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DR.

FLAVIO BARREIRO JR
OAB RS 53.512

EXMO(A). SR(A). DR(A). JUIZ(A) DE DIREITO DA 4º VARA CRIMINAL


DA COMARCA DE SANTA MARIA RS.

INVESTIGADA: MARILU DO CARMO SILVA VIEIRA


PROCESSO Nº: 5021508-68.2023.8.21.0027

MARILU DO CARMO SILVA VIEIRA, já qualificado nos autos do processo em epígrafe, vem,
respeitosamente, através de suas advogadas signatárias, requerer a:

REVOGAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA

Com fundamento nos artigosd 316 e 282, §5º e §6º, art. 3187 e 218 do CPP e art. 5º LXV da
CF, pelas razões a seguir expostas.

►DA SÍNTESE DO ANDAMENTO PROCESSUAL E DA DECISÃO QUE DECRETOU A PRISÃO


PREVENTIVA

Em 03/07/2023, a Polícia Federal representou pela prisão preventiva de MARILU DO


CARMO SILVA DA SILVA e de outros investigados (ev. 11, dos autos).

Ao evento 06 dos autos o Ministério Público opinando pelo acolhimento integral dos
pedidos da autoridade policial.

Sobreveio despacho acolhendo a representação policial para o fim de decretar a prisão


preventiva dos investigados, conforme despacho de evento 11.

Em síntese, no tocante a investigada Marilu, ponderou o magistrado que a


representada, embora primária, não impederia a adoção da medida pleiteada.

A decisão que decretou a prisão preventiva da acusada, fundamentou-se em à garantia


da ordem pública e como medida para impedir os investigados de continuar traficando.

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Ainda, foram citados os indícios de autoria e a prova da materialidade que, na percepção
do juízo, estavam presentes, assim como o perigo do estado de liberdade dos representados.

Expedidos mandados de prisão o mesmo restou cumprido, sendo recolhida ao carcere.

Foi realizada audiência de custódia, conforme ev. 78 dos autos.

É o breve relatório.

► DA PRIMARIEDADE DA VIDA HUMILDE DA INDICIADA

Excelência a indiciada é primaria, não possuindo antecedente algum, conforme


documentação constante nos autos e reconhecido no prórpio despacho da segregação preventiva.

Ainda acostamos FOTOS da casa da mesma, onde observa-se que a mesma tem uma
vida humilde, de pessoa pobre.

Deixando mais do que demosntrado que a indiciada NÃO tem envolvimento algum com
ato ilicito.

Que é uma pessoa pobre.

► DA NECESSIDADE DE REVOGAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA

Diante da pluralidade de investigados e da complexidade da investigação denominada


operação Maturin, coordenada pela Polícia Federal, o juízo entendeu pela necessidade de acolher
todas as representações pelas segregações cautelares.

Ocorre que, a prisão preventiva, dado o seu caráter de excepcionalidade, necessita


impreterivelmente da observância de alguns critérios/requisitos previstos no Código de Processo
Penal. Nesse viés, trata-se de uma espécie de segregação cautelar que somente pode ser mantida,
caso presentes esses requisitos legais.

Tais critérios estão consubstanciados na presença inequívoca de dois pressupostos e


de uma das hipóteses de cabimento, conforme disciplina o art. 312 do Código de Processo Penal.
Vejamos as particularidades de cada um deles.

O primeiro pressuposto é o fumus comissi delicti, o qual somente se verifica quando há


materialidade e indícios de autoria. Isso significa que precisa estar demonstrado que o crime de
fato ocorreu e que existem indícios suficientes acerca do envolvimento do indivíduo na autoria

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desse crime.

Já o segundo pressuposto denomina-se periculum libertatis, o qual se traduz pela


constatação do perigo decorrente do estado de liberdade do agente. Mas esse perigo não se
apresenta como um conceito abstrato. Ao contrário, ele precisa estar alicerçado em um dos
fundamentos previstos no art. 312 do CPP, quais sejam: Garantia da ordem pública, garantia da
ordem econômica, conveniência da instrução criminal ou aplicação da lei penal.

