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ATOS ADMINISTRATIVOS

1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O estudo ato administrativo é um dos mais importantes do Direito Administrativo. Porém,


antes de adentrarmos ao estudo do ato administrativo, é necessário tecer algumas considerações
preliminares sobre fato jurídico, ato jurídico e fato administrativo.
2. FATO E ATO JURÍDICO
O Direito Civil faz distinção entre fatos e atos jurídicos, pelo que tomamos por base seus
ensinamentos.
 FATO todo acontecimento que ocorre no mundo, mas NÃO GERA EFEITOS
JURÍDICOS. Por exemplo, caminhar é um fato, e este não gera nenhum efeito no mundo jurídico;
 FATO JURÍDICO é todo acontecimento que MODIFICA, EXTINGUE OU PRODUZ
aquisição de DIREITOS. É o caso, por exemplo, da morte, que gera efeitos jurídicos tais como
recebimento de seguro, pensão, direito à sucessão etc.
Se divide em DOIS GRUPOS. São eles: FATO JURÍDICO EM SENTIDO ESTRITO
(stricto sensu) e ATO JURÍDICO.
1. FATO JURÍDICO EM SENTIDO ESTRITO: é aquele que INDEPENDE DA VONTADE
HUMANA, e nele estão compreendidos os fatos NATURAIS ORDINÁRIOS (nascimento, morte,
aquisição da maioridade) e os extraordinários (terremotos, inundações, raios);
2. ATO JURÍDICO: são os fatos que dependem da conduta do ser humano (manifestação
de vontade). Ex. registrar uma criança que acabou de nascer.
3. FATO ADMINISTRATIVO E FATO DA ADMINISTRAÇÃO
 FATO ADMINISTRATIVO: é a MATERIALIZAÇÃO DA VONTADE DA
ADMINISTRAÇÃO, em cumprimento a alguma decisão administrativa, tal como a
construção de uma ponte, a instalação de um serviço público etc1.
 FATO DA ADMINISTRAÇÃO: é uma das CAUSAS QUE IMPOSSIBILITAM O
CUMPRIMENTO DO CONTRATO ADMINISTRATIVO PELO CONTRATADO, e
o mesmo pode se dar por AÇÃO OU OMISSÃO DA ADMINISTRAÇÃO
PÚBLICA. Por exemplo, se a Administração Pública não desapropria uma área
necessária, tal fato impossibilita a execução do objeto do contrato pelo contratado.
Consequentemente, tal fato pode ensejar a rescisão judicial ou amigável do
contrato, ou ainda, a paralisação da execução do contrato.
4. CONCEITO DE ATO ADMINISTRATIVO
Para Hely Lopes Meirelles ato administrativo é “toda manifestação unilateral de vontade
da administração pública que, agindo nessa qualidade, tenha por fim imediato adquirir, resguardar,
transferir, modificar, extinguir e declarar direitos ou impor obrigações aos administrados ou a si
própria2”.
5. ATOS DA ADMINISTRAÇÃO
Os atos da administração, são aqueles ATOS PRIVADOS PRATICADOS PELA
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA QUE NÃO SÃO ATOS ADMINISTRATIVOS, sendo
DISCIPLINADOS PELO DIREITO PRIVADO.
Nesse caso NÃO HÁ PRERROGATIVAS PARA O ESTADO, pois o mesmo atua em
igualdade com o particular. Aqui ficam de fora, por exemplo a supremacia do interesse público
sobre o interesse privado. São exemplos, a locação de um imóvel para nela instalar uma repartição
pública, empréstimos, compra etc.
6. REQUISITOS OU ELEMENTOS DO ATO ADMINISTRATIVO
Os requisitos do ato administrativo, também chamados de ELEMENTOS, são as
CONDIÇÕES ESSENCIAIS PARA QUE O MESMO SE APERFEIÇOE.
SE NÃO OBSERVADO algum desses requisitos o ato ficará destituído de eficácia e
consequentemente NÃO PRODUZIRÁ EFEITOS jurídicos.

