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Saber como calcular o IRS é importante para poder planificar as finanças

pessoais. Por exemplo, em caso de reembolso, pode destinar-se esse dinheiro


para pagar despesas extraordinárias, como o seguro do carro ou imposto da
casa. Já em situação de imposto adicional a pagar, podem fazer-se algumas
poupanças para acautelar esse pagamento. Veja, com a ajuda de um exemplo,
como calcular o IRS em 2021, referente aos rendimentos de 2020.
Exemplo
Imagine-se uma família composta por um casal, a Joana e o Pedro, ambos
trabalhadores dependentes, e pelos seus dois filhos, a Mafalda e o Simão, com
quatro e sete anos de idade, respetivamente.
Elementos para calcular o IRS
Pedro
Salário mensal bruto: 2 500 euros (35 000 euros anuais)
Retenção mensal na fonte de IRS (taxa de 24,4%): 610 euros (8 540 euros
anuais)
Contribuição mensal para a Segurança Social: 275 euros (3 850 euros anuais)
Despesas gerais familiares: 7 000 euros
Despesas de saúde: 100 euros
Joana
Salário mensal bruto: 1 300 euros (18 200 euros anuais)
Retenção mensal na fonte de IRS (taxa de 13,1%): 170 euros (2 380 euros
anuais)
Contribuição mensal para a Segurança Social: 143 euros (2 002 euros anuais)
Despesas gerais familiares: 5 000 euros
Despesas de saúde: 900 euros
Mafalda e Simão
Despesas de saúde: 200 euros
Despesas de educação: 6 500 euros
Como calcular o IRS  (tributação conjunta)
1.º passo: calcular o rendimento anual bruto do casal
Para se determinar o rendimento anual bruto do casal, somam-se os
rendimentos anuais brutos de ambos os cônjuges.
35 000 euros + 18 200 euros = 53 200 euros
2.º passo: calcular o rendimento coletável do casal
O rendimento coletável do casal calcula-se subtraindo ao rendimento bruto
apurado no passo anterior as deduções específicas aplicáveis, ou seja, as que
correspondem aos rendimentos do trabalho dependente (categoria A). No caso
em análise, cada cônjuge tem direito a um abatimento automático de 4 104
euros, o que totaliza um desconto de 8 208 euros.
53 200 euros – (4 104 euros + 4 104 euros) = 44 992 euros
3.º passo: dividir o rendimento coletável do casal por dois
Como o casal pretende optar pela tributação conjunta é necessário dividir o
rendimento coletável pelo quociente familiar, isto é, por dois. Caso preferisse
ser tributado em separado, este passo era desnecessário.
44 992 euros : 2 = 22 496 euros
Este é o rendimento coletável do casal.
4.º passo: encontrar o escalão e a taxa de IRS
Para saber qual é o escalão e a respetiva taxa de IRS, basta verificar na tabela
das taxas gerais de IRS (ver abaixo) a que intervalo corresponde o rendimento
coletável do casal (22 496 euros).

Escalão Rendimento sujeito a imposto Taxa normal

1.º Até 7 112€ 14,5%

2.º De mais de 7 112€ até 10 732€ 23%

3.º De mais de 10 732€ até 20 322€ 28,5%

4.º De mais de 20 322€ até 25 075€ 35%

5.º De mais de 25 075€ até 36 967€ 37%

6.º De mais de 36 967€ até 80 882€ 45%

7.º Superior a 80 882€ 48%

O rendimento de 22 496 euros enquadra-se no 4.º escalão (de mais de 20 322


euros até 25 075 euros), ao qual corresponde uma taxa normal de 35% e uma
taxa média de 24,967%.
5.º passo: calcular a coleta
A coleta – ou seja, o imposto a pagar ao Estado antes das deduções à coleta –
pode ser calculada de três formas, como mostramos em seguida. Em qualquer
dos casos, o IRS recai sobre o rendimento coletável.
Método 1
Distribui-se o rendimento coletável pelos vários escalões até ao escalão em
que ficou enquadrado e aplicam-se as taxas normais correspondentes. Depois,
somam-se as várias parcelas e multiplica-se o resultado pelo quociente
familiar, ou seja, por dois.
 Distribuição do rendimento coletável
Os 22 496 euros são distribuídos da seguinte forma:
1.º escalão
Vai até 7 112 euros. Por isso, é este o valor que é encaixado neste escalão.
Ficam a sobrar 15 384 euros (22 496 euros – 7 112 euros).
2.º escalão
Vai desde mais de 7 112 euros até 10 732 euros. Aqui, só cabem 3 620
euros (10 7732 euros – 7 112 euros). Faltam encaixar 11 764 euros (15 384
euros – 3 620 euros).
3.º escalão
Vai desde mais de 10 732 euros até 20 322 euros. Ou seja, é possível
colocar 9 590 euros (20 322 euros – 10 732 euros). Mesmo assim, ainda
restam 2 174 euros para perfazer os 22 496 euros.
4.º escalão
Vai desde mais de 20 322 euros até 25 075 euros. Cabem, portanto, 4 753
euros (25 075 euros – 20 322 euros). Mas só é necessário inserir 2 174 euros.
 Aplicação das taxas
Multiplica-se o rendimento coletável que coube em cada escalão pela taxa
normal correspondente.
1.º escalão
7 112 euros x 14,5% = 1 031,24 euros
2.º escalão
3 620 euros x 23% = 832,6 euros
3.º escalão
9 590 euros x 28,5% = 2 733,15 euros
4.º escalão
2 174 euros x 35% = 760,9 euros
 Soma dos valores dos escalões
Em seguida, somam-se os valores obtidos para cada escalão.
1 031,24 euros + 832,6 euros + 2 733,15 euros + 760,9 euros = 5 357,89 euros
 Aplicação do quociente familiar
Finalmente, multiplica-se o resultado anterior pelo quociente familiar, ou seja,
por dois.
5 357 euros x 2 = 10 714 euros
 Valor da coleta
A coleta totaliza 10 714 euros.
Método 2
Neste método, utilizado pela Autoridade Tributária e Aduaneira (AT), o
rendimento coletável é distribuído por duas parcelas. Uma, igual ao valor
correspondente ao limite superior do penúltimo escalão, face ao escalão em
que se ficou enquadrado, à qual se aplica a taxa média desse escalão. Outra,
equivalente ao valor remanescente, à qual se aplica a taxa normal do escalão
em que se ficou posicionado.
 Distribuição do rendimento coletável
Na primeira parcela cabem assim 20 322 euros. Os restantes 2 174 euros
ficam na segunda parcela.
 Aplicação das taxas
À primeira parcela aplica-se a taxa média correspondente ao 3.º escalão e à
segunda parcela a taxa normal respeitante ao 4.º escalão.
Primeira parcela
20 322 euros x 22,621% = 4 597,03 euros
Segunda parcela
2 174 euros x 35% = 760,9 euros
 Soma das parcelas
Somam-se as duas parcelas.
4 583,24 euros + 782,25 euros = 5 357,93 euros
 Aplicação do quociente familiar
Multiplica-se o resultado anterior pelo quociente familiar.
5 357 euros x 2 = 10 714 euros
 Valor da coleta
A coleta totaliza 10 714 euros.
Método 3
A coleta pode ainda ser calculada através da chamada tabela prática de
IRS (ver abaixo), que é construída a partir da tabela das taxas gerais do IRS.
Normalmente, é disponibilizada pelas consultoras. Este método é o que
envolve menos contas. Insere-se a totalidade do rendimento coletável no
escalão em que se ficou posicionado e aplica-se a taxa normal correspondente.
Por fim, subtrai-se a respetiva parcela a abater.