Além de respaldar o perigo da liberdade com base em um desses fundamentos, deverá


a decisão trazer elementos concretos e capazes de evidenciar a motivação da segregação
cautelar. Ainda, com o advento da lei nº 13.964/2019 (Pacote Anticrime), sobreveio a previsão
expressa acerca da atualidade dos fatos utilizados na fundamentação. É o que disciplinam os
dispositivos do Código de Processo Penal abaixo transcritos:
Art. 312 (...)
§ 2º: A decisão que decretar a prisão preventiva deve ser motivada e fundamentada em
receio de perigo e existência concreta de fatos novos ou contemporâneos que justifiquem
a aplicação da medida adotada.

Art. 315 (...)


§ 1º, CPP: Na motivação da decretação da prisão preventiva ou de qualquer outra cautelar,
o juiz deverá indicar concretamente a existência de fatos novos ou contemporâneos que
justifiquem a aplicação da medida adotada.

Portanto, o perigo da liberdade precisa ser oriundo de uma situação fática atual,
devidamente demonstrada através de elementos concretos.

Disso infere-se que fatos pretéritos, futurologias e abstrações não se prestam a


embasar a prisão preventiva.

Diante dessa explícita previsão, infere-se que a atualidade dos elementos que justificam
a segregação cautelar precisa ser evidente.

De pronto, em análise ao caso dos autos, não se discute a presença da materialidade e


de indícios de autoria, uma vez que houve demonstração nos relatórios da Polícia Federal.

É preciso que se diga, no entanto, que a presença do fumus comissi delicti deve ser
sempre analisado com observância à presunção de inocência, pois indícios não são provas. Estas
diferem justamente por serem produzidas na presença de um magistrado, com a presença de
contraditório e ampla defesa.

No caso dos autos, o que se concluiu até o momento é que a investigada MARILU
somente cedeu a conta bancária ao sobrinho.

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Bem como a questão dos valores, acreditava a investigada ser das lojas de
bebeidas e mercado que o sobrinho GABRIEL possui.

Para a investigada tais importâncias que passaram por sua conta bancária seria
de valores licitos e das lojas e mercado que o sobrinho possui.
A investigada NÃO tinha conhecimento algum dos fatos revelados pela
investigação.

Registra-se que a investigada somente quis ajudar um familiar, sem alferir qualquer
compensação financeira.

Disso infere-se que, a suposta função por ela exercida é facilmente substituível por
qualquer outra pessoa. Ou seja, a ausência da investigada não impediria e não impede a
comercialização de entorpecentes, razão pela qual não se mostra adequado manter sua
segregação cautelar.

Trata-se, pois, de uma pessoa absolutamente primária, conforme já reconhecido no


despacho que decretou a priisão preventiva, ev. 11.

Já em relação ao periculum libertatis, mostra-se necessário reiterar a necessidade da


presença inequívoca de MOTIVAÇÃO ATUAL. Isso porque, diferentemente da prisão decorrente
de sentença condenatória, a prisão cautelar não deve basear-se em fatos pretéritos.

Nesse ponto, não se pode também supor “perigo de reiteração delitiva”, por ser tal
argumento incompatível com o sistema acusatório e com o princípio constitucional da presunção
de inocência, que não é maculado pela futurologia. Nesse sentido, destaca Aury Lopes Jr1:

A prisão para garantia da ordem pública sob o argumento de “perigo de reiteração” bem
reflete o anseio mítico por um direito penal do futuro, que nos projeta do que pode (ou não)
vir a ocorrer. Nem o direito penal, menos ainda o processo, está legitimado à pseudotutela
do futuro (que é aberto, indeterminado, imprevisível). Além de existir um periculosômetro
(tomando emprestada a expressão de ZAFFARONI), é um argumento insquisitório, pois
irrefutável. Como provar que amanhã, se permanecer solto, não cometerei um crime?
Uma prova impossível de ser feita, tão impossível como a afirmação de que amanhã
eu o praticarei. Trata-se de recusar exercícios de futurologia sem concretude alguma.

