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Capítulo I
Estruturas elementares do direito penal
1.1 O crime
1. O direito penal é, formalmente, o conjunto de normas que trata, jurídico-
penalmente, os pressupostos, a determinação, aplicação e as consequências
(máxime, as penas e as medidas de segurança) dos crimes e dos “factos”
suscetíveis de desencadearem medida de segurança.
1.2. A pena
O estudo sobre a pena pressupõe que, de início, façamos algumas distinções.
Pois uma coisa é tentar descortinar o fundamento, outra a finalidade e outra
ainda a necessidade quando olhamos e valoramos a pena e o sentido.
Procurar o fundamento é indagar (Procurar; descobrir; averiguar; pesquisar;) dos
“porquês” mais densos que podem justificar a pena. No entanto, se o nosso
horizonte é a finalidade da pena, manifesto se torna, então que os juízos se
enfileirem na lógica do “para quê” e aí se estabilizem. Porém, fácil é de ver que
se arranca do pressuposto de que a pena é uma necessidade- uma inevitável
necessidade, passe o pleonasmo-, isso implica que a reflexão sobre a pena se
confina no seu “se”. Estes três horizontes de compreensão mostram-se, como
se viu, suscetíveis de serem claramente diferenciáveis e diferenciados. Porém
é bom não esquecer que, não poucas vezes, aparecem sobrepostos ou
entrecruzados nas reflexões que se fazem sobre a pena.
Ver pág.18,19,20
27. pág. 21
28. A função direto penal é a de proteger bens jurídicos. Hoje é uma
realidade indesmentível que a função primeira do direito penal é a de defender
ou proteger bens jurídicos que tenham dignidade penal.
34. Temos para nós que uma correta e ajustada compreensão do que
seja a prossecução da proteção de bens jurídicos arrasta, inexoravelmente,
consigo as funções de garantia, de segurança e de coesão. Mas isto é só um
dos lados da realidade. Urge ver e analisar o outro lado. Estas funções,
aparentemente laterais ou acessórias, só ganham ressonância prática, no
momento histórico presente, se se pensar um direito penal a partir de uma ideia
de fragmentação em que cada fragmento da incriminação só tem sentido se
estiver sustentado no pressuposto de, desse jeito, se estar a proteger um
determinado bem jurídico. O que tudo faz que ganhe uma maior ressonância
ou densificação a ideia de que o direito penal exprime uma ordem de liberdade.
Sendo a manifestação primeira do poder punitivo do estado, como tal uma
ordem de repressão, o direito penal é também, por paradoxal que pareça, uma
ordem onde a libertas se tem como estrela polar. Na verdade, a firmação
inequívoca do espaço de liberdade de cada um - de liberdade de
comportamentos e de atitudes, pois é essa que conta no contexto da vivencia
comunitária- só é verdadeiramente atuante se se conceber e agir
reflexivamente a partir de um campo de comportamentos definidos como livres.
A liberdade é um direito que se concretiza e densifica quando sobre ela e a
partir dela somos capazes de aprofundar a nossa própria liberdade, em uma
autorreflexão da liberdade para a liberdade. E para essa autorreflexão é pedra
essencial o direito penal. O paradoxo da liberdade está em ter que se aceitar
um seu limite para se poder ser livre. Esse limite essencial é-nos dado pelo
direito penal ao definir os comportamentos penalmente proibidos. Os únicos
que um estado de direito democrático pode sancionar.
Capítulo 2
Para uma nova “Ciência do Direito Penal Total (Conjunta)”
Aproximação conceitual
12. Porém, fácil é entender que não basta uma tal distinção para se poder ter
exata compreensão das diferenças-diferenças materiais- que intercedem entre
o chamado direito penal “comum” e o direito penal secundário. Urge, por isso,
tentar encontrar um critério material.
