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CURSO DE
JUIZ DE GARANTIAS
ANGOLA
MANUEL SIMAS SANTOS
Manuel Simas Santos Abril, 2023
INTERVENIENTES E SUJEITOS
PROCESSUAIS
Manuel Simas Santos Abril, 2023
3 INTERVENIENTES PROCESSUAIS
• “Lato sensu”, os intervenientes processuais são todos aqueles que, a qualquer título, têm
intervenção ou participação no processo penal.
• Sujeitos processuais, são, deles, só os que, de uma forma activa, dão andamento ao processo,
impulsionando-o e impondo-lhe um rumo, ou seja, tão só os participantes que podem influenciar a
sua tramitação, exercendo uma função orientadora ou determinante do mesmo.
5 SUJEITOS PROCESSUAIS
• Aqueles que têm intervenção decisiva no processo, os que podem de algum modo
interferir no seu andamento e traçar-lhe o rumo ou o seu destino.
• Só os que de algum modo têm intervenção determinante no processo, como o juiz, o M.°
P.° e o arguido.
• Em relação ao juiz, há quem, reconhecendo a sua função fundamental e determinante em
muitos momentos, num sistema de estrutura acusatória, o veja, antes, como um “ente
superior”, uma entidade “super partes”, vigilante da legalidade, a quem cabe declarar o
direito em cada caso concreto.
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• O Juiz de Garantias interage com outros sujeitos, como o defensor e assistente. ASSIM:
• O assistente, auxiliar do M.° P.° e a ele processualmente subordinado (art.° 58.°, n. os 1 e 2), a
quem a lei conferiu vários poderes: requerer a instrução contraditória por factos pelos quais
o M.° P.° não tenha formulado acusação [art.° 332.°, n.° 4, al. b)] e de interpor recursos,
mesmo ante o silêncio do M.° P.° [art.° 62.°, al. d)].
7 O JUIZ
• O Juiz destaca-se entre os sujeitos processuais, a lei atribui-lhe a função de julgar: a jurisdição,
o poder ou faculdade de decidir as causas penais, absolvendo ou condenando os arguidos sujeitos ao seu
julgamento.
• O exercício desse poder cabe exclusivamente aos Tribunais, através dos juízes (art.º 174.º da
CRA e 9.º do CPP), com os limites da lei e do direito (art. os 175.º da CRA e 9.º, n.º 1 do CPP).
• Já a competência é a parcela de jurisdição que cabe a cada tribunal, e é determinada, primeiro, pela
CRA (art.os 176.º e segts), depois pelo CPP e, finalmente, pelas leis de Organização Judiciária
(art.º 9.º do CPP).
• É a actividade de administração da justiça penal exercida pelos Tribunais.
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• A jurisdição penal está repartida pelos Tribunais Judiciais de 1.ª Instância pelas Relações e
pelo Tribunal Supremo.
• Os Tribunais Judiciais de 1.ª Instância funcionam, quanto à sua estrutura, como tribunal
colectivo ou como tribunal singular (a instrução contraditória funciona só em singular).
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• O CPP estipula a competência dos juízes no art.º 12.º e hoje o art.º 334.º, n.º 1, prescreve que «[a]
instrução contraditória é presidida pelo Juiz de Garantias».
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10 O JUIZ
• Compete-lhe:
• – exercer, na fase de instrução preparatória, todas as funções que lhe são atribuídas pelas
disposições do CPP;
• Competência:
• Competência:
• No âmbito da instrução contraditória
• – funções jurisdicionais relativas à instrução contraditória (art. os 334.º e segs);
•Começa, assim, o art.º 12.º por referir os «juízes a exercer, na fase de instrução
preparatória, todas as funções que lhe são atribuídas pelas disposições do presente Código», assim
introduzindo, na sua versão originária, sem o nomear, o juiz de garantias.
•Mas. essa designação só aparece, com alguma clareza, no texto originário, quando o
art.º 313.º enumera os «actos a praticar pelo juiz de garantias», seguida do elenco, elaborado
pelo art.º 314.º, dos actos a autorizar pelo juiz das garantias.
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• Face ao texto originário do Código, nesta primeira aproximação, teriamos, pois, o juiz das
garantias como aquele que, durante a fase da instrução preparatória, exerce a função
jurisidicional: «todas as funções que lhe são atribuídas pelas disposições do Código de Processo
Penal».
