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Direito Previdenciário

Aula 05: O financiamento da seguridade social e o plano de


custeio

Apresentação
Nesta aula, analisaremos as estruturas fundamentais para a viabilidade da Seguridade Social, que são o financiamento e o
plano de custeio. É nítida a ideia de que somente com o planejamento do futuro haverá a garantia de uma verdadeira
seguridade, que esse sistema subsistirá.

O plano de custeio é um apanhado de normas que regulamentam as contribuições sociais, apoiado em previsões de
receita e de despesa, calculados com base no risco, na prestação de serviços e nas expectativas futuras de
desenvolvimento da Seguridade Social.
Objetivo
Explicar o financiamento da Seguridade Social;

Analisar o plano de custeio.

Palavras iniciais

Todo sistema, para funcionar, necessita de algumas estruturas básicas. Aprenderemos neste estudo a que diz respeito ao
financiamento do sistema de seguridade social e seu plano de custos. São eles que possibilitam o pagamento dos benefícios,
bem como a manutenção e o equilíbrio das contas do sistema de seguridade.

Para que isso seja possível, foram criados por lei princípios e regras que buscam garantir a ampla extensão das garantias sem
que seja perdida a responsabilidade com o orçamento previdenciário e o planejamento do pagamento dos beneficiários e
aposentados.

 Fonte: Freedomz / Shutterstock

O financiamento da seguridade social

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Para entendermos como é financiada a seguridade social, podemos relembrar alguns princípios estudados na aula 2, como os
princípios da equidade na forma de participação no custeio e da diversidade da base de financiamento. Sabemos que o direito
previdenciário visa garantir uma maior amplitude na forma de custeio da Seguridade Social, tal garantia foi constituída
mediante uma gestão quadripartite, da qual participam:
1 2

Trabalhadores Empregadores

3 4

Aposentados O governo nos órgãos colegiados

O art. 195 da Constituição Federal prevê que a seguridade social seja financiada por toda a sociedade, de forma direta e
indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, e pelas contribuições sociais dos empregadores, trabalhadores e demais segurados, concursos de prognósticos
(ex: loterias) ou do importador de bens ou serviços do exterior, ou de quem a lei a ele equiparar.

Atenção

É importante esclarecer que é de competência da União instituir as contribuições enumeradas pelo art. 195 da CF, através da
edição de lei ordinária. Outras fontes de custeio, diferentes das previstas nos incs. I a IV do art. 195, também podem ser
instituídas. Trata-se de competência residual da União, que só pode ser exercida por lei complementar, proibidos a cumulatividade
e o bis in idem.

O plano de custeio da previdência social

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Conforme já estudado no histórico da previdência social, o Estado viu-se obrigado a tomar medidas para a proteção de seus
cidadãos tendo em vista que o indivíduo desprotegido de um sistema com garantias previdenciárias estava onerando as
despesas do Estado e colocando em risco a ordem e o bom desenvolvimento das nações.

Dessa forma, foi necessário a criação de um sistema previdenciário que fosse sustentado por uma ampla gama de
contribuintes e cujos custos seriam pagos pela geração mais jovem, sendo os benefícios usufruídos pelos mais velhos ou
inválidos permanentemente ou temporariamente.

Para estudarmos a legislação nacional, inicialmente é importante ressaltar que a seguridade social foi criada para assegurar os
direitos de:
Saúde Previdência

Assistência social

O Regime Geral de Previdência Social teve sua regulamentação pelas leis nº 8.212/1991 (plano de custeio da previdência) e nº
8.213/1991 (plano de benefícios da previdência). Nosso estudo ainda se restringirá à lei que estabelece o plano de custeio e
suas peculiaridades.

É importante ressaltar que somente quem contribui efetivamente adquire a


condição de segurado da previdência social. Por se tratar de um regime de
caráter contributivo, o segurado receberá benefícios preestabelecidos em lei
de acordo com o cumprimento das carências necessárias.

Por outro lado, considerando o princípio da universalidade da cobertura dos benefícios previdenciários, foi necessária a criação
de um sistema com filiação obrigatória, aumentando assim o rol dos contribuintes para a garantia da fonte de custeio.
A lei nº 8.212/1991 regulamenta o artigo 195 da Constituição Federal estabelecendo a organização da seguridade social e
instituindo o plano de custeio com regras específicas sobre as disposições constitucionais. Na lei nº 8.212/1991 foram
estabelecidos:

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O sujeito ativo 

No momento da criação da lei era o INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), todavia com as alterações legislativas
ocorridas no ano de 2009, tal competência foi atribuída à Secretaria da Receita Federal do Brasil.

O sujeito passivo 

É o contribuinte, seja empresário, trabalhador ou demais segurados, conforme estudado no tópico anterior.

As alíquotas e bases de cálculo 

Correspondem às porcentagens com que cada segurado deverá contribuir, podendo inclusive serem diferenciadas em
razão da atividade econômica, da utilização intensiva de mão de obra, do porte da empresa ou da condição estrutural do
mercado de trabalho. Tal diferenciação visa atender ao princípio da equidade na forma de participação no custeio.

