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REFORMA DA

PREVIDÊNCIA
PRINCIPAIS MUDANÇAS
por Sandro Lucena Rosa
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO
REGIMES PREVIDENCIÁRIOS: REPARTIÇÃO E CAPITALIZAÇÃO
COMO SERÁ FINANCIADA A NOVA PREVIDÊNCIA?
VALOR DOS BENEFÍCIOS
BENEFÍCIOS NA NOVA PREVIDÊNCIA
CONSIDERAÇÕES FINAIS

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INTRODUÇÃO
A reforma da Previdência, assim, tem por
objetivo “equilibrar” essa conta, de forma que
A Previdência Social brasileira, da Constituição o sistema tenha um maior equilíbrio atuarial.
Federal de 1988 para cá, já foi reformada, pelo Segundo a exposição de motivos da proposta, três
menos, quatro vezes. Se formos apurar o histórico pilares a sustentam: combate à fraude e redução
legislativo que alterou nosso regime de Previdência, da judicialização (MP nº 871/19); fortalecimento
o número aumenta consideravelmente. Em todas do processo de cobrança da Dívida Ativa da
as ocasiões, é possível observar um esforço no União; equidade, de forma a igualar os regimes
sentido de recrudescer as regras de acesso aos previdenciários dos servidores e dos trabalhadores
benefícios com o intuito de equilibrar o saldo do caixa da iniciativa privada.
previdenciário.
Sem a pretensão de esgotar completamente
Após o insucesso da PEC n. 287/16, intentada o assunto ou opinar de maneira política/ideológica
pelo então presidente Michel Temer, o atual Chefe sobre a Nova Previdência, este ebook tem o
do Executivo, Jair Bolsonaro, busca a aprovação da objetivo de abordar as principais mudanças trazidas
PEC nº 06/2019, responsável por instituir a Nova com a proposta, ressalvando-se que está limitado
Previdência. Uma das justificativas é a questão da ao que estão debatendo hoje, em texto aprovado
pirâmide etária, que está invertendo, pouco a pouco pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Com
– um alarme preocupante no regime de repartição certeza serão feitas emendas e algumas coisas
simples, posto que uma geração é dependente da poderão mudar, mas já é possível se adiantar e ficar
outra. Aponta-se que em 2019 a Previdência poderá por dentro do que pode ser alterado.
consumir três vezes mais recursos que saúde,
educação e segurança juntos. Vamos lá?

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REGIMES
PREVIDENCIÁRIOS:
REPARTIÇÃO E
Em termos mais simples, significa dizer que quem
está trabalhando sustenta quem já se aposentou.

CAPITALIZAÇÃO Além disso, esse regime possui uma ideia de


“caixa”: à medida que o dinheiro entra na Previdência,
esse orçamento é utilizado para o pagamento dos
Para compreensão desse ponto da Reforma benefícios, não havendo uma ideia de “acumulação”.
da Previdência, é preciso, antes, analisar os regimes
previdenciários. Sob o aspecto financeiro, eles podem ser de: O regime de capitalização, por sua vez, opõe-
1. repartição simples; ou se à ideia de pacto intergeracional. Assim, cada
2. capitalização. indivíduo fica responsável pelo custeio de seu
benefício. As técnicas aqui adotadas assemelham-
O primeiro é o adotado pelo Regime Geral se às de um seguro comum ou de uma poupança.
de Previdência Social (RGPS), que é gerido pelo Consequentemente, existe a ideia de acumulação.
Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), instituído
no art. 201 da Constituição Federal. O segundo, O valor do benefício, portanto, dependerá
por sua vez, é o adotado nos planos de previdência diretamente do quanto o contribuinte aportou
privada, por exemplo, oferecido por bancos. desde o início em seu fundo. A gerência desse valor
no mercado permitirá que, ao final, haja quantia
O regime de repartição simples tem por suficiente para custear sua aposentadoria.
fundamento a solidariedade entre os indivíduos e
um pacto entre as gerações (também chamado Como exemplo do sistema de repartição
de “pacto intergeracional”). Dessa forma, simples, temos o caso do Brasil e da França. Já
aqueles trabalhadores que estão na População como exemplo do sistema de capitalização, temos
Economicamente Ativa (PEA) contribuem para o o caso do Chile. Cabe ressaltar que o Chile migrou
custeio dos benefícios daqueles que já estão no para esse regime no governo de Augusto Pinochet,
grupo da População Economicamente Inativa (PEI). precisamente em 1981.
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Alguns países nórdicos, como Suécia e Noruega,
adotam um terceiro regime, chamado de “contas
virtuais”. Ele é tratado por especialistas, como um
regime “intermediário”. Em síntese, nota-se que o
assunto não é pacífico e que a escolha varia entre os
países - e isto não é de espantar, afinal cada nação
possui suas nuances em relação à qualidade de
vida, emprego e saúde. E isto reflete no sistema de
previdência.

Cada sistema possui vantagens e


desvantagens. O sistema de repartição simples tem
a vantagem de fazer um “caixa” que não se baseia
apenas na contribuição do segurado. Dessa forma,
em tese, teríamos um benefício melhor, de valor
mais alto.

No Brasil, a Constituição Federal diversifica


a base de financiamento da Previdência Social
expressamente em seu art. 195. A consequência
disso é que um segurado que tenha poucas
condições financeiras pode ter um benefício de valor
razoável. Isso porque, além de suas contribuições
diretas, existirão outras contribuições que farão o
“caixa” de custeio de sua aposentadoria.

