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PRISÃO CIVIL DO DEVEDOR DE ALIMENTOS COMO MEDIDA COERCITIVA

AO INADIMPLEMENTO DA OBRIGAÇÃO.

BARBOZA, Ricardo
Pós Graduação em Direito de Família da Universidade Qualis.

RESUMO

BARBOZA, Ricardo. Prisão civil do devedor de alimentos como medida coercitiva ao


adimplemento da obrigação. 2022. 21f. Trabalho de Curso (Pós Graduação em Direito de
Família) – Faculdade Qualis.

O presente estudo aborda na atualidade a única forma legal de prisão civil em nosso Território
Nacional, que é a prisão civil do devedor de alimentos estampado nos termos do artigo 528 do
Código de Processo Civil Brasileiro. A medida coercitiva tem como objetivo forçar o devedor
a efetuar o pagamento das pensões em atraso, afim de que não tenha sua liberdade restringida.
No entanto, diante da realidade social em que o Brasil atravessa, nem sempre essa medida se
torna eficaz, de um lado, ocorre a prisão do devedor, que muitas das vezes se encontra
desempregado, e até mesmo com outra família para cuidar, e de outro o alimentado(a), que não
recebe a dita pensão e com a prisão do genitor(a), a situação tende a ficar ainda pior.
Isto posto, surge a necessidade de estudo por parte dos juristas de outras formas e maneiras
mais efetivas diversas da prisão pura e simples, que na maioria das vezes traz problemas piores
entre as famílias. Abordaremos neste presente estudo hipóteses de prisão em regime aberto ao
devedor de prestação de alimentos, como alternativa, dependendo do caso concreto a fim de
viabilizar o direito e o desenvolvimento do alimentado(a).

Palavras–chave: Pensão Alimentícia, Prisão Civil, Inadimplemento, Medida coercitiva.


ABSTRACT

BARBOZA, Ricardo. Prisão civil do devedor de alimentos como medida coercitiva ao


inadimplemento da obrigação. 2022. 21f. Trabalho de Curso (Pós Graduação em Direito de
Família) – Faculdade Qualis.

The present study currently addresses the only legal form of civil prison in our National
Territory, which is the civil prison of the alimony debtor stamped under the terms of article 528
of the Brazilian Civil Procedure Code. The coercive measure aims to force the debtor to make
the payment of overdue pensions, so that his freedom is not restricted. However, given the
social reality that Brazil is going through, this measure is not always effective, on the one hand,
the debtor is arrested, who often finds himself unemployed, and even with another family to
care for, and the other the fed, who does not receive said pension and with the arrest of the
parent, the situation tends to get even worse. That said, there is a need for jurists to study other
ways and more effective ways other than the pure and simple prison, which most of the time
brings worse problems between families. In this present study, we will address hypotheses of
prison in an open regime to the debtor of alimony, as an alternative, depending on the specific
case in order to enable the right and development of the fed.

Keywords: Alimony, Civil Prison, Default, Coercive Measure

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 3

1 - A PRISÃO CIVIL FACE A CONSTITUIÇÃO FEDERAL ........................................... 5

1.1 - - PRISÃO CIVIL DO DEVEDOR DE ALIMENTOS..............................................5


2 - A PRISÃO CIVIL COMO MEDIDA COERCITIVA ..................................................... 8

3 - PRISÃO CIVIL FRENTE À PANDEMIA.......................................................................12


4 - OUTRAS FORMAS E MANEIRAS EFETIVAS DIVERSAS DA PRISÃO CIVIL...16
5 - CONLUSÃO.......................................................................................................................18
6 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: ........................................................................... 20
3

INTRODUÇÃO

A obrigação de prestar alimentos se mostra uma das mais importantes do Direito


Brasileiro, pois envolve a sobrevivência daquele que por si só não tem condições de manter sua
própria sobrevivência, portanto tem como medida coercitiva a denominada prisão civil, sendo
no Brasil a única espécie de prisão por dívidas permitida m nosso ordenamento Jurídico. Uma
vez que o Brasil é signatário da Convenção Americana de Direitos Humanos, conhecida como
PACTO DE SAN JOSÉ DA COSTA RICA.
A prisão civil por dívidas de alimentos está entre as mais famigerada pela
população, sendo umas das poucas que mostram certa efetividade no meio social.
De fato, a prisão civil tem cumprido com o seu propósito, traz algum temor a
maioria dos responsáveis pelo pagamento de alimentos que derivam da relação familiar, posto
que somente as denominadas pensões alimentícias aos filhos menores de idade, ou aos que
sendo maiores estão cursando faculdade ou curso técnico, é que permitem a restrição da
liberdade do devedor, outras espécies tais como alimentos indenizatórios ou com finalidade de
manutenção, revisão, não devem ensejar a prisão civil do devedor inescusável, mas somente
aqueles que tem natureza alimentar.
A priori a prisão civil, somente deve ser aplicada ao devedor imprescindível de
prestação alimentícia, por outro lado aquele que justificadamente conseguir demonstrar
impossibilidade do pagamento, não poderá ter a prisão decretada. No entanto essa justificativa
deve ser convincente, irrefutável, o suficiente para comprovar que de fato o alimentante está
impossibilitado de cumprir com seu dever da obrigação alimentar.
Logo, a medida na maioria das vezes consegue alcançar seu principal objetivo,
que é a prestação dos alimentos em atraso, contudo o que se nota em grande maioria, é um
devedor desempregado, vivendo em outro relacionamento, tendo outros filhos com esse novo
relacionamento, passando necessidades tanto com a nova família constituída, seja pelo
casamento, ou pela união estável, não dando conta de manter sua responsabilidade alimentar
para com sua prole.
Em alguns casos os devedores preferem se sujeitar à restrição da liberdade ao
invés de viabilizarem um acordo e o pagamento da dívida que, por vezes, alcança patamares
4

