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História do Registro

Imobiliário no Brasil

© 2016 Prof. Dr. Ivanildo Figueiredo


Doutor e Mestre em Direito Privado (UFPE)
Especialista em Direito Registral Imobiliário (PUC-MG)
Professor da Faculdade de Direito do Recife (UFPE)
Professor da Escola Judicial do Tribunal de Justiça de Pernambuco (ESJUD)
Professor da Escola Superior da Advocacia (ESA-OAB/PE)
Evolução histórica do registro de imóveis no
Brasil
Período colonial: Regime das sesmarias – As terras da
colônia eram de domínio público; os donatários
recebiam um total de 60 léguas de área para ocupação,
sendo uma área para si de 10 léguas, e as outras 50
léguas ficavam no domínio do Reino de Portugal,
mediante as seguintes condições:

a) demarcação;
b) exploração;
c) confirmação.
2
“Sesmarias são propriamente as
dadas de terras, casses (casas
de campo ou granjearias), ou
pardieiros, que foram, ou são de
alguns senhorios, e que já em
outro tempo foram lavradas e
aproveitadas, e agora não são.”
(Ordenações Manuelinas (1521),
Livro IV, título 67; Ordenações
Filipinas (1595), Livro IV, título 43)

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Regulação de terras em Portugal:

• Ordenações do Reino: Nas terras colocadas sob sua


governança, os capitães-donatários contavam como
propriedade pessoal apenas uma parcela. Ficavam
autorizados a distribuir o restante sob a forma de
sesmaria, “a quaisquer pessoas, de qualquer
condição, comtanto que fossem christãos”.

• Bulas Papais Propriedade espiritual da Ordem de


Cristo (obrigação de pagamento de dízimo à Igreja).

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Outorga das sesmarias
Martim Afonso de Souza (1530)
Concessão das sesmarias em caráter
vitalício e hereditário.

Tomé de Souza (1548)


O Regimento do Governo Geral disciplinava
a concessão de sesmarias, para a exploração
com engenhos de açúcar e outros estabelecimentos
semelhantes, sob a condição de neles edificarem torres
ou casas fortes necessárias à defesa da povoação.

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Documento de outorga das sesmarias: Carta do
Governador Geral, com selo do Reino de Portugal.
Regime de aforamento: Foi instituído em 1695 com a
expedição da Ordem Real que determinou a imposição de
foros sobre as sesmarias, a serem cobrados de modo
proporcional à extensão e qualidade das novas
concessões de terras. A partir de 1780, as sesmarias
passam a registrar cláusula anual de foro, e o sesmeiro
reconhecido como foreiro (titular do domínio útil).
Documento de confirmação: Certidão legal e autêntica
dada pelo Governador Geral de que a demarcação da
sesmaria havia sido feita e a sentença passado em
julgado. 6
Instituição dos terrenos de marinha: Ordem Régia de
D. João VI, de 1811, determinou que a distância de 15
braças (33 metros) de “tudo o que toca a água do mar
e acresce sobre ela” continua sendo de propriedade da
Coroa Portuguesa, para uso do seu “serviço público”.
Pena de comisso: Os sesmeiros que não provassem a
demarcação judicial e a efetiva exploração das terras,
perderiam os direitos de posse e aforamento, que
podiam ser transferidos a terceiros ou devolvida ao
domínio público (terras devolutas).
Regime das sesmarias: Requisito do processo para a
legalização de terras, da posse e da propriedade.

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PERÍODO DO IMPÉRIO: A Constituição de 1824
reconhece a propriedade particular e a posse
originárias do regime de sesmarias, cujas concessões
cessaram a partir de 1822.

“Art. 179. (....)


XXII. É garantido o Direito de Propriedade em
toda a sua plenitude. Se o bem publico legalmente
verificado exigir o uso, e emprego da Propriedade do
Cidadão, será elle préviamente indemnisado do valor
della. A Lei marcará os casos, em que terá logar esta
unica excepção, e dará as regras para se determinar a
indemnisação.”

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LEI ORÇAMENTÁRIA 317/1843
Criação do Registro Geral de
Hipotecas, com a finalidade de
proteger o crédito concedido por
bancos mediante garantia de
propriedades rurais.

