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1. Definição
Diz-se Direito Criminal ao conjunto de normas jurídicas que fixam os pressupostos de
aplicação de determinadas reacções legais: as reacções criminais, que englobam as
penas e medidas de segurança (Correia, 2010: p. 1).
Segundo Figueiredo Dias chama-se Direito Penal ao conjunto de normas jurídicas que
ligam a certos comportamentos, os crimes, determinadas consequências jurídicas
privativas deste ramo do direito. As consequências jurídicas a que o direito penal prevê
são as penas e as medidas de segurança; sendo a pena do ponto de vista quantitativo
e qualitativo (social) mais grave.
Direito penal é o sistema de normas jurídicas que atribuem aos agentes de certo
comportamento como pressuposto, uma pena ou medida de segurança criminais como
consequência.
A matéria que constitui objecto das nossas aulas é designada Direito Criminal ou
Direito Penal.
Desde que não se perca a consciência da destrinça entre eles. Estes termos, Direito
Criminal e Direito Penal, podem reputar-se equivalentes, são correntemente
empregues como sinónimos. Todavia, por questões metodológicas a nível da nossa
instituição esta disciplina é designada Direito Penal.
1
Alicénia Pensar Abudo/2023
Objecto do Direito penal
No tocante ao seu objecto, tem-se que o direito penal somente pode dirigir os seus
comandos legais, mandando ou proibindo que se faça algo, ao homem, pois somente
este é capaz de executar acções com consciência do fim. Disso resulta a exclusão do
âmbito de aplicação do direito penal de seres como animais, que não têm consciência
do fim do seu agir, fazendo-o por instinto bem como dos movimentos corpóreos
causais, como reflexos, não domináveis pelo homem.
O direito criminal (direito substantivo) em sentido restrito, assim como o próprio Código
Penal, subdivide-se em duas partes, a parte geral e a parte especial.
Importa referir que, a revisão do Código Penal Moçambicano de 1886 contribuiu para o
que poderíamos considerar de “infracção legislativa”. No âmbito da evolução legislativa,
aprovou-se o código Penal Moçambicano pela lei n°35/2014 de 31 de Dezembro e
entrou em vigor no dia 1 de Julho de 2015. Recentemente entrou em vigou o Código
penal aprovado pela lei n°24/2019 de 24 de Dezembro. O código penal encontra-se
dividido em duas partes, a parte geral e a parte especial:
A parte geral está contida no livro primeiro do CP, nos artigos 1 à 158; e a parte
especial, consta do livro segundo do CP, nos artigos 159 à 449. Podemos igualmente
encontrar normas penais na legislação avulsa ou extravagante2.
Importa referir que a parte geral do CP trata das normas penais não incriminadoras,
permissivas3 e explicativas ou complementares4, estipula as partes constitutivas das
infracções penais e de suas sanções, causas de imputabilidade e regras gerais de
fixação da pena, além de prever os princípios comuns de aplicação do direito. Ou seja,
na parte geral definem-se os fundamentos gerais de todo o direito criminal, os
pressupostos de aplicação da lei penal, trata-se da teoria geral da infracção penal, da
responsabilidade criminal e das sanções criminais (penas e medidas de segurança).
2
Maria Helena Diniz define lei extravagante como «Lei esparsa, ou seja, editada isoladamente (...). Em regra,
advém após a promulgação de um código, para completá-lo ou para revogar alguns de seus preceitos relativos à
matéria que a ele diz respeito» Dicionário Jurídico, Vol. 3, pág. 91.
3
São as que excluem a tipicidade ou a antijuricidade do facto, a culpabilidade do sujeito ou a punibilidade do crime.
4
São as que servem a interpretação de outras disposições, uma vez que definem princípios de aplicação de outras.
penas e das medidas de segurança; enquanto a parte especial descreve os delitos e
impõe as sanções.
Historicamente, o direito penal geral é mais recente que o direito penal especial, porque
supõe um maior grau de abstracção, ignorado nas primeiras eras da humanidade.
Já, a parte especial trata da definição legal dos crimes em especial, trata dos delitos
propriamente ditos, estabelecendo o elenco de infraccões. Isto significa que, a
definição legal de crimes em especial não se encontrada na parte geral mas na parte
especial, embora a parte geral contenha algumas normas de extensão como é o caso
das previstas nos artigos 14 e 131 do CP que tratam respectivamente, da figura da
tentativa e do concurso de agentes. Nos dois casos, as normas servem de
complemento das normas penais incriminadoras. Em suma, na parte especial
estabelecem-se os crimes em particular e as consequências jurídicas que estes
acarretam, ou seja, tem por objecto o estudo de cada infracção considerada
isoladamente, a determinação dos crimes ou delitos tendo em atenção os seus
elementos constitutivos e as respectivas penas (ex. aborto, homicídio, roubo, burla,
rapto, branqueamento de capitais, etc).
