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ANHANGUERA

FACULDADE DE DIREITO

ANA CAROLINA CARVALHO SANTOS

Estudo dirigido
Teoria do ilícito penal
1° Período

IPATINGA
2023

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SUMÁRIO
I - Sobre a Lei Penal:...................................................................................................3

a) Apresente a classificação da lei penal.....................................................................3

b) Apresente as características da lei penal................................................................3

c) Explique o que é lei penal em branco......................................................................4

d) Discorra sobre a interpretação da Lei Penal...........................................................6

e) Explique o que é analogia....................................................................................... 7

f) Discorra sobre a aplicação da lei penal no tempo....................................................8

g) Discorra sobre a aplicação da lei penal no espaço...............................................10

h) Explique o que é lugar do crime e tempo do crime................................................12

i) Discorra sobre a extraterritorialidade da lei penal...................................................13

II - Sobre o conceito de crime, discorra:....................................................................15

1. Sobre o critério material ou substancial.................................................................15

2. Sobre o critério legal..............................................................................................15

3. Sobre a diferenciação entre crime e contravenção penal......................................15

4. Sobre o critério analítico........................................................................................16

5. Sobre os sujeitos do crime (ativo e passivo).........................................................20

6. Sobre o objeto do crime.........................................................................................22

III - Classifique os crimes:..........................................................................................22

1. Crimes comuns, próprios e de mão própria...........................................................22

2. Crimes simples e complexos.................................................................................23

3. Crimes materiais, formais e de mera conduta.......................................................24

4. Crimes instantâneos, permanentes, de efeitos permanentes e a prazo................24

5. Crimes unissubjetivos, plurissubjetivos e eventualmente coletivos.......................25

6. Crimes de subjetividade passiva única e de dupla subjetividade passiva.............26

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I - Sobre a Lei Penal:
a) Apresente a classificação da lei penal
Podem ser classificadas como:
I) Incriminadoras: são as que criam crimes e cominam penas.
II) Não incriminadoras: são as que não criam crimes nem cominam penas. Por sua
vez, subdividem-se em:
 Permissivas: autorizam a prática de condutas típicas, ou seja, são as causas
de exclusão da ilicitude.
 Exculpantes: estabelecem a não culpabilidade do agente ou ainda a
impunidade de determinados delitos. Exemplos: doença mental, menoridade,
prescrição e perdão judicial.
 Interpretativas: esclarecem o conteúdo e o significado de outras leis penais.
 De aplicação, finais ou complementares: delimitam o campo de validade das
leis incriminadoras. Exemplos: arts. 2.º e 5.º do Código Penal.
 Diretivas: são as que estabelecem os princípios de determinada matéria.
Exemplo: princípio da reserva legal.
 Integrativas ou de extensão: são as que complementam a tipicidade no
tocante ao nexo causal nos crimes omissivos impróprios, à tentativa e à
participação.
 Completas ou perfeitas: apresentam todos os elementos da conduta
criminosa.
 Incompletas ou imperfeitas: reservam a complementação da definição da
conduta criminosa a uma outra lei, a um ato da Administração Pública ou ao
julgador.

III) Norma Penal em Branco: Será abordada em tópico próprio.

b) Apresente as características da lei penal


 Exclusividade: só a lei pode criar delitos e penas.

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 Imperatividade: o seu descumprimento acarreta a imposição de pena ou de
medida de segurança, tornando obrigatório o seu respeito.
 Generalidade: dirige-se indistintamente a todas as pessoas, inclusive aos
inimputáveis. Destina-se a todas as pessoas que vivem sob a jurisdição do
Brasil, estejam no território nacional ou no exterior.
 Impessoalidade: projeta os seus efeitos abstratamente a fatos futuros, para
qualquer pessoa que venha a praticá-los. Há duas exceções, relativas às leis
que preveem anistia e abolitio criminis, as quais alcançam fatos concretos.
 Anterioridade: as leis penais incriminadoras apenas podem ser aplicadas se
estavam em vigor quando da prática da infração penal, salvo no caso da
retroatividade da lei benéfica.

c) Explique o que é lei penal em branco


Considera-se Normal Penal em Branco aquela que necessita de
complemento normativo para que se possa compreender o âmbito da aplicação de
seu preceito primário.
Por sua vez divide-se em:
Norma Penal em Branco em sentido estrito ou heterogênea ou própria:
É aquela em que o complemento normativo da norma não emana do mesmo
poder que a editou (poder legislativo). Exemplo: Artigo 28 da Lei 11.343/2006 – Lei
de Drogas (Usuário).
Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo,
para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com
determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas:
I – Advertência sobre os efeitos das drogas;
II – Prestação de serviços à comunidade;
III – Medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo.
A definição do que é droga tratada pela Lei 11.343/2006, a exemplo do referido
artigo 28 acima transcrito, e das substâncias consideradas entorpecentes é
regulamentada pela Portaria n. 344/98, expedida pela Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (ANVISA), vinculada ao Ministério da Saúde.

Norma Penal em Branco em sentido amplo ou homogênea ou imprópria:

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É aquela em que o complemento normativo emana da mesma fonte
legislativa (lei complementada por outra lei).
Pode ser subdividida em:

I) Norma Penal em Branco em sentido amplo homóloga ou homovitelina:


O complemento normativo da norma se encontra no mesmo documento
legal. Exemplo: Artigos 312 e 327 do Código Penal. A definição da elementar
‘Funcionário Público’ do crime de peculato (art. 312) se encontra descrita no artigo
327 do mesmo diploma legal.