Atualmente, o sistema de repartição simples


enfrenta três problemas. O primeiro deles
diz respeito à questão demográfica do país:
a expectativa de vida aumentou e a taxa de
natalidade vem diminuindo.
Consequentemente, a população jovem Igualmente, a má gestão das informações dos
(economicamente ativa) se torna menor, ano após ano. benefícios causa indeferimentos descabidos, o que
gera judicialização e ainda mais custos.
A consequência disso é que o custeio dos
benefícios da geração anterior fica comprometido, Enfim, o terceiro ponto é que a manutenção de
porquanto existem menos pessoas para exercer regimes de repartição simples partem da premissa
atividade remunerada. Consequentemente, será de que a população jovem estará trabalhando e
menor a contribuição para a Previdência Social. O que as empresas estarão funcionando, aptas a
gráfico abaixo, originalmente divulgado pelo IBGE, contribuir com a Previdência Social. É um cenário
simula a “pirâmide” da população brasileira: sempre otimista, mas deve-se ter em mente que
o Brasil é um país marcado pelas crises financeiras
– e nesses momentos, não há contribuição, o que
também prejudica o caixa do INSS e a manutenção
dos benefícios.

O regime de capitalização, a seu turno, tem


as vantagens de não submeter a existência e
a manutenção de seus benefícios a uma álea
futura, qual seja, a existência de população jovem
empregada e empresas lucrando e contribuindo
normalmente para o regime. As contribuições são
contabilizadas de acordo com os aportes feitos
pelo segurado. Isso, portanto, não o coloca à
mercê de terceiros para garantir seu benefício
O segundo diz respeito à gerência do sistema previdenciário.
público de repartição, que atualmente conta com
déficit de servidores e que há pouco tempo era muito Lado outro, uma desvantagem possível diz
pouco informatizado. Essas questões, aliadas a outras respeito ao valor dos benefícios, que tende a ser
vicissitudes do INSS, abrem espaço para a existência mais baixo. No caso do Chile, por exemplo, 90,9%
de fraudes, o que prejudica o “caixa” da autarquia. dos aposentados recebem 149.435 pesos.
Para se fazer uma comparação, o salário mínimo
6 chileno é de 264 mil pesos.
Há ainda mais uma dificuldade no caso
brasileiro, que pode ter impactos após a Reforma da
Previdência. O regime de capitalização necessita de
aportes, mas o brasileiro não possui uma educação
financeira razoável. Ou seja, não é acostumado
a poupar. Pesquisa feita pelo Banco Mundial em
2017 entre 144 países revela que o Brasil é o 101º
pior quando o assunto é poupar para a velhice. O
mesmo estudo apontou que apenas 6% dos jovens
entre 15 e 24 anos têm o hábito de poupar. Dentre
esses poucos, outra pesquisa revela que 25%
guarda o dinheiro em casa.

Essa falta de educação financeira deve trazer


entraves na realização de aportes. Ainda, fará com
que existam dificuldades no futuro, no momento
da aposentadoria. Consequentemente, criaria uma
geração de aposentados que dependerão de terceiros
ou de serviços básicos fornecidos pelo Estado.

Por fim, deve-se destacar que a alteração


dos regimes com a Reforma da Previdência terá
um custo. Afinal, os aposentados de hoje estão
contando com os trabalhadores de amanhã. Se hoje
já é suscitado um déficit na Previdência, deixar
de entrar dinheiro no “caixa” vai ainda piorar a
situação. E tudo será financiado pela população.
Esse valor, embora não tenha sido ainda divulgado,
com certeza corresponde a uma cifra expressiva, na
casa dos bilhões.

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O que propõe a “Nova Previdência” “a lei complementar de que trata o art. 201-A da
Constituição definirá os segurados obrigatórios do
A “Nova Previdência”, nomenclatura adotada novo regime de previdência social de que trata o
pelo Governo Federal para evitar o nome “reforma”, caput”.
estabelece que:

Lei complementar de iniciativa do Poder Dentre as diretrizes, trazidas na PEC, destaca-


Executivo federal instituirá novo regime de se a existência de:
previdência social, organizado com base em sistema
de capitalização, na modalidade de contribuição 1. Contribuição definida: sabe-se o quanto irá
definida, de caráter obrigatório para quem aderir, contribuir e o impacto disso no valor de seu
com a previsão de conta vinculada para cada eventual benefício;
trabalhador e de constituição de reserva individual 2. Garantia de piso básico: um dos pontos criticados
para o pagamento do benefício, admitida capitalização acerca do regime de capitalização é que poderia
nocional, vedada qualquer forma de uso compulsório haver benefícios abaixo do salário mínimo. Não é
dos recursos por parte de ente federativo. o que pretende o Governo, buscando para tanto a
criação de um fundo solidário;
Posteriormente, então, dispõe que “o novo 3. Gestão das reservas: será feito por entidades
regime de previdência social de que tratam o art. públicas e privadas, com regulamentação,
201-A e o § 6º do art. 40 da Constituição será assegurada “ampla transparência”.
implementado alternativamente ao Regime Geral 4. Escolha: o trabalhador poderá escolher a
de Previdência Social e aos regimes próprios de entidade e a modalidade de gestão de reservas,
previdência social e adotará, dentre outras, as sendo assegurada a portabilidade;
seguintes diretrizes”. 5. Impenhorabilidade: haverá exceção no caso de
dívida de alimentos;
Até o presente ponto, podemos observar 6. Uso compulsório das reservas pelos entes
que, a despeito do que foi alarmado por muitas federativos é vedado;
pessoas, não há pretensão de substituição por 7. Pode haver contribuições patronais, bem como
completo do regime de repartição simples, do trabalhador, entes federativos e servidores.
imediatamente. Contudo, é válido fazer a ressalva Em todo caso, não se admite a transferência de
de que o §1º do art. 115, citado acima, dispõe que recursos públicos.
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Por fim, deve-se ressaltar que esse novo
regime de capitalização pretende cobrir apenas
algumas contingências, vale dizer, é menos
abrangente do que o regime atual. Segundo o §2º
do art. 115 proposto, compreende:

1. Benefício programado de idade avançada:


aposentadoria, em outros termos;
2. Benefícios não programados:
• Maternidade;
• Incapacidade temporária ou permanente
3. Morte do segurado;
4. Risco de longevidade do segurado.

