Você está na página 1de 49

UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

Denise Fornea

A PRISÃO CIVIL DO DEVEDOR DE ALIMENTOS

CURITIBA
2011

1
A PRISÃO CIVIL DO DEVEDOR DE ALIMENTOS

CURITIBA
2011

2
Denise Fornea

A PRISÃO CIVIL DO DEVEDOR DE ALIMENTOS

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentada ao Curso de Direito da
Faculdade de Ciências Jurídicas da
Universidade Tuiuti do Paraná, como
requisito parcial para obtenção do grau de
Bacharel.
Orientadora: Profª. Georgia Sabbag
Malucelli

CURITIBA
2011
3
TERMO DE APROVAÇÃO
Denise Fornea

A PRISÃO CIVIL DO DEVEDOR DE ALIMENTOS

Esta monografia foi julgada e aprovada para a obtenção do grau de Bacharel no Curso de
Direito da Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba, 07 de Junho de 2011.

__________________________________________
Eduardo de Oliveira Leite
Coordenador
Universidade Tuiuti do Paraná

Orientadora: Profª. Georgia Sabbag Malucelli


Universidade Tuiuti do Paraná

Prof°(a) Dr(a). __________________________


Universidade Tuiuti do Paraná

Prof°(a) Dr(a). __________________________


Universidade Tuiuti do Paraná
4
Agradeço com muita alegria e prazer a minha amiga,
sócia e mais que uma irmã - Maria Regina Gaspar - cuja
pessoa gentil impregnou cada página desta Monografia ...
e ao meu filho Leonardo Fornea Binotto - o amor da
minha vida - que me trouxe este pensamento ... e sei que
depois deste feito virá o Sucesso!
“O segredo do sucesso não é tentar evitar os problemas
nem se esquivar ou se livrar deles, mas crescer
pessoalmente para se tornar maior do que qualquer
adversidade”. (T. Harv Eker)

5
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO..........................................................................................07
2. EVOLUÇÃO DO ENTENDIMENTO DO TEMA........................................11

3. NORMAS INTERNACIONAIS – PACTO DE SÃO JOSÉ DA COSTA

RICA...............................................................................................................18

4. FORMAS DISTINTAS DE EXECUÇÃO DE ALIMENTOS.......................22

4.1- PRISÃO CIVIL DO DEVEDOR DE ALIMENTOS...................................23

4.2- CONTROVÉRSIAS ACERCA DOS PRAZOS PRISIONAIS..................31

4.3- DESCARACTERIZAÇÃO DA URGÊNCIA DA COBRANÇA................37

4.4- FUNDAMENTO CONSTITUCIONAL.....................................................43

5. CONCLUSÃO...........................................................................................47

6. BIBLIOGRAFIA........................................................................................49

6
1. INTRODUÇÃO.

Em relação à prisão no sistema jurídico brasileiro, há

que se fazer a distinção entre a prisão penal da prisão civil.

A prisão penal tem como objetivo principal a punição,

retirando o indivíduo do convívio em sociedade em

determinados casos. Já a prisão civil não tem natureza

punitiva e sim coercitiva, visa tão somente ao cumprimento

de uma obrigação, isto é, refere-se a ilícito civil, enquanto

que a prisão penal refere-se a ilícito penal. Estabelecida

esta diferença, será analisada no presente trabalho a

prisão civil.

A Constituição Federal de 1988 autoriza a prisão civil apenas em duas

hipóteses: no caso do depositário infiel1, ou ainda no caso do responsável pelo

inadimplemento de obrigação alimentar – conforme determina o artigo 5º, LXVII2.

1
A prisão prevista constitucionalmente para o depositário infiel poderá ser extinta. Proposta de Emenda à
Constituição – PEC – nesse sentido, cujo 1º signatário é o senador Augusto Botelho (PT-RR), está na pauta da
comissão de constituição, Justiça e Cidadania – CCJ, desde 25/03/2009, com parecer favorável do senador
Demóstenes Torres (DEM-GO). Acessado em 16/04/2009 – http://blog.redel.com.br/leisetribunais/2009.
2
“Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes”:
“LXVII - não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável
de obrigação alimentícia e a do depositário infiel”;
7
Mas, no entanto, a Convenção Interamericana de Direitos Humanos (Pacto

de São José da Costa Rica), foi incorporada no direito positivo brasileiro pelo

Decreto nº. 678/1992, e somente admite a prisão civil em caso de débito alimentar.

As Leis Ordinárias também cuidam da prisão civil por alimentos e outras

formas de execução de prestação alimentícia, tal como a Lei de Alimentos - nº.

5.478/1968, nos artigos 16 a 193, e o Código de Processo Civil através dos artigos

732 a 7354.

A prisão civil do devedor de alimentos é o meio coercitivo legal pelo qual o

Estado obriga o cumprimento do dever alimentar, que decorre de sentença

transitada em julgado. Todavia, conforme determina o enunciado da Súmula 309 do

STJ, é autorizada a decretação de prisão do devedor alimentício inadimplente com

relação às 03 (três) prestações alimentares devidas e anteriores ao ajuizamento da

ação de execução e ainda as parcelas que subsequentemente vencerem durante o

deslinde do processo.

3
“Art 16. Na execução da sentença ou do acordo nas ações de alimento será observado o disposto no artigo 919
e seu parágrafo único do Código de Processo Civil”.
“Art 17. Quando não for possível a efetivação executiva da sentença ou do acordo mediante desconto em folha,
poderão ser as prestações cobradas de alugueres de prédios ou de quaisquer outros rendimentos do devedor,
que serão recebidos diretamente pelo alimentando ou por depositário nomeado pelo Juiz”.
“Art 18. Se, mesmo assim, não for possível a satisfação do débito alimentício, o Juiz aplicará o disposto no artigo
920 do Código de Processo Civil”.
“Art 19. O Juiz, para instrução da causa, ou na execução da sentença ou do acordo, poderá tomar todas as
providências necessárias para seu esclarecimento ou para o cumprimento do julgado ou do acordo, inclusive a
decretação de prisão do devedor até sessenta dias”.
4
“Art. 732. A execução de sentença, que condena ao pagamento de prestação alimentícia, far-se-á conforme o
disposto no Capítulo IV deste Título”.
“Parágrafo único. Recaindo a penhora em dinheiro, o oferecimento de embargos não obsta a que o exeqüente
levante mensalmente a importância da prestação”.
“Art. 733. Na execução de sentença ou de decisão, que fixa os alimentos provisionais, o juiz mandará citar o
devedor para, em três dias, efetuar o pagamento, provar que o fez ou justificar a impossibilidade de efetuá-lo”.
o
“§ 1 Se o devedor não pagar, nem se escusar, o juiz decretar-lhe-á a prisão pelo prazo de um a três meses”.
o
“§ 2 O cumprimento da pena não exime o devedor do pagamento das prestações vencidas e vincendas”.
o
“§ 3 Paga a prestação alimentícia, o juiz suspenderá o cumprimento da ordem de prisão”.
“Art. 734. Quando o devedor for funcionário público, militar, diretor ou gerente de empresa, bem como
empregado sujeito à legislação do trabalho, o juiz mandará descontar em folha de pagamento a importância da
prestação alimentícia”.
“Parágrafo único. A comunicação será feita à autoridade, à empresa ou ao empregador por ofício, de que
constarão os nomes do credor, do devedor, a importância da prestação e o tempo de sua duração”.
“Art. 735. Se o devedor não pagar os alimentos provisionais a que foi condenado, pode o credor promover a
execução da sentença, observando-se o procedimento estabelecido no Capítulo IV deste Título”.

8
Da análise em conjunto dos dispositivos legais supracitados, verifica-se que,

dada à importância de que se reveste a obrigação alimentar, o legislador pôs à

disposição do credor alimentício formas distintas de execução, com vistas a obter o

crédito dela decorrente.

O credor, desde logo, pode optar pela prisão civil do devedor de alimentos,

ou deve primeiro exaurir as outras medidas executórias disponíveis?

O questionamento apresentado é objeto de controvérsias no meio jurídico,

causando dúvidas aos operadores do direito, ou seja, a questão é bastante

polêmica, sendo alvo de discussões entre juristas e doutrinadores.

A indagação é complexa e muito abrangente, pois envolve de um lado a

sobrevivência do credor de alimentos (alimentando), e de outro, o direito de ir e vir

do devedor de alimentos (alimentante).

A regra consolidada pela jurisprudência e pela Súmula 309 do STJ5 é no

sentido de que a medida só poderá ser ordenada em face das 03 (três) últimas

parcelas em atraso, devendo ser levadas em conta as parcelas anteriores ao

ajuizamento da ação de execução e as que vencerem no curso do processo6.

Afinal, por que apenas para as 03 (três) últimas parcelas?

Onde estaria o fundamento constitucional ou legal desta diretriz?

Poderia ser ordenada a medida para obrigar o devedor a adimplir as 04

(quatro) ou 05 (cinco) últimas ou ainda mais parcelas em atraso, sem que houvesse

5
STJ Súmula nº 309 - 27/04/2005 - DJ 04.05.2005 - Alterada - 22/03/2006 - DJ 19.04.2006
Débito Alimentar - Prisão Civil - Prestações Anteriores ao Ajuizamento da Execução e no Curso do Processo O
débito alimentar que autoriza a prisão civil do alimentante é o que compreende as três prestações anteriores ao
ajuizamento da execução e as que se vencerem no curso do processo.
6
A prisão civil do devedor de alimentos - Pablo Stolze Gagliano - Juiz de Direito (BA) - Professor de Direito Civil
da UFBA, do JusPodivm (BA) e do Instituto Luiz Flavio Gomes – SP
http://www.juspodivm.com.br/i/a/%7BF443AAFD-11DB-47D1-8EBF-0F73AD69EEA2%7D_026.pdf

9
afronta a Constituição Federal, já que a referida legislação não limitou a ordem de

prisão às 03 (três) últimas parcelas?

Não obstante estes questionamentos, a lei não estabelece nenhuma

hierarquia das vias de execução do débito alimentar, de modo que, em regra, o

credor tem o direito de requerer, de pronto, a prisão do alimentante

inadimplente.

O foco central da monografia é avaliar se a prisão civil é o meio adequado

para que se cumpra a obrigação alimentar, assegurando o direito do credor,

entretanto, deve ser feito uma análise mais aprofundada sobre as vantagens e

desvantagens de tal medida.

A referida matéria é vasta e oferece conotações diversas, motivo pelo qual

comporta o referido estudo.

10
2. EVOLUÇÃO DO ENTENDIMENTO DO TEMA.

Há um contexto histórico e jurídico definido no qual se formou a idéia da

prisão civil como resposta ao inadimplemento do débito alimentar, contudo, é

necessário inicialmente conceituar alimentos.

Juridicamente, a expressão alimentos significa a importância em dinheiro ou

in natura, que uma pessoa se obriga, por força de lei, a prestar a outra. A sua

abrangência é muito maior e inclui tudo que se entende por necessário para a

manutenção de um indivíduo como, comida, vestuário, saúde, habitação, educação,

lazer etc.

No entendimento de Carlos Roberto Gonçalves7, “Alimentos, segundo a

precisa definição de Orlando Gomes, são prestações para satisfação das

necessidades vitais de quem não pode provê-las por si”.

O fundamento desta obrigação, segundo Maria Helena Diniz8, “É o princípio

da preservação da dignidade da pessoa humana (art. 1º, III da CF)9 e o da

7
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro. 3 ed. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 440.
8
DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. 19 ed. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 496.
9
“Art. 1º - A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do
Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos”:
11
solidariedade familiar, pois vem a ser um dever personalíssimo, devido pelo

alimentante, em razão de parentesco que o liga ao alimentando”.

Analisando historicamente a legislação sobre o tema abordado, verificou-se

que no período de vigência do Código Civil de 1916 o dever alimentar possuía várias

origens, sendo regrado em distintos diplomas legais e de modo diferenciado.

A lei civil disciplinava os alimentos que decorriam do vínculo de

consangüinidade e da solidariedade familiar.

A Lei do Divórcio e a legislação de união estável regulavam os alimentos

derivados do dever de mútua assistência.

Entretanto, o Código Civil anterior (1916) vedava a renúncia aos alimentos,

havendo tão somente a possibilidade de não serem cobrados (art. 404)10, e esta

obrigação alimentar era intransmissível (art. 402)11.