1 LOPES JR, Aury. Direito Processual Penal. 19 ed. São Paulo: SaraivaJur, 2022, p. 741.

Nessa mesma linha é o fundamento da prisão para impedir a permanência de um delito.


Embora válido, não pode ser utilizado de forma genérica e desarrazoada, sobretudo porque para

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fins de aferição há uma série de questões subjetivas que demandam análise.

De todo modo, é preciso destacar que, NÃO HÁ NOS AUTOS, UM ÚNICO ELEMENTO
DEMONSTRANDO ENVOLVIMENTO DIRETO DA INVESTIGADA.

A ausência dessa demonstração desatende, objetivamente, o critério da atualidade, já


mencionado anteriormente.

Ora, se não existem indícios atuais de que o investigado efetivamente possuía


envolvimento com o comércio de entorpecentes, não há que se falar em manter a prisão preventiva.
E este é justamente o que torna a situação de Marilu diferente em relação aos demais
representados.

A menção a um risco genérico de que o investigada, acaso solta, poderia dar continuidade
à traficância, SEM QUALQUER INDÍCIO, representa uma espécie de antecipação de pena, o que
é vedado pelo ordenamento jurídico (art. 313, §2º do CPP) e INCONSTITUCIONAL; e ainda
conforme mencionado na investigação a aindiciada somente teve a sua conta utilizada para
depositos, nada mais.

Ademais, em relação à garantia da ordem pública mencionada pelo magistrado, com


a devida vênia, a mesma não restou evidenciada. Isso porque, além de já ser um conceito vago,
abstrato e genérico, a decisão não especifica sua incidência no caso concreto, no tocante ao
investigado Marcell. A justificativa se resume à gravidade dos fatos registrados, sem ao menos
correlacionar ao periculum libertatis, incorrendo, por corolário, no art. 315, §2º, incisos II e
III. E sequer foi analisada a possibilidade de aplicação de medidas cautelares diversas da
prisão, tal como disciplina o art. 282, §6º.

Não obstante, a gravidade abstrata do delito possui o condão de justificar a prisão


preventiva, ainda mais quando dissociada de elementos concretos e individualizados. E sequer
bastaria dizer a aplicação das medidas cautelares alternativas é inviável ou inadequada. É preciso
explicar o porquê, relação a cada um dos que tiveram suas prisões decretadas.

É necessário, pois, haver total observância ao sistema de proteção de direitos


fundamentais e à garantia da presunção de inocência, a partir de uma análise técnica e distante de
variáveis vinculadas à moral, diferenciando assim, os elementos do processo penal da comoção
social, ainda que se trate de uma operação de grande repercussão social.

Assim, ausente qualquer motivação capaz de confortar o periculum libertatis. Qualquer


decisão em sentido contrário por certo será fundamentada em conceitos genéricos, suposições e

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distante de todas as condições comprovadamente favoráveis da investigada, como os documentos
ora anexados.

Para invocar o perigo do estado de liberdade é preciso, portanto, expor elementos


concretos, individualizados e que indiquem a necessidade de tamanho rigor cautelar, o que não se
verifica em uma investigada que comprova que possui ocupação lícita, residência fixa e
primariedade.

Ainda a investigada é dependente quimica de alcolimos, conforme ATESTADO fornecido


pela SECRETARIA MUNICPAL DE SAÚDE local.

Sendo que a mesma é acometida de doença sob CID 10, F 14.2, bem como faz uso de
medicamentos controlados, “ dizepan”.

Conforme relatado pela indiciada ao evento 78 dos autos ao juizo que presidiu a
solenidade de custódia.

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Assim, revela-se que, no caso em epígrafe os argumentos declinados não são idôneos para
justificar medida dotada de cautelaridade e excepcionalidade como é a previsão preventiva. Sua
decretação requer fatos concretos e não meras hipóteses e conjecturas, de modo que a
segregação cautelar do agente somente se justifica diante da existência de um conjunto probatório
que recomende a sua manutenção, o que não é o caso dos autos.

