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DIREITO ADMINISTRATIVO – AULA 11 – INTERVENÇÃO NA PROPRIEDADE

ASPECTOS GERAIS

Intervenções restritivas no direito de propriedade: limitação/condicionamento do uso do bem,


mas sem retirar o bem da propriedade do particular

Fundamento: poder de polícia: limitação de liberdades individuais por interesse


público

Cinco hipóteses: limitação adm, servidão adm, ocupação temporária, requisição e


tombamento

Mitigação do caráter absoluto ou do caráter exclusivo da propriedade

Caráter absoluto da propriedade: proprietário define uso dado ao bem

Caráter exclusivo da propriedade: proprietário tem direito de usar o bem,


podendo inviabilizar o uso por terceiros (efeitos erga omnes)

LIMITAÇÃO ADMINISTRATIVA

Limitação geral e abstrata: não atinge um bem, mas uma quantidade indeterminada de bens,
que se adequem a uma situação fática (v.g. gabarito dos imóveis à beira-mar)

Mitigação do caráter absoluto da propriedade (mas não do caráter exclusivo)

Fonte: Leis ou atos administrativos gerais (normativos)

Não há dano específico: em regra, não gera indenização, salvo demonstração de dano
diferenciado/anormal

Exemplo: supressão/restrição de corte de vegetação em área antes explorada para


tanto

Ajuizamento de ação de desapropriação indireta: indenizatória: possível procedência


(parcial) caso reconhecida limitação administrativa (Info 662/STJ)

Eficácia: ex nunc (não retroativos)

Regra: obrigação negativa (não fazer)

Exceção: obrigação positiva (fazer)

L10257 art 25: direito de preempção (preferência) pública: município, por meio de lei,
pode determinar áreas de preempção, em que, em caso de venda pelo proprietário, há
preferência do município para aquisição: é espécie de limitação administrativa

- prazo determinado para preempção: até 5 anos; período de carência de 1 ano


para nova preempção

- município deve exercer direito de preferência em 30 dias, após há recusa


tácita
- venda por preço inferior ao ofertado ao município: fraude

- desrespeito preempção: nulidade de pleno direito (§ 5º): aquisição pelo valor


da venda ou pelo valor do valor venal do imóvel para fins de IPTU (em geral é menor)

SERVIDÃO ADMINISTRATIVA

Incidência sobre bem imóvel determinado

Mitigação do caráter exclusivo do direito de propriedade (Estado utilizará bem com


proprietário)

Natureza jurídica: direito real (com inscrição no registro da matrícula do imóvel)

Conteúdo: em regra, obrigação de tolerar para o proprietário e direito real de uso da coisa
alheia para o Poder Público ou entidade delegada

Fonte: acordo, decisão judicial, ou lei

CC02: prédio dominante x prédio serviente

Servidão administrativa: serviço público/de interesse público dominante x prédio serviente


(v.g. placa no muro, poste, cabos)

Dano específico: há indenização prévia pela redução do potencial de exploração econômica do


imóvel (não se confunde com aluguel)

Súmula 56/STJ: Na desapropriação para instituir servidão administrativa são devidos


os juros compensatórios pela limitação de uso da propriedade [redação esquisita, STJ atual
interpreta: na servidão são devidos juros pela limitação de uso, assim como na desapropriação]

Procedimento: similar ao da desapropriação: declaração de interesse público na instituição da


servidão > execução: cálculo de eventuais danos e do valor indenizatório > acordo quanto ao
valor (via administrativa) ou discordância, mediante ação de servidão / possibilidade paralela:
servidão mediante lei*

STJ REsp 953910 Campbell 2009: legitimidade passiva concorrente:


proprietário e possuidor direto (ambos são prejudicados)

Servidão instituída por lei: (1) Decreto 25/37 (regula tombamento): bens vizinhos não
podem impedir visualização/acesso ao bem tombado (este seria o bem dominante e bens
vizinhos seriam bens servientes) e (2) imóveis vizinhos a aeroportos, precisam seguir limites de
construção para permitir atividade do aeroporto

[crítica: tem características de limitação administrativa, pois é geral/abstrata e


afeta caráter absoluto e não exclusivo da propriedade, então parte da doutrina
defende que é limitação, mas a doutrina majoritária defende que é servidão
em virtude de haver a figura do “prédio dominante”]

Caráter perpétuo (ou seja, prazo indeterminado)

Não é “eterna”: é revogável: enquanto durar o interesse público

Consolidação: servidão pode ser desfeita pela aquisição do bem pelo Estado
Indenização por servidão adm: não incide IR (Info 769/STJ)

REQUISIÇÃO ADMINISTRATIVA

CF 5º XXV: casos de iminente perigo público: possível requisição para resolver situação (v.g.
requisição de galpão para abrigar cidadãos após enchente)

Fundamentos:

- necessidade pública (fundamento político)

- função social da propriedade (fundamento jurídico genérico)