13. Os critérios de distinção têm sempre de ser entendidos como
instrumentos provisórios. Mais. Para lá do seu caráter provisório têm ainda eles
que ser vistos-em uma linha de retorno crítico- como categorias operacionais
que nos fazem só atingir resultados tendenciais. Quer, por conseguinte, isto
significar, de maneira categórica, que a linha divisória, o recorte entre o direito
penal “comum” e o chamado direito penal acessório será sempre muito fluído,
quando não, às vezes, indeterminável.
14. (….)
15. A passagem de uma conduta penalmente proibida do direito penal
secundário para o direito penal “comum”(isto é, para o CP) ou vice-versa, é,
principalmente, fruto da maior ou menor ressonância axiológica que os valores-
que aspiram a ser penalmente protegidos-adquirem na ordem jurídica e no
contexto sócio-cultural em que se inserem.
16. (…)
Pense- se por exemplo, na responsabilidade penal das pessoas coletivas que
já adquiriu hoje, uma tal ressonância dogmática que bem se pode afirmar
pertencer ela ao núcleo essencial das atuais e mais pertinentes questões do
direito penal “Clássico”.
17. Algumas restrições atinentes ao ambiente já encontraram expressa
consagração no atual CP (arts.278º a 280º). Ora não é o facto de o próprio CP
ter consagrado normas incriminadoras relativas ao direito penal do ambiente
que afasta a discussão da existência ou não de um direito penal secundário do
ambiente.
19. Pode haver uma pluralidade de áreas incriminadoras a que chamamos
“direito penal secundário”, mas, em nosso modo de ver, isso só ganha mais
sentido, se houver o pilar, o eixo central que o código em si mesmo representa.
Para alem de que os chamados movimentos de criminalização (o legislador
“apaga” totalmente do catalogo dos crimes uma determinada infração) e de
neocriminalização (o legislador cria um novo crime) ganham uma maior
consistência teórica se se puder trabalhar com um pilar, um eixo normativo,
que se chama CP.
25. Os critérios formais existem- e o direito penal faz deles uso em algumas
circunstancias, nomeadamente na determinação da imputabilidade em razão
da idade, art.19º do CP, para só referirmos um dos exemplos mais evidentes-
para que se resolvam questões que impliquem uma clara definição de
fronteiras normativas. Existem, por sobre tudo para afirmação dos princípios
de certeza e da segurança que são, se bem virmos, uma outra face da ideia da
garantia.
(……) ver pag.37
36. É evidente também que a tentativa, no estrito campo do direito penal, sofre,
logo à partida, uma forte restrição quanto à sua punibilidade (art.23º nº1 CP).
Com efeito, em direito penal, a tentativa só é punível, salvo disposição em
contrário, se ao crime consumado respetivo corresponder pena superior a 3
anos. O que vale por dizer, então duas coisas. Em primeiro lugar: se estamos
perante infrações puníveis com pena superior a 3 anos a tentativa é sempre
punível. Em segundo lugar que, se as infrações forem puníveis com inferior a 3
anos vale o principio do enunciação taxativa e formal. Isto é: a tentativa, nessas
circunstancias, só é punível quando a lei expressamente o determinar,
surgindo, assim, neste contexto, um afloramento do principio do numerus
clausus.
37. Neste sentido, pode afirmar-se, tal como se faz com a negligencia quando
olhamos para o direito penal ou mesmo para o direito de mera ordenação
social, tem carater excecional.
Se as infrações contraordenacionais tem uma finalidade de ordenação e
de promoção de ordenação, não é, então incorreto poder afirmar-se que a
tutela que se desenvolve tem muito de antecipação à eventual violação, real e
efetiva, por exemplo, um bem jurídico-penal (partindo do principio que o direito
de ,era ordenação social também tem por função proteger bens jurídicos.
