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CÓDIGO PENAL

DECRETO-LEI Nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940.


TÍTULO II
DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO
CAPÍTULO IV
DO DANO
- Considerações gerais

- Preocupação é recente na proteção e preservação em termos penais;

- Esta infração Penal foi inspirada no Código Penal Rocco de 1930 (Período fascista na
Itália);

- A proteção constitucional do patrimônio cultural brasileiro pode ser encontrada no art.


216 da CF.

- Segundo Bitencourt (2019a e 2019b), Nucci (2017), Masson (2016) o Art. 165, foi
revogado tacitamente pelo Art. 62, I, da Lei nº 9.605/98 (Lei dos Crimes Ambientais),
que regula completamente a mesma matéria;
- Trata-se, com efeito, de lei especial e lei geral (lex especialis derrogat lex generalis -
determina que a lei mais específica prevalece, no caso concreto, sobre a lei geral) em razão
da irretroatividade da nova lei;

- Art. 62. Destruir, inutilizar ou deteriorar:


I — bem especialmente protegido por lei, ato administrativo ou decisão judicial;
II — arquivo, registro, museu, biblioteca, pinacoteca, instalação cientifica ou similar protegido
por lei, ato administrativo ou decisão judicial.

- como se constata, de uma tipificação mais abrangente, mas que inegavelmente inclui as
figuras contidas no art. 165 do CP.

- o inciso I do art. 62 acabou por revogar o art. 165 do CP, por ser mais abrangente. O
dispositivo em estudo tutela o meio ambiente cultural.
- Bem jurídico protegido

- Inviolabilidade do patrimônio histórico, arqueológico ou artístico;

- Refere-se a dano causado a coisa alheia, mas este dispositivo se destina a uma parcela
especial da propriedade, que por alguma razão, assume caráter social e público de tal
importância que acaba sendo tombada pela autoridade competente (criam múltiplas
restrições, que chegam a assumir, por vezes, o caráter de autênticas servidões legais) em
valor artístico, arqueológico ou histórico.

- Lembrando que dano ao patrimônio público é qualificador de crime de dano Art. 163,
parágrafo único, III.

- A tutela penal, elevada ao plano constitucional, impede sua utilização de forma


indiscriminada contra o interesse coletivo.
- Bem jurídico protegido

- O dispositivo protege os aspectos materiais e imateriais da coisa tombada, especialmente


porque o dano representa a lesão, do patrimônio, e somente lesando este pode atingir
aquele valor imaterial expresso pela concepção ideal e subjetiva da população.

- Esse patrimônio, em seu conjunto, está abrangido pelo conceito amplo de ambiente.

- Classificação
- crime comum - porque não exige condição especial do sujeito ativo;
- material - por excelência, na medida em que produz um resultado naturalístico;
- doloso - não há previsão legal para a figura culposa (quanto o dano culposo, deve-se buscar sua reparação na esfera civil);
- de forma livre - pode ser praticado por qualquer meio, forma ou modo;
- instantâneo - a consumação opera-se de imediato, não se alongando no tempo;
- unissubjetivo - pode ser praticado, em regra, apenas por um agente;
- plurissubsistente - pode ser desdobrado em vários atos, que, integram a mesma conduta. O iter criminis pode ser
fracionado, permitindo, consequentemente, a tentativa.
- Elementares do tipo

- Apresento-lhes os dados fundamentais da conduta criminosa, que são aqueles fatores que
integram a definição básica de uma infração penal:

- destruir (eliminar, fazer desaparecer), inutilizar (tornar imprestável, inútil) ou


deteriorar (estragar, arruinar);

- o dano pode ser total ou parcial, dano moral é excluído de proteção penal;

- na destruição, a coisa deixa de existir em sua individualidade, ainda que subsista a matéria que a compõe, ou também
quando venha a desaparecer, tornando-se inviável sua recuperação.
- na inutilização, a coisa não é destruída, perde somente a adequação ao fim a que se destinava, desaparecendo sua
utilidade, sem perder completamente sua individualidade.
- deteriorar tem o significado de estragar, enfraquecer sua essência, diminuindo seu valor ou utilidade, sem destruí-la ou
inutilizá-la. Na deterioração a coisa sofre uma avaria substancial, embora não se desintegre totalmente, restando apenas
diminuída sua utilidade ou seu valor econômico.
- qualquer das condutas incriminadas de conteúdo variado implica diminuição de valor e de utilidade da coisa alheia.
- Elementares do tipo

- coisa tombada pela autoridade competente

- o objeto material desse crime seria tanto móveis quanto imóveis, públicos ou particulares
exclusivamente tombados pela autoridade competente em virtude de valor artístico,
arqueológico ou histórico.

- tombamento é o ato do Poder Público (União, Estado ou Munícipio) por meio do qual
declara o valor cultural de coisas móveis ou imóveis, inscrevendo-as no respectivo Livro de
Tombo, sujeitando-as a um regime especial que impõe limitações ao exercício da
propriedade, com a finalidade de preservá-las.