Já o Código Civil atual (arts. 1.694 a 1.710)12, como diz Francisco José

Cahali, trata promiscuamente dos alimentos, não se sabe se por falha,

“III - a dignidade da pessoa humana”;

10
“Art. 404. Pode-se deixar de exercer, mas não se pode renunciar o direito a alimentos”.
11
“Art. 402. A obrigação de prestar alimentos não se transmite aos herdeiros do devedor”.
12
“Art. 1.694. Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os alimentos de que
necessitem para viver de modo compatível com a sua condição social, inclusive para atender às necessidades
de sua educação”.
o
“§ 1 Os alimentos devem ser fixados na proporção das necessidades do reclamante e dos recursos da pessoa
obrigada”.
o
“§ 2 Os alimentos serão apenas os indispensáveis à subsistência, quando a situação de necessidade resultar de
culpa de quem os pleiteia”.
“Art. 1.695. São devidos os alimentos quando quem os pretende não tem bens suficientes, nem pode prover,
pelo seu trabalho, à própria mantença, e aquele, de quem se reclamam, pode fornecê-los, sem desfalque do
necessário ao seu sustento”.
“Art. 1.696. O direito à prestação de alimentos é recíproco entre pais e filhos, e extensivo a todos os
ascendentes, recaindo a obrigação nos mais próximos em grau, uns em falta de outros”.
“Art. 1.697. Na falta dos ascendentes cabe a obrigação aos descendentes, guardada a ordem de sucessão e,
faltando estes, aos irmãos, assim germanos como unilaterais”.
“Art. 1.698. Se o parente, que deve alimentos em 1º lugar, não estiver em condições de suportar totalmente o
encargo, serão chamados a concorrer os de grau imediato; sendo várias as pessoas obrigadas a prestar
alimentos, todas devem concorrer na proporção dos respectivos recursos, e, intentada ação contra uma delas,
poderão as demais ser chamadas a integrar a lide”.
“Art. 1.699. Se, fixados os alimentos, sobrevier mudança na situação financeira de quem os supre, ou na de
quem os recebe, poderá o interessado reclamar ao juiz, conforme as circunstâncias, exoneração, redução ou
majoração do encargo”.
“Art. 1.700. A obrigação de prestar alimentos transmite-se aos herdeiros do devedor, na forma do art. 1.694”.
“Art. 1.701. A pessoa obrigada a suprir alimentos poderá pensionar o alimentando, ou dar-lhe hospedagem e
sustento, sem prejuízo do dever de prestar o necessário à sua educação, quando menor”.
12
desconhecimento ou real intenção, ou seja, não distingue a origem da obrigação, se

decorrente do poder familiar, do parentesco ou do rompimento do casamento ou da

união estável.13

Para garantir tal obrigação, o alimentando dispõe dos seguintes meios: a

ação de alimentos regida pela Lei nº. 5.478/1968; a execução por quantia certa, do

art. 732 do Código de Processo Civil; a penhora em vencimento de magistrados,

professores e funcionários públicos; os soldos de militares e salários em geral e

inclusive subsídios de parlamentares (art. 649, IV do CPC)14; o desconto em folha de

pagamento da pessoa obrigada (art. 734 do CPC); a reserva de alugueres de

prédios do alimentante (art. 17 da Lei nº. 5.478/1968)15; a constituição de garantia

real ou fidejussória e de usufruto (art. 21 da Lei nº. 6.515/1977)16 e, por fim, a prisão

“Parágrafo único. Compete ao juiz, se as circunstâncias o exigirem, fixar a forma do cumprimento da prestação”.
“Art. 1.702. Na separação judicial litigiosa, sendo um dos cônjuges inocente e desprovido de recursos, prestar-
lhe-á o outro a pensão alimentícia que o juiz fixar, obedecidos os critérios estabelecidos no art. 1.694”.
“Art. 1.703. Para a manutenção dos filhos, os cônjuges separados judicialmente contribuirão na proporção de
seus recursos”.
“Art. 1.704. Se um dos cônjuges separados judicialmente vier a necessitar de alimentos, será o outro obrigado a
prestá-los mediante pensão a ser fixada pelo juiz, caso não tenha sido declarado culpado na ação de separação
judicial”.
“Parágrafo único. Se o cônjuge declarado culpado vier a necessitar de alimentos, e não tiver parentes em
condições de prestá-los, nem aptidão para o trabalho, o outro cônjuge será obrigado a assegurá-los, fixando o
juiz o valor indispensável à sobrevivência”.
“Art. 1.705. Para obter alimentos, o filho havido fora do casamento pode acionar o genitor, sendo facultado ao
juiz determinar, a pedido de qualquer das partes, que a ação se processe em segredo de justiça”.
“Art. 1.706. Os alimentos provisionais serão fixados pelo juiz, nos termos da lei processual”.
“Art. 1.707. Pode o credor não exercer, porém lhe é vedado renunciar o direito a alimentos, sendo o respectivo
crédito insuscetível de cessão, compensação ou penhora”.
“Art. 1.708. Com o casamento, a união estável ou o concubinato do credor, cessa o dever de prestar alimentos”.
“Parágrafo único. Com relação ao credor cessa, também, o direito a alimentos, se tiver procedimento indigno em
relação ao devedor”.
“Art. 1.709. O novo casamento do cônjuge devedor não extingue a obrigação constante da sentença de divórcio”.
“Art. 1.710. As prestações alimentícias, de qualquer natureza, serão atualizadas segundo índice oficial
regularmente estabelecido”.
13
DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 5. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2009. p.
457.
14
“Art. 649. São absolutamente impenhoráveis”:
“IV - os vencimentos, subsídios, soldos, salários, remunerações, proventos de aposentadoria, pensões, pecúlios
e montepios; as quantias recebidas por liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor e sua
o
família, os ganhos de trabalhador autônomo e os honorários de profissional liberal, observado o disposto no § 3
deste artigo”;
15
“Art. 17. Quando não for possível a efetivação executiva da sentença ou do acordo mediante desconto em
folha, poderão ser as prestações cobradas de alugueres de prédios ou de quaisquer outros rendimentos do
devedor, que serão recebidos diretamente pelo alimentando ou por depositário nomeado pelo juiz”.
16
“Art 21 - Para assegurar o pagamento da pensão alimentícia, o juiz poderá determinar a constituição de
garantia real ou fidejussória”.
13
do devedor (art. 2117 da Lei nº. 5.478/1968 e art. 733 do CPC), sendo este o cerne

central do presente estudo.

De suma importância a análise dos pressupostos norteadores da obrigação

alimentar, como bem resume Maria Berenice Dias,

Tradicionalmente, invoca-se o binômio necessidade-possibilidade, ou seja,


perquirem-se as necessidades do alimentando e as possibilidades do
alimentante para estabelecer o valor da pensão. No entanto, essa
mensuração é feita para que se respeite a diretriz da proporcionalidade. Por
isso se começa a falar, com mais propriedade, em trinômio:
18
proporcionalidade-possibilidade-necessidade.

Quanto à proporcionalidade da pensão observa-se que os alimentos devem

ser fixados na proporção das necessidades do reclamante e dos recursos da pessoa

obrigada - é a regra do art. 1.694, § 1º do Código Civil de 2002 (art. 400 do CC

revogado), e que se encontra na generalidade das legislações.

Já a possibilidade da pensão, a teor do art. 1.695 do atual Código Civil, para

que exista obrigação alimentar é necessário que a pessoa de quem se reclama os

alimentos possa fornecê-los sem privação do necessário ao seu sustento.19

Esclarece, entretanto, Cahali que o art. 1.695 do novo Código Civil não pode

ser interpretado na sua literalidade para uma sumária exclusão da pretensão de

alimentos em favor daquele que os reclama, inobstante demonstrada a sua condição

de possuidor de bens de qualquer natureza.20

17
“Art. 21. O art. 244 do Código Penal passa a vigorar com a seguinte redação:
"Art. 244 - Deixar, sem justa causa, de prover a subsistência do cônjuge, ou de filho menor de 18 anos ou inapto
para o trabalho ou de ascendente inválido ou valetudinário, não lhes proporcionando os recursos necessários ou
faltando ao pagamento de pensão alimentícia judicialmente acordada, fixada ou majorada; deixar, sem justa
causa, de socorrer descendente ou ascendente gravemente enfermo:
Pena - Detenção de um ano a quatro anos e multa, de uma a dez vezes o maior salário-mínimo vigente no País.
Parágrafo único. Nas mesmas penas incide quem, sendo solvente, frustra ou ilide, de qualquer modo, inclusive
por abandono injustificado de emprego ou função, o pagamento de pensão alimentícia judicialmente acordada,
fixada ou majorada”.

18
Id. ib., p. 493.
19
CAHALI, Yussef Said. Dos alimentos. 5. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007. p. 510 a 517.
20
Id. ib., p. 510.
14
A lei não quer o perecimento do alimentando, mas também não deseja o

sacrifício do alimentante. Não há direito alimentar contra quem possui o estritamente

necessário a própria subsistência.

Neste entendimento, o juiz, não fixará pensões de valor exagerado, nem por

demais reduzido, devendo estimá-lo com prudente arbítrio, sopesando os vetores

necessidade e possibilidade, na busca do equilíbrio entre eles com a devida

proporcionalidade.21

Eduardo de Oliveira Leite, cita o seguinte exemplo,

Se uma família composta, por exemplo, de quatro membros vivia, até o


momento da ruptura com 100% de renda, é humanamente impossível que,
após a ruptura passem a viver, um (no caso, o marido) com 67% (isto é,
com dois terços do orçamento) enquanto os demais membros (mulher e
filhos) devam sobreviver com 33% (isto é, com um terço). Tudo leva a crer
que se a lógica do percentual devesse ser aplicada, os 67% deveriam,
naturalmente, ser canalizados aos três membros (porque sendo três,
certamente, têm três vezes mais necessidades do que uma pessoa) o
inverso, como ocorre na estranha sistemática nacional. Logo, a pretensa
22
“proporcionalidade” fica negada pela realidade.

Corroborando esta linha de raciocínio vejamos as seguintes jurisprudências:

Acórdão: 14959 - DECISÃO: ACORDAM os Desembargadores integrantes


da 12ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Paraná, por unanimidade de
votos, em negar provimento a ambos os recursos. EMENTA: APELAÇÃO
CÍVEL ALIMENTOS FIXAÇÃO DO QUANTUM ADEQUAÇÃO DO VALOR
FIXADO INTELIGÊNCIA DO ART. 7º, IV DA CF - APELAÇÃO 1
NECESSIDADE DE MAJORAÇÃO DO QUANTUM AUSÊNCIA DE
COMPROVAÇÃO DESPROVIDA APELAÇÃO 2 NECESSIDADE DE
MINORAÇÃO DO VALOR FIXADO A TÍTULOS DE ALIMENTOS
AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DESPROVIDO ANÁLISE DO BINÔMIO
NECESSIDADE/POSSIBILIDADE FIXAÇÃO PROPORCIONAL -
MANUTENÇÃO DA SENTENÇA A QUO CONVERSÃO DO VALOR
FIXADO EM SALÁRIOS MÍNIMOS RESPEITO À DISPOSIÇÃO
CONSTITUCIONAL. Ambos os apelos desprovidos. 1- A fixação do valor
dos alimentos em salário mínimo é vedada pelo art. 7º, IV da CF, portanto,
esse deve ser fixado em valor líquido, respeitando a disposição
constitucional. 2- O magistrado, ao fixar os alimentos, conta com um
largo poder discricionário voltado para a defesa dos interesses do
alimentado, em conformidade com a possibilidade financeira do
alimentante. Apelação Cível nº 647.348-7, da Comarca de São Miguel do

21
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro. 3 ed. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 470.
22
LEITE, Eduardo de Oliveira. O quantum da pensão alimentícia. p. 39-40.
15
Iguaçu - Vara Única - Relator: Rafael Augusto Cassetari - Revisor: Carlos
Mauricio Ferreira- Julgamento: 12/05/2010 (16:03)

EMENTA: HABEAS CORPUS - HC 77570 / MG - 2007/0039710-0. PRISÃO


CIVIL. DÍVIDA ALIMENTAR. ALEGAÇÃO DE INCAPACIDADE
FINANCEIRA. QUESTÃO INVIÁVEL NA VIA ESTREITA DO WRIT.
AUSÊNCIA DE ILEGALIDADE NA DECISÃO PROFERIDA PELO
TRIBUNAL DE ORIGEM. ORDEM DENEGADA.
1. Este Superior Tribunal sumulou entendimento - Verbete n. 309 (...)
2. A alegação lançada pelo impetrante – dificuldade financeira a
resultar na ausência do binômio possibilidade e necessidade para o
dever de prestar alimentos –, não é o bastante para demonstrar
qualquer ilegalidade, muito menos para eximir o paciente do
pagamento dos alimentos. Ainda, tal argumento não deve ser apreciado
em sede de habeas corpus, tendo esta Corte já se firmado no sentido da
impossibilidade de examinar fatos controvertidos ou complexos no âmbito
deste remédio constitucional. Precedentes do STJ.
3. Demonstrado que o paciente apenas efetuou depósitos parciais
referentes à pensão alimentícia no decorrer da ação executiva,
permanecendo, dessarte, inadimplente quanto ao valor total devido,
autorizada está a decretação da prisão civil, na espécie.
4. Ordem denegada.
Acórdão
Vistos, relatados e discutidos estes autos em que são partes as acima
indicadas, acordam os Ministros da 4ª TURMA do Superior Tribunal de
Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas, por
unanimidade, em denegar a ordem de habeas corpus, nos termos do voto
do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Massami Uyeda, Fernando
Gonçalves e Aldir Passarinho Junior votaram com o Sr. Ministro Relator.
Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Hélio Quaglia Barbosa. Data do
Julgamento: 18/10/2007.