• Mas, o juiz de garantias não era, na economia do CPP, então, o único “juiz de garantias”,
no sentido conceptual, pois da noção inicial e provisória avançada resultava a sua
limitação à instrução preparatória, sendo que sempre se imporia, face ao próprio art.º 12.º,
o asseguramento das garantias na instrução contraditória, que era inicialmente atribuído,
não ao juiz de garantias, mas ao juiz que procedesse à instrução contraditória.
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• Na verdade, no texto originário do CPP, o juiz de garantias não foi caracterizado de forma suficiente.
• O CPP refere-se não só à competência dos tribunais, mas também dos juízes e quando se lhes refere juízes entre os
intervenientes processuais (art.º 12.º), só os distingue , em razão da competência, elencando-os nos seguintes termos:
• – Juízes a exercer, na fase de instrução preparatória, as funções atribuídas pelo Código [al. a)];
• – Juízes a proceder à instrução contraditória com os poderes de direcção, de organização dos trabalhos e
disciplinares do juiz na fase de julgamento [al. b)];
• – Juízes a proferir despacho de pronúncia ou de não pronúncia do arguido ou despachos equivalentes [al. c)];
• – Juízes a praticar quaisquer outros actos permitidos ou impostos por lei [al. f)], no que inclui a execução das
penas, omitida nas alíneas anteriores.
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•Nestes casos era deferida (n.º 3 do art.º 313.º) ao juiz de garantias da Comarca mais
próxima da mesma província judicial, como também o é quando o nomeado ou designado
estivesse impedido, a prática dos seguintes actos: (– aplicar medidas de coacção e de
garantia patrimonial; – proceder ao primeiro interrogatório judicial de arguido detido; –
ordenar buscas nos estabelecimentos referidos no n.º 2 do art.º 213.º)
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• Como sustentamos em Outubro de 2021, no curso on line sobre o novo CPP organizado pelo
ILDC em colaboração com a AJA que seria desejável que «a nomeação do juiz de garantias
recaísse sobre o juiz de instrução, assim se alcançando uma desejável unificação».
• A alteração do CPP, pela Lei n.º 14/22, de 25 de Maio, ao modificar o art.º 313.º, n.º 1, que
passou a dispor, densificou a noção de Juiz das Garantias: «1. [é] Juiz de Garantias, para efeitos
do presente Código, o Juiz nomeado ou designado para praticar os actos previstos no número seguinte,
bem como para presidir à instrução contraditória e proferir o despacho de pronúncia ou de não
pronúncia». Acrescentando, no agora n.º 2, al. a), à medidas de coacção pessoal, a menção a
medidas de garantia patrimonial, como se fez já menção.
• E, no art.º 334.º, n.º 1, determinou que a instrução contraditória é presidida pelo Juiz de
Garantias.
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• A Lei n.° 39/20, que aprovou o CPP (art.º 1.º) dispôs, no n.º 1 do art.º 4.º, referente à
transição, que o M.º P.º cessa o exercício das competências atribuídas aos juízes de
garantia pelo Código, logo que estes entrem em funções.
• Entretanto, entrou em vigor a 29-08-2022, da Lei n.º 29/22 (art.º 111.º) – LOFTJC (Lei
Orgânica sobre a Organização e Funcionamento dos Tribunais da Jurisdição Comum), que
revogou a Lei n.º 2/15, de 2 de Fevereiro, e a Lei n.º 4/22, de 17 de Março (Lei das
Secretarias Judiciais e Administrativas) (art.º 109.º) e dispôs sobre o Juiz de Garantias nas
instâncias e no Tribunal Supremo.
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19 COMARCAS
• – o exercício das funções de Juiz de Garantias, nos Tribunais de Comarca, não deve exceder o
período de 3 anos consecutivos, a não ser que a conveniência de serviço imponha solução diversa
(n.º 4);
• – O quadro de Juízes de Garantia, que integra o Tribunal de Comarca, é definido pelo Conselho
Superior da Magistratura Judicial, em função do volume processual da respectiva Comarca (n.º 5).
• (*) Art.º 61.º da LOFTJC – Compete à Sala Criminal: (a) preparar e julgar os processos-crime não atribuídos a outras Salas;
(b) cumprir as cartas rogatórias e precatórias que lhe sejam dirigidas; (c) exercer as funções jurisdicionais nas fases
anteriores ao julgamento nos processos penais; (d) exercer as demais competências estabelecidas por lei.
