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4. Interpretação e Integração
Interpretar é buscar a intenção ou o sentido de determinada norma.
A interpretação é atividade precipuamente desenvolvida pelo método dedutivo, processando-se, por meio
dela, o chamado silogismo jurídico. Com efeito, a lei penal é a premissa maior, o caso concreto é a premissa
menor, e a pena é o resultado ou a síntese desse silogismo. A aplicação da lei ao caso individual significa,
pois, que a premissa maior abstrata se relaciona com a premissa menor tomada da vida real, e isso ocorre por
intermédio da interpretação.
Conforme a conhecida classificação tripartite, a atividade de interpretação pode ser compreendida: (1) quanto
ao sujeito que a realiza; (2) quanto ao meio utilizado; e (3) quanto ao resultado a que se chega.
Quanto ao sujeito que a elabora:
a) Autêntica ou legislativa: é aquela de que se incumbe o próprio legislador, quando edita uma lei com o
propósito de esclarecer o alcance e o significado de outra. É chamada de interpretativa e tem natureza
cogente, obrigatória, dela não podendo se afastar o intérprete. Ex: Art. 327, do CP – Conceito de
funcionário publico.
b) Doutrinária, ou científica: é a interpretação exercida pelos doutrinadores, escritores, comentadores do
texto legal. Não tem força obrigatória e vinculante.
c) Judicial ou jurisprudencial: é interpretação executada pelos membros do Poder Judiciário (juízes de
primeiro grau, magistrados que compõem os tribunais, ministros), na decisão dos litígios que lhes são
submetidos. Sua reiteração constitui a jurisprudência. Não tem força obrigatória (vinculante), salvo em
dois casos: na situação concreta (em virtude da formação da coisa julgada material) e quando constituir
súmula vinculante (CF, art. 103-A, e Lei 11.417/2006).
Quanto ao modo:
a) Gramatical (literal ou sintática); é a que flui da acepção literal das palavras contidas na lei. Despreza
quaisquer outros elementos.
b) Lógica (teleológica): é aquela em que o interprete busca alcançar a finalidade da lei, aquilo que ela se
destina a regular. É mais profunda e, consequentemente, merecedora de maior grau de confiabilidade,
pois busca os fins propostos pela lei.
Quanto ao resultado:
a) Declaratória, declarativa ou estrita: é aquela que resulta da perfeita sintonia entre o texto da lei e a sua
vontade. Nada resta a ser retirado ou acrescentado. Apenas declara a vontade da lei.
b) Extensiva é a que se destina a corrigir uma fórmula legal excessivamente estreita. A lei disse menos do
que desejava (minus dixit quam voluit). Amplia-se o texto da lei, para amoldá-lo à sua efetiva vontade.
Ex: Art. 235, do CP – Inclusão da Poligamia.
c) Restritiva: é a que consiste na diminuição do alcance da lei, concluindo-se que a sua vontade,
manifestada de forma ampla, não permite seja atribuído à sua letra todo o sentido que em tese poderia ter.
A lei disse mais do que desejava (plus dixit quamvoluit). Ex: Art. 28, inc. II do CP – Embriaguez
Patológica, a qual está no caput do art. 26 do CP.
4.1. Interpretação Analógica
Interpretação analógica ou “intra legem” é a que se verifica quando a lei contém em seu bojo uma fórmula
casuística seguida de uma fórmula genérica. É necessária para possibilitar a aplicação da lei aos inúmeros e
imprevisíveis casos que as situações práticas podem apresentar. Ex: Art. 121, §2º, I – Motivo torpe ou III -
ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum (fórmula genérica).
4.2. Analogia em Direito Penal. Natureza Jurídica e incidência.
A interpretação extensiva e a interpretação analógica distinguem-se da analogia, por ser esta uma regra de
integração do ordenamento jurídico. A analogia decorre, portanto, de uma lacuna, um vazio normativo - e
não de uma lei pendente de interpretação.
Define-se a analogia como uma forma de autointegração da norma, consistente em aplicar a uma hipótese
não prevista em lei a disposição legal relatiza a um caso semelhante.
No Direito Penal, somente pode ser utilizada em relação às leis não incriminadoras, em respeito ao princípio
da reserva legal. Seu fundamento repousa na exigência de igual tratamento aos casos semelhantes.
São espécies de analogia:
a) Analogia in malam partem: é aquela pela qual aplica-se ao caso omisso uma lei maléfica ao réu,
disciplinadora de caso semelhante. Não é admitida, como já dito, em homenagem ao princípio da reserva
legal.
b) Analogia in bonam partem: é aquela pela qual se aplica ao caso omisso uma lei favorável ao réu,
reguladora de caso semelhante. É possível no Direito Penal, exceto no que diz respeito às leis
excepcionais, que não admitem analogia, justamente por seu caráter extraordinário. Ex: Art. 181, do CP –
Analogia em relação ao companheiro.
c) Analogia legal (legis): é aquela em que se aplica ao caso omisso uma lei que trata de caso semelhante.
ATENÇÃO: STJ: não cabe ao magistrado aplicar uma norma, por assemelhação, em substituição à outra
validamente existente, simplesmente por entender que o legislador deveria ter regulado a situação de
forma diversa da que adotou.
d) Analogia jurídica (juris): é aquela em que se aplica ao caso omisso um princípio geral do direito, para
assim suprimir a lacuna existente.