inviáveis, acrescidos de juros, e em contrapartida suas condições financeiras não alcança os


valores pretendidos pelo credor dos alimentos.
O artigo 528 da Lei 13.105 de 16 de março de 2015, em seu parágrafo 7º estatui:
§ 7º O débito alimentar que autoriza a prisão civil do alimentante é o que compreende até as
3 (três) prestações anteriores ao ajuizamento da execução e as que se vencerem no curso do
processo1. Contudo nem sempre a citação se dá de maneira célere, de modo que as prestações
que vencerem no decorrer do processo somam-se com as vencidas anteriores ao ajuizamento,
com isso os valores a serem adimplidos se tornam cada vez mais onerosos ao pagamento,
principalmente do alimentante que já está padecendo dificuldades em efetuar o pagamento das
prestações correntes.
Neste diapasão, ante a impossibilidade de conseguir meios de pagar, seja por
desemprego, seja por outras probabilidades da vida, em que os juízes não aceitam como
justificativas, acabam por serrem presos, e com isso as prestações alimentares devidas acaba
por serem convertidas para o procedimento do rito da penhora, inviabilizando ainda mais o
recebimento do crédito pelo alimentado, uma vez que os alimentantes hipossuficientes em
grande parte não tem patrimônio para garantia da dívida em processo de execução.
De todo modo, compete aos Juristas analisarem meios mais eficazes que
permitam a execução de alimentos, seja pelo rito da prisão, seja por outro meio, ser mais
efetiva.
Neste breve estudo pretende-se trazer algumas hipóteses que seriam capazes de
delinear maior efetividade à execução de alimentos, vez que, na realidade social da
maioria da população brasileira, a prisão civil além de manter o devedor inadimplente, pode
inviabilizar que ele cumpra com as prestações alimentares vincendas, haja vista que a prisão
civil culminaria na perda do emprego, caso ele estivesse empregado ainda que informalmente
no momento do cumprimento do decreto prisional, ou deixasse de auferir alguma renda através
dos “bicos”, em que uma grande parte da população vai sobrevivendo com esses “bicos”.

1
Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/topicos/28891642/artigo-528-da-lei-n-13105-de-16-de-marco-de-
2015. Acesso em 26/02/2022
5

1 - A PRISÃO CIVIL FACE A CONSTITUIÇÃO FEDERAL

Sendo a prisão civil por devedor de alimentos a única espécie de prisão nessa
modalidade, a Constituição Federal de 1988, precisamente em nosso Artigo 5º, inciso
LXVII – “não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo inadimplemento
voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel”2;
A prisão do depositário infiel deixou de ser aceita no ordenamento Jurídico
Brasileiro, uma vez que o Brasil aderiu ao Pacto de São José da Costa Rica, através de tratados
internacionais de proteção aos Direitos Humanos, sendo assim em razão da superioridade do
Pacto de São José da Costa Rica, que é recepcionado como Emenda Constitucional, a legislação
infraconstitucional que dispunha a cerca da prisão civil do depositário infiel, estando a mesma
abaixo dos TRATADOS INTERNACIONAIS DE DIREITOS HUMANOS, deixou de ser
compatível com a proteção que se confere aos Direitos Fundamentais da Pessoa Humana.
Sendo objeto de Súmula Vinculante, a de nº 25, que assim aduz:
“É ilícita a prisão civil do depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do depósito”.
Em razão desse entendimento é que a prisão civil pelo inadimplemento de
prestações de alimentos tornou-se a única hipótese de prisão civil admitida pelo Estado.
Em contrapeso estão dois direitos fundamentais em jogo, o direito fundamental
a liberdade do indivíduo, em contrapartida o direito fundamental à vida, prevalecendo aquele
que tem maior valor: a vida.

1.1 - PRISÃO CIVIL DO DEVEDOR DE ALIMENTOS


Conceitua-se alimentos como sendo prestações mensais para satisfação das
necessidades básicas de quem não pode provê-las por si, compreendendo o que é
indispensável à vida da pessoa como alimentação, vestuário, habitação, saúde, transporte,
educação e lazer, atento aos direitos fundamentais, como liberdade, igualdade e
fraternidade, que são os pilares do Estado Democrático de Direito.
Sendo os alimentos tutelados pelo Direito de Família, e de estimável importância
para o Ordenamento Jurídico Brasileiro, pois, trata de trazer garantia a sobrevivência de

2
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em 26/02/2022
6

quem não pode prove-la por si, garantidos pela Constituição Federal de 1988, no entanto a
norma infraconstitucional também tutela os direitos inerentes a prestação de alimentos, o
Código Civil traça diretrizes quando se trata de obrigação de alimentar, o artigo 1694 assim
aduz:
“Art. 1.694. Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os alimentos de que
necessitem para viver de modo compatível com a sua condição social, inclusive para atender às necessidades de
sua educação.

§ 1 o Os alimentos devem ser fixados na proporção das necessidades do reclamante e dos recursos da pessoa
obrigada.

