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DIREITO

PREVIDENCIÁRIO

RELAÇÃO JURÍDICA DE
CUSTEIO
RELAÇÃO JURÍDICA DE CUSTEIO

No Direito Previdenciário, há sempre relação de uma pessoa – natural ou


jurídica – com o ente previdenciário estatal.

Há duas espécies distintas de relações decorrentes da aplicação da


legislação previdenciária:

1) a relação de custeio e;
2) a relação de prestação;

Numa delas, o Estado é credor, noutra, devedor.


RELAÇÃO JURÍDICA DE CUSTEIO

1) o Estado impõe coercitivamente a obrigação de que as pessoas


consideradas pela norma jurídica como contribuintes do sistema de
Seguridade Social – logo, contribuintes também da Previdência Social –
vertam seus aportes, conforme as regras para tanto estabelecidas.

2) o Estado é compelido, também pela lei, à obrigação de dar – pagar


benefício – ou de fazer – prestar serviço – aos segurados e dependentes
que, preenchendo os requisitos legais para a obtenção do direito, o
requeiram.
RELAÇÃO JURÍDICA DE CUSTEIO

CUSTEIO

CONTRIBUINTES
ESTADO OBRIGAÇÃO DE
DA SEGURIDADE
(CREDOR) CONTRIBUIR
(TRIBUTO)
SOCIAL

PRESTAÇÃO

ESTADO OBRIGAÇÃO SEGURADOS E


(DEVEDOR) DE DAR DEPENDENTES
(PAGAR BENEFÍCIOS/PRESTAR
SERVIÇOS)
RELAÇÃO JURÍDICA DE CUSTEIO

Caráter Contributivo - a existência de uma relação jurídica de custeio


própria caracteriza o modelo de previdência de caráter contributivo.

• A ordem jurídica interna estabelece, desde a Lei Maior, este caráter (art.
201, caput).

• Pelo sistema contributivo, a receita da Previdência Social – e, no caso


brasileiro, da Seguridade Social como um todo – decorre de pagamentos
feitos por pessoas com destinação específica para o financiamento das
ações no campo da proteção social.
RELAÇÃO JURÍDICA DE CUSTEIO
RELAÇÃO OBRIGACIONAL

Obrigação previdenciária de custeio é espécie do gênero obrigação


tributária.

OBRIGAÇÃO TRIBUTÁRIA

OBRIGAÇÃO PREVIDENCIÁRIA DE CUSTEIO

CONTRIBUINTES
ESTADO OBRIGAÇÃO DE
DA SEGURIDADE
(CREDOR) CONTRIBUIR
(TRIBUTO)
SOCIAL
RELAÇÃO JURÍDICA DE CUSTEIO
RELAÇÃO OBRIGACIONAL

Decorre da existência de norma legal prévia que estabelece as hipóteses de incidência,


ou seja, os fatos que, uma vez concretizados, estabelecem o nascimento do vínculo
obrigacional entre o contribuinte ou responsável e o ente responsável pela arrecadação
da contribuição.

O fato imponível (denominado pelo Código Tributário Nacional “fato gerador”) é a


situação concreta que deflagra a aplicação da norma de índole tributária,
independentemente da vontade do particular.

HI OT CT CDA

FG LÇ IDA EF
RELAÇÃO JURÍDICA DE CUSTEIO
RELAÇÃO OBRIGACIONAL

SEGURADOS OBRIGATÓRIOS:

Há pessoas que têm obrigação de contribuir porque


desta decorre sua condição de beneficiário do
sistema – são os segurados obrigatórios do regime.

A obrigatoriedade de sua participação se impõe para


que possam fruir dos benefícios e serviços previstos
em lei.

