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Introdução
1
Bacharel em Direito pela Universidade Federal do Paraná e mestrando em Direito pela Universidade
Federal de Santa Catarina.
2
O artigo 180 da Constituição de 1937 tem a seguinte redação: “Enquanto não se reunir o Parlamento
nacional, o Presidente da República terá o poder de expedir decretos – leis sobre todas as matérias da
competência legislativa da União”.
2
3
“Art. 42. Compete ao juiz, atendendo aos antecedentes e à personalidade do agente, à intensidade do
dolo ou grau de culpa, aos motivos, às circunstâncias e conseqüências do crime:
I – determinar a pena aplicável, dentre as cominadas alternativamente;
II – fixar, dentro dos limites legais, a quantidade da pena aplicável”.
“Art. 50. A pena que tenha de ser aumentada ou diminuída, de quantidade fixa ou dentro de determinados
limites, é a que o juiz aplicaria se não existisse causa de aumento ou de diminuição”
4
FERREIRA, Gilberto. Aplicação da pena, p. 56.
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em três fases. A primeira está prevista no art. 59 do CP. O magistrado, então, estabelece
“atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do
agente, aos motivos, às circunstâncias e conseqüências do crime, bem como ao
comportamento da vítima, estabelecerá conforme seja necessário e suficiente para a
reprovação e prevenção do crime”. Os critérios aqui presentes são as chamadas
“circunstâncias judiciais”. Tal dispositivo é de suma relevância, pois daí é possível
atribuir que a pena deve, no sistema penal vigente, ter função retributiva (mostrando a
reprovação “social” diante da conduta) e preventiva (no caso, a prevenção negativa 5 ,
evitando que o agente – prevenção especial – e outros – prevenção geral – venham a
cometer tal conduta novamente).
A questão dos fins da pena e do cárcere, que ainda hoje é questão bastante
discutida, suscita reflexões de extrema relevância, como o caso de suas funções
declaradas e ocultas 6 . Os objetivos ideológicos aparentes envolvem aquilo difundido
com o discurso penal (controle da criminalidade, ressocialização do delinqüente,
repressão a criminosos, etc.), enquanto os objetivos reais ocultos tratam da questão da
reprodução das relações produtivas, controle do exército industrial de reserva, dentre
outros 7 . Porém, para que se mantenha na discussão proposta, este tema não poderá ser
aqui desenvolvido.
Outro ponto que é aqui relevante, mas não poderá receber o tratamento devido, é
a questão da culpabilidade. Do art. 29 do CP é possível perceber que no ordenamento
nacional, a culpabilidade “funciona como elemento de determinação ou de medição da
pena” 8 . Isso não ocorre apenas na doutrina nacional. Jescheck, por exemplo, explica que
o princípio da culpabilidade garante que não exista pena sem culpa, bem como a pena só
é aplicada de acordo com a medida da culpa (“keine Strafe ohne Schuld, Strafe nur nach
9
dem Mass der Schuld”) . Porém, as noções de culpabilidade são atacadas
constantemente, havendo quem diga que a culpabilidade é um conceito cada vez mais
vazio 10 , sendo necessário torná-lo mais preciso 11 . É tema amplo e que não poderá ser
5
Há autores que tratam da chamada prevenção geral positiva. A atuação positiva da prevenção geral
pode ser dividida em duas fundamentações teóricas principais. As duas, tanto com Roxin, quanto com
Jakobs, têm a finalidade de representar a pena como forma de garantir a obediência ao Direito, mantendo
ou restaurando a confiança no ordenamento, enquanto meio de controle social. (SANTOS, J. C. dos.
Direito Penal, pp. 459-461).
6
BATISTA, Nilo. Introdução crítica ao Direito Penal brasileiro, pp. 112-113.
7
SANTOS, Juarez Cirino dos. A Criminologia Radical, p. 128.
8
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal, v. 1, p. 607.
9
. JESCHECK, Hans-Heinrich. Wandlungen des strafrechtlichen Schuldbegriffs in Deutschland und
Österreich, p. 01:2.
10
FABRICIUS, Dirk. Culpabilidade e seus fundamentos empíricos, p. 14-15.
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tratado devidamente aqui, mas é deixada a ressalva de que a noção de culpabilidade será
usada aqui conforme normalmente usada pela doutrina, pois o aprofundamento da
crítica não influenciaria o resultado pretendido aqui.
Retomando a linha de reflexão, é a partir do art. 59 do CP que o juiz estabelecerá
a pena-base (caso esteja convencido da presença dos elementos para aplicar uma pena
privativa de liberdade), a partir da qual se trabalham as sucessivas modificações com
base nos critérios do Código. Aqui temos a pena “que seria aplicada caso não existissem
circunstâncias atenuantes ou agravantes ou causas de aumento ou de diminuição” 12 .
Corresponde à primeira fase da aplicação da pena.
Na segunda fase da aplicação da pena são avaliadas as circunstâncias legais, ou
seja, as agravantes (art. 61 do CP) e atenuantes (arts. 65 e 66 do CP). Com base nos
critérios previstos para esta fase, o juiz aumentará ou diminuirá a pena (a partir da pena-
base). Deve sempre deixar claro o fundamento para a aplicação de uma das
circunstâncias, bem como a quantia de pena a ser acrescida ou reduzida. Não há limites
especificados na lei para o aumento ou a diminuição, devendo o juiz adequá-los ao caso
concreto de acordo com o entendimento próprio, sendo que é possível o controle
judicial em caso da aplicação equivocada pelo magistrado.