4. Direito Criminal como ramo do direito público e suas relações com outros
ramos de Direito
Quanto a sua natureza, o Direito criminal é por excelência um ramo do direito público, é
autónomo e criador de ilicitude. Qualquer que seja o critério que se eleja para fixar a
fronteira entre Direito público e Direito privado (critério da natureza dos interesses
protegidos, da qualidade dos sujeitos e da posição dos sujeitos), o DP ter-se-á que
incluir no direito público.
O DP tem por função proteger os valores ou bens jurídicos assumidos pela consciência
ético-social como indispensáveis para a realização pessoal e a convivência
comunitária. Deste modo, a violação desse núcleo fundamental de valores protegidos
pelo Direito Penal constitui uma ofensa a toda a comunidade social, e não apenas em
relação a pessoa em que se tenha concretizado a lesão do bem jurídico.
Ciência penitenciária estuda o regime das penas, isto é, as condições de execução das
penas de forma a assegurar a sua eficácia/ os seus fins.
No que diz respeito sanção, a sanção penal visa reparar o dano causado a ordem
jurídica, já a sanção civil visa reparar o prejuízo/dano individual. A infracção penal dá
lugar a uma acção penal/pública e a infracção civil dá origem a uma acção civil.
Relação entre Direito Criminal e Direito Civil é que alguns conceitos como de coisa,
património, propriedade, família, casamento são utilizados pelos dois ramos do direito.
Bens institutos e relações jurídicas contidas em preceitos do direito privado fazem
objecto de preceitos sancionados penalmente. Além disso, o direito civil e o direito
penal não são separados por uma linha rigorosamente impermeável: factos do direito
civil passa para o direito penal, outros deixam o direito penal e persistem no direito civil,
sendo certo que entre o ilícito civil e o ilícito penal, não há diferença de essência, mas
simplesmente de grau. Se o preceito necessita de mais enérgica protecção passa a
figurar a sanção penal com a respectiva sanção repressiva. Frequentemente um delito
penal é também um delito civil. É o caso do crime de roubo e de ofensas corporais
voluntárias. Nestes casos, os crimes dão lugar a duas acções, nomeadamente a acção
penal/pública e a acção civil. Outrossim,
Criminologia
Delito, delinquente e pena não são estudados exclusivamente sob o ponto de vista
jurídico. Outras ciências com eles se ocupam e, dentre elas a criminologia.
Etimologicamente o termo criminologia deriva do latim crimino (crime) e do grego logos
(tratado ou estudo), seria portanto o "estudo do crime" 5. A criminologia estuda as
causas da criminalidade e propõe soluções para combater a criminalidade.
Criminalística
A Medicina Legal (...) é a Ciência que tem como objectivo o estudo das questões que
se apresentam no exercício profissional do Jurista cuja resolução se fundamenta total
ou parcialmente em certos conhecimentos médicos ou biológicos prévios» (António
Eugénio Zacarias).
5
https://pt.wikipedia.org/wiki/Criminologiaconsultadoem 22/02/2016
Em processos criminais de homicídio. Em caso de morte violenta ou suspeita de
morte violenta, a polícia, o procurador ou juiz podem requerer um exame
médico-legal do cadáver para determinar as circunstâncias e a causa jurídica
da morte da vítima.
Polícia científica, segundo Grispigni, consiste no estudo dos meios sugeridos por
diversas ciências como os mais adequados aos fins da polícia judiciária de
identificação dos agentes e o estabelecimento dos elementos de prova do crime.
Política Criminal
Política criminal é o conjunto de princípios directores que visam orientar a acção das
instituições públicas ou privadas com vista à prevenção da criminalidade. A política
criminal deve ter em conta as implicações económicas das medidas previstas (J. Leroy,
p.78).
Welzel define bem jurídico como “um bem vital do grupo ou individuo, que em razão da
sua significação social é amparado juridicamente”7. Roxin considera bens jurídicos
como “circunstâncias dadas ou finalidades que são úteis para o individuo e seu livre
6
Feuerbach, Lehrbuch, 1803.
7
Betencourt, Cesar Robert, tratado de direito penal : parte geral, vol.1, 13éd., São Paulo : Saraiva, 2008, p.14.
desenvolvimento no marco de um sistema social global estruturado sobre a base dessa
concepção dos fins ou para o funcionamento do próprio sistema”8.
A literatura penal geral emprega as expressões valor e interesse para conceituar bens
jurídicos: valores relevantes para a vida humana individual ou colectiva; valores ou
interesses mais significativos da sociedade.
