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TÍTULO II

DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO

CAPÍTULO V
DA APROPRIAÇÃO INDÉBITA

Apropriação indébita previdenciária

Art. 168-A. Deixar de repassar à previdência social as contribuições


recolhidas dos contribuintes, no prazo e forma legal ou convencional:

Pena — reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.


• Caput acrescentado pela Lei n. 9.983, de 14 de julho de 2000.

§ 1º Nas mesmas penas incorre quem deixar de:

I — recolher, no prazo legal, contribuição ou outra importância


destinada à previdência social que tenha sido descontada de pagamento
efetuado a segurados, a terceiros ou arrecadada do público;

II — recolher contribuições devidas à previdência social que tenham


integrado despesas contábeis ou custos relativos à venda de produtos
ou à prestação de serviços;

III — pagar benefício devido a segurado, quando as respectivas cotas


ou valores já tiverem sido reembolsados à empresa pela previdência
social.
• § 1º acrescentado pela Lei n. 9.983, de 14 de julho de 2000.

§ 2º É extinta a punibilidade se o agente, espontaneamente, declara,


confessa e efetua o pagamento das contribuições, importâncias ou
valores e presta as informações devidas à previdência social, na forma
definida em lei ou regulamento, antes do início da ação fiscal .
• § 2º acrescentado pela Lei n. 9.983, de 14 de julho de 2000.

§ 3º É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou aplicar somente a


de multa se o agente for primário e de bons antecedentes, desde que:
I — tenha promovido, após o início da ação fiscal e antes de oferecida
a denúncia, o pagamento da contribuição social previdenciária,
inclusive acessórios; ou
II — o valor das contribuições devidas, inclusive acessórios, seja
igual ou inferior àquele estabelecido pela
previdência social, administrativamente, como sendo o mínimo para o
ajuizamento de suas execuções fiscais.
• § 3º com redação dada pela Lei n. 9.983, de 14 de julho de 2000.
1.Considerações preliminares

 A Lei n. 9.983/2000, criminalizou a conduta de quem deixar de


repassar à previdência social as contribuições recolhidas dos
contribuintes, no prazo legal. Atribuiu-lhe o nomen juris de
apropriação indébita previdenciária, aproveitando, em seu § 1º, para
criminalizar condutas similares.
 Inicialmente equiparado ao crime de apropriação indébita comum e
agora tido como delito omissivo próprio, a apropriação indébita
previdenciária não exige o animus rem sibi habendi vontade de possuir
coisa determinada, bastando para sua configuração o não repasse à
Previdência Social das contribuições recolhidas dos segurados ou do
público.
 É o crime que se perfaz pela simples abstenção do agente,
independentemente de um resultado posterior, como acontece no crime de
omissão de socorro.
 Admite a extinção da punibilidade somente quando o pagamento for
efetuado antes do início da ação fiscal . Logo, é irretroativa, não se
aplicando aos fatos ocorridos antes de sua vigência

2. Do bem jurídico tutelado

 O bem jurídico protegido é o PATRIMONIO DO ESTADO atraves são as


fontes de custeio da seguridade social , particularmente os direitos
relativos à saúde, à previdência e à assistência social (art. 194 da
CF).

3. Sujeitos ativo e passivo (Distinção Sujeito Ativo)

 Sujeito ativo A conduta tipificada no caput tem a finalidade de


punir o substituto tributário, que deve recolher à previdência social
o que arrecadou do contribuinte, e deixou de fazê-lo (ver art. 31 da
Lei n. 8.212/91).
 Já as figuras descritas no § 1º destinam-se ao contribuinte-
empresário, que deve recolher a contribuição que arrecadou do
contribuinte. E o titular de firma individual, os sócios solidários,
os gerentes, diretores ou administradores que efetivamente hajam
participado da administração da empresa, concorrendo efetivamente na
prática da conduta criminalizada.
 Sujeito passivo é o Estado, representado pelo INSS (Instituto
Nacional do Seguro Social), que é o órgão encarregado da seguridade
social.

4. Tipo objetivo: adequação típica (Elementar do Tipo)

 A conduta tipificada no caput é “deixar de repassar”, que tem o


sentido de não transferir, não recolher ou não pagar à previdência
social as contribuições recolhidas ou descontadas dos contribuintes ,
no prazo e forma legal ou convencional.
 Não recolher as contribuições efetivamente descontadas ou
recolhidas dos contribuintes , não significando mera presunção ou a
simples contabilização ou formalização na folha de pagamento do
empregado ou contribuinte.
 Elementar objetivas, ou de caráter real, são as que dizem
respeito ao fato, à infração penal cometida, e não ao agente.