“Art. 35. Fica creado um


Registro geral de hypothecas, nos
lugares e pelo modo que o
Governo estabelecer nos seus
Regulamentos.”
Regulamento: Decreto 482/1846
9
Regulamento do Registro Geral de Hipotecas
Decreto 482/1846

Art. 1.º O Registro geral das hypothecas,


creado pelo Artigo 35 da Lei numero 317, de 21
de Outubro de 1843, fica estabelecido em cada
huma das Comarcas do Imperio, e estará
provisoriamente a cargo de hum dos Tabelliães
da Cidade ou Villa principal da Comarca, que for
designado pelos Presidentes, nas Provincias,
precedendo informações dos Juizes de Direito.
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Características e disposições gerais do Registro
Geral de Hipotecas
• As hipotecas eram registradas no Cartório do Registro
Geral da Comarca onde se situavam os bens
hipotecados, salvo se a hipoteca recair sobre escravos, a
qual era registrada na Comarca do devedor (art. 2º).
• Para o registro da hipoteca, a pessoa deveria apresentar
ao Tabelião do Registro Geral da Comarca (art. 6º):
1) O título que constituir a hipoteca, ou em original, ou
em traslado autêntico:
2) Cópia duplicada e fiel do mesmo título, assinada pela
parte, ou seu bastante procurador, e devidamente
selada.
11
• Se a hipoteca puder provar-se por escrito particular, nos
casos em que, pela Lei, tem força de escritura pública, o
titulo original somente poderá ser suprido por
instrumento autêntico extraído do Livro de Notas em
que tenha sido lançado (art. 7º).
• As assinaturas que autenticarem os títulos apresentados
pelas partes, serão reconhecidas pelo Tabelião do
Registro, antes de o fazer, ou por duas pessoas de
crédito, na sua presença, por ele reconhecidas pelas
próprias, do que portará fé. (art. 8º).
• Dos referidos títulos, deverá constar o pagamento do
selo fixo, ou proporcional, a que estiverem sujeitos,
pena de nulidade do registro. (art. 9º).
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• Os Tabeliães do Registro Geral das Hipotecas,
imediatamente ao ser apresentado o título para
registrar, acompanhadas das duas cópias, tomarão dele
apontamento, no seu Livro "Protocolo", lançando-o por
extrato, debaixo do número que competir, na ordem
sucessiva do último titulo que se achar lançado. (art. 10).
• Os assentos dos registros das hipotecas serão lançados
diariamente, no Livro do Registro Geral, com a
numeração dada no Protocolo à verba correspondente, e
a mesma data; e consistirão os mesmos assentos na
cópia literal do título verbo ad verbum, não devendo
mediar entre uns e outros registros, espaço em branco,
mais que o preciso para distinguir. (art. 11).
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Efeitos legais do registro da hipoteca
(art. 13)
1) Torna nula, a favor do credor hipotecário, qualquer
alienação dos bens hipotecados, que o devedor
possa fazer, posteriormente ao registro, por título
gratuito ou oneroso;
2) Pode o credor hipotecário com sentença, penhorar e
executar os bens registrados, em qualquer parte que
eles se acharem;
3) Conserva o credor hipotecário o privilégio de
preferência, nos bens registrados que, pela hipoteca,
possa haver adquirido.
14
• Depois da instalação do Registro das hipotecas, em
qualquer Comarca, os efeitos legais das hipotecas
dos bens nela situados, só começarão a existir da
data do registro das mesmas hipotecas. (art. 14).

• No caso em que duas hipotecas do mesmo devedor


sejam registradas no mesmo dia, não terá uma
preferência sobre a outra, ainda que o Tabelião
declare que uma foi registrada de manhã, e outra de
tarde. Valerá, em tal caso, em igualdade de
circunstâncias, a data das escrituras. (art. 15).

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• Devem ser averbadas no Registro Geral das Hipotecas,
as baixas ou extinções das hipotecas nele registradas; a
sua substituição ou transferência para outro devedor ou
credor, ou para outros bens, e qualquer outra alteração
ou novação do contrato, ou obrigação hipotecária. (art.
18).