Princípio ou regra da contrapartida

Também conhecido como princípio da precedência da fonte de custeio1 , visa garantir um permanente equilíbrio financeiro ao
sistema de proteção social, dessa forma, foi estabelecida a regra da contrapartida. Tal regra, como se pode observar, não se
encontra no rol de princípios da Constituição Federal de 1988, podendo ser entendida como um princípio implícito, no entanto é
de suma importância para o bom desenvolvimento do sistema.

Conforme o artigo 195, §5º da CF/1988 e artigo 125 da lei nº 8.213/1991:

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"Nenhum benefício ou serviço da seguridade social pode ser


criado, majorado ou estendido sem a correspondente fonte
de custeio total. A regra básica para a existência desse
princípio é bem simples, não se pode criar um gasto sem que
se tenha a certeza de que haverá uma fonte de renda para
pagá-lo, caso contrário, todo o sistema previdenciário poderia
se colapsar."
O que essa norma busca é uma gestão responsável, dessa forma, a primeira interpretação possível é que não se poderá criar,
majorar ou estender contribuições sociais sem a respectiva criação, majoração ou extensão da prestação paga pelo
contribuinte, ou seja, a contrapartida.

Esse princípio tem grande ligação e consonância com o princípio do equilíbrio financeiro e atuarial, pois só é permitido ao
legislador garantir novos direitos aos cidadãos através de benefícios previdenciários quando for resguardada a fonte de custeio
para a manutenção do equilíbrio das contas previdenciárias, fato que será importante para não permitir que o sistema torne-se
inviável para o financiamento das futuras gerações.

A observância desse princípio é fundamental para que a previdência social pública se mantenha em condições de conceder os
benefícios previstos em lei sob pena de, caso seja uma relação mal sucedida, em curto espaço de tempo, estarem os
segurados definitivamente sujeitos à privatização de tal atividade em face da impotência do Poder Público de gerar mais
receita para cobertura de deficit.

Desse princípio se extrai a principal justificativa para a exclusão de alguns beneficiários de um determinado benefício.

Exemplo
É o caso do segurando contribuinte individual que opta a contribuir com apenas 11% (onze por cento) do seu rendimento,
perdendo assim o direito de requerer a aposentadoria por tempo de contribuição.

No entanto, há correntes de pensamento que acreditam que nem sempre é necessária a existência de uma contrapartida direta
com relação a um benefício, pois além da regra da contrapartida também existe o princípio da solidariedade. Tal princípio prega
a necessidade de uma relação fraterna entre os membros da sociedade para que, assim, sejam eliminadas as desigualdades
sociais.

Diante desse princípio, percebemos que existe um confronto entre duas normas constitucionais e seria incorreto eliminar uma
em prevalência da outra, portanto o mais correto seria realizar uma relativização dos dois princípios para que a sociedade mais
carente não seja prejudicada.

Princípio ou regra da contrapartida

Esse princípio foi introduzido no ordenamento brasileiro


somente a partir da Emenda Constitucional n.º 20/1998 (art.
40, caput, e art. 201, caput). Segundo tal regra, o poder
público deverá, na execução da política previdenciária,
atentar sempre para a relação entre custeio e pagamento de
benefícios a fim de manter o sistema em condições
superavitárias e observar as oscilações da média etária da
população, bem como sua expectativa de vida, para a
adequação dos benefícios a essas variáveis.

Percebemos que por conta do princípio do equilíbrio


financeiro e atuarial que sempre estamos ouvindo pela
mídia as propostas de reforma da previdência, bem como
informações que o atual sistema previdenciário poderá não
conseguir cumprir com suas obrigações orçamentárias em
um futuro próximo.

Observe que agora não mais falamos da hipótese de criação de um novo benefício, mas:

Da possibilidade do sistema previdenciário em se manter com o passar dos anos;

Do envelhecimento da população;

Da diminuição nas taxas de natalidade;

Das oscilações nas taxas de emprego.

Notas

Princípio da precedência da fonte de custeio1


Segundo Kravchychyn (2014), trata-se de princípio, pois nenhuma norma legal poderá violar tal preceito, sob pena de
inconstitucionalidade.
Referências

BALERA, W. Sistema de Seguridade Social. 6. ed. São Paulo: Editora LTr, 2012.

BRASIL. Casa Civil. Lei federal nº 8.212, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre a organização da Seguridade Social, institui Plano
de Custeio, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 25 jul. 1991. Disponível em:
//www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8212orig.htm <//www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8212orig.htm> . Acesso em: 22 maio
2019.

BRASIL. Casa Civil. Lei federal nº 8.213, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social e
dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 25 jul. 1991. Disponível em:
//www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8213cons.htm <//www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8213cons.htm> . Acesso em: 22
maio 2019.

KRAVCHYCHYN, J. L.; KRAVCHYCHYN, G. L; CASTRO, C. A. P.; LAZZARI, J. B. Prática processual previdenciária administrativa
e judicial. 5. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014.

SANTOS, M. F. Direito previdenciário esquematizado 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2013.

Próxima aula

Contribuições sociais para financiamento da seguridade social;

Outras receitas da seguridade social;

Acidente do trabalho e doenças profissionais.

Explore mais

Leia o texto:

Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991. <//www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8212orig.htm>

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