II) Norma Penal em Branco em sentido amplo heteróloga ou heterovitelina:


É aquela em que o complemento normativo se encontra em documento legal
diverso da que editou a norma. Exemplo: Artigo 236 do Código Penal e 1.521 do
Código Civil. No crime de ocultação de impedimento para o casamento (art. 236 do
CP) as hipóteses impeditivas da união civil estão elencadas no artigo 1.521 Código
Civil.

Norma Penal Incompleta do tipo aberto:


É aquela em que o complemento necessário é valorativo, dado pelo juiz e não
normativo (dado por outra norma).
Exemplo: Crimes culposos, sendo necessário estabelecer qual o cuidado
descumprido pelo agente.

Norma penal em branco ao revés ou invertida:


Nesse caso o complemento normativo diz respeito à sanção) e não ao
conteúdo proibido. Exemplo: Lei n. 2.889/56 – Crime de genocídio.

Lei penal em branco de fundo constitucional:


O complemento do preceito primário constitui-se em norma constitucional. É o
que se verifica no crime de abandono intelectual, definido no art. 246 do Código
Penal, pois o conceito de “instrução primária” encontra-se no art. 208, inc. I, da
Constituição Federal.

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Lei penal em branco ao quadrado:
É aquela cujo complemento também depende de complementação. Em
síntese, o tipo penal é duplamente complementado. Exemplo: Art. 38 da Lei
9.605/1998 – Crimes Ambientais, cuja redação é a seguinte: “Destruir ou danificar
floresta considerada de preservação permanente, mesmo que em formação, ou
utilizá-la com infringência das normas de proteção”. Este dispositivo é
complementado pelo art. 6.º da Lei 12.651/2012 – Código Florestal, que apresenta
uma relação de áreas de preservação permanente.

d) Discorra sobre a interpretação da Lei Penal


A interpretação pode ser classificada levando-se em conta o sujeito
responsável pela sua realização, os meios e os resultados obtidos.
Quanto ao sujeito, poderá ser:
 Autêntica ou legislativa: aquela fornecida pela própria lei (exemplo: o
art. 327 do CP define quem pode ser considerado funcionário público para
fins penais).
 Judicial: é a intepretação que procede dos juízes ou tribunais nos autos do
processo.
 Doutrinária ou científica: aquela trazida pelo jurista por meio de sua
doutrina. Não tem força obrigatória e vinculante.

Quanto aos meios ou métodos:


 Gramatical, filológica ou literal: considera o sentido literal das palavras.
 Teleológica: se refere à intenção objetivada pela lei (exemplo: proibir a
entrada de acessórios de celular, mesmo que a lei se refira apenas ao
aparelho).
 Histórica: indaga a origem da lei.
 Sistemática: interpretação em conjunto com a legislação em vigor e com os
princípios gerais do direito.
 Progressiva ou evolutiva: busca o significado legal de acordo com o
progresso da ciência.

Quanto ao resultado:
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 Declaratória, declarativa ou estrita: é aquela que resulta da perfeita sintonia
entre o texto da lei e a sua vontade. Nada resta a ser retirado ou
acrescentado.
 Extensiva: é a que se destina a corrigir uma fórmula legal excessivamente
estreita. A lei disse menos do que desejava. Amplia-se o texto da lei, para
amoldá-lo à sua efetiva vontade.
 Restritiva: é a que consiste na diminuição do alcance da lei, concluindo-se
que a sua vontade, manifestada de forma ampla, não permite seja atribuído à
sua letra todo o sentido que em tese poderia ter. A lei disse mais do que
desejava.

Interpretação progressiva, adaptativa ou evolutiva:


É a que busca amoldar a lei à realidade atual. Evita a constante reforma
legislativa e se destina a acompanhar as mudanças da sociedade.

Interpretação analógica:
É a que se verifica quando a lei contém em seu bojo uma fórmula casuística
seguida de uma fórmula genérica. É necessária para possibilitar a aplicação da lei
aos inúmeros e imprevisíveis casos que as situações práticas podem apresentar.

e) Explique o que é analogia


A analogia se apresenta pelas seguintes espécies:
I) Analogia in malam partem: é aquela pela qual aplica-se ao caso omisso uma lei
maléfica ao réu, disciplinadora de caso semelhante. Não é admitida no Direito Penal,
em homenagem ao princípio da reserva legal.
II) Analogia in bonam partem: é aquela pela qual se aplica ao caso omisso uma lei
favorável ao réu, reguladora de caso semelhante. É possível no Direito Penal,
exceto no que diz respeito às leis excepcionais, que não admitem analogia,
justamente por seu caráter extraordinário.
III) Analogia legal (ou legis): é aquela em que se aplica ao caso omisso uma lei que
trata de caso semelhante.
IV) Analogia jurídica (ou juris): é aquela em que se aplica ao caso omisso um
princípio geral do direito.

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f) Discorra sobre a aplicação da lei penal no tempo
Em regra, aplica-se a lei penal vigente ao tempo da prática do fato criminoso,
de acordo com o princípio do tempus regit actum. Quer-se dizer que a lei penal
produzirá efeitos, em regra, no período da sua vigência, de acordo com a lei vigente
na época do fato.
Se o fato tiver sido praticado durante a vigência da lei anterior, poderão ocorrer as
seguintes situações:
I) A lei cria uma nova figura penal (novatio legis incriminadora):
É a lei que tipifica como infrações penais comportamentos até então
considerados irrelevantes. A novatio legis incriminadora, portanto, somente tem
eficácia para o futuro. Jamais para o passado.

II) A lei posterior se mostra mais rígida em comparação com a lei anterior (lex
gravior):
Lei penal mais grave é a que de qualquer modo implicar tratamento mais
rigoroso às condutas já classificadas como infrações penais. Se mais grave, a lei
terá aplicação apenas a fatos posteriores à sua entrada em vigor. Jamais retroagirá,
conforme expressa determinação constitucional.

