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ALIMENTOS:

aspectos materiais e
processuais
Professora Fernanda Tartuce
www.fernandatartuce.com.br
@Fernandatartuceii (instagram)
Fernanda Tartuce (Youtube, Facebook e Linkedin
fetartuce@uol.com.br
Temas
a) Características dos alimentos no Código Civil;
b) Questões polêmicas sobre irrepetibilidade e
renúncia;
c) Aspectos procedimentais da ação de alimentos.
Conceito de alimentos
Prestações destinadas
ao sustento cotidiano das pessoas para atender
às suas necessidades do dia a dia
Crédito alimentar:
peculiaridades.
- Previsão na Constituição Federal;

- Previsão em lei específica;

- Previsão no CPC.
Questão
Por que os alimentos recebem um tratamento
normativo tão privilegiado?
a) Pelo nexo com a dignidade humana?
b) Pela urgência?
c) Pela necessidade de reforçar a solidariedade?
d) Todas as anteriores.
Causas da obrigação alimentar
Os alimentos, quanto à causa jurídica, decorrem
 da lei (por vínculo familiar entre certas pessoas);
 de testamento;
 de sentença judicial condenatória (indenização
para ressarcir danos decorrentes de ato ilícito);
 de convenção (ex: contrato de doação). 
Questão
A proteção conferida aos alimentos (execução
sob pena de prisão) diz respeito apenas aos
alimentos decorrentes do direito de
família/sucessório
ou engloba também os alimentos decorrentes de
ato ilícito (pensão mensal)?
Questão
Jodeílde tem 8 anos e ficou órfã de ambos os
pais em razão de acidente de veículos causado
por Lupércio, que foi condenado
criminalmente por tal homicídio.
Considerando que na demanda cível há pedido
de alimentos em favor de Jodeílde, pergunta-
se: caso não pague a pensão estipulada
Lupércio poderá ser preso? Justifique.
CF, art. 5º

LXVII - não haverá prisão civil por dívida,


salvo a do responsável pelo inadimplemento
voluntário e inescusável de obrigação
alimentícia e a do depositário infiel;
STJ
HABEAS CORPUS. SUBSTITUTIVO DE RECURSO ORDINÁRIO.
ADMISSIBILIDADE EM HIPÓTESES EXCEPCIONAIS. ALIMENTOS
DECORRENTES DE ATO ILÍCITO. NATUREZA INDENIZATÓRIA.
PRISÃO CIVIL. NÃO CABIMENTO. RITO EXECUTIVO PRÓPRIO.
ART. 533 DO CPC/15. ORDEM CONCEDIDA. 1. A impetração de habeas
corpus como substitutivo do recurso ordinário somente é admitida
excepcionalmente quando verificada a existência de flagrante ilegalidade no
ato judicial impugnado, hipótese dos autos. 2. Os alimentos devidos em
razão da prática de ato ilícito, conforme previsão contida nos artigos 948,
950 e 951 do Código Civil, possuem natureza indenizatória, razão pela qual
não se aplica o rito excepcional da prisão civil como meio coercitivo para o
adimplemento. 3. Ordem concedida. (STJ, HC 523.357/MG, Rel. Min. Maria
Isabel Gallotti, j. em 01/09/2020, DJe: 16/10/2020)
Teor do acórdão
Como sabido, os alimentos, de acordo com a causa de sua origem,
podem ser classificados em três espécies, quais sejam, legítimos
(devidos por força de vínculo familiar estabelecido em lei),
voluntários/negociais (derivados de negócio jurídico) ou
indenizatórios (em razão de ato ilícito).
A obrigação alimentícia, consubstanciada no dever de prestar
assistência aos familiares, possui assento no artigo 229 da
Constituição Federal de 1988:
Art. 229. Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos
menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais
na velhice, carência ou enfermidade. (...)
Com base nessa premissa, da distinção entre obrigação alimentar
propriamente dita e obrigação de ressarcimento de prejuízo decorrente
de ato ilícito, parte expressiva da doutrina sustenta que somente no
primeiro caso (obrigações de direito de família) é cabível a prisão civil
do devedor de obrigação de prestar alimentos. (...)
Esse entendimento é corroborado pela circunstância de que o CPC em
vigor apresenta regra específica destinada a reger a execução de sentença
indenizatória que incluir prestação de alimentos:
Art. 533. Quando a indenização por ato ilícito incluir prestação de
alimentos, caberá ao executado, a requerimento do exequente, constituir
capital cuja renda assegure o pagamento do valor mensalda pensão. (....)
Feito esse parênteses, observo que realmente, como acentuado por
Cássio Scarpinella Bueno e por José Miguel Garcia Medina, entre outros
doutrinadores, o art. 528 do CPC/2015, assim como o art. 733 do
CPC/73, ao estabelecer a possibilidade de decreto de prisão em caso de
não pagamento injustificado da pensão, não faz diferença entre a
obrigação alimentar de direito de família e a decorrente de ato ilícito.
Penso, todavia, que é manifesta a distinção entre a obrigação de prestar
alimentos em derivada de vínculo familiar e a decorrente da condenação
a compor os prejuízos causados por ato ilícito. Com efeito, os
“alimentos” indenizatórios são arbitrados em quantia fixa, pois são
medidos pela extensão do dano, de forma a ensejar, na medida do
possível, o retorno ao status quo ante.
Ao contrário, os alimentos civis/naturais devem necessariamente levar
em consideração o binômio necessidade-possibilidade para a sua
fixação, estando sujeitos à reavaliação para mais ou para menos, a
depender das vicissitudes ocorridas na vida dos sujeitos da relação
jurídica. (...)
Considero que, embora nobre a intenção do intérprete, e sem descurar da
possível necessidade do credor dos alimentos indenizatórios, não é dado
ao Poder Judiciário ampliar as hipóteses de cabimento de medida de
caráter excepcional e invasiva a direito fundamental garantido pela
Constituição Federal. (...)
Cumpre ressaltar que o alargamento das hipóteses de prisão civil, para
alcançar também prestação de alimentos de caráter indenizatório,
chegando a se estender, no limite proposto por Cássio Scarpinella
Bueno, a todos os credores de salários e honorários profissionais, acaba
por enfraquecer a dignidade excepcional, a força coercitiva extrema, que
o ordenamento jurídico, ao vedar como regra geral a prisão por dívida,
concedeu à obrigação alimentar típica, decorrente de direito de família, a
qual, em sua essência, é sempre variável de acordo com as necessidades
e possibilidades dos envolvidos. (...)
TJSP

