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DISCIPLINA: Direito Penal I

PROFESSORA: Luciana Correa (email: lucianacsouza.adv@gmail.com)


SEMANA: 03

TEORIA DA NORMA PENAL


1. Teoria da Norma.
1.1. Características da norma penal
a) Exclusividade
b) Imperatividade
c) Generalidade
d) Impessoalidade
e) Anterioridade

2. Classificação das normas penais


Em linhas gerais, a doutrina apresenta a seguinte divisão para as normas jurídico-penais:
(1) normas incriminadoras;
(2) normas não incriminadoras.
2.1. Incriminadoras
São as que criam crimes e cominam penas, estão contidas na Parte Especial do Código Penal e na legislação
penal especial; Às normas penais incriminadoras é reservada a função de definir as infrações penais,
proibindo ou impondo condutas, sob ameaça de pena. É a norma penal por excelência, por isso são
consideradas normas penais em sentindo estrito.
2.1.1 Preceitos da norma penal incriminadora:
Preceito Primário – É encarregado de fazer a descrição detalhada e perfeita conduta que se procura proibir
ou impor;
Preceito Secundário – A este cabe a tarefa de individualizar a pena, cominando-a em abstrato.
2.2. Não incriminadoras: permissivas e explicativas.
São as que não criam crimes nem cominam penas. As normas penais não incriminadoras possuem as
seguintes finalidades:
a) tornar lícitas determinadas condutas;
b) afastar a culpabilidade do agente, levando causas de isenção de pena;
c) esclarecer determinados conceitos;
d) fornecer princípios gerais para aplicação do direito.
Subdividem-se em:
Permissivas: autorizam a prática de condutas típicas, ou seja, são as causas de exclusão da ilicitude. Em
regra, estão previstas na Parte Geral (CP, art.23), mas algumas são também encontradas na Parte Especial, tal
como ocorre nos arts. 128 (aborto legal) e 142 (exclusão da ilicitude nos crimes contra a honra) do Código
Penal;
Exculpantes: estabelecem a não culpabilidade do agente ou ainda a impunidade de determinados delitos.
Exemplos: doença mental, menoridade, prescrição e perdão judicial. Encontram-se comumente na Parte
Geral, mas também podem ser identificadas na Parte Especial do Código Penal, tais como nos arts. 312, §
3.º, 1.ª parte (reparação do dano antes da sentença no crime de peculato), e art. 342, § 2.º (retratação antes da
sentença no processo em que ocorreu o ilícito no crime de falso testemunho ou falsa perícia);
Interpretativas: esclarecem o conteúdo e o significado de outras leis penais. Exemplos: arts. 150, § 4.º
(conceito de domicílio), e 327 (conceito de funcionário público para fins penais) do Código Penal;

3. Norma Penal do Mandato em Branco: confronto com o Princípio da Legalidade.


Normas penais em branco são aquelas em que há uma necessidade de complementação, , seja por outra lei,
seja por ato da Administração Pública, para que se possa compreender o âmbito de aplicação do preceito
primário. O seu preceito secundário é completo, o que não se verifica no tocante ao primário, carente de
implementação.
Divide-se em:
Lei penal em branco homogênea (em sentindo amplo): o complemento tem a mesma natureza jurídica e
provém do mesmo órgão que elaborou a lei penal incriminadora. Ex: art. 237, do CP e art. 1521, do CC.
Lei penal em branco em sentido estrito ou heterogênea: o complemento tem natureza jurídica diversa e
emana de órgão distinto daquele que elaborou a lei penal incriminadora. Ex: Crimes previstos na Lei
11.343/2006 – Lei de Drogas –, editada pelo Poder Legislativo federal, mas complementada por portaria da
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Portaria SVS/MS 344/1998).
Há ofensa ao principio da legalidade das normas penais em branco heterogêneas?