E, sendo fundamental a presença simultânea do fumus comissi delicti, do periculum


libertatis e de uma hipótese de cabimento para decretar ou manter uma prisão preventiva, na

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ausência de um ou mais requisitos, não subsistirá o decreto prisional. Ademais, o ordenamento
veda a decretação da prisão enquanto decorrência imediata da investigação criminal. E foi
exatamente o que ocorreu no caso da investigada, sendo que não subsistem quaisquer outras
razões capazes de justificar o acautelamento.

É o que preconiza o art. 313, § 2º do CPP:

Art. 313 (...)

§ 2º Não será admitida a decretação da prisão preventiva com a finalidade de antecipação de


cumprimento de pena ou como decorrência imediata de investigação criminal ou da apresentação
ou recebimento de denúncia

Assim, com a devida vênia, a necessidade de garantia da ordem pública mencionada


pelo magistrado não restou evidenciada. Isso porque, além de já ser um conceito vago, abstrato e
genérico, a decisão não especifica sua incidência no caso concreto. A utilização desse requisito
em uma decisão que decreta a segregação de alguém demanda uma fundamentação precisa e
suficiente, sob pena de ser incompatível com o sistema acusatório e com o estado democrático de
direito.

Não há, portanto, presença de fumus comissi delicti e de periculum libertatis. Desse modo,
a manutenção da custódia cautelar carece de substrato legal.

É imperioso, pois, o afastamento da medida excepcional, que deve ser reservada a


casos em que a liberdade o agente represente efetivo perigo à sociedade, mormente em se
considerando a primariedade de MARILU e o esvaziamento de argumentos plausíveis acerca dos
inexistentes indícios de autoria.

Portanto, à míngua de fatos concretamente demonstrados e de critérios mínimos


capazes de evidenciar a prescindibilidade da constrição conduz à uma obrigatória revogação da
prisão preventiva decretada em desfavor de Marilu Do Carmo Silva da Silva.

►DAS APLICAÇÃO DAS MEDIDAS CAUTELARES DIVERSAS DA PRISÃO

Ainda que detalhadamente demonstrada a necessidade de revogação da prisão


preventiva da investigada Marilu, caso Vossa Excelência entenda de modo diverso, imperioso que
seja analisada a possibilidade de aplicação de medidas cautelares da prisão.

Embora a respeitável decisão tenha ponderado que a prisão preventiva seria a única

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medida suficiente, não é isso que se verifica no tocante a investigada Marilu.

Todo o contexto pessoal da investigada Marilu, sua suposta participação de menor


importância, sua postura colaborativa desde o momento da prisão e os parcos indícios colhidos até
então devem ser considerados, pois a investigada somente emprstou a conta para o sobrinho, sem
saber de que se tratava de algo supostamente ilicito.
Não há, portanto, motivação idônea acerca da impossibilidade de aplicar medidas
cautelares diversas da prisão a investigada Marilu. É preciso, pois, observar o disposto no art. 282,
§6º do Código de Processo Penal:

Art. 282 (...)


§6º A prisão preventiva somente será determinada quando não for cabível a sua substituição por
outra medida cautelar, observado o art. 319 deste Código, e o não cabimento da substituição
por outra medida cautelar deverá ser justificado de forma fundamentada nos elementos
presentes do caso concreto, de forma individualizada. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de
2019).

Não basta, portanto, dizer que é insuficiente, inviável ou inadequada a aplicação das
medidas cautelares alternativas. É preciso explicar o porquê, em relação a cada um que teve sua
liberdade restrita.

A ausência de enfrentamento da possibilidade de medidas cautelares que possam – ou


não – ser suficientes e adequadas conduz, inegavelmente, ao afastamento dos fundamentos da
prisão preventiva elencados no art. 312 do Código de Processo Penal.

De todo modo, o texto normativo dos artigos 282 e 319 do Código de Processo Penal
devem ser avaliados a partir de uma percepção constitucional, da prisão como ultima ratio e da
presunção de inocência que não permite a prisão preventiva como antecipação de pena.

