contracto de fi., em virtude do qual tinha o contra-ctante.
Barão do Serro Azul, jus aos favores concedidos pelo decreto
n. 1)~8 de ~8 de Junho de 1890. Se procedesse o motivo em
que se estribou o a"ccordam para conclemnar a Fazenda Na-
cional no pedido dos autores, se i1legal fosse a caduciiade do
contracto, pelo facto de anteceder este á citada lei de 30 de
Outubro de 1891, a reClamação dos autores só podia referir-se,
em face dos rigorosos principios de direito, simplesmente á
indemnização \ dos prejuizos e damuoI qlle tivessem sofrido em
sua propriedade, nllnca, . porém, se lhes poderia reconhecer ()
direito de pedir lucros cessantes. A nORsa legislação ê a 'jas
nações civilisadas proclamam o principio de que-em ausencia
le estipulação expressa nas convenções, o devedor da obri·
gação só responderá, na inobservancia della, pelos lucros que
o credor deixar de ter, &e foi comprehendido em dólo.-Assim, •
para que a justiça, sem f illfracçilO deste principio regUlador das
relações de direit.os, nos contractos entre os individuos, e que
devia te,' sidQ applicadona hypothese sujeita, pude~se coç-
demnar a Fazenda da, União a. sati~fêlzer aos autores, além
de damnos emergentes, lucros cesl'Cantes, tor~ava-se indispell-
savel que ella se mostrasse convencida, por' meio de provas
irrefra~aveil!, de que o Goverrro agi o ·de má fé, no intuito de
defraudar o credor da obrigação, dolos~ mente em fim, ao de-,
cretar a caducidade do contracto. Mas e~sa prova não se fez
nos autos, nem se podi& presumir dói o de parte do GGverpo,
qUl1ndo decretava a caducidade do contracto de que se trata,
em ext>cução de lei,ext.ensiva a diversos individuos, e collec-
ti vidarle ; conseguintemente é de todo ponto' Íilsustenta vel o
aceordam deste 'l\ibunal, determinando que a Jj'azenda da
União satisfaça, sem ao menos estabelecer uma base para a
respectiva liquida.ção, lucros fabulosos e imaginarios, pedidos
pelos autores na elevada importancia de 1.500:000$0001
E' bom. lembrar que o contracto,cuja cadqcidad~ ~el'vio
de base ao l)edido na acção, dava ao primitivo contractante
certa: quanti/l, isto é, direito a 200.$, como premio, por cada
família de emigrantes que tiV~&3~ l.call&atl" em terras de sua·
propriedade. Como dl1r:8e premio pelo que não foi feito?
Aquelle que demanda a execução de um contracto deve provar
que tem satisfeito de seu iado. -Ame,-ico Lobo, vencido.
Sd o fim tragico do barão do Serro Azul opera. algum effeito
juridico sobre o contracto á fI. 9, de 24 de Outubro. de 1890,
- 518-

é para impedir que elle se transferisse para a sua viuva


e herdeiros porque o Governo da União, ao celebraI-o, ato
tendeu a idoneidade do contractante (Coelho da Rocha, Di·
1'(,ito Oivil, § 741; Cod. Comm., art. 240). Tanto isso é
verdade que· os SUCC8ssores 00 barão, cujos serviços se deviam
fazer em terras patl'iomonilitls Sllas, independentemente de
antorisaçõesespeciaes do Governo, acceitaram a rescisão do
contracto, que ainda aBsim se dissolveu, e só depois de es·
gotado o prazo de 5 annos, propuzeram o presente pleito
para haverem da l[azenda, não os lucros do contracto, jámais
luperiores á decima parte da somma da responsabilidade da
União (vide a representação dirigida pelo ministro da industria
e v-iação ao presidente da Repnblica, de que resultou o
decreto n. 2.506, de 1 de Maio do corrente anno), mas a
totalidade dos auxilios pecuniarios promettidos a serviços,
embora não tivesBem sido elles prestados e nem se quer
principiados.
Mostra-8e dos titulos exhibidos nos autos a fls. 141-228
- ter o ba.rão debitado aos colonos o preço das casas proviBorias
que elle recebeu do GoV@l'!lO; fi, vistoria procedida aos 2 de
Maio de 1895 demonstra que elIe reduzia a área legal dos
lotes rnsticos, e que só tinha 63 lotes em termos lle sei'
occupados, havendo 23 ainda llH.O concloidos: a consequencia
irrQfragavel é a, violaçao do Decl'. 11. 528, de 98 de .Junho
de 1890, 8igllallt~1' os arts. 23 e 24 e a ruptura do contracto
de fI. 9, compondo·se es'te de actos 811ccessi vos, isto é, tendo
o barão de localisar mil famílias de imluigrantes no prazo de
5 annos, até 6 de' Setembro de 1893, a s.aber, já decorrida
mais de metade do prazo, só havia localizado 68 famílias,
suspendendo a introducção delIas àesde 26 de Novembro
de 189ll, que é a data da ultimtt entrega de immgrantes
(fI. 31) que lhe fez a Deleg-Mia de l'erras e Colonisação.
E' aliás manifesta a falta em que incorreu o lJal'ão e
consistente em ntio depositar, como já o filera, a quantia
necessaria para a fiscalisação do contl'acto no qual, estipu-
la.do certos serviços mediante a prestação de parte das rendas
publicas, obrigou-se a proVllr a effectividade real de taes
serviçol; na clausula 4," o Governo eximira-se de tQda 8
qualquer obrigação não expreil&a no instrumento. Nem se
p6de dizer que a disposição da lei n. 26 de 30 de Dezembro
de 1891, art. 8.· § 4.°, saja inaplicavel aos contl'actos ano
teriores, porque conforme expõe Coelho da Rocha, na nota
A do Direito Oivil, !Jelas leis novas S8 regulam os effeitos
remotos: accresce que ao Congresso Nacional competia esta·
belecer a exigencia do onus de fiscalisação, em geral, sobre
- 519-

as emprt"zas subvencionados, e especialmente' sobre as con·


ce~sões UO Goverllo Pl'ovisol'io, as quaes elle tinha o poder
de rllvogal'. rEnelo não obstante, acaba o Tribunal de julgar
que procedeu de má fé o Governo que cumpriu a exigenci&
legal, reproduzida nas subsequentes leis de meio!: ~m verdada
o Tribunal niio sancciona o principio de qUi o imposto tirectQ
se toma retl'oactivo desde qúe incida nos contractos ante·
riores, porém presume dólo da parte da administração dll.
Republica quando ella exercita o dever elementar de pratic&r
as leis, e condemna a Nação Brazileira -a indemnizar o damno
do Hlpposto delicto ou quasi-delicto. Esta' acção eorren seus
terllJos ol'dinal'ios, offerecendo os autores todas as suas provas,
inclusive a solemne vistoria de tis. 108-115 e fixando afinal
o juiz (la 1.- instancia a condemnação da Fazenda na somma
de 663 :300$, mellOS a quantia de 43:200$ já recebida pelo
barào, na qual se inclue a primeira verba da conta de fi. 112
(2: 5008000). Tendo eu reduzido em meu voto a pretendida
iU i lp'lllllização ao preço ainda não pago do 15 kilometro!ll de
c1tlllin!l.js vicillaes abertos na colunia (12:000$), não pref!-
cill(!o de notar que figuram naquella conta 250:000$, valor
ele mil casas pl'ovisorias; 250:000$ de auxilio para l\ locali·
sa(~ào de mil Ja,milias; 130:800$ de auxilio para abertura de·
e~trac1as coloniaes e 30:000$, tlnalmente, pela concessão de
15.000 hectares de terras. devolutas para a localisação de
mil famílias.
On" conforme o texto do art. 24 do decreto n. 5~8, nlo
Im. lucro possível para o contractante em relação ás casa!!!
jll'ovilSorias, cujo valor não deve ser inferior a. 260$ para
cada uma, e cuja doação faz o Governo ao colono por inter·
medio do contrllctallte.
Nenhum lucro pode' este ainda auferir pda. localisação
de famílias, cujas passagens carissimas o GOTel'no apenai
anxilia com a. prestllção de certa somma.
O~1 caminhos da eolonia são Leneficios prestados, não a.o
contractante, mas aos colonos: tambem não se preltam a
cOllst.ituir oljjecto de especulação lucrativa. '
O que resta da conta de fI. 112? Terras devolutas, mas
a COlliltituição as transferiu para os Estados: a pretensã.o
dos autores ainda é repellida não só pelo teor do art~ 40,
como com todos os aetos publico8 do barão' de Serro Azul
qne clas~ificou como seus 84.371 hectares de terras cnltas e
incultas, como se vê da certidào de fi. 11 v., isto é, um
perimetro hastante para a 10c!1lisação de mais de 5.000
familias ((~(làa. qual em lote de 15 hectares) .
. 'rodos os titulos de acquisição de terras exhibidos pelos
-520 ~

[lutores a fls. 257-288 são anteriol'ps ao contracto de fI. 9, e


Robem ao preço de 13:700$. DeJ"ds do contraeto ha os
1 itulos de fls. 289.302, outorgado!' a Praxedes Gonçalves &
';úmp., uo valor de 1:1'\25$. 'l'otal. 15:325$000.
Elll SUllllllit, si o Tribunal nií,) encontro~l nestes volu-
mosos autos elementos para a liqlli lação da responsabilirlarle
na Fazenda, concluo que t.al re~pl)lIsabili<lade não existe,
salvo a da construcção de 15 kilnml't./"Ils (le e~tradas vicinae~ a
que já me referi. -Fui presente. -Lucio de ~lIfendonça.

Manutenção de posse de terrenos pertur-


bada por encarregados de obras por parte
do Governo da União.- Indemnização de
perdas e damnos a que é obrigada a Fa-
zenda Federal.

AppeIlação civel ll• .2:.2:.2:

Appellantes- O D r. IrenTique Augusto .llIillet li sua m1üller


e o juizo seccional ea;-officio.
Appellada-A Uniao Federal.
Supremo Tribunal Federal

ACCORDAM

Vistos, expostos e discutidos esl es autos de appellação cio


,'el, vindos do juizo seccional do Estado de Pel'llambuco, en·
tre partes, o Dr. Henrique Augusto Millet, e Sua mulher, au-
tores, e a União Federal, ré, nos quaes, além do juiz ~:r;·offi·
tio, são appeIlantes 08 autores, delItos se mostra que, eom °
fundamento de estar a commissão de engenheiros, incumbida
pelo Govel no Federal da edificação do Lazareto de Tamandaré
110 municipio do Rio Formoso daqul'lIe Estado, commettendo
actos tnrbativos da posse dos autore:" no sitio de sua proprie·
dade denolllinado .. Dutra», quaes, di-rribada de mattas, reti-
rada de madeiras de constrllcção, córte de lenha e edificações
para a fabricação de tijolos, propuzeram os autores a acção
constante dos autos para a manutenção da sua posse, cessa-
ção das turbações e indemnisação das perdas e damnos, assim
como para ser imposta á re preceito comminatorio, que asse·
gnre os autol'Ps contra novas turbações. No curso da acção,
além da pr.ova documental e testemunhal produzida pelas par-
tes houve vistoria e arbitramento. Pela vistoria ficou verifi-
cado achar-se derribada a matta em vasta área e nesta leyan·
-521.-

tados quatro grandes galpões, dous acabados e um por aca.bar,


sendo de qualida(le propria par!! cOIl!'trucção parte das ma-
deiras cortadas. A JUliiorü (tos pt'ritm;, affil'mando estarem
comprehendidos no perímet.ro da propriedade d()~ autores os
logares damnificados, avaliou o~ dalllllos em 30:000$, djscor-
dando o louvado da ré, não só quanto ao primeiro ponto, éomo
quanto aos damnos, considerando consistirem este::. unicamente
no córte de madeiras e avaliando-os em 200~. O juiz julgou
afinal procedente a acção, para manter definitivamente os
autores na sua posse, impor á ré o preceito de respeital-a, sob
pena de pagar 1:000$ de multa por qualquer transgressão, e
quanto ás perdas e damnos, condemllal-a a prestar aos autores
a indemnisaçl\o de 200$, appelIando ex-officio da sua decisão
para filste Supremo 'l'rihull!\l.
Accordam, cOllheeendo tão somente da appellação inter-
posta pelos autores da part.e da sentença que lhes foi desfavo:
ravel, dar-lhe provimento, para condemnar a ré appellada lt
pagar aos appellantes as perdas e damnos que forém regular
e equitativamente liquidados na execnção; porquanto, se, por
um lado, é illacceitavel o arbitramento de 30:000$, já por não
o terem de qualquer modo justificado os peritos em maioria,
já pela sua manifesta demasia conforme as acertadas c:msi-
derações a re~peito feitas na sentença appellada, POr Qlltro
lado, não menos inacceitavel se torna, por evidentemente
mesquinha. para a indemnisação dos damnos averiguadQs na
vistoria, a estimativa de 200$, tl\mbem i,lteiramenté inflln-
. damentada, feita pelo perito divergente, cujo laudo, alélIJ
disso, desmerece de 'todo valor juridico, pelas incollgrnencj~
e cllntradicções que o inquinem. Pague a appelIé!-dl!- ~
custas.
flllpremo Tribunal Federal, 19 de llaio de 1897. - Pe.-
reira Franco, vice-presidente.-FiQueiredo Junim'.-Ribei"o
d~ Almeida.-JollQ Pedro.-Manoel Hurlinho.-Pindahiba 46
'-li.-
'1t[atto~: - 4meriç(J LQbo~ a.f) E~pf,rito Santo, vencido.-Fui
presente LuojoJ!endon9a. .
-522-
Em embargos de declaracão não é admis-
sivel pedido de indemnisação que não foi
opportunamente opposto á acçào por meio
de reconvencào, e que, por tanto, não foi
objecto de julgamento.
Elllbargos de 4eclaração na appellação~. I60

Embargante~Dr.
Jeronymo Caetano Ravello.
Embargada- A Companhia Estmda de Fen'O Bahia e
Minas.
Supremo Tribunal Federal
ACCORDAll .

Vi~tos, expMt.os e discutidos est.ps antos, entre p:utes,


appellante, orl1 emhargante, DI'. Jeronymo Caetano Rahpllo e
apPf~lIada, ora emhargada, a Companhia Estrada de FeITO
Bahia e Minas: Aecordam de~pI'PZ;H' os embargos de dpclara·
ção 8. fI. 1!l8, porquanto, não tl'UOO o emhal'gante pediào por
meio de reconvenção fi inrlemnisação a que se julga com direito,
pelo~ concertos fpitos no navio r,n.iR. rei<titllição, eom os rp~Jle·
ctivos rendimentos,lhe era deman!lada na acção da emban!'aà~,
e não podendo,portanto,ser i~so objeeto de jnlgamento,nenhnrna
omissão honve na sentença aprelIada, nem no accordam em·
bargado. deixando de condemnar a emhargada ao pagamento da
ditaindflmnisação, como ora pl'ptellde o emhlt1'gante nos seus re·
feridos embargos. Pague o emhargante as cu~tas.
Supremo Tribunal Feàf>ral, 27 - de Março di 1897.-
Aquino e Castro, presidente.- Figlleit'edo Juniol·.-Pereira
Franco.-José lI.'t/Ui1lO. -lJ{anoel 3furtinho.'-João BarDnlh(). - .
Jollo Pedro.-Ribeiro de Alflleida.-H. do Espiril.o Santo.-
Pindahioa de Mattos.- Berna1'dino Ferreira.- Fui presente,
Lucio de Mendonça.

A avaliação dos damnos feita antes da


acção para o fim de fundamentar o pedido
tem o caracter de provisoria, e a ientença
que, baseada n'ella, julga improcedentes os
artigos de liquidação, não póde ser mantida.
Aggravo civel n. I84
.Aggravante-Fernanào do .Amaral R-ibeiro.
Aggravadàs-A Estrad(t de Fen'o de Porto Alegre· a Uru,
guayana 6 a Oompanhia Fluvial .
.supremo Tribunal Federal
ACCORDAM

Vistos, expostos e relataàos OH anto~ ent.re part.es, Ag!2'i'ii'


vante Fernando do Amaral Ribeil'o e aggravadas a Estrada de
- 523

Ferro de Porto Alegre a Uruguayana e a Companhia Fluvial,


dão provimento ao aggravo interposto (la sentença, fi. 87 v.,
que julgou improcedentes os artigos de liquidação da de fI. 52
deste 'l'ribunal, confirmatoria da de fI. 40 do Dl'. juiz seccional
do Rio Grande do Sul. Porquanto o valor dado pelos peritos
na vistoria. das avarias que deram logar á. aeção intentada
prlo aggravante, antes de proposta e!lta, !lem controver!lia,
portanto, entre a!I partes, não é definitivo, é provi!lorio,· para
determinar o da. causa e para outras consequencias legae.s.
O valor 'das perdas soffridas pelo aggravante é o que consta
dos documentos de fI. 80, exhibidos com as SUM razões de fI.
Accre~ce que dos fardos de xarqne verificados em per-
feito e~tado })elo!l peritolS da vistoria, deixou o aggravante de
receber 10, que n~o lhe foram entregues, ~ob 'pretexto de não
ter ~ido apresentado o ,conhecimento da carga, do qual, alih,
precisava elle para basear aacção que tinha de intentar. E
de~ses fardos precisava liquidar a importancia em dinheiro.
Julgando, pois, procedentes e provados os artigos da
liquidação, mandam que por eUa se prosiga na execução contra.
quem de direito, guardadus os recursos. legaes á 1~ ou !"
aggravada., aft~ de ser, por esse meio competente, determi-
nado qual de lias, ~i á ré principal, si á assistente, incumbe
8atisfàzer o pedido e custas.
Supremo Tribunal Federal, 10 de Abril de 1897.-Aquino
e Castt'o, presidente.-Macedo SOa?·e8.-Perei1·a, Franc(}.-MfI.-
nucl MurtinllO.-Joo,o Ba1·balho.-Amm·ico LolJo.-Figuefredo
Jllniot".-Berna7'dillo Fen·eira.-Pindahiba de J.fatt08.-Joo,O
Pedt"o.

Não causa damne irreparavel o despacho


que recusa requisitar a exhibição de livros e
papeis de repartiçõel publicas, para nelles
fazer-se exame judicial ~

Ággmvante8- Pedro Thomaz Marlin8 e Domingo8 AZve8


de Oliveira.
Âggt'avada-~ Unio,o Federal.

Supremo Tribunal Federal

ACCORDJ.M

Visto!'!, expostos e discutidos estes autos de aggravo, em


que ~ão aggravllntts Pedro Thomaz Martins e Domingê8 Alves
-&24-
de Oliveifl\, e aggravadll. a União Federal, negam provi·
vimento, l' Irque o despacho do juiz a qno , indeferindo ore,
querimento dos aggra.vantes á fi. 2l1, para que o me~mo jlliz
reqnisita85~ do ministro dlt illdustri . . e obrM publicas cópia
ou certidão de papeis das respectiva~' repartições, e para
que se proL:ede~Be a exame juclicia.l em livro. pll tencent.es á
Fazenda. Publica com apre!lentação (le~!lP~ livros em juizo, tudo
elll beneficio do~ aggravantes e put\. fundAmentarem Ima acçáo
p~oposta contra. a Uniã.o , lfederal, não cau~a, evidenlemente,
aos aggravantes, damlw irreparavel LLi ilideferimentl), que se
funda em direito, como bem o demonstrou, o juiz a quo na
sustentação (lo seu despaeho aggravado. Paguem os aggra-
Vantes ae custas.
Supremo rrribunll.l Federal, 20 de Abril de 1897.-.Ãquino
e ça.,trQ, presidente.-Pindahiba de Mil(toA.-PereirtS Franco.
-Ribeiro de .J..lmeida. -Jol1.o Barbalho:-Manuel JIurlinho.-
Jo~é !lygino. - Figueiredo Junior. -H. do E8pirito' Santo.~
BfJrnardino Ferreira.-Macedo Soare" não conheci.

Disponibilidade de' mll.gistrados. - Nulli·


dada do Decr.n. 2056 de!5 de Julho de
1891, que aposentou-ol.

Acção 80IDIDaria especial

..4.utore.~ -O~ bacharei8 LOUf'enço Talente de Figueiredo,


JOS6 .Jansen ft1erreira Junior e outro., .juize, dI direito.
Ré-A Unillo Federal.

~trlze Cederal dalecoio do Maranhão

PBTIÇÃO

lllm. Sr. Dr. Juiz Seccionlll do Estl\do.-OIl bachll.reis


Lourenço Valente de Figueiredo, José Jans€.ll Fel'l'eira Ju·
nior, Carlo~ Emilio d' Andrade' Peixoto,Antonio José Marques,
Urbano Santos da Costa e Araujo, I~aac Martin~ Reis, Henri·
que Hermet.o MaI'tin~, Georgiano Horacio .Gonçalves, Antonio
Pereira da Uamarll. Ljma J,!'ilIW ~ J o~~ PJr,s da Fonseca, juizes
de direito, não tendo aífdo 'Ilproveitllih)~' na reorgll.nisação da
magi~tratnra. dos Estado:'\, em qQe (unccionavam, achavam-se em
disi·onibilidade, em virtulte do art. 6" das disposições transitorias
da. Cons~ituição Federal de 24 de Fevereiro de 1891 e, sem
que tivessem requerido ou se tivesse prov~do a sua invalidez,
foram aposent.ados pelo Decr. n. 2056 de 25 de Julho de;11895,
com o ordenado proporeional ao tempo d~ serviço j deix;an<lo,
por iSlilO, a Alfandega dtl pagar-lhes a importancia Ile seus or:
denadoliJ, i-arantida pela citada Constituição e máiil leis d~
Repnblica, recebendo, &l)ellai, OI que requereram a c6nt~gem
do tempo de iefviço, o ordenado que se considerou propor- ,
cional.
Aeontlcendo, porim, que o Supremo Tribunal Fedetál,
por leu nnerando accordam di 21 d.e Nuvembro de 1898, pu-
blicado no D'.rio Official junt., de 3 de 'Dezembro do mesmo
anno, eonftrmlludo a l@ntE'n~a, lIue vem no ,Direito voI. 'li
paga. 104: a 106, julgou Du110 () cita'do D9cr. n. 2056, p~l'!i_ o
fim de 'lIegurar e iarantir o dirlito dlJ magililtradOiJ, em iden.-
ticlI circumltanciaa b dOI lupplicantfllil, elitlli rflQU81'em a
V. S. qUI I' dign' de marrdllr citar, com pena de l'eVf'lia, no éaso
de nl0 comparecimento, o Dr. procurador da Republica, il~ste
Est.,.do, com. representantl do ministerio publico. para, na pri-
meira audiencia deste juizo, vêr propor.selcontra:a UniÁ.o Fédel'lH
a compet@nte acção,nolil termOl' doDecr.n. j;l21 de 20 df Novpmbr6
de 18g4:, d, accordo com o di n. 84:8 de 11 de:,Outubll! de 1890,_
e relponder á mesma acção, afim de que V. S., recoJlheceil~o o
direito dOi lIupplicant.es, se dirne de julgar a referi,là deci.~ão
do Supreao Tribuna1 Federal a elles extensiva ficalido-fhes
mantida a dillponibilidade im que se achaTam e RSllegliriido, cOJt)o
se diz na lIentiUçll. confirmada, «o·direito ie ou ~t'rpiij álird~
veitlldo. nal jUliltiça feddral ,ou local, ou herem RI'Oseiltàdbs,
dlll'anti Il uiipon,ibilidade, por invalidezj~ verifica<1,i. e ~(1~ o
ordenado proporcional ao tempo de serviço effectivo augmén-
tado o da dhlponibilidade, até pl'efazer trinta alllio!!:t; se,iído a
União Federal condemnàda a. pllg9.r aos supplica:ntel' a iihpói'-
tancia dos ordenlldos Tencidolil e os por vencer, qu~ ,lhes com~
petem, como juizes de direito vitalicios, e os des'cont,;s que sól'
freram, nl que foram prejudicados pelo dito becr. li. 2056 e
nas cUital.
P. P. -deferimento.
Maranhão, 30 de Março de 1897. ,
Por lii e pelos mais reqüerentes - O advog',do, JtJ8~
Jan8en Ferreir'a Junior.
Vai com onze documentos.

Despachaua a petição, citado o Dl'. procurll.lloi' da Re~


lJIica, que, depois de proposta a acção, a contrariou por Ii~gà.
9ão , no praso legal, findo o qual foi discutida a causa) éomó
~e vê do seguinte:
- 526

TERMO DE AUJHENCIA

Ao primeiro dia do mez de Maio de mil oitocentos e


noventa sete, em publica audiencia. ordinaria QU8 ás parte.
dava, no logar do costume, o Dl'. José Vianna. ra.z, .i uiz
federal nesta secção, commigo escrivão do i'U cargo qUi, til
falta de porteiro, abri dita audiencia ao toque de campainha,
compareceu o advoiado Dr. José .Tansen Ferreira JUUiOl' e
disse que ~< por si Q por parte da semI constituintes Dr.
Lourenço Valente de lfigueiredo e outros, na acção summaria
especial que movem contra a União, lançava o DI'. procura-
dor da Republica do praso de dez dias, que lhe foi Ilssignado
pàl'a contesta.r e que requeria que, sob pl'égão, se houvesse o
lançamento por feito fi se proseguisse nos demaii term03 da
acção •. O mel'iti,.simo juiz, depoii de informado por mim e~'
crivão dos termos da causa, deferiu na fôrmil l'tqu8l'Ída e
mandou apregoar o DI'. procul'a'dol' d~ Republica, q1le com·
pareceu. O DI'. José Janien, ;ainda com a palavra, disse que
não tinha prova testemunhal a offerecer, leu a petição inicial
e a fé (le citação constante dos autos.
Decla.rando o Dr. prOCUl'adOl' da. Republica, tambem, não
ter prova testemunhal a offe:'ecer, o meritililsimo juiz deu a
palavra ás pa.rtel pa.ra requererem o que lhes convieilse i
apresentarem as IiUal razões verb!l.es ou elcriptas. O advogado
Dr. JOlJé Jansen pusou a arrazoar, ,verbalmente, pela fôrma
seguinte:
«Que era incont.stavel e, -já. hoje, não contestado ,
direito dos a.utores, provadodo8 autol i consai'fado no art. 6'
dM dilposiçõ .. t,ram!Ítorial da Coustituição d. 24. de Fevereiro
de 1891, UI) art. 7- da lei n. 2111 de 20 de Novembro de 1894
e reconhecido; nOI termOi regulares, pela sentell<;a que ie lê
no Direito, volume 71 paginas 104 á 106, confil'mada pelo
Supremo Tribunal Federal, na decisão, junta. aOil a.utOJ, de ~l
de Novembro de'l~96 i cailo juliado que deve produzir todol
os eifiitos legaes e ter applicaç!o a. todos que, como os
auto rei, . se acham nall mesmas condiçõeil, em que estão
aquelles, em cujo favor foi proferida essa veneranda. decisão.
Disse, mais, que para delDonstraçãodeilse dil'eito, aliás
incontestavel e evidente, pede licença para offerecer as lumi-
nosas coniiderações que vp.em uo Dir,ito, voi. 70, pag".48L
á 527, assignadas pelo talentoilo Ruy Barbosa, cujo llIlffi8 as
recommenda e que tr<ttou com a max:ima proficieucia., como
faz com todas as questt'jes de que se incumbe, de daffionitrar,
á toda luz, que o Decl'. ds 25 de Julho de 189i, foi um .acto
violento, inconstitucional e nulIo, por ser contra. direito ex-
-527-

pl'flSSO; e esperava que o meritissimo julgador, julgando pro-


cedente a ae<.;ão proposta, I'ecollhecesse o direito dos a.utores
a serem mantidos lia dispolliLili(Íltde, em que se achavam,
com os direitos que lhes concedia a Constituição Federal;
sendo-lhes pagos pela Fazenda publica os ordenados que lhes
competiam e os que deixaralil de receber, em virtude d'esse
Decreto, julgado inconstitucional e nullo pelo Supremo Tri-
bunal Federal, cuja decil!ão pelle sej", applicada aos· autores,
como é de justiça. » .
Com a pala vm () Dl'. proeura<lor da Republica, disse:
«l1l1e contef't.ava a He(;ão, por eOll~irlerar de perfeit.a conformi- /
uad.e o decreto do Poder Execlltivo, q ne apollent.ou os aut.ores,
com o art. 6°, ·S" alínea, da." di~p()~i~õ~:5 transít.orias da OrlDS-
títuição Federal, 'jue hem sedelllon,;tra Das razões com que
denegou ° presidente da Hepllblica salleção á resolução legis-
lativa qne interpretava a citada (1isposição constit.ucional, no
sent.illo em que o faz o aecordam ao Rupl'elllo TribuDal Federal:..
Nada mais tendo as partf's a dizer, o meritissimo juiz
determinou que, reduzidas as razões a processo e sellados e
lil'eparaclos os autos, lhe f08:'t'1l1 estes conclusos.
Do que, para constar, tomei nota 110 protocollo da audi-
encia e para aqui tran~('.revi. Eu, Vicente Angelo Martins
Val'ella, escrivão, escrevi.

SENTENÇA

Vistos e examinados os presentes autos, entre partes, como


autores, os bachareis Lourenço Valente ~ de Figueiredo, José
Jallsen Ferreira Jnnior. Carlos Emilio de Andrade Peixoto,
Antonio José MarqUêS, Urbano Santos da CO!lta Araujo, Isaac":
~Iartins Reis, H,·ml'iql1e Hermeto l\Iartills, Geol'giano Horacio
Gonçalves, Antollio Pereira da Camara Uma Filho e José
Pires da Fonseca e, como ré, a Uniã.o.
Pedem os autores o reconhecimento e asseguração do
direiro que lhes confedo o al'tigo 6 0 das disposições transitorias.
da Constituição da Repuuliea, direit.o de que s~ julgam esbu-
lhados pelo decreto n. 2056 de 25.~de Julho de 1895, cuja
annullação tambem pedem, acoimando-o de contrario á lei
fundamental da nação.
O governo revólneionario, compenetrado da necessidade-
indeclinavel dê cercar (le t.o(las as garautias o poder incumbido
da applicação dai; lei~, reconheceu OH direitos adquiridos pelo
Porter Jl1dieiario do IllilWl'io f', assegnrando:os em sua procla-
mação, confirMOU em subsequentes actos a sinceridade de sua
solemne promessa.
- 528-
Delimitando as attribuições dos governadores dos Estados,
o Governo ProV'isorio acautelou as regalias da antiga magis-
tratura, obstando fossem seus membros violentameNte priva.
dos de seus cargos e reservando para si o exclusivo poder de
investir os juizes perpetuoi. '
Conforme disposição constitucional, continuam em vigor,
emquanto não revogadas, as leis do antigo regimen no que,
explicita oil implicitamente, não fôr contrario aO systema de
governo firmado pela Oonstituição e aos principios u' ella con·
sagrados.
O principio da vitaliciedade do Poder J udiciario, precioso
elemento de ordem' publica, era acceit.o e efficazmente ampa-
rado pela legislação em vigor no regimen decahido e o nosso
codigo politico o proclamou em um de seus textos, ratificando-o
em leis ordinarias.
Destas dt'staca-se a de II de Junho de 1892, feitura do
proprio Congresso Constituinte, depois de separado em Ca-
mara e Sellalio, no exerci cio de ~uas funcções nOl'maes, a
qual assim dispõe em seu art. 1°; «Os direitos já adqUiridos
por empregados inamoviveis ou vitalicios e por aposentados, na
conformidade de leis ordinarias anteriores â Constituição Fe-
deral, continuam garantidos em sua pleniturle».
Em virtude de leis ordinarias anteriores ao Estatuto
Federal, o cargo de juiz de direito era vitalieio e ao Poder
Executivo faltava competencia para arbitrariamente apo·
sentar os magistrados_
Inspirando-ie nos grandt'il preceitos directores das de-
mocracias puras e solitlal'iu com o governo revolucionario, o
legislador constitlliute esta.tuiu que os juizes de direito e
desembargadores de mais nota seriam aproveitados de pre-
terencia nas OI gauizações jutliciarias federal e local.
Experiente, conhecedor, porém, das paixões humanas e
testemunha comtante da frequencia com que permanentes e
altos interel'sel:' geraes são ~llpplantados por conveniencias de
momento e vant •. gHls pl'llciaf~, 1'14utlle legislador, ~ubmet­
tendo-se ao dispolSt o 110 . art. 74 da nossa lei ba8cica, estabe-
leceu, na forma dos aeto!' e declarações do poder, que o
precetleu, que os juizes e dest>mbargadores, não contemplados
lias organizações judiciarias, seriam aposentados com todos os
vencimento., uma vez que contassem mais de 30 atinos de
exercicio, continuando os que não tivessem attingido aquell e
prazo, a perceber ~.us ordenados, até que aproveitados fossem,
ou aposentados com 01 denado correspondente ao tempo de exer-
cicio,
-529 -

A apoí'1flntadoria, de que falla o citado art. 6°. das


rli~poí'1i~õe.: transitorias, está inteiramente subordinada ao
art. 75 da nossa lei fundamental, que só a cfmcede em caso
rle invalidez, hypothese não verificada no acto do Poder
Executivo, que COi"lferiu a individuos validos a preroga.tiva,
de excepção Cl'eada pelas contingencias, a que eltá o homem
exposto. "
Aposentados os magistradqs em disponibilidade, revo-
gada está a disposiçi"1O constitucional, que os manda aproveitar,
lllas ao Poder Executivo falta competendapara tanto, im-
]lol'tanno sen procedilllento em um venladiiro ataque ao
salutar principio ne banuonia e illdependencia, que deve
existir entre os orgilos (la soberania naciona.l.
Que o direito ao aproveitamento por parte dos magis-
trados em disponibilidade não se extinguiu, dil·o positiva-
mente a lei n. 221 de 20 de Novembro de 1894, mandando
Ilue elles sejam llrefel'idos nos casos d. preenchimento de
vagas de juizes seceionaes, aftirma·o o decreto n. 2.464 de
17 de Fevereiro do corrente anno, quando regula a nomeação
de pretor. " . _
Questão vencida desde o transcendente trabalho do no-
tavel publicista americano Dl'. Ruy Barbosa, é hoje doutrina.
eorrente e acceita a da incollstitucionalidade do decreto
n. 2.056 de 25 de .Tnlho de 1895 ; portanto, reconhecendo e
asseg'nrando os direitus adquiriJ.os pelos autores, declaro nullo
o :tet.o do POIIer EXecutivo e condemno a União a pagar-lhes
os ol'demulos qne aos auto'tes pertencem, segundo a lei, e
mais a differença que deixaram de perceber, depoill de ín~n­
dado executar o citado decreto n. 2.056 e cu~as. - .I
S. Luiz, 29 de ~Iaio de 1897. - José Vianna' Vazo (*)

(") Esta Renten~a, diz-nos o Df. José Jansen Ferreira. Junior, um


dos ~utores. e que nol·a remetteu_ coi:n:à. peças que a precedem, passou
em Julgado. / ,
DA RED.

DIll. TOL. 73
Jurisdicção Commercial

Não é caso de recur~o extraordinario a


~ecisão proferida pela autoridade judiciaria
estadoal, em acção ordinaria de nullidade do
rllgistro de marca de fabrica, declarando não
ser a marca registrada dos réos identica á
do autor, havendo, pelo contrario, differenCBS
profundas entre ambas, visto ser a questão
da competencia da justiça estadoal, e ter
sido por esta decidida, sem que fosse decla·
rado valido ou invalido nenhum tratado ou
convenção, e sem haver-se questionado ou
decidido ser ou não applicavel· á e.peeie
qualquer lei federal.
Recurso extraordinario n. I07

Reoorrente-Jo8é de Maoedo.
Récorriãa-..4 Oompanhia de Estiva.
Supremo Tribunal Federal

ACCORDAM

. Vistos, relatados e discutidos esteS! autos, deIles consta:


Que José ·de Macedo, estabelecido na cidade do Recife, Estado
de Pernambuco, com fabrica .de vinhos e licores .de cajú e
outras fructas indigenas, propoz .perante o juiz do commercio
daquella cidade acção ordinaria com o fim de ser declarado
nuHo o registro da marca da Companhia de Estiva, represen·
tada pelos socios Madeira & Comp., e condemnada aquella a
alterar sua marca de modo a não induzir confusão ou erro
com a que usa o autor i Que, sendo' afinal, proferida a seno
tença á fi. 93, decidindo não ter o autor provado ser a marca
registrada dos ré os identica á sua, e que, ao contrario, a
marca dos réos tem diferenças profundas de modo a não in·.
duzir o erro ou confusão i Que, tendo appellado o autor para
o Superior Tribunal de Justiça daqueIle Estado foi confirmada
a sentença, interpondo então I) mesm!} autor recurso extraol"
dinario para este Supremo Tribunal Federal, fundando-se nas
disposições do art. 9 Q , lettra a, do decreto n. 848 de 11 de'
Outubro de 1890, e do art. 72 § 27 da Constituição da União.
E, considerando que sendo a questão da competencia da j~s·
tiça estado ai e por esta decidida em primeira e ultima instauClR,
sem que fosse declarado valido ou invalido nenhum tratado
ou convenção, e sem haver,se questionado, nem decidido da
applicabilidade ou inapplicabilidade de lei federal, é evidente
uão ser caso deste recurso, e por isso delle não conhecem,
Pague o recorrente as custas,
Supremo Tribunal Federal, 24 de Março de 1897.-Afuino
Castro, presidente. -Plndaltiba de Mattos.-Pe1'eira Pranco,-
João PtJd1'o.-:Manuel MurtinliO.- BC7'1Ut1'dillo Jíen'ei1'a.-Ma-
cedo Som·es.-H. do Espirit.o Santo.-Figtieiredo Juniol'.-Ri-
bel1'o de Âlmeida.~Fui presente, Luciu de :lJIendonça.

Compete a aeção executiva para o eom-


mandante do navio haver o pagame.to de
Bobrestadias por demora na descarga dos
generos transportados, ainda mesmo nio se
fundando o pedido em quantia certa, porque,
neste caso, a sobrestadia deve ser regulada.
pelo uso e costume do porto da descarga.
Responsabilidade dos consignatarios pelol!
pagamentos exigidos. --
Os dias fcriados por lei e pelos UBOS e
costumes da populaçãn não se podem com-
prehender no curso das estadias e Bobrellta-
dias, por constituir motivo de força maior.
Segundo Oli usos commerciaes, os dias que
se contam são unicamente os utBil, ainda.
quando na carta de fretamento se conlligne
que as estadias e sobrestadiai correrão dia
a dia.
Appellação cOlDIllercial n. 208

Appâlanle-Peter N. G1'am, capitão da barca €: ~o1congen».