1 MEIRELLES, Hely Lopes. Op cit. p. 154.


2 Op. cit. p. 153.
A doutrina administrativista tomando por base os apontamentos da lei 4.717/1965 (Ação
Popular), converge no sentido de elencar como requisitos de validade do ato administrativo os
seguintes: competência; finalidade; forma; motivo e objeto, os quais passamos a detalhar.
6.1. Competência (sujeito)
Significa que o ato administrativo só pode ser REALIZADO POR AGENTE PÚBLICO
QUE TENHA PODER LEGAL PARA PRATICÁ-LO.
A rigor, pode-se dizer que a competência resulta da lei, sendo que o ATO
ADMINISTRATIVO REALIZADO POR AGENTE INCOMPETENTE, ou que exceda os limites
legais, resulta INVÁLIDO.A legalidade é considerada a principal característica da competência.
6.1.1. Critérios de fixação de competência
a) em razão da MATÉRIA: a competência é distribuída entre os Ministérios (em âmbito
Federal) e Secretarias (em âmbito Estadual ou Municipal), visando maior eficiência no exercício
da função. Exemplos: Ministério da Educação; MINISTÉRIO DA SAÚDE, Ministério do Meio
Ambiente etc;
b) em razão da HIERARQUIA: as atribuições mais complexas aos agentes públicos de
hierarquia superior. É o que se chama de repartição vertical de poderes. Por exemplo: nomeação
e exoneração de Ministros de Estado pelo Presidente da República (art. 84 da CF);
c) em razão do LUGAR OU TERRITÓRIO: a descentralização em razão do território se
dá com a repartição de poderes entre órgãos centrais e órgãos locais, a exemplos de
SECCIONAIS OU DELEGACIAS REGIONAIS de órgãos federais;
d) em razão do TEMPO: em decorrência de certas atribuições, a competência
administrativa deve ser EXERCIDA EM PERÍODO DE TEMPO DETERMINADO. Por exemplo:
proibição de nomeação ou exoneração em PERÍODO ELEITORAL.
6.2. Finalidade
A finalidade consiste no OBJETIVO, ou resultado que a Administração Pública deseja
atingir.
O art. 2°, parágrafo único, “e” da Lei 4.717/1965, que regula a Ação Popular, informa que
o desvio de finalidade se verifica quando o agente pratica o ato visando a fim diverso daquele
previsto, explícita ou implicitamente, na regra de competência.
Citemos como exemplos de desvio de finalidade os seguintes casos: desapropriação de
um imóvel para beneficiar correligionário ou para prejudicar inimigo político. Ou quando agente
público comete uma infração e deveria ser punido com pena de advertência, mas foi punido com
remoção.
6.3. Forma
A forma é o MODO COMO O ATO SE EXTERIORIZA. Todo ato administrativo deve
revestir-se de alguma forma, que via de regra deve ser produzido POR ESCRITO, em vernáculo,
com a data e o local de sua realização e a assinatura da autoridade responsável. Derivado do
princípio da solenidade das formas. A inobservância das formalidades do ato gera nulidade (vício
sanável).
Porém em algumas ocasiões é possível o ato NÃO ESCRITO (VERBAL). Em situações
de emergências por exemplo, admite-se ordens verbais advindas de superior hierárquico. Outro
exemplo é contrato verbal para pequenas compras feitas em regime de adiantamento (art. 60, lei
8666/93). Não teria sentido num caso de emergência, seguir todos os procedimentos de escrita,
assinatura de autoridade competente, data etc.
Em relação ao tema, é imperioso assinalar que há OUTRAS FORMAS NÃO ESCRITAS
pelos quais o ato administrativo se exterioriza. São exemplos as placas de sinalização de trânsito,
apitos, gestos etc.
6.4. Motivo
Motivo é a JUSTIFICATIVA PARA A PRÁTICA DO ATO, e tanto pode ocorrer por
previsão legal como pela vontade do administrador público. Sua ausência gera nulidade do ato, é
um vício de motivo e não pode ser sanado. Se o motivo estiver PREVISTO EM LEI, É ATO
VINCULADO, SENÃO É ATO DISCRICIONÁRIO.
6.4.1. Teoria dos motivos determinantes
A teoria dos motivos determinantes dispõe que os atos administrativos, quando forem
motivados, ficam vinculados aos motivos expostos, servindo de suporte para futuras decisões e
para todos os fins de direitos.
Por exemplo, se determinado servidor que ocupe cargo em comissão for exonerado, e
sua exoneração se deu motivada em fato inexistente, ainda que a motivação não seja obrigatória,
o ato será nulo.
6.5. Objeto
E em relação à definição de objeto, acompanhamos a lição de Celso Antônio Bandeira
de Mello3, para quem “objeto É AQUILO QUE O ATO DISPÕE, decide, enuncia, certifica, opina
ou modifica na ordem jurídica”
Se o ato dispõe sobre a desapropriação de um imóvel, o objeto é o imóvel a ser
expropriado. O objeto deve ser lícito, possível, determinado ou determinável.
7. ATRIBUTOS DO ATO ADMINISTRATIVO
Os atributos consistem nas prerrogativas que o ato administrativo possui, o que os
distingue do ato jurídico de direito privado.
7.1. Presunção de legitimidade
Pela presunção de legitimidade temos que os atos praticados pelo Agente Público são
REVESTIDOS DE LEGALIDADE E VERACIDADE, presumindo-se verdadeiros até prova em
contrário. Enquanto não questionados os vícios na esfera judicial, os atos reputam-se válidos tanto
para a administração quanto para os particulares.
7.2. Autoexecutoriedade
Podemos entender a autoexecutoriedade como a possibilidade que a Administração
Pública possui de EXECUTAR OU IMPOR SEUS ATOS A TERCEIROS, SEM A NECESSIDADE
DE AUTORIZAÇÃO DO PODER JUDICIÁRIO.
De fato “não poderia a Administração bem desempenhar sua missão de autodefesa dos
interesses sociais se, a todo momento, encontrando natural resistência do particular, tivesse que
recorrer ao Judiciário para remover a oposição individual à atuação pública4”.
Em DETERMINADAS SITUAÇÕES, TAL ATRIBUTO NÃO SE APLICA ao ato
administrativo, devendo a Administração Pública recorrer ao Judiciário. Cite-se como exemplos a
cobrança de multa, a desapropriação, as escutas telefônicas, a invasão de domicílio, ex vi do
art.5º, inciso XI e XII da CF.
Convém ressaltar que a autoexecutoriedade somente É POSSÍVEL quando
expressamente PREVISTA EM LEI ou quando se tratar de MEDIDA DE URGÊNCIA passível de
trazer prejuízos à Administração Pública. São exemplos de autoexecutoriedade: apreensão de
mercadorias, fechamento e interdição de estabelecimentos etc.
7.3. Imperatividade
A imperatividade decorre do poder de império do Estado, e este utilizando-se desse
poder, IMPÕE DE FORMA UNILATERAL SUA VONTADE aos particulares, independentemente
de sua concordância.
A imperatividade também é chamada de PODER EXTROVERSO, eis que os atos
praticados pela Administração Pública se extrapolam ou se expandem-se atingindo terceiros
independentemente de sua anuência.
Por exemplo, o administrador público pode determinar que todos os proprietários de
imóveis façam uma calçada na frente dos mesmos. Para que isso aconteça não é necessário a
concordância dos proprietários ou buscar autorização junto ao Poder Judiciário.
7.4. Tipicidade
A tipicidade advém do magistério de Maria Sylvia Zanella Di Pietro que a considera como
atributo do ato administrativo.
Para a renomada autora, a tipicidade decorre do princípio da legalidade e consiste em
que o ato administrativo deve CORRESPONDER AO PREVISTO EM LEI para que produza seus
efeitos.

3Op cit. p. 393.