HABEAS CORPUS PREVENTIVO. EXECUÇÃO DE


ALIMENTOS DECORRENTE DE AÇÃO
INDENIZATÓRIA POR ATO ILÍCITO. ANUNCIADA A
ORDEM DE. Prisão. Inadmissibilidade. Não se discute os
deveres inerentes às relações de parentesco, na forma do art.
528, do CPC. Ordem concedida. (TJSP; HC 2265672-
05.2021.8.26.0000; Ac. 15489256; Itapetininga; Trigésima
Sexta Câmara de Direito Privado; Rel. Des. Pedro Baccarat;
Julg. 16/03/2022; DJESP 22/03/2022)
TJPR
APELAÇÃO CÍVEL. NÃO RECEBIMENTO DA
PETIÇÃO INICIAL DA EXECUÇÃO DE ALIMENTOS
INDENIZATÓRIOS, VISANDO A PRISÃO CIVIL DO
DEVEDOR. IMPOSSIBILIDADE DA PRETENDIDA
PRISÃO CIVIL. Distinção entre devedor de alimentos
decorrente de vínculo familiar e daquele decorrente de
indenização por ato ilícito. Precedentes do STJ. Sentença
mantida. Recurso desprovido. Apelação cível desprovida.
(TJPR; ApCiv 0001235-91.2021.8.16.0083; Francisco
Beltrão; Décima Câmara Cível; Relª Desª Elizabeth Maria
de França Rocha; Julg. 14/03/2022; DJPR 14/03/2022)
Direito aos alimentos: caracteres - Fachin
• Imprescritível;
• Irrenunciável;
• Impenhorável;
• Irrepetível;
• Inalienável;
• Incedível;
• Incompensável;
• Não transacionável.
Rolf Madaleno

Proíbe a lei o “não querer” desfrutar


de certos direitos havidos como
essenciais à dignificação social da
pessoa, que se apresentam como
fundamentais à vida, e vida digna.
São os alimentos irrepetíveis?
CC, Art. 1.707.

Pode o credor não exercer, porém lhe é vedado renunciar o direito a


alimentos, sendo o respectivo crédito insuscetível de cessão,
compensação ou penhora.
Posição dominante - sim
Para Maria Berenice Dias, é inconcebível cogitar sobre a restituição
porque os alimentos visam a garantir a vida do alimentando,
destinando-se a aquisição de bens para seu consumo.

No mesmo sentido, há decisões reconhecendo que “a


irrepetibilidade dos alimentos é inerente à própria natureza da
obrigação alimentar”.
TJAL
APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO DE FAMÍLIA. ALIMENTOS.
PLEITO DE DEVOLUÇÃO DE VALORES PAGO A MAIOR. Erro
da fonte pagadora. Regra da irrepetibilidade dos alimentos.
Possibilidade de relativização em caso de má-fé. Má-fé não
comprovada. Impossibilidade de devolução da verba alimentar.
Sentença mantida. 01 em regra a verba alimentar é irrepetível, havendo
a possibilidade de relativização, apenas quando houver a efetiva
demonstração de má-fé. 02 no caso em comento, não restou
devidamente comprovada a má-fé da recorrida, de modo que, se torna
impossível a devolução da verba alimentar. Recurso conhecido e não
provido. Decisão unânime. (TJAL; AC 0723457-25.2019.8.02.0001;
Rel. Des. Fernando Tourinho de Omena Souza; DJAL 30/03/2022)
CC

Art. 1.708. Com o casamento, a união estável


ou o concubinato do credor, cessa o dever de
prestar alimentos.
TJPE
AÇÃO REVISIONAL DE ALIMENTOS. (...) Não há se falar em
direito à devolução do pagamento feito a maior pelo recorrente em
decorrência de haver pago a integralidade do plano de saúde da parte
autora, e não a metade, como ficou assentado na sentença proferida na
Ação de Divórcio. A restituição de valores eventualmente pagos a
maior, a título de pensão alimentícia, somente seria possível em casos
de comprovada má-fé do alimentando, o que não restou comprovado
nos autos. (...) (TJPE; APL 0072668-30.2014.8.17.0001; Quinta
Câmara Cível; Rel. Des. Jovaldo Nunes Gomes; Julg. 30/01/2019;
DJEPE 07/02/2019)
TJSP
APELAÇÃO. AÇÃO DE ALIMENTOS. PEDIDO FORMULADO
EM FACE DO EX-CÔNJUGE. Improcedência. Casal separado de
fato há muitos anos, tendo a autora fonte de renda própria, bem como
contando com sua meação no produto obtido com a venda do imóvel
comum, não se justificando imposição de obrigação de alimentos ao
ex-marido. Litigância de má-fé. Caracterização. Substancial alteração
da verdade dos fatos (art. 80, II do CPC). Inicial apresentando a autora
como idosa que teria sido abruptamente abandonada pelo marido
depois de várias décadas de casamento, não tendo fonte de renda,
dependendo do cônjuge para sua subsistência. Casal que, na realidade,
estava separado de fato há 17 anos, tendo a autora trabalhado e se
aposentado, contando com fonte de renda.
Discrepância sobre fato relevante que indevidamente influenciou na
fixação de alimentos provisórios. Comportamento que não caracteriza
mero erro técnico. Redução do valor da multa aplicada, exclusão da
obrigação de custear despesas de viagem do réu e quanto ao pagamento
de honorários contratuais de advogado, mantida obrigação de
restituição dos valores percebidos no curso da lide a título de
indenização. Recurso parcialmente provido. (TJSP; AC 1002335-
24.2018.8.26.0590; Ac. 13906628; São Vicente; Primeira Câmara de
Direito Privado; Rel. Des. Enéas Costa Garcia; Julg. 28/08/2020;
DJESP 04/09/2020)
Questão

É possível renunciar, quando do divórcio, aos


alimentos?