Jurisprudência
Assentos
10
Aprovado pelo Decreto-Lei nº 1/2011, de 23 de Março; publicado no BR nº 12, 4º Suplemento, de 23 de Março de
2011. Tem uma rectificação publicada no BR nº 17, I Série, de 29 Abril de 2011.
11
Paralelamente cf. a CRM, o poder executivo não pode criar incriminações (criar crimes), nem penas; ele intervém
no estabelecimento de infracções menores tais como as contravenções ;
Quando isto acontece TS reúne-se em Plenária onde toma a sua decisão em forma de
Assento, uniformizando a Jurisprudência contraditória das secções em conflito de
entendimento.
Costume
O costume não constitui fonte de direito criminal pois este baseia-se no princípio da
legalidade, ou seja, o princípio da reserva legal impede que o costume defina crimes,
comine penas ou as agrave. Não pode também derrogar ou ab-rogar a norma penal. O
costume não tem valor criativo, modificativo ou revogatório em DC. O costume não
pode criar novas infracções ou penas, nem modificar as infracções ou penas
existentes. Contudo, não se pode negar valor ao direito consuetudinário, mesmo no
campo da nossa disciplina, o costume pode auxiliar na interpretação da lei. De facto,
ele recorre a questões extrapenais que por vezes devem ser interpretadas em função
do sentido que os usos e costumes progressivamente o atribuíram.
Existem tipos penais que invocam o costume, ao aludirem certos elementos como a
honra, o pudor, a honestidade.
Doutrina
Tratados internacionais
É um acordo de vontades entre dois ou mais sujeitos do Direito Internacional,
formalizada num texto escrito, com o objectivo de produzir efeitos jurídicos no plano
internacional12.
Diogo Freitas do Amaral13 define Princípios gerais de Direito como «as máximas ou
fórmulas, enunciadas de forma condensada, que exprimem as grandes orientações e
valores que caracterizam uma dada ordem jurídica, ou um certo ramo ou sub-ramo do
Direito». Além da função hermenêutica14, os Princípios Gerais do Direito servem a
supressão de lacunas e as omissões da lei penal, possibilitando ao judiciário a
colmatação de tais lacunas- desde que não sejam de natureza incriminadora-
porquanto nesse particular, a lei penal contem uma plenitude (não é lacunosa). Estes
não constituem fonte de DC.
12
https://pt.wikipedia.org/wiki/Tratadoconsultadoem 22/02/2016
13
Manual, pag. 499
14
A hermenêutica jurídica é a parte da ciência jurídica que estuda os processos de interpretação da lei.
Fins das sanções Criminais
Princípios informadores do DC
A integração da lei penal é um conceito fundamental do Direito Penal, que se refere aos mecanismos
pelos quais se preenchem as lacunas deixadas pela legislação penal. Quando uma conduta não está
prevista na lei penal, ou quando há dúvidas sobre a aplicação da norma a um determinado caso concreto,
é preciso recorrer a esses mecanismos para decidir como agir.
O segundo princípio é o da analogia, que permite aplicar uma norma a um caso semelhante ao
que está previsto na lei. Por exemplo, se uma pessoa comete um crime que não está previsto na
legislação, mas que é semelhante a um crime já previsto, é possível aplicar a norma existente por
analogia.
O terceiro princípio é o da equidade, que permite que o juiz decida com base em princípios de
justiça e equidade, mesmo que não haja uma norma clara e específica para o caso. Esse princípio
é aplicado com muita cautela, pois é preciso garantir que a decisão seja justa e não arbitrária.
A integração da lei penal é uma ferramenta fundamental para a aplicação da justiça e para garantir que
ninguém seja punido injustamente. Embora a legislação penal seja abrangente, sempre há situações que
não estão previstas ou que deixam dúvidas sobre a sua aplicação. Nesses casos, é importante recorrer aos
princípios da analogia e da equidade para preencher as lacunas e tomar decisões justas e equilibradas. Os
exemplos apresentados demonstram como a integração da lei penal pode ser aplicada na prática, sempre
com base em critérios de razoabilidade, proporcionalidade e justiça.
Ao lado de uma teoria geral da interpretação, tendo por objecto, principalmente, a consideração do
elemento formal da lei e das suas relações com as outras leis, existem tantas teorias particulares quanto
são os ramos do direito, as que visam, sobretudo, o conteúdo do preceito legal em relação aos
caracteres e aos fins de uma determinada esfera jurídica. Há pois, uma teoria especial de interpretação
da lei penal;
a) Autêntica – Tendo forca obrigatória como a lei, a interpretação autentica desta pertence ao
poder legislativo, como