É preciso, pois, analisar o cabimento de medidas cautelares diversas da prisão a partir


dos critérios da necessidade, adequação e proporcionalidade em sentido estrito.

A necessidade deve ser vista a partir de uma compreensão expansiva dos direitos
fundamentais na escolha da alternativa menos gravosa e que garantiria, por assim dizer, um
julgamento justo no processo penal, o que precisa ser avaliado a partir das evidências concretas
apuradas no caso concreto. Não é a necessidade de contenção coletiva da violência, mas da
aplicação de outras alternativas viáveis no processo.

A adequação se opera como uma relação positiva e apta entre o meio e o fim da medida,
a saber, o meio empregado (medida cautelar) deve facilitar a obtenção do fim almejado.

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Já a proporcionalidade em sentido estrito deve ser entendida como custo- benefício da


medida imposta, isto é, quais princípios que, na apuração da conduta em cotejo com os direitos
fundamentais se pretende flexionar. Não se trata da mera ponderação arbitrária, devendo ser
justificada de modo motivado com base no art. 315 do CPP.

Todo esse trajeto argumentativo deve ser robusto baseado em evidências


comprovadamente válidas. Possuindo natureza de cautelaridade, as medidas previstas no art. 319
do CPP necessitam estar atreladas ao fumus comissi delicti, ao periculum libertatis e a toda base
principiológica.

No caso dos autos, resta inequívoca a carência de elementos capazes de embasar a


segregação cautelar decretada. Entendendo o magistrado de forma diversa, há que se fazer um
cotejo com o primado da proporcionalidade, vez que as medidas cautelares diversas da prisão
sugerem uma invasão menos drástica na liberdade individual do réu.

Ainda, nenhuma hipótese a prisão preventiva pode ser utilizada como “resposta estatal
à criminalidade”, pois essa é função precípua da aplicação da pena, após a sentença condenatória
transitada em julgado. Qualquer decreto em sentido contrário estaria negando vigência ao princípio
constitucional da presunção da inocência.

O grito popularesco e midiático não pode servir de fulcro à segregação cautelar. Há que
se ressaltar que as medidas cautelares, inclusive a própria segregação cautelar, subsistem para
assegurar os processos de conhecimento e execução e, ao final, dar eficácia ao decisum do julgador.

Em conseguinte, o art. 319 do CPP possibilita inúmeras alternativas à prisão cautelar e


que devem ser experimentadas antes da adoção da cautelar mais rigorosa. Portanto, revogada a
prisão preventiva, caso não queira o julgador determinar a liberdade plena, é possível a adoção
destas medidas alternativas, pois se tratam de providências que, na casuística, observam o
primado da proporcionalidade.

Nesse ponto, é preciso destacar que a investigada Marilu é acometido por doença e
efetua tratamentos, conforme ATESTADO em anexo, sob CID 10, F14.2, e relatado pela
própria na audiência de custódia, tendo uma dependencia e utilizando medicamentos
controlados e em tratamento junto ao CAPS, para saúde mental, conforme atestado colacionado
acima.

Assim, para além da inequívoca demonstração de não ser o caso de decreto de custódia

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cautelar, verifica-se que o feito demanda intervenção do judiciário para que se garanta a dignidade
da pessoa humana.

E muito embora o “simples” diagnóstico conforme constante no ATESTADO – ainda que


constitua doença que inspira cuidados – não tenha o condão, por si só, de revogar a prisão
preventiva ou de conceder medidas cautelares diversas, é substancial que sejam observadas todas
as circunstâncias, sejam elas processuais ou humanitárias.

Isso porque, como é consabido, os estabelecimentos prisionais não são locais


adequados para enfrentamento de determinadas doenças. As condições de higiene não são as
mais propícias, assim como as estruturais.

O sistema carcerário brasileiro é reconhecidamente degradante, especialmente em


razão da insalubridade a que são submetidos os presos, sujeitos a condições muito aquém do
mínimo existencial. Trata-se do estado inconstitucional de coisas do sistema prisional nacional –
assim reconhecido pelo Supremo Tribunal Federal, no bojo da ADPF 347/DF2, onde a corte admite
a existência de um “quadro de violação massiva e persistente de direitos fundamentais, decorrente
de falhas estruturais e falência de políticas públicas”.