Caso haja mudança na condição econômica


posteriormente será possível voltar atrás?
Código Civil de 1916

Livro I – Do Direito de Família


Título V – Das relações de parentesco
Capítulo VII - Dos Alimentos

Art. 404:  Pode-se deixar de exercer, mas não se pode


renunciar o direito a alimentos.
Lição clássica: Orlando Gomes
“Não se pode renunciar o direito a alimentos. A
proibição decorre do caráter necessário da prestação
alimentar, sendo supérflua, por conseguinte, a sua
expressa declaração na lei. A irrenunciabilidade
atinge o direito, não seu exercício. O que ninguém
pode fazer é renunciar a alimentos futuros, a que jaça
jus, obrigando-se a não reclamá-las, pois lhe é
permitido expressamente deixar de exercer o
direito..”
Código Civil vigente
Art. 1.694: "Podem os parentes, os cônjuges ou
companheiros pedir uns aos outros os alimentos de
que necessitem para viver de modo compatível com a
sua condição social, inclusive para atender às
necessidades de sua educação“.

Amplia o alcance dos alimentos; antes, no art. 396 do


CC-16 eles só decorriam do parentesco e agora
incidem entre cônjuges e companheiros.
CC, Art. 1.704. Se um dos cônjuges separados
judicialmente vier a necessitar de alimentos, será o
outro obrigado a prestá-los mediante pensão a ser
fixada pelo juiz, caso não tenha sido declarado
culpado na ação de separação judicial.

§ único. Se o cônjuge declarado culpado vier a


necessitar de alimentos, e não tiver parentes em
condições de prestá-los, nem aptidão para o trabalho,
o outro cônjuge será obrigado a assegurá-los, fixando
o juiz o valor indispensável à sobrevivência
Rolf Madaleno
Será nula qualquer convenção para extinguir o direito
alimentar.

Os arts. 1.704 e 1.707 ressuscitam a velha polêmica


da irrenunciabilidade entre cônjuges e unidos
estavelmente, permitindo expirar
uma longa e dispensável
rediscussão da relatividade dos alimentos, que
tradicionalmente vinham sendo dispensados na mera
obrigação alimentar.
Maria Berenice Dias
Como os alimentos são irrenunciáveis, ainda que
tenha havido renúncia, desistência ou mera dispensa
na separação, no divórcio ou na dissolução
(contratual ou judicial) da união estável, qualquer dos
cônjuges ou conviventes pode a qualquer tempo
pleitear alimentos. Basta exsurgir a necessidade.
Rodrigo da Cunha Pereira
É impraticável a proibição de renúncia aos alimentos entre
cônjuges ou companheiros.