• As baixas e extinções serão feitas por consentimento


das partes ou de sentenças passadas em julgado; e, para
serem averbadas as baixas, apresentarão as partes
interessadas, ao Tabelião do Registro Geral das
Hipotecas, o título de contrato, quitação ou sentença,
que extingue, no todo ou em parte, altera ou inova a
hipoteca registrada. (art. 19).
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Livros do Registro das Hipotecas
(art. 22)
1) Livro de Registro Geral das Hipotecas - destinado ao
registro das hipotecas dos bens situados na Comarca,
lançamento das averbações e anotações das certidões
que passarem, da existência do registro de alguma
hipoteca nos seus Livros;
2) Livro de Protocolo - serve para os apontamentos das
minutas e averbações, e para as anotações das certidões
negativas que passarem;
3) Livro Índice - escriturado em ordem alfabética, por
forma que facilite o conhecimento dos bens
hipotecados registrados no Cartório. 17
Escrituração do Livro de Registro das Hipotecas
(art. 23)
• O Livro do registro das hipotecas terá todas as suas
páginas divididas em duas partes iguais, por um traço
perpendicular;
• Na parte esquerda se fará o registro das hipotecas, pela
forma prescrita no art. 13;
• A parte direita ficará em branco, reservada para nela se
lançarem sucessivamente, em frente dos respectivos
registros, as alterações, baixas, remoções, substituições,
e averbações, e para se notarem as certidões
afirmativas, que se passarem, da existência do registro
de alguma hipoteca.
18
Certidões do Registro das Hipotecas
(arts. 24 a 27)
• Os Tabeliães do Registro das hipotecas darão certidão
dos seus Livros, independente de despacho.
• Nas certidões do registro de hipotecas deverão os
Tabeliães transcrever o teor não só do assento do
mesmo registro, mas de todas as averbações e
anotações a ele relativas, que existirem nos seus Livros.
• As certidões negativas que os Tabeliães passarem,
declarando que nenhuma hipoteca existe registrada no
seu Cartório, relativa a determinada pessoa ou bens, só
terão vigor por tempo de 6 meses.
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Responsabilidade dos Tabeliães
(arts. 29 e 30)
• Os Tabeliães do Registro Geral das Hipotecas são
responsáveis pelos danos que causarem, além de
incorrerem nas penas que competirem, por suas
omissões, erros e prevaricações, e de poderem ser
processados, como estelionatários, ou como cúmplices
deste crime, nos casos em que nele incorrerem.

• Não poderá o Tabelião recusar, nem demorar às partes


o registro de hipotecas ou averbações que estas lhes
requererem, nem as certidões dos seus Livros que
pretenderem.
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Apuração da responsabilidade do Tabelião
(art. 31)
• As partes que se sentirem prejudicadas na recusa ou
demora de suas pretensões fundadas em justiça,
deverão, para segurança do seu direito, e procedimento
contra o Tabelião, justificar o acontecimento, dentro de
5 dias úteis, com duas testemunhas, perante o Juiz
Municipal do Termo ou Comarca.
• Se a recusa ou demora for julgada infundada e
improcedente, a sentença será intimada ao Tabelião, e
este obrigado a averbá-la no seu Protocolo. Nesse caso,
a sentença de justificação suprirá a falta do registro.
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LEI 601/1850 – LEI DE TERRAS
• Dispõe sobre as terras devolutas do
Império, e das que são possuídas por
titulo de sesmaria sem preenchimento
das condições legais, bem como por
título de posse mansa e pacífica;
• Determina que, após medidas e
demarcadas as terras devolutas, sejam
elas cedidas a titulo oneroso, assim
para empresas particulares, como para
o estabelecimento de colônias de
nacionais e de estrangeiros,
autorizando o Governo a promover a
colonização estrangeira. 22
Definição de terras devolutas
(art. 3º)
1) As que não se acharem aplicadas a algum uso público
nacional, provincial ou municipal.
2) As que não se acharem no domínio particular por qualquer
título legítimo, nem forem havidas por sesmarias e outras
concessões do Governo Geral ou Provincial, não incursas em
comisso por descumprimento das condições de medição,
confirmação e cultura.
3) As que não se acharem dadas por sesmarias, ou outras
concessões do Governo, que, apesar de incursas em comisso,
forem revalidadas por esta Lei.
4) As que não se acharem ocupadas por posses, que, apesar de
não se fundarem em título legal, forem legitimadas pela Lei.
23
Legitimação da posse na Lei de Terras
(art. 5º)
• Foram legitimadas as posses mansas e pacíficas,
adquiridas por ocupação primária, ou havidas do primeiro
ocupante, que se acharem cultivadas, ou com princípio de
cultura, e morada, habitual do respectivo posseiro, ou de
quem o represente, guardadas as regras seguintes:
• Cada posse em terras de cultura, ou em campos de criação,
compreendia, além do terreno aproveitado ou do necessário
para pastagem dos animais, outro tanto mais de terreno
devoluto contíguo, contanto que em nenhum caso a
extensão total da posse exceda a de uma sesmaria para
cultura ou criação, igual às últimas concedidas na mesma
comarca ou na mais vizinha.
24
• As posses em circunstâncias de serem legitimadas, que se
acharem em sesmarias ou outras concessões do Governo,
não incursas em comisso ou revalidadas pela Lei, só darão
direito à indenização pelas benfeitorias.
• Excetua-se desta regra o caso do verificar-se a favor da posse
uma das seguintes hipóteses:
1ª) Ter sido declarada boa por sentença passada em julgado
entre os sesmeiros ou concessionários e os posseiros;