4. Interpretação e Integração
Interpretar é buscar a intenção ou o sentido de determinada norma.
A interpretação é atividade precipuamente desenvolvida pelo método dedutivo, processando-se, por meio
dela, o chamado silogismo jurídico. Com efeito, a lei penal é a premissa maior, o caso concreto é a premissa
menor, e a pena é o resultado ou a síntese desse silogismo. A aplicação da lei ao caso individual significa,
pois, que a premissa maior abstrata se relaciona com a premissa menor tomada da vida real, e isso ocorre por
intermédio da interpretação.
Conforme a conhecida classificação tripartite, a atividade de interpretação pode ser compreendida: (1) quanto
ao sujeito que a realiza; (2) quanto ao meio utilizado; e (3) quanto ao resultado a que se chega.
 Quanto ao sujeito que a elabora:
a) Autêntica ou legislativa: é aquela de que se incumbe o próprio legislador, quando edita uma lei com o
propósito de esclarecer o alcance e o significado de outra. É chamada de interpretativa e tem natureza
cogente, obrigatória, dela não podendo se afastar o intérprete. Ex: Art. 327, do CP – Conceito de
funcionário publico.
b) Doutrinária, ou científica: é a interpretação exercida pelos doutrinadores, escritores, comentadores do
texto legal. Não tem força obrigatória e vinculante.
c) Judicial ou jurisprudencial: é interpretação executada pelos membros do Poder Judiciário (juízes de
primeiro grau, magistrados que compõem os tribunais, ministros), na decisão dos litígios que lhes são
submetidos. Sua reiteração constitui a jurisprudência. Não tem força obrigatória (vinculante), salvo em
dois casos: na situação concreta (em virtude da formação da coisa julgada material) e quando constituir
súmula vinculante (CF, art. 103-A, e Lei 11.417/2006).
 Quanto ao modo:
a) Gramatical (literal ou sintática); é a que flui da acepção literal das palavras contidas na lei. Despreza
quaisquer outros elementos.
b) Lógica (teleológica): é aquela em que o interprete busca alcançar a finalidade da lei, aquilo que ela se
destina a regular. É mais profunda e, consequentemente, merecedora de maior grau de confiabilidade,
pois busca os fins propostos pela lei.
 Quanto ao resultado:
a) Declaratória, declarativa ou estrita: é aquela que resulta da perfeita sintonia entre o texto da lei e a sua
vontade. Nada resta a ser retirado ou acrescentado. Apenas declara a vontade da lei.
b) Extensiva é a que se destina a corrigir uma fórmula legal excessivamente estreita. A lei disse menos do
que desejava (minus dixit quam voluit). Amplia-se o texto da lei, para amoldá-lo à sua efetiva vontade.
Ex: Art. 235, do CP – Inclusão da Poligamia.
c) Restritiva: é a que consiste na diminuição do alcance da lei, concluindo-se que a sua vontade,
manifestada de forma ampla, não permite seja atribuído à sua letra todo o sentido que em tese poderia ter.
A lei disse mais do que desejava (plus dixit quamvoluit). Ex: Art. 28, inc. II do CP – Embriaguez
Patológica, a qual está no caput do art. 26 do CP.
4.1. Interpretação Analógica
Interpretação analógica ou “intra legem” é a que se verifica quando a lei contém em seu bojo uma fórmula
casuística seguida de uma fórmula genérica. É necessária para possibilitar a aplicação da lei aos inúmeros e
imprevisíveis casos que as situações práticas podem apresentar. Ex: Art. 121, §2º, I – Motivo torpe ou III -
ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum (fórmula genérica).
4.2. Analogia em Direito Penal. Natureza Jurídica e incidência.
A interpretação extensiva e a interpretação analógica distinguem-se da analogia, por ser esta uma regra de
integração do ordenamento jurídico. A analogia decorre, portanto, de uma lacuna, um vazio normativo - e
não de uma lei pendente de interpretação.
Define-se a analogia como uma forma de autointegração da norma, consistente em aplicar a uma hipótese
não prevista em lei a disposição legal relatiza a um caso semelhante.
No Direito Penal, somente pode ser utilizada em relação às leis não incriminadoras, em respeito ao princípio
da reserva legal. Seu fundamento repousa na exigência de igual tratamento aos casos semelhantes.
São espécies de analogia:
a) Analogia in malam partem: é aquela pela qual aplica-se ao caso omisso uma lei maléfica ao réu,
disciplinadora de caso semelhante. Não é admitida, como já dito, em homenagem ao princípio da reserva
legal.
b) Analogia in bonam partem: é aquela pela qual se aplica ao caso omisso uma lei favorável ao réu,
reguladora de caso semelhante. É possível no Direito Penal, exceto no que diz respeito às leis
excepcionais, que não admitem analogia, justamente por seu caráter extraordinário. Ex: Art. 181, do CP –
Analogia em relação ao companheiro.
c) Analogia legal (legis): é aquela em que se aplica ao caso omisso uma lei que trata de caso semelhante.
ATENÇÃO: STJ: não cabe ao magistrado aplicar uma norma, por assemelhação, em substituição à outra
validamente existente, simplesmente por entender que o legislador deveria ter regulado a situação de
forma diversa da que adotou.
d) Analogia jurídica (juris): é aquela em que se aplica ao caso omisso um princípio geral do direito, para
assim suprimir a lacuna existente.