§ 2 o Os alimentos serão apenas os indispensáveis à subsistência, quando a situação de necessidade resultar


de culpa de quem os pleiteia”.

Sendo assim, o Código Civil disciplina quem pode pedir alimentos e quem deve
paga-los, enquanto o Código de processo Civil disciplina sob a ótica do cumprimento de
sentença que reconheça a exigibilidade de obrigação de presta-los, segundo o que dispõe o
artigo 528 do C`PC, que aduz:
Art. 528. No cumprimento de sentença que condene ao pagamento de prestação
alimentícia ou de decisão interlocutória que fixe alimentos, o juiz, a requerimento do
exequente, mandará intimar o executado pessoalmente para, em 3 (três) dias, pagar o
débito, provar que o fez ou justificar a impossibilidade de efetuá-lo.
§ 1º Caso o executado, no prazo referido no caput , não efetue o pagamento,
não prove que o efetuou ou não apresente justificativa da impossibilidade de efetuá-
lo, o juiz mandará protestar o pronunciamento judicial, aplicando-se, no que couber,
o disposto no art. 517 .
§ 2º Somente a comprovação de fato que gere a impossibilidade absoluta de
pagar justificará o inadimplemento.
§ 3º Se o executado não pagar ou se a justificativa apresentada não for aceita,
o juiz, além de mandar protestar o pronunciamento judicial na forma do § 1º, decretar-
lhe-á a prisão pelo prazo de 1 (um) a 3 (três) meses.
§ 4º A prisão será cumprida em regime fechado, devendo o preso ficar separado
dos presos comuns.
§ 5º O cumprimento da pena não exime o executado do pagamento das
prestações vencidas e vincendas.
§ 6º Paga a prestação alimentícia, o juiz suspenderá o cumprimento da ordem
de prisão.
§ 7º O débito alimentar que autoriza a prisão civil do alimentante é o que
compreende até as 3 (três) prestações anteriores ao ajuizamento da execução e as que
se vencerem no curso do processo.
§ 8º O exequente pode optar por promover o cumprimento da sentença ou
decisão desde logo, nos termos do disposto neste Livro, Título II, Capítulo III, caso
em que não será admissível a prisão do executado, e, recaindo a penhora em dinheiro,
a concessão de efeito suspensivo à impugnação não obsta a que o exequente levante
mensalmente a importância da prestação3.

3
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm. Acesso em 26/02/2022
7

Por essa razão, quando por motivo injustificado, o alimentante deixa de cumprir
com sua obrigação alimentar, cabe ao alimentado requerer a execução do devedor pelas
vias judiciais, que englobam as prestações vencidas à execução por quantia certa e para as
vincendas, ou seja, aquelas que vencerem no decorrer da ação de execução sob pena de
prisão, através dos meios judiciários coercitivos que permitem e asseguram o direito, o
inadimplemento da obrigação alimentar é requisito fundamental para que haja a sua
execução, sendo o devedor devidamente citado para que em Três dias efetue o pagamento,
ou prove através de documentos idôneos que já o fez, ou apresente justificativa da
impossibilidade de efetua-lo.
Segundo consta no artigo 528, do Código de Processo Civil Brasileiro, se o
alimentante não pagar, ou se a justificativa não for aceita pelo juiz da causa, poderá ser
decretado prisão civil do devedor que pode ser pelo prazo de um mês até três meses, a depender
do entendimento do juiz, se ocorrer o pagamento no curso da prisão pelos parentes do
alimentante, a prisão é revogada imediatamente, se não cumprir até o prazo determinado da
prisão, o executado não estará isentado da dívida com o cumprimento integral da prisão,
passando a ser executada pelo rito da penhora.
Isso não significa que se o alimentante após o cumprimento da prisão nos meses
seguintes, não efetuar os pagamentos das prestações alimentícias, não terá novo pedido de
execução pelo rito da prisão novamente.
Assim, tem os tribunais entendido que a prisão civil tendo em vista a preservação
da vida, somente poderá ser imposta para compelir o alimentante a suprir as necessidades atuais
do alimentando, representadas pelas três últimas prestações, devendo as passadas serem
cobradas em procedimento próprio, rito da penhora.
O Superior Tribunal de Justiça em seus julgamentos tem decidido que: A
execução de alimentos prevista pelo artigo 733 do Código de Processo Civil restringe-se às três
prestações anteriores ao ajuizamento da execução e às que vencerem no seu curso.
A partir do julgamento de diversos casos análogos, sobre o tema específico, o
Superior Tribunal de Justiça editou a Súmula 309 do STJ, que aduz:
“O débito alimentar que autoriza a prisão civil do alimentante é o que compreende as três
prestações anteriores à citação e as que vencerem no curso do processo”.
Sendo assim, ficou caracterizado como requisito essencial para a propositura da
ação de cumprimento de sentença,(execução) pelo rito da prisão.
8

2 - A PRISÃO CIVIL COMO MEDIDA CORCITIVA

A execução de alimentos, quando se dá pelo rito da prisão civil, deve sempre


ser analisada a possibilidade do pagamento da dívida alimentar, pois o débito que permite a
restrição da liberdade além de ser atual exige que o inadimplemento seja indesculpável , ou
seja, exige que não haja mera justificativa para o inadimplemento.
Esta análise deverá ser feita no momento da apresentação da justificativa, que
deverá apontar os motivos do débito não bastando a simples alegação de desemprego, ou falta
de recursos, mas exigindo-se provas do devedor de que, este ao menos tentou cumprir com sua
obrigação alimentar.
Abaixo tem-se uma ementa em que o alimentante obteve êxito em sua
justificativa face aos graves problemas de saúde que vinha sofrendo:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXECUÇÃO DE ALIMENTOS.