4 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 36ª Ed. São Paulo: Malheiros. 2010. p. 163.
7.5. Exigibilidade
O eminente doutrinador Celso Antônio Bandeira de Mello inclui a exigibilidade como um
dos atributos do ato administrativo, e a define como “a qualidade em virtude da qual o Estado, no
exercício da função administrativa, pode EXIGIR DE TERCEIROS O CUMPRIMENTO, a
observância, DAS OBRIGAÇÕES QUE IMPÔS5” (sem grifo no original).
A verdade é que nem todos os atos exigidos pela Administração Pública são executórios.
A esse respeito, é esclarecedor o exemplo citado pelo renomado doutrinador: a Administração
pode exigir que o administrado demonstre estar quite com os impostos municipais, mas não pode
obrigar coativamente, por meios próprios, o contribuinte a pagar imposto. A fim de obtê-lo
necessitará mover ação judicial.
9. MÉRITO ADMINISTRATIVO
Em determinados momentos, caberá à Administração Pública estabelecer um juízo de
valores sobre a prática de determinado ato, levando-se em conta os critérios de conveniência e
oportunidade. É o que se denomina de mérito administrativo.
Hely Lopes Meirelles6 afirma que "o mérito do ato administrativo consubstancia-se na
valoração dos motivos e na escolha do objeto do ato, feitas pela Administração incumbida de sua
prática, quando autorizada a decidir sobre a conveniência, oportunidade e justiça do ato a realizar”.
Para Celso Antônio Bandeira de Mello7 "mérito é o campo de liberdade suposto na lei
que, efetivamente, venha a remanescer no caso concreto, para que o administrador, segundo
critérios de conveniência e oportunidade, se decida entre duas ou mais soluções, tendo em vista
o exato atendimento da finalidade legal, dada a impossibilidade de ser objetivamente reconhecida
qual delas seria a única adequada."
Maria Sylvia Zanella Di Pietro8 enfatiza que “o ato vinculado é analisado apenas sob o
aspecto da legalidade e o ato discricionário deve ser analisado sob o aspecto da legalidade e do
mérito: o primeiro diz respeito à conformidade do ato com a lei e o segundo diz respeito à
oportunidade e conveniência diante do interesse público a atingir.”
O mérito administrativo encontra-se relacionado com motivo e objeto, os quais podem ser
discricionários, e não com a finalidade que é sempre vinculada. Ou seja, quando o ato for
vinculado, não se fala em mérito administrativo.
O mérito administrativo corresponde à possibilidade da Administração Pública valorar os
critérios de conveniência, oportunidade e conteúdo do ato administrativo.
Impende ressaltar ainda, que a doutrina de forma uníssona entende que o mérito do ato
administrativo não pode ser analisado pelo Poder Judiciário, entendimento que predomina
também em sede jurisprudencial.
O STF chancelou esse entendimento ao decidir que
a expulsão de estrangeiro, como ato de soberania, discricionário e político-administrativo
de defesa do Estado, é de competência privativa do Presidente da República, a quem
incumbe julgar a conveniência ou oportunidade da decretação da medida ou, se assim
entender, de sua revogação (art. 66 da Lei nº 6.815 , de 19 de agosto de 1980). Ao
Judiciário compete tão somente a apreciação formal e a constatação da existência ou
não de vícios de nulidade do ato expulsório, não o mérito da decisão presidencial
(HC 73940, Rel. Min. Maurício Corrêa. Publ. DJ. 29. 11.1996, p. 47157).
O STJ, a propósito, já decidiu que

é defeso ao Poder Judiciário apreciar o mérito do ato administrativo, cabendo-lhe


unicamente examiná-lo sob o aspecto de sua legalidade, isto é, se foi praticado
conforme ou contrariamente à lei. Esta solução se funda no principio da separação dos
poderes, de sorte que a verificação das razões de conveniência ou de oportunidade dos
atos administrativos escapa ao controle jurisdicional do Estado (RMS 1288/91-SP, 4ª
Turma, Rel. Min. Cesar Asfor Rocha. DJ. 2.5.1994, p. 9964).
10. CLASSIFICAÇÃO DOS ATOS ADMINISTRATIVOS
A classificação dos atos administrativos é demasiadamente extensa não havendo
consenso entre os doutrinadores quanto à forma de classificá-los, variando conforme o enfoque
que se pretende dar.

5BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Op cit. p. 419.


6Op. cit. p. 67.
7Op. cit. p. 38.
8Op. cit. p. 201.
Analisaremos os mais relevantes sendo que a classificação de Hely Lopes Meirelles9
empresta ideia ao presente título, servindo de base ao nosso estudo. Vejamos:
10.1. Quanto aos destinatários
a) atos gerais ou normativos: são dirigidos a todas as pessoas sem destino específico,
com finalidade normativa, atingindo todos aquelas pessoas que se encontrem na mesma situação
alcançada por suas regras. Podem ser revogados pela Administração a qualquer tempo ou por via
judicial em caso de inconstitucionalidade.
Se os efeitos de tais atos forem externos, devem ser publicados no diário oficial, e na
hipótese de haver algum município que não tenha diário oficial, os atos gerais devem ser afixados
na prefeitura, em local acessível ao público, a fim de que possam produzir seus legais efeitos.
Porém, na era da internet não há justificativa para o descumprimento desse requisito;
b) atos individuais ou especiais: são editados a destinatários certos, mas podem atingir
um ou mais sujeitos desde que sejam individualizados. São exemplos os decretos de
desapropriação, autorização para porte de arma, nomeação ou exoneração de funcionários etc.
10.2. Quanto ao alcance
a) atos internos: surtem efeitos no âmbito interno das repartições públicas. São
exemplos as portarias, as instruções etc. Tais atos não dependem de publicação no órgão oficial.
Para sua vigência, basta que se dê ciência aos destinatários;
b) atos externos: produzem efeitos externos, alcançando em certos casos, os próprios
servidores. Tais atos devem ser divulgados no órgão oficial em razão do princípio da publicidade.
10.3. Quanto ao objeto
a) atos de império: são impostos de forma unilateral pelo Estado, em razão do poder de
império e da supremacia que exercem sobre o administrado. São exemplos as desapropriações,
o embargo de obras, a apreensão de bens etc;
b) atos de gestão: são praticados pela Administração Pública sem usar de sua
prerrogativa de supremacia sobre os destinatários. É o caso de locação de imóvel, por exemplo;
c) atos de expediente: são todos aqueles que se destinam a dar andamento aos
processos e papéis que tramitam nas repartições públicas, preparando-os para decisão de mérito
a ser proferida pela autoridade competente. São exemplos, juntar documentos ou numerar
processos.
10.4. Quanto ao regramento
a) atos vinculados: no ato vinculado ou regrado, a lei estabelece de modo objetivo os
requisitos e elementos de sua realização;
b) atos discricionários: são praticados pela Administração Pública levando em conta os
critérios de conveniência e oportunidade. É bom esclarecer que o administrador público não
pode agir a seu bel-prazer, eis que a liberdade não é total. Mesmo o ato discricionário deve
observar alguns aspectos vinculados, a exemplo daqueles relacionados à competência, forma e
finalidade. Ou seja, a atividade discricionária não dispensa a lei, nem se exerce sem ela, senão
com observância e sujeição a ela.
10.5. Quanto à formação do ato
a) ato simples: é o que resulta da manifestação da vontade de um único órgão, seja ele
unipessoal ou colegiado. São exemplos: aplicação de multa; despacho de um chefe de seção; o
ato do prefeito nomeando determinada pessoa para um cargo de confiança; apreensão de
mercadoria; decisão de um conselho de contribuintes; decreto de desapropriação etc;
b) ato complexo: no ato complexo temos a manifestação de dois ou mais órgãos
(singulares ou colegiados) e um único ato. Ou seja, é necessário a soma das vontades de dois
ou mais órgãos para a formação de um único ato. É o caso por exemplo do Desembargador pelo
quinto constitucional para vaga da OAB, onde é necessário que a OAB indique seis advogados
dentre os inscritos que preenchem os requisitos; destes seis, o Tribunal de Justiça escolhe três, e
desses três, o Governador do Estado escolhe um. Veja que há a manifestação da vontade de três
órgãos.
Podemos citar ainda como exemplos a nomeação de Ministros para o STF, onde a
Presidência da República faz a indicação. Depois temos o Senado Federal fazendo ou não a
aprovação. Em seguida volta à Presidência da República para que proceda a nomeação (art. 101,