5. Conflito aparente de normas


Denomina-se conflito ou concurso aparente de normas a circunstância de duas ou mais normas penais
incriminadoras regularem, em tese, o mesmo caso concreto, sendo que, efetivamente, somente uma deverá
ser aplicada. Como o ordenamento jurídico exige a aplicação ou subsunção harmônica de suas disposições,
sob pena de violação do princípio do ne bis in idem, há de ser definida qual norma irá se sobrepor às demais.
5.1. Princípios que solucionam: Especialidade, Subsidiariedade, Consunção e Alternatividade
5.1.1. Principio da especialidade
O princípio da especialidade está previsto no artigo 12 do Código Penal e determina que a norma especial
afasta a norma geral. Entende-se como lei especial aquela que contém todos os elementos da norma geral,
acrescida de outros que a tornam distinta (chamados de especializantes). O tipo especial preenche
integralmente o tipo geral, com a adição de elementos particulares. Ex: Homicídio x Infantícidio
5.1.2. Princípio da subsidiariedade
Estabelece que a lei primária tem prevalência sobre a lei subsidiária (lex primaria derogat legi
subsidiarie). Esta é a que define como crime um fato incluído por aquela na previsão de delito mais grave,
como qualificadora, agravante, causa de aumento de pena ou, inclusive, modo de execução.
Uma lei tem caráter subsidiário relativamente a outra (principal) quando o fato por ela incriminado é também
incriminado por outra, tendo um âmbito de aplicação comum, mas abrangência diversa. A relação entre as
normas (subsidiária e principal) é de maior ou menor gravidade (e não de espécie e gênero, como na
especialidade). A norma dita subsidiária atua apenas quando o fato não se subsuma a crime mais grave.
Espécies:
a) Subsidiariedade expressa ou explícita nas situações em que é declarada formalmente no próprio texto
da lei, mediante o emprego de frases como: “se as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o
resultado nem assumiu o risco de produzi-lo” (CP, art. 129, § 3.º), “se o fato não constitui crime mais
grave” (CP, art. 132), “se o fato não constitui elemento de outro crime” (CP, art. 249), entre outras
análogas.
b) Subsidiariedade tácita ou implícita quando a lei residual não condiciona, taxativamente, a sua
aplicação em caso de impossibilidade de incidência da primária. Possível, assim, a sua presença sem
o apelo expresso do legislador, deduzindo-se da finalidade almejada e dos meios que se relacionam
entre as diversas disposições, ou seja, conclui-se pela sua existência diante da circunstância de
encontrar-se o fato implicado na lei primária como elemento constitutivo, qualificadora, causa de
aumento da pena, agravante genérica ou meio de execução. Exemplo: Constrangimento ilegal (CP,
art. 146), subsidiário diante do estupro (CP, art.213).
5.1.3. Principio da consunção
De acordo com o princípio da consunção, ou da absorção, o fato mais amplo e grave consome, absorve os
demais fatos menos amplos e graves, os quais atuam como meio normal de preparação ou execução
daquele, ou ainda como seu mero exaurimento. Por tal razão, aplica-se somente a lei que o tipifica: lex
consumens derogat legi consumptae. A lei consuntiva prefere a lei consumida.
Pode-se falar em consunção:
a) Quando um crime é necessário ou normal fase de preparação para execução de outro crime;
b) Nos casos de antefato (situação antecedente praticado pelo agente a fim de conseguir levar a efeito o
crime por ele pretendido inicialmente e que, sem aquele não seria possível) e pós-fato (exaurimento
do crime principal praticado pelo agente) impuníveis.
5.1.4. Princípio da alternatividade
Alguns autores que entendem configurada a alternatividade na hipótese em que o tipo penal contém em seu
corpo vários fatos, alternativamente, como modalidades de uma mesma infração penal. Assim, praticados
pelo mesmo sujeito um ou mais núcleos, sucessivamente, restará configurado crime único.
São os chamados tipos mistos alternativos, de ação múltipla ou de conteúdo variado, identificados assim
quanto à conduta (ex.: Lei 11.343/2006, art. 33, caput), ao modo de execução (ex.: CP, art. 121, § 2.º, inc.
IV), ao resultado naturalístico (ex.: CP, art. 129, § 2.º, inc. III), ao objeto material (ex.: CP, art. 234), aos
meios de execução (ex.: CP, art. 121, § 2.º, inc. III), às circunstâncias de tempo (ex.: CP, art. 123), às
circunstâncias de lugar (ex.: CP, art. 233), ou ainda perante outras situações apontadas pelo legislador.
ATENÇÃO: O princípio da alternatividade não é aceito por relevante parcela da doutrina como útil para a
solução do conflito aparente de leis penais. Isto porque teria a sua função esvaziada pelo princípio da
consunção, bem como, consoante destaca Greco, em tipos mistos alternativos não há conflito aparente de
normas.

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