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Dano

Art. 163. Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia:


Pena — detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, ou multa.
Dano qualificado
Parágrafo único. Se o crime é cometido:
I — com violência à pessoa ou grave ameaça;
II — com emprego de substância inflamável ou explosiva, se o fato não
constitui crime mais grave;
III — contra o patrimônio da União, de Estado, do Distrito Federal, de
Município ou de autarquia, fundação pública, empresa pública, sociedade de
economia mista ou empresa concessionária de serviços públicos;
Inciso III com redação determinada pela Lei n. 13.531, de 7 de dezembro de
2017.
IV — por motivo egoístico ou com prejuízo considerável para a vítima:
Pena — detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, e multa, além da pena
correspondente à violência.

O bem jurídico protegido é o patrimônio, público ou privado, tanto sob


o aspecto da posse quanto da propriedade.
A conduta tipificada é destruir (eliminar, fazer desaparecer), inutilizar
(tornar imprestável, inútil) ou deteriorar (estragar, arruinar). Na destruição,
a coisa deixa de existir em sua individualidade, ainda que subsista a matéria
que a compõe ou também quando venha a desaparecer, tornando-se inviável
sua recuperação. Na inutilização, a coisa não é destruída; perde somente a
adequação ao fim a que se destinava, desaparecendo sua utilidade, sem
perder completamente sua individualidade. Deteriorar tem o significado de
estragar, enfraquecer sua essência, diminuindo seu valor ou utilidade, sem
destruí-la ou inutilizá-la. Trata-se de tipo misto alternativo, há um só crime
quando o sujeito pratica mais de uma conduta contra o-mesmo objeto
material, devendo o magistrado sopesar essa situação na dosimetria da pena-
base, em atenção às circunstâncias judiciais elencadas pelo art. 59, caput, do
Código Penal. A finalidade do agente há de ser unicamente destruir,
inutilizar ou deteriorar coisa alheia.
Coisa é tudo aquilo que existe, podendo tratar-se de objetos
inanimados ou de semoventes.
Alheio, é o que pertence a outra pessoa que se encontra na posse ou
propriedade, que não é do agente.
Guilherme de Souza Nucci diz em seu código comentado que: “Quem
desaparece com coisa alheia, lamentavelmente, não pratica crime algum.
Aliamo-nos à doutrina majoritária no sentido de que desaparecer não
significa destruir, inutilizar ou deteriorar a coisa alheia, tendo havido uma
falha na lei penal.”, Bitencourt traz a seguinte teoria: “A coisa perdida
também pode ser objeto do crime de dano, pois continua sendo
alheia[...]Imagine-se que alguém, para prejudicar outrem, faz desaparecer
um objeto de valor deste. Furto não é, pois não há o animus furandi(inteção
de ter a coisa para si). Não se pode negar, contudo, que há ofensa ao
patrimônio do ofendido, que se vê privado daquele objeto valioso. Será
dano? Inegavelmente, sim! Mas se enquadraria no enunciado do art. 163 de
nosso Código Penal? À evidência que não. Deve-se saudar a previsão do
Anteprojeto de Código Penal, que acrescenta essa figura na descrição do
crime de dano, com a seguinte redação: “Art. 192. Destruir, inutilizar,
deteriorar ou fazer desaparecer coisa alheia”.
É suficiente que a coisa tenha valor de uso, mesmo que somente para
o seu dono, independentemente do valor pecuniário.
O objeto material do crime de dano é coisa alheia, móvel ou imóvel e
corpórea. A imaterialidade do dano moral o excluí da esfera de proteção
penal, restando confinado ao âmbito da responsabilidade civil. Não há crime
quando o dano recai sobre res nullius (coisa de ninguém) e res derelicta
(coisa abandonada) crime impossivel. Entretanto, caracteriza-se o delito de
dano quando se tratar de res desperdita (coisa perdida), uma vez que ingressa
no conceito de coisa alheia.
O Sujeito ativo: Qualquer pessoa (crime comum), menos o
proprietário da coisa, pois o tipo penal contém a elementar "alheia". Se o
proprietário danificar coisa própria, que se acha em poder de terceiro por
determinação judicial ou convenção, a ele será imputado o subtipo de
exercício arbitrário das próprias razões (CP, art. 346).
Sujeito passivo: Pode ser qualquer pessoa, desde que proprietário ou
possuidor legítimo da coisa.
O tipo subjetivo é o dolo, vontade livre e consciente de destruir,
inutilizar ou deteriorar, vontade de causar prejuízo. Se o objetivo do agente
é outro que não o de danificar, atuando por outra finalidade, resta
desnaturado o delito de dano.