JUSTIFICATIVA. REVOGAÇÃO DO DECRETO DE PRISÃO.
PROSSEGUIMENTO DA EXECUÇÃO PELO RITO DO ART. 732, DO CÓDIGO
DE PROCESSO CIVIL. I - Demonstrada a impossibilidade de o alimentante arcar
com o encargo alimentar que lhe foi imposto, tendo em vista a ausência de
percepção de renda em razão de graves problemas de saúde que ensejaram sua
incapacidade laboral, impõe-se a revogação da decisão que decretou a prisão civil.
II - Face ao acolhimento da justificativa do devedor quanto ao inadimplemento da
obrigação alimentícia, a execução deve prosseguir sob o rito determinado pelo art.
732, do Código de Processo Civil.
(TJ-MG - AI: 10071100050906001 Boa Esperança, Relator: Bitencourt Marcondes,
Data de Julgamento: 01/09/2011, Câmaras Cíveis Isoladas / 8ª CÂMARA CÍVEL,
Data de Publicação: 19/10/2011) 4.

E ainda, tem-se emenda em que a justificativa dada não convenceu os julgadores,


senão vejamos:

AGRAVO DE INSTRUMENTO - EXECUÇÃO DE ALIMENTOS - RITO DO


ARTIGO 733 DO CPC - DECRETAÇÃO DA PRISÃO - ALEGAÇÃO DE
AUSÊNCIA DE ANÁLISE DA JUSTIFICATIVA - CERCEAMENTO DE
DEFESA - INOCORRÊNCIA - PRETENSÃO DE REVISÃO DO VALOR DA
PENSÃO - VIA IMPRÓPRIA - PRISÃO QUE TEM CARÁTER COERCITIVO -
CLÁUSULA QUE ESTABELECEU A ATUALIZAÇÃO DA PENSÃO PELO
SALÁRIO MÍNIMO - PRETENSÃO DE DECLARAÇÃO DE ILEGALIDADE -
IMPOSSIBILDADE - ESTIPULAÇÃO PACTUADA PELAS PARTES -
INADEQUAÇÃO DESTA VIA PARA REVISÃO DO ACORDO - DECISÃO
MANTIDA - RECURSO DESPROVIDO. 1. Da leitura da decisão agravada denota-
se que, ao contrário do que alega o agravante, foi sim devidamente analisada a

4
Disponível em: https://tj-mg.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/943627134/agravo-de-instrumento-cv-ai-
10071100050906001-boa-esperanca. Acesso em 26/02/2022
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justificativa por ele apresentada. 2. A ação de execução de alimentos não é a ação


própria para se discutir e revisar o binômio necessidade e possibilidade alimentar.
3. Não é a presente execução via adequada para rever os critérios do acordo
realizado pelas partes quanto a utilização de critério para atualização dos alimentos,
o qual foi estabelecido pelo livre arbítrio das próprias partes, devendo tal pretensão
ser dirimida por via adequada.
(TJ-PR - AI: 6595755 PR 0659575-5, Relator: Costa Barros, Data de Julgamento:
18/08/2010, 12ª Câmara Cível, Data de Publicação: DJ: 460) 5.

No caso de a justificativa ser plausível e comprovada, a restrição da liberdade


deixa de ser medida de coerção passando a ser medida simplesmente punitiva do devedor,
motivo pelo qual não seria a medida mais adequada, pois prejudicaria ainda mais aqueles que
dependem da prestação alimentar, uma vez que, dessa forma o devedor estará realmente,
impedido de cumprir com sua obrigação.
Contudo a matéria concernente à justificativa deve demonstrar a impossibilidade
de pagamento temporária do débito vencido, se, por outro lado, pretende o executado reduzir a
prestação alimentar em razão de alteração de seu poder aquisitivo, e portanto a alteração no
binômio necessidade-possibilidade, a medida cabível é a ação revisional de alimentos e não a
defesa em sede de execução de alimentos, tão restrita quanto a que é permitida na justificativa.

“Art. 528. § 8º do CPC: O exequente pode optar por promover o cumprimento


da sentença ou decisão desde logo, nos termos do disposto neste Livro, Título II,
Capítulo III, caso em que não será admissível a prisão do executado, e, recaindo a
penhora em dinheiro, a concessão de efeito suspensivo à impugnação não obsta a que
o exequente levante mensalmente a importância da prestação”.

A impossibilidade econômica devidamente demonstrada e justificada, pode ser


aceita como justificativa, no entanto a simples alegação de desemprego que não demonstra ao
menos uma tentativa de cumprir com a obrigação alimentar, não podem ser considerados como
justificativa viável a impedir a prisão civil. Nesse sentido muitos tentam se valer da ausência
do emprego formal na tentativa de se eximir de cumprir com a obrigação. Motivo esse que os
julgadores são criteriosos neste aspecto.
Por outro lado, tem-se aqueles que realmente não tem como pagar, seja porque
estão doentes e impedidos de trabalhar, seja porque realmente a situação em sido
verdadeiramente de dificuldades financeiras, decorrentes de caso fortuito e força maior,
devidamente comprovados.
O decreto prisional deve ser utilizado quando o inadimplemento é voluntário e
inescusável, caso contrário, dependendo da justificativa apresentada e, em havendo dúvida,