Appellaclos-Â, Avenier & C.
Supremo Tribunal Federal

ACCORDAM

Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de acção


executiva, entre partes, como appellante Peter, N, Gram, ca ..
pitão da barca norueguellse Sjokongen e appellados A. Ave- ,
uier & C., cOllsignatarios da mesma barca.; allegou o appel-
laut.e que tendo os a ppellados começado no dia 5 de Junho
de 1895 a descarga de cimento e carga geral transportada.
pela dita barca, só a tel'lnill.lll a 17 de .Julho seguinte; que
se consumÍi'am assim 43 ,Ilias llesse tlescarreg:lmellto, quando
pela carta de fret.amento se devia elle operar em 23 dias, ser-
vindo (le base para CAte calculo o seguinte: 14 dias para 1.400
toneladas de cimento á razão de cem toneladas dim'ias, a m~or
-532-

porção que o capitão podia entregar, e 9 dias para 300 tone.


ladas de outras mereanorias j que nestas condições tinha elle
appellante direito a 16 dias ne sohre~tadia, isto é, a perceber
14 schillings e 3 dinheiros diariamente, contados de 1 de Julho
em que se devia ter concluido a descarga. Por sua vez alie.
garam os appellaclos: - que era incompetente a acção execu-
tiva para haver o pagamento de sobrestadias, quando porven .
. tura fossem estas devidas j que não se tinha marcado dia para
a terminação do descarregamento do navio; que na carta de
fretamento apenas ficou estipulado que a carga' peria entregue
no costado do· navio ido dep,'essa quanto o capitão pud~,se
entregar j que elIes appellados empenharam todos os esforços
para que o desembarque das mercadorias I!e effectuasse com
brevidade; que si houve demora nesse serviço foi occasionada
por culpa do appellante, o trabalho moroso de sua equipagem
e por causa de força maior; e que, portanto, quando não fom
annullado o processo por incompetencia de acçãl) devia per o
appellante julgado sem direito ao pedido. Entendeu o juiz de
P instaneia lJrevalecer a defesa dos appelIados e pela incom·
_ pete) ~ia do meio executivo intentado, e por lhe parecer
tambem havtlr sido o fretamento contractado, nã.o com os appel·
larlos, mas com outros carregadores no porto do embarque das
mercadorias, decretou a pedida nullidade. Isto posto e
tomando conhecimento da appelIação julgam sem procedencia
juridica os fundamentos da sentença appellada. Com effeito
tendo o capitA,o do navio o. direito de exigir por acção execu·
tiva o pagamento do frete., nos termos do art. 308 § I? do
Regul. Comm. n. 737 de 25 de Novembro de 1850 e art. 189
do decreto n. 848, de 11 de Outubro de 1890, não seria admis·
sivel e nem licceitavel em boa hermeneutica, que não pudesse
tambem usar da mesma acção para tornar effectivas as outras
obrigações que se derivam d'a mesma causa-aluguel do navio
-e que s:lo uma parte eventual do frete.
E nem se oppõe a esta doutrina o argumento de não se
fundar ás ve~es .0 pedido para pagamento de sobrestadias em
quantia certa; porque, na conformidade do art. 592 do Co·
digo do Comn:ercio, a sobrestadia deverá então ser regulada
pelo uso e costume do porto da carga ou da descarga,
Não tem assento na proV1. dos autos a asseveração de s~re~
os appellados meros portadores de conhecimentos, Os mdI'
viduos de De Clerck e Van Hem6lryck, que a sentença ap'
pellada considerou terem sitio os' contra~tadores do carrega·_
mento, foram apenas simples corl'ectol'es de navio, e na~a
estipularam em seus pl'Oprios nomes, como se evidencIa
. da carta de fretamento á fI. 62 em que expressemente de'
- 53.3 -

claram que assignavam p01' o1'dem de A. Avenier & Oomp.,


que são os appeIlados. Além disto, pelo documento de fI. 121
v., os appellados foram os coneignatarios daquella bllrca, e,
portanto, em vista do disposto no art. 25 do titulo uni co do
Codigo Commercial e art. 106 do citadu decreto n. 848
_ de 1890, ainda são responsaveis pelos pagamentos exigidos.
Reconhecida, assim, a cOillvetencia da acção e a legiti-
midade dos appellados, negam todavia provimento á appellaçãoj
porquanto, das peças dos autos resalta a certeza de não
poder ser attribuida áos appellados a demora no descarrega-
mento da alludida barca. Evidentemente, necessario é fazer
distincção entre difficuldade de execução de um contracto, e
impossibilidade de sua execução; pois que nesta ultima hy-
pothese seria uma dal'ogação do direito commum e contraria á
equidade, exigir que o afretador effectue o descarregamento
em dias em que esta obrigação lhe é \le todo inexequivel.
Assim, não se póde deixar de applicar ás estadias e sobres-
tadias a regra geral em materia de fretamento, isto é, de
não serem responsaveis os interessados pelos casos de força
maior; porque, tanto o fretador como o afretador devem
snpportar, sem repetição, os prejuizos que ella occasiona.·
E' bem de ver, pois, que os dias considera,los feriados por
lei ou pelos usos e costumes da população não podem ser
comprehendidos no curso das estadias, por constituírem mo-
tivos de força maior; attento ao não comparecimento do
pessoal da descarga e a auseucia. dos empregados fiscaes.
Conseguintemente, se o appellante reconhece em parte esta
verdade, asseverando á fI. 87 que os unicos dias legalmente
descontados são os 'domiugos em numero de 4, que foram
levados em conta, e não os dias de 00/'ptl8 Ohri8ti, S. João,
etc., etc., é ,da mais pl~na intuição que deveri"'- tambem
excluir esees mencionados dias feriados pelo juridict\ funda-
mento d. que «onde ha os mesmos obstaculo8 existem os
mesmos effeitos». E nem se diga que este principio padece
limitação, quando na carta -de fretamento se consigna -que as
estadias e sobrestadias correrão dia a dia; porquanto, segundo
os usos commerciaes os dias que se. contam são unicamente' os
uteis, salvo se as partes pactuaram que o carregamento ou o
descarregamento se fará mesmo em domingos e dias feriados,
pois que, na corrente de opinião dos commercialistâB, seria
este um contracto especial, que não poderia torna-se exequivel
senão diante de uma clausula f:lxpressa.
, Cotejando-se Eljtes principios com a prova dos autos,
ve-se da certidão da Alfalldega, á fI. 81 v., que aquella
barca começou a descarregar em 5 de Junho e terminou a 17
- 534-

ele Julho; e que deixou de dar descarga d'nrante 15 dias.


sendo 10 feriados e cinco por chover.
Descontando-se 10 c:ias feriados e tres que a tripolação
apenas dava descarga para uma embarcação (cit. doc.),
quando pelo uso do porto tinha de aux-iliar o descarregamento
(depoimento á fI. 22,-·v.), verifica-se que o pedido do ap-
pellante fica reduzido a tres dias, sem contar ainda com os
cinco dias de chuva, que não é reputado motivo de
força maior, salvo se tivessem os appelIados demontrado,
-o que não fizeram, que durante esses dias se tornou im-
possivel o descarregamento. Mas, para ter o appellante
direito a esses tres dias de sobrestadia, seria mister que
tivesse elIe estabelecido utrla base segura para a contagem da
alludida sobrest.adia.
Ora, o appellante fórma principalmente o seu calculo em
ter a barca Bjo7ccngen descarregado em alguns dias 100
toneladas de cimento; entretanto, juntaram os appellados a
certidão á fI. 51, na q nal se declara: - que a descarga de
um navio, deSide que não haja prazo marcado (como na pre-
sente especie) e n<'la exista praxe e.9pecial, regula-se pelo uso
e costumes geraes, que nunca é inferior o 40 toneladas por
dia utiI.
E' certo que o appellante diz: que essa certidão não se
refere ao descarregamento de cimento, porém não provou, como
lhe cumpria, semelhante allegação; e, sendo assim, não p6de
deixar de prevalecer essa certidão; tanto mais quanto não são
contestes sobre esse- poilto as testemunhas de fls. 22 a 23,
dizendo llma-, que acha possivel descarregar 100 toneladas
de cimento pOt' dia, e outra, apenas, 90 toneladas.
Nem pôde soccorrer ao appellante a clausula da carta de
fretamento «qUE> a descarga se faria tão depressa 'quanto o
capitão pudesse entregal'1>, pois essa clauílula está subordinada
ao uso do porto do dttstino, como é expresso no contracto de
fi. 58. Por estes fundamentos, accordam julgar, como julgam,
procedentes os embargos de fi. 48, insubsistente a penhora e
carecedor da acção o autor appellante, que pagará as custas.
Supremo Tribunal Federal, 31 de Março de 1897.-
..1qtâno e Castro, pre!iidente.-Piltàahiba de lIfattos.- Pereira
Franco. -Bernardino Fen'eira.-Rerrninio do Espírito Santo,
vencido. Votei pela reforma da sentença, para que fossem cou·
Iiliderados improcedentes os embargos, proseguindo-se na eI6'
cução, por entender que nos autos havia provas bastantes para
fazer vingar a pretenção do appellante. Desde que foi deter'
minado na carta de fretamento o tempo que deve durar a des·
carga do navio, as estadias, e sobreestadias, o tempo e modo
-535 -
de pagamento (Cod. Comm., art. 591), aos tribunaes de jus-
tiça só é permittido executar o que se convencionar.
Ora, se o pedido do autor appelIante, fundou-se na carta
de fretamento, fi. 52 a fi. 62, emque se convencionou que o em-
barque da carga teria log-ar dentro de 30 dias, exceptuan-
do-se 48 horas de dias feriados, santos e domingos, e que era
obrigado o capitão a tomar a bordo 100 toneladas por aia, e'
que o desembarque seria o tempo do costume para varios gé-
neros, e para o cimento tão brevemente quanto o capitão pu-
desse descarregar, e, cada dia sobre e além dos dito8 iia"
seria pago ao capitão quatro penc6s sterlinos por tonelada~ de
registro por dia, dia por dia; e assim prevista e regulada. a
-descal'ga que deveria realizar-se em menor numero de dias que
o estipulado para o embarque da carga, trabalho que mais
tempo demanda, só de accordo com o que fôra estipulado, de-
veria ser attendido o "referido pedido de pagamento de sobre-
stadias, como preceitúa a lei coinmercial no citado artigo.
Nos autos encontram-se provas de que as 1.400 toneladas de
ciment.o podiam ser descarregadas em 14 dias, e em" nove as
300 de outras mercadorias, sendo que, em logar de 23 dias,
gastaram-se 43, de 1 de Junho a 17 de Julho; e~cluindo-se
os impedidos, tinha" o autor direito a 16 dias de sobrestadia.
Simples como é o presente executivo, liquida como parecia. ao
questão, teve elIa na 1" instancia tão injuridica solução, (ue
foi repellida pelo accordam, que buscou outros motivos para
tornar insubsistente o direito do appellante; é assim que, entre
outros, fundamentos de decidir, estatuio que os dias feriados
por lei e pelo8 usos e costume8 ia população, não podiam se
compreheüder no curso das estadias e sobrestadias, por con-
,titui1' motivo de força mai.r, «que, segundo os usos commer-
ciaes, contam-se unicamente os Uteil, quando mesmo ,e co,,-
signe na carta de f,-etameRto qUB ai edadia, t. lobrestadia, cor-
rerl10 dia a dia... E com estes e outros fundamentos conseguio
o accordam decidir que de 1 de Junho a 17 de Julho houve
déz dia8 ftwiado8, e que só o appellanta poderia ter direito aos
tres dias de estadia, restantes das depurações, se \ houvesse
base segura para contagem das sobrestadias.-Ribeiro de AZ-
meiáa.-Manoel Murtinho.-João Barbalho.-Joao Pedro.-
Amerioo "Looo.-Jo.é Hygino.- Figuei1'edo Ju'/tior,- M'Ioedo
8oare8.-Fui pre8ente, Lucio de Mendonça.
- 536-
A parte que, em caso de abalroaçio, im-
puta a culpa do sinistro a uma das embar-
cações, deve proval-a cumpridamente, e,
não o fazendo, presume-se que o sinistro
occorreu por fortuna do mar •

.A..ppellação cOllllllercial n. 245

Appellante -Á Oompanhia de Seguro8 Brasjl Federal.


Appellada-A Oompanhia Naoional de Navegação OosteÍl·a.
Supremo Tribunal li'ederal

ACCORDAM

Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de acção


ordiilaria, em que são: appellante a Companhia de Seguros
Brasil Federal e appellada a Companhia Nacional de Nave-
gação Costeira.
Allegou a appellaute:
Que, trasportando devidamente rebocada a catraia An-
relia, de propriedade da appellada, certo carregamento para
bordo do vapor Itapoan, ancorado no porto desta Capital e
que se destinava aos portos do sul da Republica, foi .a dita
catraia abalroada pela barca Petropolis;
Que tendo-se perdido alguns generos e avariado outros
que conduzia a catraia, os quaes -haviam sido segurados por
ella appellante, em favor de Oliveira Valle & Comp., foi obri-
gadà por força de seu contracto a pagar aos Eegnrados o valor
do seguro' na importancia de 12:8038000 ; I

Que, com esse pagamento e df'claração expressa, ficou


ella appellante subrogada em todos os direitos e acções tIo
segurado contra terceiros, na conformidade do art. 728 do
Codigo Commercial j
Que, sendo o abalroamento devido á culpa da tripolaçfl o
dli. catraia, como apropria appellada pareCia ter disso consei·
encia, pois nãú fez protesto algum, pedia fosse julgada pro-
cedente a acção e condemnada a appellada á ,indemnisaçfto da
quantia pedida e paga, seus juros e éustas.
Defendeu-se a appellada allegando:
Que a abalroção não podia ser lançada á culpa da tripola-
ção da clltraia A:urelia j
Que a appellante não apresentou absolutamente nenhum
genero de prova de que s'e pudesse deduzir ter succedido
aquelle sinistro, por culpa dos condllctores da catraia ;
Que esse sinistro foi puramente devido a ca~o fOl'tuiw.
como implicitamente reconheceu a appellante pagando o seguro:
-537 -

Que, eUa appelladtt, não tinha obrigação de fazer protestó


jntlieial dnl!ndla o!;cnrrel1cia, pois que, semelhal)te protesto,
1:<lS tel'lilil:,: (h ai'". 360 Ile regllLtmellto n. 737 de 25 de Nó-
vellluro de 1850, não é obrig-atorio para os simples conductotes
de transportes, e que, nas circumstancia.s expostas, devia ser
julgada improcedente a acção e condemnada a appellante Dás
custas.
Considerando que é corrente, na jurisprudencia maritima,
qüe aos tribunae:; compete bem apreciar as circumstancialil que
precederam a um abalroamento, de modo a poder formar sua.
COll vieção sobre a cau~a que o determinou; _
Considerando que a simples narração do sinistro demonstra,
desde logo, que fl\i elIe occasionado por força maior; pois
que, sendo o navio abatroador, um vapor e, o abalroado
utUa pequena catraia, sem movimento proprio, é evidente que
áquell\3 assistia a obrigação de manobrar em 'Ordem a' evitar a
collisão j
Uonsidel'ando que, nestes termos, á appellante cabia cum-
pridamente provar a existencia da allegada culpa do corlductor
das mel'clt(toria:" ° que de fÓl'1na alguma fez, afim de compellir
a appellad;t a. satisfazer os prej uizos resultantes do referido
abalroa.m ento, 11IJrq ne, em regra geral, a duvida basta para
pl'esnlllil'-;S~ a f!>rtlllla no mar e não delicto ou quasi delicto :
At;cordara por esta razão e pelo mai!! que dos autos consta,
negar provimento á aPllellação e confirmar a sentença de
fI. 44 era sua parte dispositiva, e condemnar a appellante
nas custas.
SUllremo Tribumil }1'c'dentl, 10 de Abril de 1897.-·Aquino
8 ('astru, :)re8idénte.- PincZl1hiba de MaUo&.- João Peiro.-
Pereira Franco. -J[anoel J[llrtinlw.-Jo{},o Barbalho.- Ber-
na.rdino .l'erreira. - Jusé J1ygino. - H. do Espírito Santo.
Opinei péla reforma (lei. sentença appellada, por me parecer
que lllal iuteq,retou dIa a lei commercial estabelecendo que
o facto de haver o ~egu)'ador pago illJemnização ao segurado
pelo~ gelleros perdidos em viagem, gerava a presumpção de
que o ~inistro provinha rle furça maior ou caso fortuito; e
semelhante presllmpção 11&0 devia. servir de motivo derimente
do direitG da appellante, por ir de encontro á. expressa dis-
POSi~ão do art. 728 do Codigo Commercial, que assim di.põe:
.: pagandG o segurador um damno acontecido á cousa. segura,
fica.ra subrogê\do em todos os direitos e acções que ao se-
gurado conqJetirem contra tereeiros .... »
Foi .ill~t;;.nwnt"l nesta rli,.,r)flsiçáo que a appellante fundíra
sua cll:(;i1.u V,tra "CiHU",l' f:::Ü>':Livo seu direito regressivo-de
pedir a l'btitlli(~J.o d~, ÍW1J'lrtanda do seguro do.:! volumes á
-538 -

ré, a 'quem estes foram entregue~ l)ara ser transportados para


bordo do Itapoan e se perderam no naufragio da catraia
. AurtJlia, posta a pique pela barca Pett·op olis ,
O accordam confirmando, por outras razões, a sentença
. incidiu, na minha humilde opinião, em maior ceniura de
direito, porque, dando cl.lmo demonstrado um facto, do qual
nenhuma prova absolutamente foi produzida nos autos, isto é,
«que o sinis.tro da catraia AllreU«, fôra occasionaJo por força
miü0r », estatuiu que á· appellante, Companhia Seguradora,
cabia cumpridamente provar a existencia da culpa do con·
ductor . das mercadorias perdidas no sinistro.
Se, em face das disposições terminantes dos arts. 102 e
103 do Codigo Commercial, corre por conta do conductor o
damno acontecido ás fazendas, durante o transporte, - salvo
se provar o conductor que o damno proveiu de vicio proprio
dos objectos, força maior ou caso fortuito, - segue·se, como
consequencia necessaria, que o onus da prova da origem e
responsabilidade do sinistro não compete ao segurador, como
quer o accordam, mas, como é de direito, ao conlluctor das
fazendas, que tem de entregaI. as ou pagar o equivalente aos
respectivos donos, desde que nã9 prove que a s perdas e
avarias provieram de vicio' proprio, força maior ou caso
fortuito. A lei diz assim: «A prova de qualquer dos re·
feridos sinistros, incumbe ao conductor ou commissario de
transportes» (art. 102, !aP parte, do Codigo Commercial).-
Macedo Soares. - Ribeiro ele Almeiela. - Americo Lobo.-l!"lli
presente, Lucio de Mendonça.
Não votou o 8r. Figueiredo Junior por não ter assistido'
ao relatorio.

Ao ser julgada a excepção de incompe·


tencia de juizo, n.ão p6de ser desde logo
julgada a acção principal, que deve seguir
seus tramites legaes.
E' competente o juizo federal no Estado
em que tiver residencia o representante
de uma companhia ou empreza estrangeira
para conhecer da acção proposta contra 11
mesma companhia, aSllim devidamente re-
prelientada.
Appellação cOlDD1.ercial n.2I34
A1Jpellante - A «S. Paulo RailwayOompany ».
Appellado - Roberto Nonnallton. .
Supremo Tribuna.l Federal
ACCORDAM

Vistos, expostos e discuti\los estes autos de appellação


commercial, entre partes, appellante a S. Paulo Railway Com.
- 539-

pany e appellado Roberto Normanton, dão provimento ~ ap-


pel1ação para reformar a sent.ença appellada na parte, em que
julgou, desde logo a acção, e a confirmam na parte em que
julgou não provada a excepção de incompetencia, porquanto
já. tendo sido decidido pelo' accordam deste Tribunal de 4 de
Dezembro de 1895, que competente é a justiça federal para
conhecer da aeção de que se trata, devia tllla ser proposta;
como foi, perante o juiz seccional do Estado de S. Paulo,
visto ser ahi onde tem 'o seu domicilio o superintend~nte
William Speers, citado para responder, como representante da
appellante, aos termos da presente acção. PortaJllto mandam
que o processo siga os sens tramites. Custas pro-rata. ,
Supremo Tribunal Federal, 8 de Maio de 1897. - Aquino
e OaBtro, presidente. -José Hygino.- Rivei,'o de Almeida.-
Pereira Franco. - Bernm'dino Ferl'ei1'a. - ÂmericQ .Lovo.-H,
do EspÍ1'i(o Santo.-Pindahiva de Matto8.-Figueiredo Junior.
-JoCw Bar~alho. -Fui presente, Lucia d, Mtlndon~a.

Não prenlece I. alçada, quando 'se tratá


de competencia ou incompetencia de juizo.
Não diversificando as leis dos Estados, lo
que pertencem os litigantes,nio é competente
o jUiIO federal.
Intelligencia do art. 60, lettra ", 2& parte.

Ag",ravo cODlInercial n. I88

.Âgg)·avantes-Rióeiro Guimaro,es &, O.


Ãgg1'avatlo-Antonio AZfle8 do Nascimento.
Supremo Tribunal J'ederal

ACOORDAM

Vietos, relatados e discutidos estes autos de carta teste-


munhavel interposta pele firma Ribeiro Guimarães & Comp.,
com sMe nesta Uapitll.l, do despacho do juiz seecional do Es·
tado do Espirito Santo, pelo qual Si julgou incompetente para.
processar" uma causa de cobrança de divida commercial, . pro-
posta contra o negociante da praça da Victoria-Antonio Alves
do Nascimento, porque entendeu o respectivIJ juiz que nas.
attribuições dos juizes seccionaes, dadas pelo decreto 848 e
ampliadas l)ela lei n. 221, não estava eomprehendida a especie
sujeita, desde que não constava que houvesse diversidade de
legislação dos Estados a que pertencem os litigantes sobre o
- 540-

objecto da acção, e, vencida a_preliminar de se tomar conhe-


cimento da. carta testemunhavel, porque, sobre ser inadmi!sivel
o ~imite da alçada em questões de incompetencia de juizo, ao
juiz a quo não era mais licito, desde que se considerou incom-
petente para conhecer do feito, dar despacho algum no processo
respectivo, m6rmente no sentido de impedir () seguimento do
recurso para o Tribunal Superior, resolveu o Tribunal, confir-
mando o despacho aggr&Vado, negar provimento ao recurso,
considerando que na especie não se verifica a diver!!idade de
legislação de . que falls. a Constituição no art. 60 lettra· d.-
Págu~m os recorrente!! as custas. . ' - .
Rio, 24 de Abril de 1897.- Aqúino , Oa.tro, presidente.
-H. do E,pírito Sant•. -Âm,rlco Lobo.-Riheiro de AJmeida.
-j04o P,dro.-Manuel Murtinho, vencido. -Jod Hygino,
"encido, porquanto, segundo o art. 60 lettra d da Constituição
Federal, são da competencia da Justiça Federal os litigios
entre cidadãos de Estados diver!!os, diTersificando as leis
destes, e, a clausula «diversificando as leis destes», só p6de
referir-se ás leis processuaeil por serem uniformes as leis civis
em todo o territorio da Republica.-Pereira :Branco, vencido.
-JoD.o Barbalho. Neguei provimento pelos fundamentos do meu
vdt~; d~db bp,.~cct1W~in,~. J87; -Macedo Soares.-.Bernardillo
F6,.reirll : ~ Pindàhiba ãe Mattos. - Figueiredo Junior .

.A.dmitte-se aggravo do despacho do juiz


seccional qUI se declara incompetente em
eausa cujo valor cabe em sua alçada, visto
qUI a8 questGes de competencia ou incompe-
tencia de juizo transcendem a. aloadás .
.1 Justiça Federal não é competente para
processar e julgar as causas movidas entre
ei,dadãos de diversos Estados, s6 porque di-
versifiquem as respectivas leis de processo
commum, assim como as organilaç(Jes judi
ciarias.,
Intelllgenciá da 2. parte das dilposiç(Jea
COntidas no art. 60, lettra ti, da Consto Fed
AK'gra vo cODunercial n. I89

..Aggravant6s-Ribeiro Guimar4ea & Oomp.


Agj"avado-lLártinho Gonçal11e, de Freita, ..
Supremo Tribunal Federal
• , ÂCCORDAM

Vistos,' relatados e discutidos estes autos de agg~a vo que


Ribeiro Guimarães & Coinp., negociantes desta cidade, inter-
-541-
puzeram do despacho em que o JIllZ seccional do Estado do
Espirito Santo, julgando não se referir o final da lettra-d-
do art. 60' da Constituição á diffel'ença de leis de processo,
aliãtl existente neste Districto e naquelle Esta~o, se dedll.fou
incompetente para proceS~l\r e julgar a acção int~ntada pelos
recorrentes para o fim de bavere;}1 de Martinbo, Gonçalvea de
FI'eita~, negociante na Victoria, o tlaldo da conta-corrente' de
fl. 3 no valor de 930$810, aggravo que se converteu em carta
testemunhavel por ter sido rejeitado pelo juiz a quo sob O
fundamento da restricção exarada no decreto orgaJl!co da Jus-.
tiça Federal, art.- .'90 aZinea 2[l, lettra-a-; vencida a pre-
liminar da ,admissibilidade do aggravo, visto que as q\ÍestÕes
de competencia ou incompetencia do juizo transc'endeIq' aI!!
alçadas (Ord. Liv. 3°, tit. 20, § 9(2);
Considerando que, constituidos os Estados Unidos do
Brazil, cada qual com o seu Poder Judiciario e com as ªuali
leis de processo commum (Eltatuto Federal, art. 34 ns'. 23 e
26, e arts. 55 e 63), a seg'unda parte da. sobredita lettra c~m­
stitncional Itttribue competencia á Justiça Felleral parap'ro-
cessar e julgar os litigios moviQos entre cidadãos de Estados
divenos, não como as Constituições Norte Americana, no
art. 3-, Mcção 2:, n. 1, e Argentina no art. 100, "de modo
generico e comprebensivo da recusa de juizos e tribunael!!
differentemente nomeados e organisados, mas sob a condição
de diversificarem as leis, as quaes jámais se entendem s~r as
de processo, por pertel:cerem estas ao circulo onde se move
livremente a autonomia do!!; Esta!los, a cujos territorios
adberem com tal força e poder que as decisões jUdiciarias,
lavradas em observancia dos seus preceitos, encontram fê
obrigatoria em toda 8. Republica e neUa produzem effeitos,
independentemente de prévia homologação (Estl•.tUto Federal
art. M, n. 1, lei n. 221 de 20 de Novembro .:~ 1894,
\art. 12 § 4°);
Considerando que, si a divergencia de leis de um e outro -
Estado, quando se verifica sobre materia de jurisdicção que é
de ordem publica, suscitando entre Ol!! respectivos juizes con-
flictos 8ujeitos a decisões deste Tribunal (Contlt.art. 59,
lettra e), não desafora as justiças locaes, menos produz tal
effeito, quando se' dá sobre as normas secundarias de processo,
todas ali quaes são snbmettidas á maxima-Locu.t regit actutn;
Consid~rando que o Governo Provisorio, I'\utor do projecto
constitucional, formulou dous actos legislativos ql:le explicam'
o pensamento com que fÔl'a redigida a questionada lettra - d-,
e são os decretos n. 213 de 22 de Fevereiro e n. 84.8 de 11
de Outubro de 1890, no segundo dos quaes se determina que
542 -

nos pleitos movidos entre cidadãos de diversos Estados a


decisãe seja proferida de accordo com as leis do fô!-o do con-
tracto, e no primeiro dos quaes se revoga.ram as leis de locação
de serviço agl'icola, e em vista da llive/'sitlaele completa ti sen-
sivel 11a rnateria, no methoelo e nas condições elo trabalho de
uma pa1'a outra zona elo paiz, e para mel/LO/' con,ullm' as necils-
sidaáes e exigencias peculiares a cada uma, se transferiu para
cada Estado a competencia para regular, no seu territorio, as
mutuas relações jurídicas entre o locador e o locatorio ;
Considerando terem conferido aos nspectivos Congressos
competencia para legislar sohre locação de serviços e organi-
zação de trabalho, as Constituições do Pará no art. '22 n. 17 e da
Bahia, art. 36 § 24; sobre o codigo florestal e rural, as Cunsti·
tuições do Amazonas, art. 29 n. 2 (que accrescenta a pesca), de
Alagôas, art. 16 §22, da Bahia,art. 36 §23, do Rio de Janeil'o,
art. 26 n. 6~ e rIe Minas, art.30 n. 28 j sobee privilegioi de inven·
ção as ü;mstituições do Pará, art. 22 n. 17, do Maranhão, art. 21
n. 27, do Piauhy, art. 22 n. 18, do Ceará, art. 29 n. 5,
letra g, da Parahyba do Norte, art. 19 n. 28, de Pel'llam·
buco, art. 36 § 5°, de Alago:ls, art. 19 § 22, d() Rio de Ja-
neiro, art. 26 n. 20, de Minas, art. 30 u. 3~, du Paraná,
art.. 11 § 26, e de Santa Catharina, art. 24 § 16 j
Considerando, outrosim, que assiste aos E~tados e muni·
cipios o direito de legislar sobre os crimes e:xceptu1\(103 do
Co(ligo Penal (art. 6° lettra e) e contrarios á sua policia e
economia administrativa, crimes e contravenções de que po·
dem originar-se entre particulares acçúes para. indemnisação
dos damnos causados;
Considerando haver o recurso CJ'eado no art. 59 § lodo
Estatuto Federal, contra qualquer decisão judiciaria que, por·
ventura, não applicar no processo principios de direito sub-
stantivo, como seja.m os referentes á prescripçã'J e beneficio
de restituição j • .
Considerando, pois, não ser verdadeiro o argumento ad·
<luzido pOl' absurdo, de que, competindo ao Congresso Na-
cional legislar sobre o direito civil, comll1ercial e criminal da
Republica, o final da lettra. d jama.is terá etreito desde qu~ se
não applíqne ao direito processual commnffi. argumento, altá~,
incompativel com o primitivo pl'ojecto dll. Constituição, publt·
cado pt:lo Deci'. n. 510 de 22 de Jlmho de 1890, o qual, posto
que conferisse áquelle Congresso, no art. 33 u. 24, o poder
mais amplo de legislar sob:'e o direito processual de toda aRe·
pulJlica, todavia já continha no art. 5V, lettra b- a mesma
disposição reproduzidã i1J~is verbis na letra cl, o actnal art. 60 j
-·543 -

Considerando, em summa, que cada um dos Estados Uni·


dos do Brazil póde crear e extinguir dissemelhantemente di-
reitos, obrigações, pri vilegios . e isenções, exercendo normal-
mente sua acção legislativa sobre os gravissimos assumptos de
sua competencia constitucion~l, como sejam: correios, linhas
telegraphicas e t.elephonicas,· estradas e viação ferrQa, nave-
gação fluvial interna, bancos de credito real e agricola, minas,
terras devolutas, milicia civica, obras publicas, desapropriações
de propriedade particular por utilidade estadoaI. e muniCipal,
hygiene, emlino primario, livre ou obrigatorio, ensino secun-
dario e superior, desenvolvimento das letras, artes e sciencias,
bem como a catechese e immigração, a agricultura, a indns-
tria e o commercio (Oollstit. Fed., art. 7- n. 4, § 1. n. 1,
art. 9- § 1-; arts. 13 e 34 US. 6, 8, 15, 18, 20 e 29; art. 35,
ns. 2, 0,4, e art.s. 63, 64e 72 § 17);
O Supremo Tribunal Federal, negando provimento a éste
instrumento, confit'ma a decisão da primeira instanCia e con·
demna nas custas os reCOrf(~Dtes.
Supremo Tribunal Federal, 24 de Abril de 1897.-Áqúme
e Cast,·o, presidentf.-Americo Lobo. - Figueiredo Junior.~
Pereira Franco.-JJlacedo Soares.-Berna1'dino Fen'eira.-Pin-
dahiba de MattQs.-Jodo Pedl'o.-Rlbeiro de Almeida. ~ José
Hygino, vencido. Porquanto, segundo o art. 60, lettra d,da.
Constituição «os litigios entre cidadãos de diversos Estados;
diversificando aR leis desta:. são da competencia da Justiça
]j'ederal, e a clausula «diversificando as leis desta;, só pôde
se referir áR leis processuaes em todo o territorio da Repub~ica.
-Mano~l Murtinho, de accordo com o voto do Sr. José Hygino.
-João Ba1'oalho.

A pena de prisão 86 p6de ter 199ar,quando
ordenada pelo jui7., depois de .iulgada, rl'o,
cedente a iJ,cção preparatoria de cxllibiç:io
requerida pelas pessoas á" quaes e"te di-
reito é concedido no art. 18 do Corligo
Commel'cial, expedido o mandado respectivo,
não sendo elle cumprido pelo réo in COll-
tinenti.
Intelligencia do art. 355 do Decreto n. 737
de 25 de Novembro de 1850•

.A.ggravo çOllllllercial

Aggravante -Joaq~tina da Gloria da Go.qta Gomes.


Aggravado - Affonso Tlleolloro dos Hnis.
Conselho do Tribunal Civil e Criminal do Di;tricto Federal

ACCORDAlII

Relatados e discutidos estes :lutos, ete.


Accordam em Oonselho do rl'ribnnal Oivil e Criminal r1ar
provimento ao aggravo, interpo~to e tomado por termo á fI. 66,
com fundamento no art. 669 paragrapho 6° do Decl'. n. 737
de 25 de Novembro de 1850.
Com effeito, segundo o art. 10 parflgrapho II do Cor1igo
Oommercial, todos os que cOJllmereiam, ou individllalmellt,p, Oll
~m sociedade, são obrigados a ter illdi~r(~maveIlllent8 os li·
vros- Diario e Copiador de Cartas - , 11Iali ;;Ó IlO~ tEl-l'mos flos
arts. 18 e 19 do citado Codigo e do art,. 31)1 \10 Decl'. n. 737
jle 25 de Novembro de 1850, pÓfle ter logar a exhibiçiio dus
livros e escripturação commercial por inteiro, ou de balanços
geraes, requerida como preparatol'Ío da ac(~iio competente,
pelas pessoas interessadas nasqu8stões de su<.;cessã.o, commll'
nMo, ou sociedade, administração ou gestão mercantil por
e
conta de outrem, em caso de quebra, ou para conhecer de
uma causa, á requerimento da parte, ou mesmo ex-oifioio por
ordem do juiz, na pendencia da lide, para d'elles se averiguar
e extrahir o tocante á que3tão.
Si houver a recusa, nos casos do art. 18 do mencionado
Codigo, quando judicialmente ordenado, 8érá compellido o
negociante á apresentaçã0 dos seus livros, debaixo da pena de
prisão, e nos cagos dó art. 19, será deferido. 'jmamento
suppletorio á outra parte.
Oonseguintamente :l. pena de prisão só pórle ser commina(~a
ao negociante, si o juiz julgar pl'oeeuente a aeção prepal'atona
da exhibição, J'i>querifla pfélar, pp.~~.()as ái', qn~v's m.,Le (Hrritn é
concedido pelo art. 18 do CIJd i ';1) C. i1nme l't.i aI , e JlHUldilt'
pas!lar O mandado para a referida exhibiç~l.O, que terá logar
- 5~5-

in continenti, Aob pena dI:! prisão, que será logar executada si
o réo não cumprir o mandado (art. 355 do Decr. n. 737
de 25 de Novembro de 1850). -
A unica exeepção, prevista em lei, só tem loga.r quanto"
exhibição do protocoJIo dos corretores, dos livros dos agentes
de leilão, e di quaesquer officiaes publicos, que se fará inde-
pendentemente de acção, ou li requerimento da parte intertsl&da,
e por' despacho do juiz, que procederá contra os officiael. que
recusarem, como desobedientes e mandando-os }trender (art.
257 do citado Uec!'. n. 736 Je 1850).
Na especie- não s~ verifica nem o caso do art. 18 do
Codigo Commercial, nem se trata da exhibiçao do protocollo
dos corretores, dos livros dos agentes de leilão, e de quaes-
quer ofticiaes. publicos, t:l portanto não podia ser ordenada,
como foi, no despacho ag-gmvado, a prisão do aggra.vaote,
pelo facto de occultar os livros da firma commercial de flue
fazia parte, quando reclamados pelo liquidante da mesma firma
dissolvida por decreto judicial. .
Nestes termos reformam a- decisão recorrida e mandam
que o juiz a quo l'e~gue a ordt3m de prisão expedida e s6,·
determine ao liquidante o uso dos meios regulares de direittr
para a 9usca e apprehensão dos livros da firma commercial em
·liquidação, intentando tambem o procedimento criminal- que
no caso couber. Custas pela massa.
Rio de Janeiro, 22 de Julho·de 1897. - Muni. Barreto,
presidente. - Salvador Moniz, relator. -S'guradQ.

J urisdicção -Criminal

E' da competencia da justiça. federal o


processo e julgamento de crimes imputados
a directores de estradas de ferro pertell.-
centes á União por aotol commettidos nG
exercicio das respectivas fancções.
I

Conflict:o de j~risdicção n. G5
Entre o juiz 8eccional do Estado de Pernambuco e o ;ui'
da comarca de Palmare8 no mfl.~mo Estado.
Supremo Tribunal Federal
ACCOIWAM

Vistos, expoRtos e l'Biatatllls os autos, julgam competepte


o juiz seccional de Pernambuco para conhecer UO CrIme
~~.~ S
- 546

imputado ao engenheiro Luiz Machado Bittencourt, di~'ector


da Estrada de Ferro Sul de Pernambuco,--t'pertencente á
União, e como tal empregaào federal, por acto commettido no
exercício de seu cargo, que não tem fôro privilegiado, ex-vi
do art. 20 n. IV da lei n. 221 de 20 de Novembro de 1894.
E mandam que o juiz estadoal de Palmares se abstenha de
proseguir no processo respectivo e cumpra a precato ria por
traslado á fi. 6, do juiz seccional". Supremo Tribunal Federal,
7 de Abril dI!. 1897. -Aq"ino e Casi,'o, presidente . ....:.-llfacedo
Soare8. - H. (lo ]jJ'pidto Santo, - João Bai'baZlao. - Pinda1!iba
de Matto8. - Americo Lobo. - Pl'l'eira Franco. - Manoel _llfur·
tinho. - João Pedro. - Jo,1J Hygino. - B,rnarclino Ferreira.
-Figueiredo Junior. -Fui presente, Lucio de Mendonça.

Crime de falsificação de estampilhas do


selln federal (art. 247 do Cod. Penal) e de
apolices de divida 'publica estadoal (art. 245),
amda que commehdos pelos mesmos indivi-
duos com as circumstancias.e contempo-
raneidade dos factos e identidade de instru-
mento, nenhuma relação de connexidade têm
entre si. Pelo que, seus respectivos processos
devem correr em juizos diversos, competindo
á justiça federal o proce8so e julgamento do
l- e á justiça estadoal O do
crimes.
'0doIS ditos

Conflict:o de jUrisdicção n. 64

l'!Jntre o jui~ seccional do~]jJ8tado d~ Pernambuco e-o juie do


6 0 diBtricto da capital do m//smo ]jJ,tado.
l!Iupremo Tribunal Federal

ÁCCORDAM

Vistos,~ exposto(e discutidos estes autos de confiicto de


jurisdicção, movido pelo procurador da Republica do Estado
de Pernambuco, entre partes/o juiz seccional de Pernambuco
e o juiz dú 6° districto da capital do mesmo Estado, por en-
tendei' o primeiro dos ditos juizes: que tendo sido perante elIe
denunciados -Desiderio Bazilia de - Lima e outros ind.ividuo~
como incursos no art. 247 do Co digo Penal, por haverem fal-
sificado esta1ppilhas do,; sello fediral, !:devial<!avocar, como
avocou, o processo instaurado contra esses individuos e outros
pela justiça estadoal e como incursos no art. 245 do mesmo
Codigo, por haverem falsificado apolices da divida publica
daquelIe Estado, ao passo que o 2° juiz recusou cumprir a
- 547-
carta precatoria, fundando·se na sua exclusiva competencià
para o p:'OCtlSSO de um crime commum que não affecta direitos
e interesses da União.
Consideraudo que, na ausencia d~ lei que, e~tabeleça
regras sobre a pro rogação de jurisdicção por cllnnexidade de
delictos, a jurisprudencia sómente pódereconhecer tal con-
nexidade para o effeito da funcção de processos, quando entre
os delictos haja realment.e uma relação de dependencia. i '
Considerando que esse principio deve ser observado
tanto mais estrictamente', quanto trata· se das competencias de
duas justiças independentes, quaes a federal e a estadoal, não
divendo aquella prorogar a sua jurisdicção para comprehender
casos da competencia desta, sinão em virtude de uma disp)-
sição especial de lei, como na hypothese do art. 12 § S- da
lei líl. 221 de 20 de Novembro de 1894 ou em face de uma
illeluctavel necessidade;
Considerando que os delictos de que são accusados os in-
dividuos denunciado:'! perante os juizes em confticto, nenhuma
relação de connexidade têm entre si, não bastando para 'esta-
belecel·a simpllilsmelüe, a contemporaneidade dos factoi e a
identidade de instrumento;
Considerando que, dada a falta de connexidade, não é
admissivel a juncção de processos e a pl'orogação de jul'isdicção
por meras conveniencias que não podem alterar o rigor dos
principios i
Considerando que pOL' isso não deixa de ser respeitada a
indivisibilidade da causa, desde que, perante cada uma das
jurisdicções competentes, compareçam os autores e' cumplices
de cada um dos delictos em questão: ,
Julgam improcedente o conflicto para mandar como mandam
que cada uma da.s justiças, a federal e a estadoal, processe e
julgue o delicto que entra na sua respectivaco).llpetencia.
Supremo Tribunal Federal. 5 de Maio de] 897.- Aquino
e Oast1'or presidente.-José Hygino,-Manuel Murtinho.-.::Riõei1·o
de Alrneicla.-Jol'lo Bm'õalho, -Figueil'edo Junior. -Pereim
Franco, vencido, Votei julgando procedente o conflicto, ~
, competente o juiz seccional de Pernambuco paral>rQcessar'
tambem os re~ponsaveis pelo crime do art. 245 d~ Codigó
Penal, ora sujeito á jurisdicção do juiz do 6° districto do Re-
cife, por consideraI-o connexo com o do art. 247, de cujo
procesiw já se está occupando o mesmo juiz seccional, fun-
dando-me em que, embora não haja disposição legis~ativa que
estabeleça positivamente a cOllllexidade dos crimes e a regra a
seguir '.3m taes casos, comtudo, a jurisprudencia dos tribunaes
a tem consagrado, de accordo com a doutrina dos avisos n. 245
- 548-
de ~7 de Agosto de 1855, e n.'209 de 19 de Junho de 1857,
e do que ensinam criminalistas (le nota como Pimenta Bueno,
o qual entende que, sendo a connexão a (lepelldflllcia reciproca
que OI factos têm intre si, todos os meios da accusação,
defesa e convicção estão em completa dependencia, e assim
separar em taes condições os processos, será difflcultar os
esclarecimentos, enfraquecer as provas e correr o risco de ter
afinal sentenças dissonantes ou contradictorias. E desde que a
connexidade dos crimes se impõe, á justiça federal cabe
proceder exclusivamente ,avocando, si'necessal'io fôr, o processo,
que pOrYentura haja começado na justiça estadoal, pela razão
apontada pelo Sr. ministro procurador geral em seu parecer
de fi. 32, isto é, por exercer a justiça federal jurisdicção
especial, e ser em nosso regimen actual a mais prestigiosa,
pratica que este Supremo Tribunal tem por vezes sanccionado
por suas decisões. Ora, na especie dos present.es autos ambos
Oi crimes foram commettidos ao mesmo tempo, no mesmo
logar, pelos mesmos individuos, com a mesma intenção de
defraudar a Fazenda Nacional por meio de falsificação de
estampilhas, e á Fazenda Estadual, fáh;ificando suas apolices, e
servindo· se para esse fim os taes autores dos mesmos instruo
mentos, entre os quaes salientava-se a mesma pedra, em que as
estampilha!l e as apolices foram impressas. E foi justamente
a impo!lsibiliãade de se completar o corpo de delicto f!'lito !las
estampilhas, mediante o exame requerido á f!. 4: v. na referida
pedra, em razão do jury estalloal não querer entregaI·a, que
dsterminon o pedido da avocação, constante do requerimento
de fi. ~, dirigido ao juiz seccional, e baseado· em razões de facto
e de direito, que to ruam patente a necessidãde indeclinavel
de serem Ilmbos os crimes, Iior sua connexão, processados
juntos por .11m ,ó jl1ry.-Bernardino Fen·eira, vencido. De
Rccordo com os fundamentos (lo voto do Sr. ministro Pereira
Franco.-Macedo Soares, vencido pelos fundamentos do voto
do Sr. ministro Pereira Franco. -Fui presente, Lucio de
J(,ndo,.~a.
- 549-
Nullidade de julgamento por nie haver Q
jury repetido, nas respostas aos quesitoll
.. que lhe foram propostos, as palavras doa
37'
mesmos quesitoll,-Intelli~encil\ ao art.
do Regul. D. 120 de 31 ae Janeiro de lia •

Revisão crirninal n. ~ol.