- iminente perigo público (fundamento jurídico específico)

Objeto: bens imóveis, móveis ou serviços (v.g. serviço de funcionários de hospital em caso de
calamidade, serviço de reservistas em caso de guerra) de particulares

* Inviável ter por objeto bens/serviços de outro ente federativo: Info 1059/STF

- Fundamento: ausência de hierarquia entre os entes + desorganização de


bens/serviços públicos afetados

- Caso: art. 15, XIII, da Lei Orgânica do SUS

- Exceção: durante estado de defesa (CF 136 § 1] II) e estado de sítio (139 VII)

* Possível requisição de bens/serviços para efetivação do direito à saúde, pelos entes


federativos (Info 989/STF: enfrentamento à covid-19)

* Inviável ter por objeto bens já contratados por outro ente federativo

- caso: requisição pela União de insumos para aplicação de vacinas contra


covid-19 já contratadas pelo Estado de SP: Info 1008/STF

Danos: se houver: indenização posterior

Requisição de bem móvel consumível (v.g. alimentos): caso bem seja fungível, é requisição e
não desapropriação (Estado pode devolver, após, bem de idêntica natureza)

OCUPAÇÃO TEMPORÁRIA

Utilização de bem imóvel/móvel*, sem perigo iminente, apenas por necessidade pública e
provisória, por prazo determinado, de maneira episódica

Exemplo: escola como local de votação em eleição pública

Del3365/41 art 36: espécie mais comum: ocupação temporária de terrenos vizinhos à
obra pública, para suporte (v.g. maquinário, habitação para pedreiros)
* Objeto: Doutrina dividida: maioria sustenta que só se aplica a imóveis, mas Lei 8666 permite
ocupação temporária de móveis e imóveis em caso de inadimplemento pelo contratante

Natureza jurídica: direito de caráter pessoal e não real

TOMBAMENTO (Decreto-lei 25/37)

Das intervenções restritivas, a que mais cai, inclusive em direito ambiental

Finalidade: proteção do meio ambiente (não o natural, mas sim o patrimônio histórico,
artístico e cultural, refletidos em determinado bem: preservação dos aspectos
históricos/artísticos/culturais do bem)

Objeto: Bens imóveis ou móveis (v.g. quadro, cadeira), mas sempre sobre bens corpóreos
(apenas Di Pietro defende tombamento sobre bens incorpóreos, todos os demais defendem
que patrimônio imaterial é apenas registrado: posicionamento mais moderno já adotado no
DAmb)

Extensão: Total ou parcial (v.g. pelourinho: apenas fachada)

Instituição: ato de ofício ou “voluntário” (provocado: requerido pelo proprietário)

Regra: voluntário (consentimento pelo proprietário)

Exceção: compulsório (não consentimento pelo proprietário, porém garantida


ampla defesa em processo administrativo)

Indenização: apenas se houver esvaziamento do valor econômico ou gastos desproporcionais


para manutenção

Caráter perpétuo (prazo indeterminado)

Tombamento provisório: é medida cautelar administrativa, e não ato de tombamento


em si: pode ser decretada no bojo do procedimento de tombamento, ao fim do qual se pratica
(ou não) o ato de tombamento

Tombamento pode ser realizado várias vezes, por cada ente federativo, pois pode suscitar
interesse municipal, regional/estadual, nacional (e também mundial: UNESCO)

Tombamento de bens públicos: possível

STF ACO 1208 GM 2017: inaplicabilidade da exigência de “hierarquia


federativa” incidente sobre desapropriação: v.g. Estado pode tombar bem da União

Registro: Imóvel: CRI e livro do tombo / Móvel: apenas livro do tombo

Livro do Tombo: cada ente federativo tem um

Obrigações ao proprietário do bem tombado: fazer, não fazer e tolerar

- Fazer:

- dever de conservação do bem no estado em que se encontra (realização de


benfeitorias necessárias/úteis) [dever de conservação direta ou, em caso de insuficiência de
recursos, de comunicação ao Estado quanto à necessidade de conservação]
* revogação do direito de preferência em caso de compra e venda (previsto no
Decreto 25/37) pelo NCPC, salvo em caso de hasta pública judicial, em que União, Estado e
Município, nessa ordem, podem exercer preferência

- Não Fazer

- destruição do bem tombado

- modificação dos aspectos do bem tombado

- reforma do bem: depende de autorização especial do poder público


(para além das licenças usualmente exigidas para reforma)

- bens móveis: retirada do país (salvo, por curto período de tempo, com
justificativa do proprietário e autorização do poder público, v.g. exposição)

- Tolerar (estado de sujeição)

- fiscalização do Estado sobre as regras do tombamento

STF RE 219292: inadmissibilidade de “tombamento de uso”: obrigação de dar destinação


determinada ao imóvel (em tal hipótese, Estado deve proceder à desapropriação)

RESUMO FINAL

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