5
Disponível em: https://tj-pr.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/19478823/agravo-de-instrumento-ai-6595755-pr-
0659575-5/inteiro-teor-19478824, Acesso em 26/02/2022
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pode o juiz, em razão do poder geral de cautela designar audiência de tentativa de conciliação,
de forma a viabilizar que as partes celebrem um acordo, colocando fim à lide.
Na justificativa é viável que o devedor reconheça o débito, demonstre que esteve
impossibilitado temporariamente de pagar, e ofereça acordo, esta é uma das alternativas que
impedem o decreto prisional, pois, neste caso, a medida restritiva de liberdade não surtirá
efeito algum, pelo contrário, poderá, inclusive, prejudicar a manutenção do pagamento das
parcelas alimentares vincendas.
Casos como esse em que o devedor não vem cumprindo com a sua obrigação,
seja porque realmente não tem condições financeiras para tanto, seja porque cuida de outros
filhos pequenos, a prisão civil não garante o pagamento da prestação, e por fim, dificulta ainda
mais que o devedor comece a contribuir em dia, os valores aos quais já foi condenado a quitar.
Se faz necessário outras formas de punição diversas da prisão, trazendo
oportunidades para o devedor poder saudar com seu compromisso, com isso tanto o alimentante
ganha, quanto quem recebe os alimentos.
Dessa forma, a finalidade da norma não será atingida, e se o juiz da causa fizer
a aplicação da norma, nos rigores da Lei, de forma imediata sem a análise mais acurada do caso,
constatando que a prisão civil do devedor além de não funcionar como coerção, porque o
devedor não tem como cumprir com sua obrigação alimentar, funcionaria como meio de
distanciá-lo ainda mais do cumprimento de sua obrigação, deve o magistrado analisar outras
hipóteses que concederão maior efetividade à execução, contudo ele se encontra adstrito a Lei.
Se o devedor é tão hipossuficiente que não tem patrimônio a garantir a
execução ou saldar o débito, de nada adiantará a medida coercitiva, uma vez que a prisão civil
aplicada não quita o débito nos termos do artigo 19 da Lei 5.748/68, que diz:

Art. 19. O juiz, para instrução da causa ou na execução da sentença ou do acordo,


poderá tomar todas as providências necessárias para seu esclarecimento ou para o
cumprimento do julgado ou do acordo, inclusive a decretação de prisão do devedor
até 60 (sessenta) dias.
§ 1º O cumprimento integral da pena de prisão não eximirá o devedor do pagamento
das prestações alimentícias, vincendas ou vencidas e não pagas. (Redação dada
pela Lei nº 6.014, de 27/12/73)6.

E, após ser colocado em liberdade em razão do cumprimento da medida, a dívida


continua a existir, só não mais poderá ser executa pelo rito da coerção pessoal, convertendo
então para o procedimento da execução previsto no artigo 732 do Código de Processo Civil,

6
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5478.htm, acesso em 03/03/2022
11

que se utiliza do rito comum de execução contra o devedor solvente, qual seja a penhora de
bens.
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3. PRISÃO CIVIL FRENTE À PANDEMIA

Com a vinda da pandemia do novo coronavírus – Covid-19, houve uma flexibilização, em


relação à prisão Civil do devedor de alimentos, muitos juízes suspenderam os mandados de prisão civil do devedor
de alimentos, tomando com base as resoluções e Recomendações, dentre as mais famosas tem-se a Recomendação
Nº 62 de 17/03/2020, que dentre tantas considerações tem-se:

“CONSIDERANDO a necessidade de estabelecer procedimentos e regras para fins


de prevenção à infecção e à propagação do novo coronavírus particularmente em
espaços de confinamento, de modo a reduzir os riscos epidemiológicos de transmissão
do vírus e preservar a saúde de agentes públicos, pessoas privadas de liberdade e
visitantes, evitando-se contaminações de grande escala que possam sobrecarregar o
sistema público de saúde”7;

E ainda:
CONSIDERANDO o alto índice de transmissibilidade do novo coronavírus e o
agravamento significativo do risco de contágio em estabelecimentos prisionais e
socioeducativos, tendo em vista fatores como a aglomeração de pessoas, a
insalubridade dessas unidades, as dificuldades para garantia da observância dos
procedimentos mínimos de higiene e isolamento rápido dos indivíduos sintomáticos,
insuficiência de equipes de saúde, entre outros, características inerentes ao “estado de
coisas inconstitucional” do sistema penitenciário brasileiro reconhecido pelo Supremo
Tribunal Federal na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental nº 347;

Trouxe a recomendação sobretudo em seu artigo 6º, que aduz:


“Art. 6º Recomendar aos magistrados com competência cível que considerem a
colocação em prisão domiciliar das pessoas presas por dívida alimentícia, com vistas
à redução dos riscos epidemiológicos e em observância ao contexto local de
disseminação do vírus”8.