9Op. cit. pp. 167/201.


parágrafo único da CF) e ainda o arquivamento de inquérito policial, que depende de solicitação
do MP e deferimento do Juiz. etc.
A Corte Suprema considera que “o ato de aposentadoria configura ato administrativo
complexo, aperfeiçoando-se somente com o registro perante o Tribunal de Contas. Submetido a
condição resolutiva, não se operam os efeitos da decadência antes da vontade final da
Administração (MS 24.997, Rel. Ministro Eros Grau, DJ 1°.4.2005 e MS 25.552, Rel. Ministra
Carmem Lucia, DJ 29.5.2008).
Destaque-se ainda que o TRF1 entende que a exoneração é ato complexo, e em
importante decisão assim se manifestou: “Considerando que os atos administrativos se regem,
entre outros, pelo princípio da publicidade, e, ainda, que a exoneração é ato complexo, possível a
retratação do pedido exoneratório antes de sua publicação, retornando o servidor, em
consequência, ao status quo ante (AGReg no AI 2009.01.00.050161-8/DF. Relatora:
Desembargadora Monica Sifuentes. Julg: 08.08.201).
No caso desta decisão, levou-se em consideração a manifestação da vontade do
servidor.
Em conclusão podemos afirmar que o ato complexo pode ser entendido como a
manifestação de dois ou mais órgãos (singulares ou colegiados), ou de um ou mais órgãos e
pessoa física para que se configure um único ato.
c) ato composto: no ato composto, há manifestação de duas vontades de um único
órgão, mas para tornar-se validado depende da verificação, aprovação, ratificação, ou confirmação
por parte de outro órgão para que produza seus efeitos.
Podemos afirmar que o primeiro ato é o principal e o segundo é o acessório. Maria
Sylvia Zanella Di Pietro10, cita como exemplo a dispensa de licitação - ato principal - que depende
em determinadas hipóteses, de homologação - ato acessório - pela autoridade superior.
Podemos citar ainda como exemplos: laudos técnicos e pareceres que dependem de
aprovação por autoridade superior para produzir efeitos.
Por fim, é importante trazer à lume a diferença entre ato composto e ato complexo. É
que o ato complexo só se forma com a conjugação de vontades de órgãos diferentes, havendo
duas vontades principais, enquanto o ato composto é formado pela vontade de um único órgão -
vontade principal - sendo apenas ratificado por outro - vontade acessória.
10.6. Quanto ao conteúdo
a) ato constitutivo: é aquele que cria uma situação jurídica individual para seus
destinatários em relação à Administração. São exemplos, as licenças, as nomeações de
funcionários públicos etc;
b) ato extintivo ou desconstitutivo: é aquele que põe termo a situações jurídicas. Por
exemplo, cassação de autorização, encampação de serviço público;
c) ato declaratório: é o que visa a preservar direitos, reconhecer situações preexistentes
ou possibilitar seu exercício. São exemplos, títulos de nomeação, expedição de certidões etc;
d) ato alienativo: é o que opera a transferência de bens ou direitos de um titular a outro.
Dependem de autorização legislativa ou executiva. Por exemplo, venda ou alienação de imóveis;
e) ato modificativo: é aquele tem por fim alterar situações preexistentes, sem suprir
direitos ou obrigações. São exemplos: alteração de horários, ou alteração de locais de reunião etc;
f) ato abdicativo: é aquele pelo qual o titular abre mão de um direito. A peculiaridade
deste ato é seu caráter incondicionável e irretratável.
10.7. Quanto à eficácia
a) ato válido: provém de autoridade competente para praticá-lo e contém todos os
requisitos necessários a sua eficácia;
b) ato nulo: nasce afetado por vício insanável que pode se dar por ausência ou defeito
substancial em seus elementos constitutivos ou no procedimento formativo;
c) ato inexistente: apenas tem aparência de regular a administração, mas não chega a
se aperfeiçoar como ato administrativo. É o que ocorre, por exemplo, com o ato praticado por um
usurpador da função pública.
10.8. Quanto à exequibilidade
a) ato perfeito: reúne todos os elementos necessários a sua exequibilidade ou
operatividade;

10Op. cit. p. 225.


b) ato imperfeito: apresenta-se incompleto na sua formação ou carente de um ato
complementar para tornar-se exequível e operante. Por exemplo, ato que não foi publicado no
diário oficial;
c) ato pendente: embora perfeito por reunir todos os elementos de sua formação, não
produz seus efeitos;
d) ato consumado: produziu todos os seus efeitos, tornando-se, por isso mesmo,
irretratável ou imodificável por lhe faltar objeto.
10.9. Quanto a retratabilidade
a) ato irrevogável: é aquele insuscetível de revogação;
b) ato revogável: é aquele que pode ser invalidado somente pela Administração Pública
por motivo de conveniência ou oportunidade. Nesses atos devem ser respeitados todos os efeitos
já produzidos porque decorrem de manifestação válida da administração e a revogação só produz
efeito ex nunc;
c) ato suspensível: a administração pode fazer cessar os seus efeitos, em determinadas
circunstâncias ou por certo tempo, embora mantendo o ato para oportuna restauração de sua
operatividade.
10.10. Quanto ao modo de execução
a) ato autoexecutório: traz em si a possibilidade de ser executado pela própria
administração independentemente de ordem judicial;
b) ato não autoexecutório: depende do pronunciamento judicial para produção dos seus
efeitos finais tal como ocorre com a divida fiscal, cuja execução é feita pelo Judiciário quando
provocado pela administração interessada na sua efetivação.
10.11. Quanto ao motivo visado pela administração

