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A Ciência e o Mundo Moderno – Alfred N.

Whitehead

Capítulo I – As origens da ciência moderna

Para Whitehead, a base da ciência moderna é a FÉ MEDIEVAL. Whitehead também


se refere à fé no sentido mais amplo de confiança na existência de uma ordem na
natureza, que pode ser observada e compreendida através da investigação científica.
Ele argumenta que, mesmo que a ciência se baseie no método indutivo e na coleta de
evidências empíricas, há uma confiança subjacente na consistência das leis naturais e
na regularidade dos eventos. Essa confiança na ordem da natureza é essencial para o
empreendimento científico, pois sem ela não haveria uma base estável para a
investigação e o conhecimento científico seria impossível. Portanto, Whitehead destaca
que, apesar de a ciência ser frequentemente associada à observação, experimentação e
raciocínio lógico, há um elemento de confiança ou fé na existência de uma ordem
subjacente que governa o universo.
O próprio William James afirmou que a ciência se faz por meio da tentativa de
amoldar modelos e afins a fatos irredutíveis e inexoráveis. Ele está se referindo à
necessidade de aceitar certos fatos fundamentais ou princípios básicos como ponto de
partida para a investigação científica. Esses fatos são considerados irredutíveis porque
não podem ser derivados de outros fatos ou teorias, mas são aceitos como pressupostos
iniciais. Essa aceitação dos fatos irredutíveis requer uma certa dose de fé, no sentido
de confiança ou crença de que esses fatos são verdadeiros e constituem uma base
sólida para a investigação científica. Esses fatos básicos podem incluir princípios
gerais, leis naturais ou até mesmo observações empíricas que são consideradas
fundamentais e inquestionáveis dentro de um determinado contexto científico. Essa fé
na existência desses fatos irredutíveis e na sua relevância para a compreensão do
mundo é um aspecto essencial do empreendimento científico. Mesmo que a ciência seja
baseada em evidências empíricas e na aplicação do método científico, há um elemento
de confiança subjacente na validade e na utilidade dos fatos irredutíveis.
Whitehead afirma que a maior contribuição do medievalismo foi a crença de que
todo evento circunstanciado pode ser relacionado com seus antecedentes de forma
precisa e demonstrável por meio de princípios gerais. Essa crença é fundamental
para o trabalho dos cientistas, pois é o que os impulsiona a realizar suas pesquisas e
investigações. Essa convicção instintiva de que há uma ordem subjacente ao mundo
natural e que os eventos podem ser compreendidos por meio de princípios gerais é o
que motiva os cientistas a buscar o conhecimento e a desvendar os segredos da
natureza. É uma convicção que desperta a imaginação e cria a expectativa de que há
um segredo a ser revelado.
Whitehead critica a ciência por não ter se libertado completamente de sua origem
histórica na Renascença tardia. Ele argumenta que a ciência ainda carrega traços de
ser um movimento anti-racionalista, baseado em uma fé ingênua. Whitehead observa
que a ciência adotou o tipo de raciocínio que estava ausente em sua própria origem,
emprestando-o da matemática, que segue o método dedutivo. No entanto, Whitehead
ressalta que a ciência repudia a filosofia. Ou seja, ela não se preocupou em justificar
sua própria fé ou explicar seu sentido de maneira filosófica. Além disso, a ciência
permaneceu indiferente às refutações que filósofos como Hume levantaram em
relação às bases do conhecimento científico.
Essa crítica de Whitehead destaca a falta de fundamentação filosófica e reflexão
crítica na prática científica. Ele argumenta que a ciência, ao negligenciar a filosofia
e a reflexão sobre suas próprias suposições e métodos, não aborda de forma
adequada as questões fundamentais relacionadas à justificação de suas crenças e ao
alcance de seu conhecimento. Afirma ainda: “Os antigos alicerces do pensamento
científico estavam tornando-se incompreensíveis. Tempo, espaço, substância,
matéria, éter, eletricidade, mecanismo, organismo, forma, estrutura, padrão, função,
tudo isso exigia interpretação. Qual o sentido de falar sobre uma explicação
mecânica quando não se sabe o que significa mecânica?”.
Whitehead critica o que ele chama de "materialismo científico" presente na
cosmologia científica estabelecida. Ele argumenta que essa posição pressupõe uma
realidade última composta por uma matéria bruta irredutível, ou material, que se
estende por todo o espaço em um fluxo de configurações. No entanto, Whitehead
considera essa concepção de matéria como absurda, sem valor e sem sentido. Para
Whitehead, essa perspectiva materialista científica reduz a realidade a uma entidade
inerte e sem agência. Ele critica a ideia de que a matéria opera apenas seguindo uma
rotina fixa imposta por relações externas, sem que essas relações sejam emergentes
da própria natureza da matéria. Ao denunciar o "materialismo científico",
Whitehead busca ressaltar a importância de considerar não apenas a matéria em si,
mas também a sua relação com outros elementos e o contexto em que está inserida.
Ele argumenta que a realidade é mais complexa e dinâmica do que a visão
materialista propõe, e que a compreensão adequada da natureza exige levar em conta
outros aspectos, como a experiência, a mente e a criatividade.
Whitehead explora a ideia de uma fé mais profunda que fundamenta a fé na ordem
da natureza, a qual possibilitou o crescimento da ciência. Ele argumenta que essa fé
não pode ser justificada por generalizações indutivas, mas surge da inspeção direta
da natureza das coisas em nossa própria experiência presente e imediata. Whitehead
afirma que experimentar essa fé implica reconhecer que somos mais do que
meramente indivíduos isolados, mas parte de um todo maior. Reconhecemos que
nossa experiência, por mais limitada e parcial que seja, ainda ressoa com a essência
mais profunda da realidade. Percebemos que os detalhes separados da existência
devem ser compreendidos dentro de um sistema de interconexões.

