Você está na página 1de 41

Apresentação da unidade 2 -

Análise das diferentes


cosmovisões relacionadas às
Origens
Tiago Alves Jorge de Souza

Olá, caro estudante!

Na unidade 1, tivemos a oportunidade de nos familiarizarmos com o método científico, entendendo a


importância de cada um dos seus passos. Compreendemos que a elaboração de uma hipótese deve ser precedida
de uma observação cuidadosa da realidade existente. Desta forma, a hipótese deve ser plausível considerando a
realidade objetiva. No entanto, mesmo que a hipótese seja plausível e, aparentemente, coerente, ela só poderá
ser considerada como válida em termos científicos se for testada, adequadamente, por meio de experimentos.
Uma hipótese confirmada várias vezes por meio de procedimentos experimentais se torna uma teoria. Mas
mesmo uma teoria científica pode cair por terra em função de novas evidências.

Nesta unidade, aprenderemos um pouco sobre os conceitos de natureza científica, teológica e filosófica, que
estruturam as diferentes cosmovisões relacionadas às Origens. Estes conceitos são chamados de estruturas
conceituais. Veremos que estruturas conceituais relacionadas ao método científico integram todas as
cosmovisões das origens. Todavia, devido ao fato de esse método não ser capaz de deliberar acerca de aspectos
transcendentais, algumas questões relacionadas às origens são mais bem abordadas à luz da Filosofia e da
Teologia. Desta maneira, as diferentes cosmovisões, também, possuem componentes de natureza filosófica e
teológica. Essa visão holística permitirá, por exemplo, que você compreenda que alguns dos pilares da teoria
evolucionista possuem base filosófica, e não empírica. Por fim, abordaremos, detalhadamente, os aspectos que
diferenciam a Bíblia dos demais livros, respaldando, desta forma, a validade da cosmovisão criacionista bíblica.

Agora, convidamos você a assistir ao vídeo de apresentação da unidade.

https://www.youtube.com/embed/MP7LjbD8SvU

- 43 -
Introdução às estruturas
conceituais
Tiago Alves Jorge de Souza

Introdução
Caro estudante, neste tópico, estudaremos os elementos que compõem a cosmovisão, pensando na realidade que
nos rodeia. Compreenderemos as estruturas conceituais, que serão essenciais para identificarmos as diferentes
cosmovisões acerca das origens. Estas visões não se limitam ao escopo do método científico, tendo em vista que
este método possui uma série de limitações, por exemplo, a incapacidade de deliberar acerca de aspectos
metafísicos. Por isso, estudaremos a junção dos componentes científicos, filosóficos e teológicos, que compõem a
nossa visão de mundo. Acompanhe!

Estruturas conceituais: do empirismo à Teologia


Bíblica
O empirismo, simplificadamente, é o conhecimento produzido a partir de evidências. Esta teoria do
conhecimento pode ser considerada como um importante paradigma da metodologia científica, pois se limita à
investigação daquilo que é passível de ser captado do mundo externo pelos sentidos. Destacam-se nesta corrente
teórica a observação isenta e cuidadosa, além da experimentação (SOUZA, 2010).

FIQUE ATENTO
Apesar de avanços científicos como a invenção do microscópio e do telescópio ampliarem a
capacidade humana de perscrutar o micro e o macrocosmo, eles estão relacionados com a
forma com que o ser humano é capaz de compreender o mundo ao seu redor (empirismo). Ou
seja, a ciência é uma ferramenta humana utilizada para compreender a natureza, e não uma
entidade que está acima do seu criador.

- 44 -
No entanto, o método científico empirista, utilizado atualmente, é incapaz de deliberar sobre aspectos
metafísicos das diferentes cosmovisões. Desta forma, para construirmos uma visão ampla de mundo, precisamos
considerar, conjuntamente, as estruturas conceituais de natureza filosófica e teológica (SOUZA, 2010).

Figura 1 - Os sentidos humanos


Fonte: YourElechka, Shutterstock, 2018.

O mundo Ocidental, de forma específica, foi fortemente influenciado pela Teologia Bíblica. Essa vertente
teológica procura identificar e caracterizar a existência, a natureza, os atributos e a interferência divina na
história humana e universal, baseando-se na Bíblia. Segundo o cristianismo, a Bíblia é a própria palavra de Deus
revelada, as Sagradas Escrituras (SOUZA, 2010).

A Bíblia relata que esse Deus revelado em suas páginas é o mesmo Deus que se revela no livro da natureza. A
Teologia Natural, por outro lado, é uma proposta de natureza filosófica a qual considera que a natureza, os
atributos e a criação de Deus podem ser plenamente reconhecidos por meio da racionalidade do ser humano. Ou
seja, a capacidade cognitiva humana é capaz de acessar a realidade através dos fenômenos naturais. Neste caso, o
único instrumento cognitivo para se aproximar de Deus é a razão humana, e não a fé (SOUZA, 2010).

Naturalismo metafísico e metodológico


Outras estruturas conceituais tentam explicar a realidade em que vivemos sem recorrer à Teologia. O
naturalismo metafísico, por exemplo, pode ser definido como o conhecimento das primeiras causas e dos
princípios do mundo natural, sob uma perspectiva, exclusivamente, ateísta da realidade. Neste sentido, toda a
realidade poderia ser explicada mecanicamente, em termos de causas e leis naturais. Nega-se o supernatural.
Portanto, nessa estrutura conceitual, a natureza é tudo o que existe. Por outro lado, o naturalismo metodológico
afirma que o mundo natural é passível de ser investigado de modo racional e sistemático.

Assim, enfatiza-se a busca de compreensão dos fenômenos observáveis, mediante o método científico, mas não
se nega a possibilidade de que haja alguma realidade além daquela acessível à pesquisa empírica. É essencial

diferenciar a pesquisa científica, denominada de naturalismo metodológico, do naturalismo metafísico, que é

- 45 -
diferenciar a pesquisa científica, denominada de naturalismo metodológico, do naturalismo metafísico, que é
uma estrutura conceitual filosófica ateísta. Quando esta premissa fundamental é desrespeitada, obtém-se
consciente, ou não, um pseudoconhecimento científico, propiciando, assim, muitos desentendimentos e prejuízos
no progresso da própria Ciência (GOÉS, 2010; SOUZA, 2010).

FIQUE ATENTO
O método científico é neutro, porém todo cientista possui uma cosmovisão prévia que irá
influenciar e direcionar a sua pesquisa. Desta maneira, assumir sua tendenciosidade e se
esforçar para evitá-la é o primeiro passo para que um cientista realize pesquisa científica de
qualidade.

Herança Grega aristotélica e herança Grega neo-


platônica
As nossas cosmovisões, também, são muito influenciadas pela cultura helênica. Estruturas conceituais oriundas
do pensamento de alguns dos principais filósofos gregos, como Aristóteles e Platão, também integram as
diferentes visões de mundo do Ocidente.

Figura 2 - Estátua de Platão


Fonte: Nice_Media_PRODUCTION, Shutterstock, 2018.

A herança Grega aristotélica, por exemplo, enfatiza que os objetos naturais devem ser avaliados, essencialmente,
não pela sua estrutura material, mas sim pelo princípio orientador de um propósito, denominado de teleologia,
ou objetivo racional, inerentemente ligado à própria matéria, que impele os processos naturais (SOUZA, 2010).

- 46 -
Figura 3 - Aristóteles, filósofo grego
Fonte: Thelefty, Shutterstock, 2018.

Já na estrutura conceitual baseada na herança grega neoplatônica, todas as coisas são imbuídas de vida ou
possuem uma alma. Considera-se o universo como um ser autocriativo dotado de um princípio passivo, a
matéria e um princípio ativo, o espírito universal racional, que habita no interior da matéria e dirige os
processos naturais (SOUZA, 2010).

SAIBA MAIS
Para se aprofundar sobre o tema, indicamos a leitura do livro Uma introdução à metafísica, dos
autores Max William Alexandre Costa e Thiago Bonfim Melo. Editora InterSaberes. Disponível
em https://biblioteca.sophia.com.br/9198/index.asp?codigo_sophia=809046. Acesso em: 30
jan. 2023.

Mecanicismo teológico e mecanicismo


materialista
Com o avanço do conhecimento científico no início do século XVII, vários estudiosos, como o físico William
Harvey e o reverendo William Paley, começaram a compreender, de forma mais clara, a complexidade dos seres
vivos. Ao se deparar com essa complexidade, eles perceberam que os organismos eram semelhantes às
máquinas, pois todas as partes estavam finamente ajustadas para que o organismo funcionasse perfeitamente.