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20 COMARCAS
• A mesma lei dedica o Capítulo VII aos Juízes de Garantia, reafirmando a sua competência
(n.º 1 do art.º 74.º):
• – proceder à instrução contraditória no processo-crime;
21 COMARCAS
• Quanto à competência territorial dos Juízes de Garantia remete para o CPP sobre a matéria, salvo nas
situações, previstas na lei, em que a instrução preparatória no processo-crime compete à Direcção
Nacional de Investigação e Acção Penal (n.º 2 do art.º 74.º). (*)
• (*) Estatuindo sobre casos especiais de competência, dispõe-se no n.º 1 do art.º 75, da LOFTJC que a competência do n.º 1 do
art.º 74.º, quando o julgamento da causa em primeira instância pertencer ao Tribunal Supremo ou ao Tribunal da Relação,
cabe aos Juízes designados para o exercício de funções de Juiz de Garantia nestes Tribunais, nos termos da Lei Orgânica;
mas, quando a instrução preparatória no processo-crime pertencer à Direcção Nacional de Investigação e Acção Penal, a
competência a que se refere o n.º 1 do artigo anterior cabe ao Juiz de Garantia que funciona junto desse órgão, o que se nos
afigura um duvidoso entorse do foro especial que assiste ao magistrado visado, quanto à intervenção do juiz de garantias
específico.
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22 COMARCAS
• Serviço de Apoio Processual aos Juízes de Garantia (art.º 76.º), em cada comarca:
23 COMARCAS
• – a distribuição dos processos aos Juízes de Garantia é feita pela UAP, sob a
presidência de um deles, mediante escala de turnos mensal entre os mesmos (n.º 3);
• – o quadro dos oficiais de justiça da UAP é estabelecido na Lei das Secretarias Judiciais
e Administrativas, para responder às necessidades (n.º 5).
24 COMARCAS
• No que se refere à entrada de expediente, saída de processos, livros e arquivo, bem como às
regras para o arquivo de processos aplicam-se as disposições estabelecidas na Lei das
Secretarias Judiciais e Administrativas, devidamente adaptadas (art.º 77.º).
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25 COMARCAS
• PAULO HENRIQUES, (O Juiz de Garantias em Angola, 2.ª ed., págs 176-177) suscita a questão de saber se a
proximidade, em termos de espaço físico (ao nível dos Tribunais de Comarca), não
propicia uma pré-convicção entre o Juiz de Garantias e o futuro juiz da fase de julgamento,
e assim colocar em questão o princípio da imparcialidade e pergunta se não seria mais
adequado o seu funcionamento numa instância separada do Tribunal de Comarca, como
seria o caso, v.g. de um juizado das garantias?
• Compreende-se perfeitamente a questão colocada, embora o sistema de apoio aos Juízes
de Garantias não sendo muito sofisticado, possa garantir a necessária autonomia e eficácia
e a integração destes magistrados judiciais no Tribunal da Comarca, se houver o cuidado
devido na implementação dos Juízes de Garantias: com espaço próprio no tribunal da
Comarca, para si e para o Gabinete de Apoio.
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27 TRIBUNAL SUPREMO/RELAÇÕES
• Quanto ao Tribunal Supremo, as funções de Juiz de Garantia são exercidas pelos Juízes
Conselheiros da Câmara Criminal (n.º 1 do art.º 19.º):
• – rotativamente, por todos os Juízes da Câmara, por mandatos de um ano, iniciando-se por
aqueles que nela exerçam funções há mais tempo;
• – o Juiz que pratique qualquer acto no processo como Juiz de Garantia não pode intervir na
fase de julgamento do mesmo processo;
• – são designados, em cada ano judicial, pelo menos, dois Juízes de Garantia.
• Nas Relações aplicam-se, com as devidas adaptações, as regras do T. Supremo, mas aqueles
Tribunais não têm competência para julgamento em 1.ª Instância (n.º 2 do art.º 19.º da
LOFTJC), o que torna incompreensivel a norma e desnecessária a sua nomeaçâo
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• Cautelarmente (face a uma hipótese remota em que não se crê) diga-se que os juízes de
garantias no T. Supremo e nas Relações nunca poderá caber o conhecimento de recursos
de decisões de Juízes de Garantias, pois que:
• - a função de juiz de garantias é sempre de primeira instância e não de instância de
recurso;
• - os recursos são decididos em colectivo.