III) A lei posterior extingue o crime (abolitio criminis):


Abolitio criminis é a nova lei que exclui do âmbito do Direito Penal um fato até
então considerado criminoso. Encontra previsão legal no art. 2.º, caput, do Código
Penal. Alcança a execução e os efeitos penais da sentença condenatória, não
servindo como pressuposto da reincidência, e também não configura maus
antecedentes. Sobrevivem, entretanto, os efeitos civis de eventual condenação,
quais sejam, a obrigação de reparar o dano provocado pela infração penal e
constituição de título executivo judicial.

IV) a lei posterior é benigna em relação à sanção penal ou à forma de seu


cumprimento (lex mitior ou novatio legis in mellius):
É a que se verifica quando, ocorrendo sucessão de leis penais no tempo, o
fato previsto como crime ou contravenção penal tenha sido praticado na vigência da

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lei anterior, e o novel instrumento legislativo seja mais vantajoso ao agente,
favorecendo-o de qualquer modo.
Nos termos do art. 5.º, XL, da Constituição Federal, a abolitio criminis e a
novatio legis in mellius devem retroagir, por configurar nítido benefício ao réu. A
retroatividade é automática, dispensa cláusula expressa e alcança inclusive os fatos
já definitivamente julgados.

Ultratividade: aplica-se a lei revogada aos fatos praticados ao tempo de sua


vigência, desde que seja ela mais benéfica ao réu do que a lei revogadora.

Três são os fundamentais princípios aplicados no instituto da eficácia da lei penal no


tempo:
I) Anterioridade: Não há infração ou sanção penal sem lei anterior, isto é, sem lei
prévia. Esse desdobramento do princípio da legalidade traduz a ideia da
anterioridade penal, segundo o qual para a aplicação da lei penal, exige-se lei
anterior tipificando o crime e prevendo a sua sanção.
II) Irretroatividade: dispõe que a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o
réu, impondo-se, assim, a irretroatividade da lei penal, salvo quando a lei nova seja
benéfica ao acusado.
III) Retroatividade: Ninguém pode ser condenado por ações ou omissões que, no
momento em que forem cometidas, não sejam delituosas, de acordo com o direito
aplicável. Tampouco se impor pode pena mais grave que a aplicável no momento da
perpetração do delito. Se depois da perpetração do delito a lei dispuser a imposição
de pena mais leve, o delinquente será por isso beneficiado.

Lei penal intermediária:


É possível, em caso de sucessão de leis penais, a aplicação de uma lei
intermediária mais favorável ao réu, ainda que não seja a lei em vigor quando da
prática da infração penal ou a lei vigente à época do julgamento. Exemplo: Ao tempo
da conduta estava em vigor a lei “A”, sucedida pela lei “B”, encontrando-se em vigor
ao tempo da sentença a lei “C”. Nada impede a aplicação da lei “B”, desde que se
trate, entre todas, da mais favorável ao agente. Em síntese, a lei penal intermediária
é simultaneamente dotada de retroatividade e de ultratividade.

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Continuidade típico – normativa:
Ocorre quando uma norma penal é revogada, mas a mesma conduta continua
sendo crime no tipo penal revogador, ou seja, a infração penal continua tipificada em
outro dispositivo, ainda que topologicamente ou normativamente diverso do
originário.
Lei temporária:
Surge para vigorar por tempo previamente estabelecido, isto é, com começo e
fim pré-determinados, ou seja, ela aparece no sistema jurídico-penal já com a data
do término de sua vigência previamente agendada. Exemplo: condutas cometidas
durante as olimpíadas ou copa do mundo.

Lei excepcional:
São leis editadas para reger fatos ocorridos em períodos anormais. Ex.:
guerra, epidemia, etc. São leis auto-revogáveis, pois perdem a eficácia pela
cessação das situações que as ensejaram.

Extra-atividade:
É a capacidade que tem a lei penal de se movimentar no tempo regulando
fatos ocorridos durante sua vigência, mesmo depois de ter sido revogada, ou de
retroagir no tempo, a fim de regular situações ocorridas anteriormente à sua
vigência.

g) Discorra sobre a aplicação da lei penal no espaço


A lei penal no espaço cuida do lugar onde o crime é praticado, servindo como
parâmetro para solucionar situações em que um crime inicia sua execução em um
determinado território e a consumação dar-se em outro.
Para esclarecer essas situações o Direito Penal utiliza-se de alguns princípios e
conceitos:

Princípio da Territorialidade (art.5°/cp):


Afirma que a lei penal somente pode ser aplicada no espaço (território) do
Estado que a criou, não atendendo à nacionalidade do sujeito ativo ou passivo do
delito ou o titular do bem jurídico lesado. Para este princípio, os países devem

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aplicar as suas leis aos crimes cometidos dentro de seu território jurídico. Este
critério não é absoluto. O Brasil adotou o Princípio da
Territorialidade Mitigada/Temperada, que diz: A lei penal no espaço brasileira aplica-
se, em regra, ao crime praticado em seu território, porém a lei estrangeira será
aplicada em crimes praticados em parte ou total em nosso território, quando assim
exigirem tratados e convenções internacionais.

Princípio do Pavilhão ou da Bandeira:


As embarcações e aeronaves são extensões do território do país em que
estiverem registradas (bandeira). Os navios e aeronaves de guerra são extensões
do território nacional. Assim, os crimes cometidos no interior deles terão aplicação
das leis dos respectivos países.