Ex: empregados, trabalhador avulso, segurado


especial, empregado doméstico, contribuinte individual.
RELAÇÃO JURÍDICA DE CUSTEIO
RELAÇÃO OBRIGACIONAL

OBRIGAÇÃO DE CONTRIBUIR (LEI):

Outras pessoas têm a obrigação de contribuir porque a lei simplesmente lhes determina
tal ônus, sem que tenham qualquer contraprestação pelo fato de verterem recursos para o
sistema.

solidariedade - risco social


Ex: as empresas, ao contribuírem sobre a folha de pagamento de seus trabalhadores, bem
como sobre o faturamento e o lucro; também é o mesmo fundamento para se exigir do
empregador doméstico e do produtor rural que verta contribuições para o regime;
também é o motivo invocado para a cobrança de contribuições sobre apostas em
concursos de prognósticos.
RELAÇÃO JURÍDICA DE CUSTEIO
AUTONOMIA DA RELAÇÃO DE CUSTEIO

Regida por lei, e não pela vontade de particulares, a relação obrigacional de custeio é
autônoma com referência à relação jurídica de prestação previdenciária.

A autonomia leva a que as contribuições, mesmo quando não recolhidas aos cofres
públicos, não impeçam a fruição dos benefícios e serviços por determinadas
categorias de segurados obrigatórios, sendo poder-dever da Administração Pública
exigir do responsável pelo recolhimento as contribuições não adimplidas, sem que isso se
torne empecilho para a concessão ou manutenção de benefícios.

Decreto 3048/99
Art. 36. No cálculo do valor da renda mensal do benefício serão computados:
I - para o segurado empregado, inclusive o doméstico, e o trabalhador avulso, os salários de contribuição referentes aos
meses de contribuições devidas, ainda que não recolhidas pela empresa ou pelo empregador doméstico, observado o
disposto no art. 19-E, sem prejuízo da respectiva cobrança e da aplicação das penalidades cabíveis; e (Redação
dada pelo Decreto nº 10.410, de 2020).
RELAÇÃO JURÍDICA DE CUSTEIO
AUTONOMIA DA RELAÇÃO DE CUSTEIO

Ex: Se a lei estabelece ao empregador que este venha a recolher a contribuição a que
está obrigado e, ainda, retenha a contribuição dos empregados a seu serviço, recolhendo-
as também, tal responsabilidade é intransferível e, caso descumprida, arcará ele – o
empregador – unicamente com os efeitos decorrentes do descumprimento da norma, não
se penalizando os empregados com a infração legal (inadimplemento tributário) causada
pelo tomador da mão de obra.

HI OT CT CDA

FG LÇ IDA EF
DIREITO
PREVIDENCIÁRIO

CONTRIBUINTES DA
SEGURIDADE SOCIAL
CONTRIBUINTES DA SEGURIDADE SOCIAL
Os termos “contribuinte” e “segurado” possuem diferenças de significado
importantes no âmbito do Direito Previdenciário.

Contribuinte: é o sujeito passivo da obrigação tributária, podendo ser pessoa física


ou jurídica, sendo assim considerada toda pessoa que, por determinação legal,
está sujeita ao pagamento de tributo.

A definição de sujeito passivo estabelecida no Código Tributário Nacional é a


seguinte:

–sujeito passivo da obrigação principal é a pessoa obrigada ao pagamento de tributo ou


penalidade pecuniária (art. 121, caput);
–sujeito passivo da obrigação acessória é a pessoa obrigada às prestações que constituam o seu
objeto (art. 122).
CONTRIBUINTES DA SEGURIDADE SOCIAL
Sujeito passivo da obrigação principal: pode assumir a condição de contribuinte
ou responsável.

Contribuinte: quando tenha relação pessoal e direta com a situação que constitua
o respectivo fato gerador (como no caso dos contribuintes individuais que prestam
serviços exclusivamente a pessoas jurídicas);

Responsável: quando, sem revestir a condição de contribuinte, sua obrigação


decorra de disposição expressa de lei (art. 121, parágrafo único, inciso II, do CTN).