EMENTA: Direito civil e processual civil. Família. Alimentos. Recurso


Especial – 1027930 / RJ. Revisão de alimentos. Pedido de redução.
Elementos condicionantes. Mudança na situação financeira do alimentante
ou do alimentando. Princípio da proporcionalidade. Constituição de nova
família com nascimento de filho. Desinfluência. Embargos de Declaração.
Omissões. Novo julgamento.
- A modificação das condições econômicas de possibilidade ou de
necessidade das partes, constitui elemento condicionante da revisão e
da exoneração de alimentos, sem o que não há que se adentrar na
esfera de análise do pedido, fulcrado no art. 1.699 do CC/02.
- As necessidades do reclamante e os recursos da pessoa obrigada
devem ser sopesados tão-somente após a verificação da necessária
ocorrência da mudança na situação financeira das partes, isto é, para
que se faça o cotejo do binômio, na esteira do princípio da
proporcionalidade, previsto no art. 1.694, § 1º, do CC/02, deve o
postulante primeiramente demonstrar de maneira satisfatória os
elementos condicionantes da revisional de alimentos, nos termos do
art. 1.699 do CC/02.
- Se não há prova do decréscimo das necessidades dos credores, ou do
depauperamento das condições econômicas do devedor, a constituição de
nova família, resultando ou não em nascimento de filho, não importa na
redução da pensão alimentícia prestada a filhos havidos da união anterior.
- Com fundamento no art. 535 do CPC, deve ser cassado o acórdão
recorrido, para que outro seja proferido, em consonância com o
entendimento desta Corte – acima referenciado – desta vez pronunciando-
se o Tribunal de origem a respeito de omissões apontadas pelos
recorrentes, em sede de apelação e de embargos declaratórios,
notadamente no que concerne à alteração da causa de pedir deduzida pelo
16
recorrido e consequente julgamento extra petita, em violação ao art. 265 e
460 do CPC.
- Diante do quadro fático posto no acórdão recorrido, imutável nesta sede
especial, em que preponderou circunstância divorciada do entendimento
pacificado por esta Corte, a justificar a redução do valor dos alimentos
devidos aos recorrentes, impõe-se a devolução do processo ao Tribunal de
origem, para que nova análise do pedido seja realizada, com base na
jurisprudência destacada.
- A revisibilidade munida da efetiva alteração da ordem econômica das
partes há de ser o fator desencadeante de um Judiciário mais atento e
sensível às questões que merecem peculiar desvelo como o são aquelas a
envolver o Direito a Alimentos em Revisional, permitindo a pronta entrega
da prestação jurisdicional, no tempo e modo apropriados, sem
interpretações deslocadas. Recurso especial conhecido e provido.
Acórdão
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da 3ª
Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das
notas taquigráficas constantes dos autos, por unanimidade, conhecer do
recurso especial e dar-lhe provimento, nos termos do voto da Sra. Ministra
Relatora. Os Srs. Ministros Massami Uyeda, Sidnei Beneti, Vasco Della
Giustina e Paulo Furtado votaram com a Sra. Ministra Relatora NANCY
ANDRIGHI. Data do Julgamento: 03/03/2009.

Acórdão: DECISÃO: ACORDAM os Desembargadores e o Juiz de Direito


Substituto de 2º Grau da 12ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado
do Paraná, por unanimidade de votos, em conhecer e dar provimento ao
recurso, nos termos do voto do relator. EMENTA: DIREITO DE FAMÍLIA.
ALIMENTOS PROVISÓRIOS. VALOR ARBITRADO POR ESTIMATIVA.
ADEQUAÇÃO. BINÔMIO NECESSIDADE E POSSIBILIDADE. RECURSO
PROVIDO. Os alimentos provisórios ainda que arbitrados por estimativa
devem obedecer aos ditames do art. 1694, § 1º do Código Civil, qual seja,
na proporção das necessidades do reclamante e dos recursos da
pessoa obrigada, autorizando-se o acertamento do quantum em
qualquer fase processual. Processo: 0666131-4 - Segredo de Justiça -
Relator: Carlos Mauricio Ferreira. Recurso: Agravo de Instrumento - Foro
Central da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba - Data do
Julgamento: 27/10/2010 (14:56)

17
3. NORMAS INTERNACIONAIS – PACTO DE SÃO JOSÉ DA COSTA RICA.

Em novembro de 2002, mediante o Decreto nº. 678, o Brasil aderiu ao Pacto

de São José da Costa Rica, que trata da Convenção Americana sobre Direitos

Humanos. O item nº 7, do art. 7º, deste Decreto, admite apenas uma forma de prisão

civil, a decorrente de crédito alimentar, in verbis:

7. Ninguém deve ser detido por dívida. Este princípio não limita os
mandados de autoridade judiciária competente expedidos em virtude de
inadimplemento de obrigação alimentar.

Ratificando o Decreto, posteriormente, dispôs o § 3º, do art. 5º, da Emenda

Constitucional de nº. 45, de dezembro de 2004:

Art. 5º, § 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos


humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em
dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão
23
equivalentes às emendas constitucionais.

Enfim, a referida emenda prevê expressamente que os tratados e

convenções internacionais serão equivalentes às emendas constitucionais, somente

se preenchidos dois requisitos: (a) tratem de matéria relativa a direitos humanos e

(b) sejam aprovados pelo Congresso Nacional, em 02 (dois) turnos, pelo quorum de

3/5 (três quintos) dos votos dos respectivos membros (duas votações em cada Casa

do Parlamento, com 3/5 (três quintos) de quorum em cada votação). Obedecidos

tais pressupostos, o tratado terá índole constitucional, podendo revogar norma

constitucional anterior, desde que em benefício dos direitos humanos, ou seja, será

imune a supressões ou reduções futuras, diante do que dispõe o art. 60, § 4º, IV da

23
Abolição da Prisão por Dívida?
http://www.uj.com.br/publicacoes/doutrinas/default.asp?action=doutrina&coddou=4879
18
CF24 (as normas que tratam de direitos individuais não podem ser suprimidas, nem

reduzidas, mesmo que por emenda constitucional, tornado-se cláusulas pétreas).

Tal situação trouxe dúvidas quanto aos tratados e convenções

internacionais promulgados antes da Emenda Constitucional nº. 45/2004, isto é,

sobre a necessidade ou não de submetê-los ao quorum qualificado de aprovação,

como condição para tornarem-se equivalentes às emendas constitucionais.

Recentemente, o Plenário do Supremo Tribunal Federal, no Habeas Corpus

87585/TO, do qual é relator o Ministro Marco Aurélio, na data de 3.12.2008 decidiu

que, com a introdução do Pacto de São José da Costa Rica, que restringe a prisão

civil por dívida ao descumprimento inescusável de prestação alimentícia (art. 7º,

parágrafo 7), em nosso ordenamento jurídico, restaram derrogadas as normas

estritamente legais definidoras da custódia do depositário infiel, prevista na Magna

Carta. Segundo consta do Informativo 531 do Supremo Tribunal Federal

prevaleceu, no julgamento, a tese do status de supra legalidade da referida

convenção, inicialmente defendida pelo Min. Gilmar Mendes no julgamento do RE

466343/SP.

Note-se que, no referido julgado, restaram vencidos, no ponto, os Ministros

Celso de Mello, Cezar Peluso, Ellen Gracie e Eros Grau, que a ela davam a

qualificação constitucional, perfilhando o entendimento expendido pelo primeiro no

voto que proferira nesse recurso. O Min. Marco Aurélio, relativamente a essa

questão, se absteve de pronunciamento.

No RE 349703/RS (rel. orig. Min. Ilmar Galvão, rel. para o acórdão Min.

Gilmar Mendes, 3.12.2008) e no (rel. Min. Cezar Peluso, 3.12.2008) a mesma

24
“Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta”:
“§ 4º - Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir”:
“IV - os direitos e garantias individuais”.

19
orientação acima foi seguida. No entanto, vale mencionar que, o Min. Celso de

Mello, embora tenha concluído pela inadmissibilidade da prisão civil do depositário

infiel defendeu a tese de que os tratados internacionais de direitos humanos

subscritos pelo Brasil teriam hierarquia constitucional e não status supra legal.

De qualquer modo, independentemente do status que assumiriam os

tratados e convenções internacionais de direitos humanos, no ordenamento jurídico

brasileiro, é possível concluir, segundo a decisão exarada no Habeas Corpus

87585/TO, que o Pacto de São José da Costa Rica, subscrito pelo Brasil, torna

inaplicável a legislação com ele conflitante, não havendo mais base legal para a

prisão civil do depositário infiel, mas, entretanto, confirmando a medida extrema na

hipótese de dívida alimentar.25

Neste entendimento no caso da obrigação alimentar esta medida tão

somente ratificou o disposto em norma constitucional.

Isto posto, confirma-se a posição do Supremo Tribunal Federal, senão

vejamos:

Órgão Julgador: 17ª Câmara Cível


Comarca - Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba
Processo: 0677245-0
APELAÇÃO CÍVEL ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA - AÇÃO DE BUSCA E
APREENSÃO CONVERTIDA EM DEPÓSITO - PEDIDO DE PRISÃO CIVIL
DO DEPOSITÁRIO INFIÉL - IMPOSSIBILIDADE - PACTO DE SÃO JOSÉ
DA COSTA RICA - APLICAÇÃO DO ART. 5º, LXVII, DA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL - REVOGAÇÃO PELO STF DA SÚMULA Nº 619 -
PRECEDENTES DO STF E STJ, E ENTENDIMENTO PREDOMINANTE
NESTE TRIBUNAL RECURO A QUE SE NEGA SEGUIMENTO DECISÃO
MONOCRÁTICA DO RELATOR ART. 557, "CAPUT", CPC. VISTOS...
(...)
5. Na atualidade a única hipótese de prisão civil, no Direito brasileiro, é
a do devedor de alimentos. O art. 5°, §2°, da Carta Magna,
expressamente estabeleceu que os direitos e garantias expressos no caput
do mesmo dispositivo não excluem outros decorrentes do regime dos
princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a
República Federativa do Brasil seja parte. O Pacto de São José da Costa
Rica, entendido como um tratado internacional em matéria de direitos
humanos, expressamente, só admite, no seu bojo, a possibilidade de

25
A prisão civil do depositário infiel na visão do Supremo Tribunal Federal - por Fernando Capez
http://jusvi.com/artigos/38208
20
prisão civil do devedor de alimentos e, conseqüentemente, não admite
mais a possibilidade de prisão civil do depositário infiel.
6. (...)
Curitiba, 25 de maio de 2010. FABIAN SCHWEITZER Relator -- 1 TJPR. AP
nº. 504.282-8. Rel. Des. Paulo Roberto Hapner. DJ 31.10.08. -- 2 TJPR. AP
nº. 522.964-3. Rel. Des. Lauri Caetano da Silva. DJ 21.11.08 3 TJPR. HC
nº. 477.643-2. Rel. Des. Vicente Del Prete Misurelli. DJ. 11.04.2008 -- 4
STJ. AgRg no REsp 801128/RJ, 4ª Turma. Rel. Min. Aldir Passarinho
Junior. J. 09.03.2006. DJ 15.05.2006 -- 5 STF. HC nº. 94702 / GO. Rel. Min.
Ellen Gracie. 2ª Turma. j. 07.10.08

21
4. FORMAS DISTINTAS DE EXECUÇÃO DE ALIMENTOS.

Foi pródiga a disciplina legal em relação aos meios executórios da obrigação

de prestar alimentos. Três mecanismos tutelam a obrigação alimentar: o desconto

(art. 734 do CPC), a expropriação (art. 646) e a coação pessoal (art. 733). O

legislador expressou, na abundância da terapia executiva, o interesse público

prevalente da rápida realização forçada do crédito alimentar.26

No entanto, o estudo científico dos meios executórios, avaliados e pesados

como expedientes práticos, predispostos com o único propósito de realizar as

operações materiais destinadas ao implemento executivo da eficácia sentencial

condenatória, revela a verdade: a prisão civil do alimentante não merece o opróbrio

de coisa obsoleta, de entulho autoritário e violento, e, portanto, a custo tolerado e

admitido no ordenamento jurídico contemporâneo.27

Por conseguinte não se pode deixar de enfrentar, na seara da execução da

prestação de alimentos, as conseqüências da reforma implementada no Código de

Processo Civil pela Lei nº. 11.232/2005.

A matéria é de grande revelo na prática forense e tem suscitado muitas

dúvidas entre os operadores e os aplicadores do direito.

De fato, a execução da prestação de alimentos, que pode realizar-se sob

pena de penhora ou de prisão, antes da reforma empreendida pela Lei nº.

11.232/2005 ocorria em processo autônomo, ou seja, o credor dos alimentos deveria

ajuizar uma nova ação para a obtenção do direito previamente reconhecido.

26
ASSIS, Araken de. Da execução de alimentos e prisão do devedor. 6. ed. São Paulo: Editora Revistas do
Tribunais. 2004. p. 147.
27
Id. ib., p. 157.

22
Desse modo, após a implementação da reforma processual, a execução das

decisões condenatórias ao pagamento de importância em pecúnia passou a ser um

prolongamento do processo já inaugurado. Por outras palavras: a execução foi

sincretizada ao processo cognitivo, consistindo em mera etapa deste. A relação

processual é única, tanto para a prática de atos cognitivos, como para a prática de

atos executórios.

O professor Alexandre Freitas Câmara defende a necessidade de se fazer

uma releitura do Código de Processo Civil, no que tange à execução dos alimentos,

considerando-se a estrutura sincretizada para cumprimento de sentença, pois afinal,

como disse em célebre frase um saudoso intelectual brasileiro, HEBERT DE SOUZA

(o Betinho), “quem tem fome, tem pressa”.28

4.1- PRISÃO CIVIL DO DEVEDOR DE ALIMENTOS.

A prisão civil é meio executivo de finalidade econômica - prende-se o

executado não para puní-lo, como se criminoso fosse, mas para forçá-lo

indiretamente a pagar, supondo-se que tenha meios de cumprir a obrigação e queira

evitar sua prisão, ou readquirir sua liberdade.