IrnjJetrante- Rondolpho Joaquim ,ferreira.


Supremo Tribunal i'ederal

ACCORDA-K

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que Ran·


dolpho Joaquim Ferreira,condemnadopor crime de homicidio
á pena de 14 annos de prisão, em virtude de decisão do jury
da cidade de Christina, Estado de Minas Geraes, pede revi·
são de seu processo para o fim de ser-lhe applicada a peJla no
grão mini mo, ou para ser declarado uuHo o julgamento., por
uão ter o jury respondido detalhadamente aos quesitos de. le-
gitimadefesa. O Supremo Tribunal Federal, tendo em vista
que o jl1ry, respondendo aos quesitos 3°, 4-, 5-, 6' e 70 que
lhe foram propostos, se limitou á resposta negativa, com men-
ção do numero de votos, sem repetir as palavras dos mesmos
quesitos, eomo aliás prereitúa o art. 379 do Regul. n. 120
de 31 de Janeiro' de 1842, 'julga nnllo o processo do julga-
mento e manda que seja o requerente 8ubmettido It 'novo.jl1ry
com observancia de todas /l8 prescripções legaes. Custas
afinal. -
Supremo Tribunal Federal, 13 de Março de 18Q7.-
Aquino e Oastro, presidente.-Pindahiba de Matto8, tendo sus-
tentado a improcedencia da nqllidad\!, por ultimo votei por'
elIa, para acquiescer á decisão da maioria.-·Mace(10 Soares.
-Ribeit·o de' Almeida.-Ptre'Írn F1·anco.-;To6é - Hygino.-·
lI. do Espidto Santo. Votei para que fosse minorada a pena
do recorrente e1assificalldo·~·e no grão minimo do arL 193 a
pena,por achal' evidentemente prQyado que fôra provocado peI/\.
victima do crime pelo qual fôra condemnado omeSlliO recor-
rente.-João Pedro.-lllanoellllu1·Unho. Votei de accordo com
o 81'. ministro Herminio do Espirito Santo.-.Ngueiredo . Jv,-
nior. De accordo com os votos supl'a.~Berna1·dino Porreira •
. -Fui presente, Lucio de Mendonça.
550 -
Revisão-crime : - conhece-se de novo pe-
dido, embora .verse sobre o mesmo assumpto
do pritneiro, já indeferido.
Não basta, para prova da idade do réo, a
simples declaração por elle feita quando in-
terrogado yerante o jury.
Conversa0 da pena nos termos do § unico
do art. 3° do Cod. Penal
Revisão crhninal n. 22,
Im.petrante-Davià de Lemos Pinto.
Supremo Tribunal Federal
--
ACCORD.11tl

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que o réo


David de Lemos Pinto, cumprindo na carleia de Porto Alegre,
Estado do Rio Grande do Sul, a sentença que o condemnou,
por crime de homicídio, á pena de galés perpetuas, gráo ma·
ximo 'do art. 193 do antigo Co digo Criminal, pede reconside·
ração do, accordam deste rrribunal de 9 de Setembro de 1896
que julgou improcedente o seu identico pedido de revisão:
E não se vencendo a preliminar de não se conhecer do
presente pedido, por versar sobre o mesmo assumpto do pri·
meiro, já indeferido; julgam não proceder a allegada nullidade
do julgamento pela razão de já ser o requerente maior de 60
annos quando foi proferida aquella sentença, visto que não é,
prova de ter essa ida.le sua simples resposta no interroga to rio
°
perante o jury, sem que jimais tivesse requerente, em toda
a marcha do seu processo, quer na primeira, quer na segunda
instancia, e ainda por duas vezes perante e3te Tr'ibunal,
exhibido documento algum que pudesse provar ser verdadeira
aquella sua declaração de idad'e, que se não pode presumir
nem Rcceitar por simples allegação. Assim, sem procedencia o
pedido, e ·visto não ter ainda o requerent~ cumprido a pena,
quando convertida, confirmam a sentença condemnatoria, salvo
o direito de pedir ao tribunal que proferio a ultima sentença
a conversão daquella pena, si já não foi convertida nos termoS
do paragrapho uni.co do art. 3 0 do actual Codigo Penal. Pague
o requerent(' as custas.
Sllpremo rrribunal Federal, 13 de Março de 1897.-
Aquino e Oastro, presidente. -Pindahiõa de Matto8.-Macedo
Boares.-Ribeiro de Almeida, vencido na preliminar.-PcreiI'4
Fran co. -José Hygino. - BCl'nal'à'.no Ferl'eira.- :1I1anoel 11!uI"'
tinho.- H. do E~pirito Santo, vencicl.o na preliminar.- João
Pedro, vencido na preliminal'.-Figneiredo J'ltnior.
Fui presente.-Lucio de llIenàonça •
- 551-
Revisllo-crime : - não sê toma conheci·
mento do recurso, por não estar a petição
assignada pelo recorrente, nem pOi' outrem
a seu rogo, ou como seu representante, e
nem por qualquer do:povo com· o seu pro-
prio nome, mas sim por terceiro desconhe.
cido, que serve-lIe do nome do recorrente.
Intelligencia do. art. J 81 da Constituição
Federal,

Revisão crilDinal n.1.,5


Peticionario-João Matheus da Silva.
Supremo Tribunal Federal

ACCORDAM

Vistos, relatados e discutidos este!! autos de revisão cri·


minaI, em que é peticionario João Matheus da Silva:
COll!!iderando que a petição inicial não está assignada
pelo réo recorrente, nem por outrem a seu rogo, ou como
leu representante, nem ainda por qualquer do povo com o
seu proprio nome, conforme permitte a Constituição, art. ln,
e sómente por terceiro desconhecido que serTe-se do nome do
réo ; deixam de tomar conhecimento do recuno, pagas as
custas pelo recorrente.
Supremo Tribunal Federal, 31 de Março de 1897.-Aq"ino
e~aa.~tro,qÇpresidente. -Rióei,'O de Almeida. -Jo{to Pedro.-
Macedo SOMe3.-Manoel Mwtinho.-JolJ.o Barbalho;-Pi,nda-
hiba de Mattos, vencido.-Jo3é Hygino.-H. do Rspidto Santo.
-}3ernardino Ferreira. -, Perei,'a. Franco. - Figuei,'edo [Junior.
-Arnerico Lobo. Vencido pelos motivos com que fundamentei
o voto proferido na revisão n. 220, em tudo semelhante a.
esta,salvo a seguinte diffel'ença : o recorrente não sabia ler
e escrever ailS 7 de Março de 1890 qnando foi intp,rrogado
perante o jury, mas tendo sido conduzido para a cadeia de.
Ouro Freto onde cumpre a sentença, lá poderia aprender a.
ler e escrever, porque nas prisões centraes de Minas ha aulas
destina.das aos l'éos.
Si fôra outra a decisão da preliminar, dera eu provi-
mento á presente revisão para substituir a pena do grão médio
do art. 193 do antigo Codigo Criminal pela do sub-médio, e o
!hera, em vista das disposições litteraes dos arts. S-, 39 § 1-
e 62 § 2°, porque, desappareeida a circumstancia aggravante
da noite, por não ter sido procurada pelo recorrente para
mais facilmente perpetrar o crime, só resta a do motivo re,
provado, apenas affirmada por, nove votos, sobre a qual pre-
-552 -

pondera a circumstancia attelluante da menor idade do réo na


occasião do delicto.i'-Fui presente, L1Wio de" Meu.donça.

Na mesma conformidade foi julgada a seguinte


ReTi.ão crhninal n. 2~O

.Peticionario-Antonio Pedt·o da Silva.


Supremo Tribunal Jrederal

ACCORDAM

Vi.tos,. relatados e discutidos estes autos em revisão


crime, em qft6 é peticionario Antonio Pedro da Silva; Conside-
rando que /I, petição inicial n110 está assignada pelo réo recor·
rente, nem· por outrem a sen J;ogo, ou como seu representante,
nem ainda por qualquer do povo com o seu proprio nome,con·
forme permitte a Constituição, art. 81, e somente por terceiro
des~onhecido, que serve-se do nome do réo; Deixam de tomar
conhecimento do recurso, pagas pelo recorrente as custas.
Supremo Tribunal Federal, 31 de Março de 1897.-
Aqui"o e Oastro, presidente-Ribei1'o d, Almeicla.-Jol1o Pedro.
-Manoel MU1·tinho.-:-Jotlo - Barbalho.-José Hygino.-H do
Esptrito Ranto.-BertIM·ãino Ferreira.-Pindaltióa iIe Mattos,
vencido. - Figuelreão Junior. - Ame1'ico LODO, vencido.
Si a Constituiçl1o, corno diz a sentença, dA' ao procura-
dor da Republica e a qualquer do povo o direito de interpor
a revisão· crime em favor dos réos condemnados,não sei,na hypo-
these figurada no julgamento, que importancia mereça a falta
de declaração do rogo do recorrente na assignatura de fi. 1,
tanto mais quando o Sr. ministro, procurador geral da Repu-
blica, na cota de fI. 43, e de accordo com todos os prece-
dentes do 'rribunal, conclue pedindo li decisão do recurso, cuja
verdade ficou assim evidente.
Para obedecer á linha recta da coherencia, o Tribunal não
devia contentar-se ~om a determinação de uma só hypothese,
mas ,addicionar-Ihe a conjectura ele que terceiro subtrahira do
condemnado OI! documentos a ellel'el'tencentes para instruir
com os mesmos a presente Tevisão: só assim se .destl·uira 'a
presumpção de que a posse de taes doenmentos fôra transmito
tida pelo condemnado a terceiro a bem de seu recurso, e é
quanto basta para SUI!prir a declaração do rogo"- '- , J
Mas a verdade é que, não estando reconhecida a assigna·
~.

tura de fI. 1, porque nenhuma lei o exige, e sabendo o re-


corrente ler e escrever, conforme se vê do auto do interroga-
torio, j unto por traslado á f!. 32 v., não ha nos autos nenhum
exame, e prova algnma (nem ao menos aIlegação) da falsidade
daquella assignatnra : por i~so não rue considero' habilitado
para decidir de plano, mas sem elemento de convicção, que a
firma do recorrente, não r.otc·,iada com a original do traslado,
não é verdadeira, lll'ejudicalldo·lhe com isto t> julga"lento
deste recurso amplo e cOIl8t.itucional. - Pereü'a Franoo.-Ma-
c6ão Som'fl8, vencido. - Fui presente, Lucio ae M,,,donça.

No mesmo sentido foi julgada & revisão de n. 217, a 3 de


Abril.

Viola o preoeito oonstitucional a lei do /


Estado que. contra o disposto no art. 407
li 2° do Codigo Penal, admitte acção publica.
no crime de furto; e nesta hypothese deve
ser annullado em revisão o prooesso instau-
~do por denuncia de promotor publico.

Revisão crbninal n •. :õlog.

ReC01'renie- O 1'do EVa1'isto Silva.


Recorrida- A Justiça estadoál de S. Paulo.
Supremo Tribunal Federal

ACCORDAM

Vistos, expostos e discutidos estes autos de revisão


criminal em que é recorrente o l'éo Evaristo Silva, condem-
nado pelo jury da, comarca da Franca, gstado de S. Paulo,
como incurso no grão sub·n'aximo das peliaS do art. 332 do
Codigo Penal: .
Considerando que procede a allf'gação da nullidade do
processo, por tér siâo iniciado em virtude de denuncia· do
promotor publico, incompetente para dal·a no crime de furto,
attento o disposto no art. 407, § 2°, n. 1, do Codigo Penal;
Considerando que essa lluIlidade subsiste, apezal' da lei
de S. Paulo n. 109 A de 30 de Setembro de 1892, que
admitte o procedimento offidal no crillJe de que se trata;
Considerando que, com eífeito, a citada lei estadpal é
inconstitueional, porq nauta ao vo(!er legislativo dos Estados
cabe SOll1ellte legblar sobre o direito processual e não sobre
as materias de direito criminal, propriamente dito, as quaes
-554~

foram privativamente rElservadas ao poder legislativo da


União (Constitui~ão Federal, art. 34, § 23) j
Considerando qUB, se a (lC~~O, como demanda, pertence ao
de
direito pro ;!essual, como direito demandar em juizo Uns perse·
quendi) pertence ao direito denominado substantivo (direito mate-
rial em contraposição ao formal), segundo a distincção c1assica
. igualmente admittida, Que o legislador constituinte não podia
ignorar nem deixar de ter em vista ao traçar a linha divisoria
entre a competencia legislativa da União e a dos Estados em
materia jurídica; .
Considerando que, com essa distincção se harmonisam as
disposições do art. 407 do Codigo Penal referentes ao direito
.de agitar a açção penal, e que, portanto, taes disposições não
podem ser alteradas por leis estadoaes.
Dão provimento ao pres.ente recUl'l'!O para julgar, como
julgam, nuIlo todo o processo.
Supremo Tribunal Federal, 31 de :Março de 1897 .-Áquino
e Oasit'o, presidente.-Jo~é Hygino.-Pindah.iba de lIIattos.-
João Pedro.-Rib.iro de .Almeida,-Pdl'eira Fmneo,-Bernal'-
dino I'e1'reil'a.-Fi{juei1'cdo Juniol'.or- Áme1'ico Lobo, vencido.
O Co digo Penal promulgado antes da Constituiç!l.o de 24 de
Fevereiro de 1891, substituindo a queixa da parte offendida,
fórma ainda viva da vindicta particular, pela denuncia do
ministerio publico, excluie esta nos crimes de furto e damno,
em que não haja prisão em fl~grante, e nos crimes previstos
nos arts. 266-271, salvo as excepções do art. 274, Hssim
como nos dos al't~. 279, 285 e 315 -320, a que poderia accres,
centar o do art. 267 in-fine.
Si a reforma em si foi boa, outro tanto não affirmo em
relação ás excepções postas, uma das quaes, a do art. 279,
§ 2~, está acima de toda e qualquer duvida., por não existir
aduIterio desde que assinta o conjuge-Ieso. Sobreleva a impos·
sibilidade do filho suhstituirIo ou sonegado pela mãe, dar queixa
contra elIa, até a idade de quatro anHOS, que é o tempo da
prescripção do crime de parto supposto (arts. 85 e 285),
A necessidade da queixa, dada pela criança suutrahida,
ou por seu representante (?), uão se coaduna com a denuncia
obrigatoria do ministerio publico ácerca da omissão do registro
de nascimento (art.. 388) e tt'w P(1UCO com a denuncia do crime
classificado no art. 290. Menos se jU15tifica a excepção rela-
tiva aos· crimes de violencia camal e rapto: o ultraje publico
ao pudor, sem offensa á honestidade pesaoal de alguem t é
de acção do promotor de justiça (art, 282); mas depende
de queixa da pessoa offelldida, qn;mdo consistir ll'um estupro
ou ll'um rapto; da mesma fÓl'ma pertencem á acção pllulica
- 555

quaesquer violencias ou ameaças irrogadas !lo quem quer qu~


seja (art. 180-184); mas escapam dessa dennncia, si forem
acompanhadas de txecução ou de tentativa de execução de ado
libidinoso; a honra da mulher offendida só póde ser vindic,ada
pela paciente; todavia, ninguem consulta a vontade da misi·
l'avel ou da asylada, e basta que seja o offen::lor um preceptor
para que se legitime a denuncid. do orgilo da justiça .. Assim
quanto ás injurias: por mais atrozes e disseminadas que_sejam,
só ao offendido compete querelal-as; isto' não obsta a que o
minis te rio publico inicie e prosiga no processo, si dirigidas
com o fim de provocar duello, ou em pena de sua rejeição
(art. 314), ou si effectuadas com instrumento a.viltante (art. 305).
Não admitte'acção official o crime de damno equiparado ao
roubo pela violencia de que se revestio (art. 329 § 3-), nem o
crime de furto de objecto tão insignificante que seja affecto ao
julgamento de tribunaes correcionaes.
Promulgado o Codigo Penal, sobreveio a Constituição da
Republica que autorizou os Estados a legislarem sobre ,o di·
reito procergsual de suas justiças, e lhes eonferio a faculdade
de amnistiar e perdoar os crimes communs e os delictos polí.
ticos, que não interessarem á União (art. 34 ns. 23, 27 e 28,
art. 48 n. 6, arts. 63 e 65 § 2°, lei 11. 221 de 20 de Novembro
de 1894, art. 83). Logo qne fie organisaram os Estados, ope·
rou·se uma reacção contl'$i as ~xcepções do art. 407 do Çodigo
e outros preceitos alljectivos nelle intercalados:' o Estado de
Minas Geraes, por exemplo, no art. 210 (infelizmente agor,a
revogado) da lei n. 18 de 28 de Novembro, de 1891, instituio
. a acção publica nos crimes de furto e de damno; no mesmo
anno se publicou a lei federal n. 21 de 24 de Outubro, mano
dando· 8ubsitir o decreto n. 3.163 de 7 de Julho de 1883. No
anno seguinte dispoz o art. 16 da lei n. 76 de 16, de Agosto
que no Districto Fedt'l'al haja procedimento official nos crimes
de furto, desde que seja provocado por queixa escripta ou
verbal, reduzida a termo. Poucos dias depois, o Congresso
Paulista decretou, em 30 de Setembro, a lei n. 109 A de
que se trata nos autos.
Essas e outra!! leis reactoras encontram plena justificativa
na necessidade imperiosa da reprtlssão dos delictos. ,A diffa-
mação systematica, brandida como arma de guerra contra Oli
orgãos dos poderes politicos dà União e dos Estados,póde
exigir que sejam punidas as affrontas mediante acção publi~a ;
vae nisto um direito ou antes um dever de c(,)llservaQão da
ordem social. O poder nacional ou esta.doal não deve ficar ma·
nietado ante os autores de crimes de sensualidade animal, que
se reproduzam nesta ou naquella zona, multiplicados pelo con·
- 556-

tagio da imitação e pela impunidade. Cabe a mesma obser·


vação quanto aos crimes de damno e de furto, cuja execução
é favol'ecida pelo modo como se guardam os productos agrícolas,
em sitios isolados eaccessiveis, e como erram os rebanhos em
pastagens francas.
'renho para mim que' a lei paulista, ora fulminada, é não
só conveniente e necessaria, mail obedece aos dictames do Pacto
Federativo, que ella pratica e dellenvolve; sua legitimidade
deriva-se prima facie da citada lei federal n. 76, a qual,
acatando as raias da competencia dos .Estados, que não. quiz
transpor, limitou o dispositivo de seu àrt. 16 sómente a este
Districto.
Já me referi ás anomalias do art. 407 § 2° do Codigo,
cujas excepções exeepcionadas apagam a did'erença estabele·
cida outr' ora entre crimes publicos e particulare~; não ba,
pois, desconhecer ql!8 em todos os delictos seja leso o Estado,
e o confirma o art. 408, quando, em todos Oi termos das
a'cções intentadas lJOI~ queixa, toma obrigll.toria a audiencia do
ministerio publico. Nestes termos, não importa a distincção
constitucional acima féÍtit infringente da regra juritlica, que
prohibe disl inguir onde a lei não o faz.
, Em verdade, si o jus pe1'8tJqu.ndifaz parte in di visivel do
direito substantivo, como diz a sentença,.é certo que elle é
ainda maisinseparavel do offtlndido, a quem senão pôde recuo
saro Portanto, não viola 1ei algullIà o E.tado que, assoberbado
pela propagação de ceitos delictos, sob a imminencia do des-
barato da fortuna particular e do imperio da immol'alidade,
instituir;:a" acção publica para reprimil-o!.
A Úonstituição Federal, allllJlialldo o teor do art. 179
n. 30 da Carta de 25 de Março de 1824, dispoz no art. '/2
§ 9-: «E' permittido a qll(~m quer que seja representar, !lH!.
diante petição, aos poderei! l;lIblieu~, denuncia.r abusos das auto-
ridades e promover a reslJtJu~{!,uiIidade dOI! culpadol'l». Este ar·
tigo inllovou o art. 407 do Üll(tigu, oneIe não se vê siquer o
esboço da denuncia llopular, á qual currt\~iJollde, pua os Es·
tados a que se applica, o direito de decretar a acção publica
nos delictos communs. O Coªigo do Processo Criminal, e to-
dali nS novas leis adjectivas, contra.riam a. distincção constitu-
cional que impugno, porque comprehenderam eÍll ili o jUB perse·
quend-i. Outra contrarif'dade lhe .offerecem as leis npublica·
nas,mostrando que OIS auLores da Oonstituição e do Co digo Pe·
nal jámais cogitaram delle. O projecto de Constituição foi pu-
blicado primitivamente sob o n. 510, aos 22 de Junl10 de 1890,
e no § 10 continha o § 9° acima transcripto (art. 72). AOfol 11
de Outubro promulgaram-se o Codigo Penal, sob n. 847, e
- 557-

n. 848 o decreto organico da Ju~tiça Federal. Pois bem, no


art. 52 do ultimo decreto se confere a qualquer do povo o di-
reito de denunciar, concnrrentemente com o procurador da
Republica, os crimes politicos e de responsabilidade de alçada
federal-direito omisso no art. 407. A distincção conetitncio" -
nal, hoje vencida, si de um lado levanta uma muralha chi-
neza impediente da formação de nosso direito, de outro preju-
dica a autonomia e até a conservação da ordem publica dos
Estados,porq ue II.nnulla. deliberações legislativas tomadas den·
tro da esphera da competelleia local, e sacrifica 'ou tolhe a
missão maxima do Estado, que é a manutenção da paz e por-
tanto a repre~s!\o do~ delictos. '
Em summa, justifico meuvoto, reduzindo a questão ao crime
de que se trata, e aSlim direi que não desconheço nos Esta-
dos o poder conllltitucional de crear a aeção publica nos crimes
elos arts'. 330 e 332 do Codigo, pois que E'lla existe par& ,08
factos identicos, definidos DI) art. 223, e menos lhes nego a
faculdade de revogar uma disposição adjediva, - conforme á
qual o larapio que Stl deixa prender, está liujeito áquelIa ac-
ção, mas della isento o. que resiste á priSu,0 flagrante e zomba
de seus perseguidores!- frustrando o clamor publico, como li 8.
sodedade, á moda espartana, seja mais affrontada pelo primeiro
e devesse ao segundo um premio de virtude. -R. do Eilpirito
Santo, vencido.:-João Ba1'balho, vencido.-Manuel Murtinho,
vencirlo.-Macedo Soares, vencido. -Fni presénte, Luci~de
Mendonça.

Nullidade de julgamento por contradicção


do mesmo e irregularidade dos quesitos e
respostas a elles dadas.
Revisão crhninal n. I84

Peticionario-Francisco de Paula Ramos.


Supremo Tribunal Federal

ACCORDAM

Vistos, relatado:'! e discutidos estes autos de revisão que'


o réo Francisco de Paula Ramos, accusado do homicídio de
Joaquim Barbo~a e condemnado no maximo do art. 294, § 2°,
.do Codigo Penal, em conformidade com a decisão do jury,
pelo juiz de direito de Arara(juara, comarca do Estado de São
Paulo, interpõe da sentença á fi. 77, confirmada pelo 'l'ribunal
de Justiça do mesmo E:stado, no accordam de fi. 86, na parte
- 558-

relativa ao recorrente, maR revogada no accordam de fi. 64,


quanto á absolvição de Joaquim Antonio de Azevedo, por
. alcunha-Raposo-, o qual, tendo sido denunciado e pronun-
ciado conjuntamente com os seus trabalhadores agricolas, como
mandante do dito homicídio, nascido de questão possessoria,
existente entre elle e a victima, seu heréo confinante, fôra
accusado e julgado ao mesmo tem que o recorrente:
Considerando que, reconbecido pelo jury o motivo frivolo
do delicto, unica cil'cumstancia aggravante articulada no
libello, e indistinctauwnte contra todos os réos, apezar de nã~
ser q llalificativa, essa decisão se contradii não só com a
absolvição do supposto mandante, a quem. originariamente era
attribuido aquelle moveI, mas ainda com o teor da denuncia e
da inquirição de Benedicto Nunes dos Santos, unica testemu-
nha presencial do facto criminoso e exclusiva fonte das decla-
rações de todas as testemunhas do summario e do libello, por
exprimirem os depoimentos e a peça fundamental do processo
que Joaquim Barbosa, armado de espingarda, garrucha e faca,
sabira da sua casa aos 4 de Outubro de 1892, com a delibe-
ração firme e ostensiva de matar a .Azevedo e que, che-
gando ao logar onde os trabalhadores rura'es deste abriam
covas para o plantio de caféeiros, disse-lhes que com um tiro
daria cabo da :vida do patrão, si alli o encontrasse, e os
injuriou e ameaçou, armando e desarmando a espingarda, sendo
então morto, em consequencia dos ferimentos recebidos nessa
conjunctura, contradicç1io qtie aggravou·a pena do recorrente
e que é posta em relevo por outra exarada na resposta aos
quesitos 3° e 4°, nos quaes affirmou o jury, embora sem influir
com isto no resultado do julgamento, que, sendo- mortal o mal
causado (que dera logar á hemorrhagia dos vasos cardiaco~),
com tudo o paciente ficára inhabilitado de serviços por mais de
30 dias;
Considerando ainda que, prescreventlo o art. 284 do Cod.
do Pl'OC. Crim. a formação de quesitos em proposições simples
e bem distinctas, de maneira que sobre cada um delles possa
ter logar a resposta, sem o menor equivoco ou amphibologia,
esse preceito foi d~sattendido no jlllgamento do recoí'rente, por
ter sido formulado o 9- quesito,. referente á existencia de
circumstancias attenuantes, no plural, e, poi?, de fórma com·
prehensiva de ambos os l'éos accusados na m'esma sessão, e
por lhe haver respondido o jl1ry no singular, mas sem no'
meação de réo, por uma negativa que não pôde prE'judicar ,a
sorte do recorrente, salvo inducção inadmissivel em matel'la
de julgamento criminal:
O Supremo Tribunal Féderal, concedendo provimento a esta
- 559-

reVIsao, &ttentas a contradicção sobreditar e a mencionada


preterição da formalidarle s~lbstancial, revoga, por nullidade
de julgamento, a (l;entença condemllatoria proferida contra o
recorrente ,e manda que se sigam os termos legaes. Cqstas
afinal. .
Supremo Tribunal Federal, 3 de Abril de 1897 .-Aq~no
e Castro, presidente.-Americo Lobo. -]JIacedo Soares. -H.
do Espirito Santo.- Berna1'dino Fe1TeÍ1'a.- Manuel Murtinho.
-João Bm'balho,-Pereim Franco .-João Pedl'o,-Ribeiro de
Almeida. -José Hygi71 0 .-Figueiredo Junior . -Fui presente,
Lucio üe Menàoltça.

HtZbeas-corpU$': petição que não é devi-


damente instrllida.-Intelligencia do art, 46
do DecI'. ~. 848 de 11 de Outubro de 1890.

I-Iabeas-corpul!D n. 921 I

Impetrante e paci,nte-Antonio José Fagundes.


Supremo Tribunal Federal

. PETIÇÃO

Egregi'o e coIlendÜilsimo Supremo Tribunal Federal da Re-


publica dos Estados Unidos do Brazil.-Ao espirito liberal e
humanitario do legislador inglez se de've a Instituição sublime e
magnanima, recurso extraol'dinario e suprema garaRtia á li-
berdade indivi.dnal-Habeas-corpus, e compenetrado da. ef:fica-
cia de semelhante recurso, humilde e respeitosamente se curva
. perante o egregio e collendissimo Supremo Tribunal Federal
da Repl1blica, santuario sagrado, e guarda severa e inflexivel
de todos os prÍl1cipios de direito e justiça. e onde encontram
guarida as representações escudadas pelo direito e a lei, o cidadão
brazileiro Antonio José Fagundes, recluso á cadeia de Ouro
de Preto, Estado Minas Geraes, solicitando em i6U favor a
expedição de uma ordem de ha]jeas-cO!'pl~B, pois em flagrante ..
Violação da lei acha-se injusta e illegalmente detido.
Fundamenta o paciente a sua pl'etenção nns termos do
art. 46 do Decr. n. 848 de 11 de Outubro de' 1890, e dos
arts, 34 b do Codigo do Processo Criminal e 18 da l~i n. 2033.
de 20 de Setembro de 1871, e de acconlo com o disposto no
art, ,341 §§ 1 e 2, passa a expenc1el' as razões e motivos porque
COll!ndel'a injusto e illegal o constrangimeato que se acha sof-
freudo.
Não pó de o paciente instruir a ordem com a qual foi re..
- 560 '-

colhido, por sua matricula dOR IivroR da caiteia de Ouro Preto


nada consta acerca do p:;ei'cllte, (J qU:11 se aeh:-t (Jas,':ificaào T1R
classe dos guardados á di~J)I,;.i(;ilo (1<, .iniz 1'lILstituto da (~\)fIliH~a
de S. Lourenço do Mallhal:a;:~ú. llunde o egregio e collellrlis-
simO' Supremo TJihunaJ F\~dual ria Repnblica .,e digllúIÍ. man-
dar requisitar ao respectivlí juiz ~e aiuda exbte lá, e não
fosse destruido pelos sedil:lu:-:lh
O paciente foi cOndelllllH.lil) pl~lc> jUl'y do kl'mo de S. Lou-
renço de Manhauas8ú á pena de galé:,; perpetuas, gráo medio
do art. 192 do extil1cto Oodigo Criminal de 1831, e pelo
jury do termo de Ponte Nova foi condemnado á pena de 20
annos de galés, grão mínimo das penas do já referido Codigo j
estas dua~ sent8nças, em face no Dei3l'. D. 774 de 30 de Se-
tembro de 1~90; 6 ~.2!1do lilais tanl,~ comnllll,t,lla pelo Dl'. CeM
sario Alvim, quando foi presidente, para 15 annos de prisão j
se não foi ~olto então, era porque o escrivão (las execuções cri-
minaes de Ouro Preto, capitão Pedro rle AlcanLara Fen de
Carvalho, muito inimigo e pel'séguidor do páciente, protel-
lando e suppl'imindo os papeis do paciente, a fim de assim im-
pedir a soltura d'o paciente, com que praticou um /tcto de re-
voltante injustiça e do qual já tll'estoll contas á Justiça Divina
visto ter fallecido; e o pacientf~collceIltra agora nos venera-
dos, dignissimos e sabios membJ'oi' do egregio e collendissimo
Supremo Tribunal Federal da Rerublica! na esperança de que
finalmente ser-lhe· 11'1. feita a devida justiça.
Jura o paciente aos Sa-ntos Evangelhos ser inteira e fiel
verdade, tudo quanto acaba de allegar e expôr.
Tranquillo aguarda o paeiente o final julgamento do egre-
gio e collendissimo Supremo 'rribunal Federal da Republica,
na certeza de que reconhecerá ~ procedeneia, direito e indis-
cutivel justiça LIa pres~j}1te causa, resolverá decretar a ímme·
diata soltura do paciente, quo acha·se injuHta e ilIegalmente
detido, como exnherantemente fieoll provado. Pede benigno
deferimento, como de direito e justiça. E. R. M_. Ouro Preto,
19 de Outubro de 1896.-Antonio José Fagundes.

ACCORDÁM (FL. 4)
Vistos e expostos estes autos de petição de habeas-cm'pus,
em que é paciente Antonio José Fagullde~, nao tomam conhe·
cimenl'o da dita petição por .!lã·o e;<tal' <levi,lamente inst.ruilla.
Supremo 'rribullal Pederal, 31 ,In ():Jtnhro <1B 1896.·_-Aq!tino
e Oastro, prusidente. -ir. do R,ij.'i;'i:'o 8I1n{o.--P,:reira Franco.
- Âmer'Íco Lobo. -Luciu ao Jle>."o/lça, -·l'inrlahiba de Mattos.
-Macedo Soares, por outro fllli:Ltlueuto, constante dos uutos,
-561-

formulado pelo Sr. ministro relator na discussão, mas não con·


signado no accordam, a saber: -O paciente declçl.ra que está
preso na cadeia di Ouro Preto, em -cumprimento de penas im-
postas em virtude~de decisões dos Tribunaes do Juryde S. Lou-
renço de Manhauassú (galés perpetuas) e da Pon"te Nova (20'
annos de galés) pelo Codigo Criminal do Imperio. Ora, para o
caso o recurso é de revisão, e não de ha.TJea,-corpu•. Não tem,
pois, cabimento exigir. do paciente qualquer outra instrucção'
do .eu requerimento. Accresce que é menos curiaI a. interpreta-
ção que se e~U, dando ao art. 46 -do Decr. n. 848 de 11 de
Outubro de 18~0, reprodllcção do art. 341 do Codigo do Pro-
cesso<~Criminal, que exige documentos, ou simplesmente (que é
o que está na lei) o conteúdo da ordem de prisão, ou declara-
ção explicita de lhe haver sido denegada depois de' requerida.
Porquanto, a exigencia de qualquer documento a&,/!,ravará a
posição do paciente, que, além da prisão, fôr victima da prepo-
tencia da autoridade que o mandou prender sem nota defclllpa
ou ordem escripta de prisão preventiva, ou do detentor que,
por mAdo ou connivelncia, não quizer dar ao presoescll.\reci-
mentos por escripto. E li. omissão desta declaração, por igno-
rancia ou inadvertencia~do impetrante ou do paciente, não po-
deria invalidar o pedido de habea,-corpu6 sem peiorar ainda
mais a sorte do preso, victima então e tambem de um forma-
lism(sem explicação. Reflicta-se~na hypothese do carcerej pri-
vado, e ver-s~-ha a justeza da minha observação. D'onde re-,
rulta que os arts. das leis citadas exigem a instrucção dõ re·
querimento. de)aTJea,-oorpu. só quando possivel; e a falta"!1 de
declaração de não ter podido o paciente ou o impetrante obter
documentos não importa falta de .solemnidade essencial. E ",o
paciente allega as razões porque não instruiu com ducumen-
tos o seu pedido, cumprindo assim a lei.,~R'TJeiro de Almeida,
com restituições quanto aos fundamentos.-.Figlleiredo Jtt,nior.
De aecordo com ,a primeira pll.rte do voto do Sr. Macedo
Soares.

Dm. TOL.78
-562 -
Ha'beal-C01':pus : - o Supremo Tribunal
Federal oonoede a respoctiva ordem sobre
petição originaria. quando dá-se o cavo de
lmminente perigo de consummar-se a vio-
lencia antes de outro tribunal ou juiz poder
tomar conheoimento da especie.- Intelligen-
oia do art. 23. ultima parte do 1& alinea, da
lei n. 221 de 20 de Novembro de )894.
Habeas-corpo. D. 9~6

Impetrante,- O ,ena([or Firmino Pü'(!S Fen'eil'a e Dr.


?I'anklin W. em javtn" do DI'. Joao GalJ1"i~l Baptista 6 outro"
if'8em'ljargatIore, do Tribunal de Jultiça do Estado do Piaulty.

Supremo Tribunal Federal.

ACCORDAM

Vistos, relatados e discutidos estes autos de petição de


llalj,a8.corpu8, em que' !'fio impetrantes o ~ellador Firmino
l'ires Ferreira i o advogado Franklin Washingtoll da Silva
( Almeida, a favor dos pacientes desembargadores do Tribunal
lie Juztiça. do Piauhy, João Gabriel Baptista, Helvidio Ole·
mentino de Aguiar, Â.llg'llsto Colin d/\ Silva Rios e Sá Bar·
reto, conhecendo o 'l'riblln~l dI\. petição, Ilttelltll a ultima parte
d[) l- periodo do art. 23da lei n. 221 de 20 (Ie Novembro de
U94, concede a ordem d. haofla/HJOrpu., para compareci·
~llento dos referidos pacientes na sessão de 20 de Abril pro·
ximo futuro, ás 11 horas da manM, requü:litando-se do gover-
nador do dito E!;tado os necessarios exclarecimentos, á vista
,\1 petição por cópia, até o dia e hora supra marcados.
Supremo Tribunal Federal, 17 de Fevereiro de 1897.-
Aquino e Oastro, 'presidente.-Jo8é Hygino.-PereiraFranco.
Macedo S0a1·(J8.-Ribei,'o de Almeida.-JolIo Pedro.-Bernm'-
âino Ferl"eim.-Manoel Murtinho.-Figueiredo Junior.-H.
iJr) BspiTito Santo, vencido. ~ João Bm·bulho. - Â'lIlerico
l.?lJo.
-56~ -
Habeas-corpus. -Concessão de nova ordem
no mesmo caso.
Embora em face da lei, a concessão plena
do habeas-corpus não ponha termo ao pro-
cesso, nem obste a qualquer procedimento
judicial em juizo competente, comtudo a sus-
pensão do processo, pelo simples deferimento
inicial do habeas-corpus, e a sua annullaçã()
pcla ~nal concessão, constituem, quando
fundada a ordem na incompetencia da auto-
ridade processante, effeit1s virtuaes desta
excepção

Habeas-corpus D.
.
965

Impetrantes-O senador Finn'ino Pires FelTeit'a e o DI".