Ex: os segurados empregados, inclusive os domésticos, e trabalhadores avulsos são contribuintes


da Seguridade Social, entretanto não são os responsáveis pela obrigação principal –
recolhimento da contribuição por eles devida –, já que a legislação de custeio cometeu tal encargo
aos tomadores dos seus serviços (art. 30, incisos I e V, da Lei n. 8.212/1991).
CONTRIBUINTES DA SEGURIDADE SOCIAL

A Constituição, ao delinear o âmbito das contribuições para a Seguridade Social,


no art. 195, I, II, III e IV, estabeleceu quem será contribuinte do sistema:

• o empregador, a empresa e a entidade a ela equiparada;

• os trabalhadores segurados da Previdência Social, conforme suas categorias


(empregado, empregado doméstico, trabalhador avulso, contribuinte individual e
segurado especial);

• os apostadores de concursos de prognósticos;

• o importador de bens ou serviços do exterior, ou de quem a lei a ele equiparar.


CONTRIBUINTES DA SEGURIDADE SOCIAL
Segurados do Regime Geral de Previdência Social

São os principais contribuintes do sistema de Seguridade Social previsto na


ordem jurídica nacional.

• São contribuintes em função do vínculo jurídico (filiação) que possuem com


este regime de previdência, uma vez que, para obter os benefícios, devem
teoricamente verter contribuições ao fundo comum.

Teoricamente porque, em certos casos, ainda que não tenha ocorrido contribuição, mas estando o
indivíduo enquadrado em atividade que o coloca nesta condição, terá direito a benefícios e
serviços: são os casos em que não há carência de um mínimo de contribuições pagas, ou
quando a contribuição do período tenha deixado de ser recolhida aos cofres públicos por um
terceiro responsável (empregador ou tomador dos serviços)
CONTRIBUINTES DA SEGURIDADE SOCIAL

Segurados do Regime Geral de Previdência Social

Exemplo:

Segurado obrigatório (enquadrado em qualquer das espécies), que, no primeiro


mês de atividade laborativa em sua vida inteira, sofre um acidente e se torna
incapaz para o trabalho, ou pior, vem a falecer: a contribuição devida por este
somente seria paga no mês seguinte ao do trabalho realizado mas, mesmo sem
ter contribuído (o acidente aconteceu antes do prazo de vencimento), o segurado
(ou seu dependente) fará jus ao benefício, porque efetivamente houve atividade
remunerada, sobre a qual incide a contribuição, que deve ser cobrada, caso não
quitada, daquele que seja o responsável pelo seu recolhimento.
CONTRIBUINTES DA SEGURIDADE SOCIAL
Empresas e entidades equiparadas

De acordo com o art. 15, inciso I, da Lei n. 8.212/1991, considera-se empresa, para fins de
aplicação da legislação de custeio:

“a firma individual ou sociedade que assume o risco da atividade econômica urbana ou rural, com
fins lucrativos ou não, bem como os órgãos e entidades da administração direta, indireta e
fundacional” – estes quanto aos exercentes de cargos em comissão, empregados públicos e
contratados temporariamente, filiados obrigatoriamente ao RGPS”.

Equipara-se à empresa, para fins previdenciários, de acordo com o art. 15, parágrafo único, da Lei
n. 8.212/1991, com a redação conferida pela Lei n. 13.202/2015:

“o contribuinte individual e a pessoa física na condição de proprietário ou dono de obra de


construção civil, em relação a segurado que lhe presta serviço, bem como a cooperativa, a
associação ou a entidade de qualquer natureza ou finalidade, a missão diplomática e a repartição
consular de carreira estrangeiras”.
CONTRIBUINTES DA SEGURIDADE SOCIAL
Empregador Doméstico

O empregador doméstico é a pessoa física que admite a seu serviço, mediante remuneração,
sem finalidade lucrativa, empregado doméstico (art. 15, II, da Lei n. 8.212/1991).

Esse conceito deve ser conjugado com o de empregado doméstico estabelecido mais
recentemente pelo art. 1º da LC n. 150/2015, qual seja: “aquele que presta serviços de forma
contínua, subordinada, onerosa e pessoal e de finalidade não lucrativa à pessoa ou à família,
no âmbito residencial destas, por mais de 2 (dois) dias por semana”.