O Elemento Subjetivo
O elemento subjetivo é o dolo. Não existe a conduta de apropriação indébita previdenciária na
modalidade culposa
O STF e STJ entendem que, para a caracterização do crime de apropriação indébita de
contribuição previdenciária, não há necessidade de comprovação do dolo específico.
Portanto, para os tribunais superiores o entendimento é de que o dolo exigido é de se apropriar
de valores destinados à previdência social.
4.1 Pressuposto: Contribuições recolhidas
O pressuposto de uma apropriação indébita é a anterior posse lícita da
coisa apropriada. Somente é possível repassar algo que se tenha
recebido ou recolhido.
Prazo e forma legal ou convencional: norma penal em branco
Os prazos e as formas, legais ou convencionais, são estabelecidos em
outros diplomas legais, tratando-se, portanto, de norma penal em
branco. Por ora, deve-se consultar a Lei n. 8.212/91, que estabelece
os prazos e as formas para que o repasse seja feito.

5.0(§ 1º, I)Deixar de recolher no prazo legal


“Deixar de recolher” significa não efetivar o pagamento de
contribuição ou outra importância destinada à previdência social que
tenha sido descontada de pagamento efetuado a segurados, a terceiros
ou arrecadada do público. Essa figura corresponde ao antigo art. 95,
d, da Lei n. 8.212/91.
Pressuposto: que tenha sido descontado de pagamento efetuado
Pressuposto dessa infração é que o sujeito ativo tenha descontado de
pagamento efetuado a segurado, a terceiros ou tenha arrecadado do
público. Esse pressuposto deixa o sujeito ativo na posse do valor
correspondente, e não o recolhendo, no prazo legal, apropria-se
indevidamente de valores pertencentes à previdência.

5.1(§ 1º, II)Deixar de recolher contribuições devidas


Deixar de recolher contribuições que tenham integrado despesas
contábeis ou custos relativos à venda de produtos ou à prestação de
serviços. O não recolhimento dessa contribuição, desde que tenha
integrado o cálculo dos custos, o que normalmente ocorre, configura a
conduta descrita no tipo em exame. Apresenta certa semelhança com o
antigo art. 95, e, da Lei n. 8.212/91.
Despesas contábeis ou custos relativos a produtos e serviços
A contribuição previdenciária devida pelo empregador deve integrar as
despesas contábeis ou custos relativos a produtos e serviços. O valor
correspondente, por certo, é levado em consideração no cálculo para a
fixação do preço do produto ou do serviço, tratando-se de despesa
operacional (por exemplo, 20% sobre a folha de remuneração, acrescidos
do percentual relativo ao seguro de acidente do
trabalho).
Pressuposto: que tenham integrado os custos
Tendo integrado os custos, seu valor correspondente é recebido pelo
empresário ou empregador e, nessas condições, adquire a posse dos
valores correspondentes. Não os recolhendo, apropria-se indebitamente.

5.2(§ 1º, III)Deixar de pagar benefício devido


Deixar de pagar significa não efetivar o pagamento de benefício devido
a segurado, cujos valores ou cotas já tenham sido reembolsados à
empresa pela previdência. Essa figura equivale àquela prevista no art.
95, f, da Lei n. 8.212/91.
Pressuposto: reembolso realizado
Para a configuração dessa infração, é pressuposto que a previdência
social tenha efetuado “reembolso” à empresa e, tendo-o recebido, esta
não o repassa ao segurado. S em esse pressuposto, não se poderia falar
em apropriação indébita.
6.Consumação e tentativa

O momento consumativo, tratando-se de apropriação indébita, é de


difícil precisão, pois depende, em última análise, de uma atitude
subjetiva. Consuma-se, enfim, com a inversão da natureza da
posse,caracterizada por ato demonstrativo de disposição da coisa
alheia ou pela negativa em devolvê-la. No entanto, em se tratando de
“apropriação indébita previdenciária”, não desconhecemos o
entendimento majoritário da jurisprudência, que ignora a natureza
desse instituto penal e despreza a exigência desse elemento subjetivo.

Enfim, vencido o prazo sem o pagamento do tributo, consuma se o crime.


Antes de esgotado esse prazo de recolhimento, não há conduta típica,
nem mesmo ilícita.

