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INTERVENÇÃO DO ESTADO NA PROPRIEDADE

Prof. Edilson

1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
A Constituição Federal em seu art. 5°, inciso XXII garante o direito de propriedade.
Contudo, o Estado, em algumas situações, em razão da supremacia do interesse público sobre
o interesse privado, pode intervir na propriedade.
A propriedade é o título mais importante estudado no Direito das Coisas, tendo assento
legal nos arts. 1225 a 1368 do Codex Civil.
O Código Civil em seu art. 1228, § 3º, prescreve que o proprietário pode ser privado da
coisa, nos casos de desapropriação, por necessidade ou utilidade pública ou interesse social,
bem como no de requisição, em caso de perigo público iminente
Conclui-se então que o direito de propriedade não é absoluto, podendo a
Administração Pública intervir na propriedade privada.
2. FORMAS DE INTERVENÇÃO
As formas de intervenção na propriedade são as seguintes: requisição administrativa;
ocupação temporária, limitação administrativa, servidão administrativa, tombamento e
desapropriação. A desapropriação devida as muitas particularidades, estudaremos em separado.
2.1. Requisição administrativa
A requisição é meio de intervenção na propriedade, que traz restrições ao direito de uso
na hipótese de iminente perigo público a exemplos de inundação, incêndio, sonegação de
gêneros de primeira necessidade, conflito armado, comoção interna etc.
Ou seja, na iminência de perigo público, a autoridade competente poderá usar de
propriedade particular, assegurada ao proprietário indenização ulterior, se houver dano (art.5°,
XXV da CF).
OBSERVAÇÕES:
I - A requisição administrativa é ato unilateral, de caráter temporário e autoexecutório;
II - O Estado, em caso de iminente perigo público, poderá requisitar de forma compulsória
bens móveis, imóveis ou serviços de particulares;
III - O proprietário poderá ser indenizado em caso de dano.
2.2. Ocupação temporária
Ocupação temporária é a utilização transitória, remunerada ou gratuita, de bens
particulares pelo Poder Público, para a execução de obras, serviços ou atividades públicas ou
de interesse público (art. 36, do Decreto-lei 3.365/1941 que trata da desapropriação por utilidade
pública).
OBSERVAÇÕES:
I - Por ser autoexecutória não depende de prévia autorização do Poder Judiciário;
II - Essa prerrogativa pode ser transferida a concessionários e permissionários desde
que autorizados pela Administração;
III - O proprietário poderá ser indenizado em caso de dano no prazo de até 5 anos;
IV - Diferenças
• Requisição Administrativa: iminente perigo público;
• Ocupação Temporária: interesse público.
2.3. Limitação administrativa
É uma forma branda de intervenção na propriedade, pois o proprietário não é afetado
no seu direito de usar, gozar ou dispor do bem.
É uma imposição unilateral que condiciona o exercício de direitos ou de atividades
particulares, consistindo em obrigações de fazer ou de não fazer. Exemplos: Obrigação de
construir de calçada, muros, por exemplo; ou não construir um prédio acima do limite de altura
disposto na lei de zoneamento ou código de obras do município.
2.4. Servidão administrativa
É instituída de forma perpétua, que estabelece restrição quanto ao uso ou gozo,
visando possibilitar a realização de obras e serviços públicos.
OBSERVAÇÕES:
I - A servidão é onerosa porque impõe dever ao proprietário, apresentando restrição
apenas a ele;
II - A servidão administrativa pode atingir diversas propriedades. Exemplos. Servidão
imposta para passagem de fios de energia elétrica; em propriedades às margens de
rodovias para instalação de placas de trânsito. Nestes casos, o proprietário não poderá
construir nada ali;
III - O proprietário terá direito à indenização, somente se comprovado prejuízo causado
no prazo de até 5 anos (art. 10, parágrafo único do DL 3.365).
2.5. Tombamento
O tombamento é o meio de intervenção na propriedade privada que faz restrições
quanto ao uso, nas hipóteses de proteção ao patrimônio artístico, cultural e científico, de coisas
ou locais que devam ser preservados.
2.5.1. Fundamento legal - Decreto-lei 25/1937

