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AULA 2
Prof. Francisco Fadel
CONVERSA INICIAL
Analisadas as premissas básicas do direito penal, como seu conceito, funções, relações com
outros ramos da ciência jurídica e os seus princípios mais relevantes, faz-se necessário verificar como
seus mandamentos se concretizam no meio social. Em outras palavras, iremos analisar a lei penal em
variados aspectos: sua classificação, características, forma de interpretação e sua aplicação, no aspecto
territorial, temporal, bem como em relação a seus destinatários (pessoas). Por fim, verificaremos o
tratamento legal dispensado pela lei às sentenças penais proferidas por autoridades estrangeiras,
bem como a forma como é feita a contagem dos prazos de natureza penal.
impunidade de certas condutas, embora sejam típicas em face das normas incriminadoras.
conteúdo de outras ou delimitam o âmbito de sua aplicação. Exemplo: arts. 4º, 5º e 327, todos
do CP (Brasil, 1940).
d. Normas penais gerais ou locais: segundo o âmbito territorial de sua aplicação, sendo as
locais de exceção, determinadas por condições peculiares a certas regiões do Estado;
incriminador, como a prevista no art. 25 do CP, pois o Estado tem o dever de reconhecer os
todos;
indeterminados.
São as normas cujo preceito secundário (no qual há a cominação da pena) está completo,
O preceito primário é preenchido por outra disposição legal ou por decretos, regulamentos ou
portarias.
São aquelas cujo complemento provém do mesmo órgão elaborador da norma em branco. Há
legislar sobre direito civil e direito penal (Brasil, 1988). Logo, embora o complemento esteja contido
em outra lei, ambas se originam da mesma fonte legislativa.
São aquelas cujo complemento está contido em norma que provém de outra instância legislativa.
As fontes são heterogêneas face à diversificação quanto ao órgão de elaboração legislativa. Exemplo:
na Lei n. 11.343/2006 (tráfico ilícito de entorpecentes), o art. 33 não aponta quais substâncias são
consideradas ilícitas, pois compete à Anvisa, mediante a expedição de portarias, defini-las, conforme
a vontade do legislador).
elaboração;
seus comentários;
c. Judicial: é a que provém dos órgãos judiciários. Como regra não tem força obrigatória,
salvo no caso concreto (após a decisão se tornar definitiva), bem como em face das Súmulas
a. Gramatical, literal ou sintática: considera o sentido literal das palavras, mas deve
sempre vir acompanhada de uma visão geral do sistema em que o dispositivo legal se insere,
para que se lhe compreenda a finalidade, o que se obtém por meio da interpretação teleológica;
b. Lógica ou teleológica: pela qual se busca a vontade da lei, atendendo aos seus fins e à
sua posição dentro do ordenamento jurídico, conforme preceitua o art. 5º da Lei de Introdução
às Normas do Direito Brasileiro (LINDB) (Brasil, 1942), pois nem sempre a interpretação
Este é obtido após o intérprete utilizar os meios vistos anteriormente, podendo-se concluir que o
Exemplo: art. 288 do CP (associação criminosa), no qual, mediante simples leitura do dispositivo
legal, fica claramente definido qual o número mínimo de pessoas necessárias para caracterizar a
b. Restritivo: faz-se necessária quando a lei escrita foi além de sua vontade (a lei disse mais
do que queria, e, por isso, a interpretação vai restringir o seu significado). Exemplo: o art. 28, I e
II, do CP, no qual se diz que não estará excluída a imputabilidade penal face à emoção, a paixão
ou a embriaguez voluntária ou culposa (Brasil, 1940). Ora, se a paixão tiver causas patológicas,
aplica-se o art. 26 do CP e não o art. 28, logo, dependendo das circunstâncias do caso concreto,
c. Extensivo: quando a lei diz menos do que queria, cabendo ampliar seu raio de alcance
por meio da interpretação extensiva, para amoldar a letra escrita da lei à sua real intenção.
Exemplo: o art. 235 incrimina a bigamia, sendo certo que abrange também a poligamia (Brasil,
1940).
em relação ao tempo;
em relação ao espaço;
De acordo com o princípio tempus regit actum, a lei penal alcança somente os fatos
Pode ocorrer, que um crime, iniciado sob a vigência de determinada lei, tenha seu momento
consumativo sob o império de outra. Teríamos um conflito de leis penais no tempo e, assim, como
resolveríamos a questão?
penal.