Por esse motivo, foram impetrados muitos “Habeas corpus”, com isso devolveu-
se a liberdade para grande parte dos executados em cumprimento de sentença por pensão
alimentícia em atraso, em muitos processos os exequentes optaram pelo rito da penhora,
mudando a classe processual diversa da prisão. Em outras, optaram pelo fim da suspensão, que
perdurou por quase dois anos.
Assim tem-se o seguinte dentre muitos julgados em sede de Habeas Corpus:
HABEAS CORPUS CÍVEL
Processo nº 2140316-97.2021.8.26.0000

7
Disponível em: https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/3246, acesso em 03/03/2022
8
Disponível em: https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/3246, Art.6º, acesso em 03/03/2022
13

Nº de 1ª Instância: 1038216-46.2019.8.26.0196
Comarca: Franca (2ª Vara da Família e Sucessões)
Impetrante: R. B.
Paciente: C. I. Q.
Impetrado: MM. Juiz de Direito da 2ª Vara da Família e Sucessões
de Franca
Interessados: A. V. A. Q. e outro (menores)
Voto n. 24.075
EMENTA: HABEAS CORPUS Prisão Civil
Cumprimento de Sentença - Alimentos Execução por
coerção – Conversão do pedido para o rito da expropriação -
Perda superveniente do objeto da presente ação – Prisão
revogada - Extinção do processo sem resolução do mérito9.

A prisão civil do devedor de alimentos, como já estudado anteriormente, carece


de caráter punitivo, possuindo escopo exclusivamente coercitivo, destinando-se a compelir o
devedor a adimplir o débito alimentar.
O cumprimento da prisão em regime domiciliar ou com imposição de medidas
cautelares, não têm força persuasiva para motivar o cumprimento da obrigação, uma vez que
no atual cenário de Pandemia, o isolamento social em casa é a regra e não a exceção.
Nessa senda tem-se a lição de Celso Neves, comentando o artigo 733 do Código
Processo Civil de 1973, atual artigo 528 do CPC de 2015, que aduz:
"trata-se de regra de coerção com que se busca o adimplemento direto da prestação,
pelo obrigado". Aduz, citando Amílcar de Castro que, “é um meio executivo de
finalidade econômica. Prende-se o executado, não para puni-lo, como se criminoso
fosse, mas para forçá-lo indiretamente a pagar, supondo-se que tenha meios de
cumprir a obrigação e queira evitar a sua prisão, ou readquirir sua liberdade"10.

Neste ponto crucial da pandemia, o entendimento do STJ era no sentido de


que:

"3. Considerando a gravidade do atual momento, em face da pandemia


provocada pelo coronavírus (Covid-19), a exigir medidas para contenção
do contágio, foi deferida parcialmente a liminar para assegurar ao
paciente, o direito à prisão domiciliar, em atenção à Recomendação CNJ
nº 62/2020. 4. Esta Terceira Turma do STJ, porém, recentemente,
analisando pela primeira vez a questão em colegiado, concluiu que a
melhor alternativa, no momento, é apenas a suspensão da execução das
prisões civis por dívidas alimentares durante o período da pandemia,
cujas condições serão estipuladas na origem pelos juízos da execução da
prisão civil, inclusive com relação à duração, levando em conta as
determinações do Governo Federal e dos Estados quanto à decretação do
fim da pandemia (HC n.º 574.495/SP)" (HC 580.261/MG, Rel. Ministro
PAULO DE TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado
em 02/06/2020, DJe 08/06/2020)11.

9
Habeas corpus cível 2140316-97.2021.8.26.0000- Voto nº 24.075
10
NEVES, Celso. Comentário ao Código de Processo Civil. vol. VII. Rio de Janeiro: Forense, p. 176.
11
Disponível em: https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/868173449/habeas-corpus-hc-574495-sp-2020-
0090455-1/inteiro-teor-868173457?ref=juris-tabs, acesso em 03/03/2022
14

Nesse sentido, a Organização Mundial da Saúde declarou situação de pandemia


em relação ao novo coronavírus em 11 de março de 2020. Em âmbito nacional, foi realizada a
Declaração de Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional – ESPIN veiculada pela
Portaria no 188/GM/MS, em 4 de fevereiro de 2020, e aprovada a Lei nº 13.979, de 6 de
fevereiro de 2020, a qual versa sobre as medidas para enfrentamento da emergência de saúde
pública de importância internacional decorrente do coronavírus.
Logo após foi também aditada a Recomendação nº 27, de 22 de abril de 2020,
que assim estatui:
Recomenda ad referendum do Pleno do Conselho Nacional de Saúde
Ao Estado brasileiro:
1. Que, nos níveis federal e estadual, estimule uma política de reconversão industrial,
para que o parque fabril brasileiro possa adequar-se, em parceria com as instituições
de ciência e tecnologia, com vistas à produção em larga escala de equipamentos de
saúde destinados à proteção coletiva e individual dos profissionais de saúde, com a
devida dotação dos recursos financeiros e materiais necessários;
2. Que sustente, nos níveis federal e estadual, a recomendação de manter o isolamento
social, num esforço de achatamento da curva de propagação do coronavírus, até que
evidências epidemiológicas robustas recomendem a sua alteração;
3. Que os poderes executivos federal e estaduais, aprovem linhas de crédito para a
ampliação da capacidade tecnológica e produtiva dos laboratórios nacionais de
medicamentos e insumos para o enfrentamento da pandemia;
4. Que os poderes executivos federal e estaduais aprovem linhas de crédito aos pequenos
e médios empreendedores do ramo têxtil para a produção de equipamentos individuais
destinados a proteção da população12;