Em um terceiro e último momento para a definição da quantia de pena a ser
aplicada, tem-se o uso das causas de aumento e diminuição. Não estão previstas em
apenas um ponto do Código, mas em locais esparsos na Parte Geral e na Parte Especial.
Neste ponto, ao contrário da fase anterior, o quantum da pena que pode ser modificado
para mais ou para menos vem posto na própria lei em limites fixos (um terço, metade,
etc.) ou variáveis (de um terço à metade, de um sexto a dois terços, etc.), devendo o juiz
fixar o aumento ou diminuição nos extremos ou em algum ponto do intervalo.
11
CARVALHO, Amilton Bueno de; CARVALHO, Salo de. Aplicação da pena e garantismo, p. 38.
12
FERREIRA, G. Aplicação da Pena, p. 63.
5
13
TUBENCHLAK, James. Atenuantes: pena abaixo do mínimo, [in] Jurisprudência Brasileira Criminal,
n. 19, p. 16.
14
LYRA, Roberto. Comentários ao Código Penal, v. 2, p. 349.
15
LYRA, R. Comentários ao Código Penal, v. 2, pp. 349-350.
6
diminuição porque em relação a estas, não há perigo de burla, tendo em vista que o
aumento ou a diminuição já vêm previamente estabelecidos pelo legislador” 16 .
3. Um apanhado jurisprudencial
O problema sobre aplicar ou não as circunstâncias legais para levar a pena
aquém do mínimo existe há muito tempo e a Súmula 231 não pacificou a jurisprudência.
Esta parte deste trabalho pretende um apanhado das discussões no STJ a partir de alguns
acórdãos. Trazendo dois exemplos que representam a postura da maioria do STJ ao
longo da década de 1990, temos os seguintes julgados: REsp 7287 / PR (julgado em
16/04/1991, de relatoria do Ministro William Patterson), REsp 15695 / PR (julgado em
18/12/1991, de relatoria do Ministro Assis Toledo), REsp 46182 / DF (julgado em
04/05/1994, de relatoria do Ministro Jesus Costa Lima). Fundamentalmente o
argumento levantado é trazido no último julgado citado nos seguintes termos:
PENAL. PENA-BASE. MINIMO LEGAL. MENORIDADE E CAUSA DE
AUMENTO. FIXAÇÃO DA PENA. CRITERIOS.
1. O SISTEMA ADOTADO PELO CODIGO PENAL IMPEDE QUE,
ESTABELECIDA A PENA-BASE CONSIDERADAS AS CIRCUNSTANCIAS
JUDICIAIS, EXISTINDO CIRCUNSTANCIA ATENUANTE, O JUIZ DIMINUA A
PENA ABAIXO DO ESTABELECIDO EM LEI. PORTANTO, FIXADA A
PENA-BASE NO MINIMO LEGAL, MESMO LEVANDO EM CONTA A
MENORIDADE DO REU, A PENA NÃO PODE SER REDUZIDA PARA
QUANTIDADE INFERIOR AO MINIMO ABSTRATAMENTE
CONSIDERADO. E QUE AS CIRCUNSTANCIAS LEGAIS INFLUEM SOBRE O
RESULTADO A QUE SE CHEGA NA PRIMEIRA FASE, CUJOS LIMITES,
MINIMO E MAXIMO, NÃO PODEM SER ULTRAPASSADOS. APENAS NA
TERCEIRA FASE, QUANDO INCIDEM AS CAUSAS DE DIMINUIÇÃO E DE
AUMENTO, E QUE AQUELES LIMITES PODEM SER ULTRAPASSADOS.
2. PRECEDENTES.
16
FERREIRA, G. Aplicação da Pena, pp. 103-104.
17
São os votos do REsp 15691 / PR e REsp 32344 / PR.
7
Considerações finais
18
Voto vencido da Apelação Criminal n. 275492-5, julgado pela 5ª Câmara Criminal do Tribunal de
Justiça do Estado do Paraná em 16 de junho de 2005.
9
19
SANTOS, J. C. dos. Teoria da pena: fundamentos políticos e aplicação judicial, pp. 140-141.
20
TUBENCHLAK, J. Atenuantes: pena abaixo do mínimo, [in] Jurisprudência Brasileira Criminal, n. 19,
p. 18.
21
BITENCOURT, C. R. Tratado de Direito Penal, v. 1, p. 617.
22
SANTOS, J. C. dos. Teoria da pena: fundamentos políticos e aplicação judicial, pp. 140-141.
23
TUBENCHLAK, J. Atenuantes: pena abaixo do mínimo, [in] Jurisprudência Brasileira Criminal, n. 19,
pp. 16-19.
24
MACHADO, Agapito. As atenuantes podem fazer descer a pena abaixo do mínimo legal, [in] Revista
dos Tribunais, v. 647, pp. 388-389.
10
25
ZAFFARONI. E. R. Em busca das penas perdidas, pp. 202-203.
26
CARVALHO, A. B. de; CARVALHO, S. de. Aplicação da pena e garantismo, p. 88.
27
CARVALHO, A. B. de; CARVALHO, S. de. Aplicação da pena e garantismo, p. 89.
11
Referências
BATISTA, Nilo. Introdução crítica ao Direito Penal brasileiro. 10. ed. Rio de Janeiro:
Revan, 2005.
CASTRO, Lola Aniyar de. Criminologia da reação social. Rio de Janeiro: Forense,
1983.
SANTOS, Juarez Cirino dos. Teoria da pena: fundamentos políticos e aplicação judicial.
Curitiba: ICPC; Lumen Juris, 2005.