Pran7clin W. em favor ([o Dr. Joãó Gabriel Baptista e out1·os,
desemõargadores do TrilJU,nal de JU8tiça elo Estado áo P'auhy.
Supremo Tribunal Federal

ACCORDAM

Vistos, expostos e discutidos estes autos de habeas-cor-


pn8, em que s[w impetrantes o 5enadol' Firmino ,Pires Ferreira
e o advogado DI'. Franklin Washington ela Silva e Almeida e
pacientes os dasembargadores .João Gabriel Baptista, Helvi-
dio Clementino de Aguiar, Augusto Colin <la Silva Rios e Jos6
Gomes de Sá Barreto, membros do Tribunal de Jnitiça do
Estado do Piauhy:
Allegam os impetrantes que, havendo requerido ao Supremo
Tribunal Federal, nos termos da lei n. 221 de 1894,
art. 23, ultima parte do 1:t alinea, uma ordem de ltaoeas-
corpus preventivo a favor <10. pacientes. llI..meaçados de
constrangimento illegal rermlt!l.nt" do processo de respon-
sabilidade a que 011 mandou submetter o ~overnador, co~o
incursos nos arts. 207 § In e 215 do Codigo Penal, per.ante
um tribunal especial, incompetentemente organisado, por não
tel·o Mido de accordo com a Constituição e leis do Estado, foi
por aecordam de 17 de Fevereiro ultimo concedida a pedida or-
dem e logo expedida, para que compareçam OI pacientes na
sessão de 20 de Abril proximo futuro, prestando informações
o govel'llador do Estado; mas, não obstante, prosegue o dito
tribnnal eRpecial no processo, sem aguardar a decisão elo men-
ciunado haÕeaS-(!01pUS; pelo que, para o effectivo cumprimento
da primeirtt, requerem nova ordem que até á referida decisão
assegure os pitcielltes ele qualquer vioh~ncia.
Em vist.a do eXlío~to,
COllsiderando que a o1'(lem concedida a 17 da Fevereiro,
o flli pela allegada incompetencia. do allntlido tribunal especial
- 564: .;...

e para que este ponto de solução,dependente da legislação local,


fosse afinal decidido com pleno conhecimento de causa, em
vista dos esclarecimentos requisitados do governa.dor e dos
q1!e pessoalmente houve.sem de prestar os pacientes na sessão
d.sigIlada para o aeu comparecimento;
- Considerando que, embora, nos termos da lei n. 2033 de
20 de Setembro de 1871, art. 18 § 7°, a concessão plena do
habeas-corpu, não ponha termo ao processo, nem obste a qual-
quer procedimento j lldicial em juizo competente, & suspensão
do processo, pelo simples deferimento inicial do haõeas-corpus,
e a flua annullação, pela final concessão, constituem, quando
fundada a ordem na incompetencia. da autoridade processante,
atreitos virtuaes desta excepção:
Accordam conceder a nova ordem impetrada, para que
cesse todo o procedimento contra os pacientes, até qu~ compa-
riçam na designada sessão de 20 de Abril e profira este Tri-
bunal decisão definitiva sobre o primeiro habeall-corpus impe-
trado. Custas ,x-cau'a
Supremo Tribunal FederaJ,13 de Março de 1897.-Aquino
e Oaltro. presidente. - Figueiredo Junior. - Manol'l MUI'-
tinho, vencido. - Macedo Soaru. - Ribeiro de ..dlmeida. -
Pereira Franco. - Jo8-o Ped1·o. - Pindahiba de Mattos. -
Bernardino Ferreira.- H. do Espirito Santo, vencido. Ao
primeiro haõ,a,-corpu8, originariamente uquerido, oppUZ
- meu voto, porque tratava-se de um fllct.) de exclusiva compe-
tencia da justiça estadoal, processo de responsabilidade de
magi8trado~ do Piauhy, promovido nos termos elas respectivai
leis; o constrangimento não provinha de autorida(le, cujos
actos estive~sem sujeitos á jurildicção deste Tribunal, na.o
attingia a funccionario federal, nem crime de que se tratava
era ~ujeito á jurisdicção federal, e nem ao menos poder-se-hia
invocar para o caso a unica excepção contida no art. 23 ela
lei n. 221 de 20 de Novembro de 1894,-imminente perigo
de consummar-se a violencia,-antes de outro tribunal ou juiz
poder toma-r conhecimento da especie em 1" instancia, visto
como, no longiquo Estado do Piauhy, onde se dizem amea-
çadoll, tinham os impetrantes mais proximas a si a8 justiças
de 1~ instancia para de preferencia recorrerem.
Em tae~ condições era a concelisão de haõea,·oorpuB urna
verdadeira invasão das attribuições da justiça do referido
Estado, vedada expressamente pela Conl'tituição Federal, no
art. 62, que, em consagração do principio de autonomia e
independencia das duas justiças, assim dispoz: «as justiças
d08 Estados não podem intervir em questões submettidas aos
tribunaes federaes, nem annullar, alterar ou suspender as suas
sentenças ou ordens. E, rp.ciprocamente, a justiça federal não
pó de intervir em questõeH submettidas ao~ tribunaers (los Es-
tados, nem annullal', alterar ou suspender as decisões ou ordens
destes, exceptuados os casos expressamente declarados nesta.
Constituição :.. Essa invasão tornou-se francamente accentuada
depoif~ que, obtido o habeas· corpus preventivo, e antes >que
fosse este definitivamente resolvido, sob o titulo de novo ha-
beas-corpil.3, no intuito de ser sustado o processo de res~onsa­
bilidade, a que foram suje~to!l, - obtiveram favoravel deferi-
mento, como se vê do accordam que concedeu a nova ordem
im petrada (antes de resolver definitivamente sobre a pri-
meira), ordenando ás justiças do Piauhy que cessassem todo o
procedimento contra os ditos impetrantes j e assim !Iecidio o
'l'rÍlJUnal pelo facto de haverem elles allegado que estavam
sendo responsabilisados perante um tribunal inconstitucional..
mente org;anisado, composto de individuos leigos e sem crite- .
rio juddico ! Em que lei se fundou, para assim decidir assumpto -
de tanta gravidade, não declarou o accordam. Si a plena con-
cessão do habeas-corpul não põe termo ao processo, nem obsta
a qualquer procedimento judicial que possa ter logar em juizo
competente, como foi St1mpre corrente em direito. e $loutrina
consagrada pela jurisprudencia dos tribunaes, antes mesmo de
assim positivamente dispôr a lei n. 2.033 de 20 de Setembro
de 1871, como se poderá justificar essa nova doutrina esta-
tuida pelo accordam - de suspender-se todo procedimento da
justiça antes de definitivamente julgado o habeas-corpus? Pois
este recurso, pelo seu proprio instituto, não devêra limitar-se
a evitar a detenção illegal ou ameaça deste constrangimento?
Da preterição das leis do processo criminal, seguio-se; pois,
como consequencia fatal, a intervenção in debita da justiça fe-
deral em assumpto sujeito aos Tribunaes do Estado do Piauhy,
formalmente vedada pela Constituição Ifederal.-Jlid HlIpino.
- õ()6 -

Habeas-corpus _-Não lia constrangimento


illegal no facto de serem os pacientew, me-
nores, alistados em uma escola de apren-
dizes marinheiros. mediante prévia auto-
ris ação de snas mães e tutores, sendo dahi
passados, na' fôrma da lei, para o Corpo de
Marinheiros Naoionaes.
Habeas-corpus D. 952
Impelra'llte-O ad1Jogaào Monti;.it'o Lopes em favo,. dos
orphã08 menores Joaquim Lamenha Lins e 01$t1'08.
Supremo Tribunal Federal

ACCORD.UI
Vistos, relatados e discutirlos estes autos de habeas-
C01pU8, req,uerido pelo advogado Monteiro Lopes, em favor dos
orphãos menores Joaquim 11<lll1enha Lins, 'l'heopllilo Pedro dos
Santos, Satyro Jacob dus Santos, Petronilio :Moysés Rio
Branco, ,h;stevão Pereira de Souza e José Cordeiro de Barros.
Allegou o impetrante, sem adduzil' prova alguma, que tendo
e stado os pacientes asylados 110 CoIlegio Orphanologieo de
Alagõas, foram, ao extinguir-se este, remettidos, por ordem do
governador do Estado, para a Escola de Aprendizes :Mari-
nheiros de Maceió, nH. qual se alistaram sem consentimento de
suas mães, sendo llosteriormellte recolhidos ao Corpo de Ma-
rinheiros Nacíonaes, em cujas fileir:ls verificaram praça, o
que importou um recrutamento forçado, abolido pela Consti·
tuição Federal, e occasiona aos mesmos l)acientos verdadeiro
constrangimento illegal. Das informações, f:lntl'etanto, presta- ,
das pelo governador e Capitania do Porto do referido Estado
ele Alagôas, !e collige que os l~acientes foram alistados na
Escola de Aprendizes Marinheiros da Capital, mediante p,'évia
autorisação de suas nlães e tutores; e que daquelle' estabele-
cimento p[I,s-aram para o Corpo de Marinheiros Nacionaes, na
fórma da legislação qne regula o amImpto.
Estando, pois, á viita do exposto, averiguario que, tanto o
alistamento dos paciéntes na Escola de Aprendizes ,Marinheiros,
como sua passagem para o corpo em que ora servem, se fizeram
com obsel'vaneia das disposições vigeÍltes, accordam negar o
habeas-COl'p1lS impetrado por não !la,ver constrangimento illegal
na praça com que se acham os mesmos pacientes.
Supremo 1' rilJunallTederal, 27 de Março de 1897 .-,dquillo
Oastro, pl'€sidente,-.llfanoel Mm'tinllO.- Jollo Pedro.-JI. do
Espi1'ito 8a71tO,- P-indahiTJa de llfattos.- Pigllch'edo Junior.
Pereira Franco. -111 aced o 8oorc8, - Ribeiro de A lmeiáa, - Bel'-
nanlino Fen'eira--- João Barballw) vellcitlo. ~Jo8é HyÚino.
- 567 -

Ha.eas-corpus.-Prisão administrat~vlL d J .
escrivão de collectoria por sua supposta s'"
lidariedade com o collector achado em al-
cance : illegalidade da prisão.

Habeas-corpus n. 968
Reque1'ent9-Jod Bustaquio de Ara.ujo.
Supremo Tribunal Federal

ACCORDAM

Vistos, expostos e discutidos estes autos de habeas.curpus, .


em que é recorrente José Eustaquio de Araujo, escrivão da
collectoria de Caic6, Estado do Rio Grande do Norte, preso
administrativamente, em virtude de requisição do inspector da
Thésouro daquelle Estado, concedem a requerida ordem de
soltura, porquanto, da informação de fi. 16 á fi. 24 e dos do~
cumentos que a instruem, vê·se que o paciente DaO foi acharo
em alcance como substituto legal do collector da dita eoll~­
ctoria, sendo a sua prisão sómente determinada por ter-se veri-
ficado alcance dado pelo collector, fundando-se o inspector que
requisitou a prisão em uma supposta solidariedade entre v
collector e o escrivão na questão financeira da collectori~,
principio que nenhuma lei tem estabelecido, e que não se con-
cilia com o art. 70 do Codigo Penal, pois que acarr~taria uma.
presumpção de culpa. Pagas as custas e~-caU8a.
Supremo Tribunal Federal, 3 de Abril d, 1897. -
Aquino e Oastro, presidente.- José Hygino.-Pe,·eira Franc I.
-Âme1'ico Jjobo.-Manoel Murtinho.-João Barbalho.-Be,.-
nardino Ferl·eil'a.-Jollo Pedro.-Ribeiro de AZmeiàa.-Fig'U8'6-
redo Junior.
N~o votaram os Srs. H. Espírito S!into e Macedo Soa-
res, o primeiro por impedido e o segundo por não ter ter· as-
sistido ao relato rio.

-568-
Habeu-CWpU8 •
Extradiçclo inter-eltadoal :
l0 Casol em que se dá;
!- lllegalidade da prisão quando decretada
em virtude da acção de deposito, de acoordo
COm o art. 865 do Decr.n. a70 de 2 de Maio
de 1891;
3- Intelligencia dOI art•• W n. 4 e 41. do
Cod Penal.

Habeas-corpus

Impetrante~ O paciente Dr. Garlo8 Grey.

Tribunal de A.ppellação do Estado da Bahia

EXPOllIÇÃO

Em viagem desta capital (Rio) para o Estado do Pará o


Dr. Catlos Grey, medico e ptoprietario em S. Paulo, foi detido
.no porto da Bahia pelo Dr. chefe de segurança publica desse
Estado,em virtude de requisição telegraphica do juiz de dileito
da 1';' vara commercial de S. Paulo, assim concebida:
«Telegramma n. 3229 da estação de 8. Paulo, em 26 de
Maio de 1897. -Dr. chefe de policia da Bahia.-Rogo-lhe eft'ec-
tuar prisão Dr. Carlos Grey que embarcou Rio, vapor 8. Sal·
vador. Decretei prisão daquell~ individuo em acção de depo-
eito, de accordo a:t. 365 decreto n. 370 de 2 de Maio de 1890,
e decr. T'J7 de 185(1, tendo a ~entença passado em julgado.-
Juiz commercio I" vara , João Thomaz Mello ..4..lve8~.
Preso o Dr. Grey, impetrou do Superior Tribunal de Ap-
pelIação da Bahia ordem de habea.-corpu., assim motivando·a:
1- que a requisição era illegitima, e a prisão ilIegal, nos
termos da lei n. 39 de 30 de Janeiro de 1892, que prescreve
formulas para a extradicção inter-estadoal ; .
~o que os arts. 275 do Decr .n. 737 de 25 de Novembro
de 1850 e 365 do Dicr. n. 370 de ~ de Maio de 1890 estão
modificados pelo novo Codigll, e novo systema 'penal da Repu-
blica, que no art. 410 não fez excepção desses decretos com-
merciaes e, no art. 838 n. 4, nomenclatnrou criminalmente
o desvio ou alheação de objedos dados em penhor agricola,
hypothese que, aliás, não se verificâra;
3 0 que o Decr. n. 370 de 2 de Maio de 1890 regula as
operações de credito moveI, mas é anterior ao Co digo Penal;
4° que o Dr. Carlos Gr~y respondeu a uma acção cível,
commercial, mas não, nos termos da lei, a um processo crimi·
nal, r~gularmente intentado;
- 569-

5 finalmente que, em taes condições, o constrangimento


D

de que estava sendo victima. era absolutamente illegal, e cara-,


cterisava uma violencia.
O Tribunal de Appellação da Bahia deliberoll conceder a
apresentação e a soltura do Dl'. Carlos Grey! conforme se. vê
dos dous aceordams que seguem. "

l- ACCORDAM

Vistos estes autos, etc.


Concedem a ordem de halJeá8-corpUS impetrada pelo Dl'.
Carlos Grey, preso no quàrtel do Regimento Policial desta
ca.pital, afim de fiel' Q mesmo impetrante apresentado na ses-
são deste Tribunal de 4 do corrente mez l exigindo-se informa-
ções do Dl'. chefe de segurança publica, que deverá remetter
copia dos documentos á vista (J(>i' n"laeS ordenou a _prisão do
referido impetrante.
Tribunal de Appellação ( ahia, 1 de Junho de 1897.
-L" Vasconcellos, pre~ddente e relator, vencido quanto ao prazo
de apresentação. - Ca.~tro Lima" -Cotrim.-J. Spi1l.ola. -Lo-
pcs de Ca"tro.-Bmulio. vencido, de accordo com o voto do
Ex. Sr. presidente, -J. Agu·iar, votei no sentido de conce-
der-se a lolt'll'a immediata do paciente, independentemente
de informações da autoridade que effectuou a prisão por enten-
der que de taes informações nenhum esclarecimento pode advir
para a solução da questiio, deso'3 que consta do documento, com
qUI foiinstruida a. petição de tI. 2, qUI! o mesmo paciente fôra
pr8&0, nesta cidade, pelo Dl'. chefe de segur!J,nça publica, em
virtude de requisição directamente feita pelo Dr. juiz de di-
reito da la vara commercial da capital de S. Paulo~ que de-
cretárll. a prisã.o , em consequencia de acção de depoflito, de
accordo com o art. 365 do Decr .. de 2 de Maio de 1890 e
Decr. n. 737 de 25 de Novembro de 1850, apurando-se d'esta
arte p1'illla faci. a illegalidade de semelhante prisão, por
inobservancia das formalidades determinadas pelo Decr. n 39
de 30 de .laneiro ele 1892, que regula a ertra!licção dos cri-
minosos entre OI Estados do Brazil; 6 comquanto_ seja ve- .
dado ás autoridades"dos Estados e ás do DiscrictoFederal
daixar de satisfazer as requisic;õelil legitimas, de qualquer na-
tureza, das autoridades dos outros Estados, e do mesmo Dis-
t~icto Federal, e denegar cumprimento a um pedido de extra-
d,lCÇão, é incontest~vel que não escapa á competencia da jus-
tiça local, como um attribqto inherente á sua soberania, a
apreciação da regularidade da ·'requisiçãoe de sua conf'ormiN
dade com as dililposições legaes respectivas.
-570 -

Adiár, em taes condições, a solução do pedidb, na hypo-


these especial de que se trata, quando a auctoridade que de-.
cretou a prisão não está sujeita á jurisdicção do 'rribunal, e, a
que a effectuou fundou-se no documento já. refe!'ido, o tele-
gramma, por certidão à fi., é attental' contra a natureza e
indole do habeas-colpUS, que como remtl(lio prompto e efficaz
contra a violencia não comporta delongas, sendo que na espe~
cie é de todo em todo impraticavel a diligencia prescripta pelo
art. 354 do Codig. do Processo Criminal.
Convem ponderar que o adiamento foi proposto no intuito
de designar-se um praso, dentro do qual deveriam selO apre-
sentados os documentos comprobatol'ios da legalidade da re-
quisição, e consequentemente da prisão já effectuada, e ainda
por semelhante fundamento, me parece incompatível com o
recurso de que se trata o alvitre sUKgerido,pois, de feito,
aguardar durante um praso, meramente arbitrario, clepen-
dente de contillgencias de força maior,e irregularidade de metos
de transporte, a remessa de documentos, que deviam ter op-
portunamente acompanhado a requisição, e sem os quaes a
prisão não podia ser legalmente realisada, si não dá em re-
sultado lJ.1'otrahir por tempo indeterminado a decisão de Ilmlt
questão, que entendendo, como eifectivaminte entende, com a
liberdade pessoal, deve, por expressa determinação de lei, ter
prompto andamento, importa, em todo o caso, burlar o habeas-
C01pUS em seu eiI'eito capital.

2° ACCOItDAM

Vistos os autos, etc. E considerando:


Que o Dl'. Carlos Grey, mediclJ clinico 110 Rio de Janeiro,
que obteve a seu favor ordem de habeas-corpus conforme a
decisão de fi., foi preso no porto desta capital, a bordo do
vapor 8. 8alvad01', quando dirigia-se para o Estado do Pari\. e
recolhido ao quartel do Regimento Pulicial, em virtude de
uma requisição directa e teleeraphica do Dl'. juiz de direito
da lavara commercial da capital de S. Paulo ao Dl'. chefe
da segurança. publica deste Estado;
Que das informações prestadas por esta ultima autoridade
resulta não possuir ella ontros e!3clarec.imentos além dos mi-
"nistrados pelotelegramma, cu.ia cópia enviou, e do qual consta
ser a requisição proveniente de acção de deposito, de accordo
com o art. 365 do Decr. n. 370 de 1890, tendo a sentença
passado em julgado ;
- 571-

Qlle para poder ser tida como legitima a requisição em


virtude úa qual foi preso o paciente, era indispensavelter sido
ella feita lJOr intermedio da presidencia de S. Paulo" na con-
formidada do preceito do art. 1 n. 1 do Decr. federal n. 39 de
30 de Janeiro de 1892 ;
Que o paragrapho uni co do citado art. 1 n. 1 sómente
permitte a requisição directa entre municipios confinantes de
E~tados differentes e quando se trata de caso que não admitte
demora;
Que ninguem mais póde ser hoje preso i3x-vi do dispositivo.
do art. 275 do Regu!. n. 737 de 25 de Novembro de 1850,
por estar eUe nest a parte revogado pelo Cod. Pen.,· que no
art. 410 não exceptuou esse Regul. e no art. 338 n. 4 consi-
derou estellionato {\lhear ou deeviar objectos dados em penhor
agricola ;
Que, nestas condições, a prisão do paciente é illegal nos
termos do a.rt. 353 §§ 1 e 4 do Cod. tio- Proc. Criminal;
por isso:
Deferem o pedido do Dr. Carlos Grey, e ordenam qne a
favor deUe se passe mandado afim de ser solto.
Tribunal de Appellação da Bahia, 4 de Junho de 1897.-
Va&conc~llo" presidente e relator, vencido. Votei pelo adiamento
do plidido do paciente até a sessão de 11, tempo !!ufficieute
para a legalisação da prisão, conforme o art. 1 n. 7 § ullico do
cito Decl'. Fed. n. 39. Se a esse tempo não houvessem chegado
os documentos exigidos pela lei, tornar-se-hia então illegal a
prisão do paciente e poderia eUe ser solto.
Antes disso não, porque pelo art. 1 do DecI'. cito é defeso
ás alltoridad~s dos Estados deixar de satisfazer as requisições
legitimas de qualquer nature~a das autoridades dos outros
Estados e essas requisições podem ser feitas em casos de
urgencia, como no presente, segundo o que dispõem o art. l'
n. 1 § ullico e o art. 1 Il. 7 § unico do mesmo Decr. directa-
mente e sem interve,nção do governador ou presidente e por
meio de despacho telegraphico. O estatuido no art. 1 n: 1
§ ullico não Ilóde ser entendido de outro modo, poÍls resulta
claramente da redacção desse paragral,ho ser intenção do legis-
lador dispemmr a intervenção ,do governador ou presidente
s6mente n08 casos de urgencia. e dii§pensar sempre essa inter.-
venção entre municípios confinantes de Estados differentes:
quer se tl'ataslle de caso que não admitte demora, quer não.
rl'ambem entendi nã~ Iloder ser sat.isfeito o pedirI0 do paciente
llelo segundo fundamento da decisão, porque não sendo a prisão
em. virtude' de deposito uma verdadeira pena e unicamente um
llHllO eompulsorio estabelecido em lei de processo, não se acha
- 572-

neste ponto revogado o Regu!. n. 737 pelo art. 410 do Cod.


Pen., e muito menos por ter este considerario criminoso o Ile·
POSitHriO e o que alheia e de:,;via ubjectos dado.;; em penhor
agricola, do mesmo mOllo qne o Cod. Crim. de 1830 já estatuia
penaH pRra o deposita rio infiel e não foi isso julgado bastante
para impedir esse Regu!. em 1850, de ordenar a prisão civil
do depositario. E quando assim fosse, tratando-se de lei pro.
celsual e podendo os Estados pelo pacto federal decretar nas
suas leis de processo eS1!e meio compulsorio, penso não ser
licito ao tribunal de um Estado considerar illegal a prisão em
·virtude de uma lei de out.ro Estado, sómente porque no re·
gimel1 antigo di!lposição identica não estava mais em vigor.
Tão longe não vai o poelf\r desse tribunal, e quando muito elle
só poderá não admittir que a lei de outro Estado não se exe·
cute naquelle em que elIe funccionava, se tal lei ferir de modo
evidente preceitos claros da Constituição Federal. _.. Castro
Lima.-R. Danlas.-Colritn.-Americo Barreto.- J. Spinola.
- Ma1'iani, votei sómente pelo primeiro fundamento da
deci~ão. - Guimm'ães Cerné, votei pelo adiamento, de ilccordo
com o voto vencido elo Exm. Sr. cOIlselheiro . pre!óli(lente.-
Candido Let1o, vencido, votei de accordo com o pre,itlente.-
J . .Aguim', pelos fundamentos de meu voto, con~tanttl da
decisão de fi. 13.- Braulio Xavi~r, vencido, votei de accôrdo
com o Exm. S1'. presidente.-Lope3 ãe Ga3tro, votei a soltura
impetrada, por figurar-se·me legalmente inexequivel a requi-
sição em virtude da qual foi o paciente pre~o.
Satisfeito o preceito do art. 355 do Codigo (11) Processo
Criminal, com a audiencia do DI'. cheft~ da seguranç;t publicit,
de ordem de quem effectllOu·:;e fi. prisão (lo pacient.e, averi-
guou-se que essa prisão não tivera outro fundamento - como,
aliás, podia ter - a não ser aquella mesma requisilião feitit
mediante o despdcho telegl'aphíco junto pOI' cópia ao reque-
rimento de dI. 2 e traslado, ua integra, no papel de fi. 15,
instructivo das informações de ti. H.
Ora, não ha contestar que um dos deveres communs a
quantos exercem funcções de ordem publica, é o de não re-
cusarem as providencias legaes de seu officio, reclamadas por
autoridades legitimas.
Entre nós, a in(racção dessa trivial obrigação é especial-
mente sujeita á repressão penal, ou como modalidade espe-
cial da figura delictuosp. da prevaricação (Codigo Penal,
art. 207, n. 4), ou como crime de falta ãe exacção no cum'
primento ãos ãevere8 funccionaes (citado Codigo, art. 210). E
semelhante repressão applica-se não sÓl1lente {:LS hypotheses de
requisições feitas, por funccionarios de um Estado a outro do
- 573-

mesmo Estado, senão tambem aos casos em que pertençam a


E~tados diversos ofnnceional'Ío 'lue faz a requisição e aquelle a
quem é esta endereçada. Nenl de outra sortp. ponerá ser, ~ com-
prehenne-se,-desde que teria então de ficar, necessariamente,
sem a devida sancção -que aliás seria de todo ponto inaamis-
sivel- o dispositivo do art 1? pr .. dodec,)'eto n. 39, de 3,0·
de Janeiro de 1892, no qual, obedecendo a elevadas e pon-
derozas razões d~ ordem publica, prescreveu imperiosamente
o legislador que «é defeso ás autoridades dQS E8tado~ e ás cio
Districto Federal deixar de satisfazer aS requisições legitimas,
de qualquer natureza, das autoridades de out1"O& Estados e do
mesmo Districto Federal, e bem assim denegar a extradicçli.O
dos criminosus sujeitos á prisão »:
Mas, se isso assim effectivamente é,· deve-se acaso, do
expendido, conc.1nir que o funccionario publico que i'ecebe 1'e·
quiBição de outro, ainda attil1ente a serviço que lhe caiba nas
attribllições, ha de se reputar um . executor obrigado, cego,
passivo, irreflectido, des~a requisição, para não ser-lhe licito
absolutamente recusar-se a praticar o acto reclamado? .. que
incumbe-lhe, sempre, indefectivamente, executar ou mand~r
executar, sem ponderação nem exame, quantas medida~ ou
providencias lhe forem solicitadas, qualquer que seja a na-
tureza dellas e a fórma da respectiva requisição? •.
A resposta não póde HeI' senão negativa.
Em verdalle, ainda que, ao envez, de solicitação ou re-
quisição, se trate de verdadeira ordem j ainda que o caso seja
de determina~llo, êxpedida a funccionario ligado' ao respe-·
ctivo expeditor pelo vinculo de ubedieneia hierarchica, não
está o primeiro inhibido dt>, antes da execução do acto 01"
denado, examinar a regularit1,u1e da ordem recebida sob o
duplo aspecto da competellcia daqudle de quem ella - emanou
e da observancia das respectivas solemniclades extrínsecas.·
rral exame não s6mente não I'ho veda a lei, como é-lhe, em
face della, .uma obrigação inilludivel. Realmente, se é certo,
por um l"do, que o nf'Ver de obediencia determinado pelas
relações de subordinação em que se acha o funccionario,'dever
que, aliás, como adverte BLUNTSCHLI (&llu,meine Statslehre,
Liv 7 Cap.X),~variacoma natureza das funcçõesou do offleio>,
sendo ~ mui diverso para os flll1Ccionarios administrativo~ e
para os judiciarios ~- se é certo que tal dever inhibe o infe-
rior, na phrase do conspicuo professor da Universidade de
Heidelberg, de «recusar a execução de uma ordem cujo
onjecto lhe pareça simplesmente illegal ou dissonante do di-
reIto (ungerecht),. (up. e loco dts.), não é, de outra parte,
menos incontrovertivel, ainda no expressivo dizer do notavel
- 574 --

publicista suisso, que o inferior não se deve reputar,« em·


pregadopr ivado, senão servidor publico», e que, em tae'l con·
dições, ~ se se quer que elle», como effectivLtmente o exigem os
interesses de collectividflde, «se assegure da realidade da
ordem e de !lua conformidade com (/ direito, não se lhe ha de
negar o exame daquella, no- pouto de vi~ta da fÓl'ma» (Anel.
op. (l loco aits.)
Mas, se semelhante faculdade, ainda no caso da ordem, é
irrecnsavel ao inferior, n[o ha de vedal-a, seguramente aquelle
cuja Il.cção, no tocante a negocio attinente a serviço publico, é pro-
vocada, mediante requisiç{fo, ou, por outra,é solicitada por fune-
cionario a que não esteja sujeito, por qualquer laço de depen-
dencia, aq uelle a quem a soliçitaçào é endereçada.
E, do mesmo modo que, uma vez evidenciada, pelo exn.me
desta, a respectiva irregularidade, sob qualquer dos preindi-
cados aspectos, não é dado ao funccionario a quem a requisição
se dil'ige, abster-se de satisfaze-Ia, sob nenhum pretexto, a me-
nOs-e!ltáentendida-que a pratica do acto requisitado obste
caso de força maior, ou a requisiçãrJ colhida com preceitos le·
gaes fundamentaes ou com principios cardeaes de ordem pu·
blica, e de moral, rigorosamente obrigatorios,--assim, na in-
versa hypothe.,e, não pôde nem deve ter execução a providr.n·
cia requisitada, pena de responsabilidade pessoal do respectivo
executor, pelas consequencias que dessa execução promallR-
rem, sem' que, para subtrahir-se a tal responsabilidade, lhe
valha invocar a circumstancia de ter procedülo em virtude de
provocação ofticial; salvo, por de mais é dizel-o, a hypóthese,
aliás sempre presumivel, de ter o fnnccionario agido de boa
fé, isto é, sob as inspirações do cumprimento do dever, e pl'e-
occupado do pensamento de não burlar uma providencia qnB,
embora por menos exacta apreciação, se lhe haja figurado,
além de legal, regularmente provocada.
Pelo que particularmente respeita ao direito patrio, tal
doutrina é nelle corrente, e se acha expressamente formulada
no art. 220 do Codigo Penal, que se, de uma parte, afastando·
se do principio da obediencia passiva consagrado no Direito
Romano, e de que é immediato eonsectario a maxima exarada
na L. 169 pro Dig .-De divers{s reguUs jnri8 (<<i~ damin1t,~ rlút
qui jubet dare, et jus vero nulla cnlpa est qu,i parere neces.~e sit,).
sujeitou á repressão o executor de ordem iIlegal de ou tro lado.
houve, por igual, como passivel de pena, o que satisfaz 1·eqni·
sição inquinada do mesmo defeito de illegalidade,-entellrlitla
esta, tanto nesse como naquelle caso, nos termos (lo 2° alinea
do precitado art. 229, o qual positivamente estatue que «são
ordens e requisições iIIegaes as que emanam de autorillades
- 575 -

incompetentes, e as que são destituülas de solenmidades ex-


ternas necessarias para a sua vali(lade, ou sào mamjestamente
COlltrarias á lei~. ,
Estabelecidos estes prineipios, releva con~iI1erftr. á luz
delles, a requisi\áo em cOllseq uencia da qual foi o pa.ciente pri-
vado da líberdarle-afim de averiguar se tal re.quisição de-
vêra ser attendida, como o foi, ou era, ao envez, insuscepti-
vel de cumprimento.
Conioante já ficou observado, veio ella transmittida por
via telegraphica, sendo concebido nos seguinte.s termos tex-
tuaes o despacho pela autoridade requisitante-o Dr. juiz da
1a vara commercial da capital de S. Paulo, dirigido ao Dr.
chefe da segul'Iruça publica deste Estado: ((Repa.rtição Geral
dos 'l'elegraphos. T"leg-ramma n. i!U'29. Da est.aç~o de S. P",JJo,
em 26 de Maio de 1897. Dr. Chefe de PiJlicia <lA BtI hia.-Ro-
go·lhe effectuar prbão Dr. l'al'lot-; Gley, que embarcou Rio,
vapor S. Salvador.' Decretei pri!'l~O daquelle individuo, em ac-
çlo de deposito de accurdo art. 31'\5 decreto 2 de Maio de
1890 e decreto 737 de 1850, tendo ~entença passado em jul-
iado.-J uiz commereial la vara. João Thomaz M~llG Alves:..
Ora, E'em~lhantes dizeres 'rleinrn de sobejo apurado-é
certo-que trdta-se, l1a elpecie, de requisiçfw, n~o de prisão
criminal, ilito b, de pris[o- medida repressiva e, consequente-
ment~ filhtl. de acção p~nal, mas de pri~ão-meio simples-
mente coercivo, compulsorio, decretado t'm p\'oce~so C'Ível,como
providencia. alsecuratoria de direitos credito rios de terceiro.
Se usim, pOl'êm, é, por uma parte, releva, todavia,' de
outro lado, ponderar que os expedientes des1'1a natur~za, qual-
qu@r que seja It qualiticaçi'io legal que tenham entre nós-ou
chamem-lhes de detençOo pessoal, como faz: o Regul. n. 737 de
25 de Novembro de 1850, nas hypotheselil do respectivo art.
343, ou dêem.lhes o nome de priai!:o, conforme, n' outros caSOI,
qUl\ei OI!; dos arts. 20, 284 e 412 do CodigoCommerciale 269
e 715 do citado Regu!. os designou o legislador-"iie importam,
sempre, por um lado como a prisão c1'iminaf, ll'um constran-
gimento corpol'eo, nlio podem, de outra. parte, ser decretados,
nal hypothe5lel espiciaes de deposito, como a de que sa trata,
s~não. por se?,tença,proferida em procesllo regular, dada com a~­
dlencla do ré o; e guardadas as solemnidades preseriptas na .lel, .
sentença essa que, de sua natureza, obedece aos .preceltos
communs dos julgados cíveis definitivos, e, cOllsequente-
mente, ás regras gm'aen applicaveis :1 respectiva execução.-
Ora, é certo que, nos regimens como o por nós adoptado,
-a despeito da soberania e independencia reciproca dos Es-
tados, os quaes são, para reproduzir a expressão do sabio
\
- 576-

publicista suisso Ja citado, com que outras tantas «nações


particulares (Lanclvol7cel') »,' formando uma «nação geral (Ge.
Ilammvtolk)>>, e tendo todas, sem excepção, na sua esphera, li
mesma independencia que esta (BLUNTSCHLI op. cit., Liv. 6,
Cap. XXIV),-é certo que,' sem estol'VO dessa soberania e
independencia reciproca dos Estados, nos regimens como o nosso,
as sentenças oritmdas dos tribunaes de 11m Estado são exequi.
veis fóra dos limites territoriaes rel'!pel~tivos, isto é, podem
ser dadas á execução no territorio de outro qualqu~r Estalo
e por áutoridades a este pertencentes.
E' a, li ás , o que occorre, nas relações intel.'nacionaes, entre
as nàções propriamente ditas, as quaes, attendendo &s ((ini.
quas e lastimavElis consequencías», que, na phrase de A. Weiss
(Manuel de ál'oil internaUonal pril1é, Liv. 3, capo lII, Tit. 1°),
surtiria a applicação rigorosa do velho principio ~e direito
romano- <exl1'a te1'ritorium jus dicenti impune non paretu,,»
(L. 20 Dig., De juri3diclione, II, i). admittem, com maiores
ou menos reservas, a regra da exeq uibilidade em seus terri·
to rios e seus tribunael, das sentenças civeis passada~ em
julgado e proferidas pelos tribunaes ~stranieiros. Realmente,
o principio da inexequibilidade só vigora, em sua plenitude,
entre as nações, como entre os estados federados, nos paizes
do nosso regimen, em relação ás sentenças condemnatorias
criminaes ou decretativas de penas propriamente taes, cuja
exeeução não póde, jámais, effectuar-se senão no paiz ou Es,
tado em que a sentença foi proferida; sendo que o, mais que
ás outras nações ou Estados incumbe, quando a isso compellidos
por convenção ou por lei, é tornar simplearrente p08sivel essa
execução no paiz ou Jj}stado da condemnação, por rqeio da
extradicção, isto é, mediante a captura e entrega do criminoso
li nação ou estado que o reclama e é competente para julgaI-o
e punil-o. .
No emtanto, senão ha contestar, em these, a exequibis
lidade dos julgados civeis condemnatorios além dos limite-
territoriaes do Estado a que pertencem as autoridades que taes
julgados pronunciaram, a verdade é que para que uma sentença,
oriunda de juiz ou tribunal de um Estado, receba, effectiva·
mante, em outro, a execução reclamada, mister se faz que,
tal execução seja legalmente possivel, no caBO concreto de que
se trate. Se essa cardeal condição não se verifics, não só pód.t,
como deve, a autoridade a quem a requisição para os actos
executo rios é dirigida, abster·se de satisfazel-a, declarando o
julgado inexequiveI.
Ora, afim de que as sentenças cíveis em geral possam
ser executadas fóra dos limit.es territoriaes do Estado em que
- 577- •
se proferiram, é. mister, aI\tes de tudo, que, segundo os pre-
ceitos de direito judiciario da legislação !;ob cujo regimen
foram ellas pronunciadas, tenham competencia para dal-as os
juizes ou tribunaes que, de facto, as lavraram, e qne, olÍtrosim,
preencham ellas o requisito precipuo de terem passado em·
julgado_ Mas, não basta apenas iS80. E' mi:ster, ao demais,
que qllaesquer que essas se.ntenças sejam, revistam a fórlI!R
exigida, pelos preceitos alludidos, para que tenham força exe-
cutoria (A. WEISS, op. cit;, Cap_ lII. Tit_ 2, P. MAZZONI
Istit1tzioni di dirilto civilo italiano, 3& ed. ,1'01. I, § 120). E não
precisa mais que a inobse:'vancia dessa condição essencial,
, para que a sentença não se dê á execução. '
Por isto, cumpre indagar se tal condiç~o preencheu-se, •
effectivamente, na especie em exame. Ora, antes de mais nada,
em face das leis «de accordo» com as quaes consta do proprio
despacho telegraphico jâ transcripto, fôra proces'5ada a acção
de deposito que rematou pela sentença condernnatoria do pa-
ciente á. prisão-a saber, o precitado Regu!. n. 737 e o Decr.
n. 370 de 2 de Maio de 1890-08 julgados rle tal natureza
se executam meàiante mandado.
E' o que evidencia ° art. 275 do Regul. citado, .compre-
hendido entre os a que faz remissão o art. 365 (indicado no
predito despacho telegraphico) do cito decreto n. 370; Regu!.
esse, de conformidade com o qual, desde que a /órma que
\'umpre, effectivamente, revista li sentença condemnatoria, nos
casos como o de que llie trata, para que possa ser eUII. dada á
ex.ecução, é a já indicada, basta que tal fórma 8J j.'I. preterida
para. tornar-se irrealisavel o constrangimento pltySlCO ou cor-
poral do réo-objecto predlo da condemnaçftO.
Mas, por outro lado, entre as condições essenciaetl q ne
de,e preencher o manllado, e necessárias pnl'a a sua
validade, está a de conter ello a declaração da. impor-
tancia equivalente ao! bens deposit!idos, eHim.1da nos termos do
art. 264 do. cit. Regu!. n. 737 de 25 de No\rembro de 1850.
Na verdade, urna vez que o réo pôde, nas e~pecies como
a occurrente, evitar a prisão fazendo o deposito do equivalente;
desde que o constrangimento corporeo, a privação da liberdade,
a execução sobre a pessoa, só se 1l1e tornará effectiva na
carencia de semelhante deposito,-de ta.l sorte que, effectuado
este, ob8tará e11e, nos precisos termos do citado art. 275,
in fine, a consummação daquella. excepcional medida,-- e evi-
dente a. imprescindibilidade da declaração pn~iflllicada., para
o effeito de poder (I réo exercei' o direito, que lhe assiste, de
realisal' o predito deposito e, desse geitú, imp3dit' qne se 1Ile
tolha a liberdade. Consequentemente, tal üeclaraç,ão vem a
DIR. VOL. 73 37
-578-

ser, em realidade~ uma condiçào da propria essencia do mano


dado de prisão, !lOS casos como o em exame. E basta, por is~o
mesmo, a preteriçào della, afim de tornar inexeiluivel o cons-
trangimento corporeo do réo, constra!lginwllto que é, de si-
pelo unico facto de sua l'ealisação e em qualquer tempo e lugar
que se effectue- um acto executorio da ~entença condemna·
toria, o qual cOllstituirá, mesmo só por só, toda ao execução
do julgado, esgotando·a. inteiramente, se o réo está. na impo!l'
sibilidade de restituir e entregar o deposito ou o seu equiva-
lente.
E tanto mais obv'ia é a illexequiLilidade do mandado, á
faltl'\. da. declaraçào preiudicada, attendendose á. indole espe·
. eialissima e reconhecidamente odiosa da prisão em materia
civel, quanto (. certo que, nas proprias bypothese3 de lJrisão
criminal, tendo analogamente, como tem, o criminoso pronun-
ciado em crime afiançavel, o direito de furtar-ie à mesma
prisão, mediante a prestação da fiança, vigora o principil) (que
se encontra explicitamente formulado no art. 32 do Regu!.
n. 4.824 de 22 de Novembro de 1871) da inexecutabilidade
do respectivo mandado, sempre que delle não consta o valor
da fiança a que fica sujGito o réo.
Ora, a declaração da importancia do equivalente do depo-
sito, nas especies como a occul'l'ente, não é men03 exigivel,
quando deve executar-se a prisão do réo, em lugar no qual
não tem jurisdicção o juiz da conJemnação, com precedencia
de requisição á autoridade competente desse lugar-do que
na hypothese a esta contraria.
Realmente, tanto no primeiro como no 3egundo caso, p6de
o réo fazer o deposito do equivalente, para que não seja preso,
-poi~ fôra irracional que se lhe concedesse eS3e direito em
um caso e se Ih' o tirasse no outro,-e Jl autoridade a quem
se requisita, depréca ou roga a prisão, deve ser informada da
importancia daquelle equivalente, para o effeito nem 56 dll
declaração desta no mandado ou acto que ella propria deve
expedir afim de que se re~lise a prisão, como do recebimento
da mesma importancia, se acaso pretender o réo depositai-a.
. De onde, a indispensabilidade, em casos taes, da decla·
raçã.o daq uelb. importancia no acto req uisitorio da prisãO,
qualquer que elle seja. -
Ora, p6l10 que respeita á requisição de fi. 15, deixando li
margem o mais que se lhe póde notar, nem só no ponto de
vista da respect.iva fórma, como ainda debaixo dos aspeetos
outros sob os quaes a considerei por occasião da respectiva
di~cussão no tribunal-evidencia-se a completa carencia, no'
despacho telegraphico mediante o qual foi a dita requisição
- 579 -

feita, de qualquer declaração attinente, quer á qualidade e


quantidade do deposito a que se refere a auto riJa requisitante,
quer ainda mais ao respectivo equivalente.
Em taes condições, poi~, não ha duvidas, segundo os prin-
cipios preexpostos, da inexequibilidade daqueUe acto judicial,
e consequentemente, da impossibilidade legal de, em face uni-
camente deUe, effectuar·se a prisão do paciente.
Mas, quando contivesse, por ventura, o acto requi~itorio
em questão, todas as condições, necessarias á sua exequibili-
dade, ainda aSrlim, não podia ser o paciente sajeito, como o foi,
á pri:são, em virtude de pedido directamente transmittido pelo
juiz commercial de S. Paulo á autoridade policial deste Es-
tado, visto fallecer a necessaria competencia juridica a eilta
para determinar a effectuação daqueUa prisão nos termos
indicados.' .
Realmente, nos regimens cotno cf nosso, nas hypotheles
nas quaes, em virtude de requisição legal, os julgados emana·
do~ dos juizes ou tribunaes de um Estado devem-se executar
em outro Estado, a competencia para a respectiva execução
determina-se pela legislação do sQgundo Estado, isto ê, assiste
áqueUa das autoridades de!lte que teriam poder para os actos
executorios reclamados, se o julgado exequendo emanasse' da
respectiva justiça territorial. "
Ora, pela legislação bahiana, ás autoridades policiaes, de
qualquer categoria, carecem absolutamente competencia para
a execução das sentenças civeis, s~ja qual fôr a ({lasse a que
eUas pertençam e o teor do respectivo preceito ou dispositivo,
sem excepção daqueUas mesmas que têm por objecto a çon·
demnação á. prisão 00. detenção pessoal. Tal execução, com
effeito, incumbe, em face do' estatuido na citada. legislação"
ás respectivas. autoridades judiciarias, ás quaes devem-se
apresentar os julgados exequendos, em devida fôrma, para
que pondo-lhes ellas o necessario CUmp1"a-Se, prosiga-se nGS
termos executo rios ulteriores. Certo, não estão as autoridades
policíaes, pelas leis deste Estado, impedidas, de todo em todo,
de interferirem em actos de execução cível. Não o podem,
porém, jámais fazer senão mediante provocação do juir.
territorial a quem incumba a execução, quando entender
este dever solicitar-lhes o concurso ou auxilio, nesse ou
naquelle caso particular em relação a essa ou áquella
diligencia determinada. Ora, na especie sujeita, tal hypothese
se não realizou. Consequentemente, falleceu, nesta mesma
especie, o requisito essencial para ser posta em movimento a
Mção da autoridade policial.
"Esta, aliás, no proprio caso - do qual não se trata nos
-580 -