Por esse motivo as prisões civil por dívidas de alimentos ficaram suspensas até
31 de dezembro de 2021, e com o avanço da imunização pela vacinação, houve então o inicio
do relaxamento da suspensão das prisões civis por dívida alimentícia, sendo o entendimento do
Superior Tribunal de Justiça. Que em recente decisão assim aduziu:
“Em razão do aumento significativo de pessoas imunizadas contra a Covid-19 no
Brasil, além da diminuição dos registros de novos casos e de mortes, a Terceira Turma
do Superior Tribunal de Justiça (STJ) entendeu ser possível a retomada gradual do
regime fechado nas prisões civis por dívida alimentícia, como forma de obrigar o
devedor a pagar o débito e proteger os interesses de crianças e adolescentes.
"É importante retomar o uso da medida coativa da prisão civil, que se mostra, sem
dúvida nenhuma, um instrumento eficaz para obrigar o devedor de alimentos a
adimplir com as obrigações assumidas", declarou o relator do habeas corpus em
julgamento, ministro Moura Ribeiro, acrescentando que as providências adotadas pela
Justiça nesse período "não se mostraram eficazes".
Ele alertou que os alimentandos foram os grandes prejudicados com a situação, pois
ficaram por muito tempo esperando essa mudança de cenário, sem receber as verbas
essenciais para uma sobrevivência digna. Acompanhando o relator, o colegiado
manteve a decisão de tribunal estadual que restabeleceu a prisão fechada no âmbito
de cumprimento de sentença em ação de cobrança de alimentos”13.

12
Disponível em: https://conselho.saude.gov.br/recomendacoes-cns/1132-recomendacao-n-027-de-22-de-abril-
de-2020, acesso em 03/03/2022
13
Disponível em: https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias/20122021-Melhora-do-
cenario-da-pandemia-permite-retomada-do-regime-fechado-na-prisao-por-divida-alimenticia.aspx. Acesso em
03/03/2022
15

Logo com a flexibilização do isolamento em praticamente todo país, conclui o


relator Moura Ribeiro, que “deve ser retomado o mecanismo extremo”, mais eficaz para o
cumprimento da obrigação, segundo ele.
16

4 - OUTRAS FORMAS E MANEIRAS EFETIVAS DIVERSAS DA PRISÃO CIVIL

Em análise do que já foi exposto até o presente momento, frente a realidade que
o Brasil atravessa, em relação a economia, em relação à pandemia, em relação ao atual sistema
carcerário brasileiro, deve-se pesquisar e trazer a baila outras medidas diversas da prisão em
regime fechado, que como já explanado, nem sempre tem o condão de atingir seu objetivo
maior, a adimplência dos valores em atraso, da pensão alimentícia.
Sendo assim, tem-se o Direito Comparado com outros países da América Latina,
países esses que também utilizam a prisão civil como forma última de coagir o devedor a fim
de adimplir com a obrigação de quitar com os débitos de pensão.
Dentre alguns países tem-se o Chile, cuja legislação também impõe medidas
compulsivas porém ao contrário do Brasil, são progressivas, para que haja o adimplemento da
obrigação de prestar os alimentos.
Com o não pagamento das prestações o genitor que detém a guarda da criança
pode entrar com um processo, a fim de que o acordo seja cumprido, caso não chegue a nenhum
acordo, então pede-se:
“A suspensão da carteira de motorista por até seis meses ou mais; pode-se pedir, ainda,
o reembolso de imposto para que este seja retido para pagar a pensão de comida com
esse dinheiro; poderá haver o pedido de uma ordem de prisão noturna por até 15 dias,
isso significa que o devedor dormirá na cadeia das 10 da noite até as 6 da manhã; se
a medida acima não foi suficiente e a dívida não for paga, então pode-se pedir uma
prisão completa por 15 dias. Isso significa sem sair da prisão pelo tempo que
acabamos de mencionar; O juiz também pode decretar que o salário (até 50%) seja
enfeitado e que seja depositado em uma conta corrente para pagar a pensão; além
disso, possibilita-se a proibição do inadimplente deixar o país (raízes nacionais);
finalmente, pode-se solicitar que sejam aproveitados os ativos que você tem para
pagar o que deve”14.

No chile o devedor de alimentos como se observa acima, tem um pena


progressiva, até atingir a prisão em regime fechado, sendo portanto, mais branda e justa do que
no Brasil, ando a a oportunidade do executado, se ajustar, correr atras, e conseguir adimplir
com sua obrigação.

14
Disponívelem:https://translate.google.com/translate?hl=pt-BR&sl=es&u=https://www.divorciofacil.cl/pension-
de-alimentos/&prev=search. Acesso em 13/03/2022.
17

Começa com a suspensão da carteira de motorista, depois uma prisão noturna


por até 15 dias, e se ainda não adimplir com a dívida, uma prisão completa por 15 dias, muito
diferente do sistema atualmente utilizado no Brasil, que utiliza um sistema rígido e desumano,
ou “paga ou vai preso”, a depender por trinta até noventa dias de prisão em regime fechado.
Diga-se de passagem, “desumano”, porque nem sempre o executado, consegue
ser bem sucedido na justificativa, e mesmo passando por várias privações financeiras, as vezes
se alimentando as custas de parentes próximos, ainda assim, tem sua prisão decretada.
Em se tratando de genitor que tem condições econômicas mais que suficientes
para pagar a pensão e não o faz de forma deliberada, não resta dúvida que para ele a prisão é
medida que se impõe, pois não cumpre sua obrigação por que não quer.
Em contrapartida, deparamos, com muitos pais inadimplentes, de filhos(as), já
são de maior de idade, trabalham e auferem renda até maior do que o genitor, e por questão
pessoal, até mesmo por uma “espécie de vingança”, não abrem mão da pensão sob, alegação
de que estão cursando faculdade, ou curso técnico, e por isso necessitam da continuidade do
pagamento das pensões, de certo que se esse fosse o único filho(a), tudo bem, mas na grande
maioria dos divórcios em questão, o genitor arruma outro relacionamento, o que acaba tendo
outros filhos para cuidar.
18