Desse modo, as complexidades biológicas começaram a ser descritas utilizando de analogias com complexos
inventos humanos, como o relógio. Essa visão ficou conhecida como Mecanicismo.

- 47 -
Figura 4 - O relógio e o mecanismo biológico
Fonte: Brian A Jackson, Shutterstock, 2018.

Nesta época, a maioria dos cientistas eram religiosos, assim, eles atribuíam a harmonia das máquinas biológicas
ao desenho de Deus, o que recebeu o nome de mecanicismo teológico (CUNHA, 2003).

Esta vertente do conhecimento defende que as diferentes partes do universo se engrenam, como os elementos
de uma grande máquina, que com sua regularidade aponta para o Deus Criador da teologia bíblica, o qual seria o
grande engenheiro mecânico, por detrás das máquinas biológicas (CUNHA, 2003; SOUZA, 2010).

EXEMPLO
Imagine que você está em uma praia e se depara com um relógio, você resolve pegá-lo e olhar
mais de perto. Um amigo que está na praia com você começa a te explicar que a água do mar
trouxe alguns fragmentos de minério de ferro para a praia. Houve uma grande tempestade e os
raios incidiram sobre aqueles fragmentos derretendo-os. A presença de fortes ventos, de água
e de areia permitiu que esses fragmentos fossem moldados e dessem origem às peças do
relógio. Você poderia achar essa explicação um tanto improvável, mas ela é muitas vezes
empregada para explicar a origem da complexidade dos organismos, que são bem mais
complexos que um relógio.

A compreensão das estruturas conceituais descritas neste tópico é de suma importância para que você adquira a
capacidade de entender as diferentes visões de mundo presentes na nossa sociedade. Em um mundo globalizado
e heterogêneo como vivemos, essa capacidade é essencial para o estabelecimento de um diálogo respeitoso e
construtivo.

Fechamento
Neste tópico, estudamos as diversas estruturas conceituais de natureza teológica, filosófica e científica, que estão
relacionadas à forma que enxergamos as nossas origens. Compreendemos a definição dessas estruturas
conceituais, que são importantes para um entendimento de como vemos o mundo. Aprendemos que, geralmente,

esta visão não está baseada, estritamente, na Ciência. Identificamos o empirismo, a Teologia Bíblica e natural, o

- 48 -
esta visão não está baseada, estritamente, na Ciência. Identificamos o empirismo, a Teologia Bíblica e natural, o
mecanicismo teológico e o mecanicismo materialista, o naturalismo metafísico e o metodológico, além da
herança grega aristotélica e da herança grega neoplatônica.

Referências
COSTA, M. W. A.; MELO, T. B. Uma introdução à metafísica. Curitiba: InterSaberes, 2015.

CRUZ, V. M. A. Cosmovisão criacionista: A estrutura do nosso pensamento In: Geoscience Research Institute, n.
14, 2007. Disponível em: https://www.academia.edu/26083607/COSMOVIS%C3%83O_CRIACIONISTA. Acesso
em: 30 jan. 2023.

CUNHA, E. L. Religião e filosofia: modos de compreensão da realidade. In: Revista hermenêutica, v. 3, 2003.
Disponível em: https://biblioteca.sophia.com.br/9198/index.asp?codigo_sophia=204484. Acesso em: 30 jan.
2023.

GOÉS, G. C. A teologia que fabricou Richard Dawkins. In: Kerygma – Revista de Teologia do UNASP. v. 6, n. 1,
2010. Disponível em: https://revistas.unasp.edu.br/kerygma/article/view/181/182. Acesso em: 30 jan. 2023.

JUNKER, R.; SCHERER S. Evolução: um livro texto crítico. Brasília: Editora Qualidade – Sociedade Criacionista
Brasileira, 2002. p. 328.

SOUZA JUNIOR, N. N. Filosofia das origens: uma introdução à controvérsia evolucionismo e criacionismo. In: Acta
Científica: Ciências Humanas, v. 2, n. 19, 2. semestre de 2010. Disponível em: https://www.evidenciasonline.
org/?page_id=449. Acesso em: 30 jan. 2023.

- 49 -
Cosmovisões evolucionistas
Tiago Alves Jorge de Souza

Introdução
Caro estudante, no tópico anterior, estudamos as estruturas conceituais filosóficas, teológicas e científicas
relacionadas às Origens. Neste tópico, utilizaremos essas estruturas conceituais como os pilares da estrutura
epistemológica das cosmovisões das Origens.

Entenderemos como os cientistas, pais da Ciência Moderna, aceitavam a ideia do Deus Criador por detrás da
natureza, adotando uma visão de mundo criacionista. Por fim, conheceremos as cosmovisões criacionista bíblica
e evolucionista ateísta e suas variantes. Acompanhe!

Evolucionismo ateísta e panteísta


Apesar de existirem ideias evolucionistas muito antes de Charles Darwin, a teoria evolucionista ganhou
popularidade após a publicação do livro "A origem das espécies", de Charles Darwin (1859). Nesta obra, toda a
biodiversidade biológica compartilhava uma ancestralidade em comum, apontando que a evolução surgiu a
partir de processos estocásticos guiados pela seleção natural durante milhões de anos (CRUZ, 2007).

SAIBA MAIS
Para se aprofundar sobre o tema, indicamos a leitura do livro A relação entre Ciência e Religiã
o, do autor Jaziel Martins. Editora: InterSaberes. Ano: 2017. Disponível em: https://biblioteca.
sophia.com.br/9198/index.asp?codigo_sophia=809933. Acesso em: 30 jan. 2023.

A vertente mais aceita do evolucionismo é a ateísta, a qual é formada pela junção do mecanicismo materialista,
do naturalismo metafísico e do empirismo. Ou seja, segundo esta cosmovisão, o Universo e a vida apresentam
uma harmonia e uma sintonia, que, se olhada de uma forma simplista, pode evocar um Criador. Entretanto, se
analisada à luz da teoria evolutiva, pode ser explicada por meio de processos aleatórios, ao longo de milhões
/bilhões de anos, por via do mecanicismo materialista.

- 50 -
Nesta visão, a percepção da realidade captada a partir dos sentidos humanos, como enxerga o empirismo, é
capaz de preencher todas as lacunas epistemológicas de uma cosmovisão, pela ótica do naturalismo metafísico.

Um dos representantes mais famoso dessa cosmovisão é o biólogo inglês Richard Dawkins. Algumas de suas
declarações retratam o pensamento dessa cosmovisão: “Eu me divirto com a estratégia, quando me perguntam
se sou ateu, de lembrar que o autor da pergunta também é ateu no que diz respeito a Zeus, Apolo, Amon Rá,
Mithra, Baal, Thor, Wotan, o Bezerro de Outro e o Monstro de Espaguete Voador. Eu só fui um deus além”
(DAWKINS, 2007, p. 66). Assim, “[...] a seleção natural é o maior guindaste de todos os tempos. Ela elevou a vida
da simplicidade primeva a altitudes estonteantes de complexidade, beleza e aparente desígnio que hoje nos
deslumbram” (DAWKINS, 2007, p. 87; GOÉS, 2010).

Figura 1 - Evolucionismo ateísta e panteísta


Fonte: Gts, Shutterstock, 2018.

Apesar de o evolucionismo ateísta ser o mais amplamente aceito pelos cientistas céticos, existem outras
vertentes do evolucionismo, como o panteísta. O evolucionismo panteísta é formado pela junção da herança
Grega neoplatônica, da teologia filosófica e do empirismo. Para essa cosmovisão evolucionista, Deus e o Universo
seriam realidades integradas. Ou seja, por detrás da matéria que evoluiu ao longo de milhões de anos existe um
princípio ativo, que, na verdade, nós, chamamos de Deus (CUNHA, 2003; SOUZA; JUNIOR, 2010).

- 51 -
Evolucionismo deísta e teísta
Outra cosmovisão evolucionista alternativa é a deísta, a qual é formada pela associação entre o naturalismo
metodológico, a teologia natural, o empirismo e o mecanicismo teológico. Essa cosmovisão atribui a criação do
Universo a uma inteligência superior. No entanto, esta inteligência seria fruto de uma inteligência maior que
poderia ser um Deus, mas que não seria pessoal como considerado pelos teístas. Ou seja, Deus pode ter criado o
Universo e a vida, mas ele não se comunica com a humanidade.

Figura 2 - Evolucionismo deísta e teísta


Fonte: Gts, Shutterstock, 2018.