Embora o art. 733, § 2º, do Código de Processo Civil fale em “pena” de

prisão, de pena não se trata. Lembrando Bellot, a prisão civil é meio de experimentar

a solvabilidade, ou de vencer a má vontade daquele que procura ocultar o que

possui.29

Washington de Barros Monteiro adverte que,

28
HERTEL, Daniel Roberto. Execução de alimentos e a nova técnica de cumprimento da sentença. Revista
Jurídica Consulex – Ano XII – nº. 279 – 31 de agosto/2008.
29
CAHALI, Yussef Said. Dos alimentos. 5. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007. p. 741.
23
só se decreta a prisão se o alimentante, embora solvente, frustra, ou
procura frustrar, a prestação. Se ele se acha, no entanto, impossibilitado de
fornecê-la, não se legitima a decretação da pena detentiva. A prisão por
débito alimentar reclama acurado e criterioso exame dos fatos, para vir a
ser decretada, em consonância com o princípio de hermenêutica, que
recomenda exegese estrita na compreensão das normas de caráter
30
excepcional.

Maria Berenice Dias ensina que não há distinção entre a lei e a origem do

título que dá ensejo à cobrança da obrigação alimentar – se judicial ou extrajudicial.

Não só a sentença, mas também a obrigação assumida extrajudicialmente, por meio

de título executivo extrajudicial, permitem ameaçar o devedor com a prisão (art. 733

do CPC), principalmente quando o acordo é referendado pelo Ministério Público,

pela Defensoria Pública ou pelos advogados das partes. Exigir a homologação

judicial é desprestigiar todo o esforço para compor o litígio feito pelos promotores,

defensores e advogados. Esse procedimento, de todo desnecessário e incabível,

seria a única forma de legitimar o credor ao uso da execução pelo rito da coação

pessoal. O absurdo de tal exigência é evidente.31 Nesse horizonte, a Terceira Turma

do Superior Tribunal de Justiça foi clara: a cobrança de dívida alimentícia firmada

em título executivo extrajudicial pode ser realizada por meio de processo em juízo

com ameaça de prisão civil (cf. REsp 1.117.639-MG, rel. Min. Massami Uyeda, j.

20/5/2010).

ALIMENTOS. EXECUÇÃO. ACORDO EXTRAJUDICIAL.


Trata-se de execução ajuizada para receber as prestações alimentícias
vencidas fixadas em acordo extrajudicial referendado pela Defensoria
Pública em que o juiz extinguiu o processo, reconhecendo a ausência de
interesse de agir nos termos do art. 267, VI, do CPC. Fundamentou tal
decisão no entendimento de que o título executivo extrajudicial não seria
apto a ensejar a execução prevista no art. 733 do CPC, porque, para isso, o
acordo deveria ser homologado judicialmente. Por sua vez, o tribunal a
quo manteve a sentença. Assim, a questão debatida no REsp é saber se

30
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro. 3 ed. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 499, ap. Curso, cit. 37.
Ed., v. 2, p. 378-379.
31
DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 5. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2009. p.
513.

24
o acordo referendado pela Defensoria Pública sem a intervenção do
Poder Judiciário permite a ação de execução de alimentos prevista no
art. 733 da lei processual civil, isto é, com a possibilidade de expedir o
decreto prisional do obrigado alimentar inadimplente. Após o voto-
vista da Min. Nancy Andrighi, ao qual todos os Ministros aderiram,
considerou-se que a redação do art. 733 do CPC não faz referência ao
título executivo extrajudicial, porque, à época em que o CPC entrou em
vigência, a única forma de constituir obrigação de alimentos era por
título executivo judicial. Só posteriormente, em busca de meios
alternativos para a solução de conflitos, foram introduzidas, no
ordenamento jurídico, as alterações que permitiram a fixação de
alimentos em acordos extrajudiciais, dispensando a homologação
judicial. A legislação conferiu legitimidade aos acordos extrajudiciais,
reconhecendo que membros do MP e da Defensoria Pública são
idôneos e aptos para fiscalizar a regularidade do instrumento, bem
como verificar se as partes estão manifestando sua vontade livre e
consciente. Também se observou que não se poderia dar uma
interpretação literal ao art. 733 do CPC diante da análise dos
dispositivos que tratam da possibilidade de prisão civil do alimentante
e acordo extrajudicial (art. 5º, LXVII, da CF/1988; arts. 585, II, 733, § 1º e
1124-A do CPC; art. 19 da Lei n. 5.478/1968 e art.13 do Estatuto do Idoso).
Entre outros argumentos, destacou-se que a obrigação constitucional de
alimentar e a urgência de quem necessita de alimentos não poderiam
mudar com a espécie do título executivo (se judicial ou extrajudicial).
Os efeitos serão sempre nefastos à dignidade daquele que necessita
de alimentos, seja ele fixado em acordo extrajudicial ou título judicial.
Ademais, na hipótese de dívida de natureza alimentar, a própria CF/1988
excepciona a regra de proibição da prisão civil por dívida, entendendo que o
bem jurídico tutelado com a coerção pessoal sobrepõe-se ao direito de
liberdade do alimentante inadimplente. Diante do exposto, a Turma
anulou o processo desde a sentença e determinou que a execução
prossiga. REsp 1.117.639-MG, Rel. Min. Massami Uyeda, julgado em
32
20/5/2010.

Contudo, a corrente majoritária jurisprudencial é contrária a esse

entendimento, qual seja: o de que só cabe prisão civil para título judicial, senão

vejamos:

EMENTA: PROCESSO CIVIL - FAMÍLIA - EXECUÇÃO - ALIMENTOS -


ACORDO REFERENDADO PELA DEFENSORIA PÚBLICA - PRISÃO
CIVIL - IMPOSSIBILIDADE. A despeito de a espécie versar sobre
alimentos devidos em razão do dever de sustento, inerente ao poder
familiar existente entre pais e filhos, o acordo homologado pela
Defensoria Pública, embora viabilize a ação executiva, não enseja a
prisão civil do devedor, na medida em que se trata de título executivo
extrajudicial.

32
Alimentos « Divisão dos informativos do STF e STJ por matéria
10 jan. 2011 ... 733 do CPC não faz referência ao título executivo extrajudicial, porque, ... e complementar à
responsabilidade dos pais, por isso só é exigível em caso de .... Anote-se, por último, que cabe a prisão civil do
devedor de ...divisaoinformativos.wordpress.com/.../alimentos/ - Em cache - Similares

25
APELAÇÃO CÍVEL N° 1.0702.06.276131-8/001 - COMARCA DE
UBERLÂNDIA - APELANTE(S): A.V.A.S. REPRESENTADO(A)(S) P/ MÃE
I.A.O. - APELADO(A)(S): C.B.S. - RELATOR: EXMO. SR. DES. ALBERTO
VILAS BOAS - ACÓRDÃO (SEGREDO DE JUSTIÇA)
Vistos etc., acorda, em Turma, a 1ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça
do Estado de Minas Gerais, sob a Presidência do Desembargador
EDUARDO ANDRADE, incorporando neste o relatório de fls., na
conformidade da ata dos julgamentos e das notas taquigráficas, à
unanimidade de votos, EM NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO.
Belo Horizonte, 09 de novembro de 2010.
DES. ALBERTO VILAS BOAS - Relator
NOTAS TAQUIGRÁFICAS - O SR. DES. ALBERTO VILAS BOAS:
VOTO
Conheço do recurso.
Em ação de execução de alimentos, fundada em acordo referendado
pela Defensoria Pública, o Juiz a quo entendeu que o rito previsto no
art. 733, CPC somente é admissível para execução de sentença ou
decisão.
Diante disto, facultou à parte a conversão para o rito apropriado, sob pena
de extinção (f. 79), e, diante do posicionamento da ora apelante - que
entendeu adequado o rito eleito (f. 80/83) -, julgou extinta a execução, nos
termos dos arts. 267, VI c/c art. 616, CPC (f. 85/8).
Compartilho do entendimento esposado pela autoridade judiciária, data
venia.
Enfatizo, inicialmente, que participei como Revisor (Ap. Civ. nº
1.0702.07.402438-2) e Vogal (AI nº 1.0702.573014-0) nos quais o tema foi
examinado, e, em razão da contradição posteriormente por mim apurada,
reputo necessário definir o entendimento jurídico que considero mais correto
para situação como a narrada nos autos.
Com efeito, a despeito de a espécie versar sobre alimentos devidos em
razão do dever de sustento, inerente ao poder familiar existente entre
pais e filhos, considero que o acordo homologado pela Defensoria
Pública, embora viabilize a ação executiva, não enseja a prisão civil do
devedor na medida em que se trata de título executivo extrajudicial.

(...)

Seguindo o mesmo entendimento, confiram-se arestos do colendo Superior


Tribunal de Justiça:
RECURSO ESPECIAL - ALIMENTOS - PRISÃO CIVIL - ACORDO
CELEBRADO PERANTE O JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL -
INVIABILIDADE. 1 - "Excluídas da competência do Juizado Especial as
causas de natureza alimentar, o acordo celebrado pelas partes, ainda
que homologado por aquele Juízo, não tem eficácia para a compulsão
executória da prisão civil do devedor, à míngua do devido processo
legal". (HC 9.363/BA, Rel. Min. BARROS MONTEIRO, DJ de 17.12.1999) 2
- Recurso não conhecido. (REsp 769.334/SC, Rel. Ministro JORGE
SCARTEZZINI, QUARTA TURMA, julgado em 07/12/2006, DJ 05/02/2007 p.
246)
Habeas corpus. Título executivo extrajudicial. Escritura pública. Alimentos.
Art. 733 do Código de Processo Civil. Prisão civil. 1. O descumprimento de
escritura pública celebrada entre os interessados, sem a intervenção
do Poder Judiciário, fixando alimentos, não pode ensejar a prisão civil
do devedor com base no art. 733 do Código de Processo Civil, restrito
à "execução de sentença ou de decisão, que fixa os alimentos
provisionais". 2. Habeas corpus concedido. (HC 22.401/SP, Rel. Ministro
CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO, TERCEIRA TURMA, julgado em
20/08/2002, DJ 30/09/2002 p. 253)
Esta egrégia Corte de Justiça já se manifestou no mesmo sentido; vejamos:

26
AGRAVO INSTRUMENTO - EXECUÇÃO - ALIMENTOS - ACORDO
HOMOLOGADO PELO JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL - TÍTULO
EXECUTIVO EXTRAJUDICIAL - RITO DO ARTIGO 732 DO CPC -
DESCABIMENTO DE PRISÃO CIVIL - DECISÃO MANTIDA. 01. Mesmo
que se cuide de execução de alimentos, mas em razão de estar
embasado em acordo homologado perante o Juizado Especial
Criminal, forçoso concluir que o ajuste alimentar que instruiu a ação
de execução proposta sob o rito especial do artigo 733 do CPC não
deixa de ter caráter extrajudicial e, portanto, imprestável para o fim
pretendido pelo Agravante, na medida em que o procedimento
executório por ele manejado, por conter ameaça à liberdade do
indivíduo, só pode ser utilizado quando o credor de alimentos,
conforme preceito contido na norma legal citada, o seja por força de
manifestação judicial. 02. Recurso desprovido. Unânime.
(20100020078880AGI, Relator ROMEU GONZAGA NEIVA, 5ª Turma Cível,
julgado em 28/07/2010, DJ 10/08/2010 p. 291)
PROCESSO CIVIL - AGRAVO DE INSTRUMENTO - EXECUÇÃO DE
ALIMENTOS - ACORDO HOMOLOGADO PELO MINISTÉRIO PÚBLICO -
TÍTULO EXECUTIVO EXTRAJUDICIAL - PRISÃO CIVIL -
IMPERTINÊNCIA - DECISÃO MANTIDA. 1. O descumprimento de acordo
celebrado entre os interessados perante o Ministério Público, fixando
alimentos e sem a intervenção do Poder Judiciário, não pode ensejar a
prisão civil do devedor com apoio no art. 733 do CPC, restrito à
"execução de sentença ou de decisão, que fixa os alimentos
provisionais". Precedentes. 2. O título executivo extrajudicial é apto
para aparelhar execução sob constrição patrimonial, mas não pedido
de prisão que, por exigência expressa do art. 733 do CPC, deve estar
embasado em título executivo judicial. 3. Agravo de Instrumento
conhecido e não provido. (20080020081980AGI, Relator HUMBERTO
ADJUTO ULHÔA, 3ª Turma Cível, julgado em 10/09/2008, DJ 22/09/2008 p.
101)
AGRAVO DE INSTRUMENTO - EXECUÇÃO DE ALIMENTOS - ACORDO
HOMOLOGADO PELO MINISTÉRIO PÚBLICO - TÍTULO EXECUTIVO
EXTRAJUDICIAL - RITO DO ARTIGO 732 DO CPC - DESCABIMENTO DE
PRISÃO CIVIL - PRELIMINAR DE NULIDADE REJEITADA. 01. O que a lei
exige é que o juiz ou tribunal dê as razões de seu convencimento e não que
a decisão seja amplamente fundamentada, pois não se pode confundir
motivação sucinta com ausência de fundamentação. 02. "O título
executivo extrajudicial é apto para agasalhar execução sob constrição
patrimonial, mas não pedido de prisão que, por exigência do art. 733
do CPC, deve estar embasado em título executivo judicial". (TJRS,
Apelação Cível Nº 70008231375). 03. Recurso desprovido. Unânime.
(20070020042993AGI, Relator ROMEU GONZAGA NEIVA, 5ª Turma Cível,
julgado em 26/09/2007, DJ 14/11/2007 p. 85)
PROCESSO CIVIL. EXECUÇÃO FORÇADA DE ACORDO SOBRE
ALIMENTOS HOMOLOGADO NO JUIZADO INFORMAL DE PEQUENAS
CAUSAS. INEFICÁCIA PARA COMPULSÃO EXECUTÓRIA DA PRISÃO
CIVIL DO DEVEDOR. I - A TRANSAÇÃO VERSANDO SOBRE
ALIMENTOS HOMOLOGADO PELO EXTINTO JUIZADO ESPECIAL DE
PEQUENAS CAUSAS, NÃO TEM EFICÁCIA EXECUTIVA PREVISTA NO
ART. 19 DA LEI DE ALIMENTOS E ART. 733 DO CÓDIGO DE PROCESSO
CIVIL, SENÃO DE TÍTULO EXECUTIVO EXTRAJUDICIAL, HÁBIL PARA
FUNDAMENTAR EXECUÇÃO DE CARÁTER PATRIMONIAL. II - DEU-SE
PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO, PARA QUE A EXECUÇÃO
PROSSIGA SOB O RITO DA CONSTRIÇÃO PATRIMONIAL (CPC, ART.
646 E SEGUINTES). (APC4948898, Relator JOSÉ DIVINO DE OLIVEIRA,
2ª Turma Cível, julgado em 08/04/1999, DJ 09/06/1999 p. 47)
Nesse descortino, frise-se que a tutela perquirida - o pagamento da
prestação alimentícia, não restará prejudicada em face da
inaplicabilidade da medida coercitiva, uma vez que, como já
27
demonstrado, poderá ser suficientemente obtida pelos meios
executivos de constrição patrimonial.
Essas as razões por que NEGO PROVIMENTO ao agravo de instrumento,
mantendo íntegra a r. decisão hostilizada" (Destaques no original).
Registro, por fim, que o pedido quanto ao reconhecimento da 'preclusão do
juiz' não comporta guarida, porquanto a preclusão é instituto dirigido, tão-
somente, às partes, não podendo ser estendida aos atos do julgador,
notadamente quando se refiram às questões de ordem pública, como retrata
a espécie.
Com estas considerações, nego provimento ao recurso.
Votaram de acordo com o(a) Relator(a) os Desembargador(es): EDUARDO
ANDRADE e GERALDO AUGUSTO.
SÚMULA: NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO.