Capítulo II – A matemática como um elemento na história do pensamento

Eis aqui um ponto fundamental: A certeza matemática repousa sobre sua completa
generalidade abstrata. Mas não podemos ter certeza a priori de que estamos certos em
acreditar que as entidades observadas no universo concreto formam um caso
particular do que está incluido em nosso raciocinio geral. Whitehead discute o
exercício do raciocínio lógico e sua relação com as condições gerais. Ele afirma que o
descobrimento da matemática revela que todas essas condições abstratas, que se
aplicam simultaneamente às relações entre as entidades em qualquer circunstância
concreta, estão correlacionadas entre si como um modelo para o qual existe uma
chave.
Esse modelo de relações entre condições abstratas é imposto tanto sobre a realidade
externa quanto sobre a representação abstrata que temos dela, devido à necessidade de
que todas as coisas sejam exatamente o que são, com sua própria individualidade e
maneira de diferir de tudo mais. Isso é essencialmente a necessidade da lógica
abstrata, que é o pressuposto subjacente ao fato da existência inter-relacionada,
conforme se desdobra em cada circunstância de experiência. A chave para o modelo
refere-se ao fato de que a partir de um conjunto selecionado dessas condições gerais,
exemplificadas em uma determinada circunstância, pode-se desenvolver um modelo
compreendendo uma variedade infinita de outras condições semelhantes também
exemplificadas na mesma circunstância. Esse desenvolvimento ocorre por meio do
simples exercício da lógica abstrata. Cada conjunto selecionado é chamado de
conjunto de postulados ou premissas, dos quais o raciocínio se baseia. O raciocínio,
por sua vez, nada mais é do que a apresentação desse modelo completo de condições
gerais, implicado pelo modelo derivado dos postulados selecionados.
Segundo Whitehead, a matemática fornece a base para o pensamento criativo dos
cientistas ao se aproximarem da observação da natureza. Ao desenvolver fórmulas
matemáticas, como fizeram Galileu, Descartes, Huyghens e Newton, os cientistas
foram capazes de descrever e quantificar os fenômenos naturais. Essas fórmulas
matemáticas permitem expressar relações precisas entre variáveis e estabelecer
padrões de comportamento na natureza. Elas fornecem uma linguagem precisa e
concisa para descrever e prever fenômenos naturais, permitindo avanços
significativos no entendimento do mundo natural. Ou seja: à semelhança de Pitágoras
e Platão, que viam a natureza como expressão da Matemática, os modernos também
partiram de tal base para traçar uma relação matemática entre natureza e ciência.
Em particular, Whitehead menciona que a influência direta de Isaac Newton sobre a
filosofia é mais perceptível em Immanuel Kant do que em David Hume. Isso indica que
a abordagem matemática e científica de Newton teve um impacto significativo na
filosofia posterior, especialmente no desenvolvimento da epistemologia e na
compreensão do conhecimento. O ponto central aqui é que a matemática, por sua
precisão e rigor, desempenha um papel crucial na análise e na formulação de teorias
científicas. Ela fornece uma estrutura lógica e um conjunto de ferramentas que
permitem explorar e descrever os fenômenos naturais de maneira consistente e
sistemática.