Por fim, temos o evolucionismo teísta, que é formado pela associação do naturalismo metodológico, da teologia
filosófica e do empirismo. Essa cosmovisão tenta conciliar a ideia de um Deus pessoal com a teoria da evolução.
Para isso, o relato bíblico da Criação é encarado como sendo de caráter alegórico ou metafórico. Segundo esta
visão, Deus seria a aplicação para a origem do cosmos e da vida. No entanto, formas primitivas de vida criadas

evoluíram por meio de processos macroevolutivos dando origem à biodiversidade, como a conhecemos nos dias

- 52 -
evoluíram por meio de processos macroevolutivos dando origem à biodiversidade, como a conhecemos nos dias
de hoje (CRUZ, 2007).

Para saber mais, assista à videoaula sobre as diferentes cosmovisões.

https://www.youtube.com/embed/MP7LjbD8SvU

Criacionismo progressivo, islâmico, bíblico e


design inteligente
Assim como ocorre na cosmovisão evolucionista, o criacionismo possui diferentes vertentes. O criacionismo
progressivo, por exemplo, é formado pela associação entre o naturalismo metodológico, a teologia filosófica e o
empirismo.

EXEMPLO
As diferentes cosmovisões criacionistas têm em comum a crença que existe uma divindade por
detrás da natureza que deve ser reconhecida e adorada. Provavelmente, o criacionismo
islâmico seja o menos conhecido no mundo Ocidental. Para exemplificar a abrangência dessa
cosmovisão, consideremos o trabalho de Adnan Oktar, também conhecido como Harun Yahya.
Ele tem produzido materiais correlacionando a Ciência com os escritos do Alcorão. Recebe
especial destaque uma série de livros intitulados “Atlas da Criação”. Com o intuito de difundir
suas pesquisas, em 2007, Harun enviou cópias do seu atlas para as principais universidades
dos EUA e da Europa.

Essa cosmovisão rejeita a literalidade dos dias relatados em Gênesis 1, afirmando que, na verdade, esses dias
representam eras nas quais Deus se engajou na sua obra criativa. Ou seja, Deus criou o mundo ao longo de
milhares de anos e não em uma semana literal.

Outra vertente do criacionismo é o islâmico, o qual é formado pela associação entre o naturalismo metodológico,
a teologia filosófica, o empirismo e o mecanicismo teológico. Nessa cosmovisão, o Alcorão é considerado como
sendo a palavra de Deus, chamado de Alá, e é utilizado como fonte de autoridade para o entendimento da forma
como o cosmos foi criado pela divindade.

- 53 -
Figura 3 - Criacionismo progressivo e islâmico
Fonte: Gts, Shutterstock, 2018.

O criacionismo bíblico é formado pela associação entre o naturalismo metodológico, a teologia Bíblia, o
empirismo e o mecanicismo teológico. Essa proposta considera a Bíblia como um livro inspirado por Deus e,
portanto, a base mais confiável para compreendermos as nossas Origens. Por fim, o design inteligente é o
resultado da associação entre a herança Grega aristotélica, a teologia filosófica e o empirismo.

- 54 -
Figura 4 - Criacionista bíblico e design inteligente
Fonte: Gts, Shutterstock, 2018.

Apesar de, assim como nas cosmovisões criacionistas, considerar a existência de uma mente inteligente por
detrás da perfeição da natureza, a cosmovisão do design inteligente não assume um compromisso com a
definição desse designer, não possuindo necessariamente implicações religiosas (SOUZA JUNIOR, 2010).

FIQUE ATENTO
Existem muitos proponentes do design inteligente que são cristãos. No entanto, por não
possuir implicações religiosas, alguns céticos e agnósticos também defendem essa cosmovisão
como sendo a mais coerente para explicar as Origens. Nesse contexto, é um erro tratar o design
inteligente como sendo uma abordagem criacionista.

- 55 -
Fechamento
Neste tópico, estudamos as diferentes cosmovisões relacionadas às Origens. Obviamente, existem ainda outras
visões de mundo que não foram abordadas aqui. No entanto, os exemplos citados foram suficientes para
demonstrar que as diferentes cosmovisões possuem pilares de natureza científica, filosófica e/ou teológica.
Compreendemos o criacionismo progressivo, islâmico, bíblico e design inteligente. Além disso, estudamos o
evolucionismo ateísta e panteísta e o evolucionismo deísta e teísta, identificando suas principais ideias.

Referências
CRUZ, V. M. A. Cosmovisão criacionista: A estrutura do nosso pensamento In: Geoscience Research Institute, n.
14, 2007. Disponível em: https://www.academia.edu/26083607/COSMOVIS%C3%83O_CRIACIONISTA. Acesso
em: 30 jan. 2023.

CUNHA, E. L. Religião e filosofia: modos de compreensão da realidade. In: Revista hermenêutica, v. 3, 2003.
Disponível em: https://biblioteca.sophia.com.br/9198/index.asp?codigo_sophia=204484. Acesso em: 30 jan.
2023.

DAWKINS, R. Deus, um delírio. São Paulo: Editora Schwarcz Ltda./ Companhia das Letras, 2007. 381 p.

GOÉS, G. C. A teologia que fabricou Richard Dawkins. In: Kerygma – Revista de Teologia do UNASP. v. 6, n. 1,
2010. Disponível em: https://revistas.unasp.edu.br/kerygma/article/view/181/182. Acesso em: 30 jan. 2023.

JUNKER, R.: SCHERER, S. Evolução: um livro texto crítico. Distrito Federal: Sociedade Criacionista Brasileira,
2002. 328 p.

MARTINS, J. A relação entre ciência e religião. Curitiba: InterSaberes, 2017.

SOUZA JUNIOR, N. N. Filosofia das origens: uma introdução à controvérsia evolucionismo e criacionismo. In: Acta
Científica – Ciências Humanas, v. 2, n. 19, 2 . semestre de 2010. Disponível em: https://www.evidenciasonline.
org/?page_id=449. Acesso em: 30 jan. 2023.

- 56-
A origem do homem segundo a
Bíblia
Tiago Alves Jorge de Souza

Introdução
Caro estudante, o ser humano sempre está em busca de responder às questões básicas em relação a sua
existência: De onde eu vim? O que estou fazendo aqui? Para onde eu vou? A resposta da primeira pergunta é a
mais importante, pois é ela que determinará o teor das duas outras respostas. Como vimos anteriormente, o
método científico é extremamente útil para compreendermos a realidade em que vivemos. Todavia, esse método
possui uma série de limitações relacionadas às realidades que não podem ser acessadas empiricamente, as quais
devem ser analisadas à luz da Filosofia e da Teologia. Poderia a Bíblia fornecer respostas satisfatórias acerca das
Origens? É sobre o relato das nossas Origens, segundo as Sagradas Escrituras, que abordaremos neste tópico.
Acompanhe!

De onde eu vim?
Para compreendermos a origem do homem segundo a Bíblia, vamos estudar os primeiros capítulos do livro de
Gênesis. Moisés escreveu este livro sob a inspiração divina. Ao longo do seu relato, vemos, claramente, que o
patriarca não teve a intenção de relatar como a criação aconteceu, mas sim quem está por detrás dela e o que foi
criado, ou seja, os céus e a Terra.

O primeiro versículo da Bíblia começa definindo Deus pela sua ação criativa: “No princípio criou Deus os céus e a
Terra.” Gênesis 1:1. O próprio Deus é definido pelo seu ato criativo. O relato de Gênesis 1:1 se limita a relatar que
Deus falou e as coisas vieram a existir. Ou seja, as coisas surgiram pelo poder de sua palavra (CRUZ, 2007;
GRELLMANN, 2017).

- 57-
Figura 1 - Comando de voz
Fonte: Mary_ART_S, Shutterstock, 2018.

Muitas vezes, subestimamos o poder da palavra, o que dizemos tem poder para construir ou destruir
relacionamentos, reputações e mesmo pessoas. O sábio Salomão ressalta a importância da palavra em
Provérbios capítulo 25, verso 11: "Como maçãs de ouro em salvas de prata, assim é a palavra dita a seu tempo”.

Recentemente, a tecnologia tem permitido ao homem se utilizar da palavra para executar tarefas de forma mais
simplificada. O dispositivo de comando de voz (DCV), por exemplo, permite que uma pessoa ligue aparelhos
eletrônicos, acenda e apague a luz e execute outras tarefas apenas por meio da voz, sem a necessidade de apertar
botões ou executar comandos. Isso ocorre porque esses dispositivos conseguem reconhecer o padrão de ondas
sonoras emitidas pela voz humana.