Rolf Madaleno: não faz sentido que o NCC ande na


contramão da história, afrontando toda uma sólida
jurisprudência construída com coerência e bom senso
ao deixar de distinguir a obrigação alimentar derivada
do casamento/da união estável do dever alimentar
relacionado ao parentesco...
Contrponto: Zeno Veloso
“Não há sentido ou razão para que um cônjuge, pessoa capaz,
colocada em plano de igualdade com o outro cônjuge, no
acordo de separação amigável, que tem, ainda, de ser
homologado pelo juiz, não possa abrir mão de alimentos,
fique impedido de rejeitar esse favor, tolhido de renunciar a
tal benefício, se possui bens ou rendas suficientes para sua
sobrevivência, manutenção, e manter padrão de vida digno,
ficando o outro cônjuge a mercê de uma reclamação futura de
alimentos, apresentada pelo que, livremente, renunciou à
pensão alimentícia, perpetuando-se, numa sociedade conjugal
extinta e dissolvida, o dever de mútua assistência que
relacionava os consortes durante a convivência matrimonial”.
Rolf Madaleno
Grande verdade percebida pelos tribunais e por grande parte da
doutrina: decisões são tomadas por pessoas adultas
capazes, que correm os riscos e assumem os custos
materiais de suas opções...
É muito cômodo garantir por lei e por vínculo de um
casamento desfeito, às vezes de curta duração, um direito
alimentar vitalício, como se fosse um seguro a ser
acionado sempre que o ex-cônjuge ou ex-convivente
esbarrasse em dificuldades financeiras, isentando-se dos
riscos na condução de sua própria vida, e de sua inteira
responsabilidade, desde que se apartou do parceiro com o
qual compartia seu tempo, seus planos e seu espaço.
Desembargador Brasil Santos - TJRS
Evidente a inconveniência dessa disposição, no que diz
respeito ao casamento e à união estável. É que, em se
tratando de direito patrimonial, e ainda mais tendo em
conta que o casamento (assim como a união estável, é
claro) trata-se de um vínculo que há muito não mais
desfruta da característica da indissolubilidade,
injustificável que a ele se associe a geração de um direito
indisponível!
Brasil Santos - TJRS
Ademais, é sabido que, muitas vezes, a obtenção de um
acordo de separação ou divórcio consensual exige
determinadas concessões recíprocas. Nesse contexto, a
renúncia aos alimentos é manifestada em troca de outras
vantagens patrimoniais. Agora, com a impossibilidade de
dispor dos alimentos estendida também aos cônjuges, a
margem de negociação de acordos restará
significativamente restringida.
Nancy Andrighi
... reconhecida a irrenunciabilidade dos alimentos
entre cônjuges, a homologação da separação
consensual deve ser exercida com extrema prudência,
reflexão e, antes de tudo, sensatez, não se restringindo
a perquirir se a manifestação de vontade das partes
está livre de vícios, mas, em especial, a analisar os
reflexos futuros dos termos em que se formaliza a
separação, tanto para os ex-consortes quanto para
seus descendentes.
TJSP
(...) ALIMENTOS. Fixação. Ex-cônjuge. Expressa renúncia aos
alimentos em processo de divórcio consensual devidamente
homologado por sentença. Indicação de dificuldades financeiras.
Renúncia formulada por partes capazes acompanhadas de profissional
da advocacia. Ato jurídico perfeito a gerar efeitos. Posição da
jurisprudência a sacramentar a plena eficácia do ato dispositivo.
Eventual fato superveniente a exigir específica ação em busca da
desconstituição do ato por proclamado vício. Pedido não acolhido. (...).
(TJSP; AC 1037315-12.2018.8.26.0100; Ac. 14858284; São Paulo;
Décima Câmara de Direito Privado; Rel. Des. Elcio Trujillo; Julg.
27/07/2021; DJESP 04/08/2021)
TJDF
APELAÇÃO CÍVEL. CIVIL E PROCESSO CIVIL. AÇÃO DE
DIVÓRCIO. ALIMENTOS. DISPENSA. EXPRESSA.
AUSÊNCIA. (...) Trata-se de apelação cível interposta contra sentença
que, mesmo após o ajuizamento de Embargos de Declaração, deixou de
incluir na sentença, que decretou o divórcio, a dispensa dos alimentos
pelo réu cônjuge varão. 2. A dispensa de alimentos não se confunde
com a renúncia. A dispensa de alimentos na ação de divórcio é
provisória, não impedindo que no futuro a parte necessitada venha a
postular alimentos de seu ex-cônjuge. Já a renúncia importa na
abdicação do direito de alimentos. Direito disponível por se tratar de
cônjuges. , impossibilitando futuro pleito. (...)(TJDF; Rec 07211.13-
27.2019.8.07.0003; Rel. Des. César Loyola; Julg. 29/07/2020; Publ.
PJe 21/08/2020)
TJSP
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE ALIMENTOS EM FACE DE EX-
CÔNJUGE. PAGAMENTO DE PENSÃO ALIMENTÍCIA E
MANUTENÇÃO EM PLANO DE SAÚDE. POSSIBILIDADE.
FIXAÇÃO DO ENCARGO APÓS A DECRETAÇÃO DO
DIVÓRCIO. CABIMENTO. RENÚNCIA. NÃO OCORRÊNCIA.
BINÔMIO NECESSIDADES E POSSIBILIDADES.
OBSERVÂNCIA(...) Mesmo após o divórcio, se um dos ex-cônjuges
não dispuser dos meios para satisfazer a própria sobrevivência, por
incapacidade para o trabalho ou insuficiência de bens, poderá requerê-
los, desde que, presentes os requisitos legais, não tenha renunciado aos
alimentos. (...) (TJDF; Rec 07138.38-27.2019.8.07.0003; Ac.
135.0357; Segunda Turma Cível; Rel. Des. César Loyola; Julg.
23/06/2021; Publ. PJe 06/07/2021)
TJDF
CIVIL. AÇÃO DE DIVÓRCIO. RECONVENÇÃO. ALIMENTOS
PROVISÓRIOS. EX-CÔNJUGE. POSSIBILIDADE.
TRANSITORIEDADE. VALOR ARBITRADO.
RAZOABILIDADE. I - A dissolução do casamento pelo divórcio não
implica necessariamente na extinção do dever de prestar alimentos entre
os ex-cônjuges, desde que não tenha havido renúncia ao direito pelo
interessado. No entanto, deve ser tida como medida excepcional e exige
a comprovação da necessidade de quem os reclama, consubstanciada na
incapacidade para o trabalho do alimentando, da capacidade financeira
de quem os supre e, obviamente, observância às peculiaridades do caso,
já que não se pode pretender que o dever de mútua assistência
permaneça indefinidamente. (...) (TJDF; Rec 07228.95-
78.2019.8.07.0000; Rel. Des. José Divino; Julg. 29/01/2020; Publ. PJe
12/02/2020)
Gestão adequada
O direito aos alimentos
pode e deve ser objeto de ajustes
entre as pessoas interessadas.
Conflitos familiares -
peculiaridades
Envolvem elementos subjetivos como
o afeto
e a proteção;
Conflitos familiares -
peculiaridades
Por haver relações continuadas,
a chance de desgaste é maior.
Conflitos familiares
Há controvérsias
coexistenciais que
envolvem ampla
gama de relações e situações.
Havendo disputas,
são importantes iniciativas de...
a) Comunicação entre os envolvidos para
explanação sobre necessidades e possibilidades -
tentativa de negociação direta;
Tentativa de negociação direta
Em tempos estressantes,
a conversa pode ser difícil..
Atenção para o timing (sensibilidade sobre
o tempo oportuno para tomar uma
iniciativa);
se necessário, combine a conversa em um
momento melhor.
b) Sendo inviável a conversa,
é possível a atuação de um terceiro imparcial
para facilitar a comunicação
(mediador ou conciliador)
Processo
Sendo infrutífera a tentativa de comunicação
e/ou o alcance de consenso,
a parte precisará intentar
medida judicial para a definição da situação
familiar.
Diretriz
CPC, Art. 694. Nas ações de família,
todos os esforços serão empreendidos
para a solução consensual da controvérsia,
devendo o juiz dispor do auxílio
de profissionais de outras áreas
de conhecimento para a mediação e conciliação.
Ferramentas para
facilitação da atuação em juízo
• Competência diferenciada;
• Concessão de medida liminar e elementos de
estímulo ao cumprimento;
• Procedimento especial.
1. Há prova pré-constituída do vínculo que
gera direito aos alimentos? Se sim, incide a
Lei 5.478/68, c/ possível liminar

2. Sem prova: ação de procedimento comum


– por ex., cumulação com pedido de
investigação de paternidade, sem liminar
prevista.
Procedimento
Lei 5.478/68: rito especial se houver prova pré constituída
da obrigação
• parentesco,
• tutela,
• matrimônio,
• pacto firmado por companheiros
• sentença, como a declaratória de união estável.
CLASSIFICAÇÃO
a) alimentos concedidos em sentença
(cognição exauriente): alimentos
definitivos;
b) alimentos concedidos liminarmente
(cognição sumária): alimentos provisórios
(L. 5.478/68) e alimentos provisionais
(CPC).
Diferença
Alimentos provisórios
(há prova pré constituída)

Alimentos provisionais
(necessidade de provar fumus e periculum)
O tempo e o processo
Certeza demanda tempo...
segurança ou rapidez?

Efetividade, celeridade...
A vida social os demanda!
Doutrina: Flavio Luiz
Yarshell
O equilíbrio, na verdade,
deve se dar entre decisões
céleres (escopo social) e
decisões justas (escopo
jurídico).
Importância no Direito de Família

A tutela do Direito de Família,

por estar relacionada a relações

continuadas e valores sensíveis,

demanda soluções rápidas para

crises de segurança e de satisfação.