Já Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart entendem que o uso da

coerção pessoal, pela restrição da liberdade, como técnica de cumprimento da

prestação alimentar, é expressamente autorizada pelo texto constitucional. Segundo

o art. 5º, LXVII da CF, “não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável

pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do

depositário infiel”.

Nos termos da determinação constitucional, não há dúvida de que a prisão

civil só tem aplicação quando o descumprimento da obrigação alimentar for

voluntário e inescusável. Caso o inadimplemento decorra de justificativa legítima ou

de causa involuntária (caso fortuito ou força maior), não se poderá recorrer à prisão

civil. Assim, se o devedor encontra-se impossibilitado de cumprir prestação porque,

por exemplo, não dispõe de recursos em razão de estar desempregado, ou por

causa da iliquidez do seu patrimônio, descabe a aplicação da medida.

Entre todas as técnicas destinadas à execução da obrigação alimentar a

prisão civil é a mais drástica e a mais agressiva ao devedor, e como se pode

perceber, os doutrinadores são partidários da regra geral vigente no ordenamento

jurídico brasileiro, ou seja, a prisão é “exceção”, pois a regra geral é a “liberdade” do

cidadão.

28
Não podemos deixar de lembrar que após a ratificação do Pacto de São

José da Costa Rica, restringe-se a prisão civil - exclui-se a do adquirente na

alienação fiduciária que não encontra proteção na ordem constitucional brasileira,

mas o mesmo não se passa com o inadimplemento alimentar. Assim se sustenta

porque há ampliação da garantia esboçada pelo Pacto em relação à Constituição

Federal, e não uma colisão com a pretensão do credor.33

Ainda temos que por meio da Súmula 309 do Superior Tribunal de Justiça o

débito alimentar dará sim autorização para a prisão civil, do alimentante que se

escusar de efetuar o pagamento da obrigação alimentar, dando ensejo a medida

coercitiva em relação às três prestações anteriores ao ajuizamento da execução de

alimentos, bem como poderão ser cobradas também as que se vencerem no curso

do processo.34

Porém, para decretar a prisão civil, a jurisprudência majoritária, inclusive a

do egrégio Superior Tribunal de Justiça (Súmula 309), fixou o prazo de 03 (três)

meses, o que significa que, se a dívida for relativa há 02 (dois) anos atrás, por

exemplo, não será decretada a prisão civil do devedor, devendo para tanto, a

execução prosseguir pelo rito do art. 732 do Código de Processo Civil, pois neste

caso, entende-se que o caráter de urgência tenha desaparecido.

Neste sentido:

EMENTA: CONSTITUCIONAL - HABEAS CORPUS - EXECUÇÃO DE


ALIMENTOS - MEIO INADEQUADO PARA REEXAME DE PROVAS -
PRESTAÇÕES VINCENDAS NO CURSO DA EXECUÇÃO - CARÁTER

33
FACHIN, Rosana Amara Girardi. Dever alimentar para um novo direito de família. Rio de Janeiro: Renovar.
2005. p. 78.
34
Súmula nº 309 STJ - 27/04/2005 - DJ 04.05.2005 - Alterada - 22/03/2006 - DJ 19.04.2006 -Débito Alimentar -
Prisão Civil - Prestações Anteriores ao Ajuizamento da Execução e no Curso do Processo – “O débito alimentar
que autoriza a prisão civil do alimentante é o que compreende as três prestações anteriores ao ajuizamento da
execução e as que se vencerem no curso do processo”.

29
ALIMENTAR - DENEGAÇÃO DA ORDEM - INTELIGÊNCIA DA SÚMULA 60
DESTE EG. TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Em se tratando de prisão civil por
débito alimentar, o âmbito de cognoscibilidade do Habeas Corpus se
restringe ao aspecto da legalidade, isto é, se foi obedecido o devido
processo legal, se a decisão está devidamente fundamentada e foi
prolatada por juízo competente. A prisão civil é justificada pela
ATUALIDADE do débito referente às 03 (três) últimas parcelas
anteriores ao ajuizamento da Execução e vincendas durante o trâmite
processual. HABEAS CORPUS Nº 1.0000.04.412807-2/000 - COMARCA
DE BELO HORIZONTE - PACIENTE(S): MARCELO DOS SANTOS
MARTINS - COATOR(A)(ES): JD 11ª V. FAMÍLIA DA COMARCA DE BELO
HORIZONTE - RELATOR: EXMO. SR. DES. DORIVAL GUIMARÃES
PEREIRA - ACÓRDÃO (Segredo de Justiça). Vistos etc., acorda a 5ª
CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais,
incorporando neste o relatório de fls., na conformidade da ata dos
julgamentos e das notas taquigráficas, à unanimidade de votos, EM
DENEGAR A ORDEM. Belo Horizonte, 28 de outubro de 2004.

EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO. ALIMENTOS. EXECUÇÃO.


PARCELAS PRETÉRITAS. ART. 732 DO CPC. PRISÃO DO DEVEDOR.
NÃO CABIMENTO. A execução de alimentos que possibilita a prisão do
devedor tem como pressuposto a "ATUALIDADE do débito", assim
compreendidas, por construção jurisprudencial, somente as três
PRESTAÇÕES anteriores à propositura da ação e aquelas que
vencerem em seu curso (Súmula 309 do STJ). A execução que
compreende parcelas pretéritas subsume-se ao procedimento do art.
732 do CPC, não consentâneo com a prisão civil do devedor alimentar.
Recurso conhecido e provido. ACÓRDÃO (Segredo de Justiça). Vistos etc.,
acorda, em Turma, a 3ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado
de Minas Gerais, incorporando neste o relatório de fls., na conformidade da
ata dos julgamentos e das notas taquigráficas, à unanimidade de votos, EM
REJEITAR A PRELIMINAR E DAR PROVIMENTO. AGRAVO DE
INSTRUMENTO N° 1.0024.08.968991-3/001 - COMARCA DE BELO
HORIZONTE - AGRAVANTE(S): R.L.P.M.C.S. - AGRAVADO(A)(S):
G.L.P.M.C.S. REPRESENTADO(A)(S) P/ MÃE P.P.S./.O. - RELATORA:
EXMª. SRª. DESª. ALBERGARIA COSTA. Belo Horizonte, 30 de abril de
2009.

Enfim, para que ocorra a decretação da prisão civil, por ausência de

pagamento da pensão alimentícia, são necessários os seguintes requisitos: a) a

citação do devedor para, em 03 (três) dias efetuar o pagamento, provar que o fez ou

justificar a impossibilidade de efetuá-lo; b) inércia voluntária e inescusável do

devedor; e c) ausência de pagamento das prestações dos 03 (três) meses,

imediatamente, anteriores à execução.

A prisão não pode ser banalizada, mas sempre deve ser decretada quando

presentes os pressupostos legais desde que combinados com os temperamentos do

princípio da razoabilidade.

30
Desta forma, evidentemente, faltando quaisquer desses requisitos, é vedado

ao juiz decretar a prisão do devedor, conforme a doutrina e a jurisprudência

majoritária.35

4.2- CONTROVÉRSIAS ACERCA DOS PRAZOS PRISIONAIS.

Aduz Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart que em relação ao

prazo da prisão, resta clara ser esta, uma questão extremamente polêmica. De

acordo com o art. 733, § 1º do CPC, este prazo deve ser fixado entre 01 (um) e 03

(três) meses. Segundo o art. 19 da Lei de Alimentos, o limite do prazo da prisão é de

60 (sessenta) dias. Há quem entenda que os prazos são aplicáveis a situações

distintas, não podendo o prazo exceder a 60 (sessenta) dias nos casos de alimentos

provisórios36 e definitivos37 - fixados com base na Lei de Alimentos – e devendo ser

fixado entre 01 (um) e 03 (três) meses no caso de alimentos provisionais38 (art. 852

do CPC)39.

A distinção entre tais prazos, ao se ligar aos alimentos provisórios e

definitivos, de um lado, e provisionais, de outro, não tem qualquer racionalidade,

uma vez que os conteúdos destas espécies de alimentos não têm qualquer

correlação lógica com a discriminação realizada. Não há como esquecer que as


35
Revista Jurídica Cesumar – Mestrado – v. 4. 2004. p. 433
36
Alimentos provisórios – quando fixados incidentalmente no curso de um processo de cognição ou liminarmente
em despacho inicial, em ação de alimentos, de rito especial, após prova de parentesco, casamento, ou união
estável (Lei nº. 5.478/68 - arts. 2º e 4º. Têm natureza antecipatória.
37
Alimentos definitivos – se estabelecidos pelo magistrado ou pelas partes (no caso de separação judicial
consensual), com prestações periódicas, de caráter permanente, embora sujeitos a revisão (art. 1699 do CC).
38
Alimentos provisionais – se concedidos concomitantemente, ou antes, da ação de separação judicial, de
nulidade ou anulação de casamento ou de alimentos, para manter o suplicante ou sua prole na pendência da
lide. Tem natureza antecipatória e cautelar.
39
“Art. 852. É lícito pedir alimentos provisionais:
I - nas ações de desquite e de anulação de casamento, desde que estejam separados os cônjuges;
II - nas ações de alimentos, desde o despacho da petição inicial;
III - nos demais casos expressos em lei.
o
Parágrafo único. No caso previsto no n I deste artigo, a prestação alimentícia devida ao requerente abrange,
além do que necessitar para sustento, habitação e vestuário, as despesas para custear a demanda”.

31
técnicas executivas previstas no Código de Processo Civil e na Lei de Alimentos se

aplicam a todos os tipos de alimentos, devendo os meios de execução ser definidos

a partir da aplicação, no caso concreto, das regras do meio idôneo e da menor

restrição possível.

Esclareça-se, por outro lado, que a norma da Lei de Alimentos é anterior à

norma do Código de Processo Civil. Assim, se o prazo da prisão, segundo o Código

de Processo Civil, pode variar entre 30 (trinta) e 90 (noventa) dias, e a Lei de

Alimentos o limita há 60 (sessenta) dias, logo, não há dúvida de que o juiz deverá

fixar o prazo da prisão entre 30 (trinta) e 90 (noventa) dias, conforme as

particularidades do caso concreto.

A questão, porém, é polêmica nos tribunais, como se vê adiante:

EMENTA: EXECUÇÃO DE PRESTAÇÃO ALIMENTÍCIA - ACORDO


JUDICIAL - PARCELAMENTO DO DÉBITO - ACORDO NÃO CUMPRIDO -
EXTINÇÃO DO PROCESSO - PRISÃO DECRETADA E CUMPRIDA -
RENOVAÇÃO DO DECRETO PRISIONAL - POSSIBILIDADE, ATÉ
ATINGIR O PRAZO MÁXIMO QUE A LEI PREVÊ. O parcelamento do
acordo firmado entre as partes enseja a suspensão da execução (art. 792,
CPC). Entretanto, se a obrigação não é adimplida, deve prosseguir, até que
todo o débito seja quitado. A extinção da execução com base no que dispõe
o art. 794, l, do CPC, somente é admissível quando já quitado integralmente
o débito. Não se justifica a extinção do processo a obrigar a menor ao
ajuizamento de nova execução. Decorridos trinta dias sem que o
DEVEDOR tenha efetivado o pagamento do débito alimentar, a PRISÃO
pode ser estendida até alcançar o limite MÁXIMO de sessenta dias, nos
termos do art. 19 da Lei nº. 5.478/68. APELAÇÃO CÍVEL N°
1.0188.05.036033-1/001 - COMARCA DE NOVA LIMA - APELANTE(S):
E.M.S.C. REPRESENTADO(A)(S) P/ MÃE J.D.S. - APELADO(A)(S): G.G.C.
- RELATOR: EXMO. SR. DES. WANDER MAROTTA - ACÓRDÃO (Segredo
de Justiça). Vistos etc., acorda, em Turma, a 7ª CÂMARA CÍVEL do
Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, sob a Presidência do
Desembargador EDIVALDO GEORGE DOS SANTOS , incorporando neste
o relatório de fls., na conformidade da ata dos julgamentos e das notas
taquigráficas, à unanimidade de votos, EM DAR PROVIMENTO. Belo
Horizonte, 16 de março de 2010.