Desta forma, pode-se conjecturar que os átomos reconhecem a frequência da voz divina e obedecem aos seus
comandos. Tudo que existe foi dotado de um dispositivo de comando de voz que reconhece o seu Criador. Assim,
a matéria obedeceu a voz de Deus e se organizou no mundo que temos hoje.

A criação relatada em Gênesis é literal


A origem da Terra e do homem, segundo uma visão Bíblia, nos remete ao ato criativo de Deus durante a primeira
semana de existência deste Planeta (CRUZ, 2007).

No primeiro dia da semana, Deus cria a luz. No segundo dia, Deus faz separação entre águas e águas. Uma porção
fica acima do firmamento e uma abaixo do firmamento. Firmamento na Bíblia é a palavra para retratar os céus.
No terceiro dia, Deus cria a porção seca e a vegetação. No quarto dia Deus cria os luminares, o Sol para governar
o dia e a Lua para governar a noite. No quinto dia, os animais aquáticos e a aves dos céus são criados. No sexto
dia são criados os animais terrestres e o ser humano (homem e mulher).

- 58-
FIQUE ATENTO
O termo hebraico Eleh toledoth utilizado para iniciar o relato da criação é o mesmo empregado
para introduzir as histórias de Isaque, Jacó e outros patriarcas Bíblicos. Desta forma, para
Moisés, a história de Adão e Eva era tão literal como a de outros personagens cuja
historicidade não é fortemente contestada. Assim, para aqueles que realmente acreditam na
Bíblia como a palavra inspirada por Deus, torna-se difícil relativizar a literalidade dos dois
primeiros capítulos de Gênesis.

Por fim, no sétimo dia Deus abençoa e santifica o dia de sábado. No Antigo Testamento, quando a palavra dia (,
o o o
yom) aparece acompanhado de tarde ou manhã ou é modificada por numerais (1 , 2 , 3 ) refere-se a dias de 24
horas. Essa estrutura é encontrada no relato da criação de Gênesis, o que aponta para a literalidade da semana
da criação (GRELLMANN, 2017).

SAIBA MAIS
Para se aprofundar sobre o tema, indicamos a leitura do livro A relação entre Ciência e Religião,
do autor Jaziel Martins. EditoraInterSaberes. Ano: 2017. Disponível em: https://biblioteca.
sophia.com.br/9198/index.asp?codigo_sophia=809933. Acesso em: 30 jan. 2023.

Natureza do homem
Segundo a Bíblia, o homem, diferentemente dos animais, foi criado à imagem e à semelhança de Deus (Gênesis 1:
27). Toda a criação surgiu a partir da palavra de Deus, mas, ao criar o homem, Deus muda de estratégia e resolve
se envolver de forma mais intimista (Gênesis 2:7). Posteriormente, Eva é criada a partir de uma costela de Adão
(Gênesis 2: 21 e 22). É interessante notar que Adão é tirado da terra e depois Deus o encarrega de cuidar da
Terra (Gênesis 2:15). A mulher, por sua vez, é retirada do homem e encarregada de cuidar do homem (Gênesis 2:
16) (CRUZ, 2007; GRELLMANN, 2017).

- 59 -
FIQUE ATENTO
O relato da Criação em Gênesis é essencial para a cosmovisão criacionista bíblica, a qual foi
introduzida no tópico anterior.

Entendermos o que seria imagem e semelhança na Bíblia é essencial. Esse termo não indica, meramente, uma
semelhança física com Deus, mas o compartilhamento de características divinas com a humanidade recém-
criada.

Da mesma forma que Deus domina sobre todo o universo, foi dado domínio ao ser humano sobre a Terra recém-
criada. Deus cria motivado pela sua própria essência, que é o amor e essa foi a motivação da criação do homem a
sua imagem e semelhança. Da mesma forma, foi comunicada ao homem e à mulher a capacidade de originarem
seres a sua imagem e semelhança como o fruto de uma união amorosa. Ademais, o homem também foi criado
para refletir o caráter do seu Criador através dos seus pensamentos e atos (CRUZ, 2007; GRELLMANN, 2017).

EXEMPLO
Além dos pais da Ciência Moderna, alguns grandes cientistas da atualidade acreditam na
literalidade do relato da criação de Gênesis. Entre eles podemos citar Stuart Burgess (1962 -),
que é professor na Universidade de Bristol, no Reino Unido. Ele publicou mais de 130 artigos
científicos na área de Ciência do design e sistemas biológicos. Ele foi responsável por projetar
partes importantes de naves espaciais lançadas pela Nasa. Para ele, o relato da criação
presente na Bíblia é a melhor explicação para as nossas origens.

Plano de Deus para o homem


Quando Deus termina seu ato criativo, ele vê que tudo era muito bom. Os capítulos 1 e 2 de Gênesis retratam o
mesmo evento, porém com ênfases diferentes. O capítulo 1 é escrito para enfatizar a importância do sábado e o
capítulo 2 centra sua narrativa na importância do casamento e da família. O homem deveria deixar pai e mãe e se
juntar a sua esposa. Desta maneira, as duas principais instituições divinas, segundo a Bíblia, são: a família e o
sábado, como dia de descanso (CRUZ, 2007; GRELLMANN, 2017).

- 60 -
Figura 2 - Instituições criadas por Deus
Fonte: Monkey Business Images, Shutterstock, 2018.

Ao nos basearmos na Bíblia para entendermos as nossas origens, vemos que Deus criou o ser humano com um
propósito muito elevado e que ele possuía proeminência em relação a todo o restante da criação. Esta ideia entra
em choque com a concepção evolucionista de que o ser humano seria meramente mais um animal, diferente dos
demais apenas devido à sua capacidade cognitiva. Obviamente, temos muitas semelhanças anatômico
/fisiológicas com os outros animais, mas podemos interpretar essas semelhanças como padrões utilizados por
Deus para originar suas criaturas. Infelizmente, com a entrada do pecado no mundo (Gênesis 3: 6,7), a
semelhança entre Deus e o homem passou a ser degradada com o tempo.

Desta forma, muitas vezes, são observadas maior similaridades entre humanos e animais do que entre Deus e o
ser humano. A morte surgiu como consequência do pecado (Gênesis 3:3), ou seja, o homem não foi criado para
morrer (CRUZ, 2007; GRELLMANN, 2017).

Figura 3 - Morte e ressureição de Jesus


Fonte: Jacob_09, Shutterstock, 2018.

- 61 -
A realidade bíblica nos ajuda a entender porque temos tanta dificuldade de lidar com o envelhecimento e a
morte. Ao nos criar, Deus colocou a eternidade em nossos corações (Eclesiastes 3:11). Mas considerando que Ele
nos criou devido ao seu grande amor, Ele não nos deixaria à mercê da morte sem termos nenhuma esperança.
Para pagar o preço da transgressão humana, o próprio Deus enviou seu Filho, que se fez carne, habitou entre nós
e morreu numa cruz (João 3:16). O mais intrigante é que a esperança da salvação em Cristo Jesus foi prometida
ao casal edênico, logo após a transgressão (Gênesis 3:15) (CRUZ, 2007; GRELLMANN, 2017).

Assim, segundo uma visão bíblica, nós temos uma origem nobre, somos filhos de Deus. Fomos criados à sua
imagem e semelhança. Neste contexto, o propósito das nossas vidas também é nobre: refletir a imagem e
semelhança de Deus. Por fim, o nosso futuro é muito animador. Pois se aceitarmos o sacrifício de Cristo, a nossa
natureza primeva será um dia reestabelecida e viveremos com o nosso Criador por toda a eternidade (CRUZ,
2007; GRELLMANN, 2017).

Fechamento
Neste tópico, foram abordados aspectos práticos da cosmovisão criacionista bíblica. Segundo esta visão, a nossa
origem remonta à uma criação divina especial. Apesar da queda de Adão e Eva, o alto valor que o ser humano
possui aos olhos de Deus ficou patenteado no momento em que Ele envia o Seu próprio filho para morrer pela
humanidade. Ou seja, longe de ser um fruto do acaso, em uma visão criacionista o homem possui um enorme
valor aos olhos de Deus e de todo o Universo. Por fim, segundo essa cosmovisão, aqueles que aceitarem a Deus
poderão viver com Ele por toda a eternidade e não estarão mais sujeitos às mazelas deste mundo.

Referências
CRUZ, V. M. A. Cosmovisão criacionista: A estrutura do nosso pensamento In: Geoscience Research Institute, n.
14, 2007. Disponível em: https://www.academia.edu/26083607/COSMOVIS%C3%83O_CRIACIONISTA. Acesso
em: 30 jan. 2023

GRELLMANN, H. L. (Trad.). Nisto Cremos. 8. ed. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, versão 1.1, 2017. Disponível
em: http://www.verdadeonline.net/textos/nisto-cremos-adventista.pdf. Acesso em: 30 jan. 2023.