Escalão Rendimento sujeito a imposto Taxa normal Pa

1.º Até 7 112€ 14,5% 0,0

2.º De mais de 7 112€ até 10 732€ 23% 60

3.º De mais de 10 732€ até 20 322€ 28,5% 11

4.º De mais de 20 322€ até 25 075€ 35% 25

5.º De mais de 25 075€ até 36 967€ 37% 30

6.º De mais de 36 967€ até 80 882€ 45% 59

7.º Superior a 80 882€ 48% 84

 Distribuição do rendimento coletável


Inserem-se os 22 496 euros no 4.º escalão.
 Aplicação das taxas
Multiplica-se o rendimento coletável pela taxa normal do 4.º escalão.
22 496 euros x 35% = 7 873,6 euros
 Dedução da parcela a abater
Ao valor resultante da aplicação da taxa desconta-se a parcela a abater
correspondente.
7 873,6 euros – 2 515,63 euros = 5 357,97 euros
 Aplicação do quociente familiar
Multiplica-se o resultado anterior pelo quociente familiar, ou seja, por dois.
5 357 euros x 2 = 10 714 euros
 Valor da coleta
A coleta totaliza 10 714 euros.
 
6.º passo: calcular as deduções à coleta
Ao valor da coleta calculado no passo anterior são descontadas as deduções à
coleta aplicáveis. No caso em análise são as seguintes:
 1 200 euros (dedução fixa por dependente com mais de três anos de
idade: 600 euros)
 500 euros (dedução de despesas gerais familiares: 35% dos gastos até
250 euros por cada cônjuge)
 180 euros (dedução de saúde: 15% dos encargos até 1 000 euros por
agregado familiar)
 800 euros (dedução de educação: 30% dos custos até 800 euros por
agregado familiar)
1 200 euros + 500 euros + 180 euros + 800 euros = 2 680 euros
As deduções à coleta atingem 2 680 euros.
Note-se que a soma das deduções à coleta de despesas de saúde, educação,
imóveis, pensão de alimentos, lares, exigência de fatura e  benefícios fiscais
não pode ultrapassar um determinado limite, que varia em função do
rendimento coletável e do número de filhos. No caso da família em análise,
esse limite é de 2 185 euros.
Conheça todas as despesas que pode deduzir ao IRS em 2021
7.º passo: calcular a coleta líquida
A coleta líquida obtém-se subtraindo à coleta as deduções aplicáveis.
10 714 euros – 2 680 euros = 8 034 euros
Este é efetivamente o imposto devido pelo casal relativo aos rendimentos
obtidos em 2020.
8.º passo: acerto de contas
Resta ainda saber se, em 2021, há IRS adicional a pagar ou a receber de volta,
face ao que foi adiantado ao Estado ao longo do ano anterior por via da
retenção mensal na fonte. Para isso, somam-se os valores retidos
mensalmente pelos cônjuges em 2020. Se o resultado for superior à coleta
líquida, significa que foi adiantado mais imposto do que o devido. Nesse caso,
este ano, é devolvido o que foi pago a mais. Se, pelo contrário, o resultado for
inferior, quer dizer que o imposto antecipado em 2020 foi insuficiente, pelo que,
em 2021, deve ser pago o imposto em falta.
A retenção mensal na fonte do casal em 2020 atingiu 10 920 euros (8 540
euros + 2 380 euros). Como o valor é superior à coleta líquida (8 034 euros),
há lugar a reembolso. O casal tem assim a receber 2 886 euros (10 920 euros
– 8 034 euros)
Agora que já sabe como calcular o IRS, faça as contas ao seu imposto. Bons
cálculos

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