EMENTA: - À luz da Súmula nº. 309, STJ, para se livrar da PRISÃO civil por
débito alimentar, não basta ao paciente pagar apenas as 03 (três) últimas
parcelas vencidas no período anterior ao ajuizamento da execução,
devendo fazê-lo, também, no que tange a todas aquelas que se venceram
no decorrer do processo. - Por ser especial, a norma do art. 19 da Lei nº.
5.478/68 - Lei de ALIMENTOS, que estabelece o período MÁXIMO da
PRISÃO civil por débito alimentar em 60 (sessenta) dias se sobrepõe à
32
genérica do art. 733, CPC, que autoriza o juiz decretar a PRISÃO pelo
PRAZO de 01 (um) a 03 (três) meses. HABEAS CORPUS CÍVEL N°
1.0000.10.035857-1/000 - COMARCA DE UNAÍ - PACIENTE(S):
ALEXANDRE AGUIAR - AUTORID COATORA: JD 2 V COMARCA UNAI -
RELATOR: EXMO. SR. DES. EDIVALDO GEORGE DOS SANTOS -
ACÓRDÃO. Vistos etc., acorda, em Turma, a 6ª CÂMARA CÍVEL do
Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, sob a Presidência do
Desembargador EDILSON FERNANDES, na conformidade da ata dos
julgamentos e das notas taquigráficas, à unanimidade de votos, EM
CONCEDER PARCIALMENTE A ORDEM. Belo Horizonte, 10 de agosto de
2010.

Vale salientar, que é possível novo decreto prisional a cada

descumprimento, de modo que o prazo total da prisão pode ser superior ao limite de

90 (noventa) dias.

Mas, uma vez pagos os alimentos, o devedor deverá ser imediatamente

posto em liberdade, pouco importando a circunstância de não ter findado o prazo

prisional, e independentemente do não pagamento de outros valores devidos, como,

por exemplo, custas processuais e honorários advocatícios.

É evidente também que a submissão do devedor à prisão decretada não o

eximirá do seu vínculo à obrigação de pagar o montante devido (art. 733, § 2º do

CPC e art. 19, § 1º da Lei de Alimentos).

Em síntese, a dívida deverá ser cobrada pelo rito da expropriação, isto é, a

execução continuará pelo rito do art. 732 do CPC, pois o simples cumprimento do

decreto prisional não obstará a continuidade da ação com o fito de ver a obrigação

alimentar ser devidamente adimplida, obtendo assim, o sucesso do feito.

Note-se, ainda, que somente o adimplemento da dívida (ou o esgotamento

do prazo máximo admitido) poderá autorizar a libertação do devedor (art. 733, § 3º

do CPC).40

40
MARINONI, Luiz Guilherme e ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de processo Civil. v. 3. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2009. p. 392 e 393.

33
Já Athos Carneiro critica,

A permanência do lamentável descompasso entre a lei especial e o Código


de Processo Civil, no alusivo ao prazo da prisão. Enquanto pela norma
codificada o juiz decretará a prisão do devedor de alimentos provisionais
‘pelo prazo de 01 (um) a 03 (três meses)’ (art. 733, § 1º do CPC), pela Lei
nº. 5.478 (Lei de Alimentos), o ‘cumprimento do julgado ou do acordo’
poderá ser garantido pela ‘decretação de prisão do devedor até 60
(sessenta) dias’ (art. 19, caput). Mais rigorosos, assim, os meios de coerção
pessoal quanto aos alimentos provisionais, embora fixados até inaudita
altera pars (art. 854, parágrafo único do CPC), do que relativamente aos
alimentos fixados pelo consenso das partes ou após o contraditório judicial.

E sustenta ainda que,

A Lei nº. 6.014/1973, embora modificando a redação de vários dispositivos


da Lei de Alimentos, com vistas à harmonizá-los com o novo Código de
Processo Civil, não alterou, contudo, a redação do art. 19, caput; daí
emprestar o seu prestígio a acórdão da 1ª. Câmara Cível do TJRS (HC
29.020 - 04.10.1977), “que considerou não revogado pela Lei nº. 6.014/1973
o prazo expressamente fixado no art. 733, § 1º do CPC” - ressalvando que
“é tema, contudo, que merece renovada atenção.

Barbosa Moreira preconiza a unificação do critério do “tempo da prisão”, com

o asserto de que o art. 19, caput, parte final, da Lei nº. 5.478/1968 teria sido

derrogado pelo art. 733, § 1º do CPC: O juiz decretará, em qualquer caso, a prisão

do devedor, por tempo não inferior a 01 (um) nem superior a 03 (três) meses. Mas,

este entendimento do emérito jurista em relação a esta forma de derrogação esbarra

no art. 2º, § 2º da LICC.41

Esforço notável realizou Adroaldo Furtado Fabrício a fim de harmonizar as

normas discrepantes. Argumenta que, adaptada a Lei nº. 5.478/1968 por diploma

posterior ao Código de Processo Civil, não quanto à vigência, e, sim, no concernente

à existência – a Lei nº. 6.014/197342 entrou em vigor em 31.12.1973, já o Código de

Processo Civil, em 01.01.1974, então, o prazo máximo de prisão segue regulado

41
“Art. 2º. Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue”.
“§ 2º. A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não revoga nem
modifica a lei anterior”.
42
Lei nº. 6.014/1973 - Adaptação ao novo Código de Processo Civil as leis que menciona
34
pela lei especial, que contém “regra mais favorável ao paciente da medida

excepcional (odiosa restringenda)”.43

Entende Yussef Said Cahali, “contudo, que, não fixando o art. 19 da Lei nº.

5.478/1968 lapso temporal mínimo para a prisão do devedor de alimentos deve o

dispositivo ser complementado pelo art. 733, § 1º do Código de Processo Civil, que

prevê o tempo mínimo de 30 (trinta) dias.44

Carlos Roberto Gonçalves preconiza, no entanto, que tem prevalecido o

critério unitário de duração máxima de 60 (sessenta) dias, aplicando-se a todos os

casos o art. 19 da Lei de Alimentos, por se tratar de lei especial, além de conter

regra mais favorável ao paciente da medida excepcional.45

Maria Berenice Dias não tece maiores comentários, limitando-se a citar tão

somente jurisprudência do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul:

Execução de alimentos. O prazo da prisão civil do devedor de alimentos não


pode ultrapassar 60 (sessenta) dias. Proveram parcialmente. Unânime.
TJRS, 7ª. Câmara Cível, AI 70020841342, Relator Desembargador Luiz
46
Felipe Brasil Santos, j. 12.09.2007

Ilustrando o acima exposto, verificamos:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXECUÇÃO DE ALIMENTOS. 1.


Considerando que somente o adimplemento integral do débito tem o condão
de afastar o decreto prisional, e que o acolhimento da justificativa em
demanda executiva de alimentos pressupõe a ocorrência de situação
excepcional, verdadeira força maior que, modo inesperado, venha a retirar a
possibilidade de pagamento ao devedor, e essa não foi devidamente
comprovada, a prisão dele é medida que se impõe. 2. O prazo da prisão
civil do devedor de alimentos não pode ultrapassar 60 (sessenta) dias.
PROVERAM PARCIALMENTE. UNÂNIME. (SEGREDO DE JUSTIÇA)
(Agravo de Instrumento Nº 70020841342, Sétima Câmara Cível, Tribunal de
Justiça do RS, Relator: Luiz Felipe Brasil Santos, Julgado em 12/09/2007)
(grifo nosso)

43
ASSIS, Araken de. Da execução de alimentos e prisão do devedor. 6. ed. São Paulo: Editora Revistas do
Tribunais. 2004. p. 192.
44
CAHALI, Yussef Said. Dos alimentos. 5. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007. p. 765.
45
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro. 3 ed. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 499, ap. Curso, cit. 37.
Ed., v. 2, p. 503.
46
DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 5. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2009. p.
524.

35
H.C. ALIMENTOS. ALEGAÇÃO DE DESEMPREGO. ILEGALIDADE
INEXISTENTE. Não cabe em sede de habeas corpus conhecer de matéria
atinente à impossibilidade de pagamento da integralidade da pensão
alimentícia. Somente para combater ilegalidade do decreto prisional é que
se mostra adequado o writ. REGIME PRISIONAL. Conforme orientação da
Corregedoria-Geral da Justiça, através do Ofício-Circular 21/93, a prisão do
devedor de alimentos deve ser cumprida, preferencialmente, em regime
aberto. PRAZO DA PRISÃO. O prazo da prisão civil do devedor de
alimentos não pode ultrapassar 60 (sessenta) dias. (grifo nosso)
CONCEDERAM PARCIALMENTE A ORDEM, TÃO-SÓ PARA REDUZIR O
PRAZO DA PRISÃO PARA 60 (SESSENTA) DIAS E DETERMINAR O
CUMPRIMENTO EM REGIME ABERTO. (Habeas Corpus Nº 70009722182,
Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Luiz Felipe Brasil
Santos, Julgado em 29/09/2004)

HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO DE ALIMENTOS. ART. 733, CPC. PRAZO


DA PRISÃO. O prazo da prisão civil do devedor de alimentos não pode
ultrapassar 60 dias. (grifo nosso) CONCEDERAM A ORDEM, PARA
REDUZIR O PRAZO DA PRISÃO PARA 60 DIAS. UNÂNIME. (SEGREDO
DE JUSTIÇA) (Habeas Corpus Nº 70011349628, Sétima Câmara Cível,
Tribunal de Justiça do RS, Relator: Luiz Felipe Brasil Santos, Julgado em
04/05/2005)

HABEAS CORPUS” - DECRETO DE PRISÃO - ALIMENTOS - MEIO


INADEQUADO PARA ANÁLISE DE PROVAS - CONCESSÃO PARCIAL DA
ORDEM - PRAZO MÁXIMO DE PRISÃO: 60 DIAS - ART. 19 DA LEI
5.478/68 - HABEAS CORPUS CÍVEL N° 1.0000.08.486104-6/000 -
COMARCA DE RIBEIRÃO DAS NEVES - PACIENTE(S): L.P.P. - AUTORID
COATORA: JD V FAMILIA SUCESSOES COMARCA RIBEIRAO NEVES -
RELATOR: EXMO. SR. DES. AUDEBERT DELAGE. ‘Ante o exposto,
concedo parcialmente a ordem, somente para reduzir o PRAZO fixado para
a PRISÃO de 90 para 60 dias. (grifo nosso) SÚMULA: CONCEDERAM, EM
PARTE, A ORDEM, VENCIDO O PRIMEIRO VOGAL. TRIBUNAL DE
JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS

HABEAS CORPUS - PRISÃO CIVIL - DÍVIDA DE ALIMENTOS -


INADIMPLEMENTO - INSUFICIÊNCIA FINANCEIRA - NÃO
COMPROVAÇÃO - DECRETO DE PRISÃO - MANUTENÇÃO - PRAZO
MÁXIMO - 60 (SESSENTA) DIAS - LEI DE ALIMENTOS - CONCESSÃO
PARCIAL DO WRIT. - A concessão da ordem no habeas corpus impetrado
contra prisão civil por dívida de alimentos depende da comprovação do
pagamento das parcelas em atraso ou de que o descumprimento da
obrigação foi inescusável. Verificada a inadimplência, descabida a
revogação do mandado de prisão. - O prazo máximo para a prisão civil por
débito alimentar é de 60 (sessenta) dias, por força do disposto no art. 19, da
Lei n. 5.478/68 - Lei de Alimentos. (grifo nosso) Súmula: CONCEDERAM A
ORDEM PARCIALMENTE – HABEAS CORPUS (CÍVEL) N°
1.0000.07.458789-0/000 - COMARCA DE GOVERNADOR VALADARES -
PACIENTE(S): J.C.M. - AUTORID COATORA: JD 4 V CV COMARCA
GOVERNADOR VALADARES - RELATORA: EXMª. SRª. DESª. HELOISA
COMBAT - Data do julgamento: 14/08/2007 – Data da Publicação:
28/08/2007 - 7ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas
Gerais.

36
4.3- DESCARACTERIZAÇÃO DA URGÊNCIA DA COBRANÇA.

Apesar da extrema importância do tema, analisando diversos doutrinadores,

verificou-se a falta de um aprofundamento maior, uma vez que ele aparece no

contexto geral do tema da obrigação alimentar.

Somente Sílvio de Salvo Venosa, adverte que a jurisprudência somente tem

admitido a execução, nos termos do art. 733 do Código de Processo Civil (com

prisão do alimentante), para cobrança das prestações alimentares dos últimos 03

(três) ou no máximo 06 (seis) meses - para as mais antigas, exige-se que a

execução seja nos termos do art. 732, do mesmo diploma legal47.