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29 CONFLITOS DE COMPETÊNCIA
• Incompetência é a falta de poder para apreciar e julgar, ou seja, a ausência, por parte de
determinado órgão jurisdicional, daquela parcela de jurisdição indispensável para ajuizar de um concreto
evento criminal.
• É um incidente que assenta em cinco bases: (i) – iniciativa; (ii) – prazo; (iii) – ritologia; (iv) –
decisão; e (v) – efeitos.
• A iniciativa para o desencadear (art.º 27.º), pode decorrer de requerimento feito pelo M.° P.°,
pelo arguido ou pelo assistente (a pedido) (n.º 1), ou partir do próprio tribunal (via oficiosa)
(n.° 2).
• A declaração de incompetência tem um prazo limite: até ao trânsito em julgado da decisão
final (art.° 27.°, n.° 1, parte final).
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30 CONFLITOS DE COMPETÊNCIA
31 CONFLITOS DE COMPETÊNCIA
32 CONFLITOS DE COMPETÊNCIA
• Não diz a lei o é por acto urgente. Pensamos que é o acto que, se não realizado num
determinado momento, corre o risco se perder oportunidade, com prejuízo óbvio para o bom
conhecimento da causa.
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• 73-75
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35 IMPEDIMENTO
• O juiz é inábil para intervir e decidir em determinado processo por força da lei, tendo em vista as suas
relações de proximidade com o próprio caso a resolver – situações enumeradas nos art.os 35.º e 36.º.
36 IMPEDIMENTO
• – impedimentos com origem na ligação familiar ou equiparada do juiz com outros juízes intervenientes no mesmo processo — caso
da al. d), do n.º 1;
• – impedimentos por participação em processo: o juiz não pode intervir em julgamento, recurso ou pedido de revisão relativos
a processo em que tiver: (i) intervindo como M.° P.°, membro de OPC, perito, testemunha, defensor ou advogado do
assistente ou da parte civil; (ii) procedido a interrogatório do arguido; presidido à instrução contraditória; proferido
despacho de pronúncia ou de não pronúncia ou despacho a rejeitar a acusação ou a ordenar que os autos sejam conclusos
ao juiz da causa para ser designado dia para julgamento; (iii) participado em julgamento, decisão de recurso ou revisão
anteriores; (iv) intervindo nas funções de fiscalização judicial de garantias em instrução preparatória (art.º 36.º).
• Esta hipótese é, em rigor, de incompatibilidade, ocorrendo quando o juiz intervém em tribunais colectivos ou em instância de
recurso.
• Mas pode também suceder quando actua individualmente, como é o caso em que tenha intervindo no processo como juiz de
instrução o seu cônjuge ou pessoa que com ele viva em condições análogas).
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37 IMPEDIMENTO
• – impedimentos com origem na ligação familiar ou equiparada do juiz com outros juízes intervenientes no mesmo
processo — caso da al. d), do n.° 1;
• – impedimentos por participação em processo: não pode o juiz intervir em julgamento, recurso ou pedido de
revisão relativos a processo em que tiver: intervindo como M.° P.°, membro de OPC, perito, testemunha,
defensor ou advogado do assistente ou da parte civil; procedido a interrogatório do arguido; presidido à
instrução contraditória; proferido despacho de pronúncia ou de não pronúncia ou despacho a rejeitar a
acusação ou a ordenar que os autos sejam conclusos ao juiz da causa para ser designado dia para
julgamento; participado em julgamento, decisão de recurso ou revisão anteriores; intervindo nas funções de
fiscalização judicial de garantias em instrução preparatória (art.° 36.°).
• Esta hipótese é, em rigor, de incompatibilidade, ocorrendo quando o juiz intervém em tribunais colectivos ou em
instância de recurso. Mas pode também suceder quando actua individualmente, como é o caso em que tenha
intervindo no processo como juiz de instrução o seu cônjuge ou pessoa que com ele viva em condições análogas).
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38 IMPEDIMENTO
•O juiz fica então obrigatoriamente impedido de intervir no pleito (corpo do n.º 1 do art.º 35.º
e corpo do art.º 36.º), tendo o dever de se declarar impedido (art.º 38.º, n.º 1).