Se, por exemplo, o direito estradal obriga os condutores em certas
circunstâncias a não passarem determinada velocidade sob pena de
praticarem uma precisa contraordenação, poderá, pois dizer, se que o bem
jurídico protegido será o de evitar a prática de acidentes, ou de uma forma
positiva, o de ordenar ou potenciar a ordenação de trafego rodoviário. Ver
exemplo pág.44
Capítulo 3
O Âmbito de Aplicação do Direito Penal
3.1. No tempo
2. O direito independentemente da natureza ou função que se lhe atribuísse,
era visto como um real duradouro e era, do mesmo jeito, o cimento agregador
que permitiria aquele mínimo de coesão social- que só pode acontecer em um
determinar arco de tempo com uma extensão substancial- indesmentivelmente
necessário a qualquer consolidação comunitária.
4. Alterações ao código Penal…
Pág. 86,87
31.3. A prescrição
22. Uma outra forma de relacionação entre o direito penal e o tempo encontra-
se no instituto da prescrição.
O instituto da prescrição (art.118º CP) do procedimento criminal reveste uma
natureza preponderamente material e não processual ou adjetiva, não porque
constitua uma causa de anulação de pena mas porque contendem diretamente
com os direitos do arguido.
24. A prescrição do procedimento criminal não se identifica dogmaticamente
com uma causa de exclusão da ilicitude ou da punibilidade, mas sim, em todo o
caso, com uma “causa de afastamento da punição”, o que reforça a sua
natureza substantiva. Por outras palavras, o agente deverá saber à partida que
a sua conduta é punida com determinada pena, mas que existe um limite de
tempo-e qual seja este limite- em que o seu comportamento criminal pode se
perseguido penalmente.
25. A existência de regulamentação da prescrição assenta em uma ideia de
paz jurídica de tonalidade social. Em outro registo diríamos que entre as razoes
que militam no sentido da prescrição do procedimento criminal está aquela que
se expressa na diluição da censura comunitária traduzida no juízo de culpa.
Todavia, o instituto da prescrição, não obstante se relacionar com a passagem
do tempo e o direito penal, tem um lugar dogmático próprio e deverá ser na
altura devida que o trataremos mais aprofundadamente, deixando apenas aqui
a sua ilustração, enquanto manifestação da relação entre o direito e o tempo.
3.2. No espaço
3.21 Princípios Gerais
O direito penal deve- se cingir positiva e negativamente ao chamado território
nacional pertencente a um estado (estado nação).
Positivamente, porque assume a ideia forte de que toda e qualquer infração
penal praticada, por quem quer que seja, em seu domínio territorial, é ao
Estado-nação-território que compete punir.
Negativamente, porque em atitude simétrica aceita, sem resto, que, quando os
seus cidadãos praticarem infrações em outros Estados, não é o estado de
origem destes que tem obrigação de os punir. Esta é, em síntese, a estrutura
normativa e de valoração que subjaz a toda arquitetura ou desenho do
chamado principio da territorialidade da aplicação da lei penal no espaço.
28. (…)
29. O CP consagra o principio geral da territorialidade no art.4º alínea a), nos
termos do qual a lei penal portuguesa é aplicável a factos praticados em
território português, seja qual for a nacionalidade do agente.
30. De entre as razoes que militam para a preferência de muitas legislações
nacionais- de que a nossa não é exceção-para adoção deste principio
queremos salientar duas.
Uma primeira que se prende com a ideia de evitar conflitos de competência dos
diferentes Estados e uma segunda relacionada com o afirmar da própria
soberania dos Estados na aplicação dos valores considerados fundamentais.
(…) a conflitualidade, particularmente, por causa de territórios, entre esses
Estados mónadas só podia ser resolvida pela via diplomática ou, em ultima
instancia, pelo discurso de guerra.
32. para que possamos aferir se um facto foi, ou não, praticado em território
português, é imperioso que apuremos qual o locus delicti.
Sobre o lugar da prática do facto diz-nos o atual nº1 do artigo 7º do CP
português o seguinte:” O facto considera-se praticado tanto no lugar em que,
total ou parcialmente, e sob qualquer forma de comparticipação, o agente
atuou, ou, no caso de omissão, devia ter atuado, como naquele em que o
resultado típico ou o resultado não compreendido no tipo de crime se tiver
produzido”.
