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APLICAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL NO TEMPO (art.

2º, CPP):

Havendo possibilidade de, iniciado um processo na


vigência de determinada lei, sobrevir lei nova que o regule, surge o
problema de dirimir o conflito de normas, a anterior e a posterior.

Art. 2º, CPP. A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem
prejuízo da validade dos atos realizados sob a vigência da lei anterior.

Desta norma decorrem 2 efeitos. a) os atos processuais


realizados sob a égide da lei anterior se consideram válidos; b) as normas processuais
tem aplicação imediata, regulando o desenrolar restante do processo.

É o chamado princípio do efeito imediato ou da aplicação


imediata da lei processual penal (tempus regit actum – - o tempo rege o ato). O
fundamento disto é que a lei nova é presumidamente mais ágil, mais adequada aos fins
do processo, mais técnica.

A norma processual não é nem favorável nem desfavorável ao


acusado, logo está excluída daquela proibição da analogia maléfica ao réu.
Portanto, a nova lei processual pode ser aplicada a fato criminoso anterior a sua
vigência, estando o respectivo processo em andamento. A própria CF (art.5º, XL - 40)
diz que a irretroatividade da lei mais severa refere-se apenas à lei penal.

A nova norma processual não pode retroagir qdo. prejudicar a


coisa julgada, bem como direito adquirido e ato jurídico perfeito (CF, art. 5º, XXXVI).

Em suma, a lei processual penal brasileira é irretroativa, pois


se aplica a fatos processuais ocorridos durante sua vigência. A referência, para fins
processuais, não é a data do crime, mas a data da prática do ato processual. Não
existe para o acusado direito adquirido de ser julgado pela lei processual vigente
ao tempo em que ocorreu o crime.

Existem, no entanto, as chamadas normas mistas, ou seja, que


abrigam preceitos penais e processuais penais. Neste caso, podem ser aplicados os
princípios que regem a lei penal, de ultratividade e retroatividade da lei mais
benigna. Ex. uma lei nova estabeleceu que determinado crime deixa de ser de ação
privada ou publica condicionada, passando a ser de ação publica incondicionada.
Embora tal preceito seja processual, também engloba matéria penal, ligada ao ius
puniendi, por isso que, neste caso, não pode ser aplicada a lei nova que impede a
extinção da punibilidade, por ser mais severa.

Eventualmente, uma nova lei processual pode vir a causar


maiores gravames para o autor do delito qdo., por exemplo, restringe o dir. a
liberdade provisória, exclui um recurso, aumenta as hipóteses de prisão
preventiva, etc. Mesmo assim, aplica-se o principio do efeito imediato previsto no
art. 2º do CPP.

Normalmente a lei nova dispõe sobre o inicio de sua vigência.


Se não dispuser, passa a viger em 45 dias (Lei de Introdução às Normas do Direito
Brasileiro, art. 1º, caput). Ao periodo compreendido entre a publicação e a entrada em
vigor chama-se vacatio legis.

A vigência da lei acaba com sua revogação, que pode ser


expressa (quando declarada na lei revogadora) ou tácita (qdo. A lei posterior
regulamenta a matéria disciplinada pela antiga). Chama-se derrogação a revogacão
parcial. Chama-se ab-rogação a total.

INTERPRETAÇÃO DA LEI PROCESSUAL

Interpretação é a atividade que consiste em extrair da norma


processual seu exato alcance e real significado. A interpretação deve buscar a vontade
da lei, não importando a vontade de quem a fez (o legislador). A intenção do legislador
só deve ser aproveitada como auxílio ao intérprete para desvendar o verdadeiro sentido
da norma jurídica. A interpretação deve sempre preceder à aplicação.

Na interpretação da lei, deve-se atender “ aos fins sociais a que


ela se dirige e às exigências do bem comum” (art. 5º da Lei de Introdução às normas
do Dir. Brasileiro).

Deve-se, porém, considerar que na interpretação da lei


processual penal a tutela da liberdade individual está compreendida nos imperativos do
bem comum e que o fim da pena é promover a integração social do condenado – art.
1º da LEP (Lei n.º 7.210, de 11/07/84):

“ Art. 1º A execução penal tem por objetivo efetivar as


disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar condições para a
harmônica integração social do condenado e do internado.”

A ciência ou método que se preocupa com a interpretação da


norma é denominado Hermenêutica, cujos princípios aplicam-se a todos os ramos do
Direito e, portanto, à lei processual penal.

Analogia, costumes e princípios gerais de direito não se


constituem em interpretação da lei mas em fontes do direito processual penal. Já
a doutrina e jurisprudência são formas de interpretação.

Classificação:

A doutrina aponta diversas classificações das espécies de


interpretação.

1) Quanto ao sujeito que a elabora:

1.1) autêntica ou legislativa: feita pelo próprio órgão


encarregado da elaboração do texto; pode ser contextual (feita pelo próprio texto
interpretado) e posterior. Ex: conceito de flagrante delito (arts. 302 e 303 do CPP).

1.2) doutrinária ou científica: feita pelos estudiosos do Direito.


Ex: exposições de motivos, uma vez que não são leis);

1.3) judicial: feita pelos órgãos jurisdicionais (jurisprudência


– conjunto de manifestações judiciais sobre determinado assunto legal, exaradas num
sentido razoavelmente constante – e também as Súmulas do STF e STJ).

2) Quanto aos meios empregados:

2.1) gramatical ou literal: leva-se em conta o sentido literal


das palavras. Examina-se a letra da lei de acordo com seu significado no vernáculo;

2.2) lógica ou teleológica: busca-se a vontade da lei, atendendo-


se aos seus fins e à sua posição dentro do ordenamento jurídico.

3) Quanto aos resultados:


3.1) declarativa: quando o texto examinado não é ampliado nem restringido,
havendo perfeita correspondência entre a palavra da lei e a sua vontade. Ex: qdo. a lei
refere-se a “ casa habitada” (art. 248, CPP), está referindo-se a ser ela ocupada por
uma ou mais pessoas, numa interpretação meramente declarativa;

3.2) restritiva: qdo. se reduz o alcance da lei para que se possa encontrar a sua exata
vontade. Ex: quando a lei prevê a nulidade pela falta de “ intervenção do MP em todos
os termos da ação por ele intentada” (art. 564, III, d, do CPP), deve-se entender que
ela só ocorrerá se for alegada no momento oportuno, em face do art. 572, I, do CPP;

3.3) extensiva: ocorre quando é necessário ampliar o sentido ou alcance da lei (a lei
disse menos do que deveria dizer). Ex: admitir a possibilidade de RESE (recurso em
sentido estrito) no caso de rejeição pelo juiz do aditamento da denúncia ou queixa,
embora tal hipótese não esteja expressamente prevista no inciso I do art. 581 do CPP.

A interpretação extensiva é admitida expressamente pelo art. 3º do CPP.

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