•Isso não impede que o incidente possa também ser suscitado por entidades estranhas ao
juiz (v.g., pelo M.º P.º, pelo arguido, pelo assistente ou pela parte civil), como resulta do n.º
2 do art.º 38.º.
• Se, entretanto, o juiz impedido tiver praticado no processo qualquer acto processual, o
acto será nulo, a não ser que já não possa ser repetido e se verificar que o seu
aproveitamento não interfere com a justiça da decisão que vier a ser proferida ou quando
a repetição for irrelevante (art.º 39.º).
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39 IMPEDIMENTO
• – É irrecorrível o despacho em que o juiz se declara impedido (art.º 40.º, n.º 1);
• – É recorrível o despacho em que o juiz se não declara impedido perante requerimento que nesse sentido
lhe foi formulado (art.º 40.º, n.º 2);
• — no caso de despacho recorrível a decisão cabe ao tribunal imediatamente superior (art.º 40.º, n.º
2); ao TS, sem intervenção do visado, quando o impedimento tiver sido oposto a um juiz desse
Tribunal (art.º 40.º, n.º 3);
• – o recurso tem efeito suspensivo, o que não prejudica a realização dos actos urgentes pelo juiz visado, se
tal for considerado indispensável (art.º 42.º, n.º 4).
• Uma vez declarado ou reconhecido o impedimento, o juiz impedido remete imediatamente o processo ao
juiz que, nos termos da lei em vigor, o substituir.
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40 SUSPEIÇÃO
•Há suspeição quando, face às circunstâncias do caso concreto, for de supor que existe
motivo sério e grave susceptível de gerar desconfiança sobre a imparcialidade do juiz se este vier a
intervir no processo, nomeadamente, a sua intervenção em outros processos ou em fases ou actos do
mesmo processo, fora dos casos abrangidos pelos impedimentos previsto no art.º 35.º.
• – recusa do juiz; ou
• – sua excusa.
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41 RECUSA
• O juiz não se pode declarar voluntária e oficiosamente suspeito, mas não está impedido de lançar
mão do mecanismo previsto no art.º 46.º (n.º 2 do art.º 44.º).
/…
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42 SUSPEIÇÃO
• Se o juiz entender que se verificam factos que possam constituir fundamento de recusa
(art.º 43.º), e gerar desconfiança sobre a sua imparcialidade pode declará-los e dá-los a
conhecer, por despacho, notificando o M.° P.°, o arguido, o assistente e a parte civil para em
de 8 dias deduzirem, querendo, contra si, suspeição.
• Se a suspeição for deduzida e oposta ao juiz com fundamento no despacho do juiz,
considera-se reconhecida e declarada a suspeição. Se não o for, não pode ser deduzido
incidente com o mesmo fundamento pelos sujeitos processuais notificados para o efeito.
Antiga provocatio ad agendum ?
• A decisão é sempre de um tribunal superior: imediatamente superior ou o Tribunal
Supremo, se se tratar de juiz pertencente a este tribunal, e assenta em motivo sério e grave que
faça suspeitar de que, a intervir o juiz, possa não actuar com imparcialidade (art.° 43.°, n.° 1).
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•Motivo sério e grave? Não é qualquer banal motivo, abstractamente avaliado que
pode fazer desencadear os instrumentos de ataque a uma eventual situação de suspeição.
•Unanimemente entende a Jurisprudência portuguesa, «a seriedade e gravidade do
motivo ou motivos causadores do sentimento de desconfiança sobre a imparcialidade do
juiz têm de ser consideradas objectivamente, não bastando um puro convencimento
subjectivo por parte do M.° P.°, arguido, assistente ou parte civil, ou do próprio juiz da
escusa, para que se possa ter por verificada a ocorrência da suspeição». (sublinhado nosso).
•«É a partir do senso e experiência comuns que tais circunstâncias devem ser
ajuizadas», pelo que «a simples e normal amizade com um dos sujeitos processuais não é
causa séria e grave de suspeição que legitime a recusa ou a escusa». /….
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• No caso dos impedimentos, os actos realizados pelo juiz impedido são, em princípio, nulos
(art.° 39.°, n.° 1), o que não é prescrito para o caso das suspeições.