auto s snbmettidos a julgamento - de prisão criminal, não


podia absolutamente agir (a meno~ que se verificasse a hy.
Tlothese excepcional prevista no art. 1-, lJ. 1, § unico, do
Já citado decreto n. 39 de 30 de Ja.neiro de Ü392) por simples
requisição do juiz da condemnação e sem que eSlIa requisiçã:>,
além de cumpridas toda~ as mais condições legaes, lhe viesse
por intermedio do orgão dp poder executivo do Estado, o, qual
representa a soberania deste, em suas relações com os outros
Estados e com a União (cit. Deci·., art. 1 P, n. ], pr).
Em resumo, evidenciada, em face dos fandamentos ex·
postos, a inexequibilidaàe, em si mesma, da requisição de
fi. 15, além d& im possibil idade legal de ser ella satisfeita,
quanlIo regul/tr fos"e, pelo funccionario que deu-lhe execuçáo,
e, portanto, tiI;ada a limpo a illegalidade do· constrangimento
cúrporeo soffrido pelo pacie.nte - a cessação deste, depois de
recebidas as informaçiJes de f!. 14, impnnha-3e ao 'J.'ribunal
como um acto de justiç.'\, e, em taes condições, não hesitei
em votar, como votei, a soltura impetrada.
Nem Mria licito, no meu sentir, o adiament'J desta,
segundo o Toto do honrado l~residente do 'l'ribunal, até que,
dentro do pra~oindicado pelo digno magistrado, pudes~em
chegar os documentos a que S. Ex. se referiu j porquanto,
no proprio caso, já figu\',tdo, de prisão criminal, em virtude
de extradícç1ío, e ain,]a mesmo realisada, nesse caso, a
especial hypotllese llrevistn. no citado art~ !O, n. VII, § unico,
do decreto n. 30, a requisição para a captura e entrega do
criminoso não póde seI' feita nem attendida, sem que, no acto
requisitorio, qualquer que seja a fórma que elle revista,
Vinham devidamente exarada5 as indicações de que depende a
legitimidade da extradicção de qlHi trata o pro do cito
n. VII do decreto preCitado, segundo o qual só e uniclJrnente
é permissivel que deixem de acompánhar, desde logo, a
predita requisição, os documentos ou peças mencionados no
cito pro do n. VII.
Ora, se a carencir. daqllelll'ls indicações, na, pl'opria
hypothese de criminalidade do paciente, tomando legltlmente
impossível sua prisão em virtude dp, pedido de extradicçáo,
determinaria ou po(lia determinar a sua soltura por habeas·
corpus, é evidente que bastaria ainda na falta de outra razão
a só omissão, na dita requisição de f!. 16, da já referida
declaração do equivalente do deposito a que a mesma requi·
sição allnde - declaraçftO esta tflO essencial para a prisilo do
paciente, no ca:~o de que SIl trata, quanto sel-fJ-l1iam as
preditas iudicnçôes, pam iuentico eífeito, nl!. hypotht!se de
ser aquelIe um delinquente - bastaria a ~Ó omissão daquella
- 581-

declaração para, tornando illegal e, portanto, inexequive.l, a


prisão do paciente, justificar plenamente a deliberação con-
cessiva da soltura deste, qualquer que pudesse sel' o conteúdo
dos documentos a que alludio o Exm. Sr. conselheiro presi-
dente do 'l'ribunal, E em taes termos, não era licito' o pro-
tl'ahimento, por breve que fosse, dessa soltura, desde que
outro efl'eito não surtiria elle a não ser prolongar inutilmente
o constrangimento, reconhecidamente illegal, infligido ao
paciente. ,
Por ultimo, releva ponderar que a deliberação do l'ri-
bunal decretando a soltura do paci~nte, não import(,u absoluta- ,
mente na contravenção do preceito do art, 62 da Consti-
tuição Federal, deaccordo com o qual li jUiiltiça da União e,
consequentemente, a de qualquer Estado, não póde intervir
em questões submettidas aos tribunaes de outros Estados-,-
11em annullar, alterar ou suspender as deciilões oú ordens
destes,
Na especie, o Tribunal não só lllW resolveu a annullaçã,o,
como não reformou, no todo' ou em parte, ou suspendeu, a tIe-
cisão da autoridade requisitante, condemnat.oria do paciente á
-prisão. Nem, para isso, lhe cabia, abílolut.amente, competellCia,
por ler esta privativa de outros tribunaes e exel'citanl me~
. diante os tramites legaes.
O que o Tribu~al fez foi ~implesmellte desconhecer a
exequibilidade da 1'equisição de fi. 15, nos tfilrmos em que a
expediram. Foi unicamente declaraI-a falha das condições le·
gaes necessarias para ser satisfeita por qualquel' auto·
ridade deste Estado, e nomeadamente por autoridade policial.
Foi, em summa, negar-lhe sancção jnridica e força exe-
cutoria. E assim procedendo, . fel-o - importa lembraI-o -
como meio e para o e.tleito de asseg'ural' o paciente contra ao
execu~ão da mesma rQquisição, em t~per:ie concreta, qual a de
que se trata submettida á sua apreciação jurisdiccional, me-
diante regular provocação, Para isso, seguralllente, assistia-
lhe pleno poder, uma vez que a sua decis~o no caso occor-
rente: -
I) referio-seao acto realisado no territorio deste Es-
tado, sobre o qual tem o Tribunal inteira jUl'isdicção (Consti-
tuição estadoaI, art. 15, n. 4); .
2) foi praticado por funccionario igualmente sujeito a sua
alçada; e . ' -
3) affectou direitos individnaes, ácel'ca de cuja. violação
ao Poder Judiciario incumbe sempre pronunciar-se dentt'o da
esphera de acção que lhe é definida pela lei.
E demais-não deixarei, ao concluir, da observal·o, em-
-- 582 -
hora incidentemente,-o precitado' preceito constitucional,
aliás limitado pelos respectivos dizeres finaes do citad@ art.62,
não deve ser entendido com demasiada latitude, senão em devidos
termos e com justas restricções. Do cóntrario, ficariam as justi.
ças dos Estados collocadas na contingencia de dar lí execução,
ou concorrer para a terem, mesmo decisões ou julgados mani-
j,stamente illegaes, na fórma do precitado art. 229 do Codigo
Penal-e, dess'arte fundamentalmente \. nenhuns-por collisão
com os preceitos, que aliás ás ditas justiças incumbe obedecer
e pôr em pratica, já da Constituição Federal, que é, entre nós,
a lei das leis-Lex legum-já da legislação da União, já, fi-
nalmente, da propria Constituição e lds estadoaes-Iegitima
Q regularmente promulgadas-naquelIes casos em que elIas de·
vam ter preferencia. Realmente, ,a vigorar semelhante doutrina,
ficariam os Estados por seus orgãos na esphera judiciaria con·
vertidos, para falIar com um illustre jurista, <em instrumentos
passivos de decisões, que aliás só adquirem força executiva
pela intervenção de sua autol'idade». E theoria qU'e a tal con-
sequencia conduz deve ser in limine repellida.

Babtlas-corpul.- O réo passivel de Fena


menor de 10 annos de prisão cellular. eujo
crime é julgado prescripto, deve aer solto,
ainda quando se tenha appellado da deci.ão.
Intelligencia do art. 82 do Cod. Penal e do
art. 353 I. l° e 5° ds Cod. do Proe. Crim.

Habea s-corpulII

Paciente-Manoel Roa1'igue8 ae Mesquita.


Superior Tribunal de JUltiOIl do Eltado ele Pernambuoo

ACCORDAM

Vistos, expostos e discutidos estes autos de haõeas-corpuB,


em que é paciente Manoel Rodrigues de Mesquita; e atten-
dendo;
Que sendo evidente a prescripção, deve em todo caso ser
pronunciada ex-ojJicio, quer se ache pre50 ou solto o paciente
-art. 82 do Codigo Penal;
. Que o réo preso por crime passivel de pena menor de 10
anno~ de prisão celIulal', que for absolvido, deve immediata-
mente ser posto em liberdade, ainda quando se tenha appel-
lado da decisão-art. 22 da lei n. 15 de 14 de Novembro
de 1891;
/

-583-

Que a prescripção, fazendo cessar os effeitos da pronuncia


ou condemnaç1\.o, importa absolviçã~ ; .
E qlle depois do limite legal da prescripção não pôde. a
prisão dei:i:àl' de ser considerada illegal nos termos dos §§ 1-
e 5- do art. 353 do Codigo do Processo.
Por estes fundamentos, accordam conceder a soltura im-
petrada pelo referido paciente e mandam que seja immediata-
mente posto em liberdade. Cust1\.S ex-causa.
Recife, 25 de F~vereiro de 1896.-Francisco Luiz, pre-
ilidente.-Galvão, vencido. A lei só trata da absolvição. dada
pelo jury e não das deci~ões interlocutorias mixtas proferida-
pelos juizes de direito, estas continuam sujeitas aos dois ~eflil
feitos.- Costa Ribeiro. - Almeida. - Carlos Vaz .-João Carlos.-
S1[!ismundQ Gonçalves.

Ha~tas-~o!pus.-Níio havendo ba.se legal


para a prlsao, solto deve ser o ,aClente.

Babe as-corpulii

Impetrante-Jollo de Oliveira Valcnça em favor de Angelo


José dos Santos.
Superior Tribunal de J'ultiça do Estado de Pernambuco

ACCORDAM

Vistos, expostos e discntidos estes autos, em que Jo'o


de Oliveira Valença impetl'a uma ordem de h(l~eas-Corpu8 em
favor de Angelo José dos Santos, etc. "-
Accordam conceder a soltura impetrada por falta. de baae
legal para a prisão, qual a de não seI' effectuada em flagrante.
delicto, ou depois de pronuncia por q ueiKa da parte offendida
ou dsnuncia do promotor publico mediante representação da
parte, tratando-se, como se trata, de furto de cavallo.
Assim, ero-vi do disposto no art. 353 do Cod. do Pro-
cesso, DO art. 13 § 2 da lei n. 2033 de 20 de Setembro de 1871,
no art. 407 do Cod. Penal e na lei estadoal n. 202 de 3
de Julho deste anno, mandam que seja. o paciente immedia·
tamente solto. Custas ex-causa. .
Recife, 18 de Seteinbro de 1896 .-Francisoo Lui~, pre~
sidante.-Galvão.-Oosta Bibeiro.-.J..lmeida.-Oarlo8. V(Z!I.-
Pereira de Lyra. .

/
"'7 584-
Habeas-eorjJus ,-Não é caso de recurso de
habeas-coljJUS o despacho mandando que o
paciente reclame perante a autoridade com-
petente contra o facto de haver sido remo-
vido da Casa de Detenção para a de Corre-
ção, estando ainda pendente lIe appellaçio
a sentença contra elle proferida.
Recurso de habeas-corpus n. 963
Recorrente-Lu'iz Araujo,
Recorrillo-O juizo. .
Supremo Tribunll.l Federal
ACCORDAM
Vistos estes autos, relatados e discutidos, delles consta
que Luiz Al'!lljo, ploeesiado lJor tentativa de mOlte (Codi~o
Penal, art. 2V~, § l°, combinado com o art. 13) appelloll
lIa ~enten~a e pende ainda de ,deci~~o eSiie recurso i alIegrt
que foi removido da Casa de lJeten~ão para a de Conecção
e tendo contra isso requerido,o juiz despachou que reclamasse
á autoridade competente: desse despacho intel'poz para este
'l'ribunal recurso de habqas-c01'jJu8. E porque não houve (1e-
ciSrlO 110 juizo a quo, denegatol'ia de 7zabeaa-c01'Plls,.0 Supremo
'l'ribunal Federal não toma conhecimento do recurso, ·llor
Ilão ser caso dell(i!, e. condemna /I recorrente nas cnstas.
Supremo 'l'ribunal Federal, 10 de Março de 1890.-
.i1 quino e Castro, presidente. -JOlW Bm'balão. -Paeira Franco.
Manoel .1l:IU1,tinllO. -Figueiredo Junior. -Be1'nardino Fen'ei1' a,
-lI. (lo ENpirito 8anto,-Ribeiro de Alrneicía.-João Pedro.
- .11iacedo Soares. - A:me1'ico Lobo.- Pinclaltiba de Jllatlo8.

Ha.eas-corpus,-E' illegal a prisão dopa-


ciente quando, cumprida a pena, sendo com-
°
putado tempo da prisão preventiva, é nella
ainda conservado a pretexto de multa aiRda
não liquidada, A pena da prisão, como suv,
stitutIva da de multa, não póde seI' executada
por antecipação, mas só depois de feita em
termos legaell a respectiva conversão,
Intelligencia dos arts. 11 c 21 do Decr.
n. 595 de 18 de ~arço de 1849.
Recurso de habealii-corpua n, 9'3
Recorrente- O Dr. Alberto de Ga1''I1.fllho em favO/' do pa-
c'Ílnle Artllur Vazo
Recorrido - O Conselho Supremo da Górie de Appellação
do Districto Federal.
Supremo Tribunal Federal
ACCORDAM
Vistos,expostos e discutidos estes autos de recurso de habeas'
COl'pUS,em que é recorrente o Dr. Alberto de Carvalho e paciente
- 585-
Arthur Vaz, delles se mostra que ao Conselho flllprerno da •
Côrte de Appellaçrto do Districto Federal requereu orecorrente,
por via de habeas-corpus, a soltura do paciente, allegando e
provando que este, condemnado 1)01' ientença da . referida
Côrte de ApJlellação, de 5 de liaio de 1893, á pena de quatro
anuos e oito mezes de prisão cellular e 23 e 1/3 e/. do damno
causado, grão ma:x.imo do art. 249, combinado com o art. 66
§ 2~ do Codigo Penal, como réo dos crimes previstos nos
arb;. ~49 citado e 250, já se acbava preso preventivamente
desde 8 de Julho de 1892, quando a 2~ de Novembro de 1893
teve entrada na Caia de Correcção desta Capital, em execu-
ção da ,mencionada sentença; pelo que, computado integral-
mente o tempo da prisão preventiva, nos termos do art. 60 do
citado Codigo, ficou cumprida a 8 de :Março do corrente anno
a pena de I)ris~o cellularj e, portanto, illegal tem sido a. prisâo
soffrida pelo paciente 11m todo o tempo subsequente. O Con-
selho Supremo da Côrte de Appellação negou, entretanto, pela
sentença recorrida, a impetrada soltura, com o fundamento de
que, não estando cumprida a pena de multa, visto não ter o
paciente pugo .a respectiva importancia, arbitrada em
2:473$333, apezar de já intimado a fazel-o, legalmente con-
tillúa eIle preso por tal motivo. O que tudo apreciado:
Considerando que, nos termos expressos no árt. 21 do
Decl'. n. 595 de 18 de Março de 1849, ninguem póde ser
recolhido á priSão, ou nella conservado, a pretexto de multa,
emquallto não liquidada;
Considerando que a pena. de prisão, como substitutiva da
de multA: não póde S0r executada por antecipação, mas' uni-
camente depois de feita a respectiva conversão, com os tra-
mites legaes, pelo juiz executor (citado Decr., art. 11) ; .
Considerando que, no caso vertente, por não ter o juiz
ordenado em tempo as diligencias necesiarias para. a liquidação
da. multa, não tive até agora logar a conversão' desta em prisão,
e na data da sentença recorrida, 30 de Março ultimo, nem era
legalmente possivel haver-se effectuado tal conversão, desde
que a intimação daquella liquidação ao réo fôra feita a 23, do
dito mez e !Só passados oito dias, sem que eIle pagasse a multa
ou reclamasse contra a liquidação, é que poderia o juiz fazer
a conversão, tanto mais quanto, segundo informa b juiz exeéu-
tor, usou o réo de seu direito de reclamação (citado Decr.
arts. 1°, 10 e ll):
Por estes fundamentos, tornando-se pat~mte a illegalidade
da prisão do paciente, desde 9 de Março do corrente anno, por
ter cessado no dia autecedente o motivo que ~. justificava (Cod.
do Proc. Crim., art. 356, § 5"):
-·586 -

Accordam, em provimento ao recurso, wRlldar que se


expeça a imJ)etra(la ordem, pe1l'a que sej:t (l paciente posto
in continenti ell1 liberdade, ~i lJiil' ~:l não ü!ltiver pre~,o.
Supremo Tribunal Fetleral, 20 de Abril ue lfl97 , -.Ãquino
e Oaatro, presidente.-Figueil'edo .Junior .-1I1anoel 1J[ul'tinho.
-João Bm·baZho.-Pindahiba d~ Mattos, veneido, por não ~e
achar ainda cumprida a. pena- Pt1'eil'a F,'aNco, -Jo,~é H]/gino.
-H. do Espirite Santo, vencido, 1)0~ entender que o reque·
rente ainda não cumpriu li. pena, p:na a qual se levou em
conta a prisão preventiva, sem o desconto legal da 6& parte.-
Bernardino Fe1'1"ei1'a. - Ribeú'o de Almeida. -Macedo Soare,~,

Incurso em crime inaftançavel, solto não


deve ler o paoiente, oujo processo tiver sido
annullado somente da pronunoia em diante.
-Intelligenoia do art. 35S I 30 do Co digo
do Processo Criminal.

Recurso de habeas-corpus n. :;0,449

Recorl'énte-O juiz ex-officio.


Recorrido-José Francisco do Nascimento.
Superior Tribunal de Justiça do Eiltado de Pernambuoo

ACCORDAM

Accordam em Superior Tribunal que, feito o sorteio do


estylo', etc: Dão provimento ao recurso interposto 'ex-officio
para. malldarem, como p.tfectivameute mandam, qUi o juiz
recorrente mande passar mand2-(10 para ser de novo ,preso o
recorrido José Francisco do Nascimento: porquanto, est.ando
processado por crime inafiallçavel, como se vê cla.ramente do
parecer do Dl'. promotor publico, que aftirma ter sido o pro-
cesso nullo somente da pronuncia em diante, não· podia ,ser
posto em liberdade o recorrido sob o fundamento de estar
nullo seu processo, pois assim se diz juridicamente quando a
nnllidade é radical e abrange todo o processado-Co digo do
Processo art: 353 § 3-.
Recife, 27 de Outubro de 1896. - Francisco Luiz, presi-
delite.-Lyra.-Galvao.-Oarlo8 Vaz, vencido.-Fui presente,·
J. d~ Mello.
-587 -
Questio de propriedade litteraria.- Inetia
na aancção do art. 341 do Cod. Penal o facto
de fazer representar, em espectaculo publi-
co, a traducção de um drama, sem .onaen-.
timento do ceslilionario do legitimo traductor.
Segundo o Iystema patrio, o direito natu-
ral pertence & cathe:oria dos direitos reaes
mobiliarios.

Recurso-criIne

Recorrente-OeZe8tino J08é da SilM.


Recorridos-08 8ocio8 da empreza .Fernandes, Pinto & O.
Tribunal CivU e Criminal <lo pistrieto l'ederal .....
DESP.1CHO DE NAO PRONUNCIA

Na. petiçli.o dlt fi. 2 allega Celestino José da Silva, em..


prezario de theatrolJ, que é proprietario da peça dramatica-
Um drama no fundo do mBr-, em vÍI'tude da compra feita., em'
Dezembr.o de 1882, a Eduardo Garrido. que havia por sua vez
adquirido do autor francez Ferdinand Dugué o direito exclu-
sivo de traducção para Portuglll e Brazil ; que a referida pe~a
fei diferentes' vezelil representada nesta cidade, nunca lhe
t~ndo sido conteliltado o leu direito de. propriedade.
Succedeu, porém, que em 14, 15 e 16 de Agosto do cor-
rente anno José Fernandes de 'Cl\rvalho, Ãntonio Fernandes
de Carvalho, JOllé Joaquim da Silva Pinto e Manoel Ballesteros,
socios do firma empnzuia Fernandes, Pinto & C., fizeram
representara mesma peça no theatro Lncillda, annunciand/)·/!.
como imita~A.o de' Pidro Vidoeira, com:nettendo assim o erime
definido no art. 348 do Codigo Penal.
Additando .. quein, accrescenta o quenllante na peti(jll.o
de fl.!OO que, tratando-lI e de original ewtrangeiro, a primeira'
traducção di direito exclusivo e que tambemé indiscutivel o
seu direito ao titulo da peça, que mesmo traduzid ..-por outrem
não podia Ber representada sQb identica denominaçã.o.
Recebida a queixa, pre8tado o compromisso legal, ouvido
em todos os termos da acção o ministerio publico,. devida-
mente qualificados I depois interrogados os qaerellados, depu-
zeram cinco testemunhas.
Na defezlt. escripta de fi. 317, acompanhada dos documentos
de fls. 327 á 424, allegam os querellados que o drama foi tra-
duzido do francezpor Pedro Vidoeira e não 'por Eduardo Garrido
e que autorizados pelo mesmo Vidoeira, a quem pagaram os
devidos direitos, o fizeram repreientar no tl1eatro ~ucinda, não
tendo, portanto, commettido o crime que o querellante lhes
- 5i1l8-

imputa. Atravéz das folha! deste volumoso processo, verifica-se


que as pretellçÕeí! do querellante podem ser assim classificadas:
P, direito de propriedade sobre a peça; 2\ direito exclusivo de
traducção; 3a , direito exclusivo sobre o titulo; 4.'", aIlegação
de ser a traducção feita por Pedro Vidoeira cópia. da. traduc·
ção feita por Eduardo Garrido.
Resta agora examinar o funda.mento e procedencia dessas
allegações.
1." Direito üe pl'opriedade soln-e o drama.
O querellante não exhibio prova alguma, escl'iptl1ra pu-
blica, contracto particular, nem wequer uma limples carta
demonstrando ter Ferdinand Dngué vendido a Eduardo Gar-
rido a propriedade do Drama no ju.do do mm·. Semelhante
pretellção não encontra, poill, baBe que ao jUltifique.
E ainda mesmo que houvesse cessão do direito autoral do
dramaturgo francez para o traductor portuguez, não poderia
tal cessão ter effeitosjuridicos, poii a. Constituição Politica da
Republica assegura o direito de propriedade ilomente aos es·
trangeiros residentes no paiz. E se não fosse essa interpre-
tação do art. 72, como explicar as canvenções e tratados sobre a
propriedade litteraria? Inuteis, desnec6ssarios seriam' alies.
E assim se tem entendido em toda a Europa, pois, os
direitos autoraes dos escriptores estrangeiroil lIómente são
garantidos pela legislação e pelos tribunaes, 4epois de tra-
tados que os reconhecem e segundo as formas estabelecidas
nos mesmos tratados.
2a -Direito exclusivo d~ i1'aducçâo,- E' tambem sem filo-
damento essa pretenção do querellante. , proprip.dade da
ttaducção não ctmfere ao traductor direito exclusivo sobre a
obra original; qualquer outra pessoa pó de de novo tl'adl1zil-a.
CHenard e March-p1'opriedade litt,rCU'ia §463 ;-Garraud-
Direito Penal Fl'ancez, voI. 5, pago 433; - Chauveau Hélie,
Theoria do Codigo Penal, vol. 2. u § 3746 ; Lei hespanhola de
10 de Janeiro de 1879, sobre a propriedade litteraria,
art. 14). .
3!.t_ Direito exclusivo soore o titulo.- Â jurispl'udencia
dos tl'ibunaes estrangeiros tem firmado sobre o direito do
autor ao titulo de sua obra, a seguinte distillCção: não ha
propriedade, quando se trata de um t.itulo gellerico COItlmum,
exemplo :-0 guia do eleitol',-Manual de Medicina Dom8stíca,
-Oompe'ltdio de Historia Patria ; ha propriedade quando o ti-
tulo tem tornado conhecido o livro, podendo a reproducção
induzir em erro o comprador, exemplos :-A Dama das Ca-
fllelias,-Memot'ial de Santa Helena,- A Sonata de Krelttzel',
(Sentença do"rribunal Oi vil do Sena de 16 de Junho de 1874 ;
- 589 1-

Bry-Legislação indv,sl1'ial pago 714; Sentença ds Tribunal Civil


de Bruxellas, de 28 de Janeiro de 1895. Pasim'isie Belge,
1895, pago 71.)
E' certo qUI, na hypothese dos presentes autos, o titulo
Drama '110 fu.ndo do 11la,'-é distinctivo da peça e portanto·uma
pro~riedade exclusiva do dramaturgo.
Mas ao querellante não 'assiste o direito de traducção
de trabalho alheio publicado em francez !!ob o mesmo
titulo. .
4. a _Â t,'aducçlio 1'epresentada no theatro Lucinda é co-
pia da traducção de Edtlardo Gm'rido.
Os peritos nomeados para. procederem ao confronto, Drs.
José Verissimo e Affonso Celso, nomes respeitadõs e applau-
didos na litteratura nacional, decla1'am, com effeito, no laudo
de fi, 225, que uma trâ,gucção é copiá de outra, salvas insigni-
ficantes alterações.
I

Mas o documento de fi. 327, exhibido pelos querellados,.


, á evidencia demonstra que o drama foi traduzido por :Pedro
Vidoeira e que portanto Eduardo Garrido vendeu ao q,uerel-
lante, como sua, a tl'aducção feita por outrem.
Os querellados tambem provam a autorisação dada por
Pedro Vidoeira para. a representação de sua tl'aducção e os
direitos de autor que foram aqui pagos ao seu procurador.
Por estes motivos, julgo improcedente a queixa de fi. 2,
absolvo OS querellados José Fernandes de Oarvalho, Antonio
Fernandes' de Carvalho, José Joaquim da Silva Pinto e Ma-
noel Ballesteros da accusação que lhes foi intentada; con-
demno ao querellante nas custas. Expeça o escrivão as in-
timações legaes.
Rio, 10 4e Dezembro de 1896.-Era,ncisco José ViveiroS
de Ol3t,',.

ACCORDAIII DO CONSJiLHO DO TRIBUNAL CIVlI, E CltIMINAL

Relatados e discutidos os autos.


I. Propondo a presente querela contra José Férnandes
de Carvalho, Antonio Fernandes de Carvalho, José Joaquim
da Silva Pinto e Manoel Ballesteros, socios componentes dá.
firma Fernandes Pinto & O., pelo crime do art. 348 do 00-
digo Penal, expoz Oelestino José da Silva na petição de queixa:
que é legitimo dono da peça dramatica intitulada Um drama
no fun'~>Q elo nU/l', que Eduardo Ganido, escriptor então re-
sidente nesta, Oapital, traduzio, devidamente habilitado, de
um-a composição franceza inédita de Ferdinand Dugué, e
vendeu aO,quel'elante, em 7 de Dezembro de 1882, transfe-
-590 -

rindo~lhe, pelo documento de fI. 5 dos autos de apprehensão,


a propriedade e direitos de representação da mesma peça ;' que
fez represent,u' o drama nesta Capital por diversas Tezes,
como attesta o vi.~to das autoridades competentes, lançado no
rosto do ll1anuscripto ; que 08 querelados annunciaram, e, sem
consentimento do querelante, fizeram representar esse drama
no theatro Lucinda, nesta Capital, em as noites de U, 15 e
16 de Agosto ultimo, servindo-se de uma cópia que obtiveram
por meios ignoradQs, embora ,de má fé o dessem como imi-
tação de Ped7'o Vidoeim, pois, conhecendo o traductor Garrido
e a peça, e sendo de notoriedade que est!t pertence ao quei-
xoso, não lhes era perruittida a ignorancia; que a má fé
ainda se prova pela circumstancia de terem os querelados
occuItado o manuscripto sobre que se devia realizar o corpo
de delicto, manuscripto ,que só exhibir&m cinco dias depois, '
havendo, entretanto, tirado uma cópia deIle, como demonstra
o annuacio posterior da representação do drama; que, por
taes factos, ,o pl'ocedimento dos querelados incide na sancção
do art. 348 do Codigo Penal.
Oppuzeram os querelad0s em defesa: que não existe nos
autos prova de que a traducção é de Eduardo Garrida, cujo
nome nem sequer figura lia primeira pagina do manuscrfpto ;
que o verdadeiro traductor é Pedro Vidoeira, por quem estão
autorisados a fazer a representaçã.o, tanto que pagaram ao
procurador do mesmo os devidos direitos, como. fazem certo
os recibos juntos; que o texto' inedito - não existente nos
autos - foi vendido ao Theatro de D . .11faria II, de Lisboa,
a cuja empreza Garrido entregou a traducção de Vidoeira ;
que é nuIla a posse do querelante; que os quadros da peça
por este exhibida não são os mesmos da que foi representada
em 1882, como prova o segundo exame. Na carta de fI. 329
declara Vidoeira que foi o ator da traducçio, feita a pedido
instante de Garridü, a quem entregou'a. A em preza. do Theatro
de D. ]Jfa1"ia II diz na decIaraçA.o de fI. 327 que comprou a
Garrido a peça franceú inedita, apresentando-lhe este o
llidllllscripto (la traducção de Vidoeira ; que comprometteu-se
com Garrido a pagar a Vidoeira os direitos de tràductor j
que mais tarde deu a este escriptor o trabalho para fazer al-
gumas modificações, levando a peça á scena em em 19 de
Maio de 1883.
Ponderou o Dr. juiz a quo as proTas dos autos, desen-
volveu as regras que no seu entender regem o caso concreto,
e decidio que a queixa era improcedente: a) porqne o que-
relante não exhibio prova de ter Ferdinand Dugué vendido a
Garrido a propriedade do drama 1 e ainda. quando essa prova "
- 1>91-

bouvesse não podia a cessão do escriptor francez ter effeito


juridico entrp. nós, pois a Const.1tniçiio Política d:!l. Republica.
assegura a plop;'iedade litt.envia SÓlf:entB aos nll.cionaes é aos
estrangeiros residentes no Brazil ; b) pürq ne não ba direito
exclusivo de traducção: qualquer pessoa póde de novo traduzir
a obra i c) porque a declaração de f\. 327 demonstra que' o
drama foi' traduzido por Pedro Vidoeira. "
'Dessa decisão recúrreu Celestino José da Siiva para. este
Con!\elho, e explanam10 l1S diversas que~tões que se prendem
ao objecto capital da querela, deu a esta, na deducção do direito
como na apreciaçtw da prova, uma feição accentufÍ.damente-ju-
ridica, poudo em re levo-por lleilciencia da legislação patria-
os ensinamentos das mais importantes legislações estrangeiras
sobre a propriedade litteraria.
Escreveu o recorrente: Constituem a figura do delicto
definido no art. 348 do Codigo Penal duas condições necessa.-
rias-a) a propriedade da peça que se faz executar ou repre-
sentar; b) a falta de consent.iImmto, para cada vez, do dono.
on autor. A primeira cOlldil~ào decompõe-se em dous elemen·
tos-o subjectivo, que tnl,(luz-ge na legitimidade do queixoso
como dono ou autor e o objectivo, que consiste na legitimIdade
da obra, como objecto da propriedade violada. O primeiro
elemento está provado - a) porque a traducção é em todos
os paizes equiparada ao trabalho original, para garantia do
gOBO exclusivo da reproducção e da venda, e o legislador penal
incluiu indubitavelmente a t1·rr.dncção nos termos-:« qualquer
outra producc;ão:. HU art. 348 do üodigoi õ) porque na especie
a propriedade ,da traducçüo decorre - 10: da compra feita
a Garrido; 2°, do facto de ser este o traductor i 3°, da cir-
cumstancia- admittido que Ganido não seja o autor material
da traducção - de ter sido ella feita por encommenda sua.,
como escreve o proprio Vidoeira. O segundo elemento está
cabalmente demonstrado pelo eXitme a que procederam os
IH~ritos. Â. segunda ,condição prova-se pela ausencia. de licença'
por parte do recorrente para ser represen.tada a traducção
de sua propriedaJe.
11. Comprehenda-se fi. propriedade litteraria na classe
I uus direitos reaes, siga-se o systema dos que ti. consideram
um direito pessoal, inclua-~e esse instituto entre as obrigações"
ou àê-se-lhe a qual't~ clllsse de d/:'reitos intellectuacs, ideada
por Pic.ard, é sempre fóra de duvida que na te~bnica, juri"
dica as pfJavraE,-,íireito de outO)' têm uma. extensão compre-
b1msiva muito ontuqne a que empiricamente iufel'e-s(~ do seu
enunciado material. A 01'iginal-idade do trabalho e a proàucção
intellectual não são os unicos e exclusivos caracteristicos
- 592-
desse di1'eito. A somma de bens que nelle assentam póde re-
sidir, guardadas as restricções legaes:
a) no autor da obra original;
b) na pessoa do cessionario;
c) na pessoa do herdeiro;
d) em quem reproduzio licitamente a obra
por meio da traducção: .
e) em quem commetteu o trabalho a ter-
ceiro, para entretanto apresentaI-o como ~eu
proprio.

E' este o a~pecto do autor, não repeIlido pela legislação


patria, cuja deticiencia àssaz sensivel reclama entretanto os
subsidios dos preceitos e da jurisprudencia estrangeiros, em
ordem a bem se elucidar o phenomeno complexo ora em so-
lução.
Desde o antigo direjto francez até a convenção de RArna
de 1886, jamais se recusou ao traductor o direito autoral so-
bre ~ sua traducção legitima. Entenden a França desnecessa-
rio expre.ssal,..o na lei, cujo sentido a jurisprudencia sabia-
mente definio 1 decidindo que a traducção constitue uma pro-
priedade em proveito do seu autor, uma obra da- sua intelli-
gencia, insubordinavel ã sorte do texto traduzido, e que deve
ser declarada contrafeita a traducção que não é mais do que a
cópia. litteral de outra, embora existam membros de phrases
invertidos ou transpostos (Henard & Marck, Rép. de lég. I en
mato de prop. lUt. et art.). E assim têm opinado os tribu-
naes, não obstante limita~se o Codigo Penal, nos arts. 425
e 428, ao emprego das palavras-propriedade dos aut01'es. Es-
tes artigos são reproduzidos pelo Codigo Penal de Roumarfia,
que na ~lei sobre a imprensa», de 1862, depois de enume-
rar os direito" dos autm'6s, seus herdeiros e cessionarios, refe-
re;-se ás traducções apenas para determinar, 1'e~trictivamente,
que elIas 1I:SÓ se c~mprehendem na enumeração anterior quanto
ao texto de traducção feita segundo o texto original do e~­
cripto».
Na Belg~ca, a lei especial de 22 de Março de 1885 tam-
bem não equiparou expressamente· O traductor ao autor, e sem
embargo ê principio corrente nesse paiz. que embora traduzir
seja reproduzir e que o tradl1ctor não traga nenhum elemento
novo sob o ponto de vista da concepção, as traducções cOllsti-
tuem obras litterarías no sentido legal, e por isso suscepti-
veis de protecção. (W üuwermàlls, La Dl'oit des auteufs en Bel-
gique. )
-511 ~ . '

N& convenção que celebrâmos com Portugal em 14 de Se-


tembro de 1889 entendeu-se desnecessario o emprego do termo
traductor, e a reciprocidade foi decretada com rt~lação aos
cauto,.«,. de obraslitterarias escriptas em portuguez •.
A maior parte das nações que têm regulado desenvolTi-
damente a propriedade litteraria consigna, nas disposições' ci-
vis, que o traductor é equiparado ao autor, e nas disposi-
çOei penaes incluem implicitamente ali traducçOe. licitas
como objecto de' contrafracção; a lei italiana de 19 de
Setembro de 188~ prescreve no art. 139 que o traductor de
uma obra scientifica ou litteraria g03a do. dirdto. de auto,..
e na parte repressiva usa simplesmente das palavras d'no oú
autor (art. 3~); o Codigo Civil portuguez estatue' no art. 577
que no d~reito d«, autor está igualmente comprehendido o dir.ito 'f
de traducç40, e no Codigo Penal (art. 458) limita-se a enunciado
semelhante ao, do Codigo Penal francez.
A convençl\.o de Berna, da qual faziam parte, em 1 0 de
Janeiro de 1894, a Allemanha, Hespanha com suas colonias;
França com Algeria e suas colonias, Inglaterra com suas colo-
nias e possessOes, Haiti, Italia, Luxemburgo, }lonaco, }lonta-
negro, Suissa e Tunesia, preceitúa no art. S- que as traducçOes
licitas são protegidas como as obras originaes.
Ora, se em sentido juridieo-e considerada' isoladamente
-a palavra autor comprehende tambem o traductor .ou autor
da traduc"ao, par& que esta estiresse ao desabrigo da protec-
ção legal era mister que assim o tivesse declaràdo olegislador,
ao meno. pela posposição qualificativa do termo-originaZ-::ás
palavras obra Zittera"ia, drama, e ás outras congeneres, ad in-
atar do que fez quando no art. 350 dispoz lIobre a propriedade
artistica, repetindo, quasi que em sua inteira contextura, o
art. 4:2 do Regu!. russo, editado em 1886. O legiilador pe-
nal não !!Ie divorciou, porém, das leis dos povos cultos onde o
conceito do direito autoral estã meticulosamente 'estudado,
e nem o fez o poder contituinte quando no art. 72 n. ~S d~
nosso estatuto fundamental garanti0 aos autore. (brazileiros e
estrangeiros residentes no paiz) de' obra's litterarias e artis-.
ticas, o direito exclusivo de reproduzil-as. ,
Conseguintemente: no dispositivo do art. 348 do Codigo
Penal-« Executar ou fazer representar, em theatros ou
espectaculos publicos, composição musical, tragedia, drama.",
comedia ou qualquer outra producção, .eja qual' fôr a sua
denomina.ção, sem consentimento, para cada vez, do dono ou·

.
autor,., como nos dispositivos dos arts. 345 e 346,- estão
comprehendidas não 96 as obrai origina.. , como as trad'Uc~6e8
licitas.
~~.'~
- 694-
Pelo 6Xposto, e
Considerando que o facto incriminado circ.umsereva-se á
infracção do dil'eito do tra-'luclor, e por isso pouco importa a
circumstancia de set' o autor da obra ol'lgÍ1lal de nacionali.
dade fl'anceza e não residente em o nosso paiz j
Considerando que os querelados são os proprios ~ reco-
nhecer, com as provas que offerecêram que Eduardo Ga.rrido
era o dono do original quando teve logar a traducção ;
Considerando que o documento de fi. 8, firmado por
Eduardo Garrido, prova que elle cedeu ao recorrente a tra·
ducção de fls. 10 a tl~ v., que o mesmo Garrido asseverou
ser ~e sua lavra j
Considerando que o direito invocado em favor de Pedro
ti' Vidoeira é susceptivel de apreciação, embora este escriptor
seja de nacionalidade portugueza e não resida no Brazil,
poi3 com Portugal temos a reciprocidade em materia de pro·
priedade litteraria e artística (Decr. n. 10.353 de 14 de
Setembro de 1889)j que, porém, a declaraçãO de Vidoeira e
as da em preza do Theafro de D. Maria II não bastam para
demoustrar que a alludida traducção pertence .áquelle, 13
quando muito serviriam para convencer de que esse escriptor
fez o trabalho pOJ' conta de Eduardo Garrido, que cedeu·lhe,
como recompensa, os p"oveHtos de traductor, em Portugal;
que, para que se reconhecesse o direit l ) autoral de Vidoeira
era preciso que se provasse, antes de tudo, que elle obtivera
do dono do o1'iginal (Garrido) a necessaria autorizaçflo para
traduzir a obra, consoante a "lei portugueza e de Recordo
com o disposto no art. 34'1 do nosso CGldigo. Penal;
Considerando que, segundo o systema patrio, o trab!lho
intellectual materiali~acio no escripto· comprehende·se na
cathegoria dos direitos reaes mobiliarios; que militando em
favor de Garrido e seu cessionario a anterioridade da posse
da traducção, não a posse simplesmente material, mas a da
qttalidaàe de tl'aauclol', mencionada 'publicamente nos an-
nuncios, em ordem a provocar a contestação e a critica dos
interessados, esta circumstancia colIoca o recorrente na situa-
ção de (lono, até prova em cOlltrario, pela regra de que
en fait de meuble la possession vaut tilrej que este modo d.e
ver é tão conforme a direito que muitas nações não dUVI·
daram escrevel·o em suas leis, bastando citar a lei aUemã
de 1870, art. 53, e a lei hnngal'H. de 4 de Maio de 1884,
art. 56;
Considerando que segundo o parecer dos peritos - ~
verifica~se pela confrontação das duas traducções - a que fOI
- 595-

exhibida pelos querelados ê cópia da que llertence ao


recorrente;
Considerando que os querelados não tiveram licença do
recorrente para representação, do drama;
Considerando que nos a.utos não ha elemento de con-
vicção deitructivo do dolus genm'alis, e pelo contrario é
patente o proprio dóZo especifico, aliás legalmente inexigivel
na. especie ; . .
Considerando que, eon~egnintemente, as prov,as colhidas
mostram que no estado actual do caso concreto verificam-se
todas as condições organicas do delicto definido no art. 348
do Codigo Penal: ,
Accordam' em Conselho do Tribunal Civil e Crimina.l dar
provimento ao recul'i'1o, para p~'olllmciar os querelados cOmO •
Incursos no citado art. 348, sendo os seus nomes lançados
ilo rol dos culpa.dos, e pagas aflnal as custas.
Rio, 10 de Junho de 1897.-Munie Ban'eto, presidente
e relator • ...:..- Salvado1' Monie~ - Segurado.

'.

':

, .
"

.:- .