Obs: o empregador doméstico é contribuinte nesta condição, porém não é segurado em


função disso – não faz jus a benefícios ou serviços; também não estará isento de contribuir
pelo fato de possuir regime próprio diferenciado de previdência, como no caso de um
empregador doméstico que seja servidor público federal. O empregador doméstico recolhe
contribuições na qualidade de contribuinte, mas não de segurado.
CONTRIBUINTES DA SEGURIDADE SOCIAL
Apostadores de Concursos de Prognósticos

A contribuição social incidente sobre apostas feitas em concursos de prognósticos é prevista


no texto constitucional no art. 195, III, e disciplinada pelo art. 26 da Lei n. 8.212/1991.

Os contribuintes, no caso, são os indivíduos que vertem valores em apostas feitas em


concursos de loterias, reuniões hípicas e sorteios patrocinados pelo Poder Público.

O Decreto n. 3.048/1999, dispondo sobre a matéria em seu art. 212, incluiu como hipóteses de
incidência os concursos realizados por sociedades comerciais ou civis.

O fato de caber à pessoa jurídica responsável pelo concurso o recolhimento das contribuições
não retira do apostador sua condição de contribuinte, transferindo-se apenas a
responsabilidade pela entrega do numerário ao ente arrecadador da Seguridade Social. Tal
contribuição, contudo, não acarreta qualquer contrapartida devida ao apostador em matéria
de proteção social.
DIREITO
PREVIDENCIÁRIO

RELAÇÃO JURÍDICA DE
SEGURO SOCIAL
RELAÇÃO JURÍDICA DE SEGURO SOCIAL

A relação jurídica previdenciária, ou de seguro social é, pois, aquela em que, ao


contrário do que ocorre com a relação de custeio, credor é o indivíduo filiado ao
regime de previdência ou seus dependentes, e devedor o Estado, por meio da
entidade cuja atribuição é a concessão de benefícios e serviços.

PRESTAÇÃO

SEGURADOS E
ESTADO OBRIGAÇÃO DEPENDENTES
(DEVEDOR) DE DAR (CREDOR)
(PAGAR BENEFÍCIOS/PRESTAR
SERVIÇOS)
RELAÇÃO JURÍDICA DE SEGURO SOCIAL
DEFINIÇÃO DA RELAÇÃO DE SEGURO SOCIAL

A condição de beneficiário de um regime de Previdência decorre da atuação da


vontade da lei.

Trata-se de direito indisponível do indivíduo, de maneira que, mesmo não tendo


interesse na proteção social conferida pelo regime, mas estando enquadrado
numa das hipóteses legais, a pessoa será considerada, pelo ente previdenciário,
como segurado ou como dependente, logo, beneficiário do regime.

A inércia do indivíduo que tem direito a benefício não lhe acarreta a caducidade do
direito, salvo em casos taxativamente enumerados na Lei n. 8.213/1991.

Ex: o direito à pensão por morte, que não se transfere a dependentes de outra classe, menos
prioritária, em caso de pessoa com direito ao benefício da classe mais prioritária “abrir mão”.
RELAÇÃO JURÍDICA DE SEGURO SOCIAL
DEFINIÇÃO DA RELAÇÃO DE SEGURO SOCIAL

• A obrigação de prover o benefício não decorre de qualquer circunstância


subjetiva; não se perquire de atuação dolosa ou culposa, nem de intenção do
segurado em causar o infortúnio.

• A responsabilidade do ente previdenciário é puramente objetiva, fundada na


teoria do risco social, que independe de resposta às indagações subjetivas
sobre a causa do evento deflagrador do direito ao benefício.

• O ente previdenciário, por seu turno, não tem a menor discricionariedade na


concessão do benefício, uma vez preenchidos os requisitos legais para a
obtenção desse direito. Não há escolha por parte do administrador.
RELAÇÃO JURÍDICA DE SEGURO SOCIAL
DEFINIÇÃO DA RELAÇÃO DE SEGURO SOCIAL

• A negativa de concessão do benefício, ou sua concessão, sem motivo


justo, caracteriza, em tese, falta funcional e delito de prevaricação, posto
que, além de violar dever ético-profissional, o agente público que assim agir
atingirá direito intangível do indivíduo, causando-lhe prejuízos patrimoniais e
morais, pela perda, momentânea ou duradoura, de sua subsistência.