2ª) Ter sido estabelecida antes da medição da sesmaria ou


concessão, e não perturbada por 5 anos;

3ª) Ter sido estabelecida depois da dita medição, e não


perturbada por 10 anos.
25
Processo de medição
(art. 7º)
• O Governo definiu prazos para a medição das terras
adquiridas por posses ou por sesmarias, ou outras
concessões;
• O Governo designou as pessoas responsáveis pela
medição, atendendo às circunstâncias de cada Província,
comarca e município;
• Esse prazo de medição podia ser prorrogado, quando
considerado conveniente, por medida geral que
compreenda todos os possuidores da mesma Província,
comarca e município, onde a prorrogação convier.
26
Separação das terras do domínio privado
(art. 8º)
• Os possuidores que deixavam de proceder à medição
nos prazos marcados pelo Governo serão reputados
caídos em comisso, e perdiam o direito que tinham a
serem preenchidos das terras concedidas por seus
títulos, ou por favor da Lei;

• Esses possuidores mantiveram somente a posse do


terreno que ocupavam com efetiva cultura, havendo-
se por devoluta a terra que se achava inculta.

27
Título originário da propriedade
(art. 11)

• Os posseiros eram obrigados a obter os títulos


dos terrenos que lhes ficarem pertencendo
por efeito da Lei, e sem eles não poderão
hipotecar os mesmos terrenos, nem aliená-los
por qualquer modo.

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Registro paroquial das terras sob regime de posse
(Registro do Vigário)
(art. 13)
• O Governo organizou por freguesias o registro
das terras possuídas, a partir das declarações
feitas pelos respectivos possuidores, impondo
multas e penas àqueles que deixarem de fazer
nos prazos marcados as ditas declarações, ou as
fizerem inexatas.

Delegação do registro: foi atribuído à Igreja,


através das paróquias em cada freguesia. 29
Registro das terras devolutas
(art. 21)

• O Governo criou órgão especial denominado


de Repartição Geral das Terras Públicas, que
ficou encarregado de realizar a medição,
divisão e descrição das terras devolutas, e sua
conservação, de fiscalizar a venda e
distribuição delas, e de promover a
colonização nacional e estrangeira.

30
Lei 1.237/1864
Reforma da legislação hipotecária e instituição
do registro de ônus reais
a) Disciplinou o registro geral para a transcrição dos
títulos de transmissão dos imóveis susceptíveis de
hipoteca e a instituição de ônus reais.
b) Regulamentou as modalidades de hipotecas legal e
convencional e o procedimento para a sua inscrição;
c) Estabeleceu que a transmissão da propriedade não
se operava, com relação a terceiros, senão pela
transcrição do título no registro imobiliário;
d) Regulamentou mais detalhadamente a prenotação
para garantir a prioridade na constituição das
hipotecas.

31
Princípios da legislação hipotecária
(arts. 1º e 2º)

• Não existem outras modalidades de hipotecas,


senão as que essa Lei estabelece (hipotecas
legal e convencional).

• Só pode hipotecar quem pode alienar. Os


imóveis que não podem ser alienados não
podem ser hipotecados.