Em arremate, ressalta-se que o item 55 da


exposição de motivos deixa clara a intenção do
governo em “introduzir, em caráter obrigatório,
a capitalização tanto no RGPS quanto no RPPS”.
Assim, hoje o regime de capitalização possui um
caráter alternativo, porém para as gerações futuras,
sejam trabalhadores da iniciativa privada ou do
serviço público, pretende-se que o novo regime lhes
seja obrigatório.
COMO SERÁ
Ações integradas entre Poder Público e sociedade
farão um sistema sustentável. O art. 195 da

FINANCIADA A NOVA
Carta Magna estabelece a fonte dos recursos da
Previdência – apenas um deles é o trabalhador.

PREVIDÊNCIA? A legislação infraconstitucional estabelece outras


fontes de custeio da Previdência, não se limitando ao
que está estabelecido na Constituição, portanto. A Lei
Uma mudança significativa, mas pouco nº 8.212/91 trata especificamente sobre o custeio da
debatida, diz respeito ao valor das contribuições, Seguridade Social, em seu art. 27.
que passam a ser vertidas para o sistema de
Previdência. E isso envolve tanto o Regime Geral de Nesse universo de fontes da Seguridade Social,
Previdência Social(RGPS), ao qual se vinculam os nota-se que toda a sociedade acaba arcando com
trabalhadores da iniciativa privada e os empregados os custos do sistema de Seguridade (Previdência,
públicos, por exemplo, como também o Regime Saúde e Assistência Social). Nesse sistema,
Próprio de Previdência Social (RPPS), que reúne os dividem-se as fontes entre diretas e as indiretas.
servidores públicos, titulares de cargo efetivo. Segundo a doutrina, a primeira diz respeito
às Contribuições Sociais, enquanto a segunda
Dessa forma, torna-se relevante analisar as corresponde aos aportes realizados diante de
mudanças pretendidas no tocante às contribuições recursos orçamentários da União.
diretas feitas pelos segurados. A ideia, portanto, é
comparar como elas são feitas hoje e como serão Apesar da referida classificação, consideremos
feitas se o texto for aprovado da maneira proposta. o termo direto em sentido amplo neste artigo.
Vale dizer: quanto será descontado do trabalhador
em seu salário, mês a mês, com a aprovação das
O financiamento da Seguridade Social alterações propostas.

É comum a crença de que a Previdência seja


financiada somente pelo segurado. Trata-se, no
entanto, de grande equívoco. O art. 194 da Constituição
Federal estabelece princípios que demonstram a
10 diversidade dessa base de financiamento.
Como é hoje: RGPS E RPPS Vale ressaltar, ainda, que no RPPS os
aposentados e pensionistas continuam contribuindo,
No RGPS, ou conforme as regras atinentes ao caso o valor de seus proventos supere o teto do
INSS, a contribuição da Previdência depende do RGPS, que hoje é de R$ 5.839,45. A exceção, no
tipo de segurado vinculado ao sistema. No caso entanto, envolve o aposentado por invalidez. Neste
de contribuintes individuais e facultativos, por caso, a contribuição só incidirá se exceder o dobro
exemplo, ela é de 20% do salário de contribuição, do teto do RGPS, que corresponde a R$ 11.678,90.
em regra. A exceção, no entanto, fica por No RGPS, no entanto, essa contribuição não
conta de planos simplificados, que importam existe, em decorrência da vedação constitucional
correspondentes restrições. estampada no art. 195, II da CF.

Já para o segurado empregado, que trabalha Como ficará com a aprovação da Reforma da
com carteira assinada, as alíquotas variam de Previdência
acordo com a sua remuneração. Assim, elas podem
ser de três tipos: Como se sabe, a PEC nº 06/2019 visa alterar
o sistema de contribuição dos empregados e
Remuneração Alíquota servidores públicos para a Previdência. Embora não
Até R$ 1.751,81 8% inove, ela aprofunda a ideia de progressividade.
De R$ 1.751,82 até R$ 2.919,72 9% Assim, o valor da contribuição inicial tende a cair.
De R$ 2.919,73 a R$ 5.839,45 11% Nada obstante, o valor da contribuição daqueles
que recebem mais supera os 11% aplicados sobre a
No RPPS, o valor varia de acordo com o remuneração no RPPS.
respectivo plano. Afinal, cada ente federativo pode
estabelecer seu regime de previdência. A Secretaria
da Previdência, vinculada ao Ministério da Economia,
libera um índice de como os entes federativos
aplicam suas alíquotas. O relatório é atualizado
regularmente. Em regra, repete-se o que se aplica
aos servidores públicos da União: 11% sobre a
remuneração, que é o mínimo a ser descontado.