Quanto ao motivo visado pela administração o ato pode ser: principal, complementar,
intermediário, ato-condição e ato de jurisdição.
a) ato principal: é o que encerra a manifestação da vontade final da administração;
b) ato complementar: é o que aprova ou ratifica o ato principal para dar-lhe
exequibilidade;
c) ato intermediário ou preparatório: é o que concorre para a formação de um ato
principal e final. Numa licitação na modalidade de concorrência, são atos intermediários o edital,
a verificação de idoneidade e o julgamento das propostas, porque desta sucessão é que resulta o
ato principal e final objetivado pela administração, que é a adjudicação da obra ou do serviço ao
melhor proponente;
d) ato-condição: é o que se antepõe a outro para permitir a sua realização. Por exemplo,
o concurso é ato-condição da nomeação efetiva; a concorrência é ato-condição dos contratos
administrativos. Enfim, o ato-condição é sempre um ato-meio para realização de um ato-fim;
e) ato de jurisdição ou jurisdicional: é o que contém decisão sobre matéria
controvertida. No âmbito da administração, resulta, normalmente, da revisão de ato do inferior para
o superior hierárquico ou tribunal administrativo, mediante provocação de interessado ou de ofício.
O ato administrativo de jurisdição, embora decisório, não se confunde com o ato judicial ou
judiciário propriamente dito (despacho, sentença, acórdão em ação e recurso), nem produz coisa
julgada.
10.12. Quanto aos efeitos
a) ato constitutivo: é aquele pelo qual a administração cria, modifica ou suprime um
direito do administrado ou de seus servidores;
b) ato desconstitutivo: é aquele que desfaz uma situação jurídica preexistente.
Geralmente vem precedido de um processo administrativo com tramitação idêntica a do que deu
origem ao ato a ser desfeito;
c) ato de constatação: é aquele pelo qual a administração verifica e proclama uma
situação fática ou jurídica ocorrente. Seus efeitos são meramente verificativos.
11. ESPÉCIES DE ATOS ADMINISTRATIVOS
Os atos administrativos em espécie são agrupados em 5(cinco) grupos. São eles: atos
administrativos normativos; administrativos ordinários; administrativos negociais; administrativos
enunciativos e administrativos punitivos.

11.1. Atos normativos


Os atos normativos são aqueles que contém comando geral do Executivo, visando a
correta aplicação da lei. Possui caráter genérico e abstrato. O objetivo imediato de tais atos é
explicitar a norma legal a ser observada pela administração e pelos administrados.
Os principais atos normativos são: decretos, regulamentos instruções normativas,
regimentos, resoluções e deliberações. Vejamos com mais detalhes:
a) decretos: são de competência exclusiva dos chefes do executivo, podendo ser geral
ou individual, desde que não contrário ao ordenamento jurídico. Se subdividem em decreto
independente ou autônomo e decreto regulamentar ou de execução. O decreto independente ou
autônomo é o que dispõe sobre matéria ainda não regulada em lei, mas não substitui a lei. Apenas
suprem a lacuna até que a lei disponha a respeito. E sendo promulgada uma lei, o decreto perde
seus efeitos. Por sua vez, o decreto regulamentar ou de execução, tem como objetivo explicar a
lei e facilitar sua execução, esclarecendo e orientando sua aplicação. Se a lei regulamentada é
substituída por outra, o decreto deixa de vigorar;
b) regulamentos: os regulamentos são postos em vigência por decreto, para especificar
os mandamentos da lei ou prover situações ainda não disciplinadas por lei. O regulamento, embora
não possa modificar lei, tem a missão de explicá-la e trazer minúcias não abrangidas pelas normas
gerais editadas pelo Legislativo. O regulamento não poderá instituir ou majorar tributos, criar
cargos, aumentar vencimentos, perdoar dívidas ativas, conceder isenções tributárias e o mais que
depender de lei propriamente dita;
c) instruções normativas: são atos expedidos pelos Ministros de Estado para a
execução das leis, decretos e regulamentos, conforme prevê a Constituição Federal (art.87,
parágrafo único, II);
d) regimentos: são atos normativos de atuação interna, com objetivo de reger o
funcionamento de órgãos colegiados e de corporações legislativas. Não se dirigem ao público
externo, mas unicamente às pessoas vinculadas à atividade regimental. Por exemplo, pelo
regimento, comumente, estabelece-se a transmissão interna dos recursos administrativos e se
disciplina o andamento dos papéis no âmbito das repartições;
e) resoluções: consistem em atos administrativos expedidos pelas altas autoridades
do executivo (mas não pelo Chefe do Executivo, que só deve expedir decretos) ou pelos
presidentes de tribunais, órgãos legislativos e colegiados administrativos, para disciplinar
matéria de sua competência específica;
f) deliberações: são atos administrativos normativos ou decisórios emanados de órgãos
colegiados, comissões, tribunais administrativos etc. Quando normativas são atos gerais; quando
decisórias, são atos individuais.
11.2. Atos administrativos ordinatórios
Os atos ordinários são aqueles atos internos cuja finalidade é disciplinar o funcionamento
da Administração Pública e a conduta funcional de seus agentes, orientando-os no desempenho
de suas funções. Tais atos podem ser expedidos pelos chefes de serviço (desde que de sua
competência) aos subordinados em razão do poder hierárquico.
A abrangência dos atos ordinários se dá no âmbito interno das repartições públicas,
não obrigando os particulares ou servidores de outros órgãos a acatá-los. Eis porque não criam
direitos e obrigações para os administrados, e sim deveres para o agente público destinatário do
ato.
Os atos administrativos ordinários de maior frequência e utilização na prática são as
instruções, as circulares, os avisos, as portarias, as ordens de serviço, os ofícios e os despachos.
Vejamos, pois, cada um deles:

a) instruções: instruções são ordens escritas e gerais a respeito do modo e forma de