32
Natureza jurídica da hipoteca
(art. 2º)

• A hipoteca é regulada somente pela Lei civil,


ainda que algum ou todos os credores sejam
comerciantes.
• Foram derrogadas as disposições do Código
Comercial de 1850 relativas à hipoteca de
bens de raiz.

33
Objeto da hipoteca
(art. 2º, § 1º)
• Somente podem ser objeto de hipoteca:
a) Os imóveis;
b) Os acessórios dos imóveis;
c) Os escravos e animais pertencentes às propriedades
agrícolas, que forem especificados no contrato,
sendo com as mesmas propriedades;
d) O domínio direto dos bens enfitêuticos;
e) O domínio útil dos bens enfitêuticos independente
da licença do senhorio, o qual não perde, no caso de
alienação, o direito de opção.
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Princípios hipotecários
(art. 2º, §§ 4º, 5º e 6º)

• Só pode hipotecar quem pode alienar. Os imóveis que


não podem ser alienados, não podem ser
hipotecados.
• O domínio superveniente revalida, desde a inscrição,
as hipotecas contraídas em boa fé pelas pessoas, que
com justo título possuíram os imóveis hipotecados.
• Não só o fiador, porém também qualquer terceiro,
pode hipotecar seus bens pela obrigação alheia.

35
Tipos de hipotecas
(arts. 3º e 4º)

o Hipoteca Legal
o Hipoteca Convencional
HIPOTECA LEGAL É aquela constituída por força de lei,
para a proteção de determinados interesses:
• bens da mulher casada;
• bens provenientes de herança, legado, ou doação;
• da Fazenda Pública, sobre os imóveis dos seus
tesoureiros;
• ao Estado e aos ofendidos ou seus herdeiros, sobre os
imóveis do criminoso. 36
HIPOTECA CONVENCIONAL Resulta de acordo de
vontades em que o devedor constitui sobre um imóvel
determinado garantia real em favor do credor.

• A hipoteca convencional deve ser especial, com


quantia determinada e sobre bens presentes.
• Ficam proibidas e de nenhum efeito as hipotecas gerais
e sobre bens futuros.
• A hipoteca convencional deve indicar o imóvel ou
imóveis nos quais ela consiste, assim com a sua
situação e característicos.
• A hipoteca convencional compreende todas as
benfeitorias, que acrescerem ao imóvel hipotecado,
assim com as acessões. 37
Definição dos ônus reais objeto de registro
(art. 6º)
• Somente se consideram ônus reais:
1) A servidão;
2) O uso;
3) A habitação;
4) A anticrese;
5) O usufruto;
6) O foro (enfiteuse);
7) O legado de prestações ou alimentos consignado no
imóvel.
38
Do registro geral
(art. 7º)

O registro geral compreende:

1) A transcrição dos títulos de transmissão dos


imóveis suscetíveis de hipoteca;
2) A instituição dos ônus reais;
3) A inscrição das hipotecas.

39
Da transcrição
(Art. 8º)

• A transmissão entrevivos por título oneroso ou


gratuito dos bens suscetíveis de hipotecas, assim
como a instituição dos ônus reais, não operam seus
efeitos a respeito de terceiros, senão pela transcrição
e desde a data dela.
• A transcrição será por extrato.
• A transcrição não induz a prova do domínio, que fica
salvo a quem for.

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Da inscrição das hipotecas
(Art. 9.º)

• As hipotecas legais especializadas, assim como as


convencionais, somente valem contra terceiros deste a
data da inscrição.
• São subsistentes entre os contraentes, quaisquer
hipotecas não inscritas.
• A inscrição valerá por 30 anos, e só depende de
renovação findo este prazo.

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Requisitos da inscrição da hipoteca
(art. 9º, § 24)

a) nome, domicílio e profissão do credor;


b) nome, domicílio e profissão do devedor;
c) data e natureza do título;
d) valor do credito ou a sua estimação ajustada pelas
partes;
e) época do vencimento;
f) juros estipulados;
g) situação, denominação e característicos do imóvel
hipotecado.
42
Efeitos das hipotecas
(art. 10)

• A hipoteca é indivisível, grava o imóvel ou imóveis


respectivos, integralmente, e em cada uma das suas
partes, qualquer que seja a pessoa em cujo poder se
acharem.
• Até a transcrição do título da transmissão, todas as
ações são competentes e válidas contra o
proprietário primitivo, e exequíveis contra quem
quer que for o detentor.