O dano alcança a consumação com a efetiva destruição, inutilização
ou deterioração da coisa. O dano pode ser total ou parcial, se a destruição for
parcial, desde que torne imprestável a coisa ou a inutilize e pretendendo o
autor a destruição total, o crime estará consumado. Faz-se necessária a
comprovação pericial do resultado danoso, sob pena de não se tipificar a
figura delituosa
A tentativa é admissível, desde que não tenha o agente obtido o
resultado, em outras palavras, a tentativa somente pode configurar-se quando
o estrago não for relevante.
Inciso I:
Somente a violência contra a pessoa qualifica o dano. A violência e a
grave ameaça podem ser exercidas contra outra pessoa que não a proprietária
ou possuidora do bem danificado. A violência ou grave ameaça tanto podem
ser utilizadas durante a execução do crime como para assegurar sua
consumação. Empregada somente após a consumação do dano não o
qualifica. Crime pluriofensivo (atinge o patrimônio, no tocante ao dano, e a
integridade física ou a liberdade individual, relativamente à qualificadora).
Inciso II:
Inflamável: caracteriza pela facilidade e violência com que se acende
e comunica com o fogo, ex: petróleo. Substância explosiva é toda aquela
destinada a explodir. Pode qualificar o dano se não se constituir em crime
mais grave. Ex: explodir veículo em um descampado, dano qualificado.
Explodir em zona urbana, colocando em risco a segurança alheia, comete
outro delito mais grave, o de explosão, art 251, por exemplo.
Inciso III:
Alteração feita em 2017, com acréscimo do: DF, autarquia, fundação
pública e empresa pública.
Como observou Guilherme Nucci “Quem danifica bem público deve
responder mais gravemente, pois o prejuízo é coletivo, e não individual.
Logo, mais pessoas são atingidas pela conduta criminosa”. Na minha
opinião, foi um dos crimes que ocorreu no 8 de janeiro, em brasilia.
Inciso IV
Motivo egoístico é uma especial forma de motivo torpe. O sujeito
danifica o patrimônio alheio unicamente para alcançar uma vantagem
pessoal, de natureza patrimonial ou extrapatrimonial. Como exemplificava
Hungria, a danificação do trabalho ou equipamento de um concorrente para
vencer a competição.
Prejuízo considerável para a vítima: quando o crime de dano provoca
na vítima um prejuízo de elevado custo. Assim, por exemplo, é a conduta
daquele que destrói a casa do inimigo, causando-lhe imenso transtorno e
vultosa diminuição patrimonial. Segundo Fragoso e Hungria, somente se
configurará a qualificadora do prejuízo considerável se houver dolo em
relação a esse prejuízo grave, isto é, se o agente o quis (tendo dele
consciência) ou, pelo menos, assumiu o risco de produzi-lo.
A questão relativa à pichação: Discute-se se a pichação, com tintas ou
produtos similares, configura o crime em análise, especialmente no tocante
à conduta de "deteriorar". A Lei 9.695/1998 - Lei dos Crimes Ambientais -,
com a redação conferida pela Lei 12.408/2011, instituiu em seu art. 65 um
crime específico para as pichações ou conspurcações efetuadas em
edificações ou monumentos urbanos. Se a conduta for praticada em imóveis
rurais ou em bens móveis, estará caracterizado o crime de dano, de natureza
genérica e residual, na forma definida pelo art. 163 do CP, na modalidade
deteriorar.
Preso que danifica a cadeia para fugir “segundo o entendimento desta
corte, a destruição de patrimônio público (buraco na cela) pelo preso que
busca fugir do estabelecimento no qual se encontra encarcerado não
configura o delito de dano qualificado, porque ausente o dolo específico,
sendo, pois atípica a conduta. STJ: HC 148.599/MG.

Classificação:
- crime comum (porque não exige condição especial do sujeito ativo);
- material, por excelência, na medida em que produz um resultado
naturalístico;
- doloso (não há previsão legal para a figura culposa),
- de forma livre (pode ser praticado por qualquer meio, forma ou modo);
- instantâneo (a consumação opera-se de imediato, não se alongando no
tempo);
- unissubjetivo (pode ser praticado, em regra, apenas por um agente);
- plurissubsistente (portanto permite a tentativa), isto é, seu iter criminis pode
ser fracionado em vários atos, permitindo, consequentemente, a tentativa.
Ação penal
A ação penal é de iniciativa privada na figura simples (caput) e na figura
qualificada na hipótese do parágrafo único, IV. Nas outras três hipóteses de
formas qualificadas (parágrafo único, I, II e III) a ação penal é pública
incondicionada (art. 167).

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