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No RGPS, as variações serão de 7,5% até Alguns exemplos práticos
11,68%. Variam, então, de um salário mínimo
até o teto, que hoje correspondem a R$ 998 e R$ Para se ter uma ideia da progressividade
5.839,45, respectivamente: da Nova Previdência, usemos duas situações
mencionadas pelo próprio governo.
Remuneração Alíquota
Até R$ 998 7,5% Imagine, por exemplo, um segurado do RGPS
De R$ 998 até R$ 2 mil 7,5% a 8,25% que receba R$ 1.250 de remuneração. Veja, então,
De R$ 2.0001 a R$ 3 mil 8,25% a 9,5% como se desenha a contribuição dele:
De R$ 3.000,01 a R$ 5.839,45 9,5% a 11,68%
• Conforme as regras atuais: 8%, que corresponde
Já no RPPS, as variações de contribuição para a R$ 100.
a Previdência serão de um salário mínimo até as • Conforme a Nova Previdência: 7,8%, que
remunerações que superem R$ 39 mil: corresponde a R$ 97,53.

Remuneração Alíquota Já no outro caso, o segurado do RPPS recebe, por


Até R$ 998 7,5% exemplo, R$ 30 mil como remuneração.
De R$ 998 até R$ 2 mil 7,5% a 8,25% Veja a sua situação:
De R$ 2.0001 a R$ 3 mil 8,25% a 9,5%
De R$ 3.000,01 a R$ 5.839,45 9,5% a 11,68% • Conforme as regras atuais: 11%, que
De R$ 5.839,46 a R$ 10 mil 11,68% a 12,86%
corresponde a R$ 3,3 mil.
De R$ 10.0001,01 a R$ 20 mil 12,86% a 14,68%
• Conforme a Nova Previdência: 16,11%, que
De R$ 20.000,01 a R$ 39 mil 14,68% a 16,79%
Acima de R$ 39 mil + de 16,79%
corresponde a R$ 4.835,83.

Caso queira simular quanto ficaria sua


contribuição caso a Nova Previdência seja aprovada
nos limites aqui demonstrados, o governo
disponibilizou uma Calculadora da Nova Previdência,
que pode ser acessada gratuitamente.

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Conclusão

Sob o argumento de austeridade e saúde das


contas da Seguridade Social, o governo propôs
a alteração das alíquotas, de forma a aumentar
o financiamento direto (aqui tratado em sentido
amplo) da Previdência. Vale dizer, será descontado
um valor maior da remuneração dos segurados - e
isso independe do fato dele ser ou não vinculado ao
RGPS ou ao RPPS.

A ideia de justiça está traduzida na questão da


progressividade. As pessoas que recebem menos,
por exemplo, devem contribuir com menos do que
contribuem hoje. Por outro lado, aqueles que recebem
remunerações maiores devem contribuir com mais.

Em arremate, observa-se que a progressividade


apresentada demonstra clara intenção de aproximar os
dois regimes (RGPS e RPPS). Tanto que, até certo ponto,
as alíquotas chegam a coincidir. Nada obstante, os
servidores públicos arcarão com um valor considerável
de diferença em relação ao que contribuem hoje.

Se a Reforma da Previdência demonstra justiça


por um lado, especialmente na forma de participação
do custeio do sistema, por outro torna cada vez mais
desinteressante o plano de benefícios para o servidor
público. Hoje, rememore-se, o valor do benefício está
limitado ao teto do RGPS. Se a proposta for aprovada,
no entanto, eles passarão a contribuir com mais, para
13 um regime que pagará menos.
VALOR DOS
Para se chegar ao valor da Renda Mensal Inicial
(RMI) é preciso apurar o valor do chamado salário

BENEFÍCIOS
de benefício. Esse valor consiste em uma média
aritmética que considera 80% dos maiores salários
de contribuição ao longo da vida profissional,
compreendidos dentro do Período Básico de Cálculo
Como visto, a Nova Previdência objetiva conter (PBC). Após encontrar esse valor, aplica-se a
os gastos da Previdência Social. Então, sob a pressão ele uma alíquota de 70%, e ao resultado dessa
da pirâmide etária que ameaça se inverter em breve operação soma-se 1% a cada ano de contribuição.
e tornar o Brasil um país de idosos, a ideia é buscar
o equilíbrio atuarial, mediante alterações capazes Nesse sentido, considerando o cenário atual
de diminuir os valores gastos com o pagamento de (antes da Reforma da Previdência) um trabalhador
benefícios. que se aposenta com 180 contribuições (15 anos),
por exemplo, inicia seu cálculo com os 70% e mais
Essa é uma das várias alterações que vêm os 15% referentes a cada ano contribuído. Isso
trazendo medo e insegurança aos segurados do totaliza, portanto, 85% do salário de benefício. Por
INSS. Afinal, as próprias regras atuais já são conseguinte, ele deve contribuir 30 anos para obter
confusas – inclusive para os profissionais da área. 100% do salário de benefício (70% da lei + 30%
em decorrência dos anos contribuídos).
Vejamos como ficarão os cálculos, caso ela
seja aprovada da maneira proposta Vale ressaltar que é possível que seja
aplicado no salário de benefício o chamado fator
1. Aposentadoria por idade previdenciário. Trata-se de uma fórmula que leva
A aposentadoria por idade (B41) é um benefício em consideração a idade e o tempo de contribuição
programado. É pago pela Previdência Social nos da pessoa e que pode até majorar a renda.
casos em que o segurado completa a carência de Registre-se, no entanto, que para esse benefício em
180 contribuições – conforme a tabela (art. 142 específico, o Fator Previdenciário é opcional.
da Lei 8.213/91). Além disso, outro requisito é
o segurado alcançar a idade mínima de 65 anos
(homem) ou 60 anos (mulher).