33. Como resulta da formulação desta norma, o legislador, aqui, adotou uma
solução mista, também designada por plurilateral. Queremos com isto significar
que não deu primazia ao critério da ação sobre o critério do resultado, nem
vice-versa. O lugar da prática do facto é tanto aquele da conduta como
aqueloutro da produção do resultado, sendo ambos os critérios igualmente
válidos e de valor equivalente. O motivo que levou o legislador a consagrar
esta solução prende-se com uma necessidade de evitar lacunas de
punibilidade que derivariam da adoção de diferentes critérios por diferentes
Estados. Basta pensarmos que se fosse apenas adotado o critério do
resultado, muitos crimes cuja ação tivesse decorrido em Portugal- e cujo
resultado se tivesse produzido em outros Estados- não poderiam ser punidos.
34. por outro lado, é fácil de perceber que esta formulação contida no artigo 7º
nº1, tem todo o sentido para atos criminosos, relativamente a crimes de
resultado, em que se possa fazer uma qualquer distinção, ainda que mínima,
entre ação e o resultado. Não obstante, quando há uma coincidência absoluta
entre a ação e o resultado que, para mais, se produz a milhares de Km de
distancia, a resolução do problema não aparenta ser assim tao simples.
Invoquemos um exemplo extraído das possibilidades que encerra a realidade
atual.
Se A, que esta em lisboa, consegue entrar ilegitimamente, através de um
servidor de Londres, na rede informática de um hospital dessa cidade a aceder
à monitorização dos serviços de cuidados intensivos e aí desligar o computador
das funções vitais a que estava ligada a pessoa que queria matar, provocando,
desse jeito, a morte de B, onde é que se pratica a morte de B?
Naturalmente que se poderá sempre afirmar que um dos dois lugares será
pertinente como lugar da prática do facto. Mas este exemplo por nós hipotizado
demonstra, também, que as estruturas da cognição se alargaram a
potencialidades quase infinitas, e a prótese que o computador representa +e,
não só um repositório ou instrumentum de informação inerme mas é também e
por sobre tudo um alargamento da esfera de cognição e da esfera do agir
humanos. Ora como ninguém desconhece, sempre que o homem tem
possibilidade de estender a sua capacidade de agir relativamente a outras
áreas ou setores fá-lo em total plenitude. Fá-lo também para praticar crimes. É
essa a sua natureza. Razão pela qual- e apesar da indubitável utilidade da
adoção da solução mista no artigo 7º nº1 do CP-pensamos que urge uma
redefinição daquilo a que a dogmática penal chama de lugar da prática da
infração. Sejamos claros. É um facto que a ação foi praticada em Portugal, só
que o resultado desvalioso teve lugar em Inglaterra. Será que, sem mais,
Inglaterra não terá qualquer coisa a dizer, para que não restem dúvidas.
35. Para efeitos da aplicação do critério da ação, basta que qualquer um dos
participantes tenha atuado em determinado lugar. Adensando mais um pouco:
para que seja aplicável a lei portuguesa basta que qualquer um dos
participantes tenha atuado em Portugal. Pelo prisma do critério do resultado, a
lei portuguesa considera-se aplicável quando o facto, resultante da ação de
qualquer participante-ainda que esta ação tenha tido lugar no estrangeiro- se
verifique em Portugal.
36. ainda que duas notas quanto ao nº1 do artigo 7º do CP. Desde logo, e em
consonância com o artigo 10º, para efeitos do critério da ação é também
abrangida a omissão adequada a evitar determinado resultado.
Por outro lado, iremos referir-nos ao “resultado não compreendido no tipo de
crime”. Explicação pág. 99 e 100- não importante
37. existe ademais uma extensão ou alargamento do principio da
territorialidade que podemos encontrar na alínea b) do art. 4º CP de acordo
com a qual “a lei portuguesa é aplicável a factos praticados a bordo de navios
ou aeronaves portuguesas”. Trata se da consagração do denominado critério
pavilhão.