Navios e Aeronaves Públicas ou Privadas:


Os navios oficiais (chefe de Estado/representantes diplomáticos) são
considerados extensões do território nacional (mesmo comando do Princípio do
Pavilhão). Já aos navios privados (mercantes ou de propriedade privada) em mar de
território estrangeiro aplica-se a lei do país estrangeiro em alto-mar, e em mar
territorial brasileira, a lei brasileira é a aplicável.

Imunidades Diplomáticas:
Não pode ser preso nem processado sem autorização de seu país. As sedes
diplomáticas não são extensões do território do país, mas são invioláveis
(embaixador, corpo técnico da embaixada, familiares do agente diplomático, chefes
de Estado Estrangeiro que visitam o país, os empregados particulares não gozam de
imunidade).

Justiça penal universal (justiça cosmopolita):


É aquele em que o agente fica sujeito à lei do país onde for encontrado, não
importando a sua nacionalidade, do bem jurídico lesado ou do local do crime.

Princípio da nacionalidade ou personalidade ativa:

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Aplica-se a lei brasileira ao crime cometido por brasileiro fora do Brasil, não
importando se o sujeito passivo (vítima) é brasileiro ou se o bem jurídico afeta
interesse nacional, pois o único critério levado em conta é o da nacionalidade do
sujeito ativo.

Princípio da nacionalidade ou personalidade passiva:


Aplica-se a lei brasileira ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro
fora do Brasil. O que interessa é a nacionalidade da vítima (sujeito passivo) e não do
autor do crime (sujeito ativo). Se a vítima é brasileira, aplica-se a lei brasileira.
Defesa real:
Incide esse princípio quando ocorre crime contra a vida do presidente da
República. aplica-se a lei penal da nacionalidade do bem jurídico lesado (ou
colocado em perigo), independentemente do local da infração penal e da
nacionalidade do sujeito ativo (quem comete o crime).

Extensão do território:
Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as
embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo
brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações
brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem, respectivamente,
no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar.

h) Explique o que é lugar do crime e tempo do crime


Tempo do Crime é o marco adotado para estabelecer o momento do
cometimento de um crime.
Há três teorias principais sobre o tempo do crime:
Atividade:
É a adotada pelo Código Penal brasileiro. De acordo com o artigo 4º do
código penal, “Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão,
ainda que outro seja o momento do resultado’’.
Assim, se ‘fulano’, atira contra ‘fulana’ no dia 20 de janeiro de 2020, vindo
este a óbito em data de 17 de abril de 2020, terá praticado o crime de homicídio
em 20/01/2020.

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Resultado:
Ao contrário da teoria da atividade, aqui se considera praticado o crime no
momento do resultado. No Direito Penal, a título de exceção, aplica-se a teoria em
questão para determinar o termo inicial da prescrição.

Ubiquidade ou mista:
Segundo esta teoria, deve-se levar em conta tanto o momento da ação ou
omissão, como do resultado.

Lugar do crime:
É tanto aquele em que se produziu o resultado, bem como onde foi praticada a ação
ou omissão.
De igual forma, há 03 (três) teorias principais:

Atividade:
O lugar do crime é o da ação ou omissão. Exemplo: Fulano, com vontade
(ânimo) de matar, golpeou ciclano com várias facadas, fato ocorrido na cidade de
Ipatinga. Horas depois, em um hospital de Fabriciano, ciclano veio a falecer em
razão dos ferimentos. Neste caso, o lugar do crime seria Ipatinga.

Resultado:
O lugar do crime é o da consumação.
Exemplo: nos termos do exemplo de item acima, o lugar do crime seria Fabriciano.

Ubiquidade ou mista:
É o princípio adotado pelo Código Penal brasileiro. Art. 6º – Considera-se
praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em
parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado.
Exemplo: considera-se como lugar do crime Ipatinga (ação) e Fabriciano
(resultado).

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i) Discorra sobre a extraterritorialidade da lei penal
É a aplicação da legislação penal brasileira aos crimes cometidos no exterior
(art.7°/cp).
Fernando Capez (2006) assim explica o princípio da extraterritorialidade:
‘’consiste na aplicação da lei brasileira aos crimes cometidos fora do Brasil. A
jurisdição é territorial, na medida em que não pode ser exercida no território de outro
Estado, salvo em virtude de regra permissiva, emanada do direito internacional
costumeiro ou convencional. Em respeito ao princípio da soberania, um país não
pode impor regras jurisdicionais a outro’’.

A extraterritorialidade poderá ser:


Incondicionada:
Não está sujeita a nenhuma condição. A mera prática do crime em território
estrangeiro autoriza a incidência da lei penal brasileira, independentemente de
qualquer outro requisito.

Proibição do bis in idem:


Nesse caso, a pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil
pelo mesmo crime, quando diversas, ou nela é computada, quando idênticas. Se o
agente praticou um crime contra a vida do Presidente da República do Brasil em
solo argentino, e lá foi condenado à pena de dez anos de reclusão, dos quais já
cumpriu oito anos, e, posteriormente, fugiu para o Brasil, vindo aqui a ser condenado
a doze anos de reclusão, não precisará cumprir toda a pena imposta em nosso país.
Faltará o cumprimento de outros quatro anos, em consonância com a regra prevista
no art. 8.º/cp.