Assim, tendo nosso sistema adotado o princípio da reserva legal, não se admite que um fato
praticado, mas ainda não descrito como ilícito na esfera penal, venha a ser assim considerado após
sua ocorrência.
No entanto, o princípio da irretroatividade da lei penal vige somente em relação à lei mais severa,
Temos dois princípios que regem o conflito de leis penais no tempo: o da irretroatividade da lei
Denomina-se extra-atividade o fato de a lei penal mais benigna regular situações ocorridas fora
pela prática do crime Y, cuja pena varia entre 2 a 4 anos de detenção. Posteriormente, é publicada
nova lei para regular a mesma situação, prevendo agora apenamento de 1 a 3 anos de detenção. A lei
Quando a lei mais benigna prevalece sobre a mais severa, prolongando-se além do instante de
sua revogação, tem-se a ultra-atividade. Exemplo: A realiza uma conduta sob a vigência da lei X, que
pune o fato com pena de 2 a 4 anos de reclusão. Posteriormente, na época de ser proferida a
sentença, é editada nova lei, revogando totalmente a primeira, cominando ao mesmo fato pena de
A lei nova incrimina fatos antes considerados lícitos (novatio legis incriminadora);
A lei nova modifica o regime anterior, agravando a situação do agente (novatio legis in pejus);
A lei nova modifica o regime anterior, beneficiando o agente (novatio legis in mellius).
Ocorre quando a lei nova retira do campo da ilicitude penal uma conduta até então considerada
criminosa. A lei nova retroage, ou seja, por ser mais favorável ao agente, passa a valer para fatos
Trata-se de causa de extinção de punibilidade (art. 107, III, CP) (Brasil, 1940), que não depende,
Lei nova que incrimina fatos anteriormente tidos como lícitos. Aqui, a lei nova considera
criminosa uma conduta que até então era tida como lícita. Vige, nesse caso, o princípio do tempus
regit actum, ou seja, não é retroativa (lei incriminadora), espraiando seus efeitos somente a partir do
momento em que entra em vigor.
Lei nova que, modificando a anterior, agrava a situação do agente, não retroagirá, observando-
se o princípio tempus regit actum. Fica caracterizada a atividade da lei. Assim, lei antiga mais benéfica
A lei nova modifica o regime anterior, beneficiando o agente. Se a lei nova, sem excluir a
incriminação, é mais favorável ao agente, retroage – princípio da retroatividade de lei penal mais
Leis penais intermitentes são aquelas formuladas para durar durante determinado lapso de
tempo, geralmente breve, havendo duas espécies: leis penais temporárias e leis penais excepcionais.
É aquela criada para durar um lapso de tempo determinado, tal qual a Lei Geral da Copa, Lei n.
12.663/2012, que, em seu art. 36, informa que “os tipos penais previstos neste capítulo terão vigência
É aquela criada para reger determinadas situação incomum, normalmente atrelada a alguma
anormalidade institucional (período de guerra, estado de sítio etc.) ou a alguma alteração inesperada
aplicadas a fatos ocorridos durante sua vigência, mesmo após sua autorrevogação – art. 3º do CP
(Brasil, 1940).
É necessário saber com precisão em qual momento a lei considera cometido um crime, haja vista
a influência de vários fatores com base nessa determinante, tais como qual a lei a ser aplicada, o
da ação ou omissão, como se pode observar pela redação de seu art. 4º (Brasil, 1940).
assim redigida: “a lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a
sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência” (Brasil, 2003).
A lei penal de determinado Estado não pode ser aplicada em termos espaciais de forma
O Brasil adota o princípio da territorialidade temperada, segundo o qual, em regra, a lei penal
território nacional.
a. Solo;
c. Mar territorial: vem a ser a faixa de mar exterior, ao longo da costa, que se estende por
12 milhas marítimas de largura, medidas a partir da baixa mar do litoral continental e insular
No espaço físico delimitado pelo mar territorial, o Brasil tem soberania plena,
excepcionando-a o chamado direito de passagem inocente, em que navios mercantes ou
militares de qualquer Estado podem passar livremente, porém sempre sujeitos ao poder de
polícia nacional.
d. Zona contígua: faixa que se estende de 12 a 24 milhas marítimas. Não faz parte do
território nacional, mas o Brasil pode exercer fiscalização nos termos da Lei n. 8.617/1993 (Brasil,
1993);
e. Zona econômica exclusiva: faixa que se estende de 12 a 200 milhas marítimas, contadas
a partir das linhas de base que servem para medir a largura do mar territorial. Nesta faixa, o
Brasil tem direitos de soberania para fins de exploração e aproveitamento. Mas não é
f. Espaço aéreo: o Brasil exerce completa e exclusiva soberania sobre o espaço aéreo acima
de seu território, bem como acima de seu mar territorial. É o sistema denominado soberania
g. Espaço cósmico: pode ser usado e explorado livremente por todos os Estados,
nacional.