• O pedido de recusa ou de escusa tem que ser formulado em prazos determinados (art.° 45.°) e
esse prazo depende do momento processual em que o pedido é deduzido, no que aqui importa:
— até ao início do debate instrutório — se o processo se encontrar na fase de instrução contraditória
(n.° 1);
• Excepcionalmente o pedido pode ser apresentado em prazos diferentes, isto nas situações
contempladas no n.° 3 do art.° 45.°, podendo requerer-se, no que aqui importa, recusa ou
escusa:
• – até ao despacho de pronúncia ou não pronúncia — quando os factos fundamentadores tiverem
ocorrido ou tiverem sido conhecidos pelo invocante após o início do debate instrutório;
• Na tramitação do incidente e à decisão são de observar as regras constantes do art.° 45.°.
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DEONTOLOGIA
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PRINCÍPIOS DE
BANGALORE
CONDUTA JUDICIAL
HAIA
2002
PROJETO DE CÓDIGO JUDICIAL EM ÂMBITO GLOBAL, CONSTRUÍDO A
PARTIR DE OUTROS CÓDIGOS E ESTATUTOS, NACIONAIS, REGIONAIS E
INTERNACIONAIS, ENTRE OS QUAIS A DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS
DIREITOS HUMANOS, DA ONU, QUE PREVÊ UM JULGAMENTO
IGUALITÁRIO, JUSTO E PÚBLICO, POR TRIBUNAL INDEPENDENTE E
IMPARCIAL, PRINCÍPIO ACEITE PELOS ESTADOS-MEMBROS
Princípio
• A independência judicial é um pré-requisito do estado de Direito e uma garantia
fundamental de um julgamento justo.
• Um juiz, consequentemente, deverá apoiar e ser o exemplo da independência
judicial tanto no seu aspecto individual quanto no aspecto institucional.
APLICAÇÃO
• 1.1 Um juiz deve exercer a função judicial de modo independente, com base na
avaliação dos fatos e de acordo com um consciente entendimento da lei, livre de
qualquer influência estranha, induções, pressões, ameaças ou interferência, direta ou
indireta de qualquer organização ou de qualquer razão.
• 1.2 Um juiz deverá ser independente com relação à sociedade em geral e com relação
às partes na disputa que terá de julgar.
• 1.3 Um juiz não só deverá ser isento de conexões inapropriadas e influência dos ramos
executivo e legislativo do governo, mas deve também parecer livre delas, para um
observador sensato.
• 1.4 Ao desempenhar a função judicial, um juiz deverá fazê-lo de modo independente
dos colegas quanto à decisão que é obrigado a tomar independentemente.
• 1.5 Um juiz deve encorajar e garantir proteção para a exoneração das obrigações
judiciais de modo a manter e fortalecer a independência institucional e operacional
do Judiciário.
• 1.6 Um juiz deve exibir e promover altos padrões de conduta judicial de ordem a
reforçar a confiança do público no Judiciário, a qual é fundamental para manutenção
da independência judicial.
VALOR 2
IMPARCIALIDADE
Princípio
• A imparcialidade é essencial para o apropriado cumprimento dos deveres do
cargo de juiz. Aplica-se não somente à decisão, mas também ao processo de
tomada de decisão
APLICAÇÃO
Princípio
• A integridade é essencial para a apropriada desincumbência dos deveres do
ofício judicial
APLICAÇÃO
Princípio
• A idoneidade e a aparência de idoneidade são essenciais ao desempenho de
todas as atividades do juiz
APLICAÇÃO
Princípio
• Assegurar a igualdade de tratamento de todos perante os tribunais é essencial
para a devida execução do ofício judicial
APLICAÇÃO
• 5.1 Um juiz deve ser ciente e compreensivo quanto à diversidade na sociedade e às diferenças que
surgem de várias fontes, incluindo (mas não limitadas à) raça, cor, sexo, religião, origem nacional,
casta, deficiência, idade, estado civil, orientação sexual, status social e econômico e outras causas
(“razões indevidas”).
• 5.2 Um juiz não deve, no desempenho dos deveres judiciais, manifestar, por palavras ou conduta,
parcialidade ou preconceito dirigido a qualquer pessoa ou grupo com base em razões indevidas.
• 5.3 Um juiz cumprirá os deveres judiciais com a apropriada consideração para com todos, tais
como as partes, testemunhas, advogados, funcionários da corte e outros juízes, sem fazer distinção
fundada em qualquer motivo irrelevante ou secundário para a devida execução de tais obrigações.