SILVA. R. P. Por que há algo ao invés de nada? In: Kerygma – Revista de Teologia do UNASP, v. 7, n. 2, 2011.
Disponível em: https://revistas.unasp.edu.br/kerygma/article/view/141/140. Acesso em: 30 jan. 2023.

SOUZA JUNIOR, N. N. Filosofia das origens: uma introdução à controvérsia evolucionismo e criacionismo. In: Acta
Científica – Ciências Humanas, v. 2, n. 19, 2. semestre de 2010. Disponível em: https://www.evidenciasonline.
org/?page_id=449. Acesso em: 30 jan. 2023.

- 62 -
Fixismo versus microevolução
Tiago Alves Jorge de Souza

Introdução
Caro estudante, talvez você já deva ter ouvido que a evolução é um fato e que negar a plausibilidade da teoria da
evolução seria fruto da ignorância e do obscurantismo religioso. No entanto, para entendermos esta questão é
importante compreendermos que a palavra evolução possui várias facetas, podendo ser utilizada de várias
formas em diferentes contextos. Nesta unidade, você poderá se familiarizar com os conceitos de fixismo e
microevolução de forma que entenda o que a ciência nos diz acerca dos processos de diversificação dos seres
vivos.

Micro versus macroevolução


Os seres vivos estão em constante evolução. Nós sabemos que neste momento há variantes populacionais e
novas espécies surgindo. No entanto, é importante ressaltar que essas novas variantes, na sua grande maioria,
apresentam uma constituição genética (pool genético) mais pobre do que seus ancestrais (CRUZ, 2007).

Os processos de deriva genética, seleção natural, seleção neutra presente nas populações não produzem
informação genética capazes de gerar novas complexidades biológicas. Neste contexto, apesar de a teoria da
evolução não advogar que evolução é sinônimo de aumento de complexidade biológica, ao observarmos os
cenários e as narrativas evolucionistas, temos que, necessariamente, recorre à uma escalada no aumento das
complexidades biológicas desde o suposto surgimento da vida há 3,6 bilhões de anos até os dias atuais.

Para entendermos a dinâmica dos processos responsáveis pela diversificação dos seres vivos, na atualidade,
vamos tomar como exemplo a origem das diversas raças de cachorro a partir do lobo por meio de seleção
artificial. Análises genéticas claramente revelaram que os atuais cães domésticos, Canis familiaris, são
descendentes do lobo, Canis lupus. Para explicar como houve a aproximação entre o ser humano e os lobos,
algumas teorias defendem a ideia da domesticação. Há um consenso de que, com a aproximação desse canídeo, o
homem passou a selecionar as características dentro das populações de lobos que facilitavam uma convivência
pacífica e poderiam ser de alguma utilidade. Desta maneira, lobos que retinham características juvenis,
neotênicas na vida adulta, como pelo macio, docilidade e submissão, foram selecionados para os cruzamentos em
detrimento de outros que mantinham as características comuns de um indivíduo adulto. Esse processo de
seleção artificial resultou nas mais de 300 raças de cachorro existentes na atualidade, como podemos observar
na figura.

- 63 -
Figura 1 - Diferentes raças de cachorro
Fonte: GraphicsRF, Shutterstock, 2018.

- 64 -
FIQUE ATENTO
Se compararmos o pool genético de uma raça de cachorro obtida recentemente, como o
minipastor americano com a de um lobo, verificaremos, claramente, que o processo de
diversificação, isto é, a microevolução, é simulada pela seleção artificial, diminuindo a riqueza
do pool genético da espécie Canis lupus.

Apesar das óbvias limitações inerentes a qualquer analogia, o exemplo das raças de cachorro exemplifica bem o
que podemos considerar como microevolução. Baseando-se nessa grande capacidade de diversificação e
adaptação dos seres vivos, verificada em populações animais nos dias atuais, os biólogos evolucionistas tentam
explicar toda a histórica evolutiva dos seres vivos. No entanto, essa extrapolação foge do escopo científico, pois a
origem de novos táxons requer o surgimento de informação genética capaz de formar novas complexidades
irredutíveis, o que de forma alguma pode ser considerado levando em conta as alterações mutacionais
verificadas. Desta forma, as observações empíricas da microevolução são “emprestadas” de forma indevida, para
explicar os cenários hipotéticos e imaginários da macroevolução, que derivam do naturalismo filosófico.

Biologia funcional versus evolutiva


O renomado cientista evolucionista Ernst Mayr (1904-2005) demonstrou grande lucidez e honestidade
intelectual ao separar a dimensão científica e filosófica da teoria da evolução. Segundo Mayr, a Biologia deve ser
separada em Biologia funcional e Biologia evolutiva (SOUZA, 2010).

SAIBA MAIS
Para se aprofundar sobre o tema, indicamos a leitura do livro Genômica e Evolução, do autor
Francisco M. Salzano. Editora Oficina de Textos. Ano: 2012. Disponível em: https://biblioteca.
sophia.com.br/9198/index.asp?codigo_sophia=809529. Acesso em: 30 jan. 2023.

A biologia funcional aborda as questões que são facilmente observáveis e que são passíveis de experimentação,
como a microevolução. Já na biologia evolutiva, a experimentação não seria adequada, pois aborda temas que
não podem ser reconstituídos e reproduzidos.

- 65 -
Figura 2 - Observação, hipótese, experimento, teorias
Fonte: Elaborada pelo autor, baseado em JUNKER; SCHERER, 2002.

A biologia evolutiva se utiliza muito de narrativas hipotéticas que necessitam da reconstrução de cenários
imaginários que de forma alguma podem ser acessados por meio do método científico. Processos como a seleção
natural e filogenia só poderiam ser acessíveis por meio da utilização de cenários imaginários.

No entanto, a grande maioria dos cientistas evolucionistas negam esta divisão, proposta por Mayr, promovendo
uma amalgamação indevida entre essas duas dimensões da Biologia, a fim de emprestar a credibilidade científica
da Biologia Funcional para a Biologia Histórica. Essa mistura é sutil e didática, dado que temos a forte tendência
de sempre enxergar similaridades como sinais de uma ancestralidade em comum (CRUZ, 2007).

Para saber mais, assista à videoaula sobre os enganos da evolução.

https://www.youtube.com/embed/MP7LjbD8SvU

- 66 -
EXEMPLO
Por meio de análises genéticas e experimentos de intercruzamento, por exemplo, podemos
encontrar fortes evidencias de que as diversas espécies que formam a família canídea
descendem de uma espécie ancestral. Dessa forma, a similaridade entre os membros dessa
família (lobos, raposas, coiotes, dingos, cães domésticos) realmente aponta para uma
ancestralidade comum (JUNKER; SCHERER, 2002).

Se encontramos evidências claras de que novas espécies e gêneros podem ser originados por meio de processos
naturais e estocásticos, por que o surgimento de novas famílias, ordens, classes, filos e reinos não poderia
também?

Essa pergunta torna explícita de forma prática a mistura entre naturalismo metodológico e filosófico. Os
membros da família canídae, por exemplo, apresentam grandes similaridades que não implicam no surgimento
de nova informação genética capaz de originar novas estruturas anatômico/fisiológicas. Apesar de diferentes
famílias pertencentes a mesma ordem possuírem características similares, as diferenças entre elas envolvem o
surgimento de informação genética, capaz de originar novas estruturas e planos corporais. Dessa forma, não
podem ser explicados por meio da extrapolação dos processos relacionados à especiação. Podemos observar isto
na figura a seguir.

- 67 -
Figura 3 - Hierarquia taxonômica
Fonte: Elaborada pelo autor, 2018.

FIQUE ATENTO
A amalgamação da Biologia funcional e da Biologia evolutiva resulta também em
tendenciosidade na interpretação de dados científicos. As similaridades entre a origem
embrionária e da função de estruturas observadas em diferentes organismos são conhecidas
como estruturas homólogas e análogas, respectivamente.

Essas similaridades podem ser encaradas como sendo fruto de uma única mente inteligente que projetou toda a
biodiversidade, utilizando para isso padrões que se repetem nos diversos organismos vivos. Ou seja, descartar
uma premissa filosófica evolucionista não compromete a explicação para a realidade dos fatos.