• A Previdência Social, por seus órgãos e agentes, não presta favor algum a
seus beneficiários: é o exemplo mais vivo de serviço público na sua acepção
mais adequada. Os benefícios e serviços ali deferidos não são objeto de
barganha política ou mesmo de favorecimento pessoal. É ato plenamente
vinculado o deferimento ou indeferimento da prestação do seguro social.
RELAÇÃO JURÍDICA DE SEGURO SOCIAL

VINCULAÇÃO DA RELAÇÃO PREVIDENCIÁRIA COM A FILIAÇÃO

• Não há relação de seguro social sem filiação prévia.

• Se no campo da relação de custeio a obrigação de pagar contribuição social


não se vincula ao fato de ser, ou não, segurado do regime de previdência, no
âmbito da relação de prestação a regra se inverte.

• O direito do indivíduo à proteção previdenciária só se perfaz quando este se


encontra, compulsória ou facultativamente, filiado a um regime de
Previdência Social.
RELAÇÃO JURÍDICA DE SEGURO SOCIAL

VINCULAÇÃO DA RELAÇÃO PREVIDENCIÁRIA COM A FILIAÇÃO

• Além do período de filiação, depende o segurado, em alguns casos, do


cumprimento de um período mínimo de contribuições para ter direito a certos
benefícios, o que se denomina “período de carência”.

• O período de filiação se estende ainda que o segurado perca sua atividade


laborativa, que o enquadrava como tal, durante certo tempo; este lapso é
chamado de “período de graça”, porque, neste período, o indivíduo mantém a
qualidade de segurado, embora não esteja contribuindo para o regime.
RELAÇÃO JURÍDICA DE SEGURO SOCIAL
VINCULAÇÃO DA RELAÇÃO PREVIDENCIÁRIA COM A FILIAÇÃO

• Já o dependente do segurado, por não ter vinculação direta com o ente


previdenciário, mas apenas com este se relacionar indiretamente, somente
faz jus a benefícios se o indivíduo com o qual guarda relação conjugal, de
companheirismo ou parentesco, nas hipóteses legais, se se encontrar filiado,
ainda que no “período de graça”.

• Para fazer jus ao benefício, o dependente não precisa ter sido previamente
inscrito pelo segurado; vale dizer, a relação de dependência é de fato, bastando
a comprovação da relação com o segurado quando da ocorrência do evento
que gera direito ao benefício (art. 22, caput, do Decreto n. 3.048/1999, com a
redação conferida pelo Decreto n. 4.079/2002)
RELAÇÃO JURÍDICA DE SEGURO SOCIAL

VINCULAÇÃO DA RELAÇÃO PREVIDENCIÁRIA COM A FILIAÇÃO

• Não se deve confundir a filiação com o pagamento das contribuições, no caso


dos segurados obrigatórios.

• O mero inadimplemento de contribuições devidas não afasta a filiação, que se


mantém durante todo o período em que o segurado (exceto o facultativo)
exercer atividade.

• Nasce a relação de seguro social, assim, no primeiro dia de trabalho


(atividade remunerada) dos segurados obrigatórios, porque é nesta data
que se dá a sua filiação automática e compulsória ao regime previdenciário a
que passa a pertencer.
RELAÇÃO JURÍDICA DE SEGURO SOCIAL
VINCULAÇÃO DA RELAÇÃO PREVIDENCIÁRIA COM A FILIAÇÃO

• Segurados facultativos: a relação se inicia no dia em que ocorre sua inscrição


no regime, pois não havendo exercício de atividade laboral remunerada,
somente com a manifestação de vontade de filiar-se ao sistema, e mais,
somente a partir da primeira contribuição vertida, inaugura a relação jurídica.