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2. Aposentadoria por tempo de contribuição
A aposentadoria por tempo de contribuição
(B42), por sua vez, difere nos requisitos em relação
à aposentadoria por idade. O segurado deve
completar 35 anos (homem) ou 30 anos (mulher)
de tempo de contribuição. Isso também conforme o
cenário atual, antes da Reforma da Previdência.

Para chegar ao valor da RMI desse benefício


também é preciso apurar o valor do salário de
benefício do segurado. Mais uma vez, ele consiste
em uma média aritmética dos 80% maiores salários
de contribuição do segurado dentro do PBC.

Nesse caso, no entanto, é obrigatório o uso do


fator previdenciário. Vale observar que está vigente
a chamada regra 85/95 progressiva, que permite
o afastamento do fator previdenciário do cálculo.
Essa regra exige, para tanto, a soma da idade e
do tempo de contribuição mínimo, que valerão
como pontos. O homem que somar 35 de tempo de
contribuição e 60 de idade, por exemplo, está apto
a afastar o fator previdenciário – o que lhe permite
aposentar cinco anos mais cedo do que se fosse
aguardar para aposentar por idade.
3. Aposentadoria por invalidez contributivo desde a competência julho de
Considerando as regras atuais, para descobrir 1994 ou desde a competência inicial de
o valor a ser recebido deve-se apurar o salário de contribuição, se posterior àquela data. O valor
benefício, da mesma maneira que nas demais. A das aposentadorias corresponderá a 60%
diferença é que o fator previdenciário não será dessa média, com acréscimo de 2% para cada
aplicado e a alíquota utilizada será de 100% sobre ano de contribuição que exceder o tempo de
o valor do salário de benefício. Mas atenção: isso 20 anos de contribuição, salvo no caso da
não quer dizer que o segurado irá receber 100% do aposentadoria do trabalhador que exercer
último salário. Ele vai receber 100% do salário de atividade exercida em condições especiais
benefício que, como vimos, é uma média. prejudiciais à saúde por 15 anos, hipótese em
que o acréscimo será aplicado ao tempo que
Como devem ficar os cálculos com a Reforma exceder a 15 anos.
da Previdência

O item 68 da exposição de motivos da Reforma Em relação ao PBC, como se pode perceber, a


da Previdência (PEC 06/2019) explica como será Reforma da Previdência não prevê grandes alterações
feito o cálculo dos benefícios. Assim, já é possível práticas. Isso porque o texto se assemelha ao que
observar algumas diferenças: está disposto no art. 29 da Lei 8.213 e também ao
texto do art. 3º da Lei 9.876/99.

O cálculo das aposentadorias terá como Já quanto à apuração da média nota-se


base a média aritmética simples de todos os significativa diferença. A proposta prevê aplicar
salários de contribuição e das remunerações, ao salário de benefício uma alíquota de 60% com
utilizadas como base paras as contribuições acréscimo de 2% a cada ano de contribuição que
ao RGPS e aos regimes próprios de exceder 20 anos. A ressalva é o caso dos segurados
previdência social de que trata o art. 40 da que trabalham em condições especiais.
Constituição, atualizados monetariamente,
correspondentes a 100% de todo o período

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Vejamos, então, como fica em relação a cada Imagine, por exemplo, um trabalhador
tipo de aposentadoria. (homem) com 66 anos de idade. Cumprido o
requisito etário, ele deverá contribuir por 40
1. Aposentadoria por idade e aposentadoria anos para ter direito a 100% do salário de
por tempo de contribuição benefício. Nesse caso, temos 20 anos excedentes.
Como dito em momentos anteriores, a Multiplicados por 2%, chega-se aos 40% que,
Reforma da Previdência pretende acabar com somados aos 60%, alcançam os 100% da média.
a aposentadoria por tempo de contribuição -
e as razões são simples. Primeiro porque não Nessa situação em específico, o homem deveria
existe idade mínima. Segundo porque esse tipo ter iniciado sua vida laboral formal com 26 anos de
de aposentadoria corriqueiramente é concedida idade e não ter parado de contribuir. Além disso,
a trabalhadores que possuem alto tempo de para conseguir o reconhecimento desse período,
contribuição. Ou seja: eles aposentam mais cedo e ele também não pode acumular qualquer pendência
recebem por mais tempo, o que causa um dispêndio com o INSS.
financeiro elevado.
2. Aposentadoria por invalidez
Assim, com as regras atuais, é possível, por A Reforma da Previdência prevê um novo nome
exemplo, que uma mulher se aposente com 46 para a aposentadoria por invalidez. Ela passará
anos de idade por tempo de contribuição, uma vez a se chamar aposentadoria por incapacidade
que não há exigência de idade mínima. Por sua permanente.
vez, os novos requisitos previstos pela Reforma
da Previdência à aposentadoria por idade exigem O raciocínio de cálculo do benefício é o mesmo
65 anos de idade (para o homem) e 62 anos de da aposentadoria anterior: 60% da média mais
idade (para a mulher) mais 20 anos de tempo de 2% a cada ano que exceder 20 anos de tempo de
contribuição. contribuição. Alguns casos, todavia, autorizam a
aplicação de 100% da média, da maneira como
A mudança na lei, após a Reforma da já ocorre hoje: quando a incapacidade decorrer
Previdência, terá um regime de transição, cujo de acidente de trabalho, doenças profissionais ou
início está previsto para 2020. O cálculo será doenças do trabalho.
feito conforme já mencionado: 60% do salário de
benefício mais 2% a cada ano que exceder 20 anos
17 de tempo de contribuição.
Tabela comparativa: o antes e o depois da Como visto, para chegar a 100% da média,
Reforma da Previdência será necessário um tempo de contribuição
consideravelmente maior. Além disso, o requisito da
Benefício Regra atual Reforma da Previdência
idade mínima terá acréscimo no caso das mulheres.
Os homens, por sua vez, deverão contribuir um ano a
70% do salário de
60% do salário de benefício mais (no mínimo) para alcançar a média ideal.
benefício
+
Por idade +
2% a cada ano que exceder 20 anos
1% a cada grupo
de 12 contribuições
de tempo de contribuição Portanto, considerando o descompasso
de informações e a informalidade do trabalho
Salário de benefício brasileiro, que ainda é considerável, esse
*
Fator previdenciário reconhecimento deve ser visto como um desafio a
Por tempo de Deixa de existir, pois será
contribuição
Exceção: salvo
necessária idade mínima. ser encarado. Afinal, cada contribuição terá uma
enquadramento diferença valiosa para os segurados.
na regra 85/95
60% do salário de benefício
+
2% a cada ano que exceder 20 anos
de tempo de contribuição
100% do salário de
Por invalidez
benefício
Exceção: casos de acidente de
trabalho, doenças profissionais e
doenças do trabalho, que será
100% da média