2.5.2. Objeto
O tombamento pode incidir sobre bens móveis ou imóveis, urbanos ou rurais de
excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico e monumentos naturais,
bem como os sítios e paisagens que importe conservar e proteger pela feição notável com que
tenham sido dotados pela natureza ou agenciados pela indústria humana (art. 1°, § 2° do
Decreto-lei 25/1937)
2.5.3. Patrimônios passiveis de tombamento segundo a CF - Art. 216
Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e
imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à
identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade
brasileira, nos quais se incluem:
I - As formas de expressão;
II - Os modos de criar, fazer e viver;
III - As criações científicas, artísticas e tecnológicas;
IV - As obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às
manifestações artístico-culturais;
V - Os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico,
paleontológico, ecológico e científico.
2.5.4. Competência
Competência comum: Da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios
proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os
monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos (art. 23, III);
Competência legislativa: Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar
concorrentemente sobre proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e
paisagístico (art. 24).
OBSERVAÇÃO: O STJ decidiu que (...) Como o tombamento não implica em transferência da
propriedade, inexiste a limitação constante no art. 1º, § 2º, do DL 3.365/1941, que proíbe o
município de desapropriar bem do Estado (Recurso Ordinário em Mandado de Segurança nº
18.952-RJ. Rel. Min. ELIANE CALMON. D.J. 30. 5. 2005)”.
2.5.5. Tombamento voluntário, compulsório, provisório e definitivo.
I - Tombamento voluntário: Ocorre quando o proprietário pedir e a coisa se revestir
dos requisitos necessários para constituir parte integrante do patrimônio histórico e artístico
nacional ou quando anuir, por escrito, à notificação, que se lhe fizer, para a inscrição da coisa
em qualquer dos Livros do Tombo (art. 7°);
II - Tombamento voluntário: Ocorre quando o proprietário se recusar a anuir à
inscrição da coisa (art. 8°);
III - Tombamento provisório: Enquanto estiver em andamento o processo
administrativo. Se inicia com a notificação do proprietário do bem e termina com a inscrição do
referido bem no competente Livro do Tombo.
IV - Tombamento definitivo: Quando, depois de concluído o processo, o Poder Público
procede à inscrição do bem como tombado, transcrito para os devidos efeitos em livro a cargo
dos oficiais do registro de imóveis e averbado ao lado da transcrição do domínio (art. 13).
2.5.6. Procedimentos
I - Primeiramente, o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, notificará o
proprietário para anuir ao tombamento, dentro do prazo de quinze dias, a contar do recebimento
da notificação, ou se quiser, poderá oferecer dentro do mesmo prazo, as razões de sua
impugnação;
II - Havendo impugnação por parte do proprietário, abre-se vista ao órgão que tomou a
iniciativa do tombamento, afim de sustentá-la;
III - O processo será remetido ao Conselho Consultivo do Serviço do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional, que num prazo de sessenta dias a contar do recebimento, deve
deliberar decidindo:
a) pela anulação do processo (em caso de ilegalidade);
b) pela rejeição da proposta de tombamento; ou
c) pela homologação da proposta,
OBSERVAÇÃO: Da decisão do conselho consultivo não cabe recurso.
2.5.7. Efeitos
a) As coisas tombadas, que pertençam à União, aos Estados ou aos
Municípios, só poderão ser transferidas de uma à outra das referidas entidades,
devendo o adquirente dar imediato conhecimento ao Serviço do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (art. 11);
b) O tombamento definitivo dos bens de propriedade particular será, deve ser
transcrito no registro de imóveis e averbado ao lado da transcrição do domínio
(art. 13);
c) A coisa tombada não poderá sair do país, exceto para fins de intercâmbio
cultural (art. 14);
d) No caso de extravio ou furto de qualquer objeto tombado, o proprietário
deverá dar conhecimento do fato ao Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional (art. 16);
e) As coisas tombadas não poderão, em nenhum caso ser destruídas,
demolidas, mutiladas, reparadas, pintadas ou restauradas sem prévia
autorização especial do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional,
sob pena de multa (art. 17);
f) Sem prévia autorização do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional, os vizinhos da coisa tombada não podem fazer construção que
lhe impeça ou reduza a visibilidade, colocar cartazes ou anúncios que impeçam
ou reduzam a visibilidade da coisa tombada (art. 18);
g) O proprietário da coisa tombada tem a obrigação de conservar e reparar
a coisa tombada. Caso não possua condições para proceder às obras de
conservação e reparação que a mesma requerer, deve comunicar o Serviço do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional a necessidade das mencionadas
obras, sob pena de multa (art. 19);
h) O proprietário deve se submeter à vigilância e inspeção da coisa tombada
por parte do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (art. 20);
I) Em caso de alienação onerosa dos bens tombados, terão direito de
preferência a União, os Estados e os municípios terão, nesta ordem (art. 22).
OBSERVAÇÕES:
I - O tombamento não é meio de transferência da propriedade não havendo (em regra)
indenização ao proprietário, exceto se as restrições advindas pelo tombamento, causem prejuízo
ao proprietário;
II - A propriedade permanece no domínio e posse de seu proprietário; e
III - As coisas tombadas não poderão ser demolidas, destruídas ou modificadas, sem a
autorização do Instituto Brasileiro do Patrimônio Cultural (IBPC).

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