. .' "," .
LEGISLAÇÃO

Legillaqio Federal

ACTOS DO PODER EXECUTIVO



MDtlSTEUO Di PADlIJ)A
BXPOIIQÃO DB MOTIVOS

Sr. Prelidente da Republica-O projecto de regulamento


que tenho li. ll.onra de submetter " vosla apreciaçlo nio é mero
expediente para debellar os males d& situação economica do
paiz, mas o preenchimento de um dever imposto !lO Governo
pela lei D. 1.746, de 13 de Outubro de 186g, art. 1°, § 6-,
que dispõe:
c Poderá o Governo conceder ás companhias de Dócal a
faculdade de emittir titulos de garantia. das mercadorias depo-
sitadai nOI respectivos armazenl, conhecidol peloollome de
warrant8. EIse regulamento especial dever#. estabelecer ai
regns para a emisiilão desles titulo I e o .IU uso ••
Faculdade ampla, tUa habilita o Poder Executivo a agir
traçando as normal neeeslarias ;. vida e desenl'olvimento da
nova instituiçA.o, introduzida alsim, legalmente, no mecanismo
commercial. .
Já o decreto n. ~.647, de19 de Setembro de 1860, attribuia
ás Alfandegas e Melai d. Rendu igual concesllo regulada em
nossas leil aduaneiras sob a denominsção de conh",iment03 ou
1>ilhets8 de deposito. Igualmente conlorma-se perfeitamente ao
nosso direito permittir 8008 àrmazlns das estradas de ferro e
aos trapiches e armazeas alfandegados a emissão de tituloi de
deposito e penhor. Muitas disposições e actos oftlciaes consagram
esta asserção. (Oon.oUda9tJo da. Le48 da. Alfand"ga8e Mesa. d~
Renda., art. 242).
Em nossa legislação encontramos mais o l!Ieguinte: Estatutos
do Baneo do Brazil, approvados pelo decreto n. a.739, de 23 de
- 697
Novembro de 1866 : art. 47 § 6-- «Fazer emprestimos sobre
penhor de mercadorias nã.o sujeitas á corrupção, depositadas nas
Alfandegas ou armazene alfandegados.
Estatutos do Banco do Brasil, approvados por decreto
do Governo do anno de 1889: . .
Art. 10, § 9?: «Fazer emprestimos sobre penhor e mero
cadorias não sujeitas á corrupção, d6positcadas nos arma.en8
aljandegadolJ ou nao._
Estatutos do Banco da Republica dos Estados Unidos do
Brasil, anno de 1890, approvados por decreto do Governo
Provisorio :
Art. 42 : (Adiantar dinheiro sobre café e outras merca·
dorias armazenadas na alfandega, trapiche8, alfand~gadolJ ou'
,,40, em armazens, etc.. ' •
Estatutos do Banco Sul Americano, approvados pelode-.·
creto n. 842, de 24 de Maio de 1892:
AJ;t. 3°, § 10: «Fazer emprestimos sobre penhor de mero
cadorias depositadas na. alfandega, trapiches e arma.en8, etc••
Estatutos d.Q Banco Viação do Brazil, anno de 1890 : .
Art. 8·, § 5-: cerear entrepostos ou trapiches alfande-
gados para deposito de generos, sobre os quaes cobrará. taxas
remuneratins i podendo e88e8 entreposto8 emittir titulo8 de depo·
,itos (warranttJ) de mercadorias armazenadas».
Originaria do espirito com me rei ai da Inglaterra, a institui-
ção do warrant acclimou·se e desenvolveu·se nos costumes e na
legislação dos povos cultos quea tem aperfeiçoado. São exemplos
disto: a Inglaterra, a França, Portugal, a Italia, a Allemanha,
a Belgica e a Hollanda, que teem encontrado na. circulação
deate titulo amparo propricio á superação de crises, algumas
gravissimas, que as teem dominado.
Destinado a aproveitar, pela sua movimentação, os valores
paralysados e representados pelas mercadorias em deposito,'
é inealculavel a cOBveniencia economica e financeira· deste
regimen. .
Não é .o augmento da circulação, pelo credito, contri- \
buindo para dispensar o emprego effectivQ do numerario nas .
tranBacçOes mercantis j não é o credito, é apropria inercadoria
circulando pelo documento do deposito, assistido de todas as
garantias, como si fosse eUa proprio a passar, qual moeda, de
mão a mão.
Sendo de tanta utilidade, não podia o !!Iell uso deixar de
gen~rali8ar·se nas grandes praças em qlle o nosso commercio
concentra a acção i disto resultou a nece!!lsidade de consignar
no regulamento a possibilidade da. autorisação, mediante todas
as calltelaa Q ,aran~i~, ~ ~mis$ã~ ~os ~~nh~ciwentos de depo·
-698-

sito e warrants, pelos armazens de estradas de ferro e trapiches


e armazens alfandegados.
E' uma autorisação possivel, que attende ao facto da
existeneia de importantes empôrio~ commerciaes, desprovidos
de docas e cujas alfandegas não dispõem de armazens com a
capacidade requerida.
Seria injusto e inconveniente condemnar o seu commercio
á privação de recursos valiosos; por isso o regulamento con-
sagra normas adequadas ao funccionamento, em substituiçd.o,
dos trapiches e armazens alfandegados e das estradas de ferro,
submettendo-os, porém, a um regimen especial de garantias e
administração. .
O regulamento n. 4.450, de 8 de Janeiro de 1870, limi-
• tou-se quasi a reproduzir as regras do direito aduaneiro; não
estabelecia a dualidade do titulo: o deposito e o warrant;
não definia positivament~ outras relações entre os interessados,
em bem da garantia das transacçôes e celeridade das liqui-
dações.
. O certo é que, decorridos quasi trinta annol. ainda não
teve elle execução. .
A' luz da experiencia, adquiri~a sob a instancia das cor-
porações commerciaes e após o exame de reconhecidas auto-
ridades, foi promulgada em França a lei de 28 de Maio de
1858, que adoptou o regimen da dualidade dos titulos :-0
conhecimento de deposito e o warmnt, em vez do da emissão
da um e unico titulo.
Assim, foram permittidos os dous contractos em separado:
o do emprestimo de dinheiro, sob a garantia do penhor, e o de'
venda da mercadoria, onerada da obrigação pignorat'cia. .
Em geral, os emprestimos sob penhor são feitos sobre
uma porção minimà do valor da mercadoria, e, no regimen
de um só titulo, o. excesso de valor se conservava inactivo e
paralysa~o, em detrimento da circulaç.ão do capital e do
credito. '
Attendendo a . esta grande conveniencia, a lei de 1858
admittiu francamente a emissão dos dois titulos, sem risco
para o credor pignoraticio, com consideravel vantagem para o
depositante da mercadoria e maior impulso á circulação dos'
valores depositados. .
Á. inscripção obrigatoria no registro das Docas, do
endosso do titulo de propriedade das mercadorias, foi igual-
mente dispensada, já porque divulgava aos concurrentes do
consignatario o segredo de suas operações, já porque obstava
a livre circulaçã() do titulo, em razão da formal menção a que
era sllbmettido por occasião dos registros de cada endosso ..
- 599-

Tamhem embaraçava a vulgarisação do wa1"'ant a menção


do valol' venal da mercadoria, no certificado de deposito
verificado por avaliadores, o que, além de inutil pela cons-
tante variação dos valores, augmentava as despezas eretar-
dava a entrega do titnlo; a lei de 1858 supprimiu tambem
esta formalidade.
A opçã.o do credor, em falta: de pagamento, de exercer'
a sua acção ou contra o devedor e os endossantes,. ou sobre
a mercadoria depositada, era um dos maiores embaraços ao
conseguimento do resultado que se desejava alcançar; a opção
foi substitui da pela venda obrigada da mercadoria, cabendo
aos credores, no caso de ser insufficiente o producto para 0/
pagamento integral da divida, a· acção regressiva .contra o
devedor e endossantes. . • ...
A dispensa de solemnidades judiciaes para a venda das
mercadorias, no caso de não pagamento no vencimento da
divida e a restricção do privilegio da lrazenda Publica ás
mercadorias que não tivessem pago os direitos, modificaram·
profundamente a lei de 1848 e concorreram para facilitar '0
uso do wa"rant em França. " .
Emtlm, a lei de 31 de Agosto de 1870 completon a obra
imperfeita do legislador, Ilbertando as Docas de vexatorias
exigencias e autorizando-as a fazer empresti.1JOs contra
warrants sobre mercadorias depositadas em seus armazens ou •
negociar os war"ant8 que as representassem.
Na Inglaterra existe a dualidade dos titulos-o Weighl-
note - que indica o peso ou a quantidade da· mer~adoria,
destinado á transCerencia da pl'opriedarl~ e o Sale·warmnt,
que serve para constituil' o penhor, ambos negociaveis.
A Allemanha, a Hollanda, a Italia e a Belgica adoptaram
o mesmo systema. E' preciso, absolutamente preciso, des-
embaraçar os titulos emittidos de duvidas, formalidades e
delongas judiciaes, ou renun.ciar de vez á idéa de vulgaritlar
entre nós o 10arrant..
O valor intrinseco da cousa depositada r.olloca o 1varrant
entre os titulos de primeira ordem, pois que, além de só ser
preferido pelos direitos da alfandega, táxas das Dócas, des-.
pezas de venda, armazenagem, conservação e salvamento, so-
bre a mercadoria dada em garantia, ainda resta ao credor, no'
caso de insufficiencia do producto da venda da garantia real,
a acção pessoal contra o primitivo de"edor e os endossantes,
respoÍlsa veis solidarios.
Junta a estas garantias, já de si valiosas, a da rapidez
da execução, deve·se e~perar que os titulos emittidos inspirem
a maior confiança aos bancos e capitalistas. . .
-810-
As demais disposições do regulamento nào carecem de
justificação; explicam-se por si.
Com as concessões feitas a exempl9 de outras nações,
conseguiremos o elevado intuito da lei n. 1.746, de 13 de
Outubro de 1869-.0 uso do warrant no Brazib .e este pri-
meiro resultado trará outros de não menor importancia, para
o maior desenvolvimento do commercio e da producção.
Capital Federal, ~4. de Abril de 1897.-Bernarilino de
Oanapo8. '

••en&o a ••••---"e ... de . . . . . . . . . .'1

D' l'eiWamoto ao • Ge do art. 1- do de-


creto n. 1.746, de 13 de Outubro de 1869.

o Presidente dll RepubliclI, dos Estados Unidos do Brazil,


para a execução do disposto no § 6° do art. lOdo decreto
n_ 1.746, de 13 de Outubro de 1869:
D~reta:
Art. 10. As Alfandegas e Companhias de Dócas sobre
mercadorias de importação e exportação, depositadas em seus
armazens, emittirão, a pedido do dono ou seu mandatario, dous
titulos-um denominado cunhecimento do deposito e· outro .
wa"rant (decreto n. 1. 746, de 13 de Outubro de 1869).
§ 1-. Em ambos se mencionará;
a) o nome, profissão e domicilio do depositante;
õ) a data da entrada da mercadoria;
c)1a sua quantillade 8 qualidade;
à) o seu valor, segundo a factura: quando se trdar de ge-
nero de exportação, poderá ser o valor'corrente no mercado,
.. ou o declarado na nota dOi despa~hos de embarque ou de en-
trega ao II,rmazem, ou o convenClonadoj
e) quaesquer outras indicações; proprias a estabelecer a
identidade do. objacto ;
. f) a designação do armazem em que está depositado, a
natureza e estado do envoltorio; a do seguro e do segurador,
e contra que riscos; desde quando está sujeito a direito ~e ar-
mazenagem e si tem outros encargos ou impostos e quaes; e,
no caso de pagamento delles,a declaração expressa de se o ha-
ver feito, determinando-se o quantum e o objecto ;
g) a quantida.de, especies, marcas, numero e pelO bruto
dos volumes;
h) o nome e classe do navio, estrada de ferro ou qualquer
outro meio di transporte da m.rcadoria.


-601-
§ 2-. Os conhecimentos de deposito e os warraflta corres-
pondentes ás mercadoria! depositarlas nas alfandegas serão as-
signados pelos fieis de armazem e rubricados pelo inspector,
e os correspondentes ás depositadas nos armazens das docas
serão assignados pelos fieis de armazem e superintendenteí, e
rubricado! por um director da companhia,ou delegado especial-
mente autorisado. .
§ SO. N.a falta de armazens das alfandegas e companhias
de Dócas, o Ministro da Falenda poderá autorizar os arma-
zens ou trapiches alfandegados a emittir conhecimentos de de-
positos e I\7arranú observadas as disposições deste decreto,
sob a fiscalisação e com a rubrica do inspector da alfandeg&"
a que estiver sujeito o armazem ou trapiche.· .
§ 4-. Parase dar esta autorisação, é neces!srio que a no-
meação do gerente e do 1I.el do armazem ou trapiche seja ap~
provada pelo Ministro da Fazenda e que o seu proprietario ou
gerente preste fiança, em dinheiro ou em apolices d" divida pu- .
blica federal, no valor que for arbitrada, segundo· as. circum-
stancias, pelo mesmo ministro, para & garantia da responsabi-
lidade do depo!ito das mercadorias, como nos armale. da
Alfandeg-a e Dócas.
§ 15-. Igual autorização, nos termos dos paragraphol ante-
riores, poderá ser concedida 11.011 armazens das eltações das
Istradas de fel'ro, mediante ali melmas garantias de fiança 8
approvação Pilo Ministerio da Fazenda do pelioal encarregado
da guarda e gelltAo e eom 8. fi.calinçllo da directoria da
eltrada. . I
§ 6°. A' execução do diapoaton08 §§ S- a i IJ preeederlo,
além da autorisação prelcripta, iOltrucções dó Ministerio da
. Fazenda, relativas ao fuoecionamento dosarmazen. 8 trapi-
ches, ao pessoal, fianças, condições do. edificioll, garantias
filcaes e acautelamento dos inter,slo, publicos.
§ 7°. Os conhecimento. de deposito e os warranta lerão
extrahidOI de um livro de talão, no qual eerão declaradas
todal!l as circumltancias mencionada. no § l- e o numero
correspondente, conforme osmodelol!l juntos ao prelente regu-
lamento. O livro de talão deve preenéher ai ·formalidades
extrinlecasdol livros de commercio (art. 13 do Oodigo do
Oommercio).
§ S-. Os numerOI dos titulos do livro do talão e da folha
respectiva serão Dotados nOI!l conhecimentos, facturas ou quaas·
quer outros documentos de propriedade, que ficarão em de ..
posito até a entrega da mercadoria.
§ 9°. O depositante passará recibo dfl3 titulo8, no tá.lio
respectivo. .
- 602-

Art. 29 O portador do conhecimento de deposito unido ao


vQ,n'ant tem o direito de pedir a divisão em partes da mero
cadoria dipositada e que lhe seja entregue por cada volume,
um conhecimento de deposito distincto, com o relativo toa1'rant,
em subrogação do primitivo e unico, que llcará extincto.
As despezas da substituição correrão por conta do por·,
~d~. '
Art. 3.° O conhecimento de deposito e o 1oarf'ant, unidos
ou separados, se transferem por endosso, com a data do dia
em que é feito.
- Oeúdosso dos dous titulos transmitte a livrfl disposição
da cousa depositada: o do só 1carrant representa a posse a
titulo de penhor e o do só conhecimento de deposito o direito
de disposição, onerado do penhor.
§ 1.0 No primeiro endosso do 10arrant devem ser decla·
radas a importancia da divida, a taxa dos juros e a data do
vencimento, ,transcriptos no conhecimento de deposito e no
livro de talão. A transcripção será assignada pelo endos-
sado.
§, 2.° Os subsequentes endossados do conhecimento de
deposito ou do toatTanl, podem exigir a transcripção do en-
dosso com a indicação do seu domicilio, no livrt> do talão.
§ 3.? O endosso simultaneo dos doml titulos não pôde
ser feito si não pelo dono àa mercadoria ou seu mandatarío.
§ 4. o O portador do conhecimento de deposito ou do 'War-
rant por endosso regular não é sujeito ás excepções que po-
deriam ser oppostas a.o cedente.
§ 5. o No endosso' simultaneo do conhecimento de depo·
sito e do warrant não é llecessaria a declaração do valor re·
cebido.
Art. 4. 0 Exceptuados os casos do art. 9. 0 , perda ou furto
do conhecimento de deposite e do 1ca1'mnt, as mercadorias
depositadas não são passíveis de embargo, penhora, sequestro
ou de qualquer outro embaraço.
Art. 5.°, Ainda que não vencido o 1oarrant, ao portador
~ do, éonhecimento de deposito é !>el'mittido pagar a divida re-
gistrada, com os juros até o dia do vencimento e, no caso
de não ser conhecido o credor, estar ausente, ou recusar
o pagamento, depositará na Thesouraria da Alfándega ou
na Caixa das Companhias de Docas a somms necessaria.
§ 1. 0 Este deposito reputa-se real e effeetivo paga-
mento.
§ 2.° A somma depositada será entregue ao credor, contra
a restituição do warrant.
- 603 -

§ 3. o A Alfandega ou Companhia de Docas dará recibo


ao depositante.
Art. 6. o O portador do warrant não pago e protestado
(art. 30 § lOdo decr~to n. 917, de 24 de Outubro de1890)
10 dias depois do protesto publicado pela imprensa tem ·0
direito de fazer vender o penhor em leilão (capitulo' VI do
titulo VI da Consolidação da8 Leis daB AlJanàegas) inde,
pendente de formalidades judiciaes. No Wo,1'rant se deverA
declarar que a mercadoria será excutida e liquidada pelo.
lJrocesso summario .e extra-jtldicial determinado neste regulá.-
mento.
§ 1.0 Igual direito compete como subrogado ao endossante
que pagou ao credor do 1oarl'ant e põde fazer proceder á venda"
em leilão 10 dias depois do vencimento, independente de in-,
terpellação judicial dos co-obrigados.
§ 2.· A venda, por falta de,pagamento, não se suspende"
ainda nos casos do art. 4°. "
Art. 7. G O direito do portador do warrant se exerce,
tambem, sobre a indemnis~ção .do seguro das mercadprias
depositadas. '.I

§ 1.0 S6 preferem á divida do warrant: os direitos e taxJl,s


da Alfandega, as taxas das Docas, as despezas da venda, de
armazenagem, conservação e salvamento, sobre a mercadoria
dada em garantia, e os impostos a que estiver sujeita..
§ 2.· O saldo ficará na caixa das Alfandegas .ou das Do-
cas, á disposiçãO do portador' do conhecimento de deposito, se.
não se apresentar no acto da venda.
Art. 8~ o No caso de insufficiencia do' producto da venda.
da mercadoria depositad,a, para solver a divida do warrànt, o
credor tem a acção regressiva contra, o primitivo devedor e os
endossantes, responsaveis solidarios.
§ 1. o O prazo para exercer a acção regressiva começa a
correr do dia em que se effectuar a venda' da cousa dêpo·
sitada.
§ 2. 0 Esta acção não terá cabimento contra o segundo e
seguintes endossantes, se o portador do 10arran~ :
a) no vencimento da divida não protestou por falta de
pagamento;
'b) ou si, dentro de 15 dias, depois do protesto, não pro- .
mover a venda da cousa depositada. . ,.
Art. 9.' No caso de perda do conhecimento de deposito ou
do wa,'rant, por extravio' ou furto ou qualquer sinistro, não será
fornecido outro, nem entregue ou vendida a co usa depositada,
~enã,o tres dias depois de annunciada a referida perda,nos
JOrnaes de maior Circulação e pot e~itaes affixados na Praça do
- 104:-
Commercio ou logares mais publicoI, não tendo comparecido
alguem a reclamar o seu direito.
§ 1." As despezas dos annunciol e mais diligeneias cor·
rerão por conta da parte interessada.
§ 2. o Pela expedição de novo titulo se cobrará metade
da taxa. do original.
Art. 10. J.s faltas, avarias ou quaes,uer prejuizos que
80ffrerem as mercadorias, depois de expedidos os titulos, serão
indamnisadas, mediante avaliação faitá de commum accordo e,
quando esta. se não possa dar, por tres arbritos, dos quaes, um
escolhido pela Alfandega ou Companhia de Docas, outro pela
parte e o terceiro por ambos ou sorteiado.
Art. 11. As Docas podem fazer emprestimos contra W/lr·
rantl, sobrd mercadorias dep08itadas em seus estabelecimentos,
ou negociar os tOarranta que as representarem.
Paragrapho unico. 'l'ambem lhes é permittido garantir a
quantidade, qualidade e valor (a seu juizo) das mercadorias
depositadas em seus armazens, pela com missão ajustada.
Art. 12. Além da responsabilidade legal pelo deposito,
nenhuma outra cabe i" Alfandegal, Docal, armazens ou tra·
pichei! alfandegados e Istrada. de ferro, salvo o ajuste do
art. 11, paragrapho uni co:
L" Pela quantidade e qualidade da mercadoria e valor
declarado.
2.· Pelas avarias, pelos damnos e prejuizos que resul·
tarem 'mercadoria, por Ticio intrillseco ou acçl.o dos agentes
naturaei.
Art. 13 • .is .A.lfandegas e Oompanhils de Doeas e mais
estabelecimentos autorisados cobrarão:
a) pela emissão, até 1i4 e/ó do válor total declarado nos
titulos; .
b) pêl&sub·diTilão dos titulos (art. 2") a taxa de 10$, no
maximo, por cada titulo j
c) pela averbaçl.o dos endossos no liTrO de talão, atil1 °I.
lobre o valor da taxa da emissão.
Art. 14,. As Alfandegas e Docas .1.0 Istabelecerlo prefa-
rencia alguma entre OI!! depositantes de mercadorias, os quaas
têm direito de solieitar dessas rel'arti~.oel. o conhecimento de
deposito e fOarra,,', que serão passadol sem demora, mediante
. propostas dos mesmos depositante., pela. ordem chronologica
. das entradas das mercadori&8 nos respectiTos armazens.
Art. 15. As Alfandegas e Docas enviarão ao Ministerio
da Fazenda balancetes mensaes do movimento dos conheci-
mentos de d.posito~ ~ wa~~a"t.9, dos Cju~~ ~Dstarí a qua~ti~
t

- 605 ~
da.da e qualidade das mercadorias e a importaneia dos valores
negociados com ISles titulos. -
§ 10: Annualmente apresentarão ao mesmo ministerio o
ba.lanço detalhado de todas as operações que fizerem de co- -
nhecimentos de depositos e warraRü, com os precisos escla.r~.
cimentos, que demonstrem a somma. desses titulos Imittida, a
Bomma resgatada e a dos titulos que ficam em circulação no
ultimo de cada anno, acompanhado das respectivas relaçOes
das mercadorias em deposito. .
Art. 16. O conhecimento de deposito pagar' o sell0
fixo, e o coarratat u sello proporcional ao valGr da merca-
doria.
Os titulos em que não constar o 'pagamento do seUo serio
sujeitos a todas as penalidadea ftscaes.
Art. 17. Seri. permittido aos interessados o exame -8
verificação das mercadorias depositadas 8 a conferencia das
amostras. .
Art. 1~. As Alfandegas e Companhias de Doc~ não usarão
da -faculda.de esta.tuida neste regulamento, sem autorilação
do Mini.terio da Fazenda, que \. coucederá mediante exame
e verificação das condições, para o seu regular funcciona-
mento.
Â,rt.19. AI mercadorias abandonadasflcam sujeitas ás,
disposiçOes applicaveis dd. Con"oZida~40 da8 L~'. daa Alfa.
dega ••
Art. iO. Ficam revogadas as disposiçOes em contrario,
Capital Federal, em ~4: de Abril de 1897. 9° da Repa-
bliea. -•

PRU •• KTE J,. DB MORUS B,A,uos.


Bern'lrdino d. 'O«m"ol,

DdNto .0 .....-.8 I •• ~.Ibi 48 I ••••


Manda -vigorar em aua plenitude o'regu-
lamento da Seoretaria de Eltado da Me.riDha.
promulgadQ pelo deereto n. 1.1~ A, de ao
de J)ezembro .de 1§2, dcando revoga4o o
decrete n. 1.67', de 11 ~ J'evereiro de l~.

O Presidente da Republiea dOi Estados Unidos do Brazil,


considerando que o decreto n. 1.673, de 11 de Fevereiro
de 1894, Imspendeu li estricta observancia do art. 31, de-
rogou 08 arts. 1 e 15 do regulamento anuexo ao decreto
n. 1.195 A, de 30 de Dezembro de 1892, e determinou que
-606 -
fosse apresentado para a Secretaria da Marinha novo regula·
mento, de accordo com a lei n. 23, de 30 de Outubro de 1891;
Oonsiderando que não convem executar esta ultima
parte daquelIe decreto sem que o Poder Legislativo se pro·
nuncie sobre as reformas que lhe têem sido indicadas como
indispensaveis ã. admini~tração da Marinha: e
Considerando que não deve, entretanto,' continuar a
referida Secretaria sem leis que garantam os direitos dos res·
pectivos funccionarios e promovam o estimulo, tão necessario
em todas as classes:
Decreta que, emquanto não fôr dado novo regulamento
para a Secretaria de Estado da Marinha, continue a vigorar
em sua plenitude o que foi promulgado pelo decreto n. 1.195A,
de 30 Dezembro de 1899, ficando revogado o decreto
n.1.673, de 11 de Fevereiro iJe 1894. ,
. Capital Federal, 1 de J nlho de 1897, 9° da Republica..
PRUDENTE J. DE MORAES BARROS.
Manoel José AlvesBa1·oosa.

Decreto n. 2.l»B!ii-de õ de J.lho de ta.,


°
Approva regulamento para cllbrancll. do
im:e,0sto de um conto de réIs (1:000$), a que
estao sujeitas as sociedade. sporti\'as.

O Presidente da Republica dos E!:!tados Unidos do Brazil,


usando da autorização conferida ao Poder Executivo, no
n. lOdo art. 48 da Constituição da Republica, decreta:
Artigo unico. Fica approvado o regulamento que a este
acompanha, para cobrança do imposto de um conto de réis
(1 :000$) a que estão sujeitas as sociedades sportivas, creado
pelo art. 38° da lei n. 498, de 10 de Dezembro de 1896.
.OapitaJ Federal, 5 de Julho de 1897. 9° da Republica .
PRUDENTE J. DE MORAES BARROS.
Bernardino de Oampo ••

Regulamento para cobrança 'do imposto de um COllto


de réis (1:000$), a que se refere' o decreto
n. 2.538, desta data.
Àrt. 1.8 As sociedades sportivas de qualquer genero,
existentes ou que venham a 8e fundar ou estabelecer no
- 607-

Districto' Federal, ficam sujeitas ao imposto annual de um


conto de réis, creado pelo art. 38 da lei n. 428', de 10 de
Dezembro de 1896, cobrado de uma só vez.
Art. 2.° Este imposto comprehende as sociedades, com·
panhias ou emprezassportivas, que se proponham a. pro~
porcionar diversão ao publieo, mediante lucro auferido d~
retribuição de cmtrada ou de poules, bilhetes de apostas,
sorteio, etc., taes como os clubs de corridas de cavallo· ou a
pé, frontões, bellodromos ou velodromos, boliches, circo de
touros e outros nas mesmas condições. ..
Paragrapho uni co. Exceptuam·se as sociedades ou com~
panhias dramaticas, musicaes e semelhautes. '
Art. 3.° Haverá. na Recebedoria um livro de inscripção
das sociedades, companhias e emprezas sujeitas ao imposto,'
confeccionado em vista de róes fornecidos pelos empregados
incumbidos do lançamento.
Art. 4:.- As sociedades, comp~nhias e em prezas , que Sd
extinguirem ou tiverem de mudar·se do Districto Federal,
ficam obrigadas a communicar o facto até 31 de Dezembro
á.. Recebedoria, para o fim de lhes ser trancada, a respectiva
inscripção. ~ ,
Art. 5-. Aépoc!\ do pagamento, do imposto é, o mez de
Janeiro de cada anno para as sociedades iuscriptas.
Art. 6-. A falta de pagamento nó prazo marcado no ar-
tigo antecedente sujeita o contribuinte á multa de 20 °lo, si o
pagamento se realizar até Fevereiro, e a mais 10 e/., si não
fôr satisfeito até o mez subsequente, seguindo-se immediata- ,
mente a cobrança executiva. ' .
Paragrapho nnico. A Directqria do Contencioso, logo que .-
lhe sejam remettidas as certidões da divida, providenciará'
em ordem a' que a respectiva cobrança seja feita com a maior
presteza.
Art. 7°. As sociedades, companhias e em prezas , que
vierem a se fundar ou estabelecer no' Districto ~'eàeral,.
deverão, antes de funccionar, communicar á Recebedoria,'
para o fim de serem inscriptas e pagarem o devido imo
posto. ..
Esta commanicação será. feita por escripto e assignada "
,pelo presidente ou principal rosponsavel ; deverá mencionar o
fim da associação e sua sMe. ' '
Pal'agrapho unico. Os infractores deste artigo ficam su-
jeitos ao pagamento do imposto, mais a multa de 30 0/"
do art. 6°.
Art. 8°. O imposto será cobrado integralmente, qualquer
que seja a época em que se torne obrig~torio.
-808-
Art. 90 • As autoridades policiaes não concederão licença
para funccionarem as sociedades, eompanhias e emprezas su-
jeitas ao imposto de que trata o art. 1-, sem que exhibam o
conheeimento relativo á sua cobrança. '
Paragrapha unico. A ~ontravenção deste artigo será. punida
com a multa de 200$000 a 500$noO, imposta pelo Ministro
da Fazenda, além da responsabilidade pelo vlllor do imposto.
Art. 10. Para a primeirá cobrança a Recebedoria orga-
nisarâ a inscripção com os dados existentes em relação
ao imposto deindustrias e profissões, para o exercicio de
1898, ouvidos os empregados incumbidos do lançamento.
Art. 11. O imposto será escripturado como - renda. do
interior'- Imposto' sobre as sociedades .portivas.
Ar'- 12. O imposto a que se refere o art. l' não preju-
dica o de 500$000 para corridas de cavallos, creado pelo
art. 10 da lei n. 3.396, de 24 de Novembro de 1888, o qual
continúa em pleno vigor, eft·vi do disposto fiO art. 38 do de·
ereto n. 4i8, de 10 de Dezembro de 1896, nem o de indus-
trias li profissões, regulado pelo decreto n. 9.870, de 22 de
Fevereiro de 1888.
Art. 13. O imposto de 1:000$000 filobre as sociedadesspol"
tivas só sefá restituido no caso unico de não funceionarem.
Capital Federal, 5 de Julho de 1897. -Bernardino de
Oampo8.' .

Deueto a ••• SCtl-4e • •e .ulho de .88.


Appllca AI necessles dOll lubdltos belgal!J
as disposioGel ele deoreto n. 855, de 8 de No·
vembro de 1811, a que 18 retere o seu art. U.
O Presidente da Republica dOI! Estados Unidos do Brazil,
acceitando a propofilta do Governo de Sua Mag.estade o Rei
dos Belgas, com a clausula de reciprocidade :
, Decreta:
Art. 1-. As sucoessões dos subditos belgas faIlecidos no
Brazil, que se abrirem de 1 de Setembro em diante, serão re-
gidas pelas disposições a que se refere o art. 24 do decreto
n. 855, de 8 de Novembro de 1851.
Art. 2°. Logo que cessar o accordo que motiva opre~
sente decreto, as successões que estiverem em liquidação pas-
sarão a Mer regidas pelo (lecreto n. 2.433, de 15 de Junho
de 1859, ou pelo que então estiver em vigor. .
Capital Federal, 9 de Julho de 18~7, 9° da Repubhca.
PRUDENTE J. DE MORAES BARROS.
DionY8io Fl. de Oa8tro O~rqueira.
- 609-
Decreto D. 2.;i48-de f'7 de Julho de f80'7

°
Approva regulamento para a execução
do art. 20 da lei n. 428, de 10 de Dezembro
de 1896.

O Presidente da Republica dos Estados Unidos. do :Bra-


zil, usando da autorisação conferida ao Poder Executivo . no
n. 1 do art. 48 da Oonstituição da Repu blica, decretl'l.:
Artigo unico. 14~ica approndo o regulameuto que. a este
acompanha IHl.ra a expeução do art. 20 da l.i n. 428, de 10
de Dezembro de 1896.
Capital Federal, 17 de Julho de 1897, 9- dà Repnblica.
PRUDENTE J. DE MORAES BARROS.

BeTnm'dillo de Campos.

Regulamento para a execução do art_ 20 da lei n. 428;


de Ío de Dezembro de 1896, a que se refere o de-
.ereto n. 2.548, desta data.
Art. 1°. São consideradas contrafacções e sujeitas ás pe-
nas do Codigo Penal com multa de 1:000$ a 5:000$000:
1°, a fll.brica~ão·, por qualquer mOlto, de rotulos e mar-
cas de pl'oductos estrangeiros, que se prestem á falsificação de
bebidas e quaesquer outros productos nacionaes, para serem
vendidos coíno si estrangeiros fossem j
2°, a importação pelas alfandegas dos mesmos rotulos e
marcas, para o mesmo fim. (Art. 20 da lei:l. 428, de lO de .
Dezembro de 1896.) .
Art. 2". As marcas e rotulos nas cOlldiçÕiS do artigo ano
tecedente ,;;erão apprehendidos pE'los fisraes da Fazenda e des-
truidoli depois de tornadas irrevngaveis' as decisões proferi-
das pelas autoridades compPtentes, na fórma prescripta -na.
. ConsoZidaçtLo das Leis das Aljandegas.
Art. 3". E' igualment(~ prohibida, sob pena de multa. de
20$ a 500$, além da apprehensão das mercl\dorias, ~ exposi-
ção á ven(la: '
1°, de drogas, productos chimicos e pharmaceuticoi sem
a indicação da. fabrica, nome ou denominação do producto e
preço de venda;
2 o, de mercadorias ou prodnctos de fabricas nacionaes
ClIm .rotulo em lingua estrangeira, guardadas as re.gra~ deste
regulamento. (Mesmo artigo. e paragrapho unico.)
,~- i>IR. VOL. 73. 39
- 610
Art. 4°. A disposição do art. 3° entrará em execução
no praso de 60 dias da data da publicação deste regulamento
na Capital Federal e nos Estados em relação aos productos
que houverem de sr.r lançados em consumo.
Art. 5°. Aos fabricantes, depositarios e negociantes de
drogas, productos chimicos, pharmaceuticos e outros, em cir-
culação commercial, conceder-se-ha o praso de 90 dias, conta-
dos da publicação a que se refere o art. 4.0, para procederem
á substituição dos rotulos por outros nas condições do art. 30 •
Art. 6°. Aos fabricantes, depositarios e negociantes de
productos nacionaes, contendo rotulos em lingua estrangeira,
c(,nceder-se· ba praso igual para a sub!titiição dos ditos
rotulos.
Art. 7°. Si os rotulos de productos nacionaes em língua
estrangeira fizerem parte de marcas registradas, comprovado
documentalmente o facto, perante a repartição fi!cal, facultar-
se·ba, sempre dentro do mesmo praso de 90 diCis, a applica·
ção de cm carimbo a ferro, borracha ou outro, ou de uma eti-
queta, com as indicações do art. 3, n. 1.
A applicação do carimbo ou etiqueta !erá feita sobre a
propria marca do producto.
Art. 8°. Nas penas do art. 3° incorreI ão aquelles,' em
cujas casas, depositos ou fabricas, decorridos os prasos dos
arts. 4<! a 7?, forem encontrados productos em coutravenção
deste regulamento.
Art. 9." Os processos 'de apprehensão em virtude dos
arts. 1° a 3? regular-se-hão pelo disposto no tit. X da (JOllS0-
l-ldação das Leis das Alfandegas, excepto lia parte relativa á
detenção por não serem passiveis de pri~ão os infractores da-
queIles artigos, e na parte relativa ao leilão dos artigos apprt::-
hendidos (art. 650), os quaes :
a) si o tiverem sido por mot.ivo do art. 1°, serão inutili-
sados de accordo com o art. 446 da mesma Oonsolidação e
art. 20 deste regulamento j
b) na hypothese do alt. 3° não serão entregues a seus
donos, sem que tenham procedido á substituição dos rotulos, de
conformidade com as exigencias dos mesmos artigos ou satis·
fei ta a condição do art. 7° .
.Art. 10. f3ómente nos casos do art. 1°. haverá processo
criminal.
Paragrapho unico. Aos documentos e informações, de que
trata o art. 630 § 6° da Oonsolidação das Leis das Alfandegas,
acompanharão exemplares das marcas e rotulos apprehendidos.
Art. 11, Da data deste regulamento por deante fica pro·
- 611

hibido o registro de marcas de produ dos llacionaes, que tenhalll;


rotulo ou dizeres em lingua estrangeira.
Paragrapho unico. Exceptuam-se:
1°, os nomes de bebidas e outros, que não tenham cor"
respondente em portuguez, como o bitlel', o bmndy, o cou"n«.c, o
jel'net, o 7cil'sch, o 1'hltm, etc., com tanto que os rotulos con·
teaham as indicações da lei;
2°, os nomes do autor, fabricante, inventor, etc., quando
forem estrangeiro!'!.
Art. 12. E' facultado As partes o recurso das decisões.
dos chefes das repartições fiscae~.
Capital Federal, 17 de Julho de 1897. - Bernardino de
Campos.

Decreto n. 2 ... ;;" -de 21 de Julbo de 189"

Declara extincto o Conservatorio Drama-


tico.

o Presidente da Republica dos E:stados U nillos do Brazil ': .


Considerando que a expel"iencill mostrou sufficientemente
a im,tilidade do COl1ser,ratorio Dramatico, creado pelo decreto
n. 4.'666, de 4 de Janeiro de i871,· que nenhuma influencia
tem conseguido exer~er sobre o theatro nacional e a litteratura
e arte dramaticas :
Decreta:
Art. 1°. Fica extincto o Conservatorio Dl'amatico.
Art. 2°. 1'am a execução· das peças theátraes e exhiti.,
ções em casas de espectaculo, a policia cingir·se)la a tomar-
conhecimento, com antecedencia, (la peça ou do programma
que tiver de ser executado, cabenuu"lhe prohibir ou suspender
o espectaculo se verificar que delle possam resultar perturbação
da ordem publica ou oft'ens:is ao decoro publico.
Art. 3.· São revogadas as disposições em contrario.
Capital Federal, 21 de Julho de 1897,_9° da Republica; .
PRUDENTE J. DE l\iOR.iÊS BARROS.

Ameu'fI Cavalcanti.
.. "

-612-
Decreto n. ~.;;;;8-de 21 de Julho de IS9'2'

Regula a inspecção dos theatros a outras


casas de espectaculoB da Capital Federal.

o Presidente da Republica dos Estados Unidos do Brazil,


em conformidade do disposto no art. 2° do decreto n. 2.557,
desta data, relativamente aos theatros e outras casas de espe-
ctaculos da Capital Feoera 1, reRo!ve apprnvar as instrucções
annexas, assignadas lJelo mini:stro do Eiltado da justiça e ne-
gocios interiores.
Oapital Federal, 21 de Julho de 1897, 9° da Republica.
PRcmENTE J. DE :MORAES BARROS.

Amaro Ga",alccnti.

Instrucções a que se refere o decreto n. 2.558 desta data



CAPITULO I
DOS TREATROS E CASAS DE ESPECTACULOS EM GERAL

Art. 1 0. A nenhuma casa de espectaculos conct::derá o


chefe de policia autorização para inaugurar-se sem que se te-
nha verificado a solidez, condições sanitarias e commodidade
do edificio, podendo aquella autoridade mandar fecl~al-a
quando ameace a segurança ou prejudique o bem estar do pu-
blico, especialmente quando as divisões internas não oifere·
çam faei! sahida aos espectadores, na hypothese ele algum si-
nistro. Para qualquer alteração nas divisões e distribuições
internas dos theatros existentes, precederá approvação do
pla"no respectivo. ~
Art. 2~. O chefe de policia marcará a lotação de cada
casa de espectacu!os, sendo prohibido vender maior numero
de bilhetes que q fixado para a platéa, varandas, galerias e
camarotes.
Art. 3°. Haverá em cada theatro ou casa de especta-
culos, - e em logar designa(lo pela policia, um camarote deno·
minado da inspecção. .
§ 1". A directoria ou empl'eza é obrigada a entregar á
autoridade policial (art. 26) sempre que forem requisitados
por. escripto, seis bilhetes de entrada, sem signal algum ex·
tenor, Que serão distribuidos aos· agentes policiaes.
- 613

§ 2°. A directoria ou empreza é representada pela pes-


soa ou pessoas encarregadas (1 e fazer exhibir as peças.
Art. 4°. Haverá bilhet.es de entrada para os camarotes,
platéa!!!, varandas e galel'ia5, começanrlo. a venda dos bilhetes
meia hora, pelo menos, antes do espectaculo. . ..
Paragrapbo unico. E' obrigatoria a entrega de senhas. aos .
espectadores que sahirem durante a representação ou seus in-
tervallos.
Art. 5<? Os recebedores dp, bilhetes e outros emprega...dos
do theatro ou casa de espect.aculos deverão communicar ao res-
pectivo administrador ou emprezado qnaesquer occurrencias
havidas no recinto e immediações do edificio, sendo por ordem
da autoridade substituidos ou despediu os os que não tratarem
os espectadores com urbanidade.
Árt. 6°. As cadeiras,os bancos da platéa e os camarotes
terão numeração, não sendo licito, sem licença da autoridade
policial e aviso ao publico, mudar a designação ou destino dos
Jogares da sala e collocar cadei.ras, tamboretes e travessas nos
espaços reservados á passagem.
Paragrapho. unico. Haverá nos camarotos numero de ca-
deiras correspondente á lotação. As cadeiras da platéa terão
45 centimetro~, pelo meU'lS, de largul'il- nos assentos, e entre
as filas de cadeiras, na platéa, será guardado o espaçl) de 60
centimetros.
Art. 7". A autoridade policial terá uma cha.ve da porta.
de communicação l)ara a caixa do theatro, palco, scenario ou
bastidores, a qual se conservará fechada durante o espec-
taculo .
. Art. 8-. O pre-ço dos bilhetes de entrada para a plátéa,
camarotes, varandas e galerias será fixado pela directoria ou
emprezà e publicado em cartaz á porta e saguões do theatro
e pela imprensa no começo de cada serie de espectaculos, não
podendo a respectiva tabella ser depois alterada sem audiencia
do chefe de policia. ,
Nem por conta da empreza, nem de particulares, podem
os bilhetes ser vendidos dentro ou fóra do e_scriptorio do
thpatro ou casa de e:-.pectaculos. por .preço maior que o esta·
belecido (art. 140 do regnlamento n. 120, de 31 ~le Janeiro
de 1842). . .
Os infractores soff;,erão a pena do art. 36 destas instru-
cçóes, sendo·lhes apprehendidos os bilhete~ e vendid9s 'no
escriptorio do theatro ao preço leg~l, por conta delles.