“Tutela diferenciada sumária”

Técnica processual adotada diversa da


comum que adota cronologia própria e
antecipa efeitos para
momento anterior ao trânsito
em julgado da sentença de mérito.
Tutelas provisórias
Como será proporcionada a concessão de uma
decisão do juiz, antes da resolução final do conflito
em definitivo?

Através da concessão de medidas especiais, como


- tutelas cautelares;
- tutelas antecipadas.
Tutelas provisórias no CPC/2015
Caráter
incidental
Tutela
antecipada
Caráter
antecedente
Tutela de
urgência
Tutela Caráter
provisória incidental
Tutela de Tutela
Tutela
evidência cautelar
Tutela Caráter
definitiva antecedente
“Medida liminar”
Tanto a tutela cautelar como a antecipada podem ser
concedidas liminarmente.
A expressão “liminar” (in limine litis) tem a ver com o
momento em que ela foi conferida. O critério é apenas
cronológico, nada sinalizando em relação ao conteúdo e
à finalidade da medida.

Outro sentido: “liminares” expressamente previstas em


procedimentos especiais (ex.: ações de alimentos)
Tutela de urgência
MEDIDA LIMINAR: previsão específica da Lei
de Alimentos (5.478/68):

Art 4º Ao despachar o pedido, o Juiz fixará desde


logo alimentos provisórios a serem pagos pelo
devedor, salvo se o credor expressamente
declarar que dêles não necessita.  
Alimentos provisionais

A medida manteve a sua utilidade


no novo sistema - em que não
há a previsão específica
de alimentos provisionais?
Lei 11.340/2006

Art. 22.  Constatada a prática de violência doméstica e


familiar contra a mulher, nos termos desta Lei, o juiz
poderá aplicar, de imediato, ao agressor, em conjunto
ou separadamente, as seguintes medidas protetivas de
urgência, entre outras:

V - prestação de alimentos provisionais ou provisório


Doutrina – Maria Cecilia Araújo Asperti
“Essa hipótese de necessidade acautelatória de alimentos outrora
compreendida pela medida cautelar de alimentos provisionais terá, portanto,
de ser contemplada pela tutela provisória de urgência prevista pelo NCPC,
cujos requisitos genéricos são previstos pelo artigo 300 (...)
Restará saber se essa hipótese se encaixará no procedimento das tutelas de
urgência antecipadas ou cautelares... Esse enquadramento dependerá do
entendimento esposado acerca da natureza satisfativa ou não dos alimentos
provisionais”

(Processo e conflito: os desafios da efetivação das tutelas provisórias em


conflitos de família e o novo Código de Processo Civil Revista Nacional de
Família e Sucessões, n. 7. Ed. Magister, 2015)
TJSP- exemplo de aplicação
DIVÓRCIO CUMULADO COM GUARDA E ALIMENTOS.
FIXAÇÃO DE ALIMENTOS PROVISIONAIS EM PROL DA
AGRAVADA. ALIMENTOS DEVIDOS À EX-CÔNJUGE SÃO
EXCEPCIONAIS E PROVISÓRIOS. Agravada que é jovem,
atualmente com 41 anos de idade, e possui qualificação como advogada,
além da notícia de que também seria professora de Zumba de nível
profissional. Deve a agravada lutar pelo próprio sustento ou, em caso de
necessidade, buscar eventual auxílio de familiares. Recurso provido.
(TJSP; AI 2019259-78.2022.8.26.0000; Rel. Des. Luis Mario Galbetti;
Julg. 01/04/2022; DJESP 05/04/2022)
TJSP- exemplo de aplicação

DIVÓRCIO. Decisão que fixara alimentos provisionais em favor da


agravada. Legitimidade. Conquanto não se olvide da natureza excepcional
e transitória dos alimentos devidos entre ex-cônjuges, é forçoso
reconhecer que o contexto fático-probatório ampara o arbitramento, pois o
agravante sempre custeou os gastos do lar comum, bem como, da
agravada, inexistindo prova de que ela exerça atividade lucrativa ou tenha
saldo em conta bancária. Necessidade demonstrada. Decisão mantida.
Agravo desprovido. (TJSP; AI 2076970-75.2021.8.26.0000; Relª Desª
Hertha Helena de Oliveira; Julg. 22/03/2022; DJESP 28/03/2022)
TJMA- exemplo de aplicação

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. CONFLITO NEGATIVO DE


COMPETÊNCIA. EXECUÇÃO DE ALIMENTOS PROVISÓRIOS.
COMPETÊNCIA PARA EXECUÇÃO. VARA ESPECIAL DE
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER.
(...) A cessação da situação de violência não importa, necessariamente, o
fim da situação de hipervulnerabilidade em que a mulher se encontra
submetida, a qual os alimentos provisórios ou provisionais visam,
efetivamente, contemporizar. (...) (TJMA; CC 0810024-
69.2021.8.10.0000; Primeira Câmara Cível; Rel. Des. Kleber Costa
Carvalho; DJEMA 17/11/2021)
Questão
Valdenice afirma ter tido um breve relacionamento
com Mamédico e se diz grávida dele. Como, porém,
ele se recusa a colaborar na gestação, pretende mover
ação de alimentos gravídicos. O que é suficiente para
configurar indícios da paternidade e viabilizar a
fixação de tal pensão?
Indícios e efetividade

Em alguns casos o legislador


se contenta com
Indícios para autorizar o juiz
a conceder certas
Medidas...
LEI 11.804/2008- Alimentos gravídicos

Art. 1o  Esta Lei disciplina o


direito de alimentos da mulher
gestante e a forma como será
exercido.
Art. 6º Convencido LEI 11.804/2008
da existência de indícios da
paternidade, o juiz fixará alimentos gravídicos que
perdurarão até o nascimento da criança, sopesando as
necessidades da parte autora e as possibilidades da
parte ré.

§ único. Após o nascimento com vida, os alimentos


gravídicos ficam convertidos em pensão alimentícia
em favor do menor até que uma das partes solicite a
sua revisão.
Questão
O que é suficiente para configurar
indícios da paternidade
e viabilizar a fixação de alimentos
gravídicos?
Indício – prova indireta
Sem definição no processo civil;

no Código de Processo Penal, consta no art.