• Art. 20 do Decreto n. 3.048/1999:


Art. 20. Filiação é o vínculo que se estabelece entre pessoas que contribuem para a previdência social e esta, o qual decorrem direitos e
obrigações.
§ 1º A filiação à previdência social decorre automaticamente do exercício de atividade remunerada para os segurados obrigatórios,
observado o disposto no § 2º, e da inscrição formalizada com o pagamento da primeira contribuição para o segurado facultativo.
§ 2º A filiação do trabalhador rural contratado por produtor rural pessoa física por prazo de até dois meses no período de um ano, para o
exercício de atividades de natureza temporária, decorre automaticamente de sua inclusão em declaração prevista em ato do Secretário
Especial da Receita Federal do Brasil do Ministério da Economia por meio de identificação específica.
§ 3º O exercício de atividade prestada de forma gratuita e o serviço voluntário, nos termos do disposto na Lei nº 9.608, de 18 de fevereiro de
1998, não geram filiação obrigatória ao RGPS.
RELAÇÃO JURÍDICA DE SEGURO SOCIAL
VINCULAÇÃO DA RELAÇÃO PREVIDENCIÁRIA COM A FILIAÇÃO

• O segurado facultativo pode filiar-se à Previdência Social por sua própria vontade a
qualquer tempo, porém a inscrição só gerará efeitos a partir do primeiro
recolhimento, não podendo retroagir e não se permitindo o pagamento de
contribuições relativas a meses anteriores ao mês da inscrição, ressalvada a situação
específica quando houver opção pela contribuição trimestral.

• Após a inscrição, o segurado facultativo somente poderá recolher contribuições em


atraso quando não tiver ocorrido perda da qualidade de segurado, o que ocorre após
seis meses da cessação das contribuições (§ 4º do art. 11 do Decreto n.
3.048/1999).

• Na hipótese de perda da qualidade de segurado, somente serão consideradas, para


fins de carência, as contribuições efetivadas após novo recolhimento sem atraso (§ 4º
do art. 28 do mesmo Decreto, incluído pelo Decreto n. 10.410/2020).
RELAÇÃO JURÍDICA DE SEGURO SOCIAL
NATUREZA JURÍDICA DA RELAÇÃO DE SEGURO SOCIAL

• A relação de seguro social é direito indisponível para o indivíduo, seja ele segurado
ou dependente. Já para o ente responsável pela obrigação de conceder os benefícios e
serviços, a natureza é de um múnus público, como o é toda atividade prestada pela
Administração Pública na consecução das finalidades da atividade estatal.

• O direito às prestações da Previdência Social se encontra consagrado no rol dos


Direitos Sociais, como um direito fundamental (decorrente do direito à segurança).

• Trata-se de direito de natureza eminentemente alimentar, gerador, no mais das


vezes, da subsistência básica do ser humano, cuja demora ou indeferimento
descabido podem causar danos irreparáveis à existência digna de quem dependa das
prestações do seguro social.
RELAÇÃO JURÍDICA DE SEGURO SOCIAL

NATUREZA JURÍDICA DA RELAÇÃO DE SEGURO SOCIAL

• Acrescente-se a isso a condição de hipossuficiência da maior parte dos potenciais


beneficiários da Previdência, tanto de ordem econômica quanto de conhecimento
acerca de seus direitos de índole previdenciária, o que gera a necessidade de que o
tratamento conferido a estes direitos assuma contornos especiais.

• Por conta de tal distinção, impõe-se assegurar ao indivíduo o pleno acesso às


informações de que necessita para a defesa de seus interesses junto à Previdência
Social, bem como garantir que ingresse com os requerimentos de concessão de
benefício mesmo quando não apresente a documentação necessária, para
salvaguarda de tais direitos fundamentais, como estabelece, com bastante clareza, a
Lei n. 8.213/1991 em seu art. 105.
RELAÇÃO JURÍDICA DE SEGURO SOCIAL

NATUREZA JURÍDICA DA RELAÇÃO DE SEGURO SOCIAL

• Outro grave problema enfrentado pelos segurados e beneficiários do RGPS diz


respeito à demora na resposta a requerimentos formulados.