Capítulo III – O século do gênio

Foram três as tendências da ciência moderna: o aparecimento da matemática, a crença


instintiva em uma ordem da natureza e o racionalismo da Idade Média. Whitehead
discute o método da teologia escolástica e sua relação com a indução. Ele argumenta
que devemos observar as circunstâncias imediatas e usar a razão para extrair uma
descrição geral de sua natureza. A indução pressupõe a metafísica, ou seja, a
justificação racional para os apelos à história ou para conjecturas sobre o futuro
depende de uma base de conhecimento que certifique a existência de uma história
passada e um futuro determinado. Whitehead enfatiza que a indução não é
essencialmente derivada de leis gerais, mas sim a descoberta de características de um
futuro determinado com base em características conhecidas de um passado
determinado. Ele ressalta que a aceitação ampla de leis gerais nas circunstâncias
cognoscíveis acrescenta uma dose de incerteza a esse conhecimento limitado.
Whitehead comenta sobre uma citação de Francis Bacon, observando três pontos
importantes. Primeiro, ele destaca que Bacon não reconheceu a natureza quantitativa
que estava se desenvolvendo na ciência do século XVII. A ciência estava se tornando
cada vez mais orientada para a quantificação, buscando elementos mensuráveis entre
os fenômenos e investigando as relações entre essas medidas de quantidades físicas.
Segundo, Whitehead argumenta que Bacon pensava de forma qualitativa em relação a
conceitos como "ação a distância", não considerando a dimensão quantitativa desses
fenômenos. Isso pode ter sido influenciado pelas doutrinas lógicas da época, que
enfatizavam a classificação em vez da medição.
Critica-se o OBSCURANTISMO CIENTÍFICO: Essa fórmula contém o repúdio de
uma crença que impediu por dois séculos o progresso da física. Também atinge um
conceito fundamental, essencial à teoria científica; refiro-me ao conceito de um
sistema idealmente ísolado. Essa concepção abrange um caráter fundamental das
coisas, sem o qual seria impossível a ciência ou de fato qualquer conhecimento por
parte do intelecto finito. O sistema "isolado" não é um sistema solipsístico, fora do
qual só haveria negação. É isolado dentro do universo. Quer isso dizer que há
verdades a respeito desse sistema que demandam referência apenas ao remanescente
das coisas por meio de um uniforme e sistemático esquema de relações. Assim, a
concepção de sistema isolado é a concepção não de independência substancial do
remanescente das coisas, mas de liberdade da casual dependência contingente de
pontos separados dentro do restante do universo. Além russo, essa liberdade de
dependência casual só é exigida com respeito a algumas características abstratas que
se prendem ao sistema isolado, e não com respeito ao sistema em toda a sua
concreção.
E continua: “As grandes forças da natureza como a gravitação foram inteiramente
determinadas pelas configurações da massa. Assim, as configurações determinaram
as suas próprias mudanças, de modo que o círculo do pensamento cientifico foi
completamente fechado. Essa é a famosa teoria mecanicista da natureza, que reinou
soberana durante todo o século XVII. É o credo ortodoxo da ciência fisica. Além
disso, o credo justifica-se mediante a experiência pragmática. Ele funcionou. Os
fisicos deixaram de se interessar pela filosofia. Enfatizaram O anti-racionalismo na
reviravolta histórica. Mas as dificuldades dessa teoria do mecanicismo materialista
muito cedo se tornaram evidentes”.
Resumindo tudo com as próprias palavras de Whitehead: “O século XVII tinha afinal
produzido um esquema de pensamento científico, estruturado pelos matemáticos para o
uso dos matemáticos. A grande característica da mentalidade matemática é a sua
capacidade para lidar com as abstrações e tirar esclarecedoras e demonstrativas
seqüências de raciocínio, inteiramente satisfatórias, na medida em que são as
abstrações sobre as quais se deseja refletir. O enorme sucesso das abstrações
cientificas, pondo-se em um lado a matéria com a sua Incalização simples no tempo e
no espaço, e no outro a mente, que percebe, sofre e raciocina, mas não interfere,
inseriu na filosofia a tarefa de aceitá-las como a mais concreta apresentação dos fatos.
Com isso, a filosofia moderna arruinou-se. Tem oscilado de maneira complexa entre
três extremos. Há os dualistas, que aceitam a matéria e o espirito em base igual, e as
duas variedades de monistas, os que incluem o espírito na matéria e os que incluem a
matéria no espírito. Mas esse jogo com abstrações nunca pode superar a inerente
confusão introduzida por se ter adscrito a concreção deslncada ao esquema científico
do século XVII”.