Extraterritorialidade condicionada:
São as hipóteses previstas no inciso II e § 3º. Para a lei brasileira ser aplicada
nestes casos faz-se necessário que tenha os requisitos previstos no artigo 7º, § 2º,
a, b e § 3º:
Para a aplicação do Princípio da Extraterritorialidade são necessários os
seguintes princípios:

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1º) Princípio da Nacionalidade ou Personalidade Ativa (art. 7º, II, b, CP): A lei do
Estado do autor do crime é aplicada em qualquer lugar que o crime tenha ocorrido,
ou seja, a lei brasileira é aplicada em razão da nacionalidade do autor do crime
(sujeito ativo).
2º) Princípio da Nacionalidade ou Personalidade Passiva (art. 7º, § 3º, CP): A lei
brasileira é aplicada ao crime praticado por estrangeiro contra brasileiro. Importa a
nacionalidade do sujeito passivo.
3º) Princípio da Defesa Real ou Proteção (art. 7º, I, a, b, c): Importa à
nacionalidade do bem jurídico. Aplica-se a lei brasileira ao crime cometido fora do
Brasil, que afete interesse nacional.
4º) Princípio da Justiça Universal ou da Universalidade da Justiça Cosmopolita
(art. 7º, I, d, II, CP): Direito de todos os países em punir qualquer crime.
5º) Princípio da Representação (art. 7º, II, c, CP): A lei brasileira será aplicada aos
crimes cometidos no estrangeiro em aeronaves e embarcações privadas, desde que
não sejam julgados no local do crime.

II - Sobre o conceito de crime, discorra:


1. Sobre o critério material ou substancial
De acordo com esse critério, crime é toda ação ou omissão humana que lesa
ou expõe a perigo de lesão bens jurídicos penalmente tutelados. Essa fórmula leva
em conta a relevância do mal produzido aos interesses e valores selecionados pelo
legislador como merecedores da tutela penal. Somente se legitima o crime quando a
conduta proibida apresentar relevância jurídico-penal, mediante a provocação de
dano ou ao menos exposição à situação de perigo em relação a bens jurídicos
penalmente relevantes.

2. Sobre o critério legal


O conceito de crime é fornecido pelo legislador. O Código Penal não
conceitua crime, mas o art. 1.º da Lei de Introdução ao Código Penal (Decreto-lei
3.914, de 9 de dezembro de 1941) diz:
Considera-se crime a infração penal a que a lei comina pena de reclusão ou de
detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de
multa; contravenção, a infração penal a que a lei comina, isoladamente, pena de
prisão simples ou de multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente.
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3. Sobre a diferenciação entre crime e contravenção penal
Para melhor compreensão, é interessante as seguintes tabelas comparativas:
a) Diferenciação teórica
Crime ou delito Contravenção Penal
Pena de reclusão ou de detenção, isolada, Pena de prisão simples ou multa,
alternativa ou cumulativamente com a isolada, alternativa ou cumulativamente.
pena de multa.

b) Diferenciação prática
Crimes Contravenções
A lei penal brasileira é aplicável, A lei brasileira somente
Aplicação da lei penal via de regra, aos crimes incide no tocante às
cometidos no território nacional contravenções penais
(CP, art. 5.º) praticadas no território
nacional (LCP, art. 2.º)
É punível a tentativa de crimes Não se pune a tentativa
Tentativa (CP, art. 14, II) de contravenção (LCP,
art. 4.º)
Os crimes podem ser dolosos, Basta, para as
Elemento subjetivo culposos ou preterdolosos (CP, contravenções penais, a
arts. 18 e 19) ação ou omissão
voluntária (LCP, art. 3.º)
As contravenções penais
Os crimes são compatíveis com admitem unicamente a
Culpabilidade o erro de tipo (CP, art. 20) e com ignorância ou a errada
o erro de proibição (CP,art. 21) compreensão da lei, se
escusáveis (LCP, art. 8.º)
Nos crimes, o período de prova Nas contravenções
Período de prova varia entre dois a quatro anos, e, penais, o período de
excepcionalmente, de quatro a prova é de um a três anos
seis anos (CP, art. 77, e § 2.º) (LCP, art. 11)
Prazo mínimo das Nos crimes, o prazo mínimo das Nas contravenções
medidas de segurança medidas de segurança é de um penais, o prazo mínimo é
a três anos (CP, art. 97, § 1.º) de seis meses (LCP, art.
16)
Nos crimes, a ação penal pode Nas contravenções
Ação penal ser pública, incondicionada ou penais, a ação penal é
condicionada, ou de iniciativa pública incondicionada
privada (CP, art. 100) (LCP, art. 17)

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4. Sobre o critério analítico
O conceito analítico de crime é dividido em duas vertentes: o bipartido e o
tripartido. A teoria tripartida entende que o conceito analítico de crime é o fato típico,
ilícito e culpável, sendo a culpabilidade um elemento constitutivo de crime, visto que
sem a culpabilidade não há crime.
Já a teoria bipartida é composta por fato típico e ilícito. Sendo considerados
os seguintes sub-elementos: conduta, resultado, nexo de causalidade entre o
resultado e a conduta e a tipicidade, além de necessitar que seja um fato ilícito, não
estando empossada das causas de excludente de ilicitude, a culpabilidade seria
apenas um pressuposto para que a pena fosse aplicada.

Fato típico
É a ação humana que se adequa especificamente ao elemento descrito na lei
penal. É fundamental para a criação de um crime, devendo ele ser observado
primeiramente para só depois serem observados os outros elementos do crime.
Para que haja fato típico, são necessários quatro elementos: a conduta, o resultado,
a relação de causalidade ou nexo causal e a tipicidade. A conduta é o primeiro
elemento do fato típico, e nada mais é do que o comportamento humano, é a ação
ou omissão do sujeito que da causa ao fato típico.
Elementos do fato típico: Conduta, resultado, nexo causal e tipicidade.

As condutas podem ser comissivas ou omissivas.