7. Classificação doutrinária (Crime Omissivo Próprio)

 Crime Próprio (exige qualidade ou condição especial do sujeito


ativo, o substituto tributário, no caso do caput);

 Crime Formal (para sua consumação não se exige resultado


naturalístico); Crime Material (STJ)

 Crime Omissivo (a ação tipificada implica abstenção de atividade


— “deixar de”);

 Crime Instantâneo (a consumação não se alonga no tempo,


ocorrendo em momento determinado);

 Crime Unissubjetivo (pode ser praticado por uma única pessoa,


como a maioria dos crimes, que não são de concurso necessário) e

 Crime Unissubsistente (praticado em único ato, dificilmente


poderá caracterizar-se a figura tentada).

8.Causa extintiva da punibilidade


O § 2º do art. 168-A prevê a extinção da punibilidade com a confissão
e o pagamento das contribuições devidas, desde que atendidos os
requisitos que estabelece. Frisando-se, sempre, que a “confissão” é da
dívida, e nunca de crime, caso contrário violaria o princípio da
presunção de inocência.
Requisitos para extinção da punibilidade
a) Declarar o valor devido (demonstra o total arrecadado do
contribuinte e não repassado);
b) Confessar o não recolhimento (admite não ter feito o recolhimento
ou repasse na época e na forma previstas em lei. Frise-se, “confissão
de dívida”, tão somente; não se trata de confissão de crime, pois, se
assim fosse, seria inconstitucional);
c) efetua o pagamento (recolhe todo o devido, principal acrescido dos
acessórios);
d) presta as informações devidas (as informações que deve prestar à
previdência são relativas ao débito em causa, somente);
e) caráter espontâneo dos requisitos (a espontaneidade de toda e
qualquer ação humana não tem nem pode ter o significado de
“arrependimento”, sob pena de assassinar o vernáculo,tampouco tem o
sentido de revelar vontade de colaborar com o Estado, mas apenas que o
agente teve a iniciativa de praticar referidas condutas. Literalmente,
há espontaneidade quando a iniciativa é do próprio agente, e
voluntário é tudo que não for produto de coação, embora a iniciativa
não tenha partido do agente que pode, inclusive, ter recebido (e
aceito) sugestões, opiniões ou influências externas);
f) antes do início da ação fiscal (a ação fiscal somente pode ser
considerada iniciada a partir da cientificação pessoal do contribuinte
de sua instauração, pois somente então se completa a “relação
procedimental” da ação fiscal).

9. Perdão judicial ou pena de multa


O § 3º cria uma hipótese sui generis: perdão judicial ou multa! Caso a
ação fiscal já tenha sido iniciada, ao pagamento de todo o débito pode
corresponder somente uma ou outra das consequências referidas(está
afastada a extinção da punibilidade).
As hipóteses são alternativas (perdão judicial ou pena de multa), mas
os requisitos são cumulativos.

10. Valor de pouca monta: inocuidade


Que o valor do débito previdenciário (contribuição e acessórios) não
seja superior ao mínimo exigido pela própria previdência social para
ajuizamento de execução fiscal. O perdão judicial, nos termos postos,
é praticamente inócuo, uma vez que se limita a valores ínfimos: desde
que não sejam suficientes para justificar sua cobrança judicial (que
já foi definido em até 1.000 Ufir — Lei n. 9.441/97, art. 1º).

11. Princípio da insignificância: configurado


Se o Fisco não tem interesse em cobrar judicialmente o crédito
tributário, não há, igualmente, fundamento para a imposição de sanções
criminais. Prevê a nova lei, assim, o cabimento do perdão judicial ou
da pena de multa isoladamente. A nosso juízo, em termos tributário-
fiscais, configura-se, em sede criminal, o princípio de
insignificância, excluindo-se a própria tipicidade.

12. Requisitos necessários ao perdão judicial ou multa


1) Primário (é aquele que nunca sofreu qualquer condenação
irrecorrível); réu não reincidente, na linguagem da reforma penal de
1984, é aquele que não é primário, mas já desapareceram os efeitos da
reincidência (art. 64, I, do CP);
2) bons antecedentes (quem não tem comprovadamente antecedentes
negativos, isto é, não tem condenação irrecorrível, fora das hipóteses
da reincidência);
3) pagamento integral do débito (contribuição previdenciária e
acessórios);
4) pequeno valor da dívida (o valor do débito previdenciário —
contribuição e acessórios — não é superior ao mínimo exigido pela
própria previdência social para o ajuizamento de execução fiscal).