No que tange às mudanças no cálculo do valor


do benefício, podemos destacar alguns pontos.
Em primeiro lugar, não serão mais descartados os
20%, como ocorre na regra atual. Por conta disso,
menores salários de contribuição serão incluídos e o
valor do benefício a ser pago tende a ser menor.

18
BENEFÍCIOS NA
Haverá regra de transição, que consiste
no aumento progressivo dos requisitos da

NOVA PREVIDÊNCIA
aposentadoria. A partir de 01/01/2020 o requisito
etário aumentará para a mulher 6 meses a cada
ano. O requisito de tempo de contribuição, por sua
O Governo propões alterações em todos os vez, também aumentará na mesma proporção, até
benefícios, sem exceção. Alguns mais, outros menos, que atinja a regra geral proposta, que exige vinte
mas é certo que não ficarão da maneira que estão anos de tempo de contribuição.
hoje. Vejamos o que muda nos principais benefícios.
A título de exemplo, se um segurado, homem,
quiser se aposentar em 2022, deverá ter 65 anos
Aposentadoria por idade de idade e 16 anos de tempo de contribuição. Se
mulher, deverá ter 61 anos e 16 anos de tempo
A Lei nº 8.231/91 institui em seu art. 48 o de contribuição. Assim será aumentado até que se
benefício programado de aposentadoria por idade. chegue à regra permanente proposta: 65 (homem)
Para que o segurado tenha acesso, o INSS exige 65 e 62 (mulher), ambos com exigência de 20 anos de
(homem) ou 60 anos (mulher), além do cumprimento tempo de contribuição.
da carência de 180 contribuições. Adverte-se
que carência é contribuição mensal paga em dia,
contada em meses e não se confunde com tempo de Aposentadoria por tempo de contribuição
contribuição, que é contado em dias.
Atualmente existe o benefício de aposentadoria
Caso seja instituída a Nova Previdência, o por tempo de contribuição para os segurados que
benefício está mantido, embora o texto da PEC se completarem 35 anos ou 30 anos de tempo de
refira agora a vinte anos de tempo de contribuição contribuição, exigidos, respectivamente, de homens
e não mais em meses de carência. e de mulheres. Na regra de cálculo, aplica-se o
fator previdenciário, que pode ser afastado pelo
preenchimento dos requisitos pela regra “85/95
progressiva”.

19
Segundo essa regra, as pessoas que somarem elevadas durações médias de aposentadorias. No
os pontos necessários farão jus ao benefício. Eles caso das mulheres, a duração esperada é maior
correspondem ao mínimo do tempo de contribuição que o tempo de contribuição exigido (30 anos).
+ idade. Por exemplo, uma mulher que tenha É importante destacar que os trabalhadores
30 anos contribuídos e 55 de idade poderá se urbanos mais pobres não conseguem contribuir
aposentar por essa regra, 5 anos antes de se tempo suficiente para se aposentar nessa
aposentar por idade, já adiantando a vantagem que modalidade, se aposentando por idade, em
teria, qual seja, afastamento do Fator Previdenciário média: homens aos 65,5 (mínimo de 65 anos)
na regra de cálculo. e mulheres aos 61,5 anos (mínimo de 60 anos).
Enquanto na aposentadoria por tempo de
Como visto, não há idade mínima, de forma contribuição o valor médio do benefício está R$
que o único requisito é o preenchimento do referido 2.231, na aposentadoria por idade urbana está
tempo contributivo. Com a Nova Previdência esse em R$ 1.2521.
benefício deixará de existir, porquanto a PEC nº
06/2019 traz a exigência de idade mínima. O
Governo justifica, em sua exposição de motivos, Nesse ponto, o Brasil não destoa de outros
que essa regra causa um dispêndio financeiro países da América Latina, posto que somente
maior, posto que as pessoas se aposentam mais equador não exige idade mínima. Na Europa,
cedo recebem por maior tempo, normalmente com somente a Hungria não exige. Em outras
uma renda superior à da aposentadoria por idade: palavras, nosso país se alinha a vários modelos
de Previdência espalhados pelo mundo, que
só permitem acesso à aposentadoria após o
No âmbito do RGPS, existe a cumprimento de certa idade.
possibilidade de a pessoa se aposentar por
tempo de contribuição, sem a exigência de Apesar da mudança, duas regras de transição estão
uma idade mínima, o que acarreta a concessão previstas.
de aposentadorias com idades médias de
55,6 anos e 52,8 para o homens e mulheres,
respectivamente. Nessas faixas etárias, a
expectativa de sobrevida é de 24,2 anos e 30,9
anos para homens e mulheres, o que implica 1 Item 34 da exposição de motivos. Disponível em: <https://www.camara.leg.br/proposicoe-
sWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1712459&filename=PEC+6/2019>.
20
A primeira, para quem completar 30 anos
de contribuição + 56 anos de idade (mulher) ou
35 anos de contribuição + 61 anos de idade, se
homem. A partir de 1º de janeiro de 2020 serão
acrescidos 6 meses a cada ano, até que se atinja
a idade mínima da aposentadoria por idade e o
benefício deixe de existir.