Capítulo IV – O século XVIII e o restante do livro

Basicamente, o Capítulo IV se resume a elogiar alguns pontos do Berkeley e a fazer


alguns apontamentos gerais sobre a ciência. Em sua busca por compreender o
reconhecimento, Whitehead nos convida a abandonar a visão tradicional, na qual
reconhecemos as coisas como entidades separadas. Em vez disso, ele nos encoraja a
considerar o reconhecimento como o ato de "preensão", onde não reconhecemos as
coisas, mas sim apreendemos ou preendemos as coisas em uma unidade de preensão.
Aqui, a unidade de preensão é fundamental, definida como um "aqui e agora". O que
está sendo reconhecido não são as coisas em si, mas a própria preensão. A perspectiva
desempenha um papel central nesse contexto. Whitehead destaca que nossa percepção
é moldada pela perspectiva na qual nos encontramos. Isso nos leva a uma visão da
realidade onde cada objeto é percebido de acordo com o ponto de vista da unificação
preensiva presente naquele momento e lugar. Essa ideia ecoa Leibniz, que introduziu a
noção de perspectiva em suas mônadas que espelham perspectivas do universo.
Whitehead, no entanto, vai além e coloca essas mônadas em consonância com os
acontecimentos unificados no espaço e no tempo. A natureza, segundo Whitehead, não
é estática, mas sim um processo de desenvolvimento expansivo. Cada acontecimento é
uma unidade que resulta da individualização da atividade subjacente. Essa
individualização não implica independência substancial; pelo contrário, a natureza é
uma intrincada teia de interdependências. Os objetos dos sentidos, como as cores, sons
e cheiros, também são examinados em relação ao espaço-tempo. Whitehead argumenta
que um objeto dos sentidos tem "ingresso" no espaço-tempo e é percebido como uma
unidade preensiva de diversos modos. A filosofia de Whitehead nos leva a uma
concepção fascinante da natureza. Ele sugere que a realidade é o processo, e a
pergunta sobre a realidade de objetos individuais, como a cor vermelha, é trivial. A
realidade reside nos processos em constante evolução, onde cada acontecimento tem
contemporâneos, um passado e um futuro. A realidade é o resultado desses
acontecimentos que refletem modos de seus contemporâneos, predecessores e aspectos
do futuro.
Whitehead começa destacando a influência duradoura do esquema científico do
século XVII sobre o século XVIII. Esse esquema, baseado na ciência emergente da
época, retratava o universo como um mecanismo imutável e regido por leis naturais
rigorosas. Essa visão era, de certa forma, semelhante à filosofia agostiniana, que via o
homem como incapaz de cooperar com a Graça Irresistível de Deus. Whitehead
observa uma dualidade intrigante no pensamento ocidental durante o século XVIII. Os
povos ocidentais pareciam compartilhar uma peculiaridade que costuma ser associada
aos chineses: a capacidade de abraçar duas visões de mundo aparentemente
contraditórias. Isso inclui a coexistência de um realismo científico, baseado no
mecanismo, e uma crença estável no mundo dos seres humanos e dos animais
superiores como organismos auto determinados. Whitehead destaca que essa
dualidade de pensamento gera uma incompatibilidade fundamental. Enquanto a
ciência baseada no mecanismo pressupõe uma causalidade física suprema e separa a
causa física da causa final, muitas ações humanas pressupõem ações dirigidas a fins.
Essa contradição subjacente enfraquece o pensamento moderno, tornando-o
inconsistente.
Tradicionalmente, o realismo defende a existência de uma realidade independente da
mente, enquanto o idealismo argumenta que a realidade é fundamentalmente mental.
No entanto, Whitehead argumenta que tanto realistas quanto idealistas podem adotar
uma perspectiva objetiva em relação ao mundo que percebem. Um ponto crucial
abordado é a relação intrínseca entre a cognição e a realidade. Os idealistas objetivos
sustentam que a mente cognitiva está inextricavelmente ligada a todos os detalhes da
realidade percebida. Isso significa que a mente não pode ser separada da experiência e
da percepção do mundo, e que a realidade é de alguma forma moldada pela mente que
a percebe. Os realistas, por outro lado, negam essa conexão profunda entre mente e
realidade, argumentando que a realidade existe independentemente da mente e que a
mente é apenas um receptáculo passivo de informações sensoriais.
Uma parte significativa da discussão gira em torno do papel do corpo humano na