Dessa forma, ao estudarmos as grandes áreas das Ciências Biológicas como a Fisiologia, Embriologia, Anatomia e

- 68-
Dessa forma, ao estudarmos as grandes áreas das Ciências Biológicas como a Fisiologia, Embriologia, Anatomia e
Genética não precisamos recorrer à Biologia evolutiva, pois por meio de análises comparativas, sem
considerarmos pressupostos relacionados à macroevolução, podemos explicar a dinâmica de desenvolvimento,
constituição e funcionamento dos organismos vivos, utilizando para isso o método científico. A frase “Nada na
Biologia faz sentido exceto à luz da evolução” proferida pela geneticista Theodosius Dobzhansky (1900-1975) só
possui algum sentido considerando os pressupostos da Biologia evolutiva.

Figura 4 - Membros de vertebrados


Fonte: Usagi-P, Shutterstock, 2018.

Fechamento
Neste tema, estudamos as duas facetas da Biologia, verificando que as hipóteses evolutivas relacionadas à
origem da vida e à evolução humana estão fortemente ancoradas pela Biologia evolutiva, o que permite que
extrapolações e conjecturas inadmissíveis em qualquer outro campo das ciências naturais sejam aceitas para
preencher as lacunas epistemológicas da história evolutiva. Já a Bíblia descreve cenários relacionados à origem
dos animais e do homem, distintos dos propostos pela teoria da evolução. Assim, como na teoria da evolução, a
plausibilidade desses cenários não pode ser completamente acessada por meio do método científico, restando ao
cientista cristão a busca por evidências científicas que possam juntamente com seus pressupostos teológicos
sustentar sua cosmovisão.

- 69 -
Referências
CRUZ, V. M. A. Cosmovisão criacionista: A estrutura do nosso pensamento In: Geoscience Research Institute, n.
14, 2007. Disponível em: https://www.academia.edu/26083607/COSMOVIS%C3%83O_CRIACIONISTA. Acesso
em: 30 jan. 2023.

JUNKER, R.; SCHERER S. Evolução– Um Livro Texto Crítico. Editora Qualidade – Sociedade Criacionista
Brasileira: Brasília, 2002.

SALZANO , F. M. Genômica e Evolução. São Paulo: Oficina de Textos, 2012.

SOUZA JUNIOR, N. N. Filosofia das origens: uma introdução à controvérsia evolucionismo e criacionismo. In: Acta
Científica – Ciências Humanas, v.2, n. 19, 2o semestre de 2010. Disponível em: https://www.evidenciasonline.
org/?page_id=449. Acesso em: 30 jan. 2023.

- 70 -
Aspectos diferenciais da Bíblia I
Tiago Alves Jorge de Souza

Introdução
Caro estudante, todos sabem que a Bíblia realmente foi escrita por homens, mas o cristianismo afirma que ela foi
inspirada por Deus. Atualmente, a Bíblia, ou porções dela, tem sido traduzida para mais de 2.060 línguas e
dialetos e é indiscutivelmente que é o livro mais vendido do mundo. Todos os anos, mais de 150 milhões de
exemplares completos ou porções da Bíblia são vendidos. Neste tópico, buscaremos harmonizar o conhecimento
bíblico com o conhecimento científico. Mas é possível ou válido fazer esta comparação? Quais seriam os aspectos
que os aproximam e os distanciam? É sobre as características peculiares da Bíblia que trataremos neste tema.
Acompanhe!

Aspectos diferenciais da Bíblia


A Bíblia é o livro mais vendido e lido no mundo. Poderíamos elencar muitas características que tornam este livro
especial. No entanto, discorreremos sobre as seguintes características:

• a historicidade da narrativa bíblica é confirmada pela própria Arqueologia;



mediante a análise linguística dos originais;
• profecias cumpridas com exatidão (profecias messiânicas; longos períodos históricos);
• preservação incontestável (ratificada pelos “Manuscritos do Mar Morto”);

etc.);
• leis civis, éticas e morais (estabelecidas para Israel, no Antigo Testamento, e paradigmáticas até hoje);

semelhantes ao próprio Deus.

- 71 -
Figura 1 - Imagem da Bíblia
Fonte: Por Javier Cruz Acosta, Shutterstock, 2018.

Nenhum outro livro da humanidade possui todas essas características. Desta forma, essas peculiaridades
constituem uma evidência de que a Bíblia não é meramente um livro escrito por homens. Após entendermos um
pouco mais acerca das cosmovisões relacionadas às origens, pela leitura bíblica é possível explorar cada um
desses aspectos, a fim de corroborar a utilização da Bíblia como fonte de autoridade para a construção de uma
cosmovisão coerente e verdadeira.

FIQUE ATENTO
As características extraordinárias do cânon bíblico são evidências de sua origem sobrenatural,
no entanto, não excluem a importância da fé no Deus da Bíblia. Longe de ser cega, essa fé é
baseada tanto nas evidências encontradas neste livro e na natureza como na experiência
pessoal de cada indivíduo com esse Deus.

A historicidade da narrativa bíblica é


confirmada pela própria Arqueologia
Uma das qualidades da Bíblia é a sua fidedignidade arqueológica, diversos achados têm demonstrado a validade
deste livro como um compêndio arqueológico confiável. Davi, por exemplo, talvez seja um dos personagens
bíblicos mais conhecidos. Diversos filmes e livros já foram produzidos, retratando a vida desse rei. No entanto,
décadas atrás, não havia nenhum documento extrabíblico que confirmasse a existência do rei Davi, o que levava
muitos céticos a o definirem como uma figura mitológica. Para a surpresa de muitos, em 1993, uma equipe de
arqueólogos, liderados por Avraham Biran, descobriu um fragmento de uma estela que descrevia a vitória de um
rei arameu sobre o rei de Israel e o rei da casa de Davi, Judá.

- 72 -
Figura 2 - Estátua do rei Davi
Fonte: Layue, Shutterstock, 2018.

Esse achado é apenas alguns de muitos que corroboram com a história Bíblica. No intuito de exemplificar a
relevância arqueológica da Bíblia, citaremos algumas descobertas arqueológica importantes realizada em 2015,
as quais foram patrocinadas pela instituição adventista norte-americana Southern Adventist University. Uma
dessas descobertas foi uma inscrição encontrada em Khirbet Qeiyafa, situada no vale de Elah, no sul de Israel.
Essa inscrição foi datada como sendo contemporânea aos dias do rei Saul e Davi (MARTIN; HENRY, 2015).

Nesta inscrição, encontra-se o nome Esbaal, o qual é descrito na Bíblia como sendo o nome de uns dos filhos de
Saul (I Crônicas 8:33; I Coríntios 9:39). Essa descoberta ajudou a estabelecer uma data mais antiga para as
monarquias de Saul e Davi.

Outra importante descoberta patrocinada pela mesma instituição foi o fragmento de louça e outros materiais, no
qual apareciam algumas inscrições com linguagem proto-canaanita. Essas inscrições foram encontradas em um
templo na cidade canaanita de Laquis, a qual é citada como sendo uma das principais cidades de Canaã em
diversas partes da Bíblia (MARTIN; HENRY, 2015).

SAIBA MAIS
Para se aprofundar sobre o tema, indicamos a leitura do livro Arqueologia, do autor Pedro
Paulo Abreu Funari. Editora Ática. Ano:1986. Disponível em: https://biblioteca.sophia.com.br
/9198/index.asp?codigo_sophia=807620. Acesso em: 30 jan. 2023.

- 73 -
Coerência interna legitimada mediante a análise
linguística das diferentes variantes textuais
Muitas vezes nos referimos à Bíblia como um volume único, mas na verdade se trata de um conjunto de 66 livros,
39 dos quais se encontram no Antigo Testamento e 27 no Novo Testamento. Esse compêndio começou a ser
escrito por volta de 1450 a.C. e terminou de ser escrito apenas no ano 90 d.C., totalizando um período de
aproximadamente 1600 anos. O primeiro autor bíblico foi Moisés, o qual escreveu os cinco primeiros livros:
Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. Além disso, diversas linhas de evidência apontam para
Moisés como o autor também do livro de Jó. Os últimos livros do cânon, por sua vez, foram escritos pelo apóstolo
a a a
João. A literatura Joanina compreende os livros o evangelho de João, a 1 ; 2 ; 3 cartas de João e o Apocalipse. Ao
todo foram ao menos 38 os autores do cânon bíblico utilizado pelo cristianismo ocidental, esses escritores
possuíam as mais diversas condições econômicas e sociais e intelectuais.

Figura 3 - Comunhão entre o homem e o Deus da Bíblia


Fonte: MIA Studio, Shutterstock, 2018.

Desta forma, humanamente pensando, um livro escrito ao longo de tanto tempo por pessoas tão diferentes
deveria apresentar inúmeras incoerências e uma clara ausência de coesão textual. No entanto, longe disso, a
Bíblia possui uma progressão da narrativa e uma assombrosa coesão textual.