A segunda, para quem, na data da publicação


contar com no mínimo 28 anos (mulher) ou 33
anos (homem), que poderá pagar pedágio de
50% do tempo faltante para os 30 ou 35 anos,
respectivamente. Por exemplo, uma mulher que já
tenha 28 anos contribuídos deverá recolher mais 3,
pois faltam 2 para atingir os 30 e, portanto, deverá
mais 1 (50% dos 2) a título de pedágio. É válido
ressaltar que nesse caso terá a aplicação do Fator
Previdenciário.

Por fim, o Governo manterá a regra “85/95


progressiva”, explicada em linhas anteriores.
Rememore-se, apenas, que periodicamente ela já
sofre um reajuste: a cada ano aumenta um ponto.
Esse acréscimo continuará a partir de 01/01/2020,
até que se alcance o limite de 100 pontos para as
mulheres e 105 pontos para os homens.
Aposentadoria especial valor que o segurado estava contribuindo antes
de se aposentar. No momento do cálculo, não há
A aposentadoria especial é um benefício previsto incidência do fator previdenciário e não é necessário
no art. 57 da Lei nº 8.231/91 que se destina aos ter uma idade mínima.
trabalhadores que exercem atividades que os expõem
a agentes nocivos de natureza química, física ou Caso a Nova Previdência seja aprovada,
biológica. A exposição também pode ocorrer por relevantes mudanças acontecerão. A principal
associação entre esses agentes. A depender da é a vedação da conversão de tempo especial
agressividade e do prejuízo à saúde, o tempo de em comum. O período que foi cumprido até
contribuição necessário para se aposentar diminui. a promulgação da PEC nº 06/2019 poderá
ser convertido – após, não haverá mais essa
As condições especiais de trabalho devem se possibilidade. Isso implica dizer que haverá
dar de maneira “permanente, não ocasional nem significativa perda, uma vez que a conversão
intermitente” (art. 57, §3º da Lei nº 8.213/91). permite hoje um aumento de no mínimo 40% do
Além disso, caso um segurado tenha trabalhado em tempo laborado.
mais de uma empresa, mas não tenha preenchido
completamente os requisitos para a aposentadoria Também será instituída a idade mínima. Para se
especial, poderá se aposentar de maneira comum, aposentar, agora o segurado que exerce atividade
mediante a conversão do período que laborou em especial entrará em um sistema de pontos,
condições especiais. semelhante ao que acontece com a regra “85/95
progressiva”, vigente hoje para a aposentadoria por
Atualmente, a aposentadoria especial possui tempo de contribuição:
dois requisitos: 180 meses de carência e 15, 20
ou 25 anos de atividade especial, com exposição EXPOSIÇÃO TEMPO + IDADE
a agentes químicos físicos ou biológicos. O valor 15 anos 66 pontos
do benefício será de 100% do salário-de-benefício, 20 anos 76 pontos
o que não implica em dizer que será 100% do 25 anos 86 pontos

22
A partir de janeiro de 2020, essas pontuações
aumentarão a cada ano, até que seja atingido o
número de 89, 83 e 99 pontos, respectivamente.

Como se pode ver, ficará muito mais difícil


ter acesso ao benefício de aposentadoria especial.
Deve-se ressaltar que existe regra de transição: 15
anos de tempo de contribuição+ 55 anos de idade;
20 anos de tempo de contribuição + 58 anos de
idade; e, por fim, 25 anos de tempo de contribuição
+ 60 anos de idade. A variação depende do grau de
exposição aos agentes nocivos.

O valor do benefício também sofrerá


mudanças. Observará, até um certo ponto, a regra
geral de cálculo dos benefícios. A única diferença é
que será acrescido 2% a cada ano que exceder 20
anos do tempo de contribuição nas atividades em
que a exposição requeira 25 e 20 anos e a mesma
alíquota para as atividades de maior exposição,
porém com a contagem iniciada após 15 anos de
tempos de contribuição.