Se chega a esta conclusão quando se analisa a jurisprudência abaixo

descrita:

EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXECUÇÃO DE ALIMENTOS.


ART. 733 CPC. PARCELAS PRETÉRITAS. DESCARACTERIZAÇÃO DA
URGÊNCIA. ORDEM DE PRISÃO REVOGADA. - Se a prestação
alimentícia não está sendo cumprida há longo tempo, a execução deve
seguir pelo art. 732 do CPC e não o procedimento que tem previsão de
prisão, já que a tolerância da inadimplência descaracteriza a
URGÊNCIA para a subsistência do alimentado e desautoriza a medida
extrema da prisão civil. - Recurso a que se dá provimento. AGRAVO DE
INSTRUMENTO CÍVEL N° 1.0024.06.104085-3/001 - COMARCA DE BELO
HORIZONTE - AGRAVANTE(S): I.E.S. - AGRAVADO(A)(S): R.C.R.S.
REPRESENTADO(A)(S) P/ MÃE F.C.R. - RELATOR: EXMO. SR. DES.
ERNANE FIDÉLIS - ACÓRDÃO (Segredo de Justiça) - Vistos etc., acorda,
em Turma, a 6ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas
Gerais, sob a Presidência do Desembargador ERNANE FIDÉLIS,
incorporando neste o relatório de fls., na conformidade da ata dos
julgamentos e das notas taquigráficas, à unanimidade de votos, EM DAR
PROVIMENTO. Belo Horizonte, 13 de abril de 2010.

Conforme decisão prolatada pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais é

totalmente possível a mudança de ritos, do art. 773 para o art. 732 do CPC,

vejamos:

47
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil. Direito de Família. 7. ed. São Paulo: Editora Atlas S.A., 2007. p. 364
37
PROVIDO. Em ação de execução de alimentos, totalmente possível a
conversão da execução proposta nos termos do art. 733, CPC, na do
rito do art. 732 do mesmo 'Codex', em obediência aos princípios da
economia e celeridade processuais. (TJMG; APCV 4423614-
50.2004.8.13.0024; Belo Horizonte; Oitava Câmara Cível; Rel. Des.
Vieira de Brito; Julg. 05/08/2010; DJEMG 29/11/2010)
(TJMG; APCV 4423614-50.2004.8.13.0024; Belo Horizonte; Oitava Câmara
Cível; Rel. Des. Vieira de Brito; Julg. 05/08/2010; DJEMG 29/11/2010)
EMENTA: FAMÍLIA - EXECUÇÃO DE ALIMENTOS - DÍVIDA PRETÉRITA -
INADEQUAÇÃO DO RITO DO ART. 733 DO CPC - CONVERSÃO NA DO
ART.732, CPC - ADMISSIBILIDADE - RECURSO PROVIDO. Em ação de
execução de alimentos, totalmente possível a conversão da execução
proposta nos termos do art.733, CPC, na do rito do art.732 do mesmo
'Codex', em obediência aos princípios da economia e celeridade
processuais.
APELAÇÃO CÍVEL N° 1.0024.04.442361-4/001 - COMARCA DE BELO
HORIZONTE - APELANTE(S): A.H.F.A. REPRESENTADO(A)(S) P/ MÃE
M.F. - APELADO(A)(S): C.A.S. - RELATOR: EXMO. SR. DES. VIEIRA DE
BRITO
ACÓRDÃO (SEGREDO DE JUSTIÇA)
Vistos etc., acorda, em Turma, a 8ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça
do Estado de Minas Gerais, sob a Presidência da Desembargadora
TERESA CRISTINA DA CUNHA PEIXOTO , incorporando neste o relatório
de fls., na conformidade da ata dos julgamentos e das notas taquigráficas, à
unanimidade de votos, EM DAR PROVIMENTO AO RECURSO.
Belo Horizonte, 05 de agosto de 2010.
DES. VIEIRA DE BRITO - Relator
NOTAS TAQUIGRÁFICAS
O SR. DES. VIEIRA DE BRITO:
VOTO
Trata-se de apelação cível, manejada por A.H.F.A, repdo. por sua genitora
M.F, contra a sentença proferida às f.111/112, em que MMª. Juíza de Direito
da 1ª Vara Cível desta Capital, nos autos da EXECUÇÃO DE ALIMENTOS
proposta em desfavor de C.A.S, extinguiu o processo nos termos do art.794,
CPC c/c art.733, §2º, CPC, tendo em vista que o executado (apelado)
cumpriu integralmente o decreto prisional, sem quitação do débito.
O ora apelante, requereu a conversão da execução de alimentos proposta
no rito do art.733, CPC para a do art.732, do mesmo Codex, o que não foi
aceito pela preclara julgadora a quo.
Irresignado com o teor da decisão singular, A.H.F.A manejou razões de
recurso às f.116/121, requerendo, em apertada síntese, o prosseguimento
do feito com conversão do rito, para aquele previsto no art.732, CPC.
Não houve apresentação de contrarrazões. (Certidão de f.123)
Instada a se manifestar, a Cúpula Ministerial, em parecer da lavra do Dr.
Luiz Antônio de S. P. Ricardo, opinou pelo provimento do recurso.
(f.132/134).
É O BREVE RELATÓRIO.
Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso.
Em exame pormenorizado do caderno probatório, tenho que a decisão
combatida carece de reforma, eis que a douta Juíza a quo não agiu com o
costumeiro acerto em sua decisão, eis que decidiu de forma totalmente
contrária aos princípios da economia e celeridade processuais.
Como se sabe, a prisão civil representa medida excepcional, só sendo
cabível ante o inadimplemento voluntário do alimentante.
O fato do apelado não ter pago o pensionamento e ter sido preso em razão
de sua inadimplência não o exime da execução patrimonial, todavia, negar a
conversão pleiteada pelo apelante se afigura, com a devida vênia, medida

38
que afronta a economia processual, bem como a celeridade da prestação
jurisdicional.
No caso vertente, tenho que a conversão postulada pelo apelante
apresenta-se totalmente cabível, qual seja, converter a execução fundada
no art. 733 do Digesto Processual Civil, naquela prevista no art. 732 do
referido Diploma Processual.
Assim, entendo que não deve a execução prosseguir sob o rito do art. 733
do CPC, mas sim, transmudar-se para a prevista no art. 732 do mesmo
Codex.
Isto posto, mediante tais considerações, com supedâneo nos princípios da
economia processual e celeridade, DOU PROVIMENTO AO RECURSO,
para anular a sentença de primeiro grau, determinando o prosseguimento
da execução pelo rito do art. 732 do Código de Processo Civil.
Custas, ex lege.
É como voto.
Votaram de acordo com o(a) Relator(a) os Desembargador(es):
BITENCOURT MARCONDES e FERNANDO BOTELHO.
SÚMULA : DERAM PROVIMENTO AO RECURSO.

91497515 - AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXECUÇÃO DE ALIMENTOS.


PARCELAS QUE SE VENCEREM NO CURSO DA EXECUÇÃO. Ao
credor é facultada a opção de conversão da execução ajuizada pelo
rito do art. 733 do CPC para o rito do art. 732 do CPC. Agravo de
instrumento desprovido, de plano. (TJRS; AI 70038262937; Porto
Alegre; Sétima Câmara Cível; Rel. Des. Jorge Luís Dall´Agnol; Julg.
01/10/2010; DJERS 05/11/2010)
AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXECUÇÃO DE ALIMENTOS. PARCELAS
QUE SE VENCEREM NO CURSO DA EXECUÇÃO.Ao credor é facultada a
opção de conversão da execução ajuizada pelo rito do art. 733 do CPC para
o rito do art. 732 do CPC.
Agravo de instrumento desprovido, de plano.
Agravo de Instrumento
Sétima Câmara Cível
Nº 70038262937
Comarca de Porto Alegre
J.A.D.
AGRAVANTE
W.V.
AGRAVADO
DECISÃO MONOCRÁTICA
Vistos.
José Augusto D. agrava de instrumento da decisão que determinou o
prosseguimento da execução de alimentos ajuizada por Waldir V. pelo rito
do art. 732 do CPC, intimando-o a pagar o débito apurado pela contadoria
(fl. 347) em 15 dias, sob pena de multa de 10% sobre o valor da dívida,
acrescendo que o período objeto da cobrança é de outubro de 2009 a junho
de 2010 (por cópia às fls. 350 e 359).
Sustenta, em síntese, que as parcelas que se venceram durante o curso da
demanda não podem ser cobradas pelo rito do art. 732 do CPC mas, sim,
em novo processo executivo. Pede o provimento do recurso, para que seja
extinta a execução (fls. 02-08).
Intimada, a agravada contra-arrazoou, pedindo o desprovimento do recurso
e a condenação do agravante nas penas da litigância de má fé, entendendo
que o recurso é meramente procrastinatório (fls. 367-373).
O Ministério Público opinou pelo desprovimento do agravo de instrumento
(fls. 376/377).

39
2. O presente recurso merece ser desprovido de plano, visto que
manifestamente improcedente, o que autoriza julgamento singular, nos
termos do art. 557, caput, CPC.
A execução de alimentos, pelo rito da coerção pessoal, abrange as três
parcelas imediatamente anteriores ao ajuizamento da execução, bem como
aquelas que se vencerem no curso da demanda, por força do art. 290 do
CPC.
Exame dos autos demonstra que a exequente manifestou-se pelo
prosseguimento da execução de parcelas posteriores ao ajuizamento da
ação, apurado o valor devido pela contadoria (fl. 347), pelo rito
expropriatório do art. 732 do CPC.
Nesse sentido, jurisprudência desta Corte:
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE EXECUÇÃO DE ALIMENTOS. RITO DO
ART. 733 DO CPC. PRISÃO CIVIL DO DEVEDOR. PROSSEGUIMENTO
DA EXECUÇÃO. COBRANÇA DAS PARCELAS VENCIDAS NO CURSO
DA AÇÃO. ADMISSIBILIDADE. A extinção da execução pressupõe a
quitação de todas parcelas devidas pelo devedor de alimentos. Após
cumprida a prisão civil pelo devedor da verba alimentar, cabe o
prosseguimento do feito para pagamento das parcelas vencidas
posteriormente, pelo rito do art. 733 do CPC. Aplicação da Súmula 309 do
STJ e da Conclusão n.º 23.º do Centro de Estudos deste Tribunal.
Precedentes desta Corte. Sentença de extinção da execução desconstituída
para prosseguimento da ação em relação às parcelas remanescentes e
inadimplidas. DERAM PROVIMENTO A APELAÇÃO E
DESCONSTITUÍRAM A SENTENÇA. (Apelação Cível Nº 70035396977,
Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: André Luiz
Planella Villarinho, Julgado em 22/09/2010)
A questão foi bem enfrentada pelo digno agente do Ministério Público, Dr.
Roberto Bandeira Pereira, razão pelo qual acolho e agrego suas
ponderações como razão de decidir, até para evitar tautologia, exaradas
nos seguintes termos:
No mérito, entende o Signatário que o recurso deve ser desprovido.
A decisão agravada encontra-se em consonância com o entendimento
jurisprudencial acerca do tema. É cediço na Corte local que as parcelas
vencidas no curso da demanda devem ser incluídas na cobrança. Nesse
sentido:
AGRAVO DE INSTRUMENTO. FAMÍLIA. EXECUÇÃO DE ALIMENTOS.
RITO EXPROPRIATÓRIO. INCLUSÃO DAS PARCELAS QUE SE
VENCERAM NO CURSO DA AÇÃO. POSSIBILIDADE. PRESTAÇÕES
SUCESSIVAS. ART. 290 DO CPC. Tratando-se de cobrança de débito
alimentar, cujas prestações são periódicas, ou seja, trato sucessivo, as
parcelas vincendas devem ser incluídas na execução pelo rito do art. 732 do
CPC. AGRAVO DE INSTRUMENTO DESPROVIDO. (Agravo de
Instrumento Nº 70030044838, Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do
RS, Relator: José Conrado de Souza Júnior, Julgado em 12/08/2009)
Outrossim, no caso em tela, considerando que o alimentante permaneceu
inadimplente desde o início da cobrança, limitando-se a realizar, apenas,
pagamentos parciais, cabível o prosseguimento da execução pelos valores
apurados pela contadoria, porquanto tais quantias englobam parte das
parcelas vencidas desde antes do ajuizamento.
Por outro lado, não havendo mais atualidade do débito, mostra-se
correta a conversão do rito da execução para o expropriatório (art. 732
do CPC), conforme determinado pelo julgador monocrático.
Por derradeiro, descabe o pedido de litigância de má fé, veiculado pela
agravada, uma vez que não configurada quaisquer das hipóteses previstas
no artigo 17 do CPC.
Deste modo, manifesta a improcedência do agravo de instrumento, que se
impõe reconhecida de logo, na esteira dos precedentes desta Corte, até
para evitar desdobramentos desnecessários e que só protrairiam o
desfecho, já sabido, do recurso.
40
Nestes termos, nego provimento ao agravo de instrumento, pois
manifestamente improcedente, nos termos do art. 557, caput, CPC.
Porto Alegre, 1º de outubro de 2010.
Des. Jorge Luís Dall´Agnol, Relator.