 Comissivas: também chamada de ação, é o movimento humano que gera
alguma mudança no mundo externo.
 Omissivas: é toda falta de ação necessária que desencadeia uma mudança
no mundo externo.

Além disso, as condutas podem ser classificadas em dolosas ou culposas.


 Dolosa: é toda vontade humana geradora de um resultado.
 Culposa: a falta de uma vontade que gerou o resultado por imprudência,
negligência ou imperícia.

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O segundo elemento do fato típico é o resultado, que nada mais é do que a
modificação no mundo exterior, causada pela conduta de um indivíduo. Embora a
própria conduta já faça tal mudança, o resultado é a transformação criada pela
conduta com seus efeitos.
Existem ainda, hipóteses da exclusão da conduta, sendo elas o caso fortuito e
a forca maior, atos ou movimentos reflexos ou coação física irresistível. O caso
fortuito e a força maior são os casos em que não há previsibilidade além de ser
inevitável, não estando no alcance da vontade humana. Os atos ou movimentos
reflexos são as reações motoras causadas excitação dos sentidos, em que
determinada ação é realizada sem a vontade do agente, como o sonambulismo ou
hipnose. A coação física irresistível e quando o indivíduo não tem liberdade em suas
ações sendo forçado fisicamente a realizar uma ação.

Pode ser dividido em duas espécies, jurídico ou normativo.


 Resultado jurídico é toda a lesão ou perigo de lesão de um bem juridicamente
tutelado pela lei, ou seja, é a mera desobediência a lei penal que vai gerar o
resultado.
 O resultado naturalístico, também chamado de material, é a mudança no
mundo exterior causada pela conduta do agente. Toda infração penal tem
resultado jurídico, pois sempre há um bem jurídico que está sendo violado,
mas nem sempre tem o resultado naturalístico que é derivado de um crime
material.

O terceiro elemento do fato típico é o nexo causal. É a ligação entre a


conduta realizada pelo sujeito e o resultado que foi gerado pela ação, ou seja, só se
pode imputar sanção a uma pessoa se ela tiver gerado o resultado.

O quarto e último elemento do fato típico é a tipicidade, que nada mais é do


que a adequação de uma conduta humana com relação à lei, se encaixados todos
os itens comuns entre o fato no mundo real com o que a lei descreve haverá a
tipicidade. O método pelo qual se conecta a conduta do agente com o modelo

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descrito em lei é chamado de adequação típica e pode ser feita de forma direta ou
indireta.

Ilicitude
É a contrariedade de uma ação ou omissão praticada por alguém em relação
ao ordenamento jurídico, colocando em risco os bens jurídicos penalmente
tutelados.
A ilicitude pode ser:
 Formal, quando o fato praticado contraria o ordenamento jurídico.
 Material ou substancial: quando o conteúdo da ação delitiva analisa o
comportamento sob o aspecto social.

Um fato típico pode ser considerado lícito, desde que esteja amparado pelas causas
de excludente de ilicitude:
 Legitima defesa;
 Estado de necessidade;
 Estrito cumprimento do dever legal;
 Exercício regular de um direito.

Culpabilidade
A culpabilidade determina se o agente, que comete o fato típico e ilícito, deve
receber a devida punição.
As excludentes de culpabilidade que são:
 Imputabilidade por doença mental;
 Desenvolvimento mental retardado;
 Desenvolvimento mental incompleto;
 Embriaguez acidental completa;
 Potencial consciência da ilicitude através do erro de proibição.

Além dessas, a exigibilidade de conduta diversa personificada através da


coação moral irresistível ou obediência hierárquica à ordem não manifestamente
ilegal.

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Assim temos o posicionamento de Luiz Flavio Gomes: O juízo de reprovação
da culpabilidade (que é feito pelo juiz e que recai sobre o agente do fato punível que
podia agir de modo diverso) tem por fundamentos: a capacidade do agente de
querer e de entender as proibições jurídicas em geral (imputabilidade), a consciência
da ilicitude do fato concreto (real ou potencial) e a normalidade das circunstancias
do caso concreto (exigibilidade de conduta diversa). (2004, p.17).

Conclusão
Mesmo havendo bons argumentos para os dois lados o ordenamento jurídico
brasileiro ainda vem adotando a teoria tripartida, no entanto, a teoria bipartida é mais
moderna e alcança com êxito o objetivo de conceituar o crime de forma analítica,
sendo a culpabilidade um elemento a ser analisado posteriormente como fator de
punibilidade.

5. Sobre os sujeitos do crime (ativo e passivo)


Sujeitos do crime são as pessoas ou entes relacionados à prática e aos
efeitos da empreitada criminosa. Dividem-se em sujeito ativo e sujeito passivo.
Sujeito ativo é a pessoa que realiza direta ou indiretamente a conduta criminosa,
seja isoladamente, seja em concurso.

Sujeito passivo é o titular do bem jurídico protegido pela lei penal violada por
meio da conduta criminosa. Pode ser denominado de vítima ou de ofendido, e
divide-se em duas espécies:
 Sujeito passivo constante, mediato, formal, geral, genérico ou indireto: é o
Estado, pois a ele pertence o direito público subjetivo de exigir o cumprimento
da legislação penal.
 Sujeito passivo eventual, imediato, material, particular, acidental ou direto: é o
titular do bem jurídico especificamente tutelado pela lei penal. Exemplo: o
proprietário do carro subtraído no crime de furto.

