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03/09/23, 11:35 Tópicos introdutórios sobre filosofia da ciência
Há, porém, outra classe de limites que não são contingentes, e sim
intrínsecos ao próprio conhecimento científico. São limites em princípio
incontornáveis. Um dos mais importantes desses limites já foi mencionado de
passagem no início da seção 2.2: as teorias científicas não podem, por princípio,
ser provadas a partir de fenômenos, da mesma forma em que, na matemática,
podem-se provar teoremas a partir de conjuntos de proposições básicas, os
chamados axiomas.
A conclusão é que o conhecimento científico encapsulado em teorias nunca é
absolutamente seguro, estabelecido de uma vez por todas. Ele está
permanentemente exposto a possível evidência experimental contrária, que
obrigue os cientistas a rejeitarem ou, ao menos, ajustarem suas teorias. Isso desfaz
a idéia de infalibilidade usualmente associada à ciência. Mas tal constatação não
deve levar ao erro oposto, de desqualificar o conhecimento científico, igualando-o
a formas menos sistemáticas e cuidadosas de obtenção de conhecimento.
Esse equívoco pode ter consequencias tão nefastas como o da crença na
infalibilidade da ciência, conduzindo, por exemplo, a uma posição que ganha
espaço hoje em dia em certos círculos intelectuais, e que os filósofos chamam de
relativismo. Segundo essa perspectiva, a crença em teorias científicas estaria no
mesmo nível que qualquer outra crença. Exagerando um pouco, o argumento
seria: como não são absolutamente seguras, as teorias científicas não são nada
seguras; vão e vêm ao sabor de circunstâncias fortuitas e variadas.
Essa posição só parece plausível quando se ignoram alguns fatos
importantes. Um deles, ainda não comentado explicitamente, mas que está
subentendido no que já vimos, é que a ciência, qualquer que seja, tem como
fundamento fenômenos, ou seja, observações experimentais. Ora, apesar do que
dizem alguns relativistas radicais, essa base empírica é, num sentido preciso que
não será detalhado aqui, sólida e estável. Por mais que mude a compreensão
científica de um fato, o fato continuará sendo fato. Tomemos um exemplo
simples: a concepção do que é um planeta, e do que explica seu movimento nos
céus, mudou muito com a chamada “revolução científica” dos séculos XVI e
XVII; mas as trajetórias dos planetas – que são propriamente fenômenos – não
mudaram. Tampouco mudaram suas cores e brilhos, que também são fenômenos.
O que mudou foram as teorias astronômicas e físicas que se propunham a predizer
e explicar tais fenômenos.
Outro ponto ignorado pelo relativismo é que, embora as teorias científicas
não desfrutem do mesmo tipo de solidez epistemológica que os fenômenos, elas se
beneficiam indiretamente dessa solidez, na medida em que, para serem
genuinamente científicas, têm de exibir relações específicas e bem definidas com
os fenômenos que formam a sua base empírica. Vimos, na aula precedente, que a
mais importante dessas relações é uma relação lógica entre a teoria e os
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