Fácil o entendimento do por que da mudança de ritos, este visa, tão somente

“assegurar a efetividade do processo”. O princípio da economia processual se refere

a uma economia de custo, uma economia de tempo e uma economia processual,

onde se busca a obtenção de maior resultado com o menor uso de atividade

jurisdicional, ou seja, o menor número de atos, bem como o aproveitamento dos atos

que não forem prejudicados pelo vício, desde que não traga prejuízo para as partes,

a aplicação da fungibilidade, e finalmente seu papel mais importante que é o social,

cuja finalidade visada é de uma eficiente prestação jurisdicional, proporcionando

uma justiça rápida e de baixo custo, tanto para as partes como para o Estado,

atendendo aos valores constitucionais em uma perspectiva concreta e não apenas

formal, oferecendo soluções justas, efetivas e tempestivas” 48.

Embora haja o conhecimento da possibilidade da Descaracterização da

Urgência da Cobrança, pode-se verificar também que o credor/a de prestação

alimentícia inicie a execução de alimentos por meio do instituto do art. 732 do CPC,

o qual possibilita a penhora em relação aos bens do executado, e não obtendo

sucesso no feito, se valer do art. 733 do mesmo diploma legal para ver o seu

objetivo cumprido.

Basta uma simples leitura do julgado abaixo:

11062064 - CIVIL E PROCESSO CIVIL. ALIMENTOS. EXECUÇÃO. ARTS.


732 E 733 DO CPC. CONVERSÃO DE RITO. POSSIBILIDADE. PRISÃO
CIVIL. DEVEDOR DE ALIMENTOS. EXECUÇÃO NA FORMA DO ARTIGO
733 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. Cabe a credora a escolha do
rito processual a ser seguido para a execução de alimentos. Nada

48
Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais - APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0607.03.014621-3/001.
41
obsta que primeiramente tente a penhora de bens do executado, como
na espécie e, uma vez frustrada a execução pelo rito comum, valha-se
a exeqüente da ameaça do Decreto prisional. - Na execução de
alimentos, prevista pelo artigo 733 da Lei Processual Civil, ilegítima se
afigura a prisão civil do devedor fundada no inadimplemento de prestações
pretéritas, assim consideradas as anteriores às três últimas prestações
vencidas antes do ajuizamento da execução. - Recurso parcialmente
conhecido e, nessa extensão, provido. (STJ; RESP 216560; SP; Quarta
Turma; Rel. Min. Francisco Cesar Asfor Rocha; Julg. 28/11/2000; DJU
05/03/2001; pág. 00169)

Contudo, como já restou pacificado pelos tribunais, a utilização do art. 733

do CPC ficou restrita às últimas 03 (três) prestações devidas (e às subseqüentes

após a citação), remetendo o credor de alimentos com prestações mais antigas à

aplicação do art. 732 do CPC.

Existe também a tese contrária no sentido de que não deve ser

descaracterizada a urgência, urge-se aos olhos daqueles que tanto necessitam da

prestação alimentícia.

A prisão civil por dívida de alimentos é medida excepcional, empregada em

casos extremos, diante da contumácia, obstinação, teimosia, rebeldia do devedor

que, embora possua meios necessários para saldar a dívida, procura protelar a

quitação.

A prisão é uma sanção a quem viola o pacto da legalidade. Sendo a medida

necessária para conscientizar o devedor/alimentante de seu dever de sustentar o

alimentando/a. Infelizmente ainda ocorre que aquele que gera somente repassa a

verba alimentar devida a seus filhos diante da perspectiva de ser aprisionado, não

podendo então, de outra forma o julgador tirar a urgência quando a situação se tratar

de prestação alimentícia.

42
4.4- FUNDAMENTO CONSTITUCIONAL.

A prisão civil está prevista na Constituição da República de 1988, em seu

art. 5º, LXVII49, para os casos de depositário infiel e injustificada ausência de

pagamento de prestação alimentícia. A segunda hipótese, aliás, está contemplada

também na Convenção de São José de Costa Rica, subscrita pelo Brasil e

promulgada pelo Congresso Nacional.

Pois, bem, este artigo dispõe que a coerção pessoal será devida em relação

à obrigação alimentar, e segundo os princípios do direito processual civil brasileiro, a

execução das dívidas que têm caráter patrimonial, poderão ser cobradas por meio

do poder judiciário quando invocado, lançando mãos dos bens do devedor e

destinando-os à satisfação do credor, conforme o estabelecido em lei.

No entanto, neste tipo de obrigação, abre-se uma exceção, permitindo-se a

coação pessoal do alimentante devedor para que o mesmo cumpra com o acordado

judicialmente ou extrajudicialmente, justamente, para resguardar a dignidade das

pessoas que necessitam de alimentos, filhos ou mesmo esposas e ex-esposas.

Em contrapartida, às criticas de ilegalidade da medida coercitiva, assim

entende o professor Sérgio Gilberto Porto, com fundamentos em decisões

jurisprudenciais,

(...) não se pode inquinar de ilegal ou abusiva a decisão que ameaça o


devedor de alimentos definitivos ou provisórios de prisão, uma vez que é
meio coercitivo adequado para obrigar o devedor rebelde e ladino a pagar
aquilo que injustificadamente se nega. Portanto, legítima é a prisão do
50
marido, se decretada para forçá-lo a pagar alimentos à esposa e filhos.

49
“Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e
aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes: (...) LXVII - não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo
inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel”;
50
Revista Jurídica Cesumar – Mestrado – v. 4. 2004. p. 431
43
Yussef Said Cahali ressalta que em função de sua excepcionalidade, como

meio coercitivo que se dirige contra a liberdade do indivíduo, garantida pelo Estado,

não se admite a prisão civil por alimentos senão, em virtude de lei. Exatamente por

isso, a prisão civil por dívida, é cabível apenas no caso dos alimentos previstos nos

arts. 1.566, III, e 1.694 do atual Código Civil, que constituem relação de direito de

família.

No direito brasileiro, a Constituição Federal de 1988, ainda que mantendo o

instituto, deu ênfase, no confronto com o texto constitucional anterior51, ao caráter

excepcional da prisão, proclamando agora, entre os direitos e garantias individuais,

que “não haverá prisão por dívida, salvo a do responsável pelo inadimplemento

voluntário e inescusável de obrigação alimentícia (...)” (art. 5º, LXVII).

A disciplina legal recepcionada encontra-se difusamente estatuída na Lei de

Alimentos, cujo art. 19 dispõe que “o juiz, para instrução da causa, ou na execução

da sentença ou do acordo, poderá tomar todas as providências necessárias para

seu esclarecimento ou para o cumprimento do julgado ou do acordo, inclusive a

decretação de prisão do devedor até sessenta dias”; enquanto o art. 18 faz remissão

igualmente à execução da sentença de alimentos, “na forma dos arts. 732, 733 e

735 do Código de Processo Civil.

Mas, assimétrico, prescreve o art. 733 do Código de Processo Civil que, “na

execução de sentença ou de decisão, que fixa os alimentos provisionais, o juiz

mandará citar o devedor para, em três dias, efetuar o pagamento, provar que o fez

ou justificar a impossibilidade de efetuá-lo. § 1º. Se o devedor não pagar, nem se

escusar, o juiz decretar-lhe-á a prisão pelo prazo de 01 (um) a (três) meses.”52

51
O art. 153, § 17, da CF de 1967, c/c a EC nº. 1/69, referia-se apenas a ‘inadimplemento de obrigação
alimentar, na forma da lei”.
52
CAHALI, Yussef Said. Dos alimentos. 5. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007. p. 743.
44
No entendimento de Rosana Amara Girardi Fachin, afigura-se razoável,

diante da mudança de paradigmas do Direito Privado contemporâneo, colocar em

debate a hipótese autorizativa de prisão civil. Preciso é o teor da norma

constitucional, a ser analisada em atenção ao fundamental direito de liberdade do

cidadão (conforme assegurado pelo caput do artigo 5º, consonante), e em face dos

princípios alicerçados no artigo 1º da Carta da República que tem como fundamento

no inciso III, a dignidade da pessoa humana e no inciso IV os valores sociais do

trabalho.

Continua, salientando estar com inteira razão à doutrina que enfoca o centro

de irradiação dos afazeres na Constituição:53

Do ponto de vista dos operadores jurídicos, trata-se de afirmar que o jurista,

especialmente o juiz, deve firmemente orientar sua atividade jurisdicional – quer

quando decide conflitos intersubjetivos de natureza privada - no sentido do horizonte

traçado pela Constituição, qual seja, repita-se, a edificação de uma sociedade mais

justa, livre e solidária, construída sobre o fundamentalíssimo pilar da dignidade de

todos os seus cidadãos. Isso significa, necessariamente, que a magistratura

necessariamente deve ser co-partícipe de uma política de inclusão social, não

podendo aplicar acriticamente institutos que possam representar formas excludentes

de cidadania (apud FACHINI NETO, 2003).

Conclui, ainda, uma reflexão, tendo como paradigma repersonalização do

Direito Civil, a reformulação da pena privativa de liberdade no direito penal, bem

assim os princípios esculpidos no artigo 1º e a disposição do artigo 5º, inciso LXVII

da Constituição Federal, pretendendo realizar um diálogo entre o Direito Civil e o

Direito Constitucional, que também perpassa pela análise de instrumentos

53
FACHIN, Rosana Amara Girardi. Dever alimentar para um novo direito de família. Rio de Janeiro: Renovar.
2005. p. 3.
45
supranacionais como o Pacto de São José da Costa Rica, dentre outros, revelando

não só a questão ética da prisão civil por dívida frente a esses mecanismos legais

como também os efeitos da medida no plano prático.54

54
FACHIN, Rosana Amara Girardi. Dever alimentar para um novo direito de família. Rio de Janeiro: Renovar,
2005. p. 4.
46
5. CONCLUSÃO.

O propósito do presente trabalho foi o de apresentar, ainda que de maneira

sucinta, as estruturas que regulam o instituto da prisão civil por dívida alimentar, no

que diz respeito ao inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação

alimentícia.

Embora a prisão civil seja feita por meio do artigo 733 do Código de

Processo Civil (03 – três – últimas parcelas e as que vencerem no curso da

demanda), não é a única maneira de chamar à responsabilidade o devedor de

alimentos, mas, é a maneira que consegue atingir com mais precisão o alimentante

que deixa a mercê o alimentando, pois só assim se vê obrigado a repensar o porquê

do não pagamento de sua dívida.

Em determinados casos verifica-se que não há a má-fé do devedor em não

pagar os alimentos devidos, mais sim, somente uma fase passageira de dificuldade

financeira, entretanto, na maioria dos casos postulados judicialmente se verifica o

emocional comandando os devedores, alegando os mais diversos pretextos, mesmo

que estapafúrdios, para o não adimplemento das pensões alimentícias, quais sejam:

o fim do relacionamento (casamento, união estável, etc.) o afastamento de seus

filhos e do lar, a guarda mesmo que provisória dada às mães, enfim, infindáveis

podem ser os motivos ensejadores.

Mas, o grande celeuma está no lapso temporal para ser concluída uma

execução de alimentos, independente do meio utilizado: art. 733 (prisão civil) ou art.

732 (expropriação).

47
As Varas ou Secretarias de Família estão abarrotadas de processos de

Execução de Alimentos que se arrastam por anos, dificultando e muito a vida dos

que necessitam das verbas alimentares para a sua sobrevivência.

O resultado disto pode ser percebido facilmente: os responsáveis pela

guarda tendo que buscar outras alternativas para o sustento dos filhos, os quais

devem ter suas necessidades diárias supridas, não podem aguardar o deslinde do

litígio.

O ideal seriam os acordos, que, aliás, são uma tendência positiva que vem

sendo adotada em cumprimento a orientação emanada do Conselho Nacional de

Justiça.

Mas há um longo caminho a ser percorrido até que essa seja a regra geral.

Até que essa forma de resolução de litígio se consolide, inevitavelmente teremos

que conviver com os inúmeros recursos processuais existentes, que insistem em

retardar o andamento processual, o qual já não é propriamente célere.

Inobstante os percalços diários que acometem as nossas Varas e

Secretarias de Família, foram absorvidas várias lições em minha vida acadêmica e,

posteriormente, estagiando nesta área, aprendizado este que somado à pesquisa

realizada para compor este trabalho de final de curso, me dá a consciência de que

posso vir a fazer diferença, atuando com dignidade, respeito pelo próximo, amor a

profissão.

O somatório de todas as experiências já vivenciadas nesta área de família,

acrescido ao imenso desejo de contribuir com a melhora do sistema, mostra que o

caminho correto para desatar o nó é o da perseverança, o do estudo e muito bom

senso.

48
6. BIBLIOGRAFIA.

ASSIS, Araken de. Da Execução de Alimentos e Prisão do Devedor. 6ª edição. São

Paulo, 2004.

CAHALI, Yussef Said. Dos Alimentos. 4ª edição, de acordo com o Novo Código Civil.

São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002.

DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 5ª edição. Revista dos

Tribunais. São Paulo, 2009.

DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. Vol. 5. Direito de Família. 24ª

edição. São Paulo: Saraiva, 2009.

GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. Vol. VI. Direito de Família. 6ª

edição. Saraiva, 2009.

LEITE, Eduardo de Oliveira. Direito Civil Aplicado. Vol. 5. Direito de Família. São

Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2005.

MARINONI, Luiz Guilherme. Curso de Processo Civil. Vol. 3. Execução. 2ª edição.

São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008.

VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil. Vol. VI. Direito de Família. 9ª edição. São

Paulo: Atlas, 2009.

49

Você também pode gostar