43
Da extinção da hipoteca e cancelamento das
transcrições e inscrições
(art. 11)
Extinção da hipoteca:
1) extinção da obrigação principal;
2) destruição da coisa hipotecada;
3) renúncia do credor;
4) remissão;
5) sentença passada em julgado.

44
Averbação da extinção da hipoteca
(art. 11, § 6.º )
A extinção das hipotecas só começa a ter efeito
depois de averbada no competente registro, e só
poderá ser atendida em Juízo á vista da certidão
do averbamento.

Cancelamento da hipoteca
(art. 12)

O cancelamento decorre de convenção das


partes ou de sentença dos Juízes ou Tribunais.
45
Letras hipotecárias
(art. 13)
• Constituída a hipoteca, podem sobre ela as sociedades
autorizadas pelo Governo, emitir, com o nome de Letras
Hipotecárias, títulos de dívidas transmissíveis e
pagáveis.
• As Letras Hipotecárias são nominativas ou ao portador.
• As letras nominativas são transmissíveis por endosso,
cujo efeito será somente o da cessão civil.
• Os empréstimos hipotecários não podem exceder à
metade do valor dos imóveis rurais e ¾ (tres quartos)
dos imóveis urbanos.
46
Registro Imobiliário no Brasil República
DECRETO nº 169-A, de 19/01/1890

• Este Decreto reproduz, com poucas alterações, a Lei


1.237/1864, regulando o Registro Geral de Hipotecas;
• Prevê a constituição de hipoteca judicial, em garantia
do pagamento de dívidas liquidadas em processos;
• Inclui o penhor agrícola como direito real;
• Estabelece o princípio de que o devedor não fica pela
hipoteca impedido de hipotecar de novo o imóvel, cujo
valor exceder o da garantia real.

47
Objeto da hipoteca
(art. 2º, § 1º)
a) Os imóveis;
b) Os acessórios dos imóveis;
c) Os animais pertencentes às propriedades agrícolas;
d) O domínio direto dos bens enfitêuticos;
e) O domínio útil dos bens enfitêuticos, independente da
licença do senhorio;
f) Os engenhos centrais, fábricas, usinas e oficinas,
abrangendo os edifícios e maquinismos;
g) As estradas de ferro, compreendendo todos os seus
imóveis, acessórios, material fixo e rodante.
48
Regulamento do Decreto nº 169-A/1890: Decreto nº
370, de 02/05/1890.
INAUGURAÇÃO DO REGISTRO GERAL NAS NOVAS
COMARCAS: O Registro Geral previsto na Lei 1237/1864
e no Decreto 169-A/1890, continuará nas comarcas onde
atualmente funciona, e será estabelecido em todas as
novas dentro de 8 dias, depois da instalação delas.
• Nas comarcas de mais de um juiz de direito, presidirá á
instalação do registro o Juiz da 1ª Vara Cível.
• Desde a instalação do registro geral, nos termos da Lei
1237/1864, realizam-se todos os effeitos resultantes
do registro dos títulos, que pela lei são sujeitos a esta
formalidade, para valer contra terceiros.
49
Código Civil de 1916

• Estabelece e consolida as normas do regime geral da


propriedade e dos direitos reais.
• Disciplina o registro imobiliário como uma instituição
que tem por função primordial realizar a transmissão e
aquisição da propriedade.

“Art. 676. Os direitos reais sobre imóveis


constituídos, ou transmitidos por atos entre vivos só se
adquirem depois da transcrição ou da inscrição, no
registro de imóveis, dos referidos títulos (arts. 530, I, e
856), salvo os casos expressos neste Código.”

50
Modos de aquisição da propriedade imóvel
(CC, 1916, art. 530)

I - Pela transcrição do título de transferência no


Registro do Imóvel.

II - Pela acessão.

III - Pelo usucapião.

IV - Pelo direito hereditário.