- coisa danificada que ainda se encontre em processo de tombamento não tipificará esse
crime.
- Elementares do tipo

- em virtude de valor artístico, arqueológico ou histórico

- tutela coisas que interessam a todos, que se integram na vida da Nação, como índices de
sua origem, civilização e cultura.

- são reminiscências, ou seja conservação da memória do passado, testemunhos do


presente e vaticínios ou predições do futuro.

- são bens que pertencem a todas as idades e a todo indivíduo, pelo valor artístico, raridade,
vetustez (atributo que merece reverência), ou predicado histórico.
- Tipo subjetivo

- o elemento subjetivo é o dolo, constituído pela vontade livre e consciente de danificar, isto
é, destruir, inutilizar ou deteriorar coisa tombada pela autoridade competente

- o eventual desconhecimento da condição de tombamento afasta a adequação típica


exigida pelo art. 165.

- o dano, por conseguinte, também nessa figura especial exige a consciência e a vontade de
destruir, inutilizar ou deteriorar a coisa tombada. É impunível a conduta culposa.

- o desconhecimento do tombamento pode ocasionar erro de tipo, excluindo a tipicidade


dessa modalidade especial de dano, evidentemente, em caráter residual e subsidiário, o
crime de dano tipificado no art. 163.
- Consumação e tentativa

- Consuma-se o crime com o efetivo dano causado. Efetiva destruição, inutilização ou


deterioração de coisa de valor artístico, arqueológico ou histórico.

- Trata-se de crime material, que só se configura quando há prejuízo decorrente da


diminuição do valor ou da utilidade da coisa tombada destruída, inutilizada ou deteriorada.

- Por isso faz-se necessária a comprovação pericial do resultado danoso, sob pena de não se
tipificar a figura delituosa. Mesmo que a destruição seja parcial, é suficiente para consumar
o crime, ainda que a intenção do agente fosse a destruição total.

- A demolição de coisa tombada admite a tentativa, quando o agente é interrompido na


ação que executava objetivando a deterioração, inutilização ou destruição da coisa.

- Consideramos temerário afirmar que há tentativa quando o agente não obtém o resultado
pretendido, uma vez que o resultado parcial já́ é suficiente para consumar esse crime.
- Pena e ação penal

- As penas cominadas para o crime de dano em coisa de valor artístico, arqueológico ou


histórico são, cumulativamente, detenção, de seis meses a dois anos, e multa.

- A ação penal é de natureza pública incondicionada, devendo, em consequência, a


autoridade competente agir de ofício.
- Curiosidades Fonte: Fernando Capez, Stela Prado. Código penal comentado. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2012.

- Outras condutas típicas envolvendo bem tombado - A conduta de “pichar” muros e paredes era enquadrada pelos tribunais no Código
Penal como crime de dano por deterioração; contudo, com o advento da Lei nº 9.605, de 12-2-1998, tal conduta passou a ser regulada
pelo seu art. 65.

- Competência - Cabe à Justiça Federal o processo-crime contra bens tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional,
sem relevância obstativa à falta de inscrição no registro imobiliário.

- Furto de bem tombado - A subtração (e não danificação) de bem móvel tombado, como imagem religiosa antiga, não tipifica o art. 165
do CP, mas, sim, o de furto, da competência da Justiça Federal.

- Lei nº 3.924, de 26 de julho de 1961 (dispõe sobre os monumentos arqueológicos e pré-históricos) - As jazidas arqueológicas ou pré-
históricas de qualquer natureza, não manifestadas e registradas na forma dos arts. 4º e 6º desta lei, são consideradas, para todos os
efeitos, bens patrimoniais da União.

- Dano em bem imóvel tombado em estado precário O agente que, livre e conscientemente, destrói bem imóvel tombado por seu valor
histórico e pertencente ao patrimônio cultural da humanidade, alterando o aspecto visual do local especialmente protegido, sem
autorização dos órgãos competentes, pratica os crimes dos artigos 165 e 166 do CP, sendo irrelevante a alegação de que se encontrava
em estado precário.

- Destruição de imóvel construído irregularmente nas proximidades de bem tombado - A construção irregular, em área próxima de bem
tombado em razão de suas características históricas e arquitetônicas, justifica a decisão judicial de destruição, pois o interesse individual
do proprietário deve ceder diante do interesse social do poder publico na preservação do bem cultura.
Referências Bibliográficas

BITENCOURT, Cezar Roberto. Código penal comentado. 10. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2019a.

BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte especial vol. 3: crimes contra o patrimônio até
crimes contra o sentimento religioso e contra o respeito aos mortos. 15. ed. Sãõ Paulo: Saraiva Educação, 2019b.

MASSON, Cleber. Código Penal comentado. 4. ed. rev., atual. e ampl. - Rio de Janeiro: Forense; São Paulo:
MÉTODO, 2016.

NUCCI, Guilherme de Souza. Código penal comentado. 18. ed. rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2017.

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