execução de determinado serviço público, expedidas pelo superior hierárquico com o escopo de
orientar os subalternos no desempenho das atribuições que lhe estão afetas e assegurar a unidade
de ação no organismo administrativo. Não podem ser contra legem, contra decreto, regulamentos
ou regimentos;
b) circulares: também são ordens escritas, expedidas a determinados agentes
administrativos funcionários ou agentes administrativos incumbidos de certo serviço, ou do
desempenho de certas atribuições em circunstâncias especiais. Ocorrem em menor frequência
que as instruções, mas com o mesmo objetivo;
c) avisos: são atos emanados dos Ministros de Estado relacionados a assuntos dos
ministérios. São bastante comuns nos ministérios militares, como atos ordinários de seus serviços;
d) portarias: são atos administrativos internos onde os chefes das repartições ou
serviços expedem ordens gerais ou especiais a seus subordinados. As sindicâncias e processos
administrativos se iniciam em portarias;
e) ordens de serviço: são determinações especiais dirigidas aos responsáveis por obras
ou serviços públicos autorizando seu inicio, ou contendo imposições de caráter administrativo, ou
especificações técnicas sobre o modo e forma de sua realização. Podem, também, conter
autorização para a admissão de operários ou artífices (pessoal de obra), a título precário, desde
que haja verba votada para tal fim. Tais ordens comumente são dadas em simples memorandos
da Administração para o inicio da obra ou mesmo para pequenas contratações;
f) provimentos: são atos administrativos internos, contendo determinações e instruções
que a Corregedoria ou os tribunais expedem para a regularização e uniformização dos serviços,
especialmente os da Justiça, com o objetivo de evitar erros e omissões na observância da lei;
g) ofícios: são comunicações escritas que as autoridades fazem entre si, entre
subalternos e superiores e entre Administração e particulares, em caráter oficial. Os ofícios tanto
podem conter matéria administrativa como social;
h) despachos: são decisões que as autoridades executivas (legislativas e judiciárias, em
funções administrativas) proferem em papeis, requerimentos e processos sujeitos à sua
apreciação. Tais despachos não se confundem com as decisões judiciais, que são as que os juízes
e tribunais do Poder Judiciário proferem no exercício da jurisdição que lhes é conferida pela
Soberania Nacional.
11.3. Atos negociais
São aqueles que contêm declarações de vontade da Administração Pública visando
concretizar um negócio jurídico ou conferindo ao particular a faculdade para atuar desde que
obedecidas às condições impostas pelo Poder Público. Podem ser vinculados ou discricionários,
definitivos ou precários, gerando efeitos jurídicos entre as partes. A materialização dos atos
negociais se dá através de licença, autorização, permissão, admissão, visto, aprovação,
homologação, dispensa, renúncia e até mesmo protocolo administrativo, como veremos a seguir:
a) licença: é o ato administrativo unilateral, vinculado e definitivo pelo qual o Poder
Público, verificando o atendimento do interessado a todas as exigências legais, faculta-lhe o
desempenho de atividades ou a realização de fatos materiais antes vedados ao particular, como
por exemplo, o exercício de uma profissão, a construção de um edifício em terreno próprio. Não
há mérito e não é revogável;
b) autorização: é o ato administrativo discricionário e precário (pode ser desfeito a
qualquer tempo e não gera direito à indenização) pelo qual o Poder Público torna possível ao
pretendente a realização de certa atividade, serviço ou utilização de determinados bens
particulares ou públicos, de seu uso exclusivo ou predominante interesse, que a lei condiciona a
aquiescência prévia da Administração, tais como o uso especial de bem público, o porte de arma,
o trânsito por determinados locais etc. A Administração pode negá-la, como pode cassar o alvará
a qualquer momento sem indenização alguma;
c) permissão: é o ato administrativo negocial, discricionário e precário pelo qual o Poder
Público faculta ao particular (não pode ser celebrada com consórcio de empresas) a execução de
serviço de interesse coletivo (contrato de adesão) ou o uso especial de bens públicos, a título
gratuito ou remunerado, nas condições estabelecidas pela Administração. Se o interesse público
exigir a revogação ou alteração de tais permissões, a Administração poderá fazê-lo, desde que
indenize o permissionário dos danos causados pelo que o descumprimento do prazo ou das
condições da outorga;
d) aprovação: é o ato administrativo pelo qual o Poder Público verifica a legalidade e o
mérito de outro ato ou de situações e realizações materiais de seus próprios órgãos, de outras
entidades ou de particulares, dependentes de seu controle, e consente na sua execução ou
manutenção.
e) admissão: é ato administrativo vinculado pelo qual o Poder Público, verificando a
satisfação de todos os requisitos legais pelo particular, defere-lhe determinada situação jurídica
de seu exclusivo ou predominante interesse, como ocorre no ingresso aos estabelecimentos de
ensino mediante concurso de habilitação. Na admissão, reunidas e satisfeitas as condições
previstas em lei, a Administração é obrigada a deferir a pretensão do particular interessado;
f) visto: é o ato administrativo pelo qual o Poder Público controla outro ato da própria
Administração ou do administrado, aferindo sua legitimidade formal para dar-lhe exequibilidade. É
ato vinculado porque há de restringir-se às exigências legais extrínsecas do ato visado, mas na
prática tem sido desvirtuado para o exame discricionário, como ocorre com o visto em passaporte
- dado ou negado ao alvedrio das autoridades consulares;
g) homologação: é o ato administrativo de controle pelo qual a autoridade superior
examina a legalidade e a conveniência de ato anterior da própria administração, de outra entidade
ou de particular, para dar-lhe eficácia. O ato homologado torna-se eficaz desde o momento da
homologação, mas pode ter seus efeitos contidos por cláusula ou condição suspensiva constante
do próprio ato ou da natureza do negócio jurídico que ele encerra;
h) dispensa: é o ato administrativo que exime o particular do cumprimento de
determinada obrigação até então exigida em lei, como por exemplo, a prestação do serviço militar;
i) renúncia administrativa: é o ato pelo qual o Poder Público extingue unilateralmente
um crédito ou um direito próprio, liberando definitivamente a pessoa obrigada perante a
Administração. Tem caráter abdicativo, é irreversível, uma vez consumado o ato. Tratando-se de
renúncia por parte da Administração, depende sempre de lei autorizadora, porque importa o
despojamento de direitos que extravasam dos poderes comuns do administrador público;