0•• : , '
-614 ~

CAPITULO II
DOS ESPECTACULOS

Art. gQ. A directoria ou eIllpreza dará sciencia â autori-


dade policial, com antecedencia de. 24 hora~, do primeiro
ensaio e do ensaio geral da peça de récita que 110uver de ser
exhibida. -
Os infractores serão multados em 30$ e soffrerão cinco
dias de prisão (Co digo de posturas municipaes, titulo 8°, § 4 ;
L. 85 de 20 dt: Setembro de 18~2, art. 15, § 11).
Não se representará tambem qualquer peça de declamação,
pantomina ou outra qualquer, sem que seu programma tenha
sido communicado á policia com antecedencia de 48 IInras.
Os infractores serão multados em 30$ e soffrerão cinco
dias de cadeia (Codigo de posturas cita\lo, § 4°, titulo 6°,
2a parte; L. cito ibúlem.).
Art. 10. O chefe de policia poderá prohibir ou supender
a execução da peça de recita ou programma de espectaculo,
quando verifique que da sua realização possa resultar pertur-
bação da ordem publica ou quando haja no contexto aIlusão
aggressi va a determina-da pessoa ou ofl'ensa aos bons costumes.
Da prohibição 011 suspensão haverá recurso para o minis-
tro, a qutm serão presentes as razões do recurso, com infor-
mação do chtfe de policia, que a prestará no prazo de 48 horas,
no maximo.
Art. ] 1. Havendo mudança de programma ou transfe-
rencia de e:;:pectaculo, por causas que mereçam annuencia da
autoridade policial, ou substituição de artista que neIle de.vêea
tomar parte, fará o emprezario annuncio motivado, por meio
de cartaz, na porta e :"aguões do theatro e pela imprensa,
si houve!' tempo, dando sempre ao publico as raZ(leS do seu
procedimento e designando, no caso de 'trallsferencia, o dia da
representação.
Art. 12. Os actores que alterarem o texto nas peças,
accrescentando ou diminuindo palavras que derem a estas sen-
tido equivoco, por meio de inflexão da voz e gestos, ou nas
pantomimas e dansas fizerem accenos e meneios indecentes,
incorrerão na multa de 10$ a 20$ e em quatro a cinco dias
de prisão (Codigo de posturas citado, titulo 8°, § 50; lei
cito ibidem).
~l't. 13. Serão responsabilisados, na conformidade das
dispOSIções do art. 292 do Codigo Penal, os actores que repro-
duzirem no palco textos obscenos ou offensivos da moral pu-
blica, consignados no original.
- 615

Art. 14. Meia hora antes dos espectaculos illuminar-se-hão


os corredores e salas, que assim serão conservados até a
retirada do publico.
Art. 15. Os espectaculos começarão impreterivelmente ás
8 1/2 horas da noite, terminando até meia-noite~
Paragrapho unico. Os entreactos não excederão dty15
minutos e serão preenchidos por musica. .

CAPITULO III

DOS ESPECTADO!tES

Ârt. 16. Ninguem, dentro do theatro ou casa de especta-


culos, poderá dirigir-se em voz alta ·a quem quer que seja,
excepto aos actores, com palanas de approva~ão ou repro-
vação, como: «oravo, caput, fóra, ou ou.tras equivalentes>.>. Os
infractores serão multados em 6$ a 10$ e soffl'erão dous a
cinco dias de cadeia,sem prejuizo das penas f\m que incor-
rer'em os que fizerem motim, assuada ou tumulto (Codigo de
posturas e titulo citado, § 6° ; L. cito ib'idem).
Art. 17. Ninguem podp.rá, dentro do theatro ou casa de
espectaculos, declamar ou recitar de cór, ou por escripto,
peça alguma, nem distribuir escriptos não impressos, sem ter
entregado á, autoridade policial uma cópia assignada pelo
responsavel que a houver de recitar. Os infractores incorrerão
na. multa de 10$ a 20$, e soffrerão tres a cinco dias de cadeia
(Codigo e titulo citadp, § 7°; L. cito ibidem)_
Art. 18. Os que arrojarem projectis para dentro ou fóra
da caixa do theatro ou casa de espectaculos sofft'erão' tres dias
de cadeia e cinco dias na reincidencia (Codigo e titulo citado,
§ 10 ; L. cit.. ibidem).
Art. 19. Os espectadores da platéa deverão sentar-se nos
logares indicados pelos numeros dos bilhetes de que se houve-
rem munido.
Art. 20. Nas casas de espectaculos dramaticos ou lyricos
não poderão os espectadores fumar no recinto, mesmo durantt:l
os entreactos, nem estar cobertos durante a representação.
Paragrapho unico. Nas platéas, cujo soalho deve ter o
conveniente declive, os e!lpectadores esforçar-se-hão por não
embaraçar a vista uns dos outros.
Art. 21. Emqnanto durar o espectaculo é vedado o in-
gresso no scenario a todas as pessuas que não pertencerem ao
respectivo serviço. -
Art. 22. E' permittido chamar á, scel1R. para applaudir,
- 616-

no fim dos actos ou do espectacllltl, ll~lO:-Ó liO autor da peça,
como ao artista ou artü,tas tI lle nella tenham t omltdo parte .
.Â.rt. 23. E' prohibido pedir a execllí;ãll de II llalq uer canto,
pe~a de musica0 ou recitação que não faça parte do pl'ogramma.

CAPITULO IV
DA INSPECÇÃO

Art. 24. A jn~l'eÍ'(;iiú du:, tlWiI trus uu cctsas de e~pecta­


culos desta Capital cUllIIJete liU chefe de policia que, em seus
impedimento~, a JlOdellÍ (lf'lpgal, f'UI tudo ou em parte, aos
delegados de policia e seus suwJentes.
Art. 25. A autol'irlno.e eu ;ar rf'gada da inspt:'cção dos
theatros ou casas qe et>l,ectaculos deverá ó'tssist.il' a relJlesen·
tação, comparecendo ante.s de cumeçar e retirando·se depois
de dhlsolvido o ajuntalllento (Regulawento de 31 de Janeiro de
1842, art. 131).
Alt. ~õ. A autoridade policial poderá reclamar silencio
quando for pertUl bada a trallquilidade do espectaculo, pu/'
excesso das exclamações de que trata o art. 16, e mesmu
expeli ir do theatro ou casa de espectaculos os relutantes.
§ 1 Quando de taes exclamações resultar tumultos,
Q.

mandará, se for necessario, baixar o pallllo e evacuar· a sala


pela força publica, sujeitando os tUIll uI luos/)s ás penas da lei.
§ 2°. Ordenará que se baixe o panllo si a representação
de uma peça se tOl'llar causa ou oc~asião ~le escandalo, desor-
dem ou desrespeito e quebra de força mOl:al a qualquer auto-
ridade.
Art. 27. Fará lançar fóraou pôr em custodia a quem en·
traI' no theatro ou casa de espectaculos em estado de embria-
guez, restituindo a liberdade au detento logo que esse estado
cessar (Codigo de posturas citado, titulo 8, § 9).
Do mesmo modo procederá para com os que se portarem
por fórma inconveniente ou irregular.
Art. 28. Obrigará a directoria ou empreza a levar a effeito
a representação annunciada, por mais diminuto que seja o nu-
meru do~ espectadores, salvu acquie~cencia destes.
Art. :::9. Pl'ühibirá que se fllOíi1.rt'lll nos bastidores, á vista
do publico, pessoas e~tranhai' á scella que se repre~eJlta, ou
que os actores, por signae:'i, gestús e IJalavras, se dirijam ao
publico. '
Art. 30. Nos casos de a b:'ioluta conveniencia publica, po-
derá o chefe de policia mandar fechar, provisoria ou definiti·
.
vamente, qualquer casa de espectaculos .
- 617-

Art. 31. A autoridade policial requisitará e mandará


collocar no logar ~usW1Jlado ulIla guarda pulidal, mais ou me-
nus refurçada, segulld!J a llece~~illêtde da oecasião.·
§ 1 0 . Distribuirá sentinellils onde fôr conveniente e dará
instrucções para manter a ·ordem.
§ 2°. Designará logar proprio para s~ arrumárem car.,s
e cavallus, incumbindo uma patrulha rondante de fazet' .execu-
tu a prescripção do inspector de vehiculos, no tocante ao
transito, na entrada e sahida, de modo a evitar embaraços.
Art. 32. O commandante da guarda destinada a manter a
urdem ficauí á disposição da autoridade policial do theatro e
sómente poderú ag·ir por ordem sua.
Art. 33. A autol'Íllade policial, por meio de multa até
lr.O$, ou de prisão até um mez,. ollrigarú, os empregados do
sCQual'Ío a cumprir seus cOlltractos, para qúe não se interrom-
pam os e,specta('uloi:l ou se . deixem de realizar as promessas'
feitas ao publico (art. 14 do regulamento de 31 de Janeiro
de 1842).
'ranto os contrattos celebrados no Brazil· como no es-
trangeiro, entre artistas e eml,rezarios, para lepl't'sentações
nesta Capital, íDerão apresentados ao chefe de policia para se-
rem visados.
Art. 34. Quando se verificarem algumas das infra-cções
de que tratam os capiLulos antecedentes, a autoridade policial
fará lavrar auto de tlagl'allt~, e sempre que tiver de expedir
qualquer ordem, no sentido destas instrucções, determinará
'lJor e~cl'Ípto ao ,escrivão que <l illtime a quem cabe cump~i1·a,
e lavre certificado de ter ilido ou não cumprida.
Art. 35. Incumbe ainda á autoridade policial:
§ 1° . Fiscalisar a l'edacção dos annuncios que alguns thea-
tl'08 ou casas de espectaculos costumam inserir nos pannos de
ante-seena.
§ 2°. Designar para deposito e guilrda do machinismo e
das decorações um logar separado da. casa d()s espectaculos.
§ 3°. Exigir que no pateo, jimlim ou outra 'parte do edi.
ficio haja uma bomba, pessoas habilitadas para empregal·a e
l'eSelvatol'Ío de agua, po<lelldo mandar fechar·o theatro ou
casa de espectaculos, no caso da não observancia desta pre-
st:ripção. .
§ 4°. OUl'igar a direetoria ou elllpl'eZa a tornar inflamma-
veis, por meio de prot:essus chilllico;,;, não só os forroll de papel
e outros objectoil de faeil cumbustão, mas tambem as bu~has
das armas de fogo e involucros dos artefaetos pyrotechmcos.
, § 5 o. Vel'ificar si as armas de tiros estão carregadas de
qualquer projectil.
- 618-

§ 6.° Fazer visitar, findo o espectaculo, todo o edificio,


pelo porteiro, acompanhado de uma das praças ou agentes ao
serviço da inspecção, no intuito de evitar que alguem fique
occulto no recinto.
§ 7. o Exigir que em todos os theatros ou casas de es-
p~ctaculos seja franqueada ás senhoras, servida por pessoal
decente, uma sala de toilette e vestiaria, onde as espectadoras
possam deixar seus chapéos.
§ 8.° Providenciar para que haja, em lagares conveni-
entes do theatro ou casas de espectaculos, mictorios e !Vater-
closets, mantidos com asseio e decencia, e plUil. que no fim do
espectaculo se abram todaH as portas do edificio ..
§ 9.° Ordenar que sejam depositados na policia os obje·
ctos esquecidos pelo publico no theatro ou casas de especta·
, culos para a respeito deIles se proceder na fórma da lei em
relação -ás causas perdidds.

DISPOSIÇÕES GERAES
Art. 36. Os actores e mais empregados do theatro ou
casa de espectaculos que não cumprirem as ordens da autori·
dade policial, e todas as pessoas que infdllgirem as dispo·
sições das presentes instrucções, na parte em que não ha com-
minação de pena especial, serão puuidos com a de desabe-
diencia, além das mais em que incorrerem.
Capital Federal, 21 de Julho de 1897. - Amaro Cavalo
ea'fl'i.

Decreto n. ~.;;GO-de ~8 Julho de 189'1


Publica a adhesão da Coréa á Convenção
Postal Universal (Convenção principal, com
exclusão dos demais Rctos conclui dos no
Congresso de Vienna).
O Presidente da Republica dos Estados Unidos do Bl'azil
faz publica a adhesão da Coréa á Convenção Postal Universal
(Convenção principal, com a exclusão dos demais actos con'
cluidos no Congresso de Vienna), segundo a communicação
do Conselho Federal Suisso, de 24 de Junho proximo passado,
ao ministerio das relações exteriores, cuja traducção official
este acompanha.
Capital Federal, 26 de Julho de 1897, 9 0 da Republica.
PRUDENTE J. DE MORAES BARROS •
.])ionysio E. de Castro Cerqueira.
- 619-
Traducção-Bel'lla, ~4 de Julho de 1897.
I::Ir. Ministro-'l'emos a honra de informar a V. Ex. que,
por nota datada de ;30 de Abril de 1897, a Legação da Coréa
em Washingtop. deu-nos conhecimento, por intermedio do
ministro da 811issa nessa cidade, da adhesão do seu governo
á Oonvenção Postal Universal (Convenção principal, colil
exclusão dos demais actos concluídos 110 Congresso de
Vienna).
Apressamo·nos em notificar a V. Ex. esta' adhesão, de
conformidade com o art. 24 da referida Convenção, e fazimos
sobresahir o seguinte:
1. o A data da accessão da Coréa ainda não está fixada,
mas a Legação de8se paiz assegura que, em nenhum caso,
será posterior ao L" de Janeiro de 1899. .
2. o As repártições do correio coreano perceberão como
equivalentes previstos pelo art. IV do regulamento para a
execução da Convenção Postal Universal:
Por 25 centimos, 25 poon i
Por 10 centimos, 10 poonj
Por 5 centimos, 5 'poon.
3." Para a. divisão das despezas da União Postal,·a
Coréa fica incluida na setima classe prevista no n. 3 do
art. XXXII do regulamento mencionado no § 2.
Aproveitamos esta occasiftO para. renovar~Tos, Sr. Mi-
nistro, a segurança de nossa alta consideração .
./!,;m nome do Conselho .B'ederal Suisso, o presidente da
Confederação, Deucher. - O chanceller ,da Confederação,
Ringie1' .
A S. Ex. o Sr. Ministro de Estado das Relações Exteriores
dos Estados Unidos do Brazil. Rio de Janeiro.

DECISÕES DO GOVERNO'

MINISTERIO DA JUSTIÇA E NEGO CIOS INTERIORES'


Declara que as gratificações addicionaes
dos vencimentos dos lentes da Esêola Poly-
teclmica suspensos-com privação de venci- .
mentos-por decreto de 15 de Julho do cor-
rente anno, não podem ser attingidas pela
suspensão.

Ministerio da j ustiçlt e negocios interiores - Directoria


geral da instrllcção - 1" secção - Capital Fedeml, 10 de
Outubro de 18H6.
-62' -

Rr. Ministro de Estado da fazenda.- Em vosso aviso


n. 78, de 17 de Setembro ult.imo, declaraes que os lentes da
Escola Polytechnica que, por decreto de 15 de JUlllO do
corrente anno, foram suspensos por tres mezes, perdem
durante a suspensão todos os vencimentos, inclUlilive a gra·
tificação addicional.
Em re~posta cabe-me ponderar que, constituindo taes
gratificações um adeantamento de pensão, como premio de
serviços prestados, e tanto que não soffrem desconto algum
durante as licenças dos fUllccionarios, nos termos do art. 275
§ 20 do Oodigo approvd<io pelo decreto legislativo n. 230 de
7 de. Dezembro de 1894, não podem ser att.ingidas pela sus-
pensão imposta ao& referidos len.1,es.
Saude e fraternidade. - Alóerto TOtTes.

Deolara que ha incompatibilidade em exer-


cer o cargo de procurador interino da
Republiea o commerciante que tem contracto
com a Fazenda Nacional para lorneoim~nto
de viveres e outros artigos.

Ministerio da justiça e nego cios interiores - Directoria


geral da justiça - 1:: secção ." Oapital Federal, 29 de Ou·
tubro de 1896.
Sr. Ministro de Est~do dns negocios da fazenda - Em
solução á consulta constante do vosso aviso n. 82 de 23 do
mez findo, declaro~vos que ha manifesta incompatibilidade em
exercer o cargo de procurador interino dá Republica o com·
merciallte que tem contracto com a Fazenda Nacional para
fornecimento de viveres e outros artigos, porquanto, dado o
caso de alguma acção judiciaria, em r.onsequencia de trans-
gressão ou omissão de estipulações dI) contracto, não poderá
o procurador promover tal acçã() contra aSila propria pessoa.
Saude e fraternidarle.-Alberlo Turres.

Observa quanto ás rogatorias para o es·


trangeil'o : - 1.0 que Oll juizes devem re- '
mettel-as ao ministerio da justiça, não
directameilte, mas por intermedio do go'
verno dos Estados onde têm j urisdioçao;
2. o, que ellas devem ser selladas com es-
tampilhas da União e aoompanhadas da
respectiva traducção.

Ministerio da justiça. e nego cios interiores - Directoria


geral da justiça -1:: secção. - Capital Federal, 7 de Novem'
bro de 1896.
- 621 -

Ao governador do Esli\l1o ,las AJagõêlf: -. O juiz ~nbstitl1to


da cidade das Alagõas pllyinH ti i I t'lot ftn H" Il te II e,,.tt> llIi lIisterio,
quando <> devia fazer por illtellllt<iio dl:'liS~ governo, couf(,rme
preceitúa o decreto n. 632 de 27 de Agoi'lto de 1849, a
rogatoria, que ora vos remetto, dirigida á:,; justiças da cidáde
de Pariz, Itara citação de hlaulJtl de Vasconcellos, filho, do
fallecido Leocadio da Costa Moraes.
Não estando a referida rogatoria sellada com estampilhas
da União, como determina o art. 57 do decreto n. 1.264 de
11 de Fevereiro de 1893, nem acompanhada da respectiva
traducção, nos termos do aviso circular n. 37 de 11 de Junho
de 1886, rogo· vos sirvaes providenciar afim ne que sejam
preenchidas taes formalidades. .,
Saude e fraternidade. -AlDerto Torres.

Estabelece regras para a admissão de ne-


gociantes estrangeiros matriculll.dos, que te-
nham acceitado a nacionalidade l;lrazileira,
na lista dos que devem compOr o collegio
eleitoral dos districtos das Juntas Commer-
ciaes.

Ministerio da justiça e negocios interiores - Directoria


geral da justiça-la secção--Capital Fed,eral, 24 de Novembro
de 1896.
Consultastes em officio de 11 corrente se continúa em
vigor a providencia do aviso de 8 ne Janeiro de 1891, em
virtude da qual o antigo ministerio dos negocios da justiça,
com referencia á primeira eleição de deputados e supplentes
da Junta Commel'ci!\ldo Estado de S. Paulo, detel minou que,
embora não contemplados na lista respectiva, devem ser admit-
tidos a votar os llI~gociaIltes estrangeiros matriculados, desde
que apresentem carta de mat.ricula com declaração, perante a
mesa do collegio commercial, de terem Rcceitado a nacionali·
dade brasileira.
E' fóra de duvida que esta (lecisão foi tomada para o
effeito occasional de facilitar a constituição daquE'lla junt.a, ~
daIla, portanto, nenhum embaraço póde advir á execução do
decreto Il. ,596 de 19 de Julho de 1890. .
O proprio texto do decreto, entretanto, não profliga a falta
d~ accordo, a que alludis, entre os membros dessa instituiçãO,'
Visto que 1l~0 é definitiva a lista a que se refere o art. 8"
§ 2°, ?OS commerciantes que devem ser convocados .para O'
CuIleglO eleitoral.
Assim é que o § 50 do art. 90 preceitúa que no acto da
- 622-

eleição a mesa tome conhecimento de quaesquer reclamações


contra a exactidão da lista affixada ou denuncia de fraude, e
por força desta disposição, e l)ara que a relação dos COllVO·
candos comprebenda os nomes de todos os negociantes matri·
culados que estejam -nas condições especificadas no § 3° do
art. 8°, convém, com especial referencill. á prova da naciona·
lidade tacita, que, ao organisar a dita relação dos com mel'·
ciantes que devem ser convocados para o collegio eleitoral,
inclua essa junta não só os nomes de todos aquelIes, que já
constarem das relações I;lnterÍol'es e a respeito dos quaes ne·
nhama duvida haja acerca de sua qualidade de cidadãos bra·
sileiros, como tambam os dos outros que, ainda não inscriptos
anteriormente, provarem, além das demais condições legaes, a
da nacionalisação por J7leio de titnlo ou de -certidão authentica
-de não terem feito nOs respectivos consulados durante o prazo
da lei a declaração de opção pela nacionalidade de origem.
Do mesmo modo convém que, por occasião da formação da
mesa, sejam incluidos todos os reclamantes que derem as refe·
ridas provas, e exclui dos aquellei que não as derem 011 ares·
peito dos quaes se exhibir 'Prova de haverem feito a mencio-
nada opção,
Nestes termos os nacionalisados tacitamente hão assigna-
lando por actos successivos a firmeza de sua adhesão á naçfl.O
brazileira, de fórma a evitar tel'gi versações ou Illesmo ao uso,
Saude e fraternidade.-Albe1"io Tor/'es.-Sl'. pl'e~idellte da
Junta Comluercial desta Capital.

Permitte aos lentes das Faculdades Livres


de Direito usarem, nos actos solemlles das
mesmas, das insignias dos lentes das Fa·
culdades oIliciaes, usando as privativas do
gráo de doutor s6mente os graduados pelas
Faculdades officiaes.

_ Ministerio da justiça e negocios interiores- Directol'Ía da


instrucção -1" secção-Capital 1, ederal, 27 de Novembro
de 1896.
Autoriso-vos, conforme solicitast.s em officio de 20 do
corrente mez, a permittir que nos actos solemlles dessa facul·
dade os respectivos lentes usem das mesmas insignias que os
lentes das faculdades de dÍleito officiaes, usando as privat!·
vas do grão de doutor sómente os graduados por .estas ulti-
mas faculdades.
Saude e fraternidade.-Allim·to TOtTes.-Sr. dil'ectol' rla.
Fl\.culdade Livre de Direito <lo Rio de Janeiro.
- 623

Identica mufatis ?nutandisaos directores das '.Faculqades


Livre$ de Direito da Bahia e de Minas Geraes.
..
'.~

Torna extensiva ao pessoal da Estrada de


Ferro de Santa Maria a Cruz Alta a dispensa
do Bervi~o activo da guarda nacional, conce-
dida aos empregados da Estrada de Ferro
Central do Brazil pelo aviso de 13 de Junho
de 1891.

Ministerio da justiça e nego cioS' interiores~Directoria


geral da justiça-2': secção-Capital Federal, 1 de Dezembro
de 1896. . •
Sr. ministro de Estado da industrill:" viação e obras pu-
blicas-Em resposta ao vosso aviso de 28 de Setembro uI ...
timo, decldroovos, para os tins convenientes. que, attendendo
á requisição que vos foi feita pela Inspectoria Geral de Es-
tradas de Ferro, resolvi tornar extensiva ao pesso~l da Estrada
de Ferro de Santa Maria a Oruz Alta a dispensa do serviço
activo da guarda nacional, concedida aos empregados da Es-
tratla de Ferro Central do Brazil, por aviso de 13 de Junho o
de 1891, o qual por analogia de circumstancias os equiparou
aos funccionarios das administrações e agencias dos correios,
que, em virtude dos arts. 15 ~ 2'? da lei no 602 de 19 de. o
Setembro de 1850 e 25 ~ 2° do decreto n. 722 de 25 de Ou-
tubro do mesmo anno, estão dispensauos do serviço activo,
não obstante pertencerem á lista respectiva, quando volunta-
riamente se não prestem, sendo esta a restL'icção com que
deve ser entendida a isenção ampliada.
Saude e fraternidade.-Alhmoto Torres.

Dá instrucções para os concursos dos lo· .


gares de chefes de secção e de amanuenseH
da Bibliotheca Nacional.

Ministerio da justiça e negocios inte.riores-Directoria


geral da instrucção.-1 a secção.-Capital Federal, 2 de De-
zembro de 1896.
Em resposta aos officios ns. 148 e 157 de 23 de Setem-
bro e 7 de Outubro ultimos, declaro-vos que, nos concursos
para proVÍlllento dos logares de chefe de secçáo e de ama-·
nuense dessa repartição, devem ser observadas as instrucções
que a este aeompanham, prevenindo· vos de que para o provi-
-624 -
"

, ment8 das:irltgas que SE':' derem ({aqlli P:)l.' df:'antp. ~ó terão lo,
, gar os concursoS 'nêdiante prévia antol'Í~i'l.(:ão o.~~te ilIinisterio,
".saudJ3 ti fratel'n id~'<le, -,:llbe1'fl) TV)'J'es.-SI'. clil'eetor da
.
Bibliotlieca Na~ional.
. "
-,
Instrucções pa1."a o"co~rs~ ao logar de chefe de secção
da Biôliotheca Nacional, ã que se refere o aviso
desta data. ", .1- 'I>


. *:,.: '""

Art. 1°. Quan(lo


.. •

v;~gar algu_m logar de chefe de secção da


Bibliother.aNacional" o dil'ectorfl1l'á annunciar a inscripção para
o concurso, o qual se rçalisará del\.tro do praso de dous mezes,
a. contar da publicação do primeiro anlluncio.
Art. 2°. Os annuncim; serão publicados dnrante oito dias
colisecuti vos no Diario Official e em tres folhas de maior cir-
culação da Capital FedeLd.
Art. 3°. Os conCUlTtllt.e:' instruil'i'"tQ suas petições com
documentos qUA p,.',vem a i<la\le {leIo meuo:-: <lít 21 aUHOS e bODl
, proeedimpnto, e poderão .i nutal' (lll1l.esq uer ontros que attestem
suas habilitações e serviços. Ficarão dispensados de apre~entar
os de maioridade e IJOIJl procedimento os que forem emprega-
dos da repartição. •
Àrt. 4°. O concurso será realisado no efliticio da Biblio·
theca, constitllindfi a commi<:são julgadora, lia qualidade de
presidente, o respecti vo tlirect.ol'; e, na de examinadores, os
chefes df> secção, si o Goven\() não designa.\' outros.
Art. 5°. As, provas de habi1ita~ão exigidas no concurso
consistirfio : "
§ 10. Em rel!!po~tas escriptas sobre assumptús concernen·
tes ás seguintes materias: his~oria, geographia e litteratura, e
sobre bilJliographia, fliplomatica ou iconographia e mumisma~
tica, conforme a secção a que se oestinarem.
§ 2°. Traducção de um trecho latino, de um trecho fran-
cez e de um trecho inglez para a lingua vernacula.
§ 3°. Classificação de um livro impresso, de um manuscri·
pto, de uma estampa, moeda ou ::nedalha da Bibliotheca, con~
forme a secção vaga.
Nestas provas os candidados !lerão obrigados a revelar
conhecimentos da historia das artes.
§ 4°. Apena!il será. permittida a c.msulta de diccioúarios
para as provas (le traducçit'O e para il>l praticas e dos livros es~
pec,iaes que a Bibliotheca {'ossnir p, 0;0; eandi(latos recliimarem.
Art. 6°. Todos os conClll'reu t.t'S seaão examinarIos COD-,
- 625"':

- t
junctamente~sobre os mesmos pontos tirados áo~c)rte, excepta
em relação ás provas ,de classificação, qua'ntlo não houver na
Bibliotheca numero sufflciellte ue exemplares do mesmo#vro,
manuscripto, estampa, medalha ou moMa. •.... • ~
Paragrapho unico-"Procedoer-se-hl:t ao oc6Iicursef em tres.
dias consecutivos, fazendo-se no. primei~o ás provas de geogra·
phia, historia e litteratura, nó segundo as de francez, ~inglez e
latim, no terceiro as de bi}>liQgraIJaia; .diploinat~a ou icono-'
graphia e mumismatica"e a de classificação eoncernente ásec-
ção vaga. . q It. . .
Aos candidatos conceder-se-ha ()o t>rMo de' quatro horas
em cada dia. »
Art. 7-. O candidato que não comparecer á hora marcadA;
ou que por qualquer motivo se retitar atJ.tes de ten.feito todas
as provas, ficará excluidotio concursó.
Art. 8°. Si, porém, acont.ecer que por doente se ache
algum dos candidatos inhibido de comparecer no dia marcado
para o concurso e requeira o adiamento deste, poderá o director,
no caso de julgar provado o impedimento, espaçar o acto até
oito dias, findos os q uaes,si elle não se apresentar,. ficará
excluido.
Si houver um só candidato o prazo poderá ser elevado a
quinze dias a juizo do director. o '
Em qualquer dos casos este participará immediatamente
ao Governo.
Art. 9°. Todas as provas escriptas serão datadas e assig.
nadas pelos concurrentes e rubricadas pelo presidente e exami-
nadores. •
Art. 10. Concluidas as provas, a commissão tratará de
apreciaI-as e votará sobre a approvação ou reprovação dos
candidatos, procedendo em act.o successivo á segunda votação
sobre o merecimento relativo dos concuáentes approvados que
serão classificados nesta conformidade. -
Art. 11. Como base para classificação das prúva~ serão
sommadas aos candidatos as notas dos examinadores ;' notas
que valerão ·de um a seis pontos, segundo forem-má para
soffrivel-soffrivel-soffrivel para boa-boa-boa pata °optima
e optima-descontando-se da totalidade dos votos obtidos por
cada candidato quatro pontos tantas vezes quantas forem as·
notas más que este obtiver. . .
Paragrapho nnico. Terão preferencia em igualdade de
circumstancias :
1°, o empregado da Bibliotheca ;
2°, os graduados em qualquer faculdade.
Art. 12. Lavrar-se-hão em livro especial asactas dos
Dm. VOL. 73 .ro
l'

-- 626 -
concursos com toda~ as circumstancias que neUe hou'ver occor·
rido e serão assignadas pelo presidente e commissão ~ulgadora'.
Krt. 13 .. Servirá de secretario nos concurs.os o proprio
secretario ,da BibliothecIt. , .
Art. 14. Findo o concurso, serao remettidas ao minis-
terio respectivo as provas escriptas, uma cópia da aeta e a
lista dos candidatos approvados devidamente classificados.
O director da Bibliotheca apresentará nessa occasião em·
officio reservado quaesquer informações ou ponderações que
julgar indispeJls~veis para que o Governá possa resolver sobre
a nomeação. .
Oapital Federal, 2 de Dezembro de 1896. - Alberto
Ton·eB.

.. Instrucções para o concurso ao logar de amanuense


da Bibliotheca Nacional, a que se refere o aviso
desta data.
Art. 1. 8 Quando vagar algum logar de amannense da
Bibliotheca Nacional, o dire'ctor fará annunciar a inscripção
. para o concurso, o qual se realizará dentro do praso de dois
mezes, a contar da publiGação do primeiro annuncio.
Art. 2. 0 Os annuncios serão publicados durante oito dias
consecutivos no Dia"io Official e em tres folhas de maior
circulação da Capital Fedt:;ral.
Art. 3. 0 Of? concurrentes instruirão suas petições com
documentos que provem a idade de 18 ann08, pelo menos, e
bom procedimento, e poderão juntar quaesques outros que
attestem suas habilitaçúes e serviços, ficando dispensados de
apresentar os de maioridade e bom procedimento os que
forem empregados da repartição. ,
Art. 4. U O concurso será realizado 110 edificio da Bi·
bliotheca, constitniundo a commissão julgadora, na qualidadê
de presidente, o respectivo director, e,.na de examinadores,
os chefes de secção, si o Governo não designar outros.
Art. 5. 0 As provas de habilitação exigidas em concurso
consistirão :
1. o, em respostas escriptas contendo noções geraes sobre
assumptos concernentes As seguintes materias: historia, geo·
graphia e litte'ratura ;
2.0, uma composição em portuguez e tl'aducção de um
trecho de francez ;
3. o, clas~ificação de um liv~ impresso, de uma estampa,
de uma medalha ou moeda e de um manuscripto da Bibliotheca.
-·627 -
§ 15. Pára as primeiras provas não será pel'mittido a con-
sulta de quaesquer livros ou apontamentos, pàra a dTe traducção
conceder-se-hà a consulta de diccionârios; para as de bíblio-
graphia, iconographia, mumismatica e diplomatica, facultar-
se-hão livros e"peciaes que a Bibliotheca possuir e o candidato
reclamar.
§ 2°. Além de prestar estas provas, os candidatos deverão
responder a qUll.esquer perguntas que os examinadores enten-
derem necessllrio fazer-lhes sobre as materias do concurso.
Art. G.O 'rodos os concurrentes serão examinádos conjqn-
ctamente solJre os mesmos pontos tirad.os á sorte, excepto em
relação ás provas de e\assificação q~lando na Bibliotheca não
houver numero sufiiciente de exemplares do mesmo livro,
estampa, malll1Scripto, moeda ou medalha.
Paragrapho unico. Proceder-se-ha ao concurso em tl'es
dias consecutivos, fazendo-se lloprimeiro dia tres provas-as
de historia, de portuguez e uma das quatro de classificação;
no segundo as de geogruphia, francez, e outra de classificação;
no terceiro as de litteratura e ti.nas de classificação.
'Aos candidatos conceder-se-ha o prazo de quatro horas
em cada dia.
Art. 7? O candidato que não cornparecer IÍ. hora marcada
ou que por qualquer motivo se retirar antes de ter Jeito todas
as provas, ficará excluido do concurso.'"
Art. 8.° Si, porém,' acontecer que por. doeIfte se ache
algum dos candidatos inhibido de comparecer no dia marcado
para o concurso e requeira o adiamento deste, poderá o dil'ector,
no caso de julgar provado o impedimento, espaçar o acto' até
oito dias, findos os quaes, si eUe não se apresentar, ficará
excluido.
Si hou ver um só candidato, o prazo poderá ser elevado a
15 dias, a juizo do director. Em qualquer dos casos este o par-
ticipará immediatamente ao Governo. .
. Art. 9. o Todas as provas escriptas serão datadas e assig-
nadas pelos concurrentes e rubricadas pelo presidente. e pelos
examinadores. .
Art. 10. Concluidas as provas, a commissftO tratará de
apreciai-as, votará sflDre a approvação ou reprovação dos cano
didatos, procedendo-se em acto snccessivo [l, segunda votação
sobre o merecimento relativo dos concuri'entes approvados,
tendo em vista l1 disposiçtw do art. 54 do regulamento allnexo
ao decreto n. 1.766, de 8 de Agosto de 1894, qu'aU'to á prefe·-
renda para a nomeação.
Art. 11. Como base para a classificação das provas serão
sommadas aos candidatos as notas dos examillado.res sobre as
- 628-

respectiva~ provas, notas que valerão de um a seis pontos, se·


gundo forem-má para soffrivel-soffrivel-soffrivel para boa-
boa-boa para optima e optima-descontanJo-seda totalidade
.das notas obtidas por cada candidato quatro pontos tantas
vezes quantas forem as notas más que tiver obtido.
Art. 12. Lavrar-se·hão em livro especial as actas dos ~on·
cursos com todas as circamstancias que nelles houverem occor·
rido, e serão assignadas pelo presidente e mais membros da.
commissão julgadora.
Art. 13. Servirá de secretario nos concursos o proprio
secretario da Bibliotheca.
Art. 14. Findo o concurso serão remettidas ao miTtisterio
respectivo as provas escl'iptas, uma cópia da acta e a lista dos
candidatos approvados, de conformidade com o art. 10.
O director da Biblioth6ca apresentará nessa occasião, em
officio reservado, quaesquer infol'ml1çÕeS ou ponderações que
julgar indispensaveis, para que o Governo possa resolver sobre
a nomeação. ,
Capital Federal, 2 de Dezembro de 1896.-..Alberto Torres.
'INDIOE ALPHABETICO E BEMISSIVO'
DO

SEPTUAGESUIO TERCEIRO VOLUME DO «DIREITO,

:MAIO A AGOSTO ·DE 1897

.A..
Abalrnação de embarcações-prova da culpa do sinistro .•.•.• 000 536
- de navios-damno-desnecessidade de prévio arbitr9.mento ..•. o 252
- indemnisação de perdas e damnos a quem cumpre-m,eios de
prova.. ............. ................................• ....... .... 249
Abalroamento no mar-Decr. que manda vigorar regras........ 440
A b~Lndono de navio -responeabilidade ... ,., .... " ..........• " . .. 245
Acção contra o governo municipal para nullidade de contracto,
L feito com a respectiva administração................. ......... 342
de manutenção de posse de terrenos proposta. por Camara Mu-
nicipal perante a justiça local-recurso extraordinario.;.. •.... 489
de seguros-responsabilidade da Companhia seguradorl1.-embar
gos relevantes oppostos á acção................................ 241
.... entre um Estado e individuo residente em outro Estado-com-
petencia -diversidade de leis.................................. 1'14
executiva tem o commandante do navio para hll.ver o psga-
mento' de sobrestadiàs. ........ ........................... ..... 531
.para annnHar lei estadoal e sustar sua execução não compete ao
procurador da Republica. . . . . . .. .. . . . . . .. .. . . .. . .. .. .. . .. . ... . • 227
preparatoria de exhibição-pena de prisão,........ ........•... 544
- publica no crime de furto nao se admitte...................... 553
- .rescisoria para annulla,,'!o de sentença de fallencia-illegitimi-
dade-questão........................................ .......... 253
Aceordo entre o Governo Federal e o dos Estades para arreca-
dação por parte daquelle de pro~uctos destes-competé~ia neste
caso do procurador da Repubhca para demandar 4ivldllo fis-
cal dos Estados .....•.........•..................•.. ·0 ••• 'i!>;... '~94
Ag~ra'Vo adimitte-se do despacho do juiz federal que se declaJ'a
l.ncompetente em causa cujo valor cabe em sua alçada •.
cabe da decisão sobre a excepção declinatoria f01·i............
o... .. 540
a46
càbe do despacho do juiz federal que reje~t~ in limine a pe!i.
ção inicial de acção contra governo mUlllClpal-qual a acçao
em 'tal· caso .........•............................•....... ·.·.• 342
interposto de outra. deoisão de aggravo quando conhece-se.... 343
- 630-
Aggl'avo não cabe da decisão que rejeita a excepção de illegiti-
midade de parte............................................... 345
não é provido quando o dUlllno não se acha comprehendido
na disposi\'ão da Ord. liv. 3°, tit. 69 pro e § l°.... ......... 341
não Úlh o despacho que recebe para discus8ão embargos re-
levantes á acção de seguro... ..•. . ...•. .. .... . .........•.. .•. . 241
n~lo se admitte da sentença que julga a não interdicção.... .. 1112
deve o juiz a quo dar as razões de direito ............ ,. "," .. 341
Alçada quando se trata de competencia ou iucompetellcia de
juizo-aggravo....... ............•...................... 539 e 540
AU'audcgas e mesas «Ie rcn,las-nova tarifa................. 44~
Amanuease da secretaria da Justiça e Negocios Interiores-ex·
tincção c.e dous logares ...................................... 480
A I) ()Hcl'OS dos Estados e estampilhas do sello federal-falsillcação
-competencia de justiça..... ................................ 516
Aposentaduri:a dos magistrados em disponibilidade-nullidade
do Decr. n. 2056-eompetencias .................... 146. ;,00 e 524
-A~,pt·iia.("à() cabe da sentença que, excedendo de seu objecto na
exrep~ã() de incom pctf'llcia, decide a que8tão principal....... 174
- crime ex-o/ficio do juizo federal não é cabivel.. -.. .......... . 306
- da decisão Cjl1cjulga os erllbargos em acção decel~dial-elreitos 233
- ex Qjíicio cabe 1I0S executivos Jlticaes.... .. ................ ... 4\J 1
Arlútl',"'lcnb prévio -abalroação (le navios.................... 252
1I.1·sena"s ,h\ r.;'ucr::,a. escolas militar'e;;, e:;colas praticas, dc.
nos Estados ern que dcpenllencia estão.......... .... ... .... ... 15D
J'..1·(i:.\"'.s .h\ g'1I1')"'a e Coei. Peno da armada-npplicação........ 304
Assigllat!u·:t da petição do rcc,)ITente para rcyj,.;ão crime ... ;,51 e [;52
ASSH(,iaç;i" politica «Cent.ro l\1onarchista de S. Paulo»- prohi-
bição úe reunir-!>e e funccional'................................ 311
A 'liaJi::4"à .. dos damno6 feito antes da açcão para o fim de fup.-
damentar o pedido............................................ 522
An'al'jas-yistoria'. . . . . .. . . . .. . . .. . . . .. .. . . . . . . . . .. . .. . . .. . . . . . .. . 2.J.ü
~7-:ll
~
nilJliothc~a. Nacional- instrucções para o concurso de chefes
de secçao.e de aml:\llucnses.................................... 623