239 que “considera-se indício a circunstância
conhecida e provada, que, tendo relação com o
fato, autorize, por indução, concluir-se a
existência de outra ou outras circunstâncias”
Exemplo: TJSP
AGRAVO DE INSTRUMENTO. Alimentos gravídicos. Decisão que
fixou alimentos provisórios do agravante para a agravada no valor de 20
salários-mínimos. Pretensão de redução para 05 salários-mínimos.
Indícios de paternidade comprovados através de conversas por
aplicativos de mensagem. Alimentos que são fixados com base nas
necessidades da agravada e possibilidade do agravante. Necessidade
presumida em razão da gravidez de gêmeos. Alimentante que é jogador
de notório clube internacional de futebol e aufere elevados rendimentos,
o que afasta as alegações de desproporcionalidade da pensão. Decisão
mantida até a formação do contraditório. Recurso não provido. (TJSP; AI
2248502-20.2021.8.26.0000; Rel. Des. Enio Santarelli Zuliani; Julg.
25/01/2022; DJESP 09/02/2022)
TJSP
AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE ALIMENTOS
GRAVÍDICOS. Insurgência contra a r. Decisão que fixou alimentos
provisórios em valor correspondente a 25% dos rendimentos líquidos do
agravante, ou 30% do salário mínimo para hipótese de ausência de
vínculo empregatício formal. Presença de indícios de paternidade.
Relação incontroversa e mensagens de texto trocadas entre as partes que
dão indícios de prova da paternidade, nos termos do artigo 6º, da Lei nº
11.804/08. Valor fixado em primeiro grau que comporta redução. (...)
(TJSP; AI 2006017-52.2022.8.26.0000; Rel. Des. Donegá Morandini;
Julg. 31/03/2022; DJESP 05/04/2022)
TJSE
AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE ALIMENTOS
GRAVÍDICOS. LEI Nº11.804/2008. (...) In casu, verifica-se que a
autora/agravada comprovou a gravidez através de exame laboratorial (fls.
55/56), assim como o seu relacionamento com o ora agravante, por meio
de diversas fotos e conversas no aplicativo whatsapp. 2. Ademais, em
nenhum momento anterior à propositura da ação, o recorrente questionou
a paternidade do nascituro, tendo, inclusive, nas longas conversas
acostadas (fls. 64/101), demonstrado bastante interesse na gestação,
sugerindo até um nome e apelido para a criança.
3. Some-se a isso o fato de que o agravante também iniciou, de forma
espontânea e voluntária, o pagamento de alimentos gravídicos, além de
assegurar que a autora não se preocupasse, como pode ser observado às
fls. 100/101. 4. Provas indiciárias capazes de atribuir ao réu a condição
de genitor do nascituro, nos termos do art. 6º da Lei nº 11.804/08. (TJSE;
AI 202100834662; Relª Desª Ana Bernadete Leite de Carvalho Andrade;
DJSE 14/01/2022)
TJAM
AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE ALIMENTOS
GRAVÍDICOS. PRESENÇA DE INDÍCIOS DE PATERNIDADE.
DÚVIDA. PROTEÇÃO AO DIREITO À VIDA DO NASCITURO.
VALOR FIXADO. RESPEITO AO BINÔMIO
NECESSIDADE/POSSIBILIDADE. DESPROVIMENTO DO
RECURSO. 1. Os alimentos gravídicos são destinados a cobrir as
despesas adicionais do período de gravidez e devidos pelo futuro pai à
mulher grávida, devendo ser fixados quando presentes meros indícios da
paternidade, sendo desnecessária a sua efetiva comprovação (art. 2º,
caput e parágrafo único, e art. 6º da Lei nº 11.804/2008)
2. O próprio agravante informa que manteve uma união estável com a
agravada até 12/10/2021 e, em tal momento, a agravada já se encontrava
com gestação tópica de mais de 10 (dez) semanas, sendo certo que a
criança foi concebida na constância do relacionamento e restando
comprovada a existência de indício suficiente de paternidade para o
deferimento dos alimentos gravídicos. 3. Ainda que possa haver dúvida
sobre a efetiva paternidade do agravante. Suscitada pela alegação de
relacionamento extraconjugal da agravada. , deve-se tutelar,
primordialmente, o direito à vida e ao pleno desenvolvimento do
nascituro. Jurisprudência dos Tribunais. (...). (TJAM; AI 4001311-
38.2021.8.04.0000; Manaus; Segunda Câmara Cível; Relª Desª Onilza
Abreu Gerth; Julg. 15/12/2021; DJAM 15/12/2021)
TJSP
AGRAVO DE INSTRUMENTO. FIXAÇÃO DE ALIMENTOS
GRAVÍDICOS. (...) Ação instruída com indícios suficientes de
paternidade (art. 6º da Lei nº 11.804/2008). Ausência de recusa
peremptória, tampouco de comprovação de eventual infertilidade.
Exigência de prova inequívoca da paternidade que frustraria o escopo
legal de cobertura de despesas adicionais do período de gravidez. Prévia
dilação probatória que desatenderia a celeridade que a hipótese requer. A
raiz causal está na defesa do direito substantivo do nascituro. Fixação
adequada, mormente em face do indício de possibilidade do agravante.
Decisão mantida. Agravo desprovido. (TJSP; AI 2233437-
82.2021.8.26.0000; Rel. Des. Rômolo Russo; Julg. 17/12/2021; DJESP
27/01/2022)
TJSP
AGRAVO DE INSTRUMENTO. Alimentos gravídicos. Fixação no valor
de R$500,00. Insurgência do réu. Alega que: I) não há prova robusta de
que é o pai do nascituro; II) a presunção paternidade é do companheiro da
agravada que recebeu a intimação do oficial de justiça; III) ela já tem dois
filhos com o companheiro; IV) houve apenas um encontro entre as partes;
V) os exames médicos indicam que ela já estava grávida antes esse
encontro. Descabimento. Mensagens, gravações de áudio e fotos que