• 5.4 Um juiz não deve deliberadamente permitir que os funcionários do tribunal
ou outros, sujeitos à sua influência, direção ou controle, discriminem, em
qualquer grau, pessoas envolvidas em um problema submetido a seu
julgamento.
• 5.5 Um juiz deve pedir aos advogados de um processo que se abstenham de fazer
manifestações, por palavras ou conduta, de parcialidade ou preconceito baseado
em motivos irrelevantes, exceto se tais motivos são legalmente relevantes para
um assunto em discussão e podem ser objeto de legítima advocacia.
VALOR 6
COMPETÊNCIA E DILIGÊNCIA
Princípio
• Competência e diligência são pré-requisitos da devida execução do ofício
judicante
APLICAÇÃO
• 6.1 Os deveres profissionais de um juiz tem precedência sobre todas as outras atividades.
• 6.2 Um juiz deve devotar sua atividade profissional aos deveres judiciais, os quais incluem não apenas
a execução das funções judiciais e responsabilidades no tribunal e a confecção de decisões, mas
também outras relevantes tarefas para o gabinete judicial ou para as operações do tribunal.
• 6.3 Um juiz deve tomar medidas sensatas para manter e aumentar o seu conhecimento, habilidade e
qualidades pessoais necessárias para a execução apropriada dos deveres judiciais, tomando vantagem,
para esse fim, de treinamentos e outros recursos que possam estar disponíveis, sob controle judicial,
para os juízes.
• 6.4 Um juiz deve manter-se informado sobre acontecimentos relevantes na lei internacional, incluindo
convenções internacionais e outros instrumentos estabelecendo normas sobre direito humanos.
• 6.5 Um juiz deve executar todos os seus deveres, incluindo a entrega de decisões reservadas,
eficientemente, de modo justo e com razoável Pontualidade.
• 6.6 Um juiz deve manter a ordem e o decoro em todos os procedimentos do
tribunal e ser paciente, digno e cortês com relação aos litigantes, jurados,
testemunhas, advogados e outros com os quais deva lidar em sua capacidade
oficial. O juiz deve requerer conduta semelhante dos representantes legais,
funcionários do tribunal e outros sujeitos à sua influência, direção ou controle.
• 6.7 Um juiz não deve se envolver com condutas incompatíveis com o
cumprimento diligente dos deveres judiciais.
COMPROMISSO ÉTICO DOS JUÍZES
E DAS JUÍZAS
ESPAÇO DA COMUNIDADE DOS
PAÍSES DE LÍNGUA PORTUGUESA
CARTA DE PORTO ALEGRE
NOVEMBRO DE 2018
INDEPENDÊNCIA
• Juízes e juízas respeitam a separação de poderes e a esfera de atribuições dos outros órgãos
constitucionalmente consagrados e exigem o respeito pela independência do poder judicial,
nos termos da Constituição e da lei.
• Juízes e juízas julgam apenas sujeitos ao direito, designadamente à Constituição e à lei, bem
como às decisões dos tribunais superiores proferidas em sede de recurso.
• Juízes e juízas adotam uma conduta pessoal, social e profissional que aos olhos de uma
pessoa razoável, bem informada, objetiva e de boa fé, seja entendida como íntegra, leal,
ponderada, equilibrada e correta.
• Particular atenção deverá ser dada à utilização das redes sociais, devendo ser seguidas
regras práticas de bom senso, precaução e contenção.
• Juízes e juízas reconhecem a dignidade e importância das funções atribuídas aos outros
atores do sistema judicial, comportando-se sempre, para com todos e para com o público,
com educação, respeito e cortesia.
COMBATE À CORRUPÇÃO
• Corrupção praticada, aceite ou permitida por juízes e juízas é o maior flagelo para a sua
atividade e para a sua função judicial, atacando diretamente os princípios essenciais da
independência, da imparcialidade e da integridade, prejudicando de forma irreversível a
confiança dos cidadãos e da sociedade em geral na justiça e na judicatura.
• O exercício do poder judicial vincula-o aos valores da justiça, aos princípios humanistas da
dignidade da pessoa humana e da igualdade e, também, da proteção ambiental.
• No exercício das suas funções, juízes e juízas asseguram o efetivo respeito pelos direitos
fundamentais, encarando todas as pessoas como iguais em direitos e deveres, rejeitando
qualquer distinção, exclusão, restrição ou preferência fundada o género, raça, cor, ascendência,
origem nacional ou étnica, credo, orientação sexual, situação económica ou cultural, que tenha
como objetivo ou como efeito destruir ou comprometer o reconhecimento, o gozo ou o
exercício, em condições de igualdade, dos direitos humanos e das liberdades fundamentais nos
domínios político, económico, social e cultural, ou em qualquer outro domínio da vida pública.