Alerta-se, mais uma vez, que com a aprovação


da proposta fica vedada a conversão de tempo
especial em comum. Ao se aposentar pelas
regras da especial, o trabalhador deve se afastar
do ambiente laboral que lhe prejudica a saúde.
A conversão era uma estratégia para aqueles
que pretendiam continuar no trabalho mesmo

23
aposentados. carência de 180 contribuições mensais.
Aposentadoria por invalidez No caso da aposentadoria por idade, existe a
redução de 5 anos, independentemente do grau de
A aposentadoria por invalidez (B32) é um deficiência, desde que o cumprimento da carência
benefício previdenciário devido àquele segurado tenha se dado no exercício de atividade em que ele
que “estando ou não em gozo de auxílio doença, for era portador de deficiência. Sendo assim, podem se
considerado incapaz e insusceptível de reabilitação aposentar aos 60 anos (homem) ou 55 anos (mulher).
para o exercício de atividade que lhe garanta
subsistência” (art. 41 da Lei nº 8.213/91). Essa Já na aposentadoria por tempo de contribuição,
incapacidade, segundo a lei (art. 43, §1º da Lei a redução varia de acordo com o grau de
8.213), deve ser total e definitiva. incapacidade, que é classificada em leve, moderada
e grave. Com base nessas informações, podemos
O benefício passará a ser chamado de elaborar a seguinte tabela:
“aposentadoria por incapacidade permanente” e
sua grande mudança diz respeito à alteração nas GRAU DE
HOMEM MULHER
regras de cálculo, já debatidas em linhas anteriores: DEFICIÊNCIA
utilizará regra semelhante à aposentadoria por idade, LEVE 33 ANOS 28 ANOS
salvo nos casos em que a incapacidade decorrer de MODERADA 29 ANOS 24 ANOS
GRAVE 25 ANOS 20 ANOS
acidente de trabalho, em que será aplicada a alíquota
de 100% sobre o salário de benefício.
A Nova Previdência propõe um aumento desse
Aposentadoria dos portadores de deficiência tempo de contribuição, ao mesmo tempo que iguala o
requisito para homens e mulheres. No entanto, prevê
A Lei Complementar nº 142/2013, responsável o pagamento de 100% do salário de benefício para
por regulamentar o art. 201, §1º da Constituição esse tipo de aposentadoria. Caso seja aprovada sem
Federal, trata sobre a aposentadoria dos segurados retoques, teremos o seguinte cenário:
portadores de deficiência. Para eles, há uma
diminuição dos requisitos necessários para ter acesso
GRAU DE DEFICIÊNCIA HOMENS E MULHERES
ao benefício programado. Em todo caso, salienta-se,
LEVE 35 ANOS
é necessário o preenchimento do cumprimento da
MODERADA 25 ANOS
GRAVE 20 ANOS
24
É bom ressaltar que o texto da proposta submete Esse é, sem dúvida, um dos pontos mais
os segurados a uma avaliação “biopsicossocial criticados da reforma, porquanto a expectativa
realizada por equipe multiprofissional e de vida de pessoas que vivem em condições de
interdisciplinar”, o que deve ser considerado positivo. miserabilidade é baixíssima. Muito sequer chegam
A deficiência, para além da questão clínica, deve ser aos 70 anos. Embora esteja previsto, com certeza
conjugada com o impedimento social. Além disso, terá alterações quando da votação, caso seja
será levado em consideração o fato de o grau de aprovada a PEC nº 06/2019.
deficiência ser alterado (por exemplo, acontecer um
agravamento com o passar do tempo), hipótese em
que haverá um ajuste proporcional.

Benefício de Prestação Continuada (BPC)

Esse benefício, popularmente conhecido como


LOAS, faz parte da Assistência Social, embora seja
gerido pelo INSS. É devido a idoso (65 anos) ou
pessoas com deficiência de qualquer idade, cuja
renda mensal não supere ¼ do salário mínimo
vigente. É de bom alvitre ressaltar que esse limite
financeiro pode ser contestado na via judicial. Hoje,
corresponde ao valor de um salário mínimo.

Caso seja aprovada a Nova Previdência, o


Governo propõe adiantar esse pagamento: será
pago R$ 400,00 a partir dos 60 anos, de forma que
o salário mínimo só voltaria a ser pago quando for
atingido 70 anos. Antecipa-se um valor menor do
que a metade para, dez anos depois, pagar o valor
que hoje já é deferido pelas regras vigentes.

25
CONSIDERAÇÕES SOBRE O AUTOR
FINAIS
Como foi possível observar, o Governo pretende
alterar de maneira significativa as regras vigentes.
Se a intenção é de economizar (e as declarações
falam em 1 trilhão em dez anos), por decorrência
lógica ficará mais difícil ter acesso aos benefícios.
Em termos mais simples, ficará mais difícil
aposentar e o valor tende a diminuir.

É bom ressaltar que a nossa Constituição Sandro Lucena Rosa é advogado, especialista
Federal assegura o direito adquirido, ou seja, em Direito Previdenciário, professor universitário,
aqueles que preencherem os requisitos antes da vice-presidente do Instituto de Estudos Avançados
Reforma têm direito à regra de cálculo vigente em Direito (IEAD), associado ao Instituto Brasileiro
nessa época. Isso não pode implicar em uma de Direito Previdenciário (IBDP), membro da
corrida desenfreada ao INSS, que inclusive passa comissão de Direito Previdenciário da OAB/GO.
por problemas críticos de gestão e atendimento;
porém, deve-se alertar os segurados para que
reúnam documentações capazes de comprovar
o máximo de tempo de contribuição, seja para
fugir das regras ou para diminuir os efeitos das
mudanças.

Por fim, não é demasiado ressaltar que este


material se baseia no texto original, aprovado pela
Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Existem
muitos outros pontos em debate e com certeza
sofrerão alterações no decorrer da votação.
26
SOFTWARE JURÍDICO

Da petição inicial
à sentença:
cada etapa do
processo na sua mão,
em qualquer lugar

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