Saiba mais
território do país em que se acham matriculadas. Assim, navios de guerra e aeronaves militares
território estrangeiro (mar territorial e espaço aéreo correspondente) submetem-se à lei daquele
país; quando em alto-mar, submetem-se à lei do país cuja bandeira ostentem; e, quando se
encontrarem em território brasileiro (mar territorial e respectivo espaço aéreo), a lei brasileira é
aplicável.
O Brasil adotou a teoria da ubiquidade ou mista, para estabelecer o lugar do crime que,
segundo ela, pode ser tanto o local onde foi praticada a conduta quanto onde ocorreu ou deveria
ocorrer o resultado.
Para crimes cometidos dentro do território nacional, basta observar o disposto no art. 70 do CPP
(Brasil, 1941), compreendendo-se, então, que o art. 6º do CP objetiva fornecer elementos reguladores
Assim, salvo as exceções existentes, o direito internacional confere ampla liberdade aos Estados
para julgar, dentro de seus limites territoriais, qualquer crime, não importando onde tenha sido
cometido, sempre que entender necessário afim de salvaguardar a sua ordem pública.
São as hipóteses previstas no art. 7º, I, do CP, uma vez que a lei brasileira não se subordina a
qualquer condição para alcançar um crime cometido fora do território nacional (Brasil, 1940).
Assim, o julgamento do fato no Brasil pode ocorrer mesmo tendo havido decisão no país onde o
agente praticou a infração, não importando que lá tenha
sido absolvido, também não sendo necessário que ingresse em nosso território.
Observe, porém, que a pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil, quando
As alíneas “a”, “b” e “c” concretizam a aplicação do princípio da defesa. Já a alínea “d”
Os crimes previstos na alínea “b” estão definidos nos arts. 289 a 311, do
CP e as infrações pertinentes à alínea “c”, encontram-se estampadas nos arts. 312 a 326 do
O genocídio está tipificado na Lei n. 2.889/1956, sendo necessário que o agente seja brasileiro ou
tenha domicílio no Brasil para que, obedecido o princípio, a lei penal brasileira o alcance.
parágrafo 2º e nas alíneas “a” e “b” do parágrafo 3º deste mesmo art. 7º do CP (Brasil, 1940).
No art. 7º, parágrafo 2º, do CP, temos as condições de procedibilidade, ou seja, condições de
caráter processual que devem ser satisfeitas para que tenha início a persecução penal (Brasil, 1940).
a. que o agente entre no território nacional: a lei não exige que o ingresso do autor do
crime seja legal ou clandestino, tenha ocorrido de maneira forçada ou resultou de simples
passagem pelo país. Basta que entre no território nacional; sua saída não prejudicará o
b. ser o fato punível no país em que foi praticado: se assim não for, o fato não será punível
c. estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição:
d. não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido pena;
e. não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a
nacionais, via de regra, não podem ser extraditados por seu Estado a pedido de outra nação, assim, é
necessário que o Estado de origem do criminoso estenda seu raio de ação, a fim de que não
permaneça impune o delito
cometido no exterior.
Brasil. Tendo em vista a impossibilidade de ser concedida sua extradição, a lei penal brasileira
Aplica-se a lei nacional ao cidadão que comete crime no estrangeiro contra bem jurídico de seu
próprio Estado ou contra sujeito passivo de sua nacionalidade. Assim, se estrangeiro praticar crime
contra brasileiro, poderá ser punido de acordo com nossa legislação penal, desde que as condições
crime é praticado ou da nacionalidade do sujeito ativo. É adotado no art. 7º, parágrafo 1º, “a”, “b” e
Todo Estado tem o direito de punir qualquer crime, seja qual for a nacionalidade do delinquente
ou da vítima ou o local de sua prática, desde que o criminoso esteja dentro de seu território.
Encontra-se no art. 7º, II, “a”, do CP (Brasil, 1940). Como exemplo, tem-se o tráfico internacional de
mulheres.