j) protocolo administrativo: é ato negocial pelo qual o poder público acerta com o
particular a realização de determinado empreendimento ou atividade ou a abstenção de certa
conduta, no interesse recíproco da Administração e do administrativo signatário do instrumento
protocolar. É o que ocorre por exemplo, quando a Administração licencia uma construção, autoriza
a incorporação de um banco, aprova a criação de uma escola ou emite qualquer outro ato de
consentimento do Governo para a realização de uma atividade particular dependente da
aquiescência do Poder Público. São atos bifaces.
11.4. Atos enunciativos
São aqueles em que a Administração certifica ou atesta um fato, ou emite opinião sobre
determinado assunto, apenas em sentido formal, pois materialmente não traduzem a manifestação
da vontade da Administração Pública. Os atos enunciativos mais comuns são as certidões, os
atestados e os pareceres administrativos. Vejamos:
a) certidões: as certidões consistem em cópias fiéis ou autenticadas de atos ou fatos que
constem em processos, livros ou documentos que se encontrem em repartições públicas. Desde
que expressamente fielmente o conteúdo original do qual foram extraídas, poderão ser de inteiro
teor ou resumidas. É obrigação de toda repartição pública fornecer certidões independentes do
pagamento de taxas, conforme determina o comando constitucional (art.5º, XXXIV “b”);
b) atestados: pelo atestado, a Administração Pública por seus órgãos competentes relata
a ocorrência de um fato ou situação de que tenha conhecimento que não constam em livros, ou
documentos em poder da Administração;
c) pareceres: são os meios pelos quais os órgãos técnicos se manifestam sobre assuntos
submetidos à sua consideração. O parecer não se vincula a Administração ou aos particulares,
pois tem caráter meramente opinativo.
O parecer pode ser normativo ou técnico. O parecer normativo é aquele que, ao ser
aprovado pela Administração Pública, converte-se em norma de procedimento interno. Já o
parecer técnico, é aquele que advém de órgão ou agente especialista na matéria, não podendo
ser contrariado por leigo ou, mesmo, por superior hierárquico.
O STF afirma que, se o parecer não for meramente opinativo, o parecerista pode
responder solidariamente, no caso de dolo ou culpa grave, com o administrador que decide
perante o Tribunal de Contas;
d) apostilas: apostilas são atos enunciativos ou declaratórios de uma situação anterior
criada por lei. Ao apostilar um título a Administração não cria um direito, pois apenas reconhece a
existência de um direito criado por norma legal. É uma espécie de averbação.
11.5. Atos administrativos punitivos
Atos administrativos punitivos são os que contêm uma sanção imposta pela
Administração àqueles que infringem disposições legais, regulamentares ou ordinatórias dos bens
ou serviços públicos. Visam a punir e reprimir as infrações administrativas ou a conduta irregular
dos servidores ou dos particulares perante a Administração.
Vigora o Princípio da Adequação Punitiva, segundo o qual cabe ao administrador avaliar
a sanção mais adequada e proporcional a ser aplicada ao caso concreto.
O ato punitivo da Administração tem por base o ilícito administrativo, e diferencia-se do
ato punitivo do Estado, que apena o ilícito criminal. Dentre os atos administrativos punitivos
merecem destaques a multa, a interdição de atividades e a destruição de coisas, conforme
veremos com mais detalhes.
a) multa administrativa: é toda imposição pecuniária a que se sujeita o administrado a
título de compensação do dano presumido da infração. Nesta categoria de atos punitivos entram,
além das multas administrativas propriamente ditas, as multas fiscais, que são modalidades
específicas do Direito Tributário;
b) interdição de atividade: interdição administrativa de atividade é o ato pelo qual a
Administração veda a alguém a prática de atos sujeitos ao seu controle ou que incidam sobre seus
bens;
c) destruição de coisas: a destruição de coisas é o ato sumário da Administração pelo
qual se inutilizam alimentos, substâncias, objetos ou instrumentos imprestáveis ou nocivos ao
consumo ou de uso proibido por lei.
Importante destacar duas súmulas do STF sobre o assunto:
SÚMULA 18: Pela falta residual, não compreendida na absolvição pelo juízo criminal, é
admissível a punição administrativa do servidor público.
SÚMULA 19: É inadmissível segunda punição de servidor público, baseada no mesmo
processo em que se fundou a primeira.
12. EXTINÇÃO DOS ATOS ADMINISTRATIVOS
Em regra, os atos administrativos se extinguem quando do cumprimento de seus efeitos.
No entanto, a doutrina, sem muita divergência aponta outras formas de extinção. São
elas: a extinção natural; a extinção subjetiva; a extinção objetiva; a caducidade; contraposição ou
derrubada; a cassação; a revogação e a invalidação (anulação) as quais analisaremos de forma
mais detalhada. Vejamos:
12.1. Extinção natural
Nesse caso o ato extingue-se naturalmente em razão do cumprimento de seus efeitos.
Citemos como exemplo a autorização para uso de um bem público para a realização de
um evento. Ao término do mesmo extingue-se o ato, eis que cumpriu seu objetivo.
12.2. Extinção subjetiva
A extinção subjetiva ocorre quando há desaparecimento do sujeito que se beneficiou
do ato. É o caso da morte de um permissionário; de um sujeito que tinha autorização para porte
de arma etc.
12.3. Extinção objetiva
Ocorre a extinção objetiva quando desaparece o objeto do ato praticado. Por exemplo,
o desabamento de um imóvel expropriado, ou de um estabelecimento interditado.
12.4. Caducidade
A caducidade ocorre quando lei nova impede uma situação anteriormente consentida pela
Administração Pública. Citemos por oportuno, o didático exemplo de Maria Sylvia Zanella di
Pietro11: há caducidade de permissão para explorar parque de diversões em local que, em face da
nova lei de zoneamento, tornou-se incompatível com aquele tipo de uso.
12.5. Contraposição ou derrubada
A contraposição ou derrubada, nada mais é do que a retirada do ato administrativo pela
edição de um outro ato jurídico. Os efeitos do primeiro ficam prejudicados pela edição do segundo.
É o caso por exemplo de uma nomeação que ficaria prejudicada no caso de demissão do agente
público.
12.6. Cassação
A cassação tem caráter sancionatório, e consiste na extinção (ou retirada) do ato
administrativo, em razão de um descumprimento pelo particular, o que impede sua existência.
Ressalte-se que a cassação extingue um ato válido, não ilegal, devido à irregularidade
na execução do ato.
É o caso por exemplo, da cassação de um alvará de funcionamento, ou de uma licença,
pelo fato do beneficiário não ter cumprido as condições impostas pela Administração Pública.
12.7. Renúncia
É a extinção do ato em razão de uma manifestação de vontade do seu destinatário, o
particular. Trata-se de direito potestativo.