O Estado sempre figura como sujeito passivo constante. Além disso, pode ser
sujeito passivo eventual, tal como ocorre nos crimes contra a Administração Pública.
A pessoa jurídica pode ser vítima de diversos delitos, desde que compatíveis

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com a sua natureza. Da mesma forma, há diversos crimes que podem ser praticados
contra incapazes, e inclusive contra o nascituro, como é o caso do aborto.
É também possível a existência de sujeito passivo indeterminado. É o que
ocorre nos crimes vagos, aqueles que têm como vítima um ente destituído de
personalidade jurídica. Os mortos e os animais não podem ser sujeitos passivos de
crimes.

Discute-se se a pessoa jurídica pode ser considerada sujeito ativo de crimes.


Para a teoria da ficção jurídica, idealizada por Savigny, a pessoa jurídica não tem
existência real, não tem vontade própria. Apenas o homem possui aptidão de ser
sujeito de direitos. Para os adeptos dessa corrente, é impossível a prática de crimes
por pessoas jurídicas. Não há como imaginar uma infração penal cometida por um
ente fictício. De outro lado, a teoria da realidade, orgânica, organicista ou da
personalidade real, de Otto Gierke, sustenta ser a pessoa jurídica um ente autônomo
e distinto de seus membros, dotado de vontade própria. É, assim, sujeito de direitos
e obrigações, tais como uma pessoa física. É a teoria mais aceita no Direito.

Há duas correntes. A primeira, no sentido da impossibilidade de a pessoa jurídica


ser sujeito ativo de infrações penais. Destacam-se seus argumentos:
 Desde o Direito Romano já se sustentava o postulado societas delinquere non
potest, isto é, a sociedade não pode delinquir;
 A pessoa jurídica não tem vontade própria, e, portanto, não pode praticar
condutas;
 A pessoa jurídica não é dotada de consciência própria para compreender o
caráter intimidativo da pena;
 A pessoa jurídica não é imputável, pois somente o ser humano adquire
capacidade de entender o caráter ilícito de um fato e de determinar-se de
acordo com esse entendimento;
 A pessoa jurídica tem a sua atuação vinculada aos atos relacionados com o
seu estatuto social, aí não se incluindo a prática de crimes;
 A punição da pessoa jurídica alcançaria, ainda que indiretamente, seus
integrantes, ofendendo o princípio constitucional da personalidade da pena;

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 Não se pode aplicar pena privativa de liberdade, característica indissociável
do Direito Penal, à pessoa jurídica.
A segunda corrente pugna pela possibilidade de a pessoa jurídica figurar como
sujeito ativo de crimes, com os seguintes fundamentos:
 A pessoa jurídica constitui-se em ente autônomo, dotado de consciência e
vontade, razão pela qual pode realizar condutas e assimilar a natureza
intimidatória da pena;
 A pessoa jurídica deve responder por seus atos, adaptando-se o juízo de
culpabilidade às suas características;
 A pessoa jurídica possui vontade própria, razão pela qual o Direito Penal a ela
reserva tratamento isonômico ao dispensado à pessoa física;
 É óbvio que o estatuto social de uma pessoa jurídica não prevê a prática de
crimes como uma de suas finalidades. Da mesma forma, não contém em seu
bojo a realização de atos ilícitos, o que não os impede de serem realizados
(inadimplência, por exemplo);
 A punição da pessoa jurídica não viola o princípio da personalidade da pena.
Deve-se distinguir a pena dos efeitos da condenação, os quais também se
verificam com a punição da pessoa física;
 O Direito Penal não se limita à pena de prisão. Ao contrário, cada vez mais a
pena privativa de liberdade deve ser entendida como medida excepcional
(ultima ratio), preferindo-se a aplicação de penas alternativas.

Com a opção pela segunda corrente, pode-se dizer que a Constituição


Federal admitiu a responsabilidade penal da pessoa jurídica nos crimes contra a
ordem econômica e financeira, contra a economia popular e contra o meio ambiente,
autorizando o legislador ordinário a cominar penas compatíveis com sua natureza,
independentemente da responsabilidade individual dos seus dirigentes.

6. Sobre o objeto do crime


É o bem ou objeto contra o qual se dirige a conduta criminosa. Pode ser
jurídico ou material.

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 Objeto jurídico é o bem jurídico, isto é, o interesse ou valor protegido pela
norma penal. No art. 121 do Código Penal, a título ilustrativo, a objetividade
jurídica recai na vida humana.
 Objeto material, de seu turno, é a pessoa ou a coisa que suporta a conduta
criminosa. No homicídio, exemplificativamente, é o ser humano que teve sua
vida ceifada pelo comportamento do agente.

III - Classifique os crimes:


1. Crimes comuns, próprios e de mão própria
Os crimes comuns são aqueles que podem ser cometidos por qualquer
pessoa, como é o caso do homicídio, do roubo, entre outros delitos.

Os crimes próprios (também chamados de especiais) são aqueles em que se


exige uma qualidade ou característica especial do sujeito ativo. Dessa forma,
somente aquele que possui esse elemento especial determinado em lei poderá
praticar esse crime. Exemplo: Infanticídio: art. 123 – Matar, sob a influência do
estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após:

Pena – Detenção, de dois a seis anos.

Dessa forma, quem pode praticar esse crime é a mãe, somente a mãe. No mesmo
sentido, pode-se dizer que esse crime é próprio em relação ao sujeito passivo, vez
que somente poderá ser vítima o filho.

Crimes de Mão Própria, também chamado de crime de atuação pessoal ou


de conduta infungível: são aqueles crimes em que somente uma pessoa
determinada pode praticar a conduta, sendo necessária para isso, ainda,
uma situação especial, e quedando impossível a existência de coautores. Exemplo:
Falso testemunho ou falsa perícia (art.342, CP). Dessa forma, é possível perceber
que somente essa pessoa pode cometer esse crime, ninguém pode fazê-lo por ela
ou junto com ela.