QUALIDADE E EFICÁCIA
• O mérito da função judicial assenta na competência, diligência e excelência do trabalho de juízes e juízas.
• No exercício da sua função, juízes e juízas consagram a sua atividade ao bom funcionamento do tribunal e ao
tratamento célere dos processos, para que os casos submetidos à sua apreciação sejam decididos com
qualidade e prontidão.
• Juízes e juízas têm consciência de que o bom funcionamento do tribunal depende também da adoção de
critérios de gestão organizativa e processual, com vista à simplificação dos procedimentos formais, à
planificação, monitorização e avaliação do serviço e à utilização adequada de ferramentas tecnológicas de
informação e de inteligência artificial.
• Nesse quadro, sem detrimento da independência individual de cada juiz ou juíza, estes cooperam com os
Conselhos Judiciais e com os órgãos competentes para as matérias da governação, gestão dos tribunais e
gestão processual.
RESERVA
• A reserva de juízes e juízas é uma implicação direta da imparcialidade a que estão vinculados/as e
da preservação da confiança pública na integridade judicial.
• Juízes e juízas recusam fazer declarações ou comentários que envolvam uma apreciação
valorativa sobre processos judiciais ou de inquérito e bem assim sobre assuntos que
previsivelmente venham a ser objeto de um processo.
• Nas suas relações com a comunicação social, juízes e juízas asseguram o direito à informação, de
acordo com os princípios da igualdade no acesso às fontes e da transparência nos procedimentos.
• Sem prejuízo das competências atribuídas aos órgãos independentes de governo do judiciário em
matéria de comunicação, sempre que o entendam adequado, juízes e juízas assumem a
responsabilidade de prestar os esclarecimentos que se imponham, por si ou por alguém na sua
dependência, em comunicação oral ou escrita.
COOPERAÇÃO
• Juízes e juízas devem assumir uma conduta cooperante com o funcionamento dos sistemas
judiciais onde exercem as suas atividades, fomentar o espírito de cooperação nas suas
atividades processuais e estabelecer diálogo a nível nacional e internacional, promovendo
a atuação das instituições e das organizações judiciais que concretizam a nível
internacional os valores e princípios aqui indicados.
GOVERNAÇÃO E ORGANIZAÇÃO DA
JUSTIÇA
• Juízes e Juízas assumem a importância de uma boa administração e gestão do sistema judicial.
• Para isso juízes e juízas defendem a consagração de regras estatutárias específicas para o
exercício desses cargos, garantindo o cumprimento dos valores e princípios aqui definidos,
mormente o da independência e imparcialidade na atividade jurisdicional.
GARANTIAS E ESTATUTO DOS JUÍZES
• Juízes e juízas devem pugnar pela consagração e efetividade das garantias constitucionais e legais
de um estatuto de juiz condizente com os valores e os princípios aqui assumidos, assim como pela
existência dos respetivos órgãos privativos de gestão e disciplina, pela sua irresponsabilidade
penal, civil e disciplinar nas decisões proferidas, inamovibilidade e não sujeição a quaisquer
ordens ou instruções, salvo o dever de acatamento das decisões proferidas em via de recurso por
tribunais superiores.
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• A novidade que constitui a introdução da figura do Juiz de Garantias no sistema angolano, vai certamente
suscitar a atenção da sociedade em geral, mas em especial dos mass media, fenómeno para que devem
estar preparados os titulares do cargo.
• Quer nas relações com os meios de comunicação social, que, ao menos quando ocorrem actos
jurisdicionais em instrução preparatória ou instrução contraditória dos casos mais mediáticos,
contactarão os juízes de garantias, procurando traçar os seus perfis pessoais e dá-los a conhecer, o que
poderá ser um caminho de notoriedade que trará dificuldades ao magistrado e à gestão do processo, a ser
gerido, pois, com distância e cautela.
• O resguardo do Juiz de Garantias e a comunicação oficial, serena e factual, nos casos concretos que o
justifiquem, será um bom contributo para uma boa implantação deste novo modelo, que se quer ver
florescer nas potencialidades que levaram à sua criação.