11Op cit. p. 238.


13. INVALIDAÇÃO OU ANULAÇÃO DO ATO ADMINISTRATIVO
Alguns doutrinadores utilizam o termo anulação e outros invalidação dos atos
administrativos. Preferimos o termo invalidação, seguindo os ensinamentos de Celso Antônio
Bandeira de Mello e José dos Santos Carvalho Filho, pelo fato de que a invalidação em sentido
amplo, abrange tanto a nulidade quanto a anulabilidade.
Em certa medida, é importante que se diga que há na doutrina grande divergência acerca
da teoria das nulidades, havendo quem defenda a teoria monista e outros que defendem a teoria
dualista.
Os seguidores da teoria monista defendem que o ato ou é nulo ou é válido (Hely Lopes
Meireles; Diógenes Gasparini e outros).
Por outro lado, os que prestigiam a teoria dualista, defendem que os atos administrativos
podem ser nulos ou anuláveis, a depender da maior ou menor gravidade do vício (Celso Antônio
Bandeira de Mello, Cretella Júnior, Lucia Valle Figueiredo, José dos Santos Carvalho Filho e
outros).
A teoria dualista é seguramente a posição majoritária em sede doutrinária.
No entanto José dos Santos Carvalho Filho12 informa que “a regra geral deve ser a de
nulidade, considerando-se assim graves os vícios que inquiram o ato e somente por exceção pode
dar-se a convalidação de ato viciado, tido como anulável”.
13.1. Conceito
Tomamos emprestado o conceito de invalidação do festejado doutrinador José dos
Santos Carvalho Filho13 para quem invalidação “é a forma de desfazimento do ato administrativo
em virtude da existência de vício de legalidade”.
Como vimos, para que o ato administrativo produza seus efeitos, há que se observar os
requisitos de validade, a saber: competência, finalidade, forma, motivo e objeto.
Daí se concluir que, presentes os requisitos o ato é válido. Porém, ausente qualquer ou
quaisquer um desses requisitos o ato será tido como inválido.
É bom frisar, contudo, que há diferenças entre nulidade e anulabilidade que devem ser
consideradas.
Queremos dizer: a nulidade não admite convalidações podendo o juiz decretá-la de
ofício mediante alegação de qualquer interessado ou do Ministério Público.
Por sua vez, a anulabilidade admite convalidação e só pode ser apreciada se houver
provocação da parte interessada.
13.2. De quem pode invalidar
Pelo que vimos, o pressuposto para invalidação do ato administrativo, é a presença do
vício de legalidade.
Em assim ocorrendo, o mesmo pode ser invalidado tanto pela Administração Pública
(autotutela), quanto pelo Judiciário.
Convém observar que o art. 53 da Lei 9.784/1999 dispõe que a Administração deve anular
seus próprios atos, quando eivados de vício de legalidade, e pode revogá-los por motivo de
conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos.
A esse respeito, o STF sumulou entendimento no sentido de que “a administração pública
pode declarar a nulidade dos seus próprios atos (Súmula n° 346). E ainda que “a administração
pode anular seus próprios atos, quando eivados de vícios que os tornam ilegais, porque deles não
se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os
direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial (Súmula n° 473).
É de registrar por fim, que o direito da Administração de anular os atos administrativos de
que decorram efeitos favoráveis para os destinatários decai em cinco anos, contados da data em
que foram praticados, salvo comprovada má-fé (art.54 da Lei 9.784/1999).
13.3. Efeitos da invalidação
A invalidação do ato administrativo produz efeito ex tunc, retornando as partes ao status
quo ante. Ou seja, “o efeito ex tunc fulmina o que já ocorreu no sentido de que se negam hoje os
efeitos de ontem14”.
Se o ato for editado há menos de cinco anos poderá ser anulado, em regra. Porém se o
caso concreto tornar a situação irreversível, a anulação pode ser impedida.

12 Op cit. p. 143.
13Op. cit. p. 144.
14 BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Op. cit. p. 229.
Passado o prazo de cinco anos, não há anulação do ato. Entretanto é possível
argumentar que a hipótese de irreversibilidade inviabiliza a anulação do ato.
O art. 54, §1º da lei 9784 estipula que no caso de efeitos patrimoniais contínuos, o prazo
de decadência contar-se-á da percepção do primeiro pagamento.
Sobre o assunto, ainda é importante observar a Súmula n. 6 do STF afirma que a
revogação ou anulação, pelo Poder Executivo, de aposentadoria, ou qualquer outro ato aprovado
pelo Tribunal de Contas, não produz efeitos antes de aprovada por aquele Tribunal, ressalvada a
competência revisora do Judiciário.

14. CONVALIDAÇÃO DO ATO ADMINISTRATIVO


Convalidar significa tornar válido, sendo que convalidação só tem sentido para os
defensores da teoria dualista.
A convalidação, por vezes é denominada de aperfeiçoamento ou sanatória do ato
administrativo. Pode ser entendida como o instrumento que possui a Administração Pública para
aproveitar atos administrativos com vícios sanáveis (vício de competência, de forma e vício quanto
ao objeto, quando plúrimo), podendo confirmá-los no todo ou em parte.
Em que pese a convalidação ser matéria controvertida na doutrina, observa-se que artigo
55 da Lei nº. 9.784/1999 admite expressamente a mesma, desde que não acarretem lesão ao
interesse público nem prejuízo a terceiros, os atos que apresentarem defeitos sanáveis
poderão ser convalidados pela própria Administração.
Ou seja. Ocorre naqueles atos cujos defeitos são considerados leves. A convalidação
nesse caso consiste num segundo ato que corrige os defeitos do ato anulável.
Na convalidação há que ser observado os requisitos descritos no artigo retromencionado,
a saber: inexistência de prejuízos ao poder público e a terceiros.
À guisa de conclusão, é importante que se diga que a convalidação pode ocorrer pela
ratificação no caso de vícios relacionados à forma e competência, pela reforma, quando a
Administração retira a parte invalida do ato e mantém a parte válida e pela conversão, fato que
se dá quando a Administração Pública, depois de retirar a parte invalida do ato, a substitui por
uma nova parte.
15. REVOGAÇÃO DO ATO ADMINISTRATIVO
A revogação é o instrumento, pelo qual a Administração Pública retira do mundo jurídico
determinado ato administrativo, levando-se em conta os critérios de conveniência e oportunidade
(art. 53 da Lei 9.784/1999).
A revogação é própria da Administração Pública não cabendo ao judiciário apreciar os
critérios de conveniência e oportunidade.
O fundamento da revogação é o poder discricionário da Administração Pública,
salientando-se que o pressuposto para revogação do ato administrativo é o interesse público.
15.1. Efeitos da revogação
A revogação produz efeito ex nunc, isto é, a partir de sua vigência, respeitando-se os
efeitos produzidos. Não cabe indenização.
Bem esclarece mais uma vez José dos Santos Carvalho Filho15, que existem alguns atos
administrativos que são insuscetíveis de revogação. São eles:
a) atos que já exauriram seus efeitos: por exemplo, um ato que deu férias ao servidor.
Se este já gozou as férias, o ato de deferimento já exauriu seus efeitos;
b) atos vinculados: em relação a estes o Administrador não tem liberdade de atuação
(ex. um ato de licença para exercer a profissão é regulamentado em lei não podendo se retirado
do mundo jurídico por nenhum critério administrativo escolhido pela administração);
c) atos que geram direitos adquiridos: garantidos por preceitos constitucionais (art.5º,
XXXVI, CF). Exemplo o ato de conceder aposentadoria ao servidor, depois de ter este preenchido
o lapso temporal para a fruição do benefício; (Súmula 473, STF)
d) atos integrativos e um procedimento administrativo: se opera a preclusão do ato
anterior pela pratica do ato sucessivo. (exemplo: não pode ser revogado o ato de adjudicação na
licitação quando já celebrado o receptivo contrato);
e) meros atos administrativos: são os pareceres certidões e atestados.

15Op. cit. p. 156.

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