demonstram que havia longo e íntimo relacionamento entre as partes. Na
contestação o agravante admite encontros esporádicos. Presunção de
paternidade do companheiro da autora que é controvertida.
Alegação da autora de que não mais se relaciona com o antigo
companheiro, pai de seus dois primeiros filhos, e que ainda moram juntos
por questões financeiras e para cuidarem da cria. Questão que deve ser
apurada durante a instrução. Cálculos de gestação (data da concepção)
podem variar, para mais ou para menos, com a evolução dela própria.
AGRAVO IMPROVIDO. (TJSP; AI 2282593-73.2020.8.26.0000; Ac.
14787300; São José do Rio Preto; Sétima Câmara de Direito Privado;
Rel. Des. Miguel Brandi; Julg. 17/11/2021; DJESP 24/11/2021; Pág.
2343)
TJSC
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE RECONHECIMENTO E
DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL C/C ALIMENTOS
GRAVÍDICOS. RECURSO DA AUTORA. 1) Tencionada
condenação em alimentos gravídicos. Indícios suficientes da
paternidade. Nascimento da criança em menos de trezentos dias após a
dissolução da união estável. Filiação presumida (art. 1.597, II, do CC).
Estipulação da verba em 50% (cinquenta por centos) sobre o salário
mínimo. Ausência de comprovante de rendimentos do réu e de gastos
inusuais pela autora. Conversão da obrigação em favor do filho comum,
após nascimento com vida. Pleito procedente. (...) (TJSC; AC 0301782-
85.2015.8.24.0070; Rel. Des. Gerson Cherem II; DJSC 28/02/2020)
TJCE
AGRAVO DE INSTRUMENTO. (...). 3. Com efeito, não cabe ao
julgador exigir provas robustas para a fixação dos alimentos gravídicos,
sob pena de a Lei perder sua eficácia, notadamente para as pessoas mais
humildes, as quais mais necessitam desse auxílio material. (...) Contudo,
cabe à gestante carrear aos autos indícios da existência de relacionamento
amoroso com o suposto pai, exemplificando, cito: Fotografias, cartões,
cartas de amor, mensagens em redes sociais, entre outros.
Ainda, é possível a designação de audiência de justificação, para oitiva de
testemunhas acerca do relacionamento mantido pelas partes. 4. No caso dos
autos, a recorrente produziu a prova básica da existência do nascituro,
mediante o exame beta hcg, com resultado "positivo", acostado à fl. 26 e
cartão da gestante (fls. 22-23 dos autos originários). Vislumbra-se, ainda, do
acervo probatório, que como indício de prova do relacionamento amoroso
havido entre a agravante e o agravado, foi colacionado a degravação de um
áudio de conversas telefônicas entre as partes na data de 23/06/2017 (fls. 25-
31), além da declaração firmada pela sra. Claudete nunes de Lima,
certificando a existência da alegada relação (fl. 23), pelo que conclui-se, nesta
fase de cognição sumária, hábeis à constituição de indício de prova do
alegado, ou seja, a probabilidade do direito da recorrente. (...)
9. Concluindo, comprovada a existência do nascituro, calcada no indício de
prova do relacionamento amoroso havido entre as partes e observado o
critério da necessidade, possibilidade e proporcionalidade, confirma-se a
liminar da relatoria concedida (fls. 34-41) que fixou alimentos provisórios no
valor correspondente a 01 (hum) salário mínimo, mensalmente, devendo o
mesmo ser entregue à genitora do nascituro, pessoalmente ou mediante
depósito bancário... (TJCE; AI 0626165-03.2017.8.06.0000; Segunda Câmara
de Direito Privado; Relª Desª Maria de Fátima de Melo Loureiro; DJCE
11/03/2019; Pág. 137)
TJMS
AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO
DE ALIMENTOS GRAVÍDICOS. TUTELA PROVISÓRIA DE
URGÊNCIA. PRESENÇA DOS REQUISITOS. 
ARTIGO 300, DO CPC/2015. INDÍCIOS DA PATERNIDADE.
BOLETIM DE OCORRÊNCIA REGISTRANDO O ESTUPRO.
ARTIGO 6. º, DA LEI Nº 11.801/2008... A fixação de alimentos em
prol da gestante depende apenas de indícios, não havendo necessidade
de efetiva demonstração do vínculo de parentesco entre o requerido e o
feto. A existência de um boletim de ocorrência relatando a prática do
crime de estupro é suficiente para demonstrar a verossimilhança da
alegação (TJMS; AI 1401591-75.2018.8.12.0000; Terceira Câmara
Cível; Rel. Des. Eduardo Machado Rocha; DJMS 10/05/2018)
Questão
A ação de alimentos gravídicos é convertida
automaticamente em ação de alimentos?
Sim - TJPR
AGRAVO DE INSTRUMENTO. ALIMENTOS GRAVÍDICOS.
NASCIMENTO NO CURSO DA DEMANDA. CONVERSÃO
AUTOMÁTICA EM ALIMENTOS PROVISÓRIOS (...) A conversão
dos alimentos gravídicos em alimentos provisórios em favor do menor é
automática, não sendo necessário qualquer pedido das partes ou
pronunciamento expresso, conforme regra contida no parágrafo único do
artigo 6º, da Lei nº 11.804/2008. Com enfoque no trinômio necessidade-
possibilidade-proporcionalidade, os alimentos devem atender às
necessidades do alimentando, presumidas quando há menoridade civil,
sem comprometer o sustento do alimentante. (...). (TJPR; Rec 0044074-
89.2021.8.16.0000; Ibaiti; Décima Segunda Câmara Cível; Rel. Des.
Rogério Etzel; Julg. 21/03/2022; DJPR 23/03/2022)
TJAL
AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE ALIMENTOS
GRAVÍDICOS C/C RECONHECIMENTO DE PATERNIDADE.
CONVERSÃO DE ALIMENTOS GRAVÍDICOS EM
PROVISÓRIOS ENQUANTO SE DISCUTE A PATERNIDADE.
POSSIBILIDADE. Inteligência do art. 6º da Lei nº 11.804/2008.
Precedentes do Superior Tribunal de Justiça. 01. O art. 6º da Lei nº