FIQUE ATENTO
Existe um claro fio condutor ligando o cerne do livro do Gênesis com todos os demais livros do
cânon bíblico, que é a figura de Jesus Cristo. O mesmo Jesus que é definido como sendo o
Princípio da Criação relatado em Gênesis é aquele que se oferece como a solução para o
problema do pecado (Gênesis 3:15) e, por fim, aparece para o seu amigo João na ilha de Patmos
a fim de revelar os capítulos finais da história humana (Apocalipse 1) (GRELLMANN, 2017).

A harmonia entre os 66 livros, 1.189 capítulos e 31.173 versos da Bíblia é questionada por estudiosos céticos,
que afirmam que o intervalo proposto para a autoria entre os livros da Bíblia é fictícia e que muitos livros podem
haver sido adulterados ao longo dos séculos, com a finalidade de aparentar coesão e sustentar algumas doutrinas

- 74 -
que afirmam que o intervalo proposto para a autoria entre os livros da Bíblia é fictícia e que muitos livros podem
haver sido adulterados ao longo dos séculos, com a finalidade de aparentar coesão e sustentar algumas doutrinas
estabelecidas pela igreja cristã. Considerando o tempo em que foram escritos e as condições de preservação,
todos os manuscritos originais (autógrafos) se perderam. Hoje em dia nós temos acesso apenas a cópias. Seriam
essas cópias confiáveis? Teria a mensagem original dos livros sido deturpada ao longo do tempo?

Para analisarmos esta questão, é importante lembrarmos que a imprensa só foi inventada por Gutemberg no
século XV. Desta forma, os manuscritos que datam dos primeiros séculos da nossa era foram copiados
manualmente.

Figura 4 - Estátua do inventor da imprensa, Johannes Gutenberg


Fonte: Claudio Divizia, Shutterstock, 2018.

A cópia poderia ser de forma direta a partir de um exemplar direto. No entanto, os exemplares eram tão raros
que, por muitas vezes, o copista não tinha acesso a um manuscrito por tempo suficiente para copiá-lo. Desta
maneira, muitas cópias foram produzidas a partir de leituras públicas, onde o copista tomava nota de cada
palavra lida, o que por mais atento que fosse o copista, poderia resultar em erros. Desta forma, encontrarmos
manuscritos bíblicos ou variantes textuais, as quais possuem algumas diferenças pontuais entre si.

EXEMPLO
Um exemplo de variante textual que pode ser citado é o que encontramos em Apocalipse 22:14
onde em algumas versões da Bíblia lemos “Bem-aventurados os que guardam os
mandamentos”, enquanto outros textos trazem “Bem-aventurados aqueles que lavam as suas
vestes”. Apesar dessa diferença aparentar ser gritante na língua portuguesa, ela é facilmente
compreendida quando consideramos as palavras do grego utilizadas para se referir a
mandamento (entolas) e vestes (estolas). Ou seja, a desatenção do copista acabou originando
essas variantes textuais.

No entanto, ao compararmos manuscritos de origem confiável, apenas algumas variantes são encontradas.

- 57 -
No entanto, ao compararmos manuscritos de origem confiável, apenas algumas variantes são encontradas.
Algumas dessas variantes textuais podem, sim, gerar margem para interpretações doutrinárias equivocadas.
Todavia, devido à vasta quantidade de manuscritos disponíveis, é possível encontrar respostas para essas
questões conflituosas por meio de análises linguísticas, sendo importante ressaltar que a Bíblia é o livro com
maior número de manuscritos disponíveis, assim, o mais estudado no campo da crítica textual. Isso faz com que
uma análise linguística mais aprofundada corrobore com a coerência interna da Bíblia.

Fechamento
Neste tópico, estudamos sobre a importância da Bíblia, por meio de exemplos da sua fidedignidade arqueológica
e da sua coerência interna. No próximo tópico continuaremos a abordar aspectos que tornam a Bíblia um livro
único. Todo o ser humano gostaria de prever o futuro, assim poderia se programar para enfrentá-lo. No entanto,
não possuímos essa capacidade. Assim, a presença de profecias bíblicas, que narram com detalhes de eventos
históricos com muita antecipação, são uma forte evidência da origem sobrenatural da Bíblia. Além disso, serão
abordados no próximo tópico a preservação miraculosa, as leis (e.g. civis, éticas, morais, de higiene, de saúde) e a
incrível capacidade desse livro em transformar vidas.

Referências
FUNARI, P. P. A. Arqueologia. São Paulo: Editora Contexto, 1981.

GRELLMANN, H. L. (Trad.). Nisto Cremos. 8. ed. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, versão 1.1, 2017. Disponível
em: http://www.verdadeonline.net/textos/nisto-cremos-adventista.pdf. Acesso em: 30 jan. 2023.

MARTIN, R.; HENRY, B. The Fourth Expedition to Lachish, 2015. Disponível em: http://www.southern.edu
/lachish/. Acesso em: 30 jan. 2023.

SOUZA JUNIOR, N. N. Filosofia das origens: uma introdução à controvérsia evolucionismo e criacionismo. In: Acta
Científica – Ciências Humanas, v. 2, n. 19, 2. semestre de 2010. Disponível em: https://www.evidenciasonline.
org/?page_id=449. Acesso em: 30 jan. 2023.

- 76 -
Aspectos diferenciais da Bíblia
II
Tiago Alves Jorge de Souza

Introdução
Caro estudante, neste tópico, estudaremos sobre as características que tornam a Bíblia um livro singular.
Pensando nos seguintes pontos: a existência de profecias bíblicas que se cumprirão com exatidão; a preservação
miraculosa do cânon; o caráter inovador e revolucionário de algumas leis bíblicas; e, por fim, o poder
transformador das Sagradas Escrituras. O conhecimento dessas características é essencial para entendermos o
real valor da Bíblia e nunca o associarmos com o obscurantismo, a ignorância e a superficialidade intelectual,
como infelizmente alguns céticos têm feito.

Profecias cumpridas com exatidão


Prever o futuro é algo que a mente humana é incapaz de realizar. No entanto, a Bíblia, desde o seu primeiro livro,
traz descrições de eventos que aconteceriam com uma riqueza de detalhes, que não pode ser atribuída a meras
casualidades. No livro de Daniel, por exemplo, está relatada a sequência de impérios: Medo-Pérsia, Grécia, Roma,
que se sucederiam à Babilônia, fornecendo, inclusive, detalhes precisos acerca do contexto político, econômico e
religioso desses reinos (Daniel 2, 7-8).

Na Bíblia, existem diferentes tipos de profecias, por exemplo, as condicionais, históricas, messiânicas. Neste
estudo, enfatizaremos algumas profecias messiânicas distribuídas nos diferentes livros do Antigo Testamento, as
quais relatam em detalhes a vida e o ministério de Jesus.

- 77 -
Figura 1 - Multiplicação dos pães e peixes
Fonte: Vuk Kostic, Shutterstock, 2018.

Em relação a Jesus, já estava profetizado que ele derrotaria Satanás (Gênesis 3:15, 1), seria descendente de Judá
(Gênesis 49:10), de Boaz e Rute (Rute 4:12-17) e de Davi (2 Samuel 7:16). A Bíblia dá detalhes acerca de
milagres que Jesus realizou durante o seu ministério, profetizando que ele curaria cegos (Isaías 35:5), surdos
(Isaías 35:5), coxos (Isaías 35:6), mudos (Isaías 35:6) e também do seu sofrimento e morte na cruz para nos
salvar (Salmo 22:2, Salmo 22:6, Salmo 22:9, Salmo 22:10, Salmo 22:11).

As profecias messiânicas são tão precisas que é possível encontrar relatos dos seu cumprimento nos evangelhos
do Novo Testamento. Os fatos dos livros do Antigo Testamento foram escritos séculos antes do nascimento de
Cristo e prediziam, de forma tão detalhada, a sua vida e ministério, que apontam para uma pré-ciência implícita
nos relatos bíblicos, incompatível com a origem humana dos seus escritos. Desta forma, o próprio teor do cânon
bíblico corrobora a sua origem divina. Ou seja, apesar de os livros terem sido escritos por homens, esses homens
foram divinamente inspirados para descrever fatos que estavam muito além da sua época (GRELLMANN, 2017).

FIQUE ATENTO
As profecias são apenas um dos aspectos que apontam para a origem sobrenatural da Bíblia,
no entanto, por si só já são suficientes para demonstrar que o método científico é uma
ferramenta limitada para o estudo e análise crítica da Bíblia.