• A questão em análise chegou ao STF por força do Recurso Extraordinário


1.171.152/SC, originário de Ação Civil Pública julgada pelo TRF da 4ª Região, sendo
reconhecida a Repercussão Geral – Tema 1.066 –, cuja controvérsia foi delimitada da
seguinte forma:

Possibilidade de o Poder Judiciário (i) estabelecer prazo para o Instituto Nacional do


Seguro Social realizar perícia médica nos segurados da Previdência Social e (ii)
determinar a implantação do benefício previdenciário postulado, caso o exame não ocorra
no prazo.
RELAÇÃO JURÍDICA DE SEGURO SOCIAL
NATUREZA JURÍDICA DA RELAÇÃO DE SEGURO SOCIAL

• Na sequência, os entes envolvidos nas ACPs apresentaram Termo de Acordo ao STF


solicitando a homologação, que ocorreu por decisão monocrática do Relator Alexandre
de Moraes, em 9.12.2020. Posteriormente, o Plenário do STF, em Sessão Virtual,
homologou o acordo e julgou extinto o processo (art. 487, III, do CPC), com sua
exclusão da sistemática da repercussão geral.

• O Termo de Acordo homologado pelo STF acabou sendo mais amplo do que a questão
delimitada inicialmente no paradigma da Repercussão Geral – Tema 1.066 –, pois
prevê prazos máximos de conclusão dos processos administrativos para: (a)
reconhecimento inicial de direito a benefícios previdenciários e assistenciais; e (b) a
realização da avaliação social nos casos em que o benefício dependa da aferição da
deficiência do segurado. Todos esses prazos não ultrapassam 90 dias e podem
variar de acordo com a espécie e o grau de complexidade do benefício (de 30 a 90
dias).
RELAÇÃO JURÍDICA DE SEGURO SOCIAL
NATUREZA JURÍDICA DA RELAÇÃO DE SEGURO SOCIAL

• Sobre o reconhecimento de que a demora na prestação do atendimento pelo INSS é


ensejadora de reparação civil, por se tratar de grave violação a direitos fundamentais
do indivíduo, há jurisprudência neste sentido, citando-se, apenas como exemplo, o
aresto a seguir:

ADMINISTRATIVO – PROCESSUAL CIVIL – DANO MORAL – PENSÃO POR MORTE – PERCEPÇÃO 50% – DEMORA NA
INTEGRALIZAÇÃO DO BENEFÍCIO – INDENIZAÇÃO.
Para que se configure a responsabilidade civil do agente, necessária a presença de três requisitos básicos: a culpa ou
dolo, o dano e o nexo causal entre eles. A ausência de um desses três elementos descaracteriza a responsabilidade,
inibindo a obrigação de indenizar. – Não obstante o dano moral independer de prova concreta, porque subjetivo e interno,
necessita de comprovação do fato que o ensejou. Assim, para que haja o dever de indenizar é indispensável a
comprovação da ocorrência de um dano patrimonial ou moral, o que restou provado nos autos. – Comprovado o
fato ensejador do ato ilícito praticado pelo INSS, ao desdobrar a pensão da autora, ao arrepio da lei, exsurge o dever de
indenizar. – Recurso da autora parcialmente provido. Majoração do valor da indenização por danos morais para R$ 5.000,00
(cinco mil reais). Recurso do INSS improvido (TRF 2ª Região, 6ª Turma Especializada, AC 2003.51.01.014109-0, Rel. Des.
Federal Fernando Marques, DJU 1º.12.2006). No mesmo sentido: 3ª TR/SC, Recurso Cível 5020690-
85.2016.4.04.7200/SC, Rel. Juiz Federal Gilson Jacobsen, em 24.8.2017.
BIBLIOGRAFIA

AMADO, Frederico. Curso de direito e processo previdenciário. 12.ed. ver., ampl. e atual. –
Salvador: Ed. JusPodivm, 2020.

BERWANGER, Jane Lucia Wilhelm; GUIOTTO, Maíra Custódio Mota. Aposentadoria especial
do dentista. Curitiba: Juruá, 2016.

CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João B. Manual de Direito Previdenciário.
Grupo GEN, 2023. E-book. ISBN 9786559646548. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786559646548/. Acesso em: 27 fev.
2023.

IBRAHIM, Fábio Zambitte. Curso de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro:
Impetrus, 2013.

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