Tabela Comparativa

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Crimes comuns Crimes Próprios Crimes de Mão Própria
Praticados por qualquer Praticados por alguém Praticado por pessoa em
pessoa ou contra com qualidade ou situação determinada e
qualquer pessoa; sem característica especial. numa ocasião especial.
características especiais.

2. Crimes simples e complexos


A classificação se refere à estrutura da conduta delineada pelo tipo penal.
Crime simples: é aquele que se amolda em um único tipo penal. É o caso do furto
(CP, art. 155).
Crime complexo: é aquele que resulta da união de dois ou mais tipos penais.
 Crime complexo em sentido estrito: O crime de roubo (CP, art. 157), por
exemplo, é oriundo da fusão entre furto e ameaça (no caso de ser praticado
com emprego de grave ameaça – CP, art. 147) ou furto e lesão corporal (se
praticado mediante violência contra a pessoa – CP, art. 129).
 Crime complexo em sentido amplo: é o que deriva da fusão de um crime com
um comportamento por si só penalmente irrelevante, a exemplo da
denunciação caluniosa (CP, art. 339), originária da união da calúnia (CP, art.
138).
3. Crimes materiais, formais e de mera conduta
Crimes materiais ou causais: são aqueles em que o tipo penal aloja em seu
interior uma conduta e um resultado naturalístico, sendo a ocorrência deste último
necessária para a consumação. É o caso do homicídio (CP, art. 121). A conduta é
“matar alguém”, e o resultado naturalístico ocorre com o falecimento da vítima,
operando-se com ele a consumação.

Crimes formais, de consumação antecipada ou de resultado cortado: são


aqueles nos quais o tipo penal contém em seu bojo uma conduta e um resultado
naturalístico, mas este último é desnecessário para a consumação.
Exemplo: Na extorsão mediante sequestro (CP, art. 159), basta a privação da
liberdade da vítima com o escopo de obter futura vantagem patrimonial indevida
como condição ou preço do resgate. Ainda que a vantagem não seja obtida pelo
agente, o crime estará consumado com a realização da conduta.

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Crimes de mera conduta ou de simples atividade: são aqueles em que o tipo
penal se limita a descrever uma conduta, ou seja, não contém resultado
naturalístico, razão pela qual ele jamais poderá ser verificado. É o caso do ato 9.1.4.
a) b) obsceno (CP, art. 233) e do porte de munição de uso permitido (Lei
10.826/2003 – Estatuto do Desarmamento, art. 14).

4. Crimes instantâneos, permanentes, de efeitos permanentes e a prazo


Crimes instantâneos: são aqueles cuja consumação se verifica em um
momento determinado, sem continuidade no tempo. É o caso do furto – art.155.

Crimes permanentes: são aqueles cuja consumação se prolonga no tempo,


por vontade do agente. O ordenamento jurídico é agredido reiteradamente, razão
pela qual a prisão em flagrante é cabível a qualquer momento, enquanto perdurar a
situação de ilicitude.
Os crimes permanentes se subdividem em:
 Necessariamente permanentes: para a consumação é imprescindível a
manutenção da situação contrária ao Direito por tempo juridicamente
relevante. É o caso do sequestro (CP, art. 148);
 Eventualmente permanentes: em regra são instantâneos, mas, no caso
concreto, a situação de ilicitude pode ser prorrogada no tempo pela vontade
do agente. Como exemplo pode ser indicado o furto de energia elétrica (CP,
art. 155, § 3.º).

Crimes instantâneos de efeitos permanentes: são aqueles cujos efeitos


subsistem após a consumação, independentemente da vontade do agente.
Exemplo: Bigamia (realização de novo casamento, sem que se tenha dissolvido o
anterior) art. 235°.

Crimes a prazo: são aqueles cuja consumação exige a fluência de determinado


período. Exemplo: sequestro em que a privação da liberdade dura mais de 15 dias
(CP, art. 148, § 1.º, III).

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5. Crimes unissubjetivos, plurissubjetivos e eventualmente coletivos
Crimes unissubjetivos unilaterais, monossubjetivos ou de concurso eventual:
são praticados por um único agente. Admitem, entretanto, o concurso de pessoas. É
o caso do homicídio (CP, art. 121).
Crimes plurissubjetivos, plurilaterais ou de concurso necessário: são aqueles
em que o tipo penal reclama a pluralidade de agentes, que podem ser coautores ou
partícipes, imputáveis ou não, conhecidos ou desconhecidos, e inclusive pessoas
em relação às quais já foi extinta a punibilidade.
Subdividem-se em:
 Crimes bilaterais ou de encontro: o tipo penal exige dois agentes, cujas
condutas tendem a se encontrar. É o caso da bigamia (CP, art. 235);
 crimes coletivos ou de convergência: o tipo penal reclama a existência de três
ou mais agentes.
Eles podem ser:
 De condutas contrapostas: os agentes devem atuar uns contra os outros. É o
caso da rixa (CP, art. 137);
 De condutas paralelas: os agentes se auxiliam, mutuamente, com o objetivo
de produzirem o mesmo resultado. É o caso da associação criminosa – Art.
288°.

OBS: Não se devem confundir:


Crimes plurissubjetivos: são aqueles que só podem ser praticados por duas ou
mais pessoas em concurso, por haver expressa exigência do tipo penal nesse
sentido.
Crime de participação necessária: ocorre quando uma pessoa induz ou instiga
outra a, posteriormente, convencer ou auxiliar o executor a cometer o crime.

6. Crimes de subjetividade passiva única e de dupla subjetividade passiva

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