5 – CONCLUSÃO

Por ser os alimentos essencial a vida, para a manutenção da obrigação alimentar,


o ordenamento Jurídico Brasileiro estabelece a prisão civil, como medida restritiva mais
gravosa, sendo constitucional a sua decretação em caso de inadimplemento.
Sendo conhecida popularmente como uma das poucas prisões que realmente se
mostra um grau de efetividade.
Isto posto, a prisão civil cumpre o seu proposito na maioria das vezes, em relação
aos responsáveis pelo pagamento de alimentos as suas proles, decorrentes de uma relação
familiar, que acaba em separação, ou divórcio.
Muito embora o devedor de alimentos em um processo de execução por
inadimplemento, possa oferecer justificativa, do porque está em débito, nem sempre o mesmo
consegue provar que sua condição financeira, mudou e desde então não consegue seja por
desemprego, seja por motivo de doença, seja por motivos alheios a sua vontade, adimplir com
sua obrigação de prestar alimentos naquele patamar, e por fim tem sua prisão civil decretada,
tendo com isso outros problemas piores, para não só adimplir com as pensões em atraso, como
para trazer a mesa o pão de cada dia a sua prole de outro relacionamento.
Neste interim, compete ao magistrado analisar o caso e verificar se a ordem de
prisão trará a solução da lide.
No entanto o que se vê, é que os Juízes não dão muita importância aos
argumentos da justificativa, talvez por serem eivados de provas robustas, provas estas que nem
sempre são fáceis de apresentar, e por esse motivo, decretam a prisão deliberadamente, por um
mínimo de 30 dias.
Ainda que se critica tal sistemática, em alguns casos são justas, pois realmente o
executado deixa de adimplir as mensalidades da pensão pura e simplesmente por capricho, e
não porque o genitor está passando por alguma dificuldade, nesses casos nada mais que justo
a aplicação da norma, de modo coercitivo.
Contudo, alterações legislativas, entendimentos jurisprudenciais e argumentos
doutrinários que proporcionam a aplicação cada vez mais adequada da norma civil aos casos
que são submetidos à apreciação do Judiciário são bem vindas, desde que estas estejam
19

acessíveis ao intérprete para que a aplicação da norma seja mais adequada ao caso concreto,
seja definida por aquele que está em contato com as partes.

Portanto busca-se meios efetivos diversos da prisão, desde que a analise dos
caso em si, se mostre propício à satisfação do crédito, seja por meio de outras sanções como a
que foi desenvolvida no Chile.
Durante a pandemia houve de certo modo, uma flexibilização m relação a
prisão civil, do devedor de alimentos, ficando suspensas até 31 de dezembro de 2021, em
média. Isto foi realizado por meio de Resoluções e recomendações, (Recomendação Nº 62 de
17/03/2020). Com houve tempo hábil para os inadimplentes correrem atras de serviço, e
acertarem sua situação de inadimplência com as prestações alimentícias em atraso.
Outros casos, porém, nem assim, procuraram solucionar suas pendencias,
achando de certo modo bom o abrandamento da Lei para continuarem inadimplentes.
Sendo assim, mister cada caso ser visto de forma peculiar, e trazer meios
eficientes de separar o “joio do trigo”, de modo que abrandar aqueles que realmente não tem
tido condição alguma para o pagamento imediato da obrigação e em contrapartida, ser rígido
nos rigores da Lei, para aqueles que tem com que pagar e não pagam, vivem se esquivando da
obrigação.
20

6 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

NEVES, Celso. Comentário ao Código de Processo Civil. vol. VII. Rio de Janeiro: Forense, p.
176.

Habeas corpus cível 2140316-97.2021.8.26.0000- Voto nº 24.075

Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/topicos/28891642/artigo-528-da-lei-n-13105-de-


16-de-marco-de-2015. Acesso em 26/02/2022

Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso


em 26/02/2022

Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm. Acesso


em 26/02/2022

Disponível em: https://tj-pr.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/19478823/agravo-de-instrumento-


ai-6595755-pr-0659575-5/inteiro-teor-19478824, Acesso em 26/02/2022

Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5478.htm, acesso em 03/03/2022

Disponível em: https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/3246, acesso em 03/03/2022

Disponível em: https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/3246, Art.6º, acesso em 03/03/2022

Disponível em: https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/868173449/habeas-corpus-hc-


574495-sp-2020-0090455-1/inteiro-teor-868173457?ref=juris-tabs, acesso em 03/03/2022

Disponível em: https://conselho.saude.gov.br/recomendacoes-cns/1132-recomendacao-n-027-


de-22-de-abril-de-2020, acesso em 03/03/2022
21

Disponível em: https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias/20122021-


Melhora-do-cenario-da-pandemia-permite-retomada-do-regime-fechado-na-prisao-por-divida-
alimenticia.aspx. Acesso em 03/03/2022

Disponívelem:https://translate.google.com/translate?hl=pt-
BR&sl=es&u=https://www.divorciofacil.cl/pension-de-alimentos/&prev=search. Acesso em
13/03/2022.

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