percepção do mundo exterior. Whitehead enfatiza que a percepção humana é
inextricavelmente ligada às condições e eventos que ocorrem no corpo humano. Nossa
percepção do mundo depende das atividades físicas e sensoriais do nosso corpo. Isso
leva a uma complexa interação entre elementos objetivos (o corpo) e subjetivos (a
mente) na nossa compreensão do mundo. Em relação à sua própria teoria, Whitehead
propõe uma abordagem que difere das visões tradicionais. Ele argumenta que a noção
de "posição simples" como a forma primária pela qual as coisas existem no espaço-
tempo deve ser abandonada. Em vez disso, ele sugere que todas as coisas estão de
alguma forma presentes em todas as partes do espaço-tempo, refletindo-se
mutuamente. Isso implica uma concepção mais dinâmica e interconectada da
realidade.
No Século XIX, a Teoria da Evolução foi um paradigma que abarcou outras áreas para
além da Biologia. Whitehead começa abordando a complexa relação entre a natureza e
os organismos. Ele destaca que o surgimento dos organismos parece envolver uma
atividade seletiva que se assemelha a um propósito. Isso levanta questões intrigantes
sobre a natureza intrínseca dos organismos e como eles se encaixam na ordem natural.
Whitehead argumenta que os organismos duradouros resultam da evolução, enquanto
tudo o que não é duradouro desaparece, o que já sinaliza uma perspectiva
evolucionista. Uma ideia fundamental introduzida por Whitehead é a noção de
"duração física". Ele a define como o processo de herança contínua de uma identidade
de caráter, transmitida através de uma série temporal de acontecimentos. Isso implica
que a duração não é um mero acaso, mas uma propriedade intrínseca da ordem
natural. A interpretação da duração depende de se considerarmos a matéria ou o
organismo como fundamental, o que levanta questões profundas sobre a natureza da
realidade. Whitehead também explora a importância do ambiente na evolução. Ele
destaca que um ambiente favorável é crucial para a manutenção tanto de organismos
quanto de elementos da matéria inorgânica. Isso leva à ideia de que o mecanismo da
evolução envolve a interação complexa entre organismos e seu ambiente, com ambos
moldando-se mutuamente ao longo do tempo.
No entanto, ele argumenta que no final do século XIX, a materialismo ortodoxo
começou a ser abalado por desenvolvimentos em várias áreas, incluindo biologia,
teoria da energia e teorias moleculares. Um ponto crucial discutido por Whitehead é
a questão da relatividade, que desafiou as noções tradicionais de espaço e tempo. Ele
destaca que a teoria da relatividade de Einstein trouxe uma reorganização radical das
ideias sobre espaço e tempo, rompendo com a visão newtoniana clássica. Whitehead
enfatiza que essa mudança nas concepções de espaço e tempo impactou
profundamente a compreensão da realidade. Em seguida, após criticar Kant, o texto
argumenta que o tempo é uma sucessão de durações epocais e que a concepção
tradicional de um tempo contínuo e infinitamente divisível é inadequada para entender
a natureza do tempo. Em vez disso, o tempo é visto como uma sucessão atômica que
emerge da realização de modelos em acontecimentos específicos.
Ele começa explicando que a teoria da relatividade atraiu muita atenção do público,
mas a verdadeira revolução ocorreu com a teoria quântica. A teoria quântica
introduziu a ideia de que certos efeitos não ocorrem de maneira contínua, mas em
saltos definidos. Isso significa que algumas grandezas não podem variar gradualmente,
mas apenas em quantidades específicas. Whitehead usa a metáfora de caminhar a três
ou quatro milhas por hora, mas não a três e meia milhas por hora para ilustrar essa
ideia. O foco da teoria quântica é a radiação de luz por moléculas excitadas após uma
colisão. A luz é composta por ondas de vibração no campo eletromagnético. Quando
uma molécula excitada emite luz, ela faz isso em frequências específicas, o que resulta
em cores definidas no espectro.
Surge uma peculiaridade na teoria quântica: parece haver quantidades mínimas de
energia que não podem ser divididas. Isso é semelhante ao exemplo de alguém que
paga uma dívida em moeda e não pode dividir um centavo em partes menores para
corresponder a uma subdivisão exata da dívida. A causa de excitação (energia) é
suficientemente forte para produzir a emissão de um centavo de energia ou falha em