C'Hln~j.1a:l" de contr·a'eto dc nucleos agll'icolas-responsabilidade


da Fazenda Nacional- ir.demnisação ......................... . 515
Ca.lHll·:\ ~hBlicipa~ - qnestão em funcções legislativas e admi-
n~gt]'~tiyas decidida pela justiça estadoal - recursoextraor-
dll1al'lO ................................................. . 353
Carregamento de navios- embargo fcito em quantias devidas
pelos comprado]'e~ ............................................ . 240
C:H·t:~S testcmulllhavelS timdas por tlenegação du recurso
extrnordinario para () Supremo Tribunal Fe(!. como são
processadas ................................................... . 310
(;as"men"" c~vil celebrado in e."tremis sob a fó.ma testemunhal
- rúquisitos para li sua "alidade ............................. . 347
Ccnt,·u M"n:u'~'hista de 8. l<"aulo-l)rohibição de reunir-se e
func~jonar - habeas-C011)"/tS ................ , ................. . 311
Co". ~·(~ .. :al <la :u'mad:t <.1(\ 1S!H -applica(;âo ........... 304 e 423
Comme,>ci:úlfe" - qual é seu domicilio .......................... . ,1.20
COIIl[t:lJlhias de navegaçiio de transporte de immigrantes-paga-
mentb do respectivo premio .................................. . 502
COr.:Il!.tetcnq,j" da justiçn federal nas causas que se fundarem lia
lesão de direitos individuaes, que actos abrange ............. . ;:;12
pmu as acr;õ~s de particulares contra emprczlL:l en- ,
carregadas de obras publicas .................................,' 176
-.~ para as questõo~ fundadas em actos do governo da
Ul1lao ..........••.•.........••..•.•••.•.•..••.•..•..••••...•.•. 176
\

-·631-
COlllpetenci:\ da justiça fedêral para eonhecer da ncção entre um
fj;stado e individuo residente em outro Estado ................ . lU
- - para os crimes imputados a directores de estradas de
ferro da Uniào ..... : ........................................ . 515
de justiça não diversificando as leis dos Estados a que per-
tencem os litigantes ...................................... 539 e 540
- para os crimes de falsificação de estam'pilhas federaes e
de apolice>! dos Estados, clJmmettidos pelos mesmos individuo!'. 546
do jui7.0 federal no li:slado em que o magistrado tinha exercicio
quan:.lo foi posto em disponibilhlade para a acção de nullidaoje
de sua aposentadoria ...••..........................•......•...• 500
- - - em que residir o representante de companhia estran-
geira para esta ser demandada .............................. . 538
do procurarlor da Republira para demandar :li vida fiscal dos
Estados ...............•........................................• 494
do Supr. Trib. Fed. para conhecer dos aelos do. presidente
da CÔrte de AppeIlação do Districto Federal eomo dá·se ....... 512
dos Estados para decretar impostos de exportação eomprehende
a exportação de uns para outros Estados .......•......••.~ ]84 e 213
ou incompetencia de juizo-não 1lrevalece a alçada ......•... 539 e 540
Computo da pri~ão preventiva na pena legaL.................... 318
- - - no cumprimento da pena-conversão da multa........... 584
Con.lcmn:\ç:lo de custas ])1'0 rata............................... 251
C"nservatorio (h·:lInatico-extincção........................... 611
Contra,,'o de mCcleos agricolas-caducidade-indemllÍsação..... 515
- de reboque-principios que o regulam... ...................... : 47
COIH'cn.,.,ào Postal UnivCl'sal-adhesão da Coréa........ ...... 618
- 'I'cll'graIJltic:t luteruacian:l!-entrada da colonia ingleza ('O
Ceylão ......................................................... .. 475
- -. - modificação das tarifas e do regulamento ..'. .•...•.....•. 480
COIl ,'crs:io da pena <.. .. .. .. .. . .... .. .... .... ......... ........ .
~ 55!)
- - de multa na de prisão ........................ " ....... " ... . 58!
(;Ol'r«,tor de fundos publicos. corno depoflitario de tits. de tereei-
ros, subtrahidos de seu peder-sua legitimidade para demand'ar
a restituição ou indemnisa~üo ................................. . 504
COl'rMol't's de fundos publicos da praça da Capital Federal-re-
gulamento ....................................................... . 441
Causa ('ommulIl praticamente indivisivel-meio de evitar o tTes-
frude de um dos consenhores com prejuizo do~ demais ..... . 357
(;l·j ... ~ de estupro em menor de H annos, sendo casado o autor .. 4t5
- de f'Ul'to- inadmissivel a acçao -publica ...................... . 553
de injurias-inconstitueionalidade tia lei estadoul que confere.
ao ministel'Ío publico attribui~ão para promover o respectivo
processo .... " . '" ." " .....•................... '" ....•........ 422
de rapto seguido de defloramento em maior de 21 annos ..... 426
inafiançavel-nullidade do processo da pronuncia em diante
não autorisa a soltura do l'éo ...................•........ '" ., . 536
Crimes de falsificação de estampilhas do sello federal e de apoli-
ccs dos Estados, commettidos pelos mesmos individuos-eom-
. 'petenci:J. de jus.tiça ....... " ............... '" ............. :.: •... 546
ln1pladuos a dU'cctores de estradas de (erro da Ulllao-
competencia ...................•.......••............ " ...... , . 545
CUll1lJlicidadc criminal não dá-se quando o concurso não é pre-
stado dolosamente........ . ................•....•.• '.' .. '...... . 290
Custas pro rata condemnação ...... ' " ...•.....•...... ; :-.••... 251

, .
Dall1no cau~do por abalroação de navios - desneeessidade de
prévio arbitramento... ... . ...... .. . .. ......................•.. "252
- irreparavel não causa o despacho que recnsa requisitar a ex-
hibição de livros e papeis de repartitlões publicas............ 523
Del(~ga(lia especial do l\Iinisterio da Fazenda no gstado do Rio
Grande do Sul - alterações no decreto de sua creação.. . .. ..• 438
- 632-
'Despacho de mercadorias - engano ou erro qual é ... '" .•..• " . 494
Dissolução de sociedade - perecimento da firma _. coneurrencia
desleal pela continuação da firma á porta de um dos socios. 359
Doação - a decisão sobre nullidade não é casO" de recurso ex-
traordim,rio .... , .................................. '. .• . . . . . . . . . . 355
-:- Causa mortis feita pelo marido á mulher -questão. ••••.••..... 218
Docas e caes -obras no littoral dos portos....................... 176
Domicilio do commerciante qual é......... ............... ....... 420

Embargo effectuado em quanbias devidas por compradores de car-


regamentos de navios - quando não prevalece................ 240
- em navios estrangeiros por faltas na entl'E'ga da carga .....,..... 235
Embargos oppostos em acção decendial - et'feitos da appellaçào
da decisão que os julga ... , ............ :. ..... .. .......••.•...• 233
- relevantes e provados upposto;; á acção de seguro - o despacho
que recebe-os para discussão não faz 3ggrav~. '" ....... •. .•. • 241
- de declaração - quando não se admitte pedido de indemni-
, sação........................................................... 522
Emil;l'~\ntcs - suspensão de entrada - questão' de seguro ma-
rüimo.. ........ .............. ....... ....................... ..•• 243'
Emprezas particulares que executam obras publicas - compe-
tencia de fóro para serem demandadas por particulares....... 176
Escolas milital'CS, praticas, arsenaes de guerra, etc., nos Es-
tados - sua dependencia ..... , ............. - ...... " . . . . . . . . . • . 159
Escrivão de collectoria preso administrativamente - habeas-
corpus................... .......................•••..•..... •.... 567
- de pl'eto,ria_ do Districto Federal é offieio de natureza local-
sua de mIssa o ......•......... , ... ' ......• " ...•... " . . . . • .• . . . . 512
Escrutinio secreto no jury-recusações peremptorias .....•... 5 e 15
Estabelecimentos militares existentes nos Estados-sua depen-
dencia ..... , .......•..... " . " ...... " .......•........ , . • . .. .. . • 159
Estampilhas do seUo federal e apúlices dos Estados-falsificação
-coropetencia de juetiça......... ................ .............. 546
Estradas de ferro da União-crimes imputados aos directores-
competencia.. .• . ... ..............•.••..•.. ............•..•.•. 545
Estupro praticl),tIo em menor de 12 annos, sendo casado o autor. 425
Exame judicial em livros e papeis de repartições publicas-des-
pacho que recusa requisital-os................................. 523
Exeepçào de illegitimida(1e de parte - não cabe aggrayo da de-
cisão que a rejeita .......... ,......... ......................... 345
de incompetencia de juizo - o julgamento é restricto ao seu
objecto, nào podendo por elle t,Ser julgada a acção prinoipal... 538
- da sentença que excedendo o seu objecto, decide a quest:io
principal, cabe appeJlação................................. .•... 174
declinatoria {ori-cabe aggravo da decisão.. ...•. .....•. •. ...• 346
Exemltivos liscaes-appellação ex-offleio . . , ................. " '. . 494
Exhibição C'omo acção pI'eparatoria-pena de prisão............. 544
- de livros e papeis de repartições publicas - despacho que
recusa ................. . :1... .. . ....... .. . .. .... . ... . . ....... .... . 523
Exportação inter-estadoal-impostos lançados pelos ERtados.. l84 e 213
Extradicção inter-estado ai-questão ..•..•.•.•.• " • ..• . • .. .. .•• • • 568

Factoras de mercadorias embarcadas no Rio da Prata para o


Brazil •.•......•...•....... , ..•............ , .. , .........•.. ' . . . •. 464
Faculdades Livres ele Oireito-insignias dos lentes.. • •• . . •. .• 622
Fallellcia declarada por impontualidade àe pagamento de letras
-illegitimidade de acção rescii>ol'ia............................ 253
I'alsHh,ação de estampilhas do se1l0 federal e de apolices dos
EstadQs oommettida pelos mesmos individuos-cornpetencia de
justiça ................ ~ ..... ,., .......
I ' 11 . . . . . . . . . . . . . . . . . , • • • • • • , . . . " 546
633-
Fazenda Nacional-indemnisação pela prisão de individuo sus-
peito dura.n~e o. estado de flitio .•.••......•.••••..••••••••••• ~ 504
. . .- - pnvllcglO do fôro para suas causas .........••••••••••• 481
Fiança é admittido a prestar o réCl. maior de 14 e menor de 17
annos. pronunciado. em crime. cujo maximo da pena é prisão
cellular' por 4 annos-habeas-corpus ........................... . 308
Firma COllllllcrcial perece pela dissolução da sociedade-eon-
currencia desleaL ........•.....•.............. ; ...••....••••.. 359
Força naval para o exercicio de 18g8-lei que a fixa ........... . 437
Fôro domiciliario-renuncia para responder ou pagar no fôro
do contracto .•........•..........•.........•......•.•.••••.•••. 346 '
Furto-inadmissivel a acção publica-nullidade na revisão ••••••• 553

Gratificações addicionaes dos vencimentos dos lentes da Es-


cola Polytechnica.............................................. 619
Guarda Nacional-dispensa do serviço activo ao pessoal da
E. de F. de Santa Maria a Cruz A.lta........ . .. ... ..... ..... 623

Babeas-corllUS con~ede-se ao réo. maior de 14 e menor de 17


annos, pronunciado em crime cujo maximo da pena é prisão
cellular por 4 annos...... ........•...••. ..•...•.•..•••.••.••.•. 308
110 caso de iniminente perigo de consummar-se a violencia... . 562
computo da prisão preventiva na pena legaL................. 318
coneessão de nova ordem no mesmo caso-suspensão e annulla-
ção do processo................. . . . . . . . • . . . . . . . . . • . . . .••• . . • • • • 563
crime de rapto seguido de defloramento em maior de 21
annos ..........................................•..•.• ; ....• ,;... 426
cumprida a pena sendo computado o tempo da prisão preven-
tiva. não póde o paciente continuar preso a pretexto de multa
-conversão cY·esta ................................... ;......... 584
extradicç~o inter-estacYoa!. .................... ,............... 5,68
menores alistados em escola de aprendizes marinheiros e d'ahi
transferidos para o corpo. de marinheiros nacionaes "........ 566
não é ca~o de recurso o despacho sobre remoção do paciente
da casa de detenção para a ele correcção...................... 584
não é illegal a prisão expedida contra o tutor en~ontrado
em alcance nas contas prestadas ... ". ........ ................ . 317
não havendo base legal para a prisão, deve ser solto o pa-
ciente ... , ...... , ..... , .......................••....•.. ,.,...... 583
nullídade do processo de crime inaffiançavel, da pronuncia em
diante ........... , ............. , ............................ ,.. 586
petição que não é devidamente instruída .......... ,., ..•.• ;.. 559
prisão administrativa de escrivão de collectoria ..•.•.•... ,... 567
prohibiçiío de reunião e funccionamento do "Centro Mpnar-
chista deS. Paulo"... ....................................... 311
ré.o passivel de pena menor de 10 annos de prisão cellular,
cujo crime é julgado prescripto, deve ser solto ...... ,........ 582

I
Idade do alistando no exercito como deve ser provada •...•.• , ., • 490
- do réo-prova bastante ...• , .................. ".: ..... ' .. , ... '!' 550
Igreja, cYependencia de convento de ordem extincta-;-manutençao
de posse ...•..•. , .....•............. , ..... ".·· ._'1 •••• ••• ,... • 173
Illegitimi(ltllle cYe acção l'escisoria para annnllaçao de sentença
de fallencia ... , ............. , .. _........ ; ..' ...... ,., .•• , •. ,.... 263
IIDlnigralltes transportados por companhias de' jlavegação-
premio a estas ................. ,............................... 502
Impostos de exportação inter.estadoal................... 184 e 213
- 634-
Incompatibilidade docommerciante que tem contracto com a
Fazenda Nacional para o cargo de procurador interino da Re-
publica .............................................. , . .. . . . . .. 260
lneolRlJe<eucia de juizo allegada antes da decisão recorrida
-aggravo de outra decisão de aggravo....................... 343
- do juizo federal para acção de nullidade de demissão de escri·
vão de pretoria do Districto Federal. ..... " ............ " ... . 512
Inconstit,ucioualitlatle de lei estadoal-acção para annullal·a
-avocatoria.......... . .. .. .... .... ...... . .. .... .... .... .•....• 227
lndemnisa"lào a que ficam sujeitos os Estados que prohibem a
venda de bilhetes das loterias geraes ............•... ~..... .... 337
de perdas e damnos, consequentes de abalroação, a quem cum-
pre-meios de prova do sinistro. .....•....................... NO
- - - por parte da Fazenda Federal, por obras feitas por seus
encarregados em terrenos alheios................. ........... 320
- de prejuizos, oriunda de .:!ontractoB celebrados com o Governo
da União - isenção de direitos de importação................ 4HZ
~ do valor de titulos de terceiros, subtrahidos do poder de cor-
retor, compete a este pedir em .i uizo 1 .. ' .... .. . .. ........ .. .. 504
= pedida em embargos de declara(:ão nj~lo se attende............. 522
- p0.r.motivo de prisão de pessoa suspeita durante o estado de
SItIO •.•••.•..••.•••••••.•••...••..•.•••• , • • • •• • • • • . • • • . . • • • • • . • 50.!
- por parte da Fazenda Nacional pela caducidade de contracto_de
nucleos agrícolas .............. , ................•. " . . . . . . . • . • . 515
InimIJut,thitidatl? (AJ ..••. '....... ...••....•.. •.••. •...•.•. ••..•• 161
Injurias (Crimes de) - inconstitucionalidade da lei estadoal que
confere ao ministerio publico attribuições para promover ore·
spectlvo processo....... ........•.........•....•.........•.... 422
- vcrbacs - revis!io do processo - reforma da selltença con'
demnatoria .......... " .•..•..•...•............•......... " . .. . 3il2
InstrU(lçtHls para o concurso de chefes de secção e de amanuenses
da Bihliotheca Nacional.. ......... ........... .... ............. 623
Intclligenci:t do art. 666 da Consol. dãs Leis das Alrandegas... 494
- do art. 10 da Consto Fed....................................... ::137
- do art. 34 § 23 da Consto Fed ................................. · 4~2
- do art. 5H § l° letras a e b da Const, Fed...................... 4S0
- do art. 5D n. III da Const. Fed................................ 1;:;
- do art. 60 letra d da Consto Fed............................... 174
- do art. 60 letra d 2'" parte, dll Consto Fed........ •...• 53\) e 540
- do art. 81 da Cou'st. Fed....................................... 551
- do art. 6° das disposições transitarias da Consto Fed .146. 500 e 524
- dos arts. 7 n. 2, !:I n. ll.l § 2°. (J 34 § 50 da Consto Fed. 184 e 213
- da Ord. liv. 30 tit. ÜO pro e § l°........................ ........ 341
- da Ord. liv. 4° tit. 96 § 5 ..... •......•......................... 357

'= ~~s:iI.is;:!9:il~Yt~~~0· dir~c~d·~~~~·~:. :.:.:..:::::::::::: ::::::


• - do art. 353 §§ l° e 5° do Cod. do Proe. Crim ....'............... 582
~~~
- do art. 6:> combinado com o art. 304 § uno do Cod. Penal... 308
- do art. 82 do Cod. Penal......................... .............. 5~~
- do art. 226 do Cod. Pena) .................................... ..
- do art. 273 n. 2 dO Cod. Penal. ............................... · 425
- do ttrt. 348 do Cod. Penal..... ................................ 5S7
- do art. 407 § 2° do Co ú. Penal............................ 422 e 553
- doe arts. 60 e 409 ,-dlr Cod. PenaI .. ;1'.......................... ~~~
- dos arts. 338 n. 4 ec~lO do Cod. Peitai ...................... ..
- do art. 379 do ReguI;.; n. 120 de 31 de Janeiro de 1842......... 54\1
- dos arts. 11 e 12 do Deer. n. 595 de 18 de Março de 1849..... 584
- do art. 355 do De!!!. n. 737 de 25 de Novembro de 1850.. ..... 544
- dos arts.38 e 30 §§ 1 e 4 do Decr.n. 181 de 24de Janeiro de ISUO 347
- do art. 46 do Decr. n. 848 de II de Outuhro de ISDO.......... 55!1
do art. 117 do Decr. n. 848 de 11 de Outubro de 18\10.......... 342
do art. 3~1 do Decr. n. 848 de 11 Outubro de 1800............. 251
do art. 14 do Decr. n. li3 B de 10 de Setembro de 1893...... 494
- do art. 13 lia leVn. 221 de 20 Novembro de 1894.............. 512
"'11
635 -
Illtelligcllcia do art. 1S § 10 da lei n. 221 de 20 de Novembro
de 1804, .•.• ,. , •.••.•••• , ••.•.• ,................... •••••••••••• 15
do art. 23, ult. parte do I' alinea, da lei n. 221 de 20 de No-
vembro de 1894...................................... ....... ... 562
do art. 20 n. 3 da lei n. 221 de 20 de Novem bro de 1894..... )!27
do art. 54 n. 6 lettra-s-da lei n. 221 de 20 de Noyembro
de 1894 ................... , ........... ................... ...... 342
do art. 2,1 § 30 da lei n. 428 de 10 de Dezembro de 1896....... 3~7
do art. 80 da lei do Estado do Rio Grande do Sul (organisa-
ção judiciaria) sob n, 10 de 16 de Dezembro de 1895 ........ :. 15
- do art. 95 do Regim. do Sup. Trib. Fed..................... 340
lnterd!et;~o-sentença que julga a não interdicção, é definitiva
e nao e aggravavel., ............................... ;........ 182
lseDt;:'io de clircitos de importação-indemnisação de prejuizos... 492

.Juizes feller:\es e procuradores dá. Republica-vestuario....... 479


.Junlas cUJIllllcl'cÍaes-admissão de negociantes estrangeiros
matricnlados na lista dos eleitores ....... , ........ .............. 621
Jllry-nullidl;Hle de julgamento por falta de repetição dos quesitos
nas respostas .......... o.......... o... o.. o.. o ......... o.. .. . .. 549
- ? .iuil.., prcsi~ent~ do tl'ibunal. que deix,," de applicar lei que
Julga Incon"tltuclollalo o. oo. o, ... o.. , . o....... oo.. , ..•.. o•.. ',0 • • 15
- ~eus caracteres eseenciaeso o 0 ..................... 0 5e .......... 15
JIlStí,;'\ jOetleral é competente para conhecer da ac.;ão entre Ulll
Estado e individuo residente em outro Estado. o. " ..........•• 17f

Legaçào no Japão e consulado de l.a classe em Yokoama-pessoal 47 4


Lcgítími ,lade de companhia ou empreza industrial, successora
lle outra, p<ll'a demandar a Fazenda Naciollal por indemniBa-
ção de prejuizos ... o" .. , o•. o.. o" ... oo.. oo...... o.... ........ • 492
do corretor de fundos publicos para deman,lar a restituição de
titso de 30, subtl'ahidos de seu poder ............... o........... 504
lenncinio-flstndo juridico o....• o" ..... o. o. o•..... , .... o'....... 321
Lentes das Faculdades Livres cle Direito-insignias ..... o........ 622
Libello que se aparta da pronuncia na qualificação do facto cri-
minoso .... o.. oo.... o
0'0 00 o' o..... o....... oo,. o.. '. o.
•••••••••••• 307
Liqu idnçào-senteuc;.a que julga improcedentes os respectívos
artigos; baseada na avaliação dos damnos feita antés da acção 522
Loh~l'hlS gcraes-inconstitucionalidade do acto do Governo dos
Estudos que prohibe n. venda dos bilhetes-indemnisação..... 337

lUngisll'iulos em disponibilidade-nullidade do Decr. que os apo-


senttlU o. o.. , ... , o..... ooo.. o..... o... o' o... o. o. o•. o. o 1,16, 500 e ,524
lIIallutellçào lle lwsse de egl'eja, dependencia de convento de
ordem extincta ..... o.......... o......... , ... 0 .... 0 ... 0 ...... •• 173 '
- - de terrenos por parte da Camara Municipal perante a ju.-
titia local-recurso exll'uoruinal'ill ...................... oo....... 489
- _ perturbada por encarregai los de obras por parte do Governo
da Onião-indemnisação de perdas e damnos, o... '...... o.... ·. 5i'0
1I:\1'c:\ tle falH'ic:" -questão- recurso e?'traordi':lari~ o.......... 530
lUcnorcs transt'eridos da escola de aprendizes marlllhelros para o
corpo lle marinheiros nacionaes ... o. , ......... oo.... : .. o... o.. • 566
llICl·ea.lul·ias embarcadas no Rio da Prata para o Brazll-suas fa-
clul'as ... oo•... o. o; o... o..•....... o•.. ooo..• , o., . . . • . • •• . . . . • . • . . 464
- 636-

Navio estrangeiro pode ser embargado por faltas na entrega da


carga •.•....•••.•..•....•...............••.....••.••••••••••.••
NulUdade de doação-a decisão não é caso 'de recurso extraordi- <
nario ... 00 •• 0 •• 0 ••••• 00' ~,,.~
............................. ........ , •••

de julgamento por falta de repetição dos quesitos nasrespoBtas


do jury.....••.....•..........•..•..•..•..•••..•.•..•••.....••••
-por sua contradicção, irregularidade dos quesitos e respostas
do Decr. que aposentou os magistrados em dIsponibilidade 146.500 E
do processo crimi?al do libelJo em diante, por se ter este apar-
tado da pronuncIa .... ; ....................................... .
do processo de crime ínafiançavel. da pronuncia em diante •••

Otfieial da brigada policial da Capital Federal-reforma decretada


pelo Governo-annullação-idade do alistando no exercito .....
Otficiaes fallecidos em consequeneia das operaçl5es no Estado da
Bahia (Canudos) - vantagens que competem ás viuvas, filhos
menores, etc ................................................. ..

Pen~ !!e prisão G.u.1ndo tem logar em acção preparatoria de exhi-


blçao ., ......•...••.................•.......••.•..•.••...••.•.
- men(':, de 10 annos de prisão ce11ular, a que esteja sujeito o
ré.:., cujo crime é julgado prescripto ........................... .
Posse de -egreja, dependencia de convento de ordem extincta-
manutenciío ....................................••••...••••.....
:Premio instituido em favor de companhias de navegação que
transportam immigrantes ..................................... .
Prepostos dos conductores de generos e commissarios de tran-
sportes-responsabilidade destes pela omissão daquell'ls .......
Preseril,.;ào de crime a que esteja imposta pena menor de 10 annos
de prisão ceUular .•.....................................•.•....
- extinctiva de um anno para as reclam'lções da Fazenda .•..•.
Prisão administrativa de escrivão de collectoria-habeas-corpus ..
;:d:~.i~.~ .c.o.~~~~ .~ .t~.t.~r. :~~.o.~t.~~~~ .~~ ~.I~~~C.~ .~~~ .c.~~:~~. ~~~~~
illegal do paciente, quando cumprida a pena, a pretexto de
multa ainda não liquidada ..............•......•• '" .......... .
quando tem logar em Ilcção preparatoria de exhibição ..•.....
preventiva é computada na pena legal. ...................... ..
Privilegio do fÓro para as causas da Fazenda NacionaL ...... ..
Procllrador da Rf~l'ilblim& nào tem competencia para propôr
acção de annuUação de lei estadoal e sustar su~ execução ... .
- - competencia para demandar divida fiscal dos Estados .... .
- interillo da Nc,'llblic:t nào pgde ser o commerciante que
tem contracto coma F'azenva Nacional ...................... ..
Procuradores d;t Redllblic:&-vestuarios que deve}ll usar..... .
Propriedade indllstl'Í:l1 -decisão dos governos da Austria e
da Hungria de accederem á União para a protecção ........ ..
- LITTERARIA-traducção de drama, para repre!'lentação, sem con-
sentimento do cessionario do legitimo traductor •....•..••...••
Protesto, ratificado depois das 24 horas da .abalroação, não induz
nullidade da prova testemunhal. ............................... .

Q
Quci1a do pai por sua filha maior de 21 annos! raptada e
deflorada .....................•.. 0 ••••••••••••• 0 •••••••• •••••••

- o direito (de) é substantivo e não adjectivo ................. ..


- 637-
~-
.aesitos devem ser repetidos nas respostas do jury ........... ..
~ a sua irregularidade annlllla. 9 .jullJamento ........ o '" •• , ••••

....
., ~~~~
~:.".'

'apto seguido ~' defl~-rame~to em maior de 21 annos-quebtà


por parte do pai da offendida-perdão desta-falta de corpo
de delicto ........... · .................... o .................... . 426
eboque-contracto-principio~ que o regulam- sinistro ........ . 247
.eOHrso ~leitor31-não se toma conhecimento quando interposto.
processado e apresentado em auto apartado ...........•...••• 355
o - porque o Supremo Tribunal Federal toma conhecimento
- improéedencia por não ter o recorrente provaLlo a qualidade
de eleitol' ..•..•.................. o •••••••• , ••••••• , ••••••••••••

extr30rdlJl3rlo da decisão da justiça estadoal sobre marca


de fabrica-não é caso ........................ 0 ............... .

- - dá-se da decisão dos Tribunaes AdministI-ativo e de Con-


flictos do Estado da Bahia....................... .. .. ... 184 e
- - quando não cabe da decisão da justiça estado aI sobre
questão de funoções legislativas e arlministrativas de Camara
Municipal ................................................•.. o" 353
,- - cartas testemunhaveis tiradas por denegação como são
processadas, ........... o ••••••••••••••••••••••••••••••• , •• , •••• 340
- - decisão da justiça local em acção de manutenção de posse
de terrenos proposta por Gamara Municipal. ................. . 489
- - decisão sobre questão de nullidade de doação ....... ; ..... .. 385
Reforma de oflioiaI da brigada I?0licial da Capital F .. deral deere·'
1I tada pelo Governo -annullaçao .............. ' ....... o ........ . 490
Registro de marca de fabrica-questão-recurso extraordinllrio .. 530
Remoção do paciente da casa de detenção para a de correeção....
habeas-corpus ................................................ .. 584
RenuJlcja do fóro domioiliario para responder ou pagar no 'fóro
do contracto ......•.......... o •••••••••••••••••••••••••• , •••••• 346
Ilespousabilidade da Fazenda Nacional pela declaração de ca-
ducidade de contracto de nucleos agricolas-indemnisação ..... 515
~o Estado não se dá p.eJa falta e omissões de seus funociona-
riOS ••••••••••••.•••••• o •••••••••••••••••••••••••••••••••••••••• 504
- dos oonductores de genel'os e commissarios de transportes ,pela
omissão ou culpa de seus prepost0s ........................ '.•. 245
Revisão de processo de injurias vel'baes-reforma da sentença
condemnatoria ... ' ............................................. . 302
Revisão-crime -novo pedido versando sobre o mesmo assumpto
do 1· ........................................................... . 550
- por quem deve ser assignada a petição do recorrente .... 551 e 552
Revista manifestada depois do Decr. n. 1030 ..•.•.....•.••.•...• 489
Rog3tol'ias para o estrangeiro .................................. ..
Rotnlos e mareas de produetos estrangeiros-Regu!. •... , .... .. ~g

Seel'etarla da lIarlnha-regulamento em vigor ...............•


Seiul'O maridmlt oom fundamento no art. 693 combinado com o
, art. 694 do Cod. Comm ................ '........ : .............. . 251
-E sobre o valor de passagens de emigrante~ a. embarcarem na
243
uropa para o Brazil ............................... , ........ ..
Sent.en-:a baseada na avaliação dos damnos feita como preparato-
rIO da acção e que jUlga improcedentes os arts. de liquidação' 522
- que julga a não interdicção, é definitiva e não ,ó aggravavel. .. 182
- da que, excedendo o seu objecto, decide a questão principal,
li cabe appeIlação ............................................... . 174
nlstro por effeito de temporal. devido á força maior-reboque. 247
SObre~tadia8 por demora na descarga dos generos ~ransp~rtados
-dlal que se contam- responsabilidade do conslgnatarlO ••••• 531
-'638 -
~,S_.Ie.ade anonyma em e. stado de iÍlsolvencia ou~de liSluidação
---accordo com os portadiwls de debentures-Refilt petIa. a.o-
cução do art. 5° da lei firmA de 15 ~~ Setembro de 1$93. ;:. ~
Soe ied:lde sportiv:I-ReguI. paÍ'a-: a c . . . .do : Iml 08tO de
1:0008000 ......................................... , _....... .
SlIbditos belg:Is -successões ......................... : ...... ;. •••
SQccessõelil dos sl1bditos belgas .•........•..•..•• ,' ............ : .. -.-

Tcstemunhas instrumentarias na doação causa mOl·tis quando


invalidam o acto ..............................................•
The'I tros e outras casas de cspectaculos lIa Capital Federal-in-
- specçiio pela policia ........................................... .
'I'radlwç:i.o de drama, !tara representafião. sem consentimento do
cessionario do legitimo traductor ............................. .
Tratado de amisade, comrr.ercio e navegação entre o Brazil e o
Japão ..................................•.................•....•
Tutur encontrado em alcance nas contas prestadas-ordem de
prisão ....................•..•. ' ............•.......... \.....•.•

Ven,:i~nelltos dos lentos da escola poJytechnica---gratifieações ad- ,


d IClOnaes ...........................................•.......... G19,
VClld:l de. bilhetes das 10tel'Ías genes-a prohibição pelos Go-
vernos dos Estados é inconstit.ucional e sujeita·os á indemnisação 337
Vcstllari .. que devem usar' os juizes fedemes e os pl'ocUl'adol'es
da Republica.· .... , .. ' ......... '.. ........................ ..•... 4i9
Vistoria para verificação de al'arias........ ......... ..... .. .. .... 2-1G

\Varrant-decreto que regula sua emissão ...••. '" mo

INDICE 0I1R01IO-LOrl!CO
'. ,

Da- Legisla~ão Federal e das deêisocs do Governo Federal


Publicadas no septuagesimo terceiro volume do <' DiI'eito»

MAIO A AGOSTO DE 1St)"

LEGISLAÇÃO FEDERAL
ACTOS DO PODER LEGISLATIVO
LÉI N. 433 DF, 12 DE JUNHO DE 1898-Fixa a força naval para
o exe;rcicio de 189$ ..•••... , ....•.......•·•• . .......•....• ,..... ,137
" , " ,
ACTOS DC? ,P~D~~iCUTlVO ~iÇ,·
-- vutJ .-

• JIt.>."" - '

.m'J1O< N•. 4*'D~ i2 DE 'FEVF;~, 1897-Faz div:ersas


,'alteraçõ'es n17 de<P.re~2431'de"!f' d!!" Janeiro de 189T~ qu~
, "d:;e?{Io
a
g:1!cà~ 'UI ......~~. ~~i,~i,s.t:.r~~, ~~. :,a.zw.~. ~,o. ~~:~~~.:.~
IEv'RE'l'O N. 469 DE 4 DE MARÇO DE 1897-l\Iandà executár ,
em todas a~ Alfandegas e Mesas de Rendas labilitadas da Re." . :~
puhiica a nova tarifa e suas'disposições preliminnres" ..•.•.. ,'ÍIf!?I4ir (4
'ECRETO N. DE 6 MARÇO DE 1897-1I1anda' vigor'ar do dia 1" ,
de JuHI~do corrmtte anno as regras conBtulltell' do regullmcn,tllk t.* ..
, annexo 80 decreto n. 1. 9SS de 14 de Março 6le 1895 .... W' ~ 14
EClUill'O N .2.473 DE 12 DE MARÇO DE 1897-Declara qtm gol' , ,tf,
úfâo das vantagens do art. 3" da lei de 6 de NovemiID de.:.-
1827 as viuvas, .filhos menores.,· f1lhâB solteirlts ê mãe'! d8s ,
ofliciaes fallecidos e que fall~erem em 'consequencia das ope- , f 'litI
"•. I;oes militar,!ls no Estado dà""Bahia ...... ::............. ,'.~ .. ''',&'4,4\
R)~TO N. 24;" DE 13 DE, MARÇO DE i897-Approva W~egu-.

e~!f. ~.~~ .~~~~~:~~~~ .~~ .~~I~~?~. ~.~~I.i:~.S. ~.a. :~~ç.~ ~.~. ~:~i~~::, 't4I'
ú N .'2.482 DE 22 DE lIIARÇO DE '1897-Altera em alguns ' -
, ~ di~posiçQes lIo.rlecreto n, 590. de 17 de Outubro de 1S9l.' 46.
I!;í:,.,., ) N. 2,.189 DE 3i DE MARÇO DE 1897 - Manda exe' ,.
cuta). o Trataáo de Amisade, Commel'cio e Navegação celebrado
cntre o Brazil e o Jap'ão, em 5 de Novembro de 1895 ....... ,.
B:tRETO N. 2.495 DE 14 DE ABRIL DE 1897 - Crêa com o
pessoal que for neces8ario uma legação no imperio de Japão' e
• um consulado Ireral de 1.0. classe com ~éde em Yokoaina~."". 47,4
J<;CRE'l'O N. 2.499 DE 19 DE ABRIL DE 1897 - Publica a deds. '"
tOlnadà pelos governos da Al1stri~ e da Hungria de a . - e m • "
I 11 União para a protecção da propriedade illdust~ial. ~ :I"~,
CRETO N. 2.50:J DE 24 DE ABRIL DE 1897 - Da r e g ' '
ao § 6° do art;,,!O do decreto n. 1.746 de 13 de Outubro": ' " ~,
CRE'DO, N. 2.507 DE 4 DE MAIO ])g 1897 - Publica a entJ!ad.., ~'
da Colonl~ Ingleza do, ,Ceyliio na Convenção 'relegrapWti.~i;~'
riR~~,~c~0.n~I.5·úi DE' '22 ~E 'úÃiü" iúi;' iS9i: ::.:"; 'r'~g~i~~é~'
p~ra a execução do art. 5" da lei n. 177 A, if 15 de sete~" ~
"i- .
bro de 1893 .. '. . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . .. . . . . .. . • . • . . . . . . . . . . . • 4/6
ECRETO N. 2.522 DE 24 DE MAIO DE 1897-Marca o vestÍlario
que,"no exert'icio de suas funcções e solemnidades publicas., "
devem usar os juizes federaes e os procuradOI'es da Republica ~79
"CRETO N. 2.523 DE 24 DE MAIO DE 1897 -Extingue mais
dois logares de amanuenses da Secretaria da Justiça e Ne- __
fC~Ê~Q, 1~~erk~~~9'j:\~"S 'jü~Ii~ '~i!i'i897':':Ã ?pro~~· ~~.. ~~di)fi~' ",~r~ •
caeões que. segunql)\a revisao feita na conferenola d() Buáa-
~~st." c!év~ sotl'[·Cf ..,uS. tarifas e o regulamento da Convenção , ... , ;
febrapMca InternaclOnal., ......... , ......... '" ..... .. .. . •. ,,ASO
GRETO N. 2,537 DE I DE JULHO DE ISrn-:.fal)da,vigorar'Ii'
em ~u<a'plenitude o regulamento da Secretaria de Estado da "" '~,.'~
Marmha;' promulgado pelo decreto n. I ]();"j A, de _ 30 de' De-, ,i:
zembro de 189"'. ficando revogado o decrtto n. 1.6/3 ile 11 de'
Fevereiro de 1894 " '. ,-' 605
,~ETO N. 2.538 DE' G'D'Ê' jiH,iciü' DE' i197::AI;P~;~';"~ ';~g~:
,amento para cobrança do imposto de um conto de réis (l;OOOa).

i
que estão sujeitas as SOOiedacte, s sport, ivas ................ '"
RETO N. 2.516 DE 9 DE JULHO DE 1897-'-Applica ás Bllcces-
ões drs subditos belgas as disposiçõe~ do tIecreto n. 855 de
Novcmbro de 18;';1. 11 que se ,refere o seu art U ....... ..... '608·
IlE'l'O ~ .2.5-18 DE 17 DE JULHO DE i97- Appl'ova o regu- . '!
amento para a execução do art. 20 ~ lei n. 428 de 10 de
czenJbro de 1896 .. '.................... 4', ; ; . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6()9
\ ..
'
,~ - ,~... ,.' ".. (

t.!éRETO N. !.5~7DE21~~-qO DE~1897'-D.~~nc:


- o ConservatOrlO DraOTa1't~J~' ...• ;...,•...•.....r. ...•••;~ .. : ....
DECRETO N.2.558 Dl~ 21-D1<;~J"",10'DE18(l'7-Reg~a a fí1~I.Jecçã
dos thcatros e outras casa . espectacIllo8 da (j(iJ;1~a# ....der~
;DECRETO N. 2.580 DE;Zô !U~HO Dg 1897...,.Pliblié4ila' ad'IH
,são da Coréa á Cpuven.;ão Postal UniveJ:sal(Q.$ri.ven'~.priIl
,j)i~al, com exelus!tdos demais act09'fCOllCluidÓsrO-.P.,.re~s
de VIenna) ..... ~ ...................' .......................... ,
~.,~ 1.·'1·
, ~DECI~ÕES DO GOVERl'l0
.;
. . . ~ . .
IIllêstc\.i0-fia ':ustic;a e bat_ror - Aviso de W de'
.,'
6~·189& eclara gue as gratificaçües addicioilaes dos
. ,'~ ménios os I~t~ da I!:s<4~la Pólytec;hní:ca susy>ensos-
' f :privação de''Venciment0st:- por d'ec"r~de 15 de Julho do-
" f re,nje- anno, não podem'''ller attingidas pela suspensão ....
" - 4--WSo de''29 de Outubl'o"de 1896 - D~rara e h&
". ',:tn-'I'ndade em exercer o cargo de proeurador
"pubfica o commlllCÍante ~e' ten, contl'acto
. Na~ional para forWecimeg.to de vÍ\'el'Qs e outrov
-:t:: Av~~o -de 7 de Novembro de 18D6 - Og'l.el'va 'quaut ..
ria~ para o estrangeiro: - 1.0, que os~JllÍzes;tlevcI1\
, as ao ministerio da justiça. não directamente, lIlasipõ
, . dio cW ,governo dos E~tados onde' têln jurisdicção ;
el}as ,devem ser sel~ada9 com ~stan1pnhalt da. U~ião e
nhadas da respectiva traducçao ........ "... , .. "o , . . . . . .
Avt~ de 24 de :Novembro de 189ii o.,- ElItál)elece regr!!S
aoloaBsãQ de nêgociantes estran~iro~' matriculados.
nham a nacionalidade" lista
o collegio deitoral dos
~ d~ .'. N';~~;l;b~~' ;I~' iS9G' ~ t'·'"~'.'c·irttlfJlJt\l
Lívres de Direito
t- das insignias dos lent8s
as prívati.v:as.:do grito de' 'doutor . os
Faéuldade~ffici-aes.. . ........ J'. , ... , ..... ..
de 1 de I?dFmbro de iSD6 - Torna exte'llSlva.
da strada de E,erro de Santa l\briu a Cruz Alta a
do sel'viQo actívo da guarda nacional~' concedida ªos
,dos'da ES.trada de. Ferro Central do' Brártl PU
. de Junho dê 1891., .... ~ ................. ''',' .. ....:i~ ...
- Aviso de 2 df; De.:emhro de 1896 ~Dá instrucçíles
".1 .~~!loncu:s~s <W~ 'lo~~r~s'~de eh~fes de secção e, t~·
.~ ';<{a Blbhotheca j N !lclonaL . : ..... '. . ... ,. '
.1D~terb ·da Guerra - AVIso de
• clara: 10. que os estaDele
; < Estados; sujeitos ao regímen
·OS arsen!t6,S .. de,g~rr8" a~ .
,,~tc .• estao 'na. depenfiencla
~ dos dos resI>.ectiv08~dlstrk
dinlloç~o i,Ptl!rmediaría
; os c"mm'tindos das
. dantesn~ls' gradlÍados at.· antigos .. .
nas ,guar~lçOes .•.••._._ ....... ~;~,!'''' .•..;;"., ...'

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