Preservação do Cânon Bíblico


Outro aspecto sobrenatural relacionado à Bíblia é a preservação da sua mensagem mesmo após diversos
processos de cópia e tradução e após séculos de perseguição. Mas como sabemos que a Bíblia realmente foi

preservada sem alterações significativas? Até a década de 1950 os manuscritos bíblicos encontrados eram muito

- 78 -
preservada sem alterações significativas? Até a década de 1950 os manuscritos bíblicos encontrados eram muito
tardios, ou seja, haviam sido escritos muito tempo depois dos originais, o que colocava em dúvida se eles já
haviam sido deturpados.

Neste contexto, o achado dos manuscritos do Mar Morto foi essencial para atestar a preservação do Cânon
Bíblico que temos em mão. No ano de 1947, um grupo de pastores apascentavam rebanhos de cabras na região
de Qumran, na Cisjordânia, quando um animal do rebanho se perdeu dentro de um complexo de cavernas. Ao ir
em busca do animal, um dos pastores se deparou com vasos que possuíam muitos pergaminhos. Após uma busca
mais detalhada, verificou-se que existiam pergaminhos escondidos em 11 cavernas desse complexo. Sem ter
ciência dos valores desse rolos e incapazes de entender o conteúdo dele, os pastores os venderam para
mercadores e eles acabaram se distribuindo entre colecionadores. No entanto, com o passar dos anos, o governo
israelense se conscientizou da importância desses pergaminhos, o que levou a uma busca pelos exemplares que
haviam se perdido.

EXEMPLO
O historiador Eusébio de Cesaréia, por exemplo, narra que, entre os séculos III e IV, ele
presenciara cópias da Bíblia sendo queimadas em praça pública durante a perseguição. Além
disso, a Bíblia esteve exposta a intempéries, como exposição às catástrofes

A análise do conteúdo desses pergaminhos apontou para a preservação de vários trechos do antigo testamento,
demonstrando que o conteúdo da Bíblia que temos hoje não foi alterada, mesmo após diversas traduções e
cópias realizadas durante milênios. Essa preservação é mais uma evidência que existem forças sobrenaturais por
detrás desses livros. Após anos de estudo e do esforço de vários especialistas, o conteúdo dos manuscritos foi
decifrado. Hoje em dia, réplicas dos manuscritos estão em exposição e o conteúdo deles está disponível para
consulta.

Leis bíblicas
A Bíblia apresenta várias leis de higiene e saúde, que trazem princípios e conhecimentos biológicos, desvendados
recentemente pela ciência. Como exemplo temos as leis de animais rotulados como impuros nas Antigas
Escrituras, que até hoje são animais que carregam doenças parasitárias, perigosas aos seres humanos.

- 79 -
Figura 2 - Manuscritos do Mar Morto
Fonte: ChameleonsEye, Shutterstock, 2018.

É interessante notar que os animais terrestres que podiam ser consumidos são ruminantes, como: gado, ovelhas
e veados. Esses animais possuem o trato digestório adaptado para transformar grama em massa corpórea, a qual
pode ser ingerida pelo ser humano. A proibição da ingestão de frutos do mar ocorre devido ao fato desses
animais serem filtradores, podendo concentrar em seu organismo produtos químicos, bactérias patológicas e
vírus. Assim, ingerir um animal com essas características é semelhante a comer um saco de aspirador de pó.

Além de conter leis acerca de quais animais poderiam ser ingeridos, a Bíblia traz restrições quanto à ingestão da
carne dos animais considerados limpos. A carne não deveria ser ingerida com sangue ou com gordura (Levítico 3:
17; 7:23-27).

Hoje em dia, sabemos que dietas ricas em gordura estão associadas ao aumento de doenças cardíacas, derrame,
câncer de cólon e mama e uma série de outras patologias. O sangue pode ser um vetor para vários patógenos,
sendo sua ingestão objetável.

A Bíblia também traz conselhos acerca da importância de se ingerir alimentos nutritivos (Ezequiel 4: 9), de se
utilizar com moderação alimentos contendo açúcares (Provérbios 25:16; 27) e de se evitar a glutonaria
(Provérbios 28: 7). Ou seja, são conselhos de saúde que continuam sendo extremamente relevantes nos dias de
hoje.

- 80 -
Figura 3 - Tábuas dos 10 mandamentos
Fonte: KidsNetwork, Shutterstock, 2018.

Além disso, a Bíblia possui leis de natureza civil, ética e moral que serviram de base para grande parte das
constituições do mundo ocidental. Ou seja, a sua relevância nesse campo é indiscutível. Abordar todos os
aspectos inovadores e inesperados na legislação apregoada pela Bíblia demandaria a redação de vários livros. Os
10 mandamentos relatados em Êxodo capítulo 20, por exemplo, encerram princípios morais, éticos e sociais que
possuem plena aplicabilidade até os dias de hoje.

SAIBA MAIS
Para se aprofundar sobre o tema, indicamos a leitura do livro A relação entre Ciência e Religião
do autor Jaziel Martins. Editora InterSaberes. Ano: 2017. Disponível em https://biblioteca.
sophia.com.br/9198/index.asp?codigo_sophia=809933. Acesso em: 30 jan. 2023.

A Bíblia é um livro que transforma vidas


A razão pela qual a Santa Bíblia afeta tão profundamente os seres humanos é porque toda a Bíblia é um
documento inspirado por Deus (II Timóteo 3:16), é o Livro de Deus (GRELLMANN, 2017).

Os profetas relataram o que viram e ouviram em linguagem humana, mas considerando os aspectos até aqui
abordados pode-se afirmar que existem evidências que apontam para a origem divina da Bíblia.

- 81 -
Figura 4 - Ressurreição de Jesus
Fonte: Rick Schroeppel, Shutterstock, 2018.

Devido à origem divina, a Bíblia possui uma característica que não é encontrada em nenhum outro livro, pois ela
é capaz de transformar vidas. Pecadores (viciados em drogas, prostitutas, adúlteros, ladrões, assassinos,
hipócritas, orgulhosos) todos podem ter sua vida transformada ao ler este livro e se deparar com Deus. Este que
amou a humanidade de tal forma, enviando seu único filho para morrer por ela e para conceder a oportunidade
de transcendermos um dia o problema que mais nos aflige: a morte (GRELLMANN, 2017).

Fechamento
Neste tema, estudamos que a Bíblia é um livro singular, que deveria ser mais estudado. Compreendemos que
suas páginas contêm bem mais que profecias cumpridas e leis revolucionárias, elas trazem as respostas para as
perguntas existenciais que mais afligem a humanidade. Segundo as Sagradas Escrituras, o ser humano possui
uma origem nobre e um futuro glorioso, caso ele se reconcilie com Deus por meio dos méritos decorrentes do
sacrifício de Jesus. Caso colocadas em prática, as verdades encerradas na Bíblia o ajudarão a encontrar um
propósito para a sua existência e enfrentar os desafios, dissabores e desilusões do dia a dia com uma paz e força
que possuem a mesma origem sobrenatural das Escrituras Sagradas.

Referências
CRUZ, V. M. A. Cosmovisão criacionista: A estrutura do nosso pensamento In: Geoscience Research Institute, n.
14, 2007. Disponível em: http://www.criacionismo.org.br/scb/periodicos/cienciadasorigens/14.pdf. Acesso em:
30 jan. 2023.

GRELLMANN, H. L. (Trad.). Nisto Cremos. 8. ed. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, versão 1.1, 2017. Disponível
em: http://www.verdadeonline.net/textos/nisto-cremos-adventista.pdf. Acesso em: 30 jan. 2023.

JUNKER, R.; SCHERER S. Evolução: um livro texto crítico. Brasília-DF: Editora Qualidade – Sociedade Criacionista
Brasileira, 2002. 328 p.

MARTINS, J. A relação entre ciência e religião. Curitiba: InterSaberes, 2017.

MARTIN, R.; HENRY B. The Fourth Expedition to Lachish, 2015. Disponível em: http://www.southern.edu

- 82 -
MARTIN, R.; HENRY B. The Fourth Expedition to Lachish, 2015. Disponível em: http://www.southern.edu
/lachish/. Acesso em: 30 jan. 2023.

SOUZA JUNIOR, N. N. Filosofia das origens: uma introdução à controvérsia evolucionismo e criacionismo. In: Acta
Científica – Ciências Humanas, v.2, n. 19, 2o semestre de 2010. Disponível em: https://www.evidenciasonline.
org/?page_id=449. Acesso em: 30 jan. 2023.

- 83 -

Você também pode gostar