A lei penal brasileira é aplicável aos delitos praticados em aeronaves e embarcações privadas
As imunidades não estão vinculadas às pessoas autoras da infração penal, mas às funções por
5.2 IMUNIDADES
signatário, estabelece para o diplomata imunidade de jurisdição penal relativamente ao local onde
exerce suas funções, ficando sujeito apenas à jurisdição do Estado que representa. As leis penal e
A imunidade existe porque o agente, em decorrência da função que exerce, traz consigo parte da
soberania de seu Estado de origem. Referida imunidade é de ordem pública, ou seja, obrigatória,
Tem início quando seu titular ingressa no território do Estado acreditado e entrega suas
Observe-se que o espaço físico onde se localiza a sede diplomática é considerado território do
Estado acreditado.
A imunidade pode ser renunciada pelo Estado acreditante e não pelo agente; abriga os agentes
art. 105 da Carta da ONU), ainda o Chefe de Estado estrangeiro que visita o país, além dos membros
de sua comitiva.
Empregados particulares dos agentes diplomáticos não são abrangidos pela imunidade e o
Para que haja imunidade diplomática, é necessário existir reciprocidade de tratamento entre os
Estados envolvidos.
exercida por senadores, deputados federais, deputados estaduais e vereadores, previstas nos arts. 53,
caput, 27, parágrafo 1º, e 29, VIII, da CF/1988 (Brasil, 1988), sendo de duas ordens, conforme vemos a
seguir.
O art. 53 da CF/1988 expressamente se refere às matérias civil e penal (Brasil, 1988), porém
estudiosos do direito, interpretando o dispositivo, advogam que a imunidade absoluta abrange, além
das áreas penal, civil, assuntos de natureza disciplinar e política, sustentando que, embora não
mencionado no texto legal, a manifestação do parlamentar deve ter relação com sua atividade
funcional.
A imunidade tem início com a diplomação do parlamentar e encerra-se com o término de seu
mandato.
O parlamentar que se licencia para ocupar cargo na administração pública não fica abrangido
deputados federais.
Vereadores são invioláveis por suas opiniões, palavras e votos, mas somente no exercício do
mandato e na circunscrição do município respectivo (CF/1988, art. 29, VIII) (Brasil, 1988).
Refere-se à prisão, ao processo, à prerrogativa de foro e para servir como testemunha (CF/1988,
art. 53, parágrafos 1º a 6º), aplicando-se a senadores, deputados federais e estaduais amplamente,
porém, não alcançando vereadores, pois estes não gozam de imunidade processual (Brasil, 1988).
5.3 EFICÁCIA DE SENTENÇA ESTRANGEIRA – ART. 9º, CP E ARTS. 787 A 790, CPP
O direito penal é territorial. Assim, para que uma sentença criminal possa produzir efeitos num
Estado estrangeiro sem ferir sua soberania, é necessária sua homologação para que seja chancelada.
a. reincidência;
Em relação à lei penal material, o prazo é computado desde o seu começo, inclusive. Assim, se a
terça-feira, após 15min, teremos como efetivamente cumprido seu primeiro dia.
Nenhuma influência terá o fato de o início do prazo penal ocorrer num domingo ou feriado,
porém, em termos processuais penais, a sistemática é diferente, e sempre deve ser desprezado o dia
do início, computando-se o dia do final.
Assim, se um advogado é intimado do teor de uma sentença criminal numa segunda-feira, dia 4,
e seu prazo processual para impugnação for de 10 dias, este terá início na terça-feira, findando no dia
14 do mesmo mês.
Processualmente, sempre terá prazo maior para realizar atos de defesa de seus interesses
(oferecimento de resposta à acusação, alegações finais, interposição de recursos etc.). Relativamente
aos prazos penais, resta claro que quanto mais abreviados forem, mais beneficiarão o agente. Assim,
também são os prazos para cumprimento de pena, para concessão de benefícios, para a ocorrência
NA PRÁTICA
ofensivas não poderão ser objeto de ação penal, desde que o fato tenha relação com o exercício da
função pública, pois estarão abrangidos pela imunidade. A imunidade os socorre considerando a
função por eles exercida – de representação de seus eleitores – e não a pessoa física envolvida.
Resultado semelhante, porém por razão diversa, ocorre em face dos diplomatas. Estes, quando em
missão oficial em nosso país, não são alcançados pela lei penal brasileira, pois trazem consigo parcela
da soberania de seu país de origem e, por isso, lá deverão ser apuradas eventuais condutas de
FINALIZANDO
Nesta aula, estudamos a lei penal. Vimos que sua classificação ocorre de forma variada.
abstração), o conceito e espécies de leis penais em branco, a interpretação da lei penal e seu âmbito
REFERÊNCIAS
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