11.804/2008, prescreve a possibilidade da conversão de alimentos
gravídicos em provisórios, inclusive, de ofício, ou seja,
independentemente de requerimento da parte. 02- o Superior Tribunal de
Justiça, já firmou entendimento pela possibilidade da mencionada
conversão, ainda que se discuta a paternidade... (TJAL; AI 0803173-
36.2021.8.02.0000; Rel. Des. Fernando Tourinho de Omena Souza;
DJAL 11/08/2021)
TJMG
APELAÇÃO CÍVEL. PRELIMINAR DE AUSÊNCIA DE
FUNDAMENTAÇÃO REJEITADA. MÉRITO. AÇÃO DE
ALIMENTOS GRAVÍDICOS. NASCIMENTO COM VIDA.
CONVERSÃO DA AÇÃO EM ALIMENTOS. (...) A Lei nº.
11.804/2008 disciplina o direito de alimentos da mulher gestante e a forma
como será exercido. Sobrevindo o nascimento com vida, os alimentos
gravídicos ficam convertidos em pensão alimentícia em favor da criança,
até que eventualmente uma das partes solicite a revisão do valor. Na
fixação de alimentos é indispensável a análise do binômio
possibilidade/necessidade, sendo do réu o ônus da prova de que não pode
arcar com a pensão mensal fixada.
São presumíveis os dispêndios com alimentação, vestuário, lazer e
educação, dentre outros de extrema necessidade, além de aumentarem
com o desenvolvimento da criança. Com relação ao dever de assistência
ao menor, segundo dispõe o artigo 1.703 do Código Civil, cabe a ambos
os genitores o dever de sua manutenção, devendo suprir as suas
necessidades por meio do esforço comum e na proporção de seus
recursos. Recurso não provido. (TJMG; APCV 5001063-
66.2020.8.13.0153; Quinta Câmara Cível; Rel. Des. Wander Marotta;
Julg. 24/02/2022; DJEMG 24/02/2022)
Sim se arbitrados provisórios - TJES
APELAÇÃO. DIREITO PROCESSUAL CIVIL E CIVIL. AÇÃO DE
ALIMENTOS GRAVÍDICOS. PERDA SUPERVENIENTE DE OBJETO.
NASCIMENTO E AUSÊNCIA DE INDÍCIOS DE PATERNIDADE.
INAPLICABILIDADE DO ART. 6º DA LEI Nº 11.804/08. RECURSO
CONHECIDO E IMPROVIDO. 1. O deferimento de alimentos gravídicos
pressupõe a existência de indícios de paternidade, que não estão presentes
nos autos, tanto que o Ministério Público Estadual iniciou o procedimento
de averiguação de paternidade. 2. A conversão prevista pela regra do artigo
6º da Lei nº 11.804/08 somente é aplicável aos casos em que houve o
arbitramento, ainda que provisório, da prestação alimentícia. 3. Recurso
conhecido e improvido. (TJES; AC 0031067-49.2018.8.08.0035; Rel. Des.
Fernando Estevam Bravin Ruy; Julg. 23/02/2021; DJES 03/03/2021)
TJSP
ALIMENTOS GRAVÍDICOS. Nascimento da criança no curso do
processo, antes da sentença. Conversão da ação em ação de investigação
de paternidade. Indeferimento, com prolação de sentença transformando os
alimentos gravídicos em definitivos. Alimentos gravídicos que, nos termos
do art. 6º, parágrafo único, da Lei nº 11.804, de 5/11/2008, após o
nascimento com vida, ficam convertidos em pensão alimentícia em favor
do menor até que uma das partes solicite sua revisão. Alimentos gravídicos
que têm fundamento em indícios de paternidade, não podendo se
transformar em definitivos, senão após a comprovação desse fato.
Alimentos, ademais, que têm por fim prover as necessidades da gestante
até o nascimento da criança, enquanto os alimentos devidos a esta
objetivam a satisfação de suas necessidades, que são diversas daquelas da
mãe. Conversão da ação em investigação de paternidade que se torna
necessária, com emenda da petição inicial para dela constar no polo ativo
o menor, transformados os alimentos gravídicos em provisórios, e
determinada desde logo a realização do exame de DNA. Recurso provido
para esses fins, anulada a sentença. (TJSP; AC 1000261-
73.2020.8.26.0445; Ac. 14594711; Pindamonhangaba; Décima Câmara
de Direito Privado; Rel. Des. Jair de Souza; Julg. 20/04/2021; DJESP
06/05/2021)
STJ
RECURSO ESPECIAL. CONSTITUCIONAL. CIVIL.
PROCESSUAL CIVIL. ALIMENTOS GRAVÍDICOS. GARANTIA À
GESTANTE. PROTEÇÃO DO NASCITURO. NASCIMENTO COM
VIDA. EXTINÇÃO DO FEITO. NÃO OCORRÊNCIA.
CONVERSÃO AUTOMÁTICA DOS ALIMENTOS GRAVÍDICOS
EM PENSÃO ALIMENTÍCIA EM FAVOR DO RECÉM-NASCIDO.
MUDANÇA DE TITULARIDADE. (...) Os alimentos gravídicos,
previstos na Lei n. 11.804/2008, visam a auxiliar a mulher gestante nas
despesas decorrentes da gravidez, da concepção ao parto, sendo, pois, a
gestante a beneficiária direta dos alimentos gravídicos, ficando, por via de
consequência, resguardados os direitos do próprio nascituro.
2. Com o nascimento com vida da criança, os alimentos gravídicos
concedidos à gestante serão convertidos automaticamente em pensão
alimentícia em favor do recém-nascido, com mudança, assim, da titularidade
dos alimentos, sem que, para tanto, seja necessário pronunciamento judicial
ou pedido expresso da parte, nos termos do parágrafo único do art. 6º da Lei
n. 11.804/2008. 3. Em regra, a ação de alimentos gravídicos não se extingue
ou perde seu objeto com o nascimento da criança, pois os referidos
alimentos ficam convertidos em pensão alimentícia até eventual ação
revisional em que se solicite a exoneração, redução ou majoração do valor
dos alimentos ou até mesmo eventual resultado em ação de investigação ou
negatória de paternidade. 4. Recurso especial improvido. (STJ; REsp
1.629.423; Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze; DJE 22/06/2017)

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