Há superlotação nas casas prisionais da região, em especial aonde se encontra


recolhido o investigado – Penitenciária Estadual de Santa Maria, que recebe custodiados de todo o
Estado. Em vista disso, o número de servidores vem se mostrando insuficiente para atender a
demanda.
Situações em que os indícios de autoria são questionáveis, que o preso é preventivo e
que está acometido por doença grave, além de inúmeras outras circunstâncias pessoais favoráveis,
não há que se falar em manter a custódia cautelar, sendo plenamente possível a concessão de
medida cautelar diversa da prisão, caso não concedida sua liberdade plena.

Trata-se, em última análise, de impor algum limite ao sofrimento dos presos, posto que
este não pode ultrapassar a privação da liberdade, já danosa por si só.

No plano discursivo, as penas de suplício foram abolidas para que a execução do jus
puniendi não mais fosse um mero exercício sádico de poder. Desse modo, retirar do cárcere quem
está gravemente doente é um imperativo ético que se cumpra esse ideal de humanidade.

Por esta razão não se pode concluir que a proteção da norma recaia apenas sobre o
preso que se encontra no leito de morte ou absolutamente impossibilitado de se locomover. Agir
desse modo significaria reduzir o alcance do comando legal ao menor conjunto de situações fáticas

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possível, condenando ao tormento incontáveis detentos que necessitam do recolhimento domiciliar
para tratar dignamente de sua saúde.

No caso vertente, é absolutamente inquestionável que a doença contraída pelo paciente


é de natureza grave, se considerarmos o contexto atual das casas prisionais deste Estado. Sendo
incontroverso, portanto, que a resposta do tratamento é comprometida em áreas de grande
concentração humana, com precários serviços de saneamento e habitação, onde coexistem a fome
e a miséria, fazendo com uma doença que poderia ser mais facilmente tratada represente um risco
potencial à vida do enfermo.

Desta forma, as medidas cautelares diversas da segregação consistem em uma


oportunidade ao investigado, bem como evidenciam uma forma menos gravosa, sendo plenamente
possível determinar a soltura do paciente com aplicação de medida cautelar, caso o julgador
entenda que seguem presentes os requisitos. Sendo, de qualquer modo, necessário preservar a
vida de uma pessoa que é presumidamente inocente e se encontra em situação de risco.

Não obstante, o monitoramento eletrônico e o prisão domiciliar são medidas que


podem ser adotadas, pois se mostram suficientes para que o Judiciário possa ter a certeza
de que a indiciada não estará se envolvendo em atos ilicitos.

Por tais razões, acaso indeferido o pedido de liberdade de Marilu, postula a defesa,
de forma subsidiária, que Vossa Excelência considere a substituição da segregação por uma
medida cautelar diversa, nos termos dos artigos 319 e 320 do CPP. Isto porque, as suas
circunstâncias e condições pessoais autorizam a aplicação de tais medidas.

►DOS PEDIDOS

Diante do exposto, a Defesa requer a revogação da prisão preventiva de Marilu do


Carmos Silva da Silva, visto que ausentes os critérios basilares da segregação cautelar, a fim de
que possa a investigada responder aos atos processuais em liberdade, mediante compromisso a
ser firmado nos autos expedindo-se o competente alvará de soltura, livre de quaisquer privações
outras.

Subsidiariamente, em caso de não concessão da liberdade plena, postula-se a aplicação


de medida(s) alternativa(s) diversa(s) da prisão, sob o prisma da suficiência, necessidade e
adequação, pois se afiguram suficientes para o efetivo acautelamento do feito, sugerindo-se a
adoção do monitoramento eletrônico ou de quaisquer outras medidas cautelares, que V.

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Excelências entendam como adequada, desde que diversa à segregação, em substituição à prisão
preventiva.

Nestes termos, pede deferimento.

Santa Maria – RS, em 08 de agosto de 2023.

Dr Flavio Barreiro Jr
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