13.Crimes praticados após a Lei n. 9.983/2000: efeitos práticos


a) pagamento feito antes do início da ação fiscal: extingue a
punibilidade;
b) pagamento após o início da ação fiscal (mas antes do oferecimento
da denúncia): admite perdão judicial ou aplicação somente da multa
(art. 168-A, § 3º, I, do CP);
c) pagamento após o oferecimento da denúncia, mas antes de seu
recebimento: admite a aplicação do arrependimento posterior (art. 16
do CP);
d) pagamento após o recebimento da denúncia: atenuante genérica (art.
65 do CP).

 O delito de apropriação indébita previdenciária é crime omissivo próprio,


consistente na conduta de não repassar à Previdência Social as contribuições
recolhidas dos segurados, no caso do empregador, ou do público, no caso das
instituições financeiras.
 Para configuração da apropriação indébita previdenciária não se exige dolo
específico, qual seja o animus rem sibi habendi, tampouco demonstração de
proveito por parte do sujeito ativo.
 O crime de apropriação indébita previdenciária não se confunde com a apropriação
indébita comum, onde se faz necessário dolo específico, nem se assemelha à
sonegação de contribuição previdenciária, a qual consiste em reduzir o valor das
contribuições previdenciárias mediante atos fraudulentos.
 A pena de reclusão prevista para o delito é prisão criminal e não prisão civil
por dívida. Inobstante isso, a pretensão punitiva pode ser extinta ou suspensa
caso haja o pagamento ou o parcelamento da dívida antes do início da ação fiscal,
o que demonstra o objetivo do tipo penal que é senão compelir os responsáveis ao
recolhimento das contribuições então retidas.
STJ definirá natureza jurídica do crime
de apropriação indébita previdenciária
A 3ª Seção do Superior Tribunal de Justiça afetou o Recurso Especial 1.982.304, de relatoria da ministra
Laurita Vaz, para julgamento sob o rito dos repetitivos.

A questão submetida a julgamento, cadastrada como Tema 1.166 na base de dados do STJ, está ementada
da seguinte forma: "Natureza jurídica (formal ou material) do crime de apropriação indébita
previdenciária, previsto no artigo 168-A do Código Penal". Os ministros decidiram não suspender o
trâmite dos processos que discutem o mesmo assunto.

O recurso afetado teve origem em denúncia do Ministério Público Federal, pelo crime de apropriação
indébita previdenciária, contra a administradora de uma empresa que deixou de repassar, no prazo legal,
contribuições previdenciárias descontadas dos empregados.

A defesa sustentou que o delito tem pena máxima de cinco anos e pediu o trancamento da ação penal por
transcurso do prazo prescricional de 12 anos. Alegou que, por sua natureza formal, o crime imputado se
consuma nas datas em que deixaram de ser repassadas as contribuições, entre o início de 2007 e o início
de 2009, tendo a denúncia sido recebida apenas em abril de 2021.

A tese foi acolhida pelo tribunal de segunda instância. O Ministério Público Federal, por seu turno,
defendeu a natureza material do crime e a consumação na data de constituição definitiva do crédito
tributário ou do exaurimento da via administrativa .

Potencial de multiplicidade da matéria


Em seu voto na proposta de afetação, Laurita Vaz destacou que a indicação do REsp 1.982.304 foi feita
pelo presidente da Comissão Gestora de Precedentes e de Ações Coletivas do STJ, ministro Paulo de
Tarso Sanseverino.

No despacho em que destacou o potencial de multiplicidade da matéria, o magistrado afirmou que, em


pesquisa à jurisprudência do tribunal, é possível recuperar pelo menos 75 acórdãos proferidos por
ministros componentes da 5ª e da 6ª Turma contendo controvérsia semelhante.

"Estando atendidos os pressupostos de admissibilidade, entendo ser o caso de admissão do presente


recurso especial como representativo da controvérsia", concluiu a relatora.

Sobre os recursos repetitivos


O Código de Processo Civil regula, no artigo 1.036 e seguintes, o julgamento por amostragem, mediante a
seleção de recursos especiais que tenham controvérsias idênticas. Ao afetar um processo, ou seja,
encaminhá-lo para julgamento sob o rito dos repetitivos, os ministros facilitam a solução de demandas
que se repetem nos tribunais

A possibilidade de aplicar o mesmo entendimento jurídico a diversos processos gera economia de tempo e
segurança jurídica. No site do STJ, é possível acessar todos os temas afetados, bem como saber a
abrangência das decisões de sobrestamento e as teses jurídicas firmadas nos julgamentos, entre outras
informações. Com informações da assessoria de imprensa do STJ.

O recurso afetado ainda não foi julgado, processo está concluso desse
07/11/2022.
Mas o resultado vai ser mto importante pra saber a data da consumação
do crime.
E consequentemente se teve prescrição etc.

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