produzir qualquer energia. Isso significa que a molécula só emite um número inteiro de
centavos de energia. Além disso, diferentes modos de vibração têm diferentes
frequências, e a quantidade mínima de energia que cada modo pode emitir está
relacionada à sua frequência. Isso implica que diferentes modos de vibração podem
emitir quantidades diferentes de energia.
Ele então traça a origem da filosofia moderna, afirmando que ela compartilha uma
tendência geral de desenvolvimento com a ciência e que essa tendência foi estabelecida
no século XVII, em parte pelas mesmas pessoas que estabeleceram os princípios
científicos. Ele destaca que esse período de transição ocorreu após o século XV,
marcando uma mudança na mentalidade europeia que afetou religião, ciência e
filosofia. Whitehead observa que a filosofia moderna é mais sensível a essas mudanças
do que a ciência, pois busca princípios universais e tenta explicar a relação entre
diversos detalhes na realidade. Ele enfatiza que a filosofia moderna é marcada pelo
subjetivismo em contraste com a atitude objetiva dos antigos filósofos.
Também compara essa mudança na filosofia com a mudança na religião, onde o
interesse teológico passou de questões sobre a natureza de Deus para questões sobre a
experiência individual de justificação. O autor também menciona a influência do
objetivismo da Idade Média e do mundo antigo sobre a ciência, que concebe a natureza
como algo que existe por si mesma, com suas próprias interações. Ele observa que, de
certa forma, a filosofia moderna se afastou da ciência devido a esse antagonismo com
a ciência. A filosofia moderna se tornou mais subjetiva, enquanto a ciência continuou a
desenvolver suas leis sem se preocupar com a harmonização com conceitos filosóficos.
Whitehead argumenta que essa separação entre filosofia e ciência teve consequências
infelizes para ambas. Os filósofos são naturalmente inclinados ao racionalismo e
buscam princípios universais, enquanto a ciência se concentra em fatos observáveis.
Isso levou a um desvio da filosofia para a esfera subjetiva do espírito, longe da esfera
objetiva da matéria. Essa evolução do pensamento no século XVII coincidiu com o
crescimento da importância da personalidade individual derivada da Idade Média.
Whitehead inicia seu capítulo criticando a expressão "sujeito-objeto" como
insuficiente para descrever a experiência fundamental. Ele argumenta que essa
expressão pressupõe uma doutrina metafísica que envolve sujeitos distintos
qualificados por seus predicados particulares. O filósofo afirma que essa abordagem
conduziria ao solipsismo, uma visão que considera apenas a mente individual como
certa, ignorando a existência do mundo exterior. Portanto, Whitehead sugere que a
expressão "sujeito-objeto" não reflete adequadamente a complexidade da experiência.
Uma das contribuições fundamentais de Whitehead é a proposta de uma filosofia
orgânica em contraposição à visão materialista predominante. Enquanto o
materialismo separa matéria e espírito como substâncias independentes, a filosofia
orgânica considera a realidade como um conjunto de processos interconectados.
Whitehead destaca a ideia de que a realidade é composta por eventos dispostos em
comunidades que se comunicam entre si. Isso implica que tudo o que existe está em
constante relação e interdependência, formando uma teia complexa de eventos.
Whitehead explora como a individualidade das entidades na física pode ser
compreendida dentro de uma teoria orgânica. Ele utiliza o exemplo da carga elétrica
para ilustrar seu ponto de vista. A carga elétrica, segundo Whitehead, desempenha um
papel na organização de modelos transmitidos no tempo e no espaço. Ela age como
uma marca de individualidade que determina como a energia e a informação se movem
e interagem no universo. Essa individualização não é estática, mas dinâmica, pois
envolve a relação contínua e interconectada das entidades com seu ambiente. O autor
argumenta que a arte é fundamental para a compreensão e apreciação da vida além
da simples luta pela sobrevivência. Ele menciona que a ciência, em sua abordagem
exclusivamente materialista, tende a negligenciar os valores estéticos e espirituais,
concentrando-se apenas na matéria e na competição. Isso resultou em uma ênfase
excessiva na luta pela vida, na competição e no antagonismo, em detrimento da
cooperação e do crescimento social.

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