51
Aquisição pela transcrição do título
(arts. 531 e 532)
• Ficavam sujeitos à transcrição os títulos translativos
da propriedade imóvel, por ato entre vivos.
• Deviam ser também transcritos:
a) os julgados, pelos quais, nas ações divisórias, se
puser termo a indivisão;
b) as sentenças, que nos inventários e partilhas,
adjudicarem bens de raiz em pagamento das dívidas
da herança;
c) a arrematação e as adjudicações em hasta pública.
52
Eficácia e momento da transcrição
(arts. 533 e 534)

• Os atos sujeitos a transcrição não transferem o


domínio, senão da data em que se transcreverem .

• A transcrição datar-se-á do dia, em que se


apresentar o título ao oficial do registro, a este o
prenotar no protocolo.

53
Aquisição por acessão
(Art. 536)

A acessão pode ocorrer:


I - pela formação de ilhas.
II - por aluvião.
III - por avulsão.
IV - por abandono de álveo.
V - pela construção de obras ou plantações.

54
Do usucapião
(art. 550)

Usucapião ordinário: Aquele que, por 30 anos,


sem interrupção, nem oposição, possuir como seu
imóvel, adquirir-lhe-á o domínio, independente de
título de boa fé, que, em tal caso, se presumem;
podendo requerer ao juiz que assim o declare por
sentença, a qual lhe servirá de título para a inscrição
no registro de imóveis.

55
Usucapião por justo título
(art. 551)

Adquire também o domínio do imóvel aquele


quem, por 10 anos entre presentes, ou 20
entre ausentes, o possuir como seu, continua
e incontestadamente, com justo título e boa
fé.

56
Da perda da propriedade imóvel
(art. 586)

1) Pela alienação.
2) Pela renúncia.
3) Pelo abandono
4) Pelo perecimento do imóvel.

57
Desapropriação
(art. 590)

Também se perde a propriedade imóvel mediante


desapropriação por necessidade ou utilidade pública.

Casos de necessidade publica:

a) A defesa do território nacional.


b) A segurança pública.
c) Os socorros públicos, nos casos de calamidade.
d) A salubridade pública.
58
Casos de utilidade pública:

a) A fundação de povoações e de estabelecimentos de


assistência, educação ou instrução publica.

b) A abertura, alargamento ou prolongamento de ruas,


praças, canais, estradas de ferro e em geral, de
quaisquer vias publicas.

c) A construção de obras, ou estabelecimento,


destinados ao bem geral de uma localidade, sua
decoração e higiene.

d) A exploração de minas.
59
Modalidades atuais de Desapropriação

1) Desapropriação por utilidade pública


(Decreto-Lei 3.365/1941);
2) Desapropriação por interesse social (Lei
4.132/1962);
3) Desapropriação para fins de reforma agrária
(Lei 8.629/1993).

60
Dos direitos reais sobre coisas alheias
(art. 674)
São direitos reais, além da propriedade:

1) A enfiteuse.
2) As servidões.
3) O usufruto.
4) O uso.
5) A habitação.
6) As rendas constituídas sobre imóveis.
7) O penhor.
8) A anticrese.
9) A hipoteca.
61
Registro de Imóveis
(arts. 856 a 862)
Art. 856. O registro de imóveis compreende:

a) A transcrição dos títulos de transmissão da


propriedade.

b) A transcrição dos títulos judiciais (art. 532).

c) A transcrição dos títulos constitutivos de ônus reais


sobre coisas alheias.

d) A inscrição das hipotecas.


62
Regras especiais do Registro de Imóveis
(arts. 859 e 860)

• Presume-se pertencer o direito real à pessoa, em cujo


nome se inscreveu, ou transcreveu.

• Se o teor do registro de imóveis não exprimir a verdade,


poderá o prejudicado reclamar que se retifique.

• Enquanto se não transcrever o título de transmissão, o


alienante continua a ser havido como dono do imóvel, e
responde pelos seus encargos.

63
Normas de registro público complementares ao
Código de 1916
• Lei 4.827/1924 – Organizou a atividade do registro
imobiliário de acordo com o sistema do Código Civil de
1916, e implantou o procedimento de registro de
títulos judiciais.
• Decreto 18.542/1928 – Estabeleceu o princípio da
continuidade registral e a necessidade de prova de
domínio do alienante.
• Decreto 4.857/1939 – Ampliou as exigências para o
registro das escrituras públicas e títulos judiciais, como
requisito para a autenticidade, segurança e validade
dos atos jurídicos imobiliários.

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